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Veronese, M.V.;Guareschi, P.

“Possibilidades solidárias e emancipatórias do trabalho: campo fértil para a prática da


Psicologia Social Crítica”

POSSIBILIDADES SOLIDÁRIAS E EMANCIPATÓRIAS DO


TRABALHO: CAMPO FÉRTIL PARA A PRÁTICA DA
PSICOLOGIA SOCIAL CRÍTICA
Marília Veríssimo Veronese
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Pedrinho Guareschi
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

RESUMO: O artigo discute a inserção da psicologia social crítica no campo da economia solidária, como um
espaço laboral passível de constituir modos singularizados de trabalhar. Para tanto, revisa brevemente os
principais conceitos referentes ao trabalho associativo e solidário, relacionando-o com as questões da subjeti-
vidade e da contemporaneidade. Questiona as referências emancipatórias das ciências sociais críticas, em
especial a psicologia, colocando a necessidade de cartografar novos mapas para trilhar o “labirinto” da
contemporaneidade, com suas ambigüidades e possibilidades, ao analisar um registro empírico tomado do
campo do cooperativismo em bases solidárias. Finaliza colocando em pauta uma agenda progressista para a
psicologia, quando inserida nessa realidade específica do mundo do trabalho.
Palavras-chave: Economia solidária, psicologia social, subjetividade.

SOLIDARY AND EMANCIPATORY POSSIBILITIES OF LABOR: FERTILE FIELD FOR THE


PRACTICE OF CRITICAL SOCIAL PSYCHOLOGY

ABSTRACT: The paper discusses the insertion of critical social psychology in the field of solidary economy, as a
laboral setting able to constitute singularized ways of working. For that, it briefly reviews the field of associative
and cooperative labor, relating it with the issues of subjectivity and contemporaneity. It questions the emancipatory
references of critical social sciences, specially psychology, raising the need of the cartography of new maps to
outline the labyrinth of contemporaneity, with its ambiguities and possibilities, analyzing an empirical register
taken by the field of cooperative system based on solidarity. Finally, it raises the need of a progressist agenda for
psychology, when inserted in this specific reality of the labor world.
Key-words: Solidary economy, social psychology, subjectivity.

INTRODUÇÃO me características singulares com as metamorfoses


Neste artigo, partimos de um tema que tem sido trazidas pelo processo contemporâneo de re-
muito caro à psicologia social crítica, a teorização estruturação produtiva (Grisci, 2000; Antunes, 1999).
sobre o trabalho; e parece indiscutível, tanto sob o Assim, este texto ocupa-se de discutir uma ex-
ponto de vista de uma sociologia das práticas sociais, periência laboral vivenciada no campo da economia
quanto de um ponto de vista psi, afirmar que o traba- solidária, uma cooperativa urbana na cidade de Por-
lho é espaço privilegiado de constituição do sujeito, to Alegre, Rio Grande do Sul. Esse empreendimento
entendendo este último como resultado de processos existiu no período de 2000 a 2003, tendo neste ultimo
de construção simbólica de sentido. ano sido extinto, em meio a graves problemas
Os processos sempre relacionais que envolvem institucionais. O pequeno grupo remanescente de as-
o trabalho, que o engendram e a partir dos quais se sociados iria tentar novamente empreender no campo
forjam outras relações e experiências, podem assumir solidário, buscando constituir uma nova cooperativa,
configurações peculiares. Todas elas, entretanto, vão num processo que mobilizou intensamente suas vidas
ser constitutivas da vida das coletividades que abri- e trajetórias; e este processo analisa-se aqui, com in-
gam os sujeitos individuais - a consciência de si que tuito de avançar na proposta de inserção da psicolo-
chamamos de “eu” - e destes próprios, como alguém gia social crítica – lembrando que teorias críticas são
que age sobre o mundo para apreendê-lo. Portanto, aquelas que não concebem a realidade esgotando-se
pode-se entender muito sobre os modos de ser sujeito no que já existe, – no âmbito do trabalho
nas relações que engendram o trabalho, o qual assu- autogestionário e solidário.

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Minha inserção nesse campo-tema (Spink, 2003) que é necessário à existência humana no planeta.
deu-se através de um vínculo inicial como pesquisa- Segundo Iniguéz (2003), como o sujeito pro-
dora, quando da realização do doutorado em psico- duz-se através da ação e da linguagem, pode-se dizer
logia na PUCRS. Conheci o empreendimento referido que os instrumentos de construção da realidade são
participando de uma “caravana solidária” organiza- discursivos - não exclusivamente, mas em larga me-
da pelo gabinete da deputada estadual gaúcha Hele- dida, - e é com essa matéria prima discursiva que as
na Bonumá, no ano de 2001. O objetivo era visitar e representações se constituem, em cima do material
conhecer vários empreendimentos de economia soli- simbólico que os sujeitos produzem, acessam, trans-
dária, discutir e fomentar o trabalho nessa perspecti- formam e trocam entre si através dos processos
va. Uma vez tendo conhecido a equipe diretamente comunicacionais. O conhecimento produz-se na in-
envolvida na gestão da cooperativa, me apresentei terpretação dos sujeitos sobre o mundo, sempre no
como pesquisadora e comecei os contatos para reali- marco cultural e lingüístico. Nesses processos com-
zar as entrevistas e observações, sendo bem recebida plexos e não lineares, a dimensão laboral da experi-
(pesquisadores não eram, absolutamente, novidade ência humana ocupa importante lugar. O desafio cen-
para os participantes do empreendimento). A pesqui- tral, a partir desse referencial, era compreender como
sa que iria culminar com a defesa da tese de doutora- se apresentava o trabalho na perspectiva solidária e
do “A psicologia na transição paradigmática: um es- autogestionária, a partir das compreensões dos/as tra-
tudo sobre o trabalho na economia solidária” foi en- balhadores/as associados/as. É interessante definir
tão sendo construída, impactada pelas vivências da agora alguns parâmetros dessa proposta sócio-econô-
pesquisadora no período. A investigação constituiu-se mica que tem sido denominada de economia solidá-
em um estudo de caso, análise da trajetória de um ria.
empreendimento econômico solidário, a partir do qual
pode-se levantar e discutir muitas das dificuldades TRABALHO ASSOCIATIVO E SOLIDÁRIO: CARTO-
enfrentadas no âmbito das organizações que buscam GRAFANDO, EXPERIMENTANDO E RESISTINDO
formas alternativas de trabalhar. Neste artigo, trata- Nos últimos quinze anos, em nível de
remos apenas de alguns dos aspectos levantados na enfrentamento do problema da exclusão e em nível
pesquisa, não sendo intenção esgotar completamente de políticas públicas ainda mais recentemente, sur-
a riqueza dos dados levantados. gem formas alternativas de organização do trabalho,
As reflexões em relação à concepção de ser formas mais solidárias de produzir e distribuir bens e
humano e sua articulação com o trabalho estiveram serviços materiais e imateriais, que têm sido denomi-
presentes desde o início da investigação. Já nas pri- nadas de economia solidária. Claro que trabalho
meiras ações sobre a natureza que nossos ancestrais cooperativado, autogestionado, associativo, embora
empreenderam para sua sobrevivência enquanto es- incipientes sob a forma contemporânea de economia
pécie, nos re-inventamos e nos afirmamos como seres popular solidária tal como vem sendo discutida, não
históricos que produzem saberes, práticas e especial- são conceitos novos (Singer, 2002a; 2002b).
mente sentidos, que compartilham códigos simbóli- Na verdade, os conceitos datam dos primórdios
cos e reinventam seu mundo. O ponto de ruptura fun- do capitalismo industrial. A primeira grande onda de
damental é este salto qualitativo da natureza para a cooperativismo de produção foi na Grã-Bretanha,
cultura que a espécie humana empreende e que deter- acompanhando a luta sindical e pelo sufrágio univer-
mina outros elementos para mantê-la no mundo, além sal. Historicamente, temos nas referências (britâni-
das forças instintuais das outras espécies, já inscritas ca) de Robert Owen e (francesa) de Charles Fourier,
em seu manancial filogenético. Ruptura parcial, dado os primeiros elementos que inspiraram a economia
que estaremos sempre ligados aos processos biológi- solidária, através do socialismo utópico das comuni-
cos da vida na Terra; mas que define o humano tam- dades/associações que tentaram enfrentar, no século
bém para além do biológico, no seu processo de cons- XIX, a precariedade social que a revolução industrial
tituição. imprimira na sociedade européia, como resultado da
A “costura” dos elementos de sentido que for- instalação e agudização do antagonismo de classe.
mam o tecido social construído é a interação, ou mais As cooperativas de produção e consumo têm
precisamente a relação. Guareschi (2004) afirma que protagonizado alternativas às formas hegemônicas.
a palavra mais rica de possibilidades na compreen- E, no dizer de Singer (2002a), no laboratório da his-
são dos fenômenos sociais é justamente a relação. E é tória, o único método disponível é o da tentativa e
nesse marco da sociedade produzida nas relações so- erro. E é justamente dessa forma que as experiências
ciais, que o trabalho aparece como a “agulha” que têm evoluído. Daí suas muitas dificuldades e precari-
costura a “linha” das matérias-primas e insumos da edades, especialmente em países da periferia do siste-
produção, dos serviços essenciais à vida e tudo o mais ma mundial, que já ocupam um lugar específico (e
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subalterno) na divisão social do trabalho. realização efetiva de benefícios sociais de longo pra-
A palavra solidária deriva do vocábulo latino zo são essenciais para caracterizar um processo de
sólidu, significando força, união, adquirindo um sen- eficiência sistêmica (Gaiger, 2003).
tido moral ao vincular-se à idéia da justiça e da união Andion (2001, p. 4-5) identifica também a eco-
entre as pessoas para o bem comum (Mance, 1999). nomia solidária dentro da perspectiva da sociologia/
É nas razões da emergência de um campo como economia, como um conjunto de organizações que
a economia solidária que a psicologia vai buscar ele- atuam no campo social, mobilizadas a partir da soci-
mentos para analisar, criticamente, a relação que os edade civil. A economia solidária, nas suas diversas
sujeitos ali estabelecem com o seu trabalho. Ao tentar formas organizacionais (cooperativas, associações,
produzir o conhecimento prudente para uma vida de- grupos informais etc), é um projeto de desenvolvimento
cente (Santos, 2003), encontra-se no questionamento destinado a promover as pessoas e coletividades soci-
um dispositivo importante. ais a sujeito dos meios, recursos e ferramentas de pro-
Vejamos a resposta à pergunta de Razeto (1999, duzir e distribuir as riquezas, visando a suficiência
p. 2), “Pueden juntarse la economía y la solidaridad?” em resposta às necessidades de todos e o desenvolvi-
Economía de solidaridad es un concepto mento genuinamente sustentável. Não é uma pana-
que si bien apareció hace pocos años está céia, mas sim um projeto de organização sócio-eco-
ya formando parte de la cultura nômica por princípios opostos ao do laissez-faire, com
latinoamericana. Cuando empezamos a ênfase na cooperação em lugar da competição (Singer,
usar esta expresión y en 1984 publiqué 2002a; 2002b).
el libro Economía de solidaridad y O objetivo do empreendimento solidário é a
mercado democrático, pude observar la obtenção da quantidade e da qualidade do produto
sorpresa que provocaba asociar en una ou serviço que venha a atender a demanda social, e
sola expresión los dos términos. Las não apenas maximizar o lucro. O excedente terá sua
palabras “economía” y “solidaridad”, destinação decidida pelos trabalhadores em assem-
siendo habituales tanto en el lenguaje bléia, pois a propriedade e concepção coletivas dos
común como en el pensamiento culto, meios e modos de gestão do trabalho deverá ser ca-
formaban parte de “discursos” separados. racterística do empreendimento solidário, seja ele
“Economía”, inserta en un lenguaje cooperativo, associativo ou comunitário. Tais critéri-
fáctico y en un discurso científico; os, obviamente, não são encontrados de forma abso-
“solidaridad”, en un lenguaje valórico y luta nos empreendimentos, existindo diversos graus
un discurso ético. Rara vez aparecían los de apropriação dos mesmos, bem como de práticas
dos términos en un mismo texto, menos efetivamente autogestionárias.
aún en un solo juicio o razonamiento. No Brasil, a partir das “décadas perdidas” de
Resultaba, pues, extraño verlos unidos oitenta e noventa, houve um recrudescimento do se-
en un mismo concepto. tor, a partir da assunção de fábricas falidas pelos tra-
Nesse sentido, na busca de uma alternativa su- balhadores, como a Wallig no Rio Grande do Sul, a
perior à luta darwiniana pela sobrevivência, surgem Cooperminas em Santa Catarina e a antiga fábrica de
possibilidades - ainda incipientes, porém muito con- tecelagem Parahyba em São Paulo e Pernambuco. Os
cretas - de desenvolver um comércio justo, uma eco- empreendimentos solidários hoje são contados às cen-
nomia não-colonizadora e não patriarcal, sustentável tenas, mais de duzentos apenas no Rio Grande do Sul.
a longo prazo. Se os sócios têm a propriedade do negócio,
O valor central da economia solidária é o tra- devem se autogerir; portanto, as relações precisam se
balho, o saber e a criatividade humanos e não o capi- estabelecer em outro patamar. Essa chamada à
tal-dinheiro e sua propriedade sob quaisquer formas. autogestão é uma das dificuldades centrais dos traba-
Sendo a referência da economia solidária cada sujei- lhadores com ela envolvidos, egressos de formas
to e, ao mesmo tempo, toda a sociedade, concebida heterogestionárias, muitas vezes autoritárias, de tra-
também como sujeito, a eficiência não pode limitar- balhar.
se aos benefícios materiais de um empreendimento, A economia solidária é também chamada de
mas se define também como eficiência social, em fun- economia social e tem sido referida mundialmente
ção da qualidade de vida de seus membros e, ao mes- como alternativa para geração de renda e como pos-
mo tempo, de todo o ecossistema (Coraggio, 2001). sibilidade de redefinir as relações entre economia e
O primado do valor de uso e não do valor de troca, sociedade, no sentido de uma maior democratização
numa linguagem marxista. A isso chamamos eficiên- da vida social (Paixão, 1998).
cia sistêmica, que vai além da visão instrumental de Como diz Gaiger (2001), diante da necessida-
geração de lucro, na perspectiva da organização. A de de resistência dos trabalhadores à dominação ca-
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pitalista, existiram para eles/as quatro alternativas: da eficiência/viabilidade (Gaiger, 2004; 2005). En-
negociar a relação assalariada (lutar por melhores tretanto, muitas são as dificuldades e precariedades
condições de trabalho), negar-se ao assalariamento, enfrentadas, especialmente em países da periferia do
deixar de ser trabalhador-operário (montar seu pró- sistema mundial globalizado, que já ocupam um lu-
prio “negócio” individual), ou associar-se enquanto gar subalterno na divisão social do trabalho; e um
produtores. O último aspecto citado, forma de resis- dos pontos críticos é justamente a prática da
tência já antiga, se reconfigura como a economia so- autogestão. Nesse contexto, a pesquisa social deve
lidária que hoje se vincula aos movimentos sociais e à revelar-se competente, pois torna-se cada vez mais
rede do movimento Fórum Social Mundial. evidente a relevância de se discutir o tema da
Segundo Guigue (2001), a economia solidária autogestão e do trabalho associativo de forma críti-
é um movimento que se esforça, depois de dois sécu- ca, contribuindo com o seu desenvolvimento. Nessa
los, para conciliar atividade econômica e justiça soci- forma de organização do trabalho, as relações preci-
al. Para Enjolras (2002), os novos paradigmas sam se estabelecer em patamares de igualdade e au-
tecnológicos e informacionais integraram ainda mais toridade compartilhada; torna-se vital, para os traba-
o econômico ao cultural-subjetivo, de modo que, ba- lhadores associados, desenvolver habilidades sociais
seando-se na idéia de modernidade tardia ou reflexi- necessárias à prática da autogestão.
va, acredita que a reflexividade estética pode abrir Na busca de compreensão dessa realidade com-
brechas para novos modos de ser e de viver. Isso ofe- plexa e polimorfa, em pesquisa e produção de conhe-
rece um campo de experimentação social que pode cimento, faz-se necessária a articulação de diversos
ser positivo para as práticas sociais renovadoras da campos do saber. Acredita-se que pode ser significati-
economia solidária. A dimensão cultural e simbólica va a contribuição do enfoque psicossocial nos estudos
do capitalismo tardio é central para a economia sobre subjetividade, trabalho, economia solidária e
globalizada; tem sido utilizada como forma de ex- autogestão. Esta pesquisa ancora-se num aporte
ploração, mas também pode abrir caminho para a psicossocial; para tanto, busca-se referência em estu-
experimentação. dos anteriores na análise de temas afins, nessa pers-
O caráter contraditório das relações sociais na pectiva. No que se refere à psicologia social, as pes-
contemporaneidade abre espaços para que distintos quisas têm comprovado que a saúde mental, a auto-
atores sociais busquem oportunidades para o encami- estima, a vida familiar, a realização e satisfação pes-
nhamento de suas demandas, incluindo os trabalha- soal, enfim, toda a produção subjetiva singular de cada
dores e trabalhadoras que se vêem sem possibilidades pessoa no mundo, estão implicadas no trabalho
de inclusão digna no mercado de trabalho. Diante (Jerusalinsky, 2000; Codo, 1997 e 2000; Grisci, 2000;
dessa realidade, o trabalho associativo e cooperativo Tittoni, 1994 e 1999; Fonseca, 2000 e 2002; Guareschi,
parece ser uma das respostas viáveis, em termos de 2004).
condições e meios de trabalho, ao considerar-se o em- É de interesse para o estudo do tema do traba-
pobrecimento das populações e a falta de oferta de lho solidário, uma breve análise sócio-histórica do
emprego. O Programa das Nações Unidas para o De- período atual, onde assinala-se a ressurgência da
senvolvimento (PNUD) distingue entre o crescimento autogestão como alternativa para o trabalho explo-
favorável aos pobres (pro-poor) e o crescimento que rado e mal-remunerado, ou mesmo para o desempre-
discrimina os pobres (anti-poor). Mesmo havendo um go.
relativo crescimento econômico, os pobres não conse-
guem integrar-se no processo de expansão, podendo CONTEMPORANEIDADE, SUBJETIVIDADE E
tornar-se o trabalho veículo de precarização e não de TRABALHO SOLIDÁRIO
melhoria da qualidade de vida dos que trabalham Os intelectuais da área das ciências humanas e
(Sachs, 2004). sociais divergem quanto à nomenclatura utilizada para
A formação de redes de produção e consumo pensar e falar da contemporaneidade: Modernidade
solidários acrescenta aspectos como reciprocidade e líquida, ou “mole” (Bauman, 2001); Modernidade tar-
vínculos sociais fortalecidos à lógica econômica, po- dia ou modernidade reflexiva (Beck, Guiddens & Lash,
dendo consolidar o papel da economia solidária no 1994), pós-modernidade e por aí segue. Elejo o termo
desenvolvimento de atividades econômicas e de gera- contemporaneidade para referir-me ao tempo presen-
ção de renda com justiça social e responsabilidade te (que inclui o passado recente), sabendo que os ele-
ambiental. mentos que estão presentes nas discussões desses e de
A força dos empreendimentos econômicos soli- tantos outros autores fazem parte de meu entendimento
dários (EES) reside no fato de eventualmente combi- sobre o tema. Fluidez - propriedade de líquidos e ga-
narem o espírito empresarial e o espírito solidário, ses - parece a metáfora adequada para explicar a
unindo os vetores da autogestão/cooperação com os natureza da presente fase, nova sob muitos aspectos.
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Os fluxos de capital circulam celeremente, as empre- das emancipações referência fundamental.
sas capitalistas diminuem de tamanho (e crescem em O campo do trabalho solidário avança, em ter-
poder), o tempo adquire uma urgência e rapidez sem mos societais e paradigmáticos, como um possível
precedentes, o trabalho volatiliza-se, a mídia trans- modo de emancipação do trabalho explorado e alie-
forma a relação das pessoas com o mundo. nado, alternativa para os que acreditam num outro
Rockefeller apegava-se à suas sólidas e bem mundo possível (máxima do movimento Fórum Soci-
plantadas fábricas, estaleiros, propriedades que podi- al Mundial), ou simplesmente precisam gerar renda
am durar a vida toda e além dela, muitas vidas mais; em caráter emergencial.
Bill Gates, entretanto, ganha dinheiro - e muda de O trabalho propicia o estabelecimento de rela-
produto - com uma velocidade quase etérea, e ções onde as competências cognitivas e afetivas do
reciclagem é a palavra mágica no seu negócio. O so- sujeito são postas a prova, desenvolvidas, intensamente
ciólogo polonês Zygmunt Bauman explica como a vivenciadas através das múltiplas experiências que o
comparação entre esses dois milionários, cada um no contexto laboral proporciona. É impossível dissociar,
seu momento histórico, é paradigmática das mudan- nessa perspectiva, psicogênese e sociogênese das emo-
ças (Bauman, 2001). Projetos custosos e compromis- ções, cognições e ações de um sujeito; são processos
sos (entre capital e trabalho) de longo prazo estão concomitantes, e os tomamos, articulados, como pro-
fora de questão. O sujeito vive como no labirinto: dis- cessos de subjetivação.
perso, sem caminhos pré-definidos, procurando As experiências contra-hegemônicas, em qual-
atabalhoadamente uma saída, e perdendo-se. Sobre o quer campo da experiência humana, e certamente no
labirinto, refere que esse conceito expressa como nos trabalho, são freqüentemente frágeis; acreditamos que
vemos no mundo, hoje. Ele expressa a complexidade, as ciências sociais, entre elas a psicologia social críti-
a falta de clareza e das referências fixas, o sistema ca, têm sua parcela de contribuição a dar nesse mo-
tortuoso. As promessas iluministas e a certeza da ra- mento histórico específico. O problema moderno da
zão instrumental balançam e trepidam, nas convul- opressão, exploração e alienação está vivamente pre-
sões que liqüefazem a sociedade contemporânea. sente, embora assuma diferentes configurações na
Parece que há um desmantelamento das ilu- contemporaneidade. Dado o inegável fato de que o
sões modernas de que há um lugar a chegar, o qual mundo contemporâneo contém muitas formas de opres-
com a firme determinação de progresso alcançare- são, desde formas domésticas e institucionais de vio-
mos; de que essa sociedade melhor e ser humano aper- lência até guerras explícitas em nome da paz, é preci-
feiçoado ainda vão ser alcançados. Esse é o discurso so (ainda) construir, através da atividade criativa,
da ciência moderna, que embora forte, sofre revezes uma ciência social preocupada com emancipação. E
constantes na contemporaneidade. A ciência e a uma ciência responsável, antes de mais nada, que
tecnologia “justificam”, através de seus agentes, em- produz conhecimento prudente na busca de uma vida
pobrecimento galopante, concentração de renda, no- decente para todos (Santos, 2003).
vas formas de exploração de seres humanos e da na- Entender o sujeito dentro da concepção - e do
tureza. A resistência a essa configuração articula-se projeto - de emancipação, significa, porém, pensá-lo
como pode, ou como seus agentes podem. e inscrevê-lo dentro de múltiplas possibilidades. O
Portanto acredito, com Santos (2000), que o sujeito solidário, mas livre, precisa poder escolher,
que está em jogo hoje é a disputa epistemológica en- intersubjetivamente, dentro de seu contexto, a melhor
tre dois paradigmas: o hegemônico (da ciência mo- forma de emancipar-se. Esta é uma questão ética sob
derna, que está a ser duramente questionado) e o o ponto de vista societal, mas também do científico; é
emergente, que consiste em experimentações na bus- preciso pensar, então, formas de facilitar a produção
ca de modos diferentes de ser, viver e conhecer. Nes- de novos processos de subjetivação, facilitadores da
sas lutas paradigmáticas, seus encontros e singularização, da criatividade e da inovação no campo
desencontros, o sujeito pode se perder no labirinto. do trabalho, sempre na perspectiva da eficiência
Trata-se de uma transição paradigmática expressa nos sistêmica.
níveis epistemológico e societal, ou seja, uma nova Para Rey (2003), a subjetividade pode ser defi-
maneira de conhecer e de produzir práticas sociais, nida como um processo complexo de construção sim-
de transitar da ciência moderna para uma ciência pós- bólica de sentidos, sobre si e o mundo, simultanea-
moderna, e de práticas modernas para pós-modernas mente um fenômeno da pessoa ou sujeito singular e
- ou pós-coloniais, como o autor prefere referir hoje de seu lugar sócio-histórico.
(Santos, 2004). Ele distingue entre o pós-moderno Conforme Guattari (1992), a subjetividade é
celebratório – niilismo, recusa da perspectiva plural, polifônica, e as origens de sua produção não
emancipatória – daquela corrente a que se filia, o podem ser analisadas nem no indivíduo, nem somen-
pós-moderno de oposição, o qual tem no horizonte te em termos infra ou supra-estruturais. Os processos
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de semiotização que estão em sua base não são dota- assimetrias de capacidades comunicativas, educativas,
dos de fixidez, portanto vai além de categorias soci- de tomada de decisão e de autonomia para organizar
ais rígidas, além de incluir aspectos etológicos e eco- interesses, isso sem falar nas imensas desigualdades
lógicos. Opõe a massificação capitalística à materiais que podem estar na base de tais processos.
singularização criativa. Aqui vai ficar bem clara a maneira como o autor di-
O sujeito precisa de elementos lingüísticos para verge de Foucault, para quem, segundo Lazzarato e
se representar, se constituir. A atividade Negri (2001, p. 38), “(...) poder é a capacidade de
representacional não pode prescindir de elementos sujeitos livres e independentes intervirem sobre a ação
lingüisticos. Assim, na linguagem, na ação cotidiana de outros sujeitos igualmente livres e independentes”;
e na relação, produz-se o(s) sujeito(s). Produz-se a ou ainda, “Ação sobre uma outra ação”. Em Santos, o
partir da concretude das experiências, da atividade poder é tratado como relação de troca desigual, onde
que o liga ao mundo. a assimetria de recursos é bastante considerada. En-
Muitos psicólogos ou psicólogas se preocupam tretanto, ambas as abordagens podem convergir para
com a massificação da subjetividade, a exemplo de a idéia de que “(...) novas relações de poder trazem
Pelbart (2000, p. 9), que interroga-se: “De que mar- por conseqüência novos processos de subjetivação.”
gem de manobra dispomos nós neste final de milê- (Lazzarato e Negri, 2001, p. 38).
nio?” Também um crítico da “estratégia dita pós-mo- Essa teorização mostra-se particularmente per-
derna” (no caso, a celebratória), a qual segundo ele tinente no caso da análise da autogestão, tema cen-
“deleita-se numa volúpia niilista, cultuando a disso- tral no campo do trabalho solidário. Santos (2000)
lução generalizada, numa apologia do desfazimento avalia que o horizonte de emancipação social que lhe
e do gozo apocalíptico, basta mencionar a insistência instiga a trabalhar categorias sociológicas, filosófi-
com o tema do fim, fim do social, do político, da cas e psicológicas leva seu interesse a centrar-se na
história, da filosofia etc.”, na sua crítica instiga à transformação das relações de poder existentes como
busca de alternativas, o que é potencialmente trans- dominação para a forma de relações de autoridade
formador da realidade criticada. Percebo aqui uma compartilhada. Parece-me, então, que não analisar a
convergência com a crítica de Santos (2000) ao pós- questão dos modos de produção de poder é deixar de
moderno celebratório. Como todo o pensador que se fora o coração da problemática do trabalho e da sub-
inquieta diante das questões contemporâneas, Pelbart jetividade na economia solidária, com os espaços
conclama à resistência. A diferença desses teóricos laborais que engendra e as lutas de poder que ali se
críticos pós-modernos de oposição dos teóricos críti- travam. A fim de contextualizar a análise que proce-
cos modernos é que, para esses, o grito era “Façamos do em seguida, apresento brevemente as concepções
emergir a consciência de classe!”. Para os que se ar- do autor sobre a temática.
riscam hoje a teorizar e resistir, o grito não é mais Vejamos, na citação de Santos (2000, p. 249)
unívoco, mas é pensado de formas múltiplas como a como o poder se enreda nos modos de trabalhar da
possibilidade de “(...) cartografar e resistir, apreen- economia solidária, se transpusermos as fronteiras da
der o que está em jogo no presente e, assim, dar visi- definição:
bilidade às saídas inventivas que nele se anunciam, (...) o que é mais característico das nos-
sem nostalgias frívolas nem utopismos ortodoxos.” sas sociedades é o fato de a desigualda-
(Pelbart, 2000, p. 10) de material estar profundamente
O sujeito, então, busca modos de empo- entrelaçada com a desigualdade não-
deramento que potencializem as lutas por dignidade material, sobretudo com a educação
e direitos sociais; o campo do trabalho solidário, desigual, a desigualdade das capacida-
mesmo com todas as suas dificuldades e fragilidades, des representacionais/comunicativas e
pode contudo ser campo fértil para esse processo. As- expressivas e ainda a desigualdade de
sim, a questão do poder está sempre presente quando oportunidades e de capacidades para
questionamos os modos de trabalhar. organizar interesses e para participar
autonomamente em processos de toma-
MODOS DE PRODUÇÃO DE PODER E da de decisão significativa.
TRABALHO SOLIDÁRIO Portanto, faria sentido explicar através dessas
Partindo de uma crítica a Foucault e outros assimetrias, a dificuldade que os sujeitos na econo-
autores, bem como da análise das teorias feministas mia solidária encontram para apropriar-se de novos
ao entendimento de poder, Santos (2000, p. 248) defi- modos de trabalhar e de se relacionar. Quem tem maior
ne o poder como relacional, como “qualquer relação capacidade expressiva/discursiva, - dentro de uma
social regulada por uma troca desigual”. Tais desi- usual concepção - pode acabar assumindo papel de
gualdades, materiais e/ou imateriais, articulam-se em “chefe”, caracterizando a troca desigual.
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As constelações de poder, complexas e contra- A cooperativa estudada enfrentou, ao longo de
ditórias, podem fixar fronteiras - modo fixação de fron- dois anos e meio, muitos problemas de relacionamento
teiras, - onde irão inibir mudanças de posições e ino- interno e com os parceiros aos quais ligava-se. Os
vações relacionais entre os atores que as protagonizam. problemas ocorreram na condução do seu processo
Podem ainda, e ao contrário, abrir novos caminhos - de gestão e eram de ordem financeira, administrativa
modo abertura de novos caminhos, - onde permitem e laboral, o que culminou em perda de sócios, de cré-
formas de ser diversas e partilha relativamente igua- dito e em graves problemas que resultaram na
litária de capacidades. As configurações de tais mo- inviabilidade do empreendimento. Contraíram dívi-
dos de poder são ora expressas de um modo, ora dou- das com agentes financiadores, fornecedores e demais
tro, inclusive dentro de um mesmo espaço parceiros; na época de conclusão da coleta de dados,
organizacional, entre os mesmos atores. Por exem- em 2003, o grupo remanescente de associados esfor-
plo: um grupo de trabalhadores associados pode se çava-se no processo de encaminhar tais problemas,
unir e apoiar numa assembléia do Orçamento para recomeçar o trabalho formando outra coopera-
Participativo, para conseguir recursos; mas, ao voltar tiva.
para o cotidiano de trabalho, pode prevalecer entre Esse grupo - aqueles que permaneceram -
eles uma divisão sexual do trabalho injusta e patriar- engajou-se num processo de reflexão sobre seus erros
cal, onde as mulheres ficam relegadas a um segundo e acertos e reavaliação crítica de toda a trajetória
plano. Nesse caso, num contexto o poder foi exercido vivenciada, tentando reerguer-se e recomeçar o tra-
no modo de abertura; em outro, de restrição. Isso em balho. Buscavam constituir uma nova cooperativa
um mesmo grupo de trabalho; como diz Santos mista de trabalho, produção e consumo ético.
(2000), as constelações de poder nem vagueiam ao Reproduzo, para ilustrar melhor o processo vivenciado,
acaso, nem são totalmente previsíveis, a exemplo do alguns trechos dos diálogos entre os participantes da
próprio sujeito. pesquisa e uma figura-esquema da sua trajetória. Esse
esquema descreve as etapas do processo grupal
TOMANDO UM REGISTRO EMPÍRICO vivenciado, ilustrando-as com falas dos participan-
PARA ANÁLISE tes.
Voltamos agora ao registro empírico da pes- Os diálogos transcritos abaixo tiveram lugar
quisa da qual este artigo emerge, sem que pretenda- em uma reunião dos sócios remanescentes da coope-
se, repito, traduzir toda a sua extensão no presente rativa original, com parceiros das ONG’s de apoio,
texto, que visa uma reflexão inicial sobre práticas em pesquisadora, representante da prefeitura municipal
psicologia social crítica e trabalho solidário. Um e antigos sócios, na busca de apoio e idéias, bem como
empreendimento econômico solidário, no caso uma de novos sócios para a cooperativa que queriam
cooperativa de distribuição de produtos variados, ten- (re)criar.
do como meta o abastecimento familiar, foi alvo de Diálogos:
um estudo de caso. “C- Houve mais dificuldades que acertos
Este método se concentra num fenômeno sin- no nosso caso!
gular ou entidade, e intenta des-cobrir a interação de CH- O projeto era bom, o grande proble-
fatores significativos característicos do fenômeno. ma foi o despreparo da gente como co-
Focaliza uma descrição e explicação compreensiva. ordenação, como cooperativa; a gente
Como Yin (1984) observa, o estudo de caso é uma não tinha experiência, tudo era novo pra
forma particularmente apropriada para entender con- nós. A gente se dividiu, o coordenador
dições contextuais, acreditando que elas poderão ser era a pessoa que mais entendia da parte
altamente pertinentes para o entendimento mais legal, e a gente confiou, mas ele foi sem
abrangente do fenômeno em estudo (no caso, a eco- sorte na coordenação..., assina isso, as-
nomia solidária). Uma unidade particular acompa- sina aquilo, os sócios sem saber direito
nhada com mais cuidado pareceu-me também fonte o que era... A grande verdade é que a
privilegiada de informações sobre os desdobramentos culpa é de todos... Eram três coordena-
do problema da subjetividade no contexto laboral/ dores gerais... todos se omitiram igual...
organizacional da economia solidária. K- (Interrompendo) Queremos recome-
Ressalto que o recorte empírico utilizado neste çar, fazer uma cooperativa de verdade,
texto corresponde apenas a um fragmento da coleta autogestionária e democrática. Desta vez,
de dados da pesquisa original; mas é ilustrativo do não cometeremos os mesmos erros. Quan-
processo vivenciado pelos trabalhadores associados e do pudermos, sanearemos as dívidas. A
das vicissitudes que conteve a experiência, e julgo su- gente tem nosso fogão industrial, gela-
ficiente para a reflexão que aqui proponho. deira, um computador... ganhamos um
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caminhão no valor de R$ 30.000,00 no se essa posição de identidade solidária fosse algo obri-
Orçamento Participativo, mas não pode- gatório para eles. Eles precisam pedir (a si mesmos, a
mos retirar pois não temos a negativa mim, a todos) muitas desculpas por não conseguirem
de dívidas com a Prefeitura. Mas a gente efetivar tal posição, por não poderem impedir a
pode se reerguer, se pegar todo o mundo vivência das relações de poder como fixadoras de fron-
junto, lutando pelo projeto do consumo teiras. Culpabilizam-se por não terem tido a compe-
ético e de uma sociedade melhor. tência necessária para a prática da autogestão; refe-
Cc- Não sei se o melhor é necessariamente rem que comportar-se como capitalista, pegar os víci-
formar outra cooperativa, vocês têm ou- os do capitalismo, é algo vergonhoso para sócios de
tras opções: micro-empresa, sociedade... um empreendimento cooperativo e solidário.
C- Mas nós acreditamos no Pode-se argumentar que as duas dimensões da
cooperativismo, na economia solidária, transição paradigmática - a epistemológica e a
será que queremos voltar pro sistema societal, - interligadas e interdependentes, estão pre-
capitalista? sentes nos conflitos enfrentados pelos participantes.
Cc- Olha, o objetivo é a recuperação do Percebe-se a competição entre um paradigma emer-
empreendimento, a gente sabe que os gente (o solidário), que tenta impor-se, e um
princípios norteadores são solidários, paradigma anterior (o capitalístico) que insiste em
mas tem muitas formas de se constituir. corporificar-se nas relações de trabalho. Materializa-
K- É isto mesmo, é isso aí, se todos os se por constituir a “geografia” já conhecida dos sujei-
companheiros aqui derem opiniões, a tos narradores, por serem eles mesmos fruto daquele
gente chega lá, busca um consenso e vai modo de subjetivação.
embora de novo. Só que dessa vez, com O modo de subjetivação capitalista do
total transparência entre os sócios. paradigma ainda hegemônico, caracterizado pela
concentração de poder, pela postura de espectador dos
Figura 1: Esquema da trajetória dos participantes do trabalhadores, impõe suas maneiras de trabalhar; ao
empreendimento tentarem, intuitivamente, propiciar as trocas de co-
nhecimento dentro da experiência de desenvolvimen-
to, trabalho e produção que empreendiam, os partici-
pantes “perderam-se” num labirinto cujo mapa, a prin-
cípio, ninguém tinha. As trocas igualitárias entre os
diferentes conhecimentos seriam talvez as responsá-
veis pelo processo coletivo de traçar possíveis mapas
de trânsito no labirinto. Este último, metáfora para
as perplexidades daqueles que tentam navegar nas
águas do “capitalismo leve e fluido” (Bauman, 2001),
exige uma instantaneidade de aprendizados e atos que
o tempo singular dos sujeitos que precisam aprender
a enfrentá-lo não alcança, não sendo ele da ordem do
instantâneo.
As zonas de sentido podem configurar-se con-
traditórias, assustadoras. Ao perceberem-se no labi-
rinto, sem as ferramentas necessárias para enfrentá-
O esquema reconstrói as dificuldades de cons- lo, os cooperativados sofrem. Os minotauros - nessa
tituir uma cooperativa dentro dos parâmetros e valo- versão do labirinto eles são muitos, e possuem varia-
res solidários, que apresentam-se para os participan- das formas - espreitam, prontos a impedirem-lhes o
tes do empreendimento através dos discursos/saberes acesso a uma renda digna e um trabalho satisfatório
que circulam no campo. Essas zonas de sentido inclu- e solidário.
em uma forte expectativa de transformação e supera- O labirinto é geométrico, mas o é de uma for-
ção, identificação dos projetos da economia solidária ma absolutamente incompreensível; além do que, a
com uma sociedade melhor e mais justa, um novo cada passo, existe a possibilidade do Minotauro, o
mundo possível a ser construído. E vivenciam a frus- pesadelo do fracasso. Não se conhecem todas as pas-
tração de ver que, na prática, não foi bem assim, pelo sagens do labirinto, como não se conhecem todas as
menos neste caso. passagens da vida. A perplexidade une-se à solidão,
São idealizadas, pelos atores da economia so- já que ninguém parece oferecer o fio de Ariadne que
lidária, formas de se relacionar, sentir e agir; é como poderia conduzir à saída do labirinto.
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Veronese, M.V.;Guareschi, P. “Possibilidades solidárias e emancipatórias do trabalho: campo fértil para a prática da
Psicologia Social Crítica”
Sob o ponto de vista psicológico, as desigual- no caso a micro-política da democracia-sem-fim nas
dades de recursos são percebidas com sofrimento, es- relações.
pecialmente por parte daqueles que possuem baixo Seria importante que as pessoas pudessem par-
nível de educação formal. As competências do “eu” ticipar dos processos que organizam os recursos para
são percebidas como limitadas e inadequadas na es- fazer funcionar o empreendimento, apropriando-se de
fera pública laboral, estando presente a auto- formas mais autônomas de produzir a gestão, através
culpabilização pelas falhas no processo. A percepção de uma racionalidade própria aos empreendimentos
de si como inferior e incapaz acaba dando margem solidários. Tal racionalidade assenta na comunidade
às desistências de ser sujeito da gestão do empreendi- de trabalho (Gaiger, 2005), a qual funda-se em víncu-
mento e de produzir a gestão compartilhada, ou los de reciprocidade, que diluem as eventualmente
autogestão. O sofrimento que acompanha a suposta rígidas fronteiras entre interesses individuais e coleti-
incapacidade e esse sentimento de inadequação, pro- vos. Também é apontado, como um fator positivo, a
vavelmente está ligado à constante interpelação que é indivisão social entre capital e trabalho, característi-
feita no sentido da autogestão, do domínio de si na ca dos EES. Quem trabalha, deverá apropriar-se do
relação com a alteridade e no espaço do trabalho produto final deste trabalho, além de participar da
solidário. sua gestão e organização. Isso precisa ser garantido
Apesar das dificuldades enfrentadas, alguns tra- pelos mecanismos institucionais da gestão do empre-
balhadores e trabalhadoras propuseram o recomeço, endimento, para que sua forma de racionalidade de-
buscando relacionar-se entre si e com a comunidade marque-se como solidária e justa, implicando novos
no modo abertura-de-novos-caminhos, resistindo, processos de subjetivação com sentido emancipatório.
cartografando e experimentando um novo rumo nes- A psicologia social crítica do trabalho pode
se labirinto intrigante e por vezes desesperador da vida ocupar-se de discutir e problematizar as transforma-
cotidiana na contemporaneidade. ções da subjetividade na autogestão, no âmbito da
micro-política das relações laborais, ou seja, nos en-
PAPÉIS POSSÍVEIS PARA A PSICOLOGIA SOCIAL contros, assembléias, reuniões, seminários, espaços
CRÍTICA NESSE CONTEXTO de formação profissional etc. As práticas dialógicas
Ao inserir-se no espaço-tempo engendrado pelo podem efetivar-se em programas de educação para a
trabalho solidário, a psicologia pode ter um labora- autogestão, por exemplo - parte importante dos pro-
tório importante de análise da transição paradig- cessos de incubagem de empreendimentos, - ou de
mática em curso. É importante, então, a pesquisa em aprendizagem cooperativa. Esta última, referida como
psicologia nesses novos meios de produzir, apropriar- processo-chave para o sucesso dos empreendimentos
se e dividir o produto final do trabalho, visando con- econômicos solidários (Schneider, 1999), pode facili-
tribuir nos processos em que racionalidades diversas tar uma apropriação mais rica dos saberes necessári-
das tradicionais ou hegemônicas irão expressar-se e os à autogestão.
desenvolver-se. Na ausência de diálogo, de condições relati-
Esse processo é aberto, complexo, sem verda- vamente igualitárias de conversação, de relações de
des definitivas. É um laboratório vivencial de toda a autoridade compartilhada, como avaliar se as fontes
sociedade, que precisaria, talvez mais do que nunca, de recursos e de formação são adequadas? Torna-se
formar comunidades interpretativas (Santos, 1996; relevante construir modelos metodológicos abertos,
2000); comunidades essas que traçassem, conjunta- intrinsecamente dialógicos, que possibilitem a clara
mente, mapas para enfrentar o labirinto. Cartografar, expressão das dificuldades, visando identificar, avali-
se não a saída do labirinto - nem sabemos se há saí- ar e valorizar as especificidades das empresas da eco-
da, - a possibilidade de nele movimentar-se sem tanto nomia popular e solidária, no registro coletivo do
sofrimento, acabando por, quem sabe, conseguir empreendimento e para cada participante individual-
subvertê-lo de algum modo, criando alternativas co- mente.
letivas para seu enfrentamento. A aprendizagem cooperativa é uma
A psicologia social crítica do trabalho poderia metodologia de trabalho em grupo que transforma a
ocupar-se de participar, através de seus agentes (pes- heterogeneidade em um elemento que facilita e in-
quisadores/as, psicólogos/as, estagiários/as), das centiva o aprendizado (Monereo e Gisbert, 2005). Si-
transformações da subjetividade, na micro-política das mulando situações que devem ser resolvidas em cola-
relações laborais. Contribuir para transmutar relações boração, os aprendizes vivenciam a interação positi-
de poder autoritárias em relações de autoridade com- va - mesmo que eventualmente conflituada, - com
partilhada, através de práticas dialógicas; a idéia colegas e aprendem a se expor, argumentar e ouvir.
regulatória presente nessas práticas, segundo Santos Estimular sentimentos recíprocos de ajuda faz parte
(2003) é o socialismo como democracia-sem-fim, mas da intervenção, como prática pedagógica (busca de
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novos esquemas cognitivos) e como prática psi (bus- tão em Organizações da Economia Solidária. Traba-
ca de novos processos de subjetivação). É preciso cons- lho apresentado no XXV ENANPAD, Campinas.
truir uma relação onde o sucesso de cada membro
está ligado à conquista do grupo, potencializando o Antunes, Ricardo. (1999). Os sentidos do trabalho:
coletivo, gerando uma postura reflexiva e crítica. Ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho.
Nessas comunidades de trabalho, auto- São Paulo: Boitempo Editorial.
interpretativas e autocríticas, o senso comum
emancipatório teria de ser produzido Bauman, Zygmunt. (2001). Modernidade líquida. Rio
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dimensões: A dimensão ética (solidariedade) a dimen-
são política (participação) e a dimensão estética (pra- Beck, Ulrich; Guiddens, Anthony; LASH, Scott. (1994).
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com aquilo que produziu. É um grande desafio, espe-
cialmente nas duras e adversas condições materiais Codo, W. (2000). Educação, carinho e trabalho.
da periferia do sistema-mundo como é o caso do Bra- Petrópolis: Vozes.
sil.
Para tanto, a psicologia social crítica do tra- Coraggio, Jose Luiz. (2001). Problematizando la
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com os atores do campo possibilidades de erotização, Presentación en el II Encuentro Internacional sobre
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coletiva no trabalho, bem como da potencialização <http://www.fronesis.org>
de relações de trabalho mais satisfatórias.
As articulações com outras disciplinas fazem- Eenjolras, Bernard. (2002). L’economie solidaire et le
se necessárias e profícuas; a educação cooperativa é marché: modernité, société civile et démocratie. Paris:
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cinas, vivências, seminários, encontros, reuniões para dade e trabalho. Petrópolis: Vozes.
discussão, - viabilizando a troca complementar entre
os agentes dos EES, abordando temas como: consumo Fonseca, Tania Mara Galli. (2002). Modos de traba-
ético, produção associativa, organização do trabalho, lhar, modos de subjetivar em tempos de reestruturação
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popularizar esses temas, pode ser prática cotidiana balhar, modos de subjetivar em tempos de
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Marília Veríssimo Veronese.


Mestre e Doutora em Psicologia pela PUCRS.
Docente e Pesquisadora do Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais Aplicadas
da UNISINOS.
Av. Unisinos, 950 - Bairro Cristo Rei -
CEP 93022-000 - São Leopoldo - RS - Brasil
Os e-mails da autora são:
mariliav@unisinos.br/mariliavero@yahoo.com.br

Pedrinho Guareschi.
Mestre em psicologia social pela Marquette
University (EUA). Doutor em sociologia e
comunicação pela Universidade de Wisconsin. Pós-
doutor em sociologia pelas Universidades de
Wisconsin e Cambridge. Docente e pesquisador do
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
PUCRS. Pesquisador do CNPq.
Instituto de Psicologia Campus Universitário Central
Av. Ipiranga, 6681 - Partenon - CEP 90619-900
Porto Alegre - RS - Brasil
O e-mail do autor é:
pguares@pucrs.br

Este artigo tem origem na pesquisa desenvolvida pela


primeira autora no doutorado em psicologia da
PUCRS, sob orientação do Prof. Dr. Pedrinho Guareschi
e co-orientação em regime de bolsa sandwich com o
Prof. Dr. Boaventura Sousa Santos (Universidade de
Coimbra). Para o doutorado, o apoio foi da Capes;
para o sandwich, o apoio foi do CNPq.

Marília Veríssimo Veronese e


Pedrinho Guareschi
Possibilidades Solidárias e Emancipatórias
do Trabalho: campo fértil para a prática da
Psicologia Social Crítica
Recebido: 17/03/2005
1ª revisão: 13/06/2005
Aceite final: 28/06/2005

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