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ÍNDICE
02 Editorial
03 Vamos tirar a poesia do Olimpo? | Isabelle Pantoja
04 Taxonomia do romance e o Campo Literário | Daniel Prestes da Silva
06 Palavras milenares: as literaturas indígenas em perspectiva | Fernanda Vieira
08 Uma aventura contra o fascismo no meio da floresta amazônica | Daniel Prestes da Silva
09 A hora da aventura | Igor F. Gomes
10 Entrevista - Roberta Spindler
JAMBURANA – tremor literário, ano um, número um, dezembro de dois mil e dezoito
OPINIÃO “Poesia não vende, pois a sociedade anda muito superficial, preocupada com
assuntos mais efêmeros e sem tempo para a profundidade que uma leitura de
poesia exige” | Por Isabelle Pantoja |
O que distingue a poesia de épocas diferentes? Ritual, mas eu pergunto: Quem disse isso?!
O que define sua singularidade para ser mais ou Na verdade, podemos pensar que os poemas
menos lida? Pensava eu, enquanto participava de são como deuses olímpicos, estão lá
um curso de editoração em que foi suscitada a aparentemente inalcançáveis por sua condição
seguinte questão: “Poesia não vende?”. E uma divina, mas não se deve esquecer que têm forma,
moça ao meu lado imediatamente concluiu com costumes e sentimentos como nós, meros mortais.
uma resposta e um porquê: Por isso, penso, a maioria dos leitores acredita
que é melhor não comprar um livro de poesia,
“Poesia não vende, pois a sociedade anda muito “porque não vai entender nada”. Talvez se os
superficial, preocupada com assuntos mais próprios leitores, poetas, críticos e todos que
efêmeros e sem tempo para a profundidade que gostam dessa arte tentasse desmistificar o ato de
uma leitura de poesia exige”. ler poesia, sua leitura fosse mais abrangente.
Os leitores de romance, por exemplo,
Claro que nessa pergunta, indiretamente, geralmente buscam uma história que os envolva, 3
estamos pensando na poesia enquanto leitura de que os transporte para outra realidade. Se eles se
entretenimento. Então, fiquei pensando na permitirem, em um livro de poesia há muito mais
assertiva da moça, a poesia não vende por esse que uma única história. E diferente de como ficou
motivo? Será?! consagrada, a poesia não é uma deusa cheia de
Sei que a poesia de cada época está relacionada pompa e mistérios.
aos costumes e à forma como ela (a poesia) fica Claro que esse cenário, de certa forma, vem
impressa na memória, assim, acredito que o sendo transformado; 2013 foi um ano em que
grande entrave dela, atualmente, é a forma como houve uma “febre poética” e até poeta virando
ficou guardada na memória da maioria das best-seller.
pessoas: uma arte erudita! A começar pelo Sim, tivemos um gás para a poesia! Porém,
primeiro contato do leitor com a poesia que, na ainda estamos longe de ver a poesia ser lida por
maioria das vezes, se dá no ambiente escolar. O um grande número de pessoas, como os outros
que não seria um problema, não fosse a maneira gêneros que não têm, principalmente, como carro-
historiográfica que a poesia é ensinada nas chefe em seus volumes, sucessos póstumos.
escolas, e que acaba fazendo com que ela seja A verdade é que para quem aceita a
lembrada por escolas literárias, autores aproximação com a poesia, ela torna-se uma
canônicos, e todo aquela blá blá blá que ao invés de viagem de descoberta, revelação de um gênero
conquistar, acaba afastando o leitor e impondo literário mal interpretado.
uma distancia às vezes sem volta. Até mesmo passeando pelas prateleiras de
O que dá pra perceber é que poesia acabou virando uma livraria, é possível ter um momento de
literatura para intelectuais (ou diria intimidade com um poeta, e ser laçado por um
pseudointelectuais?)! E aqui encontro a linha de poema despretensioso num livro perdido. Então,
pensamento que dá força ao discurso daquela porque não tirar a poesia do Olimpo? E permitir
moça: acredita-se que ler poesia requer uma acabar com as formalidades que foram,
preparação, um estado de espírito , quase um infelizmente, impostas para sua leitura.
ritual. *Originalmente publicado no blog Folhetim Felino em 21 de maio de 2015.
JAMBURANA – tremor literário, ano um, número um, dezembro de dois mil e dezoito
ENSAIO O mercado editorial trabalha com uma classificação que busca atrair a
atenção ou situar o leitor nas obras que se intende agradá-lo e, assim, fazer
vender | Daniel Prestes da Silva |
Deste modo temos que, o mercado editorial os leitores, mas totalmente ignoradas pela crítica
trabalha com uma classificação que busque atrair literária mais acadêmica enquanto textos
a atenção ou situar o leitor nas obras em que se realmente importantes para a Literatura, tanto que
pretende agradá-lo e fazer vender, como são os nem classificação para o gênero há, podendo com
casos da classificação de romances com os quais muito custo, talvez, considerá-los como romances
El Far trabalha em Páginas de Sensação, em que românticos.
livros sob a taxonomia romanesca de “romances Nada tem se comparado ao efeito que os
para homens” indicavam que os temas ali romances YA (sigla de Young Adult) têm tido nos
abordados contrariavam os valores morais do XIX últimos anos dentro do mercado editorial.
brasileiro. Alguns dos romances que hoje Popularizado por autores como John Green e David
consideramos Naturalistas poderiam ser Levithan, por exemplo, o gênero fez escola, sendo
facilmente colocados sob epíteto “romances para boa parte da produção americana feita para o
homens”. Vale lembrar que obras consideradas público, que como o próprio nome indica é o jovem
licenciosas e/ou pornográficas também já foram adulto e aborda os diversos problemas e
denominadas em textos sobre o assunto como adversidades que os jovens e adolescentes,
“livros para se ler com uma mão só”, evidenciando geralmente com 15/16 anos passam; nessas obras,
justamente o caráter excitante delas. além da questão amorosa e das primeiras vezes,
Ora, a classificação “romances para homens”, temas como depressão, suicídio, bullying,
posta sempre em evidência nas livrarias, fazia preconceito racial, de gênero e de orientação
mais que indicar o teor delas, eram uma espécie de sexual, bem como dramas familiares são
chamariz, de estratégia publicitária para fazê-las abordados.
serem vendidas; e, sendo bem vendidas, A entrada do Young Adult enquanto categoria
acrescentavam a si mais um aspecto negativo de classificação da produção romanesca é tão
daqueles que buscavam fazer da literatura algo grande que romances de fantasia, distópicos,
sério, prática de homens distintos.
Atualmente, essas classificações do mercado
ficção-científica, chick-lit e demais classificações
hoje feitas pelas editoras a fim de chamar a
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editorial não só aumentaram como sofreram atenção para suas publiacações podem também
processo de hibridização, como podemos ver em ser consideradas como livros para jovens e
categorias do gênero fantasia-distópica, que adultos.
aglutinam no enredo dos romances o caráter Enquanto efeito recente e com forte apelo entre
distópico em mundos fantásticos, como por os leitores, ainda não há nenhuma maneira de
exemplo Half Blood; ou ficção-científica-distópica, classificá-los pelo viés da crítica literária, uma vez
como é o caso de Divergente, em que em um futuro que ainda não angariaram para si o prestígio que
pós-apocalíptico a ciência sofre avanços tais que ela exige para se dedicar aos estudos das obras,
influencia a organização social em um governo mas poderíamos pensar neles como obras que, se
ditatorial. acompanhassem a vida dos personagens até sua
Dentre as diversas classificações de mercado, fase adulta, o que não acontece, poderiam ser
com o intuito de rotular um tipo de produção e classificadas como romances de formação,
fazer a atenção dos leitores se voltar para ela, há o justamente por abordarem as questões pelas
chick-lit, que são considerados os romances de quais as pessoas passam na vida para se tornarem
mulherzinha, por trazerem como foco a vida de o que são.
mulheres em suas dificuldades em Mesmo essas outras classificações como
relacionamentos (amoroso, sexual, familiar) ou distopia, terror ou ficção-científica, embora já com
problemas relacionados ao trabalho, as vezes, um solidez taxonômica, ainda são gêneros pouco
tudo isso junto. ou não valorizados pelo cânone.
O diário de Bridget Jones, adaptado para o
cinema em 2001, é considerado um clássico do
gênero, que tem inúmeras obras de referências e
autoras importantes no mercado editorial e entre
JAMBURANA – tremor literário, ano um, número um, dezembro de dois mil e dezoito
PALAVRAS MILENARES:
AS LITERATURAS INDÍGENAS EM PERSPECTIVA
as literaturas indígenas. E escrevo literaturas, assim no plural, para mostrar que não há espaço para
homogeneização das escritas dos povos originários como não há espaço para homogeneização das
identidades indígenas.
A palavra é plural, assim como foram as experiências coloniais, assim como são as vivências na
colonialidade. Vivemos em constante vigilância contra a homogeneização e/ou exotização das escritas
indígenas.
Ler Chrystos não é a mesma coisa que ler Patricia Grace. Como pesquisadora, escritora e
indigenodescendente, espero que as literaturas indígenas alcancem mais espaços e possam ser
ferramenta de cura e espaço para viver e trabalhar a dor, como têm sido para mim.
Precisamos desenhar novos mapas onde as identidades dos nossos povos originários e de seus
descendentes não sejam restritas à lendas e relatos de experiências, porque somos isso e muito mais.
A você que me lê, recomendo que conheça Eliane Potiguara, Graça Graúna, Marcia Wayna Kambeba,
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Larissa Behrendt, Janet Campbell Hale, Lee Maracle, Chrystos, Patricia Grace, Paula Gunn Allen, Elissa
Washuta, entre outras tantas guerreiras da palavra que preenchem as rupturas das nossas histórias
interrompidas e dão volume às vozes indígenas que nunca foram de fato silenciadas.
Caminhar pelos territórios do saber indígenas, através das suas literaturas, é um exercício de
autoconhecimento, que atravessa nossa ocidentalização forçada e nos carrega para uma margem de
rememória e reconhecimento.
Os povos indígenas são povos do agora e, especialmente no panorama atual, é mais do que
necessário viver saberes outros que não os hegemônicos eurocentrados. Nossa ancestralidade é raiz
firme, rio caudaloso, céu limpo, terra fértil para novos atravessamentos necessários e urgentes nos dias
cinzas como os de hoje.
essas questões brasileiras com o seu tom narrativo que lhe é marca registrada: aventuresco e histórico,
misturando o que há de melhor em referências literárias e cinematográficas, como Jurassic Park e
Fantasia, nos dando a conhecer a imagem do que seria um país afundado no fascismo e a luta para que
essa realidade fique no lugar que lhe diz respeito: o passado.
A HORA DA AVENTURA
CONTO E sim, na plateia, as crianças ovacionam, pois o dia delas chegou. Promessa é 9
dívida, tá ok?
| Igor F. Gomes |
Escola Paulo Freira, 12 de outubro. No banheiro, gente, mas chega a hora em que um homem tem
visto a fantasia de Finn, o Humano. Tiro a arma que lutar pela moral dos bons costumes. Amém.
legalizada da mochila, projeto de lei número Enxergo um pai militar, uma mãe de verde e
amarelo. Sorridentes. Na parede, uma faixa “o
3722/12. Bancada da bala. Taurus 59s, tingida de
jardim dois agradece à 17º feira da cultura de tema:
amarelo e carinhosamente batizada de “Jake, o quando a educação não é libertadora, o sonho do
Cachorro”. Linda. Defesa do lar. Autorizada oprimido é se tornar o opressor”. A professorinha
somente para posse, mas ninguém desconfiou do anuncia meu nome, subo ao palco. Parecem
porte quando passei pela portaria. Sou ex-aluno, ansiosos para o show de mágica, ouço perguntas,
garoto de família, homem de bem. Tá ok? Escondo “Cadê o Jake?”. Abro um sorriso, digo que preciso
Jake nas costas da cintura, vou em direção à de um voluntariozinho. Várias mãozinhas
branquinhas se levantam, escolho a única negra. A
biblioteca, lotada, abraços e risos de todos os
filha do militar. Ele se despede, ela vem, para em
lados, “Mamães, o Finn tá aqui, quero foto”. Que minha frente, a viro de costas para mim, de frente
nojo, como é que pode? Desrespeito! O que será da para todos. Ponho uma das mãos em seu
mente confusa dessa criança com duas mães? ombrinho, e vou levando a outra em direção as
Perdoa Deus, elas não sabem o que fazem, mas eu costas de minha cintura enquanto canto: “a
sim. Quando larguei esse local, prometi que aventura, vai começar...” E sim, na plateia, as
voltaria, e promessa é dívida. Papai me manteve crianças ovacionam, pois o dia delas chegou.
Promessa é dívida, tá ok?
protegido o quanto pôde, dos perigos desse tipo de
JAMBURANA – tremor literário, ano um, número um, dezembro de dois mil e dezoito
ENTREVISTA Heróis de Novigrath foi a oportunidade perfeita que encontrei para realizar
essa vontade, mesclando os e-sports com fantasia, que é outro assunto
que adoro.
Roberta Spindler publicou no início desse ano o romance Heróis de Novigrath. Para esse primeiro
número, conversamos um pouco sobre como ela percebe a nova geração de escritores paraenses, a
publicação de seu novo livro pela Companhia das Letras, a relação com os meios de divulgação e
criculação entre a crítica e a relação que ela tem com os leitores.
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Imagem: Divulgação
- TREMOR LITERÁRIO –