Sei sulla pagina 1di 2

[LÍRICA CAMONIANA] Literatura Portuguesa

A lírica tradicional - A medida velha

É, porém, um dos encantos da leitura dos Cancioneiros o verificar que poetas


aristocráticos, o próprio rei D. Dinis, não esterilizam o engenho na adaptação da lírica provençal.
Os poetas medievais, porém, nesses tempos de menor desnivelamento de cultura entre o escol e
o povo, ao mesmo tempo que simplificam a poesia provençal, estilizam ou imitam a lírica, de
discutida origem, que anda na boca do povo; e de modo tal a imitam, que, salvo uma ou outra
subtileza psicológica, lhe mantêm a graça natural, a frescura e perfume silvestres. Realizam, assim,
o que há de mais belo nos Cancioneiros medievais.

Mas era entre o povo, seguramente, que se conservavam vivos os velhos temas e formas
da lírica provençal.

É sabido qual o traço essencial das poesias de gosto popular dos Cancioneiros. São, em
geral, confidências, apelos, líricas expansões, já de contentamento de amores correspondidos, já
de chorosos queixumes ou ansiosas apreensões de donzelinhas namoradas. Em qualquer caso, são
elas as figuras centrais dos pequeninos quadros bucólicos ou marítimos. Quando diretamente se
não dirigem aos namorados, podem as confidentes ser as irmãs, as amigas e até as mães,
complacentes às vezes, outras irritadas; raro o poeta. Mas também sucede, no ingénuo
naturalismo antropopático que as inspira, serem, por vezes, os estorninhos do avelanado, as flores
do verde pinho, as cervas do monte, as ondas do mar. Castas, em geral; contudo, uma ou outra
vez, levemente as acidula a malícia, por exemplo, de uma desculpa mentirosa, de uma intenção
sensual, mas sempre expressa com moderação e compostura. O cenário do pequenino drama
lírico são as ribas do mar, a fontana fria, o pinhal ou o avelanal, e, com significativo predomínio, o
santuário de romaria, o que, pelos elementos originários que implica, será em parte a explicação
do normal recato desta lírica, tão diferente, a esse respeito, da francesa, por exemplo.

O aristocratismo das formas italianas a pouco e pouco foi relegando dos salões e dos livros
esta linda e fresca florescência poética. É bem uma das provas da superioridade de Camões ter-
lhes sentido a beleza e perpetuado, através da sua Lírica, o delicioso encanto.

Vejam-se, por exemplo, os lindos ecos de pastoreia que nos legou. Ecos, na verdade;
porque o género, na sua forma arcaica, é um pequeno diálogo em que um cavaleiro corteja uma
pastora e é, em geral, por ela acolhido, depois da repulsa em nome de um amor mais simples e
honesto ou do próprio pudor que se defende. Mas há também a pastoreia sem este aspeto lírico-
dramático, puramente narrativa, em torno de uma figura central ou mesmo única - a pastora.

Hernâni Cidade, in ob. cit. (com supressões)

Embora extasiado pela beleza da lírica tradicional, Camões não deixou de a enriquecer com
tons petrarquistas e clássicos, que se respiravam por toda a parte. Também soube usar o estilo
engenhoso do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende com uma tão rara mestria que se pode
considerar um precursor do barroco.
[LÍRICA CAMONIANA] Literatura Portuguesa

A lírica clássica - A medida nova

Camões não podia deixar de ser seduzido pelos ideais clássicos e renascentistas que
alimentavam os espíritos cultos da época. Estudioso apaixonado, Camões assimilou esses ideais e
plasmou-os em magníficos textos: sonetos, canções, odes, éclogas e elegias. Como vamos estudar
preferencialmente o soneto camoniano, importa apresentar alguns dados sobre esta forma
poética.

É de origem incerta, aceitando-se geralmente a hipótese de que tenha sido inventado pelos
trovadores provençais, aperfeiçoado posteriormente pelos poetas italianos do Dolce Stil Nuovo,
com destaque para Dante e, sobretudo, Petrarca. Sá de Miranda, que estagiou na Itália,
introduziu-o em Portugal a partir de 1526. É uma forma muito rígida, com rima fixa nas quadras
(abba abba) e variável nos tercetos (cdc dcd ou cde cde). O seu nome parece indicar que se tratou
inicialmente de uma pequena melodia, correspondendo a uma oitava (= duas quadras) e uma
sextilha (= dois tercetos).O soneto perfeito obriga a ideia a progredir logicamente: na primeira
quadra propõe-se o assunto (proposição), na segunda quadra explora-se (exploração), no primeiro
terceto confirma-se (confirmação) e no segundo terceto conclui-se (conclusão).

Camões comunga na paixão comum pelas literaturas clássicas. E não vejamos no facto o
mero resultado de uma adaptação à moda, tão inelutável como caprichosa. Porque a literatura,
como toda a cultura clássica, não podia deixar de ser gratíssima à alma sadia de Quinhentos, que
mil factos enchiam de orgulhosa confiança em si própria, reanimavam de alegre otimismo perante
a Vida. Ela viera, na verdade, insinuar no espírito cristão o sentimento da bondade e formosura da
Natureza, humana como física. O ideal rabelaisiano, que daí resultava, do equilíbrio interior entre
o homem carnal e o espiritual, quando não se tornava norma de vida, era, pelo menos, o sonho
em que se compraziam a literatura e a arte dos que mais integralmente viviam a cultura da época.
Por elas, quando em tal princípio inspiradas - e com a gostosa complacência comum -, o homem
que se exprime não é, de modo nenhum, aquele que o Cristianismo tentou moldar em quinze
longos séculos de civilização, embora já não pudesse ser o que tinha em Ovídio e Horácio os
apóstolos do seu Evangelho. É o homem que, em certos momentos, se realiza na complexa
psicologia de Camões, que na pagã reconciliação com a terra não deixa extinguir a saudade
daquela santa cidade, de onde a alma descendeu.

O seu amor pelas formas de arte dos tempos clássicos explicitamente o afirma, na Écloga
dedicada ao duque de Aveiro:

“Vereis, Duque sereno, o estilo vário, A nós novo, mas noutro mar cantado De um, que só
foi das Musas secretário: [...] Deste seguindo o som, que pode tanto, E misturando o antigo
Mantuano, Façamos novo estilo, novo espanto”.

Hernâni Cidade, in ob. cit., pp. 107-108

Potrebbero piacerti anche