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SÉRIE: 77Z
VOLUME: 46
TÍTULO: ESPIÕES NO CÉU
AUTOR: TONY MANHATTAN
ILUSTRAÇÃO DA CAPA: BENÍCIO
EDITORA: MONTERREY
ANO DA PUBLICAÇÃO:
PREÇO DA PUBLICAÇÃO: CR$ 4,00
PÁGINAS: 128

SCANS E TRATAMENTO: RÔMULO RANGEL


romulorangel@bol.com.br

DISPONIBILIZAÇÃO
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apresenta

Copyright © Editora Monterrey Ltda.

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ESPIÕES
DO
CÉU
TONY MANHATTAN

Capa de BENICIO

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PRÓLOGO

O avião de transporte C-130, da USAF, partira de


Anchorage, no Alasca... Equipado com um sistema especial
de cabos trapezoides e guiado pelo radar de terra,
sobrevoava uma certa área do Oceano Pacífico.
Naquele mesmo instante, um objeto metálico, preso a
um para-quedas, descia do céu...
O avião, destramente manobrado, preparava-se para
recolher o objeto estranho, a 10 quilômetros de altura; mas,
no exato momento em que se aproximava de sua presa, o
objeto explodiu em pleno ar, fazendo saltar longe um tubo
escuro, que, caindo rápida e vertiginosamente, mergulhou
nas águas do oceano e, logo depois flutuava ao sabor das
ondas...
Enquanto isso, no céu, um segundo avião da flotilha de
C-130 localizava um caça a jato, vindo não se sabe de onde.
O outro aparelho não levava nenhuma identificação.
Uma rápida perseguição teve início, mas, em manobras
precisas, o caça desapareceu por entre as nuvens, sem que
fosse possível identificar sua nacionalidade. Provavelmente
ele fora lançado por algum barco que não se encontraria
muito longe dali...
A tripulação do Cl30 tecia comentários sobre o estranho
acontecimento. O piloto afirmava para os demais:
— Estou bem certo do que lhes digo! Eu vi, não foi
sonho ou imaginação! Vi perfeitamente quando um raio de

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luz vermelha se projetou do caça a jato e atingiu a cápsula
que descia com o para-quedas!
— Impossível! — exclamaram seus colegas. E um deles
ajuntou: — Como pode ter sido uma coisa dessas? Nenhum
de nós viu nada!
— Bem — concluiu o piloto. — Não adianta ficarmos
aqui batendo boca, numa discussão que a nada poderá levar!
O importante, agora, é entrarmos em contato com o nosso
destroier, que deve estar por perto do local onde o objeto
caiu no mar!
Imediatamente, a comunicação foi estabelecida e,
poucos instantes depois, um destroier cinzento partia na
direção indicada, a toda a velocidade.
Chegando ao local, um escaler foi descido e o objeto,
pescado pelos homens que remavam. Era um rolo de filmes,
num tubo lacrado e impermeável.

***

Mr. O’Neal, o alto e agro diretor da CIA, passeava de


um lado para outro em seu vasto escritório. De vez em
quando, parava junto à mesa de trabalho, em cima da qual
se encontrava um envelope pardo, contendo algumas
fotografias.
Sem nenhum aviso prévio, a porta do gabinete se abriu,
deixando passar um homem baixo e gordo, de lunetas. Seus
cabelos grisalhos eram finos e esvoaçantes.
Aquele homem, que assim invadia, sem muita
cerimônia, o gabinete de Mr. O’Neal, era o chefe do DCA
(Department Of Convert Activity) — serviço de ação da
CIA encarregado de raptos, sabotagens e assassínios
políticos.
— Você não demorou muito, velho...

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— Mr. O’Neal, depois de apertar a mão do Velho,
indicou-lhe uma poltrona e também se acomodou, diante da
mesa, tendo nas mãos o envelope pardo. O chefe do DCA
esperou que o diretor falasse.
— Veja o que acabo de receber do Centro Nacional de
Interpretações Fotográficas! — disse o homem magro. E
espalhou sobre a sua mesa de trabalho, diversas fotografias,
recentemente reveladas, enquanto prosseguia: — Isto é
apenas metade do rolo de filmes que foi apanhado no
Oceano Pacífico por um vaso de guerra. A outra metade,
infelizmente, estava inutilizada.
O Velho passou os olhos pelas fotos, ao mesmo tempo
que Air. O’Neal lhe estendia o relatório do CNIF,
explicando:
— São fotografias de um trecho da região de Lop Nor,
onde está instalado o Centro Atômico da China Popular.
Repare bem nas fotos. Notou a camuflagem?
— Sim. Está bem clara. E, ao mesmo tempo, parece
funcional.
— Pois bem. Esta camuflagem deve ocultar algum
depósito de armas desconhecidas! Talvez se trate de
“UNAS”(*), um novo tipo de armas secretas cujo poderio
ofensivo precisamos conhecer!

(*) “Unidentified Arms”

— Quem sabe se, por meio dos satélites artificiais ... —


ponderou o Velho.
Mr. O’Neal fez um gesto brusco.
— Não. Satélites estão fora de cogitação! Não
conseguem fotografar o local, por causa da camuflagem.
Mas em todo caso revelaram que, naquele local, existe
alguma coisa ameaçadora que precisamos conhecer! Se não

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se tratasse de armas de grande importância, os chineses não
se preocupariam em camuflar o depósito...
— Bem — tornou o Velho, com voz pausada e sem
emoção. — Se os satélites, nossos espiões do céu, são
impotentes, creio que precisaremos mandar para lá um
outro espião mais perfeito... É isso?
— Exatamente — concluiu Mr. O’Neal. — Estávamos
preparados para enviar um velho chinês, chamado Sun-
Nang-Sha, mas, a esta altura, a missão tornou-se bem mais
importante... e, automaticamente, mais perigosa!
Precisamos de alguém com muita coragem... e sangue-frio
bastante para atrever-se a invadir os depósitos secretos,
descobrindo o que realmente existe escondido ali!
— Sim — murmurou o Velho, enquanto coçava o
queixo, num gesto muito seu. — Ê uma missão para um
homem fora de série...
Mr. O’Neal ergueu-se e recomeçou o passeio,
interrompido pela chegada do Velho.
Os dois homens estiveram calados por algum tempo, até
que o diretor da CIA parou em frente à poltrona ocupada
pelo chefe do DCA e falou:
— Você não tem uma idéia de quem possa ser o espião
fora de série de que necessitamos para resolver este caso?
Outra pausa. O Velho sorriu. Há muito tinha pensado
em uma pessoa (e sabia que Mr. O’Neal também), mas
esperava que o diretor da CIA lhe dissesse o nome que ele
tinha em mente.
Nova pausa, durante a qual os dois homens se fitaram,
muito sérios. Por fim, os dois se abriram num sorriso,
enquanto pronunciavam o mesmo nome:
— O Máscara Negra!
— Exatamente — continuou Mr. O’Neal. — Era nele
que eu estava pensando, quando mandei chamá-lo a meu

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gabinete. Horace, Young Kirkpatrik, ou melhor, o agente
77Z, é o homem indicado para uma missão melindrosa
como a que teremos que empreender!
— Devo, então, chamar Kirkpatrik e contar-lhe a nossa
decisão? — indagou o Velho, coçando o queixo.
O diretor da CIA acenou.
— Não apenas isso, mas também deve pô-lo a par de
tudo quanto sabemos a respeito do assunto até agora.
Mandei preparar estas cópias das fotografias, e do relatório,
para que ele possa estudar muito bem tudo quanto
possuímos sobre o assunto... o que, concordemos, não é lá
essas coisas...
— Estou certo que o Máscara Negra, partindo dos
poucos dados que possuímos, conseguirá chegar a um bom
resultado — sorriu o Velho, enquanto se erguia da poltrona.
Os dois homens, tão diferentes fisicamente, mas tão
identificados em matéria de objetivos e ideias, apertaram-
se as mãos e, logo em seguida, o Velho deixava o gabinete,
seguindo pelo longo corredor.
— O Máscara Negra... — murmurava ele. —
Kirkpatrik... Pittsburgh...
Mr. O’Neal voltou para sua cadeira, atrás da mesa de
trabalho, e, sentando-se com um suspiro prolongado de
satisfação, também comentou de si para si:
— O Máscara Negra! Somente ele poderá levar a bom
termo uma missão igual a esta! E o Velho pensa que teve
uma grande idéia...
E, enquanto caminhava lentamente pelo extenso
corredor, o Velho sorria, enquanto voltava a ponderar:
— Desde o início, Mr. O’Neal sabia que o homem certo
para o caso era Kirkpatrik. Apenas esperava que eu
sugerisse o nome dele... Mas as palavras já se encontravam
em seu pensamento.

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E está coberto de razões. Para casos de certa
envergadura, temos apenas um homem a quem recorrer: O
MÁSCARA NEGRA! E tomara que ele não esteja
dormindo com nenhuma hóspede bonita nesta temporada!

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CAPÍTULO PRIMEIRO

Mistério em Lop Nor

Na piscina de seu palacete, em Pittsburgh, o industrial


e playboy Horace Young Kirkpatrik divertia-se com uma
garota linda e sensual. Um biquíni cor de carne marcava-
lhe ainda mais a plástica excitante.
Horace Young Kirkpatrik, o presidente da K.K.K. Steel
(34 anos, 1,90 de altura, movimentos de felino e músculos
de aço), também era conhecido como o Máscara Negra ou
o Robô, um dos mais famosos agentes fora de série do
DCA. Olhos cinzentos e frios, queixo afilado e agressivo,
lábios finos, e sobrancelhas arqueadas e espessas ... tudo
isto, e mais a propriedade de várias casas e mansões, frotas
mercantes, vilas na Riviera, Miami, Honolulu e Rio de
Janeiro... faziam do insinuante playboy de cabelos louros e
longos, a companhia preferida pelo sexo frágil...
Kirkpatrik saltara do trampolim, num estético salto
triplo e mergulhara nas águas muito azuis da piscina. Com
rijas braçadas, aproximara-se da borda, onde a linda garota
se queimava ao sol.
Segurando-a fortemente com um dos braços, puxou-a
para dentro d´água... e os dois corpos, muito juntos,
submergiram...
Sob a água, os lábios dos dois se juntaram, num beijo
que fez o sangue do playboy ferver nas veias.

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Os dois corpos subiram à tona e, quando Kirkpatrik,
depois de ajudar sua companheira a içar-se para a borda da
piscina, preparava-se para deitar ao lado dela, gozando
assim da deliciosa intimidade, uma mão tocou-lhe no
ombro.
— Desculpe, meu jovem...
Com um sorriso matreiro nos lábios, o Velho ali estava,
de pé.
— ... e como vai você?
Kirkpatrik ergueu-se, de um salto, e apertou a mão que
lhe era estendida.
— Alguma novidade? É tão rara sua presença em minha
casa! Não me diga que o mundo desabou!
O Velho olhou para a moça, estendida sobre uma
grande toalha vermelha, sorriu e, voltando-se para o
playboy, esclareceu:
— Sinto muito que tenha vindo interrompeu os seus
exercícios matinais, mas temos um almoço marcado no Iron
Club, na Avenida Duquesne... lembra-se?
Kirkpatrik sabia perfeitamente que não marcara
nenhum almoço com o velho, mas logo imaginou que
aquela era uma desculpa para afastá-lo dali. Alguma coisa
de muito importante estava acontecendo. Sorriu para a
garota.
— Você vê como anda esta minha cabeça? Ia faltar a
um compromisso de honra! Um cavalheiro que se preza
nunca falta a um encontro no Iron Club!
E, acariciando com sua mão forte, o rosto macio da
garota, disse, sorridente:
— Você me desculpará, não é? Pode continuar
dourando esse lindo corpinho aqui à beira da piscina... Logo
que for possível, estarei de volta...

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e, até lá, meus criados a atenderão com a máxima
solicitude. Você sabe o que deve pedir, enquanto eu estiver
ausente...
A garota fez um muxoxo e atirou-se na água,
certamente para acalmar os nervos excitados pela cena que
ocorrera antes da chegada do Velho. Kirkpatrik, seguido do
chefe, dirigiu-se ao interior do palacete, para trocar de
roupa. Ele já estava prevendo complicações.

***

Confortavelmente instalados no Iron Club, Kirkpatrik e


o Velho conversavam. O playboy ouvia, com atenção, o que
lhe estava sendo explicado:
— Precisamos, com a máxima urgência, enviar um
agente a Sinkiang, ou melhor dizendo, a Lop Nor, onde fica
a Central Atômica da China Comunista.
— E o que deverá fazer esse agente? — indagou
Kirkpatrik, acendendo um cigarro.
— Deverá descobrir qual o tipo de armas que os
chineses estão armazenando com tanto sigilo, naquele local.
As armas encontram-se em silos secretos, sob uma
camuflagem perfeita que se destina a iludir nossos espiões
do céu. Não sei se você já ouviu alguma coisa com relação
ao “Big-Bird”?
— Sim. É um satélite artificial da atual geração, que foi
lançado, pelo que sei, da Base Aérea de Vanderberg, na
Califórnia, no nariz de um foguete T1TAN 3B. Certo?
— Perfeito — prosseguiu o Velho. — Esse satélite pesa
mais de dez toneladas e tem três metros de diâmetro por
quinze de comprimento. Foi equipado com uma câmera
fotográfica gigante Perkin-Elmer e posto em órbita polar, a
160 quilômetros da Terra, dando uma volta em torno da

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órbita em 90 minutos e passando duas vezes, em cada 24
horas, pelo território da China continental...
— E o que foi conseguido através desse satélite? —
indagou Kirkpatrik, interessado no assunto.
O Velho também ace um cigarro. Depois:
— O satélite fotografou o local, mas a câmara, embora
equipada com “sensores multiespectrais” — que
fotografam simultaneamente a mesma área com uma cor de
filtro diferente, para neutralizar a camuflagem — não pôde
fotografar o interior do depósito secreto de Lop Nor, nem o
seu conteúdo de armas identificadas. E tem mais! Um
avião-fantasma fez explodir a cápsula, com as fotos
enviadas pelo Big-Bird, destruindo assim metade dos
microfilmes! O Departamento de Defesa dos Estados
Unidos precisa saber qual o tipo de armas que a China está
produzindo e armazenando em Lop Nor!
— E a CIA não tem um agente em Sinkiang? —
perguntou o playboy.
— No momento, não — tornou o Velho. — íamos
enviar um espião via Hong-Kong e Cantão mas trata-se de
um velho chinês reumático que talvez não conseguisse
lograr sucesso na missão. É um trabalho para gente moça.
Kirkpatrik mostrava-se impaciente para saber onde se
encaixava a sua pessoa, nessa estória toda.
— Bem, — disse. — E onde é que eu entro? Lembre-se
de que cu sou um pobre espião da terra... Se os espiões do
céu falharam...
— Pensamos em enviá-lo devidamente disfarçado para
tomar o lugar do velho chinês. A missão é bastante
perigosa. Você terá que penetrar no Centro Atômico de Lop
Nor! Mas poderemos contar com a ajuda valiosíssima de
um contra-espião do Departamento de Assuntos Sociais de

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Pequim. Ele se encarregará de levar você, na pele do velho
chinês, a Sinkiang. Está me seguindo?
— Estou. E onde encontrarei esse patife?
— Em Cantão.
— Perfeito. Quando devo partir?
— O mais rapidamente possível. Mas, antes, deverá
conhecer “sua filha” ...
— Minha filha? — Kirkpatrik mostrava-se espantado.
— Também vou ganhar uma filha?
— Vai — sorriu o Velho. — A filha do velho chinês.
Ela sempre acompanha o pai em todas as suas viagens. E
daria na vista se não o acompanhasse agora.
Kirkpatrik começou a acalentar a esperança de ter uma
companhia feminina agradável na missão que cumpriria...
— Uma filha? — falou pausadamente, com um sorriso
nos lábios. — E com que idade está a “minha filha”? Não
me diga que é uma chinesa gorda de cinquenta anos...
— Não. É uma jovem mestiça de dezenove anos.
Trabalha na Televisão, em San Francisco. Dizem que é uma
boa artista.
Kirkpatrik viu crescer o interesse que a missão lhe
despertara. Ele apreciava muito a arte, principalmente a arte
feminina.
O Velho olhou-o matreiramente, enquanto indagava:
— E então? O que decide? Você aceita tomar as rédeas
desta nova operação?
— Claro. O assunto me interessa — respondeu o
Máscara Negra. Mas, mentalmente, fazia projetos, e já se
via praticando exercícios amorosos com uma bela mestiça
de dezenove anos... Ele já tinha experiências anteriores com
garotas assim e sabia quão ardentes elas sabiam ser, depois
de devidamente impressionadas.

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— Claro — repetiu. — Esta missão parece muitíssimo
interessante! — Eu não a recusaria por nada deste mundo!
Sou um americano leal!
Nesse momento, o garçom trouxe as bebidas e eles
mudaram de conversa.

***

De volta a seu palacete, Kirkpatrik encontrou sua


sedutora convidada envolta numa grande toalha felpuda,
bebericando um bourbon, enrodilhada sobre um imenso
sofá de pelúcia. Parecia uma gata.
A moça ergueu-se sorrindo, à entrada do playboy, sem
se lembrar de segurar a toalha junto ao corpo desnudo.
— Oi! Pensei que você não me quisesse mais...
E avançou para Kirkpatrik, num andar macio de pantera
insaciável.
— Meu Deus! Como pode dizer isso?
O playboy tomou-a nos braços e beijou-a longamente.
O corpo da jovem fremiu de desejo e suas mãos percorriam
o corpo do playboy, num suave convite ao amor.
Houve muitos episódios eróticos naquela tarde e
Kirkpatrik agiu como um cavalheiro, mas seu pensamento
estava muito longe dali... Já se imaginava em situação
idêntica, não com uma garota de Pittsburgh e sim com a
mestiça, filha do espião chinês.
Afinal, uma mestiça de dezenove anos merece certa
preferência. As uvas ainda não colhidas sempre nos
parecem mais gostosas...

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CAPÍTULO SEGUNDO

Encontro em Cantão

Dois dias depois, Kirkpatrik chegava a San Francisco à


procura de um exímio maquilador, que trabalhava para a
CIA. O homem usava óculos e tinha a aparência de um
corretor da Bolsa.
— Estava à sua espera, A/r. Kirkpatrik. Já tenho tudo
preparado para transformá-lo num velho chinês...
— Pois então, rapaz, não percamos mais tempo!
— Por favor, retire o paletó e desaperte a gravata.
Ótimo! Agora, sente-se nesta cadeira... e, enquanto eu
trabalho, se quiser, poderá ir passando uma vista nestes
álbuns de fotografias... Talvez demore um pouco, sabe?
Afinal, é uma transformação difícil...
Kirkpatrik sentou-se numa cadeira, semelhante às
usadas pelos barbeiros, e recebeu das mãos do maquilador
um álbum de capa de couro que abriu incontinenti.
— Ah, sim! Muito instrutivo...
Fotografias de beldades em traje de Eva era o que
continha o estranho álbum. E Kirkpatrik deliciou-se com as
imagens dos mais belos modelos, enquanto seu rosto era
trabalhado habilmente.
— Pômulos salientes... — murmurava o maquilador. —
Pele enrugada... olhos apertados... pálpebras caídas...

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Uma hora e meia depois, o artista deu por concluído seu
trabalho e mandou que Kirkpatrik se erguesse e olhasse
para o espelho.
— Acostume-se com seu novo rosto, Mr. Sun-Nang-
Sha...
O agente fora de série da CIA não pôde deixar de
mostrar espanto, ante a transformação sofrida. A imagem
refletida no espelho era de um velho sexagenário, com a
pele amarela muito enrugada e os olhinhos oblíquos, de um
cinza cortante como o aço. Até os cabelos estavam
esbranquiçados e envelhecidos. Era realmente um trabalho
de mestre!
— E então? — indagou o maquilador. — Está satisfeito
com meu trabalho?
— Excelente! — exclamou Kirkpatrik. — Eu próprio
não me reconheço! Você é, realmente, um excelente artista
em seu gênero! Está de parabéns! Farei com que seu nome
seja citado, elogiosamente, no meu relatório à Agência!
— Agora, falta apenas que o senhor troque suas roupas
elegante por outras, condizentes com o tipo que vai encaixar
de agora em diante. Nós também lhe forneceremos as
roupas.
Passando para uma sala, nos fundos do atelier,
Kirkpatrik encontrou uma série interminável de roupas. O
profissional, com olhos argutos, escolheu um terno surrado
que caiu como uma luva no velho chinês. Estava concluído
seu trabalho.
— Bem — falou Kirkpatrik. — Creio que, agora, está
tudo perfeito, não?
— Falta ainda um pequeno detalhe.
— Qual é? — indagou o playboy.
— O senhor precisa ser apresentado a Miss Mia-Nang-
Sha — completou o maquilador, enquanto, seguido por

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Kirkpatrik, passava a uma nova dependência do
estabelecimento. — Ela está aqui à sua espera...
Uma cortina de veludo foi erguida e Kirkpatrik viu-se
numa sala mobiliada com luxo discreto, onde, sentada
negligentemente numa poltrona de espaldar alto, a bela
mestiça folheava uma revista. Ela era muito bonita,
realmente.
A moça ergueu-se com rapidez e veio ao encontro dos
dois homens.
O maquilador fez as apresentações.
— Miss Mia-Nang-Sha, Mr. Horace Young
Kirkpatrik...
— Não — tornou a jovem com acento alegre na voz. —
Não me ponham torta, por favor! Este senhor é meu pai, o
venerável Sun-Nang-Sha! — E sorriu, enquanto estendia a
mão ao playboy.
Kirkpatrik também gostou de sua mão quente e macia.
— Muito prazer em conhecê-la, Mia. Não estranhe o
tratamento, mas, como vamos ser pai e filha daqui em
diante, é bom que nos acostumemos ao parentesco...
Ela voltou a sorrir. Tinha uns dentes perfeitos.
— De pleno acordo, “papai”. Agora, vamos ao que
interessa.
E, abrindo a bolsa, a mestiça entregou a Kirkpatrik um
envelope que continha, além das passagens aéreas, os
documentos do velho Sun-Nang-Sha.
Depois de examinar todos os papéis, Kirkpatrik voltou-
se para a jovem eurasiana.
—Não temos tempo a perder. Nosso avião para o Havaí
parte dentro de uma hora. Já tem pronta a sua pequena
bagagem?
A moça deu alguns passos, na direção de uma mesinha
sobre a qual se encontrava uma elegante valise preta.

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—Tenho aqui tudo quanto me será necessário.
Estou às suas ordens, papai.
— Muito bem, filhinha. Vejo que você é expedita e
organizada. Vamos, então? Teremos tempo de tomar um
aperitivo, no bar do aeroporto, antes de partirmos.
— Meu venerando pai não bebe. Chá é o máximo a que
se permite — sorriu a jovem.
— Pois assim seja — suspirou o playboy. — Farei um
regime à base de chá. Sua presença vale o sacrifício.
— Obrigada — disse ela, ficando séria.
E partiram em direção ao aeroporto.
***
Do Havaí, o casal pegou outro avião, para Tóquio, e de
lá seguiu para Hong-Kong. Exatamente mais dois dias de
viagem transcorreram, agradavelmente, dentro da maior
camaradagem por parte dos dois agentes especiais da CIA.
Finalmente, em Kowloon, dirigiram-se à gare da
Estrada de Ferro Kowloon-Cantão.
— Aqui, pegaremos um trem para atravessarmos a
fronteira da China Comunista. Logo estaremos em Cantão
— dissertava a jovem, enquanto conduzia o “velho pai”
pelo braço, com todo cuidado e carinho.
Kirkpatrik, que, desde o primeiro momento A
simpatizara com a eurasiana, tornava-se a cada momento
mais interessado por ela. Suas mãos tocavam-se, sem
querer, não como se deveriam tocar as venerandas mãos de
um velho chinês e as de sua filha, mas como acontece
usualmente entre dois seres que se entendem
amorosamente...
A moça mostrava uma dedicação extrema pelo velho
pai, de quem era também uma espécie de enfermeira. E ele
exagerava o seu reumatismo...

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Finalmente, chegaram a Cantão e foram hospedar-se no
Hotel Tuang-Fan. Tudo estava previsto, inclusive um
contato nesse hotel. Mas ainda não o contato que Kirkpatrik
estava esperando...
Não fazia uma hora que se haviam instalado, quando
soou uma batida na porta do aposento.
— Quem poderá ser? — indagou a moça.
— Por certo, nosso contato em Cantão — suspirou
Kirkpatrik. — Em todo caso, não custa sermos
previdentes... Vá abrir a porta. Eu estarei escondido do lado
contrário, com a minha 22 preparada para qualquer
eventualidade...
Rapidamente, ele se postou numa posição onde a porta,
ao ser aberta, o esconderia. Mia, tranquilamente, deu volta
à chave e abriu. Havia apenas um homem no corredor.
— Sim? — indagou a eurasiana, displicentemente.
— O venerável Sun-Nang-sha vai passando bem de
saúde? — indagou um jovem chinês, forte e de cabelos
aparados muito rentes, enquanto, com os olhos atentos,
perscrutava o interior do aposento.
Kirkpatrik deu um passo à frente, enquanto respondia
com voz fraca:
— Felizmente, minha saúde tem apresentado melhoras,
amigo... Pode entrar.
Eram a senha e a contra-senha. Rapidamente, o chinês
entrou e Mia fechou a porta.
— Meu nome é Wang-Chuan — disse o recém-
chegado. — Estou inteiramente ao seu dispor, colega.
Kirkpatrik estudou bem a fisionomia do rapaz e
resolveu fazer-lhe algumas perguntas.
— Faz muito tempo que você trabalha para a CIA?
O jovem chinês sorriu.

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— Mais ou menos. Sou um ex-agente do Yuan de
Segurança da China Popular. Fui expulso depois da queda
do major Si-tuang, que caiu em desgraça por ter fracassado
em uma missão contra o famoso Máscara Negra (*). Agora,
trabalho secretamente para a CIA. Gosto muito de dólares.

(*) ver “TORTURA CHINESA”, volume 16 desta série.

— E desde quando você se passou para nossas fileiras?


— quis saber Kirkpatrik, perscrutando-lhe a fisionomia
risonha.
— Na época da visita do presidente Nixon a Pequim —
respondeu o rapaz francamente, sem desviar seus olhos dos
olhos indagadores do agente fora de série do DCA.
— Muito bem. Esta é Mia Nang-Sha, minha filha para
todos os efeitos. Você já está bem a par de todos os detalhes
de nossa missão?
— Mais ou menos — retrucou o chinês. — Fui
cientificado de que aqui receberia maiores detalhes sobre a
missão.
— Pois bem — falou Kirkpatrik, relaxando a vigilância
que até então mantivera sobre o visitante. — Sente-se e,
enquanto trocamos ideias, minha “filha” poderá nos servir
alguma bebida. Suponho que você também beba outra
coisa, além desse detestável chá verde da sua terra.
Mia-Nang-sha não esperou por mais nada. Aproximou-
se de um pequeno bar, existente na sala, e voltou trazendo
copos, gelo e uma garrafa de bourbon.
— Uísque americano — explicou Kirkpatrik. — Red
Tea.
Mia serviu doses bastante generosas aos dois
companheiros e, para ela, colocou apenas um pouco, no
fundo de um copo. Depois, sentou-se, cruzando

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graciosamente as pernas, disposta a ouvir, uma vez mais, os
detalhes da missão que os aguardava.
Depois de sorver um grande gole da bebida, Kirkpatrik
voltou-se para o espião chinês comprado pela CIA. E
esclareceu:
— Nosso principal objetivo é descobrir que espécie de
armas secretas estão ocultas em Lop Nor, a Central Atômica
da China Comunista. Como você talvez já saiba, fotografias
tiradas pelo nosso espião aéreo, o Big-Bird, não foram
suficientes para que tomássemos conhecimento das armas
ali escondidas. Era necessário outro espião, com os pés na
terra...
— Devo alertá-los de que é uma missão altamente
perigosa — lembrou Wang-chuan. — Nossos adversários
mantêm uma vigilância cerrada em torno de Lop Nor.
Principalmente, depois daquele outro episódio com o
Máscara Negra.
— Sei disso — sorriu Kirkpatrik, bebericando seu
bourbon. Se a missão não fosse tão difícil, eu não estaria
aqui a essa altura dos acontecimentos ... Um outro agente
poderia desincumbir-se dela a contento. Pode ser difícil,
mas não será impossível. Não há nada impossível, paca nós.
O chinês sorriu outra vez para o agente fora de série da
CIA.
— Gosto de ver sua autodeterminação, camarada. Eu
também penso que, para um bom agente, não deve haver
impossíveis.
Nesse momento, pancadas fortes soaram na porta do
quarto.
— Polícia — sussurrou Wang-Chuan.
Os três agentes ergueram-se de um salto, mas, logo a
seguir, uma voz tonitruante e desagradável ecoou:

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— Abram, sem tentar n< um truque! Somos da Yuan de
Segurança!
A um sinal de Kirkpatrik, Mia aproximou-se da porta
que logo abriu. Três agentes à paisana invadiram o aposento
e aquele que parecia chefiar a batida disse:
— Estão detidos sob suspeita! E tudo o que disserem,
de agora em diante, pode servir de prova contra vocês!
—• Mas... suspeita de quê? — indagou Kirkpatrik,
procurando ser autêntico na representação de seu papel de
velho chinês.
— Espionagem — rugiu o homem. E, sem mais
conversa, fez sinal para os que o acompanhavam. —
Levem-nos! Depois, ouviremos as explicações que eles têm
a nos dar!
E o trio, vigiado de perto, deixou o Hotel Tuang-Fan.
Wang-Chuan era o mais nervoso de todos. O Máscara
Negra apenas sorria friamente.
Alguém devia tê-los denunciado! Mas, quem?

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CAPÍTULO TERCEIRO

A coronela Lin-Chuang

Depois de rodarem pelas ruas de Cantão num grande


carro preto, Kirkpatrik, Mia Nang-Sha e o ex-agente da
Yuan de Segurança comprado pela CIA foram levados ao
escritório regional do Departamento de Assuntos Sociais,
cuja sede ficava em Pequim, na Rua da Corda n.º 15.
Depois de caminharem (sempre vigiados de perto pelos
agentes armados) através de um extenso corredor, os
detidos foram introduzidos numa sala de móveis austeros e
paredes lisas, pintadas, de cinzento.
Apenas uma grande escrivaninha dominava o centro da
sala. Por trás dela, numa cadeira giratória (cujas molas há
muito não eram azeitadas e provocavam rangidos estranhos
e irritantes a cada movimento de sua ocupante) achava-se
sentada uma mulher de feições rudes, que tamborilava no
tampo da escrivaninha com as mãos grossas, de unhas
roídas até o sabugo.
— Muito bem! Muito bem!
Os agentes fizeram continência à estranha mulher. Esta,
sem dizer uma palavra, apenas com um gesto brusco de
mãos, mandou que eles se afastassem, deixando os
prisioneiros a descoberto.
Imediatamente, os agentes tomaram posição junto à
porta por onde tinham entrado, dando a entender que

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qualquer esperança de fuga seria vã. Nos olhos amendoados
de Kirkpatrik, as pupilas se moviam de um lado para o
outro, estudando o local.
A mulher de estatura mediana ergueu-se e, apanhando
um chicote (com o qual passou a bater distraidamente nas
pernas enquanto caminhava), deu uma volta completa cm
torno dos prisioneiros, sem dizer uma palavra. Examinava-
os ostensivamente, como se os considerasse uns animais
raros.
Por fim, dando-se por satisfeita com aquela inspeção,
dignou-se a falar. As palavras saíam de sua boca num tom
desagradável e num modo atropelado:
— Sou a coronela Lin-Chuang — declarou. Depois, fez
uma pausa, como se esperasse que apenas a citação de seu
nome fosse o suficiente para explicar tudo. Vendo, porém,
que nenhum dos três prisioneiros esboçava um gesto ou
murmurava uma palavra, bateu impacientemente com o
chicote sobre a tampa da escrivaninha e desatou a vociferar,
irritada:
— Sou chefe do Yuan de Segurança! Estou neste posto
em substituição ao major Si-tuang! Se pensam que terei
contemplação com traidores de sua terra, estão muito
enganados. Eu farei com que se arrependam amargamente
do crime que praticaram! É uma vergonha, uma desonra,
que patrícios nossos se vendam miseravelmente aos cães da
CIA! Os jovens, embora não tenham desculpa, ainda se
pode pôr na conta da falta de experiência..., mas um velho
como você, Sun-Nang-Sha! Francamente! O seu crime e
imperdoável e eu hei de castigá-lo com a maior das
severidades!
Kirkpatrik, vendo que a coronela estava convencida de
que ele era o venerando Sun-Nang-Sha, deu um passo à
frente e falou, com voz encatarrada:

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— De que me acusam, afinal? De traidor? Mas com que
provas?
A gorda coronela ergueu o chicote e, por um instante,
parecia que iria arremessá-lo contra o rosto do playboy;
depois, controlando-se (embora ainda bastante irritada)
baixou o braço antes de falar:
— Não estou aqui para apresentar prova de nenhuma
espécie a cães da sua laia, traidor miserável! Você há de
amargar os piores tormentos, antes que sua pele seja
arrancada do corpo! E farei com que sua filha tenha um
destino igual ao seu! Abomino os traidores!
Kirkpatrik tornou a falar, para espicaçar a coronela:
— Não somos traidores! E a senhora não nos pode
julgar baseada apenas em acusações sem fundamentos!
Desafio-a a que apresente provas do que diz! Nossa
lealdade a Mao é tão respeitável quanto a sua!
— Cale-se, miserável traidor! — gritou a mulher, como
uma possessa, enquanto, a largas passadas, media o
aposento. — Eu não vou ter a menor contemplação com
nenhum de vocês, por mais que jurem inocência! Eu sei que
são traidores! Eu sei! E é quanto me basta! E somente eu
decidirei quanto ao destino que terão! Eu, a coronela Lin-
Chuang!
Nesse momento, soaram fortes batidas na porta e a
coronela, sem parar seu passeio nervoso, gritou para um dos
agentes:
— Veja quem é o atrevido que ousa perturbar-me a uma
hora destas!
O agente apontado deu meia volta e abriu a porta. A
arrogância de seu gesto, porém, parou em meio, ao
reconhecer a pessoa que aguardava no corredor. Girando
nos calcanhares, voltou-se para a coronela que aguardava
em atitude insolente.

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— Desculpe, coronela. É... é um enviado especial do
Departamento de Defesa!
— E o que deseja? — indagou a coronela, sem
desmanchar a pose.
Uma vez mais, o agente enfrentou o olhar do homem
que estava parado no corredor. Este, sem dizer uma só
palavra, estendeu-lhe um envelope lacrado, no qual estava
escrito o nome da coronela e, em letras vermelhas, as
palavras: URGENTE E CONFIDENCIAL.
Uma vez entregue a mensagem, o homem deu as costas
e retirou-se, sem nada dizer. Seus passos eram pesados e
marciais.
O agente tornou a fechar a porta e, a passos rápidos,
aproximou-se da coronela Lin-Chuang, estendendo o
envelope.
— Vejamos de que se trata — falou, impaciente, a
mulher, enquanto rasgava o envelope.
Desdobrou o papel, passou os olhos rapidamente pela
mensagem e seu rosto sofreu uma brusca transformação.
— Com todos os demônios! — exclamou, irada. —
Vocês, traidores, têm muita sorte e muita proteção! É por
estas e outras que se atrevem tanto! Segundo consta desta
mensagem, vocês são hóspedes especiais do Departamento
de Defesa da China Popular e, como tal, devem ser postos
imediatamente em liberdade e não devem ser mais
molestados. Já se viu uma coisa destas?!
O rosto da mulher revelava a contrariedade que aquilo
lhe causara. O sangue afluíra-lhe à face, o que não era um
espetáculo interessante de se ver. Aos gritos, enquanto
atirava freneticamente com o chicote sobre o tampo da
escrivaninha, ela deu suas novas ordens:
— Ponham estes cães para fora daqui! Imediatamente!
— E, parando em frente a Kirkpatrik, cuja fisionomia se

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mantivera inalterada: — Quanto a você, velho traidor, nada
perde por esperar! Ainda nos encontraremos fora do alcance
de mensagens salvadoras! Eu sei que você trabalha para os
inimigos de Mao-Tsé-tung e não descansarei enquanto não
conseguir desmascará-lo definitivamente e torturá-lo como
você merece! Fora daqui! Saiam das minhas vistas! Fora,
cães! Cães! Cães!
A um gesto da coronela, os agentes se acercaram dos
detidos, que não se fizeram de rogados e abandonaram
imediatamente a sala. Era um alívio ficarem livres dos
gritos histéricos da chefe do Yuan de Segurança.
Uma vez fora do edifício, Kirkpatrik, Mia-Nang-Sha e
Wang-Chuan trataram de regressar ao hotel. E os agentes à
paisana da polícia secreta deixaram-nos partir.
A coronela, porém, não se dera por satisfeita. Mal os
detidos deixaram a sala, avançou para um interfone que
existia sobre a escrivaninha e, apertando um dos botões,
gritou novas ordens:
— Quero que estes três traidores que acabam de sair
daqui sejam muito bem vigiados! Qualquer atitude suspeita
de um deles deve me ser comunicada imediatamente, para
que eu resolva o que precisa ser feito! Não os percam de
vista, sob pena de se entenderem comigo pessoalmente! É
só!
E, sem dar tempo para que o interlocutor respondesse,
a coronela premiu o botão e saiu da sala, batendo
estrondosamente com a porta. Seus passos ecoavam por
todo o corredor, anunciando a seus comandados qual era
seu estado de espírito. Ou seja: a coronela Lin-Chuang
encontrava-se azeda e revoltada, como de costume.

***

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Uma vez de volta ao hotel, Kirkpatrik conferenciava
com seus dois companheiros de aventuras:
— Tenho quase certeza de que aquela coronela do Yuan
de Segurança mandou seguir-nos! Mas não podemos
permanecer indefinidamente presos neste quarto de hotel.
A missão está apenas começando.
Foi a vez de Wang-Chuan tomar a palavra:
— Se me permite, providenciarei meios de escaparmos
de Cantão, a bordo de um jato militar. Tenho meus
contatos...
— Ótimo! — exclamou o agente fora de série da CIA.
— Ponha-se em movimento logo! Depois, pensaremos num
meio de ludibriar nossos “olheiros”.
O ex-agente da Yuan de Segurança deixou o aposento e
Kirkpatrik viu-se a sós com a bela eurasiana.
— Ora muito bem, minha filha...
Como que relaxando a tensão que até aquele momento
a mantinha em suspenso, a moça desabotoou a blusa e
retirou os sapatos, indo recostar-se ao leito...
— Muito bem, papai. Parece que escapamos desta!
Kirkpatrik também necessitava de algum relax. — Não
é má idéia um banho para nos revigorar... Que é que você
acha?
A pequena olhou-o petulantemente, enquanto acabava
de desabotoar a blusa, deixando à mostra dois seios muito
firmes que não eram sustentados por nenhum sutiã.
— É — disse ela. — Não é má idéia... E eu, que também
estou ansiosa por uma boa ducha, poderei ajudá-lo a
ensaboar o corpo...
Kirkpatrik já se despira e, passando para o banheiro,
abriu o chuveiro frio ao máximo. Logo, o corpo bem feito
da eurasiana deslizou para dentro do boxe e enrodilhou-se

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ao corpo atlético e queimado de sol do playboy. E a água
fria os cobriu como um lençol.
Jamais as delícias de uma boa ducha foram tão bem
partilhadas.

***

Durante a noite, Kirkpatrik, Mia e Wang-Chuan saíram


cautelosamente pelos fundos do hotel e, esgueirando-se por
entre as sombras, ganharam distância. O ex-agente do Yuan
de Segurança já tinha providenciado tudo.
Pouco depois, a bordo de um jato militar chinês
(TUPOLEV, adaptado) partiam para a cidadezinha de
Akesai, na Mongólia Interior, a 350 quilômetros a leste do
lago de Lop Nor. Era uma longa viagem, por cima do
coração da China Continental.
Enquanto o jato cruzava os céus, Kirkpatrik. de
sobrecenho carregado, ponderava consigo mesmo:
“Correu tudo muito fácil durante nossa fuga... Não creio
que os agentes da coronela sejam tão fáceis de enganar...
É... Como dizia William Shakespeare: ‘Há algo de podre no
reino da Dinamarca!’. Ou, como digo eu, é bom ficarmos
de olho uns nos outros...
Por seu turno, Mia-Nang-Sha falava de suas apreensões
a Wang-Chuan, que tinha se sentado a seu lado, numa das
poltronas duras e incômodas:
— Desconfio muito das facilidades que encontramos
para escapar do hotel! Quem sabe SÍ não nos deixaram fugir
apenas para verem o que pretendemos? Você confia nesses
seus contatos que nos alugaram este avião? Logo um avião
militar!
— Tolice! A coronela teve medo de desafia ordens
superiores. Não foi outra coisa! Quanto a mim, estou

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perfeitamente tranquilo. Sim, eu confio nos meus velhos
camaradas. Eles também gostam de dólares...
E, recostando-se no assento, o ex-agente do Yuan de
Segurança passou por uma madorna. Parecia
completamente tranquilo.
Kirkpatrik e Mia, porém, estavam de olhos bem abertos
e atentos, à espera de qualquer surpresa.
Porque poderia haver uma surpresa...

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CAPÍTULO QUARTO

O pássaro de papel

O jato militar de fabricação russa sobrevoava o coração


da China Continental. O dia estava bonito e o avião apenas
trepidava, no seu voo rápido e seguro.
Dentro dele, Kirkpatrik e Mia (que mudara de lugar tão
logo Wang-Chuan adormecera) trocavam ideias:
— Quanto tempo deverá durar esta viagem? — indagou
a moça. — Já estou cansada de ver céu e terra...
— De Cantão a Ajekai são exatamente dois mil e
quinhentos quilômetros — disse Kirkpatrik. — Pelo que
sei, um jato pode percorrer este percurso em mais ou menos
quatro horas de voo.
— Então, poderemos deixar Wang-Chuan dormir em
paz. Ele me parece muito tranquilo... Você não acha?
Tranqüilo demais...
— Também acho — murmurou o playboy, tomando
entre as suas as mãos da eurasiana. — Mas é bom que assim
seja. Prefiro ter por companheiro um homem tranquilo
demais do que alguém superexcitado... Garanto que, num
momento difícil, Wang-Chuan saberá portar-se muito bem.
Meu olho clínico não falha.
A moça aconchegou-se mais a ele. E o agente 77Z,
passando um de seus vigorosos braços em torno do pescoço
dela, fez com que ela reclinasse a cabeça sobre seu ombro.

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Enquanto isso, seus dedos percorriam os cabelos de Mia...
Não tardou a que a jovem também cerrasse os olhos e
adormecesse. Tinham sido muitas as emoções daquele dia;
ela bem que precisava de um sono reparador...

***

O jato acabara de descer num aeroporto modesto, em


Akesai. Os três companheiros desembarcaram e Wang-
Chuan, tomando a dianteira guiou Kirkpatrik e Mia até o
local onde os aguardava um velho chinês encurvado.
— Estes são os amigos de quem lhe falei disse o ex-
agente do Yuan. — Espero que você tenha entendido bem
o meu longo telegrama.
O velho sorriu, ao apertar as mãos de Kirkpatrik e de
Mia. Mas era um sorriso mecânico.
— Estava à espera de vocês — disse ele. Passarão esta
noite em minha modesta casa de chá, enquanto o camarada
Wang-Chuan providencia os meios de transportá-los até o
lago. Tenham a bondade de seguir-me.
Momentos depois, Kirkpatrik, Mia-Nang-Sha Wang-
Chuan achavam-se comodamente instalado numa sala,
decorada à moda chinesa antiga, e velho servia-lhes um chá
aromático e saboroso enquanto conversavam.
— Sou um fiel e teimoso partidário de Lin Piao, o braço
direito de Mao-Tsé-tung, caído em desgraça. Não nego,
também, que tenho grande simpatias pela União Soviética
e pelos Estados Unidos. Por isso, estou disposto a ajudá-los
no que for preciso. Já é tempo de que a China saía da sua
solidão!
— Não lhe pediremos muito mais do que hospedagem
por esta noite — falou Wang-Chuan. — Tenho outro
contato em Akesai, com o qual irei encontrar-me em

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seguida. Ele me ajudará a arranjar transporte até o lago de
Lop Nor. Está tudo previsto.
Kirkpatrik, sorvendo o seu chá com enfado^ (pois
preferiria uma boa dose de uísque), dirigiu-se a Wang-
Chuan:
— Creio que não temos muito tempo a perder. Quanto
mais depressa você fizer ligação com o seu contato, melhor
será. Desconfio muito de todas as facilidades que
encontramos pela frente, até agora. A não ser o incidente
em Cantão, o resto está correndo fácil demais...
Erguendo-se, o ex-agente do Yuan de Segurança tomou
a direção da porta de saída.
— Vou providenciar tudo imediatamente. Confie em
mim, colega.
— Precisa de dinheiro? — indagou Kirkpatrik, olhando
para ele através de suas pálpebras grossas.
— Não. Recebi uma quantia especialmente para esta
operação, através de meus correspondentes na CIA.
Estejam tranquilos. Tentem dormir um pouco, enquanto
faço a minha parte. Eu sou muito fiel a quem me paga bem.
E saiu, fechando a porta atrás de si. Seus passos leves
nem sequer eram ouvidos.
O velho sorriu para o casal e indicou-lhe a direção do
quarto de dormir.
— Infelizmente, as acomodações são poucas. Mas creio
que não há inconvenientes em que pai e filha compartilhem
do mesmo aposento. Estendi duas confortáveis esteiras no
chão, onde ficarão comodamente.
Kirkpatrik sorriu àquela idéia e, dando a mão a Mia,
dirigiu-se para o aposento que o velho lhes preparara.
— Venha, minha querida filha...
— Sim, meu venerável papai...

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Na manhã seguinte, muito cedo, o agente 112 despertou
com uma leve batida na porta.
Tratou de acordar Mia e, de um salto, pôs-se de pé, com
sua 22 em punho. Não podiam facilitar.
— Quem é? — indagou.
— Sou eu — respondeu a voz de Wang-Chuan. — Está
tudo pronto para partirmos. Teremos que fazer uma
pequena viagem. Pequena, mas, de certa forma, delicada...
Em pouco tempo, Kirkpatrik e Mia estavam prontos e
tomavam uma xícara de chá fumegante, oferecida pelo
velho anfitrião do sorriso mecânico.
— Ontem foi o chá do repouso — disse este. — Agora,
é o chá da coragem...
Depois de feitas as despedidas, os espiões tomaram a
direção de um local bastante distante da cidadezinha. Tudo
era silêncio, pois mal acabara de amanhecer. Ao longe,
estranhos pássaros cantavam.
Após algum tempo de caminhada, chegaram a uma
pista de aterrissagem secreta, construída no tempo em que
Lin-Piao ainda era Ministro da Defesa. Ali os esperava um
planador de papel de seda reforçado (azul celeste) e,
também, um jatinho particular, a turbo-hélice.
— Onde conseguiu tudo isto? — indagou Kirkpatrik a
Wang-Chuan. Suas desconfianças aumentavam cada vez
mais.
— Com amigos e dinheiro da CIA — respondeu o
chinês. — O jatinho servirá para rebocar o planador até
certa altura. Pertence a uma empresa de mineração. O piloto
é pessoa da máxima confiança, eu sei o que faço, camarada!
— E quem pilotará o planador? — quis saber Mia, que
também se mostrava preocupada.
— Venham comigo — respondeu Wang. — Eu os
apresentarei ao meu amigo Hong-Chong.

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Como lhes disse, ele é uma pessoa em quem se pode
confiar de olhos fechados.
Realmente, já no interior do planador de papel de seda
azul celeste, os três companheiros de viagem encontraram
um chinês sorridente, que os recebeu com amabilidade. Seu
sorriso não parecia postiço, como o do proprietário da casa
de chá.
— Tomem seus lugares, camaradas! Temos que
aproveitar o tempo enquanto ainda é cedo. E o vento,
felizmente, é bastante favorável.
Kirkpatrik ajudou a moça a subir para seu lugar e, por
sua vez, foi ajudado por Wang-Chuan, que o julgava
realmente o velho Sun-Nang-Sha. Ao entrar no planador, o
falso chinês escorregou e quase caiu.
Uma vez instalado^ os três passageiros, o piloto do
planador acenou com a mão enluvada na direção do jatinho,
que logo se pôs em movimento, rebocando o pássaro de
papel azul.
Após ter elevado o planador a boa altura, o jatinho
cortou as amarras e regressou a Akesai. Agora, eles estavam
soltos no espaço, a bordo de um delicado transporte.
— Planaremos durante algumas horas — garantiu a
moça, que conhecia bem a região, — Lop Nor fica a 800
quilômetros da fronteira do Cazaquistão. Se o vento não
mudar, estaremos lá em menos de três horas.
O vento não mudou. O pássaro azul planava
mansamente, como que conduzido por uma nuvem macia...
E a terra escorria, rapidamente, debaixo de suas asas leves
e frágeis...
Durante quatro horas, viajaram silenciosamente. Por
fim, o planador desceu num deserto, no alto de uma colina,
sem ter sido pressentido pelo radar do Centro Atômico. Sua
extrema leveza tornava-o semelhante a uma gaivota.

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Descendo do pássaro de papel de seda, os três espiões
traçaram os seus planos. Começava, ali, a parte mais
delicada e perigosa de sua missão.
— Há um oásis à beira do lago — informou a moça. —
Não do lado direito, onde estão as instalações militares, mas
do outro.
— Neste caso, devemos nos dirigir para lá
imediatamente — decidiu Kirkpatrik. — Quanto ao piloto
do planador, deverá esperar nosso regresso aqui mesmo, no
alto desta colina, de onde poderá fazer nova decolagem sem
motor. Suponho que foi por isso que ele desceu na beira
deste precipício.
— Combinado — assentiu o piloto. — Foi por isso
mesmo, camarada.
— E, agora, vamos em frente — volveu o agente 77Z,
dando a mão a Mia-Nang-sha e caminhando o mais
depressa possível.
Wang-Chuan os seguiu de perto, carregando nas costas
a sua mochila.
Pouco depois, estavam entre a vegetação do oásis e
Kirkpatrik achou de bom alvitre descansarem um pouco,
antes de iniciarem a parte mais difícil da missão. Ele
pensava em Mia-Nang-Sha... A moça, embora decidida, era
de aparência frágil e ele não queria que lhe faltassem forças
durante a aventura que se seguiria. A responsabilidade era
muita e tinham que prever tudo.
Wang-Chuan, discretamente, afastou-se dos dois, indo
recostar-se a uma boa distância. Como se só então
começasse a desconfiar daquele pai v daquela filha...
Mia estendeu-se sobre um pequeno relvado e puxou
Kirkpatrik para perto de si. Onde eles estavam não podiam
ser vistos pelo outro espião.

— 40 —
Não demorou muito e aconteceu um beijo cheio de
intenções.
A eurasiana revolvia-se como uma serpente, encantada,
e foi preciso que Kirkpatrik, com o braço livre, a envolvesse
fortemente e a aconchegasse ao seu corpo. Não queria que
lhe escapasse...
De seu recanto, Wang-Chan a tudo assistia. Mas,
discreto como sempre, fingia dormir e nada ver. Não era
uma surpresa para ele. Um ex-agente do Yuan de Segurança
da China Popular estava acostumado a assistir a coisas
piores...

— 41 —
CAPÍTULO QUINTO

A outra face do espião

Kirkpatrik, Mia-Nang-sha e Wang-Chuan


permaneceram escondidos, no oásis, até o cair da noite. Só
então resolveram agir. Kirkpatrik estabeleceu os planos.
— Antes de mais nada, precisamos de um barco, para
cruzarmos o lago. Penso que isso ainda não esteja
providenciado... Hem, Wang?
— Mas não será coisa difícil de se conseguir —
respondeu o ex-agente da Yuan de Segurança.
— Tenho alguns contatos entre pescadores da região...
Eles também gostam muito de dinheiro, camarada...
— Ótimo! Se assim é, não temos tempo a perder!
Precisamos não somente do barco, mas, também, de roupas
que nos façam parecer pescadores mongóis...
— Isso é bom — comentou Mia. — Os chineses
respeitam os mongóis...
— Teremos que nos aventurar até perto do local onde
poderei entrar em contato com meus amigos — disse
Wang-Chuan. — Pelo caminho, não devemos ser vistos por
ninguém. Depois, não terá importância...
— Nesse caso, vamos agora mesmo — falou
Kirkpatrik, já caminhando para deixar o oásis. E Mia correu
atrás dele, também com a sua mochila nas costas.

— 42 —
Pouco tempo depois, escondidos pelas sombras da
noite, os três forasteiros conseguiam cruzar o Lago Lop
Nor, numa pequena embarcação, vestidos como
pescadores. Tudo correra conforme as predições de Wang-
Chuan.
O barco deslizava mansamente e seus ocupantes
tomavam toda a cautela possível, para não serem
descobertos, mas, mesmo assim, mal acabaram de pôr os
pés em terra e uma patrulha de soldados chineses iniciava
uma batida nas proximidades.
— Será que fomos pressentidos? — indagou a moça,
assustada, ao ouvir os gritos dos militares, que ecoavam na
distância.
— É bem possível — respondeu Kirkpatrik. —
Teremos que abandonar o barco e procurar um refúgio mais
seguro.
— Amarramos o barco? — perguntou Wang-Chuan. —
Os soldados estão se aproximando! Amarramos?
— Não. Deixemos que pensem que foi apenas um barco
que se desgarrou e que ficou à deriva... Talvez consigamos
enganá-los. Agora, vamos correr pela margem do lago e
procurar um bom esconderijo!
Àquela altura, os passos dos homens que formavam a
patrulha já estavam bem mais próximos. E os três, correndo
agachados, trataram de ocultar-se atrás dos pequenos
arbustos, logo adiante da beira da água parada.
Kirkpatrik atirou-se para dentro de um buraco
providencial, que surgiu em meio à vegetação, e cobriu o
corpo de Mia com seu próprio corpo.
Wang-Chuan adiantou-se um pouco mais e escondeu-
se entre um monte de plantas rasteiras, deitando-se ao
comprido e procurando se camuflar com alguns galhos, que
cortou com uma faca que trazia à cintura.

— 43 —
— Pssiu! — sussurrou Kirkpatrik. — Silêncio!
E assim, com a respiração suspensa, os três espiões
permaneciam em seus esconderijos, aguardando o que
desse e viesse...
Não tardou a que os passos dos soldados (que usavam
pesadas botas) chegassem bem perto do Tocai em que
Kirkpatrik e Mia se escondiam. Suas vozes, muito
próximas, já eram ouvidas pelo casal. Não havia dúvidas de
que se tratava de guardas do Centro Atômico de Lop Nor.
— Não creio que alguém se atrevesse a chegar até aqui
— falou um dos homens.
— Mas um barco foi visto aproximando-se da margem
— retrucou outro. — Possivelmente um barco de pesca,
com três ocupantes.
— Vamos, então, tentar localizar a embarcação. Ela não
pode estar muito longe daqui.
— Sim. Talvez seus ocupantes ainda não tenham
saltado em terra. Seria uma temeridade! Os pescadores têm
ordens de se manterem afastados desta área!
Os homens deram meia volta e logo seus passos se
perdiam na distância. Estavam dando buscas para o Norte,
que era para onde o barco desligara.
Vozes exaltadas murmuravam coisas que não eram
entendidas pelos nossos heróis. Na certa, os chineses
estavam blasfemando, nalgum dialeto de Sinkiang. Seja
como for, eles se afastaram. Kirkpatrik respirou fundo e
ergueu-se.
— Bem, — disse ele. — Creio que a primeira etapa foi
vencida... Nosso truque surtiu efeito, Eles se preocuparam
com o barco e deixaram a batida de mão.
Mia também saiu do seu esconderijo e apoiou-se ao
playboy, que olhou seriamente para ela, sob a luz da lua.

— 44 —
— Você é uma garota corajosa — elogiou o agente fora
de série da CIA— Não é todos os dias que se encontra uma
pequena como você, capaz de se aventurar numa operação
perigosa como esta. Meus parabéns... minha filha.
Mia-Nang-sha ergueu os olhos para o playboy t sorriu.
— Obrigada... papai!
Kirkpatrik beijou-a nos lábios, longamente, estreitando-
a contra o peito. Ela, por sua vez, fazia-se pequenina nos
seus braços. A chegada de Wang-Chuan veio tirá-los do
enlevo em que se encontravam.
— Não podemos mais perder tempo — falou o espião
chinês. — Precisamos entrar no polígono de provas
nucleares! É lá dentro que foi construído o silo dos mísseis
desconhecidos.
Kirkpatrik concordou em que se fazia urgente agirem.
E, com toda a cautela, os três aventureiros rumaram para o
local onde presumiam que ocultavam as armas secretas dos
chineses. Caminharam longa e cautelosamente. Já perto,
Kirkpatrik parou para traçar novos planos.
— Antes de mais nada, acho que já podemos nos livrar
destas roupas de pescadores. Com menos roupas, teremos
os movimentos mais livres.
Os outros dois concordaram e trataram de despir as
pesadas roupas que tinham posto apressadamente, sobre
suas verdadeiras vestes, mais livres e confortáveis.
Enquanto esta rápida operação era efetuada Mia Nang-
Sha reparou em qualquer coisa que acabara de cair do bolso
de Wang-Chuan. O ex-agente do Yuan de Segurança não
tinha reparado nisso. Discretamente, Mia abaixou-se e
apanhou o documento, que escondeu no seio. Depois,
deixando que Kirkpatrik e o espião chinês caminhassem ei
sua dianteira, abriu o papel. E, com espanto, viu o timbre
do Kremlin!

— 45 —
Sim, ali estavam a foice e o martelo!
Sem parar para pensar, a moça correu no encalço dos
dois homens e, quando se aproximou, segurou Wang-
Chuan pelo braço, enquanto falava:
— Pare, traidor!
Aquelas palavras, ditas daquele modo, tiveram efeito de
uma verdadeiro bomba. Wang-Chuan parou, olhando para
a moça, sem saber a que responder. Kirkpatrik voltou-se
para ela, também varado pelo assombro.
— O que significa isto? Que tem você?
— Veja o que este traidor deixou cair do bolso — falou
Mia-Nang-Sha, estendendo ao agente da CIA o documento
que encontrara.
Kirkpatrik apanhou o papel, estremeceu e começou a
examiná-lo. Suas feições tinham ficado as e suas faces,
pálidas. Aproveitando-se de sua momentânea distração, o
espião chinês sarau de um punhal e pulou sobre Mia-Nang-
Sha, num acesso de ódio.
— Sua cadela! Vou matá-la!
A moça soltou um grito e rolou pelo chão, segura pelo
chinês, que lhe dizia as piores coisas unais proferidas por
um oriental.
Kirkpatrik mergulhou na direção de ambos e, durante
uma fração de segundos, os três corpos pareciam um só,
embolados numa luta feroz.
Logo, a moça conseguiu libertar-se das mãos do espião
chinês e pôs-se de pé, enquanto Kirkpatrik e Wang-Chuan
mediam forças, numa batalha encarniçada.
O chinês era ágil e conhecia alguns truques, porém,
Kirkpatrik, além de mais bem treinado, tinha a seu favor
muito mais força. Em pouco tempo, o Máscara Negra
dominava o traidor e. subjugando-o de barriga para cima,
sentou-se sobre seu peito, enquanto com as pernas dobradas

— 46 —
prendia-lhe ambos os braços. Com as mãos livres, vibrou
duas tremendas bofetadas no rosto do chinês, que logo
deixou ver as marcas avermelhadas dos dedos de seu
antagonista.
— Vai começar a cantar ou prefere que eu desfaça essa
sua cara cínica a bofetões? — perguntou Kirkpatrik. —
Quero que você vomite essa estória toda!
Wang-Chuan manteve-se obstinadamente calado. Num
gesto instintivo, cerrou fortemente os lábios, em resposta à
pergunta que lhe fora feita.
— Bata-Lhe de novo! — pediu Mia. — Ele vai ter que
falar!
Kirkpatrik não conversou mais. Desferiu algumas
bofetadas com toda sua força no rosto do traidor, que
gemeu, enquanto duas lágrimas saíam-lhe pelos cantos dos
olhos. Mas, mesmo assim, não abriu o bico.
Aparentemente, estava acostumado a esse tratamento.
Num gesto rápido, Kirkpatrik mudou de posição.
Pegando um dos braços do homem, girou-o para as costas,
numa chave, ao mesmo tempo que o voltava de rosto para
o chão; depois, sentado novamente sobre o prisioneiro,
enquanto com a mão direita torcia-lhe o braço, com a oura,
forçava-lhe a cabeça de encontro ao solo. A terra seca
começou a entrar pela boca e pelas narinas da vítima.
O chinês contorceu-se de dor e Kirkpatrik fez maior
pressão sobre a cabeça dele. O homem tossia e cuspia areia.
— Está disposto a falar ou prefere ser asfixiado de
encontro à terra? Não será uma morte nem muito rápida e
nem muito honrosa... Os grãos da areia vão entupir os seus
olhos, as suas narinas e a sua boca... e a agonia não é nada
invejável!
Já sentindo o rosto ralado pela terra, o chinês começou
a falar:

— 47 —
— Que... que deseja saber, afinal?
— Confessa que é um espião do Kremlin?
Uma pausa. Depois:
— Sim, confesso! De que adiantaria negar?
Eu também trabalho para os russos!
— Desde quanto?
— Fui engajado logo após a queda de Si-Tuang. Eles
me demitiram do Yuan de Segurança e...
— Por que tentou enganar-nos?
— Os soviéticos estão também interessados em
conhecer as armas não identificadas do depósito secreto
chinês. Foram eles que destruíram a cápsula do satélite
artificial “Big-Bird”, antes de ser recuperada pelo C-130
americano. Tinham um barco naquela área.
— Muito bem. A coisa vai se aclarando — disse
Kirkpatrik, sempre mantendo o chinês sob pressão. — E
como destruíram a cápsula? Como e por quê?
— Para aquela operação foi usado um caça Mig-23, de
grande mobilidade, equipado com um canhão de Raios
Laser.
Kirkpatrik anuiu. Ele já tinha pensado nisso.
— Mas por que o interesse de seus patrões em
destruírem as fotos?
— Julgaram que os filmes continham a revelação do
mistério e que só os americanos ficassem sabendo dela. Eles
também mantêm espiões no céu e, no entanto, nenhum
deles obteve uma fotografia reveladora. Nenhum conseguiu
vencer a camuflagem do depósito secreto.
— E qual deveria ser o seu papel em tudo isto? —
indagou Kirkpatrik. — Por que você facilitou a minha vinda
a Lop Nor?
O chinês calou-se. Não parecia disposto a responder a
essa pergunta.

— 48 —
Depois de pequena pausa, o agente 77Z tornou a falar:
— Vamos! Quero saber qual era exatamente a sua
missão! — E, ao indagar, forçou ainda mais a pressão no
braço e na cabeça do chinês. Este virou o rosto, mas não
deixou de ralar a face na areia seca.
Kirkpatrik segurou-o pelos cabelos e obrigou-o a comer
mais terra.
Wang-Chuan gemeu, sob o peso de seu adversário, e
seus lábios, já feridos^ machucaram-se de encontro a areia.
Esta voltou a penetrar na sua boca. Foi tentando cuspir o pó
que ele voltou a falar, com dificuldade:
— Eu teria que acompanhá-los na aventura e, depois
que obtivéssemos as fotografias das armas secretas, trataria
de eliminá-los. Sei que você não é o pai desta pequena.
Você não passa de um agente especial do DCA, o serviço
ação da CIA! Fui informado de tudo pelos meus chefes do
KGB... e tenho muitas outras coisas para lhes contar...
Kirkpatrik, tomou uma decisão. Aquele homem
precisava ser neutralizado! Erguera a mão. para, num golpe
fatal de karatê, eliminar o inimigo, quando alguns sons
confusos chegaram até eles. Vozes, passos, tilintar de
metais e latidos de cachorros! Eram guardas, armados, e
conduzindo cães. pastores!
De um salto, Kirkpatrik libertou o chinês de seu peso;
em seguida, deu a mão a Mia e saiu correndo, arrastando a
moça atrás de si. Havia um bosque, na frente deles, e foi
para ali que o Máscara Negra sc dirigiu.
Wang-Chuan também tratou de esconder-se. Um agente
do KGB, em Lop Nor, corria tanto perigo quanto um espião
da CIA...
Os guardas, porém, tinham visto Kirkpatrik e a moça
correndo e incitaram os cães a caçá-los. O chinês não
chegou a ser visto.

— 49 —
Era uma estranha corrida, dentro do bosque. Um casal,
na frente, e uma matilha de pastores alemães, atrás...
Kirkpatrik e Mia (sendo que a moça ia quase que
arrastada pelo playboy) corriam sem rumo certo e o mais
rápido que podiam, naquelas circunstâncias. Suas pernas
feriam-se nos espinhos, mas eles não sentiam nada. Corriam
como doidos. Contudo, por mais rápidos que fossem, não
conseguiriam escapar daqueles animais, treinados na caça.
Já se ouviam, nos seus calcanhares, os latidos dos cães...
mais um minuto e seriam abocanhados...
Estariam perdidos, dessa vez?
Foi este o pensamento que se apossou de Mia-Nang-
Sha, enquanto, aos tropeções, era arrastada pelas mãos
fortes do agente fora de série da CIA.
Estariam perdidos, agora, depois de se terem
encontrado? Nunca mais se amariam, na relva, à luz das
estrelas?
— A espionagem que vá para o diabo! — murmurou a
bela mestiça, enquanto as lágrimas saltavam de seus olhos
amendoados. — Não era assim que eu queria morrer!
Aliás, o Máscara Negra — o frio e implacável
“Androide” do DCA — estava pensando a mesma coisa.

— 50 —
CAPÍTULO SEXTO

Aliança para o sucesso

Mia-Nang-sha mal teve tempo de terminar seus


pensamentos. Súbito, viu-se puxada com maior força e,
logo, Kirkpatrik encobria o corpo da jovem com seu próprio
corpo. Tinham caído num relvado, no coração do bosque
banhado pelo luar.
Dois cães se aproximavam, ameaçadoramente, latindo
e sacudindo a cauda, com os dentes à mostra.
Sacando sua 22, Kirkpatrik atirou duas vezes.
Os animais se contorceram e caíram por terra, em duas
poças de sangue.
— Graças! — suspirou a jovem. — Você conseguiu
abatê-los, meu amor!
— Foi um golpe de sorte — retrucou Kirkpatrik. — Não
é fácil alvejar cães em movimento e, ainda mais, durante a
noite... Foi sorte e, além disso, eles estavam muito
próximos..., mas... parece que aí vem outro! Suba para
aquela árvore! Depressa!
A moça não esperou segunda ordem. Com uma
agilidade espantosa, escalou a árvore indicada pelo seu
companheiro. E, lá de cima, numa torcida nervosa, assistiu
à batalha que se iniciara entre o herói e um cão que acabara
de saltar em cima dele.

— 51 —
Kirkpatrik tinha-se atracado com o poderoso animal,
num perigoso corpo-a-corpo. O cão policial tentava, de
todas as maneiras, atingir o playboy com seus dentes
afiadíssimos, mas o agente 77Z, adestrado em golpes
inexcedíveis, logo conseguiu deixar mais aquele inimigo
fora de combate. Com jeito e força fora do comum, partiu o
pescoço do animal, que estertorou em cima da relva.
— Cuidado! — gritou Mia, em cima da árvore.
Um outro cão surgiu, com os dentes arreganhados, mas
foi também posto fora de combate, antes que tivesse tempo
de perceber o que tinha se passado.
Fez-se um momento de silêncio, mas, logo a seguir, os
passos afobados dos soldados chegaram até Kirkpatrik.
Com movimentos ágeis de felino, o Máscara Negra içou-se
para a copa da árvore em que Mia-Nang-sha se encolhera
nervosamente.
Os dois fugitivos se encontravam-se em segurança,
quando os soldados chineses chegaram ao local e
constataram a morte dos cães. Um dos guardas olhou para
cima, para a copa da árvore, mas não viu nada.
— Mataram os cães — gritou outro policial.
O primeiro passou a olhar ao longo do bosque.
— Isto significa que não podem estar longe!
— Sim. Mas onde poderão ter-se escondido?
E também ele olhou para a árvore, sem ver os fugitivos.
— Vamos seguir em frente! A pé não poderão escapar!
E nem mesmo ir muito longe! Vamos em frente!
— Isso mesmo! Vamos persegui-los! Eles devem ter se
internado naquela folhagem!
E os soldados partiram, correndo como chegaram,
internando-se no matagal.

— 52 —
Outro instante de silêncio. Depois, um pássaro noturno
piou. Kirkpatrik passou o braço forte em torno de Mia,
enquanto sussurrava ao ouvido dela:
— Vamos ter que permanecer aqui durante'' algum
tempo. O dia está clareando e não poderemos expor-nos à
luz do sol. Seríamos logo descobertos.
— E aqui em cima? — gemeu a moça. — Mesmo aqui
em cima, não estamos correndo perigo de sermos
encontrados?
— Não creio. Esta parte do bosque é bastante espessa e
eles jamais se lembrarão de nos procurar aqui em cima,
camuflados pelas folhagens ... Você bem viu que dois
soldados olharam para nós e não nos perceberam. Temos
apenas que tomar cuidado para não adormecermos,
vencidos pela fadiga. Corríamos o risco de rolar lá para
baixo...
A moça sorriu, olhando para o playboy louro e
queimado de sol que a abraçava com força.
— Eu não corro esse perigo... Jamais seria capaz de
adormecer, tendo você a meu lado...
Kirkpatrik encostou seus lábios aos da mestiça e suas
línguas se misturaram, num beijo ardente e lascivo. Mas, ali
em cima do tronco da árvore, era o máximo que podiam
fazer...

***

Passou-se o dia e, à noite, Kirkpatrik e Mia saíram de


seu esconderijo e tomaram a direção do local onde deveria
estar o depósito secreto de armas não identificadas. A
missão que ali os levara ainda não estava cumprida.
— Como conseguiremos nos orientar? — quis saber a
mestiça, em dado momento.

— 53 —
— Trouxe comigo uma bússola e indicações precisas,
fornecidas pelos satélites artificiais, nossos espiões no céu...
Se você tiver a gentileza de me emprestar as suas costas,
estenderei em cima dela o mapa fotométrico...
Depois de localizar, no mapa, o bosque onde estavam,
ficou satisfeito.
Orientados pelas indicações que ele trouxera, os dois
conseguiram chegar até perto do imenso depósito, que
avultava, no horizonte, como um monstro pré-histórico.
Mas a guarda havia sido reforçada e Kirkpatrik planejava
ainda um meie de aproximação.
— Embora tenhamos a noite a nosso favor — disse o
herói — não nos podemos arriscar! Sermos apanhados
justamente agora, que estamos a ponto de conseguirmos
nosso intento, seria um contratempo terrível! E, depois, eu
tenho um prazo certo para destruir a camuflagem, pondo à
mostra o interior do depósito.
— E quando termina esse prazo? — quis saber a bela
eurasiana.
— Amanhã, às nove horas da manhã, a camuflagem já
deverá ter deixado de existir! Caso contrário, irá tudo por
água abaixo!
A distância, o imenso galpão de madeira bege, com teto
de areia, permanecia solitário e silencioso.
— E como vamos fazer para destruir a camuflagem, se
não trouxemos armas poderosas conosco? — indagou Mia,
apreensiva.
— Não seja por isso — acalmou-a Kirkpatrik. —
Trouxe comigo uma carga de nitroglicerina, muito bem
acondicionada nesta pequena garrafa de metal.
E mostrou um recipiente metálico que levava
pendurado no peito. A jovem abriu a boca, espantada.

— 54 —
— Nitroglicerina? Então... então, estivemos durante
todo esse tempo correndo um sério risco de irmos pelos
ares?!
Kirkpatrik não pode deixar de sorrir.
— Mas o grande caso é que não fomos... Aqui estamos,
sãos e salvos, e a ponto de levarmos a cabo uma tarefa nada
fácil de se realizar... Esta garrafa de metal é à prova de
choques.
Nisso, um ruído de passos, às suas costas, fez com que
ele retesasse os músculos, já prontos para um novo
combate. Esconderam-se nas sombras, mas um vulto se
aproximava, dirigindo-se deliberadamente para eles.
Kirkpatrik levou a mão ao coldre, onde carregava a sua
inseparável Mauser 22 com silenciador, mas, em voz baixa,
alguém procurou identificar-se:
— Não façam nada! Sou eu! Wang-Chuan!
Era o agente soviético, que se aproximava rapidamente.
Suas mãos estavam vazias.
Contudo, temendo cair numa armadilha, Kirkpatrik fez
sinal para Mia, a fim de que permanecesse onde estava;
depois, deu uma rápida volta pelo local, surpreendendo o
chinês pelas costas. Sua Mauser foi apontada para a nuca
do traidor.
— Levante as mãos e não tente nenhum truque!
O espião chinês voltou-se vivamente.
— Por favor! Não atire! Eu... eu vim entregar-me a
vocês... e fazer uma proposta!
— Não creio que uma proposta, vinda de você, possa
me interessar — respondeu o agente 77Z.
— Pelo menos, ouça o que tenho a dizer — Eles se
encararam friamente, em campo raso. Implorou o traidor.
— Pois bem, disse Kirkpatrik. — Eu o escutarei. Mas
vamos sair daqui! Estamos muito expostos e corremos

— 55 —
perigo de sermos descobertos. Venha comigo! E não tente
nenhum truque! Eu estou de olho em você!
Sem baixar a arma, e sempre na retaguarda de Wang-
Chuan, ele voltou ao local onde Mia o esperava, apreensiva.
Aí, encarou friamente o seu prisioneiro. A Mauser
continuava em sua mão firme.
— Muito bem! Agora, comece a falar! E que não seja
nenhum de seus golpes sujos! Depois do que aconteceu, eu
já não serei tão ingênuo como antes!
— Não! Juro que não é um golpe! Trata-se de uma
proposta, apenas. Pode guardar essa arma, camarada! Eu já
levei o que merecia!
E o chinês parou de falar e engoliu em seco.
— Estou esperando — tornou Kirkpatrik, depois de
uma pausa. — Diga de uma vez o que tem a propor!
Wang-Chuan lambeu os beiços feridos.
— Bem... eu pensei que poderíamos trabalhar de
comum acordo, 77Z.
— Como assim?
— Eu os ajudaria a entrar no depósito e, em troca, teria
direito a receber cópias das fotografias que vocês tirassem.
Afinal, isto não afetaria a segurança dos Estados Unidos...
e aumentaria a da União Soviética.
— E como você poderá ajudar-nos a penetrar no
depósito, se ele está cercado de guardas?
— Conheço um meio eficiente de entrarmos lá sem
despertarmos a atenção da guarda. E então? Topa? Pense
bem. Você ainda não sabe como atingir o seu objetivo...
Kirkpatrik ficou pensativo durante algum tempo;
depois, respondeu:
— Está bem! Aceito a sua proposta! Na verdade, não
sei como penetrar naquela fortaleza!

— 56 —
O chinês respirou aliviado. No mesmo instante,
Kirkpatrik pensava com os seus botões;
— Não terei feito uma tolice? Este acordo não será, por
acaso, uma armadilha? Isso é o que veremos, daqui a pouco!

— 57 —
CAPÍTULO SÉTIMO

Por dentro do túnel

Sempre desconfiado do ex-agente da Yuan de


Segurança, Kirkpatrik queria saber qual o meio que usariam
para penetrar no depósito das armas. Wang-Chuan sorriu,
com uma espécie de orgulho.
— É muito simples — disse ele. — Existe um túnel
subterrâneo entre o depósito e o rio Tarim. Era por esse
túnel que, antigamente, corria a água dos reatores atômicos.
Mia-Nang-sha ouvia tudo em silêncio.
— Que reatores atômicos? — quis saber Kirkpatrik.
— Eles ficavam no local onde hoje é o esconderijo das
armas desconhecidas. Aquele galpão já foi a dependência
de um reator tipo Calder Hall. Mas, depois de abandonado,
o túnel deixou de ter serventia...
— Se assim é — falou o louro playboy — esse túnel
deve estar contaminado pela radioatividade! Nós seríamos
doidos se entrássemos dentro dele!
— Acontece que atualmente, o teor de radioatividade é
muito baixo. O túnel foi lavado quimicamente e
descontaminado. Não existe mais o menor perigo de vida,
posso lhe garantir.
— Quer dizer então que, através desse túnel, poderemos
penetrar no depósito sem sermos surpreendidos?

— 58 —
— Exatamente. Iremos os dois, e armados. Assim um
dará cobertura ao outro. E você verá que eu também
arriscarei a minha pele...
Kirkpatrik parou, por um instante, para refletir. Por fim,
decidiu-se.
— Okey! Vamos empreender essa aventura juntos...
bem juntos! Mas desde já o previno de que, se você tentar
alguma coisa, sua vida valerá menos que a de um verme de
esgoto! Se você sabe que eu sou o agente 77Z também deve
conhecer os meus métodos...
— Pode confiar em mim! Eu tenho interesse em
conseguir as cópias das fotografias e não o trairei! Não,
camarada! Desta vez, não!
As palavras do chinês pareciam sinceras e Kirkpatrik
resolveu prosseguir com o plano proposto. Aliás, não havia
outro melhor.
— Está certo! Vamos, então! Mia esperará por nós, bem
escondida, aqui do lado de fora. Não quero que ela se
arrisque a ser contaminada pela radiação.
— Aqui? Não será melhor que ela esteja perto da
entrada do túnel? Mesmo que ainda haja um pouco de
radiação lá dentro, a entrada está limpa...
Kirkpatrik conferenciou, em voz baixa, com a
eurasiana. Ela assentia com a cabeça. O que diziam não
podia ser ouvido por Wang-Chuan, que olhava para eles de
esguelha. Depois, Kirkpatrik aproximou-se novamente do
chinês.
— Estou preparado! Podemos seguir!
— E... a máquina fotográfica, para tirar as fotografias
no depósito? Onde está?
Kirkpatrik sorriu. Ele tinha posto no nariz os óculos que
completavam o seu disfarce de chinês velho.

— 59 —
— Está vendo estes óculos que uso? Pois são uma
máquina fotográfica especial. Não se preocupe. As chapas
serão batidas.
O chinês estava incrédulo. Não esperava por aquilo. Os
óculos, que serviam no disfarce que Kirkpatrik usava, eram
então uma máquina fotográfica? Seria bem mais difícil de
se apoderar dela do que de outra máquina comum..., mas
não havia de ser nada. No momento preciso, ele saberia
como agir! E sorriu disfarçadamente.
— Ótimo! Vamos em frente! O Tarim não fica longe!
Depois de uma rápida caminhada, os dois homens
mergulharam no rio, bem ao largo da base de lançamento
de mísseis intercontinentais, e, logo depois, entravam pelo
túnel. Justamente no momento em que uma patrulha de
soldados chineses se aproximava, caminhando
cadenciadamente pela margem do rio. Conseguiram
escapar por verdadeiro milagre.
E mergulharam no túnel, com água pela cintura.

***

O corredor subterrâneo era estreito, estava cheio de


água e a passagem por ele era extremamente difícil. Sobre
suas cabeças, a terra estava muito quente e os dois homens,
cambaleando, sentiam ânsias de vômitos. Afinal, o teor de
radioatividade talvez não fosse tão desprezível...
Foi muito penosamente que conseguiram atingir o alvo
planejado. Mas escaparam vivos.
Kirkpatrik obrigava o chinês a seguir na sua frente, não
confiando em deixá-lo à sua retaguarda. Mas Wang-Chuan
não tentou nenhum truque. Portou-se corretamente, até
atingirem o subsolo do depósito de armas desconhecidas.
— Mas... aqui não existe nada! — exclamou Kirkpatrik.

— 60 —
E encarou severamente o seu guia.
— Certamente as armas estão lá em cima — respondeu
o chinês, enquanto apontava para uma pequena escada de
ferro, dissimulada a um canto. Em cima, havia um tampão
de ferro.
Sem perda de tempo, Kirkpatrik enveredou pelo
caminho indicado, tendo Wang-Chuan sempre sob suas
vistas. Ergueu facilmente a tampa de metal e passou pela
abertura.
No andar superior, num vastíssimo depósito, deram
com os foguetes que ali estavam depositados. Os monstros
metálicos eram negros, com ideogramas desenhados a tinta
branca.
Kirkpatrik fez funcionar sua máquina fotográfica,
retratando as armas, em diversos ângulos. Não foi preciso
nem retirar os óculos de cima do nariz.
O local estava completamente deserto. Ao que tudo
indicava, toda a guarda havia sido espalhada pelo lado
exterior do depósito, que era por onde os chineses
esperavam uma visita dos espiões adversários.
— Pronto — disse o agente fora de série da CIA. —
Missão cumprida!
— Podemos então voltar pelo mesmo caminho que
viemos? — quis saber o chinês, olhando com grande
interesse para os óculos deles.
— Não. Fique aqui e não se mostre. Esconda-se neste
desvão, enquanto eu vou até à cúpula do edifício! Ainda
tenho algo a fazer!
O chinês tentou objetar, mas um gesto imperioso de
Kirkpatrik fez com que ele se calasse e se apressasse a
obedecer. No mesmo instante, tinha desaparecido atrás de
um míssil posto em pé. E assim, enquanto Wang-Chuan
aguardava seu regresso escondido, Kirkpatrik subia até à

— 61 —
cúpula do edifício, que era toda de madeira envernizada,
coberta de areia.
Uma vez lá em cima, pôs-se a trabalhar com eficiência
e rapidez. Preparou quatro cargas de nitroglicerina, que,
com todo cuidado para não provocar um acidente, colocou
nos quatro cantos da cúpula.
Só então constatou que havia um grande problema: Não
trouxera detonadores consigo! E agora?
— Raios! Terei que executar o trabalho de um modo
bem mais arriscado! Será preciso esperar o amanhecer, para
fazer com que as cargas explodam! E terei que fazer esse
trabalho pessoalmente! Mas não faz mal! O importante é
que as fotos estão comigo e, amanhã, às nove horas, o teto
do depósito irá pelos ares! Haja o que houver, esse teto tem
que voar!
Terminado o perigoso trabalho, Kirkpatrik tornou a
descer até o depósito, onde encontrou Wang-Chuan
escondido, segundo as ordens qi;e lhe dera. O espião sino-
soviético saiu logo detrás do gigantesco míssil.
— O que foi fazer lá em cima? — quis saber ele,
desconfiado.
— Nada demais. Apeiras um reconhecimento
pormenorizado do local, para qualquer eventualidade...
Ele não podia revelar os seus planos.
— E agora? — indagou o chinês, que se mostrava
bastante nervoso — Que faremos? Vamos sair daqui!
Tivemos sorte até agora, mas...
— Não — disse Kirkpatrik, com uma energia que não
deixava lugar a réplicas; — Vamos permanecer aqui
mesmo, escondidos no depósito, até que amanheça!
— Mas... isso é uma loucura! Os soldados...
— Está decidido — falou o Máscara Negra; — Vamos
ficar aqui até que amanheça! E não admito objeções! Certo?

— 62 —
O chinês deu de ombros, conformado, e preparou-se
para passar o resto da noite (o que, àquela altura era muito
pouco, pois começara a amanhecer) no esconderijo em que
se encontrava. E Kirkpatrik também encontrou outro
refúgio seguro para ele.
Na manhã seguinte, exatamente às sete horas, o
Máscara Negra saiu de seu esconderijo e preparou-se para
subir à cúpula do depósito, a fim de fazer explodir as cargas
de nitroglicerina.
“A hora é boa” — pensou ele.
Mas não dera meia dúzia de passos quando se viu
cercado por soldados chineses armados até os dentes. Eles
deviam estar à sua espera havia muito tempo.
— Não adianta tentar qualquer coisa, camarada! —
falou o que comandava a captura. — Vocês estão cercados
e somos muitos! Não conseguiriam escapar! Entreguem as
armas!
Wang-Chuan também saiu de trás do outro míssil.
Contrariado, ele entregou sua arma, sem uma palavra de
protesto. O chinês, antes tão nervoso, agora dava
demonstrações de um calmo aborrecimento. Como se
aquele fosse um contratempo fácil de contornar...
Kirkpatrik, embora houvesse retesado instintivamente
os músculos, habituados à reação, desistiu de seu intento.
Seria um suicídio reagir naquelas circunstâncias.
Logo, foi revistado e sua 22 tomada. Depois, o
comandante estendeu a mão, enquanto falava: — Por aqui,
cavalheiros... Nosso chefe terá grande satisfação em vê-los!
— E, sorrindo, apontava o caminho.
Kirkpatrik e Wang-Chuan seguiram, escoltados, cada
um pensando numa coisa diferente. Não eram nada
agradáveis os pensamentos do Máscara Negra.

— 63 —
CAPÍTULO OITAVO

O espião triplo

Cercados de soldados por todos os lados, Kirkpatrik e


Wang-Chuan nem puderam pensar em esboçar um gesto de
reação. E, assim, foram conduzidos a uma espécie de ante-
sala, contígua ao depósito, ainda dentro do galpão. Aí,
severamente vigiados, aguardaram a ordem para penetrar
no gabinete do comandante. Este gabinete ficava na entrada
principal da enorme construção de madeira envernizada.
Logo, uma campainha soou e um sinal verde se
acendeu, sobre a porta do gabinete. Era a ordem esperada.
— Venham! Vocês serão recebidos agora!
E o comandante do destacamento empurrou os dois
prisioneiros para a frente, enquanto um dos soldados abria
a porta.
Kirkpatrik caminhava de cabeça erguida, como que
desafiando aquela gente, e assim, com espanto, foi o
primeiro a ver a coronela Lin-Chuang, parada no meio do
escritório.
— Bem-vindo seja! — ironizou a gordalhufa chinesa.
— Você julgava que estivesse fora do alcance de minhas
mãos? Engano seu! Agora, sou eu a comandante do Serviço
de Segurança em Lop Nor! Acabo justamente de chegar de
Cantão! Foi ótimo que tivesse chegado a tempo de recebê-
lo, meu venerável espião!

— 64 —
A mulher mal-encarada sorria irritantemente, enquanto
falava num tom de voz sibilante que se assemelhava a uma
serpente. Depois, estendendo a mão fofa em direção a
Kirkpatrik, prosseguiu:
— Faça o favor de me entregar os seus óculos! Ou devo
dizer máquina fotográfica?
Num relance, Kirkpatrik compreendeu tudo. Fora
traído! E o traidor outro não era senão Wang-Chuan!
Voltando-se para o chinês (que, àquela altura, era todo
sorrisos, satisfeito consigo mesmo), Kirkpatrik cuspiu mais
do que pronunciou as palavras:
— Miserável cão traiçoeiro! Verme nojento! Outra vez,
hem?
— Suas palavras, para mim, são um grande
cumprimento, meu caro agente especial 77Z!
O homenzinho tomara uma atitude de superioridade
afetada, capaz de irritar qualquer um.
— Continuo trabalhando para o Departamento de
Serviços Sociais da China Popular. Ou você pensou mesmo
que eu tivesse sido demitido e acabasse por me tornar um
agente dos soviéticos? Não! Um chinês jamais trairia sua
pátria... e muito menos os Mandamentos de Mao! Vocês,
cães brancos, ainda não entendem bem os chineses!
Kirkpatrik não pôde se manter calado por mais tempo:
— Não me venha com desculpas patrióticas!
Mercenários como você não têm pátria! Visam apenas ao
dinheiro!
O chinês continuava com seu sorriso asqueroso nos
lábios, enquanto falava:
— Exatamente! Dinheiro! E se quer saber, tenho ganho
muito dinheiro... Tanto da União Soviética, como dos
Estados Unidos. Todos me pagam para que eu traia a minha

— 65 —
pátria. E eu, aproveitando a oportunidade, ganho dinheiro
servindo à China... sempre servindo à China!
Kirkpatrik esboçou um gesto, como se fosse agredir o
traidor, mas logo foi imobilizado pelos guardas.
Foi a vez da coronela prosseguir em seu discurso:
— Wang-Chuan é um excelente colaborador nosso. Por
isso, não nos importamos que ganhe algum dinheiro de
nossos inimigos... Tentaram comprá-lo, não foi? Pois que
paguem o preço pedido e mais os juros!
Wang-Chuan sorriu, acrescentando:
— E os juros, no caso, são a neutralização dos espiões
inimigos de Mao! Eu mesmo com estas mãos que aqui vê
— e estendia as mãos fortes na direção de Kirkpatrik —
neutralizei um agente do KGB que o Kremlin enviou a Lop
Nor! E só não acabei com a sua vida, meu caro 77Z, porque
queríamos pegá-lo com provas irrefutáveis de sua
espionagem! As fotografias que você tirou jamais chegarão
ao ocidente! E você... muito menos!
A coronela fez um gesto e o chinês calou-se. Ela, então,
retomou a palavra, dirigindo-se a Kirkpatrik:
— Agora, terei ocasião de lhe mostrar o que reservamos
para os que traiçoeiramente vão oferecer seus serviços aos
nossos inimigos! Você será torturado com tanto capricho
'que lamentará ter-se passado para o lado dos americanos!
— Este homem não é chinês — gritou Wang-Chuan. —
E muito menos pai daquela mestiça que o acompanha! O
verdadeiro Sun-Nang-Sha ficou nos Estados Unidos! Eles
não quiseram se arriscar a entregar £as mãos de um velho
reumático uma missão como esta. Este camarada está
disfarçado! Deve ser norte-americano. É o agente especial
77Z, pago a peso de ouro para meter o nariz no que não é
de sua conta! Eu soube, pelos soviéticos, que ele pertence
ao SS-77 da CIA!

— 66 —
— Como? — indagou a coronela, enfurecida. — Então
este canalha é norte-americano?
— Exatamente! Eu mesmo presenciei disfarçadamente
as cenas de amor, nada paternais, que ele teve com aquela
pequena durante o trajeto para cá... Pai e filha não agem
daquela maneira. E muito menos um chinês velho e
reumático! Ele é o agente 77Z, sem dúvida alguma!
— Quer dizer que temos um americano fazendo-se
passar por um chinês traidor? — A coronela deu um soco
na mesa. — Isso aumenta ainda mais a injúria contra nosso
povo! Mas eu quero ver a sua verdadeira fisionomia!
Vamos retirar estes bigodes, que devem ser falsos, e
também a barba! E vamos arrancar-lhe essa pele
encarquilhada!
Enquanto falava, a coronela avançava sua mão gorda
para o rosto do playboy, a fim de retirar-lhe os postiços de
seu disfarce.
Kirkpatrik recuou instintivamente, mas foi empurrado
pelas mãos poderosas dos soldados.
— Você não pode lutar contra nós, meu caro! — sorria
a coronela, no seu modo irritante de falar. — Eu sou curiosa
e quero ver seu verdadeiro rosto, portanto... não adianta
querer resistir! Quem será, realmente, o agente especial
77Z?
No momento em que seus dedos fofos já se encostavam
na fase do agente fora de série da CIA, ouviu-se uma
terrível explosão, seguida de outra, outra e mais outra. E
cada explosão parecia vir de um ponto cardeal.
Foi um verdadeiro pandemônio! Todos corriam e
gritavam ao mesmo tempo, sem saber que direção tomar.
— O teto! A camuflagem foi pelos ares! — berrava
Wang-Chuan. — Certamente aquela maldita mestiça

— 67 —
prosseguiu com os planos do espião! Ela encontrou um
meio de entrar aqui e...
Altas labaredas lambiam as paredes do imenso galpão.
— Depressa! Tentem apagar o incêndio — gritou a
coronela.
Era o caos! Aproveitando-se da balbúrdia reinante,
Kirkpatrik escapuliu da sala e, passando pelo corredor, onde
a confusão se generalizara (e onde ninguém se preocupava
com a sua presença, cada qual cuidando de si próprio),
desceu a escada que conduzia ao subsolo, onde ficava a
entrada do túnel. Uma vez ali, meteu-se pela estreita
passagem, sem olhar para trás.
— Não deixem o espião escapar! — berrava a coronela,
apoplética, enquanto empurrava uns e outros à sua
passagem; — Cerquem tudo! Eu quero aquele miserável de
volta! E vivo! Quero-o vivo! Eu hei de ensiná-lo a não
brincar com o nosso Serviço de Segurança!
Os soldados corriam de um lado para o outro, como
baratas tontas. E Wang-Chuan lamentava-se, a um canto do
escritório:
— Como nos foi possível esquecer a maldita mestiça?
Foi ela! Não pode ter sido outra pessoa! Se os guardas a
tivessem capturado lá fora, como deviam...
A coronela, que não admitia censuras, voltou-se furiosa
para o espião triplo.
— Cale-se! Quem você pensa que é, para fazer-nos
admoestações? Eu mando aqui! Ordenei uma batida em
regra e, se a espiã não foi achada, é sinal de que estava
escondida num lugar diferente do que você nos indicou! Foi
você quem falhou e não os meus homens! Eu sei fazer com
que todos me respeitem e executem à risca minhas ordens e
não lhe permito censuras!

— 68 —
Os dois se olhavam de frente. Chispas de fogo
brilhavam nos olhos de ambos. A coronela era uma mulher
autoritária, fria e dura, que não admitia ser chamada à
atenção por quem quer que fosse; julgava-se infalível.
Dando socos na mesa, ela continuou:
— Eu saberia fazer as coisas! Fui tola em confiar nos
serviços de um idiota como você!
Wang-Chuan estava pálido de ira.
— Não permito que me fale nesse tom! Sou um agente
especial do Yuan de Segurança e...
Não terminou a frase. A mão gorda da coronela cortou
o ar e foi se achatar no seu rosto.
— Você é um mísero espião, seu atrevido, e eu sou o
seu chefe!
O chinês, rubro de ódio, mal balbuciava as palavras:
— A senhora terá ocasião de se arrepender por essa
bofetada, coronela. Seus superiores saberão que sua
ineficiência deixou que um espião da CIA escapasse com
as fotografias de nossas armas! O Ministro saberá de tudo,
afianço-lhe!
Só então a coronela caiu em si. Os óculos! Na confusão,
esquecera-se dos óculos do falso velho chinês!
— Maldito espião! — vociferou. E, girando sobre os
calcanhares, começou a correr e a gritar novas ordens:
— Cerquem tudo! Quero o espião de volta! Vivo ou
morto... e com os óculos!
Todos se precipitaram para fora do escritório e do
galpão. Dificilmente Kirkpatrik lograria escapar.

— 69 —
CAPÍTULO NONO

A ratoeira

Mia-Nang-Sha, cansada de esperar por Kirkpatrik e


Wang-Chuan, tinha resolvido entrar também pelo túnel que
levava ao porão do depósito. Depois daquela penosa
travessia, ela chegara ao subsolo do galpão. Daí, subiu para
o recinto onde estavam os mísseis. Eram sete horas da
manhã e Kirkpatrik acabara de avisar Wang de que iria até
à cúpula do prédio.
Mia fora informada, pelo agente fora de série da CIA,
de que ele pretendia fazer explodir a camuflagem do teto do
depósito. A moça preparava-se para se apresentar a seus
companheiros, quando ouviu os passos dos guardas, que se
aproximavam para prendê-los. Apavorada, deixara-se ficar
em seu esconderijo, sem saber, de momento, que atitude
tomar. Kirkpatrik e Wang-Chuan, cercados de soldados,
tinham passado a dois metros do lugar onde ela estava
oculta.
Mas Mia-Nang-Sha era moça de coragem e acostumada
a tomar decisões rápidas. Decidiu efetuar o trabalho que,
por certo, Kirkpatrik, agora preso juntamente com Wang,
não poderia executar. Era preciso fazer explodir as quatro
cargas de nitroglicerina. Aliás, ela sabia que bastaria
provocar a explosão de uma delas para que as outras
sofressem o impacto.

— 70 —
Corajosamente, depois de se certificar de que não havia
mais ninguém no depósito, deixou seu esconderijo e subiu
à cúpula, onde, pondo em prática ensinamentos que seu
velho pai lhe ministrara, construiu um detonador de
emergência, preparando a explosão para as oito horas, ou
seja, cinco minutos depois, já que a eurasiana perdera um
tempo precioso escondida no túnel, até que os soldados
abandonassem completamente o depósito. Afinal, o
trabalho estava concluído e ela teria apenas que descer, o
mais rapidamente possível, para que a explosão não a
surpreendesse naquele local.
Mas não calculara muito bem o tempo e, a meio
caminho, foi surpreendida pela primeira explosão, que a
arremessou de encontro a um canto, um pouco ferida.
Seguiram-se as outras três explosões, em série, e o teto ruiu.
Mesmo ferida, Mia conseguiu chegar ao porão do depósito,
ao tempo de ver Kirkpatrik escapar pelo buraco do túnel.
Tentou segui-lo, mas não pôde. Os ruídos provocados pelos
soldados que perseguiam o agente fora de série da CIA
fizeram com que ela se refugiasse a um canto discreto. Não
podia, pelo menos naquele momento, seguir o mesmo
caminho que seu companheiro seguira. Tentaria isso
depois.
Os soldados, armados até os dentes, percorreram
rapidamente o subsolo e, não vendo nada suspeito,
regressaram ao andar de cima. Era o que Mia esperava.
Tão logo os passos dos militares se perderam na
distância, a moça preparou-se para entrar no túnel. Foi
quando se surpreendeu com Kirkpatrik, que regressava pelo
mesmo caminho.
— Mia! — exclamou o playboy. — Que faz aqui?
A moça, embora ferida, atirou-se nos braços de seu
parceiro, sorrindo feliz.

— 71 —
— Ainda bem que você está são e salvo, meu amor!
Quando vi que o levavam preso, pensei no pior!
— Wang-Chuan, aquele traidor, foi o culpado de tudo
— explicou o playboy. — Foi ele que fez com que os
agentes da coronela Lin-Chuang que apanhassem!
— A coronela? Então... ela também está aqui? Não é
chefe do Yuan de Segurança, em Pequim?
— Acumula dois cargos — respondeu Kirkpatrik. —
Também é comandante do Serviço de Segurança de Lop
Nor. Ela conseguiu tomar-me os óculos, nos quais estava
disfarçada a máquina fotográfica com os filmes tirados.
Tudo obra daquele miserável traidor!
— E agora, que faremos?
— Não podemos escapar pela saída do túnel, pois está
muito bem guardada pelos homens da coronela —
respondeu o Máscara Negra. — Por esse motivo, voltei pelo
túnel. É impossível sair, do lado do rio.
— E se nos escondêssemos entre os mísseis? — sugeriu
a eurasiana. — Refiro-me aos foguetes guardados no centro
do depósito.
— Uma excelente idéia — aplaudiu Kirkpatrik. —
Entre os mísseis do meio será o único lugar onde os
soldados não se lembrarão de nos procurar!
De comum acordo, os dois, de mãos dadas, correram
para a escadinha de ferro que levava ao depósito.
O fogo tinha acabado e o pânico também. Lá em cima,
ouviam-se apenas marteladas.
Mal chegara ao último degrau, Mia olhou para cima e
soltou uma exclamação de desapontamento:
— Oh! Veja!
Kirkpatrik olhou na direção indicada e viu, lá no alto,
vários operários chineses que se apressavam em construir
uma camuflagem de emergência para o depósito de armas.

— 72 —
— Não podemos expor-nos a sermos vistos por um dos
operários — disse o playboy, arrastando a moça para
esconder-se entre dois enormes foguetes.
— Mas vamos permanecer aqui? — sussurrou a bela
eurasiana.
— Pelo menos, até que os operários terminem seu
serviço e se retirem. A não ser que...
Não teve tempo de terminar a frase. Passos vigorosos
soaram, aproximando-se deles.
— São dois soldados — sussurrou a moça, que,
agachada num vão, observava tudo quanto se passava ao
redor.
Kirkpatrik tapou-lhe a boca.
— Vamos deixá-los vir. Quem sabe se estes dois não
serão a nossa salvação?
E preparou-se para o ataque. Os dois guardas iam
passando, sem darem pela presença dele nem de Mia, e
foram surpreendidos pelo salto que o Máscara Negra, tal
qual uma pantera, deu para alcançá-los. Apanhados de
surpresa, e ante a aplicação de dois tremendos golpes de
karatê, os homens foram facilmente postos fora de combate.
Um caiu para a direita e outro para a esquerda, ambos com
a base do crânio fraturada.
Sem perda de tempo, Kirkpatrik e Mia arrastaram os
dois homens para trás dos mísseis e despiram-lhes as fardas
cinzentas.
Depois de vestidos com as túnicas dos soldados,
Kirkpatrik (que recolhera a submetralhadora de um deles)
deixou o esconderijo, acompanhado por Mia. Tinham se
transformado em dois “hungweipings”.
— Que pretende fazer agora? — indagou a moça.

— 73 —
— Vamos para a saída do depósito! Talvez consigamos
escapar daqui! Agora, pertencemos também ao Serviço de
Segurança...
E os dois, envergando as fardas dos soldados chineses,
rumaram para a saída. Mas, a meio do caminho,
defrontaram-se com uma patrulha, comandada pela própria
coronela Lin-Chuang. Ao ver aquela dupla, os olhos da
mulher gorda se arregalaram.
A coronela reconheceu Kirkpatrik e Mia e deu ordens
severas:
— São os dois fugitivos! Atirem para matar! Já não faço
questão de tê-los vivos!
Debaixo de uma saraivada de balas, Kirkpatrik arrastou
atrás de si a eurasiana e conseguiu escapulir dali,
escondendo-se num dos pequenos galpões que existiam do
lado de fora do depósito. Felizmente, tinham se adiantado
bastante e nenhum soldado os viu entrar.
Por algum tempo, ouviram os passos dos militares, que,
completamente desorientados, tentavam encontrá-los lá
fora.
Finalmente, as ordens berradas pela irascível coronela
foram-se tornando cada vez mais distantes e acabaram por
desaparecer, juntamente com o movimento da soldadesca.
Não se ouvia mais o retinir das armas.
Kirkpatrik, que, durante todo o tempo, mantivera Mia
encostada ao peito, apertou-a mais fortemente, para
reconfortá-la. Depois, beijou-a nos olhos e falou:
— Escapamos dos soldados, mas nosso trabalho foi
perdido! Olhe ali!
E apontava para a cúpula do depósito, que os operários
acabavam de restaurar, num recorde de tempo.
— O pior de tudo o que você perdeu os óculos com as
fotografias — ajuntou a moça.

— 74 —
— Não importa — disse Kirkpatrik. — O importante,
neste momento, é conseguirmos escapar daqui! Este galpão
é uma verdadeira ratoeira! Não tem janelas! Se algum
soldado entrar aqui, estamos perdidos!
Realmente, o galpão não tinha saída, a não ser aquela
pequenina porta por onde eles haviam entrado. Os dois se
aproximaram cautelosamente da porta (apenas encostada)
e, para surpresa de ambos, ela se abriu e um homem armado
entrou no galpão. Mas não usava nenhuma farda.
Mia deixou escapar um grito de pavor, enquanto se
aconchegava mais a Kirkpatrik.
— É ele!
O agente fora de série da CIA também ficou aturdido
com a surpreendente aparição.
— Sim... Até as pedras se encontram!
Apenas seu antagonista caminhava sorridente, com uma
arma na mão, pronta para disparar.
— Pensaram que estavam a salvo, aqui, neste
esconderijo? Não creio! Se não estou enganado, ouvi você
dizer à moça que este galpão era uma verdadeira ratoeira...
Era Wang-Chuan. De arma em punho, e com um brilho
mau nos olhos, ele se encaminhou lentamente para os dois,
gozando a surpresa desagradável que causara.
— Pois está com a razão, meu caro — disse, ainda,
dirigindo-se a Kirkpatrik. — Vocês entraram mesmo numa
ratoeira! Aliás, entraram no lugar que compete a dois ratos
imundos como vocês!
E a risada do asqueroso espião triplo cresceu, tornando
maior o mal-estar reinante.

— 75 —
CAPÍTULO DÉCIMO

O salvo-conduto especial

Kirkpatrik cobriu o corpo de Mia com seu corpo,


esperando que, a qualquer momento, Wang-Chuan atirasse.
Mas o agente do Yuan de Segurança estava disposto a,
como fazem os gatos, divertir-se com suas presas. E, numa
espécie de sadismo, ao ver o espanto no rosto de Mia,
continuou sua arenga:
— Não... Não atirarei ainda, minha querida. Tenho
planos melhores com relação a vocês... Três agentes
chineses foram feitos prisioneiros, recentemente, nos
Estados Unidos. Proporemos uma troca. Vocês dois por
eles. Não é um alto negócio?
— Você não poderá provar que somos agentes dos
Estados Unidos! — desafiou-o Kirkpatrik.
— Engano seu — sorriu o chinês. — Tenho a prova
aqui comigo, neste momento!
E, introduzindo a mão desarmada no bolso, o espião
exibiu os óculos usados por Kirkpatrik.
— Aqui está a prova! A máquina fotográfica com as
chapas batidas por você... A coronela pensa que ainda estão
em seu poder, mas eu aproveitei o momento de pânico
provocado pelas explosões e me apoderei dele... A coronela
Lin-Chuang não perde por esperar... Ela se atreveu a tratar-
me como um cão! Como se eu fosse um de seus piolhentos

— 76 —
soldados! Wang-Chuan nunca esquece uma afronta sofrida!
Tenho muita paciência e espero a oportunidade propícia
para desforrar-me... Como pretendo vingar-me de você,
espião americano, pelo suplício que me infligiu, quando
esta pequena descobriu aquele documento. Você me fez
comer a terra do chão e o mesmo eu pretendo fazer com
você! Sim, você também vai comer a terra da China!
Kirkpatrik reunia todas as suas forças para um possível
ataque e dava graças pelo discurso proferido por seu
antagonista. Cão que ladra não morde, é coisa mais do que
sabida... Em sua conversa, o chinês acabara por revelar que
não pretendia assassiná-los, pelo menos naquele momento,
e isso já era uma oportunidade... Agora, bastava aguardar
um pequeno descuido do espião e... ATACAR! Era a hora
em que o “Androide” se transformava no Máscara Negra!
Wang-Chuan ainda exibia, em triunfo, os óculos que
surripiara à coronela, quando Kirkpatrik tentou um golpe.
— Vocês se enganaram num ponto — disse o playboy,
sorrindo. — As fotografias não se encontram mais aí. Eu
tive tempo para retirar a chapa. Ou você pensa que eu sou
um amador?
O rosto do chinês se transformou. Apanhado assim de
surpresa, deixou-se levar. E pôs-se a abrir a máquina, para
verificar a veracidade da afirmação de Kirkpatrik. As lentes
dos óculos saltaram e...
Era o momento esperado pelo agente fora de série da
CIA. De um salto, ele alcançou o chinês, fazendo com que
sua arma voasse longe. Mia correu para o local onde a arma
fora cair, enquanto os dois homens se empenhavam numa
luta de morte.
Kirkpatrik atacou seu adversário com golpes de karatê,
mas o chinês revidou à altura, e ainda ria durante a luta.

— 77 —
— Não me vencerá facilmente, espião americano! Eu
sou campeão de luta-livre chinesa! Da outra vez, você me
pegou desprevenido, mas, agora, não!
Os dois trocavam golpes ferozes e a luta pro-> metia
tornar-se mais violenta a cada segundo, podendo mesmo
terminar talvez num empate desastroso: a morte dos dois
antagonistas. Mas Kirkpatrik não se deixava abater.
Reunindo todas as suas forças, desferiu uma terrível
cutelada na nuca de seu adversário que, se não fosse a
destreza de Wang-Chuan em evitá-la, teria posto o espião
chinês fora de combate, com as vértebras cervicais
seccionadas.
Escapando de morte certa nas mãos do Máscara Negra,
o chinês sorriu aquele seu risinho insolente.
— Nada mau, cão sarnento! Mas eu também conheço
alguns truques...
Wang-Chuan preparava-se para outro golpe (no qual
punha toda a sua capacidade de luta) quando um tiro,
disparado por Mia-Nang-Sha com sua própria arma,
atingiu-o na cabeça.
O chinês, com ar incrédulo, arregalou muito os olhos,
rodopiou sobre si mesmo e estatelou-se no chão, já sem
vida. A bala tinha lhe varado os miolos.
Kirkpatrik, que se preparara para contra-atacar, voltou-
se surpreso para a moça.
— Por que o fuzilou?
— Eu... eu... pensei que ele fosse matar você —
balbuciou a pequena, quase chorando e abandonando a
arma que caiu no chão.
O Máscara Negra abraçou-a fortemente e beijou-lhe os
lábios; depois, teve uma inspiração, largou a moça e passou
a revistar o espião morto. Ao virar-lhe o corpo, deparou

— 78 —
com a máquina-óculos espatifada. Os filmes estavam
expostos à luz! Tudo perdido!
— As fotografias estão estragadas! Não conseguiremos
nada por este lado. E o pior é que eu tive a esperança de
usarmos Wang-Chuan como refém, para sairmos daqui!
Agora, não adianta mais nada. Ele está morto!
— Com ele morto, teremos que correr um grande risco,
não é? — indagou a eurasiana, com lágrimas nos olhos. —
Mil perdões! Fui uma desastrada! Mas fiquei com tanto
medo...
Kirkpatrik procedia a uma revista completa nas vestes
do cadáver. Em dado momento, teve uma exclamação de
surpresa;
— Oh! Veja isto! Estamos salvos!
Mia esticou o pescoço.
— O que é? Que papel é esse?
— Um salvo-conduto especial, usado apenas pelos
agentes secretos chineses em missão de contra-espionagem!
Estamos salvos! Agora, poderemos sair deste inferno sem
maiores receios!
— Mas... o salvo-conduto dá direito a duas pessoas —
indagou Mia, ansiosamente.
Uma pausa.
— Não — retorquiu Kirkpatrik. — Mas vamos tentar
mesmo assim! Ou viveremos juntos... ou não viverá
nenhum!
Mia olhou ternamente para o gigante da CIA, enquanto
falava mansamente:
— Não. Vá você. Sua vida é bem mais importante do
que a minha. Eu me sacrificarei. Permanecerei aqui e
garanto que darei bastante trabalho aos soldados da
coronela, antes de me deixar matar.

— 79 —
Kirkpatrik ergueu-se, segurando a mestiça por um
braço e levantando-a também.
— Nada disso! Não é o momento para sacrifícios! Isto
aqui não é fita de cinema, nem novela de televisão. Antes
de nos sacrificarmos por qualquer causa, temos a obrigação
de tentar todas as saídas! E nós ainda não tentamos. Você
vem comigo! Vamos tentar convencer os guardiães da
saída. Este é um salvo-conduto especial.
Kirkpatrik e a chinezinha, deixando para trás o corpo
sem vida de Wang-Chuan, saíram do galpão e dirigiram-se,
a passos vagarosos, para a primeira passagem guardada por
soldados embalados. Eles também estavam fardados de
cinzento e tinham lenços vermelhos no pescoço. Mia
estremeceu.
— Não tenha medo — encorajou-a o playboy. — Haja
o que houver eu estou aqui ao seu lado! Levante a cabeça e
faça de conta que o salvo-conduto é válido também para
você. Se de nada desconfiarem, conseguiremos sair do
Centro Atômico! Vamos! Coragem, sargento!
— Não se preocupe — tornou Mia. — A seu lado eu
terei coragem para tudo. Só agora reparei que as minhas
divisas são de sargento. As suas, também.
Os dois, caminhando lado a lado e a passos que não
denotavam a menor tensão, rumaram para a saída.
Sem um movimento, ou uma palavra, iam
transportando a barreira, quando uma voz tonitruante
ecoou:
— Alto! Nem mais um passo! Vocês aí! Parem onde
estão!
Os guardas do portão, em fileira, apontavam suas
metralhadoras, prontas a vomitar fogo em cima dos dois
“sargentos”.

— 80 —
Kirkpatrik segurou a mão de Mia e sentiu-a trêmula e
suada.
— Coragem — murmurou, entre dentes, enquanto,
afetando uma calma que estava longe de sentir, se
encaminhava para o homem que gritara.
Fez-se silêncio.
— O que há? Por que interceptaram nosso, caminho?
— Quem são vocês e onde pretendem ir?
— Somos agentes de Mao e não podemos ter nossos
passos embargados sem motivo! Para isso nos foi fornecido
um salvo-conduto especial!
E Kirkpatrik, desabotoando a farda, exibiu o papel
timbrado que, momentos antes, retirara do corpo de Wang-
Chuan. O homem adiantou-se, para examinar o documento,
ao mesmo tempo que Mia fechava os olhos e invocava
todos os deuses de seus antepassados.
Lograriam convencer os soldados?
A resposta a esta pergunta não tardaria a ser dada.

— 81 —
CAPÍTULO DÉCIMO PRIMEIRO

A grande escapada

O soldado pegou no salvo-conduto que Kirkpatrik lhe


exibira e examinou-o cuidadosamente. — Agente Wang-
Chuan, hem?
Durou pouco tempo o exame, mas, para Kirkpatrik e
Mia, aquela demora teve sabor de eternidade. Esperavam
que, a cada segundo, o homem desconfiasse de alguma
coisa e lhes desse ordem de prisão. Nada poderiam fazer
diante do número de soldados que os cercavam.
E o soldado sem se decidir! Alguma coisa tinha que ser
feita! Kirkpatrik aventurou-se:
— Afinal, o que está acontecendo? É a primeira vez, em
minha carreira de agente especial, que sou desconsiderado
de tal forma! Vocês poderão criar sérios embaraços a vocês
mesmos, caso retardem a nossa saída! Estamos empenhados
em assuntos da mais alta relevância, para a segurança
nacional, e minuto perdido significa prejuízos
incalculáveis! Prejuízos pelos quais vocês serão
responsabilizados por mim perante meus superiores! Este
salvo-conduto foi assinado pessoalmente por Mao-Tse-
tung!
O soldado devolveu-lhe o documento, com mão
trêmula, enquanto falava:

— 82 —
— Afastem-se todos! Deixem passar os agentes
especiais! É a assinatura do Velho!
E ele também se afastou para um lado, dando passagem
ao casal, que não perdeu tempo em curvaturas nem
agradecimentos. A passos rápidos e seguros Kirkpatrik e a
mestiça afastaram-se do portão. Com o coração batendo na
garganta...
Alguns metros depois, Mia respirou fundo, como quem
vem à tona depois de um mergulho prolongado.
— Pensei que estivéssemos perdidos!
O agente 77Z sorriu.
— Eu tinha que tentar um último truque. Banquei o
durão e ele se acovardou. Isto, quase sempre, dá resultado
entre os ignorantes..., mas não estamos salvos ainda.
— O que poderá acontecer mais? — gemeu a moça.
Ainda faltam duas passagens... e a segunda já está
próxima! Veja!
Com efeito, pouco adiante, homens armados
guardavam uma nova saída. Um portão numa cerca de
arame farpado.
Kirkpatrik, porém, incentivado por sua vitória sobre os
soldados da primeira passagem, repetiu a façanha. Antes
mesmo de ser indagado, foi falando, de mau humor.
— Espero que vocês não cometam a mesma
imbecilidade de seus camaradas lá de trás! Imaginem que
pretenderam embargar nossos passos, mesmo depois que eu
lhes apresentei este salvo-conduto! Está assinado,
pessoalmente, pelo Grande Pai do Povo!
O homem que chefiava aquele destacamento,
murmurando algumas desculpas, explicou-se:
— Temos ordens para revistar todos quantos passarem
por aqui... Sinto muito, mas...

— 83 —
— O quê? — gritou Kirkpatrik. — Ainda mais essa
maçada?
— São ordens. Espero que compreenda... Seu salvo-
conduto está perfeitamente em ordem, mas terei que
revistá-los.
Afetando grande impaciência e má vontade, Kirkpatrik
permitiu que o homem percorresse, com as mãos, todo o seu
corpo. No momento em que sua 22 foi apalpada, mostrou-
se enfurecido.
— Queriam, por acaso, que agentes como nós andassem
por aí desarmados? Não que esta submetralhadora Fuchian
que trago seja ineficiente. Isso, não. Mas sempre é bom
estarmos prevenidos para qualquer eventualidade.
— Compreendo perfeitamente — falou o outro homem,
deixando Kirkpatrik de lado e aproximando-se de Mia.
— Mas... é muito jovem ainda! Certamente, é um
recruta da Guarda Vermelha...
— Exatamente — retorquiu Kirkpatrik. — Está sob
minhas ordens e sou responsável por cie! Deixe-o em paz!
O homem afastou-se, sem sequer dar-se ao trabalho de
revistar Mia. Os dois puderam, então, prosseguir seu
caminho sem maiores problemas, enquanto o soldado tecia
comentários:
— É o diabo! Nós nos arriscamos de todas as maneiras
e, no entanto, estes camaradas, só por serem agentes
especiais... isto é, brincam de bandido com outros agentes
de outras nações... têm tantas prerrogativas! Quem quiser
que entenda uma coisa destas! O garoto da Guarda-
Vermelha era bem bonitinho...
Enquanto o soldado, de mau humor, fazia uma série de
conjeturas nada agradáveis, Kirkpatrik e Mia se
aproximavam da terceira e última saída. Era o momento
culminante da grande escapada.

— 84 —
— Vai recomeçar tudo novamente — murmurou a
moça, em voz baixa.
— Mas, agora, é a última vez. Depois disso, estaremos
livres! Pense apenas nisso, meu bem!
— Alto! — gritou uma voz. — Quem são vocês? E para
onde se dirigem?
Mia apertava a mão de seu companheiro,
imperceptivelmente, à medida que se aproximavam da
barreira. Como sempre, o agente 77Z tomou a palavra:
— Temos um salvo-conduto. Agentes especiais de Lop
Nor, para entregarem seus relatórios.
O salvo-conduto passou para as mãos do oficial que os
detivera e este examinava o papel, quando um pelotão
comandado pela própria Coronela Lin-Chuang se
aproximou correndo.
— Prendam esses dois! — vociferou a mulher, mesmo
a distância. — Não os deixem escapar!
Um rebuliço tremendo teve início. Kirkpatrik acionou a
submetralhadora e os soldados, assim surpreendidos,
caíram como lebres abatidas. Sempre atirando, e
protegendo a moça com seu próprio corpo, o Máscara
Negra correu para fora.
Atravessaram o último portão e viram-se em campo
aberto.
Pouco adiante, um jipe estava estacionado. Kirkpatrik
não conversou: pulou para dentro dele e, enquanto passava
a arma para que Mia continuasse atirando, pôs o motor do
veículo em funcionamento. Depois, engrenou a primeira e
afundou o pé no pedal do acelerador.
O jipe deu um salto e se precipitou para a frente, justo
na hora em que os homens da coronela disparavam uma
verdadeira fuzilaria. Estavam todos de joelhos e usavam os
seus fuzis como se fossem máquinas de fazer pipocas.

— 85 —
O playboy sentiu algo quente raspar-lhe o braço
esquerdo, mas, sem dar importância, continuou a manobrar
o jipe.
— Cuidado! — gritou Mia, ao lado dele.
Mais à frente, havia uma cerca de arame farpado.
Quando os perseguidores julgavam que os fugitivos seriam
detidos, eis que Kirkpatrik jogou o jipe (que possuía pneus
maciços) de encontro à cerca, que se arrebentou, dando
passagem ao valente carrinho blindado de aço.
Atrás deles, e em veículos mais pesados, vinha todo o
pelotão sob o comando da coronela Lin-Chuang.
— Segure-se bem — avisou Kirkpatrik.
Uma estranha corrida teve início então, mas de antemão
estava perdida para os comandados da coronela Lin-
Chuang. Logo, o agente 77Z e Mia desapareciam na
distância, envoltos numa nuvem de fumaça.
Já sem receio de serem alcançados, Kirkpatrik tomou a
direção do lago e, pouco depois, chegavam às margens da
água mansa. Ali não havia soldados.
Abandonando o jipe, o casal dispunha-se a, num gesto
de desespero, lançar-se às águas, quando Mia deu um grito
de vitória:
— Veja! O nosso barco! Eles o apanharam e trouxeram
para a margem! Está ali, amarrado a uma estaca!
— Sem pensar fizeram-nos um grande favor — disse
Kirkpatrik, sorrindo enquanto corria para a pequena
embarcação, seguido pela moça. Entraram no bote e
pegaram nos remos. E Mia provou que também era uma boa
remadora.
Afastaram-se rapidamente e, quando os soldados da
coronela chegaram em suas pesadas viaturas, já os seus tiros
não alcançavam os fugitivos.

— 86 —
O pequeno barco de pesca singrava alegremente as
águas do Lop Nor.

***

Os dois fugitivos conseguiram chegar, sãos e salvos, ao


local onde o piloto os aguardava com o planador de papel
de seda azul. O dia já tinha se passado e as sombras da noite
envolviam a colina. O piloto custou a reconhecê-los.
Depois, mostrou-se espantado.
— Mas... o que significa isto? Por que estão usando
essas fardas?
— Não discuta — disse Kirkpatrik, secamente. —
Estão no nosso encalço! Não temos tempo a perder! Vamos
embora!
— Isto é que não! E onde está Wang-Chuan? Foi ele
quem me contratou, a mando, do KGB! Só recebo ordens
de Wang-Chuan!
— Wang-Chuan foi morto pelos soldados chineses, mas
eu também sou um agente do KGB. Fazemos jogo duplo,
entende? Se você teimar em não nos levar de volta,
pereceremos todos sob o impacto das balas dos chineses
que não tardarão a chegar por aqui! Wang já foi para o
inferno e nós iremos também!
Talvez não tanto para satisfazer as ordens de Kirkpatrik,
como para salvar a própria pele, o piloto não discutiu mais.
— Está certo! Subam para a carlinga. Vamos dar o fora
daqui!
Respirando desafogado, Kirkpatrik ajudou Mia a tomar
o seu lugar e também se alojou no pássaro de papel, para a
viagem de volta. Enquanto o piloto se preparava para
decolar, aproveitando o forte vento ascendente, o playboy
explicava:

— 87 —
— Foi bom você ter concordado comigo, velho.
Confesso que seria um grande desgosto para eu ter de matá-
lo, pois não tenho prática em pilotar planadores...
Principalmente, decolando do chão sem a ajuda de um
jatinho... Está aí uma coisa que só vocês, os chineses, sabem
fazer! Meus parabéns, velho!
Kirkpatrik e Mia sorriam. E o piloto acabou por sorrir
também. Era o início de uma alegre viagem de volta.

— 88 —
EPÍLOGO

Kirkpatrik e Mia-Nang-Sha conseguiram chegar são e


salvos a Cantão, mas viram-se logo a braços com um novo
problema. A Estrada de Ferro estava estreitamente vigiada
pela polícia. Ao verem o movimento, os dois fugitivos
acharam mais prudente regressar ao hotel.
— E agora? — indagou a moça, assustada.
— Temos que arranjar um meio de sairmos daqui!
Certamente, a coronela deu o alarma pelo rádio! Aquela
mulher não se conforma em ser derrotada. Não podemos
permanecer eternamente neste quarto de hotel! Mas cedo ou
mais tarde, seremos descobertos!
— Mas como conseguiremos atravessar a fronteira —
indagava a moça, dando sinais de apreensão.
— Não sei ainda — respondeu Kirkpatrik. — Mas, que
vamos atravessá-la, disso tenho certeza! Nem que seja a
última coisa que eu faça na vida!
Uma pancada leve na porta e os dois se retesaram.
— Quem poderá ser? — sussurrou Mia.
— Veremos! Para todos os efeitos, eu sou Sun-Nang-
Sha e você é minha filha! Vá abrir a porta!
Repetindo o método que já uma vez tinha posto em
prática, Kirkpatrik encostou-se à parede, de arma em
punho, de maneira a ficar escondido pela porta ao ser
aberta. Com a cabeça fez sinal a Mia para que abrisse.

— 89 —
A moça, controlando-se maravilhosamente e afetando
uma calma que estava longe de sentir, abriu a porta com um
sorriso nos lábios.
— Sim?
O chinês, parado na soleira da porta, sorria também, ao
fazer a pergunta:
— O venerando Sun-Nang-sha vai passando bem de
saúde?
A senha! Deixando seu esconderijo, Kirkpatrik
respondeu com a contra-senha:
— Felizmente, minha saúde tem apresentado melhoras,
amigo... Pode entrar.
O recém-chegado deu dois passos para dentro do
aposento, enquanto estendia a mão a Kirkpatrik.
— Muito prazer em conhecê-lo. Tenho ordens para
facilitar, em tudo, a saída de ambos desta cidade...
Com um suspiro de alívio, Mia fechou a porta.
— Se há um momento em que se pode dizer que alguém
caiu do céu, é este de agora — disse Kirkpatrik, sorridente.
— A coronela Lin-Chuang mandou que vigiassem a Estrada
de Ferro e, agora mesmo, discutíamos como iríamos nos
arranjar para deixar Cantão!
— Se o problema é apenas esse, creio que poderei
ajudá-los. De carro, e com vocês dois muito bem
escondidos em grandes malas, acho possível que passemos
a fronteira dos Novos Territórios.
— E quando poderá ser isso? — indagou Mia, que já
começara a perder a esperança e, agora, via-a renascer.
— O mais breve possível — respondeu o homem. —
Precisarei apenas de tempo para preparar o carro e as malas.
Coisa de meia hora.
— E onde o encontraremos? — indagou Kirkpatrik.

— 90 —
— Não saiam deste hotel. Eu também estou hospedado
aqui, à espera de vocês. Mandarei subir as malas para meus
aposentos e, uma vez lá, vocês serão devidamente
acondicionados para a viagem incômoda que terão de fazer.
Mia e Kirkpatrik entreolharam-se, sorridentes.
— Bem, — disse o playboy. — Espero que não demore
a mandar subir suas malas de viagem... Sua bagagem está
ansiosa por entrar dentro delas e partir!

***

O carro corria sem nenhum contratempo. Já haviam


transposto a fronteira da China e, agora, nos Novos
Territórios, consideravam-se a salvo. Estavam sob a
proteção de Sua Majestade Britânica.
Uma vez em Hong-Kong, despediram-se de seu
oportuno salvador, no Aeroporto de Kai-Tak e embarcaram
para San Francisco, via Tóquio e Honolulu. O jato subiu
para um céu azul e sem nuvens.
Durante a viagem, muito aconchegados um ao outro,
Mia e Kirkpatrik comentavam alegremente:
— Acho que, depois de tudo por que passamos, bem
que merecemos umas férias — dizia a moça.
— Estou certo de que elas nos serão concedidas —
respondeu Kirkpatrik, abraçando-a.
A mestiça bateu as pestanas para ele.
— E onde pretende passá-las?
— Em nenhum lugar em especial. Tenho uma cabana
índia, nos arredores de Pittsburgh.
A moça mostrou-se incrédula.
— Uma cabana índia? Em Pittsburgh? Mas... não é
possível! Os cherokees não existem mais!

— 91 —
— Perfeitamente possível. É que a minha cabana é um
tantinho diferente das outras... Tem muitos quartos, salões
atapetados e... uma excelente piscina, só para dois. Os
cherokees não se sentiriam muito bem dentro dela...
Mia-Nang-sha sorriu, mostrando os alvos dentes, muito
certinhos. Ela não era cherokee.

***

No gabinete de Mr. O’Neal, o chefão da CIA,


Kirkpatrik e Mia acabavam de fazer os seus relatórios. O
dia, em Washington, estava quente e ensolarado.
— Lamento apenas não ter conseguido trazer as
fotografias — disse Kirkpatrik, confortavelmente
refestelado numa macia poltrona de couro.
— Não se lamente, meu caro Kirkpatrik — retrucou o
chefão, com bonhomia. — Aquelas fotografias não viriam
acrescentar nada ao que já sabemos. Nós as queríamos,
apenas como elemento acessório.
— Como?! — foi a vez de Mia mostrar-se espantada.
— Mas as armas secretas dos chineses ...
— Às nove horas, exatamente, o nosso satélite
fotografou as armas existentes no depósito.
— Às nove horas, a camuflagem do telheiro ainda não
tinha sido restaurada! — exclamou Mia, entre sorrisos. —
Mas então nosso trabalho não foi perdido!
— De certo modo, não — sorriu Mr. O’Neal. — Essa
era a missão do Máscara Negra: retirar a tampa do galpão.
— Por que “de certo modo”? — estranhou Kirkpatrik.
— Porque, na realidade, as armas secretas dos chineses,
que provocaram tantos problemas, não passam de 12
foguetes balísticos intercontinentais de ogivas simples, os

— 92 —
ICBM, que são armas de guerra já bastante conhecidas por
nós. Estamos dez anos à frente deles.
Mia sorriu alegremente para Kirkpatrik. Este ergueu-se,
acompanhando o chefão que dava por terminada a
entrevista.
— Afinal de contas — disse Mr. O’Neal, sorrindo e
apertando a mão do seu agente fora de série — os chineses
não descobriram muita coisa, além da pólvora...
Mia-Nang-sha e Horace Young Kirkpatrik deixaram o
prédio, abraçados, fazendo projetos.
— Eu gostaria de ir dançar em uma boate — disse a
moça, alegremente, quando se dirigiam para o conversível
do presidente da K.K.K. Steel.
— Sinto muito, mas não tenho a menor intenção de
satisfazer os seus desejos.
Mia olhou para ele com espanto e ele ajuntou:
— Pelo menos esse. O outro, eu satisfarei, com prazer...
Pouco depois, dois corpos seminus mergulhavam,
abraçados, na piscina da residência do milionário ... e, uma
vez mais, um beijo embaixo d’água despertava o desejo
para longas jornadas de amor...

FIM

A seguir: Todos os grandes cientistas


buscam o escudo infalível contra o raio da
morte. DEFESA CONTRA RAIOS LASER.
Não perca!

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