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Fonoaudiologia em saúde pública*

Phonoaudiology (speech therapy) in public health


Regina M. Freire**

FREIRE, R.M. Fonoaudiologia em saúde pública. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 26: 179-84,
1992. Objetivou-se obter o entendimento das funções do fonoaudiólogo enquanto profissional
da saúde. Discutem-se as dificuldades ligadas à implantação de um serviço novo, estranho às
Unidades Básicas de Saúde. A seguir, analisa-se a demanda pelo serviço de Fonoaudiologia
em postos de saúde, e verifica-se que 32% da população que busca esse serviço está em idade
escolar e vem encaminhada pelas escolas, com queixa de problemas de aprendizagem. Uma
aproximação maior dessas crianças, através do atendimento fonoaudiológico, delineia uma ou-
tra realidade: a de que não se pode considerar como distúrbio/desvio/problema/patologia mar-
cas gráficas que se constituem como indícios do choque entre o processo de letramento e o
de alfabetização. Entendendo a problemática do ponto de vista da saúde pública, propõe-se
um programa de atendimento ao professor, cujo objetivo é o esclarecimento da escola com
relação ao seu papel de co-construtora do processo de letramento da criança, devolvendo-lhe
a responsabilidade pelo sucesso e/ou fracasso da alfabetização.

Descritores: Distúrbios do desenvolvimento da linguagem, prevenção. Distúrbios da aprendi-


zagem, prevenção. Promoção da Saúde, organização.

Introdução tem acesso a essa forma de atuação. Inicialmen-


te foi criado o Serviço de Fonoaudiologia do
O objetivo do presente artigo será o enten- Centro de Saúde Escola Barra Funda*. O des-
dimento do trabalho ou das funções do fonoau- conhecimento do tipo de trabalho que ali seria
diólogo no contexto específico das Unidades efetivado levou a uma intervenção da forma tra-
Básicas de Saúde (UBS), a partir da análise de dicional, hoje vista como ingênua. Dentro desse
sua demanda fonoaudiológica e de sua realidade princípio, a primeira ação foi participar de reu-
social, e a discussão das dificuldades ligadas à nião com a equipe do Centro de Saúde e com
implantação de um serviço novo, de uma das as escolas da região, quando foram apresentadas
profissões da saúde que não faz parte do quadro informações sobre a profissão e seus objetivos.
das categorias tradicionalmente incorporadas por Essas ações, dirigidas explicitamente ao atendi-
essas mesmas unidades básicas. mento fonoaudiológico, desencadearam uma de-
O fato de estar entre as profissões da saúde manda inicial que mostrar-se-ia fiel nos anos se-
que não eram/são tradicionalmente incorporadas guintes. Embora entendendo que o atendimento
aos serviços da UBS e que, portanto, não ofere- em assistência primária deveria ser apenas um
ciam/oferecem situações de ensino para os alu- dos objetivos do trabalho, o fracasso obtido em
nos em formação, concorreu para o desconheci- outras formas de atuação conjunta - reuniões de
mento do contexto histórico geral da saúde pú- equipe, participação em programas de saúde,
blica e da clientela a quem ela é tradicionalmen- discussões de caso - parecia indicá-lo como a
te oferecida e retardou a experiência junto aos vocação principal da fonoaudiologia.
serviços públicos. A formação do fonoaudiólogo O segundo ano de atuação na rede pública
tem sido dirigida a um tipo de atuação clínica mostrou-se mais promissor: estendeu-se o traba-
autônoma para um outro tipo de população que lho à rede municipal e optou-se por concentrá-lo
na região sudoeste da cidade de São Paulo. Con-
* Apresentado no IV Congresso Brasileiro de Fonoaudio- tava-se, então, não apenas com um centro de
logia, Santa Maria, RS 1991.
** Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da saúde, mas além deste com três postos de aten-
Comunicação da Pontifícia Universidade Católica de São dimento médico. O contato, no ano de 1989,
Paulo - Rua Monte Alegre, 984 - 05014-901 - São Paulo, com realidades sociais bastante diferenciadas de
SP - Brasil. uma lado, e com as mais variadas dinâmicas de
Saparatas/Reprints: R.M.Freire - R. Monte Alegre, 984 -
05014-901- São Paulo, SP - Brasil * Trata-se de uma iniciativa pioneira realizada pela autora do
Publicação financiada pela FAPESP. Processo Saúde Coletiva presente trabalho neste Centro e nos Postos de Assistência
91/4994-0 Médica (PAM's) citados mais a frente
intervenção de outro, levou ao entendimento de primária - voltado para atendimentos de curto e
que o sucesso ou o fracasso das propostas esta- médio prazos - a primeira preocupação foi prepa-
va na interdependência da relação com a comu- rar o aluno para os encaminhamentos. Na prática,
nidade e com o posto de saúde, como será visto foi atendida apenas a uma percentagem baixa, em
no decorrer do presente trabalho. torno de 11%, de casos com comprometimento or-
Se este último, por razões diversas, que fo- gânico. Destes casos, a grande maioria (8%), era
gem ao escopo do presente trabalho, dificultava composta por indivíduos portadores de deficiência
a participação nos programas básicos de saúde, auditiva, percentagem esta contaminada por sua
o interesse na formação do aluno estendeu-se à origem - uma classe especial localizada ao lado
comunidade. Era preciso entender o trabalho fo- do Centro de Saúde. Foi encontrado um conjunto
noaudiológico no contexto específico de cada diversificado de patologias: gagueira, disfonia, de-
posto de saúde. Foi destacado, assim, um pri- glutição atípica e ainda outras não identificadas,
meiro ponto como básico: a construção do perfil que perfizeram 14% do total. O restante ou a
da demanda pelo serviço fonoaudiológico. maior parte da demanda fonoaudiológica (76%)
dividiu-se, quase que igualmente, entre os chama-
Metodologia dos casos de distúrbio articulatório, retardo de lin-
guagem e distúrbio de leitura e escrita. A popula-
Através do preenchimento de fichas, foram ção que procura o serviço de fonoaudiologia é
levantadas informações sobre idade, sexo, ori- composta, em sua maioria (93%) por crianças,
gem e hipótese diagnóstica dos que buscavam sendo que destas, a maior parte (72%) está em
os serviços de Fonoaudiologia do Centro de idade escolar (6 a 12 anos).
Saúde Escola Barra Funda e dos postos de saú- Para facilitar a discussão, foi dividido este
de da região sudoeste do Município de São Pau- último grupo de problemas encontrados em di-
lo, no período de 1988 a 1990. A análise dos ficuldades no desenvolvimento da linguagem
dados, enriquecida com outros relativos ao tem- (distúrbio articulatório e retardo de linguagem)
po de permanência de cada paciente em atendi- de um lado, e dificuldades de aprendizagem, de
mento fonoaudiológico, permitiu não só avaliar outro. Nota-se que a escolha do termo "dificul-
a efetividade da prática clínica realizada como dade" não é fortuita, objetivando assim a mu-
também traçar, com maior segurança, programas dança da conotação "patologizante" dos termos
específicos voltados para a promação da saúde. utilizados na fonoaudiologia tradicional, pelas
razões comentadas a seguir.
Resultados e Discussão Uma parte dessas crianças (32%) tem sido
encaminhada por seus professores, com a queixa
Aos dados iniciais, somaram-se aqueles ob- de serem maus alunos - desatentos e desinteresa-
tidos no ano de 1990 (Tabela), sendo que, atual- dos - e de apresentarem dificuldades na escrita -
mente, esta atividade estende-se por seis postos trocas e/ou omissão de grafemas, junção e/ou
municipais, da mesma região sudoeste do Mu- omissão e/ou inversão de unidades vocabulares,
nicípio de São Paulo. Na Tabela, os dados estão falhas de acentuação e pontuação - entre tantas
apresentados por ano (1988, 1989, 1990), mas outras (Tabela). Com relação à leitura, as queixas
devido a não haver diferenças significativas en- são reduzidas, o que parece indicar uma atribui-
tre eles, serão discutidos apenas os dados totais. ção, pela escola, de maior importância ao processo
O ponto nevrálgico desta discussão - a de escrever do que ao de ler. Uma aproximação
construção do perfil do fonoaudiólogo de saúde maior dessas crianças, através do atendimento fo-
pública - baseou-se fundamentalmente na quei- noaudiológico, delineou uma outra realidade: a de
xa/hipótese diagnóstica. Deixando de lado, ini- que não se poderia considerar como distúrbio/des-
cialmente, a questão terminológica, foram utili- vio/problema/ patologia, marcas gráficas que se
zadas as designações que a fonoaudiologia tra- constituíam como indícios do "embate entre o pro-
dicional, por influência da medicina, dá aos dis- cesso de letramento e o de alfabetização" (enten-
túrbios de voz, liguagem oral, linguagem escrita dido aqui como escolarização)2.
e audição, a saber: distúrbio articulatório, distúr- Crianças sequer alfabetizadas já são repre-
bio de leitura e escrita, retardo de linguagem, sentadas por seus professores, como maus leito-
deficiência auditiva, afasia, gagueira, rinolalia, res/escritores. Nesta visão tão estreitada do pro-
disfonia e outros16. A expectativa, não confirma- cesso de letramento como patologia e do distúr-
da, era de uma demanda significativa de casos bio de escrita como evidência de falhas na dis-
com comprometimento orgânico, e, como o pos- criminação visual e ou auditiva, ou na associa-
to de saúde é um equipamento de assistência ção fonema-grafema, o professor coloca a ori-
gem do dito "distúrbio" para fora da escola, isen- nológica de sua linguagem: falar errado passa a
tando-se portanto de sua responsabilidade enquan- ser, por si só, um impedimento para a aprendi-
to educador e atribuindo exclusivamente ao fo- zagem da leitura e da escrita.
noaudiólogo a tarefa de "alfabetizar" essa criança. Considerando que "é no interior das práti-
Nesse sentido, a expectiva da escola é de cas sociais discursivas que a criança e seus com-
que as crianças encaminhadas para terapia sejam portamentos (entre os quais incluimos o gesto
atendidas e voltem ao convívio escolar "cura- no papel) são interpretados e, tendo efeito de
das", ou seja, alfabetizadas. Esta leitura reducio- sentido, se transformam"*, pode-se dizer que
nista das "dificuldades" de aprendizagem, soma- diante da quase inexistência dessas práticas den-
da às condições em que se dá o ensino público, tro do currículo escolar, a tarefa do aprendiz tor-
pode encontrar na proposta ingênua de atendi- na-se mais árdua.
mento fonoaudiológico à comunidade, um cam-
po fértil para seu agravamento. Quadro seme- * De Lemos, C.T.G. Aquisição de linguagem e a Constitui-
ção da Criança como Sujeito do Discurso. Mesa redonda so-
lhante pode ser observado se a criança apresen- bre "A concepção discursiva de sujeito e suas conseqüências
tar dificuldades no desenvolvimento da face fo- para teorias da linguagem. IEL. 1989.
A literatura a esse respeito é vasta e aces- questionava a razão, mas o ser atendida; pressão
sível, podendo-se citar além das contribuições do próprio aluno que, ao se defrontar com tantas
de Ferreiro8, os trabalhos que discutem a con- dificuldades, preferia dar atendimento para com-
cepção da escrita pelo aprendiz1,4,11,12,14,15, os pletar sua formação clínica.
de De Lemos5,6,7* sobre os processos de aqui- Apesar dos fracassos colhidos, um dado
sição da linguagem oral e sua relação com a es- novo, que apareceu à medida que o trabalho
crita, e ainda os de Tfouni17,18 sobre letramento transcorria, concorreu para dar-lhe impulso. Ao
e alfabetização. encerrar-se a coleta de dados do ano de 1989,
Portanto, não se está questionando aqui o pôde-se verificar que 25% dos casos que conse-
que parece ser a origem das dificuldades do guiram vaga para atendimento abandonaram a
aprendiz no desenvolvimento dos processos de terapia num intervalo de aproximadamente 2 a
leitura e escritura, mas ao reconhecê-las como 3 meses. Esta informação veio reafirmar o pres-
indícios da ineficácia das práticas discursivas suposto de que o problema dessas crianças não
orais, estar-se-à investigando e discutindo o pa- poderia ser resolvido apenas pela terapia fo-
pel do professor/interlocutor - leitor e escriba - noaudiológica. Por outro lado, 11% das crianças
no processo de alfabetização/construção do ob- atendidas chegava a ter alta, o que recomenda-
jeto escrita pela criança, no interior de um pro- va, em parte, o atendimento. Seria necessário
grama de atendimento ao professor. identificar as crianças que seriam beneficiadas
pela terapia e as que poderiam, ou melhor, de-
Proposta de Atuação veriam passar sem ela.
Foi iniciado em 1990 e mantida sua conti-
Esse programa teve início de forma inci- nuidade, o programa chamado de "atendimento
piente. Primeiramente constituiu-se na ida dos ao professor", fruto da reflexão sobre o que ti-
estagiários a algumas escolas para, através de nha sido desenvolvido até então e os resultados
palestras, informar que a maior demanda por fo- obtidos. Ao iniciar-se cada ano letivo, quando
noaudiologia era a escolar e que somente parte uma nova turma de alunos chega, neófita, ao
desta poderia ser atendida por nós. Entendia-se posto de saúde, traz consigo a proposta de tra-
que, desta forma, estar-se-ia incentivando o pro- balho dos estagiários de fonoaudiologia: dividir
fessor a um trabalho conjunto com o fonoaudió- seu tempo de permanência na instituição - dois
logo. períodos de quatro horas cada um - em duas ati-
A seguir a proposta de triagem partilhada vidades básicas: o atendimento individual e o
era apresentada, quando, ao discutir com o pro- trabalho comunitário. A seleção de pacientes
fessor as razões para o encaminhamento do alu- para o atendimento individual é feita através de
no para a terapia fonoaudiológica, havia a opor- uma triagem mensal, realizada em grupos pelos
tunidade de a ele apresentar outras formas de se estagiários de fonoaudiologia ou por estes mais
entender o processo pelo qual passava o aluno. a equipe de higiene mental do próprio posto, ou
As primeiras dificuldades encontradas ocorre- então através de encaminhamento a partir de um
ram já neste primeiro encontro. tipo alternativo de triagem, também conjunta,
Uma grande parte dos professores manifes- realizada pelo estagiário de fonoaudiologia e o
tava seu desagrado em acumular uma tarefa a professor: aquela que integra o chamado progra-
mais: discutir com o fonoaudiólogo o problema ma de "atendimento ao professor". A escola é
do aluno. Diziam que já eram sobrecarregados informada de que o Serviço de fonoaudiologia
de trabalho, reclamavam das condições e mos- somente atenderá às crianças que lhe forem en-
travam claramente uma indisponibilidade para a caminhadas através desse programa. Motivados
proposta. Outros, se aparentemente pareciam a explicitar as razões pelas quais acreditavam
concordar, ao se tentar concretizar a proposta, que as crianças selecionadas por eles deveriam
marcando encontros periódicos, não encontra- ser encaminhadas para terapia fonoaudiológica,
vam espaço para a nova atividade. professores e estagiários iniciaram uma reflexão
Além desses impedimentos, outros vieram, no sentido de trazer à tona discussões a respeito
tais como: pressão do próprio posto para que se dos processos de letramento, alfabetização e es-
priorizasse o atendimento; pressão da comunida- colarização. Geralmente, o quadro final é a pos-
de que, encaminhada para a fonoaudiologia não sibilidade de se poder contar, de um lado, com
algumas escolas mais conscientes de sua respon-
* De Lemos, C.T.G. Aquisição de linguagem e a Consti- sabilidade e de seu papel no processo de ensi-
tuição da Criança como Sujeito do Discurso. Mesa re-
donda sobre "A concepção discursiva de sujeito e suas nar, e, de outro, com um grupo de alunos de fo-
conseqüências para teorias da linguagem. IEL. 1989. noaudiologia com uma formação mais ampla,
capazes de perceber nas ações coletivas um ins- posições e planejamentos também o serão. A
trumento poderoso na prevenção de dificulda- esse respeito, Pires Fo.13, diz que a atuação em
des/desvios no desenvolvimento da linguagem saúde pública depende basicamente dos: "tipos
oral e escrita. de compreensão ® tipos de interesse ® tipos
Participar de programas já existentes nos de postura ® tipos de solução". Desta forma o
postos de saúde - programa de assistência à saú- autor comenta que, a uma compreensão ingênua
de da criança, programa de assistência à saúde corresponde um tipo de interesse próprio, com
da mulher, subprogramas de assistência à saúde uma postura individualista, que por sua vez cor-
da comunidade - de atividades integradas com a responde a um tipo de solução meramente téc-
equipe, de assessoria às outras profissões da nica. Este tipo de solução é a que geralmente é
saúde, de palestras dirigidas à comunidade, de buscada por todos os profissionais da saúde,
trabalhos conjuntos de rastreamento de proble- quando ainda ingênuos ou alienados de todo o
mas fonoaudiológicos junto à primeira infância contexto social que cerca a saúde pública e sua
e trabalhos educativos para a promoção de saú- clientela. Isto não quer dizer que o atendimento
de, entre tantos outros tão bem discutidos e de- clínico esteja fora dos objetivos dos profissio-
talhados no trabalho de Carvalho da Silva3, faz nais da saúde pública. Deve-se salientar que
parte dos objetivos daqueles que pretendem tra- cabe também ao fonoaudiólogo, o atendimento
balhar em saúde pública. A fonoaudiologia, de- de casos de curta e média duração - a maioria
vido à sua especificidade, pode ainda contribuir da demanda fonoaudiológica - bem como a ava-
de maneira incisiva, treinando enfermeiros e au- liação e encaminhamento de casos de assistência
xiliares de enfermagem na realização de testes secundária. Paralelamente a isto, ações preven-
simples de avaliação de audição10, que podem, tivas podem evitar que casos de assistência pri-
muitas vezes, evitar o encaminhamento desne- mária transformem-se em casos de assistência
cessário para exames audiométricos e detectar secundária, pela falta de atendimento. A partici-
precocemente os casos positivos. pação nos programas de saúde da criança pode
Como os dados estatísticos apontam tam- resultar em grandes benefícios para a população,
bém para o grande índice de ocorrência de difi- à medida que ações educativas junto às famílias
culdades no desenvolvimento da linguagem poderão mostrar a importância da linguagem e
(44%) sendo que, parte das crianças que apre- da dialogia para o desenvolvimento do aprendiz.
sentam dificuldades na escrita, tem queixa con- Em seguida, vale a pena salientar a questão
comitante em nível da linguagem oral (13%) um da patologização dos problemas de aprendiza-
programa, nos mesmos moldes do anteriormente gem pela escola. Aqui a ingenuidade do fonoau-
explicitado, foi montado para ser desenvolvido diólogo pode ser fatal, no sentido de que ele po-
junta às creches e EMEI's (Escola Municipal de derá transformar a solução em problema. Pro-
Educação Infantil). Partindo do princípio de que pondo-se unicamente ao atendimento, rapida-
a linguagem é desenvolvida na relação com o mente seu agendamento estará lotado e uma
outro e que há interações ineficazes para a cons- enorme fila de espera passará a persegui-lo
trução da linguagem do aprendiz , pajens e mo- constantemente. Por outro lado, a falta de aná-
nitores discutirão com os estagiários de fonoau- lise da origem dos problemas da população po-
diologia o processo de constiuição da linguagem derá levá-lo a assumir, ingenuamente, o papel de
e do sujeito e seu papel enquanto participantes professor particular, responsável pela alfabetiza-
ativos deste processo. Assumindo a parceria da ção da maior parte de sua demanda. Convém
construção da linguagem da criança, esses edu- lembrar que a postura da escola - jogando para
cadores estarão contribuindo radicalmente para fora todos os que a ela não se adaptam - afeta
a transformação da demanda pelo serviço fo- também outros profissionais da saúde, como os
noaudiológico. educadores, os psicólogos e os médicos. Além
de colocar para fora a causalidade de qualquer
Comentários Finais problema escolar, a escola mostra-se geralmente
indisponível, como indicado anteriormente, para
Finalizando, seria importante retomar al- qualquer proposta conjunta e não quer questio-
guns pontos que sintetizam a construção do per- nar a razão, e sim obter a solução, também vin-
fil do fonoaudiólogo de saúde pública. O pri- da de fora. Nesse sentido o programa de aten-
meiro passo deve ser na direção de um conhe- dimento ao professor visa à transformação dessa
cimento estruturado da realidade social da saúde escola, possibilitando-lhe a visão de outra reali-
pública. À medida que se apresentam de forma dade, aquela que o profissional da saúde passou
ingênua frente a essa realidade, as primeiras su- a conhecer na busca de seu próprio perfil. Ainda
nessa direção, caminha o programa de atendi- 2. ABAURRE, M.B. Lingüística e pedagogia. In: Scoz, B.
et al. Psicologia: o caráter interdisciplinar na
mento aos pajens, que não só objetiva a erradi- formação e atuação profissional. Porto Alegre, Ed.
cação de dificuldades de linguagem, como tam- Artes Medicas, 1987. p. 186-217.
bém a educação das creches e escolas infantis, 3. CARVALHO DA SILVA, R. O trabalho do psicólogo
precursoras dá escola tradicional, no que diz res- em centros de saúde: algumas reflexões sobre as
funções da psicologia na atenção primária à saúde.
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oral e escrita. Psicologia da USP.]
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FREIRE, R.M. [Phonoaudiology (speech therapy) Seminários do GEL, Campinas, 1987. Anais, São
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179-84, 1992. An undestanding of the activities seu dilema (pecado) original. Bol. ABRALIN (3):
and functions of a speech therapist within the 97-126, 1982.
specific context of the Basic Health Units 6. DE LEMOS, C.T.G. Teorias da diferença e teorias do
(Unidades Básicas de Saúde) is sought. Difficulties déficit: reflexões sobre programas de intervenção na
relating to the introduction of a new service on the pré-escola e na alfabetização. [Apresentado ao
basis of one of the health professions that has not Seminário Multidisciplinar de Alfabetização,
hitherto belonged to the group of categories which Brasília, 1984].
are traditionally incorporated in these same Basic 7. DE LEMOS, C.T.G. Prefácio. In: Kato, M.A., org. A
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Pontes Editores, 1988. p. 9-14.
speech therapy services by the population who 8. FERREIRO. E. & TEBEROSKY, A. Los sistemas de
attend health centres were considered, it was escritura en el desarrollo del niño. Mexico, Siglo
discovered that 32% were of schooling age and XXI, 1979.
had been referred by schools, allegedly due to 9. FREIRE, R.M. A abordagem dialógica: uma proposta
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different aspect to light i.e. that one cannot São Paulo].
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shock between the process of literacy and that of 11. MAYRINK-SABINSON, M.L.T. Reflexões sobre a
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Referências Bibliográficas
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