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GRITO O SILÊNCIO

G R I T O O S I L Ê N C I O

Antes da poesia

Na estrada da vida, muitos são os momentos que


nos fazem únicos no agir, no saber, no atuar.
Nem sempre as decisões que tomamos são as
mais coerentes, as mais sábias, no entanto, no
que a mim me diz o respeito, procurei e procuro
ajustar os ditames do meu comportamento à
razão de uma perfeição de humildade,
praticando-a, exercitando-a, na medida do (im)
possível. Não é fácil, pois os momentos de
desânimo são muitos, mas nem por isso e por
isso me considero menos habilis, menos afoito
para uma demanda que é a vida, a dádiva da
vida de todos nós.

Os poemas (ou não) que neste muro de cal afixo


são os registos de alma, são o grito honesto do
meu silêncio que muitas vezes foi apaziguado
pela dor de ser.

A liberdade [na escrita sem os códigos normais


da pontuação, uma liberdadezinha a que me
atrevo de denominar: de poética] e a verdade
das palavras são o contraste, o axioma do meu
ente espiritual.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Os poemas aparecem como eu[“uma


vez”]apareci na vida.

“Não é para ler, é para se escutar “, Frei Isidro Lamelas


G R I T O O S I L Ê N C I O

“Do profundo abismo chamo por vós Senhor”!


(Salmo 129, da Bíblia Sagrada)

É o grito de sofrimento criador do poeta


(plasmado em cada uma das páginas que se
seguem), que também os meus apressados
riscos tentam retratar em rostos de granito,
coloridos bem á medida da força vulcânica
que o poeta coloca em cada palavra, frase e
pontuação.

Uma emoção enorme participar neste intenso


canto da alma que bravamente procura
pontinhos de luz no breu de uma
humanidade que parece desatenta e
demasiado ocupada com nada…

Emoldurar estes poemas nos meus “quadros”


é uma responsabilidade muito grande, eu sei.
Mas faço-o sem medo. Sem medo por uma
razão “muito simples”: eu sei o que estou a
“pintar”. Sei falar do nosso João Vasco. Talvez
como ninguém! E quando se fala do que se
sabe, a obra sai.

Bem hajas, pois meu amigo, pela oportunidade


de te dizer à minha maneira.

J. Filipe P. Lamelas
G R I T O O S I L Ê N C I O

Juntos pela estrada

Juntos pela estrada


Dura
Pedregosa
Esburacada

Encontrei
Com a tua ajuda
Um suave caminho
Macadamizado
Sem sulcos
Sem fendas

Trilhei os passos
Do meu futuro
Com o presente
Das tuas mãos

Venci as primeiras etapas da vida


Na escada
Da vitória
E
Superei-me
Pelo desejo
De me construir.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Trouxe o medo comigo

Trouxe o medo comigo


Num voo cego da alma
Não consegui
Ver o caminho

Vejo o fundo de mim


Num pântano de dor

Não sinto a definição


De um rumo
Sinto o escuro
De uma noite sem fim

Trouxe o medo comigo


E este sufocou-me
No âmago
Na alma.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Vês o que não viste

Vês o que não viste


No olhar
De quem te fez
Crer
O ver

Vês a verdade
Quando a vida não te ajuda
No olhar desaparecido
De quem te fez
Crer
O ver

Vês a mentira
Das palavras inócuas
Na boca desviada
De quem te fez
Crer
O ver

Vês o que não esperas


Naquele
Dissimulado presente
G R I T O O S I L Ê N C I O

De quem te fez
Crer
O ver

Vês o que não vês


No olhar sem olhos
E nos sentidos perenes
De quem te fez
Crer
O ver

Vês a falsidade
Do estar
De quem se aproxima de ti
Pelo interesse do fungível
De quem te fez
Crer
O ver

Vês o que não viste


Do fingimento da verdade
De quem te fez
Crer
O ver.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Quanto mais

Quanto mais quero


Menos o quero
De vós

Quanto mais procuro


Mais distante
O vejo
Da voz

Procuro
O quanto

Solto
O grito

Encontro
A voz
De vós
Mas não ouço
O meu coração
Em vós.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Olhei o tempo

Quando olhei o tempo


Não vi a vida
Aquela que me alegrou

Só vejo a dor
E o escuro da noite
No folhear do momento

Não sinto por que viver


Porque vivo sem o viver

Nem as âncoras
Dos filhos, amigos, pais
Me prendem à força do tempo

Não quero mais


Um perder do sentido

Não quero mais


Um voltar atrás
Sem rumo
Nem cor

Desejo a paz
G R I T O O S I L Ê N C I O

Que só encontrarei
Na
despedida
do meu ser

Vazio
Inconstante
Sofrido
E amargo

Desejo o
adeus da dor
Mas não o
desejo
De vos perder

Desejo um grito
Para não perder
O que sou.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Choro lágrimas

Choro lágrimas de dor


Que não param
De corroer o meu coração
A palpitar

A vida não deveria


Ser tão
Sofrida

Nem deuses
Nem Deus
O querem permitir
Mas a força do desalento
Perturba
A alma mais sensível

A dor não me esquece


O rumo
Não aparece.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Escondo

Escondo dos meus olhos


A dor das lágrimas
Vertidas sem o permitir

Carrego a vergonha escondida


Do paradigma que sou
E do que não sei ser

Posso não possuir as razões


Mas tenho uma razão
Que me dói o querer

Doí-me o não saber


Poder ser
Dói-me a entrega
Contínua
Ao desejo da tristeza

Não sei o que falta


Porém sinto a falta de mim.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Quando o sol

Quando o sol não aparece


Estendo-te o brilho
Da minha mão

Que a mesma
Aqueça o teu desengano

Que a mesma
Proteja a tua dor

Quando o sol se esquece

Agarra a voz
Do meu cuidado

Que o mesmo
Solte o teu desespero

Que o mesmo
Te firme que aqui estou

Quando o sol não aparece


A luz não morre para ti
Pois ainda que ténue
A esperança residirá em nós.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Alegria

A alegria encontra-se
Na flor esquecida
Que oferece a sua cor mais bela
Nas mãos
Nos gestos
No sorriso desinteressado

A alegria aparece
Aos simples
Aos desprovidos
Aos infortunados
No caule da empatia
De uma alma nobre

A alegria cresce
De quem solta
O grito da sobrevivência
Na vida que a quis negar
No momento que a quis perder

A alegria aparece
A quem não fez o nada
Do nada
Que faz uma vida
De valor
E de amor.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Não sei

Não sei citar Aristóteles


Platão ou Descartes
Não penso no que não sou
Logo
Existo
Por que o sou

Na sílaba do tempo
Sem correr atrás do vento
A fugir
Do medo
Do sentir

Penso na palavra
Sem o (des) interesse
No sentido
E no ver.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Vã glória

Sentas-te no conforto
Do que achas
Que és

Subestimas no olhar
O que
Pensas que és

Não vês os olhos


Vês (para dentro)
O desengano de ti mesmo

Continuas sentado
À espera que o mundo
Te sublime

Continuas
Com a falsa glória
Do que és

Enganas
Ou pensas que
O tempo foge-te
De uma verdade
Que é só tua

Não existe (s)


Só a vã glória
Do que pensas
Que és.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Regador

Da flor
No teu olhar
Humedece
O azul
Do teu ser
Com a água
Da alma
Que jorra
Por ti
Por nós
Por vós
Alegra-te a felicidade
De seres feliz
Quando o és
Faze-lo nos outros
O outro
Que contigo caminham
Deixa-te
Na paz
Deixa-te
No divã do teu sentimento
G R I T O O S I L Ê N C I O

Recebe
Esta água
Do regador
De almas
De sonhos
De amor
Da flor.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Desejava

Desejava que o mundo


Fosse um só

Desejava que a verdade


Fosse a companheira
Irredutível

Desejava nascer
Todos os dias
Com um sorriso para o sol

Desejava que o dia


Fosse a eternidade
De te ter.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Nem sempre sou

Nem sempre sou


Como o devo
Como o desejo
Como o procuro

Sou o porquê
Muitas vezes
Da tua dor
Sou a razão
Talvez
Do teu inconformismo

Sou aquele
Que um dia
Nasceu para ti

Num dia
Pleno de sol
Onde a estrela
Que és tu
Brilhou só para mim.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Quanto

Quanto mais sentes


O fugir
Mais próximo
Estou de ti


Aqui
Hoje
Amanhã

O ontem
Já foi

No presente
Estou

Contigo.
G R I T O O S I L Ê N C I O

(des)UNE…

O que nos une


Transforma-nos
E
Liga-nos numa só alma

O que nos une


Modifica-nos
No sentido
Do infinito

Talvez
Espero
Desespero
Na verdade de sentir
O desejo de ver
O que
Nos (des)UNE…
G R I T O O S I L Ê N C I O

Impossível

Sentimos o impossível
Do possível
Vivemos o momento
Constrangido ao ontem
Dos nossos passos

Lutamos por um sentir único


Lutamos pelo possível desse sentir

A resistência da nossa verdade


Faz-nos ser únicos
E ligados ao universo
Trilhamos o caminho
Para o nosso sonho.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Sentado

Sentado
Perscruto o sentido do ser

Ser do ser
Ser do estar
Ser do ter
Ser do amar

Entendo a dor
Que enfrentas
Com o ser de ficar
Ou não estar
O ser por ser

Ser e estar
Ser e amar
Ser e voar

Mas apenas
Ser
E deixar.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Não entendo

Não entendo
Nada deste mundo
Desgovernado
Que é o meu
O teu
O nosso
O vosso

O meu porquê
Perdido
Esquecido
Moribundo e inclinado

Não entendo
A dor
Deste momento
Que me faz do pranto
O sentido
De uma vida
Desbussolada
E
Errante

Não me entendo.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Olho

Olho o sol
Que me dá a luz
Vejo as estrelas
Que me brilham a vida

Solto a paz
Que agora me envolve

Sinto o ardor
De um cantinho de Deus
No coração
Que é o meu

Agarro a flor
Que me vem à mão
E recebo
Uma efusão de cor

Vejo
O que nem sempre
Vi.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Corro

Corro a vida
Num desejo de chegar à meta
Cumprindo a missão
De ser
Talvez
Aquele
Aquela
Que fazem
Trabalham
Sofrem
Choram
Mas lutam
Por ti
Por mim
Por vós
Por nós
(in) condicionalmente
Na esperança
De devolver
O equilíbrio do que é o ser
Na fruição do saber
Numa existência
Nem sempre fácil
Quão difícil por vezes
Umas sentidas
E com o sentido
De uma total
Verdade.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Mais um dia

Mais um dia
Ainda que cinza morno
A vida vai jorrando
Num arco-íris de cor
Vamos correndo
Com as mãos enlaçadas ao vento
Do infinito
E chegados ao Polo da razão
Deitamo-nos no leito da esperança
Caminhamos para o horizonte de mais um dia

Cinza morno.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Percorres

Percorres a estrada
Numa vida
De uma vida
Com o sentido
Perdido num rumo
(In)feliz
Sozinho
Acompanhado

Com camarada
Com companhia
Tens o vigor de um projeto
Que nem sempre se alcança
Mudas a vida
A vida de ti
Mudas o rumo
O rumo de ti
No escuro do vazio
De ti
Dos outros
Foges
Paras
Mas o grilhão do engano
Não te deixa caminhar
O caminho que vês
Que deixas de ver
Mesmo estando a olhar.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Desejo

Desejo que o meu tempo


Perdure
Que o meu testemunho
Possa ser um caminho
Que a minha presença
Acompanhe
Os queridos
Os amigos
E os que não o sendo
Possam sê-lo.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Inverno frio

À margem de um inverno frio


Uma centelha
Alimenta a chama da vida
Mesmo que o Chronos
Seja impiedoso
Lembrando-nos da existência
Continuamos a caminhar
Assim foi
Assim é
Assim o será
Numa dinâmica
Que nos imortaliza
Nas memórias
Daqueles
Daquelas
De outros
Inesquecíveis
Que connosco partilham a sinergia
Do nosso caminho.
G R I T O O S I L Ê N C I O

O rosto de Deus

Vi um passarinho vestido de uma energia feliz


Olhou para mim num encanto emoldurado
Disse-me no silêncio do seu brilho matiz:
Não estejas triste, nem fiques apagado!

Volta para a vida que te quer bem,


Encontra o caminho neste mundo alado.
Vai, corre, busca, a felicidade do Além
E percorre o teu universo reencontrado.

Incrédulo na verdade do que assisti,


Acordei de uma inépcia prolongada,
Abalado e atónito pelo que senti.

E o passarinho de um brilho celestial,


Mostrou-me o rosto de Deus Revelado
A mim, um pobre ser, comum e mortal!
G R I T O O S I L Ê N C I O

Fórmula

Laboratório da vida
Numa alma esquecida
Formula
A fórmula perdida
(O elixir da questão)
O amor será solução
Solúvel
Nos corpos esbatidos
Esquecidos
No tempo
No paradigma
Do ser
Numa existência
Inexistente
Reinvente-se a vida
Amor é a Panaceia
Amor é a solução.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Dizer o quê

Escrevo para dizer


Mas o quê
Tantas são as palavras
Tantos os desejos

Palavras que se soltam


Como um grito
De dor
Desespero
Alegria
Amor

Escrevo para dizer


Porem o quê

O que te move
O que te faz andar
O que te faz viver

O quê
Motor da tua vida
Impulsionado
Pela vontade
De ser.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Olhar o vento

Olhar o vento
Que passa sem nada dizer
Olhar o vento
Que diz sibilante
Não percas o tempo
Olhar o vento
Que te transforma
Às vezes
Em nada
Ou em tudo
Olhar o vento
Que espalha o odor
Do teu conhecimento
Olhar o vento
Que trespassa
Olhar o vento
Que também mata
O tempo desenganado
De passar.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Digito mania

Digitas a rotina
Digitas o movimento inócuo
De nada escrever
Digitas mecanicamente
A vontade involuntária
De nada poder fazer
Digitas a sombra de ti
Digitas palavras sem alma
Digitas a falsa razão
De seres
Um ser digital
Digitas e não falas
Digitas e não escreves
Digitas a solidão
De ti mesmo
Perdida na frieza
De um sonho adormecido
Digitas o vazio
De um coração destroçado
Digitas
Por que digitas.
G R I T O O S I L Ê N C I O

MÃE e mulher

Estás presente
Mesmo sem o ver
Mesmo sem o saber
Mesmo sem o desejar

Mas encontras sempre


No sótão do teu cálido coração
Um espaço único
Que te liga à essência do universo

Lutas pela defesa


Lutas pela esperança
Desesperas pela temperança
Esperas na serenidade
Porque és mãe e mulher
Aquela que sofre em silêncio
Aquela que dá o tudo de nada
Sem rogar a alma
Aquela que espera do Alto
O remédio para a dor

Dos que amparas no teu regaço

Nenhum outro género


A ti se iguala
Só tu sentes
Só tu sabes
Só tu proteges

Aquele ou aquela
G R I T O O S I L Ê N C I O

Da mesma forma impar


Abnegada
E sincera

Por que tu
És mãe e mulher.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Hoje

Hoje escrevi
Mais uma história
De mim

Um sonho que se perdeu


Uma palavra que não se deu
Um orgulho que ficou
Um sentido desaparecido
E não encontrado
Uma vontade adormecida

Nem sei porquê

Hoje chorei
As lágrimas secas
De um olhar efémero
Que pereceu em nós

Hoje fugi
De um mundo que não vi
E que saltei pelo muro do medo

Hoje senti
A fungibilidade do que sou
Não soube ser
Que errei no saber
Que não sou

Hoje sentei-me
No ombro da escuridão
G R I T O O S I L Ê N C I O

E não consegui aplacar


A tristeza de nós

Hoje falhei
Na vida que ainda não escrevi
Mas que desejo recuperar
No dorso de um novo vento

Hoje (des)cinzelei-me
Da ira de um destino
Que se riu de mim

Hoje libertei-te
Do grilhão da impotência
De te querer

Hoje morri
No ontem
Para tentar
Renascer no amanhã.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Partida

Vens e não avisas


Apareces e não dizes
Silencias e não dóis

Apanhas quando queres


Ceifas sonhos
Retiras esperanças
Falas com justiça
Quando o tempo urge

Aproximas-te na sombra
Acendes a escuridão
Abres o caminho
Que queres
E navegas
Por duas moedas
Apenas

Levas
Sem favor
Deixando o mistério
No ser.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Os ouvidos cansam-se

Os ouvidos cansam-se
De ouvir o vazio
Os olhos choram
Por não verem o que devem

Sente o teu ouvido


Vê o teu olhar.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Sentes

Sentes a pressa
Da vontade de não o ser
Sentes a pressão
De te perderes no que não és
Sentes a espera
Do que desejas
Sentes o azedume
Pelo que não conseguiste
Sentes o ferimento
Não cicatrizado de um tempo infeliz
Sentes a dor
Abissal de um dia que foi
Sentes que vais
E não voltas
Sentes que a alma
Te foge
Sentes a incerteza
De ti.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Só (o desigual de António Nobre)

Só e cansado
De estar
Letargia demorada
Presa a uma dor
Dorida
Tremenda
Que anula o que sou

Só de rasgar
A folha em branco de mim
Vazio de nada
Sem a letra
Da minha palavra

Só,
Enfim!
G R I T O O S I L Ê N C I O

Aleluia

Chronos autorizou
A sinalização nas Calendas
Da vida
Que brotou em ti
Nasceste para mim
Para nós
No coração que nos preenche
Bendito o Deus
Que te criou
Fortuna para quem te recebeu
Perdura e vive
Com a alegria de Apolo
Num sorriso que é o teu
Presente fresco
Que nos inebria

Sê sempre
A sinédoque da nossa alma

Aleluia
Por que és.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Dream day

Sonho
O sonhar acordado
Sem o crepúsculo do tempo
Movido pelo vento
Da alma
Permitindo o caminho do impossível
Alcançando a vontade do ser

Porta de sol
De um mundo novo
Barrando o insucesso
De não poder
Ter
Sentir
Fazer

Sonho aberto
De um caminho
De todos
E por todos.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Sol nascente

O sol rompe da nascente


Para um dia escondido

Os raios tímidos da manhã


Aquecem os pensamentos adormecidos

Visto-me da luz matinal


Encontro o meu rosto no espelho da alma

Tomo o pequeno-almoço
Da vontade

Encontro-me comigo
Evoco palavras de agradecimento

Emociono os meus pensamentos


E salto para a vida

Em mais um dia
De sol nascente.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Jano

Olhos que veem


Sem ver
Olhos que buscam
A verdade dos dois lados
Do tempo
Da vida

Duas são as faces


Uma para a frente
Outra para trás
Ambas veem
O tudo
Ou nada
De mim

De vós

Face da glória
Face do (des) concerto

Faces que veem


O passado e o futuro
Os dois lados de nós

A máscara dissimulada
Do que somos.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Pénia

Quando na alma
Ofuscas os olhos
E Matas os ouvidos

Buraco na existência
De quem não agarra
A dignidade da vida

Grito infernal de Vulcano

Pobreza e incúria
Da folha de uma vida
Queimada pela falta
De tudo
E do nada.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Mamon

Avidez de algo
Avareza de tudo
Matéria imaterial
E pouca metafísica

Ignorância (in)feliz
Da áurea mortal
Riqueza que a alma não tem
Fortuna desaparecida
De mãos marcadas pela vida

Desigual

Elo brilhante
Alimentado
Na ambiguidade de sermos.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Sem querer

Sem querer
Vivi
Sem querer
Chorei
Sem querer
Rejubilei

Um pedacinho de ti
Fez toda a diferença
Não pelo muito de ti
Mas pelo todo de ti
Nas palavras
Que me marcam
Que me doem
Que me fazem sentir bem

Um pedacinho de ti
Deu-me o alento da vida
Que rotinada se esqueceu
Permitiu-me mergulhar no fundo do meu ser
E sentir a essência do que sou

Um pedacinho de ti
Faz-me correr o mundo
Sem cansaço , sem desejo

Um pedacinho de ti
Transformou o meu silêncio
O meu sofrimento
O meu deserto de injustiça.
G R I T O O S I L Ê N C I O

O mundo me enganou

Perguntei ao mundo:
Onde estás ?
Respondeu-me:
Não sei!

Gritei ao mundo
A dor da tua parte infinda
Da tua presença sentida

E o mundo continuou:
Não sei!

Escondido nas lágrimas


Do sofrimento
E firmando o firmamento

Eis que as estrelas


Desenham o teu sorriso

Acalentei o meu olhar


Perdido
E redefini o meu engano sofrido

Novamente,
Perguntei ao mundo
Onde estas?

E o mundo
Não sei!
G R I T O O S I L Ê N C I O

A Porta

A porta abre-se
Na incerteza do teu destino

Sentes-te só
Ultrapassado pela razão

Porém não falhes a memória

do teu sentimento

Não colhas o desespero


Do teu medo
Solta o grito do alento
E sobe a montanha da luz.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Até quando

Até quando serei capaz


De aguentar o engano
E a tirania do tempo?

Até quando irei sofrer


A dor que me dilacera
O coração?

Até quando conseguirei fugir


Da tormenta
Que me afunda e oprime?

Quero ir
Mas não posso
Quero
Gritar e não consigo

Até quando?
G R I T O O S I L Ê N C I O

Falo contigo

Falo contigo
Sempre que o quiseres
Digo-te
O sempre da eternidade

Procuro
No abrigo do infinito
A certeza
Do teu querer

Falo contigo
Sempre que o quiseres

Exorto o hoje
Para que o amanhã
Não fuja

Falo contigo
Sempre que o quiseres.
G R I T O O S I L Ê N C I O

A vontade

Não há movimento
Sem vontade

Existe a inércia
Da mesma forma
Que a vontade para a contrariar

A vontade
Move montanhas
Escala o céu
Permite-nos o Infinito

A vontade
Leva-nos ao Absoluto
Pois é Neste
O culminar de Tudo

A vontade
Inventa o segredo da vida.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Lágrima

Uma lágrima
Me caiu
E não a pude apanhar

No solo
Germinou uma flor
Vestida de azul celeste
E
Na tua imagem de Infinito

Uma lágrima
Que se transformou
Em vida
E na vida por te Dar

Uma flor única


Que pela sua candura
Me mostrou
O sonho do eterno.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Quem

Quem grita a dor


De uma vida sem calor
Quem acolhe uma mão fria de nada
No escuro da noite de indiferença
Quem aplaca a ira
Das palavras sufocadas
Pela avareza dos gestos
Quem oferece o prazer
De um abraço quente
Quem defende a dignidade
De ser igual
Quem é capaz
De olhar para ti
Para nós
E ver a cor da alma
Quem será corajoso
Para dizer
Tu és
Mesmo quando o dizes
Sem nada poderes falar

Quem?
G R I T O O S I L Ê N C I O

Quinquagésimo

Quântico do acervo da vida


Único canto intimista de nós
Idealismo ou não
Nesta vida cansada

Quiasmo enobrecedor
Unido ao Absoluto Ser
Ambiguidade à razão
Génese da existência
E éter dos deuses

Sinergia cuidada
Na ideia de um mundo
Marcado pela (in) diferença

Ónus do paradigma de uma vida.


G R I T O O S I L Ê N C I O

Escrita pós-poética

A escrita nem sempre me sai como o desejo.


Não consigo, muitas vezes, traduzir as palavras, as
frases, o texto, o sentido da semântica da alma.
Nesta encruzilhada que é o meu estado de espírito,
neste momento, já não me consigo ver.
Vejo o que não faço…
Perdido e sem me encontrar, busco o passado de
agora, porém sem retorno. Tento não dramatizar-
me, dado que ainda possuo vida, sentimentos,
sensibilidade, não obstante a asfixia do ar
irrespirável que me turva a razão e a vontade de
persistir.
Estou, como diz a canção, “ na estrada do inferno”
(Chris Rea), na qual cruzo um caminho a grande
velocidade. Não o desejo, honestamente, no
entanto retenho a impotência para poder
contrariar a imanização de Vulcano.
G R I T O O S I L Ê N C I O

Agradecimento

Ao meu Amigo e irmão em alma, Filipe Lamelas,


que eximiamente acrescentou às minhas
modestas palavras a beleza inigualável das suas
ilustrações, captando de profundis o meu
silêncio, o meu muito e sincero OBRIGADO!

O que nos torna únicos ecoará na eternidade.


G R I T O O S I L Ê N C I O

Biografia (breve)

De meu nome: João Vasco Pimentel da Mota.

Nasci em Portugal, em maio de 1962, em


Lisboa. Após uma formação em
Humanidades, Universidade Católica,
Faculdade de Filosofia de Braga, deixei uma
carreira como Solicitador, entrando para o
ensino em 1994, percorrendo com a pasta
uma boa parte deste país “à beira mar
plantado”. Sempre escrevi, desde muito cedo,
e matinalmente me apaixonou a nossa língua
e a leitura (ubíqua), e é com poemas (livres)
que dou a conhecer o meu mundo com
sentimento, gritando a quem o quiser
escutar numa partilha de emoções que
também podem ser as dos outros. que dou a
conhecer o meu mundo com sentimento,
gritando a quem o q
G R I T O O S I L Ê N C I O

Ficha técnica

Nome da obra: Grito o Silêncio

Autor: João Vasco Pimentel da Mota

Ilustração: José Filipe Pereira Lamelas

Capa: José Filipe Pereira Lamelas

Ano: 2017

Edição de Autor

ISBN
G R I T O O S I L Ê N C I O

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