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DE
HANSENOLOGIA
BAURU
Centro de Estudos "Dr. Reynaldo Quagliato"
2000
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Esta é mais uma etapa vencida para elaboração de um texto mais completo sobre a
matéria.
HISTÓRIA ......................................................................................................... 1
Diltor Vladimir Araujo Opromolla
MICOBACTERIAS .............................................................................................. 7
Ida Maria Foschiani Dias Baptista
Diltor Vladimir Araujo Opromolla
ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS D0 Mycobalerium leprae.......................... 13
Suzana Madeira
HANSENÍASE EXPERIMENTAL....................................................................... 19
Suzana Madeira
Patricia Sammarco Rosa
IMUNOLOGIA ....................................................................................................27
Maria Esther Salles Nogueira
Fátima Regina Vilani Moreno
Eliane Aparecida Silva
Maria Sueli Parreira de Arruda
IMUNOGENÉTICA.............................................................................................43
Elaine Valim Camarinha Marcos
CLASSIFICAÇÃO...............................................................................................47
Diltor Vladmir de Araujo Opromolla
DIAGNÓSTICO .................................................................................................59
Diltor Vladmir de Araujo Opromolla
OSTEOARTROPATIA ........................................................................................73
José Carlos de Almeida Pernambuco
EPIDEMIOLOGIA............................................................................................101
Somei Ura
Diltor Vladimir de Araujo Opromolla
CONTROLE......................................................................................................109
Somei Ura
Diltor Vladimir de Araujo Opromolla
REABILITAÇÃO ...................................................................... 113
Dr. Frank Duerksen
ANEXOS .................................................................................117
BACTERIOSCOPIA (ANEXO 1) ............................................... 119
PRANCHAS COLORIDAS..........................................................123
HISTÓRIA
Diltor Vladimir Araujo Opromolla
É muito difícil afirmar a época do aparecimento de Papiro de Ebers e por isso são duvidosas.
uma doença com base em textos antigos, a não ser que haja
uma descrição razoável da moléstia com citação dos aspectos A Bíblia é outra fonte de confusão quanto à
que lhe são mais característicos. Se não for assim, e se nos existência da hanseníase entre os judeus na época do
basearmos apenas em dados fragmentados e em suposições de êxodo. O termo "tsaraath" (ou saraath ), no hebraico,
tradutores daqueles textos, o assunto se torna confuso e gera significava uma condição anormal da pele dos indivíduos,
uma série de falsas interpretações cola conseqüências, às das roupas, ou das casas, que necessitava purificação.
vezes, imprevisíveis. Aqueles que apresentassem o "tsaraath" deveriam ser
isolados até que os sinais desta condição
No caso da hanseníase, muito já se escreveu sobre desaparecessem.
sua origem e sua existência em várias regiões na
antiguidade. Observa- se, contudo, que muitos desses Segundo o Livro Sagrado, o "tsaraath" na pele
escritos são citações de fontes descrevendo a moléstia sem dos judeus seriam "manchas brancas deprimidas em que
os seus aspectos mais característicos que são as os pêlos também se tornavam brancos". Na tradução
deformidades provocadas e sinais de comprometimento grega do texto hebraico, a palavra "tsaraath" foi traduzida
neurológico ou dermato-neurológico como manchas ou como lepra e "lepros", em grego, significa "algo que
áreas cutâneas com distúrbios de sensibilidade, e vários descama". É interessante observar que essa mesma pala-
deles são traduções errôneas de termos designando vra era usada para designar a casca interna das árvores,
diferentes moléstias. que era usada para a escrita, tanto é que a sua forma
latina vem a ser "liber", que originou a palavra livro como
Apesar disso, há referências bastante claras com conhecemos hoje. A palavra lepra também foi usada pelos
relação à hanseníase em livros muito antigos. Ao que gregos para designar doenças escamosas do tipo da
parece, essa doença já era conhecida na Índia em 1500 psoriases, e a hanseníase mesmo, eles chamavam de
a.C., e no Regveda Samhita (um dos primeiros Vedas que elefantíase.
eram os livros sagrados da Índia), a hanseníase é
denominada Kushta apresentando dois tipos de mani- É interessante saber como a lepra chegou a ser o
festações, urn que era a anestesia local e deformações nas termo para designar a doença que hoje chamamos
extremidades e outro caracterizado por ulcerações, queda hanseníase.
de dedos e desabamento da pirâmide nasal. Em 600 a.C.,
em uma recopilação denominada Sushruta Samhita, esses
dois tipos são referidos como vatratka e vat-somhita, Há autores que admitem a possibilidade da
respectivamente. hanseníase ter chegado à Ásia Menor e Grécia através do
Império Persa pelo seu contato com o foco da Índia.
Heródoto refere a presença da enfermidade na Pérsia em
Fliess sugere a possibilidade da hanseníase ter se 500 a.C. e, segundo Fliess, ele afirmava que a doença
originado na Índia e de lá ter seguido para o leste, gerando havia sido introduzida na Grécia a partir das guerras de
focos no Sudeste asiático, China e Japão. Há, contudo, na conquista empreendidas pelos imperadores persas Dario
China, referências muito antigas sobre essa doença, como e Xerxes em 480 a.C.
aquela que é feita em urn dos tratados médicos chineses
mais antigos, o Nei Ching Su Wen, atribuído ao imperador A hanseníase, contudo, não era conhecida na
Huang Ti que viveu entre 2698 e 2598 a.C. Na verdade, esse Europa na época de Hipócrates (467 a.C.). Nos trabalhos
tratado é uma recompilação de antigos textos realizada em do "Pai da Medicina", não há referência a qualquer
600 a.C., e nele é usado o termo "li-feng" para designar condição que se assemelhasse àquela doença.
paralisia grave, e descrito um estado mórbido "ta-feng" que
provoca queda de sobrancelhas, nódulos, ulceração,
Admite-se que foram as tropas de Alexandre, o Grande,
dormência, mudança de cor da pele e desabamento do nariz.
quando voltaram à Europa, depois da conquista do mundo então
Outra possível referência na literatura chinesa antiga
conhecido, que trouxeram soldados contaminados com a doença
(Analects) na época da dinastia Chou (600 a.C. ), é aquela que
nas campanhas realizadas na Índia (300 a.C. ). Depois as
um dos discípulos de Confúcio havia contraído a doença. Sua
conquistas romanas se encarregaram de disseminar a doença
descrição é, contudo, emito imprecisa e restam dúvidas a
para outras regiões européias.
respeito.
2
sentido literal (Ia palavra e acreditavam que Cristo, na Terra, focos da hanseníase, poderiam ter entrado em nosso país
tinha morrido como um leproso e, por isso, damas nobres, com a hanseníase ainda no seu período de incubação ou
em uma espécie de fervor religioso, lavavam os pés dos na sua forma indeterminada de difícil diagnóstico para os
leprosos e abraçavam seus corpos doentes. Em muitos médicos militares de então, incumbidos do exame dos
exemplos, esses devotos não corriam um risco maior do que navios negreiros.
o de adquirir a sarna. Datam desse período San Martin e
Isabel da Hungria (1207-1231). Ela era casada com o No Brasil, os primeiros documentos que atestam a
Landgrave Luis de Turingia e fundou numerosos edifícios existência da hanseníase em nosso território datam do fim
para isolamento desses pacientes que eram administrados do século XVII, tanto que, em 1696, o Governador Artur de
por ordens religiosas, e foi canonizada em 1235 como santa Sá e Menezes procurava dar assistência no Rio de Janeiro,
padroeira dos doentes de lepra. aos "míseros leprosos", já então em número apreciável.
Como resultado dessa devoção, os lazaretos foram Em São Paulo, os documentos mais antigos
fundados em todos os lugares, destinados aos doentes de referentes à hanseníase no Estado, são dois: um é uma
lepra, entre os quais existiam tanto doentes de carta enviada ao Conde de Oyeiras em 1765, pelo então
hanseníase, como aqueles portadores de outras doenças capitão general D. Luiz Antonio Botelho Mourão Morgado
cutâneas e mesmo indivíduos sãos, como mendigos. Que de Matheus, na qual o Governador se refere ao perigo que
havia doentes de hanseníase também, não há dúvida, haja corria a capitania em face da morféia; e outro, constante e
vista as escavações feitas em leprosários em Aachen na uma das atas da cidade de São Paulo ( 1768 ), sobre o
Alemanha, em South Acre na Inglaterra, e em Naestved na "despejo" de uma cigana morfética solicitado por membros
Dinamarca, que mostraram alterações ósseas da vereança.
patognomônicas de hanseníase, fruto dos estudos de V.
Moller-Christensen, em cerca de 80%> dos esqueletos
O primeiro censo em São Paulo sobre o número de
encontrados.
doentes foi em 1820, pelo Visconde de Oeynhausen, cujos
dados não são conhecidos integralmente. O segundo foi
Seja qual for o número de doentes que havia na feito em 1851 e acusava 849 doentes, ou seja, 0,15% em
Europa naqueles tempos, o certo é que esse número relação à população do estado nessa ocasião. Outros
diminuiu a partir do século XVI. Uma das causas poderia ter censos foram realizados depois, notando-se sempre um
sido a melhoria das condições de vida, e outra que não pode aumento do número de pacientes que acompanhavam a
ser descartada é que o "complexo" lepra foi se esvaziando marcha do progresso do estado.
porque as doenças cutâneas foram sendo melhor estudadas
e foram recebendo os seus nomes definitivos. Na Inglaterra, Zonas povoadas que tinham aumentado quase o
onde o primeiro hospital de lepra foi fundado em 625 d.C., dobro do (lure foram no século precedente e o movimento
não havia mais casos em 1798. A única exceção foi a povoador que se originava da revolução que se operava na
Noruega, onde após um declínio do número de casos como agricultura ao substituir-se a cana de açúcar pelo café,
no resto da Europa, teve um recrudescimento entre os exigindo novas terras e novos braços para a lavoura mais
séculos XVIII e XIX, tanto que em 1855 lá havia cerca de extensa e remuneradora, foram os fatores do desenvol-
3000 casos. Depois disso, com a melhoria das condições vimento que determinaram, na época, maiores
sanitárias, esse número foi decrescendo e, em 1950, havia concentrações de habitantes e, por conseguinte, de
somente 11 casos, em 1962, 7 casos, sendo que o último doentes, em várias áreas do estado.
faleceu em 1970.
4
BIBLIOGRAFIA
5
MICOBACTÉRIAS
7
te tuberculoso visto a olho nó ou no microscópio. Mas, de cultivou-os e verificou que se relacionavam muito com o
qualquer forma, relacionava-se em um ou dois aspectos, bacilo da tuberculose, mas devido ao fato de ter se
com a tuberculose, pois continha células gigantes coradas desenvolvido em trutas tinham sofrido alterações
apropriadamente e estas células continham numerosas importantes.
bactérias ácido resistentes que pareciam exatamente com o
bacilo da tuberculose. Os autores cultivaram estes bacilos Em 1904, Rupprecht descreveu uma outra forma
e verificaram que suas características biológicas eram dife- de bacilo ácido resistente isolado de um animal de
rentes do verdadeiro bacilo da tuberculose, pois os bacilos sangue frio. Num sapo encontrou tubérculos e neles
da carpa cresciam muito mais rápido do que os bacilos da bacilos ácido resistentes, mas de uma ácido resistência
tuberculose nos meios padrão e se desenvolviam em menos acentuada do que a do bacilo descrito por Dubard
temperaturas que eram desfavoráveis ao bacilo da e Fridman, por isso considerou-os como variedade
tuberculose. Em temperatura ambiente, desenvolviam-se diferentes.
muito melhor, mas, com cuidado, as bactérias poderiam
ser "treinadas" a desenvolver-se lentamente na
Em 1926, Aronson descreveu e nominou
temperatura do corpo. Quando isto aconteceu, elas
oMycobacterium marinum como o causador de uma doença
adquiriram algumas propriedades que eram muito
em peixes de água salgada num aquário da Filadelfia. Ele
peculiares ao bacilo da tuberculose.
descreveu que as colônias assumiam a cor amarelo limão
e, mais tarde, tornavam-se intensamente laranja.
Logo depois que o bacilo da tuberculose foi
descoberto e os métodos de examinar material infectado Costa Cruz, em 1938, descreveu e nominou o
tomaram se comuns, muitos pesquisadores, naturalmente, Mycobacterium forluitum e Freeman relatou o caso de 2
empenharam-se no trabalho de descobrir onde se encontrava mulheres com abscessos superficiais. Foram realizados
o bacilo da tuberculose, isto é, onde era seu habitat. cultivos nos quais observou-se bacilos ácido resistentes
de crescimento rápido.
Uma série de materiais foram examinados, como
por exemplo, a manteiga, leite e até mesmo esterco de Em 1943, ()Mycobacterium avium foi reconhecido
gado, e neles foram descobertos bacilos ácido resistentes. como patógeno humano. No ano de 1948, foi publicado
uma série de 4 casos descritos de uma nova doença
Por volta de 1884, Sigmund Lutsgarten, que micobacteriana no homem e o bacilo causador
estava em Viena e que mais tarde foi para Nova Iorque denominado Mycobacterium ulcerans. Em 1951, caso de
para tomar o seu lugar como eminente sifilógrafo e doença disseminada atribuída a um bacilo ácido
dermatologista, espantou o mundo anunciando que tinha resistente denominado Mycobacterium intracelullare.
descoberto o bacilo da sífilis e que este era do tipo ácido
resistente, semelhante ao bacilo da tuberculose, e ocorria Tarshis e Frish, em 1952, denominaram
nas lesões da sífilis e em mais nenhuma outra condição. oMycobacterium abscessus e, em 1953 e 1954, Buhler e
No ano seguinte, Alvarez e Tavel provaram que o bacilo de Pollak publicaram uma avaliação de 2 casos de doenças
Lutsgarten ocorria em muitas pessoas saudáveis e que não por " bacilos amarelos" e o denominaram corra)
tinha nada a ver com a sífilis, tratava-se de uma forma Mycobacterium transasii. Ainda em 1954, Linell e Norden
acido resistente, não patogênica, que ficou conhecida com descreveram o Mycobacterium balnei.
o nome de bacilo do esmégma.
Atualmente, o gênero Mycobacterium conta com
mais de 60 espécies reconhecidas, dentre as quais, pelo
Em 1898, o médico Alfred Moeller relatou ter menos 22, estão descritas como agente etiológico de
isolado bacilos ácido resistentes de várias plantas, em doenças no homem e nos animais.
particular no capim "rabo de rato" ( timoly grass ), que não
se desenvolviam inteiramente como o bacilo da
tuberculose, pois cresciam muito mais rápido e desenvol-
viam-se muito bem em temperatura mais baixa do que Classificação das Micobactérias
àquela do corpo. Quando inoculados em cobaias em
quantidades pequenas, não originavam lesões progressivas, Em 1980, conheciam-se 41 espécies
contudo, quando injetados em grandes quantidades no pertencentes ao gênero Mycobacterium; em 1985, esse
abdomem desses animais, eles morriam entre 6 a 8 número se elevou a 54 e, atualmente, o gênero conta com
semanas. Quando estes microrganismos foram cultivados mais de 60 espécies reconhecidas.
por várias gerações não se tornavam mais patogênicos para
os animais de laboratório. Na opinião de Moeller, o Tymothi
Com base em diferenças laboratoriais, Timple e
bacillus tinha que ser considerado uma forma ácido
Runyon formularam uma classificação para as
resistente relacionada ao bacilo da tuberculose, mas com
micobactérias, de acordo com a velocidade de
menor patogenicidade, e em condições naturais inócuo
crescimento e a capacidade em produzir pigmentos em
para o homem e animais superiores.
meio de cultura.
Em 1902 e 1903, Fridman relatou ter achado As micobactérias foram divididas em quatro
tuberculose espontânea nos pulmões de duas trutas do mar grupos: Grupo I: estão incluídas as micobactérias de
que morreram num aquário em Berlim e achou estes bacilos crescimento lento. Produzem colônias com pigmentação
distintos do bacilo da carpa de Dubard. Eram bacilos ácido de cor amarelada, quando expostas à luz. São, por isso,
resistentes que em tamanho, forma e disposição não podiam denominadas "fotocromógenas", incluindo- se nesse
ser distinguidos do bacilo da tuberculose. Ele grupo M. kansasii, M. simiae e M. marinum.
8
Grupo II: micobactérias de crescimento lento, que também 4.2 – Cultura
produzem colônias com pigmentação de cor amarelada, O diagnóstico laboratorial da tuberculose
porém, independente de exposição à luz. São denominadas pulmonar e outras micobacterioses depende da detecção e
"escotocromógenas", sendo representantes desse grupo M. isolamento de BAAR a partir de espécimes clínicos de
scrofulaceum, M. gordonae, M.flavescens lavescens e M. origem pulmonar e extrapulmonar, podendo ser
xenopi. contaminados (escarro, lavado gástrico, urina) ou estéreis
(liquor, sangue, líquido pleural, medula óssea).
Grupo III: micobactérias de crescimento lento, que podem
produzir pequena ou nenhuma pigmentação, mesmo 0 meio mais utilizado para o isolamento de
quando expostas à luz intensa. São denominadas micobactérias é o Lowenstein-Jensen, que é um meio
acromógenas, sendo representantes desse grupo o solidificado à base de ovo que contém glicerol e asparagina
complexo M. avium-intracellulare, M. terrae, M. triviale e M. como fontes de carbono e nitrogênio. Outros meios
gastri. solidificados à base de ágar, como o 7H10 e 7H11 de
Middlebrook, também podem ser utilizados.
Grupo IV: micobactérias de crescimento rápido (três a sete
dias) que podem apresentar ou não pigmentação, sendo
Atualmente, encontram-se disponíveis
representante desse grupo o complexo M. fortuitum-
comercialmente, novos métodos cie cultura, pois a ênfase
chelonae. no laboratório clínico tem sido o desenvolvimento de
sistemas mais rápidos e sensíveis para o isolamento de
É importante salientar que a classificação de micobactérias, que no futuro, irão substituir os processos
Runyon tem muita utilidade quanto ao aspecto longos e tediosos da cultura em meios sólidos.
microbiológico, não tendo o mesmo valor quando se leva
em consideração aspectos clínicos epidemiológicos, uma
vez que se associam, em um mesmo grupo, espécies A seguir, selecionamos alguns exemplos desses novos
reconhecidamente patogênicas ao homem e outras não sistemas:
patogênicas. 1 - Método radiométrico (Bactec): trata-se de um
aparelho semi- automatizado que detecta CO2 radioativo
liberado pela utilização de ácido palmítico, presente no
Atualmente, tem se proposto um esquema de meio de cultura (12 A e 12 B) pela micobacteria.
classificação alternativo, baseado no potencial patogênico
da espécie.
2 - Mycobacteria growth indicator tube (MGIT): sistema
manual que detecta o crescimento das micobactérias em
De acordo com o grau de patogenicidade, as
dias. Materiais clínicos concentrados são inoculados em
micobactérias são divididas em três grupos:
um tubo que contém caldo Middlebrook 7H9 com um
1 - Estritamente patogênicas ou patógenos estritos: M. sensor fluorescente sensível ao oxigênio (ruthenium) para o
tuberculosis, M. leprae e M.africanum crescimento micobacteriano.
2 Potencialmente patogênicas: M.
- avium, M. intracellulare, 3 - Sept-check AFB: sistema bifásico, contendo meio
sólido (Lowenstein-Jensen) e um meio líquido (Middlebrook
M. scrofulaceum, M. kansasii, M. ulcerans, M. xenopi, M. 7H9). Este sistema combina as vantagens oferecidas pelo
haemophilum, M. genavense, M. simiae, M. malmoense, M. meio sólido, que é a capacidade de observar colônias com
asiaticum, M. shimoidei, M. celatum, M. f fortuitum, M. chelonae, relação a sua morfologia e a produção de pigmento, com o
peregrinum, abscessum, M. szulgai, M. marinum. aumento de isolamento esperado com o meio em caldo.
9
4.3.2 - Micobactérias outras que não o M. tuberculosis (MOTT) Micobactéria que causa uma " pseudo " tuberculose
características culturais: tempo de crescimento, relações cutânea em gado
térmicas e pigmentação. Apresenta muita semelhança com a tuberculose,
ocorrendo nos Estados Unidos e na Europa Ocidental,
inibição do crescimento frente às drogas: cicloserina, inclusive na Inglaterra.As lesões constituem-se de um
etambutol, rifampicina, p-ami nosalicilato de sódio,
nódulo único ou, às vezes, vinte ou mais nódulos no
hidroxalamina, ciprofloxacina, cloreto de sódio, salicilato
mesmo animal, envolvendo o derma, mas na maioria das
de sódio e outras.
vezes eles ocorrem subcutaneamente. Freqüentemente a5
características bioquímicas e enzimáticas: redução do lesões localizam-se nas faces laterais das coxas; no
nitrato, hidrólise do Tween 80, atividade ureásica, abdomem e nas faces laterais das articulações tarsais; e,
atividade catalásica, captação de ferro, arilsulfatase 3 e 15 menos freqüentemente, localizam-se no pescoço e ombros.
dias, b-galactosidase e outras. O agente causador; provavelmente, entra pela
pele, depois de um traumatismo e, se as condições forem
4.3.3-Técnicas de biologia molecular em micobacteriologia favoráveis, desenvolve- se lentamente uma reação
O desenvolvimento de técnicas de biologia molecular e granulomatosa progressiva. A lesão pode, com freqüência,
biotecnologia tem alterado profundamente a medicina amolecer e ulcerar; podendo progredir para cura.O caráter
moderna. Nos últimos anos, a análise de nucleotídeos tuberculóide das lesões, a presença de bacilos álcool-ácido
específicos tem se mostrado de grande valia no diagnóstico resistentes e o fato de que os animais afetados com fre-
de doenças genéticas, infecciosas, neoplásicas e causadas qüência reagem à tuberculina, sugerem uma infecção
por bactérias. semelhante às infecções produzidas pelo bacilo da
As culturas de micobactérias podem ser identificadas tuberculose. Apesar das micobactérias serem observadas
com sondas de DNA específicas para cada espécie. As sondas freqüentemente nas lesões, o seu cultivo não foi
são baseadas no princípio de complementaridade das fitas conseguido.
de DNA, que se ligam para formar urna dupla fita. A
amplificação de ácido nucléico in vitro, pela reação em cadeia Micobactéria causadora da "lepra bubalorum"
da polimerase (PCR), também, tornou-se uma das mais po- É uma doença granulomatosa da pele do búfalo d'água.
tentes e versáteis técnicas utilizadas em pesquisa na Foram observados casos na Indonésia, e descritos pela
atualidade. A técnica primeira vez em 1926 por Kok e Roseli. O aspecto mais
de PCR é um método baseado na amplificação enzimática de notável da doença é a ocorrência de numerosos nódulos
um fragmento de DNA pela extensão de dois duros na pele, de tamanhos variáveis, com tendência a
oligonucleotídeos (primers), que hibridizam com fita ulcerarem. Os lugares de predileção são as pernas, a face
complementares de uma seqüência molde (alvo). É um lateral e ventral do tórax e abdômen, o nariz e mucosa
método bastante rápido em vista dos outros, pois utiliza no nasal. O curso da doença é crônico e as lesões podem
máximo 10 horas para identificação. regredir.
As características bacteriológicas são o aparecimento de
grande número de bacilos ácido resistentes nas lesões da
pele que se dispõem em grupos formando glóbulos.
Micobactérias que não crescem em meios artificiais
Micobactéria causadora de infecção no pombo torca
Mycobacterium leprae (wood pigeon) .
Agente causador da hanseníase e ainda não cultivado in
vitro, tornando-se um grande desafio aos microbiologistas.
Nos tecidos humanos, apresentam-se Como bacilos retos ou
Foi descrita na Dinamarca, em 1946, uma infecção
levemente encurvados de 2 a 8 mm de comprimento. Podem
micobacteriana no pombo torca Columba palumbos.
apresentar-se isolados, mas, quando muito numerosos, têm
Doença que tem predileção pelo fígado e baço dessa ave e a
a tendência a disporem-se em feixes paralelos ou a
reação tissular vista nesses órgãos assemelha-se àquela
formarem grandes aglomerações, denominadas globias.
observada na tuberculose das aves. É um processo
destrutivo e o aspecto mais notável é o grande número de
Mycobacterium lepraemurium bacilos ácido resistentes dentro das células epitelióides e
Descrita por Stefanskv em 1903, esta micobactéria provoca a células gigantes. Apesar de todas as tentativas, não se
lepra merina. É uma infecção que ocorre em roedores e foi conseguiu o seu cultivo.
descrita em alguns países da Europa, nos Estados Unidos e
no Japão. É muito contagiosa e o rato transmite a doença
Considerações finais
pela mordedura e pode assumir uma forma ganglionar ou
uma forma chamada músculo- cutânea, sendo muito
estudada com o intuito de se extrapolar os resultados Até recentemente, o interesse na micobacteriologia
conseguidos para a hanseníase humana. Apesar de estar in- era estável. Com o aumento nas taxas de tuberculose e
cluída neste grupo, hoje em dia, têm sido descritos meios de outras micobacterioses, este interesse foi revitalizado. A
cultivo para esta micobactéria. meta é que dentro de
10
Custos aceitáveis, os avanços Continuem a adicionar mais
velocidade e precisão na detecção, identificação e nos
testes de susceptibilidade das espécies micobacterianas.
BIBLIOGRAFIA
11
ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DO
Mycobacterium leprae
Suzana Macieira
13
O citoplasma é eletrodenso contendo estruturas das micobactérias é de 2,2 — 4,5x109 daltons e para o
comuns a organismos gram positivos. Utilizando-se bacilo de Hansen é de 2,2x109 daltons. A quantidade de
análise eletroforética em gel de poliacrilamida (SUS), foi guanina + citosina (G+C) é notavelmente mais baixa (54-
possível identificar três importantes proteínas 58%) quando comparada a outras micobactérias (65-
citoplasmáticas: a primeira possui peso molecular de 69%). Diversos genes específicos do bacilo têm sido
28kD, a segunda 17kD (sorologicamente distinta da clonados e caracterizados, com a finalidade de se obter
proteína encontrada na parede celular) e a terceira, que é uma grande quantidade de antígenos protéicos. Genes
semelhante à proteína de choque térmico GroES, também que codificam as moléculas de RNA ribossomal são de
encontrada na parede celular Estudos acerca da particular interesse taxonômico, especialmente o gene
composição protéica do bacilo, baseados em técnicas 16S rRNA. Em comum com outras micobactérias de
sorológicas, permitiram a identificação de outros crescimento lento, o M. leprae possui uma única cópia do
componentes, como por exemplo uma proteína de 65kD gene rRNA com grande parte da sequência reconhecida
identificada como sendo homóloga à proteína de choque (95`i) no gene 16S rRNA, indicando uma estreita relação
térmico GroEL e que geralmente é encontrada degradada entre o M. leprae, M. tuberculosis e M. avium. Algumas
em preparados de bacilos. Uma outra proteína de 70kD diferenças na sequência podem ser observadas no M.
identificada por anticorpos monoclonais também leprae, sendo estas diferentes de outras espécies de
corresponde a uma proteína de choque térmico, homóloga micobactérias. Embora tenham sido descritas diferenças
à DnaK de E. cosi. Estudos realizados com anticorpos genotípicas, tendo como base inoculações em coxim
monoclonais também permitiram identificar uma proteína plantar de camundongos, análises feitas no DNA não
de 18kD, estruturalmente ligada a proteínas de choque permitiram identificar nenhuma variação genotípica.
térmico e uma de 28kD identificada como a enzima Sequências específicas de DNA do bacilo podem ser
superóxido dismutase. exploradas através de técnicas capazes de trabalhar com
um reduzido número de bacilo e com alto grau de
sensibilidade, em particular, a técnica de amplificação de
Entre as atividades bioquímicas mais conhecidas, DNA que tem como base a reação em cadeia de
está a capacidade do bacilo de oxidar uma variedade de polimerase (PCR). Algumas sequências espécie-específicas
difenóis, em particular o D-isômero de já são bem conhecidas permitindo que vários
dihidroxifenilalanina (DOPA). A atividade da DOPA oxidare pesquisadores possam aplicar esta técnica para detecção
foi descrita, por Prabhakaran em 1980, como sendo única do bacilo em condições laboratoriais de rotina. Além da
para o M. leprae (entre as micobactérias). A enzima ácido técnica ser utilizada para diagnóstico, inclusive de formas
diihidropteroato sintetase é sensível à sulfa clínicas paucibacilares, ela pode ser aplicada em
(diaminodifenilsulfona - DDS ), amplamente utilizada na trabalhos de monitoramento de possíveis reservatórios do
terapêutica da doença; outra enzima, como por exemplo a bacilo no meio ambiente, como por exemplo a sua
dismutase superóxido, esta envolvida em mecanismos de detecção em amostras de solo e água de áreas endêmicas.
sobrevivência do bacilo no interior dos macrófagos, Outros avanços têm sido possíveis graças às novas
fazendo com que o bacilo resista aos efeitos tóxicos dos técnicas de genética molecular, que possibilitam que
metabólitos oxidativos produzidos pelas células do genes do M. leprae possam ser expressos em E. coli,
hospedeiro. Entre outras enzimas de importância, contribuindo de forma importante para o estudo de
podemos citar a decarboxilase glutamato, beta- antígenos protéicos, e, mais recentemente, a transferência
glucoronidase e N-acetil beta glucosaminidase, porém não de genes entre as micobactérias permitindo que se
se sabe com certeza se elas são derivadas do bacilo ou do conheça melhor alguns aspectos bioquímicos do bacilo.
tecido do hospedeiro.
0 tempo de geração do bacilo é lento, sendo de DHARIWAL, K.P. et al. Detection of trehalose
aproximada- mente 11-13 dias, durante a fase logarítmica monomycolate in Mycobacterium leprae grown in
de multiplicação bacilar em coxim plantar de camundongos armadillo tissues. J. gen. microbiol., v.133, p.201-09,
imunocompetentes, porém, em 1971, Rees relatou que em 1987.
camundongos imunodeficientes o tempo de geração era o
mesmo. DRAPER, P. Cell walls of Mycobacterium leprae. Int. J.
Leprosy, v.44, p.95-98, 1976.
A localização das lesões hansênicas no corpo dos
pacientes (pele, mucosa nasal e nervos periféricos) sugere DRAPER, P et al. Isolation of a characteristic phthiocerol
que o bacilo tenha preferência por temperaturas menores dimycocerosate from Mycobacterium leprae. j gen.
que 37° C. Isto pôde ser com- provado a partir de estudos microbiol., v.129, p.859-63, 1983.
realizados em camundongos imunodeficientes nos quais a
infecção expande-se predominante- mente para lugares ENGERS, H.D. et al. Results of a World Health Organization
mais frios do corpo do animal. Entretanto, evi- dências sponsored workshop on monoclonal abtibodies to
mais fortes vieram de estudos realizados por Shepard; a Mycobacterium leprae. Infec. immun., v48, p.603-05,
partir de inoculações em coxim plantar de camundongos, 1985.
ele observou que para o melhor crescimento do bacilo, a
temperatura media do tecido plantar deveria estar entre ESTRADA-G, I.C.E. et al. Partial nucleotide sequence of 16S
27-30° C. ribossomal RNA isolated from armadillo-grown
Mycobacterium leprae. J. gem microbiol, v.134,1).1449-53,
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Fora do organismo humano, em fragmentos de
biópsias ou suspensão, o bacilo pode manter-se viável por GARSIA, R.J. et al. Homology of the 70-kilodalton antigen from
até 10 dias sob tempe- ratura de 4°C. Métodos tradicionais Mycobacterium leprae with the conserved heat shock
de esterilização como autoclavação e pasteurização são protein 70 of eukaryotes.Immun., v.57, p.204-12, 1989.
eficientes para matar o bacilo. Em secreção na- sal, o
bacilo pode sobreviver por até sete Was a temperatura de HANSEN, G.A. et al. Leprosy: in and pathological aspects.
20.6°C e umidade de 43.7%, porém corn o aumento da Wright, Bristol, p.43, 1985.
temperatura e umi- dade, a viabilidade tende a diminuir
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detection
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17
HANSENÍASE EXPERIMENTAL
Suzana Madeira
Patrícia Sammarco Rosa
Alguns modelos animais têm sido ou foram muito cando em alguns aspectos éticos da quimioterapia.
importantes no estudo de várias doenças que acometem o A inoculação de 5 x 103; a 104 de bacilos em um
ser humano, como por exemplo na tuberculose. A demora volume de 0,03 ml no coxim plantar traseiro de um
no desenvolvimento de um modelo animal apropriado para camundongo normal alcança, após 120-240 dias,
o estudo da hanseníase foi um obstáculo para a realização aproximadamente 106 de bacilos/pata (Fig. 2). O número
de algumas pesquisas. total de bacilos permanece constante por cerca de um ano,
quando entrain na fase de declínio, porém, o número de
O modelo experimental ideal para o estudo da bacilos viáveis diminui mais rapidamente, ou seja, logo
hanseníase deveria ser um animal imunologicamente depois do plateau (106 bacilos) ter sido alcançado. A dose
normal que: (1) apresentasse o espectro clínico da doença e mínima infectante é de aproximadamente 1-10 bacilos
episódios reacionais e (2) que desenvolvesse neurite em viáveis por coxim plantar. 0 método mais utilizado de
nervos periféricos com seqüelas neuropáticas. Espécies contagem bacilar é o proposto por Shepard & McRae. As
filogeneticamente próximas ao ser humano deveriam ser estirpes de camundongos BALB/c, CBA, CFW e DBA pare-
capazes de exibir essas alterações, serem bem adaptadas ao cem produzir níveis mais altos de infecção do que outras
meio laboratorial, terem um tempo de sobrevida suficiente estirpes e a resistência apresentada por algumas delas, tal
para acompanhar o curso da infecção e os custos com como a C57BL, pode estar relacionada a fatores genéticos
manutenção e criação serem baratos. como produção de superóxido pelos macrófagos e a resposta
proliferativa de células T ao bacilo e aos antígenos
micobacterianos. Macroscopicamente não ocorre mudança
Como o controle da hanseníase depende da detecção
na pata infectada. As alterações histopatológicas aparecem
e tratamento de pacientes com formas clínicas
cerca de três meses após a inoculação e consistem em
multibacilares, muitas pesquisas têm concentrado os seus
pequenos infiltrados de macrófagos e linfócitos. Alguns
estudos na patogênese e tratamento dessas formas. Sendo
macrófagos apresentam agrupamentos de bacilos, podendo
assim, os modelos animais que são capazes de desenvolver
também exibir células epitelióides modificadas e granulomas
a hanseníase de forma disseminada são os mais indicados
pouco organizados. Em alguns casos, o bacilo pode invadir
para a realização de estudos experimentais.
nervo e perinervo. Não ocorre disseminação sistêmica.
Aspectos imunológicos
22
ser uma zoonose, a existência de bacilos em animais Macacos mangabey que apresentaram predomínio de IgG
selvagens pode ter sérias implicações nos programas de anti PGL1 são mais resistentes à hanseníase multibacilar
controle e erradicação da doença em seres humanos. do que os animais que apresentaram altos níveis de IgM.
24
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26
IMUNOLOGIA
29
Imunoglobulinas de nas superfícies dos mastócitos e basófilos em todos os
indivíduos. Qualquer Ag que estimule a produção de IgE é
IgG denominado genericamente de alérgeno. A IgE se fixa aos
tecidos pela fração Fc e ao alérgeno pela porção Fab.
Quando em contato com o Ag, a IgE desencadeia a
Constitui 70-75% do total das Ig do soro, sendo a liberação de histamina e diversas enzimas, responsáveis
principal Ig sintetizada durante a resposta secundária. pelo fenômeno anafilático. 0 papel biológico de defesa das
Pela sua propriedade em atravessar a placenta, é IgE ainda não esta bem definido, mas tem-se evidenciado
importante na defesa contra infecções durante as elevação do nível sérico de IgE em certas parasitoses,
primeiras semanas de vida do recém nascido. A classe IgG particularmente nas infestações por helmintos.
tem distribuição uniforme nos espaços intra e
extravasculares, mas se difundem com maior facilidade
nos compartimentos extravasculares, onde neutralizam IgD
toxinas bacterianas e se ligam a microrganismos,
facilitando a fagocitose (opsonização). As IgG são eficazes Constitui menos de 1% do total das Ig séricas, mas
nas reações de precipitação, aglutinação e fixação de está presente, juntamente com a IgM, em grandes
complemento, embora nas duas últimas a IgM seja mais quantidades na membrana de LB. Até há pouco tempo, não
eficiente. havia qualquer evidência de IgD com atividade de Ac.
Atualmente, existem alguns dados sobre IgD com atividade
De acordo com as diferenças antigênicas das para certos Ag como insulina, penicilina, proteínas do leite,
regiões constantes das cadeias pesadas, as TgG foram toxóide diftérico, Ag nucleares e tiroidianos.
subdivididas em IgGl, IgG2, IgG3 e IgG4. A concentração
dessas classes no soro é de aproximadamente 66%, 23%, Anticorpos Monoclonais
7% e 4% respectivamente. A IgG3 é a subclasse que fixa
melhor o complemento.
Considerando que um Ag possui vários epítopos e
que cada LB reconhece apenas um deles, a introdução de
IgM um Ag em um animal imunologicamente competente,
resulta na formação de vários clones de células B. Os
Aproximadamente 10% das Tg séricas normais vários Ac resultantes dessa estimulação são denominados
pertencem à classe IgM. Essa molécula consiste em um Ac policlonais, enquanto que os Ac resultantes da
pentâmero abrangendo cinco subunidades unidas por uma estimulação de cada LB em particular, são denominados
cadeia polipeptídica denominada cadeia J. Esses Ac Ac monoclonais.
encontram-se em grande parte confinados no espaço
intravascular e são os primeiros que se formam em
Recentemente, a descoberta da possibilidade de
resposta aos patógenos antigenicamente complexos.
fusão entre LB e células do mieloma múltiplo (que se
Possuem alto poder aglutinante e fixam complemento. As
caracterizam pela proliferação anormal de plasmócitos)
hemaglutininas anti-A e anti- B e muitos dos Ac "naturais"
possibilitou aos imunologistas a preparação e utilização de
pertencem geralmente à classe IgM.
quantidades ilimitadas de Ac homogêneos, denominados
anticorpos monoclonais.
IgA
A IgA secretora (IgAs) aparece seletivamente na Em 1975, Kohler & Milstein publicaram o sucesso
saliva, lágrima, fluidos nasais, suor, colostro, secreções obtido na produção de células híbridas, capazes de
pulmonares e trato gastrointestinal. Em humanos, a produzir Ac monoclonais. A técnica em si é relativamente
molécula secretória de IgA constitui-se de duas simples e se encontra resumida no esquema abaixo:
subunidades de IgA, um componente secretor (para
facilitar o transporte e proteger da ação proteolítica) e Um animal é imunizado para se obter grandes
uma cadeia J (necessária para unir as duas subunidades). quantidades de Ac. Após essa primeira estimulação, o
Essa Ig está envolvida nos mecanismos de defesa primária animal é novamente provocado com dose maior do Ag, dois
contra infecções locais. Parece que sua principal função a quatro dias após a última estimulação; as células são
não é a destruição dos microorganismos, mas sim impedir coletadas e fundidas com células de mieloma. Dessa fusão
sua aderência à superfície das células mucosas, inibindo resultam células híbridas que contêm imaterial genético
a penetração dos patógenos nos tecidos. dos dois tipos celulares. Desse modo, as células híbridas
retêm, das células cio mieloma, o potencial de replicação e
A IgA sérica contribui com aproximadamente 15- dos LB a capacidade de produção de Ac.
20% do total de Ig séricas humanas e encontra-se,
normalmente, sob a forma monomérica ou polimérica. Em meio de cultura seletivo, as células não
fusionadas morrem e as híbridas sobrevivem. Nesse
estágio, as híbridas são separadas e, após 7 a 14 dias, o
IgE crescimento é suficiente para que se possa evidenciar a
existência de células capazes de liberar Ac contra o Ag
No soro, a IgE é encontrada em concentrações usado na imunização. Em seguida, os Ac monoclonais
muito baixas, compreendendo apenas 0,004% do total das podem ser arquivados em meio de cultura, para serem
Ig séricas. Embora em pequenas quantidades, apresentam usados posteriormente.
uma ligação de alta afinida-
30
d) O sistema complemento 2. Opsonização e promoção de fagocitose de
microrganismos;
A interação entre o Ag e a fração Fab da Ig dá
origem a diversos eventos que visam a eliminação do
3. Liberação de mediadores dos mastócitos
(anafilatoxinas - C3a, C4a, C5a);
agente invasor. A ativação cio SC é o mecanismo efetor
fundamental desse fenômeno. 4. Depuração fagocitária dos complexos imunes;
5. Regulação das respostas imunes humorais
O SC compreende um grupo de substâncias do
soro, que funcionam como mediadores da resposta
imune. Esse sistema basicamente é composto por A respostas deletérias podem ocorrer se o sistema
proteínas, que atuam de forma seqüencial logo após a complemento for:
ativação do primeiro componente (Clq), que irá ativar 1. ativado sistematicamente em larga escala (sepse por
várias moléculas dos componentes seguintes e, a bactérias Gram- negativas);
ssim, sucessivamente 2. ativado por uma resposta imune contra tecidos do
hospedeiro.
1. Destruição de patógenos por citólise; Entre esses dois pólos, existe o grupo da hansení-
ase dimorfa (HD) que apresenta manifestações clínicas,
baciloscópicas e
31
imunológicas intermediárias; predominando lesões bem e atinge sua intensidade máxima por volta de 28 dias.
delimitadas como na HT e/ou lesões disseminadas da
HV, de acordo com o grau de resposta imune ao 1W.
O critério de leitura clínica das duas reações é
leprae. A HI) pode adquirir características tuberculóides,
baseado no diâmetro da induração que ocorre no local
denominada hanseníase dimorfa tuberculóide (HDT) ou
quando se injeta 0,1 ml do Ag por via intradérmica, com
virchoviana (HDV) ou permanecer Como hanseníase
uma seringa tipo insulina, na face anterior do braço ou
dimorfa dimorfa (HDD), dependendo do potencial da
antebraço. 0 critério adotado para a leitura foi formulado
resposta celular do hospedeiro.
em 1948 no Congresso Internacional de Leprologia de
Tóquio, como segue:
A fase inicial da doença é denominada
hanseníase indeterminaria (HI) e pode evoluir para uma
das formas descritas acima, na dependência da resposta negativo = ausência de resposta;
imune do hospedeiro ou curar-se espontaneamente. duvidoso = infiltração com diâmetro < 3,0 mm;
positivo (+) = infiltração com diâmetro entre 3,0 e 5,0 mm;
Reação de Mitsuda positivo (++) = infiltração com diâmetro > 5,0 mm;
positivo (+++) = infiltração com diâmetro > 10 mm e
ulcerado.
A presença de resposta imune pode ser
determinada pela reação de Mitsuda. Procurando
elementos de auxílio ao diagnóstico da hanseníase, A classificação histopatológica da Mitsudina
Mitsuda (1919) preparou uma suspensão de material relatado por Bechelli et al., 1959, e Azulay et al., 1960, são
cutâneo proveniente de hansenianos com a forma coincidentes e apresentam variações de grau com maior ou
tuberosa (virchoviana) da moléstia. Essa preparação, menor detalhe. Em 1983, Michalany & Michalany
contendo bacilos mortos pelo calor, quando injetado por publicaram um trabalho minucioso sobre a reação de
via intradérmica, reagia diferentemente conforme a forma Mitsuda em adultos sadios não comunicantes de
clínica dos pacientes. Hayashi (1933) descreveu com hansenianos, rio qual empregaram a seguinte classificação:
detalhes os procedimentos utilizados para o preparo da
suspensão de Mitsuda, bem como os critérios para
negativo = ausência de infiltrado inflamatório. Bacilos
avaliação clínica da reação.
presentes;
duvidoso = infiltrado inflamatório não granulomatoso.
A partir dos relatos dos dois pesquisadores, Bacilos raros ou ausentes;
vários estudos foram realizados sobre a reação de positivo fraco (+) = infiltrado inflamatório granulomatoso
Mitsuda e, hoje, existe unanimidade no que se refere a tuberculóide incompleto com células epitelióides, mas sem
positividade da reação, predominantemente na forma HT, arranjo folicular. Bacilos raros ou ausentes;
sua negatividade na HV e frequentemente no grupo HI). positivo moderado (++) = infiltrado inflamatório
No grupo HT, a reação varia de acordo com o grau de granulomatoso tuberculóide incompleto ou tuberculóide
resistência do indivíduo. Assira uma resposta positiva ao completo, com esboço de arranjo folicular. Bacilos
Mitsuda é uma indicação de que a evolução será para o ausentes;
tipo HT da doença. positivo forte (+++) = infiltrado granulomatoso tuberculóide
completo com arranjo folicular. Bacilos ausentes.
O antígeno utilizado consiste de um Ag bruto, não
purificado, preparado a partir de hansenomas obtidos de Dos muitos trabalhos presentes na literatura,
pacientes bacilíferos. Esse material é processado e, ao admite-se que a reação de Mitsuda seja específica,
final, obtém-se uma suspensão composta de M.leprae e manifestando-se em resposta a Ag insolúveis presentes no
restos teciduais do doador. A emulsão tem recebido M. leprae. Desse modo, a reação de Mitsuda positiva, tanto
várias denominações, entre elas, lepromina, lepromina em indivíduos sadios como em pacientes paucibacilares,
integral, lepromina H, antígeno de Mitsuda, ou reflete a capacidade do organismo em reagir contra o
Mitsudina. Tecidos de tatus infectados com o Al. leprae bacilo. Do mesmo modo, sua negatividade é indicativa da
também têm servido como fonte de bacilos no preparo do falta de resistência ao parasita.
antígeno, denominado lepromina A (armadillo) .
Em 1953, no 6° Congresso Internacional de Madri,
A injeção intradérmica do antígeno cie Mitsuda a reação de Mitsuda foi definitivamente incorporada aos
origina duas respostas independentes, conhecidas como critérios de classificação da hanseníase, definindo
reação precoce e reação tardia. A reação precoce ou pacientes HT como Mitsuda positivos, e os HV e a maioria
reação de Fernandez é caracterizada por eritema e dos HI) como Mitsuda negativos. No grupo HI, a
induração local 48-72 horas, após a introdução do Ag. intradermoreação varia de acordo com a capacidade imune
São consideradas positivas indurações com diâmetros do indivíduo. Assim, uma resposta positiva é indicativa de
maiores que 10 mm. Indurações com diâmetros inferiores que a evolução clínica será para o tipo HT da doença. Em
são consideradas como respostas aos Ag comuns do M. indivíduos sadios, a freqüência de positividade a essa
leprae e outras micobactérias. Pelo quadro que apresenta, reação aumenta com a idade, chegando a atingir em média
a reação de Fernandez é considerada uma reação de 90% dos indivíduos na fase adulta. Contudo, em cerca de
hipersensibilidade tardia, tipo tuberculínica, só se 10% da população, ela se apresenta persistentemente ne-
manifestando, portanto, em organismos previamente gativa.
sensibilizados, mas isso é discutível. A reação tardia ou de
Mitsuda processa-se gradualmente
Por ser a Mitsudina um Ag rudimental; hoje, muitos pes-
32
quisadores têm se empenhado na obtenção de Ag idade, ou, até mesmo, diferenças na metodologia de
específicos extraídos do Al leprae que possam ser elaboração dos Ag testados.
utilizados em testes diagnósticos e na profilaxia da
hanseníase. A pesquisa de Ag, recombinantes do M. Principais defeitos atribuídos aos macrófagos e
leprae que possam ser utilizados nos testes linfócitos T na hanseníase
intradérmicos, é uma das prioridades da Organização
Mundial da Saúde (OMS). A obtenção dos Ag permitiria o Os estudos envolvendo os possíveis defeitos na
preparo de grandes quantidades de reagentes, com capacidade microbicida dos monócitos-macrófagos de
purificação simples, menor risco de contaminação e pacientes hansenianos apresentam resultados
padronização mais fácil. discrepantes.
Alterações da imunidade celular
Ávila & Convit (1970), estudando a capacidade
digestiva in vitro de macrófagos derivados de monócitos
À semelhança do que ocorre em outros processos
do sangue periférico de pacientes HT e HV,
infecciosos, cujos agentes são intracelulares obrigatórios,
demonstraram que os macrófagos de pacientes 1-1V
a imunidade celular é um importante mecanismo no
eram deficientes na sua habilidade em digerir o M. leprae
controle da infecção pelo M. leprae. O comprometimento
quando comparados aos macrófagos de pacientes HT.
imune observado na forma HV é específico ao bacilo e,
Segundo os autores, essa inabilidade na lise do bacilo era
ainda, não se encontra totalmente esclarecido.
devida à deficiência em certas enzimas presentes nos
lisosomas dos macrófagos de pacientes HV Esses
Os testes cutâneos são instrumentos importantes achados foram contestados por outros pesquisadores que
para avaliar a capacidade da resposta celular de cada não encontraram diferenças no comportamento in vitro de
indivíduo. Em hansenianos os testes cutâneos com PPD, macrófagos obtidos de pacientes HV, quando comparados
candidina, tricofitina e estreptoquinase demonstraram àqueles obtidos de pacientes HT; com respeito a sua
respostas iguais aos controles sadios. Entretanto, alguns habilidade em digerir o bacilo.
autores descreveram uma depressão da resposta a esses Ags
nos pacientes HV, quando comparados aos grupos controles. Com relação a pacientes HD, Pisani et al. (1973)
demonstraram que seus macrófagos eram hábeis em
Trabalhando com extrato de Candida albicans , digerir o M. leprae, embora em grau menor do que aquele
Nakayama et al., (1961), demonstraram que pacientes demonstrado por pacientes HT. Treo & Silva (1963),
hansenianos respondiam da mesma maneira que contudo, não observaram diferenças entre atividade
controles sadios. Entretanto, outros autores encontraram macrofágica de tais pacientes e àquela observada nos
resposta diminuída na HV e HT. pacientes HV.
Silva et al. (1993) demonstraram que o PGL-1 Conforme foi exposto, muitos são os defeitos
diminui a liberação de IL-1, IL-6 e TNFa em sobrenadante imunológicos apontados pelos pesquisadores para
de cultura de células mononucleares estimuladas com explicar a imunodeficiência que acomete os pacientes HV;
lipopolissacarídeo (LPS), levando à diminuição da cabe salientar, entretanto, que essa deficiência da
atividade macrofágica e, consequentemente, favorecendo imunidade celular é específica ao M. leprae, de modo que
a multiplicação do bacilo em seu interior. os pacientes HV exibem resposta imune celular para
outros microrganismos. Até o momento, os fatores
Alguns pesquisadores têm direcionado seus estudos responsáveis pela imunodeficiência específica nos
aos LT e sugerido que a incapacidade dos macrófagos de pacientes HV ainda não se encontram totalmente
pacientes HV em destruir o M. leprae seria devida à secreção elucidados.
defeituosa de IFNy pelos LT CD4+, de modo que os
macrófagos não seriam adequadamente ativados. Alterações da imunidade humoral
Wemambu et. al. (1969), avaliando a presença de Ig O ENH pode ser caracterizado como uma resposta
e frações do complemento em fragmentos teciduais de tipo TH2, apresentando aumento da população de LT CD8+
ENH, demonstraram depósitos fluorescentes de IgG e supressor e síntese elevada de IL-4, IL-5, IL-6, IL-8 e IL-10.
complemento localizados perivascularmente em áreas Provavelmente a subpopulação TH2 aumenta a produção
infiltradas por PMN. De acordo com os autores, os de Ig sintetizada pelos LB, resultando em resposta humoral
resultados foram compatíveis com a hipótese do ENH estar exacerbada provocando lesão tecidual.
vinculado a mecanismos semelhantes àqueles verificados
experimentalmente por Arthus.
Sarno et al. (1991) observaram níveis elevados
deTNFa e IL-1 em hansenianos reacionais (50%). Por outro
Mshana et. al. (1982a), utilizando Ac monoclonais, lado, Foss et al. (1993) relataram aumento da produção de
investigaram a relação CD4+/CD8+ de T circulantes em TNFa , associado com elevação dos níveis de PCR. Para as
pacientes HV com e sem ENH. Nesse estudo, pacientes sem autoras, a citocina inflamatória TNFa poderia atuar
ENH apresentaram aumento de LT CD8+ e ligeira estimulando a reação inflamatória aguda.
diminuição na porcentagem de T CD4+. Por outro lado,
alguns pacientes reacionais apresentaram diminuição
significativa de LT CD8+ e aumento de CD4+. Sampaio et al. (1991) verificaram níveis séricos
elevados de TNFa e sugeriram que durante a reação
inflamatória há ativação macrofágica e que a supressão da
Mshana (1982b), insistindo nesse tópico, enfocou
resposta observada fora do surto reacional não estaria
que os fatores conhecidos por precipitar o ENH são muitos
associada à incapacidade do macrófago em processar o
e variáveis. Citou, particularmente, a quimioterapia,
bacilo e liberarTNFa . Segundo os autores, o tratamento
sugerindo que o aumento da incidência da reação em
dos pacientes com talidomida inibiria a produção dessa
pacientes tratados não seria devido somente à liberação de
citocina.
Ag, mas poderia estar relacionado a distúrbios nas
subpopulações de LT e à capacidade individual do paciente
em manifestar essas alterações. Propôs que a fase de
iniciação do ENH seria devido a este desequilíbrio,
caracterizando-se pela diminuição de ET CD8+.
38
b) Reação Reversa BECHELLI, L.M., RATH DE SOUZA, P., QUAGLIATO,R.
Correlação entre os resultados da leitura clínica e do exame
A reação reversa, classicamente conhecida como histopatológico da reação de Mitsuda Rev. bras. leprol., v.27,
reação tipo 1 (corresponde a reação de hipersensibilidade p.172-82, 1959.
tipo IV de Gell Coombs,1963), é causada por uma
mudança abrupta na resposta celular do hospedeiro frente BRETT, S.J. et al. Serologial activity of characteristic phenolic
glicolipid from Mycobacterium leprae in sera from patients with
ao M, leprae. Pode ser representada por uma reação de
leprosy and tuberculosis. Clinical exp. immunol., v.52, p.271-79,
melhora (upgrading), quando a resposta celular do 1983.
hospedeiro consegue eliminar o bacilo, mas ocorre
freqüentemente grandes danos nos tecidos e nervos. Por CHAN, J. et al. Killing of virulent Mycobacterium tuberculosis by
outro lado, existe a reação de piora (dowgrading), quando o reactive nitrogen intermediates produced by activated murine
bacilo não é morto porque a resposta celular é dirigida macrophages. J. exp. Med., v.175, p.1111-22, 1992.
contra determinantes antigênicos irrelevantes para a
sobrevivência do M. leprae que continua a se multiplicar. CONGRESSO INTERNACIONAL DE LEPROLOGIA, 6, Madrid,
Nesse caso, ocorre o mesmo dano tecidual porque os 1953. Memória... Madrid: Associacion International de la Lepra,
mecanismos imunes envolvidos são os mesmos. 1953. p.1344.
Estudos imunológicos têm demonstrado que a RR é CONVIT, J., PINARD, M.E., ROJAS, EA. Some considerations
regardings the immunology of leprosy. Int. J. Leprosy, v.39,
similar ao padrão TH1, com aumento seletivo de LT CD8+
p.556-64, 1971.
citotóxico, IL-1β, IL-2, IFNy eTNFa e, diminuição de IL-4,
IL-5 e IL-10.
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Conclusões
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IMUNOGENÉTICA
Elaine Valin Camarinha Marcos
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46
CLASSIFICAÇÃO
Diltor Vladimir Araujo Opromolla
Classificar uma doença é uma maneira de A designação "lepromatoso" para os casos do tipo
compreendê-la melhor, e cone isso, procurar uma cutâneo, já era referida em 1934 por Wade , e no
terapêutica que possa controlá-la, ou mesmo erradicá-la. Congresso Internacional de Lepra, realizado no Cairo em
Quanto mais fatos novos forem aparecendo, frutos do seu 1938, aquele termo substituiu definitivamente o "cutâneo"
estudo, mais a classificação se altera e se completa. da Classificação de Manila, e o tipo neural foi subdividido
Desde a antigüidade se conhecem duas formas em neuromacular simples, neuromacular tuberculóide e
fundamentais da hanseníase, uma em que Os fenômenos neuro anestésico.
neurológicos predominam e outra em que ocorrem
deformidades nasais, queda de sobrancelhas, e ulcerações. Alguns autores criticaram essa última classificação
por vários motivos. Um deles era que o termo neural
Em 500 a.C. o Sushruta Samhita, livro médico deveria ser substituído, porque todos os tipos
indiano, já reconhecia essas formas, e é interessante apresentavam comprometimento neural; outro, que deveria
imaginar como foi possível ligar a uma mesma causa haver um lugar para incluir aqueles casos que não eram
manifestações que eram puramente neurais e outras em nem lepromatosos e nem neurais e que já eram designados
que predominavam as alterações cutâneas. Talvez no início como NC ou NI.; e, por último, que os casos
tivessem sido associadas as formas dimorfas avançadas, neuromaculares tuberculoides já estavam bem definidos e
com manifestações cutâneas semelhantes às formas deveriam ser considerados um tipo a parte.
virchovianas e que apresentavam também
comprometimento neurológico, às formas virchovianas sem A Segunda Grande Guerra interrompeu os
esse comprometimento. Depois, provavelmente, essas congressos inter- nacionais durante 10 anos e, em 1948,
formas dimorfas foram comparadas às outras com menor foi realizado o Congresso de Havana, cuja Comissão de
nó- mero de lesões ou mesmo sua ausência, Ias com lesões Classificação adotou uma classificação que é uma variante
neurais semelhantes. da classificação sul-americana. Antes desse congresso,
foram realizadas três conferências pan-americanas sobre
Esse modo de classificar a hanseníase permanecia, hanseníase e, na segunda realizada no Rio de Janeiro em
mesmo em 1848 quando Danielsen e Boeck dividiram a 1946 , o termo lepromatoso foi mantido, o tipo neural foi
doença em uma forma nodular e outra anestésica. Em substituído pelo tipo tuberculóide e foi introduzido um
1895, Hansen e Looft procurando ressaltar que os casos terceiro tipo, o "incaracterístico". Pelo fato dessa
que apresentavam anestesia também poderiam apresentar classificação se basear nos aspectos histopatológicos das
lesões cutâneas, modificaram a classificação anterior e lesões, os casos neuríticos, sem nenhuma manifestação
consideraram duas formas de hanseníase, uma forma cutânea, foram divididos em três tipos de acordo com suas
tuberosa (nodular) e outra máculo-anestésica. Vale características histológicas. Essa classificação ficou
comentar que naquela ocasião o Mycobacterium leprae já conhecida como classificação sul-americana. A 33
havia sido descoberto por Hansen e as formas tuberosas Conferência Pan-Americana sugeriu a substituição do
eram aquelas em que predominava essa micobactéria. Em termo incaracterístico por indeterminado, primeiro porque
1898, Jadassohn reconheceu uma variedade de as lesões desse tipo eram, na verdade, com relação a
hanseníase à qual foi dada uma atenção especial na hanseníase, perfeitamente características, e segundo,
Conferência Internacional de Lepra realizada em porque para uma classificação internacional, segundo
Strasbourg em 1923. Ele denominou essa variedade como Arning, a sigla designando o tipo da doença deveria ter
tuberculoide, apesar de alguns autores considerarem que correspondência em outras línguas, principalmente o in-
esse nome tenha sido cunhado por Darien. glês. Dessa forma a sigla I para designar o indeterminado
ou "indeterminate" inglês, satisfez a maior parte dos
hansenólogos. No Congresso de Havana, o plenário aceitou
Em 1903, Neisser dividiu a doença em três formas, a existência das três formas, mas rejeitou as subdivisões
a lepra tuberosa, lepra cutanae e lepra nervorum, fazendo propostas pela comissão de classificação.
quase o mesmo a Conferência realizada pela Leonard Wood
Memorial, em Manila (Filipinas), em 1931. Nessa
Conferência (considerada uma mesa redonda), onde se
procurou pela primeira vez estabelecer um sistema inter- A primeira reunião de técnicos em hanseníase da
nacional de classificação da hanseníase, esta foi dividida Organização Mundial da Saúde realizada em 1952
em uni tipo cutâneo que correspondia ao nodular da recomendou a inclusão de um grupo "borderline" entre as
Classificação de Hansen e Looft, um tipo neural outras formas aceitas no Congresso de Havana. Isso veio
correspondendo ao oráculo-anestésico da mesma ao encontro a um já antigo desejo de muitos hansenólogos
classificação, e um tipo misto. que queriam um lugar na classificação para aqueles casos
de classificação difícil. Essa recomendação foi aceita pelo
Congresso Internacional de Madri em 1953. Nesse
Os casos tuberculoides começaram a ser incluidos congresso, a hanseníase foi dividida em dois grupos
na classificação logo depois . Wade no início, considerava o instáveis o Indeterminado (I) e o "Borderline"(B), e dois
termo tuberculoide se referindo mais a um quadro tipos estáveis e mutuamente incompatíveis, o Tuberculóide
histopatológico do que a um clínico, que era descritivo e não (T) e o Lepromatoso (L), com as seguintes variedades:
diagnóstico, e que não era característico da hanseníase., Grupo I, macular (Im), neurítico puro (In); Grupo B,
pois outras condições poderiam apresentar estrutura se- infiltrado e outros (?); Tipo 'I', macular, tuberculóide minor
melhante. Apesar disso, foi ele 'que estudando esses casos (micropapuloide) (Tt), tuberculóide major ( placas, lesões
tuberculoides em 1934, considerou que uma variedade anulares, etc) (TT) e neurítico puro (Tn); Tipo (L), macular,
deles podia ser reconhecida clinicamente, contudo achava difuso, infiltrado, nodular e neurítico puro.
que deveriam permanecer dentro do tipo neural.
47
Foram feitas duas críticas principais a essa Até essa data, já tinha se firmado um conceito de
classificação pelos autores indianos, a primeira quanto ao que havia casos que não eram tuberculóides, mas eram
não reconhecimento de uma forma máculo-anestésica e a muito semelhantes aos tuberculoide, outros que eram
segunda, o fato do neuritico puro ser . considerado uma bastante semelhantes aos virchovianos mas deles diferiam
variedade e não urna forma clínica individualizada. Esses .por algumas nuances, e casos intermediários entre os
hansenólogos justificavam suas críticas dizendo que o dois tipos. Rabelo e Latapi, por exemplo, na década de 50,
Congresso de Madri aceitara as recomendações da referiam-se a casos perituberculóides e perilepromatosos.
Comissão de ' experts" da Organização Mundial de Saúde,
mas não as seguiu inteiramente. Essa Comissão havia se Ridley e Jopling propuseram uma classificação
expressado da seguinte maneira: "A Comissão concorda com subdivisões basearias em critérios imunológicos e
unanimemente que o critério básico de classificação histológicos. Assim, eles consideraram as formas clínicas
primária deveria ser clínico, compreendendo a morfologia como urn espectro em que os extremos eram constituídos
das lesões cutâneas e manifestações neurológicas. pelos tipos polares tuberculóide e virchoviano e a região
Indispensável em conexão com o critério clínico é o exame correspondente aos dimorfos ("borderline") foi subdividida
bacteriológico do esfregaço das lesões cutâneas e da para incluir aqueles casos junto ao extremo tuberculóide,
mucosa nasal". mas não tuberculóides, intermediários, e aqueles muito
próximos aos virchovianos, mas que diferiam destes por
Era verdade que não era difícil aceitar essa critérios imunológicos e histológicos. Os autores
recomendação para os casos indeterminados, utilizaram siglas para designar os casos de maneira mais
tuberculóides, dimorfos e lepromatosos porque havia uma ou menos semelhante a que foi feita para rotular as
correspondência nítida entre os seus aspectos clínicos e formas clínicas e suas variedades na Classificação de
histopatológicos, mas como fazer com os casos neuríticos Madri. Assim, o tuberculóide ficou corro) ~IT, os
puros? Apesar da dificuldade na obtenção de material de virchovianos (lepromatosos ) coiro LL e os
biópsias de nervos, havia trabalhos que mostravam dimorfos("borderlines") foram designados como BT, BB, e
infiltrados tuberculóides, lepromatosos e inespecíficos em BL. Mas, logo se viu que era difícil se conseguir rotular
casos com comprometimento de Irei= vo e sem lesões todos os casos e foi necessário utilizar' uma combinação
cutãneas e daí a inclusão desses casos como variedade de de símbolos para tentar fazê-lo. Ridley e Waters , em
cada tipo e grupo. A crítica com relação aos maculo- 1969, criaram uma nova variedade que foi o leproma
anestésicos também não procedia, pois os casos com indefinido com a sigla LI, e que correspondia ao que
máculas anestésicas ou eram casos indeterminados ou outros autores denominavam de lepromatosos atípicos.
eram aqueles casos já descritos por Souza Lima e Souza Mais tarde, para incluir aqueles casos que correspondiam
Campos como léprides tuberculoides atípicas ou seja aos tuberculoides de baixa resistência que, no Brasil, são
lesões planas acrômicas ou eritêmato-hipocrômicas com rotulados como tuberculóides reacionais, Jopling em 1971
estrutura tissular tuberculoide que faziam parte do tipo criou a variedade tuberculoide indefinido coin a sigla TI.
tuberculoide. Nesse mesmo ano, Ridley, revisando a classificação,
enfatizou a necessidade de levar em consideração a
presença e o grau dos seguintes elementos para a
Depois disso, surgiram outras classificações, mas localização dos casos no espectro: teste de Mitsuda,
que não foram consideradas por uma Comissão estabilidade imunológica, reações dimorfos, eritema
Internacional de Classificação. nodoso hansênico, bacilos no muco nasal, bacilos no
granuloma, células epitelióides, células gigantes tipo
Uma delas foi a da Associação Indiana de Langhans, células gigantes de Touton, globias, células
Leprologistas (Indian Association of Leprologists )que espumosas, linfócitos, erosão da epidemic, infiltração da
dividiu a hanseníase em seis formas:1-Lepromatosa; 2- zona subepidérmica, e destruição de nervos. Finalmente a
Tuberculoide; 3- Máculo-anestésica; 4- "Borderline"; 5- forma lepromatosa foi dividida em lepromatosa subpolar
Polineurítica; e 6- Indeterminada. (Lis) substituindo a LI, e polar (LLp). Na Classificação de
Ridley não foram contempladas as formas indeterminada,
reacionais e as formas neuríticas puras.
Para ser usada em grande escala pelos médicos e
paramédicos no campo, as seis formas foram divididas em
três grandes grupos: 1- Não lepromatoso (Tuberculóide,
Máculo-anestésico e Polineurítico ); Intermediário Em 1978, no Congresso Internacional de Lepra
("Borderline" e Indeterminado ); e Lepromatoso. realizado no México, Opromolla e Fleury propuseram uma
classificação da hanseníase, a qual seria constituida
essencialmente por vários tipos sem ligações evolutivas
Em 1981, foi feita uma revisão da classificação
indiana e a Associação Indiana de Leprologistas resolveu entre si e um grupo indeterminado. Até então, havia um
aceitar a remoção do tipo maculo-anestésico e sua consenso de que haveria unia transformação gradual de
inclusão como uma variedade do tipo tuberculóide. alguns casos tuberculóides reacionais e dimorfos não
tratados para o tipo virchoviano e, por outro lado, poderia
haver uma melhora dos casos virchovianos coin o
Nessa ocasião já estava vigorando uma tratamento, alguns deles, por sua vez, através de surtos
classificação com o intuito de auxiliar os investigadores reacionais teriam uma tendência a evoluir para o polo
nas suas pesquisas, elaborada por Ridley e Jopling. Esses tuberculóide. Ridley e Jopling, mesmo quando descrevem
autores, em 1962, fizeram uma primeira apresentação as reações tipo 1, a subdividem em uma reação de piora
dessa classificação e publicaram a versão definitiva em (down grading) e uma de melhora (upgrading), de acordo
1966 que acabou sofrendo algumas modificações mais com a tendência evolutiva do caso para o polo virchoviano
tarde. ou para o polo tuberculóide, respectivamente. É referida,
inclusive, uma instabilidade maior dos dimorfos
48
na tendência a mudança de forma. cação em 6 tipos como aquela da Associação Indiana de
Leprologistas, mas incluíram a forma maculo-anestésica
em um tipo dimorfo tuberculóide (BT) e reconheceram
Da nova classificação proposta, consta um grupo como um tipo independente aqueles casos com lesões
de casos que seriam os indeterminados da Classificação de neuríticas primárias.
Madri, sem a variedade neurítica pura. Estes seriam as
matrizes de todos os outros casos determinados A Organização Mundial de Saúde, em 1982,
imunologicamente incluídos nos tipos tuberculóide, simplificou de vez a classificação da hanseníase com a
dimorfo e virchoviano (lepromatoso), os quais, por sua vez, introdução da poliquimioterapia. Os casos de hanseníase
teriam sua evolução determinada por características foram, então, divididos em paucibacilares, que
imunológicas imutáveis. Assim, um paciente conservaria o englobariam os tuberculóides, os indeterminados, e os BT
seu grau de imunidade celular mesmo que as suas lesões, da Classificação de Ridley e Jopling, e os multibacilares,
clinicamente, assumissem aspectos virchovianos, devido a que compreenderiam os dimorfos em geral e os
sua incapacidade de impedir o aumento da multiplicação virchovianos. No início eram considerados paucibacilares
de bacilos. indivíduos que apresentam um índice menor ou igual 2+,
na escala de Ridley, depois, em 1988, isso mudou e foram
considerados paucibacilares somente aqueles casos com
baciloscopia negativa.
50
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E REAÇÕES
Diltor Vladimir Araújo Opramolla
51
Essas lesões apresentam uma cor castanha ou evidenciar alterações da sensibilidade ao nível das lesões.
castanho — violácea e, quando ela é eritêmato- Do ponto de vista imunológico, a reação de Mitsuda é
pardacenta, com predomínio do tom eritematoso, positiva e o substrato histopatológico também é constituído
provavelmente as lesões estão sofrendo uma reação tipo por granulomas epitelióides. Essas lesões nodulares são
1. Quando existe uma área central plana, ela quase observadas em crianças filhas de pais com hanseníase
sempre é hipocrômica, mas às vezes parece normal. virchoviana e são consideradas raras, talvez pelo fato de
não se examinar com frequência, crianças nessa faixa
As placas tuberculóides podem apresentar formas etária. A criança fica como se tivesse sido vacinada contra
variáveis. Na maioria das vezes, são circulares ou a hanseníase, porque após sua regressão espontânea, não
anulares, Irias podem apresentar um aspecto irregular, exibem nunca mais sinais da moléstia.
dito geográfico. Esta última forma se deve provavelmente
ao crescimento irregular do bordo. Quando há um
número maior de lesões, elas podem confluir formando Hanseníase virchoviana
lesões circinadas. As placas são de tamanhos diversos e
podem ter a dimensão de uma cabeça de alfinete como Alguns autores admitem que as lesões do tipo
acontece na hanseníase nodular da infância, ou serem virchoviano possam se manifestar ab-initio, sendo suas
numulares, ou apresentarem 4 ou mais centímetros de primeiras manifestações uni surto de eritema nodoso ou
diâmetro. Há, se bens que raramente, lesões extensas unia infiltração difusa como o que corre na hanseníase de
que comprometem parte do tronco ou de segmentos de Lúcio.
membros.
53
iniciam já com infiltração difusa sem passar pela forma terística das lesões DT as lesões satélites que aparecem
indeterminada (forma primária) e casos que se iniciam junto a algumas placas. Elas provavelmente são o
passando por essa forma (forma secundária). Nessa resultado de reações tipo 1, por meio das quais as lesões
variedade, há um comprometimento visceral muito DT aumentam em número e tamanho. Alguns autores,
importante, uma grande quantidade de bacilos é de- como já foi dito, acham que os tuberculóides dificilmente
tectada em suas lesões, e uma característica marcante comprometem troncos nervosos e acham que só os DT o
desses casos é o aparecimento de um tipo especial de fazem, e vários nervos poderiam ser lesados e de maneira
reação aguda antes do início de qualquer tratamento, assimétrica. Os abscessos de nervo e as lesões "em
denominado de fenômeno de Lúcio. A hanseníase de raquete" seriam característica desse grupo de casos.
Lúcio, Com essas manifestações reacionais, é também
designada como "hanseníase manchada de Lúcio". Nos DT, os bacilos podem ser detectados, às vezes,
(O quadro histopatológico dessas variedades será nos esfregaços de rotina, mas em pequeno número, e a
discutido no capítulo sobre Patologia). reação de Mitsuda é positiva, mas é menos intensa cio que
nos tuberculóides. Na histopatologia predominam os
Hanseníase dimorfa granulomas tuberculóides (ver capítulo sobre Patologia).
Muito antes da Classificação de Havana, em Os DD são casos que apresentam placas cheias,
1948, na qual somente eram considerados um grupo anulares ou contornos irregulares, com limites pouco
indeterminado e dois tipos polares, tuberculóide e precisos. Têm tonalidade ferruginosa quando não estão em
virchoviano já se admitia a existência de casos que não reação e aquelas que têm um bordo ferruginoso o centro é
podiam ser classificados nem como tuberculóides nem plano, liso e hipocrômico, nunca cicatricial. Lesões
como virchovianos. Tanto isso é verdade que se propôs a características (lesse grupo são aquelas com a área central
criação de um grupo perituberculóide, no qual se circular, hipocrômica, plana, bem delimitada, e com a
enquadrariam aqueles casos parecidos com os periferia infiltrada formando um bordo espesso que se
tuberculóides e um grupo perivirchoviano com carac- difunde gradativamente para a pele aparentemente sã
terísticas semelhantes aos virchovianos. Ainda mesmo circunvizinha. Essas lesões "foveolares", "esburacadas"
assim, restariam alguns casos intermediários que não também são conhecidas como lesões em "queijo suiço" (Fig.
poderiam ser colocados nesses grupos. 9).
No Congresso de Madri, o grupo dimorfo ganhou Tem-se a impressão que essas lesões seriam lesões
foro de cidadania, mas correspondia àqueles casos que iniciais indeterminadas que passaram para a forma
não podiam ser colocados em nenhum dos tipos polares e dimorfa DD como lesões pré-DD (clinicamente
nem nos seus respectivos grupos satélites. indeterminada e com infiltrado dérmico incipiente DD ) e
que, uma vez transformadas, começam a aumentar de
Ridley e Jopling, propondo sua classificação com tamanho. Quando essas lesões, e as anulares, confluem,
o intuito de auxiliar os pesquisadores, ampliaram o grupo dão um aspecto reticulado ao tegumento que concorrem
dimorfo (D) ou ''borderline"(B), incluindo nele os grupos para dar o caráter bizarro que caracterizam essa forma
peripolares. Denominaram 131, (ou DT) e BL (ou DL ou clínica Os nervos são com- prometidos de maneira extensa
DV) esses grupos e BB (ou DD) aquele mais no meio do e intensa principalmente quando esses casos sofrem uma
espectro que corresponderia, em tese, ao dimorfo da reação tipo 1. A baciloscopia nesse grupo é sempre
Classificação de Madri. positiva, a estrutura histológica ainda esboça alguns
aspectos tuberculóides ( ver capítulo correspondente) e a
reação de Mitsuda é negativa. Pfaltzgraff e Bryceson acham
Tanto na Classificação de Madri como na de que os DD são raros, assim como suas lesões foveolares
Ridley e Jopling se admite a instabilidade dos dimorfos, e características, mas não é isso que acontece em nosso
isso seria devido às reações tipo 1 a que esses casos meio.
estão sujeitos. Haveria, então, a possibilidade de um caso
WI' se tornar um BL e vice-versa. Somos de opinião que
isso, todavia, não acontece e que cada caso tem uma Os DV englobam todos aqueles casos muito
característica própria e pode piorar ou melhorar sem semelhantes aos virchovianos, mas que possuem
mudar de forma clínica. aspectos que não se enquadram com os desses últimos.
Assim, as lesões são numerosas, com tendência à
simetria, a pele em torno delas também está infiltrada, e
tem um tom ferruginoso que em algumas lesões se
Seja como for, e adotando a nomenclatura dada por
acentua devido a uma maior infiltração adquirindo uma
Ridley e Jopling, os DT seriam aqueles casos semelhantes
tonalidade mais acastanhada. Às vezes são pápulas,
aos tuberculóides. Neles as lesões são maiores, em maior
tubérculos e nódulos como verdadeiros hansenomas, e
número e, às vezes, podem apresentar algumas das placas
se nota aqui ou ali lesões com aspecto anilar ou
com limites pouco nítidos em toda a lesão ou em parte
dela. Alguns autores consideram como uma carac -
54
figurado. Há casos em que a maioria das lesões é cula com distúrbios de sensibilidade, e subitamente
constituída por placas de mais ou menos o mesmo aparecem várias lesões agudas distribuídas pelos vários
tamanho, assumindo um aspecto monomorfo. Os pacientes segmentos corpóreos. Depois de um certo tempo, essas
virchovianos, nos quais se nota alguma lesão com aspecto lesões vão se tornando quiescentes, mas podem se
dimorfo, são considerados pelos autores anglosaxões como exacerbar novamente com aparecimento de novas lesões
virchovianos sub-polares. caracterizando um novo surto reacional. Em casos com
muitas lesões, elas têm localizações características na face,
Parece que os DV sofrem menos reações tipo 1 e há em torno dos olhos, nariz e boca, e Iras palmas das mãos e
aqueles que apresentam eritema nodoso. Alguns têm planta dos pés. Esses casos são denominados também
poucas lesões neurológicas como os virchovianos e outros tuberculóides reacionais ou dimorfos reacionais,
em que elas são múltiplas e com tendência a simetria. Já dependendo de suas condições imunológicas e constituem,
há envolvimento visceral nesses pacientes. Em todos esses juntamente com as neurites, se ocorrerem, as únicas
casos a baciloscopia é intensamente positiva e a reação de manifestações da doença.
Mitsuda é negativa. Os DV podem ser distinguidos dos
virchovianos histopatologicamente, mas sua classificação Clinicamente as lesões reacionais se apresentam
não é fácil (ver capítulo sobre Patologia). como pápulas, nódulos ou placas eritematosas, em geral
de superfície abaulada, lisa, e com limites nítidos nos
Resumindo, procuramos descrever as lesões de casos tuberculóides (Fig. 10) e mais ou menos precisos nos
evolução crônica das diversas formas clínicas, separando- dimorfos (Fig. 11). Em um certo número de casos, mais
as daquelas reacionais, com o intuito de apresentar essas freqüentemente lios tuberculóides reacionais, as lesões
manifestações da hanseníase de uma maneira mais podem ulcerar. As ulcerações se iniciam com uma área
didática. Contudo, elas estão intimamente ligadas, e equimótica e se instalam na periferia da lesão formando
quanto as reações tipo 1, apesar da maioria dos autores um anel ulcerado, ou comprometendo toda a superfície. O
considerar que há dois sub-tipos das mesmas, um número de lesões que ulcera varia: podem ser uma ou
representando piora das lesões e outros, uma melhora das duas, várias, ou menos frequentemente todas elas.
mesmas, nós somos de parecer contrário. As reações tipo 1
seriam uma coisa só, isto é, uma reação de Um surto reacional tem uma duração de 4 a 6
hipersensibilidade em resposta a uma multiplicação e meses, com ou sem tratamento, se considerarmos desde o
posterior destruição do bacilo pelo próprio organismo ou seu início, período de estado e desaparecimento das lesões.
pela terapêutica. No início do surto, as lesões são eritematosas e
edematosas, depois a lesão passa a apresentar uma
tonalidade mais eritêmato-acastanhada e se torna
aparentemente mais infiltrada e consistente, depois
II - Reações lentamente se aplaina e se transforma em uma macula
acastanhada. Esta passa a apresentar um halo
Denominam-se reações os fenômenos agudos que hipocrômico que vai se estendendo progressivamente,
ocorrem durante a evolução da hanseníase, e elas podem tornando-a, agora, uma mácula hipocrômica que pode ou
ocorrer em todas as formas clínicas com exceção do grupo não apresentar graus variáveis de atrofia e que pode se
indeterminado. repigmentar ou não.
As reações podem ser mediadas por células ou por Em essência, as reações hansênicas tuberculóides
anticorpos. Aquelas que surgem nas formas tuberculóide e e dimorfas são iguais aos tuberculóides reacionais e
dimorfa e que dependem da imunidade celular são dimorfos reacionais. Todas elas se caracterizam pela
chamadas de reações tipo 1, e aquelas que ocorrem na exacerbação de uma lesão inicial e pelo aparecimento de
forma virchoviana e que são dependentes da imunidade novas. Provavelmente nos casos tuberculóides reacionais e
humoral são as reações tipo 2 ou eritema nodoso dimorfos reacionais, as lesões iniciais que se agudizam,
hansênico. que têm aparência de lesão indeterminada, são lesões que
histopatologicamente já apresentam um infiltrado
tuberculóide ou dimorfo. Souza Lima e Souza Campos já
chamavam atenção para esse tipo de lesão nos
Reações tipo 1
tuberculóides que eles denominaram lesões tuberculóides
atípicas.
Essas reações se caracterizam clinicamente pela
exacerbação das lesões pré-existentes e o aparecimento de
novas. As lesões que estão evoluindo cronicamente, uma Os tuberculóides reacionais e os dimorfos
ou mais, tornam-se mais eritematosas, mais edematosas e reacionais diferem entre si por algumas características. Do
surgem outras lesões com características agudas em ponto de vista clínico, nos tuberculóides, o estado geral
número maior ou menor. Estas reações também são está conservado, as lesões são bem delimitadas e o
chamadas de reações hansênicas tuberculóides ou comprometimento dos nervos periféricos podem não
dimorfas dependendo da forma clínica em que se instalam. ocorrer e, se isso acontecer, são poucos os nervos
Os nervos periféricos também podem participar dessas acometidos. Nos dimorfos, o estado geral pode estar
reações, aumentando de volume e causando dor ( neurite ). comprometido, as lesões às vezes não apresentam limites
muito precisos, são mais edematosas.
Ao regredirem, as úlceras formam uma cicatriz LIMA, L.de S. Estado atual da terapêutica da lepra. São Paulo:
atrófica em geral com pigmentação em torno. Nas formas Ministério da Educação e Saúde, 1953.
generalizadas, as lesões são numerosas e adotam um
aspecto arborescente seguindo os vasos sanguíneos LUCIO, R., ALVARADO, I. Opusculo sobre el Mal de San Lazaro:
superficiais da pele. Esses casos ulcerados se comportam Elefanciasis de los griegos. Mexico: Escuela de Medicina,
como aqueles com eritema nodoso necrotizante, parecendo 1852.
com grandes queimados e suas perdas consideráveis de
líquidos e proteínas. Também não é infrequente, nesses OPROMOLLA, D.V.A. Recidiva ou reação reversa. Hansen. Int.,
pacientes, a infecção com bactérias do gênero v.19, n.1 p.10-16, Jul., 1994.
Pseudomonas.
OPROMOLLA, D.VA. Some comments about a case report by Wade
and Rodrigues in the 30's. Hansen. Int., v.20,11.1, p.38-48,
A hanseníase de Lúcio e o fenômeno Jan. Jun., 1995.
correspondente, foram descritos no México e no início
pareciam restritos àquele país. Depois, foram sendo OPROMOLLA, D.VA., FLEURY, R.N. Classification of leprosy. In:
publicados casos em outras regiões e o fenômeno de Lúcio, LATAPÍ, E et al. Leprosy. Amsterdam: Excerpta Medica,
mesmo, também pode ser visto em formas nodulares de 1980. In: INTERNATIONAL LEPROSY CONGRESS, 11.,
hanseníase virchoviana. Mexico City, November, 13-18, 1978. Proceedings, 1980.
Do ponto de vista histopatológico, na hanseníase OPROMOLLA, D.V.A., URA, S., GHIDELLA, C. Os tuberculóides
de Lúcio há um intenso infiltrado dérmico com histiócitos reacionais. Hansen. Int., v.19, n.2, p.26-33, Dez., 1994.
carregados de bacilos álcool-ácido resistentes e o fenômeno
de Lúcio se caracteriza por um afluxo de
polimorfonucleares neutrófilos na camada papilar onde os TAJIRI, I. The "acute infiltration" reaction of lepromatous leprosy.
vasos, com grande número de bacilos no endotélio, estão Int. J. Leprosy, v.23, n.3, p.316-317, July-September,
1955.
ocluídos por trombos. Essa reação foi atribuída a um
fenômeno de Schwartzman-Sanarelli, mas alguns autores
descreveram depósito de imunoglobulinas na parede dos WADE, H.W. A tuberculoid-like reaction in lepromatous leprosy
vasos, sugerindo que essa reação e o eritema nodoso (Editorials). Int. J. Leprosy, v.23, n.4, p.443-446, October-
December, 1955.
hansênico sejam um mesmo fenômeno. Na ver= dade,
quando os pacientes com essa forma de hanseníase são
tratados, eles não mais apresentam fenômeno de Lúcio,
mas passam a apresentar o ENH.
BIBLIOGRAFIA
CONGRESO INTERNACIONAL DE LA LEPRA, 11, México,
1978. Dermatologia: Rev. mex., v.22, n.1, Abril, 1978.
58
DIAGNÓSTICO DE HANSENÍASE
No caso da histamina, coloca-se uma ou várias Do ponto de vista estritamente cutâneo, esses
gotas de uma solução milesimal dessa substância, na área casos necessitam do diagnóstico diferencial com pitiríase
suspeita e na área sadia e perfura-se a pele rósea, sífilis secundária, sarcoidose, erupções por drogas e
superficialmente através das mesmas. Vai ser observado, linfomas.
dentro de alguns instantes, um pequeno halo eritematoso
em torno da picada, devido à ação da histamina sobre os
vasos; em seguida há formação de uma área eritematosa A biópsia das lesões cutâneas nos casos dimorfos
maior que seria o eritema reflexo devido ao estímulo das revela um quadro histopatológico caracterizado por
terminações nervosas e finalmente há formação de uma esboços de estruturas tuberculóides de permeio a
pápula. No lugar onde existe perturbação da histiócitos com aspecto vacuolizado contendo muitas
sensibilidade, não haverá formação do eritema maior de vezes lipídios. A baciloscopia é sempre positiva e há
origem reflexa. ocasiões que os bacilos são vistos em grande quantidade.
BIBLIOGRAFIA
61
PATOLOGIA E MANIFESTAÇÕES VISCERAIS
José AntonioGarbino
A hanseníase é uma doença complexa com É possível que a baixa antigenicidade do M. leprae
manifestações polimorfas que necessitam ser contribua para esta demora de reconhecimento antigênico
diagnosticadas e interpretadas corretamente para fins de pelo sistema imune do hospedeiro. Assim, em uma
conduta terapêutica. Esta, visa a eliminação do bacilo do primeira fase da doença, enquanto a quantidade de
organismo e a prevenção de danos irreversíveis que a antígenos bacilares no interstício não for suficiente para
reação inflamatória pode provocar no sistema nervoso deflagrar a reação imunocelular própria do indivíduo,
periférico. 0 diagnóstico e a interpretação correta das vamos encontrar, nas áreas cutâneas parasitadas, focos
várias manifestações da hanseníase dependem do de infiltrado inflamatório não granulornatoso,
conhecimento da patogênese e em especial da linfohistiocitário, seletivamente acompanhando e/ou
imunopatologia dessa micobacteriose. penetrando ramos nervosos (Fig. 19). O diagnóstico de
segurança depende da demonstração de bacilos álcool-
ácido resistentes (BAAR), mas estes, em geral, são
O Mycobacterium leprae é uma bactéria raríssimos ou não detectáveis, de modo que, em ordem
metabolicamente muito pobre, de reprodução muito lenta, crescente de valor diagnóstico, a seletividade do infiltrado
pouco antigênica e praticamente atóxica. A mais provável inflamatório para os ramos nervosos, a delaminação
via de eliminação e talvez uma das portas de entrada do inflamatória do perinervo e a infiltração do endonervo por
M. leprae é a mucosa das vias respiratórias altas. A células inflamatórias permitem o diagnóstico. Estas
pobreza metabólica e a reprodução lenta são handicaps características histopatológicas têm como reflexo clínico
negativos do bacilo no sentido de ultrapassar as defesas áreas cutâneas com alterações das sensibilidades térmica,
naturais do organismo como a integridade dos dolorosa e tátil, que podem ocorrer sem concomitante
tegumentos, secreções, IgA de superfície, sistema lesão dermatológica ou acompanharem máculas
mononuclear-fagocítico, etc. Entende-se pois, que só a hipocrômicas ou eritêmato-hipocrômicas.
exposição prolongada e constante a cargas bacilares
elevadas ou deficiências significativas das defesas naturais Hanseníase tuberculóide
permitem que o M. leprae atinja o seu local de preferência
que é o sistema nervoso periférico, ou seja, os ramos
sensitivos cutâneos e segmentos superficiais dos troncos Em uma região endêmica, vamos encontrar, na
nervosos periféricos. população, diferentes graus de resistência imune celular aos
antígenos do M. leprae (reação de Mitsuda ). A maioria dos
indivíduos é resistente, ou seja, quando expostos à carga
Há fortes evidencias de que, no sistema nervoso antigênica suficiente em seus tecidos, desenvolverão reação
periférico, o M. leprae se instale no interior das células de imune celular efetiva, capaz de impedir a proliferação e
Schwann que representariam um local onde poderia disseminação bacilar, e com o tempo eliminar totalmente o
sobreviver e proliferar livre das defesas imunes do antígeno dos tecidos. Como o M. leprae é estritamente
organismo. Quando a proliferação bacilar é suficiente para intracelular, a resistência depende da imunidade mediada
romper estas células hospedeiras, os bacilos podem che- por células, representada pela fagocitose dos bacilos pelos
gar ao interstício enfio ou extraneural em quantidades macrófagos, processamento antigênico intracitoplasmático, e
suficientes para estimularem o início das reações de apresentação dos determinantes antigênicos aos linfócitos
imunidade mediada por células, visto que o bacilo é um timo dependentes. Estes, devidamente estimulados, vão se
parasita estritamente intracelular. diferenciar, proliferar e liberar linfocinas que estimulam o
afluxo e fixação de macrófagos nos focos de proliferação
Esta situação protegida do M. leprae nas células bacilar, e principalmente potencializam a ação destrutiva
de Schwann é importante não só para o entendimento do desses macrófagos sobre os bacilos fagocitados. O substrato
período de incubação prolongado, mas também porque o histopatológico desta reação imune eficiente é o granuloma
sistema nervoso periférico vai representar, durante o de células epitelióides bem diferenciadas penetrado e
desenvolvimento da doença, fonte de oferta de bacilos. Em contornado por linfócitos. Nos cortes de pele, esses
condições adversas, uma porcentagem de bacilos pode granulomas se dispõem acompanhando as ramificações dos
deixar de proliferar, permanecendo quiescentes ( bacilos ramos nervosos cutâneos. Eras geral, esses ramos nervosos
persistentes), evitando o confronto com a reação são penetrados, dissociados ou fragmentados pela reação
imunecelular eficiente ou com os medicamentos. É granulomatosa, e por vezes totalmente destruídos, quando
também possível que, ao voltarem a proliferar, estes não mais é possível identificá-los nos cortes histológicos (Fig.
bacilos desencadeiem reativações da doença. Outros locais 20). Os granulomas, freqüentemente, agridem a epiderme, e
onde os bacilos poderiam se manter protegidos da podem conter gigantócitos de tipo Langhans ou de tipo
reatividade imune seriam os másculos eretores dos corpo extranho. O diagnóstico diferencial com outras
folículos pilosos e a parede muscular dos vasos granulomatoses cutâneas, principalmente com a
sanguíneos. paracoccidioidomicose, sífilis secundária tardia e sarcoidose
se faz pela detecção de BAAR em segmentos de ramos
nervosos (apenas em 35 a 40% dos casos), pela identificação
A fase do parasitismo, restrito às células de
de reação granulomatosa endoneural ou de fragmentos de
Schwann, é, com raríssimas exceções, muito prolongada,
ramos nervosos no interior de granulomas (nesta
sendo medida em anos, 2,9 a 5,3 anos em média para a
identificação é de grande auxilio a imunohistoquímica com a
hanseníase tuberculóide e 9,3 a 11,6 anos para a
utilização da antiproteína S 100). A resistência dos
hanseníase virchoviana
indivíduos que desenvolvem hanseníase tuberculóide faz
63
com que o número de lesões clínicas se resuma a uma ou tecidos, o mesmo ocorrendo com os granulomas
poucas lesões dermatológicas com limites precisos e a um macrofágicos espumosos. Quando esses granulomas
comprometimento também limitado e assimétrico de contiverem apenas bacilos granulosos, o diagnóstico será
troncos nervosos. de hanseníase virchoviana em regressão, e na ausência de
bacilos, de hanseníase virchoviana residual .
Hanseníase virchoviana
Grupo dimorfo
Em contraste com a maioria resistente, uma outra
parcela da população de uma área endêmica apresenta Entre o polo de máxima resistência, tuberculóide,
resistência apenas parcial ou é absolutamente não e o de mínima resistência, virchoviano, temos o grupo
resistente ao M. leprae, Indivíduos, dentro desta última dimorfo. Neste grupo, incluem-se indivíduos que
parcela da população, se expostos à proliferação do bacilo apresentam resistência parcial ao
nos tecidos, vão apresentar uma reação quase que Mycobacterium leprae e desenvolvem manifestações
exclusivamente macrofágica com linfócitos muito clínicas e histopatológicas intermediárias entre os dois
escassos. Os macrófagos fagocitam, mas não conseguem golos. Há um espectro de manifestações no qual
processar de maneira eficiente os bacilos e apresentar conseguirmos definir 3 subgrupos, com características
determinantes antigênicos que possam estimular os clínicas, histopatológicas e baciloscópicas mais ou menos
linfócitos timo dependentes. bem definidas.
Assim, estabelecem-se granulomas puramente Frente à carga bacilar inicial, o sistema imune
macrofágicos, onde os macrófagos são volumosos, e celular consegue montar uma reação que é característica
abarrotados de bacilos. Não há restrição à proliferação e para a localização do indivíduo no espectro de resistência.
disseminação bacilar e as lesões cutâneas são generalizadas, Esta resistência parcial, no entanto, permite que sempre
sob a forma de infiltrações difusas, pápulas ou nódulos. Há uma parcela de bacilos continue a proliferar. A
comprometimento de mucosas de vias respiratórias altas, proliferação intracelular progressiva dos bacilos pode
linfonodos, baço, fígado, supra-renais, medula óssea, acarretar modificações estruturais nos macrófagos e nos
sinovias, epidídimos, testículos e globos oculares. granulomas, bem como na Morfologia, número e extensão
das lesões cutâneo-neurais, como também pode acarretar
Nas lesões desse tipo de hanseníase, os modificações na reação imune celular. Assim, a tendência
granulomas macrofágicos são extensos, constituídos por de muitos pacientes é de não se curarem esponta-
células volumosas, de citoplasma homogêneo ou neamente e mudarem suas características
levemente vacuolar e núcleos vesiculosos. Os macrófagos histopatológicas, baciloscópicas e clínicas, acabando por
são abarrotados de bacilos com grande percentual de tornarem -se muito parecidos aos virchovianos .
bacilos íntegros ou típicos (Figs. 21, 22). Há bacilos em
ramos nervosos, endotélio vascular, parede muscular de
vasos sanguíneos, músculos eretores do pelo e células Hanseníase Dimorfo-Tuberculóide (DT)-Um
epiteliais. A pobreza metabólica do M. leprae e a escassez indivíduo classificado como DT apresenta uma reação
relativa dos nutrientes intracelulares limita a proliferação granulomatosa muito semelhante àquela observada na
e a sobrevivência intracelular dos bacilos, que se tornam hanseníase tuberculóide, porém os ramos nervosos são
inviáveis e se fragmentam. Como o M.leprae é rico em mais preservados e o índice baciloscópico é cerca de 2+,
lipídios, sua destruição vai propiciar o acúmulo de demonstrando uma menor capacidade de clearance
gordura nos fagossomos dos macrófagos, que na sua bacilar Hanseníase Dimorfa-Dimorfa (DD)- é caracterizada
evolução se degeneram com os núcleos tendendo à por granulomas constituídos por células epitelióides com
picnose e ao desaparecimento, e o citoplasma se tornando citoplasma claro, por vezes vesiculoso, em arranjo
multivacuolar (célula de Virchow). Assim, tuberculóide frouxo. Na periferia dos granulomas, há
independentemente do tratamento, a maioria dos bacilos linfócitos e histiócitos não diferenciados também em
já tem morfologia granulosa na ocasião do diagnóstico arranjo frouxo. Os ramos nervosos são bem visíveis e a
(Figs. 23, 24). Os ramos nervosos, apesar de penetrados baciloscopia se situa em tomo de 3 a 4+.
por bacilos e macrófagos, são relativamente bem conser-
vados e facilmente detectáveis. O macrófago ineficiente é Hanseníase Dimorfa-Virchoviana DV- apresenta
mal produtor de enzimas, metabólitos tóxicos do oxigênio, lesões cutâneas cuja estrutura histológica é representada
óxido nítrico, proteases, etc., portanto, não tem poder por conglomerados de macrófagos transformados, não
destrutivo sobre os tecidos. epitelióides, alternando-se com linfócitos dispostos em
pequenos conglomerados ou em faixas extensas sobre os
conglomerados macrofágicos. Freqüentemente, os ramos
Com o tratamento poliquimioterápico eficiente, nervosos apresentam delaminação concêntrica do
a destruição bacilar se acentua e os granulomas perinervo, tendo, no restante, estrutura preservada. A
macrofágicos se tornam todos constituídos por baciloscopia atinge 4 a 5+.
macrófagos Multivacuolados. É muito importante para
fins de avaliação da ação terapêutica a classificação
A célula epitelióide bem diferenciada é o resultado
evolutiva da hanseníase virchoviana, que depende da
do eficiente processamento do antígeno pelo macrófago, de
análise morfológica dos bacilos corados pela técnica de
modo que, partindo do polo tuberculóide em direção ao
Faraco-Fite. Seja qual for o padrão do granuloma
sub-grupo DV, temos uma progressiva indiferenciação
macrofágico, a detecção de bacilos íntegros significa
desta célula e, corno consequência da incapacidade de
atividade da doença. Quando isso ocorre durante o
bloqueio da proliferação e disseminação bacilar, os
tratamento, pode significar quase sempre , resistência
granulomas são mais frouxos e menos delimitados.
medicamentosa, e, após o tratamento, recidiva. O
antígeno bacilar permanece por muitos anos nos
64
Para fins práticos, conduta terapêutica e As reações que ocorrem, primariamente,
prognóstico, o diagnóstico histopatológico preciso tem real indicariam que o sistema imune celular; com algum grau
importância nas seguintes situações: de resistência, foi exposto a grande quantidade de
antígeno micobacteriano. Isto dependeria das condições
1-Hanseníase indeterminada, na qual a terapêutica pode da resistência inespecífica, que permitiria colonização
abortar a doença antes do comprometimento dos troncos mais intensa e generalizada do sistema nervoso periférico
nervosos. no período de incubação da doença. Esses episódios
reacionais freqüentemente se repetem, com, sem ou
2-Hanseníase tuberculóide, pois implica em uma conduta apesar do tratamento, e indicam que esta colonização
terapêutica mais simplificada e menos prolongada (6 intensa do sistema nervoso periférico, permitiu que um
meses ). número maior de bacilos permanecesse persistente, e que
o retorno à multiplicação, destes bacilos persistentes,
seria o estímulo para repetição dos episódios reacionais.
No grupo dimorfo, mais importante do que o
diagnóstico preciso do sub-grupo é a avaliação
baciloscópica, pois, albergando quase sempre uma Para explicar a outra modalidade de reação tipo 1,
considerável quantidade de bacilos, os pacientes desta necessitamos lembrar que a tendência do dimorfo é
forma clínica são considerados multibacilares tanto quanto piorar, adquirindo, se não tratado, características
os virchovianos, e o tempo de tratamento será o mesmo, semelhantes ao polo virchoviano. Isto explica porque nem
isto é, 24 meses. Por isso, é fundamental dominar a técnica sempre é fácil classificar um paciente dentro do grupo
de coloração pelo FaracoFite, e também é muito importante dimorfo. Submetidos a tratamento eficiente, a maioria dos
com ela detectar a presença de bacilos íntegros (típicos) pacientes que evoluíram previamente com piora, vai
pois qualquer que seja o padrão granulomatoso, sua mostrar em pouco tempo fragmentação total dos bacilos, e
presença significa atividade da doença. progressiva, embora lenta, reabsorção dos antígenos e
regressão das lesões. Alguns pacientes, no entanto,
podem apresentar episódios reacionais com padrão
O entendimento da hanseníase se torna dimorfo, durante ou mesmo após o tratamento. A
complicado quando, em sua evolução, surgem os quadros explicação mais viável que encontramos para estes
reacionais tanto de natureza imune celular ( reação tipo 1) episódios é que, na vigência do tratamento, muitos bacilos
como de natureza imune humoral (reação tipo 2). frente a condições adversas, deixam de se multiplicar e
permanecem persistentes em locais protegidos. Ao
Na realidade, a maior parte das manifestações da voltarem a proliferar, estimulam o sistema imune celular
hanseníase têm evolução lenta e progressiva, com a responder com seu padrão básico, reproduzindo reação
escassos sinais inflamatórios nas lesões, o mesmo granulomatosa mais agressiva, freqüentemente em um
ocorrendo com o comprometimento dos troncos nervosos ambiente contendo granulomas regressivos, abarrotados
que também é lento e progressivo, com os granulomas se de antígenos. A reação granulomatosa atual romperia os
instalando progressivamente e permitindo adaptação das granulomas regressivos expondo mais antígenos e,
estruturas endoneurais, e somente a longo prazo conseqüentemente, estimulando reação com componente
aparecendo alterações funcionais. Este comportamento de hipersensibilidade, acentuando fenômenos
teria como causa a baixa antigenicidade do M. leprae e, inflamatórios como edema e eritema das lesões. Nos
por isso, a reação imune celular se desenvolveria sem pacientes basicamente mais resistentes, estas reações
alterações mais agudas e destrutivas. Manifestações podem se intensificar acompanhando-se de deposição de
imune celulares mais intensas e agressivas podem ocorrer fibrina, necrose, ulceração, hiperplasia epitelial, etc.
principalmente na faixa do espectro que inclui o tipo
tuberculóide, e os subgrupos dimorfotuberculóide e
dimorfo-dimorfo, e se desenvolvem basicamente em duas Durante ou após o tratamento com a
situações : poliquimioterapia, como já foi exposto, podem surgir
1-Primariamente, quando ab-initio a doença se manifesta episódios reacionais desta natureza, que na imensa
por episódios reacionais. maioria dos casos regridem sem alterar o curso normal da
2-Secundariamente, quando essas manifestações ocorrem evolução para a cura. Isto é um acontecimento bem com-
durante ou após o tratamento. provado em trabalhos de seguimento de pacientes em
tratamento poliquimioterapia, porém, a causa desta
evolução não é bem conhecida. A experiência vem
Os sinais clínicos da reação são tumefação e
mostrando que não há necessidade de se mudar a
eritema das lesões pré-existentes e/ou aparecimento de
conduta terapêutica, e mesmo quando esses episódios
novas lesões com estas características. Manifestações
reacionais ocorrem após a alta, não se reinicia o
reacionais mais intensas incluem necrose e ulceração das
tratamento. Quando as lesões dermatológicas são
lesões. No exame microscópico, verificamos granulomas
necrotizantes e ulcerativas, ou quando há evidência de
mais extensos, confluentes, mal delimitados; há edema
neurites, é aconselhável se empregar corticoesteróides
intersticial e intracelular e deposição de fibrina. Ao
para diminuir a intensidade da reação inflamatória e
contrário do epitélio não reacional das manifestações
evitar ou restringir danos teciduais, principalmente para o
tórpidas, podemos ter hiperplasia epitelial. As alterações
lado dos troncos nervosos. As reações são a principal
mais graves são as necroses focais ou confluentes, que
causa de danos neurológicos na hanseníase.
levam às ulcerações.
Nessa variedade reacional, do ponto de vista 1. Órgãos ricos em sistema mononuclear fagocítico:
histológico temos um infarto cutâneo. Há necrose de linfonodos, fígado, baço e medula óssea.
coagulação que envolve a epiderme, os granulomas 2. Membranas sinoviais.
virchovianos do derma e do sub-cutâneo, e os anexos. Os
3. Mucosas de vias respiratórias altas:
granulomas necróticos mostram intensa fragmentação
nasal, bucal, faríngea, laríngea, (até cordas vocais).
nuclear, a baciloscopia é rica e os pequenos vasos
dérmicos estão dilatados e intensamente congestos ou
ocluídos por trombos de fibrina. Reações tipo 2
67
Em um trabalho de avaliação da baciloscopia nas nicamente, pode vir acompanhada de sintomas e sinais,
vísceras em relação à baciloscopia cutâneo-neural, as bem como, alterações laboratoriais indicativas de
baciloscopias viscerais predominantes ocorreram no laringe comprometimento visceral. Este comprometimento pode ter
e testículos e, por vezes, superaram índices baciloscópicos intensidade variada e, muitas vezes, limitar-se a uma ou
observados na pele, e/ou linfonodos de drenagem da pele. poucas localizações, e mesmo aparecer isoladamente sem
manifestações cutâneas acompanhantes, da mesma forma
Em 180 autópsias de pacientes virchovianos, em que as neurites, como única manifestação reacional.
todos, encontramos os testículos fibrosados e atróficos. Qualquer que seja a causa desencadeante da reação tipo 2,
Tardo indica que os testículos em sua situação extra- o seu substrato histopatológico é uma inflamação aguda
abdominal, mantendo temperaturas mais baixas e assestada em localizações contendo antígenos bacilares e
adequadas à espermatogênese, representam um local em macrófagos. Esta reação pode ser fugaz e rapidamente dar
que os bacilos se adaptam melhor do que em outras lugar a um infiltrado inflamatório banal, não específico.
vísceras, e isto nós comprovamos em uma avaliação de 60 Pode, no entanto, ser mais intensa com alterações
necrópsias, nas quais as maiores baciloscopias viscerais inflamatórias agudas, dilatação vascular, intensa
ocorreram no laringe e testículos. tumefação endotelial, exsudação com edema, deposição de
fibrina e saída de neutrófilos. Estes, com seu alto poder
enzimático, têm ação destrutiva sobre os tecidos dife-
A intensidade, porém, da destruição dos túbulos rentemente do granuloma macrofágico. Nas reações mais
seminíferos e a esclerose generalizada final é contrastante intensas, há necroses teciduais, abscessos, tromboses dos
com a boa preservação em outras vísceras, e não deve pequenos vasos e vasculites agudas ou sub-agudas em
decorrer apenas da ação dos granulomas macrofágicos. O pequenas artérias e veias. Disto decorre que o ENH pode
primeiro achado que chama atenção é que os bacilos ser grave em qualquer das localizações orgânicas
rompem a barreira entre túbulos seminíferos, circulação previamente afetadas pela hanseníase, e também inclui
sangüínea, interstício, pois são encontrados fagocitados dentre suas manifestações glomerulites focais, mais
por células (macrófagos? células de Sertoli ?) na parede dos raramente difusas, onde se detectam elementos do
túbulos. Em segundo lugar, a universalidade da fibroso e complexo imune o que é uma evidência importante da
atrofia testicular mostra que este processo não depende participação da imunidade humoral nesta reação.
somente de estados reacionais, embora estes sem dúvida
devam precipitá-los. Há referências a peri e endoarterites,
mas também é possível que a quebra da barreira hemo- Uma análise, do ponto de vista clínico e laboratorial
tubular e túbulointersticial, exponha antígenos de 34 doentes que faleceram na vigência de reação tipo 2,
seqüestrados no interior dos túbulos seminíferos e, assim, concluiu por correlação significante entre a gravidade do
some-se, à inflamação específica, mecanismos de agressão comprometimento cutâneo com o visceral. A gravidade do
auto-imunes, que de maneira progressiva destruiriam ENH decorre da intensidade das lesões inflamatórias e/ou
túbulos e a longo prazo levariam a hialinização necrotizantes generalizadas, criando alterações metabólicas
generalizada túbulointersticial com hipospermia, graves; da infecção secundária de lesões cutâneas e sepsis;
azospermia e mesmo alterações dos caracteres sexuais da intensidade do comprometimento em algumas
secundários. localizações (por exemplo o quadro obstrutivo respiratório
por inflamação laríngea) e perturbações da coagulação
Globos oculares: além da lesões secundárias sanguínea. A este propósito, em um trabalho sobre o perfil
decorrentes do comprometimento específico dos V e VII hematológico dos pacientes com ENH, observou-se aumento
pares cranianos, o envolvimento específico da porção consistente e constante do tempo de lise da euglobulina em
anterior do olho acarreta sérios problemas funcionais, casos de ENH com intensidade moderada à grave. Este
devido à opacificação das membranas, e alteração das achado laboratorial reflete urna diminuição na fibrinólise,
delicadas interrelações das estruturas do segmento anteri- talvez ligada ao aumento dos níveis cio fator de necrose
or dos globos oculares, incluindo sinéquias, destruição de tumoral (TNF) e interleucina - 1 nestas reações. Associada à
células musculares, reduções de calibre e paralisia da íris. fibrinólise deficiente temos, nos casos mais intensos de
Evidentemente, as reações tipo 2 agravam muito esta ENH, reação inflamatória aguda generalizada com lesões
situação e, além disso, estas reações estendem-se à câmara generalizadas nos vasos da circulação terminal. Estas
posterior com uveítes, iridociclites, etc. lesões podem ativar a coagulação pelas vias intrínsecas e
extrínsecas, ou seja, exposição do colágeno sub-endotelial
como fator de contacto e secreção da tromboplastina a
partir dos tecidos danificados pela reação inflamatória
Lesões viscerais nos estados reacionais
Quando se analisa a discreta capacidade agressiva Lúcio e Alvarado, em 1852, quando realizaram a
dos granulomas macrofágicos na hanseníase virchoviana, magistral e quase completa descrição da hanseníase difusa e
imagina-se que o comprometimento específico na do eritema necrosante (Fenômeno de Lúcio), referiam
hanseníase se acompanhe de reações inflamatórias não evoluções graves com febre, prostação, insônia, calafrios e
específicas, decorrentes de reações imunológicas em nível transtornos gastrointestinais com diarréias, precedendo a
sub-clínico, que poderiam justificar a fibrogênese portal e morte. Isto sugeria comprometimento sistêmico nesta
as alterações cicatriciais laríngeas e testiculares. variedade de apresentação da hanseníase. Em 4 casos de
eritema necrosante que faleceram em nosso Hospital e foram
Quando a reação de tipo Eritema Nodoso se manifesta cli- submetidos à autópsia, encontramos como causa mortis
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intercorrências como, por exemplo, infarto do miocárdio, 4. Amiloidose secundária
alterações da coagulação sanguínea e infecções por
fungos oportunistas (monilíase cutânea, monilíase de Assim como ocorre em relação ao ENH grave,
amígdalas, faringe, laringe e esôfago, e criptococose felizmente também escasseiam em nosso Instituto, os
generalizada). Não encontramos nenhuma alteração casos de amiloidose secundária generalizada, tão comuns
visceral lembrando o eritema necrosante da pele. Um até 10 ou 15 anos atrás. Acreditamos que há uma
paciente faleceu com coagulação intravascular superposição de perfis entre o hanseniano sujeito a ENH
disseminada e, outro, com tromboses venosas grave e aquele que desenvolve amiloidose secundária.
generalizadas e tromboembolias pulmonares. Nas lesões Aceita- se que a amiloidose secundária esteja relacionada
do eritema necrosante, há extensa agressão do território com a hanseníase de longa duração e em tratamento
vascular terminal e necroses teciduais, e da mesma irregular. Tenta-se ligar a instalação de degeneração
maneira e, talvez com maior intensidade, do que ocorre amilóide com epifenômenos como o ENH, úlceras tróficas
com o ENH, criam-se condições para severas alterações e osteomielite. Há coerência nesta relação, pois a proteína
da coagulação sanguínea. amilóide encontrada na hanseníase, proteína AA, é
quimicamente relacionada com uma proteína reactante de
fase aguda presente no sangue e produzida no fígado (
As descrições de Lúcio e Alvarado, bem como
proteína SAA). A concentração desta proteína eleva-se
nossos achados necroscópicos, sugerem queda severa na
durante quadros inflamatórios agudos. No entanto, grupos
resistência dos indivíduos sujeitos ao fenômeno de Lúcio.
de pacientes com história de ENH, úlceras tróficas e
Não sabemos se isto é uma . característica própria da
osteomielite não apresentam maior incidência de
hanseníase difusa ou secundária à intensidade do
amilóidose secundária do que pacientes com hanseníase
comprometimento no eritema necrosante.
virchoviana que não desen-volveram estas complicações.
Este contraste entre a biologia da proteína precursora da
3. Reações tipo 1 substância amilóide (SAA) e o caráter crônico, tórpido da
hanseníase virchoviana não complicada, reforça a idéia
As reações tipo 1 podem se manifestar sob a que quadros reacionais de caráter sub-clínico
forma de lesões cutâneas agudas generalizadas e acompanhem a evolução da hanseníase multibacilar
comprometimento neurológico. Não há relatos, na elevando os níveis séricos da proteína SAA e facilitando a
literatura, sobre reação tipo 1 e manifestações viscerais. deposição amilóide. Seguramente, há um fator
Em 6 pacientes de nossa casuística, submetidos à constitucional no desenvolvimento da amiloidose
necropsia, a reação tipo l se acompanhou de lesões secundária na hanseníase, pois, em mesmas condições,
viscerais granulomatosas tuberculóides. Todos os apenas uma fração dos pacientes a apresenta, e em países
pacientes se enquadravam no subgrupo virchoviano sub- como a Índia e o México, a amiloidose secundária na
polar, ou seja, apresentavam granulomas macrofágicos hanseníase é uma raridade.
virchovianos em localização cutânea, neural e visceral e,
mesmo estigmas virchovianos, como desabamento da
pirâmide nasal, espessamento da epiglote, fibrose e Um fato interessante na amiloidose secundária na
atrofia testicular, e mostraram, na autópsia, associação hanseníase é que não afeta localizações como sistema
de quadro inflamatório crônico granulomatoso nervoso central e periférico, pele, músculos, pulmões,
tuberculóide relacionado ao Mycobacterium leprae. todas localizações em que os capilares sanguíneos
apresentam firmes junções entre as células endoteliais e a
passagem de nutrientes se faz predominantemente por
Não encontramos nenhuma uniformidade na pinocitose. Isto é muito evidente no SNC e SNP onde há
apresentação destes casos. Assim, em um dos casos, uma barreira hemoneural berra conhecida. Em
havia associação de eritema nodoso e reação tipo 1; em contrapartida, locais onde predominam capilares
outro, um paciente idoso desenvolveu tuberculose fenestrados (rins, intestino, glândulas endócrinas) ou
ganglionar, que se acompanhou de episódio de reação capilares sinusóides (fígado, baço, medula óssea) a
granulomatosa tuberculóide generalizada com deposição amilóide é sempre presente, e muitas vezes
proeminência de vasculites granulomatosas específicas maciça. A produção da proteína amiloidogênica SAA se faz
em pele e gangrena de extremidades; em um terceiro a distância dos depósitos amilóides, esta tem peso
paciente, o episódio de reação granulomatosa molecular de 250.000 e circula como parte de um
tuberculóide generalizada acompanhou o quadro complexo apo-lipoprotéico. Isto sugere relação entre
característico de síndrome da sulfona e observamos tamanho da molécula protéica e o padrão capilar na
também quadros de reação granulomatosa tuberculóide distribuição da deposição amilóide na amiloidose
generalizada em nível visceral sem manifestações sistêmica secundária.
cutâneas reacionais. De qualquer modo, em todos estes
casos a reação granulomatosa tuberculóide era
relacionada ao Mycobacterium leprae em paciente Em termos fisiopatológicos, verifica-se que a
previamente considerado virchoviano; era generalizada e deposição amilóide pode ser muito intensa e extensa, sem
sobretudo grave, pois em 3 pacientes não encontramos afetar, de maneira, clinicamente detectável, a função das
outra doença intercorrente que justificasse a má vísceras comprometidas. 0 maior problema reside nos
evolução. Em 2 destes pacientes, observamos uma rins, onde altera-se o filtro glomerular; levando à
alteração interessante, ou seja, granulomas proteinúria e o bloqueio glomerular progressivo, acarreta
tuberculóides englobando bacilos em localizações atrofia do nefron e insuficiência renal.
habitualmente não comprometidas na hanseníase, por
exemplo, rins, coração e glândulas salivares. A amiloidose secundária pode regredir ? Cremos
que sim e há também referências na literatura. Em
algumas de nossas autóp-
69
sias, encontramos graus leves de comprometimento DRUTZ, D. J. et al. The continuous bacilemia of lepromatous
visceral e a evolução clínica sugeria mais quadro leprosy. New Engl. J.. Med , v.278, p.159-164, 1972.
regressivo do que deposição incipiente. Temos um caso
muito ilustrativo a este respeito em nosso Instituto. Em
1974, a biópsia renal de um paciente mostrou amiloidose FLEURY, R.N., BASTAZINI, I. TONELLO, C.S. Embolia
pulmonar no decurso de reação hansênica. Hansen. Int.,
renal severa. Na época, o paciente já era branqueado.
v.2, n.2, p.178183, 1977.
Doze anos após, uma biópsia de glândula salivar menor
não mais mostrava amiloidose e observou-se melhora das
FLEURY, R.N. Manifestações sistêmicas. In: TALHARI, S.,
funções renais, e o paciente encontrava-se vivo e bem.
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71
OSTEOARTROPATIA
José AntonioGarbino
Na hanseníase, doença eminentemente crônica, tipo eritema nodoso ou polimorfo (artrite reacional), são
todos os fenômenos agudos são denominados reação e o escassos na literatura e sua incidência não está bem
eritema nodoso não é o único tipo que nela ocorre. Assim, estabelecida, porém, é clássico o conhecimento de alta
podemos ter reações que ocorrem em todas as formas freqüência de artromialgias nesse tipo de reação.
clínicas e que se caracterizam por aumento rápido das
lesões cutâneas e aparecimento de novas, com aumento A artrite reacional ocorre como equivalente reacional
do número de bacilos.Durante essas reações, são comuns em quase metade dos casos e, nos demais, há nódulos
artralgias, artrites e periartrites, porém, seu significado e eritematosos subcutâneos de intensidade variável que
fisiopatologia são totalmente diversos da reação hansênica precedem, acompanham ou sucedem o quadro articular.
tipo eritema nodoso ou polimorfo.
O início da artrite em geral agudo, com dor
O Brasil é a nação que possui maior número de intensa, derrame articular, aumento da temperatura local
doentes do continente americano e estatísticas da OMS e rubor pode ser encontrado em aproximadamente 40%
sugerem existir em nosso país aproximadamente 500.000 dos casos. 0 acometimento pode ser poliarticular,
hansenianos , o que confirma tratar- se de uma séria monoarticular ou oligoarticular, sendo os joelhos,
endemia. interfalangeanas proximais, tornozelos, punhos,
cotovelos, metacarpofalangeanas, as articulações mais
A alta freqüência da hanseníase em nosso meio, comprometidas em ordem de freqüência.
associada ao fato de que essa moléstia frequentemente
simula diversas doenças reumáticas, em particular
Não se observam artrite de ombro coxo femural,
doenças difusas do tecido conectivo, obriga os médicos
têmporomandibular ou de coluna, e os quadros mais
brasileiros a conhecê-la.
freqüentes são poliarticulares simétricos e
monoarticulares.
É muito variado o comprometimento do sistema
osteoarticulomuscular da hanseníase e podemos Além da articulação ou articulações que exibem
classificá-los da seguinte maneira: artrite, os doentes referem artralgias em outras
articulações e com certa freqüência rigidez matinal mais
Grupo I — Reação hansênica tipo eritema nodoso ou ou menos de duas horas. O quadro articular acompanha-
polimorfo se de sintomas gerais, e febre, cuja intensidade
correlaciona-se com o número de nódulos eritematosos
1. Artrite reacional e artromialgias
cutâneos. Outras manifestações clínicas como
2. Mão e pé reacional hepatomegalia, adenomegalia, esplenomegalia, neurites
3. Osteite são muito comuns e dor testicular, icterícia e
4. Periostite comprometimento ocular também podeis ser observados.
5. Miosite
De maneira geral, com tratamento adequado, os
Grupo II — Reação hansênica virchoviana pacientes ficam assintomáticos em 7 a 15 dias, porém,
alguns apresentam crises de exacerbação subentrantes
1. Osteite e periostite permanecendo as manifestações articulares por até 3
2. Periartrite e artromialgias meses. Se o tratamento não for correto, o quadro articular
pode não desaparecer por longos períodos, inclusive anos.
Os virchovianos que apresentam artrite têm grande
Grupo III — Reação hansênica predisposição a recidivas, que ocorrem após períodos
dimorfa 1. Artromialgias assintomáticos que são aproximadamente 9 meses em
2.. Osteite e artrite média, e as articulações comprometidas podem ser ou
3. Síndrome ombro-mão não as mesmas do surto inicial. São observados casos
inicialmente monoarticulares que se tornam
Grupo IV — Comprometimento osteoarticular não poliarticulares nos surtos seguintes e vice-versa e há
reacional tendência das lesões cutâneas reacionais se tornarem
1. Osteite mais discretas ou desaparecerem com as recidivas arti-
culares. A artrite reacional nunca deixa seqüelas
2. Artralgias irreversíveis, mesmo quando é de grande duração.
73
Os estudos do líquido sinovial e de histologia de agudas, a mais constante é a exsudação intracavitária
sinóvia são escassos na literatura e se resumem em três que freqüentemente mostra marcado componente
apresentações de um caso isolado e outro cola estudo de neutrofílico e, muitas vezes, encontram-se vácuolos
dois pacientes. Estudos realizados no Hospital Lauro de contornados por neutrófilos fragmentados, que possuem,
Souza Lima (Bauru), em 40 amostras de líquido sinovial, is vezes, baciloscopia positiva em seu interior.
incusive várias delas obtidas de pacientes durante a evolu-
ção de prolongado surto de artrite, bem como em crises Outras alterações podem ser observadas, como
posteriores, verificou-se que o líquido sinovial da artrite hiperplasia de sinoviócitos, aumento da celularidade da
reacional pode ser do grupo I (inflamatório), grupo II subintima, infiltrados inflamatórios mononucleares e
(inflamatório — 2.000-20.000 células) ou grupo III (mento infiltrados virchovianos específicos, além de alterações
inflamatório — mais de 20.000 células) histológicas similares ao eritema nodoso da pele e outras
localizações. Essas últimas se caracterizam por infiltrado
Assim, a cor e o aspecto do líquido podem ser mononuclear perivascular, fenômenos inflamatórios no
amarelo palha e límpido (grupo I), amarelo esverdeado e interior de infiltrados virchovianos, desorganização desse
turvo (grupo II) e amarelo escuro purulento (grupo III). O infiltrado pós-reacional e vasculites alterativas e
número de células varia de quase normal a 100.000 necrosantes. Bacilos são encontrados em mais da metade
células/mm, havendo predomínio de linfócitos quando há dos casos, tanto nos focos de infiltrado específico e entre
poucas células e nítido predomínio de neutrófilos nos as células de revestimento superficial, como no interior do
líquidos que exibem grande celularidade. exsudato intracavitário.
Nota-se que o tipo de fluído sinovial está na Finalmente, deve-se lembrar que o hanseniano
dependência da gravidade do acometimento articulai; pode, evidentemente, sofrer de qualquer tipo de
sendo do grupo II ou III nas formas graves e do grupo I nas reumatismo e não se deve considerar como artrite
leves. Existe também relação com a fase da artrite em que reacional todo quadro articular na hanseníase, antes de
foi realizada a colheita do material, sendo que, no seu afastar a possibilidade de associação de outras moléstias
início ou fim, os líquidos são freqüentemente do grupo I e reumáticas.
no acme da reação geralmente do grupo II ou III.
O tratamento da artrite reacional é feito com
Estudo de mais de 20 biópsias de membrana analgésico antiinflamatórios não hormonais,
sinovial obtidas com agulha de Polley — Bickel, corticosteróides e talidomida e o prognóstico é muito bom,
demonstrou em todos os casos uma sinovite aguda havendo cura sem seqüelas na maioria dos casos.
fibrinosa de intensidade variável, dependendo da gravidade
da artrite. As alterações histológicas mais freqüentes são
de natureza inflamatória aguda, ou seja, aumento de 2. Mão reacional e pé reacional
vascularização, dilatação e congestão vascular, tumefação
endotelial, edema intersticial e exsudato intracavitário. De Denomina-se mão e pé reacional as alterações
acordo com a intensidade dessas alterações, pode-se inflamatórias agudas que podem ocorrer nessas
classificar a sinovite reacional em discreta (mais da metade localizações durante a reação hansênica.
dos casos), moderada ou grave. Das alterações
74
A mão reacional ocorre concomitantemente ou não corresponde microscopicamente a intensa reação
com lesões cutâneas tipo eritema nodoso e se caracteriza inflamatória com predomínio de neutrófilos, presença de
por edema difuso de início súbito, mais intenso no dorso necrose e desorganização das trabéculas ósseas.
da mão ou nos dedos. Pode ser uni ou bilateral e rubor de
intensidade variável pode ser observado em alguns casos. O diagnóstico diferencial deve ser feito com
Em geral, a dor é de grande intensidade ficando toda a mão sarcoidose, tuberculose óssea, granuloma eosinófilo,
muito sensível ao toque com impotência funcional total. O condromatose múltipla, geódes da osteoartrose e artrite
quadro clínico do pé reacional é semelhante. reumatóide bem como as erosões ósseas da gota e
osteomielite inespecífica.
As alterações laboratoriais e outras manifestações
clínicas que podem acompanhar esse quadro são O tratamento é o mesmo descrito para a mão
semelhantes àquelas descritas na artrite reacional. A reacional, lembrando que a imobilização evita fraturas e o
radiologia mostra, na maioria dos casos, somente aumento rompimento dos cistos específicos subcondrais para
de partes moles, mas osteíte, periostite e osteoporose são dentro da articulação.
observadas com certa freqüência.
6. Periostite
A mão reacional, quando tratada precoce e
adequadamente com anti — inflamatórios não hormonais,
Essa patologia pode ocorrer nos ossos da mão e do
corticosteróides, talidomida e imobilização em posição
pé, rádio, ulna, tíbia e fíbula, durante a reação hansênica.
funcional com auxílio de férulas, evolui para cura, sem
A periostite dos ossos do antebraço e perna se acompanha
seqüelas.
clinicamente de vermelhidão, dor e edema, caracterizando
as reações erisipelatóides, que são mais comuns nas
Se a conduta tomada for tardia e inadequada, o pernas em geral bilaterais. Periostite dos ossos das mãos e
processo inflamatório evoluirá para fibrose e as pés ocorre concomitantemente com mão e pé ou osteíte
consequências vão depender das estruturas reacional na maioria dos casos.
comprometidas. Assim, se o acometimento for somente
subcutâneo e dos tecidos periarticulares, podem-se formar Muitos casos evoluem em surtos e o periósteo
verdadeiras placas de fibrose e conseqüentes retrações que adquire aspecto lamelar e calcifica-se a seguir, dando ao
acarretam deformidade em extensão das osso uma forma arredondada com aumento da cortical
metacarpofalangeanas e em flexão das interfalangeanas óssea à custa de crescimento periostal.
proximais com imobilidade articular importante.
0 diagnóstico diferencial clínico deve ser feito com
O mesmo pode ocorrer ao nível dos punhos e as doenças que apresentam quadros erisipelatóides e
artrose secundária a imobilização poderá ocorrer. Se a radiológicos com osteomielite e osteoartropatia pnêumica.
reação ocorre mais profundamente, entre a musculatura
intrínseca da mão com conseqüente fibrose dessa, ocorrerá O tratamento é semelhante ao da osteite reacional,
deslocamento dos mecanismos extensores e flexores mas aqui a resposta à talidomida isoladamente é melhor.
acarretando deformidades idênticas às observadas na
artrite reumatóide, ou seja, dedos em pescoço de cisne,
dedos em casa de botão e devio cubital.
4. Miosite
O diagnóstico diferencial deverá ser feito com
esclerodermia em sua fase inflamatória e síndrome ombro- É provável que o encontro de miosite durante a
mão, e as seqüelas da mão reacional devem ser reação hansênica seja mais freqüente do que se tem
distinguidas das da artrite reumatóide. observado. Segundo autores, os músculos dos membros
são freqüentemente comprometidos, o que explicaria a
3. Osteite alta freqüência de mialgias referidas pelos pacientes em
reação.
A osteite, que pode ocorrer durante a reação
hansênica, compromete principalmente os ossos da mão, O envolvimento da musculatura intrínseca (la mão
dos punhos, dos cotovelos, dos pés e rótula, com posterior fibrose origina deformidades idênticas às da
acompanhando geralmente os quadros de artrite artrite reumatóide e a miosite do quadriceps femoral pode
reacional, e de mão e pé reacional. evoluir com fibrose originando deformidade em flexão dos
joelhos.
A radiologia mostra áreas de lise justa-articulares,
únicas ou múltiplas, lembrando cistos ósseos isolados e
O tratamento é o mesmo descrito para mão
sarcoidose respectivamente, e osteoporose difusa na
reacional. Acredita-se que a fisiopatologia da mão e pé
região comprometida. Quando a matriz óssea não foi
reacional, osteite, periostite, miosite, eritema nodoso e
destruída, há evolução para a cura e a radiologia será
eritema polimorfo seja a mesma descrita para artrite
normal e quando houve destruição, as áreas de lise
reacional e as diferenças clínicas estariam na dependência
persistem, mas circundadas por esclerose.
apenas da localização do infiltrado específico que origina,
por mecanismo imunológico semelhante ao fenômeno de
A anatomia patológica revela macroscopicamente o Arthus, o processo inflamatório. Apoia essa hipótese os
osso comprometido com região amarelada de consistência dados anatomopatológicos,
diminuída que
75
e as observações de que as alterações laboratoriais, e de Grupo IV — Comprometimento osteoarticular
outras manifestações clínicas que acompanham os hansênico não reacional
quadros discutidos, são semelhantes àquelas encontradas
nos casos simples de eritema nodoso hansênico. Além Os doentes virchovianos e dimorfa podem referir
disso, são freqüentes as associações de todos processos artromialgias mesmo sem evidência de algum tipo de
até aqui estudados e a ocorrência dos quadros isolados reação, o que provavelmente é devido às infiltrações das
seria devida aos diferentes estágios de evolução do estruturas periarticulares e musculares. Em radiografias
infiltrado virchoviano nas diferentes localizações. de rotina, às vezes, constatam-se cistos ósseos únicos ou
múltiplos assintomáticos, mas é difícil excluir algum tipo
Grupo II — Reação hansênica virchoviana de reação hansênica anterior e portanto afirmar que as
alterações não sejam sequelas reacionais.
A reação hansênica virchoviana pode ocorrer em
pacientes não tratados, naqueles que fazem tratamento Grupo V — Comprometimento osteoarticular inespecífico
irregular e quando existe má absorção da droga específica
e resistência bacteriana. Em geral, a sintomatologia fica Nesse grupo estão as alterações osteoarticulares
restrita à pele onde se observa aumento das lesões já que afetam quase 60% dos hansenianos de todas as
existentes e aparecimento de novas , sendo as formas clínicas, em alguma ocasião de sua vida.
manifestações gerais discretas. Entretanto, observa-se, Praticamente, o fator comum responsável por essas
com certa freqüência, artromialgias e em alguns casos as alterações é a perda da sensibilidade acarretada por
alterações do sistema osteoarticulomuscular predominam. neurite periférica específica.
Nesses casos pode haver febre e as mãos e os pés
apresentam edema predominantemente periarticular ou
difuso. Pode haver também comprometimento ósseo que Assim, podem-se observar artrites sépticas,
radiologicamente é representado por verdadeira osteomielites, periostite, artrite reumática, articulações de
osteomielite específica. Charcot, reabsorções ósseas e osteoporose. Raramente
esses problemas oferecerão dificuldade diagnóstica.
Cada vez mais, observam-se casos de artrite de ARVELO, J.J. Deformidades de la mano en el enfermo
interfalangeanas e em alguns casos poliartrite de grandes de lepra. Rev.venez. sanid , v.36, p.61-73, 1971.
e pequenas articulações, nas reações dimorfa. Nesses
casos, observa-se granulomas dimorfos nos tecidos BASTAZINI, L Contribuição ao estudo da reação hansênica.
periarticulares e inclusive na membrana sinovial. Botucatu, 1973. Tese (Doutor). Faculdade de Ciências
Médicas e Biológicas.
Têm sido documentados alguns casos de osteite
cística múltipla dimorfa que é semelhante radiológica e
evolutivamente à osteite reacional, porém, o quadro BONOMO, L. et al. Lupoid features in a case of leprosy. Int. J.
histológico é totalmente diverso, pois aqui são Leprosy, v.35, p.65-71, 1967.
encontrados granulomas intra-ósseos com escassos
bacilos. BRAND, P.W. Deformity in leprosy. In: COCHRANE, R.G.,
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pratice. 2.ed.London: John Wright & Sons, 1964. p.447-
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76
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Leprosy, v.28, p.417, 1960. p.209, 1971.
77
NEUROPATIA HANSENÍANA
José AntonioGarbino
Aspectos fisiopatológicos
Fenômenos Inflamatório5
79
neurais. Portanto, se observa corn freqüência nos estudos até o epineuro, isto é todo o nervo V grau.
eletrofisiológicos a desmielinização segmentar E no quadro abaixo comparadas com as lesões
precocemente, rues-mo em pessoas com pouco ou eletrofisiológicas.
nenhum sintoma.
0 dano neural
Aspectos clínicos
80
diferentes tipos de hanseníase. Entretanto, ha
desacordo entre os pesquisadores sobre a seqüência
temporal em ocorre a perda das
distintas modalidades sensitivas.
Como vimos, há um predomínio inicialmente dos
fenôme-nos desmielinizantes, evoluindo rápida ou
lentamente para lesões axonais dependendo da forma
clínica e gravidade das reações. Por-tanto, temos uma
neuropatia crônica com períodos agudos e subagudos e
corn características diferentes quanto à patologia envol-
vida em cada caso e época da doença.
Grafico 1: Freqüência de comprometimento dos nervos O quadro eletrofisiológico, como já nos referimos,
cranianos e espinhais, em 265 pacientes corn as formas é um quadro de mononeuropatia, mononeuropatia
virchoviana, dimorfa, tuherculoide e neural pura, múltipla ou polineuropatia sensitivo e motora de
atendidos na Divisão de Reabilitação-ILSL no período de distribuição distal, com desmielinização segmentar
1981 a 1996. pronunciada e bloqueios de condução.
81
indicada, pois poderá causar maior hipertrofia. Portanto, Palpação de nervo
a questão central é de se identificar estas situações em
que há o benefício cirúrgico e não, se a cirurgia 6. boa ou Os nervos são palpados com os dedos do
ma. Devemos buscar estabelecer os critérios de examinador dispostos perpendicularmente e se
diagnóstico de compressão na NH, o ponto mais delicado, deslizando perpendicular e longitu- dinalmente, pelo
e quando francamente compressivo o quadro, teremos trajeto palpável do nervo, percebendo-se Os sinais
uma indicação cirúrgica precisa. objetivos como a forma, a consistência, o tamanho, a
mobilidade, e ainda observando-se os sinais subjetivos,
As compressões são um momento evolutivo crítico tais como o dolorimento ou dor franca a palpação.
das reações e ocorrem em regiões por onde o nervo
atravessa um canal osteoligamentar, nas articulações do Quanto a forma, encontramos unia ou mais
cotovelo e punho, e no joelho e tornozelo. Estas regiões, nodosidades endurecidas ou císticas, com líquido ou
alem do aspecto anatômico, têm o agravan- te da baixa necrose caseosa nos abscessos de nervo, IT ou DT. Nos
temperatura que favorece o crescimento bacilar nas fases indivíduos com hanseníase VV ou DV nas síndromes
de "parazitização" antes, porém, do tratamento específico. compressivas, encontramos espessamentos fusiformes,
Posterior- mente, com as reações, teremos mais acima e abaixo dos sítios de compressão, e a mobilidade
inflamação, mais edema e mais compressão, e destes nervos esta diminuída no leito do canal, acima e
consequentemente mais hipertrofia do tronco nervoso. abaixo se for possível palpar.
Muito tem sido realizado para melhor Perifericamente, já se observa inibição na lamina V
compreensão destes fenômenos relativos à dor crônica, e, do corno posterior, estimulada pelo próprio sistema
neste capítulo, vamos mostrar um pouco do necessário sensorial, pelas suas fibras discriminativas, portanto a
para se entender as bases do tratamento clínico deste primeira modulação do fenômeno oloroso ocorre nesta
estágio, ou melhor uma complicação da NH. altura, dependendo da proporção dos estímulos
nociceptivos e discriminativos. Em um segundo nível,
A dor, como se apresenta em nosso cotidiano, não temos as vias descendentes do tronco cerebral, vindas das
vem para ficar, por exemplo, logo que imobilizamos uma substâncias cinzentas periaquedutal e periventricular,
região traumatizada ou queimada, o sintoma doloroso inibitórias, e também na lamina V E a dor crônica ocorre
desaparece, e só volta quando esti-mulamos o local, neste por insuficiência deste sistema, felizmente, nem todas as
momento, estão sendo estimuladas as fibras nociceptivas pessoas, que sofrem lesões de nervo com desaferentação
sensíveis às substâncias liberadas pelo processo inflama-tório, sen-sitiva importante, desenvolverão a dor neuropática.
Substância P, prostaglandina, bradicinina, ions potássio e hi- Dentre as causas periféricas de perpetuação da dor temos:
83
1- as transmissões efáticas, ou pseudo-sinapses", que Os trabalhos de Bell-Krotoski e Brackel
ocorrem nas lesões nervosas periféricas, por comprovam a especificidade, sensibilidade e
desmielinização ou degeneração axonal, produzem reproducibilidade deste método.
estímulos ectópicos reverberantes em fibras nociceptivas.
No Brasil, Lehman, Orsini & Nichol descreveram a
história da implantação e desenvolvimento desse Kit de
2- e Os estímulos neurovegetativos, efáticos ou não,
bolso de Monofilamentos, fabricado em Bauru. Finalmente,
atuando nos vasos sangüíneos, podem modificar sua
Marciano & Garbino compararam os testes dos
atividade e as características do interstício agravando a
monofilamentos com estudos eletrofisiológicos nos
sindrome álgica.
membros superiores, mostrando a grande especificidade e
sensibilidade, para a detecção do dano neural, sua
A identificação correta desta situação evita o uso melhora ou piora.
indevido dos corticosteróides e indicações de cirurgias
desnecessárias, levando a adoção de medidas
terapêuticas adequadas com um ganho tecnológico efetivo Teste Motor
no tratamento global das neurites, em qualidade,
economia de recursos, redução de complicações clínicas Utilizamos o teste muscular voluntário (VMT,
consequentes ao uso prolongado de corticóides, e voluntary muscle lest), que é também universalmente
reduções de incapacitação físicas dos nossos clientes. usado no seguimento de déficits motores, graduando de 0
a 5 a força muscular, sendo o 0 paralisias completas e 5
força normal. É também um método fácil de se aplicar no
Monitoração ou seguimento neurológico campo e ambulatorialmente, sendo quantitativo, é muito
importante para se detectar as pioras significativas
A decisão terapêutica, nesta neuropatia complexa, motoras que represente bloqueios de condução ou perdas
multifacetária e muito crônica, alicerça-se na axonais de grande magnitude.
monitoração adequa- da, que vai nos mostrar em qual
direção o caso está caminhando, se para piora,
Estudo de condução nervosa
mantendo-se inalterado ou melhora, conforme a severi-
dade destas possibilidades, a decisão será tomada.
Alem do mapeamento sensitivo e exame motor
referidos acima, realizamos rotineiramente o estudo de
A escolha dos métodos de avaliação é um outro condução nervosa para a monitoração neurológica.
ponto relevante e deve ser realizada com base em critérios de
especificidade, sen- sibilidade, reprodutibilidade, facilidade
de se aplicar e também o cus- to. Como os testes disponíveis Ambos os testes acima têm grande utilidade,
são específicos para funções distintas do sistema nervoso, entretanto, não nos fornecem informações sobre os
temos obrigatoriamente que aplicar vários testes. seguimentos proximais dos nervos, são testes específicos
para órgãos receptores e efetores, situados nos pontos
terminais dos axônios e indiretamente nos dão sinais do
Como é impossível utilizarmos um grande número estado das fibras nervosas, não nos dizem o que está
de testes, pela dificuldade prática, procuramos optar ocorrendo no seu trajeto. Já a eletrofisiologia analisa as
pelos que preencham mais os critérios citados acima. Na fibras longitudinalmente, nos informando qualitativamente
Divisão de Reabilitação do ILSL, são utilizados sobre os fenômenos fisiopatológicos em andamento. É tão
rotineiramente os seguintes métodos: específica para as fibras nervosas, tanto para sensitivas
como motoras, que nos informa se há somente
Teste Sensitivo desmielinização e bloqueios de condução, out mais severa
a degeneração axonal.
Usamos os testes com os Monofilamentos de
Semmes- Weinstein universalmente utilizados em Centros
de Referencia para Hanseníase, e recomendado por Regeneração nervosa na NH
muitos autores. Tem a vantagem de ser um método
quantitativo, é de aplicação fácil e segura, de baixo custo Evidências inferidas dos resultados do tratamento
e, sobretudo, porque a perda da sensibilidade é o clínico
principal fator fisiopatogênico das deficiências físicas.
Com base no tratamento clínico instituído nas
várias formas da NH e sua evolução, as neurites aguda e
Naafs foi o primeiro a usar e a introduzir o uso subaguda, e os períodos de evolução crônica neurite
dos Monofilamentos para o diagnóstico e seguimento da silenciosa e don neuropática, pode- mos inferir sobre as
NH. Depois Brandsman e Pearson. Kaplan & Gelber formas de regeneração neural na hanseníase.
realizaram o primeiro estu- do comparativo com os testes
Eletrofisiológicos mostrando a grande correlação entre os
2 testes. Bell-Krotoski identificou um "Kit" reduzido dos A casuística do ILSL, na Divisão de Reabilitação,
Monofilamentos de Semmes-Weinstein, com cinco tem uma predominância de neuropatia subaguda e
monofilamentos para uso ambulatorial. Em 1993, a crônica, quanto aos casos mais agudos nos referiremos à
SOCIEDADE INTERNACIONAL DE NEUROPATIA literatura, e mostraremos a seguir os resultados de
PERIFÉRICA adotou os monofilamentos como pacientes com neuropatia de início em torno de 3 meses.
instrumento útil para o uso no diagnóstico.
84
Como reporta Brackel, nas neuropatias agudas,
em regime de corticoterapia semelhante ao utilizado na RECENTE —> REDUÇÃO DO EDEMA REDUZ O BLOQUEIO DE
Divisão de Reabilitação, e com Os mesmos métodos de
CONDUÇÃO
avaliação sensitiva e exame motor, en- controu melhora
sensitiva e motora, considerada boa por ele, na proporção SUBAGUDA —> RESOLVE COMPRESSÃO —> REMIELINIZAÇÃO
em torno de 50%, nos primeiros 6 meses, e se incluirmos a TARDIA —> EVOLUÇÃO COM MENOS FIBROSE -->
melhora moderada, esta proporção passa de 60%. 0 maior BROTAMENTO AXONAL
percentual de melhora ocorre ate o 3º mês, entre o 1° e 2º
mês. Nestes casos, o ganho neurológico é precoce e só Quadro 3: A melhora do dano neural conforme evidências
pode ser imputado pela REDUÇÃO DO EDEMA clínicas e eletrofisiológicas observadas neste grupo de
intraneural, e desbloqueio das fibras neuropráxicas. pacientes e na literatura consul- tada.
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Technical
88
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Agradecimento:
89
TRATAMENTO CLÍNICO DA NEUROPATIA HANSENIANA
Neurites Agudas e Subaguda, e dos per íodos crônicos , neurite silenciosa e dor neuropática
Neurite silenciosa: Neste estágio da NH temos o DELLON, A.LEE. Evaluation of sensibility and re-education of
inverso da Dor Neuropática. Se depara com a negatividade sensation in the hand. USA: Williams & Wilkins
dos sintomas, a perda funcional sem a percepção exata Company, 1981.
pelo paciente do quanto e da velocidade que estão
ocorrendo. G tratamento é introduzido em dosagens
moderadas de prednisona, 20 a 30 mg/dia, por período GARBINO J.A. Manejo clínico das diferentes formas de
prolongado, controlado pela monitoração sensitiva e comprometi mento da neuropatia hanseniana. Hansen.
motora, retirando-se a terapêutica após a estabilização do Int., p.9399,1998. Número especial.
caso.
Durante todo o tratamento, deve-se insistir na NAAFS, B, PEARSON, J.M.H., WHEATE, H.M. The prevention
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pela perda sensitiva, que são as mais graves. long term steroid treatment. Int. J. Leprosy, v.47, p.7-
12, 1979.
93
TERAPÊUTICA
Vladimir Araujo Opromolla
As drogas de primeira linha no tratamento da
hanseníase são a dapsona, clofazimina e a rifampicina.
alguns efeitos indesejáveis e entre eles é a coloração que
causa na pele, que adquire um tom cinza azulado e que
1. Dapsona: desaparece somente depois de cerca de 1 ano após sua
suspensão. Pode haver também um ressecamento muito
É a di-amino-difenil-sulfona (DDS). Ela é
grande do tegumento que adquire um aspecto ictiósico. Os
apresentada em comprimidos de 100 mg e, quando
efeitos colaterais mais sérios da clofazimina estão relaci-
administrada por via oral, é quase completamente
onados ao aparelho digestivo. O paciente pode apresentar
absorvida. Uma vez no organismo, ela é acetilada e há
dores abdominais, náuseas e diarréia, principalmente
indivíduos que são geneticamente, rápidos ou lentos
quando está ingerindo doses mais altas do que 100 mg
acetiladores.
por dia, o que acontece quando se procura tratar reações
tipo 2. Esses sintomas podem se acentuar e aparecer
vômitos, perda de peso e mesmo uma obstrução intestinal
É bem distribuída nos tecidos, tem uma vida
parcial ou completa. Isso está relacionado com o depósito
média de cerca de 28 horas e é excretada pelo rim numa
maciço de cristais do medicamento na parede do intestino
forma glicuronada. A DDS é uma droga essencialmente
delgado.
bacteriostática e o seu modo de ação é competir, com o
ácido paraminobenzoico, por uma enzima, a di
hidropteroato sintetase, impedindo a formação de ácido
5. Rifampicina
fólico pela bactéria. Tem sido demonstrada em muitos
países, e de maneira crescente, o aparecimento de É um derivado piperazínico da Rifamicina SV
resistência do Mycobacterium leprae ao medicamento, extraída do Streptomyces mediterranei, apresentado em
tanto inicial como secundária. A dapsona, de maneira cápsulas de 150 e 300 mg. É uma droga que é
geral, é hem tolerada, mas pode ocorrer uni número rapidamente absorvida principalmente quando ingerida
grande de efeitos colaterais tais como queixas em jejum, atinge um pico de 7 ug/ ml em 2 a 4 horas e
gastrointestinais, erupções cutâneas, neuropatias, anemia tem uma vida média de 3 horas. Tem uma boa
hemolítica, metahemoglobinemia, agranulocitose, distribuição nos tecidos e apesar de ser eliminada também
hepatites tóxicas, síndrome nefrótica, a 'síndrome da pela urina, a sua maior parte é eliminada pelo intestino. A
sulfona" e até psicoses. O efeito colateral mais comum é a rifampicina tem um efeito altamente bactericida contra o
anemia hemolítica que em geral é discreta e o número de Mycobacterium leprae e atua inibindo a sua RNA
hemácias tende a atingir os níveis normais no decorrer do polimerase dependente de DNA. Ela era administrada
tratamento. A anemia pode ser muito grave quando o contra a hanseníase, como monoterapia, na dose de 600
indivíduo apresentar deficiência da enzima glicose-6- mg/dia antes de ter sido demonstrada a resistência do
fosfato de desidrogenase. A anemia ocorre precocemente e, bacilo de Hansen à mesma. É uma droga também bem
por isso, é aconselhável repetir os exames hematológicos tolerada e os seus efeitos mais graves ocorrem quando ela
cada 15 dias no início do tratamento e suspender a é administrada de maneira intermitente. Com a admi-
medicação se a hemoglobina atingir 9,0 g/ml e o nistração diária podem ocorrer erupções cutâneas,
hematócrito for inferior a 32-34%. A metahemoglobinemia, hepatite e trombocitopenia e quando administrada uma ou
quando aparece, em geral e discreta e se caracteriza por duas vezes por semana e possível o aparecimento de uma
acrocianose. Esse efeito pode ser eventualmente contro- síndrome semelhante a Ilha gripe,flu syndrome, cola febre,
lado com a administração de vitaminas do complexo B, coriza e dores no corpo, e também insuficiência
juntamente com a DDS. A agranulocitose e rara. A respiratória, choque, anemia hemolítica e insuficiência
"síndrome da sulfona" foi descrita por Lowe na década de renal por necrose tubular aguda. Na hanseníase, em que a
40, mas ela começou a chamar mais a atenção quando a droga e admimstrada mensalmente, pode ocorrer
dapsona passou a ser usada em outras doenças eventualmente a "síndrome gripal" e a insuficiência renal.
dermatológicas que não a hanseníase. Caracteriza-se, essa A rifampicina pode interferir com o efeito de outras drogas
síndrome, por febre, uma eritrodermia que é quando são usadas de maneira concomitante. Assim, ela
acompanhada de aumento generalizado de linfonodos, diminui OS níveis plasmáticos da dapsona,
hepatoesplemegalia com icterícia, e púrpura. corticoesteróides, cumarínicos e também estrógenos, com
redução da atividade de contraceptivos orais. Os derivados
da Rifamicina SV a rifabutina e a rifapentine não têm sido
3. Clofazimina utilizados no tratamento de rotina da hanseníase.
Esquemas alternativos
Um esquema ideal para o tratamento de hanseníase Pacientes MB- Rifampicina, 600 mg uma vez por
seria aquele em que todas as drogas que entram na sua mês, super-visionada e Clofazimina, 300 mg uma vez por
composição fossem bactericidas. Há algum tempo, vêm mês, supervisionada, mais 50 mg/dia ou 100 mg em dias
sendo ensaiadas drogas que apresentam excelente alternados, auto-administrada.
atividade bactericida contra o Mycobacterium leprae. São Para a alta utilizar os mesmos critérios de cura
elas: quando da utilização da PQT/OMS.
Reações moderadas ou intensas: Talidomida A vigilância dos contatos que também tem uma
administrada na dose de 100 a 400 mg/dia. Ela é uma importância profilática fundamental, nem sempre pode
droga teratogênica e não deve ser prescrita a mulheres ser realizada a contento, pelas dificuldades operacionais.
em idade fértil. Quando houver neurite, Ela consiste no exame dermato- neurológico de todos os
comprometimento ósteo-artículo-muscular nas mãos contatos intradomiciliares e sua orientação sobre os
devido ao ENH (mão reacional"), írido-ciclites e vários aspectos da hanseníase. Considera-se contato
eventualmente orqui-epididimites, devem ser intradomiciliar toda e qualquer pessoa que resida ou
administrados os corticoesteróides. Segundo alguns tenha residido nos últimos 5 anos com o doente. 0 teste
autores, a clofazimina teria uma atividade anti- de Mitsuda não tem sido mais realizado em contatos nas
inflamatória e seria útil no tratamento das reações tipo 2 unidades de saúde, devido a impossibilidade de sua
na dose de 200 a 300 mg/dia. De qualquer modo, os confecção ern grandes quantidades e pela dificuldade de
seus efeitos anti-reacionais são muito menos evidentes sua interpretação por profissionais não especialmente
do que com as demais drogas. treinados.
Ainda com relação Is neurites, além da Vacinas com diferentes antígenos, associadas ou
administração dos corticoesteróides, o nervo não ao BCG, vêm sendo ensaiadas sem conclusões
comprometido deverá ser mantido em re- pouso e isso definitivas quanto aos seus resultados na profilaxia da
pode ser feito através do uso eventual de talas gessadas. doença. Apesar disso, admite-se que o BCG isolado confere
Se a corticoterapia não for suficiente para tratar a um certo grau de proteção contra a hanseníase
neurite, o paciente deverá ser submetido a uma principalmente quando ele deixa cicatriz após sua
descompressão neuro-cirúrgica. Quan-do a dor tornar-se administração. Por esse motivo o Ministério da Saúde
crônica e estiverem ocorrendo deficits sensitivos e recomenda a aplicação de duas doses dessa vacina a todos
motores que não estilo sendo controlados pelos os contatos intradomiciliares dos casos novos de
corticoesteroides, está indicada também a hanseníase, independentemente de sua forma clínica. Só
descompressão neuro-cirúrgica e o uso de anti- deverão receber essas duas doses, os contatos que não
depressivos tricíclicos. apresentarem nenhuma cicatriz de BCG. Os contatos que
apresentarem somente uma cicatriz deverão receber apenas
a 2ª dose de BCG-intradérmico, independentemente do
Outros aspectos da terapêutica tempo decorrido desde a aplicação da lª dose.
Somei Ura
Diltor Vladimir Araujo Opromolla
traste com os 10 a 12 milhões de casos estimados na
Visão geral da endemia década de 70. Cerca de 0,89 milhão dos casos estavam
em tratamento, no inicio de 1997, contra 5,4 milhões
de casos em 1985. Contudo, cerca de 560.000 casos
Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) novos ainda são detectados a cada ano no mundo,
esteja anunciando a eliminação da hanseniase como cerca de 2 bilhões de pessoas vivem em países onde a
problema de saúde pública, isto é chegar a uma prevalência é maior do que um doente para cada
prevalência de menos de um paciente para cada 10.000 10.000 habitantes e, aproximadamente, 2 milhões de
habitantes, no inicio do terceiro milênio, a hanseniase doentes tem incapacidades devido a hanseniase.
continua sendo urn sério problema no mundo. De todos os casos estimados no mundo, hoje,
Até a década de 80, os dados coletados ou 92% vivem em 25 países com maior endemia, sendo
disponíveis na literatura sobre a prevalência da que, destes, somente 5 países dos mais endêmicos
hanseníase não representavam a real situação, porque contribuem com 80% dos casos. Ainda ocorre em
nem a procura de casos e nem o relato de casos atingiam números significativos em 55 países ou territórios na
um nível desejado. Em apenas alguns países foram África, Asia e América Latina.
realiza-dos levantamentos por amostragem, para Segundo Noordeen, assim estava a situação em 1997:
verificação da prevalência da hanseniase. A OMS realizou
alguns levantamentos na Africa(norte da Nigéria e no
norte e centro-sul de Camarões), na Ásia(Filipinas; Khon
Kaen na Tailândia, Mysigon e Shwebo em Myamar) e no
Volta superior. Esses levantamentos mostravam que,
mesmo ern países com um programa de procura de casos
satisfatórios, havia regiões onde a prevalência de casos
novos correspondiam a 75% do total de casos registrados.
Nos países onde o programa de detecção de casos era
apenas razoável, ou mesmo deficiente, necessitava-se de
fator de cor-reção a ser aplicado sobre o número de casos
registrados, para se ter uma estimativa dos casos totais;
esse fator poderia ser de 150% e 300% caso o programa
fosse considerado razoável ou deficiente, respectiva-
mente. Nos países onde não havia um programa de busca
ativa de casos, a proporção de casos não detectados
Assim estava a situação em 1998
poderia ser maior ainda.
Em 1976 a estimativa de casos por regiões era:
África 3.500.000
Américas 400.000
Mediterrâneo Oriental 160.000
Europa 25.000
Sudeste Asiático 4.510.000
Pacifico Ocidental 2.000.000
Total 10.595.000
101
casos novos até o ano 2000. Se mantivéssemos a redução Em 1998, assim estava a situação no Brasil:
anual da prevalência em tomo de 20 a 25%, seria possível
estimar que no ano 2.000 estaríamos com uma
prevalência de 2,75 doentes para cada 10.000 habitantes.
Se conseguíssemos atingir essa prevalência, isso será
suficien-te para atingirmos a meta da OMS para o
continente americano. Infeliz-mente, não foi possível
ainda chegar a esses indices, e entramos no ano 2000
com uma taxa de prevalência em torno de 4 doentes para
100 habitantes.
102
A PQT não tem impacto direto nos pacientes que qual a hanseníase se manifesta em uma coletividade
já apresentam incapacidades, mas contribui depende da interação de três fatores que constituem a
substancialmente na sua pre- venção; estima-se que a cadeia epidemiológica e que são: a fonte de infecção,
PQT tenha prevenido a ocorrência de inca- pacidades vias de transmissão e o hóspede susceptível.
físicas em 1 a 2 milhões de doentes. 1- Fonte de infecção
Na Venezuela, em 1976, o número de casos ativos Assim, verificou-se que o bacilo tem um tempo
era de 14.451, o que representava uma prevalência de de multipli- cação de 12 a 13 dias, enorme quando
1,15%, e destes 45,2% eram virchovianos. No Brasil, em comparado ao M. tuberculosis, que é de 20 horas, e à E.
1979, havia em registro ativo 169.802 casos, sendo que coli que é de apenas 20 minutos.
91.987 estavam registrados corno virchovianos e dimorfos
(V+D). Dos 14.375 casos novos detectados nesse ano, Ele permanece viável em meio ambiente por até
6.798 eram virchovianos ou dimorfos. 9 dias, mas, segundo Browne, apesar dos milhões de
bacilos permanecerem viáveis por mais de 3 dias,
Fatores determinantes da infecção hansênica somente 1% deles continua viável até 7 dias.
Sempre se admitiu que a hanseníase fosse uma A descoberta da viabilidade de grande número
doença pouco contagiosa. de bacilos eliminados pela mucosa nasal de pacientes
do tipo virchoviano, sem tratamento, é altamente
As tentativas de inoculação experimental em seres significante. Um fator importante na trans- missão
huma- nos, já no século passado por Danielsen, Profeta e continua da doença e também na falha de identificar a
Mouritz falharam, como também as tentativas de fonte de infecção de casos conhecidos é que casos
inoculação em animais. infectantes assintomáticos podem estar expelindo
bacilos pela mucosa nasal por longos perio- dos, antes
deles serem reconhecidos como casos de hanseníase.
A única inoculação experimental realizada com
êxito foi aquela de Arning, embora sujeitas a críticas. Esse
Apesar de ter sido descrita a infecção natural
pesquisador inoculou o sentenciado Keanu, no Havaí,
em tatus, com bacilos idênticos ao Mycobacterium
com um hansenoma no ante- braço. Esse nativo apareceu
leprae, admite-se que o reser- vatório seja
com lesão virchoviana dois anos após a experiência. Como
exclusivamente o homem, e as fontes de infecção mais -
ele havia tido contato intimo com paciente de hanseniase
importantes, os pacientes virchovianos e dimorfos.
anteriormente, não se pode saber com certeza se foi a
Casos tuberculóides reacionais podem ter um certo
inoculação experimental a causa da doença.
grau de infecciosidade, mas isto ainda necessita ser
comprovado. Contudo, Browne assinala que os acha-
Por outro lado, são poucos descritos casos de dos epidemiológicos sugerem que outros tipos de
indivíduos que adoeceram no cuidado de pacientes de hanseníase qualifi- cados como paucibacilares podem
hanseniase, como é o caso de médicos, enfermeiros, etc. chegar a representar um terço da contagiosidade das
Somente aqueles indivíduos que se aculturaram aos formas multibacilares.
doentes, vivendo em contato intimo e prolongado com eles
é que adquiriam a moléstia.
A experiência ganha com o exame de contatos em
áreas altamente endêmicas. Como Singu, em Myamar,
Hoje, porém, esse conceito mudou. Algumas
mostrou que o risco de contatos de casos virchovianos
investigações imunológicas demonstraram que ocorre
adquirirem a hanseníase é aproxi- madamente 5 vezes
conversão imunológica ra- pidamente em grande
maior que o risco de contatos com domicilio em áreas
proporção de contatos de hanseníase. Isto faz pensar que
onde há doentes de hanseniase, e também 3 vezes maior
a hanseníase é muito mais contagiosa do que se pensava
que contatos familiares de casos tuberculóides.
antes, e o fato de que somente adoece uma pequena parte
da popula- ção exposta, coloca a doença no grupo das A taxa de morbilidade é de 6,23 por mil
enfermidades infecciosas como a tuberculose e a pessoas/ano entre contatos de casos virchovianos, 1,61
poliomielite. Nestas, a taxa de transmissão do agente por mil pessoas/ano, entre con- tatos de casos
infeccioso é significantemente mais alta que a taxa de tuberculóides e 0,6 por mil pessoas/ano em não con-
ataque da enfermidade. tatos. Quer dizer, se for dado valor 1 para o não contato
a taxa de morbilidade será 2 para o contato de casos
Como em toda doença infecciosa, á intensidade e o modo pelo tuberculóides e 8 para o contato de casos virchovianos.
103
2- Transmissão Em outro caso o M. leprae foi encontrado nos
esfregaço e cortes histológicos de uma placenta
2.1 - Vias de eliminação - Segundo o Comitê de localizado no córion das vilosidades, sem lesão
Técnicos em Hanseníase da OMS, tanto os anatomopatológica.
mecanismos precisos de transmissão como a via de
saída e a porta de entrada do bacilo permanecem No entanto, Duncan e colaboradores relatam a
obscuros. No entanto, parece muito provável que a via observação de 113 mulheres portadoras de hanseníase,
principal de eliminação de bacilos sejam as vias aéreas entre as quais, durante a gestação e a lactação, houve a
superiores de pacientes virchovianos e dimorfos. detecção de lesões cutâneas hansênicas em dois bebês,
nascidos de mães virchovianas, aos 9 e 17 meses de
idade. Sugerem que nesses bebês, a via de transmissão
Tanto a secreção nasal, como o escarro e as
pode ter sido transplacentária.
gotículas de saliva eliminadas durante a tosse ou a
fala, podem se constituir em vias de saída do
Mycobacterium leprae. É clássica a experiência de 2.3 - Porta de entrada - O tempo de incubação
Schaffer, em que ele faz um paciente ler um trecho de prolongado e o fato das primeiras manifestações
uma carta sobre laminas espalhadas em uma mesa poderem passar despercebidas, tomam difícil precisar
que depois de fixadas são coradas pelo método de a porta de entrada. As primeiras manifestações da
Ziehl-Neelsen. Muitas das laminas mostraram bacilos hanseníase aparecem na pele, mas isso não permite
em grande quantidade e que foram eliminados junta- concluir que esta seja a via de penetração do bacilo.
mente com as gotículas de Flügge. Alguns fatos, contudo, lembram esta possibilidade,
como o aparecimento das primeiras lesões na face de
crianças africanas que são carregadas pela mãe,
A pele intata não apresenta bacilos, mas os atadas As suas costas desnudas. Na Coréia, onde as
hansenomas ulcerados ou exulcerados podem crianças são carregadas da mesma maneira, a mãe
representar uma outra via de eliminação de bacilos. As esta vestida e as lesões na fronte são raras.
reações tipo Eritema nodoso, ulceradas, também
eliminam bacilos, mas nesta eventulidade os bacilos
são na maioria granulosos, isto é, não viáveis. Há também os casos de inoculações acidentais.
Marchoux, na França em 1934, relata o caso em que
Outras vias de eliminação de bacilos podem ser um assistente seu feriu-se com a agulha ao biopsiar
consideradas, tais como o leite materno, a urina e as um hansenoma e 10 anos depois apareceu uma
fezes, mas essas vias não têm maior importância macula com anestesia térmica no local do ferimento. 0
epidemiológica. outro caso foi relatado por Porrit e Olsen, em 1947, em
que 2 soldados americanos originários de Michigan,
zona não endêmica de hanseníase nos Estados Unidos,
foram tatuados pela mesma pessoa em Melbourne, na
2.2 - Modos de transmissão. - As evidencias Australia, no mesmo dia (junho de 1943). Dois anos e
epidemiológicas apontam para uma transmissão por meio mais tarde, apresentaram na região da tatuagem
contato direto. Há, contudo, também a possibilidade de lesão anestésica com estrutura tuberculóide.
ela se dar através do contágio com bacilos eliminados
com as secreções e exsudatos, e que permanecem
viáveis no ambiente. A epidemia ocorrida no Havai seria outro fato a
considerar. Em 1823, foi registrado o primeiro caso de
hanseníase. Em 1853, houve uma grande epidemia de
A técnica de Shepard demonstrou que os varíola, sendo aplicadas vacinas de brag() a braço sem
bacilos permanecem viáveis no interior de insetos os necessários cuidados de higiene, e Arning atri- bui a
hematófagos e em artrópodes e a transmissão esse fato a disseminação da hanseníase verificada nas
mecânica por meio deles não pode ser descartada Con- ilhas. De 1853 a 1865 foram detectados 686 doentes.
tudo, não existem vetores nos quais se tenha Em 1884, o Conselho Sanitário estimou em 20 por mil
demonstrado a qualidade de hóspede intermediário e, o coeficiente de doentes para todo o território.
por outro lado, a distribuição da hanseníase é diferente
e independente de todos os vetores conhecidos.
Outra porta de entrada pode ser, provavelmente,
as mucosas das vias aéreas superiores. A viabilidade
A via de transmissão direta transplacentária
dos bacilos na mucosa nasal, demonstrada por Shepard
pode ser excluída. Encontram-se bacilos em sangue de
cordão umbilical e na placenta de mãe virchoviana , e as experiências de Rees e McDoulgall que obtiveram
mas os recém- nascidos, separados da mãe desde o 30% de infecção experimental em ratos
nascimento e criados em ambientes sem doentes de imunodeprimidos que aspiravam um aerosol contendo
hanseníase, não adquiriram a doença. Mycobacterium leprae, sugerem também essa
possibilidade. Por outro lado, não há nenhuma
Bechelli e Cerruti, em 1936, fizeram um estudo evidencia que permita considerar a via digestiva como
bacterioscópico e histopatológico de 5 placentas, 7 uma via de penetração do bacilo no organismo.
cordões umbilicais e de materiais provenientes de
autópsia de recém-nascidos e de um feto de quatro 3 - O indivíduo susceptível
meses. Apenas em um caso foram evidenciados bacilos
no cordão umbilical, localizados na geléia de Wharton Da relação que houver entre a resistência do
sem nenhuma reação inflamatória. hospedeiro e o M. leprae, irá ocorrer ou não o
aparecimento da doença É provável que em alguns
casos o bacilo penetre no organismo, mas seja logo
104
eliminado. Em outros, poderia haver multiplicação bacilar, mais recentes, na Ásia, encontraram a mesma diferença na
mas as defesas do indivíduo são suficientes para debelar a detecção de casos; na area rural, no Nepal, a proporção
infecção em nível subclínico. Em outros, ainda, a infecção homens-mulheres era 3:1 (1982) e 1,66: 1 (1994); no
progrediria e, al, de acordo com suas características Butão, essas proporções varia- vam de 1,4:1 a 3,8:1.
imunológicas, o doente irá desenvolver uma das formas Também em vários países da Africa (Senegal, Marrocos e
clinicas da doença. Tunísia) a proporção homens-mulheres variava de 1,5:1 a
2:1. Há exceções, no entanto, pois em alguns países da
Na hanseníase virchoviana, há ausência ou África a porcentagem de detecção de casos novos é igual
inibição da imunidade celular especifica ao Mycobacterium entre homens e mulheres, ou até maior em mulheres. No
leprae e o mecanismo pelo qual isto ocorre ainda Kenya, por exemplo, a proporção homens-mulheres é igual
permanece obscuro. (1:1), enquanto que, em Burkina Faso, a proporção é 1:1,5.
Sabe-se que mais de 90% dos indivíduos adultos Na Uganda e no Malawi, também há uma maior proporção
de qual- quer comunidade é Mitsuda positivo, persistindo em mulheres. No Brasil, dos 39.928 casos detectados em
uma faixa da po- pulação que responde negativamente ao 1996, 55% eram do sexo masculino (20.950), 45%
teste e que, ao se expor adequadamente ao bacilo, (17.3760) eram do sexo feminino. Observou-se maior
adquirirá a hanseniase na sua forma virchoviana. Segundo ocorrência de formas paucibacilares (I e T), no sexo
Browne, a taxa de indivíduos que adoecem com a forma feminino (65%), e multibacilares (D e V) no sexo masculino
virchoviana é de 2%. (56%).
Rotberg admite que existe um fator natural de Considerando-se apenas os casos virchovianos, a
resistência ao Mycobacterium leprae (fator N), que estaria prevalência é constantemente mais elevada no sexo
ausente em certo número de pessoas as quais fariam parte masculino depois da puberdade, em uma proporção que é
da margem anérgica . Essa ausência do fator N teria base frequentemente 2 para 1.
genética.
Também com relação às deformidades, parece haver
Até agora, não foram descobertos marcadores uma frequência menor de deformidades no sexo feminino.
genéticos associados à doença, mas Beiguelman (1967), Um estudo realizado na Índia mostrou que a incidência de
estudando a reação de Mitsuda, concluiu que as reações deformidades é duas vezes maior no sexo masculino que no
negativas são compatíveis com uma transmissão feminino para o grau de incapacidade I, bem como para o
hereditária deste caráter. grau II. Observações realizadas em Burkina Fasso,
Venezuela, Nigéria, Malawi e China relataram os mesmos
Existem também fatores fisiológicos que atuariam achados.
sobre a susceptibilidade à infecção hansênica.
As mulheres parecem ter uma resposta imune mais
A doença, muitas vezes, manifesta-se clinicamente efetiva contra a infecção em nível subclínico pelo M. leprae
nos pe- ríodos em que ocorrem alterações hormonais como: do que os homens. Essa resposta imunológica não é
puberdade, gra- videz, puerpério; depois de prolongados limitada ao M. leprae, mas ocorre também em outras
periodos de privação protéico- calórica, e depois de certas infecções, como a tuberculose.
enfermidades febris. Parece, porém, que estes estados
despertam mais surtos reacionais (Eritema Nodoso
Alem dos fatores biológicos, fatores sociais como
Hansênico por exemplo), que assinalam a presença da
ocupação e status sócio-econômico também influenciam as
infecção que já estava instalada, mas manifestando-se
diferenças de prevalência na mulher.
insidiosamente sem que o doente se apercebesse (áreas
hipoestesicas tésicas por exemplo). Se esses estados
Com relação à ocupação, em muitos países as
tornariam ou não o indivíduo mais susceptível a infecção
mulheres trabalham em casa. Isso poderia reduzir o risco
hansênica, ainda é discutível.
de infecção. No Brasil, a detecção de casos entre mulheres
tem aumentado desde que a mulher passou a trabalhar
Muito se tem falado sobre uma maior fora do lar. Por outro lado, se a mulher permanece em casa
predisposição da criança à infecção hansênica. Na verdade, a maior parte do tempo , seus problemas de sal- de podem
a frequência da doença de acordo com a idade é muito permanecer muito tempo sem ser detectado. De um modo
variável. Na Índia e no Havai, mais de 50% dos doentes têm geral, parece que o risco e a prevalência da infecção entre
menos de 20 anos, mas, na Africa, não é grande o número as mulheres parece ser subestimada.
de casos de hanseníase na infância. Na América do Sul, na
Venezuela e Brasil, a taxa de morbidade é bem inferior na O status sócio econômico também é reconhecido
criança que no adulto. como um fator determinante quanto ao risco da mulher se
expor à doença.
A influência do sexo também é variável. Quando se
fala em hanseniase geral, a prevalêcia é maior no sexo Na Venezuela, um estudo demonstrou que a
masculino nas Filipinas, Índia, Uganda e Camarões e, na prevalência é seis vezes maior em areas de baixo
Nigéria e Alto Volta são mais prevalentes no sexo feminino. desenvovimento econômico, quan- do comparado a areas de
Na Tailândia, as prevalências são iguais. Observação, maior nivel (1,91/ 1000, contra 0,3/ 1000) , e a incidência
durante 50 anos nas Filipinas, Sul da Índia e Noruega quase o dobro (3,39/ 100.000 contra 1.97/ 100.000). Cerca de
mostrou que a detecção de casos é maior no sexo masculino 75% de casos de hanseníase entre 8.608 mulheres , estavam
que no sexo feminino, pelo menos entre adultos. Observações associados a baixo padrão de vida, baixo nível cultural, nutrição
105
deficitária e hábitos de higiene precários. Um estudo, na d) Promiscuidade , miséria e falta de higiene
mostrou que a proporção de analfabetos e desempregados
entre mulheres com hanseníase é consideravelmente maior Observando-se a distribuição da hanseníase no
(74% contra 44% e 51% contra 25% respectivamente). mundo, verifica-se que são os países em desenvolvimento os
mais atingidos pela hanseníase. Também, examinando-se
Vários estudos têm demonstrado que as mulheres os pacientes de uma mesma região, constata-se que eles
têm menos acesso aos serviços de saúde que o homem. são geralmente os mais pobres e os de mais baixa condição
Isso é influenciado por vários fatores como: socio-econômica e cultural.
disponibilidade dos serviços, custo, estrutura social e
poder decisório da mulher. Elaboram-se hipóteses sobre o papel da má higiene
(hábitos de cuspir, etc.), promiscuidade (várias pessoas por
Fatores que favorecem a transmissão cama, etc.) e outros, mas, segundo Zunigã, os fatores que
podem intervir são diversos e nossos conhecimentos ainda
escassos, para que se possa atribuir um papel dominante a
a) Intensidade da exposição algumas dessas condições.
Sabe-se que, quanto mais íntima e duradoura for
a convivência com um doente bacilífero sem tratamento,
e) Clima
maior é a possibilidade de se contrair a doença. Por isso,
em países com prevalência como a nossa, a busca de Muitos estudos procuram estabelecer relações
casos deve ser feita prioritariamente entre os contatos entre o clima e a endemia hansênica. É verdade que a
domiciliares de pacientes bacilíferos. hanseníase é endêmica prin- cipalmente em países das
regiões tropicais, mas não podemos esque- cer que ela
alcança níveis elevados em zonas temperadas e que, no
b) Alimentação século passado, foi altamente prevalente em países frios
como a No- ruega.
Não há nenhuma evidência de que possa haver
infecção pelo Mycobacterium leprae pela via digestiva e a
relação entre a doença e a ingestão de certos alimentos A identificação dos países das áreas tropicais com
(peixes, etc) só tem interesse histórico. aqueles em desenvolvimento e o desaparecimento da
hanseníase na Europa e, particularmente na Noruega,
concidindo com a melhoria das condições de vida da
A desnutrição é uma causa importante de
população e dos serviços sanitários, faz pensar que o clima
diminuição da imunidade celular. A deficiência protéico-
não seria realmente um fator importante.
calórica poderia ter impor- tância na epidemiologia da
hanseníase, independentemente da for- ma clínica que o
doente venha a apresentar, tanto que indivíduos bem Apesar disso, pareceria haver um certo grau de
nutridos podem adquirir a doença na sua forma concordân- cia entre muitos autores de que o clima seco
virchoviana e, na África, apesar das deficiências de dificultaria a propaga- ção da doença. A ausência da
nutrição em algumas áreas, há predomínio das formas hanseníase no Chile continental e a baixa prevalência no
paucibacilares da hanseníase. Neste último caso, nordeste brasileiro, pareciam confirmar este fato. Contudo,
provavelmente, os indivíduos resistentes à infecção o número de casos no nordeste tem aumentado muito e por
hansênica não adquiririam a doença se não fosse a isso deixou de ser um exemplo da influência do clima na
deficiência alimentar. propagação da doença.
Quanto ao câncer , apesar do muito que se 4.2 Prevalência: taxa anual de casos em registro ativo por
escreveu sobre a maior ou menor incidência de neoplasias 10.000 habitantes.
em casos de hanseníase, a tendência atual é admitir que a
sua ocorrência entre portadores de hanseníase é a mesma
Coeficiente de prevalência é a relação entre o
que na população normal. Por outro lado, não parece
número total de casos em registro ativo existentes no ano,
haver relação entre o aparecimento de tumores e a forma
sobre a população em 31 de dezembro, multiplicado por
clínica. Quanto â estabilidade, os casos do polo
10.000.
tuberculóide, permanecem estáveis e não se deterioram
imunológicamente transforman- do-se em virchovianos ou
dimorfos. O mesmo também se observa com relação ao É conveniente que esses dados sejam desdobrados
HIV; não ocorre alteração da forma clínica, nem em informes por grupo etário e formas clínicas.
modificação do curso da doença, nos poucos casos de
associação de HIV e hanseníase. 4.3 Coeficiente de detecção anual de casos novos na população de 0
106
a 14 anos, por 10.000 habitantes. DUNCAN, M.E. et al. A clinical and imunological study of four
Determina a tendência secular da endemia. babies of mothers whit lepromatous leprosy, two of whom
developed leprosy in infancy. Int, J. Leprosy, v.51, p.7-17,
1983.
g) Mortalidade
LE GRAND, A. Women and leprosy: a review Leprosy Rev.,
Mortalidade não serve ainda para avaliar a v.68, p.203- 211, 1997.
magnitude do problema, principalmente pela falta de
informações nos atestados de óbitos. O indivíduo com NOORDEEN, S. K. Elimination of leprosy, (State of Art). In:
hanseníase não é mais susceptível a outras doenças que a CON GRESSO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
população de maneira geral. As causas de óbitos, HANSENOLOGIA, 11, CONGRESSO DO COLÉGIO DE
especificamente atribuídas à hanseníase, seriam as HANSENOLOGIA DOS PAÍ SES ENDÊMICOS, 4. Foz do
reações tipo eritema nodoso graves(vasculites Iguaçu, Parana; Brasil, 4-8/06/ 1998.
necrotizantes), com grandes perdas de 1íquidos e
eletrólitos e a insuficiêcia renal crônica por depósito de
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Action Programme for the
substância amilóide nos glomérulos e tubulos renais.
Elimination of Leprosy. Repor of the Fourth Meeting of the
Essas situações ocorrem principalmente nos virchovianos,
Leprosy Elimination/Advisory, Group. Geneva, 1998.
o que poderia explicar, até certo ponto, a menor sobrevida
dos pacientes com essa forma clínica em relação aos
WORLD HEALTH ORGANIZATION. A guide to leprosy control.
demais. Em média, a expectativa de vida nesses pacientes Geneve, 1979.
é diminuida em 6,3 anos por paciente.
WORLD HEALTH ORGANIZATION.Expert Committee on Leprosy-
Technical Report Senes, First Report, 607. Geneve, 1977.
h) Vigilância epidemiológica
A hanseníase é uma das doenças de notificação WORLD HEALTH ORGANIZATION. Um guia para eliminar a
compulsória ern todo território nacional (Portaria no. hanseníase como problema de Saúde Pública, WHO/LEP/
314/Brasília de 27/08/ 76 do Ministério da Saúde). Em 95.1, 1995
decorrência disto, tornam-se obrigatórias a investigação
ZUÑIGA, M. Conceptos actuates sobre epidemiologia de la le-
epidemiológica dos casos de hanseníase (Lei Federal nº.
pra: (Revision.). Caracas: Instituto Nacional de
6.259 de 30/01/75).
Dermatologia, 1977.
BIBLIOGRAFIA
107
CONTROLE
Somei Ura
Diltor Vladimir Araujo Opromolla
de formas multibacilares, a partir da segunda close. A
decisão de se vacinar contatos de paucibacilares (leve-se ao
Ações de controle fato de que estes contatos podem estar expostos à mesma
O controle da hanseníase será realizado mediante a fonte de infecção.
execução das seguintes ações:
C - Descobrimento de doentes
A- Educação em Saúde O descobrimento de doentes será feito através de:
B-Aplicação de BCG
C- Descobrimento de doentes a- atendimento de demanda
D- Tratamento dos doentes b- investigação epidemiológica
E- Prevenção e tratamento das incapacidades físicas c- vigilância de contatos
d- verificação das notificações
A - Educação em Saúde
A educação em saúde será dirigida às equipes de Em atendimento de demanda, serão incluídos os
saúde, aos doentes, aos contatos, aos líderes da casos de apresentação voluntária, o exame de portadores
comunidades e ao público em geral, visando-se a: de dermatoses e de neuropatias periféricas, os casos de
triagem dos demais serviços de saúde, os candidatos à
carteira ou ao atestado de saúde, e exame de grupos
a- incentivar a apresentação voluntária de doentes e populacionais.
contatos
b- eliminar falsos conceitos relativos à contagiosidade da A investigação epidemiológica inclui o exame das
doença, à sua incurabilidade e à sua necessidade de pessoas que convivem ou conviveram , no domicílio ou fora
tratamento em regime de internação e isolamento dele, com o doente de hanseníase, qualquer que seja sua
c- informar quanto à sintomatologia (principalmente a forma clínica, com o intuito de descobrir sua fonte de
inicial), à importância do exame periódico dos contatos, à infecção e de detectar outros casos oriundos da mesma
conveniência do tratamento precoce e à possibilidade de fonte ou do caso índice.
prevenção de incapacidades
d- estimular a assiduidade do doente , mediante uma A vigilância dos contatos será realizada
atenção eficiente e cordial, tornando-lhe agradável a submetendo-os a exame dermato-neurológico, pelo menos
revisão médica e proporcionando-lhe uma atenção uma vez por ano durante cinco anos, considerando-se
realmente individualizada como "sob vigilância" os que preencherem esta condição.
e- dar conhecimento dos locais de tratamento: unidades de
saúde; previdenciários, serviços; clínicas de escolas Conceitua-se como contato toda pessoa que tem ou
médicas; outras entidades e escolas particulares teve convivência íntima e prolongada com o doente.
109
zação Mundial da Saúde (PQT / OMS). Os regimes ser reiniciado com o esquema adequado e PQT.
PQT/OMS são "robustos", isto é, sua eficácia não é
perturbada por pequenas falhas no comparecimento ao Retratamento de casos em abandono
tratamento e sua aplicabilidade é simples, requerendo-se Um caso em abandono, que retorna à unidade de
pouca infra-estrutura. Um requisito básico para saúde e apresente um ou mais dos sinais seguintes, deve
implementação da PQT/OMS é a disponibilidade dos reiniciar o tratamento;
medicamentos específicos para PQT.
a- lesões de pele avermelhadas e/ou elevadas
Será considerado curado : b- novas lesões cutâneas desde o último exame
c- novo comprometimento neurológico desde o último
a- todo paciente paucibacilar (PB) que tenha tomado 6 exame
doses de PQT/ PB num prazo de até 9 meses.
d- hansenomas
b- todo paciente multibacilar (MB) que tenha tomado 24 e- sinais de Eritema Nodoso Hansênico ou de Reação tipo
doses de PQT/MB, num prazo de até 36 meses. 1.
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PB), se o tipo da doença ainda for paucibacilar. No entanto, ção de técnicas simples.
se no momento da recidiva o caso for diagnosticado como
multibacilar , o novo tratamento deve ser feito com
Os casos de incapacidades físicas, que requeiram
esquema PQT para hanseníase multibacilar.
técnicas complexas, deverão ser encaminhados a centros
O tratamento das intercorrências, que necessitem
especializados ou gerais de reabilitação .
de hospitalização, deverá sei; preferencialmente, em
Deverá ser feito o levantamento, em modelo
hospitais gerais das redes oficiais, previdenciários,
padronizado, da incidência de incapacidades, a fim de que
universitários e particulares.
se possa realizar; posteriormente, a avaliação dos
trabalhos executados.
Ficará restrita à internação em instituições
especializadas , em caráter temporário, nas seguintes
A execução das ações de controle será integrada
eventualidades;
nas atividades de rotina das unidades de saúde
111
co da unidade de apoio assegurar que todos os casos existentes e os casos novos
aplicar técnicas simples para prevenção de incapacidades físicas. diagnosticados, recebam esquema de PQT adequado
encorajar os pacientes a tomarem regularmente seus
Nível primário: Serviço básico de Saúde prestado a uma medicamentos e a completar o tratamento
comunidade de 2.000 a 20.000 habitantes, por intermédio promover os conhecimentos sobre hanseníase na
do Centro de Saúde, unidade mais complexa, com comunidade de modo que indivíduos suspeitos de
atendimento médico permanente e laboratório básico, apresentarem a doença procurem voluntariamente os
responsável pela supervisão e apoio aos Postos de Saúde. serviços para diagnóstico e tratamento
estabelecer metas e um cronograma para as atividades e
Em relação ao controle da hanseníase, as esforçar-se para que sejam atingidos
atribuições da equipe de saúde nesse nível são: manter registro adequado de todas as atividades
realizadas para monitorar os progressos, visando a
educar em saúde eliminação.
Para essa homenagem, estamos transcrevendo a A realidade, em nosso mundo, é que a maioria
palestra que o Dr. Frank proferiu no Congresso cio Colégio ignora as incapacidades e somente pensa na baciloscopia,
de Hansenologia dos Paises Endêmicos realizado na Foz do estatísticas e classificações clínicas. É por isso, que creio,
Iguaçu em 1997. que seja necessário nos recordarmos o que a hanseníase
significa e é. Ignorar as incapacidades físicas e sociais é
PORQUE É NECESSÁRIO FALAR, HOJE, DE como construir um dique ao redor de urna cidade e deixar
REABILITAÇÃO EM HANSENÍASE? os caminhos de acesso abertos. Quando as águas vierem
inundarão a cidade. Um programa de controle de
hanseníase que ignora as incapacidades, seja com relação
O tema principal no mundo hansenológico é
à sua prevenção seja quanto ao seu tratamento, perderá
"Eliminação da Hanseníase no ano 2000". Creio que essa
credibilidade rapidamente.
meta será alcançada na sua maior parte, isto é, em termos
epidemiológicos e de eliminação de bacilos. É necessário,
aqui, redefinir; para todos, o que é e o que significa Como podemos dizer a um paciente que está
hanseníase ou lepra. Hanseníase é uma enfermidade curado, com alta, e orgulhosamente tirá-lo do registro
cutânea com máculas, pápulas, nódulos etc, com ou sem (um número a menos na estatística ) quando ele continua
bacilos evidentes. Por serem estas as manifestações com neurites ou problemas oculares, ou com úlceras
primárias e mais evidentes da atividade bacilar; é que a plantares, pé caído ou qualquer uma das tantas
enfermidade é tratada principalmente por dermatólogos e incapacidades enumeradas anteriormente. O paciente se
médicos gerais. Na maioria dos programas, em países vê e sua família e a sociedade também o enxergam como
endêmicos do terceiro mundo, são os paramédicos que todas as manifestações físicas e sociais, e não entendem
tratam e controlam a evolução desses pacientes. Quando a muito de baciloscopia. Em 1968, no Congresso
baciloscopia ou as manifestações clínicas cutâneas Internacional de Lepra em Londres, o Dr. Paul Brand
regridem, o paciente recebe alta. Com a poliquimioterapia disse: "A reabilitação física é uma necessidade absoluta
(PQT), estes resultados são alcançados com rapidez e no tratamento da enfermidade de Hansen". Mas, foi
eficácia. Mas esta não é toda a história. O bacilo de Hansen unicamente em anos recentes que escutamos falar de
também afeta os nervos, causando sérios problemas como "Care after cure" , quer dizer cuidados depois da cura.
(lures intensas, abcessos, lesões em nervos cutâneos com
perda da sensibilidade e paralisia de nervos maiores. São
exemplos: lesões do nervo mediano; dedos em garra e Os pilares do tratamento da enfermidade de Hansen são:
perda da sensibilidade na área útil cia mão e paralisia dos
músculos da oponência; lesões do nervo facial com 1. Diagnóstico precoce, antes que apareçam deficiência
paralisia das pálpebras com lagoftalmo ou de todos os e incapacidades.
músculos faciais; lesões do nevo tibial posterior com perda 2. Tratamento eficaz: a PQT demonstrou sua eficácia sem
de sensibilidade na planta do pé e a possibilidade de dúvida alguma. Milhões foram curados e receberam
produção de úlceras plantares; desintegração do tarso e alta. A prevalência, no mundo, segundo a Organização
dedos em garra; lesão cio nervo fibular comum, levando ao Mundial da Saúde (OMS), era 1.240.000 em 1996.
pé caído e, como resultante, o pé eqüino varo rígido; e, por Mas não nos esqueçamos que a incidência continua
último, a paralisia do nervo radial, tendo como resultado a mais ou menos constante corn cerca de 600.000
indo caída. pacientes novos por ano, dos quais, já com o
diagnostico, 40 a 50 mil tem incapacidades graves.
3. Educação do paciente, família e sociedade com
Danos causados diretamente pelo bacilo de respeito à enfermidade visando eliminar o estigma tão
Hansen são a perda de sobrancelhas, nariz em sela, importante que ainda existe hoje em dia. Os próprios
lóbulos e pavilhões auriculares aumentados de tamanho, agentes de saúde, incluindo os médicos, necessitam
rugas excessivas na face. Estas são deficiências altamente dessa educação
antiestéticas e estigmatizantes. Outras lesões diretas são
as úlceras de estase nas pernas, lesões causadas pelo 4. Prevenção de incapacidades. Esta atividade
eritema nodoso, corno na mão reacional, ou escaras terapêutica tern que ser obrigatoriamente parte de
disseminadas na reação necrotizante. O comprometimento qualquer programa de tratamento ou de controle de
testicular leva à ginecomastia, perda de libido e hanseníase. Educar os pacientes para terem cuidados
infertilidade. Anestesia da córnea e lesões intraoculares, com os olhos, mãos e pés. Monitorar a função neural
juntamente com o lagoftalmo podem levar a lesões graves para diagnosticar precocemente as neuropatias e
inclusive à cegueira. Imaginem um paciente sem visão e tratá-las adequadamente com corticoesteroides ou
com perda de sensibilidade de mãos e pés. cirurgia.
5. Reabilitação física, social e emocional. A OMS define
reabilitação da seguinte maneira: "Restauração física e
As deficiências e incapacidades físicas mencionadas são mental na medida do
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possível, de todos os pacientes tratados, de modo que mas sim me referir importância de usar programas
possam retornar ao seu lugar na família, na sociedade e baseados Ira comunidade ou "Community Based
ao seu trabalho". Recordemos que cada ação de Rehabilitation or Prevention". Isto significa família ou
Reabilitação, especialmente cirurgia, é na realidade comunidade vizinha. Devo insistir na necessidade de
preventiva, pois previne a continuação do dano, por avaliar ou monitorar a função nervosa periodicamente
exemplo a correção do pé caído evita o pé eqüino varo nesses enfermos.
rígido e a desintegração do tarso, etc. Todas estas
atividades terapêuticas formam uma unidade e não há Com relação à Reabilitação, não há soluções
justificativa moral deixar de lado qualquer aspectos delas. padronizadas. Cada situação e cada país ou região é
diferente e depende dos recursos disponíveis. Áreas na África e
Vejamos a magnitude do problema com respeito à Ásia não têm nem atenção médica e esperar que se ofereça
Reabilitação e Prevenção de Incapacidades. A OMS reabilitação cirúrgica, nesses lugares, seria ridículo. Evi-
calculou, em 1996, que a prevalência de pacientes dentemente, o ideal seria que os serviços de Reabilitação
registrados ativos e em tratamento era de 1.240.000. disponíveis nos países onde eles já existem, aceitem os
Estimativas de 20 anos atrás eram de 12 milhões de paci- pacientes com hanseníase como uni paciente regular e
entes. Calcula-se que foram curados, nos últimos 15 anos, normal. Desta maneira, elimina-se o estigma e não se criam
cerca de 8 milhões de pacientes. cargas extras aos programas de controle. Observando o que
acontece no mundo, esta não é uma realidade comum.
Temos uma série de centros modelos de investigação,
A incidência de incapacidades graves, em casos tratamento e ensino como Karigiri, ALERT, Instituto Laura
novos em programas de PQT, é de 7 a 12%. Era de 15 a de Souza Lima em Bauru, Chingelpathu, Kumbakunan,
20% na época da dapsona. Os pacientes considerados com Agra, Dakar; o grupo de Bombaim e outras, mas glandes
alta continuam com suas incapacidades e a OMS calcula mestres como Brand, Arvelo, Fritschi, Anderson, Srinivasan,
que haja 2.000.000 de incapacitados graves. A ILEP calcula Carayon, Palande, e Antia desapareceram ou estão
4 a 6 milhões. Múltiplos estudos demonstraram que 20 a desaparecendo do cenário da Reabilitação. É urgente treinar
40% de pacientes antigos têm deficiências e incapacidades um novo grupo de técnicos em Reabilitação cirúrgica e geral,
graus 2 ou 3. Se considerarmos também perda de para poder dar atenção aos milhões de incapacitados que
sensibilidade protetora, esta prevalência sobe a 60% ou estão esperando no mundo. A idéia de criar cirurgiões
70%. Sabemos milito bem que estes pacientes correm risco "hansenólogos", isto é, dedicados em tempo integral a tratar
de lesões por perda de sensibilidade. pacientes com hanseníase, já não é factível e nem é o ideal
na atualidade. Isso ajuda ao estigma de ser uma doença
Estudos realizados na Índia demonstraram que diferente, e a satisfação profissional se vê truncada porque o
35% dos pacientes com hanseníase têm incapacidades cirurgião se aborrece rapidamente par tratar um número
sociais graves e suas famílias sofrem 10 vezes mais relativamente pequeno de patologias repetitivamente.
problemas de discriminação. Sabemos também que uma
percentagem significativa de pacientes "curados"
continuam com reações reversas ou eritema nodoso e, Podemos criar serviços que, no início apenas
sobre tudo, com neurites. A neurite silenciosa é a mais tratem hanseníase, imas que rapidamente abram suas
comum e como o paciente não sente dor; o diagnóstico é portas para dar assistência a outras patologias que
freqüentemente tardio. Devemos ter um sistema disponível necessitem de reabilitação.
para que esses pacientes não sejam abandonados.
Devemos, sobre tudo, educar o paciente com respeito a Recordemos aqui que Reabilitação é um trabalho
possíveis complicações e insistir com o mesmo para de equipe. Necessitamos de cirurgiões ortopedistas, como os
procurar atenção imediata. de mão, neurocirurgiões, plásticos, oftalmologistas e
médicos generalistas. Precisamos também de
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiras,
Melhor seria um controle neurológico trimestral de
psicólogos, assistentes sociais e técnicos em órteses,
todos os pacientes por 5 anos após a alta medicamentosa.
próteses e calçados. A equipe básica seria aquela composta
Sabemos muito bem que isto criaria uni gasto adicional ao
por uni cirurgião, um terapeuta e um técnico em calçados.
programa de controle, mas assim trataríamos o paciente
A prevenção e tratamento de úlceras plantares é a parte
com hanseníase em sua totalidade. Não podemos ser
crucial de todo o programa de Prevenção e Reabilitação de
mesquinhos, a hanseníase não vai ser eliminada no ano
Incapacidades e a participação ativa cio paciente nesses
2000. Somente as estatísticas vão mostrar um número de
programas é fundamental.
pacientes registrados aceitável e anestesiaste para os
epidemiólogos. Não nos olvidemos dos pacientes!
Como podemos preparar todos estes profissionais
Como resolver esse dilema entre somente tratar para que possam oferecer tratamento a pessoas com
bacilos, manchas, reações e criar estatísticas, e aceitar o hanseníase? Um modelo poderia ser aquele criado na
paciente com todas as suas manifestações de deficiências, América do Sul, em especial no Brasil.
danos e incapacidades físicas, sociais e emocionais? Para
começar; os Programas de Prevenção de Incapacidades A filosofia principal é de integrar a Reabilitação,
devem estar incluídos em todo programa de controle, de um dentro do possível, nos serviços existentes, não criar serviços
maior ou menor grau. Não há justificativa para não fazê-lo. especializados em hanseníase. Procurar fazer com que cada
profissional necessário à Reabilitação de pacientes com
Já se escreveu e se falou bastante a esse respeito e hanseníase seja motivado e treinado nas técnicas e aspectos
pouco se fez em grande escala. Não penso em entrar em específicos da enfermidade e seus problemas.
mais detalhes aqui, Com relação à reconstrução cirúrgica não há nada de
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novo a dizer. Não há dúvida alguma de que a cirurgia parte do Brasil com serviços de referência para Reabilitação
reconstrutiva é um fator decisivo na Reabilitação de muitos de pacientes com hanseníase. A maioria destes serviços
doentes. Os princípios gerais de cirurgia plástica de mão, transformou-se em centros muito reconhecidos e procurados
neurológica, ortopédica e oftalmológica são os mesmos por outros pacientes incapacitados, especialmente os
para o paciente com hanseníase, e é por isso que cremos pacientes com neuropatias como àquela causada pelo
que cada cirurgião especialista pode e deve incluir estes diabetes.
pacientes na sua prática diária.
Outros métodos utilizados para motivar
O Instituto Lauro de Souza Lima (ILSL) em Bauru, profissionais são: participar sempre que possível em todos os
Estado de São Paulo, oferecia quatro cursos anuais, de Congressos Nacionais e Internacionais de Ortopedia,
duas semanas de duração, em Prevenção de Incapacidades Cirurgia Plástica, Dermatologia, Oftalmologia, etc. com
e outros iguais de Reabilitação, e que continuam sendo trabalhos relacionados à Reabilitação de pacientes com
ministrados, mas agora com a duração de uma semana. hanseníase. São exemplos, um simpósio de 2 hs no
Estes cursos são primariamente motivadores e também Congresso Brasileiro de Ortopedia em 1994, e outro similar
formadores. Estão abertos a todos os profissionais no Congresso Brasileiro de Dermatologia de 1995. Também
eventualmente envolvidos em Prevenção de Incapacidades procuramos publicar trabalhos, nas revistas da
ou Reabilitação em hanseníase ou em geral. O ILSL tem especialidade, relacionadas à Reabilitação na hanseníase e a
uma equipe multiprofissional e instalações completas para equipe de Reabilitação do ILSL escreveu um livro sobre
tratamento de Reabilitação e também para o ensino. Cirurgia e Reabilitação com apoio financeiro da TALMILEP e
ALM. Esperamos que ele sirva para orientar e melhorar os
conhecimentos de todos os que trabalham nesta área. Em
O objetivo principal é motivar os participantes a
países onde não existem profissionais especializados em
iniciar, em seus locais de trabalho, atividades de Prevenção
Reabilitação, é necessário concentrar todos os esforços no
ou Reabilitação, ou que pelo menos se conscientizem das
diagnóstico precoce e prevenção de incapacidades. Como
possibilidades que existem nesses campos. A equipe de
ajuda à Reabilitação, podem ser usados os recursos
ensino do ILSL está à disposição para ajudar a iniciar ou
existentes na comunidade, é a tão comentada "community
desenvolver programas nos locais que necessitem de
based rehabilitation". Isto requer um grande investimento
auxílio. Muitos participantes repetem os cursos para se
para educar e assessorar a família e a comunidade.
aprofundar mais e melhorar seus conhecimentos. Cursos
secundários também são dados nos locais onde programas
de Reabilitação de hanseníase já conta com cirurgiões
Outra solução seria criar serviços de Reabilitação
ativos.
como centros de referência para grandes áreas. Isto é
custoso e segregante, mas é, em certas ocasiões, a única
Coral este método de trabalho, conseguiu-se criar solução. As organizações não governamentais têm um papel
e apoiar 14 programas de Reabilitação no Brasil e também importante nessa área, já que os organismos estatais, em
na Colômbia, Paraguai e Argentina. Quatro destes serviços geral, não têm fundos para esta atividade. Como já foi dito,
de Reabilitação estão dentro de um serviço de ortopedia esses centros especializados em hanseníase rapidamente se
universitário. Isto é de grande importância porque por convertem em centros de Reabilitação geral.
esses serviços passam residentes, estudantes de medicina,
fisioterapia e terapia ocupacional e de enfermagem. Todas
Como vêem, eu não disse quase nada de novo. Não
essas pessoas, em geral, perdem o medo da enfermidade e
há nada de novo para dizer. Conhecemos os problemas e
são motivadas, em grau maior ou menor, a dar atenção a
suas possíveis soluções. Devemos agir, e com urgência! Creio
pacientes com hanseníase. Não temos encontrado nenhum
que a maioria de vocês, os organismos estatais e as
problema importante em integrar os pacientes com
organizações não governamentais concordam com isso.
hanseníase nesses serviços, graças a preparação prévia da
Estamos em um momento crítico para vencer esta
direção e "staff" dos respectivos hospitais universitários.
enfermidade milenar.
Esta preparação prévia é importante.
A maioria destes serviços está em funcionamento Queria terminar com as palavras de Mahatma
há mais de 10 anos. Isto nos mostra que são serviços bem Gandhi: "Se você pode mudar a vida de um paciente de
estabelecidos e com firme liderança. Com esta hanseníase ou seus valores, você pode mudar uma aldeia
metodologia, conseguiu - se suprir a maior e também um país inteiro".
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