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A Bíblia e

seu
contexto
Módulo 02
O AT e o contexto da sua redação

Profa. Lília Dias Marianno


A Bíblia e seu contexto
MÓDULO INTRODUTÓRIO ESPECIALIZAÇÃO EM EXEGESE BÍBLICA

MÓDULO 2
O ANTIGO TESTAMENTO
E O CONTEXTO DA SUA REDAÇÃO1

Profa. Lília Dias Marianno

Veremos neste módulo como os episódios polí-


ticos da história interferiram nas sucessivas re-
leituras do evento ocorridas durante a Tradição
Oral.

Conheceremos como as mudanças no cenário


político do Antigo Oriente Próximo interferiram
na história do Antigo Israel e como tais mudan-
ças provocaram alterações na forma de narrar,
escrever, ler, interpretar e reler as histórias bí-
blicas até finalmente canonizarem-se os escri-
tos.

Constataremos como tais interferências atingi-


ram aos leitores do texto bíblico de todas as
eras e que precisamos do auxílio das ciências
bíblicas para uma compreensão mais profunda
do texto bíblico no seu processo redacional e
hermenêutico.
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Sempre que encontrar algum termo negritado em azul, consulte seu significado no
glossário da unidade.
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Sumário do Segundo Módulo de A Bíblia e Contexto

O ANTIGO TESTAMENTO E O CONTEXTO DA SUA REDAÇÃO

UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DOS POVOS VIZINHOS


1.1. O lugar geográfico do Antigo Israel
1.2. A dominação Egípcia
1.3. A dominação da Assíria
1.4. A dominação da Babilônia
1.5. A dominação da Pérsia
1.6. A dominação Grega
1.7. A dominação Romana

UNIDADE 2 - BREVE HISTÓRIA DO ANTIGO ISRAEL


2.1. Israel no Egito e em Canaã
2.2. Israel Tribal
2.3. Israel Monárquico – fase unida (1050-935 AEC)
2.4. Israel Monárquico – fase dividida (925 - 722 AEC)
2.5. Judá sem Efraim (722-538 AEC)
2.6. Israel autóctone e deportado (722-538 AEC)
2.7. Judá pós-exílico (538 à 29 AEC)

UNIDADE 3- MOVIMENTOS LITERÁRIOS


3.1. O movimento literário profético
3.2. Os escribas da Lei
3.3. Os escritos diversos

UNIDADE 4 - MUDANÇAS NOS PARADIGMAS TEOLÓGICOS


4.1. Israel e seus grupos originais
4.2. O “Deus dos Pais” dos grupos Abraâmicos e Arameus
4.3. O “Deus Libertador” dos hapirus
4.4 O “Deus do Sinai” do grupo da península arábica
4.5. O Deus de Israel

UNIDADE 5 - A CONTRIBUIÇÃO DAS CIÊNCIAS BÍBLICAS


5.1. Sociologia Bíblica
5.2. Antropologia Bíblica
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5.3. Geografia e Arqueologia Bíblica


5.4. A Linguística Aplicada
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5.5. História
5.6. Fenomenologia
Referências Bibliográficas deste Módulo

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UNIDADE 1
BREVE HISTÓRIA DOS POVOS VIZINHOS

A história do Antigo Israel e, por consequência, dos escritos do Antigo Testamento, fica
melhor entendida quando a estudamos à luz da história sociopolítica e econômica dos
povos vizinhos. O local onde Israel se estabeleceu desde a antiguidade sempre foi uma
rota de passagem, que promovia intercâmbio entre a Assíria, Egito e Mesopotâmia. A
influência destas culturas em trânsito na região provocou em Israel uma tradição mes-
clada de elementos estrangeiros. A região recebeu a designação de "corredor siro-
palestinense" e sua importância no âmbito das comunicações e do comércio entre as
grandes civilizações de sua época a tornava fortemente disputada.

“[...] esse corredor foi ao longo dos milênios um cadinho de influências políticas e
culturais que, provindo de todas as direções, ali se encontravam e eram processa-
das [...]” (DONNER: 2000, p. 33).

Por tal motivo, é necessário, de antemão, que conheçamos os períodos arqueológicos


que compreendem a história do Antigo Testamento, pois inúmeras vezes eles são menci-
onados na historiografia da Antiguidade e, em geral, não visualizamos a quais anos cor-
respondem uma determinada era arqueológica.

PERÍODOS ARQUEOLÓGICOS
IDADES DATAÇÕES
BRONZE ANTIGA 3500 – 2200 AEC
BRONZE INTERMEDIÁRIA 2200 – 2000 AEC
BRONZE MÉDIA 2000 – 1550 AEC
BRONZE POSTERIOR 1500 – 1150 AEC
FERRO I 1150 – 900 AEC
FERRO II 900 – 586 AEC
PERÍODO BABILÔNICO 586 – 538 AEC
PERÍODO PERSA 538 – 333 AEC

Na tabela acima, a marcação em


azul corresponde à época em que
Israel surgiu como nação: da des-
cida dos israelitas para o Egito até
a ocupação de cidades em Canaã.
A datação dos períodos é forneci-
da por Finkelstein.

Após ter sido habitada por popu-


lação de língua semítica nos pri-
mórdios da Idade do Bronze, na
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primeira metade da Idade do


Página

Bronze Médio a região de Canaã


ficou marcada por grandes lutas
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tribais, destruição de grandes cidades e diminuição da população.


1.1. O lugar geográfico do Antigo Israel2

A terra de Canaã ficava situada


na região geográfica conhecida
como Crescente Fértil, uma
“meia-lua” imaginária, tendo o
delta do Nilo na sua ponta oci-
dental e os rios Tigre e Eufrates
na ponta oriental. Seu limite
norte ficava na Síria e o sul na
península do Sinai.

Região montanhosa dividida


pelo rio Jordão, tendo a Trans-
jordânia ao oriente do rio e a
Cisjordânia ao ocidente, este
território apresenta a depressão
geológica mais profunda do pla-
neta, o vale do rio Jordão, che-
gando a quatrocentos metros
abaixo do nível do mar na altura do Mar Morto.

A região sempre foi um “tampão” de poder, sendo fronteira entre nações muito mais for-
tes e poderosas politicamente do que ela. Quando as nações no norte se fortaleciam, o
Egito perdia o controle sobre Canaã. Quando o Egito se fortalecia, eram as nações do
norte que perdiam o controle sobre Canaã.

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Fonte dasiImagens: Crescente fértil: Eneas TONINI: Geografia Bíblica. Diagrama de
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Blocos da Palestina: Tim DOWLEY: Atlas Vida Nova da Bíblia e da História do Cristianis-
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mo. Corredor Siro-Palestinense e rotas comerciais: adaptação de Geoffrey PARKER,.


Atlas da História do Mundo
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1.2. A dominação Egípcia

O Egito teve um momento de grande expansão do Antigo Império na época das pirâmi-
des, entre 3100 até 2180 com a 17ª dinastia. Depois houve uma dominação de reis es-
trangeiros3, conhecidos como Hycsos (1730-1530 AEC). Estes faraós deixaram de atuar
no Egito com retomada de poder pelos faraós nacionais, a partir da 18ª dinastia.

Este período entre a saída dos Hycsos e a retomada dos faraós nacionais exigiu que as
atenções dos egípcios estivessem todas voltadas para si. Neste período (1500 – 1000
AEC) a região de Canaã ficou livre da pesada dominação estrangeira em função das mu-
danças políticas internas no Egito. Os períodos de ausência de dominação estrangeira
naquele território são chamados de “vácuos de poder”.

Neste tempo, o Egito, na tentativa de se reorganizar, tentou a todo custo retomar a gló-
ria do Antigo Império, o da época das pirâmides. Mas este processo foi comprometido
pela devoção ao Sol (o deus Ra) promovida pelo faraó Amenófis IV que quase levou o
Egito ao colapso de suas fronteiras. Amenófis IV foi morto numa conspiração e foi suce-
dido por seu general que não deixou herdeiros.

A nova linhagem de poder no Egito, a 19ª dinastia, levantou-se com ímpeto de restaurar
a glória do Antigo Egito. Uma sucessão de faraós austeros permaneceu no poder, culmi-
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O conceito de faraó é posterior a este período e passa a ser usado na história a partir
do século X AEC. Neste período é mais acertado referir-se a Rei do Egito e não faraó.
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nando com Ramses II “O Grande", considerado o mais famoso de todos os reis do Egito,
que permaneceu no poder por um longo período, realizou muitas construções monumen-
tais no Egito, cidades com seu nome e usou duramente a mão-de-obra escrava dos is-
raelitas. É este o faraó que Moisés enfrenta para libertar o povo em nome de Yahweh.

3100 -2180 AEC ANTIGO IMPÉRIO EGÍPCIO (PIRÂMIDES) até 17ª DINAS
1730 – 1580 AEC DOMÍNIO HICSO/ANATOLIANO: FARAÓS ESTRANGEIROS
1570 – 1200 AEC NOVO IMPÉRIO EGÍPCIO: FARAÓS NACIONAIS
1570 – 1345 AEC 18ª DINASTIA
1502 – 1448 AEC TUTMOSIS III
1413 – 1377 AEC AMENÓFIS III
1377 – 1360 AEC AMENÓFIS IV (ECNATON),
1360 – 1334 AEC NEFERTITI, TUTANCAMON – GOLPE DE HAREMRAB
1334 – 1306 AEC HAREMRAB GOVERNA MAS MORRE SEM FILHOS
1306 – 1200 AEC 19ª DINASTIA
1306 – 1304 AEC RAMSÉS I
1304 – 1290 AEC SETH I
1290 – 1224 AEC RAMSÉS II (FARAÓ DO ÊXODO)
1224 – 1204 AEC MERNEPTAH
1186 – 1184 AEC SETHNACHT
1184 – 1069 AEC 20ª DINASTIA
1069 – 945 AEC 21ª DINASTIA
945 – 935 AEC 22ª DINASTIA
935 – 730 AEC DOMÍNIO DOS LÍBIOS – FARAÓS ESTRANGEIROS

1.3. A dominação da Assíria

A partir de 900 AEC o Império Neo-Assírio começou a ganhar força no cenário internacio-
nal em decorrência de um Egito cada vez mais enfraquecido e ameaçado pelos seus pró-
prios conflitos internos. Os reinados de Assurbanipal (884-859 AEC) Salmanasar III
(859-824 AEC) e posteriormente de Tiglat-Pileser III (745-727 AEC) foram períodos de
muita tensão entre aquelas nações do Oriente Próximo, com fortes reverberações no ter-
ritório israelita.

Estes eventos coincidiram com o profetismo de Elias, Eliseu, Amós, Oséias, Isaías e Mi-
quéias, cujos textos refletem muito nitidamente o conturbado movimento entre as potên-
cias e nações menores. Em termos de monarquia israelita, estamos paralelos aos reina-
dos de Roboão à Jotão em Judá e de Jeroboão I a Oséias na região de Efraim.

A região de Efraim, ou reino do norte, deixou de existir como nação quando Samaria foi
destruída pela Assíria em 722 AEC, início do reinado de Sargão II. Isso ocasionou um
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grande fluxo migratório de israelitas para o sul, além da deportação de muitos israelitas
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para terras longínquas pelo império Assírio. Não apenas israelitas do norte migraram pa-
ra o sul, mas também as nações estrangeiras ocuparam o território do norte de Israel.
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Esta situação prevaleceu por aproximadamente 125 anos, quando progressivamente a


Assíria foi perdendo seu poderio, afrouxou fronteiras e o império caldeu surgiu naquele
cenário “engolindo” quase todas as fronteiras conquistadas pela Assíria.

Neste período de enfraquecimento assírio, o Egito tentou recuperar sua hegemonia, mas
suas tentativas foram intimidadas pela força do império Neo-Babilônico, que permitiu ao
Egito manter apenas a delimitação mais restrita de suas fronteiras. Essas tentativas es-
tão retratadas nas iniciativas tanto de Josias quanto de seus sucessores até Zedequias de
fazer aliança com o Egito para se livrar da Assíria, aliança condenada pelo profeta Jere-
mias.

Testemunhos destes fatos estão nas constantes admoestações do profeta Jeremias pra
que Judá não fizesse alianças com o Egito, pois na disputa política, quem se aliasse à
Babilônia ficaria em melhor situação.

1.4. A dominação da Babilônia

Babilônia exerceu seu domínio de 626 -538 AEC, um curto período, mas período de pro-
fundo impacto na vida do povo de Israel. O período exílico é parte desta época de domi-
nação Babilônica (597-538 AEC). Depois de um cerco relativamente tolerante em Judá,
Zedequias se aliou ao Egito. Nabucodonosor devastou Jerusalém em 587/6 AEC, depor-
tando toda a elite jerusalemita para a capital do império e espalhando os camponeses
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no território de Judá para cultivar as terras do rei.


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1.5. A dominação da Pérsia

Usando palavras atuais, poderíamos dizer que, em termos internacionais, a Pérsia herdou
da Babilônia um potentado gigantesco, “antiadministrativo” para o padrão centralizador;
uma aberração governamental para aquela época. As terras eram longínquas demais, os
povos diversificados demais, as culturas e idiomas também. Como manter leal ao Impé-
rio Persa nações tão diferenciadas e em territórios tão distantes?

O caminho encontrado pela Pérsia foi de controle através da tolerância. Os imperado-


res persas aquemênidas aprenderam com os erros dos assírios e procuraram nova for-
ma de manter o controle sobre os povos dominados. Eles, os assírios, eram déspotas e
consideravam todos os povos sob seus domínios como escravos. Este conceito nunca
arrefeceu diante desta dita tolerância. Mas a Assíria errara deportando demais, tributan-
do demais, endurecendo demais o governo, tornando a população cosmopolita muito
grande enquanto nas regiões distantes o ambiente tornava-se propício para rebeliões,
por isso fracassara em manter seu poderio.

A estratégia da Pérsia era mais eficiente e conseguiu manter os povos sob seu domínio
por mais tempo, mais equilíbrio, menos rebeliões. A Assíria tentara uma anulação de
identidade dos povos subjugados através de programas de massificação, aglomerando
culturas diferentes. A Pérsia optou por devolver a autonomia, pelo menos religiosa destes
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povos, e consequentemente muito da identidade dos mesmos. Da Síria ao Egito o ara-


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maico tornou-se língua oficial e mais tarde substituiu o hebraico como língua popular na
Palestina.

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O Império Persa foi dividido em diversas regiões estratégicas chamadas satrapias. Estas
funcionavam como uma espécie de sede administrativa regional, representante oficial do
Império Persa. Eram responsáveis pelo que acontecia nas províncias à sua volta.

O sistema tributário permanecia centralizado nas satrapias. As províncias passaram a ter


governadores autóctones – os sátrapas. Estes se reportavam ao Grande Rei do império.
Sua autoridade diante das províncias era grande. Eles eram reis menores. Posteriormen-
te o cargo tornou-se hereditário, aumentando ainda mais a autoridade destes governan-
tes. Essa autoridade é bastante percebida nos dias de Neemias. Ele chegou da sede do
império Persa com autorização do rei para reconstruir os muros da cidade de Jerusalém
que estava submetida, todo aquele tempo, à satrapia que governava Samaria. Daí os
conflitos de Tobias com Neemias, Tobias não queria perder o controle sobre o território
de Jerusalém, algo que aconteceu logo que Neemias veio para governar a cidade.

Junto com os sátrapas havia outros funcionários. Estes eram funcionários de alto-escalão
do Império, enviados pelo grande Rei da Pérsia para fiscalizar o funcionamento das sa-
trapias. Eram considerados protetores dos interesses da realeza. Já estes outros funcio-
nários eram homens de confiança, fiscais do imperador, o título deles significava “olho do
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rei” ou “ouvido do rei”. Assim as províncias eram administradas com duplicidade de re-
gência: centralizada e descentralizada.
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O relato bíblico nos fornece informações lineares, como se os eventos tivessem aconteci-
do simultaneamente, mas o fato é que temos muitos governantes estrangeiros envolvi-
dos em narrativas sobre Israel nos livros de Jeremias, Ezequiel, Isaías, Ester, Daniel,
Crônicas e Reis, muitos destes relatos referentes aos períodos Assírio, Babilônio e Persa.

É importante que o exegeta tenha habilidade de associar o período do governante


estrangeiro com os eventos que ocorrem em Israel para uma melhor compreensão
do momento político-econômico ao qual estamos nos referindo.

GOVERNANTES DO PERÍODO PERSA


IMPERADOR PERSA ATUAÇÕES PRINCIPAIS EVENTOS
JUDAICAS
Ciro Sesbazar Retorno da primeira comitiva de exila-dos
539 –529 AEC com a devolução dos utensílios do templo
Cambises
529-522 AEC
Dario I Ageu, Zacarias, Reconstrução do altar e do Templo de
521-485 AEC
Zorobabel e Josué Jerusalém. Enfrentamentos com primei- ro
grupo de samaritanos. (Ed.6,13)
Xerxes Malaquias Eventos do livro de Ester (?)
485-465 AEC
Artaxerxes I 465-424 Esdras (458) Esdras traz a lei para Judá. (Ed 7,1-9)
AEC Neemias (445-433) Neemias primeiro governador da província
judaica
Dario II
423-404 AEC
Artaxerxes II 404-358
AEC
Artaxerxes III 358-338
AEC
Arses
338-335 AEC

No reinado de Dario III (335-331 AEC) o Grande Império Persa teve seu fim com a vitó-
ria de Alexandre na batalha de Isso em 333 AEC.

1.6. A dominação Grega

Alexandre – O Grande - ascendeu ao poder (336 AEC) e conquistou o mundo durante 12


anos apenas. Conquistou a Síria, Tiro e Gaza, entrou no Egito e fundou Alexandria
(332/331AEC), destruiu o Império Persa na batalha de Arbelas, conquistou as províncias
(satrapias) orientais na India (330-326AEC) e morreu na Babilônia com uma febre miste-
riosa, que se supõe ter sido Febre do Nilo (323).
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Após sua morte, seus generais disputaram o controle dos territórios conquistados por
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Alexandre. Os Lágidas dominaram Egito e Palestina sob o título Ptolomeus, enquanto os


Selêucidas dominaram Síria e Babilônia sob os títulos Antíocos e Selêucos. Os Lágidas
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foram enfraquecendo e os Selêucidas consolidaram sua hegemonia, passando a controlar


todos os territórios dominados por Alexandre.

Sob o domínio Selêucida (a partir de 187 AEC), diversos conflitos, de ordem cultural e
religiosa, começaram a acontecer na Palestina. O processo de helenização foi massivo e
opressivo para os mais resistentes. Aspectos da cultura grega como: filosofia, religião,
literatura, política e principalmente a língua invadiram as fronteiras dominadas. A cultura
de cada povo foi sendo mesclada à dos gregos. Cada povo falava sua própria língua e o
grego comum (koinê) como idioma principal. Os que resistiam a estas mudanças passa-
ram a ser perseguidos.

Este foi um período de farta produção de escritos bíblicos. Quase a totalidade dos livros
proféticos, poéticos e dos escritos teve sua redação final e sua compilação canônica neste
período, principalmente os livros chamados dêutero-canônicos, que constam nas Bí-
blias católicas, mas não nas Bíblias Protestantes (Macabeus, Sirácida, Eclesiástico, Tobi-
as, Judith, Bel e o Dragão).
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1.7. A dominação Romana4

A dominação romana cresceu a partir do I século AEC e assumindo progressivamente o


controle dos países dominados pelos gregos até sua completa hegemonia a partir de
29AEC. A dominação romana será melhor estudada nos Módulos 4 e 5 desta disciplina.

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4
Mapas: Império Assírio, Babilônio, Persa, Grego, Ptolemaico e Selêucida: Tim DOWLEY.
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Akhnaton e Nefertiti. Disponível em:


http://euler.slu.edu/~bart/egyptianhtml/kings%20and%20Queens/Akhenatenweb.htm
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UNIDADE 2
BREVE HISTÓRIA DO ANTIGO ISRAEL

2.1. Israel no Egito e em Canaã

A narrativa bíblica nos fala da chegada de Abraão a Canaã, depois de sua descida ao Egi-
to, seu retorno à Canaã onde nasceram seus filhos Ismael, Isaque e os filhos de Quetura.
Os dois filhos de Isaque, Esaú e Jacó nasceram na região de Canaã. Jacó ficou exilado
por vários anos em Arã até que voltou para Canaã com suas esposas, concubinas e doze
filhos. Depois da venda de José para o Egito começamos a nos situar no tempo dentro da
história dos povos vizinhos mencionada na Unidade 1.

Estima-se que os israelitas tenham mudado para o Egito por volta de 1650 AEC. A Bíblia
fala de 400 anos no Egito, mas este não é um número matematicamente preciso, é mais
uma simbologia teológica do que uma contagem precisa. Muitos comentaristas afirmam
que os descendentes de Jacó estiveram no Egito na época dos Hicsos, teoria perfeita-
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mente plausível. Faraós estrangeiros tinham a tendência de serem mais tolerantes com
os estrangeiros no Egito do que os faraós nacionais, que sempre subjugavam ou baniam
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os estrangeiros do território.

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Quando o redator do texto bíblico


Quando o redator do texto bíblico nos diz “levantou-
nos diz “levantou-se outro rei no
se outro rei no Egito que não conhecera a José” (Ex
Egito que não conhecera a José”
1,8) não diz de apenas um governante, mas de toda
(Ex 1,8) não diz de apenas um
governante, mas de toda a dinas- a dinastia dos faraós egípcios que retomaram dos
Hicsos o poder da nação e estabeleceram um pro-
tia dos faraós egípcios.
grama de reconstrução nacional.

2.2. Israel Tribal

O Israel das origens teve matrizes ét-


nicas bem diversificadas. Ele é uma
confluência de grupamentos humanos
diferentes, que consigo traziam suas
respectivas tradições culturais e teoló-
gicas. É uma espécie de “periferia do
mundo” onde se encontram os menos
favorecidos, mais sofridos, com cultu-
ras e costumes diferentes, mas que se
percebem iguais e por isso se consti-
tuem como nação.

Há muitas evidências desta multicultu-


ralidade em Israel nos livros da Obra
Historiográfica Deuteronomista. O
Israel do tribalismo não tinha uma
única religião praticada por todos,
mesmo porque este “todos” eram mui-
to diversificados entre si. Os juízes
tribais também não representam uma
linhagem sucessiva de governantes.
Os juízes são regionais e o mais pro-
vável é que diversas destas atuações
de juízes tenham ocorrido simultane-
amente.
O Tribalismo corresponde a um
Também não se deve pensar que Tribalismo seja um sistema de funcionamento das
período da vida do Antigo Israel. O Tribalismo corres- sociedades de Canaã que perpe-
ponde a um sistema de funcionamento das sociedades tuou-se por muito tempo na regi-
de Canaã que perpetuou-se por muito tempo na região ão e não deixou de existir quan-
e não deixou de existir quando as monarquias se esta- do as monarquias se estabelece-
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beleceram no Antigo Israel. Trata-se de fato de um sis- ram no Antigo Israel.


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tema de divisão política simultâneo que assumiu a con-


figuração de aldeia a partir dos dias do Novo Testamen-

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to.

2.3. Israel Monárquico – fase unida (1050-935 AEC)

A ideia sobre Israel ser regido por um sistema monárquico era conflitiva. A ocupação de
Canaã de forma alguma significou hegemonia israelita no território e extermínio completo
dos canaanitas. Em Jz 1 encontramos uma grande lista da extensão do território canaani-
ta não conquistado. Os canaanitas habitaram junto com os israelitas e com eles sua teo-
logia e seus sistemas de culto.

Na ótica dos pobres, não era interes-


sante que Israel adotasse a monar-
quia como faziam as outras nações,
pois os camponeses seriam obrigados
a sustentar um aparelho estatal seme-
lhante ao dos dias do cativeiro no Egi-
to, o que de fato aconteceu principal-
mente durante o reinado de Salomão
(PIXLEY:1999).

Depois da morte de Saul, muitos do


povo não aceitavam Davi e seus des-
cendentes na liderança da nação (2
Sm 20,1), mas seu reinado trouxe
grandes mudanças na vida política e
religiosa do Antigo Israel. Davi não
eliminou os povos canaanitas, mas fez
aliança com muitos deles, o que man-
teve Israel com a característica multi-
cultural das suas origens.

Os estrangeiros tinham um papel re-


levante no governo de Davi, tanto na
constituição do exército como na sua
defesa pessoal. Os canaanitas eram
componentes do próprio Israel na mo-
narquia davidita. Neste período Israel sofreu estratificação das camadas e classes sociais.
Davi estabeleceu Jerusalém como capital, trouxe para dentro dela a Arca da Aliança, as-
sim, ele estabeleceu um vínculo da sede do governo como sede da adoração a Yahweh,
embora no interior do país continuassem existindo santuários onde Yahweh era adorado
junto com outras divindades.

Salomão construiu o templo de Jerusalém (2 Sm 7,12-17) envolvendo neste processo


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muitos canaanitas que não eram excluídos nem do povo, nem do trabalho do templo,
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nem dos trabalhos da corte, nem do harém do rei e nem mesmo da oficialização da li-
turgia. Foi o rei que fez mais alianças entre Israel e os povos vizinhos. Apesar de haver

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um ensaio de um monoteísmo estatal neste período, o sincretismo foi o comportamento


religioso dominante em todo o Israel durante este período.

2.4. Israel Monárquico – fase dividida


Efraim era a maior das 10 (925 - 722 AEC)
tribos do norte, sempre que
o texto bíblico se refere a Profetas estavam presentes no momento em que
Efraim está, de fato, se refe- o reino foi dividido, inclusive fomentando a divi-
rindo às 10 tribos.
são. Posteriormente, sustentados por toda uma
força social de oposição à opressão dos governos,
passaram a atacar as injustiças das lideranças
políticas. O reino do sul, sediado em Jerusalém, seguiu a dinastia monárquica de David.
Já o norte, sediado primeiramente em Jezreel e depois em Samaria, quando esta foi
construída, enfrentou sucessivos “golpes de estado”, não permanecendo uma dinastia no
poder por muito tempo.

A dinastia de Amri, de onde veio o rei Acabe, foi a dinastia mais longa da região de
Efraim. Efraim era a maior das 10 tribos do norte, sempre que o texto bíblico se refere a
Efraim está, de fato, se referindo às 10 tribos.

Em 722AEC, a expansão militar da


Assíria atingiu o Norte de forma
destrutiva. No processo imperialis-
ta, os israelitas de Efraim foram
deportados, dizimados na região e
os que restaram no local migraram
assustados para o sul superpovo-
ando a província de Judá. A ar-
queologia bíblica mostra que a ci-
dade de Jerusalém dobrou de ta-
manho neste período.

As elites foram deportadas (princi-


palmente os líderes políticos, religi-
osos e pessoas influentes da socie-
dade) para a Média e Mesopotâmia,
ficando na terra os camponeses e
os estrangeiros trazidos pelo Impé-
rio para a nova região dominada.
Esta prática visava o enfraqueci-
mento da ordem política do territó-
rio, impedindo a insurreição de
movimentos de resistência. Os as-
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sírios trouxeram para Israel as


Página

classes altas da Babilônia e da Síria


Central, e que, por falarem outras

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línguas, não conseguiam se comunicar fluentemente com o povo da terra, dificultando


ainda as possíveis conspirações e aramaizando o hebraico nativo.

Os israelitas que ficaram em Samaria eram a parte mais pobre da nação. Muitos dos que
estavam em Samaria fugiram para Judá trazendo com eles muito material escrito, e que
depois tornou-se a principal fonte literária para a composição da Obra Historiográfica
Deuteronomista. Em Samaria um sacerdote solitário pregava a adoração a Yahweh por
ordem do governo, todavia cada povo estrangeiro para ali deslocado seguia praticando
seus próprios costumes religiosos (2Rs 17).

2.5. Judá sem Efraim (722-538 AEC)

O medo de que acontecesse em Jerusalém o mesmo que acontecera à Samaria conduziu


Ezequias à reforma religiosa durante seu reinado (2 Rs 18,1-12). Os escritores bíblicos
atribuíram o sucesso das empreitadas de Ezequias à sua fidelidade à Yahweh, pois ele
tentou colocar um fim no sincretismo religioso, mas Ezequias foi sucedido por Manassés,
descendente de Davi, considerado o pior rei de Israel (2 Rs 21,9-11; 23,26; 24,3).

Com a ascensão de Josias ao trono do Sul, as reformas foram retomadas com força ainda
maior (625 AEC). Entretanto, a reforma de Josias foi bem mais rígida em relação à litur-
gia em Jerusalém, era mais do que um mero chamamento do povo para a exclusividade
na adoração a Yahweh. Junto com esta tentativa houve também a centralização da ado-
ração no templo e a desautorização dos santuários regionais, e Jerusalém assumiu o pa-
pel de único "lugar escolhido por Yahweh para ali ser adorado" (Dt. 12).

Em 2 Rs 22, quando o rei Josias mandou seus assessores consultarem a profetisa Hulda,
diz o texto que ela morava no bairro novo de Jerusalém, ou seja, Hulda provavelmente
era descendente dos israelitas que migraram do norte para o sul no período de expansão
da Assíria.

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2.6. Israel autóctone e deportado (722-538 AEC)

Judá permaneceu no controle do território até 597 AEC. Após pesado cerco, foi dominado
pelos babilônios. Vários setores da população
foram sendo deportados em diversas levas. O
templo de Jerusalém e a cidade foram destruí-
dos dez anos depois, em 587 AEC. Dos que
ficaram na terra muitos fugiram para o Egito,
mas a grande maioria permaneceu no territó-
rio judaíta.

Os que dispersaram para o Egito nunca volta-


ram para Judá e criaram em Elefantina uma
grande colônia judaica que subsistiu por mui-
tos anos. Na Babilônia, com os deportados,
também foi constituída uma grande colônia
judaica que mesmo depois da ordem de retor-
no ao seu território, permaneceu ali. De fato a
colônia judaica do Iraque só veio se extinguir
com a expulsão dos judeus que ocorreu no
século XX EC durante o regime de Saddam
Hussein.

Uma leitura superficial do texto bíblico dá a


entender que teria havido uma desertificação
do território de Judá com a deportação para a Babilônia. A arqueologia tem trabalhado
criticamente nos números de deportados e habitantes de Judá durante o exílio tem esti-
pulado que:

“...se aceitarmos os números mais elevados possíveis para os exilados – 20 mil –


eles parecem compreender, no máximo, ¼ da população do Estado de Judá; isso
significaria que pelo menos 75 por cento da população permaneceu na terra judai-
ca.” (FINKELSTEIN:2003)

Toda a elite foi deportada para Babilônia


entre 597 e 587 AEC. Os autóctones fo-
Muitos deportados nunca quiseram vol- ram relativamente beneficiados pelo Im-
tar para Judá. Os que haviam ficado ali pério Babilônico (Jr 39,10 e 2Rs 25,12) e
eram os pobres e os ricos e nobres ha- este beneficiamento perdurou até os dias
viam sido deportados. As genealogias do Império Persa, isto é, antes que o re-
que os deportados carregavam de volta torno dos exilados começasse a modificar
para Judá, tinham função de “escritura a estrutura social em Judá.
de terra”. provando que seus antepas-
20

sados eram proprietários de determina-


dos territórios eles poderiam reintegrá-
Página

los no regresso da Babilônia.

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2.7. Judá pós-exílico (538 à 29 AEC)

É natural imaginar que, em pouco menos de


um século, esta proporção não tenha variado
muito, e que na época da hegemonia persa a Durante o exílio em Babilônia, os
proporção entre deportados e judaítas assen- judeus puderam se reunir não ape-
tados tenha permanecido sem grandes alte- nas em comunidade, como tam-
rações ou ainda maior, uma vez que muitos bém, aproveitando a elite cultural
deportados nunca quiseram voltar para Judá. que ali se encontrava, fomentar
substancialmente a produção lite-
Quando os judaítas foram deportados (prin- rária dos livros principalmente da
cipalmente os que nasceram na Babilônia), Torá. Este compêndio forneceu aos
houve uma grande tensão envolvendo a pos- judeus deportado a identidade de
se das antigas terras que pertenceram às povo eleito. Depois de regressarem
famílias deportadas. Os que ficaram em Judá à Judá, os judeus foram ameaça-
foram os pobres, os que foram deportados dos na sua identidade monoteísta e
eram os ricos. Na redistribuição de terras, os étnica de maneira muito dura pelos
pobres passaram a tomar para si as terras selêucidas que, ao contrário dos
dos ricos com a permissão do rei da Babilô- Persas que preservavam a identi-
nia. dade dos países dominados, eles
ofendiam aquilo que proporcionava
As inúmeras genealogias dos livros de Es- identidade aos povos, no caso de
dras, Neemias e Crônicas refletem conflito Israel, seu recém-estabelecido
mais profundo que mera linhagem familiar. monoteísmo.

Quem pudesse provar sua linhagem tam-


bém recuperava a herança da terra. As
genealogias tinham função de “escritura de
terras” no Israel pós-exílico.

O território de Samaria constituía-se numa


província com certa autonomia numa su-
bordinação às satrapias dos persas. A insti-
tuição de uma província autônoma em Judá
é, no fundo, uma afronta à autonomia de
Samaria, daí os conflitos entre Tobias e
Neemias.

No período pós-exílico, em função da in-


fluência religiosa estrita dos deportados
que regressavam, pela primeira vez Israel
se identificou como nação monoteísta, onde
o culto idolátrico era terminantemente pro-
21

ibido e nesta diretriz teológica permanece


até hoje. A implementação da Torá na vida
Página

do povo deu a liga necessária para que a

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tradição monoteísta finalmente se consolidasse.


A invasão cultural helênica (selêucida) anos depois tratava as tradições judaicas com
desprezo e provocação. A observância da Torá foi proibida sob severas penas; os exem-
plares das Escrituras que foram encontrados foram queimados.

Os judeus foram duramente perseguidos. Durante mais de três anos foram completa-
mente privados de seus direitos civis e religiosos; os sacrifícios diários foram proibidos;
em Jerusalém foi erigido um altar ao deus Júpiter. No grande altar do sacrifício foi sacrifi-
cada uma porca para profaná-lo e a água em que foi servida sua carne foi salpicada so-
bre os rolos da Lei e sobre as principais partes do templo. A identidade judaica foi tre-
mendamente afetada, até provocar a guerra dos Macabeus.

SINTESE DOS PRINCIPAIS EVENTOS DA HISTÓRIA DE ISRAEL AT e NT

1400 à 1200 AEC OCUPAÇÃO PROGRESSIVA DE CANAÃ


1250 AEC ANO DO ÊXODO (?)
1200 à 1000 AEC TRIBALISMO EM ISRAEL
1040 à 1004 AEC TRIBALISMO SOB SAUL E SAMUEL
1004 à 965 AEC MONARQUIA INCIPIENTE SOB DAVI
965 à 926 AEC MONARQUIA UNIDA SOB SALOMÃO
926 à 722 AEC REINOS DIVIDIDOS: JUDÁ E EFRAIM
722 à 597 AEC PEQUENA AUTONOMIA DE JUDÁ (EZEQUIAS A JOSIAS)
597 à 538 AEC DEPORTAÇÕES, EXÍLIO SOB BABILÔNIA E PÉRSIA
538 à 515 AEC INÍCIO RETORNO DEPORTADOS
... à 515 AEC RECONSTRUÇÃO DO TEMPLO E DE JERUSALÉM
445 à 433 AEC PÓS-EXÍLIO SOB OS PERSAS – GOVERNO ESDRAS E NEEMIAS
333 à 323 AEC DOMÍNIO GREGO – PERÍODO ALEXANDRE O GRANDE
323 à 200 AEC DOMÍNIO GREGO DIVIDIDO: PTOLOMEUS E SELÊUCIDAS
200 à 135 AEC DOMÍNIO SELÊUCIDA NA PALESTINA
160 à 135 AEC RESISTÊNCIA MACABAICA NA PALESTINA
29 AEC ... INÍCIO DA DOMINAÇÃO ROMANA NA PALESTINA
40 AEC à 4AEC REINADO DE HERODES O GRANDE E ADVENTO DE CRISTO
4AEC à 44 EC TETRARQUIA DOS FILHOS DE HERODES NA PALESTINA
66 à 70 EC 1ª REVOLTA JUDAICA
132 à 135 EC 2ª REVOLTA JUDAICA
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UNIDADE 3
MOVIMENTOS LITERÁRIOS

A divisão de livros do Antigo Testamento das Bíblias Cristãs é diferente da divisão de li-
vros da Bíblia Hebraica. A divisão hebraica proporciona mais sentido para a compreensão
dos movimentos literários do AT.

A Bíblia Hebraica está dividida em três grandes blocos como veremos no módulo mais
adiante: (i) Torá – a lei; (ii) Nebiim – os profetas, e (iii) Ketuvim – os escritos. Para en-
tender quais movimentos literários deram origem a estes grupos de escrituras, é neces-
sário entender um pouco do funcionamento da sociedade do Antigo Israel. Este assunto
será melhor trabalhado na disciplina Bíblia e Cultura, mas de antemão esboçaremos uma
síntese destes grupos sociais que produziram movimentos literários.

3.1. O movimento literário profético

Na estrutura da Bíblia Hebraica, os livros profé-


ticos estão no centro do cânon. Para os israeli- A Bíblia Hebraica está dividida em três
tas, os livros proféticos não são apenas os li- grandes blocos:
vros que contém profecias. Eles são os livros (i) Torá – a lei
que também contam a história da atuação pro- (ii) Nebiim – os profetas
fética e entre eles estão os livros que recebem
(iii) Ketuvim – os escritos
também os nomes de profetas.
Na estrutura da Bíblia Hebraica, os livros
O bloco profético da Bíblia Hebraica é composto proféticos estão no centro do cânon.
pelos seguintes livros: Josué, Juízes, 1 e 2 Sa- Para os israelitas, os livros proféticos
muel, 1 e 2 Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel e não são apenas os livros que contém
os 12 profetas que na Bíblia Hebraica trata-se profecias. Eles são os livros que também
de um compêndio contendo: Oseias, Joel, contam a história da atuação profética e
Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Haba- entre eles estão os livros que recebem
cuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias. também os nomes de profeta

Do movimento literário dos profetas fazem par-


te (i) os próprios profetas; (ii) seus escrivães, pois muitas vezes o profeta, em êxtase,
não tinha condições de escrever suas visões e (iii) os grupos sociais que distribuíam os
panfletos proféticos (no caso de Amós, por
exemplo, os oráculos proféticos eram distribuí-
dos em formato de panfletos e depois foram
reunidos, organizados e compilados em forma
de livro).

Estes grupos sociais que davam apoio e difun-


23

diam os oráculos proféticos são chamados de


grupos de suporte da profecia. Por exemplo,
Página

sabe-se que tanto Elias quanto Eliseu tiveram


suporte de uma escola de profetas que atuava

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desde os dias de Samuel. Daí a referência a


“Saul estar entre os profetas” (1 Sam 10,
11). Os grupos de profetas que caminha-
vam no meio do povo ou que circundavam
o profeta, como no caso dos ajudantes de
Eliseu que perderam o machado na água (2
Rs 6, 1-7), ou tiveram a comida envenena-
da (2 Rs 4, 38-41), parece dizer respeito a
grupos de aprendizes de profetas.

Adiante, quando se instrumentalizar tecni-


camente a exegese e obras literárias tive-
rem que ser consultadas, estes grupos de
suporte da profecia são mencionados e de-
ve-se reportar a estas pessoas que circun-
davam os profetas na sua atuação.

Em ambiente tribal, a figura do profeta


possuía maior autoridade que a figura do
rei. Um rei não poderia tomar qualquer ati-
tude em relação ao povo sem passar pela
aprovação do profeta. O profeta não era
apenas um mensageiro de Deus, era o por-
ta-voz de Deus para a vida das tribos. Sa-
muel foi um profeta, assim como Débora, que atuou diretamente em questões políticas
de seu povo. Nestes primórdios de Israel, o profeta está acima do rei, ele é aquele que
transmite ao rei o que Deus quer. Quanto mais antigo o período histórico do Antigo Isra-
el, maior autoridade tem o profeta.

O berço da profecia do Antigo Israel é Efraim. Os pais de Samuel eram de Efraim e Sa-
muel era natural desta região. Nesta região também atuaram Elias e Eliseu. O reino do
sul só conhecerá profetas ativos e com autoridade sobre os governantes a partir da des-
truição de Samaria, quando o movimento profético migrou para o Sul. No Sul, nos dias
de David, o profeta de maior relevância é Samuel, que reside no norte. Depois de Samu-
el encontramos Natã, mas Natã foi um profeta que atuou praticamente a serviço do palá-
cio e não de toda a nação como Samuel e os demais.

O bloco profético da Bíblia Hebraica é dividido


Os grupos sociais que davam apoio em Profetas Anteriores, isto é, os livros que
e difundiam os oráculos proféticos
contam a história da atuação dos profetas:
são chamados de grupos de supor-
te da profecia Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis. Os
Em ambiente tribal, a figura do livros dos Profetas Posteriores (todos os
profeta possuía maior autoridade demais) são exatamente os que registram os
24

que a figura do rei. O berço da pro- oráculos e visões recebidos pelos profetas. Ou
fecia do Antigo Israel é Efraim. seja, enquanto os Anteriores narram o suporte
Página

O berço da profecia do Antigo Isra- histórico da atuação da profecia, os Posterio-


el é Efraim.

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Os Profetas Anteriores são também res narram o que foi falado neste período his-
conhecidos como Historiografia tórico.
Deuteronomista ou Obra Historio-
gráfica Deuteronomista que muitas Os Profetas Anteriores são também conhecidos
vezes aparece abreviada como como Historiografia Deuteronomista ou Obra
OHD. Os profetas Anteriores con- Historiográfica Deuteronomista que muitas
tam a história de como o Deutero- vezes aparece abreviada como OHD. A origem
nômio se cumpriu quando Israel deste nome está no princípio que a forma co-
não obedeceu à lei de Yahweh. mo os relatos são compostos nestes livros
obedece a lógica dos preceitos de obediência
exclusiva a Yahweh contidas na lei do Deute-
ronômio. A historiografia dos Profetas Anterio-
res quer ensinar a Israel que todas as vezes que Israel desviou-se da obediência aos
mandamentos de Yahweh, as ameaças anunciadas no livro do Deuteronômio se cumpri-
ram, daí o vínculo entre o Deuteronômio e os Profetas Anteriores. Os profetas Anteriores
contam a história de como o Deuteronômio se cumpriu quando Israel não obedeceu à lei
de Yahweh.

Cabe ressaltar que, diferente da tradição protestante, a Bíblia Hebraica não considera
Lamentações e o livro de Daniel como componentes do bloco profético.

3.2. Os escribas da Lei

A Torá foi um bloco literário posterior ao


bloco profético. Quando a Torá foi compi-
lada enquanto bloco literário, os livros
proféticos já estavam praticamente todos
escritos. Quando a Torá entra em cena na
vida da nação, como constituição divina
para a vida do povo, regulando o monote-
ísmo dos israelitas, já se está no período
pós-exílico.

Para entender quem foram os grandes


atores do processo literário que deu ori-
gem às leis de Israel, é preciso compre-
ender o papel do levita naquela socieda-
de. Assim como no bloco profético houve
coleções de inúmeros panfletos separados
até que fossem compilados no formato de
livro, no caso das leis também houve di-
versos códigos legais isolados que depois
foram compilados em formato de livros.
25

A figura do levita é muito importante nes-


Página

te contexto. No tribalismo original, não

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havia a figura do rei como reguladora do po-


Hipótese documentária ou teoria das
der. Os preceitos jurídicos eram experimenta-
fontes define que os livros da Torá foram
dos e aplicados de forma itinerante. Uma situ-
escritos por pelo menos quatro grupos
ação específica de uma determinada região
redacionais principais (JEDP). Damos a
era vivenciada e quando repetida em outra
estes grupos de autores o nome de fon-
região, usava-se o preceito adotado na região
tes literárias e seus nomes advém dos
anterior e assim os eventos jurídicos adquiri-
grupos de suporte que os integravam:
am jurisprudência e se consolidavam, aos
Javista (J)
poucos, em códigos legais.
Eloísta (E)
Deuteronomista (D)
Posteriormente, com a implementação da le-
Sacerdotal (P)
gislação escrita, a figura deste levita itineran-
te, que habitava entre as tribos de Israel, vai
sendo progressivamente substituída pela figura do escriba, um personagem que surge
com mais força no período pós-exílico.

Houve também, durante a monarquia, os escribas do reino, chamados cronistas reais,


mas estes se encarregavam de registar os episódios mais relevantes dentro da atuação
de cada reinado e que ficaram registrados nos Profetas Anteriores. Desta forma, a legis-
lação de Israel tem dois personagens principais: (i) o levita tribal e (ii) o escriba sacerdo-
tal.

Dentro da Torá existem divisões internas que não se resumem apenas aos cinco livros
(Pentateuco) que já conhecemos: Gn, Ex, Lv, Nm e Dt. Os especialistas em exegese da
Torá admitem algumas divisões importantes que são mencionadas em diversos manuais
de estudo exegético do AT, a saber:

 Código da Aliança – Ex 20-23


 Código da Santidade – Lv 17-26
 Decálogo – Ex 20,1-10
 Dodecálogo Siquemita – Dt 27,15-26
 Código Deuteronômico - Dt 12-26

A hipótese documentária ou teoria das fontes elaborou a definição de que os livros


da Torá foram escritos por quatro grupos redacionais documentais principais:

 J – javista - trata-se de uma fonte literária do sul de Israel e com ênfase


hermenêutica da teologia javista adotada em Judá, que identifica nos relatos a
Deus como Yahweh ou Yahweh.
 E – eloísta -trata-se de uma fonte literária do norte de Israel, com ênfase
na teologia do norte, que era mais abrangente e não tinha tanta clareza sobre a
pessoa de Yahweh, mas identificava Deus como Adonai Elohim) O E também se
26

refere à Efraim.
 D – deuteronomista – é uma fonte literária que parte dos preceitos do
Página

Deuteronômio e dos discursos de Moisés. Ela está muito vinculada ao mo-

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vimento profético e inspira toda a teologia que orienta a composição da OHD ou


Profetas Anteriores.
 P – sacerdotal – Vem do alemão P, da origem da palavra sacerdote (em inglês
Priest, em alemão Priester). Trata-se de uma fonte original dos escribas do
templo, é uma fonte erudita da literatura bíblica, seus escritores são os respon-
sáveis pela composição final do cânon do AT.

A partir do séc. VIII AEC uma parte significativa das leis de Israel começou a sair do for-
mato avulso ganhando a estrutura de códigos. A ênfase num modelo de vida nacional
que privilegia uma sociedade igualitária é bastante visível. O surgimento destas leis co-
meçou a destacar a tensão entre viver dentro dos preceitos estabelecidos por Yahweh ou
viver conforme aos Cananeus e povos vizinhos.

3.3. Os escritos diversos

No bloco literário dos Escritos (Ketuvim) está


a grande variedade de todos os livros que
não se enquadram nem lei nem nos profetas.
A diversidade de gêneros é muito grande.
Encontram-se neste bloco novelas como as
de Rute e Ester, livros de poesias como Jó,
Cântico dos Cânticos, Lamentações e os Sal-
mos (divididos em 5 livros internos), Crôni-
cas reais como as dos livros de Crônicas, li-
vros históricos como os de Esdras e Neemias,
o livro apocalíptico do AT - Daniel, e os livros
da literatura sapiencial como o Provérbios e o
Eclesiastes.

O bloco dos Escritos ou Ketuvim foi o bloco


mais tardio na composição literária. Dele par-
ticiparam os poetas, os contadores de histó-
ria, os cronistas, os levitas salmistas, e os
sábios dos círculos de conselheiros do Antigo
Israel. Quando os livros deste bloco estavam se completando, já no período grego, mui-
tos judeus que estavam na diáspora falando o grego koinê desenvolveram o costume
de ler as Escrituras aos sábados nas sinagogas.

Neste importante momento, atendendo à demanda dos judeus da diáspora, ocorreu a


tradução de todo o AT do hebraico e do aramaico para o Grego Koinê, isto é, seu cânon
mais amplo, contendo os livros deuterocanônicos e outros que não constam no cânon
católico. Com isto surgiu a Septuaginta (LXX), uma fonte literária imprescindível para o
trabalho exegético sobre o AT.
27

Muitos escribas sacerdotais estiveram envolvidos no processo de fechamento do cânon


Página

do AT e como este bloco literário estava sendo fechado efetivamente neste período, atri-
bui-se grande responsabilidade da composição do cânon aos grupos sacerdotais. O papel
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destes escribas é importante, graças a eles o AT


adquiriu uma coerência teológica do princípio ao A inteligência filosófica por trás do
fim e consegue evidenciar um Deus que se mani- cânon é sacerdotal, mas os profe-
festa através da história do seu povo desde o tas são os pilares da teologia de
chamado de Abraão. Israel. Os sacerdotes tiveram o
poder de compilar, mas isso não
A inteligência filosófica por trás do cânon é sa- lhes deu poder de alterar a força
cerdotal, mas não se deve supervalorizar os es- da tradição oral que vinha desde os
cribas sacerdotais em detrimento dos profetas, grupos de suporte da profecia no
dos levitas tribais, dos conselheiros do povo e meio do povo.
dos inúmeros personagens que participaram da
tradição oral e dos primeiros processos de reda-
ção dos livros bíblicos. Os sacerdotes tiveram o poder de compilar, mas isso não lhes deu
poder de alterar a força da tradição oral nem de manipular completamente seus conteú-
dos. Retoques foram feitos pelos escribas e redatores finais do AT, mas conteúdos não
foram inventados por eles, eles só trabalharam em cima do que a tradição do Antigo Is-
rael perpetuou na oralidade.

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UNIDADE 4
MUDANÇAS NOS PARADIGMAS TEOLÓGICOS

Como foi dito no princípio desta disciplina, a Bíblia é um livro teológico. Ignorar este
pressuposto na exegese bíblica é esquecer o princípio fundamental do seu texto, a arga-
massa que solidificou todo o compêndio de livros numa única obra, o livro mais lido do
planeta. Entender a teologia subjacente ao texto bíblico e seu processo de formação
sempre traz luz à compreensão da composição do cânon e também da mensagem bíblica.

4.1. Israel e seus grupos originais

Numa leitura geral, se tem a tendência de pensar que Israel foi monoteísta desde sua
formação. Isto não é verdade, pois nem Abraão foi monoteísta a vida inteira. O texto de
Hebreus cita Abraão como um fabricante de deuses na terra dos Arameus, isto é, em
Arã, a primeira parada do Clã de Terá quando saiu da Mesopotâmia, de Ur da Caldeia.

Israel é um povo que se formou a partir de uma experiência teofânica de um nômade


mesopotâmico, que vivia num ambiente politeísta, bem diferente do monoteísmo que se
introduziu em Israel. Chegar ao monoteísmo foi um processo pelo qual o próprio Abraão
passou, enquanto se tornava o pai desta grande nação. Assim como o monoteísmo foi
um aprendizado para Abraão, ele também foi aprendizado para o povo de Israel.

É importante que se perceba que vários são os grupos humanos que participam da sua
composição de Israel, dos quais o clã de Abraão é apenas um. Cada um destes grupos
traz sua carga de experiência religiosa e sua teologia original. Deve-se lembrar que a
religião dos povos da antiguidade foi fator determinante
para quase tudo que aconteceu naquelas culturas. A teo- A Bíblia é um livro teoló-
logia que Israel adquiriu no período pós-exílico é um refi- gico. Compreender o
namento desta teologia multifacetada do Israel das Ori- texto bíblico implica ob-
gens. jetivamente em compre-
ender o processo de
Schwantes propõe a origem de Israel como resultado de amadurecimento da
quatro grupos humanos diferenciados: (i) Os hapirus, (ii) compreensão teológica
os grupos abraâmicos, (iii) os escravos do Egito e (iv) o que seus personagens
grupo sinaítico. Outros autores preferem a divisão em três desenvolveram, na me-
grupos principais e, ao invés de considerarem os grupos dida em que saíam da
abraâmicos como um grupo autônomo, eles o fundem no condição de politeístas
grupo dos arameus, e é esta a divisão que seguiremos para monoteístas.
aqui.
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4.2. O “Deus dos Pais” dos grupos Abraâmicos e Arameus

Os pesquisadores se referem a este gru-


pamento humano com três denominações
diferentes: (i) Grupos Abraâmicos, (ii)
Arameus e (iii) Patriarcas. Os arameus
eram grupos de pastores de gado miúdo
e semi-nômades que viviam nas estepes.

Como migravam de acordo com a dispo-


nibilidade de pasto para seus rebanhos, a
sensação de ser estrangeiro os acompa-
nhava constantemente. Não se permitiam
fixar em território algum e viviam em
tendas por toda a extensão de Canaã e
para além de suas fronteiras. Este estilo
de vida nas estepes era uma forma de
fugir do domínio opressivo das cidades-
estado da região de Canaã, que impu-
nham a seus súditos um tributarismo
pesado.

Estes grupos não adoravam uma divinda-


de com um nome próprio. Costumavam adorar o “Deus dos Pais”. Esta divindade acom-
panha o grupo familiar por onde ele passava, por isso não possuía um lugar geográfico
central para sua adoração. O Deus dos Pais ia
adquirindo um “nome” na medida que cada
O "Deus dos Pais" que acompanha patriarca de cada clã tinha uma experiência
o clã possui nove características teofânica com este Deus e a partir dela lhe
pessoais: atribuía um nome.
1) é pessoal (vinculado à pessoa a
quem se revelou), Cada um dos patriarcas teve uma experiência
2) é dinâmico (que age e inter- sagrada diferente com o mesmo Deus; por isso
vém), não bastava chamá-lo apenas de Deus de
3) é familiar (ligado às realidades Abraão. Desta forma, o texto bíblico frequen-
familiares), temente menciona as três diferentes experiên-
4) é peregrino (que caminha com cias dos patriarcas. A lista fica extensa: "Deus
seus devotos) , de Abraão", "Deus de Isaque", "Deus de Jacó",
5) faz promessa, "Deus de teu pai".
6) tem um culto particular,
7) é adorado na casa ou "... Estes títulos qualificam cada uma das experiên-
8) no lugar onde estiver o altar, cias teológicas de modo diferenciado, permitindo-
nos afirmar, que efetivamente, se deve distinguir
9) não precisa mediadores especi-
30

entre 'Deus de Abraão', 'Deus de Isaque', 'Deus de


alizados na adoração. Um Deus da
Jacó', porque se trata de três 'Deus de...', de três
intimidade da vida do clã e da
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diferentes experiências e comunidades religiosas..."


família e nela se revelava. (SCHWANTES:1998)

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Esse "Deus dos Pais" que acompanha o clã possui nove características pessoais: 1) é
pessoal (vinculado à pessoa a quem se revelou), 2) é dinâmico (que age e intervém), 3)
é familiar (ligado às realidades familiares), 4) é peregrino (que caminha com seus devo-
tos) , 5) faz promessa, 6) tem um culto particular, 7) é adorado na casa ou 8) no lugar
onde estiver o altar, 9) não precisa mediadores especializados na adoração. O Deus dos
patriarcas era um Deus da intimidade da vida do clã e nele se revelava. Era o Deus da
família.

4.3. O “Deus Libertador” dos hapirus

Os hapirus representavam uma grandeza social de Canaã. Eram grupos de origens diver-
sificadas e que possuíam alguns traços em comum. Eles habitavam as cidades-estado de
Canaã. Os hebreus no Egito que prestavam
trabalhos forçados têm sido identificados
com os hapirus. Alguns autores associam o
próprio Abraão também a este grupo.

A fome causada pela escassez de chuvas


em Canaã forçava estes grupos a migrarem
para o Egito em busca de suprimentos. Em
outros momentos eles também eram trazi-
dos como escravos pelas expedições milita-
res do Egito à Canaã. É um grupo identifi-
cado como “mescla de gente” (Ex.12,38).

Associados aos hapirus também estavam os


grupos de mercenários que habitavam as
periferias das cidades e tinham comporta-
mento nômade. Esta mescla de gente inclu-
ía pessoas de diferentes credos, dialetos,
culturas, valores, ocupações e intenções políticas.

Os hapirus
eram pessoas O principal problema dos hapirus era sobreviver, eles emprega-
que tentavam vam-se como escravos, partiam para o banditismo como saltea-
livrar-se do dores, ladrões e fugitivos ou atuavam em serviços militares e
jugo que o Egi- para-militares. Mas em geral tratava-se de um grupo marginali-
to e as cidades- zado social e juridicamente. De todas as formas, encontramos
estado lhes um importante traço comum entre estes grupos: os hapirus
impunham.
eram pessoas que tentavam de alguma forma livrar-se do jugo
Suas práticas
religiosas eram que o Egito e as cidades-estado lhes impunham.
31

tão sincretistas
quanto era a Pastores, escravos, comerciantes ou funileiros, possuíam um
Página

própria mescla sentido de vida comum que não lhes permitia subordinar a um
de gente que sistema de vida injusto, explorador e opressivo. As práticas reli-
os compunha.
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giosas destes grupos de hapirus eram tão


sincretistas quanto era a própria mescla de
gente que os compunha. Havia grupos de
hapirus que adoravam o "Deus dos Pais",
outros que adoravam o "Eu Sou" anunciado
por Moisés, que liberta o povo da servidão.
Outros adoravam as divindades canaanitas
e ainda outros o “Deus do Sinai”. Também
havia aquelas divindades em forma de
animais ou com representações daquilo que
era comum no Egito (como o bezerro de
ouro) e havia os que adoravam um Deus
guerreiro, que combatia junto com os mer-
cenários em favor de seu livramento, o
“Deus dos exércitos”.

A concepção de um “Deus que liberta es-


cravos da mão do Egito opressor” é perfei-
tamente assimilada pelos grupos hapirus
em função de seu desejo primordial de li-
bertação e pelo fato de a miraculosa liber-
tação do grupo de hebreus do Egito repre-
sentar a utopia dos muitos hapirus que
habitavam as periferias das cidades canaa-
nitas, como rejeição à opressão dos pode-
rosos reis das cidades-estado.

4.4 O “Deus do Sinai” do grupo da península arábica

O grupo conhecido como sinaítico é o mais homogêneo entre todos, provavelmente o


menor deles e por isso, o mais fácil de ser descrito. A metade do Pentateuco é descrita
como tendo ocorrido nas imediações do monte Sinai, daí a relevância teológica deste
espaço geográfico. O conteúdo do livro do Deuteronômio é alocado no Horebe e para lá
remonta toda a tradição legal do Judaísmo, por isso é muito importante conhecer o papel
do grupo humano que se junta aos hebreus saídos do Egito a partir do encontro ao pé do
Sinai.

A narrativa bíblica especifica que o grupo que saiu do Egito tinha que ir para o deserto
para render culto ao Deus de seus pais, o Deus que apareceu a Moisés numa sarça in-
candescente e se apresentou como “Eu Sou”. No entanto na região do Sinai havia mais
pastores semi-nômades, criadores de gado miúdo, descendentes do clã de Midiã cujo
melhor representante é o sogro de Moisés (Jetro ou Reuel). Este grupo adorava o Deus
32

da montanha, o Deus do Sinai. Este é o Deus chamado de Yahweh.


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A tradição de Yahweh como o Deus do Sinai é tão antiga e estreita que o Sinai identifica
Yahweh e Yahweh identifica o Sinai. Yahweh não é uma divindade canaanita como Baal,
Dagom, Ashera, Astarte e etc. Yahweh é um Deus que se levanta do Sinai para livrar seu
povo (Jz 5,4 e 5).

A noção de que Yahweh é um Deus que vem de fora de Canaã é anterior a existência de
Israel. O sogro de Moisés é um sacerdote midianita deste Deus Yahweh, e Moisés teve
seu primeiro encontro com este Deus em terras midiani-
tas (Ex 3). Os beduínos de Edom (Esaú) também são
A tradição de Yahweh
associados com Yahweh até mesmo em documentos ar-
como o Deus do Sinai é
queológicos egípcios. tão antiga e estreita que
o Sinai identifica
De todas as formas, a ciência, com toda a sua metodolo- Yahweh e Yahweh iden-
gia, parece ter chegado à consonância de que esse Deus tifica o Sinai. Yahweh é
era adorado por descendentes de Esaú (Edom), descen- um Deus único, cuida-
33

dentes de Midiã (filho de Abraão com Quetura represen- doso e ciumento, que
não admite outros deu-
tados em Jetro) e são os descendentes de Jacó, que es-
Página

ses diante dele e nem


imagens de si mesmo
feitas por mão humana.
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tavam todos no Egito, que a partir do Sinai começarão a conhecer a personalidade deste
Deus.

Yahweh é aquele que mora no Sinai. É necessário peregrinar até lá para adorá-lo. Dife-
rente do “Deus dos Pais” que acompanhava o clã em suas peregrinações, suas manifes-
tações estão conectadas com eventos espetaculares da natureza como abrir o Mar Ver-
melho, enviar pragas ao Egito, etc. Yahweh é um Deus único, cuidadoso e ciumento, que
não admite outros deuses diante dele e nem imagens de si mesmo feitas por mão huma-
na.

4.5. O Deus de Israel

Somando-se as características de
“Deus dos pais”, “Deus libertador”
e “Yahweh do Sinai” percebe-se
claramente que o Yahweh do mo-
noteísmo israelita dos tempos de
Esdras e Neemias funde as três
figuras de divindade num único
Deus, o Deus de Israel, e o reco-
nhece como soberano sobre todo
o panteão de divindades canaani-
tas. Com isso houve uma acomo-
dação das diversas tradições teo-
lógicas sobre o Deus de Israel
numa única expressão: a da fé
em Yahweh.

Fica claro que, no Pós-Exílio, pra-


ticamente mil anos depois do
Êxodo, Israel se tornou monoteís-
ta, mas este monoteísmo foi uma elaboração de percurso acidentado frequentemente
colidindo com o sincretismo canaanita, com o qual Israel conviveu por toda a sua exis-
tência, percurso que contou com a atuação e chamado à conversão contundente de todos
os profetas, e que para se desfazer deste sincretismo foram necessários um êxodo do
Egito, diversas deportações (Assíria e Babilônia) e uma única volta para a terra da pro-
missão de um grupo do último exílio, até que conseguissem compreender parte do cará-
ter deste Deus único e totalmente distinto de qualquer divindade de Canaã, Egito ou Me-
sopotâmia.

Este panorama nos ajuda a compreender como a história política dos povos vizinhos in-
terferiu completamente na configuração da teologia do Antigo Israel e porque as narrati-
vas bíblicas registraram os fatos do jeito que fizeram.
34

Desde o início da História de Israel percebemos que a atuação profética desempenhou


Página

papel preponderante como representante da voz de Yahweh no meio da nação. O “rosto”

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de Yahweh, que ia ganhando forma no imaginário dos israeli-


tas, era fruto dos oráculos, visões e ações simbólicas destes
homens e mulheres de Yahweh.

O jeito como os profetas compreendiam e transmitiam os


sentimentos e ações de Yahweh foram os “tijolos” na “enge-
nharia” do conceito de Yahweh e de seu caráter que funda-
mentou o monoteísmo israelita. Os “movimentos” teológicos
de autóctones e deportados também foram alavancados pela
mensagem profética.

Os profetas convocavam o povo ao foco no Deus Yahweh,


pois fora dele não havia nenhum deus que merecesse adora-
ção. Somente Yahweh era o Deus que escolhera Israel como seu povo.

Na cosmovisão hebraica, os elementos mais importantes não estão no início, nem no fim,
estão no centro. Os Profetas Anteriores e Posteriores ocupam, por isso, o centro da Bíblia

No Pós-Exílio, quase mil anos depois do Êxodo, Israel se tornou, finalmente mono-
teísta, depois de longo amadurecimento teológico.

Esta caminhada foi acidentada, recalcitrante, colidindo, acolhendo ou repelindo o


sincretismo religioso de Canaã, presente em todo o Antigo Testamento.
Este processo de reconhecimento de Yahweh como o único Deus de Israel contou
com a atuação e chamado à conversão contundente e protagonista de todos os
profetas.

Para se libertar do sincretismo foram necessários um êxodo do Egito, diversas de-


portações (Assíria e Babilônia) e uma única volta para a terra da promissão de um
grupo minoritário mas fervoroso ao extremo do último exílio.

Este grupo também é grandemente responsável para que todo o Israel compreen-
desse o caráter deste Deus único, ciumento e totalmente distinto de qualquer di-
vindade de Canaã, Egito ou Mesopotâmia.

Hebraica por conta desta relevância para a formação do monoteísmo.

A Teologia que subjaz aos escritos bíblicos é construída desta forma. O testemunho teo-
lógico que é o texto bíblico tem fundamento na construção de um monoteísmo que per-
passa mil anos da história do Antigo Israel.
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UNIDADE 5
A CONTRIBUIÇÃO DAS CIÊNCIAS BÍBLICAS

A esta altura você deve estar se perguntando: “mas de onde sai tanta informação que dá
sentido ao texto bíblico que não é percebida quando se lê o texto na sua superfície?” Este
é o importante papel desempenhado pelas ciências bíblicas.

Por incrível que possa parecer, todo o material que dá origem a esta visão histórico-
social está no próprio texto bíblico. É nas suas nuances e pequenos detalhes, despercebi-
dos na leitura superficial, que são levantadas as grandes suspeitas hermenêuticas. Estas
suspeitas são investigadas com persistência por pesquisadores de diversas áreas de co-
nhecimento.

Em cada área científica que investiga as mesmas suspeitas, são recuperados elementos
relevantes e que, quando reunidos, proporcionam ao texto bíblico um sentido muito mais
rico do que aquele fornecido pela leitura superficial e pela hermenêutica intuitiva. Conhe-
çamos de que forma cada uma delas contribui para uma compreensão mais rica do texto
bíblico.

5.1. Sociologia Bíblica

Esta ciência é responsável pela reconstrução do modo de vida das sociedades do Antigo
Oriente. Utiliza métodos investigativos da própria sociologia e seu enfoque é recuperar a
trajetória sociológica natural dos povos da região.

Descobre-se, pela sociologia bíblica, como eram as relações políticas e econômicas entre
os povos, as relações sociais, as estruturas de poder e os grupos humanos inclusos na
composição do Antigo Israel. Delineia-se como o povo saiu da estrutura nômade e clânica
para se tornar uma grandeza política unificada com traços próprios.

É a Sociologia Bíblica que levanta


as teorias sobre o surgimento de
Israel como nação, recuperando a
trajetória dos grupos nômades,
escravos e beduínos do Sinai que
mencionamos anteriormente.

É uma ciência muito importante


para a recuperação de sentido; e o
método sociológico, que a orienta,
tem grande valor. Todavia, a socio-
logia precisa abstrair o conteúdo
36

teológico do seu foco de análise


para recuperar o comportamento da sociedade. Isto deixa a análise sociológica incomple-
Página

ta em si mesmo.

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Alguns pesquisadores nos últimos séculos tem


cometido o equívoco de colocar o método socio-
Quando a sociologia analisa o
lógico e as descobertas da sociologia acima do
texto bíblico privando-o de
pressuposto teológico do texto bíblico que subjaz
sua finalidade teológica ela
a todo seu conteúdo. Com isso criam-se grandes passa a ignorar seu compo-
conflitos que atingem os níveis basilares da fé no nente fundante e presta um
Deus do AT. O método sociológico não pode so- desserviço à interpretação
brepor o fundamento teológico do texto bíblico. bíblica. Por mais útil que seja,
o método sociológico não po-
de impor-se ao propósito teo-
lógico do texto bíblico.
5.2. Antropologia Bíblica

Esta é uma ciência paralela à sociologia, mas seu intuito é partir do modo de vida das
sociedades para descrever o ser humano prefigurado no texto bíblico e todas as figuras
de linguagens utilizadas no texto.

A antropologia recupera o perfil do ser humano presente no texto e dá sentido à simbo-


logia dos elementos do corpo que servem de metáfora ou de comparativo nos inúmeros
relatos bíblicos.

Por exemplo, sabe-se que o Deus Yahweh nunca


se manifestou fisicamente diante dos israelitas,
pois aquele que “vê a Deus certamente morrerá”.
Todavia fala-se que Yahweh livrou Israel com bra-
ço forte, que ele vem cavalgando desde o Sinai,
que ampara seu povo como uma mãe que ama-
menta seu bebê.

De onde vem e o que significam estas atribuições


antropomórficas a respeito de um Deus que
nunca foi visto pelo olho humano? Recuperar a
simbologia destes elementos é o trabalho da an-
tropologia bíblica, estudando principalmente o
comportamento do ser humano das narrativas
redesenhado pela sociologia bíblica.

5.3. Geografia e Arqueologia Bíblica

A geografia bíblica recupera para o exegeta o sentido de toda mensagem do texto bíblico
que está vinculada aos detalhes do espaço geográfico onde os eventos narrados aconte-
ceram primordialmente.

Inúmeros detalhes do relevo, da hidrografia, da pluviosidade, do solo e de sua fertilidade


37

são importantes para a compreensão de diversos elementos do texto bíblico principal-


Página

mente para a linguagem elaborada na poesia e para a elaboração da teologia monoteísta


do Antigo Israel.

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Entender as diferenças de clima e solo entre


Efraim e Judá modifica toda a compreensão
sobre o texto e explica, por exemplo, por
que Judá se manteve, até certo ponto, afi-
nado com Yahweh com maior tranquilidade
que Efraim, que coxeava entre Yahweh e
Baal.

Na mente dos nortistas, Yahweh era o Deus


libertador do Egito, que habitava uma mon-
tanha no Sinai e vinha para Canaã quando
era chamado. Uma divindade do deserto que
“nada entendia sobre agricultura” e que não
interferia nestes assuntos. O território de
Judá é, em sua maior proporção, desértico.
A assimilação do Yahweh do deserto do Sinai
com o deserto da Judeia foi culturalmente
facilitada, devido ao “gosto geográfico” de
Yahweh pelo deserto em si mesmo. Mas para
os nortistas, importava não desagradar Baal,
a divindade da agricultura, que de ano em
ano “mandava a chuva” e fazia o solo do
norte, muito mais verdejante que o do sul,
ser fecundado e dar seu fruto.

A assimilação de Yahweh no norte foi mais conflitiva do que no sul. Por isso mesmo o
movimento profético do norte foi mais profuso e intenso do que o do sul. Todos estes
elementos são possíveis de serem percebidos quando estudamos a geografia bíblica den-
tro da perspectiva da geografia das religiões.

Igualmente a Arqueologia auxilia a recuperação de sentido do texto bíblico quando nos


permite descobrir elementos que serão utilizados na sociologia, na antropologia, na lin-
guística aplicada, na reconstrução histórica e na fenomenologia. A Arqueologia, dentre as
ciências bíblicas, é a que fornece suporte para que todas as demais ciências se cooperem
no exercício exegético.

5.4. A Linguística Aplicada

Esta é uma das ciências que auxilia a exegese e a hermenêutica bíblica de modo mais
encantador do que se imagina que possa auxiliar. A filologia dos textos originais é fasci-
nante e reveladora de inúmeros sentidos do texto em si mesmo.
38

Igualmente a semiótica estuda os signos da linguagem bíblica como cores, gestos, pala-
Página

vras, espaços e a sua articulação com o conteúdo do texto e sua mensagem. O escritor

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bíblico está todo o tempo realizando um exercício semiótico quando deixa suas palavras
registradas. Porém o leitor se aproxima deste exercício semiótico na intenção de decifrar
estes signos e para isso ele precisa realizar exercícios semânticos.

A riqueza da linguística bíblica é matéria de profundos estudos exegéticos dos rabinos.


Seus métodos exegéticos são maiormente linguísticos como será visto em outra discipli-
na.

5.5. História

Inegável e já demonstrado no primeiro módulo desta disciplina é o papel da História na


compreensão do texto bíblico. Verificamos inclusive que há três linhas históricas aconte-
cendo em paralelo na construção do texto bíblico e esta simultaneidade de atuações não
pode ser perdida de vista.

Uma das contribuições que as Ciências da Religião proporcionam ao exercício exegético é


o estudo comparado da história das religiões para se decifrar a religiosidade dos povos
vizinhos a Israel que tanto interferiu na formação de sua teologia. Aliada à Sociologia e
Antropologia, a História proporciona grande base para o estudo exegético das Escrituras.

5.6. Fenomenologia

Como dito desde a primeira unidade, o texto bíblico é um texto sagrado. Ele deriva da
experiência com o Sagrado que os personagens do Antigo Israel vivenciaram. Para ser
devidamente compreendido, o texto precisa ser examinado à luz do fenômeno sagrado.
Para isto há nesta pós-graduação uma disciplina exclusiva para o estudo do fenômeno
religioso que subjaz o conteúdo do texto bíblico.

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