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ANTOLOGIA

Comportamentalismo:
parte do problema ou parte da solucão?
IAMES C. HOLLAND
University of Pittsburgh

Durante as lutas dos anos sessenta, Eldridge Clea- contra os quais estes mesmos críticos se estão a
ver declarou: «Quem não faz parte da solução, faz revoltar. Irei sugerir-vos que a perspectiva que o re-
parte do problema.» E agora já é altura de nós colo- formador social tem da humanidade é apoiada, é
carmos a questão: «O comportalismo faz parte da não rejeitada, pela análise do comportamento. É ver-
solução ou do problema?» Há muita gente com res- dade que os analistas do comportamento práticos têm
postas já prontas para esta questão; muitos que se sido contratados, em números cada vez maiores, para
opõem dquilo que vêem como um sistema político trabalhar ao serviço daqueles que detêm o poder e
opressivo e que vêem um controlo estratificado nas que embora a ciência, o Comportamentalismo, esteja
mãos dos Iíderes das corporações. Para estas pessoas pronta para fazer parte da solução, o comportamen-
o Comportamentalismo é, frequentemente, visto como talista prático tem feito parte, com demasiada fre-
sendo o problema e o comportamentalista como ainda quência, do problema. Mas amanhã. se nos manti-
mais outro instrumento na sua manipulação e na sua vermos coerentes com a nossa ciência, podemos fazer
exploração. Mas a acusação surge a partir de uma parte da solução, pois a nossa ciência da análise do
perspectiva demasiado limitada daquilo que é o Com- comportamento estcí fundamentada numa perspectiva
portamentalismo. Irei sugerir-vos que a anúlise do da humanidade que é compatível com a reforma
comportamento nos fornece o meio para analisar as social.
estruturas, o sistema, as formas de controlo social

* Sem dúvida o artigo que ora vos apresentamos OS SISTEMAS


levanta aspectos polémicos e pode ser gerador de con- DA MODIFICAÇAO DO COMPORTAMENTO
trov6rsias. Nesse sentido e com o objectivo de situar E AS ESTRUTURAS DO PODER
o leitor não poderíamos deixar de apresentar o con-
texto em que se verificou a sua primeira publicação. ESTABELECIDAS
O editor fex acompanhar o artigo de James G. Holl-
and com uma sua nota, facto pouco habitual em Os argumentos contra os actuais sistemas de modi-
rela@o a outros artigos, em que desvincula a onen- ficação do comportamento são já hoje, com certeza,
taçáo da revista em relaçáo à opinião do autor. Mais bem conhecidos. Num artigo anterior (Holland, 1975)
ainda, a publicação do artigo aguardou o apareci- sugeri que os receios acerca da existência de uma
mento de três críticas de membros do Board of
Editors da revista (N. Azrin, J. S. Brinbrauer e Israel sociedade controlada através das técnicas comporta-
Goldiamond) e ainda a resposta do autor a essas mentais poderiam ser avaliados examinando as socie-
críticas. dades planeadas, em miniatura, que actualmente exis-
Em virtude de não ser possível a inserção dessas
críticas, pode o leitor, interessado em aprofundar as tem ~ m e a d a m e n i e0s sistemas de reforço de tokens
questões levantadas por este artigo, entrar em con- que se encontram nas prisões, nos hospitais psiquiá-
tacto com os organizadores deste número caso não tricos, nas escolas, no exército, na indústria. Quando
consiga obter a edição original. Este artigo foi publi- as perspectivas de uma sociedade comportamental
cado em 1978 no lournal of Behavior Analysis, 11,1,:
163-174. Universitk of Kansas. Denartment of psv- -,
planeada são assim avaliadas, as predições do luta-
cholo& Lawrence, Kansas, USA. a dor pelos direitos cívicos e do reformista social são
amplamente confirmadas. O receio de q u e m é que Dentro deste contexto gostaria de considerar, bre-
controla o controladorn exprime o desejo de controlo vemente, três vítimas: o alcoólico, o criminoso e o
manipulativo ou de exploração onde os elementos de analista do comportamento, e discutir como é que os
um estrato social (os controladores) definem os objec- comportamentalistas têm contribuído para os proble-
tivos e as contingências, e distribuem os reforços aos mas destes, enquanto o comportamentalismo aponta
elementos do estrato mais baixo e subjugado (os para uma solução.
controlados). Concluí o meu artigo anterior da se-
guinte forma:
O ALCOÓLICO
«Os guardas reforçam os presos; as enfermeiras
reforçam os doentes e os professores reforçam os Primeiro o bêbado -frequentemente o alvo da
alunos. O receio do controlo manipulador é bem terapia do comportamento - certamente um infeliz a
fundamentado quando não existe uma relação precisar de ajuda Para o alcoólico encarcerado ou
profissional-cliente. Os que estão subjugados a hospitalizado a terapia aversiva é vulgar (Miller e
estes sistemas de controlo do comportamento nüo Barlow, 1973). Nos processos de condicionarnerrto
são clientes. Os modificadores do comportamento clássico, os vários estímulos associados com o beber,
nas prisões são, fundamental e inevitavelmente, tais como o sabor das bebidas alcoólicas, os estímulos
responsáveis perante os directores da prisão e não visuais e até o uirítaginm beber, são emparelhados
perante os presos; na sala de aula, são responsá- com um estímulo fortemente aversivo, tal como o
veis perante o director ou comissões de gestão e choque eléctrico ou a náusea induzida por uma droga.
não perante o aluno. De uma maneira simples. os Espera-se que este processo de condicionamento con-
actuais sistemas de token apoiam as estruturas de duza os vários estímulos que acompanham o beber
poder existentes.~(Holland, 1975. p. 90.) a estabelecerem-se como estímulos aversivos condi-
cionados. Os defensores da terapia aversiva baseiam
Aqueles que detêm a autoridade, que contratam a sua confiança nas suas técnicas na sua compreen-
os analistas do comportamento. e os próprios analis- são das descobertas no laboratório. Contudo os factos
tas, podem considerar benéfico o controlo que exer- da aprendizagem discriminativa são negligenciados.
cem. Certamente que os detentores do poder assim O lar. o bar, ou as ruas onde o beber problemático
o pensam. Mas o que é surpreendente acerca do papel ocorre são facilmente discriminados das condições
dos modificadores do comportamento é a frequência artificiais da clínica, ou mesmo dos bares simulados
com que estes aceitam as características internas. vis- usados para promover a transferência da aprendiza-
tas pelos seus patrões, como sendo as causas do gem. As diferenças entre estes ambientes artificiais
comportamento a ser corrigido. William Ryan refere- e as situações reais são ainda muito maiores do que
-se a isto como à uculpabilização da vftimm (Ryan, aquelas encontradas nos estudos laboratoriais da
1971). Aqueles cujo comportamento vai ser modifi- aprendizagem discn'minativa onde as respostas estão,
cado são chamados asociopafas~ou trabalhadores regularmente, sob o controlo dos estímulos. O com-
«não-motivadom, ou udelinquentem, ou se forem portamento E adaptativo. Ajusta-se & contingências
muito novos apredelinquentes~ou alunos uhiperac- de reforço ou de puniçãu. Estranhamente, é muito
tivom. O modificador do comportamento actua, en- frequente o terapeuta do comportamento não tomar
tão, formulando contingências de reforço especiais isto em consideração. O terapeuta tenta uma adapta-
em ambientes institucionais especiais. E exige-se en- ção técnica para os defeitos especiais do bêbado,
tão, daqueles cujo comportamento é assim modifi- aplicando-lhe estímulos aversivos dentro da clínica,
cado, que continuem a manter este novo comporta- mas fora da clínica prevalecem todas as condições
mento não obstante as condições que prevalecem fora que mantêm inicialmente o comportamento e este
do ambiente institucional. Contudo. a nossa ciência adapta-se a essas condições. Uma das adaptações é o
base, a Análise Experimental do Comportamento diz- próprio beber. E portanto o problema, tal como
-nos que o comportamento se adapta & contingências definido pelo paírão do modificador do comporta-
-qualquer contingência - e não somente àquelas mento, volta assim com o recidivismo ou a ausência
organizadas pelo psicólogo. O comportamento que de transferência.
incomoda o patrão do analista do comportamento é Talvez que, dada a maneira como o problema E
ele próprio resultado de dadas contingências. Para definido, os aspectos punitivos da técnica possam até
se operarem alteraçóes reais e duradouras são estas contribuir para o seu uso. Embora o terapeuta possa
contingências que devem ser alteradas. As alterações ser bem intencionado, a sociedade que vê o alcoólico
duradouras do comportamento requerem a modifi- ucrónicos como merecedor de desdém e retribuição.
cação das contingências que produzem e mantêm o talvez encoraje semelhante tratamento abusivo. E inte-
comportamento inicial. ressante que a terapia aversiva seja usada quase ex-
clusivamente no caso de comportamentos que, num O problema dos akodlicos k definido como o de
contexto não terapêutico. são alvo de sanções e reta- beber e assume-se que sujeitando-os a algum condi-
liações severas. Muitos perdoam, ou exigem, a puni- cionamento aversivo temporário poderá acurar~ os
ção do homossexual, do pedófilo. da pessoa violenta, seus hábitos de beber.
do drogado, e do bêbado. Estas vítimas são alvos Contudo, a descrição que Gallwtt faz das carac-
de desdém e de retribuição; são também os alvos da terísticas demográficas da população de doentes pode-
terapia aversiva. Ao mesrtzo tempo, a terapia aversiva ria sugerir algumas outras definições do problema.
está praticamente ausente no tratamento de um certo Dos 210 doentes, apenas quatro viviam com a mu-
número de problemas que, regra geral, niio repugitarn lher, 24 com familiares, e três com amigos. A mmo-
os outros. O fóbico não recebe choques eléctricos ria viviam sozinhos e mais de metade não tinha resi-
quando mostra medo: nem a pessoa com défice de dência permanente. Eram pobres, desempregados e os
auto-afirmdo quando manifesta passividade, o que exames médicos revelaram uma série de problemas
já não acontece no caso do preso demasiado afirma- físicos graves. De um modo geral, os doentes pare-
tivo e agressivo. O homossexual pode receber cho- ciam infelizes e solitários e com inúmeros problemas.
ques el&ctricos quando tem uma erecção ao ser-lhe Mas o terapeuta vê o álcool como sendo o problema
mostrada urna fotografia, mas o doente impotente e trata-o directamente. Até mesmo quando se reco-
M o recebe choques eléctricos, como forma de tera- nhece que a polícia está a importunar o doente, a
pia, por não conseguir uma erecção em circuns- preocupação é com os problemas que isto traz aos
tâncias semelhantes. Se a terapia aversiva tem alguma dados da avaliação, e não com os problemas que isto
eficácia, porque é então reservada para os actos vis- traz ao alcoólico. Segundo Gallant:
tos como imorais? Será que há um elemento de reru-
liação social na sua utilização? «Não era raro alguns destes alcoólicos serem
Assumo que os terapeutas são motivados por inte- presos, mesmo sem estarem a provocar distúrbios.
resses humanitários ao ajudarem os doentes. Mas os Os polícias tinham conhecimento da sua história
problemas do indivíduo foram definidos por outras e pouco hesitavam em prender a pessoa se esta pa-
pessoas de tal forma que os meios aversivos de alte- recesse intoxicada. Este ciclo doentio tinha de ser
rar o comportamento são justificados. Isto pode ser quebrado, caso contrário, dois dos critérios impor-
ilustrado por um estudo de Gallant (1970), que tantes da eficácia, os quais são as proporções de
avaliou um programa de tratamento obrigatório para prisões e de condenações, dar-nos-iam resultados
o alcoólico de «porta giratória» que é aquele que confusos e pouco seguros., (Gallant, 1970, p. 737.)
é regularmente preso por embriaguez (pelo menos
é assim em Nova Orleans, onde o estudo foi reali- Assim foram dados aos sujeitos, na experiência,
zado). Mais de 52 % dos 210 doentes no estudo cartões que estes podiam mostrar ao polfcia que os
tinham sido presos mais de 50 vezes e tinham uma tentava prender. Os polícias receberam ordens para
média de 14 prisões no ano da sua participação for- não prenderem o indivíduo com cartão *a não ser que.
çada no estudo. U m juiz condenou estas pessoas evidentemente, este tivesse cometido uma acção ilegab.
ou a irem um período de 90 dias para a prisão, ou a Se a própria teoria. na qual a terapia do compor-
aoferecerem-ses para participar na experiência de tamento se baseia, está correcta, então a solução de
Gallant. O Dissulfiram (Antabuse)foi usado como um um problema comportamental não pode estar nas
componente da terapia. O Antabuse é uma droga que contingências, especialmente programadas, do am-
produz núuseas severas quando o álcool é ingerido. biente especial da clínica. As contingências do anz-
Portanto, é uma forma de terapia aversiva. O leitor biente natural têm de ser modificadas para o pro-
pode ajuizar se o desdém do terapeuta por este tipo blema ser corrigido. A miséria e solidão abjectas dos
de alcoólico poderia ter ou não facilitado a sua deci- alcoólicos acrónicos, de Ga[lant poderiam dar uma
são para utilizar u m processo rnartirizante. Para base operante sólida para a bebida como meio de
apoiar a participação forçada, Gallant diz destes fugir para o esquecimento. O facto do efeito a longo
doentes: prazo aumentar a pobreza e a solidão torna simples-
mente a moderação mais difícil, aprofundando os
aDecidiu-se fazer o actual projecto de trata- problemas e estabelecendo um círculo vicioso. A fuga
mento obrigatório, cujo objectivo é o de dar ao a curto prazo leva a detestáveis efeitos a longo prazo,
alcoólico <algo que perdeu, se regressar aos seus o que por sua vez leva a outra fuga a curto prazo,
hábitos antigos. Ter «algo que perdeu> é essen- enquanto o ciclo continua.
cial para o doente alcoóIico, apático, deprimido, O próprio registo de detenções, que tanto preo-
desconfiado e dependente, e ainda com uma grave cupa Gallant, levanta questões sobre a natureza des-
ausência de ansiedade ou preocupação..m (Gallant, tas contingências de reforço. Quando o comporta-
1970, p. 734.) mento ocorre numa frequência alta, é provável que
esse comportamento esteja a ser reforçado. Gallant cial com uma cozinha gratuita, uma televisão, jogos
falha em reconhecer o significado de uma anedota e mobiliário disposto para as pessoas se sentarem
que conta, e que mostra o funcionamento das contin- e conversarem. Então, os seus ex-doentes deveriam
gências naturais na manutenção do alcoolismo. Um ter entrada contingente na sua não intoxicação.
dos seus alcoólicos «crónicos» chamou a polícia para E o que dizer das contingências ambieritais
dizer que havia um bêbado inconsciente ao pé da comuns que estabelecem e mantêm o beber? Parece-
cabine telefónica. Depois de desligar o telefone, este -nos óbvio que o sabor e os efeitos farmacológicos
alcoólico saiu da cabine e deitou-se ali ao pé espe- imediatos são reforçantes. Parece-nos também que os
rando a sua própria detenção. Para os pobres, os sintomas de abstinência do alcoólico são importantes
solitários, os sem lar, a prisão talvez tenha muitos na rnanutenção do beber. Mas na nossa sociedade,
reforços importantes. Usando a linguagem técnica do o beber tem um papel social tão proeminente que o
psicólogo que trabalha com animais, talvez a prisão reforço contingente nesta actividade está bastante es-
seja a <«caixaobjectivos do alcoólico. palhado. Para fazermos contactos sociais numa atmos-
Outros analistas do comportamento têm mostrado fera ligeira e amistosa, damos um cocktail. Quando
que o beber é susceptível de ser modificado usando é necessário discutir um problema difícil, de um
processos de reforço directo. Coben, Liebson e Fail- modo menos ameaçador ou mais descontraído, com-
lace (1970). usaram um sistema de reforço token binamos ir tomar uma cerveja e conversar. A cama-
para manipularem a frequência da ingerência de ál- radagem que se encontra no bar vizinho, ao fim do
cool, de alcoólicos hospitalizados, e demonstraram dia de trabalho, está cheia de contactos sociais refor-
assim a natureza operante do beber. E, como mos- çantes aconzpanhados de uma bebida. U m rapaz
traram, regido pelas suas próprias consequências. Bas- aproxima-se de uma rapariga oferecendo-lhe uma be-
tante adequadamente, sugerem que os problemas de bida. Na realidade, o caminho para a cama pode
bebida, vistos pelos profissionais, são um resultado incluir aperitivos, vinho com o jantar, e bebidas
das contingências existentes no ambiente da pessoa depois do jantar. Aquele que não bebe perde muitos
que bebe. Acentuam especialmente o p p e l do pro- destes reforços; na verdade o homem de negócios que
fissional, que na realidade está a proporcionar con- não bebe, que dispensa o aperitivo do meio-dia e os
tingências que podem manter o beber - nas suas cocktails oficiais, pode ocupacionalrnente estar em
próprias palavras: desvantagem. Em todos estes casos, o áicool actua
como um SD para o reforço de comportamento
«Alguns dos reforços que poderão ser relevantes
social que de outro modo seria considerado pelos
para o alcoolismo, no mundo exterior, incluem os
outros como frívolo. inapropriado, sentimental, ou
hospitais e o cuidado dos médicos, a assistência
até punível.
social, e os programas de reabilitação. Estes fre-
Além do mais, o beber recebe um grande ímpeto
quentemente proporcionam reforços poderosos
de uma grande indústria «O custo de respostas» é
para o alcoólico, tais como dinheiro, atenção, dro-
minirnizado pela venda de artigos em bares e estabe-
gas, cuidados médicos e priquiátricos. orientação
lecimentos amplos e bem situados. Esta indústria
e aconselhamento. Estes serviços ... são frequen-
gasto 200 milhões de dólares por ano, fazendo publi-
temente dados durante ou depois do beber exces-
cidade a homens duros e másculos que «só lá vão
sivo. Embora estes reforços possam não ter ini-
ciado o beber excessivo. contribuem substancial- uma vez» para «apanhar com toda a força» tudo
mente para a sua manutenção. Talvez alguns des- aquilo que conseguem de uma cerveja.
tes reforços pudessem ser dados sistematicamente U m esforço sério, para resolver os problemas
e dependentes da moderação.» (Coben et al, 1970, sociais inerentes na bebida, não se faz focando a
pp. 764-765.) chamada «personalidade deficiente» do bêbado desa-
gradável. Não será resolvido culpabilizando a vítima.
Gallante não encontrou qualquer vantagem no Exige, como todo o comportamentalista devia saber,
seu programa obrigatório de terapia aversiva. Espero uma mudança das contingências ambientais que cons-
que deixe de usar estes processos coercivos e espero tituem o dia-a-dia e os hábitos culturais. Semelhante
que tenha aprendido que os processos clínicos espe- mudança não é provável no funcionamento normal do
ciais não podem resolver os problemas comportamen- enorme sindicato corporativo que são os Estados
tais que são mantidos pelas condições do ambiente Unidos da América. Conseguem imaginar as conse-
natural. O alcoolismo não é como a apendicite, onde quências de uma redução súbita de 50 % no consumo
a remoção de um órgão que funciona mal é a cura. do álcool? Tivemos um ligeiro sabor de um problema
Melhor, o alcoolismo é um comportamento adapta- comparável quando o embargo árabe sobre o petró-
tivo. Para substituir o seu programa. talvez Gallant leo nos obrigou a resolver os muitos problemas que
pudesse tentar arranjar um centro comunitário espe- temos associados à utilização em excesso do automó-
vel. Mas a normalidade prevaleceu, pois foram de- roubo de automóveis, assaltos, etc.). Dos restantes
senvolvidas técnicas para manter os lucros altos quais- «crimes contra pessoas,. metade foram roubos, os
quer que fossem os custos sociais. quak, embora envolvendo confrontos pessoais, foram
também de base económica. Portanto, 93 % foram
cfimes a e pultaranr em $anhos económicos. O as-
esta perspectiva. As prisões são chamadas instituições eitos Lonlissao rresi enciai para o Kejorço aa
ucorreccionai~,os guardas são chamados «oficiais Lei (1967) sugeriram que os crimes da «classe de
da correcção» e o «buraco» ou isolamento é chamado colarinho branco», tais como fraude, desvios, fuga
a «unidade de adaptação comportamental». Quando de impostos, falsificações, etc., somam $1,73 biliões,
o analista do comportamento é contratado este aceita enquanto os crimes dos pobres - roubo, assalro,
a maneira como o sistema define o problema e assim roubo de automóveis, etc.- somam pouco mais de
montam economias simbólicas (token economies), um terço da primeira quantia (ou $608 milhões).
e programas de terapia do comportamento para «cor- Tanto os pobres como os ricos cometem actos ilegais
rigir» o indivíduo, embora o conhecimento que o pura obterem ganhos econórnicos. A nossa sociedade
comportamentalista tem dos princípios do controlo estii altamente cstratificada, e a qualquer nível há
do comportamento o devessem, por obrigação, levar uma luta através de esforços individualistas competiti-
n procurar as variáveis controladoras no mundo d o vos (legais ou ilegais) para elevar o estatuto e a feli-
criminoso. Não será, portanto, muito supreendente cidade da pessoa. O estatuto é definido pela riqueza
que uma investigação compreensiva de catamneses e pelos níveis de consumo. O sistema competitivo
de investigações sobre programas de reabilitação pri- elogia aqueles que compram, mesmo que seja à custa
sional (incluindo alguns comportamentalistas), não dos outros.
encontrasse qualquer prova que desse credibilidade Há diferenças na privação e no acesso, que expli-
à eficácia destes para reduzirem o recidivismo (Mar- cam as diferenças de classe no crime. Os pobres e os
tinson, 1974). desempregados não têm oportunidade para fugir aos
Já é, portanto, altura de o comportamentdista inzpostos, ou para desviarem fundos. O seu nível de
deixar de brincar com aquilo que ele ou ela sabe necessidades básicas força-os aos crimes mais perigo-
serem as causas mentais fictícias e de procurar as
sos porque mais acessíveis, os crimes da rua, que são
contingências que produzem o comportamento «cri-
públicos, e portanto conduzem mais frequentemente
minoso~.Isto é uma tarefa muito grande, mas gostaria
à prisão. Os mais privilegiados d o precisam de se
de sugerir algumas possíveis interligações na espe-
rança de que essa análise comece a ser feita. Pri- envolver em assaltos. Os seus crimes são mais seguros
meiro, é necessário reconhecer a amplitude e a varie- e podem realizar-se em privado, nos seus bares ou
dade do problema chamado crime. Embora um escritórios. De facto a sua atitude pública é provavet
subconjunto especial -a classe trabalhadora- esteja mente a de defender a verdade e a virtude. Usando
desproporcionalmente representada na população pri- um pensamento de Kurt Vonnegut, pode-se estabele-
sionai, estudos de auto-relatórios anónimos (Doleschal cer uma reputação para um indivíduo honesto que
e Klapmuts, 1973) mostram que mais de 90 % da será tanto melhor acreditado quando mentir.
população adulta masculina cometeu actos criminosos. A riqueza económica, a natureza da privação, e a
Como comportamentalistas, poderíamos supor cor- oportunidade de resposta explicam apenas uma parte
rectamente, que tanto o comportamento legal, como do padrão do crime. A própria justiça criminal está
o ilegal, são controlados de um modo semelhante. formulada para impedir o crime, e como tal envolve
A maioria dos crimes é realizada com o objectivo contingências de evitação. Embora este objectivo de
de conseguir um ganho econdmico e portanto o re- impedir não f q a com que os crimes deixem de ocor-
forço directo está na sua base. Por exemplo, segundo rer, tem contudo um papel importante na modelação
o aUniform Crime Reports,, do F.B.Z., de 1970, 87 % da natureza e da magnitude do crime. O acto que
dos crimes foram classificados como crimes contra a ocorre, dado a oportunidade, depende da probabili-
propriedade (incluindo roubo acima de $50000, dade e provável magnitude da punição. Portanto, os
crimes de rua ocorrem em zonas mais seguras, as viduais e de empresas e através da sua pesada repro
quais, ironicamente, têm também tendência para se sentaçüo nas comissões directivas das universidades.
encontrarem entre as mais pobres. O reforço da lei Os meios de comunicaçüo, tais como a televisüo, as
é maior nos bairros mais ricos, e o ladrüo, negro e revistas de grande tiragem. os principais jornais. são
pobre, mais fácil de notar. Semelhantemente, o indí- quase todos exclusivamente propriedade de elementos
víduo que usa a fuga do fisco evita deduções enor- da classe dominante e para além disso influenciados
mes que impliquem inquéritos, e todos nós já fomos pelos desejos dos seus principais utentes da publici-
vítimas de pequenas fraudes que deixam o consumi- dade que são (é necessário dizê-lo?) as empresas mais
dor indefeso, porque o custo para recuperar a perda poderosas. O ramo executivo do governo federal é
é maior do que a própria perda também controlado por esta elite do poder. O nomi-
nado presidencial de qualquer dos partidos tem que,
até à altura da convenção, ter sob o seu comando
O ANALISTA DO COMPORTAMENTO suficientes fundos de campanha para garantir a no-
Porque é que os analistas do comportamento não minação. Confio que acontecimentos recentes tives-
focam as contingências de manutençüo no comporta- sem tornado claro donde é que estes fundos vêm.
mento do criminoso ou do bêbado? Certamente que Depois da eleição os ricos são amplamente recom-
o nosso comportamento também é o resultado de pensados com posições no gabinete e papéis especiais
contingências naturais. Eis portanto a minha terceira de conselheiro. Uma grande parte da política adop
vítima - nós próprios e os nossos colegas acadé- tada pelo ramo executivo não é elaborada de modo
algum dentro do governo, mas por grupos e comis-
micos. Estamos suficientemente bem colocados nas
hierarquias estratificadas de controlo, para ser espe- sões especiais que são dominados pela classe domi-
cialmente importante que olhemos para as fontes do nante. Por exemplo, o Conselho dos Negócios Estran-
controlo e das contingências criadas para moldarem o geiros tem sido o formulador importante da política
nosso comportamento. Ao longo da última década, estrangeira (Domhoff, 1970).
o cientista social William Domhoff tem conduzido São destas sublimes alturas que os objectivos da
investigações que nos têm dado um certo número de nossa sociedade são formulados, que os objectivos
pistas. Irei apresentar u m esboço amplo das suas con- e os valores são postos em conformidade com a pers-
clusões e encorajar-vos a ler os seus livros, devido i1 pectiva da classe dominante que, deixem-me apressar
sua impressionante colecçüo de dados confirmativos. a dizer-vos, são governantes benévolos. Mas, e no
Domhoff (1967) definiu operacionalmente o que é que diz respeito ao nosso reforço ao atingir estes
pertencer a uma classe socialmente alta (a qual en- objectivos designados? De um modo geral, o nosso
globa menos de metade de I % da populaçüo). Encon- destino na vida é bom. Somos muitíssimo bem pagos,
tra provas. examinando a origem social daqueles que em relaçüo àqueles cujo comportamento é o nosso
tomam as decisões no mundo da política, da alta alvo de mudança. Uma vez dentro do sistema, temos
finança e do governo. de que esta classe socialmente u m alto grau de segurança e podemos atravessar sem
dominante é hereditária e é também a classe gover- qualquer queixa períodos durante os quais os jornais
nante. Os elementos da classe socialmente dominante, dizem haver 10 % de desemprego. Temos um grande
conjuntamente com algum amigos de escola e com prestígio e facilmente poderíamos acreditar que assim
sócios do mesmo aclube~,detêm as principais posi- o merecemos devido ri nossa inteligência superior, ao
ções do executivo nas suas corporações importantes, nosso mérito e motivação e aos direitos obtidos du-
governando primeiro atruvés do controlo directo das rante o sofrimento dos exames escritos e orais, defesa
grandes empresas tanto pelo facto de as possuírem de teses, etc. E uma tentaçüo até mesmo para o
(têm 75 % das acções), como também através da comportamentalista ignorar a sua ciência e aceitar
representaçüo directa em números significativos nos causas intentas que elogiam a vítima.
directórios doutras empresas. Estes directórios estão. Embrulhados na nossa segurança e benefícios
extensivamente, interligados com algumas pessoas -hipotecas com juros baixos para comprar a casa,
possuindo lugares em várias empresas. Além do mais, seguros favoráveis, benefícios para a educação dos
a classe dominante controla as principais fundações, filhos, pensões na reforma - levamos uma vida livre
as quais süo tüo importantes na definição dos pro- de preocupações enquanto conseguimos evitar não
blemas públicos e da política para a sua resolução. a perder. Tecnicamente, o comportamentalista reco-
i3 evidente que estas furzdações süo elas próprias nhecerá esta contingência como um programa de
produtos dos ricos e servem como colchões sob os evitação, mas contrário aos programas de terapia
quais estes escondem o seu dinheiro. As universidades aversiva esta é evitação da retirada do reforço posi-
que nos contratam são semelhantemente dominadas tivo. Se por vezes nos sentirmos incomodados por
pela classe dominante, através de contribuições indi- este regime de controlo, sem dúvida que apreciaria-
mos o verso de uma canção cantada por Janis Joplin: natureza interna dos indivíduos. Embora os modifi-
liberdade é somente outra palavra para quando não cadores do comportamento tenham obrigação de pro-
há mais a perder., ceder de outra maneira, tratam frequentemente os
Mas até conseguirmos evitar perder o nosso sis- presos como se estes fossem uinadaptadom e pudes-
tema de reforço. trepamos um conjunto, inteligente- sem ser uarranjados» dentro de u m sistema de modi-
mente disposto, de postos de trabalho universitário, ficação do comportamento, devolvidos ao sistema de
desde assistente até professor. Os vários processos de reforço de onde vieram parar à prisão. e esperam que
ascendência tendem a reforçar a ortodoxia - polí- de alguma maneira as contingências que moldaram
tica, profissional e social. Os nossos jovens colegas o comportamento criminoso deixem agora de o con-
não devem temer, uma vez que, se conseguirem provar trolar.
durante seis anos que a sua liberdade acadéniica não
precisa de defesa, ser-lhes-á garantida a posse de ter-
reno para construir a sua liberdade académica. ANALISAR O SISTEMA, E N A 0 A VÍTIMA
Mas os nossos jovens colegas cheios de aspirações Mas evidentemente que os comportamentalistas (e
também têm que publicar artigos. e nós também. os reformistas radicais) sabem que o crédito ou a culpa
A nossa actuação habitual é como se acreditássemos é do sistema. Nos laboratórios do condicionamento
que uma linha produtiva de investigação necessita de operante, o comportamento de organismos individuais
fundos. Para obter estes fundos dirigimo-nos a orga- é moldado de maneiras precisas e reproduzíveis,
nizações que definem problemas que desejam ver usando contingências de reforço. e evitação, ou puni-
resolvidos. Já vimos que a fonte principal de fundos ção, simples ou complexas. Quando o aparelho é alte-
está dominanda por uma pequena classe dominante. rado de um programa para outro, o comportamento
Os problemas são então definidos e a política deter- muda de um padrão estável, atravessa uma fase
iizinada por aqueles que mais beneficiam dos nossos transitória, e atinge um padrão novo e apropriado
sistemas económico, social e político actuais. uo novo conjunto de contingências. O equipamento
O mito das causas internas é fomentado devido ao automático controla estas experiências e define as con-
reforço dado à elite e devido ao papel deste mito na tingências controladoras. Para o pombo, as contin-
manutenção do sistema actual. Aqueles que estão alta- gências programadas pelo equipamento são o seu
mente situados na hierarquia do poder são considera- sistema social, e o pombo comporta-se apropriada-
dos como tendo subido até lá através de grande mérito mente a este sistema. As nossas contingências são
pessoal. Os ricos são livres para utilizarem os seus em grande parte programadas nas nossas instituições
recursos internos, a sua vontade, a sua determinação, sociais e são estes sistemas de contingências que
a sua motivação, a sua inteligência, para alcançarem determinam o nosso comportamento. Se as pessoas de
o seu alto nível. As causas internas servem como uma sociedade são infelizes, se são pobres, se sofrem
justificação para aqueles que lucram da desigualdade. privações, então são as contingências incorporadas
Há um conjunto especial de causas internas reser- nas instituições, no sistema económico, e no governo,
vado para os pobres. Diz-se que eles são preguiçosos, que têm que mudar. É necessário haver alteração das
nüo têm ambição nem talentos. Aqueles que mais contingências para alterar o comportamento. Se a
obtêm do sistema social talvez sintam como uma igualdade social for um objectivo, então todas as
punição verem a sua própria boa sorte como o resul- formas institucionais que mantêm a estratificação de-
tado de u m sistema que explora aqueles em baixo e vem ser substituídas por formas que garantam a
que cria a pobreza e a infelicidade. Se assim é, afir- igualdade do poder e a igualdade de estatuto. Para
mações verbais que atribuem a posição de cada um a exploração acabar, têm de ser desenvolvidas for-
na sociedade a características pessoais, ou inatas ou mas institucionais que garantam a colaboração. Assim,
resultantes de uma subcultusa udesfavorecidm serão
a análise experimental dá uma base teórica que apoia
reforçadas.
o reformador que se põe a caminho para mudar
E é especialmente importante para aqueles que es-
sistemas.
tão no topo convencerem aqueles em baixo que a sua
infelicidade é causada por si próprios. Assim Time e A análise do comportamento dá também alguma
Atlantic Monthly tornam instantaneamente famosa a base para o optimismo. Uma análise das contingên-
Mima versão de Darwinismo Social, até mesmo cias mostra falhas inerentes num sistema de controlo
quando estas opiniões são consideradas erróneas por estratificado que com o tempo devem levar à sua
muitos cientistas. Tristemente, até mesnto aqueles que mudança, e uma maior compreensão do comporta-
vendem os seus talentos como modificadores do com- mentalismo deve acelerar estes processos. O Compor-
portamento aceitam as definições que culpabilizam tamentalismo fará parte da solução.
a vitima e onde as políticas de distribuição de fundos Embora indo ao encontro dos objectivos do sis-
se baseiam e tentam tratar, não os ambientes, mas a tema estratificado, os nossos programas de mudança
do comportamento seguem também a forma das rela- em baixo. Quando u m programa de modificação de
ções do poder, características da nossa sociedade comportamento parece internamente positivo, normal-
(Holland, 1975). Assim, ironicamente, ao mesmo mente a coacção ou a restrição são necessárias nos
tempo que servimos o poder, os nossos sistemas de seus limites para manter o controlado dentro do sis-
modificação do comportamento estão a começar a tema. Numa prisão, a economia token continua a exi-
dar vantagem ao reformador social. A modificação gir as paredes da prisão e os guardas armados para
do comportamento modela o processo normal do con- impedir que os presos saiam antes de «graduarem»
trolo social e torna este processo mais explícito e mais do programa. Num programa de economia token no
claro. As contingências de reforço são claramente treino básico do exército (Date1 e Legters, Note I )
expostas. Os objectivos são soletrados. A responsabi- é improvável que o recruta trabalhasse deligente-
lidade pela distribuição dos reforços torna-se explícita. mente na obtenção de pontos para a sua autorização
Como u m modelo da sociedade mãe, dú-nos a opor- de saída no fim-de-semana, se não fossem as bem
tunidade para uma análise comportamental do con- conhecidas consequências aversivas da deserção.
trolo dentro dessa sociedade. Semelhantemente, o uso eficaz d o reforço mínimo
Há vários problemas intrínsecos a um sistema de exige u m estado prévio de privação. Os trabalhadores
controlo estratificado. Primeiro, quando os interesses pobres podem ser obrigados a trabalhar com um
d o controlador e do controlado são diferentes, os ganho limitado, se a sua pobreza for maiitida. Não
controladores deviam encontrar dificuldades excessi- é provável que fosse possível manter pessoas com
vas na elaboração de qualquer sistema contingente fome, num país rico, sem forças armadus e um
de controlo; terão enormes dificuldades numa elabo- sistema prisionai. E realmente, na economia token da
ração tão perfeita que impeça que o controlado não prisão, o preso começa na «solitária», um estado
encontre caminhos alternativos para o seu acesso ao extremo de privação, e trabalha para ganhar reforço
reforço; caminhos esses que süo subversivos aos ob- positivo na forma de pontos. U m sistema de modiji-
jectivos d o controlador. Para u m preso, o êxito como cação de comportamento pode por si próprio usar
programa de modificação do comportamento pode apenas reforço positivo, mas para que o estrato mais
alto mantenha a maior fatia da riqueza e dos privi-
significar liberdade sob fiança. O preso pode falsificar
légios, têm que ser usadas restrições e coacção para
mudanças de atitude para obter os seus tokens. Os
manter o controlado dentro das regras do sistema.
presos chamam a isto fingir, e instruções escritas para O controlo aversivo gera contracontrolo; embora
estes fins circulam nas redes de comunicação clandes- a cenoura e o chicote possam gerar menos contra-
tinas em algumas prisões. Outros presos resistem à controlo do que o chicote sozinho, com o tempo
modificação do comportamento, contratando advoga- as condições aversivas necessárias para manterem o
dos e lutando contra ela nos tribunais; outros re- controlado em contacto com o sistema de reforço
cusam-se a aceitar reforços até mesmo quando isto limitado devem gerar contracontrolo. A riqueza e o
significa sair da solidão. poder desiguais requerem a protecção das forças coa-
Com a estratificação do poder entre o controlador civas. Isto gera contracontrolo, luta de classes, e a
e o corifrolado, para este último há uma base refor- eventual substituição do sistema. Está aqui uma base
çante para a sua luta e resistência Quando os objec- para a selecção natural das práticas culturais que
tivos sáo definidos em cima para adaptarem os sub- poderiam favorecer u m sistema igualitário.
jugados a códigos impostos também de cima, há uma
clara base comportamental para o contracontrolo.
O COMPORTAMENTALISMO
Não é para o seu próprio interesse que o preso se
E UMA SOCIEDADE FUTURA
deixa moldar em obediência para com a autoridade;
tem havido, e continua a haver, razões válidas para Como é que a nossa ciência, o Comportamenta-
a sua resistência à autoridade. As autoridades têm lismo, e a sua aplicação se movem para o avanço da
repetitivamente explorado os presos, d m d o privilé- solução? Parece que necessitamos de caminhar para
gios e riquezas àqueles com autoridade sobre eles. as formas colectivas - formas baseadas na coope-
Os presos podem obter muito mais reforço elabo- ração, formas que maximizem o reforço resultante
rando alternativas não programadas do que através de ajudar os outros, em lugar do reforço à custa dos
de contingências cuidadosamente programadas que le- outros. Esforços interessantes na elaboração deste tipo
vam a pequenos reforços. de trabalho baseiam-se naquilo a que chamo o mo-
Segundo, é extremamente difícil construir sistemas delo «Frazien>. O modelo Frazier baseia-se no Wal-
de exploração usando apenas o reforço positivo. Para den II (Skinrzer, 1948), em si um exemplo extrema-
a riqueza se acumular no topo, é necessário que seja mente interessante da comunidade comportamental
parcamente distribuída entre os controlados que estão que me parece práticu, igrtditária e socialmente radi-
cal. Veio a existir porque Frazier o criou benevolente- perada. Devido à ofensiva dos liberais conrra a medi-
mente e ele próprio estava um tanto ou quanto longe cação do comportamento, é possível que o establish-
das contingências específicas de Walden 11. Há nume- ment nos atire simplesmente para a rua O refor-
rosas tentativas r e m ~para a formaçóo de sociedades mista liberal terá alcançado uma grande vitória, e a
comportamentais igualitárias na forma de comunas, elite dominante irá rir-se enquanto toma os seus cock-
particularmente Twin Daks na Virgínia (Kindade, 1973) ta& nos seus clubes, porque sabe que o controlo do
e uma outra profundamente impressionante onde Keith comportamento irá continuar da mesma forma. En-
Miller (1976), da Universidade de Kansas, toma o tão, com a nossa liberdade, sem nada para perder,
papel de Frazier, num projecto de habitação comu- talvez os analistas se encaminhem para as soluções.
nal dos estudantes. Os esforços de Miller são impres- As nossas velhas práticas, úteis quando adoptamos
sionantes porque estão completos com o recolhimento a culpabilização da vítima e o elogio da vítima, têm
de dados, especificação de descrições de trabalhos e que ser modificadas. Alguma metodobgia nova será
processos que se evoluíram do projecto. Eu próprio necessária. Sugiro que precisamos de trabalhar com
já me pus a fazer de Frazier num curso, para estu- pessoas em todas as nossas instituições, para analisar
dantes universitários, sobre o controlo comportamen- as contingências que as oprimem. Nós trazemos para
tal na sociedade. A classe forma-se em colectividades esta tarefa um certo conhecimento especializado e
de 10 a 15 estudantes. Os elementos de cada colecti- aptidões na utilização de dados; as outras pessoas
vidade trabalham juntos e preparam-se uns aos outros trazem experiência especializada e directa dessas con-
comportamentalmente, na análise de sistemas sociais tingências do dia-a-dia. São também audiência assis-
para u m projecto colectivo. São examinados indivi- tência para os resultados da análise; nós e eles, como
dualmente, mas a nota atribuída é a média de todos colaboradores, podemos elaborar soluções experimen-
os indivíduos numa colectividade. Deixei simples- tais para os problemm da sociedade.
mente de dar notas individuais e competitivas e os Há um precedente para o esforço de ouvir cuida-
resultados são muito entusiasmadores. Também já dosamente aquilo que as pessoas dizem e analisar
têm sido feitas tentativas dentro de instituições totais. as contingências controladoras deste comportamento.
Fairweather (1964) fez experiências com sistemas de O comportamento Verbal de Skinner (Skinner, 1957),
reforço grupal, numa enfermaria de um hospital psi- é um trabalho rico em exemplos deste tipo. Há muito
quiátrico. Neste caso, os doentes participam na defi- que é um axioma do laboratório que o organismo
nição do comportamento critério e na avaliação da é que sabe. Devemos adoptar isto com uma nova
sua execução, tanto no seu próprio caso como no dos sociedade. A pessoa é um espelho das contingências
outros. U m grupo no Estado de Mendocino, na Cali- das suas respostas. O comportamento é adaptativo.
fórnia (Rozynko, Swift, Swift e Boggs, 1973) criou Tem uma integridade profunda com as contingências
comunidades de alcoólicos hospitalizados que traba- que o controlam. O comportamentalista deve ouvir
lham em conjunto na análise comportamental dos cuidadosamente como parceiro e colega na reforma
seus próprios problemas. Todos estes exemplos estão social. O nosso papel no processo de mudança será
lhnitados em dois aspectos importantes: existem den- como um catalista - para assistir na formulação das
tro de ambientes especiais e isolados e têm dentro de soluções.
si a contradição de u m Frazier- um desenhador de Não posso acentuar demasiado a importância de
elite. compreender sempre a natureza adaptativa do com-
Aquilo de que hoje precisamos é uma análise portamento, uma vez que aqueles que tradicional-
vigorosa e extensiva das condições controladoras da mente definem os problemas consideram tantos com-
sociedade. Quais são as contingências no local de portamentos como inadaptados. Ficamos normal-
trabalho? Quais são os vários meios através dos mente maravilhados com as formas biológicas intrín-
quais as pessoas são mantidas segmentadas e compar- secas que evolvem através da selecção natural. Estas
timentalizadas? Agora, devido a tudo o que disse, variações espantosas reflectem gerações de condições
deve ser claro que não podemos esperar financia- ambientais a mudarem constantemente. De um modo
mento para este tipo de investigação. A promoção semelhante, o comportamento de uma pessoa reflecte
até mesmo dentro do mundo académico será difícil, as contingências das respostas. Deveríamos ter tanto
uma vez que para fazer parte da solução a audiência respeito e admiração por estas adaptações como te-
2s nossas descobertas tem que incluir outras pessoas mos pelas adaptações evolucionárias. Qual será a di-
para além dos académicos. Não me é possível esperar recção que esta exploração colectiva das contingências
que o terceiro no meu trio de vítimas, o analista do controladoras poderá tomar? Compreendo que seria
comportamento, fique subitamente longe de controlo presunçoso arriscar adivinhar antes de uma série de
e seja dirigido para este trabalso de culpabilizar o experiências necessárias. Contudo, acho provável que
sistema. Mas é possível que à frente h q a ajuda ines- a análise das contingências controladoras venha a re-
velar contradições profundas no nosso sistema estra- rem mostrado que as causas internas são insatisfató-
tificado, e que irá revelar também problemas graves rias nas explicações do comportamento. Uma disse-
na nossa ideologia individualista e na nossa mecani- minaçáo mais vasta dos métodos para analisar as
zação dos ganhos pessoais. Penso que esta nnálise irá contingências do controlo pode levar a uma acelera-
levar-nos naturalmente para uma comunidade de ção da criação de uma sociedade não opressiva e ao
igualdade, sendo os seus princípios orientadores o ser- desaparecimento dos problemas sociais pelos quais
viço dos outros e a responsabilidade pelos outros. as suas vítimas são tão frequentemente acusadas.
Uma das razões para a minha expectativa é que é pos-
sível um controlo de comportamento superior numa
comunidade de semelhantes. Quando os actos do dia-
-a-dia de cada indivíduo são avaliados comunalmente COHEN, M., LIEBSON, I. A., e FAILLACE, L A.
em termos do critério cservir os outros>>,pequenos (1970)- uThe modification of drinking in chronic
alwholics~,in N. K. Mello and J. H. Mendelson
princípios de elitismo ou ganho pessoal à custa dos (Eds), Recent advances in studies o f alcoholism,
outros podem ser imediatamente avaliados. N o caso Rockvilla Marvland: National Institute of Mental
de elementos do grupo terem comportamento elitista, Health, pp. 745-766.
tais como conseguir vantagens individuais especiais DOLESCHAL. E.. e KLAPMUTS. N. (1973buTow-
ard a n e w ' c r i k i n ~ l o ~crime
. a& ~ e l i n q u e n c ~
à custa dos outros, o grupo criticaria esse comporta- Literature. 5: 607-626.
mento. Os mais pequenos indícios de semelhante DOMHOFF, G. W. (1967) - W h o rules Americai
doença sociain seriam tratados dentro do grupo. Prentice-Hall, Englewood Cliffs.
Contrário àquilo que se passa na sociedade de hoje, DOMHOFF, G. W. (1970)-The higher circles: the
governing class in America, Random House. NW
os comportamentos que podem levar uma pessoa a ter York.
problemas não passariam pelo processo de moldagem FAIRWEATHER, G. W. @i (.
1)x 4 )-Social p y -
natural, no qual pequenos exemplos de comportamen- chology in treating mental illness: A n experimental
tos inaceitáveis são reforçados e deixados crescer approach, John Wiley & Sons, New York.
até que subitamente o indivíduo está metido em pro- FBI (1970)- Uniform Crime Reports.
GALLANT, D. M. ( 1 970) -<Evaluation of compul-
blemas com o sistema legal. A monitorização das con- sory treatment of the alcoholic municipal court
tingências em grupos de pessoas semelhantes pode offenderg, iiz N. K. Mello and J. H. Mendelson
ser precisa e pormenorizada. U m grupo de indiví- (Eds), Recent advances in studies of alcoholism,
duos semelhantes que trabalham e vivem juntos e Rockville, Maryland: National Institute of Mental
Health, pp. 730-744.
discutem o significado do seu trabalho e da sua vida HOLLAND, J. G. (1975)-~Behavior modification
em conjunto, conseguem detectar o mínimo progresso for pnsoners, patients, and other people as a
para o preenchimento de um objectivo, o sinal mais prescription for the planned society~,Mexican
precoce de um pensamento incorrecto e poderão dar Journal o f Behavior Analysis, 1: 81-95.
KINKADE, K. (1973)- A Walden Two experiment.
rectroalimentação apropriada rapidamente. Não há William Morrow, New York.
qualquer necessidade de uma elite separada e distante MARTINSON, R. (1974)-uWhat works? Questions
com tarefa de avaliar a execução dos outros. Os and answers about prison reform, The Public
Interest, 35.
indivíduos avaliam o movimento de cada u m para os MILLER, L. K. (1976) -«The design of better com-
objectivos que compartilham. Porque os objectivos munities through the application of behavioral
são compartilhados, pouco há para ganhar na mentira principiles», in \V. E. Craighead, A. E. Kazdin, and
ou na subversão deliberada. Devido à intimidade en- M. J. Mahoney (Eds), Behavior modification.
principies issues, and application, Houghton Mif-
tre os elementos do grupo as subtilezas mais finas flin, Boston, pp. 68-101.
podem ser analisadas numa perspectiva de reforço MILLER, P. M. e BARLOW, D. H. (1973)-uBeh-
positivo ou negativo. Além do mais, a aprovação do avioral approaches to the treatment of alcoholism»,
lournai of Nervous and Mental Disease, 157:
semelhante é provavelmente muito mais poderosa do 10-20.
que os tokens dados por uma elite desafectada. PRESIDENT'S COMMISSION ON LOW EN-
Em resumo, as verdades fundamentais deduzidas FORCEMENT (1%5) - U. S. G o m e n t Pnnt-
ing Office, Washington, D. C.
de um trabalho laboratorial empírico e de uma ciên- ROZYNKO, V. SWIFT, K. SWLFT, J., e BOGGS,
cia polticamente neutra tem proposto bases para esta L. 3. (1973)-uControlled environments for social
análise dos sistemas sociais. Tentei mostrar que num change~,in H. Wheeler (Ed), Beyond the punitive
sistema estratificado existem contingências inerentes sociehi. W. H. Freeman and Comvanv. * - , San Fran-
c i s ~ o , - 71-100.
~~.
para a luta dos oprimidos. O hábito sistemático de RYAN, B. F. (1971)- Blamina- the victim. Vintam
~ o o k s ,~ e Y work
-
culpabilizar a vítima e de afirmar que as causas '

internas têm uma base comportamental, na medida SKINNER, B. E. (1957)-Verbal behavior, Appleton-
Century-Crofts, New York.
em que isto reforça o status quo; isto ainda acon- SKINNER, B. F. (1948)- Walden Two, Macmillan,
tece não obstante m ciências do comportamento te- New York.

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