Sei sulla pagina 1di 34

AVALIAÇAO

Concepção Dialética-Libertadora
do P rocesso de Avaliação E scolar
Atíknfad, - (Zenóifr <&, '^nntaçàô- c

~ 7 ^

AVALIAÇAO
D ados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Concepção Dialética-Libertadora
Vasconcellos, Celso dos Santos, 1956- do P rocesso de Avaliação E scolar
Avaliação : concepção dialética-libertadora do processo
de avaliação escolar / Celso dos Santos Vasconcellos. —São
Paulo : C.S. Vasconcellos, 1992. — (Cadernos pedagógicos do
Libertad; v. 3)
Bibliografia. C elso dos S. Vasconcellos
1. Avaliação educacional 2. Avaliação educacional —
Filosofia 3. Educação — Filosofia I. Título. II. Série.

92-0174 CDD-370.783

índices para catálogo sistemático:

1. Avaliação educacional: Educação 370.783

Cadernos Pedagógicos do Libertad - 3


CONCEPÇÃO DIALÉTICA-LIBERTADORA
DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ESCOLAR

V- PARTE
I-INTRODUÇAO

F ato n- 1: "S uicídio de aluno punido cria polêmica"


"(...) Celestino, 14 anos, aluno do Colégio Militar do Rio de janeiro, foi pego
'colando' quando fazia uma prova de geografia. Por isso, foi suspenso por seis dias e
perdeu seis pontos em comportamento. O aluno deu um tiro na cabeça na terça feira,
morrendo no dia seguinte (...)".
Folha de São Paulo, 18 de maio de 1990

F ato n2 2: "D iretora diz que puxão rasgou orelha de aluno"


"(...) L A , 8 anos, aluno de uma escola estadual da zona oeste de São Paulo,
estava colando na prova de estudos sociais quando foi flagrado pela professora, que lhe
deu um puxão. O menino recebeu cinco pontos na orelha (...)".
Folha de São Paulo, 26 de setembro de 1990

F ato n2 3: "V ice-diretor é acusado de bater em aluno no PI"


"(...) Os pais do estudante Alexandre, 17 anos, da 8 - série do Colégio Sinopse
de Teresina, disseram que seu filho levou um soco no estômago do vice-diretor da escola,
após protestar contra a aplicação de uma prova de inglês (...)".
v Folha de São Paulo, 7 de dezembro de 1990

F ato n2 4: "C hinês mata 4 e fere 2 na universidade de Iowa, nos EUA"


"Gang Lu, estudante de físico de nacionalidade chinesa, matou ontem quatro
pessoas e feriu duas outras no campus da universidade de lowa, Estados Unidos, antes
de suicidar-se. (...) Segundo as autoridades universitárias, Gang Lu estava irritado por
"Quando vedes levantar-se uma nuvem no poente, não ter sido incluído no quadro de honrarias acadêmicas".
logo dizeis: ai vem chuva. E assim sucede. Quando vedes Folha de São Paulo, 3 de novembro de 1991
soprar o vento do sul, dizeis: haverá calor, e assim
acontece. Hipócritas, sabeis distinguir os aspectos do Estes são alguns fatos que se tornaram públicos em função da gravidade
céu e da terra; como, pois, não sabeis reconhecer o tempo extrema a que chegaram. É claro que o cotidiano escolar não é marcado por
presente? Por que não julgais por vós mesmos o que é justo?" esse grau de violência física. No entanto, se pensarmos em termos de violência
simbólica, psicológica, já não temos tanta certeza... O que estes fatos têm em
Lucas, cap. 12, vers. 54-57
8 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar

comum? Todos estão relacionados a situações de avaliação. Concretamente, II-LOGICA DO ABSURDO


verificamos que a avaliação se tornou um dos principais problemas da educação
escolar. Basta ver os elevados índices de reprovação1 e evasão escolar ou ainda (TESES SOBRE A AVALIAÇÃO PERVERTIDA OU
os efeitos de inculcação ideológica.
Evidentemente, o problema da avaliação tem que ser encarado no contexto SOBRE A PERVERSÃO DA AVALIAÇÃO)
da educação escolar, que, por sua vez, precisa ser encarada no contexto social
mais amplo. Num país em que, segundo dados da UNICEF (Relatório "Situação
Mundial da Infância — 1991"), morrem cerca de mil crianças menores de 4 anos
por dia(!) em conseqüência de causas sociais, falar em avaliação escolar pode
parecer secundário, face a desafios tão urgentes como a preservação da vida. Do Caos ao Cosmos
Entretanto, entendemos que a luta pela libertação passa por muitas frentes,
inclusive a educação escolar. Nesta visão de totalidade é que gostaríamos de
No princípio era o caos. Um dia, o professor descobriu que podia mandar o aluno para
tratar, em sua especificidade, a problemática da avaliação escolar.
fora da sala de aula, que a instituição cuidava de ameaçá-lo com a expulsão. Mais tarde
Percebemos que o problema da Avaliação é muito sério e tem raízes
um pouco, descobriu que tinha em mãos uma arma muito mais poderosa: a nota. Começa
profundas: não é problema de uma matéria, série, curso ou escola; é de todo
a usá-la, então, para conseguir a ordem no caos. O caos se fez cosmos, o maldito cosmos
um sistema educacional,2 inserido num sistema social determinado, que impõe
da nota...
certos valores desumanos como o utilitarismo, a competição, o individualismo,
o consumismo, a alienação, a marginalização, etc., valores estes que estão
A situação que vivemos hoje no sistema escolar em termos de avaliação é
incorporados em práticas sociais, cujos resultados colhemos em sala de aula,
tão crítica, que gerou uma verdadeira lógica do absurdo. Vejamos algumas destas
uma vez que funcionam como "filtros" de reinterpretação do sentido da
"pérolas":
educação e da avaliação.
1- Tem sua lógica a escola valorizar muito a nota e dar-lhe grande ênfase, pois, afinal,
ela é o que de mais importante ali acontece. A escola precisa aumentar as exigências
em relação às notas, para que os alunos a valorizem e estudem mais...

2- Tem sua lógica a escola montar todo um clima de tensão em cima das provas,
pois, afinal, na sociedade também é assim, e a escola tem mais é que adaptar
o aluno ao mundo que está aí... (o que ninguém confessa é que logo mais
a escola terá itíatérias do tipo: "Estudos Avançados em Corrupção III",
"Seminários de Exploração Alheia II", "Técnicas Contemporâneas de como
Levar Vantagem em Tudo IV", etc.).

3- Tem sua lógica a escola ceder às pressões dos pais e de muitos professores
no sentido de não mudar o sistema de avaliação, pois, afinal de contas,
sempre foi assim...

4- Tem sua lógica as escolas usarem o argumento da transferência dos alunos


como justificativa de não mudança de suas práticas, pois assim garante-se
que nenhuma escola mude e se perpetue o sistema...
1.É interessante analisar a ocorrência da reprovação em função da classe social: enquanto na rede privada
o índice de reprovação na I a série do I o grau é de 5%, na rede pública este índice chega a 50% (Cf. Maria 5- Tem sua lógica o professor fazer toda uma super-valorização das notas, pois,
Laura P.B. Franco, op. cit. p. 63). Na própria rede particular seria interessante analisar que segmento social
a reprovação atinge; não seria o dos mais pobres?
caso contrário, não consegue dominar a classe. O professor não pode dar
2 .Existe até uma ciência criada especialmente para estudar as provas, os exames: a "DOCIMOLOGIA" muita nota no começo do ano, senão perde o controle da turma...
(do grego dokimè = prova). Cf. P. FOULQU1É, Dicionário da Língua Pedagógica. Lisboa, Livros Horizonte, 1971,
10 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar II — Lógica do Absurdo 11

6- Tem sua lógica o aluno ir mal no 4» bimestre, tirando só a nota que precisa, 14- Muitas vezes, diante de provas que não exigem reflexão, mas apenas nomes,
pois está interessado em passar e não em aprender. Trata-se da Síndrome classificações, datas, locais, etc., a "cola" representa uma forma de resistên­
do 4- Bimestre: "Não quero deixar pontos para a secretaria"... cia do aluno...

7- Tem sua lógica o professor só valorizar a resposta certa, pois, na sociedade, 15- Tem sua lógica os professores fazerem avaliação sem ouvir os alunos, afinal,
é isto que importa. O professor respeitado por pais, alunos e direção, o bom é assim que eles também são avaliados por seus superiores...
professor, não é aquele que dá boa aula, mas aquele que é "durão"...
16- Tem sua lógica o aluno adular o professor, na medida que, de modo geral,
8- O fato dos alunos terem "branco", medo, nervosismo, ansiedade, etc., etc., os professores não têm maturidade para ouvir uma crítica...
é tudo culpa deles (e das famílias), por não terem o hábito de estudar todo
dia. A escola nada tem a ver com isto... 17- As classes populares queriam escola e o governo deu. Agora, são reprova­
das e se evadem, porque "não têm condições" de acompanhar o "nível" do
9- Os alunos ainda não perderam esta terrível mania de acreditar mais no ensino. Tem sua lógica o aluno evadir-se da escola, na medida que sente
que fazemos do que no que falamos. Nós falamos toda hora que o que não adianta continuar, uma vez que, tendo sido rotulado, estabeleceu-
importante não é a nota e eles não acreditam, só porque, com relação se sobre ele uma "profecia auto-realizante" de fracasso...
a provas e notas, fazemos semanas especiais, dias especiais, horários
especiais, papéis especiais, dificuldades especiais, comportamentos espe­ 18- Tem sua lógica o aluno pouco falar e pouco escrever, na medida que,
ciais, rituais especiais, conselhos especiais, assinaturas especiais dos pais, segundo muitos professores, quanto mais se escreve, mais se pode errar...
datas especiais para entrega, pedidos especiais de revisão, legislação
especial, reuniões especiais com professores e pais, caderneta especial, 19- Tem sua lógica os pais prepararem os filhos para as provas na base do
ameaças especiais através da nota, rotulações especiais em função da nota, "questionário", na medida que é isso que acaba caindo mesmo...
tratamento especial para os alunos de acordo com as notas que tiram,
etc. Tem sua lógica o aluno dar muita ênfase à nota, pois sabe que, no 20- Tem sua lógica os pais engolirem os "sapos" da escola e dos professores,
fundo, é ela que decide sua vida... pois sabem que se reclamarem muito, os prejudicados serão os próprios
filhos, e, além do mais, o que interessa mesmo é o diploma...
10- Tem sua lógica o aluno não estudar todo dia, na medida que nem percebe
essa necessidade, já que o professor vai transmitindo tudo tão direitinho, 21- Tem sua lógica os filhos estarem preocupados em tirar nota para os pais,
"dando" tão bem a matéria, o ponto, que ele tem a sensação que, de fato, pois sabem que existe uma relação direta entre a nota e a qualidade do
está aprendendo... presente ou & tamanho da surra...

11- É muito comum a prova tipo "Amazona aestiva" (ave psitaciforme, da 22- Tem sua lógica o professor fazer a avaliação dos alunos apenas em deter­
família dos psitacídeos, mais conhecida como Papagaio); também chamada minados momentos, de forma estanque, pois também é assim que está
prova "bate e volta" (bate no aluno e volta para o professor). O professor acostumado a avaliar o seu trabalho e o da escola (quando muito, nas
faz pergunta para ouvir exatamente o que disse na aula. Tem sua lógica famosas "reuniões bimestrais")...
o aluno estudar na véspera da prova, na medida que comumente a prova
é decorativa e, como se sabe, o que é decorado fica pouco tempo na 23- Tem sua lógica o professor "distribuir" nota no final do ano, pois assim não
memória... fica com alunos para recuperação, nem tem chateação com pais, alunos e
escola por causa de eventuais reprovações...
12- Tem sua lógica os professores desejarem "Boa Sorte" na prova, já que
frequentemente as questões são irrelevantes e arbitrárias, sem contar as 24- A escola tem desempenhado bem o seu papel, pois recebe crianças
vezes em que esta expressão tem um sentido velado de vingança... curiosas, vivas, alegres e em poucos anos consegue deixá-las
indiferentes, obedientes, desgostosas, passivas. Onde já se viu ter alunos
13- Tem sua lógica os alunos fazerem bagunça durante as aulas, para "segurar" fazendo aquelas desagradáveis perguntas: qual o sentido do que estou
o professor que quer despejar novas matérias, pois assim há menos pontos aprendendo? Para que serve isto? Qual a importância disso para meu
para estudar para prova...
futuro?
12 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar

CONCEPÇÃO DIALETICA-LIBERTADORA
25- Seria melhor que voltasse a violência física na escola (palmatória, beliscão, DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ESCOLAR
joelho no milho, etc.), pois ao menos o aluno poderia se defender, já que
a violência simbólica, psicológica é mais difícil de ser denunciada e enfren­
tada, na medida que suas marcas são mais sutis e profundas... 2- PARTE
26- Antes de mudar o sistema de avaliação a escola precisa pensar bem, pois,
se de fato ele melhorar, vai causar desemprego para muita gente que
sobrevive do estrago que a nota faz nos alunos: professores particulares,
empresas de aula de reforço, clínicas de recuperação, psicólogos,
psicopedagogos, etc...

27- Dizem que um certo ministro da educação, querendo entrar na história de


qualquer jeito, resolveu acabar com o sistema de notas e reprovação. Antes,
porém, de solicitar Medida Provisória, atendeu a inúmeros pedidos de seus
assessores, no sentido de que fosse feito um estudo da repercussão de tal
medida na rede escolar. Diante do "Relatório de Impacto Ambiental", o
ministro teve que voltar atrás, pois percebeu que entraria para a história
sim, mas como aquele que desmoronou o sistema escolar, tal seria a
desorientação e o desespero que a ausência de notas provocaria num sem-
número de professores...

As afirmações anteriores são desconcertantes, mas lamentavelmente, têm


sua "lógica"; expressam o grau de perversão a que chegou a situação de
avaliação no sistema escolar. É possível reverter essa situação? O que se pode
fazer?
Nossa opção por uma educação libertadora, não nos permite a acomodação
ou a simples acusação e o cruzar de braços. Como os profetas, temos o dever
de denunciar, mas também anunciar, buscar alternativas, mesmo que limitadas
num primeiro momento. Assim é que é necessário colocar a avaliação em questão,
para poder transformá-la.

/m u a ç Ã o
III-QUESTAO METODOLOGICA

a )P roblema

Existe uma problemática em torno da avaliação escolar. Muitas são as


manifestações de professores, diretores, coordenadores, orientadores, alunos,
pais, etc. No entanto, não há uma mesma percepção deste problema; ele é
apontado com diferentes matizes pelos diferentes sujeitos do processo edu­
cacional.
Há necessidade de se desmascarar o cinismo reinante, a "trama inconfessável"
(Cf. Margot Ott, 1986). Qual o problema fundamental com relação à avaliação?
Qual o seu real problema? Onde está o fundamento do problema de que tanto
falam os educadores?

BjPOSSIBILIDADE

Uma questão que precisa ser colocada é a seguinte: é possível a transformação


da avaliação escolar?
• visão voluntarista: é só querer;3
• visão determinista: só quando mudar a estrutura;
• visão dialética: há necessidade de análise, para se saber as reais possibilidades
de mudança, levando em conta tanto as determinações da realidade, quanto
a força da ação consciente e voluntária da coletividade organizada. O homem
faz a história, mas sob as condições que herdou e não que escolheu.
Um dos problemas que se observa na formação dos professores é que na
graduação até que se tem dado uma concepção teórica adequada do que deve
A H istória do Rato ser a avaliação: contínua, diagnóstica, abrangente, relacionada aos objetivos, etc.
No entanto, por um lado, falta a crítica à realidade atual (a crítica genérica se
faz: "as coisas vão mal"; trata-se mais de lamúria do que propriamente de
Romão disse a um ratinho que ia passando por perto dele: "Pare aí. Temos já de ir ao
crítica). Por outro lado, até como reflexo do anterior, faltam indicações de
juiz. Quero te acusar". "Vamos", respondeu o ratinho. "A consciência de nada me
mediações, de formas de concretizar uma nova prática de avaliação, falta clareza
acusa e saberei defender-me". "Muito bem", disse o gato. "Aqui estamos diante do
do que fazer no lugar da antiga forma de avaliar.
senhor juiz". "Não o vejo", disse o ratinho. "O juiz sou eu", disse o gato. "E o
júri?", perguntou o ratinho. "O júri também sou eu", disse o gato. "E o promotor?",
perguntou o ratinho. "O promotor também sou eu". "Então você é tudo?", disse o
ratinho. "Sim, porque sou o gato. Vou acusar você, julgar você, e comer você".
3 .Não vê os limites, as determinações; dá-se uma idéia (falsa) de que é fácil mudar.
Lewis Carroll
16 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar Ill — Questão Metodológica 17

c) P erspectiva do T rabalho Novas idéias abrem possibilidades de mudança, mas não mudam. O que
muda é a prática. Para se atingir um nível mais profundo de conscientização,
Nosso trabalho se coloca numa dupla perspectiva: inicialmente, tentar
o parâmetro deve ser colocado em termos da mudança da prática. O educador
despertar o querer mudar em todos, através de uma crítica ao problema, para
pode ler um texto que critica o uso autoritário da avaliação, concordar com ele
possibilitar o desequilíbrio, o acordar, o aprofundam ento da com pre­
e continuar com o mesmo tipo de avaliação. Quando se tenta mudar o tipo de
ensão; em seguida, oferecer alguns subsídios para orientar concretamente os
avaliação é que se pode ter a real dimensão do grau de dificuldade da
que querem realmente mudar (os que estão abertos, os que querem abrir mão
transformação, bem como do grau de conscientização do grupo de professores.
do uso autoritário da avaliação). Para os que não querem, os subsídios não
No que se refere à Reflexão sobre a prática, esta reflexão deve ser feita em
servem, pois falta-lhes vontade política; estes, provavelmente, serão atingidos
três dimensões:
por outro desequilíbrio: a pressão grupai (colegas professores, alunos, pais,
• onde estamos (o que está sendo)
etc.), que vão cobrar uma nova postura a partir de novas práticas que
• para onde queremos ir (como deveria ser)
estiverem tendo.
• o que fazer (o que fazer para vir-a-ser)
Entendemos que a mudança não se dá de uma vez (tudo e já); vemos a
necessidade de passos pequenos, assumidos coletivamente, mas concretos e na
direção certa, desencadeando um processo de mudança com abrangência onde estamos
crescente (sala de aula, escola, grupo de escolas, comunidade, sistema de ensino,
saber onde/como estamos, como chegamos aqui (passar da sensação de
sociedade civil, sistema político, etc.), a partir da criação de uma base crítica
mal-estar para a compreensão concreta da realidade: entendemos que o que vai
entre educadores, alunos, pais, etc. Trata-se de uma luta da educação, mas
dar o concreto de pensamento é o estabelecimento de relações, a busca de
articulada a outras frentes e setores da sociedade (desde novas práticas na
captação do movimento do real);
escola, mudança de legislação, até a construção de uma nova sociedade).
para onde queremos ir
d) M étodo de T rabalho saber o que queremos com a avaliação (avaliar para quê?); saber o que
queremos com a educação escolar; dependendo de nossa concepção de edu­
Para o enfrentamento desta situação toda em torno da avaliação, em
cação, teremos diferentes atitudes diante do problema (da simples conivência
primeiro lugar, é necessário compreender efetivamente o problema, captar o
-ajustes técnicos, mudança de nomes-, à transformação radical).
movimento do real em termos da avaliação na prática (o que de fato ocorre nas
escolas). Por falta de análise crítica temos visto muitos e muitos esforços de o que fazer
educadores irem terra abaixo. Se a aparência do fenômeno coincidisse com a
estabelecer um plano de ação. A busca de "solução" tem que ser coerente
essência, não haveria necessidade da Ciência; ocorre, no entanto, que no dia a
com nosso posicionâmento educacional. Não há solução boa "em si" (ex: semana
dia temos contato com a aparência, que mais esconde do que revela a essência
de prova — é uma solução ótima para determinada concepção de educação;
da realidade, do problema. Temos que superar a "pseudo-concreticidade".
no entanto é uma aberração para outra...).
Devemos compreender o problema para negá-lo dialeticamente, para transformá-
lo.
Isto através de um processo de construção de conhecimento a respeito da
Qual o procedimento que devemos ter diante disto?
realidade em questão, que se dá num movimento de:
Se desejamos de fato colaborar com o processo de transformação da
• síncrese
realidade da avaliação escolar, precisamos buscar um procedimento metodológico
• análise
que nos ajude. Entendemos que uma metodologia de trabalho na perspectiva
• síntese
dialética-libertadora deve compreender os seguintes elementos:
• Partir da Prática — ter a prática em que estamos inseridos como desafio para
a transformação. síncrese
• Refletir sobre a Prática — procurar conhecer como funciona a prática, quais
percepção inicial do problema, ainda de forma confusa, desarticulada;
são^ suas contradições, sua estrutura, suas leis de movimento, captar sua
essência, para saber como atuar no sentido de sua transformação. análise
• Transformar a Prática — atuar, coletiva e organizadamente, sobre a prática,
busca captar o movimento do real, sua relações. O problema da avaliação
procurando transformá-la na direção desejada.
não pode ser compreendido "em si" (nenhum problema pode). Assim como não
18 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar

dá para entender o problema da avaliação "em si", não dá para buscar soluções
IV-ANALISE DO PROBLEMA
"em si" do problema, desvinculadas de outras frentes de atuação;
síntese
compreensão do real nas suas determinações, contradições, tendências,
espaços de autonomia relativa, espaços de possíveis ações conscientes e vo­
luntárias dos agentes históricos.

O presente trabalho é apenas a proposta de um momento de reflexão sobre


a prática, e certamente não terá repercussão no cotidiano da escola, se não "Para que serve a nota na escola? Óbvio -responderão muitos- a nota serve para indicar
houver uma tomada de decisão quanto às necessárias alterações no Processo o quanto o aluno aprendeu! Desta forma, promoverá aqueles que estiverem preparados para
de Avaliação e uma continuidade desse trabalho, seja da escola como um todo exercer sua profissão e reterá os que não estiverem aptos. (...) Esta obviedade, porém, é
dos cursos, das áreas ou mesmo das disciplinas. contestada diariamente pela prática escolar em que os alunos aprovados demonstram, a
seguir, que não aprenderam o que sua nota faz pressupor".
FLEURI, P. 85

Quando se questiona mais profundamente os educadores sobre as causas


dos problemas da avaliação, encontram-se, muitas vezes, três diferentes pos­
turas:
• "Alienados": Problema? Que Problema?
• "Voluntaristas": O problema é de cada professor!
• "Deterministas": É problema do sistema!
sendo que esta última tem estado mais presente atualmente no senso comum
dos professores ("é a estrutura"; "sempre foi assim"; "uma andorinha só, não
faz verão"; etc.)

1 — M ediação entre o problema geral e o particular

a) Como se concretiza em sala de aula?


Vimos que o problema da avaliação é de todo o sistema de ensino.
Precisamos, no entanto, responder a uma questão fundamental: como é que
ocorre a mediação desse problema numa realidade específica, ou seja, como se
concretiza essa determinação geral em cada caso particular, em cada escola, em
cada sala de aula? Trata-se de uma análise difícil de ser feita, pois envolve
diretamente os agentes da educação: pais, alunos das séries mais adiantadas,
diretores, coordenadores, supervisores, delegados de ensino, inspetores de
alunos, e, em especial, os professores. Se não, vejamos:
• Será que o sistema tem "agentes" infiltrados nas escolas, de tal forma que,
enquanto os educadores trabalham numa linha emancipatória, esses agentes
interferem no processo, dando ênfase e colocando medo nos alunos no que
se refere à avaliação?
• Será que já há transmissão genética do problema, de geração para geração?
20 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar IV — Análise do Problema 21

• Ou será que esta distorção acontece em cada escola, em cada sala de aula, de álibi para a reprodução, para o imobilismo), etc. Se, de um lado, o fato de
a partir de práticas concretas com a mediação inclusive dos educadores, apontarmos para as responsabilidades dos educadores pode ser algo que pese,
tenham ou não eles consciência disso?4 por outro, significa que efetivamente têm um poder de mudança em mãos, que,
Temos que ganhar clareza com relação a este fato, sob pena de ficarmos articulado com outras frentes de luta, pode levar a uma transformação da prática
nos enganando e fazendo o jogo do "empurra-empurra", tão comum na cultura educacional, na direção de um ensino de melhor qualidade e mais democrático.
brasileira (ninguém é responsável por nada, o que um faz é decorrência do que O limite, se assumido conscientemente, é também força de uma mudança que
o outro faz, etc., etc.). Quando começamos a tomar consciência do que de fato deve ser ensaiada desde a base.
fazemos, chega ser angustiante, na medida que percebemos que estamos
fazendo algo que não desejamos... É a situação de alienação, tão comum ao
homem contemporâneo, uma vez que não domina mais nem o processo, nem 2 — Gênese e desenvolvimento do problema
o produto do próprio trabalho -até na educação!
Vejamos como se manifesta o problema na prática da escola.
b) Responsabilidade do educador No começo, é tudo novidade e tudo não passa de uma brincadeira, sem
maiores complicações: é uma gracinha ver aqueles toquinhos de gente já
Estamos dando destaque aqui aos educadores por estarmos nos dirigindo fazendo provas como os mais velhos... Muitas vezes, as crianças fazem as provas
a eles; não se trata de acusar ninguém particularmente. e nem têm noção, não sabem que estão sendo avaliadas. Com o tempo, os pais,
apreensivos em função das experiências anteriores, passam a questionar a escola
"O problema mais crucial está no lado do professor, inabilitado formal e politicamente para a respeito das datas das provas. Para evitar faltas nos dias de prova, passa-se
exercer sua função, não por culpa, mas por ser vítima de um processo adestrador defasado a avisar a família, que se sente toda orgulhosa de ver seu filho já passando por
e apenas reprodutivo". esses rituais. A própria criança quer fazer prova para se igualar ao irmão ou
DEMO, 1990, p. 23 colega mais adiantado, sentindo-se toda importante. Os aluninhos, por curi­
osidade, passam a perguntar aos coleguinhas quanto tiraram. E assim vai...
Há uma engrenagem social que envolve a todos, de tal forma que não há Tudo começa tão inocentemente, que mais tarde os professores, perplexos, não
necessidade de se tomar posição pela reprodução — basta não decidir pelo conseguem entender o que foi que houve, pois, dessa pequena brincadeira,
contrário e lutar fortemente. Trata-se, isto sim, de procurar explicar objetiva­ chega-se à grande distorção do ensino: estudar para tirar nota e não para
mente como se dá o problema. Não queremos dizer que os professores são aprender!
responsáveis pelo problema da avaliação. A determinação desse problema é
mais geral (de ordem social/econômica). No entanto, existe um fato concreto:
com maior ou menor intensidade, com maior ou menor consciência, os pro­
a) Gênese da necessidade de controle por parte do professor
fessores têm colaborado para a reprodução da avaliação atual. Queremos ver O professor tem uma tarefa a cumprir que lhe foi atribuída pelo conjunto
em que medida os professores são envolvidos neste esquema, para que possam da sociedade, com a mediação da escola, e para a qual está "habilitado e
lutar pela sua superação. autorizado", na medida que recebeu um diploma. Normalmente, esta tarefa está
É claro que neste processo de distorção os professores não estão absoluta­ definida muito mais em função de uma tradição, do que em função de um
mente sozinhos, contando, por exemplo, com muito apoio dos pais (que muitas projeto educativo (fundamentação pedagógica, psicológica, política, sociológica,
vezes são os primeiros a chantagear ou a aterrorizar os filhos com a nota),5 dos filosófica, etc.). Em função de sua formação deficitária, o professor não tem
dirétores e supervisores (que freqüentemente dificultam as mudanças da prá­ domínio de como o aluno se desenvolve, de como aprende, de qual o sentido
tica),6* do sistem a de ensino (que dificulta a transformação de uma escola, último de seu trabalho, etc. No entanto, quer cumprir sua tarefa e considera,
dissemina o medo de eventuais transferências e o que isto pode significar para por um lado, que ela é relevante (mesmo que o aluno não entenda no momento)
os alunos, favorecendo que nada mude), do sistem a de vestibu lar (que serve e, por outro lado, que está bem preparado (afinal, conseguiu o certificado a
duras penas). Acontece que os alunos "não sabem" disto, ou seja, não vêem
significado e nem se sentem mobilizados com aquilo que o professor propõe.
4 .Não se trata de "herança genética", mas de herança cultural.
5 .Alguns pais chegam afirmar: "Esta escola não presta, pois não dá prova".
6 .E impressionante o medo dos educadores em termos de eventuais processos que possam ser feitos b) Contradições do sistema educacional
contra eles pelos pais e a falta de apoio que podem vir a ter por parte da delegacia de ensino. Isto funciona
como fator de resistência à mudança. Isto tudo ocorre num contexto de contradições sociais:
22 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar IV — Análise do Problema 23

• mudança no quadro de valores da sociedade: crescimento da licenciosidade, Trata-se de um típico caso de confusão entre conseqüência e causa. O que
queda da "autoridade natural" do pai, do padre, do patrão, do político e de fato ocorre é que o professor reprime e condiciona o aluno a se comportar
também do professor; de determinada maneira, sob a mira de sua arma.
• diminuição da motivação pelo estudo: desvalorização progressiva da escola O professor pode ainda sentir esta necessidade de usar a nota como instru­
enquanto instrumento de ascensão social; mento de pressão a partir de uma outra situação. É o caso quando tem uma boa
• distância cultural-ideológica daquilo que é proposto na escola e a realidade proposta de trabalho, mas os alunos já estão deformados pela ênfase à nota, ou
da maioria dos alunos, oriundos das camadas populares; conteúdos seja, só se mobilizam, só "ficam quietos", quando são ameaçados pela nota. Nesta
desvinculados da realidade; circunstância, haverá uma luta inicial do professor até conseguir desalienar os
• não alteração da metodologia de trabalho em sala de aula: metodologia alunos deste tipo de relação com o conhecimento e com a nota; dependendo da
passiva, "blá-blá-blante"; série, este trabalho pode ter pouquíssimos resultados, tal a deformação assimilada.
• situação do professor: má formação, baixa remuneração, carga excessiva de
trabalho, etc.;
d) Autoritarismo ingênuo
• situação da escola: super-lotação das classes, falta de instalações e equipa­
mentos, falta de projeto educativo, falta de espaço de reuniões pedagógicas, Existe um outro caminho que pode ser trilhado na prática da deformação
etc. do papel da avaliação. Alguns educadores não sentem necessidade de utilizar
a nota como instrumento de coerção, seja porque já realizaram uma mudança
substancial na sua forma de trabalho em sala de aula, seja porque não sentem
c) Redescoberta da nota como instrumento de coerção ainda a rejeição por parte dos alunos;9 no entanto, sem se darem conta do papel
Tem-se, portanto, um quadro patético: de um lado, o professor cheio de boas autoritário que a avaliação desempenha no sistema de ensino, acabam manten­
intenções, mas mal preparado e com uma proposta equivocada; de outro lado, do o mesmo esquema de ênfase à avaliação: seguem a regra, fazem o que a
o conjunto dos alunos, que não têm consciência do que estão fazendo ali e não escola pede, fazem o que seus companheiros fazem (não percebendo a necessidade
percebem o sentido daquilo que está acontecendo. Evidentemente, a situação de mudar). Dessa maneira, introduzem ou mantém a deformação no sentido
é explosiva; os alunos das séries iniciais até que aceitam, mas a coisa vai se da avaliação; o professor não decidiu dar ênfase à avaliação, fazer uso auto­
complicando nas séries seguintes. O professor se vê desorientado diante de uma ritário da avaliação, mas faz. Apesar de terem origem num "autoritarismo
turma que rejeita aquilo que tem a oferecer. Reflete, então: o erro não está ingênuo", os resultados na formação do aluno são também funestos.
naquilo que está oferecendo; o erro não está nele; logo, o erro só pode estar
nos alunos -que são desinteressados, sem base, dispersos, indisciplinados, cada e) "Preparação para a vida"
vez mais mal-educados, irresponsáveis, etc.
Se é assim, o que pode fazer para conseguir superar a rejeição e ter clima No íntimo, o .educador sente que não era bem isto que gostaria de fazer,
para desenvolver o trabalho? Neste difícil momento redescobre7 o recurso à mas, afinal, "o caminho deve ser este, já que é tão comum entre os colegas".
coerção da nota! Passa usar a avaliação para garantir a autoridade. Procura, então, uma justificativa para tal atitude e a encontra no "vestibular"
O professor acha que exigindo nota, ameaçando com a nota, vai levar o e na "sociedade": a escola precisa dar ênfase à avaliação, para melhor preparar
aluno a se interessar, a se envolver mais com as aulas. O argumento de que o aluno para a vida, que "é cheia de momentos de tensão".10 Quando não, afirma
a avaliação serve para "motivar" o aluno precisa ser bem analisado. De um lado, laconicamente: "a avaliação é um mal necessário!".11
a avaliação pode ter um sentido positivo na medida que o aluno tenha
oportunidade de ver o seu crescimento e se animar a continuar. Por outro lado,
f) Conseqüências
achar que o aluno vai estudar para não ir mal -como de fato acontece- significa
uma distorção no sentido da avaliação, já que há uma predominância do medo, • Aula para a Prova
o que não é formativo. A aula passa a girar não em tomo da preocupação com a formação e
construção do conhecimento do aluno, mas sim em torno da preocupação com
"Achar que a nota é um estímulo para aprendizagem ou é ingenuidade ou é mal disfarçada a prova: "Olhem, prestem atenção, isto vai cair na prova".
defesa ideológica de uma postura autoritária",s
9 .Esta situação é mais comum nas séries iniciais.
7 .Pois muitos já o fizeram antes dele. 10 .Mais à frente analisaremos este argumento.
8 .R.M. FLEURf, Revista de Educação AEC (60), p. 53. 11 .Cf. J.M. Monarca PINHEIRO, A-Neurose da Avaliação, p.28.
24 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar IV — Análise do Problema 25

Os professores costumam reclamar que os alunos só pensam em nota, mas c) Papel Político da Avaliação
esquecem-se que a própria escola, que eles mesmos formaram o aluno assim...
Sempre que se observa a organização da sociedade, não deixa de vir à
• Pressão sobre o Aluno
tona uma questão crucial: como é possível tão poucos dominarem a tantos?13
A prática da avaliação escolar chega a um grau assustador de pressão sobre
É claro que a resposta a essa pergunta demanda profundas análises, mas é
os alunos, levando a distúrbios físicos e emocionais: mal estar, dor de cabeça,
certo também que podemos aí encontrar reflexos da avaliação escolar. A classe
"branco", tensão, medo, angústia, insônia, pesadelo, vergonha, transpiração,
dominante, para a manutenção do status quo, precisa contar com um certo
enjôo, ansiedade, diurese, nervoso, confusão, esquecimento, preocupação, "frio
consenso junto às classes dominadas (é muito desgastante e improdutivo ficar
na barriga", decepção, introjeção de auto-imagem negativa, etc.12
usando o aparelho de repressão a toda hora). Para isto, lança mão da
Uma escola que precisa recorrer à pressão da nota logo nas séries iniciais,
inculcação ideológica. Este processo visa que cada um se conforme com seu
é, certamente, uma triste escola e não está educando; é uma escola fracassada...
lugar na sociedade, pelo "reconhecimento" de sua desvalia, de sua incom­
petência (com justificativas "científicas", inclusive). Essa cooptação ideológica
3 — A nálise do P roblema na sua T otalidade é terrível, pois interiorizá-se no sujeito, sem que ele se dê conta e, dessa forma,
acaba levando a que apóie e colabore com seu dominador. Evidentemente,
se o sujeito não tem consciência de sua dignidade, de seu valor, de seus
a) Percepção inicial do professor direitos, se sente-se culpado, inferior, como pode ter ânimo para a luta? A
avaliação escolar colabora com este processo de dominação, ajudando a formar
Normalmente, o professor mais aberto coloca a avaliação em questão a partir
um auto-conceito negativo, desde a mais tenra idade, em milhões e milhões
de um apelo de sua sensibilidade, quase que no nível ético: percebe os alunos
de crianças, jovens e adultos, especialmente das camadas populares, que têm
sofrendo, preocupados em demasia com a nota. Não tem idéia, no entanto, da
o "privilégio" de passar pelos bancos escolares. Não podemos, entretanto, cair
dimensão do problema com que está se deparando; está se aproximando de um
no erro de considerar que a escola é a responsável pela organização social;
dos pontos centrais da concretização do autoritarismo no sistema escolar. O que
na verdade, a escola apenas reforça e realimenta toda uma organização já
ele observa no aluno é o resultado de uma complexa cadeia de relações de
existente, que tem uma base material muito concreta. Basta lembrar da
reprodução das estruturas dominantes (é apenas a ponta do iceberg).
"pedagogia do cotidiano" do trabalhador: pouco tempo de descanso, má
O professor, de modo geral, não tem consciência de que é mais um agente
alimentação, ônibus superlotado, baixos salários, acidentes de trabalho, de­
dessa engrenagem de discriminação e dominação social. Faz simplesmente
semprego, hierarquia, burocracia, etc.
aquilo que "sempre foi feito" na escola, para o que, inclúsive, recebeu "fun­
No que diz respeito à avaliação, há uma particular dificuldade na captação
damentos científicos" na sua graduação. Não percebendo, inicialmente, a real
da essência do problema, pois é muito comum aqui confundir-se conseqüência
dimensão do problema, sua procura é de técnicas mais apropriadas, para que,
com causa. Frequentemente, a avaliação aparece como um problema técnico:
tanto ele como seus alunos, possam se sentir melhor em relação à avaliação.
como fazer uma vprova que possa medir adequadamente, como avaliar tal
componente curricular, como dimensionar o tempo, que peso dar às notas
b) Relação Avaliação-Objetivos bimestrais, estabelecer média 5 ou 7, usar nota ou conceito, como fazer o
arredondamento dos décimos da nota, como formular bem as perguntas, fazer
A Avaliação Escolar não pode ser reduzida a uma questão técnica, pois é,
avaliação objetiva ou dissertativa, como corrigir os erros de português, etc. No
antes de tudo, uma questão política, ou seja, está relacionada ao poder, aos
entanto, o problema crucial e determinante da avaliação neste momento his­
objetivos, às finalidades, aos interesses que estão em jogo no trabalho educativo;
tórico do sistema escolar é de caráter político,14 ou seja, o seu uso não como
numa sociedade de classes, não há espaço para a neutralidade: posicionar-se
recurso metodológico de reorientação do processo de ensino-aprendizagem,
como neutro, diante dos interesses conflitantes, é estar a favor da classe
mas sim como instrumento de poder, de controle, tanto por parte do sistema
dominante, que não quer que outros interesses prevaleçam sobre os seus. Afinal
social, como pela escola e pelo próprio professor. Este caráter político se traduz
de contas, a favor de quem, contra quem se coloca nossa escola, o trabalho de
concretamente na possibilidade de reprovação do aluno. A avaliação não seria
cada educador? Qual nossa visão de Homem e de Sociedade? Se não sabemos
este "bicho de sete cabeças", se não houvesse o respaldo legal para a reprova-
para onde queremos ir, como podemos avaliar se estamos indo bem ou não?

12 Para perceber melhor a pressão que o aluno sente, o professor deve lembrar da pressão que sente 13 .Cf. Etienne Li HOÉTIE, Discurso iiii Seiviihio Voluntário. São Paulo, llrasiliense, 1982
quando chega o fim do ano, na escola particular, e o diretor vai decidir sobre sua "aprovação" ou H .Por político entendemos as relações de exercício de poder, que se dão na convivência dos homens
"reprovação"... (Cf. Polis, Cidade-Estado grega). Não confundir com política partidária.
26 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar IV — Análise do Problema 27

ção15 do aluno por parte do professor. A base da reprovação encontra-se na Esquema: Problema Aparente x Problema Essencial
sociedade de classes, que determina um sistema de ensino seletivo (que é
mediatizado pela escola e pelo professor).
Nota se tomou mais importante que aprendizagem
(para alunos, professores, pais, escola„etc.)
Esquema: Desenvolvimento do Problema
Problema aparente = perceptível (não que não seja real; é real, só que não é essencial)
remota : forma de estruturação do sistema que
j confere ao professor e à escola o poder de julgar (reprovar) Problema essencial
Origem do Problema
\ próxima: inadequação da proposta de trabalho
Avaliação como instrumento de discriminação e seleção social
em sala de aula (conteúdo e metodologia)

Manifestação Inicial: rejeição por parte dos alunos; desinteresse; indisciplina A avaliação, portanto, acaba desempenhando, na prática, úrrí papel mais
I político que pedagógico:
Tentativa de solução: ameaça através da nota (mais ou menos conscientemente) • pelo sistema: como forma de inculcação ideológica, domesticação, seleção e
resultado: aceitação, interesse e disciplina aparentes discriminação social;
• pela escola: como forma de legitimação da sua própria existência, como
Problema decorrente : dependência do aluno com relação à nota afirmação de sua importância (assumi-se em nível local a determinação do
(manifestação final) inversão da avaliação: Meio ===> Fim sistema), bem como forma de controle do trabalho do professor;
• pelo professor: como forma de controle da disciplina e/ou como forma de
coerção para o aluno reproduzir a ideologia dominante, expressa no saber
É claro que a avaliação tem problemas especificamente pedagógicos
5("técnicos"), que ,não sç colocam no âmbito estritamente político. Mas estes ali transmitido.
problemas só podem ser enfrentados depois de uma tomada de consciência
do problema político, que é determinante, e de uma opção por uma outra d) Qual pedagogia está por trás da nota?
prática em termos de avaliação. Caso contrário, corre-se o risco de se ter
Por detrás da maneira como a nota é trabalhada na escola, pode-se perceber
pequenos ajustes na velha estrutura.
a presença de uma pedagogia comportamentalista, baseada no esforço-re-
De instrumento de análise do processo educacional, a avaliação tornou-se
compensa, no prêmio-castigo. A nota, ao invés de ser um elemento de referência
instrumento de dominação, de controle,16 de seleção social, de discriminação,
de repressão, de vingança ("acerto de contas"). Objetivamente, no sistema do trabalho de construção de conhecimento, passa a desempenhar justamente
educacional, a avaliação é hoje o instrumento de controle oficial, o "selo" do o papel de prêmio ou de castigo, alienando a relação pedagógica, ou seja, tanto
sistema, o respaldo legal para a reprovação/aprovação, para o certificado, para o aluno como o professor passam a ficar mais preocupados com a nota que com
o diploma, para a transferência, etc. a aprendizagem. A essa pedagogia poderíamos contrapor uma outra que tivesse
como meta a construção da autonomia, onde a avaliação seria uma referência
"A avaliação, sob uma falsa aparência de neutralidade e de objetividade, é o instrumento para a própria criança, no sentido de superação das dificuldades que venha
encontrando. Na pedagogia do esforço-recompensa, a nota passa a ser algo fora
por excelência de que lança mão o sistema de ensino para o controle das oportunidades
do processo educativo, enquanto que na pedagogia da autonomia, a nota remete
educacionais e para a dissimulação das desigualdades sociais, que ela oculta sob a fantasia
do dom natural e do mérito individualmente conquistado''. ao interior do próprio processo de ensino-aprendizagem.
SOARES, p. 53
e) Localização do problema da Avaliação no campo Pedagógico
O problema da avaliação é complexo, pois tem um duplo rebatimento, uma
15 Qual o sentido da reprovação? Quando um aluno deveria ser reprovado? Em princípio, a reprovação
seria um instrumento de que dispõe a escola/professor para não permitir o avanço de um aluno sem condições dupla ocultação: primeiro, aparece como um problema técnico, quando na verdade
de continuidade do estudo em graus mais elevados. No entanto, a reprovação, que deveria ser uma exceção, é, antes de tudo, problema político; segundo, aparece como causa de outros
acaba se transformando em regra de ameaça ao aluno.
problemas pedagógicos, quando é, na verdade, antes disso, conseqüência do
16 ."Se a gente deixasse livre, a escola ficaria vazia o ano inteiro".
28 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar

problema da inadequação metodológica em sala de aula. Esvaziada de sua


CONCEPÇÃO DIALÉTICA-LIBERTADORA
utilização autoritária (uso político), a avaliação não chega a ser um problema tão DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ESCOLAR
difícil de ser equacionado do ponto de vista pedagógico; neste sentido, nos parece,
a alteração da metodologia de trabalho em sala de aula é muito mais difícil e
importante que a alteração da avaliação (sem perder de vista a mútua influência). 3â PARTE
Como vimos, o uso da avaliação como forma de pressão decorre da tentativa de
contornar o problema disciplinar em sala de aula, que por sua vez é decorrência
da inadequação da proposta de trabalho do professor e da escola. Assim, o principal
problema da educação escolar, enquanto enfoque micro-estrutural, se encontra
muito mais na metodologia de trabalho que na avaliação.

f) Dificuldade da Mudança
Uma questão que não deixa de vir à tona quando se pensa na problemática
da avaliação é a seguinte: por que é tão difícil mudar a avaliação? É muito difícil
porque exige, antes de mais nada, uma mudança de postura do educador tanto
em relação à avaliação propriamente dita, quanto à educação e à sociedade (no
limite). O substrato de uma nova concepção da avaliação está na tomada de
posição: estar a serviço da reprodução ou da transformação! Não é, portanto,
simplesmente uma questão "técnica", como por exemplo não fazer semana de
prova, fazer avaliação de cunho reflexivo, etc. Como, em última instância, o
problema da avaliação é político, a superação, em última instância, também
passa por uma nova postura política, o que é muito difícil, dado o processo de
alienação, a ideologia, as estruturas dominantes, etc. Não estamos inaugurando
o mundo; ao contrário, nos situamos num mundo que tem uma lógica em
andamento. A conscientização é um longo processo de ação-reflexão-ação; não
acontece "de uma vez", seja com um curso ou com a leitura de um texto. Vai-
se ganhando clareza à medida que se vai tentando mudar e refletindo sobre
isto, coletiva e criticamente. Coloca-se, assim, para quem quiser se engajar, o
desafio da transformação.
Entendem os que o
que precisamos hoje não é
tanto uma nova relação de
idéias sobre a realidade,
mas sim uma nova re­
lação com as idéias e com
a realidade.
V - EM BUSCA DE ALGUMAS
ALTERNATIVAS

Aviso aos navegantes:

Veja bem, se você quiser, pode continuar só se lamuriando a respeito dos problemas da
Avaliação (e da profissão); motivo para reclamar é que não falta. Existem hoje muitas
justificativas, até científicas, para a gente não fazer nada: é o sistema, a legislação, o salário,
a sobrecarga de trabalho, a falta de apoio, a má formação, o número de alunos por sala,
os pais, os alunos, os colegas, os superiores, etc., etc. Pode ficar tranqüilo. Ninguém é
obrigado a sair da mediocridade. Ninguém é obrigado a tomar a iniciativa. Ninguém é
obrigado a ser agente da própria história. Ninguém é obrigado a se comprometer com uma
educação democrática.

• Lógica do detetive x do educador


Que espírito deve ter o professor, diante da avaliação: do policial que fica
procurando o culpado, o errado, o fora do padrão ou o do pedagogo que
acompanha o crescimento da criança, procurando dar-lhe as melhores con­
dições de desenvolvimento? O educador não pode se deixar levar pela "lógica
do detetive", ou seja, estar mais preocupado em verificar quem cometeu um
"crim e",17 do que em ajudar no processo de construção do conhecimento.
Atualmente, os educadores assumiram tanto esse papel de controle, de fiscais,
que nem há mais necessidade de controle do trabalho de sala de aula por
parte dos inspetores do Estado.18 Muitas vezes, desempenhamos, ainda que
sem querer, o papel do detetive que procura avidamente entre os alunos
aqueles que não são "capazes", que estariam a "enganar" a sociedade.
Localizados, nos realizamos, punindo-os com nota baixa e reprovação... De
que pressuposto partimos: de que há "farsantes" no meio do grupo ou de
que todas as crianças são capazes de aprender? Em relação à questão do
"limite" do aluno ("tal aluno é limitado"), caberia uma pergunta: considerando
que toda criança é capaz de aprender (a menos que tenha sérias disfunções,
nem chegando a freqüentar a escola), o "limite" estaria no aluno ou no
professor? Teríamos "Problemas de Aprendizagem" dos alunos ou, na ver-
“A gente toma a iniciativa...
e vai contra a corrente..." 17 .0 aluno é culpado até que prove o contrário...
18.Por ironia do destino, o próprio Estado chega hoje a pedir que os professores sejam menos autoritários
na avaliação; veja-se o caso da Deliberação 3/91 do Conselho Estadual de Educação de São Paulo.
Chico Buarque
32 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar V — Em Busca de Algumas Alternativas 33

dade, "Problemas de Ensinagem"19 dos professores? (restaria desenvolvermos • Avaliação x Nota


competência para ajudá-las)
Há que se distinguir, inicialmente, 'Avaliação' e 'Nota'. Avaliação é um
processo abrangente da existência humana, que implica uma reflexão crítica
Relação Avaliação-Concepção de Educação sobre a prática, no sentido de captar seus avanços, suas resistências, suas
A primeira questão que se coloca quando se fala de avaliação é relativa­ dificuldades e possibilitar uma tomada de decisão sobre o que fazer para
mente aos objetivos da educação escolar, pois deles é que derivarão os critérios superar os obstáculos. A nota, seja na forma de número (ex.: 0-10), conceito (ex.:
de análise do aproveitamento. A avaliação escolar está relacionada a uma A, B, C, D) ou menção (ex.: Excelente, Bom, Satisfatório, Insatisfatório), é uma
concepção de homem, de sociedade (que tipo de homem e de sociedade exigência formal do sistema educacional. Podemos imaginar um dia em que não
queremos formar, etc.), ao Projeto Pedagógico da instituição. É justamente aqui haja mais nota na escola -ou qualquer tipo de reprovação-, mas certamente haverá
que encontramos uma distorção, qual seja, uma distância muito grande entre necessidade de continuar existindo avaliação, para poder se acompanhar o
o discurso e a prática, em função da alienação que perpassa nossas relações desenvolvimento dos educandos e ajudá-los em suas eventuais dificuldades.
sociais; de modo geral, não se percebe a discrepância entre a proposta de
educação e a prática efetiva. Em parte, isto ocorre em função de uma prática
de planejamento meramente formal, levando a que os professores simplesmente Esquema: Avaliação x Nota x Prova
"esqueçam" quais foram os objetivos propostos.20 Temos que superar esta
contradição através da reflexão crítica e coletiva sobre a prática.
Evidentemente, o sentido dado pelo professor à avaliação está intimamente A Provn é npenns uma tins
relacionado à sua concepção de educação: formas de se gerar Nota,
que, por sun vez, é npenns
umn das formns de se Avaliar.
Esquema: Postura do Professor frente ao Ensino e à Avaliação Assim, podemos atribuir Nota
sem ser por Prova, bem como
Concepção Tarefa podemos Avaliar sem ser por
Nota (este dia parece não
Transmissor ==> transmitir e fiscalizar a absorção do transmitido ter chegado ainda...).
Avaliação = Controle/Coerção
Professor
' Educador ===> ensinar e fazer tudo para que aluno aprenda • Mudança de Prática
Avaliação = Acompanhamento /Ajuda
Algumas mudanças dependem de instâncias superiores ao professor ou à
escola; nestes casos, a luta é mais longa e exigente. Mas muitas mudanças estão,
Entendemos, pois, que o sentido da avaliação muito objetivamente, ao alcance do professor e da escola (ex: não marcar semana
é o seguinte: de prova, etc.); estas mudanças devem ser feitas, se queremos construir algo novo.
Avaliar para que os alunos aprendam mais Seria importante lembrar que a mudança de mentalidade se dá pela
e melhor. mudança de prática. Se o discurso resolvesse, não teríamos mais problemas com
a avaliação, pois qual o professor que já não disse "n" vezes para seus alunos
que o importante não é a nota, mas sim a aprendizagem...
O professor que quer superar o problema da avaliação precisa, a partir de
uma auto-crítica:
• abrir mão do uso autoritário da avaliação que o sistema lhe faculta, lhe
autoriza;
15 .Cf. COLLARES, Cecília A.L. Ajudando a Desmistificar o • rever a metodologia de trabalho em sala de aula;
Fracasso Escolar. In Tain Criança é Capaz tie Aprender? (Série Idéias, • redimensionar o uso da avaliação (tanto do ponto de vista da forma como
n. 6). São Paulo, FDE, 1990, p. 28.
:o .Cf. SOUZA, Clarilza, Avaliação do Rendimento Escolar, p. 85.
do conteúdo);
Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar V — Em Busca de Algumas Alternativas 35
34

• alterar a postura diante dos resultados da avaliação; N ão se p od e conceber uma av a lia ção diferente, em an cipatória, num
• criar uma nova mentalidade junto aos alunos, aos colegas educadores e aos processo de ensino p assiv o, alienante; se o conteúdo não é significativo, como
pais. a avaliação pode sê-lo? O professor que no dia a dia ensina nomes e datas,
A seguir detalhamos um pouco estas sugestões para a transformação da não tem condições de solicitar relações na avaliação. Enquanto o professor
prática. não mudar a forma de trabalhar em sala de aula, dificilmente conseguirá
mudar a prática de avaliação formal, decorativa, autoritária, repetitiva, sem
sentido.
Pressuposto: Professor abrir mão do uso autoritário da avaliação Alguns professores cobram "criatividade" dos alunos -principalmente na
O pressuposto de que partimos para apresentar as sugestões seguintes é hora da prova-, quando todo o trabalho em sala de aula está baseado na
que o professor queira abrir mão da "autorização" dada pelo sistema e pelos repetição, na reprodução, na passividade, na aplicação mecânica de passos que
pais para que faça uso autoritário da avaliação; queira estabelecer uma ruptura devem ser seguidos de acordo com modelos apresentados. Ora, a criatividade
-prática (e não idealista/voluntarista) com o status quo autoritário; recuse-se a é fundamental na formação do educando e do cidadão, mas ela precisa de uma
entrar no circuito da perversão. Como vimos anteriormente, o problema da base material: ensino significativo, oportunidade e condições para participação
avaliação é, antes de mais nada, um problema político. Por isto, seu énfrentamento e expressão das idéias e alternativas, compreensão crítica para com o erro,
passa primeiramente por uma tomada de posição política: modificar a postura pesquisa, diálogo, etc.
diante da avaliação (decisão política, não técnica). Muitos dos fatores que
interferem no problema da avaliação estão fora do raio de ação imediata do a) Sentido para o conhecimento
professor; no entanto, a mudança de postura está ao alcance do professor. Não
basta, numa atitude passiva, não fazer intencionalmente, não fazer por querer: Como vimos, tem havido uma inversão no sentido da avaliação: de um m eio
a reprodução é "automática", faz parte da engrenagem social. Exige-se um de verificação de um processo, acabou se transformando no fim desse processo,
esforço ativo e consciente no sentido contrário, qual seja, de não reproduzir a na prática dos alunos e da escola. Trate-se da tão famosa questão do "estudar
regra dominante; é necessário desejar e se empenhar na transformação do que para passar" ou "estudar para tirar nota" ("Professor, é pra nota?"),21 e não
está aí, através die uma nova prática (ainda que limitada). estudar para aprender. Os alunos, desde de cedo, precisariam ser orientados
Muitas vezes, nos sentimos divididos: de um lado, a percepção da necessidade para dar um sentido ao estudo; a nosso ver, este sentido se encontra na tríplice
de mudar, de outro, a resistência, o medo do novo. Temos que lutar conosco articulação entre com preender o mundo que vivemos, usufruir do patrimônio
mesmos! Se o professor muda sua postura, com um pouco de esforço, trabalho acumulado pela humanidade e transform ar este mundo, qual seja, colocar este
coletivo e criatividade, encontra os melhores meios de realizar a avaliação. conhecimento à serviço da construção de um mundo melhor, mais justo e
fraterno. É claro que esta tarefa não é fácil no atual contexto social; este empenho
do educador tem a ,ver com o enfrentamento da alienação: trata-se de uma luta
P ropostas de perspectivas, de sentidos para o conhecimento e para a vida.

Atenção: b) Agir para conhecer


Apresentamos um conjunto de propostas que refletem uma concepção de As ciências pedagógicas contemporâneas demonstram que o sujeito só
avaliação. A consideração de uma proposta desvinculada das demais pode adquire o conhecimento quando, num processo ativo (seja motor, perceptivo,
distorcer seu sentido. reflexivo, intuitivo), reconstrói o objeto de conhecimento. O blá-blá-blá depositante
não leva à aprendizagem. O testemunho dos alunos é muito claro: "Na hora
da explicação eu entendo tudo direitinho, mas quando tento me lembrar quase
1- P roposta: A lterar a metodologia de trabalho em sala de aula sempre não me lembro". E claro que quando o professor vai explicando "vai
tudo muito bem"; na verdade o educando não está se confrontando com o objeto
O educador deve rever sua prática pedagógica, pois, a origem de muitos do conhecimento, mas apenas recebendo passivamente informações sobre esse
dos problemas de sala de aula encontra-se aqui. Deve procurar desenvolver objeto. O professor deve propiciar uma metodologia que leve a esta participação
um conteúdo mais significativo e uma metodologia mais participativa, de
tal forma que diminua a necessidade de recorrer à nota como instrumento :i .Isto por parte dos alunos; por parte dos professores, é o "ensinar para a prova" ("Isto c matéria de
de coerção. prova").
36 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar V — Em Busca de Algumas Alternativas 37

ativa dos educandos (problematização, debate, exposição interativa-dialogada, Importante: Não adianta mudar forma e não mudar conteúdo!!
pesquisa, experimentação, trabalho de grupo, dramatização, desenho, constru­ (e vice-versa)
ção de modelos, estudo do meio, seminários, exercícios de aplicação, aulinhas
dos alunos, etc.). a) Tensão estimulada

Vamos retomar aqui aquele argumento citado anteriormente: "Na vida


c) Direito à dúvida toda o aluno vai ter que enfrentar situações de avaliação e de tensão; então,
A dúvida é um dos direitos fundamentais do educando, justamente porque a escola, para ser ligada à vida, deve propiciar também uma ênfase na
está em fase de formação. No entanto, na prática em sala de aula, este direito avaliação: dias especiais, horários especiais, questões complexas, pressão
tem sido sistematicamente desrespeitado, seja pelos colegas (que ficam gozando durante a resolução, tempo limitado, poucas explicações, etc.". A nosso ver,
quando alguém pergunta),22 seja pelo próprio educador (que acha que gozando esta é uma visão totalmente equivocada, pois, novamente, se confunde a
se aproxima mais dos alunos ou que "ganha tempo" para dar os seus con­ consequência com a causa. O argumento de que temos que preparar o aluno
teúdos...). Instala-se o medo de perguntar. Dessa forma, o aluno não constrói para a vida pode parecer muito moderno, mas dependendo de como é
adequadamente seu conhecimento, o que o leva a se desinteressar pela aula, entendido, pode ser extremamente conservador e reacionário, pois pode
as dúvidas se acumulam e o professor não tem elementos para fazer uma significar a simples adaptação ao mundo que aí está. É claro que o educando
avaliação continua da aprendizagem. As dúvidas revelam ao professor o per­ tem que ser preparado para a vida, mas levando em conta também aquilo
curso que o aluno está fazendo na construção do conhecimento. O professor que tem que ser mudado, transformado.
deverá, ao contrário, incentivar e garantir a prática de perguntar durante a aula, Muitos educadores têm dificuldade em admitir a influência dos fatores
combatendo os preconceitos e as gozações, estabelecendo um clima de res­ sócio-afetivos na educação escolar. Sabemos, no entanto, que estes fatores
peito.23 podem ser decisivos, não no sentido de constituírem um caminho especial de
construção de conhecimento, mas no sentido de poderem funcionar como
elemento de bloqueio à aprendizagem; basta ver os tão comuns casos de
d) Álibi do Vestibular "branco".24 O trabalho da escola não pode caminhar para o condicionamento
Alguns professores argumentam, por exemplo: "Tenho que dar, na 62 série, operante, que reduz o aluno a um animal condicionado a dar determinadas
os nomes das Capitanias Hereditárias porque cai no vestibular". O que acaba respostas sob determinados estímulos. Para ser educativo, deve colaborar para
ocorrendo é quem nem dão bem o que deveria ser dado naquele momento, nem a formação integral, do sujeito. Assim, uma vez que o sujeito se sinta efetiva­
resolvem o problema do vestibular, pois, como se sabe, cerca de um mês depois, mente preparado, auto-confiante, uma vez que tenha aprendido efetivamente
o aluno já não se lembra de quase nada do que foi ensinado de forma não a resolver problemas, sua eventual tensão tenderá a se reduzir a níveis per­
significativa. O melhor é fazer bem o que tem que ser feito e apontar para a feitamente administráveis. O papel da escola, então, é justamente propiciar a
necessidade de estar atento a eventuais conteúdos alienantes que o vestibular construção significativa do conhecimento e o desenvolvimento da autonomia,
pode pedir; quando chegar a época de prestar exame, o aluno decora uns dias da auto-confiança. Além do mais, como sabemos, não são os "momentos de
antes, se for o caso. tensão" que realmente avaliam e sim a vida (não é o sucesso no exame da Ordem
que garante o sucesso na vida profissional...). Especificamente com relação ao
Vestibular, se o aluno teve este ensino de qualidade, se teve essa formação
1- P roposta: D iminuir a ênfase na A valiação integral tanto do ponto de vista cognitivo, quanto sócio-afetivo e psico-motor,
está plenamente preparado para enfrentar qualquer situação-problema, bastando,
Em termos de avaliação só há necessidade de se mudar o conteúdo e a forma quando muito, participar de alguns simulados desse exame para que conheça
(ou seja, tudo!). Inicialmente, vamos tratar mais da questão da forma, levando sua estrutura.25
em conta, no entanto, que conteúdo e forma não são independentes um do
outro, mas têm uma articulação intrínseca.

34 .Negar a interferência do emocional no cognitivo ("O aluno que fica nervoso é porque não sabe"),
é negar o aluno enquanto ser concreto.
33 .Geralmente, em cada classe, somente alguns poucos alunos têm o "direito" à dúvida. 35 .Levantamento do perfil de alunos aprovados feito pela UFRGS e pela PUC de Porto Alegre,
33 .Esta atitude é radicalmente diferente daqueles professores que chegam a chamar seus alunos de demonstram que alunos oriundos de escolas "alternativas" (mais críticas e participativas) são os que têm
"orelhudos" (numa "delicada" alusão ao asno). os maiores índices de aprovação.
V — Em Busca de Algumas Alternativas 39
38 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar

b) Avaliação no processo c) Crítica à "Prova"


A primeira proposta especificamente com relação à avaliação, então, visa Quais os problemas que vemos na "prova", enquanto instrumento de
recolocá-la no seu lugar: avaliação como processo.26 avaliação com horário especial, rituais especiais, etc.?
A avaliação deve ser contínua para que possa cumprir sua função de auxílio • Ruptura com o processo de ensino-aprendizagem
ao processo de ensino-aprendizagem, ou seja, a avaliação que importa é aquela • Ênfase demasiada à nota
que é feita no processo, quando o professor pode estar acompanhando a • Como está desvinculada do processo ensino-aprendizagem, acaba servindo
construção do conhecimento pelo educando; avaliar na hora que precisa ser apenas para classificar o aluno, não tendo repercussão na dinâmica de
avaliado, para ajudar o aluno a construir o seu conhecimento, verificando os trabalho em sala de aula.
A avaliação tipo prova individual revela o passado, aquilo que se estruturou
vários momentos do desenvolvimento dos alunos e não julgando-os apenas
num determinado momento. Avaliar o processo e não apenas o produto, ou no sujeito, não dando conta de avaliar aquilo que está em desenvolvimento, em
processo de vir-a-ser, que poderia desabrochar na interação com os colegas, com
melhor, avaliar o produto no processo.
A separação entre a avaliação e o processo de ensino-aprendizagem, ou seja, o professor, através de atividades de outro tipo.29
o fazer-se avaliação não no cotidiano do trabalho de sala de aula, mas em
momentos especiais, com rituais especiais,27 etc. causou sérios problemas para d) Não se trata de abolir a avaliação
a educação escolar. Em nome da objetividade, da imparcialidade, do rigor
científico chegou-se a uma profunda desvinculação da avaliação com o processo É preciso esclarecer que quando se faz crítica à ênfase na avaliação ou à
educacional. Provas preparadas, aplicadas e corrigidas por outros, que não os prova, não se está fazendo crítica à necessidade de avaliação ou à necessidade
professores das respectivas turmas, eram sinônimo de qualidade de ensino.28 de produção de conhecimentos e expressão dos educandos. Deve-se estar atento
E óbvio que toda essa ênfase não passou desapercebida pelos alunos, que, por para "não jogar fora a água suja junto com a criança": alguns educadores tomam,
precipitadamente, a crítica ao problema da repressão pela nota e à "prova",
sua vez, começaram a dar-lhe um destaque especial também, introduzindo,
como a defesa da abolição da avaliação, como a dispensa da necessidade do
assim, uma distorção no sentido da avaliação. Como apontamos anteriormente,
aluno fazer seus trabalhos (certa visão "espontaneista" que se contrapõe à visão
até hoje muitas escolas e educadores defendem esta ênfase em nome da
"autoritária", como reação mecânica e oposta a esta).30 Isto é um grande equí­
"preparação para a vida". No entanto, o questionamento dos professores mais
lúcidos é muito claro: por que dar uma avaliação para os alunos no final do voco, pois, neste caso, os alunos não seriam trabalhados em suas dificuldades,
bimestre muito semelhante a tantos trabalhos que fizeram no decorrer do por não haver uma avaliação do processo. Não se trata disto. O que se propõe
é que esses elementos para avaliação sejam tirados do próprio processo, do
mesmo? Trata-se de uma situação artificial, ao passo que a avaliação poderia
trabalho cotidiano, da própria caminhada de construção e produção do conhe­
ser contínua, com as próprias atividades diárias.
cimento do aluno e que não se tenha um momento "especial", "sacramentado"
No seu verdadeiro sentido, a avaliação sempre faz parte do processo de
ensino-aprendizagem, pois o professor não pode propiciar a aprendizagem a e "destacado", cohro é o uso corrente na "prova".
menos que esteja constantemente avaliando as condições de interação com seus
educandos. Está relacionada ao processo de construção do conhecimento, que e) Aprender x tirar nota
se dá através de três momentos: Síncrese, Análise e Síntese. Pela avaliação, o
Um outro aspecto a ser considerado é o seguinte: enquanto existir nota que
professor vai acompanhar a construção das representações no aluno, percebendo
reprova, não podemos iludir os alunos, fazendo de conta que ela não existe e
onde se encontra (nível mais ou menos sincrético), bem como as elaborações
sintéticas, ainda que provisórias, possibilitando a interação na perspectiva de no final do ano ele ser surpreendido por uma reprovação. Entendemos que, em
superação do senso comum. primeiro lugar, o professor não deve fazer uso autoritário dela e, dessa forma,
mostrar (através de novas práticas concretas -e não de discursos- isto é fun­
damental) ao aluno que, se ele aprender, a nota virá como conseqüência natural,
enquanto que a recíproca não é verdadeira, ou seja, o aluno que só se preocupa
36 .Não estamos nos referindo aqui a processo no sentido funcionalista, mecanicista, tecnicista, em que com nota acaba não aprendendo, mas só apresentando um comportamento de
há definição d o input e do output desejado e o controle das variáveis (Cf. Márcia BRITO, op. cit. p. 61). Processo
é aqui tomado no sentido do desenvolvimento histórico do sujeito e do social, nas suas múltiplas relações memória superficial.
e facetas.
27.Existem casos patológicos e quase que antológicos: professor que fazia furo no jornal para surpreender
alunos colando, professor que punha cadeira sobre a mesa e sentava-se em cima para vigiar melhor, etc.
29 .Cf. L.S. VYGOTSKY, “zona Ae Acsenmhmncnlo proximal".
28 .Esta é uma forma de controle sobre o trabalho do professor. Infelizmente esta prática é ainda comum
30 .Semelhante distorção foi verificada na implantação do Ciclo Básico no Estado de São Paulo.
nas I a a 4a’ series do 1“ grau (Cf. Pura MARTINS, op. cit. p. 59).
40 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar V — Em Busca de Algumas Alternativas 41

Dada a realidade das distorções já presentes hoje no sistema educacional, com relação à avaliação, pois é onde socialmente se tem hoje maiores espaços
esta proposta de avaliação processual se desdobra em dois níveis, a saber: de se fazer um trabalho mais democrático e significativo. A Educação Infantil
não deve ceder às pressões das séries posteriores.
Ia série do T grau: mudança radical==> fim das provas
2a nível: séries mais adiantadas
Séries mais adiantadas: mudança paulatina ==> ações concretas
Nas séries mais adiantadas, o problema é maior, em função da deformação
que a própria escola já impingiu nos alunos. Geralmente encontramos também
I a nível: séries iniciais
maiores resistências por parte dos professores e dos pais dessas séries. Tudo
Levando-se em conta que é nas séries iniciais que começa a se manifestar isto, evidentemente, dificulta o âmbito de ação, mas não o elimina. O que
o problema, devemos eliminá-lo aí pela raiz, ou seja, não deixar que surja. Para propomos nestas séries é:
isto, devemos simplesmente eliminar qualquer prática que deforme o sentido
da avaliação. Objetivamente, para não pairar dúvidas, propomos: Paulatina dim inuição da ênfase na avaliação,
Não marcar "semana" de prova, "dia" de prova, "horário" de prova, rituais
especiais de prova, etc., mas fazer a avaliação continuamente, a partir dos através de algumas práticas concretas, como por exemplo:
diversos trabalhos cotidianos realizados na sala de aula. • n ão fazer "sem an a de p ro va", realizar a avaliação no horário normal de aula;
• não mudar o ritual (não ter postura especial, fiscal especial, etc.); propor a
avaliação como uma outra atividade qualquer (não mudar de sala, não mudar
Observação: alunos de lugar, etc.);
Não se trata só de não marcar. E não marcar e não ter mesmo!!! Não • avaliar o aluno em diferentes oportunidades (estabelecer um número mí­
adianta não marcar e continuar fazendo momentos especiais, etc.;31* se for nimo de momentos de avaliação);
para continuar dando, o mais honesto é avisar, pois ao menos o aluno • não se prender só a provas: diversificar as formas de avaliação: atividades
pode se preparar para estes momentos... Não adianta deixar de marcar por escrito, dramatização, trabalho de pesquisa, avaliação oral, experimentação,
data (mudar form a) e continuar dando prova de cunho decorativo (não desenho, maquete, etc. (levar em consideração os estágios de desenvolvimento
mudar conteúdo). dos educandos);
• diversificar os tipos de questões: testes objetivos, V ou F, palavras cruzadas,
A nossa prática tem mostrado que é importante que a escola e os educadores completar, pedir desenhos, enumerar de acordo com ordem de ocorrência,
tomem essa decisão, muito concreta e objetivamente, a partir de uma série num copiar parte do texto de acordo com critério, associar, formas frases com
determinado ano; freqüentemente, deseja-se mudar toda a escola de uma só vez palavras dadas^etc. Destacamos, no entanto, a necessidade de espaço para
e acaba não se mudando nada. Assim, consideramos muito mais viável a a avaliação dissertativa, por dar a oportunidade de expressão mais sintética
implantação dessa sistemática inicialmente numa série. Teríamos, por exemplo, do conhecimento (síntese construída pelo aluno);
num ano, a I a série do 1B grau; no ano seguinte, a I a e a 2a, e assim sucessi­ • dar peso maior para questões dissertativas, por exigirem maior empenho e
vamente, a escola iria implantando de acordo com sua realidade, mas garan­ domínio do conhecimento;
tindo efetivamente essa transformação da prática, mesmo que não ao ritmo que • contextualizar as questões: questões a partir de texto, perguntas relacionadas
gostaria. à aplicação prática, problemas com significado, acompanhados por desenhos,
Em relação à Educação Infantil, é ótimo que não tenha nota, nem repro­ gráficos, esquemas, etc.;
vação, mas uma questão fundamental deve ser colocada: como é trabalhado o • colocar questões a mais, dando opção de escolha para os alunos (este
erro? Sabemos que certos "olhares" ou certos "comentários" de professores recurso é simples e dá oportunidade de maior individualização das
podem ter um efeito muito pior sobre a criança que uma nota baixa. A Educação avaliações);
Infantil tem um papel muito importante na formação da criança e, em especial, • dimensionar adequadamente o tempo de resolução da avaliação, de forma
a evitar a ansiedade. Não ficar fazendo pressão durante a aplicação ("Faltam
30’"; "Faltam 25’", etc.);
• as atividades (avaliações, trabalhos, etc.) que tiverem data determinada para
31 .’'Ah, agora não marcamos mais o dia da prova; a qualquer momento o aluno pode ser avaliado’’.
Cuidado: se não mudou o conteúdo, só deixou de avisar, pode ser terror espalhado ao invés de terror
realização ou entrega, deverão ser marcadas ("negociadas") diretamente
concentrado de antes... entre a classe e o professor, com um prazo adequado;
42 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar V — Em Busca de Algumas Alternativas 43

• ao invés de "Prova"32 (nibguém tem que provar nada para ninguém), usar como problemas de disciplina, não se tentando sufocá-los através da ameaça
o termo "A tivid ad e"; substituir a "Folha de Prova" por "Folha de Ativida­ da nota.
des", que também pode ser usada para trabalhos, pesquisas, etc. (lembrar, Por fim, pois é sempre bom lembrar, o professor não deve incentivar a
no entanto, que não se trata apenas de mudar o termo...); competição entre os alunos, ou, melhor dizendo, o professor precisa combater
• deixar muito claro para os alunos e os pais quais os critérios de avaliação sua ocorrência, pela não valorização da nota, uma vez que, normalmente, a
que estão sendo adotados pelo professor;33 competição já está presente no contexto social.
• não pedir assinatura dos pais: como as avaliações fazem parte do processo, O professor deve aproveitar a oportunidade de introdução de novas práticas
não tem sentido os pais terem que assiná-las, uma vez que devem acom ­ para abrir o debate, fazer uma reflexão com os alunos sobre suas experiências
p an h ar todo o trabalho dos filhos e não apenas as avaliações; devolver todas com avaliação e sobre a necessidade de mudança. É importante que a discussão
as atividades para os alunos;34 seja em cima de práticas concretas que se vai introduzir e não só discursos a
• não vincular a reunião de pais à entrega de notas; essas reuniões devem ser respeito.
momentos de interação entre a escola e a família, de formação dos pais, etc.
Entregar as notas na reunião acaba dando destaque à nota. Que sejam
entregues antes aos alunos.35 3â P roposta: Redimensionar o conteúdo da avaliação
• realizar avaliação em dupla e/ou em grupo (sem dispensar a individual);
• fazer avaliação com consulta; Com relação ao conteúdo, coloca-se uma exigência básica:
• elaborar avaliações interdisciplinares (questões comuns servindo para duas
ou mais disciplinas); N ão fazer avaliação de cunho decorativo!
• alunos elaborarem sugestões de questões (ou propostas de trabalhos) para
a avaliação;36 mas sim reflexiva, relacional, compreensiva. Infelizmente, essa é uma
• eliminar uma das notas de um conjunto, para que o aluno fique menos tenso; prática muito comum: palavras, regras, nomes, datas, locais, operações, fórmulas,
etc.;3738 algoritmos, classificações fora de contextos significativos.39 Isto acaba levando
• não ter pedido especial para avaliação substitutiva (impresso, taxa, etc.); o a distorções na relação de ensino-aprendizagem, uma vez que o aluno é
professor pode dispensar, no caso de já ter outros instrumentos, ou acertar obrigado a decorar, ao invés de se preocupar em aprender.
a realização diretamente com o aluno; O uso de "cola" (seja escrita no papel, na borracha, etc.) não é aceito pela
• avaliação não ser elaborada por terceiros, mas sim pelo próprio professor. escola por ser considerado recurso alheio ao processo de ensino-aprendizagem.
Avaliação não ter que passar pela coordenação, antes de ser aplicada.33 Já a cola na cabeça ("decoreba") -que também não faz parte do processo de
Para não se sobrecarregar com correções, o professor pode fazer correção formação e construção do conhecimento- é frequentemente aceita e até legiti­
por amostragem, auto-correção ou correção-mútua pelos alunos com sua su­ mada pelo tipo-de prova que é dado pela escola. Isto deve ser superado.
pervisão. Olhando para sua avaliação, o professor deveria ver ali o reflexo daquilo
Um outro ponto que precisa ficar claro, quando se busca recolocar a que é essencial em sua área de conhecimento, ou seja, aquilo que é realmente
avaliação no seu devido lugar, é que problemas de disciplina devem ser tratados significativo que o aluno tenha aprendido (auto-análise: é isto que espero dos
meus alunos? é isto que considero importante?).40
33 .Do crime? Cf. Repensado a Didática, p. 135.
33 .Neste particular, muito pode colaborar o Serviço de Orientação Educacional.
34 .No caso dos alunos menores, por uma questão de organização, pode-se ter uma pasta onde se coloca
tudo que é relativo à escola (comunicados, circulares, avaliações, atividades, trabalhos, etc.) O importante
é que não seja pasta só para avaliação (não dar ênfase).
35 .Se os pais não vêm ã reunião, não tentar resolver isto com o subterfúgio da nota. Analisar o problema
e encontrar alternativas mais apropriadas.
Ao elaborarem estão estudando e ao mesmo tempo dando elementos para o professor analisar se 33 .Exemplo: aluna estudando nomes, datas, locais de movimentos abolicionistas, pede ajuda para mãe;
captaram o que 6 essencial da unidade trabalhada. a mãe, inicialmente, pergunta o que são movimentos abolicionistas; a aluna pensa, pensa e responde: "Não
33 .Exemplo: alunos fazem seis atividades no bimestre e são consideradas apenas as cinco melhores. mãe, isto a professora não vai perguntar!"...
38 .A escola deve apresentar a priori quais são seus critérios para elaboração de avaliação; a coordenação 40.Um contra-exemplo: a professora de 3J série comentou em sala que a fórmula da água era 11,0; segundo
pedagógica deve acompanhar todo o trabalho do professor e não só a "prova". Analisando, a posteriori, as ela, era para "apenas o aluno ter uma informação a mais”. Só que na prova foi pedida a tal fórmula... Tudo
avaliações, pode sentir necessidade de orientar algum professor, assim como orienta em outras situações. bem que o professor introduza novas informações, mesmo que ainda estejam um pouco além da capacidade
Deve-se partir de uma confiança no educador. Lembrar que a ênfase à avaliação deve ser evitada por todos de total compreensão dos alunos; é uma preparação sincrética para novos conhecimentos. A questão é não
na escola. confundir isto com o essencial daquele momento.
45
44 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar V — Em Busca de Algumas Alternativas

A lg u m a s o bserv a ç õ es so bre o co n teú do d a a v a l ia ç ã o : deve estar centrada na solução do problema e não no enunciado prolixo. Não
usar "pegadinhas".

a) Ortografia: saber escrever x adquirir sistema de escrita


d) Sobre o "Questionário"
Deve-se definir critérios para a avaliação de forma a possibilitar a valori­
Há necessidade de se romper com essa deformação pedagógica chamada
zação do que efetivamente importa e a flexibilidade na correção de acordo com
"questionário". Trata-se de uma tradição -ao que tudo indica, fundada nos
a realidade dos educandos. Na avaliação de um texto, por exemplo, pode-se
antigos "Catecismos"- de que certas matérias, como Estudos Sociais, História,
levar em conta, com diferentes pesos específicos, o conteúdo, a argumentação,
Geografia, Ciências, etc. são matérias "decorativas" e que a melhor forma, ou
a organização das idéias, o aspecto gramatical, a estética, etc. Na avaliação de
a única (?), de estudar é através de relações de perguntas e respostas. De
um texto nas séries iniciais, deve-se valorizar mais a organização das idéias de
preferência, o professor deveria dar uma longa lista e escolher algumas para
que os aspectos gramaticais.41*
a prova. Se o professor não dá, os pais, depois de reclamarem e cobrarem isto
da escola, acabam elaborando seus próprios questionários para "preparar" os
"E importante que a ortografia, a gramática, seja ensinada tendo em vista que a criança
filhos para as provas. O pior é que, nas provas, acabam caindo aquelas
adquire um sistema de escrita e não simplesmente aprende a escrever as palavras que copia
perguntas factuais, decorativas, desconexas (nomes, datas, locais, etc.) e o
na escola. A correção rigorosa dos erros constitui uma forma de bloqueio da expressão, bem
método de preparação pelo "questionário" vai triunfando de geração em
como de discriminação social, já que valoriza a forma dialetal da classe dominante.
geração. Os alunos vão passando para as séries seguintes sem saber interpretar
Finalmente, porque nunca é demais enfatizar, lembramos que a língua escrita só será
apresentada à criança pela leitura. E, pois, de esperar que o melhor plano para o desen­ uma frase sequer.
Há que se romper com este ciclo vicioso:
volvimento de uma boa ortografia seja nem a correção de seus erros em vermelho e nem
• revendo a formação dos professores, especialmente dos cursos de magistério;
a cópia sem compreensão, mas levar a criança a ler".
o professor precisa ser capacitado para um outro enfoque do ensino;
SÃO PAULO, Isto se aprende com o ciclo básico, p. 116
• desenvolvendo, desde a pré-escola, um tipo de ensino que não seja factual,
Lembrar que o aluno tem 8 anos (lü Grau) para dominar a norma culta. decorativo, mas relacional, crítico e reflexivo;
• elaborando um novo tipo de avaliação, coerente com a nova forma de ensinar,
ou seja, onde se busque verificar a compreensão dos fatos e conceitos e não
b) Continuidade: dia a dia e avaliação sua memorização mecânica;
• a partir da clareza dessa metodologia, trabalhar com os pais, de forma a que
Existe uma tendência autoritária de se solicitar nas provas exercícios com
possam colaborar e orientar corretamente o estudo dos filhos.
grau de complexidade bem mais elevado do que os dado em aula. Não se trata
Não adianta ficar criticando o questionário e continuar dando o mesmo tipo
de dar na prova exercícios iguais aos dados em aula, mas sim no mesmo nível
de complexidade (nem mais fáceis, nem mais difíceis), já que deve haver de aula e de prova...
continuidade entre o trabalho de sala de aula e a avaliação, pois fazem parte
de um mesmo processo (ou pelo menos, deveriam fazer...). e) Avaliação Sócio-Afetiva
Realizar a avaliação sócio-afetiva (atitudes, valores, interesse, esforço,
c) Dificuldade artificial participação, comportamento, iniciativa, etc.), mas sem vinculá-la à nota. Esta
avaliação é muito importante e deve ser feita; para evitar, no entanto, a
Deve-se buscar avaliar aquilo que é fundamental no ensino, como por
distorção de seu sentido em função do uso autoritário da nota, pode-se
exemplo, o estabelecimento de relação, a comparação de situações, a capacidade
trabalhar, por exemplo, com conceitos ou parecer descritivo, que não tenham
de resolver problemas, a compreensão crítica, etc. A dificuldade da avaliação
o caráter de "aprovação" ou "reprovação". Para um melhor desenvolvimento
deste tipo de avaliação há necessidade de se melhorar tanto a formação dos
educadores (capacidade de observar, de analisar, melhor conhecimento de
41 .Pnmrfoxo P.M.ib. a professora, percebendo o desejo do aluno, avisa que não deve escrever muito, pois psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem, etc.), quanto suas con­
escrever muito significa ter muitos erros. O aluno entrega a redação em branco e pede nota máxima. A dições de trabalho (n° de alunos por classe, tempo para contato pessoal com
professora, por uma questão de coerência, ê obrigada a dar, pois não havia nenhum erro...
1'ara muitos professores, além de tudo, falta ainda uma noção mínima de proporcionalidade, de
alunos, tempo para elaboração de relatórios, organização de verdadeiros
percentual... conselhos de classe, etc.).
46 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar V — Em Busca de Algumas Alternativas 47

Aspectos que podem ser objeto de observação:42 Foi mostrado que, na verdade, a auto-avali-
ação, se praticada em contextos autoritários -
• Desenvolvimento intelectual como é a regra geral-, pode perder seu sentido
Presta atenção nas aulas e no trabalho independente formativo e converter-se em "fator de correção"
É persistente na realização das tarefas da nota do professor, ou, o que é pior, pode ser
Tem facilidade de assimilação da matéria um sutil mecanismo de introjeção no sujeito dos
Demonstra atitude positiva em relação ao estudo valores e padrões dominantes (Cf. Marilena Chauí,
Tem facilidade na expressão verbal op. cit, p. 31).
Lê e escreve corretamente Assim, da mesma forma que a avaliação
Tem pensamento criativo e independente. sócio-afetiva, entendemos que a auto-avaliação
deve ser feita sem vínculo com a nota, de forma
• Relacionamento com os colegas e com o professor que possa constituir-se efetivamente num impor­
Tem facilidade em fazer amizades tante instrumento de formação do educando.43
E leal e sincero com os outros
Respeita os colegas e o professor
Tem espírito de solidariedade e cooperação g) Nota de "Participação"
Observa as normas coletivas de disciplina Frequentemente os professores defendem a nota de "participação" como
Coopera com o professor e os colegas nas tarefas forma de fazer justiça a um aluno que foi mal, que não conseguiu tirar a nota
que merecia nas atividades. Entendemos que os alunos que foram mal merecem,
• Desenvolvimento afetivo precisam, de um processo de recuperação e de uma nova oportunidade de
Tem interesse e disposição para o estudo avaliação. O fato de "dar nota" pelo esforço do aluno ("ele é bonzinho", “é
Resolve suas próprias dificuldades caprichoso") pode representar uma atitude paternalista e mesmo prepotente por
É responsável em relação às tarefas de estudo parte do professor, que se coloca como juiz supremo.44 O fato do aluno "tirar
Controla suas emoções e seu nervosismo nota" por sua própria atividade, restitui-lhe a dignidade, faz com que desen­
Tem iniciativa volva a fibra e a auto-confiança.
Faz uma imagem positiva de suas próprias possibilidades No caso do professor querer trabalhar com nota de "Participação", esta
É bem-humorado e alegre deverá ser estabelecida em cima de critérios bem objetivos, como por exemplo:
E expansivo e espontâneo entrega de exercícios, tarefas, trazer o material, presença, etc45. Desta forma terá
elementos para dialogar objetivamente com o aluno e ajudar sua formação. A
• Organização e hábitos pessoais avaliação do tipo "interesse", "envolvimento", "responsabilidade", etc. deverá
Mantém em ordem seus cadernos e materiais ficar para a avaliação sócio-afetiva (desvinculada da nota).
Cuida de higiene pessoal (roupas, cabelo, unhas etc.)
Tem presteza para iniciar as tarefas
Apresenta as tarefas no prazo solicitado h) "Trabalhinho"
Tem boa postura do corpo Algo semelhante ocorre com os "trabalhinhos". Muitas vezes, diante do fato
Tem hábitos de urbanidade e cortesia dos alunos não terem ido bem na prova, o professor propõe um "trabalhinho"
para dar ponto.46 Esta atitude é muito estranha do ponto de vista pedagógico.
f) Auto-avaliação
43 .Há necessidade de análise dos critérios da auto-avaliação: o que devo considerar como meu bom
Com relação ao entusiasmo escola-novista, de cunho psicologizante, que aproveitamento: memorização ou compreensão? repetiçáo ou reflexão? silêncio ou participação? (Cf. Imaco,
propunha a auto-avaliação como a grande saída, a crítica já se encarregou de A Questão da Avaliação-texto 2, p. 2).
44 .Da mesma forma que se acha no direito de "dar" alguns pontos para o aluno "esforçado", se achará
recolocar os ânimos nos devidos lugares. também no direito de "tirar" alguns pontos do "mau" aluno.
45. Esta nota de "participação" pode ser usada numa fase de transição, uma vez que , no limite, estas
atividades não são mais que obrigação do aluno.
16 .Atenção especial deve ser dada aos trabalhos para casa, onde freqüentemente os pais fazem pelos
43 .Cf. J.C. LIBÃNEO, Didática, p. 215.
filhos...
V — Em Busca de Algumas Alternativas 49
48 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar

O professor deveria reconhecer que ou a avaliação não foi bem elaborada,47 ou cobranças formais, decorativas, tradicionais. Por outro lado, como foi exposto, é
praticamente impossível fazer-se uma mudança significativa na avaliação, se a
os alunos precisam passar por um processo de recuperação. Sustentar os
"trabalhinhos" é ingenuidade, não se percebendo a farsa que significam. Como metodologia de trabalho em sala de aula continuar bitolante, decorativa, meramente
vimos, a questão principal não é o aluno tirar nota, mas realizar um trabalho descritiva. Há, pois, a necessidade de se transformar tanto a metodologia de
significativo, aprender. trabalho em sala de aula, quanto a sistemática de avaliação.

i) Trabalho de Grupo 4â P roposta: A lterar a postura diante dos resultados da Avaliação

Muitas vezes, os professores apontam a dificuldade de avaliar o trabalho


em grupo. O enfrentamento desta questão exige que múltiplos aspectos sejam Como vimos, um dos grandes problemas da avaliação escolar é que ela se
analisados, a começar pela própria proposta de trabalho que o professor faz: tornou basicamente classificatória, não se colocando num processo de trans­
até que ponto ela está clara para o professor4* e para os alunos? Um outro formação da prática pedagógica: avalia-se e limita-se uma classificação dos
sujeitos (na verdade objetos) de acordo com o resultado. O que se esperaria de
elemento que deve ser considerado: reclama-se muito que os alunos não sabem
trabalhar em grupo, mas será que em algum momento esses alunos foram uma avaliação numa perspectiva transformadora é que os seus resultados
devidamente orientados do ponto de vista da metodologia de trabalho em constituíssem parte de um diagnóstico e que, a partir dessa análise da realidade,
grupo? O professor deve capacitar os educandos, deixar claro quais os objetivos fossem tomadas decisões sobre o que fazer para superar os problemas cons­
do trabalho e acompanhar o desenrolar do mesmo. Diante das dificuldades, tatados.
primeiramente o grupo deve tentar resolvê-las;49 se não conseguir deve solicitar Freqüentemente, o professor, preocupado em manter a disciplina e cumprir
ajuda do professor, que deve verificar o porquê dos diferentes níveis de o conteúdo, não se interessa em saber se o aluno aprendeu ou não. Julga que
participação, etc. quem não aprendeu é porque é "desinteressado",50 "limitado", "carente",
Em termos de avaliação, uma alternativa é o professor dar o total de pontos "indisciplinado", etc. A avaliação só tem servido para emitir um conceito para
para que o grupo distribua a cada membro, de acordo com critérios estabelecidos a secretaria e ficar livre de cobranças. Entendemos que deve-se avaliar para
("quem não trabalha, não come"). Vejamos um exemplo: o professor entende mudar o que tem que ser mudado. 0 que adianta dizer que um aluno tirou
que trabalho vale 9; como são seis elementos, o grupo recebe o total de 54 pontos. "4,0" ou "E " ou "PM ", e não se fazer nada para ajudá-lo a superar suas
Trata-se de uma tentativa de gestão coletiva tanto da produção do conhecimento dificuldades ou não se rever o processo de ensino-aprendizagem? A avaliação
(o que é fundamental), quanto da avaliação. Evidentemente, o professor deve deve ter efeito prático: mudar a forma de trabalho tanto do professor (organizar
acompanhar também este passo do trabalho para evitar distorções de critérios recuperação paralela, retomar assuntos, mudar forma de organizar o trabalho
(ex: distribuição de pontos por "inteligência", "recursos materiais", ou até em sala de aula, dar atenção especial aos alunos que tem maior dificuldade,
mesmo por "força" ou "tamanho físico"). etc.), quanto do aluno (empenhar-se mais, dar especial atenção à matéria com
dificuldade, rever esquema de participação em sala de aula, rever método de
estudo, etc.).
j) Vestibular O professor deve se preocupar não com a média, mas com a aprendizagem,
Introduzir nas avaliações questões de vestibulares, para ir desmistificando- com o aproveitamento mínimo em cada componente do currículo; por exemplo:
o. No final do colegial, realizar, como já foi dito, alguns simulados, a título de se um aluno tirar dez em multiplicação e quatro em divisão, terá média sete,
treinamento para este tipo de exame. estando aprovado. Apesar de estar com média, precisará ser trabalhado na
divisão.
Concluindo estas propostas iniciais, verificamos que existe, portanto, o perigo Nenhuma reprovação deveria ser surpresa para ninguém (aluno, professor,
do educador mudar substancialmente a metodologia de trabalho em sala de aula pais, coordenação, orientação), pois tudo deve ter sido feito, por todos, para
(na direção de um ensino mais significativo e participativo), mas, em função da evitar que isto ocorra.51
manutenção do sistema antigo de avaliação, comprometer todas as mudanças com

17 .Neste caso deveria aplicar outra avaliação ou deslocar as notas de acordo com distribuição estatística.
50. 0 professor argumenta que o aluno merece a reprovação porque é desinteressado. Acaso não cabe
48 Trabalho de grupo para quê: para variar a dinâmica de sala de aula? para o professor poder "respirar"
ao professor interessá-lo? Que "culpa" pode ter um garoto de 9, 11, 13 anos para "merecer" a reprovação?
um pouco? para partilha de experiências? para construção coletiva do conhecimento? para produção coletiva
de algo? 51 .Isto não quer dizer que haverá aceitação, especialmente por parte de pais e alunos; mas o próprio
fato de não ser surpresa, já ajuda a aceitação da eventual reprovação.
49 .A partir, inclusive, de suas próprias regras de funcionamento.
50 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar V — Em Busca de Algumas Alternativas 51

Paulatinamente, o aluno deve ter aumentado seu espaço de participação na segundo, entende-se a criança num processo de vir-a-ser, num dinamismo que
escola, inclusive no processo de avaliação. Isto pode ser feito através de algumas admite, portanto, a mudança. A rotulação, de um lado, passa ser um estigma que
práticas concretas: o aluno leva, e, de outro, favorece a acomodação dos professores.52
• analisar com os alunos os resultados da avaliação; colher sugestões; Os educadores devem estar atentos às "Profecias auto-realizantes": pesqui­
• discutir o processo de avaliação em nível de representantes de classe; sas pedagógicas demonstram que
• fazer conselho de classe com a participação dos alunos (classe toda com todos
os professores); etc. "O preconceito artificial do educador (esses alunos são ótimos — esses alunos são péssimos)
age de modo determinante sobre o comportamento do educando. Ou melhor, os bons e os
maus alunos são inteiramente fabricados pelos professores. Em suma, a condição essencial
a) Importância do Erro para que um aluno, para que uma classe tenha bons resultados é que o professor tenha
Como o educador'trabalha o seu erro? Uma das dificuldades em se trabalhar confiança neles. Esta seria a reforma mais econômica da escola com que se poderia sonhar.
os erros dos alunos, encontra-se justamente na dificuldade que o próprio Mas também a mais difícil de ser aplicada".
educador tem em trabalhar os seus erros, em decorrência de uma formação (B. Harper, Cuidado Escola, p. 69)
distorcida, onde não havia lugar para o erro. Saber trabalhar com seus próprios
Os eventuais erros de uns são interpretados como lapso, engano, distração,
erros é, portanto, condição para saber trabalhar com os erros dos alunos,
enquanto que os mesmos erros, de outros, são atribuídos à incompetência e
entendendo-os não como "crime", mas como hipóteses de construção do
burrice.
conhecimento. A correção enérgica do erro, desempenha um preciso papel
Muitas vezes, o professor se vangloria todo: "está vendo, não falei que
social: a introjeção do medo, da culpa, da indignidade.
aqueles alunos não tinham jeito". A partir de agora, cremos que precisaria rever
É freqüente a valorização exclusiva da resposta certa: o raciocínio que o
um pouco sua necessidade de ser "profeta", de "acertar" (o professor acertou
educando usou de nada vale se errou a resposta. Isto é um absurdo, pois nega
ou o aluno foi por ele acertado??).
todo o processo de construção do conhecimento, inclusive o científico. Atualmente
o erro é tão indesejável que se tornou comum o uso de "corretivos" (líquido
corretor) por parte dos alunos, numa tentativa de eliminar qualquer vestígio c)Recuperação
de erro. Sabemos que o erro faz parte da aprendizagem, na medida que expressa
Os estudos de "recuperação" padecem de uma ambigüidade: são apontados
uma hipótese de construção do conhecimento, um caminho que o educando (ou como a grande saída para ajudar os alunos com dificuldades, mas freqüente-
cientista) está tentando e não está tendo resultado adequado. mente não passam de uma proposta que não sai do papel, dadas as condições
É, portanto, um excelente material objetivas de trabalho dos professores. A partir daí algumas problemas se
de análise para o educador, pois revela A D M IN ISTRA ÇÃ O
apresentam: a reçnperação da aprendizagem, mas não da nota; a recuperação
como o educando está pensando, possi­ E r r a r é p r e c is o , da nota, mas não da aprendizagem; nem uma coisa nem outra. Cabe, pois, a
bilitando ajudá-lo a reorientar a cons­ pergunta: a recuperação recupera? o quê?53
trução do conhecimento. Até as empre­ d iz e s p e c ia lis ta Dado o compromisso do educador com a aprendizagem dos educandos, a
sas mais modernas já estão valorizando Tom iV ím . um "recuperação", mais do que uma estrutura da escola, deve significar uma
o erro como forma de aprendizagem doa main fumo&wt postura do educador no sentido de garantir essa aprendizagem por parte de
(veja-se;por exemplo, reportagem Folha connultores </o
nnuulo. ufírmuu todos os alunos, especialmente daqueles que têm maior dificuldade em deter­
de São Paulo, "Errar é preciso, diz es­ tmlrm em São minados momentos e conteúdos. Daí a importância da "recuperação instantâ­
pecialista", Caderno de Negócios, pag.
l*aulo iptr o erro
é csaenciul pura nea", ou seja, da recuperação que se dá no ato mesmo de ensinar, a partir da
F-4, de 24/08/90). um melhor percepção das necessidades dos educandos. Se ela não ocorrer o professor está
<Íesenu*l%imemtu
tlua empresas. se omitindo de sua tarefa primeira que é garantir a aprendizagem. É claro que
Tom Peters
b) Profecias Auto-Realizantes
Os professores devem ser capacitados 53 ."Ah, este é o Paulinho, aquele da pré-escola”; só que agora o Paulinho já está na 5a série... O que
para a observação, análise e expressão avaliação de seus alunos, a fim de se evitar a escola está fazendo, se ele continua sendo "aquele"?
53.0 processo de recuperação precisa ser bem pensado, pois muitas vezes acaba ocorrendo uma simples
juízos superficiais, estereotipados, rotulados. É muito diferente fazer-se um juízo "recuperação" da nota e não da aprendizagem (ex: para "recuperar" o aluno, o professor simplesmente dá
"a criança é assim", ao invés de "a criança está sendo assim, tem se apresentado mais uma prova...).
assim"; no primeiro caso, associa-se o comportamento à essência da criança; no
52 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar V — Em Busca de Algumas Alternativas 53

nem sempre esta recuperação é suficiente, devendo, neste caso, providenciar- to de critérios comuns entre os educadores.54 A construção desta inter-subje-
se atividades diversificadas para o aluno, fornecimento de roteiro de estudo, tividade é um caminho para o controle da interferência da subjetividade na
entrevista com o aluno para diagnosticar melhor a dificuldade, oferecimento de avaliação. É, insistimos, importantíssimo que se deixem claros, aos alunos e pais,
aulas de reforço, etc. O que se observa é que todos os alunos têm capacidade os critérios utilizados na avaliação.
de chegar lá, só que com ritmos -e até caminhos- diferentes. Um outro elemento
a ser trabalhado é necessária superação da concepção individualista de apren­
dizagem por parte dos alunos, como veremos mais à frente. Dessa forma, b) Avaliar não só o aluno
procurar-se-á propiciar a "recuperação" da aprendizagem, que deverá traduzir- Uma das graves distorções na avaliação escolar é sua aplicação restrita ao
se, mais ou menos imediatamente, na recuperação da nota. aluno; parece que todo o resto -professor, currículo, direção, escola, etc.- está
"acima de qualquer suspeita". Na verdade, a avaliação deve atingir todo o
cDConselhos de Classe processo educacional, se quisermos efetivamente superar os problemas.55 A
avaliação deve levar a mudança do que tem que ser mudado também em nível
Os conselhos de classe podem ser importantes estratégias na busca de da instituição. Há necessidade da alteração progressiva das condições objetivas
alternativas para a superação dos problemas. Apontamos a seguir algumas de trabalho: reunião pedagógica, número de alunos por sala, salário, instalações,
observações sobre sua organização: equipamentos, projeto educativo, etc.
• devem ser feitos durante o ano e não apenas no final, quando pouca coisa A reunião pedagógica semanal, sendo um encontro para refletir crítica e
pode ser modificada; coletivamente a prática, já é, por si, um exercício constante de avaliação por
• devem apontar as necessidades de mudança em todos os aspectos da escola parte dos educadores (para ser coerente com a avaliação processual em sala de
e não apenas os relativos aos alunos. Que não sejam momentos de "acerto aula).
de contas", nem de confirmação de "profecias auto-realizantes";
• devem contar, na medida do possível, com a participação de todos os
membros da comunidade (professores, equipe de coordenação, direção, c) Aproveitamento Coletivo
alunos -ou seus representantes-, auxiliares de disciplina, pais, etc.), para que Deve-se incentivar, entre os educandos, o caráter comunitário da apren­
se tenha a oportunidade de uma visão de conjunto; dizagem: a colaboração dos colegas é fator de crescimento mútuo, de res­
• em relação à prática corrente dos conselhos de final de ano -que acaba ponsabilidade social e de ajuda efetiva no processo de construção do conhe­
decidindo o futuro de muita gente-, que ao menos: 1.sejam preparados com cimento. Nenhum companheiro deveria ser retido e para isto há necessidade
antecedência 2.sejam estabelecidos critérios para ajuda ou não em nota aos de ajuda mútua durante o ano. Além disso, os alunos devem compreender que
alunos 3.sejam feitos com tempo para uma análise mais ponderada. o aproveitamento de cada um depende, em alguma medida, do aproveitamento
de todos. A aprendizagem escolar é uma tarefa coletiva e não uma apropriação
5a- P roposta: T rabalhar na conscientização da C omunidade E ducativa privada de um conhecimento, simplesmente para aumentar o "preço" do
indivíduo no mercado de trabalho.

a) Construção de Critérios Comuns d) Pressão dos Pais


O educador deve lutar para criar uma nova mentalidade junto aos alunos, Numa perspectiva democrática de organização da escola, a participação de
aos colegas educadores e aos pais, superando o senso comum deformado à todos os segmentos da comunidade educativa é fundamental. No entanto, não
respeito da avaliação. O trabalho de sala de aula esta inserido numa totalidade podemos ceder às cobranças equivocadas. Diante da tão famigerada pressão dos
e é muito difícil se concretizar uma transformação quando o coletivo não está pais, há necessidade de uma análise para se verificar a procedência das solicitações.
envolvido. O primeiro coletivo é, evidentemente, o dos educadores. Os pais e Os professores, enquanto educadores de profissão, têm uma responsabilidade
alunos precisam encontrar o mesmo tipo de postura por parte de cada professor, social no sentido de desempenharem adequadamente sua função. Sabemos que nos
da coordenação e da direção. Postura comum não significa perda de identidade,
mas princípios fundamentais comuns. A avaliação, por ser humana, traz sempre
uma certa carga de subjetividade. Se, de um lado, é praticamente impossível 51 .Isto é importante para não ficar no jogo de empurra: "Ah, isto é coisa de fulano", "Quem quer assim
eliminar esta subjetividade, por outro, deve-se ter o maior empenho para reduzí- é beltrano", etc. Relação da avaliação com o projeto educativo da escola.
55 .A personalidade autoritária não suporta a avaliação -a não ser a sua sobre os demais, é claro-; afinal,
la ao menor grau; daí a importância do trabalho comunitário, do estabelecimen­ "para que ser avaliado, se estou sempre certo"?
Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar V — Em Busca de Algumas Alternativas 55
54

últimos anos caiu a qualidade da formação dos educadores, o que deu margem que na prática da escola a avaliação está cumprindo uma função bem diferente.
para insegurança de muitos pais. Por isto mesmo, a equipe educacional da escola O futuro educador precisa tomar consciência dessa contradição, sob pena de
deve se reciclar, aperfeiçoar sua competência, de forma a poder fundamentar ficar com um conjunto teórico que não dá conta dos problemas da realidade;
cientificamente suas práticas e mudar aquilo que tem que ser mudado. a própria teoria deve trabalhar tanto o verdadeiro sentido da avaliação, quanto
Não se deve esquecer, no entanto, de se fazer paralelamente a conscientização os determinantes sociais que estão a distorcer este sentido.
dos pais. Muitas escolas enfrentam muita resistência simplesmente porque Além disto, há uma questão ainda mais importante a ser levada em conta.
"esqueceram" de comunicar aos pais a mudança de proposta e de prática em As experiências que os futuros educadores têm nos seus processos de formação
relação à avaliação. A escola deve explicitar sua proposta educacional seja na são decisivas para suas posturas, posteriormente, na prática de sala de aula. Há,
época da matrícula, seja nas reuniões logo no início do ano. Mostrar que a portanto, necessidade que esses educadores tenham já na sua formação uma
mudança que está fazendo é para que as crianças aprendem mais e melhor, para nova prática em termos de avaliação. Apesar de teoricamente não se aceitar mais
que sejam mais felizes. o "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço", no cotidiano dos cursos
de formação é isto que se observa também em relação à avaliação, ou seja, o
futuro professor recebe uma série de conceitos bonitos sobre como deve ser a
e) Questão das Transferências avaliação de seus alunos, mas é avaliado no esquema bem tradicional... Assim,
Outro aspecto a ser enfrentado é o das transferências: não se pode organizar quem trabalha com a formação acadêmica dos novos professores, tem também
a escola pensando exclusivamente na transferência dos alunos. Essa preocupação um compromisso de mudar a prática de avaliação dos mesmos.
pode ser extremamente reacionária, pois não permite escola alguma mudar
nada, para não ficar "diferenciada" das demais. Entendemos que, respeitando h) Democratização do Sistema de Aprovação/Reprovação
evidentemente certos parâmetros comuns, as escolas devem ter autonomia nos
seus projetos pedagógicos, construídos com a participação da comunidade No limite, temos que democratizar o processo de decisão sobre a aprovação
educativa. No caso de transferência, as famílias devem ser orientadas para ou reprovação do aluno. Como vimos, aqui se encontra o substrato legal que
formas de superação das eventuais diferenças da organização pedagógica entre serve de base para o uso autoritário da avaliação escolar. Esta democratização
uma escola e outra. não pode ser feita de cima para baixo (como quis fazer o Conselho Estadual
de Educação de São Paulo, com a Deliberação 3/91); deve ser feita com a
participação dos professores, equipes de escola, representantes de pais e alunos,
f) Não se trata de "afrouxar" entidades de classe, etc. Certamente chegará um dia em que não haverá mais
Muitos professores, diante das colocações a respeito da Educação Libertadora, reprovação. No entanto, nos parece, ainda estamos um tanto longe deste dia;
interpretam que o que está se pedindo a eles é que "afrouxem" as exigências com enquanto existir a reprovação, que ao menos seu processo de definição seja
relação aos alunos, que os "papariquem", que os considerem como se sempre democratizado, v
tivessem razão, que se "rebaixe o nível" de ensino, etc. Não se trata, absolutamente
disto! Esta é uma distorção, ingênua ou não, que serve de álibi para a não mudança i) Democratização da Sociedade
de postura do professor. Objetivamente, o que a Educação Libertadora pede é um
ensino extremamente exigente -o sujeito tem que ser muito competente para poder A efetivação de uma Avaliação democrática na escola depende, em última
colaborar na transformação da realidade- mas, ao mesmo tempo, um ensino instância, da democratização da sociedade, de tal forma que não se precise mais
extremamente inteligente, ou seja, uma educação que esteja baseada em princípios usar a escola como uma das instâncias de seleção social. Os educadores devem
científicos, na compreensão da estrutura do conhecimento e do processo de se comprometer com o processo de transformação da realidade, alimentando
desenvolvimento do educando. Temos que superar as "pseudo-exigências", as um novo projeto comum de escola e de sociedade.
exigências formais que dão aparência de ensino "sério"; quem precisa disto é
porque, de fato, não faz um ensino sério. O que tem que ser exigente são as aulas Ficam aqui essas provocações para a reflexão crítica e coletiva sobre a
e não, separadamente, as normas ou as provas! prática da avaliação.

g) Mudança da Avaliação nos Cursos de Formação de Professores


Enquanto na academia se fala que a função da avaliação é de diagnóstico
do processo de ensino-aprendizagem para uma tomada de decisão, etc., vimos
Bibliografia de Referência 57

BIBLIOGRAFIA DE REFERENCIA 18. GRILLO, Marlene. Avaliação, ainda? In ENRICONE, Delcia (org.). Ensino
Revisão Crítica. Porto Alegre, Sagra, 1988.
19. HARPER, B. e outros. Cuidado Escola. São Paulo, Brasiliense, 1980.
20. HOFFMANN, Jussara. Avaliação: Mito e Desafio-uma perspectiva construtivista.
Porto Alegre, Educação & Realidade, 1991.
21. KENSKI, Vani M. Avaliação da Aprendizagem. In VEIGA, lima P.A. (org.).
Repensando a Didática. Campinas, Papirus, 1988.
22. LIBÂNEO, José C. A Avaliação Escolar. I n ________ Didática. São Paulo,
Cortez, 1991.
1. AEC. Avaliando a Avaliação — Revista de Educação AEC (60). Brasília, AEC, 23. LIMA, Lauro O. Como utilizar os instrumentos de verificação do rendimento
1986. escolar. I n ________ A Escola Secundária Moderna, 11a ed. Rio de Janeiro,
2. ANDRÉ, Marli E.D.A. A Avaliação da Escola e a Avaliação na Escola. Forense, 1976.
Cadernos de Pesquisa (74). São Paulo, Fundação Carlos Chagas, ago. 1990. 24. LÜCK, Heloisa e CARNEIRO, Dorothy G. Desenvolvimento Afetivo na Escola:
3. BARRIGA, Angel Diaz. Curriculum y evaluación escolar. Buenos Aires, promoção, medida e avaliação. Petrópolis, Vozes, 1983.
Instituto de Estúdios y Acción Social, 1990. 25. LUCKESI, Cipriano C. Avaliação educacional escolar: para além do
4. BRANDÃO, Carlos R. A Avaliação: escritos sobre um Estranho Ritual. In autoritarismo. Revista ANDE, (10 e 11). São Paulo, ANDE, 1986.
Pensar a Prática. São Paulo, Loyola, 1984. 26. LUCKESI, Cipriano C. Elementos para uma Didática no Contexto de uma
5. BRITO, Márcia R.F. Avaliação: Projeto ou Processo? Revista Pro-Posições (4). Pedagogia para a Transformação. In Simpósios da III Conferência Brasileira de
São Paulo, Cortez, 1991. Educação. São Paulo, Loyola, 1984.
6. CAGLIARI, Luiz C. O Certo, O Errado e o Diferente. In ________ Alfabetização 27. LUCKESI, Cipriano C. Verificação ou Avaliação: O Que Pratica a Escola?
& Linguística, 3a ed. São Paulo, Scipione, 1991. In CONHOLATO, Maria C. A Construção do Projeto de Ensino e a Avaliação
7. CHAUÍ, Marilena S. Ideologia e Educação. Revista Educação e Sociedade (5). (Série Idéias, n. 8). São Paulo, FDE, 1990.
São Paulo, Cortez, 1980. 28. MARTINS, Pura L.O. Avaliação. In ________ Didática Teórica/Didática
8. COLLARES, Cecília A.L. Ajudando a Desmistificar o Fracasso Escolar. In Prática. São Paulo, Loyola, 1989.
Toda Criança é Capaz de Aprender? (Série Idéias, n. 6). São Paulo, FDE, 1990. 29. MEDIANO, Zélia D. A Avaliação da Aprendizagem na Escola de lo grau.
9. DAVIS, C. e ESPOSITO, Y.L. Papel e Função do Erro na Avaliação Escolar. In CANDAU, Vera M. (org.) Rumo a uma Nova Didática. Petrópolis, Vozes,
Cadernos de Pesquisa (74). São Paulo, Fundação Carlos Chagas, ago. 1990. 1988.
10. DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa. São Paulo, Cortez, 1987. 30. MENEGOLLA, Maximiliano. Uma Reflexão sobre a Avaliação Escolar.
11. DEMO, Pedro. Qualidade da Educação-tentativa de definir conceitos e Revista Mundo Jovem (176). Porto Alegre, 1987.
critérios de avaliação. In Estudos em Avaliação Educacional. São Paulo, 31. NIDE1COFF, Maria T. A Avaliação e seus Problemas. In ________ Uma escola
Fundação Carlos Chagas, 1990 (Jul.-Dez.). para o povo, 8a ed. São Paulo, Brasiliense, 1980.
12. DEPRESBITERIS, Léa. O Desafio da Avaliação da Aprendizagem. São Paulo, 32. OTT, Margot B. A Avaliação no Currículo. Revista de Educação AEC (48).
EPU, 1989. Brasília, AEC, 1983.
13. Dl DIO, Renato. Avaliação. In PENTEADO, Wilma M.A. (org.) Psicologia e 33. OTT, Margot B. Práticas Avaliativas: Adesão ou Libertação? Revista de
Ensino. São Paulo, Papelivros, 1980. Educação AEC (60). Brasília, AEC, 1986.
14. FLEURI, Reinaldo M. Nota para quê? In ________ Educar para quê?. Goiânia, 34. PIMENTA, Selma G. A Avaliação e a Orientação Educacional. I n ________
Ed. Universidade Católica de Goiás, 1986. O Pedagogo na Escola Pública. São Paulo, Loyola, 1988.
15. FOULQUIÉ, P. Dicionário da Língua Pedagógica. Lisboa, Livros Horizonte, 35. PINHEIRO J.M. Monarca. A Neurose da Avaliação. In Jornal da Educação.
1971 Lisboa, ano VI, n. 72, dez. 1983.
16. FRANCO, Maria Laura P.B. Pressupostos Epistemológicos da Avaliação 36. SÃO PAULO, Secretaria da Educação. Isto se aprende com o ciclo básico. São
Educacional. Cadernos de Pesquisa (74). São Paulo, Fundação Carlos Chagas, Paulo, SE/CENP, 1986.
ago. 1990. 37. SAUL, Ana Maria. Avaliação: é preciso democratizar. Revista Educação
17. GERALDI, João W. Escrita, uso da Escrita e Avaliação. I n ________ (org.). Municipal (1). São Paulo, Cortez, jun. 1988.
O Texto na Sala de Aula, 5a ed. Cascavel, Assoeste, 1990. 38. SNYDERS, G. Escola, Classe e Luta de Classes, 2a ed. Lisboa, Moraes, 1981.
39. SOARES, Magda B. Avaliação educacional e clientela escolar. InPATTO,
58 Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar

M.H.S.(org.) Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo, T. A. Queiroz Editor,


1982.
40. SOUZA, Clarilza P. (org.). Avaliação do Rendimento Escolar. Campinas, Papirus,
1991.
41. VASCONCELLOS, C.S. Subsídios Metodológicos para uma Educação Libertadora
na Escola. São Paulo, Libertad, 1989.
42. VASCONCELLOS, C.S. Avaliação Escolar-perversão dos Direitos Huma­
nos. Revista de Educação AEC (77). Brasília, AEC, 1990.
43. VYGOTSKY, L.S. A formação Social da Mente. São Paulo, Martins Fontes,
1984.

OS EXCLUÍDOS

Levontamento: D ataF olh a


Fonte: M EC, 1988
RODA VIVA
SUMARIO

C h ico Buarque de H olanda

I- Introdução.......................................................................................................... 7

II- Lógica do Absurdo........................................................................................ 9


Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu. III- Questão Metodológica.................................................................................. 15

A gente quer ter voz ativa


No nosso destino mandar
Mais eis que chega roda viva IV- Análise do Problem a.................................................................... 19
E carrega o destino pra lá.
A gente vai contra a corrente V- Em busca de algumas alternativas.......................................................... 31
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente O samba, a viola, a roseira
O quanto deixou de cumprir. Um dia a fogueira queimou
I a: Alterar a Mêtodologia de Trabalho em Sala de Aula
Faz tempo que a gente cultiva Foi tudo ilusão passageira
2a: Diminuir a ênfase na Avaliação
A mais linda roseira que há, Que a brisa primeira levou.
3a: Redimensionar o conteúdo da Avaliação
Mas eis que chega roda viva No peito a saudade cativa 4a: Alterar a postura diante dos resultados da Avaliação
E carrega a roseira pra lá. Faz força pro tempo parar, 5a: Trabalhar na conscientização da Comunidade Educativa

A roda da saia mulata Mas eis que chega roda viva,


Não quer mais rodar, não senhor. E carrega a saudade pra lá.
Não posso fazer serenata Refrão:
Bibliografia de Referência.....................................................................................56
A roda do samba acabou.
A gente toma iniciativa, Roda mundo, roda gigante Anexos 59
Viola na rua a cantar Roda moinho, roda pião
Mas eis que chega roda viva O tempo rodou num instante
E carrega a viola pra lá. Nas voltas do meu coração.
LIBERTAD - APRESENTAÇÃO DADOS CURRICULARES

O Libertad é um Centro Pedagógico, sob a responsabilidade do Prof. Celso Prof. Celso dos S. Vasconcellos nasceu em Jaú, Estado de São Paulo, em
dos S. Vasconcellos, que presta serviços às escolas, no sentido da formação de 12 de fevereiro de 1956. Pós-Graduado em Educação pelo PUC-SP; formou-se
seus agentes -professores, coordenadores, diretores-, através de Assessoria em Filosofia e Pedagogia pela Faculdade de Filosofia N.S. Medianeira; cursou
Pedagógica Permanente ou de Cursos/Encontros. até o terceiro ano de Engenharia Eletrônica da Escola Politécnica da USP.
Formou-se Técnico Eletrônico pela Escola Técnica Industrial Lauro Gomes
CURSOS / ENCONTROS NA ESCOLA (SBC). Tem também o curso de Teologia para Leigos (CEVAM-SP). Participou
ainda de inúmeros encontros e congressos de educação.
Organizamos e promovemos na escola encontros e reciclagens para profes­ Trabalhou como professor na ETI Lauro Gomes, no Colégio Pentágono, na
sores, coordenadores de área, equipe de coordenação, equipe de direção e UNESP-FATEC, no Colégio Moema, no Colégio São Luís e no IMACO. Foi
mantenedores. As modalidades podem ser diferenciadas em função das ne­ Orientador Educacional e Pedagógico no Colégio São Luís e no IMACO. Neste
cessidades da escola (ex: palestra, míni-curso, curso, curso extensivo, etc.), tendo último, foi ainda Diretor Administrativo e Pedagógico (1985-1989). Atualmente
sempre como referencial a realidade da escola e a perspectiva da Educação é Assessor Pedagógico da AEC-SP; Membro do Conselho Editorial da Revista
Libertadora.
de Educação da AEC; Membro do Conselho de Escola da E.M.P.G. Pe. Manoel
Apresentamos a seguir alguns cursos realizados pelo Libertad: de Paiva e responsável pelo Libertad, prestando assessoria a diversas escolas e
instituições.
1- Fundamentos da Educação Libertadora
2- Planejamento e Plano de Ensino-Aprendizagem
3- Processo Dialético-Libertador de Avaliação Trabalhos publicados:
4- Método Dialético de Conhecimento em Sala de Aula
5- Construção da Disciplina em Sala de Aula
2. Vários:
6- Pedagogia Dialética-Libertadora
7- Metodologia para Elaboração do Projeto Educativo
"Fundamentos Metodológicos para uma Educação Libertadora", "Planeja­
8- Critérios para Seleção e Organização de Conteúdo e Metodologia mento e Plano de Ensino-Aprendizagem", "Processo de Construção do Conhe­
9- Fundamentos da Educação Libertadora nas Diferentes Disciplinas cimento", "Processo de Avaliação", "Método Dialético de Conhecimento".

ASSESSORIA PEDAGÓGICA PERMANENTE NA ESCOLA 2. Cadernos:


Essa assessoria visa orientar e acompanhar a implantação e desenvolvimen­ — Projeto Educativo — Elementos Metodológicos para a Elaboração (Série
to, na escola, de práticas pedagógicas na Linha Libertadora, seja em nível de:
Cadernos Pedagógicos do Libertad, nQ 1)
Processo de Planejamento, Trabalho de Construção do Conhecimento em Sala — Metodologia Dialética-Libertadora de Construção do Conhecimento (Série
de Aula (conteúdo e metodologia), Avaliação, Organização da Disciplina,
Cadernos Pedagógicos do Libertad, n- 2)
Elaboração/Reformulação do Projeto Educativo, implantação de Reuniões — Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar (Série
Pedagógicas periódicas, alteração curricular; integração de cursos, explicitação
Cadernos Pedagógicos do Libertad, ne 3)
da Linha Pedagógica da Escola, produção de material didático pelos educadores,
— Construções da Disciplina em Sala de Aula (Série Cadernos Pedagógicos
organização e articulação do trabalho de direção-coordenação-corpo docente,
Formação permanente dos educadores, etc. do Libertad, ns 4)

SOLICITAÇÃO DOS SERVIÇOS


Para maiores informações, entre em contato conosco pelo telefone: (011) 273-
8510.
Composto e impresso pelas
ESCOLAS PROFISSIONAIS SALESIANAS
Rua Dom Bosco, 441 — Fone: (011) 277-3211
03105-020 — Mooca — São Paulo — SP
salesian at

Potrebbero piacerti anche