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CAPA Livro AG Familiar.qxp:CAPA Livro AG Familiar 25.03.

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Assim, na sua concepção global, o macro No Brasil, com pequenas variações,


projeto deve gerar conhecimentos técnico- no espaço e tempo, o processo de

AGRICULTURA FAMILIAR NA AMAZÔNIA DAS ÁGUAS


científicos que possam contribuir para a me- especialização no monocultivo de espécies
lhoria nas formas de organização social das industriais como a cana-de-açúcar, soja,
comunidades de modo a propiciar, por meio do algodão e café, tem conduzido, direta ou
uso e conservação dos recursos naturais, a indiretamente, os pequenos produtores rurais a
melhoria nos níveis de qualidade de vida das Sandra do Nascimento Noda níveis crescentes de empobrecimento e perda
populações humanas. (Organizadora) de suas terras. A possibilidade da manutenção
das unidades produtivas rurais familiares
O compartilhamento intercomunitário de
implica na necessidade da existência de um
recursos genéticos vegetais também é uma
sistema de preservação dos recursos naturais.
prática corrente entre os agricultores
As degradações dos recursos hídricos, como
tradicionais amazônicos, o que contribui para a
segurança alimentar das comunidades e AGRICULTURA poluição, erosão e assoreamento de cursos
d'água, pesca predatória, construções de
constitui um importante papel na conservação,
na dispersão e no resgate de espécies vegetais
FAMILIAR barragens e desflorestamentos são eventos que
quebram cadeias alimentares e cortam ciclos
cultivadas. NA AMAZÔNIA reprodutivos, destruindo as fontes permanentes
Apoio financeiro:
É extremamente importante que os projetos de
desenvolvimento junto aos agricultores na
DAS ÁGUAS de recursos naturais, secularmente utilizadas
pelos populações amazônicas.
Amazônia estabeleçam como premissa de
Entretanto, há necessidade de se criar
trabalho a necessidade de elevar os níveis de
alternativas econômicas capazes de gerar
organização social das famílias e das
renda monetária aos agricultores permitindo
comunidades para que, a partir daí, as
viabilizar o acesso aos produtos e serviços
conquistas graduais do bem estar social,
adquiridos no mercado, pois, algumas
coletivizadas e permanentes, sejam proces-
necessidades básicas são atendidas, muitas
sadas em função da sustentabilidade dos Programa Temático vezes precariamente, por meio da aquisição de
sistemas produtivos, do aumento da auto-
produtos somente disponíveis fora das
suficiência no atendimento das necessidades
unidades de produção.
alimentares, do acesso aos requisitos básicos
em educação, saúde, energia, lazer, universali- São os casos dos alimentos industrializados,
zados e disponibilizados pelo Estado e da combustíveis, roupas, remédios e dos serviços
Realização:
autonomia dos comunitários nas suas decisões inexistentes nas comunidades rurais como
políticas sobre o futuro social, econômico e NERUA atendimento médico, educação, energia e
Núcleo de Estudos Rurais
ambiental. São, a partir dessas referências, que transporte.
e Urbanos Amazônico
os autores dos capítulos que compõe este livro
discutem a Agricultura Familiar na Amazônia
das Águas.
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AGRICULTURA FAMILIAR
NA AMAZÔNIA DAS ÁGUAS
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AGRICULTURA FAMILIAR
NA AMAZÔNIA DAS ÁGUAS
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Copyright © 2007 Sandra do Nascimento Noda

COORDENAÇÃO EDITORIAL
Sandra do Nascimento Noda
Hiroshi Noda
Ayrton Luiz Urizzi Martins
Danilo Fernandes
FOTOS
Arquivo NERUA
CAPA / PROJETO GRÁFICO
KintawDesign

REVISÃO
Cláudia Adriane Souza
FICHA CATALOGRÁFICA
Guilhermina de Melo Terra – CRB-396-11

A278

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas / Sandra do


Nascimento Noda, organizadora – Manaus: Editora da Universidade
Federal do Amazonas, 2007.

208 p.

ISBN 978-85-7401-298-8

1. Agricultura – Amazônia. I Noda, Sandra do Nascimento.

CDU 631(8113).

Tiragem: 1.000 exemplares

NERUA – Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico


E-mail: nerua@inpa.gov.br
Site: http://nerua.inpa.gov.br
(92) 3643-1859

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA


Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas – CPCA
Av. Efigênio Sales, 2239, Aleixo, CEP: 69060-020
Caixa Postal: 478
Fone: (92) 3643-1859
Manaus-Amazonas-Brasil
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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7

CAPÍTULO 1
UMA EXPERIÊNCIA METODOLÓGICA PARA O ESTUDO DA AGRICULTURA FAMILIAR NA VÁRZEA DO
SOLIMÕES-AMAZONAS
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
ESTRATÉGIA OPERACIONAL DO DIAGNÓSTICO DE CAMPO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
IMPLEMENTAÇÃO DOS ESTUDOS IN LOCO: MÉTODO UTILIZADO NOS LEVANTAMENTOS
PARA O DIAGNÓSTICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20
COMPOSIÇÃO DO BANCO DE DADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22

CAPÍTULO 2
CONTEXTO SOCIOECONÔMICO DA AGRICULTURA FAMILIAR NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23
O CONTEXTO E INSERÇÃO ECONÔMICA DA AGRICULTURA E PECUÁRIA REGIONAL . . . . .24
CADEIAS PRODUTIVAS EM AGRICULTURA E PECUÁRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28
OCUPAÇÃO E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA PRODUÇÃO REGIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . .30
COMPONENTES DO SISTEMA DE PRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
ROÇA OU CULTIVOS DE ROÇA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS COMPONENTES EM PECUÁRIA . . . . . . . . . . . . . . . . .39
O PRINCIPAL DO SISTEMA ECONÔMICO E DA SUSTENTABILIDADE REGIONAL . . . . . . . . .43
O SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS DA AGRICULTURA,
EXTRATIVISMO E PECUÁRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
OS TIPOS DE AGENTES DE COMERCIALIZAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56
COMPOSIÇÃO FAMILIAR DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61
CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .64
LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .66

CAPÍTULO 3
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DOS SOLOS DE VÁRZEA EM DIVERSOS SISTEMAS DE USO DA TERRA
AO LONGO DA CALHA DOS RIOS SOLIMÕES-AMAZONAS
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO ALTO RIO SOLIMÕES . . . . . . . . . .69
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO MÉDIO RIO SOLIMÕES . . . . . . . .71
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO BAIXO RIO SOLIMÕES . . . . . . . . .73
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO MÉDIO RIO AMAZONAS . . . . . . .75
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO BAIXO RIO AMAZONAS . . . . . . . .78
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO ESTUÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . .81
TEORES MÉDIOS DE NITROGÊNIOS E MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO . . . . . . . . . . . . . . . .82
EFEITO DO USO DA TERRA SOBRE A FERTILIDADE DO SOLO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .84
CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86
LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87
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CAPÍTULO 4
AGRICULTURA E EXTRATIVISMO VEGETAL NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .91
CARACTERIZAÇÃO FITOTÉCNICA DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA
DA VÁRZEA DO RIO SOLIMÕES-AMAZONAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93
INFLUÊNCIA DO PULSO DAS ÁGUAS NA CONSTRUÇÃO DAS PAISAGENS
AGRÍCOLAS E NA DIVERSIDADE GENÉTICA VEGETAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109
MANEJO DOS RECURSOS DISPONÍVEIS E COEFICIENTES FITOTÉCNICOS. . . . . . . . . . . . .124
INDICADORES DA SUSTENTABILIDADE SOCIAL, ECONÔMICA E AMBIENTAL
DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .127
CONCLUSÕES E PROPOSIÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .132
LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .134

CAPÍTULO 5
CARACTERIZAÇÃO DOS ASPECTOS FITOSSANITÁRIOS NOS DIFERENTES SISTEMAS DE USO DA
VÁRZEA AO LONGO DA CALHA DOS RIOS SOLIMÕES-AMAZONAS
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .147
CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .154
LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .164

CAPÍTULO 6
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA DAS COMUNIDADES
RIBEIRINHAS E DO ABASTECIMENTO DO MUNICÍPIO DE PAUINI
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .167
A INFRA-ESTRUTURA DAS COMUNIDADES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .171
RELAÇÕES SOCIAIS DE TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .172
O MANEJO DO ECOSSISTEMA PARA A PRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .175
NAS PRAIAS E ENCOSTAS DA RESTINGA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .175
TERRA-ALTA OU TERRUÃ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .177
RESTINGA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .177
CANTEIRO SUSPENSO OU JIRAU . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .178
CRIAÇÃO ANIMAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .178
RECURSOS FLORESTAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .181
RECURSOS PESQUEIROS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .182
O MERCADO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .183
LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .185

CAPÍTULO 7
QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE TRABALHADORES RURAIS E URBANOS PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO DE PAUINI
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .191
HORTICULTURA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .192
MANEJO E CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .194
SISTEMAS AGROFLORESTAIS TRADICIONAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .195
MANEJO ECOLÓGICO DE PRAGAS E DOENÇAS DE PLANTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .196
UTILIZAÇÃO DA MADEIRA REGIONAL PARA MOVELARIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .197
PISCICULTURA FAMILIAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .199
TÉCNICAS DE CONSERVAÇÃO E PROCESSAMENTO DO PESCADO
EM UNIDADES FAMILIARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .200
CRIAÇÃO DE ABELHAS SEM FERRÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .203
LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .207
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APRESENTAÇÃO

A Amazônia Centro-Ocidental mantém, ainda, sua vegetação natural quase total-


mente preservada, graças às formas de produção praticadas pelos agricultores tradicio-
nais familiares. Essas apresentam níveis de sustentabilidade socioambiental e de sufi-
ciência alimentar evidenciados pela capacidade de manter grande parte da exuberante
biodiversidade e a integralidade dos ecossistemas. A visão dos agricultores tradicionais
é a mesma daquela revelada nos estudos científicos de Harald Sioli sobre o diversifica-
do e complexo universo das várzeas amazônicas, onde o pulso das águas explica o ritmo
e harmonia da produção e reprodução biológica.
O agricultor tradicional é polivalente e os recursos acessados no processo produ-
tivo são os disponíveis nos ambientes explorados e a cronologia da produção agrícola e
de reprodução ambiental são os ciclos naturais. A jornada de trabalho da família é dis-
tribuída em atividades agrícolas, de manufatura e extrativismo (caça, pesca, coleta de
produtos vegetais na floresta e capoeira), geralmente, praticado nas áreas de uso coleti-
vo. Além dos recursos naturais existentes, a força de trabalho é o único fator de produ-
ção, necessitando, portanto, uma administração criteriosa da sua utilização.
Os níveis de auto-suficiência na produção de alimentos são propiciados pela
produção diversificada. O compartilhamento intercomunitário de recursos genéticos
vegetais também é uma prática corrente entre os agricultores tradicionais amazônicos,
o que contribui para a segurança alimentar das comunidades e constitui um importan-
te papel na conservação, na dispersão e no resgate de espécies vegetais cultivadas. O
estímulo à agricultura especializada pode provocar transtornos na organização social
da produção e colocar em risco, ou mesmo inviabilizar a segurança alimentar das famí-
lias. Dois exemplos podem ser citados, um ocorrido nas várzeas dos rios Amazonas e
Solimões, onde os produtores familiares, estimulados pelo governo, passaram a cana-
lizar as atividades agrícolas na produção de juta e malva e o outro, da população indí-
gena Sateré-Mawé que, incentivada por organizações não- governamentais, passaram a
produzir guaraná para exportação em detrimento da produção de alimentos para auto-
consumo. Em ambos os casos, as intervenções, conduziram as comunidades para a
agricultura especializada provocando crises de abastecimento de alimentos.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 7


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No Brasil, com pequenas variações, no espaço e tempo, o processo de especia-


lização no monocultivo de espécies industriais como a cana-de-açúcar, soja, algodão e
café, tem conduzido, direta ou indiretamente, os pequenos produtores rurais a níveis
crescentes de empobrecimento e perda de suas terras. A possibilidade da manutenção
das unidades produtivas rurais familiares implica na necessidade da existência de um
sistema de preservação dos recursos naturais. As degradações dos recursos hídricos,
como poluição, erosão e assoreamento de cursos d’água, pesca predatória, construções
de barragens e desflorestamentos são eventos que quebram cadeias alimentares e cor-
tam ciclos reprodutivos, destruindo as fontes permanentes de recursos naturais, secu-
larmente utilizadas pelas populações amazônicas.
Muitas vezes as intervenções promovidas pela extensão rural de órgãos oficiais,
organizações não governamentais e outras causam mudanças danosas nas formas de
organização social da produção nas comunidades, resultando em fortes pressões sobre
os recursos naturais essenciais, inviabilizando a sustentabilidade do sistema produtivo.
José de Souza Martins (2000) avalia o pesado débito da sociologia rural a serviço da
difusão de inovações, cuja prioridade era a própria inovação... legando aos filhos que
chegam à idade adulta os efeitos de uma demolição cultural que nem sempre foi subs-
tituída por valores sociais includentes, emancipadores e libertadores... legando aos
filhos o débito social do desenraizamento e da migração para as cidades ou para as
vilas pobres próximas das grandes fazendas de onde saíram, deslocados que foram
para cenários de poucas oportunidades e de nenhuma qualidade de vida”.
Entretanto, há necessidade de se criar alternativas econômicas capazes de gerar
renda monetária aos agricultores permitindo viabilizar o acesso aos produtos e servi-
ços adquiridos no mercado, pois, algumas necessidades básicas são atendidas, muitas
vezes precariamente, por meio da aquisição de produtos somente disponíveis fora das
unidades de produção. São os casos dos alimentos industrializados, combustíveis, rou-
pas, remédios e dos serviços inexistentes nas comunidades rurais como atendimento
médico, educação, energia e transporte.
É extremamente importante que os projetos de desenvolvimento junto aos agri-
cultores na Amazônia estabeleçam como premissa de trabalho a necessidade de elevar
os níveis de organização social das famílias e das comunidades para que, a partir daí,
as conquistas graduais do bem-estar social, coletivizadas e permanentes, sejam proces-
sadas em função da sustentabilidade dos sistemas produtivos, do aumento da auto-sufi-
ciência no atendimento das necessidades alimentares, do acesso aos requisitos básicos
em educação, saúde, energia, lazer, universalizados e disponibilizados pelo Estado e da
autonomia dos comunitários nas suas decisões políticas sobre o futuro social, econô-
mico e ambiental.

8 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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A partir de 1995, o NERUA – Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico


– vem conduzindo, no Estado do Amazonas, um macroprojeto piloto de desenvolvimen-
to sustentável, do qual o projeto Tecnologias para o Desenvolvimento e Sustentabilidade
do Município de Pauini, implementado com o apoio financeiro da FAPEAM – Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, por meio do Programa Temático, é um
dos componentes.
Na sua concepção global, o macroprojeto objetiva gerar conhecimentos técnico-
científicos que possam contribuir para a melhoria nas formas de organização social da
Agricultura Familiar em relação ao manejo, utilização alimentar e econômica dos recur-
sos naturais de modo a garantir a segurança alimentar nas sociedades rurais e proporcio-
nar instrumentos tecnológicos e de gestão que possam contribuir para a formulação de
políticas públicas compatíveis com o desenvolvimento sustentável regional. O projeto
conta com a participação de pesquisadores do INPA e de outras instituições de pesqui-
sa e ensino como a Universidade Federal do Amazonas, Universidade Luterana do
Brasil/Centro Universitário Luterano de Manaus, Universidade de São Paulo/Instituto
de Eletrotécnica e Energia e EMBRAPA Amazônia Ocidental, além de agricultores
familiares das comunidades rurais. O intuito é o de propiciar, por meio do uso e conser-
vação dos recursos naturais, a melhoria nos níveis do bem-estar social das populações
humanas.
São a partir dessas referências que os autores dos capítulos que compõem este
livro discutem a Agricultura Familiar na Amazônia das Águas. A temática abordada, por
ser revestida de importância e oportunidade para o avanço do conhecimento técnico-
científico e, muito além para a importante tarefa de evidenciar os saberes tradicionais
como pauta da reflexão sobre o desenvolvimento regional, no livro, foi dividida em duas
partes. Ambas congregam o esforço compartilhado de pesquisadores, bolsistas e parcei-
ros das áreas do conhecimento das Ciências Agrárias e Ambientais, em construir um
conhecimento permeado pelo diálogo interdisciplinar para a compreeensão e explicação
do complexo espaço da Amazônia das Águas e a Agricultura Familiar.
Na primeira parte os estudos apresentam uma visão analítica da dinâmica agrá-
ria e ambiental na calha do rio Solimões-Amazonas, em que as mais importantes con-
tribuições do conhecimento científico em Ciências Agrárias têm orientado a discussão
e apreensão da complexa configuração da realidade produtiva na Amazônia das Águas.
O Capítulo 1 apresenta a estratégia metodológica utilizada para a pesquisa de
campo multidisciplinar, organizada com o intuito de apreeender parcelas da complexi-
dade da realidade da Agricultura Familiar regional. No Capítulo 2, se procede a uma
incursão na dinâmica socioeconômica que conforma os sistemas produtivos no ecossis-
tema de várzeas, quanto à compreensão das relações existentes para fornecer subsídios

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 9


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à política pública de desenvolvimento econômico e social mais eficiente, justo e equâ-


nime, em que o uso dos recursos naturais seja sustentável. O Capítulo 3 apresenta uma
descrição das principais características químicas dos solos de várzea e os possíveis efei-
tos da unidade de paisagem e dos diferentes tipos de uso da terra sobre o estoque de
nutrientes nestes solos. A perpectiva foi a de fornecer conhecimentos sobre o impacto
dos sistemas de uso da terra sobre a qualidade do solo. No Capítulo 4, se caracterizam
as unidades de produção familiar por meio de indicadores fitotécnicos e pelas formas de
organização espacial de uso e manejo dos recursos mobilizados no processo produtivo
em Agricultura e Extrativismo Vegetal. Nos estudos sobre a Agricultura Familiar na
Amazônia das Águas muito pouco tem sido estudado o papel e a influência dos proble-
mas fitossanitários nos sistemas de uso e manejo da terra para a produção agrícola.
Assim, no Capítulo 5, é apresentada uma caracterização dos principais problemas fitos-
sanitários em cultivos de várzea e as metodologias de manejo empregadas pelos agricul-
tores, com a intenção de minimizar as lacunas por ventura existentes.
Na segunda parte, os Capítulos 6 e 7 apresentam as ações práticas de uma estra-
tégia para o desenvolvimento e sustentabilidade regional e local, por meio da imple-
mentação de tecnologias adequadas no Município de Pauini, no Estado do Amazonas.
O intuito dos trabalhos era a atuação junto aos agricultores familiares para a otimiza-
ção da produção em consonância com a conservação dos recursos e, respeitando e valo-
rizando os diversos saberes tradicionais. A forma de conhecimento e prática social
ocorreu pela pesquisa institucional disponibilizada por meios de comunicação e difu-
são para o assessoramento técnico-científico na Agricultura Familiar municipal.
Assim, a proposta do NERUA exposta neste livro pretendeu estabelecer uma
plataforma científica e técnica interdisciplinar para contribuir na formulação de pro-
postas de desenvolvimento e sustentabilidade, principalmente em áreas onde os ecos-
sistemas naturais representam ambientes propícios para a implantação de políticas de
conservação e uso econômico dos recursos naturais, baseadas no incremento dos níveis
de bem estar social e qualidade de vida das populações humanas.

Hiroshi Noda

10 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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CAPÍTULO 1

UMA EXPERIÊNCIA METODOLÓGICA PARA


O ESTUDO DA AGRICULTURA FAMILIAR NA
VÁRZEA DO SOLIMÕES-AMAZONAS
Sandra do Nascimento Noda1 e 4
Ayrton Luiz Urizzi Martins2 e 4
Hiroshi Noda3 e 4
Maria Silvesnízia da Silva Paiva4
Lúcia Helena Pinheiro Martins4

INTRODUÇÃO
A discussão aqui escrita, na forma de apresentação de uma estratégia
metodológica, foi orientada pela intenção de apreender os conceitos utilizados
no estudo das representações sociais associadas aos aspectos produtivos,
socioeconômicos e técnicos em agricultura, extrativismo vegetal e pecuária nas
várzeas da calha do Solimões-Amazonas. Tal processo, imbuído de caráter
técnico-científico, funciona como quadro explicativo das ações sociais
expressas em diferentes momentos de execução do estudo pelos membros do
grupo de trabalho, como pressupostos teórico-metodológicos gerais e
específicos sobre os meios para atuação junto aos agricultores familiares.
Inicialmente, como os escritos sobre a produção nas várzeas apontam
para o fato da não delimitação possível, em termos epistemológicos, sobre o
espaço de referência e, principalmente, sobre quais organizações sociais que aí
vivem, empreendeu-se uma breve discussão sobre alguns textos metodológicos
possíveis de serem utilizados na construção do suporte explicativo, das
atividades realizadas por atores sociais. Atores que vivificam uma realidade
diferenciada e pouco detalhada nos seus preceitos de maneira a fornecer uma

1. Universidade Federal do Amazonas – Faculdade de Ciências Agrárias (UFAM/FCA).


2. Universidade Luterana do Brasil – Centro Universitário Luterano de Manaus (ULBRA/CEULM).
3. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
4. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).

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base de sustentação para as descrições e análises. A perspectiva foi a de


identificar a existência de categorias sociais diferenciadas, com características
e perspectivas de desdobramentos de suas práticas culturais contrastantes.
A abordagem teórica escolhida foi a sistêmica pela percepção da
existência de interdependências entre os componentes bióticos e abióticos que
participam dos ecossistemas, tendo como base conceitual a apresentada por
Morin (1998), onde em seu conteúdo fundamental estão os conceitos de
sistema, interações e organização do sistema. Este princípio forneceu, ao longo
do trabalho, o instrumental lógico para compreensão dos processos de
transformação, regeneração e auto-regulação dos sistemas ambientais onde
recai a responsabilidade sobre os atores sociais.
A metodologia teve como estratégia adotada o reconhecimento das áreas
de várzeas estudadas, compreendidas pela calha do rio Solimões-Amazonas
nos Estado do Amazonas e Pará, como de predominância de atividades em
Agricultura, Extrativismo Vegetal e Pecuária, utilizadora dos recursos por meio
de um processo cognitivo em acordo com a experiência histórico-cultural dos
indivíduos e as influências externas de caráter social, político e econômico.
As estratégias de ação do estudo foram desenvolvidas em localidades
representativas dos diferentes tipos de várzeas. A metodologia de trabalho
variou de acordo com os objetivos e metas propostas, sendo que o caráter
temático integrado e interdisciplinar permeou todas as estratégias selecionadas
para a ação de diagnosticar. Os pressupostos principais foram de que há poucos
registros na literatura científica retratando de maneira qualitativa e precisa
como os atores sociais “ribeirinhos” contemporâneos são afetados pelos
ambientes de várzeas, com o pulso das cheias e quais, em conseqüência, são as
suas estratégias adaptativas e as escolhas tecnológicas adotadas.
Faz parte do conhecimento técnico-científico regional que os fatores
naturais são críticos na determinação da disponibilidade e abundância de
recursos e nas escolhas sobre a alocação do tempo produtivo. E, que fatores
sociais são igualmente importantes afetando, em muitas situações, o acesso aos
recursos ou a disponibilidade de força de trabalho e de capital necessários para
a exploração agropecuária. Assim é que, dependendo de suas estruturas de
oportunidades econômicas (terra, capital, informação e mão-de-obra), famílias
de uma mesma localidade podem estar mais ou menos suscetíveis aos rigores
impostos pela flutuação dos recursos naturais.
A ocorrência de determinada atividade produtiva, com
comprometimento de mão-de-obra e de áreas de solo pode se dar em

12 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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detrimento de outras atividades a serem executadas na mesma época/local.


Qualquer processo de intensificação ou especialização econômica, como por
exemplo, a produção comercial agrícola e a pesca comercial, podem engendrar
conflitos na alocação de tempo para atividades que necessitem de ajustes
(JOCHIM, 1971).
A demanda de trabalho nas atividades agrícolas tradicionais, por outro
lado, não se distribui uniformemente durante o ano, o que permite que exista
tempo disponível para outras atividades, como a pequena criação animal, a
pesca e a caça para consumo alimentar. Além disso, mulheres e crianças podem
trabalhar ativamente em todas as atividades de condução da lavoura,
permitindo um melhor aproveitamento de mão-de-obra, e possibilitando a
geração de um excedente de produção, sem o comprometimento de outras
atividades. O conjunto destes princípios permitiu formular a estratégia
metodológica para atendimento do objetivo em pauta.

ESTRATÉGIA OPERACIONAL DO DIAGNÓSTICO DE CAMPO


A execução do diagnóstico de campo ocorreu através de levantamentos
multitemáticos e temáticos, organizados sob abordagem sistêmica e estratégia
interdisciplinar de atuação em casos, pela utilização do método estudo de caso
(GIL, 1991; GREENWOOD, 1973; YIN, 2001) e suas técnicas na perspectiva
de pesquisa qualitativa diante da realidade complexa e emergente das
atividades de Agricultura, Extrativismo e Pecuária nas várzeas do Solimões-
Amazonas.
Os levantamentos temáticos (Agricultura e Extrativismo, Pecuária,
Socioeconomia, Fitossanidade e Solos) e a descrição dos processos produtivos
e seus respectivos pontos de estrangulamento ocorreram mediante duas táticas
para aprofundamento dos conhecimentos. A primeira, denominada pelo grupo
de pesquisa de horizontalização multitemática e a segunda, verticalização
temática. Ambas trabalharam com a visão dos atores sociais em situação de
vivência e relato da experiência política e social do “aqui” e “agora”, nas
atividades produtivas nas várzeas.
A tática de horizontalização multitemática ocorreu com a aplicação da
técnica de questionário-formulário característica da pesquisa qualitativa. A
utilização desta técnica permitiu a homogeneização da linguagem da equipe de

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 13


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trabalho interdisciplinar, pois são diversas e múltiplas as visões estabelecidas


pelo transitar em diferentes especialidades do conhecimento científico.
O uso do questionário-formulário pela equipe interdisciplinar buscou
superar o problema de meras respostas a meras perguntas, que podem estar
facilmente desfocadas em sentido hermenêutico. Este instrumento não deixa de
necessitar de categorizar o material, ou seja, formalizar, mas por ter conteúdo
mais dinâmico, subjetivo, dialético na mão, pode-se formalizar com maior
flexibilidade e perceber a trama não linear do fenômeno. Nesse caso, como
descrito por Demo (2000), o interesse pela representatividade estatisticamente
garantida perde seu lugar, porque se quer perceber a intensidade e não a
extensão do fenômeno. Assim, trabalhou-se com pequenos grupos sociais que
apesar de jamais serem representativos das sociedades inteiras, podem sim ser
“exemplos” bem contextualizados mais aproximados da intensidade do
fenômeno, onde traços mais comuns são captados permitindo procedimentos
de controle intersubjetivo para termos outros ângulos da análise e, sobretudo da
crítica.
A estrutura do questionário-formulário tomou em conta algumas
condições no processo de transformação dos depoimentos em informação e
argumento. Respeito manifesto por atitudes de prestar atenção,
reconhecimento de conhecimento, de consideração à experiência foram o tom
permanente nos momentos de contato para os diagnósticos. Vale ressaltar, o
fato dessa modalidade técnica de pesquisa de campo com o instrumental do
questionário-formulário não permitir generalizar extensivamente, mas
intensivamente, por trabalhar com análise do discurso.
A seleção das unidades de amostragem para a horizontalização foi
executada a partir da caracterização dos nucleamentos populacionais-
comunidades e das propriedades individuais nas áreas geográficas
compreendidas pelos municípios. Para tal, foram levantadas hipóteses de
trabalho com consulta prévia realizada nas sedes dos municípios a várias
instituições e organizações sobre localização e logística necessária para a
orientação da seleção amostral (Figura 1). Instituições como Secretaria de
Produção, IBAMA, BASA, Prelazia, CPT, Sindicato dos Trabalhadores Rurais
e Organizações Não-Governamentais foram visitadas.
A partir da freqüência de menções às localidades onde ocorriam
concentrações de atores sociais em atividades produtivas nas áreas de várzea,
foi possível traçar as relevâncias. Tal atitude foi tomada conforme os preceitos
da hermenêutica, onde o mais intenso é mais significativo do que o mais

14 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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extenso, sendo o diferente (as diferenças manifestas no linguajar sobre algum


fenômeno vivificado) e não as repetições (as regularidades manifestas para
cada unidade de pensamento) o eco da intensidade.
Importante mencionar a análise do pesquisador na desconstrução das
falas, elemento essencial para o entender de seus meandros. Esse
comportamento veio a requerer a formação de grupo de trabalho experiente,
nas temáticas escolhidas, para abordagem dos fenômenos ocorridos na
produção nas áreas de várzea.
O questionário-formulário elaborado pelo grupo de trabalho
interdisciplinar teve como conteúdo anotações e registro dos ambientes
acessados pelos agricultores e/ou criadores, atividades realizadas nas áreas de
acesso ou posse, dentre outras. O levantamento em unidades rurais a partir
deste instrumento permitiu observar nos discursos: (a) componente do sistema
de produção; (b) unidade de paisagem; (c) tamanho da área; (d) tempo de
ocupação; (e) tempo de uso; (f) tipo de sistema, cultivo, manejo e/ou extração;
(g) espécies cultivadas/extraídas; (h) preparo e manejo do solo; (i) insumos
utilizados; (j) sanidade vegetal e animal; (l) características do solo; (m)
dificuldades/problemas nos sistemas de produção e (n) finalidade de uso e
destinação da produção.

FIGURA 1. Localização cartográfica das unidades de produção para visitas de coleta de dados na Calha do Rio
Solimões-Amazonas. Brasil, 2003/4.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 15


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Na prática, as coletas de dados na horizontalização multitemática foram


realizadas através de visitas efetivadas por dois pesquisadores do grupo de
trabalho para cada localidade visitada (Figura 2). Para cada região foram
escolhidas unidades amostrais nos municípios que foram visitados obedecendo
a seguinte forma:

a. Cada uma das equipes (no mínimo seis por viagem) fez o
levantamento de duas unidades amostrais por dia durante dois dias
consecutivos;
b. A cada dia, no retorno das visitas, as equipes faziam suas
anotações no Relatório Diário de Campo (Figura 3 A); e
c. A seguir os resultados anotados eram discutidos e avaliados em
reuniões por toda equipe, sendo anotadas as avaliações e
sugestões em relatórios-atas de campo (Figura 3 B). Nas reuniões,
utilizando-se de técnica de seleção das principais características
(do manejo produtivo das unidades de paisagem, da organização
social, etc.), foi selecionada entre as unidades amostradas na
horizontalização, uma que contemplasse o maior número de
caracteres com os quais seria possível qualificar e quantificar uma
unidade de produção agropecuária representativa dentro do
conjunto das unidades amostradas (a verticalização).

16 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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FIGURA 2. Localização geográfica dos estudos de caso da horizontalização multitemática. Estados do Amazonas e Pará, 2003/4.
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FIGURA 3. Atividades realizadas na embarcação antes e após as atividades de campo: (A) organização e registro de
dados de campo; e (B) reunião de discussão de dados da horizontalização para efetivação da verticalização
Calha do Rio Solimões-Amazonas. Brasil, 2003/4.

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Na horizontalização multitemática foram realizados 249 estudos de caso


em unidades produtivas representativas das estratégias produtivas,
organizativas e econômicas. Já na verticalização temática foram realizados 191
estudos de caso distribuídos pelas equipes de agricultura e extrativismo,
socioeconomia, fitossanidade, solos e pecuária, conforme os dados dispostos
na Tabela 1, totalizando 440 estudos de caso.
TABELA 1. Número de estudos de caso da verticalização temática ao longo da calha do Solimões-Amazonas. Estados
do Amazonas e Pará, 2003/4.

EQUIPES ESTUDOS DE CASO


SOCIOECONOMIA 25
AGRICULTURA E EXTRATIVISMO 26
PECUÁRIA (CRIAÇÃO ANIMAL) 29
FITOSSANIDADE 32
SOLOS (PEDOLOGIA) 79
TOTAL 191

As unidades amostrais foram nomeadas com o termo identificador de


“região” num senso de localização geográfica para ocorrer a sistematização dos
dados. Assim, as unidades amostrais foram localizadas e agrupadas como:

• Região do Alto Solimões, abrangendo os municípios de Benjamin


Constant; Tabatinga, São Paulo de Olivença e Atalaia do Norte;
• Região do Médio Solimões, abrangendo os municípios de Alvarães,
Maraã, Tefé e Coari;
• Região do Baixo Solimões, abrangendo os municípios de
Manacapuru; Careiro da Várzea e Iranduba;
• Região do Médio Rio Amazonas, abrangendo os municípios de
Itacoatiara e Silves;
• Região do Baixo Rio Amazonas, abrangendo os municípios de
Parintins, Óbidos; Oriximiná e Santarém; e
• Região do Estuário do Rio Amazonas, abrangendo o município de
Gurupá.

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IMPLEMENTAÇÃO DOS ESTUDOS IN LOCO: MÉTODO UTILIZADO


NOS LEVANTAMENTOS PARA O DIAGNÓSTICO

A operacionalização do trabalho de campo traz consigo a necessidade de


que as estratégias adotadas sejam cerceadas por método, nos levantamentos in
loco de dados empíricos. A escolha recaiu no método Estudo de Caso, cujo
quadro de referência teórica é articulado dentro de uma problemática, onde a
informação circunstanciada é interpretada e adaptada às diferentes
modalidades do conhecimento. Gil (1991) afirma que o estudo de caso é
caracterizado pelo estudo profundo, exaustivo, de um ou de poucos objetos, de
maneira a permitir conhecimento amplo detalhado do caso.
A partir da análise do discurso e técnicas agronômicas, trabalhou-se nos
casos as diversas fontes de evidência dos fenômenos (YIN, 2001), para
caracterizar-se a ocupação do espaço social e de produção, enquanto
mecanismo sociocultural de adaptação humana aos habitats que compõem o
sistema de várzea para avançar no sentido de construir uma descrição mais
criteriosa dos sistemas sociais das agriculturas das várzeas.
A observação direta e crítica e o envolvimento analítico para a
interpretação ocorreu numa influência fenomenológica. A busca foi a de
interpretar os fundamentos do conhecimento na vida cotidiana. Conhecimento
conforme apontam Berger e Luckmann (1997) “...que dirige a conduta da vida
diária...”. A vida diária que se apresenta como uma realidade interpretada pelos
entrevistados e subjetivamente dotada de sentido na medida em que forma um
mundo coerente.
No desenrolar das entrevistas, a vida cotidiana vivificada através do
trabalho foi o fio condutor da estratégia metodológica. Para tal fez-se uma
distinção epistemológica nos sistemas cognitivos dos sujeitos – o que é
observado e o que observa, ou seja, as visões de mundo emic e etic.
Interpretações emic refletem categorias cognitivas e lingüísticas dos povos
nativos. As interpretações etic são aquelas desenvolvidas pelo pesquisador para
fins de análises (POSEY, 1996).
Nos discursos, os componentes do sistema de produção foram
apresentados como categorias de análise possíveis de serem agrupadas como
sistema classificatório. O mesmo apresenta-se a partir de seus componentes
característicos relacionados com as práticas e técnicas de manejo dos solos nos
atos de cultivar espécies da flora para a vivência característica de agricultor(a).

20 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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Nas visitas, os informantes abordados por vezes eram os chefes de


família, outras membros adultos e jovens das famílias. Apesar das anotações no
questionário-formulário utilizado pelo grupo de trabalho ter como identificador
uma pessoa, este procedimento somente tem validade para a leitura e inserção
da unidade produtiva no banco de dados. A complementação das informações
ocorreu através de diversos e diferentes informantes, cujos discursos foram
anotados nos diários de campo e nos relatórios diários de campo. Estes dados
foram utilizados como suporte nas análises e composição e estruturação das
fichas de identificação da unidade amostral organizadas para disponibilização,
acompanhamento e futuras incursões comparativas em trabalhos sobre as
várzeas.
Na verticalização temática foram utilizados procedimentos
metodológicos específicos para cada área temática que serão descritos nos
capítulos seqüentes.

COMPOSIÇÃO DO BANCO DE DADOS

O banco de dados foi composto pela tabulação dos dados constantes nos
questionários-relatórios utilizados para a Horizontalização Multitemática e a
Verticalização Temática. A partir dos questionários-relatórios as informações
foram digitalizadas no programa Access compondo um Banco de dados
alfanumérico. A composição foi compatível com as unidades trabalhadas no
formato de subtemas relativos aos propostos nos levantamentos e diagnóstico.
Posteriormente foram organizadas planilhas (Fichas) com dados alfanuméricos
de fácil leitura para socialização dos conteúdos, de maneira a se ter
instrumental para avaliação das práticas e usos das várzeas para Agricultura,
Extrativismo e Pecuária.

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LITERATURA CITADA

BERGER, P.I.L.I.; LUCKMANN, T. A Construção Social da


Realidade: Tratado de Sociologia do Conhecimento. Trad. Floriano de
S. Fernandes. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. 248p (Antropologia, 5).
DEMO, P. Metodologia do Conhecimento Científico. São Paulo, SP:
Atlas, 2000. 216p.
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo, SP: Atlas,
1991. 207p. il.
GREENWOOD, E. Metodologia de la Investigacion Social. Buenos
Aires: Paidós, 1973. 126p.
JOCHIM, M. A. Strategies for Survival: Cultural Behavior in an
Ecological Context. New York: Academic Press, 1971. 233p.
POSEY, D. A. Os povos tradiconais e a conservação da biodiversidade.
In: PAVAN, C. (Org.). Uma estratégia latino-americana para a
Amazônia. São Paulo: UNESCO, 1996. v. I. 348p.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2.ª ed. Porto
Alegre: Bookman, 2001. 336p.

22 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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CAPÍTULO 2

CONTEXTO SOCIOECONÔMICO
DA AGRICULTURA FAMILIAR NAS
VÁRZEAS DA AMAZÔNIA
Sandra do Nascimento Noda1 e 4
Ayrton Luiz Urizzi Martins 2 e 4
Hiroshi Noda3 e 4
Fidel Matos Castelo Branco 4
Marco Antonio Freitas de Mendonça1 e 4
Maria Silvesnízia Paiva Mendonça4
Elione Angelin Benjó4
Rosana Antunes Palheta4
Antonia Ivanilce Castro da Silva4
Jucélia Oliveira Vidal4

INTRODUÇÃO
Através de visitas às unidades amostrais foram efetivadas observações
diretas que compuseram o levantamento socioeconômico. Estas observações
variaram com atividades formais e informais de coleta de dados, representando
uma importante fonte de evidência no estudo dos casos.
Nos levantamentos, as técnicas informais corresponderam a reuniões de
sensibilização sobre as atividades do levantamento. Nestas eram explicados os
objetivos do projeto e os procedimentos adotados nos levantamentos. Nas
reuniões eram convidados os membros das famílias moradoras nos locais, e
ocorreram anotações dos principais fatos históricos, econômicos, sociais,
políticos e culturais. Após isso eram feitas caminhadas nos lugares produtivos
para observação visual da unidade amostral e os significados dados para cada

1. Universidade Federal do Amazonas – Faculdade de Ciências Agrárias (UFAM/FCA).


2. Universidade Luterana do Brasil – Centro Universitário Luterano de Manaus (ULBRA/CEULM).
3. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
4. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).

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lugar. Na continuidade da visita, buscava-se um lugar de melhor disposição,


escolhido pelo informante, para dar termo à aplicação das técnicas formais
representadas por: a) questionário-formulário socioeconômico constituído de
perguntas abertas, fechadas e de reforço; b) entrevistas semi-estruturadas por
roteiro prévio para obter-se informações referentes aos processos
representativos, o imaginário social e cultural e as explicações dos
entrevistados; c) croquis das unidades de paisagem através de procedimento
participativo dialógico do (s) informante (s); e d) diário de campo (anotação de
informações adicionais).

O CONTEXTO E INSERÇÃO ECONÔMICA DA


AGRICULTURA E PECUÁRIA REGIONAL
A economia apresentada na calha do Solimões-Amazonas está orientada
basicamente para as atividades de Agricultura e Extrativismo, com o uso e o
manejo dos recursos naturais. Poucas são as inversões de recursos financeiros
dados serem baixos os níveis de geração de emprego e renda monetária nas
unidades produtivas, o que em conseqüência promove baixa circulação de
moeda.
A racionalidade do sistema produtivo está assentada em geral sobre três
subsistemas básicos apresentados na representação (Figura 1) e descritos como:
Subsistema de auto-suficiência e sustentabilidade familiar – A unidade
de produção é constituída por uma intrincada e articulada rede de atividades
produtivas assentadas, basicamente, na força de trabalho familiar e
freqüentemente, no acesso às quantidades suplementares deste fator de
produção, através das relações de solidariedade estabelecidas dentro dos
grupos sociais (relações de ajuda mútua). A unidade de produção relaciona-se
com o ambiente externo através das atividades executadas pelo mercado de
fatores pela compra de bens, máquinas, implementos e insumos e ao mercado
de produtos pelo abastecimento de produtos agrícolas e extrativos.
Recentemente, e de maneira crescente, está ligando-se ao sistema estatal
mediante a transferência de recursos do governo federal pelos programas de
municipalização e universalização dos serviços e o sistema de crédito oficial.
Subsistema de produção agrícola e extrativa comercial – As principais
atividades deste subsistema localizam-se nas atividades extrativas de fruteiras
como o açaí (frutos, vinho e palmito), pupunha (frutos e palmito), agrícolas de

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fruteiras como banana, cupuaçu, cacau, melancia, goiaba, tucumã, manga,


mamão, etc.; essências madeireiras e pescado. A quantificação do valor
monetário gerado por essas atividades é problemática pela falta de registro e
controle dos procedimentos comerciais. A quantificação da proporção dos
recursos que permanecem ou são reinvestidos na região foi dificultada pela
indisponibilização regular de informações de exportação e venda comercial
local ou regional. Um exemplo significativo é a falta de fiscalização sobre a
arrecadação do imposto que incide sobre a circulação de mercadorias
regionais.
Subsistema estatal – Este subsistema compreende os fluxos econômicos
gerados pelos investimentos e transferências dos governos federal e estadual
através dos programas oficiais de fomento à produção e a canalização de
recursos financeiros da cooperação internacional pelos fundos obtidos por
diversas organizações governamentais e não-governamentais, instituições de
pesquisa, ensino, extensão, etc.

FIGURA 1. Sistema Econômico na Agricultura e Extrativismo Regional.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 25


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Diferentemente das ocorrências nas atividades em Agricultura e


Extrativismo, na Pecuária são realizadas inversões de recursos financeiros e os
níveis de geração de emprego assalariado e renda monetária nas unidades
produtivas são mais elevados e ocorre maior volume de circulação de moeda,
estando o sistema produtivo assentado em quatro subsistemas básicos:
Subsistema de diversificação para complementação à sustentabilidade
familiar – Baseada na força de trabalho familiar, a unidade de produção é
agrícola com o componente criação animal sendo considerado como
complementar para obtenção de renda em casos de emergência (doenças na
família, enchentes severas, perdas na produção, etc.). A criação de gado neste
subsistema normalmente é de gado bovino e tem a função de funcionar como
uma espécie de poupança. O tamanho médio dos rebanhos é, geralmente, em
torno de 20 cabeças, confirmando o caráter familiar da atividade. A unidade de
produção relaciona-se com o ambiente externo através das atividades
executadas pelo mercado com a compra de produtos pecuários. Recentemente,
e de maneira crescente, está ligando-se ao sistema estatal mediante a atuação
do sistema de crédito oficial.
Subsistema de produção empresarial familiar – Muitas são as unidades
produtivas de gado bovino e bubalino nas várzeas cujo planejamento e
administração das atividades são executados por empreendedor familiar. São
famílias tradicionais proprietárias de terras que têm características de
dedicação às atividades por herança. As principais atividades deste subsistema
localizam-se nas atividades das subcadeias produtivas locais de gado de corte
(cria/recria/engorda) e de leite e derivados.
Subsistema empresarial de pecuária de corte e leite – As unidades
produtivas estruturaram-se a partir de atores sociais advindos dos setores
secundário e terciário que aplicam recursos próprios em pecuária, comprando
terras, implantando pastagens e introduzindo gado. Uma parte desses
investidores vem do setor primário após passarem por processos de produção
bem sucedidos no comércio ou na política local. É o caso também, dos
investidores em pecuária oriundos das cadeias agropecuárias com períodos de
passagem nas áreas urbanas como donos de casas comércio, lojas de produtos
agropecuários, compradores e transportadores de gado, técnicos do setor
agropecuário governamental. A fazenda de gado neste subsistema pode
funcionar como uma atividade secundária uma forma de investimento para
profissionais liberais, políticos, industriais, etc. Com o desejo de serem

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fazendeiros captam financiamentos públicos e investem conjuntamente com


recursos financeiros próprios.
Subsistema estatal – Este subsistema compreende os fluxos econômicos
gerados pelos investimentos e transferências dos governos federal e estadual,
através dos programas oficiais de fomento à criação animal e a serviços de
controle sanitário, principalmente para o rebanho bovino e bubalino no Estado
do Amazonas. São os incentivos fiscais e as políticas de crédito mencionadas
como os principais elementos motivadores para os pecuaristas. A canalização
de recursos financeiros da cooperação internacional pelos fundos obtidos por
diversas organizações governamentais e não-governamentais, instituições de
pesquisa, ensino e extensão rural revertem-se em grande parte em estudos
técnicos-científicos.

FIGURA 2. Sistema Econômico na Pecuária Regional.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 27


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CADEIAS PRODUTIVAS EM AGRICULTURA E PECUÁRIA

As cadeias produtivas em Agricultura e Extrativismo e Pecuária nas várzeas


do Solimões-Amazonas estabelecem padrões sociais e econômicos de uso e manejo
dos solos onde a função social da propriedade e a necessidade de conservação
ambiental estão em permanente disfunção. Se de um lado ocorre a necessidade do
abastecimento dos mercados de produtos e fatores impondo padrões na quantidade,
regularidade e qualidade na oferta de produtos, de outro estão os sensos de
conservação da diversidade social (várias culturas com preceitos técnicos
produtivos) e biológica (diversas espécies da flora e fauna), necessários de
permanecerem para contrapor-se a extinção e por-se a favor da manutenção e
preservação dos ambientes de várzea na calha do Solimões-Amazonas.
Outra questão relevante que vem promovendo disfunção é o constante
processo de concentração fundiária recorrente da produção em pecuária e o acesso
às áreas florestadas ou produtivas nas atividades em agricultura e extrativismo. Na
realidade atual a coerência vivificada de situação de abundância e de acesso irrestrito
aos recursos não está mais ocorrendo. A situação vem sendo agravada
exponencialmente com o processo de concentração fundiária e apropriação ilegal
por pecuaristas, fazendeiros e empresas madeireiras, que buscam produzir em áreas
onde ainda existe cobertura florestal.
Com o aumento e diversificação das redes de funções das cadeias produtivas
essas áreas adquirem outras características de valoração econômica, promovendo
modificações estruturais nos setores de produção organizados com a inclusão das
áreas de várzeas, cuja apropriação privada é de difícil consolidação com a atual
legislação fundiária brasileira.
As redes de funções das cadeias produtivas na agricultura e extrativismo e na
pecuária distribuem-se em diversos níveis de atuação econômica e com uma série
de inter-relações mantidas entre vários atores sociais. Estes, ao atuarem, dão
formação às paisagens e processos específicos de conservação ambiental, e ao
operarem, possibilitam a geração de emprego e renda.
A operacionalização das redes de funções ocorre desde o nível local reunindo
agricultores familiares, passando pelos pequenos aglomerados urbanos e sedes dos
municípios do interior (Atalaia do Norte, Benjamin Constant e São Paulo de
Olivença, Maraã; Careiro da Várzea, Iranduba, Silves, Oriximiná e Gurupá)
interligadas às cidades economicamente mais importantes (Tabatinga, Tefé, Coari,
Manacapuru, Itacoatiara, Parintins, Óbidos e Santarém), até as capitais dos Estado,
(Manaus e Belém).

28 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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O funcionamento da rede abrange diversas categorias de produtores e


comerciantes atuando em diferenciados produtos com elevado grau de
especialização, manifesto de diferentes formas nos locais de circulação dos
produtos, principalmente nos mercados dos pequenos centros urbanos e das
grandes cidades. Exemplo significativo é a produção de artesanato com
matéria-prima oriunda da agricultura e do extrativismo incentivada por ações
governamentais e organizações não-governamentais. Artefatos produzidos nos
municípios onde a indústria do turismo ecológico e folclórico participa na
formação de redes de funções de cadeias produtivas específicas têm
representado importante significado na geração de emprego e renda,
envolvendo atores sociais representantes da indústria doméstica e de
cooperativas e associações populares, co-participantes muitas vezes do
denominado mercado justo nacional e internacional.
Outros exemplos são as frutas tropicais (oriundas em grande parte dos
sítios das várzeas e do extrativismo), essências florestais, produtos olerícolas,
carne e leite. Estes geram e movimentam recursos em torno de subprodutos
importantes relacionados às indústrias de transformação de produtos de origem
nas áreas produtivas das várzeas. O mercado de couro em Tefé, Coari,
Itacoatiara, Parintins e Santarém se encontra em plena ascensão e em processo
de regulamentação para ocorrer arrecadação de impostos e retornos financeiros
para os produtores nos municípios. Em Itacoatiara, este mercado vem
promovendo modificações no processo de beneficiamento, com vistas a
atender as exigências externas por produtos com padrões de primeira
qualidade.
Em Iranduba, Itacoatiara, Parintins e Santarém é crescente o mercado de
leite com oferta de laticínios especializados (iogurte, queijo, manteiga, etc.) e
subprodutos, como vísceras, vendidas separadamente nos mercados e feiras
municipais, e sebo que vem sendo utilizado, associado às frutas e essências
florestais, para a fabricação de cosméticos com o incentivo de organizações e
programas sociais governamentais ou não.
Não há dúvida de que as hortícolas e a carne representam o principal
desses produtos. No caso das hortícolas, representadas pelas fruteiras e
olerícolas, a venda incentivada pela demanda de abastecimento urbano
concentrado nas sedes dos municípios vem promovendo a consolidação de
produções nas várzeas oriundas tanto da pequena agricultura como da empresa
familiar, ambas representantes da Agricultura Familiar (LAMARCHE, 1997)
nas várzeas do Solimões-Amazonas.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 29


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OCUPAÇÃO E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA PRODUÇÃO REGIONAL

A intervenção nas áreas de várzeas foi, num primeiro momento, marcada


pelo extrativismo (NODA, 1985), passando em seguida por um progressivo
processo de transformação, incorporando a natureza ao cotidiano do homem
como meio de subsistência e produção, ou seja, alimentos, fibras como a juta
(Corchorus capsularis) e a malva (Pavonia malacophyla), móveis cerâmicas e
ferramentas.
Os processos correspondentes ao primeiro momento são considerados de
natureza primitiva e/ou primeira natureza, conforme conceituado por Marx
(1980) apud Noda (1985), transformada em segunda natureza. Assim,
entendida como sendo a representação resultante da distribuição e/ou
organização espacial em acordo com a lógica humana de cultivar através de
modos, formas ou sistemas, construir moradias, estruturar caminhos e meios de
comunicação sobre superfícies naturais.
A organização espacial é assim o resultado, no presente, do processo
social de produção de grupos de atores sociais, mas, tem velado dentro de si
uma condição para o futuro, pois refletirá as características de quem a criou,
isto é, a reprodução dos próprios grupos. A organização espacial reflete ainda
a natureza da produção e do consumo de bens materiais, como também o
controle exercido sobre as relações que emergiram das relações sociais ligadas
à produção. A história verbalizada pelos atores sociais ao longo da calha do
Solimões-Amazonas tem a dimensão espacial que emerge do cotidiano das
pessoas, sendo tal dimensão o “locus” onde estão desenvolvendo-se os
processos sociais de afirmação e reafirmação de valores, gostos e objetivos. É
um espaço que condiciona cotidianamente os diversos e atuais papéis
desempenhados e as diferentes paisagens, construídas no exercício e
localização das atividades e fenômenos humanos (TUAN, 1980). Espaço este
contraditório, onde ocorre a destruição das formas espaciais existentes, a
criação das resistências e a reconstrução de formas e conteúdos espaciais
dotados de dimensões e significados diferentes pela aquisição da experiência.
O espaço é produzido, reproduzido, recriado, configurando-se não
apenas sociedade, localidade ou “comunidade, mas também e, principalmente,
como possibilidade” de ser o lugar de construção e reconstrução da vida em
situação rural (NODA, 1997). Tal situação expressa um sistema de espaços
relacionais e temporalidades, onde coexistem diferentes e múltiplos

30 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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subsistemas produtivos que contextualizam as interações que forjam as


diferentes paisagens.
Desta maneira, pode-se verificar a existência de uma intencionalidade na
organização dos recursos nos sistemas de produção na agricultura, extrativismo
e pecuária que proporcionam mudanças nos espaços da paisagem e,
conseqüentemente, na qualidade de vida das pessoas. Isso se dá pela estreita
relação existente entre sociodiversidade e biodiversidade, onde as formas de
organização dos grupos de atores sociais normalmente são originárias no
contato, percepção e aquisição de hábitos pela experiência cotidiana de vida
em determinado ambiente natural e, podem ser geradas como resposta às
características ecológicas e ambientais existentes (NEVES, 1992).
O conceito apresentado por Tuan (1980) em sentido amplo, como
“...sendo os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material...”
permite observar-se o fato das formas de organização social, além de poderem
ser geradas como resposta às características ambientais as mesmas, podem
provocar mudanças na biodiversidade original de uma paisagem. Corresponde,
portanto, a um sistema espacial de ocorrência da biodiversidade, formas de
organizações sociais (sociedades) com características diversas permitindo
observar a sociodiversidade correspondente. Desta maneira os espaços
societários estudados representam não somente a historicidade na construção
antrópica das paisagens através da utilização de técnicas de produção, mas
também as características das diversas organizações societárias resultantes
desta historicidade, isto é, os sistemas de produção nas várzeas.

COMPONENTES DO SISTEMA DE PRODUÇÃO

Nos discursos dos atores sociais entrevistados ao longo da calha do


Solimões-Amazonas, os componentes do sistema de produção foram
apresentados como “categorias de análise” possíveis de serem agrupadas num
sistema classificatório. O mesmo apresenta-se a partir de seus componentes
mais característicos e relacionados com as práticas e técnicas de manejo dos
solos, nos atos de cultivar espécies da flora na vivência de agricultor(a).
O sistema de produção tem como base, práticas agroflorestais de
produção caracterizadas pelo manejo das terras numa integração, simultânea e
seqüencial, entre árvores e/ou animais e/ou cultivos agrícolas. Os fatores de
produção combinados com a utilização de técnicas convencionais e

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tradicionais, influenciam no funcionamento do sistema produtivo. Assim, o


sistema agroflorestal de produção em agricultura, extrativismo e pecuária
apresenta-se através dos seus componentes principais:

ROÇA OU CULTIVOS DE ROÇA

Geralmente, no sistema agroflorestal de produção o principal fornecedor


de alimentos energéticos para a sustentação diária dos agricultores são os
produtos oriundos das roças ou cultivos de roça. São as paisagens onde parcelas
são cultivadas anualmente, em regime de monocultura, rotação ou consórcio.
Vários são os arranjos paisagísticos encontrados, onde a produção de diversas
espécies pode ser verificada, ocorrendo diversidade de variedades intra e inter-
espécies, manifestando diversidade biológica.
As principais plantas cultivadas são as cultivares venenosos, denominadas
“mandioca”, e as não-venenosos, “macaxeira”, ambas variedades de Manihot
esculenta Crantz e a banana (Musa sp.) (Figura 3). Estas corroboram para a
venda e fornecimento de alimentos. A farinha de mandioca é o principal produto
agrícola comercializado e em grande parte, o produto que alimenta e permite a
manutenção econômica nos períodos de cheia dos rios.

FIGURA 3. Componente “Roça” típico em área de várzea, apresentando a mandioca como cultura principal. Calha
Amazonas-Solimões/AM, 2003/04.

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Outras espécies são cultivadas de forma consorciada com a mandioca e


outras espécies ou como cultivos solteiros como jerimum (Curcubita maxima
Duch. Ex. Lam.), maxixe (Cucumis anguria L.), melancia (Citrullus lanatus
(Thunb.) Matsumura & Nakai), cará (Dioscorea trifoliata Kunth), batata-doce
(Ipomoea batatas L.), milho (Zea mays L.), ariá (Calatea allouia (Aubl.)
Lindl.), abacaxi (Ananas comosus (L.) Merr.) e cana-de-açúcar (Saccharum
officinarum L.). Os cultivos ocorrem em pequenas áreas à semelhança de
cultivos em mistura sem obedecer as técnicas de alinhamento e espaçamento
agronômico entre espécies e variedades, o que vem a caracterizar o plantio
tradicional em miscelânea.

Cultivos

Nos espaços sociais produtivos, denominados regionalmente cultivos,


podemos encontrar espécies cultivadas em consórcios ou como cultivos
solteiros. Estes últimos ocorrem em espaços obedecendo às técnicas de
alinhamento e espaçamento agronômico entre espécies e variedades, o que vem
a caracterizar o plantio numa racionalidade de organização das espécies, de
maneira a utilizar melhor os espaços numa combinação espacial e temporal em
acordo com o ecossistema de várzea, o ciclo produtivo e a arquitetura de cada
cultivo. Podem ser observados os seguintes cultivos:
• Cultivos Solteiros – Podem ocorrer nas áreas de várzeas baixas
ou praias ou cultivadas em tabuleiros ou balcões suspensos,
grande parte dos cultivos solteiros concentram-se nas espécies
folhosas de olerícolas, pimentas e temperos. Ocorrem nas
proximidades dos centros urbanos e das cidades como oferta de
produtos para o abastecimento do mercado hortifrutigranjeiro.
• Cultivos em Consórcio – As áreas normalmente apresentam
cultivos de hortaliças (onde cada cultivo ocupa espaço
determinado e definido).
• Cultivos em Canteiros Suspensos – Como estratégia de
diversificação e ampliação da capacidade produtiva do sistema de
produção. Destaca-se a produção de hortaliças em tabuleiros,
verificada em comunidades dos municípios de Parintins e
Oriximiná, onde são cultivadas espécies para abastecer o mercado
local como couve (Brassica oleraceae sp.), alface (Lactuca sativa
sp.), pimentão (Capsicum annuum), tomate (Lycopersicum

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 33


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esculentum), coentro (Coriandrum sativum), chicória (Erygium


foetidum), cebolinha (Allium fisculosum), pimentas diversas
(Capsicum sp.), maxixe (Cucumis anguria) entre outras. Tal
estratégia visa reproduzir as condições ideais de produção,
alternativa aos efeitos da sazonalidade das áreas de várzea, e
“criar” novos espaços para produção e elevar o “valor de uso” da
terra, sendo verificada em cerca de 50% das famílias
entrevistadas. Geralmente próximo às casas, caracteriza-se por
canteiros suspensos construídos de madeira, preenchido com solo
da várzea e esterco de gado disponíveis no local (Figura 5).
Alguns tabuleiros já vêm recebendo tratamento especial com
sistema de irrigação e cobertura com plástico para controlar
excesso de água no período das chuvas. Também se constitui, num
componente onde a mão de obra feminina é de extrema
importância.

FIGURA 4. Componente “Cultivo Solteiro” em área de várzea. Calha Solimões/AM, 2003/04.

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FIGURA 5. Cultivo em “Canteiros Suspensos” em área de várzea. Calha Solimões/AM, 2003/04.

Componente Pousio

As terras deixadas em “descanso” para recuperação após alguns anos de


produção são reconhecidas como sendo as de Pousio. Esta prática denominada
regionalmente de “descanso da terra” obedece ao senso de conservação dos
recursos naturais (vegetal e animal) para uso agrícola posterior, sendo, bastante
difundida nas áreas de várzea. A técnica de Pousio se dá para formação de
capoeiras e caracteriza-se pela ocorrência de heterogeneidade, estratificação e
organização das comunidades florísticas para a manutenção da vida. Tem como
função principal, a de reposição dos nutrientes e reconstrução da paisagem
florística nos locais utilizados para os plantios e/ou de roça.
São reconhecidas duas vertentes para a técnica do Pousio nas várzeas
regionais, conforme descrito por Noda et al. (1995). A primeira é do pousio
tradicional, praticado pelo conhecimento dos níveis de produtividade dos
plantios e/ou plantios de roça. A Segunda é a do pousio melhorado, com o
plantio de fruteiras regionais com espaçamentos amorfos e distantes para a
evitalização de arbustivas, gramíneas, etc. (Fichas de Identificação das
Unidades Amostrais da Verticalização).

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Sítio ou Quintal

A apresentação deste componente normalmente encontra-se associada às


moradias e, em muitos casos, fornece um volume de produção que é excedente
da total para o mercado (NODA e NODA, 1994). Normalmente, estão
organizados espacialmente cultivos de espécies arbóreas, arbustivas e
herbáceas de valoração utilitária (NODA, 2000) em:

• Alimentar: valor atribuído pela disponibilidade das espécies como


fonte de alimentos para os animais e os seres humanos.
• Medicinal: valor atribuído às espécies em relação à
disponibilidade em obter-se extratos utilizados na medicina
popular regional;
• Madeira: valor atribuído às espécies em relação ao uso em
construções de moradias, dos equipamentos comunitários, de
casas de farinha e cercados para os animais;
• Ornamental: valor agregado às espécies pela satisfação da
sensibilidade estética, da contemplação e do senso de beleza;
• Outros: onde estão incluídas as categorias artesanato; veneno; e
calafeto.

Extrativismo Vegetal

As atividades são realizadas obedecendo ao senso de utilização e


valoração utilitárias com processos de conservação baseados na
economicidade. As atividades extrativas são realizadas na floresta que constitui
um elemento permanente da paisagem. Os produtos extraídos são alimentos,
condimentos, remédios, aromáticos, gomas e fibras. O uso das áreas florestadas
se dá de maneira a compor o esquema de produção em sistema agroflorestal. O
extrativismo vegetal é uma atividade historicamente executada tanto por
agricultores familiares como por latifundiários tradicionais e empresas
familiares. Grande parte dos produtos extraídos participa de cadeias produtivas
específicas como as da madeira de lei, castanha, açaí e óleos essenciais cujas
funções são reguladas pelo avanço das relações comerciais de exportação.
O extrativismo de madeira tem a dupla função de ser para a
comercialização e obtenção de recursos monetários (manutenção das famílias,
compra de equipamentos e produtos industrializados) e para construção

36 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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(moradia, canoa, escola, igreja, “casas de farinha” – fornos para torrefação de


farinha de mandioca).
O extrativismo nas várzeas está vinculado a um sistema de
comercialização, através de financiamento de atravessadores, montado por
exportadores. Vários produtores são financiados pelo exportador, antes do
período da safra principalmente, a da castanha-do-Brasil, cuja safra dá-se no
período de abril a junho. O açaí, cujo período de safra coincide com o da
castanha, tem um amplo consumo, pelas próprias famílias dos produtores, sendo
a outra parte comercializada através dos atravessadores, intermediários, etc.

Extrativismo Animal

Dois importantes subcomponentes nas várzeas representam o


extrativismo animal, cujas práticas estão muito presentes no dia-a-dia de
agricultores e extratores; a caça e a pesca.
A carne de caça é o alimento protéico, depois do peixe, mais importante
para a população nas várzeas e atualmente nas áreas urbanas pelo hábito
alimentar oriundo dessas localidades, dado o processo de circulariedade
cultural pela migração espacial e setorial e pelo comércio regional, apesar da
ilegalidade do consumo urbano das espécies de caça.
Nas maiores cidades, o comércio de animais oriundos da caça é
executado ilicitamente, mas é do conhecimento público a oferta irregular,
porém, constante de produtos oriundos da caça, principalmente os quelônios
como iguaria do hábito alimentar característico da cultura amazônica. Muitas
são as cerimônias ilustres e importantes realizadas por famílias tradicionais,
políticos, profissionais liberais e membros da sociedade local, onde espécies de
quelônios são oferecidas numa variedade de pratos que chega até quatro formas
de apresentação (sarapatel, assado, guisado e a farofa).
A caça é praticada nas áreas de floresta não somente da propriedade,
mas, também, em áreas adjacentes. É explorada tanto nos ambientes de terra-
firme como nas várzeas, sendo que quase a totalidade dos animais caçados são
para autoconsumo, havendo, esporadicamente, comercialização do excedente.
Há, porém, a prática crescente de incentivar a caça por comerciantes,
tradicionais compradores desses animais, nas sedes dos municípios. Outro
público consumidor e fornecedor de animais oriundos da caça são os atores
sociais envolvidos nas atividades de turismo (restaurantes e hotéis) e no
comércio de carnes exóticas.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 37


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Os animais com maior participação na atividade são o tatu (Dasypus sp.), o


pato-do-mato (Cairina Moschata) e a paca (Agouti paca). Outras espécies de
animais silvestres como capivara (Hidrochaeris capivara), cutia (Dasyprocta
aguti) e jacaré (Melanosuchus niger) foram mencionados com menores valores de
ocorrência e localidades, porém, manifestando valores significativos sobre a
participação da caça na alimentação dos agricultores.
Importante observar a necessidade de medidas severas e sérias quanto ao
extrativismo animal. Não bastam somente medidas repressivas e fiscalizatórias
quando se tem como componente na cadeia produtiva atores da indústria do
turismo e o hábito alimentar, o assunto merece propostas mais sérias,
principalmente como estratégias de compensação pelo incentivo à criação de
animais silvestres e conservação das matas, em grande escala, organizados pelos
poderes municipais. A pesca é realizada no conjunto da bacia hidrográfica, dando-
se preferência, dependendo do período do ano, ao rio principal, igarapés ou lagos.
O extrativismo, na sua versão animal, tem na pesca a sua principal manifestação
social e cultural.
A pesca é uma prática que vem sendo desenvolvida nas várzeas dos Estados
do Amazonas e Pará por séculos, pelos moradores de diferentes etnias e os
mestiços que vêm ocupando predominantemente as margens dos cursos-d’água,
sempre observando os hábitos tradicionais da pesca, aprimorando os utensílios e
adequando-os às suas necessidades de maior produção por tempo disponível à
atividade.
Atualmente, vem ocorrendo fricção entre grupos de pessoas pertencentes às
sociedades locais, principalmente quando o acesso aos recursos pesqueiros é
coletivo e se tem uma situação de abundância de pescado, porém, quando os
recursos estão escassos, por motivo de perda ou transformações de habitats, ocorre
mobilização política e social. As desconexões são, principalmente, na pesca de
peixes de grande porte e elevado valor econômico e no conseqüente aumento de
pessoas dedicando-se a essa modalidade de extrativismo. Nas sociedades locais
observadas, essas práticas impuseram a necessidade de mecanismos de defesa,
muitos dos quais em acordo com os limites reconhecidos como privados e
essenciais à reprodução cultural, mas também à sobrevivência e reprodução
biológica.
As espécies mais freqüentemente mencionadas nas entrevistas foram:
pirarucu (Arapaima gigas), matrinchã (Brycon sp.), tucunaré (Cichla sp.),
tambaqui (Colosssoma macropomum), traíra (Hoplias malabaricus), aracu
(Leporinus fasciatus), pacu (Mylossoma sp), aruanã e sulamba (Osteoglossum

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bicirhosum), pescada (Plagioscion sp.), curimatã (Prochilodus nigricans), surubim


(Pseudoplatystoma fasciatum), jaraqui (Semaprochilodus sp.), piranha
(Serrasalmus eigenmanni) e sardinha (Triportheus sp.).
Nas sociedades locais a pesca artesanal de pequena escala é uma das
principais atividades econômicas dos agricultores familiares, podendo ser
acompanhada e complementada pela atividade agrícola na obtenção de renda
monetária.
Na calha do Solimões-Amazonas, em todo o seu comprimento, foram
encontrados pescadores comerciais e/ou donos de embarcação responsáveis, na
atualidade, por grande parte dos conflitos com os pescadores artesanais pelo acesso
aos ambientes lóticos de pesca na confluência de igarapés com o canal principal do
rio. São os atores sociais representantes da função comercial na cadeia produtiva da
pesca que contratam serviços e trabalhadores e disputam o direito de colocar seus
equipamentos de pesca (malhadeiras) nas proximidades das desembocaduras dos
igarapés para capturar os cardumes que migram dos lagos para o rio. Outro
importante representante da função comercial são os donos de peixarias,
supermercados e comerciantes urbanos de feiras ou mercados municipais. São os
denominados proprietários das “Peixarias” que atuam como armadores de pesca e
que também são responsáveis pela exportação do pescado para outras regiões do país.
A comercialização de grande parte do pescado desembarcado nas sedes dos
municípios é negociada por grupos de pequenos empresários familiares do setor,
principalmente aqueles que possuem a concessão de “pedras” nos mercados e
feiras municipais. Existem comerciantes compradores da produção de pescadores
individuais rurais e urbanos com quem mantêm uma relação de clientela.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
DOS COMPONENTES EM PECUÁRIA

A contextualização da atual situação da Pecuária e de seu uso e manejo


dos solos foi realizada a partir do enfoque produtivo onde os componentes mais
característicos permitem ter-se uma visão horizontalizada de seu
comportamento nas várzeas regionais. Os componentes principais podem ser
divididos em dois grandes grupos:

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 39


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Animais de Pequeno Porte

Na atualidade produtiva das várzeas, a pecuária de animais de pequeno


porte tem dupla significância. Muitas são as atividades participantes das redes
produtivas e comerciais ligadas à cadeia produtiva de aves, ovos e carne de
caprinos e ovinos para o abastecimento de centros urbanos e as atividades
criatórias nos sítios dos agricultores familiares, que lançam mão dessa
atividade como complementação alimentar e de renda eventual.
As formas de produção normalmente utilizam animais de pequeno porte
(aves, suínos e caprinos) quando empresariais familiares, através de processos
técnicos de confinamento. Os animais são alimentados com ração balanceada,
exigindo instalações especializadas com construções específicas e, passando
pelos processos de manutenção assemelhados aos de criação bovina nos
períodos das cheias dos rios.
Em conformidade aos preceitos técnicos, essas criações localizam-se
mais próximas aos centros urbanos para minimizar a influência dos fatores
estruturais como o isolamento dos produtores dos mercados consumidores, as
dificuldades de transporte e de conservação dos produtos, a falta de energia,
dificuldade de acesso aos insumos, dentre outras.
As aves são criadas em granjas com equipamentos (gaiolas, comedouros,
incubadoras, etc.) diferenciados por ser no regime intensivo a criação, pois se
destina ao comércio de frango regional, muitas vezes mais valorizado
monetariamente, bem como ao fornecimento de ovos nas cidades de pequeno,
médio e grande porte. Praticamente quase todas as sedes dos municípios
estudados possuem produção de ovos, sendo pouco o abastecimento advindo
de importação de outras localidades.
As formas de produção, quando alocadas nas agriculturas familiares,
diferenciam-se no manejo dos animais. Geralmente, os mesmos são
alimentados com restos de alimentos das refeições familiares, ração, milho,
frutas caídas no chão e processamento de produtos (crueira, da farinha de
mandioca). A criação destes animais é considerada como alternativa alimentar
na época da cheia onde o peixe fica mais escasso.
As aves são criadas soltas (produção extensiva tradicional) para
consumo porque há dificuldades na obtenção de ração e/ou outros alimentos.
Nos períodos de cheia dos rios, esses animais, às vezes são levados para terra-
firme, podendo ainda ser vendidos ou presos em maromba. Geralmente, as

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instalações são o puleiro (pode até ser o galho de uma árvore) ou o galinheiro,
que servem para os animais passarem a noite.
Os animais de pequeno porte costumam ser um componente importante
do sistema de produção familiar. Além da função alimentar, os mesmos podem
funcionar como uma espécie de ativo facilmente mobilizável para satisfazer
necessidades imediatas, principalmente nas situações de dificuldade, através da
venda ou de outra relação de troca simples.
A criação de aves caracteriza-se por ser doméstica e é realizada nas áreas
de sítios, terreiros e/ou quintais dos agricultores familiares. Nestas áreas ocorre
normalmente a presença de galinhas e patos. Não consta nas informações sobre
a comercialização dos animais de pequeno porte que haja contribuição para a
formação de renda monetária.

Animais de Grande Porte

Nos estabelecimentos empresariais familiares e fazendas, a produção de


animais de grande porte caracteriza-se pela criação de bovinos e bubalinos para
fornecimento e participação nas cadeias produtivas de corte e leite. As formas,
de produção apresentam-se como sendo a atividade da pecuária a principal,
sendo reduzida a área agrícola e a atividade extrativa pela conversão de
significativas parcelas de terras em pastagens. A principal alimentação dos
animais é o capim, que pode ser plantado ou natural. As áreas de capim
plantadas são pequenas, sendo a maior parte natural.
Nessas formas de produção o leite é vendido ou transformado nos próprios
estabelecimentos, tomando-se um cuidado maior com a qualidade e a sanidade
do rebanho. A unidade familiar administra as atividades e parte da venda dos
garrotes é aplicada no processo produtivo e na contratação de mão de obra
assalariada. Neste caso, as fazendas especializadas na criação de bovinos e
bubalinos concentram a maior parte dos rebanhos regionais de várzeas,
principalmente nos municípios do Careiro da Várzea, Itacoatiara, Parintins,
Oriximiná e Santarém. Quando ocorrem outras atividades estas estão afetas à
criação de animais de pequeno porte e desempenham funções acessórias e
complementares à produção bovina e bubalina. É o caso da suinocultura,
aproveitando o soro do leite, a ovinocultura e caprinocultura, que se utilizam das
mesmas pastagens que o gado, e a produção de milho para alimentação animal.
As fazendas de gado são estabelecimentos heterogêneos no que se refere
ao caráter da atividade da pecuária e ao grau de tecnologia adotado.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 41


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Normalmente, são moradores nas sedes dos municípios e integram-se a outras


atividades da cadeia produtiva da pecuária e em outros setores da economia.
As áreas dos agricultores familiares com pasto plantado caracterizam-se por
não haver preparo da área, sendo o capim plantado ou replantado onde ocorreu
enchente com cobertura total do terreno. Normalmente, o capim utilizado é o
“brizante” (Brachearia brizanta) introduzido, porém, adaptado à região.
A criação de gado caracteriza-se por ser uma atividade que aproveita os
campos naturais no período em que as terras não se encontram alagadas com a
transferência dos animais para área de terra-firme no período de subida das águas.
Os agricultores familiares possuem plantel constituído basicamente de gado bovino,
mais adequado ao sistema agroflorestal, tendo em vista que o gado bubalino provoca
profundas alterações no sistema natural e de produção. O número médio de animais
por família é bastante reduzido, daí a atividade assumir, na visão dos produtores, um
caráter de “poupança”, principalmente por apresentar alta liquidez. Nas situações de
emergência, a família consegue colocar com facilidade o produto no mercado,
gerando a renda monetária necessária para a situação.
A manifestação quase que unânime das famílias entrevistadas quanto aos
prejuízos que os agricultores familiares vêm tendo com os “estragos” resultantes da
presença de grandes criadores de búfalos nas proximidades é um fato marcante e
de grande preocupação. A queda da produção pesqueira e a perda de produção nas
roças e sítios, por ação desses animais, foram outros problemas apontados.
Entretanto, algumas localidades têm conseguido, por meio de organizações
apoiadas por instituições governamentais e não-governamentais, reduzir o
problema.
Geralmente, os agricultores familiares cercam uma área do terreno onde
fica a casa e o sítio. Em espaço de terreno contíguo existe uma área comum
em que o gado de todos os comunitários pasta junto. O sal é utilizado na
complementação alimentar do animal, sendo a raça predominante a mestiça,
onde não ocorre controle sobre a reprodução dos animais. Não existe um
reprodutor por proprietário ou programação de época de cobertura das vacas.
O gado bovino é criado para o consumo e como fonte de renda onde o
senso predominante é o de funcionar como “poupança”. Os animais são
criados soltos, ocorrendo por vezes a instalação de curral, sendo seus resíduos
(esterco) utilizados no cultivo de hortaliças. Na época da cheia, na grande
maioria, são levados para áreas alugadas em terrenos de terra-firme. Pode
ocorrer sociedade na criação do gado bovino, onde somente o lucro é dividido
entre os sócios e se houver perdas, estas recaem sobre o criador. Por isso, os

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criadores fazem o possível para reproduzir o gado. O dístico de agricultor


familiar representa de maneira os tratos e o manejo extensivo do gado bovino,
sem controle técnico ou preocupação técnica com o pasto e a reprodução do
plantel.

O PRINCIPAL DO SISTEMA ECONÔMICO E DA


SUSTENTABILIDADE REGIONAL
Os dados disponíveis de produção agropecuária de várzea sobre a calha
do Solimões-Amazonas são bastante escassos. Quando existentes não
consideram as diferenças em nível de microrregião o que pode comprometer
qualquer iniciativa de proposição de políticas públicas adequadas. Daí o motivo
que levou à aplicação de estratégias que pudessem estabelecer, a partir de
banco de dados de campo, uma estratificação dos sistemas de produção
presentes no espaço em questão.
A diversidade de produtos originados da produção agropecuária em
áreas de várzea é um importante fator que garante a sustentabilidade dos
sistemas de produção nestes espaços. As incertezas resultantes das condições
de mercado (preço e demanda) bem como das variações sofridas na produção
em função das condições ambientais (enchente, seca, problemas
fitossanitários...) levam à manutenção desta diversidade, favorecendo a
adaptabilidade do sistema a estas perturbações. Daí o porquê, da tendência por
produtos que garantam, inicialmente, a auto-suficiência da família.
Os dados referentes à importância qualitativa que cada componente do
sistema de produção assume, quanto aos aspectos de auto-suficiência e
sustentabilidade familiar (consumo e troca) e de produção agrícola e extrativa
comercial (venda) nas Microrregiões estabelecidas para análise, reforçam esta
tendência. A freqüência relativa da manifestação oral dos informantes
entrevistados (Figuras 6, 7, 8, 9, 10 e 11) indica certo padrão para boa parte da
calha do Solimões-Amazonas, tendo os componentes roça, cultivo e pesca
como principais na produção para consumo e troca, com exceção para a
microrregião 6, onde o ecossistema com influência diária da maré, dificulta o
acesso a áreas adequadas ao cultivo de grande parte das espécies cultivadas.
Neste caso específico, apenas a pesca é comum aos demais, ressaltando-se
também o componente sítio. Já os demais componentes assumem grau de
importância diferenciado em cada microrregião.

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Freqüência Relativa

FIGURA 6. Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 1 (Benjamin Constant;
Tabatinga, São Paulo de Olivença e Atalaia do Norte), 2003/04.

A importância que cada componente representa na geração de renda


monetária também parece acompanhar a análise anterior. Entretanto, alguns
componentes destacam-se por apresentarem maior freqüência para a finalidade
"venda", como é o caso da criação de animais de grande porte (bovino e
bubalino), cultivo de hortaliças em tabuleiros, extração vegetal madeirável e
não-madeirável e pesca. O primeiro ocorre em praticamente todas as
microrregiões, assumindo papel de poupança no caso de pequenos criadores,
em função da alta liquidez. Já o extrativismo vegetal e pesca, estão associados
à disponibilidade do recurso e a existência de uma rede de comercialização
estruturada. Já a produção de hortaliças em tabuleiros corresponde a uma
estratégia adaptativa voltada a atender uma demanda específica.
De um modo geral, pode-se observar a tendência de retorno ao sistema
diversificado daqueles produtores que, principalmente por estímulo do
governo, se especializaram em determinadas atividades produtivas, com
destaque ao extrativismo vegetal e animal. A especialização levou, na maioria
das vezes, a uma redução do estoque do recurso e a uma redução do nível de
auto-sustentabilidade do produtor.

44 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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Freqüência Relativa

FIGURA 7. Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 2 (Alvarães, Maraã,
Tefé e Coari), 2003/04.
Freqüência Relativa

FIGURA 8. Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 3 (Manacapuru, Careiro
da Várzea e Iranduba), 2003/04.

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Freqüência Relativa

Figura 9. Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 4 (Itacoatiara e Silves),
2003/04.
Freqüência Relativa

FIGURA 10. Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 5 (Parintins, Óbidos,
Oriximiná e Santarém), 2003/04.

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Freqüência Relativa

Figura 11. Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 6 (Gurupá), 2003/04.

A organização social e espacial da produção nos sistemas de produção


na várzea sofre a influência de diversos fatores. O estudo identificou 28
variáveis que interferem nesses sistemas, registrados em forma de freqüência
relativa de manifestações dos informantes ao longo da calha, com destaque
para: o acesso à terra; assistência técnica; conflito social; efeito das enchentes;
baixo estoque de recursos naturais; disponibilidade de insumos; ação do
intermediário; efeito da seca; disponibilidade de mão-de-obra; mercado para o
produto; problemas de sanidade animal e vegetal; preço do produto;
financiamento da produção; condições do solo.
A análise de componentes principais e a análise de agrupamento foram
utilizadas como instrumentos de definição de zonas homogêneas a partir de
critérios socioeconômicos, de sorte a definir problemáticas específicas de cada
microrregião, o que possibilita subsidiar políticas públicas nos níveis regional
e municipal, considerando as limitações e potencialidades de cada
microrregião.
Por meio da análise de componentes principais foram extraídos os
fatores que refletissem as interferências, principalmente externas, que mais
afetam o sistema de produção na área de estudo. A análise foi realizada
inicialmente por microrregião onde foram efetivamente empregadas apenas as

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 47


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variáveis que apresentaram autovalores superiores a 0,7, conforme critério


adotado por Jolliffe (1986).
A análise de agrupamento discriminou para a microrregião 1 – Alto Rio
Solimões – a formação de três grupos (Figura 12). O primeiro, formado pelos
componentes (1) criação de animais de grande porte, (9) sítio, (3) cultivo e (10)
hortaliças no sítio, sofre grande influência da variável "preço". Na região do
Alto Solimões é constante a influência do preço de produtos procedentes do
Peru e Colômbia.
Outra característica local que afeta o preço de produtos do sítio,
principalmente frutos (cupuaçu, abiu, sapota, mapati...) é a grande oferta destes
produtos "in natura" para uma demanda bastante reduzida e a falta de
condições para o beneficiamento local dos produtos. Apesar das alternativas de
mercado, Benjamin Constant, Tabatinga e Letícia, a sazonalidade característica
de produtos como melancia, milho e macaxeira, acarreta uma oferta superior à
demanda local, forçando uma queda no preço do produto. Com a deficiência do
sistema regional de transporte e escoamento da produção, o preço elevado do
frete e o nível de organização mais elevado das redes de comercialização
quando comparado ao dos produtores rurais da região, grande parte desta
produção nem chega ao mercado, gerando elevada taxa de perda para o
produtor. A variável ambiental "enchente" também constitui-se um dificultador
para a produção local. Em função desta caracterísitica, algumas variedades de
espécies vegetais foram localmente desenvolvidas para melhor adaptarem-se
aos regimes das águas.
O grupo 2, formado pelos componentes resultantes das atividades
extrativistas (2) caça, (4) exploração de madeira, (7) pesca e (5) extração
vegetal, tem na variável redução e distanciamento do estoque de recursos
naturais como principais influências. A forte pressão sobre os recursos naturais
é resultante, em grande parte, pela fragilidade da fronteira com outros dois
países. A exportação clandestina de peixes para a Colômbia e a atuação, no
Brasil, de agentes de madeireiras localizadas em território Peruano, vêm
provocando a continuidade da sobreexploração desses recursos. Outra espécie
vegetal bastante procurada por atravessadores é o camu-camu, produto
exclusivamente de origem extrativista.

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FIGURA 12. Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 1, tendo por base as variáveis que
interferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e Distância
Euclediana).

As diferenças existentes nas legislações ambientais dos três países


fronteiriços vêm desencadeando descontentamento da população residente em
território Brasileiro, que sentem-se desfavorecidos, o que muitas vezes resulta
em descomprimento à lei e envolvimento em redes de exploração e comércio
ilegal de produtos extrativistas. Em função da proximidade das sedes dos
municípios e da concentração da população ribeirinha, a fauna vem se
distanciando cada vez mais, prejudicando a caça de subsistência nas
comunidades. Algumas iniciativas puderam ser verificadas na microrregião
como tentativas de reverter o atual quadro. Como exemplo, vale destacar a
criação de animais silvestres e a revitalização de áreas de mata e capoeira
próximas às comunidades com espécies atrativas da caça.
O grupo 3, formado pelos componentes (6) criação de animais de
pequeno porte e (8) roça, apresenta como principal variável de interferência os
aspectos de sanidade (animal e vegetal), que por sua vez, também está
fortemente relacionada com o período das chuvas intensas e subida das águas.
Apesar do preço ter um peso expressivo para o componente roça, o mesmo não
ocorre para o outro componente, tendo em vista que o mesmo se destina mais
para consumo da família.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 49


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Na microrregião 2 – Médio Rio Solimões – foi possível verificar a


formação de dois grupos (Figura 13). O primeiro, composto por um grande
número de componentes, (2) caça, (10) cultivo de hortaliças no sítio, (4)
exploração de madeira, (5) extração vegetal, (3) cultivo e (11) cultivo em
tabuleiros. É altamente influenciado pela variável distância, que para caça e
extração vegetal e de madeira, relaciona-se com a disponibilidade do recurso,
já para os demais representa a dificuldade de acesso à água no período de seca.
Como na microrregião anterior, no grupo 2 composto pelos componentes
(7) pesca e (9) sítio, o nível de organização das redes de comercialização locais
também desfavorecem os produtores quando do momento de comercialização da
produção. A desvantagem nas negociações e a falta de alternativas de mercado,
refletem no preço final do produto, chegando a atingir níveis onde nem mesmo o
trabalho é devidamente remunerado. O transporte da produção também
representa um fator limitante comum a estes componentes, e contribuem para a
situação de desvantagem mencionada anteriormente. Apesar de não constituirem
um grupo pelo nível de similaridade adotado, os componentes (8) roça e (6)
criação de animais de pequeno porte, foram os que totalizaram as maiores
freqüências relativas de dificuldades, com destaque para o efeito das enchentes,
predadores, indisponibilidade de insumos e recursos financeiros e preço.

FIGURA 13. Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 2, tendo por base as variáveis que
interferem no processo de produção, expressas em frequência relativa. (Método de Ligações Completas e Distância
Euclediana).

50 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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Na microrregião 3 – Baixo Rio Solimões – pode-se observar a formação


de dois grupos, ficando isolados os componentes (7) pesca, (3) cultivo e (8)
roça (Figura 14). O grupo 1, formado pelos componentes (1) criação de
animais de grande porte e (9) sítio, apresentaram como variáveis que mais
influenciaram o efeito das enchentes e o conflito social. A subida das águas
limita a área disponível tanto para criação de gado como para cultivo de
espécies perenes (no sítio). O conflito social é resultante da competição por
espaço, já que o gado causa danos às espécies cultivadas nas áreas de sítios e
de roça. Quando este dano ocorre em áreas vizinhas geram-se conflitos que são
freqüentes na microrregião.
O grupo 2, formado pelos componentes (2) caça, (4) extração de
madeira, (5) extração vegetal, (6) criação de animais de pequeno porte e (10)
hortaliças do sítio, caracteriza-se por componentes de menor expressão em
termos de produção tanto para consumo como para venda na microrregião.
Dois subgrupos podem ser verificados ainda, um determinado pela distância
cada vez maior do recurso (caça e extração), e o outro pela limitação de área e
falta de assistência técnica (criação de animais de pequeno porte e produção de
hortaliças nos sítios).

FIGURA 14. Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 3, tendo por base as variáveis que
interferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e Distância
Euclediana).

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Os componentes (3) cultivo e (8) roça, que não se agruparam aos demais,
representam as principais atividades de geração de renda na microrregião,
abastecendo a sede de importantes centros urbanos do Estado (Manaus,
Manacapuru e Iranduba). Em função da importância que assumem,
apresentaram as maiores totalizações para a freqüência relativa das variáveis
identificadas.
Para a microrregião 4 – Médio Rio Amazonas – o grupo 1, formado
pelos componentes (2) criação de animais de grande porte, (3) caça, (5)
extração de madeira e (8) pesca, sofrem influência com maior intensidade das
variáveis conflito social e transporte, principalmente em relação à criação de
animais de grande porte e pesca (Figura 15). Já o grupo formado por (4) cultivo
e (10) sítio apresenta como limitações comuns a necessidade de recursos
financeiros, preço do produto e mercado, além de aspectos de sanidade vegetal.
Ressalta-se que as justificativas para estas variáveis são, em grande parte, as
mesmas apresentadas nas microrregiões anteriores.

FIGURA 15. Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 4, tendo por base as variáveis que
interferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e Distância
Euclediana).

52 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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No caso da microrregião 5 – Médio Rio Amazonas – os componentes


(10) sítio e (11) cultivo de hortaliças em sítios, agrupados em 2, sofrem forte
influência das variáveis relacionadas ao ambiente (enchente, seca, invasoras,
pragas e doenças) que exigem mais do manejo (Figura 16). Entretanto fatores
como mão-de-obra, preço, mercado, transporte, necessidade de insumos e
acesso à terra também são determinantes no agrupamento. Já o grupo 1,
formado por (2) criação de animais de grande porte, (6) caça, (3) extração de
madeira, (5) extração vegetal e (12) cultivo em tabuleiros, apresenta a distância
como variável comum, seja no sentido de acesso ao recurso ou à água para
irrigação. O transporte é responsável pela maior similaridade entre os
componentes criação de animais de grande porte e caça, já a redução do
estoque de recursos é responsável pela similaridade entre extração de madeira
e extração vegetal.

.
FIGURA 16. Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 5, tendo por base as variáveis que
interferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e Distância
Euclediana).

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 53


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Na microrrerião do Estuário (Figura 17), o Grupo 1 está formado pelos


componentes (1) caça, (2) cultivo, (9) cultivo de hortaliças em sítios, (3) exploração
de madeira e (4) extração vegetal, e tem as variáveis distância do mercado, custo do
transporte, preço do produto e mercado como dificuldades comuns. A alternativa de
mercado é bastante limitada pela distância dos centros consumidores, se restringindo
a poucos compradores que determinam o preço do produto, principalmente daqueles
de maior expressão local, como o palmito e fruto de açaí e a madeira.
Já o Grupo 2, formado por (7) roça e (8) sítio, apresenta as variáveis
mão-de-obra e recurso financeiro como principais fatores limitantes, além das
plantas invasoras que tornam o processo ainda mais exigente de mão-de-obra.
Grupo 3, formado pelos componentes (5) criação de animais de pequeno porte
e (6) pesca se assemelham pela necessidade de insumos e, conseqüentemente,
mais recursos financeiros. O camarão é o principal produto da atividade
pesqueira. Várias famílias dependem da atividade para gerar renda monetária.
Entretanto, o produto utilizado como isca na captura do camarão (farinha de
babaçu) é importado do Maranhão representando o principal custo da
atividade. A limitação de terras adequadas para o cultivo de algumas espécies
para alimentação de animais de pequeno porte também força esta necessidade
de maior investimento para o desenvolvimento da atividade. O manejo desses
animais também é dificultado pelas características ambientais da região.

FIGURA 17. Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 6, tendo por base as variáveis que
interferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e Distância
Euclediana).

54 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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A variável ambiente (inundação diária das terras) representa um fator


limitante para as atividades (2) cultivo, (5) criação de animais de pequeno
porte, (7) roça, (8) sítio e (9) cultivo de hortaliças nos sítios, exigindo dos
produtores maiores gastos com alimentação básica. Já a dificuldade de
transporte e o preço do frete, forçam o produtor a comercializar a produção no
próprio local, tornando-o ainda mais dependente dos agentes de
comercialização local.

O SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS DA


AGRICULTURA, EXTRATIVISMO E PECUÁRIA

O sistema de comercialização se estabelece a partir de relações de


contato com os centros urbanos e as grandes cidades localizadas próximo das
áreas das várzeas na calha do Solimões-Amazonas. O mercado local está
organizado através de relações estabelecidas para reter e selecionar o excedente
produzido nas sociedades locais.
Na circulação dos produtos de origem agroflorestal, através das relações
entre compradores-comerciantes e produtores-vendedores, ocorre o processo
de comercialização nos espaços de feira, beira dos rios, mercados municipais e
comércios diversos. Os primeiros vendem produtos como farinha, frutas,
hortaliças, etc., de forma a terem dinheiro para comprar mercadorias não
produzidas nas sociedades locais, mas necessárias ao consumo das famílias.
Os produtores levam suas mercadorias no mercado urbano e aí compram
os produtos para complementar suas necessidades criadas a partir das relações
de contato comercial. Os principais atores sociais que participam do processo
de comercialização, que podem ser denominados genericamente de
intermediários, encontram-se em diferentes locais, sendo os principais as
beiras dos rios nas moradias dos produtores, os portos, as feiras e mercados e
em constante movimento em suas embarcações fluviais. Uma característica
interessante no volume de negócios oriundos da comercialização dos produtos
são os locais de concentração de venda.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 55


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TABELA 2. Principais locais de venda dos produtos nas microrregiões estudadas.


Estados do Amazonas e Pará. Brasil. 2003/4.
REGIÕES (%)
Local de Vendas
N= 25 Alto Rio Médio Rio Baixo Rio Médio Rio Baixo Rio Total
Estuário
Solimões Solimões Solimões Amazonas Amazonas Geral

Áreas de Produção 2,3 11,0 41,4 5,3 23,9 91,7 28,7

Áreas de Produção
3,0 0,0 0,0 12,0 4,6 8,3 3,9
e Sede

Sede Mercado ou Beira 94,7 89,0 58,6 82,7 71,5 0,0 67,4

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Na Tabela 1, os dados mostram os locais de venda, conforme as


informações obtidas, concentrados nas sedes dos municípios com a média de
67,4 % e nas proximidades das áreas de produção e moradia dos agricultores
com a média de 28,7%. Esse fato deve-se, em grande parte, pela presença dos
intermediários (marreteiros, atravessadores e marchantes) com características
de atuação profissional próximo aos seus fregueses.

OS TIPOS DE AGENTES DE COMERCIALIZAÇÃO

A tipologia aproximada dos agentes de comercialização compradores


nas cidades e/ou que têm contatos com os agricultores, a partir das entrevistas,
aponta como os principais para os produtos oriundos da Agricultura, do
Extrativismo e da Pecuária, por ordem de importância de ocorrência nas
citações, os intermediários (42,6%) e os marreteiros (23,3%) ( Figura 18) é
importante observar que percentuais assemelhados para consumidor direto e
patrão, este último remanescente da época dos plantios de fibras e produtos do
extrativismo como madeira. Juntando-se os dados de consumidor e associação
infere-se que o nível de organização social para a comercialização ainda é
baixo.

56 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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FIGURA 18. Participação relativa dos principais tipos de compradores mencionados nas áreas pesquisadas nos
Estados do Amazonas e do Pará. Brasil, 2003/4.

O papel de importância dado ao intermediário é por, normalmente, ser o


dono do meio de transporte usado para movimentar os produtos a serem
comercializados numa relação com práticas diferentes, dependendo do volume
de recursos financeiros que possui e do grau de confiança dos produtores,
adquirido após vários anos de atuação local. Nas sociedades locais trabalhadas
existe um intenso tráfego de embarcações cuja função social é a de intermediar
o processo de comercialização através de viagens.
A malha de tipos de compradores (comerciantes intermediários) é um
componente forte para a não percepção, por parte dos agricultores, sobre o
processo de apropriação dos seus excedentes gerados na produção. Assim,
como também, a não identificação da participação do capital industrial na
região pesquisada. O capital comercial, enquanto promotor da circulação das
mercadorias no esquema definido pela apropriação dos excedentes, é o
responsável pela posição resultante da sua articulação com o capital industrial
em seu movimento de acumulação e concentração.
Órgãos governamentais de comercialização que atuam no mercado de
produtos para compra e armazenamento têm pouca relevância na intervenção
do processo de comercialização nas áreas pesquisadas, a não ser, órgãos
ligados à assistência técnica que se encontram em fase de rearticulação nos
municípios do Estado do Amazonas.
A aproximação entre as áreas de produção e os centros urbanos é um
fator de grande importância, mesmo nas áreas de várzeas, onde há

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 57


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disponibilidade de meios fluviais de escoamento da produção. A questão é que


os produtores de localidades mais distantes e com menores alternativas nas
condições de acesso aos centros comerciais, têm maiores gastos com o item
transporte para a comercialização, constituindo-se um fator de limitação.
Os principais produtos que participam das redes de comercialização
podem ser observados nas tabelas 3 e 4. Na tabela 3, os principais percentuais
estão para as hortaliças (32,6%) e as frutas (29,5%). Observa-se na tabela 4,
que as espécies cultivadas mais mencionadas foram: banana (Musa sp.), couve
(Brassica Oleracea var. acephala), cacau (Theobroma cacao), limão (Citrus
sp.) e melancia (Citrullus vulgaris), com freqüências superiores a 10%.

TABELA 3. Participação relativa dos principais produtos comercializados mencionados nas localidades pelos
agricultores. Estado do Amazonas e Estado do Pará. Brasil, 2003/4.
Região (%)
Produtos Alto Rio Médio Rio Baixo Rio Médio Rio Baixo Rio Total
Estuário
Solimões Solimões Solimões Amazonas Amazonas Global
Artesanato 0,0 0,0 0,0 0,0 2,4 0,0 0,8
Carne 0,0 0,0 0,0 0,0 14,3 8,3 5,4
Coleta e extração 0,0 5,0 0,0 0,0 0,0 16,7 2,3
Extração 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 8,3 0,8
Farinha 16,7 10,0 3,4 0,0 0,0 0,0 3,1
Fibra 0,0 5,0 0,0 0,0 4,8 0,0 2,3
Fruta 33,3 30,0 55,2 25,0 9,5 41,7 29,5
Galinha 0,0 0,0 0,0 0,0 4,8 0,0 1,6
Grãos 16,7 5,0 10,3 10,0 4,8 0,0 7,0
Hortaliça 0,0 35,0 20,7 50,0 45,2 0,0 32,6
Macaxeira 0,0 0,0 3,4 5,0 0,0 0,0 1,6
Medicinal 0,0 0,0 3,4 5,0 2,4 0,0 2,3
Ovos 0,0 0,0 0,0 5,0 0,0 0,0 0,8
Pescado 33,3 10,0 3,4 0,0 9,5 16,7 8,5
Queijo 0,0 0,0 0,0 0,0 2,4 8,3 1,6

58 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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TABELA 4. Participação relativa das principais espécies comercializadas mencionadas nas localidades pelos
agricultores. Estados do Amazonas e Pará. Brasil, 2003/4.
ESPÉCIE CULTIVADA (%) ESPÉCIE CULTIVADA (%)
Abacate 2,6 Abóbora 2,4
Açaí 2,6 Alface 4,8
Banana 18,4 Alfavaca 2,4
Cacau 10,5 Berinjela 2,4
Caju 2,6 Cariru 2,4
Coco 5,3 Cebolinha 4,8
Cupuaçu 5,3 Cheiro-verde 7,1
Goiaba 5,3 Chicória 2,4
Jenipapo 2,6 Chuchu 2,4
Limão 10,5 Coentro 2,4
Mamão 5,3 Couve 11,9
Manga 7,9 Feijão-de-corda 7,1
Maracujá 7,9 Jambu 4,8
Marimari 2,6 Jerimum 9,5
Melancia 10,5 Maxixe 9,5
Quiabo 7,1 Pepino 2,4
Repolho 4,8 Pimenta 2,4
Pimenta-de-cheiro 4,8 Pimenta-queimosa 2,4

Os produtos que compõem o item coleta e extração são o açaí-do-


Amazonas (Euterpe precatoria), açaí-do-Pará (Euterpe oleraceae), madeira
das espécies ucuúba (Virola subifera), ucuúba-preta (Virola michelii),
mulateiro (Peltogyne paniculata) e cedro (Cedrela huberi), e palmito de açaí
(Euterpe sp.) e pupunha (Bactris gasipaes).
A atuação dos agentes de intermediação é favorecida pela produtividade
do trabalho, alienada na comercialização dos produtos. Ou seja, há a produção
de excedentes pelo sobretrabalho familiar em ambiente favorável (várzeas
férteis e próximas dos centros comerciais) e frugalidade na maneira de viver
por parte dos agricultores familiares, que proporciona a partilha dos excedentes
por diferentes agentes do capital comercial.
Os consumidores são atores sociais importantes no processo de
comercialização dos produtos. Quando possível, em períodos de escassez de
certos produtos, os produtores conseguem vender seus produtos diretamente
para os consumidores urbanos nas áreas próximas aos mercados e feiras. A
venda efetivada diretamente é mais vantajosa aos produtores, porém, mais
difícil de ocorrer durante todo o ano, pois o tempo necessário de permanência

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 59


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no local de comercialização, provoca custos adicionais com despesas de estadia


e alimentação.
Algumas Prefeituras Municipais intervêm e influenciam na
comercialização dos produtos, ao participarem da organização da
comercialização nos mercados e feiras de produtores. A explicação dada, além
dos mecanismos de organização social, foi a de que o abastecimento local é
praticamente realizado, em termos de produtos alimentares perecíveis, pelos
produtores regionais impossibilitados de adquirirem equipamentos para
conservação dos alimentos.
Quanto aos tipos de compradores particulares, deve-se destacar o
comerciante local como o comprador mais importante, seguido dos
comerciantes do mercado, supermercado, barco de linha, dono de flutuante e
dono de açougue. Os intermediários denominados localmente de
“Atravessadores” têm, na atualidade, menor participação no volume dos
produtos agroflorestais comercializados. Estes intermediários deslocam-se à
guisa de intermediar a comercialização de produtos agrícolas ou de extração
florestal com seus “fregueses“. Os atravessadores especializaram-se na
comercialização de produtos com sazonalidade de produção. Este agente não
aplica seu capital, financiando, com dinheiro, os agricultores. Quando muito,
adotam um esquema de crediário que os favorece.
A extração dos excedentes através do contato mais direto com pequenos
comerciantes e com os “atravessadores” tem relativa facilidade de acesso aos
produtores, seja através de embarcações e/ou caminhões (Iranduba, Itacoatiara,
Manacapuru e Santarém).
A comercialização de pescado, em alguns locais, é incentivada pela
proximidade aos grandes centros urbanos, estimulando o surgimento de
atravessadores que vêm até às comunidades em busca da produção. Em alguns
casos, dependendo da disponibilidade de transporte, o próprio ribeirinho leva o
fruto de sua pescaria para os mercados e frigoríficos.
A relação mantida com os comunitários se dá quando estes com
embarcação própria vêem com o intuito de executarem a venda de seus
produtos nas feiras. A alocação dos comunitários nas áreas de feiras é, nos dias
de hoje, bastante restrita e a sua permanência, apesar de ser financeiramente
vantajosa para os mesmos, é diminuta.
Ligado principalmente à cadeia produtiva de gado de corte, o marchante
tem como característica principal a de ser responsável pela compra dos animais
de grande porte (gado bovino e bubalino). Muitas vezes, os marchantes são

60 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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também, produtores, ou seja, grandes pecuaristas locais por vezes associados


em cooperativa e donos dos frigoríficos que comercializam carne nessas
localidades ou importam o produto de outros Estados. Existe uma rede de
importadores e comerciantes de carne, tanto no Estado do Amazonas como no
Pará, associados a comerciantes de outras localidades e outros Estados
brasileiros.

COMPOSIÇÃO FAMILIAR DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO

Nas unidades de produção amostradas nas regiões da Calha do Rio


Solimões-Amazonas, o trabalho, a produção, o consumo, a educação, a saúde,
etc. estão organizados através de relações e redes de parentesco. A família
caracterizada pelo grupo doméstico compreende várias gerações e mesmo
parentes colaterais com os respectivos cônjuges e filhos. Grande parte das
unidades de produção tem na estrutura de famílias extensas a sua constituição
básica. Os parentes na estrutura das famílias nucleares são caracterizados pelos
cônjuges e os seus dependentes que compartilham uma moradia e, áreas de
produção e trabalho é que constituem as unidades de produção e consumo.
As famílias nucleares, enquanto unidades de produção e consumo, só se
constituem assim quando possuem as benfeitorias básicas. Em conformidade
com a cultura regional, cada família nuclear só se constitui como tal quando
possui:
Uma moradia (casa) para todos os seus membros;
Áreas para produção de fruteiras, plantios anuais e criação de animais de
pequeno porte ao redor da moradia, denominados de terreiros, sítios e/ou
quintais onde estão estruturadas as construções das casas de farinha, os locais
de abrigo dos animais e jiraus de plantios suspensos; e
Áreas para produção em roças ou roçados, plantios e criação de animais.
A unidade, com seus componentes, toma todas as decisões importantes
sobre o que, onde e de que maneira produzir e o destino da produção. Já o que
caracterizaria uma Comunidade é uma associação de unidades de produção
familiar, estreitamente vinculadas e interdependentes entre si que atuam
conjuntamente como uma unidade econômica básica.
A família nuclear ou extensa organiza o trabalho familiar nas regiões
pesquisadas sob dois “tipos” de trabalho: o trabalho utilizado na Agricultura,
Extrativismo vegetal e na Pecuária e o trabalho doméstico. A família enquanto

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 61


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unidade de consumo é que determina a quantidade e a forma – se caseira ou


não – do trabalho necessário à manutenção familiar. Desta maneira, as crianças
e os jovens do sexo masculino participam das atividades de plantio, tratos
culturais e colheita, nos processos de trabalho que utilizam técnicas
tradicionais ou não. Com o chefe da família fica a responsabilidade da
comercialização dos produtos e a socialização sobre os processos de trabalho
não caseiro. O trabalho doméstico fica a cargo da mulher (esposa), após os
trabalhos na Agricultura ou de uma filha mais velha, que prepara a alimentação
familiar e, como tarefa, cuida dos irmãos mais novos.
Nas regiões amostradas, normalmente as unidades familiares de
produção reconhecem as atividades como trabalho, enquanto o trabalho
feminino, doméstico ou não, assim como o dos filhos é considerado “ajuda”,
mesmo nas situações onde os trabalhos femininos e das crianças se dão através
de tarefas equivalentes ou iguais a dos homens.
Como as relações com a cidade mantidas através da comercialização de
produtos e mercadorias são extremamente desiguais, ocorre que a quantidade
de trabalho empregado ultrapasse as necessidades de consumo familiar,
havendo a intensificação da produção através da utilização do trabalho das
crianças e dos jovens. Nesse processo é que está se dando o contato com a
cidade e a produção de forças de trabalhos para o mercado. Ou seja, o senso
social mantido no processo de trabalho socializa as crianças e os jovens muito
além de sua cultura étnica, pois são levados para uma prática agroflorestal cuja
lógica recebe a interferência externa dos mecanismos de reprodução do capital.
A questão da reprodução familiar implica na incorporação das crianças
e dos jovens no processo produtivo. Esses comportamentos dão outra
perspectiva ao número de filhos que compõem as famílias. Isto acontece
principalmente por implicarem nas condições de aumento ou não no emprego
de forças de trabalho necessárias para a produção agrícola, especialmente por
ocasião do plantio e na colheita e para as tarefas do extrativismo vegetal e
animal, onde ocorre a dupla jornada do trabalho das mulheres, das crianças e
dos jovens.
Na figura 19 podem ser observados os dados agrupados mostrando para
as regiões diferenças significativas no processo migratório de membros das
famílias que moram fora da unidade produtiva. Importante observar para o
Médio Solimões a inexistência de menção para filhos morando fora, muito pelo
aumento nas demandas por produtos após a implantação do pólo de atuação do

62 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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gasoduto pela PETROBRAS S.A. O fato vem permitindo o ativamento


econômico na região.

FIGURA 19. Número de residentes no local e fora e a relação de sexo dos membros das famílias nas regiões amostradas na calha do
Rio Solimões-Amazonas. Brasil, 2003/4.

Estes dados sugerem processos migratórios uma vez que do total do


número de pessoas o número de homens residentes é menor do que de
mulheres residentes. Entretanto, inferências mais consistentes dependem de
dados sobre saúde, emprego e distribuição populacional e, para orientações de
políticas públicas de organização e distribuição do trabalho e emprego nas
localidades amostradas deve-se levar em conta os percentuais de participação
por sexo e idade na composição da mão de obra familiar por atividade e
especialidade de trabalho executado na agricultura. Assim é porque as tarefas
são divididas pelo sexo e idade nas atividades nos sistemas de manejo em
agricultura, extrativismo vegetal e pecuária.
No processo de expansão das relações capitalistas na agricultura ocorre
uma demanda por mercadorias oriundas da economia urbana, dentre as quais
os insumos “modernos”, a energia elétrica, os bens de consumo
industrializados e os serviços. Isso implica no aprofundamento da divisão
social do trabalho no campo e na cidade, aumentando a procura da força de
trabalho em função do aumento da demanda pelos produtos urbanos. Os
processos de mobilidade assim decorrem da expansão das relações capitalistas

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 63


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de produção e podem ocorrer quando o objetivo é o de aumentar-se a


produtividade do trabalho, cujo resultado pode ser a expropriação dos
trabalhadores rurais proprietários ou não da terra. Normalmente, os aumentos
de produtividade se dão pela conjugação da utilização intensiva do trabalho
familiar com o uso capitalista da terra, dada a sua localização próxima aos
mercados e com bons índices de fertilidade natural e pelo uso de fertilizantes
químicos, máquinas e equipamentos industriais, matrizes genéticas
melhoradas, etc.
As diferenças e variedades dos componentes naturais da divisão social
do trabalho é que vão possibilitar a produção de trabalho excedente e sua
apropriação capitalista, ocorrendo assim, modificações nos processos de
trabalho e em conseqüência no sistema de produção. Essa realidade passa a
requerer a necessidade de controle sobre a força de trabalho, para torná-la
móvel no tempo e no espaço em resposta à lógica imposta pelo capital ao
trabalhador.
A história dos processos de desenvolvimento das diferentes regiões, no
que diz respeito a oferta de oportunidades sociais e econômicas, mostra que os
mesmos promoveram mobilizações espaciais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os atores sociais formadores da Agricultura Familiar ao atuarem


produtivamente dão formação às paisagens e processos específicos de
conservação ambiental, e ao operarem, possibilitam a geração de emprego e
renda. As redes de funções das cadeias produtivas na agricultura e extrativismo
e na pecuária distribuem-se em diversos níveis de atuação econômica e com
uma série de inter-relações mantidas entre vários atores sociais. A
operacionalização destas redes de funções pode promover processos de
conservação dos recursos naturais, em conformidade ao contexto de
ocorrência, desde o nível local reunindo agricultores familiares, passando pelos
pequenos aglomerados urbanos e sedes dos municípios do interior (Atalaia do
Norte, Benjamin Constant e São Paulo de Olivença, Maraã, Careiro da Várzea,
Iranduba, Silves, Oriximiná e Gurupá) interligadas às cidades economicamente
mais importantes (Tabatinga, Tefé, Coari, Manacapuru, Itacoatiara, Parintins,
Óbidos e Santarém) até as capitais dos Estados (Manaus e Belém).

64 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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Em nível local e regional os processos de conservação dos recursos pelos


agricultores e suas famílias são os característicos do sistema de produção
tradicional, que tem como base práticas agroflorestais de produção
caracterizadas pelo manejo das terras numa integração, simultânea e
seqüencial, entre árvores e/ou animais e/ou cultivos agrícolas. Os fatores de
produção combinados com a utilização de técnicas, influenciam no
funcionamento do sistema produtivo.
A análise efetivada permite inferir o fato de que uma estratégia para o
desenvolvimento regional e local implica na criação e implementação de
tecnologias adequadas que induzam a otimização da produção em consonância
com a conservação dos recursos, respeitando e valorizando os diversos saberes
tradicionais. Duas formas de conhecimento e prática social deverão formar um
sistema integrado de ação sociopolítica e pesquisa tecnológica. A primeira, a
dos incrementos tecnológicos advindos do conhecimento cultural repassado
por meio das gerações nos processos de adaptabilidade, organização e
conservação dos ecossistemas regionais. A segunda, pela prática institucional
de pesquisa interdisciplinar disponibilizada por meios de comunicação e
difusão técnico-científica, para contribuir na formulação de propostas de
desenvolvimento e sustentabilidade, principalmente, em áreas onde os
ecossistemas naturais representam ambientes propícios para a implantação de
políticas de conservação e uso econômico dos recursos naturais, baseadas no
incremento dos níveis de bem- estar social e na melhoria do processo produtivo
e de vida das sociedades no contexto amazônico.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 65


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LITERATURA CITADA
JOLLIFFE, I.T. Principal Component Analysis. New York: Springer-
Verlag. 1986. 271p.
LAMARCHE, H. A agricultura familiar. Volumes 1 e 2. São Paulo:
UNICAMP. 1997. 336p. il.
NEVES, W. Sociodiversidade e Biodiversidade: Dois Lados de Uma
Mesma Equação. São Paulo: USP. 1992. 27p.
NODA, S. N. As relações de trabalho na produção amazonense de juta
e malva. 1985. 135f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo.
Piracicaba, 1985.
NODA, S. N.; PEREIRA, H. S.; CASTELO BRANCO, F. M; NODA,
H. Trabalho nos Sistemas de Produção Familiares na Várzea do Estado
do Amazonas. In: NODA, H.; SOUZA, L. A. G.; FONSECA, O. J. M.
Duas Décadas de Contribuições do INPA à Pesquisa Agronômica no
Trópico Úmido. Manaus: MCT/INPA. 1997. p. 241-280.
NODA, H.; NODA, S.N. Agricultura familiar tradicional e conservação
da sociobiodiversidade amazônica. Interações. 2003. 4(6): 55-66.
TUAN, Y. Topofilia: Um Estudo da Percepção, Atitudes e Valores do
Meio Ambiente. São Paulo: DIFEL. 1980. 288p.il.

66 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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CAPÍTULO 3

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DOS SOLOS


DE VÁRZEA EM DIVERSOS SISTEMAS DE USO
DA TERRA AO LONGO DA CALHA DOS RIOS
SOLIMÕES-AMAZONAS

Sônia Sena Alfaia1


Acácia Lima Neves2
Gilberto de Assis Ribeiro1
Juan Daniel Villacis Fajardo3
Katell Uguen4
Marta Iria da Costa Ayres3

INTRODUÇÃO

A várzea do complexo Solimões-Amazonas corresponde a


aproximadamente 1,5 a 2% do território da Amazônia brasileira. Embora esta área
represente uma fração pequena da área total dos ecossistemas amazônicos, a
qualidade e a quantidade dos sedimentos quaternários, depositados
periodicamente por ocasião da subida e descida das águas, confere aos solos de
várzea um alto potencial para a produção agrícola (FALESI, 1967; RODRIGUES
e OLIVEIRA, 1996; FURCH, 1997; CRAVO et al., 2002), ainda que o processo
de reposição de nutrientes pela inundação e a garantia de sustentabilidade de
agrossistemas não esteja bem estudado (OLIVEIRA et al., 2000).
Levantamentos geológicos e pedológicos pioneiros, desenvolvidos em
áreas de várzeas amazônicas pelo Projeto RADAM ainda durante os anos 60 e
70, são as referências principais para a caracterização e a classificação dos
solos de várzea, representados principalmente por Gleissolos e Neossolos

1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).


2. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
3. Bolsista de DTI/MCT/PCI, (INPA).
4. Bolsista FDB/LBA, (INPA).

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 67


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Flúvicos (Projeto RADAMBRASIL, 1975, 1976a, 1976b, 1977a, 1977b,


1978a, 1978b).
Os fluxos unimodal (Região do Alto Solimões até a Região do Baixo
Amazonas) e polimodal (Região do Estuário) das águas causam grandes
variações nas propriedades físico-químicas do solo, na dinâmica de sua biota e
na ciclagem de nutrientes (JUNK et al., 1989; TEIXEIRA e CARDOSO, 1991;
FURCH, 2000; ADIS e JUNK, 2002). A magnitude dessas variações é
determinada pela freqüência e a extensão do período de inundação, pelo
volume de sedimentos depositados, pela cota do terreno e pelo uso do solo
enquanto este fica descoberto.
Na Ilha do Careiro-AM, Alfaia e Falcão (1993) observaram maiores
concentrações de nutrientes em solos de áreas menos elevadas (várzea baixa)
que em solos de áreas mais elevadas (várzea alta), o que pode ser explicado
pela freqüente deposição periódica de sedimentos na várzea baixa, uma vez
que novas deposições em várzea alta só ocorrem quando a inundação é grande.
Em geral, a várzea alta pode estar sujeita, ou não, a 1,0-2,5 m de alagação
durante um período de 2 a 4 meses, enquanto a várzea baixa pode ser coberta
por até 5,0 m de água, durante um período de 4 a 6 meses (AYRES, 1993).
Na Amazônia, a maioria dos estudos sobre o impacto da agricultura na
qualidade do solo foram feitos principalmente para as áreas de terra-firme.
Atualmente, pouco se conhece a respeito do impacto dos sistemas de uso da
terra sobre a qualidade do solo em áreas de várzea. Neste trabalho descrevem-
se as principais características químicas dos solos de várzea do rio Solimões-
Amazonas e os possíveis efeitos da unidade de paisagem e dos diferentes tipos
de uso da terra sobre o estoque de nutrientes nestes solos.
A amostragem do solo foi efetuada em diferentes sistemas de uso da
terra em área de várzea ao longo da calha dos rios Solimões-Amazonas. Nas
diversas comunidades de várzea visitadas, foi, inicialmente, aplicado o
questionário para produtores escolhidos ao acaso. Com base nas respostas a
questões como tempo de uso da área, tipo de sistema de uso da terra (roça,
capoeira, chavascal, mata, etc.) e unidades de paisagem (várzea alta, várzea
baixa, campo, igapó, etc.) presentes na propriedade, além da diversidade de
cultivos, foram selecionadas as propriedades onde seriam realizadas as coletas
de solo para as análises químicas. Um total de 65 diferentes sistemas de uso da
terra foi amostrado em seis regiões ao longo da calha dos rios Solimões-
Amazonas: Alto Rio Solimões (8), Médio Rio Solimões (9), Baixo Rio
Solimões (8) Médio Rio Amazonas (11), Baixo Rio Amazonas (25) e Estuário (4).

68 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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Em cada sistema de uso da terra foi demarcada uma área de


aproximadamente 45 m x 30 m que foi subdividida em três parcelas. Caso a
área selecionada apresentasse dimensões menores, a área total do sistema de
uso foi dividida em três parcelas iguais. As parcelas assim definidas
correspondem às repetições. Em cada parcela foram coletadas seis sub-
amostras de solo para as profundidades de 0-10 e 10-20 cm, as quais foram
misturadas para formar uma única amostra representativa (amostra composta).
Para a profundidade de 20-40 cm, por apresentar mais uniformidade, foram
coletadas apenas três subamostras por parcela para formar uma amostra
composta.
O pH, P, K, Ca, Mg e Al foram determinados de acordo com os métodos
descritos pela EMBRAPA (1997). O pH do solo foi determinado em H2O na
proporção solo: solução de 1:2,5. Os cátions Ca2+, Mg2+ e Al3+ foram extraídos
com KCl 1N e o P e o K+ foram extraídos com duplo ácido (H2SO4 0,0125 M
+ HCl 0,05 M). Os cátions (Ca2+ Mg2+ e K+) foram determinados por um
espectrofotômetro de absorção atômica. O P foi determinado por
espectrofotometria utilizando o molibdato de amônio. O C orgânico foi
determinado pelo auto-analizador de Carbono, Hidrogênio e Nitrogênio de
marca Carlo Erba.
Para interpretação dos resultados, foram consideradas separadamente as
determinações químicas para os diferentes usos da terra dentro de cada
comunidade amostrada, bem como para as profundidades de 0-10, 10-20 e 20-
40 cm. Adotou-se o delineamento inteiramente casualisado, com três
repetições e a significação dos dados foi determinada pela análise de variância
e teste de Tukey a 5% de probabilidade.

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO


DO ALTO RIO SOLIMÕES

Nesta região, mais de 95% das amostras de solo apresentaram valores de


pH considerados médios (Cochrane et al, 1985), variando de 5,1 a 6,9 (Tabela
1). A várzea alta apresentou em média pH maior que a várzea baixa. Ao
contrário dos solos de terra-firme, nesses solos, os valores de pH aumentam
com a profundidade do solo. Com relação às concentrações de Ca e Mg
trocáveis, os valores observados situam-se bem acima do nível considerado

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 69


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alto, variando respectivamente de 9,4 a 17,7 e 2,3 a 4,9 cmolckg-1. Não foi
observado um efeito muito claro da unidade de paisagem nem do sistema de
uso da terra sobre os teores de Ca e Mg trocáveis.
O Al trocável apresentou uma concentração bastante baixa nos solos
amostrados, variando de 0,00 a 0,42 cmolckg-1 (Tabela 2). Não houve efeito da
unidade de paisagem na concentração desse elemento no solo e embora não
significativo, os sistemas de floresta e capoeira apresentaram os maiores
valores de Al no solo. Os teores de K trocável situaram entre valores
considerados médios a alto, variando de 0,17 a 0,75 cmolckg-1, enquanto que os
valores de P foram extremamente elevados (70 a 197 mgkg-1). Não foram
observadas diferenças significativas entre os solos de várzea alta e de várzea
baixa, assim como não foi observado um efeito muito claro do uso da terra na
concentração de P e K.

TABELA 1. Valores médios do pH em água e dos teores de Ca, Mg (cmolckg-1) na região do Alto Solimões.

Unidade Sistemas pH em H2O Ca Mg


de de uso da 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40
Paisagem terra (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm)

Teresina IV (Tabatinga-AM)
1
V. Baixa Capoeira 5,2 c 5,9 6,0 16,9 a 15,9 15,0 a 3,8 b 3,8 ab 4,1 a
2
V. Baixa Cultivo 6,2 a 6,2 6,3 17,7 a 15,4 13,9 a 3,9 b 3,2 b 3,2 ab
3
V. Baixa Roça 5,7 b 5,9 6,1 14,4 b 10,9 9,5 b 2,9 c 2,5 c 2,3 b
V. Alta Sítio4 6,2 a 6,2 6,2 15,9 ab 14,2 14,2 a 4,9 a 4,1 a 4,1 a
Sapotal (Tabatinga-AM)
V. Baixa Floresta 5,4 b 5,3 b 5,7 b 15,1 a 14,2 a 15,2 4,5 a 4,3 4,6
5
V. Baixa Roça 5,1 b 5,2 b 6,3 ab 11,8 b 12,8 ab 12,9 3,8 b 3,8 4,4
6
V. Baixa Roça 5,5 b 6,1 a 6,2 ab 14,8 a 14,3 a 16,3 3,8 b 3,8 4,6
7
V. Alta Roça 6,3 a 6,7 a 6,9 a 9,4 c 11,5 b 15,3 3,3 b 3,6 3,1
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste
de Tukey). 1 – Capoeira de 5 anos, 2 – Cultivo de Milho x Banana de 4 meses, 3 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses, 4 – Sítio
de ± 50 anos, 5 – Roça de 1 mês, após a derruba sem queima de uma capoeira de 20 anos, 6 – Roça de Mandioca x Milho de 2 meses,
7 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses.

70 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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TABELA 2. Teores de Al, K, (cmolckg-1) e P (mg kg-1) na região do Alto Solimões.


Al K P
Unidade de Sistemas de
Paisagem uso da terra 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40
(cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm)

Teresina IV (Tabatinga-AM)

V. Baixa Capoeira1 0,38 a 0,29 a 0,20 0,30 b 0,26 ab 0,28 a 74 b 70 c 82 b

V. Baixa Cultivo2 0,05 b 0,05 b 0,03 0,75 a 0,30 ab 0,26 a 112 ab 108 b 127 a

V. Baixa Roça 3
0,14 b 0,08 b 0,13 0,25 b 0,21 b 0,17 b 97 ab 127 a 144 a

V. Alta Sítio4
0,03 b 0,07 b 0,04 0,57 ab 0,34 a 0,29 a 129 a 123 ab 118 a

Sapotal (Tabatinga-AM)

V. Baixa Floresta 0,26 0,09 0,09 0,38 0,38 0,36 112 b 106 b 123 c

V. Baixa Roça 5
0,09 0,16 0,01 0,43 0,35 0,32 105 b 111 b 144 bc

V. Baixa Roça 6
0,06 0,04 0,19 0,58 0,35 0,32 127 b 166 a 169 ab

V. Alta Roça 7
0,03 0,00 0,09 0,35 0,29 0,24 197 a 184 a 190 a
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05;
Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 5 anos, 2 – Cultivo de Milho x Banana de 4 meses, 3 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses, 4 –
Sítio de ± 50 anos, 5 – Roça de 1 mês, após a derruba sem queima de uma capoeira de 20 anos, 6 – Roça de Mandioca x Milho de 2
meses, 7 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses.

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO


DO MÉDIO RIO SOLIMÕES

Nesta região, os valores de pH do solo situaram-se entre teores


considerados de baixo a médio, variando de 4,4 a 6,5. De maneira geral, os
solos de várzea baixa apresentaram menor pH que os de várzea alta (Tabela 3).
Assim como observado nos solos do Alto Solimões, florestas e capoeiras,
mesmo quando situadas em várzea alta, também apresentaram valores de pH
significativamente menores que outros componentes do sistema. Todas as
amostras analisadas apresentaram teores de Ca e Mg trocáveis situados acima
do nível considerado alto, variando respectivamente de 5,7 a 17,5 e 1,9 a 10,9
cmolckg-(1). Somente em uma das comunidades amostradas foi observado efeito
do uso da terra sobre o teor de Ca, em solo de várzea alta sob floresta, que
apresentou valores inferiores aos demais sistemas amostrados (Tabela 3). Com
relação ao Mg, de maneira geral, não foi observado um efeito significativo da
unidade de paisagem nem do manejo da terra sobre os teores desse elemento.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 71


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TABELA 3. Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmol kg-1) na região do Médio Solimões.
C

pH em H2O Ca Mg
Unidade Sistemas
de de uso da 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40
Paisagem terra cm cm cm cm cm cm cm cm cm

Paraná de Tefé (Tefé-AM)


1
V. Baixa Capoeira 4,4 b 4,7 b 5,2 b 17,5 11,8 12,5 3,2 2,6 3,4
2
V. Baixa Cultivo 4,6 b 5,1 ab 5,8 a 12,9 11,9 13,1 2,6 2,7 3,5
3
V. Alta Roça 4,9 a 5,7 a 6,0 a 11,8 10,5 12,4 2,4 2,6 3,2
Boa Vista (Tefé-AM)
V. Baixa Floresta 4,8 c 5,9 6,2 9,5 13,1 13,8 6,6 a 10,3 10,9 a
4
V. Baixa Cultivo 5,6 b 5,6 6,0 10,2 12,2 12,4 3,1 b 3,8 4,3 b

V. Alta Sítio 6,0 a 6,2 6,2 10,4 9,7 10,2 3,2 b 3,1 2,9 b

São Francisco (Coari)


5
V. Baixa Roça 5,7 b 5,8 ab 6,1 9,5 b 9,2 a 6,2 ab 1,9 b 1,9 2,2 b

V. Alta Floresta 4,9 c 5,6 b 5,9 5,7 c 5,9 b 5,9 b 2,9 a 4,5 5,5 a

V. Alta Roça6 6,2 a 6,4 a 6,5 10,9 a 8,2 ab 7,4 a 3,0 a 2,3 2,3 b

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente
entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 8 anos, 2 – Cultivo de Milho de 4 meses, 3 – Roça Macaxeira x
Mandioca de 4 meses, 4 – Cultivo de olerícolas (horta) de 2 meses, 5 – Roça de Macaxeira de 3 meses, 6 – Roça de
Macaxeira de 5 meses.

O Al trocável no solo dessa região apresentou valores que variaram de


baixo, em área de roça (0,01 cmolckg-1) a elevado em área de floresta (2,15
cmolckg-1). A elevada concentração desse elemento dá-se principalmente na
camada superficial, decrescendo acentuadamente nas camadas inferiores
(Tabela 4). Não foram observadas diferenças significativas entre os solos de
várzea alta e de várzea baixa. As concentrações nas áreas de florestas foram
significativamente mais elevadas do que as áreas cultivadas.
Os teores de K nessa região situaram entre valores considerados baixos
a alto, variando de 0,11 a 0,56 cmolckg-1. Não foi observado um efeito
significativo da unidade de paisagem nem do manejo da terra sobre os teores
de K no solo. Os teores de P variaram de baixos a elevados (2 a 251 mgkg-1).
Também não foram observadas diferenças significativas entre os solos de
várzea alta e de várzea baixa. Os menores valores foram obtidos em área de
floresta, no município de Coari, e os maiores valores em área de sítio, no
município de Tefé (Tabela 4).

72 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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TABELA 4. Teores de Al, K, (cmolckg-1) e P (mg kg-1) em duas comunidades nos Município de Tefé e Coari, na região
do Médio Solimões-AM.

Unidade Sistemas Al K P
de de uso da 010 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40
Paisagem terra (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm)
Comunidade do Paraná de Tefé
V. Baixa Capoeira1 0,85 0,63 0,65 0,35 b 0,34 0,32 58 b 81 c 88
2
V. Baixa Cultivo 0,93 0,98 0,97 0,56 a 0,42 0,37 64 ab 102 b 150
3
V. Alta Roça 1,13 1,00 0,93 0,42 ab 0,32 0,32 84 a 133 a 142
Comunidade de Boa Vista (Tefé)
V. Baixa Floresta 1,30 a 0,18 0,10 0,26 0,19 b 0,18 105 c 93 b 112 b
4
V. Baixa Cultivo 0,05 b 0,13 0,07 0,50 0,32 a 0,22 142 b 103 b 113 b
V. Alta Sítio 0,06 b 0,07 0,06 0,33 0,19 b 0,17 251 a 245 a 245 a
São Francisco (Coari)
V. Baixa Roça5 0,09 b 0,07 0,01 0,21 0,15 0,12 187 b 164 b 154 b
V. Alta Floresta 2,15 a 1,96 0,94 0,18 0,11 0,09 6c 3c 2c
6
V. Alta Roça 0,01 b 0,01 0,01 0,27 0,12 0,15 245 a 229 a 209 a
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente
entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 8 anos, 2 – Cultivo de Milho de 4 meses, 3 – Roça Macaxeira x
Mandioca de 4 meses, 4 – Cultivo de olerícolas (horta) de 2 meses, 5 – Roça de Macaxeira de 3 meses, 6 – Roça de
Macaxeira de 5 meses.

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO


DO BAIXO RIO SOLIMÕES
Na Região do Baixo Rio Solimões, os valores de pH do solo situaram-
se entre teores considerados baixos a médio, variando de 4,6 a 6,2 (Tabela 5).
A várzea alta apresentou um valor de pH significativamente mais elevado que
a várzea baixa e os menores valores foram obtidos nos componentes floresta e
capoeira. Todas as amostras de solo apresentaram teores de Ca e Mg trocáveis
situados acima do nível considerado alto, variando respectivamente de 6,2 a
24,7 e 2,1 a 6,4 cmolckg-1. Não foi observado um efeito da unidade de paisagem
nem do sistema de uso sobre os teores de Ca e Mg trocáveis no solo.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 73


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TABELA 5. Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmolckg-1) em duas comunidades nos
Municípios de Manacapuru e Careiro da Várzea, na região do Baixo Solimões-AM.
Unidade Sistemas pH em H2O Ca Mg
de de uso da 0- 10- 20- 0- 10- 20- 0- 10- 20-
Paisagem terra 10cm 20cm 40cm 10cm 20cm 40cm 10cm 20cm 40cm
Comunidade do Espírito Santo (Manacapuru-AM)
V. Baixa Roçado1 5,0 b 5,7 a 6,2 a 10,7 6,2 c 7,1 b 3,1 ab 2,1 2,1
V. Alta Floresta 4,8 b 5,0 b 4,9 b 12,4 13,6 b 12,7 ab 5,0 ab 6,5 5,6
2
V. Alta Capoeira 4,7 b 4,8 b 4,9 b 13,5 11,7 b 14,1 ab 5,6 a 4,9 5,4
V. Alta Roça3 5,8 a 5,9 a 5,9 a 10,9 24,7 a 15,5 a 2,9 b 4,2 4,5
Comunidade de São Lazaro (Careiro da Várzea-AM)
V. Baixa Capoeira4 4,7 c 4,9 c - 12,3 a 11,2 ab - 5,22 a 5,33 -
5
V. Baixa Cultivo 5,0 b 5,5 b - 10,1 ab 12,9 a - 4,45 ab 5,44 -
6
V. Baixa Cultivo 4,6 c 5,2 c 5,1 9,8 ab 9,7 ab 11,3 3,08 b 4,49 3,95
7
V. Alta Sítio 6,0 a 6,1 a 6,0 8,6 b 6,8 b 7,2 3,93 ab 3,82 3,49
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05;
Teste de Tukey). 1 – Roça de macaxeira de 2 meses implantada após a derruba e queima de uma capoeira de 8 anos, 2 – Capoeira de
15 anos, 3 – Roça de Macaxeira e Milho de 3 meses, 4 – Capoeira de 30 Anos, 5 – Cultivo de Milho de 3 meses, 6 – Cultivo de
Malva de 2 meses, 7 – Sítio de ± 50 anos.

TABELA 6. Teores de Al, K, (cmolckg-1) e P (mgkg-1) na região de Baixo Solimões-AM.


Al K P
Unidade de Sistemas
Paisagem de uso da 0- 10- 20- 0- 10- 20- 0- 10- 20-
terra 10cm 20cm 40cm 10cm 20cm 40cm 10cm 20cm 40cm
Comunidade do Espírito Santo (Manacapuru-AM)
V. Baixa Roçado1 0,25 b 0,08 b 0,08 b 0,65 0,50 0,53 72 b 143 a 153 a
V. Alta Floresta 2,99 a 2,51 a 2,66 a 0,58 0,54 0,53 31 c 9c 9d
2
V. Alta Capoeira 1,84 a 1,60 a 2,14 a 0,66 0,69 0,71 49 c 49 b 57 c
3 111 b
V. Alta Roça 0,05 b 0,05 b 0,05 b 0,50 0,46 0,41 124 a 127 a
Comunidade de São Lazaro (Careiro da Várzea-AM)
V. Baixa Capoeira4 2,24 a 2,43 a - 0,82 0,72 - 11 c 7d -
5
V. Baixa Cultivo 0,88 c 0,18 c - 0,88 0,79 - 52 b 41 c -
6
V. Baixa Cultivo 1,64 b 1,30 b 0,61 0,74 0,64 0,64 58 b 62 b 75
V. Alta Sítio7 0,00 d 0,06 b 0,06 0,67 0,58 0,54 112 a 138 a 146
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente
entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Roça de macaxeira de 2 meses implantada após a derruba e queima de uma
capoeira de 8 anos, 2 – Capoeira de 15 anos, 3 – Roça de Macaxeira e Milho de 3 meses, 4 – Capoeira de 30 Anos,
5 – Cultivo de Milho de 3 meses, 6 – Cultivo de Malva de 2 meses, 7 – Sítio de ± 50 anos.

74 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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O teor de Al trocável variou de baixo a elevado (0,00 a 2,99 cmolckg-1).


Não foi observado um efeito da unidade de paisagem sobre os valores de Al no
solo. As áreas com floresta, capoeira e cultivo de malva apresentaram as
maiores concentrações desse elemento (Tabela 6). Todos os teores de K nessa
região situaram-se acima dos valores considerados altos, variando de 0,41 a
0,88 cmolckg-1. Não foi observado um efeito significativo da unidade de
paisagem, bem como do manejo da terra sobre os teores de K no solo. Os teores
de P variaram de médio a elevados (7 a 153 mg kg-1), os menores valores foram
obtidos em área de floresta e de capoeira.

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO


DO MÉDIO RIO AMAZONAS

Nesta região, o pH do solo variou de baixo a médio (4,6 a 7,2). Os solos


de várzea baixa apresentaram menor pH que os de várzea alta. Os menores
valores de pH foram obtidos em área de capoeiras. Todos os sistemas
amostrados apresentaram teores de Ca e Mg trocáveis acima do nível
considerado alto, com o Ca variando de 6,8 a 12,2 e o Mg de 1,4 a 5,9 cmolckg-1.
Os valores de Al trocável variaram de baixo a elevado (0,0 a 4,1
cmolckg-1). As maiores concentrações ocorreram em solo de capoeira (Tabela
8). Os teores de K variaram de médio a elevado (0,15 a 1,24 cmolckg-1). Não
foi observado um efeito significativo da unidade de paisagem sobre a
concentração de K. Observou-se ainda uma tendência deste elemento de
diminuir com a profundidade. Os teores de P variaram de baixos a elevados (2
a 158 mg kg-1). Os menores valores foram obtidos em áreas de pastagens.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 75


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TABELA 7. Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmolckg-1) na região do Médio Rio Amazonas.
pH em H2O Ca Mg
Unidade de Sistemas de 20-40
Paisagem uso da terra 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40 0-10 10-2
cm
cm cm cm cm cm cm cm cm
Comuni
dade de Nossa Senhora de Nazaré (Itacoatiara-AM)
V. Baixa

Capoeira1 4,6 c 5,0 d 5,4 b 7,8 bcd 9,8 ab 10,8 a 2,4 a 3,8 a 4,4 a V. Alta

Sítio2 5,8 b 6,0 a 6,0 a 7,3 d 6,9 c 6,8 c 1,9 a 1,8 b 1,7 b V. Alta

Cultivo3 7,2 a 5,8 ab 5,8 a 10,5 a 7,3 c 8,1 bc 3,0 b 1,9 b 2,0 bc V. Alta

Roça4 6,9 a 5,6 bc 5,8 a 10,0 ab 7,5 bc 8,6 abc 3,2 b 2, b 2,6 bc V. Alta

Roça5 6,7 a 5,5 c 5,7 a 9,7 ab 8,9 abc 9,9 ab 3,3 b 2,3 bc 2,6 c V. Alta
Comuni
Pastagem6 5,7 b 5,8 abc 6,0 a 7,5 cd 9,9 a 8,1 bc 2,3 a 2,9 c 2,6 bc
dade de
Santa Maria (Silves-AM)

V. Baixa Capoeira7 4,9 c 5,6 a 5,9 8,6 10,8 a 12,2 2,9 a 3,9 a 4,4 a

V. Baixa Roça8 5,3 bc 5,5 a 5,8 9,7 8,8 b 9,4 2,8 a 2,4 bc 2,6 b

V. Baixa Cultivo9 6,2 a 6,0 b 6,1 7,6 9,7 ab 9,5 1,4 c 1,8 c 1,7 b

V. Baixa Cultivo10 5,0 c 5,6 b 6,1 9,7 10,3 ab 9,9 2,5 ab 2,7 b 2,7 b
11
V. Alta Sítio 5,8 ab 6,1 b 6,2 9,5 9,4 ab 8,9 2,1 b 2,1 c 2,2 b
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente
entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 15 anos, 2 – Sítio de ± 50 anos, 3 – Cultivo de Milho de 3
meses, 4 – Roça de Mandioca de 3 meses, 5 – Roça de Mandioca x Milho de 3 meses, 6 – Pastagem de Braquiária
de 7 anos, 7– Capoeira de 8 anos, 8 – Roça com 1 mês implantada após derruba e queima da Capoeira de 8 anos,
9 – Cultivo de Feijão-de-praia de 3 meses, 10 – Cultivo de Milho x Melancia de 3 meses, 11 – Sítio de ± 50 anos.

76 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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TABELA 8. Teores de Al, K, (cmolckg-1) e P (mgkg-1) na região do Médio Rio Amazonas.


Al K P
Unidade de
Sistemas de 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40
Paisagem
uso da terra cm cm cm cm cm cm cm cm cm

Comunidade de Nossa Senhora de Nazaré (Itacoatiara-AM)


1
V. Baixa Capoeira 4,13 a 1,77 a 0,67 a 0,25 c 0,25cd 0,22 35 c 30 a 26 c

V. Alta Sítio2 0,05 b 0,16 b 0,05 b 0,25 c 0,17 d 0,15 115 ab 97 b 113 a

V. Alta Cultivo3 0,02 b 0,09 b 0,12 b 0,96 b 0,55 a 0,29 149 ab 107 b 97 ab

0,40
V. Alta Roça4 0,02 b 0,18 b 0,11 b 1,24 a 0,27 150 ab 98 b 80 b
abc

V. Alta Roça5 0,00 b 0,20 b 0,18 b 1,23 a 0,35 c 0,28 158 a 90 b 83 ab

V. Alta Pastagem6 0,08 b 0,09 b 0,05 b 0,32 c 0,25 cd 0,26 109 b 86 b 106 ab

Comunidade de Santa Maria (Silves-AM)


0,27
V. Baixa Capoeira7 2,59 a 0,42 b 0,21 ab 0,24 a 0,27 a 34 d 47 c 49 d
bc
V. Baixa Roça8 0,43 b 0,35 b 0,27 a 0,56 a 0,25 a 0,25 a 81 c 83 b 92 bc

V. Baixa Cultivo9 0,05 b 0,05 c 0,05 b 0,20 c 0,25 a 0,26 a 143 a 120 a 118 a

0,23
V. Baixa Cultivo10 0,22 b 1,54 a 0,24 ab 0,41 ab 0,23 a 68 c 69 bc 9c
ab

V. Alta Sítio11 0,06 b 0,14 bc 0,08 ab 0,22 c 0,16 b 0,18 b 111 b 108 a 117 ab

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente
entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 15 anos, 2 – Sítio de ± 50 anos, 3 – Cultivo de Milho de 3
meses, 4 – Roça de Mandioca de 3 meses, 5 – Roça de Mandioca x Milho de 3 meses, 6 – Pastagem de Braquiária
de 7 anos, 7 –– Capoeira de 8 anos, 8 – Roça com 1 mês de implantada após derruba e queima da Capoeira de 8
anos, 9 – Cultivo de Feijão-de-praia de 3 meses, 10 – Cultivo de Milho x Melancia de 3 meses, 11 – Sítio de ± 50
anos.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 77


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CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO


DO BAIXO RIO AMAZONAS

Os dados de pH do solo obtidos na região do Baixo Rio Amazonas


(Tabela 9) situaram-se entre valores considerados baixos a médio (4,3 a 7,1) e
de maneira geral a várzea alta apresentou um pH mais elevado que a várzea
baixa. Os menores valores foram obtidos nos solos de floresta e capoeiras.
Todas as amostras de solo analisadas apresentaram teores de Ca trocável
situado acima do nível considerado alto, variando de 4,6 a 11,8 cmolckg-1. Em
geral, os solos de várzea baixa apresentaram maiores valores de Ca que os de
várzea alta. Com relação aos teores de Mg trocável, os valores observados
situaram-se também acima do nível considerado alto (1,7 a 8,5 cmolckg-1). Ao
contrário do Ca, não se observou um efeito da unidade da paisagem sobre os
teores de nutriente no solo. Os maiores valores de Mg foram obtidos em solos
de floresta e capoeiras.
Nesta região, o Al trocável variou de baixo (0,0 cmolckg-1) a
extremamente elevado (7,6 cmolckg-1). Não se observou efeito da unidade da
paisagem sobre a concentração do Al e em alguns sistemas amostrados
observou-se um aumento na concentração desse elemento com a
profundidade. Assim como para as outras regiões amostradas, as áreas de
floresta e capoeiras foram as que apresentaram as maiores concentrações
desse elemento (Tabela 10).
Os teores de K variaram de baixo a alto (0,1 a 1,5 cmolc kg-1), e não se
observou efeito da unidade da paisagem sobre os teores desse nutriente (Tabela
10). Os sistemas de florestas e capoeiras foram os que apresentaram as
menores concentrações de K no solo. Os teores de P variaram de médio a
elevados (4 a 113 mg kg-1). Não se observa um efeito significativo da unidade
da paisagem sobre os teores de P no solo. Assim como para o K, as
concentrações de P nas áreas de floresta e capoeiras foram significativamente
menores que as observadas em outros sistemas de uso da terra.

78 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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TABELA 9. Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmolckg-1) na região do Baixo Rio Amazonas.
pH em H2O Ca Mg
Unidade de Sistemas de
Paisagem uso da terra 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40
(cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm)
São Sebastião do Boto (Parintins)
V. Baixa Capoeira1 4,6 b 5,0 c 5,4 b 5,0 c 6,2 b 5,9 b 2,6 a 3,4 a 3,7 a
V. Alta Cacoal2 5,6 a 5,9 a 6,4 a 5,8 b 6,1 b 7,3 ab 2,1 b 2,1 b 2,5 b
V. Alta Murinzal3 5,4 a 5,6 ab 6,3 a 6,9 a 8,3 a 9,6 a 2,4 ab 2,5 b 3,0 ab
V. Alta Pastagem4 5,3 a 5,5 b 6,3 a 4,6 c 5,8 b 5,5 b 1,9 b 2,5 b 3,1 ab
São Sebastião do Saracura (Parintins)
V. Baixa Floresta 4,4 b 4,6 b 4,9 b 8,4 7,6 6,5 4,1 a 4,5 a 3,9 a
V. Baixa Capoeira5 4,7 a 4,9 b 5,4 a 8,9 8,6 7,9 2,9 b 3,2 b 3,3 ab
V. Baixa Cultivo6 4,9 a 5,4 a 5,6 a 7,2 6,7 8,5 1,9 c 1,7 c 1,9 b
V. Baixa Cultivo7 4,9 a 5,3 a 5,8 a 7,7 8,4 9,9 2,7 bc 2,9 b 3,3 ab
Nossa Senhora da Conceição (Oriximiná)
V. Alta Floresta 4,8 bc 5,2 a 7,1 a 5,4 b 5,1 ab 6,9 ab 2,9 ab 4,3 a 8,5 a
V. Alta Capoeira8 4,4 c 4,6 b 4,9 b 7,1 ab 5,9 ab 5,5 b 3,0 a 3,6 ab 4,4 b
V. Alta Cultivo9 4,8 bc 4,8 b 4,9 b 8,8 a 8,1 a 7,0 ab 3,0 a 3,0 abc 2,8 b
V. Alta Cultivo10 5,6 a 5,5 a 5,4 b 7,5 ab 7,7 a 8,0 a 2,5 ab 2,5 bc 2,6 b
V. Alta Cultivo11 4,4 c 4,3 c 4,5 b 7,9 ab 7,3 ab 7,9 a 2,1 b 2,0 c 2,5 b
Piracão-Era de Cima (Santarém)
V. Baixa Cultivo12 5,7 5,5 5,7 7,6 b 8,5 ab 8,3 2,3 b 2,2 2,2
V. Baixa Cultivo13 5,3 5,1 5,7 9,8 ab 8,7 ab 11,7 2,6 ab 2,2 2,8
V. Baixa Murinzal14 5,3 5,8 6,0 8,3 ab 8,1 b 9,2 2,7 ab 2,2 2,7
V. Baixa Pastagem15 5,0 5,7 6,8 11,3 a 11,7 a 11,8 2,6 ab 2,4 2,0
V. Alta Roça16 5,9 5,7 5,9 9,6 ab 8, b 8,8 3,0 a 2,2 2,6
Ilha de São Miguel (Santarém)
V. Baixa Cultivo17 4,8 b 5,3 b 5,6 b 9,8 10,3 11,4 a 3,1 ab 3,4 3,7
V. Alta Seringal18 5,5 ab 5,5 b 5,8 ab 7,3 8,4 8,2 b 2,1 b 2,9 3,0
V. Alta Cultivo19 5,2 ab 5,7 ab
6,0 a 9,3 6,3 11,1 a 3,1 ab 2,8 3,3
V. Alta Pastagem20 6,0 a 6,5 a
6,6 ab 9,8 8,7 10,0 a 3,3 a 2,6 3,0
Arapemã (Santarém)
V. Baixa Cultivo21 5,4 b 5,6 b 5,7 b 8,2 b 8,6 10,8 2,5 b 2,5 2,9
V. Baixa Roça22 5,6 ab 5,6 b 6,0 ab 10,8 a 10,2 8,6 2,9 a 2,7 2,3
V. Baixa Murinzal23 6,2 a 6,6 a 6,6 b 11,1 a 11,3 9,8 3,0 a 2,7 2,3
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre
si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 50 anos, 2 – Plantio de Cacau com 20 anos, 3 – Murinzal de 20 anos,
4 – Pastagem de Capim-Colônia de 20 anos, 5 – Capoeira de 15 anos, 6 – Cultivo de Juta de 2 meses, 7 – Cultivo de
Malva de 3 meses, 8 – Capoeira de ± 55 anos, 9 – Cultivo de Milho de 4 meses, 10 – Cultivo de Milho de 4 meses
mecanizado, 11 – Cultivo de Tomate de 4 meses, 12 – Capoeira de ± 76 anos, 13 – Pastagem de Capim Terra-e-Água
de 7 anos, 12 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com murim, 13 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio
com canarana, 14 – Murinzal de 3 anos, 15 – Pastagem de 20 anos, 16 – Roça de mandioca de 8 meses, 17 – Cultivo
de Milho de 3 meses após pousio com murim, 18 – Seringal de ± 70 anos, 19 – Cultivo de Milho de 3 meses após
pousio com murim, 20 – Pastagem de 7 anos, 21 – Cultivo de Milho de 2 meses, 22 – Roça de Mandioca de 4 meses,
23 – Murinzal de 10 anos.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 79


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TABELA 10. Teores médios de Al, K (cmolckg-1) e P (cmolckg-1) na região do Baixo Rio Amazonas.
Unidade Al K P
Sistemas de
de 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40
uso da terra
Paisagem cm cm cm cm cm cm cm cm cm
São Sebastião do Boto (Parintins)
V. Baixa Capoeira1 3,44 a 2,62 a 2,81 a 0,22 ab 0,15 b 0,14 ab 46 c 24 c 8c
V. Alta Cacoal2 0,09 c 0,07 b 0,04 b 0,24 ab 0,17 b 0,12 b 99 a 89 a 100 a
V. Alta Murinzal3 0,34 bc 0,28 b 0,06 b 0,34 a 0,13 b 0,18 a 69 b 81 ab 87 ab
V. Alta Pastagem4 0,52 b 0,25 b 0,04 b 0,13 b 0,24 a 0,18 a 89 ab 79 b 73 b
São Sebastião do Saracura (Parintins)
V. Baixa Floresta 5,16 a 6,87 a 7,56 a 0,14 b 0,32 0,22 10 c 8c 4c
V. Baixa Capoeira5 3,75 b 3,83 b 3,15 b 0,31 b 0,29 0,20 13 c 10 c 9c
6
V. Baixa Cultivo 0,64 c 0,30 c 0,09 c 0,62 a 0,45 0,32 102 a 112 a 112 a
V. Baixa Cultivo7 1,35 c 0,39 c 0,15 c 0,31 b 0,23 0,23 68 b 74 b 64 b
Nossa Senhora da Conceição (Oriximiná)
V. Alta Floresta 3,87 a 2,37 b 0,11 c 0,24 d 0,17 d 0,13 c 19 c 7d 4c
V. Alta Capoeira8 4,03 a 4,48 a 4,82 a 0,28 cd 0,33 b 0,24 bc 23 c 16 c 10 bc
V. Alta Cultivo9 0,67 bc 1,18 bc 1,23 c 1,47 a 1,30 a 1,04 a 35 b 28 b 26 b
10
V. Alta Cultivo 0,05 c 0,14 c 0,14 c 0,48 bc 0,35bc 0,30 b 96 a 104 a 103 a
V. Alta Cultivo11 2,22 b 2,56 b 2,80 b 0,54 b 0,32 a 0,26 b 42 b 32 b 25 b
Piracão-Era de Cima (Santarém)
V. Baixa Cultivo12 0,14 0,23 ab 0,23 0,49 b 0,18 b 0,39 105 103 103
13
V. Baixa Cultivo 0,43 0,58 a 0,14 0,69 ab 0,50 ab 0,33 87 92 96
14
V. Baixa Murinzal 0,45 0,17 ab 0,16 0,84 a 0,32 ab 0,50 76 110 104
V. Baixa Pastagem15 0,46 0,02 b 0,02 0,54 b 0,44 ab 0,55 95 138 93
V. Alta Roça16 0,06 0,13 b 0,05 0,65 ab 0,53 a 0,54 100 95 91
Ilha de São Miguel (Santarém)
V. Baixa Cultivo17 0,13 b 0,05 0,00 0,71 0,37 0,53 91 b 96 95 a
V. Alta Seringal18 0,66 a 0,51 0,21 0,42 0,32 0,26 31 c 61 32 b
V. Alta Cultivo19 0,10 b 0,10 0,03 0,69 0,51 0,39 88 b 99 91 a
V. Alta Pastagem20 0,00 b 0,00 0,00 0,68 0,46 0,32 113 a 112 106 a
Arapemã (Santarém)
V. Baixa Cultivo21 0,06 0,22 0,06 0,38 b 0,42 0,24 88 b 87 b 112
V. Baixa Roça22 0,13 0,10 0,08 0,30 b 0,22 0,37 104 a 113 a 95
V. Baixa Murinzal23 0,05 0,02 0,00 0,64 a 0,29 0,23 91 b 112 a 106
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste
de Tukey). 1 – Capoeira de 50 anos, 2 – Plantio de Cacau com 20 anos, 3 – Murinzal de 20 anos, 4 – Pastagem de Capim-Colônia de 20
anos, 5 – Capoeira de 15 anos, 6 – Cultivo de Juta de 2 meses, 7 – Cultivo de Malva de 3 meses, 8 – Capoeira de ± 55 anos, 9 – Cultivo
de Milho de 4 meses, 10 – Cultivo de Milho de 4 meses mecanizado, 11 – Cultivo de Tomate de 4 meses, 12 – Capoeira de ± 76 anos,
13 – Pastagem de Capim Terra-e-Água de 7 anos, 12 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com murim, 13Cultivo de Milho de 3
meses após pousio com canarana, 14 – Murinzal de 3 anos, 15 – Pastagem de 20 anos, 16 – Roça de mandioca de 8 meses, 17 – Cultivo
de Milho de 3 meses após pousio com murim, 18 – Seringal de ± 70 anos, 19 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com murim,
20 – Pastagem de 7 anos, 21 - Cultivo de Milho de 2 meses, 22 – Roça de Mandioca de 4 meses, 23 - Murinzal de 10 anos.

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CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO ESTUÁRIO

Na região do Estuário, os valores de pH do solo situaram-se entre teores


considerados médios, variando de 5,5 a 5,9 (Tabela 11). Não se observou
influência da unidade da paisagem nem do sistema de uso da terra sobre o pH
do solo. Todas as amostras de solo analisadas apresentaram teores de Ca
trocável situado acima do nível considerado alto, variando de 9,24 a 14,33
cmolckg-1. Também não se observou efeito da unidade da paisagem sobre os
teores de Ca no solo. Os valores mais elevados foram obtidos em área de
floresta. Os teores de Mg trocável observados situaram-se acima do nível
considerado alto (2,7 a 3,4 cmolc kg-1) e não se observou efeito da unidade da
paisagem sobre os teores trocável no solo. Os maiores valores de Mg foram
obtidos em área de floresta.

TABELA 11. Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmolckg-1) na região do Estuário.
pH em H2O Ca Mg
Unidade de Sistemas de
Paisagem uso da terra 0-10cm 10- 20-
0-10cm
10- 20- 0- 10- 20-
20cm 40cm 20cm 40cm 10cm 20cm 40cm

Santa Maria (Gurupá-PA)

V. Baixa Floresta 5,8 5,8 5,9 a 14,33 a 13,02 a 12,42 3,21 a 3,12 3,42

V. Baixa Cacoal1 5,6 5,6 5,5 b 11,97 b 10,54 b 10,52 2,90 ab 2,99 3,10
2
V.Baixa Cultivo 6,0 5,7 5,6 ab 9,81 b 9,24 b 9,84 2,66 b 2,77 3,37

V. Alta Açaizal3 5,7 5,7 5,8 ab 11,80 b 10,76 b 9,41 2,77 ab 2,90 2,90

1 – Plantio de Cacau de 60 anos, 2 – Cultivo de Milho de 2 meses após derruba e queima de capoeira de ± 40 anos, 3 – Plantio de
Açaí de 5 anos.

O Al trocável apresentou valores que se situaram no nível considerado baixo (0,03


a 0,43 cmolckg-1). Não se observou o efeito da unidade de paisagem nem do componente
do sistema sobre a concentração desse elemento no solo (Tabela 12). Os teores de K nessa
região variaram de médio a alto (0,19 a 0,35 cmolckg-1). Também não se observou o efeito
da unidade de paisagem, na camada superficial do solo, as maiores concentrações foram
obtidas em áreas de floresta. Os teores de P variaram de baixo a elevados
(0,6 a 72 mgkg-1). Os valores de P nos solos com açaí e cacau foram significativamente
menores que os encontrados nos de outros componentes. Os resultados mostraram que o

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 81


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desmatamento e queima de uma capoeira de ± 40 anos de idade para implantação de um


cultivo de milho aumentou significativamente o teor desse nutriente no solo.

TABELA 12. Teores médios de Al, K (cmolckg-1) e P (cmolckg-1) na região do Estuário.


Al K P
Unidade de Sistemas de
Paisagem uso da terra 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40 0-10 10-20 20-40
(cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm)

Santa Maria (Gurupá-PA)

V. Baixa Floresta 0,06 0,10 0,14 0,35 a 0,24 0,26 ab 7b 43 b 30 b

V. Baixa Cacoal1 0,13 0,43 0,43 0,19 c 0,20 0,30 a 5 bc 2c 3c

V. Baixa Cultivo2 0,03 0,22 0,32 0,31 ab 0,23 0,24 ab 18 a 72 a 59 a

V. Alta Açaizal3 0,13 0,26 0,42 0,25 bc 0,22 0,19 b 1c 26 b 3c

1 – Plantio de Cacau de 60 anos, 2 – Cultivo de Milho de 2 meses após derruba e queima de capoeira de ± 40 anos, 3 – Plantio de
Açaí de 5 anos

TEORES MÉDIOS DE NITROGÊNIOS E MATÉRIA


ORGÂNICA DO SOLO

Na Tabela 13 são apresentados os resultados dos teores médios de nitrogênio


(N) e matéria orgânica do solo (MOS) em 28 sistema de uso da terra de 7
comunidades ao longo da calha dos rios Solimões-Amazonas. Somente na região
do Alto Solimões e na camada superficial os valores foram médios. No Médio e
Baixo Solimões, e também no Estuário, os valores de N e de MOS foram em geral
médios e baixos e nas demais regiões amostradas os valores foram baixos (Tomé
Jr., 1997). Não se observou um efeito muito claro da unidade de paisagem, no
entanto, em quase todas as regiões, as concentrações de N e MOS foram
significativamente maiores nas áreas de florestas e capoeiras. Nos diversos sistemas
de uso da terra amostrados observou-se que os valores de N e da MOS foram
bastante baixos nas áreas cultivadas, porém, significativamente mais elevados nas
áreas de florestas e capoeiras (Tabela 13).

82 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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TABELA 13. Valores médios dos teores (%) de N e MOS em sete comunidades ao longo da calha dos rios Solimões-
Amazonas.
Unidade de Sistemas de N (%) MOS
Paisagem uso da terra 0-10cm 10-20cm 20-40cm 0-10cm 10-20cm 20-40cm
Teresina IV (Tabatinga-AM - Alto Solimões)
V. Baixa Capoeira1 0,17 0,09 0,08 3,03 1,31 1,19
V. Baixa Cultivo2 0,16 0,10 0,09 3,04 1,71 1,40
V. Baixa Roça3 0,16 0,09 0,05 2,67 1,26 0,82
V. Alta Sítio4 0,16 0,08 0,09 3,34 1,64 1,40
Paraná de Tefé (Tefé-AM)
V. Baixa Capoeira5 0,21 a 0,09 0,07 4,56 a 1,36 a 0,96
V. Baixa Cultivo6 0,16 b 0,08 0,07 2,90 b 1,12 ab 1,08
V. Alta Roça7 0,12 b 0,07 0,06 1,94 c 0,81 b 0,87
Espírito Santo (Manacapuru-AM - Médio Solimões)
V. Baixa Roça8 0,10 b 0,02 c 0,02 b 1,50 b 0,23 c 0,14
V. Alta Floresta 0,20 a 0,13 a 0,13 a 2,81 a 1,41 a 1,58
V. Alta Capoeira9 0,16 a 0,09 b 0,09 a 2,67 a 0,99 ab 1,25
V. Alta Roça10 0,05 c 0,05 c 0,07 ab 0,68 c 0,59 bc 0,95
Comunidade de Santa Maria (Silves-AM - Baixo Solimões)
V. Baixa Capoeira11 0,14 a 0,07 a 0,07 a 2,37 a 0,98 0,99 ab
V. Baixa Roça12 0,13 a 0,08 a 0,06 ab 2,16 a 1,17 0,82 bc
V. Baixa Cultivo13 0,04 c 0,05 b 0,05 ab 0,67 b 1,05 1,07 a
V. Baixa Cultivo14 0,08 b 0,05 b 0,04 bc 1,96 a 1,03 0,77 bc
V. Alta Sítio15 0,07 bc 0,05 b 0,02 c 1,90 a 1,22 0,64 c
São Sebastião do Saracura (Parintins-AM - Baixo Amazonas)
V. Baixa Floresta 0,12 a 0,08 a 0,06 a 2,22 a 0,95 0,64
V. Baixa Capoeira16 0,13 a 0,08 a 0,05 ab 2,31 a 1,11 0,62
V. Baixa Cultivo17 0,08 b 0,05 bc 0,05 ab 1,38 b 0,78 0,63
V. Baixa Cultivo18 0,04 c 0,04 c 0,04 c 0,93 b 0,60 0,52
Piracão-Era de Cima (Santarém-PA - Baixo Amazonas)
V. Baixa Cultivo19 0,06 b 0,06 0,06 0,95 0,86 0,89
V. Baixa Cultivo20 0,07 b 0,07 0,06 1,36 1,11 1,12
V. Baixa Murinzal21 0,09 ab 0,05 0,06 1,65 0,85 1,11
V. Baixa Pastagem22 0,13 a 0,08 0,05 2,26 1,36 0,76
V. Alta Roça23 0,08 b 0,06 0,05 1,46 0,93 0,80
Santa Maria (Gurupá-PA - Estuário)
V. Baixa Floresta 0,18 a 0,14 0,10 3,62 a 2,42 1,55
V. Baixa Cacoal23 0,18 a 0,12 0,08 3,06 ab 1,73 1,06
V. Baixa Cultivo24 0,12 b 0,12 0,10 2,30 b 1,99 1,74
V. Alta Açaizal25 0,16 ab 0,12 0,08 2,75 ab 1,97 1,20

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste
de Tukey). 1 – Capoeira de 5 anos, 2 – Cultivo de Milho x Banana de 4 meses, 3 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses, 4 – Sítio
de ± 50 anos, 5 – Capoeira de 8 anos, 6 – Cultivo de Milho de 4 meses, 7 – Roça Macaxeira x Mandioca de 4 meses, 8 – Roça de
macaxeira de 2 meses implantada após a derruba e queima de uma capoeira de 8 anos,9 – Capoeira de 15 anos, 10 – Roça de Macaxeira
e Milho de 3 meses, 11 – Capoeira de 8 anos, 12 – Roçado com milho de 1 mês implantado após derruba e queima de uma capoeira
de 08 anos, 13 – Cultivo de Feijão-de-praia de 3 meses, 14 – Cultivo de Milho x Melancia de 3 meses, 15 – Sítio de ± 50 anos,
16 – Capoeira de 15 anos, 17 – Cultivo de Juta de 2 meses, 18 – Cultivo de Malva de 3 meses, 19 – Cultivo de Milho de 3 meses após
pousio com murim, 20 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com canarana, 21 – Murinzal de 3 anos, 22 – Pastagem de 20 anos,
23 – Roça de mandioca de 8 meses, 23 – Plantio de Cacau de 60 anos, 24 – Cultivo de Milho de 2 meses após derruba e queima de
capoeira de ± 40 anos, 25 – Plantio de Açaí de 5 anos.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 83


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EFEITO DO USO DA TERRA SOBRE A FERTILIDADE DO SOLO

Nas seis regiões amostradas, os valores de pH variaram de baixo a médio. A


várzea alta apresentou um valor de pH mais elevado que a várzea baixa. De maneira
geral, os valores de pH foram maiores nas áreas cultivadas do que nas florestas e
capoeiras, sugerindo que o principal fator para elevação do pH nestes sistemas de uso
da terra é devido ao processo de queima da vegetação através da ação das cinzas.
Os resultados mostraram que os teores de Ca e Mg ao longo da calha do rio
Solimões-Amazonas situaram-se acima do nível considerado alto e que esses
nutrientes não são limitantes em solos de várzea, confirmando o observado na
literatura (FURCH, 1997; OLIVEIRA et al, 2000; CRAVO et al, 2002). Os dados
demonstraram que, dentro de uma mesma localidade, a variação da concentração
desse nutriente nos diferentes sistemas de uso da terra foi pequena e insiginificante
dada a alta disponibilidade desses nutrientes nos ecossistemas de várzea. Em média,
as maiores concentrações de Ca foram obtidas na região do Alto Solimões e as
menores na região do Baixo Amazonas. Com relação ao Mg, as maiores
concentrações foram encontradas na região do Baixo e Alto Solimões, enquanto que
as menores, na região do Baixo Amazonas.
Nas seis regiões estudadas, as concentrações de Al na maioria das amostras
analisadas foram muito baixas nas áreas cultivadas e significativamente elevadas nas
áreas de florestas e capoeira. Os resultados observados mostram que nos outros
sistemas de uso da terra, a derruba-queima da vegetação diminui a concentração de Al
no solo, conforme tem sido observado em solos de outros locais da Amazônia
(Sanchez et al., 1983; Smyth & Bastos, 1984). Na região do médio rio Amazonas, no
município de Silves (Tabela 8), observou-se uma acentuada redução do teor de Al no
solo após a derruba e queima de uma capoeira de 8 anos para implantação de uma
roça.
Apesar da maioria das amostras analisadas apresentarem concentração elevada,
em alguns casos, o K situou-se abaixo do nível considerado crítico, mostrando que
esse nutriente em algumas áreas de várzea pode-se tornar limitante. De maneira geral,
as áreas de sítios, capoeiras e florestas apresentaram as menores concentrações de K
nos solos.
O P na maioria das amostras analisadas situou-se muito acima do nível
considerado alto, mostrando a alta disponibilidade desse nutriente nas áreas de várzea.
Foi observado que, geralmente, os teores de P foram maiores nas roças e
significativamente menores nas áreas de florestas e capoeira. A região do Estuário
apresentou a menor concentração de P, principalmente os sistemas de cacoal e açaizal,

84 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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apresentando teores abaixo do nível crítico (COCHRANE et al, 1985), enquanto que
as maiores concentrações foram obtidas nas regiões do Alto e Médio Solimões.
Nas áreas onde foram determinados os teores de N, a maioria das amostras de
solo apresentou valores muito baixos, confirmando que este elemento é um dos
principais fatores limitantes para a produção primária na várzea, tanto na fase terrestre
como na fase aquática (JUNK e PIEDADE, 1997; KERN e DARWICH, 1997;
CRAVO et al., 2002). Estudos realizados em solos de várzea alta do Rio Solimões
mostraram evidências de deficiências de N quando se cultiva por anos consecutivos,
sem que ocorra inundação da área (JUNK e PIEDADE, 1997; KERN e DARWICH,
1997; CRAVO et al., 2002).
Os agricultores de várzea também utilizam formas de manejo tradicionais de
uso da terra, praticadas por outras populações da Amazônia, substituindo florestas e
capoeiras de diversas idades por cultivos de ciclo curto, como no caso de mandioca
e milho, que são abandonados após 2 a 4 anos para a recomposição da fertilidade do
solo através da prática do pousio. Considerando que nos solos de várzea o N é o
principal nutriente limitante da produção e que os agricultores não fazem uso de
fertilizantes químicos, a matéria orgânica do solo é, portanto, a principal fonte natural
de N para as plantas. Nos diversos sistemas de uso da terra amostrados observou-se
que os valores de N e da MOS foram bastante baixos nas áreas cultivadas, porém,
significativamente mais elevados nas áreas de florestas e capoeiras (Tabela 15).
Na região do Baixo Amazonas, foi observada em diversas unidades de
produção familiar a prática do pousio com o uso das gramíneas murim (Paspalum
fasciculatum) e a canarana (Echinocloa polystachya) para a recuperação da
fertilidade do solo. Os resultados mostraram que esse tipo de manejo promoveu um
pequeno incremento do teor da matéria orgânica do solo (Tabela 13). Além da
ciclagem de nitrogênio através de gramíneas, o solo de várzea pode ter adição de
nitrogênio pela fixação de N atmosférico nas leguminosas que ocorrem naturalmente
nas várzeas da Amazônia (Salati et al.,1983). Em todas as unidades de produção
familiar amostradas foi observado que os agricultores não fazem uso das
leguminosas, e não têm o conhecimento do benefício dessas espécies como
fornecedoras de nitrogênio para as plantas. Nesse sentido, é importante fazer um
levantamento da ocorrência nessas áreas de espécies de leguminosas com potencial
fixador de nitrogênio para serem utilizadas como componentes dos sistemas de
produção em área de várzea. Kreibich et al (2003) observaram que o fluxo de N
mineral no solo a 0-20 cm foi maior próximo de espécies leguminosas que não-
leguminosas, indicando uma alta disponibilidade de N e a importância das
leguminosas na fixação desse nutriente também em áreas de várzea.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 85


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CONCLUSÕES

• Todos os sistemas de uso da terra amostrados apresentaram teores de


Ca e Mg situados acima do nível considerado alto, confirmando a alta
disponibilidade desses nutrientes nos ecossistemas de várzea.
• Embora as florestas e capoeiras mantenham níveis elevados de
fertilidade, neste ambiente também pode ser verificado acidez elevada
e valores tóxicos de Al trocável, ao contrário da maioria dos outros
sistemas de cultivo que apresentaram baixas concentrações desse
elemento.
• O P na maioria das amostras analisadas, situou-se muito acima do
nível considerado alto, mostrando a alta disponibilidade desse
nutriente nas áreas de várzea.
• Apesar da maioria dos solos analisados apresentarem concentração
elevada, em alguns casos, o K situou-se abaixo do nível considerado
crítico, mostrando que esse nutriente em algumas áreas de várzea
pode-se tornar limitante.
• Na maior parte dos sistemas de uso da terra estudados, os níveis de C
e N no solo foram baixos, confirmando que o N é um dos principais
nutrientes limitantes para a produção agrícola em área de várzea na
Amazônia.

86 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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LITERATURA CITADA
ADIS, J., JUNK, W. J. Terrestrial invertebrates inhabiting lowland river
floodplains of Central Amazonia and Central Europe: a review.
Freshwater Biology, 2002. 47:711-731.
ALFAIA, S. S., FALCÃO, N. P. Estudo da dinâmica de nutrientes em
solos de várzea da Ilha do Careiro no Estado do Amazonas.
Amazoniana, 1993. XII (3/4):485-493.
AYRES, J. M. As Matas de Várzea do Mamirauá. Brasília: MCT-
CNPq/PTU e Sociedade Civil Mamirauá, 1993. 96p.
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88 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


03_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:40 Page 89

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CAPÍTULO 4

AGRICULTURA E EXTRATIVISMO
VEGETAL NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA
Hiroshi Noda1 e 2
Francisco Manoares Machado1 e 2
Danilo Fernandes da Silva Filho1 e 2
Lúcia Helena Pinheiro Martins2
Elisabete Brocki3 e 2
Marco Antonio de Freitas Mendonça4 e 2
Jucélia de Oliveira Vida2
Ayrton Luiz Urizzi Martins5 e 2
Maria Silvesnízia Paiva Mendonça2
Antonia Ivanilce Castro da Silva2

INTRODUÇÃO

Este estudo sobre os fatores que interferem na produção agrícola e no


extrativismo foi realizado utilizando-se dois tipos de informações: i. dados de
“horizontalização multitemática”, e os dados de “verticalização temática”,
realizada em vinte e seis unidades de produção, consideradas como unidades
amostrais regionais no conjunto das amostras inter-regionais.
As unidades de produção agropecuária da várzea do rio Amazonas-
Solimões foram caracterizadas por meio de indicadores fitotécnicos e pelas
formas como os agricultores usam e manejam os recursos mobilizados no
processo produtivo. A abordagem de verticalização temática levou em conta o
intervalo entre as localidades para uma distribuição uniforme das amostras ao
longo da calha Solimões - Amazonas, em pelo menos duas unidades de
produção em cada uma das regiões e municípios: duas no Alto Solimões
(município de Tabatinga e Benjamin Constant); quatro no Médio Solimões

1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).


2. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).
3. Universidade Estadual do Amazonas (UEA).
4. Universidade Federal do Amazonas – Faculdade de Ciências Agrárias (UFAM/FCA).
5. Universidade Luterana do Brasil – Centro Universitário Luterano de Manaus (ULBRA/CEULM).

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 91


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(municípios de Tefé e Coari); três no Baixo Solimões (municípios de


Manacapuru, Iranduba e Careiro da Várzea); três no Médio Amazonas
(municípios de Itacoatiara e Silves); quatro no Baixo Amazonas (município de
Parintins); três no Baixo Amazonas (municípios de Oriximiná e Óbidos); cinco
no Baixo Amazonas (município de Santarém); e três no Estuário (município de
Gurupá).
A coleta de dados foi realizada a partir da aplicação de questionários
específicos, entrevistas abertas e fechadas semi-estruturadas, elaboração de
diário de campo e croqui da área, levantamento planaltimétrico da unidade
rural, coleta botânica e levantamento florístico dos componentes sítio,
terreiro e extrativismo vegetal.
Os aspectos levantados para caracterização da unidade rural de
produção estão relacionados com: a) identidade do agricultor, dados da
família e da propriedade; b) histórico da área; c) dados da produção
(componente roça ou cultivos); d) componente sítio (espécies, usos,
quantidade, plantada/tolerada); e) componente extrativismo vegetal,
intensidade da atividade (época do ano, espécie, tempo de deslocamento e
número de pessoas envolvidas). Complementando aplicação dos
questionários-formulários foram elaborados relatórios diários de campo. O
observador elaborou um relatório sobre os aspectos relevantes que não eram
contemplados no instrumento de coleta de dados ou aspectos que, apesar de
serem quesitos do mesmo, não possibilitavam destaque necessário devido às
condições específicas da amostra.
Para melhor visualização dos componentes do sistema de produção
foram elaborados croquis das áreas por meio de mapas esquemáticos
representativos e levantamentos planaltimétricos, onde se procurou alocar
espacialmente os elementos das paisagens e os ambientes acessados e
utilizados pelos produtores. Aquelas espécies vegetais não possíveis de
identificação no campo foram coletadas seguindo os procedimentos padrões
de Fidalgo e Bononi (1984) e Di Stasi (1996). As amostras foram descritas,
prensadas, acondicionadas em sacos plásticos em álcool e secas em estufas
com cerca de 40°C no Laboratório de Genética e Melhoramento de Plantas
da CPCA/INPA, sendo posteriormente identificadas e incorporadas no
Herbário do INPA. Os espaços dos sítios foram esquadrejados em áreas de
10x10 m para identificação e alocação das espécies cultivadas e mantidas.
As atividades comumente denominadas como sendo de extrativismo
vegetal foram trabalhadas a partir de descrições feitas sobre os ambientes

92 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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acessados e produtos obtidos na atividade; as espécies vegetais extraídas e


suas formas de manejo; as formas de processamento e comercialização de
produtos de origem extrativista e a importância econômica, atual e potencial,
dos produtos e subprodutos oriundos do extrativismo vegetal.

CARACTERIZAÇÃO FITOTÉCNICA DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO


AGROPECUÁRIA DA VÁRZEA DO RIO SOLIMÕES-AMAZONAS

A unidade de produção familiar na várzea do rio Solimões-Amazonas é


um sistema complexo que envolve a aplicação de diferentes atividades de
trabalho nos recursos naturais disponíveis e é, basicamente, constituído por
diferentes paisagens do ambiente explorado: áreas de restinga com vegetação
agrícola permanente (sítios), áreas de restinga, baixadas e praias com
vegetação agrícola temporária (roças e plantios de espécies de ciclo anual),
capoeiras (áreas de pousio) com preponderância de espécies lenhosas ou
gramíneas, chavascais caracterizando a presença de áreas baixas com solos mal
drenados, florestas, lagos, rios e igarapés. A floresta e os ambientes aquáticos
fazem parte dos ambientes explorados pelo produtor de várzea, pois são os
locais onde são executadas as atividades de extrativismo vegetal e a pesca
artesanal. Esses resultados coincidem com aqueles obtidos por Noda et al.
(2001) nas áreas de várzeas de agricultores familiares da calha do Solimões-
Amazonas, no Estado do Amazonas e por WinklerPrins (2003) na Ilha de
Ituqui, Santarém (PA), que concluíram existir uma mistura de controle privado
e comunal em áreas de pequenos produtores.
Nos sistemas de produção adotados pelos agricultores familiares da
várzea da calha Solimões-Amazonas, a entrada de insumos externos, como
fatores de produção, é extremamente limitada. Os produtos gerados, de
maneira geral, são resultantes da somatória do trabalho, predominantemente
familiar e uso e manejo dos recursos naturais disponíveis ao produtor. Esses
resultados coincidem com aqueles já relatados por Noda e Noda (2003) e que
podem ser apresentados esquematicamente (Figura 1).

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 93


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Figura 1. Fatores envolvidos no processo produtivo na agricultura da várzea do rio Amazonas-Solimões.


(Adaptado de Noda & Noda, 2003).

Os produtos gerados pela unidade de produção têm três destinos: auto-


consumo, dentro da unidade de produção; o compartilhamento dentro do grupo
social com qual se relaciona (comunidade); e, em terceiro, o mercado onde o
valor de uso do produto adquire o respectivo valor de troca mercantil tornando
possível, desta forma, sua transformação em moeda. A parte não consumida
pela unidade de consumo é compartilhada por outros membros da comunidade,
através de uma rede cultural, social e econômica (IBGE, 2004). São as relações
econômicas não-monetarizadas estabelecidas, no âmbito das relações sociais,
pela prática da ajuda mútua entre membros do mesmo grupo social
(comunidade) e, no âmbito da economia, por meio das relações de
reciprocidade envolvendo doações e recebimentos de produtos. As relações
sociais de ajuda mútua envolvem mecanismos de doação e recebimento de
trabalho como mutirão, troca de dia, roças e hortas comunitárias. Essas
práticas, culturalmente mantidas pelos membros da comunidade, contribuem
significativamente para a estabilidade e permanência das comunidades rurais.
O produto excedente não consumido é colocado no circuito do mercado formal
gerando renda monetária, o que permite a aquisição de bens não produzidos
pela unidade de produção (NODA e NODA, 2003).

94 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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A Tabela 1, construída a partir do levantamento realizado em 249


amostras de unidades de produção, ao longo da várzea do rio Solimões-
Amazonas, apresenta os componentes agrícolas dos sistemas de produção da
várzea e descreve as Unidades de Paisagens (ambiente onde a prática agrícola
ocorre); os Componentes do Sistema de Produção (espaço onde ocorre a
atividade associada à técnica de produção); Área de Cultivo (dimensão da área
cultivada); Espécies Cultivadas (espécie agrícola) e Finalidade (destinação
dada ao produto). Levando em conta a nomenclatura utilizada pela maioria dos
agricultores adotou-se a denominação Roça a lavoura onde o constituinte
principal fosse a mandioca ou macaxeira (Manihot esculenta Crantz); Cultivos
para as lavouras em consórcio ou monocultivos onde não aparecem a mandioca
ou macaxeira; e Hortaliças para os cultivos envolvendo as espécies olerícolas
e medicinais.
Roça ou Cultivos – neste componente, os agricultores utilizam o solo
para cultivar espécies anuais durante alguns ciclos e a mandioca é a espécie
com maior presença devido sua importância até para a sustentabilidade
biológica e social da unidade de produção. Os cultivos de espécies alimentares
são realizados na forma de consórcios ou monocultivos, mas com prevalência
dos primeiros, tendo em vista necessidade de diversificar a produção uma vez
que a destinação desses produtos é, basicamente, para o consumo dentro da
unidade de produção. Os produtos alimentares colocados no mercado são
hortaliças, quando há possibilidade de rápido acesso aos centros consumidores
localizados nas sedes municipais, frutos como, por exemplo, banana, goiaba,
manga, alimentos processados para alimentação humana cuja conservação
permite maior espaço de tempo de comercialização (exemplo, farinha de
mandioca), alimentos para animais (milho) e produtos para fins industriais
(fibras de malva e juta). As espécies cultivadas são as anuais, variando quanto
ao período necessário para completar o ciclo desde o plantio até a colheita.
Excepcionalmente, quando o local de cultivo ocupa áreas mais elevadas
podem-se encontrar espécies perenes consorciadas com as anuais.
O plantio dessas espécies obedece a uma seqüência na qual as espécies
mais tardias são plantadas logo após a descida das águas, ocupando as cotas
mais elevadas e as mais precoces ficando para o final do período de plantio,
ocupando as áreas de cotas menos elevadas. A mandioca ou macaxeira são
cultivadas separadamente ou em consórcio, a denominação mais utilizada é
roça. As roças ocupam as áreas de cotas mais elevadas das unidades de
produção que recebem diferentes designações: restinga, lombada, vazante ou

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 95


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praia. A amplitude de variação das áreas ocupadas por esse componente, em


toda a calha Solimões-Amazonas situa-se entre 0,02 ha, em Maraã no Médio
Solimões até 2,57 em Silves, no Médio Amazonas. As espécies que compõem
os consórcios são hortaliças, frutíferas, principalmente banana, milho, espécies
medicinais e até espécies arbóreas como abacate, açaí e graviola. A produção
é destinada ao consumo pela unidade de consumo (componentes da família e
demais pessoas da família não envolvidas na produção) e, também, para venda.
Sítio, Terreiro ou Quintal – esse componente ocupa a parte mais
elevada do terreno e, geralmente, localiza-se próximo à moradia do produtor.
Neste estudo foram encontradas 287 espécies cultivadas no componente sítio
(Apêndice 1). Nessa área estão, também, localizadas a maioria das construções
da propriedade, a casa de farinha, os currais, chiqueiros e galinheiros. A
vegetação principal é constituída por espécies perenes frutíferas. São
cultivadas, também, hortaliças, espécies medicinais e eventualmente, essências
florestais. Nesse local são criados os animais domésticos de pequeno porte,
sendo o conjunto intensivamente manejado pela mão–de-obra familiar,
especialmente mão-de-obra feminina e infantil.
A participação do trabalho masculino restringe-se a eventuais capinas.
Segundo constataram Lima e Saragoussi (2000), esse é o local por onde são
avaliadas e introduzidas as espécies novas e em muitos casos, é o componente
que fornece o maior volume da produção excedente total colocada no mercado.
A área média ocupada por esse componente, ao longo da calha do rio Solimões
– Amazonas variou entre 0,10 ha em Uricurituba, no Médio Amazonas até 5,80
em Itacoatiara, também, no Médio Amazonas. O número de espécies cultivadas
e ou protegidas dentro desse componente é bastante elevado: 83 no Alto
Solimões; 37 no Médio Solimões; 65 no Baixo Solimões; 103 no Médio
Amazonas; 223 no Médio/Baixo Amazonas; e 92 na região do Estuário.

96 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


TABELA 1. Componentes agrícolas dos sistemas de produção da várzea do Rio Solimões-Amazonas, trecho Tabatinga, AM - Gurupá-PA. 2003-2004.

Micror- Componentes do Unidades de Área Finalidade Espécies (*)


Município
região Sistema Paisagem média (ha) Consumo Venda

cultivo vazante - x banana


Atalaia do
Norte pousio capoeira -
04_agricultura.qxp:Layout 1

roça vazante - x batata, jerimum, mandioca (pagoão), milho


lombada, alface, banana, cedro (vermelho), coentro, feijão (de praia), jerimum, mamão,

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


cultivo restinga, 0,94 x x maracujá, maxixe, melancia (paulista, peru), melão peru, milho (duro, mole, pé-de-
vazante boi, peru), pimenta (de cheiro) pimentão (doce), tabaco, tomate

abacaxi, açaí, bacaba, banana (caipirona, chifre de boi, comprida, inajá, maçã,
26.03.08

lombada,
pacova, peruana, prata, seda), cacau, caju, cana-de-açúcar, coco, cupuaçu, graviola,
roça restinga, 1,01 x x
Benjamin ingá, limão, macaxeira (casca roxa, pagoão, pirapitinga), mandioca (macachurá,
vazante
Constant pagoão, pagoinha), manga, mapati, melancia, milho, pepino, pimentão, tomate
21:41

lombada, abiu, açaí, algodão, araçá, bacuri, banana, buriti, cacau, caju, cana-de-açúcar, capim
sítio restinga, 2,34 x x santo, coco, corama, cubiu, cuia, cupuaçu, cupuí, goiaba, graviola, ingá, ingá-cipó,
1
vazante jambo, jenipapo, laranja, limão, mamão, manga, melancia, seringa, taperebá
restinga,
sítio-hortaliças - x boldo, cebolinha, pimenta (de cheiro), pimentão, tomate
vazante
Page 97

cebolinha, cilantro (colombia), cipó, coentro, goiaba (branca, vermelha), jerimum


cultivo 0,62 x x (caboclo, de leite, jandaia) maxixe (da região, pepino), melancia (de anoba,
japonesa, maxixe, paulista), milho (pé-de-boi), repolho
pousio -
banana (caipira, caipirona, chifre de boi, inajá, maçã, pacova, peruana, prata, roxa,
roça 0,17 x x sapo), macaxeira (açaí, casca-roxa, guaruda, nambrezim, olho verde, pagoão, poré,
samaúma), mandioca
São Paulo
de Olivença abacate, açaí, bacaba, buriti, cacau, camu-camu, cana-de-açúcar, canela, coco,
sítio 0,6 x cupuaçu, goiaba, graviola, ingá, jambo, laranja, laranja da terra, limão (galego,
tangerina), mamão, mangaba, maracujá
alfavaca, algodão, arruda, boldo, bredo, capim santo, cariru, catinga de mulata,
chicória, cravo, cuia mansa, hortelã, japana (branca, roxa), maravilha, melão
sítio-hortaliças restinga - x x (amarelo, azul), milho do campo, mucuracaá, mutuquinha, onze horas, pepino (da
região, verde), pimenta (de cheiro), pobre velho, rosa, samambaia, (tomate
colombiano, regional, yoshimatsu)

97
98
Micror- Componentes do Unidades de Área Finalidade
Município Espécies (*)
região Sistema Paisagem média (ha) Consumo Venda
lombada, praia,
cultivo 1,54 x x cacau, feijão, melancia, milho (3 meses, dente-de-cavalo), pimentão (doce), tomate
restinga, vazante
arroz, banana (caipirona, comprida, duas pencas, sapo), cacau, caju, castanha-de-macaco,
lombada,
coentro, cubiu, feijão, fruta-pão, ingá, jenipapo, jerimum, macaxeira (caniço, pão, poré,
roça restinga, 0,65 x x
vitória), mamão, mandioca (pagoão, peruana), manga, maracujá, maxixe, melancia, milho,
vazante
pepino, pimenta, pimentão, tomate
04_agricultura.qxp:Layout 1

abacate, abacaxi, abiu, açaí, acerola, aninga, araçá boi, azeitona (roxa), bacaba, banana
1 Tabatinga (caipira, peruana, prata), buriti, cacau, caju, cana-de-açúcar, castanha, castanha de galinha,
lombada,
cedro, coco, cubiu, cuia, cupuaçu, curua, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá (açu, cipó, do
sítio restinga, 0,73 x x
metro), jambo, jenipapo, jerimum, laranja, limão, mamão, mandioca, manga, maracujá,
vazante
maxixe, mucuracaá, pepino, pião (branco, roxo), pimenta, pimentão, pupunha, seringa, tomate
26.03.08

(liso, regional), urucum


lombada, amor-crescido, boldo, cariru, cebolinha, cecília, chicória, cibalena, cidreira, coentro, cravo, cravo-de-
sítio-hortaliças restinga, - x x defunto, cróton, cubiu, cumaruzinho, elixir-paregórico, hortelã, malva santa do , dente, malvarisco,
vazante maxijulio, palma, papoula, pimenta (de cheiro), pimentão, rosa, vassourinha
21:41

cultivo vazante 0,02 x x alface, cariru, cebolinha, couve, milho, pepino, tomate
Alvarães roça vazante - x x banana (comprida, pacova), macaxeira (pão), mandioca (calai, siaçá, valdevina)
sítio restinga - x x açaí, banana, caju, coco, fruta-pão, laranja, limão
alface, banana (pacova, prata), barba de bode, batata-doce, berinjela, cacau, cariru, cebolinha, cedro,
Page 98

beiradão, praia, chicória, coentro, couve, feijão (branquinho, coquinho, de metro, manteiguinha, vermelinho), hortelã,
cultivo restinga, 2,49 x x jerimum (de leite), malva, mangarataia, mari, maxixe, melancia (japonesa), melão, milho (da emater),
vazante mungumba, pepino, pimenta (de cheiro), pimentão, quiabo, repolho, seringa, tacacazeiro, tomate (mão-
de-onça, paulista, regional), urucuri
pousio capoeira -
2
abacaxi, ananás, banana (caipira, comprida, curta, inajá, maçã, missouri, pacova, prata), cana-de-açúcar,
lombada,
Coari cará, cariru, cebolinha, chicória, cubiu, feijão de praia, jerimum, juta, macaxeira (açaí, baié, calai,
roça restinga, 0,75 x x
manteiga, pão, peruana), malva, mandioca (4 meses, amarelinha, angelina, camarão, casca-roxa, pacu,
vazante
tucumã), maxixe, melancia, melão, milho (4 meses), pepino, pimenta (ardosa, de cheiro), tomate

abacate, abacaxi, abiu, açaí, acerola, araçá, ata, bacaba, banana (prata), batata-doce, benjamim, biribá, buriti,
lombada, cacau, caju, cana-de-açúcar, capim santo, castanha (de macaco, do pará), caxinguba, chicória, coco,
sítio restinga, 1,96 corama, cuia, cupuaçu, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá, jambo, jenipapo, jucuba, laranja, lima, limão,
vazante macaxeira, mamão, mandioca, manga, maracujá, mari, marirana, mastruz, paricarana, pião (roxo), pitanga,
pupunha, quiabo, seringa, tangerina, taperebá, urucum

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


Micror- Componentes do Unidades de Área Finalidade
Município Espécies (*)
região Sistema Paisagem média (ha) Consumo Venda
amor-crescido, arruda, brinco de moça, cacau, capim-santo, cará (roxo), cariru, cebolinha, chicória,
lombada, restinga,
sítio-hortaliças 0,45 cidreira, coentro, corama, couve, cuia, feijão, goiaba, hortelã, mangarataia, mariana, mastruz, maxixe,
vazante
melancia, mucuracaá, pimenta (de cheiro), pimentão, tomate (mão-de-onça)
cultivo restinga, vazante 0,33 x x açaí (do pará), cedro, melancia, milho (duro)
roça vazante 0,83 banana (comprida), cariru, macaxeira, mandioca (olho-roxo, valdevina), milho
04_agricultura.qxp:Layout 1

Maraã abiu, açaí, araçá, bacaba, banana, buriti, cacau, caju, coco, cuia, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá, jaca,
sítio restinga, vazante 0,35 x jambo, jenipapo, limão, mamão, manga, pupunha, puruí, taperebá, urucum

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


sítio-hortaliças restinga -
alface, cebolinha, chicória, coentro, couve, jerimum, maracujá, maxixe, melancia (chinesa, japonesa),
lombada, restinga, melão, milho (de assar), pepino, pimenta (ardosa, comprida, murupi, redonda, de cheiro), pimentão,
cultivo 0,47 x x
2 vazante tomate
26.03.08

alface, banana (baié, bananinha, caipira, capim, chifre de boi, guariba, inajá, maçã, pacova, pacovinha,
lombada, restinga, prata), macaxeira (açaí, mantegona, pagoinha, pão, tambaqui), mandioca (baixotinha, grelo-roxo, olho-
roça 1,4 x x
vazante roxo, tambaqui, tortanga, valdevina), maxixe, melancia, melão, milho, pimenta, tomate
Tefé
21:41

abacate, abiu, açaí, araçá (boi), azeitona, bacaba, banana (comprida), bodó, buriti, cacau, caju, coco,
comigo-ninguém-pode, cuia, cupuaçu, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá (açu), jaca, jambo, jenipapo,
sítio restinga, vazante 1,88 x x jucá, laranja, lima, limão, macacaúba, manga, marirana, pupunha, puruí, samaúma, seringa, sucuri de
planta, taperebá, urubucaá, urucum
cariru, cebolinha, chicória, coentro, jerimum, maxixe, pimenta (de cheiro), pimentão, quiabo, repolho,
sítio-hortaliças restinga, vazante - x x
Page 99

tomate
praia, restinga, batata-doce, cana (fita), cebolinha, chicória, coentro,couve, jerimum (de leite), malva, maracujá,
cultivo 0,85 x x
vazante mastruz, maxixe, melancia, melão, milho, pepino, pimentão, quiabo, repolho
banana (comprida, maçã, maçaroca), batata, feijão (barrigudinho), jerimum, macaxeira (manteiguinha,
Careiro da roça beiradão, vazante 0,35 x x
pacu), mandioca (olho-roxo, pirarucu, poré), melancia, milho
Várzea
açaí, acerola, banana (maçã, pacova, prata), cacau, caju, cana-de-açúcar, coco, cuia, goiaba, graviola,
sítio restinga, vazante 0,75 x x
ingá (açu, de macaco), jenipapo, jerimum, laranja, manga, munguba
3 sítio-hortaliças vazante - x arruda, boldo, cebolinha, chicória, hortelã, malvarisco, pimenta (ardida, de cheiro)
feijão (de metro), goiaba, jerimum (caboclo, de leite), malva (do idam), mamão (havaí), maracujá,
cultivo restinga, vazante 0,76 melancia (holandesa, japonesa), milho, pepino (igarapé, jóia, verdão), pimenta (de cheiro), tomate
(são sebastião)
Iranduba
banana (missunga), feijão, jerimum, macaxeira, mandioca (4 meses, olho-roxo, olhuda, paum),
roça restinga, vazante 0,58 x x
maxixe, melancia (paulista), milho (anão)

99
100
Micror- Componentes do Unidades de Área Finalidade
Município Espécies (*)
região Sistema Paisagem média (ha) Consumo Venda
açaí (am), banana (encharcada), caju, carambola, coco, cupuaçu, goiaba, jambo, jerimum, limão
sítio vazante 0,49
(caiano), manarana, manga, pimenta (de cheiro), pitomba
sítio-hortaliças vazante - x cebolinha, cominho, couve, jerimum
praia, restinga, banana, batata, cebolinha, couve, feijão (branco), jerimum, malva, mamão, maracujá, melancia, milho,
cultivo 1,67
3 vazante pastagem, pimenta, pimentão
04_agricultura.qxp:Layout 1

pousio 0,5
banana, caupi, jerimum (caboclo), macaxeira, malva, mamão, mandioca (olho-roxo, orana,
roça restinga, vazante 0,79
zulhudinha), maracujá, melancia, milho
Manacapuru abacate, açaí (am, jussara, pa), bacaba, banana, buriti, cacau, caju, cana-de-açúcar, coco, cuia,
sítio restinga, vazante 0,5 cupuaçu, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá (açu), jambo, jenipapo, laranja, lima, limão, mamão,
manga, seringa, urucum
26.03.08

alecrim, alfinete, arruda, boa-noite, bredo, canarinho, capim santo, cebolinha, chicória, coentro,
sítio-hortaliças restinga, vazante corama, cravo-de-defunto, jerimum, mangarataia, mastruz, perpértua, pimenta (de cheiro, de mesa),
riso do padre
21:41

beiradão, restinga, alface, cacau, cebolinha, coentro, couve, feijão (de corda), jerimum, macaxeira, malva, mandioca,
cultivo 1,24 x x
vazante maracujá, maxixe, melancia (holandesa), milho, seringa
pousio -
abacate, açaí, banana, batata, cacau, feijão (de corda), goiaba, graviola, jerimum, macaxeira (6 meses,
praia, restinga,
roça 1,03 pão), mamão, mandioca (4 meses, 6 meses, branca, curuá, juaca, vermelha), melancia, milho, pepino,
vazante
pimentão, tomate
Page 100

abacate, açaí (verde), acerola, algodão (roxo), azeitona, babosa, bacaba, bacuri, banana, cacau, caju,
Itacoatiara
cana-de-açúcar, catoré, caxinguba, coco, cuia, cupuaçu, feijão, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá (açu),
sítio restinga, vazante 5,8
jambo, jenipapo, jerimum, laranja, limão, macaxeira, mamão, manga, maracujá, mastruz, melancia,
4 pimenta (malagueta), pupunha, puruí, quiabo, saratudo, seringa, tangerina, taperebá
acerola, alface, alfavaca, amor-crescido, capim (cidrão), capim santo, cebolinha, chicória, cipó-alho,
citrus, coentro, couve, cuminho, goiaba, hortelã (grande), jerimum, mangarataia, mastruz, maxixe,
sítio-hortaliças restinga, vazante -
mucuracaá, pião (branco, roxo), pimenta (ardosa, malagueta, murupi, olho-de-peixe, de cheiro),
pimentão, quiabo, samadaru, saratudo, taioba, tomate, trevo (roxo)
baixio, beiradão,
cultivo 2,57 x x açaí, cacau, feijão (de praia), jerimum (de leite), maxixe, melancia, milho (dente-de-cavalo), tomate
massapê, vazante
Silves
pousio 10

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


Micror- Componentes do Unidades de Área Finalidade
Município Espécies (*)
região Sistema Paisagem média (ha) Consumo Venda
alfavaca, ananás, banana (branca, pacova, prata), cacau, caju, capim santo, cará, feijão, hortelã, ingá,
roça restinga, vazante 0,8 x x jerimum, macaxeira, mamão, mandioca, maracujá, maxixe, melancia, melão, milho, pimenta (de
cheiro), tomate
abacate, abacaxi, açaí, alfavaca, banana (branca), buriti, cacau, café, caju, capim santo, carambola,
castanha (de macaco), coco, cuia, cupuaçu, cutitiribá, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá, jaca, jambo,
04_agricultura.qxp:Layout 1

sítio massapê, restinga 5,38 x x


4 jenipapo, laranja, lima, limão, mamão, manga, maracujá, palma ornamental, pião (roxo), pimenta
(malagueta), quiabo (de metro), tabaco, tangerina, taperebá, tomate, tucumã

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


alface, alfavaca, catinga-de-mulata, cebolinha, chicória, cidreira, cominho, couve, crajiru, maxixe,
sítio-hortaliças restinga, vazante - x
pepino, pimentão, quiabo, tomate
sítio restinga 0,1
26.03.08

Urucurituba
sítio-hortaliças restinga -
alface, arroz, banana, cacau, cebolinha, couve, feijão (leite, manteiga), jerimum, mamão, maxixe,
cultivo praia, vazante 0,93 x x
melancia (japonesa), milho (quarentinha), pepino, pimenta (de tempero), quiabo, tomate
21:41

roça vazante 0,26 banana, couve, jerimum, macaxeira, mamão, mandioca, maxixe, melancia, milho, quiabo

acerola, alfavaca, algodão, ata, banana, bandeira-do-divino-espírito-santo, berinjela, cacau, capim


santo, cariru, castanha (sapucaia), cebolinha, chicória, coco, comigo-ninguém-pode, couve, cuia
Óbidos sítio restinga, vazante 0,05
(mansa), goiaba, graviola, jaca, jambo, laranja, limão, macaxeira, mamão, manga, mangarataia,
maracujá, mastruz, pau mulato, pimenta (malagueta, de cheiro), pimentão, quiabo, samambaia
Page 101

bandeira de são francisco, boldo, cebolinha, chicória, erva cidreira, favinha seca, loucura, pião
sítio-hortaliças vazante - x
(roxo), pimenta (de cheiro), tajá, tomate
tabuleiro - x x cebolinha, couve
5
abóbora, batata, chuchu, feijão (campeã, de metro, leite, manteiguinha, pingo de ouro), jerimum,
praia, restinga,
cultivo 0,97 x x juta (branca), melancia (branca, pintada, rajada), milho ("toda manhã" embrapa, dente-de-cavalo,
vazante
duas espigas, feira da cidade), pimentão, repolho, tomate
roça 1,5 x banana
abiu, abobrinha, acerola, algodão, arruda, aruazeiro, ata, azeitona, bacuri, banana (branca, grande,
Oriximiná prata), benjamim, cacau, caimbé, caju, cajurana, cana-de-açúcar, capim santo, castanha (do pa,
sapucaia, de macaco), castanhola, catauari, cidreira, coco, cuia, esturaque, feijão (feijãozinho), fruta-
sítio restinga, vazante 0,8 x x pão, goiaba, hortelã, ingá, jaca, jambo, jambu, jauarí, jenipapo, laranja, limão, maguari, mamão,
mandioca, manga, maracujá, marajá, mari, marimari, mastruz, melão (maxixe), murrão, mutinha,
papoula, paricá, pião (branco, roxo), pitomba, pixonera, quiabo (de metro), rosa, rosenga, sacuí,
seringa, socoró, tajá, taperebá, tarumã, uruazeiro, urucum, urucuri

101
102
Micror- Componentes Unidades de Área Finalidade
Município Espécies (*)
região do Sistema Paisagem média (ha) Consumo Venda
alface, alfavaca, alho, amor-crescido, anador, arruda, babosa, capim santo, catinga-de-mulata, cebolinha, chicória, cidreira, coentro, coramina,
restinga,
sítio-hortaliças 0,53 x couve, cróton, dedo de adão, elixir parigórico, emenda osso, esturaque, hortelã (grande, hortelãzinho), jambú, jerimum, mangarataia, mastruz,
vazante
maxixe, melancia, mucura-acá, pião (branco, roxo), pimenta (ardida, de cheiro), pimentão, quiabo, tomate (santa clara), boldo

restinga, abóbora, alface, alho, berinjela, cebolinha, chicória, coentro, couve, jambú, jerimum, maxixe, pepino, pimenta (de cheiro, pimentinha), pimentão,
tabuleiro 0,25 x x
vazante salsa, tomate
04_agricultura.qxp:Layout 1

aba, praia, alfavaca, banana (baixota, casada, de 2 cachos, pacovi, prata, sapo), batata-doce, cebolinha, chicória, feijão (de praia, do idam, quarentão),
cultivo restinga, 0,91 jerimum (caboclo, de leite), juta (branca), macaxeira (casca-roxa), malva, mamão, mandioca (flecha, joão grande, taira), maracujá (branco),
vazante mastruz, maxixe, melancia (grande, holandesa), milho (dente-graúdo, pirantã), pimenta (murupi, de cheiro), pimentão, repolho, tomate

restinga, banana (baixota, branca, casada, cearense, de 2 cachos, grande, inajá, nativa, pacova, pacovi, prata, roxa, sapo), feijão, jerimum (de leite),
26.03.08

roça 0,48 x x
vazante macaxeira (amarela,branca, casca-roxa, coari, manteiga, menina), mandioca (auaçú, flecha, joão grande, taira), maxixe, melancia, milho, pepino

abacate, abiu, açaí, acerola, algodão, araçá (boi), azeitona (roxa), bacaba, banana, buriti, cacau, caju, camu-camu, cana-de-açúcar, castanha (de
21:41

Parintins restinga, galinha, sapucaia, de macaco), caxinguba, coco, cuia, cupuaçu, feijão, fruta-pão, goiaba, goiabarana, graviola, ingá (cuia, sapo, xixica), jaca,
sítio 0,76
vazante jambo, jenipapo, jerimum, laranja, limão, macaxeira, mamão, manga, maracujá, mari, marimari, marimari-de-cachorro, marinema, marizinho,
5 munguba, pião (branco), pimenta, puruí, seringa, tamarindo, taperebá, urua, urucum

alfavaca, algodão, árvore de natal, boldo comprido, cana (da índia), capim santo, carapari, cebolinha, chicória, cidreira, coentro, comigo-
Page 102

restinga, ninguém-pode, corrente menino jesus, couve, crajiru, crista de galo, cuia mansa, feijão (de metro), hortelã (grande, hortelanzinho), jerimum,
sítio-hortaliças - x lavadeira, mangarataia, mastruz, onze horas, pião (batuque, roxo), pimenta (de cheiro), pimentão, sena, terezinha, tomate, trevo (roxo), urubucaá,
vazante
vai-e-vem, vindica

acerola, ajirum, alfavaca, arruda, banana, capim santo, catinga-de-mulata, cebolinha, chicória, coentro, cominho, couve, feijão (de corda), hortelã
tabuleiro restinga 0,05
(hortelãzinho), jambú, jerimum, mamão, maracujá, maxixe, mucuracaá, pimenta (de cheiro), pimentão, tomate, urucum

praia, abóbora, alfavaca, cebolinha, couve, feijão (de leite, grão pequeno, manteiguinha, vermelho, vinagre, de praia), grama de várzea, jerimum (de
cultivo restinga, 0,62 x x leite), juta, maxixe, melancia (japonesa), melão, milho (40 dias, 45 dias, baié, baixinho, quarenta, quarentinha), pimenta (amarela), quiabo,
vazante repolho, seringa, tomate

Santarém abóbora, acerola, banana (baixinha, baixota, branca, casada, casca verde, degenerada, grande, inajá, pacova, pacovi, peruana, pirauá, prata, roxa,
praia, sapo), breu, cana-de-açúcar, coco, cuia, feijão, goiaba, ingá grande, jerimum, laranja, limão, macaxeira (água nossa, amarela, amarelinha, branca,
roça restinga, 0,51 x x manteiga, pão, vermelha, xavica), mandioca (cari, 7 meses, amarelinha, bodó, boi branco, boizinho, branca, branquinha, cordeira, dorotéia,
vazante dourada, flor-de-boi, gordura, guia verde, macambira, milongues, peixe-boi, redonda, roxinha, tambaqui, vermelinha), manga (cipó), maxixe,
melancia, milho, pimenta, taperebá, tomate

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


Micror- Componentes do Unidades de Área Finalidade
Município Espécies (*)
região Sistema Paisagem média (ha) Consumo Venda

abacate, açaí, acerola, algodão, amor-crescido, ananás, aninga, araçá, araticum, arruda, ata, azeitona,
bacaba, bacuri, banana (baixinha, branca, casca verde, grande, grossa), cacau, cacauí, café, caju, cana-de-
açúcar, carambola, castanha (sapucaia), catauari ,cidreira, cipó, coco, crajiru, cuia, cumaru, cupuaçu,
04_agricultura.qxp:Layout 1

curumim, cutitiribá, espírito santo, esturaque, folha grossa, fruta-de-conde, fruta-pão, goiaba (verde,
sítio restinga, vazante 1,41 x x
vermelha), graviola, ingá, jaca, jambo, jenipapo, jucá, laranja, lima, limão, macaxeira, maguari, mamão,
mandioca, manga (cipó, maçã, mangará, rosa), maracujá, mari (gordo), marimari, mastruz, mungubarana,

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


5
murici, murua, pau brasil, pião (branco, roxo), pimenta (do reino), pitomba, pupunha, romã, rosa, sapoti,
seringa, socoró, tabaco, tajá, tamarindo, tangerina, taperebá, tarumã, urucum
Santarém
abóbora, alecrim (do campo, do norte), alface, alfavaca, algodão roxo, amor crescido, araçá, arruda, bajé,
26.03.08

boldo, cana mansa, capim santo, cará, cará roxo, catinga-de-mulata, cebolinha, chicória, cidreira, coentro,
corama, coramina, couve, cuia, diabinho, elixir paregórico, espinafre, folha grossa, hortelã, hortelã grande,
sítio-hortaliças restinga, vazante 0,37 x jambú, japana, jerimum, mangarataia, maracujá, marupazinho, mastruz, melancia, melhoral, mucuracaá,
mutuquinha, ouriço, paçoquinha, pau-de-angola, pepino, piaçoquinha, pião branco, pião roxo, pimenta
21:41

(ardósa, malagueta, de-cheiro), pimentão, pinhão, repolho, sabugueiro, sangue cristo, saratudo, sucuriju,
tomate, vick, vinagreira, vindicá, volta pra mim
tabuleiro - x couve
lombada, restinga,
cultivo 1,33 açaí, arroz, arroz agulinha, banana, cacau, cana-de-açúcar, feijão, limão, melancia, milho
vazante
abóbora, açaí, ananás, ária, arroz, banana (prata), batata doce, cana-de-açúcar, cará, feijão, goiaba, limão,
Page 103

roça restinga, vazante 0,8 x x


macaxeira, mamão, mandioca, maxixe, melancia, milho, pau mulato, pimenta, samaúma
abacate, abacaxi, abiu, açaí, andiroba, araçá, azeitona, bacuri, banana, batata doce, biribá, cacau, caju,
camutinha, cana-de-açúcar, carambola, castanha, cibalena, coco, cuia, cupuaçu, fruta-pão, goiaba (araçá),
sítio vazante 1,82 x x graviola, ingá, jambo, jenipapo, laranja, lima, limão, macucu, mamão, manga, maracujá, marajá, mari,
6 Gurupá
melancia, miriti, munguba, murupitá, pau-mulato, paxiúba, pião (branco), pimentão, piracuuba, pitomba,
pupunha, samaúma, taperebá, ucuúba, virola
alecrim, alfavaca, alho de planta, amor-crescido, anador, arruda, bacaba, catinga-de-mulata, cebolinha,
chicória, cibalena, cidreira, cipó-alho, coentro, corama, couve, cuminho, hortelã, jambu, japana, lágrima de
sítio-hortaliças restinga, vazante 1,14 x x
nossa senhora, mangarataia, meracilina, papoula, pepino, pimenta (de cheiro), pimentão, pirarucu, sucuruju,
tomate
tabuleiro 1 x amor-crescido, cebolinha, chicória, coentro, cominho, couve, pimentão

(*) Variedade ou clones


1 – Alto Solimões, 2 – Médio Solimões, 3 – Baixo Solimões/ Alto Amazonas, 4 – Médio Amazonas, 5 – Médio/Baixo Amazonas e 6 – Estuário

103
04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 104

Os resultados obtidos neste estudo são compatíveis com aqueles


registrados por Lima e Saragoussi (2000) que encontraram, na Amazônia
Central, sítios ocupando em média 0,36 hectare e com a predominância de
árvores frutíferas. No Baixo Solimões, Bahri (1993) encontrou sítios como
uma conversão de antigas plantações de seringueiras e cacaueiros. Estudos com
sítios da várzea amazônica, realizados por outros autores como Guillaumet et
al. (1990), Lima (1994), Anderson et al. (1999) e Lima & Saragoussi (2000),
encontraram, em média, 125 espécies entre plantas arbóreas, arbustos e
herbáceas, bastante próximo da média encontrada nesta pesquisa (100
espécies, com amplitude variando entre 37 espécies no Médio Solimões até
223 espécies no Baixo Amazonas).
O sítio além da sua importância como fornecedor estável de produtos
alimentares à unidade de consumo familiar exerce um papel ecológico
relevante. De acordo com Guillaumet et al. (1993), a alta diversidade vegetal
inter e intraespecífica, com disposição em vários estratos, parecem contribuir
para a diminuição da propagação de doenças e pragas. Os sítios exercem,
também, um papel importante na conservação e amplificação da biodiversidade
agrícola. Segundo Lima (1994) e Lima e Saragoussi (2000), novas cultivares e
novas espécies são introduzidas e testadas, e as de uso corrente pela família são
mantidas, como um recurso para a restauração das roças e outros tipos de
plantios, inclusive com estratégias próprias para fazer frente às enchentes.
Essas áreas funcionam como refúgio (bancos de germoplasma “in situ“
ou áreas onde ocorre a preservação de recursos genéticos) de plantas de origem
indígena como o ariá (Callathea allouia), cubiu (Solanum sessiliflorum),
taioba (Xanthosoma spp.), cará-do-ar (Dioscorea alata), cará (Dioscorea
trifoliata) e plantas medicinais, sendo essa diversidade mantida através de troca
de sementes, mudas e, mais raramente, estacas, com vizinhos, parentes e
amigos, e através da compra ou busca das mesmas nas comunidades urbanas,
próximas ou longínquas (LIMA, 1994 e LIMA e SARAGOUSSI, 2000;
NODA, 2002, NODA et al., 2002; NODA et al. 2003; WINKLERPRINS,
2003; NODA e NODA, 2004).
Os sítios constituem, também, um espaço privilegiado de socialização do
grupo familiar, abrigando não só momentos de lazer, como também os jogos e a
iniciação às atividades agrícolas das crianças. Atividades como fabricação e
conserto de apetrechos de pesca e instrumentos agrícolas, preparação de hortaliças
para a comercialização e atividades de pós-colheita ocorrem nesse local.

104 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 105

Capoeira ou área de pousio – o pousio da terra é uma técnica


tradicional de manejo do solo praticada de maneira generalizada pelos
agricultores da várzea. São terras que permanecem em repouso durante certo
período e voltam a ser reutilizadas para o cultivo de espécies anuais.
Eventualmente, essa capoeira pode ser enriquecida com plantio de espécies
frutíferas perenes, em áreas com cotas mais elevadas. Esse componente ocorre
praticamente em todas as unidades de produção da várzea da calha do rio
Amazonas-Solimões. A partir de tais resultados concluiu-se que a forma de
produção em roças com posterior descanso para encapoeirar, é uma técnica de
manejo do solo, em escala familiar, que permite, em termos de recursos
pedológicos, uma reconstrução do ambiente natural.
Segundo Silva (1991); Pereira (1992;1994) e Noda et al. (2002), a
função das áreas de pousio é a reprodução das qualidades físicas, químicas e
biológicas dos solos, que após algum período de uso agrícola são deixadas em
descanso (pousio). Após um período, mínimo de oito meses a dois anos, é
obtida uma área de cultivo com a fertilidade renovada e com taxas de
ocorrência de pragas, doenças e plantas invasoras reduzidas. No estudo
realizado por Noda (2000) foi observado que nas capoeiras de seis anos,
correspondentes às áreas de antigas roças, apresentavam teores de C e N
próximos aos da mata, o que permitiu a autora presumir a reconstituição dos
recursos pedológicos aos níveis daqueles encontrados na mata natural.
Essas constatações explicam a importância e a eficiência da técnica de
pousio, principalmente, nas áreas de cota mais elevadas onde os processos de
deposição de nutrientes pelas inundações são menos intensos. Entretanto, o
pousio é uma técnica que vem caindo em desuso devido ao avanço da pecuária
na várzea. Noda et al. (1995), encontraram freqüência da adoção do pousio
entre 30% a 68%, com o tempo de descanso variando entre as microrregiões,
dependendo do tamanho da área apropriada, da vegetação remanescente e da
utilização para pecuária. Nas microrregiões do Baixo Solimões, Alto
Amazonas e Médio Amazonas observaram que o tamanho da área apropriada
não constituía fator determinante na decisão de se adotar a técnica de pousio,
mas encontraram uma forte correlação entre a expansão da bovinocultura e a
diminuição da freqüência de uso desta técnica pelos agricultores familiares.
Segundos aqueles autores, com o incremento da pecuária e das áreas utilizadas
na atividade, havia ocorrido uma diminuição nas áreas disponíveis para os
cultivos nas roças, provocando a necessidade de reutilização das mesmas em
um menor espaço de tempo. Nas regiões onde a pecuária é uma atividade

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 105


04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 106

econômica muito importante a situação tende-se a agravar. WinklerPrins


(2003) menciona que na região do Baixo Amazonas, na Ilha de Ituqui, no
município de Santarém, o pousio é pouco praticado.
Extrativismo vegetal – a extração de produtos vegetais é uma atividade
realizada na floresta ou na capoeira. Os produtos extraídos são alimentos,
condimentos, remédios, aromáticos, gomas e fibras e são obtidos em 144
espécies (Apêndice 2). As atividades relacionadas ao extrativismo animal são
constituídas, principalmente, pela pesca artesanal que é realizada no conjunto
da bacia hidrográfica, dando-se preferência, dependendo do período do ano, ao
rio principal, igarapés ou lagos. O peixe é o mais importante e fundamental
fonte de proteína das populações ribeirinhas. Daí a importância das iniciativas
no sentido da manutenção e preservação de lagos, por agricultores familiares,
em algumas localidades como apontam os trabalhos de McGrath et al. (1991 e
1993) e Noda et al. (2000a e 2000b).
Em relação à caça de animais silvestres, os sítios e arredores, parecem
ser os locais preferidos para a captura dos animais, mesmo que não sejam áreas
de cobertura vegetal natural, já que estes localizam-se nas restingas mais altas,
local importante para o refúgio dos animais na época da enchente. Segundo
Noda et al. (2001), na região do Médio Amazonas, o principal ambiente de
caça é o lago de várzea, pois os numerosos lagos daquela região formam
extensos espelhos d’água, que dominam completamente a paisagem durante a
enchente, sendo, talvez por isso, as espécies aquáticas o tipo de caça mais
freqüente.
Criação de animais de pequeno porte – normalmente, os animais de
pequeno porte (aves, suínos, caprinos e ovinos) são criados extensivamente nas
áreas dos sítios e, geralmente, alimentados com restos derivados do
processamento de produtos, por exemplo, raspa de mandioca ou milho
produzido na unidade de produção. McGrath (1991) e Hiraoka (1992)
destacam que, tradicionalmente, a estratégia de subsistência do homem da
várzea envolveu a criação de pequenos animais, a pesca, a agricultura, a
pecuária e o extrativismo florestal, sendo que a importância relativa de cada
uma dessas atividades, ao longo do tempo, refletiu os ajustes feitos pelos
ribeirinhos em relação às oportunidades da economia regional.
Via de regra, os animais que permanecem até a época da cheia são
mantidos naquele período em marombas (instalações construídas em áreas
elevadas para manutenção de animais de criação) ou são levados para terra-
firme na hipótese dos produtores locomoverem-se para aquele ambiente.

106 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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Os procedimentos e as técnicas de produção adotados pelos agricultores


da várzea do rio Solimões-Amazonas evidenciam uma enorme contribuição
cultural da agricultura tradicional. Na Figura 2, tomando-se como base o
modelo proposto por Noda e Noda (1994), é apresentado, esquematicamente,
o fluxo de produtos e serviços envolvidos entre os componentes do sistema de
produção. Observa-se que o sistema produtivo pode ser aglutinado dentro de
um núcleo que poderia ser designado como sendo um sistema agroflorestal
“tradicional”, composto pelos seguintes componentes: i. Roças e Cultivos
(cultivo de espécies anuais em monocultivo ou consórcios); ii. Sítio (cultivo de
espécies perenes, hortaliças e medicinais); iii. Capoeira (pousio simples ou
melhorado); iv. Extrativismo vegetal e animal (extração de alimentos,
condimentos, remédios, aromáticos, gomas e fibras, caça e pesca); v. Criação
(animais de pequeno e grande porte).
O núcleo produtivo interage com o ambiente externo (mercado de
fatores) através da aquisição de insumos para o processo produtivo,
principalmente ferramentas, equipamentos e insumos e, também, de alguns
alimentos consumidos ou bens necessários à manutenção da família, mas não
produzidos dentro da unidade de produção. A interação da unidade de
produção com a comunidade, no que se refere ao processo produtivo, acontece
através das relações sociais de ajuda mútua (troca de trabalho), troca de
insumos, principalmente, propágulos (sementes e mudas) e pela prática da
economia da reciprocidade (troca de produtos, principalmente, alimentos). A
interação com o mercado externo ocorre quando os produtos gerados pela
unidade de produção, após a transformação dos mesmos em mercadorias e o
estabelecimento dos respectivos valores de troca, são convertidos em moeda
(NODA e NODA, 2003).

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 107


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Direção do Fluxo Produtos e Serviços Envolvidos


1 —> 3 Ferramentas, máquinas e insumos
3 —> 4 Alimentos, combustível, madeira, remédio
Alimentos “in natura” e processados, madeira e outros produtos
3 —> 5
da floresta
3 —> 2 Alimentos, sementes, mudas
2 —> 3 Sementes, mudas e força de trabalho
1 —> 4 Alimentos, combustível, vestimentas, remédio

FIGURA 2. Fluxo de produtos e serviços entre os componentes produtivos no sistema de produção na várzea do
Solimões-Amazonas. (Adaptado de NODA & NODA, 2002).

108 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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INFLUÊNCIA DO PULSO DAS ÁGUAS NA CONSTRUÇÃO DAS


PAISAGENS AGRÍCOLAS E NA DIVERSIDADE GENÉTICA VEGETAL

Na Tabela 2 é apresentada a posição topográfica dos componentes dos


sistemas de produção agrícola nas unidades levantadas no sentido da calha do
Solimões-Amazonas, trecho entre os municípios de Tabatinga, no Alto
Solimões do Estado do Amazonas e Gurupá, no Estuário do rio Amazonas, no
Estado do Pará. A partir de dados do Nível Médio Histórico do rio Solimões-
Amazonas nos municípios de Coari, Manaus, Parintins, no Estado do
Amazonas e Santarém, no Estado do Pará, registrados pelo Departamento
Nacional de Águas (Barthem & Fabré, 2004) foram estimadas as cotas da lâmina
d’água nos respectivos municípios nos doze meses do ano. A partir desses dados
construiu-se um gráfico com as linhas de cotas médias anuais históricas que
correspondem, neste estudo, às regiões abrangidas pelos respectivos municípios.
Os pontos obtidos nos levantamentos de campo, nas respectivas datas de
observação, foram graficamente alocados na linha correspondente às marcas dos
níveis médios históricos do município. A partir desses pontos, foram
estabelecidas as projeções das datas de início e final do período de inundação e
o período disponível para uso do solo em atividades agropecuárias (Tabela 3).
Uma unidade de produção localizada em Coari (Amostra 6) é um bom
exemplo de como o manejo das plantas é condicionado pelo ciclo das águas e pela
adaptação genética de cada espécie vegetal aos ambientes onde é cultivada (Figuras
3, 4 e 5). Pode-se observar que entre as espécies anuais não adaptadas a ambientes
úmidos, as que ocupam áreas mais baixas são as de ciclo curto como o milho, tomate
e hortaliças de folhas. Já as de ciclo mais longo, como a mandioca, ocupam áreas
mais elevadas. Os sítios e as áreas de plantio de espécies frutíferas lenhosas não
adaptadas a ambientes úmidos ocupam a áreas mais elevadas, preferencialmente, as
não inundáveis. Nessa mesma localidade, o sítio está situado em área não inundável,
levando-se em conta as médias históricas do pulso das águas. É interessante observar
que o período de inundação, de 83 dias, da área da horta corresponde à diferença de
0,83 metro entre a cota mais baixa da horta (6,08 metros), no trecho H – G, e cota
mais alta da área do sítio (7,72 metros), no trecho E – F (Figura 3).

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110
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FIGURA 3. Planta baixa e perfil de uma unidade de produção familiar em Coari, na várzea do Rio Solimões, com os cultivos que ocorriam em dezembro de 2003. Amostra Nº 6.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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FIGURA 4. Leito parcialmente seco no paraná da Ilha do Ariá no período da vazante (dezembro de 2003), Coari/AM.

FIGURA 5. Área de cultivo de hortaliças (alface, cebolinha e tomate) localizada entre as cotas 6,08-7,20 metros.
Coari/AM.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 111


112
TABELA 2. Posição topográfica dos componentes dos sistemas de produção agrícola de várzea na calha Solimões-Amazonas, trecho Tabatinga, Am - Gurupá, PA.

Amplitude de
Micror- Amostra Data da Denominação Unidade de
Local/Município Cota em relação à Componente Espécies Cultivadas
região (Verticalização) Observação Local Paisagem
lâmina d'água (m)
Lombada Alta 7,14 - 7,16 Lombada Criação porco
abacate, açaí, banana, cacau, cuieira, goiaba, ingá, jambo,
1 Teresina/Tabatinga 25.11.2003 Lombada 6,90 - 7,16 Lombada Sítio
laranja, limão, tangerina, manga, pupunha, taperebá, urucum
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1 Baixa 6,33 7,14 Vazante Roça mandioca, milho


Restinga 7,72 - 7,91 Restinga Bananal banana peruana
Deus Ajuda/B.
2 28.11.2003 abacate, abiu, açaí, banana, coco, cupuaçu, genipapo, goiaba,
Constant Restinga 7,72 - 7,91 Restinga Sítio
ingá, jambo, laranja, macaxeira, mamão, mapati, sapota
26.03.08

Terreiro 5,87 - 6,87 Restinga Criação galinha


3 Paraná de Tefé/Tefé 03.12.2003
Baixada 3,88 - 4,63 Vazante Roça milho, mandioca, macaxeira, melancia
açaí, acerola, bacaba, banana, cacau, caju, cuieira, cupuaçu,
Várzea Alta 7,45 - 7,57 Restinga Sítio graviola, goiaba, jambo, laranja, lima, limão, cravo, tangerina,
21:41

4 Boa Vista/Tefé 04.12.2003 manga, pupunha


Restinga Baixa 6,82 - 7,03 Restinga Horta couve, coentro, melancia, cebolinha, tomate, pimentão, milho
2 Restinga Baixa 4,27 - 5,65 Restinga Cultivo milho, melancia
Várzea Alta 9,00 (A) - 10,16 (B) Restinga Sítio banana, cacau, goiaba, jambo
5 Santa Rosa/Coari 08.12.2003
Várzea Baixa 6,39 (C) - 9,34 (D) Vazante Cultivo maxixe, tomate, malva, milho, cebolina
Page 112

Lombada/ açaí, acerola, bacaba, banana, cacau, coco, genipapo, goiaba,


7,38 (E) - 7,72 (F) Lombada Sítio
6 São Francisco/Coari 09.12.2003 Restinga graviola, laranja, limão, manga, pupunha
Lombada 6,08 (G) - 7,20 (H) Lombada Horta repolho, quiabo, melão, jerimum, tomate, mandioca, macaxeira
Restinga Alta 9,50 - 10,61 Restinga Cultivo malva
Costa do Restinga 9,50 - 9,27 Restinga Cultivo macaxeira, mamão, milho, banana, caupi
7 13.10.2003
Marrecão/Manacapuru Restinga Baixa 9,50 - 9,27 Restinga Cultivo malva
Várzea baixa 9,50 - 9,27 Vazante Cultivo malva
3 Ilha do Restinga 4,70 (A) - 7,36 (B) Restinga Cultivo malva, melancia, jerimum
8 16.10.2003
Baixio/Iranduba Vazante 2,10 (C) - 4,51 (D) Vazante Cultivo tomate, milho

Paraná do Várzea Alta 8,85 (E) - 9,24 (F) Vazante Roça macaxeira, banana
9 Careiro/Careiro da 18.10.2003 açaí, acerola, banana, cacau, caju, coco, cupuaçu, graviola,
Várzea Várzea Baixa 8,77 (G) - 9,24 (H) Vazante Sítio
goiaba, ingá, laranja, limorana, mamão, manga,

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


Amplitude de
Micror- Amostra Data da Denominação Unidade de
Local/Município Cota em relação à Componente Espécies Cultivadas
região (Verticalização) Observação Local Paisagem
lâmina d'água (m)
açaí, bacaba, banana, cacau, caju, cuieira, aupuaçu, genipapo, goiaba,
7,75 - 8,17 Restinga Sítio
Paraná do jambo, jatobá, limão, manga, seringa, urucum
10 06.11.2003 Várzea
Serpa/Itacoatiara 7,40 7,90 Restinga Roça mandioca, macaxeira, milho, jerimum, melancia
6,39 - 7,40 Restinga Pasto
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Ilha do abiu, acerola, azeitona, banana, cuieira, graviola, goiaba, ingá, jambo,
11 07.11.2003 Várzea 7,70 - 8,06 Restinga Sítio
4 Risco/Itacoatiara laranja, manga

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


açaí, bacaba, bacabão, banana, buriti, cacau, cajá, castanha de macaco,
Várzea Alta 6,60 - 7,96 Restinga Sítio cuieira, genipapo, goiaba, graviola, ingá, jambo, laranja, lima, limão,
Costa do manga, tapeba, urucum
12 11.11.2003
Rebojão/Silves
Várzea 6,69 - 6,70 Vazante Cultivo milho, jerimum
26.03.08

Baixada 5,56 - 6,69 Beiradão Pasto capim (terra e água, murim)


abacate, acerola, ata, caju, cuieira, genipapo, graviola, goiaba, jambo,
Restinga Alta 3,40 (A) - 3,79 (B) Restinga Sítio
Igarapé do laranja, tangerina, mamão, tamarindo, uruá, urucum
13 03.02.2004
Boto/Parintins Restinga Alta 3,40 - 3,79 Restinga Pasto
21:41

Restinga Alta 3,40 - 3,79 Restinga Horta tomate, repolho


abiu, açaí, acerola, apuí, araçá-boi, bacaba, banana, buriti, cacau, cacauí,
caferana, cajá, castanha de macaco, coco, cuieira, cupuaçu, fruta-pão,
Restinga Alta 3,69 (A) - 3,80 (B) Restinga Sítio
Paraná de genipapo, graviola, goiaba, ingá, jambo, limão, limorana, mangueira, mari,
14 07.02.2004 marimari, murici, mutamba, seringa, tapereba, tapeba
Parintins/Parintins
Restinga Baixa 1,44 (C) -2,36 (D) Restinga Roça/Horta macaxeira, jerimum, maxixe
Page 113

Aba 0,00 (E) - 1,44 (F) Aba Cultivo milho


Teso 3,44 (G) - 3,50 (H) Vazante Roça macaxeira
Costa do araticum, azeitona, banana, genipapo, goiaba, ingá, limão, mamão, mari,
15 05.02.2004 Teso 3,44 (I) - 3,50 (J) Restinga Terreiro
5 Saracura/Parintins urucum
Teso/Baixo 1,93 (K) - 2,86 (L) Restinga Cultivo/Pasto malva/pastagem
acerola, banana, castanha sapucaia, coco, cuieira, genipapo, ingá, laranja,
16 Vila Roberta/Óbidos 15.02.2004 Várzea Baixa 2,55 - 2,95 Restinga Terreiro
mamão, mari, tucumã
bacuri, banana, cacau, carambola, castanha de macaco, castanha sapucaia,
Terra Plana 3,09 - 3,37 Restinga Sítio cuieira, genipapo, goiaba, jambo, limão, mamão, mangueira, mari,
Paraná do marimari, seringueira, taperebá, urucum
17 10.02.2004
Cachoeri/Oriximiná
Terra Plana 2,36 - 2,37 Restinga Cultivo jerimum, banana
Praia 0,00 - 3,24 Praia Cultivo feijão
abacate, goiaba, genipapo, laranja, mamão, mangueira, tangerina, umari,
Baixo Terra-Firme Terra-Firme Sítio
18 13.02.2004 banana
Trombetas/Oriximiná
Várzea Baixa 1,08 - 1,30 Vazante Plantio milho, malancia, feijão

113
114
Amplitude de
Micror- Amostra Data da Denominação Unidade de
Local/Município Cota em relação à Componente Espécies Cultivadas
região (Verticalização) Observação Local Paisagem
lâmina d'água (m)
acerola, ata, azeitona, banana, buriti, cacau, caju, cuieira, cumaru,
Lago Grande cupuaçu, fruta-pão, graviola, goiaba, ingá, jambo, laranja, lima,
19 18.02.2004 Terra-Firme Terra-Firme Sítio
Curuaí/Santarém limão, manga, mari, murici, pajurá, pitomba, pupunha, tucumã,
urucum
acerola, banana, caju, castanha-sapucaia, catoari, cuieira, fruta-do-
04_agricultura.qxp:Layout 1

Várzea Baixa 2,32 (A) - 2,40 (B) Vazante Sítio conde, genipapo, graviola, goiaba, ingá, mamão, manga, sapoti,
Boca de Cima do uichi, urucum
20 21.02.2004
Aritapera/Santarém Várzea Baixa 1,45 (C) - 1,60 (D) Vazante Cultivo milho
5 Várzea Baixa 1,25 (E) - 1,54 (F) Vazante Cultivo mandioca
acerola, araçá, banana, cacau, caju, castanha-de-macaco, coco,
26.03.08

Costa do Restinga 0,88 (G) - 1,34 (H) Restinga Sítio cuieira, curumanzeiro, fruta do conde, graviola, goiaba, ingá,
21 24.02.2004
Aritapera/Santarém mamão, manga, mari, pupunha, seringa, tucumã, uichi, urucum
Praia 0,00 (I) - 1,34 (J) Praia Roça mandioca, juta
açaí, acerola, banana, coco, cuieira, fruta-pão, graviola, goiaba,
21:41

Região do Restinga 1,26 (K) - 1,40 (L) Restinga Sítio


22 27.02.2004 ingá, mamão, manga
Tapará/Santarém
Restinga 1,26 (M) - 1,40 (N) Restinga Roça mandioca, milho, feijão, melancia, jerimum
açaí, acerola, banana, cacau, coco, genipapo, graviola, goiaba, ingá,
Rio 02.03.2004 Teso 0,98 1,03 Sítio
23 jambo, laranja, manga
Cojuba/Gurupá (11:55 horas)
Page 114

Teso 0,98 - 1,03 Cultivo milho, arroz, maxixe, melancia, jerimum, feijão
Restinga/Baixi abacate, açaí, bacaba, biribá, cacau, caju, coco, cuieira, graviola,
04.03.2004 1,98 -2,17 Sítio
o goiaba, ingá, limão, manga, seringa.
24 Fortaleza/Gurupá (09:00
6
horas) Lombada Alta 1,99 - 2,00 Roça milho, macaxeira, ária

Várzea Baixa 0,00 - 0,14 Cultivo arroz, milho, cana-de-açúcar, açaí


06.03.2004
Ilha Santa
25 (10:30 abacate, açaí, banana, caju, cuieira, fruta-do-conde, goiaba-araçá,
Bárbara/Gurupá Várzea Baixa 0,00 - 0,14 Sítio
horas) ingá, limão, manga

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


TABELA 3. Efeito da altitude (em relação à lâmina d'água do canal pincipal de drenagem) sobre a composição florística dos componentes do sistema de produção agrícola. Várzeas do Rio
Solimões-Amazonas.

Lâmina d'água em relação ao nível do solo (cm) Previsão de início e final


Local Previsão de período não inundado
Observado Ao nível do solo Máximo de inundação Componente Espécies cultivadas
(*)
Data Cota Data Cota Data Cota Inicio Final Nos Pontos Área Total
BENJAMIN CONSTANT E TABATINGA
04_agricultura.qxp:Layout 1

1 A 25/11/03 -622 Não Prevista Não Prevista 01/05/04 -97 Não Prevista Não Prevista Ano Todo Ano Todo
Criação Suíno
1 B 25/11/03 -624 Não Prevista Não Prevista 01/05/04 -99 Não Prevista Não Prevista Ano Todo (365 dias)

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


1 C 25/11/03 -608 Não Prevista Não Prevista 01/05/04 -82 Não Prevista Não Prevista Ano Todo abacate, açaí, banana, cacau, cuieira, goiaba,
Ano Todo
Sítio ingá, jambo, laranja, limão, tangerina, manga,
1 D 25/11/03 -624 Não Prevista Não Prevista 01/05/04 -99 Não Prevista Não Prevista Ano Todo (365 dias)
pupunha, taperebá, urucum.
26.03.08

1 E 25/11/03 -541 Não Prevista Não Prevista 01/05/04 -15 Não Prevista Não Prevista Ano Todo Ano Todo
Roça mandioca, milho
1 F 25/11/03 -622 Não Prevista Não Prevista 01/05/04 -97 Não Prevista Não Prevista Ano Todo (365 dias)
11/06/04
2 A 28/11/03 -398 19/03/04 Zero 01/05/04 118 19/03/04 10/06/04
até 18/03/05 11/06/04
Bananal banana peruana
21:41

06/06/04 até até 18/03/05 (280 dias)


2 B 28/11/03 -425 27/03/04 Zero 01/05/04 92 27/03/04 05/06/04
26/03/05
09/06/04 até
2 C 28/11/03 -417 22/03/04 Zero 01/05/04 102 22/03/04 08/06/04 abacate, abiu, açaí, banana, coco, cupuaçu,
21/03/05 09/06/04 até 21/03/05
Sítio genipapo, goaiaba, ingá, jambo, laranja,
06/06/04 até (285 dias)
2 D 28/11/03 -425 27/03/04 Zero 01/05/04 92 27/03/04 05/06/04 macaxeira, mamão, mapati, sapota
26/03/05
Page 115

11/06/04 até
2 E 28/11/03 -398 19/03/04 Zero 01/05/04 118 19/03/04 10/06/04
18/03/05 11/06/04 até 18/03/05
Roça mandioca
10/06/04 até (280 dias)
2 F 28/11/03 -410 21/0304 Zero 01/05/04 108 21/03/04 09/06/04
20/03/05

115
116
Lâmina d'água em relação ao nível do solo (cm) Previsão de início e final
Previsão de período não inundado
Local (*) Observado Ao nível do solo Máximo de inundação Componente Espécies cultivadas
Data Cota Data Cota Data Cota Inicio Final Nos Pontos Área Total
TEFÉ
12/07/04 até
3 A 03/12/03 -597 06/05/04 Zero 01/07/04 70 06/05/04 11/07/04 12/07/04 até 05/05/05
05/05/05 Criação galinha
(296 dias)
3 B 04/12/03 -687 Não Prevista Não Prevista 01/07/04 -18 Não Prevista Não Prevista Ano todo
04_agricultura.qxp:Layout 1

09/08/04 até
3 C 05/12/03 -388 29/03/04 Zero 01/07/04 261 21/03/04 08/08/04
28/03/05 09/08/04 até 28/03/05 milho, mandioca, macaxiera e
Roça
02/02/04 até (229 dias) melancia
3 D 06/12/03 -463 04/04/04 Zero 01/07/04 202 04/04/04 01/01/04
03/04/05
açaí, acerola, bacaba, banana, cacau, caju,
4 A 04/12/03 -745 Não Prevista Não Prevista Não Prevista -93 Não Prevista Não Prevista Ano todo
26.03.08

cuiera, cupuaçu, graviola, goiaba, jambo,


Ano todo (365 dias) Sítio
laranja, lima, limão-cravo, tangerina, manga,
4 B 05/12/03 -757 Não Prevista Não Prevista Não Prevista -114 Não Prevista Não Prevista Ano todo pupunha.
4 C 06/12/03 -682 Não Prevista Não Prevista Não Prevista -38 Não Prevista Não Prevista Ano todo couve, coentro, melancia, cebolinha,
21:41

Ano todo (365 dias) Horta


4 D 07/12/03 -703 Não Prevista Não Prevista Não Prevista -52 Não Prevista Não Prevista Ano todo tomate, pimentão, milho

10/08/04 até
4 E 08/12/03 -363 17/03/04 Zero 01/07/04 278 17/03/04 09/08/04
16/03/05 10/08/04 até 16/03/05
Cultivo milho e melancia
06/08/04 até (218 dias)
4 F 09/12/03 -427 28/03/04 Zero 01/07/04 226 28/03/04 05/08/04
27/03/05
Page 116

COARI
5 A 08/12/03 -900 Não Prevista Não Prevista 30/06/04 -170 Não Prevista Não Prevista Ano Todo
Ano Todo (365 dias) Sitio banana, cacau, goiaba e jambo
5 B 08/12/03 -1016 Não Prevista Não Prevista 30/06/04 -195 Não Prevista Não Prevista Ano Todo
08/08/04 até
5 C 08/12/03 -639 18/05/04 Zero 30/06/04 105 18/05/04 07/08/04 08/08/04 até 17/05/05
17/05/05 Plantio maxixe, tomate, malva, milho e cebolinha
(283 dias)
5 D 08/12/03 -934 Não Prevista Não Prevista 30/06/04 -210 Não Prevista Não Prevista Ano Todo
6 E 09/12/03 -738 Não Prevista Não Prevista 30/06/04 -20 Não Prevista Não Prevista Ano Todo açaí, acerola, bacaba, banana, cacau, coco,
Ano Todo (365 dias) Sitio jenipapo, goiaba, graviola, laranja, limão,
6 F 09/12/03 -772 Não Prevista Não Prevista 30/06/04 -55 Não Prevista Não Prevista Ano Todo manga e pupunha
08/08/04 até
6 G 09/12/03 -608 17/05/04 Zero 30/06/04 110 17/05/04 07/08/04
16/05/05 08/08/04 até 16/05/05 repolho, quiabo, melão, jerimum, tomate,
Horta
02/07/04 até (282 dias) mandioca e macaxeira
6 H 09/12/03 -720 29/06/04 Zero 30/06/04 10 29/06/04 01/07/04
28/06/05

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


Lâmina d'água em relação ao nível do solo (cm) Previsão de início e final
Local Previsão de período não inundado
Observado Ao nível do solo Máximo de inundação Componente Espécies cultivadas
(*)
Data Cota Data Cota Data Cota Inicio Final Nos Pontos Área Total
IRANDUBA
01/09/04 até
8 A 16/10/03 -470 30/04/04 Zero 30/06/04 290 30/04/04 31/08/04
29/04/05 01/09/04 até 29/04/05
Plantio malva, melancia, mandioca e jerimum
04/08/04 até (241 dias)
8 B 16/10/03 -736 09/06/04 Zero 30/06/04 30 09/06/04 03/08/04
04_agricultura.qxp:Layout 1

10/06/05
27/09/04 até
8 C 18/10/03 -210 19/02/04 Zero 30/06/04 548 19/02/04 26/09/04
18/02/05

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


27/09/04 até 18/02/05
Plantio tomate e milho
04/09/04 até (145 dias)
8 D 18/10/03 -451 22/09/04 Zero 30/06/04 310 22/04/04 03/09/04
21/04/05
CAREIRO DA VÁRZEA
26.03.08

9 E 18/10/03 -885 Não Prevista Não Prevista 30/06/04 -90 Não Prevista Não Prevista Ano Todo
Ano Todo (365 dias) Plantio macaxeira e banana
9 F 18/10/03 -924 Não Prevista Não Prevista 30/06/04 -135 Não Prevista Não Prevista Ano Todo
açaí, acerola, banana, cacau, caju, coco,
21:41

9 G 18/10/03 -877 Não Prevista Não Prevista 30/06/04 -80 Não Prevista Não Prevista Ano Todo
Ano Todo (365 dias) Sitio cupuaçu, graviola, goiaba, ingá, laranja,
9 H 18/10/03 -924 Não Prevista Não Prevista 30/06/04 -135 Não Prevista Não Prevista Ano Todo limorana, mamão e manga
Page 117

117
118
Lâmina d'água em relação ao nível do solo (cm) Previsão de início e final
Local Previsão de período não inundado
Observado Ao nível do solo Máximo de inundação Componente Espécies cultivadas
(*)
Data Cota Data Cota Data Cota Inicio Final Nos Pontos Área Total
PARINTINS
10/08/04 até
13 A 03/02/04 -340 10/05/04 Zero 30/06/04 30 10/05/04 09/08/04 abacate, acerola, ata, caju, cuieira, jenipapo,
09/05/05 10/08/04 até 09/05/05
Sitio graviola, goiaba, jambo, laranja, tangerina,
(275 dias)
13 B 03/02/04 -379 Não Prevista Não Prevista 30/06/04 -15 Não Prevista Não Prevista Ano Todo mamão, tamarindo, urua e urucum
04_agricultura.qxp:Layout 1

abiu, açaí, acerola, apui, araçá boi, bacaba,


14 A 07/02/04 -369 Não Prevista Não Prevista 30/06/04 -5 não Prevista Não Prevista Ano Todo banana, buriti, cacau, cacauí, caferana, cajá,
castanha-de-macaco, coco, cuieira,
Ano Todo Sitio cupuaçu, fruta pão, jenipapo, graviola,
goiaba, ingá, jambo, limão, limorana,
26.03.08

14 B 07/02/04 -380 Não Prevista Não Prevista 30/06/04 -15 Não Prevista Não Prevista Ano Todo mangueira, mari, mari-mari, murici,
mutamba, seringueira e taperebá
13/09/04 até
14 C 07/02/04 -144 18/03/04 Zero 30/06/04 220 18/03/04 12/09/04
17/03/05 13/09/04 até 17/03/05
21:41

Plantio / Horta macaxeira, jerimum e maxixe


01/09/04 até (186 dias)
14 D 07/02/04 -236 31/03/04 Zero 30/06/04 135 31/03/04 31/08/04
30/03/05
03/10/04 até
14 E 07/02/04 Zero 07/02/04 Zero 30/06/04 360 07/02/04 02/10/04
06/02/05 03/10/04 até 06/02/05
Plantio milho
11/09/04 até (127 dias)
Page 118

14 F 07/02/04 -144 16/03/04 Zero 30/06/04 220 16/03/04 10/09/04


15/03/05
20/07/04 até
15 G 05/02/04 -344 21/05/04 Zero 30/06/04 20 21/05/04 19/07/04
20/05/05 20/07/04 até 20/05/05
Plantio macaxeira
18/07/04 até (305 dias)
15 H 05/02/04 -350 27/05/04 Zero 30/06/04 15 27/05/04 17/07/04
26/05/05
20/07/04 até
15 I 05/02/04 -344 21/05/04 Zero 30/06/04 15 21/05/04 19/07/04
20/05/05 20/07/04 até 20/05/05 araticum, azeitona, banana, jenipapo, goiaba,
Sitio
20/07/04 até (305 dias) ingá, limão, mamão, mari e urucum
15 J 05/02/04 -350 27/05/04 Zero 30/06/04 15 27/05/04 19/07/04
26/05/05
06/09/04 até
15 K 05/02/04 -193 21/03/04 Zero 30/06/04 365 21/03/04 05/09/04
20/03/05 06/09/04 até 20/03/05
Plantio/Pasto malva e pastagem
21/08/04 até (196 dias)
15 L 05/02/04 -286 12/04/04 Zero 30/06/04 100 12/04/02 20/08/04
11/04/05

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


Lâmina d'água em relação ao nível do solo (cm) Previsão de início e final
Previsão de período não inundado
Local (*) Observado Ao nível do solo Máximo de inundação Componente Espécies cultivadas
Data Cota Data Cota Data Cota Inicio Final Nos Pontos Área Total
SANTARÉM
10/07/04 até acerola, banana, caju, castanha sapucaia,
04_agricultura.qxp:Layout 1

20 A 21/02/04 -232 07/05/04 Zero 31/05/04 40 07/05/04 09/07/04


06/05/05 10/07/04 até 06/05/05 catuari, cuieira, fruta do conde, jenipapo,
Sitio
08/07/04 até (301 dias) graviola, goiaba, ingá, mamão, manga, sapoti,

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


20 B 21/02/04 -240 08/05/04 Zero 31/05/04 30 08/05/04 07/07/04
07/05/05 uichi e urucum
13/08/04 até
20 C 21/02/04 -145 05/04/04 Zero 31/05/04 130 05/04/04 12/08/04
04/04/05 13/08/04 até 04/04/05
Plantio milho
26.03.08

07/08/04 até (235 dias)


20 D 21/02/04 -160 14/04/04 Zero 31/05/04 95 14/04/04 06/08/04
13/04/05
16/08/04 até
20 E 21/02/04 -125 31/03/04 Zero 31/05/04 150 31/03/04 15/08/04
30/03/05 16/08/04 até 30/04/05
Plantio mandioca
21:41

12/08/04 até (258 dias)


20 F 21/02/04 -154 08/04/04 Zero 31/05/04 120 06/04/04 11/08/04
07/04/05
21/08/04 até acerola, araçá, banana, cacau, caju, castanha-
21 G 24/02/04 -88 22/03/04 Zero 31/05/04 120 23/03/04 20/08/04
21/03/05 de-macaco, coco, cuieira, curumanzeiro, fruta-
21/08/04 até 21/03/05
Sitio do-conde, graviola, goiaba, ingá, mamão,
12/08/04 até (213 dias)
21 H 24/02/04 -134 07/04/04 Zero 31/05/04 130 07/04/04 11/08/04 manga, mari, pupunha, seringueira, tucumã,
Page 119

06/04/05
uichi e urucum
17/09/04 até
21 I 24/02/04 Zero 24/02/04 Zero 31/05/04 250 24/02/04 16/09/04
23/02/05 17/09/04 até 23/02/05
Plantio mandioca e juta
12/08/04 até (160 dias)
21 J 24/02/04 -134 07/04/04 Zero 31/05/04 130 07/04/04 11/08/04
06/04/05
13/08/04 até
23 K 27/02/04 -126 07/04/04 Zero 31/05/04 130 07/04/04 12/08/04
06/04/05 13/08/04 até 06/04/05 açaí, acerola, banana, coco, cuieira, fruta-pão,
Sitio
10/08/04 até (237 dias) graviola, goiaba, ingá, mamão e manga
23 L 27/02/04 -140 13/04/04 Zero 31/05/04 110 13/04/04 09/08/04
12/04/05
13/08/04 até
23 M 27/02/04 -126 07/04/04 Zero 31/05/04 130 07/04/04 12/08/04
06/04/05 13/08/04 até 06/04/05
Plantio mandioca, milho, feijão, melancia e jerimum
10/08/04 até (237 dias)
23 N 27/02/04 -140 13/04/04 Zero 31/05/04 110 13/04/04 09/08/04
12/04/05

(*) Local: Números de 1 a 23 – Amostra da verticalização; Letras seqüenciadas em pares - Pontos de maior e menor cota

119
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Dos oito sítios amostrados nessa pesquisa quatro estão em áreas


inundáveis somente na ocorrência de enchentes acima dos níveis da média
histórica e estão localizadas na região de Coari, Manaus e Parintins. Um sítio
de Parintins apresentou o maior número de espécies frutíferas arbóreas (32
espécies) e a segunda em área ocupada pelo sítio (1,75 hectares), situada em
uma faixa de terreno (50x350 metros) de cota mais elevada (entre 3,69 e 3,80
metros, na data da observação). Todos os sítios permanecem com as áreas
livres da inundação, no mínimo, por 213 dias, mesmo estando localizados em
áreas sujeitas a inundações nos anos em que os níveis da enchente situam-se na
média histórica. Entretanto, as enchentes acima das médias históricas é um
fator que limita o cultivo de espécies perenes menos adaptadas aos ambientes
úmidos.
Na figura 6, onde são apresentadas as espécies frutíferas cultivadas e
freqüência de ocorrência na unidade de produção da localidade de São
Francisco Padre Lima, município de Coari, algumas espécies muito valorizadas
como a laranja e o coco são cultivadas no sítio, mas com baixa frequência.
Unidades de produção localizadas em áreas sujeitas às inundações apresentam
significativa participação de espécies frutíferas arbóreas geneticamente
adaptadas aos ambientes de solos encharcados. Por exemplo, em uma unidade
de produção da Costa do Aritapera, no município de Santarém, cujo sítio
localiza-se em uma área sujeita à inundação durante 152 dias (Tabela 3), das
21 espécies encontradas 14 são adaptadas aos ambientes úmidos, segundo FAO
(1986) e Purseglove (1982). Espécies mais sensíveis aos ambientes de solos
encharcados (do gênero Citrus, de maneira geral, cupuaçu, pupunha, abacate),
de acordo com FAO (1986) e Purseglove (1982), raramente são encontradas
nos sítios sujeitos às inundações, pois o desenvolvimento é extremamente
prejudicado.
Pela Tabela 1 é possível comparar dois sítios, um localizado em área de
várzea do Igarapé de Parintins (Amostra 14), no município de Parintins e o
outro localizado em área de terra-firme, no Lago Grande de Curuaí (Amostra
19), no município de Santarém. A unidade de várzea apresenta 32 espécies
frutíferas arbóreas, enquanto a de terra-firme apresenta 27 espécies. A maior
diversidade genética no sítio de várzea deveu-se à presença de espécies pouco
tolerantes aos ambientes úmidos (bacaba, coco, cupuaçu, fruta-pão, jambo,
limão), ao passo que o sítio de terra-firme não apresenta espécies de várzea
como o açaí, castanha-de-macaco, jenipapo e taperebá.

120 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


04_agricultura.qxp:Layout 1

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


26.03.08
21:41
Page 121

FIGURA 6. Distribuição espacial de espécies agrícolas no sítio. Localidade: São Francisco Padre Lima. Ilha do Ariá. Coari.
09.12.2003. Amostra Nº 6.

121
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Pela comparação entre as unidades de produção localizadas na mesma


região, mas com diferenças no tocante à altitude em relação à lâmina d’água
pode-se inferir que a agrodiversidade é maior nas áreas menos sujeitas às
inundações. Por exemplo, no Baixo Solimões, a unidade de produção
localizada no município de Iranduba, ocupando áreas agricultáveis entre 145 a
241 dias por ano e a outra localizada no município de Careiro da Várzea, com
áreas não inundáveis nos anos em que os níveis médios históricos são
observados, verifica-se que, enquanto no primeiro somente é possível serem
cultivadas espécies anuais com ciclo, no máximo, de 8 meses, na segunda são
cultivadas espécies frutíferas arbóreas pouco tolerantes aos solos encharcados
como cupuaçu, laranja e mamão.
Nas áreas de roças e de cultivo de espécies de ciclo curto, os resultados
mostram que, como já apontaram autores como Guillaumet et al. (1990 e
1993), os plantios são efetuados de acordo como a descida das águas iniciando-
se com as de ciclo mais longo, como a mandioca e macaxeira, a seguir as
espécies de ciclo mais reduzido produtoras de grãos e as hortaliças (feijão,
milho, melancia, jerimum) e deixando para o final do período de semeadura
aquelas de ciclo mais curto e que necessitam de água no processo de
beneficiamento (juta, malva). As praias, nos locais onde ocorrem, muitas vezes
são aproveitadas para o plantio de batata-doce e feijões.
Os trabalhos de Pinto (1982) e Noda (1985) apontam que desde a
Segunda Guerra Mundial, a estratégia de manejo dos recursos pelo homem da
várzea tem se desenvolvido em relação à produção da juta, com a pesca e a
pecuária de pequena escala funcionando como importantes atividades
complementares. Cada uma dessas atividades concentra-se em um habitat
particular, permitindo assim que os “varzeiros” explorem simultaneamente
diferentes zonas ecológicas da paisagem da várzea. Os autores relatam que os
espaços denominados restingas foram os locais favoráveis à ocupação humana
e à produção de juta, os lagos de várzeas sempre serviram como principais
áreas de pesca, e as pastagens naturais usadas para a pecuária no período de
águas baixas.
Na região do estuário, no município de Gurupá, a diferença de cota das
águas entre o pico da enchente e a seca máxima é de 2 metros, levando-se em
contas os níveis médios históricos. Os resultados sugerem que o efeito do pulso
das águas naquela região, aparentemente, não é relevante como nas demais
regiões estudadas. Tomando como indicadores a presença de espécies frutíferas
arbóreas observamos que todas as unidades de produção amostradas no

122 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 123

município de Gurupá, apresentam espécies pouco tolerantes aos solos


encharcados (gênero Citrus) tanto em um sítio localizado em área com cota
entre 1,98-2,17 metros, na data de observação, como naquelas de cota menores.
Uma característica marcante dos sítios daquele município é alta freqüência do
açaí (Euterpe oleracea Mart.) e, ao contrário do que ocorreu nas demais
regiões levantadas, a freqüência relativamente baixa da mandioca nas roças.
Levando-se em conta as limitações impostas pela localização
topográfica (altitude) dos sítios, podemos observar que algumas espécies são
características de determinadas regiões. Por exemplo, o mapati (Pourouma
cecropiaefolia Mart.) aparece somente no extremo oeste (Alto Solimões),
enquanto espécies como castanha-de-macaco (Couroupita guianensis Aubl.) e
castanha sapucaia (Lecythis pisonis Camb.), começam aparecer a partir de
Silves indo na direção leste até Santarém, no Baixo Amazonas. Como já
frisaram Lima (1994) e Lima & Saragoussi (2000), os sítios são os locais onde
novas cultivares e novas espécies são introduzidas e testadas e as de uso
corrente pela família são mantidas, como um recurso para a restauração das
roças e outros tipos de plantios, inclusive com estratégias próprias para fazer
frente às enchentes. Desse modo, nos casos em que não ocorram limitações
quanto à adaptação ambiental de espécies, seria interessante incentivar um
processo de compartilhamento de recursos genéticos entre as regiões para
elevar os níveis de biodiversidade dos sistemas agrícolas.
Segundo Begossi (2001), a apropriação dos espaços anfíbios das áreas
de várzea, pelos agricultores familiares é apresentada como representação
social dos mecanismos de adaptação às características peculiares desse
ambiente. A autora aponta para a questão do nível das águas ser normalmente,
um importante aspecto da vida dos caboclos, pois sua subsistência, baseada na
agricultura de pequena escala e na pesca, está adaptada e realiza-se sob o ritmo
dos pulsos das águas. Por outro lado, Denevan (2001) apresenta o homem que
ocupa a várzea como um indivíduo que desenvolveu estratégias adaptativas
peculiares, principalmente, nos aspectos de utilização dos recursos naturais
aquáticos e terrestres. O habitante da várzea faz uso do solo para atividades
agrícolas, pecuárias e extrativistas numa racionalidade de ocupação do espaço
em acordo com o ecossistema. Com o fenômeno das enchentes dos rios, as
atividades produtivas obedecem a uma lógica temporal, aliada a racionalidade
espacial apontada, no que diz respeito aos efeitos de suporte a fertilização dos
solos e aos ciclos produtivos dos vegetais (Noda et al., 2001).

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 123


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MANEJO DOS RECURSOS DISPONÍVEIS E


COEFICIENTES FITOTÉCNICOS

Em toda a calha Solimões-Amazonas, o cultivo da mandioca e


macaxeira é realizada sob a forma de consórcio com hortaliças, feijão, milho,
banana e outras fruteiras ou em monocultivo e a produção destinada ao
consumo e venda. O cultivo de mandioca é comum a todas as regiões na
Amazônia (Peroni, 1998). As cultivares contendo altos teores de ácido
cianídrico (venenosas) são denominadas mandioca e as com baixos teores (não
venenosas) macaxeira, ambas da espécie Manihot esculenta. A mandioca é um
componente básico do sistema de produção agrícola na Amazônia devido sua
dupla finalidade: subsistência e comercialização. A farinha de mandioca é,
praticamente, o único produto agrícola que não é comercializado in natura.
Assim como os povos autóctones da Amazônia, o pequeno produtor transforma
quase toda a sua produção de mandioca em farinha utilizando-se de processos
inteiramente artesanais.
A mandioca é plantada quando as águas baixam e a colheita é realizada
no sexto mês. Quando ocorrem cheias grandes ou antecipadas, pode haver
perda de parte da produção. A amplitude de variação do rendimento ficou
entre 1,25 a 2,70 toneladas/ha e o maior rendimento em farinha foi estimado
para o Médio Solimões com 3,60 a 4,00 t/ha. A produtividade em raízes,
estimada na região do Médio Amazonas foi de 10 t/ha. A maior variabilidade
genética da espécie na várzea foi encontrada no Baixo Amazonas com 19
variedades de mandioca e 8 de macaxeira. Em área de terra-firme adjacente à
várzea, em Santarém, no Baixo Amazonas, foram encontradas 13 variedades
de mandioca e 2 de macaxeira. Em três unidades de produção, em Oriximiná e
Óbidos, a mandioca e ou macaxeira não foram cultivadas no ano agrícola
2003/2004. Os agricultores visitados naquelas localidades informaram que
parte do atendimento às suas necessidades em farinha de mandioca é suprida
por parentes que fazem o cultivo na terra-firme.
Gurupá, no Estuário, foi onde a diversidade genética em termos de
variedades (clones) de Manihot esculenta Crantz se mostrou mais pobre, com
apenas uma variedade mansa (macaxeira).
O milho é produzido em monocultivo e o rendimento estimado em grãos
variou de 640 kg/ha (Alto Solimões) até 2 t/ha (Médio Solimões). Para a
produção em espiga verde, o rendimento estimado foi de 2.000 a 4.800
unidades/ha em consórcio e 15.000 unidades/ha em monocultivo e são

124 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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cultivadas 3 variedades. A produção é destinada ao consumo e venda. Quando


é plantado, também, em consórcio com arroz, jerimum, melancia, melão,
tomate ou mandioca.
Em Parintins, no Baixo Amazonas, foram encontradas em duas unidades
de produção a maior diversidade genética em banana (16 espécies ou
variedades) cultivadas em monocultivo e consórcio. De maneira geral, a
diversidade é grande e os rendimentos estimados em cachos variaram de 60
unidades/mês/ha em consórcio e 400 a 1000 unidades/mês/ha em monocultivo
por unidade de produção.
O feijão caupi foi encontrado sendo plantado em uma unidade de
produção e sua colheita destinada para a venda e o rendimento foi estimado entre
1 a 2 t/ha. O feijão de metro é cultivado em consórcio para consumo e venda e o
rendimento estimado é de 10 maços/semana, na região do Médio Amazonas.
Em duas unidades de produção foi detectado o cultivo de espécies
industriais para extração de fibras. O cultivo da malva é uma espécie industrial
que está voltando à várzea do Estado do Amazonas sendo detectada nos
município de Tefé, Iranduba e Parintins. Em Tefé, o rendimento da malva é
estimado em 1 t/ha de fibra. Em Santarém foi encontrado um cultivo de juta,
em uma área de 1 hectare e o rendimento esperado foi de 2 t/ha.
Geralmente, as unidades de produção de todas as regiões possuem sítios
onde são cultivadas espécies arbóreas frutíferas, hortaliças e medicinais. Duas
unidades, em Tefé e Iranduba, não possuíam sítios por estarem localizadas em
áreas baixas e, portanto, sujeitas às inundações todos os anos. No Paraná do
Serpa, em Itacoatiara, foi encontrado o maior sítio de toda a área levantada
neste estudo (19.600 m2), onde as presenças de seringueira e cacau
predominam, evidenciando ser uma antiga área de produção dessas duas
espécies. No município de Santarém, a banana sempre é uma das principais
ocorrências. Provavelmente, algumas espécies são enfatizadas em função da
sua comercialização. Em Tapará, no município de Santarém, localiza-se o
menor sítio com 957 m2 e com 19 espécies frutíferas arbóreas. Animais de
pequeno porte (galinhas, patos, paturi, ganso e porco) são criados na área do
sítio e destinados ao consumo e venda. Em Parintins, foi constatada, também,
a criação de abelha sem ferrão (16 colméias).
A olericultura é uma prática generalizada, sendo a produção destinada ao
consumo e venda. As espécies olerícolas mais cultivadas são o tomate,
pimentão, couve, mastruz, cebolinha, coentro, alfavaca, pimenta, pepino,
maxixe, feijão de metro, jerimum, repolho, melão, chicória e jambu. Segundo

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 125


04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 126

Pahlen et al. (1979) as várzeas são as áreas onde ocorrem as maiores produções
de hortaliças que abastecem parte da demanda, principalmente as espécies não
convencionais, das cidades amazônicas. Em Itacoatiara, Parintins e Oriximiná,
algumas hortaliças são produzidas em canteiros suspensos e destinadas,
principalmente, para comercialização. Nos municípios localizados no interior
dos Estados do Amazonas e do Pará, mesmo no período da cheia, as sedes são
abastecidas com hortaliças da várzea, produzidas em canteiros suspensos em
substrato composto por esterco de gado e restos de tronco de árvores
acondicionados em estruturas de madeira, que permanecem acima do nível
d’água nas enchentes (IDAM, 2002; Prefeitura Municipal de Parintins, 2004;
Prefeitura Municipal de Oriximiná, 2002 e 2003). O município de Parintins é
abastecido com olerícolas como tomate, maxixe, pimentão, alface, feijão de
metro e berinjela, obtidas com essa técnica e produzidas nas comunidades
rurais localizadas ao longo do Paraná do Limão (Silva Filho et al., 2001). Em
Gurupá, todas as unidades de produção cultivam hortaliças somente para
consumo.
O pousio da terra é uma técnica tradicional de manejo do solo e utilizada
de maneira generalizada pelos agricultores da várzea. As áreas de pousio
podem ter cobertura vegetal com espécies arbóreas (capoeira) ou com
gramíneas. O extrativismo vegetal é, também, uma atividade geralmente
adotada e em Gurupá apresenta expressão econômica importante,
principalmente com o manejo do açaí para produção de frutos e palmito.
Em relação ao uso do solo para pecuária foi observado que no Alto
Solimões nenhuma área interna das unidades de produção é destinada
especificamente para a criação bovina ou bubalina (pastagem cercada). Na
região do Médio Solimões, a estimativa da área média de pastagem cercada das
unidades de produção é 2,01%. Já na região do Baixo Solimões, próxima à
Manaus, a estimativa da área média de pastagem cercada das unidades de
produção é 18,90%. No Médio Amazonas, os valores sobem para 58,10%; no
município amazonense de Parintins, no Baixo Amazonas com 64%; no Baixo
Amazonas, no Estado do Pará, abrangendo os municípios paraenses de
Oriximiná, Óbidos e Santarém, com 66%, e em Gurupá, 64%. Esses resultados
evidenciam que a expansão das áreas de pastagem e criação de gado na várzea
do rio Solimões-Amazonas expande-se do sentido leste-oeste.

126 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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INDICADORES DA SUSTENTABILIDADE SOCIAL, ECONÔMICA E


AMBIENTAL DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIAR

A estimativa da sustentabilidade social, econômica e ambiental do


processo produtivo foi obtida através da avaliação de parâmetros relacionados
aos níveis do atendimento estável às demandas da unidade de consumo, em
termos de alimentos e demais produtos agropecuários destinados ao
autoconsumo e geração de renda monetária.
Foram estimadas as conseqüências econômicas, sociais e ambientais
relacionadas ao uso e manejo dos recursos disponíveis e das técnicas agrícolas
adotadas na produção agropecuária utilizando-se parâmetros que permitissem
mensurar a fração da contribuição individual de cada indicador, em número de
nove, na sustentabilidade econômica, social e ambiental de unidade de
produção agrícola. Os indicadores são: a. Quantidade, diversidade e qualidade
da produção agrícola e extrativista; b. Fatores empregados no processo de
produção; c. Sustentabilidade econômica, social e ambiental do processo
produtivo; d. Evidências de desenvolvimento econômico e social da unidade de
produção; e. Ocupação em atividades de trabalho fora a unidade de produção;
f. Mobilidade de trabalho de membros da unidade de produção; g. Nível de
satisfação de alimentos demandadas pela unidade de consumo; h. Geração de
renda monetária pela venda da produção e i. Nível de sustentabilidade
ambiental do processo produtivo.
Com isso, foi possível estruturar um arcabouço de conhecimentos no
sentido de analisar, interpretar e entender os aspectos fundamentais que levam
ao produtor decidir sobre a sua permanência na atividade agrícola, no local
onde executa as atividades produtivas, na contribuição do produto gerado na
unidade de produção para o desenvolvimento econômico, social e ambiental,
tendo como referências sua família, seu grupo social, sua comunidade,
município e Estado e, ao mesmo tempo, as experiências ocorridas no tocante
ao uso do solo, na várzea da calha Solimões-Amazonas, para a produção
agrícola e pecuária; os impactos ambientais, sociais e econômicos resultantes
dessas experiências na perspectiva da avaliação e reformulação dos atuais
programas de pesquisa e extensão voltadas para o desenvolvimento do setor
agrícola.
A análise conjunta para nove indicadores de sustentabilidade social,
econômica e ambiental no âmbito de toda a calha Solimões-Amazonas é
apresentado a seguir:

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 127


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• Quantidade, diversidade e qualidade da produção agrícola e


extrativista: de maneira geral, as unidades de produção
conseguem níveis satisfatórios quanto à produção agrícola e
extrativista e algumas apresentam níveis elevados quanto à
quantidade, diversidade e qualidade de produção agrícola. Em
relação ao cultivo da mandioca, alimento calórico básico dos
agricultores da várzea, ao contrário do que ocorre na terra-firme,
as cultivares utilizadas na várzea são, preferencialmente,
precoces. Isso porque, na várzea, os agricultores não podem
“armazenar” as raízes tuberosas, postergando a colheita, como
fazem os agricultores de terra-firme com suas cultivares tardias
(Noda, 1985). A falta de espaço físico para a agricultura e as
restrições ambientais para a agricultura (área de pastagem e de
baixa altitude (várzea baixa) interferem na quantidade e na
diversidade da produção para consumo e venda. Algumas
unidades de produção ressentem da falta de espaço para os
plantios e outras ocupam áreas de várzea baixa.

• Fatores empregados no processo de produção: força de trabalho


familiar; propágulos produzidos na própria unidade de produção,
o que torna o processo produtivo altamente autônomo.
Eventualmente alguns insumos, principalmente sementes, são
fornecidos pelo órgão municipal de extensão. Eventualmente são
usados agroquímicos, inseticidas na olericultura e herbicidas no
controle de ervas invasoras na pastagem. A fertilização é,
preferencialmente, feita com adubos orgânicos.

• Sustentabilidade econômica, social e ambiental do processo


produtivo: as unidades de produção, com poucas exceções
daquelas que se dedicam exclusivamente à pecuária ou que
situam-se em locais muito baixos, utilizam a restinga alta para o
cultivo de espécies frutíferas arbóreas. Algumas situadas em
locais mais elevados, menos sujeitos às inundações anuais,
conseguem manter espécies frutíferas pouco tolerantes aos solos
encharcados. As unidades que apresentam a limitação de uso do
solo o ano todo, por estarem situadas na várzea baixa, geralmente
apresentam boas colheitas das espécies anuais (mandioca, milho,

128 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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melancia, feijão e hortaliças) na época da vazante em função da


refertilização natural promovida pelas enchentes anuais. Algumas
unidades de produção ocupam grande parte das áreas agrícolas
como pastagem para criação de gado bovino, principalmente na
parte oriental da calha Solimões-Amazonas. Supõe-se que essa
forma de manejo do solo seja inadequada em função da perda de
variabilidade biológica, além de aumentar os riscos de degradação
do solo (compactação) devido ao pisoteio do gado.

• Evidências de desenvolvimento econômico e social das unidades


de produção: parte da produção de alimentos é consumida pela
unidade de consumo e parte é vendida, evidenciando entrada de
renda monetária na unidade de produção. A malva e juta são
espécies industriais cultivadas com o intuito de gerar renda
monetária. Ocorre, também, entrada de renda monetária na
unidade de produção propiciada pela venda da produção de
hortaliças e, algumas comunidades devido à proximidade de
centros urbanos, como Manaus, tem facilitada a comercialização
da produção. A produção diversificada é uma estratégia que
permite suprir as necessidades da unidade de consumo e gerar
renda monetária pela venda da parte excedente da produção. Essa
renda monetária pode suprir as demandas em produtos não
gerados pela unidade de produção e propiciar o acesso aos
serviços não disponíveis nas comunidades. Algumas unidades de
produção, com aumento das freqüências de ocorrência a partir do
Baixo Solimões em direção ao Baixo Amazonas, estão
estruturadas fisicamente para a produção pecuária, sendo que a
racionalidade dessa estrutura física é fundamentada no sistema de
produção na qual o animal criado (boi) constitui uma “poupança”,
ou seja, uma mercadoria de alta liquidez, possível de ser
transformada em moeda em curto prazo. A geração de renda
monetária é, basicamente, propiciada pela venda de hortaliças,
frutos, como o cacau e outros produtos alimentares e animais de
pequeno porte (galinhas). Outra parte da produção agrícola é
consumida pela unidade de consumo.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 129


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• Ocupação em atividades de trabalho fora das unidades de


produção: com exceção das atividades relacionadas aos processos
de “ajuda mútua” comunitária, toda a força de trabalho é utilizada
na unidade de produção familiar.

• Mobilidade de trabalho de membros das unidades de produção:


não há evidências de venda de força de trabalho. Segundo Noda
(1985), em comunidades formadas por famílias extensas é comum
que se estabeleçam relações de trabalho tradicionais (ajuda
mútua), do tipo parceria ou mutirão. Em se tratando de famílias
nucleares isoladas, eventualmente, a solução adotada pode ser a
contratação de trabalhadores assalariados temporários visando,
em ambos os casos, multiplicar temporariamente a força de
trabalho da unidade de produção, para em menor tempo, processar
toda a produção de mandioca.

• Nível de satisfação de alimentos demandadas pelas unidades de


consumo: boa e diversificada, em alguns casos excelentes. A
restrição na produção de alimentos pode ser devida à extrema
suscetibilidade às enchentes, o que impossibilita o cultivo de
espécies fruteiras perenes. Há suprimento de alimento de origem
vegetal e animal. A produção vegetal e animal permitem alcançar a
satisfação das necessidades alimentares da unidade de consumo. Os
sistemas de produção podem gerar quantidade de renda monetária e
de produtos que satisfazem as necessidades básicas da unidade de
consumo. A pesquisa do IBGE (2004), denominada Pesquisa de
Orçamento Familiar, mostra essa característica da agricultura
familiar, no âmbito brasileiro.

• Geração de renda monetária pela venda da produção: pela venda da


produção excedente e da produção destinada exclusivamente à
comercialização. Os principais produtos comercializados são farinha
de mandioca, feijão, milho, banana, hortaliças, frutas, fibras (malva
e juta), látex e pequenos animais de criação. O processo produtivo
polivalente favorece a manutenção de alta diversidade biológica
proporcionando a sustentabilidade ambiental. A existência de áreas
com florestas naturais, permite a prática do extrativismo.

130 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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• Nível de sustentabilidade ambiental do processo produtivo: Boa


em função de biodiversidade e pela existência de áreas ainda com
florestas naturais, onde é praticado o extrativismo vegetal (coleta
de jenipapo, taperebá, castanha de macaco, ingá), plantas
medicinais e madeira para construção e combustível. A
manutenção da variabilidade genética da mandioca e das demais
espécies agrícolas pelos produtores da várzea tem funcionado
como uma estratégia adaptativa à diversidade ambiental
amazônica, pois tem permitido a produção estável desse alimento
imprescindível às populações humanas, tanto na várzea como na
terra-firme. Martins (2001) chama atenção sobre a grande
importância dos fatores biológicos e culturais inerentes às formas
de produção dos caboclos que, além de manter, vem gerando e
amplificando a variabilidade genética da espécie.

A área de pousio com capoeira é, também, utilizada para o extrativismo


vegetal coleta de frutos, plantas medicinais e madeira para construção e
combustível. A transformação de grande parte das unidades de produção em
áreas de pastagem, reduzindo a biodiversidade, provavelmente vem
acarretando efeitos negativos ao nível de sustentabilidade ambiental. O
processo produtivo voltado ao mercado, praticado com o monocultivo de
espécies anuais, poderá comprometer a sustentabilidade social, econômica e
ambiental. A manutenção da paisagem natural é um fator importante para a
sustentabilidade ambiental, em longo prazo. A forma de produção (exploração
não destrutiva dos recursos disponíveis) adotada pelas unidades de produção é
interessante sob o ponto de vista ambiental, pois concilia o uso econômico de
um recurso existente e cuja conservação é fundamental para a sustentabilidade
dos processos produtivos.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 131


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CONCLUSÕES E PROPOSIÇÕES

A análise dos dados obtidos permitiu, numa primeira aproximação e sob


o ponto de vista do uso e gestão dos fatores canalizados na produção, das
tecnologias empregadas, no âmbito do manejo dos recursos ambientais
utilizados na produção pelos agricultores de várzea, no sentido amplo, um
resultado na seguinte direção:

• O assentamento e a permanência do agricultor na várzea do rio


Amazonas-Solimões deu-se através de um processo adaptativo do
homem ao ambiente amazônico quando entendido no sentido do
termo “adaptação” como satisfação às demandas mínimas da
reprodução biológica e social;

• A análise das técnicas de cultivo agrícola e o manejo dos recursos


disponíveis permitem inferência que a agricultura praticada pelos
produtores familiares de várzea é sustentável, na medida em que
seja entendida como um processo contínuo e estável de produção,
no qual a entrada de nutrientes no sistema, em grande parte, é
promovida pela sua reciclagem;

• Ao contrário do que tem ocorrido nas áreas de assentamento


dirigido, a agricultura na várzea do rio Solimões-Amazonas não
vem promovendo o corte de matas primárias para a instalação das
lavouras devido ao uso de técnicas tradicionais de recuperação da
fertilidade dos solos (pousio), que associado à ocupação de áreas
diminutas para a produção agrícola (roças, plantios e sítios),
permite uma atividade agrícola sustentável, sob o ponto de vista
ambiental, propiciada pelos ciclos de consumo (agricultura) e
entrada de nutrientes (pousio) no sistema de produção;

• As técnicas de produção adotadas pelos produtores é mais limpa


quando se compara com aquelas praticadas pela agricultura
“moderna” tendo em vista o uso restrito de agroquímicos;

• O nível de diversidade biológica nas unidades de produção


agropecuária da várzea do rio Solimões-Amazonas é muito

132 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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elevado levando-se em conta o observado na agricultura de


monocultivo de outras regiões brasileiras. Nos sítios da região do
Médio/Baixo Amazonas foram encontradas 223 espécies de
plantas cultivadas ou protegidas.

• Os produtores de várzea produzem quantidade e qualidade de


produtos agrícolas capazes de satisfazer suas necessidades em
alimentos das unidades de consumo familiar. Por outro lado, o
manejo dos ambientes naturais, responsáveis por parte do
suprimento de alimentos fundamentais, permite aos produtores a
prática do extrativismo animal e vegetal sustentáveis a partir de
uma cronologia baseada nos ciclos biológicos naturais (estoques
pesqueiros e extrativismo vegetal na floresta);

• A geração da renda monetária, através da comercialização de


produtos agrícolas, pode ocorrer de duas formas: venda do
excedente da produção não consumida pela unidade de consumo
(por exemplo: farinha de mandioca, frutos na época de safra,
animais de pequeno porte) e pela venda da fração da produção
destinada à comercialização como algumas frutas (banana,
manga, goiaba), grãos (milho, feijão, arroz) e fibras (malva e juta)
e produtos do extrativismo (frutos e palmito de açaí);

• As unidades de produção da várzea produzem, na atualidade,


quantidade de produtos agrícolas capazes de contribuir para o
abastecimento das áreas urbanas. Esse aspecto pode ser
constatado pela diversidade e quantidade de produtos gerados
que, pela impossibilidade de dispor de um mercado consumidor,
não são comercializados;

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 133


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APÊNDICE 1. Espécies encontradas no componente sítio do sistema de produção na calha do Rio Solimões-Amazonas.
Amazonas-Pará. 2003-2004.

Denominação Regional Espécie


1. Abacate Persea americana Mill.
2. Abacaxi Ananas comosus (L.) Merr.
3. Abiu Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk.
4. Abiurana Micropholis sp.
5. Açafroa Curcuma longa L.
6. Açaí-do-Amazonas Euterpe precatoria Mart.
7. Açaí-do-Pará Euterpe oleracea Mart.
8. Acerola Malpighia glabra L.
9. Agave Agave sp.
10. Alecrim Rosmarinus officinalis L.
11. Alfavaca Ocimum campechianum Mill.
12. Algodão Gossypium barbadense L.
13. Algodão-branco Gossypium hirsutum L.
14. Algodão-roxo Gossypium arboreum L.
15. Amendoim Arachis hypogaea L.
16. Amor-crescido Portulaca pilosa L.
17. Anador Coleus barbatus Benth.
18. Angelim Hymenolobium sp.
19. Anilina Cissus sp.
20. Apuí Ficus sp.
21. Araçá Psidium guianense Pers.
22. Araçá-boi Eugenia stipitata McVaugh.
23. Araticum Annona montana Macfad.
24. Arnica-de-planta Arnica montana L.
25. Arruda Ruta graveolens L.
26. Arumã Ischnosiphon ovatus Körn.
27. Ata Annona squamosa L.
28. Azeitona Syzygium jambolanum (Lam.) DC.
29. Babosa Aloe vera (L.) Burm. f.
30. Bacaba Oenocarpus bacaba Mart.
31. Bacabão Oenocarpus sp.
32. Bacabinha Oenocarpus minor Mart.
33. Bacuri Platonia insignis Mart.
34. Banana Musa sp.
35. Batata-doce Ipomoea batatas (L.) Lam.
36. Begônia Begonia palmata D. Don
37. Beldroega Portulaca oleracea L.
38. Benjamin Ficus sp.
39. Biribá Rollinia mucosa (Jacq.) Baill.
40. Boca-de-lobo n.i.
41. Boldo Peumus boldus Molina
42. Boldo-da-folha-peluda Plectranthus barbatus Andrews
43. Boldo-da-índia Plectranthus sp.
44. Brasileirinho Caladium humboldtianum Schott
45. Breu Protium sp.
46. Brinco-de-dama n.i.

138 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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Denominação Regional Espécie


47. Buriti Mauritia flexuosa L.
48. Buscopam n.i.
49. Cacau Theobroma cacao L.
50. Cacauí Theobroma bicolor Bonpl.
51. Cachorro-pelado n.i.
52. Cacto Opuntia sp.
53. Café Coffea arabica L.
54. Caferana Picrolemma sprucei Hook. f.
55. Caju Anacardium occidentale L.
56. Cama-de-jesus Pilea microphylla (L.) Liebm.
57. Camarão Justicia brandegeana Wassh. & L.B. Sm.
58. Camu-camu Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh
59. Cana-de-açúcar Saccharum officinarum L.
60. Canela Aniba sp.
61. Capim-santo Cymbopogon citratus (DC.) Stapf
62. Capim-santo-da-folha-miúda Pectis elongata Kunth
63. Carambola Averrhoa carambola L.
64. Caranã Mauritiella armata (Mart.) Burret
65. Cariru Amaranthus sp.
66. Castanha Bertholletia excelsa Humb. & Bonpl
67. Castanha-de-macaco Couroupita guianensis Aubl.
68. Castanha-sapucaia Lecythis pisonis Cambess.
69. Catauari Crataeva benthamii Eichler
70. Catinga-de-mulata Leucas martinicensis (Jacq.) R. Br.
71. Cauaçu Calathea lutea Schult.
72. Caxinguba Ficus insipida Willd.
73. Cebolinha Allium fistulosum L.
74. Cedrorana Cedrelinga cateniformis (Ducke) Ducke
75. Celósia Celosia argentea L.
76. Chicória Eryngium foetidum L.
77. Cibalena Artemisia verlotiorum Lamotte
78. Cidreira Lippia alba (Mill.) N.E. Br.
79. Cipó-alho Adenocalymma alliaceaum Miers
80. Coco Cocos nucifera L.
81. Coentro Coriandrum sativum L.
82. Coirama, diabinho Kalanchoe calycinum Salisb.
83. Cola-osso Piper sp.
84. Comigo-ninguém-pode Dieffenbachia amoena Bull.
85. Cominho Pectis elongata Kunth
86. Condessa Annona sp.
87. Corrente Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen
88. Couve Brassica oleraceae var.acephala DC.
89. Crajiru Arrabidaea chica (Humb. & Bonpl.) B. Verl.
90. Cravo Dianthus caryophyllus L.
91. Cravo-da-índia Caryophyllus aromaticus L.
92. Cravo-de-defunto Tagetes patula L.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 139


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Denominação Regional Espécie


93. Crisântemo Chrysanthemum spp.
94. Crista-de-galo Celosia cristata L.
95. Croton Codiaeum variegatum (L.) A. Juss.
96. Cubiu Solanum sessiliflorum Dunal
97. Cuia Crescentia cujete L.
98. Cuia-mansa Polyscias sp.
99. Cumaru Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.
100. Cumaruzinho Justicia pectoralis Jacq.
101. Cupuaçu Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum.
102. Cupuarana Theobroma subincanum Martius in Buchner
103. Curuatá n.i.
104. Curuminzeiro Muntigia calabura L.
105. Dendê Elaeis guineensis L.
106. Dipirona n.i.
107. Elixir-paregórico Piper cavalcantei Yunck.
108. Embaúba Cecropia sp.
109. Envira Rollinia sp.
110. Estrela-do-mar n.i.
111. Esturaque Styrax sp.
112. Farinha-seca Licania micrantha Miq.
113. Feijão-de-metro Vigna unguiculata (L.) Walp.
114. Feijó Cordia sp.
115. Felicidade n.i.
116. Figatil Chelidonium majus L.
117. Flexeira Setaria sp.
118. Fruta-pão Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg
119. Goiaba Psidium guajava L.
120. Goiaba-araçá Psidium sp.
121. Goiaba-do-igapó Psidium sp.
122. Graviola Annona muricata L.
123. Hortelã Mentha arvensis L.
124. Hortelã-grande Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.
125. Hortelãzinho Mentha piperita subsp. citrata Briq.
126. Inajá Maximiliana maripa (Aubl.) Drude
127. Ingá Inga sp.
128. Ingá-açu, Ingá-chinelo Inga cinnamomea Spruce ex Benth.
129. Ingá-boi Inga sp.
130. Ingá-cipó Inga edulis Mart.
131. Ingaí, Ingá-da-mata Pithecolobium duckei Huber.
132. Ingá-grande Inga sp.
133. Ingá-de-macaco Inga fagifolia G. Don
134. Ingá-pequeno Inga sp.
135. Ingá-sapo Inga sp.
136. Ingá-xixica Inga heterophylla Willd.
137. Ixora Ixora sp.
138. Jaca Artocarpus heterophyllus Lam.

140 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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Denominação Regional Espécie


139. Jacarandá Dalbergia spruceana Benth.
140. Jambo Eugenia malaccensis L.
141. Jambu Spilanthes acmella L.
142. Jantem Plantago major L.
143. Japana Eupatorium ayapana Vent.
144. Japana-roxa Eupatorium triplinerrve
145. Jarina Phytelephas macrocarpa Ruiz & Pav.
146. Jasmim Jasminum officinale L.
147. Jasmim-de-estudante Jasminum sp.
148. Jatobá Hymenaea courbaril L.
149. Jenipapo Genipa americana L.
150. Jerimum Cucurbita maxima Duchesne
151. Jibóia Scindapsus aureus (Linden & André) Engl. & K. Krause
152. Jucá Caesalpinia ferrea Mart.
153. Jurubebão Solanum crinitum Lam.
154. Juruzeiro n.i.
155. Lágrima-de-n.sra. Coix lacryma Bertoni
156. Laranja Citrus sinensis (L.) Osbeck
157. Laranja-da-terra Citrus auratifolia L.
158. Lima Citrus aurantifolia Swingle
159. Limão Citrus limon (L.) Burm.
160. Limão-caiano Averrhoa bilimbi L.
161. Limão-cravo Citrus sp.
162. Limão-galego Citrus sp.
163. Limão-tangerina Citrus sp.
164. Limorana Maclura tinctoria (L.) D. Don ex Steud.
165. Lombrigueiro Ficus maxima Mill.
166. Loucura Lagestroemia indica L.
167. Macacaúba Platymiscium sp.
168. Macambo Theobroma bicolor Bonpl.
169. Macaxeira Manihot esculenta Crantz
170. Malva Urena lobata L.
171. Malvarisco Pothomorphe umbellata (L.) Miq.
172. Mamão Carica papaya L.
173. Mandacaru Cereus giganteus Engelm.
174. Manga Mangifera indica L
175. Mangarataia Zingiber officinale Roscoe
176. Manjericão Ocimum basilicum L.
177. Manjerona Origanum majorana L.
178. Manjironinha Majorana sp.
179. Manjuba n.i.
180. Mapati Pourouma cecropiaefolia Mart.
181. Maracujá Passiflora edulis Sims.
182. Maracujá-do-mato Passiflora nitida Kunth
183. Mari-amarelo, umari Poraqueiba sericea Tul.
184. Marirana Couepia ulei Pilg.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 141


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Denominação Regional Espécie


185. Mari-de-cachorro n.i.
186. Mari-gordo n.i.
187. Marimari Cassia leiandra Benth.
188. Mari-sarro Cassia grandis L.
189. Marrequinha n.i.
190. Marupá Virola sp.
191. Marupazinho Eleutherine plicata Herb.
192. Mastruz Chenopodium ambrosioides L.
193. Maxixe Cucumis anguria L.
194. Melancia Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai
195. Melindro-rosa Impatiens sp.
196. Milho Zea mays L.
197. Mucajá Acrocomia sclerocarpa Mart.
198. Mucuracaá Petiveria alliacea L.
199. Munguba Bombax munguba Mart. & Zucc.
200. Muruci Byrsonima chrysophylla Kunth
201. Murici-da-mata Byrsonima crispa A. Juss.
202. Mutamba, pojo Guazuma ulmifolia Lam.
203. Mutuquinha n.i.
204. Muúba n.i.
205. Onze-horas Portulaca sp.
206. Oriza Pogostemon patchouli Pellet.
207. Pajurá Couepia bracteosa Benth.
208. Palma n.i.
209. Papoula Hibiscus sp.
210. Paricá Pithecellobium niopoides Spruce ex Benth.
211. Pau-de-angola Piper sp.
212. Pau-mulato Calycophyllum spruceanum (Benth.) Hook. f. ex K. Schum.
213. Pepino Cucumis sativus L.
214. Pião-barrigudo Jatropha sp.
215. Pião-branco Jatropha curcas L.
216. Pião-roxo Jatropha gossypiifolia L.
217. Pimenta Capsicum sp.
218. Pimenta-ardida Capsicum sp.
219. Pimenta-doce Capsicum chinense Jacq.
220. Pimentão Capsicum annuum L.
221. Pingo-de-ouro Duranta repens L.
222. Piquiá Caryocar villosum (Aubl.) Pers.
223. Pirara n.i.
224. Pirilima n.i.
225. Piripiri n.i.
226. Pitomba Talisia esculenta (A. St.-Hil.) Radlk.
227. Pobre-velho Costus spicatus (Jacq.) Sw.
228. Pojo Guazuma ulmifolia Lam.
229. Ponto-alívio n.i.
230. Primavera Bouganvillea sp.

142 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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Denominação Regional Espécie


231. Pupunha Bactris gasipaes Kunth
232. Pupunharana Duckeodendron cestroides Kuhlm.
233. Puruí Alibertia edulis (Rich.) A. Rich. ex DC.
234. Quebra-pedra Phyllanthus niruri L.
235. Quiabo Hibiscus esculentus L.
236. Repolho Brassica oleracea L.
237. Romã Punica granatum L.
238. Rosa Rosa sp.
239. Rosa-menina Rosa sp.
240. Sabugueiro Sambucus nigra L.
241. Sacaca Croton cajucara Benth.
242. Salvia-de-marajá Lippia grandis Schau
243. Samambaia Nephrolepis sp.
244. Samaúma Ceiba pentandra (L.) Gaertn.
245. Sangue-de-cristo n.i.
246. Santa-luzia Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) C.V. Morton
247. Sapateira Dystovomita brasiliensis D’Arcy
248. Sapota Quararibea cordata (Bonpl.) Vischer
249. Sapoti Manilkara zapota (L.) P. Royen
250. Sara-tudo n.i.
251. Sena Cuphea antisyphilitica Kunth
252. Seringa Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg.
253. Socoró Mouriria guianensis Aubl.
254. Sororoca Ravenala guyanensis Petersen
255. Tacana Gynerium sp.
256. Tachi Tachigali paniculata Aublet.
257. Tajá Philodendron sp.
258. Tajá-cauã Caladium sp.
259. Tajá-papel Caladium sp.
260. Tamanqueira Moronobea coccinea Aubl.
261. Tamarindo Tamarindus indica L.
262. Tangerina Citrus nobilis Lour.
263. Tanimbuca Buchenavia sp.
264. Tapeba n.i.
265. Taperebá Spondias mombin L.
266. Tarumã Vitex sp.
267. Tento Ormosia sp.
268. Terezinha Portulaca grandiflora Hook.
269. Tomate Lycopersicon esculentum Mill.
270. Trevo Trifolium arvense L.
271. Trevo-raimundinha Hyptis sp.
272. Trevo-roxo Hyptis atrorubens Poit.
273. Trombeta Datura sp.
274. Tucumã Astrocaryum aculeatum G. Mey.
275. Uirapuru n.i.
276. Uixi Endopleura uchi (Huber) Cuatrec.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 143


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Denominação Regional Espécie


277. Uruá Cordia alliodora (Ruiz & Pav.) Oken
278. Urubucaá Aristolochia silvatica Barb. Rodr.
279. Urucum Bixa orellana I
280. Urucuri Attalea minor Mart ex Spreng.
281. Vai-e-vem n.i.
282. Vassourinha Scoparia dulcis L.
283. Vence-tudo n.i.
284. Vick Faramea corymbosa Aubl.
285. Vindicá Alpinia nutans (L.) Roscoe
286. Violeta-em-planta Viola odorata L.
287. Zeduária Curcuma longa L.

APÊNDICE 2. Espécies que ocorrem no componente extrativismo vegetal, coletadas na capoeira, mata de várzea e mata
de terra firme na calha do Rio Solimões-Amazonas. Amazonas – Pará. 2003-2004.
Denominação Regional Espécie
1. Abacate Persea americana Mill.
2. Abacaterana Licania sp.
3. Açaí-do-Amazonas Euterpe precatoria Mart.
4. Açaí-do-Pará Euterpe oleracea Mart.
5. Acapu Vouacapoua pallidior Ducke
6. Acapurana Campsiandra angustifolia Spruce ex Benth.
7. Anani Symphonia globulifera L. f.
8. Andiroba Carapa guianensis Aubl.
9. Anuerá Licania macrophylla Benth.
10. Apetã n.i.
11. Araçá Psidium guianense Pers.
12. Aroeira Astronium lecointei Duckei
13. Assacu Hura crepitans L.
14. Aturimã n.i.
15. Bacaba Oenocarpus bacaba Mart.
16. Bacuri Platonia insignis Mart.
17. Bacuri-do-mato Rheedia sp.
18. Bicudo n.i.
19. Buriti Mauritia flexuosa L.
20. Bussu Manicaria saccifera Gaertn.
21. Caapeba Piper umbellatum L.
22. Caimbé Curatella americana L.
23. Caju Anacardium occidentale L.
24. Caju-da-mata Anacaridium sp.
25. Cajurana Sumaba guianensis Aubl.
26. Camapu Physalis angulata L.
27. Canela-de-velho n.i.
28. Capim pariri n.i.
29. Carapanaúba Aspidosperma carapanauba Pichon
30. Carauaçuzeiro Symmeria paniculata Benth.

144 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


Denomi n ação Regional Espécie
31. Castanha Bertholletia excelsa Humb. & Bonpl
32. Castanha de macaco Couroupita guianensis Aubl.
33. Castanha sapucaia Lecythis pisonis Cambess.
34. Castanharana Micropholis sp.
35. Catauari Crataeva benthamii Eichler
36. Cauaçu Calathea lutea Schult.
37. Caxinguba Ficus insipida Willd.
38. Cedro Cedrela odorata L.
39. Cepetuzeiro n.i.
40. Chichuacha Salacia gigantea Loes.
41. Ciganeira n.i.
42. Cipó escada-de-jabuti Bauhinia cupreonitens Ducke
43. Cipó mata-cavalo n.i.
44. Cipó titica Heteropsis aff. Spruceana Schott
45. Cipó tuíra Calycobolus ferrugineus Choisy
46. Cipó-bota Sciadotenia toxifera Krukoff & A.C. Sm.
47. Copaíba Copaifera multijuga Hayne
48. Cumaru Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.
49. Cupuaçu Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum.
50. Curuá Ananas lucidus Mill.
51. Embaúba Cecropia sp.
52. Envira Rollinia sp.
53. Espeteiro Casearia gossypiosperma Briq.
54. Espinheiro Acacia polyphylla DC.
55. Faveira Vatairea sp.
56. Frutinheira, Murta Myrcia fallax (Rich.) D.C.
57. Goiaba araça Eugenia sp.
58. Ingá Inga edulis Mart.
59. Ingá-açu, Ingá-chinelo Inga cinnamomea Spruce ex Benth.
60. Ingá-de-igapó Inga sp.
61. Ingaí, Ingá-da-mata Pithecolobium sp.
62. Ingá xixica Inga heterophylla Willd.
63. Itaúba Mezilaurus itauba (Meisn.) Taub. ex Mez
64. Jacareúba Calophyllum brasiliense Cambess.
65. Jataúba Guarea guidonia (L.) Sleumer
66. Jatobá Hymenaea courbaril L.
67. Jauari Astrocaryum jauari Mart.
68. Jenipapo Genipa americana L.
69. Jupati Raphia taedigera Mart.
70. Jurema Pityrocarpa pteroclada (Benth.) Brenan
71. Jurubeba Solanum sp.
72. Lacre Vismia guianensis (Aubl.) Pers.
73. Louro Ocotea matogrossensis Vatt.
74. Louro-de-igapó Nectandra amazonum Nees
75. Louro-amarelo Aniba hostmaniana (Nees) Mez.
76. Louro-cheiroso Ocotea sp.

144 B Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


Denominação Regional Espécie
77. Louro-jacaré Licaria sp.
78. Louro-inamuí (mamuí) Ocotea cymbarum H.B.K.
79. Macacaúba Platymiscium sp.
80. Maçaranduba huberi (Ducke) Chevalier
81. Mamão Carica papaya L.
82. Manaiará Gapipea sp.
83. Manga Mangifera indica L.
84. Maparajuba Manilkara amazonica (Hub.) Standl.
85. Maracaraneira n.i.
86. Maracujá-do-mato Passiflora nitida Kunth
87. Marajá Bactris maraja Mart.
88. Mari-amarelo, umari Poraqueiba sericea Tul.
89. Maria-mole Commelina nudiflora L.
90. Mari-sarro Cassia spruceana Benth.
91. Matá-matá Eschweilera albiflora (DC.) Miers
92. Mata-pasto Cassia alata L.
93. Maúba Licania mahuba (Kuhlm & Samp.) Kistern.
94. Maubarana Paypayrola sp.
95. Merapixuna n.i.
96. Moela de mutum Lacunaria jenmanii (Oliv.) Ducke
97. Mucuba n.i.
98. Muiratina Maquira sp.
99. Mulungu Erythrina fusca Lour.
100. Munguba Bombax munguba Mart. & Zucc.
101. Muruci Byrsonima chrysophylla Kunth
102. Murumuru Astrocaryum murumuru Mart.
103. Pajurá Couepia bracteosa Benth.
104. Palha-branca Attalea attaleoides (Barb. Rodr.) Wess. Boer
105. Papa-terra Posoqueria latifolia (Rudge) Roem. & Schult.
106. Paracaxi Pentaclethera sp.
107. Paracuúba Mora paraensis (Ducke) Ducke
108. Paricá Pithecellobium niopoides Spruce ex Benth.
109. Pau-mulato Calycophyllum spruceanum (Benth.) Hook. f. ex K. Schum.
110. Pau-verônica n.i.
111. Pau-preto Swartzia sp.
112. Paxiubinha Attalea attaleoides (Barb. Rodr.) Wess. Boer
113. Piquiá Caryocar villosum Aubl. Pers.
114. Piranheira Piranhea trifoliata Baill.
115. Piriquiteira Trema micrantha (L.) Blume
116. Pitombarana Pseudima frutescens (Aubl.) Radlk.
117. Punã Iryanthera sp.
118. Pororoca Dialium divaricatum Vahl
119. Samauma Ceiba pentandra (L.) Gaertn.
120. Sapupira Hymenolobium pulcherrimum Ducker.
121. Saracura Ampelozizyphus amazonicus Ducke
122. Sardinheira Ruprechtia brachysepala Meisn.
123. Seringa Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg.
124. Socoró Mouriria Guianensis Aubl

145 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


Denominação Regional Espécie
125. Sucuúba Himatanthus sucuuba (Spruce ex Müll. Arg.) Woodson
126. Taboca Guadua sp.
127. Taboquinha Panicum zizanioides H.B.K.
128. Tachi Tachigalia paniculata Aubl.
129. Tamanqueira Moronobea coccinea Aubl.
130. Tamaquaré Caraipa punctulata Ducke
131. Taperebá Spondias mombim L.
132. Tarumã Vitex sp.
133. Turimã Laetia sp.
134. Uamiú n.i.
135. Ucuúba Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb.
136. Uixi Endopleura uchi (Huber) Cuatrec.
137. Unha-de-gato Uncaria tomentosa (Willd. ex Roem. & Schult.) DC.
138. Uruazeiro Cordia alliodora (Ruiz & Pav.) Oken
139. Urucum Bixa orellana L.
140. Urucurana Sloanea sp.
141. Urucuri Attalea phalerata Mart. ex Spreng.
142. Arumã Ischnosphons sp.
143. Vassourinha Scoparia dulcis L.
144. Virola Virola sp.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 146


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CAPÍTULO 5

CARACTERIZAÇÃO DOS ASPECTOS


FITOSSANITÁRIOS NOS DIFERENTES SISTEMAS
DE USO DA VÁRZEA AO LONGO DA CALHA DOS
RIOS SOLIMÕES-AMAZONAS
Rosalee Albuquerque Coelho Netto1
Luiz Alberto Guimarães de Assis1 e 2

INTRODUÇÃO

Doenças e pragas podem causar mortalidade de plantas, reduzir a


produtividade, diminuir a população de espécies hospedeiras ou impedir o
cultivo de determinados cultivares. As condições ambientais predominantes na
Amazônia, temperatura e umidade elevadas, são favoráveis para muitos
agentes fitopatogênicos e insetos/pragas, no entanto, quando uma grande
diversidade de espécies vegetais são cultivadas em uma mesma área, reduz-se
a probabilidade de perda total da colheita em decorrência de problemas
fitossanitários (SCHROTH et al., 2000). Poucos estudos foram realizados
sobre a ocorrência de doenças e pragas nos cultivos da Amazônia (LOURD et
al., 1988, SANTOS e GALVÃO, 1989, LOURD, 1993) e menos ainda
relacionando o tipo de solo com a ocorrência de problemas fitossanitários. Em
áreas de várzea, há evidências de que a severidade de doenças causadas por
patógenos de solo é maior do que em terra-firme (LOZANO, 1992,
YONEYAMA e STEIN, 1995, LOURD et al., 1987, COELHO NETTO e
NUTTER, 2002, COELHO NETTO et al., 2003) enquanto que as doenças de
parte aérea, ao contrário, têm menor severidade (LOURD et al., 1987, PAIVA
e NODA, 1992).
No manejo de problemas fitossanitários na várzea, as principais
estratégias sugeridas são o uso de cultivares resistentes, rotação de culturas e

1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).


2. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 147


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plantio de material sadio (KITAJIMA et al., 1979, LOZANO, 1992, NODA e


MACHADO, 1993). Apesar de algumas dessas estratégias serem adotadas
pelos agricultores (Pereira, 1994), o uso de agrotóxicos tem se intensificado
(JICA-IDAM, 2002, WAICHMAN et al., 2002).
O objetivo do trabalho foi levantar os principais problemas
fitossanitários em cultivos de várzea e as metodologias de manejo empregadas
pelos agricultores. Para isso, foram realizadas entrevistas baseadas em
questionário. Inicialmente foram entrevistados 249 agricultores sobre
dificuldades na condução dos cultivos. Entre esses, 32 foram selecionados,
com base na diversidade de culturas da propriedade e nas dificuldades citadas.
Nas propriedades dos agricultores selecionados foram realizadas coletas de
plantas ou partes de plantas com sintomas de doenças ou de ataque de pragas
e, posteriormente, foi feita a identificação dos agentes fitopatogênicos e das
pragas encontradas.
Nas 249 entrevistas aplicadas inicialmente foram citadas 28 dificuldades
como ataque de predadores (mucura, onça, gavião, jacaré, cobra, capivara),
preço baixo dos produtos, falta de recursos financeiros, transporte e ocorrência
de pragas e doenças referidas como mal, perseguição, febre, pinta, mela, entre
outras. Pragas foram citadas por 24,5% (61) dos entrevistados, sendo a sétima
dificuldade mais freqüentemente citada. A ocorrência de doenças foi citada por
21,7% (54) dos entrevistados, sendo a oitava mais citada.
A freqüência com que pragas e doenças foram citadas variou entre os
municípios. Na Figura 1 são apresentados os percentuais com que os
entrevistados se referiram à ocorrência de pragas e doenças nos municípios em
que pelo menos oito entrevistas foram aplicadas; Benjamin Constant, AM (17),
Careiro da Várzea, AM (8), Coari, AM (24), Gurupá, PA (17), Iranduba, AM
(9), Itacoatiara, AM (22), Manacapuru, AM (9), Oriximiná, PA (21), Parintins,
AM (27), Santarém, PA (46), Silves, AM (14), Tabatinga, AM (8) e Tefé, AM
(9). A ocorrência de pragas foi citada como uma dificuldade, principalmente
pelos agricultores dos municípios de Tabatinga (50%), Benjamin Constant
(35%), Manacapuru (33,3%), Tefé (33,3%) e Santarém (32,6%). Doenças
foram citadas como dificuldades, principalmente pelos agricultores de
Tabatinga (50%), Silves (35,7%) e Tefé (33,3%). Na Figura 2 são apresentados
os percentuais de citação de pragas e doenças em cada região analisada (Região
1: Alto Solimões, municípios de Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São
Paulo de Olivença, e Tabatinga; Região 2: Médio Solimões, municípios de
Alvarães, Coari, Maraã, e Tefé; Região 3: Baixo Solimões, municípios de

148 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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Careiro da Várzea, Iranduba e Manacapuru; Região 4: Médio Amazonas,


municípios de Itacoatiara, Silves e Urucurituba, Região 5: Baixo Amazonas,
municípios de Óbidos, Oriximiná, Parintins e Santarém e Região 6: Estuário,
município de Gurupá.
Observou-se uma tendência de queda na referência a pragas e doenças da
Região 1 – Alto Solimões para o baixo Amazonas, com um ligeiro aumento na
Região 4 – Médio Amazonas. A falta de assistência técnica se referiu à
assistência para manejo de pragas e doenças, manejo do rebanho, crédito e
outras. Observa-se, na Figura 2, que falta de assistência foi referida em
percentuais baixos na Região 1 (Alto Solimões), apesar da ocorrência de
problemas fitossanitários ter sido a mais alta. A falta de assistência técnica foi
referida em percentuais maiores na Região 3 (Baixo Solimões), formada pelos
municípios de Careiro da Várzea, Iranduba e Manacapuru, exatamente a região
mais próxima à Manaus, onde os agricultores aparentemente têm maior
facilidade de contato com órgãos de assistência técnica. O uso de agrotóxicos
como inseticidas, herbicidas e fungicidas foi avaliado em 249 entrevistas com a
pergunta sobre o uso de insumos. Apenas 48 entrevistados (19,3%) citaram
agrotóxicos como um insumo utilizado para a produção. A utilização desses
produtos pelos agricultores, no entanto, foi bastante concentrada nos municípios
de Careiro da Várzea (62,5%), Itacoatiara (50%), Iranduba (44,4%) e Parintins
(37%) (Figura 3) que são, também, municípios que têm a produção de hortaliças
com uma atividade agrícola importante. O uso de inseticida foi citado por 70,4%
dos que utilizam agrotóxicos, herbicidas por 14,8%, veneno, por 11,1%,
agrotóxico por 1,85% e fungicida por 1,85% dos entrevistados. A utilização
desses produtos, no entanto, principalmente no caso dos inseticidas, não se
restringia aos cultivos e, nesses valores, estão incluídos também os agrotóxicos
utilizados para combate de pragas da criação de gado.
Quando se analisa o uso de agrotóxicos por microrregião (Figura 4),
verifica-se um aumento do percentual de uso nas Regiões 3 (Baixo Solimões –
municípios de Careiro da Várzea, Iranduba e Manacapuru) e 4 (Médio
Amazonas – municípios de Itacoatiara, Silves e Urucurituba), em comparação
com as demais. Na Região 3, 42,3% dos entrevistados utilizavam esse insumo e,
na Região 4, 36,8%. Na Figura 4 pode-se verificar também que a citação de falta
de assistência técnica acompanha a do uso de agrotóxicos, ou seja, nos locais
onde o uso de agrotóxicos é mais intenso, houve mais referências à falta de
assistência técnica e, apesar disso, o uso de agrotóxicos, na maioria das vezes, se
iniciou por recomendação do comerciante ou de um técnico da extensão.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 149


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O questionário para levantamento específico de problemas fitossanitários


foi aplicado em 32 propriedades onde foram também diagnosticadas as pragas e
doenças presentes nos plantios. Observou-se uma grande diversidade de
problemas fitossanitários. Mais de 100 ocorrências de doenças ou pragas foram
registradas em 34 espécies hospedeiras (Tabela 1). A importância das pragas e
doenças variou para cada microrregião, dependendo da importância da cultura
para o agricultor e do destino da produção. Por exemplo, a antracnose da
mangueira (Mangifera indica L.), causada por Colletotrichum gloeosporioides
(Penz.) Penz. & Sacc (Figura 5), era, ou não, considerada um problema pelo
agricultor, dependendo se a produção se destinava à comercialização ou para o
consumo familiar. No caso de consumo familiar, a antracnose não era
considerada relevante e sequer citada entre os males que atingiam as culturas da
propriedade.
Em meio aos problemas citados, alguns se destacaram pela prevalência
como as doenças da bananeira (Musa sp.), Sigatoka amarela (Figura 6), causada
por Mycosphaerella musicola Leach observada em 84,4% das propriedades
visitadas, Sigatoka negra (Figura 7), causada por Mycosphaerella fijiensis
Morelet observada em 40,6% das propriedades e a murcha bacteriana da
bananeira, ou Moko (Figuras 8 e 9), causada pela bactéria Ralstonia
solanacearum (Smith) Yabuuchi et al., observada em 65,6% das propriedades
visitadas. Em culturas como mandioca (Manihot esculenta Crantz), a podridão
das raízes, causada por um complexo de fungos como Phytophthora spp. e
Pythium spp. (Figura 10) foi observada em 31,2% das propriedades, em cacau
(Theobroma cacao L.), a vassoura-de-bruxa (Figura 11) causada por Crinipellis
perniciosa (Stahel) Singer foi observada em 25% das propriedades e em
tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.), a murcha bacteriana (Figura 12),
causada pela bactéria R. solanacearum (Smith) Yabuuchi et al., foi observada em
25% das propriedades.
O fato da doença ou praga ter alta prevalência (porcentagem de
propriedades onde a doença foi diagnosticada, em relação ao total de
propriedades amostradas), não significa, necessariamente, que o problema é
importante para o agricultor. Esse foi, por exemplo, o caso da mancha de
Curvularia em milho (Zea mays L.), causada por Curvularia spp. e da mancha
de Corynespora em mamoeiro (Carica papaya L.), causada por Corynespora
cassiicola (Berk & Curt) Wei, ambas presentes em 22% das propriedades
visitadas porém sem causar perdas significativas.

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Doenças que causam morte do hospedeiro como o Moko da bananeira, a


podridão das raízes da mandioca ou a murcha bacteriana do tomateiro foram
consideradas pelos produtores as mais importantes não só pelos danos causados,
mas também pela dificuldade de controle. A podridão das raízes da mandioca,
apesar da baixa incidência, não foram observadas mais de 5% de plantas doentes
em cada plantio, teve alta prevalência nas propriedades da região do Alto
Solimões, sendo observada em todos os plantios visitados e sendo motivo de
preocupação para os agricultores. O Moko da bananeira foi observado em todas
as regiões visitadas, porém, a incidência, percentual de plantas doentes em cada
plantio, foi baixa, duas ou três touceiras por plantio. Um agricultor em Iranduba,
no entanto, relatou abandono de cultivo de bananeira por doença que, pela
descrição dos sintomas, era provavelmente o Moko. O abandono da cultura em
decorrência da alta incidência da doença, observada em anos anteriores, pode
levar a uma subestimação da importância da mesma em levantamentos de
ocorrência. O cultivo de banana das variedades Maçã e Prata, muito apreciadas
na Região, porém, altamente suscetível a doenças, vai se tornando cada vez mais
raro, tanto pelas perdas sucessivas nas colheitas como por perda do material
propagativo.
Só recentemente estudos sobre o uso de agrotóxicos começaram a ser
realizados com agricultores na várzea do Amazonas (WAICHMAN et al., 2002).
Nessas áreas, o uso de agrotóxicos tem sido freqüente no manejo dos sistemas
agrícolas (PEREIRA et al., 1998). Na Tabela 2, os 19 agrotóxicos citados pelos
32 agricultores entrevistados estão listados. Entre os entrevistados, 81,25% (26)
usavam agrotóxicos. Desses, 88,5% (23) usavam inseticidas, 34,6% (9) usavam
herbicidas e 27% (7) usavam fungicidas. O carrapaticida Barrage® (Fort Dodge)
foi o agrotóxico mais citado, sendo utilizado por 34,6% (9) dos agricultores.
Roundup® (Monsanto) ou Glifosato foi citado por 26,9% (7) e Diazinon®
(Syngenta) e Folidol® (Bayer) (inseticidas organofosforados) foram citados por
19,2% (5) dos entrevistados. Dos 12 inseticidas citados, oito (66%) eram do
grupo dos organofosforados, e os demais, cada um de um grupo químico
diferente: carbamato (1), piretróide (1), clorociclodiano (1), sulfonamida
fluoroalifática (1). Barrage®, um piretróide a base de cipermetrina, apesar de ser
indicado para tratamento de carrapatos e de mosca-do-chifre em gado (Rodrigues
et al., 2002), é utilizado pelos agricultores da várzea para controle de formigas,
pulgões e besouros em diversas culturas. Para os agricultores, o Barrage®, além
de eficiente, possui a vantagem de ser vendido em frascos pequenos (20 ml) que,
por serem baratos, podiam ser adquiridos mais facilmente. O uso do herbicida ou

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 151


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mata-mato Roundup® ou Glifosato trazia, segundo os agricultores, grande


economia de tempo e trabalho na capina das áreas de cultivo, o que permitia
aumentar a área plantada, mesmo com a escassa mão-de-obra disponível.
Geralmente, os agricultores começaram a utilizar herbicida seguindo orientação
de técnicos do serviço de extensão.
Verificou-se, em alguns casos, a utilização de produtos inadequados para
o controle de problemas fitossanitários como, por exemplo, o uso de mistura de
Agrinose® (Agripec) (fungicida a base de oxicloreto de cobre) e Folidol®
(inseticida organofosforado), citada por dois produtores de Manacapuru, para
combater a queda das flores do maracujazeiro. Esse tratamento possui um
provável efeito negativo na população de mamangabas (Himenoptera:
Bombidea), os insetos polinizadores das flores do maracujazeiro, podendo
agravar o problema da queda de flores. Outro exemplo foi o uso de fungicida à
base de oxicloreto cobre para o controle de podridão-branca (Sclerotium rolfsii
Sacc.), em pimentão (Capsicum annuum L.), citado também por um produtor de
Manacapuru. Fungicidas a base de oxicloreto de cobre têm demostrado baixa
eficiência na inibição de S. rolfsii (DAS e PANDA, 1997).
Entre os agricultores entrevistados que usavam agrotóxicos (26), metade
relatou problemas de intoxicação com esses produtos, ocorridos com eles
próprios ou com membros da família. Os problemas de saúde mais comuns
foram dor de cabeça citada por 61,5% (8) e tontura, citada por 46,2% (6) dos
entrevistados (Tabela 3). Ardor nos olhos, enjôo e manchas na pele foram
citados, cada um, por 15,4% (2) dos usuários. Um dos agricultores já tinha
precisado de atendimento hospitalar em decorrência de intoxicação com
agrotóxicos. O combate a formigas (Himenoptera: Formicidae) foi a principal
justificativa para o uso de agrotóxicos nas propriedades, pulgão (meruxinga)
(Homoptera: Aphididae) e cascudinho (Coleoptera: Chrysomelidae) também
foram considerados problemas que justificavam o emprego de controle químico.
O equipamento para aplicação de agrotóxicos, predominantemente usado,
foi o pulverizador costal próprio ou emprestado de vizinhos, citado por 77% (10)
dos que foram perguntados. A utilização de frasco de desodorante (1), bomba de
matar carapanã (1) e garrafa plástica com buraquinhos (1), foram também
citados pelos agricultores entrevistados como equipamento usado para aplicação
de agrotóxicos.
O Equipamento de Proteção Individual (EPI) é empregado parcialmente
pelos agricultores. Dos 26 agricultores usuários de agrotóxicos, do total de 32
entrevistados, quatro não utilizavam qualquer proteção e preparavam a calda ou

152 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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aplicavam os agrotóxicos vestidos geralmente de bermuda, camisa de manga


curta, boné e sandália. A maioria dos que utilizavam agrotóxicos (85%), no
entanto, tomava alguns cuidados na manipulação dos produtos mas nenhum dos
entrevistados tinha ou usava todos os EPIs recomendados. Bota e chapéu foram
os equipamentos mais usados, citados por 69,2% (16) dos usuários entrevistados.
Camisas de manga comprida e calça foram citadas por 61,5% (16) dos usuários
e luvas de borracha por 19,2 (5). Um dos agricultores usava um saco plástico, em
lugar da luva, para manipular os produtos (Tabelas 4 e 5).
Considerando o alagamento periódico das áreas de várzea, o descarte das
embalagens vazias de agrotóxicos torna-se um problema ainda mais sério do que
em áreas de terra-firme. Nas propriedades visitadas, as embalagens vazias de
agrotóxicos são queimadas em 34,6% (9) dos casos, jogadas no mato, em 23,1%
(6) dos casos, enterradas em terreno de várzea, em 11,5% (3) dos casos, jogadas
no rio, em 7,7% dos casos (2), entre outras (Tabela 6). Um agricultor alegou
enterrar as embalagens em área de terra-firme, para evitar contaminar a água nas
enchentes. Sobras de calda de agrotóxicos são geralmente deixadas no
pulverizador para uso posterior e, quando descartadas, são jogadas na beira do
roçado ou no rio.
O conhecimento de defensivos naturais como calda de tabaco e sabão foi
citado por 34,4% (11) dos 32 agricultores entrevistados, porém, apenas 18,7%
(6) já usaram ou usam esse tipo de produtos, de vez em quando. Dois dos
entrevistados tinham feito curso sobre defensivos naturais com agentes da
extensão. A baixa eficiência das preparações foi o principal motivo para a não
adoção desses produtos.
Em nenhuma das propriedades em que agrotóxicos eram utilizados esses
eram armazenados de forma segura Apesar de 38% (10) dos agricultores
entrevistados alegarem que guardavam os defensivos em local exclusivo para
isso, em 15,4% (4) esse local era dentro de casa. O armazenamento de
agrotóxicos foi comum em sacolas plásticas amarradas em árvores, na viga da
casa, ou em outros lugares 23% (6), escondidos fora de casa 15,4% (4), em cima
dos canteiros 3,8% (1), em cima da casa 3,8% (1) ou trepado 3,8% (1). Já na
preparação da calda dos agrotóxicos foram citadas medidas como uma tampinha
ou até a água ficar esbranquiçada.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 153


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CONCLUSÃO

Os agricultores da várzea do Solimões-Amazonas convivem com mais


de uma centena de pragas e doenças em seus plantios. As culturas de bananeira
e mandioca, presentes em praticamente todas as propriedades visitadas, foram
as mais freqüentemente afetadas por problemas fitossanitários. A
complexidade dos sistemas de cultivo contribui para que a severidade das
doenças e pragas não seja elevada, de maneira geral. A falta de assistência
técnica é um problema generalizado e não são adotadas medidas de manejo
para a maioria dos problemas fitossanitários. Poucos agricultores conhecem
métodos alternativos de manejo e, mesmo quando os conhecem, não os adotam
pela baixa eficiência alcançada. O uso de agrotóxicos vem se expandindo sem
que seja acompanhado por treinamento dos usuários sobre como, quando, o
que utilizar, como armazenar e descartar os agrotóxicos o que pode acarretar
em aumento as intoxicações dos usuários e contaminações ambientais.

FIGURA 1. Percentual de referência a pragas e doenças nos cultivos, pelos agricultores da várzea do Solimões-
Amazonas, nos municípios, onde pelo menos oito entrevistas foram aplicadas.

154 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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FIGURA 2. Percentual de referência a pragas e doenças e falta de assistência técnica nas Regiões 1 - Alto Solimões
(Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Tabatinga); 2 – Médio Solimões (Alvarães,
Coari, Maraã, Tefé); 3 – Baixo Solimões (Careiro da Várzea, Iranduba, Manacapuru); 4 – Médio Amazonas
(Itacoatiara, Silves, Urucurituba), 5 – Baixo Amazonas (Óbidos, Oriximiná, Parintins, Santarém) e 6 –
Estuário (Gurupá) pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas.

FIGURA 3. Percentual de referência ao uso de agrotóxicos, pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas, nos
municípios, onde pelo menos oito entrevistas foram aplicadas.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 155


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FIGURA 4. Percentual de referência ao uso de agrotóxico e da falta de assistência técnica nas Regiões: (1) Alto
Solimões (Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Tabatinga); (2) Médio Solimões
(Alvarães, Coari, Maraã, Tefé); (3) Baixo Solimões (Careiro da Várzea, Iranduba, Manacapuru); (4) Médio
Amazonas (Itacoatiara, Silves, Urucurituba), (5) Baixo Amazonas (Óbidos, Oriximiná, Parintins, Santarém)
e (6) Estuário (Gurupá) pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas

156 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


TABELA 1. Principais doenças e pragas observadas em cultivos da várzea do Solimões-Amazonas, seus respectivos hospedeiros e número de propriedades onde o problema
foi observado.

Num. Hospedeiro Doença Agente causal n. (%)

1. Alface (Lactuca sativa L.) Meruxinga (Pulgão) Insecta: Homoptera: Aphididae 4 (12,5)

2. Banana (Musa sp.) Broca do Pseudocaule Castnia sp. (Insecta: Lepidoptera: Castiniidae) 10 (31,2)
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3. Banana (Musa sp.) Moko Ralstonia solanacearum (Smith) Yabuuchi et al. 21 (65,6)

4. Banana (Musa sp.) Sigatoka Amarela Mycosphaerella musicola Leach (Pseudocercospora musae (Zimm.) Deighton) 27 (84,4)

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


5. Banana (Musa sp.) Sigatoka Negra Mycosphaerella fijiensis Morelet (Paracercospora fijiensis (Morelet) Deighton) 13 (40,6)

6. Cacau (Theobroma cacao L.) Antracnose Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Sacc. 9 (28,1)
26.03.08

7. Cacau (Theobroma cacao . Vassoura-de-bruxa Crinipellis perniciosa (Stahel) Singer 8 (25)

8. Caju (Anacardium occidentale L.) Antracnose Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Sacc. 7 (21,9)
21:42

9. Chicória (Eryngium foetidum L.) Mancha de Cercospora Cercospora sp. 5 (15,6)

10. Citros (Citrus spp.) Minador Liriomyza sp. (Insecta: Diptera: Agromyzidae) 4 (12,5)
11. Couve (Brassica oleracea L. var.
Mancha de Alternaria Alternaria sp. 4 (12,5)
acephala)
12. Couve (Brassica oleracea L. var.
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Meruxinga ou ova (Pulgão) Insecta: Homoptera: Aphididae 4 (12,5)


acephala)
13. Feijão caupi (Vigna unguiculata
Meruxinga (Pulgão) Insecta: Homoptera: Aphididae 7 (21,9)
(L.) Walp.)
14. Feijão caupi (Vigna unguiculata
Virose (Mosaico) Vírus 4 (12,5)
(L.) Walp.)
15. Goiaba (Psidium guajava L.) Antracnose Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc. 4 (12,5)

16. Goiaba (Psidium guajava L.) Mosca-das-frutas Anastrepha spp. (Insecta: Diptera: Tephritidae) 5 (15,6)

17. Graviola (Annona muricata L.) Broca do fruto Cerconota anonella Sepp. (Insecta: Lepidoptera: Stenomidae) 5 (15,6)

18. Mamão (Carica papaya L.) Mancha de Corynespora Corynespora cassiicola (Berk & Curt) Wei 7 (21,9)
19. Mandioca/ Macaxeira (Manihot
Mancha parda grande Cercospora vicosae Muller et Chupp. 7 (21,9)
esculenta Crantz)
20. Mandioca/ Macaxeira (Manihot
Mancha parda pequena Cercosporidium henningsii (Allesch.) Deigton 5 (15,6)
esculenta Crantz)
21. Mandioca/ Macaxeira (Manihot
Podridão das raízes Geotrichum sp. ou Phytophthora spp. e Pythium sp. 10(31,2)
esculenta Crantz)

157
158
Num. Hospedeiro Doença Agente causal n. (%)

1. Manga (Mangifera indica L.) Antracnose Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc. 6 (18,7)

2. Maxixe (Cucumis anguria L.) Mancha foliar Rhizoctonia solani Kühn 4 (12,5)
3. Melancia (Citrullus lunatus (Thung.)
Mancha de Corynespora Corynespora cassiicola (Berk & Curt) Wei 5 (15,6)
Mansf )
4. Melancia (Citrullus lunatus (Thung.)
Mosaico (virose) Vírus 6 (18,7)
Mansf )
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5. Melancia (Citrullus lunatus (Thung.)


Ova (Pulgão) Insecta: Homoptera: Aphididae 4 (12,5)
Mansf )
6. Milho (Zea mays L.) Helmintosporiose Helminthosporium turcicum Pass. 5 (15,6)

7. Milho (Zea mays L.) Mancha de curvularia Curvularia spp. 6 (18,7)


26.03.08

8. Pimentão (Capsicum annuum L.) Murcha Ralstonia solanacearum (Smith) Yabuuchi et al. 5 (15,6)

9. Pimenta (Capsicum sp.) Murcha Ralstonia solanacearum (Smith) Yabuuchi et al. 6 (18,7)

10. Quiabo (Abelmoschus esculentus L.) Mancha de Cerdospora Cercospora sp. 7 (21,9)
21:42

11. Tomateiro (Lycopersicon esculentum


Mancha de Corynespora Corynespora cassiicola (Berk & Curt) Wei 4 (12,5)
Mill.)
12. Tomateiro (Lycopersicon esculentum
Murcha bacteriana Ralstonia solanacearum (Smith) Yabuuchi et al. 8 (25)
Mill.)
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Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


TABELA 2. Agrotóxicos usados por agricultores da várzea do Solimões- Amazonas, Brasil, com seus respectivos grupos químicos, classes toxicológicas e percentual de
propriedades em que são utilizados .
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Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


26.03.08
21:42
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TABELA 3. Sintomas de intoxicação por defensivos, relatados pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas.
Sintomas apresentados N.º %
Dor de cabeça 8 61,5
Tontura 6 46,2
Ardor nos olhos 2 15,4
Enjôo 2 15,4
Manchas na pele 2 15,4
Ardor no rosto 1 7,7
Coceira na pele 1 7,7
Corpo grosso 1 7,7
Febre 1 7,7
Tosse 1 7,7
Vômitos 1 7,7
Agricultores que utilizavam defensivos 26 100
Relataram já ter passado mal 13 50
Nunca passaram mal 13 50

TABELA 4. Equipamentos de proteção para aplicação ou preparação de calda de agrotóxicos utilizados pelos
agricultores da várzea do Solimões-Amazonas.
Equipamento Utilizados N.º %
Agricultores que usam defensivos 26 100
Bota 18 69,2
Calça comprida 16 61,5
Camisa de manga comprida 16 61,5
Chapéu 18 69,2
Luva 5 19,2
Máscara 4 15,4
Saco plástico (servindo como luva) 1 3,8
Viseira 2 7,7
Nenhum equipamento 4 15,4

TABELA 5. Cuidados adotados pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas antes ou depois da aplicação de
agrotóxicos
Cuidados adotados N.º %
Total de usuários de defensivos 26 100,0
Aplicação contra o vento 22 84,6
Banho após a aplicação 21 80,8
Lavagem das roupas após a aplicação 15 57,7
Tomar leite após a aplicação 3 11,5
Lavar as mãos após a aplicação 1 3,8
Tomar café reforçado antes da aplicação 2 7,7

160 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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TABELA 6. Procedimentos de descarte de embalagens vazias de agrotóxicos adotados pelos agricultores da várzea do
Solimões-Amazonas.
Procedimentos de descarte adotados N.º %
Total de usuários de defensivos 26 100
Queima 9 34,6
Joga no mato 6 23,1
Enterra 3 11,5
Amontoa 3 11,5
Joga na água 2 7,7
Enterra em terra-firme 1 3,8
Joga num buraco 1 3,8
Joga no lixo 1 3,8
Joga no sanitário 1 3,8

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 161


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FIGURA 5. Sintoma de antracnose em folhas de FIGURA 6. Sintoma de Sigatoka amarela em folha de


mangueira. bananeira.

FIGURA 7. Sintoma de Sigatoka negra em folha de FIGURA 8. Sintoma de Moko em bananeira.


bananeira.

162 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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FIGURA 9. Sintoma de Moko em pseudocaule de FIGURA 10. Sintoma de podridão em raiz de


bananeira. mandioca..

FIGURA 11. Sintoma de vassoura-de-bruxa em fruto FIGURA 12. Sintoma de murcha-bacteriana em


de cacaueiro. tomateiro.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 163


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CAPÍTULO 6
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS
SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA DAS
COMUNIDADES RIBEIRINHAS E DO
ABASTECIMENTO DO MUNICÍPIO DE PAUINI

Sandra do Nascimento Noda1 e 3


Gilberto de Assis Ribeiro2 e 3
Hiroshi Noda2 e 3
Jorge Emídio de Carvalho Soares2
Fidel Matos Castelo Branco3
Manoel de Freitas Mendonça Neto3

INTRODUÇÃO

As modificações que ocorrem no sistema de produção tradicional


utilizado pelos caboclos da Amazônia estão intrinsecamente relacionadas ao
processo de modernização da agricultura regional associado aos processos
sociais e econômicos de mobilidade e assentamento de agricultores de origem
diferenciada na região (NODA et al., 1997).
A conciliação entre o auto-reconhecimento, fortalecido pelas vocações e
práticas tradicionais e propostas de alternativa econômicas nem sempre é uma
tarefa fácil. Para que se estabeleçam propostas efetivas de gestão participativa
é fundamental o conhecimento das principais variáveis que influenciam os
sistemas produtivos tradicionais (PEREIRA et al., 2006).
Em face disto, as instituições de pesquisa, ensino e extensão têm
procurado atenuar as conseqüências negativas oriundas da atividade humana na
região, com a geração de conhecimentos científicos. E como conseqüência, o
estudo das interações ecológicas, sociais e econômicas envolvidas no processo

1. Universidade Federal do Amazonas - Faculdade de Ciências Agrárias (UFAM/FCA).


2. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
3. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 167


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produtivo contribui para o desenvolvimento sustentável nas áreas de produção


agrícola da região. Este trabalho teve por objetivo o estudo dos componentes
sociais e produtivos dos sistemas de produção utilizados pelos agricultores
familiares das áreas de várzea do município de Pauini, com o intuito de avaliar
as modificações adaptativas desses sistemas ao contexto socioeconômico.
O estudo foi desencadeado quando a Prefeitura Municipal de Pauini ao
implantar sua AGENDA 21, procurou em 2003 o Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia-INPA, celebrando um Termo de Cooperação Técnica
para implementação das atividades programadas. Nessa parceria reúnem-se as
demandas de um Município com o terceiro mais baixo IDH do país (0,382). De
outro lado, há uma Instituição que acumula cinqüenta anos de Pesquisas sobre
a Amazônia.
O INPA, por intermédio do Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos
Amazônico – NERUA, dispõe de recursos tecnológicos, que podem alavancar
transformações no Município. Entretanto, recursos desse tipo são condições
necessárias, mas não suficientes para alavancar o Desenvolvimento
Sustentável. Também são imprescindíveis outros tipos de recursos, que não se
encontravam disponíveis nas duas instituições da parceria constituída -
financeiros, materiais, etc. Por isso, o INPA/NERUA e a Prefeitura de Pauini,
consultaram o governo do Estado, convidando-lhe para integrar a parceria.
Diante desses fatos foi efetivado convênio com a Fundação de Amparo
à Pesquisa – FAPEAM, através da chamada IV – Tecnologia Social para o
Desenvolvimento Sustentável do Edital Temático, permitindo assim, catalisar
o aproveitamento das potencialidades já constituídas, beneficiando a população
local, profundamente carente. Assim, o trabalho proposto, em Pauini, teve o
caráter de uma proposta-piloto, efetivada por meio de cursos, consultorias e
treinamentos visando capacitar formadores e técnicos, com a intenção de obter
subsídios para programas e políticas públicas.
A área municipal, de cerca de três milhões de hectares, merece atenção
especial quanto a sua verdadeira vocação tanto regional quanto local. Assim,
propôs-se a realização de diagnóstico socioeconômico e agroecológico de
Pauini para ações práticas em organização e processos educativos junto às
sociedades locais. Tornar essa informação disponível é a base para que governo
e população local discutam o planejamento e o ordenamento municipal.
O município de Pauini (Figura 1) situa-se na mesorregião n.º 4,
microrregião n.º 011, código municipal n.º 0350 conforme a classificação do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Distante de Manaus 915 km em

168 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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linha reta. Área territorial de 42.651 km2, população de 19.295 hab., com
população rural de 17.037 hab. e densidade demográfica de 0,44 hab./km2
(IBGE, 2000).
Do ponto de vista climático, o território estudado, por suas precipitações
anuais (2500-3000 mm) e sua umidade ambiental, está dentro de uma das mais
úmidas da Amazônia; a temperatura média anual é de 26,5º C (GALAN DE
MERA e VICENTE ORELLANA, apud RODRIGUES, 2002). O clima é
tropical chuvoso e úmido. A dinâmica de ocupação é essencialmente agrícola,
com culturas temporárias com mandioca, abacaxi, arroz, etc. Quanto à
pecuária, é basicamente da criação de bovinos, onde a produção de carne e leite
destina-se ao consumo local.

FIGURA 1. Localização Geográfica do Município de Pauini. Estado do Amazonas. Brasil.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 169


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Pauini tem uma área de 4.344.717 hectares, sendo que 1.147.005


hectares (26,4%) de seu território estão em terras indígenas e 273.206 hectares
(6,9%) estão na FLONA do Rio Purus, uma unidade de conservação de uso
sustentável. No total, o município possui 1.420.211 hectares (33,3%) com uma
destinação específica. A maior parte desta área está próxima à confluência do
Rio Pauini com o Rio Purus, estando às cabeceiras do Pauini sem destinação
estabelecida (IBGE, 2000).
Foram realizadas visitas técnicas em cinco comunidades ribeirinhas
parceiras no Projeto TEDES (Tecnologias para o Desenvolvimento e
Sustentabilidade do Município de Pauini) com finalidade de efetuar um
diagnóstico socioeconômico das localidades e caracterizar o uso agrícola da
terra para propor atividades socioeducativas e tecnológicas visando promover
melhorias no sistema de produção do município, em bases sustentáveis, através
da otimização do manejo dos recursos naturais disponíveis com a introdução
de tecnologias e produtos capazes de melhorar a eficiência produtiva e
econômica das comunidades locais, sem comprometer a segurança alimentar e
respeitando as formas de organização social das localidades. As comunidades
visitadas foram: Ajuricaba, Atalaia, São Pedro, Pauriã e Içá.
A metodologia adotada foi o “Estudo de Caso”, tendo como estratégia a
execução de um diagnóstico rápido e participativo para conhecer as tecnologias
associadas à produção agrícola local. Segundo Greenwood (1973), este método
“consiste no exame intensivo, tanto em amplitude como em profundidade da
unidade de estudo empregando todas as técnicas disponíveis para ele”.
Foram enfatizadas a identificação das populações e sua forma de
organização para execução dos trabalhos, acessarem a terra, o conhecimento, a
tecnologia e o produto obtido, suas formas de manejo produtivo, destino da
produção obtida, bem como os problemas relacionados à produção agrícola e
ao mercado consumidor.
Dessa maneira foram programadas as seguintes atividades:
- Caracterização do sistema de produção agrícola das comunidades;
- Identificação das demandas relacionadas com a atividade agrícola;
- Caracterização do mercado de produtos agrícolas do município;
- Implantação e acompanhamento do modo de condução e manejo de
hortas comunitárias nas comunidades rurais ribeirinhas locais.
Os dados foram obtidos através da aplicação de questionários e
entrevistas, estruturados com perguntas abertas e fechadas, aos agricultores
familiares do município e em locais como feiras, mercados e mercearias nos

170 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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bairros e nas áreas centrais da cidade. Os questionários foram aplicados por


equipes de duas pessoas, onde um seguia o roteiro elaborado e o outro procedia
às observações e anotações complementares no diário de campo, realizava os
registros fotográficos e elaborava croquis dos plantios. A amostra foi aleatória,
obedecendo aos seguintes critérios: visitas a 5% dos agricultores familiares por
localidade e/ou comunidade; avaliação das atividades através de reunião
relâmpago in situ para retomar, caso necessário, mais 5% dos produtores das
localidades a serem entrevistados. Foi considerado suficiente, quando o
número de questionários aplicados apresentava informações que começavam a
se repetir, em conformidade aos condicionantes do método “Estudo de Caso”.
Durante o trabalho, sempre que possível, buscou-se manter a
interdisciplinaridade entre os pesquisadores no intuito de obter informações
para futuras pesquisas. À noite eram realizadas reuniões de intercâmbio de
informações juntamente com os comunitários, versando sobre as principais
demandas e dificuldades dos agricultores em relação ao trabalho agrícola e
situação socioeconômica.

A INFRA-ESTRUTURA DAS COMUNIDADES

No aspecto da infra-estrutura, cada comunidade apresenta, basicamente,


uma escola que atende a 4.ª série do Ensino Fundamental, habitações de
madeira cobertas com telhas de zinco ou palha, igreja, casas de farinha e paiol.
A água é coletada diretamente do rio, transportada em baldes e armazenada em
recipientes tipo camburões; não apresentam esgoto sanitário; o sistema de
iluminação é baseado em grupos geradores movido a óleo diesel. O transporte
comunitário é realizado em canoas impulsionadas por motor tipo rabeta. Existe
um sistema de radiofonia, funcionalizado com energia solar fotovoltaica,
instalado em localidades estratégicas com o intuito de facilitar a comunicação
entre as comunidades ribeirinhas e a sede do município. Todas as comunidades
têm televisão com antena parabólica, normalmente, instaladas nas escolas. A
Prefeitura Municipal de Pauini em parceria com o Governo do Estado do
Amazonas promoveram doações de motores tipo rabeta, grupos geradores,
casas de farinha e kits ferramenta a todas as famílias das comunidades
ribeirinhas do município, através da Secretaria Municipal de Produção e
Abastecimento do município.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 171


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Segundo Alencar (2005), as deficiências na prestação de serviços


públicos na área social, particularmente a falta de escolas ou de cursos de
Ensino Médio nas comunidades ribeirinhas, são as principais causas da
migração de famílias da várzea em direção às sedes municipais. Devido à
dificuldade de encontrar trabalho na área urbana retornam à várzea para
cultivar roças e proceder à pesca, realizando um deslocamento sazonal. O autor
conjectura que ao migrarem para a área urbana rompem com um modelo de
reprodução social característico das sociedades camponesas, deixando de
repassar um conhecimento tradicional e não preparam os filhos para dar
continuidade a uma tradição de trabalho com a terra.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) estimulou as comunidades a
organizarem associações. Alguns comunitários são associados ao Sindicato de
Trabalhadores Rurais e à Associação de Pescadores do município de Pauini.
Com relação à ação da pastoral da Igreja Católica nas comunidades
ribeirinhas, desde a década de 1960, vêm incentivando a formação de
comunidades nas localidades do interior. A idéia, posteriormente, foi sendo
assumida por lideranças locais e o desdobramento desse movimento de cunho
religioso-social fez com que as comunidades viessem a se constituir na
principal referência de pertencialismo socioespacial (PANTOJA, 2005). Blum
(2001) defende que a filosofia da vivência em grupos sociais, para melhorar a
resolução de problemas através da soma de forças e mentes deve ser constante
preocupação dos agricultores e que a forma democrática de atuação grupal, o
estudo das lideranças, a noção de dinâmica de grupo e o estímulo à forma
participativa de planejamento, decisão e execução devem ser incentivados em
todas as comunidades rurais.

RELAÇÕES SOCIAIS DE TRABALHO


O trabalho agrícola é feito por famílias extensas, caboclas, descendentes
de seringueiros que, de uma forma ou de outra, têm acesso aos meios de
produção, à terra e aos equipamentos, combinados em sistemas de uso de
múltiplas estratégias, em diferentes ambientes, que possibilitam a segurança
alimentar e a reprodução social.
No período do extrativismo da borracha, os seringueiros arrendavam
estradas dos patrões para “riscar” seringa pagando com o produto e por estrada.
Com o “fracasso” da economia extrativista passaram a plantar roça e fruteiras

172 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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regionais diversas. Naquela época, as pessoas trabalhavam no verão na


extração de seringa, em dezembro na fabricação de farinha e no inverno na
extração da castanha.
A terra foi acessada através da posse simples, com base na permanência
histórica nas colocações locais, após o declínio da exploração extrativista de
seringa. As propriedades não são divididas e as áreas de produção agrícola são
usadas individualmente pelas unidades familiares. As áreas de praia são usadas
ano a ano pelos mesmos grupos domésticos. Cada comunidade e/ou unidade
familiar define seu território e estabelece critérios para acesso aos recursos
naturais neles existentes.
Quando o trabalho é organizado pela família, nuclear ou extensa, a
força de trabalho familiar apresenta-se assentada em dois tipos de trabalho:
o trabalho utilizado na produção agroflorestal e o trabalho realizado por
meio de serviços domésticos. Como a unidade de consumo é a família, é ela
quem determina a quantidade e a forma – se caseira ou não – do trabalho
necessário à manutenção familiar (NODA et al., 1997).
O emprego e a distribuição da força de trabalho, numa unidade
familiar, são fatores extremamente importantes na manutenção da
sustentabilidade do sistema produtivo. Qualquer impacto ambiental que
resulte em dificuldades adicionais ao produtor familiar, para a produção
agrícola ou para obtenção de algum produto extraído do ambiente natural
(peixe, caça, madeira, etc.) causa, como conseqüência, a necessidade do
emprego de força de trabalho adicional (NODA et al., 2001).
No aspecto organizacional, as comunidades improvisam, sendo raras
as contas, controles e anotações para o planejamento das atividades. Blum
(2001) argumenta que a maioria dos agricultores não faz controle de
receitas e despesas; não faz análise dos custos, portanto, não conhece as
margens brutas, os lucros e as relações benefício/custo. Eles percebem que
estão empobrecendo ou apenas se mantendo na atividade, mas não
conseguem detectar a fonte dos seus problemas; desconhecem quais são as
atividades mais lucrativas e que deverão ser incentivadas e quais são as
deficitárias e que deverão ser eliminadas ou reduzidas, observando sempre
o sistema de produção.
O trabalho produtivo nas comunidades visitadas é baseado na ajuda
mútua nas modalidades de mutirão, troca-de-dia e parceria. A “união”
costuma ser feita para execução de atividades que demandam maior
quantidade de mão-de-obra como plantio, colheita, farinhada, etc.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 173


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Eventualmente contratam pessoas de outras comunidades como diaristas


para ajudar nas atividades pagando com produtos, principalmente a farinha
e o feijão. Em algumas praias, situadas nas áreas indígenas, os índios
cobram arrendamento dos agricultores ribeirinhos, que normalmente são
pagos com uma pequena parcela do produto cultivado. O conhecimento
usado no manejo dos componentes de produção (sítio, roça e canteiro
suspenso ou jirau) é basicamente o culturalmente acessado. Para esses
componentes as comunidades não recebem, no momento, assistência
técnica.
O material propagativo utilizado nos plantios (semente, muda, estaca,
etc) é compartilhado entre os agricultores e entre as localidades, inclusive com
as comunidades indígenas. Na origem a obtenção de alguns desses produtos
como o feijão, por exemplo, relaciona-se com agentes externos como “um
negociante que trouxe o feijão da EMATER de Boca-do-Acre”, etc. Algumas
sementes usadas no componente horta são compradas, ou então, doadas pela
Secretaria de Produção do município.
As relações de trabalho de ajuda mútua, denominadas regionalmente de
mutirão, ajuri, e/ou puxirum, apontam para a inexistência de uma formalização,
de uma regulamentação, dessas relações. A característica principal é o
conhecimento do processo produtivo agrícola e extrativista. Apresentam-se
como sendo o produto das necessidades econômicas dos agricultores
familiares. A relação de troca de dia é considerada como ajuda mútua dada às
bases em que se dá o contrato social. Não ocorre remuneração, pois esta
relação vem suprir as necessidades de dinheiro dos agricultores familiares que
não possuem a quantidade necessária para assalariar temporariamente. As
relações de parceria se dão quando a força de trabalho familiar não é suficiente
e não possuem recursos para pagar serviços de terceiros (NODA et al., 1997).
Nas comunidades ribeirinhas de Pauini a renda familiar resulta das
atividades de agricultura, criação animal (bovinos, ovinos, suínos e aves) e do
extrativismo animal (caça e pesca) e vegetal (madeira, cipó, vara, palha, frutos,
etc.). Outros rendimentos têm origem na aposentadoria e de benefícios dos
programas sociais do Governo Federal (bolsa-escola, bolsa-família, etc.). De
acordo com Alencar (2005), a economia em comunidades ribeirinhas é baseada
na diversificação de atividades e na utilização de estratégias econômicas que
combinam a exploração de diferentes recursos, onde o somatório da renda
gerada por cada uma delas permite a reprodução das famílias.

174 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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Os agricultores familiares do município levam os produtos oriundos da


atividade agrícola para comercializar no mercado de Pauini, ou então, o fazem
diretamente com os “marreteiros” (regatões) na própria localidade. A
negociação com estes últimos é quase sempre à base de troca por outros
produtos alimentícios (arroz, café, óleo, sal, etc.). No mercado de Pauini a
comercialização se dá, comumente, a dinheiro com base no preço atualizado de
mercado. Segundo NODA et al. (2001), a atuação dos marreteiros como
agentes sociais de comercialização é favorecida pela produtividade excedente
do trabalho familiar, alienada na comercialização dos produtos.
Em decorrência da falta de registros de produção os agricultores
entrevistados citaram as espécies por eles cultivadas, sem precisar a área
plantada e até mesmo a produção obtida. Nas análises que seguem trabalhamos
as áreas e produção média dos principais cultivos declarados nas entrevistas.

O MANEJO DO ECOSSISTEMA PARA A PRODUÇÃO

As comunidades visitadas apresentam ambientes predominantemente de


várzea baixa. Compreendendo um mosaico paisagístico identificado pelos
comunitários como terra-alta ou “terruã”, restingas ou “lombadas”, encostas da
restinga, praia, igarapé, chavascal, queimada, centro, capoeira, com
exuberância vegetal e presença de água doce proveniente do rio Purus. As áreas
conhecidas como terra-alta são aquelas alagadas apenas por grandes
inundações como a ocorrida em 1997, normalmente, estão localizadas nas
terras pertencentes às comunidades indígenas. De acordo com a classificação
de Castro apud Alencar (2005), que utiliza como critério a topografia do
terreno, as comunidades visitadas poderiam ser classificadas como
comunidades insulares, consideradas àquelas localizadas em ilhas de várzea,
sem acesso às áreas de terra-firme.

NAS PRAIAS E ENCOSTAS DA RESTINGA

O preparo da área pode iniciar antes da inundação (janeiro/fevereiro) ou


depois através de uma limpeza da vegetação, principalmente o murim
(Paspalum fasciculatum Willd. ex Flüggé) e canarana (Panicum spectabile
Nees ex Trin.). Quando o rio recua e as áreas ficam livres de vegetação, os

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 175


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agricultores fazem o coveamento para o plantio seguindo métodos tradicionais


e culturalmente acessados. De acordo com o conhecimento tradicional de
alguns agricultores ribeirinhos locais, o tipo de vegetação pré-existente
influencia no sedimento retido e depositado: “o murim retém mais areia e a
canarana retém mais barro”. O capim-de-burro (Cynodon spp.) é tido como
indicador do local onde pode plantar mandioca sem ter maiores problemas com
a enchente.
De acordo com a experiência tradicional dos agricultores ribeirinhos
locais: o plantio costuma ocorrer no período de maio a julho (no verão)
dependendo da descida do rio; a área plantada está diretamente relacionada ao
tamanho e a qualidade da praia que sai a cada ano; o local de plantio é
determinado pelo tipo/qualidade do solo que foi depositado. A mandioca, por
exemplo, precisa de solo mais “areiusco” ou “barreado” (areia misturada com
um pouco de barro), pois quando plantada em solo barrento vegeta em
detrimento da produção das raízes. O jerimum não “prospera” na areia fina da
praia, logo, deve ser cultivado em locais mais altos como as encostas e
restingas, onde o solo é mais barreado.
O principal cuidado após o plantio é o combate às “perseguições”. A
casca da árvore conhecida localmente por “cabaçaqué” raspada e colocada na
água com milho e feijão, é usada para combater ratos (Rattus spp.) que atacam
milho, feijão, melancia e macaxeira. Além do rato, o milho costuma ser atacado
pela graúna (Molothrus spp.) e a maracanã (Propyrrhura spp.). O feijão sofre
com a paquinha (Gryllotalpidae), e a perseguição do marreco (Dendrocygba
spp.), do pássaro xexéu (Cacicus spp.) e do rato. Para combater a saúva (Atta
spp.) utilizam iscas feitas com sementes de gergelim.
As colheitas são feitas manualmente antes que o rio atinja a plantação. O
transporte interno das áreas de produção para as moradias é feito manualmente
ou através de canoas quando as áreas de plantio estão localizadas nas praias
circunvizinhas da comunidade. O armazenamento dos produtos in natura
(milho e feijão) ou processados (farinha de mandioca) é feito em latas e
tambores diretamente nas casas e pelo menos um guarda em paiol. As sementes
destinadas ao plantio são colocadas em garrafas (PET, vidro, etc.) e vedadas
com cinza e cera de abelha para evitar a ação de gorgulhos. As melhores
manivas de mandioca e ramas de batata-doce são selecionadas e plantadas na
terra-alta com a finalidade de manutenção dos propágulos vegetativos.

176 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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TERRA-ALTA OU TERRUÃ

Segundo as informações coletadas, o preparo da área cultivada no


ecossistema de terra-alta ocorre, geralmente, no mês de junho. As operações de
preparo dependem do tipo de vegetação pré-existente. Numa área de mata,
envolve a broca, derrubada, queima e coivara.
O plantio normalmente é realizado no mês de agosto, iniciando com a
mandioca e depois com as demais culturas, algumas como a banana, por
exemplo, são colocadas nas beiras, outras pelo meio da roça. A terra-alta
também é utilizada para manutenção de propágulos vegetativos de mandioca e
batata-doce. Além dos cultivos agrícolas, neste ecossistema também são
formados campos para pastoreio bovino, que são utilizados durante o período
de alagação. Os tratos culturais envolvem capinas e combate às “perseguições”
como a saúva, o rato, a paca e a cutia. A colheita é feita manualmente e o
desmanche, ao contrário da roça na praia, pode ser feita aos poucos desde que
a inundação não atinja a plantação. O transporte interno dos produtos é feito
manualmente através da mata até a beira do rio ou ao local de processamento
próximo à habitação.

RESTINGA

A restinga, onde estão localizadas as moradias, além das plantações,


também é usada, em algumas comunidades, como campo de pastoreio para a
criação de bovinos. Os tratos culturais identificados no componente foram a
roçagem e a construção de cercados em torno de alguns plantios a fim de evitar
que o gado danifique as plantas. Um trato cultural observado, nas plantas
associadas à moradia, é a construção de aterrados na tentativa de deixar as
plantas cultivadas fora do alcance das águas do rio, na ocasião da cheia. Após
o uso, dois ou três anos de cultivo, a área da roça é manejada com fruteiras ou
deixada em pousio (encapoeirar), por dois anos no mínimo, para então voltar a
ser usada. Enquanto a terra “descansa” abrem um outro “buraco” na mata para
implantar novo roçado.
As principais espécies cultivadas nas restingas dos sítios das cinco
comunidades ribeirinhas visitadas são: abacate, abacaxi, açaí, ariá, banana,
cajá, coco, cupuaçu, goiaba, laranja, lima, limão, mandioca, manga, plantas
ornamentais e medicinais diversas.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 177


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CANTEIRO SUSPENSO OU JIRAU

Os canteiros suspensos estão localizados na frente, nas laterais ou nos


fundos das habitações. Costumam cultivar nos jiraus cebolinha, chicória,
coentro, couve, pimenta-doce, tomate e pequenas plantas medicinais e
ornamentais. O plantio é feito do final de maio até julho. A renovação do
substrato é feita anualmente, quando têm disponibilidade de estrume de boi e
paú-da-mata. As regas são realizadas nas horas mais frescas do dia. Uma
estratégia utilizada para evitar a entrada de animais é cercar os canteiros com
varas e/ou partes de malhadeira. Os homens atuam, basicamente, na construção
dos canteiros, cercado e transporte do adubo. O “cuidado com as plantas” é
feito pelas mulheres juntamente com as crianças, que “ajudam” na tarefa de
carregar água do rio em baldes e/ou panelas para “molhar” o plantio.

CRIAÇÃO ANIMAL

Nas comunidades ribeirinhas, a criação de animais domésticos para


alimentação é baseada na criação de aves, suínos, ovinos e bovinos.
Inicialmente, os animais foram obtidos por herança e posteriormente em troca
de produtos, serviços e até mesmo pagamento em dinheiro proveniente de
reserva feita com trabalho em extração de madeira e fabrico de farinha. O
manejo alimentar, sanitário e reprodutivo da criação é fundamentado em bases
tradicionais. Os animais são criados soltos, alimentando-se livremente na
comunidade, fazendo proveito de restos de alimentos, frutas do quintal e da
mata, raspas de mandioca e subprodutos do fabrico da farinha e pastoreio
natural.
Alguns produtos que aparecem como componente do sistema agrícola
como o melão, a melancia e o milho também são usados na suplementação
alimentar da criação. As instalações são rudimentares. Na época da enchente,
o gado é acondicionado em marombas e os animais menores em chiqueiros
suspensos.
Os animais de pequeno e médio porte são criados apenas para atender as
necessidades de consumo familiar, enquanto a criação bovina, além desta,
apresenta outras finalidades como pagamento de serviços terceirizados e
vender numa situação de “aperreio”. Alguns criadores de boi vendem
diretamente para os açougueiros de Pauini, que por sua vez, buscam os animais

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na comunidade, levando-os abatidos, pagando à base de troca com outras


mercadorias.
O manejo do gado costuma ser feito pelos criadores das comunidades
estabelecendo a “união” para algumas atividades como construir curral, vacinar
contra a febre aftosa, cuidar dos animais na maromba e fazer cerca em torno
dos plantios. Algumas vezes contratam serviços de terceiros pagando com
troca-de-dia.
Os animais bovinos criados nas comunidades foram identificados como
sendo mistura de animais pé-duro com nelore. Onde o pé-duro é considerado
como bom de produção de leite e o nelore é tido como ruim de leite.
No verão, os bois são criados soltos, freqüentando a mata e o campo no
entorno da comunidade. Segundo os criadores entrevistados, na mata-alta os
animais alimentam-se, basicamente, com frutos de gameleira (Ficus spp.),
taperebá ou cajá (Spondias mombin L.) e caxinguba (Ficus spp.) dentre outros.
Na mata-baixa e beiras do rio, onde ocorre maior incidência dos raios solares,
alimentam-se com capim natural, embaúba (Cecropia spp.) e rama “gurdião”.
No campo, os animais alimentam-se com urtiga (Fleurya aestuans (L.)
Gaudich. ex Miq.), capim barba-de-bode (Aristida spp.), capim-gordura
(Melinis minutiflora P. Beauv.) é o preferido, capim-de-burro e o murim
quando novo. A suplementação da alimentação é feita com o fornecimento de
sal comum “só pra dá saliva no gado”, que é comprado em fardos atendendo,
também, às necessidades da família e salga do pescado.
No inverno, período da alagação, entre os meses de fevereiro até abril,
os animais são suspensos em marombas. Nesse período, a alimentação
fornecida à criação bovina é suprida, principalmente, com canarana, folhas e
“olho” da embaúba. Alguns criadores conduzem seu rebanho para campos
formados na terra-alta ou terruã.
No manejo da criação bovina, a apartação dos animais é feita por conta
própria. Para abreviar o período do aleitamento colocam uma “tabuleta” no
nariz dos bezerros. A castração dos machos é feita a partir de um ano e pouco
de idade visando à engorda dos animais. Os animais não são ferrados
(marcados) e nem divididos por categoria, a monta é livre e não há divisão de
pastagem, os animais são criados todos juntos.
Alguns criadores da várzea, com o intuito de formarem campo nas
restingas para o pastoreio bovino, obtiveram sementes de capim braquiário
(Brachiaria spp.) com criadores da terra-firme, mas a água matou o capim.
Como invasoras das pastagens, identificaram o “mata-pasto” e o “pau-de-

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leite”, “mas as imundícies são tantas que não sabem nem dizer o nome”. As
plantas invasoras das pastagens são desmoitadas, anualmente, com terçado e
enxada como forma de controle. Foi mencionada uma planta tóxica
denominada comumente como “tingüi”, cuja semente é depositada no solo
depois da alagação e “brolha” no campo, para o controle procedem ao
arranque.
A doença de maior ocorrência na criação de gado é denominada
localmente como “seca dos animais”. Não têm problema com carrapato. Nos
últimos dois anos (desde novembro de 2004) vacinaram contra febre aftosa. A
vacina é fornecida pelo IDAM (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do
Estado do Amazonas) e a aplicação é feita por um conhecido de Pauini que foi
treinado por um veterinário do próprio Instituto.
Várias são as espécies de plantas tóxicas que crescem associadas às
pastagens, algumas delas foram abordadas por Tokarnia et al. (1979); uma
delas, também, denominada popularmente em Roraima por “tingui” é a
Coutoubea ramosa Aubl., pertencente à família Gentianaceae. Os estudos
experimentais realizados com esta espécie em bovinos, apresentaram sintomas
que consistiam em anorexia, andar lerdo, manifestações de dores abdominais,
diminuição da atividade do rúmen, taquicardia, polipnéia, superfície do corpo
fria e morte. Esta planta, mesmo dessecada, após 4 meses e meio, continuou a
apresentar efeitos tóxicos.
Como “perseguições” da criação animal foram relatados o morcego, a
onça, a cobra e o jacaré-açu. Para combater as infecções causadas por mordida
de morcego passam óleo de andiroba (Carapa guianensis Aubl.) no local
mordido. Para curar bicheiras, estrepes e golpes nos animais utilizam remédios
obtidos no Posto da SUCAM (Superintendência de Campanhas de Saúde
Pública Ministério da Saúde). De acordo com o conhecimento tradicional
local, a fruta da gameleira (Ficus spp.) que é consumida espontaneamente na
mata, também, serve como um vermífugo natural para os animais.
A criação de animais domésticos costuma ser um componente
importante da agricultura familiar. Além de função alimentar os mesmos
podem funcionar como uma espécie de “ativo” facilmente mobilizável para
satisfazer necessidades imediatas da família, principalmente nas situações de
“aperreio”, mediante venda ou de outra relação (NODA et al. 2001).

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RECURSOS FLORESTAIS

Nas visitas técnicas realizadas foi possível constatar que os ribeirinhos


entrevistados extraem produtos florestais madeireiros e não-madeireiros,
apenas para atender à demanda das famílias na própria comunidade. Os
recursos extraídos da floresta são divididos entre as famílias que se juntam para
obtê-los. Produtos como o vinho de açaí são processados artesanalmente na
própria comunidade e divididos entre as famílias. Aqueles que extraem a
castanha-do-Brasil, normalmente, comercializam com os regatões em troca de
produtos industrializados.
A madeira extraída é utilizada para a confecção de casas, canoas,
cercados e lenha para uso doméstico e alimentação dos fornos na ocasião do
fabrico de produtos da mandioca. Os entrevistados argumentaram que “para
achar a madeira está ficando cada vez mais longe” e “antigamente, no tempo
da MANASA (Madeireira Nacional S.A.), tá com uns 25 anos, tinha muita
jacareúba”. Vale ressaltar que a madeira do rio Purus foi bastante explorada nos
anos 80 até 2002 pelas madeireiras MANASA e Gethal Amazonas.
Nas entrevistas foi possível relacionar 23 espécies madeireiras que são
regularmente utilizadas pelos ribeirinhos, dentre as quais as mais citadas
foram: acariquara (40%), jacareúba (40%), jitó (60%), lacre (60%),
maçaranduba (60%), mulateiro (40%) e paracuúba (50%). Foram citados 20
produtos florestais não-madeireiros utilizados comumente pelos comunitários
ribeirinhos, dentre eles os mais freqüentes foram: açaí (89%), andiroba (56%),
cacau (67%), castanha-do-Brasil (56%), lenha (100%) e mel-de-abelhas (56%).
O período em que utilizam maior quantidade de lenha situa-se entre
dezembro a março. As espécies relacionadas que são mais utilizadas para lenha
foram o mulateiro e a paracuúba, sendo a primeira considerada como melhor.
Um entrevistado na comunidade Atalaia comentou que “tá mais distante a
lenha, porque já usaram muita”. Outro na comunidade Içá relatou que “pau-
mulato (mulateiro) ainda tem uma porção deles”. Durante as observações de
campo foi possível constatar que o mulateiro apresenta grande potencial de
estabelecimento nas restingas das localidades, cresce rápido e em grande
quantidade.
A extração madeireira afeta, a cada ano, uma área muito maior de
floresta primária do que todos os outros usos da terra juntos, mas esses efeitos
são difíceis de serem detectados porque não resultam na remoção completa do
dossel. Com a inexistência de um planejamento da exploração florestal, em

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função da auto-ecologia das espécies, e a falta de um plano de corte para cada


espécie a ser explorada, corre-se o risco de perda da variabilidade genética e,
numa condição mais drástica, pode ocasionar a extinção das espécies de
interesse (VIEIRA et al., 1993:48). Sistemas sustentáveis invariavelmente
requerem que a proporção da madeira que é colhida em cada ciclo seja
limitada. Deixar a madeira de valor na floresta aumenta os lucros futuros,
independente da atração de deixar árvores do ponto de vista da sustentabilidade
(FEARNSIDE, 2003).

RECURSOS PESQUEIROS

A pesca nas localidades visitadas é realizada, fundamentalmente, para o


atendimento do consumo familiar, comercializando apenas o excedente. É
executada com apetrechos confeccionados artesanalmente (anzol/linha, caniço,
espinhel, flecha, malhadeira e tarrafa) e canoa a remo, por vezes, impulsionada
com motores de rabeta quando necessitam realizar grandes deslocamentos. Os
locais da atividade são no rio Purus, lagos e igapós próximos às comunidades.
Durante as entrevistas foram listadas 35 espécies de peixes que são
regularmente aproveitadas pelas famílias ribeirinhas, dentre estas, as mais
citadas pelos entrevistados foram: branquinha (56%), cará (44%), curimatã
(56%), jundiá (44%), mandi (67%), pacu (100%), piau (56%), piranambu
(44%), sardinha (100%) e surubim (78%). Dentre os apetrechos de pesca os
que mais concorrem para a captura das espécies comentadas nas entrevistas são
a malhadeira (91%), o anzol/linha (66%) e a tarrafa (63%).
A população das comunidades de peixes muda, radicalmente, durante o
ano, de acordo com as flutuações do nível da água. Os métodos pesqueiros
também se adaptam às diferenças na profundidade da água e aos movimentos
dos peixes. Muitos peixes aparentemente desovam quando as águas sobem.
Outros desovam nos lagos e ao longo das restingas. Porém, a mais espetacular
corrida de peixes, conhecida como piracema, ocorre quando as águas começam
a baixar, é nesse momento que ocorre a formação de cardumes de várias
espécies que migram rio acima. Tais migrações volumosas atraem a atenção de
vários predadores, contribuindo para o aumento no número de espécies
piscícolas que podem ser capturadas para a alimentação (SMITH, 1979).
Algumas comunidades ribeirinhas do município de Pauini tiveram que
lutar junto ao IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

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Naturais Renováveis) pela preservação do lago do Içá. A preservação durou


quatro anos (2000 a 2004) e durante esse tempo tiveram atrito com os
pescadores comerciais, principalmente, os “vindos de fora”.
Segundo Batista et al., (2004), a ação deficiente do poder público como
gerenciador dos recursos pesqueiros e a exclusão da pesca como prioridade nos
programas governamentais de gerenciamento de recursos naturais da região
permitiu o aumento descontrolado da explotação. As normas de ordenamento
pesqueiro existentes, consideradas, na maior parte das vezes inadequadas às
características regionais são, na prática, pouco cumprida e deficientemente
fiscalizadas.
Para McGrath et al. (1993) apud Batista et al. (2004), os ribeirinhos
reivindicam a posse dos peixes nos seus lagos, do mesmo modo que os
proprietários de terra reivindicam a posse de caça em suas terras. De acordo
com os autores, esta noção de posse dos recursos pesqueiros dos lagos é menos
aplicada aos rios, sendo geralmente reconhecido que o peixe do rio pertence a
quem o pescar.

O MERCADO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS

O abastecimento de Pauini com produtos alimentícios é caracterizado,


basicamente, pela importação de produtos provenientes do Rio Branco/AC
(cereais, açúcar, café, tabaco, frutas, hortaliças, frango congelado, etc.).
Proprietários de mercadinho, mercearia e de embarcação (freteiros)
encomendam de frigoríficos, empacotadoras ou representantes comerciais do
município de Rio Branco que abrem crédito para pagamento com cheque pré-
datado (trinta, quarenta e sessenta dias) ou ordem bancária. Os compradores
pagam frete, imposto e assumem o risco por perdas. Dependendo do produto,
vendem diretamente ao consumidor ou repassam para outros comerciantes dos
bairros de Pauini dando prazos menores para o pagamento.
No verão, os produtos são transportados, via terrestre, até o município de
Boca do Acre para então serem embarcados para Pauini. Os barcos não
possuem câmaras frias para transportar produtos perecíveis, no máximo caixas
de isopor. No inverno os produtos podem ser transportados via fluvial direto de
Rio Branco. A tecnologia de conservação adotada no comércio local é o de
acondicionamento em freezers e expositores. A perda de produtos como uva,
maçã, tomate, pimentão e repolho é considerada grande.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 183


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A produção agrícola das localidades ribeirinhas contribui basicamente


com o suprimento de farinha de mandioca (seca, d’água e de tapioca), molho
arubé, banana (prata, maçã e comprida), mamão, maracujá, limão e produtos
florestais não-madeireiros (açaí, bacaba, castanha, etc.). Os agricultores da
terra-firme (cidade e colônia) contribuem com colorau, cheiro-verde, farinha,
macaxeira, tucumã, cupuaçu, graviola e produtos da criação de bovinos
(queijo, leite e carne).
Nos mercados, os produtos são expostos em bancadas, acondicionados
em sacos, paneiros e ao ar livre. As unidades de medidas usadas para
comercialização são o quilograma, litro, lata, alqueire, saca, paneiro, palma,
cacho e por unidade (cento, dúzia, dezena). O pescado é acondicionado em
caixas de isopor e exposto sobre bancadas de alvenaria revestida com azulejos.
A carne bovina não é vendida por corte específico. A maior parte da carne
bovina comercializada é originada de Boca do Acre. Os preços são tabelados
por quilo sem a diferenciação por parte do animal ou do tipo de peixe.
A inexistência de uma atividade agrícola que atenda às demandas das
populações locais no Estado do Amazonas faz com que grande parte dos
produtos alimentares seja importada de outras regiões do país, que
normalmente são transportados de áreas distantes, majorando o preço dos
alimentos e tornando-os de difícil acesso pelas populações de baixa renda,
contribuindo assim para o aumento da deficiência nutricional em calorias,
proteínas e vitaminas na região (NODA et al., 1997).

184 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


06_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:43 Page 185

LITERATURA CITADA
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de comunidades da várzea do alto Solimões, Amazonas. In: LIMA, D.
(org.). Diversidade socioambiental nas várzeas dos rios Amazonas e
Solimões: perspectivas para o desenvolvimento da sustentabilidade,
Manaus, PROVÁRZEA/IBAMA, 2005. p. 59-99.
BATISTA, V. S., ISSAC, V. J., VIANA, J. P. Exploração e manejo dos
recursos pesqueiros. In: RUFINO, M.L. (ed.) A pesca e os recursos
pesqueiros na Amazônia brasileira, Manaus, PROVÁRZEA/IBAMA,
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BLUM, Rubens. Agricultura familiar: estudo preliminar da definição,
classificação e problemática. In: TEDESCO, J.C. (org.) Agricultura
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universo. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
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riscos, valores e conservação. In: FEARNSIDE, P. M. A floresta Amazônica
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GREENWOOD, E. Metodologia de la Investigacion Social. Buenos Aires:
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NODA, S. N., PEREIRA, H. S., CASTELO BRANCO, F. M., NODA, H.
O trabalho nos sistemas de produção de agricultura familiar na várzea do
Estado do Amazonas. In: NODA, H., SOUZA, L.A.G., FONSECA, O.J.M.
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modo de vida. In: LIMA, D. (org.). Diversidade socioambiental nas várzeas
dos rios Amazonas e Solimões: perspectivas para o desenvolvimento da
sustentabilidade. Manaus: PROVÁRZEA/IBAMA, 2005. p. 157-205.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 185


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PEREIRA, K.J.C., REIS, R.S., LIMA, B.F.L., VEASEY, E.A.,


AGUIAR, J., SILVA, A.L., SILVA, M.A. Agricultores ou pescadores?
Identidades, formas de produzir e suas implicações na gestão
participativa de unidades de conservação na Amazônia Central. In:
Anais do IV Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia:
Etnobiologia e Compromisso Socioambiental. Porto Alegre: SBEE,
2006. p. 41-42.
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p.
TOKARNIA, C. H., DÖBEREINER, J., SILVA, M. F. Plantas tóxicas da
Amazônia a bovinos e outros herbívoros. Manaus: INPA, 1979. 95 p.

186 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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Principais espécies cultivadas nos sítios de cinco comunidades ribeirinhas do município de Pauini.

Nome popular Nome científico Família botânica Freqüência (%)


Espécies arbóreas/lenhosas
Abacate Persea americana Mill. Lauraceae 33
Açaí Euterpe spp. Arecaceae 75
Azeitona Olea europaea L. Oleaceae 33
Bacaba Oenocarpus bacaba Mart. Arecaceae 42
Cacau Theobroma cacao L. Sterculiaceae 67
Caju Anacardium occidentale L. Anacardiaceae 67
Coco Cocos nucifera L. Arecaceae 58
Cupuaçu Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum. Sterculiaceae 58
Fruta-pão Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg Moraceae 33
Goiaba Psidium guajava L. Myrtaceae 75
Graviola Anona muricata L. Annonaceae 33
Ingá Ingá spp. Leguminosae 42
Jambo Eugenia malaccensis L. Myrtaceae 58
Laranja/limão Citrus spp. Rutaceae 67
Mamão Carica papaya L. Caricaceae 50
Manga Mangifera indica L. Anacardiaceae 75
Pupunha Bactris gasipaes Kunth Arecaceae 75
Seringueira Hevea brasiliensis Muell. Arg. Euphorbiaceae 58
Urucum Bixa orellana L. Bixaceae 33
Espécies arbóreas/herbáceas
Abacaxi Ananas comosus (L.) Merr. Bromeliaceae 50
Ariá Calathea allouia (Aubl.) Lindl. Marantaceae 25
Batata-doce Ipomoea batatas (L.) Lam. Convolvulaceae 75
Banana Musa spp. Musaceae 83
Cana-de-açúcar Saccharum officinarum L. Poaceae 25
Cebolinha Allium schoenoprasum L. Liliaceae 75
Chicória Erygium foetidum L. Apiaceae 83
Feijão-de-metro Vigna sinensis (L.) Savi ex Hassk. Fabaceae 17
Feijão-de-praia Vigna unguiculata (L.) Walp. Fabaceae 100
Jambu Spilanthes oleracea L. Asteraceae 17
Jerimum Cucurbita maxima Duchesne Cucurbitaceae 67
Macaxeira/mandioca Manihot esculenta Crantz Euphorbiaceae 100
Maracujá Passiflora edulis Sims Passifloraceae 33
Maxixe Cucumis anguria L. Cucurbitaceae 50
Melancia Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai Cucurbitaceae 83
Milho Zea mays L. Poaceae 75
Pepino Cucumis sativus L. Cucurbitaceae 17
Pimenta-doce Capsicum spp. Solonaceae 83
Pimenta-malagueta Capsicum spp. Solonaceae 25
Pimenta-murupi Capsicum spp. Solonaceae 25
Pimentão Capsicum annuum L. Solonaceae 33
Quiabo Hibiscus esculentus L. Malvaceae 33
Taioba Colocasia antiquorum Schott Araceae 8
Tomate Lycopersicon esculentum Mill. Solonaceae 42
Vinagreira Hibiscus sabdariffa L. Malvaceae 8
Alface Lactuca sativa L. Compositae 8
Repolho Brassica oleracea L. Brassicaceae 8
Beterraba Beta vulgaris L. Chenopodiaceae 8

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Nome popular Nome científico Família botânica Freqüência (%)


Espécies arbóreas/lenhosas
Cenoura Daucus carota L. Apiaceae 8
Pimenta roxa Capsicum spp. Solonaceae 8
Pimenta-olho-de-peixe Capsicum spp. Solonaceae 33
Espécies medicinais
Amor-crescido Portulaca pilosa L. Portulacaceae 67
Agrião Nasturtium spp. Brassicaceae 75
Anador Artemisia voluntorium Lam. Asteraceae 17
Boa-noite/bom-dia 17
Capim-santo Cymbopogon citratus (D.C.) Stapf. Poaceae 58
Cravo Tagetes patula L. Asteraceae 25
Crista-de-galo Celosia argentea L. Amaranthaceae 8
Croto Hibiscus spp. Malvaceae 8
Erva-cidreira Melissa officinalis L. Lamiaceae 67
Gergelim Sesamum indicum L. Pedaliaceae 42
Hortelã Mentha piperita L. Lamiaceae 42
Jucá Caesalpinia ferrea Mart. Fabaceae 42
Malvarisco Althaea officinalis L. Malvaceae 50
Mangarataia Zinziber officinalis Roscoe Zingiberaceae 17
Manjericão Ocimum basilicum L. Lamiaceae 33
Mastruz Chenopodium ambrosioides Bert. ExStend Chenopodiaceae 58
Onze-horas Portulaca spp. Portulacaceae 42
Oriza Pogostemon heyneanus Benth. Lamiaceae 8
Papoula Hibiscus spp. Malvaceae 8
Pinhão-branco Jatropha curcas L. Euphorbiaceae 42
Pinhão-roxo Jatropha gossypifolia L. Euphorbiaceae 50
Primavera Não identificada Não identificada 17
Rosas Rosa cinnamomea L. Rosaceae 42
Sabugueiro Sambucus spp. Caprifoliaceae 25
Sacaca Cróton cajucara Benth Euphorbiaceae 8
Coirama Kalanchoe spp. Crassulaceae 33
Mucuracaá Petiveria alliaceae L. Phytolaccaceae 8
Coité Crescentia spp. Bignoniaceae 8
Elixir paregórico Piper Callosun Ruiz & Pav. Piperaceae 8
Manjirioba Senna occidentalis (Linn.) Link. Caesalpiniaceae 8
Alecrim Rosmarinus officinalis L. Lamiaceae 8
Ampicilina Não identificado Não identificado 8
Espada-de-são-jorge Sansevieria spp. Liliaceae 8
Cordão-de-frade Leonitis nepetifolia L. Lamiacea 8
Bananeira brava Musa spp. Musaceae 8
Orquídea Epidendrum spp. Orchidaceae 8
Boldo Vernonia spp. Asteraceae 8
Saratudo Byrsonima intermedia L. Malpighiaceae 8
Trevo-roxo Hyptis spp. Lamiaceae 8
Casadinho Não identificado Não identificado 8
Saia-de-velha Não identificado Não identificado 8
Carmelitana Lippia spp. Verbenaceae 8
Girassol Helianthus spp. Asteraceae 8

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Principais produtos extraídos da floresta e utilizados em cinco comunidades ribeirinhas do município de Pauini.
Nome popular Nome científico Família botânica Freqüência (%)
Açaí Euterpe oleracea Mart. Arecaceae 89
Acariquara Minguartia guianensis Aubl. Olacaceae 40
Amapá Brosimum spp. Moraceae 11
Ambé Plilodendron spp. Araceae 10
Andiroba Carapa guianensis Aubl. Meliaceae 67
Angelim Vários Fabaceae 30
Angico Anadenanthera spp. Fabaceae 33
Araçá Psidium araca Raddi. Myrtaceae 10
Araçá-boi Eugenia stipitata Mc Vaugh. Myrtaceae 11
Assacu Hura crepitans L. Euphorbiaceae 10
Bacaba Oenocarpus bacaba Mart. Arecaceae 33
Bacabinha Oenocarpus minor Mart. Arecaceae 11
Bacuri Moronobea spp. Clusiaceae 30
Borracha 44
Cacau Theobroma cacao L. Sterculiaceae 67
Capeba Piper marginatum Jacq. Piperaceae 11
Carapanaúba/Paracanaúba Aspidosperma nitidum Benth. Ex Müll. Arg. Apocynaceae 44
Carauari (palha) Arecaceae 10
Castanha-do-Brasil Bertholletia excelsa H.B.K. Lecythidaceae 56
Cedro Cedrella fissilis Vell. Meliaceae 11
Cipó-titica Hetteropsis spp. Araceae 10
Copaíba Copaifera multijuga Hayne Fabaceae 10
Copaíba Copaifera spp. Fabaceae 78
Faveira Vatairea guianensis Aubl. Fabaceae 22
Itaúba Ocotea megaphylla (Meisn.) Mez. Lauraceae 10
Jacareúba Calophyllum brasiliense Cambess. Clusiaceae 40
Jatobá Hymenaea courbaril L. Fabaceae 78
Jitó Guarea tuberculata Vell. Meliaceae 60
Jutaí Hymenaea spp. Fabaceae 11
Lacre Vismia spp. Clusiaceae 60
Louro-amarelo Ocotea spp. Lauraceae 10
Maçaranduba Manilkara huberi Ducke. Sapotaceae 60
Maparajuba Manilkara inundata Ducke. Sapotaceae 10
Maracujá-de-rato Passiflora spp. Passifloraceae 11
Mari-mari Poraqueiba sericea Tul. Icanicaceae 11
Mel 56
Mulateiro Calycophyllum spruceanum (Benth) Hook f. ex K. Schum Rubiaceae 40
Palha 33
Paracuúba Lecointea spp. Fabaceae 50
Patauá Oenocarpus bataua Mart. Arecaceae 22
Pinhão-roxo 11
Piquiá Caryocar villosum (Aubl.) Pers. Caryocaraceae 11
Piranheira Piranhea spp. Euphorbiaceae 30
Quina-quina Aspidosperma nitidum Benth. Apocynaceae 22
Samaúma Ceiba pentandra (L.) Gaertn. Bombacaceae 20
Saratudo Justicia cf. monandra L. Acanthaceae 11
Sorva Couma utilis (Mart) Muell. Arg. Apocynaceae 10
Sucuba Himatanthus sucuuba (Spruce) Woodson Apocynaceae 33
Sucupira Diplotropis martiusii Benth. Fabaceae 10
Surucuima Não identificada Não identificada 11
Uchi Endopleura uchi (Huber) Cuatrec. Humiriaceae 22
Unha-de-gato Uncaria tomentosa Willd. Rubiaceae 67
Urucuri Scheelea spp. Arecaceae 22
Virola ou Ucuúba Virola surinamensis (Rol.) Warb. Myristicaceae 10

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 189


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Principais espécies piscícolas capturadas no ecossistema pesqueiro de cinco comunidades ribeirinhas no município de Pauini.
Freqüência
Nome popular Nome científico Família botânica
(%)
Acari Pterygoplichthys pardales Loricariidae 33
Amarelo Pellona spp. Clupeidae 22
Aruanã Osteoglossum bicirrhosum Osteoglossidae 22
Bacu Lithodoras dorsalis, Megalodoras sp. Doradidae 33
Bico-de-pato Sorubim lima Pimelodidade 11
Branquinha Potamorhina spp. Curimatidae 11
Peixe-cachorro Acestrorhynchus, Hydrolycus, Rhaphiodon Charicidae 56
Cangati Parauchenipterus galeatus Auchenipteridae 11
Caparari Psedoplatystoma tigrinum Pimelodidae 11
Acará Vários Cichlidae 11
Acará-açu Astronotus occelatus Cichlidae 44
Cuiú Pseudodoras niger Doradidae 33
Curimatã Prochilodus nigricans Prochilodontidae 33
Filhote Brachyplatystoma filamentosum Pimelodidae 56
Jeju Hoploerythrinu unitaeniatus Erythrinidae 22
Jundiá Rhamdia quelen Pimelodidae 11
Mandi Pimelodus, Pimelodella, Rhamdia Pimelodidae 44
Mapará Hypophthalmus spp. Hypophthalmidae 67
Matrinchã Brycon spp. Charicidae 33
Pacu Mylossoma spp. Serrasalmidae 33
Pescada Plagioscion, Pachypops, Furcraeus Sciaenidae 100
Piaba Várias Várias 33
Piau Várias Anostomidae 11
Piranambu Pinirampus pinirampu Pimelodidae 56
Piranha Pygocentrus nattereri, Serrasalmus spp. Serrasalmidae 44
Pirapitinga Piaractus brachypomus Serrasalmidae 11
Pirarara Phractocephalus hemioliopterus Pimelodidae 11
Sardinha Triprotheus spp. Charicidae 11
Surubim Pseudoplatystoma fasciatum Pimelodidae 100
Tainha/Saúna Mugil incilis Mugilidae 78
Tambaqui Colossoma macropomum Serrasalmidae 11
Tamoatá Hoplosternum spp., Callichthys callichthys Callichthyidae 11
Traíra Hoplias malabaricus Erythrinidae 11
Tucunaré Cichla spp. Cichlidae 22

190 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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CAPÍTULO 7
QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE
TRABALHADORES RURAIS E URBANOS PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO DE PAUINI
Sandra do Nascimento Noda1
Hiroshi Noda2
Jorge Emídio de Carvalho Soares2
Isaac Sidney Benchimol2
Manoel Pereira Filho2
Rogério Souza de Jesus2
José Ribamar Benício de Castro2
Hélio Conceição Vilas Boas2
Maria Albanira Araújo Pena3
Jucélia Oliveira Vidal3

INTRODUÇÃO

Segundo Fearnside (2002), os projetos de desenvolvimento propostos na


Amazônia raramente são formulados com base na informação técnica sobre
sustentabilidade potencial, impacto ambiental, ou mesmo rentabilidade
econômica. Daí a necessidade urgente de redirecionar os processos que estão
transformando as florestas da região em formas não-sustentáveis de
desenvolvimento. As análises atuais sobre os usos dos solos da Amazônia
indicam que os procedimentos adotados na produção agrícola sejam não
apenas adequados tecnicamente, mas ambiental, econômica e socialmente
sustentáveis. As formas de produção utilizadas pelas populações tradicionais
da Amazônia constituem o referencial mais próximo do que seria um sistema
de produção auto-suficiente e sustentado. Os impactos causados ao ambiente
natural são, em escala, muito menores do que aqueles produzidos por grandes
empreendimentos agropecuários (NODA et al., 2002). Ações sociais

1. Universidade Federal do Amazonas (UFAM).


2. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
3. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônicos (NERUA).

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 191


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participativas que contribuam com a elevação da escolaridade no ambiente


rural podem contribuir para a socialização dos povos. Através do levantamento
socioeconômico do projeto Tecnologias para o Desenvolvimento e
Sustentabilidade do Município de Pauini – TEDES, realizado em Pauini, em
cinco comunidades ribeirinhas do rio Purus e na sede do município, foram
identificadas as necessidades primordiais dos moradores das localidades,
servindo como base para a demanda de cursos de capacitação e treinamento.
Os cursos foram ministrados com o intuito de contribuir para a formação de
agentes multiplicadores no município de Pauini.
Os cursos ministrados, segundo a demanda focalizada, foram:

• Horticultura;
• Utilização de Madeira Regional para Movelaria;
• Piscicultura familiar;
• Técnicas de conservação e processamento do pescado em unidades
familiares de produção;
• Criação de abelhas sem ferrão.

HORTICULTURA

Foram realizadas atividades de treinamento e capacitação em


horticultura para os moradores da sede do município e em cinco comunidades
parceiras localizadas nas áreas de várzea do rio Purus, totalizando 97 pessoas.
Durante as atividades foram ministradas aulas teóricas e práticas dando
enfoque ao cultivo de hortaliças (convencionais e não-convencionais),
produção de mudas, técnicas de cultivo e uso de plantas medicinais, sistemas
agroflorestais e técnicas alternativas para prevenção e controle de pragas e
doenças das plantas cultivadas nas localidades.
As hortaliças por constituírem um grupo de plantas ricas em substâncias
nutritivas podem contribuir para amenizar o desequilíbrio nutricional das
populações da Amazônia. Entretanto, na região, predominam solos de baixa
fertilidade que, junto com as condições climáticas de temperatura e umidade
elevadas, compõem ambientes limitantes ao cultivo de grande parte das
hortaliças convencionais. Por outro lado, algumas hortaliças não-convencionais
compreendendo espécies nativas e introduzidas, são adaptadas a essas

192 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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condições ambientais e podem contribuir decisivamente para a melhoria da


dieta das populações da região (CARDOSO, 1997).
No cultivo de hortaliças foram abordados: os conceitos, a importância da
hortaliça, tipos, classificação, formação de mudas, construção de canteiros e
técnicas de cultivo. Em cada comunidade foi construído um viveiro de mudas
para a agricultura familiar, onde foram realizados treinamentos. Os viveiros
foram cobertos e cercados com palha a fim de evitar insolação direta, impacto
de gotas de chuvas e entrada de animais domésticos (sugestão dada pelos
agricultores). Para fins didáticos, os viveiros foram divididos em duas partes
iguais, sendo, em uma das partes, construídos dois canteiros medindo 1x6 m
cada, onde um deles foi utilizado para demonstração da sementeira e o outro
para as técnicas de cultivo. Na outra parte do viveiro foram empilhados restos
vegetais com o intuito de demonstrar técnicas de preparo e manipulação do
composto orgânico.
Nas aulas foram apresentadas técnicas para utilização de copinhos de
jornal como recipientes para produção de mudas, quebra de dormência de
sementes (por exemplo: pré-germinação de sementes de alface) e preparação
de substrato para enchimento de sacos de plástico, copinhos e leitos de
canteiros de semeadura, usando-se misturas de argila, areia de praia e paú-da-
mata (material lenhoso decomposto) na proporção 3: 2: 1. Na ocasião dos
treinamentos foram utilizadas e distribuídas sementes de algumas hortaliças
convencionais (alface, cebolinha, coentro, maxixe, pepino, pimentão, quiabo e
tomate, cultivar Yoshimatsu) e não-convencionais (bertalha, feijão-de-metro,
cubiu e feijão-de-asa).
Em quatro das comunidades ribeirinhas que participaram dos
treinamentos em horticultura foram feitas visitas técnicas com o intuito de
verificar a adoção das tecnologias introduzidas por meio dos cursos
ministrados. Foi constatado que apenas uma surtiu o interesse na formação de
uma horta coletiva. Nas demais, as famílias manifestaram interesse em fazer
plantios individuais. Porém, todos se prontificaram em dar continuidade ao
cultivo de hortaliças, pondo em prática as novas orientações adquiridas a partir
dos meses de maio e junho (verão) de 2007, uma vez que as fortes chuvas
ocorridas no inverno haviam danificado os canteiros construídos diretamente
no solo (Figura 1).

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 193


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MANEJO E CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS

As plantas são fontes importantes de produtos naturais biologicamente


ativos, muitos dos quais constituem em modelos para a síntese de um grande
número de fármacos. Um aspecto menos discutido na questão da devastação das
florestas tropicais refere-se à perda do conhecimento, acumulado por milênios,
sobre o uso medicinal tradicional das plantas destas florestas pelas populações
a elas associadas. Essa devastação provoca a migração dessas comunidades,
normalmente para os centros urbanos, provocando o rompimento do fluxo de
conhecimento adquirido e acumulado ao longo do tempo (GUERRA e
NODARI, 2002).
De acordo com Elisabetsky (2002), freqüentemente argumenta-se que a
cultura popular identifica sintomas, mas não caracteriza ou entende as doenças
como são caracterizadas pela medicina, por isso, tais informações não servem
de base para ajudar a desenvolver novos medicamentos. A autora observa,
também, que o método etnofarmacológico permite a formulação de hipóteses:
H0= o remédio não cura a “enfermidade”; H1= o remédio cura a “enfermidade”.
Essas hipóteses devem ser testadas com todos os controles e rigores da ciência,
levando em consideração toda a informação – modo de preparo e posologia
incluso – que traz o conhecimento tradicional.
Nos cursos foi ressaltada a importância das plantas medicinais, produção
de mudas, tratos cultuais, colheita, secagem, conservação, armazenamento,
formas e cuidados no preparo das ervas. Foram registradas as plantas medicinais
presentes nas comunidades e nos arredores (ver a relação no capítulo anterior),
bem como suas formas de preparo e ocorrendo trocas de informações entre os
participantes sobre o uso de diferentes plantas para determinados tipos de
enfermidades. Vale realçar que a Comissão Pastoral da Terra – CPT local vem
desenvolvendo atividades nesse sentido junto às comunidades do município.
Em um estudo etnobotânico realizado por Rodrígues (2002) foi
constatado que as comunidades de Pauini utilizam 108 plantas medicinais, das
quais 53 são originárias da Amazônia, 21 da Europa e 23 da Ásia. Segundo o
autor, o elevado percentual (51,85%) de plantas alóctones e o desconhecimento
de outras plantas medicinais importantes na Amazônia, indicam que as
comunidades introduziram no território elementos de outras culturas. Convém
aportar que as plantas medicinais relacionadas no diagnóstico do Projeto
TEDES tende a complementar a relação obtida por Rodrígues (2002) e vice-
versa.

194 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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SISTEMAS AGROFLORESTAIS TRADICIONAIS

Os agricultores tradicionais do município, como os de outras regiões da


Amazônia, adotam práticas de cultivo que podem ser classificados como sistemas
agroflorestais. A ampla diversidade de cultivos, anuais e perenes, consorciados
com espécies florestais, em arranjos espaciais e temporais, garantem a
estabilidade do suprimento em alimentos para a manutenção das famílias. Foram
promovidas discussões participativas sobre sistemas agroflorestais, formação e
composição dos quintais, plantio de árvores junto com os cultivos anuais e
espécies florestais mais adequados para consorciação com os cultivos
temporários. Durante as discussões, os agricultores familiares relataram que o
principal entrave para a sobrevivência das plantas, das espécies que compõem o
pomar caseiro das comunidades ribeirinhas, era o aterramento pela enchente.
Foi elaborada uma lista das principais espécies arbóreas de interesse,
sugeridas pelos próprios participantes, para a composição de plantios
agroflorestais nas áreas de várzea e que não apresentam problemas com a
alagação, são elas: cedro, copaíba, andiroba, açaí, samaúma, buriti, urucuri,
manga, urucum, cupuaçu, ingá, cajá, jambo, caju, graviola, bacuri, jenipapo,
araticum (Rollinia mucosa (Jacq.) Baill.), jatobá, angico, angelim, macacaúba,
cacau, castanha, goiaba, coco, maçaranduba, embaúba, mulateiro, jitó, jacareúba,
gameleira, jauari (Astrocarium jauari Mart.), manixi (Brosimopsis oblongifolia
Ducke).
De acordo com o conhecimento etnobotânico dos agricultores familiares
ribeirinhos locais: samaúma, jacareúba, buriti, urucuri, mulateiro e o jitó toleram
o aterro provocado pela enchente. O mulateiro apresenta um crescimento rápido e
tem grande potencial para uso como lenha, ocorrendo com muita facilidade nas
várzeas das localidades. A embaúba fornece paú (material lenhoso decomposto
usado como fertilizante orgânico) de ótima qualidade e, além disso, é utilizada na
alimentação bovina. Observações realizadas pelos agricultores sugerem que as
embaubeiras chegam a viver mais de vinte anos nas várzeas das localidades e,
também, colonizam as áreas com bastante facilidade.
Conforme Benatto et al. (2006), o manejo de espécies anuais e perenes em
sistemas agroflorestais requer, por parte de quem maneja, o conhecimento sobre
as espécies e a dinâmica do ecossistema no qual está inserido. O autor ressalta que
as inter-relações entre as espécies e destas com o ambiente ao longo do tempo,
determinam o momento e a freqüência das intervenções de manejo e a dinâmica
da sucessão do sistema.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 195


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MANEJO ECOLÓGICO DE PRAGAS E DOENÇAS DE PLANTAS

As condições ambientais prevalecentes nas várzeas amazônicas,


geralmente, são favoráveis ao aparecimento e estabelecimento de insetos
pragas e microorganismos fitopatogênicos que causam perdas substanciais à
produção agrícola. O emprego de pesticidas químicos tem sido a forma usual
de combate às pragas e doenças e o uso irracional e indiscriminado desses
produtos tem contribuído para o aumento dos custos de produção, além de
causar sérios danos ao meio ambiente e à saúde humana. Em vista disto,
alternativas de controle vêm sendo buscadas, estudadas e testadas,
experimentalmente, com resultados satisfatórios nas instituições de pesquisas
brasileiras.
Para o manejo de pragas e doenças das plantas cultivadas adotou-se uma
abordagem levando em conta o uso de controle agroecológico de pragas e
moléstias, com o emprego de caldas alternativas (calda bordalesa, extratos
vegetais, etc.), cuidados no preparo, utilização de EPI (equipamento de
proteção individual), utilização de armadilhas e controle biológico. Dentre as
caldas alternativas apresentadas, alguns dos participantes conheciam e faziam
uso dos extratos de fumo e de pimenta malagueta. Outro material alternativo
comumente utilizado pelas comunidades é a semente do gergelim (Sesamum
indicum L.), como isca, para o combate às formigas cortadeiras (Atta spp).
Durante os treinamentos houve participação ativa dos comunitários
através de troca de informações, sugestões e execução dos trabalhos. No final,
os participantes concordaram que as abordagens realizadas foram de grande
valia para a conscientização sobre a melhoria da produção agrícola, com a
inclusão de novas tecnologias, para a sustentabilidade da produção e
preservação ecológica das espécies potencialmente nativas das localidades.

196 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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UTILIZAÇÃO DA MADEIRA REGIONAL PARA MOVELARIA

Em termos metodológicos foram realizadas visitas técnicas e um


diagnóstico socioeconômico em nove movelarias situadas na sede do
município. Os dados da pesquisa foram obtidos através de entrevistas e
questionário. Foram realizadas vistorias e avaliações nas instalações das
empresas, procurando encontrar os pontos de estrangulamento na produção e
na qualidade final do produto.
O trabalho de diagnóstico e caracterização do setor moveleiro revelou
que as movelarias de Pauini trabalham com um sistema de produção sob
encomenda. O baixo nível de renda da população proporciona uma clientela
com baixo poder aquisitivo obrigando, conseqüentemente, as empresas a
comercializarem seus produtos com vendas a prazo.
As oficinas moveleiras apresentam a distribuição dos espaços arranjados
desordenadamente acarretando a diminuição da capacidade de produção, além
de proporcionar o aumento dos custos operacionais, levando essa atividade à
ineficiência econômica. Todas as empresas operam na economia informal, não
havendo o registro de Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) do
Ministério da Fazenda. O consumo médio de cada movelaria é de 2m3 de
madeira serrada. Em termos efetivos, nenhuma das empresas efetua qualquer
tipo de controle de qualidade. A maioria encontra-se em condições de
funcionalidade precária, em decorrência dos seus equipamentos serem
obsoletos e, por conta disso, apresentarem problemas tecnológicos. As
principais máquinas e equipamentos utilizados no processo desse setor são:
serra circular, tupia, furadeira, lixadeira, torno e esmeril. Todas as máquinas e
equipamentos existentes são em pequeno número, caracterizando o
desaparelhamento e o caráter quase que artesanal da atividade. Vale ressaltar
que os operários especializados (marceneiro, carpinteiro, etc.) obtiveram essa
especialização através da prática, sem qualquer tipo de treinamento formal.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 197


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FIGURA 1. Treinamento em olericultura em comunidades rurais do município de Pauini.

FIGURA 2. Curso de Capacitação Técnica em movelaria aos marceneiros e carpinteiros do município de Pauini.

198 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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Com a aplicação dos cursos de capacitação e treinamento, abordando


técnicas em movelaria, marcenaria e conservação da madeira, juntamente, o
acompanhamento dos trabalhos, foi constatado que os conhecimentos
adquiridos surtiram efeito na melhoria da qualidade dos móveis, aumento na
demanda, melhor utilização e aproveitamento da madeira empregada na
fabricação dos produtos, além disso, contribuiu para a elevação da auto-estima
dos moveleiros e marceneiros da cidade (Figura 2).

PISCICULTURA FAMILIAR

O curso de piscicultura foi ministrado para 08 moradores de Pauini, com


níveis de escolaridade declarada variando de nível primário ao segundo grau
completo, com elevado índice de freqüência e interesse pelos temas enfocados
em cada aula do curso. O curso foi dividido em dez aulas, com média de 3
horas de duração por aula, e tentou-se apresentar as aulas em uma linguagem
mais simples, de forma que todos os alunos pudessem entender o conteúdo do
que se estava apresentando. As dez aulas foram: Instalações em piscicultura;
Noções de anatomia e morfologia de peixes; Criação de peixes em tanques-
rede; Noções de controle da qualidade da água; Criação de pirarucu; Criação
de matrinxã; Criação de tambaqui; Noções de reprodução de peixes; Nutrição
e alimentação de peixes; Construção de tanques e viveiros.
À medida que o curso se desenvolveu, foram aproveitadas as
oportunidades que surgiram para discutir com os alunos sobre a situação do
município em relação ao cultivo de peixes. A oferta de peixes no mercado é
sazonal: na época da piracema, a pesca nas imediações da cidade é farta e os
preços muito acessíveis, uma característica do rio Purus. Mas em outras épocas
a pesca é pouco produtiva, chegando a faltar peixes na cidade, e o pouco peixe
encontrado nesta ocasião é muito caro.
Durante o curso foi promovida uma excursão a um criadouro de peixe na
cidade. Esse criadouro era um tanque escavado aproveitando uma nascente
existente nos fundos do quintal, onde eram criadas algumas espécies de peixes
da região. Foram capturados alguns exemplares para mostrar aos visitantes,
sendo constatado que visualmente os animais estavam bem, inclusive um
juvenil de pirapitinga (Piaractus brachypomus) mostrado, que apresentava um
bom porte, indicando um manejo adequado.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 199


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Os maiores entraves para a piscicultura local são a falta de formas


jovens, para serem oferecidas aos criadores para a engorda, e a grande distância
dos locais onde são produzidas estas formas jovens (Manaus-AM e Rio
Branco-AC) dificultam sua importação. Outra dificuldade é a obtenção de
rações para peixes e os custos elevados, procedentes também de outras
localidades. Apesar destas dificuldades, alguns moradores da cidade insistem
em contornar estes problemas e criar peixes para consumo.
Em razão da sazonalidade da oferta de peixes em Pauini, procura-se
estimular a criação de peixes nativos em cativeiro. Para viabilizar a piscicultura
na região devem ser equacionados os problemas da falta de formas jovens de
peixes para engorda e a dificuldade de obtenção de rações para peixes. Uma
das formas aventadas seria o treinamento de um técnico da cidade em
reprodução induzida de peixes e, ao mesmo tempo, a implantação de um
pequeno laboratório de reprodução de peixes para a região. Ressalta-se
também a necessidade de realização de treinamentos para o preparo de
alimentos alternativos com matérias-primas de origem vegetal e animal
disponível no local, e produção artesanal de ração peletizada.

TÉCNICAS DE CONSERVAÇÃO E PROCESSAMENTO


DO PESCADO EM UNIDADES FAMILIARES

As perspectivas de melhores condições socioeconômicas na região


Amazônica estão diretamente relacionadas à geração de conhecimentos
científicos e tecnológicos e a adoção de políticas públicas que promovam o uso
sustentado de suas riquezas naturais.
O setor pesqueiro vem respondendo positivamente, ao contribuir
fortemente no suprimento alimentar da população do Estado, tanto nas áreas
rurais como na zona urbana e assume papel importante como fonte abastecedora
da Capital. Porém, sua potencialidade não é totalmente conhecida, pois, na
realidade, não existe um acervo de conhecimento científico abrangente e
sistematizado, ocasionando o aproveitamento de somente algumas espécies de
peixes dentre as centenas existentes. Por outro lado, a atividade pesqueira,
mesmo nos dias atuais, é realizada utilizando-se métodos que dificultam o
manuseio do pescado durante sua captura, transporte, distribuição e o consumo
final levando, muitas vezes, ao desperdício na produção.

200 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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A pesca no Amazonas é muito seletiva, recaindo sobre algumas espécies


de peixes historicamente preferidas pela população. A pesca é realizada nos
lagos com redes de arrasto, perturbando o meio ambiente e, principalmente,
com redes de cerco no leito dos rios. Os barcos de pesca, chamados de
“geleiras”, adquirem o pescado que é capturado em canoas e estocado em urnas
isoladas termicamente entre camadas de gelo para ser transportado para as
grandes cidades ou para as indústrias de beneficiamento do pescado. O
problema tem início na execução da arte de pescar, geralmente inadequado,
compremetendo a sua qualidade inicial do pescado. Além disso, o pescado fica
exposto ao sol e ao vento antes de ser estocado nas geleiras, onde outra vez
sofre manuseio inadequado, com exposição a batidas, pisaduras e ao calor,
sendo acondicionado em caixas com mais de dois metros de altura, sem
divisões horizontais, ocasionando grande desperdício na camada inferior, onde
o pescado armazenado no fundo da urna sofre forte pressão provocada pelas
camadas de pescado situadas acima.
É um grande desafio tecnológico mudar esse panorama tradicional da
pesca, manejo e transporte do pescado. Não existe ação governamental para
alterar essa situação, que pode ocasionar perdas de até 30% do pescado
capturado. Além da perda de produto, o longo tempo de duração de viagem nas
geleiras prejudica sua qualidade, muitas vezes chegando na cidade ou indústria
já com a qualidade prejudicada. O grupo de pesquisa sobre tecnologia do
pescado da Coordenação de Pesquisas em Tecnologia de Alimentos (CPTA) do
INPA já realizou vários estudos visando medir a perda de qualidade do produto
desde a captura até sua distribuição e aquisição pelo consumidor. Mudar o
comportamento do pescador e do atravessador tem sido o maior desafio. Por
outro lado, a cidade de Manaus recebe anualmente cerca de 60 mil toneladas
de pescado, sendo destinada a metade para a industrialização e o restante para
o consumo local, inexistindo um local adequado para efetuar o desembarque de
pescado, com as dependências necessárias ao recebimento, classificação,
comercialização e frigorificação do excedente da produção desembarcada.
Apesar do peixe ser um recurso abundante na região, a atividade
pesqueira é problemática, pois além de antieconômica, visto que gera
desperdício, pode ser prejudicial à saúde pública em função da perda de
qualidade do produto. Os barcos ficam atracados ao longo da margem do rio,
vendem o pescado somente pela parte da noite durante vários dias, provocando
a imobilização tanto do barco como do pessoal, gerando perdas financeiras e
perdas do produto, que ao final, muitas vezes, pode ser descartado.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 201


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Com base nessa realidade, a Coordenação de Pesquisa em Tecnologia de


Alimentos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia tem realizado
estudos sobre a viabilidade da introdução de métodos alternativos de
processamento e de conservação daquelas espécies ainda inexploradas, sub-
exploradas ou de baixo valor comercial, por meio do desenvolvimento de
novos produtos, que possibilite a sua captura em maior escala e,
conseqüentemente, sua industrialização.
Numa primeira fase, o grupo de pesquisa sobre produtos alimentícios de
origem animal do INPA intensificou as pesquisas sobre peixes de água-doce
capturados na natureza, tais como: estudos sobre a qualidade da produção, das
alterações bioquímicas “post mortem” e sobre o processamento de novos
produtos utilizando tecnologias apropriadas. Atualmente, realiza pesquisas
visando o aproveitamento tecnológico dos peixes procedentes da piscicultura,
nas quais estuda o manuseio adequado, as alterações bioquímicas e
estabelecimento do tempo de vida útil em gelo. Futuramente deverão ser
realizados estudos de comercialização e marketing, para completar a cadeia de
pesquisas sobre produtos de pescado.
A transferência de tecnologia tem sido intensificada. Nos últimos anos,
tanto profissionais autônomos como microempresas têm solicitado
informações e treinamento de pessoal nos laboratórios e unidades piloto de
processamento da CPTA. Pessoal de pequenas indústrias, restaurantes,
distribuidores de peixes e produtores artesanais têm sido beneficiados com
essas experiências. Nesse sentido, o Município de Pauini apresenta grande
potencial e interesse no aproveitamento tecnológico da sua produção
pesqueira.
No curso sobre Tecnologia do Pescado, participaram 27 pessoas
residentes no município de Pauini. Inicialmente foi dado um enfoque geral
sobre o manuseio e a qualidade do pescado, seguido pela apresentação das
tecnologias que julgamos mais adequadas para a produção pesqueira local.
Foram abordados temas sobre: defumação do pescado a frio, salga seca e em
salmoura, fabricação de piracuí, fishburguer e fabricação de sabão a partir de
óleo de peixe. Esperamos ter contribuído para despertar os produtores locais
para o emprego de tecnologias simples para o aproveitamento do pescado, com
observação das boas práticas de manuseio (Figura 3).

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FIGURA 3. Curso de Tecnologia de Processamento do Pescado realizado no município de Pauini.

CRIAÇÃO DE ABELHAS SEM FERRÃO

A prática da criação de abelhas sem ferrão é milenar entre os povos


indígenas, onde muito do que se emprega atualmente nos meliponários é
resultado de anos no trato com as abelhas (NOGUEIRA-NETO, 1997). Ainda
se observa na criação tradicional onde a derrubadas de árvore da floresta para
extração dos cortiços com o objetivo de se retirar o mel ainda é uma realidade
latente em nossa região. As abelhas sem ferrão são importantes polinizadores
na floresta Amazônica, cada espécie de planta tem uma ou mais espécie de
abelhas responsáveis pelo eficiente transporte do pólen das anteras para o
estigma das flores. Estima-se que as operárias das colônias de abelhas nativas
são responsáveis por 40 a 90% da polinização, conforme o ecossistema,
garantindo a perpetuação das espécies nativas de plantas (KERR et al., 1996).
Se não pensarmos em colaborar no conhecimento e domínio da técnica da
criação das diferentes espécies de abelhas que existem, ainda, em cada região
e no país, possivelmente, muitas espécies serão extintas (CARVALHO, 2002)
e para que se possam salvar as melíponas, que são as abelhas mais perseguidas

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 203


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devidos a seu delicioso mel, há necessidade de se saber corretamente o seu


processo reprodutivo (KERR et al., 1996).
A tecnologia implantada para criação desses insetos racionalmente é
recente na Amazônia já que em outras regiões, como no Nordeste, a
comercialização de ninhos em caixas racionais apropriadas ao seu
desenvolvimento é uma realidade que está mudando, efetivamente, a vida de
pequenos e médios produtores rurais. (KERR et al., 1996). Existem mais de
23.000 espécies de abelhas, sendo que a minoria é representada por espécie de
hábitos sociais. As abelhas sociais pertencem à família Apidae. Esta é dividida
em três subfamílias; Apinae, Meliponinae e Bombinae. As Meliponinae são
divididas em duas tribos: Meliponini, com o gênero Melípona com cerca de 50
espécies e Trigonini, com vários gêneros representados em toda região tropical
do globo, contando com cerca de 300 espécies e são conhecidos no Brasil como
abelhas sem ferrão ou abelha indígenas (SILVEIRA et al., 2002).
Os Meliponíneos, em sua maioria nidificam em cavidades de árvores
(oco), e algumas fazem seus ninhos no chão. Apresentam ferrão, mas não
funcional, pois são atrofiados e não apresentam bolsa de veneno. Estas abelhas
se defendem de seus predadores, dependendo da espécie, por meio da
camuflagem da entrada, de fortes mordidas, uso de resina para imobilização e
algumas espécies, como Oxytrigona tataira, em condições de ameaça liberam
uma substância cáustica sobre o inimigo (KERR, 1996; KERR et al., 1996). São
insetos que apresentam desenvolvimento homometábulo, por possuir
metamorfose completa. As abelhas de gênero Melípona, à organização interna do
ninho, não apresentam ou constituem células reais, ou seja, os machos, as
operárias e a rainha de desenvolvem dentro de células de igual tamanho
(NOGUEIRA-NETO, 1997). Os machos apresentam papel reprodutivo e, em
pouquíssimos casos, realizam atividades de trabalho dentro da colônia
(BUSTAMANTE, 2006). As fêmeas se dividem em castas: operárias e rainha. A
rainha é responsável pela postura, conseqüentemente, pela perpetuação da
colônia e organização dentro da colônia. As operárias constituem a casta que
realiza a quase totalidade dos trabalhos dentro de uma colônia, desde a limpeza
da colônia até o forrageamento, ou seja, coleta de néctar e pólen (KERR et al.,
1996).
A estrutura de uma colônia de Meliponini é formada de discos de cria
sobrepostos contendo ovos, larvas, e imagos, envoltos geralmente por camadas
de lâminas de cera denonimada de invólucro, circundados por potes de mel e
pólen. Essas abelhas podem ser criadas racionalmente em caixas de madeira para

204 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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produção de mel, pólen, própolis, cera ou mesmo novos enxames. Tal atividade
é denominada Meliponicultura. As caixas de madeira permitem a manipulação
das colméias para produção e colheita dos produtos das colônias as quais
inclusive, podem ser multiplicadas racionalmente de maneira induzida a fim de
formar novas colônias (NOGUEIRA-NETO, 1997).
A caixa-modelo INPA 2005 é composta de cinco módulos sobrepostos
(lixeira, ninho, sobreninho, melgueira e tampa), com as seguintes características:

• Lixeira – é o local onde as abelhas depositarão lixo, fezes e resto de


alvéolo de cria, sua medida é 21x21x1 cm;
• Ninho – É onde as abelhas construirão os discos de crias e, algumas
vezes, também poderão colocar potes de alimento, medindo
21x21x7 cm;
• Sobreninho – neste compartimento, as abelhas construirão discos
de crias, à medida que a colônia for crescendo e necessitar de
espaço. Tem as seguintes dimensões: 21x21x7 cm e apresenta um
furo de ventilação por onde ocorrerá a troca gasosa;
• Melgueira – local destinado ao armazenamento de potes com mel e
pólen, tem 5 cm de altura interna com 2 pequenas tábuas separadas
entre si, deixando espaços que servirão de ligação com o sobre-
ninho, sua medida é 21x21x7 cm;
• Tampa – fecha a parte superior da colônia, tem duas ripas pregadas
nas extremidades, que servirão no auxílio na hora da abertura da
colônia apresentando as seguintes dimensões: 21x21x3 cm.

O Município de Pauini apresenta grande potencial para a criação de


abelhas nativas, sabendo que existem várias espécies de Meliponíneos na região
e um pasto meliponicola exuberante, com uma riqueza de florada em diversos
meses do ano, proporcionando às abelhas a coleta de pólen e néctar durante as
estações do ano. O gênero de abelha escolhido foi a Melípona por apresentar no
município uma riqueza de espécies bastante variada, na qual é nativa da
localidade e adaptada a região, sem que haja introdução de espécies de outros
municípios. Foram coletadas previamente algumas abelhas para posterior
identificação das mesmas, na qual se foi constatado o gênero Melípona.
O curso foi realizado para 30 participantes residentes do município, dando
enfoque geral no manejo e biologia das abelhas. Para as atividades de
transferências das abelhas do cortiço (tronco de árvore oco), para caixa racional

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modelo INPA 2005, os mesmos foram selecionados de árvores mortas, caídas ou


que possivelmente iriam ser cobertas com as águas de possíveis enchentes
comumente na região amazônica. Em uma área de aproximadamente 01 hectare,
foram encontrados 05 colônias de Melíponas spp. distanciadas entre si de,
aproximadamente, 50 a 100 metros, mostrando o potencial de riqueza biológica
a serem trabalhadas (Figura 4).

FIGURA 4. Curso de Criação de abelhas sem Ferrão. Técnica de mudança da colméia de abelhas. Pauini.

O processo de multiplicação trabalhado foi o do “Método de Perturbação


Mínima”, que consiste multiplicar a colônia de abelha sem que haja manipulação
direta da mão do meliponicultor com os discos de cria. No processo de multiplicação
foi transferido o sobreninho com crias nascentes para cima de um ninho vazio com
lixeira e posto um sobreninho vazio sobre o ninho com a postura nova; no processo
foi utilizado a melgueira devido não apresentar vantagem na multiplicação. Na sede
do município foi instalado um meliponário com 07 colônias de Melípona seminigra,
pelo qual se deu início a criação racional de abelhas sem ferrão. Outro dado
importantíssimo a ser relatado é que na comunidade de Limeira, pertencente ao
município de Lábrea próximo ao município de Pauini, a criação de abelhas já é uma
realidade, onde vários comunitários se dedicam à criação das mesmas, já há algum
tempo, embora seja de forma tradicional sem o uso de técnicas recomendadas ou
padronização de caixas racionais para o seu manejo adequado.

206 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas


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LITERATURA CITADA
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BENATTO, L., CORBELLINI, L.M., MERTEN, G.H. Experimentação em manejo
de sistemas agroflorestais: o caso do assentamento 19 de Setembro – Guaíba/RS.
In: Anais do IV Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia: Etnobiologia
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CARDOSO, M. O. Hortaliças não-convencionais da Amazônia. Brasília:
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CARVALHO, G.A., SILVA, A. C., KERR, W. E. Relatório BASA. Manaus, 2001.
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Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 207


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Esta obra foi composta em Manaus pela


KintawDesign, em Times 11/13 e impressa em
dezembro de 2007.
CAPA Livro AG Familiar.qxp:CAPA Livro AG Familiar 25.03.08 14:56 Page 1

Assim, na sua concepção global, o macro No Brasil, com pequenas variações,


projeto deve gerar conhecimentos técnico- no espaço e tempo, o processo de

AGRICULTURA FAMILIAR NA AMAZÔNIA DAS ÁGUAS


científicos que possam contribuir para a me- especialização no monocultivo de espécies
lhoria nas formas de organização social das industriais como a cana-de-açúcar, soja,
comunidades de modo a propiciar, por meio do algodão e café, tem conduzido, direta ou
uso e conservação dos recursos naturais, a indiretamente, os pequenos produtores rurais a
melhoria nos níveis de qualidade de vida das Sandra do Nascimento Noda níveis crescentes de empobrecimento e perda
populações humanas. (Organizadora) de suas terras. A possibilidade da manutenção
das unidades produtivas rurais familiares
O compartilhamento intercomunitário de
implica na necessidade da existência de um
recursos genéticos vegetais também é uma
sistema de preservação dos recursos naturais.
prática corrente entre os agricultores
As degradações dos recursos hídricos, como
tradicionais amazônicos, o que contribui para a
segurança alimentar das comunidades e AGRICULTURA poluição, erosão e assoreamento de cursos
d'água, pesca predatória, construções de
constitui um importante papel na conservação,
na dispersão e no resgate de espécies vegetais
FAMILIAR barragens e desflorestamentos são eventos que
quebram cadeias alimentares e cortam ciclos
cultivadas. NA AMAZÔNIA reprodutivos, destruindo as fontes permanentes
Apoio financeiro:
É extremamente importante que os projetos de
desenvolvimento junto aos agricultores na
DAS ÁGUAS de recursos naturais, secularmente utilizadas
pelos populações amazônicas.
Amazônia estabeleçam como premissa de
Entretanto, há necessidade de se criar
trabalho a necessidade de elevar os níveis de
alternativas econômicas capazes de gerar
organização social das famílias e das
renda monetária aos agricultores permitindo
comunidades para que, a partir daí, as
viabilizar o acesso aos produtos e serviços
conquistas graduais do bem estar social,
adquiridos no mercado, pois, algumas
coletivizadas e permanentes, sejam proces-
necessidades básicas são atendidas, muitas
sadas em função da sustentabilidade dos Programa Temático vezes precariamente, por meio da aquisição de
sistemas produtivos, do aumento da auto-
produtos somente disponíveis fora das
suficiência no atendimento das necessidades
unidades de produção.
alimentares, do acesso aos requisitos básicos
em educação, saúde, energia, lazer, universali- São os casos dos alimentos industrializados,
zados e disponibilizados pelo Estado e da combustíveis, roupas, remédios e dos serviços
Realização:
autonomia dos comunitários nas suas decisões inexistentes nas comunidades rurais como
políticas sobre o futuro social, econômico e NERUA atendimento médico, educação, energia e
Núcleo de Estudos Rurais
ambiental. São, a partir dessas referências, que transporte.
e Urbanos Amazônico
os autores dos capítulos que compõe este livro
discutem a Agricultura Familiar na Amazônia
das Águas.

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