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ENSINAR EXIGE CONSCIÊNCIA DO INA-

CABAMENTO

Paulo Freire. “Pedagogia da autonomia: Sabe-


res necessários à prática educativa”.

“Como professor crítico, sou um “aventu- caçar, a atacar, a defender-se num tempo de
reiro” responsável, predisposto à mudança, à dependência dos adultos imensamente menor
aceitação do diferente. Nada do que experi- do que é necessário ao ser humano para as
mentei em minha atividade docente deve ne- mesmas coisas. Quanto mais cultural é o ser
cessariamente repetir-se. Repito, porém, maior a sua infância, sua dependência de cui-
como inevitável, a franquia de mim mesmo, dados especiais. Faltam ao “movimento” dos
radical, diante dos outros e do mundo. Minha outros animais no suporte a linguagem con-
franquia ante os outros e o mundo mesmo e a ceitual, a inteligibilidade do próprio suporte
maneira radical como me experimento en- de que resultaria inevitavelmente a comuni-
quanto ser cultural, histórico, inacabado e cabilidade do inteligido, o espanto diante da
consciente do inacabamento. vida mesma, do que há nela de mistério. No
Aqui chegamos ao ponto de que talvez devês- suporte, os comportamentos dos indivíduos
semos ter partido. O do inacabamento do ser têm sua explicação muito mais na espécie a
humano. Na verdade, o inacabamento do ser que pertencem os indivíduos do que neles
ou sua inconclusão é próprio da experiência mesmos. Falta-lhes liberdade de opção. Por
vital. Onde há vida, há inacabamento. Mas só isso, não se fala em ética entre os elefantes.”
entre mulheres e homens o inacabamento se “A vida no suporte não implica a linguagem
tornou consciente. A invenção da existência a nem a postura ereta que permitiu a liberação
partir dos materiais que a vida oferecia levou das mãos.13 Mãos que, em grande medida,
homens e mulheres a promover o suporte em nos fizeram. Quanto maior se foi tornando a
que os outros animais continuam, em mundo. solidariedade entre mente e mãos, tanto mais
Seu mundo, mundo dos homens e das mulhe- o suporte foi virando mundo e a vida, existên-
res. A experiência humana no mundo muda cia. O suporte veio fazendo-se mundo e a vida,
de qualidade com relação à vida animal no su- existência, na proporção que o corpo humano
porte. O suporte é o espaço, restrito ou alon- vira corpo consciente, captador, apreende-
gado, a que o animal se prende “afetivamente” dor, transformador, criador de beleza e não
tanto quanto para resistir; é o espaço neces- “espaço” vazio a ser enchido por conteúdos.
sário a seu crescimento e que delimita seu do-
A invenção da existência envolve, repita-se,
mínio. É o espaço em que, treinado, ades-
necessariamente, a linguagem, a cultura, a
trado, “aprende” a sobreviver, a
comunicação em níveis mais profundos e
complexos do que o que ocorria e ocorre no
domínio da vida, a “espiritualização” do que as coisas podem até piorar, mas sei tam-
mundo, a possibilidade de embelezar como de bém que é possível intervir para melhorá-las.
enfear o mundo, e tudo isso inscreveria mu-
Gosto de ser homem, de ser gente, porque não
lheres e homens como seres éticos. Capazes
está dado como certo, inequívoco, irrevogável
de intervir no mundo, de comparar, de ajui-
que sou ou serei decente, que testemunharei
zar, de decidir, de romper, de escolher, capa-
sempre gestos puros, que sou e que serei
zes de grandes ações, de dignificantes teste-
justo, que respeitarei os outros, que não men-
munhos, mas capazes também de impensá-
tirei escondendo o seu valor porque a inveja
veis exemplos de baixeza e de indignidade. ”
de sua presença no mundo me incomoda e me
“Só os seres que se tornaram éticos podem enraivece. Gosto de ser homem, de ser gente,
romper com a ética. Não se sabe de leões que porque sei que a minha passagem pelo mundo
covardemente tenham assassinado leões do não é predeterminada, preestabelecida. Que o
mesmo ou de outro grupo familiar e depois te- meu “destino” não é um dado, mas algo que
nham visitado os “familiares” para levar-lhes precisa ser feito e de cuja responsabilidade
sua solidariedade. Não se sabe de tigres afri- não posso me eximir. Gosto de ser gente por-
canos que tenham jogado bombas altamente que a história em que me faço com os outros e
destruidoras em “cidades” de tigres asiáticos. de cuja feitura tomo parte é um tempo de pos-
sibilidades, e não de determinismo. Daí que
No momento em que os seres humanos, inter-
insista tanto na problematização do futuro e
vindo no suporte, foram criando o mundo, in-
recuse sua inexorabilidade.”
ventando a linguagem com que passaram a
dar nome às coisas que faziam com a ação so-
bre o mundo, na medida em que se foram ha-
bilitando a inteligir o mundo e criaram por
consequência a necessária comunicabilidade
do inteligido, já não foi possível existir a não
ser disponível à tensão radical e profunda en-
tre o bem e o mal, entre a dignidade e a indig-
nidade, entre a decência e o despudor, entre a
boniteza e a feiura do mundo. Quer dizer, já
não foi possível existir sem assumir o direito
e o dever de optar, de decidir, de lutar, de fa-
zer política. E tudo isso nos traz de novo à im-
periosidade da prática formadora, de natu-
reza eminentemente ética. E tudo isso nos
traz de novo à radicalidade da esperança. Sei

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