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SER E ESTAR
Gustavo Bemvenuto
GRU P O MU LTI FO CO
Rio de Janeiro, 2017
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Ser e Estar
BEMVENUTO, Gustavo
1ª Edição
Novembro de 2017
ISBN: 978-85-5996-742-5
Este livro é dedicado à doce lembrança de
meu avô Alfredo Bemvenuto
Análise simultânea sobre o tudo e o nada
Voltando do nada
Indo pra sempre
Em tão descontente
Infeliz caminhar
De nada me vale o tudo de novo
Que nunca remete ao ser e estar
Vagando em vias
Expressas, lotadas
Num contrafluxo hostil
Que nunca parece saber aonde levar
Não é tarde para o café
Pois durmo no acordar
O mundo gira e eu giro
Se para, eu sigo
Não paro, nem sinto que devo parar
Aonde vou já não sei
O mundo gira e eu giro
Pareço perdido
Mas vou me encontrar.
g u s ta v o b e m v e n u t o 7
Reminiscências de uma vida futura
8 s e r e e s ta r
Carne Vale (O Bloco)
g u s ta v o b e m v e n u t o 9
Sobre a Velocidade Estática
10 s e r e e s ta r
Nova Língua Morta
g u s ta v o b e m v e n u t o 11
Poema do Café com Leite
12 s e r e e s ta r
Manual da Padronização
g u s ta v o b e m v e n u t o 13
14 s e r e e s ta r
∞
g u s ta v o b e m v e n u t o 15
Tempo Bom
16 s e r e e s ta r
Paôlo
Paôlo gritava
O mais alto que podia
Contudo, ninguém o ouvia
Paôlo tirava
Do bolso, as chaves
E as punha em cima da mesa
Em casa, Paôlo cantava...ninguém o ouvia
Paôlo bebia em grandes goladas
Aquilo que cria que lhe iria salvar
No entanto, Paôlo afundava
Debatia-se em pânico
Paôlo não sabia nadar
Submerso, Paôlo gritava
Pedia socorro, ninguém o ouvia
Aos poucos o desespero passava
Aos poucos Paôlo morria.
g u s ta v o b e m v e n u t o 17
Quando a consciência não fala mais por si
Quando tudo está tão turvo e já não mais se pode ver
Ainda sou capaz de encontrar meu caminho de volta pra
casa
E te perdoar
A cada segunda-feira.
18 s e r e e s ta r
De tudo que tive
Pouco me resta
Um pouco de tudo
Do nada que é meu
Pois nada me encanta
Desse tudo que brilha
E desse nada que sente
Finjo ser dono de tudo que tenho
De tudo aquilo que chamo de meu
Mas tomo emprestado do mundo
E uso até acabar
O mundo me empresta a vida
Eu uso até acabar
Outro dia tive um sonho
Vivo sonhando acordado
Era Vincent da Silva Van Gogh
Louro, ruivo, mulato.
g u s ta v o b e m v e n u t o 19
In The Depths Of The Self
Inconformado,
Não querendo encarar a realidade
Que, em mim, esbarra por todos os lados
Durmo e acordo
O relógio gira em um ciclo infinito
E o tempo que dizem passar
Pra mim só gira
Parado no mesmo lugar
Os objetos parecem rir de mim
Jamais provarão da profunda dor de ser
Se sofro parado, me movo
De um lado pro outro
Tentando esquecer
De nada adianta
De um lado pro outro
Rastejo,
Como um cão moribundo
Em busca do lugar mais adequado para morrer.
20 s e r e e s ta r
Medeleine
g u s ta v o b e m v e n u t o 21
22 s e r e e s ta r
O tempo venta
Escorre entre os dedos
Líquido no mármore
O uniforme impecável
Dia após dia
Gélido, inflexível
A chuva é a prova de que não estamos sozinhos
Passo um café e olho através da janela
Os que vão e os que vêm
Os que não cantam nem pintam
Molhados, praguejam
A vida que os tocam
E da janela vizinha
Canta, feliz, a menina
Para todos que sabem
Que cinza é a cor da razão.
g u s ta v o b e m v e n u t o 23
Valsa Urbana Semi-Consciente
A cidade brilha
Emite seus sons e odores
Contido, vagueio
Conforme a música
O bonde corta as ruas
Levando de um canto ao outro, a boemia
Entorpecidos pelo cheiro da noite
Vagamos lado a lado, aos tropeços
Até o ponto onde só o céu
Testemunhará a lascívia iminente
Eis que pouco a pouco surge a luz
Para nos revelar estranhamente tão íntimos
A única evidência da noite passada
Escrita em nossos corpos
Em códigos universalmente inteligíveis
Como em uma proibida forma de arte pagã
Não, eu não quero o para sempre
Eu apenas não quero cortar a linha
E ver-te à deriva distanciando-se de mim
Hoje, tudo o que eu mais quero
É me livrar deste escudo
Que só me protege
De todas as coisas pelas quais eu quero ser atingido.
24 s e r e e s ta r
Eu e as Paredes
g u s ta v o b e m v e n u t o 25
A Ressaca do Mar Morto
Encho o copo...Transbordo
Afogando em um mar etílico
Salve-se quem puder
Até amanhã!
Se o amanhã vier
De volta à tona, arfo
A boca salgada
Seca, amarga
Brindo meu copo vazio
Morto de sede e de sade.
26 s e r e e s ta r
Realização...
Nunca pensei ser tão feliz
De tudo que almejei
Que mais posso querer?
Me cercam todos aqueles que amo
Em meu castelo a reinar
Um quartinho com banheiro
Pra mim e pra Dadá.
g u s ta v o b e m v e n u t o 27
Muro do Milho Doente
28 s e r e e s ta r
Eu que já não caibo mais em mim
Esvaio-me pelas emendas
Deságuo em solos inférteis
E me resolvo razoavelmente bem
Nesta solitude imposta.
g u s ta v o b e m v e n u t o 29
30 s e r e e s ta r
Em meio à penumbra
Pescoços, braços e costas a transpirar
A eternidade encapsulada
2:43
Mucosa,
Mucosa,
Mucosa.
g u s ta v o b e m v e n u t o 31
Ainda existe em alguma página perdida
O mapa que eu mesmo fiz
O caminho que cruzava toda a cidade
Aquela vez em que eu me perdi
E acabei dentro de um cemitério
Em horas tarde e frias da noite
Voltando pelo caminho
Que agora era capaz de encontrar de olhos fechados
32 s e r e e s ta r
Erotik
g u s ta v o b e m v e n u t o 33
Depois da última música
Vejo tudo o que antes não podia ver
Partimos, então, para a valsa urbana semiconsciente
Olhares que se encontram
Sorrisos fáceis sorriem
Como uma corrente elétrica
A fome mostra o caminho mais curto
Tudo ficou mais fácil depois do dia em que eu aprendi a
sorrir
A maior distância que eu já percorri
Entre mim e a máquina de café
Guiados pelo cheiro
Como nos desenhos animados
O cheiro, o qual eu nunca me confundo
E me alimenta
Eu me alimento do cheiro
Olhares sacanas a te olhar
A te iludir
A te enganar
Carnívoro
O sabor da carne que eu não matei
Incerta a dúvida que diz sim ou não?
Eu sei que não
Mas que tal o vermelho de novo?
34 s e r e e s ta r
Cotidiano Asfixiante
g u s ta v o b e m v e n u t o 35
Ainda pior que a verdade que dói
Que a morte súbita
É a tortura lenta e cruel
A dúvida que corrói
Puta.
36 s e r e e s ta r
Mergulho fundo no escuro
Para salvar as almas perdidas
Que gritam em socorro
Do fundo do poço
Garrafas vazias
Verde, transparece a realidade
Agora que podem respirar
Relatam o ocorrido
Não compreendo, porém
Concordam entre si
E eu a pensar
Verde, de roxo a manchar
Essas almas vazias
De pequeno sonhar
Que suplicam
Impaciente,
As envio de volta ao fundo do poço
Dosando
Pausadamente
As 750 ml do meu pesar.
g u s ta v o b e m v e n u t o 37
38 s e r e e s ta r
Urbes
g u s ta v o b e m v e n u t o 39
Encontro algo que me distraia
E que me levará sabe-se lá para aonde.
40 s e r e e s ta r
Sub-urbes
Preso estou
No vácuo
Atrás dessas paredes de vidro
Que só te permitem enxergar
Não sinto o cheiro, não ouço, não brindo
Devolvo o sorriso
De dentro do aquário vazio em que vivo
Preso estou
Nessas sextas-feiras altas
Altas e distantes
A coletar combinações numéricas
Criando assim
Um grande banco de dados do nada
Preso estou
Nessa realidade descompensada
Que já lá pelas tantas
Só te fazem querer regurgitar
Cada uma das gotas que te trouxeram até aí
À rua do meu segundo grande sonho
Preso estou
No abismo
Das infinitas possibilidades
Que existem
Entre o sim e o não.
g u s ta v o b e m v e n u t o 41
O Paradoxo do Vida
II
III
42 s e r e e s ta r
Finale
Sedento,
Provo da água que mina
Da tua fonte sagrada
O pórtico úmido da vida
Cuja mesma fenda de entrada
É a de saída.
g u s ta v o b e m v e n u t o 43
Pegando atalho na corrente
O peixe sem alma
Desgarrado
Indiferente
O brilho dos olhos
Apagado
44 s e r e e s ta r
O meu castigo é sentir a cada dia
O teu perfume que evapora
E vai embora morar no vento
O inferno é o aqui, o agora
Ao relento
Eu dormirei em ti
E acordarei em ti
g u s ta v o b e m v e n u t o 45
Olhos tão fundos olham para o nada
E tocam o nada
E mancham de branco a tua alma encardida
Refletem no resto de água
Que jaz no fundo do poço
E voltam
Sempre voltam a ver a mesma cena
Os olhos escalam o poço
E voltam a ver tudo como antes
A vista cansada
Dessa cena ensaiada
Que se repete a cada dia
Em prantos, a retina deságua
E afoga as mágoas
46 s e r e e s ta r
Aim Higher
g u s ta v o b e m v e n u t o 47
48 s e r e e s ta r
A luz que brilha e ofusca
Faz cegos os olhos que não querem ver
É muito para registrar
Melhor esquecer
E viver no escuro
Do abismo que há entre eu e você.
g u s ta v o b e m v e n u t o 49
Catando os restos
Pratos e copos vazios
Despedaçados ao chão
Sentado ao canto
E o eco dos dentes a bater
Na sombra
Onde já não há mais nada para se ver
Além da tua dança sóbria
Nada
Além da tua ausência a me fazer companhia
Pois a solidão é viver no buraco
Entre o nada e o algo
É morrer afogado
Em uma piscina vazia.
50 s e r e e s ta r
Blizzard
g u s ta v o b e m v e n u t o 51
Antropocentrismo
Exausto,
Encontro abrigo no teu torso
Até que possa respirar novamente
Normalmente, sem esforço
E dou-me conta da minha pequenez
Diante do teu impávido colosso.
52 s e r e e s ta r
Amanhecer, despertar
Preparar para ser
Caminhar
Até onde o teu ser vai estar
À espera de mais um
Acender
Apagar
Fricciono o frio
Até esquentar
A água do rio
Que nasce do vazio
Do teu ser
Até desaguar
Em mim
Até transbordar.
g u s ta v o b e m v e n u t o 53
Metade do Caminho de Volta
Agora passou
A poeira abaixou
É um olhando para a cara do outro
Lembra naquela hora
Em que eu disse que ia
Você disse ''não demora''
Eu me perdi, me encontrei
Fui embora
Voltei
Você disse ''não demora''
Eu voltei
E agora?
É um olhando pra cara do outro
Mais uma vez
Igual naquela hora
Que você disse ''não demora''
Eu voltei
E agora?
54 s e r e e s ta r
Sexta-Feira Santa
g u s ta v o b e m v e n u t o 55
Sábado de Aleluia
Resignados
Chorarão o pranto mudo
E o silêncio só será quebrado
Pelos relatos de onde esteve tua carne pecaminosa
Que serão escritos e expostos
Lidos em voz alta
Em praça pública
E depois queimados
Glória, Glória, Aleluia!
56 s e r e e s ta r
Domingo de Páscoa
g u s ta v o b e m v e n u t o 57
O Preço da Vida
O contentamento barato
Que não ousa pensar
Além daquilo que foi combinado
Recosta-se e espreguiça-se
Apreciando a paisagem
Através da janela
Tela plana
O saldo negativo
A hipoteca
O feriado dobrado
A vaga de estacionamento privado
O preço da comida
Vender a alma para pagar a vida.
58 s e r e e s ta r
Burgo
g u s ta v o b e m v e n u t o 59
60 s e r e e s ta r
Fastio Pós-Coito
Depois da escalada
Só resta calar-se
E admirar a vista estonteante
Inútil é tentar adjetivar
A cena
Que em breve o vento levará
Depois da descida
Tenta-se, inutilmente, reproduzir
A vista vista
Na mente registrada
Provando da carne recém temperada
Em um fastio pós-coito
Tentando equacionar
nada vezes nada
Vezes nada.
g u s ta v o b e m v e n u t o 61
Fade
62 s e r e e s ta r
Chega devagar
E sua presença já não é mais uma dúvida
Depois de toda a expectativa criada
É apenas um espectro
Daquilo que eu já vi mil vezes de olhos fechados
O sabor que, distante, provei
De lábios molhados
E o desejo ardente que deixa a desejar
Essa combustão infindável
g u s ta v o b e m v e n u t o 63
64 s e r e e s ta r
A Sombra de Um Sonho
g u s ta v o b e m v e n u t o 65
Dama da Noite
66 s e r e e s ta r
Une Jour Sans Toi C'est Pas La Même
g u s ta v o b e m v e n u t o 67
Une Jour Sans Toi Je Ne Suis Plus Moi
68 s e r e e s ta r
Lust
g u s ta v o b e m v e n u t o 69
O desejo de tapar o buraco
O buraco que só a morte irá tapar.
70 s e r e e s ta r
O Centro de Todas As Coisas
g u s ta v o b e m v e n u t o 71
Sapir-Whorf
Conhecimento é liberdade
Já eu, quero ser escravo de sua ignorância
Viver em suas masmorras escuras onde a luz não entra
72 s e r e e s ta r
Apenas a água da chuva
Que mina e me alimenta
E eu a encontrarei
Nas coordenadas sob as quais o sol nunca me tocou
Afinal de contas, estamos escondidos debaixo do mesmo céu
E nossas línguas irão se calar
E o silêncio de nossos corpos,
Gritar.
g u s ta v o b e m v e n u t o 73
74 s e r e e s ta r
De tudo que me faz achar que dessa vez será diferente
Nada de fato me convence
Ainda assim experimento a voz
Que, calada há tempos, sai rouca e torta
Experimento falar
A língua
Que, afiada, corta
Ricocheteia
E se reconstitui, como o rabo de uma lagartixa
Pálida e asquerosa
Eu preciso provar da dor de saber como é não te ter
Pois nenhuma vez é igual a outra
Nenhuma vez é igual a outra
Exausto,
Esperando pelo abismo que nunca chega
Destilo essa realidade pouco convincente
E me reconstituo
Como o rabo de uma lagartixa.
g u s ta v o b e m v e n u t o 75
26 de Outubro de 2007 (O Eterno Retorno)
76 s e r e e s ta r
Intrinsicabilidade
Mas não
Já não me interessam os teus traços tão únicos
Copiosamente multiplicados sem qualquer critério
Como um espelho estilhaçado
Que desvendam todo o mistério
E não reflete nada
Além do eco
Que ecoa no vazio do teu ser.
g u s ta v o b e m v e n u t o 77
O Monólogo da Vida
78 s e r e e s ta r
Ecdise
g u s ta v o b e m v e n u t o 79
Homeostase
80 s e r e e s ta r
Nesse cenário inóspito
Percorro o caminho de volta
Onde só o frio me aquece
E nem minha própria sombra me reconhece
Sigo nesse beco, sem vontade, sem rumo
E quem irá aparecer para iluminar o meu escuro
É a tua face tão fácil de esquecer
Que irá pintar no vazio do meu quadro
Sussurrar o grito mudo
Arranhar o céu até o amanhecer
g u s ta v o b e m v e n u t o 81
Atormentado pela tua presença
Nada digo
Apenas sinto teu olhar a atravessar-me
E tento domar meu olfato
Alheio ao fato
De que onde se ganha o pão não se come a carne
82 s e r e e s ta r
g u s ta v o b e m v e n u t o 83
Mosaico Bizarro
Me encaro de frente
E o espelho não me diz nada do que quero escutar
Ignoro os conselhos
E mergulho na noite para tentar te salvar
Sigo o teu cheiro
O perfume e o cigarro que pairam no ar
Refaço teus passos
Caminhos tortuosos que irão me levar
Junto à beira do cais
Onde os sonhos e os pesadelos são reais
Você irá me chorar uma lágrima de sal
E o vento irá cortar
Até evaporar
A língua afiada me corta o pescoço
E a julgar pelo gosto não faz mal em cortar
A alma se encolhe e o frio nega um gole para acalantar
E o que a noite te deu
São os restos que sobraram do dia que morreu
Eu já não quero entender
Agora que eu sei que a melhor atração do teu circo é pegar
fogo
Até o amanhecer.
84 s e r e e s ta r
A Dor do Quase
g u s ta v o b e m v e n u t o 85
Sigo como em um barco a velas
A velejar pelo asfalto
Onde o teu vento é o meu norte
Chame isto de destino ou sorte
Nada é pior que a tua calmaria
A indiferença plácida e fria
86 s e r e e s ta r
1° edição Novembro de 2017
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