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Segundo Vico (2005:47) a ideia de uma dupla-limes, ou seja, uma linha defensiva de

postos avançados com capacidade de auto sustentação seguida de uma segunda linha de cidades
fortificadas foi cunhada por Charles Diehl, bizantinista francês, em seu trabalho L’Afrique
Byzantine, Histoire de la domination byzantine em Afrique. Segundo Diehl:

d’abord ... une série de villes fortifiées, reliées, par une succession de postes (castella), assez
rapprochés les uns des autres, solidement construits, bien pourvus d’eau et de vivres, et
généralement occupés par de petites gárnisons ... A quelque distance en arrière, se développe
une seconde ligne de citadelles, plus importantes celles-là et aussi plus espacées: ce sont
d’ordinaire d’aissez grandes villes, défendues par des garnisons plus nombreuses. (DIEHL,
1986:142, apud VICO, 2005:47)

Em uma tradução livre:

Em primeiro lugar ... uma série de cidades fortificadas, ligadas por uma sucessão de postos
(castellas), bastante próximos uns dos outros, solidamente construídos, bem providos de água
e comida, e geralmente ocupados por pequenas guarnições. A certa distância atrás,
desenvolve-se uma segunda linha de cidadelas, mais importantes e também mais distantes:
geralmente grandes cidades, defendidas por guarnições mais numerosas.

Infelizmente não há versões traduzidas do livro, porém, em seu livro de caráter mais
geral intitulado Bizâncio: Grandeza e Decadência (1919)1, Charles Diehl revisita seu modelo
de limes bizantino. De forma mais geral, através de fontes como Procópio em De Aedificii, o
autor nos informa sobre a existência de tal limes desde as fronteiras ao longo do Danúbio até as
com o deserto do Saara contra os Bérberes no norte da África. Assim, segundo Diehl:

Roma limitara-se outrora a organizar a defesa imediata dos confins. Bizâncio


multiplicou as linhas de fortalezas, que formavam barreiras sucessivas e ofereciam, em caso
de invasão, asilo às populações. Assim, todo o território se eriça de cidadelas que barram todas
as rotas, que dominam todos os pontos estratégicos, que bloqueiam os desfiladeiros
(kleisoúrai), que vigiam toda a região; às vezes, mesmo muralhas contínuas – tal a muralha de
Anastácio em frente a Constantinopla – foram erguidas em uma vasta extensão de território:
fortalezas poderosas, construídas com suma arte e em que, durante muito tempo, se quebrou a
vaga da invasão. Foi, sabe-se, uma das glórias de Justiniano ter criado, das estepes do Hodna
[no sul da faixa costeira da atual Argélia] e da Tunísia às margens do Eufrates, das montanhas

1
Edição consultada: DIEHL, Charles, Bizâncio: Grandeza e Decadência, 1a. Rio de Janeiro: Epasa, 1944.
da Armênia às ribas do Danúbio, uma densa rede de castella, com os quais, diz Procópio,
“salvou a monarquia”. (1944:76)

Fica claro para o bizantinista oitocentista, como vimos acima, que o sistema de limes
romano (isto é, alto imperial) foi melhorado através de adição de linhas sucessivas de defesas
como tal explicitado pela citação feita por Vico. Para Diehl, durante o governo de Justiniano,
esse modelo de defesa em profundidade teria se difundido em todo o Império e nas terras recém
conquistadas (sobretudo na África). Sua fonte para tais informações, Procópio de Cesareia,
assim como Diehl, nada nos diz sobre a Península Ibérica ou a província de Spania.

Em Os Grandes Problemas da História Bizantina (1943)2 a mesma tese é revisitada


com uma apropriação nítida das passagens de Procópio:

O sistema de defesa bizantino foi completamente diverso, e o Tratado dos Edifícios, de


Procópio, mostra de maneira muito clara como estava organizado nos tempos de Justiniano.
Em lugar de uma única linha de fortalezas ao longo da fronteira, encontravam-se duas ou três
linhas de cidadelas paralelas à primeira; Procópio explicou muito bem a quais necessidades
correspondiam: “(...) se os inimigos conseguissem ultrapassar esse obstáculo [a primeira linha
de fortalezas], encontrariam populações absolutamente indefesas, e poderiam sem dificuldades
escravizar as pessoas e pilhar as propriedades. Justiniano, portanto, não se limitou a garantir-
lhes, por meio das cidadelas do rio, uma segurança geral, mas multiplicou em todos os campos
o número das fortificações, de tal sorte que cada propriedade agrícola viu-se transformada em
fortaleza, ou vizinha de um posto fortificado. ” (DIEHL, 1961:106-107)

Para Vico (2005:47), muitos autores aplicaram o modelo de limes do norte da África
como sendo o modelo na província bizantina de Spania. Podemos assim dizer que a lógica
aplicada seria de que o sistema de fortificações imperiais, como o próprio Diehl defendia, era
igual para todas as frentes e fronteiras que o Império se expandia. Se era assim, mesmo que
Diehl e Procópio não nos fale nada sobre Spania, ela deveria seguir o mesmo modelo - o que
demonstra ser um erro uma vez que ignora as conjunturas históricas no momento da intervenção
bizantina nas disputas entre Atanagildo e Agila.

2
Edição consultada: DIEHL, Charles, Os Grandes Problemas da História Bizantina, 1a. São Paulo: Editora
das Américas, 1961.
Entre os autores estão: Luís Agustín Garcia Moreno em Organización Militar de
Bizancio en la Península Ibérica (ss. VI-VII)3; Barbero e Vigil em Sobre los Orígenes Sociales
de la Reconquista (Barcelona, 1974) 4 ; Margarita Vallejo-Girvés em um capítulo chamado
Bizancio y la España Tardo Antigua. (ss. V-VIII)5; M. R. Martí Matias em Visigodos, Hispano-
romanos y Bizantinos en la zona Valenciana en el siglo VI6; F. Salvador Ventura em Hispania
Meridional entre Roma y el Islam, economia y sociedad.7

Assim como o próprio autor do artigo que faz essa revisão historiográfica, outros autores
contestam esse modelo de duplo-limes no sul da península Ibérica. Para esses autores não
haveria um limes demarcado por uma sucessão de castra ou castella mas sim um controle sobre
pontos estratégicos que dariam o controle de algumas vias de comunicação, comércio e de
extração de recursos naturais através de enclaves. Nesse modelo as importantes cidades
bizantinas se limitavam ao litoral como a dita capital da província, Cartagena. O controle
bizantino não chegou muito ao interior da península (VICO, 2005:47).

Esses autores são: D. Pringle em The defence of Byzantine Africa from Justinian to the
Arab Conquest, An account of the military history and archeology of the African provinces in
the sixth and seventh centuries. (1981); Sebástian F. Ramallo e Jaime Vizcaíno Sanchez em
Bizantinos en hispania. Um problema recuerrente em la arqueologia española (2002); G.
Ripoll López em Acerca de la supuesta frontera entre el Regnum Visigothorum y la Hispania
Bizantina (1996)8. Este último autor reduziria a influência bizantina à poucas cidades costeiras
com pouco ou nenhum controle sobre o território terrestre que as conecta (VICO, 2005:47-48)
(DIAZ, 2004:46).

Para Vico (2005:60) não era possível a existência de uma limes definida em Spania uma
vez que as reconquistas imperiais encabeçadas por Justiniano desgastaram tanto o exército
quanto o tesouro bizantino. Um período de crise se instauraria após a morte do imperador com
sucessões imperiais consecutivas, hostilidades na fronteira com o Império Persa Sassânida,
migrações eslavas no Oeste dos balcãs e a situação conturbada da pouco controlada península
itálica, principalmente com a chegada dos povos lombardos. Esses fatores explicariam a

3
Presente na revista acadêmica Hispania, nº 123, Madrid, 1973, p. 5-21. Não encontrei o número disponível
online, porém, talvez, haja uma recuperação dessa tese em seu livro mais geral História de España Visigoda.
4
Não pesquisei se há versões online.
5
Não encontrei versões online. Trata-se de um capítulo (p.373-390) em un capítulo de la historia mediterrânea,
Memoria del Seminario de la Historia Antigua IV.
6
Não encontrei versões online (2001, 16-32).
7
Não pesquisei se há versões online (1990).
8
Artigo disponível online.
escassez de mão-de-obra militar no sul da península ibérica durante seus 70 anos de existência,
efetivo que nunca foi tão grande desde o início. O autor reforça também o quão é insustentável
a existência de tal fronteira através das evidências arqueológicas – uma vez que a vida material
das populações do sul da península ainda tinha grande influência da cultura material do baixo
império (VICO, 2005:61). Por fim, o autor se posiciona como um defensor do modelo de
enclaves circundantes as zonas rurais das cidades costeiras, um controle das franjas costeiras e
de suas vias de comunicação terrestre e marítima.

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