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O CAMPO DA PSICOLOGIA SOCIAL


Serge Moscovici

A. O que é a psicologia social?


a. Tudo resultaria muito simples se pudéssemos dizer sem dúvidas: existe o
indivíduo e a sociedade. Evidentemente isto é repetido inúmeras vezes e a gente
parece compreender e até mesmo ver o que estas palavras indicam. Todos
aceitamos como algo indiscutível que estes dois termos estejam separados, que
cada um seja autônomo e possua uma realidade própria. Isso significa que podemos
conhecer um sem conhecer o outro, como se se tratassem de dois mundos
estranhos entre si. A força dessa visão é incontestável, assim como a divisão que
mantem: o indivíduo reduzido a seu organismo e a sociedade petrificada em suas
instituições e aparelhos. Ou, melhor ainda. Por uma parte, o único, por outra parte, o
múltiplo ou coletivo. E esta visão tem um efeito ao qual nos acostumamos desde
muito tempo: o tratado de participação que concede o indivíduo à psicologia e a
sociedade à economia ou à sociologia. Este resultado se expressa frequentemente
de uma forma mais concreta: a psicanálise se ocupa do indivíduo e o marxismo da
sociedade. Semelhante convenção clarifica as ideias e contribui de maneira eficaz à
coexistência pacífica entre as diversas ciências e entre as diversas teorias.
A participação que acabo de descrever, e sobre da que nos faz falta insistir por sua
familiaridade, obedece a uma lógica determinada. Corresponde à realidade nos
casos extremos. Mas resulta banal reconhecer que o indivíduo só existe dentro da
rede social e que toda sociedade se compõe de uma multidão de indivíduos
diversos, assim como o menor pedaço de matéria está composto por uma mutidão
de átomos. Além do mais, temos direito de observar que em cada indivíduo habita
uma sociedade: a de seus personagens imaginários ou reais, a dos heróis que
admira, a de seus amigos e inimigos, a dos irmãos e pais, com quem nutre um
diálogo interior permanente. E com os quais chega a sustentar relações sem saber.
Assim, pois, quando dizemos: existe o indivíduo e existe a sociedade, deixamos de
lado a experiência compartilhada por quase todo o mundo.
Com justiça se dirá que não é tão grave. Toda análise e toda explicação exige uma
abstração. Abstrações como as que fazemos constantemente em economia ao
falarmos do mercado separado do poder, ou em psicologia ao descrever o
pensamento separado das emoções. Sim, não cabe a menor dúvida. Mas dita
participação tem sentido. Oculta uma realidade primeira, a invariante de existência,
cujos rastros encontramos por todas as partes. Quer dizer, a oposição entre
indivíduo e sociedade, a feroz batalha que desde os tempos imemoriais livram o
pessoal e o coletivo. Este conflito não exclui, evidentemente, as harmonias
momentâneas nem as pacificações duradouras.
Se a psicologia social tem uma razão de ser enquanto ciência e um ‘lietmotiv’ que lhe
seja próprio, é aí que o encontraremos. Toda ciência mais antiga tenta responder,
através de pesquisas efetuadas em campos concretos, a alguma das perguntas
dolorosas que se apresentam aos homens. A física, à pergunta: O que é a matéria
ou o movimento? A biologia, à pergunta: O que é a herança? Ou por quê existe a
vida? A cosmologia, à pregunta: Qual é a origem do universo? E assim
sucessivamente. De maneira similar, A psicologia social – pelo menos na minha
opinião – se ocupou de um único problema: Por quê se produz o conflito entre
indivíduo e sociedade? Nenhuma outra ciência aborda este problema de forma tão
direta, nenhuma sente uma atração tão profunda por esse conflito. E aquelas
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ciências que assim o fazem, se aproximam da psicologia social, como sucedeu com
a psicanálise se interessar pelos fenômenos de massa. Também é o caso da história
quando estuda os fenômenos da mentalidade. E a recíproca também é certa.
Sempre que a pscologia social se esquece deste problema para estudar em paralelo
e com independência um do outro, seja social ou o individual, como acontece
atualmente nos Estados Unidos, perde sua personalidade, se convertendendo em
um apêndice, inútil, de outra ciência.
b. Aqui está uma primeira fórmula: a psicologia social é a ciência do conflito
entre o indivíduo e a sociedade. Poderíamos acrescentar: da sociedade externa e
da sociedade que ela tem dentro. Não faltam exemplos desse conflito.
A resistência às pressões conformistas da maioria, a oposição entre um líder e seu
grupo, os desvios em relação à ortodoxia, as discussões dentro de um grupo para
chegar a uma decisão, a captura de um indivíduo pelas massas, e muitos outros
casos. Até agora nós consideramos o espectro em sua totalidade. Agora devemos
limitá-lo para captar melhor e com maior precisão o campo da psicologia social. Em
poucas palavras, depois de ter visto o problema ao qual ele responde, consideremos
os fenômenos dos quais ele se ocupa. Ou melhor, os fenômenos com que os
psicossociólogos lidam quando saem para o campo ou se fecham em seus
laboratórios. Em uma palavra, qual é o seu objeto?
Como é fácil imaginar, não há unanimidade neste ponto. Mas acho que agora,
depois do abandono do behaviorismo. O número daqueles que concordariam com a
definição que eu estabeleci em 1970 seria muito mais alto: "E eu formularia, escrevia
então, como objeto central, exclusivo da psicossociologia, todos os fenômenos
relacionados à ideologia e à comunicação, organizados segundo sua gênese, sua
estrutura e sua função" ¹. No que diz respeito aos primeiros, sabemos que consistem
em sistemas de representações e de atitudes. A eles se referem todos os fenômenos
familiares de preconceito sociais ou raciais, de estereótipos,de crenças, etc. Sua
característica comum é que eles expressam uma representação social de que
indivíduos e grupos são formados para atuar e se comunicar. É evidente que essas
representações que dão forma a essa realidade meio física e meio imaginária que é
a realidade social.
Pelo que faz aos fenômenos de comunicação social, estes designam as trocas de
mensagens lingüísticas e não linguísticas (imagens, gestos, etc.) entre indivíduos e
grupos. Esses são meios usados para transmitir uma determinada informação e
influenciar os demais. Emprego intencionalmente a noção global de "comunicação
social" para indicar que ela inclui tanto os fenômenos de comunicação de massa de
influência coletiva (propaganda, propaganda, etc.), bem como processos puramente
lingüísticos e fatos semânticos. Também se relacionam com os signos que circulam
na sociedade, com a semiologia que, segundo o próprio Saussure, forma "parte da
psicologia social e, portanto, da psicologia geral". Essa abordagem é imposta, pois,
como notou sabiamente Mounin "a intenção de comunicar" é "o critério da
mensagem semiológica"1.
Agora já dispomos de uma segunda fórmula: a psicologia social é a ciência dos
fenômenos da ideologia (cognições e representações sociais) e os fenômenos de
comunicação nos vários níveis (Doise, 1982) das relações humanas: relações entre
indivíduos, entre indivíduos e grupos e entre grupos. Para cada um desses
fenômenos, dispomos de um conjunto mais ou menos desenvolvido de
conhecimentos, teorias ou experiências, que juntos nos permitem compreender as
atividades mentais superiores e certos aspectos psíquicos da vida social dos grupos.
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2 Saussure, Cours de linguistique général, Paris Payot
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B. A visão psicossocial.
a. Uma vez compreendido o conteúdo de uma ciência, também há que se
reconhecer sua particularidade, saber o que a distingue de outras ciências. Esta é
uma questão muito difícil para a qual uma resposta satisfatória nunca pode ser dada.
E cada resposta tem, além disso, um caráter ligeiramente artificial. Uma coisa é
certa: nenhum limite preciso separa a psicologia social de outros campos da
psicologia, como a psicologia infantil, a psicologia clínica ou, inclusive, o que se
chama de psicologia geral. Tampouco há uma fronteira precisa entre a psicologia
social e a antropologia. Todas essas disciplinas compartilham em grande medida o
mesmo interesse pelas interações humanas e grupos humanos. Além disso, eles têm
em comum um bom número de conceitos como representação, influência,
aprendizado, etc. Então, como a psicologia social se distingue dessas disciplinas?
Para responder a essa pergunta, pude fazer uma série de análises históricas e
lógicas. Todos eles seriam de grande interesse, mas nos levariam muito longe no
céu da teoria da ciência. No entanto, acredito que, uma vez que a parte da teoria
esteja limitada, nos damos conta que, na realidade, nossa disciplina não é
distinguida tanto por seu território quanto pela abordagem que lhe é própria. É isso
que praticantes, pesquisadores e estudantes aprendem durante o trabalho. É, antes
de tudo, uma maneira de observar fenômenos e relacionamentos. Nesse sentido,
podemos afirmar que existe uma visão psicossocial. Abaixo, tentarei oferecer uma
ideia desse enfoque.
Vamos começar com a maneira como o psicólogo e, com frequência, o sociólogo se
concentram nos fatos. Eles usam uma chave de leitura binária em geral. Essa chave
corresponde à separação entre sujeito e objeto, que são dados e definidos
independentemente um do outro. O psicólogo põe de lado o "ego" (o indivíduo, o
organismo) e o outro o "objeto", ou, por um lado, um repertório de respostas e, por
outro, o estímulo: E-O, ou R-S. Assim, quando estudamos a percepção visual,
consideramos o aparato visual e a cor ou intensidade de um ponto luminoso, pela
maneira como o olho reage à estimulação luminosa. Da mesma forma, quando
estudamos os processos intelectuais, estamos interessados no modo como o
cérebro lida com informações vindas do mundo externo. E queremos saber como ele
aprende, organiza e transforma em um comportamento definido. O esquema do
relacionamento é assim.
Sujeito individual (ego, organismo) • objeto (ambiente, estímulo).
Na sociologia, encontramos um esquema muito semelhante. A diferença é que o
sujeito não é mais um indivíduo, mas um coletivo (o grupo, a classe social, o Estado
etc.). Ou podemos levar em consideração uma multiplicidade de assuntos que
mudam, negociam, compartilham a mesma visão do mundo. mundo, etc. No que diz
respeito ao objeto, também tem um valor social, representando um interesse ou uma
instituição. Por outro lado, o objeto é algumas vezes constituído por outras pessoas,
por outros grupos, que formam o que chamamos de ambiente humano. Obviamente,
em todos esses casos, somos confrontados com um sujeito e um objeto
diferenciados de acordo com critérios econômicos, políticos, éticos ou históricos.
Independentemente do tipo de diferenciação, o que queremos saber é como
diferentes categorias de indivíduos se comportam na sociedade, como elas
reproduzem a hierarquia existente, como distribuem riqueza ou exercem seus
poderes. Ou, como a ação de cada indivíduo, provida de seus próprios interesses e
objetivos, torna-se uma ação coletiva. Mas na parte inferior da maioria das
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explicações e análises, apresentamos uma maneira de observar que é guiada pelo
seguinte esquema:
Sujeito coletivo _ Objeto diferenciado em social
diferenciada segundo e não social
critérios econômicos ou históricos

b. Sem dúvida, simplifico muito. Eu precisaria de um livro inteiro para justificar cada
uma das minhas declarações e mostrar como elas correspondem à realidade.

Apresso-me a acrescentar que um grande número de psicólogos sociais recorrem a


esquemas análogos, o que leva a uma série de erros e mal-entendidos (Moscovici,
1983). Apesar do interesse e da importância do trabalho que inspiraram, eles sempre
foram marcados por um caráter parcial. Mais grave ainda: eles reduziram fenômenos
psicossociais aos fenômenos psicológicos e fenômenos sociais aos fenômenos
individuais. E, no entanto, há uma visão psicossocial que é traduzida por uma leitura
ternária dos fatos e relacionamentos. Sua particularidade consiste em substituir a
relação de dois termos, entre sujeito e objeto, herdados da filosofia clássica, por uma
relação de código de três termos: Sujeito individual - Sujeito social - Objeto. Para me
expressar de outra maneira: Ego-Alter-Objeto, obviamente diferenciado. E isso
pressupõe uma mediação constante, uma "terceiridade", para usar o termo do
filósofo americano Peirce.

Mas esta relação de sujeito para sujeito em relação ao objeto pode ser pensado de
forma estática ou dinâmica, ou seja, pode corresponder a um simples "co-presença"
ou interação "que resulta em alterações que afetam o pensamento e comportamento
de cada indivíduo. A esse respeito, podemos distinguir dois mecanismos que ilustram
perfeitamente essa distinção: a facilitação social de uma parte e a influência social,
de outro. A primeira é que a mera presença de um indivíduo ou grupo torna mais fácil
para um indivíduo aprender ou aprender respostas mais familiares e menos originais.
Como se estivesse inibido, o indivíduo expressa ou retém as respostas dominantes,
comuns a todos. A influência social é que um indivíduo submetido à pressão de uma
autoridade ou grupo adota as opiniões e comportamentos dessa autoridade ou
grupo. O caso mais extremo é a obediência à autoridade estudada por Milgram: uma
pessoa é capaz de infligir
choques elétricos dolorosos a
um estranho porque pediram a
ele para fazê-lo.Sem dúvida,
simplifico muito. Eu precisaria de
um livro inteiro para justificar
cada uma das minhas
declarações e mostrar como
elas correspondem à realidade.
Apresso-me a acrescentar que
um grande número de
psicólogos sociais recorrem a
esquemas análogos, o que leva
a uma série de erros e mal-
entendidos (Moscovici, 1983).
Apesar do interesse e da
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importância do trabalho que inspiraram, eles sempre foram marcados por um caráter
parcial. Mais grave ainda: eles reduziram fenômenos psicossociais aos fenômenos
psicológicos e fenômenos sociais aos fenômenos individuais. E, no entanto, há uma
visão psicossocial que é traduzida por uma leitura ternária dos fatos e
relacionamentos. Sua particularidade consiste em substituir a relação de dois
termos, entre sujeito e objeto, herdados da filosofia clássica, por uma relação de
código de três termos: Sujeito individual - Sujeito social - Objeto. Para me expressar
de outra maneira: Ego-Alter-Objeto, obviamente diferenciado. E isso pressupõe uma
mediação constante, uma "terceiridade", para usar o termo do filósofo americano
Peirce.

Mas esta relação de sujeito para sujeito em relação ao objeto pode ser pensado de
forma estática ou dinâmica, ou seja, pode corresponder a um simples "co-presença"
ou interação "que resulta em alterações que afetam o pensamento e comportamento
de cada indivíduo. A esse respeito, podemos distinguir dois mecanismos que ilustram
perfeitamente essa distinção: a facilitação social de uma parte e a influência social,
de outro. A primeira é que a mera presença de um indivíduo ou grupo torna mais fácil
para um indivíduo aprender ou aprender respostas mais familiares e menos originais.
Como se estivesse inibido, o indivíduo expressa ou retém as respostas dominantes,
comuns a todos. A influência social é que um indivíduo submetido à pressão de uma
autoridade ou grupo adota as opiniões e comportamentos dessa autoridade ou
grupo. O caso mais extremo é a obediência à autoridade estudada por Milgram: uma
pessoa é capaz de infligir choques elétricos dolorosos a um estranho porque
pediram a ele para fazê-lo.
Isso nos leva a definir com mais precisão a maneira pela qual o Alter (individual ou
grupal) pode ser considerado para analisar as relações com a realidade, com o
objeto social ou não social, real ou simbólico. De fato, nos encontramos diante de
outro semelhante, um alter ego, antes de outro, um alter sem mais. Dependendo se
é o primeiro ou o segundo, consideramos fenômenos diferentes. Poderíamos até
dizer que as correntes teóricas e de pesquisa se opõem de acordo com sua
concepção desse "alter". Assim, a maioria das pesquisas sobre grupos tende a
considerar o grupo como um "alter ego" similar ao "ego". No psicodrama ou
dramatização, os participantes são solicitados a adotar a atitude do outro, que é
colocado, por assim dizer, em sua pele. E o que acontece é analisado em termos da
capacidade de internalizar tal atitude. Da mesma forma, em estudos de
conformidade, há uma tendência nos indivíduos de se compararem a alguém
semelhante ou a alguém com quem gostaríamos de nos assemelhar. O desviante
especialmente, que em princípio não tem suas próprias opiniões e posições, tentaria
julgar suas opiniões e comportamentos em termos da maioria dos indivíduos que
incorporam o poder. E eles se conformam para se assemelhar àqueles alter egos
privilegiados.
Por outro lado, outras correntes de pesquisa consideram um "alter" sem mais,
marcado por uma diferença precisa. Refiro-me à pesquisa sobre inovação, por
exemplo, onde a minoria, o indivíduo, expressa uma opinião e um juízo próprios.
Eles são confrontados com uma maioria ou uma autoridade que tem suas próprias
opiniões e seus próprios julgamentos, e isso representa a norma ou a ortodoxia. O
que essas minorias ou esses indivíduos tentam fazer é reconhecer uma identidade
específica e uma diferença clara. Observamos que os dois mecanismos
psicossociais fundamentais, o de comparação social e o de reconhecimento social
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(Moscovici e Paicheler, 1973) correspondem a duas formas de perceber o outro no
campo social.
A partir desses poucos exemplos, surge uma ótica ou abordagem que,
transcendendo a dicotomia "sujeito-objeto", perpassa uma gama de mediações
operadas pela relação fundamental com os outros. Reconheço que isso é apenas
um pequeno deslocamento em relação à chave usual para a psicologia da leitura e,
às vezes, para a sociologia. E até psicologia social clássica marcada pelo
behaviorismo. Mas é um deslocamento que muda tudo. Em primeiro lugar dá a sua
especificidade para a visão psicossocial, que Merleau-Ponty escreveu: "Pelo simples
fato de praticar psicologia social que estão fora da ontologia objetivista, que poderia
permanecer incapaz de exercer sobre o" objeto " dada a coerção que iria prejudicar a
investigação ... Se psicologia social realmente quer ver a nossa sociedade como ela
é ", não pode a partir deste postulado que em si é parte da psicologia ocidental,
como me atreveria a adotar nossas conclusões. O deslocamento operado implica
passar de uma concepção binária das relações humanas, tão difundida, para uma
concepção ternária que, sendo complexa, não é menos rica.
Mas vamos deixar essas contas do farmacêutico. Qualquer que seja o significado
dessa visão, posso dizer que, em primeiro lugar, achamos concretizada nas práticas
da psicologia social. Na maioria dos casos é sobre práticas de observação direta de
relações ou gestos, de reações afetivas ou simbólicas de indivíduos entre eles em
uma situação precisa. Ver é, sem dúvida, mais importante do que ouvir. O
observador, às vezes visível, muitas vezes invisível, está escondido atrás de um
espelho de visão dupla, para ver sem ser visto. O espelho de dupla visão localizado
em nossos laboratórios é o emblema dessa visão psicossocial. Mas encontrei seu
modelo no Narrador de Proust. Considere o olhar deste pesquisador, irrigado pelas
costelas de milhares de experiências e abrigado pela retina da memória: a memória
das coisas lidas, vistas e ouvidas. Este olho mantém cada um dos personagens fixos
em seu próprio lugar: Swann, Odette, Charlus, Albertine, então sabemos quem são
cada um deles. Eu diria que ele os individualiza com grande precisão e sem
misericórdia. Simplesmente piscando com a mudança de luz, que na curva de uma
frase ornamentado, uma observação nos informar que o observador já viu de tudo e
que seu olhar não hesitou invadido pela ternura, ou tenha estado envolvido nas
névoas da nostalgia. Emoções que nos fazem confundir os seres do presente com
suas sombras em outros tempos. Mas esse olho também mantém fixos os eventos
que tecem a história na história - o caso Dreyfus, a Grande Guerra - com a
escrupulidade do cronista que conhece o peso de seu testemunho. No entanto, é
personagens e eventos, os sujeitos individuais e realidades, só adquirem o seu
significado através de temas sociais que estão nas obras de Proust, Du côté de chez
Swann, eu côté de Guermantes, Sodoma e Gomorra Assim, vemos cada
personagem refratado e observado em um círculo de homens e mulheres que
revelam facetas sucessivas da mesma face ou das fibras do mesmo coração.
Seguimos também, de um círculo para outro, da rua para a metade do mundo, do
mundo para o mundo, e cada um se decompõe e recompõe o indivíduo de acordo
com seus convencionalismos. O narrador o observa de acordo com suas próprias
convenções, mas ele o vê como os outros o vêem e da maneira como este reage
com respeito a ele. Proust escreveu: "Nossa personalidade social é a criação do
pensamento dos outros". Ao final dessa triangulação do campo social, o olhar
reencontra os traços de uma realidade, cujo autor pode narrar a teoria. Que o fato de
que a abordagem psicossocial não é a percepção inocente da "comédia humana",
que ele descreve e denuncia simultaneamente com a boa consciência de ver as
coisas como elas são, é evidente. Trata-se da perseguição do tempo e da
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perseguição no tempo de uma intriga entre indivíduos e eventos que criam a
sociedade enquanto a narram. Não vamos esquecer que o processo é realidade. O
psicólogo é o ponto cego dessa abordagem; Eu posso não ver, mas sem ele é
impossível ver.
C. O estudante que, durante seus estudos, passa da psicologia ou da sociologia
para a psicologia social deve fazer um esforço para internalizar essa visão. Eu me
arriscaria a dizer que isso é ainda mais importante do que aprender essa ou aquela
teoria que você freqüentemente esquece mais tarde, retendo apenas o que é mais
necessário dela. O que pode ser mais necessário e permanente do que uma maneira
de ver as coisas? Isso me leva a falar sobre certos "preconceitos" generalizada e
que, nos meus olhos, são verdadeiros obstáculos epistemológicos na acepção do
Bachelard, para alguém que deseja se engajar em pesquisa e prática da psicologia
social. Porque eu os encontrei várias vezes no decorrer do meu trabalho de ensino,
parece útil especificar a natureza desses obstáculos. Eu gostaria de destacar
especialmente dois. A primeira consiste na opinião generalizada segundo a qual
devemos acrescentar um suplemento espiritual aos fenômenos sociais. Em termos
claros, isso significa que o aspecto subjetivo dos eventos da realidade objetiva deve
ser explorado. Por realidade objetiva, devemos entender a realidade econômica e
social. Em geral, as coisas são apresentadas assim. Começamos por analisar os
vários aspectos do sujeito "coletivo": poder, desigualdades econômicas, classe
social, interesses de grupos e muitos outros aspectos. Uma vez constituído o
enquadramento desta forma, encontramos diferenças em relação ao que você deve
pensar ou fazer isso sujeito coletivo se você obedecer ampla determinismo
econômico ou social: negligenciado os seus interesses, não votam deixado em
tempos de crise, e não rebeldes contra o poder, etc. Para dar conta dessas
deferências, são invocados fatores subjetivos: sentimentos, valores, o grau de
consciência social, a influência da mídia, a imagem simbólica e assim por diante.
Então nos voltamos para a psicologia social e pedimos a ele para entender o que "as
pessoas pensam e sentem" - daí a moda das pesquisas - e medir seus efeitos.
O segundo obstáculo mantém uma perfeita simetria com o primeiro. Sabe-se que a
psicologia estuda uma quantidade impressionante de fenômenos: percepção,
raciocínio, ansiedade, desenvolvimento infantil, aprendizado ... só para mencionar
alguns. Mas ele os estuda no indivíduo isolado, como se fosse autista. Assim,
cobramos uma criança para concluir uma tarefa ou para concluir um teste. Mais
tarde, em vista de sua diligência e de seus resultados, concluímos que sua evolução
intelectual segue efetivamente a teoria de Piaget ou Bruner. Então pedimos a um
indivíduo adulto para aprender uma série de sentenças negativas - Pedro não é o
irmão de Pablo - ou no sentido afirmativo: Pedro é o irmão de Pablo. Com a ajuda de
um cronômetro, medimos o tempo necessário para aprendê-los. Com isso, seguindo
a hipótese, descobrimos que, em geral, frases negativas são aprendidas mais
lentamente do que frases negativas. Todos esses procedimentos são perfeitamente
legítimos. Propomos uma importante colheita de fatos, cuja solidez não é
questionada por ninguém. E eu seria o último a fazer isso. Mas também sabemos e
percebemos todos os dias no laboratório que o indivíduo, isoladamente, não deixa
de pertencer ao grupo, a uma classe social. E suas reações mais anódinas são
influenciadas por esse pertencimento. Faça o que fizer e tome as precauções que
você toma, a sociedade está lá. Penetra nas salas mais isoladas do laboratório e
atua nos dispositivos mais sofisticados. Apesar de todos os seus esforços, os
psicólogos não conseguiram inventar uma gaiola de Faraday para o campo social. O
mesmo que os psicólogos e psiquiatras clínicos, que não conseguiram arrumar
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quartos almofadados suficientes para abafar os sons do mundo. Pelo contrário, eles
lançaram luz sobre o que é abstrato e surreal nessa situação do indivíduo.
Assim, para fornecer um suplemento de matéria, de realidade, o psicólogo acredita
que ele é obrigado a estudar os mesmos fenômenos dentro da sociedade, depois de
estudá-los no vácuo social. Naturalmente, instrui a psicologia social a acrescentar
uma dimensão objetiva aos fenômenos subjetivos, a colocar no contexto da
sociedade aquilo que foi analisado fora desse contexto. Desta forma, você é
solicitado a analisar o julgamento social, a percepção social, etc., que qualifica o que
ainda não foi. Obviamente estou simplificando, mas não distorcendo. O fato é que,
para cada um dos dois casos, vemos na psicologia social os meios de satisfazer uma
falta: de um lado, preencher o sujeito social com um mundo interior e, de outro, re-
situar o sujeito individual no mundo exterior, isto é, social. Assim, sua natureza seria
psicológica para alguns e sociológica para outros. Seria, ao mesmo tempo, uma
ciência híbrida e desperdiçada de cada uma das ciências vizinhas.
Os obstáculos epistemológicos estão aí e impedem de ver o que esta ciência tem
por si própria. Considerando tudo, seu presente e seu passado, essa imagem híbrida
não é sua. O caráter original e até subversivo de sua abordagem consiste em
questionar a separação entre o individual e o coletivo, ao responder à divisão entre o
psíquico e o social nos campos essenciais da vida humana. É absurdo dizer que,
enquanto estamos sozinhos, obedecemos às leis da psicologia, que somos movidos
por emoções, valores ou representações. E que, uma vez em grupo, mudamos
abruptamente para nos comportarmos seguindo as leis da economia e da sociologia,
impulsionadas por interesses e condicionadas pelo poder. Ou vice-versa. Longo,
Freud fez justiça e revelou a inanidade desse absurdo: "A oposição entre a
psicologia individual e psicologia social ou psicologia das multidões, escreveu ele,
que à primeira vista pode parecer importante, ele perde muito de sua acuidade
sendo examinado minuciosamente. Não há dúvida de que a psicologia individual visa
homem isolado e tentando descobrir por que dessa forma tenta satisfazer suas
influências instintivas, mas isso é raramente condições -Então apenas em casos
excepcionais, ignorar o indivíduo tomado isoladamente, já que o Outro intervém com
grande frequência como modelo, suporte e adversário, e por isso a psicologia
individual é, antes de mais nada, uma psicologia social neste sentido amplo, mas
plenamente justificado ".
Na realidade, a psicologia social analisa e explica fenômenos simultaneamente
psicológicos e sociais. É o caso das comunicações de massa, da linguagem, das
influências que exercemos umas sobre as outras, das imagens e signos em geral,
das representações sociais que compartilhamos, e assim por diante. Se quisermos
mobilizar uma massa de homens, lutar contra o preconceito, combater a miséria
psicológica causada pelo desemprego ou pela discriminação, sem dúvida maior que
a miséria econômica, sempre nos encontraremos diante do indivíduo e do coletivo
em solidariedade, até mesmo indiscerníveis. A psicologia social nos ensina a
observá-los desta maneira, permanecendo fiéis à sua vocação entre as ciências.
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Atividade de compreensão de leitura:
Responda às seguintes perguntas (em grupos de 3 estudantes)
1. A medida que o tempo passa, como vai se colocando a sociedad? A medida que o
tempo passe, como vai ser sua qualidade de vida e a de sua família?
2. Qual é, segundo o autor, a grande pregunta da psicologia social? E que resposta
você dá para essa pergunta?
3. O autor afirma que não faltam exemplos que ilustrem o conflito entre indivíduo e
sociedade, e cita alguns. Cite outros exemplos.
4. Qual é o objeto da psicologia segundo o autor?
5. A visão psicosocial se caracteriza por atender a uma relação ‘triadica’: Sujeito
individual - Sujeito social - Objeto. Como você entende essa relação?
6. Proust escreveu: “Nossa personalidade social é a criação do pensamento dos
demais”. Como você entende essa afirmação?
7. O autor se refere a dois obstáculos epistemológicos: O que seria psicologizar um
fenômeno social?
8. A que se refere a expressão “os psicólogos não conseguiram inventar uma jaula de
Faraday para o campo social”

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