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Feminismo no Brasil Contemporâneo:

O Percurso Intelectual de um Ideário Político

Anette Goldberg

“Les conditions pour qu'apparaisse un objet de discours, les conditions


historiques pour q u ’on puisse en ‘dire quelque chose9, et que plusieurs person­
nes puissent en dire des choses différentes, les conditions pour q u ’il s ’inscrive
dans un dom aine de parenté avec d ’autres objets, p our qu'il puisse établir avec
eu x des rapports de voisinage, d ’éloignement, de différence, de transformation
— ces conditions, on le voit, sont nom breuses, et lourdes. Ce q u i veut dire
q u ’on ne peut pas parler à n ’im porte quelle époque de n ’im porte quoi; il n’est
pas facile de dire quelquer chose de nouveau; il ne su ffit pas d ’ouvrir les yeux,
de faire attention, ou de prendre conscience, pour que de -nouveaux objets,
aussitôt, s ’illum inent, et q u ’au ras du sol ils poussent leur prem ière clarté.”
(M ichel Foucault)

Preliminares1 duas partes. A prim eira delas, “D a Em an­


cipação Fem inina a um M ovim ento de
M eu objetivo nas páginas que se seguem M ulheres Fem inista” (1963-1978), se refere
será o de exam inar o surgimento e a evo­ às etapas de gênese, institucionalização e
lução de um a problem ática fem inista brasi­ afirm ação social e política do m ovim ento
leira contem porânea, através da análise de fem inista brasileiro ao longo dos anos de
paradigm as e /o u de certas configurações regime autoritário; a segunda p arte, “Das
ideológicas presentes na produção intelec­ M ulheres em M ovim ento ao Fem inism o de
tual não m ilitante, nos textos especifica­ E stado” (1979-1988), diz respeito aos rumos
m ente voltados p a ra a “ em ancipação fem i­ desse m ovim ento desde a “ ab ertu ra” até o
n ina”, o “ fem inism o” , as mobilizações de mom ento atual.
m ulheres e /o u o m ovim ento fem inista, as Propus-me, dentro de um a periodização
relações entre os sexos. que tem como pano de fundo os grandes
Sem pretender ser exaustiva, referir-me-ei momentos de inflexão do processo político
a u m certo núm ero de textos brasileiros nacional desde os anos 60, a enfocar os
publicados em livros e periódicos e a textos diferentes significados e representações que,
não publicados, existentes sob a form a de de m odo im plícito ou explícito, foram
trabalhos universitários (dissertações e teses sendo associados à noção de “fem inism o”
defendidas, comunicações apresentadas em (e suas correlatas), num prim eiro momento
reuniões e congressos). Esse m aterial, um a por ensaístas de diferentes cam pos e disci­
vez organizado cronologicam ente, foi sub­ plinas, e em seguida por cientistas sociais.
metido a um a análise que procurou levar M inha suposição é a de que tais signifi­
em conta os seguintes elem entos: 1.°) M ar­ cados e representações reflitam as configu­
cos de inserção de cada texto (conjuntura rações ideológicas que foram fundam entan­
nacional e orientações predom inantes no do e influenciando discursos e práticas
campo das Ciências Sociais); 2.°) Enfo­ m ilitantes propriam ente ditas, tendo contri­
queis), m arcos teóricos e conceitos utiliza­ buído p ara o estabelecim ento e /o u o fo r­
dos pelo(a) autor(a); 3.°) Concepção vei­ talecim ento de certas fronteiras e hierar­
culada pelo texto a respeito da situação quias ideológicas definidoras dos rumos
da m ulher e /o u das relações en tre os sexos; tom ados pelo movim ento fem inista.
4.°) M odalidades preconizadas de transfor­
Da Emancipação Feminina a um Movi­
m ação da situação da m ulher e /o u das
mento de Mulheres Feminista (1963-1978)
relações entre os sexos,
Este artigo, que apresenta os prim eiros Algumas idéias que já tive a oportuni­
resultados dessa análise, está dividido em dade de expor e desenvolver em trabalhos

42 BIB, Rio de Janeiro, n. 28, pp. 42-70, 2.° sem estre de 1989
anteriores serviram com o prem issas para a que apareceram expressas em escritos “fu n ­
análise dos textos produzidos neste pri­ dadores” da década de 60 e da prim eira
m eiro período co n sid erad o .2 m etade dos anos 70. São elas um paradigm a
A prim eira delas é de que o tipo de que definirei com o m odernizante, através
entrelaçam ento entre “m odernidade” e p ro ­ do qual se tornaram públicos aspectos de
cesso político, que deu especificidade e uma desestabilização nas relações eníre os
criou as peculiaridades da sociedade brasi­ sexos, e u m paradigm a que cham arei de
leira da prim eira década de ditad u ra mili­ evolucionista, através do qual se buscou
tar, não perm itiu que a desesfabiüzação capitalizar essa desestabilização p ara o fo r­
das relações entre os sexos — que então talecim ento de um a determ inada concepção
se verificava no seio das cam adas médias de transform ação social. Q uanto ao p ara­
dos grandes centros urbanos — desse lugar digma ao qual me referirei como estrutu-
ao surgim ento de um movim ento de libe­ ralisía, é certo que ele inspirou nesse perío­
ração radicalizado e subversivo como aque­ do várias especialistas na “ questão da
le que vinha m obilizando no mesmo pe­ m ulher” , mas m uitas delas só se assumirão
ríodo, em sociedades liberais avançadas, como “ fem inistas” — acadêm icas e /o u mili­
m ulheres de mesma geração e cam ada tantes — a p artir de 1979.
social, com trajetórias e questionam entos
“identitários” sem elhantes aos de m uitas O Paradigma M odernizante
jovens brasileiras.
A segunda idéia é a de que o processo Observa-se no Brasil que o desenvolvi­
de endurecim ento e consolidação do regi­ m ento dos anos JK, responsável pelo cres­
m e autoritário nos anos que se seguiram cim ento econômico baseado na industriali­
ao AI-5 selou a união e o compromisso de zação e urbanização aceleradas que trans­
várias m ulheres, sensibilizadas pelas idéias form ou m uitos aspectos do tecido social
dos novos m ovim entos de liberação in ter­ brasileiro, foi tam bém propulsor de m udan­
nacionais e /o u p o r um a "questão da ças no que diz respeito à situação das
m ulher”, com setores dogmáticos da inte­ m ulheres, de desestabilização das relações
lectualidade de esquerda interessados na entre os sexos.
possibilidade de engrossar a ala fem inina N o bojo da efervescência da sociedade
de um a frente da cham ada "sociedade brasileira dos anos 60, à qual já haviam
civil” contra a ditadura, sob o m anto de chegado as pílulas anticoncepcionais, muitas
um propalado fem inism o "bom para o jovens com eçaram a sentir-se incôm odas
B rasil” . com seu “destino de gênero”, passando a
Enfim , a terceira idéia é a de que a questionar valores m orais e m odelos de
inexistência de u m m ovim ento de liberação com portam ento estabelecidos, colocando-se
radicalizado no Brasil do início dos anos questões a respeito de sua identidade e
70 fez com que algumas intelectuais moti­ sexualidade, da liberdade e do amor.
vadas p o r um objeto de estudo “m ulher” , Nesse m om ento, estava em curso tam ­
tenham se lançado a ele sem m uitas inter­ bém um a evolução de m entalidades que
rogações quanto à própria m aneira de abor­ tin h a como texto inspirador e legitim ador
dá-lo, sem denunciar o caráter sexuado de a encíclica Pacem in Terris (1963), onde o
parâm etros teóricos e metodológicos das papa João X X III, discorrendo sobre trans­
disciplinas que o abrigaram , sem contestar form ações sociais e econômicas das socie­
a hierarquização de saberes e de poderes dades m odernas, referia-se ao ingresso da
existente nos espaços acadêmicos. Foi pos­ m ulher n a vida pública, à sua tom ada de
sível assim evacuar de sua trajetória de consciência da necessidade de não ser tra­
“m ulherólogas” certos debates existenciais, tad a como objeto e de sua reivindicação
ideológicos e políticos sobre em ancipação de direitos e deveres “ consentâneos com
e /o u liberação fem inina que lhes diziam sua dignidade de pessoa, tanto na vida
diretam ente respeito, tocando a cam ada fam iliar como n a vida social” .
social e o universo nos quais elas próprias É significativo o fato de que em 1963
se moviam. a E ditora A bril tenha contratado a escri­
O m o vim ento fem inista que emergiu em tora e psicóloga C arm en da Silva p ara as­
1975 e se institucionalizou no período que sum ir a seção “ A A rte de Ser M ulher” na
precedeu a “ab e rtu ra ”, gestado à sombra, revista fem inina Cláudia, onde ela escreveu
nas margens, nos implícitos e nas entreli­ até falecer, em 1985. Seus artigos, publi­
nhas de um a produção jornalística e acadê­ cados em duas coletâneas (Silva, 1966 e
mica, foi a resultante de duas orientações 1967), lidos p o r m uitas futuras “mulheró-

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Iogas” e /o u m ilitantes fem inistas, foram “ Ante a crescente com plexidade da
pioneiros pois tiveram o m érito de abordar organização social e suas exigências
abertam ente problem as da vida cotidiana sobre cada indivíduo, percebeu a
das camadas médias urbanas, to rn ar visí­ m ulher brasileira que já não lhe era
veis as dificuldades de relação entre os possível d esentendesse do processo
sexos e apontar as várias questões canden­ social: sua contribuição, como a de
tes que se colocavam para as m oças da todos, tornava-se indispensável. ( . . . )
época — virgindade, realização amorosa Assim, a m ulher devia pro cu rar um a
e /o u carreira, insatisfações da vida conju­ fórm ula de transição que conciliasse
gal, frustrações sexuais, m aternidade, blo­ os vários aspectos em jogo: seus deve­
queios e culpas. res para com a sociedade, que ela já
M as, além disso, seus artigos foram im por­ não podia ignorar; seus receios quanto
tantes p o r preconizar um dos cam inhos da à própria capacidade; os resquícios de
em ancipação fem inina — através da “rea­ preconceitos, dos quais ainda não se
lização individual” e da “participação pudera libertar; as objeções de seu
social’’ — que será ulteriorm ente incorpo­ m arido, tam bém nascidas do precon­
rado ao ideário fem inista contem porâneo ceito e da desconfiança; e, finalm ente,
brasileiro. os problem as de ordem prática repre­
Assim, a escritora constatava por um lado sentados pela dispersão de sua ativi­
que m uitas m ulheres se sentiam obrigadas dade em dois campos — o la r e o
a o p tar entre a desejada plena realização m undo — com a conseqüente m ulti­
de suas possibilidades como pessoas e a plicidade de tarefas. ( . . . ) Q uando um a
sonhada felicidade amorosa, coisas incom ­ m ulher acha que seu trabalho doméstico
patíveis para o que ela definia cómo um e suas obrigações m aternas justifi­
inconsciente coletivo im buído ainda de sé­ cam-na por não exercer nenhum tipo
culos de tradições, tabus e preconceitos rea­ de atividade socialm ente produtiva (isto
firm ados por um a educação arcaica. é, um a atividade que increm ente o
núm ero de bens e serviços postos à
“ A relação hom em -m ulher é o ter­ disposição de toda a coletividade), ela
reno onde mais freqüentem ente se deve interrogar-se se essa justificação
observa a persistência de conceitos an ti­ tam bém vale para as demais m ulheres
quados, de modos de v er que estão em desde a rainha da Inglaterra até sua
oposição frontal com as mais im por­ própria cozinheira; e quais as conse­
tantes conquistas cientificas, sociais, qüências sociais que adviriam da apli­
políticas e morais dos últim os cem cação universal desse critério.” (op.
anos, como a abolição da escravatura, cit.: 73-74, 78)
o respeito à pessoa h um ana, o reco­
nhecim ento de que o equilíbrio afetivo Um a variante dentro desse paradigm a
é fator decisivo de saúde. E muitas apareceu tam bém no mesmo período, nos
m ulheres — em realidade, quase a escritos de Bueno (1970, 1972), Cardone
m aioria — parecem aceitar com inex­ (1965a, 1965b, 1970, 1975), Fonseca (1970,
plicável com placência o peso dos pre­ 1971), Pim entel (1976) e T abak (1968,
conceitos que sobre elas r e c a i/’ (Silva, 1971), autoras que enfatizavam aspectos
1966:158) jurídicos e form ais determ inantes da con­
“ . . .o problem a fundam ental consiste dição fem inina, preconizando a ab-rogação
em encontrar o ponto justo em que a das discrim inações legais e /o u de fato que
m ulher se insere n a sociedade como atingiam as m ulheres, prejudicando sua
pessoa, com o ente social, como ser integração e participação social. D ata de
independente. O m odo de se realizar então tam bém a dissertação de M estrado
como criatura hum ana. O caminho não publicada de Soihet (1974), que fez
p ara a afirm ação individual. T udo isso u m levantam ento histórico descritivo da
sem provocar conflitos no lar, sem sa­ atuação de Bertha Lutz na lu ta pelos direi­
crificar a felicidade doméstica, sem tos fem ininos levada n o início deste sé­
prejudicar a condição de esposa, mãe, culo. 3
com panheira do hom em , educadora A influência desse paradigm a pôde ser
dos filhos.” (op. cit.: 61. G rifado pela constatada pelo teor das comunicações apre­
autora) sentadas no Conselho N acional de M ulhe­
res de 1972, na sem ana de Pesquisas sobre
M as ela tam bém afirmava: o Papel e o Com portam ento da M ulher

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Brasileira em 1975 e ao Senado Federal, (inadaptação, instabilidade, anorm alidade)
nos marcos da Comissão P arlam entar de e, enquanto tal, confinada à discreção e
Inquérito — CPI da M ulher, em 1977. Em à opacidade do âm bito privado.
todos esses eventos verificou-se o grande Acrescente-se a isso o fato de que essas
interesse p o r questões relacionadas à edu­ m ulheres se moviam dentro de u m grupo
cação e socialização diferenciadas, à trans­ social econom icam ente privilegiado, mas
missão de estereótipos sexuais pela arte e fortem ente im buído de um sentido de mis­
pelos meios de comunicação, aos direitos são histórica com relação às enorm es desi­
da m ulher (G oldberg, 1987a). gualdades sociais existentes no país, num
É interessante observar que, além dos m om ento em que um regime político auto­
textos já citados, publicou-se no período ritário se encontrava em plena consolida­
considerado um a boa quantidade de trab a­ ção, o que só contribuía p ara o estabeleci­
lhos de divulgação centrados na emanci­ m ento espontâneo de um a h ierarquia que
pação fem inina cujos autores, entre os m inim izava os seus “problem as pessoais"
quais alguns homens (Lins, 1967; Moraes, diante de todos os problem as do povo e
1971; M eira Penna, 1972; Boff, 1974), de­ d a nação brasileira. Elas se sentiam fu n ­
fensores da “ m odernidade” e /o u católicos dam entalm ente cúmplices de seus parceiros
progressistas, contribuíram para a difusão masculinos em penhados num a “lu ta social”
de u m pensam ento que defendia por um de distintos matizes e desejavam, antes de
lado a participação e a “ m issão” fem ininas mais nada, participar.
na sociedade m oderna (Fram m , 1968; Sa­ Bases ideológicas p ara esse quadro se
raiva, 1972) mas, p o r outro lado, advogava encontram nos trabalhos de W erneck (1965),
a necessidade da com plem entaridade entre S tudart (1969, 1974), e Toscano (1976). A
os sexos (Silva, 1973). prim eira dessas autoras, trabalhando com
as noções de infraestrutura e superestru­
O Paradigma Evolucionista tura, sociedades centrais e periféricas, de­
senvolvim ento e subdesenvolvim ento, em
Se questões da vida cotidiana e da esfera voga na literatura sociológica da época,
privada foram temas predom inantes e as­ assim analisava a situação da m ulher.
suntos candentes p ara m uitos jovens dos
anos 60, elas apareceram dissociadas de “ Em decorrência da diversidade de
tudo aquilo que, situado n o terreno do estágio em seus desenvolvim entos,
“social” e da política, tin h a então valor ocorrem gradações na situação da
especial p ara ambos os sexos. Consideradas m ulher de um país p ara outro. ( . . . )
m enores do que as grandes questões da As transform ações na situação da
revolução, elas eram tratadas, já no seio m ulher ocorrem na m edida em que o
das organizações de esquerda dos anos 60, desenvolvim ento perm ite sua incorpo­
num quadro de respeito a essa hierarquia. ração ao trabalho produtivo em escala
E com o endurecim ento do regim e autori­ crescente. ( . . . ) A s transform ações de­
tário após o A to Institucional n. 5, elas correntes da participação fem inina na
foram ora simplesmente tachadas de con- produção atingem paulatinam ente os
tra-revolucionárias e esquecidas, o ra con­ diferentes setores da vida social, em­
finadas à invisibilidade dentro dos grupos b ora com lentidão m aior no que diz
de oposição clandestinos. 4 respeito à superestrutura — aspectos
A “conversão à m odernidade” traduzida jurídicos, costumes, cultura, etc.” (Wer­
pela ru p tu ra com valores e padrões de com­ neck, 1965:333-4)
portam ento seculares era um fenôm eno cir­
cunscrito a u m setor de esquerda das cama­ Já Studart, alinhando-se à teoria de Engels
das médias dos grandes centros urbanos. sobre a derrota histórica do sexo fem inino
O ra, p ara m uitas m ulheres desse segmento (do m atriarcado) causada pelo advento da
m inoritário cujo distanciam ento do “desti­ propriedade privada e da sociedade de clas­
no de gênero” foi em m uitos casos expres­ ses, considerava que a m ulher, condenada
so p o r um a certa ousadia ou mesmo radi- pela cultura a viver apenas o seu “papel
calidade de opções existenciais, essa vivên­ biológico” e lim itada às tarefas domésticas,
cia — pontilhada de ambigüidades e con­ tornava-se um ser hum ano de segunda
tradições e experim entada com muitos categoria. Por conseguinte, ela advogava a
medos e hesitações — já p o r si só um participação fem inina no m ercado de tra­
tanto ou quanto culposa, era freqüentem en­ balho como um prim eiro passo p ara a liber­
te representada como patologia pessoal tação; o segundo passo seria, logicamente,

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a participação política num a luta por uma “Nos anos que se seguiram ao Golpe
sociedade sem classes. de Estado de 37, o M ovimento Femi­
nista, como aliás todas as associações
“O s m ovimentos fem inistas em todo com fins ainda que rem otam ente polí­
o m undo são, hoje em dia, m uito atuan­ ticos, entrou em recesso, dada a cen­
tes, mas infelizm ente im pregnados de sura e a forte repressão policial. Em
emocionalismo. A m aioria deles tem 1942, com a entrada no Brasil na
caráter anarquista e é composto de guerra, houve um certo recrudescim ento
doidivanas. Veja-se o caso de grande das atividades fem inistas. Como já
parte dos m ovim entos liberacionistas havia sucedido n a E uropa e nos Esta­
norte-am ericanos. Eles não situam os dos Unidos, tam bém no Brasil a arre-
males da condição fem inina no siste­ gim entação ideológica a favor da causa
ma, mas no macho da espécie. Algu­ dos Aliados, bem como necessidades
mas se lançam em guerra caricata objetivas e urgentes de conquista da
contra o hom em , considerando-o até, de opinião publica, deram novo sentido
m aneira grotesca, um a form a obsoleta ao fem inism o: as cam panhas de propa­
de vida. O utros elogiam o homosse­ ganda e de esclarecimento, mais a mo­
xualism o. ( . . . ) Este fim de século está bilização nacional visando disciplinar o
marcado pela revolta dos povos opri­ esforço de guerra, facilitariam a união
midos e tam bém pela das mulheres das m ulheres das mais diferentes con­
conscientes. Se elas souberem repudiar dições sociais e faixas de idade, em
o individualism o, com preender que a torno do cham ado ‘esforço de g u erra”’.
sua lu ta não está em nível de queim a (Toscano, 1976:55-6. G rifado por mim)
de sutiãs, mas no terreno jurídico, polí­
tico e social, então alcançarão, pelo É interessante observar que Toscano,
trabalho, um lugar ao lado do homem mem bro do Centro da M ulher Brasileira
nas tarefas do futuro. ( . . . ) O s m ovi­ do R io de Janeiro, prim eira associação
m entos fem inistas mais racionais lutam “neo-fem inista” fundada em 1975, nomeia
pela profissionalização da m ulher, por como “fem inistas” grupos de m ulheres que,
igualdade de salários, por sua entrada enquanto existiram , não haviam adotado tal
m aciça nos sindicatos e associações de denom inação, de resto reservada pelos m ar­
classe.” (Studart, 1974:44) xistas ortodoxos brasileiros às mobilizações
fem ininas ditas pequeno-burguesas. E essa
O trabalho acadêm ico de m aior fôlego autora assim prossegue, introduzindo a
concluído no período, dentro do paradigm a idéia do “bom fem inism o” já expressa por
evolucionista, foi a tese de Livre-Docência Studart, igualm ente mem bro do C entro da
de Toscano (1976). Nesse estudo, dividido M ulher Brasileira:
nos itens "Fem inism o", “T rab alh o ”, “A
M ulher na Política” e “A M ulher T rab a­ “As cam panhas p ara obter agasalhos
lhadora e os Sindicatos”, a autora trata do de lã p ara os soldados, os cursos de
que ela caracteriza como a defasagem entre emergência visando a p reparar enfer­
a presença crescente da população fem inina m eiras, as ações populares p ara a cole­
brasileira no m ercado de trabalho e o seu ta de borracha, sucata e alum ínio, para
“desem penho social restrito ” , com provado se citar apenas alguns exem plos, deram
pelo seu “alheiam ento da área das decisões oportunidade de se im prim ir ao fem i­
políticas”. Em conseqüência, ela defende a nismo um a nova feição social menos
idéia de que a principal tarefa das organi­ voltada para reivindicações especifica­
zações fem inistas é a mobilização das m u­ m ente fem ininas e m ais interessadas
lheres com vistas à participação social e em desenvolver o espírito associativo
política, sem o que o processo de integração das m ulheres em torno de bandeiras
das mesmas à força de trabalho não pode­ de lu ta que afetavam a sociedade como
ria ser completo. u m todo.
N a parte dedicada ao fem inism o, Toscano P o r o u tro lado, as dificuldades su r­
faz um a reconstituição histórica do “m ovi­ gidas face à carestia e à inflação, a
mento fem inista” no Brasil, onde aparece ação dos agentes do câmbio negro e
um a periodização em duas fases: a prim eira, dos sonegadores de gêneros de prim ei­
os anos 20 deste século, m arcada pela cam ­ ra necessidade, a agitação em torno
panha do voto fem inino, e a segunda entre de teses nacionalistas tam bém serviram
1942 e 1962. de motivação p ara intensas cam panhas

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feministas, por esta época, num a frente fem inista liberal, são explicitadas as idéias
única que chegou a u n ir m ulheres das de tom ada de consciência por parte das
mais diferentes tendências políticas. m ulheres dos problem as da sociedade, da
A p a rtir de 1944, surgem as Ligas necessidade de p articipar do processo de
Feministas, 5 com orientação política de transform ação social e da im portância do
esquerda, alentadas pelo Partido Comu­ trabalho como força liberadora.
nista Brasileiro, este por um curto pe­
ríodo de tem po na legalidade. ( . . . ) Do “Conquanto não tenha obtido pleno
program a de atividade das Ligas Femi­ êxito e nem tenha contado, mesmo na
ninas que atuaram até 1964, constavam sua fase do apogeu, com a adesão de
como prioritários os seguintes pontos: grandes massas fem ininas, desem penhou
lu ta contra a demolição das favelas; relevante papel no que diz respeito ao
cam panhas p ara a instalação de creches despertar da consciência da m ulher não
e de bibliotecas infantis; lu ta pela apenas p ara os seus problem as, como
independência econômica nacional tam bém p ara todos os problem as do
(cam panha do petróleo) e, finalm ente, m undo m oderno que, em últim a instân­
contra a carestia. ( . . . ) Nesse período, cia, a afetam direta ou indiretam ente.
foi intensa a aliança das associações A organização do movim ento fem inista
fem ininas de tendências mais popula­ no Brasil, apesar de ter resultado da
res com os sindicatos em que predo­ im portação de idéias que não encontra­
m inavam m ulheres. T anto nos m ani­ vam m uito eco na sociedade brasileira
festos como nos abaixo-assinados e nas (neste sentido, teria, se tivesse tido
entrevistas à im prensa, ficava clara a pleno êxito desde seu início, criado um
preocupação das fem inistas de esquer­ grande hiato en tre a legislação referen­
da em buscar o apoio das m ulheres te à m ulher e as verdadeiras relações
trabalhadoras sindicalizadas.” (op. cif.: sociais que a inferiorizavam ), inoculou
56-7) em boa parcela das m ulheres a aspi­
ração de libertar-se e de emancipar-se
O Paradigma Estruturalista através do trabalho. ( . . . ) Deste ângu­
lo, sua ‘im portação p rem atura’ operou
U m estudo sociológico m uito im portante como fator positivo, porquanto perm i­
produzido nos anos 60 foi M ulher na Socie­ tiu certa concom itância entre o am a­
dade de Classes, M ito e Realidade (Saf- durecim ento das idéias fem inistas e o
fioti, 1976). A presentado originalm ente em avanço da m ulher em determ inadas
1967 como tese de Livre-Docência à Facul­ áreas como as do trabalho fora do lar,
dade de Filosofia, Ciências e Letras de Ara- da educação, da participação na vida
raq u ara em São Paulo, publicado pela pri­ social em geral.” (Saffioti, 1976:274)
m eira vez em 1969 e reeditado em 1976
quase sem modificações, ele perm aneceu E ainda, p ara essa autora:
como referência obrigatória para as pesqui­
sas sobre m ulher no Brasil. Sua autora "C om o o conteúdo revolucionário da
desenvolveu um a análise, segundo um a praxis fem inista pequeno-burguesa é
perspectiva “dialética m arxista”, onde pole­ dado pelas aspirações de ascensão
mizava com as correntes ideológicas desen- social alim entadas sobretudo pelos es­
volvimentistas e evolucionistas e tentava tratos inferiores das cam adas interm e­
dem onstrar que a inferioridade social da diárias da sociedade de classes, num
m ulher derivava de um a necessidade estru­ esforço de expansão estrutural do sis­
tu ral do sistema capitalista, concretizada na tem a não chega a p ô r em cheque os
exclusão de um num eroso contingente fem i­ fundam entos do status quo. D esta pers­
nino da estrutura ocupacional. Essa exclu­ pectiva, se o fem inismo pequeno-bur-
são, segundo ela, não podia ser explicada guês objetivava e ainda visa a estabe­
pelas teorias naturalistas a respeito da lecer a igualdade social entre os sexos,
m ulher e tam pouco tinha raiz na “ tradi­ ele não representa senão u m a m odali­
ção” ou no “ atraso” econômico. dade de consciência utópica no senti­
É nesse estudo de Saffioti que aparece do de desejar e lu tar p o r um a trans­
sistem atizada, pela prim eira vez, um a visão form ação parcial da sociedade, acredi­
de conjunto das “m anifestações fem inistas” tando ser possível conservar intactos
no Brasil desde o começo deste século e os fundam entos desta. ( . . . ) N a ver­
onde, no bojo de um a crítica à orientação dade, não existe u m fem inism o autô­

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nom o, desvinculado de um a perspec­ ração da “ consciência-reflexo” —■ aquela
tiva de classe. E o fem inismo pequeno- pela qual o indivíduo só existia através
-burguês constitui, no fundo e incons­ do olhar de outro — e, na aquisição de
cientem ente, dado que as cham adas um a autoconsciência qiie, aliada a um a
“ classes médias” cam inham a reboque postura ativa diante do m undo, conduziria
das classes sociais antagonicam ente si­ a um a verdadeira libertação.
tuadas no sistem a de produção, um P o r outro lado, M uraro (1967, 1969,
feminismo de classe dom inante, pois 1970) considerava as m ulheres um a força
tem fornecido inestimáveis subsídios à do lado da vida (porquanto possuidora de
ideologia das sociedades com petitivas qualidades essenciais inerentes à condição
sem classes e sem sistemas de sexo. Se de mãe) n um m undo de desigualdades
bem analisado, o fem inismo pequeno- sociais, de ausência de comunicação e des­
-burguês se revela não como um a agu- personalizado, caracterizado pela m anipula­
dização das tensões sociais, m as, ao ção do ser hum ano pela cultura de massas
contrário, como um mecanism o de e dom inado p o r valores belicistas m asculi­
atenuação dessas tensões, operante não nos. Essa autora, influenciada pelo pensa­
apenas no nível das sociedades nacio­ m ento católico de esquerda, preconizava
nais, mas tam bém no plano internacio­ nos anos 60 um a contestação de tal m o­
nal. ( . . . ) O fem inismo classista ( . . . ) delo a p artir da contracultura da juven­
colocou o problem a d a m ulher n a de­ tu d e e da tom ada de consciência d a m ulher
pendência do desenvolvim ento econô­ quanto ao seu papel histórico. M as suas
mico, que estaria sendo obstruído por posições com relação ao fem inismo oscila­
estruturas arcaicas e jam ais pelos inte­ ram n o período analisado entre o apoio a
resses dos países altam ente desenvolvi­ todas as iniciativas viáveis n a nova con­
dos.” (op. cit.: 132-3) ju n tu ra voltadas p ara a situação das m ulhe­
res, e um a orientação que ela própria defi­
Em bora Saffioti constatasse que o “fem i­ niu como “fem inism o da fom e”, aplicável
nismo socialista” não tin h a obtido êxito às sociedades onde a estrutura de classes
total na em presa de liberação da m ulher e o sistema de dom inação faziam com que,
porquanto, segundo ela, o socialismo não segundo ela, um movim ento de liberação
havia atingido ainda sua plena m aturidade, só pudesse ser eficaz se fosse assumido
essa autora considerava tal perspectiva mais pelas m ulheres das camadas mais desfavo­
correta, na m edida em que correlacionava recidas e integrado a um a lu ta “mais geral”
igualdade social com pleta entre os sexos e contra o Estado, pela transform ação social.
o desenvolvim ento econômico-social das Já o artigo de Lafer (1975), um dos
sociedades socialistas. poucos do período que escapou ao “parti-
Cabe aqui observar que as reconstitui­ cipacionism o” generalizado, abordava o
ções históricas feitas por Saffioti e por Tos- tem a da em ancipação fem inina a p artir dos
cano localizavam a prim eira vaga de fem i­ novos problem as de identidade experimen­
nismo no Brasil nos anos 20 deste século, tados pelas m ulheres e das novas dificul­
quando da lu ta fem inina pelo direito de dades de relacionam ento entre os sexos.
voto. Foi só graças ao prim eiro livro publi­
cado em português da historiadora norte- Mulher: De Sujeito em Questão a Objeto
-americana H ahner (1978), que se tom ou de Estudo
conhecim ento da existência de um a pu jan ­
te im prensa fem inista em ancipatória no país Com o endurecim ento do regime auto­
na segunda m etade do século X IX , fenô­ ritário no final dos anos 60, o debate in te­
meno ainda pouco estudado até agora. lectual aberto sobre a em ancipação fem i­
Cabe tam bém citar outros ensaios do nina e /o u o fem inism o propriam ente dito
período ora analisado que, sem se enqua­ foi abortado (assim como o debate sobre
drar totalm ente em um dos paradigm as vários outros “ism os”) só se m anifestando
mencionados, constituíram variações origi­ m arginalm ente, de m aneira esporádica, em
nais em torno do tem a da em ancipação alguns periódicos da cham ada “im prensa
feminina. alternativa” (G oldberg, 1982b). Entretanto,
Para K tihner (1966, 1967, 1977), a em an­ se a questão da individuação e da em an­
cipação da m ulher não podia ser reduzida cipação fem ininas, vistas do ângulo da p ar­
à cham ada “libertação sexual”, devendo ticipação social e /o u política das m ulheres
consistir, além da necessária m as insufi­ das cam adas m édias urbanas intelectuali­
ciente conquista de direitos, num a supe­ zadas, ficou durante alguns anos tão engas­

48
gada quanto a questão da transform ação rão no período posterior inaugurando um a
da sociedade, o mesm o não se deu com im portante linha de estudos sobre as esfe­
relação a certos aspectos de um a “ questão ras com binadas da produção e da repro­
da m ulher” que passaram a ser enfatizados dução da força de tra b a lh o .6
e que foram paulatinam ente conform ando D escritivas e quantitativas em sua m aio­
um a nova área de pesquisas das Ciências ria, algumas dessas pesquisas, traziam ainda
Sociais. subjacente a m arca do paradigm a evolucio-
Algumas linhas tem áticas recobriram a n ista com respeito à necessidade de parti­
grande m aioria dos trabalhos acadêmicos cipação da m ulher na força de trabalho,
do período analisado. Mais indireta do que tendendo a enfocar o fenôm eno da condi­
diretam ente, estes estudaram a população ção fem inina sob o ângulo do atraso eco­
fem inina brasileira, graças a agências fin an ­ nôm ico, do subdesenvolvim ento, da ausên­
ciadoras que incentivaram , no início dos cia e /o u da exclusão das atividades consi­
anos 70, estudos demográficos e sociológi­ deradas produtivas. O utras, já influencia­
cos sobre a reprodução hum ana e sobre a das pelo estruturalism o e pela “ teoria da
força de trabalho, cujos resultados foram dependência”, em penhavam-se em “ tornar
im portantes sobretudo por terem contribuí­ visível o invisível”, analisando a situação
do para dar visibilidade a um “fato fem i­ da m ulher trabalhadora de um ângulo que
n ino” na sociedade brasileira. buscava cap tar justam ente sua presença na
A p artir de 1975 emergiu, ao lado das força de trabalho em atividades desvalori­
poucas “ m ulherólogas” pioneiras, um a se­ zadas onde ela passava desapercebida e era,
gunda geração de pesquisadoras que, pelos enquanto tal, discrim inada e explorada.
mais diversos cam inhos, tinham sido leva­ E ntre 1975 e 1978, com o surgim ento das
das a eleger a m ulher como objeto de estu­ prim eiras associações fem inistas, deu-se a
do de suas dissertações de M estrado e /o u assunção do feminismo por parte de várias
teses de D outorado e cujos trabalhos foram especialistas na “questão da m ulher”. Mas
desenvolvidos predom inantem ente nas áreas é im portante observar, não de todas. E os
de Sociologia da Educação e do T rabalho. significados atribuídos à palavra “fem inis­
N a área de Educação eles versavam sobre m o” variaram , em função da própria arti­
o processo de form ação de estereótipos culação com plexa que se estabeleceu entre
sexuais na escola, na fam ília e através dos pesquisadoras especializadas em m ulher
meios de comunicação; sobre os condicio­ (vinculadas a associações fem inistas ou não)
nam entos culturais que regiam as escolhas e m ilitantes fem inistas (de diferentes ten ­
profissionais fem ininas; sobre papéis dências).
sexuais. O D epartam ento de Pesquisas Edu­ Como já foi dito, as associações fem i­
cacionais da Fundação Carlos Chagas e sua nistas surgidas no Brasil em 1975 nasceram
publicação Cadernos de Pesquisa tiveram , de um compromisso que acabou conduzin­
desde 1971, im portância fundam ental no do-as a integrar, d u ran te o período que
fom ento, no respaldo institucional e na precedeu a “ab ertu ra” do regime, um mo­
divulgação de tais estudos que, desenvol­
vim ento de pressão em prol da anistia e
vidos dentro de um leque de opções teóri­
cas variadas, traziam principalm ente a da ab ertura dem ocrática, denom inado “fe­
m arca inspiradora do paradigm a moderni- m inista” porque incorporava a um progra­
zante. ma de reivindicações “gerais de toda a so­
Na área do T rabalho surgiram inúm eros ciedade” certos itens “específicos das mu­
estudos monográficos sobre emprego do­ lheres” .
m éstico, domiciliar e no cham ado “ setor O ra, se esse compromisso, naquele con­
inform al” , assim como sobre certas profis­ texto, convinha p o r um lado a feministas
sões. Foram tam bém divulgados e explora­ sensibilizadas pelos • m ovimentos de libera­
dos resultados de pesquisas mais abrangen­ ção das m ulheres em outros países — que
tes que haviam revelado im portantes dados acreditavam na possibilidade de obter do
estatísticos sobre, por exem plo, a formação Estado autoritário a m elhoria de alguns
profissional da m ulher trabalhadora e a aspectos da situação fem inina e visavam a
mão-de-obra fem inina n o Brasil. M anifes­ am pliação de seu espaço de atuação — e,
tou-se um a tendência a relacionar a edu­ p o r outro lado, a m ilitantes de um a esquer­
cação e a participação da m ulher nas ativi­ da reform ista, ele estava longe de expressar
dades econômicas e despontaram tam bém politicam ente interrogações, orientações teó­
as primeiras tentativas de relacionar em pre­ ricas e convicções ideológicas de muitas
go fem inino e vida fam iliar, que se afirm a­ das “m ulherólogas”.

49
É interessante ler num artigo de Campos tenham sido tão pouco ousadas, tão
(1979) o relato sobre as oposições, as dúvi­ respeitosas de lim ites e prioridades em
das e as perplexidades que atravessavam term os de fem inism o?” (Costa, 1987:2)
sua equipe de pesquisa em 1977, sinteti­
zadas pela autora em quatro oposições: su­ Se a relação entre m ilitantes fem inistas
jeito versus objeto de análise; contradições e “m ulherólogas” foi tensa nesse período,
de sexo versus contradições de classe; visão é im portante observar que, não tendo sido
psicológica versus visão sociológica; pensa­ engendradas em grupos de autoconsciência,
mento versus ação. O ra, é fácil constatar as pesquisas sobre m ulher não reuniram
q u e tais oposições, que em outros contextos inicialm ente certos insum os necessários p ara
haviam-se explicitado nos debates entre enfrentar debates teóricos e polêm icos me­
diferentes tendências dos novos movimen­ todológicas que ocasionassem rupturas de
tos de liberação das m ulheres, não tiveram cordões um bilicais que as uniam a disci­
grande ressonância no m ovim ento fem inis­ plinas e instituições.
ta brasileiro até 1979. De um lado, o medo à repressão e a
As divergências de m uitas intelectuais incipiência do fem inismo radical, confina­
com relação ao discurso fem inista predom i­ ram alguns poucos grupos de autoconsciên­
nante e às práticas ditas fem inistas que se cia a um a clandestinidade envergonhada,
desenvolveram no país entre 1975 e 1978, carregada de todos os equívocos que reves­
aliadas ao reduzido cam po de possibilidades tiam suas representações estigm atizantes ■ —
para a elaboração e a difusão de discursos grupos de conscientização política, grupos
e práticas alternativas talvez explique p a r­ de lésbicas e /o u terapêuticos — e retarda­
cialm ente a situação assim descrita por ram a apropriação p o r cientistas sociais de
Costa, Barroso & Sarti (1985): noções como a de “opressão p atriarcal” . De
o u tro lado, a clandestinidade dos grupa­
“ Os pesquisadores viveram neste m entos políticos im pediu, até p o r medida
período (1975-1978) sob intenso fogo de segurança, u m a defesa aberta de um a
cruzado: o dos colegas da com unidade concepção fem inista de “dupla m ilitância”
acadêm ica e das agências de financia­ — contra a opressão de classes e de sexos.
m ento, p ara quem deviam incessante­ Em vista disso, a “conversão” de intelec­
m ente p rovar que sua atividade era tuais ao fem inism o se lim itou em muitos
científica e não de denúncia m ilitante, casos apenas a se dedicar a “estudar
e o das fem inistas, p a ra quem preci­ m ulher”, adotando pontos de vista que
savam p rovar seu desinteresse num a foram às vezes até mais inovadores do que
carreira pessoal e seu em penho num a certos conteúdos veiculados pelo próprio
causa coletiva. Feministas para a co­ movimento fem inista. Mas mesmo quando
m unidade acadêm ica e acadêm icas para essa.conversão tem ática foi conseqüência de
as fem inistas, as pesquisadoras viveram militância ou estim ulou o ingresso num
perigosam ente nesta zona fronteiriça de grupo fem inista, houve a negação (cons­
tensão e am bigüidade.” (op. c it; 6) ciente ou inconsciente) da presença de
opressão m asculina nas esferas da vida fa ­
Mas talvez essa situação possa ser pen­ m iliar, profissional e política onde elas p ró ­
sada desde u m prism a mais instigante, como prias se m ovim entavam . Assim sendo, os
sugere o trecho abaixo: homens — seus parceiros amorosos, aliados
políticos e colegas de profissão — foram
“Buscávamos, tam bém , entender por­ poupados de m odo geral: o “priv ad o ” e o
que as m ulheres de form ação universi­ “p úblico” perm aneceram com partim entados
tária sensibilizadas pelas idéias fem i­ e as relações de poder nessas esferas invi­
nistas, ao contrário de suas congêneres síveis; politicam ente se investiu solidária
am ericanas, não elegeram a Academia e prioritariam ente nas “lutas gerais”, e
como u m de seus cam pos de batalha academ icam ente se estudou sobretudo os
prioritários, em bora tenham lutado pelo problem as das outras mulheres.
reconhecim ento da legitim idade de seu Esse “bom com portam ento” valeu-lhes
objeto de estudo. Como pano de fundo um a com placência paternalista, com respeito
paira a questão. Por que um fem inismo ao objeto de estudo “m ulher”, e algumas
tão bem com portado? O nde está a ex­ possibilidades de ocupação de espaços insti­
plicação p ara o fato de que algumas tucionais. N ão é de se estranhar a quase
m ulheres que foram tão radicais em inexistência no período, à exceção dos
suas vidas e em suas opções políticas poucos trabalhos já m encionados, de estu­

50
dos passíveis de ser enquadrados num a Mais ainda do que na prim eira parte
rubrica “fem inism o” ou mesmo “m ulher e deste artigo, p o rtan to , faz-se necessário
política". introduzir a análise dos textos p o r um a
A total ausência de questionam ento de caracterização do período, o que será feito
cânones e conceitos fundam entais das dis­ por interm édio de algumas constatações que
ciplinas que estudavam a política, o confi- funcionaram com o prem issas orientadoras
nam ento do político (le politique) à esfera do exam e do m aterial nele produzido e do
d o Estado e suas instituições, fez com que seu enquadram ento em determ inadas con­
a representação dom inante do vínculo entre figurações ideológicas.
“ m ulher e política” fosse naturalm ente A prim eira constatação é a de que o pro­
derivada do “ participacionism o”, traduzin­ cesso político que se inaugurou em 1974
do a orientação ideológica que preconizava e teve curso na segunda m etade dos anos
o aum ento da participação fem inina no 70 trouxe enorm es esperanças p a ra mais
eleitorado, nos sindicatos, nos partidos e, de um a geração de intelectuais de esquerda.
se e quando possível, a ocupação de cargos E ntretanto, os limites da nova situação
eletivos a nível estadual e /o u federal. Ora, tinham sido claros desde o começo e, den­
essas preocupações quantitativas não encon­ tro desses lim ites, o campo de atuação
traram terreno de aplicação fértil durante estava fadado a ser irrem ediavelm ente res­
os anos de autoritarism o, um a vez que a trito.
co njuntura não estim ulava nem uíerecia A “ transição negociada” do regime auto­
m aterial em pírico m uito substancioso que ritário brasileiro processou-se, a p artir da
servisse p ara atualizar e /o u m odificar os segunda m etade dos anos 70, com a p ru ­
dados de que já se dispunha a respeito da dência e os necessários compromissos que
pequena participação e reduzida represen­ supunha o projeto de “distensão lenta e
tação política das mulheres. gradual” do presidente Ernesto Geisel, tal
qual explicitado no discurso que p ronun­
D as Mulheres em M ovimento ao Feminismo ciou na prim eira reunião de seu ministério
de Estado (1979-1988)? em 19 de m arço de 1974:
Os significados e as representações de
“ fem inism o” e de “ m ulher e política” vei­ "P refiro ver os instrum entos excep­
culados pela produção intelectual deste cionais não tanto em exercício d ura­
novo período foram surgindo como im a­ douro ou freqüente, antes com o po ten ­
gens efêm eras de u m caleidoscópio, no qual cial de ação repressiva ou de conten­
se superpuseram e se sucederam configu­ ção mais enérgica ( . . . ) até que sejam
rações ideológicas espelhadas num fundo superados pela im aginação política cria­
turvo, reflexos de certos acontecimentos dora, capaz de instituir, quando for
aparentem ente im previsíveis e incontrolá- oportuno, salvaguardas eficazes dentro
veis que iam alterando o panoram a polí­ do contexto institucional ( . . . ) e depen­
tico com um a rapidez assustadora. Elas derá necessariam ente de que o espírito
serão aqui cham adas de inovadoras, de sexo- de contestação de m inorias trôpegas ou
-classista, de participacionista-reformista e transviadas acabe p o r exaurir-se ante
de participacionista-liberal. o repúdio geral” . 8
Tais configurações ideológicas emergi­
ram, o ra reafirm ando e atualizando para­ Em 1979, quando a presidência da R epú­
blica foi entregue ao general João Figuei­
digmas antes existentes, ora rejeitando-os,
redo, encarregado de aplicar as reform as
ora estim ulando o surgimento de novos
políticas da “ transição dem ocrática” , o Mo­
prism as de apreensão da “questão da
m ulher”, novos significados e representa­ vim ento D em ocrático Brasileiro — MDB —
ções do fem inism o. Elas se fizeram presen­ único p artid o legal de oposição, que acolhia
tes atravessando a produção intelectual do em seu seio desde os matizes políticos mais
campo das Ciências Sociais (sem se lim itar Jiberalizantes aos m ais radicalizados — era
apenas à área denom inada “estudos sobre um grande m ovim ento de pressão que abri­
m ulher”), e os textos que tratam de “fem i­ gava intensa atividade de vários setores da
nism o”, de “m ulher e p olítica”, de relações cham ada “ sociedade civil”, mas trazia
entre sexos ao longo da década em curso marcas dos quinze anos de ditadura m ili­
refletem tam bém , além das tendências que tar então transcorridos. Como bem o carac­
se enfrentaram n o cam po do feminismo, a terizaram Velasco e Cruz & M artins, ana­
evolução do te o r dos debates a respeito lisando os resultados de eleições parlam en­
dos rum os da sociedade brasileira. tares realizadas em 1974:

51
“T endo anulado o ato reflexo de re­ A realidade comprovou o dito segundo
jeição, o autoritarism o acabara por o qual “ as aparências enganam ” . N a ver­
m oldar um a oposição acorde ao seu dade, a simples possibilidade de ampliação
feitio. A vara n a assunção de riscos, de u m espaço de expressão e de participa­
adiando p ara um futuro longínquo a ção na m esm a política estava sendo eri­
consecução de objetivos mais ambicio­ gida como liberadora em si m esm a por
sos, atendo-se à defesa dos direitos m uitos cientistas sociais que, já com mais
hum anos, à reivindicação das liberda­ de 30 anos, nunca tinham tido sequer a
des form ais e da norm alização institu­ oportunidade de escolher pelo voto um pre­
cional, o MDB chega a ganhar alguns sidente da R epública; era com preensível
pontos, mas nem de longe poderia ser que, para m uitos, a recusa e /o u a impos­
visto com o am eaça à estabilidade da sibilidade de atu ar politicam ente num a
ordem política estabelecida”. 9 sociedade odiada fosse se m etam orfoseando
na crença n a possibilidade e no anseio de
Tais marcas de m oderação e precaução influir no desenrolar dos destinos da nação
continuaram influenciando a atuação polí­ dali em diante.
tica da m aior parte dos intelectuais de A terceira constatação diz respeito ao
esquerda mesmo após a “ab ertu ra” e defi­ fato de que a desestabilização das relações
niram certos contornos da “N ova R epú­ entre os sexos, to rn ad a m ais visível do que
blica” , incidindo tam bém sobre a constru­ nunca no início dos anos 80 devido à série
ção e a reconstrução de discursos sobre de assassinatos de m ulheres das camadas
fem inismo e ou “ m ulher e política” , foi num m édias u rb an as p o r seus com panheiros,
quadro de recato e de prudência que os tenha m obilizado m uitas fem inistas em
intelectuais de esquerda — hom ens e m u­ to rno de coletivos de tipo SOS, sem no
lheres — puderam revitalizar um im agi­ entanto desem bocar num m ovim ento de
nário reprim ido durante anos e reatualizar grande envergadura. E nquanto reportagens
seu sentido de “missão histórica” a cum prir. jornalísticas, debates radiofônicos, novelas
Assim, ao longo d a prim eira m etade dos e seriados televisivos tornavam públicos p ro ­
anos 80 a “ ditad u ra m ilitar” passou a ser blemas e dificuldades das relações entre
vista como u m “governo de transição” ; os os sexos n a v id a p riv a d a ,.despolitizando-os
defensores das utopias mais radicais de ao veiculá-los com o meras facetas da
“revolução” ou de “ transform ação social”, “m odernidade”, m ilitantes fem inistas de
que haviam idealizado a construção de um a distintas tendências m antinham encobertos
sociedade alternativa, foram-se restringindo aspectos de suas pró p rias vidas privadas,
às esperanças de um projeto de democracia enquanto reivindicavam publicam ente novas
liberal; a idéia de novas form as de “parti­ leis (entre as quais a de descriminalização
cipação” social e política p o r parte de a m ­ do aborto) e assum iam tarefas assistenciais
plos setores “excluídos” o u “ marginaliza­ e /o u de “ conscientização” de outras m ulhe­
dos” foi sendo substituída pela defesa da res. 11
noção clássica de “representação”. Essas constatações conduzem a u m a di­
A segunda constatação, na m esma ordem mensão crucial do processo de m udança
de idéias, diz respeito a um a defasagem social brasileiro, cuja m agnitude aparece na
entre certas caracterizações e representações grande m aioria dos textos sobre “ feminis­
agigantadas de fenôm enos então existentes m o ” e sobre “m ulher e política” do perío­
na sociedade brasileira e os rum os reais do ora analisado: a ausência, por parte das
do processo sócio-polítíco global, para os fem inistas e d a esquerda em geral, de ques­
quais apontavam tendências distintas que tionam entos fundam entais dos poderes que
rapidam ente se to rn aram predom inantes. atravessam todas as relações sociais condu­
Isso se verificou principalm ente entre' 1979 zindo a um a apreensão verdadeiram ente
e 1982, quando u m a boa parte d a produção n ova do “ político” . Contrapõem -se de um a
intelectual “descobriu” e passou a super- m aneira ou de outra a ta l tendência certos
valorizar os “ novos m ovim entos sociais” . textos onde se enco n tram reflexões enri-
U rbanos e populares p ara alguns, alterna­ quecedoras a respeito do processo de cons­
tivos e de m inorias p a ra outros, nesses tituição de novos sujeitos sociais e /o u polí­
m ovimentos se pstaria construindo uma ticos e sobre a relação e n tre os movimentos
nova relação com o Estado, estariam sociais e os poderes (L obo, 1985a; 1985b
se forjando “novas identidades sociais” , e Pinto, 1985; 1987), assim como sobre o
“novos sujeitos políticos”, “novas relações em pobrecim ento da n o ção de autonom ia
sociais”. 10 (Miguel, 1987). Esse conceito —• tão caro

52
aos m ovim entos “ alternativos” europeus e fundar novos grupos. Foi especialm ente
tão im portante p ara os m ovimentos de libe­ im portante nesse processo de assunção de
ração das m ulheres — perdeu n o Brasil um fem inism o de novo tipo o surgim ento
suas conotações mais utópicas, tendo-se de coletivos de tipo SOS voltados o ra para
traduzido pela idéia de “independência com práticas relacionadas com o corpo, a saúde
relação aos p artidos” e sido utilizado, sobre­ e a sexualidade fem ininas, o ra p a ra a ques­
tudo, como divisor de águas entre a con­ tão da violência.
cepção “ aparelhista” de '■‘m ovim entos de N o espaço de um ano, en tretanto, a m aio ­
m assa” dos m arxistas ortodoxos e um a con­ ria desses grupos novos ou renovados
cepção de “ dup la m ilitância” que se afir­ entrou em crise, vendo-se num ericam ente
m ou na esquerda a p artir da organização reduzidos e com as atividades paralisadas,
dos novos partidos em 1980. o que contrastava curiosam ente com uma
presença fem inina m aciça nas organizações
O Feminismo em M ovim ento político-partidárias, onde a “ questão da
m ulher”, graças à difusão do fem inismo,
A lei de A nistia de 1979 perm itiu o re­ tinha-se tornado tema de debate e item
torno ao país de m uitas m ulheres que du­ obrigatório dos program as e de plataform as
rante o exílio — seu ou de seus com panhei­ eleitorais em preparação.
ros — haviam tom ado contato com a expe­ Em 1982, pela prim eira vez após o golpe
riência dos m ovim entos de liberação euro­ m ilitar de 1964, os cidadãos brasileiros
p eus e que tinham se “ convertido” a um poderiam eleger governadores p ara todos
feminismo um pouco diferente do que se os Estados, além de senadores, deputados
vinha praticando no país. Este era um pro­ estaduais e federais, vereadores e prefeitos.
duto híbrido de determ inadas emanações Os grupos fem inistas foram secionados por
das correntes “ luta de classes” e “radical” um a dinâm ica desgastante de divergências e
dos m ovimentos de liberação das mulheres conflitos em torno do apoio a um ou outro
na E uropa, orientações que haviam estado partido de oposição, a um (a) ou outro(a)
ausentes do ideário fem inista predom inante candidato(a), já que todos os partidos opo­
n o Brasil no período anterior.12 sicionistas encam param candidatos e plata­
E ntre 1979 e 1981 essas “retornadas” form as eleitorais com reivindicações form u­
ingressaram nas associações fem inistas exis­ ladas por fem inistas. N aquele m om ento, os
tentes e em grupo de m ulheres no interior poucos coletivos que lograram continuar
dos quais o consenso político estava há suas práticas de form a relativam ente inde­
m uito periclitante, contribuindo sobretudo pendente foram os grupos SOS, onde se
p ara a introdução de u m debate sobre as m isturavam fem inistas socialistas com
relações de sexos/gêneros, sobre o próprio dupla m ilitância e fem inistas radicais.
fem inismo e seu vínculo com a m udança Os resultados das eleições de novembro
social e política, sobre questões polêmicas de 1982, nas quais houve um a grande vitó­
como a ênfase na igualdade ou nas dife­ ria do PMDB, m aior p artido da oposição
renças, o pluralism o, a autonom ia (debate (e um aum ento de m ulheres eleitas em
até então obnubilado por um a propalada com paração a pleitos anteriores), abriram
necessidade de consenso e de união em novos horizontes para a intelectualidade em
torno das lutas “ mais gerais” ). As reações geral e constituíram novo m om ento de
não se fizeram esperar e muitas cisões ocor­ inflexão para o movimento fem inista b ra­
reram em todo o país. sileiro, que foi se desm obilizando à medida
O fracionam ento das prim eiras associa­ que o fem inism o foi se institucionalizando.
ções fem inistas esteve relacionado tam bém
com outro aspecto do processo político •— As Configurações Inovadoras
o térm ino em 1980 do bipartidarism o e a
organização de novos partidos. Com o apa­ Em 1979, graças à divulgação da baga­
recim ento ou a reativação de canais trad i­ gem cultural inovadora de algumas figuras
cionais de representação política, muitas m inoritárias na vida política dos brasileiros
m ilitantes adeptas da orientação m arxista no exílio, deu-se a difusão pelos meios de
ortodoxa abandonaram seus grupos fem i­ com unicação da “política do corpo” e de
nistas ou passaram a privilegiar abertam ente certos ecos de m ovimentos “alternativos”
velhas form as de ativismo nos partidos e europeus, ampliando-se o campo de possi­
estruturas sindicais legais, o que possibili­ bilidade p ara que então se tornassem pú­
to u às “retornadas” e m ilitantes mais blicas questões ditas “da vida cotidiana",
jovens ocupar espaços desertados por essas para que as esquerdas abraçassem causas
primeiras fem inistas e transformá-los, e /o u de “m inorias oprim idas” — mulheres,

53
negros, homossexuais — e questões ecoló­ alguns grupos feministas. M as não lh e foi
gicas. possível consolidar um verdadeiro movi­
Surgiram nessa conjuntura algumas m ani­ m ento de liberação das m ulheres. P ara isso,
festações de um campo ideológico que dire­ teria sido provavelm ente necessário que a
ta ou indiretam ente abriu novas direções grande m aioria das fem inistas privilegiasse
para a reflexão a respeito de “m ulher e em sua própria prática existencial e política
política” e de “fem inism o”, contrastando a questão da opressão de sexo, que exis­
com os paradigm as anteriorm ente exam ina­ tisse um a experiência de identificação e
dos: textos “anti-autoritários” (M ântega, fortalecim ento individual acum ulada em
1979); textos que estudaram o sistem a pa­ grupos de autoconsciência, que se fizesse
triarcal e as relações conflituais entre os um questionam ento generalizado dos pode­
sexos (D ’Ávila N eto, 1980); textos sobre a res e se sonhasse com a autonom ia dos
fem inilidade e a m asculinidade, que conti­ micro-experimentos sociais alternativos.
nham a idéia de um a “ cultura fem inina” Mesmo que nos anos mais recentes as
e valorizavam a diferença, em lugar da pro­ utopias não tenham encontrado terreno
palada igualdade de sexos, revelando a m uito fértil, um a perspectiva ideológica
existência de um tipo de dominação espe­ autonom ista continuou sendo contem plada
cífica (A zam buja, 1979; M atos, 1979; em alguns textos (Lobo & Paoli, 1982;
Prado, 1979; 1980); textos suscitados por Paoli, 1984; Lobo, 1985a; 1985b), onde o
uma reflexão sobre as violências dirigidas movimento fem inista contem porâneo brasi­
contra as m ulheres (A lbano & M ontero, leiro é apresentado como mais próxim o aos
1982; Corrêa, 1981 e 1983); textos sobre movimentos de liberação, e onde certos dis­
as novas relações entre os sexos nas cam a­ cursos “ alternativos” m inoritários, que de
das médias u rb a n a s .13 vez em quando ainda ressoam aqui e ali,
E ntretanto, o anti-autoritarism o “im por­ tendem a ser percebidos como indícios da
tado” , ao contato com a sociedade brasi­ prim azia do “ novo” sobre o “velho” —
leira do início dos anos 80, foi atingido o que continua a ter, sem dúvida u m papel
pelo fenôm eno da desradicalização política, ideológico im portante nos debates e nas
precocem ente detectada nas linhas transcri­ lutas políticos atuais das fem inistas.
tas abaixo:
A Configuração Sexo/ Classista
“Nossas precárias tentativas de libe­
ração correspondem às conquistas O binôm io sexo/classe aparece principal­
dessa época, devidam ente m anipuladas m ente em textos sociológicos e antropoló­
pelo poder e pela Indústria C ultural gicos de inspiração m arxista estruturalista.
com ajuda de nossa angústia. Mas A problem ática dos autores com respeito
fazer o jogo do poder não é tentar ao feminismo, dentro dessa orientação teó­
usufruir dessas conquistas, e sim fechar rica, pôde ser aprim orada no Brasil a par­
os olhos p ara a mistificação que elas tir de 1979, graças à influência da corrente
contêm . Fazer o jogo do poder é encar­ fem inista socialista dos novos movimentos
cerarmo-nos na ilusão da radicalização de liberação das m ulheres internacionais,
sem crise, da reestruturação sem deses- cujas revisões teóricas do m arxism o já
truturação — ilusões típicas de uma vinham servindo de suporte para um a série
classe que tem estruturas razoavelm ente de estudos da ru b rica “m ulher e trab alh o ”
confortáveis a perder.” (M ântega, e que continuaram a inspirar trabalhos so-,
1979:53) ciológicos e antropológicos situando uma
Já o fem inismo radical, que term inou “ questão da m u lh er” na com binação do pro­
sendo principalm ente apanágio das lésbicas, cesso de reprodução da força de trabalho
ao estabelecer com o p rioritário o combate com o capitalism o patriarcal.
a todas as m anifestações de um a “cultura Como relata Campos (1979), as pesqui­
patriarcal” e não propriam ente a um “sis­ sadoras tiveram grandes vacilações quanto
tem a p atriarcal”, acabou tendendo a refor­ a incorporar questões explicitam ente femi­
çar um a corrente liberalizante no com bate nistas à pesquisa, correndo o risco de pare­
às discrim inações sexuais exercidas em cer d a r m aior im portância a “interesses de
todos os níveis e sobre todas as classes sexo” (em últim a análise a seus próprios,
sociais dentro do sistem a vigente. Isso ocor­ de m ulheres pertencentes a um a camada
reu após um curto período em que defen­ social privilegiada) do que aos “interesses
soras dessa corrente haviam logrado afirm ar de classe” (da grande m aioria das brasi­
suas idéias e estim ular novas práticas em leiras).

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E ra m uito forte entre os cientistas sociais como tarefa trad u zir sua m otivação o ri­
no final dos anos 70 a tendência a consi­ ginal em proposições que sejam rele­
d erar que nada havia de com um entre vantes p a ra a grande m assa de m ulhe­
problem as das m ulheres “burguesas” (mili­ res desprivilegiadas, de m odo a m obi­
tantes fem inistas) e problem as das mulheres lizá-las p ara um a m esa contra a opres­
exploradas enquanto trabalhadoras. Assim, são de sexo e de classe.” (op. cit.:
ao dilem a ideológico (e prático) criado por 118-9. G rifado pelo autor).
essa visão, alguns textos buscaram se con­
trapor dando u m tipo de resposta viven- Essa visão foi corroborada pelo fato de
cial e m ostrando justam ente a existência que m uitas m ilitantes fem inistas e /o u pes­
de algo de com um en tre m ulheres de cam a­ quisadoras (m ilitantes ou não) passaram
das sociais m uito diferentes (G rupo Ceres efetivam ente a dirigir sua atuação p ara lutas
1981; M oraes & Silva, 1981; M uraro, 1983). em bairros e com unidades das periferias
Mas a solução do dilem a, encontrada quan­ urbanas, onde donas-de-casa e m ães se re u ­
do o m ovim ento fem inista começou a ad­ niam , organizavam-se e mobilizavam-se,
qu irir grande visibilidade e a ter im pacto geralmente com apoio da Igreja católica,
sobre as cam adas populares, já não poden­ por questões do cotidiano •— carestia, sa­
do ser simplesmente desconsiderado como neam ento, eletricidade, pavim entação —
u m “fenôm eno burguês”, foi dada por sua e /o u ditas “específicas” como a da carência
inclusão (e conseqüente diluição) n a cate­ de creches (Alm eida, 1979; Blay, 1980;
goria dos “novos m ovim entos sociais”. 14 Campos, 1980 e 1982; C hiriac & Padilha,
D essa form a, a adaptação brasileira da 1982; G ohn, 1981; M achado, 1983).
corrente “ lu ta de classes” dos m ovim entos Para Blay (1980), essas m ulheres abriam
de liberação das m ulheres internacionais novos cam inhos em term os de participação
tam bém sofreu um processo de desradica- social no Brasil, agitando bandeiras que dei­
lização. Contrapondo-se a u m a concepção xavam de ser apenas “fem ininas-fem inistas”
m arxista que preconizava um a principali- e passavam a reunir hom ens e m ulheres,
dade cronológica das lutas pelas transfor­ a sensibilizar diferentes classes sociais.
mações sociais, das quais adviriam m udan­
ças n a situação das m ulheres, o novo ideá­ “ A tendência derivada dessa base se
rio fem inista socialista brasileiro passou a orienta no sentido de que se am plie a
defender um a simultaneidade das lutas de participação popular nos vários seto­
classe e de sexo, sem no entanto questio­ res. Começa-se a contestar a presença
n ar a inevitável hierarquização contida nas de um Estado ou de grupos paterna­
categorias "g eral” e “específica”. listas em troca de u m a p lena partici­
P ara Singer (1980), p o r exem plo, o fem i­ pação de todos. ( . . . ) Lar e nação dei­
nism o era apenas um a form a entre outras xaram de ser dois pólos isolados e pas­
de m obilizar m ulheres, visto que os p a rti­ saram , através d a participação sócio-
dos políticos e a Igreja tam bém desde há -política das m ulheres, a ser aspectos
m uito organizavam pessoas de sexo fem i­ de um a mesma estru tura social que
n ino em torno dos cham ados objetivos p a ra ser m elhor organizada, deverá
gerais (grifado no texto pelo autor). Segun­ sofrer profundas m odificações.” (op.
do ele; cit.: 69)

“As dem andas do m o vim en to fem i­ Já outras pesquisadoras preferiram se


n ista não com petem com os objetivos debruçar sobre as fábricas e as operárias,
d a luta geral pela transformação social o que fez com que um a v ariante da mesma
m as constituem u m a contribuição ori­ configuração se voltasse p ara as práticas
ginal e irrecusável p ara um program a visíveis e “invisíveis” contra a exploração
q ue vise mais do que a alteração fo r­ capitalista em setores específicos da indús­
m al das estruturas. Cabe aos demais tria (Chinelli e t alii, 1980; Caulliraux, 1981;
engajados n a mesma luta aceitar estas G itahy et alii, 1982; Moysés, 1982), no
dem andas, incorporando-as não só aos campo (Ferrante, 1983), p ara a apreensão
objetivos finais, m as às atitudes tanto e a caracterização do envolvim ento fem i­
pessoais como políticas aqui e agora. nino em atividades sindicais (Brito, 1982;
( . . . ) O fem inismo que se p retende crí­ 1984a; 1984b).
tico das estruturas opressoras que atin­ é interessante constatar que a p artir do
gem as outras m ulheres (assim como começo dos anos 80, foi-se tornando cada
o conjunto dos trabalhadores) tem vez mais difícil fazer referência a mobili­

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zações de m ulheres das cam adas populares p ara uma política de representação em suas
dissociando-as por com pleto do movim ento formnv; m ais tradicionais, a qual recobrou
— ainda com batido e /o u m enosprezado por im portância principalm ente p ara os setores
m uitos — que se autodenom inava fem inis­ da oposição então vitoriosos.
ta. C om eçou a ser difundida então, princi­ P ara fem inistas que preferiram aprofun­
palm ente entre os grupos de esquerda, a d ar teórica e praticam ente a linha de “sexo
idéia segundo a qual existiria no Brasil um e classe”, ficou aberta a possibilidade de
am plo m ovim ento de m ulheres no seio do integrar um pólo de oposição à oposição
qual o fem inism o seria apenas um a cor­ e investir em atividades junto a m ulheres
rente (nociva p ara alguns e de vanguarda de cam adas populares, o que pôde ser via­
p ara outros). Essa idéia veio reforçar um a bilizado graças a alguns financiam entos a
tendência que já vinha se consolidando projelos de “pesquisa-ação” . Alguns desses
entre m uitos intelectuais cujo prism a de projetos, lidando especialm ente com a ques­
apreensão da realidade e posicionam ento tão da saúde e da reprodução, têm logra­
ideológico transparecem no texto a seguir: do m anter certa independência crítica com
relaçiü.o às políticas do E stad o -e implem en­
“ Sem dúvida as operárias têm pre­ tado localm ente ações alternativas. Mas são
conceito e restrições ao ‘fem inism o’. iniciativas extrem am ente m inoritárias e pro­
N ão questionam , en tretanto, os objeti­ blem áticas na atual conjuntura, tentadas em
vos ou as propostas defendidas pelos vários pontos do país mas que aparente­
grupos fem inistas, desconhecidas ou m ente só “ vingaram ” em estados do N or­
m al interpretadas ainda, pela m aioria deste e do N orte. Já tendo sido relatadas
das lideranças operárias. Porém se fun­ em alguns trabalhos (A rruda, 1987; Ávila,
dam entam , basicam ente, na idéia de 1987), elas m ereceriam um exame aprofun­
que a lu ta fem inista dividirá o movi­ dado que as dim ensões deste artigo infeliz­
mento mais geral de transform ação m ente não comportam .
social, colocando as m ulheres contra
os hom ens, e na afirm ação de que as A Configuração Participacionista-Reformista
fem inistas priorizam as questões sexuais
e relegam a u m segundo plano toda a São representantes dessa configuração os
base m aterial que engendra a opressão trab ílh o s de Ciência Política e de Socio­
que sofrem as m ulheres nas sociedades logia que deram continuidade ao pensa­
capitalistas. O pano de fundo real mento evolucionista que, no período ante­
desta posição é, por um lado, a influên­ rior, estava orientado pela noção da ausên­
cia do discurso daqueles que despre­ cia e da necessidade do aum ento (quanti­
zam as questões ideológicas e conside­ tativo) participação fem inina no processo
ram a luta das m ulheres contra a opres­ de transform ação da sociedade brasileira.
são específica a que estão sujeitas como Em texto divulgado no m om ento em que
secundária e sem im portância, rebai­ as piim eiras associações ditas “fem inistas”
xando o problem a da transform ação da se cindiram dando origem a novos grupos
sociedade ao nível puram ente economi- e /o u se reorientaram , encam pando discur­
cista. E, por o u tro lado, o isolam ento sos dos m ovim entos de liberação das mulhe­
dos grupos fem inistas que não têm res, T abak (1979) negava-lhes a especifici­
(salvo em algumas ocasiões) consegui­ dade, incluindo-as na categoria geral de
do articular form as eficientes de traba­ “ associações fem ininas” . Inspirando-se em
lhar com as m ulheres das cam adas idéias sobre a em ancipação da m ulher do
populares, ficando praticam ente fecha­ lider com unista italiano Togliatti, essa cien­
dos em si mesmos, desenvolvendo um tista política m encionava o im portante po­
fem inismo ‘auto-referenciado’.” (Leite, tencial de pressão na luta pela dem ocra­
1982: 148) cia que poderia constituir um “ movimento
feminino” . E ntretanto, ela advertia:
A pós a vitória m aciça do PMDB nas elei­
ções de 1982, a euforia m ovim entista (femi­ “ Ao que tudo indica, o raio de ação
nista entre outras) foi arrefecendo no seio das associações fem ininas é necessaria­
da intelectualidade, à m edida que a noção mente lim itado. Sendo verdade que elas
de participação, como form a de pressão ou constituem instrum ento da m aior im­
de constituição de novos sujeitos políticos, portância p ara atrair as m ulheres para
foi se esmaecendo ao mesmo tem po em que a ação política, principalm ente as donas
se ampliava o cam po de possibilidades de casa, desem penhando assim o papel

56
de degrau de iniciação na lu ta reivin- eleger como representantes parlam en­
dicatória, as organizações fem ininas de tares em todos os n ív e is. . . tanto
massa não podem substituir os p arti­ m elhor p a ra o avanço do movim ento
dos políticos na luta mais difícil pela fem inista e a vitória de suas idéias.”
plena igualdade de direitos e pela em an­ (T abak, 1982b: 12. G rifado pela autora)
cipação social.” (op. cit.: 20)
Uma atualização interessante da confi­
Nessa linha de idéias, evoluindo com a guração participacionista-reform ista encon-
ampliação do campo de possibilidades ofe­ tra-se nos trabalhos de A lam bert (1980a;
recido pela conjuntura, a mesma autora 1980b; 1980c; 1986), que procurou incor­
passou a preconizar o aum ento da parti­ po rar à visão dogm ática dos com unistas
cipação fem inina nos processos eleitorais e brasileiros algum as reflexões m odernizadas
nas instâncias decisórias (T abak, 1981 e pelo “euro-com unism o” a respeito da em an­
1982a). E com o p ara ela o progresso da cipação da m ulher que, na prática, apro­
“ condição fem inina” dependia da represen­ ximam-na de u m fem inism o liberal. Segun­
tação fem inina em todas as instâncias de do essa autora, já não se tratava de esperar
poder m unicipal, estadual, federal e da que um a revolução socialista emancipasse
atuação parlam entar das eleitas, esses pas­ as m ulheres, mas sim que estas, unidas,
saram a ser os temas de suas pesquisas ao lutassem p o r seus direitos e p o r igualdade
longo dos anos 80 (T abak & Toscano, 1982; com os hom ens, contribuindo assim para o
T ab ak , 1984 e 1985). É interessante obser­ progresso e renovação das democracias.
v ar que T abak, apesar de não ter ignorado Fazendo autocrítica das posições comunís-
o debate sobre a “ autonom ia” travado no tas-ortodoxas quanto à utilização do m ovi­
interior de todos os grupos fem inistas em mento de m ulheres p ara grandes lutas
1981, que tiveram então de se definir com gerais, ela procurou definir novas orienta­
respeito à relação com os novos partidos ções p ara a relação entre o m ovim ento femi­
políticos, m anteve-se coerente com suas nista e o m ovim ento dem ocrático, sem p ro ­
posições: priam ente questionar a hierarquia do “ espe­
cífico/geral” mas reconhecendo a especifici­
“Se aceitamos a tese de que o fem i­ dade das organizações fem inistas, por ela
nismo é m ovim ento político orientado enquadradas indistintam ente nas categorias
para m u d ar a condição da m ulher, para “ movim ento de m ulheres” e “ movimento
assegurar a esta plena igualdade em fem inista” .
relação ao o u tro sexo, é preciso com­ Algumas autoras abriram debate com
preender que a instituição que p o r sua essas idéias e em preenderam análises qua­
natureza e seu p róprio caráter trava a litativas sobre a form a pela qual os novos
luta no plano político é o partido. É partidos contem plaram a “ questão da
através dele que a luta é form alizada m ulher” em seus program as e plataform as
e as dem andas são explicitadas e colo­ eleitorais (Silva, 1981 e 1982) e sobre os
cadas na arena adequada: os órgãos obstáculos encontrados pelas fem inistas mi­
que exercem o poder. ( . . . ) A expe­ litantes partidárias nos novos partidos (Gui-
riência de todos os países indica que v ant, 1985). Aliás a própria T abak (1987),
é fundam ental q u e as m ulheres estejam bem m ais recentem ente, fazendo uma des­
tam bém nos p artid o s políticos, e não crição m uito pouco alentadora da partici­
apenas nas organizações criadas para pação fem inina no processo eleitoral para
defender interesses específicos. A in­ a A ssem bléia C onstituinte, deplora a per­
fluência das m ulheres fem inistas dentro m anência de aspectos clientelísticos e mani-
das organizações partidárias é certa­ pulatórios no interior dos partidos, iá cons­
m ente m uito m aio r e naqueles países tatados anteriorm ente p o r Blay (1982b) em
onde a tradição da participação fem i­ sua pesquisa sobre as prefeitas. Mas T abak
nina nos p artid o s é m aior, as reivin­ se lim ita a um a expressar uma espécie de
dicações das m ulheres e seus interesses queixum e, não chegando a se interrogar
específicos têm um a presença muito sobre as bases mais profundas dessa repe­
mais forte e m elhorias na condição tição.
fem inina são m uito m ais facilm ente P or outro lado, o processo eleitoral de
alcançadas. ( . . . ) Q uanto m aior o 1982 e seus resultados suscitaram um a série
núm ero de m ulheres fem inistas que se de estudos quantitativos e qualitativos de
afiliarem a p artid o s políticos, consegui­ distintas tendências e matizes sobre a par­
rem galgar postos de direção, fazer-se ticipação política fem inina (Blay, 1982a;

57
O liveira, 1983; Pimentel, 1983; Pinheiro, de novos sujeitos políticos, de sociedade
1983; São Thiago, 1983). Iniciaram-se pes­ alternativa.
quisas regionais sobre o comportamento A conseqüência disso foi que se num
político da m ulher (Baquero, 1982; Baque- m om ento anterior o diálogo e a polêmica
ro & Prá, 1985), m erecendo especial des­ im plícita ou explícita entre m ilitantes e /o u
taque os estudos de A velar (1982, 1984, mulherólogas tin h a tido como referencial
1985 e 1987), que vem desenvolvendo uma um a certa caracterização do “ movimento
linha de reflexão bastante inovadora na fem inista” enquanto um possível m otor de
Ciência Política brasileira, aplicando a transform ação social (julgado bom, ruim ,
noção de construção de gêneros à análise adequado ou não ao Brasil, etc.), a p artir
do voto fem inino e ao exam e de certos de 1983 o *' novim ento” (fem inista o u de
estereótipos consagrados a respeito de m u­ m ulheres) deixou de ser o interlocutor por
lheres e política. Percebe-se, de maneira excelência de um as e outras. Transform adas
geral, n a literatura mais recente, uma ten­ em novas atrizes de um a m esma política,
dência n o sentido de estudar a presença foi o movim ento que passou a ter de se
das m ulheres na vida política, onde se pri­ definir com relação a essas interlocutoras
vilegia um a abordagem qualitativa e com­ institucionais cada vez mais visíveis, que
preensiva do fenôm eno da participação. assumiam sua representação. P ara as mes­
mas, como a sociedade brasileira estava
A Configuração Participacionista-Liberal vivendo um im portante processo de m udan­
ça — a transição dem ocrática — parecia
A qui, diferentem ente dos tópicos ante­ legítimo e válido investir em tal processo
riores, não se trata de enquadrar numa onde o Estado se colocava como um inter­
categoria textos que defendam um a orien­ locutor privilegiado das fem inistas e ace­
tação ideológica liberal propriam ente dita. nava com um espaço consideravelm ente
Trata-se apenas de registrar um a postura am pliado p a ra u m a atuação no sentido da
derivada da atração que essa tendência m elhoria da situação das mulheres.
passou a exercer sobre a intelectualidade O trabalho coletivo financiado pela
de esquerda brasileira, especialm ente desde U N IC EF e coordenado por Barroso (1982),
1983, o que ficou p aten te em certas opções cuidadoso e abrangente diagnóstico geral da
individuais e coletivas e transpareceu numa situação da m ulher brasileira, que pode
m udança qualitativa do teor dos debates ser considerado a obra global de referência
políticos travados a p artir de então. mais im portante do período ora analisado,
A quele espírito de missão de mais de traduzia já em seu próprio título — M ulher,
uma geração de cientistas sociais, que se Sociedade e Estado — u m a p ostura inte­
havia form ado em torno da idéia de “revo­ lectual bem distinta daquela que havia
lução” e de “ socialismo” foi sendo paula­ fundam entado n o final dos anos 60 o tra ­
tinam ente reconduzido, redirecionado. Os
balho pioneiro de Saffioti, M ulher na
discursos ideológicos mais difundidos
foram expressando essa m udança: já não Sociedade de Classes: M ito e Realidade.
se preconizava um a participação na socie­ Do conjunto de textos reunidos por Bar­
dade e /o u na vida política para m udar o roso, podia-se depreender que se o Plano
sistem a e abolir u m Estado de classes (e da D écada da M ulher adotada pelos países-
tam bém , eventualm ente, de “ gêneros”), mas -membros da O N U em 1975, visando ace­
desejava-se participar das estruturas do lerar a obtenção de iguais oportunidades
Estado e suas ramificações para intervir para m ulheres e sua plena integração na
nos rum os da sociedade brasileira, p ara ins­ vida nacional, não tin h a tido grandes chan­
taurar no país um a dem ocracia na qual os ces de ser aplicado na conjuntura brasileira
cidadãos (entre os quais as m ulheres) pode­ dos anos 70, o Program a de Copenhague
riam usu fru ir de políticas de bem-estar de 1980, que estabelecia a necessidade de
social. criação de um a instituição central no mais
Dessa tentação não escaparam m uitas alto nível do governo e de um a ampla
fem inistas provindas de diferentes horizon­ cadeia de extensões, na forma de comis­
tes, p ara as quais, com m uita rapidez, sões, cargos o u posições, inclusive nos níveis
noções como “ am pliação e ocupação de da A dm inistração local, assim como grupos
espaços n a esfera pública” e “ representação” de trabalho nos diferentes ram os da A dm i­
quase se converteram num a u topia substi­ nistração, podia ser considerado como reali­
tutiva a idéias cada vez mais distantes e zável, logo desejável. Assim, entre as reco­
vagas com o a de “ liberação”, de surgim ento mendações finais do livro figuravam a im-

58
plantação de um sistem a de creches, de política fem inina na disputa do espaço
serviços básicos de saúde e a criação de um público.” (Blay, 1982a: 12)
m inistério da Condição Feminina.
A p artir de 1983, como um grupo de Com a entrada de m ulheres nas assesso-
afiliadas ao PMDB era favorável à instala- rias políticas e órgãos adm inistrativos nos
ção de organismos estaduais para com bater Estados onde o PMDB havia elegido gover­
as discrim inações à m ulher, foi criado o nadores, as instâncias governam entais pas­
prim eiro Conselho E stadual da Condição saram a ser o lugar de atuação privile­
Fem inina em São Paulo, seguido pelo de giado das representantes institucionalizadas
Minas G erais e do P araná, instituições que do m ovim ento fem inista, que se aplicaram
estiveram longe de o b ter a unanim idade desde então na im plem entação a nível esta­
das fem inistas entre as quais existia, cada dual de m edidas voltadas para questões
vez mais m inoritária, a posição de m anter unificadoras de dem andas sociais e mobili­
seu movim ento distanciado das esferas zadoras de um ponto de vista eleitoral —
institucionalizadas de poder e do Estado. creches e saúde principalm ente. E a nível
Cabe observar, a propósito dessa diver­ federal as energias fem inistas giraram, nos
gência, que a defesa da institucionalização últim os anos, em torno das iniciativas do
era uma posição conseqüente com a evolu­ Conselho N acional dos D ireitos da M ulher
ção da noção de “ autonom ia” como uma e se concentraram principalm ente nos deba­
“categoria relativa” (Miguel, 1987), tal qual tes sobre itens da nova C onstituição recém-
vinha sendo em pregada e difundida pelos -promulgada.
grupos fem inistas desde 1979. Como “ auto­ A reflexão sobre esse em preendim ento
nom ia”, p ara a grande m aioria das fem i­ político institucionalizador — depois dos
nistas brasileiras significava independência departam entos ou comissões fem ininas dos
e não um princípio de alteridade — única partidos os Conselhos Estaduais, depois o
form a, para os autonom istas, de autopre- Conselho Nacional dos D ireitos da M ulher
servação na teia de relações de poder em e, por fim, as Delegacias da M ulher —
perm anente reconstrução no tecido social constitui atualm ente um dos temas mais
— tão logo o “ perigo" da m anipulação do desafiadores e instigantes para as Ciências
movimento por partidos políticos pareceu Sociais visto que, dada a rapidez com a
afastado, a institucionalização surgiu como qual os fatos se sucedem no Brasil, já há
um a garantia de seu reconhecim ento e de balanços possíveis dessa experiência ainda
legitimidade. nova. Além disso, salta aos olhos o fato
Essa dinâm ica pode ser constatada, por de que os assuntos “ fem inismo” e “m ulher
exemplo no raciocínio de Blay, cujos textos e política” podem m otivar uma reflexão
vinham enfatizando a im portância dos mais am pla sobre processos de m udança
m ovimentos de m ulheres e /o u fem inistas social e, a propósito, é interessante ver
para a ampliação da cidadania, e que cons­ como se exprimia em 1985 um a fem inista
“ histórica”, socióloga e atual presidente do
tatava em 1982 que alguns dos novos p ar­
Conselho Nacional dos Direitos da M ulher:
tidos haviam criado departam entos femini­
nos na ânsia de demonstrar preocupação “ Abre-se agora um m om ento novo.
com a questão da m ulher e, por conse­ N o sentido de que, apesar do processo
guinte, de o b ter votos, o que poderia se de dem ocratização ainda em curso
transform ar num novo esquem a discrim ina­ conter elementos de continuísm o, se
tório dentro desses partidos. Mas afinal ela elaborou, neste período de privação do
própria concluía constatando: exercício pleno da liberdade um a nova
cultura política, na qual o fem inism o
“ Um balanço final, porém , m ostra e os m ovimentos de m ulheres desempe­
que neste processo de reorganização nharam papel fundam ental na qualifi­
partidária, todos os partidos sistem ati­ cação do conceito de democracia.
cam ente destinam um lugar em seus Cabem algumas questões:
programas à questão da m ulher e todos — como apurar o espaço institucional
eles se preocupam em ab rir um espaço sem ser cooptado?
na estrutura político-partidária p ara as — como aproveitar m elhor as bre­
companheiras, esta alteração de atitu ­ chas na estrutura estatal que não é
des resulta em que atualm ente há can­ m onolítica?
didatas em todos os partidos, provo­ —- como m anter a m obilização social
cando um a elevação da participação e, ao mesmo tem po, buscar algum grau

59
de organicidade junto aos partidos fem inina nos cham ados m ovim entos “ so­
políticos? ciais”, “populares” , “de periferia” ou “ de
— com o interrelacionar, em sum a, a bairro'” , não chegaram a estim ular um a linha
dem ocratização de relações interpes­ de pesquisas que aplicasse os mesmos cri­
soais e de práticas políticas não insti­ térios às mobilizações autodenom inadas
tucionais à dem ocratização dos apara­ fem inistas, em suas várias expressões e ten­
tos de E stado?” (Pitanguy, 1985:12) dências. São ainda pouco num erosos, aliás,
os estudos de fôlego sobre o movimento
C aberia perg u n tar se há respostas possí­ fem inista propriam ente dito no Brasil.
veis p ara tais perguntas fo ra de um a aná­ As divergências e n tre orientações políti­
lise que considere os mecanismos de cons­ cas distintas e as dificuldades iniciais encon­
trução, desconstrução e reconstrução de tradas p ara a constituição de tal movimen­
relações de sexos/gêneros como parte inte­ to em plena ditadura foram m ostradas por
grante de processos sociais nos quais há Moraes (1981 e 1985), autora do primeiro
poderes im plicados em perm anência e por grande trab alh o acadêm ico sobre a história
toda p arte, ora desestabilizando-se, o ra re­ do fem inismo brasileiro contem porâneo, no
encontrando nova acom odação. E talvez, qual transparecia um certo otimism o decor­
justam ente, a distância entre um a nova aco­ rente do m om ento político em que foi rea­
m odação de poderes e a situação prece­ lizado o estudo e da própria implicação
dente seja m aior ou m enor segundo o grau m ilitante da autora.
de desestabilização que os tenha atingido. A Um balanço mais crítico já se depreende
julgar pelos magros resultados verificados dos estudos de G regori & Pontes (1983),
até agora, isso poderia ser prosaicam ente de Pontes (1986), e de Grossi (1988), auto­
resum ido na fórm ula “ cada movimento ras que se dedicaram a exam inar a expe­
fem inista tem as vitórias que merece” . E, riência dos coletivos SOS-Violência de São
o que é pior, estas não são irreversíveis! Paulo e de Porto Alegre, grupos que fize­
Infelizm ente, os textos que analisam as ram parte do pólo de reagrupam ento femi­
experiências do fem inismo de Estado, de nista considerado mais radical, mais signi­
modo geral, não têm enfrentado essas per­ ficativo e mais im portante do país.
guntas. Estes vêm se lim itando a enum erar G regori e Pontes, juntas e separadam en­
aum entos quantitativos da participação fe­ te, em preenderam um a im portante discus­
minina nas instâncias decisórias e a apon­ são (contra a corrente, diga-se de passagem)
tar certos ganhos políticos obtidos no to­ sobre m ulher e poder, cham ando a atenção
cante a aspectos da situação das mulheres. para a sutileza dos mecanismos de poder
Mas suas autoras já exprimem uma atitude e para a dificuldade das fem inistas em
crítica e /o u desiludida ao constatar a per­ reconhecer a presença deste entre elas
m anência de discrim inações em várias ins­ mesmas e em suas relações com os homens.
tâncias nas quais se havia enfatizado a Essas autoras desenvolveram um a reflexão
necessidade da participação política da aprofundada a respeito dos pressupostos
m ulher, e já reconhecem tam bém a escas­ contraditórios do discurso fem inista sobre
sez e a insuficiência dos resultados das polí­ a violência através da análise da experiên­
ticas públicas (Costa, 1985; M oraes, 1985; cia concreta do SOS-M ulher de São Paulo.
1987). M as os problem as e as dificuldades P or outro lado, o estudo de Grossi faz
existentes ainda são explicados pela presen­ uma reconstituição histórica do movimento
ça de um abstrato poder capitalista-patriar- fem inista contem porâneo no Rio G rande do
cal (Saffioti, 1987) ou, mais freqüentem ente, Sul, m ostrando sua especificidade com re­
atribuídas ao atraso das m entalidades e a lação ao resto do país, onde ela visa exa­
valores m achistas apontados como mais m inar a construção pelas fem inistas gaú­
fortes do que as determ inações legais (Blay, chas de u m discurso sobre a violência que
1988).
acaba se revelando defasado com relação
às vivências reais da ‘clientela’ do SOS-
À Guisa de Conclusão: O M ovim ento
Feminista com o objeto de estudo -Mulher.
Em meu próprio trabalho de reconsti­
As im portantes colocações metodológicas tuição histórica e análise ideológica do
contidas nos estudos de Cardoso (1933b), movimento fem inista contem porâneo no
que criticou a visão generalizadora dos Brasil (G oldberg, 1982b; 1987a; 1988) venho
“m ovimentos sociais” e de C aldeira (1984), procurando com preender os meandros do
que fez o m apeam ento das form as p arti­ processo de elaboração e de afirm ação polí­
culares e diferenciadas de participação tica da ideologia fem inista hoje prcdomi-

60
nante no Brasil. N um a linha de pesquisa volvidos no âm bito de um projeto da Uni­
análoga se encontra o estudo recentem ente versidade das Nações U nidas (Barsted,
realizado p o r Miguel (1987), que busca cap­ 1985; Brito, 1985; M iranda e t alii, 1985).
ta r o significado atribuído à noção de Os mesmos, sendo principalm ente descriti­
“ autonom ia” pelas fem inistas brasileiras. vos e inform ativos, constituem instrum en­
Cabe, enfim , m encionar um a série de tos de referência que estim ulam o em preen­
estudos am plos sobre mobilizações fem inis­ dim ento de um a reflexão com parativa
tas em diferentes regiões do Brasil, desen­ global.

Notas

1. Este artigo foi, em sua versão prelim inar, um a com unicação apresentada ao 46.°
Congresso Internacional de A m ericanistas (ICA), realizado entre 4 e 8 de julho de 1988
em A msterdã. Sou grata a D a vi d Slater (C E D L A ), coordenador do sim pósio “Social
M ovements in L atin America: State Pow er and P opular Resistance”, por ter-me convi­
dado para p articipar desse evento. C ontribuíram p ara o desenvolvim ento de m inha reflexão
outros trabalhos que analisaram aspectos da relação entre Ciências Sociais e feminismo
no Brasil, en tre os quais m erecem ser citados os textos de Campos (1979); A guiar (1981);
Barroso (1987); Costa Barroso & Sarti (1985); Costa (1987); Sarti (1987); Lobo (1984
e 1987); Ary (1985). N ão poderia deixar de m encionar tam bém , como um a fonte de
inspiração, a pesquisa coletiva que analisa a produção acadêm ica francesa — A Propos
des R apports Sociaux de Sexe; Parcours Epistém ologiques (CNRS, 1986) — a cujo rela­
tório final tive ,acesso graças a M ichèle Ferrand (Centre de Sociologie U rbaine), uma
de suas autoras, L ast bu t n o t least, foram instrum entos de consulta valiosos o prim eiro
volume da bibliografia anotada M ulher Brasileira (Fundação Carlos Chagas, 1979) e o
levantam ento bibliográfico M ulher e Participação Política, realizado p o r A lbertina de
O liveira Costa, cuja versão prelim inar m e foi gentilm ente enviada pela autora.
2. As referências com pletas de m eus trabalhos anteriores foram incluídas n a Bibliografia.
Este prim eiro período constitui o tem a de m inha tese de M estrado apresentada ao IF C S /
UFRJ; o estudo do período posterior a 1979 é o eixo central de m inha tese de D outorado
em H istória, desenvolvida sob a direção de M ichelle P erro t na U niversidade de Paris-7
(França).
3. Anos mais tard e, Branca M oreira Alves, u m a das organizadoras do m ovim ento neo-
fem inista surgido em 1975, defendeu um a tese de M estrado sobre a lu ta das brasileiras
pelo direito ao voto e foi esse o trabalho que, publicado, tornou-se o b ra de referência
sobre as lutas fem inistas do início deste século (Alves, 1980).
4. Pelo A to Institucional n. 5 (AI-5), de 13 de dezem bro de 1968, o Presidente da R epú­
blica ficava autorizado a: 1.°) d ecretar o recesso do Congresso e dem ais casas legisla­
tivas; 2.°) decretar intervenções em estados e m unicípios; 3.°) cassar m andatos coletivos
e suspender direitos políticos de qualquer cidadão; 4.°) rem over, aposentar ou reform ar
quaisquer titulares de cargos públicos; 5.°) decretar o estado de sítio e fixar seu prazo
de duração; 6.°) decretar o confisco de bens; 7.°) suspender garantias constitucionais refe­
rentes às liberdades de reunião e de associação; 8.°) estabelecer a censura da im prensa,
da correspondência, das telecomunicações e das diversos públicas.
5 . A citação reproduz exatam ente o texto publicado. Verifica-se então que houve um
lapso interessante, da própria au tora ou de seus editores, pois a denom inação correta era,
na realidade, Ligas Femininas, tal com o aparece m ais adiante.
6. A literatu ra existente sobre o tem a “ m ulher e trab alh o ” já foi objeto dos seguintes
estudos: Pena, 1980a; Fundação Carlos Chagas, 1981; A guiar, 1983; A breu et alii, 1984;
Lobo, 1984.
7. A concepção desta p arte do artigo foi feita n um processo de am adurecim ento de idéias
para o qual contribuíram discussões form ais, conversas inform ais e até u m intercâm bio
epistolar com E lisabeth Souza Lobo (U niversidade de São Paulo), A lbertina de Oliveira
Costa (Fundação Carlos Chagas) e M aria Betânía de M elo Á vila (SOS-Corpo de Recife).
Foram tam bém im portantes os debates travados n a reunião do grupo “M ulher e Política”

61
da A NPO CS em 1987 (Águas de São Pedro), e agradeço a Eleonora M enicucci de O liveira
e às demais pesquisadoras que nele m e acolheram.
8. Citado por Velasco e Cruz & M artins, “ D e Castello a Figueiredo: um a incursão na
pré-história da ‘ab ertu ra’” , in B. Sorj & M. H . Tavares de A lm eida (orgs.), Sociedade e
Política no Brasil Pós-64, São Paulo, Brasiliense, 1983:46.
9. Cf. artigo citado n a N ota 8, p . 47.
10. Cabe aqui assinalar que certas interpretações bem otim istas sobre o que ocorria na
sociedade brasileira estavam sendo veiculadas p o r certos pesquisadores estrangeiros de
renom e como Félix G uattari e Cornelius C astoriadis, em visita ao país naquele mom ento
(buscando talvez reencontrar as utopias do já longínquo maio de 68 europeu!).
11. É m atéria p ara um a reflexão com parativa o fato de que as elites brasileiras — e as
fem inistas não vêm constituindo exceção à regra — parecem estar sem pre antecipando leis
que tom am a dianteira de conflitos existentes na sociedade (potenciais ou declarados),
o que term ina por desradicalizá-los ou cerceá-los. Em países europeus como a França e
a Itália o aborto, por exemplo, só foi debatido no Parlam ento e se tornou m atéria de
legislação um a vez que m ilhares de m ulheres se haviam m obilizado nas ruas e através dos
meios de com unicação, defendendo a liberalização do mesmo e sua gratuidade na rede
hospitalar. N o Brasil o aborto — que jam ais foi bandeira de luta de mais do que de um
pequeno grupo de m ulheres (de resto, p o r razões compreensíveis tendo-se em conta aspectos
específicos do contexto) — foi um eixo im portante dos debates travados pelas fem inistas
no recente processo de elaboração da nova C onstituição cujo texto final, em bora possa
parecer menos discrim inatório, não im põe aos governantes — verdade seja dita — nenhum
com prom etim ento significativo com a execução de novas políticas que alterem substan­
cialm ente a situação da população fem inina.
12. Sobre a noção de “movim ento de liberação das m ulheres” e as distintas correntes
desse m ovim ento ver G oldberg (1987a).
13. Já existe um a produção intelectual considerável sobre as m udanças nas relações entre
os sexos nas cam adas médias urbanas brasileiras, como m ostra a cuidadosa resenha de
Salem (1986). Além dos trabalhos com entados p o r essa autora, v er os textos de Luz
(1982; 1987) e de Cardoso (1983a).
14. Já h á no Brasil um a literatura considerável sobre os "m ovim entos sociais” m as eles
não foram estudados p o r seus especialistas de um ponto de vista de construção de gêneros
e de relação de sexos, aparecendo geralm ente como assexuados. O trabalho de Lobo (1987)
traz justam ente um a contribuição inovadora a essa literatura, ao procurar subm eter c
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