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JOSÉ DE ESPRONCEDA: 200 ANOS DO PIRATA

Nélia de Almeida MARTINS


Professora de Espanhol – UFPa.

Con diez cañones por banda, viento en popa, a toda vela,


no corta el mar, sino vuela, un velero bergantín.
Bajel pirata que llaman, por su bravura, El Temido,
en todo mar conocido del uno al otro confín.
Que es mi barco mi tesoro, que es mi dios la libertad,
mi ley, la fuerza y el viento, mi única patria, la mar.

Num evento em que se comemoram os 400 anos de nascimento do Padre Antonio


Vieira, os 100 anos de falecimento de Machado de Assis e os 100 anos de nascimento de
Guimarães Rosa, nós, que estudamos as manifestações da língua espanhola, também temos algo
a comemorar: os 200 anos de nascimento de José de Espronceda, o autêntico romântico da
literatura espanhola. José de Espronceda, nascido José Ignácio de Espronceda Delgado, se
insere, como requer as leis do Romantismo, em todos os seus cânones: é rebelde e impetuoso ao
defender a liberdade, envolvido e exaltado politicamente até as últimas conseqüências numa
Espanha imersa no Absolutismo; busca nas fontes nacionalistas as cores de algumas de suas
obras; reclama a Natureza como sua; escreve em vários gêneros literários e, por uma armadilha
do destino, ama demasiadamente uma mulher casada. Morre jovem, aos 34 anos, devido a uma
infecção na garganta.
O coração de José de Espronceda deveria bater incansavelmente como se supõe ser o
coração de um romântico. Serão os conflitos pessoais que sairão através de sua obra. Vai ser
definido como o Lord Byron hispano.
De toda sua criação literária, uma lhe garantiria a imortalidade: “La Canción del Pirata”,
de 1835, que reúne, em alguns versos, sua vida, sua alma e o ideal romântico.

VIDA
José de Espronceda nasceu na Extremadura, num pequeno povoado chamado Pajares de
la Veja, distrito de Almendralejo, perto de Badajoz, a capital extremenha. O dia era 25 de março
de 1808. Seu pai, sargento do Regimento de Cavalaria espanhol, Juan Espronceda era casado
em segundas núpcias com Maria del Carmen Delgado.
Sua primeira biografia é de 1840 e por ela se sabe que desde os cinco anos freqüentava
os quartéis onde seu pai estava lotado, sendo exímio cavaleiro. Em 1821 o sargento foi nomeado
oficial e consegue matricular o filho, de 13 anos, no Colégio de Artilharia de Segovia. O
menino, entretanto, queria estudar no Colégio San Mateo, em Madri, e ali conheceu seu
professor e futuro mentor literário Alberto Lista (1775-1848), reconhecido lírico ilustrado.
Aos 15 anos, junto com outros alunos, funda, em 1823 a “Academia del Mirto”. Sob a
influencia neoclacissista do mestre, faz traduções de Horacio e escreve sonetos como “La
noche”, “Romance a la mañana”, e “La tormenta de la noche”. É dessa época seu primeiro êxito,
“A Anfrísio” composição que mostra, como nenhuma outra, a retórica do Neoclassicismo
espanhol. Em sua fase neoclássica começa a escrever “El Pelayo”, poema épico de 127 oitavas
distribuídas em seis cantos, que consumirá dez anos de construção sem nunca ter sido
terminado. No entanto, é nele que se percebe a evolução da qualidade poética e narrativa de
José de Espronceda.
Pelayo é um personagem real, desmembrado em 26 de junho de 925 por ordem do califa
de Córdoba, Abderramam III, porque o rapaz, cavaleiro caído refém na batalha de
Valdejunquera (920), não quis ceder às investidas sexuais do califa. Pelayo era também sobrinho
de Hermígio, bispo de Tuy. Por ser cristão, foi considerado santo pela igreja católica como
exemplo de virtude e castidade frente à homossexualidade (San Pelayo Mártir) e é cultuado em
toda a Espanha no dia 26 de junho.
Também em 1823, quando se instalou o Absolutismo na Espanha, ele e seus amigos
fundam uma sociedade secreta – e havia várias no país – chamada “Los Numantinos” em
referencia à Numancia, importante cidade espanhola pré-romana, que resistiu à invasão
estrangeira. O objetivo era matar Fernando VII, para fazer da Espanha uma república
democrática. Foram denunciados e presos. José de Espronceda foi mandado a Guadalajara, onde
deveria passar cinco anos detido no convento de São Francisco. Por fazer propaganda liberal
entre os frades, foi perseguido, ficando ali apenas três meses. Em suas andanças por diversas
cidades espanholas fez propaganda política entre 1825 e 1826, conseguindo chegar a Lisboa, em
1827.
Esse ano marca, definitivamente, a ruptura entre a fase neoclássica e a romântica que
José de Espronceda assumirá. Em suas viagens a Portugal, Inglaterra e França durante os anos
que precisou estar fora de seu país vai conhecer as obras de Lord Byron, Victor Hugo e outros.
Sua produção literária pós-1827 se consistirá em poemas patrióticos, de saudade da pátria
mergulhados em intensa carga emotiva.
É verdade que ficou em Portugal pouco tempo, já que foi expulso. Foi para Londres,
mas como não tinha passaporte, teve que voltar a Madri, retomando sua participação política,
sempre importante, quer seja na legalidade como – principalmente – revolucionária.
Em Portugal conheceu a – ao que parece – mulher de sua vida, Teresa Mancha, filha de
um coronel do Exército e esposa de um comerciante espanhol. Ela tinha 15 anos e ele, 19. Há
quem diga que ele a raptou nessa ocasião, outros, que só foi em 1832.
Entre suas idas e tentativas de vindas a Madri ficou fora seis anos, o que não impediu
que publicasse suas obras.
Viajou a Bruxelas, mas em julho de 1830 estava em Paris, onde participava ativamente
dos movimentos revolucionários contra Carlos X. Mandava exemplares de “Le Libéral” para ser
publicados no “El Español”. Participa de uma intentona liberal armada nos Pirineus, onde morre
o chefe do bando, o coronel liberal Joaquín Pablo, a quem vai de dedicar o poema, “A la muerte
de Don Joaquín de Pablo” (Chapalangarra); também publica em 1830 o poema narrativo “Óscar
y Malvina”. “Himno al Sol” é a expressão do desespero romântico diante da magnitude do astro
reinante, e também é dessa época.
Foi anistiado após a morte de Fernando VII, e, em 1833 volta a Madri. Teresa vai a seu
encontro. José de Espronceda então ingressa na milícia “Guardias de Corps”, mas foi expulso
por criticar o governo de Maria Cristina. É desterrado a Cuellar, onde escreve uma novela
histórica (que estavam na moda na época, devido à publicação de Ivanhoe, do escocês Walter
Scott, ambientada na Idade Média). A novela recebe o nome de “Sancho Saldaña o El castellano
de Cuellar” e é uma historia de amor, cheia de peripécias, passada na Castilha imersa em guerra
civil após a morte de Alfonso X, el Sábio (1221-1284).
Em 1834 José de Espronceda estréia no teatro com “Ni el tío ni el sobrino”, criada junto
com A. Ros de Oleano. Com Eugenio Moreno escreve “Amor venga sus agravios” encenado
pela primeira vez em 1838.
De sua vida política se constrói por uma personalidade marcadamente radical e isso
estará presente também em sua criação literária.
Funda o jornal “El Siglo”, que rápido desparece, como muitos outros de vida efímera
surgidos naquele tempo. Colabora com a revista literária “El Artista”, dirigida por Eugenio
Ochoa. No curto ano de sua existência (14 de janeiro de 1835 a 4 de abril de 1836), José de
Espronceda publica várias obras: o conto “Costumbres”, a sátira “El pastor Clasiquino”, a
novela “La Pata de palo” e fragmentos da obra “El Pelayo”, além das “Canciones”: “El
mendigo”, “El reo de la muerte”, “El verdugo” “El cosaco” e “El Pirata”. Nas poesias líricas se
encontram as características do José de Espronceda mais genuíno: defesa dos seres marginais,
identificação com os proscritos, desprezo às normas e leis assim como às riquezas materiais,
busca da liberdade e sentimentalismo.
Em 1835 se torna sócio do Ateneo de Madri. Continua bebendo em fontes medievais ao
publicar “El Canto del Cruzado” publicado em fragmentos no “El Español”. Também no jornal
“El Español” publicou dois artigos que marcaram a crítica política da Espanha da época:
“Libertad, Igualdad, Fraternidad” e “El Gobierno y la Bolsa”.
Enquanto sua vida política e literária crescia, sua vida pessoal sucumbia. Teresa o
abandonou em 1836 levando a filha de dois anos, Bianca. José de Espronceda tinha 28 anos e
dedicou-se mais ainda à vida política. A separação trouxe à luz seus versos mais cruéis, com um
amor que não se repetiria: “A Jarifa en una orgía” e “El estudiante de Salamanca”.
Em 1837 se candidata a Deputado, mas não é eleito. No ano seguinte funda o Liceo
Artístico y Literario de Madrid, onde seria o professor de Literatura Moderna. Segundo relatos,
não deu nenhuma aula.
Com a súbita morte de Teresa em 1839, José de Espronceda dedica-se a escrever:
termina “El Estudiante de Salamanca” e começa “El Diablo Mundo”. Funda também a revista
“El Pensamiento” em 1841. Apesar de ter sido escrito alguns anos antes, “El Estudiante de
Salamanca” só foi publicado em 1840; é um poema narrativo que dialoga com as lendas e
romances históricos da literatura espanhola e tem um alto valor representativo como expressão
da insatisfação e angústia da alma romântica, muitas vezes sintetizando a vida e os sentimentos
do próprio poeta naquela fase. São 1704 versos distribuídos em quatro partes. É o melhor poema
narrativo do Romantismo espanhol. Conta a historia de don Felix de Montemar, cínico don juan
na Salamanca do século XVII que, depois de seduzir e abandonar Elvira, que morre, mata, num
duelo, o irmão da falecida. Numa noite, o fantasma de Elvira volta para consumar a união e
dança num baile macabro, rodeada de outros fantasmas. Estes temas estão na tradição literária e
serão retomados posteriormente por José Zorrilla quando escreve, em 1844, “Don Juan
Tenorio”.
“El Diablo Mundo” estava sendo escrito e publicado aos poucos quando o poeta
morreu. São seis mil versos, com a introdução e sete cantos. Nele está “Canto a Teresa”, um de
seus poemas de amor mais intensos e que ocupa toda a segunda parte da obra, sem nada a ter
com a historia central. “El Diablo Mundo” conta a historia de um ancião desenganado que se
transforma no jovem Adão, que desconhece o mundo. Profundamente influenciado no Fausto de
Goethe, José de Espronceda ainda dialoga com os textos de Byron.

MORTES
Depois da morte Tereza (segundo relatos, foi ao seu velório, mas só pôde espiar por uma
fresta da casa), José de Espronceda conheceu outras mulheres: Carmen Osorio, casada com um
general, a quem dedicou alguns poemas em 1840. Pretendia se casar com Bernarda Beruete, sua
companheira na época de sua morte.
Foi nomeado deputado por Almeria em 1 de março de 1842, sempre causando interesse
em seus pronunciamentos. Morre dois meses depois, em 23 de maio, por um problema na
garganta. José de Espronceda tinha 34 anos.
Com sua morte prematura, a política da Espanha perdeu um grande defensor dos
direitos civis e a literatura, seu mais importante romântico. O mundo, entretanto, perdeu seu
mais querido pirata. A seu enterro compareceu uma imensa multidão comprimindo-se pelas ruas
de Madri. Seus restos repousam no Panteão dos Homens Ilustres.
Em pouquíssimo tempo José de Espronceda virou um mito e teve sua vida questionada.
Há autores que o classificam como um romântico idealista, desprendido, apaixonado, com
inquietudes sociais, e outros que afirmam que ele é exatamente o contrario: é um jovem que
representava um papel que estava na moda, é um embuste; além do mais, é um homem
insolente, histriônico, cínico e o próprio alter ego de don Félix de Montemar, o protagonista de
“El Estudiante de Salamanca”.

LA CANCIÓN DEL PIRATA


É seguramente a obra que sintetiza a alma livre do romântico mais cultuado da literatura
espanhola. Publicada em 1835, é fundamental na evolução literária e da poesia romântica
espanhola de um José de Espronceda de 27 anos, ele também de intensa vida política e literária.
A canção do pirata se destaca por suas qualidades formais e acertos rítmicos e métricos.
A canção está dividida em três esquemas distintos: o primeiro é a cabeça, com duas
estrofes de rima aaab/ccb e verbos octassilábicos de rima consoante e livres a primeira e a
quinta; a rima da quarta e oitava é oxítona. O segundo esquema está nas estrofes, também
subdivididas em dois: o primeiro é abaccb octasslábico com rima sonante; o segundo verso é
tetrassilábico. À esta sextilha se acrescenta outra, de oito versos com esquema idêntico ao da
cabeça. O estribilho é uma copla (métrica constante no cancioneiro hispano) octossilábica com
rima sonante. Por sua cadencia rítmica e a presença do estribilho varonil (repetida cinco vezes
ao longo da canção), “La Canción del Pirata” é de fácil memorização.
O pirata da canção não tem nome, mas é um ferrenho defensor da liberdade, da rebeldia
religiosa, social e política; é um personagem que reivindica sua independência frente ao mundo
e seus interesses. “La Canción del Pirata” tornou seu autor reconhecido internacionalmente. É
um autêntico grito convidando à aventura. De acordo com a maioria dos estudiosos da
Literatura Espanhola, é o pirata da canção de José de Espronceda que está mais parecido com
seu verdadeiro alter ego: é temido, mas é justo; tem todo o mar diante de si, mas prefere seu
barco e, enquanto espera sua morte, que chegará um dia, desfruta da liberdade de estar onde
quiser.

A HISTORIA
“La Canción del Pirata” é sobre um pirata e seu navio, um veleiro bergantim. O barco
tem dez canhões de cada lado e, segundo seu capitão, não corta o mar, voa. É chamado de “El
Temido” e é reconhecido em todos os sete mares. Infelizmente, de acordo com alguns autores,
os piratas espanhóis se limitaram a fazer suas investidas apenas no Mar Mediterrâneo. O capitão
algumas vezes mostra sua alegria cantando, porque sabe que naquele instante está com a Ásia
de um lado e a Europa do outro; a sua frente está Istambul. O bajel não teme nenhum navio
inimigo, nenhuma tormenta, nenhuma calmaria. Cem nações se curvam diante dele porque
conhecem seu valor; já fizeram mais de 20 abordagens em relação ao “inglês”. Vale ressaltar
que havia uns tantos piratas ingleses importantes, mas três fizeram o terror nos mares: Francis
Drake (1540-1596), Walter Raleigh (1552-16180) e Henry Morgan (1635-1688).
O barco é o tesouro do capitão e seu deus, a liberdade. Sua única pátria é o mar. Essas
leis são tão importantes que são o refrão da Canção do Pirata e se repetem por cinco vezes no
poema.
Em terra, reis, cegos de ganância, disputam um palmo a mais de terra em guerras sem
fim. O capitão, no entanto, tem todo o mar bravio para si e ali não há leis para serem seguidas.
Quando o barco chega a um lugar e que se escuta o grito de “O barco está chegando!” as
pessoas tratam de escapar porque o capitão e seu barco são os reis do mar, impõem respeito e
sua fúria é enorme. O produto do saque, no entanto, é dividido por igual entre todos porque a
única riqueza que lhe interessa é a beleza “sem rival”.
O pirata sabe, entretanto, que está sentenciado à morte, mas se ri. Sabe que um dia
estará pendurado numa forca, talvez até no mastro de seu próprio navio. Ele não teme esse dia
(caso a sorte o abandone): já deu por perdida sua vida desde o dia em que se libertou da
escravidão.
Sua música é a que vem dos sons dos cabos, do choque das ondas no casco do
bergantim, dos ventos nas velas e do estrondo de seus canhões. É assim que o capitão pirata
dorme sossegado, embalado pelo mar.

Mesmo com os 172 anos de sua publicação, “La Canción del Pirata” está mais do que
nunca na boca da juventude hispana. Atrelada ao êxito de bilheteria da trilogia do cinema
“Piratas do Caribe”, que conta a saga do capitão Jack Sparrow por mares sempre navegados por
piratas, o grupo espanhol de heavy metal “Tierra Santa” a colocou numa música cheia de
acordes de guitarra, bateria e efeitos de computador. A grande maioria de jovens que forma a
platéia reunida nos shows da banda vai ao delírio berrando aos quatro ventos os imortais versos
de José de Espronceda, 166 anos depois de sua morte.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

BOUSOÑO, Carlos. Épocas literarias y evolución. Vol. I y II. Madrid: Gredos, 1998.
GARCÍA, Maria Isabel Castro. Literatura española de los siglos XVIII y XIX. UNED, 2003.
JIMENEZ, Maria Millán. Introducción a la literatura española. UNED, 2002.
LOPEZ, José García. Historia de la literatura española. Madrid: Vicens Vives, 1997.
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PINO, Ana Maria González. Curso de literatura - español lengua extranjera. Madrid: Edelsa,
2006.
VV.AA. Historia de la literatura española. 18ª ed. Barcelona: Ariel, 1999.

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