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JOELSON GOMES
“Quem compreende a Trindade Onipotente? E quem não fala dela, ainda que a não
compreenda?” 1
I – O CONHECIMENTO DE DEUS
É
fato que Deus não pode ser plenamente conhecido por ninguém (Sl. 139: 6;
145: 3; Rm. 11:33), tudo que podemos conhecer de Deus é porque Ele quis nos
manifestar (Mt. 11: 27; Rm. 1:19). Não é a sabedoria humana que faz Deus
conhecido, mas a revelação (1 Co. 1:21; 2: 14; 2 Co. 4: 3-4). Isto porque o finito não
pode compreender o infinito. Para alcançar o conhecimento de Deus dependemos
das Escrituras Sagradas. O reformador João Calvino considerava que para o homem
é impossível investigar as profundezas do Ser de Deus. “Sua essência,” diz ele, “é
incompreensível de tal maneira que sua divindade escapa completamente aos sentidos
humanos”. Não é que os Reformadores Protestantes negassem que o homem pode
saber algo da natureza de Deus por meio da criação, mas afirmavam que o homem só
pode adquirir verdadeiro conhecimento de Deus pela Revelação Especial, sob a
iluminadora influência do Espírito Santo. 2
Sem a revelação o ser humano jamais
seria capaz de adquirir qualquer conhecimento de Deus, pois só o Espírito Santo
pode dar esse conhecimento (1 Co. 2:11). Assim, só com a Bíblia podemos conhecer
coisas verdadeiras acerca de Deus, e essa é a glória do ser humano (Jr. 9: 23-24).
Portanto, é, sobretudo pelas Escrituras, que nos guiaremos neste estudo.
Mas, por que conhecer Deus? O conhecimento de Deus se faz necessário,
porque é só conhecendo o objeto da nossa adoração, que saberemos como nos
relacionar corretamente com Ele, como obedecê-lo e adora-lo (Vd. Jo. 4: 19-24).
a) A existência de Deus.
Uma primeira coisa a ser notada é que a Bíblia não se preocupa em tentar
provar que Deus existe. A Bíblia já pressupõe que uma pessoa de sã consciência, não
negará a existência do Ser criador, e que a criação é um testemunho incontestável
dEle (Gn. 1:1; Sl. 19: 1-2; 14:1; Rm. 1: 18-20).
3
MACKINTOSH, C.H. Estudos no Livro do Êxodo,2ª ed. (Lisboa: Depósito de Literatura Cristã, 1978). P. 67.
Argumento Teleológico4 – Este argumento afirma que todo o universo
uma ordem, uma inteligência, uma harmonia e um desígnio / objetivo.
Isto mostraria então a existência de um ser inteligente que planejou
tudo isto que os nossos olhos contemplam, portanto, Deus.
É claro que não se pretende aqui dissecar a natureza divina, isso seria impossível,
apenas vamos dar uma olhada em como a Bíblia revela um pouco da natureza da
Divindade, sem querer ser exaustivo.
4
A palavra grega télos tem entre os seus significados o de: realização, cumprimento, meta (RUSCONI, Carlo.
Docionário do Grego do Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 2003), p. 453.
5
Artigo 4° da Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo (Confissão de Fé dos
Congregacionais brasileiros).
Deus é Infinito (Ex. 3: 14-15; Sl. 90:2).6 Ele é um ser absoluto. Não provém,
nem é condicionado por coisa alguma. É a causa de tudo, e é livre de qualquer
fronteira / limitação.
Deus é espírito (Jo. 4:24). Por ser um espírito Ele não é um ser corpóreo,
material. Deus não possui as propriedades da matéria7, porque um espírito
não tem estas propriedades (Lc. 24: 37-39) e, portanto, jamais pode ser
discernido pelos sentidos físicos (Jo. 1:18). Por esta causa, é expressamente
proibido na Bíblia, fazer imagens e representações de Deus (Êx. 20: 4; Rm.
1:23-25).
Deus é Pessoal 8 (Jo. 1:18; 10:30; 1Jo. 4:8). Isto significa que Deus tem mente,
vontade, é inteligente, possui razão, autoconsciência, individualidade,
autodeterminação. Por isso, erra todo movimento que confunde Deus com
uma força, uma energia, um poder, ou coisas semelhantes.9
Deus é puro / santo (Lv. 11:44; Is. 6:1-3; 1Jo. 1:5-6). Isto significa que Ele é
essencialmente (na sua natureza) puro, não existe mal em seu ser. Ele é
completamente santo (Sl. 77: 13).
6
Para detalhes sobre o nome de Deus revelado em Ex. 3: 14-15, vd.: DEISSLER, Alfons. O Anúncio do Antigo
Testamento (São Paulo: Paulinas, 1984), pp. 43-46.
7
Os Mórmons têm a esse respeito um ensino que contraria frontalmente as Escrituras, segundo as suas
“revelações” modernas eles dizem que Deus Pai tem um corpo de carne e osso como Jesus Cristo teve (Vd.: O
Livro de Mórmon, Guia Para Estudo das Escrituras, tópico Trindade).
8
“Quem se sente ligado à Palavra da Bíblia, embora reconhecendo a necessidade de adaptar sua mensagem à
mentalidade moderna, não pode deixar de ‘representar-se’ Deus de forma pessoal, e, portanto, ele mesmo deve
relacionar-se com este Deus-pessoa”.DEISSLER, Alfons. p. 41.
9
Vd. LLOYD-JONES, Martyn. Deus o Pai, Deus o Filho (São Paulo: PES, 1997), pp. 74-79.
a) Atributos Incomunicáveis. Estas são aquelas qualidades que só Deus tem. São
as seguintes:
Deus é eterno (Sl. 90: 2; 1 Tm. 6:16). Ele é sem começo nem fim. É
autônomo, independente, e não precisa de nada para existir e se
satisfazer (At. 17: 24-25). Mesmo assim, Ele se alegra com o bom serviço
de Suas criaturas (Is. 43:7; Ef. 1:11-12; Ap. 4:11). Sendo eterno Deus
percebe o tempo com igual realismo, para Ele sempre é presente, não
tem passado, nem futuro (90: 4; 2 Pd. 3:8).
Deus é imutável (Sl. 102: 25-27; Is. 46: 9-11; Tg. 1: 17). Ele é invariável,
não pode ser diferente na sua essência: “Eu sou o que Sou” (Ex. 3:14). O
seu caráter não muda, agora, o seu procedimento com as pessoas pode
mudar (Gn. 6:6; Jn. 3:3:10). Mas, tudo isso que para nós parece
mudança, já está previsto no Seu eterno conselho, Sua vontade (Ef.
1:11).
E os textos como Gn 6:6; Ex. 32:9-14; Is. 38: 1-6; Jn. 3: 4,10, que parecem mostrar
que Deus muda de idéia, se arrepende? Sim, parece, mas, não é isso que acontece.
Estes textos mostram a atitude de Deus diante da situação que existe naquele
momento. O autor bíblico não está sondando o secreto conselho de Deus, os seus
decretos, ele esta vendo a situação no momento que está acontecendo naquele
instante, e usa uma linguagem que se chama antropomórfica, isso para fazer o ser
humano entender como Deus se sentia com a rebeldia das pessoas naquele momento.
10
Confissão de Fé de Westiminster (Cap. III, séc. I). Para detalhes sobre esta confissão vd.: KERR, Guilherme. A
Assembléia de Westiminster, 2ª ed. (São Paulo: FIEL, 1992).
Textos assim não podem ser interpretados literalmente, como também as passagens
seguintes: Ex. 33:20; Dt. 8:3; Is. 30:27; Hb. 4:13.
Deus é onisciente (Jó 37: 16; Pv. 15:3, Hb. 4:13). Ele conhece todas as
coisas ao mesmo tempo. A. A. Hodge explica como isso se dá:
Deus é onipotente (Gn. 17:1; Lc. 1:37; 2Co. 6:18; Ef. 1:11). Ele faz
acontecer tudo o que quiser, sempre!
Deus é onipresente (Sl. 139: 7-10; Jr. 23:23,24; Am. 9:1-4). Isto
significa que Deus está presente em toda parte. O ser humano não
pode se esconder de dEle, pois já vimos que Ele é onisciente (sabe
tudo), e vemos que Ele é onipresente, Sua presença enche todos os
lugares, para Deus não existem dimensões espaciais.
11
HODGE, A. A. Confissão de Fé de Westiminster Comentada (Os Puritanos, 1999), p. 81.
Amor (1Jo. 4:8). Deus é amor, e manifesta isso em sua bondade e
misericórdia. Os seus servos também são aconselhados a amar (Mt.
22:37-39; 1Jo. 4:7-21).
Sabedoria (Sl.104: 24; Rm. 16:27). Deus é perfeito em sabedoria, mas
os seus servos podem ter sabedoria também (Tg. 1:5).
Fidelidade (Nm. 23: 19; Sl. 145: 13; 1Jo. 1:9). Deus é perfeito em
fidelidade, mas os seus servos também podem ser fiéis (Pv. 12: 22;
Ef.4: 25; Cl. 3: 9-10).
Bondade (Lc. 18:19). Deus é perfeito em bondade, mas os seus
servos também podem ser bons (Gl. 6:10.
Observe o seguinte:
Devemos, pois, imitar a misericórdia (Mt. 5:7), a graça (2Co. 8:7) e a paciência
(Gl. 5:22) do Senhor.
Paz (ou ordem, 1Co. 14:33). Deus é o Deus da paz, e os seus servos
devem ser de paz também (Mt. 5:9; Gl. 5:22);
Zelo (Ex. 34:14). Deus é um Deus zeloso, e os seus servos também
devem sê-lo (2Co. 11:2);
Ira (Rm. 1:18). Deus se ira contra o pecado, e os seus servos devem
também odiar o pecado (Sl. 97: 10; Pv. 8:13);
Perfeição (Dt. 32: 4; Mt. 5: 48). Deus é perfeito em grau infinito, mas
os seus servos também são exortados a buscarem a perfeição
nEle(2Co. 13:11). 12
Nós conhecemos Deus por ‘Deus’, mas será que é assim que Ele é chamado na
Bíblia? O nome de Deus é Jeová como dizem os “Testemunhas de Jeová”? Nesta
seção nós teremos a oportunidade de ver que o Senhor nosso Deus é muito grande
para ser contido em um só nome. As Escrituras do Antigo Testamento nos apresenta
vários nomes pelos quais o Senhor é chamado. E estes nomes sendo conhecidos nos
fazem compreender mais acerca do agir de Deus.13
Dividiremos esta seção em: nomes GENÉRICOS e nomes ESPECÍFICOS de
Deus.
a.1) Os nomes GENÉRICOS: El, El Elyom, Elohim. Estes nomes são chamados
genéricos porque são também aplicados a divindades falsas no A.T. Isto acontece por
causa da língua; povos de uma mesma língua chamam seus deuses pelos mesmos
nomes.
El (Gn. 33:20). O Geseniu’s Hebrew and Chaldee Lexicon nos dá para esta
palavra a significação de: forte, poderoso, poder, força (Gn. 31: 29; Is. 9:5;
12
Para detalhes sobre os atributos de Deus, vd.: GRUDEM, Wayne. pp. 105-164; LLOYD-JONES, Martyn. pp.
80-107.
13
Vd.: GRUDEM,Wayne. pp. 106-109. “O conhecimento de Deus no Antigo Testamento brota não só da
história, palavra, criação e teofania, mas também da revelação do nome Javé ... entre os povos primitivos e em
todo o Antigo Oriente, o nome denota a essência de algo”. SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento
(São Paulo: Vida Nova, 2001), p. 111. “No Antigo Testamento o nome denota a essência do ser. “Em ti confiam
os que conhecem o teu nome” (Sl. 9:10). Uma mudança de nome indica uma mudança de caráter (P. ex. Gn. 32:
28)”. BALDWIN, J. G. Ageu, Zacarias e Malaquias (São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1991), p. 191.
Ez. 31: 11). E diz que a palavra é usada em geral para nome do Deus do
céu, mas pode ser também aplicada a ídolos (p.ex. Sl. 81:10; Dn. 11: 36).14
Elohim (Gn. 1:1). Esta palavra pode ser o plural do nome divino El, que
provavelmente deriva da raiz ‘wl, com o significado de preeminência.15
Alguns autores dizem que esta palavra é o plural de Eloah16 É usado
também para designar uma divindade, uma aparição divina (1Sm. 28:13),
ou homens com autoridade (Êx. 21: 6; Sl. 8:5; 82: 6). Com o artigo definido
significa o Deus único e verdadeiro (1Rs. 18: 21, 37).17
El Elyom (Gn. 14: 19-20, Nm. 24:6; Is. 14:14) Significa aquele que é sublime,
exaltado.
a.2) Os nomes ESPECÍFICOS: Adonay, El-Shaday, Iahweh. Estes são nomes que nas
Escrituras aparecem aplicados somente ao Deus verdadeiro.
Adonay (Gn. 18: 3; Is. 3: 18; 6:1). Significa o Senhor; o Soberano, a quem
tudo está sujeito, e com quem o ser humano se relaciona como servo.
El-Shaday (Gn 17:1; Ex. 6:3). Descreve Deus como o possuidor de todo
poder na terra e no céu. A natureza, a criação, tudo está sob seu controle.
IHWH (( )יהוהEx. 6:3). Este é o nome que mais vezes aparece na Bíblia
aplicado a Deus (6.828 vezes na Bíblia Hebraica de Kittel e na Bíblia
Hebraica Stuttgartensia). O hebraico bíblico do A.T. é composto apenas de
consoantes não tendo vogais, e YHWH são as letras hebraicas que
14
TREGELLES, Samuel Prideaux. Geseniu’s Hebrew and Chaldee Lexicon (Grand Rapids: Eerdmans, 1954), p.
45.
15
Associação Laical para o Estudo da Bíblia. Vademecum para o Estudo da Bíblia (São Paulo: Paulinas, 2000),
p. 279.
16
BERKHOF,L. p. 54.
17
TREGELLES, Samuel Prideaux. pp. 49-50.
compõem o nome pessoal de Deus no A.T. Temendo descumprir o terceiro
mandamento: “Não tomarás o nome do Senhor (YHWH), teu Deus em vão” (Ex.
20:7), os leitores antigos da Bíblia evitavam pronunciá-lo, substituindo o
mesmo na leitura pala palavra Adonay (Senhor). Os sinais vocálicos da
palavra Adonai eram colocados entre as consoantes que representavam o
nome divino: YHWH. Com esta prática a pronúncia do nome de Deus se
perdeu. Os eruditos bíblicos hoje, em sua maioria, usam a palavra Iahweh
(Javé), e dando a razão histórica para isso diz a Comissão de Tradução,
Revisão e Consulta da Sociedade Bíblica do Brasil:
Assim, mesmo com a incerteza que há para a pronúncia deste nome, o que se
pode afirmar com segurança é que Jeová nunca foi a transliteração ou tradução do
nome de Deus (YHWH) no A.T., esta palavra é uma invenção da Idade Média.
Portanto, o grupo religioso chamado “Testemunhas de Jeová” é fundamentado sobre
um nome falso, nome que não aparece nas Escrituras Sagradas19. Sobre esta palavra
Jeová, diz a Comissão de Tradução, Revisão e Consulta:
Esse (Jeová) não é, portanto, o nome do Deus de Israel. O Jerome Biblical Comentary chama
“Jeová” de um “não-nome” (77:11), e o Interpreter’s Dictionary of the Bible o chama de “nome
artificial”(s.v Jehovah). O Lexicon in Veteris Testamenti Libros, de Kochler – Baumgartner
(s.v YHWH), chama a grafia “Jeová” de “errada”, e defende como “correta e original’ a
pronúncia “Yahweh”.20
18
“O Termo “Jeová” na Bíblia Sagrada” em A Bíblia no Brasil (São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, n° 188,
(Jul/Set. 2000), p. 24. Vd. tb. TREGELLES, Samuel Prideaux, p. 337.
19
Os próprios livros das Testemunhas de Jeová reconhecem que a palavra Jeová não é o nome de Deus que
aparece na bíblia. “O hebraico era escrito sem vogais. Assim, não existe maneira de saber com exatidão como
Moisés, Davi ou outros dos tempos antigos pronunciavam as quatro consoantes ... que constituem o nome
divino. Alguns eruditos sugerem que o nome de Deus possa ter sido pronunciado “Javé” ou “Iavé”, mas eles não
podem ter certeza. A pronúncia portuguesa “Jeová” ou “Jehovah” já é usada há séculos, e o equivalente em
muitos idiomas amplamente aceito hoje” (Conhecimento Que Conduz a Vida Eterna. São Paulo: Sociedade Torre
de Vigia de Bíblia e Tratados, 1986), p. 24. Observe que o argumento usado por eles para usar o nome Jeová, é
porque este é um nome muito aceito no mundo, e porque está ele baseado nas Escrituras, nem na língua hebraica.
20
“O Termo “Jeová” na Bíblia Sagrada”. p.23.
Portanto, as Escrituras não aprovam transliteração Jeová, os judeus nunca
pronunciaram esse nome, e a história nos mostra que a pronúncia mais provável
seria Iahweh (Javé). Não sendo esta, Jeová está completamente fora de cogitação. 21
a.2.1) Este nome Javé (vamos chamar assim) aparece unido a outros termos
qualificativos de Deus, formando assim nomes compostos, como por exemplo:
Para El, Elohim e Elyom o N.T. usa a palavra Deus, que é também uma
palavra genérica. O equivalente de Elyom (Deus altíssimo) encontra-se
21
Para uma lista de livros que desaprovam a grafia Jeová vd.: SILVA, Ezequias Soares. Como Responder as
Testemunhas de Jeová. 3ª ed. (São Paulo: Candeia, 1995). pp. 148-150. E Ralph L Smith nos informa que a
pronúncia Jeová nunca foi usada pelos judeus (Op. Cit., p. 115). Confira também o que diz sobre o caso a
Enciclopédia Judaica em: <http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=52&letter=N> e
<http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=206&letter=J&search=jehovah> Acesso em 10/03/08.
22
Sobre este assunto vd.: LLOYD-JONES, Martyn. pp. 108-112.
na expressão Theou tou Hupsistou (Mc. 5:7; At. 16:7; Hb.7:1). Shadday e
El-Shadday (Todo-Poderoso, Onipotente) é traduzido no N.T. por
Pantokrator; Theos-Pantokrator (2Co. 6:18; Ap. 1:8; 4:8: 11:17; 15:3;
16:7.14);
Bem, pelo que acabamos de estudar podemos ver que Deus é identificado por
vários nomes nas Escrituras, e cada nome de Deus nos mostra uma das características
do Senhor. Reflita nessas características, pois elas juntas vão nos revelando quem
Deus é e o seu caráter.
a.2) Para os judeus do A.T. a grande confissão sobre o seu Deus era Dt. 6:4. 25 E
é interessante notar a palavra hebraica que é traduzida por único no texto. Em nota
sobre a passagem nos informa a Bíblia Vida Nova: “Único Senhor. A palavra hebraica
aqui empregada “único” (‘ehadh) significa uma unidade composta... A palavra
hebraica que expressa unidade absoluta é Yahidh, e nunca é usada para expressar a
unidade da Deidade”.26
A palavra Yahidh (unidade absoluta) nós encontramos em Gn. 22:2, porque
Isaque era o único filho de Abraão, e vamos encontrar ‘ehadh (unidade composta) em
Gn.2:24, porque Adão formaria uma unidade composta com Eva (vd.tb. Ex. 24:3;
13:23).27 Mesmo sabendo que yahidh e ‘ehadh são usadas as vezes como sinônimas,
yahidh é mais enfática quando se quer expressar unidade absoluta, e é interessante que
justamente na confissão mais importante do povo de Israel sobre a unidade de seu
Deus, é usada na Bíblia a palavra ‘ehadh. A pergunta que se faz é: por que o escritor
que conhecia muito bem o idioma hebraico, usa essa palavra se queria mostrar uma
unidade absoluta para Deus? Não, ele sabia que Deus era uma unidade composta:
Pai, Filho e Espírito Santo.
a.3) Além destes fatos o A.T. já prenunciava o Pai e o Filho como um único
Deus em outros lugares. Observe:
Is. 9:6. A profecia chama Cristo de Pai da eternidade e Deus forte. Sabe-
se que eternidade só tem quem não tem começo nem fim, portanto
25
“6:4. Ouve Israel. Este versículo, frequentemente chamado de Shemá, com base na palavra hebraica inicial que
significa “ouve”, tornou-se a grande confissão da fé monoteísta de Israel, sendo recitada todas as manhãs e finais
de tarde pelos judeus (cf. Mc. 12:29)”. Bíblia de Estudo de Genebra (A.T.) (São Paulo: Cultura Cristã, 1999), p.
209.
26
SHEDD, Russel (ed). Biblia Vida Nova (A.T.). (São Paulo: Vida Nova, 1997), p. 200.
27
Nos seguintes textos aparece ‘ehadh com o significado de unidade composta : Jz. 20:8; 1Sm. 11:7; Ed. 2:64.
Para yahidh como unidade absoluta veja: Gn. 22: 1,12, 16; Sl.25:16; 68:6; Pv. 4:3; Zc. 12:10. Uma coisa que
deve ser notada é que ambas as palavras trazem em sua raiz o significado de uma unidade composta, reunião,
junção. Vd.: TREGELLES, Samuel Prideaux. pp. 28-29, 345.
Cristo sendo o Pai eterno, não poderia ter tido começo. Ele é também
declarado como Deus. Sabendo-se que o próprio Deus afirma sua
singularidade (Is. 43: 10-13), Cristo tem que ser um com Ele, senão Ele
seria outro deus.
Zc 12:10. Esta passagem é mais uma prova do A.T. de que Cristo e Deus
Pai são inexplicavelmente o mesmo Deus. Observe. O SENHOR
(YHWH) (veja o versículo 7), diz pela boca do profeta que em um
tempo futuro, pessoas iam olhar pra Ele se lamentando,até aqueles que
o transpassaram. Isso segundo a própria Bíblia se cumpriu na
crucificação de Jesus. João, ao relatar a cena da crucificação, diz que esta
profecia se cumpre ali, onde um soldado perfura o lado de Jesus com
uma lança e as pessoas olham Jesus transpassado (Jo.19: 34-37). Ali
estava o próprio Deus sendo transpassado em Jesus Cristo
(Vd.At.20:28).
a) Jo. 1:6,o artigo indefinido não aparece antes da palavra Deus, mas a
frase não é: “houve um homem enviado por UM Deus”, mas “ por
Deus”.
b) Jo.1:14, não existe o artigo indefinido antes da palavra carne, mas a
frase não é: “a palavra se fez UMA carne, mas “ se fez carne”.
c) Jo.1:18, não existe artigo indefinido antes da palavra Deus, mas a
frase não é: “UM Deus nunca foi visto por ninguém”, mas “ Deus
nunca foi visto por ninguém”.
O Dr. D. A. Carson observa “que o interprete deve ser cuidadoso com respeito
as conclusões tiradas a partir da mera presença ou ausência de um artigo”. 29 Assim,
está correto traduzir “e o verbo era Deus”, mesmo sendo esta frase anartra (sem a
presença do artigo definido). Esta é mais uma prova da unidade na divindade.
29
CARSON, D. A. Os Perigos da Interpretação Bíblica, 2ª ed. (São Paulo: Vida Nova, 2000), p.77.Vd. do
mesmo autor: O Comentário de João (São Paulo: Shedd Publicações, 2007), p.117.
Em Hb. 7: 25 temos a informação de que a obra intercessória
pertence a Jesus Cristo (Vd. tb.: Jo.15: 16b; 16:23), mas em Rm. 8:
26-27, é dito que é o Espírito Santo quem intercede pelos cristãos.
Mais uma vez unidade entre Jesus e o Espírito.
At. 20: 28. Este é um texto desconcertante, pois diz que quem
pagou o resgate, derramou o sangue na cruz pela Igreja, foi o
próprio Deus (YHWH). Esta afirmação só pode indicar que
Cristo e Deus são o mesmo.
30
Veja BARCLAY, William. Romanos- Comentario ao Nuevo Testamento (Barcelona: CLIE, 1995). p. 189.
Gerhard Barth escreve sobre este versículo: “O primeiro par de linhas fala do preexistente que já antes de sua
existência terrena vivia em subsistência divina. Isto não se refere a seu aspecto ou a sua aparência, nem (como
em Gn. 1: 26) a que tenha tido a imagem de Deus, mas, conforme se conclui do paralelismo da segunda linha, o
seu ser igual a Deus, a sua essência divina”. (A Carta aos Filipenses. São Leopoldo: Sinodal, 1983, p. 45). Para a
definição de morphê vd.: RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do novo Testamento (São Paulo: Paulus,
2003), p. 313.
31
Segundo o Novo Testamento Interlinear Grego-Português (São Paulo: SBB, 2004), na passagem citada.
“essência” é hypostasis (significa: essência, substância).32 Sobre
isso observa Wayne Gruden: “Significando que Deus Filho
reproduziu o Ser ou a natureza de Deus Pai em todos os aspectos: todos
os atributos ou poderes que Deus Pai tem, Deus Filho também os
têm”.33
32
Vd.: RUSCONI, Carlo. Na definição das palavras citadas.
33
Teologia Sistemática, p. 172.
• Se não aceitarmos a Triunidade de Deus como explicar estas
passagens se a própria Bíblia diz que só Deus é o Senhor (Mc.
12:29)?
• Como conciliar estes textos se a Bíblia diz que só Deus é santo (ISm.
2:2)? Isto só se explica com a Triunidade divina.
Jo. 16: 14. Cristo aqui diz que a missão do Espírito Santo na terra é levar
as pessoas a glorificá-Lo. Em grego é usada a palavra doxa, que
significa: glória, honra, aplausos 35 (Vd. Jo. 4:24; Rm. 1:9; Fp. 3:3, onde a
mesma palavra significa adoração).
Ap. 5: 11-14; 22: 8-9. Não têm no NT passagens mais claras que estas
que mostram o cordeiro que é Cristo (Jo. 1:29; 1 Pd. 1:18-20) sendo
claramente adorado por todos, e em todos os lugares.
Em toda discussão sobre Deus não se pode deixar de fora o tema do Espírito
Santo. Espírito é a tradução da palavra hebraica ruach e da palavra grega pneuma.
Estes termos derivam de raízes cujo significado é respirar. Por isso as palavras
também podem ser traduzidas por vento (Ez. 37: 5-6; Jo.3: 8). Vamos então procurar
nas Escrituras a revelação sobre o Espírito do Senhor, isto para desfazer alguns
enganos de grupos tais como: Testemunhas de Jeová, Judeus Messiânicos, e grande
parte dos Adventistas do Sétimo Dia, que se apresentam contra a personalidade do
Espirito Santo e contra a Triunidade divina.
Sobre quem é o Espírito Santo, R. C. Sproul escreve:
A Bíblia revela o Espírito Santo não como uma força abstrata, um poder ou uma coisa, mas
como “ele”. O Espírito Santo é uma pessoa. Uma personalidade inclui inteligência,
vontade e individualidade. Uma pessoa age por intenção. Nenhuma força abstrata pode
tencionar fazer qualquer coisa. Boas ou más intenções são limitadas aos poderes dos seres
pessoais. 37
As Escrituras apóiam esta declaração do Espírito Santo como uma pessoa divina.
36
Merece Confiança o Novo Testamento? 2ª ed. (São Paulo: Vida Nova, 1999), p. 154.
37
O Mistério do Espírito Santo (São Paulo: Cultura Cristã, 1997), p. 17 (Grifo meu).
palavra espírito em grego (pneuma) é uma palavra neutra, e exigiria um
pronome neutro (ekeino) para combinar.
Conclui-se inevitavelmente que a Bíblia não apresenta três deuses, mas uma só
essência divina, que se nos mostra como Pai, Filho e Espírito Santo. Importante notar
que na revelação não se pode confundir as funções. Ao Pai pertence à vontade divina,
a formação dos propósitos. Ao Filho a mediação e a execução do plano do Pai. E ao
Espírito pertence à revelação, a preparação para toda a obra do Filho (Vd. Ef. 1:11;
1Tm.2:5; Jo. 16:8-11). Sproul escreve sobre o caso:
Vemos, pois, que quando a Igreja cristã confessa sua fé em um Deus triúno, ela tenciona
transmitir a idéia de que existe uma só essência ou ser e não três; mas que existem três
personalidades subsistentes distintas na deidade. Os nomes Pai, Filho e Espírito Santo
indicam distinções pessoais na deidade, mas não divisões essenciais em Deus.38
38
Ibid, p. 73.
APÊNDICE1- DISTORÇÕES HISTÓRICAS SOBRE A DOUTRINA DA
TRIUNIDADE.
c) Adocianismo. Este ensino concebia Jesus como um homem até seu batismo
depois disso Deus o teria adotado como Filho, e lhe concedido poderes
sobrenaturais. Jesus não era eterno, mas apenas um homem sublime. Foi condenado
no Concílio de Constantinopla (381 d.C).
42
Vd. GRUDEN, Wayne. p. 996.
43
Ibid, pp. 179-180.
44
Para uma discussão detalhada sobre a doutrina da Trindade e sua história, vd. BRAATEN, Carl E. e JENSON,
Robert W. (eds) Dogmática Cristã, v.1. (São Leopoldo: Sinodal, 1999), pp. 103-174. HÄGLUND, Beng. pp. 57-
88. BERKHOF, L. Teologia Sistematica 3ª ed. (Grand Rapids: T.E.E.L., 1976), pp. 96-98.
e) A controvérsia em torno da palavra FILIOQUE. Esta controvérsia se deu
em 1054 d.C, sobre a colocação da expressão “filioque” no Credo de Nicéia, isso
acabou gerando uma divisão entre o cristianismo Ocidental (Católico Romano) e o
cristianismo Oriental (Hoje em várias ramificações como Igreja Ortodoxa Grega,
Igreja Ortodoxa Russa). “Filioque” é uma expressão latina que significa “e do Filho”.
Até então o Credo de Nicéia da primeira versão (325) e da segunda (381), diziam
apenas que o Espírito Santo procedia do Pai. Mas, em um Concílio regional, na
cidade de Toledo, Espanha, acrescentou-se a frase: “e do Filho” (filioque) baseada em
Jo.15:26 e 16:7. Muitas lutas políticas dentro da Igreja complicaram a disputa entre os
que aceitavam e os que não esta expressão. Chegou-se assim a divisão ocorrida entre
a Igreja Ocidental e a Igreja Oriental, em 1054 d.C.
Sobre o tema a posição correta parece ser a dos que aceitavam a expressão
“filioque”, pois os textos citados mostram que o Espírito Santo tanto procede do Pai
como do Filho.45
Jo. 14:28. Cristo faz uma declaração que aparentemente lhe coloca
numa posição inferior ao Pai. Mas, não é isso o que acontece. Quando
Cristo faz uma afirmação assim, Ele está falando em sua condição
45
Vd. GRUDEN, Wayne. pp. 181-182.
humana assumida por Ele livremente no mistério da encarnação (Fp.
2:6-11). Na terra, o Senhor tinha todas as limitações da encarnação, para
levar ao cabo o seu propósito de morrer como substituto do ser
humano. Portanto, ele tinha que ser humano, não apenas parecer com
um humano. Após sua ressurreição, Jesus reassumiu todo seu poder
(Mt. 28:18), e é Deus Todo-Poderoso (Ap. 1:8). Se essa afirmação tirasse
a divindade de Cristo e o fizesse inferior ao Pai, a afirmação de Hb. 2:9
o colocaria em inferioridade aos anjos, e Lc. 2:51, o colocaria em
inferioridade aos seus pais. Mas, sabemos que não é assim, essas são
afirmações feitas dentro de um contexto (o da humanidade de Jesus)
que deve ser observado para a correta interpretação de todas as
passagens que parecem colocar Jesus como inferior.
Mt. 3:11; At. 2:14; Tt. 3:5-6. Às vezes estes textos são citados para tentar
despersonalizar o Espírito Santo. Mas, o que temos aqui é um a
linguagem figurada aplicada a pessoa do Espírito. Veja os exemplos:
a) Lc. 22:3 - Satanás é uma pessoa espiritual, mas entrou em Judas e encheu
o coração de Ananias (At. 5:3). Cristo é uma pessoa, mas é dito que Ele
enche o universo (Ef. 1:20-23).
b) Mt. 3:11 - O Espírito é uma pessoa e os crentes podem ser batizados nele
não existe problema com isso, pois Moisés era uma pessoa e Paulo diz que
os judeus no deserto foram batizados nele (1Co. 10:2). Como também a
Bíblia fala que os salvos foram batizados em Cristo (Rm. 6:3; Gl. 3:27). Mais
uma vez o que se usa aqui é linguagem figurada.
c)Tt. 3: 5-6- O fato de o Espírito ser derramado não tira sua personalidade,
pois Paulo era uma pessoa e diz que “estava sendo derramado” (Fp. 2:17;
2Tm. 4:6).
Pois bem, chegamos ao fim deste curto estudo sobre o que a Revelação diz
sobre Deus. Sabendo que isso é um pingo d’água num oceano, pois Deus é muito
grande para se deixar explicar. Minha oração é que você tenha aprendido um pouco
mais sobre o Deus Pai de Jesus Cristo que você serve e que nós adoremos esse Deus
infinito com paixão e fogo renovados.
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prjoelsonfgomes@hotmail.com