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Introdução
A Educação Dialógica
Para Freire (2006) o diálogo deve começar desde a etapa de construção do currículo
educacional. O conteúdo programático deve ser organizado a partir da situação presente,
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do objeto como situação em que o sujeito está inserido. Assim, os homens passam a
compreender sua realidade objetiva como um desafio ao qual têm que responder. Na
descodificação eles exteriorizam sua visão de mundo, sua forma de pensá-lo, sua visão
fatalista das situações-limites, sua percepção estática ou dinâmica da realidade.
As descodificações promovem o surgimento de uma nova percepção do mundo e o
desenvolvimento de um novo conhecimento que se prolongam, sistematicamente, na
implantação do plano educativo. Essa visão crítica do mundo que irá nortear a educação
dialógica freiriana envolve uma dimensão de libertação, transformadora da realidade. É o que
ele referencia como práxis revolucionária (FREIRE, 2006). A revolução se dá mediante a
práxis incidindo sobre as estruturas a serem transformadas. A teoria da ação transformadora
implica em diálogo com os oprimidos, ação, reflexão e compromisso com a libertação.
A concepção freiriana acerca do diálogo estabelece alguns pressupostos básicos para
este fenômeno da formação humana: amor, humildade, fé nos homens, esperança e um pensar
crítico.
De acordo com Freire (2006, p. 91): “Não há diálogo se não há um profundo amor ao
mundo e aos homens”. Nesse sentido, há que se valorizar o ser humano a quem deve ser
oferecido oportunidade de reflexão sobre a sua realidade, para que ele crie sua própria
história, superando a condição de opressão e desigualdade. Seus conhecimentos, sua cultura e
suas necessidades devem ser considerados durante o ato educativo, no exercício de uma
pedagogia libertadora.
Paulo Freire não oculta o senso de afetividade de sua pedagogia. Sem excluir a
cognoscibilidade, a necessidade de formação científica e domínio técnico do educador, Freire
(2007) compreende o querer bem aos educandos como algo que dá sentido à prática
educativa. É o que faz do educador um formador, mais do que um treinador ou transferidor de
saberes. A esse respeito, comenta:
“A competência técnico-científica e o rigor de que o professor não deve abrir mão
no desenvolvimento do seu trabalho, não são incompatíveis com a amorosidade
necessária às relações educativas. Essa postura ajuda a construir o ambiente
favorável à produção do conhecimento onde o medo do professor e o mito que se
cria em torno de sua pessoa vão sendo desvalados” (FREIRE, 2007, p. 10).
A Educação Dialógica também envolve fé nos homens, como afirma Freire (2006, p.
93): “...no seu poder de fazer e de refazer. De criar e recriar. Fé na sua vocação de ser mais,
que não é privilégio de alguns eleitos, mas direito dos homens”. Para Paulo Freire, o homem
dialógico acredita no potencial do outro, dando-lhe sempre a oportunidade de se colocar, de se
posicionar criticamente, jamais cerceando a liberdade de expressão de seu interlocutor. Isso se
opõe à chamada educação bancária, em que o educador limita-se a depositar seus
conhecimentos nos educandos, tirando destes e de si próprio a oportunidade de um
aprendizado coletivo.
Freire (2007) fala em educabilidade quando se refere a essa capacidade do ser humano
de aprender sempre, de crescer, de desenvolver-se no contato com o outro. Trata-se de uma
educabilidade não somente para se adaptar a uma dada realidade, mas para nela intervir,
recriando-a e transformando-a. Tal capacidade distingue o homem dos animais e das plantas:
Logo, a esperança está relacionada a uma ação coletiva que irá favorecer o processo de
humanização, de auto-afirmação do ser humano e de criação de sua própria história.
Por último, Freire (2006) defende o pensar crítico como um requisito indispensável à
Educação Dialógica. Os indivíduos envolvidos no diálogo devem exercitar uma reflexão
sobre a realidade que os cerca em uma atitude de não-conformidade. Conscientes acerca de
sua condição presente, tornam-se aptos a lutar contra o processo de desumanização, o que
favorece uma transformação constante, tanto objetiva (do mundo) quanto subjetiva (de si
próprio). De acordo com Freire (2006), essa postura crítica consiste em uma atitude de
perceber a realidade como processo, apreendendo-a em seu estado dinâmico e não como um
produto, algo acabado. O pensar crítico está, portanto, na base de uma pedagogia progressista:
...uma das tarefas precípuas da prática educativo-progressista é exatamente o
desenvolvimento da curiosidade crítica, insatisfeita, indócil. Curiosidade com que
podemos nos defender de ‘irracionalismos’ decorrentes do ou produzidos por
excesso de ‘racionalidade’ de nosso tempo altamente tecnologizado (FREIRE,
2007, p. 32).
A Educação a Distância
ferramentas apenas criam essa possibilidade e que somente será efetivada se alunos e
professores tiverem uma postura dialógica.
O exercício do princípio da humildade em atividades de EaD, compreende que todos
os atores (educadores e educandos) podem contribuir com o aprendizado coletivo. O
professor deve valorizar as colocações dos alunos, trazê-las à discussão, sem discriminações.
Abrir mão, portanto, da posição de detentor dos saberes e fonte única do conhecimento,
requer do educador dialógico uma postura de humildade. Sua atitude deve ser mais
colaborativa e menos instrutiva, buscando uma pedagogia problematizadora, apresentando
caminhos, provocando idéias, convidando à reflexão e motivando a experiência fundamental
de uma ação co-laboradora.
Sentimentos de afetividade também podem ser praticados em trocas comunicativas da
EaD. Apesar da centralidade na linguagem escrita, muitas ferramentas de comunicação
oferecem recursos paralingüísticos (emoticons, caixa alta, repetição de sinais de pontuação
etc.) que possibilitam aos interlocutores traduzirem suas emoções no texto das mensagens.
David et al (2006) observaram que a linguagem praticada em listas e fóruns de discussão
pedagógicos aproxima-se de uma conversação ao apresentar fortes traços de oralidade,
embora se manifeste na forma escrita. Os autores apontam que a presença de traços de
oralidade nas comunicações escritas efetuadas através de gêneros da Internet atestam sua
utilidade como veículos promotores da interação e do diálogo.
O professor não deve censurar o uso de recursos paralingüísticos e uma eventual fuga
à norma culta nas comunicações em cursos a distância. Corrigi-los seria o mesmo que exigir
um discurso oral em sala de aula que fosse completamente correto do ponto de vista da norma
culta. A preocupação deve ser muito mais de incentivar a construção de relacionamentos
através do diálogo entre os participantes, valorizando o respeito mútuo e a ética, tão
significativos no exercício de uma educação libertadora (FREIRE, 2007). A postura dialógica
pode ser verificada na forma abordagem aos estudantes, na aceitação às críticas, no tratamento
do erro de forma construtiva e na valorização de todos os alunos como co-autores e
colaboradores do processo de aprendizagem.
Pimentel et al (2003) analisaram o depoimento de alunos da PUC-Rio, matriculados
em uma disciplina ministrada em caráter totalmente a distância, sobre sua participação em
bate-papos pedagógicos através da ferramenta debate do ambiente AulaNet. O depoimento
dos alunos revelou a importância do uso de uma ferramenta de comunicação síncrona, como o
bate-papo, no sentido de promover a motivação do grupo. Segundo os autores, essa motivação
deveu-se, principalmente, ao alto grau de interação que a ferramenta proporciona, observado
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produto final precisa traduzir equilíbrio, bom senso e, acima de tudo, refletir uma linguagem
dialógica.
A dialogicidade, na perspectiva freiriana, está na base de uma educação formadora,
não-alienadora e, como já foi citado, começa com o estabelecimento de um acordo (temas
geradores) entre educadores e educandos. Essa metodologia da Educação Dialógica, se aplica
na elaboração dos materiais didáticos para a EaD, sendo necessário conhecer bem o público-
alvo do curso. “Para quem estou escrevendo?” deve ser uma pergunta norteadora do
educador durante a elaboração dos materiais pedagógicos. Saber sobre os interesses, as
dificuldades e as expectativas de seus educandos quanto ao curso é de fundamental
importância para que ele alcance seus objetivos.
Neder (2005) classifica os materiais didáticos da EaD em: texto impresso (livros,
manuais, fascículos), texto audiovisual (emissões de rádio e televisão) ou texto multimídia
(CD-ROM e Internet). Todavia, independentemente do formato do material didático a ser
utilizado, existem aspectos relevantes que precisam ser considerados em sua criação para que
correspondam às expectativas de aprendizagem daqueles que buscam por esta modalidade
educacional. Entre esses aspectos, encontra-se a necessidade de refletir os princípios da
Educação Dialógica, tais como: a fé nos Homens, a esperança e o pensar crítico.
Conforme citado na primeira parte deste capítulo, a fé nos homens e a esperança
representam a valorização da autonomia e do poder de criação dos estudantes. Assim, o texto
de uma aula a distância deve reproduzir, simular ou antecipar a possibilidade de um diálogo
entre o autor e o leitor de maneira que o estudante se sinta em uma posição de igualdade e não
de inferioridade frente ao professor. Nessa perspectiva, o texto deve ser o responsável por
estabelecer relações entre os participantes, despertar seu interesse, gerar perguntas valiosas,
antecipar suas dificuldades, estimulando-os a agir. Deve, portanto, envolver todos os
estudantes, sem desconsiderar sua heterogeneidade e diversidade.
A linguagem, por sua vez, deve ser clara, direta e expressiva, transmitindo aos
estudantes a idéia de uma interlocução permanente com o professor, de maneira tal que ambos
participem conjuntamente da elaboração dos conhecimentos esperados. “O processo de
significação de um texto só será possível, portanto, quando do encontro/diálogo/interlocução
entre autor-leitor, mediado pelo texto” (NEDER, 2005, p. 196).
No que diz respeito ao exercício de um pensar crítico na EaD o texto dos materiais
didáticos precisa ser interativo, desafiador, problematizador. O professor responsável por
elaborar esses materiais, não precisa dar respostas prontas aos estudantes, mas oferecer-lhes
caminhos para uma reflexão, trabalhando sua autonomia e transformando-o num co-produtor
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...os discursos autoritários podem ser observados nos textos didáticos quando
explicam fatos, situações, idéias e relações sem o embate das vozes ou o
cruzamento das interpretações, e sem apresentar os elementos de sua construção
histórica – a partir de questões específicas de interação, compreensão e
significação. Sem dar importância aos efeitos de sentido, tais discursos tornam a
significação unidirecionalmente baseada no autor do texto, esvaziando o papel ativo
do receptor/leitor que atribui sentido a partir de sua própria trajetória sociocultural e
seu mundo interior (MORAES et al, p. 8).
navegação de acordo com seu interesse e criatividade, ao mesmo tempo em que assume sua
autonomia na construção dos saberes.
Outro aspecto ressaltado por Kenski (2004) quanto ao hipertexto e que demonstra sua
utilidade como instrumento da dialogicidade é a experiência multissensorial nele presente. A
leitura de um texto linear articula o sentido da visão com o cérebro sinalizando algum tipo de
interatividade entre o autor do texto e o leitor. Essa experiência não se compara, porém, à
leitura de um texto digital repleto de recursos de hipertexto, onde a visão se articula com a
audição e o tato, semelhante ao que se processa em um diálogo presencial entre pessoas em
uma conversação. Pouco ou muito forçosa, essa analogia demonstra que o educador dialógico
da EaD pode estabelecer redes de informações para que seus alunos dialoguem com os
materiais didáticos e construam significados mediante sua própria ação sobre o texto,
ampliando seus conhecimentos.
Esse tipo de criação não se faz, porém, de qualquer forma ou de maneira isolada. Uma
atitude dialógica é necessária desde o projeto do curso, no conhecimento e valorização dos
interesses dos educandos, passando pelo trabalho de uma equipe multidisciplinar, durante a
elaboração dos materiais pedagógicos, sem, contudo, minimizar a habilidade que o próprio
educador precisa ter quanto ao uso da tecnologia. A conjugação desses aspectos o revestirá de
ferramentas para o desenvolvimento de uma EaD dialógica, progressista e emancipadora.
A postura dialógica nos materiais para a EaD também se traduz na proposta de alunos
como autores. Mattos et al (2003) descrevem uma experiência em um curso de didática para
professores universitários, na qual introduziu-se uma abordagem colaborativa do fenômeno
educativo on-line, inspirada no método de formação da consciência crítica de Paulo Freire. As
discussões realizadas pelos participantes em um fórum foram codificadas em material
didático pelo próprio grupo, com o auxílio de uma ferramenta computacional. Segundo os
autores, o sucesso de práticas ancoradas no diálogo devem se fundamentar “... na
compreensão dos processos culturais globais e locais que envolvem a prática docente e na
transformação destes processos através de uma intervenção consciente, coletiva e organizada”
(p. 8).
A perspectiva de alunos como autores completa o ciclo de uma educação com base no
diálogo. O ciclo inicia-se no planejamento do curso e preparação do material, concretiza-se na
prática pedagógica de professores e tutores e culmina com os materiais produzidos pelos
próprios alunos durante o curso. Tais materiais poderão ser adaptados e incorporados em
futuras edições desse mesmo curso.
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Conclusão
Referências
FREIRE, P. F. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006, 44° edição.
___________. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007, 35° edição.