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manutenção da importância econômica da escravidão no Grão-Pará ao longo de todo o século
19, pelo menos, nos casos das três regiões paraenses aqui analisadas: Belém, capital e
principal núcleo urbano, e Baixo Tocantins e Zona Guajarina, que constituíam o principal
cinturão agroextrativista do Pará. A investigação dessas diferentes regiões que, efetivamente,
vivenciaram de formas distintas o evolver do Pará oitocentista ensejou a construção de um
quadro analítico mais amplo, que pôde evidenciar heterogeneidades internas na província em
relação à importância econômica dos escravos e aos seus mecanismos de reprodução.
Em um segundo momento, mostramos como tal leitura foi sendo gradualmente deixa-
da de lado, parcialmente, nas décadas de 1940 e 1950 e, em definitivo, a partir dos estudos
revisionistas dos anos de 1970. Boa parte dos estudos desenvolvidos, da década de 1970 em
diante, se notabilizou por relativizar a aplicação de modelos clássicos da dinâmica de
funcionamento da economia colonial brasileira, como o chamado “paradigma pradiano”, à
realidade da Amazônia. Salvo estudos excepcionais que puseram em xeque a eficácia da
Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão em fomentar o desenvolvimento
econômico da região, através da consolidação de empresas agrárias assentadas no uso da mão
de obra africana, a maioria dos trabalhos desse contexto evidenciou o sucesso da Companhia
na consolidação desses empreendimentos não somente ao avigorar esforços anteriores de
constituição de sistemas agrários na Amazônia, mas também de estabelecer novos sistemas
agrários na região.
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produzidos no Grão-Pará, principalmente daqueles cuja produção estava relacionada, em
maior ou menor nível, à mão de obra cativa. A partir dessa discussão, buscamos contrapor a
ideia de um caráter basicamente extrativista da economia amazônica na longa duração,
demonstrando a importância da agricultura e, consequentemente, dos gêneros agrícolas na
composição da pauta de exportações do Pará e na dinâmica de abastecimento da capital da
província, Belém. Paralelamente, relativizamos também algumas leituras quanto ao impacto
da Cabanagem na economia amazônica da primeira metade do século.
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pequenos ou médios proprietários e que a maioria dos escravos também estava alocada nos
plantéis com menos de 20 cativos. No Baixo Tocantins e na Zona Guajarina a maior parte dos
escravos estava concentrada nos plantéis grandes, muito grandes, ou nos megaplantéis;
destoando daquilo que verificamos para Belém e produzindo um nível moderadamente forte
de concentração da posse de cativos. Tal nível oscilou de moderadamente forte, no primeiro
período, para mediano, no segundo período, e forte, no terceiro período – movimento inverso
ao observado para Belém.
O perfil dos escravos conforme a origem, o sexo e a idade não es- teve alheio às
transformações no perfil dos escravistas, nos padrões de posse e na própria economia
paraense com o progresso do século. Posto que as escravarias do núcleo urbano central de
Belém, do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina tenham manifestado uma composição etária
relativamente semelhante, havia marcantes diferenças, no que diz respeito aos pesos relativos
das mulheres cativas e dos cativos africanos na sua composição. Mesmo atendendo a uma
característica geral da população escrava do Grão-Pará (maior equilíbrio entre os sexos e
menor participação de africanos, em comparação a outras províncias brasileiras
economicamente mais dinâmicas), colacionando aquelas regiões, enquanto a população cativa
do núcleo urbano central de Belém apresentava maior concentração de mulheres, em todos os
três períodos analisados, a população cativa do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina
apresentou maior concentração de africanos no primeiro período de observação.
Passando à análise da família cativa, verificamos ter sido a mesma, uma realidade
presente em ambas as regiões analisadas, reunindo entre 1/5 e 1/3 dos escravos do núcleo
urbano central de Belém, do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina, ao longo do século 19.
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Embora os mecanismos endógenos de reprodução dos escravos de tais regiões limitassem à
família, tampouco a um único tipo de arranjo familiar, a família representou um fator de
grande importância e esteve no coração dos mecanismos de reprodução das suas escravarias.
Dada a pouca interação que tais regiões mantiveram com o tráfico, destacamos que a
fecundidade das escravas configurou um elemento-chave para a compreensão das formas
pelas quais a população escrava se reproduziu. Um primeiro indicativo da importância dessa
reprodução foi o elevado percentual de crianças escravas e ingênuas encontrado em nossa
amostra.