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RESUMO: Este artigo, visa, inicialmente, apresentar os principais aspectos desencadeados no processo
comunicativo e suas implicações socioculturais. Os pressupostos sociolinguísticos são correlacionados ao ensino
de forma a facilitar o entendimento da relação entre os sujeitos e a linguagem. A pesquisa desenvolvida para a
elaboração deste artigo, de natureza bibliográfica, consistiu em leitura de textos de autores pesquisadores da
Sociolinguística. Neste trabalho, apresenta-se os resultados do estudo feito a partir da fundamentação teórica.
Nesse sentido, apresenta-se uma síntese, nela estão descritos os principais pressupostos teóricos que
fundamentaram os princípios basilares da Sociolinguística. Destaque para a obra de William Labov, um dos mais
importantes pesquisadores dos estudos sociolinguísticos e grande colaborador da Sociolinguística, responsável por
grandes avanços na linguagem. Apresentamos uma síntese relacionada à variação linguística, designando os tipos
e contribuindo com uma reflexão acerca da abordagem, para tanto, buscou-se, fundamentar-se em estudos da área
da Sociolinguística Variacionista. O trabalho também apresenta, de forma sucinta, uma análise do corpus, Discurso
e Gramática; a língua falada e escrita na cidade do Natal, organizado pela professora Maria Angélica Furtado da
Cunha, no qual, foram observados depoimentos, através dos quais, podemos ter uma noção da heterogeneidade da
nossa língua, dentre outros aspectos que caracterizam a linguagem.
ABSTRACT: This article aims initially to present the main aspects triggered in the communicative process and
its sociocultural implications. The sociolinguistic assumptions are correlated to teaching in order to facilitate the
understanding of the relationship between subjects and language. The research developed for the elaboration of
this article, of a bibliographical nature, consisted of reading texts of authors authors of Sociolinguistics. In this
paper, we present the results of the study based on the theoretical basis. In this sense, a synthesis is presented,
which describes the main theoretical assumptions that underlie the basic principles of Sociolinguistics. The work
of William Labov, one of the most important researchers of sociolinguistic studies and a great contributor to
Sociolinguistics, is responsible for great advances in language. We present a synthesis related to the linguistic
variation, designating the types and contributing with a reflection about the approach, for that, it was sought, based
on studies in the area of Variationist Sociolinguistics. The paper also presents, briefly, an analysis of the corpus,
Discourse and Grammar; the language spoken and written in the city of Natal, organized by Professor Maria
Angélica Furtado da Cunha, in which, statements were observed, through which we can have a notion of the
heterogeneity of our language, among other aspects that characterize language.
Como pudemos perceber em Calvet (2002) , Bright foi um dos pioneiros a aprofundar-
se na Sociolinguística, a perceber sua abrangência e sua importância para os avanços nos
estudos da linguagem. Seus estudos foram fundamentais para compreendermos as abordagens
fundamentadas na Sociolinguística.
Um dos principais colaboradores da sociolinguística, William Bright, encarregou-se da
publicação das atas da reunião que aconteceu de 11 a 13 de maio, em Los Angeles, para uma
conferência sobre a sociolinguística, com 25 pesquisadores, dentre eles, Labov, que colaborou
com o trabalho hipercorreção como fator de variação.
De acordo com o trabalho intitulado Variação e Mudança Linguística (SALOMÃO,
2011), o termo “sociolinguística” surgiu no ano de 1939 no artigo Sociolinguistics in India
(HODSON, 1939). Contudo, esse trabalho não pretende se aprofundar nas origens da
sociolinguística, mas apresentar uma síntese dos principais pressupostos aplicados por esse
ramo da linguística e seus principais estudiosos.
Em suma, a Sociolinguística se ocupa de questões como: variação e mudança
linguística, bilinguismo, contato linguístico, línguas minoritárias, política e planejamento
linguístico, entre outras. Assim como William Bright, outro grande pesquisador que colaborou
enormemente com os estudos na área da sociolinguística foi William Labov.
Labov debruçou-se infatigavelmente nos estudos voltados para a relação entre língua e
sociedade, seu objetivo era sistematizar as variações existentes na língua falada através de
pesquisas que considerassem os fatores extralinguísticos. Tais fatores são: classe social, idade,
sexo, escolaridade, entre outros, no intuito de que pudessem demonstrar uma interdependência
entre o arcabouço linguístico dos falantes e o meio social em que vivem.
Em uma entrevista concedida ao Brasil no ano de 2007, o próprio Labov discorre acerca
de suas primeiras pesquisas e estudos em linguística:
“Quando eu comecei na Linguística, eu tinha em mente uma mudança para um campo
mais científico, baseado na maneira como as pessoas usavam a linguagem na vida
cotidiana. Quando eu comecei a entrevistar pessoas e gravar suas falas, descobri que
a fala cotidiana envolvia muita variação linguística, algo com que a teoria padrão não
estava preparada para lidar. As ferramentas para estudar a variação e a mudança
sincrônica surgiram dessa situação. Mais tarde, o estudo da variação linguística
forneceu respostas claras para muitos dos problemas que não eram resolvidos por uma
visão discreta da estrutura linguística.” (LABOV;2OO7)
Como afirma Labov em seu depoimento ele foi um dos primeiros a se preocupar com
os estudos em variação linguística num momento em que a teoria padrão ainda não se
encontrava preparada para lidar com essas questões.
Labov teve sua primeira pesquisa realizada em 1963, na ilha de Martha’s Vineyard, no
Estado de Massachusetts (EUA). Ele investigou o inglês falado na ilha. O método que ele
utilizou para essa pesquisa era até então inédito, o método teórico-metodológico, esse método
ressalta o relevante papel dos fatores sociais na explicação da variação linguística.
O método teórico-metodológico propõe analisar e interpretar os fenômenos linguísticos
no contexto social por meio de estatísticas. A escolha da Ilha de Martha’s, feita por Labov, foi
intencional. Tratava-se de uma comunidade separada do Continente Norte-Americano e
apresentava uma complexidade social e geográfica. A comunidade desenvolvia uma resistência
linguística, mantinha muitas características antigas e, provavelmente, típicas da Inglaterra do
século XVIII, preservadas mesmo depois de muitas gerações.
William Labov, sem dúvidas, tem muita representatividade para a Sociolinguística e
para os estudos sobre a linguagem. No Brasil, os estudos sociolinguísticos, fundamentados no
pensamento de Labov, tiveram início na década de 1970, como afirma Gorski et all (2010):
No Brasil, as pesquisas na área da Sociolinguística laboviana tiveram início na
Universidade Federal do Rio de janeiro, na década de 70, sob a orientação do professor
Anthony Naro. Desde então, as linhas de pesquisa que se ocupam da descrição de
fenômenos variáveis no português do Brasil (PB) se multiplicaram, espalhando-se
pelas diferentes regiões do país. (GORSKI et all;2010:p.23)
É a variação diatópica, também conhecida por regional ou, ainda, geográfica, a responsável por
podermos identificar, às vezes com bastante precisão, a origem de uma pessoa através do modo
como ela fala. É possível saber quando um falante é gaúcho, mineiro ou de um dos estados do
Nordeste, por exemplo.
A variação regional pode ser estudada colocando-se em oposição diferentes tipos de
unidades espaciais: podemos dizer que existe variação regional entre Brasil e Portugal (dois
países), entre o Nordeste e o Sul do Brasil (duas regiões de um mesmo país), entre Paraná e
Santa Catarina (dois estados de uma mesma região), entre Chapecó e Florianópolis (duas
cidades de um mesmo estado) e mesmo entre falantes do Centro de Florianópolis e falantes do
Ribeirão da Ilha (dois bairros de uma mesma cidade). É comum também que se analise variação
regional entre zonas urbanas e zonas rurais ou do interior.
Da mesma forma que a fala pode carregar marcas de diferentes regiões, também pode
refletir diferentes características sociais dos falantes. A essa propriedade dá-se o nome de
variação social. Os principais fatores sociais que condicionam a variação linguística são o grau
de escolaridade, o nível socioeconômico, o sexo/gênero, a faixa etária e mesmo a profissão dos
falantes, conforme exemplificamos a seguir.
GRAU DE ESCOLARIDADE.
Por terem um contato maior com a cultura letrada e com o uso da variedade padrão da
língua, supõe-se que, em geral, falantes altamente escolarizados dificilmente produzirão formas
como nós vai ou a gente vamos, que são típicas de falantes pouco ou não escolarizados. É mais
provável que eles falem nós vamos e a gente vai.
NÍVEL SOCIOECONÔMICO.
É um fator muito estudado, principalmente nos trabalhos de Labov e de seu grupo de
pesquisa sobre o inglês de Nova Iorque. Resultados de seus estudos mostram que o grupo social
menos privilegiado favorece o uso de variantes não-padrão da língua, enquanto os mais
privilegiados optam pela variante padrão. Mas essa constatação, em geral, é correlacionada com
ocupação e estratificação estilística.
O efeito de indicadores sociais sobre o perfil sociolinguístico dos falantes não é nada
simples. Segundo Mollica (2008, p.29), origem social, renda, acesso a bens materiais e
culturais, ocupação, grau de inserção em redes sociais são alguns dos indicadores sociais. No
Brasil, há poucos estudos que levam em consideração esses indicadores.
SEXO/GÊNERO.
Quanto à variação social relacionada a sexo/gênero dos informantes, Paiva (2008, p. 39)
levanta a seguinte questão:
Como explicar os padrões regulares depreendidos em diferentes pesquisas e a natureza
das possíveis diferenças linguísticas entre homens e mulheres?
Alguns estudos mostram que as mulheres são mais conservadoras do que os homens.
Elas, em geral, preferem usar as variantes reconhecidas socialmente; é como se elas fossem
mais receptivas à atuação normatizadora da escola. Esses resultados, segundo Paiva (2008),
requerem cautela, afinal, os papéis feminino e masculino, nas diversas sociedades, estão, a todo
momento, sofrendo transformações.
FAIXA ETÁRIA.
A questão da relação entre variação linguística e idade do falante tem suscitado muitas
reflexões dentre os sociolinguistas no Brasil e no mundo, pois, em geral, entra em jogo a questão
da mudança linguística.
3.3 VARIAÇÃO ESTILÍSTICA OU DIAFÁSICA
4 ANÁLISE DO CORPUS
Para fazer uma comparação entre os discursos de fala dos gêneros masculino e feminino,
apresento amostras de dois adultos e duas crianças, dentro desses discursos de fala, apresentar-
se-á uma análise do comportamento linguístico desses informantes.
5 AMOSTRAS
é:: assim é ... eu vou contar um ... um ... um acidente que aconteceu comigo em setenta
e três né... uma coisa que marcou muito ... na minha vida ... é eu tinha seis anos ... aí
nós saímos da ... nós morávamos em Nova Descoberta ... aí nós saímos de casa né ...
a passeio durante o ... pela manhã ...eu ... eu ... meu irmão ... papai ... um motorista ...
num jipe ... e a empregada que ia grávida também né ... a empregada lá de casa ... aí
a gente foi pra Pium né ... aí a gente foi de manhã ... aí ficamo lá o dia todinho né ...
aí o pessoal bebeu e tudo né ... foi na volta ... é:: à tardezinha aí ... a gente ia num ...
num jipe né ... num jipe até velho sem capota sem nada ... de praia ... (CORPUS D e
G Natal)
b)
aí ele veio no ... na ... na ... na ... na ((riso)) aí ele veio pediu ... pediu pra passar ... aí
o motorista também tava muito melado né ... aí passou ... aí na ... na ... na ... aí o
motorista não deixou passar ... aí ele cortou pela direita e trancou a gente e jogou todo
mundo na BR ... aí foi aquele aperreio todo né ... eu ... eu perdi logo os sentidos ... eu
né ... num ... num me lembrei mais de nada né ... só quem ficou desacordado foi a
empregada ... papai ... meu irmão ... e o motorista lá ... ((carro passando)) aí ... foi
sorte ... sorte da gente também porque apesar de ser um
... um horário ... muito movimentado né ... a gente num ... a gente ... não passou né
nen/ nen/
nenhum carro na hora ... porque a gente ... ficou todo mundo estendido na ... na ... na
... lá na BR ...na pista (CORPUS D e G Natal)
d) Agora as amostras dos discursos de duas crianças começando pelo sexo masculino.
Wesley, 7 anos:
parar na:: na:: no rio ... no rio lá ... aí ... aí ... aí tinha uma vaca ... aí
tinha ... um ... um ... um monstro ... aí chegou He Man ... brigou ... brigou ...
aí foi na outra ... quando foi na outra ... aí começou outra a brigar ... aí ... aí:: é::
aí:: como é? aí tinha um menino ... aí tinha um:: um negócio assim ... assim ... aí
apertava um botão e fazia ZUMM ((o informante imita o som)) aí ... aí ...
chegou os monte de ... de soldado ... aí brigaram com ele ... ((galo cantando)) aí ele
saiu ... e tinha um monte de soldado no avião ... aí ele saiu no outro avião ... matou
um ... matou outro ... aí chegou (CORPUS D e G Natal)
vou continuar ... aí ... lá ... a gente ... a gente ... foi passear ... na floresta ... aí quando
terminou as... mais prima ... ( ) a gente disse aonde que a ma/ a ma/ a nossa mãe tava
... pra ir conversar ... aí tava lá:: é:: aonde que vendia pirulito ... aí ... pode dizer é:: é::
número é::? foi segunda-feira ... dez de outubro ... deixe eu pensar mais ... é foi um
bocado de coisa ... quando minha prima chegou ... aí juntou as coisa pra ficar mais ...
(CORPUS D e G Natal)
Ao analisar o corpus, particularmente as amostras aqui apresentadas, percebe-se que há
várias pausas nos discursos, e é comum o uso do aí entre adultos e crianças, nos dois gêneros.