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Segundo Xavier (2005), essa é uma premissa do cinema, que para o autor é
“sempre um fato de linguagem, um discurso produzido e controlado, de diferentes formas,
por uma fonte produtora” (2005: 14). Metz (1972) afirma que essa é, verdadeiramente, a
intenção do filme, já que “a característica do cinema é transformar o mundo em discurso”
(1972: 137).
Por meio da seleção das cenas, ordenação dos planos, ligação de imagem e som e
concepção de uma sequência narrativa, o montador e, em última instância, o realizador
interferem diretamente...
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...em uma obra. Xavier (2003: 33) analisa que a combinação de imagens entre si,
resultado da sequência de planos, cria significados que não estão presentes nesses trechos Commented [JLDC1]: A criação de significados e sentidos
de forma isolada, mas se tornam evidentes no conjunto. pela montagem + definição
Mourão (2006) amplia o processo da montagem, caracterizando-o como um
momento de criação fundamental no filme, uma dimensão central e significativa.
Segundo a autora, ela atua de forma decisiva na maneira de pensar e fazer cinema: “A
montagem (...) é o momento em que se organizam os materiais e se define a estrutura da
narrativa no jogo que se instaura na associação de imagens e sons”. Para Metz (1972:
137), a montagem é também uma forma de análise, a articulação de uma realidade que é
representada na tela. A maneira como as cenas são selecionadas e mostradas, para o autor,
é um modo de organizar e decupar os conjuntos com uma intenção precisa, longe da obra
do acaso.
Odin (1997: 191) corrobora essa visão, e teoriza que há um reconhecimento por
parte de todos os envolvidos com o cinema – realizadores, espectadores, críticos – de que
a montagem é um grande nível de estruturação do filme. Em outra obra (2000), ele afirma
que para haver narração é fundamental que haja a montagem. “O trabalho de delimitação
de um início e de um fim é um trabalho narrativo bem elementar, portanto, não há dúvida:
sem ele, não há narrativa”.
Em seu início, até meados da década de 1910, antes do início da montagem
clássica de D. W. Griffith, o cinema ainda não tinha desenvolvido uma linguagem
narrativa evidente, que seria elaborada com o tempo. Odin (idem: 27) nota uma diferença
do comportamento da montagem nesses períodos. Para ele, o cinema dos primeiros
tempos era mais um cinema de “mostração” que de montagem. Já o cinema atual
“mobiliza todos os recursos da montagem e se afirma como um cinema da narração”...
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... Para Mourão (2006: 245), com Griffith a montagem passa a ser de início uma
operação sintagmática, com a fragmentação e seleção de espaços, e também do tempo,
configurando-se assim em duas dimensões: uma temporal e outra espacial.
Nesse contexto, Eisenstein assume a montagem como discurso e construção, e
potencializa ao máximo sua aplicação, ao creditar a esse processo papel essencial no
cinema, já que por meio da montagem essa arte alcança sua magnitude e produz um efeito
específico que deve ser sentido pelo espectador do filme. “Podemos chamar este estilo de
montagem proposto por Eisenstein de montagem discursiva”, pois utiliza as formas do
discurso e se define por uma intenção significante. Commented [JLDC2]: A partir daqui: diferenças entre
Sobre a montagem de Bazin, o crítico sempre se preocupou com a utilização em Eisenstein e Bazin
excesso da montagem nas obras e que ela devia exercer a menor intervenção possível nas
coisas do mundo: “tanto mais legítima quanto mais reproduzir as condições de nosso olhar
ancorado no corpo, vivenciando uma duração e uma circunstância em sua continuidade”
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... cadência, por isso uma predileção pelo plano-sequência, como coloca Aumont.
“Bazin pôde afirmar que o plano-sequência dava tanta impressão de realidade que se
tratava de uma representação do real de uma natureza toda especial, de tendência mais
absoluta que as outras”.
Ainda que sua teoria abarque o cinema além de gêneros específicos, Bazin aborda
com mais ênfase o filme ficcional, e estabelece que os realizadores deveriam se
comprometer a dar a impressão de realidade em suas obras, como se fossem os olhos
humanos que estivessem a captura-las. Compromisso com a verossimilhança,
historicamente ele é ainda mais exigido ao tratarmos do cinema documental.
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Citação: E é por isso que eu acho esse processo manipulativo: o cérebro humano
esquece os cortes – uma faculdade especificamente humana, que, como eu aprenderei,
Noam chama de “continuidade psíquica. O cérebro absorve uma continuidade construída
como realidade e consequentemente se convence de testemunhar uma justa representação
do assunto.
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Mesmo que ilustre de forma lúdica, a imagem é um artifício didático para uma
teoria de não tão fácil entendimento pelo discurso do personagem.
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Impressão da realidade
Tudo isto, que em princípio pode parecer abstrato (como falar de identidade e de
sujeito espectador) encontra sua formulação concreta na teoria de montagem de
Eisenstein que, desenvolvida principalmente entre as décadas de 20 e 30, antecipa
discussões que mantêm sua atualidade pelo fato de sentarem as bases de uma linguagem,
no caso, cinematográfica e, por que não, audiovisual.
Dessa maneira, o reflexo deixa de ser, no cinema de Eisenstein, uma “impressão
de realidade”. A percepção que o espectador tem do filme ultrapassa a noção de “mundo
real”. Esse significado é produzido pela montagem no momento em que ela irá promover
a junção entre o imaginário proposto pela ação interior, a história narrada, e o imaginário
do espectador, chegando assim ao “real” do reflexo.
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Cinema Narrativo
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O primeiro período do cinema será definido pela arte da montagem, onde quatro
tendências contribuíram sem dúvida nenhuma para consolidação da forma fílmica e do
surgimento das imagens-movimento proposta por Deleuze. São propostas de montagem
totalmente antagônicas, marcadas pelas variedades teóricas dos respectivos cineastas. São
elas: a montagem orgânica da escola americana, sendo Griffith seu grande mestre, a
montagem dialética da escola soviética, com destaque aos grandes pensadores Eisenstein Commented [JLDC5]: A montagem e suas escolas
e Vertov, a montagem impressionista da escola francesa do pré-guerra, onde os diretores
de maior expressão foram Epstein e Gance, a montagem expressionista da escola alemã,
com Lang, Wiene e Murnau os maiores diretores dessa teoria
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Essa tendência de montagem tem em seu nome “orgânica”, devido a Griffith ter
enxergado as imagens-movimento como uma organização, uma unidade orgânica, onde
o organismo é um conjunto de partes diferenciadas, porém inserida num mundo diverso. Commented [JLDC6]: Montagem paralela de Griffith e
A característica principal de seu estilo é a montagem paralela, sendo essa dividida seus três eixos principais
em três eixos principais. O primeiro é a montagem de alternância de imagens e partes
diferenciadas, e na maior parte das vezes com conceitos antagônicos.
O segundo eixo de sua montagem é a alternância das dimensões dos planos,
implicando em um novo significado e sentido para o plano fechado. Com a utilização do
plano aproximado em rostos e objetos em seus filmes, Griffith dá ao conjunto um pouco
de subjetividade. A ideia principal do plano fechado é fazer o espectador perceber a
particularidade que acontece naquele momento, que é de suma importância para o
percurso da ação...
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... Ao aproximar a câmera do objeto que está sendo filmado, ele traz o espectador
para perto do personagem, fazendo com que ele compartilhe de seu drama, buscando com
esse efeito um pouco de densidade humana para a tela do cinema.
O terceiro e último eixo da montagem de Griffith, é definida pela alternância de
ações convergentes, momentos de duas situações que convergirão para o mesmo fim, isto
é, uma mesma ação em um mesmo espaço, porém em momentos diferentes, que ao final
chegarão ao mesmo lugar.
O ritmo da ação nasce com a alternância dos planos. Com os cortes sendo
realizados na duração da ação e sendo abreviados progressivamente. À medida que vai
chegando ao fim, mais rápida é a alternância dos planos, construindo assim a montagem
acelerada. Os cortes praticados durante a ação, colocaram dinamismo em seus filmes,
introduzindo no cinema a técnica do suspense emotivo, presentes em outras artes
narrativas.
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Para ele o filme deveria ser pensado a partir de ações dominantes que privilegiam
o conflito, sendo esse o grande conceito que envolve a montagem eisensteiniana.
Eisenstein se diferencia da montagem paralela de Griffith por desenvolver uma
técnica de montagem onde a principal característica são as oposições, como saltos
qualitativos e quantitativos entre uma imagem e outra ou entre um plano e outro, técnica
essa apelidada de montagem de saltos. Outra diferença entre esses autores, é o fato de que
para Eisenstein as imagens-movimento não são apenas elementos da montagem, e sim
uma célula de montagem, propondo sob a lei da dialética um cinema que pensa por
imagens em vez de apenas narrar por imagens, como fazia Griffith.
Para Eisenstein a mudança de quadro na montagem, não implica apenas na
mudança de conteúdo da imagem, mas também uma mudança no conteúdo de sua forma,
mudando assim sua potência, seu significado. Essas mudanças com suas respectivas
associações alcançarão um raciocínio intelectual, ou seja, o desenvolvimento da
consciência. Para ele a imagem é uma unidade complexa composta por planos montados
de modo a propor um significado para um determinado momento do filme.
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A ideia de montagem de Eisenstein implica no raciocínio, no método de pensar, e
está estritamente ligada ao sentido mais amplo de montagem que é o do processo do
pensamento.
A Montagem
a montagem não é somente a fase terminal de um processo mas, como defendem Commented [JLDC7]: Definição de montagem
vários autores, a...
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... modalidade que articula todo o conjunto do filme, indo do roteiro até o
resultado/produto.
No decorrer de sua existência, a montagem passou a ser organizada como
profissão e tornou-se uma atividade técnica responsável pela capacidade inventiva do
realizador, produzindo no cinema o movimento vibratório dos signos capaz de lhe
fornecer força poética.
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Griffith, como sabemos, foi um dos realizadores que utilizou a montagem como
elemento de criação.
A obra de Griffith é de suma importância para o cinema, por ter lançado elementos
inovadores para a linguagem cinematográfica e, ao propor através da montagem, um
estilo que se cristalizou como modelo apropriado de narrativa para o grande público. Commented [JLDC8]: Griffith e as três formas de
Deleuze aponta ainda três formas de montagem ou de alternância rítmicas criadas montagem
por Griffith. A primeira é a alternância das partes diferenciadas tomadas em relações
binárias, que constituem a montagem paralela:
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Visando extrair efeitos dramáticos do ângulo de visão, o primeiro plano terá como
objetivo chamar a atenção do espectador sobre o pormenor que é, em determinado
momento, importante para o percurso da ação.
Griffith, ao colocar a câmera mais perto de seu objeto, permite ao espectador uma
proximidade maior com o personagem, fazendo-o “partilhar” de seu drama.
A terceira forma de montagem alternada inaugurada por Griffith, a das ações
convergentes, que convergem para o mesmo fim, fazendo alternarem-se os momentos de
duas situações que vão se encontrar.
Refletindo sobre a montagem concorrente ou convergente griffithiana, Machado
afirma que o cineasta irá beneficiar-se em seus filmes do dinamismo resultante dos cortes
praticados em plena duração da ação, introduzindo no cinema a técnica do suspense
emotivo, já conhecida em outras artes narrativas.
São estas, para Deleuze, as três formas de montagem ou de alternância rítmicas
inauguradas pelos filmes de Griffith: alternância das partes diferenciadas, alternância das
dimensões...
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Griffith vai aprender a dar ritmo à ação, abreviando a duração dos planos
progressivamente, à medida que se aproxima o fim. E quanto mais as ações convergem,
quanto mais a junção se aproxima, mais rápida é a alternância (montagem acelerada).
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O papel do montador
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Parte I – Capítulo 1
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Começando com a tentativa de mover a câmera para mais perto da ação em 1908,
Griffith continuaria experimentando a fragmentação de cenas.
Griffith continuou seus experimentos a fim de cada vez mais envolver
emocionalmente a plateia de seus filmes. Griffith demonstrou que a cena pode ser
fragmentada em planos gerais, planos médios e planos próximos para permitir que o
público entre gradualmente na sua emoção. Em 1908, o efeito era chocante e efetivo.
Como todas as inovações de Griffith, o close-up foi imediatamente adotado por outros
realizadores, o que indica também a aceitação pelas plateias.
No mesmo filme, Griffith corta de um plano da esposa para um plano de seu
marido longe de casa. Os pensamentos da mulher transformam-se em imagens e Griffith
faz uma série de intercalações de planos da esposa e do marido. O insert...
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... serve para introduzir o novo elemento dramático: o marido. Esse precoce
exemplo da montagem paralela demonstra a experimentação de Griffith com a
organização de planos.
Em 1909, Griffith desenvolve a ideia da montagem paralela em The Lonely Villa,
a história de um resgate. Griffith intercala cenas de ladrões invadindo a casa de uma
família indefesa com cenas do marido correndo para salvá-la. Nesse filme, Griffith
constrói as cenas usando planos cada vez mais curtos para aumentar a dramaticidade. O
suspense é forte, e o resgate, catártico. A intercalação de cenas também soluciona o
problema do tempo, pois não é necessário apresentar ações completas para alcançar o
realismo. O procedimento permite que as cenas possam ser fragmentadas e que apenas
partes delas precisem realmente ser mostradas. O tempo dramático passa a substituir o
tempo real como critério para a montagem.
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Perspectivas internacionais
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Pudovkin fez várias experiências a partir dessa ideia. Seu trabalho com Lev
Kulechov sugere que o mesmo plano justaposto com diferentes planos sucessivos pode
levar a diversos resultados na compreensão do público. Na sua conhecida experiência
com Ivan Mosjukhin, ele usou o mesmo plano de um caixão com uma mulher morta e
uma criança brincando com um brinquedo. A plateia interpretou as três sequências como
a de um homem com fome, um marido triste e um adulto alegre. No entanto, o close-up
era sempre o mesmo.
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A montagem métrica
A montagem rítmica
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A montagem tonal
A montagem atonal
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Capítulo 18 - Comédia
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Comédia de personagem
Os papeis dos personagens cômicos são associados a uma personae particular que
eles cultivam e que, geralmente, não mudam ao longo da carreira. O papel do personagem
é um tanto diferente de um grande ator cômico para um ator dramático...
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Comédia de situação
Tende a ser realista e depende dos personagens. Como resultado, ela é geralmente
verbal, diferente da comédia-pastelão. O fundamento da montagem está no tempo para
acentuar a atuação.
Sátira
Farsa
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... tem uma longa tradição dos personagens cômicos que são a meta do humor.
Além dos atores, a meta do humor pode ser destacada pelo montador.
A comédia vem da surpresa, mas o grau da comédia vem da profundidade da meta
do humor.
Quando a comédia acontece às custas dos outros, o grau de humor relaciona-se ao
grau de crueldade, mas apenas até um limite. Se o personagem morre por escorregar em
uma casca de banana, o humor se perde. O grau de humilhação e dor é variável. Muito ou
pouco não ajudam a situação cômica. É por isso que tantos diretores e editores falam
sobre a dificuldade da comédia. Muitos reclamam que este é o tipo de filme mais difícil
de dirigir e montar.
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Na maior parte dos casos, uma montagem normal pode ser considerada
essencialmente como narrativa. Pelo contrário, uma montagem muito rápida ou muito
lenta é mais uma montagem expressiva, porque o ritmo da montagem desempenha então
um papel diretamente psicológico, como adiante se verá.
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Mas foi Griffith quem fez a linguagem fílmica dar um passo em frente decisivo.
Desde 1911, em The Lonedale Operator e depois em The Musketeers of Pig Alley, que
ele pratica com maestria a montagem alternada e utiliza todo o gênero de planos,
incluindo os grandes planos de objetos (inserts) e primeiros planos de rostos. “Se ele não
foi o inventor nem da montagem nem do grande plano [...] pelo menos foi ele o primeiro
a saber organizá-los e a fazer deles um meio de expressão, sublinha Mitry”.
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A perseguição já não tinha o mínimo papel neste filme, mas o seu autor conservava
nele um processo nascido da perseguição: a justaposição de cenas curtas representadas
em locais diferentes. A ligação entre essas cenas já não era constituída pela sua sucessão
simultânea no tempo, nem pela deslocação do herói no espaço, mas por uma comunidade
de pensamento, de acção dramática.
Deste modo, realiza-se o segundo progresso decisivo: a descoberta da montagem
expressiva, que comporta aqui a utilização de dois tipos de montagem a que eu chamo
montagem alternada (baseada na simultaneidade temporal de duas ações) e montagem
paralela (baseada numa aproximação simbólica) [...] Esta montagem expressiva, em que
a sucessão de planos já não é apenas ditada pela necessidade de contar uma história, mas
também pela vontade de provocar no espectador um choque psicológico, vai ser levada
ao apogeu pelos soviéticos, que lhe conferem a forma do terceiro progresso decisivo, a
montagem intelectual ou ideológica.
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O principal teórico-prático deste tipo de montagem é Eisenstein, que aplica ao
cinema a noção de atracção, que foi beber ao seu mestre Meyerhold e que pôs em prática
nos seus espetáculos de agit-prop para o Prolekult, comparando-a ao estilo do caricaturista
George Grosz e às fotomontagens de Rodtchenko. Ele define-a da seguinte maneira: “todo
o momento agressivo – isto é, qualquer elemento teatral exerce sobre o espectador uma
pressão sensorial ou psicológica [...] de forma a produzir esta ou aquela emoção de
choque”. A montagem das atracções, escreveu ele, vai buscar o nome a duas palavras
“das quais uma vem da indústria” (reunião de peças de máquina) “e a outra do music hall”
(entrada de palhaços excêntricos) e a sua finalidade é “uma encenação activa”, em vez do
“reflexo estático de um acontecimento”, e a “orientação do espectador para o sentido
desejado através de uma série de pressões calculadas com base no seu aspecto psíquico”.
Mais tarde, a sua prática evoluiu para a noção mais lata daquilo a que se pode chamar
montagem reflexa e ele irá escrever em 1945: “Se nessa época eu tivesse conhecido
melhor Pavlov, ter-lhe-ia chamado teoria dos excitantes estéticos”. O exempli mais
impressionante da montagem das atracções é a famosa sequência de Stachka, que justapõe
o massacre dos operários pelo exército e uma cena de degolação de um animal no
matadouro e encontram-se em Oktiabt e Staroye i Novoye exemplos de montagem
reflexa, vindo mais tarde esta noção a ser enriquecida pelo aparecimento do sonoro, dos
conceitos de contraponto audiovisual e de montagem vertical.
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4 – qualquer coisa ou alguém, que está fora do seu campo de visão, da sua
consciência e da sua memória, mas que lhe diz respeito por qualquer razão.
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TIPOS DE MONTAGEM
Mas foi Eisenstein quem, segundo minha opinião, proporcionou a melhor tabela
de montagem, porque ela comporta (ainda que sua leitura seja um pouco difícil) todos os
tipos de montagem, dos mais elementares aos mais complicados:
Montagem métrica (análoga à medida musical e baseada no comprimento dos
planos)
Montagem rítmica (baseada no comprimento dos planos e no movimento dentro
do enquadramento)
Montagem tonal (baseada na ressonância emocional do plano)
Montagem harmônica (baseada na dominante afectiva ao nível da totalidade do
filme)
Montagem intelectual (combinação da ressonância intelectual com a combinação
afectiva ao nível da consciência reflexa)
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A MONTAGEM RÍTMICA
É a forma primeira, elementar técnica da montagem. A montagem rítmica tem,
antes de tudo, um aspecto métrico que diz respeito ao comprimento dos planos,
determinado pelo grau de interesse psicológico que o seu conteúdo suscita. “Um plano
não é compreendido do princípio ao fim da mesma maneira. Primeiramente é reconhecido
e localizado. Então surge um momento máximo de atenção, em que se apreende o seu
significado, a razão de ser do plano: gesto, palavra ou movimento que fazem progredir o
desenrolar da acção. Seguidamente, a atenção baixa e, se o plano se prolonga, surge um
instante de aborrecimento, de impaciência. Se cada plano for cortado exatamente no
momento em que a atenção baixa, para ser substituído por outro, a atenção será
constantemente mantida em expectativa, e então dir-se-á que o filme tem ritmo. O que se
chama ritmo cinematográfico não é, portanto, mais do que a apreensão das relações de
tempo entre os planos, a coincidência entre a duração de cada plano e os movimentos de
atenção que suscita e satisfaz”
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(mesmo parágrafo) Mas pode-se, no entanto, afirmar a necessidade de uma desejável
correlação entre o ritmo (movimento da imagem, das imagens entre si) e o movimento na
imagem: dar a marchar rápida de um comboio, por exemplo, parece exigir, de preferência,
planos curtos, ainda que o movimento no plano possibilite (como se verá adiante)
compensar em certa medida a montagem rápida ou “impressionista” que o cinema
praticamente abandonou há já vinte anos, em proveito de uma montagem descritiva.
O ponto de vista de J.P. Chartier dá demasiada importância a um fator
extremamente subjectivo e variável: a atenção do espectador. É claro que a partir de um
determinado nível de subtileza, o realizados deixa de estabelecer o comprimento dos seus
planos em função daquilo que deve mostrar (materialmente) e prefere orientar-se por
aquilo que deve sugerir (psicologicamente), quer dizer, determina a duração dos planos
em função da dominante afectiva do argumento ou de tal ou tal parte do argumento. O
comprimento dos planos, que para o espectador é duração, condiciona-se, no fim das
contas, menos pela necessidade da percepção do seu conteúdo do que pela adequação
indispensável entre o ritmo a criar e a dominante psicológica que o realizador deseja
tornar sensível no seu filme.
Assim, no caso dos planos em geral longos, teremos um ritmo lento, dando a
impressão de languidez, de fusão sensual na natureza, de ociosidade e aborrecimento, de
queda na abjecção, de impotência perante o destino cego, de monotonia desesperante na
difícil procura da comunicação humana. Pelo contrário, os planos em maioria curtos ou
muito curtos (flashes) darão um ritmo rápido, nervoso, dinâmico, facilmente trágico
(montagem “impressionista”) com efeitos de cólera, de velocidade de...
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A MONTAGEM IDEOLÓGICA
O papel ideológico da montagem, sendo o termo tomado num sentido muito largo
e designado as aproximações dos planos destinadas a comunicar ao espectador um
ponto de vista, um...
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... sentimento ou uma ideia mais ou menos precisos e gerais. A um nível superior,
a montagem desempenha um papel intelectual propriamente dito, criando ou
evidenciando relações entre acontecimentos, objetos ou personagens. É possível agrupar
todos estes tipos de relações em cinco grupos principais:
Abramos aqui um parêntese para falar rapidamente do cômico, de que uma faz
fontes mais puras, do ponto de vista cinematográfico, é, sem dúvida, a que se baseia na
montagem ou, para ser mais explícito, numa ruptura da tensão psicológica, ruptura essa
provocada pela montagem (mudança de plano ou, em última análise, movimento de
câmera, que neste caso é assimilável a uma simples conjunção). Reencontra-se aqui um
fenômeno já observado a propósito das metáforas: se há queda de tensão, o riso é o sinal
manifesto da libertação do espectador. O efeito cômico pode provir, em primeiro lugar,
de um efeito de surpresa devido ao facto do plano mostrar qualquer coisa que o plano
precedente não fazia esperar e cujo conteúdo afectivo é menos elevado ou menos denso
do que se poderia esperar.
A MONTAGEM NARRATIVA
A montagem narrativa tem por função descrever uma acção, desenrolar uma
sequência de acontecimentos.
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Trata essencialmente das relações de uma cena com outra, ou de uma sequência
com outra sequência, e leva-nos a considerar o filme como uma totalidade significativa.
São definidos por referência ao critério fundamental da narrativa fílmica, de qualquer
narrativa – o tempo, isto é, a ordem das sucessões, a posição relativa dos acontecimentos
na sua sequência causal natural, sem fixação de data para cada um deles:
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4 – a montagem paralela: duas (e por vezes várias) acções são conduzidas pela
intercalação de fragmentos, pertencendo alternadamente a cada uma delas, com o objetivo
de fazer surgir um significado da sua confrontação. A contemporaneidade das acções não
é, de modo algum, aqui necessária. Esta montagem caracteriza-se pela sua indiferença
pelo tempo, visto que consiste precisamente em aproximar acontecimentos que podem
estar muito afastados no tempo e cuja estrita simultaneidade não é absolutamente
necessária para que a sua justaposição seja demonstrativa.
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Introdução
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A montagem era inexistente ou, no melhor dos casos, mínima no caso de Mélies.
2 A Escola Americana
2.1 Edwin S. Porter
Jean Mitry, referenciado por Marcel Martin (2005), salienta que foi Edwin S.
Porter que começou a dar sentido à montagem, com a realização de Life of na American
Fireman, em 1902, e sobretudo com The Great Train Robbery, em 1903, devendo ser
considerado [este último filme mencionado] como o primeiro filme realmente
cinematográfico pela fluidez e coerência da narrativa. Para Martin (2005), está, a partir
desse momento, inventado o essencial do cinema: a montagem narrativa.
Porter, influenciado pelo trabalho de Mélies, descobriu a possibilidade de incutir
mais dinamismo nas suas produções fílmicas através da organização dos planos,
mostrando que o plano era a peça básica na construção do filme. Como destaca Karel
Reisz (1966), Porter demonstrou que o plano isolado, considerado como uma peça
incompleta da acção, é a unidade a partir da qual os filmes devem ser construídos,
estabelecendo, desta forma, o princípio básico da montagem.
Tendo por base o filme Life of na American Fireman, Porter apresentou o poder
da justaposição. O referido filme, composto por vinte planos e com uma duração de seis
minutos, relata a história de um corpo de bombeiros a resgatarem mãe e filha que se
encontram num edifício em chamas (Viveiros, 2005). Este filme usa imagens de um filme
documental sobre bombeiros e imagens encenadas, relativas à mãe e filha, gravadas em
estúdio, e a conjugação dessas imagens, que inicialmente não tinham qualquer relação
entre si, criou a história do salvamento. Neste sentido, Ken Dancyger (2006) lembra que
Porter defendia que dois planos filmados em lugares diferentes, com distintos objetivos,
podiam, quando unidos, significar algo maior do que a mera soma das duas partes, e que
a justaposição podia criar uma nova realidade, maior do que a de cada plano individual.
Deste modo, pela primeira vez na curta história do cinema, o plano não possuía
significado próprio, dependia da relação com os restantes planos (Reisz, 1966).
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Porter foi quem instituiu a forma narrativa ao ser o primeiro a utilizar uma série
de artifícios e efeitos visuais que mais tarde se converteram em convenções específicas
do gênero e que ainda hoje são fundamentais para que o público compreenda a sequência
narrativa da acção que se está a desenrolar.
O grande contributo de Porter para a montagem foi a organização dos planos com
o objetivo de apresentar uma continuidade narrativa.
Se Porter criou a montagem narrativa, foi David W. Griffith, também norte-
americano, que a desenvolveu.
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...Por exemplo, quando Porter mudava de plano era quase sempre por razões
físicas, enquanto Griffith mudava de plano por razões dramáticas, mostrando um novo
pormenor ao espectador que permitisse aumentar o interesse do drama em determinado
momento. Griffith pretendia que o público se envolvesse emocionalmente com a história
apresentada.
Ainda nesse ano, Griffith, colocando a câmara para mais perto da acção, pretendeu
envolver emocionalmente o seu público, demonstrando que uma cena pode ser
fragmentada em planos gerais, planos médios e planos próximos com a finalidade de o
público sentir progressivamente a sua emoção. Griffith filmava planos isolados e era
através da montagem que estes ganhavam o sentido pretendido.
No filme The Lonely Villa, produzido em 1909, Griffith expôs a ideia da
montagem alternada. Apesar da montagem alternada e montagem paralela parecerem
semelhantes, não o são. Como refere Marie-Thérese Journot (2005: 101 e 103), a
montagem alternada intercala os planos de duas ou mais cenas e/ou sequências,
apresentando acções que se desenrolam ao mesmo tempo em locais diferentes, mas que
estão diretamente relacionados. Por sua vez, a montagem paralela alterna série de planos
que não têm entre si qualquer relação de simultaneidade, sendo discursiva e não narrativa,
podendo ser usada com fins retóricos de simbolização, para criar efeitos de comparação
ou de contraste.
No filme Romona, realizado em 1911, Griffith fez uso do grande plano geral para
destacar a qualidade épica da terra e valorizar a importância da luta dos habitantes. Ainda
no mesmo ano, em The Lonedale Operator, ele colocou a câmara de filmar num comboio
em movimento.
Karel Reisz (1966) sublinha que o gênio de Griffith destacou-se essencialmente
pelas suas qualidades narrativas, e o seu grande contributo foi a descoberta e aplicação de
modos de montagem que aumentaram e enriqueceram as possiblidades do relato
cinematográfico.
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3. A Escola Soviética
Lenine foi o primeiro homem de Estado a reconhecer o cinema como uma nova
arte, acreditando no papel do cinema para sustentar a revolução. Embora os cineastas
soviéticos estivessem profundamente influenciados por Griffith, estes também se
preocupavam com a função dos seus filmes na luta revolucionária. Nessa altura, o cinema
na União Soviética não era considerado como simples entretenimento, ao contrário do
que acontecia nos Estados Unidos da América, mas um meio usado para ensinar e fazer
propaganda política. Assim, os novos cineastas soviético tinham uma dupla missão: por
um lado, instruir as massas na história e na teoria dos seus movimentos políticos e, por
outro lado, formar uma geração de jovens realizadores cinematográficos capazes de dar
continuidade a este processo. Segundo, desenvolver uma teoria do cinema, que Griffith,
homem essencialmente intuitivo e de acção, nem sequer tinha tentado.
Em 1919, foi criado, em Moscovo, a Faculdade de Cinema e os estudos desta
especialidade começaram por analisar as técnicas de Griffith e, consequentemente,
contribuíram para o surgimento de várias teorias sobre a montagem cinematográfica.
Lev Kulechov foi o pioneiro de toda a estética da montagem soviética, com a sua
célebre experiência de montagem, que ficou conhecida por “efeito de Kulechov”. O
cineasta soviético intercalou um grande plano inexpressivo e neutro de um actor, chamado
Mosjukhin, com três planos distintos: um prato de sopa sobre uma mesa; um caixão com
uma mulher morta e, por último, uma criança a brincar com um boneco. Ken Dancyger
(2006) salienta que o público, após o visionamento das imagens, interpretou as três
sequências como a de um homem com fome, um marido triste e um adulto feliz. No
entanto, o plano do actor era sempre o mesmo. Marie-Therese Journot (2005) destaca que
o objetivo principal desta experiência consistiu em provar que uma imagem não tem
sentido por si só, mas que é a contextualização feita pela montagem que lhe atribui
significação. Na mesma linha, Martine Joly (2002: 221) escreve “(...) que quando se
justapõem dois planos, ou se introduz um plano entre outros dois, faz-se nascer uma ideia
ou exprime-se algo que não estava contido em nenhum dos planos tomados
separadamente”, acrescentando “o resultado semântico é, assim, um produto (e não uma
soma) incluído entre a alucinação e abstracção”
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...de vista em que foi filmada a acção. Segundo, o realizador só opera sobre os
fragmentos onde estão filmados os factos e não em factos reais. Terceiro, estes
fragmentos, que constituem o material de trabalho, encontram-se sujeitos, no processo de
montagem, à vontade do realizador que pode eliminar quantos pontos de intervalo achar
pertinente para concentrar a acção do público durante um determinado período de tempo.
Justo Villafane e Norberto Minguez (1996) realçam a mesma ideia de que, para Pudovkin,
a montagem é um instrumento que é usado para dar forma, para destacar determinados
acontecimentos da realidade. Serve ainda para selecionar os fragmentos que
temporalmente e especialmente são mais relevantes, construindo com detalhes
significativos e omitindo os restantes. O plano é como o “tijolo” da construção fílmica e
que o material, ao ser ordenado, pode gerar qualquer resultado pretendido, da mesma
forma que um escritor utiliza as palavras para cariar uma percepção da realidade, o
realizador de cinema usa os planos como seu material bruto.
Tal como já foi referido, as experiências de Kulechov revelaram que o processo
de montagem não pode ser considerado com um simples recurso para contar histórias.
Pudovkin viu que, mediante uma adequada justaposição, alguns planos poderiam adquirir
um significado que nunca tinha tido isoladamente.
Das suas personagens, Pudovkin exprimia-se por uma série de pormenores e
mediante a justaposição, estando mais concentrado nos efeitos do que na personificação
do próprio conteúdo. Para Pudovkin, a função essencial da montagem é a determinação
de processos psicológicos no espectador. O realizador não deveria apresentar toda a
realidade, mas reduzi-la ao essencial. Deste modo, surgiria um tempo e um espaço
fílmicos.
Pudovkin opôs-se teoricamente a Sergei Eisenstein. As diferenças entre eles estão
relacionadas com o método utilizado para efectuar os saltos visuais entre cortes. Ao
contrário de Eisenstein, na montagem defendida por Pudovkin não havia choque, mas
uma fragmentação da cena em vários planos, preferindo, desta forma, uma ligação
construtiva entre os diversos planos. Pudovkin acreditava mais na ligação em cadeia do
que no choque provocado pelas imagens exteriores à narrativa.
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...seguramente, um dos seus mais eméritos teóricos e, com certeza, aquele que
mais alargadamente a utilizou nos seus filmes.
Marcel Martin (2005) considera que foi Eisenstein que proporcionou a melhor
classificação de montagem, uma vez que comporta. Eisenstein (1959) apresentou e
defendeu algumas teorias de montagem, a saber: montagem métrica; montagem rítmica;
montagem tonal; montagem harmônica e montagem intelectual.
A montagem métrica, segundo o seu autor, o critério fundamental para esta
construção é o comprimento dos fragmentos. De montagem e na proporcionalidade entre
os vários comprimentos de fragmentos sucessivos, um pouco à maneira do “compasso”
musical. É uma forma primitiva de montagem que atende mais a factores mecânicos de
que a outro tipo de preocupações. Ken Dancyger (2006) assinala que, independentemente
do seu conteúdo, encurtar a duração temporal dos planos diminui o tempo que o público
tem para absorver a informação de cada um deles, por conseguinte, esse procedimento
aumenta a tensão da cena.
Na montagem rítmica, ao ser definido o comprimento dos fragmentos, o conteúdo
do quadro é um fator a ter também em consideração. A determinação métrica dos
fragmentos confere um grande destaque ao seu conteúdo, nomeadamente ao movimento
que decorre no interior do enquadramento. Neste tipo de montagem, existem dois gêneros
de movimentos, existem dois gêneros de movimentos o dos “cortes” de montagem e o
“real” no interior dos planos. Eisenstein explorou não unicamente as concordâncias
desses dois movimentos, mas, sobretudo, os conflitos entre eles. De acordo com o mesmo
autor (Dancyger, 2006), este tipo de procedimento tem considerável potencial para
demonstrar conflitos, porque a oposição pode ser representada a partir de diferentes
direcções dois elementos no quadro, bem como por diferentes enquadramentos de uma
mesma imagem.
Montagem tonal. O movimento é percebido num sentido mais lato, ou seja, o
conteúdo de movimento abarca todos os efeitos de fragmento de montagem. Baseia-se no
som emocional característico do fragmento do seu dominante, isto é, no tom geral do
fragmento. É habitual referir-se o exemplo apresentado por Eisenstein (1959: 95-96): a
“sequência do nevoeiro” do filme O Couraçado Potemkine. Usado o mesmo exemplo,
José Leitão Ramos (1981) entende que a dominante de...
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... montagem seria aqui, sobretudo, dada pelas “vibrações luminosas” dos planos
não esquecendo, porém, a sua componente rítmica (expressa pela suave agitação das
águas, pelo ligeiro movimento dos barcos, pelo vapor em lenta ascensão, pelas gaivotas
em sossegado voo).
A montagem harmônica é organicamente o desenvolvimento mais adiantado da
montagem tonal, distinguindo-se desta pelo cálculo colectivo do que cada fragmento
requer. “Das dissonâncias da montagem tonal (isto é, dos conflitos entre dois tons
dominantes numa mesma cena) nasce a montagem harmônica”. Eisenstein incluiu como
factores determinantes da montagem “todos os recursos dos fragmentos”. Conjuga todos
os tipos de montagem métrica, rítmica e tonal, manipulando a duração temporal do plano,
ideias e emoções com o objetivo de provocar o efeito pretendido no público.
Montagem intelectual, Eisenstein (1959) considerava que a montagem intelectual
não é uma montagem de sons harmônicos geralmente fisiológicos, mas sim sons
harmônicos de um tipo intelectual, ou seja, conflito-justaposição de efeitos intelectuais
paralelos. Dito de outra forma, a montagem intelectual trata da inserção de ideias numa
sequência com grande carga emocional. O líder menchevique da primeira Revolução
Russa, Geograge Kerenshy, sobe as escadas tão rapidamente quanto sobe na linha do
poder após a queda do czar. Intercalados com as imagens de sua ascensão, existem planos
de um pavão mecânico a ajeitas as suas penas. Eisenstein demonstrou uma interpretação
de Kerensky como político.
Eisenstein acreditava que o impacto da montagem podia ser maior quando
existisse um choque entre planos. Esta crença baseia-se, como sugere Paulo Viveiros
(2005), na ideia filosófica de que a existência só pode continuar se houver mudança
constante. Como frisa Gilles Deleuze (2004), à montagem paralela de Grififth, Eisenstein
contrapõe uma montagem de oposições, ou seja, a montagem convergente ou concorrente,
é substituída por uma montagem de saltos qualitativos (“montagem saltitante”). Karel
Reisz (1966) sublinha que Eisenstein defendia que a continuidade cinematográfica ideal
era aquela em que cada mudança de plano desse lugar a um novo choque, com vista à
obtenção de novais ideias. Nos seus filmes não se encontra nunca a menor intenção de
transição suave, isto é, a narração progride mediante uma série de colisões.
Desdobrando-a para a teoria de colisão de atrações, dando origem à montagem
por atracções. Atracção entendida como efeito da imposição de um elemento novo na
sucessão de planos que provoque impactos no espectador, choques emocionais, de forma
a leva-lo a perceber, para além das imagens e sons, o lado ideológico do que é
apresentado. O conflito de duas peças contíguas.
Para Eisenstein, a montagem não era uma simples sucessão de planos, como uma
mera ligação de partes. O plano não era um simples “elemento” da montagem, mas era a
sua “célula”, tal como sucede com o elemento biológico.
A montagem, na perspectiva de Eisenstein, é a arte de expressar e de significar,
por relações de dois planos justapostos, de tal forma que esta justaposição origina uma
ideia ao expressar algo (ao produzir um sentido) que não está presente em nenhum dos
dois planos separadamente. O conjunto é superior à soma das duas partes.
Dziga Vertov entendia, por seu turno, que apenas a verdade documentada poderia
ser honesta o bastante para levar à verdadeira revolução.
Tolstoi. “o cinematógrafo deve exprimir a verdade russa sob todas as suas formas
e da maneira mais exacta: deve registrar a vida tal como ela é”.
Assim, partindo de ideia de que a matéria-prima do cinema é a realidade, Vertov
desenvolveu o anti-estúdio e o cine-olho, tendo como grande objetivo apresentar a
realidade com ela é, rejeitando deste modo a ficção, as reconstituições, as encenações.
Partindo do pressuposto de que o cinema é um instrumento de análise do mundo, mas que
para se mostrar é necessário ter visto realmente, Vertov concebeu o operador de câmara,
o kinok, como uma espécie de super-olho.
Nesta perspectiva, para Vertov, a câmara de filmar era mais perfeita do que o olho
humano, adquirindo uma força sobre-humana, e tudo o que o cineasta tinha de fazer era
ordenar judiciosamente, nas montagem, o material impressionado. O objetivo principal
da teoria de Vertov passava pelas possibilidades da câmara em registrar mecanicamente
a “verdade” e o mundo sem a intervenção do homem, porque era mais perfeito do que o
olho humano.
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Segundo Vasco Granja (1981: 31), ainda em relação ao filme Man with the Movie
Camera, o propósito de Vertov era mostrar a dualidade entre a vida, tal como ela é, na
realidade do olho humano, instrumento imperfeito devido à sua natureza, e a realidade tal
como é observada pelo olho da câmara.