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Obras de Ere Hobsbawns publicadas pela Compania das Letras Conro mudaro mundo Feosdda marsethesa Eradosextremos Globalizagao, denocracia eterrorismo Onove século Sobre histéria ‘Temposinteressantes ERIC HOBSBAWM Como mudar o mundo Marx eo marxismo, 1840-2011 Tradgo Donaldson M. Garschagen 2 reimpressao SomPantita Das Letras 13. A recepcao das ideias de Gramsci" GRAMSCI NA EUROPA E NA AMERICA B provaivel que todos os que tenham lido um livro sobre o impacto inter nacional de Gramsci em 1994 concordarao com a afirmativa de seu primeiro divulgador espanhol, citada pelo professor Fernindez Buey: “Gramsci é um classico, ou seja, um autor que nunca esté na moda, mas é lido sempre” No en- tanto, todos os capitulos desse livro atestam que a fortuna internacional desse autor clissico tem flutuado com 0s modismos da intelectualidade de esquerda, Assim, na década de 1960, a popularidade de Althusser na América Latina blo- queou em grande parte o caminho de Gramsci, ainda que na propria Frangaa preeminéncia de Althusser também desse publicidade ao italiano ainda quase desconhecido, que ele tanto louvou como criticou. O elemento moda foi bas- tante evidente nas décadas de 1960 ¢ 1970, quando a divulgagao internacional idiu com o auge das“novas esquerdas’, vorazes consumidoras de Gramsci coi do que Carlos Nelson Coutinho chamou de “sopa eclética” de ingredientes in- telectuais incompativeis entre si. © componente de modismo ficou ainda mais * Bate texto foi escrito originalmente como introdugdo ao livros Gramsci in Buropa e Americ, Antonio A, Sancueci (org) Roma Bari, 1996, visivel na década de 1990, quando ex-esquerdistas transformados em neolibe- rais rejeitavam tudo o que lembrasse seus ar asmos, Como comenta Irina Grigoreva sobre a Rtissia pés-1991, “hoje em dia tudo o que esteja ligado a0 idedtio do marxismo ¢ condenado”: Por isso, a Riissia em 1993 fosse“talvez 0 pais menos‘gramsciano’ no mundo”, igos ent Eigualmente evidente que Gramsci nlo poderia ter se tornado uma figura de destaque no cenério intelectual mundial se nao fosse um complexo conjunto de circunstincias nos quarenta anos que se seguiram a sua morte. Ele sequer seria conhecido nao fosse a determinagao de seu camarada e admirador Palmi- +o Togliatti, que cuidou de preservar e publicar seus textos ¢ dar-Ihes um lugar central no comunismo italiano. Nas condigdes vigentes no periodo stalinista, isso nao era de modo algum uma escotha inevitavel, ainda quea linha aprovada no Sétimo Congreso Mundial da Internacional a tornasse um pouco menos arriscada, Quaisquer que tenham sido as criticas posteriores aos juizos de To- sliatti sobrea obra gramsciana, sta preocupagao depois da morte do colega no sentido de *soitrarli alle traversie del presente ¢ garantivlé per ‘a vita avvenire del artito” (“afasti-lo das adversidades do presente e protegé-lo para‘a vida futu- rado partido” )!e sua insisténcia na importancia dele a partir do momento em que voltou a Italia foram os alicerces da subsequente boa acolhida de Gramsci. As deficiéncias ¢ omissies editoriais dos primeiros anos do pés-guerra foram prego.a pagar pela divulgacio do pensador; em retrospecto, um preco que valeu “apena. Gracas a determinagio de Togliatt e a0 novo prestigio do vcr, ao menos 8 Cartas foram publicadas em vérios paises, inclusive em algumas “democra- cias populares’, antes da morte de Stilin, Onde as partidos comunistas locais ‘io as publicaram, ninguém mais o fez. Embora quase imediatamente surgis- sem excelentes tradugdes das Cartas para o ingles, passaram-se decénios antes que fossem publicadas na Grai-Bretanha e nos Estados Unidos. Ainda assim, sem levar em conta os poucos estrangeiros que tinham lem- brangas pessoais da Resisténcia italiana e amigos esquerdistasitalianos,a hist6- ria da forma como Gramsci foi recebido comeca como Vigé Partido Comunista da Unido Soviética. Durante dois decénios essa recepeao fez mo Congreso do parte das tentativas do movimento comunista internacional para se livrar de uma dupla heranga — a do stalinismo ea da Internacional Comunista. No “campo socialista” isso se refletiu no reconhecimento oficial quase imediato de Gramsci como pensador politico e como um martir — como atestam a publi- cagio, na Unido Sovietica, de uma selegto de suas obras, em trés volumes, em. 1957-9, a presenga soviética no primeiro Convegno Gramsci,em 1958, ea par- ticipacao da delegacao soviética, substancial ¢ implicitamente reformista, no segundo (1967). Quase todos os autores nao italianos que escreveram sobre Gramsci nos vinte anos que se seguiram a 1956 tinham algum tipo de compro- misso marxista, passado ou presente. E dificil lembrar de algum nado marxista nessa area antes do fim da década de 1970, a nao ser o historiador americano 5. Stuart Hughes (que tinha particular interesse pela Italia) e 0 historiador bri tnico James Joll (que se especializou na histéria da esquerda). Por fim, é claro, Gramsci entrou para o corpus dos estudos academicos. Mais precisamente, Gramsci atraiu a atengao, fora da Itélia, basicamente como pensador comunista que oferecia uma estratégia marxista a pafses para 08 quais a Revolucao de Outubro poderia ser uma inspiragao, mas nao um. modelo — vale dizer, para movimentos socialistas em ambientes ¢ situagoes nao revoluciondrios. Era natural que o prestigio € 0 sucesso do Partido Comu- nista Italiano no periodo que mediou entre o Memorando de Talta ea morte de Enrico Berlinguer espalhassem a influéncia de um pensador que era tido como 0 inspirador das estratégias desse partido. Sem dtivida a preeminéncia interna- jonal de Gramsci atingiu o apogeu nos anos do “eurocomunismo” da década de 1970,¢ diminuiu um pouco na década de 1980 — exceto, talvez, na Repabli- ca Federal da Alemanha, onde foi descoberto mais tardiamente e onde o inte- resse por cle estava no auge na primeira metade da década dle 1980, Onde a es- querda nao abandonara ainda a esperanga de estratégias de insurreigao e de uta armada mais classicas, ela dava preferéncia a outros gurus intelectuais. Dai a curiosa historia, em duas etapas, da penetracao de Gramsci na América Lati- nna: como parte da abertura do marxismo dos partidos comunistas depois de 1956-60 e apés o colapso das estratégias de luta armada na década de 1970. Ao que parece, a discussio internacional sobre Gramsci se dissociou em grande medida do vigoroso debate italiano sobre o maior pensador marxista do pais. Os principais livros italianos sobre ele nao foram traduzidos, pelo menos para o inglés (exceto a biografia escrita por Fiori), embora existam introdugoes 8 literatura italiana sobre Gramsci, como os trabalhos escritos ou organizados por Anne Showstack Sassoon e Chantal Mouffe. Isso no surpreende. E inevité- yel quea leitura dealguns pensadores feita por estrangeiros, por mais universais que sejam seus interesses, se dé de maneira diferente da leitura de integrantes da prépria cultura do autor. E, quando o pensador & como Gramsci tio colado a sua realidade nacional, a leitura estrangeira ea nacional provavelmente divergi- ro mais ainda. Em todo caso, varias questoes debatidas acaloradamente na [lia eram menos discuss8es sobre Gramsci do que a favor ou (mais comu- mente) contra alguma fase das politicas do ci. Nem sempre essas questoes eram de grande interesse para nio especialistas fora da Itilia. No entanto, levante destacar que foram as obras de Gramsci que influenciaram os leitores estrangeiros, € nao 0s livros de critica e interpretacdo que se acumularam em torno delas em seu proprio pais. Quer dizer, o Gramsci da época em que as primeiras selesdes importantes de sua obra apareceram em outras linguas ou, no maximo, da época em que os primeiros gramscianos estrangeiros surgiram no cenério intelectual para falar do pensador ainda niio traduzido. Em esséncia, podemos dizer que Gramsci foi conhecido fora da Italia através das obras dis- poniveis em 1960-7. Por conseguinte, a recepgao internacional de Gramsci foi e continua a ser sujeita as flutuagdes da esquerda. B forgosamente ela continuara assim, em certa medida, Isso porque ele foi, acima de qualquer outra coisa, 0 filésolo da praxis politica. Os luminares do chamado “marxismo ocidental”, na maioria, podem ser lidos, por assim dizer, como académicos, 0 que muitos deles foram ou poderiam ter sido: Lukécs, Korsch, Benjamin, Althusser, Marcuse e outros. Bles escreviam com certo distanciamento das realidades politicas concretas, “mesmo quando, como Henti Lefebvre, vez por outra mergulhavam nelas na qualidade de organizadores politicos. Gramsci nao pode ser separado dessas realidades, pois até suas mais amplas generalizagies esta sempre relacionadas & investigagao das condigoes praticas para transformar 0 mundo, pela politica, nas circunstancias especificas em que ele escreveu, Do mesmo modo que Lénin, Gramsci ndo nasceu para a vida académica, ainda que, ao contrario daquele, fosse um intelectual nato, um homem quase fisicamente movido pela forga das ideias. Nao por acaso, ele foi 0 tinico teGrico marxista genuiino que também li- derou um partido marxista de massa (se nao considerarmos Otto Bauer, muito menos original). Uma das razdes pelas quais os historiadores, marxistas e mes- mo nao marxistas, 0 consideram tao empolgante ¢ precisamente sua recusa a deixar o terreno das realidades hist6ricas, sociais e culturais e trocé-las por abstragdes e modelos teéricos reducionistas. Por tudo isso, é provavel que Gramsci continue ser lido principalmente

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