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CARREIRA JURÍDICA 2014

Processo Civil
Maurício Cunha

AÇÃO POPULAR Por outro lado, a faculdade de promover a ação


popular, com o poder que dela decorre no
Origem e evolução legislativa controle de atos da Administração Pública,
A ação popular entrou em nosso conferiu aos membros da comunidade um meio
constitucionalismo pela Carta Política de 1934, de participação na vida política, um significativo
nele se mantendo até hoje, com um único marco de afirmação dos direitos de cidadania.
intervalo, na vigência da Carta de 1937,
outorgada pelo Estado Novo. Foi na Trata-se, inegavelmente, de um direito político
Constituição de 1988 que a ação popular fundamental, da mesma natureza de outros
recebeu o contorno atual: direitos políticos previstos na Constituição,
“Qualquer cidadão é parte legítima para propor como os de alistar-se, habilitar-se a
ação popular que vise a anular ato lesivo ao candidaturas para cargos eletivos (art. 14, §§
patrimônio público ou de entidade de que o 1º a 4º, CF) e a nomeações para certos cargos
Estado participe, à moralidade administrativa, públicos não eletivos (arts. 87; 89, VII; 101;
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e 131, § 1º, CF), participar de sufrágios, votar em
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má- eleições, plebiscitos e referendos e apresentar
fé, isento de custas judiciais e do ônus da projetos de lei pela via da iniciativa popular
sucumbência” (art. 5º, LXXIII). (arts. 14, “caput”, e 61, § 2º, CF).
Visualizando em seu contexto e em seu sentido
Chamam a atenção dois significativos histórico (como é apropriado para avaliar
acréscimos aos bens tuteláveis: a moralidade adequadamente essa espécie de atributo), o
administrativa e o meio ambiente. É reflexo direito à ação popular sempre representou um
natural da valorização desses bens jurídicos traço importante nos direitos assumem novos
pelo novo regime constitucional, que erigiu a contornos, mais complexos e multiformes.
moralidade como princípio de administração
pública (art. 37) e que alçou o meio ambiente A transindividualidade dos interesses tutelados
ecologicamente equilibrado à condição de por ação popular fica evidenciada não apenas
“bem de uso comum do povo e essencial à quando seu objeto é a proteção do meio
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder ambiente ou do patrimônio histórico e cultural
Público e à coletividade o dever de defendê-lo (direitos tipicamente difusos, sem titular
e preservá-lo para as presentes e futuras determinado), mas também quando busca
gerações” (art. 225). anular atos lesivos ao patrimônio das pessoas
de direito público ou de entidades de que o
Estado tenha participação. Nesse caso,
A natureza transindividual dos interesses embora o patrimônio tutelado esteja sob o
tutelados domínio jurídico-formal (=sob a propriedade) de
O que caracteriza a ação popular, desde as uma pessoa jurídica identificada, ele, real e
suas mais remotas origens romanas, “é o substancialmente, pertence à coletividade
exercício da ação por qualquer membro da como um todo.
coletividade, com maior ou menor amplitude,
para a defesa de interesses coletivos”. Essa A dimensão e o sentido que atualmente detêm
peculiaridade é extremamente significativa, a administração pública vão muito além do
tanto do ponto de vista processual quanto do núcleo fechado da chamada “administração
ponto de vista da cidadania. Processualmente, direta”. Também as entidades da administração
atribuir a alguém a legitimidade ativa para indireta e das suas subsidiárias, ainda quando
defender direito de que não é titular voltadas imediatamente à exploração de
representou um desafio ao dogma, cuja atividade econômica, têm por finalidade
essência ainda hoje é preservada com regra primordial, ainda que indireta, o cumprimento
pelo CPC (art. 6º), de afirmar a necessária de uma função social, e estão sujeitas, por isso
identidade entre o titular da relação de direito mesmo, à “fiscalização pela Estado e pela
processual e o da relação de direito material sociedade”, por expressa determinação
deduzida na demanda. constitucional (art. 173, § 1º, I).

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Não há dúvida, portanto, que a ação popular, Ora, conforme prevê o art. 55 da Lei 9.784/99,
ao zelar pela higidez e boa administração do são passíveis de convalidação os atos
patrimônio pertencente às pessoas de direito administrativos, atingidos por irregularidades
público e às entidades direta ou indiretamente sanáveis, quando “se evidencie não
controladas pelo estado, está defendendo não acarretarem lesão ao interesse público nem
apenas interesses particulares dessas prejuízo a terceiros”. A convalidação, nesses
pessoas, mas, sobretudo, os interesses casos, não é mero ato discricionário, cuja
superiores da própria coletividade a que prática fica a critério do administrador, mas é
servem. Eis aí plasmada, portanto, a ato inválido não causou lesão, ele poderá, ou
transindividualidade dos interesses tutelados. melhor, deverá (desde que presentes os
demais requisitos para tanto) ser convalidado,
Em suma, a ação popular representa, em sendo descabida, consequentemente, a sua
nosso sistema, além de uma quebra de anulação, mesmo por ação popular.
paradigmas, o instrumento precursor e pioneiro
de defesa jurisdicional de interesses difusos da Assim, ressalvadas as hipóteses de lesividade
sociedade, mediante a legitimação ativa dos presumida (presunção que cabe ao réu
cidadãos, pela técnica da substituição desfazer) e de lesão à moralidade
processual. administrativa (que dispensa qualquer prova,
porque se configura em plano estritamente
Objeto da ação popular: “anular ato lesivo” jurídico), cumpre ao autor, conforme
Segundo decorre do texto constitucional estabelece a regra processual de distribuição
expresso – que, no particular, reproduz a do ônus da prova (art. 333, I, CPC),
essência do que também já previam as demonstrar em que consistiu, na prática, a
Constituições anteriores –, a ação popular tem consequência lesiva provocada pelo ato
por objeto específico “anular ato lesivo” a um atacado.
dos seguintes bens jurídicos: a) ao patrimônio
público, b) à moralidade administrativa, c) ao Inclina-se o entendimento do STF pela
meio ambiente ou d) ao patrimônio histórico e presença do requisito da lesividade, conforme
cultural (art. 5º, LXXIII). A lesividade constitui, ementa abaixo colacionada:
portanto, requisito indispensável para que o ato “AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE
fique submetido a controle por essa especial INSTRUMENTO. ÓBICE DA AUSÊNCIA DE
via judicial. É certo que, ao especificar os PREQUESTIONAMENTO SUPERADO.
casos de nulidade e de anulabilidade de atos PRINCÍPIO DA AUTONOMIA
administrativos a que se referia, a Lei da Ação UNIVERSITÁRIA. MATÉRIA
Popular fez menção explícita ao requisito da INFRACONSTITUCIONAL. ANÁLISE.
lesividade em relação a uns (os alinhados em IMPOSSIBILIDADE. AÇÃO POPULAR.
seus arts. 2º e 3º), mas não o fez em relação a REQUISITOS. LESIVIDADE AO PATRIMÔNIO
outros (os alinhados em seu art. 4º). Para PÚBLICO. COMPROVAÇÃO. REEXAME DE
compatibilizar a falta de referência específica, FATOS E DE PROVAS. SÚMULA 279 DO
por parte da lei, com a exigência afirmada STF. ALEGADA VIOLAÇÃO AO ART. 5º,
expressamente na Constituição, a doutrina XXXV, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO.
assentou entendimento de que, nos casos do MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL.
art. 4º, a lesividade é presumida (presunção OFENSA INDIRETA. SUSCITADA OFENSA
iuris tantum). Ela, portanto, não está AO ART. 93, IX, DA LEI FUNDAMENTAL.
dispensada. O autor é que está dispensado de INEXISTÊNCIA. ACÓRDÃO
demonstrá-la, cabendo ao réu, se for o caso, SUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADO.
provar que, naqueles casos, a lesão não AGRAVO IMPROVIDO. I – Esta Corte firmou
ocorreu. entendimento no sentido de que para se
O requisito da lesividade resulta ainda mais chegar à alegada ofensa à Constituição no
evidente quando se leva em conta a concernente à autonomia universitária,
possibilidade de convalidação dos atos necessário seria a análise de normas
administrativos, que é forma de restaurar a infraconstitucionais. II – A discussão acerca
ordem jurídica atingida pelo ato inválido. da comprovação de lesividade ao

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patrimônio público como requisito para porventura deixou de ser realizado (fls.2706
propositura de Ação Popular, demanda o e 2707). Além do mais, por unanimidade,
reexame do conjunto fático-probatório decidiu a mesma Corte, pela emissão de
constante dos autos, o que inviabiliza o parecer favorável à aprovação das contas
extraordinário a teor da Súmula 279 desta do Senhor Mário Luiz Bertani,
Corte. III – A jurisprudência desta Corte Administrador do Executivo Municipal de
fixou-se no sentido de que, em regra, a Espumoso, no exercício de 1997, nos
afronta aos princípios constitucionais do termos dos artigos 5º e 6º da Resolução
devido processo legal, da ampla defesa e do 414/92 (fl.2711); b) In casu, o Tribunal local,
contraditório, da motivação dos atos com supedâneo em decisão do Tribunal de
decisórios e da prestação jurisdicional, se Contas do Estado do Rio Grande do Sul, em
dependente de reexame prévio de normas sede de Processo de Prestação de Contas,
infraconstitucionais, seria indireta ou reconheceu expressamente a ausência de
reflexa. Precedentes. IV – A exigência do lesividade ao patrimônio do Município de
art. 93, IX, da Constituição, não impõe seja a Espumoso-RS: "Nessa linha de raciocínio,
decisão exaustivamente fundamentada. O não se verificando a lesividade ao
que se busca é que o julgador informe de patrimônio público, elemento necessário à
forma clara e concisa as razões de seu utilização da ação popular, não há falar em
convencimento. V – Agravo regimental responsabilização pelos atos praticados.
improvido” (AgRg no Ag 699.740/SP, Rel. Não se pode olvidar que a presente ação
Min. RICARDO LEWANDOWSKI, p. restou calcada fundamentalmente nas
8.11.2012). conclusões apresentadas pela auditoria do
Tribunal de Contas (fls.02/08), as quais não
Nessa mesma esteira, o STJ se posicionou: subsistem ante o julgamento final favorável
“PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. realizado (fls.2707/2708), o qual, como é
AÇÃO POPULAR. CONTRATO sabido, constitui decisão definitiva, apenas
ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE se sujeitando ao controle jurisdicional no
ILEGALIDADE E LESIVIDADE. REEXAME DE que tange à sua legalidade (..)" [...](REsp
MATÉRIA PROBATÓRIA. SÚMULA 07/STJ. 806153/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. Turma, p. 14.5.2008).
DIVERGÊNCIA NÃO DEMONSTRADA. FATO
NOVO SUPERVENIENTE. APLICAÇÃO DO Lesividade e ilegalidade do ato
ART. 492 DO CPC. JUNTADA DE Discute-se, em doutrina, sobre a necessidade
DOCUMENTO. VISTA À PARTE de cumular, ao requisito da lesividade, o da
CONTRÁRIA. PRINCÍPIO DA ilegalidade do ato.
INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS. [...] 7. A discussão não tem sentido algum quando se
A título de argumento obiter dictum merece trata de ato lesivo à moralidade administrativa,
destaque as situações fáticas insindicáveis já que o princípio da moralidade pertence ao
nesta Corte: a) o voto condutor do recurso mundo da normatividade (=legalidade), e isso
de apelação é categórico ao afirmar: "A significa dizer que o ato que o lesa é, por
decisão administrativa da Segunda Câmara natureza, um ato juridicamente ilegítimo
Especial do Tribunal de Contas do Estado (=ilegal, lato sensu). A lesão à moralidade
do Rio Grande do Sul, agora aportada aos administrativa é, pois, em si mesma, uma
autos (fls.2698/2713), declara taxativamente ilegalidade.
a ausência de lesividade à Administração, Nos demais casos (lesão ao patrimônio
requisito essencial à utilização da ação público, ao meio ambiente, ao patrimônio
popular. De acordo com referida decisão, histórico e cultural), o dilema da cumulação ou
não se justifica o pedido de devolução aos não de lesividade e ilegalidade somente
cofres públicos dos valores pagos pela poderia existir a partir da suposição (que não é
Administração à empresa contratada, uma verdadeira) de que os atos lesivos podem ser
vez demonstrada a prestação de parte do classificados como (a) atos lesivos ilegítimos
serviço por esta, não havendo elementos (=ilegais) e (b) atos lesivos legítimos (=legais).
suficientes que permitam avaliar o que Ora, é difícil, sob o aspecto estritamente

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jurídico, admitir a hipótese de uma lesão


“legítima”. Se o ato é legítimo, a “lesão” que ele Lesão à moralidade administrativa
causa não pode ser considerada, A mais arrojada inovação constitucional foi a de
juridicamente, uma lesão. Se o fosse, seria conferir ao autor da ação popular a faculdade
uma lesão “legítima”, e, como tal, insuscetível de pleitear anulação de atos lesivos à
de ser desfeita. moralidade administrativa. É arrojada,
sobretudo, porque abre ensejo a que se
Com efeito, nem todos os atos que provocam questione a legitimidade dos atos da
redução no patrimônio público ou de terceiro Administração Pública em face de uma
são, só por isso, nulos ou anuláveis. A cláusula normativa extremamente aberta, de
cobrança de um tributo, por exemplo, importa conteúdo valorativo de difícil preenchimento.
invasão coativa no patrimônio do contribuinte, Em que consiste, afinal, a moralidade
causando-lhe uma redução material, mas essa administrativa, que fulmina de nulidade os atos
circunstância de fato não acarreta a ela contrários? Essa a desafiadora pergunta
necessariamente a invalidade do ato, não que cumpre aos juristas e aos juízes
podendo, juridicamente, ser qualificada como responder.
“lesão”.
Ao estabelecer a moralidade administrativa
Tenha-se presente que a nulidade é uma como “princípio” da Administração Pública (art.
sanção jurídica, e, como tal, opera em plano 37) e como requisito de validade dos atos
exclusivamente jurídico, pois decorre (= tem administrativos (art. 5º, LXXIII), o legislador
como causa necessária) da injuridicidade constituinte impôs aos agentes públicos um
(=ilegitimidade, ilegalidade) do ato, e não dos modelo de conduta, uma regra de
efeitos materiais que ele acarreta. Sob essa comportamento, um modo de proceder, que
ótica, é evidente que o ato legítimo não pode deve ser conforme àquele princípio e cujo
ser anulado, nem por ação popular nem por descumprimento acarreta sanções,
qualquer outra ação judicial. nomeadamente a de nulidade ao ato.
É preciso considerar, nessa discussão, que, ao
submeter certos atos a invalidação por via de Se é norma de conduta, se é coercitiva, se o
ação popular, o legislador certamente não quis seu descumprimento acarreta consequências
ampliar as causas de nulidade de tais atos, sancionatórias, o princípio da moralidade
matéria, aliás, estranha ao direito processual. administrativa, bem se percebe, pertence ao
Pelo contrário, resulta claro do texto normativo mundo da normatividade jurídica. Ele não está
a intenção do legislador de selecionar certos fora nem ao lado do direito. Ele é parte do
atos (e selecionar importa reduzir o número) direito, tem, tem natureza idêntica a de outros
que, por estarem revestidos de uma princípios de direito. Ele não é incompatível,
característica especial e adicional em relação mas, pelo contrário, está necessariamente
aos demais atos nulos ou anuláveis (= a sua associado aos demais princípios que compõem
lesividade), ficaram submetidos ao controle o elenco dos direitos e garantias fundamentais,
jurisdicional também por iniciativa popular. nomeadamente o da legalidade, por força do
qual “ninguém será obrigado a fazer ou deixar
As causas de nulidade (=de direito material) de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”
não ficaram, portanto, modificadas em virtude (art. 5º, II, CF). Sua força normativa tem,
dessa seleção, que tem caráter eminentemente portanto, a mesma base de todos os demais
processual. princípios e regras jurídicas, cuja fonte primeira
A conclusão a que se chega é, em suma, esta: e mais importante é a própria Constituição.
somente atos ilegítimos e não suscetíveis de
convalidação é que podem ser anulados; e Como ocorre com todas as normas que
somente podem ser anulados por ação popular impõem coercitivamente modelos de
os atos que, além de ilegítimos, sejam também comportamento humano, a força sancionadora
lesivos aos bens e valores enunciados no art. do princípio da moralidade supõe prévia
5º, LXXIII, CF. definição das condutas ilícitas (princípio da
tipicidade do ilícito e da irretroatividade das

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normas). Ofenderia ao princípio de qualquer Não há como deixar de associar o princípio da


Estado Democrático de Direito – aplicar sanção moralidade administrativa também ao princípio
jurídica a agente que, à época que o praticou, da boa-fé objetiva.
não tinha como saber se o ato praticado É possível concluir, em suma, que a lesão ao
atendia ou não à moralidade administrativa, e, princípio da moralidade administrativa é,
portanto, se era válido ou inválido, sancionável rigorosamente, uma lesão a valores e
ou não. O que se quer afirmar com isso é que o princípios incorporados ao ordenamento
conteúdo do princípio da moralidade deve jurídico, é uma ilegalidade qualificada pela
necessariamente ser extraído de um sistema gravidade do vício.
normativo previamente existente, conhecido e
acessível a todos os seus destinatários e Lesão ao meio ambiente e ao patrimônio
determinado democraticamente, isto é, por histórico e cultural
quem tem o poder de produzir regras de A ação popular teve ampliado seus horizontes
conduta (=normas jurídicas). a partir da Lei 6.513/77, inserindo no conceito
de patrimônio público os bens e direitos de
Ora, está dito no art. 1º, § único, CF, que “todo valor econômico, artístico, estético, histórico ou
o poder emana do povo, que o exerce por meio turístico.
de representantes eleitos ou diretamente (...)”. Com a CF inseriram-se nos objetivos da ação
Seria absurdo, portanto, imaginar que o também os de anular atos lesivos ao meio
conteúdo do princípio da moralidade fugisse ao ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
regime democrático de direito e fosse ou Ao admitir a propositura de ação popular em
pudesse ser, validamente, aquele porventura tais situações, o que a CF fez foi conferir ao
definido a posteriori, por parâmetros fixados ou cidadão a legitimidade para promover uma
só conhecidos do próprio aplicador ou do peculiar ação popular em defesa daqueles
julgador. Seria a consagração da pura específicos direitos transindividuais.
arbitrariedade: o ato seria válido ou não, o
agente seria penalizado ou não, segundo o que Tutela preventiva e providências de
viesse a ser estabelecido no futuro, por recomposição do estado anterior
padrões extraídos de origens incertas e Para a propositura da ação e a procedência do
desconhecidas. pedido, a demonstração da potencialidade
lesiva já é o suficiente. Ato lesivo não é apenas
A fonte normativa do princípio da moralidade aquele que produziu efeitos lesivos, mas
outra não é, portanto, senão a mesma de onde também o que tem potencial para produzir tais
provêm todos os princípios e normas jurídicas. efeitos, daí porque falar-se no caráter
Não se trata de um puro produto do preventivo da ação popular.
jusnaturalismo, ou da ética, ou da moral, ou da Por outro lado, para que haja proteção integral
religião. É o sistema de direito, o ordenamento e completa dos bens jurídicos, se for o caso, é
jurídico e, sobretudo, o ordenamento jurídico- possível determinar procedências
constitucional a sua fonte por excelência e é complementares para eliminar os efeitos
nela que se devem buscar a substância e o danosos causados pelo ato nulo (art. 11, Lei
significado do referido princípio. 4.717/65 e art. 461, CPC).
E por isso mesmo que o enunciado do princípio
da moralidade administrativa que está Medidas cautelares e antecipatórias
associado à gama de virtudes e valores de Na defesa do patrimônio público caberá a
natureza moral e ética: honestidade, lealdade, suspensão liminar do ato lesivo impugnado
boa-fé, bons costumes, equidade, justiça. São (art. 5º, § 4º), bem como a aplicação dos
valores e virtudes que dizem respeito à pessoa instrumentos de tutela antecipada (arts. 273 e
do agente administrativo. 461, CPC).
A quebra da moralidade caracteriza-se, O art. 14, § 4º, prevê, também, medida
portanto, pela desarmonia entre a expressão cautelar no sentido de que a parte condenada
forma (aparência) do ato e a sua expressão a restituir bens ou valores ficará sujeita ao
real (substância). Exemplo: desvio de sequestro e penhora, desde a prolação da
finalidade e abuso de poder. sentença condenatória.

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Assim, o pedido de liminar será concedido na seja cidadão brasileiro nato ou naturalizado, e
ação popular, desde que atendidos os ainda, o português equiparado, no gozo dos
requisitos específicos do periculum in mora e seus direito políticos, isto é, o eleitor. Exclui-se,
do fumus boni juris, sendo admitido portanto, aqueles que tiverem suspensos ou
expressamente pelo § 4.º do art. 5º da Lei declarados perdidos seus direitos políticos. A
4.717/65. prova da cidadania é o título de eleitor ou
documento equivalente. Outros cidadãos
Obejtivo podem habilitar-se como litisconsortes ou
O objetivo é a prevenção ou correção de ato assistentes do autor (art. 6º, § 5º), ou assumir
lesivo de caráter concreto praticado conta o o seu lugar em caso de desistência (art. 9º). O
patrimônio público, quando praticado contra Ministério Público é um deles. Urge lembrar
entidade em que o Estado participe ou ainda que a Súmula 365 do Supremo Tribunal
contra o meio ambiente, ou também ato de Federal entende que a pessoa jurídica não tem
caráter abstrato, sendo estes praticados legitimidade para propor ação popular.
ofendendo a moralidade administrativa e o
patrimônio histórico cultural. Os arts. 2°, 3°, 4°, * Legitimação passiva: os sujeitos passivos
da Lei 4717/65 apresentam atos nulos, cabe da ação, segundo o art. 6º, § 2º, da Lei
ressaltar que tais artigos apresentam rol 4.717/65, são: as pessoas públicas ou
exemplificativo, de forma a ficar evidente que a privadas, os autores e participantes do ato e os
ação popular é uma garantia coletiva e não beneficiários do ato ou contrato lesivo ao
política. A doutrina clássica classifica como patrimônio público. Lembrando que o Ministério
atos passíveis de serem anulados os decretos, Público: funciona, em regra, como custos legis
as resoluções, as portarias, os contratos, os (§ 4°), porém, o mesmo detém capacidade
atos administrativos em geral, bem como para juntar documentos e pedido de provas
quaisquer manifestações que demonstre a conforme entendimento do STJ:
vontade da administração, desde que casem “PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO
dano à sociedade. REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO POPULAR. INOVAÇÃO
Aspectos processuais da ação popular PROCESSUAL. IMPOSSIBILIDADE.
Tem características do procedimento comum MINISTÉRIO PÚBLICO. CUSTUS LEGIS.
ordinário, com aplicação subsidiária do CPC. POSSIBILIDADE DE REQUERIMENTO DE
*Natureza da ação popular: Gregório Almeida DILIGÊNCIAS PROBATÓRIAS.
entende que a ação popular tem natureza PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO
jurídica dupla. Para ele, primeiramente, é um REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A
direito constitucionalmente político de orientação jurisprudencial do STJ é no
participação que possibilita a fiscalização direta sentido de que o Ministério Público, mesmo
da Administração Pública e também, uma na qualidade de fiscal da lei, detém
garantia processual constitucional que se legitimidade para a juntada de documentos
exerce desse direito político mencionado. Ela e para formular pedidos de produção de
pode ter natureza preventiva, de modo a provas que entender necessárias.
prevenir que o ato aconteça gerando dano, Precedente: RMS 27.455/DF, Rel. Ministra
como também, regressiva, aplicada após o LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, j.
cometimento do ato, anulando o ato indevido. 3.11.2011). 2. Inviável a apreciação da tese
Ainda há a possibilidade de ação de natureza suscitada pelo agravante, por se tratar de
corretiva da atividade administrativa, aqui o ato inovação em agravo regimental, estranha à
já aconteceu, mas age para corrigir os que já matéria posta no recurso especial e nas
foram praticados há algum tempo, e por fim, contrarrazões. Precedentes: AgRg no
natureza supletiva da inatividade do poder AREsp 275.268/AL, Rel. Ministro
público, quando houver omissão, quando ela HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,
deixa de praticar certos atos dos quais ela está julgado em 02/05/2013, DJe 16/05/2013;
obrigada a praticar. AgRg nos EDcl no AREsp 176.691/RJ, Rel.
* Legitimação ativa: qualquer cidadão (art. 1º) Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
está sujeito a concorrer à legitimidade ativa, TURMA, j. 7.3.2013. 3. Agravo regimental

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não provido” (AgRg no Resp 1333168/RJ , seguintes, sob pena de falta grave (art.16).
Rel. Mauro Campbell Marques, Segunda Outros legitimados (art.17).
Turma, p. 11.12.2013). O regime da coisa julgada é peculiar à
Dispositivos específicos no sentido de agilizar o natureza do direito tutelado (direito
andamento do processo: pena de transindividual) e à circunstância de ter sido
desobediência e penalidade administrativas defendido em juízo por substituto processual
(art. 7º, § único, art. 7º, § 1º, I, e art. 8º). (efeito erga omnes, secundum eventum litis,
art. 18).
* Sentença: Sendo de procedência, além de
decretar a invalidade do ato impugnado, deverá Súmula 101 STF. O mandado de segurança
condenar ao pagamento de perdas e danos os não substitui a ação popular.
responsáveis pela sua prática e os
beneficiários dele (art. 11) e condenar os réus Súmula 365 STF. Pessoa jurídica não tem
ao pagamento ao autor, das custas e demais legitimidade para propor ação popular.
despesas, bem como honorários (art. 12).
Sendo de improcedência, o autor só estará
sujeito ao ônus sucumbenciais em caso de
ficar reconhecida lide manifestamente
temerária, caso em que será condenado ao
pagamento do décuplo das custas (art. 13).
A sentença que extinguir o processo sem julgar
o mérito e a que julgar improcedente o pedido
estarão sujeitas a reexame necessário (art.
19), sem prejuízo do recurso de apelação, que
poderá ser interposto, não só pelo autor, como
também pelo MP e qualquer cidadão (art. 19, §
2º).

Cumpre ressaltar que a procedência do feito


gera a produção de efeitos de coisa julgada
erga omnes. Entretanto, segundo Alexandre
de Morais em seus ensinamentos leciona que
“se a ação popular for julgada improcedente
por ser infundada, a sentença produzirá efeitos
de coisa julgada erga omnes, permanecendo
válido o ato. Porém, se a improcedência
decorrer de deficiência probatória, apensar da
manutenção da validade do ato impugnado, a
decisão de mérito não terá eficácia de coisa
julgada erga omnes, havendo possibilidade de
ajuizamento de uma nova ação popular com o
mesmo objeto e fundamento, por prevalecer o
interesse público de defesa da legalidade e da
moralidade administrativas, em busca da
verdade real (Direito Constitucional, 9ª ed., São
Paulo, Atlas, 2001, p. 187).

O cumprimento da sentença seguirá o rito do


CPC e, caso nenhum dos legitimados o faça no
prazo de 60 dias da publicação da sentença
condenatória de segunda instância, o
representante do MP a promoverá nos 30 dias

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