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CHAPTER ONE

Capítulo 1: O básico

Capítulo 1:
O Básico

1.1 EQUIDADE
Equidade representa a probabilidade que uma mão vai vencer após o river contra a
mão ou range do vilão. Equidade também leva em conta que o pote às vezes vai ser
dividido. É também importante ressaltar que, se uma mão tem mais equidade que outra,
isso não significa que ela seja melhor ou seja mais lucrativa.
Como exemplo, um oponente razoável dá raise de MP e todos os vilões foldam até
nos, que estamos no button. É melhor dar call com 9-8s que com A-9o, apesar do
primeiro possuir menos equidade. Para entender o porquê, discutiremos as qualidades-
chave que procuramos quando decidimos jogar uma mão.
1.1.1 MANTENDO EQUIDADE CONTRA RANGES FORTES
Um dos motivos pelos quais A-9o é um call ruim no button contra um raise de MP é
porque essa mão tem muita equidade contra o range de check-fold do vilão. Mais
especificamente ace-high sem kicker é geralmente muito fraco para ir de check nas três
streets e vencer no showdown, mas quando apostamos a mão, sua equidade nunca é
realizada pois todas as mãos piores no range do nosso adversário foldarão. Além disso, no
flop, A-9o quase nunca estará à frente no range de value bet do vilão e é improvável que
melhore quando estiver perdendo. Por fim, quando tivermos um par e o vilão vá de
check, é improvável que ele vá de check-call em várias streets com mãos piores.
Por outro lado, considere 9-8s. Enquanto é improvável que 9-8s flope uma mão que
vença mão fortes que value betem no flop, floparemos com frequência um flush draw,
straight draw, ou um par com 5 outs. Esses draws todos tem potencial de se tornarem
mãos fortes que possam vencer mãos no range de value bet ou de check-call do vilão.
Além disso, 9-8s utiliza sua equidade de forma eficar quando flopa um draw mas não se
torna uma mão forte. Podemos semi-blefar no turn ou river se o vilão for de check e não
possuirmos um par, e se ele der check-call em nosso bet, nosso draw certamente estará
vivo.
Assim, note que suited connectors são geralmente mãos lucrativas pois quando elas se
tornam mãos fortes, geralmente serão mãos fortes o suficiente para vencer mãos no range
de value bet ou check-call do vilão. Por fim, quando elas não se tornarem mãos fortes e,
livro

ao contrário, forem usadas como blefe, suited connectors quase sempre farão o vilão
foldar, então pouca equidade é desperdiçada.
Queremos enfatizar jogar mãos que tenham alta equidade contra o range de bet ou de
call do vilão. Mãos que possuem muita equidade contra o tipo de mão que o vilão
frequentemente vai foldar no river são muito menos úteis.
1.1.2 PERCEBENDO SE É LUCRATIVO VER CARTAS ADICIONAIS
Após ver um flop com um suited connector, quase sempre saberemos exatamente o
que precisamos para fazer a melhor mão, e geralmente quereremos ver o turn quando
floparmos um par, um straight draw, um flush draw, um backdoor flush ou um backdoor
straight. Como foldaremos nossos suited connectors no flop ou turn se nossa mão possuir
pouca equidade, se não vermos o river é improvável que nossa mão tivesse se tornado
forte o suficiente para vencer o vilão, de qualquer forma.
Outras mãos não nos permitem dar call no flop e nos dar a chance de melhorar contra
o range do adversário. Isso ocorre frequentemente com pocket pairs fracos. Se ele betar,
teremos que foldar, pois nosso par só vence blefes, e não temos outs suficientes para
justificar um call. Assim, apesar do fato de nosso pocket pair melhorar para uma trinca
até o river em cerca de 10% das vezes, não é equidade suficiente para nos fazer querer
investir fichas adicionais para ver se atingimos nossa trinca.
Como exemplo, estamos no button e damos call em um raise de MP. O flop vem Ks-
7c-3h. Enquanto tanto 6d-6s e 9h-8h possuem cerca de 10% de equidade contra um top
pair, dar call com 9-8s é uma jogada muito mais forte que dar call com 6-6. Isso porque
quando temos o 9-8s, existem 22 cartas no baralho que nos darão um straight draw, flush
draw ou um par com 5 outs. Se o turn for uma dessas 22 cartas, como será 46,8% das
vezes, podemos dar call novamente e esperar formar a melhor mão no river (e às vezes
blefar se não melhorarmos e o vilão der check).
Enquanto podemos dar sorte imediatamente se acertarmos nossa trinca, se não a
acertarmos no flop geralmente teremos que foldar para um bet. Isso significa que mesmo
que o river seja um 6, terminaremos por não ver esta carta e assim ganhar um pote
grande. Assim, mesmo que 9-8s e 6-6 tenham a mesma equidade no flop, com 9-8s
poderemos dar call em um bet no turn para tentar vencer o vilão no river, e, portanto, é
uma mão superior.
1.2 COMPARANDO EQUIDADE COM VALOR ESPERADO
Usaremos com frequência as expressões valor esperado (EV), às vezes escrita como
expectativa, e equidade. Às vezes os jogadores confundem estes conceitos e, enquanto
devemos manter em mentes que eles são relacionados, valor esperado e equidade não são
intercambiáveis. O valor esperado de uma mão nos diz quanto esperamos vencer em
média, e considera todo o dinheiro previamente investido no pote como dead money. Isso
significa que foldar no ponto de cálculo do EV sempre terá como expectativa zero,
independente se no geral perdermos dinheiro na mão.
1.3 AS MÃOS NÃO PODEM SIMPLESMENTE SER RANQUEADAS DA MAIS
FORTE PARA A MAIS FRACA
Como equidade não necessariamente torna uma mão melhor, as mãos não podem
simplesmente ser ranqueadas da mais forte para a mais fraca. Isso significa que diferentes

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tipos de mãos serão úteis em determinadas situações e não podemos entrar no hábito de
pensar que algumas mãos são sempre melhores que outras. Isso é especialmente
verdadeiro pré-flop, onde uma ligeira mudança em profundidade de stack ou posição
pode impactar significativamente no valor esperado de uma mão.
Por exemplo, contra um raise do button, que tem um range amplo, uma mão como K-
10o funcionará muito melhor como um call do big blind que 7-5s. Isso porque call com
K-10o mantém todos os K e os 10 piores na range do vilão, enquanto 3-betar faria todos
eles foldarem. Como o range do button é tão amplo, não precisamos ter uma mão
extremamente forte no river para ter a melhor mão e ganhar um pote de tamanho
razoável. Mas 7-5s joga menos efetivamente como call porque com frequência vai flopar
o segundo melhor par, o que inclui fazer o mesmo pair mas com um kicker pior.
Por outro lado, 7-5s jogará muito melhor em um pote 3-betado que K-10o. Nessa
situação, requere-se mãos muito mais fortes para vencer no showdown que o normal, e 7-
5s tem o potencial de fazer mãos muito mais fortes que K-10o. Além disso, é uma mão
que nos permite efetivamente lançar o segundo barril como semi-blefe no turn quando
tivermos um straight ou flush draw, pois se acertarmos nosso draw, quase sempre faremos
a melhor mão. Por último, existe o problema de que potes 3-betados pré-flop aumentam a
chance de que K-10 está dominado (por K-K, 10-10, A-K, A-10, K-Q ou K-J). Temos que
nos lembrar que algumas mãos jogarão melhor como calls e outras como raises semi-
blefe, e nosso trabalho como jogadores teoricamente fortes será colocar mãos nos ranges
corretos contra oponentes fortes.
1.4 ENTENDENDO RANGES POLARIZADOS E CONDENSADOS
Um range é considerado polarizado quando consiste principalmente de mãos fortes ou
fracas, e não possui ou possui poucas mãos de força média. Isso ocorre em várias
situações como em ranges de 3-bet pré-flop e em ranges de raise no flop, mas é mais
claramente ilustrado no river. Quando um jogador aposta no river ele está normalmente
fazendo isso como blefe para fazer mãos mais fortes foldarem ou com uma mão forte
para extrair valor de mãos mais fracas, pois não faz sentido apostar mãos de força média
se o oponente dá call quando estamos perdendo.
Como exemplo, o CO dá raise e o button paga. O flop é Kc-4s-2h, o turn é 7h e o
river é Jd. Se o cutoff aposta flop e turn, esperamos que ele continue apostando no river
com mãos fortes como A-K ou melhor, por valor, e ocasionalmente com mãos fracas
como missed draws, por blefe. Mas não esperamos que ele aposte Qh-Jh pois é
improvável que uma aposta consiga um call de mãos piores ou um fold de alguma mão
melhor.
O oposto de um range polarizado é um range condensado. É um range que consiste
em sua maioria de mãos de força média e tem poucas ou nenhuma mão forte ou fraca.
Um jogador terá um range condensado após ir de check ou call várias vezes em uma
textura de board onde dar cartas adicionais é arriscado.
Como exemplo, um jogador vai de check-call no flop Qh-10h-4c e vai de check-call
novamente no turn 7s. Esperaríamos que seu range de check-call incluísse poucas ou
nenhuma mão forte, já que a maior parte delas daria raise no flop ou no turn. Também
esperaríamos que seu range incluísse poucas ou nenhuma mão fraca, pois a maior parte

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delas foldaria no flop ou no turn. Se o river não tornar melhores muitas mãos no range de
check-call, o range deverá continuar condensado.
É importante notar que um range polarizado de mãos fortes e fracas é geralmente
bastante lucrativo e fácil de se jogar. Se a nossa estratégia é sempre dar raise com nossas
mãos fortes ou fracas, quando não damos raise ficamos com um range condensado de call
o que é geralmente problemático. Isso pois o vilão pode fazer apostas altas efetivamente
quando ele souber que nosso range é condensado, já que suas mãos de valor não podem
ser vencidas. Assim, às vezes precisaremos fazer slowplay com mãos fortes contra
oponentes habilidosos para evitar que eles nos overbetem efetivamente.
1.5 TORNANDO O OPONENTE INDIFERENTE A DAR CALL NO RIVER
Um range balanceado de bet no river consiste na proporção correta de value bets e
blefes para que nosso oponente se torne indiferente a dar call com um grande grupo de
mãos chamadas de “bluffcatchers”, pois elas só vencem blefes. O EV de dar call ou fold
no river com um bluff catcher contra um range balanceado é de aproximadamente 0.
Por exemplo, o board é Ks-4s-2c-9d-7h e nós value betamos K-Q ou melhor com uma
pot-sized bet no river. Nós também blefamos todas as mãos piores que par de nove com a
mesma pot-sized bet. Como nosso oponente vai arriscar uma pot-sized bet para vencer
duas pot-sized bets, ele precisa vencer 33,3% das vezes quando ele dá call para empatar.
Assim, precisamos de duas value bets para cada blefe para tornar nosso oponente
indiferente a dar call com mãos mais fracas que K-Q e mais fortes que 7-x.
A razão pela qual tornar nosso oponente indiferente a dar call é crucial é porque
quando betamos no river, nosso oponente provavelmente terá um bluff catcher. Se
blefarmos muito, ele sempre dará call com essas mãos e se blefarmos muito pouco, ele
aprenderá a desistir dessas mãos. Usar a proporção incorreta de value bets e blefes dará
aos oponentes a oportunidade de corretamente dar call ou foldar todos os seus bluff
catchers, e bons jogadores se aproveitarão desta falha em sua estratégia.
Por outro lado, se betamos o river com um range balanceado, nosso oponente
responderá dando call com mãos suficientes para tornar-nos indiferentes a blefar.
1.1 A ÁREA CINZENTA ENTRE O VALUE BET E O BLEFE
É com frequência tentador supersimplificar situações complexas usando um approach
binário “tudo ou nada”. Isso geralmente torna os problemas mais fáceis de serem
visualizados e entendidos, e embora destrinchar situações complexas em uma tentativa de
entendê-los melhor seja útil, temos que ter cuidado para não irmos muito além. Esse
conceito pode ser claramente visto no poker quando jogadores tentam visualizar apostas
no flop e turn como value bets ou blefes. Muitas vezes, especialmente no flop, a melhor
linha disponível será fazer uma aposta que possui propriedades de blefe e value bet ao
mesmo tempo.
Como exemplo, damos raise com 10s-9s em MP e o button dá call. Se o flop vier 9d-
4h-2s e betarmos, estaremos blefando ou value betando? Perceba que nosso oponente
pode dar call com A-K, A-Q, 9-8s, 8-8 ou 7-7, e geralmente venceremos no showdown se
formos de check-check até o river.
Perceba que isso parece tornar a jogada uma value bet, pois estamos extraindo valor
de mãos piores. Mas também fazemos nosso oponente foldar mãos como A-J e K-Q, que

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possuem 24% de equidade contra nossa mão, pois de forma geral essas mãos não vão
muito bem contra nosso range de bet, que possui muitos overpairs e overcards melhores.
Assim, fazer o oponente foldar mãos com 24% de equidade é um acontecimento
significante. Isso é especialmente verdadeiro quando faltam duas streets para agir, uma
boa profundidade de stacks, e nosso oponente tem posição sobre nós. Na verdade, se
decidimos apostar nosso par de noves com um dez kicker neste flop, é principalmente
porque fazer o vilão foldar duas overcards é muito desejável.
Antes de entender a teoria, pode ser tentador pensar: “Por que essa situação é
complicada? Estamos value betando pois o vilão poderá dar call com mãos piores assim
como protegendo nossa mão por não deixar ele ver uma free card. Só porque queremos
negar o oponente de ver free cards não torna nossa mão menos que uma value bet”. Isso
seria supersimplificar a situação.
É importante entender que betar neste flop tem várias consequências importantes, que
são:
1) Nós tornamos o range do vilão mais forte;
2) Nós tornamos o pote maior;
3) Nos arriscamos a tomar um raise com duas streets ainda para agir.
Existem também algumas questões a serem consideradas:
1)Mesmo que estejamos à frente no flop, como conseguiremos continuar extraindo
valor em quase qualquer carta no turn ou no river?
2)Betar o flop realmente foi uma value bet se teremos que dar check no turn e jogar
um pote grande fora de posição contra um range forte?
Perceba que a mão não simplesmente acaba quando betamos neste flop e o vilão dá
call, pois frequentemente teremos problemas em realizar nossa equidade. Assim, chamar
de value bet nossa aposta no flop seria, no mínimo, uma super simplificação.
Em geral, os termos “value bet” e “blefe” serão termos imperfeitos em todas as streets
exceto no river. Isso porque sempre haverão cartas adicionais nas primeiras streets, e
mãos mais fracas terão oportunidade de melhorar e vencer mãos fortes. Além disso, como
nem todas as mãos de valor e blefes tem a mesma equidade, algumas terão maior chance
de vencer no showdown que outras.
Para ilustrar, suponha que 3-betamos A-A e A-K no button contra um raise do CO. A
maior parte dos jogadores se referiria a essas 3-bets como raises de valor, pois o vilão
geralmente dará call com mãos dominadas como 10-10 ou A-Q. Ainda assim, existe
muita diferença de força entre A-A e A-K, a última tendo muito menos equidade.
Consequentemente, simplesmente se referir a essas mãos como “3-bets de valor” é uma
super simplificação, mas uma que é necessária quando discutindo e analisando mãos.
Da mesma forma, blefes podem variar grandemente em quão prováveis são de se
tornarem a melhor mão no river. Por exemplo, se dermos raise com 5h-4h no flop Jd-6h-
2d, às vezes faremos a melhor mão no turn ou river pois nossa mão é uma broca com
backdoor flush draw. Mas o 9h-7h também poderia ser um bom blefe neste flop, apesar
de possuir menos equidade por não ser uma broca. Ambas as mãos são jogadas como
raise no flop esperando fazer mãos melhores foldarem, então é razoável referir-se a elas
como raises de blefe, apesar de uma delas ser menos provável de melhorar que a outra.

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Por último, os jogadores geralmente chamam de “draws” mãos que possuem pouco
valor de showdown mas muita equidade. Chamar uma mão de blefe ou draw é decidido
arbitrariamente, pois um draw é mais ou menos um blefe muito bom (às vezes com tanta
equidade que queremos que o vilão dê call ao invés de foldar). Por exemplo, poderíamos
chamar o 5h-4h do exemplo anterior de draw ao invés de blefe, pois é um draw para um
straight, backdoor flush draw, running trinca ou dois pares.
1.7 TORNANDO O OPONENTE INDIFERENTE A BLEFAR
Geralmente pensamos que o oponente não deverá ser capaz blefar lucrativamente.
Quando isso ocorre, alguns blefes em seu range serão +EV, enquanto outros serão –EV.
Nesses casos, o vilão deverá blefar mãos com a equidade correta para que seus blefes
sejam lucrativos.
Como exemplo, um jogador dá raise no CO e o button dá call. Se o flop vier Qh-7c-
6s, o CO quase certamente será capaz de betar lucrativamente o 10s-9s, pois possui
quatro outs para o nuts, pode acertar o backdoor flush, e também acertar um par médio no
turn. Isso é quase certamente um bet lucrativo contra um bom jogador.
Mãos mais fracas, como 2-2, são pouco prováveis de serem continuation bets
lucrativos pois possuem apenas dois outs para uma trinca. O par baixo também não
deverá efetivamente lançar o segundo barril no turn pois não consegue outs adicionais e é
improvável de vencer em um possível showdown com apenas um par.
Um jogador que consistentemente blefa com as mãos corretas está “randomizando
bem”, e esse jogador torna seu range balanceado blefando com mãos que possuem a
equidade correta. Isso dá a ele uma melhor chance de dar sorte com seus blefes e
melhorar sua mão nas streets futuras pra vencer o vilão. Note que este jogador blefa de
uma maneira aleatória, que é determinada pela mão que ele possui e pela textura do
board, ao invés de simplesmente se sentir tentado a blefar.
Quando dizemos que “queremos que nosso oponente fique break even com seus
blefes”, isso significa que queremos que ele esteja próximo de ser indiferente a blefar ou
ir de check-fold com a pior mão em seu range de bet. Os melhores blefes no range do
vilão certamente serão lucrativos pois possuem boas chances de melhorar em futuras
streets. Mas, em várias situações, a pior mão no range de bet teoricamente correto do
vilão deverá ser apenas ligeiramente lucrativo.
Se um jogador folda tanto que seu oponente possa lucrativamente blefar qualquer mão
em seu range, isso frequentemente (mas não sempre) nos diz que ele não está defendendo
tão agressivamente quanto teoricamente deveria. Por exemplo, imagine que um jogador
folde tanto para raises no flop que o oponente possa lucrativamente dar raise com
quaisquer duas cartas. Seu oponente nunca foldará pois foldar é 0 EV enquanto dar raise
blefando gera um EV positivo.
Por último, note que é frequentemente possível pegar duas linhas diferentes que
possam ter a mesma expectativa contra um adversário ótimo. Por exemplo, poderemos
chegar ao river segurando um bluff catcher, e tanto call quanto fold possuem uma
expectativa de zero. Contra um oponente ótimo, não importa qual linha decidiremos
pegar, pois ele nunca mudará sua estratégia para nos explorar. Mas contra qualquer
oponente real, dar call frequentemente o encoraja a parar de blefar, enquanto foldar

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frequentemente o incentiva a blefar muito. Então é importante se manter balanceado


contra bons oponentes mesmo em situações onde a expectativa das duas linhas é a mesma
contra um oponente ótimo (a não ser que você esteja planejando reverter sua estratégia no
futuro).
1.8 UM JOGADOR ÓTIMO SEMPRE PEGA A LINHA +EV
Dois jogadores estão jogando teoricamente ótimos quando eles estão em uma situação
que é conhecida como Equilíbrio de Nash, que ocorre quando nenhum jogador nunca
recebe um incentivo para desviar da forma que está jogando. Isto é, se um jogador
alguma vez pegar uma linha que não é a +EV, eles têm um incentivo para se desviar e
pegar a linha mais lucrativa.
Muitos jogadores frequentemente se confundem em relação a este conceito e pensam
que às vezes um jogador ótimo vai pegar uma linha menos +EV ou mesmo –EV se isso
tornar outras mãos em seu range jogarem mais lucrativamente após seu oponente se
ajustar a elas. Mas isto nunca acontecerá contra um oponente ótimo, que nunca mudará
sua estratégia quando ele ver seu oponente pegar uma linha não-ótima. Isso porque sua
estratégia não pode ser vencida e se ajustando ele pode ser explorado por um oponente
que reconheça a mudança.
Como um jogador ótimo nunca mudará sua estratégia, isso significa que quando
jogando contra jogadores fracos, uma estratégia explorativa deverá ser mais lucrativa que
uma estratégia ótima. Por exemplo, se um jogador folda muito frequentemente,
constantemente vencer potes pequenos e se recusando a jogar potes grandes sem algo
próximo ao nuts é provavelmente mais lucrativo que jogar otimamente. Portanto
enquanto um jogador ótimo sempre pega a linha mais lucrativa contra um oponente
ótimo, linhas explorativas mais lucrativas geralmente serão possíveis quando enfrentando
jogadores fracos.
1.9 APOSTAS ALTAS FAZEM O OPONENTE COLOCAR MAIS DINHEIRO NO
POTE
Apostas pequenas em relação ao pote requerem que o oponente frequentemente dê
call para evitar que lucrativamente betemos quaisquer duas cartas. O contrário é
verdadeiro para apostas altas, que requerem que o oponente ocasionalmente coloque
muito dinheiro no pote. Assim, escolher o correto tamanho da aposta é extremamente
importante.
Note que um aspecto chave em tamanho da aposta é que a quantidade média que o
vilão precisa colocar no pote aumenta para apostas altas. Por exemplo, suponha que
queremos comparar quanto dinheiro o vilão precisa colocar no pote se betarmos meio-
pote, um pote ou dois potes no river e o vilão não queira blefemos lucrativamente
quaisquer duas cartas.
1) Para uma aposta de meio-pote, o vilão precisa dar call ou raise 66,7% das vezes para nos
tornar indiferentes a blefar. Assim, ele acaba colocando no pote em média pelo menos
0,33 do pote;
2) Para uma aposta de um pote, o vilão precisa dar call ou raise 50% das vezes para nos
tornar indiferentes a blefar. Assim, ele acaba colocando no pote em média pelo menos 0,5
do pote;

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3) Para uma aposta de dois potes, o vilão precisa dar call ou raise 33,4% das vezes para nos
tornar indiferentes a blefar. Assim, ele acaba colocando no pote em média pelo menos
0,66 do pote.
Apostas grandes colocam mais dinheiro no pote mas também tornam o range do vilão
muito mais forte que com apostas pequenas. Apostar a quantidade correta com as mãos
apropriadas sem deixar nosso range muito transparente é um dos conceitos mais
importantes e difíceis de se dominar.
1.10 O VALOR DA POSIÇÃO
Apesar de não conseguirmos corretamente quantificar o valor exato de se estar em
posição, sabemos que isso propicia diversas vantagens. O jogador em posição age por
último, o que lhe dá acesso a mais informação, dá a ele a primeira oportunidade de parar
a aposta e ver a próxima street, e permite a ele dar call mais efetivamente no turn com
draws. Quão valiosa é a posição em uma determinada situação vai depender de uma
variedade de fatores.
Ao invés de fazer uma análise inadequada sobre o valor da posição, simplesmente
tenha em mente que estar em posição no flop é uma vantagem significativa mesmo que
não possamos quantificar seu valor exato. Por causa disso, nós tentaremos ver muito
flops em posição e limitaremos os flops que veremos fora de posição.
Posição também é sensível ao tamanho do stack. Quando apenas uma pequena
quantidade pode ser apostada, a posição possui pouco valor. Mas neste livro, a maior
parte de nossa discussão assumirá que os stacks iniciais são de 100 big blinds, e nessa
profundidade de stack haverão fichas suficientes para apostar durante toda a mão,
tornando a posição quase sempre importante.

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CHAPTER TWO
Capítulo 2: Jogo Pré-Flop

Capítulo 2:
Jogo Pré-Flop

2.1 INTRODUÇÃO
Enquanto continuamos por este livro, você começará a perceber algumas poucas
tendências gerais quando resolvendo problemas de uma perspectiva teórica. Primeiro,
nem sempre conseguiremos chegar a uma solução utilizando apenas matemática e teoria,
e estes problemas requerem tentativa e erro.
Segundo, notaremos que a melhor forma de resolver um problema poderá com
frequência parecer ao contrário ou requerer que paremos por um tempo e que voltemos
mais tarde, quando possuirmos mais informações. Por exemplo, suponha que no flop
queremos descobrir qual deveria ser a nossa proporção de valor e blefe. Para descobrir
isso, primeiro precisaremos saber quão frequentemente betaremos no river com um range
balanceado, qual tamanho da aposta deverá ser utilizado no turn e river, e o quanto a
posição afeta nosso range. Note que esta é uma quantidade grande de informação, e
obviamente seria bem difícil saber por onde começar se um jogador novato nos
perguntasse “Você pode explicar como balancear a frequência de valor e blefe no flop, e
de onde vêm esses números?”
Resolveremos muitos problemas desta forma, e é importante lembrar de ser paciente e
saber que essas questões serão resolvidas à medida que discutirmos mais conceitos. Sua
confusão vai chegar ao fim enquanto cobrimos mais tópicos e mais momentos “Ah-hah”
surgirão quando múltiplos conceitos se unem e a matemática e a lógica atrás do poker
teoricamente correto começa a fazer mais sentido.
Por último, e talvez o mais importante, note que enquanto geralmente não
conseguimos chegar à solução exata, a teoria pode ser utilizada para nos dizer quando
algo não é ótimo. Isso é especialmente importante para a atual seção do livro. Quando
sabemos que algo deve estar errado com nossos ranges ou tamanho de aposta, podemos
focar nossa atenção para aquela área específica de nosso jogo e tentar encontrar uma
estratégia que não possua erros teóricos.
Por exemplo, rapidamente veremos que provavelmente não faz sentido 3-betar
QQ+/AK de qualquer posição um raise de UTG. Se todo jogador 3-betar essas mãos por
valor e balancear o range com a quantidade apropriada de blefes, então o jogador de UTG

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será 3-betado muitas vezes e parará de abrir com as mãos que ele planeja foldar para um
3-bet. Mesmo que isso não nos diga exatamente quais são os ranges ótimos para defender
contra um raise de UTG, nos dá um ponto de início útil para construir ranges.
Nossa abordagem geral para o jogo pré-flop será começar com a análise de ranges
básicos que a maioria dos jogadores vencedores utilizam atualmente e modificá-los à
medida que vermos que eles podem ser explorados. Assim que estivermos utilizando
ranges e tamanhos de aposta que não deem aos nossos oponentes formas claras de nos
explorar, nossa estratégia provavelmente estará mais próxima do GTO que originalmente
era. Isso tornará abordar o jogo pré-flop muito mais fácil que começar do zero, o que
seria no mínimo difícil e, no máximo, próximo a impossível.
2.2 FREQUÊNCIAS DE 3-BET, 4-BET E 5-BET PRÉ-FLOP
Embora não exista uma maneira de descobrir os tamanhos perfeitos de 3-bet, 4-bet e
5-bet e a frequência de cada posição, podemos analisar os efeitos dos tamanhos
comumente utilizados e ver como eles afetam os ranges e frequências de cada jogador.
Além disso, perceba que a metodologia que discutiremos será muito mais importante que
ter certeza que usamos os tamanhos corretos. Na realidade, pequenas mudanças de
tamanho geralmente afetam apenas ligeiramente o range de cada jogador. Tenha em
mente também que, online, a maioria dos jogadores possuem stacks de 100 big blinds e
um tamanho comum é um raise do tamanho do pote, de 3,5 big blinds, na maioria das
posições exceto no button. Além disso, bons jogadores geralmente 3-betam um raise de
3,5 big blinds para algo entre 10 e 12 big blinds.
Vamos considerar com que frequência devemos defender contra um 3-bet de forma a
tornar o oponente indiferente ao blefe. Quando um jogador 3-beta blefando um raise de
3,5 big blinds em posição para 10 big blinds, ele está arriscando 10 big blinds para ganhar
5 (o raise mais as blinds). Assim, o 3-bet precisa funcionar mais que 66,7% das vezes
para gerar um lucro imediato.
Da mesma forma, se o 3-bet fosse para 12 big blinds ao invés de 10, precisaria
funcionar 70,6% das vezes.
Observe que mesmo um aumento de 20% no tamanho do 3-bet só muda o quanto o
raiser original deve defender em 4%. Note também que o raiser original não é o único
jogador que pode defender contra o 3-bet – ainda existem jogadores que vão agir que
podem ter uma mão forte ou que podem decidir blefar.
Aqui está um exemplo. O cutoff aumenta para 3,5 big blinds e o button 3-beta para 10
big blinds. Como o jogador que 3-betou precisa que os outros jogadores foldem 66,7%
das vezes para conseguir um lucro imediato, os jogadores restantes precisam defender um
combinado total de pelo menos 33,3%. Se cada um dos blinds 4-betar 3% das vezes e nas
outras vezes foldar, então o raiser original precisaria defender pelo menos 29,1%.
Mas o No Limit Hold’em não é sempre tão simples. Isso porque os jogadores
geralmente fazem 3-bets menores em posição que fora de posição, pois eles querem
encorajar o oponente a dar call para ver o flop (em posição). Se dermos raise first in e o
vilão fizer um pequeno 3-bet, geralmente ele estará em posição e haverão várias pessoas
ainda a agir que podem nos ajudar a defender. Se o vilão estiver fora de posição, seu 3-
bet geralmente será maior, assim não teremos que defender tanto mesmo se não

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houverem jogadores ainda a agir. Em geral, nossa estratégia será de defender de 27 a 31%
dos nossos raises contra 3-bets.
Os tamanhos mais comuns de 4-bet são geralmente de 22 a 24 big blinds para ganhar
um pote de 15 a 16 big blinds. Se o raiser original 4-betar, ele efetivamente arrisca apenas
de 18,5 a 20,5 big blinds, já que seu raise original de 3,5 big blinds agora é dead money.
Assim, um 4-bet do raiser original pré-flop deve ser bem-sucedido 55% das vezes para
gerar um lucro imediato, enquanto um 4-bet das blinds deve ser bem-sucedido 60% das
vezes para gerar um lucro imediato.
Por último, um jogador pode 5-betar blefando, o que quase sempre vai resultar nele
indo all-in quando os tamanhos dos stacks forem de 100 big blinds ou menos. Assim,
quando alguém 5-bet shova blefando, ele geralmente estará segurando um pocket pair
pequeno um A suited fraco, pois essas mãos possuem a maior equidade quando o 5-bet
for pago.
Entretanto, quanta equidade uma mão específica tem vai mudar significativamente
baseado no range de call do vilão. Por exemplo, contra um range de call de JJ+/AK, um
par de três e A-5s tem 32,2% e 30,7% de equidade, respectivamente. Mas contra um
range de call de A-A e K-K, o par de três possui apenas 18,4% de equidade, enquanto A-
5s possui 26,7% de equidade.
Outro ponto a ser considerado é que o 5-bet blefe geralmente virá do jogador que 3-
betou, e como ele já investiu cerca de 11 big blinds, ele está arriscando, em média, apenas
mais 89 big blinds indo all-in (assumindo que ele tenha começado a mão com 100 big
blinds). Assim, como o pote final terá 201,5 big blinds, sua expectativa é de pouco mais
de 2 big blinds de volta para cada 1% de equidade. Então, por exemplo, se sua mão
possui 31% de equidade quando receber o call, sua expectativa é de 62,5 big blinds
quando o vilão não foldar, o que é o mesmo que uma expectativa geral de -26,5 de big
blinds. Mas quando o vilão folda, assumindo que o 4-bet (para 24 blinds) venha do raiser
original, o jogador que 5-beta blefando vai ganhar em média 36,5 blinds. Assim, neste
exemplo, o 5-bet blefe precisa funcionar mais que 42% das vezes para gerar um lucro.
De forma geral, o 5-bet blefe precisa funcionar entre 40 e 50% das vezes para ser
lucrativo. A porcentagem exata depende da equidade contra o range de call de 5-bet do
vilão, e os tamanhos das apostas usadas para o raise, 3-bet e 4-bet.
Resumindo, as frequências que os 3-bets, 4-bets e 5-bets usados como blefes devem
ser bem-sucedidos geralmente estarão nas seguintes porcentagens:
-3-bet blefes precisarão funcionar entre 67 e 70% das vezes para gerar um lucro
imediato;
-4-bet blefes precisarão funcionar entre 54 e 60% das vezes para gerar um lucro
imediato;
-5-bet blefes precisarão funcionar entre 40 e 50% das vezes para gerar um lucro
imediato.
Então, apesar de cada blefe adicional se tornar significativamente mais caro (em
termos de big blinds adicionadas ao pote), cada blefe precisa ser bem-sucedido com uma
frequência menor que o anterior para ser lucrativo. Se o vilão às vezes defende dando call
ao invés de dar re-raise, como com frequência ele fará, então nossos 3-bets e 4-bets não

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livro

precisam funcionar tanto para serem lucrativos. Isso porque mesmo nossos blefes mais
fracos darão sorte no flop. Da mesma forma, podemos constatar o seguinte:
-Raises pré-flop precisam defender 4-betando entre 25 e 30% das vezes se nunca nos
defendermos dando call. Este número é mais baixo que deveria ser pois geralmente
existem outros jogadores ainda a agir que podem ajudar a defender;
-Ranges de 3-bet que nunca dão call quando enfrentando um 4-bet deverão 5-bet
shovar entre 40 e 46% das vezes;
-Ranges de 4-bet deverão dar call entre 50 e 60% das vezes quando enfrentando um 5-
bet shove.
Essas frequências são importantes para se determinar a proporção entre raises por
valor e raises por blefe em situações de 3-bet, 4-bet e 5-bet. Mesmo que essas frequências
não nos digam exatamente quais mãos pertencem a quais ranges, elas nos permitem
enxergar se um range está voltado de forma exagerada para value bets ou blefes.
2.3 RANGES DE RAISE FIRST IN PRÉ-FLOP
Antes que possamos desenvolver ranges de 3-bet contra raises de diferentes posições,
precisamos primeiro entender o que torna uma mão teoricamente correta para dar raise
first in. Como o valor esperado de foldar é zero, um jogador deveria dar raise first in
como qualquer mão que possua um valor esperado positivo. Isto é, a pior mão em um
range de raise first in deve ser próxima a 0 EV, já que esta expectativa é igual ou pouco
maior que a expectativa de foldar. Desta forma, podemos fazer as seguintes constatações
sobre as propriedades da pior mão em um range de raise first in de um jogador
teoricamente ótimo:
1) O valor esperado da mão deve ser próximo, se não igual, a zero. Uma mão tem um valor
aproximado de 0 EV se devemos dar raise com ela algumas vezes, mas não todo o tempo.
Por exemplo, se um jogador em UTG dá raise com 6-5s apenas 75% do tempo, então o
valor esperado da mão será próximo a 0. Mas se ele der raise com esta mão todas as
vezes, ele será visto jogando muitas vezes com mãos especulativas em EP e se torna
vulnerável a re-raises e outras jogadas. Desta forma, o valor esperado de 6-5s muito
provavelmente se tornará negativo;
2) Esta mão deverá frequentemente foldar quando enfrentando um 3-bet. Geralmente não
faz sentido defender contra raises com as mãos mais fracas de seu range de raise. O EV
perdido será igual ao tamanho do raise. Haverão raras exceções se a mão funcionar bem
como um 4-bet blefe;
3) A mão terá um EV total de mais que -3,5 blinds quando os vilões derem call ao invés de
re-raise. Mesmo a mão mais fraca em um range de raise pode se tornar uma mão forte no
flop;
4) A mão não possuirá um EV maior que 1,5 big blinds quando chegar ao flop. Poker é um
jogo onde a soma do EV é sempre zero, e se a pior mão em um range de raise pré-flop
esperar ganhar mais que as blinds, isso implica que o jogador que dará call não estará
jogando otimamente – seu call teria que ter um valor esperado negativo.
As constatações acima nos servem como um útil guia para começar a descobrir como
ranges de raise e 3-bet pré-flop devem ser. Como um jogador arrisca 3,5 big blinds para
vencer 1,5 big blinds com suas piores mãos em seu range de raise, este deve ser bem-

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livro

sucedido pelo menos 70% das vezes para gerar um lucro imediato. Isso significa que, se a
frequência combinada de 3-bet de todos os oponentes resultar no raiser original sendo 3-
betado um total de 30% ou mais, não será lucrativo dar raise first in com uma mão que
terá que foldar para um 3-bet.
2.4 RANGES MÁXIMOS DE 3-BET
Agora sabemos matemática e teoria suficientes para descobrir como um range de 3-
bet deve fazer sentido, e sobre qual posição do vilão devemos aplicá-lo. Para alcançar
uma estimativa rápida, assumiremos que os jogadores estão utilizando as mesmas
frequências de 3-bet de todas as posições restantes possíveis. Esta constatação está
detalhada no quadro ao final desta seção, mas será útil agora para nos dar um ponto de
início para descobrir que tipos de ranges de 3-bet são possíveis.
Devemos também notar que simplesmente dividir 30% pelo número de jogadores que
ainda irão agir nos dará uma estimativa acurada da quantidade máxima que cada jogador
pode 3-betar, mas não nos dará a resposta exata. Isso porque a estimativa não leva em
conta que dois ou mais jogadores podem ter uma mão que 3-betará o mesmo raise.
Assim, devemos descobrir quão frequentemente cada jogador não deve 3-betar para que o
raise original seja 3-betado menos que um total de 30%.
Aqui está um exemplo. Como existem cinco jogadores ainda a agir (considerando que
estamos em 6-max), devemos multiplicar a probabilidade de cada jogador não 3-betar
para conseguirmos a resposta correta. Assim, o máximo que cada jogador pode 3-betar é
6,9%.
Como vimos em “Frequência de 3-bet, 4-bet e 5-bet pré-flop”, um jogador não pode
foldar mais que 40 a 46% de seu range de 3-bet para a maioria dos 4-bets do vilão. Isso
significa que de 40 a 46% do range de 3-bet deveria ser preparado para, ou jogar um pote
pós-flop 4-betado, ou 5-bet shovar pré-flop.
Entretanto, isso também significa que devemos foldar entre 54 a 60% das vezes contra
o 4-bet do vilão para torná-lo indiferente ao blefe (assumindo que nós sempre 5-betemos
ou foldemos contra o 4-bet do vilão). Então, se estamos 3-betando 6,9% das vezes, então
devemos defender com 2,76% do total do nosso range contra um 4-bet, que é um range
de AA-QQ/AK. O quadro abaixo incluir a resolução dos ranges utilizando a metodologia
citada acima.

Range de Raise Componentes


Porcentagem Porcentagem de de
Máxima de 3- Valor do Range
Bet 3-Bet por Valor de
3-Bet
UTG 6,9 2,76 AA-QQ, AK
MP 8,5 3,4 AA-JJ, AK, AQs
CO 11,2 4,6 JJ+, AJs+, AQo+
TT+, ATs+, KQs,
Button 16,3 6,52 AJo+

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livro

Nós não provamos, de forma alguma, que estas mãos devem ser 3-bets teoricamente
corretos. Podemos 3-betar algumas mãos não-premium para usá-las como 5-bet blefes
quando enfrentarmos um 4-bet, e podemos fazer slowplay com algumas mãos muito
fortes apenas dando call pré-flop.
Isso nos dá, porém, um ótimo ponto de início para determinar se os jogadores estão 3-
betando muito agressivamente. Isto é, se eles estão defendendo 3-betando próximo das
frequências acima, então, como logo veremos, o raiser pré-flop estará perdendo dinheiro
abrindo as piores mãos de seu range de raise first in.
Além disso, a maior parte das pessoas concordará que a pior mão em um range de
raise pré-flop, em média, perderá dinheiro quando receber um call. Enquanto é verdade
que o dead money nas blinds aumenta o valor esperado tanto para o raiser pré-flop quanto
para o jogador que dá o call, é improvável que este seja um efeito forte o suficiente para
fazer com que a mão mais fraca do range ganhe dinheiro quando receber um call.
Consequentemente, a pior mão em um range de raise provavelmente perderá dinheiro
por diversas razões quando receber um call:
1)Ela é mais fraca que a mão média em um range de flat call pré-flop;
2)No flop, o raiser pré-flop frequentemente estará fora de posição, a não ser que ele
tenha dado raise no botão ou receba call apenas de uma das blinds;
3)Se uma das blinds der call (fazendo assim com que o raiser pré-flop veja o flop em
posição), o pote será menor, já que haverá menos dead money das blinds.
4)Importante construir ranges onde toda a nossa teoria e nossas crenças façam
sentido, e não devemos nos permitir ter um processo de pensamento contraditório.
Estamos agora equipados com um grande conjunto de restrições, ou parâmetros, que nos
dirão o que podemos e o que não podemos fazer quando construindo ranges de raise first
in e ranges de defesa, de todas as posições.
Para ilustrar rapidamente este conceito, imaginemos que estamos jogando em uma
mesa agressiva e damos raise de 3,5 big blinds com a pior mão de nosso range de UTG
teoricamente correto. Seremos 3-betados um total de 30% das vezes e receberemos call
outros 25% do tempo. Além disso, sejamos generosos e assumamos que o valor esperado
quando nosso raise receber um call é em média 0 EV. Calculando essas variáveis,
descobrimos que o valor esperado de dar raise com a pior mão de um range de raise de
UTG, nesta mesa, é de -0,375 big blinds. Isto é, o jogador em UTG espera, em média,
perder -0,375 big blinds quando ele dá raise com a pior mão de seu range de raise de
UTG teoricamente correto.
Perceba que perdemos dinheiro nesta mesa dando raise com a pior mão em nosso
range de raise first in teoricamente correto. Nossos oponentes estão jogando muito
agressivamente e nossa mão não vai bem contra oponentes que 3-betam um total de 30%.
O fato de um raise teoricamente correto ter um valor esperado negativo não deveria
surpreender ninguém. Por exemplo, um blefe teoricamente correto no flop perderá
dinheiro contra oponentes que se recusarem a foldar.
Enquanto encontraríamos um ponto de equilíbrio (não obter nem lucro nem prejuízo)

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livro

se nossos oponentes sempre 3-betassem ou foldassem, não podemos nos esquecer de


levar em conta que nosso raise às vezes receberá um call. Isto é algo que pode ser
facilmente esquecido enquanto fazendo cálculos. É fácil pensar “como fico em equilíbrio
quando o vilão dá call, isso não muda nada”, mas isso não é verdade. Quando os vilões
foldam ganhamos 1,5 big blinds, mas quando um deles dá call, ganhamos 0 blinds.
Isso explicita o fato de que, enquanto nossos oponentes tiverem ranges razoáveis de
flat call, eles deverão estar 3-betando significativamente menos que um total de 30% do
tempo. Se, ao contrário, eles sempre 3-betarem com todas essas mãos, não possuímos
incentivo para dar raise com as mãos fracas do nosso range de raise teoricamente correto.
2.5 O VALOR ESPERADO DE 4-BETAR OU FOLDAR CONTRA
OPONENTES QUE NÃO FLETAM 4-BETS
Para stacks de 100 big blinds, os jogadores raramente gostam de fletar 3-bets fora de
posição. Um dos conselhos mais comumente dados é “Não flete 3-bets fora de posição, 4-
bete ou folde. Não jogue um pote 3-betado fora de posição se você puder evitar”. Outro
conselho comum é “Se você estiver 3-betando por valor, shove por valor quando
enfrentar um 4-bet, e se você estiver 3-betando por blefe, folde. Não dê call e se arrisque
a dar azar no flop.” Não são conselhos teoricamente corretos, mas permitem que os
jogadores evitem decisões difíceis em potes muito grandes, e assim é com frequência útil
para os jogadores mais novos.
Como é impossível descobrir diretamente o valor esperado de uma mão que vê o flop,
isso torna comparar o EV de ir all-in com o EV de flat call um tanto quanto complicado.
Entretanto, podemos analisar os efeitos de apenas 4-betar ou foldar contra um oponente
que 3-beta e não fleta 4-bets. No futuro, usaremos os resultados desta análise para
conceitualmente mostrar por que esta não pode ser a forma teoricamente ótima de
responder a um 4-bet.
Quando um jogador responde a um 3-bet apenas 4-betando ou foldando, temos
estabelecido que ele deve 4-betar entre 25 e 30% de seu range de raise pré-flop. Quando
enfrentando um 5-bet, ele deve dar call com entre 50 e 60% de seu range de 4-bet.
Multiplicando as duas médias, vemos que 15,2% do range de raise pré-flop deve dar call
em um 5-bet.
Esta é uma importante frequência para se ter em mente quando jogando contra
oponentes que se recusam a fletar 3-bets fora de posição. Contra estes jogadores,
precisamos defender pelo menos 15,2% do total do range de raise deles, ou então blefer
com mãos como A-x suited e pares baixos se tornará lucrativo para eles.
Agora examinaremos como ranges típicos de 4-bet e de call de 5-bet devem ser contra
vários ranges de raise de jogadores que se recusam a fletar 3-bets. Podemos descobrir
isso olhando para a frequência de raise first in. Note que muitos dos ranges são
estimativas já que não requerem usar todas as possíveis combinações de um tipo de mão.

Porcentagem Porcentage Range de 4- Porcentage Range de 5-


m Bet m Bet
de Raise First do Raiser de 5-Bet Call do
In de 4-Bet First Call Raiser

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In First In
QQ+, AKs,
10 2,75 AKo 1,52 QQ+, AKs
TT+, AQs+, QQ+, AKs,
15 4,13 AKo 2,28 AKo
TT+, AJs+, QQ+, AQs+,
20 5,5 KQs, 3,03 AKo
AQo+
TTs+, ATs+, TT+, AQs+,
25 6,88 KQs, 3,78 AKo
AJo+
TT+, ATs+,
30 8,25 KQs, 4,54 TT+, AQs+,
AJo+ AQo+
88+, A9s+, TT+, AJs+,
40 11 KJs+, 6,05 KQs,
QJs, ATo+,
KJo+ AJo+

Esses ranges de defesa nos permitem ter um vislumbre de que mãos são 3-bets por
valor eficientes contra oponentes que defendem apenas 4-betando ou foldando. Por
exemplo, contra um raise first in de 15% não faz sentido 3-betar e 5-betar uma mão como
Q-Q ou A-Ko, já que o raiser pré-flop nunca vai all-in com mãos piores. Um raise first in
de 15% é o que muitos jogadores utilizam para um raise de UTG, e a falta de habilidade
em 3-betar e 5-betar A-Ko por valor contra um raise de UTG jogando 6-max é
consistente com a teoria no capítulo “Ranges Máximos de 3-Bet”. Isso não significa que
A-Ko nunca será um 3-bet contra um raise de UTG, mas geralmente será um call.
Vamos agora analisar a lucratividade de 4-betar com a intenção de dar call num 5-bet.
Para chegar ao resultados, vamos assumir que ganhamos um total de 12,5 big blinds
quando nosso 4-bet é bem-sucedido e que nosso 4-bet será bem-sucedido 60% do tempo
(lembre-se que pequenas mudanças nestes números não alterarão significativamente os
nossos resultados). Assim venceremos em média 7,5 big blinds só da nossa fold equity,
cada vez que 4-betarmos.
Nos 40% que faltam, o oponente shovará e daremos call, e a nossa expectativa será
decidida pela nossa equidade vezes o tamanho final do pote. Por exemplo, em um pote de
201,5 big blinds, se o nosso 4-bet tem 45% de equidade contra o range de 5-bet shove do
vilão, a quantidade total que esperamos ganhar com nossa mão é de -9,325 big blinds.
Como isso ocorre apenas 40% do tempo (com os outros 60% produzindo um lucro de
7,5 big blinds), nossa expectativa geral é de 0,77 big blinds.
Note que os quadros seguintes mostram quanto esperamos vencer ou perder de forma
geral quando 4-betamos. Como foldando para um 4-bet perdemos 3,5 big blinds, é ainda
mais lucrativo 4-betar com a intenção de dar call em um 5-bet, já que o valor total

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esperado é maior que -3,5 big blinds.


A informação abaixo mostra a lucratividade de 4-betar e dar call em um 5-bet contra
vários ranges de 5-bet potenciais.

Equidade contra um range de 5-bet shove de KK+, AKs, A5s (1,5%)*


Mão Porcentagem de Valor Esperado Total
Equidade (BB)
quando all-in
QQ 35,1 -4,2
KK 42,8 2,0
AA 81,0 32,8
AQs 34,8 -4,4
AKo 37,4 -2,4
AKs 41,5 1,0
* Este é um range de shove normalmente utilizado contra um raise de UTG.

Equidade contra um range de 5-bet shove de QQ+, AKs, A5s, AKo (2,9%)*
Mão Porcentagem de Valor Esperado Total
Equidade (BB)
quando all-in
JJ 39,4 -0,7
QQ 43,4 2,5
KK 58,7 14,8
AA 84,3 35,5
AQs 33,1 -5,8
AKo 42,5 1,8
AKs 45,4 4,1
* Este é um range de shove normalmente utilizado contra um raise de MP.

Equidade contra um range de 5-bet shove de JJ+ AKs, A5s, AKo (3,3%)*
Mão Porcentagem de Valor Esperado Total
Equidade (BB)
quando all-in
JJ 39,7 -0,7
QQ 49,4 7,3
KK 63,1 18,4
AA 83,7 34,9
AQs 35,4 -4,0
AKo 42,7 1,5
AKs 45,5 4,2
* Este é um range de shove normalmente utilizado contra um raise de cutoff.

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Equidade contra um range de 5-bet shove de TT+, AJs, AQo (5%)*


Mão Porcentagem de Valor Esperado Total
Equidade (BB)
quando all-in
99 38,2 -1,7
TT 41,2 0,7
JJ 47,5 5,8
QQ 56,0 12,6

KK 67,6 22,0
AA 84,7 35,8
AJo 28,5 -9,5
AJs 32,8 -6,1
AQo 36,6 -3,0
AQs 39,9 -0,3
AKo 50,5 8,2
AKs 52,9 10,1
* Este é um range de shove normalmente utilizado contra um raise do button.

Note que assumimos que nossos 4-bets conseguirão folds 60% do tempo, mas na
prática, os blockers impactarão a frequência de sucesso de nosso 4-bet. Por exemplo, um
par de ases enfrentará uma 5-bet menos frequentemente porque bloqueia vários combos
de ases e A-K. Além disso, também bloqueia mãos no range de 3-bet blefe do oponente.
Assim, isso torna quase impossível descobrir exatamente quão frequentemente o vilão
estará 5-betando, mas ainda podemos calcular a equidade que nossa mão terá quando
enfrentarmos um 5-bet.
Perceba que os resultados acima deveria ser bastante surpreendentes mesmo para
jogadores experientes. 4-betar com A-K ou J-J no cutoff contra um 3-bet é medíocre, com
as mãos tendo um valor esperado total de apenas 1,5 e -0,7 big blinds respectivamente.
Isso sugere que deveríamos estar dando call em 3-bets com estas mãos, especialmente em
posição, onde quase certamente teremos uma expectativa maior, já que isso mantém o
range do vilão mais amplo.
Vários jogadores também se surpreenderiam em aprender que a única mão que eles
deveriam ficar felizes em ir all-in pré-flop após dar raise de UTG é um par de ases. Na
verdade, mesmo um par de reis apresenta apenas um pequeno lucro quando é 4-betado –
esperamos que o vilão folde ao invés de 5-betar. Um jogador de UTG que decide 4-betar
e dar call no 5-bet com Q-Q deve esperar perder em média cerca de 4 big blinds com esta
mão.
Esses ranges de shove provavelmente são mais fortes que a maioria dos jogadores
esperaria, e reforça o que a matemática sugeriu em “Ranges Máximos de 3-Bet”. Não
podemos 3-betar A-K e Q-Q contra um raise de UTG e esperar grande lucratividade

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quando enfrentar um 4-bet. Embora seja muito mais fácil jogar apenas 4-betando ou
foldando quando enfrentando um 3-bet pré-flop, especialmente quando estamos fora de
posição, esses resultados mostram o quão ineficiente essa estratégia é. O range de 3-bet
do vilão deverá estar polarizado, o que significa que nossa melhor estratégia é defender
dando call muito mais frequentemente que 4-betando.
Um último comentário. À medida que discutimos mais teoria, é frequentemente
importante que paremos por um momento para pensar se as nossas experiências batem
com o que a matemática nos diz. Jogadores que 3-betam ou 4-betam descuidadamente de
qualquer posição e dizem que são azarados quando vão all-in contra uma mão melhor
estão errados. A teoria e a matemática por trás do jogo pré-flop indica que eles estão
frequentemente cometendo um grande erro contra fortes oponentes.
2.6 FLETANDO 3-BETS E 4-BETS
Estamos quase prontos para começar a analisar os efeitos de se fletar um 3-bet. Antes
que possamos fazer isso, porém, devemos entender por que também precisamos ter um
range de flat contra 4-bets. Como mencionado anteriormente, a maior parte dos jogadores
não fletará 4-bets, estejam eles em posição ou não. Eles justificam isso afirmando que já
existe muito dinheiro no pote e que blefes possuem pelo menos 20% de equidade mesmo
contra um range de call muito forte. Mais importante que isso, eles não querem enfrentar
uma decisão difícil pós-flop. Mas essa é uma abordagem fraca, e os jogadores devem
estar dispostos e dar call em 4-bets pelos seguintes motivos:
1) Mãos no range de 4-bet por valor são mais fortes que as mãos mais fracas no range de 3-
bet por valor. Se um jogador 5-beta a mão mais fraca do seu range de 3-bet por valor, ele
nunca estará à frente quando receber um call;
2) 5-betar garante que, ou todo o dinheiro esteja no pote pré-flop, ou que nenhum jogador
veja o flop. Isso tira a vantagem de posição que o jogador que 3-beta teria se ele desse
call no 4-bet em posição;
3) Mesmo que uma mão possua apenas 20% de equidade contra uma mão extremamente
forte como A-A ou K-K, ela provavelmente precisa ver o turn ou river para se tornar a
melhor mão. Overpairs conseguem garantir que todo o dinheiro vá para o pote no flop ou
turn em boards ameaçadores, antes que o oponente possa ver cartas adicionais. Em outras
palavras, o vilão terá dificuldade em realizar a equidade de seus semi-blefes;
4) Para stacks de 100 big blinds, é extremamente difícil 5-betar e foldar. Isso significa que
um jogador pode 4-betar um valor bem pequeno se ele souber que seu oponente sempre
responderá 5-betando ou foldando.
Sempre 4-betar ou foldar quando fora de posição se torna ineficiente quando os
jogadores começam a fletar 4-bets em posição. O jogador que 4-beta não pode mais
destruir a vantagem de posição do jogador que 3-beta, e se arrisca a jogar um pote ainda
maior fora de posição. Agora faz sentido dar call em 3-bets com um range balanceado,
que pode ser defendido eficientemente na vasta maioria de texturas de board.
2.7 EXAMINANDO RANGES COMPLEXOS – DEFENDENDO O
SUFICIENTE CONTRA RAISES
Agora estamos prontos para começar a construir ranges complexos, nos baseando nos
conceitos que discutimos anteriormente. Nosso objetivo é encontrar ranges onde nenhum

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livro

dos jogadores tenha um incentivo para mudar, mas infelizmente isso é difícil de se fazer
com ranges pré-flop. Isso porque não temos um ponto claro de início e precisamos de
pelo menos um range teoricamente correto para nos ajudar a construir outros ranges
teoricamente corretos.
Aqui está um exemplo. É fácil de se ver que precisamos saber qual é o range de raise
do button antes que possamos construir ranges eficientes de defesa nas blinds. Mas não
saberemos qual é um bom range de raise do button até descobrir quão agressivamente as
blinds estão 3-betando e dando call. Da mesma forma, como poderemos saber quais mãos
3-betar no button contra um raise do cutoff se não sabemos exatamente qual o range de
raise do cutoff e como ele responde a um 3-bet? Isso requere uma abordagem de
“tentativa e erro” quando analisando o jogo pré-flop.
Além disso, mudar um aspecto da estratégia frequentemente impactará outras áreas do
nosso jogo também. Por exemplo, suponha que nós decidimos defender um range mais
amplo contra os 3-bets de nosso oponente para tornar seus 3-bet blefes bem-sucedidos
com menos frequência. Enquanto isso força nosso oponente a jogar um pote 3-betado
fora de posição com mais frequência, isso também enfraquece nosso range de call, o que
por sua vez aumenta o valor esperado das mãos fracas no pós-flop de nosso oponente.
Estes problemas fazem com que precisemos utilizar uma abordagem metódica para
construir ranges fortes. Fazer isso para cada situação de raise first in rapidamente se
tornaria muito trabalhoso, então a metodologia utilizada para examinar ranges será
mostrada agora e um quadro de mãos recomendadas será incluído ao final desta seção.
Mais uma vez, enquanto ranges perfeitos não podem ser criados, podemos nos assegurar
de que cada range construído faça sentido e que não existam contradições no nosso
processo de pensamento. O melhor que podemos fazer é construir ranges onde nenhum
jogador tenha um incentivo claro para alterar sua estratégia.
Começaremos tentando descobrir como as blinds deverão responder a um raise first in
do button. Esses ranges são provavelmente os mais importantes ranges em 6-max, já que
esta situação ocorre tão frequentemente, e assumiremos que o raise do button será de 2,5
big blinds e o 3-bet será de 9,5 big blinds. Isso significa que o raise do button não pode
ser bem-sucedido mais que 62,5% do tempo, ou então ele terá lucro imediato dando raise
com quaisquer duas cartas. Além disso, 3-bets do small blind não podem ser bem-
sucedidos mais que 69,3% do tempo, e para o big blind essa porcentagem é de 68%.
Por fim, quando o button 4-beta, assumiremos que ele utiliza um tamanho de 4-bet de
19 big blinds. Enquanto a frequência exata de sucesso requerido mudará se o 3-bet vier
do small blind ou do big blind, os dois valores são similares e, contra um 3-bet do big
blind o 4-bet deve ser bem-sucedido cerca de 57% das vezes para gerar um lucro
imediato.
Até aqui neste capítulo já fizemos vários cálculos. Assim, é uma boa ideia resumir o
que já descobrimos e nos assegurar de que não existem pensamentos contraditórios.
1) O raise first in do button não pode ser bem-sucedido mais que 62,5% do tempo, ou
então ele poderá lucrativamente dar raise com quaisquer duas cartas;
2) A mão mais fraca do range de raise do button perderá 2,5 big blinds cada vez que
um dos blinds 3-bete;

20
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3) Os blinds não podem defender 3-betando mais que um total de 37,5% do tempo;
4) Os blinds devem defender mais que 37,5% do tempo se eles somente derem call
pré-flop;
5) A pior mão do range de raise do button é indiferente entre dar raise e foldar pré-
flop;
6) O big blind não dará call a não ser que o valor esperado total de sua mão seja
maior que -1 BB;
7) O small blind não dará call a não ser que o valor esperado total de sua mão seja
maior que -0,5 BB;
8) Mãos no range de call do small blind e do big blind terão, em média, um valor
esperado maior contra as mãos mais fracas do range de raise do button.
A mão mais fraca no range de call do big blind muito provavelmente será indiferente
a dar call ou foldar pré-flop. Isso significa que a mão possui um valor esperado de
aproximadamente -1 big blind contra o range de raise do button. Saberemos que estamos
em um possível equilíbrio quando a mão mais fraca no range de raise do button for
indiferente a dar raise ou foldar, e as mãos mais fracas nos ranges de call do small e big
blinds forem indiferentes entre dar call ou foldar.
Agora temos a oportunidade de fazer uma longa e complicada equação (que não pode
ser resolvida) para tentar encontrar o valor esperado de um raise do button. Entretanto, ao
invés de fazer isso, usaremos uma equação muito menos precisa mas mais prática para
tentar descobrir quais ranges de raise do button e de defesa das blinds fazem sentido.
(EV quando os dois blinds foldarem)(frequência que os dois blinds foldam) + (EV
médio quando receber call)(frequência que receberemos call) – (EV quando receber 3-
bet)(frequência que receberemos 3-bet) = 0
Podemos começar inserindo os valores que já sabemos.
(1,5)(frequência que os dois blinds foldam) + (EV médio quando receber call)
(frequência que receberemos call) – (2,5)(frequência que receberemos 3-bet) = 0
Esse problema seria solucionável se soubéssemos o valor esperado médio da pior mão
do range de raise do button quando esta receber um call. Infelizmente, não existe forma
de descobrirmos este valor. Praticamente teríamos que resolver o jogo de poker por
completo para conseguir esta informação.
Ainda assim existem formas desta equação ser útil. Podemos começar inserindo
valores de ranges comumente utilizados para cobrir os valores desconhecidos. Se os
ranges parecerem razoáveis, podemos tentar utilizá-los contra bons oponentes enquanto
continuamos refinando-os através da tentativa e erro.
Vamos começar construindo o que pensamos que sejam ranges de 3-bet teoricamente
razoáveis. Sabemos que a porcentagem de 3-bet das blinds deve ser menos que 37,5%
combinados, e que pelo menos 43% dos 3-bets devem ser defendidos contra 4-bets.
Assim, um bom ponto de início é um range de 3-bet das blinds que consista de 5% de
mãos de valor (TT+, AJs+, AQo+) e 7,5% de blefes. Isso traz a porcentagem total de 3-
bets a 12,5% em cada posição.
Este é um range de 3-bet padrão que vários bons jogadores utilizam. Como 40% do
range de 3-bet consiste de mãos fortes, não é difícil defender pelo menos 43% do range

21
livro

contra um 4-bet, misturando alguns calls com alguns 5-bet blefes. Se o small blind e o big
blind, cada, 3-betarem 12,5% das vezes, então o button será 3-betado um total de 23,4%
das vezes.
Vamos também assumir que o small blind e o big blind deem call 10 e 20% das vezes,
respectivamente, quando não existe 3-bet. Isso significa que uma ou as duas posições
darão call 24,3% do tempo.
Agora temos valores suficientes para inserir em nossa equação. Se defendermos as
blinds desta forma, esperamos que o button perca em média 0,82 big blinds quando a pior
mão de seu range de raise receber um call.
Agora vamos interpretar o significado deste valor. Quando o raise do button recebe
um call de apenas um dos blinds, ele espera ver em posição um flop com um pote de 5,5
ou 6 big blinds. E se ele espera ter um resultado médio de -0,82 big blinds, sua
expectativa é de conseguir como retorno apenas 1,68 big blinds do pote. Este valor parece
razoável?
Enquanto eu, de forma alguma, possa afirmar a resposta exata, minha opinião é de
que não, este valor não é razoável! Os blinds possuem ranges de call amplos e o button
sempre terá posição. E como um valor esperado de 1,68 big blinds é menos que um-terço
de um pote que terá pelo menos 5,5 big blinds, parece que o button poderia dar raise com
mãos extremamente fracas e ainda ter uma expectativa maior que esta. Assim, isso me
leva a acreditar que os blinds não estão 3-betando ou dando call tão agressivamente
quanto precisariam ser com os valores que utilizamos.
Paremos por um momento para enfatizar a importância das últimas páginas. Este
conceito maravilhosamente demonstra, apesar do fato de estarmos frequentemente muito
restritos sobre o que podemos comprovar teoricamente, o quanto podemos verificar o
nosso processo de pensamento procurando por contradições, assim como criar modelos e
nos perguntar “Estes ranges parecem razoáveis?”. A teoria é muito melhor em nos
mostrar quando algo deve estar errado que quando algo deve estar certo. Isso significa
que a teoria pode ser usada para estimar quais ranges são razoáveis e então lentamente
melhorá-los com o tempo, assim como ajustá-los para explorar alguns oponentes
específicos à medida que precisemos.
É também importante ressaltarmos a dificuldade de explicar a teoria de uma forma
eficiente e metódica. Claro, como autor, este é um problema meu e não seu. Mas, neste
momento, existem muitos outros conceitos disponíveis para nos ajudar a analisar estes
ranges, que eu simplesmente ainda não posso utilizar. Colocando de outra forma, não é
possível responder a todas as perguntas que você provavelmente terá, ou constantemente
estarei saindo por tangentes e não cobrirei toda a teoria que temos de cobrir da forma
mais eficiente.
Por exemplo, você poderá perguntar, “Bem, qual o grande problema se o button puder
dar raise com um range extremamente amplo e ser lucrativo? Isso não sugere
necessariamente que os ranges de defesa de blinds que usamos estão errados, apenas que
o button pode dar raise com um range extremamente amplo e ser lucrativo.” O problema
é que, uma vez que um jogador começa a dar raise com um range amplo no button, ele se
torna extremamente vulnerável oponentes que 3-betam agressivamente. E enquanto eu

22
livro

posso escolher a ordem em que a informação é apresentada, é com frequência difícil


discutir um determinado conceito sem ter discutido um outro relacionado a ele. Por isso,
devo discutir este conceito primeiro.
Por último, você provavelmente percebeu que tratamos todos os flat calls do big e
small blinds como o mesmo valor quando inserindo-os na equação. Esta é uma estimativa
que usamos para nos permitir resolver uma variável única. Modelos sempre simplicam
problemas complexos e não podemos deixar variáveis demais em nossa equação final.
Leitores mais avançados deverão se sentir livres para criar sobre os métodos que
discutimos previamente. Uma fórmula ligeiramente mais complexa, onde valores
diferentes para small e big blinds podem ser inseridos, pode ser utilizada caso o leitor
queira.
Antes de seguir em frente, vamos usar a fórmula mais uma vez com diferentes
valores. Vamos assumir que o small blind 3-bete 16% das vezes e dê call 8% das vezes, e
o big blind 3-bete 14% e dê call 20% das vezes. Assim, os blinds estarão 3-betando o
raise do button 27,8% das vezes. Além disso, o raise do button receberá um call 21,7%
das vezes.
Inserindo estes números na equação nos mostrará que o button deve, em média, ter
um valor esperado de -0,29 big blinds quando receber um call, para ser indiferente a dar
raise com a pior mão de seu range.
O button espera perder em média 0,29 big blinds quando a pior mão de seu range de
raise receber um call. Este valor parece mais razoável para mim. A mão do button será
fraca comparada à mão média no range de call do small e do big blind, mas também
geralmente haverá algum dead money no pote, e ele possui a vantagem da posição.
Então, mesmo que não tenhamos ranges teoricamente perfeitos de defesa, temos ranges
razoáveis para defender contra um raise do button, e podemos ajustá-lo lentamente com o
tempo.
2.8 EXAMINANDO RANGES COMPLEXOS – DESENHANDO RANGES DE
DEFESA PARA MAXIMIZAR O EV
Embora o conceito anterior tenha nos mostrado como descobrir se ranges de defesa de
blinds são razoáveis, ele não definiu quais mãos jogamos em quais ranges. Uma regra
supersimplificada que muitos jogadores iniciantes com frequência acham útil é dar raise
por valor com mãos fortes, dar call com mãos que não são fortes o suficiente para dar
raise, dar raise por blefe com mãos que não são fortes o suficiente para dar call, e foldar
as piores mãos.
Embora esta regra nos dê um ponto de início simples, ela também nos causa alguns
problemas.
1) Ela encoraja os jogadores a pensar que as mãos podem ranquear as mãos da mais forte
para a mais fraca baseado apenas em sua equidade;
2) Ela não leva em conta que o range do oponente vai mudar baseado em que linha
tomemos, e que isso altera a equidade de nossas mãos. Por essa razão, mãos que
funcionam bem como calls nem sempre terão mais equidade que mãos que funcionam
melhor como raises por blefe.
Como um jogador teoricamente ótimo sempre utilizará a linha que maximiza sua

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livro

expectativa, devemos 3-betar e fletar com mãos que funcionam bem nestes ranges.
Nenhuma regra simples será suficiente, e isso requere que sempre estejamos conscientes
de quais mãos fazem parte do range do nosso oponente, e como dar call, betar e dar raise
impactam nesse range.
Vamos continuar construindo ranges de defesa das blinds contra um raise do button.
Quando damos call no big blind contra um raise do button, quase sempre jogaremos
contra um range amplo por um pote pequeno. Isso significa que o nosso range de call
deve dar ênfase a fletar com mãos que fazem pares marginais com uma alta frequência e
que possam vencer potes de tamanho pequeno e médio.
As mãos mais óbvias para dar call no big blind em um raise do button serão mais
mãos suited como K-10, Q-10, Q-J e K-9. Claro que outros tipos de mãos serão
necessárias no range de flat call, mas todas estas podem fazer bons pares no flop, e se
sairão bem contra um range de raise amplo.
Enquanto estas mãos se saem bem em potes pequenos onde houve um raise, será
muito mais complicado jogar com elas em potes 3-betados. Isso porque 3-betar torna o
range de flop do vilão muito mais forte, e é muitas vezes difícil, jogando fora de posição,
jogar um pote grande com top pair com um kicker medíocre. Então dar call pré-flop com
mãos como K-9s e Q-10o é provavelmente melhor, pois mantém o range do vilão amplo e
nos permite frequentemente ter o melhor kicker quando fizermos um par.
Continuando, mãos que funcionam particularmente bem como 3-bet blefes são mãos
que possuem o potencial de se tornarem mãos muito fortes no river, e que podem ser
blefadas eficientemente no flop e turn. Por exemplo, mãos como 7-5s e 5-4s são blefes
eficientes pois possuem potencial para se tornarem mãos nuts no river. Quase sempre
sabemos que possuímos a melhor mão com suited connectors, e raramente temos
dificuldade em realizar sua equidade.
Com frequência blefaremos 3-betando uma mão como 6-5s, que tambem poderíamos
lucrativamente dar call pré-flop. Embora dar call com suited connectors baixos tenha uma
expectativa positiva, com frequência faremos pares baixos, que não vencerão no
showdown em um pote onde houve um raise. Entretanto, em potes 3-betados, onde
teremos 5 outs para dois pares ou trinca e ocasionalmente venceremos um pote muito
grande, estes pares frequentemente funcionam melhor.
Perceba também que, quando o vilão possui posição, ele geralmente defenderá contra
nosso 3-bet fletando, pois isso exige que joguemos um grande pote fora de posição.
Assim, isso nos permite 3-betar com mãos que vão bem em potes 3-betados, mesmo que
tenhamos que ocasionalmente foldar para um 4-bet.
Infelizmente, nem todos os nossos blefes serão com mãos ideais para blefar. É
frequentemente necessário blefar 3-betando com mãos como K-7s do small blind, apesar
do fato de que esta mão pode nos levar a situações mais díficeis pós-flop. Simplesmente
não recebemos suited connectors ou suited gapers (mãos como 7-5s, 8-6s, 9-7s) para
balancear nossos 3-bets por valor, e como visto anteriormente, devemos 3-betar bastante
agressivamente contra um raise do button. Enquanto top pair sem kicker é geralmente
difícil de se jogar em um pote grande fora de posição, ainda é útil ter algumas mãos
marginais no nosso range de check no flop.

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2.9 EXAMINANDO RANGES COMPLEXOS – BALANÇO


Poucos conceitos no poker são tão mal-entendidos e mal-aplicados quanto
“balancear” um range. Se nosso range não estiver balanceado, nosso oponente
frequentemente será capaz de utilizar linhas extremamente eficientes contra aquele range.
Um range balanceado é o subproduto de jogar cada mão no nosso range de uma forma
que maximiza, em média, seu valor esperado.
Com frequência haverão texturas de board que favorecem mais o range do oponente
que o nosso, não importa quão balanceado esteja nosso range pré-flop. Por exemplo, se
nosso range for muito mais fraco que o do nosso oponente, ele será capaz de fazer bets
altos com uma alta frequência, já que ele sabe que raramente estaremos fortes. Isso nos
encoraja a colocar no nosso range pré-flop mãos que conectam melhor em boards que, de
outra forma, não acertariam nosso range, e ocasionalmente ganharemos um enorme pote
quando tivermos uma das poucas mãos fortes possíveis em um range que seria em sua
maioria fraco.
Vamos visualizar este processo examinando uma situação de cutoff vs. button, e
assumindo que o button sempre 3-bete A-A e A-K pré-flop contra um raise de cutoff,
como a maioria dos jogadores faz. Isso significa que, quando o button não dá raise ele
não terá muitos mãos fortes em flops K-high, e o cutoff pode explorá-lo fazendo apostas
altas com frequência em K-high boards. Perceba que é raro que o button possua mãos
mais fortes que um par de K com Q de kicker.
Isso significa que o button agora tem um incentivo para alterar sua estratégia. Como
ele pode ganhar um grande pote quando o flop vier K-high e ele possuir A-A ou A-K, dar
flat call com essas mãos pré-flop será agora mais lucrativo que 3-betar. Além disso,
fletando algumas mãos fortes pré-flop o button às vezes ganhará um grande pote quando
um jogador nos blinds squeezar (dar re-raise pré-flop).
Agora, assim que o cutoff perceber que o button possui A-A e A-K em seu range em
flops K-high, ele deverá começar a betar menos agressivamente, e esses ajustes dos dois
lados levam aos dois jogadores a jogar próximo à teoria ótima do jogo, assim
estabelecendo um equilíbrio.
O button, enquanto geralmente 3-betando pré-flop com A-A ou A-K, ocasionalmente
dará call com eles, e o cutoff jogará flops K-high agressivamente, embora não tão
agressivamente quanto antes.
Podemos encarar um problema semelhante se nunca fletarmos mãos fortes do small
blind. Se este for o caso, nosso range se tornará bastante vulnerável a squeezes do big
blind. Perceba também que o big blind não possui este problema pois ninguém pode
squeezar quando ele der call. Enquanto o range de flat call do big blind é condensado –
não possui muitas mãos fortes – o flop geralmente fará dois pares e trincas no range do
big blind antes que o button possa lucrar com isso.
Por esta razão, pode fazer sentido colocar algumas mãos fortes no range de flat do
small blind. Não podemos provar isso, e pode ser o caso em que o small blind quase
sempre deva foldar para um squeeze e esperar que o button faça grande parte da defesa.
Ainda assim, a ideia de ocasionalmente fletar alguns A-A ou A-K parece pelo menos
razoável em teoria, e é algo que certamente teremos que fazer na prática se o big blind for

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livro

um squeezador agressivo.
2.10 EXAMINANDO RANGES COMPLEXOS – FREQUÊNCIAS DE
TEXTURAS DE BOARD
Outra importante consideração a se levar em conta quando construindo ranges de
defesa é a frequência que um determinado flop virá, já que estamos mais preocupados em
nos conectar a boards que ocorrem em uma frequência mais alta. Por exemplo, não
acertar um flop K-high é muito mais problemático que não acertar um flop 7-high, já que
flops K-high ocorrem muito mais frequentemente. Isto é importante a se considerar
quando decidindo se é problemático ou não se um range não acertar uma determinada
textura de flop.
Abaixo estão as probabilidades de um flop vir com uma determinada carta alta. Flops
A-high são, claro, os mais comuns, já que mais cartas podem vir abaixo de A que de
qualquer outra carta, enquanto flops 8-high ou menores são bastante raros.

Carta Alta Única Carta Duas Cartas


Alta Altas Total
(Axx, Kxx, etc) (AAx, KKx, etc)
A 20,7% 1,3% 21,7%
K 17,1% 1,2% 18,4%
Q 14,1% 1,1% 15,2%
J 11,4% 1,0% 12,4%
10 9,0% 0,9% 9,9%
9 6,8% 0,8% 7,6%
8 ou menos - - 14,8%

Enquanto é útil ter uma noção geral de quão frequentemente uma certa textura de flop
virá, esta não é uma informação que temos que memorizar. Basta que percebamos quão
improvável são as probabilidades de o flop vir 8-high ou menos, e que 67,7% de todos os
flops terão ao menos uma carta que será um J ou maior.
Como veremos, ranges de flat call das blinds são frequentemente construídos para não
acertar flops 8-high ou menores. Isso é principalmente pelo fato de que estes flops são
improváveis, então não acertá-los quando eles ocorrem raramente nos causará problemas.
Além disso, como discutiremos em futuros capítulos, esses boards baixos são
particularmente difíceis de se jogar fora de posição. Mesmo se colocarmos mais suited
connectors baixos no nosso range de call, ter o 7h-6h fora de posição no flop 6c-3c-2d
ainda não será uma situação favorável. Isso significa que o check-fold dos blinds em uma
alta frequência será provavelmente a melhor forma de jogar esses boards. Ao invés de nos
conectarmos a eles, construiremos nossos ranges de call para acertar mais facilmente
flops J-high ou maiores.
2.11 ENTENDENDO RANGES COMPLEXOS – DEFENDENDO O
SUFICIENTE CONTRA 3-BETS
Sabemos que é necessário defender um range mais amplo contra um raise first in se

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defendermos dando call ao invés de 3-betar, já que dando call, permitimos que o vilão
veja o flop. Assim, não deveria ser surpresa que o mesmo conceito se aplica quando nós
damos raise e enfrentamos um 3-bet. Isto é, quando damos call no 3-bet do vilão, é
garantido que ele verá o flop e terá a oportunidade de fazer uma mão forte ou um blefe
lucrativo. Isso nos força a defender muito mais combinações de mãos que se
simplesmente 4-betássemos ou foldássemos.
Vamos começar assumindo que usamos um range de raise do button de 45% - um
range de raise do button razoável, usado por muitos jogadores vencedores. Quando
damos raise de 2,5 big blnds e o vilão 3-beta do big blind para 9,5 big blinds, ele arrisca
8,5 big blinds para ganhar 4 big blinds. Como já mostramos, isso significa que o 3-bet do
big blind não pode ser bem-sucedido mais que 68% do tempo. Colocando de outra forma,
é importante defender pelo menos 32% do nosso range de raise, e como nosso range de
raise é de 45%, isto significa que devemos defender pelo menos 14,4% de todas as mãos.
Entretanto, 14,4% é correto se apenas defendêssemos 4-betando, mas agora temos que
descobrir quantas mãos mais deverão ser adicionadas se também defendermos dando call.
Isto vai requerer que usemos um método similar ao que utilizamos em “Examinando
Ranges Complexos – Defendendo o Suficiente Contra Raises”, e começamos estimando
um range ou um valor. De fato, a fórmula para a expectativa do big blind quando
blefando é quase idêntica.
(EV quando o button folda)(frequência de fold do button) + (EV médio quando
recebemos call)(frequência que recebemos call) – (EV quando 4-betados)(frequência que
recebemos 4-bet) = 0
Existem duas maneiras de abordar este problema. A primeira é inserir nossos ranges
típicos de call e 4-bet e ver qual deve ser o valor esperado médio do big blind quando seu
3-bet blefe receba um call, para que ele seja indiferente a blefar. Na verdade, pode ser
uma boa ideia fazer isto agora antes de seguir em frente, apenas para ver qual o resultado.
Outra opção é estimar o valor esperado do big blind quando damos call em seu 3-bet
blefe e então construir os ranges de defesa de acordo com o resultado. Aqui está um
exemplo: esperamos que o big blind perca, em média, 5,5 big blinds quando o 3-bet blefe
mais fraco em seu range receba um call. Isso significa que ele receberá, em média, 3 big
blinds de volta do pote de 18 big blinds. Essa estimativa parece ser baixa, mas como será
mostrado no quadro de mãos, a pior mão no range de 3-bet do big blind é muito fraca.
Isto é, faz sentido esperar que o big blind raramente esteja em uma situação lucrativa pós-
flop quando ele está fora de posição com a mão mais fraca de seu range de 3-bet.
Vamos assumir que, quando enfrentando um 3-bet no button, 4-betaremos 5% do total
de mãos que recebermos. Essa é uma estimativa razoável se usarmos um tamanho de 4-
bet pequeno, para um range de KK-JJ, AK e blefes. Isso resulta em nós 4-betando 11,1%
das vezes que enfrentarmos um 3-bet
Agora podemos inserir estes valores na equação anterior e resolver, por enquanto,
quão amplo nosso range de call do button deve ser quando enfrentando um 4-bet. O
resultado é que o button deve defender 27,5% de seu range de raise dando call contra o 3-
bet do big blind. Isso significa 12,4% de todas as mãos que recebemos pré-flop.
Podemos repetir este processo e, pelo contrário, assumir que os blefes do vilão só

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perderão 4,5 big blinds quando receberem um call. A mesma matemática que utilizamos
acima nos mostrará que precisaremos entao defender 30,7 ao invés de 27,5% do nosso
range de raise dando call. Lembre-se que os calls são somados aos 4-bets, então estamos
defendendo, no total, cerca de 40% das mãos que damos raise pré-flop quando
enfrentamos um 3-bet.
Vamos parar por um momento e examinar como os ranges de call de 3-bet do button
devem ser para diferentes frequências de raise first in. A matemática abaixo assume que o
raise do button é de 2,5 big blinds e o 3-bet do big blind é de 9,5 big blinds. Lembre-se,
não existe forma de provar quais calls são melhores pré-flop. Um jogador poderia
razoavelmente argumentar que é melhor fletar um 3-bet no button com Q-Jo ao invés de
6-6 ou 7-6s, e vice versa. De forma geral, se a decisão parece ser close, provavelmente
não existe uma enorme diferença no valor esperado de cada uma das mãos.
O quadro abaixo demonstra o range de mãos que o raiser do button dará call em um 3-
bet do big blind. O quadro assume que o big blind perderá 5,5 big blinds quando seu pior
3-bet receber um call.

Range de Call de 3-Bet do Button


Range de Raise Range Possível
Porcentagem do Porcentagem do de
Range de Raise Total de Mãos
que que Flat Call
dá Call dá Call
AA, TT-88, AQo,
30% 20,1% 6,0% KQo,
AQs-ATs, KQs-
KJs,
QJs, JTs, T9s
AA, TT-77,
40% 25,7% 10,0% AQo-AJo,
KQo, AQs-A9s,
KQs-
KTs, QJs-QTs,
JTs-J9s,
T9s, 98s, 87s,
76s,
65s
AA, TT-55,
50% 28,9% 14,5% AQo-ATo,
KQo-KJo, QJo,
AQs-
A9s, KQs-KTs,

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QJs-
Q9s, JTs-J9s,
T9s-T8s,
98s-97s, 87s-86s,
76s, 65s
AA, TT-22,
60% 31,4% 18,8% AQo-ATo,
KQo-KJo, QJo,
AQs-
A8s, A5s-A2s,
KQs-
K9s, QJs-Q9s,
JTs-J9s,
T9s-T8s, 98s-
97s,
87s-86s, 76s-75s,
65s-64s, 54s

O próximo quadro demonstra um possível range de mãos que o raiser do button dará
call quando enfrentando um 3-bet do big blind, assumindo que o big blind perde 4,5 big
blinds quando seu pior 3-bet recebe um call.

Range de Raise Range Possível


Porcentagem do Porcentagem do de
Range de Raise Total de Mãos
que que Flat Call
dá Call dá Call
AA, TT-88,
30% 22,5% 6,8% AQo-AJo,
KQo, AQs-ATs,
KQs-
KJs, QJs, JTs,
T9s
AA, TT-77,
40% 28,7% 11,5% AQo-ATo,
KQo-KJo, AQs-
A9s,
KQs-KTs, QJs-
QTs,
JTs-J9s, T9s,
98s, 87s,

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76s
AA, TT-44,
50% 32,3% 16,2% AQo-ATo,
KQo-KJo, QJo,
AQs-
A9s, A5s-A4s,
KQs-
K9s, QJs-Q9s,
JTs-J9s,
T9s-T8s, 98s-
97s,
87s-86s, 76s,
65s,
54s
AA, TT-44,
60% 34,8% 20,9% AQo-ATo,
KQo-KTo, QJo-
QTo,
AQs-A2s, KQs-
K7s,
QJs-Q9s, JTs-
J9s, T9s-
T8s, 98s-97s,
87s-
86s, 76s-75s,
65s-
64s, 54s

Perceba que todos estes ranges de flat call do button incluem A-A. A-A possui um
forte efeito de blockers, e pouco provavelmente serão a segunda melhor mão no flop
(podemos sempre dar raise no flop ou turn se o board for particularmente ameaçador). A-
A é uma mão forte em texturas de board que de outra forma não acertariam nosso range
de flat call e, por isso, acredito que existe mais valor em fletar aces que 4-betá-los pré-
flop. K-K e Q-Q também poderiam ser usados como flat call pré-flop, mas como estas
mãos temem overcards, elas são mais arriscadas de jogar como slowplay.
Perceba também quão amplo se torna o range de flat call de 3-bet do button quando o
button está abrindo mais que 50% das mãos. Pocket pair fracos e suited connectors
baixos são inseridos no range de raise-call mesmo se assumirmos um baixo valor
esperado no flop para os 3-bet blefes do vilão. Especificamente, assumindo que os piores
3-bet blefes do vilão perdem menos que 5,5 big blinds quando receberem um call,
precisaremos começar a dar call com A suited fracos e K suited, mãos que serão difíceis
de se jogar eficientemente pós-flop, especialmente contra um range polarizado.

30
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Como mencionado anteriormente, um dos maiores problemas quando construindo


ranges de call de 3-bet é que, à medida que o range se torna mais amplo, os 3-bet blefes
do big blind também se tornam oportunidades mais lucrativas pós-flop. Enquanto pode
ser possível que o valor esperado de um 3-bet blefe fraco seja de apenas, em média, 3 big
blinds no flop contra um range muito forte, à medida que o range de call de 3-bet se torna
mais amplo, vai se tornar mais difícil prevenir que o big blind 3-bete blefe lucrativamente
suas mãos fracas. Quando fletando contra 3-bets com mãos tão fracas quanto 5-4s e 3-3, é
improvável que o big blind perca 5,5 big blinds ou mais quando o pior 3-bet em seu range
receba um call. Novamente, isso ocorre pois o range de defesa é muito fraco.
Isso sugere que é improvável que o range de raise do button deva ser tão
excepcionalmente amplo para um raise de 2,5 big blinds. É simplesmente difícil demais
defender contra 3-bets no button quando estamos abrindo mais de metade das mãos que
recebemos pré-flop. Alguns jogadores podem discordar disso, mas se eles discordarem,
eles devem estar confortáveis defendendo um range extremamente amplo contra 3-bets,
ou acreditar que os 3-bet blefes do vilão apenas raramente se tornarão situações lucrativas
pós-flop.
Na verdade, isto é muito provavelmente o oposto do que muitos bons jogadores
pensam. Isso porque os melhores jogadores de um determinado stake podem dar raise no
button muito mais amplamente que deveriam teoricamente por serem mais habilidosos
que seus oponentes. Além disso, é muito mais fácil cometer erros quando fora de posição
que em posição, o que reforça a vantagem do jogador superior.
Da mesma forma, jogadores medíocres observam como os melhores jogadores jogam
e tentam imitá-los. Se os maiores vencedores são capazes de dar raise com 70% das mãos
no button, muitos jogadores medíocres os copiarão, e não levará muito tempo até que seja
geralmente aceito entre jogadores de poker dar raise no button muito mais amplamente
que o teoricamente correto. A mentalidade das multidões está viva na comunidade do
poker, e se torna cada vez mais difícil melhorar como jogador quando este não se vê mais
capaz de simplesmente copiar o que outros jogadores bem-sucedidos estão fazendo.
2.12 ENTENDENDO RANGES COMPLEXOS – DEFENDENDO CONTRA 4-
BETS
Um dos aspectos mais difíceis do jogo pré-flop é decidir como defender contra 4-bets.
Já discutimos como conceitualmente faz sentido fletar contra um 4-bet, tanto em posição
quanto fora de posição, então não repetiremos isto aqui. Todavia, decidir como lidar com
um 4-bet é um conceito difícil de se abordar, e geralmente não existe uma resposta clara.
Agora tentaremos analisar possíveis maneiras de defender contra 4-bets do button
após 3-betamos das blinds. Existem duas formas gerais de se abordar este problema:
1) Construir nosso range de 3-bet de forma que cada mão possa confortavelmente 5-bet
shovar ou foldar quando enfrentando um 4-bet. Isso nos permite evitar jogar grandes
potes fora de posição, mas torna 4-bets pequenos eficientes contra nós.
2) Defender algumas mãos contra 4-bets dando call, e outras mãos 5-betando. Isso nos
permite dar call quando o vilão nos der excelentes odds, e provavelmente é a melhor
linha com mãos como K-Qo, que não queremos foldar mas não podemos eficientemente
5-betar.

31
livro

Quando dando call em um 4-bet, é importante se lembrar que o call só precisa ser
mais lucrativo que o fold, situação em que perdemos um total de 9,5 big blinds. Então,
dar call no 4-bet terá um valor esperado positivo desde que esperemos perder, em média,
menos que este valor. Além disso, isso nos permite ir de check-fold no flop com uma alta
frequência, já que estamos tentando perder menos que um total de 9,5 big blinds na mão.
Depois de dar um call em um 4-bet fora de posição, provavelmente seremos incapazes
de impedir o vilão de lucrativamente apostar quaisquer duas cartas no flop. Quando seu
4-bet blefe recebe um call, ele já terá investido 19,5 big blinds pré-flop, então permitir
que ele faça uma aposta pós-flop lucrativa não é um problema. Isso porque ele ainda
perderá dinheiro 4-bet blefando mãos muito fracas pré-flop, apesar do fato de que ele
pode frequentemente fazer blefes lucrativos pós-flop.
Por exemplo, suponha que foldemos o suficiente para a aposta do vilão no flop em um
pote 4-betado, e seu valor esperado é de +5 big blinds quando ele betar quaisquer duas
cartas no flop. Quando ele não tem equidade no flop, ele ainda espera perder em média
um total de 14,5 big blinds na mão.
- 14,5 = 5 – 19,5
Onde:
-19,5 big blinds é quanto dinheiro ele está investindo no pote para conseguir a
lucrativa oportunidade pós-flop, e
-5 big blinds é o valor esperado para a aposta do vilão pós-flop.
Finalmente, se o vilão perceber que o nosso range de call de 4-bet é fraco, ele
começará a apostar no flop com uma alta frequência. Isso torna o slowplay com mãos
muito fortes, como fizemos antes fletando 3-bets dos blinds no button com A-A, mais
lucrativo que 5-betar. Já utilizamos esta estratégia anteriormente.
Embora entendamos, neste ponto, muito bem a teoria por trás dos ranges de flat call
de 4-bets, ainda existem alguns problemas práticos com construir e usar estes ranges. O
primeiro é que, mesmo que usemos um range muito agressivo de 3-bet, ainda teremos
relativamente poucas combinações de mãos no nosso range de 3-bet-call e de 5-bet. Isso
frequentemente requer que coloquemos a mesma mão tanto no range de 3-bet-call quanto
de 5-bet (e às vezes também no range de fold). Isso torna construir os ranges uma tarefa
bem difícil.
Aqui está um exemplo. O button dá raise e 3-betamos no big blind com A-Qo. Se
temos a melhor mão pré-flop e damos call no 4-bet, no flop estaremos fora de posição e
possivelmente a mão do vilão se tornará a melhor, ou seremos blefados e teremos que
largar a melhor mão. Assim, 5-betar é uma opção, já que nossa mão bloqueia A-A, Q-Q e
A-K no range de 4-bet-call do button, mas A-Qo tem menos equidade quando receber call
que muitos suited connectors. Argumentos existem tanto para o 5-bet quanto para o call
com A-Q, e é possível que a mão entre em ambos os ranges.
Da mesma forma, podemos descobrir, se estamos sempre fletando um 4-bet com mãos
como A-J e K-Q, que nosso range de call consiste em muitas deste tipo de mão. Imagine
como nosso range de call de 4-bet será se dermos call com todas as nossas A-Q, A-J e K-
Q. Como cada mão forma 16 combinações, isso resultaria no nosso range de 3-bet-call
consistir em 48 combinações destas três mãos, e isto pode tornar nosso range muito

32
livro

transparente, permitindo ao vilão jogar muito eficientemente contra nós. Isso porque ele
saberá que com frequência temos mãos fortes mas não incríveis em boards A-high e Q-
high.
Então, para evitar um range transparente demais, isso requer que fletemos 4-bets com
poucas combinações de suited connectors. E se estamos fletando apenas poucas
combinações de suited connectors, devemos acreditar que o valor esperado de fletar e
foldar (assim como, possivelmente, de 5-betar) seja aproximadamente igual.
Finalmente, também devemos nos lembrar que nem nossos oponentes nem nós somos
capazes de jogar teoricamente ótimos no pós-flop. Com isto em mente, quem você acha
que é mais capaz de cometer um erro em um pote 4-betado: o jogador que está em
posição com um range polarizado, ou o jogador fora de posição com um range
condensado? Lembre-se, um range polarizado em posição é muito mais fácil de se jogar,
então isso encoraja os jogadores a minimizar os flat calls em 4-bets fora de posição
quando possível, a menos que eles sejam bastante confiantes com seu jogo pós-flop.
Por estas razões, provavelmente não é um uso produtivo de tempo tentar construir e
memorizar estes ranges de 3-bet-call. Eles são simplesmente difíceis demais de se
desenvolver precisamente, já que existem provavelmente muitas mãos que possuem
aproximadamente o mesmo valor esperado usando diferentes linhas. Seria, ao contrário,
mais sábio saber que mãos serão razoáveis para fletar 4-bets fora de posição, e então
considerar dar call com estas mãos contra os oponentes certos.
2.13 QUADRO RECOMENDADO DE MÃOS
O seguinte quadro de mãos foi criado com ajuda de um de meus amigos no poker,
Nick Howard. Estes ranges assumem um raise de 3,5 big blinds de todas as posições,
exceto do button, onde o raise é de 2,5 big blinds. Embora longe da perfeição, estes
ranges são razoáveis para que os jogadores os examinem e usem contra oponentes fortes,
se eles não quiserem gastar tempo criando seus próprios ranges.
Além disso, enquanto uma pequena mudança no tamanho da aposta não vai impactar
fortemente a maioria dos ranges, quanto menor o tamanho do raise, mais agressivamente
os jogadores restantes devem defender. Se o raise for de 3 big blinds, as posições
restantes terão que defender mais agressivamente que se o raise for 3,5 big blinds. Da
mesma forma, se usarmos um tamanho de raise menor, devemos ser capazes de dar raise
com um range mais amplo, mas como mencionado, nossos oponentes serão capazes de
dar call lucrativamente com mais mãos, tanto das blinds quanto das outras posições.
Também é importante ressaltar que eu escolhi defender mais agressivamente das
blinds contra um raise do button, muito mais que a maioria dos jogadores estão
acostumados. Na verdade, o button deve ganhar, em média, 0,74 big blinds quando seu
pior raise receber um call, para que ele alcance um ponto de equilíbrio (break even).
Como a maior parte dos calls virá do big blind que, com a pior mão em seu range de call,
está apenas tentando perder menos que um total de 1 big blind, acho que esta abordagem
é a melhor. Entretanto, jogadores mais novos devem defender menos agressivamente, já
que jogar fora de posição com um range fraco é difícil.
Finalmente, note que muitas porcentagens estão arredondadas ou são estimativas, e
fazer um quadro de mãos mais preciso e detalhado é muito difícil, e pode se acabar se

33
livro

tornando desordenado. Além disso, os blefes listados tem como intenção dar um sentido
geral de que tipos de blefes são razoáveis para aquela posição. Não tenho como intenção
dizer que estas são as únicas mãos recomendáveis como blefes. Na verdade, se apenas
blefarmos com estas mãos, nosso range pode se tornar muito transparente.
O jogo pré-flop está longe de ser resolvido e, enquanto um forte jogo pré-flop é crítico
para o sucesso no No Limit Hold’em, é muito mais importante ter um senso geral de que
tipos de mãos vão em quais ranges, e entender, ao invés de memorizar ranges específicos.
Então não passe tempo desnecessário memorizando um quadro de mãos imperfeito,
quando seu tempo seria melhor gasto de outra forma, e não use “mas é provavalmente
correto em teoria!” como desculpa para usar uma linha que é terrível na prática contra seu
oponente específico.
Por último, um * aparece em algumas mãos. Isso significa que, ou a mão faz parte de
vários ranges ou quero chamar a atenção para o fato de que apenas uma parte das
combinações destas mãos são utilizadas.

Ranges de Raise
Posição Porcentagem de Raise Range
AA-33, AKo-AJo, KQo,
UTG 13,9% AKs-
ATs, KQs-KTs, QJs-
QTs, JTs-
J9s, T9s, 98s, 87s, 76s,
65s
AA-22, AKo-ATo, KQo,
MP 17,9% AKs-
A7s, A5s, KQs-KTs,
QJs-QTs,
JTs-J9s, T9s-T8s, 98s-
97s,
87s-86s, 76s-75s, 65s,
54s
AA-22, AKo-ATo,
CO 23,7% KQo-KJo,
QJo, AKs-A2s, KQs-
K6s, QJs-
Q7s, JTs-J8s, T9s-T8s,
98s-
97s, 87s-86s, 76s-75s,
65s-
64s, 54s
AA-22, AKo-A2o,
Button 47,5% KQo-K7o,

34
livro

QJo-Q9o, JTo-J9o, T9o-


T8o,
98o, 87o, AKs-A2s,
KQs-K2s,
QJs-Q2s, JTs-J5s, T9s-
T6s,
98s-96s, 87s-85s, 76s-
74s,
65s-64s, 54s-53s, 43s
AA-22, AKo-A7o,
SB 36,3% KQo-K9o,
QJo-Q9o, JTo-J9o, T9o,
98o,
AKs-A2s, KQs-K2s,
QJs-Q4s,
JTs-J7s, T9s-T7s, 98s-
97s,
87s-86s, 76s-75s, 65s-
64s,
54s

Ranges de Flat Call


Posição Porcentagem de Flat
Call Range
QQ-55, AKo-AQo,
Flat em MP vs. UTG 8,5% AQs-ATs,
KQs-KJs, QJs, JTs, T9s,
98s,
87s
QQ-44, AKo-AQo,
Flat no CO vs. UTG 9,5% AQs-ATs,
KQs-KJs, QJs, JTs, T9s,
98s,
87s, 76s, 65s
QQ-33, AKo-AQo,
Flat no Button vs. UTG 11,2% AQs-ATs,
KQs-KTs, QJs-QTs,
JTs-J9s,
T9s, 98s, 87s, 76s, 65s,
54s
Flat no SB vs. UTG 3,6% QQ-88, AKo*, AQs,

35
livro

KQs

Flat no BB vs. UTG QQ-44, AKo-AQo,


8,0% AQs-ATs,
KQs-KJs, QJs, JTs
JJ-44, AKo-AQo, AQs-
Flat no CO vs. MP 9,4% ATs,
KQs-KTs, QJs-QTs,
JTs, T9s,
98s, 87s, 76s
JJ-33, AKo-AQo, AQs-
Flat no Button vs. MP 10,7% ATs,
KQs-KTs, QJs-QTs,
JTs-J9s,
T9s, 98s, 87s, 76s, 65s,
54s
JJ-77, AKo*-AQo, AQs,
Flat no SB vs. MP 4,1% KQs
JJ-22, AQo, AQs-ATs,
Flat no BB vs. MP 8,5% KQs-
KJs, QJs, JTs, T9s, 98s,
87s
AA*, TT-22, AKo*-
Flat no Button vs. CO 14,2% AJo, KQo,
AQs-A8s, KQs-KTs,
QJs-QTs,
JTs-J9s, T9s-T8s, 98s-
97s,
87s-86s, 76s-75s, 65s,
54s
TT-88, AQo-AJo, KQo,
Flat no SB vs. CO 5,6% AJs-
ATs, KQs-KJs, QJs
TT-22, AQo-AJo, KQo,
Flat no BB vs. CO 9,8% AJs-
ATs, KQs-KTs, QJs-
QTs, JTs-
J9s, T9s, 98s
99-66, KTo, QJo-QTo,
Flat no SB vs. Button 6,9% A9s-
A8s, KTs-K9s, QJs-

36
livro

QTs, JTs,
T9s
99-33, A9o-A2o, KTo-
Flat no BB vs. Button 28,2% K7o,
QJo-Q8o, JTo-J9o, T9o,
98o,
A8s-A2s, KTs-K5s,
QJs-Q7s,
JTs-J8s, T9s-T8s
TT-22, ATo-A2o, KJo-
Flat no BB vs. SB 45,4% K7o,
QJo-Q8o, JTo-J8o, T9o-
T8o,
98o-97o, 87o, 76o, ATs-
A2s,
KJs-K2s, QJs-Q2s, JTs-
J4s,
T9s-T5s, 98s-95s, 87s-
85s,
76s-74s, 65s-64s, 54s-
53s,
43s

Ranges de 3-Bet
Posição Porcentagem de 3-Bet Range de 3-Bet
Vs. UTG, 3-Bet em AA-KK, AJo, KQo,
Posição 3,6% AKs, A5s-
A4s
Vs. UTG, 3-Bet em SB e AA-KK, AKo*, 44-33,
BB 3,8% AKs,
T9s, 98s, 87s, 76s, 65s
Vs. MP, 3-Bet em AA-QQ, AJo, KQo,
Posição 4,7% AKs, A5s-
A4s, T8s, 97s
AA-QQ, 66-44, AKo,
Vs. MP, 3-Bet em SB 5,7% AKs-AQs,
JTs, T9s, 98s, 87s, 76s
AA-QQ, AKo, AKs-
Vs. MP, 3-Bet em BB 5,6% AQs, QTs,
J9s, T8s, 98s-97s, 87s,
76s,

37
livro

65s, 54s
Vs. CO, 3-Bet em AA*-JJ, AKo*, ATo,
Posição 7,2% KJo, QJo
AKs, A7s-A2s

Vs. CO, 3-Bet em SB AA-JJ, 55-44, AKo,


8,0% AKs-AQs,
KTs, QTs, JTs-J9s, T9s-
T8s,
98s-97s, 87s, 76s, 65s,
54s
AA-JJ, 44-22, AKo,
Vs. CO, 3-Bet em BB 8,6% AKs-AQs,
A5s-A4s, K9s, Q9s,
T8s, 97s,
87s-86s, 76s-75s, 65s-
64s,
54s
AA-TT, 55-33, AKo-
Vs. Button, 3-Bet em SB 18,1% ATo, KQo-
KJo, AKs-ATs, A7s-
A2s, KQs-
KJs, K8s-K4s, Q9s-
Q8s, J9s-
J8s, T8s, 98s-97s, 87s-
86s,
76s-75s, 65s-64s, 54s
AA-TT, 22, AKo-ATo,
Vs. Button, 3-Bet em BB 17,5% KQo-
KJo, AKs-A9s, KQs-
KJs, K4s-
K2s, Q6s-Q2s, J7s-J6s,
T7s,
98s-96s, 87s-85s, 76s-
75s,
65s-64s, 54s-53s, 43s

Enfrentando um 3-Bet em Posição


Posição Range de Range de Flat
Defesa de 3- Range de 4-Bet
Total Bet

38
livro

UTG vs. 3-Bet, KK-TT*, AKo- AA, 98s, 87s,


em 5,1% AQo*, 76s
posição AKs-AQs, KQs
QQ-TT, AK- AA-KK, AKs,
MP vs. 3-Bet, em 6,4% AQo*, 98s, 87s,
posição AKs-AQs, KQs 76s, 65s, 54s
AA, JJ-99, KK-QQ, AKo*,
CO vs. 3-Bet, em 8,9% AKo*-AQo, AKs,
KQo, AQs-AJs, T9s, 98s, 87s,
posição KQs- 76s,
KJs, QJs 65s
AA, TT-77, KK-JJ, AKo,
Button vs. 3-Bet 21,4% AQo-ATo, AKs, A6s,
KQo-KTo, QJo, A4s-A2s, K8s-
AQs- K4s,
A7s, A5s-A2s,
KQs- Q8s-Q7s
K9s, QJs-Q9s,
JTs-J9s,
T9s-T8s, 98s-
97s,
87s, 76s, 65s
UTG vs. 3-Bet, KK-TT*, AKo- AA, AJs, ATs,
fora 5,1% AQo*, 76s
de posição AKs-AQs, KQs
AA*, QQ-TT, AA*-KK, 98s,
MP vs. 3-Bet, fora 6,3% AKo- 87s,
AQo, AKs-AJs,
de posição KQs, 76s, 65s
QJs
CO vs. 3-Bet, fora JJ-99, AKo-AJo, AA-QQ, AKs,
de 11,6% KQo, A8s-
AQs-ATs, KQs-
posição KTs, A5s, 87s, 76s
QJs-QTs, JTs,
T9s, 98s
SB vs. 3-Bet do AA, TT-77, KK-JJ, AKo,
BB 16% AQo-ATo, AKs, T9s-
KQo-KJo, AQs- T8s, 98s-97s,
A9s, 87s,
KQs-KTs, QJs- 76s, 65s, 54s

39
livro

QTs,
JTs-J9s, T9s, 98s

2.14 RESUMO
1.Quando construindo ranges de defesa teoricamente ótimos, nosso principal objetivo
é evitar que o raiser pré-flop seja capaz de dar raise mais amplamente que
teoricamente ele seria capaz.
2. Temos que, mais provavelmente, defender nossas mãos dando call em posição e
dando re-raise fora de posição.
3. 3-bet blefes precisam de folds entre 67 a 70% do tempo para gerar um lucro
imediato, e um jogador deve defender entre 40 e 50% de seus 3-bets quando
enfrentando um 4-bet.
4. 4-bet blefes precisam de folds entre 50 a 60% do tempo para gerar um lucro
imediato, e devem dar call entre 50 e 60% do tempo quando enfrentando um 5-bet
shove.
5. 5-bet blefes geralmente precisam ser bem-sucedidos entre 40 e 50% do tempo para
serem lucrativos se eles forem randomizados com as mãos de blefe certas.
Geralmente, mãos como A-x suited e pocket pairs baixos funcionam melhor como
5-bets blefes.
6. 3-bets, em média, punem as piores mãos do range de raise de nosso oponente mais
severamente que dar call, já que dar call permite a ele ver o flop.
7. O valor esperado de 3-betar e 4-betar mãos fortes mas que não sejam super
premium, como A-K e Q-Q em posição, é provavelmente muito mais baixo contra
um oponente ótimo que a maioria dos jogadores espera. Com estas mãos, muitos
jogadores estão cometendo um erro dando re-raise, quando ao contrário, estas
mãos deveriam ser jogadas dando call.
8. Devemos ter certeza que utilizaremos ranges de call que podem se conectar a
muitas texturas de flop diferentes, para que nosso range não seja transparente.
Entretanto, também é OK usar ranges de call que não acertem texturas de board de
valores baixos, já que boards 8-high ou menores são bem incomuns.
9. O valor das mãos pode mudar drasticamente baseado em qual range elas estão
enfrentando. Por exemplo, K-9o pode funcionar bem como um flat no call no big
blind contra um raise do button, já que o range de raise inclui muitas mãos K-x e
9-x mais fracas. Mas K-9o não funciona bem como 3-bet, já que 3-betar faz muitas
mãos dominadas foldarem, e fora de posição, pares marginais são difíceis de se
jogar por um grande pote contra um range forte.
10. Um quadro de mãos não será perfeito até que o jogo de poker esteja
completamente resolvido. Mas eles certamente são úteis pois identificam leaks e
ajudam jogadores mais novos. É por isso que é mais importante entender quais
mãos entram em quais ranges que memorizar um quadro inteiro de mãos.

40
livro

CHAPTER THREE
Capítulo 3: Tamanho de apostas no pós-flop

Capítulo 3:
Tamanho de apostas no pós-flop

3.1 INTRODUÇÃO
O tamanho de apostas no pós-flop é um dos conceitos mais complexos no No Limit
Hold’em, e como tal é frequentemente ignorado, por ser difícil até mesmo de dizer por
onde começar. E mesmo que ainda não estejamos nem próximos de começar a discutir
em detalhes o tamanho das apostas, é crucial que o básico seja entendido antes que
sigamos em frente.
Este conceito pode se tornar tão difícil e complexo quanto o leitor desejar, e é
importante não se prender a padrões irreais quando começarmos a discutir tamanho de
apostas. O que é mais importante agora é entender os fatores gerais que ajudam a
determinar se devemos apostar alto ou baixo em relação ao tamanho do pote.
Por último, note que tamanhos de apostas precisos geralmente serão possíveis quanto
menos cartas houverem para sair. Como será explicado em “Descobrindo o Tamanho
Ótimo da Aposta no River”, frequentemente é possível fazer bets muito precisos no river.
Mas como as decisões devem ser tomadas rapidamente na prática, sem auxílio de
software, é importante que o básico seja compreendido antes que tópicos mais complexos
sejam abordados.
3.2 TAMANHO DE APOSTAS NO PÓS-FLOP EM UM RÁPIDO VISLUMBRE
Embora tamanho de apostas seja um conceito complexo demais para confinar a
apenas um capítulo, devemos primeiramente nos assegurar que aprendemos os cálculos
básicos por trás deste conceito antes de seguir em frente para o jogo pós-flop. Isso porque
o tamanho das apostas é extremamente importante em No Limit Hold’em, e o que separa
um grande jogador de um bom jogador é como ele utiliza diferentes tamanhos de bets em
diferentes situações, para manipular o range de seu oponente. Especificamente, um
tamanho de bet excelente pode forçar nosso oponente a tomar difíceis decisões, e
maximiza o valor esperado da mão do jogador que aposta.
Em teoria, se um jogador tem um range perfeitamente polarizado, que inclui mãos que
possuem ou 100% de equidade (o nuts absoluto) ou 0% de equidade (um blefe air), ele
escolherá o tamanho de seu bet para que ele aposte uma mesma fração do pote em todas
as três streets e esteja all-in no river. Uma prova formal da matemática por trás disso não

41
livro

será mostrada aqui, mas foi explicada no livro The Mathematics of Poker, escrito por Bill
Chen e Jerrod Ankenman. Então é importante entender que um jogador com um range
completamente polarizado usará a estrutura do tamanho de seus bets de forma a ir all-in
no river, e assim maximizar seus ganhos.
Tamanho final do pote = (tamanho inicial do pote)(taxa de crescimento do pote)
elevado a (número de streets que restam)
Vejamos como funciona esta fórmula. Suponha que seja blind vs. blind, e
assumiremos que no flop o small blind tem um range que inclui apenas mãos com 100%
ou 0% de equidade. Para um raise de 3,5 big blinds, o tamanho do pote no flop será de 7
blinds, o tamanho final do pote será de 200 big blinds, e restam três streets. Inserindo os
valores na equação temos
200 = (7)(R)³
Onde
-7 é o tamanho inicial do pote
-200 é o tamanho final do pote,
-R é a taxa de crescimento do pote.
Isso implica que a taxa de crescimento do pote é de 3,06.
Assim, o pote deve aumentar 3,06 vezes o seu tamanho a cada street que passa. Isso
significa que temos que fazer bets de 1,03 o tamanho do pote no flop, turn e river, para
conseguir que todo o dinheiro esteja no pote no river.
Para este exemplo, devemos betar 7,2 blinds no flop, 22 blinds no turn e 68,1 blinds
no river, para que todo o dinheiro vá para o pote no river.
Como estes ranges perfeitamente polarizados existem, entender o tamanho de apostas
ótimo para eles é importante, mas a vasta maioria do tempo um range de bet não será
perfeitamente polarizado. Geralmente, nosso oponente terá algumas mãos em seu range
que, ou já vencem nossas mãos de valor, ou podem acabar se tornando melhores que a
nossa mão, e, da mesma forma, nossos blefes geralmente serão capazes de melhorar e se
tornarem uma mão forte. Quando for este o caso, betar uma fração igual do pote em cada
street geralmente não será o ideal.
Dizendo de outra forma, quando nosso oponente tem várias mãos em seu range mais
fortes que algumas de nossas mãos que value betaremos, apenas ocasionalmente iremos
querer colocar todo o dinheiro no pote no river. Isso porque o alto tamanho de nossos bets
irá encorajar o vilão a foldar todas as suas mãos até o river, exceto as mais fortes. Isto é,
sempre que value betarmos as três streets e descobrirmos no showdown que o vilão deu
call com uma mão melhor, perderemos um grande pote. Esta é uma razão pela qual, em
potes onde houve raise, com stacks efetivos de 100 big blinds, na maioria do tempo não
betaremos alto o suficiente para tentar colocar todo o dinheiro no pote no river.
Entretanto, existem outras situações em que podemos querer betar, mesmo se o vilão
possuir algumas mãos de força média em seu range. Isto frequentemente acontecerá se,
quando em posição, dermos call em um bet do oponente e ele der check em uma street
futura onde nenhuma mão do seu range melhorou. Podemos querer betar em uma
tentativa de vencer a mão ali mesmo.
Para ilustrar este conceito, suponha que o vilão dá raise no cutoff e damos call no

42
livro

button. Ele c-beta o flop Kh-8h-3c e dá check no turn 2d. Mesmo que o vilão possa ter
algumas mãos marginais em seu range, como 10-10 e 9-9, a maior parte de seu range será
fraco. Assim, um pequeno bet poderá preveni-lo de ver um river de graça com suas mãos
fracas. E por ser pequeno, o bet também minimiza a efetividade de quaisquer potenciais
check-raises, enquanto um bet grande torna o check-raise mais eficiente e permite a ele
defender uma parte de seu range de check no turn.
Quando nossas mãos fortes são suscetíveis a se tornarem a segunda melhor mão nas
futuras streets, podemos escolher utilizar uma estrutura de tamanho de bet decrescente.
Isto é, apostando maior nas primeiras streets, nos asseguramos de que nosso oponente
coloque mais dinheiro no pote quando ele estiver perdendo, se ele quiser buscar seus outs
para fazer a melhor mão. Ainda assim, existem limites em quão grande o tamanho de
nosso bet deve ser, já que apostas muito altas são punidas severamente quando o vilão
possui uma mão que já é melhor que a nossa.
Aqui está um exemplo. Damos raise no cutoff com Jh-Th e só o button dá call. O flop
é Tc-7c-4s e o turn é 2d. Como temos top pair, podemos decidir betar uma fração maior
do pote no flop que no turn. Apesar de nossa mão não ser particularmente forte, betando
mais alto no flop fazemos o vilão foldar algumas mãos com overcards, com mais de 25%
de equidade. Entretanto, seus implied odds e sua equidade terão diminuído quando vem
uma carta baixa, e betando baixo no turn, esperamos acabar a mão ali mesmo, mas se ele
der call, seu range ainda não deverá ser muito forte no river.
E quando seguimos em frente e betamos o river, nosso bet frequentemente será
pequeno (após betar no turn). O vilão não possui mais implied odds e não estamos
preocupados que suas mãos piores se tornem melhor que nossa mão. Na verdade, como
será mostrado em futuros capítulos, quando estivermos fora de posição no river, não há
muita diferença entre betar pequeno e dar check.
Então, enquanto decidindo qual o tamanho de bet é melhor em cada situação
frequentemente será difícil, devemos sempre nos lembrar dos mais importante conceitos
implícitos. Apostas maiores, em média, requerem que nosso oponente defenda menos
frequentemente e coloque mais dinheiro no pote, enquanto apostas menores requerem que
ele defenda mais. Mas apostas menores também requerem que o jogador que está
apostando blefe menos, pois o defensor está pagando menos para ver a próxima street.
Assim, a escolha frequentemente será entre apostar pequeno e dar ao oponente um bom
preço quando ele dar call com um range fraco e amplo, ou apostar grande e dar ao
oponente um preço pior, mas com um range forte.
Um erro comum entre jogadores é acreditar que eles precisam ter um tamanho de bet
específico com seu range inteiro, em cada situação particular. Este não é o caso. É
possível ter vários tamanhos de bet diferentes na mesma situação onde cada range é
balanceado. Além disso, um jogador que é capaz de usar múltiplos tamanhos de bet terá
um edge significativo sobre alguém se restringe a apenas um tamanho de bet.
Esta ideia de usar múltiplos tamanhos de bet no mesmo spot para manipular o range
de nosso oponente é geralmente teoricamente correto, e extremamente importante em
muitos spots. Por exemplo, se no river o pote é de 80 big blinds e temos 100 big blinds
em nosso stack, nosso bet com um range pode ser de 100 blinds, 60 blings com outro

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livro

range e 40 big blinds com um terceiro range. Cada um destes ranges pode ser
perfeitamente balanceado e construído para manipular o range de call do vilão da forma
que melhor serve ao nosso propósito.
Agora devemos ter um forte entendimento da teoria por trás do tamanho de bets para
prosseguir para o jogo pós-flop. E como tamanho de bet é discutido em mais detalhes,
aprenderemos a reconhecer quando determinados tamanhos de bet fazem sentido. Assim,
seremos capazes de explorar oponentes fracos que usam tamanhos de bet sem sentido,
enquanto prevenimos oponentes fortes de nos explorar.
3.3 RESUMO
Embora tamanhos de bet excelentes sejam uma das habilidades mais difíceis de se
dominar, é uma habilidade crítica para o sucesso contra oponentes fortes.
Especificamente, betar do tamanho correto manipula o range de call de nosso oponente,
para receber calls de mãos mais fracas mas ainda fazer mãos com alta equidade foldarem.
Mesmo que tenhamos apenas arranhado a superfície deste tópico, entendendo quem tem
o range polarizado e qual propósito nossos bets devem alcançar, criamos a nossa
fundação para desenvolver bets precisos nos futuros capítulos.
Aqui estão alguns pontos importantes:
1) Betar frações iguais do pote em todas as três streets para colocar todo o dinheiro
no pote no river maximiza nossos ganhos quando nosso range consiste do nuts
absoluto ou de blefes air.
2) Bets pequenos frequentemente são eficientes contra ranges polarizados. Eles
previnem que o vilão veja cartas de graça com suas mãos fracas enquanto
minimizam a efetividade de seus raises.
3) Uma estrutura de tamanho de bet decrescente é eficiente quando provavelmente
temos a melhor mão e não queremos que o vilão consiga ver cartas adicionais
pagando um valor baixo.
4) Bets pequenos mantém o range de call de nosso oponente fraco e amplo, enquanto
bets altos tornam seu range de call estreito e forte.
5) Não é verdade que temos que ter apenas um tamanho de bet em um determinado
spot com o nosso range inteiro.

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livro

CHAPTER FOUR
Capítulo 4: Enfrentando uma bet no flop em posição

Capítulo 3:
Tamanho de apostas no pós-flop

4.1 INTRODUÇÃO
Estamos agora prontos para seguir em frente para o jogo pós-flop. Enquanto
certamente é possível jogar um poker sólido pré-flop simplesmente memorizando um
quadro de mãos, isso não é possível para o jogo pós-flop, por haverem tantas
combinações diferentes no flop. Mas um excelente entendimento da matemática e da
teoria nos permitirá tomar decisões sensatas e ganhar dinheiro de nossos oponentes
mesmo em spots pelos quais nunca passamos antes.
Assim, esta é uma importante seção do livro, e começamos nossa análise pós-flop
examinando como defender contra um bet no flop quando estivermos em posição. Além
disso, examinando como defender contra um bet quando estivermos em posição
poderemos também ser capazes de ver quais tipos de mãos nosso oponente deverá c-
betar, e usar isto como um ponto de início para decidir se damos check ou betamos
quando as posições estiverem invertidas. E assim que estivermos confiantes com nosso
jogo no flop, o próximo passo será seguir em frente e aprender como eficientemente jogar
o turn e river.
4.2 DEFENDENDO DANDO CALL
Quando fora de posição, nosso oponente deverá apenas raramente ser capaz de
lucrativamente betar as piores duas cartas de seu range. Isso porque nosso range de call
em posição é construído para jogar eficientemente contra o range de raise pré-flop do
nosso oponente. Enquanto podem haver algumas texturas de board onde ele pode
lucrativamente betar as piores mãos de seu range, com uma frequência maior o vilão terá
que ter um determinado tipo de mão para lucrativamente fazer um bet fora de posição.
Então, para começar, vamos primeiro examinar quão frequentemente teríamos que
foldar para um bet no flop para que nosso oponente lucrativamente bete quaisquer duas
cartas. Para nos ajudar a fazer isso, a seguinte equação mostra, em termos de bets do
tamanho do pote, quão frequentemente um blefe precisa ser bem-sucedido para assegurar
que a aposta como um todo tenha um lucro garantido. Na equação abaixo, PSB significa
“pot-sized bet”, ou bet do tamanho do pote.
Taxa de sucesso de blefe mínima = (tamanho da aposta em PSB) / (tamanho da aposta

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livro

em PSB + 1)
Ou

X
Y = ______

X+1
Onde
-X é o tamanho do bet em termos de bets do tamanho do pote (PSB)
-Y é a frequência em que o blefe deve ser bem-sucedido para gerar um lucro imediato
Por exemplo, suponha que o nosso oponente aposte 50% do pote. Isso significa que a
taxa de blefes deverá ser de 33,3% do tempo.
Da mesma forma, a frequência de defesa apropriada pode ser alcançada, quando
expressada em termos de tamanho de bet no flop do oponente.
1
Y = _______

1+X
Onde
-X é o tamanho do bet em termos de bets do tamanho do pote (PSB)
-Y é a frequência em que o jogador que potencialmente dará call deve defender para
evitar que seu oponente blefe lucrativamente com qualquer air
Neste exemplo, onde X = 0,5 (aposta do tamanho de metade do pote), o jogador que
potencialmente dará call precisa defender 66,7% do tempo.
Com pouco esforço, podemos descobrir quão frequentemente os blefes do vilão
devem ser bem-sucedidos para que ele tenha um lucro mínimo garantido para todos os
outros tamanhos de bet também. Os gráficos abaixo mostram quão frequentemente um
blefe deve ser bem-sucedido para gerar lucro com quaisquer duas cartas, e quão
frequentemente devemos defender contra um bet para evitar que nosso oponente seja
capaz de blefar lucrativamente com quaisquer duas cartas.

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livro

Agora queremos perguntar “o quanto melhor é para nosso oponente quando ele blefa a
pior mão em seu range de bet (no flop) e nós defendemos dando call ao invés de dar
raise?” Isso é o mesmo que fizemos em cenários de pré-flop.
Primeiro, perceba que o vilão quase nunca estará blefando com mãos que não
possuem equidade, então seus blefes devem possuir um valor esperado maior que 0
quando eles receberem um call. Entretanto, a diferença entre o pós-flop e o pré-flop é que
nosso oponente consegue ver três cartas aleatórias quando damos call pré-flop, mas
apenas uma carta aleatória quando damos call pós-flop. Isto é, no flop, cada jogador que
possui acesso a apenas duas cartas passa a ter acesso a cinco cartas, e muitas mãos
mudam muito de força. No turn, cada jogador passa a ter acesso a seis cartas, ao invés de
cinco, e mesmo que muitas mãos mudem em termos de força, esse efeito geralmente não
é tão drástico como foi quando vimos um flop.
Em outras palavras, enquanto houve uma diferença significativa entre dar call e raise
contra as mãos mais fracas do range pré-flop de nosso oponente, a diferença é menos
significativa pós-flop. Isto é, muitas das mãos mais fracas do range de raise pré-flop que
foldariam para um 3-bet formam trincas, dois pares, flush draws e straight draws quando

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livro

permitimos que elas vejam um flop. Mas no flop, o vilão frequentemente blefará com
mãos que não conseguirão imediatamente formar uma mão forte em qualquer turn.
Aqui está um exemplo. O nosso oponente frequentemente blefará com uma mão como
8c-7c no flop Kc-6s-2s, apesar do fato de que ele não pode formar uma mão forte no turn.
Perceba que ele precisará ter sorte tanto no turn quanto no river para formar a melhor
mão, e se ele betar no turn e dermos raise, ele quase certamente foldará, não importa qual
seja o turn. Então, enquanto um turn favorável que dê a este jogador um straight ou flush
draw quase certamente permitirá a ele fazer um bet lucrativo, este spot não é nem de
perto tão lucrativo quanto simplesmente fazer uma mão forte no flop.
Existem texturas de flop onde existe uma probabilidade maior de que a mão de nosso
oponente se torne melhor que a nossa, quando seu pior blefe receber um call. E nestes
casos existe uma grande diferença em sua expectativa quando ele recebe um call ao invés
de um raise. Então, nestas texturas de board, devemos defender mais agressivamente.
Aqui está um exemplo. O flop é Th-8h-7s, e o vilão beta. Deve estar claro que existe
uma razoável chance de que a mão do vilão se torne melhor que a nossa até o river. Isso
porque mesmo seus blefes mais fracos podem conseguir dois pares, trincas, straights ou
um par maior que 10 no turn. Além disso, mesmo se dermos call com o nut straight
(melhor straight possível) no turn, o vilão pode estar betando o flop com uma carta de
copas, e conseguir runner runner copas no turn e river. (Claro, isso se apenas dermos call
com nosso nut straight em um turn que venha uma carta de copas, permitindo assim ao
vilão realizar sua equidade).
Consequentemente, podemos concluir que, como o valor esperado do blefe mais fraco
de nosso oponente vai mudar baseado na textura do board, não existe regra rápida e
simples para determinar quanto a mais devemos defender quando damos call ao invés de
dar raise. Por exemplo, contra um c-bet de 75% do pote, devemos defender pelo menos
57,1% de nossas mãos para evitar que o oponente lucrativamente bete a pior mão de seu
range. Todavia, não podemos descobrir a frequência exata de defesa contra este bet.
Então a conclusão é que, defender entre 60 e 70% do tempo na maior parte dos boards
parece um palpite razoável. Isso deve evitar que nosso oponente lucrativamente bete
quaisquer duas cartas no flop. Isto também permite que foldemos o suficiente, e assim o
oponente terá um incentivo para blefar as mãos que são blefes teoricamente corretos, e ao
mesmo tempo resulta em que não foldemos tanto que ele possa descuidadamente blefar
quaisquer duas cartas. Da mesma forma, não estamos defendendo tão agressivamente que
damos muito valor para as mãos fortes do nosso oponente. E através deste livro, o
conselho dado será de defender pelo menos 60% do tempo no flop, mas jogadores mais
avançados devem tentar defender um pouco mais agressivamente que isto.
Geralmente, as texturas de board onde os blefes do vilão podem se tornar mãos
melhores que a nossa no turn (como no exemplo do flop Th-8h-7s) são as mesmas
texturas onde estar em posição é bastante valioso. Além disso, nestes tipos de flops,
devemos ter muitas mãos que podem melhorar no turn. Portanto, boa estratégia consiste
em defender um range mais amplo nestes tipos de texturas de board. Da mesma forma,
podemos também defender um pouco mais amplamente em texturas de board onde
estamos defendendo somente dando call, já que o vilão tem virtualmente a garantia de ver

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livro

o turn.
Por último, enquanto esta metodologia funciona bem para que nosso oponente não
possa lucrativamente betar quaisquer duas cartas fora de posição, ainda existirão alguns
flops onde ele poderá lucrativamente betar quaisquer mãos em seu range. Por exemplo, se
dermos call no button em um raise de UTG e o flop vier 2h-2s-2c, nós provavelmente não
temos A-A ou K-K em nosso range, mas o vilão possui. Assim, neste caso, teremos que
defender com menos que 60% de nosso range, e deixar que ele ganhe dinheiro blefando
quaisquer duas cartas. Mesmo que este seja um resultado indesejado, foldar para um bet
no flop em uma alta frequência com um range muito fraco é melhor que dar call
agressivamente e perder um grande pote no river.
4.3 DEFENDENDO DANDO RAISE – A RELAÇÃO ENTRE VALOR E BLEFE
NO FLOP
Como discutido em “Parte Três: Tamanho de Apostas no Pós-Flop”, não existe um só
tamanho de bet que englobe todos os tamanhos de bet no flop quando betando ou dando
raise, se nosso range não está perfeitamente polarizado. Existem sim, alguns tamanhos de
bet comumente utilizados com os quais devemos nos familiarizar. Por exemplo, em um
pote onde houve um raise, a maior parte dos jogadores beta cerca de 75% do pote, o que
normalmente consiste em um bet de 6 big blinds em um pote de 8 big blinds, ou algo
perto disso. Da mesma forma, jogadores que dão raise geralmente darão raise neste bet
para algo entre 16 e 18 big blinds em posição – um tamanho razoável, que permite ao
jogador em posição dar raise agressivamente em flops, e requere que o jogador que
originalmente betou defenda uma grande fração de seus bets no flop dando call fora de
posição.
Então, se dermos raise em um bet de 6 big blinds para 16 big blinds em um pote de 8
big blinds, nosso oponente deve defender pelo menos 47% do tempo se ele deseja evitar
que tenhamos um lucro imediato. Uma pequena mudança no tamanho do raise não
impactará drasticamente esta frequência. Por exemplo, um raise ligeiramente maior, para
18 big blinds, requere que o nosso oponente defenda 44% do tempo para prevenir que
nosso raise gere um lucro imediato.
Nosso range de raise no flop será quase sempre polarizado entre mãos fortes e blefes.
Mas em algumas texturas de board, daremos raise com nossos draws também, já que eles
geralmente se tornarão ou mãos muito fortes ou muito fracas no river, e podem assim ser
value betadas ou blefadas. Note também que, dando raise, tornamos o range de nosso
oponente muito mais forte no turn, então faz pouco sentido dar raise em um mão por
valor, a não ser que seja mais forte que a vasta maioria das mãos no range de bet no flop
de nosso oponente. E como nosso range de raise é polarizado, muitas das mãos no range
de call do nosso oponente serão bluff catchers, que vencerão nossos raises por blefe mas
perderão para nossos raises por valor.
Agora que sabemos quais tipos de mãos fazem sentido no nosso range de raise, vamos
descobrir qual deverá ser a nossa relação entre raises por valor e raises por blefe no flop.
Para simplificar, assumiremos também que nosso range de raise é perfeitamente
polarizado, o que significa que nossas mãos terão 100% ou 0% de equidade.
Então, a primeira questão é: “Qual é o objetivo final do nosso range de raise no flop?”

49
livro

Bem, nosso objetivo no river deverá ser betar com um range que consista na relação certa
entre value bets e blefes, de forma a tornar nosso oponente indiferente a dar call com suas
mãos de força medíocre. Isto é, uma grande fração do range de nosso oponente no river
será de bluff catchers, e queremos que o valor esperado, tanto de dar call quanto de foldar
com essas mãos seja zero.
Vamos pausar por um momento e olhar para um exemplo diferente, onde a
matemática é tão simples quanto possível, para que as ideias principais possam ser
entendidas. Suponha que nosso bet seja sempre do tamanho do pote. Além disso, suponha
que nosso range no flop consista de dois tipos de mãos: o nuts, que ocorrerão 20% das
vezes e que nunca perderão; e o blefes, que ocorrerão 80% das vezes e nunca vencerão.
Esta informação pode usada para determinar qual fração de nossas mãos deverão ser
betadas no flop, turn e river.
Quando betamos no river, nosso oponente possui odds de 2-para-1 dar call em nosso
bet, e isso requere que blefemos uma vez para cada dois value bets, e neste exemplo,
como 20% do nosso range no flop é composto pelo nuts (que são mãos de valor),
estaremos betando (no river) 30% do total de mãos que tínhamos no flop. Perceba que
isto mantém nosso oponente indiferente entre dar call e foldar, já que as duas alternativas
possuem um valor esperado de zero. Além disso, perceba que nossa estratégia é
indiferente ao que o oponente faz com seu bluff catcher – se ele der call todas as vezes,
algumas vezes, ou nenhuma das vezes, o valor esperado do nosso range de bet será o
mesmo. Isso significa que podemos olhar para o nosso bet do river da perspectiva de que
nosso oponente sempre foldará quando betemos, e neste exemplo, isso acontecerá 30%
do tempo – 20% quando betarmos por valor e 10% quando fizermos um blefe no river.
Como nosso oponente folda todas as vezes que apostarmos, estas são todas apostas
vencedoras.
Além disso, perceba também que nosso oponente sempre vencerá depois que dermos
check (no river). Isso porque também não faz sentido para nós dar check com o nuts se
nosso range incluir apenas nuts ou air, já que nosso oponente nunca deverá apostar contra
este range. Então, de certa forma, podemos dizer que nosso oponente efetivamente
perdeu a mão cada vez que betarmos o river com um range balanceado de dois-terços
mãos de valor e um-terço blefes (já que seu valor esperado é zero se ele der call ou
foldar), e também é verdade que nosso oponente vence a mão cada vez que dermos
check.
Agora vamos voltar ao turn. Se fizermos um bet do tamanho do pote, nosso oponente
mais uma vez terá odds de 2-para-1 para dar call em nosso bet, então ele só precisa
vencer uma a cada três vezes para dar call. Mas lembre-se também que todos os nossos
blefes no river, de certa forma, são vencedores, e como (neste exemplo) vencemos 30%
do tempo no river (quando apostamos), para oferecer odds de 2-para-1 isso agora
significa que no turn precisamos blefar mais 15% do tempo para balancear os 30% que
betamos no river. Isto é, 30-para-15, que é o mesmo que 2-para-1.

Perceba o que fizemos. Agora estaremos betando 45% do nosso range de flop no turn.
Ele será composto de 20% de nossos value bets, 10% de nosso blefes no river, e um

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adicional de 15% de blefes no turn. Agora, ao invés de termos 2/3 de nossas apostas,
como teremos no river, de value bets, agora teremos no turn 4/9 de value bets. Perceba
também que 4/9 é igual a 2/3 ao quadrado.
E agora, quando voltarmos ao flop, a mesma coisa acontecerá mais uma vez. Como
faremos um bet do tamanho do pote, e como também betaremos 45% de nossas mãos no
turn, para oferecer odds de 2-para-1, agora precisaremos adicionar mais 22,5% de blefes.
Assim, no flop, estaremos betando 20% de value bets, 22,5% de blefes do flop, 15%
de blefes do turn, e 10% de blefes do river, totalizando 67,5% do nosso range de flop. E
assim como antes, ao invés de ter 2/3 de nossas apostas, como teremos no river, de value
bets, na verdade teremos no flop 8/27, que é o mesmo que 2/3 ao cubo.
Então vamos repetir o que fizemos. A chave aqui é, mais uma vez, nos assegurar que
entendamos que cada vez que nosso oponente enfrente um bet de um range de river
balanceado, ele efetivamente perdeu a mão, e cada vez que dermos check no river, ele
vencerá. Então quando betarmos no turn um bet do tamanho do pote, o river deve ser
betado com um range balanceado (neste exemplo) 2/3 do tempo, e um range de bet
balanceado no river inclui 2/3 de value bets. Estas frações podem ser multiplicadas para
mostrar que 4/9 dos nossos bets no turn precisam ser value bets. Em outras palavras,
como existe uma street restante para agir, podemos blefar com maior frequência no turn,
e 5/9 de nossos bets no turn deverão ser blefes.
Mas ainda não havíamos terminado, pois ainda precisávamos descobrir qual fração de
nossos bets no flop precisavam ser value bets. Então, mais uma vez, betando um bet do
tamanho do flop, demos ao oponente odds de 2-para-1 para dar call, então ele só precisa
vencer 1/3 do tempo. E como antes, os odds que oferecemos ao oponente agora
determinam quão frequentemente a street seguinte deve ser betada com um range
balanceado. Aqui, nosso oponente precisa vencer um-terço do tempo para ser indiferente
a dar call, então no turn daremos check um-terço do tempo (e neste caso o vilão sempre
vencerá) e betaremos dois-terços do tempo (e neste caso o vilão efetivamente perdeu).
Então, se o nosso range de bet no flop deve ser capaz de betar o turn dois-terços do
tempo, o river dois-terços do tempo após betar o turn, e se dois-terços de bets no river
forem value bets, então 8/27 de nossos bets no flop deverão ser value bets, significando
que os 19/27 restantes, ou aproximadamente 70%, de nossos bets no flop deverão ser
blefes.
Existe outro fato interessante que deve ser apontado. Se você perguntasse a um
jogador de poker típico como ele deveria betar, muitos lhe diriam para apostar suas boas
mãos e então blefar um pouco. Claro que a explicação não deveria ser tão simples, mas
no river isso pode ser considerado correto. Agora mostramos que no flop
aproximadamente 70% de nossos bets deverão blefes (nestes casos em que parece
provável que o vilão possua uma mão apenas razoável ou um draw, e dará call esperando
que você não aposte novamente), e isto será intuitivo para muitas pessoas. Mas isto é
preciso, já que existem ainda duas streets restantes. Este conceito é importante para um
jogo teoricamente sólido, então deve ser compreendido bem antes que sigamos em frente.
Examinar quais mãos estão em cada range de bet pode ajudar a visualizar este conceito.
Então vamos repetir mais uma vez um pouco do que já foi explicado.

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No flop, é útil imaginar que nosso range de bet consiste de quatro tipos de mãos –
blefes de flop, blefes de turn, blefes de river e mãos de valor. Um blefe de flop é uma
mão que blefará o flop mas irá de check-fold no turn, enquanto todos os blefes de turn, os
blefes de river e as mãos de valor continuarão betando. Como nosso oponente tem odds
de 2-para-1 para dar call no nosso bet do tamanho do pote no flop, apenas dois-terços do
nosso range de bet no flop deverá continuar betando no turn. Em outras palavras, nossos
blefes de turn, blefes de river e value bets devem compor dois-terços do nosso range de
bet no flop, enquanto apenas um-terço de nosso range deverão ser de blefes de flop, que
não serão betados na street seguinte se o oponente der call.
Nosso range de bet no turn é similar ao range de bet no flop, exceto que os blefes de
flop não estarão mais neste range, pois os jogaremos de check-fold. Em outras palavras, o
range de bet no turn consiste de blefes de turn, blefes de river e mãos de valor, mas
apenas blefes de river e mãos de valor serão betadas no river. Assim como antes, dois-
terços do nosso range de bet no turn deverá ser betado no river, então blefes de river e
value bets devem compor dois-terços do nosso range de bet no turn, enquanto o um-terço
restante deverá ser de blefes de turn.
Por último, no river, nosso range de bet consistirá apenas de dois tipos de mão: blefes
de river e mãos de valor. Como claramente pode ser visto, nosso range de bet agora inclui
muito menos mãos que possuía no flop, já que todos os nossos blefes de flop e blefes de
turn terão sido jogados de check-fold. E como nosso range de bet inclui menos blefes mas
todas as nossas mãos de valor ainda estão sendo betadas, a relação entre value bets e
blefes agora é significativamente mais alta que era no flop ou turn. Este conceito de
blefar menos agressivamente em cada street subsequente consistentemente aparece
quando analisamos o jogo teórico.
Existem ainda dois pontos que precisam ser explicados.
1) O tamanho de nosso bet relativo ao tamanho do pote determina quão
frequentemente você blefa. Então, em nosso exemplo de 20% de value bet, se
fizéssemos bets de metade do tamanho do pote ao invés de bets do tamanho do
pote, nosso oponente receberia odds de 3-para-1 ao invés de 2-para-1. Isso
significa que o river deverá consistir de 20% de value bets e 6,67% de blefes de
river (totalizando 26,67%). O turn deverá consistir de 20% de value bets, 6,67%
de blefes de river e 8,89% do blefes de turn, totalizando 35,56%. E o flop deverá
consistir de 20% de value bets, 6,67% de blefes de river, 8,89% blefes de turn e
11,85% de blefes de flop (para um total de 47,41%).
2) Também é possível ter um range tão forte que não haverão blefes o suficiente em
um street anterior. Por exemplo, em nosso exemplo original, suponha que
houvessem 40% de value bets e estivéssemos mais uma vez betando do tamanho
do pote. Então o range de bet no river seria de 60%, no turn seria de 90% e no flop
seria de 135%. Como é impossível betar 135% de todas as mãos, isso
simplesmente significaria que todas as mãos no range do flop seriam betadas no
flop.
Agora vamos voltar à situação anterior, onde um tamanho de bet de 57% do pote será
utilizado no turn e river. Nesta situação, se betarmos 57% do pote no river, nosso

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livro

oponente arriscará um bet de 0,57 pote para ganhar 1,57 pote. Isso requere que 73% de
nossos bets no river sejam de value bets.
E quando betamos 57% do pote no turn, nosso oponente novamente arrisca um bet de
0,57 pote para ganhar 1,57 pote. Isso significa que, quando betarmos, ele deve
efetivamente perder 73% do tempo para ser indiferente a dar call ou fold, e isso requere
que betemos o river 73% do tempo para tornar nosso oponente indiferente a dar call no
turn. (Lembre-se, quando betamos no river, nosso oponente efetivamente perdeu, mas se
dermos check, ele sempre vencerá). Como precisamos betar o river 73% do tempo, e
apenas 73% de nossos bets no river precisam ser value bets, 53% de nossos bets no turn
precisam ser por valor.
Por último, precisamos ter certeza de que estamos betando o turn na frequência certa
para manter o nosso oponente indiferente a dar call em nosso raise no flop. Se dermos
raise em um bet de 6 big blinds para 18 big blinds em um pote de 8 big blinds, nosso
oponente arrisca mais 12 big blinds dando call para vencer as 32 big blinds que já estão
no pote. Mais uma vez, como nosso oponente efetivamente sempre perde quando
betamos a street seguinte mas vence quando damos check, devemos betar o turn 73% das
vezes após dar raise no flop. (Perceba que é 73% novamente pois nosso raise é de
aproximadamente 0,57 pote).
Em outras palavras, como estamos dando raise ou betando 57% do pote em cada
street, precisamos betar o turn 73% do tempo, betar o river 73% do tempo após betar o
turn, e 73% de nossos bets no river precisam ser value bets. Podemos multiplicar estas
frequências para descobrir qual porcentagem de nossos raise no flop devem ser raises por
valor. Isto é, a porcentagem de raises no flop que precisam ser por valor é determinada
pela seguinte equação:
(Frequência de Bet no Turn)(Frequência de Bet no River)(Porcentagem de Bets no
River que são Value Bets) = (0,73) (0,73) (0,73)
Chegamos a um resultado de 38,9%.
Enquanto os números são um pouco diferentes daqueles no exemplo anterior, onde
fazíamos bets do tamanho do pote, note que o conceito de dar raise ou betar todas as
nossas mãos de valor em cada street e remover alguns blefes de nosso range em cada
street adicional ainda está presente. A maior parte do nossos bets no flop são blefes, cerca
de metade de nossos bets no turn são blefes, e apenas pouco mais de um quarto de nossos
bets no river são blefes. Isso porque alguns de nossos blefes no flop, ou blefes de flop,
sairão de nosso range de bet e os jogaremos de check-fold no turn.
Na verdade, nunca daremos raise no flop com um range perfeitamente polarizado.
Nossos raises por blefe às vezes darão sorte no turn ou river e se tornarão mãos fortes, e
da mesma forma nossos raises por valor ocasionalmente verão um turn ou river ruins e se
tornarão mãos fracas. Assim, é necessário levar em conta o fato de que frequentemente
teremos uma diferente quantidade de mãos fortes no river que a quantidade com que
começamos quando demos raise no flop.
Além disso, às vezes um raise por valor ou por blefe se tornará uma mão marginal no
turn ou river. Quando isso ocorre, pode ser melhor dar check de volta, especialmente em
posição, e tentar vencer no showdown. Perceba que nem sempre seremos capazes de

53
livro

betar as três streets quando nossa mão for a melhor.


Por último, se foldarmos para um bet no turn, pode ser que a mão que foldamos
tivesse se tornado a melhor mão no river, e se betarmos no turn e nosso oponente foldar,
pode ser que ele tenha foldado uma mão que teria se tornado a melhor mão no river.
Novamente, tenha em mente que a posição é muito valiosa. Isso porque o jogador em
posição tem muito mais facilidade em perceber a equidade de seus semiblefes que o
jogador fora de posição.
Especificamente, enquanto nosso oponente frequentemente foldará suas mãos fracas
quando betarmos no turn, se nossa mão for fraca, podemos dar check behind no turn após
dar raise no flop, e ocasionalmente daremos sorte no river.
Agora vamos imaginar um caso onde nossas mãos nossas mãos de valor têm 80% de
equidade e nossos semi-blefes têm 20% de equidade contra o range de call de nosso
oponente. Esta parece uma distribuição de equidade mais precisa para mãos no flop, já
que brocas e pares fracos possuem, geralmente, cerca de 20% de equidade. Além disso,
vamos assumir que sempre betaremos a melhor mão no turn e river. Mesmo que na
realidade não teremos informações perfeitas, nós temos a vantagem da posição e
geralmente saberemos se nossas mãos provavelmente vencerão no showdown, e
poderemos betar de acordo com esta informação.
Agora precisamos descobrir qual porcentagem de nossos raises no flop devem ser
raises por valor, dadas estas condições, e efetuando os cálculos, sob as condições acima,
apenas 31,6% do nosso range de raise no flop precisa ser de raises por valor.
(0,8)(X) + (0,2)(1 – X) = 0,389 =>
X = 0,316
Onde
-0,8 representa 80% de equidade
-0,2 representa 20% de equidade
-X é a proporção do nosso range de raise no flop que pode ser value betado no river
Perceba que agora podemos blefar significativamente mais no flop, 68,4%, contra
61,1% que poderíamos quando estávamos dando raise com um range perfeitamente
polarizado.
A equidade de nossos blefes aumentou 20% enquanto a equidade de nossas mãos de
valor caiu 20%, mas como damos raise com mais blefes que mãos de valor no flop, isso
resulta no aumento na equidade geral de nosso range. Além disso, se não baixarmos nossa
relação entre valor e blefe no flop, poderíamos chegar ao river com um excesso de mãos
fortes, e nosso oponente poderia nos explorar foldando todos os seus bluff catchers.
Na verdade, à medida que mudamos a equidade de nossos raises por valor ou raises
por blefe, podemos ver uma causalidade bem clara. Se todo o resto for igual, aumentar a
equidade tanto de nossas mãos de valor quanto de nossos semi-blefes nos permite blefar
mais agressivamente no flop. Em outras palavras, quanto mais equidade nossos raises por
valor e nossos raises por blefe tiverem, mais inclinado ao blefe deve ser nosso range de
raise. Isso leva à seguinte regra:
Enquanto a relação exata mudará baseada na textura do board, e não pode ser
dita com precisão, uma boa regra é ter cerca de 2 raises por blefe para cada raise

54
livro

por valor no flop, quando em posição.


Jogadores frequentemente se confundem quando conversando sobre draws em ranges
polarizados, pois eles estão acostumados a mãos em ranges polarizados serem value bets
claros ou blefes claros. Mas um draw funcionará como um value bet quando melhorar
para uma mão forte, e como um blefe quando ele não melhorar. Na verdade, é
frequentemente útil nos lembrar que “betar um draw no flop é um value bet ou um blefe;
nós só não temos certeza de qual é.”
Podemos também usar a mesma equação que usamos anteriormente para descobrir
quantos combos de blefe precisamos adicionar ao nosso range de raise para cada draw
que dermos raise. Além disso, se um draw nos permite blefar mais ou menos mãos
dependerá de quantas streets ainda faltam para agir, profundidade de stack, e quanta
equidade aquele draw específico possui.
Aqui está um exemplo. Mantendo os dados anteriores, podemos descobrir quantos
blefes podem ser adicionados ao nosso range de raise no flop se dermos raise com o nut
flush draw, que geralmente possui 47% de equidade contra um típico bluff catcher.
(0,47)(X) + (0,2)(1 – X) = 0,389 =>
X = 0,70

Isto é, precisamos dar raise com 0,7 draws fortes para cada 0,3 raises por blefe. Isso
requer que blefemos aproximadamente um combo para cada 2,3 nut flush draws que
dermos raise, para sermos balanceados.
0,7

2,3 = ____

0,3
Enquanto cada mão pronta no flop que dermos raise por valor requere que demos
raise por blefe com múltiplas mãos para sermos balanceados, precisamos dar raise com
múltiplos draws fortes para darmos raise por blefe com uma única combinação de mãos.
Isso se deve ao fato de que, mesmo os draws mais fortes terão menos equidade que mãos
fortes já prontas. Mesmo assim, dar raise com draws fortes no flop ainda pode ser
eficiente, já que isso previne que nosso range seja transparente demais, e pode fazer o
vilão foldar o que seria uma mão vencedora.
4.4 MAIS COMPLICAÇÕES NA RELAÇÃO ENTRE VALOR E BLEFE
Como informações completas geralmente não estarão disponíveis quando jogando
contra nosso oponente, agora tentaremos explicar melhor algumas das simplificações que
fizemos no capítulo anterior. Mesmo que uma relação perfeita entre raises por valor e
raises por blefe não possa ser definida, podemos analisar diferentes texturas de board e
fazer alguns ajustes importantes para nos assegurar de que nosso range de raise está
razoavelmente balanceado.
No capítulo anterior, assumimos que seríamos bem-sucedidos em betar todas as três
streets com mãos que serão as melhores mãos no river. Na verdade, nem sempre
betaremos tanto o turn quanto o river com a mão vencedora. Nossos raises por valor às

55
livro

vezes verão cartas horríveis no turn e no river, e teremos que dar check mesmo que nossa
mão ainda provavelmente vença no showdown, e nem sempre betaremos o turn com
nossos blefes que melhorarão no river. Além disso, alguns blefes são muito mais
eficientes em conseguir betar todas as três streets quando o blefe melhorar e se tornar a
melhor mão no river.
Aqui está um exemplo. Damos call no button com 8s-7s contra um raise de MP, e o
flop vem Kc-6s-2c.
Esta mão tem cerca de 10% de equidade, e funciona bem como um raise por blefe,
desde que o turn nos “sinalize” o quão provável é que nossa mão melhore no river – uma
carta de espadas nos dá um flush draw, um 5 ou 9 nos dá um straight draw duas pontas, e
qualquer 7 ou 8 nos dá um par com cinco outs contra um top pair. Betaremos então
quando o turn vier uma destas carts, já que existe uma grande chance que nossa mão se
torne a melhor mão no river. Se o turn não vier uma destas cartas, daremos check, e em
um turn que seja um blank, é muito improvável que nossa mão se torne a melhor mão no
river, de qualquer forma.
Comparativamente, um pocket pair será um raise por blefe muito menos eficiente que
o 8-7s do exemplo acima, apesar das duas mãos terem uma quantidade similar de
equidade. Isso porque o turn não nos diz se nosso pocket pair provavelmente melhorará
no river. Se ele não melhorar para uma trinca, provavelmente teremos dado check no
turn, e isso requer que baixemos a relação entre raises por valor e raises por blefe no flop.
Além disso, algumas vezes nosso oponente foldará para o nosso bet no turn, e outras
vezes nós foldaremos para um reraise de nosso oponente no flop ou um check-raise no
turn. Embora o resultado final disto seja ambíguo, o mais provável é que nosso oponente
folde uma mão que se tornasse uma mão melhor que a nossa, que o contrário. Perceba
que estar em posição é uma vantagem significativa, que o modelo na seção anterior não
foi capaz de descrever precisamente. Além disso, assumimos anteriormente que sempre
perderíamos a mãos se déssemos check no turn, mas estando em posição, temos certeza
que veremos o river após dar check, e nossa mão pode acabar se tornando a melhor mão.
Por último, em alguns casos, nosso oponente nos fará foldar a melhor mão no river.
Para ilustrar isso, imagine que demos raise com uma broca no flop e decidamos dar check
no turn após fazer um par fraco. Se nosso oponente tiver um missed draw no river, ele
frequentemente blefará e nos fará foldar a melhor mão. Normalmente, nosso oponente
foldará a melhor mão para nossos blefes, já que possuímos o range polarizado após dar
raise no flop, mas existem situação menos comuns onde ele nos fará foldar a melhor mão.
Então, enquanto na maior parte das texturas de board uma relação de 2-para-1 entre
raises por blefe e raises por valor seja um bom ponto de início para construir ranges de
raise em posição, poker é um jogo complexo e dinâmico. Isto é, é importante não tornar o
jogo mais simples que ele realmente é. Colocado de outra forma, exemplos podem
fortemente aumentar nosso entendimento do poker, e nos fornecer estimativas de quais
frequências e relações funcionam bem em spots diferentes, mas eles não levam em conta
todas as possíveis variáveis. E sempre se lembre de que os melhores jogadores são
capazes de rapidamente ajustar seu range de raise no flop para levar em conta pequenos
detalhes que o exemplo anterior foi incapaz de incorporar.

56
livro

4.5 A FORÇA NECESSÁRIA DE UMA MÃO PARA DAR RAISE POR VALOR
COM UMA MÃO PRONTA
Enquanto a seção anterior nos mostrou como construir um range balanceado de raise
no flop, que consista da relação apropriada entre raises por blefe e raises por valor, ainda
não consideramos quão forte uma mão deve ser para eficientemente dar raise por valor no
flop. Para fazer isso, precisamos agora calcular qual porcentagem do range de bet no flop
do nosso oponente deve ir até o showdown se dermos raise no flop e betarmos turn e
river. Se dermos raise de 18 big blinds no bet de 6 big blinds do nosso oponente no flop,
ele deve defender pelo menos 43,8% de seu range de bet no flop para evitar que sejamos
capazes de lucrativamente blefar quaisquer duas cartas.
(14)(X) + (18)(X) = 0 =>
X = 0,438
Onde
-14 é o tamanho do pote após o vilão betar
-18 é o tamanho do nosso raise
-X é a porcentagem do range de bet no flop com o qual o vilão deve defender
No turn arriscamos 25 big blinds para ganhar as 44 big blinds no pote. Isso requer que
nosso oponente defenda pelo menos 63,8% de seu range de turn para evitar que sejamos
capazes de lucrativamente blefar quaisquer duas cartas.
(44)(1 – X) + (25)(X) = 0 =>
X = 0,638
Onde
-44 é o tamanho do pote
-25 é o tamanho do nosso bet
-X é a porcentagem de tempo que o vilão precisa defender
Finalmente, no river podemos ir all-in e arriscar 54 big blinds para vencer o pote de
94 big blinds. Nosso oponente precisa dar call no nosso bet no river exatamente 63,5% do
tempo para nos manter indiferentes ao blefe.
(94)(1 – X) + (54)(X) = 0 =>
X = 0,635
Agora podemos multiplicar estas frequências para descobrir a quantidade mínima de
mãos com que o vilão precisa dar call em nosso all-in contra nosso range de raise no flop,
se ele defender apenas dando call. Chegamos ao resultado de 17,7%.
0,177 = (0,438)(0,638)(0,635)
Então, se nosso oponente tem a intenção de defender contra nossos raise no flop
apenas dando call, ele precisará defender mais que 17,7% de seu range de bet no flop, já
que nossos blefes geralmente terão alguma equidade dando recebermos call. Além disso,
se ele defender apenas o mínimo, sempre seremos capazes de lucrativamente dar raise por
blefe no flop, e nunca foldaremos para o bet ou raise de nosso oponente. Isso porque
nossos raises por blefe no flop imediatamente alcançarão o ponto de equilíbrio (break
even), e ocasionalmente terão sorte no turn ou river, e venceremos nosso oponente.
É impossível calcular exatamente quanto nosso oponente deve defender no flop e turn
quando ele defender dando call às vezes (e às vezes dando raise). Enquanto é possível

57
livro

descobrir a quantidade mínima que ele deve defender, não podemos descobrir o quanto
“extra” ele precisa dar call no flop e turn para compensar o fato de que nossos blefes às
vezes se tornarão a melhor mão. Quanto mais o vilão defender dando call e quanto maior
for a probabilidade de nossa mão se tornar a melhor mão no river, mais amplo seu range
de defesa deve ser no flop e turn.
Além do mais, como o nosso range de raise no flop é polarizado, nós sabemos que o
vilão geralmente defenderá dando call ao invés de dar re-raise. Enquanto as suas
frequências exatas de defesa são impossíveis de se descobrir e dependerão da textura do
board, aumentar um pouco as frequências de defesa de nosso oponente no flop e turn
parece razoável. Então, se assumirmos que ele agora defenderá 50 e 67% de seu range no
flop e turn, respectivamente, nosso oponente precisará dar call em nosso all-in no river
com cerca de 21% de seu range de bet no flop se ele defender apenas dando call.
0,21 = (0,50)(0,67)(0,63)
Portanto, para que nosso shove no river seja lucrativo em posição, nossa mão precisa
vencer metade do tempo quando receber um call (como betar em posição reabre a
rodada de apostas, não faz sentido value betar, a não ser que nossa mão vença pelo
menos metade das vezes que receber call. Se ela perder mais frequentemente que ganhar,
betar, em relação a dar check, custará dinheiro, e assim devemos simplesmente dar
check com a mão para garantir o showdown. Entretanto, como discutiremos no futuro,
isso não é necessariamente verdadeiro quando estamos fora de posição. Consideremos
também que nossa mão deve vencer um pouco mais de metade do tempo se o vilão
ocasionalmente der raise por blefe). Então, assumindo que o range de call do vilão é
estático – suas mãos fracas nunca melhorarão e suas mãos fortes nunca enfraquecerão –
podemos calcular quão forte uma mão deve ser para dar raise por valor no flop.
Especificamente, se nosso oponente defender apenas dando call, e seu range de call for
estático, nossos raises por valor não devem perder para mais que 10,5% do range de bet
no flop do vilão, para eficientemente darmos raise por valor.
0,105 = (0,21)(0,5)
Enquanto o modelo anterior nos dá uma boa ideia de quão forte uma mão precisa ser
para dar raise por valor no flop e ir all-in no river, existem algumas outras nuances sobre
as quais devemos estar cientes, quando dando raise no flop. A primeira é que o range de
call do vilão no flop não é estático, então ele não simplesmente dará call em todas as
streets com as melhores 10,5% mãos de seu range de bet no flop. O range que ele defende
no turn e no river se baseará em quais são as cartas no turn e no river, respectivamente.
Então, mesmo que o vilão decida dar call em nosso all-in com 10,5% de seu range de bet
no flop, nem ele nem nós saberemos qual esse range será até que vejamos o turn e o river.
A equidade das mãos que estamos à frente no flop também é importante. Por exemplo,
suponha que tenhamos uma mão que está atrás de apenas 10% do range de bet no flop do
oponente. Se ele também tiver muitos draws de alta equidade em seu range, pode não ser
possível dar raise por valor no flop e betar em muitas combinações de turns e rivers. Isso
porque muitas mãos no range de nosso oponente terão melhorado e nos vencerão no river,
e perderemos mais que metade das vezes em que o nosso bet no river receber um call.
Isto é mais fácil de visualizar imaginando um oponente cujo range de bet no flop

58
livro

consiste de 10% de mãos nuts com 100% de equidade, e 20% de draws com 45% de
equidade. Isto é, quando sua mão está à frente de nossos raises por valor no flop, nossa
mão nunca se tornará melhor que a dele, e alguns draws em seu range de call no flop
melhorarão e se tornarão a melhor mão no river. Uma consequência é que este oponente
será capaz de 3-betar o flop em uma alta frequência ou dar call e chegar ao river com a
melhor mão com uma frequência alta demais para tornar o nosso raise eficaz.
Por último, existem outras vezes em que daremos raise por valor no flop mesmo que
saibamos que não é provável que consigamos ir all-in no river. Isso ocorre quando é
desejável fazer com que muitas mãos no range de bet no flop do oponente foldem antes
que elas sejam capazes de realizar sua equidade. Especificamente, fazer o vilão foldar
muitas mãos cuja equidade é de 20 a 25% é muito valioso, e isso nos encorajará a dar
raise mais agressivamente.
Mais uma vez, como é sempre o caso quando usando modelos, nem toda variável será
levada em conta, e o bom-senso deve ser utilizado quando criando ranges. Por exemplo,
haverão vezes em que daremos raise por valor no flop quando estivermos atrás de mais
que 10,5% das mãos no range de bet do vilão, mas também é importante estar ciente de
nossas descobertas, e não ser descuidados com nossos raises por valor no flop.
Perceba também que nossas descobertas parecem sugerir ranges tight de raise, mas na
verdade faz perfeito sentido depois do que vimos na seção anterior. Quando a relação
entre blefe e valor é de aproximadamente 2-para-1, ainda podemos dar raise
agressivamente no flop mesmo que o número de raises por valor pareça pequeno.
4.6 ATRASANDO UM RAISE EM UM BOARD SECO
Como dar call mantém o range do vilão mais amplo que quando damos raise, quando
temos uma mão muito forte com perto de 100% de equidade, geralmente preferiremos dar
call quando enfrentando um bet em posição, e atrasar nosso raise para uma street futura.
Dar call mantém todo os blefes do vilão em seu range, e ainda poderemos ir all-in no
showdown dando raise no turn ou no river. Os cálculos referentes a este conceito serão
discutidos mais detalhadamente através do livro, mas é importante ter conhecimento de
dois conceitos agora:
1) Como dar raise é muito mais caro que dar call, nosso oponente foldará para nosso
raise uma grande parte de seu range de bet. Então quando ele der raise ele nunca
terá a chance de realizar a equidade de muitos de seus blefes.
2) Dar call em um bet no flop e dar raise em uma street futura frequentemente
requerirá que nosso oponente coloque mais dinheiro no pote até o river com seu
range que quando damos raise no flop.
O fato de que dar call ao invés de dar raise em algumas texturas de flop resulta em um
pote final de tamanho médio maior parece contraditório e às vezes confunde os
jogadores. Ainda assim, se nossa mão possui 100% de equidade e está enfrentando um
bet no flop, geralmente seremos capazes de dar raise no turn ou river, e atrasando o raise
esperamos obter mais valor dos blefes de nosso oponente.
Esta é uma das razões pelas quais raramente iremos querer dar raise com nossas mãos
mais fortes em boards secos, preferindo, ao invés disso, defender apenas dando call. Os
blefes do vilão não possuem muita equidade nesses spots, e geralmente requerem

59
livro

múltiplas cartas para que suas mãos se tornem melhores que a nossa. Assim, podemos dar
call com nossas mãos fortes e boards muito secos e então dar raise em qualquer turn ou
dar call novamente, e potencialmente dar raise no river.
Aqui está um exemplo. O vilão dá raise em MP e damos call no button. Faz pouco
sentido dar raise com quaisquer mãos no flop Kc-8s-3h. Não deverão haver mãos em
nosso range que são fortes o suficiente para dar raise mas que também se preocupem em
deixar os blefes do vilão verem cartas adicionais. Especificamente, as únicas mãos fortes
o suficiente para dar raise por valor neste flop são trincas, e elas são tão fortes que
podemos dar call com elas e ainda confortavelmente dar raise em qualquer turn.
Quando de fato damos call com nosso range inteiro de defesa, muitas mãos fracas
estarão incluídas. Se nosso range de raise não incluir mãos que funcionariam bem como
raises por blefe, então devemos, na maior parte das vezes, dar só call. Isso porque se estas
mãos não estiverem inclusas em nossos calls, nosso range no turn será forte demais e os
blefes do vilão serão muito lucrativos (para ele) no flop.
Aqui está um exemplo. No flop Kc-8s-3h, anteriormente mencionado, se torna correto
dar call com mãos como 10s-9s com runner runner flush draw. Então, se o turn nos der
um flush draw, straight draw ou possivelmente mesmo um par, podemos dar call
novamente e esperar melhorar nossa mão no river, e assim vencer um pote grande. Mas
se o vilão der check no turn ou river, nossa mão quase sempre se tornará um blefe
eficiente.
Além disso, nosso oponente, que estará fora de posição, frequentemente lançará um
double barrel com seu flush ou straight draw no turn, e nos dará a oportunidade de dar
raise nele (com um range balanceado que inclui alguns draws). E quando isso ocorrer, ele
se encontrará em uma posição desconfortável e deficitária. Por fim, se ele foldar para
nosso raise, a equidade de sua mão não se realizará, e se ele der call, ele perderá a
oportunidade de blefar se ele não acertar seu draw no river. Então, como já sabemos,
posição é uma vantagem poderosa e defender dando apenas call em algumas texturas de
board é quase certamente teoricamente correto.
4.7 ATRASANDO UM RAISE EM UM BOARD MOLHADO
Não queremos frequentemente atrasar nossos raises com mãos fortes, pois os blefes
do oponente podem acabar se tornando a melhor mão no turn, e alguns turn que não
derem ao vilão a melhor mão podem nos fazer perder ação. Assim, quando os blefes do
oponente tiverem o potencial de imediatamente se tornar a melhor mão no turn,
geralmente é melhor dar raise com a maior parte das nossas mãos muito fortes no flop.
Aqui está um exemplo. Suponha que o vilão dê raise em MP e demos call com Jc-10c
no button. Não é interessante fazer slowplay se o flop Jh-10h-5c vier, pois nossa mãos é
forte o suficiente para dar raise e ainda assim vulnerável aos blefes do vilão. E se dermos
apenas call, um raise no turn seria ineficiente se viessem cartas como A, K, Q, 9, 8 ou
quaisquer copas. Assim, isso significa que na maior parte do tempo que dermos call no
bet no flop de nosso oponente, ele provavelmente será capaz de ver tanto o turn quanto o
river e realizar plenamente a equidade de seus blefes. Como isso é muito arriscado, dar
raise no flop ao invés de dar call geralmente será a melhor jogada.
Vale repetir o que acabamos de explicar mais uma vez. Devemos ter em mente não

60
livro

apenas se a mão do oponente pode se tornar a melhor mão no turn, mas também se ele
pode fazer a melhor mão como runner-runner. Por exemplo, se fizermos slowplay com
uma trinca no flop 8h-6h-2c e o turn vier uma carta de copas, nossa trinca não é mais
forte o suficiente para darmos raise. Então, se o vilão beta, podemos dar apenas call,
dando a ele a oportunidade de se tornar a melhor mão no river com uma mão como Ah-
Jc.
Mesmo assim, se fazer slowplay com uma mão forte em um board molhado não for
parte de nossa estratégia, podemos nos encontrar particularmente vulneráveis a overbets
no turn. Então, quando debatendo se devemos fazer slowplay com uma mão forte neste
tipo de flop, é uma boa ideia levar em conta quantos turns melhorarão as mãos do nosso
range. Se a maior parte dos turns colocarem mãos fortes em nosso range, nosso oponente
não será capaz de overbetar eficientemente.
Aqui está um exemplo. Se o flop for Qh-10c-6h e dermos call no bet do vilão,
praticamente qualquer turn melhora algumas mãos em nosso range. Qualquer A, K, J ou 9
nos dá possibilidades de dois pares ou straights, e Q ou 10 pode nos dar trincas, e
possuem um importante efeito de blockers. Na verdade, as únicas cartas que não
melhoram significativamente algumas mãos do nosso range no turn são os 6, 5, 4, 3 e 2
que não sejam de copas, o que compõe 15 combinações, ou menos de um-terço do
baralho. Assim, como algumas mãos no nosso range melhorarão na maioria dos turns, o
slowplay se torna muito menos crítico neste board.
Finalmente, tenha em mente que, quanto mais arriscado for o slowplay com uma mão
grande, maior deve ser a recompensa. Isto é, dar call muitas vezes valerá o risco em
boards onde o vilão frequentemente overbetará a street seguinte. E embora algumas vezes
seus blefes que foldariam para nosso raise às vezes se tornem a melhor mão, às vezes
também ganharemos seu stack quando ele overbetar uma mão pior por valor ou overbetar
seus blefes.
4.8 ENFRENTANDO UM 3-BET NO FLOP
Às vezes o oponente que está enfrentando um raise escolherá defender seu range de
bet no flop 3-betando ao invés de dando call. Ele tenderá a fazer isso em texturas de
board onde suas mãos muito fortes são vulneráveis a se tornarem a segunda melhor mão
para nossos blefes. Sabendo disso, se ele nunca 3-betar o flop, nós conseguiremos realizar
a equidade dos nossos raises por blefe no flop muito frequentemente. Mesmo assim,
nosso range de raise no flop já é bastante polarizado, então o vilão não pode efetivamente
nos 3-betar no flop com uma alta frequência.
No flop, se nosso oponente nos 3-betar para 36 big blinds, ele arrisca 30 big blinds
adicionais para ganhar 32 big blinds. Isso requere que seu blefe funcione 48% das vezes
para gerar um lucro imediato.
(8 + 6 + 18)(X) – (30)(1 – X) = 0 =>
X = 0,48
Onde
-8 é o tamanho inicial do pote
-6 é o tamanho do primeiro bet
-18 é o call dos 6 BB mais um raise de 12 BB,

61
livro

-30 é o call dos 12 BB mais um raise de 18 BB.


Como o blefe do vilão precisa ser bem-sucedido 48% do tempo para gerar um lucro
imediato, precisamos defender pelo menos 52% do nosso range de raise no flop. Perceba
também que o range de 3-bet do vilão será extremamente polarizado pois ele está dando
raise contra um range já polarizado. E como seu range é tão polarizado, frequentemente
teremos que defender dando call e utilizando nossa vantagem de posição no turn.
Quando damos call, o pote será de 80 BB e cada jogador terá um stack de 60 BB
restante. Quão frequentemente precisaremos dar call no shove do turn do vilão será
determinado por quanta equidade esperamos que seu blefe teoricamente correto tenha.
Assim como era o caso quando dando call em 5-bet shoves pré-flop, nosso oponente terá
a garantia de realizar a equidade de seu blefe quando receber um call. Isso requere que
defendamos um range mais amplo que defenderíamos normalmente.
Considere a seguinte equação:
(80)(X) – [60 – (200)(equidade dos blefes)](1 – X) = 0
Onde
-X é a frequência que o blefe do vilão precisa ser bem-sucedido para gerar um lucro
imediato.
Esta fórmula pode ser usada para descobrir quão frequentemente o blefe do vilão
precisa funcionar para tornar o shove lucrativo. Se assumirmos que seus blefes tenham
uma equidade de 10% (essa é a equidade aproximada de uma broca), chegamos a um
resultado de X de 33%. Assim, o blefe do vilão precisa ser bem-sucedido 33% do tempo
para tornar o shove com uma mão de 10% de equidade lucrativo, e isso requere que
demos call com 67% do nosso range de turn. E se ele 3-betar o flop, e betar uma mão de
10% de equidade no turn, teremos que defender pelo menos 35% do nosso range de raise
do flop.
0,35 = (0,52)(0,67)
Onde
-0,52 é a proporção de nosso range de raise do flop que damos call no 3-bet no flop do
vilão,
-0,67 é a proporção de nosso range de turn com que damos call.
Se estamos dando raise no flop com uma relação de 2 blefes para cada raise por valor,
então pelo menos 33% de nossos raises no flop serão raises por valor ou draws muito
fortes. Como precisamos ir all-in com apenas 35% do nosso range de raise no flop contra
o 3-bet do vilão, isso significa que só iremos all-in com mãos muito fortes.
Perceba que quando nosso oponente 3-beta o flop, ele tira nossa necessidade de
continuar blefando, e torna nosso range de all-in muito mais tight. Se ele der call em
nosso raise no flop, nossos bets no turn e no river serão feitos em uma alta frequência, e
teremos um range de bet no river balanceado, o que inclui blefes. Entretanto, em nosso
modelo original, quando nossa porcentagem de bet tanto no turn quanto no river era de
73%, acabávamos indo all-in com 53% do nosso range de raise no flop.
0,53 = (0,73)(0,73)
Embora nem sempre betemos o turn e river 73% das vezes após dar raise em nosso
oponente no flop, seu 3-bet no flop nos permitirá ir all-in com um range muito mais tight.

62
livro

É frequentemente correto para nosso oponente nos 3-betar no flop para evitar que
vejamos o turn com nosso range de raise-fold, mais isto vem a um alto preço, pois
permite que vamos all-in com um range muito forte, sem blefes.
Uma falha comum que muitos jogadores têm é que eles apenas querem dar raise por
valor no flop se a mão jogar bem contra o range de 3-bet no flop do vilão. Isso, claro, faz
sentido se dermos raise em uma textura de flop específica onde nosso oponente apenas
defenderá 3-betando ou foldando. Mas na maioria das texturas de flop, ele defenderá, na
maior parte das vezes, dando call. Lembre-se que nosso range de raise no flop é
polarizado, e dando raise representamos uma mão muito forte ou muito fraca (e
ocasionalmente um draw). E se nosso oponente está 3-betando por valor contra este
range, sua mão deve ser incrivelmente forte para vencer mãos em nosso range de raise
por valor.
Portanto, não devemos estar preocupados se dermos raise por valor com uma mão que
é vencida por todos os 3-bets por valor do vilão. Isto é similar à forma que precisamos 3-
betar agressivamente contra raises do button quando estivermos nas blinds, com mãos
como A-Q, A-J e 10-10, mesmo se estas mãos nunca estiverem à frente do range de 4-bet
por valor do vilão. Nossos raises por valor vão bem quando receberem call, e se nosso
oponente 4-betar, simplesmente teremos que lidar com isso quando isso acontecer.
4.9 DEFENDENDO TANTO DANDO CALL QUANTO DANDO RAISE
Agora temos todas as ferramentas necessárias à nossa disposição para jogar bem em
posição contra um bet no flop. Enquanto muitos exemplos estão inclusos na parte final do
livro, agora vamos considerar algumas perguntas e respostas relacionadas à defesa contra
um bet no flop.
Pergunta nº 1: Quão amplamente precisamos defender para que o vilão não possa
betar quaisquer duas cartas lucrativamente fora de posição?
Resposta: O primeiro passo em nosso processo de pensamento é quão agressivamente
defender para evitar que o vilão seja capaz de lucrativamente betar quaisquer duas cartas.
Isso pode ser feito rapidamente em nosso cabeça para sizes aleatórios de bet, mas
devemos estar especialmente confortáveis com os sizes de bet normais e ter memorizado
as correspondências frequências de defesa. Devemos também estar confortáveis com
defender muito amplamente em flops onde o vilão beta um valor baixo, e foldar mais do
nosso range quando ele betar um valor alto.
Pergunta nº 2: Com quais mãos queremos dar raise por valor?
Resposta: Primeiro, precisamos descobrir se nossa mão é forte o suficiente para dar
raise por valor, e adicionaremos blefes o suficiente para que nosso range esteja
razoavelmente balanceado. Geralmente é mais fácil descobrir primeiro com quais mãos
devemos dar raise por valor e só então adicionar a quantidade certa de blefes. Entretanto,
em algumas texturas de board complicadas, pode ser melhor trabalhar de forma inversa e
ver primeiro quais mãos são apropriadas para dar raise por blefe, e então balancear o
range com raises por valor.
Pergunta nº 3: Com quantos blefes preciso dar raise para que meu range esteja
balanceado?
Resposta: De forma geral, um bom ponto de início é assumir dois raises por blefe

63
livro

para cada raise por valor no flop. Isso geralmente nos levará próximo à relação correta, e
então poderemos ajustar a frequência baseado em quanta equidade pensamos que nossas
mãos por valor e raises por blefe possuem. Se é nossa opinião de que nosso raises por
blefe possuem significativamente mais que 20% de equidade, nossa frequência de blefe
provavelmente deve ser maior. Da mesma forma, se pensamos que nossos raises por blefe
tem menos que 20% de equidade, então blefe um pouco menos. Lógica similar se aplica a
dar raise com nossas mãos de valor.
Também é correto dar raise por blefe no flop com aproximadamente duas mãos para
cada mão forte com que damos raise por valor. Além disso, tenha em mente que ter
certeza que nossa relação entre raises por valor e blefe é muito mais importante que ter
certeza que adicionamos alguns blefes para compensar nossos draws – alguns poucos
draws não impactarão drasticamente quantos blefes são necessários ter em nosso range de
raise.
Pergunta nº 4: Com quantas mãos temos que dar call para tornar um jogador
teoricamente ótimo incapaz de c-betar mais ou menos que a quantidade ótima?
Resposta: Esse é provavelmente o passo mais difícil, já que é necessário ter certeza
de que estamos dando call com a quantidade correta de mãos e que não estamos foldando
muito ou pouco. Se a textura do board não atinge nem o nosso range nem o range do
oponente, como um flop 10c-6s-2h, então precisamos nos assegurar de que estamos
dando call agressivamente o suficiente, apesar de não possui muitas mãos fortes. Isso
porque dar poucos calls permite que o vilão bete imprudentemente, já que seus blefes são
tão lucrativos.
Pelo contrário, se o flop atingir bem nossos dois ranges, como um flop Qh-10h-8s,
então é necessário se assegurar de que não estamos dando call com mãos muito otimistas.
Isto é, se o nosso range de call for muito amplo, o vilão não vai blefar muitas mãos no
flop e seus value bets serão muito eficazes. Então neste caso, vamos querer defender
entre 65 e 70% do nosso range no flop contra um bet de 75% do pote quando estivermos
em posição (já que nosso range é forte e a posição é valiosa), mas a frequência exata
dependerá da textura do board.
4.10 EXEMPLO DE COMO BALANCEAR UM RANGE DE DEFESA NO
FLOP
Suponhamos que damos flat call do button contra um raise de MP com o range listado
no quadro de mãos (JJ-33, AKo-AQo, AQs-ATs, KQs-KTs, QJs-QTs, JTs-J9s, T9s, 98s,
87s, 76s, 65s, 54s) e o flop vem Kd-9s-7s.
Podemos defender contra um c-bet da seguinte maneira:
Total de Combos: 125
Quantidade Desejada de Combos a serem Defendidos: (125)(0,60) = 75
Raises por Valor: 99 (3), 77 (3), Qs-Js, Qs-Ts, Js-Ts = 9
Raises por Blefe: AsQx (3), QTs (3), 87s (3), 76s (3), 6d-5d, Ad-10d = 14
Calls: AKo (9), KQs (3), KJs (3), KTs (3), JJ-TT (12), As-Qs, As-Js, As-Ts, 6s-5s, 5s-
4s, JTs (3), J9s (3), T9s (3), 98s (3), Ad-Qd, Ad-Jd, QJs (3) = 52
Total de Combos Defendidos: 75
Este é um exemplo básico de como balancear um range de defesa no flop. Não

64
livro

fizemos slowplay com nenhuma trinca, mas como nosso range de call inclui nossos
combos de A-K e existem muitos turns que podem melhorar algumas das mãos listadas,
será difícil para o vilão overbetar eficientemente o turn. Além disso, como trincas são
mãos tão fortes com que damos raise por valor, e estamos em posição, podemos
confortavelmente blefar duas combinações de mãos para cada trinca.
Perceba quão agressivamente estamos dando raise neste flop, mesmo que nenhum
combo de A-K esteja incluído. Então existem 23 combos de raise no flop, que resultam
em 18,4% do total de mãos jogadas. E uma vez que damos raise com 23 combos, apenas
outros 52 combos são necessários para dar call, e isso pode ser feito muito facilmente.
Além do mais, precisamos dar raise por blefe com algumas mãos, como uma broca com o
Ad-Td, que pode vir a melhorar e vencer mãos no forte range de bet-call do vilão. Além
disso, é uma boa estratégia dar call com top pair e pares médios, que são provavelmente a
melhor mão no flop mas é improvável que melhorem e vençam mãos muito fortes no
river.
E finalmente, agora deve começar a se tornar aparente quão ineficaz é
imprudentemente betar o flop fora de posição contra um jogador ótimo. Além disso, se
ficar claro que o vilão estava betando imprudentemente o flop, podemos explorá-lo
ampliando nosso range de defesa e começando a dar raise por valor com A-K, e adicionar
também algumas raises por blefe. Enquanto é verdadeiro que alguém ainda pode ser um
jogador vencedor se ele c-betar imprudentemente contra jogadores ruins, esta estratégia
funcionará mal contra jogadores fortes, que sabem balancear um range de raise e se
defender agressivamente contra bets.
4.11 RESUMO
Embora existam milhares de diferentes flops possíveis, quando entendemos algumas
frequências e regras gerais, podemos construir ranges balanceados em posição. Enquanto
rapidez e precisão podem melhorar apenas com a prática, deve estar claro agora como
abordar a maior parte das texturas de flop quando enfrentando um bet. O processo de dar
raise com nossas mãos fortes mas vulneráveis, e com alguns blefes que mantém sua
equidade, ocorre em todas as streets, e dando raise agressivamente em posição com
ranges balanceados, nossos oponentes frequentemente foldarão, já que não deixamos a
eles nenhuma opção desejável.

1. Em texturas de board onde o vilão não será capaz de lucrativamente betar


quaisquer duas cartas, geralmente precisaremos defender contra um bet no flop
entre 60 e 70% do tempo. Isso ainda dará a ele um incentivo para blefar com os
tipos certos de mãos, mas também limitará a quantidade de valor de suas mãos no
range de value bet. Mas a porcentagem exata de defesa contra um bet no flop é
impossível de se descobrir, e dependerá de quão frequentemente estamos dando
raise ou call, assim como da textura do board.
2. Dar call permite que o vilão veja o turn com seu range inteiro de bet, enquanto dar
raise exige que ele folde com a maioria de seus blefes. Como os blefes do vilão
podem melhorar e se tornar mãos melhores que as mãos de nosso range de call no
turn, se torna necessário defender com combinações extras de mãos se estivermos

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livro

defendendo dando call ao invés de dar raise.


3. Em nosso modelo com um range perfeitamente polarizado de raise no flop, a
frequência de bet apropriada tanto no turn quanto no river para tornar o vilão
indiferente a dar call em nosso raise no flop, é de 73%. Além disso, 73% dos
nossos bets no river precisam ser por valor. Isso significa que 39% dos nossos
raises no flop precisam ser por valor.
4. Nosso modelo seguinte sugeriu que geralmente vamos querer dar dois raises por
blefe para cada raise por valor em flops onde nossos raises por valor e nossos
raises por blefe possuem 80 e 20% de equidade, respectivamente.
5. Geralmente é necessário que o vilão vá all-in no river com 20% de seu range de
bet no flop. Se ele for all-in com menos que isso, será lucrativo para nós blefar
imprudentemente.
6. Quando o vilão 3-beta no flop, ele tira nossa habilidade de ver o turn e o river
barato com nossos raises por blefe. Mas fazendo isto, nosso range de all-in no
river será mais forte, sem blefes.
7. Nosso range de call deve ser construído para que algumas mãos melhorem na
vasta maioria de turns. Isso previne que o vilão seja capaz de overbetar
imprudentemente o turn.
8. Geralmente vamos querer atrasar o raise até a última street possível com mãos
muito fortes em boards secos. Isso mantém o range do vilão amplo, e conseguimos
valor adicional de seus blefes. Enquanto isso funciona bem em boards secos,
geralmente é melhor dar raise no flop com mãos fortes em boards molhados, já
que é arriscado permitir ao oponente que ele veja o turn com seus blefes.
9. Apostar imprudentemente fora de posição no flop é ineficaz contra bons
jogadores. Ranges de defesa ótimos geralmente são capazes de defender contra um
range amplo no flop e ainda ir all-in no river com ranges fortes e balanceados.

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CHAPTER FIVE
Capítulo 5: Betar ou dar check em posição

Capítulo 5:
Betar ou dar check em posição

5.1 INTRODUÇÃO
Esta seção é especialmente importante pois é comum enfrentar um check no flop em
posição, e os mesmos conceitos apresentados agora também se aplicarão no turn e no
river. Além do mais, nesta situação, devido à força da posição e ao fato de que o range de
check no flop do nosso oponente é frequentemente fraco, é geralmente difícil identificar
falhas, já que provavelmente ganharemos dinheiro mesmo se nossa jogada for ruim.
Entretanto, o objetivo não é simplesmente ganhar dinheiro, mas maximizar nossos
ganhos usando a linha que possua maior expectativa, com todas as mãos de nosso range.
E pode ser melhor alcançar este objetivo desenvolvendo um forte entendimento da
matemática e da teoria que ocorrem nesta situação.
Na parte 4, “Enfrentando um Bet no Flop em Posição”, examinamos como nos
defender contra um bet quando estamos em posição. Como geralmente não queremos
permitir ao nosso oponente lucrativamente betar quaisquer duas cartas, foi possível
estimar quão amplo deve ser nosso range de defesa no flop quando enfrentando um bet.
Entretanto, se nosso oponente dá check, embora seu range de check no flop deva ser mais
fraco que seu range de bet, ainda não temos um ponto claro de início de como proceder.
Mas este não é um problema, já que muitas das mesmas metodologias utilizadas na
parte 4 podem ser usadas novamente para ajudar a responder esta questão.
Especificamente, a mesma ideia de criar um range balanceado de bet, para que o nosso
oponente seja indiferente entre o call e o fold com suas mãos marginais, mais uma vez
será utilizada, e betando com um range balanceado que pode melhorar em vários turns
fará com que o vilão frequentemente dê call perdendo ou folde a melhor mão. Além
disso, entendendo como um bet ou check no fop determina o range de turn do vilão,
podemos nos assegurar que estamos betando ou dando check com as mãos certas no flop.
5.2 A RELAÇÃO ENTRE VALUE BET E BLEFE PARA TRÊS STREETS DE
VALOR
Lembre-se que um jogador com um range polarizado é capaz de blefar muitas
combinações de mãos a mais no flop que no river quando fazendo bets do tamanho do
pote. Isso pois as mesmas mãos de valor são betadas em cada street, mas no river uma

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fração mais alta do range de bet precisa ser de mãos de valor, para manter o oponente
indiferente a dar call. Usaremos a mesma abordagem aqui e faremos muitas das mesmas
suposições, com a única diferença de que os sizes de bet que serão usados são mais
comuns que um bet do tamanho do pote.
Mais especificamente, muitos jogadores geralmente betam cerca de 75% do pote se
eles pensam que o oponente pode estar forte e planejando um check-raise. Uma das
razões para isso é que bons jogadores geralmente não começam a overbetar até que eles
estejam confiantes de que apenas raramente podem ser vencidos, e isso geralmente não
ocorre até o river, após o oponente ter dado call duas vezes.
Vamos começar descobrindo qual fração de nossos bets no flop devem ser value bets,
se planejamos betar 75% do pote em cada street com um range perfeitamente polarizado.
Então, betando essa quantidade no river, o vilão arrisca 0,75 do pote para ganhar 1,75
pote. Isso requer que 70% de nossos bets no river sejam value bets.
(1,75)(1 – X) – (0,75)(X) = 0 =>
X = 0,7
Embora seja fácil descobrir qual fração de nossos bets de 75% do pote devem ser de
value bets, como mostrado na parte 4, “Enfrentando um Bet no Flop em Posição”,
devemos trabalhar de trás para frente para descobrir qual porcentagem dos nossos bets no
flop devem ser por valor.
O próximo passo é perceber que se betarmos 75% do pote no turn, nosso oponente
mais uma vez arriscará 0,75 do pote para ganhar 1,75 pote. E como discutido
anteriormente, se nosso range de bet no turn for perfeitamente polarizado, isso requer que
betemos o river 70% do tempo com um range balanceado para manter o oponente
indiferente a dar call no turn. Isso, mais uma vez, pois sempre que betamos com um
range balanceado no river, nosso oponente já perdeu a mão (já que dar call ou foldar
ambos possuem uma expectativa de zero), mas cada vez que ele der check, ele sempre
vencerá já que nunca daremos check com uma mão forte.
Este mesmo processo ocorre no flop. Isto é, se betarmos 75% do pote no flop, então o
turn deverá ser betado 70% do tempo.
Em outras palavras, dadas as condições acima, 70% dos nossos bets no river devem
ser de value bets, o river deve ser betado 70% do tempo após betar no turn, e o turn deve
ser betado 70% do tempo após betar no flop. Multiplicando estas frequências chegamos
ao resultado de 34,3%, a porcentagem de nossos bets no flop que devem ser value bets.
(frequência de bet no turn)(frequência de bet no river)(fração de bets no river que
devem ser value bets) =
(0,7)(0,7)(0,7) =
(0,7)³ = 0,343
Mais uma vez, isto não é diferente do que fizemos anteriormente, só que agora nossos
bets são um pouco menores que bets do tamanho do pote. Além disso, já que estamos
betando um pouco menos que antes, um pouco mais dos nossos bets a cada street devem
ser por valor, já que o nosso oponente está conseguindo um preço melhor para dar call.
Vamos tentar um outro exemplo onde descobrimos qual a fração dos nossos bets no
flop devem ser de value bets, mas agora vamos supor que nos foi permitido overbetar o

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livro

river, e temos 1,5 bets do tamanho do pote restantes. Lembre-se, embora sejam discutidos
mais frequentemente em futuros capítulos, overbets ocorrem mais frequentemente no
river porque, se o oponente deu call duas vezes, é menos provável que ele esteja forte.
Em outras palavras, betar bets de 1,5 do tamanho do pote no river após fazer duas apostas
menores é com frequência teoricamente correto, já que não podemos overbetar
confortavelmente até o river.
Mais uma vez, começaremos do river e trabalharemos de trás para frente. Betando 1,5
do pote no river, o nosso oponente arrisca 1,5 pote para ganhar 2,5 potes.
Consequentemente, como nosso bet é agora maior e nosso oponente tem odds piores para
dar call, somos capazes de blefar mais, e precisamos que apenas 62,5% do nossos bets no
river sejam de value bets.
(2,5)(1 – X) – (1,5)(X) = 0 =>
X = 0,625
Agora, como ainda betamos 75% do pote no turn, nosso oponente arriscou 0,75 pote
para ganhar 1,75 potes. E como no exemplo anterior, isso requer que betemos o river 70%
do tempo com um range balanceado, para mantê-lo indiferente a dar call em nosso bet no
turn. Da mesma forma, nosso bet no flop também foi de 75% do pote, e isso requer que
betemos o turn com um range balanceado 70% do tempo.
Agora vamos determinar qual porcentagem dos nossos bets no flop precisam ser de
value bets se estamos betando com um range perfeitamente polarizado e se nos for
permitido overbetar o river, como mencionado.
(frequência de bet no turn)(frequência de bet no river)(fração de bets no river que
devem ser value bets) =
(0,7)(0,7)(0,625) = 0,306
Perceba que ainda estamos utilizando a mesma metodologia de antes, quando betamos
75% do pote em cada street. Isto é, trabalhamos de trás para frente do river até o flop para
determinar qual a porcentagem de nosso bets no flop deve ser de bets por valor. A única
diferença é que agora, como estamos overbetando o river, menos de nossos bets no river
precisam ser value bets, pois nosso oponente possui piores odds para dar call.
Voltando ao exemplo do raise no flop na Parte 4, precisávamos ser capazes de betar o
turn e o river por valor com 39% do nosso range de raise no flop se nosso oponente
sempre vencesse quando déssemos check. Em contraste, apenas 34,3% ou 30,6% dos
nossos bets no flop precisam ser por valor no turn e river nos últimos dois exemplos. Em
outras palavras, nos é permitido blefar mais combinações de mãos para cada mão forte
que value betarmos no flop, quando comparado a dar raise no flop. E isto faz sentido já
que existe mais profundidade efetiva de stack quando betamos ao invés de dar raise, e
apostas maiores relativo ao tamanho do pote nos permite blefar mais. Colocado de outra
forma, quando as apostas são maiores nosso oponente tem um preço pior para dar call, e
isso significa uma fração maior de nosso range de bet deve ser de blefes, para mantê-lo
indiferente a dar call com seus bluff catchers.
Quase todas, se não todas, as regras que se aplicam a dar raise em posição também
devem ser aplicadas quando betando em posição. Por exemplo, podemos blefar mais
agressivamente se pudermos dar check behind com blefes que melhorem para mãos

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marginais que possam vencer no showdown. Ao mesmo tempo, se no turn ou river


conseguirmos a melhor mão mas o vilão puder blefar e nos fazer foldar, teremos que
blefar menos. Da mesma forma, é importante levar em conta quão fácil é para cada
jogador realizar a equidade de suas mãos mais fracas. Estamos mais uma vez em posição
e posição é valioso, e isso nos permite blefar agressivamente em muitas texturas de flop.
Agora vamos estimar quão frequentemente precisamos value betar o flop quando
nossos value bets e blefes têm 80% e 20% do equidade, respectivamente. Se o turn e o
river ambos forem betados por valor com 34,3% do nosso range de bet no flop, como foi
o caso quando fazendo apenas bets de 75% do pote, então 23,9% dos nossos bets no flop
devem ser por valor se a mão vencedora sempre for betada no turn e no river.
(0,2)(1 – X) + (0,8)(X) = 0,343 =>
X = 0,239
Da mesma forma, se formos capazes de overbetar o river e assim só precisarmos
value betar o turn e o river com 30,6% do nosso range de bet no flop, então apenas 17,7%
de nossos bets no flop precisam ser value bets se a mão vencedora sempre for betada no
turn e river.
(0,2)(1 – X) + (0,8)(X) = 0,306 =>
X = 0,177
Enquanto intuitivamente faz sentido pensar que podemos blefar agressivamente em
posição no flop, ter cerca de quatro blefes para cada value bet no flop parece extremo e
contraintuitivo. Isso é principalmente pelo fato de que, na prática, nem sempre seremos
capazes de betar as três streets quando tivermos a mão vencedora, e certamente não
seremos capazes de overbetar todas as mãos vencedoras no river. E isso nos traz à nossa
próxima regra:
Como um princípio básico, provavelmente vamos querer de 2,5 a 3 blefes para
cada mão forte que value betarmos no flop quando estivermos em posição.
Mais uma vez, perceba que isso é provavelmente uma relação entre blefe e valor
muito mais alta que a maior parte dos jogadores espera, similar à seção anterior onde
aprendemos que podemos dar raise por blefe no flop mais agressivamente que
previríamos.
5.3 A RELAÇÃO ENTRE VALUE BET E BLEFE PARA MENOS DE TRÊS
STREETS DE VALOR
Outra opção no flop é betar com a intenção de betar por valor apenas duas streets ao
invés das três. Esta é uma opção útil. Mantém o pote menor e o range do oponente mais
amplo, assim mãos mais fracas podem ser betadas por valor.
Mais uma vez, vamos começar com um exemplo simples e assumir que betamos 75%
do pote no flop e no turn, e o river não poderá ser betado. Além do mais, vamos supor
que nossos blefes nunca melhorarão e nossas mãos de valor nunca poderão ser vencidas.
Vamos mais uma vez trabalhar de trás para frente para ver qual porcentagem de nossos
bets no flop precisam ser de value bets.
Aqui, a última street que podemos betar será o turn, então vamos começar por aqui.
Se fizermos um bet de 75% do pote no turn, o vilão arriscará 0,75 pote para vencer 1,75
potes. E como vimos no último capítulo, isso requer que o vilão vença 30% do tempo

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livro

para que seu call seja lucrativo.


Da mesma maneira, perceba que se betarmos 75% do pote no flop, nosso oponente
mais uma vez arrisca 0,75 pote para ganhar 1,75 potes. Como ele efetivamente sempre
perde quando apostarmos o turn com um range balanceado, e efetivamente vence quando
dermos check, isso requere que betemos o turn 70% do tempo para manter nosso
oponente indiferente a dar call no flop.
Para descobrir qual porcentagem de nossos bets no flop devem ser de value bets,
podemos agora multiplicar nossa frequência de bet no turn pela porcentagem que nossos
bets no turn precisam ser por valor. Quando isto é feito, o resultado nos mostra que 49%
dos nossos bets no flop precisam ser value bets, dadas as condições acima.
(frequência de bet no turn)(fração de bets no turn que são value bets) =
(0,7)(0,7) = 0,49
Não deveria ser surpresa que, como utilizamos uma street a menos de aposta, uma
relação mais alta entre value bet e blefe no flop é necessário. Isso porque temos uma
street a menos para ir de check-fold com alguns de nossos blefes anteriores, enquanto
continuamos a value betar todas as nossas mãos fortes. Em outras palavras, quando value
betamos mãos no flop que não são particularmente fortes, é crucial que tenhamos menos
blefes em nosso range. E isso nos trás à nossa próxima regra.
Um bom princípio básico é ter cerca de uma value bet para cada blefe no flop,
quando planejando betar apenas duas streets por valor.
Mesmo assim, betar o flop em posição com a intenção de betar o turn e dar check no
river é uma linha extremamente comum e útil. Usando esta estratégia quando existirem
streets futuras, não permitimos que o nosso oponente realize de forma barata a equidade
de suas mãos fracas e marginais. Além disso, tendo a vantagem da posição, assim que
mostramos fraqueza dando check no river, a mão imediatamente vai pro showdown e
nosso oponente não terá a chance de transformar nossa mão em um bluff catcher depois
que dermos check.
Aqui está um exemplo. Damos raise no button com 9c-9s e o big blind dá call. O flop
é 10h-8h-4c.
Este é um grande spot para betar o flop com a intenção de betar em muitos turns e dar
check no river. Betar o flop e o turn provavelmente será eficaz pois extrairemos valor
quando o vilão possui um par de 8, assim como fazer ele foldar algumas mãos, como
overcards, que podem vir a se tornar a melhor mão. Mas betar o river provavelmente será
uma jogada deficitária. O vilão frequentemente foldará o par de 8 e dará call ou raise com
seus pares de 10 ou mãos melhores.
Outra opção é betar o flop por valor com a intenção de dar check behind tanto no turn
quanto no river, e esperando vencer no showdown. Isso nos permite fazer mãos de alta
equidade foldarem quando temos uma mão pronta, mas vulnerável – mãos com duas
overcards costumam ter cerca de 28% de equidade contra pares menores no flop. Além
disso, podemos ser capazes de extrair uma street de valor de mãos mais fracas.
Aqui está mais um exemplo. Suponha que damos raise no button com 4-4 e o flop
vem 8-5-3 rainbow. Nesta situação, quase toda mão com duas overcards no range do
oponente possui pelo menos 24% de equidade, e conseguir que o oponente folde tais

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livro

mãos de alta equidade é útil. Além disso, nosso bet no flop deve conseguir valor de mãos
mais fracas que vão de check-call, como é o caso quando o oponente vai de check-call
com A-10 ou K-3s, e também fica feliz de ir de check até o showdown.
Ao contrário de quando betamos o flop e o turn e damos check no river, betamos
apenas o flop por valor dá ao oponente a oportunidade de betar o river sabendo que é
improvável que tenhamos uma mão forte. E quando ele faz isso, a maioria das mãos em
nosso range serão, na melhor das hipóteses, bluff catchers, já que é improvável que
damos check behind no turn com uma mão forte. Enquanto esta linha ainda é útil, ela leva
a decisões mais difíceis nas streets futuras, quando comparado com outras linhas
possíveis.
Em outras palavras, como value betar apenas o flop dá ao oponente a oportunidade de
blefar no river, assim como ver free cards, esta situação não é a ideal. Entretanto, ao invés
de nos preocuparmos com uma frequência de bet para esta linha, simplesmente
entendamos como ela pode fazer sentido quando temos uma mão pronta vulnerável que
pode fazer mãos de alta equidade foldarem no flop.
Entretanto, como será explicado em maiores detalhes em futuros capítulos, é
frequentemente útil betar o flop com a intenção de dar check no turn e betar o river se o
oponente der check. Esta linha funciona especialmente bem quando dar free cards no flop
é arriscado, mas nossa mão não é tão forte que possamos confortavelmente betar mais
uma street até que nosso oponente tenha mostrado mais fraqueza. Além do mais, esta
linha dá ao oponente uma clara oportunidade de blefar no river depois de darmos check
no turn, o que com frequência resulta em extrair mais valor de suas mãos mais fracas.
5.4 A FORÇA NECESSÁRIA DE UMA MÃO PARA VALUE BETAR O FLOP
Quando nosso oponente dá check para nós no flop, ele terá um range relativamente
fraco (seu range de bet certamente será mais forte) assim como terá a desvantagem de
jogar fora de posição. Por causa disto, em muitas texturas de board, ele não vai querer
defender 60% ou mais de seus checks no flop contra um bet de 75% do pote. Em outras
palavras, nosso oponente preferirá dar check-fold no flop quando o pote é pequeno, ao
contrário de dar call com suas mãos fracas. Quão agressivamente ele deve defender seus
checks dependerá tanto da força do range de cada jogador quanto de quão valiosa é a
posição naquela textura de flop.
Na parte 6, “Jogo no Flop Fora de Posição”, analisaremos quão agressivamente o
jogador fora de posição deve defender seus checks no flop. Por agora, vamos começar
com um simples exemplo e assumir que o vilão defenda dando check-call 50% das vezes
no flop contra um bet de 75% do pote. Além disso, vamos assumir que, uma vez que ele
dê check-call no flop, ele derá check-call no turn e river agressivamente o suficiente para
prevenir que sejamos capazes de lucrativamente betar quaisquer duas cartas. Mais uma
vez, isso intuitivamente deve fazer sentido já que ele preferirá foldar em uma alta
frequência no flop, quando o pote é menor que no turn ou river.
Como geralmente é o caso, teremos que trabalhar de trás para frente para descobrir
qual porcentagem do range de check no flop do nosso oponente dará call até o final
quando enfrentando um bet em cada street. Vamos começar percebendo que, se betarmos
75% do pote no river, estaremos arriscando 0,75 pote para vencer 1 pote, e o vilão

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livro

precisará dar call 57,1% do tempo para nos tornar indiferentes a blefar.
(1)(1 – X) – (0,75)(X) = 0
X = 0,571
Então, como nosso oponente não nos permitirá lucrativamente blefar o river com
quaisquer duas cartas, ele precisará ir de check-call 57,1% do tempo. Vamos continuar a
trabalhar de trás para frente e perceber que, se betarmos 75% do pote no turn, mais uma
vez arriscaremos 0,75 pote para vencer 1 pote, e nosso oponente novamente deverá
defender 57,1% de seu range de check. Por último, devemos descobrir quão
frequentemente ele defende contra nosso bet no flop, e como já discutido, ele
provavelmente foldará um pouco mais no flop, então assumiremos que ele defende 50%
do tempo.
Portanto, se nosso oponente ir de check-call 57,1% do tempo no river, 57,1% do
tempo no turn e 50% do tempo no flop, essas frequências podem ser multiplicadas para
nos mostrar que seu range de check no flop irá dar call até o river 16,3% do tempo
quando enfrentando um bet em todas as três streets.
(frequência de check-call no flop)(frequência de check-call no turn)(frequência de
check-call no river) = (0,5)(0,571)(0,571) = 0,163
Enquanto nosso oponente termina dando call até o river com apenas uma pequena
parte de seu range de check quando ele enfrenta um bet em cada street, seu range de
showdown também é mais fraco que parece em um primeiro momento. Isso porque se ele
beta a maior parte de suas mãos no flop, então seu range inicial de check no flop será
bastante fraco. Consequentemente, a maioria do range de check-call de nosso oponente
consistirá de bluff catchers. Por último, ele pode decidir dar call um pouco mais que
57,1% do tempo no turn, já que nossos blefes podem melhorar no river, e se ele decidir
dar call mais que 57,1% no turn, seu range de showdown será ainda mais fraco.
Da mesma forma, se mantivermos nossas suposições anteriores, planejarmos betar
apenas o flop e o turn, então nosso oponente iria para o showdown com 28,6% de seu
range de check no flop.
(frequência de check-call no flop)(frequência de check-call no turn) = (0,5)(0,571) =
0,2855
Embora essas frequências sejam estimativas, e elas mudarão baseadas na textura do
board (e se torna mais complicado já que o oponente pode ir de check-raise), elas ainda
são úteis de se lembrar quando tentando descobrir quão forte uma mão deve ser para
efetivamente ser value betada. (Manter em mente que não devemos betar o river em
posição por valor a não ser que ganhemos mais da metade do tempo quando recebermos
o call.) Aqui está um exemplo. Damos raise no button, o big blind dá call e o flop vem
Kh-7c-5s.
Neste board, o big blind possuirá top pair ou melhor aproximadamente 20% do
tempo, assim como qualquer par mais fraco outros 15% do tempo. Como ele
provavelmente dará check com a maior parte de seu range neste flop e defenderá dando
check-call quando ele decidir defender, podemos rapidamente determinar que nossos top
pair marginais, como Kd-8d, não são fortes o suficiente para value betar todas as três
streets. Mais especificamente, embora nosso oponente possa dar call as três streets com

73
livro

uma mão que vencemos, como K-6s, perderemos a maior parte das vezes em que nosso
bet no river receber um call, assim como às vezes enfrentaremos um check-raise.
Consequentemente, a não ser que nossa mão melhore, devemos betar o K-8s nesta textura
de board um máximo de duas streets de valor. Entretanto, quando betando apenas duas
streets de valor, não devemos betar sempre as mesmas streets. Por exemplo, às vezes,
podemos escolher betar o turn e river, e outras vezes o flop e o river.
Da mesma forma, se nossa mão é 6d-6c no mesmo flop Kh-7c-5s, podemos
rapidamente ver que esta mão não é forte o suficiente para betar nem duas streets de
valor. Isso porque betar duas vezes resulta em nosso oponente defendendo cerca de
28,5% de seu range de check no flop, e 6-6 perderão para praticamente todas as mãos
neste range. Então, ainda que não exista uma resposta clara, dar check behind com 6-6 no
flop ou betar flop e dar check na maioria dos turns são provavelmente as duas melhores
linhas disponíveis.
Em geral, problemas como este são melhor analisados com a ajuda de um software.
Muitos programas podem rapidamente calcular quão frequentemente um determinado
range terá certas mãos em uma textura específica de board, e isso torna a análise do jogo
pós-flop muito mais rápida que manualmente contando combinações de mãos.
Por último, embora o impacto de potenciais check-raises serão discutidos em mais
detalhes através desta seção e na seção seguinte, devemos começar a analisar a
importância disso agora. Vamos mais uma vez começar com um exemplo fácil, e assumir
que o vilão decida defender 50% de seu range de check no flop, só que agora, ao invés de
apenas dar check-call 50% do tempo, sua estratégia será ir de check-call 40% do tempo e
dar check-raise 10% do tempo.
A primeira coisa que devemos perceber é que a maioria do nosso range de value bet
no flop se transformará em bluff catcher 10% do tempo, quando o vilão der check-raise.
Lembre-se, o range de check-raise no flop é muito polarizado, e poucas mãos em nosso
range de value bet no flop serão mais fortes que seus check-raises por valor. Ter uma mão
forte transformada em bluff catcher é indesejável, e isso nos encoraja a betar menos
agressivamente no flop.
Além disso, nosso oponente agora está dando check-call com menos mãos, e isso faz
que seja mais difícil extrair valor quando betando mãos que não são o nuts. Em outras
palavras, muitas das mãos fracas que nosso oponente antes estava dando check-call no
flop agora estão sendo usadas como check-raise blefes. Isso torna o value bet mais difícil,
e nos encoraja a betar menos streets por valor.
O resultado final é que devemos betar menos agressivamente quando nosso oponente
está defendendo dando check-raise às vezes ao invés de sempre ir de check-call, assim
como considerar alterar o tamanho de nosso bet. Mais uma vez, estes conceitos serão
discutidos em muito mais detalhe nas seções futuras.
5.5 DECIDINDO QUAIS STREETS VALUE BETAR
Agora que temos uma noção de quão forte uma mão deve ser para betarmos duas ou
três streets de valor em posição, o próximo passo é determinar quais streets são melhores
para betar quando não queremos betar em todas as streets. Em outras palavras, ao invés
de betar o flop e turn e dar check no river, podemos, ao invés disso, decidir dar check no

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livro

flop e betar turn e river, e é importante entender o significado de cada linha.


Betar o flop com uma mão de força marginal tem várias desvantagens quando
comparado a dar check. Primeiro, torna o range do vilão muito mais forte no turn. Se ele
está indo de check-fold no flop entre 40 e 50% do tempo, todas as suas mãos mais fracas
que frequentemente possuem pouca mão de melhorar foldarão no flop. Além disso,
nossas mãos prontas de força mediana geralmente vão bem contra mãos no range de
check-fold do vilão, mas não vão bem contra seu range de check-call, que consiste de
muitos pares melhores.
Como discutido anteriormente, betar também dá ao oponente a oportunidade de dar
check-raise, e quando ele dá check-raise, qualquer mão que planejávamos betar duas
streets por valor se tornará um bluff catcher. Para tornar as coisas piores, esses bluff
catchers são geralmente pares médios, que possuem pouca probabilidade de melhorar e
vencer os check-raises por valor do vilão, e ao mesmo tempo seus check-raise blefes
ocasionalmente se tornarão a melhor mão. Então betar com mãos marginais em texturas
de board onde o vilão pode ir de check-raise é bastante arriscado.
Enquanto existem várias desvantagens em betar o flop com uma mão que conseguirá
extrair apenas duas streets de valor, betar o flop é útil para prevenir que o vilão realize a
equidade das mãos mais fracas em seu range. Os jogadores geralmente subestimam quão
significativo é permitir que o oponente veja free cards, e como mencionado
anteriormente, mesmo que ele tenha apenas duas overcards, isso geralmente significa
28% de equidade contra um par.
Então, embora existam vantagens tanto para dar check quanto para betar no flop em
posição com uma mão de força marginal, podemos criar uma regra para determinar quão
linha é superior.
Como um princípio geral, uma mão de força marginal deverá ser betada no flop
se ela for vulnerável a se tornar a segunda melhor mão contra mãos no range de
check-fold do vilão. Se a mão não for vulnerável contra o range de check-fold do
vilão, devemos ir de check no flop e value betar o turn e/ou o river.
Além disso, dando check com algumas mãos de força marginal no flop, é mais difícil
para o vilão imprudentemente blefar o turn após demonstrar fraqueza. Uma falha que
muitos jogadores novos possuem é que eles betam todas suas mãos fortes no flop e dão
check apenas com suas mãos mais fracas, e um jogador que joga desta forma pode ser
facilmente explorado.
Vamos considerar um exemplo onde betar o flop com uma mão de força marginal será
eficaz.
Suponha que damos raise no cutoff com 8d-8c, o big blind dá call e o flop vem 6h-4c-
4d.
Este é um ótimo spot para betar o flop, já que muitas mãos que possuem grande
equidade no range de check-fold do vilão, como 10h-9h e Qs-Js, deverão foldar para o
nosso bet no flop. Além disso, como as únicas mãos fortes no range do vilão são 6-6 e 4-
4, é improvável que enfrentemos um check-raise neste flop e tenhamos nossa mão
transformada em um bluff catcher. E como ele provavelmente não dará check-raise nesta
textura de flop, é melhor betar nas primeiras streets, para que o vilão seja incapaz de

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livro

realizar a equidade de suas mãos mais fracas.


Agora vamos tentar um exemplo onde dar check no flop com uma mão de força
marginal é a melhor estratégia. Suponha que damos raise em MP com K-K, e mais uma
vez o big blind dá call. Se o flop vier Ad-9d-6s, existe pouca razão para betarmos quando
o vilão der check. Enquanto é verdade que podemos betar para extrair valor de J-J, 10-10
e flush draws do vilão, estas mãos provavelmente podem gerar valor para nós nas streets
futuras quando ele der check-call ou betar. Além disso, as mãos que possuem maior
probabilidade de se tornarem a melhor mão no turn são os flush draws, mas ele não
foldará seus flush draws para um bet no flop, de qualquer forma. E por fim, betando
permitimos que o vilão seja bem-sucedido em dar check-raise com suas trincas e blefes.
Um dos aspectos mais interessantes desses princípios gerais é que eles demonstram
como às vezes uma mão mais fraca será betada por valor no flop enquanto uma mão mais
forte irá de check. Para nosso exemplo final, suponha que damos raise no button, o big
blind dá call, e o flop vem Ks-7c-3c. Aqui, faz pouco sentido betar com Q-Q, já que Q-Q
não temem dar free cards para a maior parte do range de check-fold do vilão. Ao mesmo
tempo faz sentido betar 8-8, já que provavelmente conseguiremos extrair duas streets de
valor de pares de 7 do vilão, assim como fazer foldar mãos que podem se tornar melhores
que a nossa no turn, como Qd-Js. E fazer Qd-Js foldar quando temos 8-8 é útil, já que
esta mão possui 26% de equidade contra nós, mas quando temos Q-Q, é ideal deixar o
vilão ver o turn e torcer para que ele melhore sua mão, já que ele está praticamente
drawing dead.
Mais uma vez, o exemplo anterior é especialmente significativo pois nos demonstra o
quanto mãos mais fortes às vezes serão jogadas de check, e mãos mais fracas serão value
betadas. Além disso, uma mão pode ser betada por mais de uma razão, e frequentemente
betaremos uma mão não apenas para extrair valor de mãos mais fracas, mas também para
fazer mãos de alta equidade foldarem.
5.6 BLEFANDO NO FLOP COM AS MÃOS CERTAS
Um dos aspectos mais complicados de jogar em posição no flop é que pode ser
tentador blefar imprudentemente em situações onde betar com quaisquer duas cartas é
lucrativo. Isso, entretanto, é problemático, já que precisamos dar check behind com
algumas mãos fracas no flop, que podem ser usadas como blefes nas streets futuras. Além
disso, se nunca dermos check behind com uma mão fraca, nosso range será bastante
transparente no turn, já que nosso range de check no flop consistirá quase inteiramente de
mãos marginais.
Vamos começar analisando que mãos geralmente são bons blefes no flop. Primeiro,
quando betamos o flop, nosso oponente foldará suas piores mãos em seu range de check,
e isso resulta em seu range se tornar mais forte no turn. Além disso, frequentemente
teremos a oportunidade de continuar betando o turn e o river, o que resultará no pote final
sendo grande e o range de showdown do nosso oponente sendo forte.
Como betar o flop torna o range de nosso oponente no turn mais forte, queremos
blefar com mãos que retenham bem sua equidade contra um range forte. Por exemplo,
importa pouco se uma broca está enfrentando um range forte ou fraco, já que terá a
mesma quantidade de equidade em qualquer das duas situações. Mais especificamente, a

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livro

broca geralmente precisa melhorar para um straight para se tornar a melhor mão, e assim
que isso acontecer, geralmente será o nuts e vencerá no showdown não importa quão
forte seja o range de nosso oponente.
Aqui está um exemplo de um ótimo spot para blefe. Damos raise no button com 8h-
7h, o big blind dá call, e o flop vem Ac-6h-2d.
Embora seja improvável que nossa mão se torne a melhor mão no turn, betaremos
novamente se conseguirmos um flush ou straight draw no turn, e assim potencialmente
poderemos fazer uma mão muito forte no river. Além disso, nossa mão não tem valor de
showdown se ela não melhorar, assim sempre que o oponente foldar, ele quase sempre
estará foldando a melhor mão.
Como mencionado anteriormente, um bet em posição no flop geralmente fará o nosso
oponente foldar as mãos mais fracas de seu range de check no flop – entre 40 e 50%.
Como essas mãos foldam para um bet, devemos estar menos inclinados a blefar com
mãos que vão bem contra esta parte do range de nosso oponente. Em outras palavras, se
nossa mão for particularmente bem contra mãos no range de check-fold do nosso
oponente, devemos estar mais inclinados a dar check behind e manter estas mãos em seu
range. Além disso, como betar o flop torna o range de nosso oponente mais forte no turn,
não queremos blefar com mãos que não possuem o potencial de se tornarem mãos fortes
no river.
Vamos voltar ao exemplo onde demos raise no button, o big blind deu call, e o flop foi
Ac-6h-2d, mas agora imaginemos que nossa mão é Kd-Qc. Enquanto betar K-Q é
provavelmente lucrativo já que o nosso oponente pode não defender o suficiente para que
betemos lucrativamente quaisquer duas cartas, nossa mão não retém bem sua equidade
enquanto o range do vilão se torna mais forte. Além disso, as mãos que o oponente
foldará para um bet no flop, tais como K-10 ou Q-J, são mãos que estamos vencendo e
que melhorarão em muitos turns que melhoram também a nossa mão. Então, neste caso,
se dermos check behind com K-Q neste flop e o turn vier Q, provavelmente extrairemos
valor quando o nosso oponente tiver Q-J ou Q-10. Portanto, neste spot, dar check é
provavalmente superior a betar, mesmo que tenhamos que usar nossa mão como blefe em
streets futuras.
5.7 DANDO CHECK BEHIND COM UMA MÃO FORTE
Como dar check behind em posição efetivamente remove uma street do jogo, é
raramente desejável fazer isto com uma mão forte. Mesmo assim, dar check behind com
uma mão forte é ideal quando não existe muito valor em betar, e dar free cards ao range
de check do oponente não é arriscado.
Aqui está um exemplo. Damos raise em MP com Q-Q e o big blind dá call. Faz
sentido dar check se o flop vier Qd-7c-3h.
Isto porque nosso oponente não dará call em um bet em todas as três streets a não ser
que ele possua top pair ou melhor, mas quando temos a top trinca bloqueamos dois terços
de todas as combinações possíveis de top pair. Além disso, ele provavelmente não terá
um range de check-raise neste flop, então não precisamos nos preocupar em perder valor
de seus check-raise blefes. Então nesta situação, a jogada provavelmente mais lucrativa é
dar check no flop e esperar que ele comece a blefar no turn.

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livro

Dar check behind com mãos fortes também pode fazer sentido se existem muitos turn
e rivers que não colocam quase nenhuma mão forte em nosso range. Isso porque nosso
oponente às vezes deve overbetar o turn e river quando é possível que não estejamos
fortes. Enquanto dar check behind é arriscado em texturas de board onde muitos turns e
rivers possam melhorar a mão do nosso oponente, pode valer a pena se formos
suficientemente recompensados quando ele overbetar mãos mais fracas em streets
futuras.
Por exemplo, suponha que damos raise no button e o big blind dê call. Se o flop vier
10s-9s-5c e nós nunca dermos check behind com nenhuma mão forte, nosso oponente
deverá fazer apostas grandes com mãos como A-10 e K-10 se o turn vier 2d. Isto é, o
vilão não deverá ter medo de overbetar estas mãos quando não existem quase nenhuma
mão forte em nosso range.
Na verdade, dar check behind com mãos fortes em boards molhados como o
mencionado acima apenas será justificável contra excelentes oponentes, que sejam
capazes de overbetar frequentemente. Contra jogadores típicos que não sejam capazes
desta tática em turns que sejam blanks, será melhor value betarmos o flop e esperar que
ele dê check-call ou check-raises. Em outras palavras, é importante entender por que, em
teoria, faz sentido ocasionalmente dar check behind com mãos fortes em texturas
molhadas de board, mas explorativamente será uma jogada ruim contra a maioria dos
oponentes.
5.8 ENFRENTANDO UM CHECK-RAISE NO FLOP
Também precisamos nos assegurar de que estamos defendendo agressivamente o
suficiente contra os check-raises, bets no turn e bets no river do oponente, para que ele
não possa lucrativamente dar raise ou betar com quaisquer duas cartas. A matemática para
isso é quase exatamente igual a que descrevemos no capítulo “A Força Necessária de
uma Mão para dar Raise por Valor com uma Mão Pronta”, na parte 4, “Enfrentando um
Bet no Flop em Posição”.
Naquele capítulo, vimos quão frequentemente nosso oponente precisava se defender
contra nossos raises no flop, bets no turn e bets no river para prevenir que pudéssemos
lucrativamente dar raise ou betar com quaisquer duas cartas. O mesmo exato conceito
está presente aqui, mas agora nós somos o jogador que está defendendo contra um raise
ou bet.
Como vimos anteriormente, se nosso oponente dá um check-raise de 6 para 18 BB em
um pote de 8 BB, provavelmente vamos querer defender cerca de metade do nosso range
de bet no flop. Isso porque mesmo que seu check-raise no flop seja caro, seus blefes às
vezes melhorarão no turn ou no river depois que dermos call. Da mesma forma, como os
bets no turn e no river do oponente serão de cerca de 64% do pote, provavelmente vamos
querer dar call aproximadamente 67 e 63% do tempo no turn e no river, respectivamente.
Se dermos call no raise do vilão no flop 50% do tempo, em seu bet no turn 67% do
tempo e em seu bet no river 63% do tempo, então 21% do nosso range de bet no flop
deve dar call em todas as três streets.
0,21 = (0,50)(0,67)(0,63)
Embora não existam novos conceitos aqui, devemos perceber alguns dos aspectos

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importantes de dar call nas três streets contra um check-raise no flop. Primeiro, não
precisaremos dar call até o fim com todas as mãos em nosso range de value bet, embora
isso dependa de quão forte são nossos value bets no flop – é provável que entre 30 e 40%
de nossos bets no flop sejam de mãos de valor. Além do mais, neste exemplo, só daremos
call até o river com 21% de nosso range de bet no flop, então muitos de nossos value bets
no flop serão foldados no turn ou river.
Mesmo assim, apesar do fato de que dar call em todas as três streets com muitas das
nossas mãos de valor no flop não seja necessário, geralmente teremos que dar call no
check-raise do vilão no flop com alguns blefes, além das nossas mãos de valor. Isso
porque precisamos defender 50% do nosso range de bet no flop contra um check-raise,
mas é improvável que metade do nosso range de bet consista de mãos de valor ou draws.
Portanto, algumas das mãos que deverão ser usadas para defender serão incomumente
fracas. Jogadores geralmente se referem a defender com essas mãos dando call, como um
“float”. E se nunca floatarmos o flop, nosso oponente será capaz de blefar dando check-
raise lucrativamente com quaisquer duas cartas.
Floatar com algumas mãos no flop contra o check-raise do nosso oponente geralmente
não é problemático por duas razões principais. A primeira é que ainda existe duas streets
para agir, então teremos a oportunidade de blefar nossa mão novamente no turn ou river
se o vilão der check e não melhorarmos. A segunda razão é que muitos blefes no flop
também possuem alguns valor de showdown, especialmente contra os check-raise blefes
do oponente.
Aqui está um exemplo. Ad-Qh está à frente da maioria dos blefes do vilão no flop Kc-
10s-4d.Portanto, se dermos call no check-raise no flop e o turn e o river sejam blanks, dar
check com A-Q e tentar vencer no showdown é uma opção razoável. Também devemos
aceitar que alguns bluff catchers terão que ser jogados de call nas três streets contra um
jogador ótimo. Embora seja indesejável ser colocado em um spot onde estamos em ponto
de equilíbrio (break even) no river depois de já ter investido tanto dinheiro no pote,
infelizmente isso é inevitável. Entretanto, é importante se lembrar de que mesmo se a
maioria do nosso range for de bluff catchers depois do check-raise e os bets em várias
streets do nosso oponente, ele não conseguirá utilizar esta linha frequentemente e ainda se
manter balanceado. Em outras palavras, o vilão não terá muitas mãos fortes o suficiente
para dar check-raise por valor no flop, e se ele der check-raise muito frequentemente, seu
range incluirá blefes demais.
Além disso, é melhor enfatizar dar call com draws que podem melhorar contra o
range de value bet do oponente, mesmo que eles tenham menos equidade contra o range
inteiro de check-raise do vilão. Lembre-se, simplesmente ter mais equidade não torna
uma mão melhor, e mãos que são capazes de formar o nuts no turn ou river são
particularmente úteis de se ter em nosso range de call.
Entretanto, algumas mãos de força medíocre ainda devem ser jogadas de call para que
possamos dar check behind e vencer no showdown se o oponente der check. Se draws
demais e poucas mãos prontas forem jogadas de call, frequentemente não será possível
blefar todos os missed draws no turn ou river se o oponente der check. Portanto, dar call
com mãos especulativas demais, e poucas mãos prontas de força marginal causará

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problemas para nosso range inteiro.


Outra estratégia a considerar ocasionalmente é 3-betar o flop. Dar flat call no check-
raise requer que arrisquemos mais 12 BB para ganhar as 32 BB que já estão no pote, o
que é um bom preço, e que requer que o nosso oponente continue betando em uma alta
frequência. Além disso, estamos em posição e o range de check-raise do vilão no flop é
muito polarizado. Então devemos defender a maior parte do nosso range de bet no flop
simplesmente dando call quando enfrentando um check-raise.
Mesmo assim, devemos geralmente 3-betar o flop com mãos muito fortes que são
vulneráveis a se tornarem a segunda melhor mão contra os blefes do vilão. Por exemplo,
faz sentido 3-betar uma mão como 10h-10c no flop Js-10s-6c, já que o range de check-
raise do vilão inclui muitas brocas e mãos que podem fazer flush runner-runner. Além
disso, se de fato tivermos um range de 3-bet, ele deve, claro, ser balanceado com raises
por valor e blefes.
5.9 O PROCESSO DE PENSAMENTO PARA DECIDIR ENTRE O BET OU
CHECK EM POSIÇÃO
Vamos agora considerar um processo sólido de pensamento para decidir se betamos
ou damos check após o check do nosso oponente. Enquanto isso, infelizmente, envolve
um processo de pensamento mais longo e mais difícil que quando enfrentando um bet, ele
rapidamente melhorará com a prática.
Pergunta nº 1: Como se tornará o range de call do nosso oponente quando betarmos
as três streets?
Resposta: Nosso oponente tipicamente dará call até o river com pelo menos 16% de
seu range de check no flop se ele enfrentar três bets, e geralmente defenderá dando call
ao invés de dar raise (embora a porcentagem exata mude baseada na textura do board).
Isso pode ser usado para determinar quão forte uma mão precisa ser para ser value betada
em todas as três streets.
Em boards secos com pelos menos uma carta alta, como o flop Kc-7s-2d, esta
pergunta será bem fácil de se responder, já que não é provável que muitas mãos mudem
de força no turn e river. Mas em texturas de boards molhados, onde mãos mudarão de
força em muitos turns e rivers, como 10h-9h-3c, esta pergunta frequentemente será mais
difícil de se responder. Mesmo assim, geralmente começaremos betando nossas mãos
fortes e continuaremos betando em turns e rivers que sejam favoráveis.
Pergunta nº 2: Em quais streets devemos betar com mãos que devem ser betadas por
valor em apenas uma ou duas streets?
Resposta: Como discutido anteriormente, devemos seguir a regra geral de que uma
mão pronta de força marginal deve ser betada no flop se ela for vulnerável a se tornar a
segunda melhor mão contra mãos do range de check-fold do oponente. Mas se a mão
provavelmente não for vulnerável contra o range de check-fold do vilão, a melhor
estratégia é dar check no flop e então value betar o turn e/ou o river se o vilão der check
novamente.
Em geral, em boards com pelo menos uma carta alta, é geralmente fácil dar check
behind no flop com mãos de força marginal, já que dar uma free card não é especialmente
arriscado. Por exemplo, quando temos uma mão de força marginal no flop Kc-8s-3h,

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como um par fraco de reis, Q-Q ou J-J, é provavelmente melhor dar check.
Em contraste, em texturas de board mais baixos e conectados, como o flop 9h-7h-3c,
as mãos que geralmente são capazes de betar apenas uma ou duas streets de valor devem,
de preferência, começar a betar no flop. Isso porque muitas mãos no range de check-fold
do oponente geralmente terão uma quantidade significativa de equidade contra mãos
prontas de força marginal. Entretanto, devemos estar cientes de que betar muitas mãos de
força marginal no flop nos tornará vulneráveis a check-raises, então mesmo boards
molhados não devem ser imprudentemente betados quando em posição.
Pergunta nº 3: Com cerca de quantas mãos precisamos blefar para que nosso range
de bet esteja balanceado? Quais mãos funcionam melhor como blefes?
Resposta: Em geral, devemos betar entre 2,5 e 3 blefes para cada mão muito forte que
value betarmos no flop, e betar 1 blefe para cada value bet com mãos marginalmente
fortes. Isso porque mãos marginalmente fortes provavelmente não serão capazes de value
betar todas as três streets, então nossa relação entre bet por blefe e bet por valor deve
diminuir. Estas estimativas são úteis para tentar adicionar a quantidade correta de blefes
ao nosso range de bet, para que nosso oponente esteja próximo a ser indiferente a dar call
com muitas mãos prontas de força marginal.
Enquanto ranges amplos, como o range de raise do button, deve ser difícil de se
balancear rapidamento enquanto jogando, praticando fora das mesas podemos adquirir
um feeling de quão agressivamente devemos betar em diferentes situações. Afinal,
mesmo que nosso ranges não sejam perfeitos (e eles não serão), se nosso jogo estiver
mais próximo ao jogo teoricamente ótimo que o jogo do nosso oponente, ainda
ganharemos dinheiro a longo prazo.
Geralmente também é bastante fácil identificar quais mãos funcionam melhor como
blefes, já que estas são as mãos que possuem pouco valor de showdown mas retém bem
sua equidade à medida que o range do oponente se torna mais forte. Além disso, como o
nosso range de bet no flop geralmente possui muitas mãos fortes e blefes que podem
melhorar em uma variedade de turns, frequentemente não é difícil continuar betando
agressivamente depois que nosso oponente der call em nosso bet no flop.
5.10 EXEMPLO DE COMO BALANCEAR UM BET NO FLOP EM POSIÇÃO
Agora estamos prontos para balancear um range de bet no flop depois que o oponente
dá check, e nós estamos em posição. Vamos supor que o MP dá raise e damos flat call no
button com um range de JJ-33, AKo-AQo, AQs-ATs, KQs-KTs, QJs-QTs, JTs-J9s, T9s,
98s, 87s, 76s, 65s, 54s, e vamos também supor que o nosso size de bet será sempre de
75% do pote.
Flop: Qh-8c-6s
Total de Combos: 125
Value Bet: AQ (12), 88 (3), 66 (3) = 18
Bet por Blefe: 77 (6), 55-44 (12), 76s (3), 65s (3), JTs (4), J9s (4), T9s (4), KJs (4),
AJs (4), ATs (4), KTs (4) = 52
Total de Mãos Betadas: 70
Frequência de Bet: 56%
Perceba que estamos dando check com várias mãos no flop, como K-Q e Q-Js, que

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seriam bets altamente lucrativos. Isso porque estas mãos provavelmente são mais
lucrativas como check que como bets, e queremos em nosso range de check algumas
mãos que possam dar call em bets do vilão no turn ou value betar se ele der check. Além
disso, receber um check-raise com top pair e um kicker bom é terrível, e dar check evita
isso.
Perceba também que o flop não está sendo imprudentemente betado como fazem
jogadores que betam todas as mãos exceto seus pares de força média. Mais
especificamente, betar todas as mãos exceto QJs, QTs, e JJ-99 resulta em uma frequência
de bet no flop de cerca de 80%. Consequentemente, isso torna fácil para nosso oponente
nos explorar dando check-raise em uma alta frequência. Além do mais, se betarmos todas
as nossas mãos fracas no flop, não haverão mãos para blefarmos no turn quando
começaríamos a value betar K-Q e Q-Js. Então, ao contrário, value betamos o flop com
mãos fortes o suficiente para betar várias streets por valor e enfatizamos blefar com mãos
que retenham sua equidade contra o range de call do nosso oponente.
Com os ranges acima, estamos betando, no flop, 56% do tempo após o oponente em
MP dar check. Nesta situação, esta é provavelmente uma frequência de bet razoável, já
que o nosso range de flat call no button acerta bem esta textura de board, e temos a
vantagem da posição. Então betar um pouco mais que metade do tempo previne que os
check-raises do oponente sejam muito eficientes, além do que betar nesta frequência não
permite que ele constantemente veja free cards com seu range de check.
Como os nossos bets por valor no flop são tão fortes e estamos em posição, devemos
provavelmente usar um relação de bets por blefe para bets por valor de pouco menos que
3-para-1. Isto é verdadeiro apesar de ter muitos blefes em nosso range de bet no flop. Se
o oponente decidir dar call até o river, nosso range de bet será balanceado no river, já que
muitos dos nosso blefes terão melhorado ou ter jogado de check-fold no turn ou river.
Além disso, se o nosso oponente dá check-raise no flop e beta o turn e o river, a pior mão
com a qual precisaremos dar call até o river será A-Q, que é bem forte.
Por último, devemos reconhecer que, embora este range de bet parece bom e
balanceado, este não é um range teoricamente ótimo. Afinal, em teoria não usaríamos
apenas um size de bet no flop, e betar menor com um range que inclua muitas mãos de
valor mais fraco, como K-Q, pode ser melhor que dar check com todas elas. Mesmo
assim, as relações entre blefe e valor e as frequências que discutimos anteriormente ainda
se provam bastante úteis.
5.11 RESUMO
Enfrentar um check em posição no flop pode ser difícil já que não existe um ponto
claro de início. Portanto, é crucial entender qual objetivo um value bet deve atingir, se ele
faz mãos com alta equidade foldar, extrair valor de mãos piores, ou ambos. Além disso,
imprudentemente betar mãos simplesmente porque elas podem receber calls de mãos
piores resultará nos check-raises do vilão sendo muito eficientes, e nosso range de check
sendo muito fraco.
Consequentemente, é importante nem sempre blefar o flop apenas porque betar
quaisquer duas cartas seja lucrativo. Em outras palavras, algumas mãos fracas devem ser
jogadas de check em streets futuras. Mais especificamente, blefes que retenham bem sua

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equidade devem ser blefados nas primeiras streets, enquanto checks devem ser
considerados com mãos que possuam algum valor de showdown.
E para finalizar este capítulo, aqui estão alguns pontos resumindo as ideias
importantes na parte 5, “Betar ou Dar Check em Posição”.
Em posição, nosso value bets no flop geralmente devem ser capaz de betar duas ou
três streets por valor. Isso previne que nosso oponente tenha a oportunidade de betar
sabendo que é improvável que estejamos fortes.
Geralmente queremos blefar com mãos que possuam pouco valor de showdown mas
que retenham sua equidade contra o range de call do oponente.
1) Em posição, geralmente é lucrativo betar com quaisquer duas cartas no flop.
Entretanto, imprudentemente betar uma mão simplesmente por possuir uma
expectativa positiva não é necessariamente a forma mais lucrativa de se jogar.
2) Betar entre 2,5 e 3 blefes no flop para cada value bet forte em posição é
provavelmente um bom princípio básico.
3) Betar apenas o flop por valor em posição geralmente é uma linha indesejada, já
que ela permite que o nosso oponente bete um range balanceado no river e
transforme a maior parte das nossas mãos em bluff catchers.
4) Betar o flop com a intenção de betar o turn e dar check no river é uma forte jogada
em posição. Isto é verdade especialmente se nossa mão for vulnerável a se tornar a
segunda melhor mão contra o range de check-fold do oponente. Mas se nossa mão
não for vulnerável a se tornar a segunda melhor mão, frequentemente é melhor dar
check no flop e betar as streets futuras.
5) Um oponente razoável geralmente dará call até o river com pelo menos 16% de
seu range de check no flop se ele enfrentar um bet de 75% do pote em cada street,
e defender apenas dando call. E se betarmos apenas duas streets por valor,
geralmente ele defenderá pelo menos 29% de seu range de check no flop.
6) Somos capazes de foldar cerca de 50% do tempo contra o check-raise do oponente
no flop. Defender dando call geralmente é mais eficaz, já que mantém seu range
amplo e requer que ele frequentemente bete o turn.

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livro

CHAPTER SIX
Capítulo 6: Betar ou dar check em posição

Capítulo 6:
Jogo no Flop fora de posição

INTRODUÇÃO
O jogo no flop fora de posição é um tópico intimidador para jogadores de
praticamente todos os níveis de habilidade. Como os ranges são amplos no flop,
iniciantes, principalmente, lutam para levar em conta todas as diferentes mãos no range
de cada jogador, e para determinar de quem é o range mais forte. Isso torna arranhar a
superfície do jogo no flop fora de posição algo assustador.
Pelo contrário, jogadores experientes sabem quão difícil é analisar e construir
modelos em situações no flop, já que ainda existem cartas adicionais para vir. Isto é
verdade para o jogo pré-flop também, mas como não existem cartas comunitárias, as
estratégias pré-flop genéricas podem ser memorizadas e aplicadas com pouco esforço.
Mas no flop, como não existe um excelente ponto de início para determinar se devemos
betar ou dar check quando fora de posição, é fácil betar ou dar check com um range
desbalanceado sem se dar conta disso, e isto é especialmente problemático quando fora
de posição. Isso porque um oponente astuto frequentemente betará ou dará raise para
fazer com que seja difícil realizarmos a equidade de nossa mão em um range
desbalanceado.
Portanto, é importante entender os conceitos teóricos implícitos por trás do jogo no
flop fora de posição, mesmo que simplesmente entendê-los não fará automaticamente de
você um grande jogador. Como na maioria dos jogos competitivos, o poker requer que
decisões sejam tomadas em um espaço limitado de tempo, e os fatores implícitos que
determinam a melhor decisão podem ser bastante complexos. Então, ao mesmo tempo em
que é importante entender a teoria por trás do jogo fora de posição no flop, muita prática
é necessária para se tornar um excelente jogador.
O BLOQUEIO MENTAL DE BETAR COMO O RAISER PRÉ-FLOP
Quando discutindo jogo no flop em posição, eu intencionalmente me abstive de
afirmar se éramos o raiser pré-flop ou o jogador que deu call. Provavelmente uma das
maiores e mais comuns falhas que mesmo jogadores bem-sucedidos cometem é que eles
quase sempre betam como o raiser pré-flop, e quando fora de posição dão check quando
são o jogador que deu call pré-flop. Isso é feito com pouca consideração a qual jogador

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livro

de fato possui o range mais forte ou quão valiosa é a posição. Inclusive, tomar a iniciativa
betando fora de posição após dar flat call pré-flop é chamado de “donk bet”, o que por si
só deixa implícito que não é uma linha frequentemente utilizada por jogadores fortes.
Como veremos, um jogador forte não deve betar em uma alta frequência
simplesmente por ser o raiser pré-flop e ter a iniciativa. Da mesma forma, o jogador que
deu call fora de posição não deve temer utilizar o donk bet em texturas de flop que
favoreçam seu range. No entanto, como esses leaks são tão comuns, vamos brevemente
discutir por que este é o caso antes de tentarmos consertá-los.
Uma razão pela qual esses leaks existem é que muitos jogadores perceberam que é
frequentemente correto betar o flop se eles fossem o raiser pré-flop, e começaram a betar
o flop em excesso. E como o raiser pré-flop geralmente beta o flop, fazia pouco sentido
para o jogador que deu call donk betar uma mão forte fora de posição, pois um check-
raise provavelmente seria bem-sucedido.
Então por que betar sempre pareceu funcionar? Imagine-se jogando um jogo 10-
handed, onde existem 3 jogadores tights, 3 jogadores loose, e 3 jogadores medianos.
Após dar raise do UTG, é mais provável que recebamos um call de um jogador loose com
um range fraco que de um jogador tight com um range forte. Portanto, faz sentido para
nós betar o flop, já que nosso range é provavelmente mais forte que o do nosso oponente.
Enquanto isso está longe do poker teoricamente correto, provavelmente é uma
representação razoável de como o jogo era jogado vários anos atrás (e ainda amplamente
jogado no poker live). A estratégia de constantemente c-betar o flop em potes heads-up
provavelmente gerava lucro, especialmente contra jogadores fracos. Em outras palavras,
este conselho provavelmente ajudava a vencer os jogos no passado. Mas regras como esta
são ruins de uma perspectiva teórica, e farão com que percamos contra oponentes fortes e
não vençamos tanto quanto deveríamos contra oponentes fracos.
Outra razão pela qual jogadores geralmente não irão de lead após dar flat call pré-flop
é que é difícil balancear tanto um range de bet flop quanto um range de check quando
fora de posição. Na verdade, balancear múltiplos ranges quando fora de posição é
provavelmente o segundo aspecto mais difícil de dominar no No Limit Hold’em (o
primeiro sendo size de bets), e muitos jogadores não estão dispostos a investir o tempo
necessário para desenvolver esta habilidade.
Por último, não deve ser surpreendente que os jogadores que são capazes de donk
betar e ao mesmo tempo efetivamente defender seus checks como raiser pré-flop
geralmente não estão dispostos a discutir essas habilidades. Isso porque dominar essa
habilidade é uma arma tão valiosa que faz pouco sentido encorajar outros jogadores a
também desenvolvê-la. E quando o jogador domina esta habilidade, ele provavelmente já
está no estágio de sua carreira no poker onde a maior parte do seu aprendizado vem da
análise de seu próprio jogo ao invés de aprender diretamente dos outros.
Então vamos começar utilizando uma abordagem analítica para melhorar nosso jogo
quando fora de posição. Para começar, vamos analisar a força relativa das mãos tanto do
raiser pré-flop quanto do jogador que deu call, em algumas texturas de board, utilizando
os ranges do “Quadro Recomendado de Mãos”, na parte 2, “Jogo Pré-Flop”.
ANÁLISE DE RANGES NO FLOP

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Raise de MP no flop Kc-10c-4d: Overpair+ 8,6%; Top pair, top kicker+ 14,3%; flush
draw 7,6%.
Flat Call do Button vs. Raise de MP: Overpair+ 7,2%; top pair, top kicker+ 14,4%;
flush draw 7,2%
Equidade Total no Flop: MP = 49,9%, Button = 50,1%
Raise de MP no flop Ah-6c-3s: Top pair, top kicker+ 10,2%; top pair 33,5%; par
médio+ 58,3%
Flat Call do Button vs. Raise de MP: Top pair, top kicker+ 12,0%; top pair 26,4%;
par médio+ 55,2%
Equidade Total no Flop: MP = 52,5%, Button = 47,5%
Raise de MP no flop 10c-8d-4d: Overpair+ 16,4%; top pair+ 27,6%, flush draw
8,9%
Flat Call do Button vs. Raise de MP: Overpair+ 12,0%; top pair+ 24,0%, flush draw
10,4%
Equidade Total no Flop: MP = 49,0%, Button = 51,0%
Como podemos ver, a força tanto do range de raise pré-flop quanto do range de flat
call são comparáveis em todas as texturas de flop acima. Inclusive, no exemplo de MP vs.
button no flop Ah-6c-3s, o range do button tem as melhores mãos de top pair e possui o
range mais forte, apesar de ter menos equidade. E ainda assim muitos jogadores
vencedores provavelmente concordariam que eles estão acostumados a quase sempre
betar quando eles são o raiser pré-flop, especialmente em um board seco com uma carta
alta, como Ah-6c-3s.
Então a conclusão é que no poker ótimo não importa quem deu raise pré-flop e tem a
iniciativa, e contra oponentes fortes também não deveríamos nos importar. Tudo o que
importa é o estado atual do jogo. Isso inclui qual o range de cada jogador, quem está em
posição, e quanta profundidade de stack resta em relação ao tamanho do pote.
ANALISANDO O QUANTO A POSIÇÃO É IMPORTANTE NO FLOP
Embora o valor exato da posição seja impossível de quantificar, existem algumas
texturas de board onde estar em posição é extremamente valioso e outras onde isso não é
nem de perto tão importante. Este conceito pode ser melhor ilustrado imaginando
primeiramente um exemplo extremo.
Quando tentando descobrir qual fração dos nossos bets no flop em posição devem ser
por valor, começamos com um exemplo simples quando presumimos que nosso range era
perfeitamente polarizado. Nesta situação, devemos sempre betar flop, turn e river com a
proporção correta de value bets e blefes em cada street para tornar o oponente indiferente
a dar call. Como nosso range era perfeitamente polarizado, nosso oponente nunca podia
prevenir que realizássemos nossa equidade, e por isso, não fazia sentido nunca para ele
betar com seus bluff catchers.
Em outras palavras, como nosso oponente sempre dará check quando tivermos um
range perfeitamente polarizado (não nos dando nenhuma nova informação) e nenhum
jogador pode melhorar com free cards, não importa quem está em posição quando um
jogador possui um range perfeitamente polarizado. Mais especificamente, quando o
range de um jogador é perfeitamente polarizado, posição não possui valor. Isto é, com

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um range perfeitamente polarizado, devemos blefar a mesma quantidade de mãos no flop,


turn e river, independentemente de quem estiver em posição.
Na verdade, nenhum jogador terá um range perfeitamente polarizado no flop, mas
existem situações onde o range de bet funciona mais similarmente a um range
perfeitamente polarizado que em outras. Isto ocorre quando mãos de value bet
improvavelmente se tornarão a segunda melhor mão contra mãos mais fracas, e blefes
muito improvavelmente melhorarão.
Aqui está um exemplo. Quando um jogador beta no flop Kc-3s-3d, geralmente ele
estará betando um range muito polarizado. Além disso, jogadores raramente betam mãos
com a intenção de betar apenas uma ou duas streets de valor nesta textura de board
(embora isto aconteça), e é improvável que a melhor mão se torne a segunda melhor mão
contra uma mão mais fraca no turn ou no river. Consequentemente, se um jogador der
check-call no flop, eles quase sempre dará check no turn, já que o range do jogador que
está betando permanece polarizado.
Como cartas adicionais improvavelmente farão com que a melhor mão se torne a
segunda melhor mão, a maioria dos jogadores provavelmente se sentem razoavelmente
confortáveis jogando fora de posição no flop Kc-3s-3d. Mais especificamente, é fácil ir
de check-call com top pair fracos e pares médios fortes já que poucas overcards podem
vir no turn ou no river. Além disso, como um jogador que vai de check-call no flop quase
sempre dará check no turn, o jogador que beta no flop não ganha informação adicional
sobre o range de seu oponente.
Por outro lado, posição é mais valiosa em texturas de board onde mãos fracas podem
se tornar melhores que mãos fortes no turn e river. Isso porque o jogador em posição
sempre tem a primeira oportunidade de terminar a ação e ver uma carta adicional. Isso
permite a ele manipular mais efetivamente o tamanho do pote e realizar a equidade de
suas mãos. Em outras palavras, posição é mais valiosa em texturas de flop onde o turn
provavelmente mudará a força de muitas mãos no range de cada jogador.
Muitas texturas de board, como quando o flop vem Js-10s-4c, que favorecem
grandemente o jogador em posição, são bem conhecidas tanto por jogadores fracos
quanto por jogadores fortes. Nesta textura de flop, quase qualquer blefe possui pelo
menos uma overcard ou algum tipo de straight draw. Isso significa que mesmo as mãos
mais fortes no flop são vulneráveis a se tornarem a segunda melhor mão no turn. Assim, o
jogador em posição realizará a equidade de suas mãos de força média e draws muito mais
facilmente que o jogador fora de posição.
Outras texturas de board onde a posição é especialmente valiosa não são nem de perto
tão bem conhecidas já que cartas adicionais, a princípio, não parecem tão ameaçadoras.
Um erro comum que jogadores cometem é que eles assumem que um board seco – uma
textura de board com poucos ou nenhum draw possíveis – significa que permitir que os
blefes do oponente vejam free cards não é arriscado. O fato de que existem geralmente
poucas mãos fortes que não temem dar free cards, como trincas, em texturas de board
secas, encoraja os jogadores a pensar desta forma.
Na verdade, texturas de board com cartas baixas tendem a favorecer grandemente o
jogador em posição, já que quase todo blefe possui overcards, e fazer top pair no turn ou

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river geralmente será bom o suficiente para vencer no showdown. Em outras palavras, é
quase como se mãos com duas overcards fossem draws com 6 outs em texturas de board
com cartas baixas. Consequentemente, texturas de board com cartas baixas funcionam
similarmente a texturas de board molhadas, já que as mãos mais fracas tanto no range de
bet quanto no range de call possuem uma quantidade considerável de equidade.
Para ilustrar isso, imagine que damos raise no cutoff e o button dá call. Se o flop vier
7s-5c-2h, quase qualquer turn melhorará algumas mãos no nosso range e no range do
nosso oponente. Isto é, cerca de 57% dos turn serão overcards, e não existem mãos no
flop que não terão uma quantidade razoável de equidade.
Além disso, posição é particularmente valiosa no flop 7s-5c-2h pois é difícil para nós
betar o flop e o turn por valor com uma mão de força marginal jogando fora de posição.
Isto porque nosso oponente terá a oportunidade de blefar depois que dermos check no
river e nossas mãos de força marginal se tornarão bluff catchers. Isso torna jogar com
mãos de força média como 9-9, 8-8, e pares de 7 difícil. Entretanto, jogar de check-call
com mãos de força média também não é ideal pois elas frequentemente se tornarão a
segunda melhor mão no turn e river contra os blefes do oponente.
Isso nos traz à seguinte regra:
Quanto mais difícil for jogar de check-call em uma textura de flop quando fora
de posição, mais valiosa geralmente será a posição.
Perceba que estas são as texturas de board onde dar uma free card é arriscado, e as
mãos de força marginal que tipicamente irão querer ir de check-call geralmente se
tornarão a segunda melhor mão no turn ou river.
Abaixo estão alguns exemplos de texturas de flop juntamente com uma rápida
descrição de por que a posição é ou não é particularmente valiosa. Para melhor visualizar
algumas mãos no range de cada jogador, assuma que damos raise no cutoff e apenas o
button dê call.
Flop nº 1: Qc-6h-2h. Posição não é particularmente valiosa nesta textura de board
pois existem muitas mãos com pouca equidade em nosso range e no range do oponente.
Isso torna fácil jogar de check-call com top pairs e pares médios já que existem tão
poucas overcards que podem vir no turn. Enquanto nossos pares fortes às vezes perderão
para flush draws, a maior parte das mãos que terá uma chance razoável de fazer um flush
até o river não foldarão para um bet no flop, de qualquer forma.
Flop nº 2: 9h-5h-3c. Esta textura de board é tanto seca quanto molhada, então
posição é extremamente valiosa. É também difícil jogar de check-call nesta textura de
flop, já que mãos que querem chegar ao showdown sem betar as três streets, como par de
noves ou 8-8, são as mesmas mãos que são extremamente vulneráveis a se tornarem a
segunda melhor mão contra overcards.
Flop nº 3: Qc-Jd-6s. Ao contrário do que muitos jogadores acreditam, posição não é
particularmente importante nesta textura de flop. É fácil jogar de check-call com par de
damas ou valetes já que o oponente frequentemente betará mãos com pouca equidade,
que improvavelmente melhorarão. Além disso, o flop pode ser jogado de check-raise
ocasionalmente, para prevenir que o oponente bete imprudentemente.
Flop nº 4: 7c-2d-2s. Como discutido anteriormente, posição é mais valiosa que os

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jogadores pensam em texturas de board secas e com cartas baixas. Dar check-call com
mãos prontas de força marginal é difícil já que elas frequentemente se tornarão a segunda
melhor mão no turn ou river, mas neste spot mãos fortes podem ser jogadas de slowplay,
e de check-raise em uma street futura.
Flop nº 5: 7h-6h-4c. Esta textura de flop é um absoluto pesadelo de se jogar fora de
posição. É difícil desenvolver um range de check-call já que dar check-call com uma mão
extremamente forte (como uma trinca) é arriscado. Entretanto, se nunca dermos check-
call com uma mão forte, nosso oponente pode agressivamente overbetar em muitos turns
e rivers.
Além do mais, as mãos de força marginal que jogam de check-call no flop
frequentemente se tornarão a segunda melhor mão nas streets futuras. Além disso, se o
nosso oponente está overbetando, ele será capaz de betar em uma alta frequência e ainda
continuar balanceado. Então boards como este requerem que demos check-raise e check-
fold no flop em uma alta frequência.
A RELAÇÃO ENTRE VALUE BET E BLEFE FORA DE POSIÇÃO
Anteriormente, descobrimos que betar o flop com um range perfeitamente polarizado
requere que 34,3% de nossos bets no flop sejam value bets se betarmos apenas 75% do
pote em todas as três streets. Além disso, se pudermos overbetar o river, apenas 30,6% de
nossos bets no flop precisam ser por valor. Como discutido anteriormente, como posição
não possui valor quando um jogador possui um range perfeitamente polarizado, a mesma
exata matemática se aplicará, independentemente de quem possui posição, enquanto
assumirmos que nosso range está perfeitamente polarizado.
Ainda assim, quando criando situações-modelo onde nosso range de bet não estava
perfeitamente polarizado, tínhamos que fazer várias suposições que, em geral, não eram
verdadeiras. Por exemplo, nosso oponente pode foldar para o nosso bet no turn (ou fazer
com que nós foldemos, se ele der raise), e isso evita que sempre realizemos a equidade de
nossos blefes. Mais uma vez, o modelo não foi capaz de levar isso em conta de forma
precisa.
Por outro lado, quando os ranges não são perfeitamente polarizados, a posição se
torna bastante valiosa e nossas suposições dos capítulos anteriores se tornam mais
problemáticas. Especificamente, é mais difícil realizar a equidade de nossas mãos fracas
quando fora de posição que quando estamos em posição, já que um check não turn não
garante que veremos o river. Além disso, não teremos a habilidade de betar o river se
nosso oponente demonstrar fraqueza dando check, então extrair thin value com mãos
fortes mas não muito fortes, geralmente será difícil.
Em outras palavras, enquanto o exato valor da posição não pode ser quantificado, é
seguro dizer que, se quisermos betar entre 2,5 e 3 blefes para cada mão forte que value
betarmos em posição no flop, devemos blefar menos quando fora de posição. E isso nos
traz à nossa próxima regra.
Embora posição seja mais valiosa em algumas texturas de flop que em outras,
betar entre 2 e 2,5 blefes para cada mão forte que value betarmos fora de posição
parece razoável para a maior parte das texturas de flop.
Como sempre, esteja ciente de quais suposições estão sendo feitas quando aplicando

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este princípio básico, já que esta relação não funcionará nem de perto tão bem se a
profundidade dos stacks não estiver deep, ou se houverem vários jogadores no pote.
Além do mais, como discutido anteriormente, às vezes betaremos mãos no flop com a
intenção de betar apenas uma ou duas streets por valor. Isto é feito quando betando o flop
conseguimos fazer mãos com alta equidade foldar. Ao contrário de quando estamos em
posição, é difícil betar apenas duas streets por valor fora de posição, já que nosso
oponente terá uma oportunidade de betar depois de darmos check no river. Esta situação é
difícil de se colocar em um modelo, mas apesar de suas desvantagens, betar apenas uma
ou duas streets por valor quando fora de posição algumas vezes ainda será a melhor linha.
QUANDO BETAR COM QUAISQUER DUAS CARTAS SERÁ LUCRATIVO?
Até este momento, presumimos que nosso oponente não deve ser capaz de
lucrativamente betar com quaisquer duas cartas pré-flop ou quando fora de posição no
flop. Isso deveria intuitivamente fazer sentido para o jogo pré-flop, já que se nosso
oponente pudesse lucrativamente betar com quaisquer duas cartas, ele nunca foldaria. Da
mesma forma, como estar fora de posição no flop é uma desvantagem, em potes onde
houve raise fez sentido presumir que nosso oponente não deve ser capaz de
lucrativamente sair de lead com quaisquer duas cartas na vasta maioria de texturas de
flop.
Enquanto mesmo uma mão tão fraca como 2-2 tem um valor esperado positivo
quando é jogada de check fora de posição no flop Jh-9h-5c, o valor esperado do check
deve ser pequeno e próximo a zero. Se pudéssemos lucrativamente betar 2-2 fora de
posição nesta textura de board, então mesmo um bet que seja apenas ligeiramente
lucrativo seria melhor que dar check. Entretanto, a maioria dos jogadores aprendem com
tentativa e erro que betar uma mão fraca fora de posição possui um valor esperado
negativo na maioria das texturas de board, mesmo que isso não possa ser provado
diretamente.
Entretanto, existem situações onde um jogador deve ser capaz de lucrativamente
blefar mesmo que sua mão não possua equidade. Mais especificamente, estas situações
geralmente ocorrem depois que alguém teve que arriscar dinheiro para talvez ter a
oportunidade de fazer um blefe lucrativo.
Aqui está um exemplo. O cutoff dá raise, 3-betamos no small blind para um total de
12 BBs, e o cutoff dá call. O flop vem Qh-8d-7c e betamos 13 BBs, o turn vem o 4d e
betamos 25 BBs, e o river vem o 2h e damos check. Perceba que após darmos check,
nosso oponente possui a oportunidade de ir all in de 50 BBs para ganhar um pote de 100
BBs. Isso requer que demos call 66,7% do tempo para evitar que ele seja capaz de
lucrativamente blefar quaisquer duas cartas.
Mesmo que tenhamos 3-betado pré-flop, betado flop e turn, nosso range é muito
polarizado no river, e poucas, senão nenhuma mão funcionará bem como check-call. Na
verdade, se tivéssemos uma mão marginalmente forte no flop, como Qd-9d ou J-J,
provavelmente teríamos dado check-call no flop, já que permitir ao nosso oponente ver
cartas adicionais com suas mãos mais fracas não é particularmente arriscado. Em outras
palavras, assim que dermos check no river, estaremos dando check-call muito menos que
66,7% do tempo.

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Enquanto permitir nosso oponente que ele lucrativamente bete quaisquer duas cartas
possa parecer, a princípio, confuso, isto é conceitualmente similar a quando estávamos
betando com um range perfeitamente polarizado. Mais especificamente, sempre que
betarmos com um range polarizado, nosso oponente efetivamente perdeu, e sempre que
dermos check, ele efetivamente ganhou. O mesmo processo ocorre quando betamos o
turn com um range muito polarizad em um pote 3-betado, já que se dermos check no
river nosso oponente quase sempre vencerá. Isto é, ou ele dará check behind e ganhará no
showdown, ou ele blefará sabendo que quase sempre foldaremos.
Colocado de outra forma, mesmo se nosso oponente puder fazer um bet lucrativo no
river depois que dermos check, isto não é um problema se ele teve que arriscar dinheiro
no turn para talvez conseguir esta oportunidade. Por exemplo, se nosso oponente der call
com uma mão fraca e especulativa no turn, como uma broca, ele geralmente perderá o
dinheiro que ele investiu quando ele não acertar seu draw e betarmos o river. Ele apenas
ocasionalmente melhorará para a melhor mão ou terá a oportunidade de fazer um blefe
lucrativo, e isso não tornará seu call no turn extremamente lucrativo.
Isto nos traz à nossa próxima regra:
Quanto mais lucrativo for o blefe do nosso oponente, mais dinheiro ele deve
arriscar e/ou mais raro deve ser para ele conseguir a oportunidade de blefar.
Colocado de outra forma, se o blefe de nosso oponente em uma street futura será
apenas ligeiramente lucrativo, então não é problemático se ele frequentemente tiver esta
oportunidade após arriscar pouco dinheiro. Mas se o blefe do nosso oponente será
altamente lucrativo, ele deve arriscar mais dinheiro para apenas ocasionalmente
conseguir essa oportunidade de blefe. Mais especificamente, estamos sendo explorados
apenas se nosso oponente estiver arriscando pouco dinheiro para consistentemente se
colocar em uma situação de blefe altamente lucrativa.
QUÃO LUCRATIVO DEVEM SER OS BLEFES DO NOSSO OPONENTE EM
POSIÇÃO NO FLOP?
Quando nosso oponente beta após receber um check em um pote onde existem apenas
dois jogadores e houve raise pré-flop, ele geralmente arriscará 6 BBs para ganhar 8 BBs.
Como discutido anteriormente, devemos defender pelo menos 57% do tempo para evitar
que ele seja capaz de gerar um lucro imediato betando quaisquer duas cartas.
Mesmo assim, deixar nosso oponente gerar um lucro imediato com quaisquer duas
cartas depois de darmos check no flop provavelmente não é problemático. Presumindo
que ele não esteja nas blinds, quando ele der call pré-flop ele arrisca 3,5 BBs para
geralmente conseguir a oportunidade de ver o flop em posição. (Às vezes ele sofre um
squeeze e tem que foldar suas mãos mais fracas pré-flop). Como ele assumiu um risco
dando call, nosso oponente pode às vezes ser capaz de lucrativamente blefar quaisquer
duas cartas pós-flop, especialmente se a maioria dos seus blefes forem apenas
ligeiramente lucrativos.
Aqui está um exemplo. Damos raise em MP e nosso oponente dá call no button. Se
dermos check no flop, seu bet deve ser bem-sucedido frequentemente o suficiente para
que uma estimativa razoável do valor esperado de seu pior blefe seja de 1,5 BBs. Perceba
que mesmo que a pior mão no range de nosso oponente possa blefar lucrativamente

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depois de darmos check, ele ainda perde em média 2 BBs quando ele flopa uma mão
fraca.
Valor esperado total para a mão =
Valor esperado do bet no flop – dead money já investido
- 2 = 1,5 – 3,5
Isso demonstra como nosso oponente, no geral, ainda perderá dinheiro dando call com
mãos muito fracas pré-flop, mesmo que ele possa frequentemente fazer um blefe pós-flop
lucrativo. Mais especificamente, para que uma mão seja um flat call lucrativo pré-flop,
ele deve ser capaz de flopar mãos fortes ou draws a uma frequência razoável. Em outras
palavras, se a mão do nosso oponente for tão fraca que ele constantemente tenha que
foldar para nosso bet no flop e geralmente conseguir um blefe apenas ligeiramente
lucrativo se dermos check, então dar call pré-flop com mãos tão fracas claramente tem
uma expectativa negativa.
Betar menos frequentemente fora de posição no flop e defendendo mais dos nossos
checks possui várias outras implicações importantes. Nosso oponente terá uma
oportunidade de blefar lucrativamente mais frequentemente. Mas se estivermos
defendendo mais dos nossos checks dando check-calls e check-raises, então o valor
esperado dos blefes do nosso oponente diminuirá. Em outras palavras, enquanto ele
conseguirá muitas oportunidades de fazer blefes lucrativos, estes blefes serão apenas
ligeiramente lucrativos.
Além disso, nosso oponente provavelmente fará menos dinheiro quando ele flopar
uma mão forte, já que frequentemente daremos check e manteremos o pote menor.
Muitos jogadores dependem de quase sempre ganhar pelo menos um c-bet quando eles
flopam uma mão forte após dar flat call em posição. Mas se não estamos
imprudentemente betando o flop, nosso oponente frequentemente ganhará apenas um
pequeno pote.
Mesmo assim, geralmente teremos que betar o flop com uma frequência razoável,
assim como defender nossos checks no flop agressivamente o suficiente para que seus
bets no flop não sejam lucrativos demais.
Isto é, no flop, podemos dar ao vilão poucas oportunidades de fazer blefes altamente
lucrativos, muitas oportunidades de fazer blefes ligeiramente lucrativos, ou encontrar um
meio-termo. Mais especificamente, se estamos constantemente dando check-fold no flop,
então algo provavelmente está errado. Ou estamos dando check-fold com mãos que
pertencem a outro range no flop, ou nosso range pré-flop está fraco demais. (A exceção a
isto ocorre quando dando call no big blind, já que frequentemente faz sentido dar call por
odds, mesmo que tenhamos que jogar o flop de check-fold).
Podemos calcular o valor esperado mínimo da pior mão no range de nosso oponente
no flop baseado em quão agressivamente estamos betando e defendendo nossos checks.
Chegamos um resultado calculando quão frequentemente nosso oponente consegue a
oportunidade de blefar e quão lucrativos estes blefes são.
Vamos começar com um exemplo simples. O pote possui 8 BBs e quando um jogador
beta, ele sempre betará 6 BBs. Além disso, vamos presumir que estamos dando check no
flop 60% do tempo e defendendo 45% dos nossos checks no flop. Por último, vamos

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também presumir que nosso oponente possui uma mão fraca, que sempre foldará se
betarmos o flop, mas que blefará se dermos check, já que ele sabe que blefar com
quaisquer duas cartas é lucrativo. Isto produz uma expectativa de pelo menos 1,02 BBs
para a mão mais fraca do vilão.
Valor esperado mínimo da mão do oponente =
(frequência que damos check no flop) [(tamanho do pote)(frequência de fold) –
(tamanho do bet)(frequência de defesa)]
1,02 = (0,6)[(8)(1 – 0,45) – (6)(0,45)]
Como pode ser visto, com as suposições acima, a mão mais fraca no range de nosso
oponente no flop possui um valor esperado de pelo menos 1,02 BBs. Isto porque nem
sempre betaremos o flop, e quando dermos check, nosso oponente pode betar
lucrativamente pois estamos defendendo menos que 57% do tempo. Além do mais,
perceba que este é o valor esperado mínimo para a mão do vilão e não o verdadeiro valor
esperado, já que frequentemente defenderemos dando check-call e os blefes mais fracos
do nosso oponente possuem equidade.
Além disso, se assegure de entender que o valor esperado da mão mais fraca do vilão
foi calculado no flop antes que demos bet ou check, não o valor esperado de seu blefe.
Perceba que se betarmos, o valor esperado da mão mais fraca do vilão é zero (já que ele
sempre foldará), e se dermos check, seu valor esperado será maior que 1,02 BBs (já que
ele sempre terá a oportunidade de blefar). Aqui, o valor esperado mínimo do blefe do
vilão é de 1,7 BBs.
Valor esperado mínimo do blefe do oponente =
(tamanho do pote)(frequência de fold) – (tamanho do bet)(frequência de defesa)
1,7 = (8)(1 – 0,45) – (6)(0,45)
E se presumirmos que os jogadores sempre betam 6 BBs em um pote de 8 BBs, a
fórmula abaixo pode ser usada para descobrir o valor esperado mínimo da mão do vilão
no flop.
(X) [(8)(1 – Y) – (6)(Y)] = valor esperado mínimo da mão do vilão
Onde
X é a frequência que damos check no flop, e
Y é a nossa frequência de defesa depois de darmos check.
Embora seja difícil de estimar qual deve ser o valor esperado das mãos muito fracas
do nosso oponente no flop, isso sem dúvida depende do range de cada jogador e da
textura do flop. Além do mais, devemos utilizar uma abordagem que seja senso comum
para determinar se o valor esperado das mãos mais fracas do vilão no flop é razoável.
Aqui está um exemplo. Damos raise no cutoff, o button dá call e os blinds foldam. Se
estamos dando check e foldando para os bets do vilão no flop com uma frequência
suficiente para que o valor esperado de suas mãos mais fracas seja de 2 BBs ou maior,
isto parece razoável? Enquanto a situação é complexa demais para ser provada
diretamente, a resposta provavelmente é não, por diferentes razões. Elas são discutidas
abaixo.
1) Como o button arriscou apenas 3,5 BBs dando flat call pré-flop, ele espera ganhar de
volta uma grande porção de seu call pré-flop se o valor esperado de suas mãos mais

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fracas no flop for de pelo menos 2 BBs. Como ele frequentemente possui a oportunidade
de fazer um blefe lucrativo mesmo se ele flopar uma mão com quase nenhuma equidade,
isso efetivamente torna seu call pré-flop muito mais barato que de outra forma seria.
2) Todas as mãos no range de call pré-flop do button têm o potencial de formar mãos
prontas fortes ou draws no flop. Em outras palavras, o pior cenário possível para nosso
oponente seria ter que foldar para nosso bet no flop ou blefar se dermos check. Às vezes
suas mãos mais fracas de call pré-flop floparão o nuts ou uma mão que possa funcionar
como um excelente raise por blefe.
3) Mesmo os blefes mais fracos do vilão no flop geralmente terão uma quantidade razoável
de equidade contra o nosso range de check-call. Por exemplo, apesar de pocket pairs
estarem entre as piores mãos possíveis para blefar no flop, eles ainda possuem cerca de
10% de equidade contra pares maiores. Isto aumenta a expectativa mesmo dos blefes
mais fracos no range do nosso oponente.
Mais uma vez, é difícil dizer qual o valor esperado das mãos mais fracas do vilão no
flop, então nenhuma regra geral será mencionada. Mesmo assim, se nos encontrarmos
constantemente dando check-fold no flop a ponto do oponente estar efetivamente
conseguindo um desconto significativo em seus calls pré-flop, devemos procurar alterar
nossa estratégia pré-flop ou no flop. Em particular, se estamos dando check-fold tão
frequentemente que nosso oponente seja encorajado a betar imprudentemente o flop,
muitas mãos que estão sendo atualmente betadas provavelmente devem ser jogadas de
check-raise.
BETAR OU DAR CHECK COM MÃOS MUITO FORTES NO FLOP,
QUANDO FORA DE POSIÇÃO
Embora um jogador ótimo sempre utilize a linha com o maior valor esperado, qual
linha é mais lucrativa com uma determinada mão dependerá do range de cada jogador. E
um dos pontos mais fáceis de início para descobrir como jogar nosso range é determinar a
linha mais lucrativa com nossas mãos muito fortes.
Por exemplo, se dar check-call com essas mãos em uma determinada textura de flop
for mais lucrativo que dar check-raise, então geralmente não teremos range de check-
raise. Isso porque dar check-raise com uma mão forte se torna uma estratégia inferior se
check-call tiver um valor esperado maior, e dar check-call com um range de apenas blefes
certamente não seria ótimo. Em outras palavras, o que fazemos com as mãos mais fortes
em nosso range em grande parte determina quantas outras mãos em nosso range devem
ser jogadas.
Quanto ao nosso oponente, ele deve ser capaz de fazer bets altamente lucrativos no
flop em texturas de board onde a posição é particularmente valiosa e/ou seu range for
muito mais forte que o nosso. Além disso, em texturas de flop onde ele pode fazer bets
altamente lucrativos com quaisquer duas cartas, devemos esperar que ele frequentemente
bete. Isso porque ele deve dar check apenas se dar check for mais lucrativo que betar, e
isto é menos provável de ser o caso se seus bets no flop forem altamente lucrativos. Isto é
especialmente verdadeiro se deixar mãos em nosso range de check-fold ver uma free card
for arriscado.
Aqui está um exemplo. No flop, estamos mais uma vez dando check e foldando 55%

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livro

do tempo para um bet do nosso oponente. E quando ele beta, são 6 BBs em um pote de 8
BBs. Além disso, vamos presumir que ele saiba quão frequentemente estamos foldando
para um bet depois de darmos check. E como antes, o valor esperado mínimo do bet do
vilão no flop é 1,7 BBs.
1,7 = (8)(0,55) – (6)(1 – 0,55)
Como nosso oponente pode betar qualquer mão em seu range por um valor esperado
de pelo menos 1,7 BBs, não faz sentido para ele dar check behind com uma mão que terá
um valor esperado de menos que 1,7 BBs após dar check. Em outras palavras, qualquer
mão no range de check no flop de nosso oponente deve possuir um valor esperado de
pelo menos 1,7 BBs, caso contrário ele comete um erro em não betar o flop.
Vamos continuar com as mesmas suposições do exemplo anterior, exceto que agora
foldamos 70% do tempo para os bets do vilão no flop, ao invés de apenas 55%. Isto
aumenta sua expectativa para pelo menos 3,8 BBs.
3,8 = (8)(0,7) – (6)(1 – 0,7)
Como agora estamos defendendo 15% menos dos nossos checks no flop, os blefes do
nosso oponente serão bem-sucedidos com uma maior frequência, e consequentemente o
valor esperado mínimo de seus bets no flop aumentam. Mais especificamente, enquanto
antes o vilão sempre betaria com mãos que não tinham um valor esperado de pelo menos
1,7 BBs quando ele dava check behind, ele agora betará todas as mãos que possuem um
valor esperado de menos que 3,8 BBs quando ele der check behind.
Em outras palavras, quanto mais frequentemente estivermos dando check-fold após
dar check no flop, o mais difícil será para nosso oponente justificar dar check behind ao
invés de betar. Isto porque betar no flop agora é tão lucrativo, e poucas mãos terão um
valor esperado maior como checks que como bets. Mais especificamente, quanto maior a
probabilidade que foldaremos para o bet do nosso oponente após dar check no flop, mais
alta deve ser sua frequência de bet. E mais uma vez, isto é especialmente verdadeiro em
texturas de board onde dar uma free card para o nosso range de check-fold for arriscado.
Aqui está outro exemplo. Damos raise no cutoff, apenas o button dá call e mais uma
vez nossa estratégia no flop é foldar 55% do tempo após dar check. Se o flop vier Ks-3d-
3h e dermos check, nosso oponente provavelmente ainda dará check behind com mãos
como K-J, K-10 e 10-10, apesar do fato de que betar com quaisquer duas cartas no fop
possui um valor esperado de pelo menos 1,7 BBs. Isso porque suas mãos de força média
provavelmente não se tornarão a segunda melhor mãos contra mãos em nosso range de
check-fold, e essas mãos podem confortavelmente ser betadas mais pra frente.
Vamos tentar outro exemplo, presumindo que mais uma vez estamos foldando 55% do
tempo, mas desta vez o flop é 9s-6s-4c. Se dermos check para nosso oponente nesta
textura de board, é difícil imaginar muitas mãos em seu range que irão querer ser jogadas
de check behind. Isto é, todas suas mãos de força marginal estão vulneráveis a se tornar a
segunda melhor mão contra o nosso range de check-fold, e por causa disso, ele será
tentado a betar estas mãos agora. Lembre-se, esta é uma ótima textura de board para o
jogador em posição betar o flop com a intenção de betar apenas uma ou duas streets por
valor. Isso porque dar free cards com uma mão como 9d-8d ou 8d-8c é arriscado demais.
Em outras palavras, existem dois fatores principais para determinar quão

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agressivamente nosso oponente betará o flop em posição. O primeiro é quão


frequentemente estamos foldando para um bet no flop, e o segundo é quão arriscado é dar
free cards ao nosso range de check-fold. Se frequentemente foldaremos para seu bet no
flop e dar free cards ao nosso range de check-fold for arriscado, então ele geralmente
betará. Isso significa que nossas mãos fortes deverão ser jogadas de check-raise. Mas em
contraste, se raramente foldaremos para o bet do vilão no flop, e dar free cards ao nosso
range de check-fold não for arriscado, então ele não deve betar frequentemente o flop, e
nossas mãos mais fortes devem ser betadas.
Agora vamos discutir um exemplo onde nossa tentativa de check-raise no flop quase
sempre será bem-sucedida. Imagine que, quando no big blind, damos call no raise do
button e o flop venha 7s-4s-2c.
Perceba que posição é muito valiosa nesta textura de flop, já que permite ao nosso
oponente betar mais confortavelmente apenas uma ou duas streets de valor. Além disso,
como nosso range de check inclui muitas mãos com overcards, ele não se sentirá
confortável nos dando free cards com mãos de força marginal. Por último, os blefes do
nosso oponente retém sua equidade bem contra o nosso range de check-call, já que suas
overcards frequentemente melhoram e vencem nossos pares marginais.
Consequentemente, estas razões o encorajam a frequentemente betar o flop, o que então
nos encoraja a dar check-call ou check-raise com nossas trincas, ao invés de sair de lead.
Agora vamos tentar um exemplo onde nossa tentativa de check-raise no flop
frequentemente falhará. Suponha que damos raise no cutoff e o button dá call, e desta vez
o flop é Ks-Jc-4d. Como o nosso oponente provavelmente 3-betaria a maioria de seus A-
A e A-K pré-flop, ele não terá muitas mãos fortes que irão querer betar o flop com a
intenção de betar as três streets. Além disso, mãos como K-10, A-J e Q-J serão jogadas de
check behind já que essas mãos não são vulneráveis a se tornarem a segunda melhor mão
contra mãos no nosso range de check-fold. Em outras palavras, como temos o range
superior no flop e posição não é particularmente valiosa, nosso oponente não betará
frequentemente este flop depois que dermos check. Portanto, devemos betar a maioria de
nossas mãos fortes e apenas ocasionalmente dar check-raise ou check-call com uma mão
muito forte.
Por último, em texturas de board onde ambos os jogadores possuem ranges
comparáveis, um equilíbrio geralmente terá que ser alcançado betando mãos muito fortes
e dando check com outras. Mais especialmente, se sempre betarmos nossas mãos fortes
no flop nosso range de check será fraco demais, e nosso oponente pode então nos
explorar betando agressivamente. Mas se nunca betarmos nossas mãos fortes, então nosso
range de check será forte demais, e nosso oponente pode novamente nos explorar betando
apenas suas mãos prontas muito fortes e draws.
DECIDINDO ENTRE O CHECK-CALL E O CHECK-RAISE
Assim que decidimos não betar nossas mãos muito fortes fora de posição, geralmente
porque nosso range de check é fraco e nosso oponente frequentemente betará o flop,
devemos determinar se o check-call ou o check-raise é a linha superior.
O check-call deve ser enfatizado em texturas de board onde é improvável que nosso
oponente bete apenas uma street por valor, e onde seja improvável que seus blefes

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melhorem e nos vençam no turn. Isto permite que ele continue blefando com suas mãos
fracas. Então geralmente damos check-raise no turn, para que ele não seja capaz de
conseguir uma free card barata e se tornar a melhor mão no river.
Aqui está um exemplo. Damos raise em MP, o button é o único jogador que dá call, e
o flop é Kc-7d-2h.
Enquanto nosso oponente pode value betar algumas mãos no flop com a intenção de
betar apenas uma street por valor, a maioria das mãos que ele value betará provavelmente
serão betadas em múltiplas streets. Isso porque mãos como top pair e par médio não são
vulneráveis a se tornarem a segunda melhor mão contra mãos em nosso range de check-
fold. Em outras palavras, como as mãos que foldaremos para um bet no flop
provavelmente não se tornarão melhores que as mãos de força média do vilão de qualquer
forma, ele possui pouca razão de betá-las no flop.
Entretanto, como nosso oponente, no flop, provavelmente não betará apenas uma
street por valor com suas mãos de força média, é mais fácil para nós dar call com mãos
extremamente fortes, com confiança, esperando obter a oportunidade de dar check-raise
em uma street futura. Lembre-se, embora algumas mãos em seu range, como o 9d-8d
possa se tornar melhor que nossas trincas no river, acertando um flush ou straight runner-
runner, se nosso oponente conseguir um draw no turn, ele quase sempre betará e
poderemos dar check-raise. Isso porque flush draws e straight draws geralmente se
tornam as mãos perfeitas para blefe no turn, já que possuem pouco valor de showdown
mas retém bem sua equidade contra nosso range de check-call. Assim, as mãos que são
capazes de se tornarem melhores que nossas trincas no river quase sempre serão draws
que ele betará no turn, e isso torna o check-call no flop com a intenção de dar check-raise
no turn menos arriscado que de outra forma seria.
Dar check-raise geralmente é a linha superior em texturas de board onde nosso
oponente provavelmente betará apenas uma street por valor, e existem muitos blefes em
seu range de blefe no flop que podem se tornar a melhor mão no turn. Isso geralmente
ocorre em texturas de board baixas e conectadas, que tipicamente favorecem o jogador
em posição. Então, dar check-raise no flop nos permite extrair valor das mãos fortes do
vilão agora, assim como evitar que ele possa conseguir uma free card e melhorar sua mão
de forma barata no turn ou river.
Aqui está um exemplo. Damos raise no cutoff, nosso oponente dá call no button, e o
flop é 10s-6s-5d. Muitas das mãos que o oponente provavelmente betará neste flop, como
7-7 e 8-8, não serão capazes de betar novamente em quase qualquer carta que vier no
turn. Além disso, mesmo mãos mais fortes no range de value bet do vilão, como A-10,
não serão capazes de continuar value betando em muitos turns, como Ks. Portanto, dar
check-raise com um set neste flop assegura que extraiamos valor das mãos fortes do
nosso oponente antes que ele fique assustado com o turn ou river. Além disso, como
vimos na parte 5, “Decidindo entre o Bet e o Check em Posição”, nosso oponente
provavelmente terá até mesmo que floatar com alguns blefes contra nossos check-raises
no flop.
Provavelmente o maior risco em dar check-call com mãos fortes em texturas de board
muito molhadas é que com frequência nossa mão se tornará a segunda melhor mão, ou

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que seremos incapazes de dar check-raise no turn mesmo se ainda possuirmos a melhor
mão. Por exemplo, se dermos check-call com uma trinca no flop 10s-6s-5d, se o turn
trouxer uma terceira espada, nossa mão geralmente não é forte o suficiente para dar
check-raise por valor. Consequentemente, isso nos força a dar check-call novamente, e
nosso oponente agora consegue a oportunidade de nos vencer no river com seus
semiblefes (provavelmente acertando seu flush runner-runner). Estas razões geralmente
fazem com que dar check-raise no flop com nossas mãos fortes seja superior a dar check-
call, especialmente se nosso oponente não for capaz de overbetar o turn.
Aqui está uma rápida lista de diferentes texturas de flop e quão frequentemente
prefiro dar check-raise neles. Tenha em mente que isso tem a intenção de apenas dar uma
ideia geral de quais tipos de texturas de board devem ser jogadas agressivamente com
check-raises comparado a check-calls. As exatas frequências são insolúveis e dependerão
do range de cada jogador.
Boards em que raramente devemos dar check-raise: Ac-4s-4d, Kd-Ks-4d, Qc-3s-
2d, e As-Kh5d. Perceba que todas essas texturas de flop possuem ao menos uma carta
alta. Isso permite que confortavelmente joguemos de check-call com nossos top pairs
mais fracos, assim como com nossos pares médios. Além disso, como existem
normalmente poucas ou nenhuma mão, no turn, no range do nosso oponente que possa
melhorar para straights ou flushes, qualquer mão forte que dermos check-call no flop
provavelmente será capaz de dar check-raise se ele betar novamente no turn. Portanto,
nossa estratégia nessas texturas de flop deve ser defender contra os bets do nosso
oponente quase inteiramente dando call.
Boards em que devemos ocasionalmente dar check-raise: 7c-4h-2s, 9c-9s-7d, Qs-
10h-5c e Ks-6s-5d. Estas texturas de flop ou são mais coordenadas que os anteriores ou
que não possuem pelo menos uma carta alta. Isto torna o check-call com mãos de força
média mais difícil, já que nosso oponente possui uma maior probabilidade de melhorar
com seus blefes. Além disso, se dermos check-call com uma mão forte enquanto houver
algum possível straight ou flush draw, é possível que tenhamos que dar check-call ao
invés de check-raise no turn se o draw se completar.
Como tanto dar check-call quanto check-raise com nossas mãos mais fortes é razoável
nestas texturas de board, frequentemente vamos querer utilizar uma combinação de
ambos. Além disso, devemos prestar atenção extra a quais mãos bloqueamos quando
dando check-raise por valor.
Mais especificamente, geralmente não vamos querer dar check-raise com mãos muito
fortes que bloqueiam mãos de valor do range de bet no flop do vilão. Aqui está um
exemplo. Damos check com uma trinca de reis no flop Ks-6s-5d e nosso oponente beta.
Perceba que é improvável que ele possua top pair já que existe apenas um K possível
restante. Isto torna o check-raise menos eficiente já que é improvável que ele possua top
pair que possar dar call em nosso check-raise e nas apostas subsequentes. Mas dar check-
raise com outras trincas, como 6-6 e 5-5, será mais eficiente, já que nosso oponente
possui uma maior probabilidade de estar value betando um K no flop.
Boards em que devemos dar check-raise frequentemente: 7s-4s-2d, 8d-7d-6c, 7h-
3h-3c e 9h-8d-6d. É quase sempre errado dar check-call nas texturas de flop acima. Isso

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porque qualquer mão em nosso range de check-call frequentemente se tornará a segunda


melhor mão contra os blefes do vilão no turn. Além disso, ele muitas vezes não betará o
turn quando tivermos a melhor mão, e mesmo se ele betar, frequentemente não seremos
capazes de dar check-raise se muitas mãos em seu range melhorar no turn para straights
ou flushes.
Estes flops são os mais difíceis de se jogar fora de posição contra um oponente forte,
mas dando check-raise agressivamente (no flop), tornamos difícil para ele realizar de
forma barata a equidade de suas mãos mais fracas. Lembre-se, da mesma forma que dar
check-call com mãos marginais neste flop é difícil já que nossa mão frequentemente se
tornará a segunda melhor, nosso oponente também não gosto de nos deixar ver free cards
com mãos marginais. Isto é, ele geralmente betará mãos de força média assim como
vários draws, e dando check-raise maximizamos nossa chance de fazer com que essas
mãos foldem antes que sua equidade seja realizada.
A DIFICULDADE DE DAR CHECK-RAISE EM CERTAS TEXTURAS DE
FLOP
Algumas texturas de flop são difíceis de se dar check-raise utilizando nosso tamanho
normal de bet, já que é muito provável que o turn melhore muitas mãos no range de nosso
oponente. Estas são as mesmas texturas de board onde a posição é extremamente valiosa
e frequentemente estaremos incertos sobre se temos a melhor mão em muitos turns e
rivers.
Aqui está um exemplo. Nós damos flat call no big blind com 5d-5s contra um raise do
button, e o flop vem 6h-5h-3d.
Neste flop, devemos nos perguntar: “Se dermos check-raise por valor com nossa
trinca, quantos turns matam nossa ação ou nos colocam atrás de muitas mãos no range de
nosso oponente?” A resposta é: qualquer copas, 7, 4 ou 2 colocarão muitos flushes e
straights no range de nosso oponente, e tornam difícil saber como continuar.
Como posição é tão valiosa nesta textura de board, devemos considerar dar check-
raise com um tamanho maior que o comum. Isso porque check-raises grandes dão ao
nosso oponente odds piores para dar call, e isto torna difícil para ele dar call com um
range amplo e abusar de seu poder da posição no turn. Mais especificamente, se dermos
raise em um bet de 4 BBs para apenas 12 ou 14 BBs, em um pote de 6 BBs – o pote
provavelmente vai ser menor que o normal pois muitos jogadores dão raise no button
para apenas 2,5 BBs – nosso oponente provavelmente dará call com um range amplo,
assim ele consegue jogar o turn em posição.
Por último, é importante entender e aceitar que algumas texturas de board são muito
melhores para o range do nosso oponente que para o nosso. Embora flops 8-high ou
menores sejam incomuns, quando eles de fato ocorrem, é importante simplesmente
reconhecer que o flop é desfavorável para nosso range de flat call do big blind. Isso
requer que demos check-fold para os bets no flop de nosso oponente em uma alta
frequência. Um jogo excelente das blinds requer tanto que sejamos capazes de avaliar o
valor da posição quanto reconhecer que o range de determinado jogador foi favorecido
em uma determinada textura de board.
AS DIFICULDADES DE DAR CHECK-CALL COM MÃOS VULNERÁVEIS

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Como já foi discutido anteriormente, como dar check-call garante que o vilão veja o
turn com seu range do flop inteiro, é geralmente difícil dar check-call com mãos
marginais que são vulneráveis a se tornarem a segunda melhor mão. Mas as mesmas
mãos com as quais é arriscado dar check-call frequentemente funcionarão mal como bets
pois betar torna o range do oponente mais forte e pares fracos não retém bem sua
equidade à medida que o range do vilão se torna melhor.
Isto não será surpreendente para jogadores veteranos. Um dos spots mais frustrantes
que ocorrem comumente é ter um par marginal fora de posição no flop contra um
oponente que gosta de betar agressivamente. Nos sentiremos mal com qualquer linha que
tomarmos, já que betar não atinge nenhum objetivo (e pode nem fazer sentido no
contexto de nosso range), mas dar check-call nos força a jogar um jogo de adivinhação
nas streets subsequentes.
Aqui está um exemplo. Damos call no small blind com 7h-7d contra um raise do
cutoff, e o flop vem 10s-8d-4c.
Se nosso oponente beta 6 BBs com seu range inteiro em um pote de 8 BBs, como
muitos oponentes farão, nossa mão terá 54,4% de equidade contra um típico range de
raise. Assim, se temos um preço tão bom para dar call e nossa mão tem tanta equidade,
por que dar check-call neste flop faz com que nos sintamos tão desconfortáveis?
A razão está no fato de que nossa mãos quase sempre continuarão sendo um bluff
catcher, e quando estivermos à frente no flop a mão do nosso oponente se tornará a
melhor mão no turn ou river uma boa quantidade das vezes. Além disso, como
geralmente é impossível para nós saber se nossa mão é a melhor, geralmente daremos call
com a mão que está perdendo ou foldaremos com a melhor mão. Mas nosso oponente
raramente estará confuso em relação a se ele está blefando ou value betando contra nossa
mão específica, e isso permite que ele jogue efetivamente contra nós.
Podemos criar um modelo desta situação usando a mesma fórmula que utilizamos
para estimar nossa proporção entre value bet e blefe no flop. Enquanto que antes
presumimos que os value bets e blefes do jogador que beta tinham 80 e 20% de equidade,
respectivamente, aquelas estimativas não são precisas para esta situação. 7-7 possuem
significativamente menos que 20% de equidade quanto está perdendo, e menos que 80%
de equidade quando está ganhando.
Quando nosso oponente possui duas overcards, como Kh-Qd, seu blefe terá cerca de
28% de equidade. Da mesma forma, quando ele beta um par de 10 ou melhor, ele
geralmente possuirá cerca de 88% de equidade. Embora ele tenha poucas mãos muito
fracas e muito fortes em seu range no flop, a maioria das mãos em seu range de bet terão
cerca de 28 ou 88% de equidade. Utilizando as mesmas suposições da Parte 5, “Betar ou
Dar Check em Posição”, que mencionavam que 34,3% dos nossos flop bets devem ser
capazes de value betar o turn e o river, podemos estimar qual fração dos bets do nosso
oponente no flop precisam ser value bets.
(0,88)(X) + (0,28)(1 – X) = 0,343 =>
(0,6)(X) = 0,063
X = 0,105
O modelo sugere que, como os value bets e blefes do nosso oponente possuem tanta

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equidade, ele precisa que apenas 10,5% de seus bets no flop sejam value bets! (E mesmo
se ele nunca der check seus value bets facilmente superarão essa porcentagem.) Enquanto
nossas suposições anteriores não são perfeitas, especialmente considerando que nosso
oponente nem sempre betará a mão vencedora no turn e no river, ele sempre possui a
vantagem da posição, que não conseguimos incluir no cálculo (mas que é significativa
nesta textura de flop).
Este modelo demonstra porque dar check-call com um pocket pair vulnerável no flop
é frequentemente uma jogada fraca, apesar da mão possuir tanta equidade. Isto é, um
pocket pair quase nunca melhorará o suficiente para vencer mãos no range de value bet
do vilão, mas frequentemente perderá para seus blefes. Além disso, como existem
múltiplas streets restantes para agir, nosso oponente terá diversas oportunidades de
fortalecer seu range, desistindo de alguns de seus blefes enquanto continua value betando
todas as suas mãos fortes. Lembre-se, só porque uma mão possui muita equidade não
significa que ela possui um valor esperado alto, e devemos ser capazes de foldar mãos
com alta equidade no flop quando a situação requerir.
Jogadores fracos geralmente ficam confusos com este conceito, e não conseguem
compreender como é possível que precisem foldar uma mão com mais de 50% de
equidade enquanto possuem tão bons odds. Mas consistentemente dar call com mãos
fracas no flop é um leak especialmente problemático pois estas mãos continuam a ser
mãos difíceis de se jogar no turn e no river. Em outras palavras, dar check-call com mãos
fracas no flop é um grande exemplo de um spot onde um pequeno erro se acumula com
erros mais caros no turn e no river.
SAINDO DE LEAD DAS BLINDS
Como o range de flat call pré-flop do big blind é condensando e posição é valiosa,
frequentemente teremos que dar check com nosso range inteiro no flop. Isto é verdadeiro
mesmo se nosso range possuir mais equidade que o de nosso oponente.
Aqui está um exemplo. Nosso oponente dá raise no button e damos call no big blind
utilizando os ranges pré-flop da Parte 2, “Jogo Pré-Flop”. Se o flop vier Kh-8c-3s, nosso
range terá 53,9% contra um jogador típico. Entretanto, apesar do nosso range ter mais
equidade e a posição não ser particularmente valiosa nesta textura de board,
provavelmente ainda vamos querer dar check com todo o nosso range.
A razão porque sair de lead não é eficaz aqui é que possuímos poucas mãos em nosso
range mais fortes que K-J, e assim, a maioria do nosso range é incapaz de betar mais de
duas streets por valor de forma eficaz. Além disso, dar check-call não é arriscado já que a
mão do nosso oponente provavelmente não se tornará melhor que a nossa quando
tivermos uma mão como Kd-7d.
Em outras palavras, só porque nosso range possui mais equidade que o range de nosso
oponente, isso não implica que devemos ter um range de lead no flop. Isto é, devemos
prestar atenção a quanto nossa equidade é distruibuída entre as mãos do nosso range, e a
menos que algumas delas sejam muito fortes, o lead não será eficaz. Mais
especificamente, se nossos value bets no flop forem fracos demais, nosso oponente será
capaz de frequentemente dar raise e transformar nossas mãos de valor em bluff catchers.
Além disso, mesmo que ele defenda dando flat call contra nossos bets fracos no flop, é

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improvável que ganhemos no showdown. Isso porque ele não precisará dar call em todas
as streets, pois ele pode defender agressivamente dando raise.
Em geral, sair de lead das blinds geralmente será eficiente em texturas de board onde
possuímos combinações de dois pares offsuit e nosso range possui mais equidade. Isso
porque a possibilidade de mãos de dois pares adiciona uma quantidade significativa de
equidade ao nosso range, e são fortes o suficiente para betar o flop com a intenção de
betar as três streets por valor. Além disso, se dermos check com nosso range inteiro
nestas texturas de board, nosso range de check provavelmente será forte demais e nosso
oponente pode nos explorar betando raramente no flop.
Aqui está um exemplo. Damos flat call no small blind contra um raise do cutoff e o
flop vem Ks-Qs-8d. Nosso range possui agora 59,6% de equidade, mas além de possuir
mais equidade, agora possuímos 9 combinações de dois pares, já que daríamos call pré-
flop com K-Q offsuit. Além do mais, se o vilão der raise em nosso lead, podemos 3-betar
algumas das nossas mãos mais fortes, assim como alguns draws e blefes, para que não
tenhamos que defender sempre dando call. Por último, se nunca sairmos de lead, um
oponente habilidoso relutará em betar o flop, por saber que existem muitas mãos em
nosso range fortes o suficiente para dar check-raise por valor.
ENTENDENDO OS PRINCIPAIS PARÂMETROS DO JOGO NO FLOP
Já cobrimos muito terreno por aqui, então seria sábio rapidamente revisar os
principais parâmetros, ou princípios básicos, anteriormente discutidos para o jogo no
flop. Embora isso seja uma revisão, ver as fórmulas mais importantes em uma mesma
seção pode ajudar em visualizar exatamente o que nossos modelos estão sugerindo.

Parâmetro nº 1: Frequência Mínima Requerida de Defesa


Fórmula Exemplo:
Frequência mínima de defesa = tamanho do pote / (tamanho do bet + tamanho do
pote)
Aplicação: Esta fórmula deve ser utilizada sempre que queiramos evitar que nosso
oponente seja capaz de lucrativamente betar ou dar raise com quaisquer duas cartas. Se,
entretanto, ele já assumiu o risco para talvez conseguir uma oportunidade de blefar,
permitir que ele lucrativamente bete quaisquer duas cartas geralmente não será um
problema.
Por exemplo, se betarmos o flop e nosso oponente der call em posição, então esta
fórmula não deverá ser aplicada depois de darmos check no turn. Nosso oponente
arriscou dinheiro no flop e nem sempre terá a oportunidade de fazer um blefe lucrativo.
Mas nosso oponente nunca deverá ser capaz de lucrativamente blefar com quaisquer
duas cartas quando enfrentando um bet ou raise, já que ele se puder ele nunca foldará.
Assim, esta fórmula sempre deverá ser aplicada quando betando ou dando raise.
Parâmetro nº 2: Range Requerido para ir All-In Quando Enfrentando um Bet
em todas as Três Streets
Fórmula Exemplo:
(frequência de call no flop)(frequência de call no turn)(frequência de call no river) =
0,187 = (0,57)(0,57)(0,57)

102
livro

Aplicação: Esta fórmula determina quão forte será o range de call no river do nosso
oponente se ele enfrentar um bet em todas as três streets, e der calls o suficiente para
evitar que sejamos capazes de blefar lucrativamente com quaisquer duas cartas. Um
fórmula quase idêntica pode ser utilizada também quando enfrentando um raise no flop,
um bet no turn e um bet no river.
Embora mãos que não sejam fortes o suficiente para value betar todas as três streets
ainda possam ser value betadas no flop, e não nas outras streets, isso geralmente só é
justificado se betar betar fizer mãos de alta equidade foldar. Além disso, é especialmente
difícil betar apenas uma street por valor no flop ou betar apenas duas streets por valor
quando fora de posição já que ambas as linhas dão ao vilão a oportunidade de betar o
river contra um range fraco.
Parâmetro nº 3: A Proporção entre Value Bet e Blefe
Fórmula Exemplo: Se possuirmos um range perfeitamente polarizado no flop e
pudermos betar apenas 75% do pote em cada street, devemos betar o turn 70% do tempo
após betar o flop, o river 70% do tempo após betar o turn, e 70% de nossos bets no river
devem ser value bets. Destas frequências, podemos calcular qual a porcentagem de
nossos bets no flop devem ser value bets.
(frequência de bet no turn)(frequência de bet no river)(porcentagem dos river bets que
são value bets)
(0,70)(0,70)(0,70) = 0,343
Além disso, podemos estimar qual porcentagem dos nossos bets no flop devem ser
value bets se nossos value bets e blefes possuírem 80 e 20% de equidade,
respectivamente. Dadas as suposições discutidas anteriormente na Parte 5, “Betar ou Dar
Check em Posição”, apenas 23,9% dos nossos bets no flop precisam ser value bets.
(0,8)(X) + (0,2)(1 – X) = 0,343 =>
X = 0,239
Aplicação: Estas fórmulas podem ser usadas para determinar nossa proporção entre
blefe e value bet, baseadas no tamanho do nosso bet, o número de streets restantes, e a
equidade de nossos blefes e value bets. Além disso, existem outros fatores importantes,
como o valor da posição, a habilidade de cada jogador de realizar sua equidade, e quão
provável é que a melhor mão será betada em todas as três streets, fatores que devem ser
mantidos na mente mesmo que nosso modelo não possa diretamente levá-los em conta.
Parâmetro nº 4: Frequências Requeridas de Bet e Check-Call Fora de Posição
Fórmula Exemplo: A fórmula seguinte pode ser usada para determinar o valor
esperado mínimo das mãos mais fracas do nosso oponente no flop.
Valor Esperado mínimo da mão do oponente =
(frequência de check no flop) [(tamanho do pote)(frequência de fold) – (tamanho do
bet)(frequência de defesa)]
Por exemplo, suponha que o pote possui 8 big blinds e sempre que um jogador betar,
ele betará 6 BBs. Se dermos check no flop 60% do tempo e defender 45% dos nossos
checks, o valor esperado mínimo da mão mais fraca do oponente será 1,02 BBs.
1,02 = (0,6) [(8)(1 – 0,45) – (6)(0,45)]
Aplicação: Esta fórmula ilustra como devemos usar uma combinação de bet, check-

103
livro

call e check-raise para manter o valor esperado das mãos air do nosso oponente
razoavelmente baixo no flop. Se o valor esperado for alto demais, ele será capaz de
lucrativamente dar call pré-flop com mãos que, de outra forma, deveriam ser foldadas;
Este é provavelmente o parâmetro mais difícil e delicado de se aplicar, já que
balancear múltiplos ranges fora de posição no flop é difícil. Além do mais, em texturas de
board onde nosso range é fraco, devemos enfatizar o check-call e check-raise com nossas
mãos fortes. Entretanto, se nosso range for forte, o bet deve ser enfatizado.
EXEMPLO DE COMO BALANCEAR UM RANGE FORA DE POSIÇÃO NO
FLOP
Aqui está um exemplo de como jogar um range de raise de MP – AA-22, AKo-ATo,
KQo, AKs-A7s, A5s, KQs-KTs, QJs-QTs, JTs-J9s, T9s-T8s, 98s-97s, 87s-86s, 76s-75s,
65s, 54s – contra um call no button no flop Ks-9d-7s. Como já vimos anteriormente como
o button deve se defender contra um c-bet na Parte 4, “Enfrentando um Bet no Flop em
Posição”, isso nos dá um ótimo ponto de início para determinar como jogar nosso range
quando fora de posição.
Total de Combos no Flop: 209
Value Bet: AA (6), AK (12), 97s (2), TT (6) = 26
Bet com Draw: As-Js, As-Ts, As-8s, As-5s, Qs-Js, Qs-Ts, 8s-6s, 6s-5s, 5s-4s, JTs (3),
T8s (3), 86s (3) = 18
Bet por Blefe: AsQx (3), AxQs (3), Ad-Qd, As-Jx (3), Ax-Js (3), Ad-Jd, As-Tx (3),
Ad-Td, QJs (3), QTs (3), 65s (3), 98s (2), Ad-8d, 88 (6), A7s (3) = 39
Total de Combos Betados: 83
Frequência de Bet: 39,7%
Total de Combos com que damos Check: 126
Frequência de Check: 60,3%
Check-Call: KK (3), As-Qs, Js-9s, Ts-9s, 9s-8s, A9s (3), KQ (12), KJs (3), KTs (3),
QQ-JJ (12) = 40
Check-Raise por Valor: 77 (3), 99 (3), Js-Ts, Ts-8s = 8
Total de Checks Defendidos: 61
Porcentagem de Checks Defendidos: 48,4%
Valor Esperado de uma Mão Air do Ooponente:
(0,603) [(8)(1 – 0,484) – (6)(0,484)] = 0,74
Análise: Apesar de dar check-raise agressivamente com muitas trincas, straight flush
draws e blefes, ainda estamos defendendo apenas 48,4% dos nossos checks. Por causa
disto, o valor esperado das mãos mais fracas do nosso oponente no flop é de pelo menos
0,74 BBs. Se este valor parece lucrativo demais, A-A assim como alguns blefes
adicionais podem ser jogados de check-raise ao invés de bet. Isso diminui o valor
esperado das mãos mais fracas do vilão, já que seus blefes falharão mais frequentemente.
Além disso, perceba que existem 3 blefes em nosso range de bet para cada 2 value
bets. Isto parece razoável, especialmente já que 10-10 foram contados como value bets,
apesar do fato de que eles claramente não podem ser betados por valor em todas as três
streets. Além disso, posição é razoavelmente valiosa nesta textura de flop, então embora
blefar um pouco mais agressivamente possa ser possível, é improvável que possamos

104
livro

blefar muito mais frequentemente que estamos blefando atualmente e ainda permanecer
razoavelmente balanceados.
Por último, agora deve ser claro que os ranges são complexos e dinâmicos o suficiente
no flop para que as mãos não possam ser sempre facilmente classificadas em value bets,
blefes ou draws. Isto porque ainda existem duas cartas adicionais para vir, e mãos são
frequentemente betadas no flop por múltiplas razões – para fazer mãos de alta equidade
foldar e para extrair valor de mãos piores. Mesmo assim, ainda é importante ter alguma
ideia sobre qual proporção entre value bets e blefes está sendo utilizada no flop.
RESUMO
Jogar bem fora de posição no flop é difícil, mas no fim das contas isso é uma coisa
boa. Situações difíceis no flop ocorrem constantemente, e colocando o trabalho
necessário para realmente entender o jogo no flop, podemos ganhar um edge significativo
sobre nossos oponentes.
É especialmente complicado jogar fora de posição pois betar o flop com a intenção de
betar apenas uma ou duas streets por valor geralmente é ineficaz. Isto é, se dermos check
no river após betar flop e turn, nosso oponente tem a oportunidade de betar e converter
muitas de nossas mãos em bluff catchers.
Também discutimos o porquê de não permitirmos que nosso oponente seja capaz de
fazer blefes lucrativos com quaisquer duas cartas sem ter anteriormente assumido um
risco. Embora permitir que ele frequentemente faça um bet ligeiramente lucrativo no flop
em posição provavelmente não seja um problema, ainda devemos dar check-call e check-
raise agressivamente em certas texturas de board. Mais especificamente, dar check-raise e
check-call são significativamente mais eficientes em abaixar a expectativas das mãos
fracas do oponente no flop que betar.
Por último, texturas de board onde dar check-call é difícil geralmente favorecerão o
jogador em posição, e é importante dar check-raise agressivamente nestes boards. Além
disso, é improvável que o oponente dê check behind no flop, mas ele frequentemente
planejará dar check no turn e/ou river após betar no flop. Além disso, check-raises
grandes são mais eficientes se vários turns melhorem grandemente muitas mãos no range
do vilão.
Aqui estão alguns pontos específicos que discutimos nesta seção do livro:
1. O poker ótimo só se importa com o estado atual do jogo. A ação prévia só é
necessária para definir ranges para as mãos envolvidas.
2. É aceitável que nosso oponente faça blefes lucrativos com as piores mãos em seu
range desde que ele anteriormente tenha assumido um risco, e desde que não seja
garantido que ele sempre terá uma oportunidade lucrativa de blefar.
3. Dar check-raise pune nosso oponente por betar o flop com uma mão fraca ou
marginal, mas aumenta muito o tamanho do pote, assim como a força do range do
nosso oponente.
4. Fazer nosso oponente foldar mãos que possuam de 20 a 25% de equidade contra
nossa mão no flop é significativo. Se betar fizer ele foldar muitas mãos de alta
equidade, então betar o flop com a intenção de betar apenas uma ou duas streets
por valor pode ser a melhor linha (mesmo quando fora de posição).

105
livro

5. Nosso oponente provavelmente betará frequentemente no flop quando betar com


quaisquer duas cartas for altamente lucrativo. Isso nos encoraja a enfatizar o
check-call e o check-raise com nossas mãos mais fortes. Se seus bets no flop não
forem muito lucrativos, ele provavelmente betará em uma frequência mais baixa, e
quando isto acontecer, isso nos encoraja a betar nossas mãos mais fortes por valor.
6. Em algumas texturas de flop é difícil de dar check-raise pois muitos turns tornarão
difícil continuar betando por valor ou colocarão muitas mãos mais fortes no range
do nosso oponente. Isto requer que usemos um tamanho maior de check-raise.
7. Descobrir quais mãos funcionam melhor como check-raises, check-calls e bets
geralmente é difícil, e requer muita prática tanto nas mesas quanto fora delas.
Entender o quanto cada linha afeta o range do nosso oponente é o primeiro passo
para desenvolver estas habilidades.

106
livro

CHAPTER SEVEN
Capítulo 7: Potes 3-Betados no Flop

Capítulo 7:
Potes 3-Betados no Flop

INTRODUÇÃO
Quase todos os jogadores em algum ponto de sua carreira no poker pensam que um
dos aspectos mais fracos de seu jogo é potes 3-betados. Primeiro, potes 3-betados
ocorrem menos frequentemente que potes onde houve apenas raise, assim os jogadores
estão menos acostumados a eles. Além disso, a maioria dos jogadores que não enfatizam
o aprendizado da teoria do poker usam uma abordagem de tentativa e erro para melhorar
seu jogo, e por causa disso, seu jogo sofre em spots que ocorrem com uma frequência
menor. Mas isso não será um problema para nós, já que praticamente todos os conceitos
anteriormente discutidos também serão aplicados em potes 3-betados.
Segundo, jogadores se lembram melhor de seus erros em potes 3-betados já que o
pote é maior e os erros são tão caros. Assim, é mais provável que eles tiltem. Entretanto,
para a maioria dos jogadores, é mais fácil aceitar a perda de um pote grande se eles
sentem que jogaram bem a mão e simplesmente não tiveram sorte. Assim, nosso foco será
no aspecto teórico de potes 3-betados, ao invés do controle do tilt, pois uma vantagem de
se jogar bem é que estamos menos propícios a cometer um grande erro e depois tiltar.
Por último, potes 3-betados frequentemente são difíceis de se jogar porque o jogador
que 3-betou geralmente está fora de posição com um range polarizado enquanto o
jogador que deu call no 3-bet está em posição com um range condensado. Se nós 3-
betamos, nosso range será o mais fácil de se jogar pois mãos muito fortes e muito fracas
tipicamente são mais fáceis de se jogar que mãos de força marginal. Mas jogar fora de
posição geralmente será difícil mesmo que nosso range seja polarizado. Da mesma forma,
embora geralmente tenhamos a vantagem da posição se damos call no 3-bet, nosso range
incluirá muitas mãos de força média, e geralmente é difícil dizer se dar call ou foldar com
estas mãos quando enfrentando bets múltiplos é a melhor estratégia.
Apesar disso, é importante não abordar potes 3-betados com qualquer tipo de medo.
Embora mais dinheiro que o comum esteja em jogo, isso não deve ser usado como
justificativa para jogar mal. O poker ótimo é agressivo, e requer que frequentemente
façamos um blefe grande ou dar call até o river com um bluff catcher em um pote 3-
betado. Simplesmente devemos aceitar o fato que existe muito dinheiro em jogo e temos

107
livro

que estar dispostos a jogar potes grandes com mãos longe de serem o nuts.
TAMANHOS DE BET APÓS 3-BETAR
Se 3-betarmos para 12 BBs pré-flop e o raiser original der call, o pote, no flop, será de
cerca de 25 BBs. Se nosso range for perfeitamente polarizado, a equação para o tamanho
ótimo do bet mostra que devemos betar o suficiente para que o pote dobre em cada street.
(tamanho inicial do pote)(taxa de crescimento do pote)elevado a (streets restantes) =
tamanho final do pote

25R³ = 200 =>


R = 2,00
Onde
-25 é o tamanho inicial do pote
-200 é o tamanho final do pote, e
-R é a taxa de crescimento do pote.
Portanto, se o pote crescer para 2,00 vezes seu tamanho em cada street, devemos betar
0,5 do pote no flop, turn e river, para ir all-in no river.
(2,00)(TIP) = TIP + (2)(tamanho do bet) => TIP = (2)(tamanho do bet) => Tamanho
do bet = (0,5)(TIP)
Onde
TIP = Tamanho Inicial do Pote.
Se o pote, no flop, for maior que 25 BBs, o que frequentemente será o caso em potes
onde houve squeeze, então betar um pouco menos que 0,5 do pote em cada street será o
suficiente para ir all-in no river. Da mesma forma, o pote geralmente será menor que 25
BBs quando o button der raise e 3-betamos das blinds. Quando isso ocorre, nossos bets
precisam ser ligeiramente maiores em cada street para irmos all-in no river. No entanto,
enquanto é importante fazer pequenos ajustes no tamanho do bet, baseados no tamanho
do pote no flop, betar cerca de metade do pote geralmente nos levará próximo a ir all-in
no river.
Portanto, podemos mais uma vez trabalhar ao contrário para descobrir qual fração dos
nossos bets no flop precisam ser value bets se betarmos o flop com um range
perfeitamente polarizado. Então se betarmos 0,5 do pote no river, nosso oponente
arriscará 0,5 pote para ganhar 1,5 pote. Isso requer que 75% dos nossos bets no river
sejam value bets para manter nosso oponente indiferente a dar call com seus bluff
catchers.
(1,5)(1 – X) – (0,5)(X) = 0 =>

X = 0,75
Como explicado anteriormente, quando betamos o river com um range balanceado,
nosso oponente efetivamente perdeu, mas se dermos check, como nosso range é
perfeitamente polarizado, ele sempre vencerá. Assim, se betarmos 0,5 do pote no turn,
nosso oponente mais uma vez arrisca 0,5 do pote para vencer 1,5 pote, e assim o river
deve ser betado com um range balanceado 75% do tempo após betar o turn. Da mesma
forma, se betarmos 0,5 pote no flop, o turn deve ser betado com um range balanceado

108
livro

75% do tempo. Assim, devemos betar o turn 75% do tempo após betar o flop, o river 75%
do tempo após betar o turn, e 75% dos nossos bets no river precisam ser value bets. O
resultado é que 42,2% dos nossos bets no flop precisam ser value bets.

0,422 = (0,75) (0,75) (0,75)


Onde
-o primeiro 0,75 é a frequência de bet no turn
-o segundo 0,75 é a frequência de bet no river, e
-o terceiro 0,75 é a porcentagem de bets no river que são value bets.
Além disso, se continuarmos utilizando suposições dos capítulos anteriores e
assumirmos que nossos value ebts possuem 85% de equidade e nossos blefes 15% de
equidade, aproximadamente 38,9% dos nossos bets no flop devem ser value bets. A razão
pela qual nossos value bets e blefes possuem 85 e 15% de equidade, respectivamente, ao
invés de 80 e 20 respectivamente, como utilizando em capítulos anteriores do livro, é
porque nosso range de 3-bet é bastante polarizado, o que torna difícil para mãos mais
fortes serem vencidas por mãos mais fracas.
(0,85)(X) + (0,15)(1 – X) = 0,422 =>
X = 0,389
Não deve ser surpreendente que em potes 3-betados uma maior fração do nosso range
de bet no flop precisa consistir de mãos de valor quando comparados com potes onde
houve apenas o raise. Isso porque nossos bets são menores em potes 3-betados em
comparação ao tamanho do pote, e assim nosso oponente possui odds melhores para dar
call em cada street. E por esta razão, chegamos à nossa próxima regra geral:
Nosso range de bet no flop em potes 3-betados incluem cerca de 3 blefes para
cada 2 value bets muito fortes.
Embora seja, a princípio, balancear um range de bet no flop em um pote 3-betado –
pois mais dos nossos bets precisam ser value bets –, isso pode ser levado em conta
quando construindo ranges de 3-bet. Mais especificamente, quando 3-betando nossos
overpares e A-K pré-flop, garantimos que tenhamos várias mãos fortes o suficiente para
value betar em praticamente qualquer textura de board. Além do mais, frequentemente
não devemos betar nosso range inteiro no flop. Muitas mãos 3-betadas por blefe com uma
carta alta, como Ah-5h e Kd-9d, podem flopar top pairs fracos, que servem como
excelentes mãos para dar check-call.

DEFENDENDO CONTRA BETS NO FLOP EM POTES 3-BETADOS DANDO


CALL
Quando enfrentamos um bet de meio-pote após fletar o 3-bet, precisaremos defender
pelo menos 66,7% do tempo em cada street para evitar que o vilão gere um lucro
imediato com seus blefes. Se quisermos fazer isto, devemos dar call até o river com
29,7% do nosso range do flop, quando enfrentando um bet em todas as três streets.

0,297 = (0,667) (0,667) (0,667)


Onde

109
livro

-o primeiro 0,667 é a frequência de call no flop,


-o segundo 0,667 é a frequência de call no turn,
-o terceiro 0,667 é a frequência de call no river.
O nosso oponente ser capaz ou não de lucrativamente betar quaisquer duas cartas no
flop vai depender do range de cada jogador e da textura do flop. Lembre-se, quando
analisando o jogo pré-flop, nós vimos que o jogador que 3-beta fora de posição paga em
média de 6 a 7 BBs para ver um flop com seus blefes, e como nosso oponente arriscou
dinheiro pré-flop, não é necessariamente um problema se ele frequentemente conseguir a
oportunidade de fazer um blefe ligeiramente lucrativo pós-flop. Por exemplo, o bet de
nosso oponente com quaisquer duas cartas pode ter um valor esperado mínimo de 2 BBs
em um determinado flop. Mas se ele arriscou em média 8 BBs para conseguir esta
oportunidade, então nada sugere que estamos sendo explorados.
Embora o que foi mencionado acima não possa ser provado diretamente, isso
provavelmente é o resultado do jogo pré-flop ótimo. O jogador que dá flat call no 3-bet
não pode defender o suficiente em muitas texturas de flop para evitar que o jogador que
3-betou lucrativamente bete quaisquer duas cartas, mas o jogador que 3-betou arriscou
tanto dinheiro pré-flop que isso não é um problema. Além disso, se um jogador 3-beta
uma mão que é muito fraca pré-flop, ele muito provavelmente não flopará bem, e sua
expectativa para a mão será negativa.
Em geral, nosso range de call no 3-bet vai bastante bem em boards que são J-high ou
mais altos. Isso porque nosso range geralmente inclui muitas mãos que possuem cartas
altas, como A-Q, A-J e K-Q. Flops que são K-high são um pouco mais complicados
quando A-K não está em nosso range, mais ainda geralmente teremos uma boa
quantidade de top pairs, mesmo que nosso kicker não seja fantástico. Além disso, nosso
oponente provavelmente não deve ser capaz de lucrativamente betar quaisquer duas
cartas em muitas texturas altas de board, já que nosso range é tão forte e temos posição.
Entretanto, geralmente é difícil defender em texturas baixas de board. Aqui está um
exemplo.
Damos raise no button e damos call no 3-bet do big blind para ver um flop 7s-4s-3h.
Este é um ótimo flop para o range de 3-bet do vilão. Ele deve produzir 57,3% de
equidade para um jogador típico. Isso porque o range dele inclui muito mais overpairs
fortes que o nosso, e eles raramente se tornarão a segunda melhor mão, e podem quase
sempre continuar a value bet o turn e o river.
Além disso, este flop se conecta fortemente com o range de 3-bet por blefe do vilão.
Suited connectors baixos e gappers (mãos conectadas com um intervalo entre elas, como
9-7 ou 8-6) são excelentes 3-bets por blefe, e praticamente todas estas mãos floparam um
par, um draw ou ambos. Além do mais, mãos com overcards como A-K e A-Q podem
blefar no flop e geralmente se tornarão a melhor mão se fizerem top pair no turn. Como
resultado, quase todo blefe no range de blefe no flop do vilão terá uma equidade
considerável (muito mais que 15%) e assim nosso oponente é capaz de blefar
agressivamente.
Note também que isto pode ser o contrário do que você leu em outro lugar, e pode até
mesmo parecer contraintuitivo. Novos jogadores geralmente associam flops com uma

110
livro

carta alta melhores para o range de 3-bet, já que este range geralmente possui muitas mão
top pair top kicker. E embora isso seja verdade, mãos como K-K, Q-Q e J-J são mãos
fracas quando o board possui uma carta mais alta, enquanto são mãos de forte valor
quando o board vem com todas as cartas menores. Além disso, como mencionado
anteriormente, boards baixos acertam mãos no range de 3-bet por blefe. Mas mãos qua
funcionam bem como 3-bets por blefe e que melhoram em texturas baixas de board,
como 8s-6s e 5h-4h, são geralmente fracas demais para dar call em um 3-bet. O resultado
é que texturas baixas de board tendem a fortemente favorecer o jogador que 3-betou.
DEFENDENDO CONTRA BETS NO FLOP EM POTES 3-BETADOS DANDO
RAISE
Dar raise também é uma opção em potes 3-betados. Se darmos call no bet de 12,5
BBs de nosso oponente em um pote de 25 BBs, o pote terá 50 BBs. Como explicado
anteriormente, podemos calcular o quanto o pote precisa crescer em cada street para que
ambos os jogadores estejam em all-in no river, presumindo que damos raise ou betamos
uma fração igual do pote em cada street.
50R³ = 200 =>
R = 1,59
Onde
-50 é o tamanho inicial do pote,
-200 é o tamanho final do pote,
-R é a taxa de crescimento.
Assim, em nossa estimativa, o pote aumentaria para 1,59 vezes seu tamanho a cada
street que passar. A mesma metodologia demonstrada anteriormente nesta seção pode ser
usada para mostrar que devemos dar raise ou betar aproximadamente 0,30 do pote em
cada street para irmos all-in no river. Isso requer que demos raise no flop para 27,3 BBs,
betemos 23,4 BBs no turn, e betemos 36,8 BBs no river.
Entretanto, estes tamanhos de bet não são importantes de se lembrar, e raramente
serão utilizados. A razão para isto é que será difícil, se não impossível, betar o turn após
dar raise no flop e então foldar para um check-raise all-in. Mais especificamente, assim
que betarmos o turn, teremos apenas 36,8 BBs restantes. Assim, quase sempre teremos
odds para dar no check-raise all-in do nosso oponente. Na verdade, se nosso oponente der
check-raise all-in no turn, precisaremos de apenas 18,4% de equidade para que nosso call
seja lucrativo.
(163,2)(X) – (36,8)(1 – X) = 0 =>
X = 0,184
Onde
-36,8 é o preço do call,
-163,2 é o tamanho do pote,
-X é a equidade requerida para que o call seja lucrativo.
Além do mais, existem algumas poucas situações onde estaremos blefando o turn em
um pote 3-betado com uma mão que possui menos que 18,4% de equidade contra o
check-raise all-in do nosso oponente. Isto é verdadeiro pois nosso oponente
frequentemente terá alguns draws em seu range de check-raise, especialmente se ele sabe

111
livro

que às vezes foldaremos e deixaremos ele levar um pote gigantesco sem showdown.
Além disso, se nunca ou quase nunca foldamos para seus check-raises no turn, nós irmos
all-in no turn será superior, já que isso tira a opção do vilão de apenas dar call em nosso
bet. Por estas razões, fazer um pequeno bet no turn em um pote 3-betado após dar raise
no flop é ineficaz.
Outra opção é dar raise no flop com a intenção de utilizar apenas o flop e o turn para
que ambos vão all-in. Isso significa que existem efetivamente duas streets restantes para
agir, e mais uma vez a fórmula do tamanho do bet pode ser usada para estimar qual deve
ser o tamanho do nosso bet e do nosso raise.
50R² = 200 =>
R = 2,00
Como já vimos anteriormente, se o pote deve dobrar a cada street, devemos fazer um
raise de 0,5 pote no flop e um bet de 0,5 pote no turn. Isso requer que demos raise para
37,5 BBs no flop e betemos 50 BBs no turn.
Entretanto, existem muitos problemas em dar raise para 37,5 BBs. Especificamente, o
tamanho do nosso raise no flop agora é tão grande que nosso oponente ficará tentado a
simplesmente ir all-in e destruir nossa vantagem de posição. Além disso, quando seu
shove no flop for bem-sucedido, ele ganhará um grande pote, e mesmo quando ele não
ganhar, ele garante a realização da equidade de sua mão, já que ele está all-in. Por último,
após dar raise para 37,5 BBs, precisaremos de apenas 25% de equidade para dar no shove
do nosso oponente no flop, o que torna estranho dar raise e foldar mesmo com uma broca
com uma overcard.
É melhor pegar um tamanho de raise no flop que seja pequeno o suficiente para que
nosso oponente não possa facilmente ir all-in e destruir nossa vantagem de posição.
Mesmo que não precisemos dar raise em potes 3-betados para ir all-in até o river,
raramente faz sentido dar raise a não ser que tenhamos uma mão forte mas vulnerável.
Isso geralmente acontecerá somente em flops molhados, mas muitos jogadores
geralmente têm medo de dar pequenos raises nestas texturas de board pois eles temem dar
ao seu oponente odds para dar call com um draw. Entretanto, permitir que nosso oponente
dê calls lucrativos com seus draws não é necessariamente um problema.
Aqui está um exemplo. Damos raise no cutoff e damos call no 3-bet do small blind.
Se o flop vier Qs-8s-5d, nosso oponente provavelmente terá muitas brocas em seu range.
Se ele c-betar 12,5 BBs em um pote de 25 BBs, e dermos raise para apenas 25 BBs (o
mínimo), ele pode ser capaz de lucrativamente dar call com algumas ou todas suas
brocas. Portanto, alguns jogadores frequentemente pensam que isso significa que o
tamanho do nosso raise deve ser ruim, já que não fizemos nosso oponente foldar muitas
mãos de alta equidade que possam se tornar a melhor mão no turn.
Seguindo em frente, vamos simplificar as coisas um pouco e presumir que, se dermos
call no bet no flop do nosso oponente quando ele tem uma broca, então seu valor
esperado é de 9 BBs. Isso parece razoável, já que ele fará um straight no turn 8,5% do
tempo, o pote já está grande, e existem implied odds. Mas se damos raise para o mínimo
no flop, mesmo que ele possa lucrativamente dar call com uma broca, os odds são apenas
os suficientes para que ele dê call. Em outras palavras, não seria surpreendente se dar call

112
livro

em um raise com uma broca nesta situação tiver um valor esperado tão baixo quanto
apenas 1 BB.
Então neste exemplo, apesar do fato de que nosso oponente pode lucrativamente dar
call em nosso raise com todas as suas brocas, quando damos raise ao invés de call,
diminuímos grandemente sua expectativa. Aliás, este sentimento de possuir odds apenas
suficientes para dar call e odiando isso deve ser familiar mesmo para jogadores novatos.
Enquanto por várias vezes o tamanho do nosso bet ou raise será pensado para tornar o
valor esperado de muitas mãos do nosso oponente zero, como seria o caso quando
betamos no river ou betamos com um range perfeitamente polarizado, às vezes o melhor
que podemos fazer é simplesmente dimimnuir o valor esperado de muitas das mãos do
nosso oponente. E em potes 3-betados, provavelmente é melhor dar um raise pequeno e
permitir ao oponente que lucrativamente dê call com alguns de seus draws, e forçá-lo a
jogar o turn fora de posição. Isto resulta no range do vilão sendo fraco no turn, e permite
que muitos dos nossos blefes no turn sejam altamente lucrativos.
Assim, fazer raises pequenos para cerca de 25 a 28 BBs no flop é o ideal. Isto ainda
força nosso oponente a defender agressivamente contra nossos raises no flop, já que ele
deve defender significativamente mais que metade de seu range, assim como o força a
constantemente jogar o turn fora de posição. Além do mais, quando ele dá call, temos a
opção de confortavelmente ir all-in no turn para cerca de 75% do pote. E por fim, mesmo
que ele possa dar call no flop com muitos de seus draws, a expectativa desses draws será
significativamente menor quando damos raise e o forçamos a ir all-in ou dar call, que se
nós simplesmente déssemos call.
ENFRENTANDO UM CHECK NO FLOP EM POSIÇÃO APÓS DAR CALL
NO 3-BET
Quando damos call em um 3-bet em posição, é razoável esperar que nosso oponente
frequentemente bete o flop, já que o range de 3-bet pré-flop é polarizado, enquanto o
range de call de 3-bet é condensado. Entretanto, nosso oponente às vezes dará check para
nós em um pote 3-betado, e quando ele fizer isso, jogaremos similarmente a como
jogaríamos quando enfrentando em um check em um pote onde houve apenas raise. Em
outras palavras, betaremos, a princípio, um range polarizado de value bets e blefes, e só
betaremos mãos marginalmente fortes se muitas mãos de alta equidade foldarem.
Embora seja vantajoso estar em posição, ainda iremos querer ter cerca de 3 blefes em
nosso range de bet para cada 2 value bets. Além disso, em texturas de board em que é
difícil para nosso oponente dar check-call, devemos considerar usar um tamanho menor
de bet no flop. Isso torna nosso blefe mais barato e faz com que o nosso oponente
defenda um range mais amplo dando check-call ou check-raise, assim como resulta no
vilão ganhando menos dinheiro quando seu check-raise for bem-sucedido.
Aqui está um exemplo. Damos raise em MP e damos call no 3-bet do big blind. Se o
flop vier 10h-8h-5c, nosso oponente provavelmente terá dificuldade em dar check-call
com mãos de força marginal, já que elas frequentemente se tornarão a segunda melhor
mão no turn. Isso o encoraja a defender seus checks no flop dando check-raise mais
agressivamente, e se betarmos menor teremos menos dinheiro investido se nossa mão se
transformar em um bluff catcher. Portanto, bets pequenos são geralmente eficientes

113
livro

quando nosso oponente tiver dificuldade em dar check-call, e isso é especialmente


verdadeiro no flop em potes 3-betados.
Assim como em potes onde houve apenas um raise, é comum ser capaz de
lucrativamente betar quaisquer duas cartas no flop assim que nosso oponente der check.
Mais especificamente, ele terá que defender pelo menos 67% do tempo para fazer com
que nossos bets de metade do pote não sejam lucrativos, e isto não é algo que ele é
geralmente capaz de fazer. Entretanto, como discutido anteriormente, este não é um
problema para ele pois já arriscamos entre 8 e 9 BBs dando call pré-flop para talvez
conseguir a chance blefar pós-flop. Dar call em 3-bets com mãos fracas ainda será uma
jogada perdedora a menos que nosso oponente dê check-fold em uma alta frequência.
RESUMO
Potes 3-betados no flop não são muito diferentes de potes onde houve apenas raise, a
não ser pelo fato de que mais dinheiro está em jogo, e que não é necessário raise para que
ambos vão all-in no river. Embora perder um pote 3-betado custe caro, o poker ótimo
requere que joguemos agressivamente e que frequentemente coloquemos nosso stack em
risco. Em outras
palavras, devemos defender agressivamente contra os bets no flop do nosso oponente
e não deixar que o medo de que ele possua uma mão extremamente forte nos impeça de
jogar bem.
Como o pote já é grande no flop em potes 3-betados, bets geralmente serão menores
em relação ao pote quando comparados a potes onde houve apenas raise. Isso requer que
uma fração maior do range de bet no flop seja de value bets, já que nosso oponente possui
bons odds para dar call. Entretanto, isso geralmente não é um problema em potes 3-
betados, especialmente considerando que o jogador que 3-betou pré-flop geralmente terá
muitas mãos premium em seu range.
Raises devem ocorrer menos frequentemente no flop em potes 3-betados já que não é
necessário um raise para ir all-in no river. Entretanto, dar raise com uma mão forte porém
vulnerável geralmente é a jogada correta. O raise no flop geralmente deve ser para cerca
de 25 a 28 BBs, e se o turn for betado é melhor ir all-in, já que bet-fold geralmente não
será uma opção.
Aqui estão alguns pontos finais.
1. Jogar em potes 3-betados é similar a jogar em potes onde houve apenas raise.
Geralmente queremos betar mãos fortes por valor, dar check com mãos de força
média e blefar mãos com pouco valor de showdown e alguma equidade.
2. Se houver call no 3-bet pré-flop, o jogador que 3-betou frequentemente estará fora
de posição com um range polarizado, e o jogador que deu call no 3-bet
frequentemente estará em posição com um range condensado. É esperado que o
jogador que 3-betou frequentemente bete no flop e que o jogador que deu call no
3-bet frequentemente defenda dando call.
3. Como ambos os jogadores tiveram que assumir um risco para ver o flop, é
razoável que ambos sejam capazes de betar lucrativamente no flop com quaisquer
duas cartas.
4. Geralmente iremos querer cerca de 3 blefes para cada 2 value bets no flop em

114
livro

potes 3-betados.
5. Dar raise é menos eficiente em potes 3-betados já que ele permite que nosso
oponente vá all-in com um range forte, e não precisamos dar raise para colocar
todo o dinheiro no pote no river.
6. Quando damos raise no flop por valor, geralmente será com uma mão forte mas
vulnerável, que pode acabar se tornando a segunda melhor mão contra mãos no
range de bet-fold do nosso oponente. Mãos que não temem dar free cards para este
range geralmente darão call com a intenção de frequentemente dar raise no turn.
7. Não é necessariamente um problema que nosso oponente possa dar calls lucrativos
com draws fracos no flop em algumas texturas de board.
8. Bets pequenos no flop são eficientes em posição em texturas de flop onde nosso
oponente terá dificuldade em dar check-call.

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livro

CHAPTER EIGHT
Capítulo 8: Jogando o Turn em posição

Capítulo 8:
Jogando o Turn em posição

INTRODUÇÃO
Antes de seguirmos adiante para o jogo no turn, você deve parar por um momento e
se parabenizar por já ter coberto metade da seção teórica deste livro, e pensar sobre tudo
o que já foi discutido. Embora tenhamos discutido apenas jogo pré-flop e jogo no flop,
um jogo sólido no flop não é possível sem ter conhecimento das frequências e proporções
necessárias para o jogo no turn. Da mesma forma, conceitos como equidade, tamanho de
bet e quando blefar quaisquer duas cartas deve ser lucrativo, se aplicarão no turn da
mesma maneira como foram aplicados no flop. Na verdade, mesmo que pouco esforço
tenha sido feito para especificamente tentar melhorar nosso jogo no turn, já devemos ter
uma ideia do que fazer na maioria dos spots simplesmente aplicando os conceitos
anteriormente discutidos.
Em outras palavras, a maioria dos conceitos teóricos necessários para um excelente
jogo no turn já foram introduzidos. E enquanto alguma repetição deve ser útil, nosso foco
primário quando analisando esta street será de aprender novas frequências e proporções e
focar nos aspectos da estratégia do turn que diferem do que era necessário para o flop.
Isto é especialmente importante pois o pote nem sempre será do mesmo tamanho no turn,
e é comum que os ranges agora estejam mais bem definidos.
Por último, é importante notar que apesar do que muitas pessoas pensam, o turn não é
uma street especialmente problemática. Muitos jogadores geralmente pensam isso pois
sua estratégia é fraca no flop, e assim seu range de turn incluirá muitas mãos que são
difíceis e estranhas de se jogar. Assim, boa estratégia de flop deve assegurar que nosso
range no turn será razoavelmente balanceado na maioria dos turns, e isso torna tomar a
linha correta mais fácil de determinar e executar.
DANDO RAISE EM UM BET NO TURN APÓS DAR CALL NO FLOP
Começaremos nossa discussão do jogo no turn estimando a proporção correta entre
raise por blefe e raise por valor no turn quando enfrentando um bet. Entretanto, ao
contrário de potes no flop onde houve apenas raise e nenhum bet pós-flop ocorreu ainda,
quando nosso oponente beta o turn, o pote nem sempre será do mesmo tamanho. Além
disso, é provável que cada jogador possua um range diferente no turn, com o jogador que

116
livro

deu call no flop tendo um range em sua maioria condensado, e o jogador que betou no
flop tendo primariamente um range polarizado. Todavia, quando de fato enfrentarmos um
bet em posição no turn, nossa proporção entre raise por valor e raise por blefe mudará,
baseado em se nosso oponente está betando 15 BBs em um pote de 20 BBs ou se ele está
betando 6 BBs em um pote de 8 BBs.
Isto é, no turn, o pote terá cerca de 8 BBs se ambos os jogadores deram check e cerca
de 20 BBs se houve bet e call no flop. E como foi demonstrado quando analisando o jogo
no flop, precisaremos dar call ou raise pelo menos 57,1% do tempo para evitar que os
bets de 75% do pote do nosso oponente gerem um lucro imediato.
No turn, nosso oponente provavelmente não deve ser capaz de lucrativamente betar
quaisquer duas cartas após darmos call em sua bet no flop. Isto é especialmente
verdadeiro se não defendermos o flop de uma forma não muito agressiva e se
defendermos principalmente dando call. Neste caso, o blefe do vilão no flop muitas vezes
foi bem-sucedido, e mesmo quando não for, ele geralmente terá a oportunidade de
melhorar no turn e continuar blefando. Em outras palavras, se foldarmos em uma
frequência razoável para os bets do nosso
oponente no flop, ele efetivamente pagará muito pouco dinheiro, em média, para ver o
turn, e como ele consegue ver o turn tão barato, não podemos permiti que ele
lucrativamente blefe com quaisquer duas cartas ou ele nunca irá de check-fold no flop.
Já discutimos como defender contra os bets do oponente no turn se ele betar 15 BBs
em um pote de 20 BBs e queremos defender dando call, então agora vamos considerar o
raise. Mais uma vez, podemos começar analisando qual size precisaríamos utilizar se
quisermos dar raise e betar frações iguais do pote no turn e no river. Note que o tamanho
inicial do pote é de 50 BBs, já que este é o tamanho que o pote teria se somente déssemos
call no bet do nosso oponente no turn.
50R² = 200 => R = 2,00
Isto é, o pote precisa crescer o suficiente para dobrar seu tamanho anterior a cada
rodada adicional de raise ou bet, e se o pote dobrar de 50 para 100 BBs no turn,
precisamos dar raise no bet do nosso oponente no turn de 15 para 40 BBs, e continuar
com um shove de 50 BBs no river.
Entretanto, o problema com dar raise para 40 BBs no bet do vilão no turn é que
deixamos, relativo ao tamanho do pote, pouco dinheiro para trás. Em particular, se nosso
oponente for all-in no turn após nosso raise, o pote será de 150 BBs e teremos apenas 50
BBs restantes. Isto significa que teremos odds de 3-para-1 para dar call, e precisamos ter
apenas 25% de equidade para que nosso call seja lucrativo. Assim, se torna muito difícil
para nós dar raise no turn e foldar para o shove do vilão no turn, especialmente
considerando que ele garante a realização da equidade de seus blefes e vencerá um pote
gigantesco se foldarmos.
Perceba que isto não é diferente do que ocorre em potes 3-betados quando damos
raise no flop e betamos o turn sem ir all-in. Isto é, simplesmente não é eficaz dar raise ou
betar o turn em posição e deixar tão pouco dinheiro para trás, já que nosso oponente
poderá ir all-in e destruir nossa vantagem de posição, e quase sempre teremos os odds
corretos para dar call.

117
livro

Assim, um raise pequeno no turn geralmente é mais eficiente que um raise grande, já
que isto força o oponente a defender um range mais amplo e o encoraja a dar call. Isto
também permite que frequentemente joguemos o river em posição. Entretanto, existirão
situações em que raises grandes são apropriados e não devemos entrar no hábito de
pensar que apenas um tamanho de raise funciona neste spot.
Então, vamos supor que damos raise no bet de 15 BBs do turn do oponente para 33
BBs, e planejamos, se betarmos no river, ir all-in de 57,5 BBs. Este tamanho de bet torna
mais difícil para nosso oponente defender apenas indo all-in ou foldando contra nosso
raise no turn, assim como resulta no vilão ganhando menos dinheiro quando foldarmos.
Assim como antes, é mais fácil visualizar a situação trabalhando de trás para frente.
Se dermos raise no bet do oponente no turn para 33 BBs e ele der call, o pote terá 86 BBs
no river. Se então betarmos 57,5 BBs, 71,4% dos nossos bets no river deverão ser value
bets para torná-lo indiferente a dar call.
(143,5)(1 – X) – (57,5)(X) = 0 =>

X = 0,714
Onde
-143,5 é o tamanho do pote,
-57,5 é o tamanho do nosso bet, e
-X é a porcentagem dos nossos bets no river que devem ser value bets
Mas, quando damos raise no turn para 33 BBs, nosso oponente arrisca apenas 18 BBs
para dar call e potencialmente ganhar um pote de 68 BBs. Se usarmos este tamanho de
raise no turn, ele precisa efetivamente perder 79,1% do tempo no river para que seu call
no turn seja break even.
(68)(1 – X) – (18)(X) = 0 => X = 0,791

Onde
-68 é o tamanho do pote após darmos raise no turn,
-18 é o preço para dar call, e
-X é a frequência em que o oponente precisa efetivamente perder para ser indiferente
a dar call
Perceba também que nosso oponente pode perder no river de duas formas. Primeiro,
ele efetivamente perderá quando enfrentando um bet no river contra um range balanceado
já que o valor esperado, tanto de dar call quanto de foldar, será de zero. Segundo, ele
também perderá sempre que ele der check com a melhor mão. Lembre-se que, na
verdade, nem sempre value betaremos a melhor mão no river pois às vezes a mão
vencedora será fraca. Por exemplo, às vezes daremos raise por blefe com uma broca no
turn e conseguiremos um par no river, e esta mão pode vencer no showdown após dar
check se nosso oponente tiver um missed draw.
Entretanto, nós não daremos check behind no river com a mão vencedora
frequentemente. Isto é, se nossa estratégia fizer com que demos check behind
frequentemente com a mão vencedora, não seremos capazes de betar o river com um
range balanceado nem próximo dos 79,1% do tempo requeridos para tornar nosso

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livro

oponente indiferente a dar call no turn. Perceba que isto provavelmente é uma frequência
de bet no river muito mais alta que a maioria dos jogadores esperaria – betar quase 4 em
cada 5 vezes – e isso porque nosso oponente tinha bons odds para dar call no turn.
Estas frequências também podem ser multiplicadas para determinar qual a
porcentagem dos nossos raises no turn precisam ser capazes de value betar no river se
nunca dermos check behind com a mão vencedora. Se betarmos o river 79,1% do tempo
após betar o turn e se 71,4% dos nossos bets no river forem value bets, então 56,5% dos
nossos raises no turn devem ser capazes de value betar o river.
0,565 = (0,791)(0,714)
Onde
-0,791 é a frequência de bet no river, e
-0,714 é a porcentagem dos bets no river que são value bets
Na verdade, geralmente teremos pelos menos alguns blefes em nosso range de raise
no turn, que possam conseguir um par marginal no river e potencialmente vencer se o
vilão der check, e isso permite que blefemos um pouco mais agressivamente.
Aqui está um exemplo. O board é Qs-8h-4c-5s e damos raise com Jc-10c. Se nosso
oponente der call, podemos confortavel dar check behind se o river vier um J ou 10 e
venceremos se o vilão tiver um missed draw.
Isso nos leva à nossa próxima regra:
Como nossos blefes no turn às vezes se tornam mãos marginais no river que
podem ser jogadas de check e vencer no showdown, devemos ter aproximadamente
1 blefe para cada raise por valor no nosso range de raise no turn, quando
enfrentando um double barrel.
Perceba também que nosso range de raise no turn deve incluir uma porcentagem mais
alta de mãos de valor que em nosso range de raise no flop já que o SPR está maior
(proporção entre o tamanho dos stacks e o tamanho do pote) e existe uma street a menos
para agir. Além disso, como dar raise torna o range do nosso oponente muito mais forte
no river que quando ele dá call, geralmente só faz sentido dar raise por valor com mãos
que estejam à frente da maioria de seus value bets no turn.
DANDO RAISE EM UM BET NO TURN APÓS AMBOS DAREM CHECK NO
FLOP
Quando nosso oponente dá check no flop e nós damos check behind, é
frequentemente razoável pensar que ele deve ser capaz de lucrativamente betar quaisquer
duas cartas de seu range no turn. Mais especificamente, nosso oponente pode ter dado
check com uma mão muito forte planejando dar check-raise, mas é improvável que
demos check behind no flop com uma mão forte. Isso significa que seu range no turn
frequentemente será mais forte que o nosso, mas como não garantido que ele teria a
oportunidade blefar o turn quando ele deu check no flop (já que nós mesmos
frequentemente betaremos o flop), isso não é um problema.
Se nosso oponente beta 6 BBs em um pote de 8 BBs no turn, podemos calcular qual
tamanho de bet nos permite que betemos e demos raise com frações iguais do pote nas
duas streets restantes. Note que o tamanho inicial do pote é de 20 BBs, já que este é o
tamanho que o pote teria se apenas déssemos call no bet do vilão no turn.

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livro

20R² = 200 =>R = 3,16

Onde
-20 é o tamanho inicial do pote,
-200 é o tamanho final do pote, e
-R é a taxa de crescimento do pote;
Se o pote deve crescer 3,16 vezes o seu tamanho anterior a cada rodada adicional de
apostas ou raises, então precisamos fazer um raise ou bet de aproximadamente 1,08 pote
em cada street. Com este raise e tamanho de bet, o pote crescerá para 63,2 BBs no turn e
200 BBs no river
63,2 = (20)(3,16)
Onde
-20 é o tamanho inicial do pote no turn,
-3,16 é taxa de crescimento.
200 = (63,2)(3,16)
Onde
-63,2 é o tamanho inicial do pote no river,
-3,16 é a taxa de crescimento.
Colocado de outra forma, precisamos dar raise e betar ligeiramente maior que o pote
no turn e no river para ir all-in antes do showdown. Isso requer um enorme raise no turn,
já que crescer o pote para 63,2 BBs significa que teremos que dar raise em um bet de 6
BBs para 27,6 BBs!
Entretanto, raises deste tamanho são improváveis de ocorrer na prática. Isso pois
nosso oponente geralmente terá muitas mãos extremamente fortes em seu range, que não
foram bem-sucedidas em dar check-raise por valor no flop, além de qualquer mão forte
que ele tenha feito no turn. Assim, vamos querer dar raise com um valor um pouco
menor. Por esta razão, um tamanho de raise mais razoável entre 18 e 20 BBs é preferível.
Portanto, overbetar o river geralmente será a melhor opção caso o vilão dê call em
nosso raise no turn. A razão para isso é que estamos mais inclinados a dar raise em
texturas de board conectadas para que nosso oponente não veja free cards de forma
barata, e estas são as mesmas texturas de board onde ele geralmente ficará com medo e só
dará call em nosso raise com suas mãos mais fortes. Em outras palavras, se nosso
oponente meramente der call em nosso raise no turn e nos der a oportunidade de fazer
com que nossa mão se torne a melhor no river, seria seguro presumir que ele não terá uma
mão forte em um river blank.
Aqui está um exemplo. Nosso oponente dá raise no cutoff e damos call com Qh-10h
no button. O flop vem Qd-6c-4c e ambos damos check no flop. Se o turn vier o 10d e
dermos raise no bet do oponente, ele ficará tentado a 3-betar se ele possuir dois pares ou
uma mão melhor. Isso porque existem muitos draws de straight ou flush possíveis nesta
textura de board, e dando call ele se arrisca a deixar com que nossos blefes se tornem a
melhor mão, ou perder valor caso o river nos assuste o suficiente e dermos check behind.
Em contraste, devemos estar menos inclinados a dar raise em texturas de board onde
nosso oponente se sentirá confortável dando call com suas mãos fortes. Isto é, as texturas

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livro

de board onde ele se sente confortável em deixar nossos raises por blefe verem uma carta
adicional geralmente são as mesmas texturas de board onde nos sentimos confortáveis em
fazer slowplay até o river.
Por exemplo, se o nosso oponente der check para nós no flop Kc-2s-2d e nós dermos
check behind, é improvável que o turn 8h nos faça querer dar raise. Isto é, qualquer mão
forte o suficiente para dar raise no turn por valor, como uma trinca de oitos, não temer dar
free cards. Assim, dar call no turn com a intenção de dar raise no river será a jogada
superior. Consequentemente, nosso oponente geralmente só enfrentará um raise em
texturas de board onde ele achará difícil jogar o river fora de posição.
Além disso, devemos notar que muitos jogadores pensam que não pode ser correto
overbetar o river e deixar apenas um pouco de dinheiro para trás. Mas não existe nada
teoricamente errado como este tamanho de bet. Jogadores geralmente ficam frustrados
quando eles têm que foldar e possuem bons odds para dar call, mas é importante se
lembrar que é o preço do blefe do nosso oponente que determina nossa frequência de call.
O fato de que nossos odds para dar call são tão bons significa simplesmente que nosso
oponente pode estar apenas raramente blefando (caso contrário ele pode ser explorado já
que dar call com bluff catchers será lucrativo).
Suponhamos que decidimos dar raise no bet de 6 BBs do nosso oponente para 20 BBs
(fazendo com que o pote tenha 48 BBs depois que ele der call) e às vezes betaremos 55
BBs no river. Mais uma vez, podemos trabalhar de trás para frente para descobrir qual
porcentagem dos nossos raises no turn devem ser capazes de value betar o river para
manter nosso oponente indiferente a dar call no turn.
Se ele dar call em nosso raise no turn para 20 BBs, o tamanho do pote será de 48 BBs
no river antes que qualquer aposta aconteça. E quando betamos 55 BBs em um pote de 48
BBs no river, 65,2% dos nossos bets devem ser value bets.
(103)(1 – X) – (55)(X) =>X = 0,652
Onde
-103 é o tamanho do pote,
-55 é o tamanho do nosso bet,
-X é a porcentagem dos nossos bets no river que devem ser value bets.
E no turn, quando damos raise em um bet de 6 BBs para 20 BBs, nosso oponente
pode dar call e arriscar 14 BBs para ganhar 34 BBs. Isso requer que ele efetivamente
perca 70,8% do tempo no river para que ele seja indiferente a dar call no turn.
(34)(1 – X) – (14)(X) = 0 =>X = 0,708
Onde
-34 é o tamanho do pote,
-14 é o preço do call,
-X é a frequência que nosso oponente deve perder para ser indiferente a dar call.
Mais uma vez, nosso oponente efetivamente perde no river quando nós betamos um
range balanceado ou damos check behind com a mão vencedora. Se nunca dermos check
behind com a melhor mão no river, então o river deve ser betado 70,8% do tempo após
betar o turn, e 65,2% dos nossos bets no river devem ser value bets. Isso requer que
46,2% do nossos raises no turn sejam capazes de value betar o river.

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livro

0,462 = (0,708)(0,652)
Onde
-0,708 é a frequência de bet no river,
-0,652 é a porcentagem dos bets no river que devem ser value bets.
Mais uma vez, enquanto este modelo nos dá uma boa estimativa de qual porcentagem
dos nossos raises no turn devem ser raises por valor, ele não leva em conta que temos
posição e às vezes teremos uma mão de força marginal no river que podemos dar check
behind. Por causa disto, é seguro blefar um pouco mais agressivamente no turn.
É difícil dizer qual porcentagem dos nossos raises no turn devem ser capazes de value
betar o river, especialmente considerando que nem sempre usaremos o mesmo tamanho
de bet no river. Por exemplo, não é incomum ir all-in para cerca de 1,5 pote em alguns
rivers, enquanto que em outros spots, fazer bets menores será a melhor estratégia. Mesmo
assim, é provavelmente razoável presumir que geralmente vamos querer que entre 40 e
50% dos nossos raises no turn sejam raises por valor após ambos os jogadores darem
check no flop.
Finalmente, é importante se lembrar que fortaleceremos grandemente o range de all-in
do nosso oponente quando damos raise no turn. Em particular, como nosso raise no turn e
bet no river geralmente são grandes em relação ao tamanho do pote, nosso oponente pode
foldar muito do seu range sem medo de ser explorado. O resultado é que ele geralmente
irá all-in com cerca de 25 a 35% de seu range de bet no turn quando enfrentando um raise
no turn e um bet no river. Assim, nossos raises no turn por valor devem ser mãos muito
fortes. Entretanto, existem exceções, e algumas vezes uma mão mais fraca deve ser
jogada de raise por valor se ela fizer foldar muitas mãos de alta equidade que possam se
tornar a melhor mão no river.
COLOCANDO MÃOS NO RANGE CERTO NO TURN EM POSIÇÃO
Agora precisamos visualizar o range de cada jogador no turn baseado na ação no flop.
Fazer isto permite com que sigamos a linha com o maior valor esperado e utilizemos um
tamanho de bet que faça sentido.
ENFRENTANDO UM BET NO TURN APÓS DAR CALL NO FLOP
Se o nosso oponente beta tanto o flop quando o turn, ele está representando um range
polarizado. Embora ele possa ter betado as duas streets por valor com a intenção de dar
check no river (como é uma prática comum em boards molhados onde não é interessante
dar free cards), a maioria dos value bets do nosso oponente no turn geralmente serão
mãos com as quais ele planeja betar no river.
Então quais são os tipos de mãos de que consiste nosso range, que mudam
drasticamente baseados na textura do flop? Por exemplo, se a textura é seca, como no
flop Jh-6c-2d, provavelmente temos muitas trincas em nosso range, já que o slowplay não
é arriscado. Mas se o turn colocar muitos draws no range de cada jogador, como se o 7c
vier, agora podemos dar raise usando uma proporção de raise por valor e raise por blefe
de 1-para-1. Isso coloca o oponente em um spot difícil com todos os seus pares e draws, e
nos permite jogar o river efetivamente em posição. E se não dermos raise, nossa
estratégia será continuar a dar call com nossas mãos de força marginal e a maioria dos
nossos draws.

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livro

Se dermos call no bet do oponente no flop em uma textura molhada de board, o turn
às vezes melhorará muitas mãos em nosso range e nos permitirá desenvolver um range de
raise. Aqui está um exemplo. Damos flat call no button contra um raise do cutoff e o flop
vem 10s-9s-7c e o turn vem 4s. Podemos dar raise com alguns dos nossos flushes assim
como com alguns blefes. Como nosso oponente sabe que nossa estratégia será às vezes
dar raise neste tipo de turn, e provavelmente não overbetará, e ao contrário fará bets de
tamanho médio, de cerca de 60% do pote.
Em outras ocasiões, o turn pode vir um blank após darmos call em um bet no flop em
um board molhado. Quando isso acontece, haverão poucas ou nenhuma mão forte em
nosso range. Como nós nunca, ou quase nunca, daremos raise no bet no turn do nosso
oponente nesta situação, ele deve considerar o overbet. Isso maximiza o valor que ele
extrai com suas mãos fortes assim como previne que sejamos capazes de ver o river a um
preço barato, e assim melhoremos nossa mão.
Para ilustrar isso, imagine o mesmo flop (10s-9s-7c), exceto que o turn vem o 4d ao
invés do 4s (não colocando nenhum flush no nosso range). Quando isto ocorre, não
haverão mãos no nosso range que possam eficazmente dar raise no bet no turn do nosso
oponente, e embora ele deva usar tamanhos múltiplos de bet no turn, ele deveria também
possuir algum range de overbet. E por mais que seja indesejável enfrentar às vezes bets
muito grandes no turn, devemos simplesmente aceitar que o turn foi ruim para nosso
range e dar call com nossos melhores bluff catchers e draws.
ENFRENTANDO UM CHECK NO TURN APÓS DAR CALL NO FLOP
Existem alguns possíveis tipos de mãos que nosso oponente pode ter se ele der check
no turn após betar no flop. O mais comum é um blefe que ele está planejando jogar de
check-fold. Lembre-se, a proporção entre value e bet blefe do vilão deve aumentar no
turn, e a forma mais óbvia de fazer isto é desistir de alguns blefes que foram betados no
flop, que agora possuem pouca chance de melhorar no river.
Nosso oponente pode também possuir uma mão de força marginal que ele planeja
jogar de check-call. Isso comumente ocorre quando seu blefe no flop melhora para uma
mão de força média no turn, como quando ele blefa com Qs-10s no flop Kc-9s-5h, e o
turn vem o 10c. Além disso, no flop, ele pode ter betado uma mão pronta de força média
para fazer com que mãos de alta equidade foldem, e agora está jogando o turn de check-
call.
Por último, nosso oponente pode estar planejando dar check-raise usando uma
proporção de check-raises por valor e check-raises por blefe de cerca de 1-para-1. Como
vimos quando analisando o jogo no flop fora de posição, dar check-raise é extremamente
eficaz em punir jogadores que value betam muito frequentemente ou que betam muito
alto. Isso porque toda mão forte que nosso oponente der check-raise por valor permite a
ele que dê check-raise por blefe com mãos adicionais em um range balanceado. Além
disso, é mais provável que ele dê check-raise em texturas de board no turn onde ele tenha
dificuldade em jogar de check-call e onde seja arriscado dar free cards.
Um leak significativo que a maioria dos jogadores possuem é que eles não ajustam o
tamanho de bet no turn baseado na força do range de check do seu oponente. Mais
especificamente, bets maiores são mais eficazes em texturas de board onde nosso

123
livro

oponente possui muitas mãos de força média que querem jogar de check-call, e bets
menores são mais eficazes em texturas de board onde ele provavelmente não jogará de
check-call mas jogará frequentemente de check-raise.
Aqui está um exemplo. O MP dá raise e damos flat call no button. Se o flop vier Kh-
7h-3c e nosso oponente betar, quais mãos em seu range irão querer jogar de check-call no
turn 2s? Enquanto existem algumas mãos de força média, como 10-10 ou 9-9, que ele
pode querer betar o flop e dar check-call no turn, esta não é uma textura de flop onde é
provável que ele bete com a intenção de betar apenas uma street por valor. Como
resultado, betar menor no turn torna seus check-raises no turn menos eficazes, e o força a
expandir seu range de check-call no turn, e isso, por sua vez, nos permite utilizar o valor
da posição no river.
Em outras situações, iremos querer betar um pouco maior. Suponha a mesma ação e o
mesmo flop Kh-7h-3c como antes, mas agora imaginemos que o turn é Qs ao invés de 2s.
Este turn coloca muitas mãos de força marginal no range de nosso oponente, como um
par de damas, que não é forte o suficiente para betar mas pode facilmente jogar de check-
call. Portanto, é razoável betar maior aqui com algumas mãos fortes e blefes, já que este
tamanho de bet é mais eficaz contra mãos de força marginal.
No geral, a maioria dos jogadores estão atualmente betando muito alto no turn quando
o oponente joga de check após betar o flop. Isso porque o oponente ainda pode ter mãos
fortes que ele está planejando jogar de check-raise em seu range, e se ele possuir poucas
mãos de força marginal em seu range, ele geralmente não irá querer jogar de check-call,
de qualquer forma.
Na verdade, bets pequenos são particularmente eficazes contra jogadores que
possuem poucas mãos de força média em seu range de check, por três razões principais:
1) Betar o turn requer que o nosso oponente pague para ver uma free card, para que ele
tenha uma chance grátis de fazer com que sua mão se torne a melhor mão. Além disso,
muitas das mãos que ele jogará de check-fold terão alguma equidade contra nosso bet, e
fazer com que ele constantemente folde mãos com 10 ou 15% de equidade é
significativo.
2) Betar tanto o turn quanto o river nos permite blefar mais mãos enquanto permanecemos
balanceados. Em outras palavras, podemos blefar mais se dois rodadas de apostas são
utilizadas ao invés de apenas uma.
3) Bets pequenos forçam nosso oponente a defender seus checks mais amplamente dando
check-call no turn. Isso permite que joguemos o river mais frequentemente em posição.
Sabemos que estamos no Equilíbrio de Nash quando nenhum jogador possui um
incentivo para mudar sua estratégia. Especificamente, devemos descobrir se um dos
jogadores possui um incentivo para mudar se fazemos bets pequenos em uma alta
frequência no turn, quando nosso oponente não pode ter muitas mãos de força média.
Primeiro perceba que as tentativas de check-raise do vilão serão bem-sucedidas em
uma alta frequência se betarmos frequentemente no turn. Mas se nosso bet for pequeno
relativo ao tamanho do pote, ele não ganhará muito mais dinheiro que ele ganharia se ele
mesmo betasse o turn. Mas é bastante ruim para ele quando seu check-raise falha, já que
uma rodada de apostas é removida do jogo e mãos fracas que teriam foldado para um bet

124
livro

(como brocas) conseguem uma chance de melhorar. Como resultado, nosso oponente não
terá um incentivo para imprudentemente dar check-raise. Quando seu check-raise for
bem-sucedido, ele recebe apenas uma pequena recompensa, mas quando o check-raise
falha, é muito pior que seria se sua estratégia fosse betar.
Como a maioria das mãos que o nosso oponente planeja dar check-fold são bastante
fracas, um bet pequeno é tudo o que é necessário para forçá-lo a foldar ou dar um call que
seja break even. E se ele raramente der check-raise (no turn) e betarmos baixo em uma
alta frequência quando ele der check, parece que nenhum jogador tem um incentivo para
mudar. Isso faz muito mais sentido para nós que betar alto, já que se betarmos um valor
alto em uma alta frequência, nosso oponente pode nos explorar dando check-raise sempre
com suas mãos fortes. Então betar baixo nos permite negar a ele free cards sem ser
explorado por seus check-raises.
Jogadores frequentemente entram no hábito de betar de 65 a 75% do pote (ou dar
check) na maioria das situações sem parar para se perguntar “Este tamanho de bet é o
tamanho que faz mais sentido com a mão que tenho contra o range do meu oponente?”
Não devemos cometer este erro, e precisamos estar dispostos a betar todos os tipos de
tamanho diferentes, baseado em nosso range, no range do oponente e na textura de board.
Não há nada de errado em betar 25% do pote no turn se a situação exigir isto.
ENFRENTANDO UM CHECK NO TURN DEPOIS DE BETAR NO FLOP
Se nosso oponente der check para nós no turn após nós betarmos o flop, nosso range
deve ser polarizado enquanto o dele será condensado. Embora às vezes demos check
behind com uma mão de força marginal no turn, geralmente estaremos dando check
behind com mãos fracas que foldarão para o bet do nosso oponente no river.
Como mostrado anteriormente, vamos querer usar uma proporção entre blefe e value
bet no turn de cerca de 1-para-1 se nossos value bets forem fortes. Como
intencionalmente betamos por valor mãos no flop que são capazes de betar duas ou três
streets por valor, e blefamos que retenham bem sua equidade, geralmente é bem claro
com quais mãos devemos blefar ou value betar no turn.
Entretanto, existem algumas texturas de board onde é fácil se deixar levar e blefar
frequentemente demais. Aqui está um exemplo. Se o board for Jc-10c-6h-5h, é fácil betar
imprudentemente já que nosso range tem muitos flush draws, duas pontas e brocas
(muitas das quais possuem overcards). Então se betarmos todas as nossas brocas, nosso
range de bet provavelmente incluirá blefes demais, e nosso oponente pode nos explorar
dando call ou dando check-raise agressivamente. Este é um erro comum que jogadores
cometem quando eles seguem um regra do tipo “blefe com brocas, pares com cinco outs e
draws fortes no turn”.
Em contraste, em um board como Ks-5c-5h-2d, não existem muitas mãos que servem
como blefes excelentes. Em outras palavras, existem poucas ou nenhuma mão em nosso
range que possuem pouca equidade de showdown, mas que retém bem sua equidade
quando betadas. Mas se planejamos value betar muitos top pairs no turn, é crucial que
sejam incluídos blefes em nosso range também. Aqui, com qual mão blefamos importa
pouco, já que a maioria dos nossos potenciais blefes provavelmente estão drawing dead
para o par de reis do nosso oponente.

125
livro

É importante sempre estar consciente da textura de board e não blefar mãos demais ou
de menos. Em geral, novos jogadores geralmente blefarão imprudentemente em boards
molhados já que existem muitas mãos em seu range que possuem pouco valor de
showdown mas que podem, no river, melhorar e se tornar a melhor mão.
Da mesma forma, eles não blefarão o suficiente em texturas de board onde existem
poucas brocas e flush draws já que eles não estão acostumados a ter que blefar com mãos
que possuem tão pouca equidade quando receberem um call. Não devemos cometer este
erro contra oponentes fortes e devemos analisar cada textura de board para assegurar que
nosso range de bet está balanceado.
ENFRENTANDO UM CHECK NO TURN DEPOIS DE DAR CHECK BEHIND
NO FLOP
Se nosso oponente deu check tanto no flop quanto no turn, ele demonstrou fraqueza
duas vezes. Como resultado, geralmente será lucrativo betar quaisquer duas cartas.
Entretanto, só porque é lucrativo betar não significa que devemos betar nosso range
inteiro, e betar um range polarizado que consista das nossas mãos prontas mais fortes e
blefes será o melhor.
É também importante notar que geralmente é mais lucrativo deixar passar uma
oportunidade lucrativa de blefar no flop com a intenção de betar o turn se nosso oponente
der check mais uma vez. Este é um conceito importante que muitas vezes é
negligenciado. Jogadores que se recusam a deixar passar oportunidades de blefar com
mãos fracas frequentemente possuem um range transparente no turn e podem facilmente
ser explorados.
Aqui está um grande exemplo. Damos call no button contra um raise de MP e nosso
oponente dá check para nós no flop Qh-7c-4c. A maioria dos jogadores automaticamente
betará todas as suas mãos fracas, já que betar quaisquer duas cartas é provavelmente
lucrativo. Mas este é um erro contra oponentes fortes, já que se betarmos todas as nossas
mãos fracas no flop, seus check-raises serão muito eficazes. Além do mais, nosso
oponente saberá que se dermos check, nossa mão quase sempre será uma mão de força
média (no turn), e isso faz com que seja impossível betar um range balanceado.
Imagine que no flop acima decidamos dar check behind com Ah-Jh ao invés de betá-
lo. Embora tenhamos recusado betar em um spot lucrativo para blefar, nosso oponente
deve, no turn, dar check novamente com muitas mãos fracas com a intenção de dar
check-fold. Isto faz sentido já que ele provavelmente perceberá que demos check no flop
com um par marginal como Qd-Jc ou 10s-10d para evitar um potencial check-raise. Mas
se nosso oponente estiver forte no turn, ele provavelmente betará esperando que nós
demos call com estas mãos. Então quando isto acontecer, podemos foldar se o turn não
melhorou nossa mão, o que acontecerá se não vier nenhum ás, valete, ou copas.
Geralmente é complicado dizer se uma mão deve ser blefada no flop ou se deve ser
jogada de check behind com a intenção de blefar uma street futura. Como mencionado
anteriormente, devemos enfatizar dar check com mãos que melhorarão nos mesmos turns
que as mãos no range de check-fold do nosso oponente. Isto frequentemente é verdadeiro
mesmo se betar o flop fizer algumas mãos melhores foldarem. Isso porque um bet em
uma street futura provavelmente fará estas mãos foldarem de qualquer forma.

126
livro

Aqui está um exemplo. Damos call no button em um raise de MP com Ad-Kc, e o flop
vem Jh-8h-6c. Dar check behind com A-K neste flop provavelmente é o melhor, já que
nosso oponente pode ter A-Q ou K-Q que ele esteja planejando em jogar de check-fold.
Perceba que dar check behind permite com que façamos top pair no turn e extraiamos
valor do nosso oponente quando ele fizer o mesmo pair com um kicker pior. Além disso,
se ele der check com um pocket pair fraco no flop, ele provavelmente dará check
novamente no turn e no river. Isto nos dá a oportunidade de blefar em uma street futura e
fazer ele foldar a melhor mão.
Em contraste, betar é melhor se temos uma mão como Kc-10c no flop Jh-8h-6c.
Nossa mão retém muito bem sua equidade quando beta, já que ela possui potencial de
conseguir um runner runner straight ou flush. Além do mais, agora é desejável betar o
flop e fazer com que o oponente folde algo como K-Q.
Por último, é importante notar que nosso range geralmente será capado no turn
quando betarmos após dar check no flop. Isso significa que sempre que nosso oponente
der check-raise, nossa mão, na melhor das hipóteses, será um bluff catcher. Entretanto,
isto não é um problema. Nosso oponente pode dar check-raise apenas em uma certa
frequência e continuar balanceado, e é arriscado para ele dar check no turn com uma mão
forte. E quando ele de fato der check-raise, temos que simplesmente dar check até o river
com uma frequência suficiente para que ele não possa blefar tão agressivamente. Isto é
verdadeiro mesmo se a expectativa de dar call for zero com todos os bluff catchers do
nosso range.
ENFRENTANDO UM BET NO TURN APÓS DAR CALL EM UM CHECK-
RAISE NO FLOP
Após um check-raise no flop, nosso oponente geralmente betará cerca de 25 BBs no
turn em um pote de 44 BBs. Este bet precisa ser bem-sucedido do tempo para gerar um
lucro imediato, então no turn, precisamos defender pelo menos 63,8% do nosso range
para evitar que ele seja capaz de lucrativamente betar quaisquer duas cartas. Entretanto,
saber se dar call ou raise é melhor vai depender de quão arriscado é dar free cards para
mãos no range de bet-fold do oponente.
Como o preço para dar call no turn é de 25 BBs para ganhar 69 BBs, nosso oponente
deve ter o river em uma alta frequência para nos tornar indiferentes a dar call com nossos
bluff catchers. Isso torna dar call com nossas mãos fortes tentador, já que o range do vilão
deve ser bastante polarizado e ele provavelmente betará todas as suas mãos fortes no
river, além de alguns blefes.
Entretanto, após nosso oponente betar o turn, ir all-in também é uma opção razoável,
já que o tamanho dos stacks será pequeno em relação ao tamanho do pote. Isto é
verdadeiro mesmo que seu range seja polarizado e tenhamos posição. Quando vamos all-
in, garantimos a realização da equidade da nossa mão, e ir all-in evita que nosso oponente
veja o river e realize a equidade de seus blefes. Isto é especialmente significativo já que
um jogador habilidoso irá check-raise blefar no flop com mãos, como brocas, backdoor
flush draw ou backdoor straight draw, que retém bem sua equidade. Muitos destes blefes
terão vários outs para o nuts no river. Então ir all-in no turn geralmente faz com que
nosso oponente folde seus draws mais fracos e dê calls apenas ligeiramente lucrativos

127
livro

com seus draws mais fortes.


Como mostrado anteriormente, quando recebemos um call em nosso blefe all-in,
esperamos, em média, receber 2 BBs de volta para cada porcento de equidade que nossa
mão possui. Este é o mesmo conceito discutido quando 5-bet blefando pré-flop e
shovando no turn em potes 3-betados, e torna nossos blefes muito mais baratos a longo
prazo que eles seriam normalmente.
Por exemplo, suponha que o blefe mais fraco em nosso range em uma determinada
textura de board tenha 20% de equidade contra o range de call do nosso oponente. Isto é,
no turn, aproximadamente a equidade que flush draws e duas pontas possuem contra a
maioria dos ranges de call. Então, se formos all-in com 79 BBs, apenas perderemos, em
media, 38,7 BBs quando receberemos um call.
- 38,7 = (0,20)(201,5) – 79
Onde
-201,5 é o tamanho do pote, e
-79 é o tamanho do raise no turn.
Por perdermos apenas, em média, 38,7 BBs quando recebermos um call, isso é o que
estamos efetivamente arriscado quando shovamos no turn. E arriscando 38,7 BBs para
ganhar 69 BBs requer que nosso oponente dê call 64,1% do tempo para nos manter
indiferentes a shovar ou foldar.
(69)(1 – X) – (38,7)(X) = 0 => X = 0,641
Onde
-69 é o tamanho do pote,
-38,7 é o preço efetivo do nosso blefe,
-X é a frequência de call do nosso oponente.
Então se nosso oponente quer nos tornar indiferentes a shovar o turn com flush draws
e straight draws, ele precisará dar call com aproximadamente 64,1% do seu range de bet
do turn. Isso geralmente não é um problema enquanto que ele estiver disposto a dar call
com alguns draws (contanto que estes draws às vezes possam vencer sem que precisem
melhorar), já que 64,1% do seu range de bet no turn não serão value bets. Além do mais,
pode simplesmente ser o caso de que em alguns spots é possível para nós lucrativamente
shovar o turn com duas pontas e flush draws porque nosso oponente não consegue
defender 64,1% do tempo. Mesmo assim, estas mãos não são bluff catchers, e ser capaz
de fazer um blefe ligeiramente lucrativo com um draw após assumir um risco não
significa necessariamente que nosso oponente cometeu um erro ou está sendo explorado.
É também difícil dizer se shovar ou dar call no turn por fim requer que nosso
oponente vá all-in com um range mais amplo ou não. Isso porque seu range de bet no turn
não será perfeitamente polarizado, e como ele pode conseguir uma mão de força marginal
no river, não podemos concluir exatamente quão frequentemente ele deve betar o river.
Além disso, quanto mais equidade nossos blefes possuem no turn, mais frequentemente
nosso oponente precisa dar call no nosso shove no turn. Isto é, blefes de alta equidade não
precisam ser bem-sucedidos muito frequentemente para serem lucrativos, então se nossos
blefes possuem muita equidade, nosso oponente deve frequentemente dar call para nos
tornar indiferentes entre o shove e o fold.

128
livro

Mas provavelmente o mais importante fator para determinar entre o shove e o call no
turn com uma mão forte é se o shove faz com que nosso oponente folde muitas mãos de
alta equidade. Por exemplo, no exemplo anterior presumimos que ele deu call 64,1% do
tempo e foldou 35,9% do tempo. Se tivermos uma mão forte que seja vulnerável a se
tornar a segunda melhor por mãos no pior 35,9% do range de bet no turn do oponente,
então shovar quase certamente será melhor que dar call. Isto é verdadeiro apesar do fato
de que shovar evita que joguemos o river em posição.
Aqui está um exemplo. Suponha que betamos uma trinca de 10 no flop Qs-10s-4c e
damos call no check-raise do oponente. Se o turn vier o 7c, provavelmente vamos querer
shovar quando enfrentando um bet, pois muitas mãos no range de bet-fold do vilão
podem fazer straights ou flushes no river. Portanto, é melhor exigir que ele folde ou
comprometa seu stack inteiro com um draw, e dando raise agora também nos
asseguramos de extrair valor das trincas menores e dois pares do oponente.
Por último, é importante notar que ter um range capado raramente importa quando
existem poucas streets restantes para agir e pouca profundidade de stack. (No exemplo
acima, isto acontecerá quando damos apenas call no bet no turn.) Ranges capados são
geralmente problemáticos pois nosso oponente pode overbetar sabendo que suas mãos de
valor nunca serão vencidas. Mas se dermos call em seu check-raise no flop e em seu bet
no turn, existe tão pouca profundidade de stack no river que isso não é um problema. Na
verdade, como ele somente será capaz de fazer um bet de tamanho moderado, tudo bem
se ele for capaz de value betar algumas mãos sabendo que ele nunca será vencido.
Para ilustrar, vamos continuar com nosso exemplo anterior onde o board é Qs-10s-4c-
7c e nós shovamos o turn com todas as nossas trincas e dois pares (assim como alguns
blefes, é claro). Se o river vier o 2d, e nós apenas demos call no turn, embora nosso range
esteja capado em overpairs, nosso oponente pode ir all-in por um bet de 0,57 do pote.
Como ele não pode overbetar o river, dar call com uma mão forte no turn provavelmente
será menos lucrativo que dar raise. Isso frequentemente resulta na melhor mão de nosso
range de river sendo um bluff catcher, e quando isto ocorre, devemos dar call
frequentemente o suficiente para mantê-lo indiferente a blefar (mesmo se a expectativa
do nosso call for zero).
ENFRENTANDO UM CHECK NO TURN APÓS DAR CALL EM UM CHECK-
RAISE NO FLOP
Enfrentar um check após dar call em um check-raise no flop é muito similar a
enfrentar um check após dar call em um bet, já que em ambos os casos nosso oponente
representa um range polarizado no flop. Assim, em qual frequência betamos o turn e qual
tamanho de bet usamos dependerá fortemente se o range do nosso oponente continua
polarizado.
Nosso range de bet-call no flop não será polarizado no turn, e ao contrário, consistirá
de três tipos de mãos – mãos que estão à frente de alguns check-raises por valor, bluff
catchers e mãos com pouco valor de showdown. Perceba também que, como a maioria do
nosso range de call estará atrás dos check-raises por valor do nosso oponente, ele deve
betar o turn em uma alta frequência para evitar que realizemos a equidade dos nossos
draws de graça, ou cheguemos de forma barata ao showdown com nossos bluff catchers.

129
livro

Especificamente, quando o turn não muda a força do range de nenhum dos jogadores,
o range do nosso oponente deve permanecer polarizado no turn. Por exemplo, suponha
que sofremos um check-raise no flop Kh-8d-4d e o turn vem o 2s. Não haverá, nesta
textura de board, nenhuma provável mão de força média no range do nosso oponente já
que ele não teria dado check-raise com uma mão como Kd-10d ou Jh-Js no flop. Como
discutido anteriormente, devemos fazer pequenos bets no turn em spots onde existem
poucas ou nenhuma mãos de força média no range do nosso oponente. Betar baixo em
uma alta frequência evita que ele veja um river de graça com suas mãos fracas, e betando
em ambas as streets é mais fácil de blefar com a maioria ou todas as nossas mãos fracas
em um range balanceado no river.
Além disso, ao contrário do que a vasta maioria dos jogadores vencedores acreditam,
nesta situação geralmente não é necessário usar um tamanho de bet que nos coloque all-in
no river.
Lembre-se, estamos betando para evitar que os blefes do nosso oponente realizem sua
equidade de graça, não para extrair valor de mãos prontas de força média (já que estas
mãos não são prováveis no range do vilão). Então um bet pequeno coloca, efetivamente,
pouco dead money no pote, no caso dele dar outro check-raise e transformar nossa mão
em um bluff catcher.
Além do mais, se nosso oponente tiver de fato uma mão forte no turn, ele geralmente
dará check-raise novamente, não importa o tamanho que fizermos. Assim, nossas mãos
extremamente fortes não perderão valor betando baixo contra suas mãos fortes, de
qualquer forma. Afinal, se nosso oponente não quisesse ir all-in com uma mão forte mas
que não seja nuts, ele não teria dado check-raise no flop, para começar.
Quando pensando em novos conceitos, geralmente é útil se imaginar jogando a mão
da perspectiva do oponente. Visualize por um momento que você dá call do big blind em
um raise do button e o flop vem Kh-8d-4d. Se você der check-raise no flop e check no
turn 2s, com quais mãos você daria check-call se seu oponente betasse 25% do pote? Meu
palpite é que você foldará mais frequentemente que dará call neste bet, e depois da mão
se sentirá um pouco frustrado que seu oponente conseguiu fazer um bet tão barato e
lucrativo. Em outras palavras, você perceberia que ele foi capaz de efetivamente floatar
seu check-raise no flop e blefar no turn. Este é um bom indicador de que algo
significativo está acontecendo que você ainda não entende.
Se damos call no check-raise no flop do nosso oponente e o turn colocar mais mãos de
força marginal em seu range, então betar um pouco maior será mais eficaz. Aumentando
o tamanho do nosso bet, seremos capazes de blefar mais combinações de mãos, extrair
maior valor com nossas mãos fortes, e fazer com que nosso oponente pague mais para ver
o river se ele tiver uma chance razoável de possuir a melhor mão no river.
EXEMPLO DE COMO BALANCEAR UM RANGE DE DEFESA NO TURN
Vamos utilizar o range de call no flop da Parte 4, “Exemplo de como balancear um
range de defesa no flop”, e defender contra outra bet de 75% do pote no turn.
Flop: Kd-9s-7s
Calls no Flop: AKo (9), KQs (3), KTs (3), JJ-TT (12), As-Qs, As-Js, As-Ts, 6s-5s, 5s-
4s, JTs (3), J9s(3), T9s (3), 98s (3), Ad-Qd, Ad-Jd, QJs (4) = 53

130
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Turn: 8h
Total de Combos: 52 (9h-8h foi removido do nosso range)
Combos de Defesa Desejados: (52)(0,6) = 31
Raises por Valor: JTs (3), 6s-5s = 4
Raises por Blefe: TT (3), 5s-4s (1) = 4
Calls: AKo (9), KQs (3), KJs (3), KTs (3), TT (3), 98s (2), As-Qs, Qs-Js, As-Ts = 27
Total de Combos Defendidos: 35
Porcentagem do Range Defendido: 67%
Como o turn pôs algumas mãos nuts em nosso range que são vulneráveis a se tornar a
segunda melhor no river, podemos dar raise usando uma proporção de raise por blefe para
raise por valor de 1-para-1. Perceba que estamos dando raise por blefe com metade das
nossas combinações de par de 10 e dando call com a outra metade. Se déssemos raise por
blefe com todas elas, nosso range de raise estaria desbalanceado e incluirá muitos blefes.
Então teoricamente faz sentido utilizar ambas as linhas contato que acreditamos que o
valor esperado de dar raise ou dar call com 10-10 seja aproximadamente o mesmo. Se
uma linha tiver um valor esperado mais alto, então aquela linha deve ser sempre utilizada.
Entretanto, utilizar múltiplas linhas com a mesma mão é bastante comum em teoria, e
isso provavelmente ocorre aqui.
Também não deve ser surpreendente que, como o turn coloca muitas mãos fortes no
range de ambos os jogadores, nossos raises por blefe devem ser razoavelmente fortes.
Aqui, estamos dando raise por blefe com duas pontas e um flush draw solitário. Embora
seja lamentável quando nosso oponente for all-in e nos force a comprometer todo nosso
stack ou foldar uma mão muito boa, ele frequentemente não irá querer shovar contra
nosso range de raise do turn. Afinal, metade do seu range de raise é um straight, e 37,5%
é o nuts.
Além do mais, embora pares médios com algum tipo de draw seja frequentemente
calls claros, nesta situação o range de bet no turn do nosso oponente é bastante forte. Se
dermos call com J-J ou 10-10, será difícil extrair valor quando o draw se completar no
river, e é possível que nosso oponente já possua o nut straight no turn. Isso nos encoraja a
considerar foldar mãos como J-J e J-9 do mesmo naipe, mesmo que elas possam ser a
melhor mão no momento ou se tornar a melhor mão no river.
Por último, perceba que embora defendendo 60% do nosso range contra um bet de
75% do pote prevenirá que nosso oponente gere um lucro imediato, jogadores mais
avançados devem tentar defender mais agressivamente. Isto é especialmente verdadeiro
se os blefes do nosso oponente possuem uma probabilidade razoável de conseguir a
melhor mão no river e a posição for valiosa, como é o caso aqui. Defender 67% do nosso
range pode parecer agressivo demais no começo, mas como temos posição e nosso range
é forte, é razoável.
RESUMO
Um jogo no turn excelente em posição requer que entendamos quem tem o range
polarizado e quão valioso é ver uma carta adicional para cada jogador. Mais
especificamente, não devemos entrar no hábito de sempre utilizar o mesmo tamanho de
bet no turn e precisamos considerar bets pequenos ou grandes. Se o range do nosso

131
livro

oponente for condensado, bets grandes geralmente serão eficazes já que eles são
melhores contra mãos de força média. Mas quando seu range é polarizado, bets pequenos
são melhores, já que reduzem a efetividade de seus check-raises e evitam que ele veja
free cards no river.
Só porque é lucrativo betar quaisquer duas cartas não significa que nosso range inteiro
deve ser betado, e é comum dar check com uma mão fraca no flop com a intenção de
blefar no turn. Nosso oponente provavelmente dá check planejando dar check-fold com
mãos fracas, como pocket pairs em múltiplas streets, o que significa que teremos diversas
chances de blefar com overcards e fazer com que ele folde a melhor mão.
Como posição é tão valiosa, é importante não betar muito alto em spots onde nosso
oponente será tentado a dar check-raise all-in e destruir nossa vantagem de posição.
Portanto, geralmente tudo bem se ele puder dar calls ligeiramente lucrativos com draws
fortes.
Aqui estão alguns pontos muito importantes.
1) Como existem menos streets restantes para agir no turn, uma frequência mais alta de
nossos bets e raises no turn devem ser por valor. Se o pote é grande devido aos bets no
flop, vamos querer uma proporção entre raises por blefe e por valor de cerca de 1-para-1.
2) Se nosso oponente der check no turn após dar check no flop, podemos agora value betar
com muitas mãos que não eram fortes o suficiente para betar o flop, assim como com
mãos que melhoraram no turn.
3) É difícil ir all-in no showdown se o pote é pequeno no turn. Geralmente requerirá que
overbetemos o turn e o river, mas isto é arriscado já que nosso oponente pode ter dado
check com uma mão muito forte no flop ou ter feito uma mão muito forte no turn.
4) Nossa abordagem em relação a enfrentar bets no turn deve ser semelhante com nossa
abordagem enfrentando bets no flop. Em outras palavras, é comum dar raise com nossas
mãos mais fortes por valor, dar call com nossas mãos de força média, dar raise por blefe
com algumas mãos e foldar o resto. Mãos muito fortes também podem ser jogadas de
slowplay, especialmente se tememos poucos rivers ou pensamos que nosso oponente
provavelmente overbetará na próxima rodada de apostas.
5) Se nosso oponente dá check no turn após betar no flop, geralmente vamos querer dar
check behind com nossas mãos de força média, e ao contrário, betar nossas mãos fortes e
alguns blefes. Mais especificamente, só porque uma mão pode betar lucrativamente não
significa que betar é mais lucrativo que dar check. Assim, geralmente é mais lucrativo dar
check behind com a maioria das mãos de força média e betar um range polarizado.
6) Depois do nosso oponente dar check-call em nosso bet de 75% do pote no turn, devemos
ou betar o river ou dar check behind com uma mão marginal que possa vencer no
showdown 70% do tempo. Isso mantém nosso oponente próximo a indiferente a dar
check-call no turn com um bluff catcher.
7) Se ambos os jogadores deram check no flop, não é necessariamente um problema se a
maioria dos nossos value bets no turn se tornarem apenas bluff catchers quando
enfrentando um check-raise. Nosso oponente ainda não possui um incentivo para
imprudentemente dar check-raise no turn, já que ele perde valor e se arrisca a deixar
nossa mão se tornar a melhor mão se dermos check behind.

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livro

8) Bets pequenos geralmente são melhores em texturas de board onde nosso oponente não
terá muitas mãos de força média em seu range, que possam jogar facilmente de check-
call – seu range ainda é polarizado. Isso nos permite que evitemos que ele veja free cards
no river enquanto ainda minimizando a efetividade de seus check-raises bem-sucedidos
no turn.

133
livro

CHAPTER NINE
Capítulo 9: Jogando o Turn fora de posição

Capítulo 9:
Jogando o Turn fora de posição

INTRODUÇÃO
Na seção anterior, analisamos novos tamanhos de bet e proporções para o jogo no
turn, e discutimos de quais tipos de mãos deve consistir o range de cada jogador, dada a
textura do board e a ação anterior. Enquanto existem muitas semelhanças entra o jogo em
posição e fora de posição no turn, existem também várias diferenças importantes com as
quais devemos nos familiarizar.
Um dos focos principais desta seção será como a ação no flop influencia as decisões
que fazemos no turn. Isso porque, no turn, o preço que nosso oponente paga para dar call
em nosso bet no flop determina quais frequências de bet, de check-call e de check-raise
são razoáveis. Além disso, certas linhas podem ou não fazer sentido no contexto do nosso
range, e é importante estarmos cientes disso ou nosso oponente pode nos explorar pode
ter ranges desbalanceados.
Além disso, jogar o turn fora de posição em determinadas texturas de board será
bastante difícil, especialmente se existem muitos draws mas poucas mãos fortes em nosso
range. Posição é frequentemente muito valiosa, e um oponente ótimo saberá quais mãos
estão em nosso range e constantemente utilizará tamanhos de bet para torná-las difíceis
de jogar. Mas mesmo que nenhuma solução ideal para este problema se apresente,
entendendo a teoria por trás do jogo no turn fora de posição, minimizaremos nossa
frustração e maximizaremos nossos ganhos.
JOGANDO O TURN COMO O AGRESSOR NO FLOP
Anteriormente, focamos em combater os calls do nosso oponente no flop betando o
turn e o river. Isto era feito pois situações onde o jogador que betou possui um range
perfeitamente polarizado são fáceis de inserir em um modelo, permitindo que novos
conceitos sejam explicados claramente. Mas na verdade, também precisaremos defender
contra os calls do oponente no flop dando check-call e check-raise no turn ao invés de
apenas betar.
Aqui está um exemplo simples. Betamos 6 BBs em um pote de 8 BBs no flop e nosso
oponente dá call com uma mão que não possui equidade. Além do mais, vamos presumir
que ele sempre betará 15 BBs no turn se dermos check, já que sua mão nunca possui

134
livro

valor de showdown (então a única forma dele betar é blefando). Quando ele faz isto, qual
linha utilizamos no turn determinará quanto dinheiro ele ganhará ou perderá no geral
dando call no flop.
1) Dar check-fold no turn resulta no nosso oponente ganhando 14 BBs – as 8 BBs originais
no pote mais nosso bet de 6 BBs no flop – de seu call no flop e bet no turn.
2) Presumindo que nosso oponente foldará sua mão (que possui zero de equidade) quando
betamos o turn, quando betamos ele perde as 6 BBs que ele arriscou no flop.
3) Dando check-call ou check-raise faz com que nosso oponente perca tanto as 6 BBs que
ele arriscou dando call no flop quanto as 15 BBs de seu bet no turn, para um total de 21
BBs.
Portanto, não devemos dar check-fold no turn em uma frequência tão alta que permita
que nosso oponente possa lucrativamente dar call no flop com quaisquer duas cartas com
a intenção de blefar a street seguinte. Além do mais, os valores mencionados previamente
podem ser usados na inequação abaixo para mostrar que uma combinação de bet, check-
raise e check-call no turn é necessária para fazer com que nosso oponente seja incapaz de
dar call com a pior mão de seu range de flop.
(Frequência de check-fold no turn)(14) + (frequência de bet no turn)(-6) + (frequência
de defesa de check no turn)(-21) ≤ 0
Perceba que esta é uma inequação, ao invés de uma equação. Isso porque o valor
esperado (para nosso oponente) de dar call com a pior mão em seu range de flop deve ser
menor ou igual a zero, caso contrário ele nunca foldará no flop. Em outras palavras,
embora não saibamos o valor esperado de dar call com a pior mão do range de flop do
nosso oponente, ele deve ser menor ou igual a zero ou ele nunca foldará no flop.
Além disso, nosso exemplo presume que nosso oponente perde em média a
quantidade máxima possível quando betamos no turn, damos check-call ou damos check-
raise. Na verdade ele não perderá, em média, 6 BBs quando der call em nosso bet no flop
e quando betarmos o turn, já que ele às vezes melhorará no turn e será capaz de
lucrativamente dar raise ou call.
Da mesma forma, quando damos check-call no turn, a mão do nosso oponente
geralmente terá alguma equidade ou pode conseguir a oportunidade de lucrativamente
blefar no river. Isto reforça ainda mais o porquê de nosso oponente, se estivermos
jogando corretamente, esperar perder dinheiro se ele der call no flop com uma mão sem
equidade. Nossas frequências de turn devem ser construídas para fazer com que o call
correto teoricamente pior em seu range seja próximo a break even, e como estas mãos
possuem equidade, se ele der call com uma mão sem equidade, esta claramente deve ser
uma jogada deficitária.
Além disso, embora nossas frequências no turn devam mudar em diferentes texturas
de flop, se betarmos apropriadamente, nosso oponente provavelmente deve foldar as
mãos mais fracas de seu range para um bet. Colocado de outra forma, se nosso range de
bet no flop for tão fraco em relação ao range do nosso oponente que ele nunca folde,
então quase certamente nem deveríamos ter betado o flop, para começar.
Embora esta inequação não possa ser utilizada para encontrar as frequências
teoricamente corretas de bet, check-call e check-raise no turn, ela pode ser utilizada para

135
livro

dizer se uma combinação de frequências está incorreta. Por exemplo, suponha que
betamos o turn 50% do tempo, damos check-call ou check-raise um total de 5% do
tempo, e damos check-fold nos 45% restantes. Quando usando estas frequências, o valor
esperado do call do nosso oponente no flop com a pior mão em seu range de flop é de
pelo menos 2,25 BBs.
2,25 = (0,45)(14) + (0,50)(- 6) + (0,05)(-21)
Onde
-0,45 é a frequência de check-fold no turn,
-0,50 é a frequência de bet no turn, e
-0,05 é a frequência de defesa com check no turn.
É importante se lembrar que 2,25 BBs é a quantidade mínima que nosso oponente
espera ganhar em média com seu call no flop, já que mesmo a pior mão em seu range de
flop terá alguma equidade. E neste exemplo, nosso oponente não deve nunca foldar no
flop já que cada mão pode ser jogada de call lucrativamente.
Também perceba que betando o turn apenas 50% do tempo e raramente dando check-
call ou check-raise é facilmente explorável, e estas frequências não são tão fora da
realidade quanto podem parece a princípio. Isto é especialmente verdadeiro em
determinadas texturas de flop.
Isso porque muitos jogadores betam imprudentemente no flop, e como resultado
possuem um range fraco no turn. E como seu range no turn é fraco, eles acabam dando
check-fold em uma alta frequência, o que é especialmente problemático se eles não estão
dando check-call ou check-raise frequentemente no turn (e muitos jogadores não estão
fazendo isso). Na verdade, existem muitos jogadores vencedores que betam o flop tão
frequentemente que é lucrativo dar call com quaisquer duas cartas em determinadas
texturas de flop, esperando a oportunidade de blefar o turn.
Aqui está um exemplo. Um jogador fraco geralmente c-betará no flop As-7c-2h. Ele
geralmente value betará com todas as suas mãos fortes e blefará com todas as suas mãos
fracas, e mãos prontas de força média como ases fracos e pares médios fortes são jogados
de check-call. Quando ele faz isso, seu range será muito desbalanceado no turn. Ele terá
problemas betando e defendendo agressivamente seus checks o suficiente para evitar que
seu oponente lucrativamente dê call no flop com quaisquer duas cartas.
Mesmo se um jogador que imprudentemente betar no flop Ac-7s-2h também bete
todas as suas mãos premium, estas mãos são muito limitadas em quantidade.
Simplesmente não haverão muitas mãos fortes no turn em relação à quantidade de mãos
fracas blefadas no flop. Além disso, como o flop é tão seco, geralmente haverão poucas
possibilidades de straight ou flush draws no turn, e nunca haverá nenhuma overcard. Por
estas razões, jogadores que betam muito frequentemente no flop acharão especialmente
problemático betar agressivamente no turn em boards secos.
Além disso, se um jogador beta o flop agressivamente mas dá check-call com todas as
suas mãos de força média, ele frequentemente terá dificuldade em defender muitos de
seus checks no turn. Isso porque haverão poucas ou nenhuma mão em seu range no turn
que funcionarão bem como check-calls. Isso resulta nele dando check-fold no turn em
uma alta frequência, e por causa disso, floatar no flop contra este tipo de jogador é

136
livro

excepcionalmente eficiente.
Consequentemente, quando usando software de computador para analisar sua jogada,
é uma boa ideia estar ciente de sua frequência de bet no turn, de check-call e de check-
raise após betar no flop. Se seu oponente pode, em média, lucrativamente dar call no flop
com quaisquer duas cartas, este é um enorme leak que um jogador astuto pode facilmente
explorar. Além disso, mesmo se seu oponente, em média, perder uma pequena quantidade
de dinheiro se ele floatar o flop com uma mão que tenha zero de equidade, isto ainda
sugere que nossas frequências no turn não estão nem próximas de agressivo o suficiente.
Portanto, se você descobrir que possui este leak, e muitos jogadores possuem, faça um
esforço para betar menos frequentemente no flop e jogar mais agressivamente no turn.
Procure também por texturas de boards específicas onde você pense que pode estar
jogando mal.
É também válido repetir mais uma vez que, enquanto podemos provar que certas
combinações de frequências de bet, check-call e check-raise no turn são facilmente
exploráveis, não podemos calcular quais são as frequências ótimas. Além disso, devemos
notar que check-call e check-raise no turn são significativamente mais eficientes que
betar em diminuir o valor esperado dos floats do nosso oponente no flop. Isso porque
check-call e check-raise, no turn, permitem a ele que bete e invista mais dinheiro no pote,
dinheiro este que ele então perderá quando dermos check-call ou check-raise. Em outras
palavras, se estamos preocupados que o valor esperado dos calls do nosso oponente no
flop com mãos fracas seja alto demais, uma forma de diminuir este valor é dar check-call
ou check-raise mais agressivamente no turn.
Por último, perceba que é mais arriscado para nosso oponente dar call em nosso bet
no flop com uma mão que não tenha valor de showdown que com um bluff catcher. Isso
porque bluff catchers podem dar check behind no turn e no river e vencer no showdown
sem arriscar mais dinheiro. Mas se nosso oponente possui uma mão que não tem valor de
showdown, ele terá que blefar em algum momento se ele quiser vencer a mão sem
melhorar. Por esta razão, dar call no flop com mãos que não possuem valor de showdown
é ineficaz a menos que eles possuam a habilidade de melhorar para mãos fortes no turn
ou river (como brocas, duas pontas e flush draws conseguem).
JOGANDO DRAWS FORA DE POSIÇÃO NO TURN
No turn, uma das maiores desvantagens de estar fora de posição é que draws jogam
muito mal de check-calls. Isto é principalmente pelo fato de que após dar check-call no
turn, não teremos a oportunidade de ver se nosso oponente dá check antes de decidir se
blefamos no river se não acertarmos nosso draw. Consequentemente, isso torna difícil, se
não impossível, lucrativamente dar check-call com draws fracos no turn.
Então a verdadeira questão geralmente não será se dar check-call com um draw é
lucrativo, mas se dar check-call é mais lucrativo que dar check-raise ou betar. Lembre-se,
mãos com pouco valor de showdown que retém bem sua equidade como bets ou raises
geralmente são as melhores mãos para blefar, e draws que tenham de 8 a 11 outs no turn
geralmente se encaixam perfeitamente nesta descrição. O fato que draws funcionam tão
bem como blefes é outra razão pela qual eles geralmente são jogados de bet no turn ao
invés de check-call.

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livro

Mesmo assim, no turn, nem sempre fará sentido para nós ter um range de bet quando
fora de posição. Isso porque se dermos check-call no flop, nosso range será condensado e
o do nosso oponente polarizado. Assim, por esta razão, nem sempre teremos a opção de
betar nossos draws no turn em um range balanceado, e ao invés disso teremos que dar
check-call, check-raise ou check-fold.
Para analisar a lucratividade de dar check-call no turn com um draw, vamos presumir
que ele tenha 20% de equidade e todos os nossos outs são limpos – flush draws com nove
outs geralmente possuem cerca de 20% de equidade e straight draws com duas pontas
com oito outs têm cerca de 18% de equidade. Se nosso oponente beta 15 BBs em um pote
de 20 BBs, dando call arriscamos 15 BBs para ganhar as 35 BBs que já estão no pote
mais quaisquer implied odds adicionais. Como perderemos 15 BBs 80% do tempo e
ganharemos 20% do tempo, uma equação pode ser usada para calcular quantas big blinds
precisaremos ganhar em média quando acertarmos nosso draw, para justificar o call.
(- 15)(0,8) + (X)(0,2) => X = 60

Onde
- 15 é a quantidade perdida quando não acertarmos nosso draw, e
-X é a quantidade que devemos ganhar quando acertarmos nosso draw para sermos
indiferentes a dar call.
Pequenos cálculos como este são úteis para se fazer enquanto jogando, especialmente
quando tentando descobrir se dar call com um draw é lucrativo. E com as suposições
acima, devemos ganhar, em média, pelo menos 60 BBs para justificar o check-call. Outra
forma de visualizar esta situação é que, como o tamanho do pote depois que nosso
oponente beta já é de 35 BBs, precisamos ganhar no river, em média, mais 25 BBs para
que nosso call no turn tenha uma expectativa positiva.
Entretanto, esta informação não pode ser usada diretamente para descobrir quão
frequentemente nosso oponente betará no river ou qual o tamanho de bet que ele utilizará.
Isso porque as texturas de board onde possamos ter draws em nosso range de check-call
são os mesmos spots onde o river provavelmente muda a força de muitas mãos no range
de cada jogador, e estes spots não são bem inseridos em modelos. Isto é, nestas situações,
nosso oponente geralmente betará o turn por valor com a intenção de dar check behind no
river. Além disso, ele muitas vezes dará check behind quando ele conseguir uma mão de
força marginal no river com seus blefes, e isto torna ainda mais difícil para nós extrair
valor quando acertarmos nosso draw no river.
Aqui está um exemplo. O board no turn é Ac-9s-6d-4h. Como nosso oponente não
teme dar free cards para nosso range de check-fold nesta textura de board, faz pouco
sentido para ele betar por valor com a intenção de dar check behind no river. Além disso,
quase toda as mãos com que damos check-call serão bluff catchers. Além do mais, como
nosso range de check-call consiste quase inteiramente de bluff catchers, é quase como se
nosso oponente estivesse betando o turn com um range perfeitamente polarizado. Como
já vimos anteriormente, é fácil descobrir quão frequentemente ele precisa betar a street
seguinte com um range balanceado para nos manter indiferentes a dar call com um bluff
catcher.

138
livro

Perceba também que as mesmas texturas de board onde o range de bet no turn do
nosso oponente funciona semelhantemente a um range perfeitamente polarizado, são
aquelas onde não temos muitos ou nenhum draw. E quando seu range não funciona desta
forma, a situação se torna muito mais complexa, tornando difícil prever a frequência de
bet no river e o tamanho do bet quando temos um draw.
Para ilustrar, imagine que nosso oponente dá raise no button e damos call no big
blind. Se damos check-call no flop Js-8s-5d e o turn vier o 9d, ele provavelmente value
betará muitas mãos que ele não planeja betar o river, como pares fracos de valetes, 10-10
e A-9. E como o river mudará fortemente a força de muitas mãos no range de ambos os
jogadores, e nosso oponente provavelmente value betará o turn com a intenção de dar
check behind no river, é difícil prever quão frequentemente ele betará em diversos rivers.
Entretanto, a situação anterior é onde mais provavelmente nos encontramos comum
draw no turn. Embora não exista fórmula para descobrir qual a frequência de bet do
oponente no river, ainda podemos utilizar nosso conhecimento teórico para fazer boas
estimativas de quão frequentemente esperamos que ele bete o river.
Quando o river acerta muitos draws que estão potencialmente em nosso range de
check-call, nosso oponente geralmente não betará em uma alta frequência. Aqui está um
exemplo. Damos call do bid blind em um raise do button, e damos check-call no flop
10d-4d-3s e no turn 8c. Se o river for o 9d e completar o flush, nosso oponente
geralmente irá dar check behind. Isto acontece, em parte, porque ele provavelmente
estava value betando muitas mãos no turn que não são particularmente fortes para fazer
com que foldássemos mãos de alta equidade, e estas mãos não serão capazes de
eficientemente betar o river sem melhorarem.
Entretanto, nosso oponente provavelmente estará ainda mais inclinado a dar check
behind quando o flush se completar pois ele sabe que existem muitos flushes em nosso
range. Isso porque provavelmente damos check-call com a maioria dos nossos flush
draws no flop, e no board 10d-4d-3s-8c, todos estes flush draws também eram pares,
brocas ou tinham overcards. Em outras palavras, todos os nossos flush draws no turn
provavelmente tinham outs adicionais, e alguns podem até mesmo ser a melhor mão.
Assim, no turn, isso nos encoraja a dar check-call mais uma vez, o que resulta no nosso
range sendo mais voltado para flushes no river. Consequentemente, é mais difícil para
nós extrair valor neste river que em outro turn, pois nosso oponente sabe que
provavelmente estamos fortes.
Vamos contrastar isto com um exemplo onde teremos poucos draws que melhoram no
river. No big blind, damos call em um raise do button com 10s-8s. Se damos check-call
no flop Kh-9d-6s e no turn 2s, nosso oponente provavelmente betará no river se fizermos
um straight ou flush. Isso porque não haviam possíveis flush draws no flop, então é
menos provável que tenhamos um flush draw em nosso range no turn. Além disso, se o
river vier o 7d e nos der um straight, nosso oponente provavelmente continuará betando
agressivamente, já que este river não atingiu nosso range particularmente bem. Então, dar
call com nosso draw no turn deve ser muito lucrativo, já que nosso oponente
provavelmente betará agressivamente quando acertarmos, e ele pode até mesmo
overbetar quando fizermos um straight.

139
livro

Em outras palavras, draws são muito melhores quando o draw acerta em rivers que
não são particularmente bons para nosso range. A maioria dos jogadores são acostumadas
a acertar um draw e só então se perguntar: “Como eu posso extrair valor agora? Meu
range é forte e meu oponente sabe disso, então ele não vai betar e é improvável que ele
pense que estou blefando se eu betar.” Isto deve ser levado em conta antes de decidir
entre dar call ou não com um draw.
Para que o check-call com draws no turn seja lucrativo, nosso range de check-call no
turn precisa ser balanceado para que nosso oponente tenha o incentivo de betar o river
com uma boa frequência se acertarmos nosso draw. Se dermos check-call com muitos
flush draws, ele provavelmente não blefará quando uma carta que completa o flush vier
no river, mas se nunca dermos check-call com flush draws, ele deve frequentemente
overbetar o river quando o flush se completar. Straight draws são frequentemente um
pouco mais fáceis de se dar call, já que eles geralmente serão menos óbvios quando se
completarem no river.
No equilíbrio, provavelmente estaremos dando check-call com alguns mas não todos
os nossos flush draws. Isso dá ao nosso oponente um incentivo para betar agressivamente
quando o flush vier, mas ele não betará tão agressivamente que nossos piores flush draws
serão calls lucrativos. Além disso, se ele fizer um pequeno bet no turn, geralmente
seremos capazes de dar call com a maioria, senão todos, os nossos flush draws, mas
infelizmente nosso oponente geralmente não betará baixo quando existirem muitos draws
em nosso range. Colocado de outra forma, ele provavelmente escolherá um tamanho de
bet no turn para que estejamos próximos a indiferentes a dar call com muitos dos nossos
straight e flush draws. E quanto isto acontecer, nossos melhores draws serão calls
lucrativos enquanto dar call com nossos draws mais fracos será uma jogada deficitária.
JOGANDO O TURN APÓS BETAR NO FLOP
Agora precisamos nos assegurar de que mãos estão sendo colocadas nos ranges
corretos no turn após betarmos no flop. Perceba que decisões difíceis no turn não podem
ser completamente evitadas, mas com um excelente jogo no flop estas decisões ocorrerão
apenas em turns particularmente difíceis. Betando e dando check com ranges balanceados
no flop, maximizamos nossas chances de sermos capazes de jogar eficientemente o turn.
9.4.1 Betando no Turn após Betar no Flop
Se recebemos um call no nosso bet no flop, geralmente teremos um range polarizado
no turn. De que tipos de mãos consiste o range do nosso oponente dependerá da textura
do board e se ele fez slowplay com muitas mãos fortes no flop. Se ele possui poucas
mãos fortes em seu range, devemos considerar overbetar com algumas das nossas mãos
mais fortes, já que nosso oponente provavelmente não dará raise em nosso bet no turn.
Lembre-se, é teoricamente correto utilizar múltiplos tamanhos de bet no mesmo spot e
ter balanceado cada range de tamanho de bet. Então, mesmo que o overbet faça sentido,
overbetaremos com algumas mãos e betaremos baixo com outras. Claro, isto é difícil de
se implementar na prática, mas o tamanho correto do bet pode ter um enorme impacto
sobre o valor esperado de nossa mão.
Aqui está um exemplo. Damos raise no cutoff, nosso oponente dá call no button, e o
flop vem Kh-10h-7c. Se nosso oponente der call em nosso bet no flop e o turn vier o 5s,

140
livro

não é provável que ele dê raise em nosso bet no turn. Isto significa que overbetar um
range composto por algumas mãos muito fortes que quase nunca podem ser vencidas (A-
K ou melhor) e por blefes é extremamente eficaz. Perceba que nosso oponente deu azar
de ver um turn que não coloca mãos fortes em seu range, e overbetar maximiza o valor
esperado de nossas mãos mais fortes, e nos permite blefar mais mãos em ranges
balanceados.
Também é importante notar em um spot como esse que muitos jogadores geralmente
têm medo de overbetar com mãos que não são o nuts como top pair top kicker. Mas se
nosso oponente possui algo melhor que A-K no board Kh-10h-7c-5s, ele provavelmente
vai ganhar a maior parte, se não todo o nosso stack, independentemente do tamanho do
nosso bet no turn. Lembre-se, os stacks possuem uma profundidade de apenas 100 BBs
nestes exemplos, por isso mesmo que nosso oponente tenha uma mão muito forte, ele
ainda está limitado no quanto ele pode ganhar.
Mas mesmo que tenhamos um range de overbet, mãos fortes que podem estar
perdendo ou splitando devem betar mais baixo. Por exemplo, não faria sentido overbetar
J-J no board Kh-10h-7c-5s. Mais especificamente, betar mais baixo requer que nosso
oponente continue dando call com mãos mais fracas, como um par de 10 ou um draw
fraco, que foldariam para um bet alto. Além disso, se ele possui a melhor mão,
geralmente perderemos menos dinheiro, já que será improvável que ele dê raise com um
range capado. Entretanto, é crucial que também betemos baixo com algumas mãos
extremamente fortes ou nuts, para que nosso oponente não possa imprudentemente dar
raise sabendo que não estamos fortes. Portanto, é frequentemente eficaz betar maior em
relação ao tamanho do pote no flop que no turn, com uma mão forte mas vulnerável.
Por exemplo, imagine que damos raise em MP com 10s-9s, o button dá call, e o flop é
10h-6h-3c. Perceba que 10-9s geralmente não é forte o suficiente para vencer no
showdown após betar bets de tamanho médio em múltiplas streets, mas também não
gostamos de dar free cards para o range de flop do oponente, já que nossa mão é
vulnerável. O que devemos fazer?
Uma opção é fazer um bet de tamanho médio no flop e então betar mais baixo em
turns e rivers favoráveis. Betar um pouco maior no flop é ideal pois queremos encorajar
nosso oponente a foldar algumas mãos de alta equidade como Ad-Jc e Ks-Js, que ele
provavelmente foldará pois estas mãos possuem outs duvidosos contra nosso range de
bet. Mas podemos betar menor em um turn favorável, como o 3s, já que algumas das
mãos compostas por overcards do nosso oponente já foldaram no flop, e as que não
foldaram agora possuem menos equidade. Além disso, um bet pequeno assegura que
extraiamos valor adicional de quaisquer 9-9 e 8-8, que provavelmente jogarão de check
se tiverem a oportunidade.
Betar menor no turn provavelmente é mais eficaz que dar check, já que betar evita que
nosso oponente veja o river com seu range inteiro. Adicionalmente, um bet pequeno é
melhor que um bet grande, pois um bet grande provavelmente faz o oponente foldar seus
piores bluff catchers, dos quais estamos ganhando. Por último, se é improvável que ele dê
raise agressivamente nossos bets no turn com suas mãos fortes, perderemos menos
betando baixo que se déssemos check-call e nosso oponente betasse maior.

141
livro

Enquanto você pode pensar que betar baixo em turns que sejam blanks torne os calls
do oponente no flop eficazes assim como torna difícil o nosso blefe, lembre-se que
também frequentemente teremos um range de overbet na mesma textura de board.
Mesmo que overbetar 10s-9s no board 10h-6h-3c-3s seja ineficaz, overbetar Q-Q pode
ser uma jogada excelente. Isso porque efetivamente betar o tamanho correto com as mãos
corretas maximiza seu valor esperado, e constantemente coloca nosso oponente em um
spot complicado.
Pelo contrário, se a textura do flop for seca, é improvável que queiramos overbetar
quaisquer turns, já que nosso oponente provavelmente não teria dado raise com nenhuma
de suas mãos muito fortes no flop. Por exemplo, damos raise no cutoff e nosso oponente
dá call no button. Se o oponente der call no nosso bet no flop Ks-8c-5d e o turn vier o 9s,
este não é um bom spot para ter um range de overbet.
O overbet não será eficaz pois nosso oponente provavelmente deu apenas call com
trincas no flop e pode também ter conseguido uma trinca de noves no turn. Como ele
pode estar forte no turn, ele às vezes dará raise com um range polarizado consistindo de
straights, trincas e blefes. Isto é significativo pois se tivermos um straight no turn e nosso
oponente tiver uma trinca, ele provavelmente dará raise e comprometendo seu stack, não
importa qual seja o tamanho do nosso bet. Isso nos encoaraja a betar menos com nossas
mãos nuts já que um bet alto não é necessário para ir all-in no river quando nosso
oponente estiver muito forte.
Em teoria, nós iremos querer utilizar múltiplos tamanhos de bet em quase toda textura
de board. Mas balancear ranges múltiplos é difícil, e é mais importante fazer isso quando
nosso oponente não puder estar forte e raramente der raise em nosso bet. Mais
especificamente, é melhor nos assegurarmos de que estamos ao menos utilizando grandes
overbets em turns ou rivers blank após nosso oponente dar call em nosso bet em um
board molhado. Outros spots são geralmente menos importantes e mais difíceis, e serão
discutidos em mais detalhes em futuros capítulos do livro.
DANDO CHECK-CALL NO TURN APÓS BETAR NO FLOP
Embora dar check-call no turn permita que nosso oponente blefe com mãos fracas que
deram call no flop, não o pune tão severamente quanto o faz o check-raise. Isso porque
no river ele às vezes fará a melhor mão ou se encontrará em um spot de blefe lucrativo.
Mesmo assim, o valor esperado do blefe do nosso oponente no turn dependerá da
qualidade de sua mão e da textura do board, já que dar check-call em algumas texturas de
board é muito mais arriscado que em outras.
Já que o range de bet no turn do nosso oponente é polarizado, claro que faz sentido
que nosso range de check-call consista primariamente de mãos de força média quando
possível. Como nosso range de bet no flop era polarizado, as mãos de força média no
nosso range no turn frequentemente serão mãos que eram fortes no flop mas que foram
prejudicadas por um turn ruim. Além disso, podemos ter value betado mãos vulneráveis
no flop com a intenção de dar check-call em muitos turns.
Podemos também decidir dar check-call no turn com blefes do flop que não
melhoraram se nosso oponente betar baixo. Aqui está um exemplo. Nós betamos As-Qc
no flop 9s-8s-4h já que podemos conseguir o nut flush draw ou top pair no turn. Se o turn

142
livro

vier 2d e dermos check, nosso oponente pode betar baixo pensando que será difícil para
nós dar check-call e jogar o river fora de posição. Mas dar call em um bet baixo com As-
Qc provavelmente será lucrativo, já que nossa mão possui valor de showdown e pode
fazer um par forte no river. Então, dar check-call no turn com overcards que tenham valor
de showdown frequentemente será necessário, se nosso oponente betar baixo, para evitar
ser facilmente explorado por bets pequenos.
DANDO CHECK-RAISE NO TURN APÓS BETAR NO FLOP
Nosso range de check-raise no turn deve ser polarizado, assim como o nosso range de
raise em posição no turn. Entretanto, como estamos fora de posição, frequentemente é
melhor dar raise para um valor mais alto. A razão para isto é que agora, se nosso
oponente decidir ir all-in, ele abrirá mão de sua vantagem de posição, enquanto que antes,
quando dávamos raise em posição, ele poderia ir all-in e destruir nossa vantagem de
posição. Consequentemente, isso permite que demos raises um pouco maiores e ainda
esperamos que nosso oponente defenda, na maior parte das vezes, dando call. E como os
nossos check-raises no turn são ligeiramente maiores que nossos raises em posição e não
temos a vantagem da posição, geralmente vamos querer que entre 50 e 60% dos nossos
check-raises sejam por valor.
Apesar das semelhanças entre dar raise em posição e fora de posição, existem várias
diferenças-chave que devem ser levadas em conta. A primeira diferença-chave é que,
quando fora de posição, não temos a garantia de ver um showdown após dar check no
river. Isso torna o raise no turn fora de posição mais difícil, já que nosso oponente tem a
oportunidade de betar com um range balanceado quando temos um bluff catcher no river.
Isso também diminui o valor esperado dos nossos bluff catchers no river, e será discutido
em mais detalhes em capítulos futuros.
Segundo, é difícil encontrar um tamanho ideal quando dando check-raise no turn. Por
um lado, um check-raise pequeno dá ao nosso oponente um bom preço para dar call e
deixa com que ele frequentemente jogue o river em posição. Mas por outro lado, um
check-raise grande torna difícil para nós foldar se nosso oponente shovar, já que teremos
bons odds.
Aqui está um exemplo. Queremos dar check-raise com um range composto
principalmente por trincas e blefes no board 9h-8d-6h-4d, já que existem tantos straight e
flush draws possíveis. Mas dar check-raise para um valor baixo é difícil, já que nosso
oponente possuirá bons odds para dar call assim como terá implied odds e posição no
river. Além do mais, também é difícil para nós dizer se o river melhorou a mão do nosso
oponente, e ele frequentemente será capaz de lucrativamente blefar quaisquer duas cartas
se dermos check.
Continuando, se damos check-raise para 40 BBs ou menos no turn, nosso oponente
terá odds de 3-para-1 ou melhor, além de quaisquer implied odds que ele tenha quando
possuir um draw. Isso torna o check-raise pequeno difícil já que ele provavelmente será
capaz de lucrativamente dar call com uma larga parte de seu range. Entretanto, devemos
nos lembrar de que, só porque ele pode lucrativamente dar call com seus draws não
significa que o tamanho do nosso check-raise foi ineficaz. Se nosso oponente betar o turn
com um flush draw e receber um call, o valor esperado de sua mão quase certamente será

143
livro

maior que se tivéssemos dado check-raise, pois nosso raise requer que ele coloque no
pote dinheiro adicional quando ele estiver perdendo.
Check-raises grandes são tentadores pois eles dão ao nosso oponente odds piores para
dar call com seus draws. Mas em texturas de board molhadas, é difícil blefar dando
check-raise no turn e então foldar para um shove já que precisamos de tão pouca
equidade para dar call.
Perceba que um check-raise para 40 BBs nos deixa com apenas 50,5 BBs restantes, e
se nosso oponente shovar, isso requer que tenhamos apenas 25,3% de equidade para que
o call seja lucrativo.

(-50,5)(1 – X) + (149,5)(X) = 0 => X = 0,253

Onde
-149,5 é a quantidade no pote,
-50,5 é o preço para dar call,
-X é a equidade necessária para que o call seja lucrativo.
Isso nos força a fazer calls ligeiramente lucrativos ou folds questionáveis após fazer
um grande investimento no pote. Além do mais, em texturas de board que sejam
razoavelmente conectados, não existem muitas mãos fortes o suficiente para check-raise
blefar, que não tenham cerca de 25,3% de equidade.
É também válido notar que, como nosso oponente garante a realização da equidade de
seu blefe quando ele vai all-in, nós teremos que dar call em seu shove no turn em uma
alta frequência para torná-lo indiferente a blefar com seus draws. Enquanto a frequência
exata dependerá do tamanho do nosso bet no turn e da equidade dos blefes do nosso
oponente, se foldarmos mais que um-terço do tempo, seu shve será lucrativo. Isso
significa que, se apenas de 50 a 60% dos nossos check-raises no turn são check-raises por
valor, nosso oponente provavelmente será capaz de shovar lucrativamente seus draws.
Mais uma vez, isso pode não ser um problema, mas provavelmente também nos encoraja
a dar check-raise um pouco mais com mãos de valor quando o board está muito molhado.
Também devemos considerar dar check-raise e dar call com alguns draws muito fortes,
que dominam os draws mais fracos do nosso oponente.
Geralmente devemos jogar de check-raise all-in se o tamanho do nosso check-raise
for tão grande que seja impossível para nós foldar se nosso oponente shovar. Isso retira a
opção do vilão de apenas dar call em nosso check-raise sem ir all-in, e como nunca
foldaremos para seu shove de qualquer forma, isso simplesmente deixa ele com uma
opção a menos.
Enquanto jogar de check-raise all-in no turn é uma opção, dar check-raise em um bet
de 15 BBs para 90,5 BBs é um raise massivo e distante do ideal. No final das contas,
parece não haver uma solução ideal para este problema. Boards molhados, no turn, são
complicados de jogar fora de posição quando nosso oponente usa qualquer tamanho
razoável de bet, pois tanto o check-call quanto o check-raise frequentemente nos coloca
em spots complicados.
JOGANDO O TURN APÓS DAR CHECK-CALL NO FLOP

144
livro

Embora às vezes joguemos de slowplay mãos fortes em texturas secas de flop, a


maior parte do nosso range no turn será condensado após darmos check-call no flop. Se é
possível que tenhamos o nuts em nosso range dependerá tanto da textura do board no flop
quanto no turn, e isto tem um impacto significativo em como mãos em nosso range
devem ser jogadas.
DANDO CHECK-CALL NO TURN APÓS DAR CHECK-CALL NO FLOP
Se damos check-call no flop, a maioria do nosso range de defesa no turn deve ser
jogado de check-call novamente, já que nosso oponente possui o range polarizado. Mais
uma vez, uma das diferenças-chave entre jogar em posição e fora de posição é quão
difícil é dar check-call com draws. Isso concentra ainda mais nosso range de check-call
no turn em um range composto de principalmente mãos prontas de força média, já que
dar call com draws fracos frequentemente será uma jogada deficitária.
Em situações onde damos check-call e check-raise agressivamente no flop, pode ser
razoável permitir ao nosso oponente que lucrativamente bete quaisquer duas cartas no
turn. Isso porque seu bet no flop tinha uma baixa frequência de sucesso, então ele ainda
não terá um incentivo para betar imprudentemente só porque ele provavelmente terá a
oportunidade de fazer um blefe ligeiramente lucrativo no turn. Em outras palavras, nesta
situação, nosso oponente teve que, em média, investir uma quantidade substancial de
dinheiro no pote para ter a oportunidade de blefar o turn, então permitir que ele faça
blefes ligeiramente lucrativos não é problemático.
Quando não defendemos nosso range de check no flop de forma particularmente
agressiva, nosso oponente frequentemente ganhará imediatamente ou terá a oportunidade
de blefar no turn. Isso nos encoraja a defender o turn agressivamente o suficiente para
que ele não possa lucrativamente betar quaisquer duas cartas. Existem exceções,
especialmente quando o turn for particulamente ruim para nosso range e nosso oponente
puder overbetar.
Entretanto, geralmente nós determinaremos nossa frequência de check-call baseado
no tamanho do bet do oponente. Se ele betar alto, é melhor dar check-call com um range
tight, mas se ele betar baixo, é necessário dar check-call com um range amplo para evitar
que ele lucrativamente bete quaisquer duas cartas.
DANDO CHECK-RAISE NO TURN APÓS DAR CHECK-CALL NO FLOP
Nossa frequência de check-raise no turn será determinada pela textura do flop e pela
carta que vier no turn. Como anteriormente discutido, frequentemente não é possível dar
check-raise efetivamente após dar check-call em uma textura de flop molhada quando o
turn for uma blank. Mas se damos check-call em uma textura de board seca ou se o turn
pôs algumas mãos muito fortes em nosso range, um range de check-raise balanceado
pode ser utilizada para prevenir que nosso oponente realize de forma barata a equidade de
seus blefes.
Aqui está um exemplo. Damos check-call no flop 10d-9d-4s. Primeiro perceba que é
difícil dar check-raise o turn não for uma carta de ouros, uma Q, J ou 8. Isso porque é
ineficaz dar slowplay com mãos fortes neste flop a menos que nosso oponente
frequentemente overbete o turn, e mesmo então o risco pode ainda não ser justificado.
Entretanto, quando o turn coloca straights ou flushes em nosso range, teremos pouca

145
livro

dificuldade em balancear um range de check-raise.


Se a textura do flop foi seca, geralmente seremos capazes de dar check-raise em
qualquer turn. Isso porque dar check-call com nossas mãos mais fortes no flop foi mais
lucrativo que dar check-raise, principalmente porque havia pouco risco na mão do nosso
oponente se tornar melhor que a nossa no turn, ou nele temendo o board com uma mão
forte e dando check behind.
Por exemplo, seremos capazes de dar check-raise (se ele betar) em todos os turns após
dar check-call com uma trinca de oitos no flop Ah-8c-4s. Dar check-call permite que
mantenhamos o range do nosso oponente amplo e o punamos quando ele der double
barrels nos draws que ele conseguir no turn. Além do mais, podemos balancear nossos
check-raises por valor dando check-raises com blefes, como alguns straight draws, flush
draws e pares com 5 outs, que tenham uma chance razoável de melhorar mas pouco valor
de showdown.
SAINDO DE LEAD NO TURN APÓS DAR CHECK-CALL NO FLOP
Como discutido anteriormente, ao contrário do flop, quando ambos os jogadores
geralmente possuem ranges similares, no turn os ranges serão mais assimétricos após um
jogador betar o flop e outro dar call. Consequentemente, sair de lead no turn é geralmente
ineficaz, já que nosso range de check-call no flop é condensado, e betar com um range
condensado quando nosso oponente possui um range polarizado é uma jogada deficitária.
Mais especificamente, nosso oponente pode foldar confortavelmente as mãos mais fracas
de seu range e dar raise com suas mãos fortes assim como seus bons blefes. Portanto,
embora a inabilidade de sair de lead no flop seja um leak considerável que muitos
jogadores possuem, nunca sair de lead no turn é um leak muito menor, já que spots
apropriados ocorrem menos frequentemente.
Entretanto, sair de lead no turn é uma poderosa jogada quando o turn
significativamente fortalece nosso range em relação ao range do oponente. Isso ocorre
frequentemente quando a carta do meio dobra, mas pode ocorrer em outros spots
também. Portanto, é importante ser capaz de rapidamente reconhecer quando o turn
desproporcionalmente favorecer nosso range e considerar sair de lead quando isto
ocorrer.
Aqui está um exemplo. Damos call em um raise do button do big blind, e damos
check-call no flop Qh-10c-4s. Se o turn vier o 10h, este é um ótimo spot para sair de lead,
já que nosso range de check-call provalmente possui muitos mais 10 que no range de bet
do nosso oponente. Isso porque ele provavelmente daria check behind com muitos de
seus 10 no flop, já que eles não são geralmente fortes o suficiente para betar múltiplas
streets por valor e não vão bem quando enfrentam um check-raise. Entretanto, como
daríamos check-call com quase todos os 10 em nosso range, é mais provável que
tenhamos uma trinca no turn que nosso oponente.
Se dermos check no turn nesta situação, nosso oponente deve dar check behind em
uma alta frequência, já que seus pares de Q não são mais fortes o suficiente para
efetivamente continuar value betando, e se tornarão apenas bluff catchers quando
enfrentarem um check-raise. Colocado de outra forma, nosso range de check será forte
demais se nunca sairmos de lead com qualquer uma de nossas trincas, e isso nos encoraja

146
livro

a sair de lead com nossas mãos fortes. Lembre-se, o poker teoricamente ótimo não se
importa sobre quem tem a iniciativa, e se nosso range é melhor que o do nosso oponente
devido a um turn favorável, devemos frequentemente betar.
RESUMO
Jogar bem no turn quando fora de posição é difícil, mas com cuidadoso planejamento
a vantagem de posição do nosso oponente pode ser minimizada. É importante betar, dar
check-call e check-raise em frequências razoáveis, caso contrário nosso oponente será
capaz de imprudentemente dar call no flop e levar o pote no turn. Mais especificamente,
check-raises no turn são uma ferramenta excelente para punir um oponente que dá muitos
call no flop, e overbets em turns que sejam blanks são úteis para combater ranges
condensados.
É também crucial ter em mente quem possui o range polarizado, assim como quantas
mãos de força marginal possuímos. Por exemplo, se o check-call for difícil, check-raises
devem ser usados mais agressivamente para evitar que nosso oponente bete
imprudentemente. Embora infelizmente existam algumas texturas de board que são
difíceis de se jogar, especialmente com draws, quando fora de posição, com cuidadoso
planejamento o valor esperado de nosso range pode ser maximizado contra oponentes
fortes.
Aqui estão alguns pontos importantes.
1. Mesmo que seja impossível descobrir as frequências ótimas de bet, check-call e check-
raise no turn, ainda pode ser demonstrado que algumas combinações destas frequências
são claramente erradas e facilmente exploráveis.
2. Dar check-call ou check-raise no turn pune nosso oponente por dar call no flop com uma
mão fraca mais severamente que betando.
3. Nosso range de check-call no turn deve consistir em sua maioria de mãos de força média,
independente de se betamos ou demos check-call no flop.
4. Quando fora de posição, é mais difícil dar check-call com draws que em posição, já que
raramente teremos a oportunidade de blefar missed draws no river.
5. Após dar check-call no flop, na maioria das vezes defenderemos dando check-call no
turn, já que nosso range é condensado.
6. No turn, frequentemente não existe tamanho ideal de check-raise quando o board estiver
molhado. Isso porque dar check-raises baixos dá ao nosso oponente bons odds para dar
call com seus draws, enquanto que dar check-raises altos torna difícil foldar se ele shovar.
7. Sair de lead no turn é incomum pois frequentemente já sinalizamos que temos uma mão
de força média quando damos check-call no flop. Entretanto, sair de lead no turn faz
sentido se o turn melhorar mais nosso range que o range de nosso oponente.

147
livro

CHAPTER TEN
Capítulo 10: Potes 3-betados no Turn

Capítulo 10:
Potes 3-betados no Turn

INTRODUÇÃO
Enquanto as decisões no turn em potes 3-betados sejam inquestionavelmente
importantes, já que tanto dinheiro está em risco, é importante se lembrar que o pote
geralmente já será bem grande antes que quaisquer apostas ocorram no turn. Isto é, já que
o pote é tão grande em relação aos tamanhos restantes dos stacks, nossas opções são
geralmente bastante limitadas. Entretanto, vale a pena gastar algumas poucas páginas
focando nestas situações, já que estes erros custam caro.
Além do mais, novos jogadores provavelmente se surpreenderiam ao saber quão
frequentemente decisões no turn em potes 3-betados ocorrem entre dois jogadores
teoricamente ótimos. Como foi discutido na parte 2, “Jogo Pré-Flop”, os blinds devem 3-
betar agressivamente contra raises do cutoff e do button, que por sua vez devem defender
na maior parte das vezes dando call. Enquanto jogadores fracos podem não 3-betar
agressivamente o suficiente, o que permite que o cutoff e o button explorativamente
foldem para 3-bets, esta não é uma opção razoável contra jogadores agressivos. Da
mesma forma, bets no flop frequentemente devem ser jogados de call em potes 3-betados,
e isto resulta em jogar o turn por um pote grande sendo uma ocorrência relativamente
comum.
Mais uma vez assumiremos que o jogador que 3-betou está fora de posição e o
jogador que deu call no 3-bet está em posição, como é o caso na maioria dos potes 3-
betados. Mas, mesmo se isto não for verdadeiro, é importante se lembrar que o jogador
que 3-betou deve ter um range polarizado, e portanto espera-se dele a maioria dos bets no
flop. Além disso, praticamente todos os conceitos teóricos que discutimos anteriormente
para potes onde houve apenas raise se aplicarão aqui.
Enquanto discutimos apenas o jogo com stack inicial de 100 BBs até aqui, deve ser
notado que esta profundidade de stack é especialmente relevante para esta seção. Mais
especificamente, à medida que a profundidade de stack muda, muita da matemática
demonstrada nas páginas seguintes mudará significativamente. Portanto, é importante não
pensar que as frequências e proporções discutidas nesta seção funcionarão igualmente
bem para tamanhos de stack diferentes.

148
livro

EXECUTANDO UM DOUBLE BARREL EM UM POTE 3-BETADO


Vamos começar analisando como jogar o turn quando fora de posição em um pote 3-
betado após betar no flop. Enquanto, claro, faz sentido seguir a prática usual de betar com
um range polarizado, nos será de pouca valia repetir toda a matemática e as frequências
que já foram discutidas. (Dito isto, é importante ter em mente que geralmente queremos
que um pouco mais que metade dos nossos double barrels em potes 3-betados sejam por
valor). Ao contrário, nosso foco será em tomar as linhas corretas com os tipos de mãos
corretos e utilizar tamanhos de bet que façam sentido.
Como mostrado anteriormente, se, no flop, o tamanho inicial do pote é de 25 BBs e
betamos 12,5 BBs, então o pote terá 50 BBs antes que qualquer bet ocorra no turn. Se
então betarmos 25 BBs no turn e nosso oponente for all-in de um total de 75 BBs, nosso
call vai arriscar 50 BBs para ganhar 150 BBs, e isso requer apenas 25% de equidade para
que o call seja lucrativo. E como nossa mão requer exatamente 25% de equidade para ser
indiferente ao call, qualquer mão com menos equidade que isso deverá foldar para um
shove do oponente no turn.
Infelizmente, a maioria dos straight draws duas pontas e flush draws possuem
ligeiramente menos que 25% de equidade contra o range de shove do oponente no turn.
Em outras palavras, draws possuem quase a quantidade máxima de equidade possível e
ainda requer que foldemos ao enfrentarmos um shove no turn após betar 50% do pote.
Poucos resultados no poker são piores que colocar metade de seu stack com um draw de
alta equidade apenas para ter que foldar, então precauções especiais devem ser tomadas
para tentar evitar que isto aconteça.
Existem diversas formas de evitar o bet-fold com um draw de alta equidade no turn. A
primeira é simplesmente dar check. Desta forma nós veremos uma free card no river se
nosso oponente der check, ou podemos jogar de check-call ou check-raise se ele betar.
Um oponente ótimo estará ciente do quanto é indesejável ter que jogar de bet-fold no
turn em um pote 3-betado com um draw, assim como o quanto é difícil jogar de check-
call em muitas texturas de board após betar o flop (já que nosso range, em sua maior
parte, deve ser polarizado). Isto encoraja nosso oponente a fazer bets pequenos no turn, e
quando ele fizer isso, dar check-call com um flush draw é provavelmente altamente
lucrativo (comparado a foldar), já que possuímos tão bons odds. Na verdade, a maioria
dos jogadores atualmente estão betando alto demais quando enfrentando um check no
turn em um pote 3-betado, e isso frequentemente tornar nossos check-calls menos
eficientes e nossos check-raises mais eficazes que eles deveriam ser. (Nossos check-raises
são mais eficazes pois o pote é maior quando nosso oponente folda).
Outra opção é simplesmente overbetar all-in no turn. Nosso oponente frequentemente
foldará para um bet tão grande e quando ele não foldar, conseguiremos realizar a
equidade de nossa mão já que estamos all-in. Por exemplo, se o pote tem 50 BBs no turn,
nosso shove no turn será de 75 BBs ou 1,5 pote. Entretanto, esse grande overbet pode ser
o melhor, já que é bem fácil desenvolver um range balanceado de shove que consista de
mãos fortes e blefes de alta equidade neste spot. Isto é especialmente verdadeiro já que
muitos dos nossos 3-bet blefes eram suited connectors e gappers, que frequentemente
fazem straight ou flush draws no turn e são excelentes blefes.

149
livro

É também importante notar que manter o range do nosso oponente amplo geralmente
é um resultado desejável já que isso significa que, no final das contas, irá all-in com mãos
fracas. Entretanto, se sabemos que nossa mão possui tanta equidade que não podemos
foldar para o shove do nosso oponente no turn, bets altos são melhores pois eles
maximizam nossa fold equity.
Além disso, será mais fácil ir all-in no turn após fazer um bet maior no flop. Isto é,
betando mais alto no flop com um range que consista de muitas mãos que irão querer
overbet shovar no turn geralmente é o melhor. Isso nos permite ganhar um pote maior
quando nosso oponente foldar, e requer que arrisquemos menos dinheiro no turn em
relação ao tamanho do pote.
Aqui está um exemplo. Ao invés de betar 12,5 BBs no flop e 75 BBs no turn,
podemos betar mais no flop para que nosso overbet no turn não seja tão enorme em
relação ao tamanho do pote. Mais especificamente, o pote terá 61 BBs após um bet de 18
BBs, e nosso shove no turn será de 69,5 BBs ou 1,14 pote. Enquanto este ainda é um bet
grande, é significativamente menor que betar 75 BBs em um pote de 50 BBs.
Tenha em mente que é teoricamente correto utilizar muitos tamanhos de bet diferentes
no mesmo spot, já que isto maximiza o valor esperado de cada mão. Então regularmente
faremos tamanhos diferentes de bet, baseados no nosso plano para o turn. Por exemplo,
se o flop vier 10h-8s-2h, fazer um grande bet no flop com mãos que geralmente irão
querer shovar o turn, como 9h-7h, pode ser bastante eficaz. Claro que draws precisam ser
balanceados com mãos de valor, e overbetar neste spot com mãos fortes mas vulneráveis
como Q-Q em muitos turns parece razoável.
Entretanto, betar 50% do pote no flop e no turn é melhor com mãos que
provavelmente não se tornarão a segunda melhor mão no river em relação às mãos mais
fracas do nosso oponente. Isso porque é mais eficiente utilizar 3 rodadas de apostas ao
invés de 2 quando dar free cards não é particularmente arriscado.
Aqui está um exemplo. Se o flop é 10h-8s-2h, value betar alto no flop e shovar no
turn com Ah-Ac é desnecessário. Isso porque esta mão geralmente não se tornará a
segunda melhor mão no river contra mãos que um overbet faria foldar. Da mesma forma,
um bet alto no flop é desnecessário com o 7c-6c, já que uma broca pode ser
confortavelmente jogada de bet-fold no turn. Assim, enquanto nosso range de bet incluir
a proporção correta de value bets e blefes e possa melhorar na maioria dos turns, nosso
range será balanceado e não haverá forma de nosso oponente facilmente nos explorar.
Concluindo, balancear dois ou mais ranges de tamanhos de bet é difícil, e é
importante não se impressionar ao tentar implementar muitos conceitos novos de uma só
vez. Entretanto, entender teoria antes que possamos confortavelmente implementá-la nos
permitirá aprender mais rápido e evitar que criemos maus hábitos. Além disso, quase
todos os conceitos teóricos podem ser usados explorativamente, então mesmo que
sejamos incapazes de balancear especialmente bem múltiplos ranges de bet, isso não
significa que overbetar não será útil explorativamente. E por fim, usar múltiplos
tamanhos de bet em potes 3-betados parece particularmente importante, já que ter que
foldar um draw forte após betar o turn é tão indesejável.
JOGANDO O TURN FORA DE POSIÇÃO APÓS AMBOS OS JOGADORES

150
livro

DAREM CHECK NO FLOP


Antes de discutir tamanho de bet no turn, devemos prestar cuidadosa atenção a quais
são os ranges de cada jogador no turn após ambos darem check no flop. Nosso range de
check no flop fora de posição provavelmente consistirá de algumas mãos de força
marginal, que tínhamos intenção de jogar de check-call, assim como de mãos muito fortes
que jogariam de check-call ou check-raise. Além disso, algumas mãos fracas foram
jogadas de check com a intenção de dar check-fold, e estas mãos podem ser usadas como
blefes em streets futuras se não houver bet no flop.
Da mesma forma, no flop, o jogador que deu call no 3-bet também deu check behind
com a maioria de suas mãos de força média, assim com algumas mãos fracas que
provavelmente fariam blefes lucrativos. Enquanto também é possível que ele tenha dado
check behind no flop com uma mão muito forte em posição, estas mãos devem compor
apenas uma pequena fração de seu range de check, especialmente em texturas de board
molhadas.
Assim que ambos os jogadores deram check no flop, algumas das mãos no range de
cada jogador que não eram fortes o suficiente para value betar efetivamente no flop serão
capazes de value betar no turn. Além disso, o turn geralmente melhorará algumas mãos
fracas no range de cada jogador e assim eles podem betar, e como o pote já possui cerca
de 25 BBs, uma variedade de diferentes tamanhos de bet no turn podem ser utilizados
para manipular o tamanho do pote e o range do nosso oponente.
Betar próximo a uma fração igual do pote será melhor quando utilizando um range
que seja muito polarizado, e construído para vencer a quantidade máxima possível dos
bluff catchers do nosso oponente. Como existem duas streets restantes para agir e o pote
já possui 25 BBs, assumindo que o stack efetivo era de 100 BBs, o pote precisará crescer
para 2,83 vezes o seu tamanho original a cada rodada de apostas.
25R² = 200 => R = 2,83
Onde
-R é a taxa de crescimento do pote.
Então, se o pote precisa crescer para 2,83 vezes seu tamanho anterior a cada street,
teremos que betar cerca de 0,92 do pote, ou ligeiramente menor que um bet do tamanho
do pote, em cada street. Perceba também que, como nosso bet é maior que um típico
double barrel em um pote 3-betado, um pouco mais que metade do nosso range de bet no
turn pode ser blefes (Lembre-se, bets maiores nos permitem blefar mais).
Em outras situações, podemos escolher betar um pouco menos no turn se não
queremos ir all-in no river. Aqui está um exemplo. Damos check com Q-Q no flop Ks-7s-
4c e nosso oponente dá check behind. Aqui é improvável que queiramos ir all-in no river
já que nossa mão não é forte o suficiente para consistentemente vencer no showdown
após fazer bets grandes. Então betar menor no turn e no river provavelmente é melhor
pois permitirá que nossa mãos vença mais frequentemente se houver um showdown.
Embora isso dependa do tamanho do nosso bet, já que estamos betando menor, queremos
que mais dos nossos bets no turn sejam por valor.
Por último, se tememos que nosso oponente possa ser forte no turn, porque o turn
pode ter melhorado sua mão ou porque ele pode ter dado check behind com uma mão

151
livro

forte no flop, provavelmente é melhor betar menor no turn e então considerar overbetar o
river se é improvável que ele esteja forte. E quando nosso oponente der call em nosso bet
no turn em um board molhado e o river for um blank, é improvável que ele esteja forte,
então um overbet pode ser a melhor estratégia.
ENFRENTANDO UM BET NO TURN EM POSIÇÃO APÓS DAR CALL EM
UM BET NO FLOP
Quando nosso oponente beta 25 BBs no turn em um pote de 50 BBs, devemos
defender pelo menos 66,7% do tempo para prevenir que ele seja capaz de lucrativamente
betar quaisquer duas cartas. Como defenderemos contra a maioria dos bets do nosso
oponente dando call, ele frequentemente terá a oportunidade de blefar no turn, e por isso
faz sentido para nós defender agressivamente contra estes bets no turn. Tendo dito isto,
provavelmente não é um problema se seu bet gerar um pequeno lucro, já que ele arriscou
uma boa quantidade de dinheiro para conseguir esta oportunidade de blefar.
Como arriscamos 25 BBs para ganhar 75 BBs no turn, ele precisará betar o river com
um range balanceado (ou dar check com a mão vencedora) 75% do tempo para nos tornar
indiferentes a dar call. Entretanto, como nosso oponente está fora de posição e seu range
é polarizado, ele provavelmente terá poucas, se tiver alguma, mãos de força marginal que
ele possa dar check no river. Isso requer que ele bet próximo a 75% do tempo, e podemos
comparar com quanto do range de bet no turn do nosso oponente ele vai all-in, baseado
em se demos raise ou se demos call no turn.
Para calcular isto, precisamos descobrir quão frequentemente ele precisa dar call,
baseado na equidade do nosso pior blefe teoricamente correto. Embora nosso pior blefe
deva gerar um ligeiro lucro, é razoável presumir que ele será apenas ligeiramente
lucrativo, se não exatamente break even. Então vamos presumir que nosso oponente beta
25 BBs em um pote de 50 BBs no turn, e nosso shove será de um total de 75 BBs. Como
cada 1% de equidade que nosso blefe possui essencialmente o torna 2 BBs mais barato, a
seguinte equação pode ser utilizada para mostrar quão frequentemente nosso oponente
deve dar call baseado na equidade do nosos blefe, para que o call seja break even.
(75)(1 – X) – (75 – 200Y)(X) = 0
Onde
-X é a frequência de call do nosso oponente, e
-Y é a equidade do nosso blefe.
É Se nosso blefe não possui equidade quando receber um call, estamos efetivamente
arriscando 75 BBs para ganhar 75 BBs. Nosso shove precisa ser bem-sucedido mais que
50% do tempo para gerar lucro.
É Se nosso blefe possui 15% de equidade quando receber um call, estamos efetivamente
arriscando 45 BBs para ganhar 75 BBs. Nosso shove precisa ser bem-sucedido mais que
37,5% do tempo para gerar lucro.
É Se nosso blefe possui 25% de equidade quando receber um call, estamos efetivamente
arriscando 25 BBs para ganhar 75 BBs. Nosso shove precisa ser bem-sucedido mais que
25% do tempo para gerar lucro.
É Se nosso blefe possui 37,5% de equidade quando receber um call, estamos efetivamente
arriscando 0 BBs para ganhar 75 BBs. Se nosso oponente foldar alguma vez, o shove será

152
livro

lucrativo.
É importante notar que se nosso oponente planeja shovar o river 75% do tempo depois
de receber um call em seu bet no turn, então shovar o turn com um range onde o pior
blefe possui mais que 25% de equidade faz com que ele vá all-in com um range mais
amplo que se ele der call. Isso porque shovar uma mão com 25% de equidade força nosso
oponente a dar call 75% do tempo para prevenir que nosso pior shove por blefe seja
lucrativo, mas se dermos call, ele só shovará o river 75% do tempo para nos tornar
indiferentes a dar call no turn com um bluff catcher. Entretanto, enquanto é possível que
alguns dos nossos blefes tenham 25% ou mais de equidade quando receberem um call, os
blefes mais fracos certamente não terão. Isso significa que dar call no turn geralmente
força nosso oponente a ir all-in com um range mais amplo.
Embora dar call no turn provavelmente faça nosso oponente ir all-in com um range
mais amplo que se dermos raise, esta é uma pequena mudança proporcionalmente
comparada a outros spots. Por exemplo, shovar um range onde o pior blefe possui 15%
de equidade no turn em um pote 3-betado requerirá que nosso oponente vá all-in com
62,5% de seu range de bet.
Se, ao invés disso dermos call, ele terá que betar no máximo 75% do seu range de bet
no turn indo all-in no river. Esta mudança não é significativa comparada àquelas em
outros spots.
Em contraste, quando damos raise em um bet no flop em um pote onde houve apenas
raise, nosso oponente é capaz de foldar mais de metade de seu range de bet no flop sem
que nosso raise no flop seja imediatamente lucrativo (já que nosso raise no flop é de 18
BBs para ganhar 14 BBs). Isso resulta nele indo all-in no river com um range muito mais
forte em um pote bem maior quando comparado a apenas dar call. Mas ao contrário de
quando damos raise no flop ou no turn em um pote onde houve apenas raise, shovar o
turn em um pote 3-betado nos permite colocar a última aposta, então estamos garantindo
a realização da nossa equidade, o que faz nosso oponente defender muito mais
agressivamente. Além disso, como existe pouco dinheiro restante relativo ao tamanho do
pote depois que nosso oponente betar o turn em um pote 3-betado, os stacks
provavelmente irão all-in no river independentemente se dermos call ou foldemos.
Agora precisamos decidir se devemos dar raise ou fletar quando enfrentando um bet
no turn com um draw. Mais uma vez, as texturas de board onde temos draws em nosso
range são as mesmas texturas de board onde o nosso oponente provavelmente value
betará o turn com a intenção de dar check no river, já que dar free cards é arriscado. Mas
este é um problema menor em potes 3-betados já que seu range de 3-bet já é polarizado e
betar apenas o flop e o turn por valor é especialmente difícil quando fora de posição.
Vamos supor que nosso draw sempre se tornará o nuts no river, e quando nosso
oponente betar 25 BBs em um pote de 50 BBs no turn, ele planeja betar o river 75% do
tempo. Quando acertarmos nosso draw, ganharemos não só as 75 BBs no pote mas
também 37,5 BBs de implied odds, para um total de 112,5 BBs.
112,5 = 75 + (50)(0,75)
Onde
-75 é o tamanho do pote,

153
livro

-50 é o tamanho do bet no river, e


-0,75 é a frequência de bet no river.
Como ganharemos 112,5 BBs quando acertarmos nosso draw no river, dar call no turn
deve ser lucrativo se nossa mão tiver pelo menos 18,2% de equidade.
(112,5)(X) – (25)(1 – X) => X = 0,182
Embora dar call seja sempre lucrativo se nosso draw tiver 18,2% ou mais de equidade,
dar call com uma mão com menos equidade ainda será lucrativo se formos capazes de
fazer um blefe lucrativo no river depois que nosso oponente der check. Lembre-se, ele
precisa dar check-call pelo menos 66,7% do tempo para tornar nossos shoves no river
deficitários, e isto geralmente não é possível. Isto, claro, faz sentido teoricamente.
Arriscamos 25 BBs dando call no turn para apenas ocasionalmente ter a oportunidade de
lucrativamente blefar o river. Além do mais, podemos dar call com draws que possuem
menos que 18,2% de equidade (o que é mais ou menos o que um straight draw duas
pontas possui contra um overpair) e apenas a pior mão em nosso range de call no turn
deve ser aproximadamente break even.
Na verdade, se o call, o shove ou ocasionalmente o fold no turn com um draw em um
pote 3-betado é melhor, será bem close. Além disso, se temos muitos draws em nosso
range, nosso ponente pode não betar 75% do tempo quando nosso draw acertar no river.
É também possível que nossos outs estejam comprometidos se tivermos um flush draw
que não seja o nuts, e isso às vezes resultará no vilão ganhando todo o nosso stack
quando acertarmos nosso draw. Como foi o caso em potes onde houve apenas raise, é
importante estar ciente de quantos draws em nosso range melhoram nos mesmos rivers, já
que isto influencia a frequência e tamanho do bet do oponente no river.
Aqui está um exemplo. Damos raise no button com 8s-7s, nosso oponente 3-beta do
big blind, e damos call. Além disso, damos call um bet de metade do pote no flop Ks-6h-
5d, assim como no turn 2c. Como não existem tantos draws em nosso range, o range de
bet do nosso oponente funcionará de forma semelhante a um range perfeitamente
polarizado. Isto é, se o river vier o 5h e ele der check, é improvável que ele queira dar
check-call, já que haverão poucas ou nenhuma mãos de força média em seu range. Isso
significa que nosso oponente deve betar o river em uma alta frequência, para prevenir que
sejamos capazes de call lucrativamente com bluff catchers no turn, e quando ele der
check no river, podemos lucrativamente betar quaisquer duas cartas.
Neste spot, dar call em nosso oponente com um straight draw duas pontas no turn será
uma jogada muito lucrativa. Ganharemos todo o stack dele frequentemente o suficiente
para justificar o preço do nosso call no turn, já que conseguiremos o river no turn 17,4%
do tempo, e quando nosso oponente der check no river, ele quase sempre foldará para o
nosso bet. Então dar call quase certamente será superior a dar raise.
Mas aqui está um exemplo onde dar call provavelmente será menos lucrativo. Damos
raise no button com 8s-7s e damos call no 3-bet do oponente do big blind. Além disso,
suponha que damos call em seu bet de metade do pote no flop Ks-9c-2s e no turn 3d.
Enquanto dar call em seu bet no turn provavelmente ainda seja lucrativo, ele pode não
betar o river tão agressivamente quando o river trouxer o flush. Isso porque ele pode
pensar que existem muitos flushes em nosso range, assim como ter betado o turn com

154
livro

uma mão de força médiaé, como 10-10, que temiam dar uma free card. (Alguns jogadores
podem escolher betar uma mão de força média no flop e no turn, mas dão check-call em
rivers que sejam blanks).
Em outras palavras, não é razoável presumir que nosso oponente betará o river 75%
do tempo quando nossa mão fizer o flush, ou ele sempre jogará de check-fold quando ele
der check. Por último, não estamos com draw para o nuts, então às vezes perderemos
após fazer o flush. Colocado de forma simples, frequentemente ocorrerá de straight draws
pequenos em potes 3-betados funcionarem melhor que flush draws mesmo tendo um out
a menos.
Embora seja difícil dizer se é melhor dar call, raise ou foldar um draw no turn (e
geralmente precisaremos de uma combinações de pelo menos duas destas opções), as
mãos que fazem os melhores raises por valor nesta street geralmente são fáceis de
identificar. Em particular, queremos dar raise por valor com mãos que são fortes mas
vulneráveis a se tornarem a segunda melhor mão contra mãos no range de bet-fold do
nosso oponente.
Por exemplo, é fácil ver que devemos shovar uma trinca de oitos quando enfrentando
um double barrel em um pote 3-betado no board Kh-10s-8h-6h. Quase todas as mãos no
range de bet-fold do nosso oponente podem se tornar a melhor mão no river, e dando
raise agora ele pode foldar uma mão de alta equidade como o 9d-8d ou Ac-Jh. Além
disso, dar raise assegura que todo o dinheiro vá para o pote no turn e nosso oponente não
fique assustado no river com uma mão como Ah-Kd ou Kd-10d. Por último, como o
tamanho dos stacks é tão pequeno após nosso oponente betar o turn, ele não pode
overbetar o river se dermos apenas call, então o slowplay será ineficaz.
ENFRENTANDO UM CHECK NO TURN EM POSIÇÃO APÓS DAR CALL
EM UM BET NO FLOP
Quando nosso oponente dá check no turn após betar o flop em um pote 3-betado,
geralmente faz pouco sentido fazer um bet alto no turn. Isso porque ele geralmente estará
tentado a defender, quando ele tiver uma mão com a qual ele possa fazer isso, dando
check-raise all-in contra um bet alto, já que existe tão pouco dinheiro restante em relação
ao tamanho do pote. Em outras palavras, betar baixo o força a dar calls mais amplos e
torna mais difícil para ele destruir nossa vantagem de posição.
Aqui está um exemplo. Nosso oponente beta 12,5 BBs em um pote de 25 BBs no flop
Kh-8h-4c, antes de dar check no turn 2c. Enquanto nossa reação imediata poderia ser
betar 50% do pote no turn e no river já que isto nos permite ir all-in após betar uma
fração igual do pote em cada street, nosso oponente frequentemente dará check-raise all-
in contra este tamanho de bet. Isto é, ele provavelmente tentará balancear um range de
check-raise de mãos fortes e draws para assegurar que ele coloque a última aposta com
seus flush draws e straight draws.
Mas betando menos no turn, nosso oponente é forçado a defender um range mais
amplo, já que nossos blefes são mais baratos. Isto também reduz a quantidade que ele
ganha quando não damos call em seus check-raises. Além disso, será difícil para ele dar
slowplay dando check-call no turn com uma mão muito forte, já que podemos facilmente
acertar um straight ou flush no river. Por último, embora nosso oponente provavelmente

155
livro

possa lucrativamente dar check-call com seus draws, betaremos o river menos
frequentemente quando o river atingir muitos draws em seu range. Enquanto não existe
um só tamanho que englobe o que discutimos aqui, betar um-terço ou menos do pote no
turn provavelmente é bom em boards molhados.
RESUMO
Jogar o turn fora de posição em potes 3-betados pode ser complicado, já que jogar
draws de bet-fold é tão difícil. Além disso, nossos bets frequentemente serão um pouco
maiores fora de posição que em posição pois nosso oponente irá menos provavelmente
all-in e assim destruir sua vantagem de posição, mas devemos estar bastante cautelosos
para evitar jogar de bet-fold com draws de alta equidade, quando possível. Em geral, bets
pequenos são eficazes em posição, já que isto força nosso oponente a dar calls mais
amplos e jogar o river fora de posição.
Se ambos os jogadores derem check no flop, é importante betar de acordo com quão
forte nossa mão é em relação ao range do nosso oponente. Consequentemente, betar alto
no turn frequentemente será eficaz com um range de mãos fortes de valor e blefes, mas se
nossos value bets forem relativamente fracos, betar mais baixo deve ser melhor, já que
isto requer que nosso oponente dê call com um range mais amplo no turn e no river. Isto
também permite que vençamos mais frequentemente no showdown.
Além disso, é importante se lembrar de que dar raise no turn em potes 3-betados não
fortalece tanto o range de all-in do nosso oponente em relação a dar raise em potes onde
houve apenas raise pré-flop. Isso porque dar raise all-in no turn assegura que sejamos
capazes de realizar a equidade de nossa mão. Isto também nos encoraja a dar raise
quando temos uma mão forte, como uma trinca ou um flush fraco, que é vulnerável a se
tornar a segunda melhor mão contra mãos no range de bet-fold do nosso oponente, e
quando existem muitos draws em seu range. Aqui estão alguns pontos importantes.
1. Depois que ambos os jogadores derem check no flop em um pote 3-betado, uma
variedade de tamanhos de bet é possível no turn e no river. Em geral, uma proporção
entre blefe e value bet de 1-para-1 deve ser utilizado.
2. Devemos tentar evitar enfrentar um call break even com uma mão forte contra o shove no
turn do oponente. Mais especificamente, betar 50% do pote no flop e no turn com mãos
que possuem aproximadamente 25% de equidade é arriscado se nosso oponente for all-in
com frequência.
3. Para cada 1% de equidade que nossa mão tiver depois de receber um call quando formos
all-in no turn, nosso blefe se torna efetivamente 2 BBs mais barato. Como nossos piores
blefes geralmente possuem cerca de 15% de equidade, nosso oponente precisa dar call
com a maioria do seu range de bet no turn.
4. Dar call no double barrel do oponente no turn em um pote 3-betado geralmente resultará
nele indo all-in no river em uma frequência ligeiramente mais alta que se shovarmos no
turn, mas isto permite que ele veja uma free card com seu range inteiro de bet do turn.
Além disso, mãos fortes que são vulneráveis a se tornar a segunda melhor mão contra o
range de bet-fold do nosso oponente devem dar raise all-in no turn.
5. É teoricamente correto utilizar muitos tamanhos diferentes de bet na maioria dos spots, e
isto é especialmente importante em potes 3-betados. Overbetar all-in no turn com um

156
livro

range de mãos de valor vulneráveis e draws de alta equidade geralmente é uma jogada
forte.

157
livro

CHAPTER ELEVEN
Capítulo 11: Jogo no River

Capítulo 11:
Jogo no River

INTRODUÇÃO
Agora chegamos à street final, e pode te surpreender ver que existe apenas um
capítulo sobre o jogo no river. Isso porque praticamente todos os conceitos relevantes
para o jogo no river já foi discutido em detalhes em seções anteriores.
Consequentemente, focaremos nossa atenção nos aspectos de jogar a última street que
diferem do jogo no flop e no turn.
Mais importante ainda, como não existem cartas adicionais para vir, ranges mais
precisos e tamanhos de bet podem ser construídos. Nas rodadas anteriores, nunca fomos
capazes de converter equidade em valor esperado já que haviam cartas adicionais para
vir, mas isto é possível em algumas situações no river. Assim, o jogo no river geralmente
requer a menor quantidade de trabalho de adivinhação quando aplicando teoria.
Infelizmente, soluções precisas geralmente requerem muita matemática e podem
consumir muito tempo. Especificamente, alguns spots podem fazer com que um jogador
habilidoso leve horas para se paorximar do que poderia ser chamado de “solução”,
mesmo com a ajuda de software avançado de computador. Então, por esta razão, modelos
ainda serão necessários para demonstrar importantes conceitos teóricos. Isto é
especialmente verdadeiro já que temos apenas uma quantidade limitada de tempo para
tomar uma decisão quando jogando.
COMPARANDO SHOVES NO RIVER EM POSIÇÃO E FORA DE POSIÇÃO
Muitos jogadores não entendem verdadeiramente como value bets no river
funcionam, e isto faz com que eles desenvolvam leaks em outros aspectos de seu jogo.
Na verdade, o termo “value bet” às vezes pode confundir, já que value bets no river nem
sempre funcionam da mesma forma como elas funcionam nas outras streets. Mais
especificamente, quão forte nossa mão precisa ser para value betar no river dependerá se
estamos em posição ou não.
Quando em posição, nosso bet no river precisa vencer pelo menos metade do tempo
quando receber um call para tornar o bet mais lucrativo que o check. Isto deve ser
bastante intuitivo já que betar contra o range de check-fold do nosso oponente não muda
nada, já que não existem mais cartas para vir e ganharemos o pote de qualquer forma.

158
livro

Então, a única coisa com a qual nos importamos é como nossa mão vai contra seus ranges
de call e de check-raise, e betar sempre terá um valor esperado negativo em relação a dar
check se nosso oponente ganhar mais que nós ganharmos uma vez que ele der call (ou
raise).
Este conceito geralmente confunde os jogadores, já que o value bet no river não
implica que queremos que nosso oponente dê call. Tenha em mente que isto também era
verdadeiro em outras streets também, mas é mais difícil de visualizar em outras streets já
que haviam cartas adicionais para vir.
Aqui está um exemplo. No river, nosso oponente, que é o primeiro a falar, dá check e
temos em nosso stack apenas uma aposta do tamanho do pote. Ir all-in de uma aposta do
tamanho do pote requer que nosso oponente dê call metade do tempo para nos manter
indiferentes a blefar, e porque estamos all-in, ele não terá a oportunidade de dar raise.
Além do mais, vamos assumir que ele nos vence 20% do tempo. Isto significa que
quando betamos no river, nosso oponente foldará 50% do tempo, dar call com a pior mão
30% do tempo, e dar call com a melhor mão 20% do tempo. Portanto, o valor esperado de
betar é de 0,9 do pote.
0,9 = (0,50)(1) + (0,3)(2) – (0,2)(1)
Onde
-0,50 é a frequência de fold do nosso oponente,
-0,30 é a proporção de vezes que nosso oponente dá call e perde,
-0,20 é a proporção de vezes que nosso oponente dá call e ganha.
Vamos comparar isto com o valor esperado de dar check. E como nosso oponente está
vencendo 20% do tempo, ganharemos 80% do tempo. Portanto, o valor esperado de dar
check é de 0,8 do pote.
0,8 = (0,80)(1) + (0,20)(0)
Onde
-0,80 é a frequência com que ganhamos,
-0,20 é a frequência com que perdemos,
-1 é o tamanho do pote.
Como value betar possui um valor esperado mais alto que dar check, é a jogada
superior. Mesmo assim, após value betar, ainda esperamos que nosso oponente folde. Isso
porque perderemos 40% das vezes quando ele der call, já que 40% do range de call do
nosso oponente nos vence.
Podemos descobrir o nosso valor esperado depois que nosso oponente der call, e antes
que ele nos mostre se ele possui a melhor mão. Como vencemos 60% do tempo e
perdemos 40% do tempo quando recebermos um call, nosso valor esperado é de 0,8 do
pote.
0,8 = (0,60)(2) – (0,40)(1)
Onde
-0,60 é a frequência com que ganhamos,
-0,40 é a frequência com que perdemos,
-2 é o tamanho do pote quando vencermos,
-1 é quanto perdemos quando perdermos.

159
livro

Perceba que se betarmos e nosso oponente foldar, sempre ganharemos uma aposta do
tamanho do pote. Mas se ele der call, nosso ganho médio será de apenas 0,8 do pote.
Então apesar de ganharmos a maioria do tempo quando recebemos um call, e betar ser a
jogada superior, ainda esperamos que ele folde para nosso bet no river.
Este conceito deve ser óbvio para jogadores avançados, mas ele frequentemente
confunde novos jogadores e resulta neles não value betando o river agressivamente o
suficiente – parece estranho betar o river por valor em posição enquanto torcemos para
que nosso oponente folde ao mesmo tempo em que dar check behind é fácil e lucrativo.
Embora value betar o river em posição e esperar que nosso oponente folde possa
parecer, a princípio, contraintuitivo, é sempre mais lucrativo shovar que dar check
enquanto vencermos mais de metade do tempo quando recebermos o call. Lembre-se,
entretanto, que um range de bet no river quase sempre será polarizado, e incluirá mãos
fortes e fracas. Portanto, mãos de força média devem ser jogadas de check, já que betá-las
provoca, na maioria das vezes, que mãos piores foldem e mãos melhores dêem call.
Colocado de outra forma, um value bet simplesmente significa que a mão é favorecida
quando receber um call. Isso não pressupõe que estamos esperando que nosso oponente
dê call, ou que nós daremos call se nosso oponente der raise.
Agora vamos discutir o value bet no river quando fora de posição. A principal
diferença é que geralmente é superior betar com uma mão que perderá mais que metade
das vezes quando receber um call que dar check. Mais uma vez, este deve ser um
conceito ao qual a maioria dos jogadores avançados já estão familiarizados. Mas
jogadores mais fracos que não entendem esta ideia geralmente pensam que jogadores
altamente habilidosos estão jogando agressivamente demais, quando na verdade eles
estão jogando muito mais próximo ao jogo teoricamente ótimo.
Aqui está um exemplo. Mais uma vez nos encontramos no river com uma aposta do
tamanho do pote restante, mas agora estamos fora de posição e nosso oponente nos vence
30% do tempo, ao invés de 20%. Nesta situação, se formos all-in por um bet do tamanho
do pote e ele der call 50% do tempo, nosso valor esperado será de 0,6 do pote.
0,6 = (0,50)(1) + (0,20)(2) – (0,30)(1)

Onde
-0,50 é a frequência de fold do nosso oponente,
-0,20 é a proporção de vezes que nosso oponente dá call e perde,
-0,30 é a proporção de vezes que nosso oponente dá call e ganha,
1 é o tamanho do pote ou o tamanho do nosso bet,
2 é o número de bets que ganhamos quando nosso oponente dá call e perde.
Em posição, claramente não faria sentido betar com nossa mão já que perderíamos
mais de metade do tempo quando recebêssemos um call – dar check em posição tem um
valor esperado de 0,7 do pote. Entretanto, quando fora de posição, nosso oponente tem a
oportunidade de betar após darmos check e pode betar com um range balanceado de
value bets e blefes no river. Isto torna dar check fora de posição menos lucrativo que dar
check em posição.
Vamos presumir que, uma vez que tenhamos dado check no river, nosso oponente

160
livro

sempre value betará 30% do seu range que nos vence em um range balanceado, por um
bet do tamanho do pote. Como teremos odds de 2-para-1 para dar call, um range de bet
balanceado deverá ter 1 blefe para cada 2 value bets. Em outras palavras, se ele value
betar 30% do tempo ele também deve blefar 15% do tempo para nos manter indiferentes
a dar call. Isso resulta nele betando o river 45% do tempo, e como já explicado, sempre
que nosso oponente beta com um range balanceado, efetivamente já perdemos a mão, e o
valor esperado do nosso call será zero. Portanto, o valor esperado de dar check no river
será de 0,55 do pote.
0,55 = (0,55)(1) + (0,45)(0)
Onde
-0,55 é a proporção de vezes que nosso oponente dá check no river e perde,
-0,45 é a proporção de vezes que nosso oponente beta,
-1 é o tamanho do pote,
-0 é nossa expectativa quando nosso oponente beta.
Como o valor esperado de shovar o river é de 0,6 do pote enquanto o valor esperado
de jogar de check-call é de apenas 0,55 do pote, devemos value betar este river quando
fora de posição apesar de esperar perder mais que metade do tempo quando recebermos o
call. Isso demonstra ainda mais porque o termo value bet é enganoso – quando fora de
posição, geralmente é melhor betar o river com uma mão forte esperando perder mais
frequentemente que ganhar quando receber um call! (As exceções óbvias ocorrem
quando seu oponente blefar frequentemente demais, ou frequentemente de menos quando
você der check).
Isso porque quando damos check fora de posição, não só perderemos para todas as
mãos que estão ganhando de nós, como também efetivamente perdemos para todas as
mãos que nosso oponente blefa em um range de bet balanceado. Isto reduz o valor
esperado de dar check com uma mão que tenha valor de showdown, e nos encoraja a
value betar agressivamente em alguns spots, mesmo que esperemos perder mais
frequentemente que ganhar quando recebermos o call. É especialmente comum, quando
fora de posição, que ir all-in seja a melhor estratégia, apesar de esperar perder mais
frequentemente que ganhar quando receber um call, se o tamanho dos stacks for pequeno
em relação ao tamanho do pote.
VALUE BETANDO QUANDO RAISES SÃO POSSÍVEIS
Como nem sempre iremos all-in quando betarmos no river, nosso oponente
geralmente terá a oportunidade de nos dar raise. Além disso, seu range de raise deve ser
construído para transformar a maioria das nossas mãos de value bet em bluff catchers,
então devemos levar em consideração quão frequentemente ele nos faz enfrentar um call
break even quando decidindo se é mais lucrativo betar ou dar check.
Quando betando fora de posição, não precisamos nos preocupar em reabrir a rodada
de apostas. Colocado de outra forma, se nosso oponente está em posição, ele sempre terá
a oportunidade de betar ou dar raise com suas mãos fortes, e nunca dará check behind
com uma mão muito forte, já que o check leva ao showdown – ele não pode dar check
esperando dar check-raise. Isto, de certa forma, torna o value bet fora de posição no river
menos arriscado. Claro que é verdade que se betarmos e nosso oponente der raise com

161
livro

um range balanceado, teremos investido mais dead money no pote, e geralmente


enfrentaremos um call break even, mas mãos que são fortes o suficiente para dar raise por
valor são, claro, fortes o suficiente para betar também quando enfrentando um check. Em
outras palavras, embora betar o river quando fora de posição torne o pote maior, isso na
verdade não dá ao nosso oponente uma oportunidade de betar ou dar raise que ele já não
teria, de qualquer forma.
Mas quando betamos o river em posição, isso reabre a rodada de apostas e dá ao
nosso oponente a oportunidade de dar check-raise com um range balanceado de mãos de
valor e blefes. E quando ele faz isto, tanto dar call quanto foldar com a maioria das mãos
em nosso range terá um valor esperado de zero, significando que teremos efetivamente
perdido a mão. Então perceba que jogando o river de bet-fold em posição, não só
perderemos nosso bet para mãos que estão ganhando, como nosso bet e o pote também
efetivamente serão perdidos para mãos que o nosso oponente blefar em um range
balanceado de check-raise.
Vamos ilustrar isto com um exemplo. No river, estamos em posição e temos 80 BBs
restantes, e o pote possui 40 BBs. Se betarmos 20 BBs, nosso oponente tem a
oportunidade de ir all-in para um total de 80 BBs, e para que sejamos indiferentes a dar
call, 70% dos check-raises do nosso oponente devem ser raises por valor.
(140)(1 – X) – (60)(X) = 0 => X = 0,7

Onde
-140 é o tamanho do pote,
-60 é o tamanho do raise,
-X é a frequência dos raises por valor do nosso oponente,
-1 – X é a frequência dos raises por blefe do nosso oponente.
Como nosso oponente precisa que 70% dos seus check-raises no river sejam raises
por valor, se 5% de seu range no river for forte o suficiente para dar check-raise por valor,
então ele também pode dar check-raise por blefe 2,1% do tempo e ainda continuar
balanceado.
0,071 = 0,05 / 0,70
0,021 = 0,0,71 – 0,05
Vamos presumir que sempre foldamos quando nosso oponente der check-raise, já que
tanto o call quanto o fold possuem um valor esperado de zero. Quando dermos bet-fold
com uma mão após nosso oponente ter dado check-raise por valor, teremos perdido 20
BBs a mais que teríamos perdido se tivéssemos dado check. Mas se nosso oponente
estava dando check-raise por blefe, teremos efetivamente perdido 60 BBs. Isso porque
teríamos ganho o pote de 40 BBs se simplesmente déssemos check behind, mas dando
check-fold perdemos tanto o pote original de 20 BBs quanto o bet de 20 BBs. Isto torna o
bet-fold por valor em posição mais arriscado que fora de posição, já que perderemos para
os check-raises por blefe do nosso oponente enquanto o check nos garantiria o
showdown.
Mesmo assim, dar bet-fold no river em posição ainda frequentemente será a melhor
opção, e a seguinte equação poderá ser usada para determinar o valor esperado de dar bet

162
livro

em relação a dar check.


EV de betar em relação a dar check = (tamanho do bet)(frequência que o oponente dá
call com a pior mão) – (tamanho do bet)(frequência que o oponente dá call ou dá check-
raise com a melhor mão) – (tamanho do bet + tamanho do pote)(frequência que o
oponente dá check-raise por blefe)
Esta equação demonstra que, para que o value bet em posição seja superior a dar
check, nosso oponente deve dar call com a mão perdedora frequentemente o suficiente
para superar o fato de que às vezes foldaremos a melhor mão para os check-raises por
blefe do nosso oponente. Perceba que simplesmente calcular o valor esperado do nosso
bet no river não nos dirá se betar ou dar check é superior, já que dar check possui uma
expectativa positiva também. Então nosso objetivo não é betar se betar tiver um valor
esperado positivo, mas saber se betar possui um valor esperado mais alto que dar check.
Portanto, se a expectativa de betar em relação a dar check for positiva, betar será a nossa
melhor estratégia.
Além do mais, no river, se assegure de perceber que nosso oponente geralmente não
será capaz de dar check-raise com todas as suas mãos que vencem nossa mão, que
estamos betando por valor. Ele deve ter certeza de que seus check-raises por valor
vencem mais de metade das mãos em nosso range de call no check-raise, ou então dar
call será mais lucrativo que dar check-raise. Assim, existem muitas diferentes variáveis
nesta equação, e isso requer que estimemos várias das frequências do nosso oponente.
Vamos continuar com nosso exemplo anterior e presumir que estamos em posição no
river, e betamos 20 BBs em um pote de 40 BBs com a intenção de dar bet-fold. Além
disso, vamos supor que nosso oponente dará call no river frequentemente o suficiente
para nos tornar indiferentes ao blefe, o que requer que ele dê call 66,7% do tempo. Além
do mais, presuma que 5% de suas mãos serão fortes o suficiente para dar check-raise por
valor, e ele vai dar check-raise por blefe mais 2,1% das mãos para que seu range seja
balanceado. Por último, presuma que ele dê call com a melhor mão 10% do tempo. Estes
valores podem ser inseridos na fórmula anterior para determinar o valor esperado de betar
em relação a dar check. E neste caso a resposta é de 5,66 BBs.
(20)(0,667 – 0,10 – 0,05 – 0,021) – (20)(0,1 + 0,05) – (60)(0,021) =
9,92 – 3 – 1,26 = 5,66

Onde
-20 é o tamanho do nosso bet,
-0,667 é a frequência que nosso oponente dá call,
-0,10 é quão frequentemente nosso oponente dá call com a melhor mão,
-0,05 é quão frequentemente nosso oponente dá check-raises por valor,
-0,021 é quão frequentemente nosso oponente dá check-raises por blefe,
-60 é o tamanho do pote depois do nosso bet.
Então aqui, o valor esperado de betar é 5,66 BBs maior que o valor esperado de dar
check. E apesar do fato de que efetivamente perdemos tanto nosso bet quanto o pote de
60 BBs a cada vez que nosso oponente dá check-raise por blefe, isto não ocorre
frequentemente o suficiente para nos impedir de betar.

163
livro

Outra forma de conseguir esta resposta seria calcular o valor esperado de betar e o
valor esperado de dar check e então subtrair os dois resultados. Ambos os métodos são
válidos, mas este método é um pouco mais rápido, e demonstra porque é tão arriscado
jogar de bet-fold quando nosso oponente planeja dar check-raise agressivamente com um
range balanceado.
DESCOBRINDO O TAMANHO PERFEITO DO BET NO RIVER
Um dos aspectos mais empolgantes que aplicar teoria para o jogo no river é que, em
muitos casos, isto nos permite calcular o tamanho de bet teoricamente perfeito. Mas antes
que esta fórmula seja introduzida e explicada, é melhor primeiro discutir o tamanho de
bet no river utilizando alguns exemplos mais fáceis de se visualizar.
Mesmo quando as respostas exatas podem ser calculadas, geralmente é uma boa ideia
começar prevendo a resposta correta e então vendo o quão precisa nossa previsão foi. Por
exemplo, aprendemos anteriormente que, como regra geral,é bom utilizar uma proporção
de 2-para-1 entre blefe e raise por valor quando dando raise no flop em posição. Mas se
tivéssemos que perguntar a um jogador que não entende bem de teoria que adivinhasse
quantos raises por blefe ele deve ter em seu range de raise no flop, ele quase sempre
chutará que ele deveria estar blefando muito menos. Isso porque ele não entende como é
possível blefar tanto quando existem ainda muitas streets restantes para agir.
Esta informação é útil pois nos dá uma ideia de como os jogadores de um
determinado nível de habilidade pensam e jogam. Aqueles que estão jogando limites
baixos online quase certamente não dão raise por blefe o suficiente no flop. Isto nos
encoraja a explorativamente foldar nossos bluff catchers quando enfrentando um raise,
mesmo que em teoria deveríamos estar defendendo muito mais agressivamente. Mais
uma vez, esta é uma das principais razões pelas quais ser um jogador teoricamente forte é
tão útil. Isso nos permite cometer menos erros contra oponentes fortes assim como
explorar melhor jogadores fracos.
Então vamos começar fazendo algumas previsões antes de ir direto à fórmula.
Presuma que estamos no river com profundidade de stack ilimitada e que nosso oponente
nunca dará raise em nosso bet. Além disso, presuma que ele dará call frequentemente o
suficiente para que nossos blefes sejam break even. Devido a estas duas suposições,
quanto você betaria (em fração do pote) com uma mão que seu oponente vence 15% do
tempo? Pare e pense em um tamanho de bet, pois se você betar alto demais ou baixo
demais, existe uma boa chance de que outros jogadores de seu nível de habilidade
também estão cometendo o mesmo erro. E depois que você deu seu melhor palpite, é uma
boa ideia calcular o valor esperado daquele tamanho de bet. Quão frequentemente seu
oponente dá call nesse bet? Quão frequentemente você vence quando recebe um call? Se
tornar bom no poker requer trabalho, e estes são tipos de questões que você
frequentemente precisará ser capaz de responder à medida que você continua
melhorando.
O tamanho ótimo do bet nesta situação é de 0,83 do pote, e como este valor foi
calculado será explicado neste capítulo. Quando betamos 0,83 do pote, nosso oponente
precisará dar call 54,7% do tempo para nos manter indiferentes ao blefe.
(1)(1 – X) – (0,83)(X) = 0 =>

164
livro

X = 0,547
Esta informação pode ser utilizada para determinar nosso valor esperado após betar.
Nosso oponente dará call 54,7% do tempo mas ele nos vence apenas 15% do tempo. Isso
significa que 39,7% ele dará call e perderá. Portanto, nossa expectativa após betar é de
1,06.
1,06 = (0,453)(1) + (0,397)(1,83) – (0,15)(0,83)
Onde
-0,453 é a frequência que nosso oponente folda,
-0,397 é a frequência que nosso oponente dá call e perde,
-0,15 é a frequência que nosso oponente dá call e vence,
-1 é o tamanho do pote,
-1,83 é quanto ganhamos quando nosso oponente dá call e perde,
-0,83 é quanto perdemos quando nosso oponente dá call e vence.
Isto pode ser comparado ao valor esperado de dar check, que será de 0,85 do pote, já
que ganharemos o pote 85% do tempo.
0,85 = (0,85)(1) + (0,15)(0)
Então, betando a quantidade perfeita no river, aumentamos nosso valor esperado em
0,21 do pote em relação a dar check.
0,21 = 1,06 – 0,85
É também importante entender o nosso erro quando betamos baixo demais ou alto
demais. Betar muito alto faz com que percamos mais dinheiro para mãos que estão nos
vencendo, e faz com que nosso oponente folde mais mãos que estamos ganhando.
Embora nosso bet seja lucrativo enquanto ganharmos mais de metade do tempo quando
recebermos um call, ganhar pouco mais de metade do tempo faz com que nosso bet seja
apenas ligeiramente melhor que dar check. Um tamanho de bet perfeito resulta em nós
ganhando a maioria do tempo e recebendo calls de bets de tamanhos razoáveis.
Betar baixo demais faz com que extraiamos pouco valor das mãos que estamos
vencendo. Aqui já estamos vencendo 72,6% do time quando recebermos um call, então
betar mais baixo faz com que percamos muito valor das mãos que estamos vencendo, e
diminui nosso valor esperado.
0,726 = 0,397 / 0,547

Onde
-0,397 é a frequência que nosso oponente dá call e perde,
-0,547 é a frequência de call do nosso oponente.
Mais uma vez, estes tipos de exercícios são úteis para identificar leaks gerais.
Entender uma fórmula no papel não é nem de perto tão importante quanto ser capaz de
reconhecer os erros que você atualmente comete e consertá-los de uma forma metódica.
Aqui está a fórmula para o valor esperado de betar no river. Perceba que este é o valor
esperado total do bet, e não o valor esperado de betar em relação ao de dar check.
Mantenha também em mente que o valor esperado de dar check mudará baseado em se
estamos ou não em posição, então a fórmula abaixo não nos dirá automaticamente se
betar é melhor que dar check.

165
livro

Valor esperado de betar = (frequência de fold do oponente)(tamanho do pote) +


(frequência que recebemos call e vencemos)(tamanho do pote + tamanho do bet) –
(frequência que efetivamente perdemos)(tamanho do bet)
Esta fórmula pode ser expressada utilizando apenas duas variáveis quando jogando
contra um oponente ótimo, que quer nos manter indiferentes ao blefe.
Valor esperado de betar = [1 – (1 / (1+X))](1) + [1 – (1 / (1+X)) – Y](1+X) – (Y)(X)
Onde
-X é o tamanho do nosso bet em termos de fração do pote, e
-Y é quão frequentemente efetivamente perdemos.
Como a variável Y representa quão frequentemente efetivamente perdemos, esta
fórmula é capaz de levar em conta a habilidade do nosso oponente de dar raise por blefe.
Lembre-se, quando ele dá um raise por blefe com um range balanceado, nós efetivamente
perdemos a mão. Então se nosso oponente nunca der raise no river, então Y simplesmente
será quão frequentemente ele está vencendo nossa mão. Mas em casos onde ele às vezes
dará raise com um range balanceado, Y também incluirá raises por blefe.
Podemos considerar a derivada desta fórmula com respeito ao X para obter o tamanho
do bet no river que produz o mais alto valor esperado. Cálculo básico nos diz que o valor
de X para o qual a derivada é igual a zero corresponde a um máximo ou mínimo local,
neste caso o tamanho bet para o qual o valor da fórmula é maximizado. Na verdade, Y
mudará ligeiramente baseado no tamanho do nosso bet, profundidade de stack e a
influência dos blockers de nossa mão. Isto é, se dermos check ou betarmos baixo, nosso
oponente geralmente betará ou dará raise mais agressivamente e possui mais
profundidade de stack para utilizar. Entretanto, Y só se alterará em pequenos valores
baseado no tamanho do nosso bet, supondo que os stacks são adequadamente profundos,
então vale a pena tratar Y como uma constante, ao invés de se desviar por pequenos
detalhes.
Esta é a única fórmula neste livro que requer cálculos para derivar, e se você não se
sente confortável com cálculos, você não deve se preocupar com esta derivação. Você
ainda pode testar a fórmula inserindo valores e verificando se está correto. Mas se você se
sente confortável com cálculos, você deve ser capaz de derivá-la sozinho, e explicações
matematicamente mais profundas são fornecidas em A Matemática do Poker, de Bill
Chen e Jerrod Ankenman.
Derivada: 0 = (1 / (1+X)²) – 2Y ou Y = (1/2)(1+X)²
Onde
-X é o tamanho do nosso bet em termos de fração do pote, e
-Y é quão frequentemente efetivamente perdemos.
Esta fórmula pode parecer um pouco confusa a princípio. Mas por sorte, após um
reajuste ela pode ser expressada da seguinte forma, e então ser utilizada em um
solucionador quadrático (que estão disponíveis de graça online) para descobrirmos o
tamanho de bet próximo ao perfeito.
0 = 1 – (2Y)(1 + 2X + X²)

Esta é uma fórmula tão importante que vale a pena cuidadosamente fazer alguns

166
livro

exemplos para nos assegurarmos de que estamos confortavelmente utilizando-a. Vamos


começar com um exemplo onde pensamos que estamos sendo efetivamente vencidos no
river 22% do tempo. Isso requer que insiramos 0,22 em Y e calculemos o X.
0 = 1 – (2Y)(1 + 2X + X²) =>
0 = 1 – (2)(0,22)(1 + 2X + X²) =>
0 = 1 – (0,44)(1 + 2X + X²) =>
0 = 1 – 0,44 – 0,88X – 0,44X² => 0 = 0,56 – 0,88X – 0,44X²

Estamos quase lá. Agora tudo o que temos que fazer é ir no Google e buscar online
por “quadratic solver”, e clicar em um dos muitos links. Após inserir cada um dos termos,
as seguintes respostas devem aparecer.
X = -2,51 ou 0,51
Como estamos usando uma equação quadrática, geralmente obteremos duas respostas.
Normalmente, uma delas não fará sentido no contexto do poker – uma aposta negativa – e
apenas uma será a resposta correta. E neste exemplo, como é impossível betar -2,51 do
pote, um bet de 0,51 do pote é claramente a resposta. Este é o tamanho de bet que
maximiza nosso valor esperado. Ele resulta em nós ganhando na maior parte do tempo
quando recebemos um call, enquanto ainda ganhando um bet de tamanho razoável.
Vamos tentar mais um exemplo. Só que desta vez suponhamos que estamos perdendo
no river 40% do tempo. Mais uma vez, é uma boa ideia dar um palpite sobre qual seria o
tamanho do bet antes de calcular a resposta, para que você possa estimar se você está
regularmente betando muito alto ou muito baixo.
0 = 1 – (2Y)(1 + 2X + X²) =>
0 = 1 – (2)(0,4)(1 + 2X + X²) =>
0 = 1 – (0,8)(1 + 2X + X²) =>
0 = 1 – 0,8 – 1,6X – 0,8X² =>
0 = 0,2 – 1,6X – 0,8X²
Inserindo estes valores em um solucionador de equações quadráticas, os dois
possíveis valores para X são -2,11 ou 0,12 do pote. Claramente, o tamanho ótimo de bet
aqui deve ser de 0,12 do pote.
Embora a princípio possa parecer que devemos sempre betar 0,12 do pote quando
nosso oponente efetivamente nos vence 40% do tempo, isto não é verdade. Isto seria
verdade se ele só pudesse defender dando call, mas temos que ter um cuidado extra
quando check-raises forem possíveis. Isso porque, como anteriormente discutido, esta
fórmula não nos dirá se é mais lucrativo dar check ou betar em posição, já que betar
reabre a ação e permite que nosso oponente dê raise.
E se nosso oponente é capaz de dar check-raise agressivamente, então betar 0,12 do
pote provavelmente será inferior a dar check. Mais uma vez, isso porque cada vez que
nosso oponente der check-raise por blefe com um range balanceado teremos efetivamente
perdido o pote (além do nosso bet), pote que teria sido ganho se déssemos check. Então
receber um check-raise por blefe efetivamente nos faz perder 1,12 do pote. Entretanto,
quando nosso oponente dá call podemos vencer apenas um bet adicional de 0,12 do pote
(e às vezes ainda perderemos quando recebermos call), o que geralmente é pequeno

167
livro

demais para justificar reabrir a rodada de apostas quando em posição.


Isto nos traz a um ponto interessante e importante em relação a tamanho de bets. Em
geral, bets muito pequenos geralmente fazem sentido, teoricamente, quando fora de
posição, já que eles não reabrem as apostas. Mas os mesmos bets em posição raramente
serão a melhor opção quando nosso oponente possui um range de check-raise. Isso
porque ganhar tão pouco dinheiro adicional quando ele der call com uma mão pior não
justifica o risco de receber um raise. Colocado de outra forma, quanto mais
agressivamente nosso oponente der check-raise, mais provavelmente deveríamos dar
check behind. Isso porque betar nos causa a perda efetiva do pote em uma frequência
mais alta.
Outro ponto importante a ser mencionado é que, quando o tamanho dos stacks for
pequeno e ir all-in for uma opção, esta fórmula não funcionará muito bem para
determinar se devemos betar ou não em posição. A razão para isto é que nosso oponente
não possui uma oportunidade para dar raise depois que irmos all-in, e indo all-in com
uma quantidade pequena de fichas, nós o forçamos a dar call com um range mais amplo.
Na verdade, às vezes é correto ir all-in fora de posição mesmo se estivermos perdendo
para mais de metade das mãos no range do nosso oponente (antes que ele dê call). Então
esta fórmula não é precisa para tamanhos de bet quando os stacks estiverem rasos, e é
importante entender os conceitos em jogo, como já foi discutido na parte 11,
“Comparando Shoves em Posição e Fora de Posição”.
Por último, como veremos no próximo capítulo, esta fórmula não leva em conta os
efeitos de remoção. As cartas que nossa mão remove do baralho impactará as frequências
de call, raise e fold do nosso oponente. Em outras palavras, é impossível que ele sempre
dê call com a mesma frequência baseado no tamanho do nosso bet, independentemente de
que mão possuímos. Este efeito pode ser quase irrelevante como extremamente
importante, baseado em nossa mão e na textura do board.
UTILIZANDO EFEITOS DE REMOÇÃO
Como as cartas que estão em nossa mão não podem estar no range de nosso oponente,
nossa mão quase sempre vai influenciar quais mãos ele pode ter. Embora este efeito
esteja presente em toda street, é especialmente importante utilizar apropriadamente
efeitos de remoção no river. Por exemplo, quando blefando, o efeito de remoção da nossa
mão frequentemente é o único determinante para saber se nosso blefe possui um valor
esperado positivo ou negativo.
Como não existem cartas adicionais para vir, todos os nossos blefes no river terão
equidade zero quando receberem um call. Este não era o caso no pré-flop, flop e turn, já
que mesmo nossos blefes mais fracos possuíam alguma equidade. Assim, devemos
sempre enfatizar blefar com mãos que retém bem sua equidade, já que elas possuem a
chance de se tornar a melhor mão. E embora efeitos de remoção ainda estivessem
presentes nas streets anteriores, eles geralmente eram muito menos significativos que o
conceito de simplesmente blefar com mãos que melhor retém sua equidade. Então fazia
sentido na maior parte das vezes ignorar este efeito e se concentrar em conceitos mais
significativos.
Além disso, ranges são geralmente bastante amplos nas streets anteriores, então os

168
livro

efeitos de remoção frequentemente possuem um impacto limitado no range de nosso


oponente. Enquanto é verdadeiro que possuir um top pair no flop significa que nosso
oponente terá 33% menos combinações de top pair, geralmente existem tantas mãos
fortes e fracas em seu range que os efeitos de remoção raramente alteram
significativamente o range. Mas este nem sempre é o caso no river, já que os ranges
geralmente são mais bem definidos, com menos combinações de mãos. Assim, é comum
que nossa mão mude significativamente a frequência de bet ou call do nosso oponente,
pois removemos uma grande fração de mãos em seu range.
Aqui está um simples exemplo. No river, nosso oponente dá check e nós betamos um
bet do tamanho do pote. Como arriscamos um bet do tamanho do pote para ganhar um
bet do tamanho do pote, ele deve dar call exatamente 50% do tempo para nos manter
indiferentes a blefar.
Além do mais, vamos supor que o range de check no river do nosso oponente inclui
100 combinações de mãos se nossa mão não possui efeitos de remoção. Assim ele deve
jogar 50 dessas combinações de check-call para nos manter indiferentes a blefar com uma
mão que não possui efeitos de remoção.
Agora vamos supor que blefamos com uma mão no river que bloqueia 6 mãos de
valor no range de check-call do nosso oponente, mas não bloqueia nenhuma mão de seu
range de check-fold. Isso significa que ele terá menos seis combinações de mãos em seu
range de check e em seu range de check-call (já que seu range de check inclui seu range
de check-call). Assim, ele dará call apenas 46,8% do tempo.
0,468 = (50 – 6)/(100 – 6)
E como a frequência de call do oponente diminuiu, tanto ganharemos o pote com mais
frequência quanto perderemos nosso bet menos frequentemente. O valor esperado de
betar esta mão agora é de 0,064 do pote.
0,064 = (1 – 0,468)(1) – (0,468)(1)

Onde
-1 é o tamanho do pote ou o tamanho do bet,
-0,468 é a frequência de call do oponente,
-1 – 0,468 é a frequência de fold do oponente.
Isto pode parecer insignificante a princípio, mas tenha em mente que este valor
representa uma fração do pote. E se o pote possui 100 BBs no river, blefar com esta mão
terá um valor esperado de 6,4 BBs. Este é um ganho substancial, e constantemente blefar
com as mãos certas no river será lucrativo no longo prazo.
Da mesma forma, nosso blefe terá um valor esperado negativo quando nossa mão
possui um efeito de remoção indesejável. Isso porque mãos com efeitos de remoção ruins
bloqueiam mãos no range de check-fold do nosso oponente. Por exemplo, suponha que
nossa mão bloqueia 8 mãos no range de check-fold do nosso oponente mas apenas 1 mão
em seu range de check-call. Isso resulta em nosso oponente dando check-call 53,8% do
tempo.
0,538 = (50 – 1)/(100 – 8 – 1)
E se ele dá check-call 53,8% do tempo então o valor esperado do nosso blefe será de –

169
livro

0,076 do pote.
– 0,076 = (1 – 0,538)(1) – (0,538)(1)
Onde
-1 é o tamanho do pote ou o tamanho do bet,
-0,538 é a frequência de call do oponente,
-1 – 0,538 é a frequência de fold do oponente.
Como vimos, o valor esperado de um blefe pode mudar significativamente baseado
nos efeitos de remoção. Blefes com bons efeitos de remoção possuem uma expectativa
positiva, enquanto blefes com efeitos de remoção ruins possui uma expectativa negativa.
Então escolher os randomizadores corretos para nossos blefes geralmente é muito
significativo, já que o valor esperado do nosso primeiro blefe com um efeito de remoção
benéfico era 0,14 do pote maior que nosso segundo blefe com um efeito de remoção
ruim.
Na verdade, quase todo blefe no nosso range de bet ou de raise deveria ter um efeito
de remoção benéfico. Isso porque nós só seremos capazes de fazer alguns blefes e
continuar balanceado no river, já que nossas mãos de valor são limitadas. Entretanto,
geralmente existem muitas mãos no nosso range com efeitos de remoção benéficos.
Assim, nosso oponente terá que se assegurar de que ele está dando call agressivamente o
suficiente que tenhamos que blefar com as mãos corretas para gerar um lucro. Em outras
palavras, devemos perder dinheiro na maioria dos spots a não ser que blefemos com uma
mão com um efeito de remoção benéfico.
Vamos examinar algumas texturas de board e discutir o tipo de mãos que terão efeitos
de remoção benéficos e ruins quando blefadas. Para cada um destes boards, suponha que
demos call no button de um raise no cutoff, nosso oponente betou o flop, o turn e o river,
e estamos debatendo se devemos dar raise por blefe.
Mão nº 1: Flop Qh-8h-4d; Turn Jc; River Kc. Aqui provavelmente não devemos dar
raise por blefe com missed flush draws, já que estas mãos provavelmente bloqueiam
muitas mãos no range de bet-fold do nosso oponente. Isto pode parece contraintuitivo a
princípio, especialmente porque, no river, jogadores estão acostumados a blefar com as
piores mãos em seu range. Mas se temos uma mão como 7h-6h, então nosso oponente
não poderá estar jogando de bet-fold no river com qualquer missed flush draw que possua
o 7h ou o 6h, e isso significa que ele provavelmente dará bet-call.
Se nosso oponente está betando o river com muitas trincas, dois pares, straights e
blefes, então dar raise por blefe com uma mão como 10c-10d provavelmente será melhor.
Isso porque 10-10 bloqueiam metade de suas combinações de A-10 e 10-9. Além disso,
ele provavelmente foldará a maior parte, se não todos, os seus dois pares para o nosso
raise. Quando blefando em um spot como este, é importante ver quantas combinações
bloqueamos tanto no range de value bet do nosso oponente quanto no range de blefe, já
que dar call com nosso bluff catcher também pode vir a ser lucrativo. Mas se der call não
for particularmente lucrativo, então blefar com uma mão que bloqueia muitas mãos em
seu range de bet-call será melhor.
Mão nº 2: Flop Qh-Jc-5c; Turn 8d; River 2c. No river, muito do range de bet-call do
nosso oponente serão flushes. Então, para que dar raise por blefe aqui seja lucrativo,

170
livro

nossa mão deverá bloquear tantas combinações de flush quantas forem possíveis,
enquanto minimizando quantas mãos bloqueamos em seu range de bet-fold.
Geralmente não é possível bloquear algumas mãos de valor do nosso oponente sem
também bloquear alguns blefes. Aqui está um exemplo. Decidimos dar raise por blefe no
river com Ac-Js. Perceba que esta mão é só um bluff catcher quando damos call, mas ela
bloqueia todos os flush nuts do nosso oponente quando damos raise. Mas fazer isto
também bloqueia algumas mãos em seu range de bet-fold, já que ele poderia jogar o river
de bet-fold com uma mão como Ac-10s. Mesmo assim, bloquear algumas das mãos no
range de bet-fold do nosso oponente provavelmente não é suficiente para evitar que Ac-Js
seja um excelente raise por blefe.
Por último, devemos evitar dar raise por blefe com mãos que só bloqueiam mãos no
range de bet-fold do nosso oponente. Por exemplo, como ele provavelmente jogará de
bet-fold todos os seus pares de dama que betam o river, dar raise por blefe com uma Q
que não bloqueia combinações de flush terá um valor esperado negativo. Então, mesmo
que dar call com top pair não seja lucrativo, não devemos dar raise já que nossa mão
possui um efeito de remoção ruim.
TRANSFORMANDO MÃOS PRONTAS EM BLEFE EM POSIÇÃO
Deixados de lado os efeitos de remoção, no river mãos prontas fracas devem ser
transformadas em blefes quando elas forem nossas mãos mais fracas e quisermos betar
com um range balanceado. Isso ocorre quando o river completou muitos ou todos os
possíveis draws em nosso range, então não teremos muitos ou nenhum missed draw. Isso
geralmente só acontecerá no river, já que os ranges são mais fracos e mais amplos nas
primeiras streets.
É importante se lembrar que, só porque dar check com uma mão pronta no river é
lucrativo, não significa que dar check é superior a betar. Isso porque blefar pode ter um
valor esperado ainda maior.
Aqui está um exemplo. Suponha que damos raise com 10c-9c no cutoff, o big blind 3-
beta, e damos call. Suponha que o flop é Qh-9h-3c e nosso oponente beta metade do pote
e damos call. Da mesma forma, suponha que façamos o mesmo no turn 7s. Se o river vier
o Jh e nosso oponente der check, então um par de noves sem kicker é provavelmente a
pior mão em nosso range. Todos os nossos draws que deram call no turn terão feito um
straight, flush ou par de valetes, e todas as nossas mãos prontas serão pelo menos tão
fortes quanto um par de 10.
Sem maiores análises, é seguro concluir que provavelmente iremos querer blefar com
o 10c-9c, já que é a mão mais fraca do nosso range. Enquanto certamente efeitos de
remoção são relevantes, aqui é provavelmente mais importante dar check com mãos que
mais provavelmente vençam no showdown, e blefar com mãos que vencem menos
frequentemente. Além disso, efeitos de remoção provavelmente não serão importantes o
suficiente para nos encorajar a blefar com uma mão que frequentemente vencerá após dar
check.
Se shovar por blefe ou não é a melhor jogada vai depender de quão frequentemente
nossa mão vence após dar check behind no river, assim como com que frequência nosso
oponente dá call em nosso bet no river. Lembre-se, como blefar com quaisquer duas

171
livro

cartas no river será lucrativo, ele não está dando call o suficiente para evitar que
lucrativamente blefemos com quaisquer duas cartas. As fórmulas para o valor esperado
de shovar por blefe e dar check serão as seguintes:
EV de shovar = (tamanho do pote)(frequência de fold do oponente) – (tamanho do
bet)(frequência de call do oponente)
EV de dar check = (tamanho do pote)(frequência com que vencemos após dar check)
É melhor calcular ambas as equações separadamente e então tomar a linha que possuir
o valor esperado mais alto, e isso é bastante fácil de se fazer. Mas vamos fazer um rápido
exemplo apenas para nos assegurar de que estamos confortáveis fazendo estes cálculos.
No river, o pote possui 80 BBs e nós temos 60 BBs restantes. Além disso, suponha
que nossa mão vence 20% do tempo quando damos check behind, e nosso oponente só se
defende contra nosso shove no river 40% do tempo. Para determinar qual linha é mais
lucrativa, vamos começar determinando o valor esperado do shove.
24 = (0,60)(80) – (0,40)(60)
Onde
-80 é o tamanho do pote,
-60 é o tamanho do bet,
-0,60 é a probabilidade que nosso oponente folde, e
-0,40 é a probabilidade que nosso oponente defenda.
Então, o valor esperado de betar all-in é de 24 BBs. Vamos comparar isto com o valor
esperado de dar check.
16 = (0,20)(80) + (0,80)(0)

Onde
-80 é o tamanho do pote,
-0,20 é a probabilidade que nossa mão é a melhor,
-0,80 é a probabilidade que a mão do nosso oponente é a melhor, e
-0 é o nosso retorno quando a mão do oponente for a melhor.
Dar check possui um valor esperado de apenas 16 BBs, então o valor esperado de
betar é de 8 BBs a mais que dar check. Apesar de possuirmos valor de showdown, nossa
mão é fraca o suficiente para que ela seja betada como um blefe.
Um último comentário. Jogadores frequentemente tentam fazer com que transformar
uma mão pronta em blefe pareça mais complexo ou impressionante que é. Na verdade,
tudo o que estamos fazendo no river é blefando com a pior mão em nosso range, como é
comum em muitos outros spots. Acontece que a mão com a qual estamos blefando pode
ser um check lucrativo, mas no fim das contas, tudo com o que nos importamos é se betar
é mais lucrativo que dar check.
OVERBETANDO O RIVER
Embora o overbet tenha sido discutido em seções anteriores, vale a pena discuti-lo
especificamente em relação ao river. Isso porque overbets funcionam melhor quando
nosso oponente deu call em uma textura de board molhada e a próxima carta a sair foi
uma blank. Além disso, como não existem mais streets para agir no river, temos apenas
uma rodada de apostas restantes para ir all-in. (Lembre-se, quando betando com um range

172
livro

perfeitamente polarizado, é sempre melhor ir all-in antes do showdown.) Isso geralmente


requer que façamos um bet muito grande no river, quando nosso oponente não pode estar
muito forte.
Como existem quatro cartas no board no turn, geralmente haverão muitos draws no
range de cada jogador. Afinal, mesmo se o flop vier rainbow, o turn trará um flush draw
pouco menos de 75% das vezes, e alguns straight draws quase sempre serão possíveis.
Então, enquanto existem alguns turns secos onde poucos ou nenhum draw sejam
possíveis, como nos boards Jc-4s-4d-2h ou Kh-8c-3s-2d, estes são relativamente
incomuns.
Além disso, lembre-se que nosso range de bet se torna mais forte a cada street, à
medida que blefamos menos. Geralmente, daremos check-fold no turn com nossas mãos
mais fracas e continuaremos blefando com nossos melhores blefes. Como resultado,
muitos dos nossos blefes no turn geralmente serão flush draws ou straight draws. Este
não era o caso no flop já que geralmente precisávamos de muitos blefes no nosso range, e
por isso regularmente betamos overcards, ou mãos com 3 para o flush e 3 para o straight.
Mas no turn, blefes geralmente possuem maior equidade e são mais prováveis de fazerem
uma mão muito forte no river quando comparados aos blefes no flop.
Quando nosso oponente dá call em nosso bet no turn, é importante ter em mente
quantos draws em nosso range podem vir a vencer quaisquer mãos fortes que nosso
oponente pode ter jogador de slowplay. Se nosso range incluir muitos draws que podem
melhorar para vencer suas melhores mãos, então ele geralmente não estará forte se o river
vier uma blank. Isto torna grandes overbets no river eficientes com mãos tipo nuts.
Quando o slowplay for menos arriscado, é mais provável que ele dê apenas call com uma
mão muito forte, e devemos considerar betar mais baixo.
Aqui estão algumas texturas de board e uma rápida descrição de porque nosso
oponente deve ou não deve ter feito slowplay com uma mão muito forte quando
encarando um bet. Para melhor visualizar a mão, suponha que estamos no cutoff contra
um jogador do button que deu flat call, e betamos flop e turn. E quando ele dá call em
nosso bet no turn e o river vem uma blank, devemos estar dispostos a overbetar de acordo
nestes boards.
Boards em que devemos frequentemente fazer slowplay: Qh-Qs-7c-2d, As-Ad-Js-
4c, e Kc-9h-5s-2d. Fazer slowplay nestes boards é fácil, pois ou existem poucos ou
nenhum flush ou straight draws possíveis, ou nosso oponente pode ter um full house. No
caso do board Qh-Qs-7c-2d, não existem flush ou straight draws possíveis, então nosso
oponente deve dar call com suas mãos fortes para nos encorajar a continuar blefando. Da
mesma forma, embora muitas brocas sejam possíveis no board Kc-9h-5s-2d, ainda não é
muito arriscado para nosso oponente dar call com uma trinca e nos encorajar a continuar
blefando. E como frequentemente é improvável que nossa mão se torne a melhor mão,
com mãos em nosso range de bet-fold, é melhor que ele espere até o river para dar raise
com suas mãos muito fortes.
No caso do board As-Ad-Jh-4s, frequentemente haverão 6 combinações de A-J no
range do nosso oponente no flop e turn, com os quais ele pode confortavelmente fazer
slowplay. Estas mãos não são vulneráveis a perderem para nossas brocas ou flush draws,

173
livro

então nosso oponente dará call com essas mãos, esperando que façamos um straight ou
flush e percamos um grande pote.
Boards em que devemos fazer slowplay às vezes: Qh-10s-7c-4d, Ks-8c-2d-4s, e
10h-9s-9h-5d. Existem mais straight draws e flush draws possíveis nestes boards, então
nosso oponente estará mais relutante em fazer slowplay com uma mão forte. Muitos
straight draws são possíveis no board Qh-10s-7c-4d, e flush draws no board Ks-8c-2d-4s.
Assim, o slowplay provavelmente será justificado apenas se nosso oponente esperar que
ocasionalmente overbetemos o river. Isso evita que ele tenha um range capado em um
river que seja blank, e permite a ele ganhar um pote muito grande quando overbetarmos
uma mão pior.
Embora existam muitos straight e flush draws no board 10h-9s-9h-5d, nosso oponente
flopou 6 combinações de full houses ou quadras – 3 combinações de 10-10, 2
combinações de 10-9s e
1 combinação de 9-9. Ele deve dar call com essas mãos no flop e turn para nos
encorajar a continuar blefando, e manter os draws em nosso range.
Boards em que raramente devemos fazer slowplay: Jh-10h-6c-5c, 10s-6s-3d-Kd, e
Qs-7c-5c-6h. Existem tantos draws possíveis em cada uma destas texturas de board que
nosso oponente assume um risco enorme quando ele dá call com uma mão forte. Não
apenas existe uma boa chance de sua mão se tornar a segunda melhor mão no river, como
ele também pode perder valor dando apenas call. Isso significa que dar raise no turn
quase certamente será mais lucrativo que dar call. Além do mais, já que existem tantos
draws possíveis, a maioria dos rivers geralmente colocarão algumas mãos fortes no range
dele.
Aqui está um exemplo. Nosso oponente provavelmente não irá querer fazer slowplay
com uma mão forte no board Jh-10h-6c-5c, já que existem poucos rivers que sejam
blanks. Além disso, se estamos betando uma mão forte como Js-10s no turn e nosso
oponente tiver uma trinca de 6, quando ele fizer slowplay, ele pode perder ação se o river
completar vários draws. Isso o desencoraja a fazer slowplay, mesmo que ele saiba que às
vezes enfrentará um bet muito alto no river em alguns rivers.
RESUMO
Aplicar teoria ao jogo no river é especialmente empolgantes, já que pouco trabalho de
adivinhação geralmente é necessário. Sem cartas adicionais para vir, geralmente é
possível calcular o valor esperado da nossa mão baseado em quanta equidade ela possui.
Embora modelos ainda sejam importantes para visualizar situações, tamanhos de bet
muito mais preciso e frequências geralmente podem ser calculados.
Para considerar value betar uma mão em posição, nossa mão deve vencer no
showdown mais de metade do tempo quando receber o call. É também comum value
betar uma mão esperando que nosso oponente folde, mas devemos ser cuidadosos para
não betar agressivamente demais com mãos mais fracas pois betar permite ao nosso
oponente dar check-raise. Pelo contrário, como dar check fora de posição não garante um
showdown, geralmente é melhor value betar uma mão, mesmo que ele perca mais de
metade do tempo quando receber um call.
Uma fórmula pode ser utilizada para calcular o tamanho de bet teoricamente correto

174
livro

se nosso oponente nunca betar ou der raise, e der call agressivamente o suficiente para
evitar que sejamos capaz de blefar lucrativamente. Quando estas suposições não são
precisas, ainda assim a fórmula geralmente fornece uma boa estimativa do melhor
tamanho de bet, desde que haja profundidade adequada de stack. Além disso, betar o
tamanho correto no river frequentemente pode ter uma grande impacto no valor esperado
de nossa mão.
Como todos os blefes possuem zero de equidade quando receberem call no river,
mãos com efeitos de remoção favoráveis devem ser enfatizados. A diferença entre blefar
uma mão com efeitos de remoção benéficos e ruins geralmente é substancial, e não deve
ser ignorada. Se nosso oponente não deseja permitir que sejamos capazes lucrativamente
betar quaisquer duas cartas, ele deve dar call agressivamente o suficiente para que apenas
blefes com os melhores efeitos de remoção sejam lucrativos.
É comum overbetar em um river blank pois a textura do board no turn geralmente será
coordenada o suficiente para impedir que nosso oponente faça slowplay com uma mão
forte. Além disso, nosso range de bet no turn deve incluir menos blefes que nosso range
de bet no flop, para que a qualidade dos nossos blefes seja melhor – as piores mãos
devem ser jogadas de check-fold. Isso desencoraja nosso oponente de fazer slowplay em
muitos boards e nos permite overbetar mãos fortes com pouco medo de perder quando o
river for um blank.
Aqui estão algumas breves descrições dos pontos mais importantes:
1. Quando em posição, devemos betar uma mão por valor apenas se esperarmos vencer pelo
menos 50% das vezes em que recebermos um call. Se nosso oponente puder dar check-
raise, precisaremos vencer mais que isso para compensar o fato de que ele pode dar
check-raise por blefe e nos fazer foldar (ou dar call como bluff catcher).
2. Quando fora de posição, frequentemente estaremos “shovando por valor” no river mesmo
que esperemos perder a maior parte do tempo quando recebermos um call. Se devemos
shovar ou não dependerá da frequência com que nosso oponente nos vence e do SPR.
3. Quando é teoricamente correto jogar a mesma mão de duas formas diferentes, o valor
esperado de ambas as linhas deve ser o mesmo. Isso ocorre bastante frequentemente, e
um jogador que nunca faz slowplay com uma mão muito forte geralmente descobrirá que
ele está vulnerável a overbets, e um ponto de equilíbrio deve ser alcançado.
4. Em teoria, devemos ter vários tamanhos de bet com ranges balanceados na maioria dos
spots. Isto é extremamente difícil de se fazer na prática, mas um conceito necessário a se
trabalhar para se tornar um grande jogador. A fórmula do tamanho perfeito de bet no river
nos permite betar próximo ao tamanho perfeito em muitas situações.
5. Blefes no river devem ser feitos por mãos com excelentes efeitos de remoção, enquanto
blefes nas streets anteriores devem ser feitos com mãos que retém bem sua equidade.
6. Uma mão pronta só deve ser transformada em blefe se o blefe for lucrativo, já que dar
check geralmente também terá um valor esperado positivo. Isso geralmente ocorre
quando um draw vem no turn ou no river e agora as mãos mais fracas em nosso range
seriam mãos prontas.
7. Como ranges estão altamente polarizados no river, esta frequentemente será uma street
onde jogadores possuem ranges de overbet. Devemos overbetar quando nosso oponente

175
livro

não puder ter muitas mãos muito fortes em seu range que vencem as mãos que value
overbetaremos, e isto pode ser calculado com a fórmula do tamanho perfeito do bet no
river.

176
livro

CHAPTER TWELVE
Capítulo 12: Jogo no River-1

Capítulo 12:
Potes Multiway

INTRODUÇÃO
Assim como potes 3-betados não são mais difíceis de se jogar que potes onde houve
apenas raise, potes multiway não são mais difíceis de se jogar que potes heads-up.
Jogadores geralmente os acham mais problemáticos apenas porque eles aprendem através
de uma abordagem de tentativa e erro, e em jogos online a maioria das mãos são jogadas
heads-up no flop (em jogos 6-max). Mesmo assim, como agora temos um forte
entendimento do poker teórico, é desnecessário jogar milhões de mãos antes de se sentir
confortável em como jogar contra múltiplos oponentes.
De muitas formas, potes multiway são na verdade mais fáceis de se jogar que em
potes heads-up, já que os jogadores precisam defender uma fração menor de seu range
quando enfrentando um bet. Mais especificamente, geralmente não precisaremos
defender mãos fracas, que são geralmente difíceis de jogar, como frequentemente era o
caso em potes heads-up. Entretanto, é válido brevemente discutir potes multiway, já que
eles ocorrem com uma frequência razoável, e o tamanho do pote é maior, então erros
custam caro.
Embora focaremos na teoria dos potes multiway, é importante perceber que, quando
vários jogadores veem um flop, um jogador fraco comumente estará envolvido. Isso
porque jogadores fracos geralmente gostam de dar call pré-flop e ver muitos flops, e bons
jogadores jogarão mais soltos para tentar estaquear o fish. Então, enquanto nós nos
concentraremos principalmente em como jogar em potes multiway contra oponentes
fortes, lembre-se sempre de que a teoria também é uma ferramente útil para explorar
jogadores fracos e ganhar seus stacks, antes que outro jogador o faça.
FORÇA DA MÃO NO FLOP
Como foi o caso em potes heads-up onde houve apenas raise pré-flop, um jogador que
beta fora de posição geralmente não deve ser capaz de lucrativamente betar quaisquer
duas cartas. Entretanto, como existe mais de um jogador que pode defender contra um
bet, cada jogador ativo precisa defender apenas uma fração de seu range para evitar que o
jogador que aposta gere um lucro imediato com seus blefes. Isso resulta, no fim das
contas, em jogadores vendo o turn com ranges mais fortes que de outra forma teriam.

177
livro

Quanto cada jogador deve defender depende de seu range e posição. Colocado de
outra forma, cada jogador não defenderá a mesma porcentagem de mãos quando
enfrentando um bet. Entretanto, podemos ter uma ideia geral de quão agressivamente
cada jogador deve defender supondo que cada um deles defenda a mesma porcentagem
de mãos em uma tentativa combinada de evitar que o jogador que aposta bete quaisquer
duas cartas.
Suponhamos que o jogador fora de posição bete 75% do pote no flop e os jogadores
restantes, combinados, defendam agressivamente o suficiente para que seu bet no flop só
seja bem-sucedido 40% do tempo. Em outras palavras, os jogadores restantes devem
defender 60% do tempo combinados contra o bet no flop. Lembre-se, quando tentando
descobrir quanto cada jogador precisa defender em uma situação como esta, não é tão
simples quanto pegar a frequência total de defesa (neste caso 60%) e dividir pelo número
de jogadores restantes. Isso porque às vezes múltiplos jogadores terão uma mão forte o
suficiente para defender. Ao contrário, devemos calcular quão frequentemente cada
jogador deve foldar para que o agressor ganhe 40% do tempo, e a partir daí calcular
quanto cada jogador precisa defender.
Considerando as suposições acima, se existem três jogadores no flop (para que dois
jogadores possam defender contra o bet), então cada jogador deve foldar 63,2% de seu
range de flop.
X² = 0,4 => X = 0,632
Como cada jogador pode foldar 63,2% do tempo, eles devem defender pelo menos
36,8% do tempo.
0,386 = 1 – 0,632
Esta mesma metodologia pode ser usada para determinar quão frequentemente cada
jogador deve defender dependendo da quantidade de jogadores que viram o flop. Mais
uma vez, este método presume que cada jogador defende a mesma porcentagem de mãos
e acredita que todos os jogadores combinados devem defender 60% do tempo.

Jogadores no Flop Frequência de Fold Frequência de Defesa


(%) (%)
2 40 60
3 63,2 36,8
4 73,7 26,3
5 79,6 20,4
6 83,2 16,7

Perceba quão drasticamente o range de cada jogador muda à medida que mais
jogadores veem o flop. Se o flop for heads-up, o jogador que defende deve defender 60%
de seu range. Mas se existem quatro jogadores no flop, cada jogador só deve defender
26,3% do tempo. Então, dadas as suposições acima, se quatro jogadores verem o flop,
eles defenderão menos que metade das mãos que eles defenderiam quando estivessem

178
livro

heads-up.
Em geral, a maioria dos jogadores significativamente subestima quão mais forte uma
mão deve ser para betar, dar call ou dar raise, quando multiway. Top pairs e mesmo
overpairs não serão regularmente fortes o suficiente para betar ou dar raise em muitas
texturas de board onde três jogadores ou mais veem o flop. Além do mais, jogadores
fracos geralmente usam quase sempre o mesmo range independentemente de quantos
oponentes estão enfrentando. Este é um leak enorme, que resulta neles indo showdown
com mãos que são muito fracas.
É válido notas que, embora seja improvável que flops serão vistos por cinco ou mais
jogadores teoricamente fracos, em jogos live é uma ocorrência mais comum que os potes
incluam mais jogadores. Isso porque o jogo live geralmente é full ring, onde mais
jogadores possuem a opção de ver o flop, e jogadores live geralmente são muito soltos
pré-flop. Esta é uma razão pela qual jogadores que de outra forma seriam tights demais
(supondo que o rake não seja muito alto em relação aos stakes), ainda conseguem ir bem
em jogos contra oponentes fracos mesmo que eles tenham um entendimento de poker
muito limitado. E isto também significa que dar call com mãos especulativas esperando
flop uma trinca ou um draw é uma forte jogada contra oponentes fracos que regularmente
investirão muito dinheiro no pote com top pair.
BLUFF CATCHERS EM POTES MULTIWAY
Como é requerido que jogadores defendam menos frequentemente em potes multiway,
é importante enfatizar dar call com mãos que tenham potencial para fazer mãos tipo nuts
no river. Mãos marginais ainda precisam dar call às vezes, mas eles devem ter alguma
chance de melhorar no turn e no river (como um top pair ou par médio com backdoor
flush e backdoor straight) ou ser bastante forte e não particularmente vulnerável aos
blefes do nosso oponente.
Dar call com uma mão marginal pronta é menos desejável em um pote multiway por
algumas razões. Primeiro, se ainda existem jogadores restantes para agir, um deles pode
dar raise após darmos call. Isso ocorre tanto pré-flop quanto pós-flop, e quando isto
ocorrer, geralmente teremos que foldar ou dar um call próximo a break even. Colocar
mais dinheiro no pote para logo depois encarar um call próximo a break even é um
resultado indesejável, que deve ser evitado quando possível.
Além disso, mãos prontas geralmente possuem uma quantidade significativa de
equidade contra apenas um draw, mas não vai bem contra múltiplos draws. Por exemplo,
se temos um overpair e estamos enfrentando apenas um straight draw no flop, então
nosso oponente geralmente possuirá 8 outs. Mas estamos contra dois oponentes e um
possui um straight draw enquanto outro possui um flush draw com uma overcard, então
nossos oponentes podem possuir um total de 18 outs, e é muito mais fácil se desviar de 8
outs do que de 18. Além do mais, como provavelmente teremos que foldar para bets
adicionais no turn e river mesmo quando eles não acertarem o draw, é improvável que
ganhemos um pote grande. Isso nos encoraja a tentar evitar dar call com mãos de força
média quando múltiplos jogadores possam ter draws.
Por último, perceba que, como precisaremos defender menos mãos multiway, nossos
draws mais fortes geralmente compõe uma fração maior do nosso range de defesa. Assim,

179
livro

não é necessário dar call com tantos bluff catchers para prevenis que nosso oponente seja
capaz de gerar um lucro imediato com seus blefes. Claro que ainda precisaremos dar call
com algumas mãos de força média, já que dar call apenas com draws resultará em muitos
blefes em nossa ranges nas streets futuras, mas é menos crucial defender com muitos
bluff catchers no flop que prevenir que nosso oponente bete imprudentemente. Além
disso, nosso oponente saberá que nosso range de defesa é mais forte e ajustará seu range
de bet de acordo.
Mãos que geralmente flopam apenas mãos de força marginal geralmente devem ser
evitadas em potes multiway. Por exemplo, se o cutoff dá raise e o button dá call, dar call
com As-Jd do small blind deve ser uma jogada deficitária. Esta mão joga mal fora de
posição, e quase nunca vencerá uma mão que não seja blefe quando enfrentando bets em
múltiplas streets, a menos que faça a menos dois pares. Lembre-se, aplicar teoria ao jogo
pré-flop requer mais trabalho de adivinhação que o jogo no river, já que ainda existem
muitas cartas restantes para vir, então é impossível descobrir qual a melhor linha a se
tomar. Entretanto, enquanto dar call com uma mão que na maior parte das vezes flopará
apenas mãos prontas medíocres ainda possa ser lucrativo, devemos pelo menos
considerar foldar ou squeezar mesmo que dar call seja nossa linha standard.
Por outro lado, se o UTG dá raise e o cutoff der call, squeezar com Ad-Qs no button
ao invés de dar call é uma opção razoável. Isso porque A-Q quase sempre será um bluff
catcher (com o potencial de dividir o pote) quando enfrentando um bet no flop, e 3-
betando podemos fazer com que um de nossos oponente foldem pré-flop ou pós-flop.
Além disso, nossa mão ainda possui uma quantidade significativa de equidade quando
receber um call, mesmo que raramente façamos uma mão excepcional.
MÃOS ESPECULATIVAS PRÉ-FLOP
A maioria dos jogadores intuitivamente entendem que a habilidade de fazer mãos tipo
nuts se torna mais importante em potes multiway. Entretanto, isso os leva a superestimar
mãos especulativas, especialmente pré-flop. Suited connectors e gappers são
regularmente jogados de call, quando eles deveriam ser 3-betados ou foldados pré-flop, e
é importante entender o porquê.
1. Suited connectors geralmente formam backdoor flush draws e backdoor straight draws,
assim como brocas. Estas mãos podem dar raise por blefe e floatar lucrativamente quando
enfrentando um bet em potes heads-up, mas geralmente devem ser foldadas em potes
multiway.
2. Como os ranges se tornam fortes rapidamente em potes multiway, geralmente é difícil
extrair valor com flushes fracos. É óbvio quando o flush é possível, e os ranges agora são
tão fortes que às vezes os jogadores nem precisarão ir all-in com todas as suas
combinações de trincas (quanto menos menos dois pares e overpairs) quando enfrentando
bets ou raises. Isso geralmente torna difícil obter ação com um flush fraco, a menos que o
oponente esteja nos vencendo.
3. O tamanho do pote e o tamanho do bet no flop do nosso oponente será alto em relação ao
tamanho restante dos stacks. Isto reduz os implied odds do nosso draw em relação ao
tamanho do pote, e torna difícil dar calls lucrativos com draws fracos.
Aqui está um exemplo. Geralmente é bastante lucrativo dar call com um draw quando

180
livro

nosso oponente beta 4 BBs em um pote de 6 BBs, já que existe tanta profundidade de
stack restante. Isto é especialmente verdadeiro se temos o nut draw, já que um pequeno
investimento pode potencialmente fazer com que ganhemos o stack do nosso oponente.
Mas se ele betar 10 BBs em um pote de 15 BBs, teremos que arriscar uma fração muito
maior do nosso stack em uma tentativa de ir all-in com o nuts no river. Isto torna mais
difícil dar call no flop com um draw bom mas não fantástico.
Isto não deveria te impedir de jamais jogar suited connectors em potes multiway em
potes onde houve apenas raise. Eles geralmente são mãos lucrativas, especialmente
contra oponentes fracos que darão call até o fim com mãos marginais se fizermos uma
mão grande, ou contra oponentes que podem ser facilmente blefados. Mas é importante
perceber que eles não devem ser jogados imprudentemente e reconhecer o quanto as
mãos devem ser fortes para que sejamos capazes de confiantemente irmos ao showdown
em potes multiway. Além disso, posição é, claro, especialmente importante quando
multiway, já que é tão indesejável tomarmos um raise após darmos call com uma mão
pronta medíocre ou um draw.
E por fim, as melhores mãos especulativas pré-flop em potes multiway são
geralmente pocket pairs. Eles quase sempre serão calls lucrativos pré-flop. Ao contrário
de suited connectors e gappers, pocket pairs imediatamente nos dizem no flop se é
provável que tenhamos a melhor mão no river. Quando flopamos uma trinca, podemos
confiantemente dar raise e construir o pote, e se não acertarmos a trinca, podemos
simplesmente foldar para qualquer agressão dos nossos oponentes. Em outras palavras,
dar call ou raise no flop geralmente será altamente lucrativo ou uma jogada claramente
deficitária. Este não é o caso com suited connectors, já que nossa mão geralmente só se
tornará a melhor mão no turn ou river.
DECIDINDO QUEM É RESPONSÁVEL POR DEFENDER
Na verdade, nem todos os jogadores defenderão uma fração igual de seu range contra
um bet. Entretanto, não existe forma de calcular exatamente quanto cada jogador deveria
defender. Tudo se resume a posições, e quão forte o range de cada jogador é. Se um
jogador está fora de posição, deu check, e demonstrou fraqueza, então é improvável que
esta pessoa defenderá muito contra um bet. Ao contrário, se um jogador no flop é o
último a agir em posição e possui um range forte, então espera-se dele que ele defenda
mais agressivamente que todos os outros.
Para ilustrar, suponhamos que o cutoff dê raise e o button e o big blind dêem call.
Como o big blind recebeu um desconto de 1 BB em seu call pré-flop por já ter postado a
bid blind, ele dará call enquanto ele esperar perder menos que um total de 1 BB na mão.
Isto resulta em seu range sendo mais fraco que de outra forma seria. Além do mais, como
ele também está fora de posição, ele defenderá menos em boards onde a posição é
particularmente valiosa.
Em contraste, o button provavelmente defenderá agressivamente se o cutoff betar.
Afinal, ele deu call pré-flop com um range que vai bem contra o range de raise pré-flop
do cutoff, e sempre possui a vantagem da posição. Então, mesmo que não possamos
calcular exatamente quanto cada jogador deve defender contra um bet, é seguro supor que
o button defenderá mais agressivamente que o big blind na maioria dos flops.

181
livro

Além disso, é importante notar se cada jogador provavelmente defenderá dando


check-call ou check-raise. Isso porque a frequência com que o jogador que deu raise
enfrentará um check-raise determinará quão frequentemente ele vê o turn com suas mãos
que jogam de bet-fold, assim como qual tamanho de bet é melhor. Repare que bets baixos
são melhores quando é mais provável que os jogadores joguem de check-raise, e não de
check-call.
Aqui está um exemplo. O cutoff dá raise e o button e o big blind dão call. Agora é
provável que o big blind defenda na maioria das vezes com um check-raise no flop 8s-6s-
3c. Seu range possui poucas ou nenhuma mão que possa confortavelmente jogar de
check-call, então ele defenderá dando check-raise agressivamente com suas trincas e
alguns blefes, enquanto o button defenderá na maioria das vezes dando call, já que ele
está em posição. E se os dois ranges combinados não estão defendendo o suficiente para
evitar que o cutoff seja capaz de lucrativamente betar quaisquer duas cartas, então eles
provavelmente não estão defendendo agressivamente o suficiente.
RESUMO
A mesma teoria que se aplica a potes onde houve apenas raise também se aplicará a
potes multiway. Entretanto, é importante parar e pensar sobre quão forte o range de cada
jogador precisa ser para continuar na mão quando jogando contra múltiplos oponentes.
Jogadores fracos regularmente acabam betando ou dando call com mãos que são fracas
demais para esta situação.
É importante dar ênfase a jogar com mãos que tenham o potencial de formar mãos
nuts quando o pote é multiway. Em particular, algumas mãos que sejam calls levemente
lucrativos pré-flop se o pote estiver heads-up serão calls ligeiramente deficitários em
potes multiway. No flop, geralmente precisaremos defender menos bluff catchers, já que
haverão em nosso range mais mãos fortes prontas e draws. Ainda precisaremos dar call
com bluff catchers suficientes para que nosso oponente não possa imprudentemente betar
e para que nosso range de call esteja balanceado, mas quando possível, é melhor dar call
com mãos que possam facilmente melhorar nas streets seguintes.
Draws fracos são comumente superestimados em potes multiway. Jogadores fortes
nem sempre comprometerão seu stack com dois pares ou uma trinca se muitos draws
possíveis melhoraram. Além do mais, é mais comum que um flush baixo perca para um
flush melhor quando muitos jogadores estiverem envolvidos. Enquanto draws fracos
frequentemente serão calls lucrativos pós-flop, frequentemente não vale a pena dar call
com um suited connector ou gapper pré-flop esperando flopar um draw que será apenas
marginalmente lucrativo.
É impossível determinar exatamente quanto cada jogador restante deve defender
quando enfrentando um bet. Então devemos tomar cuidado e atenção extra aos ranges de
cada jogador e quão valiosa é a posição para determinada textura de board. Geralmente o
big blind defenderá menos frequentemente que outras posições pós-flop, já que ele possui
um desconto em seu call pré-flop e dá call com um range mais fraco.
Aqui estão alguns dos pontos cruciais:
1. Jogadores precisam defender contra bets muito menos frequentemente em potes multiway
que em potes heads-up. A maioria dos jogadores subestimam quão forte este efeito é.

182
livro

2. As mãos frequentemente precisam ser muitos fortes para ganhar no showdown em potes
multiway. Assim, mãos que consistentemente fazemos mãos marginalmente fortes, como
A-Jo, são frequentemente menos úteis. Da mesma forma, mãos que têm o potencial de se
tornar muito fortes, como pocket pairs pré-flop e draws para o nuts no flop, se tornam
mais valiosas.
3. Em potes multiway, como bets no flop são maiores em relação ao tamanho restante dos
stacks e os ranges de all-in são mais fortes, os jogadores acabam superestimando suited
connectors, já que eles não podem dar call ou dar raise por blefe tão eficientemente
quanto eles podem em potes heads-up.
4. Quão frequentemente cada jogador deve defender contra um bet depende do range e
posição de cada jogador.

183
livro

CHAPTER THIRTEEN
Capítulo 13: Jogo Shortstack e Deepstack

Capítulo 13:
Jogo Shortstack e Deepstack

INTRODUÇÃO
No livro, até aqui, sempre presumimos que o tamanho inicial dos stacks era de 100
BBs. Isso tanto porque é o tamanho de stack mais comum utilizado em cash games,
quanto proporciona profundidade de stack suficiente para nos permitir explorar e discutir
os conceitos teóricos mais importantes. Entretanto, os tamanhos de stacks iniciais nem
sempre serão de 100 BBs de profundidade, e é importante entender como os ranges
devem mudar para o jogo shortstack e o jogo deepstack.
Jogadores de torneio precisam saber como aplicar diferentes conceitos teóricos
baseados na profundidade de stacks, já que os jogadores começam bastante deep antes
que os stacks efetivos se tornem short. Como veremos, a falha em ajustar seu range para
levar em conta a profundidade de stack se torna especialmente problemática quando os
stacks estão short. Além disso, esta também é uma habilidade importante a se dominar
para jogadores de cash game, já que é bastante comum que pelo menos um jogador na
mesa esteja shortstack.
No fim das contas, todos os conceitos teóricos que discutimos anteriormente para o
jogo com stack de 100 BBs também se aplicará ao jogo com stacks mais deep. Mais uma
vez, a maior vantagem de entender teoria é que podemos descobrir o que fazer em uma
situação sem utilizar uma abordagem de tentativa e erro. Talvez um dia estaremos com
400 BBs contra outro jogador forte. E não deve ser difícil demais para nós descobrir o
que fazer se entendermos a matemática e teoria por trás de nossas decisões.
FREQUÊNCIAS DE VALUE BET NO FLOP COM UM RANGE
PERFEITAMENTE POLARIZADO
À medida que os stacks se tornam mais deep, é possível blefar mais agressivamente
com um range perfeitamente polarizado e continuar balanceado. A razão para isto é que
um stack deep nos permite betar mais alto e dar ao nosso oponente odds piores para dar
call. Isto já foi demonstrado quando comparando potes onde houve raise com potes 3-
betados, já que nossos ranges de bet e raise no flop em potes 3-betados precisam conter
uma fração maior de mãos de valor.
Lembre-se que, quando analisando o jogo no flop, vimos que a street seguinte deveria

184
livro

ser betada dois-terços do tempo após betar o pote com um range perfeitamente
polarizado. Isso porque nosso oponente possuía odds de 2-para-1 para dar call e
efetivamente venceria sempre que déssemos check, mas perderia quando betássemos. A
mesma metodologia pode ser utilizada para determinar qual fração dos nossos bets no
flop devem ser value bets se fizermos bets maiores ou menores em cada street.
Aqui está um exemplo onde os stacks estão short. Suponha que os stacks iniciais são
de 40 BBs, estamos heads-up, e o pote possui 7 BBs no flop. Esta informação pode ser
usada para determinar quanto o pote precisa crescer a cada street para irmos all-in no
river.
7R³ = 80 => R = 2,25
Então, se o pote precisa crescer 2,25 vezes o seu tamanho anterior após cada rodada
de apostas para que os stacks vão all-in no river, então apostas de aproximadamente 0,62
do pote devem ser feitas em cada street. Isto requer que betemos o turn 72% do tempo
após betar o flop, o river 72% do tempo após betar o turn, e 72% dos nossos bets no river
precisam ser value bets.
(1,62)(1 – X) – (0,62)(X) = 0 => X = 0,72
Como planejamos betar o turn 72% do tempo após betar o flop, o river 72% do tempo
após betar o turn, e 72% dos nossos bets no river serão value bets, então 37,3% dos
nossos bets no flop devem ser value bets.
0,373 = (0,72)(0,72)(0,72)
Um quadro pode ser criado para mostrar qual a porcentagem dos nossos bets no flop
precisam ser value bets, baseada na profundidade do nosso stack em termos de bets do
tamanho do pote (PSB), utilizando a mesma metodologia mostrada acima. Para fazer isto,
mais uma vez precisaremos supor que nosso range é perfeitamente polarizado no flop, e
composto por mãos que possuem 100% ou 0% de equidade. Além do mais, suponha que
o pote é heads-up e o turn e o river são betados sempre na frequência perfeita com ranges
balanceados, para tornar nosso oponente indiferente a dar call.

Profundida d Tamanho Frequê d Porcenta d Porcentage


de o do Bet ncia e gem os m
Stack (apostas em st Bet no Turn Bets no River dos Bets
do cada reet e no que no
tamanho p River são Value flop que
do ote (PSB) (%) Bets devem
restantes para ser Value
cada Bets
jogador no flop)

2 0,35 84,4 84,4 60,1

3 0,46 76,3 76,3 44,3

185
livro

5 0,61 72,5 72,5 38,1

10 0,88 68,1 68,1 31,6

17 1,14 65,3 65,3 27,8

25 1,35 63,5 63,5 25,6

100 2,43 58,6 58,6 20,1

Nada do quadro acima precisa ser memorizado, mas vale a pena notar algumas
tendências importantes. Se o tamanho dos stacks restantes for pequeno, então mesmo
uma pequena alteração na profundidade do stack pode mudar grandemente qual fração
dos nossos bets no flop devem ser por valor. Por exemplo, se existem 2 apostas do
tamanho do pote restantes, então 60,1% dos nossos bets no flop precisam ser por valor.
Mas se existem 3 apostas do tamanho do pote restantes, apenas 44,3% dos nossos bets no
flop precisam ser por valor. Esta é uma mudança substancial para stacks que ficam
apenas ligeiramente mais deep.
Entretanto, uma vez que os stacks já estão adequadamente deep, aumentar a
profundidade do stack não mudará drasticamente a frequência de nossos bets no flop que
devem ser por valor. Perceba que quando possuímos 10 apostas do tamanho do pote
restantes no flop, 31,6% dos nossos bets no flop devem ser por valor. Mas quando restam
20 apostas do tamanho do pote restantes, apenas 25,6% dos nossos bets no flop devem
ser por valor. Esta é uma mudança relativamente pequena para stacks que são
substancialmente mais deep.
Isto ajuda demonstrar um ponto importante. Em geral, se os stacks estão short, ranges
e frequências ótimas devem mudar drasticamente com uma pequena alteração em
profundidade de stack. Além do mais, quando os stacks estão muito short, geralmente é
possível criar modelos bastante precisos e encontrar uma solução muito próxima à
solução ótima. Jogadores experts em SNGs e torneios são confortáveis com o quanto as
frequências e ranges mudam baseado em apenas uma pequena diferença na profundidade
de stack, justamente por esta razão. Então em geral, é seguro supor que a maioria dos
jogadores que não estudaram a matemática subestimam o quão significativamente os
ranges devem mudar à medida que os stacks ficam short.
Mas à medida que os stacks ficam mais deep, uma mudança substancial na
profundidade de stack é muito menos significativa. Por exemplo, suponha que damos
raise no cutoff e apenas o button dê call. Se o pote possuir 7 BBs no flop, a estratégia de
nenhum dos jogadores se alterará muito baseada se possuímos 300 BBs ou 1000 BBs.
Haverá, sim, alguma mudança, mas esta mudança é provavelmente muito menos
significativa que a maioria dos jogadores esperaria. Isto é especialmente verdadeiro já
que é raro que jogadores teoricamente fortes vão all-in com stacks de 300 BBs, quanto

186
livro

menos com stacks de 1000 BBs, então a profundidade extra de stack raramente entra em
jogo.
Assim, por estas razões, jogadores que desejam melhorar seu jogo com diferentes
tamanhos de stacks efetivos provavelmente devem focar no jogo shortstack ao invés do
jogo deepstack, e um jogador que estudou o jogo shortstack devem ter uma vantagem
substancial contra alguém que não o estudou. E como ranges não mudarão muito à
medida que os stacks ficam mais deep, estudar o jogo deepstack para stacks acima de 200
BBs provavelmente só valerá a pena para um jogador expert que frequentemente joga
muito deep.
O JOGO SHORTSTACK EM UM VISLUMBRE
Como discutido anteriormente, não existe forma de calcular o valor esperado de uma
mão baseado simplesmente em sua equidade, quando existem cartas adicionais para vir.
Este é um ponto extremamente importante, já que mãos com menos equidade
frequentemente são mais lucrativas que mãos com uma equidade maior. Assim, é crucial
ser capaz de realizar nossa equidade, e idealmente nossa mão deve ter o potencial de
vencer mãos no range de value bet do nosso oponente e ganhar um pote muito grande.
Assim, mãos que tenham o potencial para fazer o nuts e continuar a extrair valor após
enfrentar um raise possuem um valor esperado mais alto que sua equidade, por si só,
indicaria.
Mesmo assim, à medida que os stacks ficam mais short, a habilidade de fazer mãos
nuts se torna menos importante, e a equidade geral da mão se torna mais importante. Isso
nos leva à regra geral do jogo shortstack.
À medida que o tamanho dos stacks se torna menor em relação ao tamanho do
pote, mais ênfase deve ser dada a mãos com alta equidade, e menos ênfase deve ser
dada a mãos que tenham o potencial de fazer mãos nuts.
Isto se deve a várias razões:
1) Quando fazemos uma mão nuts, não temos profundidade de stack suficiente para dar
raise e ganhar um pote muito grande. Em outras palavras, quando fazemos o nuts e nosso
oponente faz o second nuts, ainda é impossível para nós ganhar muitas fichas.
2) Nosso oponente não pode fazer grandes apostas para evitar que sejamos capazes de
lucrativamente dar call com mãos de força marginal. Colocado de outra forma, ter um
range capado é muito menos significativo já que nosso oponente não pode fazer apostas
grandes, para começar.
3) Como os bets são menores em relação ao tamanho do pote, mãos mais fracas podem ser
betadas por valor. Além disso, mais mãos de força marginal precisarão dar call até o fim.
Isso permite que mãos de força média sejam jogadas de forma mais eficaz.
4) Posição geralmente é menos valiosa, em grande parte devido ao fato de que draws são
menos predominantes, e é mais provável que iremos all-in no flop ou turn.
As razões acima nos encorajam a alterar significativamente nossa estratégia pré-flop.
Mãos que possuem pouca equidade mas possuem a habilidade de fazer mãos nuts, como
suited connectors e gappers, se tornam muito menos lucrativas (e frequentemente
impossíveis de se jogar) à medida que os stacks se tornam mais short. Isso porque fazer
uma mão que vence a maioria das mãos no range de value bet do nosso oponente, como

187
livro

um straight ou flush, ainda não faz com que ganhemos um pote muito grande. Entretanto,
mãos que possuem maior equidade pré-flop mas raramente podem fazer mãos fortes,
como Ac-10h ou Ks-10h, agora são mais lucrativas. A razão para isto é que não temos
mais que nos preocupar em enfrentar múltiplos bets altos, e se betarmos, nosso oponente
não será capaz de fazer um raise alto.
Nossa estratégia pós-flop também deve mudar quando os stacks estiverem short. Mais
uma vez, enfatizaremos o jogo com mãos com mais equidade, ao invés de mãos que
tenham o potencial de fazer mãos nuts. Por exemplo, mãos com backdoor flush draw e
backdoor straight draw, como 8s-7s no flop Jc-6s-2d, não terão mais o potencial de
ganhar um pote muito grande. Isto diminui o valor esperado desta mão. Ao contrário,
uma mão como o Ac-10h na mesma textura de board pode fazer um call lucrativo já que
podemos confortavelmente dar call até o showdown ou betar se vier um A ou 10 no turn.
Além disso, como ter um range capado não é um problema quando os stacks estão
short, ranges onde nossa mão mais forte que value betamos ainda é bastante fraca
funcionarão melhor em spots. Isto pode facilmente ser visto pré-flop, já que jogadores
frequentemente podem 3-bet shovar com um range capado e seu oponente será incapaz
de dar raise.
Aqui está um exemplo. Frequentemente é bastante eficaz 3-betar all-in com um range
consistindo principalmente de pocket pairs e broadways, como A-K, A-Q e A-J. Isto
porque estas mãos possuem uma quantidade razoável de equidade quando receberem um
call, mas como elas são vulneráveis a se tornar a segunda melhor mão no flop, ainda
queremos encorajar nosso oponente a foldar pré-flop. Em outras palavras, mãos no range
de fold do nosso oponente quase sempre terão uma quantidade significativa de equidade,
e fazer estas mãos foldarem para um 3-bet é muito útil. E não possuir pares premium
neste range não é problemático, já que nosso oponente não pode dar raise, de qualquer
forma.
Mesmo que seja complicado de se visualizar, este mesmo conceito de betar com um
range capado quando os stacks estão short também pode ser aplicado pós-flop. Por
exemplo, pode ser melhor sair de lead no flop ou turn com um range capado em alguns
spots, já que nosso oponente não será capaz de fazer um raise alto (ou raise nenhum se
estivermos all-in). Isto nos permite considerar ranges de lead no flop e no turn em alguns
spots, que claramente seriam ruins com maior profundidade de stack. Enquanto o jogo
shortstack detalhado esteja além do assunto que discutimos neste livro, espero que você
agora entenda o porquê do lead fazer sentido com um range capado quando os stacks
estiverem short.
Por fim, é difícil dar regras gerais para como jogar com stacks short, já que existe uma
enorme diferença entre estar com 10, 20 ou 35 BBs de profundidade. Os mesmos cálculos
anteriormente demonstrados teriam que ser aplicados para conseguir novas frequências e
relações para uma profundidade específica de stack. Além disso, jogar o flop ou o turn de
bet-fold frequentemente se torna ruim à medida que os stacks ficam short, (qualquer mão
que bete terá equidade suficiente para dar bet-call), assim os cálculos precisam ser feitos
planejando utilizar apenas uma ou duas rodadas de apostas. Realmente não existe
substituto para tomar seu tempo e estudar ranges, e se isso justifica seu tempo ou não

188
livro

dependerá do seu nível de habilidade e dos tipos de jogos que você tem jogado.
O JOGO DEEPSTACK EM UM VISLUMBRE
Sem surpresas, o jogo deepstack exige que façamos o oposto dos ajustes feitos para o
jogo shortstack. Isto nos leva à nossa regra geral para o jogo deepstack.
À medida que o tamanho dos stacks se torna maior em relação ao tamanho do
pote, mais ênfase deve ser dada a mãos que possuam a habilidade de fazer o nuts e
menos ênfase deve ser dada na equidade absoluta da mão.
Em outras palavras, queremos jogar mãos que possuam a habilidade de vencer mãos
no range de value bet e call do nosso oponente. Isto se deve a várias razões:
1. Como apostas muito altas são possíveis, um range balanceado de bet no flop pode incluir
muitos blefes para cada value bet. Isto torna mãos fortes e mãos boas para blefar muito
importantes.
2. É importante que tenhamos algumas mãos muito fortes em nosso range ou nosso
oponente pode dar raise ou overbetar imprudentemente. Em outras palavras, ele pode nos
punir severamente por ter um range capado.
3. Quando nosso oponente faz apostas altas, não é necessário defender tanto do nosso range
quanto teríamos que defender se ele betasse mais baixo. Isto nos permite enfatizar
defender mãos prontas fortes e draws e requer que coloquemos menos ênfase em dar call
com muitos bluff catchers.
4. Nosso oponente frequentemente dará raise em muitas texturas de board, e quando ele
fizer isso, geralmente teremos a opção de dar re-raise. Isto nos permite ganhar um pote
enorme quando tivermos o nuts e ele tiver o second nuts.
5. Posição é mais valiosa, principalmente porque draws serão predominantes no range de
ambos os jogadores, e raramente estaremos all-in antes do river. Isto é especialmente
verdadeiro para potes 3-betados e mesmo 4-betados.
Nossa estratégia pré-flop quando estivermos deep deve ser construída para aumentar
nossas chances de fazer mãos nuts. Em particular, mãos que tenham a capacidade de
formar trincas, straights e flushes são mais valiosas pois estas mãos podem ganhar potes
muito grandes. O flush nuts é particularmente valioso, pois é possível ganhar um pote
gigantesco quando nosso oponente possuir um flush K-high ou Q-high.
Posição também é mais valiosa quando deep, pois potes 3-betados e 4-betados são
jogados com significativa profundidade de stack restante. Entretanto, um leak que muitos
jogadores possuem é que eles pensam que 3-betar deep e fora de posição é uma jogada
ruim. Isto porque eles não gostam da ideia de ter que jogar um pote grande quando fora
de posição. Isto, entretanto, não é correto por diversas razões.
Para ilustrar, suponha que o button dê raise e tanto o small blind quanto o big blind
decidam defender dando call na maior parte das vezes, ao invés de 3-betando. Quando
isto ocorre, o button possui praticamente a garantia de ver um flop ou vencer pré-flop.
Como o button raramente enfrentará um 3-bet, os blinds precisam defender com ranges
extremamente amplos para prevenir que o button seja capaz de lucrativamente dar raise
com quaisquer duas cartas. (Na verdade, pode ser possível para o button lucrativamente
dar raise com quaisquer duas cartas se os blinds quase nunca 3-betarem). Isto resulta no
button sendo capaz de lucrativamente dar raise com praticamente quaisquer duas cartas e

189
livro

constantemente jogando o flop em posição.


Então, se o button raramente é 3-betado, ele vai dar raise com praticamente quaisquer
duas cartas em seu range. Isto agora dá aos blinds um incentivo para 3-betar
agressivamente, já que para evitar que os blinds sejam capazes de lucrativamente 3-betar
com quaisquer duas cartas o button deve dar call com um range amplo. Isto resulta no
range de call do button, apesar da vantagem da posição, consistir de mãos fracas demais
para eficientemente jogar potes 3-betados. Simplesmente não existem mãos fortes o
suficiente e mãos especulativas que valham a pena no range de raise do button para
defender em uma frequência razoável quando ele está dando raise com um range muito
amplo.
Consequentemente, é bastante fácil demonstrar que, se os blinds não estão 3-betando
agressivamente um raise do button, então o button terá um incentivo para dar raise com
um range mais amplo, o que por sua vez dá aos blinds um incentivo para começar a 3-
betar agressivamente (já que o range de call do button é muito fraco). Embora, como foi
demonstrado no capítulo de pré-flop, seja impossível calcular exatamente quão
amplamente o button deve dar raise baseado em profundidade de stack. Por exemplo, se o
button dá raise mais de 50% do tempo, ele terá que dar call em 3-bets com algumas mãos
relativamente fracas. Em outras palavras, enquanto o button dará raise com um range
mais amplo pois a posição é mais valiosa em potes 3-betados quando os stacks estão
deep, ele não dará raise com um range amplo demais, ou então ele terá que defender um
range fraco demais contra um 3-bet.
Enquanto é impossível solucionar o jogo pré-flop com uma profundidade de 100 BBs,
quanto mais quando o stacks estão ainda mais deep, como regra geral, os ranges pré-flop
não mudarão drasticamente quando jogando com stacks grandes. O jogador que
provavelmente estará em posição, como o cutoff ou o buttohn, deve dar call com um
range mais amplo ou dar raise um pouco mais agressivamente. Da mesma forma, os
blinds provavelmente irão querer tentar enfatizar dar mais calls e 3-betar um pouco
menos, já que eles estão fora de posição. Ainda assim, é crítico que os blinds não se
ajustem além do necessário e continuem 3-betando agressivamente, já que se eles não
fizerem isso, o button, especialmente, pode dar raise com um range extremamente amplo
(e assim se torna vulnerável a um 3-bet agressivo, o que encoraja os blinds a mudarem
sua estratégia).
Além disso, se assegure de manter em mente que, só porque nosso oponente pode
lucrativamente dar call em nosso 3-bet com uma mão especulativa, isso não implica que
o size do nosso raise foi ruim. Aqui está um exemplo. Se estamos deep e o button dá raise
com 6h-4h, ele pode ser capaz de lucrativamente dar call se 3-betarmos da big blind
(utilizando nosso tamanho de 3-bet padrão). Mas o valor esperado da mão dele deve ser
significativamente menor que se tivéssemos apenas dado call em seu raise. Em outras
palavras, quando nosso oponente dá call em nosso 3-bet, o call pode ser apenas
ligeiramente lucrativo, então ele ainda esperará, de forma geral, perder dinheiro na mão.
(Apenas menos que ele teria perdido se tivesse foldado). Além disso, é crucial não fazer
3-bets muito grandes quando fora de posição só porque nosso oponente será capaz de
lucrativamente dar call em 3-bets menores com mãos especulativas, que jogam

190
livro

particularmente melhor quando deep e em posição. Afinal, o número de combos de mãos


especulativas é limitado em seu range de raise pré-flop.
Por fim, como veremos quando discutindo o tamanho de bet em mais detalhes nas
seções futuras, é importante ajustar o tamanho do nosso bet quando deep e fora de
posição em um pote 3-betado. Uma vez que isto é compreendido, jogar um pote 3-betado
fora de posição se torna muito menos intimidador.
RESUMO
Em geral, quando o tamanho dos stacks é pequeno, mesmo uma pequena mudança na
profundidade dos stacks causará mudanças drásticas nos ranges e frequências. Portanto,
um jogador que estudou a matemática por trás do jogo shortstack deve ter uma vantagem
significativa sobre alguém que não estudou. Mas quando os stacks estão deep, as
mudanças serão bem menos severas.
Em geral, a equidade absoluta de uma mão se torna mais importante à medida que os
stacks se tornam menores, enquanto que a habilidade de formar mãos nuts é mais
importante para o jogo deepstack. Quando betando alto, muitos blefes podem estar em
nosso range de bet no flop para cada value bet forte. Mas quando os stacks estão
pequenos e os bets são menores, nosso oponente possui melhores odds para dar call, e
assim mais dos nossos bets precisam ser por valor para mantê-lo indiferente a dar call
com um bluff catcher.
O jogo pré-flop mudará significativamente quando os stacks estão menores, mas
menos drasticamente quando os stacks estão deep. Um leak que muitos jogadores
possuem é temer jogar potes 3-betados fora de posição quando deep, e isto faz com que
eles joguem uma estratégia pré-flop fraca, e apenas raramente 3-betem. Se o button dá
raise com um range mais amplo que o normal, ele terá que dar call em 3-bets com mãos
mais fracas, e 3-betar agressivamente evita que ele seja capaz de dar raise com um range
muito amplo.
Aqui estão alguns dos pontos mais importantes:
1. A equidade absoluta de uma mão importa mais quando os stacks estão pequenos, já que
nosso oponente é incapaz de overbetar.
2. À medida que os stacks se tornam mais deep, a habilidade de formar mãos nuts se torna
mais importante, já que estas mãos têm o potencial de ganhar um pote enorme.
3. Ranges capados são menos desvantajosos quando os stacks estão pequenos. Isto permite
aos jogadores utilizarem ranges de bet e raise capados.
Embora posição seja especialmente valiosa quando os stacks estão deep em potes 3-
betados, os jogadores ainda devem 3-betar agressivamente quando fora de posição, já que
o button deve estar dando raise com um range mais amplo, o que o força a dar call em 3-
bets com um range mais fraco.

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livro

CHAPTER FOURTEEN
Capítulo 14: Tamanhos avançados de bet

Capítulo 14:
Tamanhos avançados de bet

INTRODUÇÃO
Como discutido anteriormente, como betar tamanhos múltiplos em um mesmo spot é
o melhor, o jogo ótimo requer que balanceemos incontáveis ranges de uma vez só. Além
disso, enquanto às vezes é possível calcular o tamanho de bet próximo ao perfeito para
nossa mão específica no river, isto não é possível no flop ou turn. Isso porque existem
cartas restantes para vir, e nosso range de bet nunca será perfeitamente polarizado.
Entretanto, podemos utilizar a teoria que já discutimos para melhorar o tamanho do
nosso bet. Como geralmente é o caso quando aplicando teoria a spots complexos,
enquanto pode ser impossível dizer se o tamanho do nosso bet está correto,
frequentemente é possível dizer se ele está incorreto. Talvez mais importantemente,
podemos ter certeza de que o tamanho do nosso bet é consistente com nosso
conhecimento teórico e que não existam contradições em nosso processo de pensamento.
Além do mais, embora o tamanho do nosso bet nunca seja perfeito, existem muitos
spots comuns onde quase todos os jogadores atualmente betam o tamanho errado, e
consertar este leak nos dará um edge significativo. Estes spots ocorrem com uma
frequência surpreendente, e usar o tamanho correto de bet tanto aumenta nossa
expectativa quanto constantemente coloca nosso oponente em spots complicados.
USANDO O TAMANHO DO BET PARA PROCURAR PENSAMENTOS
CONTRADITÓRIOS
Talvez o aspecto mais útil de explorar múltiplos tamanhos de bet é que isso permite
procurar contradições em nosso processo de pensamento. Isto pode ser alcançado fazendo
suposições em relação ao range de call do nosso oponente, e então nos assegurando de
que o tamanho do nosso bet faz sentido no contexto destas suposições.
Perceba que uma suposição que comumente faremos no river é que nosso oponente
deve defender em uma frequência que nos torna indiferentes a blefar. Isso porque se ele
defender muito frequentemente, nossos blefes terão um valor esperado negativo e
pararemos de blefar. E se ele não defender o suficiente, nunca jogaremos de check-fold
ou check behind em posição com uma mão que não possua valor de showdown.
Enquanto existem spots onde blefar quaisquer duas cartas no river deve ser lucrativo,

192
livro

geralmente este não é o caso. Assim, esta suposição é muito útil para permitir que
determinemos quais tamanhos e frequências de bet fazem sentido.
Aqui está um exemplo. No river, o pote possui 50 BBs, nós temos 75 BBs restantes, e
acreditamos que nosso oponente dará call em uma frequência que nos mantém
indiferentes ao blefe. Se estamos em posição e formos all-in, nosso oponente deve dar
call 40% do tempo.
(50)(1 – X) – (75)(X) = 0 => X = 0,4
Como ele dará call em nosso shove 40% do tempo, ir all-in no river com o nuts possui
um valor esperado de 30 BBs maior que o atual tamanho do pote (ignorando efeitos de
remoção).
30 = (0,4)(75) + (0,6)(0)
Onde
-0,4 é a frequência de call,
-75 é o tamanho do bet,
-0,6 é a frequência de fold,
-0 é a quantidade ganha em relação a dar check quando nosso oponente folda.
Isto nos diz que, para betar qualquer tamanho de bet que não seja all-in, e que isto seja
correto com o nuts, nosso oponente deve dar call ou raise o suficiente para que nosso
valor esperado seja de pelo menos 30 BBs maior que o tamanho do pote. Lembre-se,
enquanto é sempre correto utilizar a linha que possua o maior valor esperado, os
jogadores frequentemente se confundem e acham aceitável utilizar uma linha com um
valor esperado menor “para balancear o range”. Mas isto nunca é teoricamente correto.
Então neste caso, se um bet menor não possui um valor esperado de pelo menos 30 BBs,
sempre vá all-in.
Vamos continuar a desenvolver este exemplo. Suponha que damos raise no cutoff e o
button seja o único a dar call em nosso bet de 75% do pote no flop Jh-7h-4c e no turn 6s.
Quando o river vem o 2d, nenhuma mão no range do oponente deve ter melhorado, e
como a textura do board no turn tornava arriscado o slowplay, já que o range de bet do
oponente incluía muitos draws, é improvável que ele tenha uma mão mais forte que A-J.
Quando começando a explorar diferentes tamanhos de bet, é fácil começar a
imprudentemente overbetar em spots como este com blefes, já que o range do nosso
oponente é capado. Enquanto é verdadeiro que ele deve odiar enfrentar um overbet de
nós se betarmos o river com um range balanceado (já que ele sempre terá, na melhor das
hipóteses, um bluff catcher e será indiferente a dar call), não existem mãos fortes
suficientes em nosso range para permitir que betemos todos os nossos blefes e ainda
continuemos balanceados. Em outras palavras, blefar muito agressivamente no river
permite que nosso oponente dê call lucrativamente com seus bluff catchers.
Colocado de outra forma, nosso oponente não deve nos deixar blefar lucrativamente
no river com quaisquer duas cartas mesmo se os overbets forem eficazes. Isto porque
nosso range de bet no turn foi construído para jogar alguns missed draws de check-fold
no river, e por causa disto, geralmente é seguro presumir que nosso oponente deve dar
call em uma frequência que nos mantém indiferentes ao blefe.
É tentador utilizar a fórmula de tamanho de bet no river e calcular o tamanho do nosso

193
livro

bet baseado em quão frequentemente temos a segunda melhor mão no river, que resulta
em nós overbetando todas as nossas mãos melhores que K-J e betando menor com mãos
que nosso oponente às vezes está vencendo. Entretanto, fazer isto torna nosso range
transparente e permite que ele dê raise agressivamente, já que nosso range é capado.
Por exemplo, suponha que usemos a equação de tamanho de bet no river e
acreditamos que é melhor betar 40% do pote com K-J e balanceá-lo com a quantidade
apropriada de blefes. Mas se a única mão de valor em nosso range for K-J, nosso
oponente irá de check-raise all-in com todos os seus A-J e K-J, já que estas mãos não
podem ser vencidas. (Ele também dará raises por blefe, claro). Colocado de forma
diferente, se betarmos o river com um range onde nosso value bet mais forte é K-J ou
mais fraco, então ele será capaz de dar raise agressivamente, já que nosso range é capado.
Então podemos ver claramente que é problemático betar com um range onde nossa
mão mais forte de valor é mais fraca que K-J, já que nosso oponente pode nos dar raise
sabendo que está ganhando a mão. Além do mais, se ele sempre desse raise em nosso bets
pequenos quando ele possui A-J ou K-J, então betar baixo com nossas mãos nuts seria
mais lucrativo que ir all-in. E para que isto faça sentido teoricamente, no river devemos
às vezes fazer bets baixos com nossas mãos nuts para que nosso oponente seja indiferente
a dar call ou raise em nosso bet com suas mãos mais fortes. Isto resulta nele às vezes
dando raise, e às vezes dando call.
Consequentemente, se devemos ocasionalmente value betar baixo com o nuts e ir all-
in outras vezes, então o valor esperado de ambas as linhas deve ser igual. E como já
sabemos que o valor esperado de shovar 75 BBs com o nuts em um pote de 50 BBs é 30
BBs maior que o tamanho do pote, este deve ser nosso valor esperado se ambos os
tamanhos forem utilizados. Mais uma vez, se nosso oponente não defender
agressivamente o suficiente contra nossos bets baixos, então nunca devemos betar baixo
com o nuts. Em contraste, se ele devender agressivamente demais, devemos sempre betar
baixo, já que este tamanho é mais lucrativo que overbetar.
Continuando, vamos continuar supondo, no river com o nuts, que às vezes queremos
betar 40% do pote, já que isto balanceará um range de bet que consiste primariamente de
K-J e blefes. E se o pote possui 50 BBs, um bet de 40% do pote será de 20 BBs, o que
significa que nosso oponente deve defender 71,4% do tempo contra este bet para nos
manter indiferentes ao blefe.
(50)(1 – X) – (20)(X) = 0 => X = 0,714
Mas se usar dois tamanhos com o nuts faz sentido, ele também deve dar raise em uma
frequência que nos mantenha indiferentes a fazer um bet baixo ou um bet alto. E se nosso
oponente sempre der raise all-in de 75 BBs quando ele dá raise, a frequência correta de
shove para nos manter indiferentes entre betar 20 ou 75 BBs é de 26%.

(20)(0,714 – X) + (75)(X) = 30 => X = 0,260


Onde
-20 é o tamanho do bet,
-0,714 é a frequência mínima de defesa,
-75 é o tamanho do raise,

194
livro

-30 é o valor esperado de shovar,


-X é a frequência de raise.
Podemos, assim, concluir que nosso oponente precisa dar raise em nosso bet baixo
26% do tempo para nos manter indiferentes entre overbetar e betar 40% do pote com o
nuts. Em outras palavras, se ele quer nos dar um incentivo para betar baixo com o nuts,
isto é quão agressivamente ele precisará dar raise.
Toda esta informação pode impressionar a princípio, e apenas discutimos a superfície
do assunto. Mas é crucial que não tornemos o tamanho de bet no river mais simples que
de fato é.
Isto é especialmente verdadeiro quando em posição, já que betar baixo reabre a
rodada de apostas e dá ao nosso oponente a oportunidade de dar check-raise. Entretanto,
acreditamos que também é importante entender o significado matemático das afirmações
para procurar por contradições em nosso processo de pensamento. Na verdade, a maioria
dos jogadores não estão, nem de perto, dando raise em bets baixos agressivamente o
suficiente para justificar betar baixo em muitos spots, e overbetar (seja por valor, por
blefe, ou baseado em um leak do oponente) será a melhor jogada.
Um gráfico pode ser feito para mostrar quão frequentemente nosso oponente precisa
shovar contra o nosso bet no river para nos dar um incentivo de betar aquele tamanho de
bet com o nuts. Mais uma vez, isto supõe que existe apenas 1,5 pote restante em cada
stack, não podemos lucrativamente blefar quaisquer duas cartas, e efeitos de remoção
podem ser ignorados.
EXEMPLOS DE TAMANHOS DE BET
Como tamanhos de bet podem se tornar tão complicados quanto queremos que seja, é
melhor demonstrar como aplicar difíceis conceitos utilizando exemplos. Afinal,
geralmente é mais fácil implementar tamanhos de bet apropriados em uma nova situação
se ela for similar a uma situação familiar.
Antes de seguir em frente para exemplos específicos, eu recomendaria um truque que
me ajudou muito em entender tamanhos de bet. Quando dando check fora de posição,
visualize isto como se você estivesse betando “nada”, ao invés de ser um conceito
completamente diferente de betar. É fácil pensar que algo significativo acontece quando
dando check fora de posição, ao invés de betar baixo, mas existe pouca diferença entre
betar 1 BB e dar check. Isto não é verdadeiro quando em posição, já que mesmo uma
pequena aposta permite ao nosso oponente dar check-raise, mas quando fora de posição,
betar baixo e dar check são quase a mesma coisa.
Uma vez que você perceba que betar baixo e dar check quando fora de posição são
similares, é muito mais fácil aceitar que você frequentemente enfrentará um raise após
betar baixo e agora terá um bluff catcher. Afinal, é exatamente isto que acontece quando
damos check. Com frequência simplesmente não existe forma de evitar uma difícil
decisão quando fora de posição, e regularmente daremos call com a mão que está
perdendo ou foldaremos a mão vencedora contra um oponente forte.
Aqui está um exemplo. Se o pote possui $100 no river e betamos $10, nosso oponente
deve saber que a maioria dos nossos value bets são fracos, e constantemente dará raise e
nos tornará indiferentes a dar call. Mas, se dermos check, ele frequentemente betará e

195
livro

mais uma vez estaremos indiferentes a dar call. Claro, $10 a mais são investidos betando,
mas esta pequena aposta frequentemente é correta e na verdade não é muito diferente de
dar check. A diferença entre betar 10% do pote e 0% (dando check) geralmente não é
significativa, mas entender como ela pode fazer sentido na teoria e ambas as linhas se
tornam comparáveis. E depois que você começa a pensar em bets desta forma, deve ser
mais fácil considerar fazer bets pequenos quando fora de posição, ao invés de temê-las
simplesmente porque você vai enfrentar um raise com frequência.
Exemplo de Tamanho de Bet Nº 1
Ação: O button dá raise e damos call no big blind. O flop é Jh-8h-6s, e ambos os
jogadores dão check. Se o turn for o 4d, quais tamanhos de bet fazem sentido com as
mãos no nosso range?
Explicação: De forma geral, este é um spot onde a maioria dos jogadores betam cerca
de 2/3 do pote quando eles betam. Esta é a típica abordagem geralmente empregada por
jogadores que dão pouca profundidade no pensamento sobre o range de cada jogador.
Enquanto este tamanho será eficiente com algumas mãos em nosso range, existem outras
que devem utilizar um tamanho diferente.
Quando de fato paramos para pensar sobre o range de check no flop do nosso
oponente, deve ficar claro que é improvável que ele dê check behind com qualquer mão
forte. Nos dar uma free card é arriscado quando nosso oponente possui top pair, e dar
check behind com uma mão forte remove uma rodada de apostas do jogo. Então é seguro
dizer que é muito improvável que ele dê check behind com muitas mãos fortes, se é que
existe alguma mão forte, já que betar quase certamente terá um valor esperado maior.
Além do mais, o turn não colocou muitas mãos fortes no range de nosso oponente. Ele
provavelmente conseguiu no turn apenas 5 combinações de mãos fortes – três combos de
4-4 e dois combos de 6-4s – e as mãos que possuem dois pares provavelmente não são
fortes o suficiente para dar raise em nosso bet, de qualquer forma. Isto é, pouquíssimas
combinações em relação a quão amplo é o range de check no flop do button, e como
resultado ele tem uma trinca no turn geralmente apenas 2 ou 3% do tempo. Perceba,
também, que é improvável que o button faça um straight neste turn, já que ele teria
betado no flop com um 7-5 (que para começo de conversa provavelmente seria suited).
Portanto, devemos imediatamente considerar um overbet em spots onde é improvável
que nosso oponente dê raise em nossos bets. Isto nos permite extrair mais valor com
nossas mãos fortes, assim como blefar mais agressivamente. Enquanto é impossível
calcular o tamanho de bet perfeito no turn com qualquer mão, betar alto (maior que o
tamanho do pote) com K-J ou mais forte provavelmente será uma grande jogada, já que a
maior parte do range do nosso oponente será, na melhor das hipóteses, um bluff catcher.
Perceba também que nosso oponente não terá um incentivo para dar check behind
com suas mãos fortes no flop e se arriscar a nos dar uma free card enquanto não
estivermos fazendo bets altos em uma alta frequência. Lembre-se, às vezes daremos
check-raise neste flop também – tanto por blefe quanto por blefe –, então sempre que ele
dá check behind com uma mão forte como uma trinca, ele se arrisca a perder valor.
Portanto, enquanto não nos tornamos muito imprudentes, overbetar algumas de nossas
mãos fortes no turn deve ser uma jogada eficaz.

196
livro

Mas só porque bets altos com mãos fortes são eficazes, isso não significa que apenas
bets altos devem ser feitos. Top pair, kicker fraco e pares médios devem fazer bets baixos
quando betarem, e estes ranges também devem ser balanceados com blefes, draws e
geralmente algumas mãos nuts também. Como visto quando utilizando a fórmula do
tamanho do bet no river, bets menores serão melhores quando nosso oponente está nos
vencendo com uma frequência razoável, já que isto o força e defender mais amplamente,
assim como resulta em uma perda menor para nós quando ele possui a melhor mão.
Pode ser claramente visto que muitos tamanhos diferentes de bet devem ser utilizados
neste spot, mas atualmente a maioria dos jogadores estão betando um único tamanho. Na
época em que escrevo isto, overbetar este turn é provavelmente mais eficaz que deveria
ser em teoria, já que os jogadores raramente dão check behind com mãos fortes no flop e
não possui experiência em enfrentar overbets. Então, enquanto utilizar tamanhos
múltiplos será melhor no turn, a menos que acreditemos que nosso oponente seja
explorado com bets menores, muitos dos nossos bets devem ser overbets.
Algumas boas mãos para overbetar por valor no turn neste exemplo serão trincas e K-
J. Overbets por blefe devem reter bem sua equidade à medida que o range do nosso
oponente se torna muito mais forte, e brocas como Qd-9d funcionam bem desta forma.
Quando overbetando por blefe, tente utilizar mãos que possam fazer mãos nuts no river.
Exemplo de Tamanho de Bet Nº 2
Ação: Damos raise em UTG com As-Ks e apenas o cutoff dá call. Ele também dá call
em nosso bet no flop 10d-7s-3s e faz o mesmo no turn 5h. Se o river for o 2h, um bet de
1,5 pote será eficaz?
Explicação: Este é um spot onde os efeitos de remoção diminuirão significativamente
o valor esperado do nosso shove no river, então overbetar não é tão eficaz quanto seria de
outra forma. Se betarmos 1,5 pote no river, nosso oponente só precisa dar call 40% do
tempo, mas muitas mãos em seu range de call serão flushes, que incluirão o As ou o Ks.
Isto resulta nele dando call muito menos que 40% do tempo, e nos encoraja a betar menor
para extrair valor de suas mãos mais fracas.
Perceba que, como demos raise do UTG e nosso oponente deu call no cutoff, ambos
os nossos ranges serão bem fortes no river. Na verdade, seu range de call no river
normalmente incluiria As-Qs, As-Js, As-10s, Ks-Qs e Ks-Js, das quais ele não pode ter
nenhuma, já que bloqueamos o As e o Ks. Isto resulta no range de river dele incluindo
muito mais overpairs, como Q-Q e J-J, que geralmente foldarão para nosso shove no
river.
Além do mais, se betarmos mais baixo, nosso oponente pode ter um range de raise no
river – um flush Q-high ou J-high. Além disso, ele deve balancear seu range com alguns
blefes, que resultarão em nossos bets menores extraindo valor adicional. Então, diferente
de outros spots onde devemos overbetar para ir all-in, ainda ganharemos o stack do nosso
oponente com bets menores quando ele tiver uma das mãos mais fortes em seu range.
Assim, em spots como este onde bloqueamos uma porção significativa do range de
call do nosso oponente, geralmente vamos querer betar mais baixo com o nuts que
betaríamos normalmente. Isso porque overbets fazem com que nosso oponente defenda
uma fração menor de seu range, e as mãos que bloqueamos provavelmente representam

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uma grande porção daquele range. Embora descobrir exatamente qual tamanho betar
geralmente leva muito tempo e requer a ajuda de software de computador, ter um senso
geral de quando overbets são menos eficazes devido aos efeitos de remoção ainda é útil.
Exemplo de Tamanho de Bet nº 3
Ação: Damos raise no cutoff e o button dá call. Ele dá call em nosso bet no flop 10h-
8h-3s e o turn vem o 4d. Betar 2/3 do pote aqui é eficaz com muitas mãos em nosso
range?
Explicação: Se tivéssemos que escolher um tamanho que englobasse tudo, então 2/3
do pote provavelmente seria razoável. Isto permite que continuemos value betando mãos
como K-10 sem tornar o range do nosso oponente muito forte, assim como nos permite
extrair uma quantidade considerável de valor quando betando overpairs e trincas.
Geralmente os jogadores betam apenas um tamanho para que sua mão não esteja
transparente, mas como já sabemos, isto é incorreto. Tamanhos múltiplos de bet devem
ser usados e cada range deve ser balanceado.
De muitas formas, esta mão é similar ao primeiro exemplo, já que este é outro spot
onde nosso oponente normalmente não dará raise em nosso bet no turn se betarmos 2/3
do pote. A menos que ele tenha feito slowplay com uma mão forte no flop, é improvável
que ele tenha uma mão mais forte que A-10, e esta mão claramente não é forte o
suficiente para dar raise em um bet de tamanho médio. Então, como o range do nosso
oponente é capado e ele não terá um range de raise, devemos considerar overbetar.
Vamos supor, no turn, que decidamos utilizar dois tamanhos de bet, ao invés de
apenas um, que a maioria dos jogadores usam. Neste caso, overbetar um range com mãos
de valor que são mais fortes que A-10 será bastante eficaz, já que transforma todas as
mãos no range do nosso oponente em um bluff catcher. E bets mais baixos serão eficazes
com uma mão como K-10, já que às vezes estaremos perdendo.
Claro, não estamos restritos a utilizar apenas dois tamanhos de bet. Mas mesmo
quando apenas dois tamanhos de bet são possíveis, betar 2/3 do pote não parece muito
eficaz. Isso porque nossas mãos fortes irão querer betar maior, já que elas não podem ser
vencidas, nosso oponente possui posição, e existem tantos draws possíveis. Mas nossas
mãos de valor mais fracas, como K-10, preferem betar menor. Então mesmo que a
maioria dos jogadores bete 2/3 do pote aqui, na verdade não é um tamanho eficaz com a
maioria das mãos.
Então se você está atualmente utilizando apenas um tamanho de bet na maioria dos
spots, você provavelmente descobrirá que muitos spots difíceis podem ser evitados se
você considerar tamanhos diferentes. Às vezes os jogadores consideram betar apenas 2/3
do pote ou dar check, mas betar 1/3 do pote seria o melhor dos dois mundos. Esta não é
uma habilidade fácil de dominar, mas aqueles que desejam levar seu jogo ao próximo
nível devem fortemente considerar tentar melhorar seus tamanhos de bet em situações
como esta.
Exemplo de Tamanho de Bet nº 4
Ação: Damos raise no cutoff com Ks-Qh e o button dá call. Ele também dá call em
nosso bet no flop Jh-10s-5 e faz o mesmo no turn 6s. Se o river vier o 9d, qual tamanho
devemos betar?

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Explicação: Nosso oponente provavelmente possui 16 combinações de K-Q em seu


range antes dos efeitos de remoção e 9 depois que os efeitos de remoção são aplicados.
Embora tenhamos o nuts no river, overbetar provavelmente não será uma estratégia eficaz
pois se fizermos isto, uma grande fração de seu range de call também será o nuts e o pote
será dividido.
Mas entenda que não é apenas o efeito de remoção que nos encoraja a fazer bets mais
baixos no river, mas também betar alto demais deve fazer com que nosso oponente dê call
com poucas mãos que não são o nuts.
Às vezes ajuda imaginar um exemplo extremo para visualizar um conceito. Suponha
que estamos muito deep e no river overbetamos uma aposta do tamanho de 50 potes.
Nosso bet deve ser tãogrande que nosso oponente poderia foldar todas as mãos exceto o
nuts sem medo que sejamos capazes de blefar lucrativamente. (Um exemplo é quando
existem três cartas do mesmo naipe no board e temos o A deste naipe.) Isto resulta nele
dando call só com o nuts, e nunca ganharemos mais dinheiro do que já está no pote.
Então é possível em alguns spots betar tão alto que isso na verdade evita que extraiamos
valor, já que apenas dividiremos o pote.
Este spot é menos comum que os outros conceitos anteriormente discutidos, mas ele
demonstra porque o tamanho do bet pode ser tão complicado. Enquanto é fácil ignorar
efeitos de remoção e split pot quando falando em termos abstratos, na verdade, eles são
frequentemente relevantes. Então prestar atenção a estes efeitos e betar um pouco menor
ou maior melhorará nossa pior linha.
Exemplo de Tamanho de Bet Nº 5
Ação: Damos raise no button com As-Js e damos call em um 3-bet do big blind. O
flop vem Jd-7d-4h e nosso oponente beta. Se dermos raise, quão grande deve ser nosso
raise e quais tipos de mãos em seu range devem ser próximos a indiferente ao call?
Explicação: As-Js é uma mão razoável para dar raise pois ela é vulnerável a se tornar
a segunda melhor mão contra tantas mãos no range de nosso oponente. Quase todos os
blefes em seu range de bet possuem overcards como Kc-Qh, um par com cinco outs como
5s-4s, ou uma broca como 8c-6c. Dar raise força nosso oponente a dar call com essas
mãos e colocar mais dinheiro no pote quando ele está perdendo, ou foldar sem realizar
sua equidade.
Lembre-se, o pote já está tão grande em potes 3-betados que é ok dar raise com um
range capado já que nosso oponente não pode fazer bets altos em relação ao tamanho do
pote, de qualquer forma. Portanto, provavelmente é melhor dar raise apenas com mãos
fortes mas vulneráveis como A-J e possivelmente K-J, e fazer slowplay com mãos mais
fortes como 7h-7s e Ad-Ac.
O erro que jogadores geralmente cometem neste spot é que eles fazem o raise muito
alto, quando dar raise próximo ao mínimo é provavelmente o melhor. Poker é um jogo de
várias streets, e é ok se nosso raise não gera um lucro imediato no flop. Raises pequenos
forçam nosso oponente a dar call com um range mais amplo e jogar o turn fora de
posição, enquanto raises altos permitem a ele shovar ou foldar mais facilmente.
Neste spot, muitos jogadores regularmente fazem raises altos no flop em uma
tentativa de negar ao oponente odds para dar call com seus flush draws ou duas pontas,

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mas esta não é uma estratégia eficaz. Draws com oito outs ou mais são mãos fortes no
flop e geralmente farão calls ou shoves lucrativos em potes 3-betados, já que o pote já
está grande e eles possuem muita equidade. Pelo contrário, devemos focar em dar um
raise pequeno, para que nosso oponente fique em uma situação complicada onde ele
possui uma broca ou um par mais fraco que A-J, já que estas mãos formam uma grande
fração de seu range de bet.
Por último, lembre-se que não precisamos necessariamente tornar nosso oponente
indiferente a dar call com muitas mãos para que o raise seja a melhor jogada. Mesmo se
ele puder lucrativamente dar call em nosso raise com muitos pares e brocas, seu valor
esperado será menor que seria se tivéssemos apenas dado call em seu bet. Além do mais,
mesmo se ele frequentemente der call (no flop) com muitas de suas mãos especulativas e
assim fizer com que nosso blefe raramente seja bem-sucedido, isto torna seu range fraco
no turn, então ele frequentemente terá que foldar para nosso bet no turn. Isso significa
que dar raise por blefe ainda será a jogada mais lucrativa com mãos que não são capazes
de betar o turn de forma eficaz.
RESUMO
Tamanhos de bet provavelmente é o aspecto mais difícil do No Limit Hold’em, e
jogadores podem torná-lo tão complexos e difíceis quanto desejarem. Geralmente se
aproximar razoavelmente do valor correto é bom o suficiente para dar à maioria dos
jogadores um edge significativo sobre seus oponentes.
Enquanto nunca seremos capazes de jogar perfeitamente, é importante não nos
restringir a utilizar apenas um tamanho de bet em um spot, como muitos jogadores
atualmente estão fazendo. Um jogador que utiliza múltiplos tamanhos de bet terá um
edge significativo contra alguém que não utiliza, e é importante que percebamos quando
overbets e bets pequenos podem fazer sentido, e considerar utilizar estes tamanhos. Neste
momento os jogadores não estão overbetando nem perto de quão frequentemente
deveriam, e aprender como overbetar apropriadamente deve nos dar um edge
significativo contra oponentes que não possuem esta habilidade.
Embora nunca sejamos capazes de balancear múltiplos ranges perfeitamente, é
possível ser razoavelmente balanceado com prática, e a maioria dos oponentes não nos
explorarão de forma eficaz mesmo se estivermos desbalanceados. Simplesmente saber
quais tamanhos de bet podem fazer sentido em um spot específico e betar de acordo dada
nossa mão e as tendências do nosso oponente geralmente é o suficiente para nos dar um
edge contra a vasta maioria dos jogadores.
Aqui está um rápido lembrete dos pontos mais cruciais.
1. Enquanto é impossível calcular o size perfeito do bet no flop ou turn, procurando por
contradições em nosso processo de pensamento podemos verificar para ter certeza de que
o size do nosso bet pelo menos faz sentido em relação a toda a teoria que conhecemos.
2. Se nosso oponente defende agressivamente o suficiente para evitar que sejamos capazes
de lucrativamente betar quaisquer duas cartas, geralmente é possível descobrir quão
agressivamente ele terá que dar raise com bets pequenos para nos manter indiferentes a
overbetar ou betar pequeno com o nuts.
3. Não podemos fazer bets altos em uma frequência muito alta após nosso oponente

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demonstrar fraqueza dando check behind. Se fizermos isso, ele terá um incentivo para
sempre dar check behind com mãos fortes no flop.
4. Betar muito baixo quando fora de posição não é muito diferente de dar check. Como a
maioria das mãos que value betamos em nosso range de bets pequenos será fraca,
regularmente teremos apenas um bluff catcher quando nosso oponente der raise.
5. Se nosso oponente não possui um range de raise para tamanhos razoáveis de bet,
devemos considerar overbetar com algumas das nossas mãos mais fortes e blefes.
6. Geralmente precisaremos ter algumas mãos muito fortes em nosso range mesmo quando
betando baixo, caso contrário nosso oponente pode imprudentemente dar raise sabendo
que ele não pode ser vencido.
7. Quando nossas mãos nuts ou quase nuts bloqueiam muitas mãos no range de call do
nosso oponente, geralmente vamos querer betar mais baixo que betaríamos normalmente.
8. Às vezes o nuts compõe uma fração tão grande do range do nosso oponente que overbets
não serão tão lucrativos quando bets baixos, já que bets baixos mantém o range dele mais
amplo.
9. Poker é um jogo de muitas streets, e frequentemente será melhor dar raise antes do river,
mesmo que nosso oponente raramente folde. Quando isto acontecer, ele dará call com um
range amplo que inclui muitas mãos especulativas, e a maioria dessas mãos foldará para
um bet na street seguinte.
10. Um range capado não é problemático quando existe pouca profundidade de stack
restante. Dar raise com um range de mãos fortes mas vulneráveis e blefes frequentemente
é a melhor jogada.

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CHAPTER FIFTEEN
Capítulo 15: Aplicando teoria para analisar mãos

Capítulo 15:
Aplicando Teoria para analisar mãos

Capítulo 16:
Mãos exemplo

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