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TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE MINUTAS DE

RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO


CRIMINAL
Mara Saad
2017
TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL

SUMÁRIO

PREFÁCIO............................................................................................................................7

I – ROTEIRO PARA ANÁLISE DE APELAÇÃO CRIMINAL.........................................................8

1. Noções preliminares...................................................................................................8

1.1. Distinção entre juiz e tribunal...........................................................................8

1.2. Pronunciamentos jurisdicionais dos magistrados............................................9

1.3. Uso correto de verbos e substantivos.............................................................9

2. Disposições iniciais....................................................................................................10

3. Roteiro para análise do processo.............................................................................11

3.1. Quem interpôs a apelação? ...........................................................................11

3.2. Conferência dos termos de autuação e distribuição.....................................11

3.3. Correção do nome das partes recorrentes ou do polo ativo ou passivo


recursal........................................................................................................................12

3.4. Processo em apenso.......................................................................................12

3.5. Correção do número de folhas dos autos.......................................................13

3.6. Regularização da representação processual (procuração).............................13

3.7. Verificação da existência de assinatura nas peças processuais......................14

3.8. Impedimento ou suspeição do relator ..........................................................14

3.9. Incompetência do órgão julgador...................................................................14

3.10. Prevenção do relator....................................................................................14

3.11. Justiça gratuita.............................................................................................15

3.12. Vista dos autos à Defensoria Pública...........................................................16

3.13. Intervenção do Ministério Público..............................................................16

3.14. Extinção da punibilidade.............................................................................17

3.15. Requisitos de admissibilidade da apelação criminal...................................21

3.16. Julgamento monocrático.............................................................................21

3.17. Contrarrazões..............................................................................................22
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3.18. Revisão........................................................................................................23

3.19. Parecer da Procuradoria de Justiça..............................................................23

4. Análise das peças / atos processuais ......................................................................23

4.1. Denúncia / queixa............................................................................................23

4.2. Citação...............................................................................................................25

4.3. Resposta à acusação.........................................................................................26

4.4. Absolvição sumária...........................................................................................27

4.5. Audiência de instrução......................................................................................28

4.6. Memoriais..........................................................................................................29

4.7. Procedimento especial do Tribunal do Júri.......................................................29

4.8. Procedimento especial de outros crimes..........................................................31

4.9. Sentença...........................................................................................................31

4.10. Embargos de declaração.............................................................................33

4.11. Recurso.......................................................................................................34

4.11.1. Juízo de admissibilidade da


apelação.........................................................................................34

4.11.2. Razões do recurso..........................................................................38

II – ROTEIRO PARA ANÁLISE DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CÍVEIS E CRIMINAIS............41

1. Conceito: .................................................................................................................41

2. Previsão legal............................................................................................................41

3. Oposição ou interposição.........................................................................................41

4. Partes.......................................................................................................................41

5. Iniciativa...................................................................................................................42

6. Conceitos.................................................................................................................42

7. Juízo de admissibilidade............................................................................................42

7.1. Tempestividade.............................................................................................42

7.2. Cabimento/adequação..................................................................................43

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7.3. Legitimidade..................................................................................................43

7.4. Interesse recursal..........................................................................................43

7.5. Regularidade formal.....................................................................................44

8. Efeito interruptivo.................................................................................................44

9. Caráter protelatório..................................................................................................45

10. Efeitos infringentes.................................................................................................45

11. Prequestionamento................................................................................................46

12. Preparo...................................................................................................................47

13. Revisão...................................................................................................................47

14. Dispositivo...............................................................................................................47

15. Procedimento.........................................................................................................47

16. Dicas para elaboração do voto...............................................................................48

III – O RELATÓRIO...............................................................................................................49

1. Conceito, objetivo, características...................................................................49

2. Dicas úteis sobre o relatório.............................................................................54

3. Tipos / modelos de relatórios...........................................................................55

3.1. Relatório circunstanciado.................................................................................56

3.2. relatório sucinto...............................................................................................56

3.3. relatório misto.................................................................................................58

3.4. relatório mais adequado para sentenças........................................................59

3.5. relatório transcrito..........................................................................................59

4. Análise de relatórios – equívocos mais comuns..............................................60

5. Considerações finais........................................................................................60

IV – O VOTO........................................................................................................................62

1. Notas introdutórias...........................................................................................62

2. Passos para a elaboração do voto.....................................................................63

2.1. Análise de todo o processo.........................................................................63


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2.1.1. A sentença......................................................................................63

2.1.2. O recurso........................................................................................64

2.2. Partes do voto

2.2.1. O juízo de admissibilidade...............................................................66

2.2.2. O juízo de mérito.............................................................................67

3. O efeito devolutivo na apelação criminal...........................................................70

4. Tipos de julgamento............................................................................................72

5. Ordem na apreciação das questões suscitadas no recurso................................73

5.1. As preliminares do recurso..........................................................................73

5.2. As preliminares da causa.............................................................................73

5.3. As preliminares de mérito...........................................................................74

5.4. As prejudiciais..............................................................................................74

5.5. O mérito......................................................................................................75

6. Questões que podem ser suscitadas e as possíveis soluções ............................76

6.1. Questões preliminares.................................................................................76

6.2. Questões de mérito......................................................................................77

7. A estrutura do voto.............................................................................................79

8. Dosimetria da pena............................................................................................80

9. Elementos do voto..............................................................................................85

9.1. A fundamentação.........................................................................................85

9.2. O dispositivo.................................................................................................87

10. Dicas úteis...........................................................................................................88

11. Disposições finais...............................................................................................89

V – O VOTO DE REVISOR.......................................................................................................91

1. Conceito, objeto, características..........................................................................91

2. Modelos de votos de revisor................................................................................91

3. Disposições finais.................................................................................................94
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VI – O DISPOSITIVO...............................................................................................................95

1. Conceito, objeto, características........................................................................95

2. Modelos de dispositivos.....................................................................................97

2.1. Em caso de não conhecimento do recurso.................................................97

2.2. Em caso de desprovimento do recurso.......................................................98

2.3. Em caso de provimento do recurso.............................................................98

2.4. anulação da sentença................................................................................102

3. Fluxogramas......................................................................................................102

4. Embargos de declaração...................................................................................106

5. Dicas úteis.........................................................................................................106

VII – A EMENTA....................................................................................................................108

1. Conceito, objetivo e características..................................................................108

2. Partes................................................................................................................108

3. Formatação......................................................................................................114

4. Metodologia.....................................................................................................114

5. Ementas – reelaboração...................................................................................119

6. Ementas – análise............................................................................................120

VIII – DICAS ÚTEIS...............................................................................................................120

IX – BIBLIOGRAFIA..............................................................................................................128

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PREFÁCIO

O presente manual foi confeccionado com o objetivo de orientar os


servidores do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios que almejam
aprender as técnicas de redação aplicada ao 2º Grau de Jurisdição em matéria criminal.
Para o alcance do nosso objetivo, foi escolhido, entre os inúmeros
recursos existentes no ordenamento jurídico, a apelação criminal, para análise e
demonstração de como se proceder com relação à tramitação do recurso no gabinete de
magistrado de 2º Grau, desde a conclusão dos autos até a entrega da prestação
jurisdicional, com o julgamento do feito.
O manual é composto de seis partes, a saber: a) roteiro para análise
de apelação criminal, no qual contém os principais passos e os dados necessários para
se fazer um minucioso estudo sobre a apelação criminal; b) roteiro para análise de
embargos de declaração cíveis e criminais; c) exposição acerca dos três elementos
essenciais do acórdão, quais sejam, relatório, voto (fundamentação) e dispositivo; d)
exposição acerca da ementa; e) dicas úteis sobre redação jurídica; f) bibliografia. Com
relação aos itens “c” e “d”, será procedida à conceituação dos institutos, definidos o
objeto e a natureza jurídica deles, esclarecidas questões de cunho teórico e prático e
utilizados exemplos referentes à realidade do TJDFT.
O trabalho aqui desenvolvido não traz qualquer inovação nem possui a
pretensão de servir de fonte doutrinária de matéria jurídica nem tampouco de manual de
redação, já que nesses campos não somos especialistas, além do que já existem
renomados profissionais especializados nessas áreas de atuação.
O que se busca fazer, sem a profundidade merecida, foi reunir dados
teóricos e práticos – grande parte deles adquiridos por meio de ampla pesquisa feita a
partir de fontes bibliográficas, legislativas e jurisprudenciais, e outra parte de nossa
própria experiência de quase trinta anos atuando no ofício – para apresentar ao leitor
algumas técnicas utilizadas na elaboração de redação aplicada ao 2º Grau de Jurisdição
em matéria criminal.
Esclareça-se que alguns conteúdos são meras orientações que não
devem ser tomadas como regras sacramentais, principalmente se levado em conta que o
Direito é uma ciência que não lida com verdades absolutas, mesmo em se tratando de
questão de estilo, em que cada magistrado adota o seu em particular.
Justifica-se a abordagem, notadamente considerando a grande
demanda por servidores capacitados em técnicas de redação aplicadas ao 2º Grau de
Jurisdição.
Espera-se que, de posse de todos os elementos aqui abordados, o
servidor esteja apto a elaborar uma redação aplicada ao 2º Grau de jurisdição.
Eventuais críticas e sugestões serão bem-vindas, o que pedimos
sejam feitas por meio do seguinte endereço eletrônico: mara.saad@tjdft.jus.br.

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CAPÍTULO I

ROTEIRO PARA ANÁLISE DE APELAÇÃO CRIMINAL

1. NOÇÕES PRELIMINARES:

Você está iniciando um curso básico de Redação aplicada ao 2º Grau de Jurisdição


em matéria criminal. Para o alcance do nosso objetivo foi escolhido para estudo um dos
recursos existentes no ordenamento jurídico, qual seja, a apelação criminal.
O curso envolve técnicas de redação jurídica, eminentemente argumentativa. Sabe-
se que, tratando-se de redação jurídica, o usual é o emprego de termos técnicos, pois,
em regra, se está redigindo para um público específico, que são os operadores do direito
(magistrados em geral, advogados, juristas etc.).
Todavia, nos dias atuais, todos sabemos que o jurisdicionado, a quem é dirigida a
prestação jurisdicional, é, na maioria das vezes, pessoa leiga em matéria jurídica, mas o
mais interessado em saber e compreender a linguagem empregada no provimento
jurisdicional (sentença, acórdão) proferido em processo do seu interesse.
Assim sendo, o redator da linguagem jurídica tem uma tarefa insólita, que é a de
empregar os termos técnicos-jurídicos adequados e corretos e ao mesmo tempo
possibilitar a compreensão do texto por parte de quem é leigo na matéria. Por isso, a
sugestão é no sentido de se aplicar a linguagem técnica correta e adequada e evitar
excessos, considerados tais o uso de jargões técnicos só conhecidos por um seguimento
da população. Para isso, elimine de sua redação aquilo que na gíria é chamado de
“juridiquês” inconveniente.
Para conferir clareza e simplicidade ao seu texto, elimine os exageros e substitua
palavras, dando preferência aos seguintes termos:

PREFIRA A
petição inicial exordial – peça inaugural

com base no art... com espeque no art... – com supedâneo no art... – com fulcro
no art...

sentença recorrida sentença objurgada – sentença vergastada

Ministério Público parquet

Juiz sentenciante Juiz a quo

autor e réu requerente / requerido

advogado patrono / procurador


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com o objetivo de com o fito de

Eis a seguir, alguns termos técnicos básicos que você precisa saber para não
cometer erros grosseiros:
1.1. Distinção entre juiz e tribunal:
Inicialmente, cumpre fazer uma distinção entre juiz e tribunal. É muito comum
vermos o emprego de um termo por outro, em descompasso com o seu real significado.
Segundo a Lei de Organização Judiciária do Distrito Federal, (art. 2º) tanto o juiz quanto o
Tribunal compõem a Justiça do Distrito. O juiz (juiz de direito ou juiz de direito substituto)
é funcionário investido da função jurisdicional do primeiro grau de jurisdição; já o tribunal
é o órgão colegiado (segundo grau de jurisdição) composto por seus órgãos (Conselho,
Câmaras, Turmas) ou por seus membros (desembargadores). O Tribunal, em regra,
decide coletivamente, por meio de seus órgãos. Todavia, há decisões monocráticas,
proferidas pelos desembargadores de forma unipessoal. Nesses casos, o desembargador
decide em nome do órgão ao qual pertence e sua decisão monocrática deverá ser
referendada pelo órgão julgador.
Obs.: “Magistrado” é o termo genérico utilizado para designar o funcionário
investido de função jurisdicional (juízes, desembargadores, ministros). Evite usar a
locução “magistrado a quo” para denominar o Juiz. Observe que ninguém faz uso da
expressão “magistrado ad quem” para denominar os desembargadores, nem “magistrado
superior” para denominar os ministros de tribunais superiores.

1.2. Pronunciamentos jurisdicionais dos magistrados:


São pronunciamentos jurisdicionais do juiz: a) os despachos: são atos pelos
quais o juiz dá impulso ao processo; os despachos são irrecorríveis); b) as decisões de
natureza interlocutórias: são atos pelos quais o juiz resolve uma questão incidente; as
decisões interlocutórias são recorríveis por meio de recurso em sentido estrito, carta
testemunhável, recurso de agravo em execução, etc.) e c) as sentenças: são decisões
que decidem o processo com ou sem resolução do mérito; as sentenças são recorríveis
por meio de apelação).
São pronunciamentos jurisdicionais dos desembargadores ou dos órgãos
colegiados: a) os despachos: são atos que dão impulso ao processo; os despachos são
irrecorríveis); b) as decisões monocráticas: são atos proferidos unipessoalmente por
magistrado de tribunal por meio do qual se resolve uma questão incidente no processo;
as decisões monocráticas são recorríveis por meio de agravo regimental); c) os
acórdãos: são sentenças plúrimas proferidas pelos órgãos fracionários; os acórdãos são
recorríveis por meio de Recurso Especial, Recurso Extraordinário, entre outros).
Obs.: Não confundir ‘decisão interlocutória’ (ato do juiz) com ‘decisão
monocrática’ (ato de magistrado de tribunal = desembargadores e ministros).
[MS1] Comentário: Ver Ato Regimental 6
de 18 de dezembro de 2009
 , que define as
classes processuais no âmbito do Tribunal de
1.3. Uso correto de verbos e substantivos: Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, de
É importante fazer uso correto dos verbos/substantivos, pois, ao proferir o voto, acordo com as Tabelas Processuais Unificadas
do Poder Judiciário pela Resolução n. 46, de 18
você fará sempre referência à ação ajuizada no primeiro grau de jurisdição e às partes de dezembro de 2007 do Conselho Nacional de
envolvidas no processo. As ações são distribuídas de acordo com as diversas classes Justiça CNJ.
processuais definidas pelo CNJ. Cada ação tem uma denominação diferente, e as Obs.: A Resolução do CNJ ainda não foi
atualizada de acordo com o CPC de 2015.
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partes, comumente denominadas de autor e réu, podem obter outras denominações


dependendo das peculiaridades de cada caso.

1.3.1. Verbos apropriados para se referirem aos recursos/ações em geral:

Com relação à apelação, assim como nos recursos em geral, o termo usualmente
empregado para designar o ato de apelar (ou recorrer) é “interpor” (interpor,
interposta(o), interpuser).
É o próprio Código de Processo Penal que assim dispõe, no seu Art. 593, III, § 2º:
“Interposta a apelação...” E ainda: “As apelações poderão ser interpostas quer em
relação a todo o julgado, quer em relação a parte dele”.(art. 599)
Os verbos apropriados para se referirem aos recursos/ações são:
a) ação (procedimentos ordinário, sumário, especial) = ajuizar, propor
b) contestação = apresentar, oferecer
c) exceções = arguir, opor
d) incidentes = arguente, arguido
e) preliminares = arguir, suscitar, levantar
f) recursos em geral = apelação, recurso em sentido estrito, agravo interno, agravo em
execução, embargos infringentes = interpor
g) embargos = à execução, embargos de declaração = opor
h) cumprimento de sentença = requerer
i) mandado de segurança / habeas corpus / habeas data / mandado de injunção =
impetrar
j) requerimentos genéricos = requerer

1.3.2. Denominação das partes nos processos:

Na apelação, as partes litigantes são denominadas de apelante, aquele que


interpõe apelação, e apelado, aquele que responde a apelação interposta pelo apelante.
Obs.: No momento oportuno, será estudado quem são as pessoas que têm
interesse/legitimidade para apelar.
Os nomes corretos para se referirem às partes processuais são:

a) ação (procedimentos ordinário, sumário, especial) = autor / réu


b) ação penal privada = querelante/ querelado
c) execução = exequente / executado
d) reconvenção = reconvinte / reconvindo
e) exceção = excipiente / excepto;
f) conflito de competência = suscitante / suscitado;
g) mandado de segurança / habeas corpus / habeas data = impetrante / impetrado;
h) apelação: apelante / apelado;
i) agravos: agravante / agravado;
j) embargos: embargante / embargado.

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2. DISPOSIÇÕES INICIAIS:
Segundo o processualista Bernardo Pimentel, em seu livro “Introdução aos
Recursos Cíveis e à Ação Rescisória”, “o vocábulo recurso provém do latim recursus,
cujo significado — curso retrógrado, caminho de volta, volta — revela a exata ideia do
instituto: nova compulsação das peças dos autos para averiguação da existência, ou não,
de defeito na decisão causadora da insatisfação do recorrente”.
Partindo, portanto, do pressuposto de que o vocábulo “recurso” significa
“percorrer o mesmo curso”, é que foi elaborado o presente roteiro para análise de
apelação criminal. Explicando: o juiz, ao proferir a sentença, analisa o processo como um
todo. No Tribunal, o relator, ao analisar o recurso deve, de igual forma, reanalisar todo
processo, percorrendo todo o iter processual: denúncia, resposta à acusação, provas
produzidas, alegações finais, sentença, recurso, contrarrazões e parecer do Ministério
Público, nos casos em que este couber intervir nos autos.
A análise deve ser feita minuciosamente, cabendo ao julgador percorrer todo o
curso do processo, tendo em mente que o recurso é a continuação do exercício de ação
em fase posterior do procedimento.
Esta ficha roteiro para análise de apelação criminal tem como objetivo orientar
o julgador no exame da ação penal e facilitar o trabalho na hora da elaboração do
relatório, voto e ementa de apelação criminal.

3. ROTEIRO PARA ANÁLISE DO PROCESSO:


Siga o presente roteiro para análise de sua apelação criminal. Os passos a
seguir facilitarão muito o seu trabalho, evitando descuidos que podem ser prejudiciais ao
bom andamento do processo.

INICIATIVA / SANEAMENTO / DILIGÊNCIAS:

Cada julgador tem uma metodologia pessoal para analisar os recursos. Há os que
preferem iniciar pela petição inicial; há os que preferem examinar primeiro a petição
recursal; outros têm preferência pela sentença; há ainda aqueles que iniciam pelo
parecer do Ministério Público, quando a este cabe intervir no feito. Todavia, a melhor
técnica recomenda que se deva iniciar a análise do processo de trás para frente, pois nas
últimas páginas é que se encontram os atos praticados em data mais recente. Isso pode
ajudar muito na celeridade e aproveitamento de tempo.
Ao receber a apelação para análise, faça um exame prévio dos autos do
processo. Primeiramente, para verificar a existência de eventuais diligências ou
providências a serem cumpridas. Em segundo lugar, para verificar o preenchimento dos
requisitos de admissibilidade da apelação e outras exigências legais.
À medida que você for analisando os autos do processo, vá preenchendo a ficha
analítica correspondente.
Fique atento para as seguintes situações:

3.1. Quem interpôs a apelação?


Verifique, inicialmente, quem é (são) o(s) recorrente(s):

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( ) o autor ( ) o réu ( ) ambos ( ) o MP ( ) o terceiro


interessado

3.2. Conferência dos termos de autuação e distribuição:


Faça um exame detalhado do termo de autuação/distribuição. Ele pode ser
muito útil, pois contém dados muito importantes sobre o processo, tais como o nome das
partes, a vara onde tramitou o feito no primeiro grau de jurisdição, o nome do juiz que
proferiu a sentença recorrida, a existência ou não de procuração nos autos, eventual
impedimento de magistrado, entre outros.
Os dados contidos nos termos de autuação e distribuição são lançados por
servidores, pessoas passíveis de erros como todos nós, por isso fique atento e confira os
dados ali contidos com aqueles constantes dos autos.
Confira o nome do relator, o número do processo e o nome das partes.
Confira todos os dados, comparando-os com os constantes da etiqueta dos autos.
Obs.: Caso você constate algum erro, os autos deverão retornar à Secretaria para
retificação (ou dos termos de autuação/distribuição, ou da etiqueta constante da capa dos
autos).

3.3. Correção do nome das partes recorrentes ou do polo ativo ou passivo


recursal (apelante / apelado)
Verifique com atenção quem recorreu. É muito comum haver mais de um recurso
(recurso de um ou de vários autores, recurso de um ou de vários réus, recurso do
Ministério Público e do(s) réu(s) etc.). Pode ocorrer que haja mais de um recurso e, por
equívoco, venha constando na etiqueta dos autos o registro de apenas um deles. Pode
também ocorrer o contrário, ou seja, pode haver apenas um recurso, mas, por equívoco,
fazer-se constar da etiqueta dos autos a existência de mais de um recorrente.
É muito comum também encontrarmos, no curso do processo, o nome das
partes escrito de forma incorreta ou de maneiras diferentes (ex: ora Sousa com s, ora
Souza com z) (ex.: ora Gelson, ora Gerson). Se você tiver alguma dúvida a respeito do
nome das partes, prefira conferi-lo no instrumento do mandato, pois é o documento onde
mais provavelmente conterá o nome correto do outorgante. Na procuração, a parte
assina seu próprio nome, o que nos faz concluir que ela o fará de forma correta.
No processo civil, é muito comum acontecer, no curso do processo, a
modificação do nome das partes, especialmente tratando-se de pessoas jurídicas. Ex.:
VRG Linhas Aéreas, em substituição a GOL Linhas Aéreas. Ex.: ABN AMRO, em
substituição a Banco Real. etc. Fique atento, pois deverá constar da etiqueta dos autos e
das peças processuais subsequentes (petições, sentença, recurso) o novo nome,
conforme informado nos autos.
Obs.: Se você detectar qualquer erro no nome das partes, os autos deverão
retornar à Secretaria para retificação.
Se o processo correr em segredo de justiça, o nome das partes deverá vir
abreviado. Ex.: Luiz Ramos = L.R.
Obs.: São processos que correm em segredo de justiça: os oriundos da Vara da
Infância e da Juventude, os que as partes a requererem ao Juízo. [MS2] Comentário: Exemplo de despacho:
Retornem os autos à Secretaria da Turma para
Se você detectar qualquer erro no nome das partes, os autos deverão retornar à providenciar a retificação do polo passivo da
Secretaria da Turma para retificação. Seja claro ao elaborar o despacho, para que não demanda, pois autor e réu apelaram, mas
consta da autuação apenas o recurso do réu.
haja dúvidas sobre as providências a serem tomadas pela Secretaria da Turma.
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3.4. Processo em apenso:


Em regra, os processos correm em apenso (anexados) quando há relação jurídica
entre eles. Neste caso, eles têm vida própria (cada qual tem autuação e registro
próprios), mas tramitam em conjunto.
[MS3] Comentário: Não confunda apenso
Ao analisar uma apelação, verifique se há autos de processo em apenso. com anexo. Embora sejam termos sinônimos,
possuem significados diferentes no processo. O
Em matéria criminal, são exemplos de feitos que podem correr em apenso: ações apenso tem o objetivo de elucidar ou subsidiar
penais de corréus, cujos autos foram desmembrados no curso da ação e apensados a matéria tratada no outro processo,
depois. conservando cada qual a sua identidade e
independência. O apenso vem autuado com
Correndo os processos em apenso, verifique se foram julgados por sentença registro próprio ao passo que o anexo vem em
única ou se cada feito recebeu uma sentença diferente. Se os feitos forem julgados por capa branca e contém apenas dados acessórios
ao processo principal. Enquanto os processos
sentença única, basta fazer apenas uma minuta de voto, que deverá ser juntada em estiverem apensados, terão andamento em
ambos os processos, tomando-se o cuidado de alterar os dados específicos de cada um conjunto, mas o registro de andamento no
(número do processo, nome das partes, etc.) Sendo distintas as sentenças, você deverá sistema informatizado deve ser feito em
ambos os autos.
fazer a minuta de voto separada para cada um dos autos do processo.
Havendo autos em apenso, todos deverão receber andamento no sistema
informatizado. Todos os feitos deverão ter início, meio e fim.

3.5. Correção do número de folhas dos autos:


Se você constatar algum equívoco na numeração das folhas dos autos (folha sem
numeração, numeração alternada, ausência de folhas etc.), os autos deverão retornar à
Secretaria para retificação. Se o relator faz questão de referir-se às peças processuais [MS4] Comentário: Exemplo de despacho:
com o respectivo número de folhas [ex.: sentença (fls. 50/59), apelação (fls. 60/65)], a Retornem os autos à Secretaria da Turma para
providenciar a retificação do número das
retificação deverá ser feita antes da elaboração das minutas, pois, com a renumeração, folhas, providência a ser tomada a partir da da
pode acontecer de não mais coincidir o número de folhas referido na minuta com aquele folha 55.
aposto após a retificação.

3.6. Regularização da representação processual (procuração):


Se você verificar que a representação processual está irregular (ausência de
procuração, renúncia de advogado etc.), os autos deverão retornar à Secretaria com
despacho determinando a intimação da(s) parte(s) para regularizar a representação
processual.
Procuração é o documento por meio do qual uma pessoa (mandante, outorgante)
confere a outra (mandatário, outorgado ou procurador) poderes para representá-la
perante terceiros, a fim de praticar atos administrativos e gerir negócios.
A procuração ad judicia confere poderes ao advogado legalmente habilitado a
representar o cliente em juízo.
A parte tem que ser representada em juízo por advogado legalmente habilitado (art.
103 do novo CPC). Sem o instrumento do mandato, o advogado não será admitido a
procurar em juízo. Todavia, poderá, em nome da parte, ajuizar ação, a fim de evitar a
perda do direito, bem como praticar atos urgentes, se obrigando a exibir o instrumento do
mandato no prazo de quinze dias, prorrogável até outros quinze, por despacho do juiz
(art. 104 do novo CPC).
A procuração geral para o foro habilita o advogado a praticar todos os atos do
processo, exceto para receber citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do
pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a ação, receber, dar
quitação e firmar compromisso, (neste caso a procuração deverá conter poderes
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especiais). (art. 105 do novo CPC). Observe que, no caso de procuração com poderes
especiais, somente a citação constitui ato processual; os demais são atos de direito
material, de sorte que só a estreita confiança entre a parte e o advogado justifica uma
procuração com tais poderes.
O advogado pode transferir os poderes recebidos do seu cliente a outro
advogado. A esse ato dá-se o nome de substabelecimento. O substabelecimento pode
se dar “com reserva de poderes” ou “sem reserva de poderes”. O substabelecimento
“com reserva” consiste na transferência provisória dos poderes, podendo o advogado
reassumir a representação a qualquer tempo; o substabelecimento “sem reserva”
consiste na transferência definitiva, em que o advogado originário renuncia ao poder de
representação que lhe foi conferido pelo cliente.
Fique atento para a existência nos autos de substabelecimento (transferência
de poderes de um advogado para outro). Se o substabelecimento for feito com reserva de
poderes, as intimações poderão ser feitas tanto em nome do advogado substabelecido
quanto do que substabeleceu. Se o substabelecimento for feito sem reserva de poderes,
as intimações deverão ser feitas em nome do advogado substabelecido, sob pena de não
produzir efeito jurídico.
A inexistência de procuração nos autos é vício que pode ser sanado por
determinação do magistrado.
A procuração deve vir assinada pelo autor/réu ou por seu representante legal, em
caso de partes absolutamente incapazes (menor de dezesseis anos e os civilmente
incapazes). Os relativamente incapazes (maiores de dezesseis e menores de dezoito
anos etc.), por serem apenas assistidos por seus representantes legais, assinam,
juntamente com estes, a procuração (é a chamada outorga de mandato).
“À parte representada pela Defensoria ou outra entidade prestadora de
assistência judiciária gratuita é dispensado o instrumento do mandato.” (parágrafo único
do art. 16 da Lei 1.060/50), ressalvadas as exceções legais (foro especial / propositura de
ação penal privada etc.).
Do advogado que milita em causa própria não há que se exigir instrumento do
mandato (Acórdão 122482).
Atente-se sempre para o nome do advogado a quem são feitas as intimações dos
atos processuais.
NOTA: No processo criminal, há mais processos de réus assistidos pela
Defensoria Pública ou por Núcleos de Práticas Jurídicas do que por advogado
particular. Nestes casos, não se exige o instrumento do mandato.

3.7. Verificação da existência de assinatura nas peças processuais:


Verifique se as peças processuais estão devidamente assinadas (denúncia,
defesa prévia, alegações finais, sentença, recurso, contrarrazões, parecer etc.). Peça
processual não assinada é tida pela doutrina e jurisprudência como peça inexistente.
Eventual inexistência de assinatura é vício que pode ser sanado por determinação do
magistrado.

3.8. Impedimento ou suspeição do relator (arts. 144 e ss. do novo


CPC):

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Verificando ser o caso de impedimento ou suspeição do relator, os autos deverão


ser remetidos à Secretaria da Turma para redistribuição a outro relator, mediante
compensação.

3.9. Incompetência do órgão julgador:

Verificando ser a hipótese de incompetência do órgão julgador para a apreciar o


recurso, cabe ao relator declinar de sua competência para o órgão competente, ou então
extinguir o processo sem resolução do mérito, se for impossível a declinação. Com
relação à apelação, dificilmente ocorre a declinação de competência.

3.10. Prevenção do relator:

A distribuição é feita por dependência quando o processo distribuído ao relator


tiver qualquer relação com outro já ajuizado por conexão ou continência.
Obs: Conexão: é o fenômeno processual determinante da reunião de duas ou mais ações,
para julgamento em conjunto, a fim de evitar a existência de sentenças/decisões conflitantes. São
conexas quando possuem o mesmo objeto e mesma causa de pedir. Continência: é espécie de
conexão com requisitos mais específicos. As ações têm as mesmas partes (requisito ausente na
conexão) e a mesma causa de pedir, mas o pedido de uma delas engloba o da outra.
Veja o que diz o Regimento Interno do Tribunal a respeito da distribuição por
prevenção:

Art. 81. A distribuição de ação originária e de recurso cível ou criminal torna o órgão e o
relator preventos, observada a legislação processual respectiva, para todos os feitos
posteriores, referentes ao mesmo processo, tanto na ação de conhecimento quanto na de
execução, ressalvadas as hipóteses de suspeição ou de impedimento supervenientes,
procedendo-se à devida compensação.
§ 1º A certidão de prevenção constará do termo de autuação e distribuição, cabendo ao
relator determinar nova distribuição, caso entenda não se tratar de prevenção.
§ 2º O Primeiro Vice-Presidente requisitará os autos de processos ainda não julgados,
distribuídos a relator que se encontre em órgão de competência diversa, para distribuição
conjunta de ações, de recursos ou de incidentes, procedendo-se à oportuna compensação.
§ 3º A prevenção, se não for reconhecida de ofício, poderá ser arguida por qualquer das
partes ou pelo Ministério Público até o início do julgamento.

Segundo o art. 286, incisos I, II e III do CPC, serão distribuídas por dependência
as causas de qualquer natureza: - quando se relacionarem, por conexão ou continência, [MS5] Comentário: Art. 55. Reputam-se
com outra já ajuizada; - quando, tendo sido extinto o processo sem resolução de mérito, conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for
comum o pedido ou a causa de pedir.
for reiterado o pedido, ainda que em litisconsórcio com outros autores ou que sejam § 1o Os processos de ações conexas serão
parcialmente alterados os réus da demanda; - quando houver ajuizamento de ações nos reunidos para decisão conjunta, salvo se um
termos do art. 55, § 3º, ao juízo prevento. deles já houver sido sentenciado.
[MS6] Comentário: Serão reunidos para
Nos Tribunais, a distribuição dos feitos será feita de acordo com o regimento julgamento conjunto os processos que possam
gerar risco de prolação de decisões conflitantes
interno, observando-se a alternatividade, o sorteio eletrônico e a publicidade (art. 930, ou contraditórias caso decididos
CPC). O primeiro recurso protocolado no tribunal tornará prevento o relator para eventual separadamente, mesmo sem conexão entre
recurso subsequente interposto no mesmo processo ou em processo conexo (art. 930, eles.
parágrafo único).
Fique atento: observe no termo de autuação/distribuição se os autos foram
distribuídos ao relator por distribuição aleatória ou por prevenção. Caso tenha sido por
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prevenção, tome o cuidado de verificar qual(is) o(s) feito(s) existem com relação ao
processo em questão e se já há alguma decisão proferida neles. Eventual existência de
decisão anterior, poderá interferir no processo em análise. Esse cuidado também é
importante, pois você pode detectar, por exemplo, a existência de mais de um habeas
corpus com relação ao mesmo réu, com o mesmo pedido e causa de pedir.
[MS7] Comentário: O VICE-PRESIDENTE DO
Nota: Sobre a prevenção, ver Portaria VPR nº 50/2002/TJDFT: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E
DOS TERRITÓRIOS, no uso de suas atribuições
previstas no art. 28, II e III, do Regimento
Interno e, 
 
 Considerando a necessidade de
disciplinar os procedimentos a serem adotados
3.11. Deferimento / indeferimento de justiça gratuita: na autuação e distribuição dos processos no 2º
grau, em face do Ato Regimental n. 01,
Com relação à ação penal, quem decide sobre o deferimento ou indeferimento publicado no Diário da Justiça de 07.11.2001,
de Justiça Gratuita é o Juízo das Execuções Penais. que deu nova redação ao artigo 62, do
Regimento Interno,
 
 RESOLVE:
 

Art. 1º - Para efeito de prevenção do Relator,
Obs.: É muito comum ver, nos processos, o uso do termo “justiça gratuita” como havendo processos em tramitação e outros já
sinônimo de “assistência judiciária”, só que ambos não se confundem. Assistência arquivados ou baixados, relacionados ao
Judiciária é atividade estatal, que consiste em conceder à pessoa hipossuficiente o processo a ser distribuído, devem ser
acesso gratuito à Justiça por meio de advogado (Defensor Público) pago pelo Estado. A desconsiderados os arquivados e baixados.


 § 1º . Nos casos de processos em tramitação,
Justiça gratuita é a isenção concedida pelo julgador de custas processuais e honorários deve ser considerado prevento o Relator do
advocatícios à parte hipossuficiente. processo que pela ordem foi primeiramente
distribuído, desde que não esteja licenciado,
desconvocado, impedido ou afastado a
No que tange às custas processuais, a condenação do réu ao pagamento destas qualquer outro título no momento da
decorre de imposição legal inserta no artigo 804 do Código de Processo Penal, não distribuição e, ainda, não tenha sido apontado
podendo o Magistrado sentenciante deixar de observá-lo. como autoridade coatora.
 

Não se olvida que, nos termos do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição da § 2 º . Na hipótese de haver somente processos
já arquivados ou baixados, relacionados ao
República, o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem processo a ser distribuído, deve ser
insuficiência de recursos, sendo que tal assistência compreende, dentre outros, a isenção considerado prevento o Relator do processo
do pagamento das custas processuais, de acordo com o inciso II do artigo 3º da Lei n. que pela ordem foi primeiramente distribuído,
desde que não esteja licenciado, desconvocado,
1.060/50. impedido ou afastado a qualquer outro título
Analisando o dispositivo constitucional, constata-se que a assistência jurídica no momento da distribuição e, ainda, não
gratuita somente é assegurada aos réus que demonstrarem sua hipossuficiência de tenha sido apontado como autoridade
coatora.
 

recursos, sendo que essa análise deve ser realizada pelo Juízo das Execuções Penais, § 3 º . Havendo processos em tramitação
pois o momento mais adequado para verificar a verdadeira situação econômica do relacionados ao processo a ser distribuído e
condenado é a fase de execução. estando todos os Relatores licenciados,
Nesse sentido, a jurisprudência deste Tribunal entende ser1 correta a condenação desconvocados, impedidos ou afastados a
qualquer outro título, será considerado
ao pagamento das custas processuais, porquanto o exame a respeito de eventuais prevento o órgão para o qual ocorreu a
causas de isenção cumprirá ao Juízo da Execução. primeira distribuição, respeitada a competência
Assim, não é dado ao Juiz (ou o relator da apelação) conceder a isenção do regimental.
 

Art. 2º - Esta Portaria entra em vigor na data de
pagamento das custas ao proferir a sentença penal condenatória, já que o momento sua publicação.
adequado para se analisar a situação econômica do condenado é a fase de execução
penal.
Ademais, a impossibilidade da exclusão da condenação do réu ao pagamento das
custas é reforçada pelo artigo 12 da Lei nº 1.060/50, o qual garante apenas a suspensão
do pagamento e não sua isenção, estabelecendo que a parte beneficiada pelo isenção do
pagamento das custas ficará obrigada a pagá-las, desde que possa fazê-lo, sem prejuízo
do sustento próprio ou da família, se dentro de cinco anos, a contar da sentença final, o
assistido não puder satisfazer tal pagamento, a obrigação ficará prescrita, competência
que igualmente é conferida ao Juízo das Execuções.

3.12. Vista dos autos à Defensoria Pública:

1
Cf. acórdão n. 674343, 20120710147635APR, Relator: Souza e Ávila, 2ª Turma Criminal, Data de
Julgamento: 02/05/2013, Publicado no DJE: 07/05/2013. Pág.: 169.
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Quando a parte é assistida ou representada pela Defensoria Pública, o


Defensor deve ser intimado de todos os atos processuais e ter vista pessoal dos
autos. Assim, fique atento e observe se a Defensoria teve vista pessoal das peças e atos
processuais (decisões, sentença, recurso, acórdão) etc. Se não teve, providencie o
encaminhamento dos autos à Defensoria para obtenção de vista do Defensor. A não
intimação da Defensoria Pública é causa de nulidade processual.

3.13. Intervenção do Ministério Público:

O Ministério Público é a instituição a qual incumbe a defesa da ordem


jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art.
127, CF/88).
No Ministério Público, os membros que atuam no primeiro grau de
jurisdição são denominados “promotores de justiça” e os que atuam no segundo grau
de jurisdição são denominados “procuradores de justiça” (Obs: não confundir
procuradores de justiça com os procuradores (advogados) dos entes públicos).
No processo civil, o Ministério Público atua em causas de família, órfãos e
sucessões, infância e juventude, meio ambiente, etc.).
No processo penal, a intervenção do Ministério Público é obrigatória. *
Nas ações penais públicas incondicionadas, ele é o titular da ação penal. Funciona como
parte e como fiscal da lei.
* Nas ações públicas condicionadas à representação, o Ministério Público é o titular da
ação, mas somente poderá dar início se o ofendido ou seu representante legal se
manifestarem por meio de representação. Funciona como parte e como fiscal da lei.
* Nas ações penais privadas, de iniciativa do ofendido, o Ministério Público atua como
fiscal da lei.

A intervenção do Ministério Público como fiscal da lei tem previsão no art. 257, II, do
CPP. Isso quer dizer que em toda causa relativa à matéria penal, o Ministério Público
deverá oferecer o seu parecer como custos legis, não se vinculando, em princípio, à
pretensão deduzida em juízo. Sua atuação deve ser, portanto, imparcial.

Intervindo como fiscal da lei, terá vista dos autos depois das partes, sendo intimado
de todos os atos do processo, sob pena de nulidade do processo.

Obs.: Fique atento à obrigatoriedade de intervenção do Ministério Público,


pois se a falta não for suprida logo, poderá haver consequências prejudiciais futuras.
A intervenção do Ministério Público em primeira instância não dispensa a
intervenção em 2ª instância. Todavia, a intervenção do Ministério Público em segundo
grau de jurisdição, sem arguir nulidade nem prejuízo, supre a falta de intervenção do
Parquet na 1ª instância, não acarretando a nulidade do processo. (STJ, 4ª Turma, REsp
257.544-RN).

Obs: Nos casos em que for obrigatória a intervenção do Ministério


Público, os autos da apelação já deverão vir conclusos ao relator com o parecer da
Procuradoria de Justiça (MP de 2ª instância). Verificando a inexistência de [MS8] Comentário: Exemplo de despacho:
manifestação do MP, os autos deverão ser encaminhados, via despacho, pelo À douta Procuradoria de Justiça para
próprio Relator à Procuradoria de Justiça para oferecimento de parecer. oferecimento de parecer. Após, retornem
os autos conclusos
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3.14. Casos que ensejam extinção da punibilidade

Os casos previstos para a extinção da punibilidade, que implicam a perda


superveniente da pretensão punitiva vêm, em regra, arroladas no art. 107 do Código
Penal (causas gerais ou comuns): (prescrição, decadência, perempção, renúncia, perdão,
morte do agente etc.). Há também causas especiais ou particulares que ocorrem apenas
em determinados delitos, como por exemplo a retratação do agente nos crimes contra a
honra etc.
As causas mais comuns de extinção da punibilidade são a decadência e a
prescrição.
A decadência é a perda do direito de ação privada ou de representação, por
não ter sido exercido no prazo legal. [u9] Comentário: Segundo o art. 103 do
Código Penal, o ofendido decai do direito de
A prescrição é a perda do direito de punir do Estado em razão da demora em queixa e de representação se não o exerce
exercitar esse direito. É matéria de ordem pública, podendo ser decretada de ofício pelo dentro do prazo de seis meses contado do dia
em que veio a saber quem é o autor do crime,
juiz ou a requerimento de uma das partes em qualquer fase do processo (art. 61, CPP). É ou, no caso do § 3º do art. 100, do dia em que
questão de mérito. Aplicam-se os princípios do artigo 10 do CP: conta-se o dia do início não se esgota o prazo para oferecimento da
estando sujeito a suspensão por férias, domingos, feriados etc. denúncia.

Obs: São pouquíssimos os crimes imprescritíveis: racismo, ação de grupos


armados contra o estado de direito ...
No direito penal há as seguintes espécies de prescrição:
a) Prescrição da pretensão punitiva: o estado perde o direito de punir antes de
transitar em julgado a sentença. Entre os marcos interruptivos transcorre lapso temporal
superior ao prazo prescricional previsto para o crime (entre a data do fato e a do
recebimento da denúncia) (entre a data do recebimento da denúncia e a da sentença –
etc.) Não se chega sequer a formar o título executivo (sentença condenatória). Aqui a
prescrição é computada pela pena em abstrato. [u10] Comentário: Nos casos em que ainda
Ex.: Crime de lesões corporais (pena de um ano de detenção) -> prescrição não há condenação, inexiste pena para servir
de base ao juiz para o cálculo da prescrição, por
ocorre em quatro anos. Se entre a prática do delito e o recebimento da denúncia (que é o isso ele utiliza a pena máxima em abstrato
primeiro marco interruptivo), ou entre o recebimento da denúncia e a sentença (etc.) prevista para o delito (art. 109, CP).
ocorrer prazo igual ou superior a quatro anos -> extinção da punibilidade pela prescrição.

b) Prescrição retroativa (art. 110, § 1º): é uma segunda espécie de prescrição da


pretensão punitiva e tem o seu prazo regulado pela pena aplicada na sentença
condenatória e não na pena em abstrato. O prazo é contado de trás para frente, ou seja,
da decisão de 1ª ou 2ª instância à data em que foi recebida a denúncia ou queixa. A regra foi
modificada pela Lei nº 12.234/2010: a prescrição não pode mais ter por termo inicial data
anterior à da denúncia ou da queixa (não se conta mais a prescrição entre a data da
denúncia e a data do fato).
Ex.: sentença transitada em julgado para a acusação ou improvido seu recurso =
11/12/08 -> pena aplicada = 1 ano de reclusão -> prazo prescricional = 4 anos -> réu
menor à data do fato -> prazo prescricional reduz à metade = 2 anos -> recebimento da
denúncia = 28/8/02. Neste caso a pretensão punitiva encontra-se prescrita desde
1/12/06.

c) Prescrição intercorrente ou superveniente: o Estado perde o direito de punir em


razão da demora do tribunal em julgar o recurso da defesa, quando o recurso da [u11] Comentário: Neste caso o prazo é
acusação já transitou em julgado ou foi improvido. O lapso prescricional ocorre entre a regulado pela pena aplicada em concreto (art.
110, § 1º) com trânsito em julgado para a
data da sentença e o dia do julgamento da apelação que nega provimento a recurso do acusação ou em caso de improvimento de seu
MP. A sentença não chega a transitar em julgado para a defesa antes de ocorrer um recurso. Tem que haver trânsito em julgado
novo prazo prescricional cujo termo inicial é a própria sentença condenatória. para a acusação, pois só assim não haverá
possibilidade de alteração da pena aplicada.
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Ex.: sentença -> condena à pena de dois anos -> recurso apenas da defesa ->
trânsito em julgado para a acusação ou desprovimento de seu recurso. -> o crime
prescreverá, se a sentença não transitar em julgado para a defesa em menos de quatro
anos.
Ex.: Pena aplicada = 6 meses -> prazo prescricional = 3 anos -> réu menor de 21 nos
à data do crime = redução do prazo prescricional pela metade = 1 ano e meio -> sentença
publicada em cartório = 13/8/08 (último marco interruptivo) -> data do julgamento do
recurso = 12/9/2010 -> entre a sentença e o julgamento do recurso transcorreu mais de
um ano e meio.
d) Prescrição da pretensão executória: o Estado perde o direito de punir (executar a
pena) depois de transitar em julgado a sentença (tanto para a defesa quanto para a
acusação). A sentença condenatória transitada em julgado é o marco inicial para a
contagem da prescrição executória. Aqui a prescrição é computada pela pena em
concreto. Se o condenado é reincidente, aumenta o prazo prescricional em 1/3. Obs.: A [u12] Comentário: Nos casos em que já há
prescrição da pretensão executória só afasta o cumprimento da pena, mas não os efeitos condenação com trânsito em julgado para a
acusação, a pena torna-se concreta e passa a
da condenação. servir de base de cálculo da prescrição (art.
Ex.: sentença transitada em julgado para ambas as partes-> condena à pena de 110, § 1º, CP).
quatro anos de detenção -> prazo prescricional = 8 anos. Se a pena não for executada
em 8 anos, ocorrerá a prescrição da pretensão executória.

Sobre os prazos de prescrição e causas interruptivas da prescrição, vide arts. 109


a 119 do Código Penal.

Veja a seguinte tabela dos prazos prescricionais [u13] Comentário: Tabela emprestada do”
Código Penal Comentado” de Guilherme de
Souza Nucci. 7ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, p. 531).
Penas (em Prazo Exceção 1: Exceção 2: réu reincidente no
abstrato ou réu menor de caso de prescrição da
em concreto) 21 anos na pretensão executória da pena –
data do fato art. 110, caput, parte final e
ou maior de Súmula 220 do STJ (aumento
70 anos na de 1/3)
data da
A 2ª coluna se refere ao réu
sentença =
menor de 21 anos na data do
reduz o prazo
fato ou maior de 70 à época da
pela metade
prolação da sentença.
(art. 115)
Inferior a 1 3 anos 1 ano e 4 anos 2 anos
ano meio
1 a 2 anos 4 anos 2 anos 5 anos e 2 anos e 8
quatro meses meses
Mais de 2 8 anos 4 anos 10 anos e 8 6 anos e 4
anos até 4 meses meses
anos
Mais de 4 12 anos 6 anos 16 anos 8 anos
anos até 8
anos
Mais de 8 anos 16 anos 8 anos 21 anos e 4 10 anos e 8
até 12 anos meses meses

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Superior a 12 20 anos 10 anos 26 anos e 8 13 anos e 4


anos meses meses

São causas interruptivas da prescrição (art. 117, CP):


Segundo o art. 117 do Código Penal, o curso da prescrição interrompe-se:
I – pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II – pela pronúncia (só no procedimento do júri);
III – pela decisão confirmatória da pronúncia (só no procedimento do júri);
IV – pela sentença condenatória recorrível;
V – pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI – pela reincidência.

Obs.: Quando ocorre a interrupção da prescrição, os prazos já decorridos são


abandonados e novos prazos recomeçam a ser contados por inteiro da data em que
ocorreu a interrupção (começa a contar do zero).
Para fazer a contagem do prazo prescricional, primeiramente colham-se os
seguintes dados:
- crime praticado: ____________ (a data varia de acordo com a classificação do crime praticado)
- pena em abstrato (art. 109, CP): ____________
- pena em concreto – aplicada na sentença (art. 110, CP): ___________
- prazo prescricional: __________
- data do fato: ____/____/____
- data do recebimento da denúncia: ____/____/____
- data da pronúncia (se o caso): ____/____/____
- data da decisão confirmatória da pronúncia (se o caso): ____/____/____
- sentença condenatória recorrível: ____/____/____
- sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou improvido seu
recurso: ___/___/___
- data do trânsito em julgado para a defesa, ocorrida em qualquer instância
superior: ____/____/____
- início ou continuação do cumprimento da pena (se o caso): ___/___/___
- reincidência (se o caso): ___/___/___
- se o réu era menor de 21 anos na data do fato / prazo prescricional: ________
- se o réu era maior de 70 anos na data da sentença / prazo prescricional:
________

Segundo a regra geral prevista no art. 111 do Código Penal, o termo inicial da
prescrição punitiva , antes de transitar em julgado a sentença final começa a correr: I – do
dia em que o crime se consumou; II – no caso de tentativa, do dia em que cessou a
atividade criminosa; III – nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;
IV – nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil,
da data em que o fato se tornou conhecido. Ex: Um homicídio praticado em 1989 e
descoberto em 2010 já estará prescrito.

Obs.: a jurisprudência está se pacificando no sentido de ser inadmissível o


reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva estatal com base na pena
hipoteticamente calculada, reputada prescrição em perspectiva, projetada ou antecipada,
por ausência de previsão legal. Precedentes (AgRg no REsp 1124737/PR,
(20050110636044RSE).

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Causas impeditivas (suspensivas ) da prescrição (art. 116, I e II, CP).: [MS14] Comentário:
Art. 932. Incumbe ao relator:
Além das causas impeditivas (suspensivas) da prescrição delineadas no art. 116, I e II I - dirigir e ordenar o processo no tribunal,
inclusive em relação à produção de prova, bem
do CP, encontra-se a prevista no art. 366 do CPP que assim dispõe: “se o acusado, como, quando for o caso, homologar
citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o autocomposição das partes;
processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção II - apreciar o pedido de tutela provisória nos
recursos e nos processos de competência
antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão originária do tribunal;
preventiva, nos termos do disposto no art. 312”. III - não conhecer de recurso inadmissível,
prejudicado ou que não tenha impugnado
A respeito do tempo de suspensão do processo e do prazo prescricional, a questão é especificamente os fundamentos da decisão
controvertida nos tribunais. O STF se pronunciou no sentido de que o a suspensão do recorrida;
processo e do prazo prescricional deve ser mantida enquanto o réu não comparecer em IV - negar provimento a recurso que for
contrário a:
Juízo, impedindo que o curso do prazo prescricional volte a correr depois de certo a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do
interregno. Segundo esse entendimento, o curso do processo e o prazo prescricional não Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
podem ser retomados, pois à suspensão determinada no art. 366 do CPP não se aplica o tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal
prazo especificado no art. 109 do CP (APC 20080950136651, Rel. Edson A. Smaniotto). Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
Há quem defenda que a prescrição não pode ser suspensa indefinidamente, pois isso c) entendimento firmado em incidente de
equivaleria a tornar o delito imprescritível, o que somente deve ocorrer por força da resolução de demandas repetitivas ou de
Constituição Federal (crimes de racismo e terrorismo, por exemplo). Assim por ausência assunção de competência;
de previsão legal, entende-se que a prescrição fica suspensa pelo prazo máximo em V - depois de facultada a apresentação de
contrarrazões, dar provimento ao recurso se a
abstrato previsto para o delito. Depois, começa a correr normalmente. Ex.: Furto simples - decisão recorrida for contrária a:
> pena máxima = 4 anos -> prescrição não corre por oito anos -> depois, retoma seu a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do
curso, finalizando com outros oito anos, ocasião em que o juiz pode julgar extinta a Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
tribunal;
punibilidade do réu (Nucci). b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
3.15. Requisitos de admissibilidade da apelação criminal: c) entendimento firmado em incidente de
resolução de demandas repetitivas ou de
Sobre os requisitos de admissibilidade da apelação cível ver o item 4.11.1 deste assunção de competência;
VI - decidir o incidente de desconsideração da
Capítulo. personalidade jurídica, quando este for
instaurado originariamente perante o tribunal;...
3.16. Julgamento monocrático = aplicação subsidiária do art. 932, III, [MS15] Comentário:
CPC (ou art. 87, III, RITJDFT):
Art. 87. São atribuições do relator, nos feitos
cíveis, além de outras definidas em lei ou neste
Regimento:
O art. 932, III, do CPC, cuja redação é repetida pelo art. 87, III, do Regimento III - não conhecer, negar ou dar provimento a
Interno do TJDFT (para os feitos cíveis), permite ao relator, monocraticamente, recurso, nos termos dos art. 932, III, IV e V, do
Código de Processo Civil; (nos feitos cíveis).
não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado
[MS16] Comentário: Veja o exemplo de
especificamente os fundamentos da decisão recorrida. decisão monocrática não conhecendo do
recurso por deserção:
Intimadas a prepararem o recurso, sob pena
de negativa de seguimento por deserção (fls.
84/86), as apelantes-autoras não cumpriram a
Recurso inadmissível O recurso é inadmissível quando falta algum dos requisitos ordem judicial, conforme certificado nos autos
legais de admissibilidade, ou seja, se é incabível, (fl. 88).
intempestivo, deserto (ausência de preparo – na ação penal Assim, não conheço da apelação, porque
deserta.
privada), se falta regularidade formal, legitimidade ou Intimem-se.
interesse recursal da parte. Decorrido o prazo, retornem os autos ao
Recurso prejudicado O recurso é prejudicado quando, ao tempo do julgamento, Primeiro Grau.
Brasília-DF, 19 de março de 2016.
não houver mais utilidade para o recorrente, seja porque já
pereceu o seu direito ou porque já o obteve por outros meios. Atente-se!: a decisão acima padece de falta de
Ex.: o recorrente ajuíza ação pedindo a revisão judicial de fundamentação. Observe que o relator não
conhece da apelação por falta do preparo, mas
sua aposentadoria; o juiz profere sentença e, antes do não cita o dispositivo legal que embasa o seu
julgamento do recurso, o autor obtém o direito pela via argumento.

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administrativa. Neste caso, o recurso fica prejudicado por


perda superveniente do interesse processual porque o
provimento jurisdicional postulado na ação deixou de ser útil
ao recorrente.
Cuidado: a concessão de liminar pelo tribunal deferindo o
pedido de liberdade provisória em habeas corpus não torna
prejudicado o exame do mérito do recurso, uma vez que o
provimento liminar é apenas de natureza provisória, devendo
ser confirmado no mérito.
Recurso que não tenha As alegações do recorrente não podem estar dissociadas
impugnado dos fundamentos da sentença. Muitas vezes, o recorrente
especificamente os impugna de forma implícita os fundamentos da decisão
fundamentos da recorrida, por isso tenha cuidado quando não for conhecer do
decisão recorrida recurso por ausência de impugnação específica.

Há jurisprudência do STJ no sentido de ser inviável a aplicação subsidiária do art.


932, III ao processo criminal, sob pena de ofensa ao princípio da ampla defesa, uma vez
que estar-se-ia permitindo a apreciação da questão por um julgador monocrático e não
pelo colegiado, como deveria acontecer. Há também, no STJ, jurisprudência em sentido
contrário, permitindo a aplicação do referido dispositivo legal por analogia, no caso em
que a decisão apelada encontrava-se em direção contraria à jurisprudência dominante do
STF. No TJDFT a corrente majoritária é no sentido da aplicação subsidiária do CPC no
processo criminal.
O Tribunal de Justiça, no art. 89, III, do seu Regimento Interno,
inovou, ao criar, para o processo criminal, uma figura inexistente na lei processual
(penal ou civil). Veja a redação do dispositivo: Art. 89. São atribuições do relator, nos feitos
criminais, além de outras definidas em lei ou neste Regimento: III - admitir ou rejeitar ação originária, negar
seguimento a ela e a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou contrário a [MS17] Comentário: “negar seguimento”
súmula ou a jurisprudência predominante do Tribunal ou de Tribunal Superior. ao recurso é termo em desuso no novo CPC,
por isso, o legislador interno deveria ter
Obs.: Contra a decisão monocrática do relator cabe agravo interno (art. 265, repetido a redação ao art. 932, III, do CPC.
§ 4º, do RITJDFT) no prazo de cinco dias a contar da data da publicação da decisão Além disso, tratando-se de ação originária, o
caso não é de “rejeitar”, mas de indeferir a
recorrida. O recurso é interposto por meio de mera petição nos próprios autos em que petição inicial.
tenha sido proferida a decisão impugnada, devendo ser submetida primeiramente ao seu
prolator, que poderá reconsiderá-la ou submetê-la a julgamento do respectivo órgão (ou
seja, aquele competente para o julgamento da ação ou do recurso a ela interposto).

3.17. Contrarrazões:

As Contrarrazões são a resposta do apelado ao recurso interposto pelo


apelante. O termo contrarrazões é, na verdade, uma construção feita pela doutrina e de
utilização comum nos tribunais. O Código de Processo Penal, no art. 600, contudo, fala
em oferecimento de “razões”.
Caso você verifique que não foram ofertadas as contrarrazões ao recurso,
verifique se o(s) apelado(s) foi(ram) de fato intimado(s) para essa finalidade. Caso o
apelado não tenha sido intimado, deve ser determinada a sua intimação.
Verifique se as contrarrazões estão tempestivas. O prazo para oferecimento
delas é de oito dias salvo nos processos de contravenção em que o prazo é de três dias
(art. 600, CPP). O prazo é contado a partir da ciência da interposição do recurso

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Contrarrazões intempestivas não podem ser levadas em consideração pelo


relator. Há magistrados, mais formalistas, que determinam o desentranhamento da peça
no caso de apresentação intempestiva.
Obs.: Para cada recurso interposto contra a sentença deve corresponder suas
respectivas contrarrazões. Se autor e réu apelarem, ambos deverão contrarrazoar o
recurso interposto pela parte adversa.
Obs.: Não é possível formular pedido nas contrarrazões; é admitida apenas a
arguição de preliminares do recurso (intempestividade, descabimento, falta de
interesse recursal etc.) ou de matérias de ordem pública (extinção de punibilidade).
Obs.: Prestigie as contrarrazões fazendo sempre a leitura delas. Pode ser que
haja a arguição de preliminares que devem ser obrigatoriamente examinadas pelo relator.
Além disso, elas podem aclarar as suas ideias e apontar o argumento jurídico de que
você precisa para responder ao recurso.
Se as razões do recurso forem apresentadas no Tribunal (art. 600, § 4º, do
CPP), após “distribuída a apelação, ocorrendo a hipótese prevista no art. 600, § 4º do
CPP, independentemente de despacho, abrir-se-á vista ao apelado. Ao findar o prazo,
com ou sem as razões, os autos serão remetidos ao órgão do Ministério Público junto à
vara de origem para as contrarrazões” (art. 255 RITJDFT).

3.18. Revisão: (art. 91, RITJDFT)

A apelação ensejará a análise pelo revisor, apenas quando a pena cominada


for de reclusão. Quando a pena for de detenção, o processo não terá revisor.
Se o recurso não comportar revisão, o relator, no prazo legal, ou, na falta
deste, em 15 dias, elaborará relatório e mandará inclui-lo em pauta de julgamento (art. [MS18] Comentário: Exemplo de
255, § 2º, RITJDFT). despacho:
Inclua-se o feito em pauta.
Se o recurso comportar revisão, os autos, após analisados pelo relator, serão
conclusos ao revisor, que disporá do prazo de quinze dias para solicitar inclusão do
processo em pauta de julgamento (art. 255, § 3º do RITJDFT).
Nos casos em que o recurso enseja a análise pelo revisor, evite escrever no corpo
do relatório expressões que indiquem a remessa dos autos ao revisor (Ex.: À Revisão;
Ao eminente Revisor; ao douto Revisor). A remessa dos autos ao revisor deve ser feita
por meio de despacho, na mesma folha da conclusão. [MS19] Comentário: Exemplo de
despacho:
Segue relatório em separado. Ao eminente
3.19. Parecer da Procuradoria de Justiça: Revisor.

A Procuradoria de Justiça é o Ministério Público de segunda instância. Ela


funciona, por meio dos Procuradores de Justiça, nos órgãos julgadores do Tribunal.
Sobre a intervenção do Ministério Público em primeiro e segundo graus, ver
item 3.13 deste roteiro.

4. ANÁLISE DAS PEÇAS / ATOS PROCESSUAIS:


Após o saneamento, o relator passa à análise de todo o processo:

4.1. DENÚNCIA / QUEIXA:

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Denúncia é o ato processual por meio do qual se inicia a ação penal pública
(incondicionada ou condicionada à representação). A denúncia está para o processo
penal, assim como a petição inicial está para o processo civil.
Obs.: O ato processual por meio do qual se inicia a ação penal privada (ação de
iniciativa do ofendido) recebe o nome de queixa (queixa-crime).

a) a denúncia (ou a queixa) preenche os requisitos legais? (art. 41, CPP – art.
395, CPP). A peça está assinada?
A denúncia (ou a queixa) deve preencher os requisitos do art. 41 do CPP:
A peça acusatória deve conter a exposição detalhada do fato criminoso, com [t20] Comentário: PORTARIA
todas as suas circunstâncias (data, local, horário, modo, causa), a qualificação do CONJUNTA 71 DE 9 DE OUTUBRO DE
2013
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime Determina a obrigatoriedade de que sejam
(a norma aplicável e os limites da imputação) e, quando necessário, o rol das informados o número de CPF ou de CNPJ e os
demais dados necessários à completa
testemunhas. qualificação das partes, quando conhecidos, na
petição inicial dos feitos distribuídos à Justiça
Todos esses dados são importantes, seja para facilitar a defesa do réu, seja para do DF, bem como de que as certidões de feitos
viabilizar a correta aplicação da lei. distribuídos na Primeira Instância sejam
emitidas com base no número de CPF ou de
Nos casos em que o crime for praticado por mais de um agente, a denúncia deverá CNPJ.
individualizar o máximo possível as ações atribuídas a cada acusado. A descrição
genérica do concurso de agentes, todavia, é admissível, quando as circunstâncias do
crime não permitem particularizar a conduta de cada acusado, desde que isso seja feito
no decorrer da instrução criminal e que sejam fornecidos dados suficientes à
admissibilidade da acusação, permitindo a adequação típica do fato criminoso.
Obs.: Lembre-se sempre que o réu se defende dos fatos e não da classificação do
crime feita pela acusação. Se os fatos não estão devidamente esclarecidos nos autos,
impõe-se a absolvição do acusado.
Prazo para o oferecimento da denúncia (ou da queixa): em regra é de quinze dias
(réu solto) ou de cinco dias (réu preso) (art. 46, CPP), a contar da data em que o órgão
acusador recebe os autos do inquérito ou peças informativas.
A denúncia (ou queixa) será rejeitada quando: a) for manifestamente inepta (não
contiver a exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias, a qualificação
do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do
crime e quando necessário o rol de testemunhas); b) faltar pressuposto processual ou
condição para o efetivo exercício da ação penal (legitimidade ad causam, interesse
processual e possibilidade jurídica; ; c) faltar justa causa para o exercício da ação penal
(atipicidade da conduta, ausência de indícios de autoria e materialidade) (art. 395, CPP).
Obs.: A falta de assinatura da denúncia é vício sanável e não acarreta nulidade se
não houver dúvida a respeito da autenticidade da peça acusatória. (STF)
Obs.: Da decisão que rejeita a denúncia ou queixa cabe recurso em sentido estrito
(art. 581, I, do CPP).

b) qual o crime praticado: o crime praticado é da competência do juiz singular ou do


júri (crimes dolosos contra a vida)? Essa distinção é importante para determinar o
procedimento aplicável ao caso concreto.
c) qual o procedimento imprimido?: é importante determinar o procedimento
aplicável a cada caso concreto.
Segundo o art. 394 do CPP, o procedimento será comum ou especial.

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O procedimento comum será ordinário (quando tiver por objeto crime cuja sanção
máxima cominada for igual ou superior a quatro anos de prisão), sumário (quando tiver
por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a quatro anos de prisão) ou
sumaríssimo (para infrações penais de menor potencial ofensivo).
O procedimento comum é, em regra, aplicado a todos os processos, salvo
disposição em contrário do CPP ou de lei especial.
O procedimento especial é aplicado nos seguintes casos (crimes apenados com
reclusão): a) os crimes dolosos contra a vida; b) os crimes de imprensa; c) os crimes
falimentares; d) os crimes eleitorais; e) os crimes de tráfico de drogas; f) os crimes de
responsabilidade de funcionário público; g) os crimes de lavagem; h) os crimes contra a
honra etc.
- Tanto o procedimento comum como o procedimento especial contêm três fases:
a) fase postulatória (inicia-se com a denúncia ou queixa e encerra com a resposta à
acusação); b) fase instrutória (compreende a fase probatória e fase das alegações finais);
c) fase decisória.
Assim, no procedimento comum, resumidamente, temos o seguinte iter
processual: a) recebimento da denúncia; b) citação; c) resposta escrita (art. 396); d)
absolvição sumária (art. 397); não sendo o caso de absolvição sumária -> e) audiência de
instrução (na qual se realizarão os atos de instrução, com inquirição do ofendido, de
testemunhas, de peritos, e, por fim, com o interrogatório do acusado (art. 400 e 531,
CPP); f) alegações finais orais; g) memoriais (se o caso); h) sentença. .
Os procedimentos sumário e ordinário diferenciam-se apenas quanto aos seguintes
detalhes. Ex.: no rito sumário a audiência deve ser designada no prazo de trinta dias,
enquanto no rito ordinário o prazo é de sessenta dias. No rito sumário não há o
fracionamento das fases instrutória, postulatória (alegações finais) e decisória (sentença),
não sendo aplicáveis os arts. 402, 403 e 404 do CPP. No rito sumário, o número máximo
de testemunhas arroladas é de cinco, enquanto no rito ordinário é de oito. No rito sumário
não existe previsão para os debates (art. 534 do CPP).
Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedimento observará
as disposições estabelecidas nos arts. 406 a 497 do CPP. O procedimento do Tribunal
do Júri contém duas fases distintas: a primeira, destinada à formação da culpa
(instrução preliminar); a segunda, destinada ao julgamento do réu em plenário (jurados)

4.2. CITAÇÃO: o réu foi citado regularmente? (Art. 351, CPP)

Citação é o ato pelo qual o réu é chamado em juízo para se defender.


O réu é citado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.
A citação deverá ser feita pessoalmente, por mandado (oficial de justiça), quando
o réu residir no mesmo local em que o juiz da causa exerce a sua jurisdição, devendo
constar todas as informações possíveis relativas à demanda (art. 352, CPP).
Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado (art. 360, CPP).
A citação será feita por precatória quando o acusado residir fora do local em que o
juiz exerce a jurisdição.
A citação será feita por hora certa, quando se verificar que o réu se oculta para
não ser citado (art. 362, CPP).
A citação será feita por edital, se o réu não for encontrado (art. 361) ou quando
inacessível, em virtude de epidemia, de guerra ou por ouro motivo de força maior, o lugar
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em que estiver o réu (art.362, CPP). A citação por edital provoca a suspensão do
processo, bem como o curso do prazo prescricional (art. 366 CPP).

4.3. RESPOSTA À ACUSAÇÃO:

A resposta à acusação é o ato pelo qual o réu se defende (por escrito) da


acusação que lhe é imputada (art. 396 CPP).

a) a peça está tempestiva?


- prazo (art. 396 CPP) – 10 dias a contar da data da citação, pois, segundo a
Súmula 710 do STF, “no processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e
não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem”.

Obs.: O Réu patrocinado pela Defensoria Pública: prazo em dobro para oferecer resposta à
acusação.
Havendo intimação do réu e da Defensoria Pública, o prazo começa a correr da intimação
que ocorrer por último.
- Réu: Termo inicial: recebimento da intimação.
- Defensoria Pública: Termo inicial: recebimento dos autos no serviço de protocolo do
órgão (assinatura aposta pelo servidor);
- Defesa apresentada por fax: o fax deverá ser enviado dentro do prazo para a
apresentação da defesa e os originais deverão ser entregues, necessariamente, em até cinco dias
após o término do prazo para a defesa. O prazo de cinco dias deverá ser contado continuamente,
sem interrupção, iniciando-se no dia seguinte após o término do prazo para a apresentação da
defesa, independentemente de esse dia recair em final de semana ou feriado (Lei 9.800/99);
- Integrantes do Núcleo de Prática Jurídica das Instituições de Ensino de Direito privadas:
prazo simples, contado da publicação no Diário da Justiça. Eles não possuem as mesmas
prerrogativas do Defensor Público previstas na Lei 1.060/50 relativamente ao direito de vista
pessoal dos autos (APR 20080111728989) (matéria controvertida e há previsão de mudança no novo
CPC). [MS21] Comentário: Ver art. 186, § 3º,
novo CPC = prazo em dobro)

b) a peça de defesa está assinada? Há procuração? A procuração está [u22] Comentário: Informações detalhadas
assinada? sobre procuração, mandato,
substabelecimento, vide roteiro para análise de
Antes da reforma do Código de Processo Penal, o primeiro ato processual a ser apelação cível (item 2. 1. “l”).
realizado depois da citação era o interrogatório do réu. Neste caso, ele chegava ao fórum
já com advogado constituído nos autos. Hoje, a partir da reforma do Código (Leis
11.689/08, 11.690/08, 11.719/08 e 11.900/09), o primeiro ato é a resposta à acusação
que é apresentada por escrito. Assim, como regra, a defesa escrita deveria vir
acompanhada da devida procuração. Mas na prática não é bem assim que acontece. Ao
ser citado, o réu recebe o mandado citatório onde consta expressamente que ele deverá
indicar, desde logo, ao oficial de justiça, se tem advogado constituído ou se deseja ser
patrocinado pela defensoria púbica. Quando o réu declina ao oficial de justiça que tem
advogado constituído, mas não tem o respectivo número da OAB, isso dificulta a
intimação do causídico. Nesse caso, o juiz aguarda a apresentação da resposta do réu
que, geralmente, vem acompanhada da devida procuração. Se o advogado assina a
peça, mas não apresenta a procuração, é um sinal de que foi constituído pela família do
réu, que por encontrar-se preso não teve oportunidade de assinar a procuração. De
qualquer forma, estando litigando sob o patrocínio de advogado particular, o réu deverá
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apresentar a procuração devidamente assinada, ainda que seja em momento posterior à


apresentação de resposta à acusação. Se o réu informa ao oficial de justiça que não tem
advogado constituído, então o juiz encaminha os autos à CEAJUR (Defensoria Pública),
que patrocinará a defesa do réu.
Obs.: o réu patrocinado pela Defensoria Pública não precisa apresentar procuração
nos autos.

c) qual o ponto central da defesa? Há preliminares arguidas? Há oposição de


exceções?
Na resposta, o acusado “poderá arguir preliminares e alegar tudo o que
interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas
pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando
necessário” (art. 396-A). O acusado poderá então alegar nulidades, podendo também
opor exceções, que serão processadas em apartado (suspeição, incompetência do juízo,
litispendência, ilegitimidade de parte, coisa julgada) (arts. 95 a 112 CPP) e suspenderão,
em regra, o andamento da ação penal.

d) Revelia?

Caso não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não


constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos
autos por dez dias (§ 2º, art. 396 CPP).
O réu não encontrado é julgado à revelia.

4.4. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA: é caso de absolvição sumária?


Segundo dispõe o art. 397 do CPP, após a apresentação de resposta à
acusação, o juiz poderá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I) a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato (estado de
necessidade; legítima defesa; exercício regular de direito; estrito cumprimento do dever
legal) (art. 23, CP).
II) a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade (erro de proibição; coação moral irresistível e obediência hierárquica (art.
21, CP); embriaguês acidental; e a excludente supralegal: inexigibilidade de conduta
diversa).
III) que o fato narrado evidentemente não constitui crime (atipicidade);
IV) extinta a punibilidade do agente = morte; anistia, graça, indulto; prescrição,
decadência, perempção; renúncia ou perdão (crimes de ação privada); retroatividade da
lei que não mais considerar o fato como criminoso (art. 107, CP).
O recurso cabível contra a sentença que absolve sumariamente o réu é a
apelação (art. 416, CPP). Esse é o consenso geral a respeito do cabimento da apelação
contra a sentença que absolve sumariamente o acusado, pelo menos no que diz respeito
aos três primeiros incisos do art. 397 do CPP. Isso porque, nesses casos, entendem os
adeptos dessa corrente que se trata, na verdade, de uma sentença definitiva
(absolutória), na qual o juiz decide o mérito da causa (art. 593, I, CPP). Já contra a
decisão que absolve o acusado com base no inciso IV, extinguindo a punibilidade do
agente, ainda não há consenso a respeito do recurso cabível. Há os que entendem ser
cabível o recurso em sentido estrito, pois a decisão extintiva de punibilidade nada teria a
ver com absolvição, sendo terminativa a sentença, a qual não resolve o meritum causae,
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mas apenas reconhece a inexistência de pretensão punitiva. Além disso, vigoraria o art.
581, inciso VIII, segundo o qual “caberá recuso em sentido estrito da sentença que
decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade”. Outros entendem
que cabível é o recurso de apelação criminal, pois a extinção da punibilidade é elencada
no art. 397, IV do CPP como uma das espécies de absolvição sumária, restando
revogado implicitamente o inciso VIII do art. 581 do CPP. (20080110978060APR, Relator SILVÂNIO
BARBOSA DOS SANTOS, 2ª Turma Criminal, julgado em 29/10/2009, DJ 17/11/2009 p. 102).

4.5. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO:


A audiência de instrução deverá ser designada no prazo de 60 dias (procedimento
ordinário) e de 30 dias (procedimento sumário) a contar do recebimento da denúncia (ou
da queixa).
a) Realização de atos instrutórios:
Na audiência de instrução e julgamento, concentram-se todos os atos instrutórios
(procede-se à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas
arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, aos esclarecimentos dos peritos, às
acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, por último, o
acusado). (art. 400, CPP).
Obs.: É controvertido no TJDFT o entendimento acerca da caracterização ou não de
nulidade absoluta na inversão da ordem de inquirição das testemunhas após o advento
da Lei 11.690/2008. Há três entendimentos distintos = a) enseja nulidade por violação da
lei: é evidente o prejuízo (precedentes do STJ); b) só enseja nulidade se houver prova do
prejuízo causado à parte; c) só ensejará a nulidade se tempestiva a alegação e
demonstrado o prejuízo.
Obs.: A inquirição das testemunhas é feita diretamente pelas partes e não mais por
intermédio do juiz que, se quiser, poderá complementar o ato instrutório. Poderão ser
inquiridas até oito testemunhas arroladas pela acusação e oito arroladas pela defesa (art.
401).
O interrogatório do réu, todavia, é feito primeiramente pelo juiz, sendo permitida, ao
final, a intervenção das partes, iniciando-se pelo Ministério Público.
b) O acervo probatório:
Obs.: Faça uma análise consubstanciada de todo o acervo probatório: prova
documental; prova testemunhal; prova pericial; depoimento pessoal, pois sabe-se que,
no direito penal, as questões são substancialmente de fato e são as provas produzidas
no curso do processo que solucionam o litígio.
O ônus da prova existe para ambas as partes. “A prova da alegação incumbirá a
quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício (que poderá ordenar diligências no
curso da instrução ou antes de proferir sentença” (ART. 156, I e II, CPP).
“São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas,
assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais” (Art. 157).

c) Diligências (art. 402):


Após a produção de provas, as partes poderão requerer diligências, se entender
necessárias em razão das circunstâncias ou fatos apurados na instrução. Não sendo
requeridas as diligências, ou sendo elas indeferidas, serão oferecidas as alegações
finais.

d) Alegações finais (art. 403):


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Mara Saad 28
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Também é na audiência de instrução e julgamento que se procedem aos atos


postulatórios (alegações finais) que, nos termos da lei, deverão ser feitas oralmente (na
prática, é mais usual a apresentação por escrito). Trata-se de ato importante para a
defesa, pois nelas se expõem os fundamentos de fato e de direito e se faz o confronto
entre as provas produzidas pela defesa e pela acusação. A falta de oportunidade para o
oferecimento das alegações finais é passível de nulidade (HC 94168, Rel. Min. Carlos
Britto, DJe 177, pub. 10/09/2008). Acusação e defesa tem, respectivamente, vinte
minutos para a realização do ato, prorrogáveis por mais dez. Se houver mais de um
acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual.
É nessa fase que devem ser arguidas as nulidades relativas à instrução criminal
(art. 571, I, II e VI, CPP).
Após as alegações finais, se nada mais o exigir, o juiz profere a sentença na
própria audiência.

4.6. MEMORIAIS (§ 3º art. 403):


O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados,
conceder às partes o prazo de cinco dias sucessivamente para a apresentação de
memoriais.
Neste caso, terá o prazo de dez dias para proferir sentença.

4.7. PROCEDIMENTO (ESPECIAL) DE PROCESSOS DE COMPETÊNCIA DO


TRIBUNAL DO JÚRI:
O procedimento do júri possui duas fases distintas: a primeira diz respeito à
formação da culpa (ou sumário de culpa, também denominada de instrução preliminar),
feita pelo juiz singular (ou sumariante), por meio da qual será feito um juízo prévio acerca
da natureza dos fatos em apuração, a fim de definir a competência do Tribunal do Júri
para o julgamento da causa (aí incluídos os atos de pronúncia, impronúncia, absolvição
sumária ou desclassificação); a segunda, destinada ao julgamento do réu em plenário
pelos jurados.
1) Da instrução preliminar (art. 406, CPP):
O procedimento da instrução preliminar é bastante semelhante ao procedimento
comum do rito ordinário (art. 394, I, CPP), contendo algumas pequenas diferenças. Este
é o inter da fase de instrução preliminar: a) recebimento da denúncia (ou queixa), se não
for caso de rejeição liminar; b) citação do réu para apresentação de resposta escrita no
prazo de dez dias; d) apresentação da resposta (se não apresentada a resposta no prazo
legal, o juiz nomeará defensor); d) abertura de vista à acusação sobre eventuais
preliminares suscitadas pelo réu e juntada de documentos, em cinco dias; e) designação
de audiência para a produção de prova (testemunhal, pericial etc.), apresentação de
alegações finais e prolação da decisão (pronúncia, impronúncia, absolvição sumária ou
desclassificação, incluindo a mutatio libelli), no prazo de dez dias (art. 410, CPP); f) não
sendo possível a prolação da sentença em audiência, o juiz deverá proferi-la em dez dias
(at. 411, § 9º, CPP).
a) Absolvição sumária (art. 415, CPP): o juiz poderá absolver sumariamente o
acusado quando: a) não restar provada a existência do fato; b) não restar provado ser ele
o autor ou partícipe do fato; c) o fato não constituir infração penal; d) estiver presente
causa de isenção de pena (art. 21, CP) ou de exclusão de crime (art. 23, CP), exceto os
casos de inimputabilidade para os quais seja cabível a aplicação de medida de

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segurança. Contra a decisão que absolve sumariamente o réu cabe apelação (art. 416,
CPP).
b) Desclassificação (art. 419, CPP): o juiz poderá discordar da acusação e
reconhecer a existência de crime diverso dos crimes dolosos contra a vida, caso em que
deverá remeter os autos ao juiz competente. O juiz singular, ao receber o processo
deverá renovar os atos de instrução, em obediência ao princípio da identidade física do
juiz. Caso discorde do entendimento do juiz sumariante, poderá suscitar conflito negativo
de competência. Se a desclassificação for feita no sentido de reconhecer a existência de
outro crime doloso contra a vida (infanticídio ao invés de homicídio, por exemplo), a
competência permanecerá no Tribunal do Júri, devendo ser aproveitados todos os atos
instrutórios já realizados em plenário, desde que acompanhados pelo juiz que irá
sentenciar.
c) Impronúncia (art. 414, CPP): o juiz impronunciará o réu quando verificar a
inexistência do fato alegado na denúncia ou a inexistência de elementos indicativos da
autoria do aludido fato. Contra a decisão que impronuncia o réu cabe apelação (art. 416,
CPP).
d) Pronúncia (art. 413, CPP): ao contrário da impronúncia, o juiz pronunciará o réu
quando verificar a existência do fato criminoso alegado na denúncia ou a existência de
elementos indicativos da autoria. Contra a decisão que pronuncia o réu cabe recurso em
sentido estrito (art. 581, IV, CPP). Obs.: Mesmo após a pronúncia, é possível a
modificação da imputação, se houver fato superveniente que altere a classificação do
crime (tentativa para consumação, por exemplo), desde que aditada a denúncia).

2) Da fase de julgamento:
Não interessa para este roteiro a descrição minuciosa dos procedimentos da
fase de julgamento no Tribunal do Júri.
O que aqui interessa é a sentença prolatada pelo juiz (se de absolvição ou
condenação e se está em consonância com a lei e com a decisão dos jurados e ainda se
é justa com relação à aplicação da pena ou da medida de segurança).
Obs.: Se da decisão dos jurados resultar a desclassificação do crime, mesmo que
seja para outro que não se inclua na competência do Tribunal do Júri, caberá a Juiz
Presidente proferir a sentença (art. 492, § 1º, CPP) o mesmo ocorrendo em relação aos
crimes conexos, que não sejam da competência do júri (art. 492, § 2º, CPP).

4.8. PROCEDIMENTO (ESPECIAL) DE OUTROS CRIMES:


Vide artigos do CPP e leis extravagantes que tratam dos crimes em espécie.

4.9. SENTENÇA (art. 381 e ss. CPP)


Sentença é o ato pelo qual o juiz julga em caráter definitivo o mérito da acusação
penal, levando à absolvição ou condenação do réu. A sentença resolve o mérito em todas
as suas etapas: materialidade do delito; autoria do delito; valoração da conduta.
As sentenças distinguem-se das decisões interlocutórias mistas, pois aquelas
decidem definitivamente a pretensão punitiva do Estado, enquanto estas, embora
também coloquem fim ao processo ou a uma fase dele, não avaliam o mérito da
pretensão penal (ex.: rejeição da denúncia, pronúncia etc.).

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Contra as decisões interlocutórias mistas cabe o recurso em sentido estrito; contra


as sentenças, as decisões com força de definitivas e a absolvição sumária cabe
apelação.
- a sentença está assinada?

- as partes foram intimadas da sentença?


Tratando-se de réu condenado, a intimação deverá ser dirigida a ele, pessoalmente
e também a seu advogado, independentemente de estar preso ou em liberdade.

- a sentença foi proferida em audiência? As partes foram intimadas no ato?


Em regra, os prazos correrão: a) da data da intimação; b) da data da audiência em
que for proferida a decisão, quando o réu estiver presente; c) do dia em que a parte
manifestar nos autos a ciência inequívoca da sentença.
As sentenças proferidas em processos da competência do Tribunal do Júri, o réu é
intimado no instante em que a sentença é lida pelo Juiz-Presidente, salvo hipótese de
revelia.

TIPOS DE SENTENÇA:

a) a sentença é absolutória ? (Art. 386, CPP)


A sentença absolutória é a sentença que julga improcedente a acusação,
absolvendo o acusado da imputação que lhe é feita na denúncia.
Segundo o art. 386 do CPP, O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na
parte dispositiva, desde que reconheça: I - estar provada a inexistência do fato; II -
não haver prova da existência do fato; III - não constituir o fato infração penal; IV – estar
provado que o réu não concorreu para a infração penal; V – não existir prova de ter o réu
concorrido para a infração penal; VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou
isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1o do art. 28, todos do Código Penal),
ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; VII – não existir prova
suficiente para a condenação.
São efeitos da sentença absolutória (parágrafo único do art. 386, CPP): I – pôr o
réu em liberdade (se for o caso); II – fazer cessar as medidas cautelares e
provisoriamente aplicadas; III – aplicar medida de segurança, se cabível.
A sentença absolutória será recebida somente no efeito devolutivo.

b) a sentença é condenatória? (Art. 387, CPP)


A sentença condenatória é a sentença que julga procedente a acusação,
condenando o réu à pena correspondente ao crime por ele praticado.
O réu será condenado quando restar provada a autoria e materialidade do crime.
Ao proferir a sentença condenatória o juiz deverá mencionar as circunstâncias
agravantes ou atenuantes definidas no Código Penal, e cuja existência reconhecer, além
de outras circunstâncias apuradas (causas de aumento e diminuição da pena) e tudo o
mais que deva ser levado em conta na aplicação da pena de acordo com o disposto nos
arts. 59 a 65 do CP, aplicando a pena de acordo com essas conclusões (art. 387, I, II e
III, CPP) e fixando o regime prisional (art. 33, CP). Deverá ainda fixar valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo
ofendido (art. 387, IV, CPP).

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Obs.: “Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória,
ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer
agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada”. (Art. 385, CPP).
A sentença condenatória será recebida nos seus efeitos devolutivo e suspensivo,
não devendo ser executada até que haja o trânsito em julgado, sob pena de ofensa ao
princípio da presunção de inocência.

c) a sentença é de impronúncia? (art. 414, CPP) (procedimento do júri):


Sentença de impronúncia é a sentença proferida pelo juiz presidente do tribunal
do júri quando este não se convencer da materialidade do fato ou da existência de
indícios suficientes de autoria ou de participação do acusado no delito.

d) a sentença é de absolvição sumária? (art. 415, CPP = procedimento do júri)


(art. 397, CPP = procedimento comum):
A sentença de absolvição sumária será proferida fundamentadamente pelo juiz
presidente do tribunal do júri quando: I – provada a inexistência do fato; II – provado não
ser ele autor ou partícipe do fato; III – o fato não constituir infração penal; IV –
demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.
Obs.: Além da sentença de absolvição sumária prevista no procedimento do júri, há
a absolvição sumária do procedimento comum (art. 397, CPP) que prevê, que, após a
resposta, “o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: I – a
existência manifesta de causa excludente de ilicitude do fato; II – a existência manifesta
de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III – que o fato
narrado evidentemente não constitui crime, ou IV - extinta a punibilidade do agente.”
(Vide item 2.4. deste roteiro).

e) é caso de recurso de ofício (reexame necessário)? (Art. 574, CPP):


Os recursos serão interpostos de ofício pelo juiz nos seguintes casos: I)
quando a sentença conceder habeas corpus; II) quando a sentença absolver desde logo
o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente o réu
de pena, nos termos do art. 411; III – da decisão que conceder a reabilitação (art. 746,
CPP); IV – da decisão absolutória e de arquivamento de inquérito, em processos de
crimes previstos na Lei nº 1.521/51 (art. 7º) (crimes contra a economia popular).
O recurso ex officio (ou reexame necessário) não é obstáculo para a interposição
de recurso voluntário.
O recurso de ofício na verdade não se trata de um recurso propriamente dito,
mas de condição de eficácia da sentença que somente produzirá efeitos depois de
confirmada pelo tribunal.

- dispositivo da sentença: está coerente com os fundamentos?


O dispositivo da sentença tem que estar em consonância com os fundamentos,
sob pena de legitimar a parte a interpor embargos de declaração sob o fundamento de
existência de contradição ou de pedir a decretação de nulidade.

4.10. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (art. 382, CPP).

a) Houve oposição de embargos de declaração contra a sentença?

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b) Quem embargou? Ministério Público ( ) Querelante ( ) Réu ( )


Procurador do réu ( ) Defensor do réu ( ) Querelado ( )

- Os embargos de declaração são opostos no prazo de dois dias contados da


publicação da decisão embargada, quando houver na sentença obscuridade,
ambiguidade, contradição ou omissão.
- A oposição tempestiva dos embargos interrompe o prazo para a interposição
de outros recursos (aplicação do art. 1.026 do novo CPC, por analogia)
(20050550045969APR, Relator GETULIO PINHEIRO, 2ª Turma Criminal, julgado em 09/11/2006,
DJ 31/01/2007 p. 95). Neste caso, o prazo para a interposição do recurso é contado por
inteiro a partir da intimação da sentença que julgou os embargos (recomeça a contar do
zero). Vejamos um exemplo:
Ex: A parte foi intimada da sentença no dia 02/04 (segunda-feira). A contagem do prazo
para a oposição dos embargos inicia-se no dia seguinte, ou seja, 03/04 (terça-feira). Assim
considerado, os embargos deverão ser opostos até o dia 04/04 (quarta-feira).A parte foi intimada
da decisão do juiz julgando os embargos no dia 02/05 (quarta-feira). O prazo de cinco dias para a
interposição da apelação inicia-se, portanto, no dia seguinte à intimação da decisão que julgou os
embargos, ou seja dia 03/05 (quinta-feira), contando-se por inteiro a partir daí e finalizando no dia
08/05 (segunda-feira).
Obs.: Os embargos de declaração opostos contra a sentença proferida em ação que
tramita nos juizados especiais (Lei 9.099/95), conhecidos ou não, suspendem o prazo
para a interposição de outros recursos.
Mais detalhes sobre embargos de declaração, vide roteiro para embargos de
declaração cíveis e criminais.

4.11. O(s) RECURSO(s):

Apelação é o remédio tendente à obtenção da anulação/reforma da sentença.

- Quem interpôs a apelação?

Ministério Público ( ) Réu ( ) Procurador do réu ( ) Defensor do réu ( )


Querelante ( ) Querelado ( )

4.11.1. Juízo de admissibilidade da apelação: exame da existência ou não


dos requisitos recursais.
O juízo de admissibilidade está para o recurso, assim como o exame das
condições da ação e dos pressupostos processuais está para a ação.
Não se deve confundir o juízo de admissibilidade do recurso com o juízo de
mérito do recurso. O juízo de admissibilidade diz respeito ao conhecimento ou não
conhecimento do recurso, conforme estejam ou não presentes os requisitos de
admissibilidade recursal. O juízo de mérito do recurso diz respeito ao seu provimento ou
desprovimento, conforme seja, respectivamente, procedente ou improcedente a
impugnação.
Juízo de admissibilidade:
- positivo (se presentes os requisitos de admissibilidade) -> recurso
conhecido
- negativo (se ausentes os requisitos de admissibilidade) -> recurso não
conhecido

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Juízo de mérito:
- não provimento (se improcedente a impugnação) -> nega-se provimento ->
confirma-se a sentença
- provimento (se procedente a impugnação) -> dá-se provimento ao recurso
-> reforma-se (error in judicando) ou anula-se (error in procedendo) a sentença
- provimento parcial (se procedente em parte a impugnação) -> dá-se parcial
provimento ao recurso -> reforma-se em parte a sentença
O juízo de admissibilidade da apelação é feito em dois momentos distintos.
Um no primeiro grau de jurisdição e outro no tribunal. Muitas vezes, o juízo de
admissibilidade feito pelo juiz a quo (negativo ou positivo) pode vir a não ser confirmado
no tribunal (o juízo de admissibilidade feito na instância a quo não vincula o órgão ad
quem, pois é do tribunal a competência para o julgamento do recurso). No primeiro grau
de jurisdição, o juiz ‘admite’ ou ‘inadmite’ o recurso, conforme seja, respectivamente,
positivo ou negativo o juízo de admissibilidade. No segundo grau, diferentemente, o
relator, monocraticamente, dá ou nega seguimento ao recurso e, se for o caso de se
levar o feito a julgamento, o colegiado conhece ou não conhece do recurso, caso seja
positivo ou negativo o juízo de admissibilidade.
Obs.: Da decisão que “denegar” a apelação cabe recurso em sentido estrito
(art. 581, XV do, CPP)

Passemos à análise dos pressupostos de admissibilidade da apelação.


São requisitos objetivos: a) cabimento; b) tempestividade; c) inexistência
de fatos impeditivos; d) regularidade formal; e) motivação; f) preparo (no caso das ações
penais privadas).
São requisitos subjetivos: a) legitimidade; b) interesse e sucumbência.

a) tempestividade: o recurso está tempestivo?


Prazo (art. 593, CPP): cinco dias a contar da intimação da sentença.
Os cinco dias previstos no art. 593 são para apresentação do termo de
apelação. Após assinado o termo de apelação, o apelante terá o prazo de oito dias para
oferecer as razões do recurso (ou de três, em caso de contravenção) (art. 600, CPP).
Sobre a contagem do prazo, vide regra prevista no art. 798 do CPP.
- As partes foram intimadas da sentença na audiência de instrução e
julgamento? Quando ela foi realizada? ____/____/____
Obs.: O Réu patrocinado pela Defensoria Pública: prazo em dobro para recorrer.
Havendo intimação do réu e da Defensoria Pública, o prazo começa a correr da intimação
que ocorrer por último.
- Réu: Termo inicial: recebimento da intimação.
- Defensoria Pública: Termo inicial: recebimento dos autos no serviço de protocolo do órgão
(assinatura de recebimento aposta pelo servidor do órgão);
- MP: Termo inicial: entrega dos autos no serviço de protocolo da instituição (APR
20000110391513) ;

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- Recurso interposto por fax: o fax deverá ser enviado dentro do prazo do recurso e os
originais deverão ser entregues, necessariamente, em até cinco dias após o término do prazo
recursal. O prazo deverá ser contado continuamente, sem interrupção, iniciando-se no dia
seguinte após o término do prazo para o recurso, independentemente de esse dia recair em final
de semana ou feriado (Lei 9.800/99).
- Integrantes do Núcleo de Prática Jurídica das Instituições de Ensino de Direito privadas:
prazo simples para recorrer, contado da publicação no Diário da Justiça. Eles não possuem as
mesmas prerrogativas do Defensor Público previstas na Lei 1.060/50 relativamente ao direito de
vista pessoal dos autos (APR 20080111728989) (matéria controvertida e há previsão de mudança no
CPC). [MS23] Comentário: Ver art. 186, § 3º,
novo CPC = prazo em dobro
- Recesso forense: na contagem do prazo recursal, com início antes do recesso forense,
devem ser incluídos os dias não úteis que antecedem imediatamente a data da suspensão dos
trabalhos forenses. (precedentes do STJ) (ac. 415203).
Obs.: O entendimento pacífico do TJDFT é de que o atraso na entrega das razões recursais
constitui mera irregularidade e não impede o conhecimento do recurso (APR 20090150010744).

b) cabimento (adequação): o recurso é cabível?


- Caberá apelação (Art. 593, CPP): I – das sentenças definitivas de
condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; II – das decisões definitivas, ou
com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo
anterior; III – das decisões do Tribunal do Júri, quando: a) ocorrer nulidade posterior à
pronúncia; b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos
jurados; c) houver erro ou injustiça no tocante á aplicação da pena ou da medida de
segurança; d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.
- Caberá ainda apelação (Art. 416, CPP): contra a sentença de impronúncia
ou de absolvição sumária (procedimento do júri).
Obs.: A respeito do cabimento da apelação contra a sentença que absolve
sumariamente o réu (no procedimento comum), vide o item 2.4. deste roteiro.
Obs.: Há decisões com força de definitivas (apreciam o mérito de questões e
processos incidentes) contra as quais também são cabíveis a apelação. Trata-se das
hipóteses previstas no inciso II do art. 593, quais sejam: a) decisões que julgam o pedido
[MS24] Comentário: NO TJDFT, o pedido
de restituição de coisas apreendidas (arts. 118 e SS. CPP); b) decisões que julgam o de desistência é tratado de diferentes formas.
pedido de reabilitação (art. 743, CPP); c) o cancelamento de inscrição de hipoteca (art. Há magistrado que apenas homologam o
141, CPP); d) o levantamento de sequestro (art. 131, CPP) etc. pedido. Outros, homologam e não conhecem
do recurso.
c) inexistência de fatos impeditivos:
Ex.: Vistos etc.
A interposição do recurso voluntário sempre depende da vontade da parte (a Homologo os pedidos de desistência
parte recorre se quiser). Todavia, podem ocorrer casos em que a parte manifesta a manifestados às fls. 231 e 233, razão pela qual
não conheço de ambos os recursos em questão.
vontade de não recorrer. Se a parte manifesta sua vontade de não recorrer antes da Operada a preclusão, remetam-se os autos à
interposição do recurso, o caso é de renúncia . Se a parte manifesta sua vontade de não origem, com as devidas anotações pertinentes.
recorrer já depois da interposição do recurso, o caso é de desistência. Em ambos os Intimem-se.
casos, o efeito será o não conhecimento do recurso. Ex.: Homologo o pedido de desistência
Obs.: Segundo dispõe o art. 576 do CPP, “o Ministério Púbico não poderá formulado pelo Apelante, nos termos dos
artigos 501 do Código de Processo Civil e 66,
desistir de recurso que haja interposto”. inciso V, do Regimento Interno do TJDFT, para
que surta seus jurídicos e legais efeitos.
d) regularidade formal / Motivação: Precluídas as vias impugnativas, baixem os
autos à Vara de origem.
No processo penal, não se exige fórmula rígida para interposição de recurso. I.

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A apelação poderá ser interposta por meio de petição ou termo nos autos, não
sendo necessário que o recorrente apresente desde logo as razões de apelação,
podendo fazê-lo, inclusive, no próprio tribunal (art. 600 e § 4º, CPP).
As razões deverão ser apresentadas oito dias após o recebimento da
apelação, iniciando com o apelante e, depois, dele, o apelado. Em se tratando de
contravenção, o prazo para o oferecimento das razões é de três dias.
Findo o prazo para o oferecimento das razões do recurso, os autos serão
remetidos ao tribunal, com ou sem elas (art. 601, CPP).
Assim, entende-se que, no processo penal, o apelante não está obrigado a
apresentar as razões do seu recurso, ou seja, fundamentar o seu inconformismo com a
sentença. A inexistência de fundamentação não conduz necessariamente ao não
conhecimento do recurso. A dispensabilidade da fundamentação, todavia, diz respeito
somente ao recurso do réu, sendo exigidas as razões recursais do Ministério Público,
notadamente contra a sentença absolutória, em face do princípio da ampla defesa.
e) legitimidade para recorrer (art. 577, CPP):
Podem interpor a apelação: O Ministério Público (ou querelante), o próprio réu
(ou querelado), seu curador, defensor ou procurador (estes, inclusive em nome próprio) e
o assistente da acusação (este, limitado às matérias contidas no art. 584, § 1º = sentença
de impronúncia e de extinção de punibilidade - e no art. 598 = decisão proferida por juiz
singular e Tribunal do Júri).
Nas ações penais privadas, por se tratar de direito disponível, o Ministério
Público não tem legitimidade para recorrer em favor do querelante. A interposição ou não
do recurso vai depender exclusivamente da vontade do ofendido. No caso de sentença
condenatória, todavia, o Ministério Público tem legitimidade para recorrer na qualidade de
custos legis, seja para requerer a absolvição do querelado, seja para agravar a pena
imposta pelo juiz.

Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da


sentença não for interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou
qualquer das pessoas enumeradas no art. 31 (cônjuge, ascendente, descendente, irmão),
ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação, que não
terá, porém, efeito suspensivo. O prazo para interposição desse recurso será de quinze
dias e correrá do dia em que terminar o do Ministério Público (art. 598 e parágrafo único,
CPP).

f) interesse recursal (art. 577, parágrafo único do CPP):


Segundo o art. 577, parágrafo único do CPP, é inadmissível o recurso da
parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão.
Em regra, possui interesse recursal a parte sucumbente, ou seja, aquela
que tem necessidade em ver reformada a sentença proferida contrariamente a seus
interesses.
Assim, do ponto de vista da acusação, há interesse recursal nas seguintes
hipóteses: a) a condenação; b) aumento de pena; c) modificação da tipificação do fato; d)
modificação do regime prisional etc.
O Ministério Público tem interesse para apelar em favor do réu, das sentenças
condenatórias, na qualidade de custos legis (RTJ 83/949), seja para absolvição, seja para
diminuição da pena, seja para melhoria do regime prisional, enfim, para melhorar a sorte
do acusado no processo.

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Do ponto de vista da defesa, há interesse recursal nas seguintes hipóteses:


a) a absolvição; b) redução da pena; c) modificação da tipificação do fato; d) modificação
do regime prisional. Obs: Mesmo no caso de absolvição, o réu tem interesse em recorrer
para modificar a tipificação do fato ( = é mais vantajoso para o réu, sob o ponto de vista
patrimonial, ser absolvido em razão da inexistência do fato (art. 386, I, CPP) do que por
ausência de provas (art. 386, V, CPP). Também no caso de extinção da punibilidade, o
réu teria interesse em recorrer para ver examinado o mérito da ação penal e obter a
absolvição (só que no atual sistema processual, a extinção da punibilidade é causa de
absolvição sumária – art. 397, IV, CPP).
g) preparo: preparo é o pagamento das custas do recurso.
No processo penal, o preparo somente é exigível nas ações penais privadas e
deve ser recolhido desde que o querelante não esteja litigando sob o pálio da justiça
gratuita.
- houve pedido de justiça gratuita no recurso? (Lei 1.060/50 – Art. 12).
No processo penal, a análise do pedido de justiça gratuita é da competência
do Juiz da Execução Penal (vide acórdão nº 514543)

4.11.2 Razões do recurso:


a) a peça está assinada?
A ausência de assinatura das razões recursais é vício que pode ser
sanado por determinação do relator.
b) efeito devolutivo: “as apelações poderão ser interpostas quer em relação
a todo o julgado, quer em relação a parte dele” (art. 599, CPP).
- Qual a extensão do recurso: o recurso é total (abrange todo o conteúdo
impugnável da sentença recorrida?) ou o recurso é parcial (a parte sucumbente limita
voluntariamente o objeto do recurso?)
- O recurso é interposto contra sentença proferida por juiz singular (art. 593, I,
CPP)? Neste caso, o efeito devolutivo é mais abrangente, podendo ser impugnados
quaisquer pontos da sentença.
- O recurso é interposto contra sentença/decisão proferida pelo Tribunal do
Júri (art. 593, III, CPP)? Neste caso, o efeito devolutivo é menos abrangente, não sendo
permitidas quaisquer impugnações, ficando restrito ao fundamento legal invocado para a
interposição do recurso.
c) Há preliminares suscitadas?
Preliminares são aquelas questões prévias que, dependendo da solução
que se lhes deem (se acolhidas ou desacolhidas), permitem ou impedem a apreciação do
mérito do recurso.
Obs.: Segundo Barbosa Moreira (in Comentários ao Código de Processo
Civil, Vol. V, Forense, 14ª ed.), há três classes de preliminares: a) preliminares do
recurso; b) as preliminares da causa; c) as preliminares de mérito. A lição do
processualista civil aplica-se ao processo penal apenas no tocante aos dois primeiros
tipos de preliminares.
a) preliminares do recurso: são aquelas de cuja solução depende a
possibilidade de julgar o mérito da causa. Dizem respeito ao juízo de admissibilidade do
recurso (intempestividade, deserção, cabimento, falta de regularidade formal etc.). O
acolhimento desse tipo de preliminar deságua no não conhecimento do recurso. O

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Mara Saad 37
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desacolhimento conduz ao conhecimento do recurso e, de consequência, ao exame do


mérito recursal.
b) preliminares do mérito da causa: são as questões deduzidas no primeiro
grau como preliminares da causa. O acolhimento da preliminar conduz ao retorno dos
autos à vara de origem para sanar o vício, mas o desacolhimento conduz ao
desprovimento do recurso, porque a questão, no âmbito recursal, inscreve-se no plano do
meritum causae. Ex: ilegitimidade ad causam; falta de pressuposto processual;
litispendência; incompetência absoluta; cerceamento de defesa; nulidade por inversão na
ordem de inquirição de testemunhas; nulidade por falta de oportunidade para
apresentação de alegações finais etc.
d) Há prejudiciais suscitadas?
Prejudiciais são questões que, se acolhidas, implicarão a suspensão da análise do
mérito do recurso. O processo fica suspenso até solução final e definitiva da questão. No
processo penal as questões prejudiciais estão previstas no arts. 92 e ss. CPP, mas a
solução delas, como regra, não é da competência do juiz criminal e sim do juiz cível. Ex:
No caso de crime contra a propriedade intelectual, é necessário, primeiramente,
estabelecer no juízo cível de quem é a propriedade da coisa. Ex: No caso de crime de
bigamia, quando estiver em pauta a discussão sobre inexistência ou nulidade de
casamento anterior.
Obs.: É praxe nos tribunais tomar o incidente de insanidade mental como uma
prejudicial do recurso, caso em que o tribunal suspende o feito e remete à primeira
instância para a realização do exame de insanidade mental.
Obs.: Também são causas que prejudicam o julgamento do mérito o incidente de
uniformização de jurisprudência a arguição de inconstitucionalidade de lei.

f) Mérito:
O mérito diz respeito à questão de direito material discutida no processo. É o
bem da vida pretendido pelo recorrente.
Qual é o ponto central da controvérsia instalada no recurso? Quais são
os pontos controvertidos e os incontroversos na demanda?
Obs.: O apelante não está obrigado a apresentar as razões do seu recurso,
ou seja, fundamentar o seu inconformismo com a sentença.
Qual(is) o(s) pedido(s)? Quantos são os pedidos? (há pedido
sucessivo ou alternativo?)
g) Há nulidade sanável? O Tribunal não pode decretar nulidade em desfavor do
réu se não houver recurso da acusação.
h) Indisponibilidade: O Ministério Público não poderá desistir do recurso que
houver interposto (art. 576, CPP).
i) juntada de documentos: salvo os casos expressos em lei, as partes poderão
apresentar documentos em qualquer fase do processo (art. 231, CPP).

CAPÍTULO II

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FICHA ROTEIRO PARA ANÁLISE DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


CÍVEIS E CRIMINAIS

1. CONCEITO:
Embargos de declaração é o recurso destinado a eliminar obscuridade, omissão
ou contradição existente no julgado. É dirigido ao juiz, ao relator do processo ou ao
tribunal que prolatou a decisão embargada.
Segundo o processualista Barbosa Moreira (in “Comentários ao Código de
Processo Civil”, Vol. V, 1ª Ed., p. 233), qualquer decisão judicial comporta embargos de
declaração (decisões interlocutórias, sentenças, decisões monocráticas do relator,
acórdãos e até mesmo os despachos).
Obs.: Lembre-se que, nos termos da lei processual, os despachos são irrecorríveis.

2. PREVISÃO LEGAL:
- Embargos de declaração cíveis (arts. 1.022 e ss. do novo CPC).
- Embargos de declaração criminais (arts. 619 e ss. CPP).

3. OPOSIÇÃO ou INTERPOSIÇÃO:
Com relação aos embargos de declaração, o termo usualmente empregado para
designar o ato de embargar é “oposição” (opor embargos). Muitos operadores do direito
empregam o termo “interposição”, por se tratar de uma espécie de recurso.
No novo Código de Processo Civil, o art. 1.023 assim dispõe: “Os embargos serão
opostos no prazo de 5 (cinco) dias...”
No Código de Processo Penal, o art. 619 assim dispõe: “Aos acórdãos proferidos
pelos Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas poderão ser opostos embargos de
declaração...”

4. PARTES:
Nos embargos de declaração, as partes litigantes são denominadas de
embargante (aquele que opõe os embargos) e embargado. Aqui, abre-se um parêntese
para dizer que o embargado, na verdade, é a decisão, sentença ou acórdão e não a parte
adversária do embargante. Contudo, no Tribunal, é praxe nomear a parte contrária de
“embargado”.
Ex: João da Silva opõe embargos de declaração em face do acórdão de fls. 25,
alegando...
Obs.: No momento oportuno, será estudado quem são as pessoas que têm
interesse/legitimidade para opor embargos.

5. INICIATIVA:
Ao receber os embargos para análise, o julgador deverá verificar se o caso enseja
decisão monocrática (manifesta inadmissibilidade, erro material etc.).

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Mara Saad 39
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- Erro material: O erro material pode ser corrigido de ofício pelo relator por meio
de decisão monocrática.
- Embargos de decisão monocrática: Os embargos de declaração opostos contra
decisão monocrática devem ser julgados monocraticamente pelo relator, não justificando
ir a julgamento pelo colegiado. No TJDFT há acórdão inadmitindo embargos de
declaração contra decisão monocrática de relator que nega seguimento a apelação
(acórdão 437037).

6- CONCEITOS:

6.1. Omissão: ausência de pronunciamento sobre determinado pedido ou sobre


determinada matéria arguida (matéria relevante). O acórdão não diz o que era
indispensável dizer. Ex: deixou-se de pronunciar sobre um pedido; deixou de fixar os
ônus da sucumbência; decisão que destoa do corpo do voto (a decisão dá provimento,
enquanto a fundamentação é no sentido de negar provimento) etc.

6.2. Contradição: colidência entre conceitos e afirmações; choque entre as razões de


decidir e a decisão tomada ao final. Ex: o voto fundamenta em um sentido e julga em
sentido contrário (a decisão que destoa do corpo do voto = a decisão dá provimento,
enquanto a fundamentação é no sentido de negar provimento) etc. Ex: Julga-se
procedente o pedido do autor e o condena nas verbas da sucumbência; fundamenta o
julgado na inexistência de prova mas julga procedente a acusação etc.

Obs.:
- contradição externa não enseja embargos de declaração (ex: contradição entre
o entendimento do relator e a jurisprudência.)
- contradição entre ementa e acórdão: prevalece o acórdão.
- contradição entre os motivos e a conclusão do acórdão (decisão): prevalece a
decisão.

6.3. Obscuridade: quando há falta de clareza e precisão de linguagem.

6.4. Ambiguidade (CPP): a decisão se presta a mais de um sentido.

6.5. Erro material: erro de digitação; supressão de linhas; nome das partes;
expressão numérica; troca de palavras etc.

7. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE:
7.1. Tempestividade:
- Processo Civil: (art. 1.023 do novo CPC): 5 dias (contados da publicação
da decisão/acórdão embargada(o));
- Processo Penal: (art. 619, CPP): 2 dias contados da publicação da
decisão/acórdão embargada(o)).
Contagem do prazo:
- data da disponibilização do acórdão: ___/___/___ Dia da semana: _____
- data da publicação do acórdão: ___/___/___ Dia da semana: ______
- inicio da contagem do prazo: ___/___/___ Dia da semana: _____
- término do prazo: ___/___/___ Dia da semana: ___/___/___
- data da interposição dos embargos: ____/____/____
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7.2. Cabimento/adequação: “cabem embargos”

- Processo Civil (art. 1.022 do novo CPC): hipóteses em que houver, na


sentença ou no acórdão (ou em decisão monocrática), omissão, obscuridade,
contradição; o embargante deve indicar o(s) vício(s) que entende presente(s) na decisão
(art. 1.023 do novo CPC), sob pena de não conhecimento do recurso.

- Processo Criminal (art. 619, CPP): hipóteses em que houver, na sentença


ou no acórdão (ou em decisão monocrática), ambiguidade, obscuridade, contradição e
omissão. O embargante deverá apontar onde residem tais vícios, sob pena de não
conhecimento do recurso.

- Obs.: O erro material também enseja oposição de embargos declaratórios.


Pode ser corrigido de ofício pelo magistrado, por meio de decisão monocrática, sem
necessidade de arguição da parte interessada.

- Obs.: A inexistência dos vícios dos arts. 1.023 e ss. CPC / 619,CPP enseja a
rejeição dos embargos de declaração e não o seu não conhecimento. Todavia, se o
embargante não apontar a existência deles, o caso é de não conhecimento do recurso.

7.3. Legitimidade:
Tem legitimidade para opor embargos de declaração (no Tribunal):
Apelante ( ) Apelado ( ) MP ( ) 3º interessado ( )

7.4. Interesse recursal:


Trata-se de recurso que não exige a sucumbência. Pode ser oposto pelo
vencido ou pelo vencedor.

7.5. Regularidade formal:


Não há regras rígidas sobre a forma de interposição dos embargos de
declaração. Como regra, é interposto por simples petição nos mesmos autos em que se
encontra a decisão embargada. A única exigência legal é que o embargante deve indicar
o(s) vício(s) que entende presente(s) na decisão (art. 1.023 do novo CPC) (art. 619,
CPP), sob pena de não conhecimento do recurso. Também não basta apontar a
existência do vício, sendo ônus do embargante indicar onde reside no acórdão o defeito
apontado.
Obs: Os embargos de declaração somente não serão conhecidos quando
forem intempestivos ou quando o embargante não apontar defeito previsto no art. 1.022
do novo CPC ou 619 do CPP.

8. EFEITO INTERRUPTIVO:
- Os embargos de declaração são opostos no prazo de cinco dias (art. 1.023 do
novo CPC) ou no prazo de dois dias (art. 619, CPP). contados da publicação da decisão
embargada.
- No Processo Civil, a oposição tempestiva dos embargos interrompe o prazo para
a interposição de outros recursos (art. 1.026 do novo CPC).

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- No Processo Criminal, a oposição tempestiva dos embargos também interrompe o


prazo para a interposição de outros recursos (aplicação do art. 538, CPC, por analogia) [MS25] Comentário: Correspondente ao
(20050550045969APR, Relator GETULIO PINHEIRO, 2ª Turma Criminal, julgado em 09/11/2006, art. 1.026 do novo CPC.
DJ 31/01/2007 p. 95).
Neste caso, o prazo para a interposição do recurso é contado por inteiro a partir da
intimação da sentença que julgou os embargos (recomeça a contar do zero).
Vejamos um exemplo do processo civil (antigo CPC):
Ex: A sentença foi disponibilizada no DJ-e do dia 02/04 (segunda-feira). Foi
considerada publicada no dia 03/04 (terça-feira), iniciando-se a contagem do prazo no dia 04/04
(quarta-feira). Assim considerado, os embargos deverão ser opostos até o dia 09/04 (segunda-
feira), pois o termo final (de cinco dias) recai no domingo (dia 08/04). A decisão do juiz julgando
os embargos (tempestivos) foi disponibilizada no DJ-e do dia 1º/05 (terça-feira) e considerada
publicada em 02/05 (quarta-feira). O prazo de quinze dias para a interposição da apelação inicia-
se, portanto, no dia 03/05 (quinta-feira), contando-se por inteiro a partir da publicação da decisão
que julgou os embargos e finalizando no dia 17/05 (quinta-feira) (recomeça do zero). Se a
apelação for interposta depois desse prazo, estará intempestiva.
Obs.: Há doutrinadores (minoria) que defendem (questão controvertida) que os
embargos declaratórios, quando não conhecidos por intempestividade, apenas
suspendem o prazo para a interposição de outros recursos (mas não suspendem o prazo
para a parte contrária interpor embargos de declaração). Nesse caso, computam-se os
dias transcorridos anteriormente à oposição dos embargos e mais os dias que sobejaram
a partir da publicação da decisão (ou acórdão) que julgar os embargos intempestivos.
Vejamos um exemplo:
Ex.: A sentença foi disponibilizada no DJ-e do dia 02/04 (segunda-feira). Foi considerada
publicada no dia 03/04 (terça-feira), iniciando-se a contagem do prazo no dia 04/04 (quarta-feira).
O embargante opôs os embargos no dia 06/04 (sexta-feira), ou seja, no segundo dia da fluência
do prazo recursal, suspendendo, nesse dia, o prazo para a interposição da apelação. Até aí já
havia transcorrido dois dias do prazo recursal para a interposição da apelação, que é de quinze
dias. A decisão que não conheceu dos embargos foi publicada em 02/05 (quarta-feira). Assim, a
partir de 03/05 (quinta-feira) o prazo reiniciou-se, voltando a correr pelo tempo que sobejou, ou
seja, por treze dias, já que devem ser computados os dois dias já transcorridos anteriormente (2 +
13 = 15). O prazo final para a interposição da apelação expirou-se, portanto, em 15/05 (terça-
feira). Se a apelação for interposta depois desse prazo, será considerada intempestiva.
No processo penal, a contagem é feita da mesma forma. O que muda é o prazo (que
são de dois dias) e o termo inicial da contagem do prazo que é da intimação da parte e
não da publicação da decisão. Vejamos os seguintes exemplos:
a) Quando os embargos são conhecidos, interrompendo o prazo para a apelação:
Ex: A parte foi intimada da sentença no dia 02/04 (segunda-feira). A contagem do prazo
para a oposição dos embargos inicia-se no dia seguinte, ou seja, 03/04 (terça-feira). Assim
considerado, os embargos deverão ser opostos até o dia 04/04 (quarta-feira).A parte foi intimada
da decisão do juiz julgando os embargos no dia 02/05 (quarta-feira). O prazo de cinco dias para a
interposição da apelação inicia-se, portanto, no dia seguinte à intimação da decisão que julgou os
embargos, ou seja dia 03/05 (quinta-feira), contando-se por inteiro a partir daí e finalizando no dia
08/05 (segunda-feira).
b) Quando os embargos não são conhecidos por intempestividade, não interrompendo (mas
suspendendo) o prazo para a apelação (matéria controvertida):
Ex: A parte foi intimada da sentença no dia 03/04 (terça-feira), iniciando-se a contagem do
prazo no dia 04/04 (quarta-feira). Os embargos de declaração foram opostos no dia 06/04 (sexta-
feira), ou seja, no último dia do prazo recursal, suspendendo, nesse dia, o prazo para a
interposição da apelação. Até aí já havia transcorrido dois dias do prazo recursal para a
interposição da apelação, que é de cinco dias. A parte foi intimada da decisão que não conheceu
dos embargos no dia 02/05 (quarta-feira). No dia seguinte (03/05) reinicia-se a contagem do prazo,
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que volta a correr pelo tempo que sobejou, ou seja, por três dias, já que devem ser computados os
dois dias já transcorridos anteriormente (2 + 3 = 5). O prazo final para a interposição da apelação
expirou-se, portanto, em 06/05 que, por recair no domingo, fica prorrogado para o primeiro dia útil
seguinte, que é 07/05 (segunda-feira). Se a apelação for interposta depois desse prazo, será
considerada intempestiva.
Obs.: Os embargos de declaração opostos contra sentença proferida em ação
que tramita nos juizados especiais (Lei 9.099/95), conhecidos ou não, suspendem o
prazo para a interposição de outros recursos.

9. CARÁTER PROTELATÓRIO:
Quando o relator verificar que os embargos foram opostos apenas com o intuito de
procrastinar o feito, poderá aplicar multa de 1% sobre o valor da causa (parágrafo único
do art. 1.026 do novo CPC).
Em caso de reiteração será aplicada multa de 10% que, enquanto não purgada,
não poderão ser interpostos novos recursos no processo.
Obs.: No processo penal não há previsão da multa.

10. EFEITOS INFRINGENTES (modificativos):


Só é possível conferir efeito infringente aos embargos de declaração se, ao sanar
um dos vícios eventualmente existente no acórdão, resultar diversa a conclusão do
julgado.
Conferir efeitos infringentes aos embargos é alterar o resultado do julgamento da
apelação (ou da sentença).
Se os embargos forem opostos com o intuito de obter a modificação da decisão, o
relator deverá ouvir a parte contrária antes do julgamento do recurso (art. 267, § 1º,
RITJDFT.
A alteração do resultado é excepcionalidade no rito dos embargos declaratórios.

11. PREQUESTIONAMENTO:
O Prequestionamento é entendido pela doutrina como sendo a análise feita pelo
acórdão recorrido da questão jurídica (constitucional ou infraconstitucional) que se quer
levar à apreciação do STF ou do STJ.
É muito comum a utilização de embargos de declaração como meio de
prequestionamento de matéria constitucional ou infraconstitucional, a fim de provocar o
órgão colegiado a analisar as questões ventiladas e, assim, viabilizar a interposição de
recursos para o STF e para o STJ. Nesses casos, na maioria das vezes, o embargante
alega a existência de omissão no julgado e pede a aplicação da norma constitucional
e/ou infraconstitucional ao caso concreto. Todavia, é muito comum também que o
colegiado, mesmo existindo omissão no acórdão, não a reconheça como existente e
rejeite o recurso.
Para evitar a interposição de um recurso especial para analisar a violação ao art.
1.022 do CPC e outro para analisar a questão omitida, o novo CPC, no art. 1.025,
normatizou o prequestionamento e pôs uma pá de cal nas discussões a respeito do
prequestionamento, consagrando o prequestionamento ficto adotado pelo STF, que
considera prequestionada a matéria com a simples interposição de embargos
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Mara Saad 43
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declaratórios. Assim vem disposto o novo normativo legal: Consideram-se incluídos no


acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de pré-questionamento,
ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal
superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade.
A nova regra ainda tem uma serventia: coloca um ponto final nos embargos de
declaração opostos com o fim de prequestionamento.
Cabe, a título de esclarecimento, uma palavra final: Prequestionar não é citar
dispositivos da Constituição ou das leis; é sim julgar a matéria jurídica posta à apreciação
do julgador, aplicando a Constituição ou a lei ao caso concreto. Lembre da regra prevista
no art. 1.013, § 2º, do CPC: Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz
acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.

12. PREPARO:
Os embargos de declaração não estão sujeitos a preparo (art. 1.023 do novo
CPC);

13. REVISÃO:
Os embargos de declaração não estão sujeitos à revisão (§ 1º, art. 620, CPP).

14. DISPOSITIVO:

Obs.: Não há um consenso a respeito da correta redação do dispositivo dos


embargos de declaração. Uns usam “ACOLHO OS EMBARGOS” (no caso de sucesso do
recurso) ou “REJEITO OS EMBARGOS” (no caso de insucesso do recurso); outros usam
“DOU PROVIMENTO AOS EMBARGOS” ou “NEGO PROVIMENTO AOS EMBARGOS”.
O Regimento Interno do TJDFT fala em acolhimento. [MS26] Comentário: Art. 267 § 1º. Caso o
eventual acolhimento dos embargos implique
modificação da decisão embargada, o relator
determinará a intimação do embargado para,
querendo, manifestar-se no prazo de 5 (cinco)
15. PROCEDIMENTO: dias.

- Nos Tribunais, os embargos de declaração são levados em mesa para


julgamento na sessão seguinte à data da conclusão dos autos ao relator. Não dependem
de publicação de pauta) ( art. 1º do art. 1.024 do novo CPC) (§ 1º, art. 620, CPP) (art.
267, § 2º, RITJDFT).
- Se forem acolhidos embargos opostos contra acórdão que não conheceu do
recurso principal, este poderá ser desde logo julgado, caso esteja em condições de
pronta apreciação (art. 270, § 2º, RITJDFT).

16. DICAS PARA ELABORAÇÃO DO VOTO:


Ao elaborar o voto dos embargos de declaração é importante verificar se a
questão suscitada nos embargos ficou de fato resolvida no acórdão, pois, do contrário, o
embargante será impedido de interpor recursos para as instâncias superiores.
Verificando o relator a existência de omissão no acórdão, deverá supri-la,
manifestando-se sobre a questão omitida no julgado. Neste caso, os embargos serão
acolhidos para suprir a omissão.

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Mara Saad 44
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Se não houver a omissão apontada, os embargos serão rejeitados bastando o


relator dizer que o acórdão examinou toda a matéria que era importante para o deslinde
da controvérsia, e que se não abordou a questão suscitada nos embargos é porque era
totalmente irrelevante para a solução da demanda.
Se não houver a contradição apontada, ou se o embargante alega, por exemplo, a
existência de contradição entre o acórdão e a legislação vigente, ou entre o acórdão e
outros julgados em sentido contrário, explique no voto o que é contradição e porque ela
não ocorre no caso em concreto.
Se o embargante cita vários dispositivos de lei, pretendendo a manifestação do
relator sobre eles (o chamado prequestionamento numérico), não deve ser atendido o
seu pedido (isso convém que seja feito na apelação, e não nos embargos). Basta que se
diga no voto que o Relator não está obrigado a se manifestar sobre cada ato normativo
ou disposição legal invocado pelas partes no processo, bastando que julgue a questão
jurídica posta à sua apreciação.
Se ficar claro na petição do recurso que o embargante pretende a reforma da
decisão embargada, convém deixar claro que os embargos não servem para essa
finalidade, havendo, no ordenamento jurídico, medidas apropriadas para esse desiderato.
Se ficar evidente o intuito protelatório dos embargos, o relator deverá aplicar a
multa prevista no parágrafo único do art. 1.026 do novo CPC (valor não excedente a 2%
sobre o valor atualizado da causa).
Não é necessário e nem de boa técnica ficar respondendo aos questionamentos
feitos pelo embargante. Lembre-se de que os embargos declaratórios são apropriados
para fazer a integração do acórdão, suprimir omissão, eliminar contradição e obscuridade
porventura existente no julgado.
E lembre-se de que, se você verificar ser o caso de modificação do julgado proferido
na apelação, então deverá dar ao embargado a oportunidade de manifestar-se sobre os
embargos.

CAPÍTULO III

O RELATÓRIO
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Mara Saad 45
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1. CONCEITO, OBJETO, CARACTERÍSTICAS:


O relatório é um conjunto de informações utilizadas para registrar dados/fatos de
uma determinada atividade humana, seja ela profissional ou acadêmica, ou relacionada a
algum projeto, experimento, pesquisa ou ação.
Existem vários tipos de relatórios, classificáveis sob vários pontos de vista. Dentro
da finalidade de nosso curso, interessam-nos apenas aqueles utilizados para descrever
os fatos ocorridos no curso do processo judicial.
Em sentido jurídico, o relatório (art. 489, I, CPC) é a parte introdutória da sentença,
no qual se faz o histórico de toda a relação processual. Deve conter o nome das partes
litigantes, os principais fundamentos do pedido do autor, a causa de pedir e o pedido
propriamente dito, os fundamentos da defesa do réu (preliminares e mérito) e o registro
das principais ocorrências havidas no andamento do processo (deferimento de justiça
gratuita, deferimento/indeferimento de tutela antecipada, réplica, reconvenção, incidente
de incompetência/suspeição, impugnação ao valor da causa, entre outros). Em resumo, é
no relatório que se sintetizam as pretensões formuladas pelas partes e seus
fundamentos, fixando-se as questões a serem solucionadas no processo.
O Código de Processo Penal nada estabelece a respeito do relatório da sentença,
apenas dispõe no art. 381 que a sentença conterá: I- os nomes das partes, ou, quando
não possível, as indicações necessárias para identificá-las; II- a exposição sucinta da
acusação e da defesa; III- a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a
decisão; IV- a indicação dos artigos de lei aplicados; V- o dispositivo; VI- a data e a
assinatura do juiz. Os dois primeiros incisos dizem respeito ao relatório da sentença; os
incisos III, IV e V dizem respeito à fundamentação; o inciso V diz respeito ao dispositivo
do decisum.
Não só as sentenças de primeiro grau, mas também os acórdãos (sentenças
plúrimas proferidas por um órgão colegiado de um tribunal), devem conter os elementos
constitutivos previstos no art. 489 do CPC, entre eles o relatório.
No segundo grau de jurisdição, portanto, o relatório é definido como sendo um
dos elementos constitutivos do acórdão no qual é feita a descrição dos fatos do
processo. É elaborado pelo relator do processo, ou seja, pelo magistrado a quem for
distribuído o recurso ou a ação originária. Possui as mesmas características do relatório
da sentença, só que vai um pouco mais adiante, pois, além dos atos processuais acima
relacionados, abarca também a sentença, o recurso (fundamentos e pedidos), as
contrarrazões do recorrido e o parecer do Ministério Público, se for o caso. É no relatório
que o relator do recurso, ou da ação originária, demarca o que será discutido pelo
colegiado e decidido na sessão de julgamento.
Ao elaborar o relatório do acórdão, devem ser observados os critérios de clareza,
precisão e síntese, sem deixar o relator de ser minucioso na descrição da decisão
proferida pelo juiz de primeiro grau e da controvérsia instalada no recurso. Convém
explicitar todas as alegações e pretensões formuladas pelo recorrente. Isso facilita muito
na elaboração (fundamentação) do voto, pois, depois de relatado o feito, basta uma
consulta ao relatório para ir respondendo ponto por ponto o que o recorrente alegou, não
sendo necessária nova consulta das razões recursais. Isso ajuda a prevenir a oposição
futura de embargos de declaração.
Há casos em que o relatório tem que ser bastante minucioso,
descrevendo/narrando, ponto por ponto, as alegações do recorrente.

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TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL

Há outros casos em que o relatório deve ser mais sintético. Trata-se das hipóteses
em que a controvérsia restringe-se a um ponto da lide ou da sentença (prescrição, regime
prisional, redução da pena base, por exemplo) ou em caso de se verificar que o recurso
não vai ser conhecido por ausência de seus pressupostos de admissibilidade. Nesses
casos, evite fazer um relatório minucioso. Delimite a demanda dando ênfase apenas à
questão a ser debatida e relatando apenas os fatos que tiverem influência para a decisão
da causa.
Antes de elaborar o relatório, convém fazer a leitura de todo o processo, pois só
depois de tomar conhecimento da causa é que o relator saberá quais os pontos
importantes que deverão ser relatados e depois abordados no voto.
O relatório possui caráter genérico e impessoal. Ao relatar, o relator limita-se a
registrar os fatos (reais) de que tenha conhecimento, tais quais expostos no processo,
não se admitindo fazer divagações ou apreciações de natureza subjetiva (juízo de valor),
nem tampouco tirar conclusões, apresentar sugestões ou recomendações a respeito do
caso em análise.
Ex.: Trata-se de recurso tempestivamente interposto por... [u27] Comentário: Nesta frase, a palavra
Ex.: O apelante se confunde ao alegar que... “tempestivamente” indica que foi feito juízo de
Ex.: O apelante se contradiz dizendo que... admissibilidade do recurso no relatório, não
Ex.: O apelante insurge-se contra a pena aplicada, que é excessiva frente às sendo este o momento oportuno para essa
finalidade.
circunstâncias judiciais ostentada.
Ex: De forma nada clara e sem a devida forma, o réu alega que a sentença merece [u28] Comentário: Aqui, o relator expressa
reforma, pois... sua opinião pessoal a respeito da alegação do
apelante, o que é defeso fazer no relatório, sob
Ex.: Inconformado, o autor interpõe o presente recurso e, em suas razões, defende pena de se estar antecipando o resultado final
indevidamente o desacerto da decisão, porque não observado o disposto na lei de regência. da causa.
[u29] Comentário: Esta frase encerra
É inadmissível o registro de fatos desconhecidos ou inexistentes no processo. É dúvida sobre quem de fato teria dito que a
vedado reportar-se aos fundamentos expostos em memoriais distribuídos ao magistrado, multa é excessiva, se o relator ou o recorrente.
ou a fatos do processo de que se ouvir falar. [u30] Comentário: Neste caso, além da
frase estar mal redigida, verifica-se a falta de
Evite a construção de frases que possam deixar em dúvida se é o relator quem fala ética do relator ao fazer críticas indevidas sobre
ou se reproduz a fala das partes. a redação do recorrente.

Ex.: Pede, ao final, sejam sanados os vícios presentes no julgado. [u31] Comentário: Aqui, faz-se juízo de
valor sobre as razões do apelante.
Ex.: O MP almeja a majoração da pena-base do réu porque ínfima diante da
[u32] Comentário: Dúvida sobre quem
análise das circunstâncias judiciais. teria dito que não se observou o disposto na lei,
se o relator ou o apelante.
Evite escrever frases que encerram dubiedade. Veja o seguinte exemplo: “O Juiz
julgou improcedente o pedido do autor para reduzir a pena aplicada.”. A frase encerra [u33] Comentário: Melhor seria dizer:
“...os vícios que considera presentes no
dubiedade, na medida em que deixa dúvidas se o pedido é para reduzir a pena ou se foi julgado”.
o juiz reduziu a pena, embora tenha julgado improcedente o pedido. A melhor técnica
[u34] Comentário: Melhor seria dizer: “...
seria escrever a frase da seguinte forma: porque considera ínfima diante da análise...”
Evite o excesso de palavras, pois isso prejudica o entendimento da frase. Procure [u35] Comentário: “O Juiz julgou
resumir as fases: improcedente o pedido do autor formulado
com vistas à redução da pena imposta.”.
Ex: “No mérito, o apelante repisa os argumentos ventilados em todas as oportunidades em que
se manifestou perante o juízo a quo.”. [u36] Comentário: Resumindo = No
mérito, o apelante reporta-se aos argumentos
Ao elaborar um relatório, deve-se ter em mente o momento processual (se aduzidos no primeiro grau de jurisdição.
anterior ou posterior à sentença). Deve-se também, em regra, respeitar a ordem de
sucessão dos fatos ocorridos no processo: (denúncia – resposta à acusação –
instrução - sentença – recurso – contrarrazões – parecer – etc.)
No relatório da sentença os fatos deverão ser expostos na ordem cronológica. O
relatório deve conter as principais ocorrências do processo em suas diversas fases. Deve
ser relatado o iter processual: denúncia – resposta à acusação, audiência de instrução
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(com inquirição do ofendido, de testemunhas, de peritos, acareações e, por fim, o


interrogatório do réu).
No acórdão, diferentemente da sentença, o relatório tem maior flexibilidade das
formas, podendo se apresentar nos mais variados tipos. Pode-se iniciar descrevendo os
fatos passados (desde a denúncia, resposta à acusação, sentença....) ou iniciar já
descrevendo os fatos presentes (o próprio recurso).
Na elaboração do relatório verifica-se a existência de dois tempos cronológicos:
1º) anterior ao recurso (verbos no passado);
2º) posterior ao recurso (verbos no presente);

Ex: Celso Eusébio da Silva, qualificado nos autos (fl. 51), foi denunciado pelo [u37] Comentário: Aqui foi feita a
Ministério Público como incurso nas penas do artigo 157, § 2°, II, do Código Penal. // exposição sumária e ordenada dos fatos, desde
a inicial até o parecer do Ministério Público em
Consta da exordial que no dia 25/02/08, por volta das 22h25min, em via pública de segundo grau. Foram observados os dois
Ceilândia, Celso e outro indivíduo ainda não identificado, utilizando-se de uma faca, tempos cronológicos. O anterior ao recurso,
ameaçaram a vítima Renam de quem subtraíram a quantia de R$ 34,00, ocasião em que com verbos no pretérito perfeito, e o posterior
ao recurso, com verbos no presente.
Celso foi preso em flagrante. // Em alegações finais, o Ministério Público pugnou pela
condenação do réu nas penas do art. 157, § 2º, incisos I e II, do Código Penal (fls. 84/96).
// Após regular trâmite processual, sobreveio a r. sentença de fls. 103/115, que acolheu a [u38] Comentário: O mais correto seria
pretensão ministerial e condenou Celso, cominando-lhe a pena de 05 (cinco) anos e 06 dizer “o juiz acolheu a pretensão ministerial” e
não “a sentença acolheu”
(seis) meses de reclusão, em regime inicial semiaberto, mais o pagamento de 33 (trinta e Ex: Após regular trâmite processual, sobreveio
três) dias-multa, no padrão unitário mínimo. // Parcialmente inconformada com o decisum, a sentença na qual o MM. Juiz acolheu a
dele recorre a Defesa. Em suas razões de fls. 117/123, alega que o MM. Juiz a quo pretensão ministerial...
exasperou a pena em 3/8 na terceira fase, sem, contudo, fundamentar esse quantum, a [u39] Comentário: Desnecessário, no caso,
não ser no fato de que seriam duas causas especiais de aumento. Conclui pedindo que o uso da inicial maiúscula.
a pena privativa de liberdade e também a pena pecuniária sejam reduzidas ao mínimo
legal. // O MP oferece contrarrazões às fls. 128/133. // O parecer da Procuradoria de
Justiça (fls. 154/155) oficia pelo conhecimento e desprovimento do recurso. // É o
relatório.

Conforme já registrado, os fatos devem ser dispostos clara e ordenadamente, não


bastando a correção gramatical e objetividade. A estética também é importante.
É bom treinar a escrita de relatórios claros e completos, mas sem perder de vista o
poder de síntese, o que aumenta o prestígio de quem os faz.
No relatório jurídico, é muito frequente o relator se referir às alegações das partes
(“o autor alegou que...”) (“o réu sustentou que...”) (“o apelante arguiu a ...”). O relator fala
em nome de outrem, ou seja, ele exerce a função de interlocutor.
Para se referir às alegações das partes, o relator utiliza-se dos denominados verbos
dicendi (verbos de comunicação ou de argumentação), utilizados no discurso
direto/indireto, devendo deixar claro que quem “fala” são “as partes” e não “o relator”.
Os verbos dicendi indicam que é o interlocutor que está com a palavra. O
relator apenas reproduz a fala das partes sem emitir juízo de valor, utilizando, no caso, o
discurso indireto (verbo na terceira pessoa do singular: disse, alegou, sustentou –
seguido, em regra, da conjunção integrante “que” etc.)
Os verbos dicendi não possuem como complemento apenas a conjunção integrante
“que”. Por isso é importante ficar atento para a regência do verbo: Ex: “disse que...”;
“sustenta que...”; “argui a...”; “destaca a...”; “cita o...”; “pugna pelo...”; etc.
Verifique, portanto, a regência do verbo e se os verbos são pronominais (reflexivos)
– Ex:” refere-se a...” , “reporta-se a...”; etc.)
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Obs.: Há verbos que só são usados na forma pronominal (queixa-se, refere-se,


reporta-se, lembra-se). Outros podem ser usados tanto na forma pronominal quanto na
forma simples, sendo que, neste caso, eles diferem-se de sentido (ex: engana alguém /
engana-se com alguém) (considera o caso interessante / considera-se uma pessoa
atraente).
Segue, abaixo, para consulta, um glossário de alguns verbos dicendi (os mais
utilizados nos Tribunais) e sua respectiva conjunção (regência).

VERBOS DICENDI (em ordem alfabética)


- Acrescentar (que) - Desconfiar (de) - Propor (que)
- Acreditar (em) (que) - Desculpar-se (de) - Propugnar (pelo)
- Acusar (o) - Desmentir (o) - Prosseguir (com)
- Adiantar (que) - Destacar (o) (que) - Protestar (pelo)
- Admitir (a) - Discordar (de) - Provocar
- Advertir (que) - Discorrer (sobre) - Queixar-se (de que)
- Alegar (que) - Distinguir (o...) (do...) - Questionar (que)
- Afirmar (que) - Dizer (que) - Raciocinar
- Alertar (para o) - Encerrar - Reafirmar (que)
- Aludir (faz alusão a) - Endossar - Rebater (o)
- Anunciar (que) (o) - Enfatizar (que) (a) - Reclamar (do)
- Anuir (com) - Enfocar (o) - Reconhecer (que)
- Apontar (o) - Entender (que) - Recordar(se) (de que)
- Arguir ( * ) (a) - Enumerar (o) - Redimir-se (de)
- Argumentar (que) - Esclarecer (que) - Referir-se (a)
- Arrolar (o) - Exclamar (que) - Refletir (sobre)
- Assegurar (que) - Explicar (que) - Reforçar (o)
- Assentir (com) - Explicitar (que) - Registrar (que) (o)
- Asseverar (que) - Expor (que) (o) - Rejeitar (o)
- Assinalar (que) - Externar (o) - Relacionar (o)
- Atacar (o) - Finalizar (com) (a) - Relatar (que)
- Atestar (o) - Frisar (que) - Relembrar(se) (de que)
- Atribuir (o.... ao...) - Garantir (que) - Rememorar (o)
- Avaliar (que) (o) - Identificar (o) - Replicar (o)
- Chamar a atenção (para) - Ilustrar (o) - Reportar-se (a)
- Citar (o) - Imaginar (que) - Requerer (o) (que)
- Comentar (tecer comentários) - Indagar (se) - Resignar-se (com)
- Comparar (o... com...) - Indicar (o) - Resistir
- Comprometer-se (a) (com) - Indignar-se (com) - Responder (que)
- Comprovar (o) - Informar (que) - Responsabilizar-se
- Concluir (que) (a) - Insistir (em que) - Ressaltar (que)

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- Concordar (com) - Interpretar (o) - Ressalvar (que) (o)


- Condenar (o) - Interrogar (se) - Resumir
- Confessar (que) (o) - Justificar-se - Retrucar
- Confirmar (que) (o) - Lamentar-se - Revelar (que)
- Considerar (que) (o) - Lembrar-se (de que) - Revidar
- Contestar (o) - Limitar-se a dizer - Revoltar-se
- Constatar (que) - Manifestar-se - Rogar (que)
- Contra-atacar (o) - Mostrar (que) (o) - Salientar (que)
- Contrapor-se a) - Narrar (que) - Sentenciar (que)
- Crer (em) - Negar (que) (o) - Simplificar
- Criticar (faz críticas) (a) - Objetar - Sintetizar (o)
- Declarar/Declarar-se - Pedir (o) (que) - Solicitar (que)
- Defender/Defender-se (de) - Perguntar/Perguntar-se - Sugerir (que)
- Definir/Definir-se - Ponderar - Supor (que)
- Demonstra (que) (a) - Preocupar-se (com) - Suscitar (* )
- Denuncia (o) - Prever (o) (que) - Sustentar (que)
- Desafia (o) - Proclamar/ Proclamar-se -Terminar
- Descartar (a hipótese de)

* Nos casos em que há arguição de preliminares, os verbos mais indicados são:” arguir” e
“suscitar”. Às vezes é comum a utilização do verbo “levantar”.
Ex.: O réu/apelante argui preliminar de incompetência do juízo.
Ex.: O réu/apelante suscita , em preliminar, a extinção da punibilidade pela prescrição.
Ex.: O réu/apelante levanta preliminares de cerceamento de defesa e irregularidade da
citação.
Obs.: Isso não quer dizer que os referidos verbos não possam ser utilizados em outros
contextos. Ex: O réu/apelante suscita dúvidas a respeito da honestidade do autor/apelado.

2. DICAS ÚTEIS SOBRE O RELATÓRIO:

DICA 1: Ao elaborar um relatório, procure redigi-lo de forma abrangente, fazendo com


que o relato seja bastante para levar o leitor a conhecer toda causa em discussão,
dispensando a consulta dos autos para essa finalidade.

DICA 2: Lembre de que os acórdãos são objeto de pesquisa na jurisprudência por


quem desconhece o processo, por isso convém fazer o relato do feito de forma
circunstanciada, sempre visando o leitor. Quem já conhece o processo tende a omitir
dados que podem ser importantes para compreensão do leitor.
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DICA 3: Ao elaborar um relatório, atente para a correção gramatical, clareza, coesão


e estética. O excesso de explicações prejudica a clareza do enunciado. Escreva de forma
simples, de forma que qualquer pessoa, até os mais leigos, consigam entender o alcance
do julgado.

DICA 4: Treine o seu poder de síntese. Saber resumir é, hoje, uma qualidade
imprescindível na redação jurídica.

DICA 5: Poupe seu tempo na elaboração do relatório, fazendo-o de forma sucinta,


quando verificar que o objeto do recurso é apenas um ponto da lide (ex: modificação do
regime prisional; prescrição etc.). Procure delimitar a matéria objeto do recurso.

DICA 6: Crie o hábito de reler o relatório depois de redigi-lo, pois nele podem conter
erros que passaram despercebidos na hora da sua elaboração.

DICA 7: Procure não adotar o relatório da sentença ou do parecer. Seja criativo. Faça
você mesmo o seu relatório.

DICA 8: Quando for necessário identificar o nome das partes do processo, faça-o
utilizando o aposto, ou seja, separando-os entre vírgula. Ex: O réu, Antônio da Silva. A
autora, Maria Rita. A ausência de vírgula, nesses casos, indica que há mais de um réu ou
mais de um autor. Ex: O réu Antônio da Silva. A autora Maria Rita.

DICA 9: A indicação “outros” é admitida para substituir o nome das partes, quando for
o caso de pluralidade de partes no processo (litisconsortes). Todavia, não é de boa
prática a sua utilização quando forem apenas duas as partes do processo, caso em que
devem ser escritos os nomes de ambas: Ex: Maria da Silva e Saulo Garcia. No caso em
que as partes forem mais de duas, deve ser escrito apenas o nome da primeira, seguido
da indicação “outros”. Ex: Maria da Silva e Outros interpõem....

DICA 10: evite o uso de abreviaturas no relatório. Escreva por extenso as palavras.
Ex: Ministério Público (ao invés de MP) etc.

DICA 11: Sempre que se for referir a uma peça processual (petições, provas,
sentença, recurso, contrarrazões, parecer etc.) (seja no relatório ou voto), coloque em
parênteses o número das respectivas páginas. Ex: Inconformado, recorreu o réu (fl. 26).
Ex: Em contrarrazões (fl. 99)... Ex: O parecer da douta Procuradoria de Justiça (fl. 40) é
no sentido...

DICA 12: Se o relator optar por utilizar o modelo sucinto de relatório, deve-se ficar
atento para o fato de que, ao iniciar o relatório com a expressão “trata-se de recurso...”,
mesmo que a hipótese seja de recursos (no plural), o verbo deverá ficar no singular.
Assim: “Trata-se de recurso”. “Trata-se de recursos”. Isso se deve ao fato de que,
nesta frase, há um termo elíptico (subtendendido) que pode ser “a hipótese” ou “o caso”,
ou seja: “A hipótese trata-se de recurso (ou recursos)”; “O caso trata-se de recurso
(ou recursos)”. Assim, fique atento para nunca escrever a frase dessa forma: “Tratam-se
de recursos”, pois não se trata de hipótese de frase escrita na voz passiva pronominal.

DICA 13: O reexame necessário (ou remessa de ofício), como se sabe, não se trata
de um recurso, mas sim de condição de eficácia da sentença. Em sendo assim, não é de
boa técnica dizer no relatório que “se trata de reexame necessário interposto contra a

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sentença...” Prefira a seguinte redação: Trata-se de reexame necessário em face da


sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito da...

DICA 14: Ao elaborar o relatório, fique atento às hipóteses em que o feito há revisor,
caso em que os autos deverão ser a este encaminhados após a análise feita pelo relator.
Evite, nestes casos, escrever ao final do relatório expressões que indiquem a remessa
dos autos ao revisor (Ex: À revisão; Ao eminente revisor; ao douto Revisor), pois isso, na
verdade, se trata de um despacho e não deve vir no corpo do relatório, mas em folha
separada, onde deve constar o seguinte despacho: “Segue relatório em separado. Ao
eminente Relator” (mera sugestão)

3. TIPOS / MODELOS DE RELATÓRIOS:


São vários os tipos/modelos de relatório (circunstanciado – sucinto –
transcrito) , não havendo uma regra rígida para sua elaboração.
A escolha do tipo de relatório vai depender muito do tipo de demanda ajuizada.
Quando a demanda envolver matéria de fato, como ocorre nos processos criminais, o
relatório deve ser mais circunstanciado e minucioso, para ensejar o completo
entendimento da causa.
Obs.: Fique atento para o estilo adotado pelo magistrado o qual está
auxiliando.
Vejamos alguns modelos de relatório elaborados em acórdãos do TJDFT:

3.1. RELATÓRIO CIRCUNSTANCIADO:


Obedece à ordem cronológica dos fatos. Traz a exposição sumária e ordenada dos
atos praticados no processo desde o início, compreendendo a denúncia, (fundamentos,
causa de pedir e pedido), resposta à acusação (preliminares e mérito), alegações finais,
até chegar à sentença (até aqui utilizam-se sempre os verbos no pretérito perfeito, pois
trata-se de atos processuais que já se exauriram). Ao chegar no recurso, passa-se a
utilizar os verbos no presente (pois trata-se de ato processual a ser examinado/praticado
naquele momento). Este tipo de relatório é o mais indicado para as hipóteses em que se
vai discutir matéria fática, caso em que os fatos da causa necessitam ficar bem
esclarecidos e delimitados. Veja os seguintes exemplos:

RENATO foi denunciado (fls. 02/03) como incurso nas penas do art. 157, § 2°, II, do Código Penal,
porque, em 18 de fevereiro de 2001, por volta de 4h10min, às margens da BR 020, na altura de
Sobradinho-DF, em co-autoria com Júnior , subtraiu, mediante violência e grave ameaça, objetos pessoais
(calçados, camisa, relógio de pulso e dez reais) pertencentes a Ronaldo.
Após regular trâmite do feito, sobreveio sentença (fls. 94/103), na qual o MM. Juiz o condenou às
penas de cinco anos e quatro meses de reclusão, em regime inicialmente semiaberto, e pagamento de treze
dias-multa.
Inconformado, o réu apela, alegando (fls. 125/128), em síntese, que não teve a intenção de subtrair
os objetos da vítima, tendo ocorrido apenas desentendimento entre ele e a vítima, decorrente do estado de
embriaguez do apelante. Alega, também, não ter ocorrido qualquer agressão física e, ainda, que não há
prova do concurso de agentes.
Em Contrarrazões (fls. 131/133), o Ministério Público pugna pelo conhecimento e desprovimento do
recurso.
Em seu Parecer (fls. 135/139), a Procuradoria de Justiça também é pelo conhecimento e
desprovimento do apelo.
É o relatório.

3.2. RELATÓRIO SUCINTO:

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Inicia-se descrevendo os fatos a partir do recurso (fatos do presente). Utilizam-se


os verbos sempre no presente. É o relatório mais indicado para os casos em que a
controvérsia ficará restrita a um ou dois pontos da lide (ex: minoração da pena ou
modificação do regime prisional) ou para os casos de não conhecimento do recurso ou de
anulação ex officio da sentença, dentre outros casos. Exige poder de síntese do relator,
já que, no primeiro parágrafo, deverá constar, de forma bastante compreensível, a
síntese de todo o processo até o momento em que foi prolatada a sentença (sobre o que
versa a demanda e sobre quais pontos da sentença insurge-se o apelante). É o tipo de
relatório cuja técnica é a mais utilizada no TJDFT, por ser mais objetivo e simples, sem
comprometer a completude.

Trata-se de apelação interposta pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, em face da r.
sentença de fls. 190/202, que absolveu os acusados Weneton, Paulo e Bruno da alegada violação ao artigo
157, § 2º, inciso II, c/c o art. 14, inciso II, todos do Código Penal.
Em suas razões (fls. 207/215), pugna o apelante pela procedência da pretensão acusatória deduzida
na denúncia. Aduz, em síntese, que as provas dos autos são suficientes para embasar o decreto
condenatório.
As contrarrazões vieram às fls. 218/228, 230/233 e 234/236, pugnando pela manutenção da
sentença vergastada.
A d. Procuradoria de Justiça manifesta-se pelo conhecimento e provimento do recurso (fls. 241/246).
É o relatório.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Cuida-se de recurso de apelação interposto por João Francisco contra a sentença proferida pelo Juízo
da Oitava Vara Criminal de Brasília, que o condenou à pena de três meses de reclusão, a ser cumprida em
regime aberto, bem como ao pagamento de vinte dias-multa, no valor unitário mínimo, substituída a pena
privativa de liberdade por uma restritiva de direitos, “a ser cumprida nos moldes e condições estabelecidas
pela Vara de Execuções Criminais”, pela prática do delito previsto no art. 180, § 3º, do CP.
Em suas razões, o apelante requer a declaração da extinção da punibilidade, em face da prescrição
retroativa. Pleiteia, subsidiariamente, a fixação da pena na modalidade “detenção”, bem como a sua
redução.
Contrarrazões pugnando pelo provimento do recurso, “exceto quanto à parte atinente à fixação da
pena base”.
A douta Procuradoria de Justiça opinou pelo provimento do recurso, quanto à extinção da [u40] Comentário: Aqui utilizou-se
punibilidade e, no mais, pelo provimento parcial, “apenas para que seja modificada a pena de reclusão para equivocadamente o verbo no pretérito
detenção”. perfeito, quando, no entanto, deveria ser no
É o relatório. presente do indicativo.

Neste tipo de relatório é muito comum acontecer de o relator iniciar a descrição dos
fatos a partir da sentença (verbos no passado), passando, em seguida, a descrever os
fatos do recurso (verbos no presente). Todavia, não é recomendável a utilização desta
técnica, uma vez que, como regra, os relatórios devem iniciar-se com os fatos descritos
na petição inicial (relatório circunstanciado) ou no recurso (relatório sucinto), e não a
partir da sentença ou de outro provimento jurisdicional. Este tipo de relatório dá ao leitor a
impressão de que faltam elementos para sua completude.
Veja os seguintes exemplos:
João de tal foi condenado pela sentença prolatada às fls. 106/110 a pagar a seu filho, Wagner de tal,
pensão alimentícia mensal no valor de 15% de seus rendimentos brutos, abatidos os descontos legais.
Inconformado, apela o réu, alegando ser indevida a pensão, já que o filho pode prover seu sustento
com fruto do próprio trabalho, não necessitando de ajuda financeira do pai para essa finalidade. Pede a
reforma da sentença, a fim de que seja julgado improcedente o pedido inicial. Requer, ainda, caso não seja
esse o entendimento do Tribunal, a redução do quantum fixado na sentença, por entender excessivo o valor
frente a renda auferida e o fato de possuir dois outros filho do segundo casamento.
Não houve recolhimento do preparo, por encontrar-se o réu/apelante litigando sob o pálio da justiça
gratuita.
O autor/apelado ofertou contrarrazões às fls. 142/146, pugnando pelo desprovimento do recurso.
É o relatório.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
João Victor foi condenado como incurso nas penas do artigo 157, caput, c/c o artigo 70 (três vezes),
ambos do Código Penal, ao cumprimento de 04 (quatro) anos, 03 (três) meses e 10 (dez) dias de reclusão,

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em regime inicial semiaberto, e ao pagamento de 30 (trinta) dias-multa, fixados no valor mínimo previsto
em lei (fls. 85/101).
Irresignados, apelam o representante do órgão ministerial e o acusado.
Em razões de fls. 106/110, o Ministério Público, alegando ofensa ao enunciado 231 da Súmula do
Superior Tribunal de Justiça, pleiteia a reforma parcial da sentença a fim de que a reprimenda seja fixada
em 04 (quatro) anos e 08 (oito) meses de reclusão, em regime semiaberto, além de 10 (dez) dias-multa,
apurados no valor mínimo legal.
Às fls. 134/136, pugna a defesa técnica pelo reconhecimento do crime de roubo em sua forma
tentada e pela consequente redução da pena em 1/3 (um terço), fixando-se o regime inicial aberto para o
cumprimento da reprimenda.
As contrarrazões do réu são vistas às fls. 112/115 e as do Ministério Público vieram às fls. 138/142.
A douta Procuradoria de Justiça manifestou-se às fls. 146/156, oficiando pelo provimento do apelo
ministerial e desprovimento do recurso da defesa.
É o relatório.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

LEANDRO foi condenado como incurso no art. 157, § 2º, incisos I e II, c/c 14, inciso II, do Código
Penal, à pena privativa de liberdade de 3 (três) anos e 7 (sete) meses e 21 (vinte e um) dias de reclusão,
em regime semiaberto, e à pena pecuniária de 15 (quinze) dias multas, fixada no mínimo legal (fls.
168/178).
A defesa do réu apela à fl. 188, requerendo em razões de fls. 191/203, a absolvição por insuficiência
de provas da autoria, o afastamento das causas de aumento de pena do emprego de arma e do concurso de
pessoas e a fixação da pena base no mínimo legal.
Contrarrazões às folhas 217/222, pugnando pelo conhecimento e não provimento do recurso.
Parecer da ilustrada Procuradoria de Justiça às folhas 225/229, pelo conhecimento e não provimento
do recurso.
É o relatório.

Obs.: Entre iniciar o relatório referindo-se à sentença ou ao recurso prefira a


segunda opção, pois é o tipo que melhor atende a boa técnica do relatório e obedece ao
tempo cronológico dos fatos.

3.3. RELATÓRIO MISTO:


Inicia descrevendo os fatos a partir do recurso (fatos do presente = verbos no
presente); em seguida, revolve ao passado, rememorando fatos passados e utilizando
verbos no passado. Por último, volta ao presente (utilizando os verbos no presente).
Trata-se, na verdade, de relatório sem critério técnico definido, pois não obedece à ordem
de sucessão dos atos processuais.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Pela r. sentença de fls. 1333-1356, proferida pela ilustre autoridade judiciária da Vara Criminal, do
Tribunal do Júri e de Delitos de Trânsito da Circunscrição Judiciária de Brazlândia - DF, foram condenados
como incursos no artigo 171, caput e artigo 288, ambos do Código Penal Brasileiro, em continuidade
delitiva, CHARLES, à pena definitiva de 07 (sete) anos, 04 (quatro) meses de reclusão e 360 (trezentos e
sessenta) dias multa, em regime semiaberto; GENAIR à pena definitiva de 05 (cinco) anos, 04 (quatro)
meses de reclusão e 180 (cento e oitenta) dias multa, em regime semiaberto; EUCLIDES, à pena definitiva
de 04 (quatro) anos, 11 (onze) meses, 20 (vinte) dias de reclusão e 166 (cento e sessenta e seis) dias
multa, em regime aberto; e THATIANA, à pena definitiva de 05 (cinco) anos, 02 (dois) meses de reclusão e
165 (cento e sessenta e cinco) dias multa, em regime semiaberto.
A denúncia narra que entre os anos de 1999 e 2004 os apelantes se associaram em quadrilha ou [u41] Comentário: Aqui há uma total
bando para o cometimento de crimes de estelionato, consistentes na obtenção de vantagens ilícitas em desobediência à ordem cronológica dos fatos.
prejuízo econômico de diversas empresas e também de pessoas físicas, eis que adquiriam mercadorias
mediante o uso fraudulento de cheques sem provisão de fundos, cheques falsos, cheques provindos de
contas bancárias já encerradas e cheques sustados em decorrência de falsa comunicação de extravio, roubo
ou furto. (...)
Para obtenção de êxito nas fraudes acima expostas, os apelantes induziram e mantiveram em erro
muitas das vítimas, sob a falsa promessa de lhes garantir emprego e também de ‘limpar’ os devidos nomes
junto ao SPC e SERASA, obtinham seus documentos pessoais e, sem o conhecimento do titular, abriam
contas bancárias, realizavam compras no comércio, tudo para auferir vantagens ilícitas em prejuízo alheio.
CHARLES, GENAIR e EUCLIDES firmaram termo de apelação (fls. 1360-1363), recebido (fl. 1374), a
qual a d. defesa técnica requereu (fls. 1376-1394):

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a) a absolvição dos recorrentes b) ...a absolvição do crime de formação de quadrilha, porquanto não
restou demonstrado o vínculo associativo permanente para fins criminosos e também por não configurar a
associação de no mínimo 4 (quatro) pessoas;
Contrarrazões do d. Ministério Público pelo desprovimento dos apelos (fls. 1415-1424).
Nesta instância, o Doutor MÁRIO PEREZ DE ARAÚJO, ilustre Procurador de Justiça, opinou pelo
desprovimento em parte dos recursos, entendendo pela necessidade da reforma da sentença no que toca à
dosimetria da pena (fls. 1439-1447).
É o relatório do necessário. (desobediência à ordem cronológica dos fatos)
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Apelação interposta por CLAUDIO contra sentença que o condenou a 9 (nove) anos e 2 (dois) meses
de reclusão, em regime inicialmente fechado, mais 80 (oitenta) dias-multa, como incurso no art. 157, §3º,
1ª parte, do CP.
Narra a denúncia que no dia 11 de setembro de 2002, por volta das 14h20, no interior do [u42] Comentário: Aqui também há total
estacionamento comercial GESSO GOIÁS, Águas Claras, Taguatinga/DF, mediante grave ameaça e uso de desobediência à ordem cronológica dos fatos.
arma de fogo, CLÁUDIO, ANDRÉ e TIAGO tentaram subtrair R$8.000,00 (oito mil reais) em espécie, além do No primeiro parágrafo inicia-se com a sentença.
veículo VW/Santana, pertencentes à vítima EDSON. Consta que ANDRÉ e TIAGO entraram na loja e No segundo parágrafo, volta-se ao momento da
renderam o ofendido, que estava acompanhado da testemunha MARLUS. Depois de anunciado o assalto, denúncia. No quarto parágrafo volta-se ao
perceberam que a vítima - policial civil do Distrito Federal - estava armada e iniciaram uma “troca de tiros”. momento da apelação.
TIAGO faleceu no local e EDSON foi lesionado gravemente, mas restabeleceu-se. CLÁUDIO aguardava o
desfecho do assalto na direção de uma GM/Blazer e deu fuga ao comparsa. (fl. 03)
ANDRÉ foi condenado em 28 de julho de 2003. (fls. 330/346)
Por não ter sido encontrado, o feito foi suspenso para o acusado CLÁUDIO em 22 de agosto do
mesmo ano (fls. 368/369). Cumprido o mandado de prisão depois de 6 (seis) anos, o apelante foi
regularmente processado e condenado. (fls. 627/638)
CLÁUDIO nega a autoria. Alega insuficiência de provas. Sustenta que a delação do corréu não foi
confirmada pelos depoimentos das testemunhas. Aduz que a vítima distorceu os fatos e os elementos do
conjunto probatório não confirmaram sua versão. Afirma que o motorista da GM/Blazer não foi visto. Aponta
contradições nos depoimentos. Pleiteia a aplicação do in dubio pro reo. Requer a absolvição.
Alternativamente, postula a desclassificação para tentativa, a redução da pena e o regime semiaberto.
Contrarrazões às fls. 524/532.
A Procuradoria de Justiça oficia pelo desprovimento do apelo.
É o relatório.

3.4. RELATÓRIO MAIS ADEQUADO PARA SENTENÇAS:


Neste tipo de relatório, o relator inicia descrevendo fatos da petição inicial (com
frases do tipo: “trata-se de ação de...” “cuida-se de ação de...”), afastando a ideia de que
se está relatando um recurso e de que o processo encontra-se já em fase mais
avançada. É o tipo de relatório mais adequado para sentenças, sendo de uso indevido
para os recursos em geral. Neste caso, a boa técnica recomenda que seja eliminada a
expressão “trata-se de ação de....” e se dê início à elaboração do relatório conforme o
modelo do relatório circunstanciado (João ajuizou ação de...)

Trata-se de ação penal instaurada em desfavor de JEFFERSON e EDUARDO pela prática do crime
descrito no art. 157, § 3º, segunda parte, do Código Penal, nos seguintes termos: (...)
Devidamente instruído o feito, sobreveio sentença condenando EDUARDO e JEFFERSON por infração
ao artigo 157, § 3º, in fine, do CPB.
A pena de EDUARDO foi definitivamente fixada em 21 anos e 06 meses de reclusão, pagamento de
40 dias-multa, em regime inicialmente fechado para o cumprimento de pena.
A pena de JEFFERSON também foi definitivamente fixada em 21 anos e 06 meses de reclusão,
pagamento de 40 dias-multa, em regime inicialmente fechado para o cumprimento de pena.
O Ministério Público tomou ciência da sentença e não manifestou interesse em apelar (fl. 580v).
O patrono de JEFFERSON apresentou as razões de apelação às fls. 598/634. Requer, em síntese, seja
o réu absolvido nos termos do artigo 386, incisos IV ou VI, do CPP.
A Defesa de EDUARDO, por sua vez, apresentou as razões do recurso às fls. 637/642. Alega, em
resumo, que a fixação da pena, especialmente a pena base, está equivocada. Requer, por essa forma, a
reforma da sentença a fim de que a pena base seja fixada em seu mínimo legal.
Contrarrazões às fls. 644/655 pelo conhecimento e desprovimento dos recursos.
A d. Procuradoria de Justiça ofertou parecer às fls. 681/685 pela manutenção da sentença recorrida.
É o relatório.

3.5. RELATÓRIO TRANSCRITO:

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É o tipo do relatório em que o relator, com o intuito de economizar tempo,


transcreve o relatório (ou da sentença ou do parecer do Ministério Público). Este tipo de
relatório é de uso indevido, pois passa a ideia de que o relator é incapaz de sintetizar e
de relatar com suas próprias palavras os fatos do processo. Ao utilizar este tipo de
relatório, o relator deve deixar claro que o texto tomado por empréstimo servirá apenas
em parte para relatar o feito, pois é necessário um adendo, a fim de se acrescentar os
atos que advieram posteriormente ao texto transcrito. Veja os seguintes exemplos:
O relatório é, em parte, o constante da cota ministerial de folhas 147/148, verbis:
(....transcrever....................)
Acrescento que o Procurador-Geral de Justiça, “com apoio no art. 3º, inciso I, da Lei 8.038/90, (...) [u43] Comentário: Acréscimo feito pelo
requer o arquivamento dos autos, sem prejuízo de seu desarquivamento caso surjam novas provas de ilícito relator, após transcrever o relatório alheio.
penal, nos termos do art. 18 do CPP”(fl.149).
É o relatório.

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Adoto, como parte deste, o relatório da r. sentença que se encontra às fls.91/92 e que possui o
seguinte teor:
(..transcrever...)
Acrescento que o MM. Juiz a quo julgou procedente a denúncia, condenando o réu a quatro anos de [u44] Comentário: Acréscimo feito pelo
reclusão e 20 dias multa, como incurso nas penas do art. 157 do CPP. relator, após transcrever o relatório alheio.
Inconformado, apela o réu, sustentando o desacerto da sentença, alegando ser inocente da
imputação que lhe é feita. Considera exacerbada a pena imposta, alegando ser primário e de bons
antecedentes. Pede, ao final, a sua absolvição ou, subsidiariamente, a minoração da pena.
Em contrarrazões, o apelado pugna pelo desprovimento do apelo.
É o relatório.

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O relatório é aquele lançado no r. parecer (fls..) in verbis:


(...transcrever.......)
A Procuradoria de Justiça oficia pelo conhecimento do recurso e condenação do réu pelo crime [u45] Comentário: Acréscimo feito pelo
cometido relator, após transcrever o relatório alheio.
É o relatório.

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4. ANÁLISE DE RELATÓRIOS – EQUÍVOCOS MAIS COMUNS:


1 - RELATÓRIO INCOMPLETO – FALTAM ELEMENTOS PARA A EXATA COMPREENSÃO DOS FATOS
2 - NÃO OBEDIÊNCIA À ORDEM CRONOLÓGICA DOS FATOS:

3 - RELATÓRIO SEM DESFECHO


4 - RELATÓRIO – REPETIÇÃO DESNECESSÁRIA
5 - REPETIÇÃO DESNECESSÁRIA – TEMPO VERBAL INCORRETO

6 – DIFÍCIL COMPREENSÃO DOS FATOS – FALTA DE CLAREZA E CONCISÃO

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O relatório somente será juntado aos autos do processo quando for caso de análise
pelo revisor, devendo ir à apreciação deste antes do julgamento do recurso. Há
magistrados, todavia, que fazem juntar o relatório nos autos mesmo na hipótese em que
a causa não enseja revisão. É praxe que deve ser respeitada, embora de acerto técnico
duvidoso.
Não sendo caso de processo que enseja análise pelo revisor, o relator pede dia para o
julgamento do recurso, levando o relatório em mão para leitura oral.
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Após relatado o feito, passa-se, em seguida, à ELABORAÇÃO DO VOTO, que será


objeto de nosso estudo no próximo capítulo.

Obs.: NA DÚVIDA SOBRE COMO FORMATAR O RELATÓRIO/VOTO/EMENTA,


primeiro verifique as regras utilizadas pelo magistrado o qual você está auxiliando. Caso
ele não tenha regras específicas, utilize os dados constantes na Portaria GPR-923/2011,
previstas para a formatação do acórdão.

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CAPÍTULO IV

O VOTO

1. NOTAS INTRODUTÓRIAS:
No segundo grau de jurisdição, as decisões judiciais, em regra, são tomadas
por um colegiado, salvo aquelas hipóteses em que o magistrado pode decidir
monocraticamente. [u46] Comentário: No segundo grau de
jurisdição, as decisões proferidas pelo relator
O julgamento proferido por um órgão colegiado é denominado de “acórdão”. O são denominadas de ‘decisões monocráticas’.
acórdão contém tantos votos quantos forem os magistrados presentes na sessão de No primeiro grau de jurisdição, as decisões
proferidas pelo juiz são denominada ‘decisões
julgamento (é o que se costuma chamar de sentença plúrima). interlocutórias’.
São elementos essenciais do acórdão: o relatório, os votos e o dispositivo.
O relatório já foi objeto de estudo no capítulo anterior. Passemos ao estudo do
voto.
O VOTO é, por assim dizer, a sentença proferida no segundo grau de
jurisdição. Nele se exprime o resultado da análise da sentença em confronto com os
argumentos deduzidos no(s) recurso(s) interposto(s) pelas partes litigantes.
É com o voto do relator que se dá início ao julgamento do recurso interposto
pelas partes, seguido do voto do revisor (quando for o caso de processo que enseja
análise pelo revisor) e dos demais vogais. É por essa razão que o voto do relator tem
que ser mais elaborado e circunstanciado. Deve ser escrito de forma clara e simples,
fazendo com que o leitor, mesmo o leigo em questões jurídicas, o compreenda. Os
termos jurídicos devem ser empregados corretamente, evitando-se o “juridiquês”
indevido. Devem ser evitadas também as abreviaturas e as palavras desnecessárias.
Deve-se identificar ao leitor quem é o apelante e o apelado, utilizando sempre no voto
a expressão autor-apelante; réu-apelado; ré-apelante etc. [u47] Comentário: Há os que preferem o
uso de apelante/autor, por entender que, em
A fundamentação é a parte do voto em que o seu prolator apresentará as se tratando de recurso, deve vir em primeiro
razões que o levaram a decidir a questão desta ou daquela maneira. Assim como a lugar o apelante. Esse uso, todavia, é indevido,
uma vez que a parte, antes de ser apelante (ou
sentença, o voto também tem que ser bem fundamentado, devendo conter os apelado) é autor (ou réu).
fundamentos de fato e de direito que geram a convicção do julgador e levam ao
resultado do julgamento. O voto tem que ser claro e preciso, para evitar ambiguidades
e incertezas e, assim, evitar a oposição de embargos de declaração. O voto, tal qual a
sentença, não poderá ir além, aquém, nem fora do limites do pedido. O seu foco é a
sentença recorrida que deverá ser analisada em confronto com os fundamentos do
recurso para, ao final, ser confirmada, reformada (no todo ou em parte) ou anulada.
O voto é, portanto, o resultado daquilo que se extraiu da análise do recurso em
confronto com os fundamentos da sentença.
Ao voto são aplicadas, mutatis mutandis, as mesmas regras processuais
previstas para a sentença.
No julgamento da ação penal, o juiz faz, na sentença, dois juízos distintos: o
juízo preliminar (verificação dos pressupostos processuais e condições da ação) e o
juízo de mérito.
No julgamento do recurso, o relator, de igual forma, faz dois juízos distintos: o
juízo de admissibilidade (que diz respeito ao seu conhecimento ou não conhecimento)
e o juízo de mérito (que diz respeito ao seu provimento ou não provimento).
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O recurso é conhecido quando preenche os requisitos legais de admissibilidade


para o seu exame pela instância recursal (tempestividade, cabimento, interesse etc.).
O recurso é não conhecido quando não preenche os requisitos legais de
admissibilidade para o seu exame pela instância recursal.
O recurso é provido quando for reconhecida a procedência da impugnação, caso
em que poderá acarretar a reforma (error in judicando) ou anulação da sentença
recorrida (error in procedendo). A anulação da sentença pode ser decretada de ofício
pelo julgador.
O recurso é parcialmente provido quando for reconhecida apenas em parte a
procedência da impugnação, caso em que poderá acarretar a reforma parcial da
sentença (error in judicando).
O recurso é improvido quando não for reconhecida a procedência da
impugnação, caso em que deverá a sentença ser confirmada em sua totalidade.

2. PASSOS PARA A ELABORAÇÃO DO VOTO:


São os seguintes os passos a seguir para a elaboração do voto:

2.1. ANÁLISE DE TODO O PROCESSO:


Antes de iniciar a elaboração do voto, o relator deve analisar minuciosamente os
autos do processo, percorrendo todo o seu curso, iniciando com a denúncia, passando
pela resposta à acusação, analisando as provas, examinando a sentença e finalizando
com as razões do recurso, as contrarrazões do apelado e parecer do Ministério Público,
se for o caso (vide roteiro para análise de apelação criminal) (item 1 deste manual).

2.1.1. A SENTENÇA: examine a sentença com o devido cuidado, fazendo o


exame dela em confronto com os fundamentos do recurso. Leia com atenção a
fundamentação e os motivos determinantes do resultado do julgamento. Extraia o ponto
controvertido.
1º) Verifique que tipo de sentença foi proferida:
- a sentença é absolutória ? (Art. 386, CPP) A sentença absolutória é a sentença que
julga improcedente a acusação, absolvendo o acusado da imputação que lhe é feita na denúncia.
Ex: O juiz julga improcedente a pretensão punitiva do Estado e absolve o réu por um dos motivos
elencados no art. 386 do CPP, devendo mencionar, na parte dispositiva, a causa da absolvição e
determinar a soltura do acusado, caso ele esteja preso.
- a sentença é condenatória? (Art. 387, CPP) A sentença condenatória é a sentença que
julga procedente a acusação, condenando o réu à pena correspondente ao crime por ele
praticado. Ex: O juiz julga procedente a pretensão punitiva do Estado e condena o réu pela prática
do crime que lhe é imputado, aplicando a pena, mencionando as circunstâncias agravantes e
atenuantes, as causas de aumento e diminuição de pena, a fixação do regime prisional e, ao final,
decretando sua prisão ou determinando sua manutenção no cárcere, se já se encontrar preso.
- a sentença é de impronúncia (art. 414, CPP) (procedimento do júri): Sentença de
impronúncia é a sentença proferida pelo juiz presidente do tribunal do júri, na primeira fase do
procedimento, quando este não se convencer da materialidade do fato ou da existência de indícios
suficientes de autoria ou de participação do acusado no delito. Ex: O juiz impronuncia o réu por
não haver provas suficientes de sua autoria (dentre outros).
- a sentença é de absolvição sumária (art. 415, CPP = procedimento do júri) ou (art.
397, CPP = procedimento comum): A sentença de absolvição sumária será proferida

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fundamentadamente pelo juiz quando: I – provada a inexistência do fato; II – provado não ser ele
autor ou partícipe do fato; III – o fato não constituir infração penal; IV – demonstrada causa de
isenção de pena ou de exclusão do crime. Ex: O juiz absolve sumariamente o réu quando resultar
provado ter o agente praticado o fato acorbertado por quaisquer das causas excludentes da
criminalidade.

2º) Verifique quais os defeitos (vícios) contém a sentença:

- A sentença contém erro de procedimento (error in procedendo)? Incorre em error


in procedendo a sentença que deixa de observar, ao conduzir o feito, as regras
processuais em geral. Trata-se de vício atinente à forma da atividade jurisdicional. Ex: a
sentença não contém fundamentação suficiente; Ex: houve cerceamento ao direito de
defesa do réu; Ex: a sentença foi proferida por juiz absolutamente incompetente; O
reconhecimento de error in procedendo implica a anulação da sentença. A anulação da
sentença pode ser decretada de ofício pelo tribunal.
Obs.: No processo criminal, tratando-se de recursos contra sentença absolutória,
mesmo as nulidades absolutas não poderão ser reconhecidas ex officio quando em
prejuízo da defesa, se não alegada no recurso da acusação (Súmula 160 STF).

- A sentença contém erro de julgamento (error in judicando)? Incorre em error in


judicando a sentença que comete equívoco na análise da questão de fato ou na
aplicação do direito. Ex: o juiz profere decisão contrariamente à prova produzida nos
autos. Ex: o juiz aplica ao caso concreto norma legal impertinente. Ex: o juiz condena o
réu mesmo sem a prova da autoria e materialidade do fato; Ex: o juiz aplica ao réu pena
maior do que a permitida por lei; etc. O error in judicando atinge a questão de direito
material vindicado no processo. O reconhecimento de error in judicando implica a
reforma da sentença.

2.1.2. O RECURSO: faça também uma análise circunstanciada do recurso,


sempre em confronto com os fundamentos da sentença.
- Quem recorreu? (MP - querelante – réu – querelado – ambos –)
- Qual a extensão do efeito devolutivo do recurso? O recurso é total (devolve
toda a matéria ao conhecimento do Tribunal) ou o recurso é parcial (devolve apenas
parte da matéria ao conhecimento do Tribunal)?
Obs.: O recorrente não pode impugnar matéria estranha ao que ficou decidido na
sentença.
Obs.: O efeito devolutivo do recurso em processo civil difere especialmente do
efeito devolutivo do processo criminal.

- O recorrente impugna especificamente a sentença?


Obs.: No processo civil, para obter a reforma da sentença recorrida, o apelante
tem que impugnar expressamente os argumentos nela contidos e formular pedido de
nova decisão, sob pena de não ser conhecido o recurso. Não basta o recorrente repetir
os argumentos deduzidos no primeiro grau de jurisdição. Ele tem que combater os
fundamentos da sentença. No processo criminal, em se tratando de recurso da defesa,
há uma ampla liberdade, não sendo necessário combater especificamente os argumentos
da sentença.

- Qual o cerne da controvérsia instalada no recurso?


Eis aqui um ponto de suma importância para a elaboração de um bom voto:
saber extrair o ponto central da controvérsia. A partir dele é que se desenvolverá a tese

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jurídica a ser defendida pelo relator, em favor ou contra o recorrente (e, de consequência,
contra ou a favor da sentença).
Ex.: O Juiz julga procedente a acusação por entender haver provas suficientes da autoria e
materialidade do crime -> recurso do réu -> o cerne é verificar se há mesmo provas da autoria e
materialidade do crime.
Ex.: O juiz julga procedente a acusação e aplica pena superior ao previsto na lei para o
crime -> recurso do autor -> o cerne da questão é a verificação da legalidade na aplicação da
pena (verificar na lei penal a quantidade de pena prevista para o crime e analisar as circunstâncias
legais envolvidas).
Ex.: O juiz julga improcedente a acusação e absolve sumariamente o réu por entender não
constituir crime o fato a ele imputado -> recurso do MP -> o cerne é estabelecer se constitui ou
não crime o fato ao réu imputado.

- Quais as questões controvertidas e as incontroversas?


Outra questão de suma importância é saber quais são os pontos em que há
controvérsia e os pontos incontroversos. A discussão jurídica somente deverá ser feita
quanto aos primeiros.

- Há preliminares ou prejudiciais suscitadas ou a suscitar de ofício?


Examine minuciosamente as questões preliminares e prejudiciais suscitadas pelas
partes. Verifique se há questões de ordem pública a suscitar de ofício.

2.2. PARTES DO VOTO:

O voto é composto de três partes fundamentais:


a) o juízo de admissibilidade (verificação dos requisitos de admissibilidade do
recurso: tempestividade, cabimento, interesse, preparo, regularidade formal etc.);
b) o juízo de mérito (as razões de decidir) (exame das preliminares da causa, das
preliminares de mérito, das prejudiciais e do mérito recursal);
c) o dispositivo (decisão da causa).

2.2.1. O Juízo de admissibilidade:


O juízo de admissibilidade é uma atividade que se destina à verificação do
preenchimento dos requisitos recursais impostos por lei (tempestividade, cabimento,
interesse, preparo (ação penal privada), regularidade formal etc.) a fim de que o
colegiado possa apreciar o mérito do recurso. É, pois, uma atividade que se exerce de
ofício e preliminarmente ao juízo de mérito.
A matéria atinente aos requisitos de admissibilidade do recurso pode ser
arguída pela parte recorrida como preliminar do recurso e deve ser examinada de
ofício pelo relator, tal como ocorre com a análise preliminar feita pelo juiz na ação penal.
Verificação dos pressupostos de admissibilidade:
- o recurso é cabível? Trata-se de apelação interposta contra uma sentença?
(condenatória, absolutória, de absolvição sumária, de impronúncia)?

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Mara Saad 61
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- o recurso é tempestivo? Foi interposto dentro do prazo legal previsto para o seu
exercitamento?
- o recorrente tem legitimidade e interesse para recorrer? (o recorrente foi
sucumbente no primeiro grau de jurisdição?)
Após a realização do juízo de admissibilidade e em se verificando presentes os
pressupostos de admissibilidade (juízo positivo), conhece-se do recurso, passando, em
seguida, à formulação do juízo de mérito. Caso contrário (juízo negativo), não se
conhece do recurso, sendo defeso, neste caso, adentrar no exame do mérito da
postulação.
O juízo de admissibilidade, se positivo, não necessita ser fundamentado,
bastando dizer que estão preenchidos os requisitos legais para o conhecimento do apelo.
Ele é feito logo no início do voto. Veja alguns exemplos de juízo de admissibilidade
positivo extraídos de acórdãos do TJDFT, verbis:
Ex: “Conheço do recurso, porque presentes os pressupostos de admissibilidade”.
Ex: “Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço de ambos os recursos”.
Evite a seguinte redação: “Presentes os pressupostos processuais, conhece-se do [t48] Comentário: A forma verbal utilizada
recurso”. retira da frase a autoridade que deve conter o
juízo de admissibilidade, como também o
dispositivo final do voto. Em ambos os casos o
O juízo negativo de admissibilidade, no entanto, deve ser devidamente verbo deve estar na primeira pessoa do singular
do presente do indicativo. “Conheço do
fundamentado. Veja o seguinte exemplo:
recurso”. “Nego provimento”. “Dou parcial
“Os presentes embargos não podem ser conhecidos, por manifesta intempestividade. O provimento”. A forma verbal utilizada - na
acórdão impugnado foi disponibilizado no Diário de Justiça Eletrônico no dia 1º de junho de 2011, terceira pessoa do singular – torna o sujeito
indeterminado, não se sabendo precisar quem
quarta-feira (fl. 335), considerando-se como publicado no primeiro dia útil seguinte ao da é que conhece do recurso (se o magistrado ou
disponibilização, dia 2/6/2011, quinta-feira. O prazo para interposição de embargos de declaração se o colegiado).
na esfera processual penal é de dois dias (CPP, art. 619). Como se vê, tal período esgotou-se em
6/6/2011, segunda-feira, e o recurso, contudo, foi interposto no dia 8/6/2011 (fls. 336 verso e 337).
Pelo exposto, não conheço dos embargos de declaração.
É o voto.”

No caso de reexame necessário (art. 574, CPP), por ser ele uma condição de
eficácia da sentença e não uma espécie de recurso, a boa técnica recomenda que, no
juízo de admissibilidade, ao invés de constar a expressão “conheço da remessa oficial”,
deve-se constar: “recebo a remessa, porque preenchidos os requisitos legais do art. 574,
CPP)”. Veja alguns modelos de juízo de admissibilidade de remessa oficial:
Ex: Presentes os pressupostos recursais e legais, conheço do recurso voluntário e
recebo a remessa oficial.
Ex: Conheço do recurso voluntário, porque presentes os pressupostos de
admissibilidade; e recebo a remessa necessária por força do que dispõe o art. 574 do CPP.
Ex: Porque preenchidos os pressupostos de admissibilidade recursal, conheço da
apelação. E porque preenchidos os requisitos legais de admissibilidade, recebo a remessa oficial.

Dica: Mesmo no caso em que for negativo o juízo de admissibilidade do recurso,


convém ao relator já deixar elaborado o voto de mérito, para os casos em que, na sessão
de julgamento, ficar vencido na questão preliminar do recurso e ter que adentrar no
exame do meritum causae. Quando a preliminar (suscitada pela parte ou de ofício) é
acolhida pela minoria de votos do colegiado, é obrigatório o exame do mérito recursal.

2.2.2. O juízo de mérito:


Ultrapassado o juízo de admissibilidade do recurso (ou seja, sendo ele positivo),
passa-se à prolação do juízo de mérito. É a atividade exercida com vistas à verificação
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da existência ou inexistência de fundamentos suficientes para o acolhimento da


postulação do recorrente.

O juízo de mérito engloba: as questões prévias (preliminares e prejudiciais) e a


questão de mérito (questão de direito material).

a) as preliminares:

Preliminares que são aquelas questões prévias que, dependendo da solução


que se lhes deem (se acolhidas ou não acolhidas), permitem ou impedem a apreciação
do mérito do recurso.
Ex: intempestividade do recurso -> se acolhida, impede a apreciação do mérito
do recurso.
Ex: nulidade da sentença por falta de fundamentação -> se desacolhida, não
impede a apreciação do mérito do recurso.

As preliminares podem ser classificadas em:

- Preliminares do recurso: dizem respeito ao juízo de admissibilidade da apelação e


já foram objeto de estudo em momento anterior. São as preliminares de não
conhecimento do apelo (por intempestividade, por deserção, por falta de regularidade
formal, por descabimento do recurso etc.). Podem ser suscitadas pelo apelado ou de
ofício pelo relator.

- Preliminares da causa: (questões que no primeiro grau de jurisdição são


resolvidas como preliminares ao juízo de mérito). Ex: arguição de inépcia da denúncia;
incompetência absoluta do juízo etc. São, em regra, suscitadas pelo apelante, podendo
ser suscitadas de ofício se se tratar de matéria de ordem pública. Lembrando que o
tribunal não pode arguir nulidade em desfavor do réu se não houver alegação do recurso
da acusação (Súmula 160 STF).
As preliminares da causa, se acolhidas, podem desaguar ou no arquivamento
os autos, ou na prejudicialidade do recurso, ou no retorno dos autos à vara de origem
para sanar o vício (ex: cerceamento de defesa, nulidade da sentença por falta de
fundamentação, incompetência do juízo, ausência de intimação de testemunhas;
irregularidade na citação do réu etc.). Se desacolhidas, conduzem ao desprovimento do
recurso, porque a questão, no plano recursal, inscreve-se no plano do meritum causae.
- Preliminares de mérito: questões situadas no âmbito do mérito da causa, mas
não no âmbito da questão de direito material postulada). Ex: preliminares de extinção da
punibilidade pela prescrição. Podem ser suscitadas pelo apelante, pelo apelado ou
mesmo de ofício pelo relator (pois tratam-se de questões de ordem pública).
b) as questões prejudiciais: são questões que, se acolhidas, implicarão a
suspensão da análise do mérito do recurso. O processo fica suspenso até solução final e
definitiva da questão. Ex: - instauração de incidente de uniformização de jurisprudência; -
arguição de inconstitucionalidade de lei. No processo penal as questões prejudiciais
estão previstas no arts. 92 e ss. CPP, mas a solução delas, como regra, não é da
competência do juiz criminal e sim do juiz cível. Ex: No caso de crime contra a
propriedade intelectual, é necessário, primeiramente, estabelecer no juízo cível de quem
é a propriedade da coisa. Ex: No caso de crime de bigamia, quando estiver em pauta a
discussão sobre inexistência ou nulidade de casamento anterior.

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Obs.: É praxe nos tribunais tomar o incidente de insanidade mental como uma
prejudicial do recurso, caso em que o tribunal suspende o feito e remete à primeira
instância para a realização do exame de insanidade mental.
Obs.: Quando o relator suscita de ofício preliminar da causa ou preliminar de
mérito, o exame dos requisitos de admissibilidade do recurso fica prejudicado, pois neste
caso, o recurso sequer será examinado.
Obs.: Não confundir questão prejudicial com a prejudicialidade do recurso
por perda superveniente do interesse processual. Aquela impede a apreciação do
mérito do recurso. Esta enseja a perda superveniente do interesse de recorrer (ex: o réu
recorre pedindo a absolvição e o Ministério Público a majoração da pena. Se o Tribunal
der provimento ao apelo do réu, absolvendo-o, ficará prejudicado o recurso da acusação).
c) a questão de mérito propriamente dita: o mérito do recurso diz respeito à
questão de direito material discutida. Compõe-se da causa de pedir recursal e da
respectiva pretensão de direito material (o bem da vida pretendido). Nele se pede a
anulação, reforma ou integração da sentença.
São exemplos de questões meritórias: absolvição ou condenação do réu;
minoração da pena; modificação do regime prisional; etc.
Ex: Recurso ataca a sentença que condenou o réu pela prática do crime do roubo.
Ex: Recurso ataca a sentença que absolveu o réu da prática do crime de furto.
Ex: Recurso ataca a sentença que foi proferida contrariamente à decisão do jurados.
Nem sempre o mérito do recurso coincide com o mérito da causa.
O mérito do recurso é o pedido que nele se contém, podendo ser delimitada a
quantidade e qualidade da matéria a ser examinada, quando então poderá ou não
coincidir com o mérito da ação.
Ex: O mérito da causa é a condenação do réu pela prática do crime de roubo e o
mérito do recurso é a reiteração do pedido de condenação não obtido no primeiro grau de
jurisdição (neste caso há inteira coincidência entre o mérito da causa e o mérito do
recurso).
Ex: O mérito da causa é a condenação do réu pela prática do crime de roubo,
enquanto o mérito do recurso é o pedido de anulação da sentença por falta de
fundamentação (neste caso não há coincidência entre o mérito da causa e o mérito do
recurso, já que o recorrente não se insurge contra o mérito da ação penal (fato, autoria e
materialidade), mas contra a falta de fundamentação do decisum.
Em regra, quando no recurso se ataca error in procedendo (vício de atividade por
falta de fundamentação ou por irregularidade na citação, por exemplo, com pedido de
anulação da sentença), o mérito do recurso não coincidirá com o mérito da causa.
Quando no recurso se ataca error in judicando (vício de julgamento por injustiça da
decisão ou má apreciação da prova, por exemplo), o mérito do recurso poderá ou não
coincidir com o mérito da causa.
Mas em ambos os casos, segundo a mais abalizada doutrina, seja de alegação
de error in procedendo quanto de error in judicando, trata-se de questão de mérito e
como tal deveriam ser examinadas no recurso. Isso porque, concluindo ou não pela
existência de error in procedendo ou de error in judicando, o tribunal dá ou nega
provimento ao recurso, julgando o mérito da postulação.
Nos tribunais do país, todavia, a praxe (indevida, data venia) é excluir do juízo
de mérito as questões preliminares (tanto as preliminares da causa quanto as
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preliminares de mérito), incluindo as primeiras no campo próprio das


“preliminares” e as segundas no campo das “prejudiciais de mérito”, ficando no
âmbito do mérito apenas a questão de mérito propriamente dita (questão de direito
material discutida).
Não obstante, qualquer que seja a denominação que se queira dar a elas (seja
“preliminares”, seja “prejudiciais”, seja “mérito” as alegações de error in procedendo
devem ser examinadas em primeiro lugar e somente se rejeitadas é que serão
examinadas as alegações de error in judicando.

3. O EFEITO DEVOLUTIVO NA APELAÇÃO CRIMINAL: O que pode ser objeto de


reexame pelo Tribunal
A apelação é o recurso que permite a maior amplitude quanto à matéria impugnável,
devolvendo ao Tribunal toda a matéria de fato e de direito, segundo os ditames do
princípio do tantum devolutum quantum apelatum, ou seja, dentro dos limites da
impugnação feita pelo recorrente. Em razão disso, admite-se que a fundamentação das
apelações seja a mais ampla possível.
No que diz respeito à apelação no processo criminal, o efeito devolutivo apresenta
peculiaridades que merecem ser observadas.
Em primeiro lugar, devemos lembrar que é possível interpor o recurso por
simples termo nos autos, sem necessidade de apresentação das razões recursais,
bastando que o recorrente (no caso o réu, já que essa possibilidade é apenas para a
defesa) manifeste sua vontade de recorrer para que a matéria seja devolvida por
completo a exame pelo tribunal (art. 600, CPP).
Quando, todavia, a parte apresentar as razões do recurso impugnando apenas
parte do julgado (art. 599, CPP), o feito devolutivo limitar-se-á à matéria impugnada.
Isso não obsta a que o relator examine todo o processo e, mesmo quando não seja o
caso de o recorrente não devolver a matéria relativa à autoria e materialidade do delito,
por exemplo, pronuncie-se no voto acerca da existência deles.
Também na análise da dosimetria da pena, ainda que seja impugnado apenas um
item, é permitido ao relator percorrer todas as fases da dosimetria da pena para
verificação do acerto do juiz, devendo sempre ter em mente o princípio do non reformatio
in pejus (ou seja, proibição de reforma da sentença para piorar a situação do réu, quando
inexistir recurso da acusação).
O efeito devolutivo no processo penal apresenta outra diferenciação importante,
dependendo do tipo de sentença recorrida (sentença proferida por juiz singular ou em
procedimento do tribunal do júri).
Quando o recurso é interposto contra sentença definitiva proferida por juiz singular
(art. 593, I, CPP), o feito devolutivo é amplo, podendo ser impugnados quaisquer pontos
da sentença. Aqui se incluem as sentenças condenatórias, absolutórias e também as de
impronúncia (procedimento do júri) e de absolvição sumária (no procedimento do júri =
art. 415, CPP, e também no procedimento comum = art. 397, CPP).
Quando o recurso é interposto contra sentença proferida em procedimentos do
tribunal do júri, não serão permitidas quaisquer impugnações, em razão da peculiaríssima
situação de tratar-se de crimes dolosos contra a vida, em que o julgamento é feito por
representantes do povo, fato que a promove à condição de matéria constitucional.
Nesses casos, somente será permitido fundamentar o recurso dentro das hipóteses
legais previstas para o apelo. Isso é o que dispõe o enunciado sumular nº 713 do STF:

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“o efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos de


sua interposição”.
Isso quer dizer que, se o recurso é interposto com base no art. 593, III, “a”
(“ocorrer nulidade posterior à pronúncia”), os fundamentos do recurso têm que se limitar à
arguição de eventual nulidade ou vício ocorrido após a decisão de pronúncia capaz de
comprometer o julgamento do réu pelo júri.
Se o recurso é interposto com base no art. 593, III, “b” (“for a sentença do juiz-
presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados”), os fundamentos do
recurso deverão se limitar a apontar o erro na aplicação da pena, caso esteja em
confronto com a decisão dos jurados (agravantes, qualificadoras) ou com a lei (regime
prisional).
Se o recurso é interposto com base no art. 593, III, “c” (“houver erro ou injustiça no
tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança”), as razões do recuso deverão
apontar a não observância dos critérios legais previstos para a dosimetria da pena ou
para a aplicação da medida e segurança.
Por último, se o recurso é interposto com base no art. 593, III, “d” (“for a decisão
dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos”), o apelante deverá impugnar a
própria decisão do júri e não mais a decisão proferida pelo juiz-presidente.
No processo criminal, assim como no processo civil, a análise do recurso pode ser
feita não só pelo ângulo horizontal, mas também pelo ângulo vertical (em
profundidade), caso em que a análise é permitida por lei e pode ser feita de ofício pelo
julgador. Neste caso a devolutividade do recurso é ampla, não se restringindo apenas às
questões impugnadas pelo recorrente. Assim, em qualquer fase do processo, por
exemplo, o juiz pode reconhecer presente causa extintiva da punibilidade (art. 61, CPP),
podendo declará-la de ofício ou mediante provocação de qualquer das partes.
Obs.: No processo criminal, tratando-se de recursos contra sentença absolutória,
mesmo as nulidades absolutas não poderão ser reconhecidas ex officio quando em
prejuízo da defesa, se não alegada no recurso da acusação (Súmula 160 STF).
O voto de apelação criminal, assim como o de apelação cível, não pode ter natureza
diversa da pretendida pelo recorrente. Não pode, portanto, ser ultra, extra ou citra petita.
Aqui, vale abrir um parêntese para informar que, no processo penal, a correlação entre
o pedido e a sentença tem caráter especial, valendo essa regra, em algumas hipóteses,
para os recursos. A sentença, por certo, deverá guardar consonância com os fatos
descritos na denúncia, sendo vedado decidir extra petita (por fato de que o réu não foi
acusado) ou in pejus (aplicando pena de modalidade mais grave). Todavia, essa regra
não é absoluta, principalmente se se tiver em mente o princípio do “narra-me o fato que
eu te darei o direito”, o que significa dizer que o réu se defende dos fatos narrados na
denúncia, cumprindo ao órgão acusador delimitar a causa de pedir, isto é, fazer a
descrição do delito praticado pelo réu e pedir a condenação com base exclusiva naquele
fato. As demais questões, como adequação do tipo penal, o enquadramento jurídico do
fato, a dosimetria da pena, a fixação do regime prisional, cabe ao juiz decidir com base
no que dispõe a lei que ele conhece. Assim, no processo penal, o juiz tem liberdade de
fazer correções para adequar o fato narrado ou a imputação feita.
O art. 383 do CPP (emendatio libelli), permite ao juiz modificar a capitulação ou
classificação do crime sem modificar a descrição do fato, ainda que disso resulte
aplicação de pena mais grave. Ex: O MP descreve o fato criminoso como sendo
estelionato. O juiz entende que a conduta praticada constitui furto mediante fraude. Essa
permissão, segundo a melhor doutrina, não implica prejuízo à defesa, eis que o réu se
defende dos fatos e não da capitulação feita. O art. 383 permite ainda ao juiz reconhecer
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qualificadoras e causas de aumento de pena que, por descuido, não se fizeram constar
da denúncia. O instituto da emendatio libelli pode ser aplicado pelo Tribunal, nos
julgamentos dos recursos, não se podendo todavia os julgadores olvidar o princípio non
reformatio in pejus, em que é proibida a reforma da sentença para piorar a situação do
réu. Assim, em não havendo recurso do Ministério Público, mas somente do réu, o
Tribunal não poderá corrigir a capitulação se disso resultar a aplicação de pena mais
grave.
O art. 384 CPP (mutatio libelli) permite a correção para o fim de adequar a própria
definição do fato. Ex: O MP descreve o fato criminoso como sendo furto. O juiz, ao
sentenciar entende que o fato descrito na denúncia na verdade é roubo (o acusado agiu
com violência contra a pessoa). Neste caso, se a correção implicar aplicação de pena de
maior gravidade, então cumpre ao Ministério Público aditar a denúncia, ficando o juiz
adstrito ao novo fato (art. 384, § 4º do CPP). O instituto da mutatio libelli não pode ser
aplicado pelo Tribunal, em face da vedação contida na Súmula 453 do STF, segundo a
qual “não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do CPP que
possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância
elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou na queixa”.

4. TIPOS DE JULGAMENTO:
Ao prolatar o voto, o relator pode proferir dois tipos de julgamento:

a) o julgamento rescindente: acolhe-se a alegação de error in procedendo e anula


a decisão recorrida, determinando o retorno dos autos à origem para alguma providência
ou para que se profira novo julgamento no juízo a quo. A sentença anulada deixa de
existir sem que outra a substitua, mesmo que o mérito da causa tenha sido apreciado no
primeiro grau de jurisdição. Ex: anulação da sentença em razão da falta de
fundamentação; sentença proferida por juiz incompentente; irregularidade na citação do
réu etc.
b) O julgamento substitutivo: é o que, acolhendo ou não alegação de error in
judicando, opera a substituição da decisão recorrida pela decisão que julgou o recurso.
Em outras palavras, o acórdão substitui a sentença – no que esta tiver sido objeto de
impugnação - seja no caso de provimento ou desprovimento do recurso Ex:
Confirmação da sentença que julgou procedente a acusação. Ex: reforma da sentença
que julgou improcedente a acusação.

c) Obs.: A substituição é parcial quando o recurso impugnar apenas parte da


sentença, caso em que não haverá substituição da sentença quanto à matéria não
impugnada. Ex: o apelante insurge-se apenas contra o quantum da pena aplicada ou
contra o regime prisional. A substituição, neste caso, somente se opera no tocante às
questões levantadas no recurso, muito embora a matéria pode ser toda devolvida ao
tribunal. A substituição dar-se-á, obviamente, quanto às questões que foram modificadas
no tribunal.
Obs.: Não há substituição quando a sentença é anulada por error in procedendo,
pois, neste caso, haverá a desconstituição da decisão anterior, renovando-se a
competência do juiz para novo julgamento. Neste caso, o julgamento proferido no
segundo grau de jurisdição não coincide, no objeto, com o proferido no primeiro grau de
jurisdição.
Também não há substituição quando o recurso não é conhecido, pois isso implica a
manutenção da sentença recorrida tal como ela foi proferida.

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Obs.: No caso de recurso contra sentença definitiva, quando a substituição for total,
ainda que esteja o acórdão confirmando a sentença, por ser o julgamento substitutivo,
não é de boa técnica dizer no dispositivo que “se mantém a sentença por seus próprios e
jurídicos fundamentos”. Isso porque, se o acórdão substituiu a sentença, os fundamentos
agora prevalentes são os do acórdão e não mais os da sentença. QUANDO A
SENTENÇA É CONFIRMADA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS, O ACÓRDÃO
NÃO NECESSITA TRAZER NOVOS FUNDAMENTOS, BASTANDO REPETIR OS JÁ
CONTIDOS NA SENTENÇA. Quando a substituição for parcial, no entanto, a parte da
sentença não impugnada pode ser mantida por seus próprios fundamentos.

5. ORDEM NA APRECIAÇÃO DAS QUESTÕES SUSCITADAS NO RECURSO:


Inicie o voto fazendo, preliminarmente, o juízo de admissibilidade do
recurso e do reexame necessário (se for o caso). Isso engloba a análise dos
pressupostos de admissibilidade recursal e de preliminares que prejudicam a análise do
mérito recursal. Em seguida, passa-se à análise das preliminares da causa, das
preliminares de mérito e das prejudiciais. Por fim, analisa-se o mérito propriamente
dito (questão de direito material).
Esta é, em regra, a ordem que se deve observar na apreciação das questões
suscitadas no recurso:

5.1. AS PRELIMINARES DO RECURSO:


Por óbvio, as preliminares do recurso devem ser analisadas em primeiro
lugar, porque dizem respeito ao juízo de admissibilidade (ex: preliminar de
intempestividade do recurso; preliminar de falta de interesse recursal etc.).
Se o juízo de admissibilidade for negativo, o recurso não será conhecido e aí
não será possível analisar nenhuma questão suscitada no recurso.
Se o juízo de admissibilidade for positivo, o recurso será conhecido e aí serão
analisadas as demais questões levantadas, sejam de ordem preliminar ou questão de
mérito.

5.2. AS PRELIMINARES DA CAUSA:


Após o exame das preliminares do recurso (juízo de admissibilidade), passa-
se ao exame das preliminares da causa. É muito comum o recorrente suscitar no recurso
mais de uma questão preliminar. Não há regras rígidas quanto à ordem em que devem
ser examinadas pelo tribunal, sendo de boa técnica, a análise daquelas que se acolhidas
(ex: incompetência do juízo, cerceamento de defesa), acabarão prejudicando o exame
das demais preliminares. Pode-se também observar a ordem em que são apresentadas
pelo recorrente. Convém que sejam ordenadas em capítulos e postas em votação
separadamente e de forma organizada. Verificando-se previamente ser o caso de
acolhimento de uma delas, esta deve ser examinada em primeiro lugar, ficando
prejudicado o exame das demais.

5.3. AS PRELIMINARES DE MÉRITO:


Em seguida, são examinadas as preliminares de mérito (aquelas que,
conquanto sejam consideradas como questões prévias, situam-se, na verdade, no âmbito
do mérito da causa, mas não no âmbito da questão de direito material postulada). Ex:
preliminares de prescrição e de decadência (extinção da punibilidade). Podem ser
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suscitadas pelo apelante/apelado ou de ofício pelo relator (pois tratam-se de questões de


ordem pública).

5.4. AS PREJUDICIAIS:
Após as preliminares de mérito, deverão ser analisadas as eventuais prejudiciais
suscitadas pelo recorrente. As questões prejudiciais são aquelas que, se acolhidas,
ensejarão a suspensão da análise do mérito do recurso. Ex: - instauração de incidente de
uniformização de jurisprudência; - arguição de inconstitucionalidade de lei; - instauração
de incidente de insanidade mental do réu; etc.

5.5. OBSERVAÇÕES:
Por óbvio, se o relator suscita de ofício alguma preliminar (ou prejudicial), esta
deverá ser examinada em primeiro lugar, não tendo lugar o exame das demais questões
postas no recurso, nem mesmo do juízo de admissibilidade, cuja análise fica prejudicada.
Obs.: Quando for o caso de se arguir, de ofício, alguma preliminar, mas a parte
também a suscita, o relator deverá acolher a preliminar suscitada e não decidir de ofício.
Se for o contrário, ou seja, se ele suscitar de ofício a preliminar, e não houver arguição do
apelante, então não deverá dizer que acolhe a preliminar, mas sim que a suscita de
ofício. Ex: O relator verifica que o recurso está intempestivo. De ofício ele pode não
conhecer do recurso (Ex: De ofício, não conheço do apelo). Todavia, se a parte apelada
suscitar a preliminar de intempestividade nas contrarrazões, o relator deverá acolher a
preliminar (Ex: Acolho a preliminar suscitada e não conheço do recurso).

Havendo arguição de preliminar (seja da causa, seja de mérito) a solução pode ser
o acolhimento ou a rejeição da preliminar.

Se for acolhida a preliminar, as consequências podem ser: a) a anulação da


sentença com o retorno dos autos para sanação do vício; b) o pronunciamento da
prescrição ou da decadência etc.

Ex: Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.


Preliminarmente, analiso a preliminar de cerceamento de defesa arguída pelo apelante.
(............................ FUNDAMENTOS .......................................)
À vista do exposto, DOU PROVIMENTO AO RECURSO para, acolhendo a preliminar suscitada,
determinar o retorno dos autos à vara de origem para que se oportunize ao autor/apelante a produção da
prova requerida.
É como voto.

Se for rejeitada a preliminar, a consequência é prosseguir no exame do mérito do


recurso (questões de direito material).
Veja um exemplo de como organizar o voto, tendo em vista as preliminares
suscitadas no recurso e rejeitadas pelo relator:
Ex: Presentes os pressupostos que autorizam a admissibilidade do apelo, dele conheço.
Analiso, inicialmente, as preliminares arguidas pela apelante.
a) DA ALEGADA INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO:
(...................... fundamentos................................)
REJEITO A PRELIMINAR.
b) DO ALEGADO CERCEAMENTO DE DEFESA:
(...................... fundamentos.................................)
REJEITO A PRELIMINAR.

Ultrapassadas as preliminares, passo ao exame do meritum causae.

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A controvérsia cinge-se à verificação..........

Dica: Mesmo no caso em que forem acolhidas as preliminares, convém ao relator já


deixar elaborado o voto de mérito, para os casos em que, na sessão de julgamento, ficar
vencido na questão preliminar e ter que adentrar no exame do meritum causae. Quando
a preliminar (suscitada pela parte ou de ofício) for acolhida pela minoria de votos do
colegiado, é obrigatório o julgamento do mérito recursal.

Não havendo preliminares suscitadas ou se forem elas rejeitadas, a consequência é


prosseguir no exame do mérito do recurso (questões de direito material).

5.6. O MÉRITO:
Por último, é feita a análise do meritum causae, que diz respeito à questão de
direito material.
Ao examinar o mérito do recurso (questão de direito material) o tribunal analisa se
as razões do recurso são ou não pertinentes. Verifica se houve erro do julgamento por
parte do juiz, ou seja, se houve má apreciação da prova, ou má aplicação do direito.
Verificando estar correta a sentença, ele NEGA PROVIMENTO AO RECURSO. Caso
seja detectado eventual defeito no julgado, ele DÁ PROVIMENTO AO RECURSO (total
ou parcialmente, dependendo do caso) para anular ou reformar (total ou parcialmente),
conforme seja o caso de error in procedendo ou error in judicando respectivamente.
Error in procedendo -> anula a sentença
Error in judicando -> reforma a sentença
Sentença correta -> confirma-se a sentença
Quanto ao juízo de mérito, (fundamentação do voto), não há uma sequência
obrigatória sobre qual dos exames deve ser feito primeiro: se o exame dos fatos ou o
exame da questão de direito. Tudo vai depender do caso concreto. Há casos em que o
magistrado analisa em primeiro lugar a questão de fato. Em outros casos, analisa
primeiro a questão de direito. Há casos também em que as questões de fato e de direito
estão tão entrelaçadas que a análise deve ser feita simultaneamente.
No processo criminal, em que se sobreleva a questão fática, em regra são os
fatos que deverão ser examinados em primeiro lugar.
Há doutrinadores, no entanto, que recomendam, na motivação do voto, seguir
a seguinte ordem (silogismo):
- Premissa maior -> a norma jurídica;
- Premissa menor -> o fato
- Conclusão -> a solução da questão controvertida.

6. QUESTÕES QUE PODEM SER SUSCITADAS E POSSÍVEIS SOLUÇÕES:

6.1. QUESTÕES PRELIMINARES:

Veja, a seguir, algumas preliminares (da causa e de mérito) (alegação de error in


procedendo) que podem ser arguidas pelo apelante ou de ofício pelo relator e a solução a
ser dada pelo tribunal, em caso de acolhimento delas:

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PRELIMINARES SOLUÇÃO
- incompetência do juízo; - anula a sentença e determina o
retorno dos autos à instância de origem
para que os autos sejam distribuídos a
um dos juízos competentes (julgamento
rescindente).
- cerceamento de defesa; - anula a sentença e determina o
retorno dos autos à vara de origem para
oportunizar a produção de provas
(julgamento rescindente).
- falta de fundamentação da sentença; - anula a sentença para que outra
seja proferida devidamente
fundamentada (julgamento rescindente).
- falta de intervenção do Ministério - anula a sentença e os atos
Público; processuais realizados posteriormente
ao momento em que o MP deveria
intervir no feito, determinando o retorno
dos autos para a manifestação do MP
(julgamento rescindente).

- impedimento ou suspeição do juiz; - anula a sentença, determinando a


redistribuição do feito a outro juiz
(julgamento rescindente).
- nulidade da citação; - anula a sentença e todos os atos
processuais realizados posteriormente à
citação irregular do réu, determinando o
retorno dos autos, a fim de que seja feita
a citação regular e posterior
prosseguimento do feito (julgamento
rescindente).
- nulidade da sentença que indeferiu a - anula a sentença determinando o
denúncia por inépcia; retorno dos autos à vara de origem para
oportunizar a emenda da denúncia
(julgamento rescindente).

- prescrição ou decadência; - anula a sentença, afasta a


alegação de prescrição ou de
decadência e determina o retorno dos
autos à vara de origem para o
prosseguimento do feito com a prolação
de sentença de mérito (julgamento
substitutivo).

- cerceamento de defesa por falta de


- anula o processo a partir das
oportunidade para oferecer alegações
alegações finais, devendo os autos
finais (processo criminal);
retornar à vara de origem para o
oferecimento das alegações finais e
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posterior prosseguimento do feito.


- cerceamento de defesa (indeferimento - determina o retorno dos autos à
de exame de dependência toxicológica); vara de origem para a realização do
exame de dependência toxicológica.
- necessidade de instauração de - determina o retorno dos autos à
incidente de insanidade mental do instância de origem para a instauração
acusado. do incidente (art. 149, CPP).
- preliminar de extinção de punibilidade - dá provimento ao recurso para,
anulando a sentença, julgar extinta a
punibilidade.

6.2. QUESTÕES DE MÉRITO:


Veja agora as questões de mérito que podem ser arguidas na APELAÇÃO
CRIMINAL (alegação de error in judicando) (dentre outras) e a solução que pode ser
dada pelo tribunal em caso de julgá-las pertinentes:

QUESTÕES (de mérito )SUSCITADAS SOLUÇÃO


- erro de julgamento da sentença - dá provimento ao recuso para
absolutória (juiz singular), que entendeu reformar a sentença e julgar procedente a
não estar provada a existência do fato; acusação em razão da existência da prova
do fato.
No caso de reforma da sentença
absolutória, o tribunal impõe a sanção
penal ou medida de segurança (se o caso),
faz a dosagem da pena, mencionando as
circunstâncias agravantes ou atenuantes
definidas no CP (arts. 59 e 60, CP) e tudo o
mais que puder ser levado em conta na
aplicação da pena. Aplica a pena final (art.
387, III), fixa o regime prisional, fixa valor
mínimo para reparação dos danos
causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido (art. 387,
Obs.: se o crime é afiançável, permite-se a
possibilidade de o réu apelar em liberdade,
mediante prestação de fiança.
- erro de julgamento da sentença - dá provimento ao recurso para
absolutória (juiz singular) que entendeu não reformar a sentença e julgar procedente a
constituir o fato infração penal; acusação, por constituir o fato infração
penal;
(Veja observações do item anterior)
- erro de julgamento da sentença - dá provimento ao recurso para
condenatória (juiz singular) que entendeu reformar a sentença e julgar improcedente
existir provas da autoria e materialidade do a acusação, reconhecendo inexistir provas
crime; da autoria e materialidade do crime (art.
386, V, CPP). Manda pôr o réu em
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liberdade, caso esteja ele preso. Manda


aplicar medida de segurança, se for o caso
(parágrafo único do at. 386).
- se ocorrer nulidade posterior à pronúncia - dá provimento do recurso, a fim de
(procedimento do júri) (art. 593, III, a); anular o julgamento para que outro se
realize.
- erro de julgamento por ser a sentença do - dá provimento ao recurso, corrigindo o
juiz presidente do tribunal do júri contrária à próprio tribunal o equívoco, para adequar a
lei expressa ou à decisão dos jurados (art. decisão aos termos da lei ou ao
593, III, b); pronunciamento do Conselho de Sentença
(art. 593, § 1º).
- erro de julgamento ou injustiça no tocante - dá provimento ao recurso, corrigindo o
à aplicação da pena ou da medida de próprio tribunal o erro, aplicando a pena
segurança (art. 593, III, c); cabível (art. 593, § 2º).
- se a decisão dos jurados for - dá provimento ao recurso para anular
manifestamente contrária à prova dos o julgamento, submetendo o acusado a
autos (art. 593, III, d); novo júri (art. 593, § 3º do CPP). (não se
admite, neste caso, nova apelação pelo
mesmo motivo).
- erro de julgamento da sentença de - dá provimento ao recurso para
impronúncia; reformar a sentença e pronunciar o réu.
- erro de julgamento da sentença de - dá provimento ao recuso para anular a
absolvição sumária (procedimento do júri sentença e determinar o retorno dos autos
ou procedimento comum). para o prosseguimento da ação penal.
- não decretação da extinção da - dá provimento ao recurso para anular
punibilidade a sentença e absolver sumariamente o réu.

7. A ESTRUTURAÇÃO DO VOTO:

Ao elaborar o voto, estruture-o de forma que fique organizado, preocupando-se


não apenas com a redação, mas também com a estética.
Havendo mais de um recurso, examine-os separadamente.
DO RECURSO DO RÉU: (...)
DO RECURSO DO AUTOR: (...)

Havendo concurso de crimes, examine cada crime separadamente:


DO RECURSO DO RÉU:
a) Do crime de tráfico de entorpecentes:
b) Do crime de corrupção de menores:

Caso haja identidade da matéria, examine os recursos conjuntamente (Ex: a


defesa pede a minoração e a acusação pede a majoração da pena).
Nestes casos, iniciam-se assim os votos (mera sugestão):

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Ex: A matéria de ambos os recursos se interligam, motivo pelo qual os


analiso conjuntamente.
Ex: Relativamente ao mérito, passo a examinar conjuntamente os apelos,
pois as matérias são comuns.
Ex: Tendo em vista a identidade entre as matérias deduzidas, promovo a
análise dos recursos de forma concomitante.
Havendo mais de um recurso e um for prejudicial do outro, analise por último
aquele que vai ficar prejudicado
Ex: MP apela pedindo a majoração da pena. O réu apela pedindo a absolvição.
Examine primeiro o recurso do réu, pois, se for acolhido, irá acarretar a prejudicialidade
do recurso do autor.
Exemplo de redação: “Passo ao exame do recurso dos réus, eis que sua postulação, se procedente,
prejudicará o exame do apelo interposto pelo autor”.

Se houver várias questões a ser discutidas, separe-as por tópicos para oportunizar
melhor entendimento e visualização da matéria debatida. Ex: - Da autoria e
materialidade: - Do quantum da pena; - Do regime prisional; etc.
Ao utilizar as fontes do direito, observe a hierarquia delas: 1º) Constituição Federal:
2º) leis em geral; 3º) jurisprudência (STF, STJ, TJ); 4º) doutrina.

8. DOSIMETRIA DA PENA:

No caso de elaboração de voto em apelação criminal, a maior dificuldade é nos


casos em que haverá a reforma da sentença absolutória, pois, neste caso, haverá
condenação e, de consequência, a aplicação e dosagem da pena.
Não é nosso objetivo, neste estudo, ensinar a dosar a pena, mas apenas
orientar no sentido de que, na análise das circunstâncias do art. 59, não basta o
julgador enunciar de forma genérica que o réu é portador de maus/bons antecedentes
e de conduta social reprovável; ou que os motivos e as consequências do crime são
as próprias do tipo penal. Faz-se necessário justificar especificadamente cada uma
das circunstâncias, descrevendo a personalidade do agente e a conduta que
desempenha na comunidade etc., etc.
Assim, na aplicação da pena, o magistrado deve observar o sistema trifásico (de
Nelson Hungria) adotado em nosso ordenamento jurídico obedecendo a seguinte
ordem (art. 68, CP):
- Fixa-se a pena-base prevista para o crime (no tipo penal) e a pena
pecuniária (art. 49, CP)
A partir da pena estabelecida no início, que em regra é fixada no mínimo
previsto para o crime, passa-se à fixação da pena base, não só da privativa de
liberdade, mas também da de multa.
Obs.: Na aplicação da pena de multa, devem-se se utilizar os mesmos critérios
para a aplicação da pena privativa de liberdade. Primeiro fixa-se a pena no mínimo
legal, depois vão se analisando as fases, com apenas uma diferença: na contagem da
pena de multa, utiliza-se o sistema bifásico (só a primeira e terceira fases). A pena de
multa tem que ser fixada proporcionalmente à pena privativa de liberdade.
1ª fase: circunstâncias judiciais: analisam-se as oito circunstâncias judiciais
previstas no art. 59 do CP.

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A fixação da pena-base com base nas circunstâncias judiciais deve ser feita por
meio de decisão devidamente fundamentada, com razoabilidade e proporcionalidade,
atendendo aos fins da pena (punição e prevenção). A análise deve ser feita com base
em dados concretos extraídos dos autos do processo, não se admitindo
fundamentação vaga e abstrata. Pesadas as circunstâncias em contrário ou em favor
do réu, a pena vai-se diminuindo ou aumentando.
Há vários critérios para a aplicação do art. 59 do CP.
1º) para cada circunstância judicial aplicam-se – a mais ou a menos - dois
meses (se a pena do crime for de 1 a 4 anos), quatro meses (se a pena do crime for
de 4 a 8 anos), seis meses ou mais (se a pena do crime for maior do que isso);
2º) aplica-se a regra do “um oitavo”: diminui-se o máximo do mínimo da pena e
divide-se por dois (Ex: pena de 1 a 4 anos -> 4 - 1 = 3 -> três anos = trinta e seis
meses -> 36 (meses) : 8 (oito circunstâncias) = quatro meses -> quatro meses é o
máximo a ser aplicado para cada circunstâncias e o mínimo são dois meses (metade
de quatro), a depender do crime praticado.
3º) outros (vide livros de doutrina)
Na análise da qualificação subjetiva do condenado e dos critérios norteadores
do art. 59 deve o magistrado atentar-se para:
- culpabilidade: é o juízo de censura que se faz em razão do crime praticado pelo
acusado. Se a reprovabilidade da conduta estiver dentro do padrão que se admite
para o crime, não há aumento da pena. Se extrapolar a razoabilidade do que se
entende aceitável para o crime, então a pena já começa acima do mínimo legal. Ex: a
culpabilidade da acusada vem demonstrada por meio de regular índice de
reprovabilidade, tendo em vista que possuía o potencial conhecimento da ilicitude do
fato, sendo socialmente reprovável a sua conduta, quando dela se exigia
comportamento diverso”. Ex: “Conduta reprovável, na medida em que incrementa de
modo sensível o sentimento de insegurança nesta comunidade.” Ex: A
- antecedentes: Ex: o acusado é contumaz no crime. Ex: é a primeira investida
criminosa. Ex: Réu primário e de bons antecedentes. Ex: Réu possuidor de extensa
folha penal, ostentando condenações por fatos anteriores, indicativas de seus
péssimos antecedentes. Ex: “Registra maus antecedentes à luz da certidão de fl. 190”.
Obs: Para efeito de valoração da circunstância judicial referente aos maus
antecedentes, é exigida a existência de sentença penal condenatória por fato
criminoso cometido antes do crime em análise com trânsito em julgado (Ac. 527.996).
Súmula 444 do STJ = Condenação sem certificação do trânsito em julgado não pode
ser levada à consideração de maus antecedentes (presunção de não culpabilidade).
- conduta social: Considera-se o comportamento no ambiente familiar, de trabalho,
escolar etc. Muitas vezes, a conduta social não resta devidamente investigada. Ex:
Sem elementos para a análise da conduta social do agente. Ex: Tenho que a conduta
social e personalidade do acusado devem ser aferidas de forma favorável, pois
inexistem elementos nos autos para a respectiva aferição.
- personalidade (está ligada à conduta do agente no momento da consecução do
crime): agressividade, maldade, ambição, desonestidade, perversidade Se é afetivo,
agressivo, maldoso, ambicioso, desonesto, perverso etc. Ex: Sem elementos para a
análise da personalidade do réu.
- os motivos – a valoração dos motivos deve ser feita conforme as normas ético-
sociais. Muitas vezes a motivação não fica devidamente esclarecida. (Se o motivo
integrar uma qualificadora ou uma privilegiadora, contemplada na parte especial, não

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será apreciado entre os fatores determinantes elencados pelo art. 59, mas num
momento posterior).
- as circunstâncias – As agravantes e atenuantes são chamadas de circunstâncias
legais, enquanto o art. 59 enumera as circunstâncias judiciais. Não integram o crime
mas influem sobre sua gravidade. As circunstâncias obrigatórias são aquelas
arroladas nos arts. 61, 62 e 65 do CP, de aplicação cogente. (os meios e o local do
crime, o tempo de sua duração, as relações entre autor e vítima). Ex: As
circunstâncias e motivos não exorbitam a esfera de reprovação do tipo.
- as consequências do crime – qual o tamanho do dano para a vítima, sua família e
a sociedade. Ex: A vítima amargará para sempre na memória o vilipêndio à sua
inocência e o prejuízo à sua infância, que jamais poderá ser recuperado. Ex: “As
consequências excedem em muito o ordinariamente previsto, pois além de tratar-se de
prejuízo de alta monta, o acusado ainda subtraiu a arma da vítima, o que revela dano
incalculável à coletividade, pois adicionou tal artefato ao cenário de crimes praticados
mediante violência e grave ameaça”.

- comportamento da vítima – em regra, entende-se que o comportamento da vítima


é circunstância que deve ser apurada em favor do réu, nos casos em que o
comportamento da vítima estimula/atrai o crime (a vítima ofende o réu). Há quem
entenda que pode ser considerado como circunstância desfavorável ao réu. Assim, o
que tem de ser observado é se o comportamento da vítima constituiu ou não em
provocação ou estímulo à conduta criminosa. Ex: não há falar-se em comportamento
da vítima.
Obs.: A doutrina e jurisprudência entendem ser possível a compensação de
circunstâncias judiciais do mesmo valor. Assim, circunstâncias subjetivas, uma
favorável e outra desfavorável, podem ser compensadas.
A pena-base se torna definitiva se não houver agravantes e atenuantes ou causas
de aumento e diminuição de pena. Se houver, passa-se à 2ª e/ou 3ª fases.
2ª fase: circunstâncias legais (atenuantes e agravantes): consideram-se as
circunstâncias atenuantes e agravantes (arts. 61, 62, 65 e 66, CP).
Havendo agravantes ou atenuantes, o cálculo recai sobre a pena-base apurada
na primeira fase.
Segundo o entendimento jurisprudencial e doutrinário majoritário, 1/6 é a fração
que deve ser utilizada para atenuar ou agravar a penas (pois 1/6 é o menor valor de
causa de aumento de pena previsto na legislação penal). Entende-se que se a
agravante é menos importante que a causa de aumento de pena, então, não se
poderia agravar a pena em mais de 1/6.
A fração de 1/6 deve incidir sobre o patamar da pena base apurada na primeira
fase.
Obs: Se houver duas agravantes, por exemplo, somam-se à pena apurada na
primeira fase 2/6 correspondentes à soma de 1/3 para cada agravante. Não se deve
aplicar 1/6 referente à primeira e sobre o resultado alcançado aplicar o outro 1/6.
Para efeito da aplicação da reincidência como agravante da pena, deve-se levar
em consideração se houve o início do cumprimento da pena (art. 64, I, CP) (ou seja, o
cômputo de cinco anos dá-se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a
infração posterior). Caso contrário, não poderá a circunstância ser levada em conta
para agravar a pena.

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Obs: Reincidência e maus antecedentes: a mesma condenação não pode ser


utilizada para gerar reincidência e maus antecedentes, podendo gerar apenas a
reincidência (Súmula 241, STJ). O réu deixa de ser reincidente depois de cinco anos
do trânsito em julgado da sentença que o condenou. Entende-se que um fato, que não
pode mais ser considerado reincidência por ter ultrapassado cinco anos, pode ser
utilizado para majorar a pena-base, como maus antecedentes (pacífico no STJ e STF).
Inquérito e processo em andamento não servem para configurar maus antecedentes
em face do princípio da inocência (Súmula 444 do STJ).
Obs: Segundo a Súmula 231 do STJ e entendimento prevalente, a atenuante não
pode reduzir a pena para abaixo do mínimo e a agravante não pode ultrapassar o
máximo da pena em abstrato. Essa questão é controvertida. Há os que entendem
possível a redução da pena abaixo do mínimo legal na segunda fase, tendo em vista o
que dispõe o art. 65 o CP, quando diz que: “são circunstâncias que sempre atenuam a
pena...
Obs.: É possível a compensação entre agravantes e atenuantes se elas forem
preponderantes. Se as circunstâncias forem preponderantes (art. 67, CP), haverá
concorrência entre agravantes e atenuantes. A atenuante da menoridade relativa
prepondera sobre a reincidência (entendimento majoritário). A reincidência também é
considerada preponderante sobre as demais circunstâncias, mas ela não prepondera
sobre a atenuante da menoridade relativa.
3ª fase: causas de aumento ou diminuição da pena: consideram-se as
causas de diminuição e aumento da pena (primeiramente as do próprio tipo penal;
depois, as contempladas na parte geral do Código Penal – arts. 70, 71, caput e
parágrafo único) (cuidado para não incorrer em bis in idem).
Os fatores de acréscimo ou redução da pena estão assinalados em quantidades
fixas (dobro, metade etc.) ou em limites (um a dois terços).
Havendo causas de aumento ou diminuição da pena, o cálculo recai sobre a
pena apurada na segunda fase, ou então na primeira, se não houver agravantes ou
atenuantes.
A ordem na aplicação delas não altera o resultado. Não obstante, há quem
defenda que se deve primeiro aplicar as causas de diminuição e depois as de
aumento. E há quem defensa o contrário.
Exceção: parágrafo único do art. 68 do CPP: quando há duas ou mais causas de
aumento ou diminuição na parte especial (no tipo penal) não há cumulação; o juiz
pode escolher uma em detrimento da outra, prevalecendo a causa que mais aumente
ou diminua. (Matéria controvertida).
As causas de aumento e diminuição da pena (chamadas indevidamente de
qualificadoras) não se devem confundir com as “qualificadoras” (em sentido estrito)
(estas indicam o máximo e o mínimo da pena do crime qualificado e não incidem no
cálculo do art. 68 = ex: art. 121, § 2º; art. 157, § 3º etc.).
Obs.: As causas de aumento e diminuição da pena podem aumentar a pena
acima do máximo e minorar abaixo do mínimo (matéria controvertida). A aplicação da
causa de aumento ou diminuição da pena no valor mínimo previsto no tipo penal não
precisa ser fundamentado. Mas se for no valor máximo, sim.
Aí chega-se ao cálculo final da pena (privativa de liberdade e da multa).
Posteriormente,

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- Fixa-se o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade


(art. 33, CP) (há de se observar a quantidade de pena imposta, a qualificação
subjetiva do condenado e os critérios norteadores do art. 59).
- Verifica-se a possibilidade de substituição da pena privativa da liberdade
por outra espécie de pena, se for o caso (art. 44 e ss. CP).
- Fixa-se valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido (art. 387, IV) (§ 1º do art. 45,
CP).
Veja o seguinte exemplo: (Crime: falsificação, corrupção, adulteração ou
alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais).
“Diante do exposto, julgo procedente a pretensão punitiva estatal deduzida na denúncia para
condenar M.L.P. nas sanções do art. 273, §§ 1º 1ºB, incisos I e V do Código Penal.
Atento às diretrizes dos artigos 59 e 68 do CP, passo à individualização da pena.
Na análise das circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal, tenho que a culpabilidade
da acusada vem demonstrada por meio de regular índice de reprovabilidade, tendo em vista que
possuía o potencial conhecimento da ilicitude do fato, sendo socialmente reprovável a sua
conduta, quando dela se exigia comportamento diverso; não registra antecedentes; sua conduta
social nada possui de relevante, assim como sua personalidade; os motivos são reprováveis e
injustificáveis; as circunstâncias são as comuns do tipo, bem como as consequências e não há
falar-se em comportamento da vítima.
Na primeira fase de fixação da pena, estabeleço à ré a pena-base de 10 (dez) anos de
reclusão, no mínimo legal, a qual torno definitiva , em face da ausência de agravantes, atenuantes
ou causas de aumento ou de diminuição de pena.
Condeno, ainda, a ré, ao pagamento de 40 (quarenta) dias-multa, que, em face de sua
situação econômica, deverá ser calculado o dia-multa à razão de 1/30 (um trigésimo) do salário
mínimo vigente à época do fato, devidamente corrigido.
Nos termos do art. 33, § 2º, alínea “a” e § 3º, do CP, estabeleço o regime fechado para o
início do cumprimento da pena privativa de liberdade.
A sentenciada respondeu ao processo em liberdade. Assim, concedo-lhe o direito de apelar
em liberdade.
Por fim, nos termos do art. 804 do CPP, condeno a ré, ainda, ao pagamento das custas do
processo, ficando eventual isenção a cargo da VEC.
Operando-se o trânsito em julgado, lance-se o nome da ré no rol dos culpados e expeça-se [MS49] Comentário: revogado
carta de sentença ao juízo das execuções criminais, fazendo-se as anotações e comunicações
necessárias, inclusive ao INI.”

Veja outro exemplo:

“Posto isso, JULGO PROCEDENTE A PRETENSÃO PUNITIVA DEDUZIDA NA


DENÚNCIA, para, na forma do artigo 383 do CPP, desclassificar a conduta e condenar
ANASTÁCIO DOS SANTOS LOPES nas penas do artigo 16, parágrafo único, IV da lei 10826/03.
Passo à individualização da pena.
Conduta reprovável, na medida em que incrementa de modo sensível o sentimento de
insegurança nesta comunidade. Réu possuidor de extensa folha penal, ostentando condenações
por fatos anteriores (fls. 97, 100), indicativas de seus péssimos antecedentes. A anotação de fl.
95 será considerada oportunamente. Felizmente, a arma foi apreendida antes que pudesse ser
reparada, portanto, não houve maiores consequências além das comuns ao tipo. A coletividade
não colaborou para a eclosão do evento.
Com base na análise supra, desfavorável em razão dos maus antecedentes, fixo-lhe as
penas-base em quatro anos de reclusão e quinze dias-multa.
Diante do concurso entre a confissão espontânea e a reincidência (fl. 95), e sendo esta última
preponderante, na forma do artigo 67 do Código Penal, exaspero as penas em seis meses e três
dias-multa, tornando-as definitivas em quatro anos e seis meses de reclusão e dezoito dias-
multa.

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O regime inicial para cumprimento da pena será o fechado, em face da comprovada


reincidência.
Cada dia-multa será calculado à razão de um trigésimo do salário mínimo vigente à data do
fato.
Decreto o perdimento da arma apreendida, determinando seu encaminhamento ao Comando
do Exército, via CEGOC.
Custas pela lei.”

9. ELEMENTOS DO VOTO:
São elementos essenciais do voto: a fundamentação e o dispositivo.
9.1. A FUNDAMENTAÇÃO:
Após a análise de todos os elementos do processo (das questões de fato e de
direito, da sentença e das razões deduzidas no recurso), o relator estará apto a
desenvolver a tese jurídica a ser por ele defendida e fazer a exposição das razões de
seu convencimento de forma precisa, indicando os motivos que o formaram e
solucionando o conflito devolvido a seu conhecimento (para, ao final, dar ou negar
provimento ao recurso, anulando, reformando ou confirmando a sentença recorrida).
O magistrado pode decidir livremente; todavia, deve fazê-lo com base nas
alegações das partes, nas provas dos autos, no direito vigente (aplicando a norma
legal pertinente ao caso concreto), nos bons costumes e nos princípios gerais do
direito ou na analogia (se o caso), citando jurisprudência e doutrina, se considerar
necessário para fundamentar a decisão, sob pena de tornar arbitrária a jurisdição.
Se a questão é eminentemente de fato, devem ser analisadas todas as provas
produzidas pelas partes, para extrair delas o resultado final da controvérsia. Se a
questão é eminentemente de direito, deve ser procurada nos livros de doutrina e na
jurisprudência a melhor interpretação jurídica a respeito da matéria litigiosa.
Quando for o caso de reforma da sentença, o voto tem que rebater os
fundamentos dela.
Quando for o caso de confirmação da sentença, o voto tem que rebater os
fundamentos do recurso.
Obs.: Para o acolhimento do pedido não é necessário o enfrentamento de todos os
argumentos deduzidos pela parte, mas para o não acolhimento sim.
Segundo o art. 489, § 1º, do novo CPC,

Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela


interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem
explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em
tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar
seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento
se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente

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invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em


julgamento ou a superação do entendimento.

Organize suas ideias e se prepare para iniciar a redação.


Lembre-se de que você estará elaborando um texto argumentativo (feito para
convencer e persuadir o leitor), que deve ser construído por meio de um raciocínio lógico,
que se estrutura basicamente em silogismos (que são um tipo de raciocínio dedutivo, que
se desenvolve de premissas gerais para uma conclusão particular). O raciocínio indutivo,
ao contrário, é aquele que, partindo de proposições particulares, procura chegar a uma
conclusão geral.
O silogismo é o argumento dedutivo composto de três partes: 1ª) a premissa maior
(todo homem é mortal); 2º) a premissa menor (José é homem); 3º) a conclusão: (logo,
José é mortal).
Na fundamentação das sentenças, por se tratar de um texto eminentemente
argumentativo, é recomendável usar a regra do silogismo.
A premissa maior (PM)-> a norma jurídica: constitui-se de princípios ou normas das
quais se podem tirar conclusões aceitáveis (são as formulações legais (fontes de direito),
afirmativas ou negativas; tem caráter de universalidade, por isso podem ser aplicadas a
qualquer caso e a generalidade das pessoas).
Ex.: Art. 26 do Código Penal = É isento de pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
A premissa menor (pm) constitui-se dos fatos do processo (aquilo que se extraiu de
todo o contexto probatório = são os fatos, exemplos, ilustrações, dados estatísticos,
testemunhos etc.).
Ex.: No caso dos autos, não há qualquer prova de o réu apresentou desenvolvimento
mental incompleto ou retardado provocado por uso de substâncias entorpecentes apto a
torná-lo inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato.
A conclusão (C) constitui-se do resultado daquilo que se extraiu da união da
premissa maior com a menor. É a solução da questão controvertida.
Ex: Logo, não há como aplicar a causa de isenção da pena.
Veja um exemplo de voto em que é usada a técnica do silogismo (pensamento
dedutivo):

A Defesa pede a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de


direitos, ao argumento de que o recorrente preenche os requisitos para a
obtenção do benefício.
O pleito, porém, não merece prosperar.
Para a substituição pretendida, necessário se faz o preenchimento dos
requisitos objetivos e subjetivos previstos no artigo 44 do Código Penal, que
assim dispõe:

“Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as


privativas de liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a 4 (quatro) anos e o
crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer
que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
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III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do


condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente”.

Na espécie, o réu preenche os requisitos objetivos constantes do inciso I do


artigo 44 do Código Penal, porquanto a pena privativa de liberdade restou fixada
em 01 (um) ano e 02 (dois) meses de reclusão e o delito não foi cometido com
violência ou grave ameaça à pessoa.
Quanto aos requisitos subjetivos, todavia, verifica-se que o réu é reincidente
em crime doloso pela prática de roubo tentado circunstanciado pelo concurso de
agentes, consoante a certidão de fl. 39, o que obsta a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos diante da vedação do inciso II do
artigo 44 do Código Penal.
Assim, diante desse contexto, bem como em razão da reincidência, a
substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos não é
medida socialmente recomendável.

O silogismo ajuda você a concluir adequadamente o seu raciocínio. Mas você


somente terá uma garantia de raciocínio lógico quando o silogismo é verdadeiro quanto à
forma e quanto ao conteúdo (vide exemplo acima). Há silogismos, no entanto, que
possuem aparência de verdade, mas que não são verdadeiros. São válidos quanto à
forma, mas falsos quanto ao conteúdo. São construídos sob premissas falsas. São os
chamados sofismas, ou seja, falsos raciocínios elaborados com a intenção de enganar.
São construídos de argumentos dos quais não se pode concluir o que se quer que se
conclua.
Muitas vezes, o voto é constituído de vários silogismos, pois pode haver vários
argumentos suscitados pelo recorrente. Nesses casos, estruture adequadamente o
seu texto, de forma que ele fique organizado, preocupando-se não apenas com a
redação, mas também com a ordenação de ideias e a estética.

Obs.: NÃO EXISTE TÉCNICA PARA ENSINAR A FUNDAMENTAR O VOTO.


A elaboração de uma sentença/voto é uma atividade mental que vai além do
raciocínio silogístico, englobando também a análise dos fatos do processo, o embate de
teses, a interpretação de normas e princípios e a subsunção de uns elementos aos
outros, tudo isso considerado o caso em concreto. Saber fundamentar um voto depende
também do conhecimento jurídico que se tem sobre a matéria debatida. É preciso
conhecer as leis, a doutrina, as correntes doutrinárias, o entendimento jurisprudencial dos
tribunais superiores e do seu próprio tribunal.
O emprego dos termos e expressões jurídicas se aprende com o passar do tempo,
especialmente com o exercício da atividade no dia a dia, com a leitura de livros e artigos
jurídicos, de decisões judiciais e acórdãos dos tribunais. Ao elaborar um voto, faça uso e
abuso do trabalho de pesquisa, pois, assim, esteja certo de que poderá realizar com
competência o seu ofício.

9.2. O DISPOSITIVO:
O DISPOSITIVO SERÁ ESTUDADO EM CAPÍTULO À PARTE.

10. DICAS ÚTEIS:

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TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL

DICA 1: evite identificar o nome das partes no voto, a menos que isso seja
extremamente necessário. No processo criminal é usual a identificação do nome do réu
no voto, principalmente quando há mais de um condenado. Quando houver apenas um
réu utilize a regra do aposto, separando por vírgula o seu nome da sua qualificação no
feito. Ex: O réu, Antônio da Silva. A ausência de vírgula, nesses casos, indica que há
mais de um réu. Ex: O réu Antônio da Silva.

DICA 2: não se esqueça de um dos princípios básicos do direito segundo o qual, em


caso de inexistência de provas, ou sendo elas insuficientes para resolver a controvérsia,
deve ser julgado improcedente a pretensão punitiva do estado.

DICA 3: se o recurso contiver vários pontos, convém separá-los por tópicos no voto.
Ex: da autoria e materialidade; do quantum da pena; do regime prisional; etc.

DICA 4: ao elaborar o voto, vá direto à questão jurídica posta em discussão. Não há


necessidade de relatar novamente os fatos, pois estes já devem estar bem explicitados
no relatório.

DICA 5: procure não começar outro processo sem que tenha terminado o primeiro.
Racionalize o seu trabalho, concentrando sua atenção em apenas um caso.

DICA 6: a remessa obrigatória prevista no art. 574, CPP não possui a característica
de um recurso. Trata-se de condição de eficácia da sentença. Por isso, a boa técnica
recomenda que, ao realizar o juízo de admissibilidade, ao invés de constar a expressão
“conheço da remessa oficial”, é preferível que conste: “recebo a remessa, porque
preenchidos os requisitos legais do art. 574 do CPP” ou “não recebo a remessa porque
não preenchidos os requisitos legais do art. 574 do CPP”.

DICA 7: seja imparcial. Dê o direito a quem comprovar que o tem. Elimine a cultura do
“tadinho”.

DICA 8: procure não usar abreviaturas no relatório, voto e ementa. Escreva sempre
por extenso as palavras. Ex: Ministério Público (ao invés de MP) etc.

DICA 9: ao elaborar o voto, procure identificar quem são as partes recorrentes. Ex:
autor/apelante; réu/apelado; apelante/embargado; apelado/embargante etc. Não inverta a
ordem das palavras. Ex: apelante/autor. Fique atento para o gênero (masculino ou
feminino), fazendo o uso correto dele. Quando a parte for do sexo feminino use o artigo
feminino “a” (a ré/apelante) (a ré/apelada).

DICA 10: quando se verificar que o recorrente cita vários dispositivos constitucionais
e legais, é um claro sinal de que está “prequestionando” com vistas à interposição de
recurso às instâncias superiores. Assim, para evitar a oposição de eventuais embargos
de declaração, convém citar no voto os dispositivos invocados. Faça-o, todavia, dentro do
contexto da questão examinada e não isoladamente no final do voto. Ex: “Correta, pois, a
sentença, ao fixar o regime prisional semiaberto, nos termos do que dispõe o art. 33, §
1º, b do CPB.

DICA 11: Não é obrigatório fazer referência às preliminares no dispositivo do voto. Ex:
REJEITO AS PRELIMINARES. Todavia, a referência é necessária e tem como objetivo
evitar eventual descuido por parte do relator em sua análise na sessão de julgamento.

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DICA 12: As contrarrazões do recurso constituem peça processual prevista em lei.


Prestigie-as, fazendo análise delas, ainda que seja uma rápida passada de olhos. Nelas
podem conter preliminares do recurso que devem ser examinadas pelo relator do feito.

DICA 13: procure prestigiar as sentenças de primeiro grau. A anulação ou reforma da


sentença deve ocorrer apenas em caso de flagrante error in procedendo ou error in
judicando. Não devem ser levadas em conta as opiniões pessoais a respeito de
determinada matéria jurídica. Ex: não modificar o quantum da pena fixado na sentença
sem motivação plausível, se ele está de acordo com as circunstâncias do caso concreto e
dentro dos parâmetros fixados pelos tribunais pátrios.

DICA 14: ao fazer a transcrição de uma ementa, utilize o itálico, sendo dispensáveis
as aspas, mas a referência deve ser feita em fonte normal. Alinhe-a à direita, com recuo
de 4 cm de largura da margem esquerda e sem recuo na primeira linha. Ex:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA APELAÇÃO
CRIMINAL. INTEMPESTIVIDADE. NÃO CONHECIMENTO.
Não se conhece de embargos de declaração em apelação
criminal interpostos além do prazo de dois dias previsto no
artigo 619 do Código de Processo Penal. (EMDAPC
20100710181907, Rel. Des. Mário Machado, 1ª Turma
Criminal TJDFT, julg. 06/06/2011).

- Se for fazer a transcrição de várias ementas, utilize o ponto e vírgula entre uma e
outra, deixando o ponto final apenas para depois da última.

DICA 15: evite as locuções “recurso de embargos de declaração” “recurso de


apelação” “recurso de agravo em execução”. Basta dizer: Conheço da apelação. Nego
provimento à apelação. Rejeito os embargos de declaração. Exceção à regra é, por
exemplo, o “recurso em sentido estrito” em que a palavra recurso insere-se no nome da
espécie recursal.
Apelação, agravo, embargos de declaração (etc.) são espécies do gênero “recursos
cabíveis”.

11. DISPOSIÇÕES FINAIS:


Ao analisar o processo, o relator tem, por dever de ofício, verificando-se indícios
da ocorrência de crime previsto na lei penal, determinar que se extraiam cópias dos autos
e as encaminhem ao Ministério Público para as providências que este entender cabíveis.
(Ex: uso de documento falso, prevaricação etc.). Também deverá encaminhar à OAB
informações a respeito de eventuais irregularidades cometidas por advogados.

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CAPÍTULO V

O VOTO DE REVISOR

1. CONCEITO, OBJETO, CARACTERÍSTICAS:


Segundo o dicionário da língua portuguesa, a palavra “revisão” significa “ato ou efeito
de rever ou revisar; nova leitura; novo exame” “Revisor”, então seria “aquele que revê”.
Já a palavra “rever” significa “tornar a ver”; “ver pela segunda vez”.
Assim, analisando literalmente a palavra “revisor”, podemos concluir que, no processo,
a função do revisor é a de fazer um novo exame do feito. Mas, na realidade processual,
não é somente essa a função do revisor.
Dentre as funções do revisor estão, além de fazer a análise do processo, também a de
“sugerir ao relator quaisquer medidas de competência deste” e a de “completar o retificar
o relatório” (art. 70, incisos I e II do RITJDFT). Isso significa dizer que, na análise do
recurso, o revisor tem que ser tão criterioso quanto o relator do processo, pois pode
perceber minudências que passaram despercebidas aos olhos do relator.
O revisor está dispensado de relatar o processo, sendo essa função exclusiva do
relator do processo. Todavia, não está dispensado de elaborar o voto, devendo levá-lo
por escrito na sessão de julgamento.
Para a elaboração do voto do revisor, devem ser observadas as mesmas regras
utilizadas na confecção do voto do relator, notadamente no que diz respeito aos
fundamentos de fato e de direito que levam ao resultado do julgamento.
O voto do revisor contém algumas peculiaridades a serem observadas: ele é sempre
mais sucinto que o voto do relator, não necessitando conter o relato consubstanciado dos
fatos discutidos no processo.
Ao elaborar o voto do revisor, procure redigir de forma que a matéria fática seja
exposta juntamente com a matéria de direito, fazendo com que o conteúdo discutido no
processo seja compreendido como um todo uniforme.
Para recordar, no processo penal, enseja a análise pelo revisor os processos cuja
pena privativa de liberdade é de reclusão.

2. MODELOS DE VOTOS DE REVISOR:


Veja alguns MODELOS de votos de revisor.
Presentes os requisitos de admissibilidade do recurso, dele conheço.
Certas a materialidade e a autoria delitiva, conforme se vê das Ocorrências Policiais (fls. 10/31), Autos
de Apresentação e Apreensão (fls. 49 e 120), Recibos de fls. 30/58, demais documentos comprobatórios
(fls. 59/76 e 122), e da prova oral coligida aos autos (fls. 110/115, 137/140, 143/144), notadamente a
confissão do apelante (fls. 259/261), não havendo nesse aspecto qualquer irresignação.
Rebela-se a Defesa contra a dosimetria da pena, pleiteando a compensação da agravante da
reincidência com a atenuante da confissão espontânea. Sem razão, porque aquela prepondera sobre esta.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso.
É o voto.

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Presentes os requisitos de admissibilidade do recurso, dele conheço.


Constata-se a ocorrência de prescrição retroativa.

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O apelante foi condenado à pena corporal de 02 (dois) anos de reclusão, o que enseja prescrição em
04 (quatro) anos, conforme dispõe o artigo 109, inciso V, do Código Penal. Houve trânsito em julgado da
condenação para o órgão acusador, certificado à fl. 203. Entre a data do fato (16/04/2004) e o
recebimento da denúncia (06/06/2008 - fl. 116) transcorreu lapso temporal de 04 anos, 01 mês e 21 dias,
prazo superior ao previsto.
Portanto, imperiosa a extinção da punibilidade com supedâneo no artigo 110, § 1º, do Código Penal.
Pelo exposto, declaro extinta a punibilidade com fundamento nos artigos 109, inciso IV, e 110, § 1º,
ambos do Código Penal.
É o voto.
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Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.


Destacam-se, para discussão, os seguintes pontos do recurso do Apelante:
Insurge-se contra a sentença que o condenou a pena de 04 (quatro) anos, 04 (quatro) meses de
reclusão e 23 (vinte e três) dias-multa (regime semi-aberto), requerendo: a) a declaração da nulidade da
sentença, por não ter sido devidamente fundamentada; b) a absolvição pelos crimes de estelionato e uso de
documento falso, por tratar-se de crime impossível, em razão da falsificação grosseira; c) a aplicação da
consunção, eis que o crime de estelionato absorveu o crime de uso de documento falso; d) a absolvição pelo
crime de corrupção ativa, pela ausência de provas concretas; e) a aplicação da atenuante da confissão
quanto ao crime de uso de documento falso.
Preliminarmente, afasto a nulidade da sentença pelo motivo de não ter sido devidamente
fundamentada. A sentença do Juiz do Conhecimento foi suficientemente fundamentada, tendo sido
analisados todos os argumentos apresentados pelas partes.
Analisando as provas produzidas nos autos, observo que tanto a materialidade quanto a autoria
foram devidamente demonstradas no decorrer da instrução criminal.
O argumento da defesa acerca da absolvição pelos crimes de estelionato e uso de documento falso,
por entender tratar-se de crime impossível, em razão da falsificação grosseira, não merece prosperar, eis
que somente com o uso de instrumentos ópticos apropriados pode-se constatar satisfatoriamente a
falsificação da cédula de identidade.
Não merece acolhimento a alegação da Defesa de que deve ser aplicada a consunção, eis que o
crime de estelionato absorveu o crime de uso de documento falso. O uso de documento falso não se
restringiu à tentativa de estelionato, pois conservou a sua potencialidade lesiva, sendo certo afirmar que, se
não fosse a eficiência policial, o réu ainda estaria na posse do documento falso, colocando em risco o
patrimônio alheio.
Portanto, não é o caso de aplicação da Súmula 17 do Superior Tribunal de Justiça, que assim dispõe:
“Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.”
Quanto ao argumento de que as provas do crime de corrupção passiva foram insuficientes para
fundamentar a condenação, não merece prosperar, eis que as declarações dos policiais foram contundentes
e uníssonas em afirmar que o Apelante ofereceu a esses agentes públicos vantagem indevida, consistente
em dinheiro em espécie e o veículo que o recorrente detinha, com o propósito de impedir a atuação policial.
O Apelante não tem interesse jurídico quando requer a aplicação da atenuante da confissão, na
segunda fase de aplicação da pena, eis que já aplicada com acerto pelo Juiz do Conhecimento.
A pena e o regime inicial foram acertadamente fixados.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso, mantendo íntegra a r. sentença.
É como voto.

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Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso.


O apelante interpôs recurso com base na alínea “d” do inciso III do artigo 593 do CPP (fl. 314).
Frise-se, quanto ao conceito de “julgamento manifestamente contrário à prova dos autos”, que é
pacífico que o advérbio manifestamente (III, “d”) dá bem a idéia de que só se admite seja o julgamento
anulado quando a decisão do Conselho de Sentença é arbitrária, porque se dissocia integralmente da prova
dos autos. Não é o caso dos autos.
A materialidade, não contestada, foi demonstrada em especial pelo laudos periciais (fls. 91 e 128) e
pela prova oral colhida. Quanto à autoria, o próprio acusado, em plenário (fls. 235/242), confessou ter
efetuado disparos com arma de fogo contra a vítima. A vítima, em juízo (fl. 107) e em plenário (fls.
227/234), afirmou que foi atingida na perna e na barriga por disparos de arma de fogo desferidos pelo
acusado, o que foi confirmado pelos laudos periciais.
Quanto à quesitação, conforme se verifica da Ata de julgamento (fls. 215/216), não houve qualquer
insurgência da Defesa contra a redação do 3º quesito referente à tentativa. Aliás, o texto foi elaborado de
forma clara e objetiva (fl. 208), não encontrando o mínimo apoio a alegação de que a redação é extensa e,
por isso, confundiu os jurados. Nenhum elemento concreto trouxe o apelante para sustentar tal afirmação.
No tocante à tese de desistência voluntária não foi acatada pelos jurados, que acolheram a versão de
que o acusado deu início a um crime de homicídio, que não se consumou por circunstâncias alheias à
vontade dele. Acrescente-se, também, que a Defesa não se manifestou, no momento oportuno, quanto à

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necessidade de se elaborar quesito a respeito da tese de desistência voluntária efetivamente defendida em


plenário (fl. 215).
Assim, não se pode dizer que a decisão do Conselho de Sentença é arbitrária, pois não se dissocia
integralmente da prova dos autos. Ao contrário, encontra suficiente apoio no conjunto probatório.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso.
É o voto.

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Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço da apelação.


O réu requer a absolvição por insuficiência do acervo probatório.
Inconteste a materialidade. A negativa de autoria do acusado (fls. 74/75) encontra-se em
dissonância das demais provas constantes dos autos.
As testemunhas policiais Arleio Lima de Souza (fl. 72) e Ado Sousa Amorim (fl. 73), em juízo,
afirmaram que estavam em patrulhamento, quando receberam a notícia do ocorrido via rádio e se
deslocaram até o estacionamento dos Correios. Narraram que viram o veículo da vítima com o vidro
quebrado e o réu correndo. Relataram que o policial Arleio perseguiu a pé o réu e, com a ajuda de
populares que apontavam a direção que o réu tomou, conseguiu alcançá-lo, efetuando sua abordagem e
encontrando com ele o aparelho de som subtraído, sob a camisa, preso na cintura da calça.
No concernente a validade e credibilidade de testemunho prestado por agentes policiais, quando em
harmonia com as provas dos autos, não contraditado ou desqualificado, resta merecedor de fé na medida
em que provém de agente público no exercício de sua função e não destoa do conjunto probatório, o que
ocorre no caso.
O auto de apresentação e apreensão (fl. 20) atesta que foi apreendido com o réu o aparelho de som,
marca Sony, modelo CDX F5500, Charger Control.
Conforme exposto pelo i. Promotor de Justiça (fl. 166), desnecessária a observância do rito
estabelecido no art. 226 do Código Processo Penal, pois o réu foi preso em flagrante, na posse do bem
furtado.
O conjunto probatório, portanto, ampara a condenação.
A pena foi bem dosada, seguindo os requisitos dos artigos 59 e 68 do Código Penal.
Convém enfatizar que não é possível a redução da pena base para abaixo do mínimo cominado, na
segunda fase do processo trifásico, em face do entendimento jurisprudencial dominante.
Circunstância atenuante não pode reduzir a pena privativa de liberdade aquém do mínimo cominado
em abstrato para o crime, nem mesmo de forma provisória, porque o art. 53 do Código Penal estabelece
que “as penas privativas de liberdade têm seus limites estabelecidos na sanção correspondente a cada tipo
legal de crime”. E determina o art. 59, II, a aplicação da pena “dentro dos limites previstos”.
O tema é tranquilo no Superior Tribunal de Justiça. Reina a Súmula 231, incisiva em que “a
incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal”.
Corretos os argumentos expendidos no parecer da i. Procuradoria de Justiça, às fls. 175/177.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso e mantenho a sentença por seus próprios fundamentos.
É o voto.

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Conheço do recurso, eis que presentes seus requisitos de admissibilidade (fls. 131 e 138/143).
Inabalável a materialidade do crime descrito na exordial (fls. 6/11, 45/46, 53/64 e 92/93).
Quanto à autoria, diversamente do ventilado pela Defesa, não somente as provas realizadas durante
o inquérito lastrearam o decreto condenatório (fls. 6/11), mas também e principalmente a prova oral
produzida sob o crivo do contraditório, qual seja, o depoimento da vítima e do policial que participou do
flagrante (fls. 92/93). Além disso, há também a prova técnica acerca do crime, na medida em que a perícia
constatou o arrombamento empregado na residência (fls. 53/64), bem assim o fato de que terceira pessoa,
ainda não identificado, em companhia do réu, adentrou o recinto com vista a furtar os bens de valor ali
existentes (fls. 111/115).
Assim, cabalmente comprovada a autoria do crime imputado ao recorrente, não havendo que se falar
em insuficiência de provas.
Peço vênia para fazer constar como parte integrante do voto os bem lançados fundamentos do
parecer da i. Procuradoria de Justiça às fls. 163/168.
A pena aplicada ao apelante foi bem dosada e graduada com equidade, conforme preceituam os
artigos 59 e 68 do Código Penal (fls. 126/127), não havendo pontos para quaisquer reparos.
Finalmente, no que se refere à indenização à vítima, fixada em cento e cinquenta reais (fl. 128), não
há cogitar de condenação do recorrente a indenizar prejuízos da vítima sem que esta haja formado qualquer
pedido neste sentido. Assim, os princípios do contraditório e da ampla defesa não foram observados, pois
não se oportunizou ao réu defender-se, de modo a indicar valor diferente, comprovar que inexistiu prejuízo
material ou, até mesmo que este já fora recompensado, à vítima. Conforme lição de Guilherme de Souza
Nucci “se não houver formal pedido e instrução especifica para apurar o valor mínimo para o dano, é defeso

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ao julgador optar por qualquer cifra, pois seria nítida infringência ao principio da ampla defesa” (Código de
Processo Penal Comentado: 8ª edição, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, pág. 691).
A interpretação do art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal, deve ser compatibilizada com o
princípio da inércia da jurisdição.
Sem solicitação não pode o juiz condenar.
No caso, inexistente súplica da vítima, não cabe qualquer indenização.
De mais a mais, o fato-crime ocorreu antes de 23/06/2008, data da publicação da Lei n. 11.719, que
deu nova redação ao inciso IV do art. 387 do Código de Processo Penal. E, tratando-se de lei nova e mais
grave não se deve aplicá-la retroativamente, em consonância com o art. 5°, inciso XL, da Constituição
Federal.
Pelo exposto, dou parcial provimento ao recurso apenas para excluir a indenização civil fixada em
favor da vítima. No mais, mantenho a sentença.
É o voto.

3. DISPOSIÇÕES FINAIS:

Quando o processo ensejar análise pelo revisor (processo cuja pena privativa é de
reclusão), este, após fazer a revisão e elaborar o seu voto, pedirá dia para julgamento.

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CAPÍTULO VI

O DISPOSITIVO

1. CONCEITO, OBJETO, CARACTERÍSTICAS:


O dispositivo é o terceiro elemento constitutivo do acórdão. Os dois primeiros
elementos são: relatório e voto(s) (fundamentação).
O dispositivo é a parte da sentença ou do acórdão no qual contém a decisão da
causa. É, por assim dizer, o fecho da sentença ou do acórdão.
O dispositivo pode ser direto ou indireto.
No dispositivo direto, o magistrado especifica diretamente a prestação a ser imposta à
parte sucumbente. Ex: Julgo procedente a acusação, a fim de condenar o réu à pena de cinco
anos e dois meses de reclusão a ser cumprida inicialmente no regime fechado.
No dispositivo indireto, o juiz não especifica diretamente a prestação a ser imposta,
mas apenas se reporta ao pedido do autor. Ex: Julgo procedente o pedido, nos termos
requeridos na inicial.
Obs: Evite os dispositivos indiretos, pois, por algum descuido, o relator pode acabar
dando mais do que realmente pretendia.
O juiz pode, no dispositivo da sentença: - anular o processo; julgar extinta a
punibilidade do réu; - absolver sumariamente o réu; - julgar improcedente a denúncia e
absolver o réu; - julgar procedente a denúncia e condenar o réu; - julgar parcialmente
procedente a denúncia, dentre outros.
No acórdão, quando o recurso for improvido, o dispositivo conterá, em regra,
apenas um comando (o comando único). Ex: NEGO PROVIMENTO AO APELO. [u50] Comentário: É muito comum haver,
nos casos de improvimento do apelo, um
Quando o recurso for provido, o dispositivo conterá dois ou três comandos: o acréscimo ao comando único, dando ênfase no
comando inicial, que diz respeito ao pedido imediato do recurso (dá provimento ao sentido de que a sentença foi mantida, a
exemplo do seguinte dispositivo: “NEGO
recurso / dá parcial provimento ao recurso); o comando médio (anula a sentença / PROVIMENTO AO APELO, mantendo íntegra a
reforma a sentença); e o comando final, que diz respeito à causa de pedir da ação sentença recorrida.”
(julgo improcedente / julgo procedente / julgo parcialmente procedente a acusação / /
julgo extinta a punibilidade etc.).
(comando inicial) (comando médio)
Ex: Isso posto, DOU PROVIMENTO AO APELO para reformar a r. sentença recorrida e julgar
improcedente a pretensão punitiva do Estado.
(comando final).

(comando inicial) (comando médio)


Ex: Isso posto, DOU PROVIMENTO AO APELO para anular a r. sentença recorrida e
determinar o retorno dos autos à vara de origem para a colheita das provas requeridas pelo réu.
(comando final)

(comando inicial) (comando médio) (final)


Ex: Isso posto, DOU PROVIMENTO AO RECURSO para reformar a sentença e absolver os
réu, o que faço com fulcro no art. 386, VI do CPP. Expeça-se alvará de soltura.

(comando inicial) (médio)

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TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL

Ex: À vista do exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO APELO para reformar em parte a
sentença e julgar parcialmente procedente a denúncia e o faço para condenar o acusado como
incurso nas penas do art. 157, § 2º, I, II e VI do CP. Passo a dosar a pena.

(comando inicial) (comando médio)


Ex: Isso posto, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO para reformar em parte a
sentença e minorar a pena do réu para quatro anos e dois meses nos termos acima
expendidos. (comando final)
Obs: Quando não for caso de reforma da sentença, mas apenas de acertos feitos pelo
relator, poderá não haver o comando médio e/ou o final .
(comando inicial) (comando final)
Ex: DOU PROVIMENTO AO APELO para fixar o regime semiaberto como sendo o inicial
para o cumprimento da pena.
Obs.: o dispositivo tem que ser elaborado de forma clara e objetiva, e de preferência
em sua completude, a fim de facilitar a execução do julgado.
O comando principal do dispositivo deve vir escrito em caixa alta e negrito (não se
trata de regra obrigatória, mas apenas de uma sugestão).
Ex.: Pelo exposto, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO e mantenho íntegra a r. sentença
recorrida.
Ex.: DOU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO para reformar em parte a sentença e fixar o
regime inicial aberto e substituir a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, a
serem definidas pelo Juízo da Execução.
Ex.: Diante do exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO APELO para reformar em parte a
sentença e reduzir a pena do apelante para 04 (quatro) anos e 04 (quatro) meses de reclusão, em
regime inicial fechado, e 32 (trinta e dois) dias-multa, no valor unitário mínimo, em razão da
condenação pelos crimes tipificados nos artigos 180, caput, do Código Penal, e 14, caput, da Lei
nº 10.826/2003.
A regra para a elaboração do dispositivo do voto é praticamente a mesma para a
elaboração do dispositivo da sentença, embora haja algumas particularidades.
O recurso, como se sabe, tem por objeto atacar a sentença e vem sempre em
confronto a ela (no todo ou apenas em parte). Em sendo assim, o relator, ao examinar o
recurso, primeiramente firmará sua convicção em favor ou contrariamente à sentença (e,
consequentemente, contrariamente ou em favor da tese defendida pelo(s) recorrente(s)).
Como já estudado anteriormente, no processo criminal, a sentença julga a
pretensão punitiva estatal, definindo a questão penal (se o caso é de absolvição ou
de condenação, de impronúncia ou absolvição sumária):
a) sentença que condena o réu pela prática do crime imputado na denúncia: (art.
397, CPP);
b) sentença que absolve o réu da prática do crime imputado na denúncia (art. 386,
CPP);
c) sentença que impronuncia o réu (art. 414, CPP);
d) sentença que absolve sumariamente o réu (art. 415 e 397 CPP).

- Dependendo do resultado do julgamento feito pelo Tribunal, o recurso pode


ser:

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a) desprovido: rejeita a tese do apelante, caso em que a sentença é totalmente


confirmada;
b) provido: acolhe totalmente a tese do apelante, caso em que a sentença é
totalmente anulada (quando for o caso de error in procedendo) ou reformada (quando for
o caso de error in judicando);
c) parcialmente provido: acolhe em parte a tese do apelante, caso em que a
sentença é parcialmente reformada.

Obs.: A sentença e/ou os atos processuais podem ser anulados de ofício. No


processo penal, todavia, é vedado arguir nulidades em prejuízo da defesa, salvo se por
meio de recurso da acusação.

Obs.: Com relação ao provimento jurisdicional de segunda instância, o correto é


empregar a expressão PROVIMENTO (quando se acolhe o recurso) ou
DESPROVIMENTO (quando se desacolhe o recurso). Ex: “nego provimento ao recurso”;
“dou provimento ao recurso”; “dou parcial provimento ao recurso”.
NUNCA use as expressões PROCEDENTE/IMPROCEDENTE para o recurso (ex:
julgo improcedente o recurso). Os termos “procedente” / “improcedente” são de
designação própria do pedido inicial (ex: julgo procedente o pedido inicial...). Pode
ser usado também para designar a viabilidade da tese defendida pela parte. Ex:
procedência da alegação; procedência da impugnação.
Também é tecnicamente incorreto dizer “julgo procedente a ação”. Isso porque o
conceito de ação traduz na verdade o direito público subjetivo que todo indivíduo tem de
provocar o exercício da atividade jurisdicional do Estado. O correto é, pois, “julgo
procedente / improcedente o pedido (a acusação)”.
Não use a expressão “julgo parcialmente improcedente o pedido (acusação)”. O
correto é “julgo parcialmente procedente o pedido (acusação)”. A explicação é a seguinte:
não se é possível negar parcialmente um pedido, mas sim conceder parcialmente um
pedido.

2. MODELOS DE DISPOSITIVOS DE VOTOS, CONFORME SEJA O RESULTADO DO


JULGAMENTO DO RECURSO:

2.1. EM CASO DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO:


Nos casos de não conhecimento do recurso, não é necessário declinar, no
dispositivo, os motivos do não conhecimento, pois isso deve ser feito na fundamentação
do voto. Basta que conste: “Não conheço do recurso”.
Veja alguns modelos retirados de dispositivos de voto em apelação criminal.
Ante o exposto, não conheço do recurso em relação a MARCOS e nego provimento ao recurso de RONY.
Com feito, restando patente a intempestividade das razões da apelação criminal, não conheço do [u51] Comentário: É desnecessário esse
recurso. adendo, pois isso deve constar da
À vista do exposto, por ser incabível a apelação, dela não conheço. fundamentação do voto e não do dispositivo,
bastando “Não conheço do apelo”.
Portanto, acolho a preliminar e NÃO CONHEÇO DA APELAÇÃO.
[u52] Comentário: Idem ao comentário
Isto posto, por ser inadequado o recurso de apelação para impugnar sentença extintiva da punibilidade, anterior.
dela não conheço por ausência de seus pressupostos legais.
[u53] Comentário: Idem ao comentário
anterior.

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Obs: Há casos em que o recurso pode ser conhecido apenas em parte. Ex: o
recorrente impugna, dentre outras coisas, o capítulo da sentença do qual ele não
sucumbiu. Nestes casos, fica assim o dispositivo:
À vista do exposto, CONHEÇO EM PARTE DO RECURSO e da parte que conheço, NEGO-LHE
PROVIMENTO.
Em suma: não conheço do recurso no que se refere ao tipo penal de corrupção de menores. Nego
provimento em relação ao tipo subsistente.

Obs: No caso de conhecimento do recurso, não é necessário que conste no


dispositivo esse provimento. Ex: CONHEÇO E NEGO PROVIMENTO AO RECURSO.

2.2. EM CASO DE DESPROVIMENTO DO RECURSO:


Em caso de desprovimento do recurso (ou seja, de confirmação total da
sentença, seja ela de absolvição, condenação ou de impronúncia) não há maiores
dificuldades na elaboração do dispositivo. Basta dizer que se nega provimento ao
recurso, não sendo necessárias maiores digressões a respeito. O dispositivo contido na
sentença permanecerá intacto, sem modificações.
Veja alguns exemplos de dispositivos de votos desprovendo o apelo:

Nego provimento ao recurso. [u54] Comentário: É o dispositivo mais


usual no Tribunal.
Diante do exposto, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao recurso, mantendo-se incólume a
sentença. [u55] Comentário: Mais apropriado seria o
uso de “nego provimento”.
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO, mantendo a absolvição do recorrido.
[u56] Comentário: Adendo desnecessário.
Forte nas razões expostas, conheço do recurso, mas NEGO-LHE PROVIMENTO, mantendo-se a r.
sentença hostilizada por seus próprios e judiciosos fundamentos.

Pelo exposto, nego provimento aos recursos do Ministério Público e do réu, mantendo a condenação pela
prática dos crimes descritos nos artigos 186, VI e 187, da Lei de Falências. Julgo extinta a punibilidade do réu,
pela prescrição, quanto ao crime previsto no artigo 188, III, da Lei de Falências.

2.3. EM CASO DE PROVIMENTO DO RECURSO:


O recurso pode ser provido, dentre outros motivos, para:
- reformar a sentença (error in judicando):
- julgar procedente a acusação;
- julgar improcedente a acusação;
- impronunciar o réu (art. 414,CPP);
- absolver sumariamente o réu (art. 415 e 397 CPP);
- alterar a capitulação expressa na sentença absolutória;
- julgar extinta a punibilidade do réu.

- reformar em parte a sentença para:


- alterar o regime de cumprimento da pena;
- reduzir/aumentar a pena imposta;
- incluir/excluir qualificadora;

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- anular a sentença (error in procedendo) para;


- determinar o retorno dos autos para alguma providência;

a) Provimento do recurso para reforma da sentença de procedência da


acusação:
No caso de provimento do recurso para reformar a sentença de
procedência da acusação, não há maiores dificuldades na elaboração do dispositivo,
sendo de boa técnica constar a seguinte redação: “Dou provimento ao recurso, para
reformar a r. sentença e julgar improcedente a acusação, absolvendo o réu com fulcro no
art. 386, VI do CPP. Expeça-se o alvará de soltura.”.
Obs: Segundo o art. 386 do CPC, no caso de absolvição do réu, o juiz deverá
mencionar a causa no dispositivo.
Veja alguns modelos: [u57] Comentário: Observe que em todos
os exemplos abaixo, foi omitido o segundo
Posto isso, uma vez que as provas coligidas no inquérito policial não foram confirmadas em juízo, DOU comando do dispositivo “para, reformando a
PROVIMENTO À APELAÇÃO para absolver Marivaldo com fundamento no art. 386, inciso VI, do Código de sentença recorrida...”
Processo Penal. Expeça-se alvará de soltura em seu favor.

Posto isso, DOU PROVIMENTO À APELAÇÃO para absolver Liduína com fundamento no art. 386, inciso
VI, do Código de Processo Penal. Expeça-se alvará de soltura.

À míngua de outros elementos de prova, DOU PROVIMENTO AO RECURSO e julgo improcedente a ação
penal com relação ao apelante Edson e, via de consequência, absolvo-o com apoio no artigo 386, inciso VI,
do Código de Processo Penal. / Expeça-se alvará de soltura, se por outro motivo não estiver preso.

Posto isso, DOU PROVIMENTO AOS RECURSOS interpostos por Jackson e Erick para absolvê-los com
fundamento no art. 386, inciso VI, do Código de Processo Penal. No que se refere ao recurso de Thiago de
Sousa Ramos, meu voto é para negar-lhe provimento.

Posto isso, DOU PROVIMENTO AO RECURSO para absolver sumariamente o apelante com fundamento no
art. 397, inciso I, do Código de Processo Penal.

Pelo exposto, DOU PROVIMENTO AO RECURSO para impronunciar o réu, com fulcro no art. 414 do CPP..

b) Provimento do recurso para reforma da sentença de improcedência da


acusação:
No caso de provimento do recurso para reformar a sentença de
improcedência da acusação, o dispositivo do voto deverá ser mais elaborado, pois
haverá modificação do comando contido na sentença que, ao invés de improcedência da
acusação, passará a ser de procedência da acusação, sendo de boa técnica o uso dos
três comandos: “Dou provimento ao recurso para reformar a sentença recorrida e julgar
procedente a acusação, condenando o réu... “
Neste caso, a elaboração do dispositivo demandará uma dificuldade maior, uma
vez que o juízo condenatório demanda a aplicação da pena envolvendo a análise das
circunstâncias judiciais, legais e causas de diminuição e aumento da pena, além da
aplicação do regime prisional, dentre outros.
Veja alguns exemplos:
“Destarte, julgo parcialmente procedente a denúncia e o faço para condenar o acusado como incurso nas
penas do art. 157, § 2º, incisos I, II e V do CP.
Passo, adiante, a dosar a pena.
A culpabilidade vem demonstrada por meio de regular índice de reprovabilidade, eis que além de
imputável, possuía plena consciência da ilicitude de seu ato, quando lhe era exigível conduta diversa. É
primário, contudo, possui maus antecedentes. A conduta social se mostrou adequada ao meio que vive. A
personalidade dá indícios de que é necessária a resposta estatal para que não volte a praticar delitos como

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os dos autos. Motivos são os próprios do tipo. Consequências foram consideráveis, eis que o veículo,
embora recuperado, estava depenado, o que reduziu o seu valor de mercado, sendo que os demais bens
não foram restituídos à vítima. As circunstâncias foram comuns à espécie. A vítima em nada contribuiu para
a ação delitiva.
Fixo-lhe então a pena-base em 04 (quatro) anos e 04 (quatro) meses de reclusão e 15 (quinze) dias-
multa.
No segundo estágio, inexistem causas agravantes e/ou atenuantes a serem consideradas.
Na derradeira fase, verifico a existência de três causas especiais de aumento de pena. Conforme se
observa em linhas volvidas, o crime foi praticado com uso de arma de fogo e mediante o concurso de
pessoas, sendo que a vítima teve restrita a sua liberdade, na medida em que foi obrigada a permanecer no
veículo subtraído até ser abandonada em local diverso (art. 157, § 2º, I, II e V do CP). Assim, majoro a
pena em 3/8, totalizando-a em definitivos 05 (cinco) anos, 11 (onze) meses de 15 (quinze) dias de reclusão
e 21 (vinte e um) dias-multa, à míngua da existência de qualquer causa de diminuição de pena.
A pena pecuniária resta fixada no valor unitário mínimo previsto em lei.
Embora o quantum da pena corporal indique a fixação do regime semiaberto, ex vi do disposto no art.
33, § 2º, “b” do Código Penal, verifica-se que as circunstâncias judiciais autorizam a imposição de regime
prisional mais gravoso ao acusado.
Não se pode olvidar da gravidade do delito ora apreciado. Ademais, o apelante ostenta péssimos
antecedentes, inclusive uma condenação pela prática de latrocínio, além de outra incidência por crime de
roubo, o que revela a sua identidade com a seara criminosa, gerando temor no seio social.
Assim, com base no art. 33, § 3º do Código Penal, fixo o regime inicialmente fechado para o
cumprimento da pena, haja vista a apreciação negativa das circunstâncias do art. 59 do mesmo Diploma
Legal.
Isto posto, dou provimento ao apelo ministerial.
E é como voto.”

Desta feita, o recurso interposto pelo Ministério Público merece ser provido, reformando-se a sentença
de fls. 183/191 para condenar Pedro de Oliveira como incurso nas penas do artigo 214 c/ artigo 224, alínea
“a”, ambos do Código Penal, por duas vezes, em continuidade delitiva.
Passo a dosar a pena.
Em observância aos ditames do artigo 59 do Código Penal, verifica-se que militam contra a extrema
culpabilidade e as consequências do crime, pois o trauma causado às vítimas é imensurável, todavia,
considerando as demais circunstâncias judiciais, fixo a pena-base em 06 (seis) anos de reclusão.
Não se constata a presença de circunstâncias atenuantes ou agravantes. Elevo a pena em ½, nos termos
do artigo 226, inciso II do Código Penal, tornado a pena privativa de liberdade definitiva em 09 (nove) anos
de reclusão.
Cuidando-se de crime continuado, tendo em vista que mediante uma só ação o apelado praticou dois
crimes da mesma espécie, majoro a sanção corporal em 1/6, tornando-a definitiva em 10 (dez) anos e 06
(seis) meses de reclusão, a serem cumpridos em regime inicialmente fechado.
Do exposto, conheço do recurso e DOU-LHE PROVIMENTO para reformar a sentença e condenar o
apelado como incurso nas penas do artigo 214 c/ artigo 224, alínea “a”, ambos do Código Penal, por duas
vezes, em continuidade delitiva, nos termos da fundamentação supra.
É como voto.

c) Provimento parcial do recurso para reforma parcial da sentença:


O recurso é provido parcialmente quando não é concedido ao recorrente tudo o
que ele pleiteou nas razões recursais. Neste caso, diz-se que o recorrente foi, em parte,
vencido e vencedor no recurso.
Obs.: Se o recorrente limita voluntariamente o objeto do recurso, não impugnando
a totalidade da sentença, e o voto acolhe totalmente o seu pedido, não há que se falar
em provimento parcial do recurso, mas sim provimento total.
São inúmeras as possibilidades de provimento parcial do recurso:
- Reformar em parte a sentença para reduzir/majorar a pena imposta;
- Reformar em parte a sentença para modificar o regime de pena imposto etc.

Veja alguns modelos de dispositivo dando pelo provimento parcial do recurso:

Pelo exposto, dou parcial provimento à apelação tão somente para reduzir a sanção ao patamar de doze [u58] Comentário: Aqui faltou o comando
anos e dois meses de reclusão, imposta a VALDIR PEREIRA DA SILVA, por incursão no art. 121, § 2º, inciso médio.
IV, do Código Penal. No mais, mantenho a r. sentença recorrida.

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Pelo exposto, dou parcial provimento ao recurso, para reduzir a pena corporal do réu Raimundo para 7 [u59] Comentário: Aqui faltou o comando
(sete) anos, 7 (sete) meses e 20 (vinte) dias de reclusão e a pena pecuniária para 20 (vinte) dias multas, médio.
no valor mínimo; para reduzir a pena corporal do réu Jordson para 7 (sete) anos e 11 (onze) meses de
reclusão e a pena pecuniária para 20 (vinte) dias multas; e para excluir o valor indenizatório. No mais,
mantenho a sentença por seus próprios fundamentos.

Ante o exposto, dou parcial provimento ao apelo do réu, Francisco de Assis Wanderson Silva
Carvalho, para alterar o regime inicial de cumprimento da pena do semiaberto para o aberto.

Ante o exposto, dou provimento parcial ao recurso tão-somente para reduzir a pena para 5 (cinco) anos
e 9 (nove) meses de reclusão, e 85 (oitenta e cinco) dias-multa. Mantenho o valor unitário e o regime
prisional.

Do exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso para reduzir a condenação imposta à ré para
dois anos, um mês e dez dias de reclusão em regime semiaberto.

Desse modo, tendo em vista a inexistência de fundamentação condizente com as peculiaridades de cada
circunstância qualificadora – imprescindível segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça –
reduzo o aumento da pena a um terço, totalizando essa pena, assim, cinco anos e quatro meses de
reclusão.
Posto isso, dou parcial provimento ao recurso para reduzir a pena.

Destarte, julgo parcialmente procedente a denúncia e o faço para condenar o acusado como incurso nas
penas do art. 157, § 2º, incisos I, II e V do CP. / Passo, adiante, a dosar a pena.

PENA BASE – REDUÇÃO


Quanto à pena imposta, tenho para mim que a r. sentença está a merecer reparo.
O MM. Juiz, analisando as circunstâncias judiciais, assentou:
“A reprovabilidade da conduta do acusado consiste no fato de não possuir nenhum respeito ao
patrimônio alheio, enganando pessoa de boa-fé para saciar seus instintos de lucro fácil. É primário e,
embora conste uma outra anotação em sua folha penal, nada pode ser contabilizado em seu desfavor.
Não constam nos autos quaisquer informações sobre sua personalidade e conduta social. Os motivos e
as consequências do crime foram próprios do tipo penal. A vítima experimentou prejuízo considerável.”
(fl. 222).
A pena-base foi fixada em 01 (um) ano e 06 (seis) meses de reclusão e 20 (vinte) dias-multa, patamar
que reputo exacerbado.
Destarte, levando a efeito as mesmas considerações expendidas pelo Dr. Juiz, estabeleço a pena-base
em 01 (um) ano e 03 (três) meses de reclusão e 13 (treze) dias-multa, que devem ser calculados à razão
de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente na data dos fatos, inflição que se torna definitiva em face
da ausência de circunstâncias atenuantes ou agravantes e de causas de aumento ou diminuição da pena.
Conservo o regime aberto fixado na r. sentença para o cumprimento da reprimenda e a substituição da
pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, consistentes na prestação de serviços à
comunidade – em entidade a ser indicada pelo Juízo da Vara de Execuções Criminais – e na limitação de fim
de semana.
No tocante ao pedido da defesa de que seja concedida ao acusado a suspensão da pena, ressalto que o
art. 77 do Código Penal estabelece, em seu inciso III, que tal benefício só deve ser conferido caso não seja
indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 do mesmo diploma, o que foi devidamente outorgado
ao ora apelante.
Nesses limites é que dou parcial provimento ao apelo.
E é como voto.

PARCIAL PROVIMENTO RECURSO DO MP – IMPROVIMENTO RECURSO DA DEFESA


Assim sendo, mantenho a absolvição do acusado pelo delito previsto no artigo 14 da Lei 6.368/76.
Dou, pois, parcial provimento ao apelo para condenar o acusado Gabriel pelo crime de tráfico.
Passo a dosar-lhe a pena.
Agiu com culpabilidade. Trata-se de réu primário. Não existem nos autos elementos para apurar a sua
conduta social. Não possui personalidade voltada para a prática de delitos. Os motivos, as circunstâncias e
consequências são aquelas que normalmente cercam a espécie delitiva.
Fixo, pois, a pena-base do condenado em 03 (três) anos de reclusão e ao pagamento de 50 (cinquenta)
dias-multa, fixados no valor mínimo legal, tornando-a, definitiva, ante a ausência de atenuantes e
agravantes e causas de diminuição e aumento.
Fixo o regime inicial fechado para cumprimento da pena.
Isto posto, dou parcial provimento ao recurso ministerial para condenar Gabriel de Oliveira Silvestre
como incurso nas penas do artigo 12, caput, da Lei 6.368/76. Nego provimento ao recurso interposto pela
defesa.
E é como voto.

TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL


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2.4. ANULAÇÃO DA SENTENÇA / ATOS PROCESSUAIS: PRELIMINAR:


Veja alguns exemplos e dispositivos anulando a sentença penal.
Estofado na argumentação alinhavada, suscito, de ofício, preliminar de incompetência absoluta do Juízo
prolator da sentença guerreada e de nulidade, e, reconhecendo a incompetência absoluta do Juízo Criminal
que prolatara a sentença hostilizada, anulo todos os atos processuais praticados em desconformidade com o
procedimento regrado pela Lei nº 9.099/95, e, via de consequência, reconhecendo o implemento do lapso
prescricional incidente na espécie, declaro extinta a punibilidade do apelante. Custas na forma da lei.

Em face do exposto, acolho a preliminar de cerceamento de defesa, para anular o processo a partir da
citação, inclusive, com a devolução dos autos ao Juizado de origem para o regular prosseguimento. / É
como voto.

Ante o exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso do réu, para anular a sentença recorrida e todos os atos
posteriores ao pedido de degravação da fita magnética com os depoimentos das testemunhas e o
interrogatório do réu, devendo, após a transcrição das aludidas gravações, reabrir o prazo para alegações
finais do Ministério Público e Defesa.

Assim, acolhendo o entendimento supra-assinalado, tem-se que se deve dar provimento ao recurso para
se declarar, em preliminar, a nulidade da sentença, a fim de que se permita a abertura de vista à defesa
constituída ou, se necessário, à Defensoria Pública, para a apresentação das alegações finais.

Diante destas razões, acolho a preliminar posta pela Procuradoria de Justiça, anulo a sentença por
insuficiência de fundamentação e determino que outra seja prolatada, contendo o relato dos fatos alegados
na peça acusatória.

3. VEJA NOS FLUXOGRAMAS ABAIXO, DE FORMA ESQUEMATIZADA, OS


RESULTADOS POSSÍVEIS DE SE OBTER EM UM JULGAMENTO DE UM RECURSO:

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4. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO:
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Veja alguns exemplos de dispositivos em embargos de declaração:


Isto posto, REJEITO OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO opostos. [u60] Comentário: Aqui, optou-se pelo uso
Isto posto, NEGO PROVIMENTO AOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. da expressão “rejeito os embargos”

Isto posto, ACOLHO OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. [u61] Comentário: Aqui, optou-se pelo uso
da expressão “nego provimento aos
Ante o exposto, ACOLHO PARCIALMENTE OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, tão somente para embargos”.
retificar o erro material existente no v. acórdão.
Ante o exposto, NÃO CONHEÇO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, por sua patente
intempestividade.
À vista destas considerações, DOU PROVIMENTO apenas para acrescentar esses fundamentos ao meu
voto, sem infringência do julgado.
Ante o exposto, dou provimento aos embargos de declaração, com efeito infringente, para, sanando a
omissão, reconhecer a nulidade do processo, a partir da decisão que indeferiu a prova, determinando,
portanto, o retorno dos autos à instância de origem, para realização da perícia e posterior trâmite regular. É
o voto.
Assim, ACOLHO OS EMBARGOS e em consequência, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DE [u62] Comentário: Aqui, deram-se efeitos
APELAÇÃO PARA REDUZIR A PENA PARA 03 MESES DE DETENÇÃO. Mantenho o regime prisional aberto, nos modificativos (infringentes) aos embargos.
termos do art. 33, § 2º, ‘c’, do Código Penal.
Em face do disposto no art. 44 do CP, mantenho a substituição da pena privativa de liberdade por uma
restritiva de direito, na forma de prestação serviço á comunidade, adequando o período para 90 horas.
Mantenho, no mais, a sentença e acórdão.
É como voto.

Diante do exposto, conheço dos embargos e, emprestando-lhes efeitos infringentes, dou parcial [u63] Comentário: Aqui, deram-se efeitos
provimento ao apelo para, em substituição à pena privativa de liberdade cominada na r. sentença, impor ao modificativos (infringentes) aos embargos.
réu o pagamento de 30 dias-multa, unitariamente calculados à base de um trigésimo do salário mínimo.

5. DICAS ÚTEIS:

DICA 1: quando houver apenas um recurso, é desnecessária a identificação, no


dispositivo, da parte que saiu vitoriosa. Ex: Nego provimento ao recurso do réu. Isso
somente é necessário quando houver recurso de ambas as partes.

DICA 2: Quando houver mais de um recurso, analise-os, se o caso, separadamente.


Ex: DO RECURSO DO RÉU (...) DO RECURSO DO AUTOR (...) No entanto, faça
apenas um dispositivo e sempre no final do voto, abarcando os dois recursos. Mas não
se esqueça de dar o desfecho após a análise de cada um dos recursos, dizendo se eles
merecem provimento ou não. Ex: NEGO PROVIMENTO À APELAÇÃO DO AUTOR E
DOU PROVIMENTO À APELAÇÃO DO RÉU. Ex: NEGO PROVIMENTO A AMBOS OS
APELOS.

DICA 3: Com relação ao provimento jurisdicional de segunda instância, o correto é


empregar a expressão PROVIMENTO (quando se acolhe o recurso) ou IMPROVIMENTO
(quando se desacolhe o recurso). Ex: “nego provimento ao recurso”; “dou provimento ao
recurso”; “dou parcial provimento ao recurso”.
NUNCA use as expressões PROCEDENTE/IMPROCEDENTE para o recurso (ex:
julgo improcedente o recurso). Os termos “procedente” / “improcedente” são de
designação própria para o pedido inicial (ex: julgo procedente o pedido inicial (ou a
acusação). Pode ser usado também para designar a viabilidade da tese defendida pela
parte. Ex: procedência da alegação; procedência da impugnação.
Também é tecnicamente incorreto dizer “julgo procedente a ação”. Isso porque o
conceito de ação traduz na verdade o direito público subjetivo que todo indivíduo tem de
provocar o exercício da atividade jurisdicional do Estado.

TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL


Mara Saad 99
TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL

Não use a expressão “julgo parcialmente improcedente o pedido”, pois o correto é


“julgo parcialmente procedente o pedido”. A explicação é a seguinte: não se é possível
negar parcialmente um pedido, mas sim conceder parcialmente um pedido.

DICA 4: escreva em caixa alta e negrito a decisão final proferida no dispositivo do


voto (para dar destaque). Ex: NEGO PROVIMENTO AO RECURSO.

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Mara Saad 100
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CAPÍTULO VII

A EMENTA
O presente estudo será feito com ênfase exclusiva nas ementas produzidas no
TJDFT.

1. CONCEITO, OBJETIVO E CARACTERÍSTICAS:


Em sentido jurídico, ementa é a síntese (resumo) das questões de direito
discutidas no processo Nela é exposta a tese vencedora no julgamento de um recurso ou
ação pelo Tribunal.
A ementa tem como objetivo principal mostrar o entendimento do Tribunal com
relação a uma determinada matéria jurídica e servir de fonte de pesquisa de
jurisprudência.
Tem como características principais a objetividade (deve retratar o cerne da
controvérsia, evitando questões desnecessárias) e a generalidade (deve servir de
referência para outros casos idênticos).
A ementa deve estar em consonância com a fundamentação do acórdão e
com o dispositivo.
Em caso de haver contradição entre o fundamento do acórdão e a ementa,
prevalecerá sempre o contido no acórdão e nunca na ementa, que poderá ser corrigida
pelo relator.
Não é necessário ementar todos os pontos discutidos no recurso, mas apenas
os essenciais (o cerne da controvérsia) e as questões novas que aparecerem pela
primeira vez em discussão no tribunal.

2. PARTES:
A ementa possui duas partes: a verbetação (ou cabeçalho) e o dispositivo.
a) VERBETAÇÃO (ou cabeçalho): a verbetação é um conjunto de palavras-chave
que indicam e delimitam o(s) assunto(s) enfocado(s).
- Apresenta-se em forma de tópicos estanques, devendo ser observada a ordem
cronológica da matéria (sequência lógica):
Ex: PENAL. HOMICÍDIO CULPOSO. ERRO MÉDICO. FALTA DE PROVAS.
ABSOLVIÇÃO MANTIDA.
- As palavras-chave devem vir, de preferência, escritas em caixa alta e separadas
por ponto final. Não faça uso do hífen para separar as palavras:
Ex: TRÁFICO DE ENTORPECENTES. AUTORIA E MATERIALIDADE. PROVA.
INSUFICIÊNCIA. ABSOLVIÇÃO.
- Se houver expressões latinas, deverão vir escritas em itálico (ou aspas):
Ex: HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS. AUSÊNCIA. RÉU.
LIBERDADE.

- Dê preferência aos substantivos. Evite as locuções adjetivas/adverbiais e os


verbos:

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Mara Saad 101
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Ex: DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE ROUBO PARA FURTO = ROUBO.


DESCLASSIFICAÇÃO. FURTO.
Ex: FIXAÇÃO DA PENA-BASE NO MÍNIMO LEGAL = PENA-BASE. FIXAÇÃO. MÍNIMO
LEGAL.
Ex: IMPOSSIBILIDADE DE ISENÇÃO DO PAGAMENTO DE CUSTAS = CUSTAS.
PAGAMENTO. ISENÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
Ex: PENAL. HOMICÍDIO. RÉU QUE OCULTA CADÁVER. IMPOSSIBILIDADE DE
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL = PENAL. HOMICÍCIO. OCULTAÇÃO DE
CADÁVER. AÇÃO PENAL. TRANCAMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
Ex: APREENSÃO DE TRÊS PORÇÕES DE MACONHA, COM 285,69G DE MASSA
LÍQUIDA = MACONHA. APREENSÃO. QUANTIDADE EXPRESSIVA.

- Evite os termos que exprimam o resultado do julgamento


Ex: RECURSO PROVIDO. PRELIMINAR REJEITADA. SENTENÇA MANTIDA. [u64] Comentário: Não é conveniente
registrar o resultado do julgamento, uma vez
que uma mesma ementa poderá servir para o
- É dispensável o uso de termos que indiquem o ramo do direito abordado: caso de provimento e improvimento do
recurso.
Ex: PROCESSO PENAL. PENAL. CIVIL. PENAL ADMINISTRATIVO. TRIBUTÁRIO. A ementa poderá ser usada tanto para os casos
em que o recurso for da acusação ou da defesa.

- Obedeça à ordem cronológica dos fatos. Procure distribuir os verbetes de forma


que sejam o bastante para compreender o caso concreto:
Ex: PENAL. HOMICÍDIO CULPOSO. ERRO MÉDICO. FALTA DE PROVAS.
ABSOLVIÇÃO MANTIDA.
- Evite o uso de abreviaturas: STJ, STF, MP, CPP. CP.
- Utilize verbetes que você considera importantes para um pesquisador encontrar a
sua ementa na jurisprudência (ou seja, os verbetes que você usaria para fazer a sua
pesquisa.
- Em regra, os verbetes usados na ementa deverão constar do texto do voto ou do
dispositivo da ementa.

EXERCÍCIOS VERBETAÇÃO:

Reformule as ementas abaixo (verbetação), observando as regras (ordem


cronológica, sequência lógica, objetividade, essencialidade)

Ex: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO CRIMINAL DECLINADA PARA O JUÍZO DA
VARA DO JÚRI - ENTENDIMENTO DE QUE O CRIME OCORRIDO, EM TESE, NÃO SE COMPREENDE ENTRE OS
DOLOSOS CONTRA A VIDA - CONFLITO DE COMPETÊNCIA - IRRESIGNAÇÃO DOS RÉUS - IMPROVIMENTO
DO RECURSO = RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. LATROCÍNIO. JUÍZO CRIMINAL. COMPETÊNCIA.
DECLINAÇÃO. VARA DO JÚRI. CONFLITO. CRIME NÃO COMPREENDIDO ENTRE OS DOLOSOS CONTRA A
VIDA. IMPROVIMENTO DO RECURSO.

PENAL E PROCESSUAL PENAL. ROUBO. PROVAS INSUFICIENTES. NÃO CABIMENTO. REVELIA DO RÉU
NA FASE JUDICIAL. PRESENÇA DE DEFESA TÉCNICA. MÉRITO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA FURTO.
IMPOSSIBILIDADE. ARMA DE BRINQUEDO. PALAVRA DAS VÍTIMAS. VALOR PROBANTE. AUSÊNCIA DE
INTIMIDAÇÃO À VÍTIMA. IMPOSSIBILIDADE. SIMULAÇÃO DE USO DE ARMA DE FOGO. GRAVE AMEAÇA
COMPROVADA. RECURSO DESPROVIDO.

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Mara Saad 102
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PENAL. FABRICAÇÃO E VENDA DE MEDICAMENTO FITOTERÁPICO (GARRAFADA). ART. 273, § 1ºb, DO


CP. AUSENCIA DE DOLO. DESPROPORCIONALIDADE DA SANÇÃO. ABSOLVIÇÃO. EXERCÍCIO ILEGAL DA
MEDICINA. CONFIGURADO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

HABEAS CORPUS - RECEPTAÇÃO - PRISÃO CAUTELAR - PRIMARIEDADE - NOVO CRIME PRATICADO


ENQUANTO GOZAVA DE LIBERDADE PROVISÓRIA - PRISÃO PARA PRESERVAR A ORDEM PÚBLICA E
GARANTIR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL.

PENAL E PROCESSUAL PENAL. ROUBO QUALIFICADO. QUALIFICADORA DE EMPREGO DE ARMA DE


FOGO. INCIDÊNCIA. MAUS ANTECEDENTES. COMPENSAÇÃO REINCIDÊNCIA E CONFISSÃO. RECURSO DO
PARQUET PROVIDO. RECURSO DA DEFESA PARCIALMENTE PROVIDO.

RECURSOS DE APELAÇÃO CRIMINAL DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE. ATO INFRACIONAL


ANÁLOGO AO CRIME DE LATROCÍNIO TENTADO. APLICAÇÃO DA MEDIDA DE INTERNAÇÃO. RECURSOS DA
DEFESA. PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA MAIS BRANDA. IMPOSSIBILIDADE. ATO
GRAVE. MENORES EM SITUAÇÃO DE RISCO. NECESSIDADE DE RESPOSTA MAIS ENÉRGICA POR PARTE DO
ESTADO. ATIVIDADES EXTERNAS. SENTENÇA QUE CONDICIONA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO A CERTOS
REQUISITOS. POSSIBILIDADE. RECURSOS CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS.

HABEAS CORPUS. FURTO. PACIENTE QUE SUBTRAIU PRODUTOS DO INTERIOR DE UMA DROGARIA.
PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM PREVENTIVA. PRESENÇA DO FUMUS COMISSI DELICTI E DO
PERICULUM LIBERTATIS. REINCIDENTE EM CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
NECESSIDADE DA CONSTRIÇÃO PARA A GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO
CARACTERIZADO. ORDEM DENEGADA.

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA. OPERAÇÕES FRAUDULENTAS.


CONTINUIDADE DELITIVA. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DA DEFESA. FATOS ANTERIORES A
JANEIRO DE 2003. PRESCRIÇÃO RETROATIVA. FATOS ANTERIORES À LEI 12.234/2010.
IRRETROATIVIDADE DE LEI MAIS GRAVOSA. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. INOCORRÊNCIA DE
INTERPOSIÇÃO DE RECURSO DA ACUSAÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL REGULADO PELA PENA APLICADA.
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO. INVIABILIDADE. AUTORIA E MATERIALIDADE
COMPROVADAS. FARTA DOCUMENTAÇÃO. DEPOIMENTOS TESTEMUNHAIS. PEDIDO DE REDUÇÃO DA PENA-
BASE. ACOLHIMENTO. AFASTAMENTO DA AVALIAÇÃO NEGATIVA DA CULPABILIDADE. CONTINUIDADE
DELITIVA. RECONHECIMENTO. APLICAÇÃO DA FRAÇÃO MÁXIMA DE 2/3 (DOIS TERÇOS). MANUTENÇÃO.
NÚMERO ELEVADO DE CRIMES. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

APELAÇÃO CRIMINAL. SONEGAÇÃO FISCAL. EMISSÃO DE NOTAS FISCAIS SEM A DEVIDA


ESCRITURAÇÃO E OMISSÃO NA EMISSÃO DE NOTAS FISCAIS POR SERVIÇOS EFETIVAMENTE PRESTADOS.
ARTIGO 1º, INCISOS II E V, DA LEI 8.137/1990. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DA DEFESA.
PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO. PROVA ROBUSTA DA PRÁTICA DOS DELITOS. DÚVIDA SOBRE A INSCRIÇÃO DA
EMPRESA NO SISTEMA DE TRIBUTAÇÃO SIMPLIFICADO. IRRELEVÂNCIA. PENA. AVALIAÇÃO DESFAVORÁVEL
DAS CIRCUNSTÃNCIAS JUDICIAIS. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. REDUÇÃO DA PENA. SANÇÃO
PECUNIÁRIA. EXTINÇÃO DA UNIDADE DE VALOR PREVISTA EM LEI. EXCLUSÃO. REPARAÇÃO DE DANOS.
CRIMES ANTERIORES À LEI 11.719/2008. REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DA PENA E SUBSTITUIÇÃO
DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO. DEFERIMENTO. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO CULPOSO NO TRÂNSITO. CHAVES ENTREGUES A


EMPREGADO NÃO HABILITADO PARA ESTACIONAR O CARRO QUANDO SURGISSE VAGA. ATROPELAMENTO
E MORTE DE PEDESTRE NA CALÇADA. POSTERIOR SUICÍDIO DO MOTORISTA CULPADO. PRETENSÃO DO
ÓRGÃO ACUSADOR EM ACRESCER À SENTENÇA CIRCUNSTÂNCIA MAJORANTE (ARTIGO 302, PARÁGRAFO
ÚNICO, INCISO II, CTB). INCOMUNICABILIDADE DE CIRCUNSTÂNCIA PESSOAL DE CARÁTER OBJETIVO.
PRETENSÃO DEFENSIVA À ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. IMPROCEDÊNCIA. SENTENÇA
CONFIRMADA.

APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO QUALIFICADO PELO CONCURSO DE AGENTES E PELA ESCALADA.


SUBTRAÇÃO DE BENS DE UMA IGREJA. RECURSO DEFENSIVO. PEDIDO DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. VALOR DA RES FURTIVA, APESAR DE PEQUENO, NÃO É IRRISÓRIO.
PEDIDO DE AFASTAMENTO DA REINCIDÊNCIA. NÃO ACOLHIMENTO. CONDENAÇÃO ANTERIOR TRANSITADA
EM JULGADO PELO CRIME DE POSSE DE DROGA PARA USO PRÓPRIO CONFIGURA A REINCIDÊNCIA.
PEDIDO DE RECONHCIMENTO DO FURTO PRIVILEGIADO. IMPOSSIBILIDADE. NÃO PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS. RÉU REINCIDENTE. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS
DE DIREITOS. POSSIBILIDADE. REQUISITOS DEVIDAMENTE ATENDIDOS. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO.

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Mara Saad 103
TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL

b) DISPOSITIVO: o dispositivo é a parte da ementa onde se registra o enunciado


da matéria discutida. Em sua elaboração, deve-se levar em conta as palavras utilizadas
na verbetação, embora o dispositivo não seja desta dependente.
- Diferentemente da verbetação, o dispositivo apresenta-se em forma de frases
lógicas e sistemáticas (enunciados completos, com sujeito, predicado e complementos).
- É escrito em caixa baixa, exceto as letras que, em obediência às regras
gramaticais, deverão vir escritas em maiúsculas.
- Deve ser redigido, de preferência, na ordem direta, para melhor compreensão do
leitor (as frases na ordem direta são, em regra, de mais fácil compreensão:.
Ex: Se inexistente pressuposto objetivo de admissibilidade do recurso, dele não se conhece [u65] Comentário: O recurso não deve ser
conhecido quando ausente o pressuposto
- Dê preferência a frases curtas e objetivas, pois o excesso de explicação prejudica objetivo de admissibilidade.
a objetividade e dificulta o entendimento do enunciado. Veja a seguir modelo de ementa
escrito com excesso de palavras e, no detalhe, a reelaboração dela, com mais
objetividade:

“Os depoimentos de policiais possuem validade, mormente quando colhidos em juízo, com observância
ao contraditório, bem como quando em consonância com as demais provas colhidas na instrução criminal,
assim, não há falar em absolvição, pois além da versão do réu não ser verossímil, a materialidade e a
autoria do crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido estão devidamente comprovadas pelo
conjunto probatório, especialmente nos depoimentos dos policiais responsáveis pelo flagrante, narrando o
fato delituoso de forma harmônica e confirmando a apreensão da arma na cintura do réu”. [u66] Comentário: Restando comprovadas
a autoria e materialidade do crime de porte
ilegal de arma, somando-se a isso a versão
Veja outro exemplo de ementa com excesso de palavras que dificultam o
inverossímil do acusado e a coerência dos
entendimento do enunciado: depoimentos dos policiais que efetuaram o
flagrante com as demais provas dos autos, não
“Inviável o pleito absolutório, pois segundo os depoimentos testemunhais aliados aos pareceres há que se falar em absolvição.
técnicos, restou demonstrado nos autos que a apelante, na qualidade de funcionária da empresa Brasex,
responsável pelos pagamentos das despesas, entre os anos de 2002 e 2003, apropriou-se de valores
pertencentes à firma sempre se utilizando da mesma estratégia, qual seja, forjava documentos para
comprovar despesas não existentes. Por outro lado, não há falar-se em atipicidade da conduta,
porquanto exsurge indiscutivelmente do corpo probatório que a ré, com animus rem sibi habendi,
apropriou-se indevidamente dos valores pertencentes à empresa Brasex.” = [u67] Comentário: É inviável o pleito
absolutório, não havendo que se falar em
atipicidade da conduta, quando restar
comprovado nos autos, tanto pela prova
- Dê preferência também às frases afirmativas, evitando as negativas: pericial, quanto pela prova documental, que a
acusada, com animus rem sibi habendi,
Ex: Não pode o juiz indeferir a prova requerida = É vedado ao juiz indeferir a prova requerida.
apropriou-se de valores pertencentes à
Ex: Não deve ser reduzida a pena-base do acusado, quando... = Deve ser mantida a pena-base empresa da qual é funcionária, forjando
do acusado, quando... documentos para comprovar despesas não
existentes.
Ex: Não merece reforma a sentença que fixa a pena-base pouco acima do mínimo legal, após
sopesar detalhadamente as circunstâncias do art. 59 do CP = Merece ser confirmada a sentença que fixa a
pena-base...
Ex: Não merece reforma a condenação se fundada em todo o conjunto probatório produzido nos
autos = Deve ser confirmada a sentença condenatória quando fundada no conjunto probatório...
Ex: Não se conhece do recurso quando ausente pressuposto legal de admissibilidade = O recurso
não deve ser conhecido quando ausente pressuposto legal de admissibilidade.

- Dê preferência, quando possível, aos verbos na 3ª pessoa do presente do


indicativo. Fuja das frases nominais, evitando o corte do verbo principal:
Ex: Prejudicada a ordem de habeas corpus, quando verificada a soltura do paciente pelo juiz =
Fica prejudicada a ordem de habeas corpus, quando ...
Ex: Insuficientes as provas do envolvimento da apelante com a traficância ilícita de drogas, impõe- [u68] Comentário: Evite o uso das palavras
e a reforma da sentença para absolvê-la = Impõe-se a absolvição do acusado, quando restar insuficientes “apelante”, “réu”, “autor”, pois isso retira o
as provas de seu envolvimento com a traficância ilícita de entorpecentes. caráter genérico da ementas.
Neste caso, prefira: acusado
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Mara Saad 104
TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL

Ex: Comprovadas a autoria e materialidade do crime de tráfico de drogas, impõe-se a condenação


do réu nas penas para ele cominadas = Impõe-se a condenação do acusado no crime de tráfico de drogas,
quando restar devidamente comprovadas a autoria e materialidade do delito a ele imputado.

- Evite o uso de abreviaturas: STJ, STF, MP, CPP. CP.

Ao elaborar o dispositivo:
- Procure retratar bem a realidade fática dos autos. Atente para o cerne da
controvérsia, evitando proposições desnecessárias:
Ex: APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. RECURSO. PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE.
PREPARO. RECOLHIMENTO. AUSÊNCIA. DESERÇÃO
Não se conhece de apelação em que o preparo não é efetuado concomitantemente à interposição do
recurso, em face da incidência da deserção. [u69] Comentário: Aqui trago um exemplo
do processo cível. No caso concreto , o
- Prime pela utilização de proposições genéricas e pela abstração. A ementa tem apelante não comprovou haver efetuado o
preparo do recurso. Da forma como ficou
que servir para todos os casos semelhantes. Evite utilizar expressões específicas do redigida a ementa, no entanto, parece que
processo em análise: ex: no caso em exame; no caso sub judice; não faz jus o apelante; o apelante efetuou o preparo, só que não
concomitantemente à interposição do recurso.
Ex: Inviável a absolvição por insuficiência de provas, porque, além do reconhecimento seguro do réu por Assim, melhor seria escrevê-la da seguinte
ambas as vítimas, o apelante foi surpreendido, logo após os fatos, no interior do veículo subtraído quando forma: “É deserta a apelação quando interposta
da abordagem policial, evadindo-se do local e, entretanto, foi perseguido e preso pelos policiais. sem o comprovante do recolhimento do
preparo”.
- Evite utilizar termos que expressam o resultado do julgamento
[u70] Comentário: Aqui, foram utilizadas
Ex: improvimento do recurso – não conhecimento – sentença mantida. expressões específicas do caso em análise: Ex:
apelante, veículo. Assim, melhor seria escrever
a ementa da seguinte forma: É inviável a
- Seja original, evitando transcrever textos de lei, lições doutrinárias ou precedentes absolvição por insuficiência de provas, quando
jurisprudenciais: o acusado é surpreendido por policiais logo
após os fatos de posse do objeto subtraído e é
seguramente reconhecido pelas vítimas.
Ex: IRRETROATIVIDADE DE LEI MAIS GRAVOSA. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. INOCORRÊNCIA DE
INTERPOSIÇÃO DE RECURSO DA ACUSAÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL REGULADO PELA PENA APLICADA.
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. [u71] Comentário: Vide comentário nº 1.
Com o advento da nova Lei n. 12.234/2010, não há mais o cômputo de qualquer período anterior ao
recebimento da denúncia ou queixa, ou seja, a prescrição retroativa só poderá ocorrer entre o recebimento
da denúncia ou queixa e a publicação da sentença condenatória. Entretanto, por se tratar de lei mais
gravosa, é irretroativa. [u72] Comentário: Neste caso, o relator
limitou-se a trazer lição doutrinária acerca da
- Evite redigir o dispositivo da ementa como se estivesse relatando ou proferindo o prescrição retroativa, não retratando o caso
concreto. Assim, a redação que melhor
voto: retrataria o caso seria a seguinte: “Impõe-se o
Ex: HABEAS CORPUS. PRISÃO EM FLAGRANTE. RECEPTAÇÃO (ARTIGO 180, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL). reconhecimento da prescrição retroativa a
PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA INDEFERIDO. PERICULOSIDADE. MAUS ANTECEDENTES. REITERAÇÃO fatos anteriores à Lei 12.234/2010, eis que a
CRIMINOSA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. ORDEM DENEGADA. novel legislação acerca do instituto, que prevê
Não obstante se tratar de crime praticado sem violência ou grave ameaça, restou caracterizado o requisito o cômputo do prazo prescricional apenas entre
de garantia da ordem pública, porque o paciente possui 02 (duas) condenações anteriores com trânsito em o recebimento da denúncia ou da queixa e a
julgado, uma por tentativa de furto qualificado e outra por furto qualificado, além de condenação em publicação da sentença condenatória, é mais
primeira instância pela prática do crime de receptação e de processos em curso nos quais se apura a prática gravosa ao acusado, não podendo retroagir,
de crime de tentativa de roubo circunstanciado e de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo, por força do que dispõe a lei penal, para
demonstrando destemor e que não se intimida com a aplicação da lei penal. Manifesta, pois, a reiteração alcançar processo em andamento.”
criminosa, faz-se necessária a manutenção da prisão cautelar do paciente.

Ex: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. VÍCIOS. INEXISTÊNCIA.


Não se verifica no acórdão embargado qualquer omissão ou contradição. Na verdade, a recorrente pretende
mais uma vez instaurar nova discussão acerca da matéria, o que não se admite em se tratando de
embargos de declaração, cuja finalidade é completar a decisão omissa, aclará-la ou dissipar contradição.

Ex: PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. DOSIMETRIA


ADEQUADA. PRETENSÃO À SUBSTITUIÇÃO DA PENA. IMPOSSIBILIDADE. REQUISITOS LEGAIS NÃO
PREENCHIDOS. Réu condenado por infringir o artigo 33 da Lei 11.343/06, eis que foi preso em flagrante
depois de vender quase cinco gramas de crack, sendo comprovado por testemunhos de policiais que o
fotografaram nessa atividade ilícita. A pena base foi elevada em razão da reincidência, totalizando cinco
anos e seis meses de reclusão, quantidade que não permite regime diverso do fechado e a substituição
por restritiva de direitos. Apelação desprovida.”
TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL
Mara Saad 105
TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL

Ex: APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES DE PARTO SUPOSTO E ESTELIONATO TENTADO. RECURSO


CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
Na espécie, ficou comprovada nos autos que o apelante tinha plena ciência de que não era o pai da
menor quando fez o registro no cartório para, em seguida, requerer o seguro, não havendo dúvidas de
que o crime de parto suposto descrito no artigo 242 do Código Penal em apuração foi praticado pelo
recorrente. O delito foi praticado com finalidade espúria, já que o réu sequer convivia com a criança,
nem demonstrou qualquer afeto com a família, visando apenas o recebimento de vantagem patrimonial,
inviabilizando o reconhecimento da figura privilegiada prevista no artigo 242, parágrafo único, do Código
Penal.

- Evite a utilização da proposições qualificadoras, se elas não tiverem importância


na abordagem do tema:
Ex: Ônibus da Viplan = Ônibus de concessionária.

- Se houver mais de um assunto a ser abordado, utilize um parágrafo para cada


um, sendo desnecessária a numeração:
“APELAÇÃO CRIMINAL - ROUBO CIRCUNSTANCIADO - CONCURSO DE AGENTES - EMPREGO DE ARMA
DE FOGO - ASSALTO EM RESIDÊNCIA -RECONHECIMENTO POR FOTOGRAFIA REITERADO EM JUÍZO -
PALAVRA DAS VÍTIMAS APOIADA NAS PROVAS - ARMA NÃO APREENDIDA E PERICIADA DOSIMETRIA -
REGIME ABERTO - IMPROCEDÊNCIA.
O reconhecimento fotográfico do acusado, na fase policial, não deve ser invalidado quando confirmado
em juízo e em harmonia com as demais provas.
Reunidos no feito elementos hábeis a corroborar a autoria, notadamente o reconhecimento seguro pelas
vítimas e as declarações firmes e coesas, não se cogita de absolvição.
A apreensão e perícia da arma de fogo utilizada no roubo são desnecessárias para configurar a causa de
aumento de pena, se as demais provas são firmes sobre a efetiva utilização.
O quantum da pena não permite a fixação do regime aberto.
Recurso improvido.”

- Ao fazer referência a certa palavra, procure estabelecer seu complemento:


Ex: crime (de tráfico) (de estelionato)
Ex: regime (prisional) (de pena)

- Evite extrair trechos do voto para servir de ementa, a menos que eles exprimam
com fidelidade a matéria posta em discussão.

3. FORMATAÇÃO:
- A ementa deve ser escrita em espaço simples (não há espaçamento entre a
verbetação e o dispositivo, nem entre este e a referência).
- Não há paragrafação.
- No caso de haver mais de um assunto a ser tratado, evite separá-los por meio de
números (1, 2,) embora essa seja a prática mais usual nos Tribunais.

4. METODOLOGIA:

O Prof. José Augusto Guimarães propõe a seguinte metodologia para a elaboração


de ementas:
(F) Fato: aquilo que ocorreu no caso concreto. Fatos materiais que produzem efeitos
jurídicos. É extraído do relatório.
(I) Instituto Jurídico: o direito discutido na demanda; instituto aplicável à espécie É
extraído do relatório (o quê)

TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL


Mara Saad 106
TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL

(E) Entendimento: o posicionamento tomado pelo tribunal; resultado da soma entre o


fato e o instituto jurídico. É extraído do dispositivo do acórdão (é/ não é).
(A) Argumento: razões jurídicas que sustentam o entendimento. Extrai-se do corpo do
acórdão (isso ou aquilo).
Obs: A ordem cronológica de cada categoria pode variar de acordo com o estilo
pessoal de cada um.
Fórmula: F (é/não é) I (porque) A, onde...

Ex 1: Caso concreto = “A” recorre da decisão que, sem fundamentação indefere a


produção de prova pericial. Alega a nulidade da decisão. O Tribunal entende que a
decisão está mesmo sem fundamentação e anula a sentença.
F (fato) -> o que ocorreu = juiz indeferiu a produção de prova pericial sem
fundamentação.
I (instituto jurídico) -> direito discutido = nulidade
E (entendimento) -> resultado = sim
A (argumento) -> razões jurídicas = o juiz tem o dever de fundamentar a decisão, sob
pena de infringência ao art. 93, inciso X, da CF.

Ementa:
PROVA PERICIAL. INDEFERIMENTO. DECISÃO. FUNDAMENTAÇÃO. AUSÊNCIA.
NULIDADE.
É nula a decisão judicial que indefere a produção de prova pericial sem apresentar
motivação, pois constitui dever do juiz demonstrar as razões de seu convencimento, sob
pena de infringência ao art. 93, inciso X, da CF.

Ex 2: Caso concreto = MP recorre da sentença que absolveu o réu da prática do crime


contra a ordem tributária. O Tribunal entendeu que há provas da materialidade e autoria
do crime e reforma a sentença.
F (fato) -> o que ocorreu = recurso contra a sentença absolutória do crime contra a ordem
tributária
I (instituto jurídico) -> direito discutido = condenação / absolvição
E (entendimento) -> resultado = sim / não
A (argumento) -> razões jurídicas = uma vez comprovadas a autoria e a materialidade do
delito, o réu deve ser condenado.

Ementa:
CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. AUTORIA E MATERIALIDADE.
COMPROVAÇÃO. CONDENAÇÃO.
Havendo provas incontestes da autoria e materialidade de crime contra a ordem
tributária, a condenação é medida que se impõe, devendo ser reformada a sentença que
absolveu o réu.

Ex 3: Caso concreto = o réu recorre da sentença que o condenou pela prática do crime
contra a ordem tributária. O Tribunal entendeu que há provas da autoria e materialidade
do crime e confirma a sentença.
F (fato) -> o que ocorreu = recurso do réu contra a sentença condenatória
I (instituto jurídico) -> direito discutido = absolvição / condenação
E (entendimento) -> resultado = não / sim

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A (argumento) -> razões jurídicas = uma vez comprovadas a autoria e materialidade do


delito, deve ser mantida a sentença que condenou o réu.

Ementa:
CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. AUTORIA E MATERIALIDADE.
COMPROVAÇÃO. CONDENAÇÃO.
Havendo provas incontestes da autoria e materialidade de crime contra a ordem
tributária, deve ser mantida a sentença condenatória, impondo-se, de conseqüência, o
improvimento do recurso do réu com o qual pedia sua absolvição.

Ex 4: Caso concreto = o réu recorre da sentença que o condenou pela prática do crime
de estelionato. Tribunal entendeu que não há provas certas da autoria e materialidade do
crime e reforma a sentença
F (fato) -> o que ocorreu = recurso do réu contra a sentença condenatória
I (instituto jurídico) -> direito discutido = condenação / absolvição
E (entendimento) -> resultado = não / sim
A (argumento) -> razões jurídicas = havendo dúvidas da autoria e materialidade impõe-se
a absolvição.

Ementa:
ESTELIONATO. AUTORIA E MATERIALIDADE NÃO COMPROVADAS. PRINCÍPIO IN
DUBIO PRO REO. ABSOLVIÇÃO.
Pairando a incerteza quanto à autoria e materialidade de crime imputado ao condenado,
impõe-se a aplicação do princípio do in dubio pro reo e a sua absolvição de
consequência.

Ex 5: Caso concreto: MP interpõe apelação contra decisão que rejeita a denúncia.


Tribunal decide que o recurso cabível é o recurso em sentido estrito e que se trata de
erro grosseiro, sendo incabível a fungibilidade.
F (fato) -> o que ocorreu = interposição da apelação contra decisão que rejeita a
denúncia.
I (instituto jurídico) -> direito discutido = recurso cabível – apelação / rec. sent. estr.
E (entendimento) -> resultado = não / sim
A (argumento) -> razões jurídicas = não conhecimento da apelação, inviável a
fungibilidade por se tratar de erro grosseiro (art. 581, CPP)

Ementa:
PENAL. PROCESSUAL PENAL. LESÃO CORPORAL E AMEAÇA. REJEIÇÃO DA
DENÚNCIA. RECURSO. VIA ELEITA. INADEQUADA.
Nos termos do art. 581 do CPP, da decisão ou sentença que rejeita a denúncia cabe
recurso em sentido estrito. Interposta apelação, dela não se conhece, sendo inviável a
adoção do princípio da fungibilidade recursal por se tratar de erro grosseiro.

Ex 6: Caso concreto: Condenado recorre alegando que sua defesa técnica foi deficiente,
razão de sua condenação e pede a anulação da sentença. O tribunal entende que a
defesa foi satisfatória.
F (fato) -> o que ocorreu = interposição da apelação alegando deficiência de defesa.
I (instituto jurídico) -> direito discutido = deficiência da defesa técnica
E (entendimento) -> resultado = não
A (argumento) -> razões jurídicas = a defesa foi satisfatória

Ementa:

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CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. DEFESA TÉCNICA. DEFICIÊNCIA. NÃO


COMPROVAÇÃO.CONDENAÇÃO. MANTENÇA.
Não há que se falar em deficiência de defesa técnica se o advogado constituído pelo
acusado produziu as peças processuais obrigatórias, arrolando testemunhas, juntando
documentos, fazendo perguntas nas audiências e comparecendo a todos os atos
processuais, não havendo de se confundir resultado contrário à expectativa do acusado
com carência de defesa.

Ex 7: Caso concreto: O apelante opôs embargos de declaração alegando a existência de


omissão no acórdão. Tribunal entendeu que havia omissão e acolheu os embargos.
F (fato) -> o que ocorreu = oposição de embargos de declaração sob a alegação de
existência de omissão.
I (instituto jurídico) -> direito discutido = omissão no acórdão
E (entendimento) -> resultado = sim
A (argumento) -> razões jurídicas = acolhem-se os embargos de declaração para sanar
o vício.

Ementa:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. OCORRÊNCIA. EFEITO INTEGRATIVO.
A existência de omissão no julgado impõe o acolhimento dos embargos de declaração, a
fim de sanar o vício apontado, de modo a permitir a completa entrega da prestação
jurisdicional.

Ex 8: Caso concreto: O réu requer a desclassificação do crime de tráfico de


entorpecentes para o uso. Tribunal entendeu ser impossível diante da grande quantidade
de droga e do material apreendidos.
F (fato) -> o que ocorreu = pedido de desclassificação do crime de tráfico.
I (instituto jurídico) -> direito discutido = desclassificação
E (entendimento) -> resultado = não
A (argumento) -> razões jurídicas = quantidade significativa da substância apreendida
impede a desclassificação.

Ementa:
APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. APREENSÃO
DE TRÊS PORÇÕES DE MACONHA, COM 285,69G DE MASSA LÍQUIDA SENTENÇA
CONDENATÓRIA. RECURSO DA DEFESA. PEDIDO DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA
USO. IMPOSSIBILIDADE. DECLARAÇÕES DOS POLICIAIS. GRANDE QUANTIDADE
DE DROGA. APREENSÃO DE BALANÇA DE PRECISÃO E UMA FACA. RECURSO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
Descabido falar em desclassificação para o crime previsto no art. 28 da Lei 11.343/2006,
quando a prova dos autos demonstra que o réu comercializava substância entorpecente,
diante da significativa quantidade de maconha apreendida pelos policiais, com suporte
em denúncias anônimas, além de uma balança de precisão e uma faca com resquícios
da droga.

Ex 9: Caso concreto: O réu requer a minoração da pena-base, alegando circunstâncias


judiciais favoráveis. Tribunal entende que as circunstâncias são desfavoráveis.
F (fato) -> o que ocorreu = pedido de minoração da pena.
I (instituto jurídico) -> direito discutido = pena (minoração) circunstâncias judiciais
favoráveis
E (entendimento) -> resultado = não
A (argumento) -> razões jurídicas = A existência de circunstâncias judiciais
desfavoráveis impede a minoração da pena-base.

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Ementa:
PENA. ART. 157, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL. FIXAÇÃO DA PENA-BASE NO
MÍNIMO LEGAL - INVIABILIDADE. RECURSO NÃO-PROVIDO.
Se nem todas as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP são favoráveis ao acusado,
justificada a fixação da pena-base um pouco acima do mínimo legal.

Ex 10: Caso concreto: O réu requer a modificação do regime prisional fechado para o
aberto. Tribunal entende não haver requisitos para o abrandamento (réu reincidente e
pena superior a quatro anos).
F (fato) -> o que ocorreu = pedido de modificação de regime prisional
I (instituto jurídico) -> direito discutido = abrandamento de regime prisional
E (entendimento) -> resultado = não
A (argumento) -> razões jurídicas = réu reincidente e pena superior a 4 anos de
reclusão.

Ementa:
ROUBO. REGIME PRISIONAL FECHADO. PEDIDO DE MODIFICAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. REINCIDÊNCIA. PENA. QUATRO ANOS DE RECLUSÃO.
Inviável a modificação do regime prisional fechado para outro mais benéfico se o
acusado é reincidente e a pena aplicada é superior a 4 (quatro) anos de reclusão.

Ex 11: Caso concreto: O réu requer a desconfiguração da causa de aumento da pena de


roubo, alegando a necessidade de apreensão e perícia da arma que não ocorreu.
Tribunal entende desnecessária a apreensão e perícia se há outras provas.
F (fato) -> o que ocorreu = pedido de desconfiguração da causa de aumento de pena de
roubo
I (instituto jurídico) -> direito discutido = necessidade de apreensão e perícia em arma –
causa de aumento de pena
E (entendimento) -> resultado = não
A (argumento) -> razões jurídicas = a existência de outras provas afasta a necessidade
de apreensão e perícia da arma

Ementa:
APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. EMPREGO DE ARMA DE
FOGO. ARMA NÃO APREENDIDA E PERICIADA. DESNECESSIDADE.
A apreensão e perícia da arma de fogo utilizada no roubo são desnecessárias para
configurar a causa de aumento de pena, se as demais provas são firmes sobre a
efetiva utilização.

Ex 12: Caso concreto: O apelante requer o não envio dos autos à Procuradoria de Justiça
para parecer. Tribunal entende ser obrigatória a intervenção diante do que dispõe a lei.
F (fato) -> o que ocorreu = pedido de não envio do recurso à Procuradoria de Justiça para
oferecimento de parecer
I (instituto jurídico) -> direito discutido = dispensa de intervenção do Ministério Público
E (entendimento) -> resultado = não
A (argumento) -> razões jurídicas = exigência do CPP e do RITJDFT

Ementa:
APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES DE AMEAÇA, LESÃO CORPORAL E
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER. LEI
MARIA DA PENHA. RECURSO DA DEFESA. PLEITO ABSOLUTÓRIO PEDIDO DE
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NÃO ENCAMINHAMENTO DOS AUTOS À PROCURADORIA DE JUSTIÇA PARA


PARECER. NÃO ACOLHIMENTO. DETERMINAÇÃO DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL E DO REGIMENTO INTERNO DESTA CORTE DE JUSTIÇA. RECURSO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
Determinando o Código de Processo Penal e o RITJDFT a remessa dos autos à
Procuradoria de Justiça para parecer, incabível o pedido de não encaminhamento dos
autos formulado pela Defesa. Ademais, não há que se falar em nova remessa dos
autos à Defesa após o oferecimento de parecer, uma vez que a Procuradoria de
Justiça não atua na condição de parte, e, sim, de custos legis.

Ex 13: Caso concreto: O condenado requer o deslocamento para a justiça federal da


competência para o julgamento do crime de documento falso. O Tribunal entende inviável
o deslocamento já que não houve prejuízo para a União.
F (fato) -> o que ocorreu = pedido de deslocamento da competência
I (instituto jurídico) -> direito discutido = deslocamento da competência
E (entendimento) -> resultado = não
A (argumento) -> razões jurídicas = não houve prejuízo para a União

Ementa:
PENAL. USO DE DOCUMENTO FALSO. PRELIMINAR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
ESTADUAL. INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA. INAPLICABILIDADE.
Inviável o deslocamento da competência para a justiça federal, quando o crime de uso de
documento falso não produz qualquer prejuízo a bens, serviços ou interesse da União, de
suas autarquias ou empresas públicas.

5. EMENTAS – REELABORAÇÃO:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. PRELIMINAR DE NULIDADE: AUSÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO POR


OCASIÃO DO INTERROGATÓRIO JUDICIAL.
A Lei no 10.792/03, que deu nova redação ao art. 185, do CPP, tornou obrigatória a presença de
defensor, constituído ou nomeado, por ocasião do interrogatório judicial do acusado. Entretanto, a lei é
omissa no que diz respeito à presença do representante do Ministério Público, não havendo, assim, que se
falar na obrigatoriedade de sua presença. [u73] Comentário: RÉU. INTERROGATÓRIO.
MINISTÉRIO PÚBLICO. AUSÊNCIA. NULIDADE.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INTEMPESTIVIDADE. PRAZO. INTERRUPÇÃO. INOCORRÊNCIA. INOCORRÊNCIA. A ausência do Ministério
O juízo negativo de admissibilidade dos embargos de declaração – seja pela hipótese de intempestividade, Público no interrogatório do réu não é causa de
irregularidade de representação ou ausência de enquadramento a um dos vícios legais pela parte – não nulidade do processo, eis que o art. 185 do
acarretará a interrupção do prazo para a interposição de outros recursos. Código Penal impõe apenas a presença do
defensor do acusado.

HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE HOMICÍDIO. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. DENEGAÇÃO DA ORDEM.


Paciente que tentou atingir a esposa da vítima com uma faca, ocasião em que foi desarmado. Insistiu,
[u74] Comentário: Os embargos de
contudo, na empreitada criminosa ao buscar outra faca no interior da residência com a qual atingiu a vítima,
declaração não conhecidos não interrompem o
causando-lhe lesão no pescoço, evidenciando sua periculosidade.
prazo para a interposição de outros recursos.
Autoriza, assim, o fato-crime concreto, por suas circunstâncias específicas, a manutenção da custódia
cautelar do paciente para garantia da ordem pública, ainda que primário e com bons antecedentes.
Constrição fundada nos arts. 312 e 313 do CPP. Inadequação de qualquer das medidas cautelares diversas
da prisão, previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal.
Ordem denegada.

6. EMENTAS – ANÁLISE:

Tráfico de entorpecentes. Prova insuficiente. Sentença reformada para absolver a ré.


1. Insuficientes as provas do envolvimento da apelante com a traficância ilícita de drogas, impõe-se a reforma da sentença
para absolvê-la (art. 386, VI, CPP).

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2. O simples fato de alguém ter sido visto em comportamento suspeito, na companhia de co-autores do crime, não autoriza
sua condenação quando ao desamparo de outros elementos concretos.

PENAL E PROCESSUAL. APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES PROVAS DA AUTORIA E DA


MATERIALIDADE DO CRIME. CAUSA DE AUMENTO DA PENA DESCRITA NO ARTIGO 40, III, DA LAD. AUSÊNCIA DE
PROVAS.
Ausentes provas certas quanto ao local em que o réu foi preso em flagrante exercendo a traficância, exclui-se da
condenação a causa de aumento da pena prevista no artigo 40, III, da LAD.

PENAL. CONDENAÇÃO. ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELO USO DE ARMA. APELAÇÃO CRIMINAL. ABSOLVIÇÃO.
AUTORIA. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. DESCLASSIFICAÇÃO. EXCLUSÃO QUALIFICADORA.
1. A autoria restou devidamente demonstrada pelo amplo contexto probatório, que conta, inclusive, com o reconhecimento
levado a efeito pela vítima de forma firme e seguro, ratificado em juízo.
2. Incide a causa de aumento de pena referente ao emprego de arma, estando comprovada sua utilização na empreitada
criminosa pelo contexto probatório que conta com as declarações da vítima, importante meio para elucidação do crime.

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CAPÍTULO VIII

DICAS ÚTEIS

DICA 1: evite as locuções “recurso de embargos de declaração” “recurso de apelação”.


Basta dizer: Conheço da apelação. Nego provimento à apelação. Rejeito os embargos de
declaração.
Apelação, agravo e embargos declaratórios são espécies do gênero “recursos
cabíveis”.

DICA 2: cuidado ao preencher o cabeçalho dos despachos, decisões e acórdãos. Confira


o número do processo e o nome das partes. Havendo dúvida nos nomes das partes,
confira-os no instrumento do mandato, pois é onde mais provavelmente poderá conter o
nome correto da parte. Erros no preenchimento de dados do processo demonstra
desleixo do julgador.

DICA 3: cuidado com o copia-cola. Essa prática pode trazer uma armadilha, pois o tema
pode ser o mesmo, mas a situação das partes no processo pode ser diferente.

DICA 4: ao se referir ao número de folhas do processo, use o plural (fls.) apenas quando
se tratar de mais de uma folha. Ex: à fl. 254 ; às fls. 278/354.

DICA 5: são verbos apropriados para se referir aos recursos/ações:


a) ação = ajuizar, propor
b) contestação = apresentar /oferecer
c) exceções = arguir, opor
d) preliminares = arguir, suscitar, levantar
e) recursos em geral -> apelação (cível/criminal), agravo de instrumento, agravo em
execução, recurso em sentido estrito, agravo regimental, embargos infringentes = interpor
f) embargos: à execução, embargos de declaração = opor
g) cumprimento de sentença = requerer
g) mandado de segurança / habeas corpus / habeas data = impetrar
h) requerimentos genéricos = requerer

DICA 6: São substantivos apropriados para se referir às partes do processo:


a) ação = autor ou requerente / réu ou requerido
b) ação penal privada: querelante / querelado
c) execução = exequente / executado
d) reconvenção: reconvinte / reconvindo
e) exceção: excipiente / excepto;
f) conflito de competência: suscitante / suscitado
g) mandado de segurança: impetrante / impetrado
h) apelação: apelante / apelado
i) agravos: agravante / agravado
j) embargos: embargante / embargado

DICA 7: as expressões latinas devem sempre vir escritas em itálico, mesmo que estejam
na verbetação da ementa e em caixa alta. Ex: mandamus; data venia.

DICA 8: Ao se referir ao ‘parágrafo único’, escreva a palavra parágrafo por extenso, não
devendo ser utilizado o símbolo ‘§’, pois este é usado para os números ordinais: § 1º; § 2º
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etc. Quando for se referir a mais de um parágrafo, utilize dois símbolos do parágrafo. Ex:
parágrafo único; § 1º ; §§ 1º, 2º e 3º. A palavra alínea não contém símbolo nem
abreviatura, devendo ser escrita por extenso. Ex: alínea “a” etc.

DICA 9: Evite o uso da palavra magistrado para designar o juiz sentenciante (ex: o
magistrado a quo; o magistrado de primeiro grau; o magistrado sentenciante). A palavra
magistrado é um termo genérico que designa o funcionário investido de autoridade
jurisdicional. Trata-se de designação geral dos juízes, desembargadores e ministros.
Prefira o uso do substantivo “juiz” (juiz sentenciante – juiz a quo – MM. Juiz etc.).

DICA 10: MM. é a abreviatura do pronome de tratamento específico dos juízes


(Meritíssimo). É usada tanto para o feminino (juíza) quanto para o masculino (juiz). Não
existe a abreviatura MMª.

DICA 11: Evite o uso da palavra juízo como sinônimo de juiz. Juiz é o funcionário
integrante do poder judiciário investido da função jurisdicional. Juízo é o local (a vara, o
cartório) onde o juiz exerce as suas funções judicantes. Assim, não é correto dizer:
“Sentenciando o feito, o Juízo da 4ª Vara julgou procedente o pedido”. O correto seria
dizer: Sentenciando o feito, o MM. Juiz julgou improcedente o pedido... Obs: Há
dicionários que trazem a palavra “juízo” como sinônimo de “juiz”.

DICA 12: A palavra “sentença” é um substantivo comum que designa ‘coisa’. Não é de
boa técnica atribuir à sentença um comportamento. Ex: A sentença julgou procedente o
pedido. Quem julga o pedido (procedente ou improcedente) é o juiz e não a sentença.
Por isso evite usar a expressão “a sentença julgou improcedente o pedido inicial”. Ao
invés, prefira: “o juiz proferiu sentença julgando improcedente o pedido inicial.

DICA 13: evite sempre as expressões: “com efeito”, “efetivamente”, “certamente”,


“entrementes”, “então”, “aliás”, “pois”, “por um lado”... Elas apenas poluem o texto, sem
nada acrescentar de valor à redação técnica.

DICA 14: Evite:


- o uso dos verbos na primeira pessoa (ex: relatei, despachei, votei, indeferi,
determinei); Ao invés, prefira: ( À fl. foi determinado o arquivamento) (Pela decisão de fl.
5, foi indeferido o pedido de antecipação de tutela recursal).
- o uso do pronome pessoal de primeira pessoa (ex: eu)

DICA 15: Prefira:


- a expressão “petição inicial” a “exordial” ou “peça inaugural”
- a palavra “objetivo” no lugar de “fito” (com o objetivo de angariar fundos para...)
- “rejeito a preliminar” a “deixo de acolher a preliminar”.

DICA 16: cuidado ao usar a palavra “proventos”. Ela é específica do servidor aposentado.
O servidor da ativa recebe “vencimentos” ou “remuneração”.

DICA 17: nem sempre os valores numéricos requerem a sua correspondência escrita por
extenso. Ex: A autora possui cinco filhos. Ex: Ambos são casados há doze anos. Ex: o
réu celebrou três contratos com o autor. O valor escrito por extenso é indicado apenas
para os casos de moeda corrente (trinta reais), de percentuais (dez por cento), do valor
da condenação (quinhentos reais), da pena aplicada (quatro anos) etc.

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Mara Saad 114
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DICA 18: atente para as abreviaturas referentes à “sociedade anônima” e “sociedade por
cotas limitada”. O correto, segundo o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da
ABL, é: S.A. e LTDA.

DICA 19: a abreviatura “etc.” significa, em língua portuguesa “e outras coisas mais”. Por
conter o conectivo “e”, ela dispensa a vírgula antes do termo, no caso de enumeração. O
ponto no final é obrigatório, pois indica a existência de uma abreviatura. Ex: o autor pede
a devolução das parcelas pagas, a aplicação do CDC, a isenção da taxa de adesão etc.

DICA 20: quando a frase termina com uma abreviatura, deve ser usado apenas o ponto
da abreviatura, sendo desnecessário o ponto final. Ex: o autor pede a devolução das
parcelas pagas, a aplicação do CDC, a isenção da taxa de adesão etc.

DICA 21: [sic] = é uma expressão latina que significa “assim, é desta forma” . Serve para
indicar que na citação/transcrição feita, há um erro material (pontuação, ortografia...)
cometido pelo próprio autor transcrito. É usado para mostrar que o erro presente na
citação foi cometido no próprio trecho citado pelo autor original e não por quem incluiu a
transcrição. [sic] aparece entre colchetes e itálico para evidenciar que ele não faz parte
da citação mas foi acrescentado por aquele que incluiu a transcrição.

DICA 22: fique atento para a correção dos termos/expressões abaixo, de uso muito
comuns nas redações jurídicas:
Ex: O juiz julgou procedente o pedido inicial.
Ex: O juiz julgou procedentes os pedidos iniciais.
Ex: Digo isso em razão de a decisão estar em confronto com...
Ex: Não vejo possibilidade de o autor vencer a demanda.
Ex: Não houve divergência no tocante à questão dos juros de mora.
Ex: Embargos de terceiro (s).
Ex: Trata-se de recurso interposto por Banco de Brasília S.A. O recurso foi interposto
por Condomínio da SQS 313...
Ex: Trata-se de recursos interpostos por CTIS e Maria Aparecida...
Ex: Rejeitam-se os embargos de declaração quando inexistentes os vícios do art. 535
do CPC.
Ex: Não vejo qualquer dos vícios do art. 535.
Ex: Não vejo quaisquer vícios no julgado.

DICA 23: Quando a oração coordenada for usada como adição de uma outra coordenada
negativa, evite o uso da locução “bem como”. No lugar, prefira o conectivo “nem”. Veja
os exemplos:
Ex: “Sem os referidos documentos, não é possível averiguar a data em que ocorreu a
intimação da agravante bem como (= nem) se o seu pedido é tempestivo”.
Ex: Não é possível averiguar a data em que ocorreu a intimação da agravante, bem
como (= nem) se o seu pedido é tempestivo.
Ex: A Turma não observou o disposto no art. 20, bem como (= nem) sobre o seu
argumento de que é inaplicável o art. 26.
Ex: Constata-se que o agravante não juntou a certidão de intimação da decisão
recorrida, bem como ( = nem) qualquer outro documento que comprove a data de sua
intimação.
Ex: ... não havendo dano moral indenizável, bem como (= nem) acréscimo
patrimonial.

DICA 24: os pronomes demonstrativos “este(a)”, “esse(a)” demandam técnica para sua
utilização. O “esse” é utilizado para aquilo que se mencionou antes. Ex: A segunda parte

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da sentença trata dos honorários advocatícios. É nesse ponto que se enganou o juiz. Ex:
O juiz decidiu conceder a justiça gratuita ao autor. Nessa decisão, ele também
suspendeu a exigibilidade da condenação imposta. Ex: A sentença foi proferida há mais
de quinze dias. Essa sentença já transitou em julgado. O “este” é utilizado para o que vai
ser mencionado. Ex: É isto o que decidiu a sentença: que o réu não tem direito à
indenização. Ao se referir ao texto que estamos escrevendo (ou à decisão que está
sendo proferida), use sempre o pronome “este(a)”. Esta decisão. Este voto.
O pronome “este” também é usado para retomar o termo imediatamente anterior, em
oposição ao pronome “aquele” que retoma o termo mais distante. Ex: Autor e réu
apelaram. Este, por meio de recurso principal; aquele por meio de recurso adesivo.

DICA 25: Os verbos “implicar” e “visar” são muito usados na redação jurídica. Atente para
a correta regência deles. O verbo “implicar” é transitivo direto (ex: a aplicação da taxa de
juros implica desequilíbrio contratual). O verbo “visar” é transitivo indireto (ex: o autor visa
à condenação do réu nas custas processuais). O verbo visar quando seguido de verbo no
infinitivo dispensa a preposição (ex: esse comportamento visa imprimir celeridade aos
atos processuais).

DICA 26: procure escrever o que é e não o que não é:


Ex: Não é parte legítima para figurar no polo passivo da demanda... = é parte ilegítima
para figurar no polo passivo da demanda...

DICA 27: evite usar a palavra “pontual” para se referir a um ponto da questão. Ex:
questão pontual. A palavra pontual, no bom português, é um adjetivo e é aplicada no
sentido de “chegar no horário marcado”.

DICA 28: São escritas com letras minúsculas:


- os adjetivos ‘egrégio’, ‘excelso’, ‘douto’, ‘respeitável’, ‘ilustrado’ etc.
- a denominação das partes do processo: ‘autor’, ‘réu’, ‘apelante’, ‘apelado etc.
- os nomes das ações e dos recursos: ‘ação de alimentos’, ‘ação de despejo’,
‘apelação cível’, ‘agravo de instrumento’;
- os provimentos jurisdicionais: ‘sentença, ‘acórdão’, ‘voto’ etc. E também: ‘inquérito
policial’, ‘parecer’ ‘laudo pericial’ etc.
- as peças processuais: petição inicial, contestação, reconvenção, recurso,
contrarrazões;
- as palavras relator e revisor. Ex: Os embargos deverão ser julgados na primeira
sessão seguinte à data de conclusão dos autos ao relator. Ex: Acompanho o relator.

DICA 29: use o artigo “a” ou “o” sempre que se for referir a uma palavra determinada. A
ausência do artigo torna o substantivo indeterminado. Ex; Trata-se de recurso interposto
contra a sentença que condenou o réu a... (neste caso é obrigatório o artigo “a”, pois se
refere a uma determinada sentença). Ex: O réu se insurge contra a decisão que
determinou sua prisão. (idem). Ex: O réu foi condenado a pagar as custas processuais e
os honorários advocatícios fixados na sentença.
Ex: O recurso de apelação é interposto contra sentença (aqui, não se usa o artigo,
pois a palavra sentença é usada genericamente).
Ex: O vencido fica obrigado a pagar custas e honorários advocatícios.

DICA 30: Atente-se para a diferença entre as locuções conjuntivas “à medida que” e “na
medida em que”. A primeira é uma conjunção proporcional (Ex: à medida que subíamos,
o ar ia ficando mais leve). A segunda, na verdade, não tem previsão na gramática, mas
seu uso foi consagrado como uma conjunção causal, sendo usada como sinômino de

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Mara Saad 116
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“uma vez que”, “porquanto” (ex: Não houve prejuízo para o réu, na medida em que ele foi
beneficiado com a justiça gratuita).

DICA 31: elimine os tremas das palavras relacionadas no seu autocorretor: consequente,
consequentemente, consequência, frequência, frequente, equidade, cinquenta,
cinquentenário, quinquênio, quinquenário, quinquídio, sequela, líquida(o) liquidez,
liquidação, tranquilo(a), tranquilidade, aguentar, sequestro, sequestrador, equitativo etc.

DICA 32: elimine os acentos das palavras relacionadas no seu autocorretor: ideia,
assembleia, polo

DICA 33: A palavra “liminar” significa “o provimento judicial que se concede antes do
provimento final” (em momento anterior da lide, liminarmente). Pertence, portanto, à
classe gramatical dos substantivos. Ex: Concedo a liminar. Ex: Defiro a liminar. Portanto,
quando se for referir ao ‘pedido de liminar’, o correto é usar a preposição “de”. Ex: Defiro
o pedido de liminar. Vê-se muito, por aí, o uso da expressão “defiro o pedido liminar”, o
que é incorreto, pois, neste caso, a palavra liminar pertence à classe dos adjetivos e
qualifica o substantivo ‘pedido’. Não é o pedido que é liminar, mas sim o provimento
judicial que é dado antes do mérito.

DICA 34: O uso da locução “decisão interlocutória” é apropriado apenas no primeiro grau
de jurisdição. No segundo grau de jurisdição, a expressão correta para designar decisão
proferida pelo relator é “decisão monocrática”.

DICA 35: Havendo recurso contra sentença definitiva, seja ela reformada ou não, há
substituição da sentença pelo acórdão. Neste caso, é incorreto dizer no dispositivo que
se mantém a sentença por seus próprios e jurídicos fundamentos, pois em razão da
substituição da sentença pelo acórdão, os fundamentos que passaram a prevalecer são
os do acórdão e não mais os da sentença. QUANDO A SENTENÇA É CONFIRMADA
POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS, O ACÓRDÃO NÃO NECESSITA REPETI-
LOS.

DICA 36: O significado da palavra “pressuposto” difere do significado da palavra


“requisito”. Os requisitos constituem os elementos necessários ao exercício de um direito
(forma, meio, oportunidade etc.) (Ex: a tempestividade, o preparo, o cabimento são
requisitos para a interposição da apelação). Os pressupostos, por sua vez, constituem os
antecedentes lógicos necessários para a existência do objeto (Ex: A sentença é
pressuposto da apelação; a decisão interlocutória é pressuposto do agravo de
instrumento).

TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL


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TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO, VOTO E EMENTA – APELAÇÃO CRIMINAL

CAPÍTULO IX
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