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T E N D Ê N C I A S

A INVENÇÃO CIENTÍFICA
S EG U N D O O M O D E LO DA SO C I O LO G I A
D OS C I E N T I STAS E OS SO C IA L
ST U D I ES O F SC I E N C E *
Carlos José Saldanha Machado*

A
o formular perguntas sobre sador, as maneiras pelas quais eles obtêm Mas, essa sociologia não nos permite
o meio e as formas de orga- retribuição, as maneiras de redigir as compreender a singularidade da inve n-
nização social da pesquisa publicações, as relações sociais de um ção e de um inventor no processo de
que permitem e favo recem laboratório e sua motivação. Essa sociolo- i n ova ç ã o. Na realidade, a categoria da
a produção de novos co- gia fez da descoberta o produto de um d e s c o b e rta como acontecimento possí-
nhecimentos, e sobre o porque da prática p rocesso sociocultural. Contudo, ao vel nunca foi questionada por ser con-
científica ter se tornado um fenômeno de desc re ver o comportamento do cientista siderada da jurisdição da atividade
grande import â ncia, os autores que no como sendo o fruto de um sistema de científica, permanecendo um ponto
século passado criaram, praticaram ou concorrência, do qual ele é parte inte- cego no processo de observação socio-
ajudaram a desenvo l ver a sociologia dos grante, a sociologia dos cientistas juntou- lógica da inova ç ã o. A interpretação do
cientistas como Be r n a rd Ba r b e r, Bernice se à filosofia clássica da ciência sobre uma conteúdo científico nunca foi abor-
Eiduson, Ge r a rd Lemaine, Joseph Be n - das definições que ela dá do indivíduo: se dada. Fi c a va-se, então, sem compre e n-
David, Norman Storer, Pierre Bourdieu, ele não é genial, então, ele passa a ser total- der como os cientistas trabalham e
Robert Me rton e Warren Hagström, ofe- mente absorvido no social. Ambos os como eles decidem sobre se o que têm
receram uma tríplice perspectiva sobre a modelos definiram as descobertas como sob os olhos é novo ou autêntico, em
questão da invenção. A primeira, tentou acontecimentos surgidos naturalmente, resumo, se é uma descoberta.
definir o funcionamento ideal e a t e m p o- que podiam ser identificadas sem ne-
ral do mecanismo individual dos cientis- nhum problema e, uma vez identificadas, COMO SE CONSTRÓI O SABER Tal pro b l e-
tas. A segunda, propôs uma focalização podiam ser explicadas ao serem re l a c i o- mática será abordada, então, no vasto
n o r m a t i va baseada na questão de quais nadas a acontecimentos anteriores. Em campo multidisciplinar de pesquisa
são as boas condições para inve n t a r. A outras palavras, a invenção – e, com conhecido, no mundo anglo-saxão e
terceira, dá ênfase no contexto sociocul- muita freqüência, invenção e descoberta e u ropeu, como Social Studies of Science
tural, isto é, nas conjunções temporais não são diferenciadas, – consiste em reve- ou Studies of Science. Trata-se de um
favoráveis à emergência das descobert a s . lar noções já objetivamente pre s e n t e s campo formado por perspectivas nova s
Nesse sentido, o modelo da sociologia onde um corpo de conhecimento cientí- s o b re a maneira como se constrói o
dos cientistas abriu um campo inexplo- fico e técnico, relativamente estruturado, saber, perspectivas que começaram a
rado, constitutivo da invenção, que são os num dado momento, permitiu a emer- emergir à partir de meados dos anos 70
tipos de recompensa proposta ao pesqui- gência das mesmas. do século passado quando historiado-

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res, filósofos, antropólogos e sociólo- vem à sociedade. Outros, se apegando às lidade inscrita nos dados de partida.
gos passaram a abordar novos pro b l e- práticas e às suas dinâmicas, mostrarão Reve rtendo a maneira de colocar os pro-
mas, tanto disciplinares quanto inter- como a atividade científica produz fatos blemas, a questão do motor da desco-
disciplinares. científicos e cria uma realidade que se b e rta torna-se obsoleto. Ele não está nem
Ao contrário da filosofia clássica da ciên- torna uma descoberta. na cabeça dos indivíduos, nem nos crité-
cia, que se intere s s a va pelo contexto de rios sociais estabelecidos. Ele está distri-
justificativa por acreditar que o contexto SO C I O LOGIA DA TRADUÇÃO De n t ro do buído num coletivo.
de descoberta tinha uma natureza impu- campo dos Social Studies of Science A sociologia da tradução contrapõem-se,
ra, autores como, por exemplo, Andrew merece destaque a sociologia da tradu- p o rtanto, à idéia de uma origem da inova-
Pickering, August Brannigan, Bruno ção de Michel Callon e Bruno Latour. ção, à separação entre social, tecnologia e
Latour, Harry Collins, John Law, Karin Trata de uma abordagem que ro m p e ciência, além da improvisação romântica.
Knorr-Cetina, Ma rtin Rudwick, Mi- com as clássicas polarizações entre natu- E, neste sentido, a sociologia da tradução
chael Lynch, Michel Callon, Sh a ron reza e sociedade, contexto de descobert a oferece um novo modelo sobre a desco-
Traweek, Simon Schaffer e Trevor Pinch e contexto da justificação, interno e b e rta e a invenção. A investigação empí-
se voltarão para o contexto de desco- externo, contexto e conteúdo, centro e rica se apóia no acompanhamento das
berta posto que ele define a natureza da periferia, compreendendo os conheci- controvérsias e das práticas de laboratório
racionalidade científica, isto é, a objeti- mentos tecnocientíficos como efeitos de conduzindo à constatação de que a natu-
vidade, a prova e a verdade. A descoberta uma multiplicidade de interações sociais reza não é mais a causa do encerramento
passa, então, a ser investigada não mais e técnicas desenvo l vendo um novo das controvérsias e, sim, conseqüência. O
como um fato estabelecido por filósofos, modelo sobre a descoberta e a invenção. termo invenção, então, desaparece em
psicólogos e sociólogos dos cientistas, O modelo da tradução se posiciona con- proveito de um novo vocábulo, a inova-
mas como o fruto de um processo social. tra uma concepção amplamente difun- ção. Concluindo, com a sociologia da tra-
A palavra “social” deixa de ser somente dida que faz da ciência uma entidade dução, somos convidados a repensar o
sinônimo de organização social da ciên- estável no curso do qual emergem ilhas papel do ator da invenção.
cia e passa a ocupar um lugar no coração de novidade sob a forma de idéias.
das interpretações e da construção dos Gênios, pela força de suas idéias, são Carlos José Saldanha Machado é antropólogo
fatos científicos. Esse novo campo de capazes de re volucionar nossa visão do do De p a rtamento de Estudos em Ciência e Tec-
pesquisa, pouquíssimo explorado teori- mundo, desvendando uma natureza nologia - Ce n t ro de In f o rmação em Ciência e
camente por pesquisadores brasileiros, escondida. Uma idéia se difundiria Tecnologia/ da Fundação Oswaldo Cruz.
se interessa pelo conteúdo do saber cien- somente através da força de sua lógica,
tífico, pelas práticas concretas das ciên- numa sociedade que só tem a possibili-
cias geograficamente situadas, pela dade de aceitá-la ou recusá-la. A sociolo- * Este artigo é fruto da pesquisa exploratória que
n a t u reza de suas inter-relações e a liga- gia da tradução irá mostrar, ao contrário, resultou no projeto "Redes coopera t i vas e inovação
ção das ciências com o resto do coletivo. como da desordem nasce a estabilidade, em saúde pública – estudo de caso do processo de
c o n s t rução social, coletivo e local da Rede Vacinas
Alguns sociólogos não se perguntarão como a natureza torna-se o fato social-
Recombinantes e DNA da Fundação Oswaldo
mais sobre o que faz surgir uma desco- mente construído, como a criação é um Cruz", de autoria de Ca rlos José Saldanha Ma-
berta, mas sobre o que faz com que cer- fenômeno coletivo e material e não o chado e Márcia de Ol i veira Teixeira, numa parc e-
tos acontecimentos sejam considerados f ruto de idéias geniais ou de processos ria entre o Ce n t ro de In f o rmação Científica e Te c-
nológica e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim
descobertas, isto é, não mais como a c o g n i t i vos específicos, enfim, como a
Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz, a ser re a l i-
idéia vem ao espírito mas como a idéia novidade é um resultado e não uma qua- zado entre 2006 e 2008.

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