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HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS NO

BRASIL

A HISTORIC OF SOCIAL SCIENCES DEVELOPMENT IN BRAZIL

Nancy Dias Queiroz, Milton Lahuerta – Campus de Araraquara – Faculdade de Ciências e Letras – Ciências
Sociais – ndq_1@hotmail.com

Palavras-chave: Ciências Sociais; Instituições; Intelectualidade.


Keywords: Social Sciences; Institutions; Intellectuality.

1. INTRODUÇÃO
No Brasil a institucionalização das Ciências Sociais se evidenciou principalmente a partir de
1930, com o surgimento da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo (1933) e com a
criação da Universidade de São Paulo - USP (1934). Porém, seus primeiros e mais sistemáticos
estudos surgiram apenas nos anos 1950 em São Paulo, com a consolidação da liderança de Florestan
Fernandes no comando da cadeira de Sociologia; e na então capital brasileira, o Rio de Janeiro, com
os trabalhos de Costa Pinto, no Clapcs, e com a fermentação de idéias propiciada pelo Instituto
Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Este momento foi marcado pelo grande esforço para que
estes intelectuais conquistassem respeito tanto na academia como na sociedade em geral, permitindo
a análise científica das diversas questões nacionais a partir de debates que surgiram com o embate
teórico e metodológico protagonizado entre a USP e o ISEB.

2. OBJETIVOS
O presente trabalho visa expor o trajeto da evolução das Ciências Sociais no Brasil. Contudo,
não tratarei aqui dos precursores do pensamento social no Brasil (como, por exemplo, Oliveira
Vianna, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Hollanda), apesar de reconhecer a grande importância
que eles tiveram na construção de uma idéia de Brasil e do esforço intelectual que realizaram para
isso; mas sim das Ciências Sociais a partir do momento de sua institucionalização. Isto é, procurarei
expor a história da consolidação das Ciências Sociais no Brasil apontando de que forma alguns
intelectuais contribuíram para sua consolidação, resgatando a fundação da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de São Paulo (USP) e sua importância para o
reconhecimento das Ciências Sociais no Brasil, assim como para que se tornasse possível realizar
discussões mais atualizadas e críticas acerca dos problemas brasileiros. Paralelamente a isso, procuro
contemplar o contexto da década de 1950, quando surge no Rio de Janeiro uma instituição (o ISEB)
que acaba, em sua pretensão de formular a “ideologia do desenvolvimento”, por possibilitar um
interessante contraponto com o modo como os cientistas sociais da FFCL-USP cumprem sua pauta
intelectual, com o objetivo de apresentar a importância que este embate teve para a atual
conformação das Ciências Sociais no Brasil.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLOGIA


Forneceu a fundamentação teórica deste trabalho a leitura de autores como Florestan
Fernandes e Octavio Ianni, dois dos principais personagens da história das ciências sociais no Brasil,
e que as apresentam a partir de diferentes abordagens. Além destes, utilizei-me de apontamentos de
autores que têm por objeto de estudo os intelectuais brasileiros, como Sérgio Miceli e Milton
Lahuerta.

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A metodologia de trabalho consistiu na seleção de bibliografia que aborda essa temática, e
sua posterior leitura e análise sistemáticas; elaboração de resumos, fichamentos e discussão com o
orientador do trabalho.

3. DISCUSSÕES E RESULTADOS
Para iniciar a discussão do surgimento destes dois centros de pesquisa é necessário explicar,
mesmo que brevemente, como surgiram as Ciências Sociais no país enquanto cursos
institucionalizados e a importância das Escolas de Sociologia em questão (USP e ISEB) para a
formação de uma nova idéia de Brasil. Inicio, portanto, com o surgimento da Universidade de São
Paulo.
No período em que foi fundada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, a cidade
de São Paulo atravessava um conturbado período sócio-político no qual se assistia ao fim da
“política do café-com-leite” vigente desde o início da República Velha, e a subseqüente “Revolução
de 30” dando início ao Governo Vargas, que trazia consigo ideia de modernização política,
econômica e também social do país. Com isso, a criação de uma Universidade era vista como
necessária por parte da elite paulista, que desejava reconquistar seu lugar de destaque na política
nacional. Através da criação de uma instituição de ensino superior na cidade de São Paulo as elites
viam uma maneira de realizar suas ambições, pois acreditavam que, caso se tornassem mais
ilustradas e modernas, conseguiriam impor maior respeito às suas opiniões e pressões (Lahuerta,
1999). Além disso, segundo Fernanda Massi1, devido a uma maior proximidade entre Brasil e
França, principalmente a partir da década de 1920 (mais especificamente em 1925 quando é criado
no Brasil, por iniciativa do jornal “O Estado de São Paulo”, o Liceu Franco-Brasileiro), os
professores franceses que aqui estavam passaram a sentir a necessidade da criação de uma Faculdade
na cidade. Essa compatibilidade de interesses fez com que surgisse a Universidade de São Paulo, que
seria inaugurada com um corpo docente que compreendia professores de origem européia como
italianos, alemães e principalmente franceses – muitos destes em início de carreira, como Fernand
Braudel, Gilles Gaston-Granger, Paul A. Bastide, Roger Bastide, Claude Levi-Strauss, entre tantos
outros.
A visão de ciência que a “missão francesa” traz consigo influencia o corpo universitário
paulista principalmente a partir da década de 1950, através da passagem de uma tradição e de uma
postura hierárquica e competitiva que se tinha nas academias da França no Brasil, tendo como
pressuposto a conquista de ascensão e notoriedade através de doutoramentos, exames de livre
docência e conquista de cátedras (Miceli, 1989). Dentro desse contexto, tinha-se em São Paulo uma
preocupação com a construção de padrões de excelência científicos na academia, sendo esta o eixo
central da vida do intelectual que desejasse seguir a carreira acadêmica. Seria nesse ambiente que ele
realizaria a sua vida profissional, social e também afetiva2. Dessa forma, era comum que a dedicação
fosse plena e que a visibilidade fosse almejada. Como bem aponta Lahuerta, havia uma “organização
do trabalho dentro da Faculdade como a adoção de uma estrutura meritocrática baseada no modelo
francês e que se vertebraria tendo como epicentro a figura do catedrático” (Lahuerta, 1999:13).
Esta postura gerava críticas dos cariocas isebianos, que viam a dedicação paulista a leituras
dos clássicos da sociologia como algo que não contribuía de maneira efetiva e prática com a
resolução de problemas que tinham uma especificidade brasileira. Discordavam também da forma
como os intelectuais de São Paulo faziam ciência, isto é, na e para a academia; além de sua escrita,
árida e repleta de conceitos, que tinha como conseqüência a maneira complexa de apresentação de

1
Fernanda Massi in “História das Ciências Sociais no Brasil” (vol. I). Sérgio Miceli (org.), 1989.
2
Exemplos disso são Fernando Henrique Cardoso e Ruth Cardoso; Dante Moreira Leite e Mirian Moreira Leite, dentre
muitos outros.

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suas ideias, tornando suas reflexões inacessíveis aos não acadêmicos. Estas críticas se davam pelo
fato de os isebianos terem uma postura mais intervencionista e militante, buscando levantar o debate
político e torná-lo mais amplo.
O Instituto Superior de Estudos Brasileiro (ISEB) foi criado em 1955, durante o governo
provisório de Café Filho, para servir como um espaço de discussão de temas relevantes da política
nacional, que acabou por levantar a questão da inexistência de um projeto nacional-
desenvolvimentista no Brasil, servindo ao governo federal para debater questões sociais com o
objetivo de encontrar soluções para os diversos problemas do país.
Principalmente a partir dos anos 1950, a preocupação dos integrantes do ISEB era de
formular reflexões acerca de questões nacionais, se aproximando mais da construção de políticas
públicas para a resolução de problemas sociais do que de estudos propriamente científicos munidos
de rigor metodológico. Os intelectuais do ISEB tinham como principal preocupação a “dimensão
pública da atividade intelectual” (Lahuerta, 1999:26) se enxergando como “responsáveis” pela
elaboração de um projeto nacional. Isto é, o ISEB parecia ter a função de discutir aquilo que fosse
considerado mais relevante para que se ampliasse o debate político com a perspectiva de pensar
maneiras de intervir no planejamento sócio-econômico do país.
Defensor dessa visão, Alberto Guerreiro Ramos – homem de origem humilde, natural da
Bahia, que foi estudar no Rio de Janeiro, se integrando após o fim da “Segunda Era Vargas” ao ISEB
– defendia a idéia de que deveríamos ter uma autoconsciência brasileira e negar a visão etnocentrista
que os europeus e os norte-americanos nos legaram, buscando uma “sociologia engajada com a
realidade nacional” (BARIANI, 2006: 88). Afirmava que ao invés de os cientistas brasileiros se
voltarem demasiadamente para o que era produzido fora do país, deveriam pensar o Brasil e suas
especificidades.
Dessa forma, notamos que as visões dos cientistas que compunham essas duas Escolas
apresentavam interpretações distintas e interessantes de como se deveria proceder no modo de
pensar sociologicamente as questões sociais. Seja se utilizando de grande rigor científico-
metodológico, seja de modo menos academicista e mais voltado para a realidade social imediata,
rever este momento da institucionalização da ciência social no Brasil nos permite repensar a maneira
como fazemos ciência atualmente.

4. CONCLUSÕES
Por se tratar de um trabalho recente, ainda em fase inicial, as conclusões são parciais.
Contudo, foi possível perceber que o embate entre as duas escolas foi produtivo por colocar em
questão não apenas o papel público desempenhado pelo intelectual, mas a própria maneira de
construir o conhecimento e fazer ciência na nossa área. Se pensarmos este embate como uma disputa
pela legitimidade no campo científico (usando o termo de Bourdieu), podemos perceber que dele
sagrou-se uma escola vitoriosa, que consolidou sua hegemonia e firmou um modo de fazer ciência.
A Escola Paulista de Sociologia, representada aqui principalmente pela figura de Florestan
Fernandes, empreende uma análise da ciência que em vários pontos aproxima-se das concepções de
Pierre Bourdieu3: o reconhecimento de que a ciência forma uma subcultura – com suas normas,
valores, procedimentos, técnicas, instituições, etc – em que a atividade intelectual ganha uma certa
homogeneidade. A aproximação com Bourdieu ainda ocorre na caracterização que o sociólogo
brasileiro faz de disciplinas com baixo e alto prestígio acadêmico. Florestan Fernandes e o grupo de
intelectuais da USP, tecendo duras críticas às proposições de Guerreiro Ramos, e,
conseqüentemente, ao ISEB, centro de difusão do conhecimento sociológico dominante, colocavam

3
BOURDIEU, Pierre. “O campo científico”. In: ORTIZ, Renato. Pierre Bourdieu. Coleção Grandes Cientistas Sociais.
São Paulo: Editora Ática, 1983.

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em xeque a legitimidade científica dos intelectuais do Rio de Janeiro, estabelecendo estratégias de
contestação à autoridade cientifica então hegemônica.
Dessa forma, certamente posso afirmar que o embate travado entre essas duas escolas foi
importantíssimo para o desenvolvimento das Ciências Sociais em nosso país e para a formação de
uma nova visão da sociedade brasileira.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
B ARIANI. E. Guerreiro Ramos: Uma sociologia em mangas de camisa. Revista Eletrônica de
Ciências Sociais nº 11, out. de 2006. Disponível em http://www.cchla.ufpb.br/caos/n11/07.pdf
FERNANDES, F. A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. Prefácio
de José de Souza Martins – 5. ed – São Paulo: Globo, 2006. p. 1-235.
IANNI, O. Sociologia da Sociologia. São Paulo: Ática, 1989. p. 84-122.
JACOBY, R. Os Últimos Intelectuais. São Paulo: Trajetória Cultural: Universidade de São Paulo,
1990. p. 9-84.
LAHUERTA, M. Intelectuais e Transição: Entre a política e a Profissão. São Paulo: Tese de
Doutorado apresentada à FFLCH da USP, 1999. 271p.
MICELI, S. História das Ciências Sociais no Brasil (vol. I e II) (org.), São Paulo: Vértice, Editora
Revista dos Tribunais: IDESP, 1989. (v. I: p. 5-110; 410-460. v.2: p. 7-24; 107-308).
ORTIZ, Renato. Pierre Bourdieu. Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Editora Ática,
1983.

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