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NEWTON BRAUNE
Rio de Janeiro
2017
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Resumo
1 INTRODUÇÃO
Este ano o Brasil completa 32 (trinta e dois) anos do fim da ditatura militar. No Egito,
esse flerte com o processo democrático, durou pouco mais de 12 (doze) meses em 2012. Os
militares estavam no poder havia 3 (três) décadas, com a imagem bastante desgastada perante a
população. Seu principal líder, General Hosni Mubarak, foi deposto e preso, um revés até então
inimaginável no país. Tudo levava a crer que a Primavera Árabe chegara para ficar. Entretanto, o
país retornou ao status quo anterior, com a volta dos militares ao poder, mesmo após os
marcantes conflitos travados na famosa Praça Tahrir.
A linha do tempo (Figura 1) apresenta o período compreendido nesse trabalho:
2011 - Fevereiro
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2012 – Junho
2013 – Julho
Fonte: Site Jornal “The Guardian” – (www.theguardian.com) - Protestos no Oriente Médio visto em 01/02/2017.
2 DESENVOLVIMENTO
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Fonte: Site Wikipédia – (pt.wikipedia.org/wiki/Egito) visto em 15/01/2017.
O Egito é um dos países de mais longa tradição histórica, considerado por muitos o
berço da civilização humana. O antigo Egito vivenciou os primeiros desenvolvimentos da
escrita, agricultura, urbanização, religião e governo. Seus grandes monumentos, tanto no Cairo
quanto em Luxor, pertencem ao Patrimônio Mundial da Humanidade e continuam a despertar
interesses ao redor do mundo, fazendo com que o turismo ocupe o primeiro lugar na geração de
receita para o país (Figura 3).
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Quadro 1 – Dados do Egito
Nome República Árabe do Egito
População 85 milhões, com 30% de analfabetos
Área 1 milhão km2
Religião Islã
Expectativa de Vida 68 anos
Moeda Libra Egípcia
Produtos de Exportação Petróleo e Algodão
Usuários do Facebook 14 milhões
Membro da ONU Desde 1945
Inflação 15%
Em abril de 2008 a cidade de El Mahalla, importante centro têxtil com 500 (quinhentos)
mil habitantes localizada na foz do Rio Nilo, foi cenário de grandes manifestações contra o
resultado da reeleição do Presidente Hosni Mubarak. Os manifestantes alegaram que a eleição
tinha sido fraudulenta e, ao mesmo tempo, demandavam por melhores condições de vida e
aumento salarial.
O Governo enviou forças de segurança para abafar o movimento, provocando a morte
de 2 (dois) manifestantes e causando ferimento em dezenas de participantes. O ápice do
movimento ocorreu no dia 6 de abril, que provocou o surgimento do grupo MOVIMENTO
JOVEM 6 DE ABRIL, que terá participação ativa na Primavera Árabe 3 (três) anos depois¹
Em poucas semanas, essa agitação social espalhou-se por todo o Oriente Médio,
principalmente no Egito, Tunísia, Líbano, Síria e Iêmen. Em vários países as demonstrações
tiveram tal magnitude e sucesso que os governos autoritários foram depostos um atrás do outro.
Na tentativa de criar novos caminhos possíveis para a democratização de países com uma
tradição tão autoritária esses eventos receberam da mídia o nome de Primavera Árabe.
A expressão faz referência direta ao momento histórico ocorrido na Europa Oriental em
1989, quando o então hermético regime comunista começou a cair, numa espécie de efeito
dominó, face à grande pressão popular dos países do bloco comunista (Polônia, Alemanha
Oriental, Hungria, Romênia, Bulgária e Tchecoslováquia), que passaram a adotar regimes
democráticos e uma economia de mercado mais alinhada com a Europa Ocidental.
Os eventos ocorridos no Oriente Médio, entretanto, não tiveram o mesmo alinhamento.
Egito, Tunísia e Iêmen entram num período de transição conturbado, Síria e Líbia foram
envolvidas em conflitos civis, enquanto as ricas monarquias do Golfo Pérsico permaneceram
completamente imunes. Existe, portanto, certa crítica ao termo Primavera Árabe por ser simplista
e não refletir a realidade ocorrida, em 2011, no mundo árabe.
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Os protestos e movimentos de 2011 foram, na verdade, a exacerbação de um grande
sentimento de revolta contra os ditadores locais, encastelados no poder há décadas, as custas de
eleições fraudulentas, quando as mesmas ocorriam. Foi grito de indignação contra a brutalidade
dos órgãos de segurança, o desemprego, a inflação, a falta de melhores perspectivas futuras e a
corrupção nesses países.
A Figura 6 apresenta uma representação gráfica da propagação da Primavera Árabe com
os seus principais protagonistas.
Por detrás da revolta popular que assolou o Oriente Médio está um movimento de jovens
utilizando o ferramental das mídias sociais e impelidos por ideais como democracia, igualdade,
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liberdade e justiça. Uma revisão urgente precisa ser feita na Europa, União Soviética e Estados
Unidos que sempre apoiaram Governos ditatoriais no Oriente Médio e ficaram cegos as
exigências dos jovens destes países.
Em fevereiro de 2011 quase 65% (sessenta e cinco por cento) da população egípcia era
formada por pessoas com menos de 35 (trinta e cinco) anos. O alto índice de concentração
demográfico na população jovem deveu-se a dois fatores principais: redução das taxas de
mortalidade infantil e aumento considerável da taxa de natalidade, observados desde 1950.
Entretanto, a quantidade de empregos ofertados no mercado de trabalho egípcio não
conseguiu acompanhar esse crescimento populacional. A taxa de desemprego, em 2011, estava
na faixa de 14% (quatorze porcento), gerando um enorme contingente de jovens desempregados
e sem perspectivas futuras. Por sua vez o Governo de Mubarak simplesmente ignorou o
problema da empregabilidade aumentando a insatisfação geral (Figura 7) da juventude2.
Vários analistas sociais alegavam que os jovens egípcios eram desinteressados e não
davam valor a liberdade e a democracia e, se tivessem que tomar uma atitude política, tenderiam
a seguir os líderes islamistas. Essa teoria mostrou-se completamente errada, pois em 2011 foram
esses jovens, cansados do autoritarismo, sem vislumbrar melhorias nas condições de vida e sem
medo das retaliações que tomaram as rédeas da revolução que provocou a queda d Mubarak.
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2.4.2 A Importância das Mídias Sociais
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na Praça Tahrir, foram cercados pelas forças de segurança e expulsos do local. Não se dando por
vencida Asmaa criou, então, um segundo vídeo anunciando nova tentativa de protesto para o dia
25 de janeiro, feriado nacional no Egito.
Nesse mesmo período um outro grupo ativista MOVIMENTO JOVEM 6 DE ABRIL
contatou o administrador do NÓS SOMOS TODOS KHALED SAEED solicitando ajuda na
divulgação da campanha de protesto a ser realizada no dia 25 de janeiro. Essa data entrou para a
história recente do Egito como sendo a data oficial das manifestações contra o Governo
autoritário do General Hosni Mubarak.
A união dos grupos on-line NÓS SOMOS TODOS KHALED SAEED e MOVIMENTO
JOVEM 6 DE ABRIL demostram o uso das mídias sociais para unir comunidades em prol de um
objetivo comum. Ainda durante os protestos coube a Wael Ghonim efetuar detalhadas
divulgações das manifestações via sua conta do Twitter, que possuía 200 (duzentos) mil
seguidores. Desta forma as mídias sociais passaram a ser uma das ferramentas mais importantes
na organização das demonstrações (Figura 9).
É o movimento mais antigo e a maior organização islâmica do Egito, tendo suas raízes
nos ensinamentos do Alcorão. Foi fundada em 1928 por Hassan al-Banna (Figura 11) e passou a
influenciar vários movimentos islâmicos ao redor do mundo ao combinar o ativismo político
com trabalhos de caridade. Inicialmente seu papel era divulgar a moral islâmica, mas logo
acabou envolvendo-se com a política, com forte inclinação por um Estado governado pelas Leis
Islâmicas (Sharia).
Após sua fundação, em 1928, várias unidades foram criadas em todo território egípcio
para cuidar da mesquita, escola e clube esportivo local. Seu crescimento foi extremamente rápido
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e em 10 (dez) anos já tinham aproximadamente 500 (quinhentos) mil membros. Em paralelo seu
fundador criou um segmento paramilitar (Aparato Especial), cujos membros lutaram na
campanha contra o domínio colonial inglês.
Em 1954, após ser acusada de uma tentativa frustrada de assassinato do Presidente
Gamal Abdul Nasser, a Irmandade Mulçumana foi banida e milhares de seus membros foram
presos e torturados. Ela permaneceu ativa na clandestinidade, ganhando força nesse período uma
nova ideologia (Islamismo Radical) criada por Sayyid Qutb (Figura 12), que foi morto pelos
militares em morto em 1966, mas que deixou uma marca profunda na Irmandade com
repercussão até os dias atuais.
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Para as primeiras eleições, após a queda de Mubarak (fevereiro de 2011), a Irmandade
formou um novo partido (Partido da Justiça e Liberdade), ganhando 50% (cinquenta por cento)
das cadeiras do Parlamento. Com uma coalizão junto ao partido Salafista (ultraconservador), que
tinha ficado em segundo lugar nas eleições, permitiram ao Islamistas controlar 70% (setenta por
cento) do Parlamento egípcio. É nesse novo cenário que Mohammed Morsi chega ao poder com
51% dos votos como Presidente, após a queda do regime militar.
Após a assinatura do tratado de paz com Israel, em 1979, os líderes egípcios perceberam
que desmobilizar milhares de soldados treinados seria um grande problema político e social. Para
resolver esse grande impasse foram criadas organizações militares, gerenciadas por generais e
coronéis reformados, que passaram a produzir mercadorias e prestar serviços para o consumo
tanto militar quanto civil. Assim as Forças Armadas passaram a desempenhar uma enorme gama
de atividades não mais ligadas à defesa nacional.
Essas organizações promoveram enorme expansão econômica e passaram a ter
influência em vários setores da economia egípcia. Estima-se que um terço da economia do país
esteja concentrado nas mãos dos militares. Com o passar dos tempos as organizações militares
passaram a gerenciar fábricas de veículos, produtos químicos, água mineral, cimento,
alimentação, construção civil, postos de gasolina e até restaurantes.
Para tornar o nível de influência militar ainda mais abrangente e complexo, durante o
governo do General Hosni Mubarak, foi criado um artificio de remuneração que ficou conhecido
como auxílio lealdade para oficiais com tempo de aposentadoria. O auxilio era uma
compensação extra pelo baixo soldo durante a carreira militar e, na maioria dos casos,
significava um cargo em uma empresa do setor público.
Com essa prática os oficiais aposentados (salário de Major na faixa de USD 500,00)
recebiam cargos em companhias públicas (salário na faixa de USD 16.000,00)4.
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Figura 13 – Presidente eleito Mohammed Morsi
O fim abrupto da presidência de Morsi foi motivado por vários fatores. Muito embora
ele tenha prometido ser um Presidente de todos os egípcios, suas ações deixaram claro que ele
perseguia uma agenda orquestrada pela Irmandade Mulçumana, usando o poder do seu cargo
para ganhos somente do seu partido. Ele colocou vários partidários em cargos chaves do
Governo, promoveu militantes da Irmandade para posições de Governador Provincial e instalou
pessoas de sua confiança em posições importantes no Judiciário.
Essas manobras poderiam até ser consideradas naturais em qualquer outra democracia
do mundo, mas não no Egito. Na terra de Tutancâmon existe uma longa, notória e mútua
desconfiança entre a sociedade civil e seus governantes, assim as ações de Morsi deixaram claras
que a Irmandade Mulçumana tinha a intenção de monopolizar o poder. Para piorar a situação
Morsi começou a legislar acima do Judiciário, apoiando a reformulação da Constituição via uma
constituinte formada basicamente por seus seguidores.
Imagine um Governo dominado pela paranoia e convicto da existência de conspirações
por todos os lados. Essa era a característica mais marcante da Irmandade Mulçumana no poder.
O Governo de Morsi, portanto, tem uma enorme culpa por seus próprios erros durante o ano de
2012. Ele simplesmente alienou os políticos mais importantes e declarou guerra contra a
burocracia governamental, veículo importante para o próprio funcionamento do Governo.
Abaixo destaco os maiores erros do Governo de Mohammed Morsi:
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Após a queda do General Hosni Mubarak a Irmandade Mulçumana tinha prometido não
concorrer ao cargo de Presidente nas eleições que foram convocadas. Para surpresa de muitos
quando chegou o momento oportuno o nome de Morsi foi lançado na campanha presidencial,
mostrando quão rápido a Irmandade Mulçumana mudava de posição, contradizendo sua própria
palavra. Esta foi a primeira de muitas surpresas desagradáveis que os egípcios passaram a
conviver.
Mohammed Morsi chegou ao poder com uma margem de votos extremamente apertada
(somente 51% - cinquenta e um porcento - dos votos). Após assumir o Governo faltou habilidade
política na composição do seu ministério. Morsi cometeu o erro de ocupar os cargos chaves da
administração somente com partidários da Irmandade. Como tinha maioria no Parlamento Morsi
não fez qualquer tipo de coalizão.
O início de qualquer Governo é o momento ideal para reunir forças e buscar o consenso,
evitando-se a exacerbação das diferenças, mas Morsi simplesmente passou a forçar a sua agenda
sem qualquer tipo de preocupação com a oposição. Ainda mais difícil de entender foi o
distanciamento do partido Salafista. As duas organizações islamistas possuem a mesma visão, ou
seja, tornar o Egito um Estado mais devoto à religião Islâmica.
Os Salafistas apoiaram a proposta da Irmandade de reformulação da Constituição e, em
troca, pleiteavam por cargos no novo Ministério (Educação e Economia). Morsi, por sua vez,
ofereceu o ministério do Meio-Ambiente, bem menos importante. Na sequência, demitiu um
político importante Salafista (Khalid Alam al-Din) do cargo de conselheiro do Presidente. Os
Salafistas ficaram tão indignados que, na primeira oportunidade, não tiveram o menor escrúpulo
em apoiar os militares no Golpe de Estado.
Faltou também ao Governo da Irmandade Mulçumana mais transparência nas suas
ações. Morsi não se preocupava em explicar suas decisões à população, agindo de forma
autoritária. Essa arrogância aliado a falta de desejo de comunicação prejudicou bastante a
imagem do Presidente. Mohammed Morsi não era muito conhecido pelos egípcios e não teve a
percepção de que o povo egípcio estava cansado de ser ignorado pelo Governo.
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Com a queda de Mubarak, o Conselho das Forças Armadas (CFA) assumiu o Governo
e, através de um adendo na constituição, limitou o poder do novo Presidente a ser eleito.
Contrariando os militares Morsi substituiu o adendo constitucional e ordenou a aposentadoria de
dois militares com maior senioridade no Conselho, colocando em seus lugares homens de sua
confiança. Foi sem dúvida um grande erro de julgamento, pois os militares continuaram
envolvidos na política e aguardaram o momento certo para tomar a presidência de volta.
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As Forças de Segurança, que passaram a ser odiadas pelo povo por terem atirado contra
os manifestantes durante o levante que derrubou o Governo de Mubarak (estima-se em mais de
900 mortos durante os confrontos ocorridos em 2011) não foram reformadas nem punidas. A
polícia e o Ministério do Interior permaneceram intactos. A criminalidade, pelo contrário, acabou
aumentando e a população ficou aguardando, em vão, pelas reformas na segurança pública
prometidas por Morsi.
Existia uma percepção, por parte do Governo de Morsi, que a oposição estava instalada
em todos os setores da sociedade. Para combatê-la Morsi optou por blindar completamente seu
Governo, semelhante aos antigos filmes de Hollywood, onde a caravana de colonos fazia um
círculo com suas carruagens para proteger-se do ataque dos índios. A Irmandade Mulçumana e o
Governo de Morsi desconfiava de tudo e de todos.
Na verdade, a paranoia alimentada pela Irmandade tinha uma certa razão de ser, pois
durante oito décadas o grupo foi perseguido pelo Governo Militar. As forças de segurança
assassinaram seu fundador, prenderam seus líderes e perseguiram seus seguidores. Os vários
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anos na clandestinidade forjaram um pensamento de gueto, onde as oposições eram vistas como
ameaças que precisam ser neutralizadas. A Irmandade simplesmente não conseguiu superar essa
síndrome de perseguição.
A oposição, por outro lado, estava dividida e não era capaz de organizar-se de forma
estruturada para fazer um debate de ideias e onde pudessem ser discutidos os temas relevantes
para o país. Nesse cenário conturbado e desagregador a Irmandade Mulçumana ficou ainda mais
focada na sua própria agenda e, consequentemente, nos seus próprios erros. As agendas das
forças políticas estavam travadas e o diálogo não fluía.
Sob o novo Governo a minoria ortodoxa cristã (Figura 15) sentiu na pele um claro
aumento da violência religiosa, que sempre existiu no Governo de Mubarak, mas era em menor
intensidade e menos frequente. Não se sabe ao certo se a causa era devido à ineficiência da
polícia ou se os seguidores ligados aos grupos mais radicais da Irmandade perceberam uma
maior liberdade de ação. De uma forma ou de outra a opinião pública identificou o problema
com sendo culpa do novo Governo de Morsi.
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Os egípcios sempre reverenciaram seus escritores, diretores e atores, que fizeram do Cairo a
cidade mais cultural do mundo árabe.
Existe ainda um grande orgulho nacional pelo escritor Naguib Mahfouz, único árabe
laureado com o Premio Nobel de Literatura (Mahfouz ganhou o prêmio em 1988). O ministério
da Cultura era, portanto, um dos últimos bastiões do Governo de Mubarak, que resistia ao
movimento islâmico cada vez mais forte no dia a dia do Egito. Seu titular Farouk Hosni estava
no cargo desde 1987, sendo o ministro com mais tempo de serviço na cúpula do Governo.
Com a chegada de Morsi o ministro Farouk foi demitido bem como os chefes da
Divisão de Belas Artes, Casa de Ópera do Cairo e Organização Literária do Egito. Essas
mudanças provocaram vários protestos do meio intelectual (Figura 16), que ajudaram ainda mais
a corroer o suporte ao novo Governo. Ao alienar a intelectualidade do Cairo o Governo Morsi
deixava claro sua agenda de governar seguindo os preceitos do islamismo mais ortodoxo.
Por volta de junho de 2012 começou uma falta crônica de gasolina em todo o país
(Figura 17). No mesmo período a queda da energia elétrica e os longos apagões passaram a fazer
parte do dia a dia dos cidadãos. Em pleno verão a população passou a ficar horas em longas filas
para abastecer o carro e, quando em casa, não podiam usar o ventilador ou ar-condicionado. A
exasperação dessa situação levou a população de volta as ruas para protestar contra o novo
Governo.
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Figura 17 – Problema de Abastecimento
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Figura 18 – Prisão e Mohammed Morsi
2.9 Entrevistas
Como autor desta pesquisa morou e trabalhou no Egito no período entre 2006 e 2007,
acabou por fazer várias amizades que perduram até os dias atuais. Tomou, portanto, a liberdade
de entrevistar dois amigos (um homem e uma mulher), que viveram in loco as mudanças
ocorridas e, desta forma, puderam dar suas visões pessoais dos fatos ocorridos em 2012.
Transcrevo abaixo seus depoimentos, que considero tão relevantes, quanto às pesquisas
realizadas por mim.
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Considerações Finais
Nota do autor do trabalho. “Em 2006 aceitei o desafio de ir morar no Egito e me mudei
com a minha família para o Cairo, onde permanecemos por 18 (dezoito) meses. Deixamos uma
vida confortável no Brasil por algo desconhecido, que misturava incerteza e atração. Hoje
percebo quão positiva e acertada foi ter mudado. O Egito com seu esplendor, pobreza, sabedoria
e atraso passou a fazer parte da minha vida. Inexplicavelmente sua força cultural milenar
penetrou no meu sangue de tal forma que, ao voltar ao Brasil, me matriculei no curso de
graduação em História, mesmo sendo um profissional ligado ao ramo da Tecnologia”.
Logo após a volta dos militares ao poder surgiram, ao redor do mundo, vários
defensores da Irmandade e vários ataques à ditadura militar. Até mesmo no Brasil, o jornalista
Clóvis Rossi em sua coluna dominical na Folha da São Paulo atacou o golpe com o título “Egito
volta às trevas: terrorista não é a Irmandade Mulçumana, mas a ditadura militar que dá um salto
para trás de 60 anos” 5.
Não cabe fazer defesa ou apologia de uma ou outra instituição. O Egito enfrenta
atualmente um sério problema econômico que afeta a vida de milhares de cidadãos. Ocorreu
desde a Primavera Árabe um profundo declínio do turismo, gerador de 11% (onze porcento) do
Produto Interno Bruto sendo responsável, também, por um em cada oito empregos no Egito.
“Como fã incondicional desse pais que, assim como o Brasil, é apaixonado por futebol
espero que a sociedade egípcia e seus governantes, sejam eles quais forem, encontrem uma
solução harmoniosa de convivência pacífica, pois uma pais que já foi berço da nossa civilização
merece um destino mais justo e feliz. ”
GELVIN, James L. The Arab Springs: What Everyone Needs to Know. New York. Oxford
University Press.2014
WICKHAM, Carrie Rosefsky. The Muslim Brotherhood. New Jersey. Princeton University
Press.2012
ROSSI, C. Egito voltas às trevas. Folha de São Paulo, São Paulo, p. A14, 01 abr. 2017
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