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CULTURA

CULTURA
AFRICANA
AFRICANA

TEMA: AFRICANOS NO BRASIL


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Cultura Africana
Centro Universitário Leonardo da Vinci

Conteudista
Tânia Cordova
Conteudista

Reitor da UNIASSELVI
Prof. Hermínio Kloch

Pró-Reitora de Graduação a Distância


Prof.ª Francieli Stano Torres

Pró-Reitor Operacional de Ensino Graduação a Distância


Prof. Hermínio Kloch

Diagramação e Capa
Eloisa Amanda Rodrigues

Revisão:
Anuciata Moretto

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Africanos no Brasil 1

1 AFRICANOS NO BRASIL
A escravidão negra foi uma das maiores questões presentes na história
brasileira. Iniciada paulatinamente em 1532, com a colonização e estendida até
1888, com a assinatura da Lei Áurea, que aboliu e libertou a escravidão no país.
Nestes três séculos e meio, o africano trazido como escravo desempenhou,
no período colonial e no pós-independência, um importante papel para o
desenvolvimento econômico.

O tráfico de africanos intensificou-se em toda a América, e especialmente


na América Portuguesa, a partir de 1580. Antes desse período, os africanos
escravizados eram destinados à Europa, sendo comercializados a partir
da costa da África ou destinados às minas de prata na América Espanhola.
A partir das dificuldades de se escravizarem índios, e com a ampliação da
presença portuguesa na costa africana, aumentou o fluxo de africanos cativos
para o Brasil, fazendo com que se consolidasse o crescimento da produção
açucareira nos engenhos do Nordeste e, posteriormente, no Sudeste.

De acordo com Souza (2007), o comércio de escravos para o Brasil


está organizado em três momentos. O primeiro compreende os anos de 1540
a 1580 e diz respeito aos africanos vindos da Alta Guiné, na região do rio
Gâmbia. Estes africanos eram enviados para o trabalho nas plantações de cana
e nos engenhos.

Entre os anos de 1580 e 1690, os conflitos na região de Angola irão


beneficiar o comércio português, pois as guerras fizeram muitos prisioneiros
que eram negociados como escravos com os portugueses. Neste período,
houve um crescimento significativo da produção açucareira no nordeste
brasileiro. Os holandeses que ocuparam algumas regiões no Nordeste, entre
elas, o Recife. Também negociavam escravos com os chefes africanos. Entre os
anos de 1640 a 1647 ocuparam a região de Luanda na África.

Entre os anos de 1690 até a instituição formal do fim do tráfico atlântico


em 1850, os portos em Angola e os portos da Costa da Mina foram os maiores
fornecedores de escravos para o Brasil, com uma maior relação entre Salvador
e a Costa da Mina, o Rio de Janeiro e Angola.

De acordo com Souza (2007), os escravos que chegavam ao Brasil eram


embarcados em alguns portos africanos, como: Luanda, Benguela e Cabinda, na
costa de Angola, Ajudá e Lagos, na Costa da Mina, e mais tarde, no porto de
Moçambique.

- de Benguela vinham os ovimbundos;

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- de Luanda: dembos, ambundos, imbangalas, quiocos, lubas e lunas;

- de Cabimda vinham congos e tios. Todos pertencentes ao grupo linguístico


banto.

Em São Luís do Maranhão e no Pará chegaram escravos vindos da


Alta Guiné, principalmente de Bissau e de Cabo Verde. A região africana da
Zambézia, também foi fornecedora de cativos para a colônia portuguesa na
América.

Os escravos vindos do Golfo da Guiné eram denominados de minas.


Mais tarde, de acordo com Souza (2007), além das designações mais gerais de
negro mina, ou negro da Guiné. Na Bahia, os escravizados vindos de áreas
mais a Oeste eram chamados de jêjes e cultuavam os voduns.

Prezado(a) estudante, a figura a seguir mostra uma negra mina.

FIGURA 1 – MULHER MINA

FONTE: Disponível em: <http://abentumba.blogspot.com.br/p/os-bantus.html>.


Acesso em: 8 jun. 2012.

Os iorubás, vindos da região mais a Leste foram denominados de nagôs e


cultuavam os orixás, mitologicamente ligados à cidade de Ifé, de onde teriam
se originado todos os reinos da região do Golfo da Guiné.

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Africanos no Brasil 3

No século XIX, chegaram ao Brasil, mais especificamente à Bahia, grupos


africanos denominados de hauçás, aprisionados nas guerras contra os iorubás.
Os hauçás eram islamizados e acabaram por manter e difundir práticas islâmicas
na sociedade baiana.

FIGURA 2 - CRIANÇA DO GRUPO ÉTNICO IORUBA

FONTE: Disponível em: <http://www.nairaland.com/647752/modern-traditionalattire-


nigeria/2>. Acesso em: 8 jun. 2012.

Entre as influências culturais africanas, Souza (2007) sinaliza que a


influência banto é a mais antiga e a mais disseminada por todo o Brasil. As
manifestações culturais de influência banto são resultado de misturas mais
antigas, incorporando elementos das culturas indígena, portuguesa e iorubá.
Segundo essa mesma autora, a influência iorubá é mais forte na região de
Salvador, que manteve fortes laços com a Costa da Mina.

Em suma, diversas regiões brasileiras receberam diferentes grupos


africanos. Esses grupos foram reagrupados no Brasil, com as denominações
de: Angola, Congo, Benguela e Cabinda e identificados pelos portos de onde
haviam sido embarcados na África.

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FIGURA 3 - NEGROS DE DIFERENTES NAÇÕES DE ETNIA BANTO

FONTE: Disponível em: <http://abentumba.blogspot.com.br/p/os-bantus.html>.


Acesso em: 8 jun. 2012.

Caro(a) estudante, é inegável a presença dos diferentes grupos


africanos no Brasil. Estes grupos, mesmo na condição de escravos, refizeram
elementos que faziam parte da cultura africana, inserindo ou justapondo-os
aos elementos da cultura brasileira. Estudaremos a irradiação de elementos
culturais no Brasil.

À medida que o africano era inserido na sociedade brasileira tornouse


afro-brasileiro. Usa-se o termo afro-brasileiro para indicar produtos de
mestiçagens para os quais as matrizes são africanas. Matrizes estas, presentes
na formação do povo e da cultura brasileira.

Além dos traços físicos e marcas genéticas nas feições da população,


a música e a religiosidade, talvez sejam, as manifestações culturais em que a
presença africana esteja mais evidente.

Desta forma, vamos nos apropriar das características culturais de


matrizes africanas presentes na cultura brasileira.

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Africanos no Brasil 5

Prezado(a) estudante, os povos africanos misturaram-se aos povos que


aqui se encontravam, como: índios, portugueses, entre outros e conferiram a
estes características físicas e genéticas.

2 AS MANIFESTAÇÕES DAS RELIGIOSIDADES AFRICANAS


Ao longo da história da humanidade, a religiosidade sempre esteve
presente. Seja qual for a forma de devoção ou crença, as religiões sempre
trouxeram princípios éticos, buscando o sentido da vida e tentando explicar a
morte.

Na África, a religião tem lugar central na cultura, sendo a esfera de onde


vem toda a orientação para a vida, a garantia do bem-estar, da harmonia e da
saúde. As práticas mágico-religiosas, por meio das quais os homens entram em
contato com entidades sobrenaturais, espíritos, desuses e ancestrais constituíam-
se em aspecto central na vida dos africanos. Assim como viria a ser na vida de
seus descendentes.

No Brasil, as religiões africanas foram transformadas, ritos e crenças


de alguns povos se misturaram com os de outros, com os dos portugueses e
índios. Nesse processo, muitas características africanas foram mantidas. (SOUZA,
2007).

Nos ritos africanos, o sobrenatural era (é) acionado por especialistas


que dominavam os conhecimentos necessários, para que as entidades do além
pudessem ajudar a solucionar, geralmente, questões da vida cotidiana. Com o
passar do tempo, as práticas mágico-religiosas começaram a difundir-se em outros
segmentos da sociedade. A recorrência a especialistas em curas e adivinhações
se tornou uma prática comum entre as pessoas que buscavam novas orientações
para seus problemas.

Os especialistas se tornaram membros importantes de certas


comunidades, usando seus serviços e conhecimentos.

Nos grupos de origem banto, os ritos mais comuns estavam ligados: às


adivinhações, curar doenças, amansar senhores, conquistar o sexo oposto, fechar
o corpo contra agressões. Praticava-se uma diversidade de ritos que permitiam
que as forças do além agissem, às vezes, por meio de possessões, com descidas
dos espíritos invocados sobre o corpo do sacerdote, que tomados por eles
permitiam que se comunicassem com os interessados, orientando-os na solução
de problemas. (SOUZA, 2007).

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Outras vezes, o acesso a informações sobrenaturais se dava pela leitura


dos indícios do além, por meio dos oráculos que se utilizavam de consultas a
pedras, contas, conchas, cabaças com conteúdos misteriosos, bacias de água,
entre outros. Conforme o resultado das consultas, medidas deveriam ser
tomadas para que a normalidade fosse reestabelecida, ou para que o objetivo
fosse alcançado. Compostos com bebidas variadas e, às vezes, exóticas eram
preparadas. Desta forma, deveriam ser feitos à base de ingredientes incomuns,
como: extratos de plantas, penas de animais, secreções do corpo da pessoa
sobre a qual se queria agir, entre outros.

No Brasil, os ritos desse tipo eram chamados de calunduns, palavra de


origem banto, que foi associada ao termo kimbundo quilundo, um nome genérico
para qualquer espírito que possuísse uma pessoa. Na África, o termo quilundo
era referente a qualquer possessão por espíritos. No Brasil, calundu também
adquiriu um significado semelhante, além de designar um estado de espírito
sombrio.

A partir do século XIX, o papel do calunduzeiro foi ocupado pelas mães


e pais de santo dos candomblés da Bahia, do Rio de Janeiro, do Maranhão, de
Porto Alegre e outras regiões do país e das umbandas do Rio de Janeiro, de São
Paulo, de Minas Gerais e de Goiás.

Caro(a) estudante, o termo umbanda é utilizado para designar as religiões


afro-brasileiras de origem banto, nas quais são cultuados ancestrais e espíritos da
natureza, com forte presença de elementos das religiões indígenas e também
influência do espiritismo, de origem europeia.

O candomblé é outro conjunto de práticas e crenças mágico-religiosas de


matrizes africanas que germinou no Brasil. O termo pertence à língua banta. No
entanto, no Brasil refere-se, também a cultos de origem iorubá e daomeana.

Caro(a) estudante!

- Quando a influência é de origem iorubá ou nagôs, as principais entidades são


os orixás.

- Quando a influência é de origem daomeana ou jêjes, as entidades são voduns.

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Africanos no Brasil 7

Orixás e voduns são entidades ancestrais e heróis divinizados fundadores


de linhagens, reinos e cidades-estado, sendo não só a origem da organização
social e política, como aqueles que orientam toda ação dos homens em sua
vida terrena. (SOUZA, 2007).
FONTE: Adaptado de: <http://gongofila.blogspot.com.br/2009/08/religiosidadeafro-
brasileira.html>. Acesso em: 27 jun. 2012.

FIGURA 4 – ORIXÁS DO CANDOMBLÉ

FONTE: Disponível em: <http://espadadeogum.blogspot.com.br/2010/04/comidas-de-


santo.html>. Acesso em: 9 jun. 2012.

No candomblé, os principais orixás são:

● Oxalá: divindade da criação dos seres humanos; soberano que tudo


comanda.

● Xangô: divindade dos raios, relâmpagos e trovões.

● Ogum: divindade do ferro e dos ferreiros, deus das guerras.

● Oxossi: divindade das florestas e da caça.

● Omolu/Obaluayê: divindades da varíola e das doenças contagiosas.

● Oxumarê: divindade das chuvas e do arco-íris.

● Exu: mensageiro, guardião dos templos, das casas e das pessoas.

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● Iemanjá: divindade das águas salgadas.

● Oxum: divindade das águas doces.

● Iansã: divindade das tempestades, dos ventos e dos relâmpagos.

● Ibejis: divindades das brincadeiras, da infância e da fecundidade.

Os terreiros que abrigam candomblés e umbandas são espaços que


reforçam as características da cultura africana, como: a arquitetura, as formas
de festejar, os ritos e as danças. É no ritmo dos tambores, cujo som é um dos
elementos que permitem que os espíritos desçam sobre médiuns, por meio
dos quais eles se comunicam com os vivos. A música africana tem a sua maior
expressão na cultura. (SOUZA, 2007).
Nos terreiros, os diferentes ritmos africanos permitem a
incorporação de uma entidade sobrenatural, que tem toque,
cores, adereços, roupas, comidas e gestos próprios. Cada
terreiro tem seus orixás e espíritos. Cada médium recebe
determinadas entidades, em numero limitado. (SOUZA, 2008,
p. 113).

Entre os negros, não foram somente as religiões de origem africanas


que estiveram presentes. O catolicismo e o islamismo também foram
crenças difundidas entre os grupos africanos. No Brasil, os africanos cristãos
se organizavam em irmandades que eram aceitas e estimuladas pela Igreja
Católica e pela administração colonial. Os principais santos de devoção
das irmandades de “homens prestos” eram Nossa Senhora do Rosário, Santa
Efigênia e São Benedito.

As crenças religiosas africanas misturaram-se com o catolicismo,


formando o que se chama de sincretismo religioso. Algumas divindades negras
(orixás) foram identificadas como santos católicos: Oxalá, pais dos orixás, foi
identificado com Nosso Senhor do Bonfim; Xangô identificado como Santo
Antônio e Ogum como São Jorge.
FONTE: Adaptado de: <http://eduep.uepb.edu.br/biofar/n2v1/PLANTAS_MEDICINAIS.
htm>. Acesso em: 27 jun. 2012.

Caro(a) estudante, como já sinalizado, a religiosidade faz parte da vida


dos seres humanos e através dela são expressados os mais variados sentimentos.
Proibidas no passado, depois toleradas, as religiões afro-brasileiras são cada
vez mais consideradas religiões válidas.

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Africanos no Brasil 9

No entanto, o preconceito a estas manifestações religiosas ainda estão


enraizadas na sociedade contemporânea. Presente nos terreiros de candomblé
e umbanda. A música é um importante elemento cultural africano, difundido
nas Américas.

No próximo item, discutiremos sobre a música e outras expressões da


cultura africana.

IMPORTANTE:
A palavra preconceito diz respeito à ideia, opinião
ou sentimento em relação a algo já preconcebido
como desfavorável ou negativo.

3 A IRRADIAÇÃO DE ELEMENTOS CULTURAIS AFRICANOS


NA CULTURA BRASILEIRA

Além de ser central nos cultos religiosos, a música de influência africana,


na qual o tambor é o instrumento mais importante, também é fundamental
em muitas outras ocasiões como festas e danças. A música africana influenciou
fortemente a música contemporânea, tanto a popular quanto a erudita. Os
ritmos populares como o samba, a rumba, a salsa, o jazz e o calipso, difundidos
do continente americano para o resto do mundo, tem raízes africanas.

A música africana se assenta na percussão. Na variedade de instrumentos,


sobretudo, o tambor que ao lado de outros instrumentos, como: o berimbau, o
agogô e o reco-reco são utilizados nas danças e festas.

Os africanos trazidos à força para as Américas encontraram aqui os


instrumentos musicais europeus, como: o pandeiro, a viola e a rabeca e não
tardaram em adotá-los. Absorveram também a música que agradava aos
senhores e misturando-a com a sua, inventaram novos gêneros e estilos que
mantiveram a essência africana.

Nas congadas, maracatus, capoeiras e reisados, os ritmos musicais


africanos estão na base do movimento corporal. Nos sambas de roda e de
umbigada, nos jongos, no frevo e outras danças. Os passos são mais ou menos
fiéis aos que eram realizados pelos primeiros africanos e afrodescendentes
que dançaram em terras brasileiras.

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FIGURA 5 – BATUQUES DE TERREIRO

FONTE: Disponível em: <http://colecaoitan.org/festas.html.>. Acesso em: 9 jun. 2012.

Entre as danças populares está o bumba meu boi, ou o boi-bumbá.


Espécie de teatro dançado e cantado no qual é contada a história de um
empregado negro que mata o boi preferido do patrão para satisfazer o desejo
de sua mulher grávida de comer carne. Vendo-se numa enrascada, procura um
feiticeiro para que, por meio de forças mágicas faça o boi ressuscitar.

Esta prática deu origem a uma das maiores festas popular da Amazônia,
o Boi de Parintins, na qual elementos indígenas ganham primeiro plano,
sobrepondo-se à influência de culturas africanas, em muitas das quais o boi
é um elementos central e cujos ritos mágico-religiosos estão presentes na
ressurreição do boi. (SOUZA, 2007).
FONTE: Adaptado de: <http://goncalopontesrj.blogspot.com.br/2011/08/cultura-
africana-no-brasil.html>. Acesso em: 27 jun. 2012.

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Africanos no Brasil 11

FIGURA 6 – BOI-BUMBÁ

FONTE: Disponível em: < http://colecaoitan.org/festas.html>. Acesso em: 9 jun. 2012.

Outra dança de matriz africana, presente na sociedade contemporânea,


é a capoeira que consiste na luta dançada, na qual dois antagonistas dão golpes
de pernas e cabeças, usando as mãos como apoio, saltando de um lado para
outro. A capoeira é uma das manifestações culturais afro-brasileiras mais
difundidas no país e também no exterior.

FIGURA 7 - BATIZADO DE CAPOEIRA ANGOLA

FONTE: Disponível em: <http://comunicanazare.blogspot.com.br/2009/11/batizado-de-


capoeira-angola-palmares.html>. Acesso em: 8 jun. 2012.

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Até 1920, a prática da capoeira era proibida no Brasil. Nos anos de 30,
tornou-se uma das marcas da identidade brasileira, ao lado do samba. Passou a
ser ensinada por mestres capoeiristas sob duas vertentes de ensino: a capoeira
Angola e a Regional.
Os elementos africanos da capoeira são: os instrumentos musicais
(tambor e berimbau), a formação da roda, a ginga, os ritmos, as letras dos
pontos cantados e os passos da dança luta.
A primeira academia de capoeira Angola aberta no Brasil, foi em 1935 pelo
mestre Pastinha, em Salvador, na Bahia. Mestre Pastinha, contava ter aprendido a
luta com um escravo vindo de Angola, chamado Benedito. A vertente angolana
da luta defende a posição de que esta luta teria surgido em Angola.
O primeiro divulgador da capoeira Regional, que defende a posição de
que a capoeira é formada pela contribuição de diversas etnias africanas, foi o
mestre Bimba. O jogo da capoeira na roda constitui-se num diálogo de corpos
onde dois capoeiristas partem do berimbau e iniciam movimentos corporais de
perguntas e respostas. Aos poucos toda a roda vai entrando no jogo-dança.
A capoeira é um elemento definidor da identidade brasileira, mais do
que uma atividade física. Ela agrega religiosidade, música, história, integração
e movimento corporal.
Na esfera material, a influência africana se dá, sobretudo, na culinária.
A presença mais significativa encontra-se no estado da Bahia, onde o uso da
pimenta e do azeite de dendê é presença constante na cozinha baiana. Pratos
como o acarajé, vatapá, caruru, aluá, ximxim de galinha, mugunzá são destaques
das matrizes africanas na culinária brasileira. Estes pratos mantêm receitas
parecidas com as feitas na África.
Além dos pratos, os africanos introduziram no Brasil um bom número de
vegetais como, por exemplo: o quiabo, o maxixe, o jiló, o inhame, o cará, feijões,
várias espécies de banana, diversos tipos de abóbora. O africano difundiu em
terras brasileiras o cultivo do arroz e o seu uso como prato diário.
A feijoada, um dos pratos mais famosos da culinária brasileira,
foi incorporada ao cotidiano dos africanos escravizados que no geral,
alimentavam-se de cereais como milho e também de feijão. O prato consiste
na mistura de partes menos nobres do porco, como: orelha, pés, rabos que
geralmente não eram consumidas pelos senhores. Estas partes eram cozidas,
em um mesmo recipiente, com feijão preto, sal, pimenta. Aos poucos a feijoada
foi identificada como influência africana. Todavia, é relevante destacar que a
presença do feijão no Brasil, é anterior à presença africana.
Outro aspecto material da presença africana na cultura brasileira são as
técnicas de produção e confecção de objetos. Entre os escravos trazidos da

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Africanos no Brasil 13

África, encontravam-se ferreiros, mineiros, oleiros, tecelões e escultores que


disseminaram não só as técnicas de confecção como também seus padrões
estéticos, presentes nas formas, nas decorações, nas cores, entre outros.
De acordo com Souza (2007), várias técnicas de tecer cestas, utilizadas
entre as populações rurais brasileiras, se assemelham mais às africanas do que
as indígenas, que também praticavam a cestaria.
FONTE: Adaptado de: <artistoria.wordpress.com/tag/cultura-afro-brasileira/>. Acesso em:
27 jun. 2012.

A arte de esculpir está presente em todas as sociedades humanas


desde as mais remotas épocas, e configura uma das primeiras manifestações
do trabalho humano. Na Idade da Pedra, por exemplo, quando os homens
modelavam o barro ou poliam pedaços de rocha, colocando neles suas visões
de mundo, beleza, mitos e divindades, já estavam organizando expressões
simbólicas que representavam objetos e situações cotidianas.
Entre os povos africanos, a confecção de esculturas e máscaras
representa uma das expressões artísticas mais significativas. Algumas
sociedades como os Dogon, no Mali, os Iorubás, os Nok, no norte da Nigéria se
destacaram cultural e religiosamente, por meio da confecção destes objetos.
Caro(a) estudante, é importante destacar que a religião foi
constantemente revelada por meio da arte e que as esculturas eram
compreendidas, como elementos que permitiam ao homem manter contato
com o sobrenatural.
FIGURA 8 - ESTATUETA “AKUA-BA” (arte ashanti, Gana, acervo MAE-USP)

FONTE: Disponível em: <http://cordilheirasdoconhecimento.blogspot.com.


br/2010_05_01_archive.htm>. Acesso em: 13 jun. 2012

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IMPORTANTE:
O povo Ashanti que vivem na região de Gana,
quase não esculpem em madeiras com exceção
dos talismãs da fertilidade.

Para os povos africanos, as esculturas eram objetos de rituais, de


comunicação com os deuses e uma maneira de se mostrar e distinguir-se das
demais sociedades. Não podemos esquecer, caro(a) estudante, que a África
é habitada por várias etnias, que apresentam diferenças culturais, estéticas
e religiosas de uma região para outra. Ou até mesmo em uma mesma região.
Nesse aspecto, a arte africana não pode ser vista como homogênea, pois cada
comunidade possui seu próprio estilo.

FIGURA 9 - RAINHA MÃE CHOKWE, ANGOLA

FONTE: Disponível em: <http://fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:Statuette_


ChokweMus%C3%A9e_ethnologique_de_Berlin.jpg>. Acesso em: 13 jun. 2012

Diferente da concepção artística ocidental, a arte africana está


fundamentada na religiosidade, onde o artista não trabalha expressando a
individualidade e, sim a coletividade, ou seja, o artista interpreta os valores
de sua cultura e concretiza-o em sua obra.

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Africanos no Brasil 15

Sobre o artista africano é importante destacar que a posição deste


dentro de cada comunidade poderá variar. Em algumas, o seu trabalho é, às
vezes, mais importante que a de um agricultor, por exemplo.

A escultura é a expressão da visão que a comunidade possui do mundo.


A africana está repleta de abstração, de simbolismos. A maioria das esculturas
africanas utiliza a madeira como material, uma vez que para os africanos,
a árvore é guardiã de poderes mágicos. Todavia, encontram-se entre as
sociedades africanas, esculturas de pedra, marfim, ouro, cobre e bronze.

FIGURA 10 – ESCULTURA DE TERRACOTA DO POVO NOK

FONTE: Disponível em: <http://civilizacoesafricanas.blogspot.com.br/2009/12/


civilizacao-nok.html>. Acesso em: 13 jun. 2012.

Curiosidade da Figura 10 - Nok era uma civilização originária do


norte da Nigéria que se desenvolveu entre 500 a.C. e 200 d.C.. As mais
antigas esculturas africanas foram encontradas nesta região. A arte nok é
representada por cabeças humanas feitas de terracota com enfeites nas
orelhas, lábios).

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16 Cultura Africana

FIGURA 11 - GU (DEUS DA GUERRA E PATRONO DOS ARTESÃOS E FERREIROS NA


MITOLOGIA TRIBAL DO DAOMÉ, ATUAL BENIM

FONTE: Disponível em: <http://claudiozeiger.blogspot.com.br/2011/12/guvodun-ewe-


fon-togo-e-benim.html>. Acesso em: 12 jun. 2012.

Curiosidade da Figura 11- GU (deus da guerra e patrono dos artesãos e


ferreiros na mitologia tribal do Daomé, atual Benim). Os daomeanos utilizavam
madeira e metal para esculpir.

FIGURA 12 - ESCULTURA IORUBÁ (ESTATUETAS IBEJI)

FONTE: Disponível em: <http://artistoria.wordpress.com/tag/arte-africana/>. Acesso em:


12 jun. 2012.

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Africanos no Brasil 17

Curiosidade da Figura 12 - Estas estatuetas fazem parte da cultura


iorubá (Nigéria e Benin), na qual ocorre o maior número de nascimentos de
gêmeos no mundo: de cada onze crianças nascidas nasce um par de gêmeos.
Os iorubá acreditam que essas crianças trazem consigo proteção divina e se
tornam divindades quando morrem. Quando um par de gêmeos nasce, um
sacerdote é consultado e decide se os pais devem encomendar um par de
estatuetas que representem os dois filhos, ou se uma ibeji será feita apenas se
um deles morrer. Os iorubá creem que os dois gêmeos partilham uma só alma,
por isso, quando um dos gêmeos morre ainda criança, uma ibeji fica no lugar do
irmão que morreu e recebe os mesmos cuidados destinados à criança viva: é
banhada, ganha roupas, enfeites, alimento e anda com a família.

A presença africana é profunda na cultura brasileira. Suas marcas


estão impregnadas também na língua portuguesa. As línguas africanas como o
quimbundo, o quicongo, o umbundo e o iorubá, marcaram não só o vocabulário
do português no Brasil, mas também a sintaxe e fonética.

● Verbos como: cochichar, cochilar, fungar, xingar, zanga.

● Os substantivos: bagunça, cachaça, caçula, cafuné, quitute.

● E adjetivos: como capenga, dengoso, encabulado, zonzo entre tantos


outros termos que utilizamos no dia a dia, são de origem africana.

É por meio da palavra, que os grupos africanos guardavam e transmitiam


suas histórias, garantindo a manutenção da identidade que une os membros de
um grupo e os diferenciava dos que pertencem a outros grupos.

No Brasil, os contos, os provérbios, os mitos de origem dos orixás, das


linhagens que governam os terreiros, as palavras utilizadas nos ritos religiosos
e nas adivinhações, transmitidas dos mais velhos aos mais novos, são aspectos
fundamentais das comunidades negras (SOUZA, 2007).

Nas sociedades africanas, os griots eram os guardiões da tradição oral.


Eram os responsáveis por manter na memória dos grupos o referencial de sua
existência e constituição.

No Brasil, diversos grupos africanos mantiveram a prática de difundir


oralmente os contos e mitos de sua terra natal, com o intento de preservar a
memória.

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18 Cultura Africana

FIGURA 13 – OS GRIOTS (CONTADORES DE HISTÓRIAS)

FONTE: Disponível em: <http://baudashistoriasepoemas.blogspot.com.br/2010_06_01_


archive.html>. Acesso em: 8 jun. 2012.

Nas manifestações como o candomblé e congada, por exemplo, a


memória dos grupos é constantemente reforçada pela palavra nos pontos
cantados. Na sociedade contemporânea, a importância da palavra reaparece
entre as sociedades africanas, numa das mais significativas manifestações
afrobrasileiras, o rap.

Nesta manifestação, a força da musicalidade africana está presente


nos ritmos marcados e repetitivos. A palavra cantada no rap remete a
características das sociedades africanas que narram fatos do cotidiano e fazer
crônicas dos acontecimentos. As letras das músicas de rap, de acordo com
Souza (2007), denunciam a opressão e a marginalização a que estão submetidos
os habitantes das periferias dos grandes centros urbanos, em sua grande
maioria, negros e mestiços.

Ainda, segundo a mesma autora, o rap surge em momento em que


a adoção dos valores do mundo branco dominante não é mais vista como
necessária no caminho da ascensão social e as raízes africanas são valorizadas
em vez de negadas.

Caro(a) estudante, a África está presente: nos ditos, nas histórias, nas
canções, nos brinquedos infantis, nas festas, nas danças populares, na maneira
como se cumprimenta, no jeito de estar em casa e na rua. Em suma, a África está
presente nas ações cotidianas. No entanto, o reconhecimento de todas estas
contribuições na formação do Brasil é recente. Para que os grupos étnicos
africanos ganhassem visibilidade na sociedade brasileira foram necessários

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Africanos no Brasil 19

diversos movimentos e manifestações em prol deste reconhecimento.

Entre as medidas legais que vêm sendo adotadas está à obrigatoriedade


de tratar das culturas afro-brasileiras e da história da África na escola. Se
refletirmos a fundo, é espantoso e contraditório que em uma sociedade
democrática como é o Brasil, seja necessário que este reconhecimento se dê
pela força de lei.

Assim, caro(a) estudante, no próximo item discutiremos sobre a Lei n°


10.639 instituída em 09 de janeiro de 2003 e que tornou obrigatório tratar da
temática Cultura e História africana e afro-brasileira no currículo escolar.

4 UM CONTINENTE NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO


BÁSICA

Várias políticas de reparação, reconhecimento e valorização


da população afro-brasileira vêm sendo concretizadas na sociedade
contemporânea. Uma dessas ações, como já sinalizado, é a Lei n° 10.639 que
tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira no
currículo da Educação Básica no país.

Esta lei é importante na medida em que a sociedade brasileira se


apropria e reconhece o valor da história e da cultura africana, trazida pelos
escravizados para o Brasil e mantida pelos seus descendentes ao longo dos
tempos.

No entanto, a inserção desta lei no contexto brasileiro não é algo


espontâneo. Pelo contrário, ela é resultante da atuação de políticos e,
principalmente, da pressão exercida por grupos de defesa dos direitos dos
negros. Ou seja, a Lei n° 10.639 é um produto da união de forças vindas da
sociedade brasileira como o Movimento Negro, por exemplo, que ao longo
da história do país apresentou inúmeras reivindicações dos direitos dos negros
no Brasil.

Concomitante à instauração da Lei n° 10.639, o governo Federal criou


em março de 2003, a SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção
da Igualdade Racial) e instituiu a Política Nacional de Promoção da Igualdade
Racial. O objetivo dessas ações é promover alteração positiva na realidade
vivenciada pela população negra e rumar para uma sociedade democrática,
justa e igualitária, revendo os desumanos séculos de preconceitos, discriminação
a que foram submetidos os afro-brasileiros.

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20 Cultura Africana

Nesse sentido, podemos afirmar que, atualmente no Brasil se tem


criado condições para uma maior abertura para se discutir os problemas
da sociedade negra, como as conferências contra a intolerância racial. Esse
movimento se organiza em associações, grupos de apoio, fundações, entre
outros. Com o objetivo de buscar a efetivação dos direitos à igualdade,
promover a equidade entre a sociedade, através de ações afirmativas e
políticas de integração social.
FONTE: Adaptado de: <http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_16791/artigo_
sobre_movimento_negro>. Acesso em: 27 jun. 2012.

As chamadas políticas de ação afirmativa ou políticas compensatórias


são muito recentes na história das ideologias antirracistas. Estas ações visam
oferecer aos grupos discriminados e excluídos um tratamento diferenciado
para compensar as desvantagens devidas à sua situação de vítimas do racismo
e de outras formas de discriminação.

As ações afirmativas atendem às determinações do Programa Nacional


de Direitos Humanos, aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
Com o intento de combater o racismo e a discriminação, como a Conferência
da ONU em Durban, África do Sul em 2001.

No Brasil, a Lei n° 10.639, tem com um dos principais objetivos educar


a população para as relações étnico-raciais. Estas relações dizem respeito à
reeducação dos diferentes grupos étnicos e dependem de ações que priorizem
trabalhos conjunto, articulações entre processos educativos escolares, políticas
públicas, movimentos sociais. É importante destacar, que as mudanças éticas,
culturais, pedagógicas e políticas nas relações étnico-raciais não se limitam à
escola. No entanto, exigem esforços da sociedade como um todo.

De acordo com as Diretrizes Curriculares, a educação das relações


étnico-raciais deverá oportunizar aprendizagens, trocas de conhecimento,
desenvolvimento de projetos que visem a construção de uma sociedade
justa, igual, equânime aos diferentes grupos étnicos.

Caro(a) estudante, o art. 26 da Lei n° 10.639 institui que:


Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais
e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História
e Cultura Afro-Brasileira. Incluindo no Parágrafo 1º que O
conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo
incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta
dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na
formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do
povo negro nas áreas social, econômica e políticas pertinentes
à História do Brasil. (BRASIL, 2012).

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Africanos no Brasil 21

Para dimensionarmos a importância desta Lei no Currículo da Educação


Básica, vamos compreender alguns dos princípios que a norteiam.

4.1 CONSCIÊNCIA POLÍTICA E HISTÓRICA DA DIVERSIDADE

- à igualdade básica de pessoa humana como sujeito de direitos;

- à compreensão de que a sociedade é formada por pessoas que pertencem


a grupos étnico-raciais distintos, que possuem cultura e história próprias,
igualmente valiosas e que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua
história;

- ao conhecimento e à valorização da história dos povos africanos e da cultura


afro-brasileira na construção histórica e cultural brasileira;

- à superação da indiferença, injustiça e desqualificação com que os negros, os


povos indígenas e também as classes populares às quais os negros, no geral,
pertencem, são comumente tratados.
FONTE: Lei n° 10.639, 09 jan.2003. Disponível em: <www.vcsimulados.com.br/divulgacao/
dcn.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2012.

Este princípio deve conduzir:

4.2 FORTALECIMENTO DE IDENTIDADE E DE DIREITOS

O princípio deve orientar para:

- o desencadeamento de processo de afirmação de identidades, de


historicidade negada ou distorcida;

- o rompimento com imagens negativas forjadas por diferentes meios de


comunicação, contra os negros e povos indígenas;

- as excelentes condições de formação e de instrução que precisam ser


oferecidas, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, em todos os
estabelecimentos, inclusive os localizados nas chamadas periferias urbanas e
nas zonas rurais.
FONTE: Lei n° 10.639, 09 jan.2003. Disponível em: < www.nre.seed.pr.gov.br/
franciscobeltrao/.../web_orientacoes_pa.ppt>. Acesso em: 27 jun. 2012.

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22 Cultura Africana

4.3 AÇÕES EDUCATIVAS DE COMBATE AO RACISMO E A


DISCRIMINAÇÃO

O princípio encaminha para:

- a conexão dos objetivos, estratégias de ensino e atividades com a experiência


de vida dos alunos e professores, valorizando aprendizagens vinculadas às
suas relações com pessoas negras, brancas, mestiças, assim como as vinculadas
às relações entre negros, indígenas e brancos no conjunto da sociedade;

- condições para professores e alunos pensarem, decidirem, agirem, assumindo


responsabilidade por relações étnico-raciais positivas, enfrentando e
superando discordâncias, conflitos, contestações, valorizando os contrastes
das diferenças.
FONTE: Lei n° 10.639, 09 jan.2003. Disponível em: < www.construirnoticias.com.br/asp/
materia.asp?id=1008>. Acesso em: 27 jun. 2012.

Compreender como se estrutura as Diretrizes Curriculares Nacionais


para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o ensino da História e
Cultura Afro-brasileira e Africana, bem como os princípios que a norteiam,
é fundamental para a inserção da temática em sala de aula. Uma vez, que esta
vem se tornando um dos elementos essenciais para que seja refeito o caminho
pelo qual se construiu uma imagem negativa dos povos africanos. A partir daí,
desconstruir ideologias e mentalidades discriminatórias e preconceituosas
que permeiam a sociedade contemporânea.

A Lei orienta que os conteúdos pertinentes a esta temática


sejam trabalhados no contexto de todo o Currículo da Educação Básica,
especialmente nas disciplinas de Arte, Literatura e História do Brasil.

No entanto, as outras áreas do conhecimento escolar não estão isentas


de integrarem essa temática à produção e ressignificação de seus saberes. Pelo
contrário, se hoje, o discurso que perpassa a escola é um discurso pautado na
interdisciplinaridade do conhecimento, como não agregar esse tema a outras
disciplinas do currículo!

Caro(a) estudante, no último item deste curso apresentaremos algumas


sugestões para trabalhar a cultura africana em sala de aula numa perspectiva
interdisciplinar.

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Africanos no Brasil 23

5 POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINARES PARA O ENSINO


DE HISTÓRIA DA ÁFRICA

A proposta de atividades interdisciplinares vem adquirindo importância


no contexto escolar, particularmente quando se trata de iniciativas que
possibilitam a abordagem integrada das diferentes áreas do conhecimento.

Nesse aspecto, é essencial proporcionar a integração dos conhecimentos


e competências dos educadores e educandos, no que diz respeito à cultura dos
povos africanos que passou muito tempo despercebida nos currículos escolares.

A temática África e afro-brasileiros que tem seu ponto de partida na


História, poderá ser trabalhada em outras disciplinas. Embora, a Lei nº 10.639
cite as disciplinas de História, Artes e Língua Portuguesa como norteadoras
do trabalho. É possível a interação das diferentes áreas do conhecimento no
processo de inserção dessa temática na produção do conhecimento escolar.

Refletiremos sobre algumas disciplinas e a temática África e


afrobrasileiros.

5.1 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A DISCIPLINA DE


HISTÓRIA

Em História é necessário, primeiramente, desmistificar visões


equivocadas acerca do negro somente como escravo, da África como
continente primitivo e atrasado, da passividade quanto à escravidão e do
mito da democracia racial.

Como ação introdutória, é pertinente abordar as representações


elaboradas sobre os africanos, identificando e desconstruindo os argumentos
racistas e estereotipados. É importante, também, destacar o uso adequado de
conceitos, evitando o anacronismo e o esquecimento das características da
história africana. Como ações podem ser desenvolvidas as seguintes:

● O trabalho com as histórias dos grandes reinos africanos como o Maili, Songai,
entre outros, anteriores ao período das grandes navegações.

● A abordagem da história da civilização egípcia, enfatizando que esta


civilização está localizada no norte da África.

● O exame da história do Brasil, anterior à ocupação europeia.

● A análise da história do Brasil a partir do negro, destacando sua importante

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24 Cultura Africana

contribuição nos diferentes momentos da história do país.

● A revisão da escravidão sob a ótica da exploração e resistência escrava


como fator determinante para o processo abolicionista.

● A visita a museus, também é um recurso importante ao ensino da história


dos negros do Brasil.

5.2 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A GEOGRAFIA

De acordo com as Diretrizes Curriculares, para o Ensino de Geografia,


esta área do conhecimento deve criar estratégias que levem os alunos a pensar
a realidade geograficamente e despertar a consciência espacial. Para isto,
deverá ser empreendida uma educação que contemple a heterogeneidade, a
diversidade, a desigualdade e a complexidade do mundo atual.
FONTE: Disponível em: <www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1915-6.
pdf>. Acesso em: 27 jun 2012.

No que diz respeito à cultura e história africana podem ser desenvolvidas


as seguintes ações em Geografia:

● Mostrar o continente africano, através de imagens das idades, buscando


desmistificá-las como locais de miséria e guerras étnicas.

● O uso de mapas que mostrem quais povos africanos foram escravizados e


trazidos para o Brasil e analisar a sua influência na história e cultura brasileira.

● Trabalhar a diversidade geográfica do continente africano, de modo a


descobrir a variedade de climas, de vegetação, relevo, idiomas e culturas.

● Abordar as diferentes organizações sociais e econômicas dos países


africanos.

● Trabalhar áreas demarcadas, a territorialidade para o africano e os quilombos


como espaços de resistência e produção de cultura.

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Africanos no Brasil 25

5.3 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A EDUCAÇÃO


FÍSICA

As ações desenvolvidas na disciplina de Educação Física devem levar


o educando a desenvolver atividades lúdicas que envolvam o corpo e
propiciem o conhecimento de outras culturas.

As Diretrizes Curriculares que orientam o Ensino da Educação Física,


trazem a capoeira como conteúdo básico por meio de uma abordagem
teóricometodológica que procura apresentar a história da capoeira, a
diferença de classificação e estilos da capoeira. Enquanto jogo/luta/dança,
musicalização e ritmo, ginga, confecção de instrumentos, movimentação, roda,
entre outros. Todavia, outras danças africanas podem ser resgatadas como a
congada e o maracatu.

5.4 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A DISCIPLINA DE


ARTE

As habilidades e competências desenvolvidas a partir da disciplina de


Artes levam o aluno a compreender a importante contribuição dos elementos
culturais africanos nas expressões artísticas brasileiras. Como ações podem ser
desenvolvidos os seguintes trabalhos:

● Pesquisar e organizar a confecção de instrumentos musicais e seus significados


para os africanos e afro-brasileiros como o abe, caxixi, chocalho, cuíca, ganzá,
entre outros.

● Organizar festivais de dança.

● Pesquisar e confeccionar objetos de ornamentos corporais e artesanato


africano.

● Organizar rodas de contação de história baseados nos mitos e lendas


africanas, entre outras ações que resgatem, deem visibilidade e valorizem a
presença africana na sociedade brasileira.

5.5 A LÍNGUA PORTUGUESA, A LITERATURA E A HISTÓRIA DA


ÁFRICA

No campo da literatura, existem excelentes trabalhos direcionados


para o Ensino Fundamental. Contos, romances e ficções históricas possibilitam

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26 Cultura Africana

acessar parte da mentalidade africana.

Existe no Brasil, uma série de obras que evidenciam as tradições, a


cultura, as relações sociais, aspectos econômicos, políticos entre outros.
Que permitem compreender o pensar sobre a construção da memória, da
identidade e como esta se transforma em narrativa de experiências.

No entanto, ao trabalhar a narrativa literária de forma interdisciplinar na


perspectiva de utilizá-la como aporte teórico metodológico na compreensão
da História da África deve-se estar atentos para o fato de que a obra literária
mostra uma realidade que lhe é própria, ou seja, a sua realidade ficcional.
No entanto, é possível através dela compreender processos sociais e uma
possível reflexão sobre determinada estrutura social.

A apresentação de escritores como Joel dos Santos Rufino, Ana Maria


Machado, Geni Guimarães, Aroldo Macedo, entre outros, bem como de
compositores e cantores como Gilberto Gil, Milton Nascimento, artistas como
Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Tarsila do Amaral que incluem a figura do
negro em suas obras. São possibilidades que mostram e valorizam o pensamento
africano e afro-brasileiro nas expressões culturais e que oportunizam ações
didáticas em sala de aula.

Entre as ações desenvolvidas na disciplina de Língua Portuguesa, cita-se:

● A leitura e a análise de textos para identificar visões estereotipadas sobre


os diferentes grupos étnicos raciais que compõem a sociedade brasileira.

● O estudo de peculiaridades das línguas, identificando a influência de


diferentes matrizes linguísticas africanas na língua portuguesa escrita e falada
no Brasil.

● A redação de textos a partir da análise de dados sobre relações raciais e


desigualdades.

● A utilização de gêneros textuais que abordem o tema das relações raciais


ou do escravismo africano. Procurando identificar a visão da sociedade sobre
esta questão.

● A elaboração de um dicionário das palavras do nosso vocabulário que tem


origem africana.

● Revisitar a literatura brasileira em diferentes momentos da história


analisando como os autores das diferentes épocas percebiam o negro e as
relações étnico-raciais.

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Africanos no Brasil 27

As outras disciplinas que compõem o Currículo Escolar na Educação


Básica Brasileira como: a Biologia, a Matemática, a Física, a Língua Estrangeira, a
Filosofia, poderão articular saberes para a ressignificação e releitura da História
da África e Afro-brasileiros.

Caro(a) estudante, na contemporaneidade, vivemos momentos em que


não somente os movimentos negros vêm reivindicando mais oportunidades
de acesso a ações igualitárias. Outros grupos também têm manifestado,
reivindicando, lutado pelo acesso, pela dignidade de serem inseridos em uma
sociedade mais justa, mais igualitária.

Chegamos ao fim deste curso, lembrando de que o objetivo foi


apresentar de maneira geral o continente africano e a relação que ele mantém
com a sociedade brasileira. Principalmente as relações mantidas, a partir
da inserção do africano como escravo na sociedade brasileira e as práticas
difundidas na sociedade brasileira que configura os aspectos culturais.

Compreender o continente africano dissociado de uma visão


monolítica é fundamental para o trabalho do professor na atualidade. Desta
forma, conhecer as sociedades africanas, a maneira como se organizavam, as
manifestações culturais, pode levar à superação do preconceito que ainda
estão presentes no imaginário social contemporâneo.

Entre eles, pode-se ser citado o preconceito associado à noção de raça


e a ideia da existência de uma direção linear na evolução da humanidade, de
sociedades mais primitivas para civilizações mais estruturadas, mais complexas.
Perceber a diversidade das sociedades africanas pode auxiliar no convívio
com o diferente.

Como sugestão de leitura e conhecimento, recomendo a você visitar a


página da Fundação Palmares, no endereço: www.palmares.gov.br

Espero encontrá-lo(a) em outros cursos de formação.

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28 Cultura Africana

AUTOATIVIDADE
1 A escravidão negra representa um dos momentos mais cruéis na história
brasileira. Iniciada, paulatinamente, em 1532, com a colonização e estendida
até as últimas décadas do século XIX, contou com milhões de africanos
desembarcados em solo brasileiro. Estes africanos desempenharam um
importante papel no desenvolvimento e manutenção da economia. De
acordo com dados historiográficos, o tráfico de escravos para a colônia
portuguesa na América organiza-se em três fases. Caracterize estas fases.

2 A escultura representa uma das primeiras manifestações do trabalho humano.


Em cada sociedade está atividade teve sentido e significados próprios e
distintos. Descreva a finalidade da escultura para as sociedades africanas.

3 Entre as estratégias de valorização da presença africana no Brasil, está a


instituição da Lei nº 10.639. Esta Lei não é um produto da burocracia, mas da
união de forças vindas da sociedade brasileira. Descreva o significado desta
lei para o Ensino da Cultura Africana na Educação Básica.

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Africanos no Brasil 29

GABARITO
1 A escravidão negra representa um dos momentos mais cruéis na história
brasileira. Iniciada, paulatinamente, em 1532, com a colonização e estendida
até as últimas décadas do século XIX, contou com milhões de africanos
desembarcados em solo brasileiro. Estes africanos desempenharam um
importante papel no desenvolvimento e manutenção da economia. De
acordo com dados historiográficos, o tráfico de escravos para a colônia
portuguesa na América organiza-se em três fases. Caracterize estas fases.

R.: O(A) estudante deve informar que a primeira fase ocorre entre os anos de
1540 a 1580. Os africanos enviados para a colônia portuguesa na América
são provenientes da Alta Guiné e destinados a trabalhar nas plantações de
cana-de-açúcar e nos engenhos da região Nordeste.

A segunda fase compreende os anos de 1580 a 1690, a consolidação e


ampliação da produção açucareira nos engenhos do Nordeste e depois
no Sudeste demandavam por mão de obra que foi suprida pelo trabalho
escravo africano. A dificuldade de escravizar o índio também foi um fator
que contribuiu para a intensificação do tráfico negreiro nesta fase.

A terceira fase se dá a partir de 1690 e estende-se até a instituição formal


do tráfico negreiro em 1850. Os portos de Angola e Costa da Mina foram
os mais expressivos fornecedores de cativos para a colônia portuguesa
neste período.

2 A escultura representa uma das primeiras manifestações do trabalho humano.


Em cada sociedade está atividade teve sentido e significados próprios e
distintos. Descreva a finalidade da escultura para as sociedades africanas.

R.: O(A) estudante deve informar que para as diferentes sociedades africanas,
a escultura está associada à religiosidade e que estas eram compreendidas
como elementos que permitiam ao homem manter contato com o
sobrenatural. Outra informação, diz respeito à compreensão da escultura
a partir da diversidade de povos africanos no continente. Uma vez, que
a arte não deve ser compreendida como monolítica ou homogênea, pois
cada sociedade tem seu próprio estilo. Sobre a matéria-prima utilizada nas
esculturas, é relevante destacar o uso da madeira e da árvore, enquanto
considerado elemento sagrado para os africanos.

3 Entre as estratégias de valorização da presença africana no Brasil, está a


instituição da Lei n° 10.639. Esta Lei não é um produto da burocracia, mas da
união de forças vindas da sociedade brasileira. Descreva o significado desta
lei para o Ensino da Cultura Africana na Educação Básica.

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30 Cultura Africana

R.: O(A) estudante deve tecer informações que possibilitem a reflexão sobre
o contexto de surgimento desta lei, onde a percepção incorra sobre as
reivindicações que ao longo dos anos foram feitas pelos movimentos
de defesa das causas negras no Brasil. Deve também informar sobre a
obrigatoriedade desta temática no Currículo Escolar da Educação Básica e
as possibilidades de trabalho na escola.

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Africanos no Brasil 31

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n° 10.639, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases (Lei n°.9394/1996) e
tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira no Ensino Fundamental
e Médio.Disponível em: < www.ppe.uem.br/publicacoes/seminario_ppe_2008/
pdf/c018.pdf>. Acesso em: 27 jun.2012.

CORDOVA, Tânia. História da África. Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2010.

HERNANDEZ, Leila Leite. A África na Sala de Aula: visita à história contemporânea,


São Paulo: Selo Negro, 2008.

KI –ZERBO, Joseph. A Hominização. In: História da África Negra. Publicações Europa-


América, s/d. p. 54-55.

LOPES, Nei. Bantos, malês e identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeio: Agir,
2008.

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil Africano. 2. ed. São Paulo: Ática, 2007.

______. África e Brasil Africano. 3. ed. São Paulo: Ática, 2008.

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