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PEDOCOMUNHÃO:
OS FILHOS DOS CRENTES DEVEM PARTICIPAR DA EUCARISTIA?
Jean Francesco A. L. Gomes1

RESUMO
A doutrina e prática pedocomunialista tem crescido nos últimos anos dentro
das igrejas protestantes, especialmente entre aquelas que abraçam a tradição
reformada. Por quais razões isso tem acontecido? Este artigo tem como objetivo
fornecer um traçado histórico da prática pedocomunialista, apresentar os principais
argumentos teológicos pró e contra e, ao final, elaborar uma posição em relação ao
assunto que seja coerente com a Escritura e a teologia da aliança.

PALAVRAS-CHAVE
Pedocomunhão; Credocomunhão; Teologia da Aliança; Igreja Reformada;
Batismo Infantil; Ceia do Senhor

INTRODUÇÃO
Nos últimos trinta anos a prática de admitir as crianças batizadas, filhas de
pais crentes, chamada pedocomunhão tem ganhado muito espaço dentro das
igrejas protestantes, especialmente aquelas que possuem um corpo doutrinário
calvinista e reformado. De um lado estão aqueles que a rejeitam e a criticam,
alegando que ela seria uma visão anti-confessional, não apoiada nem pela Escritura
nem pela tradição reformada. De outro lado, estão aqueles que a defendem e
aderem a ela, principalmente sob a alegação de que as crianças batizadas são
membros legítimos da família da aliança.
Devemos considerar o debate acerca da prática pedocomunialista como algo
relevante para o cenário atual, pois longe de ser um tópico periférico da fé cristã,
envolve a natureza dos sacramentos, da teologia da aliança e altera o modus
operandi litúrgico das igrejas no que diz respeito à celebração da Ceia do Senhor.
Mas, afinal, a doutrina da pedocomunhão tem alguma base na história da
Igreja ou não passa de uma inovação contemporânea? Essa é a primeira pergunta

1
O autor é bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul e mestre em Teologia
Sistemática pelo CPAJ.
1

que pretendemos responder na parte inicial deste ensaio. O propósito do artigo,


todavia, não se limita a fazer um traçado histórico da prática pedocomunialista, mais
que isso, queremos oferecer os principais argumentos contrários e favoráveis a esta
doutrina, destacando suas forças e fraquezas. Ao final deste estudo, vamos sugerir
que o ensino pedocomunialista oferece melhores fundamentos bíblicos, históricos e
teológicos para o debate em torno dos sacramentos, especialmente dentro da
tradição cristã reformada.

1. A Pedocomunhão na história da Igreja cristã

A doutrina pedocomunialista é uma prática muito antiga e tem o seu lugar de


respeito na história da Igreja. Mesmo os credocomunialistas, que são os defensores
da não admissão de crianças à Ceia do Senhor, reconhecem que os filhos dos
crentes eram bem-vindos na Eucaristia pelo menos desde o terceiro século do
período pós-apostólico. O próprio reformador João Calvino, que se opõe
vigorosamente à pedocomunhão, registrou tal prática entre os Pais Cipriano e
Agostinho.2
As divergências começam a aparecer a partir do momento em que alguns
pedocomunialistas colocam a prática de receber as crianças à Ceia como o costume
original da igreja primitiva.3

1.1 – Na igreja antiga


É realmente uma tarefa difícil provar que a pedocomunhão era a prática
comum da igreja primitiva, especialmente porque não há registros dela antes de
Cipriano de Cartago, o qual teve seu ministério por volta de 250 d.C. Todavia, muitos
historiadores afirmam que os indícios existentes favorecem essa crença. Por


2
CALVINO, João. INSTITUTAS, IV. XVI.30, p. 337.
3
Entre eles encontram-se: PURCELL, Blake. The Testimony of the Ancient Church, p. 131−145. In:
STRAWBRIDGE, Gregg. The Case for Covenant Communion, Louisiana: Athanasius Press, 2006;
RYLAARSDAM, David. United, Separated, Re-united: The Story of Baptism and the Lord’s Supper”,
Grand Rapids: MI, Calvin Theological Seminary, 2007; LEE, Tommy. The history of
paedocommunion. Originalmente publicado pelo WTJ (Westminster Theological Journal). Agora está
em domínio público. Disponível em:
<http://www.reformed.org/social/index.html?mainframe=http://www.reformed.org/sacramentology/tl_pa
edo.html>; GALLANT, Tim. Feed My Lambs. Grande Prairie, Alberta: Pactum Reformanda
Publishing, 1992, p. 106−133.
1

exemplo, o erudito católico Patrick Morrisroe defende a tese de que nos primeiros
dias do cristianismo não era incomum para as crianças receber a Comunhão
imediatamente depois de terem sido batizados.”4
Contrário a essa tese, Venema e Beckwith, entre outros autores que rejeitam
a pedocomunhão, afirmam que a evidência decorrente do período mais antigo da
história da igreja não fornece nenhum testemunho uniforme a uma prática
generalizada de pedocomunhão.5 A base para sua hipótese estaria nas afirmações
de Justino Mártir (110-165 d.C.), Clemente de Alexandria (150-219 d.C.) e Orígenes
(185-253 d.C) que podem dar a entender a fé e maturidade de vida como elementos
necessários para participação da Eucaristia.
Estas são as palavras de Justino Mártir em sua Primeira Apologia:

Esta comida é chamada entre nós de Eucaristia, da qual ninguém é permitido


participar, senão o homem que acredita que as coisas que ensinamos são
verdadeiras, e aqueles que foram lavados com a lavagem que se dá pela
remissão dos pecados, e pela regeneração, e que vive como Cristo ordenou.6

Além de Justino, os credocomunialistas citam Clemente de Alexandria como


uma referência contra a historicidade primitiva da pedocomunhão, pois ele parece
descrever a prática da igreja de tal forma a restringir a Mesa do Senhor apenas aos
crentes ativos. Em seu texto O Instrutor, o qual oferece uma espécie de pequeno
catecismo dos elementos básicos da fé cristã, Clemente nota que os participantes
do sacramento o fazem pela fé.7
Ele teria afirmado que

A própria consciência é o melhor caminho para escolher com precisão ou omitir-


se [da Eucaristia]. E sua base firme é uma vida direita, com a instrução
adequada. […] ‘De modo que qualquer que comer o pão e beber o cálice do
Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor’”8

Orígenes é outro teólogo oriental citado como evidência contra a antiguidade


da pedocomunhão. Sobre essa matéria ele teria escrito:

4
MORRISROE, Patrick. “Communion of Children” In: The Catholic Encyclopedia. New York: The
Encyclopedia Press, 1908. Disponível em: <https://www.ccel.org/ccel/herbermann/cathen04.txt>
5
VENEMA, Cornelis. Children at The Lord’s Table? Grand Rapids: MI, Reformation Heritage Books,
2009, p.11-26; BECKWITH, Roger. The Age of Admission to the Lord’s Supper. Westminster
Theological Seminary Journal. 38/2. 1976, p. 126–27.
6
The Ante-Nicene Fathers, 1975, 1:185.
7
VENEMA, 2009, p. 11; ANF, 2:243.
8
ANF, 2:300.
1

Antes de chegar à disposição do pão celestial, e sermos preenchidos com a


carne do Cordeiro imaculado, antes de sermos inebriados com o sangue da
videira verdadeira, que surgiu a partir da raiz de Davi, enquanto isso somos
crianças e somos alimentados com leite, e retemos o discurso sobre os
primeiros princípios de Cristo, como filhos que agem sob a supervisão dos
despenseiros, ou seja, os anjos da guarda.9

Venema sugere que, embora o texto de Orígenes seja eivado de linguagem


metafórica, ele claramente fala sobre a Ceia do Senhor e o modo correto de
participar dela, o qual se dá pela maturidade na fé, não sendo uma criança que
ainda está sendo alimentada pelo leite espiritual.
Por outro lado, alguns autores tem alegado a fraqueza de tais argumentos
contra a antiga prática da pedocomunhão. De fato, a hipótese de Venema e
Beckwith é baseada em suas impressões pessoais dos textos citados dos Pais e
não em afirmações claras deles mesmos.
Leithart e Gallant sustentam que os escritos de Justino não são suficientes
claros contra a pedocomunhão, nem podem atestar a inexistência da prática na
Igreja antiga.10 No caso de Orígenes, eles sugerem que o autor estava contrastando
a velha com a nova aliança, não defendendo a credocomunhão. Sem dúvidas, é
uma tarefa hermenêutica corajosa tentar compreender a linguagem metafórica de
Orígenes e usá-lo como defesa contra a pedocomunhão.
Rylaarsdam argumenta que as antigas liturgias mostram que tanto o Batismo
quanto a Comunhão faziam parte das cerimônias que marcavam a entrada de uma
pessoa na igreja.11 Essas cerimônias incluíam o Batismo, a imposição de mãos
(mais tarde chamada de confirmação) e a participação imediata na Comunhão.
Desde o dia do seu Batismo, a Ceia do Senhor era parte da entrada de uma pessoa
na igreja. Assim, para a Igreja Primitiva, a idade não era uma coisa importante em
relação aos dois sacramentos. Excluir alguém da Ceia do Senhor seria excluí-la do
próprio corpo de Cristo e, portanto, do próprio Senhor.12


9
ORIGEN, Homilies on the Book of Judges, 6:2.
10
LEITHART, Peter. Daddy, Why I was excommunicated? Niceville, Fla.: Transfiguration Press,
1992, p. 38; GALLANT, Tim. Feed My Lambs. Grande Prairie, Alberta: Pactum Reformanda
Publishing, 1992, p. 112.
11
RYLAARSDAM, David. United, Separated, Re-united: The Story of Baptism and the Lord’s
Supper”, Grand Rapids: MI, Calvin Theological Seminary, 2007. Disponível em:
<https://www.ccel.org/node/20589>
12
RYLAARSDAM, 2007, p. 5.
1

Livre de qualquer dúvida, a prática da pedocomunhão aparece nos textos de


Cipriano. Em seu tratado “Os lapsos”, ele lida com cristãos que negaram a própria fé
durante a perseguição de Décio, no Império Romano. Na opinião do bispo, eles não
deveriam ser readmitidos na comunidade sem passar pela disciplina eclesiástica.
Cipriano faz clara alusão à comunhão que as crianças possuíam na Eucaristia:

E, para que nada faltasse à perfeição do crime, até as crianças, carregadas ou


trazidas pelas mãos dos pais, pequenas como eram, perderam aquilo que
tinham recebido nos primeiros momentos do nascimento. Não dirão estas
crianças, quando chegar o dia do julgamento: “nós nada fizemos, não deixando
a comida e a bebida do Senhor, nem nos aproximamos espontaneamente de
contágios pagãos”.13

Lee 14 afirma que na época de Cipriano a participação das crianças na


Eucaristia era inegavelmente um costume de toda a Igreja. Venema alega que essa
afirmação de Cipriano significa apenas que as crianças participavam da Eucaristia
na sua própria experiência como bispo da Igreja. 15 Ele faz referência a um
contemporâneo de Cipriano, autor da Didascalia Síria, o qual confirmaria a prática
que na Síria e Palestina estava acontecendo a mesma experiência de Orígenes, isto
é, que os crentes eram admitidos na Ceia do Senhor apenas após um período de
instrução na fé.

Honra os bispos, que vos libertaram dos vossos pecados, que pela água vos
regeneraram, que vos encheram do Espírito Santo, que vos criaram tendo a
palavra como com leite, que vos formaram com doutrina, que vos confirmaram
com admoestação e vos fizeram participar da santa eucaristia de Deus, e vos fez
participantes e co-herdeiros da promessa de Deus.16

Venema defende que a referência ao autor da Didascalia representa que na


época de Cipriano o sacramento da Comunhão poderia estar restrito àqueles que
estavam devidamente preparados com alguma instrução na fé cristã, sendo Cipriano
uma exceção. Por outro lado, Rylaarsdam sustenta que as liturgias antigas mostram
que tanto o Batismo quanto a Comunhão eram parte das cerimônias que marcavam


13
CIPRIANO DE CARTAGO. Obras completas I, v. 35/1, São Paulo: Paulus, 9.
14
LEE, The history of paedocommunion, website acima.
15
VENEMA, 2009, p. 14-15.
16
CONNOLLY, R. H. (ed.) Didascalia apostolorum. Oxford: Clarendon Press, 1929, p. 4. Tradução
nossa.
1

a entrada de uma pessoa na Igreja, logo a exceção seria o contrário.17 Portanto, não
há referências claras no período mais antigo da história cristã proibindo as crianças
de participarem da Ceia, pelo contrário, bispos e liturgias antigas testemunham a
seu favor.

1.2 – Pedocomunhão em Agostinho


Já no quarto e quinto séculos a pedocomunhão tornou-se a prática comum da
Igreja cristã. Sem dúvidas, o personagem mais importante na defesa dessa prática
foi Agostinho, bispo de Hipona. Num sermão em que ele afirma que as crianças
nasceram e foram concebidas em pecado, também é dito que “elas são crianças,
mas recebem os sacramentos. Elas são crianças, mas compartilham desta Mesa, a
fim de receberem vida nelas mesmas.”18
É possível que Agostinho tivesse uma visão embrionária daquilo que mais
tarde, na Idade Média, ficou conhecida como a eficácia dos sacramentos, baseado
na expressão latina: ex opere operato (pela obra operada). Agostinho defendeu a
necessidade da ministração dos sacramentos para que as crianças pudessem
receber a vida de Cristo dentro delas mesmas, seja a regeneração pelo Batismo e a
vida de Cristo pela Eucaristia. Ele baseia este argumento em João 6.55-56:

“Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o
ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu
sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue
permanece em mim, e eu, nele.”

Para o bispo de Hipona as crianças batizadas nasciam de novo pelo Espírito


e posteriormente recebiam o alimento através da Comunhão da Ceia. Desta forma,
as crianças jamais poderiam ter a vida de Cristo habitando dentro delas à parte dos
sacramentos. Assim, qualquer um que fosse excluído do corpo e sangue do Senhor
Jesus, estaria excluído, na verdade, do próprio Salvador. Como ele mesmo
escreveu:

Se, portanto, como muitas testemunhas divinas concordam, nem a salvação


nem a vida eterna podem ser aneladas por qualquer homem sem o batismo e o


17
RYLAARSDAM, 2007, p. 5.
18
ROTELLE, John I. (ed.) Sermon 174.7 in The Works of St. Augustine. New Rochelle, N.Y.: New
City Press, 1992, 5:261.
1

corpo e sangue do Senhor, é em vão prometer tais bençãos às crianças sem


elas.19

Por causa disso, Agostinho defendeu que os infantes e deficientes mentais


eram os sujeitos ideais para os sacramentos, pois tornavam visíveis a impotência da
condição humana diante de Deus.20
No caso de Leão, bispo de Roma, respondendo a uma pergunta sobre a
necessidade do batismo de crianças capturadas pelos pagãos, depois de terem
nascido e alimentadas em um lar cristão, teria dito que “aqueles que lembram que
costumavam ir a igreja com seus pais podem lembrar se eles receberam o que
costumavam receber de seus pais”.21 Ainda que um tanto misteriosa, a resposta de
Leão pode implicar que tais crianças podiam se lembrar de como participavam da
Ceia na sua infância. Venema concorda que essa resposta atesta a prática de
pedocomunhão na Igreja Ocidental durante o quinto século.22
A influência de Agostinho, particularmente sua visão da necessidade dos
sacramentos para garantir a salvação, proveu ímpeto considerável à pratica de
pedocomunhão na igreja no século quarto e nos posteriores. De fato, se as crianças
nascem de novo através do batismo e, então são plenamente inseridas ao corpo
espiritual de Cristo, elas possuem a vida espiritual necessária para serem
alimentadas justamente na Eucaristia. Nesta perspectiva, não havia razão para os
pais excluírem seus filhos da participação neste sacramento.

1.3 – Pedocomunhão na Igreja Ortodoxa Oriental


Para a Igreja Oriental os três sacramentos de iniciação cristã estão
conectados — Batismo, Crisma (Confirmação) e Primeira Comunhão. Logo, crianças
ortodoxas não são apenas batizadas na infância, mas confirmadas na infância, e
recebem comunhão na infância, o que de acordo com eles, é a prática da primeira
igreja cristã.23
Por este prisma, os sacramentos são indispensáveis para transmitir a graça
do novo nascimento e vida de Cristo aos seus recepientes. Por isso, na liturgia da

19
AUGUSTINE, St. On Forgiveness of Sins and On the Baptism of Infants, chap. 34, NPNF, First
Series, 5:28.
20
RYLAARSDAM, 2007, p. 5
21
SCHAFF, Philip. Letter CLXVII, Q. 17. Grand Rapids: Eerdmans, 1976 (1890–1897), NPNF 12:112.
22
VENEMA, 2009, p. 16.
23
O corpo doutrinário da Igreja Ortodoxa em relação a esta matéria está disponível em:
<http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/igreja_ortodoxa/a_igreja_ortodoxa_fe_e_liturgia7>
1

Igreja Oriental o mistério do santo batismo é um rito que efetivamente concede novo
nascimento e vida aos seus destinatários, sejam adultos ou crianças. É no batismo
que a pessoa recebe qualificação para receber os demais sacramentos. Num só dia
o membro da igreja é batizado com a água, recebe o seu crisma ou confirmação
quando é ungido com óleo e, por último, se alimenta do corpo e sangue de Cristo na
Eucaristia por intinção, isto é, mergulhando o pão dentro do vinho.
De alguma forma, a prática ortodoxa de admitir crianças à comunhão
eucarística desde o quarto século dá apoio ao argumento de que pedocomunhão
teria a sanção da História da Igreja desde os seus primórdios.

1.4 – Pedocomunhão na Idade Média e Igreja Católica Romana


Existem evidências de que até o século XI a pedocomunhão era prática
adotada da Igreja católica romana. É aceito que no final do século XII tanto a
pedocomunhão como a participação de leigos na Ceia foram descontinuadas. Quais
teriam sido as razões para tais mudanças teológicas e litúrgicas?
De acordo com Kiedel, as crianças foram excluídas da Eucaristia
principalmente devido a doutrina da transubstanciação, isto é, os elementos pão e
vinho mudam sua substância tornando-se inteiramente o corpo real de Cristo. Assim,
com temor de que as crianças poderiam derrubar o pão ou vinho – e então profanar
o sacramento – parece ter sido a razão central para a descontinuidade da prática.24
Lee soma às razões acima que remover os leigos da Eucaristia aumentava a
dignidade do sacerdote num momento em que a Igreja Católica Romana estava
procurando uma individualidade própria após sua separação da Igreja Ortodoxa em
1054.25
Crawford cataloga algumas razões para o abandono da prática: 1. Higiênicos,
medo de contrair doenças; 2. Práticos, doutrina da transubstanciação; e 3.
Dogmáticos, devido a exigência de inteligência e fé para a recepção dos elementos.
Esse abandono foi ratificado no Quarto Concílio de Latrão, 1215, que aprovou os
dogmas da transubstanciação e a presença real de Cristo nos elementos


24
KIEDEL, C.L. "Is the Lord's Supper for Children?," Westminster Theological Journal XXXVII,
1975, p. 302.
25
LEE, Tommy, p. 13
1

sacramentais e determinou que a Eucaristia fosse ministrada quando chegada a


“idade da razão”, que girava em torno de 7 a 8 anos.26
Essas decisões conciliares tiveram um papel importante no desenvolvimento
da fé católica romana medieval. Ainda no século doze a distância entre os
sacramentos aumentou ainda mais, pois a prática da “Primeira Comunhão” era
ministrada aos sete e nove anos e o sacramento da confirmação mais perto da
adolescência.
Venema destaca que a diferença nesta forma de pensamento em relação à
Igreja Oriental se deu principalmente pela catequese e a importância da instrução
dos cristãos dentro da igreja. Portanto, cada vez mais na teologia católica romana se
consolidou o ensino de que para participar da Eucaristia era necessário preparação
intelectual adequada.
De acordo com Rylaarsdam, outros processos históricos na Idade Média do
ocidente contribuíram para um gradual intervalo entre os sacramentos do Batismo,
Confirmação e Ceia do Senhor.
Primeiro, a fim de preservar o poder na mão dos bispos, a Igreja Ocidental
insistiu na ideia de que apenas os bispos poderiam confirmar a fé dos crentes. Com
a expansão do cristianismo, a disponibilidade dos bispos para confirmar os bebês
batizados se tornou inviável. Em aldeias distantes, passavam-se vários anos até que
um bebê batizado tivesse acesso à confirmação. Este atraso na confirmação
resultou em um atraso na Primeira Comunhão da criança. 27
Em contraste com o Ocidente, a Igreja Oriental insistiu em manter a unidade
das cerimônias que marcaram a entrada de uma pessoa na igreja. Os presbíteros do
Oriente foram autorizados a confirmar o batismo imediatamente se um bispo não
estivesse disponível. Portanto, uma pessoa recém-batizada participaria também da
Comunhão.28
Em segundo lugar, ele defende que no século XIII a Igreja Ocidental formulou
a doutrina da transubstanciação, a qual afirma a mudança na substância do pão e
do vinho para o corpo e sangue reais de Jesus durante a Comunhão. Uma pergunta
alarmante surgiu: O que poderia acontecer se uma criança deixasse cair o
verdadeiro corpo de Cristo no chão ou deixasse sua baba no cálice do sangue real

26
CRAWFORD, Charles. Infant Communion: Past Tradition and Present Practice. Theological
Studies, vol. 31, v. 3, 1970, p. 523-36.
27
RYLAARSDAM, 2007, p. 6.
28
Ibidem.
1

de Cristo? O medo de que uma criança pudesse profanar os elementos consagrados


levou à relutância em dar Comunhão à crianças pequenas.29
Em terceiro lugar, na Idade Média, o cálice de Comunhão foi retido aos leigos.
Os adultos ficavam apenas com o pão e os infantes com absolutamente nada, bem
diferente da prática geral durante séculos na qual a comunhão dos bebês era feita
apenas com vinho para que não fossem sufocados pelo pão. No século XV, os
seguidores do mártir John Hus tentaram restaurar a taça aos leigos, em parte por
causa de crianças pequenas.30
Em quarto, a devoção dominante da Ceia do Senhor na Idade Média tardia
era penitencial. Era necessário que uma pessoa confessasse e fizesse penitência
para receber a Comunhão. Uma vez que crianças muito pequenas não tinham a
capacidade de confessar ou fazer penitência como crianças mais velhas ou adultos,
elas não eram dignas de participar na Comunhão.
E finalmente, a prática da confirmação precisava de uma teologia mais sólida.
Originalmente era a prática de levantar as mãos sobre o batizado, mas foi
gradualmente se separando do Batismo. Por isso, a prática feita independentemente
exigiu uma explicação. O melhor que os eruditos da Idade Média puderam fazer foi
dizer que a confirmação era um sacramento que aumentava a graça do batismo
para que uma pessoa pudesse dar testemunho da fé. Como as crianças não
precisavam testemunhar a sua fé, era razoável que elas não precisassem deste
sacramento até que estivessem mais velhas e prontas para conquistar seu lugar na
igreja. Parece que muitos pais não gostaram dessa teologia. Durante a Idade Média,
eles ficaram cada vez mais avessos com a conversa e não se prestaram a
convencer seus filhos. Os concílios responderam com ameaças de castigos severos:
os pais negligentes seriam excluídos da igreja e seus filhos não seriam permitidos
para a Ceia até que a confirmação tivesse lugar.
Após o Concílio Vaticano II, a Igreja Romana passou por mais algumas
reformas, mas nada substancial em relação ao que já havia prescrito. O ensino
católico continua testificando até o presente que no momento do Batismo dos filhos
dos fiéis acontece a limpeza do pecado original, o novo nascimento pelo Espírito de
Cristo, e o recebimento deles no corpo do Senhor. Após completarem a idade da
razão – a qual o concílio decidiu não definir ano certo – participa-se da Primeira

29
Ibidem.
30
Ibidem.
1

Comunhão. A ênfase atual da Igreja Católica certamente é a catequese e mais rigor


ainda é necessário para receber o sacramento da Confirmação. Como se lê no
Catecismo da Igreja Católica Romana (1992):

1318. No Oriente, este sacramento é administrado imediatamente a


seguir ao Baptismo e é seguido da participação na Eucaristia; esta
tradição põe em relevo a unidade dos três sacramentos da iniciação
cristã. Na Igreja latina, este sacramento é administrado quando se atinge
a idade da razão e ordinariamente a sua celebração é reservada ao bispo,
significando assim que este sacramento vem robustecer o vínculo
eclesial.31

Essa nota do catecismo não difere essencialmente daquilo que já tinha sido
estabelecido no Concílio de Trento em 1546. Por causa disso, Rushdoony comenta
o tamanho respeito revelado da Igreja Romana para com a prática pedocomunialista
da Igreja Oriental que, pelo menos em seus documentos oficiais, não registra
nenhuma linha de condenação a ela.32

1.5 – Pedocomunhão na Reforma Protestante


Bavinck escreveu que enquanto o Concílio de Trento condenou apenas a
necesidade de servir a Ceia às crianças, não a permissibilidade disso, as crianças
foram majoritariamente excluídas da Ceia do Senhor pelos reformados – exceção de
Musculos e alguns mais.33
Durante o período da Reforma no século XVI apenas as Igrejas Orientais,
Armênas e os Hussitas, discípulos do mártir John Huss na Boêmia que mais tarde
seriam conhecidos como Morávios, continuaram insistindo na doutrina da
pedocomunhão. Já os reformadores, a despeito de muitos pontos controversos em
relação aos sacramentos, seguiram predominantemente a prática dos católicos
romanos em não admitir infantes ou crianças pequenas na Ceia do Senhor. Os
luteranos defendiam admissão à Ceia apenas mediante confirmação e os
reformados calvinistas através da profissão de fé diante da igreja.34
Talvez o pensamento que modelou o entendimento reformado da época
tenha sido justamente o de Calvino. Para o eminente reformador, em primeiro lugar,

31
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 1318. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
32
RUSHDOONY, Rousas J. The Institutes of Biblical Law. The Craig Press, 1976, p. 849.
33
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 590.
34
VENEMA, 2009, p. 22.
1

é preciso notar uma diferença essencial entre Batismo e Ceia do Senhor. Segundo
ele, foi dada uma permissão na Igreja Antiga, especialmente por influência de
Cipriano e Agostinho, mas o costume caiu, merecidamente, em desuso.
Merecidamente em sua opinião porque o caráter singular do batismo é uma entrada
ou iniciação na igreja. Por outro lado, ele afirma que “a Ceia é dada às pessoas mais
velhas, que, tendo passado da infância, agora podem receber alimento sólido”.35
Calvino defendeu que, concernente ao Batismo, o Senhor não faz seleção de
idades, mas quanto a Ceia ele é categórico em afirmar que somente aqueles que
sejam idôneos para discernir o corpo e o sangue do Senhor, souberem examinar a
própria consciência, anunciar a morte do Senhor e ponderar sobre sua eficácia
podem ter parte à Mesa. O principal texto bíblico aludido é: “Examine-se, pois, o
homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice” (1Co 11.28). Como as
crianças não podem fazer esse autoexame estão proibidas de participarem do pão e
do vinho, com pena de serem julgadas se assim o fizerem. Como fica evidente na
pergunta retórica do reformador: “por que a nossos filhos ainda tenros ofereceremos
veneno em vez de alimento vivificante?”
Em resumo, o argumento de Calvino se apoia em quatro fundamentos:

1. Autoexame: crianças não tem a capacidade de examinar sua consciência a


partir do conceito de pecado;
2. Juízo: crianças não devem participar da Ceia para que não sejam julgadas
por comerem indignamente;
3. Memória: crianças ainda não tem a capacidade de lembrar daquilo que não
possuem entendimento maduro;
4. Páscoa: a celebração judaica não admitia a todos e quaisquer convivas
indiscriminadamente; antes, era corretamente comida por aqueles que, pela idade,
pudessem indagar-lhe a respeito do significado (Ex 12.26).

De acordo com Rylaarsdam, na época da Reforma, os católicos romanos


haviam estabelecido na maioria dos lugares um novo limiar para a Primeira
Comunhão: uma "idade de discrição", não mais o batismo era necessário para a
participação. Calvino não questionou essa suposição. Enquanto ele rejeitava a


35
INSTITUTAS, IV. XVI.30, p. 337.
1

confirmação como um sacramento (ele achava o próprio termo problemático, porque


"ao confirmar" o batismo fazia uma injustiça ao batismo), ele continuou a prática
romanista de confirmação na qual um indivíduo daria um relato público de sua fé
antes da Primeira Comunhão.36
À luz do impacto do grande reformador, a prática das Igrejas Reformadas
seguiu o padrão estabelecido por Calvino, porém com algumas dissidências. A
principal delas veio de Wolfgang Musculus (1497-1563), o qual Richard Muller
colocou ao lado de Calvino, Vermigli e Hyperius como um dos importantes
codificadores da segunda geração da fé reformada.37
Musculus discordou de Calvino e argumentou a favor da pedocomunhão a
partir da teologia do pacto. Na sua perspectiva, primeiro, os filhos estão incluídos na
aliança do Senhor e devem receber as bênçãos da aliança junto com seus pais.
Segundo, defendeu que os filhos dos crentes da antiga aliança eram admitidos e
participavam da Páscoa. Terceiro, discordou de Calvino que Deus pudesse aplicar
juízo à crianças sem a capacidade de autoexame que porventura participassem da
Ceia do Senhor. Por fim, defendeu que o autoexame estrito não é um critério último
para poder participar da Ceia, mas serve como um preventivo medicinal, não no
sentido de estar qualificado para faze-lo.38
Além de Musculus, um puritano conhecido por defender a prática da
pedocomunhão foi notadamente Jeremy Taylor (1613-1667) em seu livro “The
Worthy Communicant” (O Comungante Digno). Após um breve sumário da história
da pedocomunhão, Taylor aborda a questão pedocomunialista questionando a
contradição axiológica dos católicos romanos.39
Primeiro, a visão romanista é contraditória porque os infantes são definidos
por eles mesmos como capazes de receber a graça e benefícios da Eucaristia, já
que a eficácia do sacramento é inerente. Segundo, erram por aceitar as bases dos
Pais da Igreja, mas negarem a conclusão a que chegaram. Pelo fato de
interpretarem João 6.53 como uma manducatio sacramentalis (mastigação
sacramental) precisam admitir que sem o sacramento é impossível a salvação dos

36
RYLAARSDAM, 2007, p. 6.
37
MULLER, Richard A. Post-Reformation Reformed Dogmatics: The Rise and Development of
Reformed Orthodoxy, ca. 1520 to ca. 1725, v. 1, Grand Rapids: Baker, 2003, p. 31.
38
MUSCULUS, W. Loci communes theologiae sacrae. Basileia: Herugiana, 1567, p. 471-73. Artigo
de Wolfgang Musculus está disponível em:
<http://paedocommunion.com/articles/musculus_common_places.php>
39
TAYLOR, Jeremy. The Worthy Communicant. Ann Arbor, MI, Oxford (UK): Text Creation
Partnership, 2006 (1667), p. 150-156
1

infantes, logo, entram em contradição ao aceitar a premissa e negar sua direta


implicação.
Terceiro, Taylor defende que não há nada na Escritura que proíba admitir
crianças à Ceia do Senhor. Refletindo sobre 1 Coríntios 11, ele afirma que embora o
apóstolo ordene o autoexame e depois o comer e beber, esta lógica não é
necessária em si mesma, mas por causa de pecados específicos introduzidos na
comunidade de Corinto. Taylor usa a mesma lógica em relação ao Batismo e Ceia, a
saber, que como arrependimento e fé são requisitos para o Batismo e mesmo assim
as crianças tem direito a recebe-lo, de igual forma, sem exame, as crianças podem
participar da Ceia do Senhor.
Quarto, ele afirma que embora não haja proibição, tão pouco um
mandamento claro. Quinto, devido a complexidade da matéria, ele argumenta que a
questão deveria ter caráter indeterminado, isto é, está nas mãos da Igreja o dar ou
tirar; em tudo aquilo que Cristo não ofereceu Lei a igreja tem a liberdade para fazer o
que é mais apropriado para a glória de Deus e edificação do seu povo.
Diante de toda a história aqui apresentada é mister reconhecer três coisas. A
primeira é que a pedocomunhão nunca foi um assunto no qual teólogos se
debruçaram com atenção exaustiva, o que há muitas vezes são comentários
menores dentro de temas maiores – vide como as Teologias Sistemáticas abordam
o assunto, quando o abordam. Em segundo lugar, pelos registros históricos a
pedocomunhão teve proeminência nos doze primeiros séculos da história da Igreja e
nunca houve tempo em que ela caiu em total desuso. Em terceiro lugar, a
Credocomunhão não era unanimidade no período da reforma e pós-reforma, embora
claramente tivesse sido a posição majoritária.

1.6 – A pedocomunhão nos dias atuais


A pedocomunhão ainda não é aceita entre as maiores denominações
reformadas e protestantes do mundo. Contudo, um número acentuado de dentre
eles tem se mostrado simpáticos à prática de oferecer a Ceia do Senhor aos
membros batizados não professos. Por causa disso, várias denominações
protestantes ao redor do mundo passaram a discutir o assunto em nível de
Assembleia Geral.
1

Entre 1986 e 1988 a PCA (Presbyterian Church of America) discutiu a


questão e, de forma não unânime, decidiu continuar apenas com a Credocomunhão,
isto é, a ministração da Ceia unicamente para aqueles que podem professar a fé e
autoexaminarem-se.40
Em 1987 a OPC (Orthodox Presbyterian Church) iniciou o mesmo debate, e
embora tenha chegado ao mesmo veredicto que a PCA em 1988 em oposição à
pedocomunhão, não teve uma maioria tão expressiva, pois a própria comissão
escolhida pela denominação que tratava da pedocomunhão era majoritariamente a
favor da aceitação das crianças na Ceia. Isso mostra como teólogos reformados
estão divididos sobre o assunto. Em razão disso, dois documentos minoritários
reagiram contra a pedocomunhão, um escrito por Coppes e outro por Lillback.41
O desfecho da história foi que nenhum dos três documentos (um majoritário e
dois minoritários) foi aceito como posicionamento oficial da denominação, senão um
documento que reafirmou o que já se tinha, que o requisito das Escrituras e dos
padrões de fé para uma participação significativa na Ceia do Senhor não é idade,
mas uma fé que confessa, discerne, lembra, e proclama o corpo de Cristo enquanto
participa. Assim sendo, a pedocomunhão – embora tenha muitos adeptos na OPC –
ainda não é a posição da maioria de seus pastores.
A CRCNA (Christian Reformed Church of North America) também abriu em
1986 uma discussão sobre a validade da pedocomunhão. Após duas décadas de
debate, em 2006, a denominação aprovou a decisão de admitir à Ceia do Senhor
todos os membros batizados baseado na sua plena membresia na comunidade
pactual. Em junho de 2011 a CRCNA mudou o seu livro de Ordem alterando todos
os artigos que continham restrição à participação da Ceia apenas para os membros
confessantes para todos os membros batizados, sejam confessantes ou não.
Portanto, nesta denominação reformada não há mais aquela divisão entre membros
comungantes e não comungantes.42
Ainda nos Estados Unidos, a Reformed Church in America (RCA), Evangelical
Lutheran Church in America (ELCA), Convocation of Anglicans in North America


40
Disponível em: <http://pcahistory.org/pca/2-498.pdf>
41
Disponível em: <https://www.opc.org/GA/paedocommunion.html>
42
Disponível em: <https://www.crcna.org/ministries/initiatives/faith-formation-committee/lords-supper-
resources>
1

(CANA)43, a CREC44 (Communion of Reformed Evangelical Churches), a FORC


(Federation of Reformed Churches) são denominações que praticam a
45
pedocomunhão. A REC (Reformed Episcopal Church) decidiu que a
pedocomunhão depende de cada igreja local, seguindo os mesmos passos da
PCUSA (Presbyterian Church of United States of America), a principal denominação
presbiteriana dos Estados Unidos, que apenas permitiu a prática.46
É importante mencionar que dentro de algumas das denominações que
admitem os infantes à Ceia do Senhor existe um movimento teológico chamado
Visão Federal que tem atraído muitos teólogos reformados, especialmente Randy
Booth, Tim Gallant, Mark Horne, James B. Jordan, Peter Leithart, Rich Lusk e Ralph
A. Smith. Nenhuma análise será feita sobre esse movimento nesse artigo, pois o
assunto merece um tratado à parte.
Algumas igrejas reformadas na Europa e Oceania também se abriram para a
prática da pedocomunhão. É o caso da GKN, (Gereformeerde Kerken in Nederland)
Igrejas Reformadas na Holanda e a Christian Reformed Churches of Australia
(CRCA).
No Brasil, das denominações históricas, adotaram a prática da inclusão das
crianças na Ceia do Senhor a Igreja Metodista do Brasil (IMB)47, a Igreja Evangélica
da Confissão Luterana do Brasil (IECLB) em 200248, Igreja Presbiteriana Unida
(IPU) e a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB), esta última decidiu em
Assembleia Geral “estender o convite ao Sacramento da Ceia do Senhor a todos os
membros não professos”, conforme o Documento Ordenações Litúrgicas de 2008.49
De acordo com o documento oficial da IPIB, a mesma tendência tem ocorrido
entre outras Igrejas Reformadas de fala hispânica:


43
Alguns artigos que endossam a opinião pedocomunialista entre os anglicanos: MASON, Matthew,
M. Covenant Children and Covenant Meals: Biblical Evidence for Infant Communion. The
Churchman, v. 121, 2007, p. 127-138; DAVIES, Glenn N. The Lord’s Supper for the Lord’s
Children. Reformed Theological Review, v. 50, 1991, p. 12-20; WARD, Alan. Communion Before
Confirmation: A Response to Admiting Children to Holy Communion. The Churchman v.114, 2000, p.
295-99; HOLETON, David R. Communion of All the Baptized and Anglican Tradition. Anglican
Theological Review, v. 69, 1987, p.13-28. Há também o livro de WRIGHT, N. T. The Meal Jesus
Gave Us: Understanding Holy Communion. London: SPCK Publishing, 2014.
44
Disponível em: <http://www.crechurches.org/documents/>
45
Disponível em: <http://www.federationorc.org>
46
Disponível em: <http://www.recus.org>
47
Disponível em: <http://www.metodista.org.br/ceia-do-senhor>
48
Disponível em: <http://www.luteranos.com.br/conteudo_organizacao/presidencia/ceia-do-senhor-
com-criancas>
49
Disponível em: <http://www.ipib.org/downloads/category/37-3-textos-confessionais-ordenacoes>
1

a) Igreja Evangélica Valdense do Rio da Prata - Uruguai e Argentina. As


crianças participam da Santa Ceia, mas cada comunidade tem liberdade para
ministrar ou não;
b) Igreja Evangélica Dominicana - As igrejas têm liberdade para ministrar a
Santa Ceia às crianças;
c) Igreja Presbiteriana da Colômbia - As crianças participam da Santa Ceia;
d) Igreja Evangélica Presbiteriana Costa-ricense - As crianças participam da
Santa Ceia, mas têm de vir acompanhadas de um adulto;
e) Igreja Nacional Presbiteriana do México - Há autorização para a
participação das crianças na Santa Ceia, mas a prática quase que não existe;
f) Igreja Evangélica Nacional Presbiteriana da Guatemala - As crianças
participam da Santa Ceia;
g) Igreja Cristã Reformada de Honduras - As crianças participam da Santa
Ceia;
h) Igreja Morava da Nicarágua - As crianças participam da Santa Ceia;
i) Igreja Reformada Calvinista em El Salvador - As crianças participam da
Santa Ceia;
j) Igreja Reformada da Argentina - As crianças participam da Santa Ceia;
k) Sínodo Presbiteriano Boriquem de Porto Rico - As crianças participam da
Santa Ceia;
Na Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) o assunto ainda não recebeu
tratamento oficial e definitivo pelo Supremo Concílio, mas já existe proposta de
presbitérios para que o assunto seja amplamente debatido.
Tendo em vista a rica história da pedocomunhão, o grande número de
denominações cristãs abraçando a prática e a relevância do tema para a Igreja
Reformada atual, será feito agora um estudo dos principais argumentos contra essa
prática, depois um levantamento das razões favoráveis e finalmente uma avaliação
das duas propostas.

2 – Argumentos contrários à pedocomunhão

É de suma importância analisar os argumentos típicos que são levantados


contra a prática da pedocomunhão, especialmente porque são aceitos pela maioria
1

dos teólogos reformados da atualidade. Quatro argumentos principais são


levantados, a saber, a rejeição da pedocomunhão pelas Confissões reformadas, a
descontinuidade entre a Páscoa e Ceia do Senhor no Antigo Testamento, a natureza
sacramental diferente entre Batismo e Ceia e as exigências de fé e autoexame para
participação na Mesa de Cristo com base em 1 Coríntios 11.17-34.

2.1 – Os símbolos de fé reformados rejeitam a pedocomunhão


É muito comum ouvir como argumento contrário à pedocomunhão que tal
prática é rejeitada pelo ensino da maioria dos reformadores, incluindo confissões e
catecismos históricos. Portanto, a fim de atestar ou não a veracidade desse
argumento serão analisadas as principais confissões de fé reformadas produzidas
nos séculos XVI e XVII.
O sumário deste pensamento é muito bem descrito por Venema. Segundo
ele, as confissões clássicas das Igrejas Reformadas, as quais foram escritas durante
o período da Reforma nos séculos dezesseis e dezessete, contém evidência
suficiente para provar que os reformadores criam que a Ceia do Senhor deveria ser
administrada apenas para crentes professos.
Nessa linha de raciocínio, os reformadores afirmaram que os filhos dos
crentes, junto com seus pais, são recipientes da promessa do evangelho e devem
receber o sacramento do Batismo, o qual é sinal e selo da sua incorporação em
Cristo e na membresia da comunidade da aliança da igreja. Entretanto, eles também
insistiram que antes de qualquer criança receber a Ceia do Senhor seria necessária
a devida instrução na fé cristã, a fim de serem preparadas para receber
adequadamente o corpo e o sangue de Cristo no sacramento.50
Nesta perspectiva, defender a pedocomunhão não apenas toca na questão
de quem são os recipientes da Ceia do Senhor, mas também nas questões mais
básicas da natureza dos sacramentos e nas exigências que estão sobre aqueles que
os recebem. Em outras palavras, para os credocomunialistas, o grande perigo da
pedocomunhão não é o de recepcionar crianças à Ceia, mas de perder a substância
teológica no que diz respeito à natureza própria dos sacramentos.
As confissões e catecismos reformados – com a exceção do CMW – não
tratam especificamente da exclusão das crianças na participação do sacramento


50
VENEMA, 2009, p. 28.
1

eucarístico. A posição das confissões sobre essa matéria pode ser entendida
apenas dentro de uma estrutura mais ampla da doutrina dos sacramentos em geral.
Nota-se que as confissões insistem na publicação da fé, autoexame, recordação e
ações de graças ao falarem da Ceia. Na Confissão Belga, por exemplo, a exclusão é
implícita:

Finalmente, recebemos na congregação do povo de Deus este santo


sacramento com humildade e reverência. Assim comemoramos juntos, com
ações de graça, a morte de Cristo, nosso Salvador, e fazemos confissão da
nossa fé e da religião cristã. Por isto, ninguém deve participar da ceia antes de
ter-se examinado a si mesmo, da maneira certa, para, enquanto comer e beber,
não comer e beber juízo para si (l Coríntios 11.28,29). Em resumo, somos
movidos, pelo uso deste santo sacramento, a um ardente amor para com Deus e
nosso próximo.51

A arguição dos credocomunialistas, baseados do texto da supracitada


confissão, é o de que a Ceia exige uma participação eminentemente ativa e não
passiva, caso as crianças pudessem faze-lo. O mesmo princípio é articulado
também no Catecismo de Heidelberg, Pergunta 81: “Quem deve vir a santa ceia?”
temos a seguinte resposta:

Aqueles que se aborrecem de si mesmos por causa dos seus pecados, mas
confiam que estes lhes foram perdoados por amor de Cristo e que, também, as
demais fraquezas são cobertas por seu sofrimento e sua morte; e que desejam,
cada vez mais, fortalecer a fé e corrigir-se na vida. Mas os pecadores
impenitentes e os hipócritas comem e bebem para sua própria condenação.52

Embora não esteja clara a proibição no texto do catecismo, o próprio autor,


Zacharias Ursinos, comentando sobre o tópico acima, diz que as crianças não são
capazes de vir até a Mesa do Senhor porque não possuem ainda uma fé ativa, mas
apenas potencial e inclinada – pelos pais. Portanto, ele se mostra favorável de que
todos os infantes deveriam ser impedidos de comungar devido a sua incapacidade
de professar a fé e examinarem-se a si mesmos.53
Venema destaca a partir do ensino de Ursinos que a participação da Ceia
exige três coisas: 1. Consciência que o crente deve ter de seu pecado; 2.
Entendimento da obra de Cristo que perdoa pecados; 3. A obra do Espírito que leva

51
CONFISSÃO BELGA. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, Artigo 35.
52
CATECISMO DE HEIDELBERG. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, Pergunta 81.
53
URSINOS, Zacharias. Commentary on the Heidelberg Catechism, trad. G. W. Williard. Grand
Rapids: Eerdmans, 1954, p. 366-67.
1

o crente a viver em gratidão a Deus. Esse entendimento da natureza credal da


Santa Ceia é reafirmada pela Confissão de Fé de Westminster:

Os que comungam dignamente, participando exteriormente dos elementos


visíveis deste sacramento, também recebem intimamente, pela fé, a Cristo
Crucificado e todos os benefícios da sua morte, e nele se alimentam, não carnal
ou corporalmente, mas real, verdadeira e espiritualmente, não estando o corpo e
o sangue de Cristo, corporal ou carnalmente nos elementos pão e vinho, nem
com eles ou sob eles, mas espiritual e realmente presentes à fé dos crentes
nessa ordenança, como estão os próprios elementos aos seus sentidos
corporais.54

Como em sua natureza a Ceia do Senhor é um sacramento de nutrição da fé,


e não pode ter eficácia sem fé, torna-se impossível admitir crianças ainda não
conscientes da mesma. Contudo, a declaração mais específica confessionalmente
falando a respeito da exclusão de crianças da Ceia está no Catecismo Maior de
Westminster, Pergunta 177: Em que diferem os sacramentos do Batismo e Ceia do
Senhor?

Os sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor diferem em dever o Batismo


ser administrado uma vez só com água, para ser sinal e selo da nossa
regeneração e união com Cristo, e administrado também às crianças; ao passo
que a Ceia do Senhor deve ser celebrada frequentemente, com os elementos de
pão e vinho, para representar e dar Cristo, como o alimento espiritual para a
alma; e para confirmar a nossa continuação e crescimento nele e isso somente
aqueles que têm a idade e aptidão para se examinarem a si mesmos.55

A última frase deixa claro que a maior razão confessional das Igrejas
Reformadas para não admitir crianças a Ceia do Senhor está na sua idade e
inaptidão cognitiva de autoexame. Depois de todo este trajeto em busca da posição
confessional reformada, fica exposto que as crianças filhas de crentes professos,
ainda que sejam batizadas e membros legítimos da família da fé, devem sim serem
excluídas do sacramento.56


54
A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. In: Símbolos de Fé de Westminster. São Paulo:
Cultura Cristã, 2014, XXIX. VII.
55
O CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, Pergunta 177.
56
VENEMA, 2009, p. 36.
1

2.2 – Não há continuidade de promessa e cumprimento entre Páscoa e


Ceia do Senhor
Derek Thomas, em seu artigo “Not a Particle of Sound Brain” (Nenhuma
partícula de cérebro sadio), em referência direta a opinião de Calvino a respeito da
pedocomunhão, põe a questão entre Páscoa e Ceia do Senhor da seguinte maneira:
“Enquanto os credocomunicantes argumentam que as crianças não participavam da
Páscoa, os defensores da pedocomunhão argumentam que o faziam.”57 Um dos
propósitos de seu artigo é defender a tese de que apenas crianças com algum grau
de consciência espiritual participavam da Páscoa.
Para ele está incorreto o entendimento que a Ceia do Senhor é uma
continuação ou atualização da Páscoa, no entanto, à luz das evidências de como a
Páscoa era celebrada, nos dois rituais os infantes eram excluídos. Discorrendo
sobre a relação entre circuncisão e páscoa ele afirma que “sob ambas as
administrações, um sacramento funcionava como iniciador (com os bebês em
mente) e outro como confirmatório (com os crentes professantes na mente).” 58
Estelle, no seu artigo Passover and Lord’s Supper (Páscoa e Ceia do
Senhor), discute a continuidade ou descontinuidade entre os dois ritos. Para ele,
muitas vezes a Páscoa e a Ceia do Senhor são conectadas sem a devida
qualificação e esclarecimento. O artigo tem como objetivo investigar qual é a relação
entre a refeição pascal judaica e a Ceia do Senhor de acordo com o registro
bíblico.59
Estelle argumenta que a Ceia do Senhor foi celebrada na ocasião da refeição
pascal, mas a ocasião em si não deveria ser interpretada como o cumprimento do
culto pascal. Tal noção não explica adequadamente a relação entre os dois. Pelo
contrário, em sua opinião, a Ceia do Senhor não deve ser identificada com a
refeição da Páscoa. 60 Ele rejeita totalmente o título que James Jordan dá a Ceia
como “a grande Páscoa da Igreja”. 61


57
THOMAS, Derek. Not a Particle of Sound Brain. In: WATERS, Guy; DUNCAN, Ligon. Children and
the Lord’s Supper. Geanies House: Christian Focus Publications, 2011, p. 100.
58
Ibidem.
59
ESTELLE, Bryan. Passover and Lord’s Supper. In: WATERS, Guy; DUNCAN, Ligon. Children and
the Lord’s Supper. Geanies House: Christian Focus Publications, 2011, p. 33
60
ESTELLE, 2011, p. 32
61
JORDAN, James. Children and the Religious Meals of the Old Creation. In: STRAWBRIDGE, G.
(ed.) The Case for Covenant Communion. Louisiana: Athanasius Press, 2006, p. 67.
1

Em sua análise, não é negado paralelos entre os dois ritos, porém,


problematizado a novidade da Ceia do Senhor em contraste com a Páscoa,
especialmente evidente nas palavras de instituição que foram ditas por Jesus na
ocasião da Páscoa. Ele defende a descontinuidade entre os dois ritos da seguinte
forma: “longe de meramente cumprir a refeição da Páscoa, realmente a Ceia cumpre
todo o sistema sacrifical veterotestamentário. Jesus cumpre todos os rituais de
sacrifício, não apenas a Páscoa.” 62
Estelle tenta reconstruir uma espécie de liturgia que era usada nos cultos
pascais da época de Jesus:
1. A primeira taça de vinho era misturada com especiarias e água e o cabeça
do Séder recitava uma bênção sobre o vinho.
2. Pão sem fermento, alface, haroseth (frutas finamente moídas, nozes e
especiarias misturadas com vinho e vinagre – possivelmente para mitigar a
amargura de outros elementos), e o próprio cordeiro assado (durante os dias do
templo de Jerusalém) eram trazidos à mesa.
3. Uma segunda taça de vinho era misturada (mas não ainda bebida) e
naquele tempo o filho perguntava a seu pai certas questões sobre o significado da
noite e da refeição.
4. Então o pai instruía a criança de acordo com a hagadá da Páscoa (em
aramaico), cujo núcleo era baseado em Deuteronômio 26.
5. Salmos 113 e possivelmente 114 (o início do chamado Hallel) eram
recitados em hebraico, dependendo de qual tradição rabínica se seguia.
6. A refeição era, então, comida.
7. A terceira taça de vinho era misturada e a graça recitada.
8. A quarta taça de vinho era misturada e o restante do Hallel (Salmos 114-
118) era recitado.
9. Os participantes não podiam partir para a folia (afikoman) após a refeição.
O Talmud (Pesahim 109a, b) reinterpretou este afikoman mais tarde para ser um
pedaço de pão ázimo que era mantido para o fim da refeição principalmente para o


62
ESTELLE, 2011, p. 33.
1

bem das crianças e servido como um estímulo para manter as crianças atentas
durante o longo ritual.63
Toda essa reconstrução tem como finalidade defender a ideia que “a maioria
dos ingredientes essenciais do culto de Páscoa da época de Jesus estavam
visivelmente ausentes da Última Ceia”.64
Ainda destacando as diferenças entre os dois ritos, Estelle afirma que há algo
significativamente novo na Ceia. Com base nos estudos de Herman Ridderbos, ele
assinala que a refeição com a qual Jesus participa com seus discípulos assume um
caráter prefigurativo. A relação entre a Eucaristia e comer e beber no próximo reino
de Deus não é meramente entre símbolo e realidade, mas entre o começo e o
cumprimento. Em outras palavras, quando Cristo institui a ordenança da Ceia, ele
estava fazendo algo novo e radicalmente diferente em relação à Páscoa. 65 Ele
salienta que existem dois motivos dominantes associados à instituição da Ceia do
Senhor, o motivo escatológico, a vinda do Reino e o futuro, e o da morte expiatória
de Cristo.66
Desta forma, a grande diferença entre os dois ritos está na novidade inerente
à Ceia do Senhor, pois é um evento escatológico de inauguração da vinda do Reino
que teve como clímax a morte expiatória de Jesus. A Páscoa serve como pano de
fundo, e pode-se até mesmo dizer o fundamento para a Ceia do Senhor, entretanto,
não é o foco principal.67 Estelle ainda salienta as implicações desta teoria para o
batismo. De acordo com ele, o batismo não substitui a circuncisão, mas é o próprio
Cristo que substitui a circuncisão e, então, inaugura um novo sacramento68.
De forma geral, o argumento de Estelle e dos defensores da Credocomunhão
é o de que a Ceia, que ao invés de ser uma continuação ou atualização da Páscoa,
é um cumprimento total do sistema sacrificial do Antigo Testamento, especialmente
de Êxodo 24, “o Dia da expiação”. Como o próprio autor pontua:


63
O autor utilizou como fonte duas obras: HARNIK-FEELEY, Gillian. The Lord’s Table: Eucharist and
Passover in Early Christianity. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1981, p. 121-27;
JEREMIAS, Joachim. The Eucharistic Words of Jesus, SCM Press, 1966, p. 86.
64
ESTELLE, 2011, p. 37.
65
Ibid, p. 42
66
Ibid, p. 44.
67
Ibid, p. 46.
68
De acordo com Peter Leithart este argumento anularia a relação entre batismo e circuncisão e,
consequentemente, colocaria um ponto final nas doutrinas do pedobatismo e pedocomunhão. Cf.
LEITHART, Peter. Priesthood of the Plebs: A Theology of Baptism. Eugene, OR: Wipf & Stock,
2003, p. 142-54.
1

“as palavras da instituição da Ceia apresentam a morte expiatória de Jesus num


horizonte muito mais amplo e profundo: a morte expiatória de Jesus deve ser
vista como o cumprimento inteiro do sistema sacrificial do Antigo Testamento,
não apenas a Páscoa”.

Nas palavras de instituição da Ceia, Jesus estaria se referindo mais à Êxodo


24.6-8 que à festa da Páscoa. Para ele, Jesus não conecta pão com a carne, nem o
vinho se relaciona diretamente ao sangue do cordeiro pascal, mas o pão é oferecido
como uma oferta de sacrifício e o sangue é derramado para aspersão como em
Êxodo 24.69
Ele não nega o fato de que o Novo Testamento coloca Jesus como o
verdadeiro cordeiro pascal (1 Co 5.7; Jo 1.29, 36; 19.36; 1 Pd 1.19; Ap 5.6; 12.11),
mas que nas palavras de instituição da Ceia do Senhor a Páscoa não é o centro,
senão a morte expiatória de Jesus, como sinal da aliança renovada com Deus.70
Ele rejeita totalmente a lógica de Leithart, o qual afirmou que o Antigo
Testamento é uma tipologia não apenas para Jesus, mas para o Cristo inteiro, Cristo
e Igreja, tanto cabeça quanto corpo. Da mesma forma que a circuncisão aponta não
apenas para o “corte da carne de Jesus” na cruz, mas para o rito do Batismo;
consequentemente, a Páscoa aponta não apenas para a cruz, mas também para a
Ceia do Senhor.71
Em resposta à Leithart, ele afirma que a Páscoa era uma refeição de
comunhão da aliança, da mesma forma também é a Ceia do Senhor, mas não se
pode determinar o nível de idade dos participantes da mesma dentro do quadro da
exegese simplista que Leithart faz.72
Duguid, no seu artigo Christ our Passover (Cristo nossa Páscoa), comenta
que a conexão entre a Ceia do Senhor e a Páscoa é óbvia: ambas são refeições em
que a comunidade da aliança se reúne para celebrar sua libertação através de uma
intervenção milagrosa de Deus em seu favor. No entanto, há também diferenças
entre eles: Páscoa foi um evento anual, em que a característica central foi a


69
ESTELLE, 2011, p. 46. Este autor segue ipis literis a argumentação de RIDDERBOS, Herman em
A Vinda do Reino. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 304-305.
70
Ibid, p. 47.
71
LEITHART, Peter. Sacramental Hermeneutics and the Ceremonies of Israel. In: STRAWBRIDGE,
G. (ed.) The Case for Covenant Communion, p. 111. p. 112-113, 117.
72
ESTELLE, 2011, p. 57.
1

matança de um cordeiro, enquanto a Ceia do Senhor é geralmente comemorado


com mais frequência e envolve o uso de pão e vinho. 73
Ele segue a linha de Coppes, o qual destaca as significativas diferenças entre
Páscoa e Ceia do Senhor, que também o levou a concluir que a Páscoa é apenas
uma entre muitos ritos antecedentes à Ceia, não o rito principal.74
Ele pontua três questões sobre a relação entre Páscoa e Ceia. Em primeiro,
salienta com os demais autores que há uma diferença fundamental entre os dois
ritos, pois um envolve a figura do cordeiro enquanto o outro a imagem do pão.
Assim, a Ceia é mais abrangente que a Páscoa e não apenas sua atualização, mas
o cumprimento total do sistema sacrificial do Antigo Testamento.
Em segundo lugar, ele pontua a questão da frequência. A Páscoa era
celebrada apenas uma vez ao ano enquanto a Ceia do Senhor deveria ser oficiada
com frequência.
Em terceiro lugar, ele destaca a questão de quem pode participar. Na sua
opinião, há uma série de aspectos da correspondência entre a refeição da Páscoa e
da Ceia do Senhor que não apoiam a inclusão de bebês e crianças jovens à mesa.
Segundo Duguid, a Páscoa era diferente da circuncisão porque era um rito que
envolvia compreensão e palavra.
Na refeição da Páscoa as crianças deveriam perguntar: "O que significa esta
refeição?" (Êx 12:26), e depois receber uma resposta que eles poderiam
presumivelmente compreender. Há, portanto, uma clara expectativa de uma
capacidade de fazer perguntas e entender respostas.75
Para ele, a mesma coisa com intensidade maior acontece na nova aliança,
pois de acordo com 1 Coríntios 11, a Ceia do Senhor exige o elemento adicional de
“discernir o corpo”. Em outras palavras, algum nível de fé e compreensão é
requerido para que a Ceia do Senhor opere efetivamente nos corações dos
crentes.76
Desta maneira, os credocomunialistas concordam que as diferenças entre
Páscoa e Ceia do Senhor são suficientes para negar uma continuidade ou


73
DUGUID, Iain. Christ our Passover. In: WATERS, Guy; DUNCAN, Ligon. Children and the Lord’s
Supper. Geanies House: Christian Focus Publications, 2011, p. 59.
74
COPPES, Leonard. Daddy, May I Take Communion? Paedocommunion vs. the Bible, 1988.
75
DUGUID, 2011, p. 72.
76
Ibid, p. 73.
1

cumprimento completo entre os dois ritos e salientam sempre que o elemento credal
é indispensável.

2.3 – A Ceia do Senhor possui uma natureza sacramental diferente do


Batismo
Outro argumento contrário à pedocomunhão está baseado na diferença das
naturezas de cada sacramento. Thomas, por exemplo, afirma que há uma
inconsistência em argumentar que: “se as crianças participam do batismo, por que
não poderiam participar da Ceia do Senhor?” O equívoco se dá pelo não
entendimento da natureza dos dois sacramentos, isto é, que a fé é requerida do
participante da Ceia, mas não Batismo. Em outras palavras, o batismo seria de
natureza não credal e a Ceia o inverso.77
Bavinck é um dos grandes expoentes da comunhão estrita para os crentes
professos. Pode-se dizer que a sua linha de raciocínio está baseada na diferença de
natureza dos dois sacramentos.
Em primeiro lugar, ele sustenta que o Batismo seria um sacramento de uma
natureza mais passiva, enquanto que a Ceia é de natureza eminentemente ativa. O
primeiro seria o sacramento de iniciação e entrada na família de Deus e o segundo o
sacramento de maturação da fé. Enquanto um sacramento de regeneração, o
batismo simboliza um rito no qual o ser humano é passivo, já na Ceia do Senhor, o
sacramento da maturação da comunhão com Cristo, é pressuposto a própria
formação da vida espiritual, conduta consciente e ativa por parte de quem a
recebe.78
Em segundo lugar, ele argumenta que a recusa das crianças à Ceia do
Senhor não representa nenhum tipo de reducionismo na teologia do pacto, pois não
as priva de nenhum benefício da aliança da graça. Segundo ele, isso aconteceria se
elas fossem excluídas do Batismo, mas as coisas são diferentes com a Ceia do
Senhor.
Os ministros que recusam oferecer o sacramento da maturação para as
crianças estão apenas negando a elas um modo específico no qual os mesmos
benefícios são sinalizados e selados, pois este modo não é adequado ainda à sua


77
THOMAS, 2011, p. 101.
78
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 590.
1

idade. Ele afirma categoricamente que a Ceia do Senhor não concede sequer um
benefício que já não esteja presente pela fé na Palavra e no Batismo.
Assim, para ele o ideal seria que os filhos dos crentes fossem batizados como
crentes e depois instruídos na verdade. Então, depois de suficiente instrução e de
uma pública profissão de fé, admitidos à Ceia do Senhor ou, no caso de opiniões
não cristãs ou conduta irregular, fossem após repetidas admoestações, afastados da
Igreja.79
Em terceiro lugar, defende que Paulo não deixa outra impressão em 1
Coríntios 11.26-29 senão que apenas adultos autoconscientes participavam da Ceia.
Para ele a exigência de autoexame é geral e dirigida a todos os participantes da
Ceia do Senhor e, portanto, automaticamente exclui as crianças. Não há muitos
detalhes a mais na sua interpretação da passagem.
Derek Thomas escreve que o padrão de consistência com respeito à
circuncisão e ao batismo com base na solidariedade familiar do pacto não é
suficiente como fundamento para a participação na Páscoa ou na Ceia do Senhor.
Novamente, tal incompatibilidade, baseia-se na necessidade de fé professante e
autoexame do corpo do Senhor. 80
Se são dois sacramentos diferentes, um iniciatório (batismo) o outro
confirmatório (Ceia), logo devem eles possuir exigências diferentes. Thomas salienta
que adotar a pedocomunhão sem a necessidade da fé ou confirmação da mesma
seria concordar com algum tipo de sacramentalismo – a noção de que o sacramento
tem poder em si mesmo: ex opere operato. E vai mais longe afirmando que a prática
pedocomunialista, no final das contas, produzirá uma igreja de não convertidos, pois
remove os próprios meios de assegurar a piedade de sua aliança - a prática de
autoexame e profissão de fé requerida antes de participar da Ceia.81

2.4 – 1 Coríntios 11.17-34 exige autoexame de todos os participantes da


Ceia do Senhor
Entre os credocomunialistas a parte mais importante e convincente de
evidências do Novo Testamento no que se refere à questão da pedocomunhão é


79
Ibid., p. 591.
80
THOMAS, 2011, p. 106.
81
Ibid, p. 117.
1

inegavelmente 1 Coríntios 11.17-34. 82 Nesta passagem, o apóstolo Paulo fala


extensamente sobre o sacramento da Ceia do Senhor, sua instituição por Cristo e a
maneira pela qual aqueles que participam sacramentalmente de Cristo devem vir à
mesa do Senhor. Não é exagero dizer que esta é a passagem mais extensa e
abrangente do Novo Testamento sobre a Ceia do Senhor.83
Venema defende que a Ceia do Senhor é um sacramento da nova aliança
que não tem seu cumprimento direto na antiga aliança (Páscoa), logo, o
ensinamento das Escrituras da nova aliança é que deve determinar como o
sacramento deve ser administrado e recebido.84
Segundo ele, a tradição reformada interpretou que, embora a ocasião para as
instruções de Paulo em 1 Coríntios 11.17-34 sejam específicas, o apóstolo
aproveitou a ocasião para estabelecer diretrizes ou princípios gerais para o modo
como cada membro da Igreja deveria participar sacramentalmente do corpo e do
sangue do Senhor.
Nesta perspectiva, a linguagem paulina mostra claramente que o apóstolo
quer aplicar um ensino de maneira geral a todos os crentes que sempre comungam
com Cristo e uns com os outros por meio da Ceia do Senhor. Portanto, a
participação no sacramento requer o tipo de fé que é capaz de lembrar e proclamar
a morte de Cristo.85
As características mais importantes da interpretação tradicional desta
passagem baseiam-se nas instruções dos versículos 27-29. Nestes versículos,
Paulo começa insistindo que quem participa da Ceia do Senhor deve primeiro se
envolver em uma forma de autoexame. Em outras palavras, os crentes devem
"testar" se sua fé e conduta estão de acordo com sua pública profissão de fé (v.
28).86
Segundo Venema, o apóstolo Paulo está ensinando que todos os que
participam do sacramento devem fazê-lo somente quando discernirem
adequadamente o corpo de Cristo (v. 29). Tal discernimento inclui um entendimento


82
Veja o artigo KNIGHT III, George W. 1 Corinthians 11:17-34 e Lord’s Supper: Abuses, Words of
Instruction and Warnings and the Inferences and Deductions with respect to Paedocommunion. In:
WATERS, Guy; DUNCAN, Ligon. Children and the Lord’s Supper. Geanies House: Christian Focus
Publications, 2011, p. 75-95.
83
VENEMA, 2009, p. 101.
84
Ibid, p. 117-118.
85
Ibid, p. 115.
86
VENEMA, 2009, p. 117, 119.
1

do sacrifício expiatório de Cristo e suas implicações para a conduta dos crentes em


relação a Ele e aos outros.
Duguid é categórico ao defender que se realmente não há nenhuma
compreensão do significado dos elementos, como é que uma pessoa poderá ser
abençoada em sua participação? A Ceia do Senhor não é mágica, mas funciona
quando combinada com uma fé ativa, e exige que aqueles que participam sejam
capazes de exercer essa fé ativa.87
Assim também procede Bekee. Na sua visão, onde não há capacidade
evidente para tal autoexame, não há possibilidade de participar da Ceia de forma
digna. Sem tal autoexame, uma pessoa vem à mesa despreparada e, portanto,
desqualificada para receber o sacramento. Dar o sacramento a pessoas "claramente
indignas dele" é pecado hediondo por parte daquele que o administra e da pessoa
que o recebe.88
Sem ser tão dogmático quanto os dois acima, Venema reconhece que o
argumento pedocomunialista é interessante sob vários aspectos, mas ainda assim
não é suficiente para incluir os membros não professos da aliança à Ceia do Senhor.
Para ele argumento pedocomunialista limita a possibilidade de interpretar o texto de
uma forma mais abrangente. As palavras da instituição parecem colocar o
destinatário do sacramento sob a obrigação de participar no caminho de uma fé
ativa, capaz de lembrar e proclamar a morte sacrificial de Cristo.89
Lidando exegeticamente com o texto, ele pontua que a mudança no uso do
pronome em segunda pessoa para terceira pessoa é decisivo na interpretação. Este
destaque é feito com base no comentário de Calvino e outros intérpretes reformados
recentes90. Segue o argumento:

Em vez de dirigir-se diretamente aos crentes de Corinto que estavam abusando


da Ceia do Senhor, Paulo usa agora a linguagem de "quem quer que seja"
(verso 27), "um homem" (verso 28) e "ele" (verso 29, particípio de terceira
pessoa). O apóstolo também usa formas verbais de terceira pessoa e o pronome
reflexivo de terceira pessoa "ele mesmo" (verso 29). Esta mudança para o uso

87
DUGUID, 2011, p. 74.
88
BEEKE, Joel. Only for His Believers: Paedocommunion and the Witness of the Reformed Liturgies.
In: WATERS, Guy; DUNCAN, Ligon. Children and the Lord’s Supper. Geanies House: Christian
Focus Publications, 2011, p. 167.
89
VENEMA, 2009, p. 125.
90
Veja: CALVIN, John. The First Epistle of Paul to the Corinthians, vol. IX, Calvin’s New
Testament Commentaries. Grand Rapids: Eerdmans, 1960, p. 251; KISTEMAKER, Simon.
Exposition of the First Epistle to the Corinthians. New Testament Commentary. Grand Rapids:
Baker, 1993, p. 401.
1

de formas de terceira pessoa singular tem um significado esclarecedor sobre


como as instruções desta seção devem ser compreendidas. Embora o apóstolo
tenha começado seu tratamento da Ceia do Senhor em 1 Coríntios 11 com uma
descrição do comportamento inapropriado de alguns membros da igreja de
Corinto, ele agora passa a uma série de instruções gerais que se aplicam a
todos os membros da comunidade da aliança.91

Logo, é justíssimo reconhecer que faz sentido Paulo tratar o problema


específico da discriminação entre ricos e pobres ou a falta de comunhão na Igreja.
No entanto, Venema não acredita que a leitura mais enfocada do texto apoie a
posição dos pedocomunialistas de que o discernimento que Paulo tem em mente é
principalmente eclesiológico e não soteriológico.
Mesmo que não fale expressamente à questão da admissão de filhos de
crentes na Mesa do Senhor, suas implicações para esta questão são aparentes,
conclui Venema.
Finalmente, o argumento com base em 1 Coríntios 11 pode ser resumido em
três proposições: 1. Está claro na passagem que Paulo tem como objetivo resolver
um problema específico de divisão na Igreja, mas o texto não se limita a isso; 2.
Paulo faz uma transição do problema específico da Igreja para uma descrição mais
geral do que é necessário para aqueles que devem participar da Mesa; 3. Todos os
participantes da Ceia precisam fazer autoexame para atestarem a genuinidade da
sua profissão de fé.

3 – Argumentos favoráveis à pedocomunhão

Depois de uma apresentação dos principais argumentos contra a


pedocomunhão, o próximo passo será catalogar os principais argumentos que
geralmente são usados para defender a prática pedocomunialista. Para tanto será
seguida esta ordem de raciocínio: a) A perspectiva histórica, b) Teologia do Pacto, c)
Analogia da Páscoa e a d) Análise exegética de
1 Coríntios 11.17-34 em seu contexto.


91
VENEMA, 2009, p. 144.
1

3.1 – A perspectiva histórica indica que a pedocomunhão era a prática


comum da Igreja Primitiva
Como já foi visto neste estudo, para os pedocomunialistas Rylaarsdam,
Gallant, Purcell e Leithart não há dúvidas de que, na igreja primitiva, todos os
batizados eram bem-vindos à Eucaristia. Todavia, a prática foi gradualmente
abandonada na Idade Média, de modo que, pela Reforma protestante, a Igreja
ocidental separou a Ceia do Senhor do Batismo e a anexou à confirmação ou à
profissão de fé. Em sua análise, dentro do movimento protestante atual, há uma
tendência crescente das denominações começaram a reunir o batismo e a Ceia do
Senhor novamente.92
Com o ressurgimento da prática nos meios protestantes, a tese de
Rylaarsdam é que a história do Batismo e da Ceia do Senhor é essencialmente esta:
“o que a igreja primitiva uniu, a igreja medieval posterior gradualmente separou.
Hoje, os protestantes estão retornando à prática da igreja primitiva”.93

3.2 – A Teologia do pacto legitima a participação das crianças à Ceia do


Senhor
Os defensores da pedocomunhão insistem que o direito dos infantes
participarem da Ceia é derivado do status que eles possuem na aliança. Na
perspectiva reformada os filhos dos crentes se tornam membros do copo de Cristo
através do Batismo. Por causa disso, Strawbrigde em seu livro The Case for
Covenant Communion (Em defesa da Comunhão pactual), como o próprio nome diz,
faz uma defesa da prática pedocomunialista considerando a Ceia do Senhor uma
refeição pactual, uma comunhão daqueles que estão sob a aliança de Deus.94
A pedocomunhão, defendida entre alguns reformados, advoga trazer mais
coerência para aqueles que são partidários da teologia da aliança. Se, por um lado,
os aliancistas inferem a prática do Batismo infantil por meio de considerações
pactuais, por outro, deveriam ser igualmente destinados a inferir a prática da
Comunhão infantil por causa da aliança.95


92
RYLAARSDAM, 2007, p. 5
93
Ibidem.
94
STRAWBRIDGE, G. The Polemics of Infant Communion. In _______ (ed.) The Case for Covenant
Communion. Monroe: La: Athanasius Press, 2006, p. 158.
95
Ibid, p. 159.
1

Leithart, faz uma crítica contundente àqueles que endossam a teologia da


aliança e a solidariedade familiar para permitir o Batismo infantil, mas que não são
coerentes para, nas mesmas bases, admitir a pedocomunhão.

Por que, então, esse argumento de solidariedade familiar não é empregado


quando a questão em questão é a Ceia do Senhor, em vez do batismo? Por que
não argumentar que a base para a participação no sacramento da Ceia do
Senhor é a inclusão da aliança: o pai com base na fé professada e o bebê com
base na solidariedade familiar? Por que a maioria dos pedobatistas emprega 1
Coríntios 7:14 no caso do batismo, mas não no caso da Ceia do Senhor? Não é
isso, mais uma vez, um exemplo flagrante de inconsistência?96

Jordan faz a mesma crítica aos reformados que não defendem a teologia da
aliança de forma coerente. Na sua opinião, a tradição reformada adotou uma forma
“batista” para compreender a Eucaristia, pois ela é vista como mero memorial feito
pelos homens ao invés de ser o próprio Deus vindo até o homem.97 Jordan advoga
que em círculos presbiterianos o batismo se transformou apenas numa forma de
“apresentação ou dedicação” da criança, perdendo de vista o caráter proclamativo e
espiritual do sacramento. Por causa disso, Jordan defende que a pedocomunhão faz
parte de um resgate da centralidade da teologia e do evangelho da aliança para as
Igrejas reformadas.

Na teologia reformada, os sacramentos são Palavras visíveis. Elas são as


Palavras de Deus vindo até o homem. [...] Na teologia anabatista, é o homem
que se achega a Deus através dos sacramentos; na teologia reformada é Deus
quem vem até o homem pelos sacramentos e o homem o corresponde. O
Batismo e a Eucaristia são uma forma de Deus pregar o evangelho à criança e
chama-la a uma resposta. Quando crescer, ela responderá de um jeito ou de
outro. [...] Se a criança é eleita ou regenerada é preocupação de Deus, não
nossa. Nós somos, entretanto, chamados para cuidar das crianças, após sua
lavagem pelo Batismo, como membros da aliança, conta-las como cristãs e
trata-las como cristãs até que possivelmente sejam excomungadas.98

Outra defesa da pedocomunhão tomando como fundamento a teologia


pactual é feita por Bierma, professor de Teologia Histórica e Sistemática. Para ele,


96
LEITHART, 1992, p. 68.
97
JORDAN, 1982, Tese nº 13.
98
Ibidem.
1

“o que está em jogo nesta discussão é a forma como nós reformados entendemos
as doutrinas da aliança e a natureza dos sacramentos”.99
Em primeiro lugar, referindo-se a teologia do pacto, Bierma defende que na
história da redenção há apenas uma comunidade de Deus, e as crianças são
membros de pleno direito dessa comunidade. Como se diz na fórmula batismal dos
filhos: "Deus graciosamente inclui os nossos filhos na sua aliança, e todas as suas
promessas são para eles, assim como para nós".100
Ele continua afirmando que na teologia da aliança, assim como os filhos de
pais crentes no Antigo Testamento receberam o sacramento da iniciação na
comunidade da aliança (circuncisão), os filhos da aliança hoje devem receber o
sacramento da iniciação que substituiu a circuncisão (batismo). Com base nisso,
questiona os credocomunialistas: Por que, então, não se aplicaria o mesmo ao
sacramento da nutrição? Se no pacto do Antigo Testamento as crianças
participavam das celebrações domésticas e comunais da Páscoa (Êx 12. 3-4, 21-26)
e de outras refeições sagradas de recordação (Deuteronômio 12. 6-7), elas
deveriam também ser admitidas, no Novo Testamento a tais festas, bem como na
Ceia do Senhor.101
Ele baseia as afirmações acima em 1 Coríntios 10.1-4, no qual os membros
da antiga comunidade da Aliança foram "todos batizados em Moisés na nuvem e no
mar", e "todos comeram o mesmo alimento espiritual e beberam a mesma bebida de
Cristo.”
O argumento dele é que o padrão da nova aliança não mudou de repente,
pois a exclusão de crianças da mesa do Senhor sugere uma descontinuidade entre
o Antigo e o Novo Testamentos que parece minar a própria continuidade na qual a
questão do Batismo infantil é construída.
Em segundo lugar, Bierma afirma que a natureza graciosa-imeritória dos
sacramentos é comprometida caso as crianças da aliança continuem sendo
excluídas da Mesa do Senhor. Quando o Batismo é ministrado a um bebê, toda a
comunidade presente é exposta a uma manifestação gráfica da promessa de


99
BIERMA, Lyle. Children at Lord’s Supper And Reformed Theology. Grand Rapids, MI. CTS
Spring Forum, 2007, p. 3. Disponível em: <https://www.calvinseminary.edu/wp-
content/uploads/forums/07spring.pdf>
100
BIERMA, 2007, p. 3.
101
Ibid, p. 3
1

salvação pela graça, pois a água da promessa é aplicada a uma criança pequena,
desamparada e incapaz de qualquer mérito.
Bierma então questiona: Por que, então, essas mesmas crianças devem
ganhar o caminho para a mesa da promessa? Por que eles devem primeiro passar
um teste de compreensão e dignidade? Parece contrariar a própria mensagem de
graça que os sacramentos proclamam.102Se os sacramentos são para os membros
dessa comunidade, os quais são fracos e necessitam da graça de Deus, todos –
seja perto do fim de sua vida cristã ou nos estágios iniciais – deveriam comer ao
redor da mesa.
A tese principal de Bierma é que os dois sacramentos do cristianismo servem
para comunicar a mesma mensagem, a saber, o coração do evangelho da graça.
Por isso, a mensagem central do cristianismo ficaria mais nítida na admissão das
crianças do que na exclusão das mesmas.

3.3 – A Ceia do Senhor é o cumprimento tipológico da festa da Páscoa


Há um consenso entre os pedocomunialista de que a última Ceia, na qual
Jesus instituiu a Ceia do Senhor, é apresentada pelos evangelhos sinóticos como
uma refeição pascal. Jesus disse aos discípulos: “Tenho desejado ansiosamente
comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento” (Lucas 22.15). Com base
nestas palavras, Mason defende que a morte de Cristo cumpriu tipologicamente o
sacrifício redentor do cordeiro da Páscoa e provocou assim um novo êxodo, então, a
refeição memorial da Igreja, a Ceia do Senhor, cumpre tipologicamente a refeição
comemorativa de Israel, a Páscoa anual.103
Com base em Êxodo 12, Mason sugere que todos os israelitas comeram a
Páscoa no Egito, tanto jovens quanto crianças. A qualificação para poder participar
da comida não era certo nível de maturidade espiritual, mas apenas fazer parte do
povo (Ex 12.43-49) e ter uma boca para comer.104 Toda a congregação era chamada
por Deus para comer a Páscoa (v.47). Estrangeiros e escravos assalariados não
poderiam comer da refeição (v. 43 e 45), mas apenas aqueles que passaram pela
circuncisão. Como o texto diz: “mas nenhum incircunciso comerá dela” (Ex 12.48).


102
Ibid, p. 4.
103
MASON, 2007, p. 127.
104
Jordan salienta que naquela noite não havia mais nada, além da Páscoa, para comer. JORDAN,
James B. Theses on Paedocommunion. The Geneva Papers, 1982, Tese nº 6. Disponível em:
<http://www.garynorth.com/freebooks/docs/a_pdfs/newslet/geneva/82s1.pdf>
1

Para Mason o texto é claro ao estabelecer que o requisito para comer a


Páscoa é ser um membro da aliança, e isso incluía escravos, estrangeiros e
crianças circuncidadas.105 Na sua opinião, esta conclusão ganha força pelo fato de
que em Êxodo 16, com a benção do maná, as crianças pequenas também foram
incluídas na refeição, pois era o único alimento disponível para as pessoas naquele
momento.106
Em relação a objeção feita por Calvino, de que faziam parte da Páscoa
apenas as crianças maduras o suficiente para perguntar sobre o significado da festa,
Mason responde que a leitura mais natural do texto sugere que, enquanto as
crianças comiam a Páscoa, suscitava nelas a curiosidade para perguntar acerca de
seu significado. Em momento nenhum o texto deixa claro que este era um requisito
para participação.107
Jordan argumenta que o texto de Êxodo 12.26-27 não se refere a um ritual no
qual a criança fazia uma declaração de fé para então participar da Páscoa, mas ao
processo educacional-conversacional no qual os pais provém aos filhos durante toda
a vida (Dt 6.1-9). O “catecismo” não existia para incluir as crianças no povo israelita,
mas para discipular aqueles que já estavam dentro da aliança com Deus.108
Mais adiante, Mason cita Deuteronômio 6.20, no qual as crianças faziam uma
pergunta similar a da Páscoa a seus pais, mas agora acerca da palavra de Deus.
Com base na equivocada lógica de Calvino, Mason ironicamente sugere que os
pais deveriam abster-se de ensinar os filhos qualquer coisa da Palavra de Deus até
o momento em que eles começassem a perguntar sobre o significado delas.
Obviamente, nenhum pai cristão responsável sonharia com tal coisa.109
Jordan fez um tratamento abrangente no que diz respeito a grande variedade
refeições nos textos do Antigo Testamento. O objetivo do artigo era encontrar o lugar
das crianças em tais refeições; consequentemente o autor chegou a cinco
conclusões.110
Primeiro, cada passagem da Escritura que menciona ou discute a respeito
das crianças falam sobre elas como inclusas em quaisquer eventos religiosos. Jesus
incluiu as crianças. Paulo lidou com as crianças inclusivamente em suas cartas.

105
Ibid., p. 128.
106
Ibidem.
107
Ibidem.
108
JORDAN, 1982, Tese nº 7.
109
Ibidem.
110
JORDAN, 2006, p. 49.
1

Moisés disse a Faraó que as crianças deveriam acompanhar Israel no êxodo. O


mesmo Moisés em Deuteronômio ordenou que as crianças eram permitidas às
festas. Jordan diz: “Procure onde você quiser, você não achará nenhuma passagem
que sugira a exclusão das crianças em qualquer refeição ou evento religioso.”111
Segundo, não há nenhuma passagem em qualquer lugar da Bíblia que
ordene, sugira ou mostre as crianças precisando passar por algum ritual de
confirmação antes de serem incluídas nas refeições. Não existe “bar mitzvah” nem
crisma na Bíblia.112
Terceiro, não há nenhuma passagem na Bíblia ordenando, sugerindo ou
mostrando que crianças precisariam ser catequizadas ou instruídas para tornarem-
se capazes de participar de alguma refeição religiosa. Instrução tem o seu lugar
durante a refeição, não antes dela.113
Quarto, não há nenhuma passagem da Escritura ordenando que crianças
deveriam fazer algum tipo de declaração ou decisão de fé a fim de participarem das
refeições religiosas.
Quinto, não há na Escritura nada que mostre crianças precisando alcançar
certa idade a fim de participarem das festas religiosas. Deve-se notar que no livro de
Números, homens deveriam ter vinte anos de idade para alistar-se no exército, um
Levita deveria ter vinte e cinco anos para auxiliar outros Levitas e trinta anos para
começar o serviço, do qual se aposentaria aos cinquenta (Nm 1.3; 4.3; 8.24–26).
Além disso, Jordan pontua que Levítico 27 fornece uma lista de idades para homens
e mulheres, através das quais eles seriam avaliados de acordo com suas ofertas ao
santuário. Se Deus quisesse prover uma idade para que as crianças viessem à
Páscoa ou qualquer outra coisa, ele poderia facilmente ter feito isso.114
Jordan que as crianças da antiga aliança participaram da Mesa do Senhor. O
argumento é baseado em 1 Coríntios 10.1-5 e João 6.31-65. Nas duas passagens
tanto Paulo quanto Jesus ensinam que o maná e a água provida a Israel durante o
deserto eram verdadeira comida espiritual e a mesma comida contida na Ceia do
Senhor. O Espírito Santo estava no maná e na água do deserto, com a Páscoa e
outras refeições da antiga aliança, e está hoje na Ceia do Senhor.


111
Ibid., p. 50.
112
Ibidem.
113
Ibidem.
114
JORDAN, 2006, p. 50.
1

As crianças comeram o maná e beberam da água, pois não havia outra coisa
para comer. 1 Coríntios 10.1-5 associa tais eventos ao batismo: todos aqueles que
foram batizados na velha aliança eram dignos de participar da Ceia do Senhor. Isso
não significa que todos eles eram salvos, salienta Jordan, pois “Deus não se
agradou da maioria deles, razão por que ficaram prostrados no deserto” (v. 5).115
Com base nisso, Jordan explica que negar às crianças o pão e o vinho é
cometer uma injustiça com os filhos da aliança. Nisto, segundo ele, os reformados
entram em contradição, pois oferecem Cristo às crianças através do Batismo, ao
mesmo tempo em que negam o mesmo Cristo a elas excluindo-as da Ceia. Da
mesma forma caem em contradição ao reconhecem as crianças como membros
legítimos da Igreja através do Batismo, mas negam sua plena membresia excluindo-
as da Mesa do Senhor.116
Não há nenhum lugar na Escritura em que os filhos da aliança tenham que ir
até os presbíteros declararem sua fé a fim de participarem da Eucaristia. A Ceia do
Senhor, portanto, é a comunhão daqueles que estão em aliança com Deus, não
devendo as crianças batizadas serem excluídas de tal privilégio.117

3.4 – 1 Coríntios 11.17-34 é um tratado sobre a unidade da Igreja.


De acordo com Weima, professor de Novo Testamento, existe outra maneira
de entender 1 Coríntios 11 que não necessariamente requer a exclusão das crianças
da Ceia do Senhor, antes que poderia abrir a porta para sua inclusão. O melhor
caminho para entender a passagem está numa adequada compreensão do contexto
da passagem para entender a razão da resposta de Paulo aos coríntios.118
Não se pode negar com que clareza Paulo ordena em 1 Coríntios 11.28 a
igreja em Corinto envolver-se em autoexame. Menos claro, no entanto, é no que
consiste esse autoexame. A chave de interpretação, na opinião de Weima, encontra-
se na explicação do verso seguinte, 29, “pois”. Portanto, a questão exegética
específica para ele está na seguinte pergunta: “o que significa discernir o corpo e


115
Ibid., 1982, Tese nº 8.
116
Ibid., Tese nº 9.
117
Ibid., Tese nº 12.
118
WEIMA, Jeffrey. Children at the Lord’s Supper and the Key Text of
1 Corinthians 11:17-34. Grand Rapids, MI. CTS Spring Forum, 2007, p. 7. Disponível em:
<https://www.calvinseminary.edu/wp-content/uploads/forums/07spring.pdf>
1

para então evitar participar da Ceia do Senhor de uma maneira que os crentes
comam e bebam juízo sobre si mesmos?”119
Para Weima, a maioria dos intérpretes credocomunialistas assumem que a
palavra "corpo" nesta frase refere-se ao corpo de Cristo crucificado na cruz e agora
relembrado no sacramento. "Discernir o corpo" significa, portanto, empenhar-se em
um autoexame que é primeiramente de dimensão vertical – um exame da relação de
alguém com Jesus Cristo – em vez de horizontal – examinar o relacionamento de
alguém com os irmãos cristãos. Desta forma, quando os crentes confessam que
Jesus é seu Senhor e que a morte de Cristo pagou por seus pecados, eles estão
"discernindo o corpo" de uma maneira que lhes permite participar do sacramento de
maneira digna.
Por causa disso, a maioria das igrejas excluem as crianças da mesa
justamente porque elas ainda não estão capacitadas a fazerem um exame vertical
de si mesmas. No entanto, Weima sugere que um olhar exegético mais atento
mostrará que “discernir o corpo” no contexto da passagem tem maior relação
horizontal e, sem dúvidas, isso pode mudar radicalmente a maneira como
entendemos a relação das crianças com a passagem.120
É bem aceito entre os comentaristas que a Ceia do Senhor era celebrada nas
comunidades do segundo século como uma janta, banquete ou em alguma festa de
fraternidade (Jd 12, 2 Pd 2.13) 121 A maioria também concorda que durante as
celebrações de Corinto, ao invés de fraternidade, havia se instalado uma celebração
de rivalidades, pois alguma forma de divisão estava em curso (v. 18).
Weima, dentre outros comentaristas122, argumenta que a divisão instalada se
dava entre os crentes ricos contra os pobres.123 Na tentativa de reconstruir a cena,
ele sugere que a festa ou o culto começava, mas os pobres e escravos teriam
dificuldades de chegar na hora. Daí, então, o problema: os ricos não esperavam.
Eles comiam e bebiam em seus grupos, cada um comendo um comendo sua
"própria ceia". Uns ficavam com fome, outros ficavam bêbados. Há um contraste
evidente entre os pobres famintos e os ricos embriagados. Não havia Ceia do
Senhor e, portanto, não havia uma refeição de comunhão.

119
Ibid.
120
WEIMA, 2007, p. 7.
121
MORRIS, Leon. 1 Corinthians: An Introduction and Commentary. Downers Grove, IL:
InterVarsity Press, v.7, 1985, p. 156.
122
Ibidem.
123
WEIMA, 2007, p. 7
1

Weima defende que os ricos eram os grandes culpados do problema, pois


além de terem “casas para comer e beber” (v.22), desprezavam a Igreja de Deus e
humilhavam aqueles que nada tinham. A trágica cena que o apóstolo quer corrigir é
a de pobres voltando do culto com fome e dos ricos voltando para casa
cambaleando de bêbados (v.21).124
Weima assinala que, embora não se saiba com certeza o que levou à
divisões sobre a Ceia em Corinto, está claro que o problema envolveu a
discriminação social: os cristãos ricos celebravam a Ceia do Senhor de uma forma
que "desprezava e humilhava" os crentes mais pobres. Portanto, os defensores da
pedocomunhão argumentam que “discernir o corpo” se refere ao corpo dos crentes e
não ao corpo de Cristo representado no pão e no vinho.125
Seguindo esta linha, Meyers argumenta que os coríntios estavam
impropriamente comendo o corpo e bebendo o sangue de Cristo porque eram
culpados de uma falha em "examinar" a si mesmos em termos de sua participação
no corpo de Cristo, a Igreja. Por isso, longe de propor qualquer exclusão, o apóstolo
Paulo quer fomentar a unidade no seio da Igreja, sendo inadmissível utilizar um texto
que visa a inclusão ser utilizado com a finalidade de excluir crianças pequenas da
comunidade da aliança.126
Gallant também oferece comentários importantes para essa interpretação.
Segundo ele, qualquer participação na Ceia do Senhor que divide
inapropriadamente a congregação em segmentos (ricos e pobres, adultos e
crianças) e exclui alguns da plena participação no corpo de Cristo cai sob a
admoestação dos Coríntios. Desta maneira, a prática de excluir as crianças da
participação na Ceia ataca o coração vital que o sacramento quer comunicar, a
unidade do corpo de Cristo.127
Weima destaca três razões pelas quais a expressão “discernir o corpo” não
deve ser aplicada ao corpo do Senhor Jesus, verticalmente, mas ao corpo dos
crentes, horizontalmente. Em primeiro lugar, este significado é o do contexto
histórico. Para uma congregação onde os ricos estão celebrando o sacramento de


124
Ibidem.
125
Ibidem.
126
MEYERS, Jeffrey J., The Lord’s Service: The Grace of Covenant Renewal Worship. Moscow,
Ida.: Canon Press, 2003, p. 394-95.
127
GALLANT, 1992, p. 83.
1

uma maneira que marginaliza os pobres, Paulo lança o desafio de "discernir o corpo"
- isto é, prestar atenção ao bem-estar de seus irmãos e irmãs.
Segundo, há diferenças importantes entre o uso de Paulo da palavra "corpo"
aqui no versículo 29 e mais cedo no versículo 27. No versículo 27, onde o apóstolo
está, de fato, referindo-se ao corpo carnal de Cristo, ele acrescenta as descrições
mais completas: “E o sangue" e "do Senhor". Uma vez que nenhuma dessas adições
ocorre no versículo 29, Paulo pode muito bem estar usando o "corpo" aqui com um
significado diferente.
Terceiro, o "corpo" como uma referência à Igreja ocorre tanto no capítulo
imediatamente precedente, 10.17: “Porque nós, embora muitos, somos unicamente
um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão” e no capítulo
imediatamente seguinte 12.12-26, a famosa metáfora de Paulo de "muitas partes,
mas um só corpo”.128
De fato, essa interpretação lança luzes relevantes para o debate em torno da
pedocomunhão. Essa interpretação alternativa esclarece qual deve ser o critério
para a participação adequada no sacramento da Comunhão. Paulo está chamando a
Igreja toda para o autoexame de sua relação com os demais crentes e a celebrar o
sacramento de uma maneira que não humilhe os outros membros da congregação.
Weima faz questão de lembrar que nenhum dos defensores da pedocomunhão se
esquiva do fato de que o amor pelos uns aos outros está enraizado no amor dos
crentes por Cristo. Uma coisa não anularia a outra.
Por esta razão alguns pedocomunialistas salientam que o uso que
credocomunialistas fazem do texto bíblico é muito questionável. Gallant, usando
outro exemplo, menciona que há passagens nas Escrituras que insistem na fé e no
arrependimento prévios no caso do Batismo (Mc 16.6; At 2.38, 41), mas os
credocomunialistas continuam insistindo que tais textos se referem apenas aos
adultos e, de forma alguma, prejudicam a correção do argumento a favor do Batismo
infantil. Por que não se pode dizer o mesmo de 1 Coríntios 11. 27-29? Não poderia
ser este um caso especial em que Paulo está dirigindo-se aos adultos, mas não
fornecendo a base para a participação na Ceia do Senhor em geral?129
Weima afirma que há o perigo muito real de cometer o mesmo pecado pelo
qual Paulo criticou os coríntios: desprezar os irmãos. Ele então lança o

128
WEIMA, 2007, p. 8.
129
GALLANT, 1992, p. 96.
1

questionamento: “Quando a juventude da aliança vê os pratos de pão e vinho


literalmente passando deles para adultos próximos, não é natural que se sintam
excluídos, como membros desiguais do corpo de Cristo?”130
Finalmente, na perspectiva pedocomunialista, a preocupação de Paulo é mais
eclesiológica do que soteriológica. Ele está interessado em uma postura séria
daqueles que pertencem ao corpo da Igreja, não uma avaliação cognitiva do corpo
de Cristo para o perdão dos pecados.

4 – Uma posição favorável à pedocomunhão

Após um estudo detalhado dos principais argumentos credocomunialistas e


pedocomunialistas, cabe agora uma avaliação pessoal deste autor acerca do
assunto em questão. Diante de todos os argumentos levantados o presente autor
defende que posição mais coerente com a Escritura, teologia reformada, exegese
bíblica e história é a visão pedocomunialista. Os argumentos a seguir representam o
cuidado tomado no trato da questão depois de uma análise detalhada das defesas
contrárias e favoráveis.
Primeiro, o argumento das confissões e catecismos reformados sobre o
assunto deve ser levado em conta, apesar de irem na direção credocomunialista. De
fato, apenas o Catecismo Maior de Westminster explicita sua posição em relação ao
assunto, ao afirmar que “somente aqueles que têm a idade e aptidão para se
131
examinarem a si mesmos”. Já os demais documentos, como já foi visto, são mais
genéricos.
Sem dúvidas, há um peso forte no fato de que a maioria dos reformados
refletiram sobre a matéria e julgaram melhor não admitir as crianças à Ceia do
Senhor. Contrapor-se à maioria dos reformados é uma tarefa árdua e arriscada.
Talvez, seja essa uma das grandes preocupações dos teólogos crecomunialistas:
romper com uma tradição confessional quase que inteiramente unânime em relação
a admissão na Ceia do Senhor.
Por outro lado, como bem diz a própria Confissão de Fé de Westminster: “O
Juiz Supremo de todas as controvérsias... não pode ser outro a não ser o Espírito


130
WEIMA, 2007, p. 8.
131
CMW, Pergunta 177.
1

132
Santo falando na Escritura.” Por causa disso, a controvérsia atual da
pedocomunhão – que tem dividido opiniões em todas as denominações
presbiterianas e reformadas – deve ser julgada à luz, primeiramente e
principalmente, da própria Escritura, a única regra infalível e inerrante de doutrina e
prática das Igrejas reformadas.
Além disso, os teólogos de Westminster afirmaram que os concílios podem
errar, “e muitos têm errado; eles, portanto, não devem constituir regra de fé e
prática, mas podem ser usados como auxílio em uma e outra coisa.”133 Logo, é a
Escritura que deve-se prestar máxima honra diante das controvérsias, ainda que as
confissões e catecismos constituam-se de auxílio neste empreendimento.
Segundo, à luz da Escritura, o argumento que advoga a descontinuidade
entre Páscoa e Ceia do Senhor não procede exegética e teologicamente, sendo
apenas uma conjectura arbitrária de seus defensores. A Escritura afirma claramente
que tanto a ocasião quanto a refeição que Jesus teve com os discípulos na última
ceia era a própria Páscoa (Mt 26.2, 17-19; Mc 14.12,14,16; Lc 22.8,11,13,15; Jo
13.1, 18.28,39). Jesus foi crucificado durante a Festa da Páscoa, pois era uma
cerimônia de sacrifício (Êx 12.27) e, de fato, o Cordeiro de Deus derramou o seu
sangue para tirar o pecado do mundo.
Embora esteja claro que na Ceia do Senhor todo o sistema sacrificial do
Antigo Testamento foi cumprido, mais claro ainda é o fato de que os elementos e
significados da Páscoa são vistos pelos autores do Novo Testamento como as
grandes metáforas da mensagem do evangelho, no qual o cordeiro inocente e puro
morre pelos culpados pecadores (Jo 1.29,36; At 8.32; 1 Co 5.7; 1 Pd 1.19; e trinta e
três referências em Apocalipse). Não é correto afirmar que a Ceia é um cumprimento
mais direto do “Dia da Expiação” (Êx 24) em detrimento da Páscoa, pois quais
metáforas são mais próximas do pão e vinho do que pães asmos e derramamento
de sangue? (Hb 11.28).
Tampouco procede o argumento que as crianças eram excluídas da
participação da Páscoa. Diferente de Calvino, muitos exegetas reformados
defenderam que as crianças participavam da páscoa ou, pelo menos, de outras


132
CFW, I. X.
133
Ibid., XXXI. III.
1

ofertas pacíficas e refeições sacrificais.134 Como já foi visto, não há sequer uma
proibição tanto na antiga aliança quanto na nova aliança da participação dos filhos
dos crentes, pelo contrário, as crianças não só participam das refeições da aliança
como eram instruídas durante às mesmas (Êx 12.26-27).
Ademais, assim como a antiga aliança passa por descontinuidades com a
chegada da nova, a circuncisão sofre mudanças com a chegada do batismo, a
teologia reformada, com base na Escritura, continua afirmando que Deus tem um só
povo dentre as duas dispensações135. Portanto, o fato de haverem descontinuidades
entre a Páscoa e a Ceia do Senhor não anula a verdade de que as duas coisas são
dois lados da mesma moeda.
De fato, o batismo cristão é muito mais amplo que a circuncisão
veterotestamentária, por várias razões136: 1. O uso da água representando o Espírito
Santo, 2. Inclusão do gênero feminino; 3. Representação da regeneração espiritual.
Todas essas coisas eram apenas sombras projetadas pela circuncisão, e assim
acontece também em relação à Páscoa e Ceia do Senhor. Sim, o partir do pão é o
cumprimento de todo sistema sacrificial do Antigo Testamento, mas nem por isso
deixa de ter sua relação mais íntima com a Páscoa, pois:

1. A Ceia continua sendo uma refeição;


2. Foi instituída exatamente na ocasião da Páscoa;
3. A última ceia foi chamada especificamente por Jesus como Páscoa;
4. A Ceia cumpre de forma mais abrangente e perfeita a celebração pascal de
libertação de Israel, pois, pelo derramamento do sangue do Cordeiro Jesus, todo o
povo de Deus – judeus e gentios – é convidado a celebrar a libertação da escravidão
do pecado e da morte.

Se na antiga aliança, na qual as promessas e bênçãos funcionavam apenas


como sombras, a participação tanto na circuncisão quanto Páscoa era baseada na
solidariedade familiar, o que dizer da nova aliança, que está fundamentada no


134
WITSIUS, Herman. Economy of the Covenants Between God and Man, v. 2, London, T.Tegg
and Son, 1837, p. 269.
135
Para um estudo detalhado desta questão, cf: HOWERDA, David E. Jesus e Israel: Uma aliança
ou duas? São Paulo: Cultura Cristã, 2005.
136
Cf. os dois artigos no mesmo livro: VENEMA, C. P. Covenant Theology and Baptism, p. 201-229;
NIELL, Jeffrey D. The Newness of The New Covenant, p. 127-155. In: STRAWBRIDGE, Gregg. The
Case For Covenantal Infant Baptism. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing Company, 2003.
1

cumprimento perfeito de todas essas promessas em Cristo? Portanto, a relação


entre Páscoa e Ceia do Senhor, com base no entendimento pactual, reformado, de
promessa e cumprimento, é um argumento forte para reafirmar a admissão dos
filhos dos crentes à Mesa do Cordeiro.
Terceiro, embora a defesa de que a natureza sacramental do Batismo seja
diferente da Ceia do Senhor é verdadeira, ela não tem implicações diretas para
admissão ou exclusão dos filhos dos crentes à Ceia. O primeiro sacramento da fé
cristã representa a iniciação e entrada na comunidade cristã, enquanto a Ceia do
Senhor o desenvolvimento e maturação da fé. Porém, os critérios para admissão ao
Batismo e Ceia no Novo Testamento são exatamente os mesmos: arrependimento
ou autoexame e fé (Mc 16.6; At 2.38, 41; 1Co 11.17-34).
Neste sentido, os teólogos batistas 137 são mais coerentes do que os
reformados que admitem crianças para o Batismo, mas excluem os mesmos da
Ceia, pois estes argumentam que os textos bíblicos que sugerem a profissão de fé
antes do Batismo são específicos, referindo-se apenas aos adultos, enquanto que os
textos sobre a Ceia são gerais, alcançando todas as idades. Diante desta
hermenêutica contraditória, é preferível salientar que não há razões bíblicas,
teológicas e lógicas suficientes para ministrar o Batismo sem arrependimento e fé
por um lado e excluir por outro os filhos não professos da Ceia do Senhor.
Outro erro dos credocomunialistas está na acusação de que ser favorável a
pedocomunhão é aderir em alguma medida ao sacramentalismo católico. Em
resposta a tal acusação, pedocomunialistas afirmam que a admissão dos filhos dos
crentes à Mesa do Senhor não está baseada na doutrina romanista da eficácia dos
sacramentos (ex opere operato), mas segue a lógica de que as crianças fazem parte
do povo da aliança.138
Quarto, o argumento de autoexame e profissão de fé à luz de 1Coríntios
11.17-34 é a evidência principal dos credocomunialistas para a não admissão das
crianças ainda não professas. Contudo, ficou claro neste estudo que o foco principal
da exortação paulina era a unidade da Igreja em meio às discriminações e divisões
que a Igreja enfrentava. Não estava nos planos de Paulo que sua exortação em prol

137
Um excelente artigo expondo a perspectiva reformada batista pode ser encontrado em PARKER,
Brent E. Paedocommunion, Paedobaptism, and Covenant Theology: A Baptist Assesment and
Critique. SBJT, v. 20.1, 2016, p. 91-122. Disponível em:
<http://www.sbts.edu/wp-content/uploads/sites/5/2016/08/SBJT-20.1-Parker Paedocommunion.pdf>
138
JEFFERY, Steve. An Evangelical Introduction to Federal Vision. Paedocommunion. Disponível
em: <http://www.federal-vision.com/pdf/evangelical_introduction_FV.pdf>
1

da unidade da igreja fosse interpretada com a finalidade de excluir qualquer criança


ou pessoa que seja.
Portanto, o argumento de exclusão proposto pelos credocomunialistas está
totalmente fora de contexto. Não há sequer uma passagem na Escritura proibindo
diretamente à participação das crianças na Ceia do Senhor.
Quinto, o argumento da teologia pactual evocado pelos pedocomunialistas
parece ser mais coerente com o aliancismo reformado. Em outras palavras, a
pedocomunhão traduz com mais fidelidade o espírito inclusivo, familiar e solidário da
teologia da aliança revelada no sacramento da Ceia do Senhor. O argumento pode
ser exposto em quatro partes: Primeiro, na antiga aliança os filhos dos crentes se
tornavam parte do povo de Deus através do rito da circuncisão. Segundo, a
circuncisão de Cristo, que é o Batismo, substituiu a velha circuncisão. Terceiro,
como só há um povo entre as duas alianças, são dignos do mesmo sinal de entrada
na família de Deus os filhos que nascem na nova aliança. Quarto, se os filhos dos
crentes são membros plenos da família de Deus, não seria contraditório negar o
sacramento da refeição comunitária a eles?
Um membro pequeno da família ficaria de fora da comunhão dentro de sua
casa? Por que, então, ficaria excluído na casa de Deus? Certamente não, pois os
dois sacramentos servem como uma promessa do Evangelho ao povo da aliança e
não parece justo subtrair o direito à comunhão daqueles que são plenamente
membros da família da aliança.
Sexto, numa perspectiva prática, a pedocomunhão facilitaria o trabalho dos
presbíteros em ensinar o teocentrismo bíblico. As crianças seriam desde a infância
expostas ao fato de que toda a vida cristã é sustentada pela graça de Deus, pois é
Deus quem toma a iniciativa, não apenas no início da fé (regeneração), mas também
na manutenção da mesma fé (santificação), limitando ao máximo, desde a tenra
idade, o espaço para a teologia do mérito, do moralismo e da autossuficiência.
Portanto, permitir que os filhos dos crentes participem da Ceia do Senhor é uma
forma reafirmar o entendimento cristão reformado do evangelho da graça.
E, por fim, após um olhar sobre o desenvolvimento histórico da prática
pedocomunialista percebeu-se dentro do movimento protestante um resgate
expressivo da prática da Igreja primitiva por razões múltiplas: teológicas, exegéticas,
sociais e históricas. Os resultados deste retorno à doutrina e prática
pedocomunialista para os dias atuais é um fator decisivo para as denominações
1

reformadas e presbiterianas revisitarem as bases da teologia da aliança, discutirem


sua confessionalidade e promoverem o diálogo internacional com as demais igrejas
coirmãs. Salienta-se também que o aumento na adesão pedocomunialista dissolve o
rótulo taxativo de que a prática pertenceria a uma espécie de via de exceção dentro
da família reformada.

Considerações finais

O propósito deste artigo foi contribuir para o debate dentro das igrejas
reformadas quanto a questão da pedocomunhão. Foi apresentado um traçado
histórico da pedocomunhão que remonta aos primeiros séculos do cristianismo até o
seu declínio no séc. XII, as principais teses credocomunialistas e pedocomunialistas
e, ao final, elaborou-se uma posição teológica favorável à prática de admitir os filhos
da aliança para a Ceia do Senhor.
No futuro, outros estudos serão realizados sobre a questão, especialmente no
que diz respeito aos desdobramentos atuais da teologia da aliança dentro das
denominações presbiterianas e reformadas.
1

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