Sei sulla pagina 1di 11

Maiden no Brasil

Entrevista com Dave Murray e Janick Gers - 1998

Por Regis Tadeu



Foto: Mario Fernandes

A entrevista que você lerá a seguir foi feita por mim quando Dave
Murray e Janick Gers estiveram no Brasil em 1998, à beira da piscina
de um luxuoso hotel em São Paulo. Extremamente simpáticos e bem
humorados, eles renderam uma das capas mais divertidas da revista
Cover Guitarra, da qual eu fui o editor por longos anos, e
principalmente uma das grandes entrevistas que fiz ao longo de minha
carreira.

DAVE MURRAY E JANICK GERS -1998 !1


Falaram com espontaneidade a respeito de tudo: do então novo
álbum - o fraquíssimo Virtual XI -, de guitarras, guitarristas e
equipamentos, de particularidades das gravações e muitos outros
assuntos. E a foto que ilustra tudo isso, clicada por Mario Fernandes,
revela bem o clima de camaradagem entre entrevistador e
entrevistados, né?


Para começar nosso papo, gostaria de saber como
rolou o período de pré-produção do Virtual XI. Os
arranjos surgiram por intermédio de jam sessions ou
cada um gravou suas próprias ideias para mostra-las
posteriormente e m algum tipo de reunião?
Gers – Para nós, esse tempo de pré-produção é tão natural
quanto qualquer ensaio que fazemos. Eu, particularmente,
não gosto desses gravadores que funcionam como “mini-
estúdios caseiros”, pois não consigo sentir se uma ideia vai
funcionar ou não sem o volume a todo o vapor. O que
acontece na maioria das vezes é nos reunirmos na casa do
Steve (Harris) e tocarmos fragmentos de sons a partir de
registros em nossa própria memória. As ideias legais são
imediatamente gravadas ali mesmo, pois ele tem um
estúdio espetacular que grande parte do disco foi gravada
ali.
Murray – Felizmente, não temos muitas discussões a
respeito dos arranjos, pois Steve tem uma capacidade
admirável de reunir ideias aparentemente dispersas e
transformá-las em canções com começo, meio e fim.
Sempre perdemos um pouco mais de tempo quando temos
que encaixar as letras nas partes até então instrumentais e

DAVE MURRAY E JANICK GERS -1998 !2


no fechamento dos arranjos antes de Nicko (McBrain)
coloque as suas baterias definitivas.
O fato de Steve ter sempre cada álbum focalizado dentro
de determinado conceito também ajuda bastante. No novo
disco, até mesmo algumas linhas de guitarras foram
compostas por ele. Como há um relacionamento muito
bom entre todos na banda, isso permite que haja a
interferência de um no instrumento do outro.

Vocês guardaram algumas das canções finalizadas


para lançamentos como “b-sides”?
Murray – Não desta vez. Gravamos doze músicas que
acabaram esgotando a capacidade de um CD (80 minutos)
e resolvemos incluir oito na edição finalizada do álbum.
As outras quatro deverão ser aproveitadas no próximo
álbum, pois elas são muito fortes para que sejam lançadas
como “lado B” de single.

Há uma canção no novo álbum, “The Angel and the


Gambler”, que possui uma sonoridade bastante
próxima dos sons daquelas bandas clássicas dos anos
70...
Gers – Exatamente! Eu acredito que o amadurecimento
musical é desenvolvido a partir do momento em que nos
envolvemos com um tipo de música mais “orgânica”,

DAVE MURRAY E JANICK GERS -1998 !3


exatamente como era o som dos grupos daquela década.
Sempre procuramos preservar essa característica.
Por outro lado, não creio que essa canção possa dar uma
ideia do que é o novo álbum, pois ela é bem diferente das
outras canções, tem uma pegada bem mais rock ‘n’ roll,
que pouco tem a ver com as canções do Steve, que sempre
soam como poemas musicados divididos em várias partes
e com diversas mudanças de acordes. Para mim, a essência
do disco está em “The Clansman”, que tem uma atmosfera
meio maligna do início ao fim.
Murray – Na verdade, não existem regras na música. Veja
o caso de Robert Plant e Jimmy Page, que levaram sua
música até as portas do Oriente. No caso do Maiden,
existe uma identidade quase química entre todos nós que,
musicalmente falando, sofreu um acerto abalo durante os
anos 80, principalmente a partir do Seventh Son of a
Seventh Son, quando o nosso som passou a ficar polido
demais...

Sem contar o período em que vocês usaram guitarras


sintetizadas no Somewhere in Time, certo?
Murray – Sim, é verdade. Embora as vendas desses
álbuns tenham sido muito boas, acredito que as melodias
ficaram obscurecidas por outros fatores, como essa coisa
de “discos conceituais” e “polimento sonoro”. Quando
Bruce (Dickinson) saiu, sentimos uma necessidade real de
voltarmos às nossas raízes.

DAVE MURRAY E JANICK GERS -1998 !4


O co-produtor Nigel Green teve um papel
preponderante na sonoridade de Virtual XI?
Gers – Para ser sincero, não. Ele esteve muito mais
envolvido na relação que a banda teve com os
computadores do que propriamente com a sonoridade do
álbum. Por conta do desenvolvimento tecnológico,
pudemos gravar as canções direto em um hard disk. Todos
os vocais e grande parte das guitarras foram gravados
dessa forma. A tecnologia nos proporciona alguns critérios
e soluções para determinados problemas que sempre
acontecem no estúdio.

Que tipo de problemas?


Gers – Por exemplo, quando um ótimo trecho de uma
canção está registrado em um take não tão bom. Com o
software que usamos, pudemos colocar esse trecho no take
principal de maneira absolutamente perfeita. Por outro
lado, a banda sempre tenta manter a espontaneidade e o
sentimento do rock ‘n’ roll. Lembro que as gravações do
No Prayer for Dying foram muito rápidas e a
espontaneidade daquela época foi totalmente registrada
naquele álbum. Por isso, creio que a tecnologia, desde que
bem utilizada, amplia as fronteiras da música. Isso é muito
mais importante do que o perfeccionismo. É óbvio que a
tecnologia é importante, mas sempre é preciso manter vivo
o sentimento do rock.

DAVE MURRAY E JANICK GERS -1998 !5


A espontaneidade sendo mais importante que a
perfeição é uma lição valiosa...
Gers – Com certeza. Vou lhe contar uma coisa... Eu
detesto gravar demos! (nesse momento, Murray começa a
rir muito) Dave está rindo porque ele sabe que considero
algumas de nossas demos muito mais legais do que as
versões finais incluídas no CD. Não ria, Dave! Isso é
sério! (Gers finge estar zangado, o que faz Murray rir
ainda mais)
Murray – O som das demos nunca fica tão bom quanto as
gravações finais...
Gers – Eu sei disso, mas muitas vezes a espontaneidade
presente nas demos desaparece quando entramos no
estúdio. A própria demo pode ter características únicas que
não podem ser recriadas no ambiente frio de uma gravação
“pra valer” no estúdio. Elas perdem a força e a mágica...
Murray – De uma certa forma, eu entendo o
posicionamento do Janick, já que muitas de nossas
gravações ao vivo apresentam alguns detalhes que mudam
de acordo com as circunstâncias de cada show, mesmo que
estejamos tocando de modo rigorosamente igual durante
uma turnê. Esse é um dos motivos pelos quais eu e Janick,
antes de começar qualquer gravação, nos sentamos e
ficamos fazendo algumas jams, testando toda e qualquer
possibilidade musical que possa ser incluída nos arranjos.
É a maneira que encontramos para tentar manter o espírito

DAVE MURRAY E JANICK GERS -1998 !6


de cada canção o mais livre possível, mesmo dentro dos
padrões seguidos dentro de cada arranjo.

Muitas pessoas perguntam se o fato do Iron Maiden ter


um estilo que não permite espaço para mudanças
radicais não faz com que vocês dois, por exemplo, não
tenham vontade de fazer seus próprios trabalhos...
Gers – Sou partidário da filosofia “nunca diga nunca” (rs).
Acho que todo músico que decide fazer um disco solo
deve estar preparado para enfrentar uma nova situação,
não só perante seus companheiros de banda, mas também
com a imprensa, público, fãs mais radicais (rs)...É como
colocar uma corda no próprio pescoço e esperar que
alguém te empurre ou te desamarre (gargalhas gerais). No
meu caso, sempre quis fazer rock ‘n’ roll, mesmo gostando
de outros estilos de música.
Murray – Não vou mentir para você dizendo que isso
nunca me passou pela cabeça, principalmente depois que
Bruce lançou o Tattooed Millionaire (rs), mas cheguei à
conclusão de que não preciso de um outro meio para expor
minhas ideias musicais porque ele já existe e se chama
Iron Maiden. Nele, eu coloco 100% de todas as canções,
riffs e solos que componho.
Veja só o caso do Nicko: sempre que estamos em turnê,
ele trata de arranjar uma série de workshops em toda
cidade em que tocamos. Essa é a maneira que ele
encontrou para extravasar qualquer tipo de ansiedade que

DAVE MURRAY E JANICK GERS -1998 !7


uma hipotética limitação musical dentro da banda possa
lhe causar.

Já que estamos falando a respeito de ideias musicais,


quais os seus solos favoritos dentro do repertório do
Iron Maiden e quais aqueles que seriam refeitos caso
vocês tivessem tal oportunidade?
Gers – Não gosto muito da maneira competitiva com que
a guitarra é encarada, principalmente por alguns
guitarristas americanos. Numa canção há sempre a mesma
questão diante de você: há um espaço de dez segundo no
meio da canção e ele deve ser preenchido. Qual a melhor
solução? Fazer um solo cuja melodia se encaixe
perfeitamente dentro do contexto do arranjo ou varrer tudo
o que foi feito anteriormente com um solo com três mil
notas? É preciso que a questão do solo na música de hoje
deixe de ter essa característica “ginástica com os dedos” e
volte a ter melodias condizentes com o que você está
fazendo.
Pegue o exemplo da versão ao vivo de “Strange Kind of
Woman” que o Deep Purple fez no Made in Japan. Porra,
você consegue cantar o solo de guitarra! (nesse momento,
Gers começa a imitar o vocal de Ian Gillan
acompanhando o solo de Ritchie Blackmore na célebre
gravação) Caralho, Blackmore é um gênio!

DAVE MURRAY E JANICK GERS -1998 !8


Agora, respondendo especificamente a sua pergunta,
sempre tenho vontade e refazer todos os meus solos dentro
do Maiden (rs)
Murray – Acho que cada solo que fiz foi um retrato do
momento e do melhor que eu poderia fazer naquele exato
instante. Sempre procurei fazer algo que acrescentasse
elementos legais à canção, que pudessem torná-la um
pouco mais especial. Não tenho qualquer tipo de solo
favorito ou detestável em particular. Apenas fiz o melhor
possível...
Gers – (interrompendo) Nunca devemos esquecer que os
solos mais memoráveis são aqueles feitos em baixa
velocidade. Vocês já repararam quantos solos
espetaculares e inesquecíveis foram compostos por
músicos como o David Gilmour (Pink Floyd)? Há
velocidade neles? Claro que não! (enfático)
Murray – Você está coberto de razão. Eu costumo
analisar essa questão também sob tal ponto de vista.
Jimmy Page me disse certa vez que quanto mais alto você
tocar, mais gentis terão que ser os seus dedos em relação
às cordas, justamente para não criar uma dinâmica única
na música. Nesse aspecto, não consigo pensar em outro
nome que não seja o de Rory Gallagher (lendário
guitarrista escocês de blues, morto em 1995). Vi um show
dele certa vez e fiquei de queixo caído com a maneira que
ele manuseava a guitarra.

DAVE MURRAY E JANICK GERS -1998 !9


Para um guitarrista, a dinâmica é tudo. Por intermédio
dela, você pode ter um domínio completo sobre o ataque
que vai colocar em cada trecho da música. A mesma
característica que citei a respeito de Rory vale para todo
grupo cuja formação seja em trio: Cream, Rush... Acho
que esse tipo de formato consegue manter a expressão
musical de uma maneira mais pura e real do que qualquer
outra.

Quais são os guitarristas favoritos de cada um?


Gers – Positivamente, Jeff Beck é o meu ídolo, seguido de
Paul Kossof (o falecido guitarrista do Free, banda cujo
embrião originou o Bad Company), Gilmour...
Murray – Para mim, Ritchie Blackmore e Robin Trower,
que está próximo da perfeição em álbuns como Bridge of
Sighs e For Earth Below, usando de modo brilhante
efeitos como reverb, chorus... Não gosto muito da fase em
que ele se associou ao Jack Bruce (o lendário ex-baixista
do Cream, morto em 2014), mas o material antigo dele é
espetacular. Também gosto de Buddy Guy e B.B. King...
Gers – Acho que uma das coisas mais importantes para
um guitarrista é o domínio da execução de uma boa base,
não importando a maneira como isso é feita. Veja os casos
de Eric Clapton, Blackmore e Page: embora o primeiro
esteja fazendo um som bem diferente do que fazia
antigamente e o Rainbow (a banda do ex-guitarrista do
Deep Purple) seja uma espécie de “grupo de cabaret” para

DAVE MURRAY E JANICK GERS -1998 !10


mim, cada um deles criou, com suas diferentes facetas
musicais, riffs antológicos que podem ser reconhecidos a
quilômetros de distância,
Murray – Page é um exemplo perfeito, pois nenhum outro
guitarrista conseguiu transitar pelos sons pesados,
acústicos e de timbres limpos como ele. O Tony Iommi,
que também é um construtor de riffs antológicos, colocava
muitos elementos de jazz em seus solos e ninguém
percebia (rs).

DAVE MURRAY E JANICK GERS -1998 !11

Potrebbero piacerti anche