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A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A BASE NACIONAL

COMUM CURRICULAR – BNCC: O ENSINO PAUTADO EM UMA


PERSPECTIVA CRÍTICA

Aline Fernandes Alvarenga – aline_a85@hotmail.com


Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Londrina – Paraná
Daniel Guerrini – danielguerrini@utfpr.edu.br
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Londrina – Paraná
Zenaide de Fátima Dante Correia Rocha – zenaiderocha@utfpr.edu.br
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Londrina – Paraná

Resumo: A presente pesquisa se propõe a analisar as implicações do documento Base


Nacional Comum Curricular - BNCC, implantado pelo Governo Federal em dezembro de
2017 para o ensino da Educação Física. Abordamos a seguinte problemática: as propostas
da BNCC contribuem e promovem inovações, que auxiliam na implementação do ensino da
Educação Física de acordo com as teorias críticas de educação? Nosso objetivo é analisar as
propostas do documento, se ele apresentou contribuições para efetivar o ensino pautado em
uma perspectiva crítica e reflexiva, aliado à promoção da alfabetização científica. Adotamos
como encaminhamento metodológico a pesquisa bibliográfica e documental, buscamos livros
e artigos sobre a temática, estudamos o material selecionado e construímos o presente
estudo. Analisamos a implementação da BNCC e as implicações que ela trouxe para o ensino
da Educação Física. Evidenciou-se ao longo da pesquisa que as contribuições do documento,
para a instauração do ensino pautado nas teorias críticas e aliado a promoção da
alfabetização científica, são discretas e insuficientes para superar os paradigmas
tradicionais de ensino.

Palavras-chave: Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Educação. Educação Física.


Ensino.

1 INTRODUÇÃO

O processo educacional durante muito tempo esteve condicionado às perspectivas dos


paradigmas tradicionais de ensino. O ensino pautado nos paradigmas tradicionais se
caracteriza por promover a aquisição de conhecimentos desvinculados da realidade cotidiana,
de modo que: o professor é o sujeito do conhecimento que assume o papel de transmissor e o
estudante é aquele que irá absorver esse conhecimento. O conhecimento, dentro desta
perspectiva, era considerado: fixo, rígido e invariável.
Para a Educação Física esse paradigma reforçou a fragmentação do ser, a ideia de que o
corpo estava a serviço da mente, de modo que: o que importava era o saber fazer e reproduzir
os conhecimentos adquiridos. No âmbito escolar, o sucesso da aula era garantido pela
repetição mecânica dos movimentos, realização das atividades propostas de forma rígida, sem
abertura para questionamentos e reformulações, ou seja: um ensino pautado na reprodução de
movimentos, sem significações relevantes e desvinculado da construção do conhecimento. A
emergência de superar os paradigmas tradicionais de ensino na Educação Física, grande
motivador desta pesquisa, vincula-se a preocupação com a formação humana de forma
integral e com a construção de um conhecimento significativo, contextualizado e possível de
ser aplicado no cotidiano.
Mudanças em busca de um processo de formação que ampare a construção do
conhecimento de forma consistente se fazem necessárias. Face a essa aspiração,
constantemente são mobilizados esforços para a implementação de novos documentos que
tenham como propósito principal alavancar a educação básica e promover um ensino de
qualidade. O documento mais recente implementado pelo Governo Federal e MEC é a Base
Nacional Comum Curricular, trata-se de uma política pública de educação que orientará a
elaboração dos currículos educacionais.
O presente artigo propõe a análise da Base Nacional Comum Curricular - BNCC, bem
como, suas perspectivas e propostas para o ensino da Educação Física, área de nosso
interesse. Para isso a questão que se estabelece é: as propostas da BNCC contribuem e
promovem inovações, que auxiliam na implementação do ensino da Educação Física de
acordo com as teorias críticas de educação?
Esta pesquisa tem por objetivo analisar as propostas desse documento para o ensino da
Educação Física no âmbito da educação básica e analisar se há e quais são as possíveis
contribuições do documento para efetivar o ensino pautado em uma perspectiva crítica e
reflexiva, aliado à promoção da alfabetização científica. Como trata-se de um documento
recente, não há como analisar os impactos diretos dele no âmbito educacional, sendo assim,
pautaremos nossa análise nas concepções e pressupostos abordados no documento.
A presente pesquisa tem caráter bibliográfico e documental. Esta proposta metodológica
concede maior embasamento teórico para compreender e refletir sobre as implicações desse
novo documento para o âmbito educacional. Esta orientação metodológica tem a capacidade
de estabelecer uma aproximação entre o pesquisador e o tema de estudo garantindo maior
respaldo científico sobre o objeto de investigação (MARCONI & LAKATOS, 2001).
A problemática da pesquisa orientou o estudo e a análise do material bibliográfico
levantado com o intuito de alcançar os objetivos propostos. Optou-se por dividir a pesquisa
em três momentos. No primeiro momento, abordaremos a relevância da superação dos
paradigmas tradicionais de ensino e de uma abordagem de ensino fundamentada nas teorias
críticas de educação, sugerimos o processo de alfabetização científica como aliado para
implementar as propostas de ensino. No segundo momento, apresentaremos os pressupostos
adotados pela BNCC para o ensino da Educação Física ao longo da educação básica. No
terceiro momento, faremos uma análise pautada na bibliografia estudada e nas propostas do
documento, trazendo para o contexto da pesquisa conjecturas e possibilidades para efetivar a
superação dos paradigmas tradicionais de ensino.

2 METODOLOGIA

A presente pesquisa pautou-se no formato de pesquisa bibliográfico e documental para


estudar a implicações da Base Nacional Comum Curricular, para o processo educacional e
mais especificamente para o ensino da Educação Física. De acordo com Tozoni-Reis (2009) a
pesquisa bibliográfica caracteriza-se pelo fato de que a coleta de dados é realizada nos
materiais bibliográficos, e a pesquisa documental caracteriza-se por ter como fonte de dados
documentos oficiais.
A metodologia adotada preconizou o estudo do documento Base Nacional Comum
Curricular e a busca de material bibliográfico como artigos recentes que abordassem a
temática da BNCC. Também se considerou livros, artigos e teses, sobre a temática da
Educação Física e Educação. Buscou-se analisar nesses materiais quais pressupostos eram
oferecidos como embasamento para o ensino da Educação Física e quais concepções
paradigmáticas orientavam tais escolhas.
Para a seleção dos artigos, adotou-se os seguintes parâmetros de pesquisa: 1. A busca foi
realizada na plataforma de periódicos da capes; 2. As palavras chaves de buscas foram “Base
Nacional Comum Curricular” e “Educação Física”; 3. O documento BNCC estava em
processo de elaboração desde o ano de 2015 e teve sua primeira versão publicada em março
de 2016, considerando que alguns dos autores que participaram do processo de elaboração da
base começaram a publicar artigos sobre o documento, os filtros utilizados para determinar o
espaço temporal foram 2016 a 2018. Dentre os documentos encontrados, selecionou-se os
artigos que apontavam uma análise sobre a BNCC e as concepções que orientavam o ensino
da Educação Física, que apresentavam possíveis relações e contribuições com a problemática
da pesquisa.
A análise do documento Base Nacional Comum Curricular e o estudo das bibliografias
levantadas permitiu construir uma análise mais consistente do referencial teórico e elaborar a
presente pesquisa.

3 ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA E A SUPERAÇÃO DOS PARADIGMAS


TRADICIONAIS DE ENSINO

Para estabelecer um parâmetro de análise e averiguar as contribuições da BNCC para


educação básica, há que se ter claro qual teoria de educação e quais concepções de educação
sustentam esta análise. No que se refere às teorias de educação, nos pautamos na análise de
Saviani (2012) que destaca: as Teorias Não Críticas e Teorias Críticas. De acordo com
Saviani, a escola fundamentada nos paradigmas tradicionais ou teorias não críticas de ensino
tem como meta a transmissão massiva dos conhecimentos na qual professor é o centro do
processo, ele detém o conhecimento e o difunde, os estudantes são receptores de todo o
acervo cultural e conhecimentos transmitidos. O autor explica que, em contrapartida, as
teorias críticas devem se fundamentar basicamente no ensino que promova a superação e a
transformação social, principalmente no que se refere as classes menos favorecidas. Segundo
o autor, a escola no contexto de uma teoria crítica da educação deve ser um instrumento de
superação e libertação social, isto é, efetivar a luta contra o capitalismo exacerbado e estender
à todas as camadas sociais o ensino com a melhor qualidade possível.
As teorias (não críticas e críticas) elencadas por Saviani, orientam diferentes concepções
de fundamentação teórica que embasam os modelos educacionais e a ação dos professores.
Estas concepções podem estar vinculadas às teorias não críticas ou às teorias críticas de
educação, cada uma delas demanda princípios norteadores próprios que irão sustentar o
processo educacional. Ainda que de forma não intencional toda ação pedagógica é vinculada
a concepção que se tem sobre educação e característica à uma linha de embasamento teórico.
O processo de formação educacional e o processo de ensino e aprendizagem é assumido
nesta pesquisa como um processo amplo, complexo, em que todos os envolvidos participam
da construção do conhecimento. O professor tem papel fundamental como mediador da
construção do conhecimento e das relações entre conhecimento e cotidiano. A criança em
formação deve participar ativamente do processo de construção do conhecimento, deve ter
espaço para criar, interagir, construir e questionar. Uma educação nos moldes tradicionais de
ensino não permite essa abertura e não estabelece relações como essas.
Em meio as necessidades e emergências da educação contemporânea, vislumbramos uma
educação que atenda às demandas sociais, culturais, históricas, políticas e tecnológicas.
Enfim, uma nova proposta educacional, que traga para o âmbito da escola valores morais,
culturais, sociais, princípios de coletividade, responsabilidade, cidadania e integrando o
estudante como agente de transformação no mundo contemporâneo.
Em consonância com tal emergência e com as propostas educacionais pautadas em uma
teoria crítica, Chassot [2002, p.91] aponta que: “A alfabetização científica pode ser
considerada como uma das dimensões para potencializar alternativas que privilegiam uma
educação mais comprometida”. Segundo o autor, alfabetização científica consiste na proposta
de promover desde as séries iniciais da educação básica o ensino de conhecimentos científicos
para as crianças, de modo que, por meio da aprendizagem desses conhecimentos, sejam
capazes de transformar o seu próprio cotidiano por meio dos conhecimentos aprendidos; em
suma trata-se de promover um ensino de qualidade e consistente.
Chassot (2002) evidencia em seus estudos que as atuais condições do ensino são precárias
devido à globalização, a superficialidade e o excesso de informações sem caráter científico
apurado. Segundo ele, características como estas atribuíram a sociedade contemporânea um
dinamismo e uma falsa ideia de conhecimento aprofundado sobre as coisas. Os conteúdos
aprendidos na escola devem superar esse dinamismo e superficialidade, e serem capazes de
transpor as paredes da escola, ou seja, o ensino deve promover ao aluno condições de
transformar a sua própria realidade através de cada conhecimento.
Nessa perspectiva, entendemos que existe uma necessidade eminente de superar a
transmissão massiva de conteúdos e a falsa concepção de que o dinamismo das informações é
suficiente para conceder qualidade na construção do conhecimento. É essencial que o
estudante esteja de fato imbricado no processo de aprendizagem, que ele seja parte
constituinte do desenvolvimento da aprendizagem e que a intervenção do professor
proporcione uma mediação efetiva e de qualidade construção do conhecimento.
Bondía (2002), revela que o saber emerge das experiências vividas e que estas tem papel
relevante na construção de relações, atribuindo sentido ao processo de formação. Nessa
lógica, cada estudante deve ser valorizado, pois cada um confere um sentido diferente a cada
experiência vivenciada, isto é, por mais que duas pessoas vivam a mesma experiência, para
cada uma delas o sentido de tudo que foi vivido terá representações diferentes. O impacto
causado em cada indivíduo resultará na construção de diferentes relações, as quais estão
intimamente ligadas ao repertório de conhecimentos, informações e vivências que cada
continha antes da experiência.
Para Bondía (2002) as experiências vividas são cada vez menos exploradas no contexto
educacional. Esta realidade é desencadeada por quatro aspectos: excesso de informação,
excesso de opinião, falta de tempo e excesso de trabalho. De acordo com o texto, cada um
desses fatores promovem a aceleração exacerbada, a mercadorização do tempo, o acúmulo de
informações e opiniões rasas, sem a profundidade necessária para transformar
significativamente a construção do conhecimento.
Há uma necessidade eminente de se valorizar e reconhecer as experiências como fator
essencial para a atribuição de sentido durante o processo de formação do conhecimento.
Segundo Bondía (2002, p.24), o foco deve transpor da: experiência do sujeito, para o “sujeito
da experiência”, aquele que de fato vive e é transformado pelas experiências vividas.
Objetivamente, o que se espera é alcançar maior profundidade nas relações estabelecidas e
favorecer um conhecimento amplo e significativo. Segundo o autor, o sujeito da experiência é
transformado pelo que vivencia e transformador a partir conhecimento adquirido.
O saber que emerge desta construção de relações, fundamentadas na atribuição de
sentidos, é consistente. Podemos então afirmar que este saber é testado e reafirmado por meio
de vivências próprias do sujeito, o qual participou de todo o processo integralmente (em todas
as suas dimensões: física, emocional, racional, social e cultural) e que por meio de todo esse
movimento refletiu, construiu conhecimentos e transformou-se.
Superar os paradigmas tradicionais de ensino, aqui também citados como teorias não
críticas, implica conferir ao ensino o caráter científico e viabilizar a aproximação entre
conhecimento científico e a vida cotidiana, de modo que os estudantes em formação sejam
capazes de estabelecer relações e aplicar os conhecimentos aprendidos em seu dia a dia. Nesta
perspectiva Chassot (2002) aponta que a ciência deve ser reconhecida enquanto linguagem,
compreendida, aplicável às tarefas cotidianas, eficiente para estabelecer conexões e
transformar a própria realidade. Na lógica da alfabetização científica os saberes devem ser
reelaborados, visando o atendimento das finalidades sociais da escolarização e facilitando a
transposição do conhecimento.
A alfabetização científica concebida mediante às teorias críticas de educação evidencia
uma possibilidade de transformação do ensino. Nesse viés, buscamos um conhecimento
capaz de transcender barreiras, que seja efetivo e aplicável no cotidiano e que transforme
quem o constrói. Portanto, aliar a alfabetização científica ao processo de ensino e
aprendizagem implicaria em estruturar a formação dos estudantes mediante a integração
destes no processo de aprendizagem, em que o professor possa ser o mediador que é
transformado à medida que promove uma intervenção consistente e com o devido respaldo
científico, e o estudante enquanto ser complexo que tem conhecimento, experiências e
construções prévias, capaz de contribuir com a construção do conhecimento.

4 A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: CONSTRUÇÃO E


PROPOSTAS DO DOCUMENTO

De acordo com o documento (BRASIL, 2017), a Base Nacional Comum Curricular, foi
idealizada desde documentos anteriores como: a Constituição de 1988, Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional - LDB de 1996, e o Plano Nacional de Educação - PNE de 2014.
Sua implementação passou por um processo de construção orientada por vários especialistas
de cada área do conhecimento, profissionais de ensino e da sociedade civil.
Elaborada pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com Conselho Nacional de
Educação (CNE), a BNCC é uma sistematização de conteúdos básicos de cada área do
conhecimento que devem ser abordados ao longo de toda a educação básica. Ela é a
implementação de uma política pública educacional incentivada pelo Governo Federal para
garantir o direito à educação básica de qualidade, trata-se de uma sistematização de
conhecimentos básicos que devem ser privilegiados em todo o âmbito da educação pública ou
privada pois, estabelece padrões mínimos de quais conhecimentos devem ser adquiridos ao
longo da educação básica. Conforme observa-se:
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo
que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens especiais que todos
os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação
Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e
desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de
Educação (PNE). Este documento normativo aplica-se exclusivamente a educação
escolar, tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB, Lei nº 9394/1996), e está orientado pelos princípios
éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de
uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes
Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN). (BRASIL, 2017, p.7).
De acordo com o documento, o que se espera, na verdade é que a BNCC sirva de
referencial para formulação dos currículos das redes escolares dos estados e municípios no
Brasil, espera-se ainda que ela contribua para a proposição de formações de professores,
avaliações e elaboração de conteúdos educacionais, e que seja um parâmetro de alinhamento
entre as proposituras do governo federal, estadual e municipal, no que tange à educação
(BRASIL, 2017).
As propostas da Base Nacional Comum Curricular fazem emergir uma reflexão sobre: o
que ensinar, para quem ensinar, como ensinar, como possibilitar redes de aprendizagem e
como avaliar. O documento revela a necessidade de uma nova concepção de educação, e
elucida a preocupação com a formação humana, transformação social e aquisição de valores.
Segundo o documento, a educação deve estar focada no desenvolvimento humano global,
considerando aspectos como: a complexidade, singularidade e diversidade humana.
Para isso, o documento implementa o desenvolvimento de competências que devem ser
priorizadas durante a educação escolarizada:
Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos
(conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais),
atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno
exercício da cidadania e do mundo do trabalho. (BRASIL, 2017, p.8)
O desenvolvimento de competências proposto pela BNCC deve orientar toda ação
pedagógica do professor, de modo que todo conhecimento adquirido no contexto educacional
favoreça a formação crítica: a construção de valores, habilidades e atitudes capazes de
impactar no cotidiano sociocultural. Os conhecimentos aprendidos devem ter uma implicação
na vida do estudante em processo de formação, inserindo-os ativamente e intencionalmente a
realidade contemporânea. Trata-se de efetivar o estudante como ser ativo no mundo em que
vive, capaz de relacionar-se, de superar desafios e obstáculos, exercer com autonomia sua
criatividade e criar inovação, buscar o conhecimento e aplicá-lo em seu cotidiano.
As dez competências listadas pela BNCC, e que devem ser desenvolvidas durante a
educação básica, sugerem um processo de formação pautado na construção de conhecimentos,
no desenvolvimento de habilidades e na formação de atitudes e valores (BRASIL, 2017). A
base evidencia uma necessidade de transformação e inovação, não só do processo
educacional, mas, de toda a sociedade contemporânea. Ao implementar a BNCC, o governo
federal busca acompanhar esse movimento e conceder à educação o dinamismo, a
contextualização e o desenvolvimento necessário para um ensino que transponha as paredes
da escola e transforme todos os que estão envolvidos neste processo.

4.1 A Educação Física na BNCC

A Educação Física é um dos conhecimentos que integram o currículo do Ensino


Fundamental e Médio. Sua legalidade como componente curricular obrigatório da Educação
Básica, é respaldada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9394/96. No entanto,
é só a partir da implementação da BNCC, que a educação física escolar conta com uma
sistematização de conhecimentos básicos que devem ser ensinados ao longo da educação
básica.
A Educação Física é um dos componentes curriculares que compõem a área de
linguagens na BNCC. A base aponta que é por meio da linguagem que nos constituímos como
sujeitos sociais, isto é, as interações realizadas nas mais diversas formas de linguagem
compõem um repertório de conhecimentos, atitudes e valores culturais, morais e éticos. As
disciplinas que pertencem a área de linguagens apresentam objetos de conhecimentos
fundamentais que devem ser garantidos durante os anos de escolarização e que: “O
importante, assim, é que os estudantes se apropriem das especificidades de cada linguagem,
sem a perder a visão do todo no qual elas estão inseridas”. (BRASIL, 2017, p.61).
A área de linguagem, de acordo com o documento, conta com competências que devem
ser promovidas durante a formação do estudante na educação básica. Elas orientam o ensino
dos conhecimentos, a fim de promover a compreensão e transformação da própria linguagem
seja ela verbal, corporal, visual, sonora e digital.
A BNCC define a educação física como:
[...] componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas
formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das
possibilidades expressivas do sujeito, produzidas por diversos grupos sociais no
decorrer da história. Nessa concepção, o movimento humano está sempre inserido
no âmbito da cultura e não se limitam o deslocamento espaço-temporal de um
segmento corporal ou de um corpo todo. (BRASIL, 2017, p. 211)
O documento aponta que a grande relevância do ensino da Educação Física consiste do
desenvolvimento e vivência das práticas corporais de forma lúdica (mesmo não sendo essas
uma especificidade da educação física). Segundo a BNCC, a vivência de tais práticas
corporais favorece o acesso às dimensões do conhecimento, produzindo significados via
experiências e práticas realizadas. Para tanto, o documento divide os conhecimentos da
Educação Física em seis unidades temáticas (BRASIL, 2017), conforme se observa no quadro
1:

Quadro 1: Unidades temáticas da Educação Física

UNIDADES TEMÁTICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA


1. Brincadeiras e jogos;
2. Esportes;
3. Ginásticas;
4. Danças;
5. Lutas;
6. Práticas Corporais de Aventura.
Fonte: Os autores (2018)

De acordo com os pressupostos estabelecidos pela BNCC, toda mediação didática dos
conteúdos da educação física deve estar vinculada ao desenvolvimento das habilidades
necessárias a cada unidade temática bem como ao desenvolvimento das competências
específicas da Educação Física. Para orientar, este processo o documento implementa as
dimensões do conhecimento, como aspectos que devem ser abordados e privilegiados durante
o ensino. Conforme Brasil (2017), as dimensões do conhecimento são:

Quadro 2: Dimensões do conhecimento para o ensino da Educação Física

DIMENSÕES DO CONHECIMENTO PARA O ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA


1. Experimentação;
2. Uso e apropriação;
3. Fruição;
4. Reflexão sobre a ação;
5. Construção de valores;
6. Análise;
7. Compreensão;
8. Protagonismo comunitário.
Fonte: Os autores (2018)
Não cabe analisá-las detalhadamente neste momento, no entanto é válido apresentá-las.
Estas dimensões do conhecimento não obedecem a uma hierarquia, elas devem ser abordadas
à medida que o processo de ensino for fluindo e que os conhecimentos ensinados promoverem
a integração entre tais dimensões e o contexto atual (aspectos da vida cotidiana) atribuindo-
lhes diferentes relações, significações e experiências.

5 NAS ENTRELINHAS DO DOCUMENTO

A partir da análise da bibliografia levantada para este estudo constatamos que são poucas
as investigações dedicadas ao estudo da Base Nacional Comum Curricular, e menor ainda o
número de material publicado vinculando a BNCC ao ensino de Educação Física. A maior
parte dos documentos levantados e analisados datam do período em que a BNCC estava em
construção, apenas um artigo encontrado foi elaborado após a instauração da versão oficial do
documento em dezembro de 2017.
Isso nos permite constatar que ainda não há uma forma eficiente de avaliar os impactos
dessa documentação no processo de educação. Entendemos que, para que isso seja possível,
será necessário aguardar um tempo para que as concepções e pressupostos estabelecidos pela
base comecem a orientar e compor os currículos educacionais, bem como ação docente. Fato
este que nos expõe ao risco de que o documento seja incorporado como manual e assuma o
papel de currículo. Para além desta preocupação, por hora cabe debater e analisar as
implicações do documento para o âmbito educacional.
Assim como toda ação no âmbito educacional a Base Nacional Comum Curricular
apresenta fortes concepções políticas e de embasamento teórico que sustentam suas
perspectivas, contudo, esse não é um fato negativo. As concepções apresentadas no
documento sugerem um modelo de ação e intervenção do professor na qual o principal
objetivo é desenvolver capacidades e habilidades que venham preparar o estudante em
formação principalmente para o mundo do trabalho. Neira (2018) aponta que o documento
lançado pelo Governo Federal está encharcado de concepções políticas que promovem
eminentemente concepção neoliberal.
A BNCC deve ser reconhecida como documento norteador para a elaboração dos
currículos educacionais e não como manual. Ao elaborar os currículos, orientando-nos pela
BNCC, precisamos refletir sobre quais concepções de ensino estarão alicerçados os nossos
currículos escolares e como, por meio deles, poderemos efetivar a formação de um sujeito que
compreende sua realidade social e às transforma.
Ao implementar a BNCC o propósito era: “(...) construir um documento que pudesse ser
tomado como texto orientador para elaboração de propostas curriculares municipais ou
estaduais, das redes privadas, bem como os projetos pedagógicos das escolas” (NEIRA &
SOUZA JÚNIOR, 2016, p. 189). O objetivo do governo federal ao elaborar a BNCC consistia
em estabelecer parâmetros para orientar a elaboração dos currículos das escolas de educação
básica. O documento elenca uma sugestão de conteúdos e objetivos educacionais os quais
devem ser analisados e implementados de acordo com o contexto de cada realidade escolar.
Segundo os autores, cabe ao professor no processo de elaboração dos currículos selecionar os
conteúdos e os objetivos de ensino propostos pela base que coadunam com as concepções e
intenções educativas da escola.
O documento avança no sentido de propiciar aos professores um rol de conhecimentos
que devem compor o processo de formação e sinalizar aspectos que devem ser privilegiados
(dimensões do conhecimento). O ensino deve estar pautado nas características e nos contextos
que compõem a nossa sociedade e vinculados à nossa realidade. Nesse sentido, Boscatto,
Impolcetto e Darido (2016) evidenciam que as peculiaridades regionais devem ser
consideradas e valorizadas no processo de elaboração dos currículos voltando a educação às
características e contextos de cada região do país, aproximando o estudante do contexto no
qual ele está inserido.
A leitura da BNCC, nos permite a seguinte análise: apesar de toda sua elaboração ser
justificada na implementação da formação reflexiva para o exercício da cidadania e como
forma de preparação para o avanço social; as concepções defendidas para a aquisição de
competências e as dimensões do conhecimento priorizadas pela base revelam uma realidade
que pode ser divergente e que se aproximam do ensino em conformidade com os paradigmas
tradicionais.
A concepção de educação revelada na BNCC não acompanha as necessidades complexas
da sociedade contemporânea, o modelo de ensino adotado pelo documento sugere um
retrocesso no âmbito na promoção de uma formação crítica e autônoma. A BNCC apresenta
as orientações para elaboração dos currículos educacionais, contudo, não apresenta um
embasamento teórico consistente para sustentar suas propostas. Falta assumir uma postura de
qual concepção de educação se espera e vincular toda sua elaboração (objetivos, princípios
didáticos, conteúdos) a esta concepção. Neira (2018) afirma que ao tentar justificar suas
opções e defender suas ideias, o processo de elaboração do documento foi incoerente, por
apoiar-se em diferentes concepções teóricas vinculadas a educação. Segundo ele, é necessário
sim que tenha um documento para orientar a elaboração dos currículos educacionais, contudo,
esse documento deveria ter uma consistência teórica, o que não ocorreu com a BNCC.
Quando pensamos em um modelo de ensino que supere os paradigmas tradicionais para
promover a educação de uma forma crítica é necessário ir além do que o documento propõe. É
necessário considerar a complexidade e globalidade do mundo contemporâneo e buscar a
construção do conhecimento científico, explorar seu caráter técnico, fazer a transposição da
prática do conhecimento e estabelecer relações que possibilitem a transformação social e a
ação cidadã.
Martinelli et. al (2016) relata que o documento evidencia a supervalorização da
subjetividade em detrimento da objetividade. Ambas são essenciais para o desenvolvimento
educacional de modo que o processo deve estar focado não somente na subjetividade do
estudante, mas a considerar também a relevância do professor enquanto mediador do
conhecimento. Nessa linha de raciocínio é importante reconhecer que não basta apenas a
vivência e experimentação prática, a apropriação do conhecimento deve ser considerada e ser
parte constituinte do processo de formação. No campo da Educação Física, isso significaria
não retroceder aos modelos de ensino que primam exclusivamente pela reprodução técnica ou
prática lúdica em detrimento da produção do conhecimento científico. A produção e
apropriação do conhecimento científico deve acontecer por meio do movimento e para o
movimento.
Ao considerar a Educação Física, como área de linguagens a BNCC abre uma brecha para
uma visão equivocada, na qual reconhecer signos e gestos, ser capaz de reproduzi-los e de os
decodificar seria suficiente para o processo de formação. Essa formatação pode remeter uma
concepção tradicional de ensino da Educação Física que a desvincula da construção de
conhecimentos. Ao observamos no documento (BRASIL, 2017, p.63). veremos que dos
objetivos propostos para a área de linguagens, todos os eles refletem uma preocupação com a
exploração, utilização e desenvolvimento da linguagem como forma de relacionar-se com o
mundo e produzir capacidade de interação social, apenas um dos objetivos propostos sinaliza
a preocupação com o conhecimento que emerge da própria linguagem.
A BNCC também reforça essa ideia ao conceituar a Educação Física apresentando-a
como “componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de
codificação e significação social [...]” (BRASIL, 2017, p.211). Ao reler de forma criteriosa o
texto que conceitua a Educação Física, fica evidente uma visão que remete à aspectos
característicos dos paradigmas tradicionais do ensino. O documento vincula as práticas
corporais como forma de linguagem e de expressão, a construção e apropriação de
conhecimentos aparece apenas em segundo plano e como consequência do processo.
O documento reflete um desequilíbrio entre a construção do conhecimento e a
vivência/experimentação das práticas corporais. A BNCC apresenta essas duas esferas,
contudo, ao analisar o documento verifica-se uma priorização sobre os aspectos referentes às
práticas corporais em detrimento da apropriação e construção do conhecimento. Desse modo,
revela-se um contexto em que a vivência das práticas corporais de forma lúdica por si só já
garantiria o sucesso da Educação Física escolar.
Partindo da premissa de uma concepção crítica de educação é necessário que haja um
equilíbrio e uma relação direta entre construção de conhecimento e vivência. O ensino da
Educação Física deve ser permeado pela apropriação de construção de conhecimentos
científicos, hora por meio da exploração e vivência de gestos técnicos, hora por meio de
construções e relações conceituais, sem que uma esteja em detrimento da outra. A mediação
do professor deve favorecer este equilíbrio, bem como, por meio dele estabelecer relações,
construções e ressignificações da vida cotidiana.
Para superar os modelos de ensinos fundamentados nas teorias não críticas, seria
necessário que a BNCC veiculasse em sua proposta uma postura crítica de educação
manifesta no campo teórico-metodológico capaz de objetivar de forma sistemática e com
rigor seus lastros por um ensino emancipatório frente às amarras trazidas pela vertente
tradicional.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A BNCC apresentou um discreto avanço à medida que se propôs: a nortear a elaboração


de currículos educacionais, definir os conteúdos a serem ensinados, oferecer alguns subsídios
para a intervenção do professor. Contudo superar os paradigmas tradicionais de ensino
implica ter uma base de fundamentação teórica muito mais consistente do que as que o
documento apresentou. Mediante a efetivação do documento BNCC, há que se ter uma
postura crítica para dialogar com as propostas do documento e então elaborar um currículo
educacional adequado.
Acreditamos que uma concepção de educação sob à égide da alfabetização científica
pautada nas premissas das teorias críticas de educação seja promissora para o
desenvolvimento do âmbito educacional. Tais perspectivas, apresentam potencial para
trabalhar face as necessidades educacionais de uma sociedade contemporânea, que se
caracteriza por sua complexidade, globalidade, desenvolvimento social e tecnológico e que
requer uma formação crítica, autônoma e transformadora.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2009.

SCHOOL PHYSICAL EDUCATION AND THE COMMON


NATIONAL CURRICULAR BASIS – CNCB: TEACHING UNDER A
CRITICAL PERSPECTIVE
Abstract: The present research proposes to analyze the implications of the document National
Base Curricular - BNCC, implemented by the Federal Government in December 2017 for the
teaching of Physical Education. We tackle the following problem: do BNCC proposals
contribute to and promote innovations that help implement Physical Education teaching in
accordance with critical education theories? Our objective is to analyze the proposals of the
document, if he presented contributions to effect the education based on a critical and
reflective perspective, allied to the promotion of scientific literacy. We adopted as a
methodological guide the bibliographic and documentary research, we searched for books
and articles on the subject, studied the selected material and constructed the present study.
We analyze the implementation of BNCC and the implications that it has brought to the
teaching of Physical Education. Throughout the research it has been shown that the
contributions of the document, for the introduction of the teaching based on critical theories
and allied to the promotion of scientific literacy, are discrete and insufficient to overcome the
traditional teaching paradigms.

Keywords: Common National Curricular Basis – CNCB. Education. Physical Education.


Teaching.

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