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A ESCATOLOGIA DO

PROFETA JEREMIAS-
Um Retrato do Fim dos
Tempos

© Everton Edvaldo

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A Escatologia do Profeta Jeremias

A Escatologia é um assunto amplamente ensinado nas Escrituras. Por diversas vezes,


pessoas e ocasiões Deus comunicou ao seu povo as coisas que viriam acontecer nos
últimos dias. Na Bíblia, a maior parte da bagagem escatológica está concentrada nos
livros proféticos, todavia isto não quer dizer que outros livros da Bíblia não tenham
conexão com a Escatologia. O profeta Jeremias vivenciou o cumprimento de várias
profecias que foram anunciadas através dele, à nação de Israel. De maneira que o livro
que leva seu nome é classificado como profético. Diferente do que muitos imaginam, o
livro de Jeremias tem sua própria escatologia, isto é, está cheio de predições que irão se
cumprir em breve. O objetivo deste ensaio, é abordar essa questão um pouco mais de
perto. Porém, primeiro gostaria de elucidar algumas coisas, como por exemplo:
Não é objetivo do autor ser exaustivo durante a exposição, contudo, o autor utilizará os
melhores recursos que estão à sua disposição para transmitir as verdades bíblicas. Por
ser um terreno vasto, o autor se limitará apenas ao livro de Jeremias sem fazer longas
conexões com outros livros da Bíblia. Por isso, o título é: "A Escatologia de Jeremias."

Bem, avançando um pouco no conteúdo deste ensaio, percebi que enquanto estudava
e lia o livro de Jeremias, haviam sete passagens específicas desse livro, que apontavam
para algo glorioso e extraordinário acerca da nação de Israel: "sua restauração plena por
Deus." São estas sete passagens que iremos estudar neste ensaio. Se fui impreciso no
exato número de passagens que tratam desse tema, ou desonesto ao classificar apenas
sete passagens que tratam dessa temática, me perdoem. Se haver menos ou mais que
sete passagens em torno dessa temática, é algo que o leitor deve ponderar com um
olhar clínico e crítico! Por fim, e como adendo, vamos estudar a profecia com respeito à
queda da Babilônia e quais as relações da profecia com o futuro.

De forma geral, creio que o ensaio que você está prestes a ler, irá lhe auxiliar no estudo
das Sagradas Escrituras e agregará algo ao seu entendimento sobre Escatologia.
Boa leitura!

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Sumário:

A Escatologia do Profeta Jeremias......................................2


1. A Chamada de Jeremias (Considerações iniciais)...............4
2. A Chamada de Jeremias (Uma Reflexão prática)...............12
3. Em Deus está a Salvação de Israel.....................................20
4. A Restauração de Israel sob o Prisma de Deus..................25
5. A Promessa do Renovo Justo.............................................31
6. O tempo de Angústia de Jacó............................................37
7. O Ápice da Glória! Uma Nova Aliança feita com a Nação..42
8. Repetição da promessa do Renovo de Davi.......................49
9. A Queda da Babilônia.........................................................53
Bibliografia.........................................................................56

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1. A CHAMADA DE JEREMIAS (CONSIDERAÇÕES INICIAIS).

Leitura Bíblica: (Jeremias 1. 1-10).

Introdução: Jeremias é um dos profetas mais conhecidos da Bíblia. Sua vida, ministério
e devoção a Deus fizeram com que seus passos jamais fossem esquecidos por aqueles
que verdadeiramente servem a Jesus. Sua vida foi marcada tremendamente por Deus
que o escolheu para ser seu mensageiro. Este homem é classificado por muitos como o
"profeta chorão" ou o "profeta da lamentação" principalmente pelo que passou e viu.
Jeremias foi um homem de Deus! Entretanto, hoje não falaremos sobre o seu
ministério, mas sim a respeito do início da sua chamada. Iremos mergulhar no primeiro
capítulo do livro que leva o seu nome e refletiremos acerca das mensagem contida dos
versículos 1 ao 10. Boa leitura!

I- ENTENDENDO O CONTEXTO HISTÓRICO DO PERSONAGEM:

Antes de irmos direto ao ponto principal da chamada de Jeremias, gostaria de informar


alguns dados acerca deste personagem. Isso facilitará nossa compressão acerca da
mensagem divina.

1. O significado do nome Jeremias.

Jeremias significa "aquele a quem Jeová nomeou." Baseado nesse significado, fica claro
que Deus nomeia pessoas para que exerçam o papel que lhe apraz dentro da história e
dos seus propósitos. No caso de Jeremias, Deus o nomeou como profeta antes mesmo
do seu nascimento. Entretanto, quem era Jeremias?

2. Quem era Jeremias antes de ser chamado.

O primeiro capítulo do livro de Jeremias fornece dados a respeito de quem era esse
homem.

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Os detalhes presentes no versículo 1 aparentam ser irrelevantes, contudo, apesar de
serem curtos, são importantes e merecem nosso respeito e atenção.

O verso diz que Jeremias era filho de Hilquias (obs: não confundir este com Hilquias
sumo-sacerdote que aparece em 2 Rs 22.8-10), um dos sacerdotes que estavam em
Anatote, na terra de Benjamim.

Aqui dois dados são revelados:

a) Sua família. Primeiro, Jeremias era de uma família sacerdotal. Seu pai era sacerdote
em Anatote. Aqui nada é dito sobre sua mãe e o restante de sua família. (Obs: saiba mais
sobre a família dele em Jr 12.6).

b) Sua terra natal: Anatote. Era uma pequena aldeia rural, situada aproximadamente
cinco quilômetros a nordeste de Jerusalém.

Sobre ela comenta R.N. Chaplin:

"No hebraico, respostas, isto é, às orações. (...) Uma das cidades


pertencentes aos sacerdotes, na tribo de Benjamim, e que era cidade de
refúgio. (...) É melhor conhecida como terra natal e residência usual do
profeta Jeremias (ver Jer. 1:1; 11: 21-23 e 29:27). (CHAMPLIN, 2004, p.
154)."

Ali nasceu e cresceu Jeremias. Descendente da tribo de Levi, era de esperar que assim
como aconteceu com seu pai, Jeremias estivesse sendo preparando para o sacerdócio,
porém os planos de Deus (que precedem o tempo humano) eram outros. Podemos
inferir que Jeremias teve uma boa educação religiosa durante sua infância. Sobre ele
Champlin comenta algo importante:

"O próprio Jeremias nunca serviu como sacerdote. Ele cresceu em


Anatote e ficou familiarizado com a vida rural daquele lugar. Sem dúvida,
ele aprendeu sobre os escritos dos profetas anteriores, e tinha excelente
educação religiosa." (CHAMPLIN, 2004, p. 450).

3. A situação moral e espiritual de Jerusalém nos dias de Jeremias.

Entendemos melhor a chamada que Deus fez a Jeremias quando refletimos a cerca da
situação crítica que seu povo estava passando.

O autor revela que "a ele veio a palavra do SENHOR, nos dias do rei Josias, filho de Amom
e rei de Judá, no décimo terceiro ano do seu reinado."

Isso aconteceu cerca de 60 anos após a morte do profeta Isaías. Jerusalém enfrentava
um período de declínio espiritual. O rei Josias até tentou reverter o quadro, no entanto,
o povo voltou a abandonar o SENHOR.

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Chegou então o tempo de Deus advertir Seu povo e anunciar Seu juízo. A quem Ele iria
usar? Sem dúvida aquele que Ele escolheu para este propósito, ou seja, Jeremias, o Seu
nomeado.

II- DEUS REVELA-SE A JEREMIAS:

É ai que Deus se revela a Jeremias. A Bíblia não relata o local onde este evento
aconteceu, se foi em sua casa, na rua ou em algum lugar de culto ou sacrifício. Também
não diz de que forma essa revelação aconteceu. Está escrito apenas que a Palavra do
SENHOR veio a Jeremias.

Gosto bastante de refletir acerca das coisas que não são ditas ou detalhadas em
passagens como essa que estamos estudando, porque geralmente, o silêncio nas
entrelinhas bíblicas, na verdade, nos diz muita coisa.

Por exemplo, como Jeremias sabia que a Palavra que veio a ele, era a Palavra do
SENHOR? Não sabemos, mas ele sabia. Jeremias reconheceu a voz de Deus.

Isso nos ensina que assim como Jeremias, devemos reconhecer a voz de Deus. Você
pode até não saber a forma, o lugar ou a idade em que isso acontecerá, mas tenha
consciência de que Deus pode falar com você de várias formas, em qualquer lugar e em
qualquer idade.

O segredo está em reconhecer a voz que está falando com você. É certo que Deus se
agrada daqueles que reconhecem sua voz.

III- A MENSAGEM:

O versículo 5 reserva a pérola mais preciosa da passagem que estamos estudando. O


texto diz:

"Antes que eu te formasse no ventre, eu te conheci; e, antes que saísses


da madre, te santifiquei e às nações te dei por profeta."

Deus está dizendo que conheceu Jeremias, antes mesmo de formá-lo no ventre de sua
mãe.

No hebraico, aparece o termo 'yadha', raiz primitiva que significa de um modo geral:
"saber (propriamente, constatar pela visão), "conhecer".

Esse tipo de conhecimento pode ser tanto relacional como intelectual. Deus conhecia
os passos de Jeremias desde a eternidade. Então Deus o forma no ventre de sua mãe e
trata de preservá-lo com vida e em segurança até o momento de revelar-se a ele.

Não é diferente da realidade das nossas vidas. Deus conhece cada um dos seus filhos.
Nada escapa dos seus olhos e sabedoria. Ele sabe dos nossos passos, limitações, medos,

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potencialidades e estrutura. Ele não precisa que nós façamos algo para que fique
informado. Deus não deduz as coisas, nem advinha. Ele é um Deus Onisciente e
Presciente. Ou seja, Ele sabe das coisas antes que elas venham acontecer. Ele está ciente
de todas as coisas que já aconteceram no nosso passado, as que são feitas no presente,
e cada atitude que será tomada naquilo que consideramos o tempo que ainda não
chegou, isto é, o futuro.

Continuando, Deus ainda diz que o santificou e às nações o deu por profeta antes que
saísse dá madre. Para o verbo 'santificar' aparece o termo hebraico 'qadhas' que em
geral significa "apartar", "designar", "santificar", "dedicar", "purificar", "proclamar",
etc.

Naquela época, a santidade era um requisito essencial em alguém que se dissesse


profeta de Deus. Nesse sentido, Jeremias era alguém que foi santificado, ou seja,
separado, e purificado por Ele.

Diante disso, entendemos que do céu veio a aprovação e capacitação divina para
assumir o ministério profético que lhe estava reservado. Não seria apenas uma
experiência sobrenatural. Deus estava chamando Jeremias para uma responsabilidade.

Reflita comigo:

Talvez tenha se passado na cabeça de Jeremias de que forma ele assumiria um


ministério profético sendo educado durante sua infância para outro serviço que não foi
esse. Neste momento, Jeremias era incapaz de exercer o que Deus estava lhe
mostrando, porém, as coisas não ficariam do jeito que estavam. Deus lhe capacitaria.

Muitas vezes não queremos fazer a obra de Deus porque nos achamos incapazes de
exercer aquilo que ele designa para nossas vidas, no entanto, assim como ele fez com
Jeremias, ele faz com aqueles as quais chama. É Deus que capacita os seus.

É verdade que Jeremias foi santificado e entregue às nações por profeta antes disso,
porém, ele precisava de uma capacitação divina, visto que foi criado e instruído para dar
prosseguimento ao ministério sacerdotal e não profético.

Isso nos ensina algumas lições.

Pense comigo: Jeremias foi alguém criado pela família para o sacerdócio e chamado por
Deus para o ministério profético.

Na minha opinião, o ministério profético exige mais que o sacerdotal. Em geral, um


sacerdote é responsável por levar a oferta do povo até Deus. Já o profeta era o porta-
voz de Deus naquela época. Um profeta tinha a incumbência de levar a Palavra Dele ao
povo, às pessoas. Já o sacerdote lida mais com a oferta, enquanto que o profeta lida
mais com o ofertante. Lidar com pessoas é uma tarefa árdua e difícil em qualquer
período da história humana e transmiti-las a mensagem de Deus também. Esse desafio
era algo que Jeremias certamente experimentaria de perto e isso de fato aconteceu.

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Diante dessas dificuldades que se Jeremias não pensou naquele exato momento, no
mínimo estava prestes a pensar, Deus, que conhecia sua mente, se antecipa e diz que o
santificou como profeta antes que saísse da madre, enfatizando que o papel que ele
exerceria era de responsabilidade inteiramente divina. Jeremias não escolheu ser
profeta nem se preparou para isso, foi escolha divina!

IV- A RESPOSTA DE JEREMIAS:

A partir dai, começa um diálogo entre o SENHOR e Jeremias. O jovem respondeu que
não sabia falar e se justifica dizendo que não passava de uma criança.

Vale lembrar que, na época em que Deus o chamou, Jeremias era bastante novo. Alguns
estudiosos situam o nascimento do profeta em 640 a.C e acentuam que seu ministério
iniciou em 626 a.C. Se estas datas estiverem corretas, Jeremias tinha aproximadamente
13 ou 14 anos quando Deus o chamou. Outros afirmam que Jeremias tinha em torno de
20 anos.

Não há como saber exatamente a idade de Jeremias, mas ele certamente era novo a
ponto de chamar a si próprio de criança. É provável que Jeremias fosse um homem
estudado nas Escrituras existentes em sua época e na tradição. Ele certamente também
pensou de que forma iria exercer o ministério profético sendo tão novo já que os outros
profetas que o precederam eram mais velhos que ele quando começaram.

Porém, se tem uma coisa que Deus não leva em conta quando quer usar alguém é a
idade da pessoa. Na Bíblia, encontramos Deus escolhendo e usando crianças, jovens e
velhos dentro da sua obra. O que aconteceu com Jeremias nos ensina que Deus também
conta com os mais jovens para sua obra.

Refletindo sobre essas coisas, Claudionor de Andrade nos instiga a imaginar o que estava
acontecendo:

"Em sua campesina e pacata Anatote, Jeremias jamais imaginaria fosse


Deus santificá-lo ao ministério profético. Ele almejava, certamente, viver
como os demais levitas: do altar e para o altar. Nesse mister, não lhe
faltariam honras, nem a subsistência haveria de mentir-lhe o pão
cotidiano. Havia, por acaso, algum filho de Levi a esmolas a
sobrevivência? Não obstante, o Senhor convoca-o a exercer o ministério
profético no momento mais tenebroso do Israel do Antigo Testamento:
'Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da
madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta' (Jr 1.5). Ele não pôde
ignorar a intimação. Em breve, deixaria a clausura. E já trespassando o
chão ignorado e bucólico de Anatote, andaria sobre as calçadas de uma
Jerusalém que, construída para ser santa, desconstruía-se em crimes e
abominações." (ANDRADE, 2010, p. 29,30).

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Jeremias responde a Deus afirmando que não sabia falar. "Falar" aqui não é no sentido
vocálico e verbal. Jeremias era Inteligente e instruído, o problema dele não era a
ausência dessas coisas. "Falar" assume o significado aqui de "profetizar", "proferir
juízo."

Jeremias demorou para aceitar como alguém tão novo iria proferir juízo sobre nações e
pessoas. Ele se diz ainda uma criança!

Nos dias atuais acontece algo semelhante conosco. Muitos que são chamados por Deus
colocam dificuldades para não fazer a vontade de Deus. Se dizem novos, inexperientes
ou despreparados para realizar determinada tarefa. Entretanto, não entendem ou não
querem entender que o Deus que chama se responsabiliza. Ele é aquele que nivela toda
e qualquer dificuldade que esteja no nosso caminho.

V- A RESPOSTA DE DEUS:

Conforme o diálogo vai se intensificando, Deus fala a Jeremias: "Não digas: Eu sou uma
criança; porque, aonde quer que eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar dirás."

Ou seja, a pouca idade de Jeremias não era uma justificativa para não anunciar os
oráculos de Deus. Jeremias deveria deixar de lado essas coisas e ir aonde Deus lhe enviar
e falar tudo quanto ouvia Deus lhe dizer e mandar. O chamado tão somente deveria ser
atendido/obedecido.

Deus também encoraja Jeremias dizendo: "Não temas diante deles, porque eu sou
contido para te livrar, diz o SENHOR." O jovem não deveria ter medo. Deus estava com
ele para livrá-lo.

Interessante é que o medo é uma das principais características de pessoas que rejeitam
o chamado de Deus. Muitos tem medo de levar a Palavra aos que o SENHOR deseja
alcançar e por isso, não vão. O medo trava. Geralmente é medo de deixar sua família,
de perder o emprego, conforto, amigos ou de fracassar. Jeremias não deveria ligar para
nada disso, principalmente ter medo perante as pessoas as quais ele exerceria o seu
ministério profético. Deus o livraria e não era ninguém menos que o próprio SENHOR
quem estava assegurando isso.

VI- A CAPACITAÇÃO DE JEREMIAS:

Após responder a Jeremias, Deus estendeu a mão sobre ele. "Mão" aqui é a tradução da
palavra hebraica 'yadh', uma mão aberta, indicando poder, força, direção, generosidade
e posse. Deus estava naquele momento dando autoridade a Jeremias. "Estender a mão"
é sinônimo de apoio e de intimidade na Bíblia. Ninguém estende a mão para um inimigo.
Deus estava comprovando sua presença com o moço. Naquele momento, Jeremias
estava sendo capacitado integralmente por Deus.

Deus então toca na boca de Jeremias. Aqui é o usado o verbo "nagha" que dentre os
vários significados, nesse texto, significa: "tocar, i.e., colocar a mão sobre (para algum

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propósito)" (CHAVE, p. 1786), "chegar perto", "aproximar-se". O propósito disso é de
pôr as Suas Palavras na boca de Jeremias.

Jeremias já não podia dizer que não sabia falar, pois nesse momento, Deus havia
resolvido seu caso. A partir do momento que Deus fez isso, Jeremias não seria mais o
mesmo. Seus sentidos foram abertos. Sua audição espiritual ficou altamente aguçada.
Desde esse dia, seu coração seria enchido constantemente com a Palavra de Deus. Sua
boca era agora, o alto falante de Deus, um instrumento de comunicação poderosíssimo,
capaz de alcançar nações e reinos.

Como vimos no começo desse estudo, o oleiro havia escolhido esse vaso há muito
tempo, agora, ele estava dando os últimos retoques sobre sua obra prima. Jeremias
estava pronto para ser usado!

Feito isso, Deus diz:

"Olha, ponho-te neste dia sobre as nações e sobre os reinos, para arrancares, e para
derribares, e para destruíres, e para arruinares; e também para edificantes e plantares."
(v. 10).

Esse é o menu que é entregue a Jeremias. Esta seria sua tarefa. Através da proclamação
da Palavra de Deus, o profeta estaria sobre nações e reinos para anunciar não só juízo e
justiça de Deus como também paz, restauração e renovo. Começa ai o ministério de um
dos maiores profetas do Antigo Testamento. Desde então, seus dias, rotinas e
localidades mudariam. Jeremias passou a viver os planos de Deus e é justamente isso
que vemos em prática no decorrer do livro que leva seu nome.

O que aprendemos com esse último versículo? Quando Deus nos chama para uma
responsabilidade, ele também nos designa uma tarefa. Há trabalho a ser feito! Ele vai
nos mostrar, nos orientar e fazer com que entendamos o que Ele quer. E não só isso,
nos dará condições de exercer seu chamado. Deus não é um chefe que pede ao
funcionário que execute algo e o deixa fazer sozinho. Não! Deus é um chefe que
acompanha seus servos, vive presente, mantém, capacita e trabalha conjuntamente
conosco. Deus trabalha por nós e conosco ao mesmo tempo. É uma obra surreal aos
nossos olhos, porém real no nosso mundo. O nosso Deus é tremendo em todos os seus
atos!

Conclusão: Sem dúvida é um grande privilégio ser escolhido por Deus e ser usado por
Ele dentro da sua obra. Assim como ele fez com Jeremias, o SENHOR continua chamando
seus servos para irem aonde Ele ordena. Jeremias foi um dos que atendeu o chamado
de Deus e se entregou a ele. E nós? Será que estamos dispostos a deixar que Deus
trabalhe em nós, por nós e conosco? Com essa passagem que estudamos, aprendemos
que o SENHOR sabe de tudo a nosso respeito e que está com as mãos abertas para nos
capacitar e nivelar nossas justificativas e dificuldades. Não importa que idade você
tenha, se Deus está te chamando, atenda! O local onde você nasceu e a educação que
você teve não constitui um empecilho para os projetos Dele. Quem sabe Ele quer te
fazer passar por novas experiências e te levar por lugares novos. E ainda que passes por

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dificuldades, saibas que o SENHOR é contigo para te livrar. É isso que Ele te garante e é
por isso que você não deve temer. Por fim, assim como Jeremias, não hesite em anunciar
a Palavra de Deus a ninguém. Que Deus te abençoe poderosamente. Amém!

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2. A CHAMADA DE JEREMIAS (UMA REFLEXÃO PRÁTICA)

Leitura Bíblica: (Jeremias 1.11-19)

Introdução: O capítulo 1 do livro do profeta Jeremias é uma mina recheada de alimento


espiritual para aqueles que estiverem dispostos a explorá-la. Sem dúvida, todos os
versículos presentes neste capítulo, tem algo a nos ensinar. Por esse motivo, hoje
estudaremos os versículos 11 até o 19. Aprenderemos mais acerca de Deus e como foi
um dos primeiros contatos de Jeremias com Deus durante o momento em que foi
chamado por Ele para ser profeta naquela geração corrompida, blasfema e idólatra.
Também veremos de que forma essa mensagem nos alcança nos dias de hoje. Boa
leitura!

I- A INTERAÇÃO DE DEUS COM JEREMIAS:

É incrível a Palavra de Deus consegue atingir profundamente o homem a ponto de


marcar sua vida para sempre. Foi assim que aconteceu com Jeremias! Recém preparado
integralmente para o ministério profético, a Palavra do Senhor veio novamente a
Jeremias perguntando: "Que vês, Jeremias?" Aqui existem algumas lições que o profeta
aprendeu e que acredito que Deus queira transmitir para nós.

Primeiramente, Deus é alguém que dialoga com seus servos.

Consegue perceber que Deus é quem está fazendo contato com o profeta? Deus é o
emissor e Jeremias, o receptor. Ali havia o mensageiro que era Deus e uma mensagem.
Vale salientar que essa mensagem tinha um conteúdo e que esse conteúdo tinha um
propósito.

Segundo, há harmonia e organização na mensagem de Deus.

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O responsável por levar essa mensagem ao destinatário dela, seria Jeremias. Também
consegue perceber a harmonia e a organização em todo esse processo?

Hoje em dia, muitas pessoas afirmam terem ouvido a voz de Deus de qualquer jeito.
Quando se compara essas mensagens com esta que estamos estudando e muitas outras
da Bíblia, constata-se que não há nada de divino nelas. Por exemplo, já ouvi pessoas
afirmando que Deus lhe disse qual cor de roupa deveria vestir em determinada ocasião.
Não é que Deus não possa dizer isso, mas sim qual o propósito, relevância e conteúdo
disso para seu povo?

Terceiro, Deus valoriza e trabalha com o que o profeta tem.

Deus faz uma pergunta a Jeremias que já foi citada mais acima: "Que vês Jeremias?" e
ele lhe responde: "vejo uma vara de amendoeira."

Aqui temos mais coisas a aprender. Se você meditar um pouco, perceberá que Deus está
trabalhando com os sentidos do profeta. Primeiro Deus falou novamente com o profeta.
Daí Jeremias lhe escuta (audição). Então Deus lhe pergunta sobre o que ele estava vendo
(visão) e Jeremias responde que via uma vara de amendoeira (fala).

Às vezes, a gente espera que Deus aja sempre de maneira sobrenatural sobre seus
servos. Entretanto, nem sempre acontece dessa forma. Deus também usa o que a gente
tem. Um das maneiras pelas quais Deus se comunica conosco é na simplicidade.

II- A VARA DE AMENDOEIRA E SEU SIGNIFICADO:

Jeremias viu uma vara de amendoeira. Deus usa o que ele viu para ilustrar Sua
mensagem. A amendoeira era uma árvore frutífera cultivada. É uma das primeiras
árvores a florescer na Mesopotâmia. No processo de florescimento, fica toda coberta
de flores rosas e brancas. É uma árvore bela.

A vara de amendoeira simbolizava naquele momento algumas coisas, como por


exemplo:

a) aquilo que estava por vir, que estava sendo despertado.

b) o zelo de Deus por aquilo que estava dizendo, ou seja, Sua Palavra. Assim como uma
amendoeira cultivada e bem tratada, tende a florescer e frutificar, Deus estava zelando
pela sua Palavra para cumpri-la.

c) "A amendoeira é a primeira árvore que brota na primavera." (Pentecostal, p. 1081).


Sendo assim, sua vara representava a rapidez com que se cumpriria a Palavra de Deus.

Outra observação importante. A figura da amendoeira tem uma estreita relação com o
termo hebraico traduzido em português como 'velar'. Quando Deus diz que velava pela
sua palavra para cumprir, o termo que aparece em hebraico, o verbo 'velar'
é saqadh que significa 'estar alerta, i.e., sem sono', "estar de vigia", "velar", "vigiar". A

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palavra velar/vigiar assemelha-se bastante à palavra amendoeira no hebraico. Sendo
assim, essa mensagem serviu como um tranquilizante para Jeremias. Tão certo como a
amendoeira, Deus não estava adormecido e executaria tudo quanto estava sendo
proclamado.

Isso é uma das promessas mais belas feitas nas Escrituras. Deus vela pela Sua Palavra,
fazendo com que se cumpra palavra por palavra. Certamente isso renova as esperanças
daqueles que já estão desanimados e descrentes a respeito de algo dito, prometido ou
assegurado por Deus.

Conforme está escrito em Ezequiel 12.25,28:

"Porque eu, o SENHOR, falarei, e a palavra que eu falar se cumprirá e não


será retardada... falarei a palavra e a cumprirei, diz o SENHOR Deus." e
"Não será retardada nenhuma das minhas palavras; e a palavra que falei
se cumprirá, diz o SENHOR Deus."

Tudo que Deus fala, Ele cumpre, independente de quanto tempo passe.

Assim como Jeremias viu bem aquela vara de amendoeira, Deus estava como um vigia,
prestando atenção em cada palavra que dizia e estando alerta.

Quando Deus diz: "Viste bem", o termo hebraico encontrado aqui é ra'ah. "Verbo que
significa ver. Seu significado básico é ver com os olhos (Gn 27.1). (...) Também é possível
que este verbo exija que a pessoa faça uma observação mental." (Chave, p. 1915).
Jeremias observou-a muito bem.

III- A PANELA FERVENTE E SEU SIGNIFICADO:

Deus novamente torna a falar com Jeremias, perguntando pela segunda vez o que ele
estava vendo. Gosto bastante da tradução da NVI do versículo 13:

"... Eu respondi: Vejo uma panela fervendo; ela está inclinada do norte
para cá." (NVI).

Deus usa a figura da panela fervente para ilustrar o que estava por vir sobre Judá e em
especial, sobre Jerusalém. Naquela época, a panela era um recipiente grande utilizado
para lavar ou cozinhar. Representava o derramamento da justiça de Deus, através das
famílias do Norte.

Interessante é que dois detalhes aqui nos chamam atenção:

A) A panela estava: fervente. Simbolizando o conteúdo, a intensidade e o estado, isto é,


a indignação, fúria e justiça de Deus.

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B) A panela estava: inclinada para a terra de Jeremias. Apontando o destino dessa
justiça.

Deus explica: "... Do Norte se derramará a desgraça sobre todos os habitantes desta
terra." (v. 14).

'Desgraça' (NVI) é tradução do termo hebraico ra que aqui pode assumir vários
significados, entre eles: "adversidade", "aflição", "mal", "prejuízo", "calamidade",
"dano", "perturbação", "tristeza" e "infelicidade".

O próprio Deus estava convocando todas as famílias dos reinos no Norte:

"... e virão, e cada um porá seu trono à entrada das portas de Jerusalém,
e contra todos os seus muros em redor, e contra todas as cidades de
Judá." (v. 15).

Essa sentença profética diz respeito à invasão babilônica contra Judá. A respeito desse
versículo comenta a Bíblia de Estudo Pentecostal:

"Este versículo refere-se aos ataques de Babilônia contra Judá e o cerco


de Jerusalém. Uma invasão maciça viria do Norte, porque o povo de Deus
o abandonara, oferecia sacrifícios a outros deuses e adorava as obras das
suas próprias mãos." (STAMPS, p. 1081).

Nesta época, a Babilônia estava fortificando seu império que se tornaria pouco tempo
mais tarde, uma grande máquina de conquistar terras e povos.

Assim, Deus usaria a Babilônia para abater a malícia do seu povo e fazer justiça ao Seu
nome.

A profecia é muito clara:

"Porque eis que convoco todas as famílias dos reinos do Norte, diz o
SENHOR; e virão, e cada um porá o seu trono à entrada das portas de
Jerusalém, e contra todos os seus muros em redor, e contra todas as
cidades de Judá. E eu pronunciarei contra eles os meus juízos, por causa
de toda a sua malícia; pois me deixaram a mim, e queimaram incenso a
deuses estranhos, e se encurvaram diante das obras das suas mãos. " (vv.
15,16).

Isso aconteceria porque o povo do SENHOR, havia Lhe abandonado e nesses versículos,
Ele está explicando a causa para Jeremias.

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Através de Jeremias, Deus advertiu seu povo ao arrependimento e como não houve
arrependimento, todas essas coisas ditas e pronunciadas contra Judá se cumpriram
quando Nabucodonosor, rei da Babilônia, destruiu Jerusalém em 587 a.C.

O que podemos extrair como aprendizado sobre essas coisas? Bem, a justiça de Deus
sempre foi real em toda a história da humanidade. Ela está ativa principalmente entre o
seu povo. Deus não divide os seus com ninguém.

Os judeus estavam adorando deuses falsos isto é, deuses que não existiam e que nunca
fizeram nada por eles. Isso representa para nós algo bastante significativo sobre a justiça
de Deus. Todos aqueles que abandonarem ao SENHOR, serão alvo da sua justiça seja
aqui e agora ou após o juízo final.

Assim como Deus estava ciente da malícia presente no meio do seu povo, Ele está ciente
de tudo quanto fazemos hoje. Aqueles que deixam o SENHOR, despertam
automaticamente a sua justiça que geralmente, quando desfrutada aqui na terra,
resulta em dor, choro e angústia. Não existem boas promessas para os que estão longe
Dele e não desfruta da verdadeira felicidade aqueles que o substituem.

IV- DEUS FORTELECE O PROFETA E DIZ QUE ESTÁ COM ELE:

A partir dos versículo 17 até o 19, Deus torna a dirigir sua palavra a Jeremias a fim de
concretizar sua chamada, revelar mais sobre sua atividade profética e garantir sua
caminhada.

"Tu, pois, cinge seus lombos, e levanta-te, e dize-lhes tudo quanto eu te


mandar; não desanimes diante deles, porque eu farei com que não temas
na sua presença." (v. 17).

O lombo é região abdominal e área em volta dos quadris. O que era cingir os lombos
naquela época? Era enfiar as pontas da veste comprida por baixo do cinto. Esse ato
facilitava as atividades físicas diárias e trabalhistas daquele tempo, transmitindo a ideia
de preparação e fortalecimento.

De acordo com Elizabeth George, cingir os lombos representava uma preparação para o
trabalho. Ela diz:

"Três mil anos atrás […] as mulheres (e os homens) usavam roupas bem
soltas. Para realizar trabalhos físicos precisavam segurar a roupa e
prendê-la com um cinturão. Só assim poderiam movimentar-se
livremente. Esse cinturão por cima da roupa era uma preparação
necessária para o trabalho pesado e também para esforços prolongados.
O ato de cingir-se ou de prender a roupa com o cinturão era também um
fator psicológico para o trabalho. Da mesma forma que colocar um
avental, roupa de faxina, roupa de ginástica, roupa para pintar ou roupa
para cuidar do jardim, ou até mesmo arregaçar as mangas, o ato de

16
colocar o cinturão significava preparar-se para o trabalho. Esse ato
preparatório e a roupa apropriada incentivavam a atitude de “Vamos lá!”
em relação à tarefa do momento. O cinturão é um símbolo da força
mental e física que é adquirida quando se entra na arena do trabalho."
(GEORGE, p. 117).

Isto era o que Jeremias deveria fazer! Preparar-se, levantar e dizer tudo quanto Deus
lhe disse. Também não deveria desanimar. Desanimar é tradução do termo
hebraico hathat que pode aqui significar: "prostrado", "espantado", "amedrontado",
"assombrado", "pasmado", "apavorado", "assustado", "cheio de temor", "abalado."

Quantas vezes nós queremos desanimar na caminhada que Deus nos orienta a passar...
Essa é a realidade que muitos servos de Deus experimentam, pois o desânimo é um
sentimento que todo ser humano está sujeito a sentir. Entretanto, não devemos
alimentar esse sentimento. O desânimo costuma trazer fraqueza espiritual para nós,
relaxamento na trajetória, e desencadeia numa série de males como o medo que acaba
por travar e nos impedir de fazer a vontade de Deus.

Um bom remédio para o desânimo é não se acomodar e obedecer. A obediência à


Palavra de Deus costuma desenferrujar a alma. Por isso caro leitor, se esforce! Não
tenha receio de quem quer que seja. Deus está contigo, logo, não há o que temer.

Prepare-se para a obra do SENHOR, use os recursos que Ele está colocando na sua mão
e na sua boca para servi-lo.

Chegando ao final do capítulo, Deus revela algo inédito para Jeremias:

"Porque eis que te ponho hoje por cidade forte, e por coluna de ferro, e
por muros de bronze, contra toda a terra, e contra os reis de Judá, e
contra os seus príncipes e contra os seus sacerdotes, e contra o povo da
terra." (v. 18).

Aqui, o profeta é colocado como referência para aquela terra. "Uma cidade fortificada",
ou seja, revestida, preparada, bem vigiada e equipada.

Jeremias caminharia na contra mão dos reis, príncipes, sacerdotes e povo daquela terra.
Não seria um trabalho fácil, mas era o próprio Deus quem estava se responsabilizando.
Deus estava contra a nação de Judá e Jeremias precisava ser forte para se manter
inabalável durante os mais de quarenta anos em que ele atuaria como profeta.

Sobre o versículo 18, a Bíblia de Estudo Pentecostal comenta:

"Embora Jeremias fosse um jovem moderado, Deus colocou 'ferro'


espiritual na sua personalidade, e assim fê-lo o mais forte, destemido e
corajoso de todos os profetas. Deus pode usar o crente muito além das
suas potencialidades e talentos naturais." (STAMPS, p. 1082).

17
Devemos lembrar que nessa época, Jeremias ainda era muito jovem. Os estudiosos
situam sua idade, entre 13 a 20 anos.

Aos olhos do povo, seria um garoto, inexperiente e rebelde contra o governo, porém,
aos olhos de Deus, uma ferramenta ousada, obediente e destemida.

Hoje, Deus conta com a nossa disposição para andar na contra mão desse mundo. É
preferível obedecer a Deus e desobedecer ao mundo corrompido, do que agradar aos
homens. Assim como Deus equipou Jeremias, ele nos disponibiliza armaduras espirituais
contra as ciladas malignas (Efésios 6. 10-17) que certamente surgirão.

Por fim, Deus diz a Jeremias:

"E pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou
contigo, diz o SENHOR, para te livrar." (v. 19).

Gostaria de colocar aqui duas outras traduções desse versículo:

"Eles lutarão contra você, mas não o vencerão, pois eu estou com você e
o protegerei.", diz o SENHOR. (NVI).
"Eles lutarão contra ti, mas nada poderão contra a tua pessoa, porque Eu
estou contigo para te livrar!" Oráculo do SENHOR. (BKJ atualizada).

O SENHOR revela que eles lutarão contra Jeremias, ou seja, a liderança e o povo que ali
residia. Eles resistiriam à mensagem de Deus através da boca de Jeremia. Relutariam,
mas Deus estava com o profeta.

Embora Deus esteja conosco, as lutas nunca deixarão de estar presentes na nossa vida.
Estar do lado de Deus quase sempre fará com que você seja visto como inimigo, uma
ameaça, um alvo que precisa ser eliminado. Entretanto, a vitória de quem serve a Deus
já está garantida. O ímpio pode até contar com a maioria, mas se o justo estiver com o
maioral de todo o universo, nenhum mal lhe sucederá. É melhor ser minoria com Deus
do que maioria com os homens. Deus não teme a ninguém. Só bastaria um sopro da sua
boca e todo o universo desapareceria em instantes.

Continuando, Deus reafirma o que tinha dito no versículo 8 ao profeta: "Porque estou
contigo para te livrar." Essa é razão do mal não prevalecer contra Jeremias: a presença
de Deus!

É a presença de Deus que garante o livramento a Jeremias. A tradução do verbo "livrar"


vem do termo hebraico nasal que aqui pode significar: "defender", "livrar", "preservar",
"libertar", "salvar", etc.

Para finalizar, gostaria de deixar o comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal sobre esse
versículo:

18
"Jeremias foi avisado de que os reis de Judá, os funcionários do estado,
os sacerdotes e até mesmo o povo comum, resistiriam a ele e à
mensagem a que foi chamado a proclamar. O profeta, porém, recebeu
ânimo para falar com ousadia e firmeza de convicções, pois Deus
prometera que estaria com ele; Deus lhe garantiu que seus inimigos não
poderiam vencê-lo. Deus sempre fica ao lado dos seus servos fiéis que
declaram a verdade divina àqueles que vivem distanciados de sua palavra
e conformados com o mundo." (STAMPS, p. 1082).

Conclusão: Infelizmente, muitos cristãos, imaginam que servir a Deus é viver uma vida
bem sucedida economicamente, em harmonia com a sociedade e no comodismo,
entretanto, Jeremias é um dos maiores exemplos da Bíblia de que nem sempre quem
serve a Deus terá uma vida tranquila perante os homens. Ainda muito cedo, Deus
trabalhou poderosamente na vida deste homem e continua atuando nos seus escolhidos
atualmente. Deus deseja levantar uma geração de pessoas que estejam dispostas a
serem mensageiros Dele nesse mundo corrompido. Não importa qual seja a idade, a
condição social, os recursos e potencialidades da pessoa, o SENHOR sempre estará com
os seus e executará tudo quanto está escrito em Sua Palavra. Que o exemplo de Jeremias
possa nos encorajar e que Deus nos ajude, amém!

19
3. EM DEUS ESTÁ A SALVAÇÃO DE ISRAEL

Leitura Bíblica: (Jeremias 3.14-18)

Introdução: Ainda no primeiro capítulo deste ensaio, tivemos a oportunidade de


conhecer um pouco da situação moral que a nação de Israel se encontrava. Essa
situação era de declínio espiritual e apostasia. Tal rebelião contra Deus resultou na
invasão babilônica em Jerusalém, onde grande parte dos judeus foi levada cativa, as
muralhas da cidade foram derrubadas e o templo foi queimado e destruído. Entretanto,
nos primeiros capítulos do livro de Jeremias, a princípio, Deus tinha revelado Seu juízo,
acompanhado de um convite ao arrependimento e retorno. Deus fala que Israel Lhe
deixou (Jr 2.13) e descreve as consequências que virão sobre a nação por ter Lhe
deixado e não ter Lhe temido (Jr 2.19). Apesar desta infidelidade, Deus usou Jeremias
para dizer: "Oh! Que geração! Considerai vós a palavra do Senhor." (Jr 2.31).
Infelizmente, o povo não reconhecia seu erro e por causa disso, o juízo imediato viria
sobre eles (Jr 2.35). Mesmo assim, Deus, que é misericordioso e longânimo, continuou
exortando Israel a regressar dos seus caminhos malignos (Jr 3.12,13). É nesse contexto
que Deus faz a primeira promessa de restauração de Israel. Vejamos:

I- ENTENDENDO A PROMESSA DE RESTAURAÇÃO:

Primeiro, precisamos pontuar que nas Escrituras, existem várias promessas com
respeito à restauração de Israel. Em um sentindo primário, essa promessa diz respeito à
uma restauração imediata, parcial e momentânea, que se cumpriu quando Israel voltou
do cativeiro babilônico e foi plantado novamente em sua terra.

Um outro sentido da promessa de restauração está relacionado a um futuro um pouco


distante dos dias de Jeremias. Essa é conhecida como a restauração plena do povo de
Israel que em nosso tempo está brotando e caminhando para se cumprir perfeitamente
conforme está escrito. É importante frisar que Jeremias profetizou tanto sobre o
primeiro sentido quanto o segundo.

Pois bem, é do segundo tipo de restauração que Deus está falando no capítulo 3 do livro
de Jeremias. Como sabemos disto?

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Ora, a resposta é simples: Porque existem aspectos da promessa contidos nessa
passagem que não se cumpriram ainda e tendo em vista que cremos que a Palavra de
Deus não falha, devemos esperar o seu cumprimento em algum momento da história.
Não podemos simplesmente ignorar ou alegorizar essa passagem, pois fazer isso, é lutar
contra o aspecto literário da mesma. Pretendo voltar nesse assunto mais adiante. Por
ora, regressemos à explanação da passagem.

II- DEUS PRESENTEARIA SEU POVO COM GOVERNANTES SEGUNDO O SEU CORAÇÃO:

Como abordamos na introdução, durante a mensagem profética de Jeremias, Deus


continuou exortando Israel a se arrepender dos seus pecados e lhe mostrando sua
rebeldia (Jr 3.12,13).

No versículo 14, Ele pede para que se convertam e os chama de "filhos rebeldes." A
expressão hebraica aqui para rebelde descreve alguém que desviou do Senhor, deixou
Seus caminhos e apostatou de Deus. Logo em seguida, Deus diz que irá desposar com
Israel. Aqui aparece o termo "baal" que significa ser dono de, esposo/marido de, ter
domínio/governo sobre.

Israel tinha se desviado de Deus, entretanto, Ele anuncia seu domínio sobre a nação.

Strong diz que baal nesta passagem, "De maneira figurada, é usada em relação ao
casamento de Deus com Israel (Jr 3.14)." (CHAVE, p. 1561).

Ou seja, Deus é descrito figuradamente como o esposo de Israel, o dono da nação e o


governante supremo da mesma. E como Ele é o dono da nação, iria trazer os seus para
Sião, isto é, para Jerusalém. (Sobre a promessa do casamento de Deus com Israel, veja
Oséias 2.16,19-23).

Prosseguindo com a mensagem, fica claro que esta profecia- que veremos abaixo-
apontava para dias (tempos) distantes de Jeremias.

Isto é, o próprio Deus promete lhes dar pastores (líderes e governantes) segundo o Seu
coração (Jr 3.15). Diferente da maioria dos antigos reis de Israel- cujo caráter era
idolátrico, rebelde e de coração de endurecido- esses apascentarão o povo de Israel com
inteligência e conhecimento. Esta promessa se repete em Jr 23.4 que teremos
oportunidade de estudar em outro capítulo.

Continuando... Em certo sentido, Deus já é visto como estando à frente do curso de


Israel através desses pastores. Simultaneamente, e em trabalho conjunto, esses
pastores são subordinados ao supremo Pastor que é o próprio Deus. São pessoas
segundo o coração Dele. Deus os lidera e eles lideram o povo de Israel. Dessa forma, isto
é, eles estando no governo, é a garantia de que foram presentes de Deus e que Ele está
por trás deles. Essa era uma necessidade óbvia para Israel nos dias de Jeremias. Os
"pastores" que até então haviam se levantado, na maioria das vezes, conduziram o povo

21
à idolatria. É de se esperar que um líder sem compromisso com Deus conduza o povo à
ruína. Por isso, Deus fala que dará pastores segundo o seu coração.

Ao longo da história de Israel, essa profecia começou a se cumprir no retorno do exílio


quando Deus suscitou profetas, escribas e outras pessoas para cuidarem do Seu povo.

No sentido Monárquico, isto é, "reis governando o povo", a profecia jamais se cumpriu.


Isto porque do exílio até os dias de hoje, não houveram mais reis (no sentido político e
físico) em Israel.

Esta profecia está se cumprindo perfeitamente na atualidade em Israel. Desde o século


XX, principalmente depois de 1948 (quando Israel é reconhecida como nação), Deus tem
abençoado seu povo com líderes e governantes sábios e cheios de ciência.

O pastoreio desses líderes, durará até que a restauração de Israel seja plena e o próprio
Deus através de um único pastor, isto é, Jesus Cristo, finalmente reine, apascente e
governe sobre eles (Confira Ezequiel 35.11-31).

Sobre isso, a Bíblia de Estudo Pentecostal comenta:

"Jeremias vislumbra o dia em que Israel terá pastores que andam


segundo a Palavra de Deus e que comuniquem vida através de sua
compreensão. Eles conheceriam a natureza de Deus, e então saberiam
como pastorear o povo de Deus." (STAMPS, p. 1085).

III- O DESLIGAMENTO DO POVO DE DEUS COM A ARCA A ALIANÇA:

Nos próximos versículos da passagem que estamos estudando, Jeremias profetiza um


tempo em que quando os judeus se multiplicassem e frutificassem na terra (isto é, na
sua terra), nesses dias, não haverá quem fale sobre a Arca da aliança do Senhor, nem
lhes virá ao coração, nem dela se lembrarão e nem se fará outra (Jr 3.16).

A arca da aliança talvez tenha sido o maior símbolo da dispensação da lei, em Israel. Ela
personificava a própria presença de Deus. Os judeus a admiravam e acreditavam que
nenhuma nação iria prevalecer sobre eles, haja vista que tinham a presença de Deus
consigo. Nos dias de Jeremias, a figura da arca da aliança era muito forte e marcante
entre os judeus. Não se passava pela cabeça deles, o triunfo da sua nação sem a arca da
aliança.

Sabe-se que na época do exílio dos judeus na babilônia, a arca da aliança desapareceu
de Jerusalém até os dias de hoje. Entretanto, antes mesmo disso acontecer, Deus
anuncia que haverão dias em que os judeus não irão mais visitá-la e que não se fará mais
outra.

Sobre esse versículo, a Bíblia de Estudo Anotada e Expandida comenta:

22
"Quando Cristo voltar, ninguém sentirá falta da arca da Aliança nem
procurará substitui-la por outra igual, pois o Cristo entronizado será
adorado em Jerusalém." (RYRIE, p. 712).

IV- JERUSALÉM RECONHECIDA COMO TRONO DO SENHOR:

"Naquele tempo, chamarão Jerusalém de Trono do SENHOR; nela se reunirão todas as


nações em nome do SENHOR e já não andarão segundo a dureza do seu coração
maligno." (Jr 3.17).

Sobre essa profecia, a Bíblia de Estudo Pentecostal comenta:

"Aqui, a profecia de Jeremias prediz a era messiânica, quando Cristo


reinar sobre o seu povo. A arca, que antes simboliza a presença de Deus,
já não será necessária, pois o Messias estará visivelmente presente.
Jerusalém será chamada de trono de Deus, e todas as nações o
adorarão." (STAMPS, p. 1085).

Será um tempo de glória para Israel. No capítulo 17.12, Jeremias afirma que "Trono de
glória enaltecido desde o princípio é o lugar do nosso santuário." Compare esse versículo
com Ezequiel 43.7, ambos estão inteiramente interligados dentro do cenário profético.

"Naquele tempo, chamarão a Jerusalém de Trono do SENHOR; nela se reunirão todas as


nações em nome do SENHOR e já não andarão segundo a dureza do seu coração
maligno." Eu realmente vejo o cumprimento dessa profecia apontado para a era
messiânica. Isto porque atualmente, a situação de Israel perante as nações não é
conforme prediz a profecia, sem falar muitos judeus continuam de coração endurecido
devido à sua incredulidade. É no reinado de Cristo que todo vestígio de malícia e engano
entrelaçado à Jerusalém será finalmente vencido e destruído.

V- A UNIFICAÇÃO DE JUDÁ E ISRAEL:

O versículo 18, é o ápice dessa profecia. Deus revela que "Naqueles dias, andará a casa
de Judá com a casa de Israel, e virão juntas da terra do Norte para a terra que dei em
herança a vossos pais."

A sequência lógica da profecia é a seguinte:

• Israel e Judá tornarão a ser uma só casa, um só povo, uma só nação (Jr 50.4; Ez
37.16,19,21-28; Os 1.11).

• Os judeus não ficarão para sempre em terras estrangeiras, longínquas e em cativeiro


(Is 11.11,12; Jr 31.8-10).

• Os judeus seriam reagrupados novamente na terra dos seus pais, pois esta terra é
herança deles (Jr 12.15; 16.15; Am 9.15).

23
Entendo que esse versículo é a parte final da primeira passagem que trata da
restauração escatológica de Israel predita por Jeremias.

Aqui fica claro que não é apenas a casa de Judá que será restaurada, mais também a
casa de Israel. Deus os uniria como no princípio, e já não haveria divisão alguma.

Para finalizar, a Judá que existia nos dias de Jeremias, estava prestes a sucumbir perante
o cativeiro babilônico, contudo, Deus revela que as coisas não ficarão desse jeito.
Chegará um tempo em que haverá uma plena restauração do seu povo, pois uma obra
totalmente divina, bela e gloriosa será feita por Deus.

Conclusão: Sem dúvida, Jeremias 3.14-18 pinta uma restauração futura para o povo de
Israel. Essa profecia está em vigência e no tempo devido se cumprirá. Deus não
esqueceu dos Seus. Todos os problemas que hoje assolam, preocupam e tiram o sono
dos judeus, um dia serão solucionados. Deus tem um plano glorioso para este povo,
embora eles tenham abandonado o SENHOR tantas vezes. Tenho certeza de que está
claro nessa passagem que estudamos que "no SENHOR, nosso Deus, está a salvação de
Israel." (Veja ainda Jr 17.4; 31.7; SL 3.8). A salvação deste povo repousa inteiramente
nas mãos de Deus. Para nós, nos resta confiar Nele. Devemos acreditar no que diz as
Escrituras porque elas não mentem, não falham e nem pintam uma falsa esperança.

Iremos continuar estudando a Escatologia de Jeremias nos próximos capítulos deste


ensaio, e como Deus se revelou em cada passagem, que por nós, serão abordadas.

24
4. A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL SOB O PRISMA DE DEUS

Leitura Bíblica: (Jeremias 16.14-21).

Introdução: No capítulo anterior, tivemos a oportunidade de verificar alguns aspectos


da Escatologia de Jeremias e vimos o quanto a nação de Israel é importante e valiosa
perante Deus. Na verdade, essa perspectiva se repete várias vezes no livro de Jeremias.
Na passagem que estudaremos neste capítulo, iremos progredir em alguns aspectos da
revelação profética de Deus. É natural esperar tais coisas nesse ensaio, visto que
conforme as profecias de restauração foram se intensificando, várias coisas ficam mais
claras sobre a literatura escatológica de Jeremias. Porém, antes, permita-me esclarecer
algumas coisas presentes nos capítulos anteriores da passagem que iremos estudar.

I- PANORAMA DO CONTEXTO PROFÉTICO DE JEREMIAS:

Depois que li o livro por completo, percebi que existe uma base (uma espécie de
corrente lógica) pela qual todo o livro gira em torno:

> Explanação dos pecados dos judeus;

> Convite ao arrependimento seguido de uma promessa de bençãos para a terra;

> Mensagem de juízo divino.

Veja por exemplo a continuidade do contexto seguinte da passagem que estudamos no


capítulo anterior deste ensaio:

• Deus descreve que os filhos de Israel perverteram o seu caminho e se esqueceram do


SENHOR, seu Deus (Jr 3.21).

• Logo depois, existe um convite ao arrependimento (Jr 3.22) juntamente com uma
promessa (Jr 4.1-4).

25
• Então como o povo persiste em suas maldades, segue-se uma mensagem de juízo
divino (Jr 4.5-31).

Várias vezes Deus deixa claro que esse mau proceder de Israel é a causa da calamidade
que viria sobre eles (Jr 4.17,18; 5.25).

Depois, a mesma lógica que abordamos acima, repete-se nos próximos capítulos.

• Deus descreve os pecados dos judeus (Jr 5.30).

• Anuncia o juízo (Jr 6.1-6), porém os convida à disciplina afim de evitar essa grande
calamidade (Jr 6.8).

• Como eles persistiam ainda mais nas suas maldades, Deus claramente revela o juízo
divino sobre eles (Jr 6.22-26).

E de novo, veja:

• Deus descreve a corrupção do seu povo (Jr 6. 28).

• Logo em seguida, o SENHOR os convida à emendar seus caminhos e obras, juntamente


com uma promessa de benção caso fossem obedientes (Jr 7.2,6,7,23).

• Entretanto, como não deram ouvidos (Jr 7.26-28), o SENHOR os desamparou.

• Segue-se a mensagem de Juízo divino (Jr 8.10-17).

As próximas mensagens que se seguem após o capítulo 8 de Jeremias, continuam


seguindo essa cadeia (ou seja, abordando essa temática) ainda que de forma "menos
organizada" ou melhor, "menos sistematizada."

Queria abrir um parêntese aqui para trazer uma aplicação pessoal a partir do que vimos
até agora. Podemos fazer um contraste real dessas características abordadas acima com
a maneira como pregamos o evangelho na atualidade.

Primeiramente, o que vimos acima nos ensina que quando fomos pregar o evangelho,
não devemos pregar apenas parte dele. Semelhante à mensagem de Jeremias, o
evangelho mostra a real condição do homem como pecador, o convida para arrepender-
se dos seus pecados acompanhado de uma promessa de benção (na dispensação da
graça a promessa diz respeito à vida eterna) e lhe mostra o juízo de Deus caso o perdido
negue arrepender-se e persista nos seus maus caminhos.

Precisamos dizer ao pecador que ele é pecador! Aparentemente, parece insignificante


dizer isso, ou até mesmo um pleonasmo, todavia, muitas pessoas apresentam a solução
(Jesus Cristo) sem mostrar o problema (o pecado). O pecador deve saber que Cristo
providenciou perdão para seus pecados e isso deve estar evidente na boca de quem está
pregando o evangelho. Na Bíblia, concluímos que até a persuasão do Espírito Santo não

26
ignora o pecado (João 16.8), curiosamente, o Espírito Santo convence o homem do
pecado, da justiça (que é Cristo) e do Juízo.

Durante a pregação do evangelho, também devemos apresentar a solução para este


problema. Jesus (que é a solução) disse: 'Vinde a mim todos que estais cansados e
sobrecarregados e eu vos aliviarei." (Mateus 11.28) Um convite para ir até a solução é
lançado por Jesus. Deus, através do Espírito Santo e também do pregador, convida o
homem para arrepender-se dos seus pecados. Deus se importa com o perdido e está
interessado na sua salvação desde a eternidade.

Contudo, se o perdido (à semelhança de Israel), resiste à graça de Deus, também deve-


se pregar o juízo de Deus. Seus erros não ficarão impunes perante o SENHOR e se esta
pessoa resiste continuamente a Deus, o que lhe resta naturalmente, é uma eternidade
sem Ele.

II- VERIFICANDO A HERMENÊUTICA DA PASSAGEM:

Voltando ao nosso estudo, no capítulo 16 de Jeremias, a cadeia que vimos acima é


coroada com a promessa de restauração de Israel.

Nesse capítulo, dos versículos 3-13, existe um oráculo de juízo contra aquele povo.
Contudo, esse juízo não é ponto final sobre a nação. Deus lhes entrega mais uma vez
uma mensagem de esperança.

Não resta dúvidas que os versículos 14 e 15 tratam da restauração de Israel. A pergunta


que devemos fazer é: que tipo de restauração é essa? Em que tem tempo se dará ou se
deu?

Bem, a restauração de Israel é vista nesse versículo como sendo o retorno dos seus filhos
para sua terra, a terra que Deus deu a seus pais. Aqui, a revelação está sendo
progressiva, não exaustivamente descritiva, isto é, o que está escrito aqui sobre a
restauração de Israel não é "tudo sobre [esse tema]." A restauração de Israel envolve
muitas outras coisas gloriosas que não foram descritas aqui.

Sabendo disso, devemos nos perguntar para que tempo esta profecia estava apontando.
Para o retorno do exílio de Judá ou para os fins dos tempos? A resposta é: os dois! Nesses
versículos encontramos um recurso muito utilizado pelos escritores da Bíblia, chamado
pelos estudiosos de "dupla referência."

Thomas Ice explica que a "expressão 'dupla referência' indica que parte de uma
passagem das Escrituras pode ser cumprida numa ocasião, enquanto a outra parte se
cumprirá em outra época. Essa é uma lei de interpretação válida." (ICE e DEMY, 2003,,
p. 70).

É importante deixar claro que a maioria dessas passagens em que existe dupla
referência, não faz distinção em que parte a promessa ou profecia se cumprirá. Elas
apenas falam de modo geral.

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No caso de Jeremias 16.14-15, subtendemos que existe uma dupla referência nesta
profecia por três motivos.

Primeiro, por causa da expressão "eis que vêm dias." Quase todas as promessas de
restauração escatológica, isto é, apontando para os últimos, contém alguma fraseologia
parecida. (Nota do autor: Das oito passagens que temos oportunidade de estudar que
tratam da restauração de Israel, sete delas contém expressões do tipo: "Naquele
tempo", "naqueles dias", "eis que vêm dias", "nos seus dias", "aquele dia", "haverá um
dia", "naquele dia", apontando constantemente para os fins dos tempos. Observação:
expressões retiradas da Almeida Revista e Atualizada).

É bem verdade que expressões desse tipo, também foram usadas em passagens que não
tratam da restauração escatológica de Israel, como por exemplo para descrever dia da
calamidade sobre Israel (O exílio babilônico, Jr 4.9,11), mas quando se tratava de uma
restauração plena de Israel, é possível inferir que elas apontam para um futuro distante
de Jeremias devido a interdependência, conexão/ligação entre elas).

O segundo motivo, não nos deixa dúvida quanto ao aspecto escatológico da profecia.
Isto porque a profecia diz que o "SENHOR fez [no caso faria] subir os filhos de Israel da
terra do Norte e de todas as terras para onde os tinha lançado." (Jr 16.15).

Se a profecia tivesse dito apenas que Deus os faria voltar da terra do Norte (isto é, da
Babilônia), a gente até poderia descartar essa passagem como apontando para um
reagrupamento pleno de Israel. A questão é que ela trata de Deus trazendo os filhos de
Israel de todas as terras. Na ocasião do exílio babilônico, os filhos de Israel não foram
dispersos por todas as terras. Por acaso, não estaria se referindo Jeremias aqui a uma
dispersão a nível mundial e uma restauração gloriosa? Entendemos que sim!

E mais: se Jeremias estivesse apenas tratando do reagrupamento do exílio babilônico,


não falaria que Deus fez subir "os filhos Israel" tratando-os como unidade nacional, mas
teria se referido unicamente à casa de Judá, já que Judá e não todo o Israel tinha sido
levado em cativeiro babilônico (da mesma forma que fez em Jeremias 24.5,6). [Nota do
autor: os termos: "Israel", "casa de Israel", "Judá", "casa de Judá" variam de significado
de acordo com o contexto do livro de Jeremias. Em geral, quando aparece a expressão
"casa de Judá" em Jeremias, se refere às duas tribos (Judá e Benjamim); "casa de
Israel" (dependendo do contexto, se refere às 10 tribos do reino do Norte ou de modo
genérico à nação toda); o termo sozinho "Judá" se refere às duas tribos do reino do Sul.
Não me lembro de ter visto a expressão sozinha "Judá" sendo usada para se referir à
toda nação de Israel; quando aparece "Israel e Judá" juntos, isto é, no mesmo contexto,
significam casa de Israel e casa de Judá; já a expressão "Israel" sozinho, se refere a nação
com um todo (aos judeus da casa de Israel e da casa de Judá)].

Logo, se Deus promete trazer os filhos de Israel (ou seja, não é só Judá que está em vista,
mas todo o Israel), de todas as terras (e não só do Norte/babilônia), devemos subtender
que esta profecia corrobora com a interpretação da dupla referência; que não se
cumpriu ainda, todavia se cumprirá!

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O terceiro motivo e evidência parte do pressuposto de que o contexto do livro, lança luz
sobre a interpretação que devemos ter das profecias em jogo. Toda dúvida sobre se esta
passagem é ou não uma dupla referência é sanada quando lemos Jeremias 23.7,8 (que
vamos estudar em outro capítulo). Nesta passagem, está claramente fundamentado que
esta profecia diz respeito a coisas que não se cumpriram no retorno os judeus à terra
dos seus pais (depois do cativeiro babilônico), logo a dupla referência é valida.

III- O CUMPRIMENTO DA PROFECIA:

Como estamos expondo em todo este ensaio, Deus anuncia a Seu povo que iria trazê-
los de volta do cativeiro babilônico. O primeiro sentido da profecia de fato se cumpriu
quando os exilados de Judá voltaram para sua terra (veja Jr 24.5-7; 29.10).

Essa restauração primária também aponta para uma restauração maior em glória e
futura de toda a nação (Jr 46.26-28), também profetizada por Isaías, veja: Is 11.1-12.

A Bíblia de Estudo Anotada e Expandida explica na nota de roda pé que essa é :

"Uma promessa da futura reunião do povo judeu, a ser cumprida na


segunda vinda de Cristo (cf. Mt 24.31)." (RYRIE, p. 723).

Neste ponto, a Bíblia de Estudo Pentecostal também pontua:

"O povo seria levado para o exílio, porém o seu castigo não haveria de
ser permanente. Um remanescente voltaria à sua pátria a fim de dar
cumprimento ao plano divino da redenção através do Messias vindouro."
(STAMPS, p. 1102).

Acreditamos que essa profecia terá seu cumprimento pleno no final da grande
tribulação, quando Cristo voltar para reinar sobre a terra. Ele reagrupará seu povo (um
reagrupamento definitivo e maior que o que aconteceu depois de 1948).

IV- A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL REFLETIRÁ NAS NAÇÕES DA TERRA:

Continuando a profecia, Deus diz que primeiramente pagará em dobro a iniquidade e o


pecado do seu povo (Jr 16.18), de repente, durante a mensagem, Jeremias faz uma
espécie de confissão devocional a Deus. Ele fala:

"Ó SENHOR, força minha, e fortaleza minha, e meu refúgio no dia da


angústia, a ti virão as nações desde os fins da terra e dirão: Nossos pais
herdaram só mentiras e coisas vãs, em que não há proveito. Acaso, fará
o homem para si deuses, que de fato, não são deuses?" (Jr 16.19,20).

29
Veja que a força de Jeremias provinha de Deus. Ele era sua fortaleza, seu abrigo no dia
do mal. Ou seja, em meio a toda a turbulência que Jeremias estava prestes viver
(juntamente com o povo judeu), ele não murmura nem blasfema contra Deus.
Dificilmente, temos o hábito de adorarmos a Deus quando o caos está à nossa porta.
Geralmente, a gente se desespera e desfalece antes mesmo do problema ser real nas
nossas vidas. Jeremias é um exemplo de que a confiança em Deus é o segredo para
permanecer com uma fé viva e ativa durante as tempestades da vida.

A profecia também diz que as nações virão a Deus desde os fins da terra e confessarão
sua tolice em criar falsos deuses. Ora, esta é mais evidência de que esse texto tem uma
dupla referência e aponta para o futuro já que em até agora, dentro da história da
humanidade, essa profecia nunca se cumpriu.

A Bíblia de Estudo Pentecostal comenta que:

"Jeremias previu um dia em que as nações da terra adorarão ao Senhor


e renunciarão os falsos deuses como coisas sem valor (cf Is 2.1-4; 45.14;
Zc 8.20-23)." (STAMPS, p. 1003).

A partir disso, podemos concluir que na escatologia de Jeremias, a linguagem profética


envolve também as nações do globo terra e não apenas Israel. Nos últimos tempos, a
restauração de Jerusalém trará um impacto mundial (Jr 3.17).

O final da profecia contém uma mensagem extraordinária:

"...eis que lhes farei conhecer, desta vez lhes farei conhecer a minha força
e o meu poder; e saberão que o meu nome é SENHOR." (Jr 16.21).

Ó como aguardamos a chegada desse dia!

Conclusão: É glorioso estudar à fundo as profecias bíblicas e enxergar que elas reservam
uma esperança para o caos e ruína de Israel. Estamos aguardando ansiosamente o
cumprimento daquilo que Deus falou por intermédio de Jeremias. Um dia, Israel será
curada perfeitamente da sua chaga.

30
5. A PROMESSA DO RENOVO DE DAVI.

Leitura Bíblica: (Jeremias 23.5-8)

Introdução: Neste capítulo, veremos de que forma Deus apresenta e introduz o governo
Messiânico sobre o seu povo bem como as consequências do seu reinado. Estudaremos
a relação e conexão das profecias com outros textos da Bíblia e como anda o
cumprimento desta passagem em nossos dias e no futuro.

I- CONSIDERAÇÕES SOBRE A PASSAGEM:

Nessa altura do campeonato, e conforme estamos avançando na Escatologia do profeta


de Jeremias, podemos identificar duas coisas: primeiro, a Escatologia de Jeremias não
está totalmente definida. Segundo, o progresso de suas profecias dá-se através de novas
revelações, sem contudo, deixar de repetir profecias que já foram ditas. É natural esse
tipo de linguagem em seu livro, visto que seu ministério durou muitos anos, e alcançou
várias pessoas de diversas classes e idade. Por exemplo, a profecia de Jeremias 23.4 já
tinha sido esboçada em Jeremias 3.15. Sendo que agora, a temática do "pastor" retoma
com espaço e contexto próprio.

Deus está transmitindo sentença para os pastores que destroem e dispersam as ovelhas
do seu pasto.

Façamos algumas perguntas a fim de entendermos a passagem.

Quem são os pastores a quem Deus está se referindo? O contexto deixa claro que eram
os reis de Judá. No capítulo 22, Jeremias havia profetizada contra Salum, Jeoaquim e
Jeconias. Todos, reis de Judá. No versículo 22 deste mesmo capítulo, Deus havia dito
que "o vento" (Babilônia/Nabucodonosor/Juízo), apascentaria todos os pastores de
Jerusalém. (Cf. Jr 10.21).

Quem eram as ovelhas? O seu povo.

31
O que eles faziam? Destruíam e dispersavam esse povo, fazendo-os errar e se desviar
para os montes (Jr 50.6). Não cuidaram do povo de Deus. Para mais detalhes, leia ainda
Ezequiel 34.1-8.

De quem eram as ovelhas? Obviamente de Deus. "Meu pasto" é o que o SENHOR diz!

II- O REAGRUPAMENTO DOS JUDEUS:

Deus sentencia a queda destes pastores dizendo que castigará as ações deles (Jr 23.2).
E então usa a ocasião para revelar um governo perfeito no futuro.

"Eu mesmo recolherei o restante das minhas ovelhas, de todas as terras para onde os
tiver afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos, serão fecundas e se multiplicarão."
(V. 3). Para "recolher" aparece o termo hebraico qabhas, que aqui assume o significado
de "pegar", "coletar", "reunir", "juntar", "recolher" e descreve reunião de cordeiros por
um pastor.

Sobre este termo, Strong explica que:


"Também se refere ao ajuntamento, feito por Deus, de todas as nações
para julgamento no fim dos tempos (Is 43.9; 66.18; Jl 3.2); e
especialmente a reunião do seu povo disperso, Israel (SL 106.47; Jr 29.14;
31.10; Os 1.11)." (CHAVE, p. 1894).

O cumprimento da profecia.

Segundo Jacques-André Monard:

"Depois da queda do Império babilônico, um edito de Ciro, rei da Pérsia,


convida todos os israelitas dispersos entre os gentios (ou nações) a voltar
para sua terra para reconstruir a casa de Jeová, o Deus dos céus, em
Jerusalém (Ed 1.1-4). Cerca de quarenta e duas mil pessoas, a maioria da
tribo de Judá, respondem ao chamado, reconstroem templo e, algumas
décadas mais tarde, reconstroem a muralha e a cidade. Esse regresso do
cativeiro é um cumprimento parcial das profecias que dizem respeito à
restauração de Israel. Este permite a vinda e a apresentação do Messias
ao povo, alguns séculos mais tarde. Num primeiro momento, esse
retorno é um impulso do coração e da fé que se manifestou em homens
piedosos cujo espírito foi despertado por Deus. [...] (MONARD, p. 50).

Acontece que em 70 d.C, Jerusalém foi destruída e os judeus foram dispersos por todo
o mundo. Desde então, os judeus foram massacrados e perseguidos por quase 2000
anos. Só sob as mãos sujas de Hitler, é dito que foram mortos mais de 6 milhões de
judeus.

Segundo John Hagee: "Desde 70 d.C., quando os romanos atacaram Jerusalém,


destruíram o Templo, e deram início a uma série de acontecimentos que resultaram na

32
Diáspora, o povo judeu que foi espalhado por toda a bacia do Mediterrâneo, e de lá por
todo o mundo. Não estavam no controle do seu próprio destino, nem habitaram em sua
própria terra natal até 15 de maio de 1948." (HAGEE, p. 111).

Em 1948, depois de tantos séculos, o que parecia improvável, estava se cumprindo: os


judeus sobreviventes e remanescentes pelo mundo, começaram a voltar para sua terra.
Veja a precisão do que Deus diz: "recolherei o restante das minhas ovelhas, de todas as
terras..." Atualmente, todos os anos, judeus espalhados pelo mundo, voltam para sua
terra. Essa profecia se cumprirá plenamente quando essa restauração for plena e
definitiva.

Corroborando com Jr 23.7,8; Hagee diz que os "judeus do país do norte (Rússia)
retornaram a Israel às dezenas de milhares, como também o povo judeu ao redor da
terra. Vimo-los na rede de TV CNN desembarcando de aviões em Tel Aviv. Lemos sobre
isso em todo tipo de impressa. Eles estão morando em sua própria terra, exatamente
como Jeremias previu." (HAGEE, p. 111).

A profecia diz elas serão fecundas e multiplicação. Em um artigo intitulado: "A Palestina
de hoje", escrito por Alice E. Luce em fevereiro de 1941, afirma que pouco tempo depois
da Segunda Guerra mundial "havia na Palestina cerca de 40 mil judeus, desde essa
época, já se estabeleceram, ali, mais de 400 mil, vindos de vários países da Europa, Ásia
e América. A maioria destes imigrantes é composta de jovens e muitos deles foram
educados nas melhores universidades do mundo. Eles foram à Palestina com o intuito de
reconstruir a sua vida nacional na terra que Deus dera a seus pais." (MESQUITA, p. 186).

Esse artigo, também descreve como os judeus foram se reerguendo aos poucos.
Vejamos um pedaço do relato:

"As dificuldades que encontraram eram quase insuportáveis, porém, os


judeus não desperdiçam tempo nem esforços. Vê-se, muitas vezes,
moças trabalhando ao lado de seus pais e irmãos, cultivando a terra,
trabalhando nas fábricas e toda a sorte de trabalhos. Diz-se que os
judeus trouxeram muitas riquezas à terra prometida, e que a organização
Sion inverteu a soma de meio milhão de dólares para incentivar e
restabelecer a agricultura, educação e cultura social. (...) O
desenvolvimento da indústria dos judeus tem feitos maravilhas. O
governo que arrecada as rendas públicas construiu, próximo ao Monte
Carmelo, um porto (Haifa), considerado um dos maiores do
Mediterrâneo. A construção custou cerca de 20 milhões de dólares. No
Rio Jordão, perto do Mar Morto, instalaram uma usina hidrelétrica capaz
de produzir força para toda a Palestina e Transjordânia. Telavive, um
novo porto junto a Jope, foi feito exclusivamente por judeus. Uma
companhia inglesa-judaica está explorando as riquezas minerais do Mar
Morto, extraindo das águas sal, a potassa, os vários sais potássio, o
bromato e outros minerais. (...) No campo da educação, igualmente os
judeus são os "líderes". Antes da chegada dos judeus, a maioria dos
árabes não sabia ler nem escrever, quase todos os literatos, que havia,

33
eram de população cristã. Os judeus, agora, tem uma grande
universidade no Monte das Oliveiras, no mesmo local onde se acampou
o exército de Tito, o general romano que destruiu a cidade de Jerusalém
no ano 70 da nossa era. Está instituição mantém o mesmo nível de cultura
e erudição das melhores universidades do mundo. O governo inglês
estabeleceu um sistema de educação livre ao alcance de todos os
habitantes do país, a vida social tem sido grandemente melhorada, em
toda parte." (MESQUITA, p. 186,187).

Já tivemos oportunidade de aprender no capítulo 3, de que forma Deus tem levantado


"pastores" sobre esse povo. Esse rebanho remanescente é descrito como destemido e
corajoso!

Em geral, nessa profecia também se encontra uma dupla referência. Tanto o retorno
específico da Babilônia, quanto o retorno previsto para um futuro distante de Jeremias
está em jogo. Sobre o versículo 3, Charles Ryrie explica:

"O retorno do cativeiro da Babilônia é prometido, bem como uma futura


reunião de judeus de todas as terras (Mt 24.31)."

A parte final do versículo diz: "Nenhuma delas faltará, diz o SENHOR." (v. 4).

Israel está caminhando para o cumprimento total e definitivo desta profecia. Deus há
de cumprir plenamente o que disse!

III- O GOVERNO DO MESSIAS:

Talvez os versículos 5-8 sejam o ápice da revelação escatológica de Jeremias até então
revelada. Aqui, encontramos a mais clara referência ao Messias de Deus.

A expressão: "Eis que vem dias" tem seu significado iluminado quando entendemos o
contexto. É sempre o contexto quem determinará o significado de uma expressão ou
um termo dentro de um versículo. O contexto da passagem que estamos
estudando é escatológico, por isso, o significado da expressão segue o mesmo
panorama literário do contexto. Os profetas muitas vezes usavam a palavra "dia" com
sentidos e conotações de fim dos tempos, fazendo uma conexão com um período
futuro.

"Em que levantarei a Davi um Renovo justo... " Uma referência ao Messias. Sobre
"renovo", a Bíblia de Estudo Anotada e Expandida comenta: "ramo ou broto, um título
messiânico que indica a nova vida que o Messias trará (Veja Is 4:2.) Ele dará a justiça ao
seu povo." (RYRIE, p. 729). A Bíblia de Estudo Palavras-Chave também está de acordo
com essa interpretação: "Esta é uma das muitas passagens que se referem ao Messias."
(CHAVE, p. 800).

34
A Bíblia de Estudo Pentecostal nos presenteia com um rico comentário sobre este
versículo:
"O renovo (i.e., a linhagem real) de Davi foi cortado quando Deus destruiu
a monarquia davídica em 586 a.C. (1) Deus prometeu, porém, que Ele
suscitaria um rei da linhagem de Davi, um Rei que seria o Renovo justo.
Este Rei faria, de modo definitivo e total, aquilo que era justo e reto (Zc
3.8). Esta profecia aponta para o Messias, Jesus Cristo. (2) Ele executará
juízo total após sua segunda vinda e antes do seu reinado milenial na
terra. (3) Ele será chamado "O SENHOR, justiça Nossa" (v. 6)..." (STAMPS.
p. 1110).

Veja que é Deus quem o levantaria (Is 4.2; Jr 30.9; 33.15; Zc 3.8).

"rei que é, reinará..." O renovo é descrito com termos nobres e da realeza. Na teologia
de Jeremias, Deus é tratado diversas vezes como sendo o "Rei Supremo". (Cf Jr 10.10;
46.18; 48.15; 51.57). Como o reinado do Messias foi levantado pelo próprio Deus, é de
se esperar que seu governo reflita o caráter dEle. Por ser essa figura nobre, levantada
por Deus, ele agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra. A lógica é a
seguinte: Deus é justo ( Sl 99.4)! O renovo também é justo, e executará justiça na terra.

No versículo 6, Deus fala que naqueles dias, Judá será salvo. Salvo aqui significa: "livre",
"estar a salvo", "liberto", "preservado". Strong diz que a "ideia fundamental deste verbo
é trazer a um lugar de segurança ou ampla pastagem em contraste a um desfiladeiro
estreito que, simboliza aflição e perigo (CHAVE, p. 1696). Essa promessa diz respeito ao
livramento que Deus dará ao seu povo dos dias difíceis que estão por vir. Israel habitará
seguro. Ryrie comenta:

"Quando Cristo voltar, Israel e Judá serão salvas (Rm 11.26) e unificadas,
e viverão em segurança na terra prometida de Abraão (Gn 15.18-21)."
(RYRIE, p. 729).

Nos versículos 7,8, Deus torna a dizer que irá reagrupar a nação de Israel de todos os
povos. Não vamos à fundo nessa passagem, visto que a mesma profecia já foi estudada
no capítulo anterior deste ensaio. Só gostaria de deixar uma nota da Bíblia de Estudo
Palavras-Chave sobre esta profecia:

"Esta passagem também contém uma profecia fundamental, e ainda está


por cumprir-se, a respeito das atitudes futuras de Deus com Israel
(23.7,8). Virá um dia em que Israel não mais se identificará com o êxodo
do Egito, mas com o retorno de todos os judeus do cativeiro global. Isto,
claro, ainda não aconteceu." (CHAVE, p. 800).

O Êxodo do Messias será muito maior e muito mais glorioso que o Êxodo dos dias de
Moisés. Ele fará sair de todas as terras e de todos os povos, o Seu povo e irá reinar sobre
eles.

35
Conclusão: Pelo que vimos até agora, a Escatologia de Jeremias não deixa de trazer uma
esperança para o povo de Israel. Deus estava anunciando seu castigo sobre eles, porém
lhes revelou um tempo majestoso onde tudo será colocado no seu devido lugar para sua
própria glória. É lindo como Deus trabalha ao longo da história. Quando ele promete
algo incondicionalmente, pode se passar quanto tempo for, Ele cumprirá o que diz,
palavra por palavra. O Messias é apontado como sendo a solução para todas as
atrocidades que acometeram os judeus, Ele é a revelação máxima de Deus para Israel.
Ele virá um dia para restaurar tudo e reinar sobre todos!

36
6. O TEMPO DE ANGÚSTIA DE JACÓ.

Leitura Bíblica: (Jeremias 30.1-11,16-21,24).

Introdução: Chegamos a um dos capítulos mais fantásticos do livro de Jeremias. O


capítulo 30 está no "corredor escatológico de Jeremias" que começa no capítulo 30 e vai
até o 33. Aqui, mais uma vez, a restauração de Israel é predita pelo profeta e não só isso,
um tempo difícil é anunciado à nação. Deus fala a Jeremias: "Assim fala o SENHOR, Deus
de Israel: Escreve num livro todas as palavras que eu disse." (v. 2). Era do interesse de
Deus que todas as palavras ditas a Jeremias fossem registradas num documento/livro.
Isso porque Deus queria alcançar mais pessoas através da revelação da sua Palavra.
Perceba que Deus fala que é o Deus de Israel. Essa expressão se repete cerca de 19 vezes
por todo o livro (7.21; 9.15; 11.3; 16.9; 23.2; 24.5; 29.21; 30.2; 32.36; 37.7; 42.18;
44.7,11,25; 45.2; 46.25; 48.1; 50.18; 51.33). Não há como negar essa verdade na teologia
de Jeremias: Deus é o Deus de Israel. Esta é a razão pela qual o SENHOR se preocupa
tanto em dizer aos seus o que está para fazer com eles. Ou seja, não estamos estudando
sobre qualquer povo, é uma nação cujo Deus no passado se revelou poderosamente.
Portanto, devemos dar ouvidos a cada detalhe e profecia direcionada a eles.

I- O TEMPO DE ANGÚSTIA DE JACÓ:

Neste capítulo, a promessa do retorno de Israel e de Judá do cativeiro, é mais uma vez
enfatizada (v. 3), como também havia sido predito nas passagens estudadas neste
ensaio e em Jeremias 29.10-14 (passagem que não estudaremos aqui, visto que é
autoexplicativa, de conteúdo progressivo que está em consonância com as demais
passagens já estudadas). Por isso, neste capítulo, não vamos focar tanto no retorno de
Israel, mas em outro assunto que aqui é revelado aos judeus e que muitos cristãos não
percebem: a grande tribulação.

Veja o que Deus diz:

"Ouvimos uma voz de tremor e de temor e não de paz. Perguntai, pois, e


vede se, acaso, um homem tem dores de parto. Por que vejo, pois, a cada

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homem com as mãos na cintura, como a que está dando a luz? É por que
se tornaram pálidos todos os rostos? Ah! Que grande é aquele dia, e não
há outro semelhante! É tempo de angústia para Jacó, ele, porém, será
livre dela." (vv. 5-7).

Deus aqui, está falando acerca de um tempo difícil que sobrevirá sobre Israel. Segundo
Randall Price: "A referência a 'Jacó' diz respeito a Israel como entidade nacional, e
portanto o tempo de angústia se refere a um período de sofrimento nacional como
jamais houve." (ICE e DEMY, 2015, p. 72).

Entendemos que esse tempo será a grande tribulação.

Alguns estudiosos que não creem no papel relevante que Israel ocupa nos últimos
tempos, dizem que essa passagem falava acerca do próprio exílio babilônico, ao qual
Judá tinha ido. Nesta perspectiva, o tempo de angústia de Jacó se cumpriu na Babilônia.
Outros dirão que essa passagem teve seu pré-cumprimento no governo de Antíoco
Epifânio, que fez os judeus sofrerem muito e seu cumprimento definitivo na destruição
de Jerusalém em 70 d.C.

Ora, na verdade, todos esses episódios de perseguição e de jugo sobre os judeus, não
passaram de "sombras" do que está realmente por vir. O tempo de angústia de Jeremias
30, não pode estar descrevendo as dores do cativeiro babilônico, porque Judá foi quem
Nabucodonosor levou cativa, e a profecia desta passagem se refere a Judá e a Israel.

Randall Price nos oferece uma possível razão para acreditarmos que "o tempo de
angústia de Jacó" não se cumpriu no cativeiro babilônico:

"... o versículo 4 parece dirigir a profecia tanto ao reino do Norte (Israel)


quanto ao reino do Sul (Judá). Já que Israel havia sido levado cativo pela
Assíria 136 anos antes, notícias de uma destruição semelhante de
Jerusalém dificilmente seriam a causa de angústia para os israelitas do
norte como seriam para os israelitas do sul, que a experimentaram na
carne." (ICE e DEMY, 2015, p. 72).

Outra coisa: se Deus estivesse se referindo à presente captura dos judeus pela Babilônia,
não falaria "aquele dia" nos versículos 7 e 8 (como se estivesse para acontecer), mas
sim, "este dia" em relações ao sofrimento dos judeus no cativeiro babilônico.

Também não há como essa profecia ter se cumprido no governo de Epifânio e em 70


d.C, visto que a profecia diz: "ele, [Jacó] porém, será livre dela" (v. 7) e, "nunca mais
farão escravo este povo" (v. 8), isto é uma promessa de sossego irreversível. Se o tempo
de angústia de Jacó, tivesse se cumprido nesses episódios que alguns creem, a nação de
Israel não teria passado por tantos massacres em massa e perseguições depois do ano
70 da nossa era, pois esta profecia além de falar de uma restauração perfeita, definitiva
e plena no futuro (que não se cumpriu ainda), também fala sobre o tempo de Jacó, que
"não haverá outro dia semelhante" (v. 7). Para você ter ideia, só o holocausto de Hitler

38
(6 milhões de judeus) é bem maior que o massacre de 70 d.C. O fato de o massacre de
Hitler ser maior que o de 70 d.C, traz complicações para a profecia em jogo.

Sem falar que esta profecia fala que este povo [Israel], servirá a Deus e a seu rei (que é
o Messias) levantado por Deus, algo que nunca aconteceu nem em 70 d.C, nem em
momento algum da história. Os judeus até hoje (a nação de modo geral), continuam
incrédulos com relação a Jesus Cristo.

Sendo assim, "tempo de angústia de Jacó" é uma referência à aquilo que o Novo
Testamento chama de Grande Tribulação.

Randall Prince conseguiu captar exatamente a proposta dessa passagem. Entre as várias
evidências que ele enxerga que o termo: "tempo de angústia de Jacó" é uma referência
à grande tribulação, reproduzirei aqui apenas um dos seus ponto de vista. Vejamos:

"... se deveria observar que nem a Babilônia nem o seu rei são
mencionados em qualquer parte desta passagem. Por outro lado, afirma-
se que 'todas as nações' são o objeto da destruição divina (v.11). Se,
portanto, eliminarmos a possibilidade de um contexto babilônico, a única
ocasião histórica futura em que Israel e Judá sofrerão juntos e juntos
serão libertados é a perseguição universal aos judeus, durante a segunda
metade da Tribulação e o retorno escatológico no final daquele período
(cf. Mt 24.20-22,31; Ap 12.6, 13-17). Isso concorda melhor com o quadro
universal de angústia e salvação para os judeus descrito nos versículos 6
e 7." (ICE e DEMY,2015, p. 74).

Será um tempo de dor para a nação de Israel. Uma angústia a qual nunca houve
semelhante. Porém, Deus há de livrar seu povo definitivamente!

O Dr. Charles H. Dyer comenta o seguinte acerca dessa passagem:

"A que 'tempo de angústia' Jeremias está se referindo? Alguns acham que
ele está indicando a derrota de Judá pela Babilônia ou a derrota posterior
da Babilônia pela Medo-Pérsia. Mas nesses períodos o Reino do Norte,
Israel não foi afetado. Ele já tinha sido levado ao cativeiro (em 722 a.C).
Uma solução melhor é que Jeremias está referindo-se a um período de
tribulação futuro quando o remanescente de Israel e de Judá sofrerão
uma perseguição incomparável (Daniel 9.27; 12.1; Mateus 24.15-22. O
período terminará quando Cristo aparecer para resgatar os Seus eleitos
(Romanos 11.26) e estabelecer Seu reino (Mateus 24.30-31; 25.31-46;
Apocalipse 19.11-21; 20.4-6)." (Op. ICE e DEMY, 2003, p. 201).

II- RESULTADOS DA INTERVENÇÃO DIVINA NA NAÇÃO:

Vejamos algumas promessas que Deus faz à Israel e que acontecerão depois do tempo
da angústia de Jacó.

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1. Quebra do jugo estrangeiro (v. 8).

No fim da grande tribulação, Deus há de quebrar finalmente todo o jugo mundial que
estiver sobre Israel (v.8). Nunca mais Israel sofrerá nas mãos de povo algum. A
Septuaginta traz: "nunca mais servirão a estrangeiros" (ICE e DEMY, 2015, p. 429).

2. Os israelitas servirão a Deus e ao Messias (v. 9).

Ao invés de servir às nações estrangeiras, Israel servirá ao SENHOR, seu Deus e a


Davi (tipificando aqui, Jesus, o rei prometido), levantado por Deus. Que coisa
maravilhosa! A nação de Israel que por tantos séculos esteve sofrendo nas mãos de
homens, religiosidade e de povos, há de experimentar verdadeira e bondosamente, o
braço restaurador de Deus (Confira Os 3.5).

3. Livramento das terras estrangeiras e de exílio (v.10).

Deus chama Jacó (a nação de Israel) de seu servo e diz para que ele não tema, nem se
espante. Certamente, essa mensagem deu ânimo e esperança aos judeus que estavam
no exílio. Eles precisavam dessa injeção no coração, visto que estavam tristes por
estarem em terra estrangeira. Deus sempre tem uma mensagem de restauração para
quem precisa. Nas nossas vidas não é muito diferente, quando pensamos que a nossa
esperança morrerá aqui ou ali, o SENHOR nos encoraja a prosseguir nos seus caminhos
e nos livra daquilo que nos aflige!

4. Retorno, tranquilidade e sossego (v. 10).

Após voltar plenamente para sua terra, Jacó terá descanso de todas as suas batalhas.
Ninguém mais perturbará a nação, pois Deus é com Ela, para salvá-la (v. 11).

5. Castigo de todos os seus opressores (v. 11,16,20).

Acontecerá que Deus dará fim a todas as nações entre as quais espalhou o seu povo.

Que significado essa promessa teria para os judeus que estavam cativos na Babilônia?
Randall Price explica:

"A referência ao fato de que Deus destruiria rodas as nações em que


Israel tinha sofrido exílio (Jr 30.11; 46.28) é claramente escatológica. Esta
reafirmação, portanto, foi uma certeza de que Deus, que havia prometido
destruir todos os opressores de Israel, poderia ser considerado fidedigno
em Sua promessa de livrar Israel de seus atuais opressores. Em outras
palavras, se Israel viria a experimentar sua restauração definitiva no
futuro, não seria destruído por sua experiência presente." (ICE e DEMY,
2015, p. 75).

6. Saúde (espiritual e física) restaurada (v. 17).

40
7. Cidade reedificada plenamente (v. 18).

8. Multiplicação dos israelitas (v. 19, 20).

Conclusão: É importante frisar que o capítulo finaliza no versículo 24, entretanto, a


mensagem continua por todo o capítulo 31. Como estamos estudando por partes,
iremos terminar este capítulo também no versículo 24. Pois bem, a promessa ainda diz
respeito ao Rei-Messias que procederia deles, isto é, dos Judeus. Ele governará sobre
seu povo e Deus fala que Ele será Seu íntimo (v. 21). Finalmente, e de uma vez por todas,
Israel será Seu povo e Deus será o Seu Deus (v. 22). O capítulo é encerrado dizendo que
os judeus entenderão estas coisas nos últimos dias (v. 24).

Na Bíblia de Estudo Palavras-Chave, há uma nota de rodapé que consegue transmitir


bem o conteúdo geral da passagem que estudamos. Vejamos:

"Essa passagem é uma promessa, não somente do retorno dos israelitas


do exílio, como da sua restauração final (31.12). Contudo, antes da época
desta benção, virá a Grande Tribulação, descrita aqui como 'tempo de
angústia para Jacó' (30.7). Isto acontecerá por causa do pecado de Israel
(30. 11-15), mas no final ele 'será salvo dela' (30.7). Depois da tribulação,
virá o Messias (30.9,21). A manifestação do "amor eterno" de Deus (31.3)
será vista na sua reconstrução da nação (30.17-20; 31.4-7,28; cf Jr 1.10b).
(...)" (CHAVE, p. 808).

Vejam que a Escatologia de Jeremias, até o momento, fala de acontecimentos que são
reconhecíveis aos nossos ouvidos. Temas como: Restauração de Israel, reinado físico do
Messias e a grande tribulação foram pintados no livro do profeta. Claro que eles são
tratados em seus próprios termos e contextos da época, e, claro que muito do que foi
revelado ainda era obscuro para os judeus daquele período. Tanto é que a mensagem
diz que eles entenderão nos últimos dias. Ciente dessas promessas, podemos avançar
mais um pouco no conteúdo profético-escatológico deste livro. É o que faremos no
próximo capítulo!

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7. O ÁPICE DA GLÓRIA! UMA NOVA ALIANÇA COM A NAÇÃO.

Leitura Bíblica: (Jeremias 31).

Introdução: O capítulo 31 do livro de Jeremias revela o ápice de toda a glória


restauradora que irá descer sobre os israelitas nos fins dos tempos. No capítulo anterior,
vimos que o tempo de angústia de Jacó se refere às Grande Tribulação que em breve irá
acometer os judeus. Logo após isso, o Messias irá reinar e neste tempo, as promessas
feitas em Jeremias 31 irão se cumprir plenamente. É nesse contexto histórico e
escatológico que Jeremias 31 se encaixa. Esta passagem se cumprirá integralmente no
reinado do Messias aqui na terra. Neste capítulo, veremos o que vai acontecer nesse
período, bem como o impacto que isso trará sobre o mundo todo.

I- A GLÓRIA DO ISRAEL RESTAURADO:

Deus começa dizendo que naquele tempo, Ele será o Deus de todas as tribos de Israel e
elas serão o seu povo. Aqui encontramos uma futura conversão nacional, quando por
intermédio do Messias, os judeus serão gloriosa e piedosamente o povo de Deus
finalmente.

Deus diz que o povo que se livrou da espada alcançou graça no deserto. Finalmente, Ele
dará descanso a eles. A razão disso tudo está no amor eterno que Deus sente por Israel.
Ele descreve que atraiu seu povo com benignidade. O amor preveniente de Deus é a
causa de todas essas bençãos serem derramadas sobre eles. Isso asseguraria que Deus
de fato, iria cumprir tudo quanto disse. O Deus que é justiça mas que também é
amoroso, iria e irá edificar seu povo novamente.

Esse povo que agora estava sob o jugo do sofrimento iria e irá um dia, amanhecer sob
um tempo de júbilo que provém do próprio Deus.

Naquela circunstância, a cidade estava destruída, e no caos, mas um dia seria adornada
novamente com as bençãos do SENHOR, bençãos materiais e espirituais (vv. 5,6).

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Os montes de Samaria serão frutíferos novamente e de Sião fluirá a glória celeste. Efraim
(representando nesse capítulo o reino do Norte, isto é, as dez tribos) será convocado
pelos atalaias para subir à Sião. Todo o cisma existente entre reino do Norte e reino do
Sul já não haverá mais.

Se cumprirá o último reagrupamento mundial, reservado para os judeus que estiverem


espalhados por todo o planeta terra. Cegos, aleijados, mulheres grávidas, as de parto,
farão parte desse retorno em "grande congregação." (v. 8). É imprescindível afirmar que
esse reagrupamento não é semelhante a nenhum outro a qual já houve na história de
Israel.

Todos os outros que já tiveram como por exemplo o retorno dos judeus do cativeiro
babilônico e o que aconteceu em 1948 com a criação do moderno Estado de Israel ,
fazem parte da "montagem do cenário profético" e além de ilustraram em menor grau
o que vai acontecer, garante que um glorioso reagrupamento mundial e definitivo irá se
cumprir.

Esse reagrupamento internacional é aquele que é chamado pelos estudiosos de


"agrupamento mundial, em fé", quando os judeus virão de todas as partes do mundo
para sua terra, redimidos e com o caráter transformado. Serão livres de todas as nações
e todos os transtornos psíquicos, físicos e materiais.

O versículo 9 diz que virão com "choro" é o próprio Deus irá guiá-los, como um pai que
guia seu filho.

As nações deveriam saber disso: Aquele que espalhou a Israel, irá congregá-lo e guardá-
lo como um pastor piedoso que cuida do seu trabalho. Ele redimirá Jacó e o livrará da
mão do que é mais forte do que ele (v. 11). Jugo já não existirá mais para os judeus. O
próprio Deus estará à frente deles.

Bençãos materiais em abundância, transformação da tristeza em regozijo, e fartura da


bondade do SENHOR, farão parte deste povo glorioso (vv. 12-14). "Nunca mais
desfalecerão." (v. 12).

No versículo 15, Deus usa Raquel como uma tipologia que representa Israel chorando
pelos seus filhos que foram deportados para o cativeiro. Sobre esse versículo, a Bíblia
de Estudo Pentecostal comenta:

"Ramá era uma vila, cerca de 8 Km ao norte de Jerusalém, provavelmente


o local de concentração dos prisioneiros antes da deportação para
Babilônia (cf. 40.1-3). Raquel era uma das esposas de Jacó e mãe de José
e Benjamim. Ela representa, aqui, Israel chorando pelos deportados para
o exílio. Deus declara que ela não precisa mais chorar mais, porque o
povo voltará (vv. 16-20)." (...) (STAMPS, p. 1124).

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Mais uma vez, Deus está proclamando a liberdade do seu povo (vv. 16,17). A mensagem
aqui é de esperança e de conforto para os que estavam no exílio.

Os versículos 18-20, descrevem um relacionamento de um Pai e um filho, onde o Pai


(que é Deus) disciplina seu filho, o converte e o instrui. O filho que é Israel, relutava por
muito tempo em sua rebeldia e por isso vivia angustiado e confuso. Porém, em razão do
Pai o amá-lo tanto, e comover-se o coração em favor dele, virá a derramar sua
compaixão. Nos versículos 21,22, Israel é descrito como uma virgem, uma filha rebelde.
A lexicografia escatológica é praticamente a mesma.

Prosseguindo, Deus ainda diz coisas específicas sobre Judá e sobre a nação de modo
geral (vv. 23-26) e continua descrevendo a glória deste povo neste tempo:

"Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que semearei a casa de Israel e a
casa de Judá com a semente dos homens e de animais." (v. 27).

Deus anuncia que todas essas coisas devem acontecer como uma preparação para o
novo concerto que será firmado com a nação de Israel. Veremos isso no próximo tópico.

II- A GLÓRIA DO NOVO CONCERTO:

A partir do versículo 31, Deus revela algo extraordinário para o seu povo: uma nova
aliança. "Esta é a passagem mais importante do AT sobre a nova aliança" (RYRIE, p.
737), portanto, estudaremos este ponto escatológico com muita cautela.

1. O que significa a expressão "Nova Aliança"?

O termo hebraico que aparece aqui para aliança é berith. Significa: pacto, aliança, liga,
concerto, acordo, tratado. Logo, entendemos que será um novo acordo que Deus fará
com o seu povo.

2. Com que povo a Nova Aliança será firmada?

O versículo 31 deixa claro que ela será feita com a casa de Israel e com a casa de Judá,
ou seja, com a nação de Israel. Diferente que muitos pensam, a Nova Aliança não é feita
originalmente com a igreja, mas sim com o povo de Israel. Mais à frente veremos de que
forma a igreja desfruta deste novo pacto.

3. Qual a natureza dessa Nova Aliança?

É uma aliança extremamente superior à antiga (vv. 32,33). Deus diz que essa Aliança é
Nova (v. 31), distinta da Mosaica (v. 32), depende exclusivamente dEle para ser
executada (v. 33a), fonte de restauração moral e perdão (vv. 33b, 34); é inviolável e
segura (vv. 35-37), ou seja, impossível de ser quebrada.

A antiga aliança foi anulada pelos judeus, entretanto, a Nova Aliança jamais poderá ser
anulada, pois é uma aliança com um único contratante que no caso é Deus.

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Segundo MacArthur: "A incondicional, unilateral (Ez 20.37; 37.26), eterna (Is 55.3;
59.21; 61.8; Jr 32.40; 50.5; Ez 16.60; 37.26; Hb 9.15; 13.20), e irrevogável (Is 54.10; Hb
7.22) a nova aliança assume anulação, devido ao pecado de Israel, da condicional
Velha/Mosaica aliança (Jr 31.32; Ez 44.7; Zc 11.10-11)." (MACARTHUR; MAYHUE, p. 70).

Depois de tudo quanto Israel passará, isto é, depois da Grande Tribulação, no reino
Milenar, o SENHOR imprimirá suas leis na mente do seu povo. Ele irá inscrevê-las no seu
coração. Será um relacionamento perfeitamente agradável a Deus (v. 33), como nunca
houve na história.

4. A extensão da Nova Aliança.

No livro de Jeremias, a Nova Aliança, traz inúmeras bençãos para todo o seu povo.

Por exemplo, os judeus não precisarão mais ensinar sobre Deus aos seus filhos, porque
todos irão conhecê-lo (cf. Is 11.9).

5. A garantia da Nova Aliança.

Está nas mãos de Deus, apenas. O contrato tem como garantia três coisas: a própria
Palavra de Deus, a imutabilidade das leis dos astros do nosso sistema e a grandeza do
nosso planeta. A lógica é a seguinte:

"Diz o SENHOR". Foi Deus quem disse isso, e como foi Ele quem disse, irá se cumprir. Se
Deus pode mentir, essas palavras talvez se cumpram ou não, mas como Deus não pode
mentir, certamente elas irão se cumprir.

"Se falharem estas leis fixas diante de mim." Ou seja, se o Sol não der mais luz, e a lua
juntamente com as estrelas se tornarem inúteis, então Israel deixará de ser nação diante
de Deus para sempre. Mas como essas leis são fixas e invioláveis, certamente o SENHOR
irá cumprir o que disse.

"Se puderem ser medido os céus lá em cima e sondados os fundamentos da terra cá


embaixo, também eu rejeitarei toda a descendência de Israel..." Aqui existe uma espécie
de hipérbole profética. É impossível disso acontecer plenamente, logo é impossível Deus
rejeitar o seu povo.

Segundo Charles Ryrie: "O caráter permanente do ciclo da natureza (v. 35-36) e a
incomensurabilidade dos céus e da terra (v. 37) garantem a sobrevivência do povo
hebreu." (RYRIE, p. 737).

6. As bençãos da Nova Aliança.

De modo geral envolverá a mudança de coração dos judeus, comunhão com Deus,
conhecimento do SENHOR e perdão dos pecados. É claro que existem mais bençãos,
todavia, elas são ensinadas em outras passagens das Escrituras, e aqui não pretendemos

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analisar todas elas para não tornarmos este capítulo cansativo. Caso queira saber mais
sobre as bençãos da nova aliança dentro da escatologia de Jeremias, verifique Jeremias
32.38-41. Por enquanto, ficaremos apenas com o que foi revelado por intermédio deste
profeta.

7. O tempo do cumprimento da Nova Aliança.

A Nova Aliança entrou em vigor com a morte e ressurreição do Messias, mas terá seu
cumprimento pleno no Milênio.

8. A duração da Nova Aliança.

Diferente da aliança Mosaica que era transitória e temporária, a Nova Aliança é Eterna
(Is 55.3; Jr 32.40).

III- OUTRAS QUESTÕES EXPLICATIVAS A RESPEITO DA NOVA ALIANÇA:

Biblicamente falando, de modo geral, "a nova aliança está alicerçada, conforme indica
Hebreus 9.14-17, na morte de Cristo na cruz; Seu sangue é o 'sangue da nova aliança
(Mc 14.24)." (MONARD, p. 62).

Infelizmente, essa verdade tem levado muitos a crerem que Israel foi substituído pela
igreja ou que de algum modo, a igreja cumpre todas as promessas feitas ao povo de
Israel. Esse tipo de interpretação decorre de um entendimento errado de algumas
passagens do Novo Testamento, e uma delas é Hebreus 8.7-13. Uma leitura descuidada
e apressada desse texto realmente pode nos conduzir a esse tipo de Interpretação.
Porém, isto não quer dizer que essa interpretação seja genuína.

J. Dwight Pentecost explicando sobre o assunto da Aliança nas Epístolas, incluindo


Hebreus, explica que "Uma vez que o autor dos Hebreus estava escrevendo a cristãos
judeus, não é surpresa encontrarmos referências às alianças nesta epístola." (ICE e
DEMY,. 2015, p. 170).

O fato dela ser assunto também do Novo Testamento, e explicada para cristãos sejam
eles judeus ou gentios, não anula o propósito original desta aliança que foi feito a Israel.
Isto significa que o Novo Testamento não ensina que Israel foi posto de lado conforme
a teologia da substituição afirma.

Ainda sobre Hebreus, Pentecost afirma que: "O autor Hebreus faz referência específica
à nova aliança nos versículos 7 a 13, onde cita Jeremias 31.31-34. Embora alguns
afirmem que o autor está cotando a nova aliança de Jeremias para provar que a Igreja
suplantou Israel como povo pactual de Deus, e que não há um futuro para Israel como
nação, um estudo cuidadoso do contexto revela que este não era o propósito do autor."
(ICE; DEMY, 2015, p. 172).

O entendimento de Pentecost é de que "Alguns leitores, a quem a carta aos Hebreus foi
dirigida, ainda criam que a aliança mosaica era permanente e que, portanto, estavam

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obrigados a guardar a lei mosaica. Era a intenção do autor demonstrar que, mesmo
durante o período em que foi operativa, a aliança mosaica fora considerada um acordo
temporário, não permanente. Isso ele fez citando Jeremias 31.31-34, para demonstrar
que ainda durante a aliança mosaica Deus já havia notificado a Israel de que removeria
a aliança mosaica e instituiria uma nova aliança com a casa de Israel e de Judá, indicando
que a aliança mosaica era temporária e transitória. Isso era exatamente o que o autor
aos Hebreus estava tentando provar quando disse: 'Quando ele diz Nova, torna
antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a
desaparecer' (Hb 8.13). O autor não faz qualquer tentativa de demostrar que a 'antiga'
aliança tinha sido feita com Israel, ao passo que a nova aliança foi feita com a Igreja, de
modo que os crentes tomam o lugar de Israel como povo de Deus. Ele demonstrou
efetivamente, no entanto, que a ordem mosaica era um arranjo temporário e
consequentemente não é obrigatório para os crentes, que são participantes da nova
forma do reino." (ICE e DEMY, 2015, p. 172).

Essa interpretação é bem mais próxima do contexto da Epístola aos Hebreus do que
aquela que ensina a Teologia da Substituição. O que Hebreus "ensina é o fim da antiga
aliança dada por Deus a Israel através de Moisés." (WHITCOMB, p. 172).

Entretanto, isso não significa que a igreja não se beneficie de alguma forma deste Novo
Pacto. Na verdade, a Nova Aliança traz consigo muitas bençãos espirituais, materiais e
porque não dizer, universais também. É neste sentido que a Nova Aliança se aplica à
Igreja.

Explicando sobre este assunto, Monard fala que:

"As bençãos que esta aliança trará são moralmente muito próximas do
Evangelho da graça tal como o conhecemos, porém, a nova aliança em sí
será feita com Israel, conforme especificam as passagens de Jeremias
31.31 e de Hebreus 8.8. 'Farei uma aliança nova com a casa de Israel e
com a casa de Judá.' 'Com a casa de Israel e com a casa de Judá
estabelecerei uma nova aliança.' Com a igreja nunca é questão de aliança.
Os que hoje crêem em Jesus são tirados dentre os judeus ou de entre os
gentios para constituir a igreja. Beneficiam-se individualmente das
bençãos espirituais da nova aliança, mas de maneira alguma das bênçãos
terrenas que esta trará." (MONARD, p. 62).

Ou seja, a igreja participa soteriologicamente das bençãos da nova aliança, mediante o


sangue de Jesus, porém, de forma alguma anula o propósito original desta que é dirigido
ao povo de Israel. Vale lembrar que "A igreja participa das bençãos espirituais da Aliança
Abraâmica e da Nova Aliança, mas não recebe todas as promessas dadas a Israel
(Romanos 15.27)." (ICE e DEMY, 2003, p. 139). Dessa forma, ela se tornou "co-
participante da benção dos judeus, mas a Igreja não assumiu as alianças judaicas.
Apenas Israel poderá cumprir a Nova Aliança, conforme está predito pelo Antigo
Testamento." (Romanos 15.27)." (ICE e DEMY, 2003, p. 140).

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Que Deus irá cumprir o que prometeu a Israel é algo claramente ensinado e entendido
pelo apóstolo Paulo (cf. Romanos 11).

Conclusão: Que estas profecias são claramente uma referência à um tempo de


intervenção extraordinário de Deus na nação, e que ainda não se cumpriu, é algo que
subtendemos a partir da história e do que Deus disse: "Esta Jerusalém jamais será
arraigada ou destruída." (v. 40). Entendemos que no Milênio terão seu cumprimento
exato, preciso e pleno. Portanto, essa passagem além de ser escatológica, trazia para
aqueles judeus do tempo do exílio, uma certa esperança para seus dias. Um dia, sua
cidade será reedificada e eles poderão gozar da verdadeira felicidade, governo e
conhecimento que se encontra em Deus.

No próximo capítulo, nos aprofundarmos ainda mais no contexto escatológico


extremamente presente no livro de Jeremias.

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8. REPETIÇÃO DA PROMESSA DO RENOVO DE DAVI.

Leitura Bíblica: (Jeremias 33.14-26).

Introdução: A partir do capítulo 32, a Escatologia do Profeta continua com o prisma


profético que visa a restauração do povo de Deus, isto é, Israel. Passagens como Jr 32.36-
41 e Jr 33.1-13 caminham pelo mesmo viés. Não faremos exposição delas aqui, visto que
de modo geral, tratam de assuntos que já expomos nos capítulos anteriores deste
ensaio. Apenas faremos uma recapitulação do que é ensinado no capítulo 32 e 33. Bem,
em Jr 32.36-41, é novamente prometido um reagrupando mundial em fé, o
estabelecimento de uma aliança eterna, restauração da sorte de Israel e satisfação plena
de Deus com seu povo. Em Jr 33.1-13, é reafirmando que será restaurada a sorte de
Israel, de modo que trará cura/saúde, paz, segurança, abundância de bens materiais e
espirituais; perdão de todos os seus pecados. Jerusalém servirá por nome, louvor e
glória, entre todas as nações. Em Jr 33, a partir do versículo 14, mais coisas são reveladas
a respeito do governo do Messias sobre a nação de Israel. É nele que pretendo me
concentrar neste capítulo.

I- O RENOVO JUSTO E SUA JUSTIÇA:

Primeiramente, precisamos pontuar que os versículos 14 em diante, revelam a


continuação progressiva da mensagem dos capítulos proféticos anteriores.

Pois bem, no versículo 14, Deus diz os dias chegarão em que Ele irá cumprir a boa
palavra proferida à casa de Israel e à casa de Judá.

Que mensagem de esperança! Em meio ao caos que a nação estava passando, Deus
profere uma boa palavra para seu povo. A situação presente da nação, seria revertida
no futuro, pelo Deus que fala e cumpre o que diz! Veja que a mensagem é proferida à
Israel.

Naqueles dias, isto é, nos dias de restauração plena, Deus fará brotar a Davi um Renovo
de Justiça.

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O que seria de uma nação sem um bom governante? O que dizer de uma nação cujo
governante é justíssimo? Maravilhoso não é mesmo? Israel sofreu por muitos anos sob
o jugo ímpio dos seus próprios reis e em determinados momentos, debaixo do jugo
escravizador de vários governantes estrangeiros, porém aqui, Deus garante que Ele fará
brotar de Davi, um renovo justo! Será um governante suscitado e provido no melhor dos
sentidos pelo próprio Deus.

Esse renovo trata-se do Messias (Jesus Cristo) que viria da linhagem de Davi, um homem
segundo o coração de Deus.

Segundo a Bíblia de Estudo Pentecostal:

"O cumprimento parcial desta profecia ocorreu na sua primeira vinda à


terra. Mediante a morte e sua ressurreição, Ele tornou-se o Rei de todo
o povo de Deus na terra. O cumprimento pleno ocorrerá quando Ele
voltar a segunda vez para fazer "juízo e justiça" em toda a terra."
(STAMPS, p. 1129).

Veja que Ele executará juízo e justiça na terra. Seu governo e domínio reflete seu caráter
que é Justo.

Comentando a respeito do governo de Cristo no Milênio, Abraão de Almeida comenta


que:

"A principal característica do reinado de Cristo será a justiça e a paz, pois,


naquele Reino, jamais haverá lugar para a opressão ou guerra."
(ALMEIDA, p. 25).

Frei Heitor Pinto escreveu um poema bastante interessante à Justiça. Ele diz:

"Ó Justiça, guia da nossa vida, o que seria do mundo sem ti? Tu és
inventora das leis; mestra dos bons costumes; tu alevantas as virtudes e
abates os vícios. Tu és a inimiga da azeda discórdia e conservadora da
doce paz. Tu espantas os maus e asseguras os bons. Sem ti, a ordem é
desordem, a vida é morte, o descanso é trabalho, a glória é infâmia, o
bem é mal. Tu destruíste a confusão e geraste a boa governança. Tu
livras os inocentes e condenas os culpados. Tu alegras os justos tristes e
entristeces os justos alegres, para que deixadas as suas vãs e temporais
alegrias, alcancem os verdadeiros e eternos
contentamentos. Finalmente, tu és aquela gloriosa escada de Jacó, que
com uma ponta estava na terra e com a outra tocava o céu, pela qual
subiam uns e outros desciam: porque tu alevantas os justos e santos até
os altos céus, e derribas os ímpios e danados até os profundos dos
abismos." (Apud, ALMEIDA, p. 67).

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O Messias fará justiça a seu povo. Livrará Judá de todo e qualquer jugo e fará com que
Jerusalém finalmente viva em segurança.

O versículo 17 indica que o reinado do Messias preenche todas as profecias monárquicas


feitas a Davi. O Messias é um personagem sem igual na história. Exercerá um reinado
que centenas de homens juntos ou separados jamais poderiam executar. Ele cumpre de
uma vez por todas a aliança feita com Davi (2 Sm 7.16; 1 Rs 2.4; 8.25; Sl 89.29-37).

Também é dito que não faltará sacerdotes diante de Deus, nesse período (v.18). Existe
uma certa polêmica entre os estudiosos com respeito a uma crença literal do retorno de
algum tipo de sacerdócio no Milênio e também de sacrifícios de animais. Segundo
alguns, seria um retrocesso ter sacrifícios na era milenar, portanto, esse versículo
deveria ser interpretado alegoricamente ou fazendo referencia a outro período da
história que não fosse o Milênio. Outros dirão que é incompatível crer nesse versículo
literalmente, haja vista que o sacrifício de animais são exclusivos da lei e toda a lei foi
cumprida em Cristo. Segundo essa linha de raciocínio, não faz sentido esses sacrifícios
no Milênio. Contudo, se quisermos ser honestos com as Escrituras, devemos aceitar com
humildade aquilo que ela ensina, ainda que pareça ser sentido aos nossos olhos. Nem
tudo que parece ser estranho ao nosso entendimento, significa que devemos abandonar
uma interpretação genuína e fiel ao gênero do texto bíblico. Talvez indique que nós não
entendemos aquilo ainda, ou não estudamos à fundo. Pois bem, não existem razões
suficientes para desacreditarmos que no Milênio haverá sacrifícios de animais, pois
existem alguns textos das Escrituras que afirmam isto (cf. Ez 44.15). Isso já seria
suficiente não é mesmo? É um erro engessar o sacerdócio e o sacrifício de animais no
Antigo Testamento, como sendo algo exclusivo da lei e que tinha a penas um propósito.
É verdade que eles tiveram um propósito específico para sua época e tempo, entretanto,
isso não significa que não tenham outro propósito em outro tempo se as Escrituras assim
o diz. Antes mesmo da lei ser dada ao povo de Israel por intermédio de Moisés, os
sacrifícios e o sacerdócio já eram praticados. Isto significa que eles estavam na
humanidade desde muito cedo. Porque não podem estar nos fins dos tempos também,
de forma que some à consumação do plano de Deus para Israel?

É certo que na Teocracia do Milênio, o Messias manterá as características distintivas de


Israel. A "terra prometida, um templo, sacrifícios de animais e um sacerdócio zadoquita
terreno (naquele dia visivelmente subordinado a Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote
Melsequisedequiano)." (WHITCOMB, p. 189).

Poderíamos expandir esse assunto aqui, demonstrando as passagens que apoiam o


nosso ponto de vista, todavia, para não desfocarmos a atmosfera do conteúdo profético
de Jeremias, não faremos isso. Basta apenas dizer que é biblicamente possível e
profeticamente certo.

II- QUEM PODE INVALIDAR A ALIANÇA DE DEUS COM ISRAEL?

A segunda parte da profecia que diz respeito ao governo do Messias (vv.19-26), fala
sobre a validade da aliança de Deus com Israel.

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Aqui Deus revela que a aliança que Ele fez com Davi seu servo é inquebrável. O
argumento de Deus é: se alguém puder invalidar as funções que Ele deu ao dia e à noite,
a aliança com Davi também poderá ser invalidade. Obviamente, até hoje, isso nunca
aconteceu. Logo, a Palavra de Deus continua de pé.

No versículo 22, "Jeremias antevê uma multidão inumerável na família real de Davi e na
linguagem linhagem sacerdotal de Levi." (STAMPS, p. 1130).

O Governo Messiânico de Deus, daquele que é descendência de Davi, há de se


manifestar no seu sentido pleno no Milênio. Estamos aguardando isso!

Mas, porque Deus estava dizendo estas coisas? A resposta se encontra no versículo 24.
O povo achava que Deus os havia rejeitado. Embora tivesse todos os motivos para isso,
o SENHOR fala que não! Veja que povo era instruído de que Deus havia elegido as duas
famílias (a casa de Israel e a casa de Judá), mas que agora eles já não eram seu povo,
devido à todo o mal que estava lhes sobrevindo.

Deus assegura que assim só existe uma possibilidade dEle rejeitar a descendência de
Jacó que é invalidando sua aliança com o dia e com a noite, algo precisamente
impossível. Deus termina dizendo: "Porque lhes restaurarei a sorte e deles me
apiedarei."

Veja que todo o fator de todas essas coisas acontecerem está no amor e na misericórdia
de Deus. Ele deixa isso bem claro nas linhas e nas entrelinhas dessas profecias. O povo
não merecia, nem estava com condições alguma de herdar as promessas, porém, a
misericórdia fez com que o SENHOR zelasse pelas boas palavras proferidas a Abraão e a
Davi.

Conclusão: É uma tremenda desonestidade bíblica alguém querer anular essas palavras
espiritualizando-as ou transferindo-as para outro povo. Nada, nada debaixo do céu e da
terra, poderá fazer cair por terra a boa palavra que o SENHOR proferiu para Israel. Não
resta dúvida, de que no Milênio, Israel terá um papel proeminente e importante sobre
todo o mundo. Isso não nos deveria soar estranho, haja vista que será lá que o Messias
irá reinar conforme está predito pelas Escrituras. É verdade que na escatologia de
Jeremias, estas verdades ora são expostas de forma clara, ora são reveladas de maneira
embrionárias, porém uma coisa é certa: elas estão lá! Não devemos nos frustar, ver com
maus olhos, ou dar menos importância pela Escatologia deste profeta não ser
sistematizada conforme ensina nossos padrões modernos. O propósito de Deus nunca
foi esse quando inspirou as Escrituras. Cabe a nós, procurarmos honestamente e com
profundo zelo aquilo que a Bíblia ensina a respeito do que fim que já se aproxima. Por
isso, não se sinta enfadado em ver que a doutrina das últimas coisas reveladas a
Jeremias, gira quase que totalmente em torno de Israel. Isso não significa que a
Escatologia de toda a Bíblia faça isso, mas sim à de Jeremias. Se Jeremias estivesse vivo,
não discordaria em momento algum do entendimento de que Israel, é o relógio de Deus
para o fim dos tempos. Amém!

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9. A QUEDA DA BABILÔNIA.

Leitura Bíblica: ( Jeremias 50-51).

Introdução: Finalmente, chegamos ao último capítulo do nosso ensaio. Aqui veremos


como será o desfecho final de um dos inimigos mais conhecidos na Bíblia! Estamos
falando da Babilônia. Jeremias prediz que virá sim a restauração de Deus, todavia o juízo
é certo sobre a Babilônia, um dos opressores de seu povo. Jeremias 50-51 é o embrião
de Apocalipse 17, com suas respectivas distinções e peculiaridades. Aparentemente,
parece que a Babilônia não terá um papel nos fins dos tempos. Porém, será que a Bíblia
ensina isso mesmo? É o que veremos neste capítulo.

I- A QUEDA DE QUAL BABILÔNIA?

É certo que os últimos capítulos do livro de Jeremias são proféticos. No capítulo 50, a
queda da Babilônia é predita. Toda a religiosidade, governo e glória deste império que
é o considerado o mais poderoso da história antiga, são destinadas à destruição pelo
próprio Deus. Nesse tempo, também deveria acontecer a restauração de Israel. De que
maneira podemos entender este capítulo?

Bem, existem várias evidências de que esta é uma profecia de dupla referência, com um
cumprimento parcial num contexto próximo da época de Jeremias e um cumprimento
pleno num futuro distante. Os argumentos para isso são os mesmos que já tivemos
oportunidade de ver em outros capítulos deste ensaio.

Muitos acreditam que os capítulos 50-51 de Jeremias, falam apenas a respeito do


domínio da Babilônia pelo império Medo-Persa. Entretanto, uma leitura mais acurada
dessas passagens nos relevam que tem algo a mais... Quando o império Medo-Persa
subjugou a Babilônia, não tornou deserta a sua terra, nem sua população fugiu.
Babilônia tornou-se uma morada deserta, muito tempo depois de ser subjugada pelos
medos e persas e para a surpresa de muitos, está sendo reconstruída em nosso tempo.

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Não seria algumas profecias destinadas a essa Babilônia dos fins dos tempos? Ao que
parece, Jeremias prevê isso.

A reconstrução de Babilônia na atualidade nos prova que Jeremias 50-51, não se


cumpriu no passado plenamente. Haverá a sua queda definitiva!

Thomas Ice e Timothy Demy captaram bem a ideia de que a Babilônia é um sinal dos fins
dos tempos. Eles explicam:

"A Babilônia é retratada em toda a Bíblia como o centro do reino humano em oposição
a Deus, a Israel e ao plano divino para a história. Não é de se admirar que muitas
passagens bíblicas falem do papel da Babilônia como inimiga de Deus no fim dos tempos
(Apocalipse 14.8; 17-18).(...) O Dr. Joseph Chambers viajou para o Iraque, logo depois da
Guerra do Golfo, e testemunhou em primeira mão a reconstrução da Babilônia por
Saddam Hussein. 'Eu andei por aquelas ruínas e vi várias vezes os tijolos antigos de
Nabucodonosor com os tijolos de Saddam Hussein em cima de trabalhadores erguendo
muros e mais muros e prédios e mais prédios', declara o Dr. Chambers. 'Cada detalhe da
Palavra infalível de Deus está se cumprindo.'" (ICE e DEMY, 1999, p. 63).

Ainda segundo Ice e Demy:

"A Bíblia nos diz que ela será restabelecida nos últimos dias para desempenhar um papel
de destaque (Apocalipse 14.8; 16.18; 17-18). Tanto Jerusalém quanto a Babilônia serão
pontos centrais das atividades nos últimos dias. Para que se cumpram as profecias sobre
o final dos tempos, durante a Grande Tribulação, a Babilônia precisará ser reconstruída
e tornar-se-á uma importante cidade para o comércio mundial." (ICE e DEMY, 2003, p.
41).

A Babilônia dos fins dos tempos desempenhará o papel de principal inimiga do povo de
Deus, ou seja, Israel. Isso se dará no período da Grande Tribulação.

Thomas Ice também contribui para nossa linha de entendimento:

"A Babilônia foi a cidade mais importante do mundo por quase 2000 anos, e a Bíblia nos
diz que será reerguida e colocada no palco mundial do fim dos tempos para representar
um papel de destaque (Ap 14.8; Ap 16.19; Ap 17 e Ap 18). A profecia referente ao final
dos tempos exige que a Babilônia seja reconstruída e se torne uma cidade importante
aos interesses mundiais durante a Tribulação. O texto de Isaías 13.19 diz: “Babilônia, a
jóia dos reinos, glória e orgulho dos caldeus, será como Sodoma e Gomorra, quando Deus
as transtornou”. O contexto de Isaías 13 é “o Dia do Senhor”, expressão mais utilizada
no Antigo Testamento para o termo largamente conhecido como “Tribulação”. Além
disso, no passado a Babilônia foi conquistada por outros povos mas nunca foi destruída
num cataclismo (ou seja, “como Sodoma e Gomorra, quando Deus as
transtornou”). Atualmente a [região de] Babilônia tem aproximadamente 250.000
habitantes. O texto de Apocalipse 18.16,19 fala de uma súbita destruição pela mão de
Deus: “Ai! Ai! da grande cidade,... porque, em uma só hora, foi devastada!” (Thomas Ice
- Pre-Trib Perspectives - http://www.chamada.com.br).

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II- AINDA SOBRE A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL:

"Naqueles dias, naquele tempo, diz o SENHOR, voltarão os filhos de Israel, eles e os filhos
de Judá juntamente; andando e chorando, virão e buscarão ao SENHOR, seu Deus."
(50.4).

Veja que a profecia diz respeito à casa de Israel e de Judá. Mais uma vez temos aqui uma
Dupla-Referência. Se essa promessa estivesse ligada apenas ao retorno de Judá do
cativeiro babilônico, não seria descrita em termos nacionais, haja vista que não foi a
nação inteira que foi para a Babilônia.

Uma melhor interpretação para este texto é que tem uma ligação próxima com o
retorno dos judeus da Babilônia e uma ligação direta com o reagrupamento mundial em
fé dos judeus no fim dos tempos.

Eles virão e buscarão a Deus! A nação finalmente se submeterá ao seu Pastor com um
pacto eterno que jamais será esquecido (50.5).

Ainda neste capítulo é confirmado que Deus os faria voltar à sua terra. É Deus quem fará
isso! Neste tempo, Ele finalmente será purificado e perdoado. Não haverá mais
iniquidade! (50.19,20).

Conclusão: Neste capítulo pudemos constatar que a Babilônia ainda desempenhará um


papel importante no fim dos tempos. Todavia, não importa quantas vezes ela tente se
levantar. Irá cair todas as vezes. A queda da Babilônia conforme predita na Bíblia, num
foi cumprida plenamente. Por isso acreditamos que ela será reconstruída em algum
momento da história. Vimos também que já existem esforços na atualidade para que
isso aconteça. De qualquer forma, Deus irá fazer justiça a seu povo e não deixará a
Babilônia impune. Deus abalará todas as suas estruturas, para que nunca mais se
levante. Por exemplo, em Jr 50.38; 51.36 predizem um flagelo sobre as águas de
Babilônia. Entendemos que essa profecia se refere ao castigo que virá sobre o grande
rio Eufrates no fim dos tempos (Apocalipse 16.12). O capítulo 51, a partir do 36 é onde
contém mais material escatológico para o fim dos tempos. Apocalipse 17 repete muitas
coisas que estão escritas aqui. Aconselho ao leitor que leia, para que possa entender o
que estamos estudando. Não analisaremos versículos por versículos aqui, por causa da
quantidade de detalhes e informações específicas, porém uma coisa é certa: a Babilônia
será desolada. Por fim, a intervenção de Deus triunfará seja através do juízo ou da
restauração. Assim, todo cenário estará finalmente pronto para que o Santo de Israel
que é Rei-Redentor, reine sobre tudo e todos. É assim que termina a Escatologia do
Profeta Jeremias, com uma grande pincelada de esperança, para seu povo que naquele
tempo estava em pedaços.

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Bibliografia:

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ANDRADE, Claudionor de. Jeremias, o Profeta da Esperança. Rio de Janeiro: CPAD,


2010.

Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol 3. São Paulo: HAGNOS,
2004.

GEORGE, Elizabeth. Bela aos olhos de Deus. São Paulo: Editora United Press, 2002.

HAGEE, John. O começo do Fim. São Paulo: Mundo Cristão, 1997.

ICE, Thomas e DEMY, Timothy. Profecias de A a Z. Porto Alegre: Actual, 2003.

ICE, Thomas e DEMY, Timothy. Quando a Trombeta Soar. Porto Alegre: Actual, 2015.

ICE, Thomas e DEMY, Timothy. Os Sinais dos Tempos. Porto Alegre: Actual, 1999.

MACARTHUR, John e MAYHUE Richard. Os Planos Proféticos de Cristo. Eusébio, CE:


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MESQUITA, Antonio. Mensageiro da Paz. Vol 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

MONARD, Jacques-André. As Dispensações. São Paulo: Depósito de Literatura Cristã,


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RYRIE, Charles. Bíblia de Estudo Anotada e Expandida. São Paulo: Mundo Cristão,
2013.

STAMPS, Donald. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.

WHITCOMB, John C. O Arrebatamento e Além. São Paulo: Batista Regular, 2016.

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