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IV Encontro Nacional de Ergonomia do Ambiente Construído

V Seminário Brasileiro de Acessibilidade Integral


01 a 03 de março de 2013 em Florianópolis, SC

USABILIDADE E HABITABILIDADE:
MOBILIÁRIO PARA APARTAMENTOS REDUZIDOS

BINS ELY, Vera Helena (1);


PEZZINI, Marina (2);
SCHULENBURG, Roy (3)
(1) UFSC, Doutora
e-mail:vera.binsely@gmail.com
(2) UNIVILLE, Mestre
e-mail:marinapzn@gmail.com
(3) Univille, Mestre
e-mail:royzera@gmail.com

RESUMO

A redução dos apartamentos gerou projetos que se definem entre uma micro arquitetura e um macro
design e devem integrar edificação e mobiliário para garantir condições de habitabilidade e evitar o
impacto negativo da redução do espaço na qualidade de vida dos usuários. Assim, esta pesquisa visou a
sistematizar uma lista de recomendações que auxiliassem os arquitetos, os designers e os projetistas de
lojas de armários modulados a otimizarem a usabilidade de armários modulados em apartamentos
reduzidos. E em continuidade à mesma, as recomendações listadas foram abordadas em três projetos de
mobiliário: um guarda roupa e dois conjuntos para refeições.

ABSTRACT

The apartments reduction led to projects that are defined between a micro architecture and a macro and
design, which should integrate building and furnishings to ensure living conditions and avoid the negative
impact of space reduction in the users’ life quality. Thus, this research aimed to systematize a list of
recommendations that could help architects, designers and employees of modular cabinets’ stores to
optimize the usability of reduced modular cabinets. In continuity, the listed recommendations were
addressed in three furniture projects: one wardrobe and two sets for meals.

1. INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta pesquisas realizadas pelos autores nos últimos cinco anos, a respeito das
relações entre a usabilidade de armários e a habitabilidade em apartamentos reduzidos, dada
essa tendência do mercado imobiliário para os centros urbanos. Essas pesquisas incluíram
uma dissertação de mestrado defendida na UFSC e três Trabalhos de Conclusão de Curso
orientados por uma das autoras e defendidos na UNIVILLE, cujos resultados geraram um
conceito projetual com sete atributos para o design de armários adequados a apartamentos
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reduzidos. Segundo o conceito, esses armários devem ser modulados, multifuncionais,


racionalizados, compactos, seguros, fáceis de limpar e personalizáveis.

1.1 Contextualização da pesquisa

Transformações sociais – como perda de poder aquisitivo, novos agrupamentos domésticos,


novos hábitos de morar, inserção da tecnologia no lar e limitação de área disponível para o
crescimento das cidades – tem determinado a redução da área útil dos apartamentos. Assim
surgiu um tipo novo de unidade habitacional, cujo projeto define-se entre uma micro arquitetura
e um macro design e deve integrar edificação e mobiliário em soluções diferenciadas, para
garantir condições mínimas de habitabilidade, evitando que a redução do espaço doméstico
prejudique a qualidade de vida do usuário. Esse prejuízo pode ser físico, psicológico e acidental
e sua principal causa é a sobreposição entre o espaço que o homem ocupa para realizar suas
atividades e o espaço que o mobiliário e os objetos ocupam para serem usados (CÍRICO, 2001;
FOLZ, 2002; BOUERI, 2003; BOUERI et. al., 2007). As Figuras 1, 2 e 3 a seguir ilustram esse
contexto, com exemplos de ambientes de apartamentos reduzidos.

Figuras 1, 2 e 3: Exemplos de ambientes de estudo em apartamentos reduzidos


Fonte: Apartment Therapy (2012, web)
Diversas alternativas tem sido desenvolvidas para otimizar a habitabilidade em habitações
reduzidas, como micro casas móveis, sobreposição de ambientes, móveis contêineres,
multifuncionais, retráteis, modulados (FOLZ e MARTUCCI, 2006). Entretanto, muitas dessas
destinam-se a problemas extremos de limitação espacial e descaracterizam o arquétipo de
habitação, além de comprometerem a usabilidade do sistema – designs excessivamente
complexos, em princípio, são menos fáceis de usar (LIDWELL et. al., 2010). Portanto, contextos
com transformações menos avançadas requerem projetos inovadores, com referências mais
próximas da habitação tradicional e melhor equilíbrio entre multifuncionalidade (flexibilidade de
funções) e usabilidade. Assim determinou-se o foco desta pesquisa nos armários modulados.
A modularidade é um princípio estrutural de gestão da complexidade dos sistemas (LIDWELL
et. al., 2010). Armários modulados são sistemas de armazenamento compostos por módulos de
dimensões repetitivas, que permitem a personalização de uso dos armários e a simplificação da
produção. Essas unidades análogas e complementares formam uma estrutura homogênea. As
vantagens da modulação são: para a indústria, aumentar a produção, melhorar o
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armazenamento, diminuir componentes e custo, explorar a flexibilidade nos projetos; para os


consumidores, comprar em etapas os módulos e adaptá-los ao espaço que possuem, com uma
numerosa variedade de composições (FOLZ, 2002). Além disso, a modularidade proporciona
um efeito estético favorável à percepção de usabilidade, implicando na aceitação e no
desempenho do sistema (LIDWELL et. al., 2010). As Figuras 4, 5 e 6 a seguir ilustram esse
contexto, com exemplos de mobiliário modular disponibilizado no mercado por cadeias de lojas
como a sueca Ikea, a americana Pottery Barn e as brasileiras TokStok e Etna.

Figuras 4, 5 e 6: Exemplos de mobiliário modular


Fonte: Pottery Barn (2012, web), Tok Stok (2012, web) e Etna (2012, web)
Para abordar a usabilidade de armários modulados em apartamentos reduzidos, devem-se
compreender as características físicas e funcionais dos ambientes, dos móveis e dos objetos,
bem como as características físicas e emocionais dos usuários. Esses fatores determinaram a
abordagem ergonômica da presente pesquisa, cujo objetivo foi sistematizar uma lista de
recomendações que auxiliassem os arquitetos, os designers e os projetistas das lojas de
modulados a otimizarem a usabilidade de armários modulados em apartamentos reduzidos.
Ainda neste artigo, apresentam-se três projetos acadêmicos de mobiliário, desenvolvidos com
base nessas recomendações.

1.2 Delimitações da pesquisa

Para viabilizar esta pesquisa, foi necessária a limitação a um tipo de unidade habitacional, dois
ambientes e dois móveis. Os apartamentos de dois quartos foram escolhidos, porque abrangem
a maior variedade de grupos domésticos, ou seja, famílias, casais, estudantes, pessoas sós
(CAMARGO, 2003). Quanto aos ambientes, escolheram-se o maior quarto da planta, de uso
preferencial, e a cozinha, pela intensidade de uso. Quanto ao mobiliário, escolheram-se os
armários porque, ao acomodarem objetos e utensílios usados para as atividades em um
ambiente, contribuem para sua funcionalidade. Dentre os armários, foram escolhidos o guarda
roupa no quarto e o conjunto formado pelo balcão e o armário aéreo na cozinha, porque
acumulam maior número e diversidade de funções, objetos e utensílios. Quanto ao público
alvo, determinaram-se mulheres adultas, entendidas culturalmente como principais
responsáveis pelas atividades domésticas e pelas compras para a casa, inclusive de mobiliário.
Outra limitação necessária foi a geográfica: foram escolhidos os bairros adjacentes da
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, que são quatro dos mais populosos bairros
da porção insular de Florianópolis: Carvoeira, Córrego Grande e Pantanal com mais de 4 mil
habitantes cada, e Trindade com mais de 14 mil habitantes, segundo censo do IBGE disponível
no site da Prefeitura Municipal de Florianópolis (PMF, 2008, web). Nessa região, observa-se um
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aquecimento do mercado mobiliário, relacionado à presença da Universidade Federal, bem


como de shoppings, supermercados, restaurantes e de serviços, como clínicas especializadas.
Finalmente, para viabilizar esta pesquisa, foram buscados procedimentos metodológicos nas
áreas de arquitetura, design e ergonomia. O primeiro procedimento realizado foi uma
fundamentação teórica a partir da produção científica dos 9 anos anteriores, publicada em
livros, artigos e anais de eventos. Em seguida, um extenso estudo de campo foi dividido em 4
fases: estudo sobre os apartamentos, estudo piloto do sistema de uso, estudo sobre os
usuários e sobre os armários.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A ergonomia busca compreender o comportamento e as necessidades do homem em atividade,
para otimizar seu bem estar, bem como o desempenho do sistema. É o estudo da interação das
pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos
para melhorar integralmente a segurança, o conforto, o bem estar e a eficácia das atividades
humanas, sejam de trabalho, lazer ou domésticas (ABERGO, 2012, web; IEA, s/d apud
ABERGO, 2012, web). Nesse sentido, esta pesquisa aplicou os conhecimentos acumulados
pela área da ergonomia do ambiente construído, para identificar atributos de design que
otimizassem a interação entre usuários, mobiliário e ambiente, com condições de saúde e
conforto (VILLAROUCO, 2001; BALTAR et. al., 2002; MONTE e VILLAROUCO, 2006).
A usabilidade é a qualidade de uso, definida ou medida para um contexto em que um sistema é
operado. Também pode ser entendida como a facilidade e a comodidade de uso do produto,
em seu entendimento e operação, e relaciona-se com o conforto e com a eficiência (IIDA,
2005). Suas medidas são a eficácia, a eficiência e a satisfação pessoal. Eficácia é a precisão e
completeza com que o usuário atinge objetivos específicos, gerando o resultado esperado;
eficiência é a precisão e completeza com que o usuário atinge objetivos em relação à
quantidade de recursos gastos e satisfação diz respeito ao conforto e à aceitação do produto
(JORDAN, 1998; CYBIS, 2003).
A eficácia funcional dos armários, estudados nesta pesquisa, está ligada às necessidades de
armazenamento do usuário na sua habitação. Nichos mal dimensionados, mal distribuídos ou
insuficientes para a quantidade de objetos a serem guardados dificultam a realização das
atividades e causam incômodos rotineiros. Quando os objetos não cabem no armário, ou ficam
difíceis de alcançar, o usuário perde tempo, se cansa e se frustra.
A eficiência antropométrica é a medida de usabilidade ligada à interface entre o ambiente, o
objeto e o homem, dadas as características físicas de cada um. As dimensões corporais devem
ser consideradas sempre que houver interface do corpo com componentes físicos no espaço,
para garantir o uso cômodo e seguro, com qualidade de vida. Entretanto, os dados
antropométricos são pouco utilizados como apoio ao projeto arquitetônico, o que pode acarretar
problemas posturais, acidentais, estresse por confinamento, perda de privacidade e
impossibilidade de realizar atividades complementares. Sem esses cuidados, proliferam-se
apartamentos cujos ambientes prejudicam a realização das atividades a que são destinados
(MONTE e VILLAROUCO, 2006; MARTINS e COSTA FILHO, 2006).
A satisfação pessoal é a terceira medida de usabilidade, a ser considerada no projeto de
armários para apartamentos reduzidos. Trata-se do nível de conforto que o usuário sente ao
usar um produto e o quanto esse produto é percebido pelo usuário como um meio de atingir
objetivos. Para esta pesquisa, a satisfação pessoal foi considerada em termos de conforto
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emocional e personalização estética, ou seja, os aspectos afetivos da interação, que produzem


uma resposta emocional dos usuários (JORDAN, 1998; PREECE et. al., 2005).

3. PROBLEMATIZAÇÃO ERGONOMIZADORA
Os problemas ergonômicos do uso de armários em apartamentos reduzidos foram levantados
preliminarmente na bibliografia e na observação assistemática. Em seguida, esses problemas
foram classificados de acordo com Moraes e Mont’Alvão (2010). Pode-se perceber a seguir
que, de maneira geral, esses problemas manifestam-se no dimensionamento, na distribuição e
no acabamento dos nichos e puxadores dos armários.
Os problemas instrumentais dizem respeito ao excesso e diversidade de objetos. Essa
situação é corriqueira no uso de armários, mas agrava-se em situações de restrição espacial,
pois há menos espaço de armários para um mesmo número e variedade de objetos, que vão de
utensílios do dia a dia àqueles de uso pessoal ou, simplesmente, objetos de estima. Esses
problemas estão relacionados com a medida de eficácia funcional.
Os problemas acionais ligados às formas, dimensões e posicionamento dos puxadores podem
prejudicar o conforto da pega e a postura do usuário, também levando a frustrações ou mesmo
lesões, temporárias ou permanentes, pela movimentação ou posicionamento inadequado dos
braços, costas e pescoço. Os problemas movimentacionais também podem ocorrer no
desempenho de outras atividades, com manejo de pesos, ou como consequência de problemas
de acessibilidade, em que objetos e equipamentos estão fora do alcance confortável. Os
problemas interfaciais dizem respeito à interface ou relação física do homem com o armário:
manejo de peso ao guardar e apanhar objetos, inadequação postural ao realizar essas
atividades, bem como ao utilizar superfícies de trabalho de balcões ou ao limpar o armário e da
realização de posturas que duram todo o tempo da atividade, sem repouso. Os problemas
securitários dizem respeito a riscos acidentários como tombos, escorregões e tropeços e estão
ligados à configuração inadequada dos ambientes, ao uso de bancos para extensão do alcance
vertical e ao excesso de circulação. Esses problemas estão relacionados com a medida de
eficiência antropométrica.
Os problemas emocionais e cognitivos também estão presentes no uso de armários e se
manifestam em insatisfações pessoais com a estética, com a funcionalidade ou com
inconsistências que dificultam tomadas de decisões. Esses problemas estão relacionados com
a medida de satisfação pessoal.

4. ESTUDO DE CAMPO
O estudo de campo visou a verificar os problemas ergonômicos levantados preliminarmente e
aprofundar o conhecimento a respeito da usabilidade de armários modulados em apartamentos
reduzidos. Para isso, baseou-se em metodologias provenientes das áreas de arquitetura,
design e ergonomia, especialmente nas publicações de Moraes e Mont’Alvão (2010), Preece et.
al. (2005) e Iida (2005). Foram 14 procedimentos, divididos em 4 fases: estudo sobre os
apartamentos, estudo piloto do sistema de uso, estudo sobre os usuários e sobre os armários.
A primeira fase (estudo dos apartamentos) visou a conhecer o mercado imobiliário e as plantas
recentemente lançadas na região de interesse da pesquisa. Dentro deste estudo, foram
realizados 3 procedimentos: estudo exploratório, estudo de plantas e levantamento espacial.
A segunda fase (estudo piloto do sistema de uso) visou a conhecer as modulações de
armários para quartos e cozinhas oferecidas no mercado; e compreender o processo de
trabalho dos projetistas. Dividiu-se em 3 procedimentos: persona, briefing e projeto piloto.
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A terceira fase (estudo dos usuários) visou a conhecer a opinião da amostra de usuários, para
complementar a observação sobre os problemas de usabilidade dos armários modulados de
quarto e cozinha nos apartamentos reduzidos. Dividiu-se em 4 procedimentos: escolha do perfil
da amostra, escolha dos instrumentos de inquirição, questionário online e entrevista.
A quarta fase (estudo dos armários) visou a conhecer as soluções projetuais para nichos e
acessórios oferecidas no mercado de armários modulados e seu desempenho, de acordo com
os critérios estabelecidos a partir da fundamentação teórica e dos demais procedimentos de
pesquisa. Dividiu-se em 4 procedimentos: entrevista semi estruturada com projetistas de lojas
de modulados, estudo funcional dos nichos e acessórios oferecidos em catálogos comerciais,
simulação gráfica das recomendações e entrevistas semi estruturadas com projetistas
experientes de várias lojas de modulados. A seguir, destacam-se os principais resultados.

4.1 Panorama dos apartamentos

Foi possível levantar algumas características do mercado imobiliário da região da UFSC: a


Trindade é, atualmente, o polo imobiliário desta região; e os apartamentos de dois quartos são
lançados em maior número, para diferentes agrupamentos e classes sociais. Alguns possuem
áreas úteis inferiores à estabelecida pelo Código de Obras do município para 4 pessoas (60m²).
E mesmo essa medida, de 15m² por pessoa, pode ser considerada inadequada diante da
insuficiência de espaço para o armazenamento de objetos pessoais e utensílios domésticos.
Nos quartos, a área está no intervalo de 11,00m² a 13,00m². Considera-se adequada, pois o
Código de obras de Florianópolis exige no mínimo 11,00m² para o primeiro quarto, ao passo
que Boueri e Mendonça (2005) recomendam 12,00m², Círico (2001), 10,00m² e Brandão
(2002), 9,37m². Não se verificou uma padronização do leiaute do mobiliário: o guarda roupa
perpendicular à cabeceira da cama oferece maior espaço de atividade do que os demais
leiautes possíveis. A linha de armário varia de 1,80m a 3,00m e o espaço livre para a execução
de atividades como vestir, guardar e limpar apresenta um amplo intervalo de 1,00m² a 6,00m².
Já nas cozinhas, a tipologia de parede única é a mais usada e a área útil é de 5,00m² a 7,00m².
Esse intervalo respeita o Código de Obras, segundo o qual a cozinha não deve ter menos de
4,00m² (LEI COMPLEMENTAR Nº 060/2000, 2003). O leiaute é padronizado, com o mobiliário e
equipamentos dispostos na maior parede, de frente para a porta, e a parede disponível para
balcão/aéreo é de 1,20m a 2,50m. O espaço de atividades é de 1,80m² a 3,25m². Conhecer
essas dimensões e leiautes colabora para o desenvolvimento de novos móveis, especialmente
armários de quarto e cozinha, adequados aos apartamentos ofertados pelo mercado imobiliário.

4.2 Panorama do uso dos armários

Foi possível perceber algumas características do mercado de móveis modulados: os sistemas


de modulação e as soluções projetuais oferecidas pelas diferentes marcas são bastante
similares entre si; não há estudos aprofundados sobre ergonomia e usabilidade na concepção
dos módulos e acessórios pelas fábricas ou na concepção dos projetos dos ambientes pelos
projetistas das lojas; há uma grande variedade de acessórios e soluções disponíveis, como
aramados, pistões a gás, trilhos e travas. A falta de espaço e o dimensionamento inadequado
dos nichos são os principais problemas de eficácia funcional (acomodação dos objetos nos
nichos) e esses incomodam mais do que os problemas de eficiência antropométrica (alcance e
visualização dos objetos nos nichos), relatados a seguir. No balcão/aéreo, os objetos mais
difíceis de acomodar são potes, jarras e aparelhos e os nichos mais mal dimensionados são as
gavetas, muito pequenas. No guarda roupa, os objetos mais difíceis de acomodar são as
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roupas de cama e banho, as malas e os calçados e os nichos mais mal dimensionados são os
cabideiros e calceiros, insuficientes.
A maioria das respondentes não alcança e não visualiza bem os objetos em todos os nichos do
guarda roupa e, principalmente, do balcão/aéreo, apesar de quase todas estarem acima da
média brasileira de estatura feminina,1,62m – provavelmente devido à realização da pesquisa
na região sul do país. Isso indica um exagero da verticalização, para cima e para baixo – e a
profundidade do móvel pode piorar a situação. A verticalização gera desconforto e risco de
acidentes, pelo uso de bancos e escadas, pela queda de objetos puxados ou pelo risco de
distensões e torções musculares.
Os desconfortos e constrangimentos foram apontados principalmente nas posturas em pé sobre
banco, na ponta dos pés e agachada. Apesar de as respondentes serem jovens, o cansaço e a
insegurança foram queixas de uso recorrentes. Para evitarem-se esses efeitos, os objetos
usados diariamente devem ser guardados nos nichos medianos; os usados frequentemente
devem ficar nos nichos mais baixos; e os de uso eventual, nos mais altos, alcançados com
bancos. Nesse sentido, as respostas indicaram práticas adequadas, o que aponta para
problemas de design e não de mau uso. Na cozinha, o problema se agrava, pois o espaço de
melhor alcance é utilizado como superfície de trabalho, e não guarda de objetos.
Ainda foram queixas recorrentes a inflexibilidade dos nichos, os limites de personalização, a
falta de nichos e acessórios para usos específicos, as dificuldades de limpeza do armário e
organização do uso. Porém, o estudo dos armários modulados revelou diversas soluções
projetuais e acessórios, que indicaram a modularidade para minimizar os problemas de
usabilidade de armários em apartamentos reduzidos, embora, aumentem o custo do armário e
possam reduzir seu espaço interno.

5. RECOMENDAÇÕES
A partir dos procedimentos anteriores, foi sistematizada uma lista de recomendações para
auxiliar arquitetos, designers e projetistas (funcionários das lojas de armários modulados), a
otimizarem a usabilidade de armários modulados em apartamentos reduzidos, conforme
apresenta-se a seguir.

5.1 Recomendações para os arquitetos

O leiaute deve ser adequado às dimensões do corpo humano em atividade e em circulação, às


características de uso e às dimensões dos equipamentos e móveis, ao acondicionamento
suficiente e seguro de objetos. O arranjo funcional mínimo deve determinar o dimensionamento
mínimo dos ambientes e assim, da habitação. O arquiteto deve prever o melhor aproveitamento
das paredes, considerando aberturas e mobília. Deve prever a eficiência da tarefa, minimizando
os esforços físicos e cognitivos. Deve hierarquizar os fluxos, agrupar os processos similares,
obedecer à sequência lógica das atividades, evitar a verticalização e os estrangulamentos,
priorizar o menor deslocamento no menor tempo. Deve se inteirar das atividades às quais o
ambiente se destina e do comportamento dos usuários no desempenho das ações. Deve
promover o conforto através do arranjo físico, ventilação e iluminação. Por fim, deve considerar
a satisfação pessoal, a personalização dos ambientes e os usos complementares da habitação.
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5.2 Recomendações para os designers

Os designers devem aumentar o conforto e evitar acidentes, fornecendo freios e travas,


minimizando quinas, dobradiças e materiais quebradiços. Os puxadores devem ter fácil acesso,
dimensões e formas adequadas às mãos. Devem distribuir e agrupar os nichos conforme as
ações e as posturas, num arranjo intuitivo conforme a sequência de uso, utilizar as superfícies
funcionais para a acomodação de aparelhos, minimizar os manejos de pesos, evitar o
comprometimento das áreas de circulação e uso, evitar nichos muito altos, muito baixos ou
muito profundos. Devem usar percentil 5% para os alcances (para que as menores pessoas
realizem alcances máximos com conforto, por exemplo) e 95% para as amplitudes (para que as
maiores pessoas realizem circulações com conforto, por exemplo). Devem pensar na limpeza e
manutenção, priorizando acabamentos sem sulcos. Devem considerar a agradabilidade no uso,
fornecendo soluções inteligentes, flexíveis, personalizáveis e estéticas. Textura, temperatura e
cor dos materiais e acabamentos, iluminação e outros recursos podem estimular a percepção
de conforto e agradabilidade. Ainda, são bem vindas soluções para acomodar potes, jarras,
roupas de cama e banho, malas e calçados; gavetas, cabideiros e calceiros, também podem
ser maiores. Os puxadores não devem prender-se à roupa, devem ter dimensões adequadas à
pega, temperatura e textura agradáveis e contraste com o laminado.

5.3 Recomendações para os projetistas

Os projetistas devem fornecer orientações de eficácia, inteirar-se das atividades,


comportamento de uso e características físicas dos usuários, para desenvolver um leiaute
funcional. Devem fornecer orientações de eficiência, distribuir os nichos do armário segundo
uso e peso: objetos pesados ou de uso frequente na linha da cintura; objetos de uso médio ou
peso médio embaixo; objetos de uso não frequente ou peso leve na linha dos ombros ou acima.
Devem oferecer alternativas para evitar a permanência de postura, ou posturas prejudiciais.
Devem fornecer orientações de satisfação e conforto físico, visual e psicológico. Devem se
preocupar com os materiais e acessórios, as sensações e a estética.

6. CONCEITO PROJETUALE SUA APLICAÇÃO


A contribuição mais relevante deste artigo é avançar a partir dos cinco anos de pesquisas
realizadas pelos autores a respeito das relações entre a usabilidade de armários e a
habitabilidade em apartamentos reduzidos, propondo um conceito projetual para o design de
armários reduzidos ergonômicos. Para isso, as recomendações foram reorganizadas em um
conceito com sete atributos: o armário para apartamentos reduzidos deve ser modulado e
multifuncional, com nichos que prevejam a acomodação de diferentes objetos. Deve ser
racionalizado, acomodando os aparelhos elétricos (como secador de cabelo, no quarto, ou
liquidificador, na cozinha) nas próprias superfícies de uso e prevendo ações e posturas, num
leiaute que minimize manejos de pesos e deslocamentos: objetos pesados ou de uso frequente
na altura da cintura, objetos de uso médio ou peso médio abaixo da cintura, objetos de uso não
frequente ou peso leve na altura dos ombros ou acima. Deve ser compacto, sem exagerar a
verticalização e na profundidade. As dimensões máximas do armário devem obedecer percentil
5% para os alcances e 95% para as amplitudes. Guarda roupa: perpendicular à cabeceira;
largura máxima de 1,80m. Balcão/aéreo: em linha, na maior parede; largura máxima de 1,20m.
Deve ser seguro, usar freios e travas e evitar quinas, dobradiças e materiais quebradiços; ter
puxadores com fácil acesso, dimensões e formas adequadas às mãos, contrastantes com o
laminado e sem saliências. Deve ser fácil de limpar, dados os acabamentos e materiais.
Finalmente, deve ser personalizável, através de texturas, cores, acessórios e aplicações.
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6.1 Projetos

Todos os atributos projetuais foram totalmente atendidos nos projetos apresentados a seguir,
ou seja: todos são modulados, multifuncionais, racionalizados, compactos, seguros, fáceis de
limpar e personalizáveis. O Projeto 1 (Figuras 7, 8, 9 e 10) é um guarda roupa composto por
um corpo com gavetas, em madeira, com acrílico translúcido nas portas, para a visualização
dos objetos armazenados, e dois tipos de módulos, em madeira. O módulo 1 tem formato em E
e o módulo 2, em C. Ambos podem ser usados como divisórias do guarda roupa, em variadas
composições, ou em funções secundárias, como prateleira, mesa de centro ou banco. Os
materiais (madeira laqueada e acrílico) são atóxicos e inquebráveis, com quinas arredondadas
e puxadores embutidose permitem a escolha de cores.

Figuras7, 8, 9 e 10: Guarda roupa modular multifuncional


O Projeto 2 (Figuras 11, 12 e 13) é um conjunto para refeições composto por uma cadeira
modular em madeira e uma mesa individual modular em madeira, com aplicação de acrílico
translúcido, para a visualização dos objetos armazenados. A cadeira possui um puxador
recortado no encosto e uma almofada dobrável. A mesa possui uma porta basculante de
acrílico com um pequeno recorte na borda, para o usuário utilizar apenas o dedo para levantar.
Os materiais (madeira laqueada e acrílico) são de qualidade, atóxicos e inquebráveis e
permitem a personalização através da escolha de cores e da aplicação de adesivos
decorativos. As quinas são arredondadas e os puxadores são embutidos.

Figuras11, 12 e 13: Conjunto para refeições


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O Projeto 3 (Figuras 14, 15 e 16) é um conjunto para refeições com inspiração na cultura
japonesa, tradicionalmente reconhecida por suas práticas para lidar com o estresse, bem como
com o confinamento dos espaços domésticos reduzidos. É composto por uma cadeira modular
em madeira e uma mesa de tampo dobrável, também modular e também em madeira. A
cadeira possui um topo removível com assento basculante e uma base ou baú. A mesa possui
um tampo e dois cubos, podendo ser usada em duas alturas. É possível configurar um
aparador, uma mesa alta de dois ou quatro lugares e uma mesa baixa de dois ou quatro
lugares. As quinas são arredondadas e os puxadores são embutidos. O material é o MDF, com
verniz em tons claros ou escuros. O possui uma almofada com tecido à escolha.

Figuras 14, 15 e 16: Conjunto para refeições com inspiração japonesa

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo apresentou pesquisas realizadas pelos autores nos últimos cinco anos, a respeito
das relações entre a usabilidade de armários e a habitabilidade em apartamentos reduzidos,
dada essa tendência do mercado imobiliário para os centros urbanos. Essas pesquisas
incluíram uma dissertação de mestrado e três Trabalhos de Conclusão de Curso, cujos
resultados geraram um conceito projetual com sete atributos para o design de armários
adequados a apartamentos reduzidos. Segundo o conceito, esses armários devem ser
modulados, multifuncionais, racionalizados, compactos, seguros, fáceis de limpar e
personalizáveis, assim evitando os desconfortos e constrangimentos causados pela falta de
espaço para acomodar e utilizar os objetos no âmbito doméstico.
Nesse sentido, entende-se que os projetos apresentados demonstram como pesquisa e
desenvolvimento em arquitetura e design podem contribuir efetivamente para o problema de
redução das habitações, otimizando a qualidade de vida de seus usuários. Ainda, os atributos
sugeridos agregam valor aos móveis, pelas vantagens de produção e montagem. Entretanto,
aumentam a complexidade do projeto de design, especialmente no que diz respeito à
modularidade (LIDWELL et. al., 2010).
Por fim, sugere-se que estudos futuros estendam os atributos aqui sistematizados aos demais
cômodos e móveis de apartamentos reduzidos ou que gerem parâmetros técnicos de
responsabilidade dos arquitetos e designers a serem exigidos pelos construtores, fabricantes e
usuários, a fim de minimizarem-se os efeitos da redução dimensional mal fundamentada dos
apartamentos e desenvolverem-se soluções criativas para projetos funcionais.

8. AGRADECIMENTOS
Ivan de Medeiros, MSc.,Monique Mauricio, Wagner Mueller, Camila Góes e Gyula Menezes.
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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALTAR, X.; VILÁN, J.; CORNES, A. e CORNES, X. Análisisergonómicodel rango de


posiciónescorporales de sedencia y descanso. 12o ABERGO. Recife, 2002. 9o Congresso Brasileiro de
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