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TRABALHO
ADEQUADO
E EFICIENTE
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TRABALHO
ADEQUADO
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Dedicatória
Michel Silvério
Mestrando em Engenharia de Produção (PPGEP-DEP-UFSCar). Possui gradua-
ção em Engenharia de Produção Agroindustrial pela Universidade Estadual de Maringá
(2005). Tem experiência na área de Engenharia de Produção, atuando nos temas: Ergo-
nomia, projeto de postos de trabalho, projeto de instalações industriais e análise ergonô-
mica do trabalho.
Ao longo dos séculos, o trabalho humano tem sido motivo de muitos sofrimen-
tos. Bernardino Ramazzini, considerado o “pai da medicina do trabalho” descreveu 54
doenças típicas dos trabalhadores, em 1700, como aquelas que afetam os agricultores,
pescadores, pedreiros, carpinteiros, lavadeiras e outros. Muitas atividades humanas pro-
duzem doenças crônicas e irreversíveis, incapacitando prematuramente os trabalhado-
res. Outras são executadas com máquinas e equipamentos em condições desfavoráveis
que provocam muitos erros, acidentes e lesões.
Acidentes e lesões têm sido atribuídos à indolência ou negligência dos trabalhado-
res e classificados como “falhas humanas”. Desculpas fáceis escamoteiam outras falhas,
como projeto inadequado de máquinas, equipamentos e sistemas, além do treinamen-
to dos trabalhadores e gestão deficiente. Quando essas “falhas humanas” ocorrem em
complexos sistemas modernos, como centros de controle operacional de um sistema de
transportes, refinarias ou centrais nucleares podem provocar conseqüências desastrosas,
vitimando grandes populações.
O cenário começou a mudar no início do século XX, quando pesquisadores em
fisiologia do trabalho começaram a estudar as condições árduas dos trabalhadores em
minas de carvão, fundições e outros ambientes muito insalubres. O estudo do trabalho
começou a ter um tratamento mais sistemático em vários países. Desataca-se, dentre
esses, a iniciativa de um grupo de pesquisadores ingleses, que propuseram a criação da
Ergonomia, em 1949. Esse grupo propôs aproveitar os conhecimentos acumulados no
esforço bélico, durante a II Guerra Mundial, à produção industrial e serviços, agora em
tempos de paz.
A Ergonomia já é uma “senhora” sexagenária, contudo, sem demonstrar quais-
quer traços de senilidade ou decadência. Durante essas décadas “bem vividas” produziu
conhecimentos significativos para melhorar as condições do trabalho humano, difundin-
do-os nos principais países do mundo.
A Ergonomia atuou, durante muito tempo, na análise e correção das condições
inadequadas de trabalho. Contudo, isso envolve esforços e custos consideráveis. Moder-
namente, utiliza outros instrumentos mais poderosos de atuação, principalmente nos
projetos de máquinas, equipamentos, sistemas e ambiente mais seguros e confiáveis.
Assim, pode atuar preventivamente, com menores custos e resultados mais efetivos. Isso
se assemelha ao caso do saneamento básico: cada dólar aplicado ao saneamento equivale
oito dólares gastos com tratamento de doenças provocados por condições insalubres.
E, como vemos no teor do livro, as inovações que suprem a ausência de organização no
delineamento de sistemas de produção seguem esta proporção, com a vantagem de um
retorno em tempo muito reduzido, da ordem de 60 dias.
Por outro lado a Ergonomia é ainda uma jovem e fértil disciplina, com muitos te-
mas com os quais se fecundar e muitos conhecimentos e inovações a realizar. No Brasil, a
Associação Brasileira de Ergonomia – ABERGO, fundada em 1983, reúne os pesquisado-
res da área, realizando congressos e outros eventos para difundir os seus conhecimentos.
Assim como produzindo a Revista Brasileira de Ergonomia. Mas existem também orga-
nizações Latino-americanas e Mundiais como a Unión Latino-americana de Ergonomia
(ULAERGO) e a International Ergonomics Association (IEA) com estruturas e oportuni-
dades correspondentes.
Este fato torna-se particularmente importante para o estudo do trabalho moder-
no, que não depende tanto do esforço físico, mas, sobretudo da carga mental, devido à
re-formatações das atividades produtivas com a introdução da informática, a partir da
década de 1980. E é essencial para o trabalho do futuro, cada vez mais se fundindo com
o virtual, o telemático e o relacionamento á distância.
Em que pese os admiráveis progressos desta Ergonomia sexagenária, ainda existe
muito trabalho e grandes desafios pela frente: a melhoria do ensino de Ergonomia na
Engenharia e no Desenho Industrial onde existe formalmente, a difusão especifica nos
campos da Arquitetura e da Informática onde ainda não se trata de disciplina obrigatória
e nem todas as escolas e faculdades adotam, nos meios profissionais onde apesar de mais
conhecida, ainda prevalece uma visão restritiva de ciência das cadeiras ou do diagnós-
tico biomecânico. E o publico consumidor que poderia julgar melhor suas decisões de
compra de muitos produtos de manuseio difícil, perigosos e muitas vezes de operação
incompreensível por um mortal comum.
Para isso, este livro, organizado pelos professores Francisco Soares Másculo e Ma-
rio Cesar Vidal, será uma importante contribuição, visando principalmente o ensino da
Ergonomia nos nossos cursos universitários.
Itiro Iida
Apresentação dos Coordenadores
Introdução
Tendo como tema básico a ética na Ergonomia, fica impossível não atrelarmos con-
ceitos intimamente ligados à educação. Por outro lado, ao trazer os aspectos da educação
para a mesa de debates nos dias de hoje é imprescindível tocar em temas tais como respon-
sabilidade social das empresas e, também, sustentabilidade do sistema econômico vigente.
É urgente um início de mobilização dos seres humanos, de maneira sistêmica,
para o salvamento do planeta em que vivemos. Nós hoje sabemos que se não unirmos
nossos esforços a Terra corre o risco de não suportar as agressões causadas pelos indiví-
duos, pelas empresas e pelos governos que aqui habitam.
É chegada a hora de uma grande mobilização: vamos começar pela análise do
trabalho humano neste planeta Terra.
A seguir algumas reflexões.
3 – beneficência;
4 – justiça.
Encontramos em Kiper, Oselka e Ayer (apud Anjos; Siqueira, 2007):
Princípio de autonomia
A autonomia refere-se à capacidade que a pessoa possui para decidir sobre
aquilo que ela julga ser o melhor para si.
Princípio de beneficência
Beneficência quer dizer fazer o bem. De uma maneira prática, isto significa
que temos a obrigação de agir para o beneficio do outro.
Princípio de justiça
A justiça está associada, preferencialmente, às relações entre grupos, com a
equidade na distribuição de bens e recursos considerados comuns, numa
tentativa de igualar as oportunidades de acesso a estes bens.
Definições e delimitações
Ergon (trabalho) e nomos (leis), derivadas do grego. Eis a origem do termo Ergo-
nomia.
Da Grécia, por meio dos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, vem a Ética na
versão largamente consolidada e utilizada na cultura ocidental.
Deontologia: tratado dos deveres.
Ética: ciência da moral. Ou a parte da filosofia que se dedica à reflexão sobre a
moral.
Moral: parte da filosofia que trata dos costumes ou dos deveres do homem para
consigo mesmo e para com seus semelhantes.
A filosofia prática
Segundo Aristóteles, “a filosofia prática” abrange não só a Ética (que também pode
ser descrita como o saber prático destinado a orientar a tomada de decisões prudentes
que nos levam a conseguir uma vida boa), mas também a Economia (nossa casa, empre-
sa, cidade etc.) e a Política (bom governo da cidade etc.).
A ética na Ergonomia: aspectos da educação, da responsabilidade social e da sustentabilidade 5
A Filosofia Prática estuda os saberes que procuram orientar-nos sobre o que de-
vemos fazer para conduzir nossa vida de uma maneira justa, como devemos agir, qual
decisão é a mais correta em cada caso concreto, para que a própria vida seja boa e frutí-
fera em seu conjunto.
Aspectos da moralidade
Segundo Cortina e Martínez (2005), temos:
UÊ A moralidade como aquisição das virtudes que conduzem à felicidade.
UÊ A moralidade como aspecto do caráter individual.
UÊ A moralidade como cumprimento do dever.
UÊ A moralidade como aptidão para a solução pacífica dos conflitos.
UÊ A moralidade como prática solidária das virtudes comunitárias.
UÊ A moralidade como cumprimento de princípios universais.
Padrões morais
Confiabilidade:
1. Honestidade – ser honesto com os stakeholders (partes interessadas).
2. Integridade – aderir a princípios éticos.
3. Confiança – cumprir promessas.
4. Lealdade – evitar conflitos de interesses.
Respeito
Assegurar o direito dos outros.
Responsabilidade
Assumir seus atos.
Justiça
Tratar com equanimidade os stakeholders.
Zelo e diligência
Evitar prejuízos aos colaboradores atuando com benevolência.
Cidadania
Obedecer à lei e proteger o ambiente.
6 Ergonomia ELSEVIER
Sustentabilidade
O que é sustentabilidade?
Segundo Loures (2008; 2009) é o novo nome do desenvolvimento. Inclui várias
dimensões, a saber: econômica, social, cultural, físico-territorial, ambiental, político-ins-
titucional, científico-tecnológica e para muitos, principalmente, espiritual.
Responsabilidade social
Na teoria, existe uma expectativa no desempenho da empresa e de sua contribui-
ção com o social. Modernamente, isso está relacionado com a teoria dos stakeholders.
Como se verifica esta inter-relação com as partes? Quais são essas partes?
Esses tópicos conduzem para o Código de Ética. Por sua vez, as empresa não po-
dem prescindir de programas que visem:
UÊ Responsabilidade social.
UÊ Sustentabilidade.
Ética aplicada
Âmbito da ética aplicada:
UÊ Bioética.
UÊ Gen-ética.
UÊ Ética econômica.
UÊ Ética empresarial.
UÊ Ética e educação moral democrática.
Constituição brasileira
Na Constituição (1988), lê-se:
Art. 60. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança,
a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
Desse artigo da Lei Magna destaco o trabalho, objeto do estudo da Ergonomia.
Considerações finais
Ergonomista: seja feliz! É o que nos trazem os conceitos de ética e moral!
Porque revisitando os conceitos acima apresentados, encontramos:
Ética é a parte da filosofia que se dedica à reflexão sobre a moral e que a moralida-
de pode ser vista como aquisição das virtudes que conduzem à felicidade.
Uma boa leitura para vocês!
8 Ergonomia ELSEVIER
Página escolar
Referências
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recida/São Paulo: SBB/Ideias & Letras, 2007.
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org.br. Acesso em: 18 ago. 2010.
CORTINA, A.; MARTÍNEZ, E. Ética. São Paulo: Loyola, 2005.
FORTES, P. A. C.; ZOBOLI, E. L. C. P. (Orgs.) Bioética e saúde pública. São Paulo: Loyola,
2003.
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Cortez, 2005.
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SOCIEDADE BRASILEIRA DE BIOÉTICA – SBB. Disponível = www.sbbioetica.org.br.
Acesso em: 18 ago. 2010.
História da Ergonomia
Primeira definição
A primeira definição de Ergonomia é de 1857, sob a égide do movimento indus-
trialista europeu. Essa definição foi feita por um cientista polonês, Wojciech Jastrzebowski,
numa perspectiva típica da época, de se entender a Ergonomia como uma ciência natural,
em um artigo intitulado “Ensaios de Ergonomia, ou ciência do trabalho, baseada nas leis
objetivas da ciência sobre a natureza”.
Essa primeira definição estabelecia que:
A Ergonomia como uma ciência do trabalho requer que entendamos a ati-
vidade humana em termos de esforço, pensamento, relacionamento e de-
dicação.
Karwowsky (1991) assim descreve o texto pioneiro:
A partir do que Wojciceh Jastrzebowski da Polônia (1857) definiu Ergo-
nomia juntando dois termos gregos, ergon = trabalho e nomos = leis na-
turais, os pesquisadores têm procurado estabelecer as leis fundamentais
baseadas nas quais esta disciplina em desenvolvimento pode ser classifi-
cada como uma ciência. O conceito de Jastrzebowski para esta proposta
trata da maneira de mobilizar quatro aspectos da natureza anímica, quais
seriam, a natureza físico-motora, a natureza estético-sensorial, a natureza
mental-intelectual e a natureza espiritual-moral. Esta ciência do trabalho,
portanto, significava a ciência do esforço, jogo, pensamento e devoção.
Uma das ideias básicas de Jastrzebowski é a proposição-chave de que estes
atributos humanos deflacionam-se e declinam devido a seu uso excessivo
ou insuficiente.
10 Ergonomia ELSEVIER
Importantes menções cabem ser feitas ao período que circundou a chamada revo-
lução industrial, que não pode ser limitada a avanços nos processos técnicos, mas a toda
uma evolução das formas de divisão do trabalho e das formas de interação entre pessoas
e equipamentos técnicos.
dade da prática acima mencionada em operações civis. Desde então, a corrente HFE tem
buscado responder à seguinte pergunta: o que se sabe acerca do ser humano que pode
ser empregado nos projetos de instrumentos, dispositivos e sistemas? Em suas interfaces
com o operador humano, a HFE, até o presente, tem sido baseada em procedimentos
experimentais que vão do laboratório clássico ao estudo de fatores humanos em si e até
as modernas técnicas de simulação, buscando uma melhor conformação das interfaces
entre pessoas e sistemas técnicos. Os principais tratados de Ergonomia foram produzidos
nos anos 1960 tendo como dominante a abordagem HFE. Os mais interessantes, a nosso
ver, são: Woodson e Conover, (EUA, 1966) e Grandjean (Suíça, 1974). Uma compilação
simplificada desses livros pode ser obtida em Iida (1991).
Mais recentemente, o vasto material HFE, acrescido das experiências de sua apli-
cação em algumas situações típicas – layout de postos de trabalho, design de cockpits e
consoles de salas de controle, desk informático e outros – deram origem a uma meto-
dologia especial, chamada listas de pontos de verificação (ergonomic checkpoints), cuja
referência mais adequada é o “Ergonomic Checkpoints” editado pela International Labour
Office, em Genebra, com o apoio da International Ergonomics Association (IEA). No Brasil,
há um bom tratado traduzido – um dos livros de E. Grandjean – aqui lançado pela edi-
tora Bookman, sob o título “Ergonomia”.
No período do pós-guerra surgiu outra vertente da Ergonomia, ensejada pelas
necessidades da reconstrução do parque industrial europeu dizimado. No bojo de um
amplo pacto social, o projeto de reconstrução abria uma janela para o estudo de condi-
ções de trabalho, tendo como emblema a Fábrica de Automóveis Renault que, dadas suas
características peculiares, tornar-se-ia um modelo da nova política industrial francesa. A
Renault é a primeira indústria francesa a criar um laboratório industrial voltado para a
Ergonomia. Essa segunda vertente deu origem à escola francesa, que tem como origem
uma questão própria: como conceber adequadamente os novos postos de trabalho a
partir do estudo da situação existente? Dessa preocupação nasce em 1949, com Suzanne
Pacaud, a análise da atividade em situação real, resgatada em 1955 por Obrendame e Fa-
verge como Análise do Trabalho. Esses autores preconizavam que o projeto de um posto
de trabalho deveria ser precedido por um estudo etnográfico da atividade e mostravam
o distanciamento entre as suposições iniciais e o auferido nas análises. A proposta veio
a ser formalizada somente em 1966, por Alain Wisner, já como Análise Ergonômica do
Trabalho (AET).
A primeira vertente se origina nos trabalhos do Prof. Sérgio Penna Kehl, na Escola
Politécnica da USP, com a abordagem do tópico “O Produto e o Homem”, na disciplina
Projeto de Produto, no curso de Engenharia de Produção. Segundo Moraes (1999) e
Bezerra (2000), a partir dessa disciplina o Prof. Sérgio Kehl vislumbra um grande cami-
nho e, nesse sentido, funda o GAPP (Grupo Associado de Pesquisa e Planejamento), que
passa a oferecer a Ergonomia como um dos itens de consultoria. O saber então incipiente
de Ergonomia é apropriado em várias empresas de economia mista brasileiras, como a
Companhia Siderúrgica Nacional, a COSIPA e o METRÔ de São Paulo.
Nesse processo, é formado um segundo quadro importante da Ergonomia, do
qual faz parte o professor Itiro Iida. Incentivado por Penna Khel, o professor Iida funda
a disciplina de Ergonomia na USP, publicando a apostila “Ergonomia: notas de aula” que
viria a ser um dos livros mais procurados da disciplina. Buscando aprofundar-se, Iida ini-
cia e conclui seu doutorado na USP defendendo a primeira tese acadêmica da Ergonomia
brasileira, intitulada “A Ergonomia do Manejo”, ainda hoje uma referência metodológica
em avaliação de produtos. Com esse título, Iida dirige-se ao Rio, convidado a lecionar no
emergente centro que era a COPPE/UFRJ. A formação, pesquisa e desenvolvimento na
COPPE se tornam referência da Ergonomia nascente. Como registros desse processo te-
mos a visita do então presidente da Ergonomics Research Society, Prof. Colin Palmer, cujas
palestras em Ergonomia vieram a se transformar no primeiro Livro de Ergonomia publi-
cado no Brasil. No plano do desenvolvimento, vários projetos como o design da linha de
equipamento odontológico da Dabi-Atlante, que até hoje mantém as características ali
desenvolvidas e o trabalho “Aspectos Ergonômicos do Ônibus Urbano”, publicado pela
STI, em 1976, que muito influenciou a mudança dos veículos, desde então. É ainda na
COPPE que se gera o livro “Ergonomia – Projeto e Produção”, publicado pela editora
Edgard Blucher, em 1990, de grande importância no cenário da Ergonomia de língua
portuguesa.
A segunda vertente primordial passa pela nascente Escola Superior de Desenho
Industrial, da UFRJ. Nessa escola, o professor Karl Heinz Bergmiller inicia o ensino de
Ergonomia para o desenvolvimento de projetos de produtos, segundo o modelo de To-
más Maldonado, da Escola de Ulm, na Alemanha. Incentivado por seu professor Sergio
Penna Khel, Itiro Iida, já trabalhando no Rio de Janeiro, se orienta com o Prof. Berg-
miller com vistas à sua tese de doutorado e, por via de consequência, passa a ensinar
Ergonomia na ESDI em 1971. A partir dessa experiência, a Ergonomia se manteve como
disciplina nos cursos de desenho industrial, uma vez que a ESDI se tornou uma matriz
curricular dos cursos de design no Brasil. Ela se torna disciplina obrigatória também para
os cursos de Design.
A terceira vertente primordial refere-se à construção na Psicologia. Ela compreen-
de as ações do Prof. Franco Lo Presti Seminério no ISOP (Instituto Superior de Estudos e
Pesquisas Psicossociais), da Fundação Getulio Vargas e do Prof. Paul Stephanek no curso
de Psicologia da USP em Ribeirão Preto. Entusiasta da Ergonomia, o Prof. Seminério con-
História da Ergonomia 15
A fase de disseminação
Com o crescimento da formação em quantidade e em qualidade da produção aca-
dêmica na área, e das oportunidades de trabalho, atualmente a Ergonomia encontra-se
em fase de ampla disseminação.
No plano educacional, a Ergonomia se espraia para além da engenharia de pro-
dução e do design. Nessa nova onda, fisioterapeutas, administradores e outras forma-
ções de graduação buscam incluir a Ergonomia em seus conteúdos programáticos. Ainda
no campo universitário, a Ergonomia teve um processo inicial de desenvolvimento no
campo da pós-graduação de terceiro grau (especialização), com o curso de Ergonomia
realizado pelo ISOP/FGV. Esse trabalho pioneiro do Prof. Franco Seminério fora descon-
tinuado em 1989, pelo governo federal, juntamente com aquela histórica entidade. O
processo começa a retomar novamente a partir da USP, seguida pela Puc-Rio, UFRGS e
pela COPPE/UFRJ, com uma incipiente tentativa da UFMG, que acabou descontinuada.
Nesse ano de 2000 formaram-se especializações destinadas à formação prática – um total
de oito existentes até o presente, com destaque a uma interessante iniciativa no campo da
Ergonomia agrícola, pela Universidade Federal de Viçosa em parceria com a Fundação
Educacional de Caratinga (MG).
No plano público, o Ministério do Trabalho se apresenta como forte interlocutor
em três momentos, ligados à atuação de sua Secretaria de Segurança e Saúde do Tra-
balhador. Eterno foco de disputa interministerial, sobretudo com a área da saúde, esse
segmento quase chega a ser absorvido pelo Ministério da Saúde nos anos 1980. No en-
tanto, a partir de 1991 é sancionada após o processo tripartite a nova redação da Norma
Regulamentadora de número 17, que baliza a exigência normativa sobre a Ergonomia.
Após sua edição, a norma passou um período de incubação social, onde o próprio cor-
po de auditoria fiscal do atual Ministério do Trabalho e Emprego colocava reticências
quanto à sua aplicabilidade enquanto instrumento de fiscalização. Com a combinação
do avanço universitário da Ergonomia e a própria qualificação de quadros da auditoria
fiscal em centros de excelência no Brasil e no exterior, o quadro evolui e a partir do ano
de 2000 o Ministério prioriza a Ergonomia na Fiscalização e cria uma inédita Comissão
de Ergonomia no Ministério.
No plano de mercado, esse aspecto tem efeitos concretos e a demanda de Ergo-
nomia aumenta a contar pelo crescimento considerável do número de licitações ocor-
ridas, e pelo incremento significativo do número de acessos ao portal da ABERGO. Os
História da Ergonomia 17
congressos de Ergonomia dobram seu patamar histórico e hoje se situam numa faixa de
quatrocentos participantes, com a chegada de várias empresas que passaram a integrar
a feira do evento, até então inexistente. Para finalizar, é importante assinalar que várias
empresas buscam profissionais de Ergonomia para atividades de consultoria e algumas já
buscam delinear o cargo e as atribuições do ergonomista em seus organogramas. Atenta
a isso, a ABERGO já exibe em seu portal (<http://abergo.pep.ufrj.br>) uma definição do
cargo de ergonomista na empresa.
Página escolar
Questões
1) Quais foram as primeiras manifestações de aplicação de Ergonomia?
2) Como se formou a Ergonomia Clássica?
3) Considerando o caráter de multidisciplinaridade da Ergonomia, cite algumas de
suas disciplinas formadoras.
4) Mencione os dois professores precursores da Ergonomia no Brasil.
5) Resuma os fatos mais importantes da fase moderna da Ergonomia.
Referências
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KARWOWSKY, W. Complexity, fuzziness and ergonomic incompatibility issues in the
control of dynamic work environments. Ergonomics, 34(6), pp. 671-686, 1991.
MÁSCULO, F. S. Ergonomia e higiene e segurança do trabalho. In: BATALHA, Mario Ota-
vio (Org.). Introdução à engenharia de produção. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2007.
MENEZES, J. B. A contribuição do Prof. Sergio Penna Khel à implantação da Ergonomia
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Janeiro: 2AB, 2000.
MORAES, A. Quando a primeira sociedade de Ergonomia faz 50 anos, a IEA chega aos
40, a Associação Brasileira de Ergonomia debuta com 16. In: Congresso da ABERGO,
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PALMER, C. Ergonomia. Rio de Janeiro: FGV/RJ, 1972.
VIDAL, M. C. Os paradigmas em Ergonomia. Encontro Paradigmas em Saúde do Traba-
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em: <http:www.gente.ufrj.br>. Acesso em: 18 ago. 2009.
______. Os paradigmas em Ergonomia. In: GONTIJO, L. A.; SOUZA, R. J. Congres-
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ABERGO/FUNDACENTRO, 1993b, pp. 137-139.
______. Ergonomia na empresa: útil, prática e aplicada. Rio de Janeiro: EVC, 2002.
18 Ergonomia ELSEVIER
ainda terá de ir até o local, bem no fundo do magazine. Ao chegar à posição do estoque,
constata que existiu um pequeno erro de lançamento. Retorna para comunicar que a soli-
citação não pode ser atendida, pois a peça assinalada como existente no sistema pertence
à série especial “Millenium III”, e que, portanto, não serve para o modelo do cliente. E na
saída do trabalho ainda ouve seu colega lanterneiro falar da “moleza” do trabalho na seção
de estoque...
A vida diária pode vir a ser muito injusta com um chofer de caminhão de entregas,
muitas vezes ofendido por pessoas que certamente ignoram que para além do acelerar
e trocar marchas, frear e estacionar, essa atividade possui dimensões físicas como car-
ga e descarga – dimensões mentais complexas e urgentes como o estabelecimento de
itinerários sob pressão do horário de entrega e em face de contingências como engarra-
famentos, outros caminhões de entregas ... – e tendo instâncias afetivas importantes, já
que tudo isso acontece em meio a um trânsito intenso onde estão todos mais ou menos
estressados. Ao fundo, o delicioso concerto urbano de buzinas, tudo isso transpassado
pela “suavidade diáfana” de motores desregulados em funcionamento.
Se você passar a reparar em postos de trabalho de computador com atenção,
certamente vai observar situações do tipo: altura do monitor muito alta ou muito baixa,
obrigando o operador a elevar ou abaixar a cabeça, causando tensão no pescoço; cadeiras
muito baixas ou altas, causando formigamento nas coxas; altura inadequada do teclado
e mouse e ausência de suportes para os braços, obrigando a musculatura das mãos e
ombros a atuarem sem necessidade; ausência de suportes para os pés e punhos; entre
outras inadequações.
Em 29/09/2006 ocorreu o famigerado acidente em que colidiram um Boeing 737,
que fazia o voo 1907 da empresa aérea Gol, entre as cidades de Manaus e Brasília, e um
jato de menor porte, Legacy, em que perderam as vidas 154 pessoas. Os aviões voavam
em sentido contrário. Se imaginarmos a imensa quantidade de “estradas aéreas” verti-
cais e horizontais no espaço entre aquelas duas cidades, os dispositivos de controle nos
centros em terra e os mecanismos de segurança nas aeronaves é inacreditável que pudés-
semos ter essa ocorrência. Mas, o fato é que ocorreu e as causas, por mais inconclusas
que estejam, certamente tiveram algum componente de projeto ergonômico inadequado.
Entre outras supostas possibilidades, pode-se citar:
a) O software. O software foi concebido para o plano de voo entrar na tela, indepen-
dentemente da autorização dos controladores. Isso realmente levou os controla-
dores a acreditarem que o jato estava a 36 mil metros (estava a 37 mil, onde se deu
a colisão).
b) O transponder. Esse instrumento, que possibilita ao piloto ser informado da apro-
ximação de outra aeronave, estava desligado no jato Legacy. A National Trans-
portation Safety Board, órgão de segurança aérea dos Estados Unidos, vai obrigar
que as aeronaves possuam dispositivo auditivo para informar ao piloto quando o
transponder estiver desligado.
Breve introdução à Ergonomia 21
Figuras 3 e 4: Paletização
)LJXUD0RGHOR6LPSOLÀFDGRGH6LVWHPDGH3URGXomR&RQWH~GRV
3URÀVVLRQDOL]DQWHVGD(QJHQKDULDGH3URGXomRHD(UJRQRPLD
)LJXUD(UJRQRPLDFRPRXPDWHFQRORJLDGHLQWHUIDFHV
de Ergonomia do planeta, essa tecnologia tem como capítulos seus princípios – basicamen-
te estabelecidos pela definição apresentada – suas especificações – no que consistem os
resultados úteis, práticos e aplicados dos trabalhos de Ergonomia – seus métodos – que co-
dificam a forma de trabalhar da equipe de Ergonomia – e suas técnicas – que concretizam
a realização de especificações com base nos princípios e mediante o emprego dos métodos
pertinentes ao problema de interface que está sendo tratado pela Ergonomia.
1
Empregaremos muito esse conceito de dimensões. O termo está sendo tomado no sentido topológico, se-
gundo o qual uma entidade pode ser decomposta, rebatida ou derivada em dimensões constituintes, a partir
de um contexto de referência. Assim um ponto P se localiza no espaço euclidiano por sua distância à origem
numa dada trajetória T. Essa trajetória pode ser complexa (curva reversa, por exemplo). Nesse caso, projetar
a trajetória T em eixos retilíneos X, Y e Z simplifica o cálculo e a posição pode ser expressa em termos de
valores x ,y e z tomados sobre aqueles eixos. Nesse sentido X, Y e Z são os domínios das dimensões x, y e z
de que se compõe a posição do ponto P, uma forma mais fácil de trabalhar do que uma distância d sobre uma
trajetória T.
Breve introdução à Ergonomia 27
)LJXUD,QWHUGLVFLSOLQDULGDGHGD(UJRQRPLD
)LJXUD3XEOLFDomRGHQRUPDV,62GH(UJRQRPLD
Hendrick (1997) aponta ao menos quatro razões explicativas para esse quadro:
Paradoxalmente um número razoável de pessoas se confrontou com o que
Chong (1996) denomina de “voodoo ergonomics”. Isto produziu produtos,
ambientes e processos rotulados como ergonômicos quando na verdade
foram elaborados por pessoas sem uma competência certificada ou acredi-
tada em Ergonomia. Essa é uma das razões que tem levado a IEA a estabe-
lecer como prioritária e urgente o estabelecimento de padrões de formação
e de certificação profissional, uma realidade já efetiva na América do Norte,
na União Europeia, no Japão e na Austrália.
A Ergonomia contribui decisivamente para que os operadores tenham as condi-
ções requeridas para executar satisfatoriamente suas tarefas. Assim sendo, a explosão
da demanda por Ergonomia o fato de que na vida cotidiana atual nos tornamos todos
operadores, como o sustenta Mallet (1995). Cada um de nós “opera” diariamente algum
tipo de sistema, tal como automóveis, computadores, televisão aberta ou a cabo, telefo-
nes convencionais ou celulares. Nesse sentido, é extremamente delicado considerar os
aspectos humanos dessas interfaces como solucionáveis pelo emprego de constatações
de senso comum. Um grande número de ergonomistas experientes pode apresentar uma
lista onde as decisões de projeto, apenas baseadas no senso comum, resultaram senão
em acidentes graves, ao menos em aparelhos ou equipamentos cuja usabilidade (boa
capacidade de uso ou manuseio) é bastante deficiente.
Muitos responsáveis por empresas têm demandado a Ergonomia simplesmente
por se tratar da coisa certa a se fazer, até porque essas pessoas devem pensar naquilo que
seja o mais adequado possível para realizar os objetivos estratégicos de suas organizações.
Finalmente, embora haja pouca documentação a esse respeito, até por uma falha
de formação e de sistemática de trabalho das equipes de Ergonomia, em alguns casos tem
sido possível realizar uma avaliação do resultado das ações ergonômicas em termos de
custo-benefício. E essas avaliações têm sido muito positivas.
30 Ergonomia ELSEVIER
Página escolar
Questões
1) O que você entendeu por prática de projeto e disciplina de base?
2) O que você entende por conhecer como o trabalho é feito? Por que o ergonomista
deve conhecê-lo?
3) Das causas do acidente da companhia Gol, voo 1907, qual é a que você acha o
mais relevante? Justifique.
4) Considerando a Figura 5, explique a relação da Ergonomia com a Engenharia de
Produção.
5) Dê exemplos da utilidade, praticidade e aplicação da Ergonomia.
Pesquisa
Pesquise na internet os sites da IEA e da ABERGO e descreva os seus conteúdos
mais relevantes.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA – ABERGO. A definição brasileira da Ergo-
nomia: contribuição para a definição internacional de Ergonomia. Report 2000 to IEA
Council. Rio de Janeiro/San Diego: Brazilian Ergonomics Association, 2000.
BENCHEKROUN, T. H. Avanços recentes na metodologia de análise ergonômica do tra-
balho. Palestra no GENTE/COPPE, UFRJ, Rio de Janeiro, jul. 1997.
BUCICH, C.; VIDAL, M. C. Levantamento preliminar da normalização internacional em
Ergonomia. Relatório técnico. Rio de Janeiro: GENTE/COPPE, 2001.
CHONG, I. The economics of ergonomics. Workplace Ergonomics, pp. 26-29, mar./abr.
1996.
DANIELLOU, F. L’ergonomie en quête de ses principes. Toulouse: Octarès Editions, 1991.
HENDRICK, H. Good ergonomics is good economics. Santa Monica: HFES Publishing, 1997.
INTERNATIONAL ERGONOMICS ASSOCIATION – IEA. Core competencies for practitio-
ners in ergonomics. Triennial Report of the Executive Board of the IEA. Santa Monica:
IEA Press, 2000.
______. Definição internacional de Ergonomia. Ação Ergonômica, I(1), p. 10, 2000.
MALLETT, R. Human factors: why aren’t they considered? Professional Safety, jul. 1995,
pp. 30-32.
MÁSCULO, F. S. Ergonomia e higiene e segurança do trabalho. In: BATALHA, Mário
Otávio (Org.). Introdução à engenharia de produção. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier,
2008.
Breve introdução à Ergonomia 31
ERGONOMIA NA
EMPRESA
Capítulo 1 – Ergonomia na empresa
Mario Cesar Vidal
1 Ergonomia na empresa
Conceitos apresentados
Neste capítulo veremos a Ergonomia como parte da prática profissional do en-
genheiro de produção contemporâneo. Iniciaremos com um tratamento conceitual do
tema por meio de uma breve caracterização da Ergonomia como disciplina científica,
da Ergonomia como disciplina da gestão e como disciplina de projeto de engenharia.
Em seguida, passaremos a examinar a atuação do engenheiro de produção no contexto
da Ergonomia na empresa, desde o exame de conjuntura, passando pela elaboração
do plano de desenvolvimento e dos encaminhamentos das demandas de formação
interna e de contratação externa que lhe caberá gerenciar. O capítulo se encerra com
a descrição de algumas ferramentas úteis para a prática profissional de Ergonomia, de
que o engenheiro de produção participa ativamente: a ação ergonômica, a inspeção e
a contratação.
)LJXUD)LQDOLGDGHVGD(UJRQRPLD
Capítulo 1 | Ergonomia na empresa 37
A Ergonomia tem como foco a atividade de trabalho das pessoas, como objeto a
situação onde ela ocorre e como finalidade a transformação para melhor desse sistema.
(Figura 1.1). O conceito de atividade de trabalho significa o que as pessoas efetivamente
fazem para realizar a produção. Esse conceito inclui a expectativa do que deve ser realiza-
do (tarefa) associando-a com as noções complementares de execução (como é realizada a
tarefa) e dos requisitos para sua boa feitura (condições de execução). O conceito de situação
de trabalho tem, portanto, duas acepções: no sentido amplo significa o contexto em que
a atividade de trabalho se insere, e no sentido estrito as condições nas quais ela é execu-
tada. Assim, atividade e situação, desde que apresentem problemas, podem e devem ser
transformados para melhor.
Construção social
)LJXUD&RQVWUXomRVRFLDO
Capítulo 1 | Ergonomia na empresa 39
Maturidade ergonômica
A maturidade ergonômica pode ser definida de forma intuitiva como o grau de
desenvolvimento de uma organização em termos de Ergonomia nos seus processos in-
ternos. A maturidade produz diferentes apreciações acerca da serventia das ações ergo-
nômicas. As empresas que operam no Brasil têm incorporado a Ergonomia de diferentes
maneiras, em função de suas conjunturas (Vidal, 2006). Para uns a Ergonomia é uma
forma consequente na localização de oportunidades de melhoria conquanto para outros
não passa de um gasto desnecessário. O uso do modelo de Maturidade Ergonômica da
empresa permite manter a primeira linha e implica no desenvolvimento integrado de
métodos de mapeamento (ver Capítulo 16) e de estabelecimento do quadro de relacio-
namentos críticos (ver construção social, próxima caixa).
O sucesso da Ergonomia passa por um equilíbrio entre a sustentabilidade corpo-
rativa, e do subtema da dignidade no trabalho, ou seja, como estão combinadas, na orga-
nização, a ética do empreendedorismo e a cultura de disciplina. A esses fatores devemos
agregar o grau de desenvolvimento das estruturas de Ergonomia na empresa (próximo
item deste capítulo). O grau de maturidade em Ergonomia se constitui na avaliação tri-
dimensional (Figura 1.4 e Quadro 1.1).
4XDGUR²8QLÀFDomRGDVHVFDODVGHDSUHFLDomRGDPDWXULGDGHHUJRQ{PLFD
de uma organização
(VWUXWXUDVGH
# &HQiULR Diretrizes Sustentabilidade Dignidade
(UJRQRPLD
( 3URMHWRVSRQWXDLV 6HPHOHPHQWRV ,QFLSLrQFLDGD 3UHVWDo}HV ,QLFLDWLYDV
HPLQLFLDWLYDV PtQLPRVSDUDR JHVWmRGHPXGDQoDV PtQLPDVHP SHVVRDLVLVRODGDV
LVRODGDVHEDL[D HVWDEHOHFLPHQWR UHVSRQVDELOLGDGH
LQWHUDomRHQWUH GHGLUHWUL]HVGH VRFLDO
VHWRUHVGD (UJRQRPLD 6HPLQWHJUDomR *HVWmR 5HVLVWrQFLDVj
HPSUHVD HQWUHSURMHWRGR LQFLSLHQWHGH662 PXGDQoDV
SURGXWRHGRSURFHVVR
,QH[LVWrQFLDGH $XVrQFLDGH $XVrQFLDGH
RULHQWDo}HVGLULJLGDV VHJXUDQoDGH HVWUXWXUDVGH
DRVstakeholders VLVWHPDVFRPSOH[RV (UJRQRPLD
0~OWLSORV ([LVWrQFLDGH &RQFHLWRVDFHUFDGH ,QLFLDWLYDV
SURMHWRV HOHPHQWRVSDUD JHVWmRGHPXGDQoDV 5HVSRQVDELOLGDGH DUWLFXODGDVFRP
VHPSDGU}HV HVWDEHOHFLPHQWR VRFLDOUHVWULWDj RXWURVVHWRUHV
XQLÀFDGRV GHGLUHWUL]HV FRQIRUPLGDGHOHJDO
HVHP JHUDLVGD %DL[DLQWHJUDomR $o}HVEiVLFDV 3ODQRGH
D
FRQFDWHQDomR HPSUHVD HQWUHSURMHWRGR HP662 VHQVLELOL]DomR
HQWUHHOHV SURGXWRHGRSURFHVVR
6HPRULHQWDo}HV $XVrQFLDGH )RUPDomRGH
GLULJLGDVDRV VHJXUDQoDGH HVWUXWXUDVGH
stakeholders VLVWHPDVFRPSOH[RV (UJRQRPLD
,GHQWLÀFDomR ([LVWrQFLD *HVWmRGHPXGDQoD 3URJUDPDGH
HLPSODQWDomR GHGLUHWUL]HV GHÀQLGD 5HVSRQVDELOLGDGH (UJRQRPLD
GDHVWUXWXUD JHUDLVPDVQmR VRFLDODOpPGD
RUJDQL]DFLRQDO HVSHFtÀFDVGH FRQIRUPLGDGHOHJDO
DGHTXDGD (UJRQRPLD 0HOKRULQWHJUDomR 6LVWHPD 3ODQRGH
&
HQWUHSURMHWRGRSURGXWR FRQVROLGDGRGH662 &RQVFLHQWL]DomR
HGRSURFHVVR
2ULHQWDo}HV 6HPHQWHVGH )RUPDomRGH
EiVLFDVGLULJLGDVDRV VHJXUDQoDGH )DFLOLWDGRUHV
stakeholders VLVWHPDVFRPSOH[RV
Capítulo 1 | Ergonomia na empresa 43
Habilidades facilitadoras
Conceitualmente a ação ergonômica significa a identificação de oportunidades
de melhoria sociotécnica das situações de trabalho e os decorrentes delineamentos par-
ticipativos de soluções. Para viabilizar as melhorias assim indicadas, a ação supõe pro-
cessos participativos cujos requisitos derivam da existência e o competente manuseio
de conteúdos com vistas ao projeto participativo dessas melhorias. Hendrick e Kleiner
(2006) nos ensinam que o agente de mudança precisa incorporar habilidades adicionais
às práticas que lhe permitam apontar problemas no relacionamento com as interfaces
humano-máquina e humano-organizacional que constituem o aspecto técnico da Er-
gonomia. Esses suplementos incluem habilidades de facilitação. O problema é que os
tópicos referentes à facilitação não são regularmente cobertos em programas tradicionais
de Ergonomia ou somente são feitos muito superficialmente. Tais habilidades facilita-
doras são diferentes classes de comportamentos sociais para lidar com as demandas das
interações sociais específicas existentes no contexto da Ação Ergonômica, possibilitando
elementos essenciais ao seu sucesso.
Na prática, isso significa dizer que para encetar uma ação ergonômica com suces-
so é preciso interagir, conversar, dialogar com os trabalhadores na situação de trabalho
e desde o ponto de vista da atividade que estes realizam para cumprir as tarefas que lhe
são atribuídas. Um dos valores da Ergonomia é o respeito ao operador como especialista
de sua atividade e isso significa que o projeto de melhoria depende de forma sine qua
non que os trabalhadores propiciem aos projetistas detalhes relevantes de suas estratégias
regulatórias, que produzam falas sobre o trabalho e desde o lugar do trabalho, ou seja,
deve-se ensejar a emergência de falas operativas dos trabalhadores. Para tanto, é essen-
cial que os agentes de Ergonomia na empresa saibam aproximar-se do grupo de traba-
lhadores, apresentar-se, estabelecer um laço relacional satisfatório. Essas são condições
minimamente necessárias para o engajamento do diálogo situado (Bonfatti; Vidal, 2004).
Tais interações sociais não se dão ao acaso, são regidas por normas e padrões com-
portamentais culturais, bem como estão sujeitas a situações contextuais específicas. Del
Prette e Del Prette (2004) organizaram uma tabela taxonômica de habilidades sociais res-
saltando que o fato de as pessoas as desenvolverem fornece condições, para um desem-
penho socialmente competente. Essas habilidades sociais (HS) foram agrupadas por eles
em seis grandes blocos: 1) HS de comunicação; 2) HS assertivas, de direito e cidadania;
3) HS empáticas; 4) HS de expressão de sentimento positivo; 5) HS de civilidade; e 6) HS
de trabalho. A divisão apresentada auxilia no levantamento dos possíveis comportamen-
tos qualificadores das pessoas socialmente competentes. Destas os estudos realizados
pelo Gente/COPPE (Guizze; Vidal, 2006) destacam que o domínio de certas habilidades
sociais seja prevalente para a atuação em Ergonomia. São elas: a) HS de Comunicação
(Gratificar, Fazer e Responder perguntas, Dar Feedback, Pedir Feedback, Iniciar, Manter
e Encerrar Conversação); b) HS Empáticas (Parafrasear, Refletir sentimentos, Expressar
Capítulo 1 | Ergonomia na empresa 45
Antropotecnologia
O entendimento da ferramenta antropotecnologia requer um entendimento pré-
vio do conceito de macroErgonomia, que é a consideração do entorno da atividade no
nível da organização ou corporação. Como estamos tratando da gestão neste capítulo,
nossas concepções já seriam necessariamente macroergonõmicas.
46 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD&DWHJRULDVGDWUDQVIHUrQFLDGHWHFQRORJLD
)LJXUD(VTXHPDGHRUJDQL]DomRtop-down
de alternativas e uma série de outras decisões que devem ser tomadas ao longo de seu
desenvolvimento e aprovação final. Nessa mesma linha de raciocínio, constata-se que
muitos projetos enfrentam inúmeras dificuldades de ser colocados em prática por falta
de preparação dos lugares, de participação e de conscientização das pessoas, ou ainda
enfrentam diversos tipos de resistência ás mudanças. Portanto, o grupo de facilitadores
deve ser composto por pessoas distribuídas “geograficamente” por toda a organização, de
forma que cada área ou setor da empresa tenha um facilitador das ações de Ergonomia,
recrutados entre colaboradores dos níveis táticos e operacionais.
A função da facilitação é dupla: por um lado, adiantar o processo de exame da
situação pela coleta e registro de queixas, desconformidades e problemas de diversas or-
dens que, a princípio, caibam no escopo de uma ação ergonômica; por outro lado, deve
ajudar o contato de outras estruturas com os integrantes e responsáveis do lugar onde as
situações estão, preparando o pessoal para a realização dos exames e da participação no
projeto de mudanças e fornecendo suporte para a implementação do projeto finalmente
definido.
O grupo de facilitadores requer um treinamento muito especial e diferenciado.
Ele compreende um módulo básico em Ergonomia, acrescido de treinamentos específi-
cos em facilitação, ou seja, a preparação da chegada da equipe de Ergonomia numa área
ou setor específico da empresa. A duração desse treinamento varia entre 12 e 24 horas
em função da conjuntura e porte da empresa. Regularmente a empresa deve promover
sessões de realinhamento para equalizar a atuação dos diversos facilitadores e mantê-los
em dia com os avanços da disciplina e da prática da Ergonomia.
d) Por fim, a melhor contratação de um grupo externo é aquela que ajude a empresa
a definir os caminhos da Ergonomia, de forma planejada, metódica e consistente.
Apesar dos imensos ganhos que isso resulta, poucas empresas assim procedem.
Bem, é a mesma dificuldade que enfrentam os profissionais de manutenção, saúde
ou finanças quando falam em atitude preventiva...
1.4. Enfim..
Este é o primeiro capítulo do primeiro módulo de um curso de Ergonomia para en-
genheiros de produção. Procurou-se dar ao estudante uma visão abrangente da atuação da
Ergonomia na empresa, em suas diretrizes e estruturas, até porque o engenheiro de produ-
ção lidará com a Ergonomia de forma mais gerencial. Para uma atuação mais competente
nessa área, o engenheiro de produção deverá, para fazer a ponte entre a argumentação e a
realização de projetos, entender as bases conceituais e metodológicas da prática contem-
porânea da Ergonomia. Esses temas comporão o segundo e o terceiro módulo desta obra.
No caso de uma opção específica, mais especialista, isso envolve uma capacitação
ainda mais especializada, o que está além do escopo desta obra.
2 Legislação em saúde e
segurança no trabalho
Paulo Antonio Barros Oliveira, Dr. – UFRGS
Conceitos apresentados
Neste capítulo apresentamos os principais itens que tratam das normas bra-
sileiras de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). O principal conceito é de que as
normas existem para parametrizar a produção das coisas e serviços de maneira que
a produção seja eficiente, com qualidade e efetividade, mas sem produzir ao mesmo
tempo acidentados e doentes.
Quando há atividade de trabalhadores, há a obrigação de cumprir as normas
de saúde, higiene e segurança, e a elas estão sujeitos os empregadores, seus técnicos
e empregados. Essas são normas de ordem pública a que estão submetidos todos os
empregadores. Todo o questionamento administrativo ou judicial nessa área exige a
necessidade de apresentação de comprovações, de provas, de fatos. A simples afirma-
ção da empresa de que cumpre com as normas, ou a negativa de que ocorreu uma
infração a elas, sem qualquer tipo de prova, não prospera. No âmbito do Direito do
Trabalho brasileiro, há o princípio jurídico da primazia da realidade que alicerça as
normas de proteção do trabalho.
regulamentá-las existem os Decretos. Eles não podem criar novas obrigações, mas apenas
regulamentar, discriminar melhor as obrigações já existentes em Lei. E para detalhar me-
lhor e regulamentar as Leis e os Decretos existem as Portarias. Normalmente são editadas
pelos Ministros e Secretários de Estado e atendem às especificidades de cada situação,
qualidade ou característica dos temas tratados nas Leis ou nos Decretos.
A importância que o tema saúde e condições de trabalho têm em nosso orde-
namento jurídico é retratada pelo fato de que no art. 7o da Constituição, que trata dos
direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, entre os seus 34 incisos, a maioria dos direi-
tos constitucionais dos trabalhadores ali descritos tem alguma relação direta ou indireta
com a Saúde e a Segurança no Trabalho (SST), e entre esses, pelo menos seis estão mais
relacionados como podemos identificar: duração do trabalho normal não superior a 8
horas diárias e 44 semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada,
mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; jornada de 6 horas para o trabalho
realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva; remunera-
ção do serviço extraordinário superior, no mínimo, em 50% à do normal; redução dos
riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; adicio-
nal de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;
proteção em face da automação, na forma da lei; seguro contra acidentes de trabalho, a
cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incor-
rer em dolo ou culpa; e proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores
de 18 e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a
partir de 14 anos.
Para regulamentar esse amplo espectro de direitos dos trabalhadores, as legisla-
ções trabalhista, previdenciária e sanitária vão desdobrar os incisos da constituição em
Leis, Decretos, Portarias e Regulamentos próprios, que definem, em cada uma dessas
competências, os desdobramentos e especificações necessárias.
tivos de acionamento, partida e parada não podem estar localizados em zona perigosa da
máquina, não podem permitir o acionamento ou desligamento por outras pessoas que
não o operador, não podem permitir o acionamento involuntariamente pelo operador,
ou de qualquer outra forma acidental, e não podem acarretar riscos adicionais. As trans-
missões de força devem estar enclausuradas ou devidamente isoladas, o movimento deve
estar protegido quando existe risco de ruptura de partes, projeção de peças ou partes,
deve existir proteção contra o lançamento de partículas, os materiais devem oferecer
proteção efetiva, os protetores devem permanecer fixados firmemente ao equipamento
ou piso, e somente podem ser retirados para execução de limpeza, lubrificação, reparo,
e ajustes. Na manutenção e operação os reparos, limpeza, ajustes e inspeção somente
podem ser executados com as máquinas paradas, e por pessoas devidamente credencia-
das pela empresa. Na área de trabalho somente podem permanecer o operador e pessoas
autorizadas.
A NR 15 trata das ATIVIDADES INSALUBRES. O adicional de insalubridade é
devido para quem trabalha em locais onde um limite de tolerância foi excedido (ruído,
ruído de impacto, calor, agentes químicos e poeiras minerais), nas atividades em condi-
ções hiperbáricas, alguns produtos químicos nominados e agentes biológicos, ou com-
provadas por meio de Laudo de Inspeção no local de trabalho constantes nos casos de
radiações não ionizantes, vibrações, frio e umidade. O valor do adicional é de 10, 20 ou
40% do salário-mínimo ou profissional conforme o grau de insalubridade.
A NR 16 trata das ATIVIDADES PERIGOSAS. As operações com inflamáveis, ex-
plosivo, eletricidade e radiações ionizantes conforme condições prescritas nas normas
fazem jus ao recebimento de um adicional de 30% do salário mensal quando o trabalho
é exercido em atividade ou áreas de risco definidos em norma.
A NR 17 é sobre ERGONOMIA. Trata da adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas do trabalhador, das condições de trabalho e da Análise
Ergonômica do Trabalho. Especifica condições para o levantamento, transporte e des-
carga individual materiais, para o mobiliário e equipamentos dos postos de trabalho,
condições ambientais de trabalho e a organização do trabalho. Essa norma possui, ainda,
dois anexos, que tratam do checkout de lojas e supermercados e do trabalho em teleaten-
dimento.
A NR 18 trata do controle das condições de trabalho na construção civil, onde há
a necessidade de elaboração de um programa específico para o controle das condições
de trabalho que lhe são próprias, conhecido como Programa de Condições e Meio Am-
biente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT). Nele devem estar previstas as
medidas de prevenção contra quedas de altura, trabalho em andaimes, uso de cabos de
aço, armações, estruturas de concreto, alvenaria, revestimento, acabamentos, serviços
em telhados, em flutuantes, escavações, fundações, desmonte de rochas, áreas de vivên-
cia dos trabalhadores, comissão de prevenção de acidentes de trabalho, treinamentos
para prevenção de acidentes, incluindo regulamentos técnicos de procedimentos.
Capítulo 2 | Legislação em saúde e segurança no trabalho 61
parte da empresa, e nem elaboração do PPRA; a empresa não comprovou que tinha pla-
no operacional de proteção coletiva para os riscos ambientais presentes, bem como não
informa para os trabalhadores os riscos a que eles estão submetidos; não há sinalização
adequada dos riscos.
O início da operação do extrator implica obrigatoriamente o desligamento pré-
vio da máquina centrífuga. Não há como inserir o extrator no cilindro com a máquina
em operação, além do que, para tanto, é necessária a retirada de peças que seguram o
conjunto, e, para isso, faz-se necessária a total parada da centrífuga. O acidentado, com
a máquina parada, iniciou a operação de retirada da peça fundida, inseriu o extrator,
e aí, a máquina entrou em operação, o extrator movimentou-se e atingiu o acidentado
no crânio, próximo da face. O acidentado, pela posição, segura o extrator, que o afasta
da máquina em um sentido. O acionamento normal é feito por uma chave elétrica que
fica a aproximadamente 2 m, indo em direção ao outro sentido da máquina. Todos os
testemunhos afirmaram não existir a presença de outro ser humano nas proximidades.
O relatório técnico concluiu que o acionamento aconteceu por defeito ou desgaste do
sistema elétrico.
Relacione o caso do acidente do trabalho com as boas regras de gestão do trabalho.
Pesquisa na internet
O capítulo mencionou várias passagens de legislação. Busque coletar pelo menos
10 textos que não tenham sido mencionados aqui e leve para a sala de aula (presencial
ou virtual) para compartilhar com seus colegas.
Referências
ABELHA, M. Ação civil pública e meio ambiente. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universi-
tária, 2004.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 40. ed. São Paulo: Saraiva 2007.
(Coleção Saraiva de Legislação).
______. Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2006.
______. Consolidação das Leis Trabalhistas. São Paulo: Saraiva, 2006.
______. Manuais de legislação, segurança e medicina do trabalho. 50 ed. São Paulo: Atlas,
2006.
COSTA, J. F. A responsabilidade jurídico-penal da empresa e dos seus órgãos: ou uma reflexão
sobre a alteridade nas pessoas coletivas, à luz do direito penal, em temas de direito
penal econômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.
GONÇALVES, E. A. Manual de segurança e saúde no trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2006.
MELO, R. S. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador: responsabilidades le-
gais, dano material, dano moral, dano estético, indenização pela perda de uma chance
e prescrição. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006.
ROCHA, D. M.; BALTAZAR JÚNIOR, J. Comentários à Lei de Benefícios da Previdência
Social. 7. ed. São Paulo: Livraria do Advogado, 2007.
ROCHA, J. C. S. Direito ambiental e meio ambiente do trabalho. São Paulo: LTr, 1997.
Capítulo
3 NR 17:
a norma da Ergonomia
Mario Cesar Vidal, Dr. Ing – PEP/COPPE/UFRJ
Conceitos apresentados
Neste capítulo comentaremos em detalhe cada trecho da NR 17 fazendo suas
conexões com os demais capítulos do livro. Nossos comentários se mesclam ao Ma-
nual de Aplicação da NR 17.
1
Grifo nosso.
68 Ergonomia ELSEVIER
2
Por se tratar de uma habilitação, e não ainda de uma profissão, mantém-se a profissão de origem (como no
caso dos engenheiros) ou, para os diplomas universitários que não constituem profissão (como desenhistas
industriais).
70 Ergonomia ELSEVIER
Assinala Oliveira (2000), que para o iluminamento, além dos limites de tolerância
definidos na respectiva NBR, cuidados especiais são exigidos na aferição, incluído o ân-
gulo de incidência da luz sobre a fotocélula, por exemplo. O autor nos remete ao Manual
de Aplicação da NR 17 que assinala que:
O iluminamento adequado não depende só da quantidade de lux que in-
cide no plano de trabalho. Depende também da refletância dos materiais,
das dimensões do detalhe a ser observado ou detectado, do contraste com
o fundo etc. Ater-se apenas aos valores preconizados nas tabelas sem levar
em conta as exigências da tarefa pode levar a projetos de iluminamento
totalmente ineficazes. A situação mais desejada seria aquela em que, além
do iluminamento geral, o trabalhador dispusesse de fontes luminosas indi-
viduais nas quais pudesse regular a intensidade.
Exemplificaremos com uma situação em um laboratório que visitamos há bem
pouco, onde se tomou o partido de iluminação fluorescente, tipo “luz do dia”. Nesse
laboratório, se fazem trabalhos de análise microscópica empregando-se microscópios
binoculares. O laboratório é novo e bem-acabado do ponto de vista arquitetônico, a
princípio. Foi especificado para esse laboratório uma bancada de granito polido o que, a
rigor, não interfere numa parte da tarefa (olhar pelo microscópio binocular). Entretanto,
a cada encerramento dessa parte da tarefa e início de outras – como tomar notas, colher
outras lâminas etc. – o trabalhador se expõe a um forte reflexo sobre sua vista da lumi-
nária fluorescente instalada no teto. O trabalhador após tarefa de forte exigência visual
é exposto a forte impacto lumínico. Acrescida ao fato da fixação binocular relativamente
prolongada (exigência da tarefa), a arquitetura geral desse laboratório expõe o trabalha-
dor a mais riscos significativos no campo oftalmológico.
zação adequada de um local de trabalho bem como a estruturação correta dos processos
que ali se desenvolvem. E isso é especificamente uma atribuição do engenheiro de pro-
dução. Ou seja, é de sua responsabilidade o projeto, implementação e gestão de situações
de trabalho. O que significa os méritos nos sucessos, mas também as consequências de
um projeto deficiente.
Esses tópicos, no entanto, servem para mostrar que as demandas que envolvem
organização do trabalho dificilmente podem dispensar a análise do trabalho como me-
todologia pertinente.
17.6.3. Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmi-
ca do pescoço, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir
da análise ergonômica do trabalho, deve ser observado o seguinte:
– todo e qualquer sistema de avaliação de desempenho para efeito de re-
muneração e vantagens de qualquer espécie deve levar em consideração as
repercussões sobre a saúde dos trabalhadores;
– devem ser incluídas pausas para descanso;
– quando do retorno ao trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual
ou superior a 15 dias, a exigência de produção deverá permitir um retorno
gradativo aos níveis de produção vigentes na época anterior ao afastamento.
Ainda segundo Oliveira (2000), esse é um dos subitens mais importantes da NR
17 para a prevenção da LER/DORT. Ele estabelece, em outras palavras, que sempre que
houver sobrecarga muscular estática ou dinâmica, em qualquer um dos músculos do
pescoço, ombro, dorso e membros superiores ou inferiores, não pode haver avaliação
do desempenho individual e devem ser incluídas pausas para o descanso. Como
refere Silva (2000).
Se conseguirmos fazer valer esse direito ao trabalhador, estaremos contribuindo
enormemente na prevenção das LER. Muitos sindicalistas têm se queixado da falta de
detalhamento da NR 17 para seus setores específicos. Nossa opinião é que, embora as
correções de mobiliário e equipamentos tenham alguma influência na prevenção da LER,
o incentivo à produção via prêmios, vantagens financeiras ou qualquer outra é o fator
que mais contribui. Logo, correções de mobiliário e equipamentos são ineficazes se con-
tinua a pressão por aumento da cadência. O desafio é que os atores sociais (AFT, repre-
sentantes dos trabalhadores e os próprios trabalhadores) consigam abolir os famigerados
incentivos à produção. Depois se pode tentar o resto.
Finalizaremos esta apreciação da NR 17 entendendo-a como uma estrutura básica
de se estudar a situação de trabalho com vistas a podermos repensar os determinantes da
atividade real das pessoas no trabalho. Apesar de ser considerada qualitativa e, portanto,
com dificuldades de aplicação fiscal, segundo alguns, ela fornece um quadro analítico
objetivo que pode ser empregado com bastante sucesso por uma fiscalização melhor
preparada, como, aliás, vem sendo feito pela SSSMT/MTE desde 2000.
76 Ergonomia ELSEVIER
Debates
a) A especialidade da Ergonomia se estabelece sobre uma abordagem participativa da
realidade do trabalho Você acha que isso é possível considerando a qualidade da
mão de obra no Brasil? O professor pode ser o mediador.
b) O texto afirma não se pode contratar uma equipe externa que seja encarregada
da Ergonomia numa empresa. Você não acha que isso seja um exagero dos auto-
res? Consigam o depoimento de um dirigente e de um consultor e promovam o
debate.
Caso real
Você foi contratado para implantar um equipamento importado numa empresa
de serviços gráficos de plotagem de painéis que pretende se tornar líder de mercado em
cinco anos por meio dessa implantação. A empresa nunca ouviu falar em Ergonomia,
Capítulo 3 | NR 17: a norma da Ergonomia 77
embora tenha uma razoável política de mão de obra, mas um cuidado discutível com a
segurança do trabalho, tanto que já foi notificada pela Auditoria Fiscal do Trabalho. Pre-
pare uma apresentação incluindo a sensibilização para a importância do projeto, a forma
de atuação e os custos envolvidos.
Pesquisa na internet
Busque dados sobre três empresas ou corporações que mencionem diretrizes e/ou
estruturas de Ergonomia e faça uma apresentação para seus colegas de turma.
Capítulo
4 Economia da Ergonomia
Conceitos apresentados
Neste capítulo veremos os conceitos-chave da Economia da Ergonomia, ini-
ciando com uma breve revisão de fundamentos, passando por custos ergonômicos,
benefícios e investimentos necessários.1 Em seguida, abordaremos as principais con-
tribuições metodologicas discutidas na literatura, para, então, apresentarmos uma
proposta de metodologia para a avaliação dos fatores de influência dos problemas
acarretados pela ausência de Ergonomia, a partir de um ponto de vista do impacto
financeiro no negócio da empresa; trataremos, então, da avaliação do custo-benefício
como base de argumentação com os níveis decisórios da organização. Finalizando o
capítulo, traremos uma breve panorâmica do custeio, referências para saber mais, um
exemplo de aplicação, exercícios e uma proposta de discussão.
1
1
Para efeito de destaque, sempre empregaremos o termo Ergonomia como nome próprio.
Capítulo 4 | Economia da Ergonomia 79
Onde:
q = quantidade máxima produzida do bem, sendo q > 0 e
x1, x2, ..., xn são as quantidades utilizadas dos diversos fatores de produção, sendo
xi > 0 (i = 1, 2, ..., n).
q = co + c1 x1 + c2 x2 + ... + cn xn (2)
Para uma firma, q = produção de produtos, c = custos dos fatores, x1 = área física
disponível, x2 = quantidade de trabalho, x3 = elementos constituintes, x4 = quantidade
utilizada de insumos, e assim por diante; que, do ponto de vista econômico e para a en-
genharia de produção, devem ser balanceados para atingir o ótimo de produção.
O resultado da produção é multiplicado pelo preço do produto e se obtém a re-
ceita da empresa que, ao serem descontados os custos de produção se obtém o “lucro”.
Não entraremos aqui em maiores detalhes sobre as características econômicas, contábeis
80 Ergonomia ELSEVIER
q = co + c1 x1 + c2 x2 + ... + cn xn (2)
d = do + d1 x1 + d2 x2 + ... + dn xn (3)
Para a mesma firma, d = perdas, d1x1 = perdas em função da área física disponí-
vel, d2x2 = perdas em função da quantidade de trabalho, d3x3 = perdas em função dos
elementos constituintes, d4x4 = perdas em função da quantidade utilizada de insumos,
2
O aspecto organizacional em Ergonomia também é conhecido como macroErgonomia.
3
Ao Tavistock Institute for Human Relations, em Londres, é creditada a origem do conceito e da prática dos
projetos de Sistemas Sócio-Técnicos, no início da década de 1940, a partir de estudos em minas de carvão
na Inglaterra.
4
A teoria da atividade iniciou-se a partir dos trabalhos de Vygotsky e tem como princípio as ações do sujeito
mediadas por ferramentas e destinadas a um objetivo. Além de Vygotsky, Luria e Leontiev, seus colaboradores,
contribuíram para a expansão da Neuropsicologia e Neurolinguística, cabendo a Leontiev a proposição da
teoria da atividade.
Capítulo 4 | Economia da Ergonomia 81
Ergonomia eram efetivas em custos, eram tomadas medidas antes e depois da intervenção,
depois disso os ganhos (ou perdas) eram contabilizados. Essa não é uma posição satisfatória
para nenhuma organização quando está diante da implementação de mudanças. Homens
de negócios precisam que os custos e ganhos devam ser identificados “antes” da decisão de
implementar as mudanças que deverão ser feitas. Apontam como um sinal de maturidade da
disciplina ser o quanto se pode antecipar na identificação de expectativas de retornos (perdas
e ganhos).
Beevis (2003) reedita seu artigo de 1970, atualizando as questões, e aponta que as difi-
culdades na identificação de benefícios podem ocorrer em virtude de alguns desses benefícios
serem invisíveis. Ele sugere que quando nas organizações os administradores estão indiferen-
tes ao problema, pode ser preciso um “modelo de caso de negócio” que preveja a viabilidade
econômica da proposta de intervenção, para convencê-los da necessidade de investir. O que
é diferente de a organização “arriscar no escuro” com os custos da intervenção, para, após o
fato, provar que a intervenção ergonômica foi viável.
Beevis (2003) identifica três categorias principais para a informação financeira: custos
poupados (incluindo correta identificação do problema-raiz ao invés de gastar dinheiro cor-
rigindo o problema errado, aumento da produtividade, redução de danos, melhoria no moral,
aumento de competência, entre outras); custo evitado (incluindo perda de vendas, aumento
do treinamento, melhoria de suporte e manutenção, melhoria nas taxas de rejeição) e novas
oportunidades (incluindo projeto de sistemas flexíveis, expansão de mercados para negócios,
e maior âmbito de usuários). Comparado com as poupanças, o custo de uma intervenção
ergonômica é, geralmente, bastante favorável.
Hendrick (1997) enfatiza que as organizações, usualmente, não estão dispostas a im-
plantar uma intervenção a não ser que exista um claro benefício econômico para isso. Para
auxiliar nessa abordagem, Hendrick (1997) delineia como identificar custos e benefícios, ao
desenvolver uma proposta de intervenção ergonômica para uma empresa. Hendrick (2003)
argumenta que o ergonomista profissional precisa colocar suas propostas ergonômicas em
termos econômicos, ou seja, é necessário apresentar o projeto nessa linguagem, já que as deci-
sões a respeito de mudanças devem ser racionalizadas em bases financeiras. Sua boa notícia é
que, normalmente, “bons” projetos de Ergonomia têm resultados com expressivos benefícios
econômicos, apresentando casos que apoiam essa afirmativa.
Oxenburgh (1997) propôs um sistema de análise de custo-benefício, baseado no tra-
balho de Liukkonen, que incorpora alguns dos conceitos de Custeio Baseado na Atividade
(ABC – Activity Based Costing). O ABC foi um aprimoramento da contabilidade gerencial para
melhorar a informação contábil para os gerentes e administradores das empresas. Nesse sis-
tema de custeio baseado na atividade ou ABC, assume-se como pressuposto que os recursos
de uma empresa são consumidos por suas atividades e não por produtos ou serviços que ela
fabrica (Ness; Cucuzza, 1995). Oxenburgh, Marlow e Oxenburgh (2004), com base em seu
método, desenvolveram um programa de computador. Seu método de análise baseia-se nos
custos diretos e indiretos do trabalho, e os custos anteriores às mudanças e mais o custo das
Capítulo 4 | Economia da Ergonomia 83
4XDGUR²(VWLPDWLYDLQLFLDO
O objetivo é obter um quadro de custos, que pode ser relativizado com a con-
juntura, bem como com o processo de que faz parte. Isso já aponta as possibilidades
inerentes, bem como algumas decorrências da ausência da Ergonomia. Com uma de-
manda ergonômica estabelecida, pode-se orientar o custeio para a classe de problema
dela decorrente.
A estimativa inicial aponta a proporção da ausência de Ergonomia na empresa,
como um todo. Esse indicador engendra um debate com todos os agentes envolvidos,
que abrange desde o quadro de características das situações de trabalho, com o estado
atual da empresa, até as perspectivas de Custos Ergonômicos, tomados como perdas no
processo. A essência do debate é o reconhecimento de pontos de intervenção e a im-
portância relativa que lhes é atribuída, enquanto problemas. É necessário um consenso
acerca desses dois aspectos para se prosseguir na Ação Ergonômica. O resultado disso é
a formação de um Quadro Básico da Situação.
Os custos ergonômicos podem ser: custos diretos – relacionados às pessoas,
tais como acidentes e lesões, absenteísmo, custos de treinamento, nível de habilidade
requerida, tempo-padrão, manutenção; e, relacionados aos processos e materiais, tais
como quebras de máquinas; erros e itens danificados; utilização de equipamentos além
da necessidade; manutenção. E também podem ser custos indiretos, tais como proces-
sos trabalhistas e indenizações, custos fixos, entre outros.
Assim, definidos os elementos do Quadro Básico, estrutura-se o problema e com
o grupo de Ergonomia, calcula-se e prepara-se o quadro de perdas, que representa um
valor econômico para discussão com as pessoas da empresa. As possibilidades de perdas
são ilustradas no Quadro 4.2.
4XDGUR²([SHFWDWLYDGHEHQHItFLRV
5
Ver Capítulo 5 sobre Gestão de Ergonomia na empresa.
86 Ergonomia ELSEVIER
CB = B/C (4)
Onde,
B = benefícios = redução do custo ergonômico + ganhos de produtividade
C = Investimento necessário ou Custo da intervenção
CE = BE/C (5)
Onde:
BE = Benefícios Efetivos = Resultados tangíveis (monetários) + intangíveis
C = Investimento necessário ou Custo da intervenção
Capítulo 4 | Economia da Ergonomia 87
4.4. Conclusão
Parece claro que a Ergonomia pode ser caracterizada como um caso de negócio.
E, como é demonstrado na experiência e registrado na literatura, a Ergonomia apresenta
resultados bastante atrativos do ponto de vista econômico e financeiro. A Ergonomia,
quando aliada à Qualidade, coloca-se como base no requisito de melhoria contínua dos
processos. Porém, diferentemente da qualidade, que é uma exigência de mercado (Nor-
mas ISO), a Ergonomia tem, no Brasil, exigência de Lei, pela Norma Regulamentadora
17, do Ministério do Trabalho e Emprego, que agora vem a ser reforçada com o FAP6 e o
NTEP.7 Compreende-se sua exigência legal pelo simples fato de as condições de trabalho
colocarem em risco a integridade física e mental dos trabalhadores. Mas, curiosamente,
em geral, as melhorias da Ergonomia trazem, efetivamente, benefícios para os processos
produtivos. Isso ocorre em termos de melhorias em diversos aspectos do processo, tais
como: produtividade, qualidade da produção, moral dos trabalhadores, entre outros, e
que, em todos os casos podem ser traduzidos em resultados financeiros.
Nesse momento, será feita uma breve panorâmica do custeio:
Primeira etapa – evidenciam-se as condições e a proporção de perdas em termos
de custos ergonômicos.
Segundo etapa – na modelagem operante, refinam-se os elementos e impactos
da ausência da Ergonomia, na forma de custos, e avalia-se a perspectiva de benefícios.
Terceira etapa – gestão e acompanhamento da implantação da solução, avaliação
dos resultados, ou seja, o impacto das soluções naquela organização. Estruturação dos
dados pontuados tanto pelo custeio, quanto pelas avaliações de investimento.
6
Fator Acidentário Previdenciário, Decreto no 6.042, de 12/02/2007.
7
Nexo Técnico Epidemiológico, Lei no 11.430, de 26/12/2006, alterando o art. 2o da Lei no 8.213, de
24/07/1991 (Plano de Benefícios da Previdência Social), dando origem ao nexo técnico epidemiológico. O
NTEP é a componente frequencista do FAP, a partir da qual se dimensiona, para os benefícios, a gravidade e
o custo.
88 Ergonomia ELSEVIER
8
É o inverso do retorno, nesse caso de 7,46875.
Capítulo 4 | Economia da Ergonomia 89
Questões
1) O que vem a ser um custo ergonômico?
2) Quais os fatores que podem ser considerados como custos ergonômicos?
3) O que são benefícios em Ergonomia?
4) O texto menciona três formas de identificação de custos ergonômicos. Escolha
uma delas e justifique sua preferência com argumentos práticos.
5) Comente os critérios para avaliação econômica e financeira da Ergonomia: existe
algum mais importe do que os demais? Justifique sua resposta.
Caso
Você tem informação limitada para realizar um estudo ergonômico. No entanto os
resultados são extremamente importantes para essa empresa. Qual o procedimento que você
escolherá? Defina a empresa e prepare uma apresentação incluindo a sensibilização para a
importância do projeto no negócio, a forma de atuação e os custos envolvidos.
Debate
Dois pontos serão tratados nessa discussão. Eles são: o problema da composição dos
indicadores dentro de uma lógica formal, ou de uma lógica menos formal e a questão que diz
respeito ao problema do mapeamento, dentro de uma construção social, na pertinência dos
pesos relativos e na importância relativa de quem determina o grau da preferência e pertinên-
cia do atributo.
Quanto à composição dos indicadores, ela mesma, encontra alguns problemas do
ponto de vista da lógica formal ou booleana. A diferença fundamental é que a lógica booleana
resulta sempre em 0 ou 1, que é chamada de característica. Os modelos de utilidade são mais
abrangentes, permitindo variáveis não quantitativas (Zouguayrol; Almeida, 1999). Por outro
lado, a abordagem da lógica fuzzy trabalha com a noção de pertinência, que é um valor que é
assumido em contexto e estará, comparado ao proposto anteriormente, assumindo quaisquer
valores entre 0 e 1 (Yager; Filev, 1994).
Quanto à construção social, o problema do mapeamento aparece tanto na pertinência
dos pesos relativos em si, quanto na importância relativa (nível na cadeia de decisão) de quem
determina o grau da preferência e pertinência de um atributo. Assim, perguntas tais como:
que atributos sobre que períodos de tempo são importantes? As preferências de quem são
importantes? Qual a importância relativa de cada conjunto de preferências? Devem ser res-
pondidas. As respostas a essas perguntas são extremamente dependentes do contexto.
Pesquisa na internet
Faça uma busca de 10 novas referências sobre o tema custo-benefício de ações
ergonômicas.
90 Ergonomia ELSEVIER
Referências
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ics, 34(5), pp. 407-411, set. 2003.
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OXENBURGH, M. S.; MARLOW, P.; OXENBURGH, A. Increasing productivity and profits
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VIDAL, M. C. Guia para análise ergonômica do trabalho (AET) na empresa. Rio de Janeiro.
Virtual Científica, 2003.
Capítulo
5 Gestão de Ergonomia
Conceitos apresentados
Neste capítulo trataremos da Gestão de Ergonomia na empresa, especialmente
focando o planejamento e a implantação de um sistema eficaz. Iniciaremos com a
definição de suas diretrizes essenciais, orientando sobre o estabelecimento da missão
de Ergonomia, tecendo indicações sobre a visão de futuro a formar, debatendo o tema
dos valores que regem as práticas e fazendo ressalvas acerca da adoção de padrões de
desempenho da Ergonomia na organização. Em seguida, apresentaremos e discutire-
mos a implantação de seu processo cíclico de disposição, constatação, ação, apuração
e avaliação. O capítulo se encerra com algumas considerações úteis sobre o realinha-
mento do sistema Ergonomia.
)LJXUD$FRQVWUXomRVRFLDOHP(UJRQRPLD
5.2.1. Contingências
Por continências, entende-se o conjunto de circunstâncias particulares a que um
sistema esteja submetido em face de um grupo de eventos especiais e articulados. Por
exemplo, um corte de energia implica em todo um procedimento especial para um gran-
de prédio comercial envolvendo o fluxo pelas escadas, a retirada de passageiros even-
tualmente encarcerados nos elevadores, uso de iluminação de emergência, e assim por
diante.
Assim sendo, o primeiro exame a ser realizado para uma implantação e gestão da
Ergonomia é o de situação da empresa e de suas contingências observáveis. Esse tipo de
exame se subdivide em quatro tópicos, ao menos: o produto e o mercado, um histórico
da empresa, características geográficas e características gerais sobre a organização e sua
posição tecnológica. O Quadro 5.1 reúne algumas das questões básicas a serem formu-
ladas para esse exame.
Quadro 5.1²&RQWH[WRHFRQWLQJrQFLDVGRIXQFLRQDPHQWRGDHPSUHVD
Quadro 5.2²(VWXGRGDSRSXODomRGHWUDEDOKR
UÊ +Õ>ÊÃÕ>ÊÀi«>ÀÌXKÊ«ÀÊÃiÝÊiÊ«ÀÊv>Ý>ÊiÌ?À>¶Ê
UÊ +Õ>ÌÃÊÃKÊÊÌÌ>ÊiÊ`ÃÌÀLÕ`ÃÊiÌÀiÊÃÊÌÕÀÃÊiÊ`ÛêiÃÊ`>ÊwÀ>¶Ê
UÊ "`iÊÀ>ÊiÊVÊÛkÊ«>À>ÊÊÃiÀÛX¶
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nal e de qualificação para os diversos postos?
UÊ +Õ>ÊÊÌi«Ê`iÊ«iÀ>kV>Ê>ÊwÀ>ÊiÊ>Ê«ÀwÃÃK¶
UÊ
ÝÃÌiÊÕÌ>ÃÊv>Ì>ÃÊiÊViX>ÃÊj`V>öÊ+Õ>ÃÊ>ÃÊ`iX>ÃÊiÊ«ÀLi>ÃÊ`iÊÃ>Ö`iÊ
que existem junto a essa população?
UÊ
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UÊ +Õ>ÊÊÀi}iÊÃ>>À>¶Ê
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UÊ ?ÊÃ`V>ÌÊiëiVwVÊ`>ÊV>Ìi}À>¶ÊÊvÀÌi¶Ê+Õ>ÌÃÊÃ`V>â>`ö
Quadro 5.3²$YDOLDomRGDVIDFLOLGDGHVGRVIXQFLRQiULRV
9LYrQFLD 6DODVGHUHSRXVR
5HVWDXUDQWHFDQWLQD
7HOHIRQHV
)XPyGURPRV
&HQWURFRPHUFLDO
Atendimento $PEXODWyULR
7HUPLQDOEDQFiULR
5HFDUJDGH95H97
-RUQDOHLUR
Outros
Quadro 5.4²([SORUDomRGRIXQFLRQDPHQWRGDHPSUHVD
Dimensões 2EMHWR2EMHWLYR
(FRQ{PLFD 3RVLFLRQDPHQWRGDHPSUHVDQRPHUFDGR
0RPHQWRFRPHUFLDOFRQFRUUrQFLDIRUWHRXIUDFD
6RFLDO (YROXomRGDSRSXODomRGHWUDEDOKDGRUHVGDHPSUHVD
'DGRVFROHWLYRVVREUHDVD~GHGRWUDEDOKDGRU
3ROtWLFDVVRFLDLVMiWHQWDGDV
/HJLVODWLYD 5HJXODPHQWDomRGHDWLYLGDGHHVSHFtÀFD
=RQHDPHQWRXUEDQRHYL]LQKDQoDV
*HUHQFLDPHQWRDPELHQWDO
$o}HVGR0LQLVWpULR3~EOLFR'57VHWF
*HRJUiÀFD 9DULDo}HVFOLPiWLFDVFKXYDVROIULRFDORUHWF
/RFDOL]DomRHDFHVVLELOLGDGH
7UDQVSRUWHGRVRSHUiULRV
7pFQLFD 'HVFULomRGDVHWDSDVWpFQLFDVGRSURFHVVRSURGXWLYR
7HUPLQRORJLDYRFDEXOiULRVHMDUJ}HVGDÀUPD
2EMHWLYRVTXDQWLWDWLYRVGHSURGXomR
0LFUR$PELHQWDO (VSDoRVDFHVVRVHFLUFXODomR
5XtGRVHYLEUDo}HV
,OXPLQDomRHFODULGDGH
$PELHQWHWpUPLFRSRHLUDVHYHQWLODomR
2XWURVULVFRVDPELHQWDLV
2UJDQL]DFLRQDO 3URJUDPDVMiUHDOL]DGRV4XDOLGDGH$PELHQWH6HJXUDQoD
5HHVWUXWXUDo}HVUHFHQWHVWHUFHLUL]Do}HVUHHQJHQKDULDV3$93'9HWF
0XGDQoDVGHORFDO5HlayoutsHWF
96 Ergonomia ELSEVIER
Quadro 5.5²*XLDSDUDLPSOHPHQWDomRGHXPVLVWHPDGHJHVWmRGH(UJRQRPLDQDHPSUHVD
5.3.1. Disposição
A disposição para implementar um sistema de Ergonomia na empresa decorre
de seu planejamento, pois se trata de materializar a missão da Ergonomia em ações de
partida na empresa, em suas diretrizes básicas. Dois passos essenciais devem ser dados:
o estabelecimento de um padrão de Ergonomia e a formatação de um programa de trei-
namentos. Esses passos não necessariamente devem ocorrer em sequência, já que alguns
treinamentos podem ajudar a implementação de padrões e estes se tornarem conteúdos
de treinamento. Portanto, sua realização em paralelo pode ser uma opção razoável para
a maioria das empresas.
Capítulo 5 | Gestão de Ergonomia 97
5.3.1.3. Treinamentos
UÊ Formação estratégica (Sensibilização).
UÊ Formação básica (Conscientização).
UÊ Formação operativa (Atuação).
A implementação das estruturas e seus métodos de trabalho em uma organização
é a arte de promover mudanças transmitindo a forte sensação de que pouca coisa muda-
rá. Como a essa altura o trabalho de estabelecimento de padrões deva estar relativamente
98 Ergonomia ELSEVIER
5.3.2. Constatação
Essa etapa, em alguns casos acontece em paralelo ou até antecede a etapa anterior,
dependendo de conjunturas tais como a ocorrência de uma notificação de auditoria fis-
cal, a ocorrência de um acidente grave ou alguma decisão externa ou corporativa à qual
a unidade deva ser conformar. De forma geral é mais adequado que venha a ocorrer em
sequência aos passos iniciais de disposição.
Capítulo 5 | Gestão de Ergonomia 99
5.3.2.1. Mapeamento
Mapear significa produzir uma representação mínima de entendimento de um es-
paço, processo ou setor. Um mapa rodoviário, em geral, omite milhares de informações,
algumas até relevantes como a existência de aclives e declives, mas, em geral permite
aos motoristas trafegarem a contento pelas rodovias. O mapeamento em Ergonomia tem
a finalidade de elencar alguns dos problemas de ausência de Ergonomia que se possa
anotar numa primeira examinada. Os problemas de ausência de Ergonomia assim anota-
dos são plotados em alguma forma de segmentação da unidade, em geral por setores ou
“gerências”. No Capítulo 16 desta obra detalharemos alguns métodos de mapeamento.
Dependendo do contexto o mapeamento poderá se limitar a uma apreciação nor-
mativa ou combinar-se com diversos outros métodos de apuração de severidade ocupa-
cional, de gargalos de produção ou mesmo de atuação que comprometa o meio ambien-
te. Advertimos, porém, que o mapeamento não é uma finalidade em si mesmo, mas que
deve permitir a existência de um número de elementos de avaliação de um estado de
Ergonomia em um dado setor, unidade produtiva ou de negócio.
5.3.2.2. Priorização
De posse de um mapa o viajante deve ter algum objetivo em mente, pois sem isso
o mapa não terá serventia. Assim ocorre com o mapeamento ergonômico que nos oferece
um quadro ergonômico da empresa, mas terá sua efetividade encaminhada se e somente
se dele forem traçados planos de ação para a implantação de melhorias. Isso requer um
esforço de classificação e priorização.
A priorização de situações de trabalho para realizar melhoria é uma decisão fun-
damental na implantação da Ergonomia. A questão é delicada por atingir plenamente a
disputa entre setores e tocar em questões subjetivas. A disputa entre setores pode mal
assimilar o fato pelo qual um setor tenha “obtido” mais situações para melhoria do que
outro. A questão subjetiva aflora quando um trabalhador que se considera em uma si-
tuação de trabalho muito ruim vê o colega ao lado ter seu posto melhorado. Essas cons-
tatações reforçam a natureza participativa dos processos de Ergonomia na empresa ao
mesmo tempo em que estabelecem a importância do comitê – uma espécie de centro de
decisões e que justificam o aval inequívoco da direção da empresa.
100 Ergonomia ELSEVIER
Dado que o mapa já se constitui numa topografia – por setor ou “gerência” – cabe
um segundo tratamento a cada integrante do mapa em termos de priorização. Várias
ferramentas desenvolvidas para a Ergonomia buscaram estabelecer critérios de severida-
de – mais comuns em Ergonomia física – e que podem ajudar no esforço de priorização.
Nos Capítulos 16 a 19 deste livro trataremos desses temas.
A ferramenta aqui é a avaliação multicritério.
5.3.3.4. Orçamentação
Essa é a principal tarefa do Comitê de Ergonomia e é a razão pela qual nele devem
figurar pessoas com alto poder de decisão da empresa ou unidade. O orçamento deverá
contar com vários itens tais como o valor dos projetos, o valor das compras de materiais,
equipamentos e serviços, o treinamento para o uso da nova situação pelos operadores.
Ainda importante que se tenham bem registrados os parâmetros econômicos da situação
atual para que se possam ser feitas avaliações de custo-benefício.
Capítulo 5 | Gestão de Ergonomia 103
5.3.3.5. Implantação
Implantar cada projeto na situação correspondente pode parecer uma ação ób-
via, mas na verdade deve cercar-se de alguns cuidados. Independentemente da par-
ticipação que já tenha ocorrido até o momento, é recomendável que o projeto seja
discutido com os futuros ocupantes da situação na forma de maquetes físicas e pro-
tótipos, que é quando a implantação deve começar. Em seguida deve-se estudar cui-
dadosamente a ocupação – isso sendo mais intensamente necessário em projetos de
mudanças na organização especial. A análise de pré-ocupação pode resolver problemas
estruturais e é mais uma oportunidade de revisão do projeto de que o projetista não
deve abrir mão. Finalmente considerar que no período de ajustes ocorrem observações
úteis entremeadas de reclamações meramente reativas. O papel do grupo técnico, em
tais circunstâncias, é o de coletar todas as colocações e posteriormente fazer uma aná-
lise de sensibilidade.
Seja como for, a implantação deve ser regida por três signos: a) existe um projeto
de mudança elaborado de forma participativa; b) a solução em implantação pode sofre
algum ajuste; c) toda colocação e reclamação deve ser acolhida o que não necessariamen-
te significa que esteja correta.
5.3.4. Apuração
Imaginaremos que o plano de ação, orçamentado, seja executado em diversos
setores da empresa. Como poderemos entender o conjunto das transformações realiza-
das, em diversos setores, com tratamentos diferenciados e com orçamentos distintos.
Como comparar, como confrontar, como medir a efetividade desses processos? Esse é o
problema central desse item: a construção, a alimentação e a depuração de dados em um
sistema de indicadores de Ergonomia.
)LJXUD²(VTXHPDGHUHXQLmRFROHJLDGDGHDYDOLDomRFUtWLFD
A reunião se faz, formalmente, mediante uma pauta onde os temas são avalia-
dos em sequência. No entanto, ela segue uma dinâmica que consiste em seis etapas
subsequentes, conforme a Figura 5.2 A cada momento devem ser avaliados os aspectos
positivos e negativos do encaminhamento. A apresentação dos relatórios setoriais em
sequência é a técnica que faz aflorar os diferentes pontos de vista e diagnósticos (ma-
pas cognitivos). O debate deve ser conduzido segundo a técnica de mediação – onde
o mediador faz pontuações sintetizando as colocações e assentando entendimentos. A
existência de padrões, nesse momento é essencial para balizar esses encaminhamentos.
As conclusões e consequentes decisões de agir são o ponto central de cada passagem por
temas e devem ser sintetizadas e repetidas ao final da reunião.
106 Ergonomia ELSEVIER
5.3.5. Avaliação
Etapa final do ciclo, a avaliação se realiza pela confrontação entre o planejamento
e os resultados obtidos. Ela é a continuidade executiva da etapa de apuração. E deve
propiciar o mais importante resultado de todo o processo, o orçamento anual de Ergo-
nomia da empresa. Tal resultado é alcançado por dois passos sucessivos, a consolidação
da avaliação crítica e a estruturação dos investimentos em Ergonomia.
O relatório de gestão
Os Relatórios da Gestão apresentam as práticas de gestão e seus respectivos resul-
tados numa dada organização. O relatório Anual de Ergonomia deve apontar os resulta-
dos de transformações positivas realizadas. Os temas indicados aqui são sugestões que
poderão variar de uma empresa para outra, em função de suas características diferencia-
doras. Assim sendo, um relatório Anual de Ergonomia deverá, minimamente:
UÊ Comentar os procedimentos de ação ergonômica realizados.
UÊ Indicar os quantitativos de áreas e setores com diferenciação por tipo de tratamen-
to e nível de projeto efetuado.
UÊ Ilustração e desdobramento dos casos mais emblemáticos.
UÊ Avaliação custo-benefício do trabalho realizado no ano-base.
4XDGUR²2UoDPHQWRDQXDOGH(UJRQRPLD
6 Ergonomia e fatores
humanos: bases científicas
Lia Buarque de Macedo Guimarães, Ph.D. – CPE PPGEP/UFRGS
Com base nessa definição, fica claro que Ergonomia diz respeito à adaptação:
quaisquer máquinas e quaisquer sistemas no qual tenha o ser humano envolvido devem
estar adaptados ao usuário, e não ao contrário. Ou seja, a Ergonomia objetiva adaptar os
sistemas aos usuários e não que os usuários se adaptem ao sistema. Deve também ficar
claro que a Ergonomia não lida apenas com a adaptação do trabalho tradicional às pes-
soas na forma do trabalhador, como é mais difundido, mas de todo e qualquer sistema
(processo, serviço ou produto), considerando o que as pessoas fazem, os objetos que
usam, e o ambiente em que elas trabalham, viajam e têm lazer. Se essa adaptação é alcan-
çada, o estresse nas pessoas é reduzido. Elas ficam mais confortáveis, podem fazer suas
atividades mais rapidamente e de forma mais fácil e segura, gerando menos incidentes.
A partir do momento que a Ergonomia é a disciplina científica que pretende en-
tender a interação entre os seres humanos (subsistema pessoal) e os demais elementos
de um sistema (tecnológico, organizacional e do ambiente interno e externo, conforme
o enfoque macroergonômico de Hendrick e Kleiner (2006), pode-se entender que os
fatores humanos correspondem a um grupo de informações relacionadas com as habi-
lidades, limitações e outras características do subsistema humano, que são relevantes
para o projeto de um sistema. Iida (1990), no capítulo de fatores humanos no trabalho,
comenta sobre a monotonia, a fadiga e motivação como três aspectos muito importantes
para o projeto do trabalho que “[...] se não podem ser totalmente eliminados podem ser
controlados e substituídos por ambientes mais interessantes e motivadores”. O autor
comenta que “[...] até agora o homem adulto de 20 a 30 anos tem sido usado, quase
sempre, como paradigma do trabalhador [...]” mas os fatores humanos como a idade, o
sexo, deficiências físicas precisam ser considerados em todos os projetos. O propósito de
se conhecer os fatores humanos é tornar o trabalho mais rico, interessante, estimulante e
pouco desgastante, enfim, melhor para os seres humanos.
Este capítulo foca esses fatores humanos que devem ser considerados em qual-
quer estudo ergonômico. A fim de facilitar o entendimento, esses fatores serão discutidos
considerando os três domínios de especialização da Ergonomia de acordo com a Associa-
ção Internacional de Ergonomia (IEA), a saber: Ergonomia Física, Ergonomia Cognitiva
e Ergonomia Organizacional.
1
O tema Antropometria volta a ser tratado neste livro nos Capítulos 19 e 20.
Capítulo 6 | Ergonomia e fatores humanos: bases científicas 117
Tabela 6.1²'HÀQLomRGDVSRVWXUDVDVVXPLGDVQRSRVWRGHWUDEDOKR
VHJXQGRDVWDUHIDVH[HFXWDGDV
Parâmetros 1 2 3 4 5 6 7 8
²/HYDQWDUSHVRHRXH[HUFHUIRUoD P P P P 36 36 36
²7UDEDOKRLQWHUPLWHQWH P P P 336 336 336
²1HFHVVLGDGHDOFDQFHDPSOR P P 36 36 36
²7DUHIDVYDULDGDV P 36 36 36
²$OWXUDVXSHUItFLHWUDEDOKRYDULiYHO S S S
²0RYLPHQWRVUHSHWLWLYRV S S
²$WHQomRYLVXDO S
²7UDEDOKRGHSUHFLVmR
²'XUDomRVXSHULRUDKRUDV
sobrecarga na nuca e nos ombros. Outro exemplo dados pelos autores é quanto as con-
sequências deletérias para as costas quando se sustenta um peso. Uma mala de 20 kg
sustentada com o braço estendido para baixo (postura neutra) gera 450 N de tensão nas
costas. A tensão chega a 700 N quando a mesma mala é segurada com o braço dobrado
e a 950 N quando o braço está esticado para frente. Em situações de manuseio de carga,
comuns nos chão de fábrica durante manuseio de peças e, principalmente, nas áreas de
expedição, a situação de agrava, porque o trabalhador geralmente faz apenas um tipo de
trabalho muscular (estático), em ciclos muito reduzidos, durante toda a jornada. Vários
estudos mostraram como a repetição de um mesmo esforço pode levar a lesões, às vezes
irrecuperáveis. Para Silverstein, Fine e Armstrong (1987), ciclos reduzidos de alto risco
são aqueles de menos de 30 segundos.
Uma das leis muito usadas oriundas de estudos de fatores humanos diz respei-
to ao manuseio de carga. O National Institute for Safety and Health (NIOSH) americano
estabeleceu uma equação com base a qual é possível identificar quais fatores estão con-
formes e quais devem ser alterados para preservar a saúde do trabalhador. As soluções,
geralmente, se encontram na otimização do posto e na organização do trabalho, princi-
palmente, no ritmo de trabalho exigido (ver Capítulo 15 desta obra).
Os riscos posturais também foram analisados em vários estudos de fatores huma-
nos e traduzidos em protocolos que permitem a avaliação no chão de fábrica. Os mais
conhecidos são os check-lists de Lifshitz e Armstrong (1986), Keyserling et al. (1993) e
Couto (1998); os critérios semiquantitativos de Karu, Kansi e Kuorinka (1977) conheci-
do como OWAS (Ovako Working Posture Analysing) proposto por Karu, Kansi e Kuorinka,
em 1977 e sua versão computadorizada WinOWAS® (Kivi; Matilla, 1991), o protocolo
de Rodgers (1989), o RULA (Rapid Upper Limb Assessment) desenvolvido por Mcatam-
ney e Corlett, em 1993 e o mais recente REBA (Rapid Entire Body Assessment) proposto
por Hignett e Mcatamney, em 2000, e o protocolo de Malchaire (1998); e os critérios
quantitativos Moore e Garg (1995) e a minuta da International Ergonomics Association
desenvolvida por Colombini e Occhipinti (1995), que deu origem ao método conhecido
como OCRA (idem, cap. 15).
As regras de ouro da biomecânica são: evitar a repetitividade, evitar trabalho está-
tico, alternar posturas e movimentos, manter as articulações em posição neutra sempre
que possível. Os dados biomecânicos mais importantes para os projetos de produtos e
processos estão disponíveis nos livros da Scherrer et al (1967), Tichauer (1978), Eastman
Kodack (1983), Chaffin, Andersson e Martin (1984), Clark e Corlett (1984), Pheasant
(1991), Iida (1990; 2005), Dul e Weerdmeester (1995), Grandjean (1998), Kroemer e
Grandjean (2005), entre outros.
as características ligadas aos fatores fisiológicos: o esforço fisiológico
pode ser avaliado com base no esforço muscular (estudado pelas contra-
ções musculares, diretamente (por eletromiografia), pelo consumo de oxi-
Capítulo 6 | Ergonomia e fatores humanos: bases científicas 119
)LJXUD²5HODomRHQWUHDIUHTXrQFLDFDUGtDFDRFRQVXPRHQHUJpWLFR
e as condições de trabalho
A Figura 6.1 deixa claro que a frequência cardíaca é muito mais sensível a algumas
situações de trabalho do que o consumo energético. Os dois indicadores só são compa-
ráveis quando a situação não envolve calor e quando o trabalho é dinâmico, envolvendo
vários grupos musculares. Com base na Tabela 6.2, pode-se depreender que o melhor
projeto é aquele no qual o trabalhador não fica plantado em um único posto sob calor:
ou seja, deve-se projetar trabalhos multifuncionais em espaços arejados longe de fontes
de calor (quer seja o sol, fornalhas etc.). Quando não for possível projetar de forma
otimizada, a solução é deixar a pessoa o mínimo de tempo possível naquela situação e
oferecer mais pausa durante o trabalho. Quanto mais pesado o trabalho, maior deverá ser
o número (frequência) e tempo de duração dessas pausas.
A intensidade da carga de trabalho em relação à frequência cardíaca (FC) e ao
consumo energético (avaliado pelo VO2 máx., expresso em litros/minuto), foi tabulada
por Astrand e Rodahl (1986) em cinco categorias, como mostra a Figura 6.4.
120 Ergonomia ELSEVIER
7DEHOD²,QWHQVLGDGHGDFDUJDGHWUDEDOKRHPUHODomRj)&HDR922Pi[
Onde:
PMFC: percentual máximo de frequência cardíaca; e
FC: frequência cardíaca
FC (máxima esperada): frequência cardíaca máxima esperada = 220 – idade.
De acordo com Eastman Kodack (1983), pode-se considerar que 33% é o limite
aceitável do percentual da máxima capacidade aeróbica utilizada.
Outra forma de avaliar o custo do trabalho é medindo o pulso de trabalho (PT)
que é a diferença entre a frequência cardíaca durante do trabalho e aquela tomada com o
sujeito em repouso. Grandjean (1998) propõe que 35 PT e 30 PT é o máximo permitido
para trabalho contínuo para homens e mulheres, respectivamente.
Os dados fisiológicos mais importantes para os projetos de produtos e processos
estão disponíveis nos livros da Eastman Kodack (1983), Iida (1990; 2005), Grandjean
(1998), Kroemer e Grandjean (2005), entre outros.
UÊ as características psicofisiológicas: ênfase é dada ao olho e o desempenho visual
e visão noturna; ao ouvido e o desempenho auditivo, em diversas condições,
principalmente a audição em locais ruidosos; mas também o olfato, o tato, e os
tempos de reação. Estudam-se os fenômenos do sistema nervoso central como a
percepção visual (limiar de discriminação de diferentes formas e cores, por exem-
plo), a atenção e a vigilância (atenção prolongada) que ocorrem em situações de
detecção de sinais raros e aleatórios, a monotonia e o estresse que são resultantes
de trabalhos pobres, pouco estimulantes e sem sentido. Estudam-se também os
efeitos do sexo, idade e envelhecimento e do de estimulantes (café, fumo, álcool),
para quebrar a monotonia e a fadiga. Conforme Iida (1990), um trabalhador mo-
tivado produz mais e melhor e sofre menos os efeitos da monotonia.
Capítulo 6 | Ergonomia e fatores humanos: bases científicas 121
A região “A” caracterizada por alto desempenho e baixa demanda, a região “C”
com demanda máxima e baixo desempenho, e a região “B” o desempenho decresce com
o aumento da demanda e aumento da carga de trabalho mental. Meister (1976), no
modelo apresentado, indica que as medições da carga de trabalho medida com base na
performance, só apresentam sensibilidade variável na região “B”, na região “A”, o índice
de performance permanece constante no nível máximo, independente das variações de
demanda, e na região “C”, o índice de performance permanece constante em seu nível
mínimo, independente das variações de demanda. O autor indica que quando aplicadas
as técnicas de medição subjetivas por autoavaliação, os índices são sensíveis à variação
da carga na região “B” e indicam claramente a sobrecarga na região “C”.
A NASA (Hart; Staveland, 1988) desenvolveu um questionário multidimensional
(NASA Tlx) para avaliação de carga de trabalho, que considera a média ponderada de seis
subescalas: demanda mental, demanda física, demanda temporal, performance (satisfa-
ção com o próprio desempenho) esforço e nível de frustração. Apesar de o questionário
ter sido desenvolvido para avaliação da carga de trabalho mental, na realidade ele mede
a carga de trabalho geral (física e mental), já que considera a carga física e esforço geral
entre os seis fatores. O que é correto e adequado para utilização em qualquer tipo de
trabalho, pois, como já mencionado, todo trabalho envolve as dimensões física e mental.
Outra ferramenta é a Swat (Reid et al., 1981) que também é uma ferramenta de escala
subjetiva desenvolvida pela US Air Force. Usa três níveis (baixo, médio e alto) para cada
uma das três dimensões: tempo, esforço mental, e estresse psicológico. O escore final é
uma nota global. No entanto, o NASA TLX é a ferramenta mais usada.
122 Ergonomia ELSEVIER
sobe mais rapidamente a partir das 6 horas da manhã e atinge o máximo por volta de 12
horas. Os vespertinos são mais ativos à tarde e no início da noite. A temperatura corporal
sobe mais lentamente na parte da manhã sendo que a máxima ocorre por volta das 18
horas. Encontram menor disposição pela manhã, mas adaptam-se facilmente ao trabalho
noturno. No projeto de trabalho, essas características deveriam ser levadas em consideração,
alocando-se os matutinos para os trabalhos diurnos e os vespertinos para os trabalhos
noturnos. No entanto, isso não é colocado em prática nas empresas, por desconhecimento
ou desinteresse em elaborar planilhas laborais mais apropriadas e, principalmente, pelo fato
da Constituição Federal Brasileira (Brasil, 1988) no seu art. 7o, inciso IX, que estabelece que
são direitos dos trabalhadores, além de outros, remuneração do trabalho noturno superior
à do diurno. O adicional noturno é de 20% no salário. Considera-se o trabalho noturno
aquele realizado entre as 22:00 horas de um dia às 5:00 horas do dia seguinte nas áreas
urbanas. Nas áreas rurais, é considerado noturno o trabalho executado na lavoura entre
21:00 horas de um dia às 5:00 horas do dia seguinte, e na pecuária, entre 20:00 horas às
4:00 horas. A hora de trabalho normal tem a duração de 60 minutos e a hora de trabalho
noturna, por disposição legal, nas atividades urbanas, é computada como sendo de 52
minutos e 30 segundos. Portanto, considerando o horário das 22:00 às 5:00 horas, tem-se
7 horas-relógio que correspondem a 8 horas de trabalho. Em função do ganho econômico,
é muito difícil convencer um matutino a não atuar em trabalho noturno, mesmo que isso
traga desvantagens para sua saúde e vida social e, o que também é preocupante, colocar em
risco o trabalho que está sendo realizado.
Mesmo durante o dia, o ritmo circadiano impede que a disposição para o trabalho
(e, portanto, a produtividade) seja a mesma durante toda a jornada de trabalho. Parker e
Oglesby (1972), em um estudo na construção civil deixam claro que o ser humano não
é uma máquina e que seu desempenho varia com suas capacidades fisiológicas que não
são estanques nem durante o dia e nem durante a semana, pois há predisposição para
atuação melhor em determinados horários e pior em outros (Figura 6.3), o que se agrava
com o acúmulo de fadiga.
)LJXUD²0RGHORGHPHPyULDSURSRVWRSRU$WNLQVRQH6FKLIIULQHP
com sistemas complexos, sendo áreas particulares de interesse a carga mental de traba-
lho, o conteúdo do trabalho, percepção e tratamento das informações e tomadas de deci-
são implicadas no trabalho. Situações que são objeto de estudo da Ergonomia cognitiva
mais contemporânea, são o trabalho em salas de controle (de usinas, tráfego aéreo etc.) e
as situações críticas em que as competências dos operadores (e não somente seu conforto
e sua visão) permitem evitar as catástrofes. Estas últimas são o foco da Ergonomia de Sis-
temas cognitivos (ESC), que estuda o trabalho cognitivo na interação humano-sistema.
A análise Cognitiva do Trabalho (ACT) é uma família de métodos usados para
estudar e descrever o raciocínio e o conhecimento. Os estudos incluem as atividades de
perceber o que está por trás do desempenho das tarefas, o conhecimento, as habilidades
cognitivas e as estratégias necessárias para responder a situações complexas, e os pro-
pósitos metas e motivações para o trabalho cognitivo. As três principais fases da ACT
são: elicitação do conhecimento, análise de dados e representação do conhecimento.
Elicitação do conhecimento refere-se aos métodos de obtenção de informação sobre o
que e como as pessoas sabem, os julgamentos, as estratégias, o conhecimento e as habi-
lidades que sustentam a performance (Ver métodos em <http://mentalmodels.mitre.org/
cog_eng/ce_sys_eng_phases_matrix.htm>).
Uma literatura em Ergonomia cognitiva está disponível em De Montmollin (1986;
1996), Wickens (1992), Woods et al. (1994), Woods e Hollnagel (2006).
3
Esses temas serão aprofundados no Capítulo 10.
128 Ergonomia ELSEVIER
do trabalho ficaram a cargo da gerência que se apropriou do saber operário, como queria
Taylor. A organização do trabalho, nesses moldes, é uma fonte de sofrimento e doenças
para os trabalhadores, mas só recentemente essa visão do trabalho parcelado e alienante
vem dando lugar a uma nova abordagem, a macroergonomia (Hendrick e Kleiner, 2006),
relacionada com a otimização dos sistemas sociotécnicos, incluindo sua estrutura orga-
nizacional, políticas e processos. Tem relação direta com a forma de organização do tra-
balho, e favorece a escola sociotécnica de trabalho cooperativo e participativo. Tópicos
relevantes incluem trabalho em turnos, programação de trabalho, satisfação no trabalho,
teoria motivacional, supervisão, trabalho em equipe, trabalho à distância e ética. Outro
capítulo deste livro aborda essas questões.
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Capítulo
7 Fisiologia do trabalho
Conceitos apresentados
Neste capítulo é apresentada uma panorâmica da Fisiologia do Trabalho envol-
vendo o trabalho muscular, o sistema nervoso, o sistema cardiovascular, o metabolis-
mo e a alimentação como fenômenos fisiológicos centrais na atividade de trabalho. O
capítulo se encerra com o tema da fadiga e suas formas correntes de compensação e
recuperação, as pausas e o sono.
)LJXUD7LSRVGHP~VFXORVHVXDVFDUDFWHUtVWLFDV
134 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD'XUDomRPi[LPDGHXPWUDEDOKRPXVFXODUHVWiWLFRHPUHODomRjIRUoDH[HUFLGD
)LJXUD(VTXHPDGDPRWRERPED
Figura 7([HPSORGHSRVWXUDUHTXHUHQGRWUDEDOKRHVWiWLFR
Na vida diária, precisamos realizar muito trabalho estático. Isso não é necessaria-
mente ruim, pois é graças à capacidade estática que podemos manter partes do corpo
em várias posições desejadas por nós mesmos ou forçadas pelas circunstâncias. Estando
de pé, uma série de músculos nas pernas, nos quadris, nas costas e na nuca ficam con-
tinuamente tensionados. Ao sentar, o trabalho estático das pernas diminui, o que pro-
voca uma redução das exigências aos músculos, o que é melhor para trabalhar, embora
os músculos cervicais continuem sob tensão. Ao deitar, o trabalho muscular estático é
praticamente eliminado, e, por isso, é a melhor posição para descansar. Ainda assim, o
exagero de permanência na posição sentada é condenado pelos profissionais de saúde
(sedentarismo) e a postura em pé pode ser adotada em curtos intervalos de tempo (por
exemplo, caminhando um minuto a cada vinte de atividade de trabalho). E ficar deitado
em demasia não é bom, como acontece com pacientes em longo período de internação.
Como na vida diária, a carga de trabalho estático ocorre em todo tipo de trabalho.
Há atividade muscular estática quando a situação de trabalho exige uma movimentação
do tronco para frente ou para os lados, ou quando se requer que os braços sejam manti-
dos tanto na vertical como esticados na horizontal (consertos, manutenção). A atividade
estática não se limita aos membros superiores e pode envolver as pernas, por exemplo,
quando se coloca o peso do corpo sobre uma das pernas enquanto a outra aciona um
pedal. Ficar em pé por um longo período é outro exemplo de trabalho estático que
indica que devemos evitar, sempre que possível, essa posição de trabalho, como, aliás,
recomenda textualmente a NR 17:
17.3.1 Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o
posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para essa posição.
O caso mais agudo de trabalho estático ocorre nas situações em que a atividade
implica levantar e carregar pesos. O item 17.2.2 da NR 17 é taxativo ao estabelecer que
“[...] não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas por um traba-
lhador cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança”.
7.3.2. Sinapses
Como as células nervosas se interligam a outros tecidos por meio dos axônios,
vejamos como isso ocorre. O mecanismo de transmissão, a sinapse, tem as seguintes
propriedades básicas:
a) Sentido único: os sinais são sempre transmitidos num sentido único. Entram
pelos dendritos e saem pelos axônios.
b) Fadiga: quando utilizadas com muita frequência as sinapses reduzem sua capaci-
dade de transmissão.
c) Desenvolvimento: a estimulação rápida, repetida e prolongada durante vários dias
pode levar a uma alteração física da sinapse, de modo que ela passa a ser estimulada
com mais facilidade. Acredita-se que nisso reside a memória e a aprendizagem.
d) Reação a variação do pH: um aumento do teor alcalino no sangue aumenta a ex-
citabilidade, enquanto o aumento da acidez tende a diminuir consideravelmente
a atividade neuronal.
140 Ergonomia ELSEVIER
mente, com determinada pressão para bem realizar o trabalho de remoção de detritos da
atividade muscular (metabólitos). O sistema cardiovascular tem um importante lugar no
funcionamento sistêmico do organismo e, por isso mesmo, sua observação nos permite
melhor acompanhar a pessoa no trabalho.
Tabela 7.1²3DUkPHWURVGDDWLYLGDGHEDVHDGRVQDDYDOLDomRGHSXOVR
# Parâmetro Obtenção
1 3XOVRGHUHSRXVR IUHTXrQFLDPpGLDGRSXOVRDQWHVGRWUDEDOKR
2 )UHTXrQFLDGRSXOVRGHWUDEDOKR IUHTXrQFLDPpGLDGRSXOVRGXUDQWHR
WUDEDOKR
3 3XOVRGHWUDEDOKR GLIHUHQoDHQWUHDIUHTXrQFLDGRSXOVRGH
UHSRXVRHDIUHTXrQFLDGRSXOVRGXUDQWHR
WUDEDOKR
4 3XOVRDFXPXODGRGHUHFXSHUDomR VRPDGRVSXOVRVGHVGHRÀPGRWUDEDOKRDWp
RUHWRUQRjIUHTXrQFLDGHUHSRXVR
5 3XOVRVDFXPXODGRGHWUDEDOKR VRPDGRVSXOVRVGHVGHRLQtFLRGRWUDEDOKR
DWpRUHWRUQRjIUHTXrQFLDGHUHSRXVR
Esses parâmetros devem se situar numa faixa de aceitabilidade para que configu-
rem uma condição de execução em conformidade com os preceitos da Ergonomia. Nesse
sentido, Karrasach e Muller (1951) sugeriram que o limite da carga máxima aceitável de-
veria ser aquele no qual a frequência do pulso de trabalho não aumente continuamente,
e que após o fim do trabalho a frequência do pulso volte, após 15 minutos (aproximada-
mente), aos valores de repouso normal. Esses limites parecem corresponder a uma carga
de trabalho na qual o gasto de energia está ainda em equilíbrio com a reposição corrente
de energia gasta (Steady state). Essa carga máxima de trabalho, que ainda preenche es-
sas condições é hoje chamada de limite de trabalho contínuo para uma jornada de oito
horas. Segundo Karrasach e Muller (1951), o limite de trabalho contínuo é alcançado
quando a frequência média do pulso durante o trabalho for de 30 batidas acima do pulso
de repouso (= 30 pulsos de trabalho).
144 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD,QÁXrQFLDGDH[LJrQFLDSRVWXUDOQRFRQVXPRHQHUJpWLFR
7.5. Metabolismo
Até aqui falamos da contração, do comando voluntário sobre a musculatura e das
formas de avaliar o esforço depreendido na atividade de trabalho. A pergunta agora, é:
como logramos obter a energia de que necessitamos para o trabalho? Com efeito, um dos
procedimentos fundamentais do organismo é a transformação da forma de energia de
natureza química recebida pela alimentação para energia térmica e mecânica. A dispo-
nibilização da matéria química é parte do item alimentação, que veremos adiante. Neste
tópico trataremos dos processos metabólicos que possibilitam a obtenção de energia e a
bioenergética muscular – que nos explica o uso e as decorrências do uso dessa energia.
)LJXUD7UDEDOKRGHHVWLYD
Por ser um processo reversível se diz que existe síntese de energia e ressíntese do
ATP. A célula muscular possui uma quantidade muito pequena de ATP. Os nutrientes
obtidos na nossa alimentação produzem a ressíntese do ATP a partir do ADP. Com isso,
estabelecem um nível de ATP suficiente para que a contração muscular não venha a ser
interrompida. Existem dois processos básicos para a ressíntese do ATP na célula muscu-
lar, sendo um independente de oxigênio – chamado de anaeróbico – e outro dependente
do oxigênio – que se denomina aeróbico.
)LJXUD'pÀFLWGH22 HPDWLYLGDGHVDQDHUyELFDV
7.6. Alimentação
Como precisamos da energia química, devemos ter um meio de obtê-la e esse
meio é a alimentação. Os alimentos se compõem de proteínas, carboidratos e gorduras.
Todos são compostos de carbono, hidrogênio e oxigênio, sendo que as proteínas diferem
por conterem também nitrogênio. As proteínas são decompostas pelo organismo em
aminoácidos e hidrocarbonetos. Os aminoácidos são usados na construção dos tecidos
e os hidrocarbonetos são energéticos que se juntam aos carboidratos e gorduras. Hidro-
carbonetos, carboidratos e as gorduras se transformam em glicogênio, que é armazenado
nos músculos e no fígado. Os carboidratos e as gorduras se transformam em outras
gorduras (as nossas) e que são armazenados nos tecidos para posterior utilização pelo
organismo.
7.7. Fadiga
Cumprimos até aqui um itinerário que nos levou do trabalho muscular ao seu
controle nervoso, às fontes de energia por meio da alimentação e por sua distribuição
por meio do sistema cardiovascular. Estaríamos com um sistema perfeito e sustentável
de obtenção e uso da energia para o trabalho, não fosse um pequeno problema: a fadiga.
Fadiga é o efeito de um trabalho continuado que provoca uma redução reversível da ca-
152 Ergonomia ELSEVIER
muscular é muito intensa, o ritmo de produção do metabólito ácido lático é maior que
a capacidade do sistema circulatório em removê-lo, provocando o desequilíbrio e com
ele a sensação de cansaço que reporta como fadiga. Entretanto, a fadiga não pode ser
explicada apenas em termos de exaustão muscular ou energética. Uma pessoa em situa-
ção estressante também apresenta diversos sintomas de exaustão e fadiga. As pessoas
fatigadas apresentam diversas alterações de substância presentes na urina e no sangue,
indicando que há uma alteração orgânica ao estado de distress. O aumento do consumo
energético e de oxigênio em uma pessoa que executa um grande esforço mental se deve
mais à tensão muscular, associada a essas situações, do que propriamente ao aumento da
atividade do sistema nervoso.
A fadiga fisiológica, desde que não ultrapasse certos limites, é reversível e o corpo
se recupera com pausas concedidas durante o trabalho ou com o repouso diário.
7.7.2.2. Monotonia
Entendemos como monotonia uma reação do organismo a uma situação pobre
em estímulos ou caracterizada por repetições uniformes dos estímulos com pequena exi-
gência das pessoas (infraestimulação). O esgotamento do fluxo de entrada sensorial e os
processos de adaptação e habituação (indiferença) são os motivos fisiológicos fundamen-
tais da monotonia. Os mais importantes sintomas de monotonia são os sinais de fadiga,
sonolência, falta de disposição e uma diminuição da atenção. Na indústria e no trânsito
essas condições são frequentes e inevitavelmente implicam monotonia.
A monotonia combina causas externas com condições pessoais. A experiência
mostra que as atividades repetitivas de longa duração, com mínimo grau de dificulda-
de, mas sem possibilidade de desligar-se mentalmente de todo o trabalho, ou tarefas de
observação de longa duração, pobres em quantidade e diversidade de estímulos, com a
obrigação de atenção permanente, são condições que desencadeiam o estado de mono-
tonia. Por outro lado, a vulnerabilidade da pessoa à monotonia é aumentada em pessoas
em estado de cansaço, por exemplo, durante a noite. Esses aspectos pessoais tem uma
evidente vertente psicológica referentes a situação de baixa motivação, em pessoas super-
qualificadas e subocupadas e assim por diante.
7.8.1. Pausas
Tecnicamente uma pausa é um período de inatividade que se intercala entre pe-
ríodos de atividade. Em Ergonomia a questão é qualificar o tipo de pausa quanto à sua
natureza social e quanto à sua oportunidade no processo de trabalho.
çal leve. Quanto mais pesada for se tornando a tarefa, maior será a pausa recomendável.
Quando o trabalho se encaixar na categoria pesada, recomenda-se pausas longas, de 10
a 60 minutos após igual período de trabalho físico nessas condições pesadas.
Uma atenção especial deve ser dada às refeições, que são erroneamente consi-
deradas como pausas. As refeições devem ocorrer após 4 a 6 horas depois do início do
trabalho e recomenda-se 15 minutos de desaceleração. Depois da refeição devem sobrar
15 minutos para um descanso.
7.8.2. Sono
O sono é um dos campos mais interessantes da fisiologia, tamanha a quantidade
e a qualidade de fenômenos que ocorrem durante essa forma de viver que ocupa pra-
ticamente 1/3 de nossa existência. Faremos uma rápida caracterização dos principais
fenômenos relacionados ao sono, com ênfase nas noções de ciclo circadiano e de vigília,
e encerraremos o tópico trazendo à baila uma breve discussão sobre o trabalho noturno.
18) Procure entrevistar alguém que execute funções em trabalho noturno; verifique
se a percepção desse trabalhador confirma as hipóteses descritas nesse capítulo.
Registre os resultados.
19) Digite um texto de uma lauda no período da manhã, logo após acordar. Depois,
procure digitar outro texto de uma lauda também, de complexidade semelhante,
na parte da noite, quando estiver cansado após um dia intenso de trabalho. Verifi-
que se houve diferença na sua performance e quais diferenças ocorreram. Registre
os resultados.
Debate
A fisiologia do trabalho tem demonstrado já há muito tempo que o levantamento e
transporte de cargas pesadas é uma atividade de trabalho com importantes efeitos negativos
sobre a saúde dos trabalhadores. Entretanto, a Norma Regulamentadora no 17 (NR 17), que
alerta sobre os efeitos desse tipo de atividade, só entrou em vigor na década de 1990. Na
sua opinião, que motivo ou motivos podem explicar essa defasagem entre a estruturação do
conhecimento científico em Fisiologia do Trabalho e sua incorporação às leis que regulam o
trabalho em nosso país? O professor pode ser o mediador.
Pesquisa de campo
O trabalho na construção civil pode ser considerado trabalho pesado. Pesquise em
algum canteiro de obras o tipo de alimentação que os trabalhadores costumam utilizar
durante seus turnos de trabalho. Procure juntar algumas falas desses trabalhadores sobre
o motivo pelo qual escolhem determinados alimentos e correlacione tudo que encontrou
com aquilo que foi mostrado neste capítulo.
Pesquisa na internet
Faça uma busca na internet procurando recolher algum vídeo que possa ilustrar
bem os efeitos da fadiga nos trabalhadores
Referências
AMORIM, F. S.; DANTAS, E. H. M. Efeitos do treinamento da capacidade aeróbica sobre
a qualidade de vida e autonomia de idosos. Fitness & Performance Journal, v. 1, n. 3,
p. 47-55, 2002.
ARAÚJO C. G. S.; RICARDO D. R.; ALMEIDA M. B. Intra and interdays reliability of the
4-second exercise test. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 9, n. 5, pp. 1-8,
set./out. 2003.
ARAUJO, W. B. Ergometria e cardiologia desportiva. São Paulo: MEDSI, 1997.
166 Ergonomia ELSEVIER
8 Biomecânica
Conceitos apresentados
Neste capítulo é apresentada a definição de Biomecânica, bem como suas
aplicações, especialmente a da Biomecânica Ocupacional. É apresentado o sistema
esquelético como estrutura óssea em seu campo estático e anatômico e como siste-
ma de alavancas em seu campo dinâmico e funcional. A seguir, é introduzido o tema
das posturas de trabalho (em pé, sentado e em outras posições) e são abordadas as
questões relativas ao levantamento e transporte de cargas. O capítulo se encerra
com um breve comentário acerca das doenças ocupacionais de causas relacionadas
à Biomecânica.
teção como o crânio (que protege o cérebro) e as costelas e o esterno, que protegem os
pulmões e o coração. Outra função importante é que o esqueleto possui pontos de apoio
onde os músculos se fixam. A Figura 8.1 mostra a nomenclatura dos principais ossos
humanos. É importante ter essa breve noção de anatomia para melhor compreender o
conteúdo deste capítulo.
)LJXUD2HVTXHOHWRKXPDQR
)LJXUD$FROXQDYHUWHEUDO
)LJXUD$QDWRPLDGDVYpUWHEUDV
Deve-se evitar levantar cargas com a costa curvada para não criar a componente
transversal dos esforços na coluna. Os movimentos de flexão, extensão e flexão lateral da
coluna (Figura 8.4) produzem estresse compressivo de um lado dos discos e estresse de
tração do outro lado, enquanto que a rotação da coluna cria estresse tangencial. Entre-
tanto, a compressão é a forma de aplicação de carga à qual a coluna é mais comumente
submetida durante a postura ereta.
)LJXUD)RUoDVQRVPRYLPHQWRVGHÁH[mRH[WHQVmRHÁH[mRODWHUDOGDFROXQDYHUWHEUDO
das pessoas, pois se estima que mais de 80% dos adultos sentirão dores lombares ao
longo de sua vida. A lombalgia (dor lombar mais aguda e prolongada) é a segunda causa
de ausência ao trabalho em pacientes abaixo de 45 anos.
A parte superior da coluna vertebral, a coluna cervical, é tão importante em
alguns pontos de vista e frequentemente tão delicada quanto a coluna lombar. As sete
vértebras da coluna cervical são muito móveis e também apresentam, como vimos, um
arranjo em lordose. Essa parte da coluna tem também uma tendência a alterações dege-
nerativas dos discos intervertebrais com os conhecidos fenômenos de cãibras musculares
e irritações dos nervos na altura da nuca, ombros e braço. Essas manifestações são agru-
padas sob o nome de síndrome cervical, sendo que a rigidez dolorosa da nuca, o popular
torcicolo, é o sintoma mais frequente. Essa síndrome tem sido especialmente observada
em datilógrafas, operadoras de linhas de montagem, de máquinas de calcular e de moni-
tores, além de telefonistas. As posturas forçadas e excessivas curvaturas da coluna cervi-
cal podem ser consideradas prováveis causas da síndrome cervical.
Entre uma vértebra e outra existe um disco cartilaginoso, composto de uma massa
gelatinosa. As vértebras também se conectam entre si por ligamentos, que explicamos
mais acima. Os movimentos da coluna vertebral acontecem pela combinação do desli-
zamento dos ligamentos com a compressão/deformação dos discos. Como sistema ósseo
a coluna vertebral tem ainda a função de proteger a medula espinhal que faz parte do
sistema nervoso central.
)LJXUD$VGLYHUVDVFROXQDV
a) Nutrição da coluna
Os discos intervertebrais não possuem vasos sanguíneos. Assim sendo, dependem
de um processo de difusão dos tecidos vizinhos, para receber substâncias nutritivas. Isso
é semelhante a uma esponja molhada que é comprimida e diminui de volume, perdendo
água. Com a descompressão aumenta novamente de volume, absorvendo água. Portanto,
as compressões e descompressões alternadas dos discos funcionam como uma bomba
174 Ergonomia ELSEVIER
hidráulica, pela qual se alimentam. Uma contração prolongada dos discos, que ocorre,
por exemplo, em cargas estáticas, é muito prejudicial porque interrompe o processo nu-
tricional dos discos e pode provocar sua degeneração.
A postura forçada do corpo pode provocar um grande desgaste dos discos inter-
vertebrais. A mecânica da coluna vertebral é perturbada e então podem ocorrer disten-
sões e compressões de tecidos e nervos, que causam doenças como ciática, lumbago ou
até paralisia dos membros inferiores. Os pesquisadores da escola sueca, Nachenson e
Anderson, analisaram, com métodos muito precisos, a pressão interna dos discos ver-
tebrais em diferentes posições do corpo e posturas sentadas. Eles demonstraram que
inclinações do tronco para frente ou torções do tronco devidas às exigências da tarefa
(visuais ou de movimentos) levam a um aumento de mais de 30% na pressão sobre o
disco intervertebral.
b) Prevenções elementares
O Quadro 8.1 sumariza algumas recomendações muito elementares para preven-
ção de problemas na coluna. Ressaltamos que à ocorrência de qualquer sintoma ou ma-
nifestação de maior gravidade a pessoa deverá ser atendida pelo médico do trabalho e sua
situação de trabalho avaliada e transformada por um ergonomista.
Quadro 8.1²5HFRPHQGDo}HVSUiWLFDVDFHUFDGDSUHYHQomRGHORPEDOJLDV
com contração do tríceps e distensão do bíceps. Para evitar movimentos bruscos, a con-
tração e o relaxamento do par de músculos antagônicos devem ser coordenados entre si,
de modo que um deles vá se contraindo e o outro se distendendo. Os músculos também
podem funcionar de forma mais complexa, fazendo parte de um conjunto, maior, permi-
tindo várias combinações de movimentos, como as contrações associadas a movimentos
rotacionais
Da mesma maneira que as alavancas mecânicas, o corpo também trabalha com
três tipos de alavancas, conforme ilustra a Figura 8.6.
)LJXUD2FRUSRFRPRVLVWHPDGHDODYDQFDV
8.3.1. O trabalho em pé
A escolha da postura em pé muitas vezes tem sido justificada por considerar que,
nessa posição, as curvaturas da coluna estejam em alinhamento correto e que, dessa for-
ma, as pressões sobre o disco intervertebral seriam menores do que na posição sentada.
Acontece que a posição em pé é uma postura desequilibrada e o que nos mantém em pé
é uma reação, a reação de equilíbrio. Ou seja, não ficamos de pé, mas sim nos esforçamos
para nos manter eretos.
Isso tem fundamentação cientifica. Oliver e Middledith (1998) fizeram experi-
mentos conclusivos que demonstraram que os músculos que sustentam o tronco contra
a força gravitacional, embora vigorosos, não são muito adequados para manter a postura
em pé. Essa musculatura seria mais eficaz nos chamados ajustamentos posturais, ou seja,
a produção dos movimentos necessários às principais mudanças de postura durante uma
atividade. Por outro lado, ficar em pé no local de trabalho como postura básica signi-
fica assim permanecer por no mínimo duas horas entre as pausas formais. Isso implica
um trabalho estático (Capítulo 7) para a imobilização prolongada das articulações dos
pés, joelhos e quadris. A força envolvida não é grande e está situada certamente abaixo
Capítulo 8 | Biomecânica 177
do limite crítico de 15% da força total. Apesar disso, porém, o longo período em pé é
cansativo e difícil não só devido ao esforço muscular estático, mas, também, devido ao
aumento importante da pressão hidrostática do sangue nas veias das pernas e o progres-
sivo acúmulo de líquidos tissulares nas extremidades inferiores. Já quando se caminha, a
musculatura da perna funciona como uma motobomba (Capítulo 7), por meio da qual a
pressão hidrostática do sistema venoso é compensada e o sangue retorna de modo ativo
para o coração. Assim sendo, ficar de pé por um tempo prolongado não somente im-
plica fadiga da musculatura responsável pelo trabalho muscular estático de manutenção
do corpo ereto como também produz um razoável desconforto, causado por condições
adversas do fluxo de retorno do sangue. Pode-se concluir que a posição em pé ideal não
pode ser mantida por longos períodos, pois as pessoas tendem a utilizar alternadamente
a perna direita e esquerda como apoio, para provavelmente facilitar a circulação sanguí-
nea ou reduzir as compressões sobre as articulações.
Quando o indivíduo trabalha em pé, na mesma posição, por muito tempo, para
se manter confortavelmente nessa posição terá que usar diferentes mecanismos, como:
a) fazer de forma automática, uma alternância na distribuição dos pesos entre um pé
e outro, diminuindo a fadiga final.
b) depois de certo tempo, deve desenvolver um balanço elíptico ou circular da cabe-
ça e do tronco, que será tanto mais intenso quanto mais prolongada for a posição
de pé parado. Esse balanço representa em grande parte um mecanismo de regula-
ção do tônus dos músculos posturais, que promove essa alternância no sentido de
evitar a fadiga localizada.
Essas condições adversas da circulação são a origem de muitas doenças das extre-
midades inferiores em profissões que exijam trabalho imóvel de pé por tempo prolonga-
do. Os seguintes fenômenos circulatórios são observados:
UÊ Pouca atuação do fator motobomba muscular, com diminuição do retorno venoso.
UÊ Exigência excessiva das válvulas venosas, que podem degenerar caso haja fatores
predisponentes.
UÊ Acúmulo de sangue nos membros inferiores e nas veias da pelve, com possibilida-
de de edema nessas regiões.
UÊ Nutrição inadequada da pele, favorecendo a formação de úlceras.
Assim é que, de acordo com a Nota Técnica 060/2001 do Ministério do Trabalho e
do Emprego, a escolha da postura em pé somente está se justifica quando a tarefa exigir:
UÊ deslocamentos contínuos como no caso de carteiros e pessoas que fazem rondas;
UÊ manipulação de cargas com peso igual ou superior a 4,5 kg;
UÊ alcances amplos frequentes, para cima, para frente ou para baixo; no entanto,
deve-se tentar reduzir a amplitude desses alcances para que se possa trabalhar
sentado;
UÊ operações frequentes em vários locais de trabalho, fisicamente separados;
UÊ aplicação de forças para baixo, como em empacotamento.
178 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD&XLGDGRVFRPRFRWRYHOR
)LJXUD&XLGDGRVFRPRSXQKR
)LJXUD,QFOLQDo}HVGDFDEHoD
)LJXUD9LVmRHPRYLPHQWRGDFDEHoD
Capítulo 8 | Biomecânica 181
)LJXUD0RYLPHQWDomRGHEUDoR
A contração muscular estática torna os músculos dos ombros doloridos e até mes-
mo inflamados, comprometendo ligamentos, nervos e vasos sanguíneos. O arranjo do
posto de trabalho e a distribuição dos equipamentos sobre a mesa podem engendrar
ângulos exagerados (superiores a 60º) entre o braço e o corpo. As alturas da mesa ou
do assento também podem estar inadequadas. Faz-se necessário eliminar movimentos
inúteis, reorganizando o material de trabalho, de forma que os de uso mais frequente
permaneçam mais próximos ao corpo, e buscando alternativas de agrupar e aproximar
o material. Para prevenir possíveis problemas para os ombros, a mesa e o assento devem
ser ajustados de forma a permitir que os ombros permaneçam relaxados, os cotovelos
abaixados e próximos ao corpo (até 15º com braço em ângulo de 85 a 110º).
)LJXUD&DQWRVYLYRV
como as varizes. Para diminuir esses problemas circulatórios, é necessário usar o assento
da cadeira de forma adequada à altura e ao comprimento das pernas do usuário.
Se o assento for muito alto, toda a coxa estará fortemente apoiada sobre o assento,
(inclusive a parte próxima ao joelho), enquanto os pés ficarão em balanço total ou par-
cial. A compressão dessa parte da coxa diminui ainda mais a circulação sanguínea, pois
os vasos sanguíneos e nervos passam bem superficialmente nessa região. Por outro lado,
se o assento estiver muito baixo, uma grande parte do peso do corpo estará apoiada sobre
uma região muito restrita das nádegas, causando dor no local. Ocorrerá a diminuição
do ângulo interno do joelho, reduzindo a circulação e promovendo dor nesta região. A
Figura 8.13 apresenta os efeitos da altura do assento na circulação das pernas.
)LJXUD(IHLWRGDDOWXUDGRDVVHQWR
A cadeira deve ser considerada parte integrante do posto de trabalho mesa. A regu-
lagem do assento deve estar em acordo com a superfície de trabalho de trabalho. Porém, se
mesmo com os ajustes, a altura do sistema não estiver adequada e o assento for muito bai-
xo, recomenda-se a utilização de uma almofada firme sobre ele, desde que o encosto conti-
nue fornecendo os apoios necessários à coluna. Se o assento for muito alto, recomenda-se
o uso de apoio para os pés. Um bom apoio para os pés permite a movimentação deles sob
a bancada. O espaço entre a borda frontal do assento e a parte posterior das coxas deve ser
considerado, além do espaço para inserção das pernas e dos pés sob a bancada.
Recomenda-se que o desenho do posto permita a movimentação das pernas. Cada
pessoa deverá poder ajustar o assento na cadeira de forma a manter os pés apoiados no
chão e, sempre que possível, manter suas coxas e seus joelhos dobrados em ângulo reto
ou próximo disso. Para uma boa movimentação das pernas, a área abaixo da mesa deverá
ter um espaço horizontal mínimo de 60 cm na altura do joelho e de 80 cm na altura dos
pés. É necessário também que haja um espaço livre de 5 cm entre a borda do assento e
a parte posterior da perna, e que o assento apresente uma borda levemente arredondada
para baixo (Figura 8.14).
ras da coluna vertebral na posição sentada. Outra observação pertinente é que quanto
mais fechado o ângulo entre o tronco e as coxas, maior será a pressão dentro dos discos
(Figura 8.14).
)LJXUD&DGHLUDFRPHQFRVWRDOWR
)LJXUD$SRLRGHEUDoRVYLQFXODGRDRSODQRGHWUDEDOKR
que a regulagem da altura dos braços seja independente da altura do assento. Outra pos-
sibilidade ainda não explorada pelos projetistas é o apoio de braços ser fixado na baia,
permitindo que a cadeira tenha maior mobilidade e usos, por exemplo, em trabalhos a
dois, conforme a Figura 8.17. Além disso, os braços das cadeiras não devem limitar os
movimentos, principalmente quando o trabalho envolve digitação.
Deve-se buscar relaxar os ombros. Os movimentos do corpo devem ser tão li-
vres quanto possível, pois a variação compensatória da postura durante a permanência
sentada previne as dores musculares, aumenta a nutrição dos discos intravertebrais, re-
duzindo a dormência nos pontos de apoio do corpo. Por outro lado, se o corpo precisa
de liberdade nos movimentos, também precisa de estabilidade. Para propiciar essa esta-
bilidade, recomenda-se evitar assentos cujo revestimento seja escorregadio. Uma ligeira
inclinação para trás contribui para o aumento da estabilidade.
Outra recomendação, referente ao trabalho sentado, é evitar girar ou manter o
corpo inclinado para os lados. Quando a mesa tem mais de um plano de trabalho, é
comum girar o corpo para alcançar objetos e documentos. Esses movimentos de torção
do tronco sobrecarregam a coluna. Cadeiras com rodízios podem poupar esses constran-
gimentos. Deve-se girar a cadeira ao invés de girar o corpo.
A utilização de gavetas muito baixas aumenta a pressão nos discos e o atrito nas
articulações. Assim sendo recomenda-se transferir materiais cujo uso seja mais frequente
e constante para gavetas superiores, deixando os menos usados para as gavetas inferiores.
)LJXUD)RUoDVGHFRPSUHVVmRWHQVLYDVFLVDOKDPHQWRHQFXUYDPHQWRHWRUomR
)LJXUD/HYDQWDPHQWRVGHFDUJDHVTXHUGDRVLVWHPDstop lifting
HjGLUHLWDRPpWRGRsquat lifting
8.5.1. Lesões
DORTs e lombalgias são lesões. Mas o que vem a ser uma lesão? Nosso corpo é
formado por diversos tipos de tecidos. Uma lesão é a ocorrência de uma anormalidade
nesses tecidos.
Dois tipos de lesões podem afetar o corpo humano: a lesão aguda e a lesão cumu-
lativa. A lesão aguda refere-se à aplicação de uma força que excede a tolerância da es-
trutura músculo-esquelética. A lesão aguda é tipicamente associada a esforços de grande
intensidade. Por exemplo, um trauma agudo pode ocorrer quando um trabalhador é
solicitado a levantar um objeto extremamente pesado como mover um saco de milho de
60 kg. Uma lesão cumulativa, por outro lado, refere-se a aplicações de forças repetitivas
a uma estrutura, que tende a desgastar a estrutura, reduzindo a tolerância desta ao ponto
onde a tolerância é excedida pela redução do limite de tolerância. Consequentemente,
uma lesão cumulativa representa mais o desgaste da estrutura. Esse tipo de lesão tem
se tornado bastante comum nos postos de trabalho, porque tarefas repetitivas estão se
tornando mais comuns nas atividades laborais. Diversas avaliações ergonômicas têm-se
voltado para o estudo dessa questão. O risco ergonômico é aquele que pode causar uma
lesão ao longo do tempo, isto é, devido a fatores acumulativos.
Capítulo 8 | Biomecânica 189
As lesões cumulativas são iniciadas por esforços manuais que são frequentes e
prolongados. Essa aplicação de força repetitiva ou prolongada afeta os tendões e/ou os
músculos do corpo. Se os tendões são afetados, a seguinte sequência ocorre: os tendões
são sujeitos à irritação mecânica; durante o trabalho repetitivo, eles são expostos repe-
titivamente a altos níveis de tensão e grupos de tendões podem atritar-se um contra o
outro. Essa irritação mecânica pode levar os tendões a inflamar e inchar. Esse inchaço
estimulará as atividades dos nociceptores (sensores de dor) em torno da estrutura e
sinalizarão o mecanismo de processamento central (cérebro) que há um problema por
meio da percepção da dor.
Um processo similar ocorre quando os músculos são afetados por lesões cumu-
lativas. Os músculos podem se tornar problemáticos quando eles se tornam fatigados.
A fadiga pode diminuir a tolerância à tensão e causar microtraumas no músculo. Esse
microtrauma significa que o músculo está parcialmente lesionado. O corpo reage por
meio da contração da musculatura ao redor e a partir daí, minimizando o movimento
da articulação. Isso resulta nas mesmas séries de reações músculo-esqueléticas, que aca-
bam irritando o tendão (redução de força, redução de movimento do tendão e redução
de mobilidade). A consequência final desse processo é também incapacidade funcional
(Marras, 1997).
8.5.2. Lombalgias
Lombalgia é a dor na região lombar da coluna vertebral. Cerca de 90% da popula-
ção vai apresentar pelo menos um episódio de dor lombar em sua vida. É um sintoma e
não uma doença. Nos países desenvolvidos é a principal causa de incapacidade em me-
nores de 45 anos. A lombalgia acomete igualmente homens e mulheres. Com o passar do
tempo, as mulheres começaram a sentir mais dor lombar devido à menopausa (parada
do ciclo menstrual) e suas consequências como a osteoporose (perda de cálcio no osso
associado com alteração na arquitetura do osso).
É a segunda causa de procura de atendimentos médicos em decorrência de doen-
ças crônicas. Seus números de faltas ao trabalho ultrapassam o câncer, o AVC (Acidente
Vascular Cerebral) e a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) na idade pro-
190 Ergonomia ELSEVIER
dutiva. Trata-se de um problema Médico e Econômico por seus elevados custos sociais:
assistência médica, faltas no trabalho, diminuição da produtividade e do número de
tarefas cotidianas, substituição de suas atividades por terceiros e afastamento do trabalho
(temporário ou definitivo).
8.5.3. DORTs
Podem-se definir as DORTs (Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho),
antigamente conhecidas como Lesões de Esforços Repetitivos, ou LER, como lesões que
são cumulativas e provocadas por uso inadequado e excessivo do sistema músculo-
esquelético (que agrupa ossos, nervos, tendões e músculos). Atingem principalmente
os membros superiores: mãos, punhos, braços, antebraços, ombros e coluna cervical.
São causadas por esforço mecânico prolongado e são agravadas quando angulações
são exigidas e, também, por pressões no trabalho de ordem físicas ou psicológicas. As
principais causas das DORTs e as respectivas recomendações formam o Quadro 8.2.
a) Recomendação 1
Utilizar carros, carrinhos de mão e outros aparelhos providos de rodas ou rolões
quando transportar material (Oit, 2001).
b) Recomendação 2
Empregar carros auxiliares móveis para evitar cargas e descargas desnecessárias
(Oit, 2001).
192 Ergonomia ELSEVIER
Debate
Colete um filme ou videoclipe de uma situação de trabalho que esteja sendo reali-
zada de pé. Forme três grupos na sala de aula: o primeiro tentando defender a posição de
que seja possível transformá-lo em trabalho sentado; o segundo deverá tentar mostrar o
contrário, isto é, que o trabalho deve continuar sendo feito de pé; o terceiro grupo deverá
comportar-se como os acionistas da empresa e decidir o que deverá ser feito. O professor
poderá ser o mediador desse debate e presidente do conselho de acionistas.
Pesquisa na internet
1) Tente encontrar na internet cinco ilustrações melhores do que as existentes neste
capítulo.
2) Prepare um dossiê com todas as referências legais e normativas a respeito dos
temas abordados neste capítulo e disponibilize seus achados no blog da turma.
Referências
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muscle activity during sitting. Scandinavian Journal of Rehabilitation Medicine, v. 6,
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Paulo: Atlas, 2004.
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______. Fascículo 4: LER. São Paulo: s/n, s/d.
194 Ergonomia ELSEVIER
9 Ergonomia Cognitiva
Conceitos apresentados
Este capítulo trata de um importante aspecto da Ergonomia, que é o capítulo
da Ergonomia Cognitiva, ou seja, dos aspectos mentais da atividade de trabalho de
homens e mulheres, jovens e idosos, operadores e gerentes, sob o olhar da Ergono-
mia. O capítulo inicia com uma discussão a respeito da necessidade de estudarmos a
Ergonomia Cognitiva, a partir de um breve histórico da evolução da Ergonomia até a
chegada da revolução cognitiva, mostrando porque a Ergonomia Cognitiva é necessá-
ria ao estudo de sistemas complexos. A seguir apresentamos dois tipos de modelagens
usadas na Ergonomia Cognitiva, uma centrada na pessoa e outra na situação de tra-
balho. O capítulo se encerra com exemplos de aplicações da Ergonomia Cognitiva no
projeto de sistemas.
estaríamos selecionando um tipo de dispositivo que não apenas reduza posturas forçadas
como também reduza movimentos desnecessários, o que irá também contribuir para a
melhoria de produtividade. A Ergonomia Cognitiva também enfoca o ajuste entre habi-
lidades e limitações humanas às máquinas, à tarefa, ao ambiente, mas também observa o
uso de certas faculdades mentais, aquelas que nos permitem operar, ou seja, raciocinar
e tomar decisões no trabalho. Aqui estaremos nos restringindo ao raciocínio operatório
no trabalho, seus determinantes e suas propriedades, ainda que nossa mente seja capaz
de muitas outras coisas: criação artística, transmitir emoções, capacidade ficcional, cons-
truir histórias.
São exemplos de aplicações da Ergonomia Cognitiva:
UÊ o projeto de uma interface de software para ser facilmente usada por todos;
UÊ o projeto de um alarme de forma que a maioria das pessoas o entenda e aja da
maneira planejada;
UÊ o projeto de uma cabine do piloto de avião ou sala de controle de geração de
energia nuclear de forma que evite que os operadores cometam erros catastróficos.
Os três exemplos nos remetem a situações do cotidiano normal (uso de telas de
computador), anormal (sinalização de emergência), ou mediado por uma forte aplicação
de tecnologia (o caso de aviões e centrais nucleares).
uma parede (análise do objeto de trabalho); uma comerciária ajuda a cliente a escolher
um vestido, passando em revista mental o que existe no estoque (controle de estoques);
a empregada doméstica “inventa” uma refeição com a disponibilidade da despensa no dia
(gestão da penúria); o mecânico observa sinais do veículo e examina algumas partes do
motor (ele faz um diagnóstico do problema); uma equipe portuária se distribui entre o
convés e o cais para ajudar o manobrista do guindaste na movimentação de cargas (existe
uma coordenação para o sucesso da empreitada coletiva) etc. A Ergonomia Cognitiva nos
permite identificar, com bastante efetividade, em que consiste a qualificação requerida
para ocupar uma posição de trabalho numa empresa.
No plano tecnológico, a necessidade de estudos de cognição se explica pela trans-
formação das tarefas profissionais. Com o advento da automação industrial e comercial
e a incorporação da programação nos objetos de uso cotidiano nos arriscaríamos a dizer
que nos tornamos programadores de alguma coisa na execução de muitos atos básicos
da vida, tais como esquentar um prato de comida no forno de micro-ondas (tempo?
potência?), falar com a pessoa amada e distante (código da operadora? código da cidade?
número do telefone? conexão por computador) ou produzir este texto (escrito em um
computador...). A tecnologia incorporada à vida moderna faz muitas suposições acerca
da forma como pensamos e agimos, e isso precisa ser bem entendido para que possa-
mos alcançar bons resultados. Aí está a contribuição da Ergonomia: ajudar a entender
como “funcionamos” e, principalmente, como funcionamos em situação de trabalho,
de modo a poder projetar os artefatos e sistemas a partir dessas características funcionais.
1
Por pensamento operacional entendemos o conjunto de normas e regras internalizadas para uma dada ação;
por pensamento operatório, o uso e manuseio das faculdades mentais para a ação; e por pensamento operati-
vo, a forma remanescente desses processos que possibilite ao operador repetir, reelaborar ou recriar uma ação
com base nessas reminiscências.
2
As salas de controle em nossos dias não mais se limitam a seus locais de origem: controle de processos in-
dustriais, como refinarias, usinas geradoras de energia etc. Elas atingiram quase todos os processos industriais
contínuos, entremearam-se por processos intermitentes como as centrais de usinagem e os parques de robôs
de solda e montagem e hoje as encontramos no setor terciário (serviços) compondo os chamados management
cokpits, as mesas de compras, centrais de atendimento etc.
200 Ergonomia ELSEVIER
do ponto de vista cognitivo, aos problemas clássicos existentes se adicionaram aos pro-
blemas contemporâneos de instrumentação, controle, supervisão, cooperação, coorde-
nação necessários ao funcionamento desses sistemas. Mais trabalho para o ergonomista,
que vem a ser o profissional engajado no aporte de soluções que garantam a eficácia sem
prejuízo do bem-estar do operador. A necessidade de Ergonomia Cognitiva se tornou
ainda mais intensa e crucial. Sendo o ergonomista um agente de mudanças na empresa, o
que requer propostas de transformação, ele precisa compreender a importância dos atos
de pensamento do trabalhador na consecução de sua atividade. Com isso, apreendemos
que os trabalhadores não são meros executantes de tarefas, mas sim pessoas capazes de
detectar sinais e indícios importantes, são operadores competentes e organizados entre si
para trabalhar. E que é nesse contexto complexo que falhas ou acidentes podem aconte-
cer, falhas estas que muitas vezes e de forma açodada são atribuídas a “erros humanos”.
Errar é humano! Mas... de quem é o erro? Que erro é esse? Como é que se produ-
ziu e como evitá-lo? Eliminar a pessoa que o cometeu irá resolver o problema da segu-
rança do sistema? E mais: se pessoas podem “errar”, como conceber sistemas resilientes3
que possam conviver com erros sem prejudicar as pessoas, as instalações e o negócio?
São questões para as quais a Ergonomia Cognitiva busca produzir respostas tecnológicas
e gerenciais precisas, por meio do desenvolvimento de sistemas que se fundamentam em
três premissas básicas:
1) Premissa técnica, a partir da rejeição do absurdo que é projetar um sistema de
produção a custos vultosos onde as decisões operacionais estejam na dependência
de operadores colocados diante de um quadro complexo, diante do qual não eles
têm nem a autonomia, nem os elementos necessários para tomar decisões, isto é,
encontram-se num contexto de elevada solicitação e carga de trabalho acima de
suas capacidades e para além de suas limitações. Tão mais complexo e perigoso
seja o sistema, tanto mais o sistema de trabalho precisa ser concebido de modo
a permitir que os operadores possam tomar boas decisões nos bons momentos.
Essa aptidão deve estar nas pessoas (formação), nos sistemas (tecnologia), mas,
sobretudo, nas interfaces entre uns e outros (Ergonomia, organização do sistema
de trabalho), materializadas no projeto do sistema;
2) Premissa ética,4 de que os trabalhadores nem se caracterizem como insanos sui-
cidas capazes de realizar atos absurdos que lhes custem a própria integridade
física, mental e espiritual e tampouco como sórdidos sabotadores dos engenhos
3
Sistema ou organização resiliente é aquela concebida conforme os princípios da Engenharia de Resilência
(Woods, 2006) que visa desenvolver em sistemas/organizações/grupos/indivíduos capacidades para reconhe-
cer, adaptar e absorver variações, mudanças, distúrbios e surpresas, especialmente aqueles distúrbios que
estiverem fora do conjunto de distúrbios para qual o sistema foi inicialmente projetado para suportar.
4
Estabeleçamos com Marilena Chaui que a ética existe para regular a violência entre os seres humanos de
forma que consensos sejam atingidos. Uma das formas mais horrorosas de violência é, sem sombra de dúvida,
a acusação injusta sem direito à defesa. As alegações de erro ou falha humana nas análises retrospectivas de
acidentes quase sempre se situam nesse contexto (Dekker, 2005).
Capítulo 9 | Ergonomia Cognitiva 201
físicos e sociais que constituem uma dada tecnologia de produção, que lhes custe
o emprego e os meios de sobrevivência digna;
3) Premissa moral, a crença de que as pessoas tentam cumprir seu contrato de
trabalho nas situações de trabalho em que se encontram e, exatamente por isso,
cabe aos projetistas e gestores da organização assegurar uma situação de trabalho
correta, ou seja, confortável, segura e bem estruturada.
)LJXUD3URFHVVRSHUFHSWLYRFRJQLWLYRHPRWRU
5
Estes modelos são lineares, pois consideram uma sequência linear e bem definida para o processamento da
informação, ao contrário dos modelos situados que incorporam a complexidade e dinâmica assíncrona da
atividade.
202 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD2PRGHORGHSURFHVVDGRUKXPDQR
não existam parâmetros bem definidos para a tomada de decisão, falseia as hipóteses de
controle paramétrico e o sistema de controle acusa uma não conformidade.
As redundâncias são um recurso amplamente empregado para melhorar a con-
fiabilidade de sistemas, por meio de construções de estruturas que executam as mesmas
funções em paralelo (se una falhar, a outra pode manter o sistema funcionando).
)LJXUD)RUPDVGHUHJXODomRHPVLVWHPDV
6
Vicaris é um termo do latim que significa, aproximadamente, itinerário alternativo.
Capítulo 9 | Ergonomia Cognitiva 205
)LJXUD5HJXODo}HVSRUDWLYLGDGHVYLFDULDQWHV
9.6. Conclusão
Neste capítulo nos propusemos a apresentar do modo mais simples possível, os
conceitos básicos, teorias e modelos da Ergonomia Cognitiva. Concluímos o capítulo
apresentando algumas aplicações da Ergonomia Cognitiva.
206 Ergonomia ELSEVIER
para que as tarefas sejam feitas incorretamente. Isso pode ser feito diretamente, conce-
bendo artefatos (barreiras físicas) que impossibilitem fazer coisas erradamente, ou in-
diretamente, por meio do projeto de restrições cognitivas que tornem o trabalho mais
difícil se ele for feito de modo inadequado, ou sistemas de ajuda que facilitem o trabalho
quando ele for feito na direção da segurança. Numa segunda dimensão, os sistemas
devem ser robustos o suficiente para tolerar a ocorrência de falhas e erros, permitindo
ações corretivas antes que acidentes mais graves ocorram. A Ergonomia Cognitiva pode
ser usada para desenvolver sistemas de suporte a operação que permitam aos agentes
perceber que erros ou falhas podem estar acontecendo. Finalmente, é preciso proteger as
pessoas, tecnologia, organização e meio ambiente das consequências das falhas, quando
acidentes acontecerem.
Em Ergonomia Cognitiva, como em qualquer abordagem de segurança, a pre-
venção é obviamente melhor do que a cura. Cabe ao projetista identificar (imaginar) o
que poderia dar errado, considerando as várias maneiras nas quais o desempenho pode
falhar. Do ponto de vista da atividade cognitiva, as ações podem dar errado no que diz
respeito a: temporalidade (muito cedo, muito tarde, tudo junto); duração (muito longo,
muito curto); velocidade (muito rápido, muito lento); sentido, posição (muito distante,
muito perto, sentido errado); valor (muito grande, muito pequeno); força (muita força,
pouca força); sequência (omissão, saltos); tipo (tipo incorreto de ação); objeto (objeto
errado); posição (o objeto está no lugar errado).
Saber antecipadamente o que pode dar errado é fundamental para o projeto de
sistemas que lidam com tecnologias perigosas. A Ergonomia Cognitiva pode ajudar nesse
processo de busca do que pode acontecer, desenvolvendo perguntas relacionadas sobre
como uma ação ou atividade cognitiva pode falhar no que diz respeito ao sincronismo, à
duração, velocidade etc., numa maneira análoga ao que é feito para uma análise do risco
dos sistemas técnicos. Na engenharia, diversos métodos foram desenvolvidos para iden-
tificar os riscos das falhas tecnológicas, como árvores de falha, árvores de evento, análise
de barreiras etc. Entretanto, a partir das análises dos catastróficos acidentes em sistemas
industriais no final do século passado, que apontaram para fatores causais humanos e orga-
nizacionais, esses métodos têm sido modificados para considerar também falhas atribuídas
às ações humanas e até mesmo a questões organizacionais (Wreathfall, 2004).
Infelizmente, saber que algo pode dar errado não é o mesmo que saber por que
(ou como) pode dar errado. Num sistema complexo, cada modalidade de falha pode ter
um número infinito de causas possíveis. Mesmo quando consideramos sistemas mais
simples, como o controle remoto de um televisor ou o teclado de um celular, existe um
enorme número de razões diferentes para um erro de digitação, algumas vezes erramos,
na maioria das vezes acertamos; seria um problema do artefato, da pessoa, do projeto, ou
da situação? Especular porque ações poderiam falhar, ou mais especificamente porque as
pessoas erraram levou ao desenvolvimento das teorias sobre a gênese do erro humano,
que não resolveram o problema das falhas em sistemas complexos (ver Dekker, 2005).
Capítulo 9 | Ergonomia Cognitiva 209
Lembramos aqui que essas teorias foram baseadas na suposição de que os seres
humanos poderiam ser descritos como os sistemas de processamento de informação,
os quais às vezes poderiam falhar, configurando um ponto de vista endógeno do erro
humano, com uma série de conotações projetuais, organizacionais, culturais e sociais –
“humanos são a parte fraca do sistema, a culpa é das pessoas”, que deixam um enorme
espaço para melhorias do ponto de vista da Ergonomia Cognitiva.
A Ergonomia Cognitiva, que visa à compreensão da atividade cognitiva das pes-
soas em situação de trabalho, pretende fornecer os aportes teóricos e metodológicos
para suprir essa lacuna. A atividade cognitiva de trabalho e o processo de transforma-
ção do trabalho que é construído durante essa atividade sugerem que nós não pode-
mos compreender o que acontece (por que e como) quando as coisas dão errado sem
compreender o que acontece quando as coisas dão certo. Para isso, nós necessitamos
das teorias, modelos, e métodos da Ergonomia Cognitiva para a análise da atividade.
Para a Ergonomia Cognitiva, tanto o desempenho correto quanto as falhas devem ser
explicados nos termos de como as pessoas ajustam suas ações – criam regulações –
para conseguir um balanço aceitável entre os recursos disponíveis e as demandas do
sistema.
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WREATHFALL, J. Elicitation approach for performing ATHEANA quantification. Reli-
ability, Engineering, and System Safety, n. 83, 2004.
Capítulo
10 Organização do trabalho
Conceitos apresentados
Este capítulo faz uma abordagem sobre os modelos de organização do traba-
lho, focalizando especificamente o trabalho das pessoas. Assim, são apresentadas
as características do trabalho nos modelos: Artesanal; taylorista; fordista; Sistema
de Produção Toyota e considerações sobre a perspectiva do trabalho na gestão do
conhecimento.
No final do capítulo, além das referências bibliográficas, são sugeridos dois
tipos de atividades práticas como forma de aliar os conhecimentos adquiridos a situa-
ções de trabalho reais.
10.1. Introdução
Define-se organização do trabalho como um conjunto de regras e de normas que
determinam a maneira de realizar a produção na empresa. A estas regras e normas as-
sociam-se no local de trabalho para efetivar o processo produtivo, a mão de obra, as
máquinas, instrumentos e matérias-primas.
O local de trabalho é, portanto, o conjunto das condições e ações que servem para
realizar um produto. É um sistema homem-máquina em ação que se relaciona entre si,
com as condições gerais do ambiente de trabalho e o método de organização do trabalho
adotado.
Capítulo 10 | Organização do trabalho 213
4XDGUR²5LVFRVHUJRQ{PLFRVHVXDVFRQVHTXrQFLDV
5LWPRV H[FHVVLYRV PRQRWRQLD WUDEDOKR HP &DQVDoR GRUHV PXVFXODUHV IUDTXH]D DOWHUDo}HV
WXUQRV MRUQDGD SURORQJDGD FRQÁLWRV DQVLHGDGH GRVRQRGDOLELGRHGDYLGDVRFLDOFRPUHÁH[RVQD
UHVSRQVDELOLGDGHHWF VD~GH H QR FRPSRUWDPHQWR KLSHUWHQVmR DUWHULDO
WDTXLFDUGLD DQJLQD LQIDUWR GLDEHWHV DVPD
GRHQoDV QHUYRVDV GRHQoDV GR DSDUHOKR GLJHVWLYR
JDVWULWH~OFHUDHWFDQVLHGDGHPHGRHWF
)LJXUD2FHQiULRDPELHQWDOGDHYROXomRGRVPRGHORVGHJHVWmR
Fonte: Adaptado de Santos, A.R.; Pacheco, F.F.; Pereira, H. J. e Bastos, Jr. (2001).
a) Modelo taylorista
Os postulados tayloristas aplicados no interior da produção tinham como ob-
jetivo principal aumentar a produtividade das empresas. Para atingir esta meta, Taylor
(1990) focalizou o estudo do trabalho a partir da concepção de que todas as operações
produtivas podem ser cientificamente analisadas e otimizadas em unidades de ação e em
sequência.
A operacionalização dessa norma modificou a maneira de produzir e alterou de
forma profunda os padrões de trabalho ao retirar do operador a ação sobre um conjunto,
ou parte significativa do produto, deslocando para a gerência, e nela concentrando toda
a concepção e planejamento do trabalho.
As ações da gerência em relação ao planejamento do trabalho são denominadas
por outros autores, entre eles Taylor (1990) e Fleury (1997), como a substituição do em-
pirismo predominante na organização dos processos produtivos, no início do século XX,
como mostra a Figura 10.1, por procedimentos sistemáticos de análise que utilizavam
experimentos científicos, ou a substituição do empirismo pelo método científico.
A lógica da produção, segundo os princípios tayloristas, consiste na análise do
processo de trabalho e nas operações que o compõem, para eliminar as atividades que
não agregam valor, através do estudo dos métodos de trabalho, a fim de melhor pres-
crevê-los a cada trabalhador individualmente, especificando como, quando e com que
meios fazê-los; isso significa o “Exame Crítico acerca do Trabalho”.
216 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD(VWUDWLÀFDomRGDGLYLVmRGRWUDEDOKR
A divisão social do trabalho deve ser analisada tanto em relação ao poder, obe-
diência, relações de trabalho, como ao conhecimento bem definido pela separação entre
quem planeja o trabalho e quem o executa. Na concepção de Dejours (1987),
(...) do ponto de vista psicopatológico, a organização científica do traba-
lho traduz-se por uma tripla divisão: divisão do modo operatório, divisão
da execução e concepção intelectual, enfim divisão dos homens compar-
timentados pela nova divisão hierárquica, consideravelmente inchada, de
mestres, chefes de equipes, supervisores, cronometristas etc. Além do mais,
cada operário é isolado dos outros. Às vezes, é até pior, pode colocá-lo em
oposição aos outros. Ultrapassados pelas cadências, o operário que “atrasa”
atrapalha o que está atrás dele na corrente dos gestos produtivos.
Na estratificação apresentada na Figura 10.2, analisando-a de cima para baixo, o
primeiro nível representa os gestores (topo da gerência), no segundo nível está a média
gerência (nível superior e nível inferior) e no terceiro estão os operários diretos da pro-
dução, no caso em estudo os trabalhadores especializados.
A organização do trabalho baseada nos postulados tayloristas marcou a expansão
industrial norte-americana, sua influência ultrapassou as fronteiras culturais e ideológi-
cas, afetando todo o mundo, juntamente com o modelo fordista, e permaneceu hegemô-
nico até meados de 1970.
)LJXUD2PRGHORIRUGLVWD
)LJXUD0RGHORGLYLVmRHHVSHFLDOL]DomRH[WUHPDGRWUDEDOKR
)LJXUD7HPSRQRVPRGHORVWD\ORULVWDHIRUGLVWD
das pessoas tarefas rotineiras, obediência cega às determinações e às regras impostas pela
organização, delineando, portanto, características de pessoas imaturas e infantis. Assim,
tornava-se imperioso enriquecer os cargos para que os operários atingissem as característi-
cas de personalidade de pessoas maduras no processo de trabalho.
)LJXUD$ODUJDPHQWRGRWUDEDOKRHHQULTXHFLPHQWRGHFDUJRVDGDSWDGRGH6ODFN
4XDGUR²7HRULDVFOiVVLFDVGHPRWLYDomRHRPRGHORWR\RWD
7HRULD GH (QULTXHFLPHQWR GR (OLPLQDU IDWRUHV GH ´LQVDWLVIDomRµ 6 SURJUDPDV GH (UJRQRPLD
&DUJRGH+HU]EHUJ IDWRUHVKLJLrQLFRVHFULDUWUDEDOKRV DGPLQLVWUDomR YLVXDO SROtWLFDV
TXH SURGX]D IDWRUHV SRVLWLYRV GH GH UHFXUVRV KXPDQRV DERUGDP
´VDWLVIDomRµPRWLYDGRUHV RV IDWRUHV GH KLJLHQH 0HOKRULD
FRQWtQXD URWDomR GH WDUHIDV H
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$GPLQLVWUDomR FLHQWtÀFD GH 6HOHFLRQDU FLHQWLÀFDPHQWH FULDU 7RGRVRVSULQFLSLRVGDDGPLQLVWUDomR
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0RGLÀFDomRGRFRPSRUWDPHQWR 5HIRUoDURFRPSRUWDPHQWRGHVHMDGR )OX[R FRQWtQXR H andon FULDP lead
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SURJUHVVR HVWDEHOHFLPHQWR GH SROtWLFDV
DYDOLDo}HV FRQWtQXDV UHODWLYDV DV
PHWDV
por Picinini, da Escola de Administração da UFRGS, citada na revista Capital (2003) que
identificou paradoxos vividos numa sociedade em processo de transição entre o fordismo
e o toyotismo. Segundo as informações coletadas, muitos trabalhadores afirmaram que
(...) a ausência de sentido decorre da repetição mecânica, como nas linhas
de produção tradicionais. Mas, pessoas que atuam dessa forma maquinal
preferem trabalhar assim, porque pelo menos podem ficar sozinhas com
seus pensamentos, enquanto nos sistemas de produção mais modernos a
cobrança e a pressão são maiores, já que cada funcinário fica controlando
os outros.
A utilização de um modelo de organização do trabalho pelas empresas está condi-
cionado à qualificação da mão de obra, à cultura do país e, sobretudo, às relações capital
trabalho vigentes, portanto, o posicionamento dos funcionários ou dos colaboradores
varia de país a país.
2) Tome como referência a figura a seguir e, com base numa situação real de traba-
lho, faça a análise sistêmica da tarefa no contexto do modelo de organização do
trabalho utilizada pela empresa.
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STEWART, T. A. Intellectual capital: the new wealth of organizations. New York: Currency
Doubleday, 1997.
TAYLOR, F. W. Princípios de administração científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1990.
TERRA, J. C. C. Gestão do conhecimento: o grande desafio empresarial. Rio de Janeiro:
Negócio, 2000.
WOMAC, J. P.; JONES, D. T. A máquina que mudou o mundo. Rio de Janeiro: Campus,
1992.
Capítulo
11 A qualidade de vida
no trabalho
Elaine da Silva Viola, Dra. – Ergo&Plus
Conceitos apresentados
Apresentar um tema tão diversificado em apenas dez páginas requer um recor-
te. A minha opção foi priorizar o que não se encontra pelos meios de pesquisa mais
imediatamente acessíveis. No intuito de direcionar os colegas às questões que dizem
mais respeito à nossa prática, privilegiei a comunicação da ergonomista entusiasta
que há anos lida com o assunto. Você encontrará adiante reflexões sobre a inserção
da Ergonomia no campo da Qualidade de Vida no Trabalho (ou simplesmente QVT)
e referências extrabibliográficas, obtidas por meio da experiência. Você também en-
contrará o básico e o clássico para a primeira aproximação: o que são os Programas de
Qualidade de Vida, como funcionam, suas etapas, e adicionalmente, uma introdução
aos Programas de Gerenciamento de Estresse. Espero que este texto contribua para
captar adesões ao debate e à construção de práticas nesse campo onde, mais que em
qualquer outro, emerge a dimensão humana da Ergonomia.
1
Dados recolhidos pelo INSS em 2006, analisados pelo Laboratório de Saúde do Trabalhador da Universidade
de Brasília, e publicados na revista Proteção em julho de 2008.
Capítulo 11 | A qualidade de vida no trabalho 233
conduzir treinamentos. Por estar conectado ao que o trabalhador realmente identifica como
fator de qualidade (ou sem qualidade) em seu trabalho cotidiano, você pode (e deve) orientar
vários tipos de ações de gestão, e promover diálogos em várias instâncias. Sugiro que busque
associar-se aos demais agentes de QVT presentes, em uma proposta de ação integrada. Que
facilite e incentive o trabalhador a falar do que ele realmente considera importante para sua
QVT, evitando, assim, que outros falem e ajam por ele. Você pode ajudar a combater as abor-
dagens “ritualísticas” e a manter a Qualidade de Vida no Trabalho como um conceito dinâmi-
co, referido a um espaço de trocas positivas entre empresa e empregado.
que, do ponto de vista da Ergonomia, o que deve orientar a escolha da estratégia, em um dado
caso, é não somente a característica do instrumento, mas principalmente o perfil específico
da demanda e do contexto.
Uma vez eleitos os instrumentos adequados às demandas, e tendo sido aplicados em
um contexto de aliança terapêutica, estaremos em condições de definir um diagnóstico. Esse
diagnóstico será, então, traduzido em termos de um conjunto de Objetivos, que deverão ser
articulados na forma de um Programa. As ações eleitas normalmente dirão respeito ao estilo
de vida e aos comportamentos, práticas ou hábitos que resultam em danos à saúde, bem-estar,
segurança e realização no trabalho, e podem ser apresentadas e conduzidas na forma de apoio
nutricional, apoio a atividades físicas, prevenção e tratamento do tabagismo e alcoolismo,
intervenção cognitiva, comportamental ou motivacional a questões de risco, como exposição
a poluentes, comportamentos inseguros etc. Quanto aos Programas de Gerenciamento do
Estresse, por englobarem inúmeras questões referentes ao bem-estar psicológico, serão abor-
dados em um tópico à parte, adiante.
Para finalizar, não poderia deixar de convidá-los a algumas reflexões acerca das inten-
ções dos Programas de QVT. França e Arellano (2002) nos instrumentam para essa tarefa,
propondo a ideia de que, por trás das iniciativas, existem critérios éticos e filosóficos que as
definem e orientam, e que são passíveis de serem enquadrados em diferentes perspectivas,
entre as quais: visões democráticas, voltadas a um modelo participativo de organização; vi-
sões gerenciais, voltadas ao desenvolvimento humano como fator de produtividade; visões
sociais, voltadas às conquistas sociais em termos de condições de trabalho; e, finalmente,
as visões humanistas, voltadas à satisfação e humanização. Mas para que analisaríamos as
intenções dos programas? Uma vez identificada a visão de QVT subjacente será possível para
o seu contratante alinhar ações, estimar alguns alcances, e preparar-se para lidar com certas
limitações próprias da natureza do Programa. Quanto à primazia de uma perspectiva sobre
a outra, acredito que é uma preocupação que não procede, pois todas aportam ganhos e se
complementam entre si. A preferência por uma ou outra abordagem deve recair sobre aquela
linha que melhor atender as necessidades apontadas no diagnóstico e que estiver mais bem
afinada com a cultura da organização.
2
Por Rodrigo Siqueira Reis, doutor em Ergonomia que atua na área de pesquisas em mudança de compor-
tamento.
Capítulo 11 | A qualidade de vida no trabalho 237
desenvolver e que tipo de apoio deve buscar. Seja como for, sempre haverá uma sensação
de que ainda há muito que aprender, mesclada ao orgulhoso sentimento de realização
por ter ajudado algumas a pessoas a ter uma vida um pouco melhor.
São apresentados, a seguir, dez itens para a sua avaliação. Primeiro, ordene-os se-
gundo a importância na sua QVT, atribuindo a qualificação 1o ao mais importante,
e 10o ao menos importante.
Relação com a chefia – relação com colegas – benefícios – salário – oportunidade de desen-
volvimento – reconhecimento pelos esforços – estabilidade – comunicações institucionais
transparentes – meios para realizar as tarefas – ambiente físico
Agora, dê uma nota de zero a dez a cada item, segundo o valor que ele tenha para
sua QVT.
Pesquisa na internet
Digite o que é pedido no seu buscador, leia, e transmita o que viu de mais interessante
aos seus colegas:
1) WOQOL abreviado versão português.
2) Associação Brasileira de Qualidade de Vida.
3) Centro Psicológico de Controle do Stress > ISSL – Inventário de Sintomas de
Stress em adultos, de Lipp.
Referências
BECK, A. T. Thinking and depression I. Idiosyncratic content and cognitive distortions.
Archives of General Psychiatry, v. 9(4), pp. 324-333, out. 1963.
BOM SUCESSO, E. Relações interpessoais e qualidade de vida no trabalho. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2002.
CLOT, Y. A função psicológica do trabalho. Petrópolis: Vozes, 2006.
DEJOURS, C. et al. (Coords.). Psicodinâmica do trabalho: contribuições da escola dejouriana
à analise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994.
FRANÇA, A. C. L.; ARELLANO, E. B. As pessoas na organização: qualidade de vida no
trabalho. 7. ed. São Paulo: Gente, 2002.
GUIMARÃES, L. B. M. Ergonomia: tópicos especiais – qualidade de vida no trabalho,
empresa inteligente. Porto Alegre: UFRGS, 2004.
242 Ergonomia ELSEVIER
12 Análise Ergonômica
do Trabalho
Mario Cesar Vidal, Dr. Ing – PEP/COPPE/UFRJ
Conceitos apresentados
É introduzido o conceito de Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e suas
origens na França. São apresentados os conceitos de situação de trabalho, carga de
trabalho, contrantes, estresses, trabalho prescrito e real. O capítulo termina com a
exposição minuciosa das fases da AET.
Essas análises são engendradas pelas demandas de que se originam as ações ergo-
nômicas necessárias e permitem já na fase de esclarecimento inicial de demandas, definir
a natureza do problema. Os casos de que tratam as demandas podem ser de dois tipos
básicos:
)LJXUD2ÁX[RGD$QiOLVH(UJRQ{PLFDGR7UDEDOKR
positiva. O itinerário da Ação ergonômica completa está ilustrado na Figura 12.2. Con-
vidamos o leitor para um passeio em cada uma das categorias da Análise Ergonômica do
Trabalho.
)LJXUD,WLQHUiULRGD$omR(UJRQ{PLFDFRPSOHWDGDSHWLomRjVROXomR
)LJXUD0RGHORVRFLRWpFQLFRGHVLWXDomRGHWUDEDOKR
)LJXUD$FDUJDGHWUDEDOKRQXPDSHUVSHFWLYDGLQkPLFD
para si, respeitando os objetivos e exigências que constituem o aspecto prático do con-
trato de trabalho.
Trata-se de um jargão de ergonomistas que não deve ser usado indiscriminada-
mente já que permite uma sinonímia com expressões mais próximas do vocabulário
coloquial na empresa. Assim, as contrantes organizacionais podem ser expressas como
pressão; as contrantes posturais como constrangimentos; as contrantes ambientais como
carga (térmica), ou nível (de ruído, ou de iluminação). No campo cognitivo contrantes
podem ser ditas e entendidas como restrições.
Também é importante frisar que nem sempre a demanda ergonômica efetiva fica
totalmente clara no momento da contratação da equipe de Ergonomia, até mesmo por-
que o conhecimento sobre o que é a Ergonomia, quais suas reais potencialidades, e
que nos motivou a escrever uma outra obra anterior a esta, é ainda muito distorcido.
Numa contratação para realizar um projeto de layout e ambientação física de uma sala
de controle – o que significaria uma arquitetura de locais de trabalho relativamente sim-
ples – a demanda gerencial encerrava em seu bojo uma demanda de certificação, cuja
obscuridade esteve à origem de vários conflitos entre a equipe de projetistas e a empresa
contratante.
Ocorre que uma certificação exige um nível de detalhamento projetual bastan-
te mais aprofundado do que um projeto executivo de remanejamento de uma área de
trabalho. Assim sendo, a contratante solicitava os elementos de projeto de uma forma
considerada por demais meticulosa pelos projetistas, daí os conflitos. Esse status quo per-
durou até que numa das reuniões a demanda ergonômica aclarou-se e, a partir de então,
problemas foram superados e daí resultou um bom projeto.
UÊ nas demandas trabalhistas, não basta ter em mãos uma notificação da auditoria
fiscal, pois esta, em geral, indica zonas de estudo e algum aspecto genérico a ser
especificado;
UÊ nas demandas de modernização, há que se discutir as premissas e finalidades
daquela modernização proposta, para que se estabeleça que tipo de Análise Ergo-
nômica do Trabalho seria cabível;
UÊ nas demandas de certificação, para se saber quais os enquadres normativos pre-
tendidos e qual o nível de exigências mandatárias estão assinalados pela auditoria
precedente.
Tendo em mãos, após uma análise global bem feita, todos esses elementos, é pos-
sível fazer um pré-diagnóstico e seguir para o próximo passo da análise ergonômica do
trabalho.
10) Com uma máquina fotográfica, registre (se possível com uma câmara digital) uma
pessoa trabalhando assim que a avistar. Observe um pouco essa atividade e depois
de compreender um pouco, faça duas novas fotos. Compare as fotos iniciais com
as finais e faça um pequeno relatório.
11) Caso possível, mostre as fotos ao operador e converse com ele acerca dessas fotos
e de seu trabalho em geral. Reveja e corrija seu pequeno relatório.
Pesquisa na internet
Procure referencias sobre Análise Ergonômica do Trabalho na web. Se for um gru-
po, cada integrante poderá se dividir em buscar categorias como artigos, empresas que
prestam o serviço, definições etc.
Referências
ARUEIRA, L. A fiscalização em Ergonomia. Apostila – Curso de Especialização Superior
em Ergonomia Contemporânea. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 2000.
COSENDEY, F. C. Análise ergonômica do trabalho de aviação: contribuições para a quali-
dade do exercício da função. 2000. Tese (Mestrado em Engenharia) – Instituto Alberto
Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
GUERIN, F. et al. Comprendre le travail pour le transformer. Lyon: ANACT, 1991.
LAVILLE, A. et al. Elements de méthodologie d´analyse du travail. Paris: CNAM, 1977.
LEPLAT, J.; CUNY, X. Introduction à la psycholoqie du travail. Paris: PUF, 1989.
OBRENDAMME, C.; FAVERGE, J. M. L´analyse du travail. Paris: PUF, 1955.
OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH ADMINISTRATION – OSHA. Ergonomics
Program. In: ______. Draft Proposed Safety and Health Program Rule, 29. Washington:
United Nations Department of Labor, 1998.
RABARDEL, P. et al. Ergonomie: concepts et méthodes. Toulouse: Octares, 1998.
SANTOS, N. et al. Manual de análise ergonômica do trabalho. Curitiba: Gênesis, 1995.
SILVEIRA, D.; VIDAL, M. C. Petroleum drilling work: ergonomical and physiological
approach. Triennal Congress of the International Ergonomics Association, 12, 1994,
Toronto. Proceedings… Toronto, International Ergonomics Association, 1994.
VIDAL, M. C. Roteiro de análise ergonômica do trabalho. Apostila – Curso de Engenharia
do Trabalho. Rio de Janeiro: POLI/UFRJ, 1994.
______. Introdução à Ergonomia. Apostila – Curso de Especialização Superior em Ergo-
nomia Contemporânea. Rio de Janeiro: COPPE,/UFRJ, 2000.
Capítulo 12 | Análise Ergonômica do Trabalho 265
13 Métodos alternativos
em análise ergonômica
Mario Cesar Vidal, Dr. Ing – PEP/COPPE/UFRJ
Conceitos apresentados
Neste capítulo trataremos de alguns métodos alternativos às formas canônicas
da Análise Ergonômica do Trabalho apresentada no capítulo precedente. Inicialmente,
apresentaremos o método de ação conversacional largamente empregado em estudos
e consultorias em Ergonomia. Em seguida, desenvolveremos o método de mapea-
mento SPM, ferramenta para estabelecimento de um mapeamento e quadro inicial de
Ergonomia na empresa. Em seguida é apresentada uma outra ferramenta, esta de mais
fácil manipulação, o EAMETA, que consiste numa forma participativa de avaliação
ergonômica. O capítulo se encerra coma sistemática MEROS, um passo a passo que
possibilita a realização de uma análise ergonômica global um pouco mais detalhada
do que as ferramentas precedentes.
a) Conversação na estabilidade
)LJXUD(WDSDVHUXPRVGHXPDFRQYHUVDDomR
b) Conversando no caos
Como conversar sobre algo, permitindo-se descobrir fatos novos ao mesmo tem-
po que se busca confirmar hipóteses e/ou suspeitas já articuladas? A indicação metodoló-
gica é a de que o ergonomista se “deixe levar” até certo ponto, no sentido de descobrir e
de permitir eclosões discursivas ao longo da conversa, mas sem perder a governabilidade.
Para fazer isso, o ergonomista não pode perder de vista o objetivo de sua ação e o mo-
mento desta. Na instrução da demanda, parte-se de uma demanda genérica ou de uma
solicitação nebulosa. O problema metodológico, aqui, é o de saber encetar a conversa
precavendo-se da total perda de controle sobre o devir da conversa. A aproximação ini-
cial deve ser extremamente cuidadosa, pois, tal como no jogo de xadrez, erros de aber-
tura levam a derrotas inevitáveis. No jogo comportamental da conversa-ação, o risco
de que a busca de uma empatia descuidada leve a assuntos agradáveis, porém pouco
producentes é real!
A pragmática de conversação deve ser a do oportunismo cuidadoso, ou seja, estimu-
lar um assunto, quando ele surge, sem forçar esse surgimento, tampouco insistir caso se
perceba alguma hesitação da parte do interlocutor. Da mesma forma, deve-se adotar uma
atitude tolerante na interação acerca de assuntos aparentemente desinteressantes, já que
o fluxo da conversação é, por definição, desconhecido. Chamamos a essa configuração
de duas por cinco, simbolizando, metaforicamente, que se deva estar preparado para em
duas horas de conversa obter-se cinco minutos de informação relevante.
versa com finalidade”. O roteiro não é peça de interrogatório, apenas deve permitir am-
pliar e aprofundar a comunicação entre ergonomistas e trabalhadores. O roteiro deve ser
memorizado para se diferenciar de uma enquete ou entrevista convencional. As pessoas
gostam de conversa sem prancheta ou caderno, ao menos no início.
A diferença entre roteiros dinâmicos e entrevistas estruturadas consiste na subs-
tituição das perguntas por temas, os quais os entrevistados serão estimulados a abordar.
Dessa forma, a enunciação interrogativa – o que é isso, como se faz aquilo – deve ser
substituída por frases afirmativas e incitadoras – fale sobre isso, descreva aquilo outro, e
assim por diante. Outra distinção importante é que apenas o propósito geral da interação
é colocado, omitindo-se subtemas. Todos os temas e subtemas imaginados – e que de-
vem ser memorizados pelos entrevistadores – são, em geral, abordados pelos interlocuto-
res, mas não necessariamente na ordem em que se estruturou o roteiro. Finalmente, um
conteúdo de conversa não prevista poderá ser agregado ao roteiro inicialmente delineado
aqui, consistindo a maior vantagem desse método, capaz de incorporar novos elementos
em curso de processos, correspondendo a um algoritmo genético.
c) Relatórios à quente
O método de roteirização dinâmica repousa sobre um imperativo: a produção
de relatórios à quente. Logo após uma visita ou sessão de observação, cada membro da
equipe deve fazer um relatório imediato, mesmo escrito em folha de caderno, onde de-
verá elencar os tópicos relativos às percepções que teve nas conversas. O conjunto dos
relatórios individuais será em seguida comentado pela equipe assim reunida. Essa forma
de “debriefing” é fundamental para que a sessão produza bons resultados. Sua ausência
compromete bastante o encaminhamento posterior da AET.
Capítulo 13 | Métodos alternativos em análise ergonômica 271
d) Relatórios à frio
Os relatórios à frio, também chamados relatórios conclusivos de visita, são obti-
dos mediante o esforço de “passar a limpo coletivamente” os diversos relatórios à quente.
Preparados esses relatórios individuais à quente, a equipe deve se reunir para compar-
tilhar as descrições ali sumariadas. Isso permite uma interação específica entre a equipe
rever o processo observado e acrescentar algum detalhe omitido no relatório à quente (o
que acontece com razoável frequência). Assim procedendo, um relatório conclusivo des-
sa ida a campo – escrito único convergente do trabalho em equipe – pode ser elaborado
sob forma inicialmente monográfica.
Os relatórios conclusivos de cada visita devem se tornar a prática corrente da
equipe, e o tempo entre a visita e sua confecção operacional não deve ultrapassar dois
dias entre um e outro evento. Para isso concorre o aprofundamento conceitual e a maior
clareza nas questões básicas da intervenção ou da pesquisa. Lembrando ser este o objeti-
vo maior da instrução da demanda, entendemos que os relatórios conclusivos são peças
fundamentais para o avanço da ação ergonômica nessa etapa da metodologia. Por outro
lado, os relatórios de ação ergonômica, em geral, servem-se largamente de trechos intei-
ros desses relatórios conclusivos.
agente descreva a seu modo, com suas palavras e abrangendo o que julgar importante
para caracterizar seu trabalho. Esses comentários iniciais são, no segundo momento,
sistematizados pela equipe, que produzirá uma matriz de comentários. A existência de
lacunas, de vazios, de falta de referências a aspectos que a equipe observou serem impor-
tantes é essencial, pois é a partir daí que se constrói a etapa posterior da análise. É muito
importante assinalar que, para a Ergonomia, não se considera essas omissões como erro,
má vontade ou incompetência, mas sim como não ditos. E trata-se de entender porque
alguma coisa importante teria sido deixada de lado na autodescrição de seu trabalho pelo
próprio agente.
É essa a finalidade da matriz de inclusão de comentários. Os comentários con-
frontados pela equipe de Ergonomia às características técnicas e às observações ensejam
tanto observações complementares como conversas suplementares para se formar o qua-
dro ergonômico da área sob estudo. Em alguns casos, esse procedimento já permite à
equipe certificar-se de umas tantas coisas, consistindo, pois, numa primeira validação da
análise ergonômica do trabalho. Nem sempre isso acontece, portanto, o mais prudente é
admitir que aqui se conseguiu mapear de forma mais ou menos satisfatória as questões
ergonômicas presentes. E é o que é necessário para encerrar essa fase e partir para a re-
construção da demanda.
13.3. SPM
A partir da ideia de matrizes de inclusão emerge uma outra ferramenta, o SPM,
acrônimo retirado da sequência Situação, Problema e Melhoria. Essa ferramenta é em-
pregada quando se trata de fazer um quadro de uma vasta área onde se quer fazer um
amplo levantamento que chamamos de Mapeamento ergonômico (ergonomic screening).
A ideia básica de um mapeamento é levantar um elenco de problemas em cada situação
de trabalho de uma área ou setor e posteriormente tratar esses dados de forma semelhan-
te a uma Matriz de inclusão.
O SPM foi desenvolvido para propiciar uma resposta rápida em situações que
até o presente tiveram pouca ou nenhuma contemplação de aspectos ergonômicos no
planejamento e execução de suas atividades e processos de trabalho. Nessa acepção,
é uma sistemática orientada para a produção de laudos ergonômicos sobre o estado
atual de um processo de trabalho, abrangendo todo um setor, segmento ou área de uma
empresa. Como ambição poderíamos caracterizar o SPM como uma ferramenta de ação
ergonômica. A motivação da avaliação SPM, por seu turno, pauta-se pela ausência de
orientação a um problema específico, queixa qualificada e situação bem delimitada, mas
isso sem que se perca o direcionamento para as transformações positivas e sem descartar
a possibilidade de uma apreciação onde caibam variantes diversas da AET.
274 Ergonomia ELSEVIER
A figura consiste num exemplo da aplicação da ferramenta SPM, com suas tópicas.
Descrição: atividade de armazenagem, despacho e devolução de ferramentas que
são utilizadas no canteiro.
Impacto: possibilidade de lesões nos membros superiores devido à altura da ban-
cada em relação à retirada de ferramentas e/ou equipamentos.
)LJXUDD3UDWHOHLUDDOWDSDUDGHSyVLWRGHHTXLSDPHQWRVSHVDGRV
E7DPSRGHEDQFDGDSHTXHQRSDUDGHVSDFKRGHPDWHULDLVHHTXLSDPHQWRV
Aspecto: bancada com tampo pequeno. A diferença de nível existente entre o piso
interno (mais alto) e o externo (mais baixo), resulta em um esforço maior do trabalhador
no ato de recebimento do material.
"«ÀÌÕ`>`iÊ`iÊi
À>: disponibilizar a bancada com dimensões adequadas
e com altura menor, colocação de um tablado no lado externo do setor.
Justificativa: facilitar o recebimento de material, resultando em um esforço físi-
co menor para o trabalhador tanto para retirada como para devolução de material e/ou
equipamento.
Enquadramento Legal – NR 17 Ergonomia: 17.1. Esta Norma Regulamen-
tadora visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de tra-
balho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar
um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente; 17.2. Levantamento,
transporte e descarga individual de materiais; 17.2.1.1. Transporte manual de cargas
designa todo transporte no qual o peso da carga é suportado inteiramente por um só
trabalhador, compreendendo o levantamento e a deposição da carga; 17.2.2. Não de-
verá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um trabalhador cujo
peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança; NR 18 – 18.1.1. Essa
Norma Regulamentadora – NR estabelece diretrizes de ordem administrativa, de pla-
nejamento e de organização, que objetivam a implementação de medidas de controle
e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente
de trabalho na Indústria da Construção.
276 Ergonomia ELSEVIER
13.4. EAMETA
A ferramenta EAMETA nasceu da aplicação dos princípios de Análise Ergonômi-
ca onde se cotejaram os temas constantes na NR 17 (Espaço, Ambiente, Mobiliário e
Equipamentos), combinando-os com uma apreciação do processo de trabalho por meio
da confrontação entre Tarefa e Atividade. A ferramenta tem várias aplicações; ela serve
como taxonomia normativa básica para classificar os diferentes componentes de uma
situação de trabalho, ela premite separar os teores da conversas por tema, e pode se con-
verter em uma ferramenta de priorzação e de focalização de problemas específicos de um
dado sistema de trabalho.
278 Ergonomia ELSEVIER
4XDGUR²$WULEXWRV($0(7$
# ( A M (
(VSDoR Ambiente Mobiliário (TXLSDPHQWRV
1 /HLDXWH /X] %DQFDGDV )HUUDPHQWDV
2 3pGLUHLWR 5XtGR &DGHLUDH%DQFR $FHVVyULRV
3 &LUFXODomR 7HPSHUDWXUD $UPiULRV 0RWRUHV
4 ÉUHDGR3RVWR 9LEUDomR *DYHWHLURV 0RQLWRUHVDisplays
5 -DQHODV 2GRUHV $UTXLYRV 7HFODGRVHMouses
5 'LYLVyULDV 3RHLUDV 4XDGURV ,PSUHVVRUD
7 +DUPRQLD &RUHV /L[HLUDV 7HOHIRQH5iGLR
8 9LVLELOLGDGH 9HQWLODomR &DELGHV 0DQHMRV
6LQDOL]DomR +XPDQL]DomRH%HOH]D $FHVVyULRV &RQWUROHV$FLRQDGRUHV
Para efeito de valoração, o critério básico é a nota atribuída pelo operador, que
balizará se o observador superestimou ou subestimou um fator. No entanto, indepen-
dentemente da convergência, divergência ou consenso, a ideia é que cada avaliação seja
motivo de uma rápida conversa, cujo teor é parte da análise. Tais conversas deverão ser
tabuladas em matriz de inclusão.
Em seguida se passa à fase de conversação acerca da tarefa e da atividade. Tais
conversas têm o seguinte roteiro:
5HVVDOYDGR
([LJrQFLDV Tópicos )DODGR(PSUHJDGR
2EVHUYDGRU
Físicas 3RVWXUDLV
9LVXDLV
8VRGH)RUoD
$XGLWLYDV
)RQDomR
&RJQLWLYDV $WHQomR
0HPyULD
5DFLRFtQLR
'HFLVmR
Organizacionais 3UHVVmR7HPSRUDO
'LYLVmRGR7UDEDOKRH0XOWLWDUHIDV
,QWHUUXSo}HVH,QWHUIHUrQFLDV
&RPXQLFDomRH&RRSHUDomR
$MXGDGH&ROHJDV
13.5. MEROS
O MEROS – Metodologia Ergonômica Realista, "bjetiva e Sucinta tem por finali-
dade instrumentar a análise ergonômica reunindo os elementos dos métodos preceden-
tes.. Essa análise qualitativa contempla as dimensões de análise EAMETA. que acabamos
de assinalar. Para realização da análise qualitativa compomos um programa em catorze
passos. Apresentaremos o método em seu passo a passo:
Passo 3 – Walk-through
Realizar uma primeira visita pela área, realizando breves interações, sempre se
apresentando e comunicando a razão da breve visita à área. Não tema ser repetitivo, pois
280 Ergonomia ELSEVIER
Interação ( A M ( T A
(VSDoR Ambiente Mobiliario (TXLSDPHQWRV Tarefa $WLYLGDGH
(VSDoRGRF (VSDoRSGI 0RELOGRF (TXLSMSJ $OLPHQWDGRU[OV 9FOLSZPY
1
(VSDoRMSJ $WLY;OV
2
3
4
...
n
Com essa matriz de inclusão se torna possível fazer uma síntese geral das entre-
vistas e isso delineará os pontos fortes da análise global. Em cada categoria podem ser
incluídos, na área de sínteses, outros elementos já amealhados para reforçar a escolha
dos pontos fortes.
282 Ergonomia ELSEVIER
(OHPHQWRV Dados
6REUHDWDUHID 1DWXUH]DGDDWLYLGDGHSLORWDJHPPRQWDJHPPRQLWRUDomRVHUYLoRDOHDWyULRHWF
7 5RWLQDVTXDOLGDGHSURGXomRH[LJLGDSUHFLVmRFRQFHQWUDomRFRPSOH[LGDGH
,QVWUXPHQWDomRHFRQWUROHV0HLRVGHWUDEDOKRPiTXLQDVSHULIpULFRVH
LQVWUXPHQWRV
5HFXSHUDomRGHLQFLGHQWHVWtSLFRV
(OHPHQWRVJHUDLVGD 3HVVRDVHQYROYLGDV
VLWXDomRGHWUDEDOKR )RUPDGHLQVWDODomRGDVPiTXLQDVlayout
UHODFLRQDGRV 0DWpULDVSULPDVHPJHUDO
jDWLYLGDGHGR )OX[RVGHPDWHULDO
RSHUDGRU($0(7$ $PELHQWHWpUPLFRKLJURWpUPLFR
$PELHQWHDF~VWLFR
$PELHQWHVOXPLQRVRV
3RHLUDVIXPRVRGRUHV
/LVWDGHSUREOHPDV $XWRQRPLDGHULWPRSDXVDVKRUiULRVHHVFDODV
$ 5HODomRFRPRSURFHVVRLVRODPHQWRFRDWLYLGDGHFRPDQGRHWF
6D~GHDFLGHQWHVLQF{PRGRV
&RQWH~GRGRWUDEDOKRUHVSRQVDELOLGDGHLQWHUHVVHLQLFLDWLYDVFRPSHWrQFLDV
&XVWR%HQHÀFLR $IDVWDPHQWRVDEVHQWHtVPR
9DULDomRGDSURGXomR
5HWUDEDOKRVUHIXJRVHUURVHSHUGDV
$WUDVRVGHHQWUHJD
Passo 13 – Priorização
Aplicar uma técnica de priorização (matriz de GUT, por exemplo).
Debate
A ação conversacional é válida como procedimento de análise ou não? Dividindo
a turma em grupos cada grupo deverá indicar três pontos positivos e três pontos
negativos. Depois a turma confronta seus resultados numa ampla reunião. O pro-
fessor pode ser o mediador.
Pesquisa na internet
Busque na internet algum outro método ou ferramenta para análise ergonômica.
Coletar na internet dez referências bibliográficas, sites de empresas ou ofertas de
serviços relativas ao tema deste capítulo. Os resultados podem formar um blog para a
turma.
Capítulo
14 Ferramentas de
Ergonomia Física
Francisco Soares Másculo, Ph.D – UFPB
14.1. Introdução
O método ergonômico, essencialmente, consiste no uso dos recursos dos diversos
campos de conhecimento que possibilitem averiguar, levantar, analisar e sistematizar o
trabalho e as condições de trabalho. Isso implica na observância, utilizando-se instru-
mentos de caráter quantitativo ou qualitativo, dos vários aspectos da interação humano
× elementos do sistema, avançando a fronteiras além do posto de trabalho.
Diversos autores apresentam as mais variadas formas de abordagens metodológi-
cas, métodos, técnicas e ferramentas para os fins a que a Ergonomia se propõe.
A quantidade de ferramentas ou métodos disponíveis é muito grande. Somente
um manual, o Handbook of human factors and ergonomics methods, de Stanton et al. (2005),
lista diversos métodos, que são divididos em seis categorias: métodos físicos, psicofisio-
lógicos, cognitivo-comportamentais, equipe, ambientais e macroergonômicos. No esco-
po deste capítulo, apresentamos o Método OWAS, para análise da postura, o Método
OCRA para avaliação da aquisição de LER/DORT, o Método RULA, para avaliação de ris-
co de lesão músculo-esquelética em geral, e, finalizando o capítulo, é feita a apresentação
de duas ferramentas computacionais para avaliação de carga nos discos intervertebrais,
o Spinal Dynamics e o HARSim. Se o leitor tiver interesse em se aprofundar no assunto,
sugerimos a leitura do manual mencionado e as citações apresentadas.
)LJXUD&DUDFWHUL]DomRGHSRVWXUDVSHORPpWRGR2:$6
)LJXUD&DWHJRULDVGHDomRGRPpWRGR2:$6SDUDSRVWXUDVGHWUDEDOKRGHDFRUGRFRPR
SHUFHQWXDOGHSHUPDQrQFLDQDSRVWXUDGXUDQWHRSHUtRGRGHWUDEDOKR
48$'523$5$'(7(50,1$d®2'$&/$66('(&21675$1*,0(172'$6(48È1&,$'(
326785$6127(0326(*0(1726'(7(032
'RWHPSRGDDWLYLGDGH
5HWR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
&267$6
,QFOLQDGR 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3
5HWRHWRUFLGR 1 1 2 2 2 3 3 3 3 3
,QFOLQDGRHWRUFLGR 2 2 3 3 3 3 4 4 4
'RLVEUDoRVSDUDEDL[R 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
%5$d26
8PEUDoRSDUDFLPD 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3
'RLVEUDoRVSDUDFLPD 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3
'XDVSHUQDVUHWDV 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2
8PDSHUQDUHWD 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2
3(51$6
'XDVSHUQDVÁH[LRQDGDV 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3
8PDSHUQDÁH[LRQDGD 2 2 3 3 3 3 4 4 4
8PDSHUQDDMRHOKDGD 2 2 3 3 3 3 4 4 4
'HVORFDPHQWRFRPSHUQDV 1 1 2 2 2 3 3 3 3 3
'XDVSHUQDVVXVSHQVDV 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2
1 1mRVmRQHFHVViULDVPHGLGDVFRUUUHWLYDV 3 6mRQHFHVViULDVFRUUHo}HVORJRTXHSRVVtYHO
2 6HUmRQHFHVViULDVFRUUHo}HVQRIXWXUR 4 6mRQHFHVViULDVFRUUHo}HVLPHGLDWDV
Capítulo 14 | Ferramentas de Ergonomia Física 287
)LJXUD,QWHUIDFHGRVRIWZDUH:LQ2:$6GHDQiOLVHGHSRVWXUDFRPH[HPSOR
foi repetida, com os mesmos observadores, dessa vez apresentando os slides de forma
misturada, após períodos de quatro semanas e de três meses e meio de diferença entre as
exibições. Os resultados mostraram que o índice de concordância entre as categorizações
foi de 89% na primeira exibição, 92% na segunda e 90% na terceira.
Pinzke e Kopp (2001) realizaram dois experimentos com o intuito de examinar e
melhorar a usabilidade e confiabilidade do método OWAS. No primeiro apenas as postu-
ras para os braços foram testadas, uma vez que o método não é muito preciso na defini-
ção da posição dos braços, especialmente quando o tronco está inclinado. Um indivíduo
foi filmado, e a filmagem foi digitalizada e processada por meio de filtros, possibilitando
que a postura fosse detectada e categorizada pelo programa utilizado (Figura 14.4).
)LJXUD6HJPHQWDomRHFODVVLÀFDomRGDVSRVWXUDV
9h_jh_eX_ec[Y~d_Ye
Ao manejar uma carga pesada ou ao fazê-lo incorretamente, aparecem uns mo-
mentos mecânicos na zona da coluna vertebral – concretamente na união dos segmentos
vertebrais L5/S1 – que causam um considerável estresse na região lombar. Das forças de
compressão, torção e cisalhamento que aparecem, considera-se a compressão do disco
L5/S1 como a principal causa de risco de lombalgia. Por meio de modelos biomecânicos,
e usando dados recolhidos em estudos sobre a resistência de tais vértebras, chegou-se a
considerar uma força de 3,4 kN como força-limite de compressão para o aparecimento
do risco de lombalgia.
9h_jh_eÓi_eb]_Ye
Ainda que se disponha de poucos dados empíricos que demonstrem que a fadiga
aumenta o risco de danos músculo-esqueléticos, é reconhecido que as tarefas com levan-
tamentos repetitivos podem facilmente exceder as capacidades normais de energia do
trabalhador, provocando uma diminuição prematura de sua resistência e um aumento
da probabilidade de lesão.
O comitê do NIOSH compilou em 1991 alguns limites da capacidade aeróbica
máxima para o cálculo do gasto energético, que são os seguintes:
1) Em levantamentos repetitivos, 9,5 Kcal/min será a capacidade aeróbica máxima
de levantamento.
2) Em levantamentos que requeiram erguer os braços acima de 75 cm, não se supe-
rarão os 70% da capacidade aeróbica máxima. Não se superarão os 50%, 40% e
290 Ergonomia ELSEVIER
9h_jh_efi_Ye\i_Ye
O critério psicofísico se baseia em dados sobre a resistência e a capacidade dos
trabalhadores que manipulam cargas com diferentes frequências e durações. Baseia-se
no limite de peso aceitável para uma pessoa trabalhando em condições determinadas e
integra o critério biomecânico e o fisiológico, porém, tende a sobreestimar a capacidade
dos trabalhadores para tarefas repetitivas de duração prolongada.
O PLR, Peso Limite Recomendável, é dado pela equação:
PLR = 23 × CM × CH × CV × CF × CD × CA
)LJXUD3RVLomRSDGUmRGHOHYDQWDPHQWR
7DEHOD²0XOWLSOLFDGRUHVGHGLVWkQFLDSHUFRUULGDQDYHUWLFDO
7DEHOD²0XOWLSOLFDGRUHVYHUWLFDLV
Multiplicador Multiplicador
$OWXUDFP $OWXUDFP
Vertical Horizontal
175
175
>175
292 Ergonomia ELSEVIER
7DEHOD²0XOWLSOLFDGRUGHIUHTXrQFLD
9DORUHVGRFRHÀFLHQWHGH)UHTXrQFLD)²(TXDomRGH1,26+
'XUDomRGRWUDEDOKRKGLD
)UHTXrQFLD
K K K
/HYDQWDPHQWRVPLQ
V < 75 cm 9FP V < 75 cm 9FP V < 75 cm 9FP
1
2
3
4
5
6
7
8
9
11
12
13
14
15
Multiplicadores da Pega
Qualidade da Pega
V < 75 cm V < = 75 cm
%RD
$FHLWiYHO
0i
Capítulo 14 | Ferramentas de Ergonomia Física 293
Outras variáveis a serem consideradas são a força empregada pelos membros su-
periores, as posturas incorretas na realização da atividade, as pausas e o tempo de expo-
sição no ciclo.
Essa análise consiste em uma avaliação integrada dos principais fatores de risco
ocupacional para os membros superiores, tais como frequência, repetitividade, força,
postura, ausência de períodos para recuperação de fadiga e elementos complementares
(por exemplo: tipos de pegas).
Todos os fatores partem do número de 30 ações técnicas recomendas por minuto
como fator multiplicador. Os demais fatores terão um multiplicador previamente esta-
belecido.
Para se obter o índice de exposição – IE do método OCRA, divide-se a quantidade
de ações técnicas observadas (ATO) pela quantidade de ações técnicas recomendadas
(ATR). O resultado é comparado com a referência de classificação de risco para determi-
nação do nível de ação a ser tomada (ver Tabela 14.7).
Definição dos principais fatores de risco de LER/DORT analisado pelo método
OCRA:
Frequência de ações técnicas: para esse fator a literatura considera que o
número máximo recomendável é de 30 ações por minuto, com as demais
condições de trabalho corretas. Esse número torna-se então uma constante
para cada tarefa repetitiva, desde que os outros fatores de risco sejam ideais
ou insignificantes.
7DEHOD²&iOFXORGR)DWRU0XOWLSOLFDGRUGH)UHTXrQFLD
1tYHOGHIRUoD
5% 15% 25% 35% 45%
HP0&9
(VFDOD%RUJ 1 2 3 4
0XOWLSOLFDGRU 1
Capítulo 14 | Ferramentas de Ergonomia Física 295
)LJXUD3RVLo}HVHPRYLPHQWRVGDDUWLFXODomRHVFiSXORXPHUDORPEUR
DEGXomRH[WHQVmRHÁH[mR3RQWXDomRSDUD2&5$
)LJXUD0RYLPHQWRVGDDUWLFXODomRGRFRWRYHORVXSLQDomR
SURQDomRÁH[mRHH[WHQVmR3RQWXDomRSDUD2&5$
296 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD0RYLPHQWRVGDDUWLFXODomRGRSXOVRÁH[mRHH[WHQVmR
GHVYLRUDGLDOHXOQDU3RQWXDomRSDUD2&5$
Um fator que também deve ser considerado conjuntamente com a postura é o tipo
de pega, pois alguns são mais desfavoráveis e contribuem para o agravamento das LER/
DORT. A Figura 14.9 ilustra os tipos de pegas.
)LJXUD3ULQFLSDLVWLSRVGHSHJDV
7DEHOD²3RQWXDomRSDUDRVWLSRVGHSHJDV
7DEHOD²&iOFXORGR)DWRU0XOWLSOLFDGRUGRHPSHQKRSRVWXUDO
9DORUGD
SRQWXDomR
² ² ² ² ² ² ²
GRHPSHQKR
SRVWXUDO
0XOWLSOLFDGRU 1
7DEHOD²&iOFXORGR)DWRU0XOWLSOLFDGRUGH(VWHUHRWLSLD
3DUWHGHH[SRVLomR Pontuação
em função do ciclo
4
8
12
7DEHOD²&iOFXORGRPXOWLSOLFDGRUSDUDIDWRUHVFRPSOHPHQWDUHV
9DORUGD
´SRQWXDomRµIDWRUHV ² ² ² ²
FRPSOHPHQWDUHV
0XOWLSOLFDGRU 1
Capítulo 14 | Ferramentas de Ergonomia Física 299
7DEHOD²&iOFXORGRIDWRUPXOWLSOLFDGRUSDUDRVSHUtRGRVGHUHFXSHUDomR
1~PHURGHKRUDVVHP
1 2 3 4 5 6 7 8
UHFXSHUDomRDGHTXDGD
0XOWLSOLFDGRU 1
7DEHOD²&iOFXORGRIDWRUPXOWLSOLFDGRUSDUDDGXUDomRGDVWDUHIDV
7YbWii_ÓYWeZ[h_iYef[becjeZeE9H7
A partir dos fatores multiplicadores encontrados nos itens 14.3.1 a 14.3.6 calcula-
-se o valor das Ações Técnicas Recomendadas (ATRs), que é dado pela fórmula:
ATR = 30 × MF × MP × ME × MC × MR × MJ
300 Ergonomia ELSEVIER
4XDGUR²&iOFXORGDVDo}HVWpFQLFDVREVHUYDGDV
)UHTXrQFLD 'XUDomRGD
$o}HVSRU 'XUDomRFLFOR
cálculo das
posto para
FLFORD HPPLQXWRVE
ATOs
F DE PLQLG
%UDoRGLUHLWR
%UDoRHVTXHUGR
ÊrÊ/"ÊÉÊ/,
4XDGUR²&ODVVLÀFDomRGHULVFR2&5$
H[Yec[dZW[i
Quando o índice está abaixo de 2,2 não há previsão de aparecer casos de distúr-
bios osteomusculares relacionados ao trabalho no grupo de trabalhadores expostos, não
requerendo intervenção no posto de trabalho. Quando o índice estiver entre 2,3 e 3,5
significa que não há risco relevante, porém, podem aparecer patologias no grupo expos-
to. São recomendadas uma avaliação da saúde e melhoria das condições gerais de traba-
lho. Se o índice for maior que 3,5 a intervenção rápida se faz necessária. Os resultados
das análises podem ser úteis para o estabelecimento de prioridades.
Capítulo 14 | Ferramentas de Ergonomia Física 301
)LJXUD3RVWXUDGR2SHUDGRU
;n[cfbeZ[Wfb_YWeZedZ_Y[E9H7
Em um determinado posto de trabalho de uma empresa industrial é executado
o corte da matéria-prima, no qual é utilizado um tipo de prensa. A tarefa se realiza de
três maneiras três formas: três cortes para um modelo, seis ou nove por vez, para outro
modelo do mesmo produto.
:[iYh_eZWiWj_l_ZWZ[i
Posiciona-se uma quantidade de material que possibilita a produção de três, seis
ou nove unidades sobre o cepo. Em seguida a faca é posicionada sobre esse material
centralizando-a pela identificação do produto. Posiciona-se agora o cabeçote sobre a
faca. Aciona-se a máquina pressionando os botões do comando bimanual. Com isso a
operação de corte é terminada. Reposiciona-se faca três, seis ou nove vezes (começa com
a direita, depois esquerda e girando de 180 graus ela é posicionada no meio). Retiram-
se os cortes realizados e estes são colocados sobre bancada da operação seguinte. Esse
movimento é repetido para cortar as três, seis ou nove unidades relativas à matéria-prima
acima mencionada. Há um movimento final que é a colocação dos resíduos (resto da
placa cortada) em um carrinho situado à esquerda do operador.
Foi aplicada a ferramenta OCRA, para esse posto de trabalho. Abaixo estão os
quantitativos encontrados e o resultado. Foram encontrados os valores 19,71 para o
membro superior direito e 29,87 para o membro superior esquerdo de índice de exposi-
ção OCRA. Pode-se concluir que o trabalho apresenta elevado risco de aquisição de LER/
DORT, Lesão por Esforço Repetitivo/Doença Osteoarticular Relacionada ao Trabalho.
4XDGUR²&iOFXORGDV$72V
'XUDomRGD
$o}HVSRU 'XUDomRFLFOR )UHTXrQFLD
cálculo das
posto para
Dados do
PLQL
%UDoRGLUHLWR 54
%UDoRHVTXHUGR 54
302 Ergonomia ELSEVIER
Nesse quadro observa-se que o valor das ATOs é de 46.000 ações: frequência de
115 ações por ciclo e duração da tarefa de 400 minutos.
4XDGUR²&DEHoDOKRHSRQWXDomRGRVPHPEURVVXSHULRUHV
Capítulo 14 | Ferramentas de Ergonomia Física 303
Esse quadro mostra as pontuações para a postura dos membros superiores, om-
bro, cotovelo e pulso.
4XDGUR²3RQWXDomRSDUDPmRVHSHJDIDWRUHVFRPSOHPHQWDUHVHVWHUHRWLSLD
Q~PHURGHKRUDVVHPUHFXSHUDomRHPLQXWRVJDVWRVFRPWRGDVDVWDUHIDVUHSHWLWLYDV
No quadro 14.5 é externado os valores para pontuação para as mãos e pega, fa-
tores complementares, estereotipia, número de horas sem recuperação e minutos gastos
com todas as tarefas repetitivas.
304 Ergonomia ELSEVIER
Tempo
A B 0RWLYRSDUDXVR
total Tempo das
Ações com força $[% da força para
Do}HVVHJ Duração (VFDODGH
Borg > ou = 3
Borg
3HJDURPROGHDNJ 2
3X[DUH(PSXUUDUR%DODQFLP 15 2
(VIRUoRPpGLRSRQGHUDGR 2
São mostrados os cálculos para o fator força: duas ações requerem força, que são
classificadas 2 na escala de Borg e é feita a ponderação.
4XDGUR²(VFDODGH%RUJ
(6&$/$'(%25*
$XVHQWH
([WUHPDPHQWH/HYH
0XLWR/HYH
/HYH
0RGHUDGR
)RUWH
0XLWR)RUWH
0i[LPR
4XDGUR²&iOFXORVGRVIDWRUHV
&RQVWDQWHGHIUHTXrQFLDGHDo}HVSRUPLQXWR
)DWRUIRUoDHVIRUoRSHUFHELGR
Borg 1 2 3 4 !
Fator 1
Fator postura
9DORU >=28
)DWRU 1
E D
7DUHIDV 2PEUR 4 8
&RWRYHOR 2 2
3XOVR 2 2
Total 8 12
6 5
14 17
Capítulo 14 | Ferramentas de Ergonomia Física 305
4XDGUR²&iOFXORGRtQGLFH2&5$
Nesse quadro é mostrado como são calculados as ATRs e o índice OCRA para os
membros direito e esquerdo.
)LJXUD3RQWXDomRSDUDRFRWRYHOR
1 2 3RQWXDomR
3ULQFLSDOPHQWH
1RLQtFLRRXÀQDO
*,526'(381+2 QDPHWDGHGD
GDDPSOLWXGHGH
DPSOLWXGHGHJLUR
JLURGRSXQKR
GRSXQKR
3RVWXUDSXQKR
1 2 3 4
20%52 &2729(/2
*LUR *LUR
1 2 1 2
1 1 2 2 2
1 2 2 2 2 2
3 2 3 3 3
1 2 3 3 3
2 2 3 3 3 3
3 3 4 4 4
1 3 3 4 4
3 2 3 4 4 4
3 4 4 4 4
1 4 4 4 4
4 2 4 4 4 4
3 4 4 4 5
1 5 5 5 5
5 2 5 6 6 6
3 6 6 6 7
1 7 7 7 7
6 2 8 8 8 8
3 9 9 9 9
6HDSRVWXUDpSULQFLSDOPHQWHHVWiWLFDPDQWLGDSRUPDLVGHPLQXWRV
RX $FUHVFHQWDU
6HH[LVWHDWLYLGDGHUHSHWLWLYDYH]HVSRUPLQXWRRXPDLV
7DEHOD²3RQWXDomRSDUDDFDUJD
7DEHOD²3RQWXDomRGDVSHUQDV
1 2 3RQWXDomR
(;75(0,'$'(6 6HDVSHUQDVHRVSpV
6HDVSHUQDVHRVSpVHVWmR
,1)(5,25(6 QmRHVWmRFRUUHWDPHQWH
EHPDSRLDGRVHHTXLOLEUDGRV
DSRLDGRVHHTXLOLEUDGRV
7DEHOD²3RQWXDomRÀQDO
7$%(/$&32178$d®2),1$/
3RQWXDomRSHVFRoRWURQFRH[WUHPLGDGH
inferior
1 2 3 4 5 6 7+
1 1 2 3 3 4 5 5
2 2 2 3 4 4 5 5
Pontuação 3 3 3 3 4 4 5 6
([WUHPLGDGH 4 3 3 3 4 5 6 6
Superior 5 4 4 4 5 6 7 7
6 4 4 5 6 6 7 7
7 5 5 6 6 7 7 7
8 5 5 6 7 7 7 7
4XDGUR²3DVVRVGR0pWRGR58/$
assim ele libera o produto que desce por efeito da gravidade. Ele controla visualmente
o peso na balança e quando o peso estipulado é alcançado, ele fecha o dosador também
acionando a alavanca. Em seguida segura o saco por baixo e faz uma rotação de tronco
dando dois passos para colocar o saco em uma esteira rolante.
)LJXUDVH2SHUDomRGHHQFKLPHQWR
Conclusão
Pelo método RULA, Nível 4, deve-se tomar providências imediatas.
Capítulo 14 | Ferramentas de Ergonomia Física 313
7DEHOD²3DUkPHWURVJHRPpWULFRVHQWUH&H/
)LJXUD$QiOLVHGDLQFOLQDomRGRWURQFRQRVSODQRVVDJLWDOHIURQWDO
)LJXUD$WXDomRGDVIRUoDVTXHDWXDPQDFROXQDYHUWHEUDO
QDSRVLomRRUWRVWiWLFDUHSRXVR
)LJXUD$WXDomRGDVIRUoDVQDFROXQDYHUWHEUDOGXUDQWHRPRYLPHQWR
GHÁH[mRDQWHULRUGRWURQFR
7DEHOD²9DORUHVSDUDDVIRUoDVD[LDLVGHFRUWHPRPHQWRVÁH[RUHV
HSUHVVmRLQWUDGLVFDOQDÁH[mRDQWHULRUGRWURQFR
)LJXUD+$56LP+XPDQRLG$UWLFXODWLRQ5HDFWLRQ6LPXODWLRQ
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Capítulo
15 Ferramentas de Ergonomia
Cognitiva
Paulo Victor Rodrigues de Carvalho, D. Sc. IEN/CNEN
Conceitos apresentados
Neste capítulo descrevemos métodos e ferramentas usados para que possa-
mos compreender a atividade cognitiva em situação de trabalho. São apresentadas
as entrevistas não estruturadas, entrevistas estruturadas, entrevistas semiestruturadas,
questionários, simulações/cenários construídos, o método de tomada de decisões crí-
ticas técnicas, a análise de protocolos verbais e os mapas cognitivos ou conceituais. É
importante salientar que as ferramentas apresentadas representam um pequeno, mas
relevante conjunto, entre as dezenas de métodos e técnicas existentes para a Análise
do Trabalho Cognitivo. Para visão desse conjunto abrangente de técnicas e métodos o
site <http://mentalmodels.mitre.org/cog_eng/> pode ser consultado.
15.1. Introdução
Como vimos no Capítulo 9, a Análise do Trabalho Cognitivo (ATC) apresenta
diversos métodos, técnicas e instrumentos que visam eliciar o modo como especialistas,
peritos e demais trabalhadores executam atividades cognitivas e contextos específicos de
trabalho. Esse conjunto de métodos e ferramentas é usado para identificar e descrever
estruturas cognitivas como as bases de organização do conhecimento, as formas de re-
presentação de habilidades, e processos como atenção, resolução de problemas, tomadas
de decisão, saberes tácitos etc.
Como vimos no Capítulo 9, apesar da variedade de ferramentas e objetivos, há
alguns consensos a respeito dos procedimentos para o uso dessas ferramentas tais como:
1) O uso de múltiplos especialistas, seja como sujeitos, seja como analistas.
2) Se desejarmos eliciar o conhecimento de peritos, devemos nos certificar que os
especialistas analisados são realmente peritos na tarefa específica sob investigação.
Capítulo 15 | Ferramentas de Ergonomia Cognitiva 323
3) A análise das diversas alternativas de atividades e/ou cenários diversos para resol-
ver uma mesma situação de trabalho.
4) Analisar o desempenho na resolução de problemas e tomadas de decisão em am-
bientes reais e simulados.
5) A importância do analista assumir uma postura de aprendizado durante a análise
do trabalho.
A seguir apresentaremos algumas ferramentas utilizadas para a Análise do Traba-
lho Cognitivo de modo a obtermos uma melhor compreensão do trabalho em sistemas
complexos.
Comentários:
2. O sistema apresenta realimentação adequada, legível, esclarecedora, quando as
ações realizadas tiveram sucesso.
Comentários:
Fase Descrição
3UHSDUDomRGRVGDGRV 7UDQVFUHYHUDVJUDYDo}HVGHiXGLRHYtGHRHPSURWRFRORV
(VTXHPDGHFRGLÀFDomR 'HVHQYROYHUXPHVTXHPDGHFRGLÀFDomRDSURSULDGRSDUDRHVWXGRHP
GHVHQYROYLPHQWR
3UHHQFKLPHQWRGRHVTXHPDGH &RGLÀFDURSURWRFRORHGHVFUHYHURVFRPSRQHQWHVLVWRpFODVVLÀFDU
FRGLÀFDomR DVYHUEDOL]Do}HVWUDQVFULWDVQDVFDWHJRULDVGHÀQLGDVQRHVTXHPDGH
FRGLÀFDomR4XDGUR
&DWHJRUL]DomRGHSUREOHPD ,GHQWLÀFDUDViUHDVGHSUREOHPDHFDWHJRUL]DUDVGHFLV}HVSRUiUHD
4XDGUR²(VTXHPDGHFRGLÀFDomR
&DWHJRULD 'HÀQLomR
'HFLVmR $GHFLVmRTXHJHURXXPFXUVRGHDomR&X$RXGHQmRID]HUQDGDRXGHHVSHUDU3RU
H[HPSORSDUDUXPSURFHVVRRXHVSHUDUSDUDYHUFRPRRPLFURLQFLGHQWHHYROXL
(QWUDGD ,QIRUPDomRTXHFRQGX]DXPDDYDOLDomRDOWHUDGDTXHUHTXHUXPDGHFLVmR,GHQWLÀFDomR
GHTXDQGRRWySLFRUHODWLYRjGHFLVmRIRLLQWURGX]LGRHTXHIDWRUHVQRYRVFDXVDUDPD
PXGDQoD
,QVWLJDGRSRU 4XHPLGHQWLÀFRXDQHFHVVLGDGHGHWHQWDUUHVROYHUXPSUREOHPD
(QYROYLGRV 3HVVRDOHQYROYLGRGHVGHDLGHQWLÀFDomRGRSUREOHPDDX[tOLRQDUHVROXomRDWpDWRPDGD
GHGHFLVmR
0HWD 2REMHWLYRGDGHFLVmR9HUEDOPHQWHGHFODUDGRRXGHGX]LGRSHORLQYHVWLJDGRU0HWDV
LQFOXHPSDUDUXPSURFHVVRSDUWLUXPVLVWHPDUHDOL]DUWHVWHVHWF
5D]mR %DVHDGDQDPHWD3RUH[HPSORDPHWDSRGHVHUDSDUDGDGHXPSURFHVVRDUD]mRHUD
PLQLPL]DURGDQRSRWHQFLDOGDHYROXomRGRPLFURLQFLGHQWH3RGHVHUGHFODUDGRPDV
IUHTXHQWHPHQWHWHYHTXHVHUGHGX]LGR
2So}HVH 2So}HVGLVSRQtYHLVFRPRPHLRVDOWHUQDWLYRVGHVROXFLRQDURSUREOHPDLGHQWLÀFDGR
FRQVHTXrQFLDV (QWUHHVVDVRSo}HVSRGHPHVWDUQmRID]HUQDGDRXHVSHUDU$VFRQVHTXrQFLDVVH
UHIHUHPDRTXHDFRQWHFHULDVHHVVDVRSo}HVIRVVHPVHOHFLRQDGDVHPYH]GR&X$
HVFROKLGR0DLVXPDYH]RSo}HVHFRQVHTXrQFLDVSRGHPVHUGHFODUDGDVPDVDOJXPDV
YH]HVSUHFLVDPVHUGHGX]LGDV
7HPSR 2WHPSRGHFRUULGRGHVGHTXDQGRRSUREOHPDIRLLGHQWLÀFDGRDWpDWRPDGDGHGHFLVmR
)LJXUD6DODGHFRQWUROHGR/$%,+6,(1
15.3. Conclusão
Neste capítulo nos propusemos a apresentar algumas das ferramentas mais utili-
zadas na Ergonomia Cognitiva. A partir dessa variedade de métodos procuramos mostrar
que não existe uma única maneira correta para se analisar a atividade cognitiva. Aqueles
que se dedicam a analisar a atividade cognitiva têm à disposição uma enorme variedade
de métodos, técnicas e ferramentas para eliciar e representar o conhecimento de espe-
cialistas, compreender como operadores tomam decisões em situação de trabalho, en-
tender como restrições do ambiente de trabalho afetam a atividade cognitiva etc. Assim,
em vez de se preocupar em seguir um determinado método “oficial”, os praticantes da
análise cognitiva podem se servir dessa enorme variedade de ferramentas para melhor
compreender o fenômeno cognitivo em foco, o que é muito mais importante do que a
preservação de um rigor metodológico que poderia interferir na real compreensão dos
fenômenos cognitivos.
332 Ergonomia ELSEVIER
Exercícios
a) Elabore um mapa conceitual da atividade de fritar um ovo utilizando o software
Cmap tools, disponível no site <http://cmap.ihmc.us/conceptmap.html>.
b) Considerando a atividade de fritar um ovo, elabore uma entrevista estruturada
para eliciar os conhecimentos necessários à fritura do ovo para a elaboração de um
livro eletrônico de receitas.
Capítulo 15 | Ferramentas de Ergonomia Cognitiva 333
Referências
CARVALHO, P. V. R.; VIDAL, M. C.; SANTOS, I. L. Nuclear power plant shift supervisor’s
decision-making during micro incidents. International Journal of Industrial Ergonomics,
v. 35, n. 7, pp. 619-644, 2005.
CARVALHO, R. J.; SALDANHA, M. C.; VIDAL, M. C. Knowledge and competence in-
volved in the stabilishment of a standardized flight safety training. World Congress on
Ergonomics, 17, Beijing. Proceedings… Beijing, 9-14 ago. 2009.
CRANDALL, B. et al. Tools for applied cognitive task analysis. Dayton: Klein Associates,
1994.
CRANDALL, B.; KLEIN, G.; HOFFMAN, R. Working minds: a practitioners guide to cogni-
tive task analysis. Cambridge: The MIT Press, 2006.
EDEN, C. On the nature of cognitive maps. Journal of Management Studies, v. 29, pp. 261-
265, 1992.
GOMES, J. O. et al. Resilience and brittleness in the offshore helicopter transportation
system: the identification of constraints and sacrifice decisions in pilots’ work. Reliability
Engineering & Systems Safety, v. 94, pp. 311-319, 2009.
HOFFMAN, R. R. A review of naturalistic decision making research on the critical decision
method and the recognition priming model of decision making. Nottingham: University of
Nottingham, 1995.
LEAL, R. P.; BORGES, M. R. S.; SANTORO, F. M. 2004, TellStory: Groupware para Su-
porte à Gestão de Conhecimento. Simpósio Brasileiro de Sistemas Multimídia e Web
(WEBMÍDIA), 10, 2004, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre, Sociedade Brasileira de
Computação, 2004. v. 1, pp. 141-148.
SANTOS, I. L. et al. The use of questionnaire and virtual reality in the verification of
the human factors issues in the design of nuclear control desk. International Journal of
Industrial Ergonomics, v. 39, pp.159-166, 2009.
Capítulo
16 Ferramentas organizacionais
Conceitos apresentados
Este capítulo objetiva fornecer ao estudante algumas ferramentas organizacio-
nais importantes para a compreensão do posto de trabalho. São vistas as seguintes
ferramentas: Símbolos ASME, Gráficos de Fluxo de Processos, Fluxograma, Mapo-
-fluxograma, Diagrama de Fluxo Decisão-Ação, Gráfico Mão Direita – Mão Esquerda
e as ferramentas de arranjo físico para o posto de trabalho.
16.1. Introdução
Como foi dito no capítulo introdutório deste livro, a Ergonomia contribui para
a Engenharia de Produção tanto fornecendo seus conhecimentos para a subárea de En-
genharia do Produto como, mais especificamente, na subárea que podemos denominar
Engenharia do Trabalho, que objetiva planejar, projetar, implantar e controlar o posto
de trabalho e a maneira de se trabalhar. Essa área engloba os conhecimentos dos campos
da Engenharia de Métodos, Organização do Trabalho, Processos Produtivos e de Traba-
lho, Higiene e Segurança do Trabalho, Layout ou Planejamento das Instalações, além da
própria Ergonomia. Para o gerenciamento eficiente da produção não basta que se foque
somente a tecnologia, os sistemas, as instalações e os procedimentos ou métodos, mas o
conjunto disso tudo e suas interações com o ser humano, ou recursos humanos.
No contexto deste capítulo estamos interessados em abordar algumas ferramentas
organizacionais do campo da Engenharia do Trabalho que são de grande importância
para o engenheiro de produção no âmbito da Ergonomia. Vale ressaltar que durante o
curso de Engenharia de Produção espera-se que essas ferramentas sejam aprofundadas
em conteúdos de disciplinas pertinentes.
Capítulo 16 | Ferramentas organizacionais 335
4XDGUR²6LVWHPDSURGXWLYRFRPHQWUDGDVHVDtGDV
4XDGUR²6tPERORV$60(SDUDJUiÀFRVGRÁX[RGHSURFHVVR
16.2.1. Fluxograma
O Fluxograma é uma ferramenta que permite representar de forma gráfica, por
meio de símbolos padronizados, todas as etapas de um processo e como elas se relacio-
nam entre si. Essa ferramenta permite explicitar o funcionamento de qualquer operação,
por mais complexa que seja, de forma clara e lógica, facilitando a identificação de etapas
problemáticas, desnecessárias ou mesmo inexistentes. Nesse caso, estamos falando de
fluxo de materiais. É também usado o fluxograma para pessoas e mesmo de informações.
A contribuição das pessoas envolvidas no processo é fundamental para a represen-
tação fiel das atividades do processo. Portanto, a montagem do Fluxograma deve seguir
uma sequência pré-estabelecida:
1) O primeiro passo é elaborar uma lista de todas as atividades rotineiras realizadas
para a execução do processo em estudo.
2) Identificar os diversos intervenientes do processo, denominados de cliente inter-
no e externo.
3) Finalizar com a diagramação do Fluxograma Funcional e/ou Carta de Processo,
utilizando a simbologia padronizada, para uma melhor visualização e análise do
processo como um todo.
Capítulo 16 | Ferramentas organizacionais 337
)LJXUD*UiÀFRGR)OX[RGH3URFHVVRSDUDXPDURWLQDGHHVFULWyULR
de laje a partir de barras de ferro, executada partindo da descrição das atividades cons-
tantes no processo.
c) Fluxo operacional
)LJXUD)OX[RRSHUDFLRQDOGHXPDXQLGDGHGHDUPDomRGHODMH
)LJXUD0DSRÁX[RJUDPD²JUiÀFRGHÁX[RGRSURFHVVRVREUHYLVWDGHSODQWD
)LJXUD'LDJUDPDGHÁX[RGHFLVmRDomR
1. Procurar itens
2. Pegar item com a mão direita
(ambas as mão se grande)
3. O item deve ser pesado? Sim/
Não
4. Inspecionar o código Sim/Não
5. Inspecionar para itens idênticos
no lote
6. O no de itens similares é maior
que 2? S/N
7. Inspecionar posicionamento do
código
8. Passar item para a mão esquerda
9. Passar item sobre o scanner
10. Escaneamento foi sucesso? S/N
11. É o item frágil ou vulnerável?
S/N
12. Colocar o item no segundo
transportador
13. Inspecionar – é o último item?
S/N
14. O cliente quer uma bolsa? S/N
15. Apertar total
16. Diga ao cliente o preço
17. Espere por pagamento
18. Receba o pagamento
19. Tecle a quantia recebida
20. Veja o troco
Capítulo 16 | Ferramentas organizacionais 341
)LJXUD*UiÀFRPmRGLUHLWDðPmRHVTXHUGD
informação poderia ser obtida por observação das rotas percorridas pelos clientes ao
longo de um determinado tempo representativo. Se a direção do fluxo entre os centros
produtivos faz pouca diferença para a decisão sobre arranjo físico, a informação pode
ser simplificada, como na Figura 16.9(b), sendo uma alternativa, como ilustrado na
Figura 16.9(c). Em algumas situações é de interesse o custo de mover materiais ou
clientes entre os centros de trabalho. Na Figura 16.9(d) é ilustrado o custo unitário de
se transportar um carregamento entre cinco centros de trabalho. Podem-se combinar
os dados de custo unitário e fluxo para obterem-se os dados de custo por distância
percorrida (figuras 16.9(e) e 16.9(f)).
)LJXUD&DUWDV'(3$5$
)LJXUDFDUWDGHUHODFLRQDPHQWRV
b) Frequência de uso: componentes usados com maior frequência devem ser colo-
cados em posição de destaque e de mais fácil alcance e manipulação.
c) Agrupamento funcional: elementos de funções semelhantes entre si formam gru-
pos que podem ser mantidos em blocos. Na Figura 16.11 observamos dispositi-
vos visuais predominantemente na parte central e comandos ao centro.
d) Sequência de uso: seguem um ordenamento operacional temporal. Aquele que é
acionado primeiro é posicionado primeiro (Figura 16.12).
)LJXUD$UUDQMRSHODVHTXrQFLDGHXVR
)LJXUD$UUDQMRSHODLQWHQVLGDGHGHÁX[R
Referências
BARNES, R. M. Estudo de tempos e movimentos. São Paulo: Edgar Blücher, 1977.
BLACK, J. T. O projeto da fábrica com futuro. Porto Alegre: Bookman, 1998.
IIDA, I. Ergonomia, produto e produção. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.
KONZ, S. Work design: industrial ergonomics. 3. ed, Ohio: Publishing Horizons, 1990.
MCCORMICK, E. J. Human factors engineering. New York: McGrawn-Hill, 1970.
MIYAKE, D. I. Ferramentas para registro e análise de fluxo: 1. Disponível em: <http://
www.pro.poli.usp.br/graduacao/backup/disciplinas-em-andamento/pro2415_1_2-1/
Ferramentas%20para%20registro%20e%20analise%20de%20fluxo%20-%201.pdf>.
Acesso em: 1o jun. 2010.
SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2002.
Capítulo
17 Antropometria
Conceitos apresentados
Neste capítulo veremos os conceitos-chave da antropometria, iniciando com
uma breve revisão de estatística básica, para nos possibilitar o entendimento do termo
percentil antropométrico de uma população de trabalhadores, intensamente emprega-
do em Ergonomia.1 Em seguida, caracterizaremos o tipo de distribuição estatística que
nos interessa neste capítulo, o da distribuição antropométrica, acrescendo-o de uma
explanação acerca dos principais fatores que influenciam em sua formação. O capítulo
se encerra com algumas considerações úteis para o uso da antropometria na parcela
que lhe cabe no projeto de transformações positivas da situação de trabalho, qual seja,
o dimensionamento de postos de trabalho.
1
1
Para efeito de destaque, sempre empregaremos o termo Ergonomia como nome próprio.
352 Ergonomia ELSEVIER
2
Por estatística se entende qualquer operação realizada sobre dados coletados. As estatísticas, de forma muito
simplificada, dividem-se em censitárias e amostrais. Realiza-se um censo quando se busca coletar dados de
toda uma população. Quando isso não é possível realizamos amostragens de diversos tipos e segundo varia-
dos métodos de precisão especifica.
Capítulo 17 | Antropometria 353
operador será obrigado a adotar posturas forçadas, num dado momento, ou executar
uma sequência de movimentos desequilibrados numa configuração dinâmica. Esse fato
pode ser facilmente observado em postos cujos pontos de atuação estão muito altos,
obrigando o operador a abduzir os ombros, ou flexionar os punhos. Em contrapartida,
quando o ponto de trabalho estiver abaixo do recomendado, haverá flexão do tronco
numa orientação pelo menos desconfortável.
A prática dimensional clássica é feita tomando-se as medidas do esqueleto huma-
no, estruturas mais rígidas do corpo. Faz-se necessário, entretanto, que também consi-
deremos um outro importante fenômeno antropométrico: a existência de uma tipologia
diferenciada de indivíduos em função da região, etnia, condição social, colonização etc.
Esse fato é particularmente importante num Brasil, onde temos dificuldades para iden-
tificar claramente qual é o “tipo brasileiro” característico. As populações das empresas
brasileiras, portanto, podem apresentar significativas divergências corporais não apenas
junto ao seu público interno – por exemplo, entre unidades de uma mesma organização
– como entre empresas de mesmo ramo. Isso impossibilita, na prática, que um estudo
feito em uma empresa ou unidade, sirva integralmente para promover adequações em
outra. Devemos entender esses preceitos, e abrir nossas mentes para uma realidade indis-
cutível: a diversidade antropométrica, maior e mais significativa que a diversidade racial
e de gênero junto a nossos trabalhadores. E isso significa: para cada grupo humano, um
estudo antropométrico particular. Não fazer isso é a mesma coisa que levar o exame de
sangue de seu vizinho para uma consulta com seu médico...
que saímos às ruas. O curioso é que estudos constataram que as proporções entre mem-
bros e tronco não se alteraram, o que faz supor que existe uma definição genética com as
proporções do corpo, porém, não com a dimensão (Koermer, 2004).
Esse crescimento espetacular dos jovens nos obriga a ponderar a validade dos es-
tudos antropométricos, após alguns anos de sua elaboração. Recomendamos, portanto,
que se faça uma revisão regular dos estudos antropométricos caso algumas das situações
indicadas na Figura 17.1 venham a ocorrer.
)LJXUD)DWRUHVGHYDULDo}HVHPXPHVWXGRDQWURSRPpWULFR
3
As estatísticas em Ergonomia as estatísticas, na maioria das vezes, têm características censitárias dado que as
ações, por se tratar de pequenos contingentes, um setor com 4 a 10 posições de trabalho, variando de 4 a 30
ocupantes. Mais ainda, nas vezes em que nos recorremos a amostragens, os tratamentos essenciais de dados,
tais como estabelecer médias e desvio-padrão, são largamente suficientes para a maioria das aplicações. Essa
simplicidade não se estende ao campo da Ergonomia como um todo. Somente aos campos mais avançados
da Ergonomia
Capítulo 17 | Antropometria 355
)LJXUD&XUYDVGH*DXVV
)LJXUD'LVWULEXLomRDQWURSRPpWULFDGHXPDWXUPDGHDOXQRVGHHVSHFLDOL]DomR
4XDGUR²&iOFXORVGHYDORUHVDPRVWUDLVXVDQGRRIDWRUD
Símbolo Valores de D
Formula do percentil
Percentil FP
P11 D1
P55 D5 3 ZPHGLD²D[
GHVYLRSDGUmR
P D
P D
P95 D95 3 ZPHGLDD[
GHVYLRSDGUmR
P99 D99
)LJXUD([FHUWRGRsoftware(UJRNLW,175-
Capítulo 17 | Antropometria 359
)LJXUD&RPSDUDomRHQWUHDVPHGLGDVGRVSpVHXURSHXVHEUDVLOHLURV
mensionar o lugar de trabalho, o qual é um projeto em que se deve considerar uma série
de fatores e examinar uma diversidade de aspectos. Atenção, pois embora relevante, o
aspecto antropométrico não é o único, muitas vezes nem o mais importante.
Isso dito, passemos ao conceito. A ideia básica da Ergonomia é a da interface, a do
relacionamento entre a pessoa e seu trabalho. Assim sendo nosso corpo se relaciona com
o lugar de trabalho em vários momentos e sob várias circunstâncias. Para bem aplicar a
antropometria, deve-se ter em mãos um inventário mínimo desses momentos e circuns-
tâncias por meio de uma análise do trabalho. De posse desse estudo se estabelece uma ou
mais posições de base e suas variantes essenciais, correspondendo às ações características
do processo de trabalho. Essas posições devem ser fotografadas de frente (plano frontal)
e de lado (plano sagital). Com isso se pode avaliar o lugar de trabalho. Essa avaliação se
faz buscando determinar qual a dimensão do posto de trabalho (altura, profundidade,
distância de mesa, bancada, plataforma, volante ou manopla) estaria forçando a postura
por não corresponder a uma dimensão antropométrica correta. A esta chamamos de
variável limitadora.
)LJXUD9DULiYHLVOLPLWDGRUDV
)LJXUD9DULiYHLVH[WUHPDVDMDQHODGR{QLEXV
Debate
Falando sério, você acha possível que as coisas sejam projetadas de acordo com a
necessidade de cada usuário, de cada ocupante, de cada pessoa? Em grupo apresentem
dois argumentos que sustentem essa possibilidade e dois argumentos que a desaconse-
lhem. O professor pode ser o mediador.
Caso real
Você tem um orçamento limitado para realizar um estudo antropométrico. No en-
tanto os resultados são extremamente importantes nessa fase do projeto em curso em sua
empresa. Qual o procedimento que você escolherá: antropômetro, fotogrametria digital
ou body-scan? Prepare uma apresentação incluindo a sensibilização para a importância
do projeto, a forma de atuação e os custos envolvidos.
Exercícios de dimensionamento
Empregando a tabela fornecida, dimensione os postos de trabalho a seguir:
364 Ergonomia ELSEVIER
Referências
CHARAUD, R.; PRADO, L. Dimensiones antropométricas y población latinoamericana. Gua-
dalayara: Udeg, 2001.
GRANDJEAN, E. Ergonomia. Porto Alegre: Bookman, s/d.
IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.
KROEMER, K. et al. Ergonomics: how to design for ease & efficiency. New Jersey: Prentice
Hall, 1894.
VIDAL, M. C. Notas de antropometria. João Pessoa: MEP/UFPb, 1879.
______. Antropometria e fundamentos de estatística. Apostila – Curso de Especialização
Superior em Ergonomia. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 2002.
FES 300 COMMITTEE. Guidelines for using anthropometric data in product design. Santa
Monica: HFES, 2004.
Capítulo
Conceitos apresentados
Este capítulo objetiva fornecer ao estudante o conceito e algumas ferramentas
relacionadas com a simulação humana aplicada à Ergonomia. Após um breve histó-
rico, são expostas as três pricipais análises que fundamentam a modelagem humana,
quais sejam, as Análises de Envelopes de Alcance; Antecipação do Campo Visual;
Análises Biomecânicas e Fisiológicas. Em seguida, o estudante é introduzido aos prin-
cipais programas computacionais de simulação humana disponíveis no mercado: Ra-
msis; Jack; Human Builder; Santos. O capitulo traz ainda discussão das aplicações em
ambientes de situação de simulação, especialmente o tema dos cenários Evolutivos e
um breve debate acerca das perspectivas para a Simulação Humana na Ergonomia;
Captura de Movimentos; Scaneamento Antropométrico; Interface com Serious Game.
)LJXUD'LYLVmRSURSRVWDSDUDVLPXODomRKXPDQDFRPSXWDFLRQDO
)LJXUD5HSUHVHQWDomRGHHVTXHOHWRSRUPHLRGHMXQWDVHVHJPHQWRV
)LJXUD$QiOLVHVDSDUWLUGHHQYHORSHVGHDOFDQFH
)LJXUD$QiOLVHVDSDUWLUGHHQYHORSHVGHDOFDQFHSDUDRVSpV
)LJXUD,OXVWUDomRGHFDPSRYLVXDOGHPDQHTXLP
Outra opção é a exibição dos cones de visão; a Figura 18.6 apresenta essa técnica,
a qual permite ao usuário definir o ângulo de abertura do campo visual e distância do
cone.
)LJXUD([LELomRGRFRQHGHYLVmRHFDPSRYLVXDOQRGHWDOKH
372 Ergonomia ELSEVIER
Alguns softwares permitem ainda que um espelho seja simulado, assim, pode-se
analisar o campo de visão do manequim levando em consideração o uso de um espelho
retrovisor. Tal aplicação é bastante útil na indústria automotiva. A Figura 18.7 demonstra
essa funcionalidade.
)LJXUD([LELomRGRFRQHGHYLVmRHFDPSRYLVXDOSRUPHLRGRHVSHOKRUHWURYLVRU
)LJXUD$QiOLVHVGHFDPSRGHYLVmRQRsoftware
essas ferramentas e métodos de análise são embasados por diferentes estudos, permitin-
do que a análise seja feita com maior rapidez e precisão pela interação homem-ambiente
e que alguns dados sejam obtidos automaticamente. Alguns dos principais métodos e
análises biomecânicas disponíveis são:
)LJXUD,QWHUIDFHSDUDDQiOLVHGHIRUoDHWRUTXHHJUiÀFRVFRPDQiOLVHVQRsoftware-DFN
)LJXUD$QiOLVH58/$QRVRIWZDUH-DFN
c) NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health – Lifting equation)
O objetivo da equação é identificar os riscos associados com carga física à qual o
trabalhador está submetido e recomendar um limite de peso adequado para cada tarefa
em questão. A aplicação dessa análise em ambiente de simulação humana é ilustrada na
Figura 18.11.
e) análise de fadiga
A análise permite identificar o grupo muscular com maior potencial de fadiga e
uma estimativa de tempo necessário para a maioria dos trabalhadores se recuperarem
da demanda física. Em alguns softwares, um gráfico em tempo real permite monitorar
continuamente a parte do corpo que se submete à tensão máxima e identificar a fadiga
acumulada durante uma simulação. A Figura 18.12 ilustra uma análise de fadiga.
Com relação a essas análises de maior complexidade e que seguem padrões co-
nhecidos dos ergonomistas, conclui-se que o uso delas deve ocorrer de forma cautelosa
e criteriosa. Alguns pontos que são considerados importantes sobre esse aspecto são:
a) o analista deve possuir uma boa compreensão sobre o método/ferramenta;
b) é desejável experiência do analista com o método em sua aplicação tradicional;
c) a análise com base na simulação deve ser acompanhada por pessoas que conhe-
çam bem o processo produtivo e situações de referência;
d) os resultados das análises devem ser questionados quanto à fidelidade ao método
e às aproximações realizadas durante os processos de modelagem, tanto humana
quanto do ambiente.
De qualquer forma, recomenda-se uma “calibração” da ferramenta pelo analista,
por meio de análises de um mesmo posto, sob as mesmas condições, em ambiente digital
(com o uso do software) e físico (aplicação tradicional).
É importante salientar que, mesmo sendo uma forma de análise mais prática,
menos dispendiosa e com menor nível de perturbação dos ambientes produtivos, tais
ferramentas, mesmo sendo baseadas em padrões reconhecidos e legitimados, não permi-
tem eliminar a figura de um ergonomista, o qual deve se dirigir até o local de trabalho
sob intervenção para conhecer o ambiente, compreender o contexto e interagir com os
trabalhadores, buscando revelar os verdadeiros condicionantes da atividade.
)LJXUD(YROXomRGRVHVIRUoRVQRGHVHQYROYLPHQWRGDVLPXODomRKXPDQD
18.3.1. Ramsis
Desenvolvido pela empresa alemã Human Solutions, o software é focado na in-
dústria automotiva, especificamente para análise ergonômica de interiores de carros.
O modelo humano representa fisicamente o ser humano por meio de 53 juntas, 104
graus de liberdade e 90 diferentes manequins para cada base de dados antropométricos
(estatisticamente validados). Atualmente existem versões para a indústria aeronáutica e
aplicações generalizadas, incluindo uma específica para interação com realidade virtual
(Ramsis, 2008). Na Figura 18.14 é possível observar uma simulação em automóvel.
)LJXUD$QiOLVHDXWRPRWLYDFRPRsoftware Ramsis
18.3.2. Jack
O software Jack surgiu a partir de um doutorado, desenvolvido no Centro de
Modelagem e Simulação Humana da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
O financiamento para o desenvolvimento foi obtido de várias fontes, incluindo a sus-
tentação significativa da NASA (Agência Espacial Americana) e do exército dos EUA. A
ferramenta foi aplicada a uma larga escala de projetos, incluindo o reprojeto do helicóp-
tero Comanche e o desenvolvimento de uma estação espacial internacional (ISS). A Figura
18.15 ilustra um manequim feminino percentil 05 (com base na população japonesa)
interagindo na ISS (Sundin; Christmansson; Örtegren, 2000).
Capítulo 18 | Simulação humana aplicada à Ergonomia 379
sua postura natural. Outra característica biomecânica é a presença de 148 graus de li-
berdade. Uma aplicação da ferramenta Delmia Human Builder 2 pode ser visualizada na
Figura 18.16.
18.3.4. Santos
O software Santos pode ser caracterizado como o estado da arte em modelos hu-
manos digitais, recebendo, nos últimos anos, fortes investimentos das Forças Armadas
dos EUA e da empresa Caterpillar (VSR, 2004). Farrel (2005) apresenta-o como resulta-
do de uma necessidade mercadológica de manequins realísticos que possam ser opera-
dos mais facilmente pelos usuários, sem que estes tenham a necessidade, por exemplo,
de configurar diversas juntas para definir uma postura. Uma das características relevan-
tes do manequim, além do alto grau de detalhamento biomecânico, é o avanço no que
diz respeito à deformação da pele durante a realização dos movimentos e conforme a
personalização das medidas antropométricas. O modelo digital humano e sua estrutura
interna biomecânica estão ilustrados na Figura 18.17.
Capítulo 18 | Simulação humana aplicada à Ergonomia 381
)LJXUD(VWUXWXUDGRHVTXHOHWRGRPRGHORKXPDQRGLJLWDO6DQWRV
PRVWUDQGRDORFDOL]DomRHWLSRGDVGLYHUVDVMXQWDV
predição de posturas, com base em capturas de movimentos reais, realizados por pessoas
em laboratório e com cálculos matemáticos.
)LJXUD3RVWXUDGHÀQLGDFRPEDVHHPRWLPL]DomR
)LJXUD$UWLFXODomRPHWRGROyJLFDHFRQFHLWXDOYLVDQGR
a condução de processos de projeto
lagem contribuirá para uma melhor compreensão das variabilidades intra e inte-
rindividual.
UÊ Integração perfeita dos modelos mais versáteis em sistemas de simulação humana.
Atualmente, por mais flexíveis que sejam os softwares, muitos foram desenvolvi-
dos a partir de dados com limitações e simplificações de importantes segmentos
corporais, sendo que nem todos os graus de liberdade foram ativados, dessa for-
ma, a evolução para sistemas mais precisos, em termos da reprodução dos movi-
mentos parece ser um grande desafio para os pesquisadores da área.
UÊ Possibilidade de medição dinâmica de movimento do esqueleto verdadeiro e pro-
priedades do sistema músculo-esquelético, especialmente quando uma anormali-
dade ou patologia está envolvida.
UÊ Modelagem de repetição crônica ou do efeito do tempo. Por exemplo, a degene-
ração ou fadiga dos tecidos musculares, em movimentos simulados continua a ser
um objetivo tentador à simulação humana.
UÊ Desenvolvimento de modelos validados de predição de movimentos e posturas
para várias populações. Isso poderia ser utilizado de maneira combinada com
modelos psicológicos e biomecânicos, proporcionando um entendimento muito
maior da dinâmica humana e das limitações específicas de determinadas popula-
ções e por fim, esses novos modelos poderiam proporcionar uma ferramenta de
projeto muito poderosa no campo da Ergonomia.
Nos estudos desenvolvidos na Suécia, os pesquisadores apontam, ainda, algumas
indicações de que o desenvolvimento das ferramentas computacionais de Simulação Hu-
mana deve congregar os conhecimentos da simulação baseada em agentes, na qual os
manequins se tornarão cada vez mais independentes do controle humano. Sundin1 e Ör-
tengren2 (2006) citam como exemplo disso o projeto do soldado virtual da Universidade
de Iowa (EUA), o qual vem sendo chamado de Virtual Soldier Research – VSR e que tem
apresentado resultados relevantes, como o software Santos, apresentado anteriormente
neste capítulo.
Nessa perspectiva, parece emergir a necessidade de ferramentas computacionais
que sejam capazes de apresentar funções como avaliação de fadiga, autonomia, proati-
vidade e percepção das situações, representação e previsão do comportamento humano,
simulação de multidões e simulação de roupas. Além de tais necessidades, há outros
requisitos importantes mencionados por pesquisadores, tais como a aparência do mane-
quim, que deverá incorporar uma representação realística da pele humana, suas defor-
mações, contrações musculares e expressões faciais.
Sundin e Örtengren (2006) apontam ainda a necessidade de análises mais ade-
quadas de conforto e vibração, principalmente no contexto da indústria automotiva. Eles
1
National Institute for Working Life – Gotemburgo, Suécia.
2
Chalmers University of Technology – Gotemburgo, Suécia.
386 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD6FDQQHU'GHVHQYROYLGRHFRPHUFLDOL]DGRSHODHPSUHVDHuman Solutions
)LJXUD,QWHUIDFHSDUDHQWUDGDVGHGDGRVDQWURSRPpWULFRVQRsoftware Ramsis
18.6. Conclusões
A partir desta discussão, verifica-se que a área de simulação humana já evoluiu
muito, tanto em termos de sua pesquisa como ciência básica quanto nas mais diversas
aplicações. No entanto, é necessário observar que há ainda um grande espaço de pesqui-
sa a desenvolver e muitos outros desafios serão apresentados por cada usuário em sua
situação particular de uso. Por isso, faz-se necessário que as organizações interessadas
no desenvolvimento de tecnologia, em particular aquelas interessadas em Ergonomia,
desprendam seus recursos para o desenvolvimento de novas pesquisas e, dessa forma,
alcancem novos patamares viabilizando que projetos cada vez mais adequados aos seres
humanos possam ser executados em menos tempo e com menores custos de concepção.
nalização com dados antropométricos da população sob estudo. Tais dificuldades estão
restritas ao campo técnico da utilização da ferramenta, sem considerar o contexto das
aplicações e outras características dos processos de projeto de situações produtivas.
Quando consideramos tais fatores, um risco presente nas aplicações desenvolvi-
das com o uso desse tipo de ferramenta é o reducionismo da situação global, minimi-
zando a relevância dos aspectos organizacionais e cognitivos situados no contexto e que,
geralmente, não estão presentes em modelos virtuais. Isto é, a modelagem para uma
simulação nunca comportará todos os aspectos organizacionais (influência de turnos de
trabalho, definição de equipes, formas de gestão e cobrança de resultados, entre outros)
e, principalmente, aspectos cognitivos (nível de atenção demandada, processo de toma-
da de decisão, memória, entre outros).
Isso se agrava pela possibilidade de o analista não conhecer a fundo o local sob
análise e não ter acesso a pessoas que trabalham e conhecem as principais dificuldades
que encontram no seu dia a dia, isto é, a simulação é altamente dependente da visão do
trabalho que o usuário dessa tecnologia possui ou tem à sua disposição. Tais dificuldades
influenciam diretamente na determinação da atividade futura provável a ser simulada.
Nesse sentido, a importância da complementaridade de protótipos físicos, além
da prototipagem digital, permite a interação do usuário/trabalhador com o posto de
trabalho em projeto, assim como com os analistas e projetistas, sendo fundamental para
validar e melhorar uma série de aspectos “invisíveis” em ambiente digital. Essa experiên-
cia de interação não pode ser substituída por ferramentas computacionais, por mais
avançadas que possam ser, visto a riqueza existente na interação física com um protóti-
po, revelando sensações, percepções e detalhes, tanto por parte daqueles que concebem
quanto daqueles que usam. Tal discussão é considerada de fundamental importância no
contexto da Ergonomia e projeto e pode ser encontrada com maior detalhamento em
Fontes et al. (2005) e Tonin et al. (2007).
Pesquisa na internet
Pesquise na internet os principais clientes dos softwares apresentados e diferencie
seus ramos de atuação e potencialidade de aplicações (considerando o cliente final).
Debate
Discuta as possibilidades de uso da simulação humana nas seguintes etapas de um
projeto de uma situação produtiva:
a) Desenvolvimento conceitual.
b) Validação junto aos usuários.
c) Marketing.
Caso real
Considerando as três funcionalidades apresentadas no capítulo, explicite como
cada uma pode contribuir para o projeto de:
a) Cabine de um trator.
b) Layout de uma sala de controle.
c) Doca de carga e descarga manual de engradados de cerveja.
Referências
ABDEL-MALEK, K. et al. Towards a new generation of virtual humans. International
Journal of Human Factors Modelling and Simulation, v. 1, n. 1, pp. 2-39, 2006.
BERTONCELLO, D. et al. Utilização de instrumento para caracterização de fatores de ris-
co: resultados de uma aplicação em larga escala em linhas de produção. In: ABERGO,
13, 2004, Fortaleza. Anais… Fortaleza: ABERGO, 2004. CD-ROM.
BRAATZ, D. Análise da aplicação de ferramenta computacional de modelagem e simulação
humana no projeto de situações produtivas. 2009. 162 p. Dissertação (Mestrado em En-
genharia de Produção) – PPGEP/DEP, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.
BRAATZ, D. et al. Aplicações de tecnologia de simulação humana em projetos de situa-
ções produtivas. In: ENEGEP, 27, 2007, Foz do Iguaçu. Anais... Foz de Iguaçu: EN-
EGEP, 2007. CD-ROM.
392 Ergonomia ELSEVIER
19 Ergonomia e acessibilidade
no ambiente de trabalho
Antonio Gualberto Filho, MSc – UFPB
Conceitos apresentados
Um dos objetivos da Ergonomia é a adaptação dos meios de trabalho à maioria
da população trabalhadora. Porém, uma situação inversa se observa em relação ao
trabalho da pessoa com deficiência, quando o Ergonomista ou o Engenheiro de Pro-
dução deverá adaptar o trabalho a um trabalhador único, com características que o
diferenciam de todos os demais, e fazer de modo que ele obtenha sucesso no desem-
penho de sua tarefa.
19.1. Introdução
A cidade sem habitantes é uma cidade fantasma. A cidade, na verdade são as
pessoas que a habitam, portanto, é para elas que a cidade deve ser pensada e construí-
da. Daí porque é necessário ouvi-las, conhecer as suas necessidades e desejos. Porém,
a cidade real é bem diferente e bem menos amistosa, pois, quando ultrapassamos o
umbral de nossa soleira nos defrontamos com um espaço que foi pensado e construído
para algumas pessoas e não para todas. Quando chegamos à calçada começamos uma
jornada difícil, quase uma maratona, pois teremos que superar desníveis, ultrapassar
valas, driblar postes e assemelhados e, vez ou outra, vencer verdadeiras florestas repletas
de plantas espinhosas que ficam a nos espreitar à espera do menor desequilíbrio para
fincar suas pontiagudas extremidades em nossa carne. Sem dúvida, a linguagem está um
tanto dramática, mas é a realidade. E o pior é que não termina aí. Quando vamos acessar
os transportes coletivos temos outras barreiras a vencer, pois eles são até razoáveis para
atletas especialistas em corrida com obstáculos, mas, para a pessoa comum que conduz
pacotes, crianças de colo, é obesa, ou mesmo se encontra em estado de gravidez avança-
do, a tarefa é penosa.
Capítulo 19 | Ergonomia e acessibilidade no ambiente de trabalho 395
Esses casos apontados são temporários e, por difíceis que sejam, são situações
passageiras. Porém, a situação é critica para as populações de pessoas com deficiência
(PCDs), que apresentam incapacitações permanentes e que têm que conviver com as
dificuldades de locomoção e acesso em todas as situações de suas vidas. Para essas pes-
soas a cidade mostra a sua face mais cruel com barreiras que são levantadas em todas as
direções e dificultam a vida dessas pessoas tanto para o trabalho como para o lazer. É
por elas que devemos repensar a cidade, pois, elas têm desejos, necessidades e direitos
como todos nós.
É considerando as PCDs que precisamos pensar as importantes mudanças que se
fazem necessárias para ajudar na sua integração social tais como:
UÊ A supressão das barreiras arquitetônicas em edifícios, vias, espaços públicos, sa-
nitários, parques, praias etc.
UÊ A adaptação progressiva da rede de transporte pública urbana.
UÊ O compromisso com o Desenho Universal na hora de desenhar novos produtos e
projetos arquitetônicos.
UÊ A eliminação das barreiras de comunicação na atenção e informação ao público.
UÊ A normalização e adaptação progressiva dos serviços e espaços públicos.
UÊ A criação de espaços e mecanismos de participação social das PCDs em todos os
âmbitos da vida coletiva.
O conceito de Desenho Universal foi desenvolvido pelo Center for Universal De-
sign, da School of Design of North Carolina State University, nos Estados Unidos. Contém
sete princípios que podem ser usados tanto para avaliar projetos existentes como para
orientar novos projetos (Cambiaghi, 2007). São os seguintes:
1) Equiparação nas possibilidades de uso.
2) Flexibilidade no uso.
3) Uso simples e intuitivo.
4) Informação perceptível.
5) Tolerância ao erro.
6) Mínimo esforço físico.
7) Dimensionamento de espaços para acesso e uso de todos os usuários.
A importância do entrelaçamento do desenho universal com a Ergonomia deve-se
à necessidade do conhecimento do conteúdo das atividades, bem como da capacidade
reduzida, física e/ou mental do indivíduo, para que esses ambientes e esses produtos
possam ser desenvolvidos e usados de modo a garantir soluções eficientes para uma
maior gama de usuários.
É importante para as PCDs que o espaço urbano seja amigável e capaz de ampliar
as suas possibilidades de ação além de sua casa ou de seu espaço de trabalho.
Essa percepção deve ser estendida ao espaço de trabalho onde o trabalhador com
deficiência deverá atender às exigências de um programa de produção do qual ele ou ela
faz parte. E é nesse contexto que o Ergonomista ou o Engenheiro de Produção deverá
396 Ergonomia ELSEVIER
4XDGUR²'LVWULEXLomRGH3&'VSRU5HJLmRGR%UDVLO
5(*,®2 %
125'(67(
1257( 14
68'(67( 12
68/ 18
&(17522(67( 16
4XDGUR²,QFLGrQFLDGHWLSRVGHGHÀFLrQFLDQDSRSXODomREUDVLOHLUD
7,326'('(),&,È1&,$6 %
'(),&,È1&,$0(17$/
'(),&,È1&,$)Ì6,&$
'(),&,È1&,$$8',7,9$ 15
'(),&,È1&,$9,68$/
'(),&,È1&,$0Ô/7,3/$
aplicada ao trabalho da pessoa com deficiência (PCD), quando se procura adaptar o tra-
balho a situação especifica de um trabalhador.
Isso acontece por meio do estudo das ações e reações do sistema neuro-músculo-
-esquelético (N-M-E) em relação às demandas apresentadas ao ser humano na situação
de trabalho. Quando o indivíduo apresenta uma disfunção em qualquer um desses sub-
sistemas, podendo ser de forma isolada ou combinada, terá dificuldade em responder a
demanda apresentada pela tarefa.
Assim, na linguagem ergonômica, uma deficiência é uma disfunção em qualquer
um dos subsistemas neuro-músculo-esquelético (N-M-E), resultando na incapacidade de
o indivíduo responder a uma demanda nas mesmas condições que uma pessoa que não
apresente essa disfunção seria capaz de fazer.
)LJXUD&RPSRQHQWHVGRVLVWHPDQHXURP~VFXORHVTXHOpWLFR
Todavia, esse indivíduo que apresenta deficiência pode realizar tarefas, desde que,
condições adequadas lhe sejam oferecidas por meio de uma intervenção ergonômica no
ambiente de trabalho.
)LJXUD7DOKHUHVDGDSWDGRV
)LJXUD5HSUHVHQWDomRGDDomRHUJRQ{PLFD
)LJXUDDÑQLEXVDFHVVtYHO
)LJXUDE(VWDFLRQDPHQWRDFHVVtYHO
)LJXUD&DGHLUDGHURGDVPDQXDO
)LJXUD0yGXORSDGUmRSDUDGLPHQVLRQDPHQWR
)LJXUD0HGLGDVPtQLPDVSDUDFLUFXODomR
)LJXUD0HGLGDVSDUDPDQREUDVHPGHVORFDPHQWR
)LJXUD0HGLGDVSDUDPDQREUDFRPGHVORFDPHQWR
)LJXUD/DUJXUDGRYmRGDSRUWD
i = h × 100
c
Capítulo 19 | Ergonomia e acessibilidade no ambiente de trabalho 409
)LJXUD5DPSD
Onde:
i é a inclinação, em porcentagem;
h é a altura do desnível;
c é o comprimento da projeção horizontal.
O que mostra que a rampa está em conformidade com a NBR 9050:04. Caso a
inclinação esteja em desconformidade terá que ser corrigida.
Mostramos na Figura 19.12 um exemplo de rampa com guarda-corpo e corrimão.
)LJXUD5DPSDFRPJXDUGDFRUSRHFRUULPmR
)LJXUD$OFDQFHPDQXDOIURQWDO
)LJXUD$OFDQFHPDQXDOODWHUDO
)LJXUD'LPHQVLRQDPHQWRGDVXSHUItFLHGHWUDEDOKR
)LJXUD3ODQRKRUL]RQWDO
)LJXUD3ODQRODWHUDO
)LJXUDÇQJXORYLVXDOQRSODQRYHUWLFDO
)LJXUDÇQJXORYLVXDOQRSODQRKRUL]RQWDO
)LJXUD&RQHVYLVXDLVGDSHVVRDHPFDGHLUDGHURGDV
)LJXUD'LPHQVLRQDPHQWRGRSRVWRGHWUDEDOKRFRPFRPSXWDGRU
'LPHQVLRQDPHQWRGHPHVDSDUDWUDEDOKR
)LJXUD$OWXUDDGHTXDGDSDUDEHEHGRXUR
)LJXUD$OWXUDGHEDOFmRGHDXWRDWHQGLPHQWRHPUHVWDXUDQWH
)LJXUD6tPEROR,QWHUQDFLRQDOGH$FHVVR
)LJXUD6tPEROR,QWHUQDFLRQDOGH3HVVRDVFRP'HÀFLrQFLD9LVXDO
)LJXUD6tPEROR,QWHUQDFLRQDOGH3HVVRDVFRP'HÀFLrQFLD$XGLWLYD6XUGH]
19.8. Conclusão
Aqui se falou da diferença de abordagem ergonômica entre o trabalhador com capa-
cidade funcional plena (CFP) e com capacidade funcional reduzida (CFR), onde este último
apresenta características que o diferencia de todos os demais. E a missão do Engenheiro de
Produção é contribuir para que ele obtenha sucesso no desempenho de sua tarefa.
Segundo dados do IBGE (2009) cerca de 14,5% da população brasileira, ou 27,9
milhões de pessoas, são constituídos de indivíduos com algum tipo de deficiência.. E no
Brasil foi instituída a Lei no 8.213 de 24/07/1991, que determina em seu art. 93, que em-
presas com 100 ou mais empregados está obrigada a contratar pessoas com deficiência.
Foi colocada a importância do entrelaçamento do desenho universal com a Er-
gonomia devido à necessidade do conhecimento do conteúdo das atividades bem como
da capacidade reduzida da pessoa com deficiência e da importância de se desenvolver
produtos que possam ser usados pela maior gama possível de pessoas.
Tratou-se da visão ergonômica da pessoa com deficiência e das formas de adapta-
ção do trabalho à pessoa com deficiência. Sendo colocado para o Engenheiro de Produ-
ção que haverá uma mudança nesse procedimento de avaliação da interface do indivíduo
com seu posto de trabalho na realização de uma tarefa. Porque se tratando de uma pessoa
com deficiência, o procedimento ergonômico será voltado para atender às capacidades
funcionais residuais físicas e/ou mentais do indivíduo.
E se finalizou falando do “espaço de trabalho” para a pessoa com deficiência, da
sua abrangência, desde que começa no ônibus que a transporta até o local de trabalho,
passando pelo estacionamento que deve ter área adequada para embarque e desembar-
Capítulo 19 | Ergonomia e acessibilidade no ambiente de trabalho 419
que tanto do ônibus como do automóvel, pelas áreas de circulação do arranjo físico.
Considerou-se também as medidas antropométricas da pessoa em cadeira de rodas e as
dimensões do posto de trabalho, encerrando com a sinalização a ser usada. De modo a
deixar o aluno de Engenharia de Produção apto a dar os primeiros passos no campo da
Ergonomia voltada para a pessoa com deficiência em situação de trabalho.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 9050:2004. Aces-
sibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro:
ABNT, 2004.
ALVES, S. Encontro debate as deficiências da sociedade frente ao portador de deficiência.
Revista CIPA, n. 250, pp. 44-69, 2000.
BARBOSA FILHO, A. N. Um modelo de avaliação da qualidade de vida no trabalho para a
pessoa com deficiência. 2004. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Centro
de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
BRASIL. Decreto no 5.296, de 2 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis no 10.048, de 8
de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e
420 Ergonomia ELSEVIER
20 O projeto da organização
Conceitos apresentados
Neste capítulo veremos alguns conceitos básicos de organização, para nos pos-
sibilitar o entendimento do tema organização como objeto da Ergonomia. Em seguida
caracterizaremos os tipos de projetos organizacionais que mais nos interessam neste
capítulo, o da divisão do trabalho, ou arranjo organizacional, a organização espacial
ou arranjo físico, e a organização temporal ou arranjo de equipes. O capítulo se en-
cerra com algumas considerações úteis para o projeto de situações de trabalho, como
elementos funcionais básicos dos sistemas de trabalho e de produção.
Para o que nos propomos neste capítulo a adoção dessa categoria atividade de
trabalho tem dois aspectos significativos nos planos teórico e metodológico. No plano
teórico ela permite caracterizar a materialidade da organização do trabalho: executar,
realizar, fazer uma atividade de trabalho é confrontar-se com a estrutura organizacional
da empresa e, por meio dela, com a sociedade. Trata-se de funcionar dentro de uma dada
organização do trabalho. A organização formal existente se torna concreta sob a forma
de barreira ou facilitação para a execução de uma atividade de trabalho. Em consequên-
cia, no plano metodológico, olhar a atividade de trabalho nos conduz a relacionar essa
materialidade da organização do trabalho com as condutas das pessoas na produção
(seus comportamentos e o sentido dessas ações). Ou antes, a explicação de certos com-
portamentos e do sentido aparentemente absurdo de certas atividades somente podem
ser entendidos a partir da constatação de uma organização do trabalho, tornada visível
enquanto fonte de variabilidades (que geram os problemas de produção) e como produ-
ção de barreiras (que geram os entraves e obstáculos para regular uma variabilidade) e
facilitações (pela existência de recursos e alternativas para tais eventualidades).
)LJXUD3URFHVVRSURGXWLYRGHLQG~VWULDVGHIRUPD
)LJXUD3URFHVVRGHWUDEDOKRHPLQG~VWULDVGHIRUPD
mento de crenças e ideologias como pelos meios materiais que coloca à disposição das
gerações futuras. Nesse sentido, uma atividade de trabalho se insere num contexto onde
o presente – a organização materializada do trabalho – se conjuga com um futuro – os
meios técnicos de ação e os meios gerenciais de planejamento e controle de operações – e
é condicionado com um passado – as vivências, experiências, as competências, a história
pessoal e coletiva. A atividade de trabalho emerge dessa tripla confrontação, cada perío-
do da história sendo marcado por um conjunto de meios técnicos e seus respectivos
procedimentos: conservação a princípio e posteriormente produção do fogo, caça e, pos-
teriormente, criação de animais a abater etc.
O pensamento de Vytgosky (1987) é, nesse particular, extremamente fértil. Ele
sustenta que a existência pura e simples de meios e procedimentos externos à pessoa não
são suficientes para que ela os incorpore nas suas atividades de trabalho. Ele sustenta a
existência de instrumentos psicológicos, engendrados pela história e pela cultura, que
são igualmente meios de mediação, mediadores, que vão permitir a reorganização das
funções superiores da mente e permitirão a apropriação do instrumento de trabalho, o
mediador mais aparentemente físico. É como redesenhássemos o objeto na nossa mente.
Por exemplo, olhe para o computador que você usa diariamente: você conhece todos os
seus detalhes físicos, eletrônicos, lógicos? Ou você o opera conhecendo apenas algumas
funções e acionando apenas parte de seus dispositivos?
O esquema de processo de trabalho que acabamos de propor é ainda incompleto
para nossos fins teóricos. Se no sentido físico a atividade é mediada por instrumentos e
instalações, no sentido social e psicológico ela se depara com outras mediações. Falta a
esse esquema do processo de trabalho o lugar da organização, enquanto fato, enquanto
história, enquanto diversidade antropológica. Em outros termos, o processo de trabalho
em si não remete à sociedade, mas apenas cristaliza algumas de suas relações mais recôn-
ditas. Portanto, necessitamos acrescentar mais elementos a esse esquema de forma que
possamos dar conta tanto da sociedade como da tecnologia para que possamos falar na
organização do trabalho, a ponte entre ambas.
)LJXUD3URFHVVRGH3URGXomR
)LJXUD0HGLDGRUHVVRFLRWpFQLFRVGDDWLYLGDGHGHWUDEDOKR
Capítulo 20 | O projeto da organização 429
)LJXUD(OHPHQWRVGHXPDDWLYLGDGH
Esses temas (ii) a (iv) estão tratados em outro capítulo deste livro. Aprofundare-
mos, neste capítulo o item (i) Mudanças organizacionais e tecnológicas. Entenderemos
os programas de modernização tecnológica – PROMODS – como uma antropotecnologia
situada numa empresa, onde não se trata apenas de realizar um programa de Ergonomia
para corrigir as distorções e gerir a evolução sociotécnica da empresa. Trataremos aqui
de um conjunto de casos onde:
a) pretende-se atualizar uma tecnologia existente (upgrade);
b) pretende-se introduzir melhoria tecnológica a partir de tecnologias análogas (kai-
zen);
c) trata-se de modernizar a fundo, inclusive planejando uma nova instalação (project).
)LJXUD(VTXHPDGDDQWURSRWHFQRORJLD
acabam não ocorrendo plenamente, fazendo com que o funcionamento real das empre-
sas pouco tenha a ver com a origem. Eis o que demonstra, em síntese, a antropotecno-
logia. Para nossa construção metodológica, vamos aproveitar essas lições para construir
uma engenharia de modernização assistida pela Ergonomia e seus modelos operantes. A
Figura 20.6 esquematiza essa proposta.
)LJXUD0RGHORVSDUDHVWXGRGHWUDQVIHUrQFLDGHWHFQRORJLD
4XDGUR²3UREOHPiWLFDGHWUDQVIHUrQFLDGHWHFQRORJLD
)LJXUD(VTXHPDGDVLPXODomRHUJRQ{PLFD
4XDGUR²&RQFOXV}HVGHXP35202'HPXPKRVSLWDOS~EOLFR
UÊ >Ê}À>`iÊ>À>Ê`>ÃÊÛiâiÃ]ÊÃÊÀiëÃ?ÛiÃÊ«i>Ê>µÕÃXKÊ`ÃÊiµÕ«>iÌÃÊ
não se preocuparam com a arquitetura, esquecendo igualmente dos estudos da
carga elétrica necessária para instalação do equipamento.
UÊ +Õ>`Ê`>ÊVviVXKÊ`ÊVÌÀ>ÌÊ`iÊvÀiViÌ]ÊÃÊ>Õ>ÃÊÌjVVÃÊKÊÃKÊ
solicitados e quando o são, normalmente de forma errada. Muitos deles sequer
são traduzidos e localizados para o país.
UÊ ÃÊVÌÀ>ÌÃ]ÊÊÌÀi>iÌÊ`>ÊiµÕ«iÊÌjVV>Ê`iÊ«iÀ>XKÊiÊ`>ÊiµÕ«iÊ`iÊ>-
nutenção, é bastante aquém da efetiva necessidade; essa mesma divisão clássica
cristalizada nos contratos é ademais questionável, já que nesse particular os ope-
radores realizam uma série de tarefas de antecipação aos problemas de manu-
tenção e mesmo pequenas regulagens, donde a necessidade de serem também
treinados em conteúdos terotecnológicos.
UÊ >Ê «À«À>Ê iëiVwV>XKÊ ÌjVV>]Ê µÕ>`]Ê i>LÀ>`>Ê «ÃÃÕÊ }À>`iÃÊ v>
>Ã°Ê "ÃÊ
equipamentos, em geral necessitam de bases de assentamento próprias, cujas
especificações quando disponíveis o são de forma recôndita, ensejando uma en-
genharia complementar ad hoc.
440 Ergonomia ELSEVIER
Caso real
Uma grande banca de advocacia contrata uma estagiária para ajudar a secretária.
Ambas dispõem de um sistema simples (micro + impressora) para seu trabalho. Seu che-
fe saindo para visitar um cliente deixa como tarefa suplementar a impressão e postagem
de um importante e sigiloso contrato a seguir no malote das 17 horas.
4XDGUR²,QTXpULWRVREUHXPSUREOHPDRUJDQL]DFLRQDO
Pesquisa participante
Leia e entenda bem o conceito de ilha antropotecnológica. Depois, procure três
colegas que trabalhem em multinacionais e puxe conversa com eles para saber como as
coisas são organizadas nessas multinacionais. Faça uma pequena matéria jornalística tipo
Época e, com aprovação dos colegas, publique num blogspot.
Referências
BARNES, R. M. Estudo e medida do trabalho. São Paulo: Edgard Blücher, 1971.
DANIELLOU, F. O lugar da prática e dos conhecimentos na intervenção ergonômica de con-
cepção. 1992. Tese (Livre-Docência em Ergonomia) – Universidade Toulouse-Le Mirail,
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langage à l’approche ethnométodologique. In: Pavard, B. (Org.) Systèmes coopératifs: de
la modelisation à la conception. Toulouse: Octarès, 1994.
DOS SANTOS, N. Análise ergonômica do controle de trafego de metro: comparação entre o
metrô de Paris e do Rio de Janeiro. 1985. Tese (Doutorado em Ergonomia) – Conser-
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DURKHEIM, E. Les règles de la méthode sociologique. Paris: PUF, 1986 [1995].
ËNGESTROM, Y. Learning by expanding. Helsinki: Orienta-Konsulting, 1987.
FEITOSA, V. C. R. Os escritos e o trabalho: um ensaio de Ergonomia. 1996. Tese (Douto-
rado em Engenharia) – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa
de Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
GUALBERTO, A. F. A segurança do trabalho na construção industrializada de estruturas de
concreto. 1990. Tese (Doutorado em Engenharia) – Instituto Alberto Luiz Coimbra de
Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro.
______. O princípio da produção segura. Texto para debate. João Pessoa: LAT/DEP/UFPb,
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HANSON, N. R. Observação e intrepretação. In: MONGENBESSER, S. (Org.) Filosofia da
ciência. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1975, pp. 127-140.
KRICK, E. W. Estudo de sistemas e métodos. Rio de Janeiro: LTC, 1972.
KUUTTI, M. Activity theory as a potential framework for human computer interaction
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LEONTIEV, A. N. The problem of activity in psychology. Soviet Psychology, 13(2),
pp. 4-33, 1974.
444 Ergonomia ELSEVIER
21 Arquitetura de locais
de trabalho
Marcello Silva e Santos, DSc – COPPE/UFRJ
Conceitos apresentados
Neste capítulo discorreremos os seguintes temas:
UÊ "Ê*ÀiÌÊ`iÊÀµÕÌiÌÕÀ>ÊiÊÃÕ>ÊV«iiÌ>À`>`iÊVÊÊ*ÀiÌÊ
À}VÆ
UÊ "Ê«À}À>>Ê`iÊ>ÀµÕÌiÌÕÀ>ÊiÊ>Ê>`iµÕ>XKÊiÀ}V>Æ
UÊ ÃÊ}Õ>}iÃÊ`iÊ«>`ÀªiÃÊpattern languages) na ação projetual;
UÊ ÊiÃÌKÊ`iÊ*ÀiÌÃÊÊ
ÌiÝÌÊ`>Ê
À}>Ê`iÊ
Vi«XKÆ
UÊ Û>>XKÊ*Ã"VÕ«>XKÊiÊ?ÃiÊÕV>Ê`iÊLiÌiÃÊ`iÊ/À>L>
°
21.1. Introdução
Nesses 60 anos de estudo, pesquisa e desenvolvimento da Ergonomia enquan-
to disciplina e prática, incluindo experiências conjuntas de ação em projetos de
Arquitetura e Ergonomia, uma pergunta em especial paira no ar: por que não é
mais evidente o interesse dos ergonomistas pela chamada Arquitetura de Locais de
Trabalho? Afinal, sem um ambiente de trabalho como palco, nenhuma atividade
de trabalho existiria e, nesse contexto, nem ao menos suas condições ergonômicas
seriam objeto de interesse. Entretanto, continuamos observando pessoas trabalha-
rem em condições distantes das ideais. Espaços exíguos para atividades de trabalho,
baixo nível de acessibilidade intra e interposto, excesso de frio, calor, ruído e ilu-
minamento deficientes são apenas algumas das respostas que continuamos a ler nos
questionários sobre condições de trabalho que são passados para a identificação de
problemas... ergonômicos!
446 Ergonomia ELSEVIER
Tabela 21.1²3ULQFtSLRVGD$ERUGDJHP3DUWLFLSDWLYD
3ULQFtSLRGD,QIRUPDomR
7RGRRSHVVRDOVHUiLQIRUPDGRDFHUFDGRREMHWLYRGRSURMHWR
GDPHWRGRORJLDHGRVPpWRGRVGHFROHWDGHGDGRVSDUDD
SURJUDPDomR
3ULQFtSLRGD&RRSHUDomR
7RGDVDVLQIRUPDo}HVQRkPELWRGDVVLWXDo}HVGHWUDEDOKR
HGDDWLYLGDGHGHWUDEDOKRQHVWDVVLWXDo}HVVHUiUHDOL]DGD
MXQWDPHQWHFRPRVWUDEDOKDGRUHVGLUHWDPHQWHHQYROYLGRVH
QmRDSHQDVFRPDVFKHÀDVHVXSHUYLV}HV
3ULQFtSLRGD5HVWLWXLomR
$VLQIRUPDo}HVGDGRVHVTXHPDVHPRGHORVREWLGRVQHVWDV
DQiOLVHVGHYHPVHUDSUHVHQWDGRVDRVRSHUDGRUHVHQYROYLGRV
HYDOLGDGRVSRUHVWHJUXSRDQWHVGHVXDSRVWHULRUXWLOL]DomR
SURMHWXDO
3ULQFtSLRGD6RFLDOL]DomR
$VVROXo}HVSURSRVWDVGHYHUmRVHUDSUHVHQWDGDVHDSURYDGDV
SHORFRQMXQWRGHSHVVRDVHQYROYLGDVV
todos se empenham na busca dos meios possíveis para torná-lo cada vez mais parte
integrante e dissociável da vida em sociedade, ou seja, um objetivo a ser alcançado
para a plenitude do ser e cada vez menos um mal necessário à nossa subsistência. E
uma das formas de se aproximar diferentes povos é exatamente aprender sua cultura,
seu idioma. A isso podemos chamar “Uniformização de linguagens”. A partir de um
alinhamento induzido de diferentes representações mentais, podemos conseguir com
que abordagens participativas, cruciais na Ergonomia, avancem de forma mais efi-
ciente, possibilitando a melhoria contínua de todo o processo. A uniformização que
defendemos não significa somente treinamento prático-profissional. Ela deve visar o
estabelecimento de conjuntos de “símbolos” padronizados que aproxime diferentes
culturas profissionais (e suas diferentes linguagens), criando bases de dados mais ho-
mogêneos para melhor atender a diferentes grupos de indivíduos. O conhecimento
desse vocabulário comum de projeto pode reduzir a complexidade dos sistemas dife-
rentemente representados, elevando simultaneamente o nível de domínio necessário à
discussão dos mesmos.
Uma das ferramentas aplicáveis a essa necessidade é a utilização de uma “Lin-
guagem de Padrões em Ergonomia”, inspirado em Christopher Alexander, arquiteto
austríaco, radicado nos EUA, que propõe um método dedutivo, de inspiração cons-
trutivista. Esse modelo de condução participativa de projeto apresenta-se como con-
traponto aos modelos pragmatistas puros, materialistas e outras abordagens usuais na
arquitetura moderna. Para ilustrar o conceito em um contexto de trabalho, tomemos
um exemplo simples. Imaginemos um padrão que remeta a uma “Relação entre Postos
de Trabalho”. As “forças” que regem os padrões poderiam ser a necessidade de comu-
nicação e de se fazer várias coisas ao mesmo tempo, incluindo sentar e operar equi-
pamentos e utensílios. O padrão específico seria “Posto de Trabalho”. Outros padrões
mais gerais seriam “Distância entre Pessoas” ou “Atividades no Posto”, sugerindo que
uma atividade no posto não deveria interferir com ou ser interferida por outras ativi-
dades. Apesar desse contexto genérico, as forças no padrão “Atividades no Posto” são,
em verdade, muito parecidas com as existentes em “Posto de Trabalho”. Essas forças
concorrentes podem ser interpretadas como parte da essência de um conceito – ideia
ou design – expressado em um “padrão”. Se mantivermos o foco nos impactos para a
vida humana, podemos identificar padrões que não dependem de mudanças tecnoló-
gicas, que seriam “padrões de qualidade infinita”, ou como prefere Alexander (1979),
“qualidade sem um nome”. Contrapondo ao conceito de “padrão” proposto, teríamos o
que o autor chama de “antipadrão”, ou seja, uma solução adotada por pura repetição,
já que não foi discutida com seus usuários.
450 Ergonomia ELSEVIER
Figura 21.120RGHOR)2&$GH7UDWDPHQWRGR$PELHQWH
Figura 21.20HWRGRORJLDGH(UJRQRPLDHDUTXLWHWXUDFRPELQDGD
da maneira pela qual foi conduzido o processo de concepção, desde a fase de ideação até
o instante de definição dos primeiros traços que irão culminar em um projeto legal – no
sentido de oficial – e definitivo, que vai definitivamente marcar presença no entorno
urbano e impactar positiva e/ou negativamente a vida de várias pessoas.
Outras abordagens participativas vêm sendo trabalhadas por arquitetos preocupa-
dos com a qualidade da vida urbana e o bem-estar dos usuários do ambiente construído
que produzem. Em termos de metodologia de avaliação de desempenho, a avaliação
pós- ocupação (APO), é um procedimento de avaliação análogo ao utilizado cotidiana-
mente na análise dos produtos em geral: Planejamento, Execução, Controle e Avaliação
para a retroalimentação do ciclo produtivo. Suas origens remontam aos Estados Unidos
e Canadá, no final dos anos 1940, com o surgimento: a) da psicologia ambiental, que
estuda as relações entre ambiente e comportamento; b) do conceito de desempenho dos
edifícios; e c) a consolidação da Programação Arquitetônica (Architectural Programming)
– “elemento prescritivo usado pelos projetistas para desenvolver soluções” (Rabinowitz,
1984, p. 396). Na maioria dos projetos vinculados a instituições públicas desses países,
especialmente os das áreas de administração, saúde, educação e habitação coletiva, tem
sido cada vez mais comum a necessidade dos projetistas incorporarem a APO ou pro-
cedimentos de Projeto Participativo (Participatory Design) no processo de condução de
projetos.
Além das dificuldades naturais oriundas do processo produtivo do ACT (Ambien-
te Construído para o Trabalho), também é comum que os programas de necessidades em
projetos de arquitetura sejam determinados ou acordados pelas altas esferas das organi-
zações, que muitas vezes desconhecem as demandas reais de cada atividade. O Projeto
Participativo (Participatory Design) tem conquistado a atenção de profissionais de vários
setores ao redor do mundo, havendo inclusive diversas pesquisas desenvolvidas em Er-
gonomia (Applied Ergonomics). Com relação à Arquitetura de Locais de Trabalho, abor-
dagens participativas têm sido mais comuns em países nórdicos (devido à existência de
sindicatos influentes) e nos Estados Unidos (por questões econômicas devido à pressão
de seguradoras e incorporadoras). Henry Sanoff (1990 apud Demirbilek, 2004), autor
e pesquisador de renome internacional sobre Projeto Participativo enfatiza que todos os
projetistas que estão preocupados com a “Qualidade de Vida” em um ambiente construí-
do devem considerar a participação dos usuários, envolvendo-os no processo de projeto.
)LJXUD&RQÀJXUDomRRULJLQDO
)LJXUD([HPSORGHSDGUmRFRQVROLGDGR
21.4. Conclusão
A NBR 9050, norma da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) revista
em 2004, estabelece critérios mínimos aceitáveis para acessibilidade em edificações, e as
Normas Regulamentadoras do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), especialmente,
nesse caso, as NR 8 (Edificações), NR 12 (Máquinas e Equipamentos), NR 15 (Atividades
e Operações Insalubres), NR 17 (Ergonomia), NR 23 (Proteção Contra Incêndios), NR
24 (Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho), NR 26 (Sinalização de
Segurança), assim como outras instruções projetuais, são de amplo domínio por parte
dos responsáveis por projetos e construções de ambientes destinados ao trabalho.
A Ergonomia deve interferir numa escala técnica diretamente ligada às compe-
tências envolvidas na concepção desses espaços de trabalho, determinando diretrizes
456 Ergonomia ELSEVIER
projetuais que contemplem uma tradução mais aproximada dos elementos observados
em campo. As atividades de trabalho real representam importantes indicadores que de-
vem alimentar bancos de dados formais (cadernos de encargos, manuais etc.) e informais
(diretrizes básicas, conceitos etc.). Esses bancos de dados dinâmicos, no sentido que de-
vem ser constantemente aprimorados, fornecem a engenheiros e arquitetos os padrões,
critérios e ferramentas para a concepção e execução desses ambientes construídos. Além
das necessidades normais de manutenção e conservação, os ambientes construídos para
o trabalho, em geral, atendem a um público que está sempre em evolução tanto social
quanto tecnológica. Nesse sentido, as modificações dos ambientes de trabalho não são
apenas inevitáveis, mas inerentes ao próprio processo evolutivo. Assim, os ambientes
projetados para atividades de trabalho devem buscar antever essa evolução natural, pre-
parando-se para que toda modificação de uso, ampliação e adaptação desses ambientes,
possa contribuir ao máximo no cotidiano dessas pessoas.
Enfatizamos também a necessidade de se promover a interação e participação dos
diversos usuários de um ambiente de trabalho na concepção e projeto de seus próprios
locais de trabalho. Afinal, esses são os “clientes” diretos desse processo e aqueles que
sofrerão as consequências de qualquer desconformidade ou inadequação, bem como se
beneficiarão dos resultados positivos. Além disso, segundo os psicólogos ambientalistas,
existem estudos que mostram que quando as pessoas interagem no seu ambiente de tra-
balho elas adquirem um senso de apreço pelo local e de responsabilidade comum pelos
resultados. Essa percepção causa bem-estar e uma melhor adaptabilidade ao meio e ao
ambiente construído. No tocante ao processo de criação relacionado à ação projetual
e ao design, é importante ressaltar que os espaços de trabalho tendem a incorporar um
simbolismo próprio do autor (projetista) que tenta antever as sensações e anseios de
usuários que não ele conhece, executando atividades que ele não domina. Essa “referen-
ciação” projetual é uma atitude essencialmente inconsciente. Como os “resultados” das
escolhas projetuais (tanto em termos de aplicação do programa como do partido adota-
do) dificilmente serão conhecidos pelos autores, esses arquitetos e projetistas em geral
são consequentemente excluídos da oportunidade de aprendizado advinda da utilização
dos ambientes de trabalho. Dessa forma, deficiências e incompatibilidades tenderão a ser
perpetuadas no ciclo de ação projetual, ou ainda, muito pior, assimiladas culturalmente.
Questões
1) Observe as ilustrações a seguir e encontre deficiências de projeto que possam estar
se constituindo em inadequações ergonômicas na atividade.
Referências
ALEXANDER, C. The timeless way of building. Oxford: Oxford University Press, 1979.
CARAYON, P.; SMITH, M. J. Balance theory of job design. International Journal of Indus-
trial Ergonomics, v. 4, pp. 67-79, 1989.
DEMIRBILEK, O. Universal product design involving elderly users: a participatory de-
sign model. Applied Ergonomics, v. 35, n. 4, pp. 361-370, jul. 2004.
HENDRICK, H.; KLEINER, B. M. MacroErgonomia: uma introdução aos projetos de sis-
temas de trabalho. Rio de Janeiro: EVC, 2006.
LEWIN, K. Problemas de dinâmica de grupo. São Paulo: Cultrix, 1946.
NOVAK, J. Concept mapping: a useful tool for science education. Journal of Research in
Science Teaching, v. 27, n. 10, pp. 937-949, 1990.
PASMORE, W. Creating strategic change: designing the flexible, high-performing organi-
zation. New Jersey: Wiley, John & Sons, 1994.
RABINOWITZ, H. The uses and boundaries of post-occupancy evaluation: an overview. In:
PREISER, W. Building evaluation. New York: Plenum, 1989.
458 Ergonomia ELSEVIER
SANTOS, M.; VIDAL, M. C. R. Success or failure, what a difference a good plan makes:
a benchmarking case study of robotics implementation in two public pharmacy facili-
ties. International Conference on Industrial Engineering and Operations Management,
14, 2008, Rio de Janeiro. Annals… Rio de Janeiro, Associação Brasileira de Engenharia
de Produção, 2008.
VIDAL, M. C. R. Guia para AET nas empresas. Rio de Janeiro: EVC, 2003.
______; Bonfatti, R. J. Conversational action: an ergonomic approach to interaction In:
GRANT, P. Rethinking communicative interaction. Amsterdam: John Benjamin, 2003,
p. 108-120.
Capítulo
22 Projeto da interface
homem-máquina
Bernardo Bastos da Fonseca; Daniella Alessandra Cassano;
María Victoria Cabrera Aguilera; Raphael Pacheco da Rocha – COPPE/UFRJ
Conceitos apresentados
Este capítulo irá apresentar os elementos necessários para o projeto da interfa-
ce homem-máquina. O modelo sistema homem-máquina e as recomendações para o
projeto de comandos e controles e mostradores.
22.1. Introdução
Os dispositivos de informação estão presentes em diversos tipos de produtos, am-
bientes e situações. Logo, fazem parte do cotidiano das pessoas e, igualmente, dos sistemas
e situações de trabalho. Com a informatização dos postos de trabalho, ocorreu uma mudan-
ça no comportamento dos trabalhadores e nos esquemas operatórios (Moraes; Montalvão,
2000). Entretanto, sempre foi priorizado o funcionamento eficaz das máquinas e sistemas
informatizados visando à produção. Por conseguinte, a Ergonomia vem contribuir para
uma melhor interação e compreensão do sistema Homem-Máquina a fim de otimizar o
bem-estar do agente operacional e o bom desempenho global do sistema.
A situação de trabalho é definida como sendo a combinação dos fatores externos ao
operador (normas, meios de trabalho, mobiliário) e fatores internos ao operador (como seu
estado orgânico, sua competência e personalidade). Sendo assim, entende-se que em uma
situação de trabalho ambos os fatores não devem ser dissociados, já que atuam permanen-
temente para geração de atos articulados, ou seja, a atividade de trabalho.
O operador não pode ser considerado como alguém que executa tarefas
prescritas, mas como agente que cria permanentemente a sua atividade,
dependendo do que percebe e compreende a partir da situação real de
trabalho com a qual se confronta. (Wisner, 1996)
460 Ergonomia ELSEVIER
De acordo com Teixeira, et al. (2007), “uma interface pode ser definida como
parte de um sistema com o qual o usuário realiza contato por meio de um plano físico,
perceptivo e cognitivo”.
Os meios informatizados atualmente são os principais fornecedores de informa-
ção para os trabalhadores, estabelecendo dessa forma a interação Humano-Sistema. Essa
interação consiste na relação de troca de informação entre o homem e sistemas ou pro-
dutos ou interfaces. Hewett (1992) cita que a introdução do computador às situações de
trabalho necessita do ajuste entre os aspectos humanos, técnicos e laborais, quer seja por
meio no aprendizado humano ou confecção de sistemas apropriados. O esquema abaixo
demonstra, de maneira simplificada, como o operador interage com o processo por meio
de displays (telas) e dispositivos de controle.
22.2.1. Telas
Quando falamos de interface, imediatamente associa-se essa questão a computado-
res e telas. Nesse tópico, será feita uma abordagem simplificada sobre telas e suas confi-
gurações recomendadas. Muitas das recomendações aqui expostas possuem relações com
computadores e telas de salas de controle presentes em diversas situações de trabalho.
Posicionamento das telas/Cones de Visão. Conforme a situação de trabalho e
as características físicas dos trabalhadores, as telas devem se posicionar de acordo com
o ângulo de visão deles. Para isso, faz-se necessário o aprimoramento dos equipamentos
com sistemas reguláveis que possibilitem o posicionamento de uma ou mais telas na
zona de conforto visual. São prevenidas, assim, possíveis posturas forçadas que podem
vir a ocasionar dores e desconfortos nos trabalhadores durante a jornada de trabalho.
Leitura de informações na tela. Para garantir a efetiva interface entre o homem
e as informações contidas na tela, deve-se considerar o planejamento da mesma visando
os preceitos ergonômicos:
UÊ Características físicas dos trabalhadores.
UÊ Experiência e conhecimento prévio.
UÊ Características da tarefa.
UÊ Visão macro da realidade do sistema.
UÊ Assistir a tomada de decisão.
UÊ Usabilidade na interface.
Além desses preceitos, há regras gerais para configuração de telas. São elas: ligar
a informação fornecida à ação, facilitar a identificação de informações significativas, evi-
denciar as informações e homogeneizar as informações visuais.
Quando se configura uma tela, diversos fatores devem ser considerados:
1) Respeitar a lógica do operador no desenvolvimento da atividade.
2) Prever de espaços e pontos de referência para reagrupar informações.
3) Reduzir a informação ao que é necessário e direcionado ao trabalhador e à ativi-
dade.
4) Agrupar na tela itens e dados que possuem inter-relação.
5) Simplificar as telas ao máximo para reduzir qualquer carga de trabalho desneces-
sária.
Santos e Zamberlan (1992) afirmam que no momento de configurar telas, é ne-
cessário pensar nas divisões das informações que serão dispostas. Isso é fundamental
para o controle do processo ao qual se está trabalhando. Uma divisão mal desenvolvida
ocasiona uma grande troca de telas em busca da informação, fadiga visual e impõe me-
morização. É importante detectar as ligações entre as informações fornecidas e as ativi-
dades dos operadores.
462 Ergonomia ELSEVIER
4XDGUR²5HFRPHQGDo}HVSDUDFRQWUDVWHFDUDFWHUH[IXQGR
&RUGHIXQGR
&RUGRFDUDFWHUH 8WLOL]DU (YLWDU
$PDUHOR 0DJHQWDYHUPHOKR %UDQFRD]XOYHUGH
0DJHQWD %UDQFRD]XOYHUGH 9HUPHOKR
%UDQFR $]XOYHUPHOKRYHUGHPDJHQWD $PDUHOR
$]XO 9HUGHEUDQFR 9HUPHOKR
9HUGH $PDUHOREUDQFR $]XO
9HUPHOKR $PDUHOREUDQFR 0DJHQWDD]XO
Na tela com contraste positivo, a pupila dos olhos do usuário fecha e fica menor,
possibilitando maior profundidade de foco visual, o que facilita a focalização de objetos,
além de reduzir o desgaste dos olhos.
No momento de codificar as informações presentes na tela, o número de cores
utilizadas afeta profundamente a discriminação das cores. Quanto maior o número de
cores, mais difícil se torna a distinção, exigindo uma atenção maior do usuário. É re-
comendável o uso de três a sete cores numa mesma tela para facilitar a codificação das
informações. As informações presentes nas telas em cores podem proporcionar algumas
vantagens ao desempenho do operador, em relação às telas monocromáticas. As cores
colaboram no processo cognitivo de assimilação e interpretação da informação.
)LJXUD0RYLPHQWRVFRPSDWtYHLVHPDGXOWRVHFULDQoDV
)LJXUD([SHULrQFLDGH6PLWK
)HFKDGXUDGH&DL[D 'HQWHVSFLPD 17 23
3DUDDEULUXPDFDL[D
HPTXHVHQWLGRYRFr
FRORFDULDRVGHQWHVGD
FKDYH"
'HQWHVSEDL[R 83 77
0RYLPHQWRGD (PSXUUDQGR 76 59 71
$ODYDQFD 3X[DQGR 24 41 25
&RPRYRFrPRYHULDD 6HPUHVSRVWD ² ² 4
DODYDQFDSDUDGHVORFDU
RSRQWHLURSGLUHLWD
7RUQHLUDGH3LD (VTXHUGD'LUHLWD
(PTXHVHQWLGRVDV +RUiULR+RUiULR 17 34 22
WRUQHLUDVGHYHPVHU +RUiULR$QWLKRU 23 13
JLUDGDVSDUDDEULUD $QWLKRUKRUiULR 13 26 16
iJXD" $QWLKRUDQWLKRU 47 49
7HFODGRSFDOFXODGRUD 36
HOHWU{QLFD FDOFXODGRUD 25 33
&RORTXHRVQosGH 123
DGHDFRUGRFRPD
PiTXLQDGHFDOFXODU 123
HOHWU{QLFD WHOHIRQH 49 14 35
789
RXWURVDUUDQMRV 26 54 29
466 Ergonomia ELSEVIER
Como podemos observar na pesquisa acima, existem diversas opções para acionar
e operar os dispositivos de controle de cada artefato.
Vários recursos são utilizados para diferenciar os controles e facilitar a sua identi-
ficação, diminuindo os índices de acidentes como:
1) Forma – Tato.
2) Tamanho – Comparação visual, caso estejam perto de si.
3) Cores – Visual (verde = liga/vermelho = desliga). Local escuro não funciona.
4) Textura – Tato. Como no acabamento superficial do controle: liso e rugoso. Onde
o uso de luvas é prejudicial.
5) Modo Operacional – Diferentes do tipo: Alavanca, Puxa, empurra.
6) Localização – Senso cinestésico, sem o acompanhamento visual. (O uso do câm-
bio nos carros).
7) Letreiros – Uso de palavras, códigos numéricos. (Salas Nucleares).
8) Combinação de códigos – Diferenciar com formas e cores para eliminar a ambi-
guidade (ver Figura 22.6).
)LJXUD&RQWUROHVGLVFULPLQiYHLVSHORWDWR
22.3.4. Manejo
É o “engate” físico entre o homem e a máquina.
Manejo Fino
(10 kg).
Transmite maior precisão e velocidade, mas pouca força
)LJXUD0DQHMRVÀQRV
Manejo Grosseiro
(40 kg).
Possui pouca precisão e velocidade, mas grande força
468 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD0DQHMRVJURVVHLURV
UÊ Antropomorfização.
UÊ Atenção (alertas).
UÊ Diferencias individuais do usuário.
A otimização do sistema Homem-Máquina pode colaborar com a redução de cus-
to e aumento da produtividade. A facilidade de uso de displays e dispositivos de controle
é parte essencial do seu projeto pelo simples fato de que dispositivos de interface difíceis,
não são utilizados como deveriam, e que incorrem em desperdício de tempo, aumento
da necessidade de treinamento, de riscos de incidentes e acidentes com consequências
catastróficas.
Pesquisa na internet
Busque na web uma situação em que possa obter informações sobre segurança
em controles (sala de controle, cockpit de avião, situação industrial etc.). Faça um relato.
Referências
GRANDJEAN, E. Manual de Ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 4. ed. Porto
Alegre: Bookman, 1998.
IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.
IVERGARD, T.; HUNT, B. Handbook of control room design and ergonomics: a perspective
for the future. 2. ed. London: CRC, 2009.
MORAES, A.; MONT´ALVÃO, C. Ergonomia: conceitos e aplicações. 3. ed. Rio de Janeiro:
2AB, 2007.
SANTOS, L. (2007) – A Ergonomia para interfaces gráficas com o usuário na indústria
automatizada: o caso da usabilidade de displays scada em uma usina hidrelétrica de
grande porte. Rio de Janeiro, COPPE/UFRJ, M.Sc., Engenharia de Produção.
SANTOS, V.; ZAMBERLAN, M.; PAVARD, B. Confiabilidade humana e projeto ergonômico
de centros de controle de processos de alto risco. Rio de Janeiro: Synergia/IBP, 2009.
______; ______. Projeto ergonômico de salas de controle. São Paulo: Fundación Mapfre,
1992.
470 Ergonomia ELSEVIER
SMITH, S. L. Exploring compatibility with words and pictures. Human Factors, v. 23,
n. 3, pp. 305-315, 1981.
VIDAL, M. Ergonomia na empresa: útil, prática e aplicada. 2. ed. Rio de Janeiro: EVC,
2002.
______; CARVALHO, P. Ergonomia cognitiva: raciocínio e decisão no trabalho. Rio de
Janeiro: EVC, 2008.
Capítulo
23 Treinamento
23.1. Introdução
Qual a necessidade de se treinar as pessoas? Será que é preciso treinar? Treinar
por quê? Treinar para quê? Treinar o quê? Como treinar? Quando treinar? Quem deverá
treinar? Onde treinar? etc. Essas são questões que devem ser esclarecidas quando do pro-
cesso de concepção e implementação de um treinamento. Muitas vezes, as organizações
não despertam para treinar as pessoas porque naturalizam e incorporam as seguintes
situações de aprendizado, apenas:
1) aquela em que a gente vê o outro fazendo algo e confia que, pelo fato de ter visto
o outro fazendo, a gente já sabe como fazer, porque memorizamos aquele “modo
de fazer” e, então, repetimos aqueles atos como memorizamos;
2) aquela em que a gente não precisa ver tanto: “é só dizer como se faz que eu vou lá
e faço”. Memoriza-se a descrição e procura-se proceder conforme o dito;
3) aquela em que a pessoa é colocada junto de alguém que trabalha naquilo que lhe
foi designado para trabalhar, e, por imitação e/ou orientação, procura repetir e/ou
seguir de forma similar as operações observadas e orientadas;
4) aquela em que a pessoa segue a prescrição, por exemplo, o Procedimento Opera-
cional Padrão-Pop de uma atividade.
O treinamento pressupõe possibilitar ao treinando a aprendizagem e o desenvol-
vimento pessoal. As equipes e padrões de auditorias internas e externas dos sistemas
de gestão das organizações verificam o quesito treinamento como parte do conjunto de
quesitos necessários para a emissão de Certificação, por exemplo, de gestão da qualidade
(Iso 9000), gestão ambiental (Iso 14000) e responsabilidade social (NBR Iso 16001).
Nesse sentido, os profissionais responsáveis pela condução do treinamento devem ser
certificados também.
474 Ergonomia ELSEVIER
23.2. Treinamento
A abordagem “contábil” da área de administração de pessoas imprime a termino-
logia capital humano para explicar que “as pessoas não são ativos perecíveis que devem
ser consumidos, mas ativos valiosos, que devem ser desenvolvidos e que viabilizam os
negócios de uma organização” (Picarelli apud Boog; Boog, 2002).
As pessoas não são mais consideradas “recursos” – como na abordagem tradicio-
nal de administração de pessoas – que devem ser reunidos para serem introduzidos no
processo de trabalho, mas como um “capital” (humano) que agrega valor à organização
e, por isso, deve receber contínuos investimentos, entre os quais em treinamento, para
incrementar os negócios.
Claro, não podemos ter uma compreensão reducionista de que as pessoas são
“recursos” ou “capital humano”. As pessoas são pessoas, seres humanos, sujeitos e, como
tais, têm subjetividade, cultura, valores, singularidades e vivem em sociedade. E o trei-
namento deve levar em conta essa complexidade.
“Treinar tem origem no verbo latino trahere e significa trazer, levar a fazer algo”
(Assunção, 1997). Decorre-se dessa etimologia, que o treinamento pode ser entendido
como o conjunto de métodos mais ou menos sistemáticos, utilizados para levar alguém a
ser capaz de fazer algo que ele nunca fez antes, e fazê-lo sem a assistência de quem o en-
sina (Carvalho, 1995 apud Assunção, 1997). “Treinar é, portanto, estimular mudanças
de comportamento, direcionando-as para o melhor desempenho profissional” (Macian,
1987).
O conceito de treinamento pode assumir um sentido mais amplo e associar o in-
cremento da experiência e competência profissional ao desenvolvimento da organização
e ao crescimento pessoal.
Dado o seu sentido educacional, o treinamento deve ser encarado como
troca de experiência e como processo de mudança em direção ao cres-
cimento pessoal, propiciando, consequentemente, o desenvolvimento da
organização. (Macian, 1987)
Boog (2001) define treinamento como “(...) a ação sistematizada de educação para
a capacitação, o aperfeiçoamento e o desenvolvimento do indivíduo”.
O treinamento pode ser
(...) um instrumento implementador de procedimentos mais racionais,
mais qualificados e mais eficazes, porém, estará sempre carregado de um
propósito de respeito às necessidades do desenvolvimento individual. (...)
Criar instrumentos de desenvolvimento não quer dizer, portanto, instru-
mentalizar, no sentido de modelar comportamentos segundo um esquema
predeterminado. (Macian, 1987).
476 Ergonomia ELSEVIER
4XDGUR²2SURFHVVRGHWUHLQDPHQWRHGHVHQYROYLPHQWR
/HYDQWDPHQWRGDVQHFHVVLGDGHVGHWUHLQDPHQWRGHYHVHYHULÀFDUVHKiDUHDOQHFHVVLGDGHGHVHRIHUHFHU
XP GHWHUPLQDGR WUHLQDPHQWR 3URFXUDVH LGHQWLÀFDU DV QHFHVVLGDGHV GH FDGD FDUJR SDUD PHOKRUDU R
GHVHPSHQKR H D SURGXWLYLGDGH DQDOLVDVH R S~EOLFRDOYR H HVSHFLÀFDVH RV REMHWLYRV GR WUHLQDPHQWR $
RUJDQL]DomRRDPELHQWHLQWHUQRHH[WHUQRPHUFDGRXVXiULRHWFHDVSHVVRDVGHYHPID]HUSDUWHGHVVH
GLDJQyVWLFRDSDUWLUGRTXDOVHGHÀQLUiDVUHDLVQHFHVVLGDGHVGHWUHLQDPHQWR
Projeto instrucional: GL] UHVSHLWR DR SURJUDPD GH WUHLQDPHQWR RQGH FRQVWD D GHVFULomR GRV REMHWLYRV
GR WUHLQDPHQWR GRV PpWRGRV TXH VHUmR DGRWDGRV GDV PtGLDV TXH VHUmR XWLOL]DGDV GDV VHTXrQFLDV GRV
FRQWH~GRV SURJUDPiWLFRV GRV H[HPSORV D VHUHP DSUHVHQWDGRV GRV H[HUFtFLRV D VHUHP DSOLFDGRV H GDV
DWLYLGDGHVDVHUHPUHDOL]DGDV(VVHPDWHULDOLQVWUXFLRQDOGHYHVHURUJDQL]DGRHHVFULWRGHIRUPDFODUD
Validação: R WUHLQDPHQWR GHYH UHVHUYDU R PRPHQWR GH YDOLGDomR HP TXH RV SDUWLFLSDQWHV HP Q~PHUR
VLJQLÀFDWLYR GHYHP DYDOLDU VXD HÀFiFLD 2V UHVXOWDGRV SURGX]LGRV SHOD DYDOLDomR GHYHP VHU OHYDGRV HP
FRQWDSHORLQVWUXWRURXIDFLOLWDGRUSDUDDVUHYLV}HVHPHOKRULDFRQWtQXDGRWUHLQDPHQWR
Implementação:DLPSOHPHQWDomRGRWUHLQDPHQWRHVHXVXFHVVRSRGHPVHUDSULPRUDGRVFRPDUHDOL]DomR
GHXPworkshopSDUDRVLQVWUXWRUHVIRFDGRHPFRQKHFLPHQWRVQRGHVHQYROYLPHQWRGDVKDELOLGDGHVGH
DSUHVHQWDomRHQRVFRQWH~GRVSURJUDPiWLFRV
$YDOLDomRHfollow-up:DPHGLomRGRVXFHVVRGRSURJUDPDGHWUHLQDPHQWRpIHLWDDSDUWLUGDYHULÀFDomRGDV
UHDo}HVLPHGLDWDVGDVSHVVRDVDRWUHLQDPHQWRGRQtYHOGHaprendizagemfeedbackHDSOLFDomRGHWHVWHV
DQWHVHGHSRLVGRWUHLQDPHQWRGRcomportamentoSRUPHLRGDREVHUYDomRGDUHDomRGRVVXSHUYLVRUHV
DRGHVHPSHQKRGRVIXQFLRQiULRVDSyVRWUHLQDPHQWRHGRVresultadosSRUPHLRGDPHGLomRGRQtYHOGH
PHOKRULDGRGHVHPSHQKRGRWUDEDOKR
4XDGUR²(WDSDVQRSODQHMDPHQWRGHWUHLQDPHQWR
$6(7$3$6123/$1(-$0(172'(75(,1$0(172
(7$3$ 248(e)(,72 &202e)(,72
1 3HUÀOGRV&DUJRV
2 3HUÀOGDV3HVVRDV
,GHQWLÀFDomRGRVFRQKHFLPHQWRVGDV 5HJLVWURVH[LVWHQWHVWHVWHVGHFRQKHFLPHQWRV
SHVVRDV HVSHFtÀFRV
4XDGUR²1tYHLVGHDYDOLDomRGHWUHLQDPHQWR
9LVmRGRSDUWLFLSDQWHVREUHRSURJUDPDSDUDDYDOLDUDVXDUHDomRDRWUHLQDPHQWRHRTXH
1tYHO
SODQHMDID]HUFRPRTXHDSUHQGHX
$YDOLDomRGRDSUHQGL]DGRPHGLDQWHWHVWHVDSOLFDGRVDQWHVHGHSRLVGHFDGDWUHLQDPHQWRSDUD
1tYHO
DYDOLDUTXDLVKDELOLGDGHVFRQKHFLPHQWRVRXDWLWXGHVIRUDPPRGLÀFDGRVHHPTXHSURSRUomR
1tYHO 0XGDQoDVGHFRPSRUWDPHQWRGRVSDUWLFLSDQWHVGHSRLVGHWUHLQDGRV
,PSDFWRGHSHUIRUPDQFHTXHDVPXGDQoDVFRPSRUWDPHQWDLVSURYRFDPQDRUJDQL]DomRFRPR
1tYHO
XPWRGR
4XDGUR²7pFQLFDVGHWUHLQDPHQWR
Treinamento no trabalho: HVVH WUHLQDPHQWR p UHDOL]DGR SRU PHLR GR PpWRGR GH coaching RX PpWRGR GD
VXEVWLWXLomRHPTXHRIXQFLRQiULRpWUHLQDGRSRUXPWUDEDOKDGRUH[SHULHQWHRXSHORVXSHUYLVRU
Treinamento de aprendizagem:FDUDFWHUL]DVHSHORGHVHQYROYLPHQWRGHKDELOLGDGHVSRUPHLRGDFRPELQDomR
GHLQVWUXomRHPVDODGHDXODFRPWUHLQDPHQWRQRWUDEDOKRtraining on the jobHPTXHRDSUHQGL]HVWXGD
VREDWXWHODGHXPPHVWUH
Treinamento por simulação: R WUHLQDPHQWR RFRUUH IRUD GR ORFDO GH WUDEDOKR QR HTXLSDPHQWR TXH VHUi
XWLOL]DGR QR ORFDO GH WUDEDOKR RX HP XP HTXLSDPHQWR VLPXODGRU (VVH WLSR GH WUHLQDPHQWR p HVFROKLGR
TXDQGRRWUHLQDPHQWRQRORFDOGHWUDEDOKRpPXLWRFXVWRVRRXSHULJRVR2EVYHUQHVWHOLYURRcaseVREUH
(UJRQRPLDQDDYLDomR
7pFQLFDVDXGLRYLVXDLVHGHHQVLQRDGLVWkQFLDVmRWUHLQDPHQWRVFRPDXWLOL]DomRGHUHFXUVRVDXGLRYLVXDLV
WDLVFRPRÀOPHVFLUFXLWRVIHFKDGRVGH79'9'VHWF2HQVLQRDGLVWkQFLDpXPUHFXUVRWDPEpPXWLOL]DGR
SHODVHPSUHVDVQDPRGDOLGDGHGHWHOHWUHLQDPHQWRYtGHRFRQIHUrQFLDHDXODVSHODLQWHUQHW
Treinamento computadorizado:RWUHLQDQGRXVDRFRPSXWDGRUTXHSRVVXLXPsoftwareLQWHUDWLYRFRPR
FRQWH~GRGRWUHLQDPHQWRTXHSURPRYHDLQWHUDomRGRWUHLQDQGRHPWHUPRVGHFRQKHFLPHQWRVHKDELOLGDGHV
HDLQGDH[LEHWHVWHVDVHUHPUHVSRQGLGRVHRJDEDULWRGHDFHUWRVHHUURVGDVUHVSRVWDV
7UHLQDPHQWRYLD&'520LQWUDQHWHLQWHUQHWPyGXORVGHWUHLQDPHQWRVmRHQYLDGRVSDUDRVWUHLQDQGRVYLD
LQWHUQHWFRPRVFRQWH~GRVHRVLVWHPDGHDYDOLDomR7DPEpPH[LVWHDGLVSRQLELOL]DomRGRWUHLQDPHQWRQD
LQWUDQHWGDHPSUHVDRXHP&'520VIDFLOLWDQGRRDFHVVRDRWUHLQDPHQWRGHQWURHIRUDGRORFDOGHWUDEDOKR
Portais de aprendizagem:VmRSRUWDLVFULDGRVQDLQWHUQHWHPTXHRVWUHLQDPHQWRVVmRGLVSRQLELOL]DGRVH
DFHVVDGRVSHORWUHLQDQGRHPTXDOTXHUSDUWHGRSODQHWD
Treinamento para propósitos especiais: WUHLQDPHQWR HP DOIDEHWL]DomR WUHLQDPHQWR VREUH RV YDORUHV
DVVXPLGRVSHODHPSUHVDHWUHLQDPHQWRSDUDDGLYHUVLGDGHSDUDPHOKRUDUDVHQVLELOLGDGHLQWHUFXOWXUDOHD
KDUPRQLDQDVUHODo}HVGHWUDEDOKR
4XDGUR²&ODVVLÀFDomRGRHUURGHDFRUGRFRPRQtYHOGHSHUIRUPDQFHRXGH
comportamento
1Ì9(/'(3(5)250$1&(28
7,32'((552 48$1'22&255(
&203257$0(172
Referências
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trada. 1997. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) – Faculdade de
Comunicação, Universidade de Brasília, Brasília.
BOOG, G. (Coord.). Manual de treinamento de desenvolvimento: um guia de operações.
São Paulo: Makron Books/ABTD, 2001.
______; BOOG, M. Manual de gestão de pessoas e equipes: estratégias e tendências. São
Paulo: Gente, 2002.
CARVALHO, R. J. M. A padronização situada como resultante da ação ergonômica em sis-
temas complexos: estudos de caso numa companhia aérea nacional a propósito da im-
plantação de um treinamento CRM-LOFT. 2005. 298 p. Tese (Doutorado em Enge-
nharia de Produção) – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
DADOY, M. As noções de competência e competências à luz das transformações na ges-
tão da mão de obra. In: TOMASI, A. (Org.). Da qualificação à competência: pensando o
século XXI. Campinas: Papirus, 2004.
DANIELLOU, F. A Ergonomia em busca e seus princípios: debates epistemológicos. São
Paulo: Edgard Blücher, 2004.
Dessler, G. Administração de recursos humanos. 2. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003.
486 Ergonomia ELSEVIER
25 Ergonomia no trabalho
agrícola
Paulo José Adissi, Dr. – UFPB
Conceitos apresentados
Esse capítulo irá discutir as especificidades do trabalho agrícola focalizando
uma aplicação da Ergonomia na intermediação de conflitos trabalhistas na atividade
da cana-de-açúcar, por meio da análise do trabalho da colheita manual em suas di-
mensões temporais e de requerimentos de esforços físicos.
25.1. Introdução
O trabalho agrícola tem algumas especificidades que merecem ser pontuadas. A
começar pelos seus postos de trabalhos desestruturados, “móveis” e dependentes das
variações naturais de relevo, solo e intempéries. Mas não é só isso, na agricultura o tra-
balho humano não é o protagonista principal da transformação de semente em fruto,
nessa transformação ao homem cabe a função de criar as boas condições para a ação
da natureza: controlando as condições do solo, a quantidade de insolação e umidade,
moldando o formato da planta e protegendo-a da concorrência de outros vegetais e das
ações predadoras de animais, insetos e vidas microscópicas como fungos, nematoides,
vírus e bactérias.
O trabalho agrícola coloca o homem junto à natureza, muitas vezes em situações
de deleite, provocadas pelas expressões da topografia natural, da flora e da fauna. Con-
tudo, essa aproximação pode também apresentar grandes dificuldades à humanização
do trabalho em decorrência da intensidade da insolação, das chuvas e dos ventos, e pela
presença de animais peçonhentos. Além disso, as distintas topografias e condições do
solo demandam cargas de trabalho de diferentes intensidades e, muitas vezes, o ambiente
natural dificulta a higienização dos locais de trabalho.
Capítulo 25 | Ergonomia no trabalho agrícola 491
1
Podemos ver essa categoria na Bíblia em Lucas, capítulo 15, versículo 17, na passagem do “filho pródigo”
quando este se refere aos jornaleiros de seu pai.
Capítulo 25 | Ergonomia no trabalho agrícola 493
A retirada das pontas das canas (desponte) é realizada de várias maneiras. A forma
mais tradicional é a de movimentos contínuos envolvendo 3 subtarefas: limpeza (facão para-
lelo ao colmo), corte (facão deitado rente ao solo) e desponte “no ar” com a cana segura pela
outra mão. A variante adotada, na maioria das situações, mas nem sempre permitida pelas
empresas, é o desponte no chão, já com as canas organizadas.
A organização das canas no solo, ou enleiramento, segue as exigências operacionais do
maquinário utilizado no carregamento. Na grande maioria das situações, as canas devem ser
organizadas na linha central da faixa de cana cortada pelo trabalhador. O número de linhas
oferecidas para cada trabalhador ou equipe pode ser de 5, 7 ou 9 linhas. A adoção desses
diferentes sistemas de corte foi foco das atenções de grandes conflitos trabalhistas do campo
brasileiro e será aqui analisada. Antes disso, serão descritas as formas de mensuração da pro-
dução realizada para determinação do pagamento devido.
)LJXUD0HGLomRFRPYDUD
,167580(1726(81,'$'(6'(0(','$'(
UF
&2035,0(172 É5($ 3(62
FXER E2 P2
EUDoD E P FRQWD EðE P2 WRQHODGD
RN PLOFRYDV EðE FDUJD1 NJ
VARA P2 NENHUM
VARA
PHWUR WRQHODGD
(6 não utilizada
CORDA (10 M) BALANÇA DA USINA
PHWUR
WRQHODGD
PR COMPASSO (1 OU 2 M) CORRENTE não utilizada
BALANÇA DA USINA
(10 M)
630*
PHWUR WRQHODGD
*25- não utilizada
COMPASSO (2M) BALANÇA DA USINA
MS
1 Quantidade de cana carregada no lombo de um animal.
2 Quantidade de cana contida em uma garfada de carregadeira.
4XDGUR²0HWDVGHTXDOLGDGHHHVSHFLÀFDo}HVRSHUDFLRQDLV
([LJrQFLDVSDUDDV2SHUDo}HV
Desejado
&DUUHJDPHQWR &RUWH
&DQDVOLPSDVQDPRDJHP 1mRDUUDVWDURJXLQFKR (VWHLUDVYROXPRVDV
%DL[RFRQVXPRGHFRPEXVWtYHO
0HQRVHVWHLUDVRXVHMDPDLVOLQKDV
%DL[DFRPSDFWDomRGRVROR 3HTXHQRSHUFXUVRDFXPSULU
SRUWUDEDOKDGRU
%DL[RWHPSRGHUHFROKLPHQWR
498 Ergonomia ELSEVIER
Nos anos 1980, essas questões despertaram o interesse das empresas por sistemas
de corte com maiores quantidades de linhas por trabalhador. Com isso, tentou-se subs-
tituir o tradicional sistema de 5 linhas pelo sistema de 7 linhas, que demanda um trajeto
para o maquinário 29% menor. Já para o trabalho manual a mudança demanda maiores
esforços para a organização (enleiramento) das canas. O valor oferecido pelo acréscimo
de trabalho só considerou os esforços do corte propriamente dito (20% a mais). Os
trabalhadores reagiram, por perceberem que, dessa forma, o trabalho adicional para a
organização das canas na linha central não estaria sendo inteiramente pago, como mostra
a Figura 25.4 e o Quadro 25.4.
4XDGUR²&RPSDUDomRGRVVLVWHPDVGHFRUWHHPHOLQKDV
Uma vez que a elevação não foi a mesma para cada uma das subtarefas, para se
estabelecer o acréscimo de trabalho exigido pelo sistema de 7 linhas em relação ao de 5
linhas é necessário estabelecer uma unidade comum para as atividades do corte propria-
mente dito (acréscimo de 20%) e da organização das canas (acréscimo de 100%).
A introdução de um novo sistema voltou a ser o centro de conflito trabalhista na
Paraíba, no início dos anos 2000. Tratava-se do sistema de 9 linhas em duplas de traba-
lhadores. As partes envolvidas e o Ministério do Trabalho desejavam saber se era justo
pagar cada um dos trabalhadores como se eles estivessem executado a tarefa conforme
o sistema de 5 linhas estabelecido na Convenção Trabalhista. Dessa forma, a dupla de
trabalhadores deveria cortar as 9 linhas e organizar as canas na linha central, ou seja,
Capítulo 25 | Ergonomia no trabalho agrícola 499
cada trabalhador cortaria, em média, 4,5 linhas e receberia como se estivesse cortando
5 linhas. Desejava-se saber se a meia (0,5) linha a mais do pagamento compensava o
acréscimo de trabalho com a organização das canas.
Semelhante a comparação feita entre os sistemas de 5 e 7 linhas, a Figura 25.5 e
o Quadro 25.5 apontam as diferenças entre o sistema de 5 linhas e o sistema de 9 linhas
em dupla de trabalhadores.
)LJXUD2UJDQL]DomRGDVFDQDVQRVVLVWHPDVGHFRUWHHPHOLQKDV
em dupla de trabalhadores
4XDGUR²&RPSDUDomRGRVVLVWHPDVGHFRUWHHPOLQKDVHOLQKDVHPGXSOD
25.5. Cronoanálise
Na medição do tempo gasto em cada uma das situações foram utilizadas a cro-
nometragem direta, pela observação da atividade em campo, e indireta, pela observação
de imagens gravadas. Para se determinar as produtividades, medidas em braças de canas
cortadas por minuto, foi necessária a decomposição e recomposição da atividade para
formar cada um dos sistemas de corte.
No caso da cronometragem direta, foi solicitado ao trabalhador que cortasse 5
linhas de cana com 5 braças (11,0 m) de comprimento, organizando as canas cortadas na
primeira linha (L1), dessa forma os sistemas foram compostos conforme a Figura 25.6.
500 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD&RPSRVLomRGRVVLVWHPDVGHOLQKDVHOLQKDVHPGXSODGHWUDEDOKDGRUHV
H H H H
L1 L2 L3 L4 L5
3URGXWLYLGDGHV2EVHUYDGDVEUDoDPLQ
(VSDoDPHQWR
6LVWHPDGHFDUUHLUDV Sistema de 5 carreiras
P
&RUWH Organização Tarefa &RUWH Organização Tarefa
0pGLD
4XDGUR²&RPSRVLomRGDWD[DPHWDEyOLFDGDVVXEWDUHIDVGRFRUWHGHFDQD
7D[D0HWDEyOLFD:P2
Item &RUWH Organização
condicionante YDORU condicionante YDORU
0HWDEROLVPR%DVDO +RPHP 44 +RPHP 44
3RVWXUDGR&RUSR (PSpLQFOLQDGR (PSp 25
7LSRGR7UDEDOKR &RPEUDoRVSHVDGR &RPEUDoRVPRGHUDGR 85
$QGDQGRFDUUHJDQGR
0RYLPHQWRGR&RUSR $QGDQGRDNPK 125
SHVRDNPK
7RWDO:P2 289 279
Com base nesse método pôde-se estimar os valores de 189 W/m2 para a subtarefa
de corte propriamente dito e 279 W/m2 para a subtarefa de organização das canas.
Para estimação do consumo energético durante a execução das subtarefas, mul-
tiplicou-se a taxa metabólica de cada subtarefa pelo tempo gasto para sua execução. O
cálculo dessa estimativa, para cada um dos sistemas de corte estudado, pode ser visto
sinteticamente no Quadro 25.8, em função dos espaçamentos observados.
Referências
ADISSI, P. J. Processos de trabalho agrícola canavieiro: proposição de uma taxonomia das
unidades produtivas e análise dos riscos a ela associados. 1997. Tese (Doutorado em
Engenharia de Produção) – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pes-
quisa de Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
ADISSI, P. J.; SPAGNUL, W. Convenções coletivas: quantificando o roubo dos patrões.
Proposta, v. 14, n. 42, pp. 47-52, out. 1989.
GUEDES, D. T.; ADISSI, P. J.; MENEZES MELO, L. C. Comparação entre os sistemas de
corte manual de cana-de-açúcar: 9 carreiras versus 5 carreiras. Produto & Produção, v. 4,
n. 2, pp. 2-12, 2004.
Capítulo
26 Refinaria
Conceitos apresentados
Este capítulo resume quinze meses de atividades junto a uma refinaria no Esta-
do do Rio de Janeiro. Nesse período, uma consultoria esteve presente em um grande
número de ambientes de trabalho em cumprimento ao cronograma estabelecido pela
empresa para a avaliação ergonômica de um expressivo conjunto de demandas. As
considerações aqui contidas objetivam desenhar um panorama da diversidade dos
espaços produtivos relacionando-os com as possibilidades de melhorias das condições
de trabalho capitaneadas pela análise ergonômica. O escopo de trabalho da consulto-
ria fixou-se em locais determinados pela empresa, o que, aliado à urgência solicitada,
implicou uma rotina quase ininterrupta de visitas, com elaboração contínua de relató-
rios de campo, posteriormente consolidados em relatórios mensais.
26.1. Metodologia
As formas de ação ergonômica cabíveis para esse trabalho consideram os aspectos
legais e normativos de que trata a disciplina, assim como os aspectos mais gerais da me-
todologia. Devido à grande extensão das áreas, não foram apreciados aspectos relativos à
organização espacial e demais rubricas macroergonômicas. A apreciação ficou restrita aos
aspectos microergonômicos, onde cada zona de trabalho foi apreciada em cinco rubricas:
a) instrução da demanda; b) apreciação da atividade; c) diagnóstico; d) recomendação; e
e) enquadramento normativo. A obtenção de um diagnóstico ergonômico de locais me-
diante essa apreciação implicou em um conjunto de visitas técnicas aos locais, entrevistas
com os funcionários e exame da documentação existente.
504 Ergonomia ELSEVIER
produzido (corrosivo, quente etc.) ou, ainda, pela antiguidade da unidade industrial.
Além da ação das oficinas, o serviço de manutenção industrial, por meio das paradas
programadas das unidades, busca suplementar essas necessidades por meio de uma ação
de inspeção total (paradas) onde um processo de revisão dos equipamentos é executado
em um tempo estabelecido.
)LJXUD6LWXDomRFRQÀJXUDGDFRPRGHPDQGDGHDTXLVLomRQDDomRHUJRQ{PLFD
Capítulo 26 | Refinaria 507
)LJXUD&ODVVLÀFDomRGRVGLDJQyVWLFRVUHDOL]DGRVHPIXQomR
do tema prioritário para a mudança
26.3. Conclusão
Este capítulo resume o trabalho realizado por uma consultoria durante o contrato
com a refinaria que se estendeu por cerca de quinze meses. Em suas páginas buscamos
dar conta do trabalho executado respectivamente a 250 demandas, cujos detalhes po-
dem ser obtidos na documentação formada pelo conjunto de fascículos adicionais e
que formam o relatório final de consultoria. Uma parte de seu teor voltou-se para uma
discussão metodológica importante para situar esse trabalho dentro das conformidades
da NR 17 ao mesmo tempo que nos permitisse operar com a agilidade necessária para
um bom termo.
Capítulo
27 Ergonomia em aviação
Introdução do caso
As estatísticas mundiais mostram que no início dos anos 1960 ocorriam cerca de
70 acidentes aéreos na aviação comercial por milhão de decolagens. O aprimoramento
técnico das aeronaves, associado com o treinamento técnico mais intenso para pilotos
e engenheiros de voo, fez esse número cair para menos de 10 acidentes por milhão de
decolagens no início dos anos 1970, estabelecendo-se, a partir daí, um patamar (Boeing
Comercial Airplane Group, 1991, apud, Companhia, 2001). Apesar de a porcentagem de
acidentes ter caído, dado o aumento da aviação de modo geral no mundo, o número
absoluto de acidentes continua aumentando a cada ano, gerando cada vez mais óbitos.
Diversos estudos concluíram que faltavam treinamentos na área de gerenciamento, lide-
rança, trabalho em equipe e outros aspectos não relacionados à técnica de pilotagem em
si. Esses elementos constituiriam o atual conjunto conceitual de treinamento denomina-
do de CRM-Crew Resource Management/LOFT-Line Oriented Flight Training, regulamenta-
do pela Oaci – Organização da Aviação Civil Internacional (Oaci, s/d).
CRM é uma filosofia de treinamento que trata de adequar o comportamento efe-
tivo de um piloto, por meio do reforço de suas habilidades de gerenciar os diversos
recursos que dispõem de natureza técnica e de relacionamento entre os membros da tri-
pulação. O treinamento LOFT – Line Oriented Flight Training é realizado em simulador de
voo, em que são praticados os conceitos de CRM, com o objetivo de aprimorar as com-
petências de gerenciamento por parte dos pilotos, com vistas à melhoria da segurança
de voo. Essas abordagens de treinamento são adotadas pelas empresas aéreas como parte
das exigências de certificação em segurança de voo pelos organismos internacionais. No
Brasil, apenas o CRM tem regulamentação e data de 2003 (Dac, 2003).
510 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD,QVWUXomRGD'HPDQGD(UJRQ{PLFD
)LJXUD3URFHVVRGHSDGURQL]DomRVLWXDGDGR/2)7GDFRPSDQKLD
decisões, quer sejam as que participam do levantamento das informações as quais permitem
o conhecimento sobre a atividade necessário e imprescindível para a construção de uma so-
lução antropotecnológica adequada, no sentido dado por Wisner (1994).
)LJXUD(VTXHPDPXOWLIXQFLRQDOGDFRQVWUXomRVRFLDOGR352/2)7
)LJXUD(WDSDVGR/2)7
%ULHÀQJ
%UHYH UHYLVmR GRV FRQFHLWRV &50 H[SRVLomR GD QDWXUH]D H
REMHWLYRVGRWUHLQDPHQWR²TXHQmRpGHFKHTXH
9RR/2)7
)DVHGRWUHLQDPHQWRHPVLPXODGRURQGHRVWUHLQDQGRVJHUHQFLDP
XPFHQiULRVLPXODGRTXHYLVDUHSURGX]LUXPDVLWXDomRUHDOGH
YRRGHOLQKD(VVDHWDSDpÀOPDGD
'HEULHÀQJ
2V WUHLQDQGRV DX[LOLDGRV SHOD SURMHomR GD ÀOPDJHP SHODV
DQRWDo}HVGRIDFLOLWDGRUQD)LFKDGH$QiOLVHHSHODVXDPHGLDomR
H[HUFHPDDXWRDQiOLVHHVmRDQDOLVDGRVSHORIDFLOLWDGRU
necessária para a realização de um voo de linha. Nessa fase, algumas verificações e testes
prévios no simulador se fizeram necessários. As etapas de concepção dos cenários e do
treinamento, como um todo, foram validadas e testadas junto aos grupos de foco e de
acompanhamento (Figuras 27.2 e 27.3).
4XDGUR²3URJUDPDGHIRUPDomRGHIDFLOLWDGRUHV/2)7
&50 LQLFLDO RQGH VHUmR DERUGDGRV RV FRQFHLWRV GH &50 FRP H[HUFtFLRV
SDUWLFLSDWLYRVUHODWLYRVDSUREOHPDVJHUHQFLDLVGHYRRSURSLFLDQGRDRVIDFLOLWDGRUHV
DQDOLViORVHUHVROYrORVGHDFRUGRFRPDDERUGDJHP&50&DUJDKRUiULD
KRUDV
&50 Corporate: GHVWLQDGR D WURFDV GH H[SHULrQFLDV HQWUH SLORWRV FRPLVViULRV
PHFkQLFRV H IDFLOLWDGRUHV H GLVFXVV}HV VREUH SROtWLFDV RUJDQL]DFLRQDLV GD
FRPSDQKLD&DUJDKRUiULD KRUDV
&XUVR GH )RUPDomR GH IDFLOLWDGRU GH /2)7 ² FRQFHLWRV H IHUUDPHQWDV RQGH
RV LQVWUXWRUHV VHUmR DSUHVHQWDGRV DRV FRQFHLWRV REMHWLYRV H IHUUDPHQWDV /2)7
YmR LGHQWLÀFDU D UHODomR GR /2)7 FRP RV FRQFHLWRV &50 LUmR PDQXVHDU DV
IHUUDPHQWDV /2)7 &HQiULR /2)7 )LFKD GH $QiOLVH GR 7UHLQDPHQWR /2)7 YmR
DSUHQGHUFRPRSURFHGHUQDVHWDSDVGRWUHLQDPHQWR/2)7EULHÀQJYRR/2)7H
GHEULHÀQJ&DUJD+RUiULD KRUDV
7UHLQDPHQWR2ULHQWDGRSDUDIDFLOLWDGRUGH/2)7RQGHRIDFLOLWDGRUHPIRUPDomR
FRQGX]LUi WUrV VHVV}HV GH WUHLQDPHQWR /2)7 VRE D RULHQWDomR GH VHX LQVWUXWRU
&DUJDKRUiULD KRUDV
27.4. Conclusão
O case apresentado aqui se propôs à padronização de um treinamento que visa
prover os pilotos da capacidade de gerenciar problemas possíveis de ocorrer em situa-
Capítulo 27 | Ergonomia em aviação 515
ções reais e dinâmicas de voo. Esse gerenciamento dinâmico não é possível somente com
os conhecimentos e as habilidades técnicas desenvolvidas durante a formação dos pilo-
tos. Uma formação deficiente em CRM/LOFT pode interferir sobremaneira no processo
de tomada de decisão dos pilotos, que precisam estar prontos para construir proble-
mas (identificá-los e entendê-los), saber buscar as informações necessárias, saber onde
encontrá-las, elaborar as alternativas de soluções e escolher, adotar, monitorar e avaliar
continuamente a alternativa mais plausível. O treinamento LOFT possibilita ao piloto,
a partir de um trabalho em equipe, desenvolver competências para resolver problemas
possíveis e previsíveis de ocorrer em voo, mas também, em situações de imprevisibili-
dade, lançar mão dessa metodologia em busca de soluções ainda não experimentadas.
Referências
CARVALHO, R. J. M. A padronização situada como resultante da ação ergonômica em sis-
temas complexos: estudos de caso numa companhia aérea nacional a propósito da im-
plantação de um treinamento CRM-LOFT. 2005. 298 p. Tese (Doutorado em Enge-
nharia de Produção) – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
COMPANHIA. Curso de CRM inicial: Crew Resource Management. Resumo dos Módulos
apresentados no curso de CRM. COMPANHIA, 2001.
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516 Ergonomia ELSEVIER
28 Ergonomia hospitalar
Apresentação de caso
O contexto hospitalar representa um grande segmento industrial e, consequen-
temente, uma grande oportunidade de demanda em termos de ações projetuais. O se-
tor convive com diversas dificuldades e, nas últimas décadas, tornou-se cada vez mais
sofisticado e complexo. A modernidade exige novos equipamentos, novas tecnologias
e profissionais mais capacitados, ao mesmo tempo que pressiona os planejadores e ad-
ministradores a uma forma de pensar mais abrangente, compatível e coerente com a
interdisciplinaridade que o sistema e o contexto hospitalar exigem. Em nenhum outro
segmento o conceito “fazer certo na primeira vez”, um lema da qualidade, nos coloca face
a tantos dilemas.
Dessa forma, além dos critérios técnicos inerentes ao processo, devemos seguir
normas e regulamentos específicos, como, por exemplo, portarias da ANVISA e dados
técnicos para Projetos Físicos de Estabelecimentos Assistenciais à Saúde, Brasil (1994).
Entretanto, em se tratando de um cenário onde se realizam atividades de trabalho diver-
sas e de grande importância, ao projetar hospitais ou mesmo promover modificações de
layout em instalações existentes, devemos levar em consideração não apenas o aspecto
regulatório, mas também os aspectos relativos ao trabalho e contexto em que ele é rea-
lizado. Os projetos arquitetônicos das instituições de saúde, principalmente os já exis-
tentes, encontram-se em desacordo às normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde.
Podemos identificar em relação à condução da ação projetual que as metodologias usuais
de projeto arquitetônico são universais e genéricas ao tratar da relação entre a realização
de atividades das pessoas e seu local de trabalho, ou seja, os problemas são tratados de
um ponto de vista macro-operacional e não em relação às inadequações que decorrem
da utilização cotidiana dos ambientes de trabalho e sua relação com as atividades das
pessoas (Rosciano, 2002).
518 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD(VFRSRPHWRGROyJLFR
Capítulo 28 | Ergonomia hospitalar 521
28.1. Conclusão
O custo relativo dos impactos por inadequações ambientais são de alta magnitude,
quando comparados às outras dimensões do trabalho humano – impactos relacionados à
atividade física ou mental. O custos relacionados às perdas financeiras em decorrência do
absenteísmo ou rotatividade de pessoal em um organização não alcançam uma fração do
desperdício oriundo de projetos mal planejados, ambientes constantemente transformados
ou instalações inadequadas e que tendem ao descomissionamento contínuo e gradual. Erros
de design (job design, postos e ambientes) custam mais saúde e as vidas dos trabalhadores
do que qualquer problema de inadequação postural, sobrecarga de trabalho etc. (Hendrick,
2001; Santos, 2003).
Como pode um sistema de trabalho funcionar perfeitamente em uma organização e
simplesmente “desfuncionar” em outra, como vimos nos dois casos? A farmácia do Hospital
dos Veteranos tinha profissionais qualificados, infraestrutura e, sobretudo, a vantagem de
conhecer sistemas similares em funcionamento sem precisar passar por cobaia para utilização
de uma nova tecnologia. Entretanto, no caso do “Projeto Robô”, falhas conjecturais primárias, má
avaliação de resultados e uma dose de prepotência produziram um verdadeiro fiasco tecnológico,
uma “brincadeira cara” (na expressão de alguns gerentes locais). Porém, em entrevistas informais
com algumas pessoas pudemos ouvir afirmações como: “Este foi apenas o primeiro passo” ou “me-
lhor isso do que nada” ou “foi a melhor solução possível para o momento”. Daí concluirmos que,
pelo menos para a organização, a iniciativa trouxe não somente ensinamentos como a aceitação de
novas “linhas de conduta” (guidelines), como orientação ao processo decisório em futuros projetos.
Assim, podemos identificar a vantagem em se utilizar a Ergonomia como indutora de um processo
de reorganização das relações de trabalho.
29 Escritório
Introdução do caso
O estudo de caso realizou-se no local de trabalho de um setor de uma empresa
do segmento energético brasileiro. Essa empresa também atua em diversos setores da
indústria de óleo e gás. Os projetos desenvolvidos por essa empresa de grande porte
apresentam relevante importância para a infraestrutura e o desenvolvimento nacional,
geralmente sendo assim responsáveis pelo avanço das cidades onde suas unidades cos-
tumam se assentar.
O setor da empresa em questão encontra-se dividido em quatro áreas distintas,
sendo que as duas a serem analisadas possuem unidades na cidade do Rio de Janeiro,
Macaé e Vitória. Entretanto, apenas as áreas alocadas no centro do Rio de Janeiro fo-
ram as determinadas para a respectiva análise ergonômica. O estudo de caso tratará de
dois setores que realizam atividades distintas, dentro de uma mesma gerência, com um
mesmo layout; localizados em pavimentos distintos de uma mesma edificação, mesmo
mobiliário e mesmos equipamentos.
As finalidades do estudo ergonômico realizado nos dois setores da empresa foram
estabelecidas pela própria contratante, que solicitou a atuação de ergonomistas para que
fossem encontrados todos os problemas gerados pela ausência da Ergonomia em seu
sistema produtivo e instalações físicas.
A visualização do contexto de desenvolvimento das atividades de trabalho e se-
leção das demandas para análise partiu dos elementos da realidade disponível para o
desenvolvimento desta análise de campo, que foi resultante da atuação profissional da
Ergonomia em contratos de curta duração. E os objetos de estudo foram escolhidos de-
vido à necessidade da organização quanto ao levantamento de demandas a partir de uma
Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e com o reconhecimento de problemas vigentes,
objetivando a implantação de melhorias conforme os resultados apresentados.
Capítulo 29 | Escritório 525
)LJXUD9LVWDGRSDYLPHQWRGRVHWRU$
526 Ergonomia ELSEVIER
29.2.2.1. Setor A
Por não atender as necessidades de trabalho do setor A, o espaço dos escritó-
rios abertos encontra negligenciada uma série de elementos que agem como verdadeiros
transtornadores das atividades em curso. Os trabalhadores encontram dificuldades em
realizar suas tarefas graças às deficiências produzidas pela configuração espacial do escri-
tório, seus elementos constituintes e problemas ambientais:
UÊ programa de necessidades e layout deficientes – a configuração espacial adotada
apresenta: circulação com dimensões reduzidas e consequente ausência de acessibi-
lidade (Figura 29.2); armários deslocados (e longínquos) dos postos de trabalho de
seus usuários (Figura 29.3); apenas uma sala de reunião e como os escritórios aber-
tos não comportam sequer pequenas reuniões, resulta em que a sala de reunião seja
bastante concorrida. Quanto ao problema gerado pela ausência de acessibilidade no
pavimento, a NBR 9050 estabelece diretrizes para garantir facilidade de acesso e de
uso de ambientes construídos. Já quanto ao enquadramento normativo referente às
questões desconformes aqui suscitadas, a NR 17.1 estatui características que favore-
cem as condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores,
visando o conforto, a segurança e o desempenho apropriado;
528 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD&LUFXODomRFRP )LJXUD$UPiULRVORQJtQTXRVGRV
dimensões reduzidas postos de trabalho
)LJXUD$OWXUDGDVGLYLVyULDVQmRFRQWULEXLSDUDDSULYDFLGDGHYLVXDOHDF~VWLFD
)LJXUD3DVWDVHVSDOKDGDVSRUWRGDVDVVXSHUItFLHVSUy[LPDVDRVSRVWRVGHWUDEDOKR
)LJXUD6DtGDGHDUFRQGLFLRQDGRIHFKDGDGHPDQHLUDLPSURYLVDGDSHORVWUDEDOKDGRUHV
530 Ergonomia ELSEVIER
29.2.2.2. Setor B
UÊ programa de necessidades e layout deficientes – ausência de uma copa devidamente
estruturada faz com que a sala de reuniões ganhe mais essa função no horário do
almoço (Figura 29.7); a circulação no pavimento e o acesso de equipamentos apre-
sentam-se bastante reduzida, comprometendo a acessibilidade no escritório (Figu-
ra 29.8). Quanto ao problema gerado pela ausência de acessibilidade no pavimento,
a NBR 9050 direciona-se à sua resolução. Já quanto ao enquadramento normativo
referente às questões desconformes aqui suscitadas, a NR 17.1 estatui características
que favorecem as condições de trabalho às características psicofisiológicas dos tra-
balhadores, visando o conforto, a segurança e o desempenho apropriado;
)LJXUD6DODGHUHXQL}HVXWLOL]DGDFRPRFRSD )LJXUD$FHVVLELOLGDGHUHGX]LGD
)LJXUDVH$XVrQFLDGHORFDLVDGHTXDGRVSDUDRGHSyVLWRGHSDVWDV
Capítulo 29 | Escritório 531
)LJXUD,OXVWUDomRGRQtYHOGHLQVDWLVIDomRGRVWUDEDOKDGRUHV
do setor de A com seus ambientes de trabalho
)LJXUD&RPSDUDomRGRQtYHOGHVDWLVIDomRGRVWUDEDOKDGRUHVGHDPERV
RVVHWRUHVFRPVHXVDPELHQWHVHWUDEDOKRUHVSHFWLYDPHQWH
29.4. Conclusão
À luz do estudo de caso, pode-se formular que diversas desconformidades surgi-
ram de um impasse ergonômico presente na concepção arquitetônica do lugar de traba-
lho, pois as necessidades referentes às atividades em curso no setor de A, não se reportam
nem às necessidades dos indivíduos nem às situações reais de trabalho ao mesmo tempo
que esse problema não se configura no setor de B. Um panorama onde dois lugares si-
milares em uma mesma edificação e que apresentam desempenhos tão discrepantes se
constituiu no eixo estruturante deste capítulo.
Concluímos que essa discrepância está ligada à programação arquitetônica cujos
delineamentos careceram, como é comum acontecer, de um enriquecimento possibili-
tável pela Análise Ergonômica do trabalho. E que pode explicar os problemas existentes
num dos setores e ao contrário, a ausência dos mesmos num outro setor.
Nesse sentido, estatuímos que o escritório seja mais que uma simples localização
física de pessoas. A natureza das atividades, expressas pela localização no conjunto da
edificação e tipo de tarefas que lhes cabe realizar, requer um tratamento mais detalhado
e isso com vistas ao seu bom funcionamento.
A partir da reflexão conceitual realizada, podemos afirmar que não há modelos
formais ou normativos que definam uma tipologia de layout para os ambientes de es-
critórios que tragam a adequação perfeita às instalações físicas e ao capital humano de
uma organização. Logo, a procura de um ambiente de trabalho perfeito trata-se de uma
concepção que não condiz à realidade.
Não existindo regras formalizadas a serem seguidas, a tipologia de escritório aber-
tos trata-se de uma entre as tantas opções que podem ser escolhidas para um ambiente
de escritórios. E entre as tipologias apresentadas, os escritórios combinados seria a atitu-
Capítulo 29 | Escritório 533
de projetual melhor sucedida. Isso porque sua combinação de escritórios abertos com os
fechados tem como equilibrar as necessidades de trabalho, quer sejam estas referentes à
privacidade visual e acústica, concentração ou interação permanente entre os trabalha-
dores.
A conscientização das empresas quanto à necessidade de implantação de ambien-
tes de escritórios diversificados (alguns ambientes fechados e outros abertos) deve ser
mais bem preparada, contando com o esclarecimento das vantagens e desvantagens de
cada tipologia. Isso se dará a partir da desmitificação de alguns preceitos que rondam as
tipologias dos escritórios abertos e os fechados como os citados mais acima. A adminis-
tração dos reais efeitos dos ambientes de escritórios junto ao conhecimento detalhado
das ações e atividades de trabalho farão as decisões projetuais serem mais acertadas.
Portanto, não é um tipo de layout ou tecnologia a ser aplicada que se traduzirá
como a melhor estratégia para os ambientes de escritórios. A melhor estratégia dar-se-á
a partir do momento em que as organizações quebrarem paradigmas e mudarem sua
postura durante a concepção dos projetos de escritórios.
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Capítulo 29 | Escritório 535
30 Atendimento em loja –
check-out
Lia Buarque de Macedo Guimarães, Ph.D – CPE/UFRGS
Tramontin (2000) estudou cinco lojas de uma mesma rede de cosméticos e perfu-
mes no Rio Grande do Sul que operavam com tipologia de serviços diferentes: assistido
na loja interativa e personalizado na loja de balcão. O trabalho na loja interativa compor-
ta, de forma estanque, as tarefas de caixa, atendimento ao público (que atua como con-
sultora do cliente na venda assistida) e gerência, sendo o tipo de venda assistida ou por
autoatendimento. Nas lojas de balcão, o trabalho é mais versátil, pois os funcionários são
capacitados a atuar nas tarefas de caixa e atendimento ao público, ficando a gerência a
cargo do funcionário com maior experiência. O estudo, feito junto a arquitetos, lojistas e
clientes, mostrou que os primeiros não têm ideia das necessidades dos lojistas e clientes,
preocupando-se com as demandas do proprietário e os aspectos plásticos, principalmen-
te da marca da loja, em detrimento dos ergonômicos. Os lojistas tendem a preferir o tra-
balho no modelo interativo pelo caráter mais dinâmico, e os clientes gostam de se sentir
integrados no ambiente de venda e tendem a utilizar a loja como um espaço de encontro,
lazer e diversão. Nesse sentido, o balcão foi interpretado tanto pelos lojistas quanto pelos
clientes como um elemento de separação, restrito da interação entre lojistas e clientes.
Pode-se caracterizar o serviço de venda em lojas em pelo menos quatro níveis, do
menos para o mais dinâmico:
1) o atendimento em caixa de supermercado: o operador só processa as compras
trazidas pelos clientes, e efetua a cobrança (check-out);
2) o atendimento em caixa de magazine: o operador processa as compras trazidas
pelos clientes, efetua a cobrança e empacota os produtos;
3) o atendimento ao cliente por um vendedor que não agrega o papel de caixa:
o operador assessora o cliente, propõe alternativas e encaminha para o caixa;
4) o atendimento ao cliente por um vendedor que agrega o papel de caixa.
À exceção dos operadores de caixa de supermercado (check-out), os lojistas geral-
mente ficam de pé a maior parte do tempo de trabalho, à espera e durante o atendimento
do cliente. Um estudo de Grandjean (1998) com 24 vendedoras de uma loja de depar-
tamentos concluiu que de uma jornada de 8,5 horas, um total de 5 horas e 25 minutos
ficava-se parado em um local. Em média, as vendedoras caminhavam 58 minutos, fica-
vam de pé 3 horas e 35 minutos, de pé apoiadas 1 hora e 30 minutos e curvadas 1 hora
e 2 minutos. Entre 200 vendedoras questionadas, 79 vendedoras (quase 40%) tinham
queixas principalmente de dores nas pernas e nos pés (20%), costas (19%), dores na
cabeça (19%), órgãos digestivos e fígado (9%), reumatismo, artrites, nevralgias (7%),
nervosismo (6%), coração (5%), rins e bexiga (5%) e outras indicações (10%). A carga
estática sobre as vendedoras é, portanto, considerável no trabalho de vendedores.
A literatura mostra que a manutenção de uma mesma postura ou “imobilidade
postural” constitui um fator desfavorável para a nutrição do disco intervertebral, uma
vez que depende do movimento e da variação de postura. Logo, quando há alternância
de posturas, a incidência de dores lombares é menor (Grandjean, 1998; MTE, 2001). A
prevenção dos riscos que uma má postura pode ocasionar, como a fadiga muscular, má
538 Ergonomia ELSEVIER
circulação sanguínea nas pernas e dores lombares, está relacionada com o projeto do
posto e da organização do trabalho.
Justamente a imobilidade postural foi a razão de, no ano de 2001, o Sindicado dos
Comerciários do Rio Grande do Sul mover uma ação junto ao Ministério Público do Tra-
balho – Regional RS, contra uma Loja de Departamentos em Porto Alegre, argumentando
que os funcionários que trabalhavam nos balcões de atendimento não podiam sentar
durante a jornada de trabalho, o que infringia as leis. Por causa dessa ação, a empresa
estabeleceu uma parceria com o Núcleo de Design, Ergonomia e Segurança (NDES) do
Laboratório de Otimização de Produtos e Processos (LOPP) do Programa de Pós-Gra-
duação de Engenharia de Produção (PPGEP) da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS) para a identificação de um assento que fosse adequado ao trabalho no
balcão existente. Entretanto, a equipe do NDES/LOPP avaliou o posto de trabalho em
questão e identificou que seria necessário um projeto que contemplasse um novo balcão
que possibilitasse a alternância de postura, e não apenas recomendar um assento. Entre
2001 e 2003, foi projetado, construído e testado um novo balcão, denominado ilha de
caixa, que ficou em teste de uso durante o ano de 2004 em alguns postos de duas lojas
da empresa, em Porto Alegre-RS. O projeto foi elaborado em quatro meses, com a parti-
cipação dos vendedores, mas a implantação não foi concluída porque, por uma questão
cultural inexplicável sob o ponto de vista ergonômico, a Empresa não permite que os
funcionários sentem, porque, de acordo com a gerência da Empresa, é deselegante aten-
der o cliente sentado (“isto é coisa de supermercado, e não de loja ‘fina’”) descumprindo,
inclusive a norma NR 17 – Ergonomia. Até hoje, eles hesitam em permitir que o atenden-
te sente, havendo pressão da gerência para que adotem a postura de pé.
Estudos detalhados (Guimarães et al., 2001a, 2001b, 2001c e 2004) analisaram as
atividades que compõem a tarefa de atendimento no balcão de venda nas ilhas de caixa
de quatro lojas de Porto Alegre (sendo três lojas localizadas em shopping centers e uma
de rua no centro da cidade) da rede de loja de departamentos. Ficou nítido que nenhuma
loja é igual a outra, não só por variar de lugar, mas também por variar em função do tipo
de cliente, do operador, do tipo de produto sendo vendido (roupas, produtos delicados,
como louça e cristais etc.) e do tipo de pagamento efetuado. Tendo em vista que uma
mesma tarefa é geralmente desempenhada de forma diferente por cada pessoa, e que o
processo de trabalho é dinâmico e difícil de enquadrar em um só padrão de ação, foi feito
um resumo das atividades que exemplificam a tarefa realizada.
De acordo com a análise da tarefa efetuada com base na Análise Macroergonômi-
ca do Trabalho (AMT) proposta por Guimarães (1999), as atividades desempenhadas
no posto de caixa das ilhas, no caso de compra com cartão da loja (que representam
em torno de 80% das compras), podem ser classificadas em 13 operações básicas: 1)
Passar o cartão/digitar; 2) Tirar a roupa do cabide; 3) Passar o sensor; 4) Retirar a bo-
lacha; 5) Dobrar a roupa; 6) Pegar a sacola; 7) Colocar o produto na sacola; 8) Retirar
a nota e/ou carnê; 9) Passar a sacola no detector de alarmes; 10) Entregar a sacola para
Capítulo 30 | Atendimento em loja – check-out 539
o cliente; 11) Manusear o dinheiro; 12) Colocar o cabide no cabideiro; 13) Pegar a
embalagem de presente.
As posturas com probabilidade de gerar desconforto ou até lesões, normalmente
são adotadas em função da concepção do posto e da própria exigência da atividade.
Buscando identificar quando os funcionários adotavam essas posturas, realizou-se uma
análise de movimentos relacionando as atividades com as posturas realizadas. A análise
foi feita congelando-se o frame do vídeo no momento em que o operador executava a
operação. Não foi usado nenhum tipo de cronometragem para a análise cinesiológica e
movimentos de transição entre uma etapa e outra. Quando identificada uma etapa carac-
terística, parava-se o vídeo (colocando-o em pausa) e o movimento era, então, analisado.
As questões dos seis constructos considerados na AMT (ambiente físico, posto de
trabalho, organização do trabalho, empresa, conteúdo do trabalho e risco/desconforto/
dor) foram avaliadas com base na opinião dos participantes que expressam sua opinião
geral sobre o trabalho espontaneamente com base em entrevistas, e sua satisfação ou
concordância com cada item de um questionário (formatado com base nas entrevistas e
na opinião de especialistas) em uma escala contínua com duas âncoras nas extremidades,
conforme proposto por Stone et al. (1974). Assim, as respostas variam de nada (ou 0) a
muito (ou 15). Analisando-se os dados do quadro geral de apreciação ergonômica, que
conjuga os resultados das entrevistas (qualitativas) e questionários (quantitativos) reali-
zados com uma amostra de 30% (entrevistas) e com toda a população (questionários)
das quatro lojas, concluiu-se que a maior insatisfação dos funcionários não está relacio-
nada ao ambiente físico, ao posto ou à organização do trabalho, mas com o constructo
Empresa. Os itens do constructo Empresa somam a maior insatisfação sendo necessário
rever principalmente os itens fornecimento de meia-calça e de maquiagem (com média
1,2), uniforme e calçados (média em torno de 3,5) e fornecimento de troco (média em
torno de 3,7). Os constructos Posto (média 7,59), Organização de trabalho (média 7,68)
e Fatores ambientais (média 7,97) podem ser considerados satisfatórios por estarem aci-
ma da média de satisfação (média é 7,5 na escala adotada de 15 cm) apesar de o item
ruído ter ficado abaixo da média de satisfação (média de 6,8). No constructo Organiza-
ção do trabalho, os problemas mais importantes são a questão de tempo de resolução
de problemas, quebra de caixa, horas extras e folgas. Sobre o Conteúdo do trabalho, os
resultados mostraram que se trata de um trabalho estressante por lidar com o público,
nem sempre gentil, principalmente quando há fila ou problemas de troco. Os vendedo-
res não têm perspectiva de crescimento na Empresa (a perspectiva máxima é chegar a
chefe de setor), mas a rotatividade é alta e o tempo na empresa é curto (de nove meses,
em média) tendo em vista a baixa valorização e competição por premiações. As jornadas
de trabalho são longas e se há movimento não é possível ter as tão esperadas pausas
voluntárias. Nas lojas dos grandes shopping centers o estresse aumenta, porque o movi-
mento é maior e os vendedores ficam enclausurados sem ver as mudanças de tempo, de
540 Ergonomia ELSEVIER
luz etc. É um emprego tipicamente formatado para jovens com pouca escolaridade, na
maioria mulheres bem apessoadas, que estão ali por um salário mínimo e à espera de
uma oportunidade melhor.
Com base em Grandjean (1998), considerando o fato de os vendedores permane-
cerem toda a jornada de pé, esperava-se que eles sentissem cansaço e dores localizadas.
Esse fato, junto com a análise de algumas posturas identificadas como prejudiciais na
análise cinesiológica, confirmam as queixas de desconforto citadas pelos funcionários na
fase de apreciação: pés, pernas e costas (Figura 30.3), corroborando o estudo de Grand-
jean (1998).
No que tange os itens relacionados à projetação do posto de trabalho da ilha,
conforme identificados no constructo posto, pode-se dizer que há necessidade de um
assento para permitir alternância de posturas e, portanto, minimizar as queixas de dores.
Pelas observações, fica nítido que as pessoas não sentam em virtude da disposição dos
equipamentos e do tipo de trabalho na ilha de caixa: da forma atual, não é possível sentar
e, mesmo que fossem disponibilizados assentos, os funcionários não teriam condição de
sentar, em função da movimentação exigida no posto. Cabe notar que a questão “sentar”
era o foco do trabalho e, assim, foi perguntado, além dos funcionários, a opinião de ge-
rentes e clientes sobre o assunto. Apesar de a gerência entender que o atendimento deve
ser feito de pé, metade dos clientes perguntados consideram que é bom que os funcioná-
rios sentem e, dessa forma, caso haja dúvida, pode-se afirmar que a empresa não precisa
se preocupar com o fato de o “cliente preferir ser atendido de pé, por uma questão de
cortesia...” (conforme pensam os gerentes), pois há opinião favorável para que os fun-
cionários sentem. Outra disparidade entre opiniões de funcionários e gerentes é quanto
à utilização de equipamentos. Os funcionários preferem passar a leitora ótica na roupa
enquanto os gerentes entendem que a roupa deve ser passada na leitora. As observações
assistemáticas evidenciaram que a maioria dos funcionários realmente manuseia a leitora
com facilidade e é mais conveniente (porque pesa menos e é mais flexível para adaptar
aos diferentes formatos de produtos manuseados) a mobilidade da leitora. O projeto
deverá considerar, então, que a leitora é móvel.
Um novo balcão foi projetado (as figuras 30.1 e 30.2, respectivamente, apresen-
tam os balcões antigos e o reprojetado ergonomicamente) para permitir alternância de
postura e foi colocado em teste em duas lojas. Vitali Junior (2004) analisou os resulta-
dos de uma das lojas de um dos shoppings, pois a outra loja piloto não permitiu que os
vendedores utilizassem o assento e, então, alternassem a postura. A análise foi feita com
base em questionários junto aos vendedores, em observações diretas, nas filmagens (para
tomada de tempos e movimentos) e um instrumento (Vitali Júnior, 2004) desenvolvido
para avaliação de risco postural e carga de trabalho com base em protocolos de avaliação
de risco da ocorrência de LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbio Osteo-
muscular Relacionado ao Trabalho): OWAS (Ovako Working Posture Analysing) proposto
por Karu, Kansi e Kuorinka (1977); RULA (Rapid Upper Limb Assessment) desenvolvido
Capítulo 30 | Atendimento em loja – check-out 541
por Mcatamney e Corlett (1993); REBA (Rapid Entire Body Assessment) proposto por Hig-
nett e Mcatamney (2000). Os resultados aparecem na Figura 30.4.
)LJXUD1DLOKDDQWLJDRWUDEDOKRpH[HFXWDGRVRPHQWHHPSp
HKiHVIRUoRHVWiWLFRQRVEUDoRVGHYLGRDRPDQXVHLRGXUDQWHRHQVDFRODPHQWR
desmagnetização e entrega da sacola ao cliente
)LJXUD1DLOKDHUJRQ{PLFDRHVIRUoRGHHQVDFRODPHQWRGHVPDJQHWL]DomRHHQWUHJD
GDFRPSUDIRLWUDQVIHULGDSDUDXPDUDPSDRFOLHQWHSHJDDVDFROD$LQVWDODomR
GHXPDFDGHLUDDOWDHDDEHUWXUDGHHVSDoRSDUDPRYLPHQWDomRGDVSHUQDV
sob o balcão permite a alternância de postura
542 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD*UiÀFRFRPSDUDWLYRGHGHVFRQIRUWRGRUGRVRSHUDGRUHVGHFDL[DGDORMD
GHGHSDUWDPHQWRVDQWHV LOKDDQWLJDGHSRLV LOKDQRYD
)LJXUD5LVFRWRWDOpRULVFRGHGHVHQYROYLPHQWRGHOHVmRDYDOLDGRFRPEDVH
HPSURWRFRORV$FDUJDSRVWXUDOWRWDOpUHVXOWDQWHGRSURGXWyULR
entre o risco de lesão e o tempo de duração da operação
Capítulo 30 | Atendimento em loja – check-out 543
Além da redução de dores, risco e carga postural, conforme o teste Tukey de com-
paração de médias, os funcionários que testaram o novo protótipo acharam que a nova
ilha de caixa é bonita (a média de satisfação atingiu o ponto máximo da escala), mas sua
opinião sobre a praticidade, a facilidade de uso e se gostaram de trabalhar na ilha ficou
em torno do ponto médio da escala (ponto neutro). Os elementos espaço físico, altura do
balcão e remoção do alarme foram os que apresentaram diferença significativa, ou seja,
comparados, tiveram melhor desempenho na nova ilha do que na antiga.
Os resultados referentes à loja estudada mostram que o projeto proposto para
a ilha nova alterou a forma de venda, diminuindo a carga postural em todas as opera-
ções principais do processo de trabalho na ilha de caixa. Principalmente, observou-se a
redução da carga postural no ensacolamento dos produtos, e foi eliminada a operação
de maior carga postural na ilha antiga, a desmagnetização do produto na sacola (passar
a sacola no detector de alarme). A ilha nova possibilitou a alternância de posturas em
pé e sentada, sendo a postura sentada a preferida na jornada de trabalho. A ilha velha
apresentou, em relação à nova, um menor risco postural na colocação de cabides no
cabideiro, tendo em vista que a postura em pé favorece essa atividade, já que o operador
não precisa levantar os braços e nem torcer o tronco nessa operação quando está de pé
no posto. Apesar do risco maior, a carga postural total da colocação de cabides na ilha
nova é menor que na ilha velha tendo em vista ocorrer por um tempo reduzido durante
a jornada de trabalho.
30.1. Conclusões
Em suma, pode-se concluir que, levando-se em conta as atividades consideradas
desde o início do projeto, a nova ilha de caixa atende às necessidades dos operadores, al-
terou a forma de venda e diminuiu o risco e a carga postural em todas as operações prin-
cipais do processo de trabalho. Houve aumento de produtividade (2,3 a 4,5%) devido ao
ganho de tempo de operação que a nova ilha propicia, já que o tempo médio de venda
na nova ilha é menor que na antiga em função da eliminação de várias das restrições do
projeto antigo. Houve queda de fadiga durante a jornada na ilha ergonômica: a curva de
fadiga mostrou que há uma menor queda no desempenho da ilha nova (perda de 1,7%)
do que na ilha antiga (perda de 6%).
Cabe acrescentar, também, que a nova ilha está de acordo com as recomendações
que estão sendo discutidas no Ministério do Trabalho quanto ao trabalho em check-outs
de supermercado, mas que podem ser aplicados a outros check-outs. Em junho de 2007
foi divulgada, para avaliação pública (Portaria n. 13 de 21 de junho de 2007), o anexo I
da NR 17 que faz as seguintes recomendações para o trabalho em check-outs e dos ope-
radores de caixa de supermercado: i) garantir um espaço adequado, conforme critérios
técnicos e ergonômicos de conforto do trabalhador, ao longo do maior eixo da bancada,
544 Ergonomia ELSEVIER
a empresa fornecesse um kit de maquiagem para cada vendedora a cada seis meses. Por
causa da questão do assento, dois problemas muito mais graves, na opinião das vendedo-
ras, foram resolvidos. Mas na opinião dos pesquisadores, continuou a frustração da não
implementação de uma ilha melhor e de uma organização de trabalho melhor.
31 Teleatendimento
Bernardo Bastos
Introdução
Avanços tecnológicos na área de informática no final da década de 1980 possi-
bilitaram uma nova forma de comunicação entre as empresas e seus clientes. Eram as
centrais de atendimento (call centers), onde uma perspectiva de produção de novos pro-
dutos mais próximos às necessidades dos clientes era vislumbrada. Elas são utilizadas,
normalmente, para receber ligações de usuários/clientes de um determinado produto de
uma empresa (central receptiva) e também para a aquisição de novos clientes (central
ativa). De acordo com o Anexo II da NR 17, entende-se como call centers o ambiente de
trabalho no qual a principal atividade é conduzida via telefone e/ou rádio com utilização
simultânea de terminais de computador.
As centrais de teleatendimento ou telemarketing estão presentes em diversos seto-
res econômicos, desde a prestação de serviço: companhia de distribuição de água e gás,
telefonia, distribuidora de energia elétrica; até em empresas que promovem comércio
online pela internet. O Anexo II da NR 17 define o trabalho de teleatendimento/telema-
rketing como aquele cuja comunicação com clientes/usuários é realizada à distância por
intermédio da voz e/ou mensagens eletrônicas, com a utilização simultânea de equipa-
mentos de audição/escuta e fala telefônica e sistemas informatizados.
31.1. Caracterização
Uma empresa de cartões de crédito que utiliza o serviço de teleatendimento para
o atendimento de seus clientes e o de telemarketing, responsável pela incorporação de
novos clientes portadores de cartão de crédito.
O atendimento ao cliente é um dos produtos oferecidos para que o cliente entre
em contado com a empresa de cartões de crédito para pedir informações, reivindicar
Capítulo 31 | Teleatendimento 547
31.2.1. População
No setor de teleatendimento/telemarketing trabalham 180 atendentes, divididos
em grupos de quatro componentes, onde cada grupo se localiza em uma baia. Do total da
população, 68% são mulheres e 32% são homens. São três turnos de cinco ou seis horas
diárias de segunda a sábado, não podendo ultrapassar seis horas diárias o tempo de tra-
balho, incluindo as pausas, sem prejuízo da remuneração (item 5.3, Anexo II – NR 17).
Além da carga horária semanal, há plantões compulsórios de seis horas aos do-
mingos e feriados, pois a empresa possui um atendimento de 24 horas todos os dias,
como consequência os atendentes trabalham 13 dias consecutivos, sem um dia para
descanso. Contudo, de acordo com o item 5.1.1 do Anexo II da NR 17 os trabalhadores
são assegurados com pelo menos um dia de repouso semanal remunerado coincidente
com o domingo, independentemente de metas, faltas e produtividade.
Para prevenir sobrecarga psíquica, muscular estática de pescoço, ombros, dorso
e membros superiores, as empresas devem permitir o aproveitamento de pausas de des-
canso e intervalos para repouso e alimentação aos trabalhadores (item 5.4 do Anexo II
da NR17).
Durante o expediente há duas pausas diárias de 15 minutos para lanche e elas
são estipuladas de acordo com os períodos de menor intensidade nas chamadas, como
no período da manhã e da tarde no horário comercial. Lembrando que as pausas devem
ser concedidas fora do posto de trabalho em dois períodos de dez minutos contínuos,
após os primeiros e antes dos últimos 60 minutos de trabalho em atividade (item 5.4.1,
alíneas “a”, “b” e “c” do Anexo II da NR 17).
31.2.2. Ambiente
A temperatura do ambiente é regulada em uma central localizada em outro an-
dar nas instalações da empresa de cartões de crédito. O item 4.2.1 do Anexo II da NR
17 recomenda a implementação de projetos adequados de climatização nos ambientes
de trabalho que permitam distribuição homogênea das temperaturas (entre 20 oC e
23 oC) e fluxo de ar. E, se necessário, controles locais ou setorizados de temperatura e
fluxo de ar.
As janelas do setor de teleatendimento/telemarketing estão dispostas paralelamen-
te aos monitores e permanecem constantemente fechadas. A iluminação é provida por
luz fria indireta. A iluminação do local de trabalho deve ser adequada e apropriada à ati-
vidade de teleatendimento/telemarketing, podendo ser natural ou artificial (NR 17, item
17.5.3). A iluminação deve ser uniformemente distribuída e difusa, projetada e instalada
de forma a evitar ofuscamento, reflexos, incômodos e sombras (NR 17, item 17.5.3.1 e
17.5.3.2).
Capítulo 31 | Teleatendimento 549
32 Hotel
Introdução
A auditoria fiscal do Ministério do Trabalho, em visita a um hotel de grande porte
estabelecido na cidade do Rio de Janeiro, solicitou à empresa a elaboração de uma análise
ergonômica do trabalho (AET) com base nas Normas Regulamentadoras (NR 17) refe-
rentes à aplicação dos conceitos de Ergonomia nas atividades de trabalho. Os postos de
trabalho a serem observados, sugeridos pela fiscalização, apontavam para dois ambientes
distintos: recepção e cozinha do hotel. Neste capítulo, especialmente, apresentaremos
os resultados da análise realizada com um dos profissionais que constituem o serviço de
recepção do hotel: o capitão-porteiro.
32.1. Metodologia
Foram realizadas visitas aos locais indicados pela fiscalização, sempre acompa-
nhadas pelo técnico de segurança do hotel, responsável pela apresentação e a introdução
da equipe nos ambientes de trabalho. A metodologia de trabalho seguiu um roteiro bási-
co de entrevistas com perguntas abertas aos funcionários e a observação direta destes em
suas atividades de rotina. Para a realização da AET, a dinâmica do trabalho dos ambientes
e postos de trabalho indicados foi registrada por meio de:
UÊ Anotações in loco das conversas com os trabalhadores, técnicos, funcionários e
gerência do Hotel.
UÊ Coleta de dados junto à gerência de recursos humanos e a observação de vídeos e
o job script cedidos pelo setor de segurança patrimonial.
UÊ Fotografias.
552 Ergonomia ELSEVIER
Em sua jornada de trabalho é feito o uso cuidadoso e diário do seu estado pessoal
(higiene e simpatia) no contato com os clientes que o abordam e da atenção na monitoria
da movimentação de hóspedes, transeuntes e veículos. Deve estar atento à movimenta-
ção de entrada/saída do hotel e providenciar o estacionamento para os hóspedes, porque
“o capitão sempre tem uma vaga”. Requer também a condição de tradutor e intérprete,
bem como a proteção dos hóspedes e do patrimônio do hotel. Para garantir a proteção,
conta e interage com o pessoal da segurança (interna e externa).
A função é coberta por um efetivo de três funcionários – dois trabalhando em
turnos fixos e outro cobrindo as folgas – distribuídos em três turnos de trabalho: de
07:00 às 15:20, de 15:20 às 23:00 e de 23:00 às 07:00, com uma folga semanal. O turno
envolve 7:20 de trabalho de pé. O momento de maior movimentação acontece por volta
das 21:00 para o acesso aos restaurantes do hotel e aos sábados no horário do almoço.
Os atendimentos podem ser diferenciados e divididos por tipos de clientes: visitantes,
hóspedes e frequentadores.
554 Ergonomia ELSEVIER
No item 6 da NR 17, que versa sobre a organização do trabalho, afirma que esta
deve ser adequada às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do
trabalho a ser executado. Chamamos a atenção nos dois pontos seguintes: No item 6.2,
que deve levar em consideração, no mínimo: a) as normas de produção; b) o modo ope-
ratório; c) a exigência de tempo; d) a determinação do conteúdo de tempo; e) o ritmo de
trabalho; e, f) o conteúdo das tarefas. E, as ressalvas no item 6.3, quando das atividades
que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica de membros inferiores. Deve ser
observado o seguinte: a) para efeito de remuneração e vantagens de qualquer espécie
deve levar em consideração as repercussões sobre a saúde dos trabalhadores; e, b) devem
ser incluídas pausas para descanso.
33 Ergonomia, sustentabilidade
e pesca
Pimenta, E. G., M.Sc.; Resende, M. F., Esp. Erg. – GEPESCA/UVA
Mario Cesar Vidal, Dr. Ing. – PEP/COPPE/UFRJ
Introdução
O presente texto tem como objetivo relatar os arranjos ergonômicos locais im-
plementados pelo Grupo de Estudos da Pesca/Gepesca para adequação antropotecnoló-
gica do desembarque de sardinha (Sardinella brasiliensis) na cidade de Cabo Frio-RJ. O
município é o maior produtor nacional da espécie e sua carne tem grande aceitação de
mercado, o que a coloca como principal produto pesqueiro da região Sudeste brasileira.
Sua captura é regulamentada por legislação específica, onde ocorre um longo período de
defeso. Parte da produção é comercializada fresca e a outra parte é destinada à indústria
de enlatados. No curto período em que a pesca é liberada anualmente, a frota nacional
se dirige para Cabo Frio objetivando exercer esforço de pesca. Com a chegada de grande
quantidade de pescado em curto período de tempo nas indústrias localizadas no Cais da
Barra municipal, ocorre uma drástica modificação na rotina local mediante a presença
do pescado, da frota de barcos e de caminhões de transporte e suas respectivas logísticas.
Esse cenário pontual requer um novo arranjo local em termos ecológico, econômico e
social no mais representativo cais municipal.
33.1. Desenvolvimento
Originalmente, a retirada do pescado da urna se dá mediante a utilização de um
sistema de alagem onde o peixe é içado, após ser colocado em uma tina, daí para o cais.
Nesse processo foram registrados desperdícios mediante a queda de peixe entre a urna
do barco e o cais. Majoritariamente, essas perdas chegam às águas do Canal Itajuru,
Capítulo 33 | Ergonomia, sustentabilidade e pesca 557
caindo através do espaço existente entre o cais e o bordo da embarcação. Em 2007, es-
timou-se que aproximadamente 1% de cada desembarque era computado como perdas
e significativa parte chegava as águas do Canal Itajuru, aproximadamente 0,5%. Nas
águas do canal, o pescado era levado, nas marés enchentes, para as praias da Lagoa de
Araruama, nos bairros vizinhos ao entreposto de desembarque. Já nas marés vazantes,
o pescado tinha como destino a Praia do Forte, a mais representativa de Cabo Frio,
considerada a praia modelo municipal, onde é implementado pela Guarda Marítima e
Ambiental/GMA municipal, um complexo plano de gestão. Esse fato gerou uma série
de demandas, a citar: a necessidade de limpeza diária das praias por até três turnos,
acidentes com banhistas (lesão nos pés por espinhos de nadadeiras), atração de urubus
e aumento da matéria orgânica no corpo hídrico. O poder público municipal estava
diante de grande pressão, tanto dos empresários da pesca, interessados na manutenção
dos desembarques, como por parte dos usuários das praias, incomodados com o ce-
nário de putrefação de peixes e suas consequências. O executivo municipal, por meio
da GMA, foi acionado para diagnóstico e ação de ajuste de conduta dos envolvidos no
processo de captura, comercialização e transporte de peixe. A GMA buscou a consul-
toria do Gepesca para a resolução da questão, considerando que a atividade pesqueira
e turística são as principais molas propulsoras do desenvolvimento da cidade. No pro-
cesso de diagnóstico, foi constatada a inadequação do modo operante de desembarque
entre a urna e o cais. Fração esta em que foi verificada significativa perda por meio
de queda de pescado no assoalho do cais e consequentemente nas águas do canal de
atracação da frota. Sete indústrias são sediadas no Cais da Barra, algumas mais e outras
menos adequadas ao processo de automação do desembarque. As mais preparadas
desperdiçavam menos e as menos preparadas desperdiçavam mais; de um modo geral
foram registrados desperdícios em todas elas. Esses desperdícios tinham como destino
as águas do canal. No primeiro momento, em caráter emergencial, o poder público,
por meio da GMA, seguindo as recomendações do diagnóstico do Gepesca, exigiu a
colocação de uma redinha de contenção entre o bordo da embarcação e o cais de de-
sembarque. De imediato os resultados apareceram e sobras do processo de desembar-
que não mais chegavam às águas. Foi observada, na ação, a necessidade de ajuste da
redinha mediante a oscilação da maré e peso do pescado sobre ela caído. Por diversas
vezes, foi necessário ajustar e alterar as amarras da redinha, ficando responsável pelas
medidas corretivas uma pessoa do processo de desembarque.
558 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD$FLPDDUHGLQKDGRFDLVDEDL[RDHVWHLUD
HRSURFHVVRFRQYHQFLRQDOVXEVWLWXtGR
Na temporada seguinte, foi cobrado das empresas, como parte do ajuste de con-
duta, a utilização de uma esteira rolante ligando a boca da urna do barco ao cais, exi-
gindo um investimento maior; todavia, já capitalizadas com a excelente safra anterior e
sabedoras de suas responsabilidades signatárias no ajuste de conduta, elas investiram
na compra do equipamento e, em 2009, o problema da queda de pescado nas águas do
Canal Itajuru foi reduzido significativamente. No novo arranjo, foi registrada a perda
de pescado por meio da queda na acentuada mudança do ângulo da esteira rolante do
convés do barco para o cais. Como medida preventiva, optou-se pela manutenção da
redinha abaixo da esteira.
33.2. Conclusão
Por meio da ação ergonômica da utilização da redinha e, posteriormente, com a
utilização da esteira rolante entre a boca da urna do convés da embarcação e o cais, as
perdas foram reduzidas a índices insignificantes quando comparadas ao cenário anterior,
sem a redinha e a esteira. De modo que, na safra de 2010, o problema de desperdício
Capítulo 33 | Ergonomia, sustentabilidade e pesca 559
de pescado e sua consequente queda nas águas do Canal Itajuru no ato do desembarque
foi considerado resolvido pelas autoridades municipais. As indústrias de captura e co-
mercialização minimizaram perdas, o cenário das praias lagunares e oceânicas do Forte
São Mateus voltou ao seu status de excelência e o ambiente foi salvaguardado da matéria
orgânica em putrefação que reduzia os índices de oxigênio dissolvido, principalmente
na Lagoa de Araruama, que vem registrando nos últimos anos mortandade de peixe por
falta de oxigênio em seu corpo hídrico.
Capítulo
34 Simulação humana
Introdução
Neste capítulo serão apresentados estudos de caso em que o uso da simulação
humana proporcionou diversos benefícios para o processo de projeto. Muitos casos po-
deriam servir de exemplo para diferentes campos industriais, porém, isso iria prolon-
gar demasiadamente o capítulo; sendo assim, será apresentado um quadro síntese, que
abrange um espectro de mais de dez anos da utilização dessa tecnologia no Brasil, e três
estudos de caso detalhados, que resultam de aplicações em diferentes setores industriais.
O Quadro 34.1 sintetiza a aplicação da simulação humana em diferentes projetos
realizados desde o ano de 1998. Tais projetos decorrem de parcerias entre a Universidade
Federal de São Carlos e diversas organizações; um detalhamento maior de cada caso é
apresentado por Braatz et al. (2007).
Os três casos que serão detalhados a seguir são provenientes de projetos desenvol-
vidos nas áreas de prestação de serviços, manufatura e processo contínuo em empresas
públicas e privadas. Os processos de projetos foram desenvolvidos entre os anos de 2003
e 2009 e envolvem os projetos de postos de trabalho, sendo o primeiro em uma empresa
do setor de serviços com alto nível de interação com clientes, o segundo em uma empre-
sa de manufatura que possui como principal característica a alta repetitividade nos pro-
cessos produtivos e, por fim, uma indústria de processo contínuo que tem como campo
de atuação o refino de petróleo, processo este que é marcado pela sua periculosidade e
complexidade.
)LJXUD6LPXODo}HVHDQiOLVHVUHDOL]DGDVGXUDQWHGHVHQYROYLPHQWRGHSURMHWRFRQFHLWXDO
O projeto foi caracterizado pela evolução conceitual dos subsistemas que, para um
melhor desenvolvimento, foi dividido em recortes conforme ilustrado na Figura 34.3.
)LJXUD,OXVWUDomRFRPVXEVLVWHPDVGHÀQLGRVFRPRUHFRUWHV
)LJXUD6LPXODo}HVUHDOL]DGDVSDUDGHVHQYROYLPHQWRGHSURSRVWDSURMHWXDO
as agulhas que fossem detectadas pelos sensores como fora do padrão eram automati-
camente descartadas. O subsistema foi projetado quando quase todos os elementos já
estavam em fase avançada de concepção, o que acarretou uma dificuldade adicional na
sua alocação física no sistema global.
A simulação humana digital contribui de forma significativa na compreensão da
complexa restrição espacial existente no local por meio da análise detalhada dos equipa-
mentos e as possibilidades de choque físico com os membros inferiores do manequim
percentil 95.
A partir da prototipagem digital foi possível construir as especificações técnicas
do novo posto de trabalho, consorciando diversos fatores e equacionando questões do
bem-estar humano e produtividade.
Sendo assim, o projeto da nova cabine teve seu início com a realização da AET
a qual forneceu um diagnóstico quanto às recomendações a serem incorporadas pelo
projeto. Em seguida uma primeira proposta foi elaborada em ambiente CAD atendendo
a critérios como:
UÊ Apoio para os pés do operador da cabine – a nova cabine deve contemplar incli-
nação para o apoio dos pés, que deverá ser construído de modo a não obstruir a
visibilidade do operador.
UÊ Visibilidade frontal da cabine – a parte da frente da cabine deve ser construída
de modo a não prejudicar o campo visual do trabalhador, ou seja, não poderiam
existir divisões ou obstáculos na parte frontal da cabine.
UÊ Tratamento térmico e ventilação – a nova cabine deve possibilitar ao operador a
regulagem da temperatura e ventilação em seu interior.
UÊ Comunicação – a cabine deve possibilitar a comunicação das pessoas externas
com o operador da ponte rolante para que ele fique ciente da presença delas. Para
contemplar tais observações foi incorporado ao projeto da cabine um “interfone”.
Apesar de a primeira proposta parecer satisfatória, essa não contemplou a repre-
sentação de todos os participantes, sendo sugeridas alterações quanto a inclinação dos
vidros localizados na parte frontal da cabine.
Capítulo 34 | Simulação humana 569
Outro ponto discutido pelos atores envolvidos no projeto foi a localização dos
joysticks no comando, pois o conceito propunha que eles fossem fixados em uma base
inclinada de forma a proporcionar maior campo de visão ao operador. Somada à questão
da visibilidade, também existia a necessidade da distância entre os joysticks (cotovelo a
cotovelo, sentado) que deveria ser de no máximo 60 cm (Menegon, 2002).
Tais exigências não foram atendidas na proposta apresentada pela empresa respon-
sável em fornecer o equipamento, que justificou a impossibilidade por questões técnicas.
Como forma de avaliar o impacto que o não atendimento da condicionante “dis-
tância entre os Joysticks” traria aos trabalhadores, foram elaboradas simulações humanas
(com o uso do software Jack) para os percentis 5 e 95. Também foram avaliadas as questões
referentes ao acesso aos botões e a visibilidade que os operadores teriam na futura cabine.
Os critérios a serem atendidos com a geração da simulação para os percentis 5 e
95 foram:
UÊ Avaliar os campos de visão laterais e frontais.
UÊ Avaliar a zona de alcance, para os botões.
UÊ Avaliar a zona de alcance, para os manetes.
As Figuras 34.6 e 34.7 apresentam a análise de alcance dos comandos que foram
propostos pelos fornecedores e os campos de visão para diferentes percentis (a haste ver-
melha nas figuras representa o limpador do vidro localizado na parte externa da cabine).
)LJXUD$QiOLVHGRDOFDQFHGHFRPDQGRVSDUDRSHUDGRUHVSHUFHQWLOH
570 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD&DPSRYLVXDOSDUDRSHUDGRUHVGHSHUFHQWLOH
Por meio do processo de simulação foi possível confirmar que o não atendimento
das recomendações traria dificuldades na operação dos joysticks.
Quanto à visibilidade, esta não seria impactada pela estrutura da cabine e da pol-
trona. Porém, o acesso aos botões apresentou maior dificuldade de acesso para os ope-
radores de percentil 5, porém, o nível de não conformidade foi julgado como baixo, não
inviabilizando a execução do projeto.
Embora a participação da Ergonomia nesse projeto tenha sido considerada de
fundamental importância pelos participantes, sua ação restringiu-se apenas a suges-
tões, que poderiam ou não ser acatadas pela coordenação do projeto. Sendo assim,
nem todos os constrangimentos apontados pela equipe de Ergonomia foram solu-
cionados.
Capítulo 34 | Simulação humana 571
35 Recomendações ao projeto
de postos de trabalho
Mario Cesar Vidal, Dr. Ing.– PEP/COPPE/UFRJ
Francisco Soares Másculo, Ph.D – UFPB
Paulo Ségio Soares da Silva, D.Sc. – EP/UGF
Conceitos apresentados
Neste capítulo são apresentadas recomendações e aplicações para o projeto de
postos de trabalho, de grande utilidade para o estudante de Engenharia de Produção.
São mostradas diversas situações que podem ser encontradas nas nossas fábricas, nos
escritórios e mesmo em nossas casas. Foram extraídas de diversas fontes, principal-
mente do texto elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em co-
laboração com a International Ergonomics Association (IEA), intitulado Pontos de Verifi-
cação Ergonômica – Soluções práticas e de fácil aplicação para melhorar a segurança,
a saúde e as condições de trabalho, traduzido e publicado pela Fundacentro em São
Paulo, no ano de 2001. Esse conteúdo teve sua publicação devidamente autorizada
pela OIT/Brasil, resguardada a fonte, bem como a obra Ergonomia prática, de J. Dul e
B. Weerdmeester, publicada em 2004.
)LJXUD8VRGHFDUULQKRVGHP~OWLSODIXQomR
operador. Para manusear cargas pesadas em distâncias curtas, uma cábrea móvel aten-
dera de forma bastante satisfatória. Esse equipamento iça a carga a uma altura pequena,
porém, suficiente para seu deslocamento. A passagem, no entanto, devera star desimpe-
dida.
)LJXUD8VRGHXPDFiEUHDPyYHO
)LJXUD8VRGHXPDHVWHLUDSDVVLYD
)LJXUD'LVSRVLWLYRVSDUDLoDPHQWRGHFDUJDV
)LJXUD5HSDUWLomRGHXPJUDQGHSHVRHPSHTXHQRVYROXPHV
)LJXUD$GHTXDomRGHSHJDV
)LJXUD$OWHUQkQFLDGHSRVWXUD
)LJXUD'LIHUHQWHVDOWXUDVHPIXQomRGRWLSRGHDomRGHWUDEDOKR
35.3.1. Trabalho em pé
Inicialmente recuperaremos alguns achados referidos antes sobre a posição de pé
para estabelecer alguns critérios de concepção adequada para postos desse tipo:
UÊ quanto menor for o esforço físico na posição de pé, em relação à sua postura natu-
ral relaxada, mais fácil será a realização das tarefas;
UÊ o esforço estático implica em aumento dos batimentos cardíacos, provocando um
real desgaste físico, embora não se esteja realizando qualquer tarefa;
UÊ a posição de pé é bastante favorável para o manuseio de objetos mais pesados.
Duas indicações práticas nos são oferecidas pelo extenso trabalho da OIT/IEA
que são: Permanecer de pé com naturalidade e tomar como referência a pessoa mais
avantajada.
)LJXUD5HIHUrQFLDGHLQVWDODomRSHORPDLVDYDQWDMDGR
582 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD'LÀFXOGDGHVSDUDVHPDQWHUGHSpFRPQDWXUDOLGDGH
)LJXUD3RVWXUDVHQWDGDQDWXUDOUHOD[DGD
Outra consideração que cabe aqui envolve o posicionamento das pernas sob a
mesa. O aumento da pressão na coluna na posição sentada implica em buscarmos fre-
quentemente mudar nossa posição quando ficamos sentados, para aliviar esses sintomas,
conforme referido acima. Assim, é necessário deixar espaço para cruzar as pernas sob a
mesa sem bater as pernas em seu tampo; sentar na ponta da cadeira – o que implica em
projetar os quadris para frente – sem bater com as pernas no fundo da mesa; movimentar
as pernas lateralmente sem bater nas bordas laterais da mesa.
Tais considerações corroboram as duas recomendações que aqui selecionamos do
material da OIT:
)LJXUD(VSDoRVREDPHVD
584 Ergonomia ELSEVIER
Em que pese o aspecto auto-explicativo da foto, vale a pena mencionar que a so-
lução para esse tipo de problema remete a considerações mais de ordem organizacional
do que de mobiliário ou mesmo de desenho arquitetônico. O fluxo real de papéis e de
documentação em um processo de serviço é, quase sempre, muito mal dimensionado pe-
las gerências, e o projeto de arquitetura e de mobiliário é contaminado por essa ausência
de precisão e de visão do trabalho real.
)LJXUD(QFRVWRV
)LJXUD1tYHLVHPXPDVXSHUItFLHGHWUDEDOKR
586 Ergonomia ELSEVIER
Essa é uma recomendação que requer muita atenção e muita observação do curso
das ações de trabalho na situação considerada. Muitos entendem que uma superfície de
trabalho deva ser tão plana quanto possível, mas isso não se verifica no mundo real. A
existência de planos se estabelece de acordo com as necessidades de cada situação de
trabalho e isso pode significar desníveis, planos inclinados.
A análise da atividade aparece aqui como fundamental. Num caso como o da
ilustração deste tópico, a redução – praticamente a eliminação – dos desníveis toma
sentido a partir da análise do curso das ações de trabalho. Se fosse um posto de trabalho
informatizado a existência de desníveis poderia ser desejável, e é o que se recomenda
em alguns casos. Por exemplo, numa missa católica a mesa de trabalho do sacerdote – o
altar – possui pelo menos três níveis bem definidos.
35.4.2. Recomendação 14: reduzir a distância entre o operador e o objeto uma superfície de
trabalho
)LJXUD$VXSHUItFLHQmRGHYHVHUSUREOHPD
Essa é uma outra recomendação que pareceria óbvia, não fossem os casos em que
verificamos que isso não foi observado na concepção do lugar de trabalho. O teor da
ilustração, infelizmente, pode ser substituído por uma razoável quantidade de fotografias
recentes. Problemas dessa ordem aparecem em relação direta com o tipo de atividade e
são muito comuns em laboratórios e situações de comércio.
35.4.3. Recomendação 15: eliminar ou diminuir as alturas entre posições em uma superfície de
trabalho
)LJXUD,QFOLQDomRHWRUomRGHFROXQD
)LJXUD(VWDQWHVHSUDWHOHLUDV
Pesquisa na internet
1) Busque ilustrações que se comparem às aqui fornecidas.
2) Busque mais dez novas recomendações para o projeto de lugares de trabalho, di-
ferentes das apresentadas neste capítulo, e compartilhe com seus colegas em sala
de aula ou por meio de um blog.
Referências
DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher,
2004.
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Capítulo 35 | Recomendações ao projeto de postos de trabalho 589
36 Ergonomia, adaptação e
resiliência
José Orlando Gomes, Dr. – UFRJ
Introdução
Uma condição básica para que uma organização alcance alta confiabilidade e
resiliência é superar as tendências reativas, construindo antecipações aos problemas e
a eventos inesperados e não desejados. Tal organização deve ser capaz de observar o
passado com clareza, produzindo compreensão e reflexão sobre os microincidentes, as
restrições ao trabalho dos operadores e as estratégias desenvolvidas pelas pessoas de
forma a aprender e prevenir a ocorrência de falhas nas organizações (Woods, 2005). A
engenharia de resiliência tem como propósito permitir às pessoas e às organizações a se
tornarem atentas e sensíveis aos modelos de riscos que adotam, de forma a controlar a
origem e os caminhos das falhas (Dekker, 2006).
Os acidentes do sistema sociotécnico (Challenger, Columbia, colisão aérea da Gol/
Legacy, queda das aeronaves Black Hawk dos EUA no Iraque etc.) têm mostrado como
diversas organizações, todas com múltiplas camadas de defesas e sistema de controle,
não conseguiram balancear os riscos da segurança com a pressão produtiva. Esses aci-
dentes evidenciaram padrões clássicos de deriva das organizações e produzindo aciden-
tes. Alguns desses padrões eram: enfatizar mais a produção que a segurança, os êxitos
do passado foram tomados como razão de confiança no futuro, processos fragmentados
de resolução de problemas, falta de reavaliação das estimativas quando novas evidências
se acumulam, perturbações/interrupções nos limites de funcionamento das unidades da
organização dificultando a comunicação, resultando em organizações cegas e incapazes
de aprender com os incidentes de menor importância (Caib, 2003; Snook, 2000; Gomes
et al, 2009).
Capítulo 36 | Ergonomia, adaptação e resiliência 591
Se considerarmos que os padrões descritos acima são quase os mesmos para todo
um conjunto de acidentes maiores em sistemas sociotécnicos complexos, então, para po-
der evitar tais acidentes, necessita-se criar a antecipação (foresight), monitorando o nível
de risco do sistema por meio de seu ciclo vital completo e identificando os sacrifícios na
tomada de decisões (sacrifice decisions), isto é, as compensações da segurança/produção
feitas pelas pessoas todos os dias. Além disso, precisamos entender como se obtém êxito
diante frente das restrições à atividade de trabalho (e se esse êxito poderia conduzir a
maiores falhas) e como as pessoas aprendem e se adaptam para garantir a segurança em
um mundo pleno de lacunas, perigos e conflitos de metas e objetivos (Hollnagel; Woods;
2005; Adamski; Westrum; 2003; Cook et al., 2000).
Durante o seu trabalho diário, as pessoas atuam em diversos papéis dentro de
uma organização complexa com várias camadas de barreiras de defesa em profundidade;
não são totalmente conscientes dos potenciais caminhos de falhas que podem emergir
conforme elas desenvolvem as estratégias de prudência que se encarregam das restrições
e fazem frente à complexidade, enquanto se mantêm em operação e evitam falhas, e por
isso, eles não são capazes de refletir e aprender sobre elas. Uma organização resiliente
deve proporcionar meios para superar essa situação, monitorando, entendendo, refletin-
do e aprendendo a partir dessas estratégias, identificando ameaças e riscos à segurança.
Falhar em aplicar esses princípios leva a organização a atuar em um modo reativo (hind-
sight), numa condição de luta constante contra o perigo (Woods, 2005).
Os estudos de caso apresentados neste capítulo procuram aplicar os conceitos e
métodos de engenharia de resiliência, bem como relacioná-los com o conceito de sus-
tentabilidade dos sistemas sociotécnicos complexos, num país de desenvolvimento in-
dustrial recente, como é o Brasil. Os casos abordam os domínios aviação e emergência.
Foram estudados os conflitos entre metas e objetivos no sistema de transporte por heli-
cópteros para as plataformas de petróleo na Bacia de Campos no Brasil, para descobrir
o quão resiliente e frágil é o sistema de transporte por helicóptero, dadas as demandas
de produção e pressões econômicas vigentes. A análise permitiu conhecer conflitos entre
meta e objetivos que se apresentaram nos limites de funcionamento das organizações e
como as pessoas, atuando em seus diversos papéis, adaptam-se a esses conflitos, e, por
outro lado, também compreender as suas implicações em relação à segurança e à resili-
ência do sistema como um todo.
O segundo estudo de caso relacionado à pesquisa tem por objetivo analisar a simu-
lação da resposta a uma emergência nuclear sob uma abordagem da Ergonomia Cognitiva e
engenharia de resiliência. Essa simulação acontece anualmente como forma de treinamento
para responder eficazmente a situações e eventos inesperados e não desejados no contexto
brasileiro. Essa simulação se desenvolve na cidade de Angra dos Reis, onde está localizado
o parque nuclear brasileiro de produção de energia nuclear e congrega 26 organizações
privadas e públicas, nos níveis federal, estadual e municipal (Costa et al., 2008).
592 Ergonomia ELSEVIER
Por fim, last but not least, acreditamos que a resiliência dos sistemas sociotécnicos
complexos é uma condição, entre outras, para manter a sustentabilidade das organiza-
ções. Para isso, o uso dos conceitos, da metodologia e das ferramentas que fazem parte da
Análise Ergonômica do Trabalho (AET), é uma condição sine qua non para compreender
as organizações identificando resiliência e fragilidades que interferem no funcionamen-
to dos sistemas produtivos complexos. O conceito de desenvolvimento sustentável dos
sistemas de trabalho empregado neste capítulo se baseia, em parte, na sua resiliência,
tanto em nível de projeto quanto de funcionamento. Portanto, desenvolver a resiliência,
compreendendo o nível de projeto e operação, é uma condição necessária e fundamen-
tal. Por resiliência de projeto, compreendemos a atividade desenvolvida na concepção
dos sistemas produtivos complexos cujo processo permite em suas várias etapas realizar
atividades de simulação que permitam, por exemplo, visualizar as atividades futuras de
funcionamentos, identificando gaps e bugs na relação entre tecnologia, pessoas e orga-
nizações (Adamski; Westrum, 2003). E por resiliência de funcionamento ou operação
compreendemos a capacidade contínua e ininterrupta do sistema em adaptar-se à varia-
bilidade de situações e sempre se antecipar às situações não desejáveis para garantir uma
confiabilidade e eficiência permanentes.
36.1. Metodologia
A Engenharia de Resiliência proporciona uma estrutura metodológica e a Análise
de Tarefas/Atividades Cognitivas (CTA – Cognitive Task Analysis) as técnicas para analisar
o trabalho/atividade em sistemas complexos, utilizadas nos diversos estudos de casos
descritos sobre transporte por helicópteros e a simulação de resposta à emergência nucle-
ar. A CTA é uma denominação que engloba um conjunto de métodos e técnicas usados
para compreender e descrever os aspectos cognitivos das atividades diárias de trabalho,
incluindo como os profissionais veem o trabalho que fazem, e como eles dão sentido aos
eventos e restrições que encontram durante o desempenho de suas atividades (Crandall
et al., 2006). Esses métodos dependem de um acesso direto aos profissionais ou especia-
listas ou trabalhadores experientes em domínios específicos dos quais se busca extrair
informações.
De acordo com a abordagem da engenharia de resiliência, para permitir que as
pessoas e organizações possam tomar melhores decisões no trade-off produção versus
segurança num contexto dinâmico e competitivo, não é suficiente a organização possuir
apenas um sistema de gestão de riscos, com barreias de segurança e uma engenharia
voltada para a proteção contra eventos adversos. Em organizações resilientes, a seguran-
ça deve fazer parte das tomadas de decisão diárias, por meio de uma revisão ativa dos
modelos de risco e avaliação da efetividade das ações corretivas Uma organização segura
precisa ser dinâmica, engajada, informada e informativa para ser capaz de manter um ba-
lanço de produção versus segurança adequado em um longo período de tempo (Woods,
Capítulo 36 | Ergonomia, adaptação e resiliência 593
2005). Dessa maneira, para uma organização se tornar resiliente, ela precisa desenvolver
maneiras de gerar informações sobre como a organização está realmente operando e por
que as pessoas estão operando dessa maneira.
Assim, em vez de se focar em como o trabalho deve ser feito (as regras prescritas
e tarefas), nós nos voltamos em compreender como e por que o trabalho está sendo feito
de uma forma particular, considerando as restrições ou limites que conformam o traba-
lho, e analisando os modelos de risco que as pessoas estão usando durante suas decisões
de sacrifício. Essa abordagem identifica a variabilidade das atividades dos trabalhadores
e como suas opções – o quê, quando e como agir – são permitidas e/ou restringidas pelo
ambiente de trabalho. Em meio a essas restrições, os trabalhadores podem gerar uma
grande variedade de padrões de trabalho, incluindo comportamentos desconhecidos e
inovações nas práticas de trabalho que precisam ser monitoradas para identificar as im-
plicações no âmbito da relação produção versus segurança. Como há diferentes tipos de
restrições que podem moldar o comportamento dos trabalhadores, várias dimensões de
análise são necessárias, como mostrado na Figura 36.1.
Nos casos que serão apresentados a seguir, diversos métodos e técnicas da Análise
de Tarefas/Atividades Cognitivas foram usados tanto na fase de coleta quanto de análise
e apresentação dos dados, conforme as características de cada ambiente de trabalho e os
objetivos específicos de cada um dos estudos.
594 Ergonomia ELSEVIER
)LJXUD)OX[RGHRSHUDo}HVHPXPDDHURQDYH
Esse é um exemplo de sacrifício criado pela pressão de ser rápido, melhor e barato
(faster, better, and cheaper). A descoberta desse dilema permitiu à equipe investigar como
o sistema foi adaptado a lidar formalmente e informalmente. A Figura 36.5 utiliza uma
estrutura de fluxo para capturar a decisão de sacrifício que os pilotos enfrentam. O siste-
ma adapta e caracteriza os problemas em duas classes: aquelas severas o suficiente para
requererem o processo oficial, incluindo a espera da inspeção após o reparo já ter sido
feito e outras que são leves o bastante para serem reportadas diretamente ao funcionário
de manutenção ou de investigação.
O dilema enfrentado pelos pilotos refere-se a reportar oficialmente uma condição
ou não. A segunda opção é manter a aeronave em serviço enquanto a manutenção avalia
a informação ou encomenda peças. A manutenção pode até manter o helicóptero em
terra. A decisão de reportar oficialmente ou não é do piloto. Entretanto, esses podem não
ser preparados tecnicamente para interpretar a gravidade dos problemas técnicos.
O espaço de manobra surge, em parte, porque há uma diferença entre dois con-
juntos de regras. As regras regulatórias são mais estritas do que aquelas da Relação de
Equipamentos Mínimos (REM), que é uma lista de itens específicos para aeronaves que
596 Ergonomia ELSEVIER
devem estar funcionando de forma a disponibilizar uma aeronave para voo, regulado
por normas internacionais. Portanto, apesar de as possibilidades de existirem proble-
mas, reportá-los pode não ser obrigatório e, se eles ficam aquém das regras mais rígidas,
podem ser reportados diretamente para a área de manutenção, sem passar pelo processo
oficial de relatório.
A análise permitiu identificar que a decisão de sacrifício dos pilotos depende da
percepção de sintomas das operações principais do voo, isto é, ver, ler e interpretá-los,
e por outro lado ter a expertise necessária para discriminar situações de manutenção
adiáveis daquelas críticas e inadiáveis.
Outro ponto relevante refere-se às relações comerciais da companhia de
helicópteros com os seus pilotos e com o principal cliente que é a companhia de
petróleo. Acreditamos que um entendimento mais global do contexto pode permitir
agir na melhoria do segurança como um todo. Um sistema de segurança proativo deve
ser capaz de, por meio de indicadores, emitirem sinais relativos os pontos frágeis do
sistema, antecipando-se aos eventos adversos, por meio de uma monitoração contínua
e constante. Isso pode ser possível a partir do conhecimento da interpelação dos
aspectos locais, situados e organizacionais desse sistema complexo, que envolve várias
organizações dispersas espacialmente e temporalmente, cujas sincronizações de objetivos
e metas revelam-se frágeis em determinados contextos e resiliente em outros.
7DEHOD²&DWHJRULDVGHDo}HVHGHVFULo}HV
Para analisar os dados mais precisamente, foram empregadas cores para cada
agente participante da simulação. Enquanto deveriam existir 26 cores na linha do tempo
completa, devido às limitações do tempo de gravação, apenas as ações dos indivíduos
que aparecem no vídeo foram representadas na linha do tempo. A figura mostra um
exemplo da estrutura da linha do tempo de 10:30 até 11:00.
Para efeito de análise e compreensão, comentários sobre algumas ações especí-
ficas e de grande relevância foram feitos nas caixas que possuem uma marca vermelha
à direita, no topo. Foram alocados números para cada sequência de ações que possuía
a mesma origem, i. e., uma nova mensagem chega para a equipe. Essa nova mensagem
corresponde à serie 24 na sequência de ações observadas. Então a série 24 será escrita
na caixa dessa ação. Em seguida a essa mensagem, irão ocorrer ações envolvendo expli-
cação de detalhes, perguntas e tomada de decisão. Cada uma dessas ações nessa mesma
sequência pertencerá a serie 24. Quando um novo evento ocorrer, a série 25 será dada à
primeira ação desse evento.
598 Ergonomia ELSEVIER
7DEHOD²1~PHURGHLQWHUDo}HVFUX]DGDV
([SOLFDomRGHGHWDOKHVFRQKHFLPHQWRHVSHFtÀFR
0HQVDJHPGDSODQWDQRYDLQIRUPDomR
&RPDQGRSDUDRVPHPEURVGDHTXLSH
5HSHWLomRGHLQIRUPDo}HVFRQKHFLGDV
$SURYDomRHWRPDGDGHGHFLVmR
&RQYHUVDHPJUXSRVSHTXHQRV
&RPXQLFDomRH[WHUQDFHOXODU
3UREOHPDVWHFQROyJLFRV
3HGLGRGH,QIRUPDomR
&KHJDGDGHSHVVRDV
3HGLGRGH6LOrQFLR
3HUJXQWD
0HQVDJHPGDSODQWDQRYDLQIRUPDomR 16 5 5 7 9 1 9 6 7
([SOLFDomRGHGHWDOKHVFRQKHFLPHQWR
5 4 12 2 2 6 9 4
HVSHFtÀFR
&RPXQLFDomRH[WHUQDFHOXODU 5 2 8 2 4 2 2
3HUJXQWD 1 3 5 4 1
3HGLGRGHVLOrQFLR 2 3 1 2
&RPDQGRSDUDRVPHPEURVGDHTXLSH 2 2 5 3 3
&KHJDGDGHSHVVRDV
3UREOHPDVWHFQROyJLFRV
3HGLGRGH,QIRUPDomR 1
&RQYHUVDHPJUXSRVSHTXHQRV 3 3
5HSHWLomRGHLQIRUPDo}HVFRQKHFLGDV 2
$SURYDomRHWRPDGDGHGHFLVmR
65 29 22 49 4 8 39 24
)LJXUD([HPSORGDVHTXrQFLDGHDo}HV
)LJXUD,QWHUDo}HVHQWUHRVPHPEURVGDHTXLSH
Capítulo 36 | Ergonomia, adaptação e resiliência 601
A Figura 36.5 representa essa análise. As identificações não estão nessa figura por-
que não foram disponibilizadas. No entanto, ocorreu uma análise baseada no papel que
cada pessoa teve na simulação. Essa análise foi importante para detectar como a distri-
buição das pessoas na sala interferiu na comunicação entre a equipe, para ter uma visão
melhor do fluxo de informações, para identificar as pessoas mais importantes envolvidas
na comunicação, atividades de tomada de decisão na simulação e, ainda, para identificar
padrões surpreendentes, agrupamento das interações baseado na função.
36.2.2.1 Resultados
36.3. Conclusão
Nos estudos de caso aqui apresentados, foram utilizados múltiplos métodos e
técnicas da ATC para encontrar fontes de resiliência e de fragilidades nos domínios da
produção de energia nuclear, na aviação offshore de helicópteros na Bacia de Campos,
bem como na simulação da resposta à emergência nuclear. Nossa análise encontrou essas
fontes ligadas à coordenação de equipe, à concepção e à dinâmica do projeto das orga-
nizações e das relações interorganizacoes, do design da simulação em si e dos cenários,
ao design das estações de trabalho, à estrutura tecnológica visual e de comunicação e às
atividades de resposta à crise.
604 Ergonomia ELSEVIER
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606 Ergonomia ELSEVIER