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Política Educacional

e Formação
Profissional do
Psicólogo
EM DEBAT

A Universidade Brasileira está em


crise. O mercado de trabalho não absorve
o grande número de psicólogos formados
anualmente. O ensino está deteriorado e Colaboraram para a realização desse trabalho, os
seguintes profissionais:
a mão-de-obra desqualificada. Demerval Saviani — Filósofo (PUC/SP), doutor em
Ciências Humanas (PUC/SP), Coordenador e
Até que ponto essas afirmações são professor do Programa de Doutorado em Educação
verdadeiras? Como está o ensino da na PUC/SP e professor na Pós-Graduação em
Psicologia? Como os profissionais estão Educação da UNICAMP.
Maria Helena Souza Patto — Psicóloga, professora
atuando dentro da realidade brasileira? assistente doutora (USP). Professora de Psicologia
Escolar no Instituto de Psicologia da USP,
Psicologia, Ciência e Profissão ouviu orientadora na Pós-Graduação (USP) e pesquisadora
psicólogos e professores sobre o tema. em Educação na Fundação Carlos Chagas
Maria do Carmo Guedes — Filósofa (USP),
Nosso objetivo é levantar uma ampla doutora em Psicologia (PUC/SP) Professora de
Metodologia da Pesquisa na Pós-Graduação da
discussão sobre os rumos históricos da PUC/SP.
política educacional brasileira e suas Teresa Maria Pires de Azevedo Serio — Psicóloga
consequências na formação e (PUC/SP) e Professora de História da Psicologia —
profissionalização do psicólogo. Psicologia PUC/SP
Isaías Pessoti — Filósofo (USP), doutor em
Psicologia (USP); Assessor do Secretário de
A discussão inicial ficou centrada em Educação de São Paulo e Professor-adjunto de
São Paulo, por alguns motivos: é onde se Psicologia Médica na Faculdade de Medicina de
concentra a metade dos psicólogos Ribeirão Preto (USP).
Paulo Roberto Martins Maldos — Psicólogo
existentes no País e, somente a (PUC/SP); Diretor do Instituto Sedes Sapientiae e
Universidade de São Paulo é responsável Coordenador do Centro de Educação Popular do
por um terço de toda produção científica, mesmo Instituto.
cultural e tecnológica nacional. Ana Mercês Bahia Bock — Psicóloga (PUC/SP);
Presidenta do Sindicato dos Psicólogos no Estado de
São Paulo e professora de Psicologia Educacional e
Evidentemente, a situação geral Psicologia Social na PUC/SP
observada não é diferente das demais Sigmar Malvezzi — Psicólogo (PUC/SP); Professor
regiões, considerando-se algumas de Psicologia Aplicada, Psicologia da Indústria e
Psicologia nas Organizações na PUC/SP,
especificidades. Faculdades Integradas Objetivo e Fundação Getúlio
Vargas.
trabalho, em relação às áreas mais
tecnológicas".
Para que possamos entender as origens e
A crise causas desse modelo é preciso remontar ao
contexto econômico, social e político da
do modelo década de 60. Não retrocedendo muito, vamos
situar o corte efetuado em 1964, que siginificou
a solução da contradição entre a ideologia
política e o modelo econômico.
Houve uma constatação geral, por parte de
todos os entrevistados, de que o ensino
universitário brasileiro, principalmente na área
de Ciências Humanas, revela a total
inadequação do modelo educacional A escolha
implantado.
A Reforma Universitária de 1968, depois de
vivenciada nesses vários anos de prática, além
dos militares
de não ter resolvido os problemas que
pretendia, acabou gerando um série de outros. (O texto a seguir foi totalmente extraído da
A insatisfação, tanto de alunos como entrevista do professor Demerval Saviani).
professores, é sentida em todas as escolas e, A ideologia política que dominou o Brasil no
nos últimos anos, a palavra "crise" faz parte período pré-64 foi a do nacionalismo
do cotidiano universitário. desenvolvimentista. Essa ideologia ficou sendo
Demerval: "Discordo da afirmação de que a gestada no período pós-30, teve uma presença
Universidade Brasileira está em crise. Ela se marcante na primeira metade da década de 50,
desenvolveu bastante nos últimos anos e no governo Vargas, e depois foi assumida de
apresentou um razoável dinamismo em termos forma mais explícita e elaborada no governo
de produção científica e acadêmica. Kubitschek, a partir da teorização desenvolvida
Não é a Universidade que está em crise, e no instituto Superior de Assuntos Brasileiros.
sim o modelo tecnocrático de Universidade Ao mesmo tempo em que essa ideologia se
implantado no Brasil. Quanto a isso parece tornava dominante no plano político, tentava-se
haver um consenso de que ele está em crise. entusiasmar, envolver e engajar a população
Todos os setores assim o proclamam — os brasileira no esforço de superação do
alunos, desde a sua implantação, os subdesenvolvimento.
professores, o Conselho de Reitores e até o O nacional desenvolvimentismo significava
MEC e órgãos oficiais já levantaram uma série um desenvolvimento autônomo, independente
de questões nessa direção." do domínio externo — a exigência do
Maria Helena: "Com o rumo que se tentou desenvolvimento de uma indústria nacional.
imprimir à Universidade depois da Revolução O governo de Juscelino Kubitschek ao
de 1964 e com a Reforma de 68, o que acabou mesmo tempo que estimulava uma ideologia
se reforçando foi o modelo tecnocrático, com política nacionalista, no plano económico
um apoio muito maior àquelas Unidades e levava a cabo a industrialização do país
Instituições que poderiam fornecer mão-de- através de uma progressiva desnacionalização
obra qualificada para atender o novo modelo da economia.
econômico. Com isso, os cursos na área de Essa contradição entre modelo económico e
Ciências Humanas foram pouco privilegiados ideologia política se encontrava latente em
dentro da política de dotação orçamentária, todo o processo. Ela vai se tipificando à
contratação de docentes e condições de
medida que a industrialização avança, até nacionalização das empresas estrangeiras,
emergir como contradição principal, quando se controle de remessas de lucros, de dividendos
esgota o modelo de substituição de e as reformas de base — tributária, financeira,
importações. Em 1960 já não dependíamos da agrária, educacional, etc.
importação de manufaturados. A meta da
industrialização havia sido atingida. Tais objetivos eram uma decorrência da
Se os empresariados nacional e ideologia política do nacionalismo
internacional , as classes médias, o operariado desenvolvimentista que, entretanto, entram em
e as forças de esquerda se uniram em torno da conflito com o modelo econômico vigente. Daí
bandeira da industrialização, as razões que os a alternativa: ajustar a ideologia politica ao
levaram a isso eram divergentes. Assim, modelo econômico ou vice-versa? A Revolução
enquanto para a burguesia e para as classes de 64 resolveu o conflito em termos da 1.a
médias, a industrialização era um fim em si opção. Em consequência, a ideologia do
mesma, para o operariado e as forças de nacionalismo desenvolvimentista foi
esquerda ela era apenas uma etapa. Por isso, substituída pela doutrina da interdependência,
atingida a meta, enquanto a burguesia busca elaborada no seio da Escola Superior de
consolidar seu poder, as forças de esquerda Guerra.
levantam nova bandeira: trata-se da
EM DEBATE
Esse Instituto, que se organizou em 1961, era
"Façamos uma espécie de partido ideológico do
empresariado. Muitos aspectos discutidos pelo
a reforma Instituto no Fórum, foram incorporados à
Reforma Universitária.
antes que outros O movimento estudantil resistiu a essa
tendência colocando-se na oposição e
denunciando o novo regime como ditador e
a façam " entreguista.
Os estudantes decidem, também, fazer a
Essa adequação da ideologia política ao Reforma pelas próprias mãos — ocupam as
modelo econômico justificava o controle dos Universidades e instalam cursos pilotos.
militares sobre o processo político global do Em consequência disso, o governo, como
país, envolvendo aí, o planejamento da raciocinando em termos de "façamos a
economia. Este visava a modernização reforma antes que outros a façam", apressou-
acelerada, que se traduzia através da busca do se a desencadear o processo que culminou na
máximo de eficiência com um mínimo de Lei 5.540/68 de 28 de novembro de 1968. Estava
dispêndio, racionalização de recursos para consumada a ruptura política. O Ato
obter o máximo de resultados. Institucional n.o 5, de 13 de dezembro de 68,
O problema do desenvolvimento global do seguido dos Decretos-Leis 464 e 477, de
pais era entendido como um problema de fevereiro de 1969, deu o golpe de misericórdia
eficiência técnica e a opção do Brasil pelo na ideologia do nacionalismo
Ocidente era explicada através de razões desenvolvimentista, que deixou o cenário
históricas, políticas, culturais, económicas e, político brasileiro passando a fazer parte da
principalmente, geográficas (Golbery, no livro sua história.
"Geopolítica do Brasil").
Estabelecido isso, o Brasil dentro do bloco
capitalista, o desenvolvimento do país é um
problema de eficiência técnica, de Algumas
racionalização de recursos.
A partir dai esboça-se a concepção
tecnocrática. O bloco de poder constituído a
conseqüências
partir de 64, era resultante de uma aliança
entre os militares e os tecnocratas. O governo A Lei 5.540/68 é baseada na concepção
militar assume o poder e chama para orientar o tecnicista, que tem três princípios:
processo político, elementos da racionalidade, eficiência e produtividade. E a
tecnoburocracia civil que passam a organizar o busca do máximo de resultados com o mínimo
planejamento económico com base nos de dispêndio.
critérios de uma racionalidade técnica. A partir desse princípio, uma série de
E essa a concepção que vai orientar também medidas foram adotadas: o ciclo básico, o
a reforma da Universidade. Então, são regime de crédito, a matrícula por disciplina e
celebrados os acordos chamados MEC-USAID a departamentalização.
e estudos são realizados no sentido de Essas medidas se justificavam através de
repensar o ensino superior. razões pedagógicas e econômicas, que nem
Em 1968 realiza-se no Rio de Janeiro, um sempre são compatíveis. Por vezes, razões
fórum — "A Educação que nos convém" pedagógicas, se levadas a sério, vão provocar
organizado pelo Instituto de Pesquisas maiores dispêndios.
Económicas Sociais (IPES).
Na prática, o que ocorreu foi o seguinte: as dava Piaget com diversos nomes — Psicologia
escolas públicas que tinham verbas da Criança, da Aprendizagem...
consignadas em orçamento, tenderam a Cada grupo lutava,com a melhor das
explorar as razões pedagógicas e as escolas intenções, para impor uma determinada
particulares (tipo empresariais) se fixaram nasdireção à essa formação.
razões econômicas. Então, as primeiras turmas de psicólogos
A expansão do ensino superior nesse tiveram que conviver com muitas brigas entre
período ocorreu via escolas particulares, que docentes — por que tanto laboratório, por que
realizaram de forma mais acabada o modelo tanta aula teórica, por que tanta estatística?
proposto. O ensino superior, depois de 68, Aí, na formação dos psicólogos há uma
passou a ser predominantemente privado (mais predominância da Análise Experimental do
de 70% das matrículas) o que deixou à mostra Comportamento.
o objetivo da Reforma: a privatização do ensino A elaboração dos currículos seguiu em
superior. grande parte a uma necessidade de compor
correntes que já estavam, cada uma, com seu
território assegurado e com suas equipes. Um
Um retrato sintoma disso pode ser observado, hoje, na
Pós-Graduação da USP. Existem quatro áreas,
da formação sendo que as últimas a serem criadas foram
Social e do Trabalho, e as primeiras foram
Experimental, Clínica e Escolar."
e atuação Maria Helena; "Durante a efervescência
política de 64 a 68, os cursos de Psicologia
do psicólogo ficaram à margem, como se nada estivesse
acontecendo.
Na época, os professores, os psicólogos e
A tecnificação do ensino superior trouxe os alunos estavam vivendo o sonho de se
conseqüências, especialmente para a transformarem em profissionais liberais,
Psicologia, que foram incorporando-se aos baseado no modelo médico de atuação.
currículos, à comprensão da Psicologia Com a implantação do modelo tecnicista, em
enquanto ciência e à atuação do psicólogo. atendimento aos interesses da minoria que
Mas, algumas especificidades precisam ser detinha o poder, pouco valor foi dado ao
entendidas. oferecimento de serviços à comunidade, que é
À política educacional é necessário o forte da formação do psicólogo."
acrescentar a história de como os cursos de Paulo Maldos: "O que acontece é uma política
psicologia surgiram, da classe social que educacional voltada para a dinâmica e
buscava esse ensino e suas aspirações, o estrutura da sociedade hoje, ou seja, a
atendimento dessas expectativas nas escolas formação de um profissional comprometido
e o mercado de trabalho para uma profissão com seus interesses particulares, de classe
pouco reconhecida. (pequena burguesia), ou um assalariado de
Isaías Pessoti; "Eu participei da formação dos classe média alta, que é a aspiração básica do
primeiros psicólogos e posso afirmar que ela psicólogo.
foi viezada. Não se fazia o pretendido, o
desejado, porque o currículo prescrevia certas A Universidade tenta satisfazer essa
disciplinas. Muitas vezes não havia um docente demanda, tanto social como de classe, dando
para determinada disciplina e outro era instrumental para que as pessoas trabalhem
chamado a substituí-lo — como até hoje nessas áreas.
ocorre. Por exemplo, quem entendia Piaget,
Isso condiciona o limite em que os existir toda uma prática educativa dentro das
profissionais transitam, porque acaba sendo escolas para que os currículos fossem
mais importante a formação teórica, elaborados coletivamente, envolvendo
intelectual, voltada para leitura de texto; de professores, alunos e funcionários.
teorias desenvolvidas na Europa e Estados Qual o significado da existência de
Unidos. currículos impostos,elaborados sem a
É limitada ao estudante a possibilidade de participação da coletividade, sem a
experenciar a realidade social brasileira, a consideração das particularidades das
cultura das grandes maiorias. De conhecer, por diferentes faculdades e universidades? Esta
exemplo, como o serviço de saúde lida com a questão nos coloca frente à discussão da
enfermidade mental; os movimentos prática social que fundamenta e dirige a
comunitários, populares, outras estruturas — prática educativa. E essa imposição de
que poderiam ser um campo de trabalho, de currículos refíete as práticas sociais
atuação, de conhecimento — mas que não se dominantes em nossa sociedade."
experencia, fica limitado ao debate teórico da Maria do Carmo: "Reduzir a prática educativa a
Universidade." disciplinas implica numa série de aceitações
do que seria uma prática social. A divisão do
As características dos cursos de Psicologia conhecimento em compartimentos, que
são evidenciadas na estrutura e objetivos dos acabam gerando separações entre professores,
currículos. Estes, devido principalmente à de alunos entre séries, já indica uma maneira
forma como são elaborados, apresentam uma de fazer o currículo. Ele não pode ser somente
dupla dicotomia. um conjunto de disciplinas. Há autores que
Além de estarem distanciados da realidade lembram que currículo deve incluir o clima
social e econômica do Brasil — dando dentro do qual o fazer educativo está sendo
privilegiamento à área de Clínica — também considerado".
não oferecem uma formação adequada e Sigmar Malvezzi: "Um sintoma de que a escola
suficiente para a atuação do profissional. está absolutamente alienada é o fato dela ter
Durante um ano e meio, uma comissão de um currículo rígido que não tenha espaço para
professores da USP fez uma análise do cursos optativos. Uma escola não pode ser
currículo de Psicologia da própria simples transmissora e reprodutora de
Universidade. O estudo revelou que os cinco conhecimentos. Ela deve estar vinculada a uma
anos de aprendizagem acabam se convergindo realidade e isso não acontece de pára-quedas
para a área de clínica, e clínica de implica em estar sensível, atento, investigando
atendimento em consultório, não o sentido e antevendo as modificações que ocorrem
clínico mais amplo. nessa realidade.
A medula dorsal do currículo ainda é a Os professores deveriam utilizar os cursos
mesma da época em que os cursos foram optativos como forma de pressionar a escola,
criados e o objetivo também é o mesmo. de se trabalhar com um projeto. E esse projeto
Tereza Maria: "Se tomarmos o currículo como é algo que teria de ser assumido pela
o conjunto de coisas que o aluno faz dentro da instituição como um todo, como um sintoma
escola para se tornar um profissional, então de que ela está ligada a uma realidade."
ele é o principal para essa formação. Se nos O distanciamento das Universidades da
ativermos a discutir o currículo enquanto um realidade social brasileira, consequência da
conjunto e seqüência de disciplinas, esse política educacional que implantou um modelo
produto pode ser bom, médio ou ruim. Do meu inadequado de ensino, trouxe também um
ponto de vista a valoração dele vai depender de resultado inevitável — mão-de-obra com
como foi o processo de elaboração, de como carência de formação ou inadequada.
se chegou a determinada proposta. Deveria
O mercado de trabalho, visto como atividade padrões vigentes em outros países."
liberal, torna-se cada vez mais restrito, em Maria do Carmo: "Posso dizer que um aluno
grande parte peio empobrecimento das sai preparado se é para atuar no mercado
camadas alta e média da sociedade. imposto por essa sociedade, sem a atuação
E, para um mercado que atualmente se dele sobre esse mesmo mercado. Se é para
vislumbra — no Poder Público, nas instituições atuar socialmente, digo que não. O que falta é
e empresas e nos movimentos populares — exatamente um profissional que pesquise, que
uma formação acadêmica fraca e saiba decidir que ele não é o tipo para esse
comprometida, acima de tudo sem nenhuma trabalho solicitado..."
consciência crítica. Tereza Maria: "...um profissional que saiba
Ana Bahia: "Hoje, os próprios recém-formados reconstruir o conceito de competência
dizem que estão despreparados. Uma pesquisa, profissional. Existe um conceito pré-
realizada recentemente pelo nosso Sindicato, estruturado para cada área do que é um
mostrou que mais de 40% dos psicólogos profissional competente e esse conceito surge
entrevistados estão se dedicando a cursos de de um determinado diagnóstico que faz a
especialização, extensão cultural ou pós- sociedade.
graduação, pois percebem que estão O aluno deveria sair da escola sabendo se
despreparados. redefinir, vendo para si mesmo o que é ser
O mercado de trabalho atual precisa de competente hoje."
gente que entenda de Saúde Pública, Saúde Paulo Maldos: "O fundamental da deterioração
Mental, e a Universidade ainda está formando atualmente na Universidade é a troca de uma
os profissionais liberais. relação de conhecimento pela relação de
A desqualificação existe pelo nível de compra e venda de uma mercadoria.
ensino, mas é fundamentalmente uma E nessa mercadoria coloca-se tudo —
desqualificação porque o tipo de profissional créditos, apostilas, livros estrangeiros, horas
que está saindo das escolas não é aquele que de aula — menos o conhecimento, a produção
o mercado precisa. científica e a investigação da realidade social."
O despreparo também vem da própria Sigmar Malvezzi: "Em 1979 fiz uma pesquisa
formação. Há alunos que se formam sem com 63 psicólogos em 31 empresas. Descobri
nunca ter assistido a um cliente. Isso porque que a preocupação do psicólogo termina no
as faculdades — vistas como empresas para produto de seu trabalho. Por exemplo, se é um
dar lucros — não investem nos cursos de psicólogo de treinamento e dá um curso de
Psicologia, que podem se tornar muito caros." Relações Humanas para gerentes ele se
Isaías Pessoti: "O Psicólogo brasileiro preocupa que o curso seja bom, que todos
incorporou um critério de avaliação entendam e pronto, termina aí. As
subdesenvolvido, segundo o qual aquilo que conseqüências desse curso não o preocupam.
não é conforme ao que se faz nos centros mais Assumi isto como um fator extremamente
avançados, não vale, não presta — é ciência relevante: a incapacidade do psicólogo de
de segunda categoria ou ciência atrasada. verificar o seu produto no processo
Esse pautar a própria avaliação pelo que se organizacional.
faz fora é um vício terrível da Psicologia Dos 63 entrevistados somente um psicólogo,
Brasileira e tem matado toda a sua de acordo com os critérios do meu diagnóstico,
criatividade. estava preparado para lidar com os processos
O pior dessa influência, independentemente organizacionais, para ser um agente de
se européia ou americana, é que ela distorce a transformação."
avaliação da produção nacional. Qualquer
trabalho escrito no Brasil é normalmente A necessidade de transformações na
avaliado segundo a sua correspondência a
estrutura geral da sociedade se fez sentir mais psicólogo num cientista do humano, não um
intensamente nos últimos anos. técnico em Psicologia. O seu papel é de
A sociedade civil se reorganiza e exige seus transformação social e nessa linha a
direitos básicos, o sonho do milagre Psicologia está se desenvolvendo. O psicólogo
econômico já nâo existe. Todos os setores se irá trabalhar com relações de poder e
mobilizam para a conquista de melhores submissão, com que estamos impregnados.
condições de vida, de liberdade política e de Acho que ai existe um trabalho maravilhoso
participação. para o psicólogo, porque o poder não é uma
É dentro desse novo contexto político e coisa solta, localizado apenas na macro
econômico que o psicólogo, e a própria estrutura.
Universidade, estão redimensionando sua As relações autoritárias, de poder, estão nas
prática. relações do cotidiano, nas relações que cada
Ana Bahia: "O psicólogo tem as dificuldades, um estabelece com o outro. Elas estão
os problemas e as necessidades das presentes na escola — relação professor-
mudanças como qualquer outro trabalhador. aluno, diretor-professor, psicólogo-cliente.
Precisamos trabalhar e acreditamos que a A partir do momento que o psicólogo tomar
população precisa do nosso trabalho, temos consciência da dimensão psicológica das
formas de contribuir para a saúde da relações de poder e, desenvolver métodos de
população. Quando essa população começa a terapia, de intervenção grupai em que essas
se organizar para reivindicar seus direitos ela relações sejam o centro das atenções, a
irá colocar a questão da educação, da saúde. matéria-prima do seu trabalho, ele estará
E, numa luta efetiva, ai estaremos nós. Esse contribuindo, indiscutivelmente, para a
avanço nos incluirá." construção de uma sociedade mais
Maria Helena: "Queremos transformar o democrática."

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