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RESUMO
O presente estudo pretende promover um análise descritivo-reflexiva, de abordagem qualitativa, sobre
os fundamentos da regulamentação da prostituição no Brasil, proposta pelo deputado Jean Wyllys, do
Partido Socialismo e liberdade, através do Projeto de Lei 4211/2012, também chamado “Gabriela Leite”.
A metodologia utilizada para categorização e análise dos fundamentos do Projeto de Lei será a teoria
fundamentada nos dados (grounded theory), formulada pelos sociólogos americanos Glaser e Strauss. A
fundamentação do projeto é centrada sob quatro aspectos principais que consideram a perspectiva da
autonomia dos sujeitos em situação de prostituição; da fiscalização da atividade por parte do Estado, da
saúde dos trabalhadores e trabalharas do sexo e dos direitos trabalhistas desses profissionais. Ao analisar
essas categorias levantamos outros questionamentos que precisam ser debatidos para a consecução de
um projeto mais humano e igualitário.
ABSTRACT
This study aims to promote a descriptive and reflective analyses, from a qualitative approach, about the
elements of the prostitution regulation in Brazil, the law project 4211/2012 also known as “Gabriela
Leite” a proposal made by the congressman Jean Wyllys, from “Socialismo e Solidariedade” party in
Brazil ((PSOL). The methodology used to make data categorization and principals analysis was the
Grounded theory, formulated by American sociologists Glaser and Strauss. The project grounding is
focused in four mains aspects: the autonomy of the individual working in the prostitution world, the
control of the activity by the State, the health of the sex workers and Work Rights. With the analysis of
this aspects, other inquires submerged, and they also need to be debated in order to procure a law project
that is humane and more equal.
INTRODUÇÃO
O presente artigo resulta da pesquisa analítica acerca dos discursos parlamentares que
fundamentaram o Projeto de Lei nº 4.211/2012, que visa a regulamentação da prostituição no
Brasil, conhecido como Projeto de Lei Gabriela Leite.
O acirramento da repressão policial no contexto ditatorial na década de 1980 foi estopim
para o início de uma organização dos movimentos sociais em defesa dos direitos das prostitutas. 106
Ainda que a atividade não fosse mais considerada ilegal desde o Código Penal de 1940,
observava-se uma ofensiva policial excessiva em relação às prostitutas, que culminou na
realização do I Encontro Nacional, bem como na criação da Rede Brasileira de Prostitutas
(LENZ, 2014).
Em 2003, após uma aproximação da organização de prostitutas com o poder legislativo,
o deputado Fernando Gabeira apresentou o projeto de descriminalização de aspectos ainda
ilegais do negócio do sexo. A proposta foi arquivada, mas em 2011, o deputado Jean Wyllys
propôs um projeto com objetivos semelhantes e diferenciando prostituição de exploração
sexual, o Projeto de Lei denominado Gabriela Leite (LENZ, 2014). A retomada deste Projeto
inclui não só a descriminalização das casas de prostituição, mas também a diferenciação entre
prostituição e exploração sexual e a previsão de aposentadoria especial para prostitutas.
Falar acerca da prostituição frente à possibilidade de regulamentação é sair da zona de
conforto e entrar nos pontos de encontro (e desencontro) dos discursos morais que legitimam
ou não a opressão de gênero tanto pelo Estado quanto pela sociedade.
Neste contexto de discussões, é importante destacar que o Brasil se encontra em um
momento de produção de Megaeventos, tais como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, e que a
questão do turismo sexual ainda é pouco discutida. Neste sentido, sem pretensão de
esgotamento do tema, o presente trabalho pretende responder: Como se fundamenta o Projeto
de Lei nº 4211/2012?
esta razão deve incluir todos os direitos garantidos ao trabalhador. Ambas as autoras afirmam
não ser correta a associação do termo prostituição às práticas sexuais ilícitas realizadas nos
primórdios da humanidade.
Para Rago (2008):
o discurso simplista de que a prostituição é “(...) a profissão mais antiga do
mundo (...)” faz parte de uma postura prejudicial, uma vez que naturaliza um
fenômeno que na realidade “(...) é cultural e histórico, não necessário e 107
insolúvel”. A autora ressalta a importância de situar e discutir historicamente
a prostituição a fim de problematizar a experiência, por mais dolorosa e difícil
que possa ser. Para ela, existem “maneiras de se aproximar dessas realidades,
enfrentá-las e, quem sabe, encontrar novos elementos para lidar e responder a
elas de uma maneira mais eficaz e construtiva”.
108
O aparecimento do capitalismo se dá, pois, em condições extremamente
adversas à mulher. No processo de individuação inaugurado pelo modo de
produção capitalista, a mulher contaria com uma desvantagem social de dupla
dimensão: no nível superestrutural, era tradicional uma subvalorização das
capacidades femininas traduzidas em termos de mitos justificadores da
supremacia masculina e, portanto, estrutural, à medida que se desenvolviam
as forças produtivas, a mulher vinha sendo progressivamente marginalizada
das funções produtivas, ou seja, perifericamente situada no sistema de
produção.
A mulher negra ocupava tanto uma função dentro do sistema produtivo de bens e
serviços quanto um papel sexual. Neste sentido, a utilização da mulher negra escravizada como
mero instrumento do prazer do seu senhor gerava a reificação desta mulher e o fruto destas
relações criou um foco de tensões sociais e culturais no Brasil, pois os filhos extraconjugais
nasciam mulatos (DELPRIORI, 2004).
Verifica-se, com isto, que existia uma objetivação material das mulheres negras com
relação aos senhores, e, por outro lado, as funções de esposa e mãe dos filhos legítimos cabiam
à mulher branca. Essa afirmação das funções diferentes destinadas às mulheres negras e às
mulheres brancas dizem respeito ao modo patriarcal com que famílias se constituíram no Brasil
e que conferia graus de liberdade distintos a homens e mulheres. A estas últimas, o casamento
era a única carreira. E é evidente que a manutenção da castidade destas mulheres da camada
senhorial só foi possível diante do comércio do corpo de tantas outras.
Hoje nas grandes cidades, assim como antigamente, é na camada de economia mais
instável que encontramos o maior recrutamento para a prostituição (DELPRIORI, 2004).
É evidente, ainda, que, se num primeiro momento, a exploração da mulher negra
decorria da sua condição de escrava, a partir do fim do século XIX, tem-se a prostituição como
um dos resultados deste processo marginalizador, que neste novo marco da mão de obra livre,
revela tanto a natureza comercial desta exploração de um gênero sobre o outro, mas,
principalmente, como a exploração de uma classe sobre a outra.
Desta forma, o reforço da ordem privada como lugar destinado às mulheres era um
pressuposto. A rua, portanto, simbolizava o espaço do desvio, das tentações, devendo as mães
pobres, segundo médicos e juristas, exercer a vigilância constante sobre as filhas, já que a ideia
de moralidade indicava progresso e civilização. No entanto, a necessidade de sobrevivência não
permitiu que tal orientação fosse seguida, já que estas mulheres pobres precisavam trabalhar e
transitar pelas ruas, o que implicava uma maior criminalização delas (DELPRIORE, 1997). 110
É de se notar que a liberdade sexual das mulheres populares parece confirmar a ideia de
que o controle intenso da sexualidade feminina se ligava com o regime de propriedade privada.
Rachel Soihet (DELPRIORE, 1997) afirma que a autonomia das mulheres pobres no Brasil,
ainda que precária, é indiscutível. Viviam muito mais como autônomas do que como
assalariadas. Era a arte do improviso da sobrevivência através da lavagem de roupas, do
trabalho doméstico, da feitura de doces, ou da prostituição.
No contexto da Ditadura do Estado Novo, por volta de 1940, houve uma política de
confinamento da prostituição. Alessandra Teixeira (2012, p. 72) afirma que:
Neste período, o Código Penal Brasileiro de 1940 passa a definir a forma como o Estado
deveria enfrentar a prostituição: não a partir da sua criminalização, mas impedindo a existência
de casas de prostituição e incentivadores. Da década de 40 até meados dos anos 60, os “jogos
de azar” estiveram fortemente ligados às zonas de médio meretrício (TEIXEIRA, 2012, p. 85).
O balé era a forma de driblar a fiscalização e possibilitar que as “artistas” ficassem pelo caminho
com os clientes, já que a ordem moral pressupunha o confinamento. Os circuitos, promovidos
por indivíduos de alto nível econômico (cafetão profissional) conseguiam clientela selecionada
(de poder aquisitivo) e mascaravam, pelo artifício de espetáculos, a finalidade verdadeira dos
estabelecimentos: a prostituição (PEREIRA, 1976).
Nesta trama de tolerâncias, extorsões e repressão foi se desenhando, no discurso oficial
e na política de segurança pública, uma estratégia aberta de guetificação, separação territorial
do submundo da prostituição, de modo que ele pudesse ser melhor controlado, limpando-se,
principalmente as áreas mais abastadas. Tal ideia torna-se bastante eficaz para caracterizar o
tratamento dado pelas políticas repressivas e o jogo que se estabelecerá entre o tolerado, o
permitido e reprimido nesse sítio de ilegalismos das classes populares (PEREIRA, 1976).
Dessa forma, enquanto a preocupação das autoridades centrava-se nas mulheres do
trottoir, lançando-as à cadeia, conforme exigia a opinião pública, o comércio sexual se
fortalecia e se desenvolvia no país. O Capítulo V e os respectivos Artigos 227-231 do Código
Penal Brasileiro vigente (Decreto-lei n° 2.848, de 7-12-1940), referentes aos crimes contra os 111
costumes, cuidando de atividades ligadas ao aliciamento, favorecimento, manutenção de casa
de prostituição, rufianismo e tráfico de mulheres, usualmente eram aplicados pelas autoridades
para a detenção de profissionais do sexo, embora a prostituição em si mesma não constitua
crime no Brasil (ANGELO, 1982).
Ao aderir à Convenção de Lake Sucess em seu Decreto nº 46.981, de 8 de outubro de
1959 o Brasil considera “que a prostituição e o mal que a acompanha, isto é, o tráfico de pessoas
para fins de prostituição, são incompatíveis com a dignidade e o valor da pessoa humana e põem
em perigo o bem-estar do indivíduo, da família e da comunidade(...)” (BRASIL, 1959).
O governo fluminense, por sua vez, ao avaliar o regime de escravidão a que se
submetiam as prostitutas e os altos lucros concentrados nas mãos de estrangeiros
administradores de prostíbulos, proibiu a cafetinagem e organizou a “República do Mangue”,
em que o cargo de gerente era conferido à própria prostituta, em caráter rotativo. Criou-se uma
zona oficial, onde as meretrizes trabalhavam em bordéis sob a gerência de uma prostituta de
confiança da polícia (PEREIRA, 1976). Havia, portanto, uma espécie de tolerância misturada
com confinamento e invisibilidade destas mulheres:
Essa dinâmica social não necessariamente era caracterizada pela corrupção ou pela
extorsão [policial], mas se inseria mais nos termos de uma tolerância, de um modo específico
de gerir diferenciadamente os ilegalismos, no qual as forças de ordem imiscuíam-se nesse
universo (TEIXEIRA, 2012).
Afirma a socióloga Alessandra Teixeira (2012) que a base da permissividade das
polícias está nas origens das instituições de policiamento. Nos anos 1960, na cidade de São
Paulo, a ilegalidade concentrava-se em regiões específicas da cidade, como o quadrilátero da
Boca do Lixo, no centro da capital paulista. Nesses locais, funcionava o esquema da
“mercadoria política” em torno da prostituição.
A mercadoria política é o 'acerto', o preço pela liberdade, o dispositivo que se estabelece
com o agente que deveria aplicar a lei, mas que cobra para se omitir de aplicá-la”. Os crimes
A CULTURA DA PROSTITUIÇÃO NO BRASIL E A REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE: ANÁLISE DO PROJETO DE
LEI “GABRIELA LEITE” - ESPERIDIÃO, Rhanna Rosa Alves; CARINHANHA, Ana Míria dos Santos Carvalho
6º SEMINÁRIO INTERDISCIPLINAR EM SOCIOLOGIA E DIREITO
Niterói: PPGSD-UFF, 18 a 20 de Outubro de 2016, ISSN 2236-9651, n.6
Com o retorno dos movimentos sociais à cena política neste período, este grupo
socialmente invisível entra firme na luta por seu reconhecimento. Com o jornal Beijo da Rua
como bandeira, as prostitutas reivindicam sua legitimação na esfera pública. Os exemplares
produzidos até 1993 do periódico lançado em dezembro de 1988 estão guardados na
Coordenadoria de Publicações Seriadas da Fundação Biblioteca Nacional (LENZ, 2014).
Em 2003, como dissemos acima, fora apresentado um projeto de descriminalização de 113
aspectos ainda ilegais relacionados à prostituição. Essa proposta foi arquivada. Novamente, em
2004, foi apresentado um projeto de lei pelo ex-Deputado Eduardo Valverde que pretendia
regulamentar a atividade (PL 4244/2004), mas, que foi retirado pelo próprio deputado. Já em
2011, o deputado Jean Wyllys retomou o projeto de regulamentação, que foi denominado
Gabriela Leite. Desde 2012, o projeto passou somente por uma discussão na Comissão de
Direitos Humanos e Minorias (CDHM), em que o relator rejeitou a proposta. Atualmente, este
projeto aguarda a formação da Comissão Especial. Em 2015 houve um arquivamento
meramente regimental, com a troca de legislatura, mas o projeto foi desarquivado em seguida
e continua tramitando.
2. METODOLOGIA
O presente trabalho trata-se de uma pesquisa indutiva qualitativa, que utiliza a Teoria
Fundamentada nos Dados (TFD), teoria sociológica desenvolvida por Glaser e Straus
(LAPERRIÈRE, 1997), como metodologia principal. Esse método consiste numa “abordagem
de pesquisa qualitativa com o objetivo de descobrir teorias, conceitos e hipóteses, baseados nos
dados coletados, ao invés de utilizar aqueles já predeterminados”. A partir de um conjunto de
procedimentos de coleta e análise de dados, procede-se à fragmentação e codificação de acordo
com os incidentes e fatos, para possibilitar, posteriormente, chegar-se à categorização e
atribuição de conceitos. Desta forma, há uma ordenação de categorias, de maneira a identificar
a categoria central, que, por sua vez, precisa ser testada para verificar se esta representa as
experiências dos sujeitos.
Na TDF, a análise é composta por três etapas interdependentes, não lineares, uma vez
que o movimento é circular. São denominadas de codificação aberta, codificação axial e
codificação seletiva. O processo de codificação visa a redução dos dados em categorias de
análise, as quais, permeadas pelo processo de codificação, são fundamentais para se chegar à
teoria.
O percurso analítico deste trabalho se deu com: a leitura do Projeto de Lei; a
identificação dos diferentes argumentos utilizados em prol da regulamentação da prostituição;
a categorização e problematização destes argumentos em suas diferentes nuances; bem como a
sua relação com os institutos jurídicos em questão; também uma análise crítica sobre os 114
possíveis efeitos da implementação do Projeto de Lei nº 4211/2012.
3.1 Autonomia
No projeto de Lei 4211/2012, a mulher em situação de prostituição é entendida como
agente de sua própria vontade, desta forma, proibir a atividade significaria interferir na
liberdade de escolha individual.
Neste sentido, o argumento principal para a propositura da alteração do Código Penal
através deste projeto de lei é a distinção entre prostituição e exploração sexual. A partir do
entendimento que a prostituição é a disposição voluntária do próprio corpo, nas modalidades
individual ou cooperada, enquanto meio de trabalho, sendo o agente da prostituição o único
beneficiário dos rendimentos, na modalidade individual (diretamente remunerado). A
prostituição é, segundo esse entendimento, não criminosa e profissional. De acordo com o
projeto de lei Gabriela Leite (PL 4211/2012, p.4): “O profissional do sexo é o único que pode
se beneficiar dos rendimentos do seu trabalho. Consequentemente, o serviço sexual poderá ser
prestado apenas de forma autônoma ou cooperada, ou seja, formas em que os próprios
profissionais auferem o lucro da atividade”.
A CULTURA DA PROSTITUIÇÃO NO BRASIL E A REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE: ANÁLISE DO PROJETO DE
LEI “GABRIELA LEITE” - ESPERIDIÃO, Rhanna Rosa Alves; CARINHANHA, Ana Míria dos Santos Carvalho
6º SEMINÁRIO INTERDISCIPLINAR EM SOCIOLOGIA E DIREITO
Niterói: PPGSD-UFF, 18 a 20 de Outubro de 2016, ISSN 2236-9651, n.6
Já a exploração sexual, por outro lado, é considera uma atividade criminosa, que ocorre
nos casos em que: a) a obtenção de lucro por terceiros é igual ou superior a cinquenta por cento
do valor em questão; b) quando não há pagamento da prestação voluntária; c) mediante ameaça
ou grave violência, independente da maior idade ou da capacidade civil da vítima. Nestes casos
ocorrerão os chamados crimes contra a dignidade sexual da pessoa.
Importante ressaltar que a compreensão da atividade da prostituição enquanto 115
profissão descriminaliza a ação de “Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de
alguém que nele venha a exercer a prostituição”, o que seria compreendido enquanto ação
solidária com alguém que entra no país para trabalhar. Contudo, continuaríamos criminalizando
todos os modos de exploração sexual. In verbis (PL 4211/2012, p.6):
3.3 Fiscalização
Diante da percepção de que o atual modelo não cumpre a função de tornar visível a
existência da prostituição e, por conseguinte, a conversão desta visibilidade em garantia de
direitos, é que ele se sustenta. A leitura da prostituição fundamenta-se na ideia de que a falta de
regulamentação é mais uma forma de exclusão social (marginalização/estigma), que a
regulamentação é a forma mais eficiente de reduzir a condição de vulnerabilidade destas
mulheres (redução de danos/visibilidade/fiscalização).
O PL abarca a prática da vida das mulheres em situação de prostituição e o Estado-
regulamentador como sendo a principal resposta para a situação de prostituição e capaz de
reduzir as variadas formas de violação da dignidade das profissionais do sexo (intervenção
estatal para garantia de direitos).
Também admite que, no atual sistema, as prostitutas permanecerão invisibilizadas em
condições de trabalho degradantes, devido, principalmente, à falta de fiscalização estatal. Além
disso, que o silêncio do Estado reforça as arbitrariedades policiais, a culpabilização das
mulheres pelas violências sofridas e não é capaz de garantir, de fato, os direitos trabalhistas e o
acesso à justiça como aos demais trabalhadores.
Além disso, existe a afirmação no texto de que a própria regulamentação da
prostituição ajuda no combate à exploração sexual e isso se dá através da fiscalização das casas
de exploração e controle do Estado sobre o serviço. Com isso haveria uma prevenção e punição
da exploração sexual. – inclusive - que não há prostituição de menores, e sim exploração, 117
conforme o PL Gabriela Leite, p.4: “Como demonstrado, não existe prostituição de crianças e
adolescentes. Muito pelo contrário, essa prática se configura como abuso ou exploração sexual
de crianças e adolescentes e se tipifica como crime severamente punido pelo Código Penal. ”
Ao fazer referência aos Megaeventos, afirma que:
3.5 Saúde
A fundamentação do Projeto de Lei explicita que a regulamentação é uma medida de
redução os danos da profissão, para conferir maior visibilidade a estas mulheres que são alijadas
do acesso à justiça e à saúde devido à hipocrisia da sociedade que permanece marginalizando-
as e promovendo injustiças sociais.
Define a proposta como necessária para o direcionamento das políticas públicas para
este segmento da sociedade, através da distribuição de preservativos e mutirões médicos, e
indica a regulamentação como uma forma de garantir a dignidade das profissionais e redução
da vulnerabilidade delas, na medida em que a marginalização é diminuída.
Neste sentido, in verbis PL Gabriela Leite, p.7: “Por exemplo, as leis e os costumes
legalmente tolerados, que falham em proteger mulheres e meninas da violência, aprofundam as 118
desigualdades entre gêneros e aumentam a sua vulnerabilidade ao HIV.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
e não há como pressupor que a regulamentação implicará uma fiscalização consequente. Existe
uma cultura da prostituição que é maior do que a própria regulamentação da atividade e é
preciso trabalhar sob a própria cultura da prostituição, elementos do machismo, racismo e do
patriarcado que estão diretamente relacionados com a atividade e com a exploração sexual. A
linha é tênue entre e precisa ser verificada com bastante sensibilidade em sua complexidade.
É preciso considerar também, no que diz respeito à realização de grandes eventos, que 119
o Brasil sediou e sediará, as questões relacionadas ao turismo sexual. Não podemos ignorar os
discursos higienistas que entendem as prostitutas como foco de disseminação de doenças, que
se preocupam mais com as demandas externas do que com as prostitutas em si e sua condição
de vida.
Questiona-se, ainda, se a regulamentação não pode trazer uma seletividade formal e
informal e entre as próprias garotas, fazendo com que algumas permaneçam na informalidade.
Neste sentido, sem respostas ainda estabelecidas, encaminha-se para o questionamento se
este modelo de regulamentação não seria a transição de um modelo de exploração não
autorizada para um modelo de exploração institucionalizada? O que não significa dizer que a
situação atual é satisfatória. Por outro lado, compreende-se que a institucionalização poderia,
sim, gerar melhorias na qualidade de vida das prostitutas. É preciso, portanto, repensar os
moldes nos quais o projeto se encontra proposto, para que possamos lançar um olhar mais
complexo acerca da prostituição e para que as prostitutas possam se beneficiar de maneira mais
completa com a lei.
REFERÊNCIAS
CAPELA, Gustavo Moreira. O direito à prostituição: aspectos de cidadania [dissertação de
mestrado]: Brasília. UNB; 2013. p.214.
DELPRIORI, Mary (org.). História das mulheres no Brasil: 2º edição. São Paulo: contexto, 2004.
PATEMAN, Carole. The Sexual Contract. California: Stanford University Press, 1988.
PEREIRA, Armando. Prostituição, uma visão global. 2. ed. Rio de Janeiro: Pallas S.A., 1976.
RAGO, Margareth. Do Cabaré ao Lar. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
________________ Os prazeres da noite. Prostituição e códigos da sexualidade feminina em São
Paulo, 1890 – 1930. Editora Paz e Terra. Rio de Janeiro. 1991.
SAFFIOTI, H. I. B. A Mulher na Sociedade de Classes: Mito e Realidade. 3.ed. São Paulo: Expressão 120
Popular, 2013.