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28/10/2002 - 13h43

PT terá de conciliar agricultura familiar e agronegócio

São Paulo - Por um lado, integrar a agricultura familiar ao sistema produtivo nacional e utilizar a
agricultura como ferramenta para erradicação da fome; por outro, manter condições favoráveis
para o crescimento da agricultura comercial e lutar nos foros internacionais para a promoção das
exportações agrícolas. Resumidamente, estes seriam os princípios do programa do PT para a
agricultura. A dicotomia entre os projetos para agricultura familiar e empresarial segue a mesma
lógica de outras áreas do programa do partido, isto é, de que é necessária a criação de um pacto
social para fazer o País voltar a crescer. "Não queremos continuar com a lógica do governo atual,
em que há um ´ministério do agribusiness´ e um ´ministério dos pobres´", explica José Graziano da
Silva, coordenador para a agricultura da campanha de Lula à Presidência. "Precisa existir uma
política unificada para todo o setor."

Para mediar os múltiplos conflitos entre capital e trabalho, produtor e indústria, pequenos e
grandes, o PT quer revitalizar as câmaras setoriais por área de produção. Nessas câmaras, os
diversos segmentos de cada cadeia produtiva e o governo irão discutir tarifas, mecanismos de
apoio à produção e metas. O PT quer incluir na agenda dessas câmaras questões sociais, como a
do emprego no campo.

"Na reunião que tivemos como a Unica (União da Agroindústria Canavieira) falamos sobre
mecanismos de apoio à produção, mas dissemos que o setor deverá manter um compromisso com
o emprego", exemplificou Graziano. Segundo ele, a mecanização da colheita da cana-de-açúcar
em São Paulo está fazendo com que a atividade caminhe para um perfil semelhante ao da
produção de grãos, que usa pouca mão-de-obra. "Em áreas mecanizadas, a cana exige de 2 a 3
homens por 100 hectares, o que é muito pouco", explica.
Os limites da fórmula das câmaras

A maneira como a discussão sobre a mecanização será encaminhada deverá mostrar os limites da
fórmula das câmaras. O PT já se manifestou abertamente contra o financiamento de compras de
colheitadeiras para a cana com crédito subsidiado pelo governo. O assunto é de interesse dos
grandes produtores de cana e da Anfavea. Para garantir o emprego sem prejudicar a indústria, o
PT propõe compensações à indústria na forma de estímulo à exportações de máquinas.

Outro assunto que deve gerar polêmica entre o programa do Partido, pequenos e grandes é a
legalização dos transgênicos. O PT diz não ter uma posição dogmaticamente contrária à
biotecnologia, mas propõe uma moratória para que mais estudos sobre seus riscos ao meio
ambiente e saúde possam ser elaborados. A idéia é criticada pela indústria de sementes e por
agricultores que multiplicam sementes - os sementeiros. Além de afirmarem que a rejeição aos
transgênicos condena o País à perda de competitividade, os segmentos acompanham com
preocupação o crescente plantio clandestino de soja geneticamente modificada no Brasil.

A produção clandestina não gera renda à indústria, e tampouco aos sementeiros que queiram se
manter na legalidade. A moratória aos transgênicos, no entanto, é apoiada por grupos de apoio a
pequenos produtores e pelo MST. Esses grupos temem que o novo pacote tecnológico marginalize
ainda mais os pequenos, em favor da agricultura comercial.
Acelerar o ritmo dos assentamentos

A disputa entre o MST e grupos de fazendeiros, por sinal, será também um grande teste para o PT.
O partido promete respeitar o direito à propriedade, mas quer acelerar o ritmo dos assentamentos,
atingindo números maiores do que os do governo FHC. As possíveis restrições orçamentárias ao
projeto poderão ser um foco de tensão entre um governo petista e os sem-terra. A maneira como
os conflitos já existentes serão administrados poderá também opor governo e fazendeiros. "O que
queremos é mudar de estratégia e parar de intervir apenas em áreas onde o conflito já se
deflagrou", diz Graziano. "Melhor é começar a negociar acordos com as diversas partes
envolvidas, e focalizar de forma maciça em algumas áreas problemáticas. Em São Paulo, o Vale do
Ribeira e o Pontal do Paranapanema teriam prioridade."

Um dos pontos-chave do projeto petista é tornar sustentável a agricultura familiar e a de


assentamentos de sem-terra. Para tanto, há duas estratégias. A primeira é a de incentivar
programas de agregação de valor à produção, como a agroindústria familiar para a produção de
queijos e outros derivados da produção agrícola. O governo entraria com a fiscalização e
concessão de selos de qualidade para estes produtos, que poderiam assim ganhar mercados
locais. Outra proposta do PT é o deslocamento de alguns pequenos produtores para atividades
rurais não agrícolas, como o setor de turismo. "O turismo rural está sendo uma boa alternativa de
renda em várias áreas do Brasil. No Pantanal, por exemplo, os fazendeiros estão ganhando mais
dinheiro com turismo do que estariam criando gado", exemplifica Graziano.
Financiamento para os pequenos

Para inserir os pequenos produtores na atividade econômica, o PT propõe retirá-los da rede de


financiamento bancária. Segundo Graziano, os spreads cobrados pelos bancos para repassar
linhas governamentais inviabilizam a atividade dos pequenos. O partido está propondo a criação de
vários pequenos fundos regionais para financiar a produção. Os pequenos produtores seriam
cotistas destes fundos, e arcariam apenas com o custo operacional dos empréstimos. "A
viabilidade do sistema seria mantida pelos próprios produtores, porque cada um saberia que, para
sacar mais dinheiro de empréstimo, seu vizinho precisa pagar o que deve", afirmou. O dinheiro
inicial para a abertura desses fundos seria oferecido pelo BNDES.

Enquanto isso, a política de crédito para a agricultura comercial ainda não foi delineada. O PT se
compromete a manter os níveis de financiamento atuais, sem fornecer maiores detalhes. No
entanto, não faltam desafios. O país assiste a um processo de crescimento da área da soja em
detrimento da produção de outras commodities importantes, como o milho. O atual cenário já
poderá ser uma barreira ao crescimento da avicultura e suinocultura em 2003. Em outras culturas,
como o algodão, o arroz e o trigo, a comercialização tem sido objeto de intervenção constante do
governo. Problemas de falta de liquidez e dos altos encargos financeiros têm feito ora produtores,
ora a indústria consumidora pedir crédito subsidiado à União.

O PT, seja como for, tem seu próprio projeto de abastecimento, focado em produtos da cesta
básica. O projeto do partido pretende vincular o programa de combate à fome "Fome Zero" a um
empurrão aos produtores de gêneros alimentícios básicos. "O aumento do mercado interno de
alimentos interessa para todos os produtores", afirma. Graziano explica que a idéia assemelha-se
ao programa de "Food Stamps" (cupons de alimentação), instrumento de combate à fome do
governo americano. O "Fome Zero" distribuiria alimentos para os 40 milhões de brasileiros que,
usando os números do partido, vivem em déficit nutricional. Graziano estima os custos do
programa em R$ 10 bilhões, o que elevaria em 10% os gastos federais. Ele afirma, no entanto, que
o programa reativaria a economia agrícola, aumentando a arrecadação do Tesouro, e reduziria os
gastos com saúde. "Em outras palavras, de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões voltariam aos cofres",
acredita. "Não é um gasto tão absurdo; na verdade, acabar com a fome sai muito mais barato do
que se supõe", afirma.
Mercado internacional

Se o programa "Fome Zero" deve trazer mais benefícios aos pequenos e médios produtores, que
geralmente cultivam produtos da cesta básica, o PT afirma que defenderá agressivamente os
interesses dos agroexportadores no mercado internacional. Atento aos efeitos que os subsídios à
produção e exportação de produtos agrícolas de países desenvolvidos têm sobre o Brasil, o PT
propõe uma agenda mais agressiva no comércio exterior do que a praticada pelo governo FHC.
"A OMC dá aos países em desenvolvimento prerrogativa de aumentar tarifas para proteger suas
economias em até 50%", diz Graziano. "O governo atual está sendo no mínimo covarde em não
usar esta possibilidade." O aumento de tarifas de importação funcionaria toda vez que a produção
brasileira fosse prejudicada por importações. Segundo Graziano, eventuais taxas no milho ou no
algodão não teriam efeitos tão nefastos nas indústrias frigoríficas ou têxteis no mercado
internacional. "Nossa indústria aprendeu a ser competitiva por sua alta tecnologia, e menos pelos
baixos custos de matéria-prima", afirmou. "Em todo caso, eventuais aumentos de tarifas serão
discutidos caso a caso com todo setor."

Segundo Graziano, o que falta ao governo é uma postura pro-ativa. "Se eventualmente, aumentos
de tarifas ou outras políticas se mostrarem mais negativas do que positivas, é só revertê-las. O
importante é testar iniciativas que possam melhorar a situação do setor."

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