Sei sulla pagina 1di 400

REVISADO E ATUALIZA

COES DA IGREJA
VIOL Preiácio à Edição
Brasileira;
Usânias Moara
Cristianismo Pagão?

"Este éum livro importante que demonstra que muitos dos


aspectos práticos, as ministrações eaestrutura da vida da igreja
contemporânea têm pouca ou nenhuma base bíblica e são, na
yrdade, inspiradas por uma extensa variedade de idéias epa
drões não-cnstãos, os quais amaioria são desfavoráveis àvida e
ao crescimento cristão. Muitos leitores acharão este livro desa
fiador ao extremo, mas todos aqueles preocupados com ofuturo
da igreja devemlê-lo."

DAVE NORRINGTON
Palestrante de estudos religiosos em Blackpool eno Fylde College;
autor de "To PreachorNotto Preachf"

Pagão documenta áreas específicas em que a


vida da igreja contemporânea infringe os princípios bíblicos.
Se você concorda ou não, com todas as conclusões que oau
tor extrai, você não terá argumento para seus registros. Este é
um trabalho erudito, com uma conclusão explosiva. Para todos
aqueles que estão no movimento moderno de igrejas-células,
particularmente, esta euma valorosa ferramenta para exigir um
novo pensamento sobre osignificado da palavra ecdesia.
DR. RALPH W NEIGHBOUR
Autor de "Where Do We Gofrom Here?"

Qualquer pessoa que estiverinteressada na adoração da igre


ja do Novo Testamento e, como isto foi alterado através dos sé
culos, irão considerar Cnstianismo Pagão muito útil. Aposição
dosautores é clara e muito bem documentada.

DR. GRAYDON R SYNDER


Professor do Novo Testamento (aposentado),
Chicago Theological Seminary; autor de 'Ante Pacem:Archaelogical
Evidence ofChurch Life hefore Constantine''
Dedicatória

Para todos os irmãos eirmãs esquecidos, através dos tempos,


os quais saíram corajosamente dos limites do Cristianismo Ins
titucional para o risco de vida e ficaram em apuros. Avocê que
fielmente carregou atocha, permaneceu emperseguição, aquem
faltou areputação, que perdeu afamília, sofreu torturas, edeu o
sangue para preservar o testemunho primitivo de que Jesus é o
Cabeça de Sua Igreja. Epara todo crente que é um sacerdote...
um ministro... e um membro ativo da Casa de Deus. Este livro
é dedicado a você.
Cristianismo Pagão?
FrankViola & George Barna
© Abba Press Editora e Divulgadora Cultural Ltda.
Categoria: Liderança
Cód. 01.01.120.0509.1

Originalmente publicado em Inglês por


Tyndale House Publishers, Inc.
Sob o título: Pagan Christianity?
©2008

Traduzido parao Português


Tatiana Luques

Revisão de texto por


Lilian Rodrigues
Andreza Moura

Coordenação Editorial
Cida Paião

Impressão
Imprensa da Fé

ISBN 978-85-7857-013-2

Epermitido a reprodução de partes deste livro, desde que citada a fonte e


com a devida autorização escritados editores.

RuaManuel AlonsoMedina, 298


CEP 04650-031 — São Paulo — SP — Brazil
Tels./Fax (11) 5686-5058 —5686-7046
Site: www.abbapress.com.br
E-mail: abbapress@abbapress.com.br
Conteúdo

Dedicatória ^
Prefácio àEdição em Português 7
Prefácio àEdição em Inglês f1
Apresentação
Introdução por George Barna: "O que aconteceu com à
Igreja?" 15
Prefácio por Frank Viola 25
Capítulo 1
— Estamos realmente fazendo conforme o Livro? 31
Capítulo 2
—A Construção da Igreja 41
Capítulo 3
— A Ordem do Culto 95
Capítulo 4
— O Sermão 147
Capítulo 5
— O Pastor 173
Capítulo 6
—As Roupas Dominicais 227
Capítulo 7
— Ministros do Louvor 241
Capítulo 8
— Dízimo e Salário do Clero 259
Capítulo 9
— O Batismo e a Ceia do Senhor 279
CristianismoPagão?

Capítulo 10
— Educação Cristã 295
Capítulo 11
— Uma Nova Abordagem do Novo Testamento 323
Capítulo 12
— Um Segundo Relance no Salvador 347
Epílogo: O Próximo Passo 359
Pensamentos Finais: Q&R (Questões eRespostas com
FrankViola e George Barna 367
Apêndice: Resumo de Origens 379
Figuras-chave na Flistória daIgreja 387
Bibliografia 393
Prefácio àEdição em Português

Cristianismo Pagao?

^MA CHAMADA PARA REVER NOSSA ESSÊNCIA. PolêmicO.


<ii\
^ Provocativo. Foi assim que primeiramente me senti ao
lereste texto do Barna e do FrankViola. Fui chamado pararever
a essência de tudo que faço como pastor, porque entramos em
certas culturas de comportamento sem perguntarmos de onde
ela vem nem para onde ela vai, nem se ébíblica.
Fui confrontado, por exemplo, com a razão por que nos
envolvemos em projetos de construção. O que estamos cons
truindo, um prédio ou uma igreja? Quando falamos que estamos
construindo uma igreja, estamos falando do edifício ou das pes
soas? Quando estamos falando de pessoas, estamos falando do
que elas precisam ou do que nós líderes precisamos para mostrar
nosso trabalho, deixar uma imagem da nossa gestão? Ou do que
eu preciso para afirmar minha pessoa como pastor quandc) falo
em construir? Qual éaessênciado nosso desejo em construirum
prédio para nossa igreja?
Achamada para aessência vai mais além. Fui desafiado apen
sar mais ainda sobre oque prego nos cultos em minha igreja, por
que prego ecomo prego. Ao ler otexto deste livro sou desafiado
aperguntar: Por que estou pedindo que Deus abençoe aigreja en
quanto eu prego? Émesmo para que ele abençoe aigreja ou épara
me fazer um grande pregador? Quando estou pregando o que
mais me preocupa? Eoestado das minhas ovelhas ou eagloria de
8 Cristianismo Pagâo?

Deus? Éminha própria afirmação como pregador? Então, preci


so perguntar: qual aessência do meu ministério de pregação? Ou
qual aessência do meu papel como pastor?
Barna eViola nos questionam neste livro muito mais do que
nossas práticas. Eles nos questionam sobre aessência daquilo que
fazemos. Vivemos, apesar de dizermos que vivemos em comu
nidade, longe do ambiente da real liberdade. Aigreja que deveria
ser uma experiência além prédio e além de estruturas, tem sido
infestada pelas pressões deserdeacordo com o modelo tal ou de
acordo com atendência tal. Nada errado se respondemos que
omodelo tal ou atendência tal vem das Escrituras. Mas, oque
estamos fazendo será mesmo que vem das Escrituras? Mas, se
estamos livres, por que vivemos presos a modelos que muitas
vezes não podem ser validados nas Escrituras? Por outro lado,
não éporque não pode servalidado pelas Escrituras que omodelo
esteja errado. O importante é: SE O QUEESTOU FAZENDO
EM SUA ESSÊNCIA, VEM DAS ESCRITURAS! Formas po
dem ser culturais emudar com otempo.
Nossas igrejas refletirão sobre suas formas de agir de acordo
com aquilo que as Escrituras dizem, apartir do instante que elas
se libertarem da pressão de serem cópias de algo que deu certo em
outro lugar ou na história. Se algo deu certo em outro lugar, não
necessariamente quer dizer que se for aplicado em outro local,
venha adar certo. Por que falo isso? Porque aessência da nossa
igreja precisa refletir aquilo que onoivo dela é. Onoivo da igreja
enquanto viveu aqui era livre das tradições que não vinham das
Escrituras. Jesus foi livre para inovar, para quebrar modelos ine
ficientes edistantes dojeito doserdeDeus.
Este livro motiva-me aperguntar, então, se oque estou fazen
do, em essencia, reflete as Escrituras eaquele quem as Escritu
ras revelam. Estou me segurando em algo que me traz uma falsa
segurança ou estou desejoso de correr riscos, que podem gerar
inseguranças passageiras, mas que me levarão para uma situação
que aigreja onde sirvo reflete o coração de Jesus?
Querido leitor, se você quiser ter aousadia de perguntar asi
mesmose o quevocê tem feito vemdas Escrituras,você develer
este livro. Se você tema coragem. Mas sevocê tem medo desair
Prefácio à Edição em Português

de uma zona de conforto para perguntar aDeus como sua igreja


pode refletir o que Ele quer enão oque acultura impõe sobre
você, ou mesmo atradição histórica, você não deve ler este livro.
Pois ao lê-lo você vai se sentir questionado sobre aquilo que faz
em sua essência. Nãosomos obrigados a concordar com tudo o
que os autores falam, pois não podemos perder de vista aessência
bíblica do que fazemos. Mas, ao ler este livro, seremos obrigados
arepensar muito acerca do que fazemos em nosso ministério.
Nenhum de nós é obrigado a pensar como os autores pensam
ou simplesmente fazer mudanças, que eles podem sugerir. Em
essência, ganharemos muito se lermos com uma mente aberta e
ao mesmo tempo perguntar aDeus: O QUE POSSO FAZER
EMMINHA VIDA E MINHA IGREJA PARA REFLETIR O
SENHOR E SUA PALAVRA?
Foi este impacto que este livro causou em mim. Uma per
gunta crucial que os autores fazem logo nq inicio é: SERA QUE
FAZEMOS REALMENTE COMOABÍBLIA DIZ? Esta per
gunta incomoda, mas nos desafia.
Você serádesafiado damesma formaqueeufui. Deusmesmo
o desafie, éaminha palavra de encorajamento eoração por você
ao encorajá-lo alerestelivro.
Lisânias Moura
Pastor Sênior
Igreja Batista do Morumhi - São Paulo
Prefácio àEdição em Inglês

Querido leitor,

,..Lvez você se espante por que um editor de livros cristãos


lançaria um livro que questiona tantas práticas comuns da
igreja. Por favor, esteja ciente, no entanto, que os autores não estão
questionandoavalidade ou importânciadaigreja. Emvez disso, estão
nos pedindo para que consideremos, de forma profunda, afonte das
nossas tradições da igreja, para então perguntarmos como essas prá
ticas se enquadram nas Escrituras enas práticas da igreja do primeiro
século.
Muitos na igreja mantêm atradição, mesmo se não for baseada
nas Escrituras, e essas mesmas pessoas ainda seespantam por que
aigreja parece estar perdendo sua relevância eimpacto no mundo
contemporâneo.
Tyndale não concorda necessariamente com todas as posições
do autor e compreende que alguns leitores também possam não
concordar. Ao mesmo tempo, nos juntamos ao Frank eao George
em nosso desejo de ver aigreja operar de acordo com os princípios
bíblicos eser uma expressão plena da graça eda verdade de Deus.
Além disso, os autores levantam questões importantes ba
seadas em sua pesquisa diligente, estudo e experiências, e acre
ditamos que estas questões não deveriam ser ignoradas. Nosso
objetivo é que você considere as conclusões dos autores e ore
sobre sua resposta com seriedade.
Tyndale Publishers —Os editores
Apresentação

EPOIS DE POUCO TEMPO QUE DEIXEI aIgreja Institucional


para aderir àmoda dos cristãos no Novo Testamento,
procurei entender como aigreja cristã chegou àsituação atual.
Pormuitos anos, tentei com minhas mãos íucançar um livro do
cumentado que traçasse aorigem de todas as práticas não-bíbli-
cas que nós, cristãos, observamos toda semana.''
Procurei em bibliografias ecatálogos. Também entrei em contato
com uma porção de historiadores eeruditos, perguntando se conhe
ciam tal tipo de trabalho. Minha per^nta rendeu uma consistente
reposta: nenhum livro como este havia sido escrito. Num momento
de insanidade, decidi colocar minhas mãos no arado.
Admito o desejo de que outra pessoa tivesse assumido este
projeto trabalhoso —alguém como um professor universitário
sem filhos em um dia de folga! Isto poderia me poupar de um
número incalculável de horas de compenetração e uma grande
frustração. Apesar disso, agora que o trabalho terminou, estou
satisfeito por ter tido oprivilégio de romper com um fundamen
to, nessa áreatão negligenciada.
Alguns podem pensar por que gastei tanto ternpo e energia
documentando aorigem das nossas práticas da igreja contempo-

1 O único trabalho que pude encontrar traçando os originais de nossas


práticas modernas na igreja é no pequeno volume de Gene Edwards inti
tulado Beyond Radical Qacksonville: Seedowers, 1999), mas não contém
nenhuma documentação.
14 Cristianismo Pagão?

rânea. Ébem simples. Acompreensão do gênesis das tradições


de nossas igrejas pode muito bem mudaro curso da história da
Igreja. Como o filósofo Soren Kierkegaard uma vez colocou: "a
vida só se compreende mediante um retorno ao passado, mas só
se vive para diante." Sem entender os erros do passado, estare
mos fadados aum futuro defeituoso. Épor esta razão que parti
para a primeira tentativa nesteprojeto Himalaia.
Minha esperança épublicar este trabalho, que étão simples
quanto triste: que o Senhor possa usá-lo como uma ferramenta
para trazer Sua Igreja de volta às suas raízes bíblicas.
Nestes agradecimentos, gostaria de dedicar meu reconheci
mento as seguintes pessoas: meu co-autor, George Barna, por
ter trazido mais solidez aeste livro; Frank Valdez por seu insight
perspicaz e sua amizade inabalável; Mike Biggerstaff, Dan Me-
rillat, Phil Warmanen, Eric Rapp, eScott Manning pelas provas
do manuscrito original; Howard Snyder por seufeedhack sem
igual que somente alguns acadêmicos podem dar; Neil Carter
por sua bondosa tenacidade ao me ajudar apesquisar tudo que
está debaixo do sol; Chns Lee eAdam Parke pelas visitas inces
santes às bibliotecas e por se arrastarem em busca de inúmeros
livros empoeirados para omeu trabalho; Dave Norrington pelo
envio de valiosas orientações, vindas do outro lado do Atlântico;
Gene Edwards pelos seus esforços pioneiros e encorajamento
pessoal; a todos os professores de seminário cujos nomes não
posso listar, por serem muitos, por responderem às minhas in
vestigações persistentes einfindáveis; àequipe do Tyndale pelas
sugestões inestimáveis e pelá excelente edição; e Thom Black
— sem você esta nova edição nunca teria acontecido.

Frank Viola

^"Aqueles que não se lembram do passado estão


^ condenados arepeti-lo".
—George Santayana, Filófoso epoeta espanhol do séc. 20

"Ponderou-lhes Jesus: "Eporque transgredis vós também o


mandamento de Deus, por causa da vossa tradição?"
—Jesus Cristo em Mateus 15.3
Kingjames Atualizada em português
Introdução por George Barna
O que aconteceu à Igreja?
''Talvez não exista nada pior que alcançar otopo da escada e
descobrir que você está naparede errada".
—]OSEPH CAMPBELL,
escritorAmericano do Século 20

CATAMOS VIVENDO NO MEIO de uma revolução de fé silenciosa.


Milhões de cristãos ao redor do mundo estão deixando as
formas antigas que foram aceitas arespeito de "como fazer igre
ja" para abordagens até mesmo mais arcaicas. Aquelas abordagens
mais antigas estão baseadas nas Escrituras Sagradas e nos princí
pios eternos do Deus vivo. Consequentemente, amotivação para
esta transição, do antigo para omais arcaico não é, simplesmente,
colocar-nos em contato com nossas histórias ou recuperar nossas
raízes. É nascido de um desejo de retornar ao nosso Senhor com
autenticidade eplenitude. Eum impulso para unir-se aEle através
daPalavra deDeus, do Reino deDeus e do Espírito deDeus.
O coração dos revolucionários não está em questão. Existe
uma pesquisa mais do que suficiente para mostrar que eles estão
buscando mais de Deus. Eles tem uma paixão pela fidelidade à
Palavra dEle epor uma sintonia maior com aSua direção. Desejam
ardentemente que o relacionamento com Deus seja aprincipal
prioridade na vida. Estão cansados das interrupções de uma cone
xão ressonante com Ele, causadas por instituições, denominações
erotinas. Estão exaustos de programas intermináveis que falham
ao facilitar transformações. Estão saturados por terem que com
pletar atribuições de tarefas, memorizar fatos epassagens, ese en
gajar em práticas simplistas que não os atrai àpresença de Deus.
16 Cristianismo Pagão?

Essas são pessoas que têm experimentado as realidades


iniciais de uma conexão genuína com Deus. Não podem mais
suportar a provocação espiritual oferecida por igrejas e outros
ministérios bem intencionados. Deus está esperando por eles.
Eles O querem. Chega de desculpas.
Mas esta revolução de fé é deficiente. Aqueles envolvidos
sabem parao que estãose deslocando — formas semvida e ins
titucionais defé paraumpasso revolucionário. Mas estão sedes
locando para onde? Igrejas nas casas, ministérios em mercados,
igrejas virtuais, reuniões de oração comunitárias independentes,
comunidades intencionais. Essas formas de igreja são todas in
trigantes, mas representam, de fato, um passo significante em
direção ao maior propósito de Deus? Ou é somente a mesma
coisa representada em uma configuração diferente? Eles estão
desempenhando as mesmas funções, mas vinculados anovos tí
tulos, adotados por diferentes pessoas que desempenham vários
papéis? Estamos vivendo numa cultura que está tão encantada
com mudanças que esquecemos que igreja trata-se de transfor
mação, e não de meras mudanças?
Enquanto nos atemos a tais assuntos, existe muito a ser
aprendido da história do povo de Deus. Seguidores de Cristo
apreciam as histórias que Deus nos deu através de SuaPalavra.
Descobrimos muitas coisas sobre Deus, sobre avida, sobre cul
tura e até sobre nós mesmos ao seguir a jornada do povo de
Deus tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Considere
oquanto aprendemos na posse da Terra Prometida porMoisés e
pelos israelitas. Ouas percepções arespeito da ascensão de Davi,
ganha aduras penas, de um humilde menino, pastor de ovelhas,
aRei de Israel. Ouaangústia dos discípulos de Jesus assim que
deixaram seus ofícios para seguir o Senhor antes até de conhe
cerem o martírio. Da mesma forma, muito pode serexaminado
sobre os esforços dos cristãos primitivos — nossos ancestrais
físicos eespirituais —àmedida que buscaram ser aigreja genuí
na que Jesus comprou comSeu sangue.
Mas o que os cristãos modernos e pós-modernos sabem
sobre ahistória da igreja que poderia ajudar amoldar oempenho
dos dias presentes em honrar aDeus eser aigreja? Muito pouco,
sabe-se. Aí reside um problema substancial. Historiadores acre-
Introdução porGeorge Barna 17

ditam, há muito tempo,[£ue se não nos lembramos do passado,


estamos destinados arepeti-1^ Existe uma evidência suficiente
para dar suporte a essa advertência. Ainda assim insistimos em
nossos esforços bem intencionados, porém ignorantes, de puri
ficar nossas vidas.
Ahistória recente da igreja cristã na América éum grande
exemplo disso. As maiores mudanças nas práticas espirituais na
última metade do século foram em relação aos modos de apre
sentação. Escolha uma tendência —mega templos, igrejas des-
cobridoras, campos de satélites, escola bíblica de férias, igreja
das crianças, ministérios com grupos de afinidades (ex.: ministé
rio para solteiros, mulheres, homens, recém-casados), música de
adoração contemporânea, sistemas de projeções em telas gigan
tes, doações ao EFT, células, sermões disponíveis para downlo
ad, esboços de sermões em boletins, grupos Alfa. Todos citados
anteriormente têm sido simplesmente tentativas para recorrera
estratégias de marketing para realizar as mesmas atividades em
diferentes formas e lugares, ou com segmentos particulares de
populações agregadas. Quaisquer dificuldades que estivessem
presentes nos maiores ambientes institucionais os quais exigi
ram esses esforços estão invariavelmente presentes nos esforços
menores e divergentes também.
Este livro desafiará você a considerara opção de fazermu
danças mais significativas no modo como você pratica sua fé.
Alterar as formas com as quais adoramos não éuma tarefa fácil.
Quando as pessoas sugerem mudanças significativas em algumas
das práticas sagradas, brados de "herético" podem ser ouvidos,
vindos de qualquer direção. Tal protesto écomum principalrnen-
te porque as pessoas têm pouco conhecimento dos verdadeiros
fundamentos da sua fé.
Épor isso que este livro entra em cena. Mais do que ter
contínua resistência cultivada ao longo dos anos parainovações
metodológicas, é tempo do corpo de Cristo entrar em contato
com a Palavra de Deus e a história da igreja para chegar a uma
melhor compreensão do que podemos edevemos fazer assim
como o que não podemos enão devemos.
Por experiência própria, os autores deste livro podem
dizer avocê que uma jornada de descoberta como esta é bri-
18 Cristianismo Pagão?

lhantemente esclarecedora, para se dizer no mínimo. Se você


investir seu tempo buscando na Palavra de Deus a maioria das
práticas comuns em igrejas convencionais, você raramente as
encontrará. Se você seguir adiante epassar um tempo traçando
ahistória daquelas práticas, logo descobrirá que a maioria dos
nossos hábitos religiosos são escolhas feitas pelos homens. Na
verdade, você está prestes a discernir um padrão sobre a for
ma como "fazemos igreja" nesses dias: se o fazemos, isto não
está provavelmente na Bíblia como uma das práticas da igreja
primitiva!
Você fica surpreso em saber que muito do que fazemos
em círculos religiosos não tem precedentes nas Escrituras?
Isso inclui muitas das atividades dentro dos cultos nas igrejas,
a educação e a ordenação do clero, os métodos de se levan
tar fundos para o ministério, a forma como a música é usada
na igreja, até mesmo a presença e a natureza da construção
dos templos. Houve três períodos históricos em que várias
mudanças foram feitas em práticas cristãs comuns: a era de
Constantino, as décadas próximas à Reforma Protestante, e o
período Renascentista nos séculos 18e 19. Mas como você irá
descobrir, aquelas mudanças foram oresultado de seguidores
de Cristo apaixonados, embora freqüentemente mal informa
dos. Durante esse período os crentes simplesmente estiveram
presentes, mas não demaneira eficiente, o qual resultou em no
vas perspectivas epráticas que as igrejas mantiveram por tantos
anos. Tantos anos, de fato, que você provavelmente suponha
que àquelas rotinas sãode origem bíblica.
Não nos surpreende que, tendo mudado o modelo bíbli
co de igreja, nos tornemos adeptos a defender a formulação
de nossas abordagens através de "prova de textos". "Prova de
textos" é uma prática de retirar versos não relacionados e dis
tintos das Escrituras, freqüentemente fora do contexto, para
"provar" que nossas posições se encaixam na Bíblia. Enquanto
você ler este livro, você ficará atônito ao descobrir quantas das
nossas práticas estimadas estão bem longe das práticas corre
tas, biblicamente falando.
Realmente importa o como praticamos nossa fé, enquan
to as atividades permitem que as pessoas amem e obedeçam a
Introdução porGeorgeBarna 19

Deus? A preponderância da evidência mostra que essas pers


pectivas, regras, tradições, expectativas, afirmações e práticas
freqüentemente obstruem o desenvolvimento de nossa fé. Em
outros casos, servem como barreiras que nos mantêm longe de
nosso encontro com o Deus vivo. A forma com a qual pratica
mos nossa fé pode, inclusive, afetar aprópria fé.
Isso significa que devemos voltar àBíblia efazer tudo exa
tamente como os discípulos fizeram entre os anos 30 e60 depois
de Cristo? Não. Mudanças sociais e culturais foram estabeleci
das durante os últimos dois mil anos, o que nos impossibilita
de imitar alguns estilos de vida e esforços religiosos da igreja
primitiva. Como por exemplo, nós usamos celulares, dirigimos
automóveis e utilizamos aquecimento central e ar condiciona
do. No primeiro século, os cristãos não tinham nenhuma dessas
facilidades. Por esta razão, aderir aos princípios do Novo Testa
mento não significa reviver os acontecimentos da primeira igreja.
Se assim fosse, teríamos que nos vestir como os crentes se ves
tiam no primeiro século, com togas esandálias!
Também, não é somente porque uma prática é escolhida
por determinada cultura que isto a faz errada por si própria,
embora nós precisemos ter discernimento. Como mencionou
oautor Frank Senn:t[Não podemos evitar trazer nossa cultura
àigreja; faz parte de nosso ser. Mas diante da tradição necessi
tamos distinguir as influências culturais que contribuem para a
integridade da adoração cristã, das que nos afastam delgj "
O nosso maior interesse é esquadrinhar as palavras de
Deus para determinar os princípios centrais e características
do povo da igreja primitiva e restaurar aqueles elementos em
nossas vidas. Deus nos deu o privilégio de agir com grande
liberdade em relação aos métodos que usamos para honrá-Lo e
estarmos ligados aEle. Mas isso não significa que temos ototal
controle. Aprecaução éoportuna quando nos esforçamos para
sermos um povo humilde e obediente que busca o centro da
vontade dEle. Nosso objetivo é que sejamos verdadeiros em

1 Frank C.Senn, Christian Worship and íts Cultural Setting (Philadelphia:


Fortress Press, 1983), 51.
20 Cristianismo Pagâo?

relação aSeu plano, para que possamos nos tornar as pessoas


que Ele deseja que sejamos eque aigreja seja tudo para aqual
foi chamada para ser.
Então esteja preparado para um despertar brusco assim
que você descobrir quão fora do caminho nossas atuais práticas
religiosas estão. Você provavelmente deve saber que nossos
aviões ajato possuem um sistema muito sofisticado que cons
tantemente reorienta um avião enquanto voa seu caminho.
Durante o curso de uma viagem de Los Angeles para Nova
York, milhares de correções de curso, literalmente, são feitas
para garantir que o avião venha aaterrissar na pista adequada.
Sem aquelas correções de curso, até mesmo um desvio de uma
minúscula porcentagem do plano original de vôo poderia fazer
aterrissar o avião em um condado diferente! Aigreja contem
porânea écomo um avião ajato que não tem acapacidade para
correções de curso durante ovôo. Uma pequena mudança aqui,
um desvio minúsculo ali, uma leve alteração disto, uma quase
imperceptível tentativa de ajuste daquilo —e antes que você
perceba, a operação inteira foi redefinida!
Edifícil de voce acreditar? Então oencorajamos ainvestir
em você mesmo nesse processo e fazer algo para sua própria
pesquisa. Meu co-autor, Frank Viola, passou muitos anos loca
lizando, laboriosamente, ainformação histórica que identificou
como a igreja entrou por esses passos tortos. As referências de
sua jornada foram fornecidas avocê em cada capítulo. Se você é
cético —eencorajamos o ceticismo saudável que nos leva aen
contrar os fatos eaverdade —então faça um compromisso con
sigo mesmo para identificar o que aconteceu exatamente através
do curso dos últimos tempos. Isto éimportante! Sua vida éum
presente de Deus e é para ser vivida para Deus. Além disso, a
igreja éuma das paixões mais profundas de Deus. Ele se importa
sobre como ela está indo, assim como ela está se expressando
na terra. Então, compreender como saímos da igreja primitiva e
chegamos àigreja contemporânea, edescobrir oque faremos em
relação a isso, é muitoimportante.
Todo bom autor escreve para trazer mudanças positivas
esignificativas. Este livro não édiferente. Queremos que você
seja informado pela Palavra de Deus e pela história da igreja.
Introdução porGeorge Barna 21

Queremos que você pense bíblica e cuidadosamente sobre


como você pratica sua fé com outros cristãos. Equeremos que
você influencie outros para entenderem o que Deus nos dire
ciona para descobrirmos. Uma parte do desafio de viver em
concerto comumavisão bíblica do mundo estácorrelacionada
asua vida espiritual e com as intenções de Deus, como desig
nado para nós na Bíblia. Oramos para que este livro oajude a
fazer sua parte em endireitar o que está torto nos passos da
igreja contemporânea.
22 Cristianismo Pagão?

"A trilha do bezerro" de Sam Walter Foss

Após cruzar asflorestas virgens^


Comofazem osbons bezerros
Um bezerro voltou para casa;
Mas uma sinuosa trilha seu rastro deixou
Como todos os bezerros deixam.
Trezentos anossepassaram desde então^
O bezerro estámorto^ eu acredito.
Mas seurastro aindapermanece,
E a moral da história está aí.

No dia seguinte orastrofarejado foi


Porum cão solitário que poralipassou;
Então o sábio vaqueiro
Seguindo a trilha porvales eestepes.
Trouxe o rebanho atrás de si,
Como os bons vaqueirosfazem.
E desde então surgiu grande clareira na mata.
Pela velhafloresta surge um caminho.
E muitos homens por elaforam evoltaram
E alargaram, arrumaram, ampliaram.
Eproferiram palavras dejustaira
Por ser tortuoso tal caminho. ^
Mas mesmo a contragosto ainda o trilharam,
Aprimeiratrilhadaquele bezerro.
Porentre árvores eentre espinhosficou sinuosa
Pois cambaleava enquanto caminhava.
Estecaminho nafloresta virou rua,
Cfue curva, vira e curva novamente;
Esta rua torta virou estrada
Depobres cavalos com suas cargas

1Neste livro, às vezes, nós fazemos referência a expressão "caminho


tortuoso" que guia a igreja institucional. Este poema foi escrito há mais de
cem anos e serve de inspiração para essa metáfora.
Introdução porGeorge Barna 23

Labutando sob o ardente sol


Numa viagem de três milhas e meia.
E assim por umséculo e meio
Seguiram nos passos daquele bezerro.
Os anos voaram velozes,
A estrada virou rua de aldeia;
E antes que os homens dessem conta,
Virou avenida congestionada da cidade;
Elogo rua central de uma metrópole renomada;
E homens há dois séculos e meio andaram
Na trilha de um bezerro,a cada dia cemmil
Pessoas seguem ocambaleio do bezerro;
Tal tortuosa jornada virarota decontinente.
Porondepassam cem milhomens.
Passou um bezerro, morto há trezentos anos.
E eles aindaseguem o caminho tortuoso
Eperdem cem anos por dia;
E assim prestam tamanha reverência
A tão bemfirmado precedente.
Alição moral que isto ensina pormim épregada;
Os homens são propensos a seguirem cegos
Ao longo das trilhas dos bezerros damente.
E trabalhar dia a dia, sol a sol.
Parafazer oque os outros homensfizeram.
Eles seguem no rastro batido.
Pela beira epelo meio, parafrente epara trás.
Permanecendo ainda em seus tortuosos caminhos.
Mantendo o caminho que os outrosfizeram,
Elesfizeram do caminho uma trilha sagrada.
Ao longo da qualsuas vidas se movem.
Como sorri o velhosábio deus dafloresta,
Ele que viu oprimeiro bezerro passar!
Ah!Muitas coisas este contopoderia ensinar-
Mas não sou ordenado para pregar.
24 Cristianismo Pagão?

"Mas OImperador nãotinhaabsolutamente nada", disse uma


pequenina criança. "Ouça avoz da inocência!" exclamou opai; e
todos já estavam sussurrando, uns para os outros, oque acrian
ça dissera. "Mas ele não tinha nada!, por fim gritou para todo
o povo. O Imperador ficou perplexo, porque sabia que o povo
estava certo, mas pensou: "aprocissãotem quecontinuar!". En
tão, os lordes dos dormitórios tomaram para sidores tão fortes
que pareciam carregar um trem, embora, narealidade, não hou
vesse nenhum trem para sercarregado!"

Hans Christian Andersen


Prefácio por Frank Viola

UANDO OSENHORJESUS ANDOU PELA TERRA, aOpOsiçãO prin-


Ct/ cipal veio de duas facções de liderança religiosa daqueles
tempos: osFariseus e osSaduceus.
Os Fariseus aumentavam as Escrituras Sagradas. Obedece
ram as leis de Deus como foram interpretadas e aplicadas pelos
escribas, os experts na Lei, que viviam de modo disciplinado ede
votado. Assim como os intérpretes oficiais da Palavra de Deus, os
Fariseus foram favorecidos com o poder de criar uma tradição.
Empenharam-se nas resmas da Palavra de Deus com leis
humanas que foram passadas a gerações subsequentes. Esse
corpo de convenções consagradas pelo tempo, freqüentemente
chamado de "a tradição dos anciãos" veio aser observada como
uma obra igual, ououtro par dos Escritos Santos.'
O erro dos Saduceus moveu-se em direção oposta. Eles
subtraíram segmentos inteiros das Escrituras —considerando
somente aLei de Moisés digna de ser observada.^ (Os Saduceus

1 (O Dicionário Bíblico Ilustrado de Nelson) Referência/ Veja também


Mateus 23.23-24.

2 Alei de Moisés refere-se aos primeiros cinco livros doVelho Testamento:


Gênesis a Deuteronômio. E também chamado de Tora (a Lei) e Pentateuco,
um termo grego que significa "livro de cinco volumes'.
26 Cristianismo Pagão?

negavam a existência de espíritos, anjos, a alma, a vida após a


morte, e a ressurreição.^)
Não é de se estranhar que quando o Senhor Jesus entrou
no drama dahistória humana. Sua autoridade foi ardorosamente
desafiada (veja Marcos 11.28). Ele não seencaixava nos moldes re
ligiosos de nenhum dos grupos pensadores. Como conseqüência,
Jesus foi visto com suspeitas tanto pelos Fariseus quanto pelos
Saduceus. Essas suspeitas não demoraram a se tornarem hostili
dade. Eambos os Fariseus eos Saduceus tomaram providências
para colocar o Filho deDeus perante a morte.
^Ahistória está se repetindo hoje. OCristianismo contem
porâneo cai nos erros dos Fariseus e dos Saduceus.
Primeiramente, oCristianismo contemporâneo éculpado
pelo erro dos Fariseus. Isto é, ele adicionou uma série de tradi
ções humpamente concebidas que tem anulado avida, arespi
ração ealiderança funcional de Jesus Cristo em Sua Igreja.
Em segundo lugar, na tradição dos Saduceus, um grande
volume depráticas do primeiro século foi removido do cenário
cristão. Felizmente, tais práticas estão sendo restauradas atual
mente, em uma escala menor, por aqueles de almas ousadas que
tomaram o terrível passo de deixar o grupo seguro do Cristia
nismo Institucional.
Mesmo assim, os Fariseus e os Saduceus nos ensinam uma
lição que éfreqüentemente ignorada: éperigoso diluir aautori
dade da Palavra de Deus tanto por adição quanto por supressão.
Violamos as Escrituras tanto por enterrá-las sob uma montanha
de tradição humana quanto por ignorar seus princípios.
Deus não tem permanecido em silêncio quando se trata dos
princípios que governam aprática de Sua Igreja. Deixe-me expli
car colocando uma questão: Onde encontramos nossas práticas
da vida cristã? Onde está, em primeiro lugar, nosso modelo de
identidade de cristãos? Isso não éencontrado na vida de Jesus
Cristo como eretratado no Novo Testamento? Ou aempresta
mos de outro lugar? Talvez de um filósofo pagão?

3 1. Howard Marshall, New Bible Dictionary, 2^ Ed. (Wheaton, IL: IVO


1982), 1055.
Prefácio porFrank Viola 27

^ Poucos cristãos iriam questionar que Jesus Cristo, como


I apresentado no Novo Testamento, éomodelo para avida cristã.
1 Jesus Cristo éavida cristã. Da mesma forma, quando Cristo se
1 levantou de dentre os mortos e subiu, sua Igreja nasceu.lEssa
/ Igreja era Ele mesmo em uma diferente forma. Esse éosignifi-
^ cado do termo "o corpo de Cristo.""'J
Consequentemente encontramos o gênesis da igreja no
Novo Testamento. Acredito que aigreja do primeiro século era a
igreja em sua forma mais pura, antes de ser manchada ecorrompi
da. Isso não édizer que aprimeira igreja não tinha problemas—as
epístolas de Paulo deixam claro que ela tinha, sim. Noentanto, os
conflitos aque Paulo se dirigia eram inevitáveis quando um povo
caído buscava ser parte de uma comunidade solidária.^
A igreja no primeiro século era uma entidade orgânica.
Era um organismo vivo, que respirava e expressava asi mesma
de forma bem diferente da igreja institucional hoje. E aquela
expressão revelou Jesus Cristo neste planeta através de todos
os membros do seu corpo funcional. Neste livro, pretendemos
mostrar como esse organismo era desprovido de tantas coisas
que abraçamos hoje.
As práticas da igreja do primeiro século eram as expressões
naturais eespontâneas da vida divina que moravam no coração dos
primeiros cristãos. Eaquelas práticas estavam enraizadas de ma
neira sólida nos princípios eensinamentos eternos do Novo Tes-

4 Em ICoríntios 12.12, Paulo refere-se à igreja como "o corpo de Cris


to". De acordo com o ensino paulino, a igreja é a corporação de Cristo. A
cabeça está nos céus, enquanto o corpo está na terra. (Atos 9.4-5, Efésios
5.23, Colossenses 1.18; 2.19). Concebido de forma apropriada, aigreja éum
organismo espiritual, não uma organização institucional.
5 Interessantemente, uma igreja orgânica terá problemas idênticos àqueles
da igreja do primeiro século. Por outro lado, aigreja institucional enfrenta
uma série de problemas completamente diferentes, os quais não têm an
tídotos bíblicos, sendo sua estrutura tão distinta da estrutura da igreja do
Novo Testamento. Por exemplo, em uma igreja institucional, a laicidade
deve gostar do seu pregador, senão irão demiti-lo. Isso nunca teria aconte
cido no primeiro século porque não existiam pastores contratados.
28 Cristianismo Pâgáo?

tamento. Em contraste, um grande número de práticas em muitas


Igrejas contemporâneas está em conflito com aqueles princípios
e ensinamentos bíblicos. Quando cavamos mais fundo, estamos
compelidos aperguntar: De onde vêm as práticas da igreja con
temporânea? A resposta é perturbadora: Muitas delas foram em
prestadas da cultura pagã. Tal afirmação "dá curtos-circuitos" nas
mentes de muitos cristãos quando a ouvem. Mas esse é um fato
imutável, histórico, como este livro irá demonstrar.
Então argumentamos que em bases teológicas, históricas e
pragmáticas, aigreja doprimeiro século representa melhor o sonho
de Deus... a comunidade amada que Ele tem intenções de criar e
recriar em cada capítulo da história humana. Aigreja do primeiro
século nos ensina como avida de Deus pode ser expressa quando
um grupo de pessoas começa aviver porisso junto.
Além do mais, minha própria experiência em trabalhar em
igrejas orgânicas confirma esse veredicto. (Uma igreja orgânica é
simplesmente uma igreja nascida de uma vida espiritual ao invés
de ter sido construída porinstituições humanas e mantida unida
por programas religiosos. Igrejas orgânicas são caracterizadas pela
direção do Espírito, encontros abertos para participação elide
rança não-hierárquica. Este éum contraste rígido para uma igreja
dirigida por um clero eliderada por uma instituição.) Minha ex
periência nos Estados Unidos ealém-mar éque|quando um grupo
de cristãos começa aseguir avida do Senhor quenabitano coração
de todos, as mesmas características sobressalentes que marcaram a
igreja do primeiro século começarão aemergir naturalmente^
Isso acontece porque a igreja é, na realidade, um organís-
jnq. Sendo assim, tem_UÍiA que irá produzir sempre essas carac
terísticas sefor permitido que cresçam de maneira natural. Com
essa condição, igrejas orgânicas terão diferenças, dependendo
das culturas nas quais estão funcionando. Mas se a igreja está
seguindo avida de Deus que nela habita, não irá produzir, nunca,
aquelas práticas que não fazem parte das Escrituras, as quais este
livro se refere.^ Tais praticas são elementos estrangeiros que o

6Para uma discussão mais profunda deste princípio, veja meus artigos 'The
Kingdom, the Church, The Culture" ("O Reino, a Igreja, aCultura").
Prefácio por FrankViola 29

povo de Deus tomou de seus vizinhos pagãos, há muito tempo,


no quarto século. Eles as abraçaram, batizaram eas chamaram de
"cristãs". Essa é acausa pela qual aigreja está no estado em que
está hoje, enganada por divisões sem fim, lutas por poder, passi
vidade, e falta de transformação no meio dopovo de Deus.
Em resumo, este livro é dedicado à exposição das tradi
ções que foram implementadas como sendo da vontade de Deus
para Sua igreja. Nossa razão para escrever ésimples: Buscamos
remover muitos fragmentos, para que possamos dar espaço para
o Senhor Jesus Cristo ser a cabeça funcional da Sua igreja, de
forma completa.
Estamos também propondo algo estremecedor: que aigre
ja, em sua forma contemporânea einstitucional, não venha ater
nem direitos bíblicos nem históricos para funcionar como tem
funcionado. Essa proposta, claro, énossa convicção baseada na
evidência histórica que apresentaremos neste livro. Você équem
deve decidir seesta proposta éválida ou não.
Esse não é um trabalho acadêmico, mas é absolutamen
te profundo. Um tratamento meticuloso das origens de nossa
igreja contemporânea daria vários volumes. Mas seria lido por
poucas pessoas. Embora este seja um único volume, inclui uma
boa parte da história. Ainda que este livro não venha perseguir
cada informação histórica. Pretende focalizar especialmente
aorigem das práticas centrais que definem o objetivo final do
Cristianismo hoje. ^
Por causa das raízes das nossas práticas da Igreja contem
porânea serem tão importantes para entender, esperamos que
todos oscristãos letrados possam lereste trabalho. ®

7Este livro foca nas práticas Cristãs Protestantes. Eo seu principal alvo são
as denominações do Protestantismo chamadas Baixa igreja , mais do que
as chamadas "Alta igreja", como a Anglicana, Episcopal, e algumas classes
da Luterana. Por Alta igreja, me refiro às igrejas que enfatizam elementos
católicos sacerdotais, sacramentais e htúrgicos do Cristianismo ortodoxo.
8Assim como ofilósofo inglês Francis Bacon uma vez disse: "Não são os traba
lhos de Santo Agostinho ou de Santo Ambrósio que farão um divino tão sábio
assim como ahistória eclesiástica tem lido a respeito eobservado a fundo".
30 Cristianismo Pagão?

Consequentemente escolhemos não aplicar linguagem


técnica, mas sim utilizar o inglês comum.
Junto aisso, rodapés contendo detalhes efontes aparecem
por todos os capítulos.'
Cristãos reflexivos que queiram verificar nossos textos e
tenham interesse em uma compreensão mais profunda dos as
suntos tratados deverão ler os rodapés. Aqueles que não se pre
ocupam muito com os detalhes devem ignorá-los. Os rodapés,
ocasionalmente, qualificam ouesclarecem partes difíceis de se
rem entendidas.
Por último, estou satisfeito por ter trabalhado com George
Barna nesta edição revisada. Ahabilidade incomum de George
parapesquisas de leituratornou o trabalho ainda mais sólido.
Resumindo, este livro demonstra mais adiante uma disputa
do que foi deixado por aqueles que não fazem mais parte da igre
ja institucional para tornarem-se parte de uma igreja orgânica
que tem um direito histórico para existir —sendo que ahistória
demonstra que muitas práticas da igreja institucional não foram
enraizadas nas Escrituras.

GAINESVILLE, FLÓRIDA
JUNHO DE 2007

9Note que quando mencionei os pais da igreja, elegi citar, ao máximo possível,
seus trabalhos originais. Nos casos em que não cito seus trabalhos originais,
citei Early Christian Speak, 3rd ed., por Everette Ferguson (Abilene, TX:ACU
Press, 1999), que éuma compilação etradução de seus escritos originais.
Capítulo 1

Estamos realmente fazendo


conforme o Livro?

M vidanão-examinada nãovale a penaservivida".


— SÓCRATES

ffy^J^ZEMOS TUDO de acordo com aPalavra de Deus! O


NovoTestamento é nosso guia de fé e prática! Vive
mos... morremos... pelo Livro!"
Essas foram as palavras que vociferaram da boca do Pastor
Farley quando pregou o sermão no domingo de manhã. Win-
chester Spudchecker, um membro da igreja do Pastor Farley,
já as ouviu por dezenas de vezes. Mas desta vez foi diferente.
Vestido em seu ternoazul, congelado no banco de trás com sua
esposa, Trudy, Winchester fitou os olhos no teto, enquanto o
Pastor Farley continuou falando sobre "fazer tudo conforme o
Livro sagrado".
Uma hora antes de o Pastor Farley iniciar seu sermão, Win
chester havia tido uma briga enfurecida com Trudy. Essa era uma
ocorrência comum nas vezes em que Winchester, Trudy e suas
três filhas, Felicia, Gertrude e Zanobia se aprontavam para ir à
igreja no domingo de manhã.
Sua mente começou a repetir o acontecimento...
"Truuudyy! Por que as meninas ainda não estão prontas? Es
tamos sempre atrasados! Por que você não consegue deixar tudo
preparado a tempo pelo menos uma vez?" Winchester gritou
assim que olhou de relance, ansioso, no relógio.
32 Cristianismo Pagão?

Aresposta de Trudy era típica. "Se você pensasse alguma vez


em me ajudar, isto não aconteceria toda vez! Por que você não
começa a medar umaforça aqui em casa?" A discussão ia de um
lado para ooutro até que inchester virou para as crianças: "Za-
nobia Spudchecker!... por que você não consegue respeitar seus
pais eficar pronta atempo?... Felicia, quantas vezes tenho que
lhe rnandar desligar seu Playstation antes das nove da manhã?"
Ouvindo o tumulto à suavolta, Gertrude desataa chorar.
Vestindo sua melhor roupa de domingo, afamília Spudche
cker finalmente se dirige àigreja em velocidade arriscada. (Win-
chester odiava estar atrasado e havia recebido três multas de
velocidade no ano anterior —todas foram entregues aele em
manhãs de domingo!)
A medida que corriam até o templo da igreja, o silêncio no
carro era ensurdecedor. W^inchester estava furioso. Trudy estava
de mau humor. Com as cabeças abaixadas, as três filhas Spudche
cker estavam tentando preparar suas mentes para algo que elas
odiavam... outra hora longa de escola bíblica!
Enquanto encostavam no estacionamento da igreja, Win-
chester eTrudy deixaram ocarro graciosamente, com largos sor
risos. Eles seguraram-se pelos braços e cumprimentaram seus
companheiros membros da igreja, rindo e fingindo que tudo
estava bem. Felicia, Gertrude eZanobia seguiram seus pais com
os queixos para cima.
Essas foram as lembranças frescas, porém dolorosas que vie
ram amente de Winchester naquela manhã de domingo enquan
to o Pastor Farleycontinuava seu sermão. Ressentido em auto-
condenação, Winchester começa aperguntar asi mesmo algumas
questões de pesquisa :Pot que estou vestido upropTÍadciTnente e
coYYi cuTU de santo como um hom cristão quando a^i como umpuro
gentio uma hora atras... imagino quantas outrasfamílias tiveram a
mesma experiência lastimável nesta manhã?Ainda assim estamos
todosperfumados earrumadosparaDeus.
Winchester estava um pouco chocado com esses pensamentos.
Tais questões não haviam ainda entrado emsua consciência antes.
Enquanto dava uma olhada para ver aesposa do Pastor Farley
e suas crianças sentadas, comcara desantas earrumadas no banco
Estamos Realmente Fazendo Conforme o Livro? 33

dafrente, Winchester meditou consigo mesmo: Será que oPastor


Farley gritou com sua esposa eseusfilhos nesta manhã? Hmmm...
A mente de Winchester continuou a correr nessa direção, e
assim assistiu o Pastor Farley batendo no púlpito com ênfase
e levantando sua Bíblia com sua mão direita. "Nós da Primei
ra Igreja Comunidade do Novo Testamento da Bíblia fazemos
tudo de acordo com a Bíblia! Tudo! Esta e a Palavra de Deus, e
não podemos desviar dela... nem mesmo por um milímetro!"
De repente, Winchester teve outro novo pensamento: Não me
recordo de ter lido em algum lugar na Bíblia de que cristãos devem
vir bem arrumadospara a igreja. Isso esta de acordo com oLivro?
Esse único pensamento desencadeou um jorro impetuoso de
questões cabeludas. Enquanto grupos de pessoas congeladas e
sentadas nos bancos enchiam seu horizonte, Winchester conti
nuou aponderar novas questões parecidas. Questões que não se
espera deum cristão. Questões comoestas:
Nestes bancosdesconfortáveis,pessoas, olhando desde ofundo de
dozefilas de cabeças, durante quarenta ecinco minutos, estãofazen
do as coisas deacordo com oLivro? Porquegastamos tanto dinheiro
mantendo esteprédio sendo que vimos aqui duas vezes por semana,
eficamos porpoucas horas? Por que metade da congregação não esta
bem acordada enquanto oPastorFarleyprega?Porque minhasfilhas
odeiam a escola bíblica?Por que passamos por este ritualprevisível
einspirado em bocejos todos os domingos pela manhã?Por que vou
á igreja sendo que isso me deixa bastante entediado enão acrescenta
nada em minha vida espiritual?Porque visto estagravata desconfor
tável todos os domingos de manhãqunndo meparece que tudo oque
elafaz écortara circulação do sangue até océrebro?
Wnchester se sentiu sujo einjurioso ao perguntar tais coisas.
Ainda que algo estivesse acontecendo dentro dele que ocompelia
a duvidar de toda a sua experiência na igreja. Esses pensamentos
estiveram dormentes na subconsciência de Winchester por anos.
Interessantemente, as questões que Winchester tinha na
quele dia eram questões que nunca entram na consciência enos
pensamentos da maioria dos cristãos. Embora alúcida realidade
fosse que os olhos de Winchester estavam sendo abertos.
Tão gritante como isso possa parecer aos seus ouvidos, quase
tudo que é feito em nossas igrejas contemporâneas não tem ne-
34 Cristianismo Pagâo?

nhuma base na Bíblia. Enquanto pastores pregam de seus púlpi


tos sobre serem "Bíblicos'' eseguirem "apura Palavra de Deus",
suas próprias palavras os traem. Averdade éque pouquíssimo do
que éobservado hoje nas descrições do Cristianismo contempo
râneo tem algo da igreja do primeiroséculo.

PERGUNTAS QUE NÃO IMAGINAMOS FAZER

Sócrates (470-399 a.C.)^ éconsiderado opai da filosofia por


alguns historiadores. Como nasceu e cresceu em Atenas, seu
costume era andar pela cidade incessantemente, fazendo per
guntas eanalisando as visões populares deseudia. Sócrates acre
ditava que averdade éencontrada através de extensos diálogos
sobre um assunto ede forma incessante em questioná-lo. Este
método é conhecido como dialética ou "método de Sócrates".
Ele pensava livremente sobre assuntos pelos quais seus compa
nheiros atenienses não sentiam abertura para discutir.
O hábito de Sócrates de atacar as pessoas com questões mi
nuciosas eassim forçá-los aparticipar de diálogos críticos sobre
as tradições aceitas, no fim das contas, olevou àmorte. Seu ques
tionamento contínuo sobre as tradições rigidamente mantidas
provocou os líderes de Atenas afim de acusá-lo de "corromper a
juventude". Por isso, levaram Sócrates àmorte. Uma mensagem
clara foi enviada aos seus companheiros atenienses: Todos que
questionarem os costumes estabelecidos terão o mesmo fim!^

1Note que aprimeira menção às figuras históricas (especialmente àquelas


que tiveram um grande impacto no desenvolvimento da igreja), de forma
geral, incluímos as datas de seus nascimentos e falecimentos. Você pode
também consultar o apêndice "Personagens-chave na História da Igreja"
na página 277 para essas datas e um breve resumo da influência desses
indivíduos.
2 Para o tratamento conciso da vida e do ensinamento de Sócrates, veja
a obra Sócrates to Sartre (De Sócrates a Sartre), de Samuel Enoch Stumpf
(NewYork: McGraw-Hill,1993), 29-45
Estamos Realmente Fazendo Conforme o Livro? 35

Sócrates não foi o único provocador a colher esta retaliação


severa para sua não-conformidade: Isaías foi serrado ao meio,
João Batista foi decapitado eJesus foi crucificado. Sem mencio
nar os milhares de cristãos que tem sido torturados emartiriza-
dos através dos séculos pela igreja institucional porque ousaram
desafiar seus ensinamentos. ^
Como cristãos, somos ensinados pelos nossos líderes aacredi
tarem certas idéias eanos comportar de certa forma. Somos tam
bém encorajados aler nossas Bíblias. Mas estamos condicionados
aler aBíblia com as lentes manipuladas anós, pela tradição cristã à
qual pertencemos. Somos ensinados aobedecer nossa denomina
ção (ou movimento) enunca desafiar oque ensinam.
(Neste momento, todos os corações revoltosos estão aplau
dindo e estão maquinando para influenciar com os parágrafos
acima afim de enfraquecer a devastação em suas igrejas. Se este
évocê, querido de coração rebelde, você perdeu nosso ponto de
vistapor uma distância considerável. Não estamos dando suporte
avocê. Nossoconselho: ouvoce sai desuaigreja quietinho, recu
sando-se acausar divisões, oufica empaz emrelação aisso. Haum
vasto abismo entre rebelião e tomar uma posição pela verdade.)
Se a verdade for dita, nós cristãos nunca pareceremos per
guntar por que fazemos oque fazemos. Ao invés disso, alegre
mente levamos adiante nossas tradições religiosas sem pergun
tar de onde vieram. A maioria dos cristãos que alegam preservar
aidentidade da Palavra de Deus nunca buscou ver seo que fazem
todo domingo tem algum apoio nas Escrituras. Como sabemos
disto? Porque se o tivessem feito, isso os levaria ater algumas
conclusões bem perturbadoras que, pela consciência, os forçaria
a nunca abandonar o queestão fazendo.
De forma impressionante, opensamento eapraticadaigrçjacon
temporânea foram influenciados muito mais pelos acontecimentos
históricospós-bíblicos do quepelosimperativos eexemplos doNovo
Testamento. Ainda assim, amaioria dos cristãos não está ciente dessa

3 Ken Connolly, The Indestructible Book (O Livro Indestrutivo) Grand


Rapids, Baker Books, 1996); Foxe's Book of Matyers (Old Tappan, NJ:
Spire Booksm 1968).
36 Cristianismo Pagão?

influência. Nem estão prevenidos de que foi criada uma leva de tra
dições** apreciadas, calcifícadas e humanamente desenvolvidas —as
quais repetidamente estão dissimuladas para nós como "cristãs".^

UM CONVITE QUE NOS INTIMÍDA

Convidamos você agora a andar conosco por um caminho


ainda inexplorado. Euma jornada assustadora na qual você será
forçado a fazer perguntas que provavelmente nunca entraram
nos seus pensamentos e na sua consciência. Questões árduas.
Questões torturantes. Até mesmo questões alarmantes. Evocê
será diretamente enfrentado com as respostas perturbadoras.
Essas respostas irão ainda levar você face aface para algumas das
verdades mais ricas que um cristão pode descobrir.
A medida que você ler as páginas seguintes, você ficará sur
preso ao descobrir que uma grande parte do que os cristãos
fazem no domingo de manhã não vieram de Jesus Cristo, dos
Apóstolos ou das Escrituras. Não vieram também do Judaísmo.
Depois que os ronianos destruíram Jerusalém no ano 70 d.C., o
Cristianismo judaico declinou em número epoder. O Cristia
nismo gentio dominou, eanova fé começou aabsorver os rituais
eafilosofia greco-romana. O Cristianismo judaico sobreviveu
pormais cinco séculos num pequeno grupo de cristãos siríacos
chamado Ehionitas^ mas sua influência não foi muito expandi
da. De acordo com Shirley J. Case: "Não somente o ambiente
social do movimento cristão, mas principalmente odos gentios

4Edwin Hatch, The Influence ofGreek Ideas and Usages upon the Chris-
tian Church (A Influencia das idéias Gregas eseus uso nas Igrejas Cristãs)
(Peabody, MA: Hendrickson, 1895),!8. Hatch traça os efeitos prejudiciais
da cultura grega sobre aigreja, aqual foi mais influenciada por essa cultura
do que a suaprópria.
5Ofilósofo cristão Soren Kierkegaard (1813-1855) disse que oCristianismo
moderno é essencialmente um imitador. Veja a obra "Ataque à Cristanda-
de" de Soren Kierkegaard, Antologia de Kierkegaard, ed. Robert Bretall
(Princeton, NJ: Princeton University Press, 1946), 59 ff. 150 ff., 209 ff.
Estamos Realmente Fazendo Conforme o Livro? 37

do final do primeiro século, não tendo quase nenhuma união


próxima de contato social com os cristãos judeus da Palestina...
no ano 100, o Cristianismo transformou-se em um movimento
religioso e principal dos gentios... vivendo juntos em um am
biente social comum de gentios."^
De forma surpreendente, muito do que fazemos para a igre
ja" foi tirado diretamente da cultura pagã no período pós-apos-
tólico. (Lendas contam que o último apóstolo sobrevivente,
João, morreu por volta do ano 100 d.C.) De acordo com Paul F.
Bradshaw, o Cristianismo do século 4"absorveu e'cristianizou'
idéias epráticas religiosas pagãs vendo oCristianismo como uma
concretização para oque aquelas religiões tinham obscuramen
te indicado."'' Enquanto hoje freqüentemente usamos apalavra
pagão para descrever aqueles que não reivindicam nenhuma re
ligião seja qual for, para os cristãos mais novos, os pagãos eram
aqueles politeístas que seguiam os deuses do Império Roma
no. O Paganismo dominou o Império Romano até o século 4,
e muitos de seus elementos foram absorvidos pelos cristãos na
primeira metade do primeiro milênio, particularmente durante
as eras Constantina e pós Constantina (324 até 600).^Outros
dois períodos significantes de onde muitas das nossas práticas
atuais da igreja tiveram origem foi aera da Reforma Protestante
(século 16) eaera Renascentista (século 18 e 19).

6(CésareCristo), (As Origens Sociais do Cristianismo). / E. Glenn Hinson diz:


"Desde oprimeiro século até agora, onúmero de gentios tem crescido mais do
que o de judeus nos encontros cristãos. Importaram de forma sutil as idéias,
atitudes ecostumes da cultura grega eromana" (Adorando como pagãos?).
7 (A Busca pelas Origens daAdoração Cristã)
8Otermo pagão foi usado por apologistas cristãos do primeiro século para
grupos não-cristãos dentro de um consenso conveniente. Em sua raiz, um
"pagão" éum habitante de um país, de uma pequena província ou da área ru
ral. Por causa do Cristianismo ter se espalhado primeiramente nas cidades,
os caipiras, ou pagãos, eram considerados como aqueles que acreditavam
em deuses de ouro. Veja a obra de Joan E. Taylor, (Cristãos e os Lugares
Santos, o Mitodas Origens Judaica-Cristãs).
38 Cristianismo Pagão?

Do segundo aodécimo capítulo, emcada um,você verá uma


prática tradicional eaceita pela igreja. Cada capítulo conta ahis
tória de onde essas práticas vieram. Mas mais importante do que
isso, explica como essas práticas reprimem aliderança de Jesus
Cristo eatrasam ofuncionamento de Seu Corpo.
Atenção: se voce não esta desejoso de ter seu Cristianismo
seriamente examinado, não leia alem desta página. Doe este livro
com generosidade, imediatamente! Poupe asi mesmo do pro
blema de colocar sua vida cristã de cabeça para baixo.
De qualquer forma, se você escolher "tomar apílula verme
lha evir p3.ra onde vai atoca do coelho*''... se você quer apren
der averdadeira história de onde suas práticas cristãs vêm... se
você está disposto ater uma das cortinas da igreja contemporâ
nea aberta e suas pressuposições tradicionais desafiadas de for
ma cruel... então você achará este trabalho perturbador, esclare
cedor, e possivelmente transformador de vidas.
Por outro lado, se você é um cristão da igreja institucional
que leva o Novo Testamento asério, o que você está para ler
pode levá-lo a uma crise de consciência, pois será confrontado
por um fato histórico imutável.
Sob outro ponto de vista, se você éuma das pessoas que se reú
ne com outros cristãos fora do seio do Cristianismo institucional,
você irá descobrir uma vez mais que não somente aBíblia está do
seu lado —mas também ahistória permanece com você.

9 Aidéia da pílula vermelha vem do filme provocante e intrigante Ma-


trix. No filme, Morfeu dá a Neo a chance entre viver em um mundo de
fantasias enganador ou entender arealidade. Suas palavras são aplicáveis
ao assunto em questão:" Depois disso, não tem volta. Você toma a pílula
azul, a história acaba, você acorda em sua cama eacredita no que quiser
acreditar. Voce toma a pílula vermelha... e mostro avocê como pode ser
funda atoca do coelho." Esperamos que todo opovo de Deus se atreva a
tomar a pílula vermelha!
Estamos Realmente Fazendo Conforme o Livro? 39

UM MERGULHO PROFUNDO

1. Não vejo como as confusõessem sentido dafamília Spudche-


cker antes deir à igreja tenha algo a vercom a igreja em si
—exceto ofrustrado Winchester esua hipocrisia sobre tudo
que aconteceu em sua igreja. Por que você ahriu olivro com
essa estória^
Você tem razão —os problemas da manhã de domingo de
Winchester foram o que o colocaram no estado de espírito para
questionar as práticas da igreja que ele normalmente adotava,
sem ao menos pensar sobre isso. Aestória foi simplesmente uma
forma bem-humorada de ilustrar como muitos cristãos entram
no ritmo das manhãs de domingo sem considerar por que estão
fazendo o queestão fazendo.
2 Enquanto você diz que aprática da igreja contemporâneafoi
influenciada muito mais poracontecimentos históricos pós-
híhlicos do queporprincípios do Novo Testamento^ não éver
dade que existem muitas formas específicas nos Evangelhos^
em Atos, ou nas cartas de Paulo sobrepráticas de igrejaf Qual
livro da Bíblia você indicaria, que contém oquefoi delineado
para aatitude dos cristãos quando se reúnempara cultosf
O Novo Testamento, naverdade, inclui vários detalhes sobre
como os primeiros cristãos se reuniam. Por exemplo, sabemos
que a igreja primitiva reunia-se em casas para seus encontros
regulares (Atos 20.20; Romanos 16.3; ICorintios 16.19). Eles
tomavam a Ceia do Senhor como uma refeição completa (ICo-
ríntios 11.21-34). As reuniões das suas igrejas eram abertas para
todos participarem (ICoríntios14.26; Hebreus 10.24-25). Dons
espirituais eram exercidos por cada membro (ICoríntios 12-14).
Viam asi mesmos genuinamente como uma família eagindo de
acordo (Gálatas 6.10; iTimoteo 5.1-2; Romanos 12.5; Efesios
4.15; Romanos 12.13; ICoríntios 12.25-26; 2Coríntios 8.12-15).
Eles tinham uma quantidade grande de idosos para supervisio
naracomunidade (Atos 20.17,28-29; iTimóteo 1.5-7).Eram es
tabelecidos eajudados portrabalhadores apostólicos itinerantes
(Atos 13-21; todas as cartas apostólicas). Erain totalmente uni
dos e não denominavam asimesmos emorganizações separadas
40 Cristianismo Pagâo?

na mesma cidade (Atos 8.1,13.1,18.22; Romanos 16.1; ITessa-


lonicenses 1.1). Não tinham títulos honrados (Mateus 23.8-12).
Não seorganizavam hierarquicamente (Mateus 20.25-28; Lucas
22.25-26).
Oferecer uma base bíblica completa para essas práticas e
explicar por que elas deveriam ser imitadas hoje, está além do
alcance deste livro. Um livro que faz isso éPaul '5 Idea ofCom-
munity (A idéia de Paulo sobre Comunidade) porRobert Banks
(Peabody,MA: Hendrickson, 1994). Eu (Frank) também trato
desse assunto de forma abrangente no livro Reimagining Church
(Imaginando aIgreja Novamente) (Colorado Springs: David C.
Cook) que serálançado no verão de 2008.
Capítulo 2

AGonstrução da Igreja: Herdando o


Complexo Arquitetônico

''Noprocesso de substituição das religiões antigas^


o Cristianismo setomou uma religião.
—ALEXANDRE SCHMEMANN,
Padre Ortodoxodo LesteAmericano, Professor e Escritor

"Cfue os cristãos, na era apostólica, construíram casas especiais


para cultos estáfora de questão... Assim como oSalvador
do mundo nasceu em um estâbulo esubiu aos ceus deuma
montanha, então seus apóstolos esucessores até oterceiro século,
pregavam nas ruas, nos mercados, nas montanhas, nos barcos,
nos sepulcros, calhas edesertos, enas casas dos convertidos.
Mas quantas milhares de igrejas caras ecapelas tem sido então
construídas eestão, constantemente, em todas aspartes do mundo
para ahonra do Redentor crucificado, quem em seus dias de
humilhação não tinha nenhum lugar onde encostar sua cabeça!
— PHILIPSCHAFF,
historiador eteólogo da Igreja Americana do século 19

^y^uiTOS CRISTÃOS CONTEMPORÂNEOS têm um caso de


C/rl amor com os tijolos ecom ocimento. O complexo
arquitetônico está tão impregnado em nosso pensamento que se
um grupo de crentes começar ase encontrar, seus primeiros pen
samentos serão voltados emadquirir um prédio. Por que como
42 Cristianismo Pagão?

pode um grupo de cristãos, afirmar de forma séria que são uma


igreja sem ter um prédio? (E assim opensamento continua).
Oprédio da "igreja" está tão conectado com aidéia de igreja
que inconscientemente os consideramos iguais. Somente ouça
o vocabulário do cristão comum hoje:
"Uau, querido, você viu que igreja linda aquela pela qual pas
samos?"
"Meu Deus! Esta é amaior igreja que já vi! Imagina o custo
de energia paraser mantida?"
"Nossaigreja é tão pequena. Estou desenvolvendo claustro-
fobia. Precisamos aumentar o balcão."
"A igreja está fria hoje; estou congelando meu coque aqui!"
"Temos ido à igreja todo domingo neste ano, fora o do
mingo em que a TiaMildred derrubou o forno microondas no
dedo do pé."
Ou que tal o vocabulário do pastorcomum:
"Não émaravilhoso estarmos na casa de Deus hoje?"
"Devemos mostrar reverência quando virmos ao santuário
do Senhor."
Ou que tal amãe que conta aseu filho feliz (em tons suaves):
"tire um sorriso deste rosto; você está na igreja agora! Nós nos
comportamos quando estamos na casa de Deus!"
Colocando isto de forma rígida, nenhum desses pensamen
tos tem algo a ver com o Cristianismo do Novo Testamento.
Particularmente, eles refletem opensamento de outras religiões
—antes de qualquer coisa, do Judaísmo edo Paganismo.

TEMPLOS, PADRES ESACRIFÍCIOS

O Judaísmo antigo estava centrado em três elementos: o


Templo, o sacerdócio, eo sacrifício. Quando Jesus veio, acabou
com os tres, completando-os em Si mesmo. Ele éoTemplo que
incorpora uma nova casa feita de pedras vivas — "sem mãos".
A Construção daIgreja 43

Ele éoSacerdote que estabeleceu um novo sacerdócio. EéoSa


crifício perfeito econsumado.^ Consequentemente, oTemplo,
o sacerdócio profissional, e o sacrifício do Judaísmo morreram
com avinda de Jesus Cristo.^ Cristo éo cumprimento eareali
zação de tudo isto.^
No paganismo Greco-Romano, esses tres elementos tam
bém estavam presentes: Pagãos tinham seus templos, seus sacer
dotes, eseus sacrifícios.'^ Foi somente oCristianismo que aboliu

1Para referências sobre Cristo noTemplo, veja João 1.14, onde apalavra grega
usada para habitação significa literalmente tabernáculo eJoão 2.19-21. Para
referências adicionais sobre Cristo como uma casa nova feita de pedras vivas,
veja Marcos 14.58; Atos 7.48; 2Coríntios 5.1, 6.16; Efésios 2.21-22; Hebreus
3.6-9, 9.11, 24; iTimóteo 3.15. Para referência sobre Cristo como sacerdote,
veja Hebreus 4.14,5.5-6,10; e8.1.0 novo sacerdócio émencionado em IPedro
2.9 eApocalipse 1.6. Textos das Escrituras que apontam Cristo como osacrifí
cio final incluem Hebreus 7.27; 9.14,25-28; 10.12; iPedro 3.18. Hebreus desta
ca, de forma contínua, que Jesus ofereceu asi mesmo "de uma vez por todas",
enfatizando o fato de que Ele não precisava ser sacrificado novamente.
2 A mensagem de Estevão em Atos 7indica que "o templo era simples
mente uma casa feita por mãos humanas criado por Salomão, não tinha ne
nhuma ligação com atenda de reuniões que Moisés havia comandado para
estabelecer um padrão e isso havia sido seguido até os tempos de Davi .
Veja From Temple to Meeting House: the Phenomenology and Theology of
Places ofWorship (Do Templo ao Local de Reuniões: a Fenomenologia ea
Teologia dos Lugares de Culto), de Harold WTurner (The Hague: Mouton
Publishers, 1979) 116-117. Veja também Marcos 14.58, onde Jesus diz que
oTemplo de Salomão (e Herodes) era feito "por mãos ,enquanto oTemplo
que Ele construiria seria feito "sem mãos". Estevão usa as mesmas palavras
em Atos 7.48. Em outras palavras. Deus não habita em templos "feitos por
mãos humanas". Nosso PaiCelestial não é um moradorde templos!
3Veja Colossenses 2.16-17. Otema central do livro de Hebreus éque Cris
to veio para preencher as sombras da lei Judaica. Todos os escritores do
Novo Testamento afirmam que Deus não requer qualquer sacrifício santo
nem um sacerdote mediador. Todas as coisas foram consumadas em Jesus
— o sacrifício e o sacerdote mediador.
4 Ernest H. Short dedica um capítulo inteiro à arquitetura dos templos gre
gos no livro History ofReligiousArchiteture ("História da Arquitetura Religio-
44 Cristianismo Pagão?

todos esses elementos.^ Pode-se dizer ao certo que o Cristia


nismo foi a primeira religião não baseada na existência de um
templo. Na mente dos cristãos primitivos, opovo —não aarqui
tetura —constituía um espaço sagrado. Os cristãos primitivos
entendiam que eles por si somente —em conjunto —eram o
templo e a casade Deus.^
Visivelmente, em nenhum lugar noNovo Testamento encontra
mos os termos igreja (ekJdesia), templo, ou casa de Deus usada para se
referir auma construção. Para os ouvidos de um cristão do primeiro
século, chamar uma ekklesia (igreja) de construção seria como cha
mar suaesposade condomínioou suamãede arranha-céus.^
O primeiro uso registrado da palavra ekklesia para se referir
ao Cristianismo foi escrito e registrado por volta do ano 190
d.C. por Clemente de Alexandria (150-215)Clemente foi tam
bém oprimeiro a usar afrase "ir àigreja" —o qual teria sido

sa") (London: Philip Allan &Co., 1936), no cap. 2, David Norrington diz:
as construções religiosas eram, além de tudo, uma parte integral da religião
greco-romana" em seu livro To Preach orNotto Preach? The Church's Urgent
Question (Pregar ou não Pregar? A Questão Cristã Urgente) (Carlisle,UK:
Paternoster Press, 1996) 27. Pagãos também tinham locais "santos". (Os
Fundadores do Mundo Ocidental: AHistória da Grécia ede Roma). Para saber
mais sobre rituais pagãos, veja Pagans and Christians (Pagãos e Cristãos), de
Robin Lane Fox (New YorkrAlfred Knopf, 1987) 39, 41-43, 71-76,206.
5 John O. Gooch, "Did you know? Little-Known or Remarkable Facts
about Worship in the Early Church" (Você sabia? Fatos sobre cultos na
Igreja Primitiva que são pouco conhecidos ou surpreendentes), Christian
History 12,no. 1 (1993): 3.
6 Veja iCoríntios 3.16; Gálatas 6.10; Efésios 2.20-22; Hebreus 3.5-6; ITi-
móteo 3.15; 1Pedro 2.5, 4.7. Todas essas passagens se referem ao povo de
Deus, não a um templo. Arthur Wallis escreveu: " No Antigo Testamen
to, Deus tinha um santuário para Seu povo, no Novo, Deus tem Seu povo
como santuário", The Radical Christian (O Cristão Radical) (Columbia,
MO: Cityhill Publishing, 1987), 83.
7Deacordo com o Novo Testamento, aigreja éanoiva de Cristo, amulher mais
bonita do mundo: João 3.29; 2Coríntios 11.2, Efésios 5.25-32; Apocalipse 21.9.
8 Clemente de Alexandria, The Instrutor, Livro 3,cap.ll.
AConstrução daIgreja 45

um pensamento estrangeiro para os crentes do primeiro século.'


(Vocênão pode iraum lugar que você é!) Por toda aparte no
Novo Testamento, ekklesia sempre se referiu a uma assembléia
de pessoas, não um lugar. Ekklesia, em cada uma de suas 114
aparições no Novo Testamento, refere-se auma assembléia de
pessoas. (A palavra inglesa church —"igreja" em português é
derivada da palavra ^xt^2ikuriakon que significa "pertencente ao
Senhor". No momento mais apropriado, o significado Casa de
Deus" foi empregado, referindo-se aum prédio.)
Mesmo assim, a referência de Clemente de "ir à igreja não
éuma referência que se preocupa com um prédio especial para
cultos. Refere-se principalmente a uma casa particular que os
cristãos do século II usavam para suas reuniões." Cristãos não
ergueram prédios especiais para cultos até a era Constantina

9O historiador do séc. 19, Adoif Von Harnack referindo-se aos cristãos dos
séculos 1e 2, disse; "uma coisa é clara —a idéia de um lugar especial para
adoração não tinha surgido ainda. Aidéia cristã de Deus edo divino serviço
não apenas declinou em promover tal lugar, ela a excluiu, na medida em
que as circunstâncias práticas da situação retardaram seu desenvolvimento
{The Mission and Expansion ofChristianity in the First Three Centuries, vol.
2 (New York: G. P. Putnam's Sons, 1908), 86.
10 Robert L. Saucy, The Church in God's Prosam, (Chicago: Moody Publish-
ers, 1972) 11,12,16; A.T. Robertson,A Grammarofthe GreekNew Testament
in the Light ofHistorical Research, (Nashville: Broadman &Hofman, 1934),
174. Quando William Tyndale traduziu o NT, se recusou airzduzir ekklesia
como igreja, traduzindo-a mais corretamente como congregação. Infelizmente,
os tradutores da antiga Versão King James de 1611 (veja explicação dos tradu
tores em "Dos tradutores ao Leitor" na edição de 1611, conforme citação de
Gerald Bay em sua obra "Documents of the English Reformation , publicado
pela Cambridge: James Clarke, 1994, pág 435), preferiram usar apalavra "igre
ja" para traduzir aexpressão "ekklesia" (porque aexpressão congregação era
aterminologia usada pelos Puritanos), termo que passou para todas as versões
de Almeida em português, mas foi corrigido, sempre que necessário, na tra
dução da Bíblia King James Atualizada em português com base nos melhores
manuscritos originais eno Texto Crítico de Nestle-Aland (N. T).
11 Clemente de Alexandria, The Instrutor, Livro 3, cap.ll. Clemente escre
veu: "homens e mulheres devem ir decentemente vestidos à igreja .
46 Cristianismo Pagão?

no século 4. Um estudioso do Novo Testamento, Graydon E


Snyder declara: "Não existe evidência literária nem indicação
arqueológica de que qualquer uma das casas foi transformada
em um prédio de igreja subsistente. Nem existe nenhuma igreja
subsistente que foi construída antes deConstantino." Emoutra
obra, ele diz: "As primeiras igrejas se reuniam em casa de maneira
constante. Ate oano 300, sabemos que não havia nenhum prédio
construído como igreja.*''^
Eles também não possuíam posições eclesiásticas especiais
que eram separadas para servir a Deus. Ao invés disso, cada
crente reconhecia que ele ou ela podia ser um sacerdote pe
rante Deus. Os cristãos primitivos também acabaram com os
sacrifícios. Porque entendiam que o sacrifício final everdadei
ro (Cristo) ja tinha vindo. Os únicos sacrifícios que ofereciam
eram os sacrifícios espirituais de louvor e gratidão (Hebreus
13.15 elPedro 2.5).
Quando o Catolicismo Romano foi desenvolvido do século
4ao século 6, absorveu muitas práticas religiosas tanto do paga
nismo quanto doJudaísmo. Fundaram um sacerdócio profissio
nal. Ergueram construções sagradas.Etransformaram aceia do
Senhor em um sacrifício misterioso.
Seguindo os passos pagãos, o Catolicismo primitivo adotou
as práticas de queimar incenso eter virgens castas (sagradas).
Os protestantes sedesprenderam do uso sacrificial da Ceia do
Senhor, da prática de queimar incensos edas virgens castas. Mas

12 Graydon RSnyder, Ante Pacem: Árchaeological Evidence ofChurch Life


Be/ore Constantine (Mercer University Press/Seedsowers, 1985), 67; Gray
don RSnyder, First Corinthians:AFaith Community Commentary (Macon,
GA: Mercer University Press, 1991), 3.
13 De acordo com Direito Canônico, igreja éum edifício sagrado dedica
do àdivina adoração para ouso de todo crente epara oexercício público da
religião Peter RAnson, Churches: Their Plans and Fumishings, Milwaukee:
Bruce Publishing Co.,1948, p. 3).
14 Pagans and Christians, pp. 71, 207, 27, 347, 355. Fox afirma que "na
moderna cristandade ha mais de 1,6 milhões de adultos jurando virgindade"
(pág. 355). São chamados de freiras e padres.
A Construção daIgreja 47

preservaram as posições sacerdotais (clero), assim como tam


bém os prédios sagrados.

DE IGREJAS NAS CASAS PARA CATEDRAIS SAGRADAS


Os cristãos primitivos acreditavam que Jesus era aabsoluta
presença de Deus. Acreditavam que ocorpo de Cristo, aigreja,
constituía o templo.
Quando o Senhor Jesus estava na terra, fez algumas afir
mações radicalmente negativas quanto ao Templo Judaico.''
Aquele que ficou irado com muitos judeus, anunciava ainda
que se oTemplo fosse destruído, construiria um novo em três
dias! (Veja João 2.19-21). Embora Jesus estivesse se referindo
ao Templo que existia no sentido arquitetural, estava na verda
de falando do Seu corpo. Jesus disse que depois que o templo
fosse destruído, Ele o ressuscitaria em três dias. Estava se refe
rindo ao templo real —aigreja —que ressuscitou no terceiro
dia (Efésios 2.6).
Desde que Jesus foi levantado, se tornou otemplo de Deus.
Em Sua Ressurreição, Cristo se tornou o "Espírito que dá vida
(ICoríntios 15.45 NVI). Além disso, Ele poderia recolher are
sidência dos crentes, fazendo deles Seu Templo, Sua Morada. E
por esta razão que oNovo Testamento sempre reserva apalavra
igreja (ekklesia) para opovo de Deus. Nunca utiliza esta palavra
para se referir auma construção de qualquer espécie.
A atitude deJesus de purificar o Templo não somente mos
trou Sua ira ao desrespeito dos cambistas de dinheiro pelo Tem
plo, que havia sido um retrato da verdadeira casa de Deus, mas
também que "adoração no Templo" do Judaísmo deveria ser
substituída por Ele mesmo.'^ Com avinda de Jesus, Deus, oPai,

15 Estevão também se refere negativamente ao templo. Tanto Jesus como


Estevão foram acusados exatamente pelo mesmo crime falar contra o
templo (Marcos 14.58; Atos 6.13-14).
16 João 2.12-22. Veja Oscar Cullman, Early Christian Worship (London:
SCM Press, 1969), pp. 72-7Ò, 117.
48 Cristianismo Pagão?

não foi mais adorado numa montanha ou templo, mas poderia,


ao invés disso, seradorado em espírito e em verdade.'^
Quando o Cristianismo nasceu, foi aúnica religião no pla
neta que não teve objetos sagrados, pessoas sagradas ou espaços
sagrados.'^ Embora cercados por sinagogas Judaicas etemplos
pagãos, oscristãos primitivos foram o único povo naterra anão
erigir construções sagradas para seus cultos.^' A fé dos cristãos
nascia nas casas, fora dos pátios e das margens da estrada.^°
Durante os primeiros três séculos, os cristãos não tiveram
prédios especiais.^^ Assim como umestudioso afirmou: "O Cris
tianismo que conquistou o Império Romano era essencialmente

17 João 4.23. Os primeiros cristãos do NT acreditavam que a igreja, a co


munidade dos crentes, era o templo. Eaquela adoração não era espacial-
mente localizada nem separada datotalidade davida. Assim emsuas mentes
não havia a idéia de santo lugar". O "santo lugar" dos cristãos é tão oni
presente quanto seu Senhor ascendido! O culto não éalgo que acontece em
um determinado lugar em um certo momento. É um estilo de vida. O culto
acontece em espírito eem verdade dentro do povo de Deus, porque éonde
Deus vive hoje. J.G. Davies, The Secular Use of Church Buildings, (New
York: TheSeabury Press, 1968), 3-4.
18 James D.G. Dunn, "The Responsible Congregation, ICoríntios 14.26-
40," em Charisma eÁgape (Rome: Abbey of St. Paul before the Wall, 1983),
pp. 235-236.
19 ^inucius Felix, um apologista cristão que viveu no século 3 declarou:
"Não temos nem templos nem altares" {The Octavius ofMinucius Felix,
Capítulo 32). Veja também Robert Banks, Pauh Idea ofCommunity (Pea-
body: Hendrickson Publishers, 1994), pp. 8-14, 26-46.
20 Veja Atos 2.46; 8.3; 20.20; Rom. 16.3,5; 1Cor. 16.19; Gol. 4.15; Filemom
L12; 2João 10.Note-se que naquela ocasião os cristãos utilizavam edifícios
jáexistentes para propósitos especiais etemporários. Oalpendre de Salomão
eaescola de Tyrannus são exemplos (Atos 5.12; 19.9). Porém, suas reuniões
normais da igreja eram sempre feitas em uma casa particular.
21 Snyder, Aníe Pacem, 166. John A.T. Robinson escreveu: "nos primeiros
três séculos aigreja não teve quaisquer edifícios..." {The New Reformation,
Philadelphia: The Westminster Press, 1965), p. 89.
AConstrução daIgreja 49

ummovimento centrado emcasas".^^ Alguns afirmaram que isto


acontecera porque aos cristãos não era permitido construir pré
dios especiais. Mas isto não éverdade.^^ Os cristãos escolhiam
se encontrar em casas de maneira consciente.
Conforme as congregações cristãs cresciam em tamanho,
começaram a remodelar suas casas para acomodar o número
crescente de pessoas.^^ Uma das descobertas mais notórias da
arqueologia éacasa de "Doura-Europos na Síria moderna. Este
éo lugar de encontro cristão mais antigo que foi identificado.

22 Obra de Robert eJulia Banks, The Church Comes Home (Peabody: Hen-
drickson Publishers, 1998), pp. 49-50. A casa em Doura Europos foi des
truída em 256 d.C. De acordo com Frank Senn, "os cristãos dos primeiros
séculos evitaram a publicidade dos cultos pagãos. Não tinham quaisquer
santuários, templos, estátuas, ou sacrifícios. Não organizavam nenhum fes
tival público, danças, performances musicais, nem peregrinações. Oritual
central deles envolvia uma refeição de caráter doméstico e uma composição
herdada do judaísmo. Na verdade, os cristãos dos primeiros três séculos
normalmente se encontravam em residências particulares convertidas em
espaços de ajuntamento satisfatório para acomunidade cristã... Isso indica
que o ritual rudimentar da adoração cristã primitiva não deve ser interpre
tado como umsinal de atraso, mas sim como ummodo deenfatizar o cará
ter espiritual da adoração cristã." Chvisticin Liturgy: Católica eEvangelicay
(Minneapolis: Fortress Press, 1997), 53.
23 Alguns argumentam que os cristãos anteriores a Constantino eram po
bres eincapazes de possuir propriedade. Mas isso éfalso. Sob aperseguição
do Imperador Valeriano (253-260), por exemplo, toda propriedade possuí
da pelos cristãos foi confiscada. Veja Philip Schaff, History ofthe Christian
Church (Grand Rapids: Eerdmans, 1910) 2:62. L. Michael White pontua
que os cristãos primitivos tiveram acesso aestratos socioeconômicos mais
elevados. Além disso, o ambiente greco-romano dosséculos 2 e 3 estava to
talmente aberto amuitos grupos que adaptavam edifícios privados para uso
comunal ereligioso Building God's House in the Roman World, (Baltimore.
Johns Hopkins University Press, 1990) 142-143. Veja também Toward a
House Church Theology (Atlanta: NewTestament Restoration Foundation,
1998), 29-42 de Steve Atkerson.
24 Snyder, Ante Pacem, 67. Essas casas reformadas são chamadas de domus
ecclesiae.
50 Cristianismo Pagão?

Era simplesmente uma casa particular que havia sido reformada


para serum local dereuniões cristãs porvolta de232 d.C.^^
Acasa de Doura-Europos era essencialmente uma casa com pa
redes entre dois quartos que foram derrubadas para se tornar uma
sala de estar grande.^^ Com esta modificação, acasa poderiaacomo
dar cerca desetenta pessoas.^'' Casas reformadas como ade Doura-
Europos não poderiam legitimamente ser chamadas de "prédios de
igrejas". Eram casas, simplesmente, que haviam sido redecoradas
para acomodar assembléias grandes.^^ Além disto, essas casas nun
ca foram chamadas de templos, otermo que ambos os pagãos eos
judeus usavam para seus espaços sagrados. Cristãos não haviam co
meçado achamar suas construções de "templo" até oséculo 16.^'

25 Everett Ferguson, Early Chrstian Speak: Faith and Life inée First Three
Centuries, Terceira Ed. (Abiene, TX: A.C.U. Press, 1999). 46, 74. White,
Building God^s Flouse, 16-25.
26 John F. White, Protestant Worship and Church Architeture (New York:
Oxford University Press, 1964), 54-55.
27 "Convertendo uma Casa em uma Igreja", Christian History 12, no. 1
(1993):33.
28 Norrington, To Preach or Not to Preachf , 25. Além dessa reforma de
casas privadas, Alan Kreider revela que "antes do século 3, as congregações
cresciam em número e riqueza. Assim, cristãos que se encontravam em in-
sulae (ilhas), blocos de edifícios com vários andares contendo lojas emora
dias, discretamente começaram aconverter espaços privados em complexos
domésticos reunidos para ajustar necessidades congregacionais. Derruba
vam paredes para unir apartamentos, enquanto criavam espaços variados,
grandes epequenos. Tudo isso foi requerido pela vida de suas crescentes co
munidades" Worship and Evangelism in Pre-Christendom, (Oxford: Alain/
GROW Liturgical Study, 1995), 5.
29 Turner, From Temple to Meeting House, 195. Os renascentistas teóricos
Alberti ePalladio estudaram os templos da Roma antiga ecomeçaram ausar
o termo templo referindo-se ao edifício da igreja cristã. Posteriormente,
Calvino referiu-se aos edifícios cristãos como templos, adicionando-o ao
vocabulário da Reforma (p. 207). Veja também The Secular Use ofChurch
Buildings, 220-222, de Davies, sobre o pensamento que conduziu o uso
cristão do termo "templo" como referência para o edifício da igreja.
A Construção daIgreja 51

ACRIAÇÃO DE ESPAÇOS EOBJETOS SAGRADOS


No final do século 2 e durante o século 3 ocorreu uma mu
dança. Os cristãos começaram a adotar a concepção pagã de
reverência ao morto.O seu foco era honrar os mártires em
memória". Então, começaram a orar pelos santos (orações que
mais tardeforam delegadas a eles) .^'
Os cristãos adquiriram a prática pagã de fazer refeições em
honra ao morto^^. Ambos os funerais e os hinos fúnebres cris
tãos vieram diretamente do paganismo no século 3.^^
Os cristãos do século 3possuíam dois lugares para suas reuni
ões: suas casas e o cemitério.^'* Eles se reuniam no cemitério por
que queriam estar perto dos seus irmãos falecidos.^' Acreditam que
compartilhar uma refeição no cemitério onde estava um mártir era
comocomemorar com ele efazero cultoemsuacompanhia.^^

30Snyder, Pacem, 83,143-144, 167.


31 "Praying to the 'Dead'", Christian History 12, no. 1 (1993):2, 31.
32 Snyder, Ante Pacem, 65; Johannes Quasten, Music and Worship in Pagan
and Christian Antiquity (Washington DC: National Association of Pastoral
Musicians, 1983), 153-154, 168-169.
33 Quasten, Music and Worship, 162-168. Tertuliano (160-225) mostra os
inexoráveis esforços por parte dos cristãos para anular ocostume pagão do
cortejo fúnebre. Contudo, os cristãos sucumbiram a esse costume. Ritos
funerários cristãos copiados de práticas pagãs começam a surgir no sécu
lo 3. Veja ADictionary ofEarly Christian Beliefs, (Peabody: Hendrickson,
1998), 80 de David W Bercot; e Encyclopedia ofEarly Christianity, (New
York: Garland Publishing, 1990), 163 de Everett Ferguson. A oração pelos
mortos parece ter nascido por volta do século 2. Tertuliano nos fala que era
uma prática comum em seus dias. de cor, 4.1; eedições de F. L. Cross e E.
A. Livingstone, The O>ford Dictionary ofthe Christian Church, Terceira
Edição (New York: Oxford University Press, 1997), 456.
ÒASnyAtY, Ante Pacem, 83.
35 Haas, "Where did Christians Worship?", Christian History 12, no. 1
(1993):35; Turner, Frow Templeto MeetingHouse, 168-172.
36 Haas, "Where did Christians Worship?" 35; Josef A. Jungman, The Early
52 Cristianismo Pagão?

Desde que os corpos dos mártires "santos" passaram ahabitar


ali, os lugares onde estavam os túmulos dos cristãos, foram en
tão vistos como "lugares santos". Então, os cristãos começaram
aconstruir pequenos monumentos sobre esses lugares —prin
cipalmente sobre assepulturas dos famosos santos.^^ Construir
um santuário sobre umlocal desepultamento e chamá-lo santo
era também uma prática pagã.^®
Em Roma, os cristãos começaram a decorar as catacumbas
(locais de sepultamento embaixo da terra) com símbolos cris
tãos.^' Então aarte ficou associada aespaços sagrados. Clemente
deAlexandria foi um dos primeiros cristãos a defender as artes
visuais nos cultos. (Interessantemente, a cruz como uma refe
rência artística para a morte de Cristo não pode ser encontrada
antes de Constantino."*® Ocrucifixo, uma representação artística
do Salvador fixada na cruz, apareceu pela primeira vez no século

LiturQ/: To the Time ofGregory the Great (Notre Dame: Notre Dame Press,
1959), 141.
37White, Protestam Worship and Church Architeture, 60. Esses monumen
tos seriam mais tarde transformados em prédios de igreja magníficos.
38 Jungman, Early Liturgy, 178; Turner, From Temple to Meetinv House,
164-167.

39 Schaff, History ofthe Christian Ghurch, 2:292. "O uso de catacum


bas durou cerca de três séculos, desde o final do séc. 2 até o final do
séc. 5 (Snyder, ylníe Pacem, 84). Ao contrário da convicção popular,
não há nenhum fragmento de evidência histórica de que os cristãos
romanos se esconderam nas catacumbas para escapar da perseguição.
Encontravam-se para ficar perto dos santos mortos. Veja "Where did
Christians Worship?" 35, "Early Glimpses", Christian History 12, no.
1 (1993) 30.
40 Snyder, Ante Pacem, 17. "Na arte pré-constantina não há nenhum
Jesus sofrendo ou morrendo. Não há nenhum símbolo de cruz, nem
qualquer coisa equivalente" (p. 56). Philip Schaff diz que após avitória
de Constantino sobre Maxentius em 312 d.C., cruzes foram vistas em
capacetes, fivelas, coroas, etc. (Schaff, History ofthe Christian Church
2: 270).
AConstrução daIgreja 53

O costume de se fazer o "sinal da cruz" com uma das mãos


remonta ao século 2)/^
Por volta do século 2, os cristãos começaram a venerar os
ossos dos santos, considerando-os santos e sagrados. Isso deu
início à coleção de relíquias sagradas em algum momento no
futuro.'*^ Reverência ao morto foi a força mais poderosa de for
mação de comunidades no Império Romano. Agora os cristãos
estavam absorvendo issona suaprópria fé.'*'*
No final do século 2, houve também umamudança em como
a Ceia do Senhor era vista. A Ceia tinha sido transferida deuma
refeição completa para uma cerimônia estilizada chamada Sagra
da Comunhão (para saber mais sobre como essa transição ocor
reu, veja o capítulo 9.) No século 4, ataça e o pão eram vistos
como objetos que produziam um senso de intimidação, medo
e mistério. Como resultado, as igrejas do Leste colocaram um
dossel sobre a mesa do altaronde ficavam a taçae o pão. (No sé
culo 16, grades eram colocadas sobre amesa do altar.^^ As grades

41 S>nyâitr,Ante Pacem^ 165.


42 Schaff, History ofthe Christian Church, 2:269-70.
43 Relíquia é um material relacionado aos restos materiais de um santo após
a morte dele como também qualquer objeto sagrado que entrou em contato
com ocorpo dele. Apalavra "relíquia" vem da palavra latina Teliquere^ que sig
nifica "deixado para trás". Aprimeira evidência da reverência arelíquias surgiu
por volta de 156 d.C. no Martyrium Polycarpi. Nesse documento, as relíquias
de Policarpo são consideradas mais valiosas que pedras preciosas eouro. Veja
Cross and Livingstone, The Oxford Dictionary ofthe Christian Church, 1379);
Michael Collins eMatthew A. Price, The Story ofChristianity (New York: DK
Publishing, 1999), 91; Jungmann, The Early Liturgy, 184-187.
44 Snyder, Ante Pacent, 91; Turner, From Temple to Meeting Housey
168-172.

45 Essa é a mesa onde asagrada comunhão écolocada. O altar-mesa signi


fica o que é ofertado aDeus (o altar) e o que é dado ao homem (a mesa).
White, Protestam Worship and Church Architecture, 40, 42, 63. Altares la
terais não entraram em uso até Gregório o Grande, History of Christian
Church, 3:550.
54 Cristianismo Pagão?

significavam que amesa do altar era um objeto santo aser tocado


somente por pessoas santas —por exemplo, o clero/^)
Então, no século 3, os cristãos não tinham somente espaços
sagrados, como também objetos sagrados (logo iriam desenvol
ver um sacerdócio sagrado.) Em tudo isto, nos séculos 2 e 3, os
cristãos começaram aassimilar apropensão mágica que carac
teriza o pensamento pagão.'^^ Todos esses fatores fizeram com
que oterreno dos cristãos estivesse preparado pelo homem, que
seria responsável pela criação de prédios de igrejas.

CONSTANTINO - PAI DA CONSTRUÇÃO DE IGREJAS


Enquanto o Imperador Constantino (aproximadamente
285-337) é freqüentemente celebrado por haver concedido a
liberdade de culto aos cristãos etambém de expandir seus pri
vilégios, sua história preenche uma página negra na história do
Cristianismo. Os prédios das igrejas começaram com ele.'*® Sua
história é assombrosa.

46 No quarto século, o leigo foi proibido de ir ao altar. Edwin Hatch, The


Growth of Church Institutions (London: Hodder and Stouehton, 1895)
214-215.

47Norman Towar Boggs, The Christian Saga (New York: The Macmillan
Company, 1931), 209.
48 Ilion T. Jones, AHistorical Approach to Evangelical Worship, p. 103;
Schaff, History ofthe ChHstian Chuvch, 3:542. As palavras de introdução de
Schaff dizem: "Depois da cristandade ser reconhecida pelo estado eautori
zada ater propriedades, ela erigiu casas de adoração em todas as partes do
Império Romano. Provavelmente havia mais edifícios desse tipo no século
4do que houve em qualquer período, talvez com exceção do século 19 nos
Estados Unidos...". Norrington mostra que à medida que os bispos dos
séculos 4 e 5 cresciam em riqueza, canalizaram-nas através de um elabo
rado programa de construção de igrejas (Tb Preach or Not to Preachf, 29).
Ferguson escreve: Ate aera Constantino não encontramos edifícios espe
cialmente construídos, primeiro eram simples salões, depois basílicas cons-
tantinas . Antes de Constantino, todas as estruturas usadas para reuniões
AConstrução daIgreja 55

No momentoemqueConstantino entrou emcena, aatmos


fera estava propícia para os cristãos fugirem, numa fase em que
eram menosprezados etinham um status minoritário. Sentiam-
se tão fortemente tentados a fazer algo em troca da aceitação,
que lhes era impossível resistir, e a influência de Constantino
iniciou em ambiente intenso.
No ano 312 d.C., Constantino se tornou o Césardo Impé
rio do Ocidente.^' Em 324, se tornou o Imperador de todo o
Império Romano. Pouco tempo mais tarde, começou amandar
construir igrejas. Ele o fez para promover a popularidade e a
aceitação do Cristianismo. Se os cristãos tivessem seus próprios
prédios sagrados —assim como os judeus eos pagãos sua fé
seria respeitada como legítima.
Éimportante entender o desígnio de Constantino —pois
isso explica por que ele estava tão entusiasmado arespeito do
estabelecimento das construções das igrejas. O pensamento de
Constantino era dominado pela superstição e magia pagã. Mes
mo depois de se tornar imperador, permitiu que as instituições
pagãs antigas permanecessem como estavani.^°
Mesmo após sua conversão ao Cristianismo, Constantino
nunca abandonou a adoração ao sol. Mantinha o sol em suas
moedas. E levantou uma estátua do deus-sol que fez com que
fosse perdido o interesse pela sua própria imagem no Fórum
de Constantinopla (sua nova capital). Constantino também
construiu uma estátua da deusa-mãe Cybele (embora a tenha

da igreja eram "casas ou edifícios comerciais modificados para uso da igreja"


{Early Christians Speak, 74).
49 Naquele ano, Constantino defendeu oimperador do oeste Maxentius na
batalha de Milvian Bridge. Constantino afirmou que no começo da batalha,
viu o sinal de uma cruz no céu e se converteu a Cristo (Connolly, Indes-
tructible Book, 39-40).
50 Isso inclui os templos, sacerdotes oficiais, colegiado de pontífices, vir
gens vestais eotítulo (que reservou para si mesmo) Pontifex Maximus (che
fe dos sacerdotes pagãos). Veja Louis Duchesne, Early History ofthe Chris-
tian Church (London: John Murray, 1912), 49-50; M.A. Smith, From Christ
to Constantine (Downer's Grove: InterVarsity Press, 1973), 172.
56 Cristianismo Pagão?

apresentada numa postura de cristã que orava) Historiadores


continuaram adebater se Constantino era um genuíno cristão
ou não. O fato de haver boatos de que seu filho mais velho,
seu sobrinho e seu cunhado foram executados não fortalecem
o argumento de sua conversão." Mas não vamos sondar essa
insolência tão a fundo aqui.
Em 321, Constantino decretou o domingo como dia de des
canso —um dia de folga dentro da lei." Parece que aintenção
de Constantino em fazer isto era honrar odeus persa Mithras, o
Sol Invencível." (Ele descrevia o Domingo como "o dia do sol"
'N.T.: Domingo em inglês é "Sunday", ena versão original, o
leitor pode observar asuposta ligação entre Sunday esun {sun,
sol; dayy dia). Porém, em latim, domingo édotninicH^ que quer
dizer "dia do Senhor".
Além de demonstrar a afinidade de Constantino com a ado
ração ao sol,escavações deSão PedroemRomadescobriram um
mosaico de Cristo como o Sol Invencível."
Ainda próximo ao seu último dia de vida, Constantino "agia
como o alto sacerdote do paganismo."" Na verdade, ele man
teve o título pagão Pontifex Maximus, que significa "chefe dos

51 Paul Johnson, Histoty ofChristiunity (New Yourt Simon & Schuster


1976), 68.
52 Ele também éacusado da morte de sua segunda esposa, entretanto alguns
historiadores acreditam que esse é um falso rumor. Taylor, Christians and
theHoly PLces (Oxford: Clarendon Press, 1993), 297; Schaff, History ofthe
Christian Church, 3:16-17; Ramsay MacMullen, Christianizing the Roman
Empire: d.C. 100-400 (London: Yale University Press, 1984), 44-58.
53 Kim Tan, Lost Heritage: The Heroic Story ofRadical Christianity (Go-
dalming, UK: Highland Books, 1996), 84.
54 Aparentemente Constantino achava que o Sol Invencível (um deus pa
gão) eCristo eram compatíveis. Justo L. Gonzalez, The Story ofChristianity
(Peabody, MA: Prince Press, 1999) 122-123.
55 Hinson, Worshiping like Pagans?" 20; Jugmann, Early Liturgy, 136.
56 Gonzalez, Story of Christianity, 123.
A Construção daIgreja 57

sacerdotes pagãos"!^^ (No século 15, omesmo título se tornou o


título honorífico para opapa do Catolicismo Romano.)^®
Quando Constantino consagrou Constantinopla como sua
nova capital em 11 de maio de 330, adornou-a com tesouros dos
templos gentios.^' Eusou fórmulas mágicas pagas para proteger
colheitas e curar doenças.
Além detudoisso, todas as evidências históricas indicam que
Constantino era um egomaníaco. Quando construiu a Igreja
dos Apóstolos em Constantinopla, incluiu nelas monumentos
aos doze apóstolos. Os dozes monumentos cercavam uma única
tumba, que ficava no centro. Esta tumba estava reservada para o
próprio Constantino —fazendo asi mesmo, desse modo, odéci
mo terceiro apóstolo echefe dos apóstolos. Então, Constantino
não somente continuou aprática pagã de honrar osmortos, como
também procurou ser incluso entre os mortos importantes.^^
Constantino também fortaleceu o conceito pagão de sacra-
lidade de objetos e lugares." Em grande medida devido a sua
influência, o comércio de relíquias se tornou algo comum na
igreja." No século 4, aobsessão por relíquias se tornou tão in-

57 Fox, Pagans and Christians, 666; Durant, Caesar and Christ, 63, 656.
58 Cross and Livingstone, Oxford Dictionary ofthe Christian Churchi 1307.
59 Robert M. Grant, Early Christianity andSociety (San Francisco: Harper
& Row Publishers, 1977), 155.
60 Durant, Caesar and Christ, 656.
61 Johnson, History of Christianity, 69; Early History ofthe Christian
Church, p. 69. Na Igreja Oriental, Constantino éconsiderado, atualmente,
o 13° apóstolo eévenerado como um santo (Cross and Livingstone, The
O^ord Dictionary of the Christian Church, Terceira Edição, 405; Taylor,
Christians and the Holy Places, 303, 316; Snyder, Tlwíe Pacem, 93).
62 Taylor, Christians and the Holy Places, 308; Davies, Secular Use ofChurch
Buildings, 222-237.
63 Anoção de que relíquias tinham poderes mágicos não pode ser creditada aos
judeus, porque acreditavam que qualquer contato com um corpo morto era algo
sujo. Essa idéia era completamente pagã (Boggs, The Christian Saga, 210).
58 Cristianismo Pagão?

discreta que alguns líderes cristãos falaram contra isto, chaman


do-a de "um rito bárbaro introduzido nas igrejas, disfarçado de
religião...um trabalho de idolatras."^''
Constantino é também conhecido por trazer à fé cristã a
idéia de um local santo, oque foi baseado no santuário pagão.
Foi porcausa da área de "sacralidade" que os cristãos do século 4
seuniram à Palestina, queficou conhecida como"aTerra Santa"
no século 6.^^
Após amorte de Constantino, declarou-se que era "divino."
(Este era ocostume para todos os imperadores pagãos que mor
reram antes dele.)^^ Foi osenado que odeclarou um deus pagão
em sua morte.^^ E ninguém os impediu de fazê-lo.
A este ponto, algo deveria ser dito sobre a mãe de Constan
tino, Helena. Esta mulher era muito lembrada pela sua obsessão
por relíquias. Em326d.C.,Helenafezumaromaria até aPalesti
na.^^ Em 327, em Jerusalém, segundo notícias ouboatos, encon
trou acruz eos pregos que foram usados para crucificarJesus.

64 Johnson, History ofChristianity, 106. Citação de Vigilantius.


65 Taylor, Christians and the Holy Places, 317, 339-341.
66 Boggs, Chrístian Saga, 202.
67Gonzales, The Story ofChristianity, 123.
68 Cross and Livingstone, 0}rford Dictionary ofthe Christian Church, 1379.
Helena peregrinou a Terra Santa imediatamente após a execução do filho
de Constantino e o suicídio de sua esposa (Fox, Pagans and Christians^
670-671, 674).
69 Oscar Hardman, A History ofChristian Worship (Tennessee: Parthenon
Press, 1937). Helena deu a Constantino dois destes pregos: Um para seu
diadema e o outro para o cabresto de seu cavalo (Johnson, AHistory of
Christianity, 106; Duchesne, Early History ofthe Christian Church, 64-65).
Diziam que acruz tinha poderes milagrosos eforam encontrados pedaços
de madeira por todo o Império, que reivindicavam pertencer a ela" {The
Story of Christianity, Gonzalez, 126). Alenda da descoberta da cruz por
Helena originou-se em Jerusalém na segunda metade do século 4erapida
mente se espalhou por todo o Império.
AConstrução daIgreja 59

Ao que consta, Constantino promoveu aidéia de que pedaços


de madeira dacruz deCristo possuíam poderes espirituais/® Au
tenticamente, uma mente mágica e pagã estava trabalhando no
Imperador Constantino —opai da construção de igrejas.

O PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE CONSTANTINO


Após seguir Helena em sua viagem para Jerusalém em 327
d.C., Constantino começou a construir as primeiras igrejas por
toda parte no Império Romano, algumas utilizando odinheiro
público.^' Fazendo isto, seguiu os passos dos pagãos construin
do templos para honrar a Deus.^^
Interessantemente, nomeou as construções de suas igrejas
com nomes de santos — assim como os pagãos nomeavam seus
templos com nomes de deuses. Constantino construiu suas pri
meiras igrejas sobre os cemitérios onde os cristãos faziam as
refeições para os santos falecidos.Isto é, ele as construiu sobre
os corpos de santos falecidos.^^ Por quê? Porque pelo menos um
século antes, os locais de sepultamento dos santos eram consi
derados"espaços santos".^^
Muitas das grandes construções foram estabelecidas sobre os
túmulos dos mártires.^^ Essa prática estava baseada na idéia de que

70 Taylor, Christians and the Holy Places, 308; Boggs, Christian Saga, 206-207.
71 Fox, PagansandChristians, 667-668.
72 Taylor, Christians and the Holy Places, 309.
73 Snyder,7lwfe Pacem, 65. Tais locais são mencionados como martyria.
7A Ibid., 92: Haas, "Where Did Christians Worship?" Christian History, 35.
75 Taylor, Christians and the Holy Places, 340-341. Assim como Davies
diz:"Como os primeiros cristãos não tiveram nenhum santuário sagrado,
a necessidade para consagração não surgiu. Foi apenas no século 4, com a
paz na igreja, que aprática de dedicar edifícios começou (The Secular Use
of Buildings, 9, 250).
76 Short, History ofReligious Architeture, 62.
60 Cristianismo Pagão?

OS mártires tinham os mesmos poderes atribuídos aos deuses do


paganismo/^ Os cristãos adotaram completamente essa visão.
Os cristãos mais famosos dos "espaços santos" eram São
Pedro no Monte Vaticano (construído sobre a suposta tumba
de Pedro), São Paulo "Fora das Paredes" (construídas sobre a
suposta tumba de Paulo), aIgreja deslumbrante eimpressionan
te, a Igreja do Santo Sepulcro deJerusalém (construída sobre
a suposta tumba de Cristo) e a Igreja da Natividade em Belém
(construída sobre agruta do nascimento deJesus). Constantino
construiu nove igrejas em Roma e muitas outras em Jerusalém,
Belém e Constantinopla.^®

EXPLORANDO AS CONSTRUÇÕES DAS PRIMEIRAS IGREJAS


Como as construções das igrejas eram consideradas sagra
das, membros tinham que passar por um ritual de purificação
antes da entrada. Então, no século 4, fontes foram construídas
nospátios para que os cristãos pudessem selavar antes deentrar
na igreja.^'
As igrejas de Constantino eram edifícios espaçosos esuntu
osos "dignos de um Imperador". Eram tão esplêndidos que os
pagãos da época observaram que essas "enormes construções

77Johnson, History ofChristianity, 209.


78 Snyàtv, Ante Pacem, 109. O edifício de São Pedro media 835 pés de lar
gura, de acordo com Haas, "Where Did Christians Worship?" 35. Detalhes
sobre a igreja São Paulo são encontrados em Cross and Livingstone, The
Oxfofd Dictionuyy ofthe Christiun Church, 1442j sobre oSepulcro Santo em
Edward Norman, The House ofGod: Church Architetur, Style and History
(London: Thames and Hudson, 1990), 38-39; sobre aIgreja da Natividade,
Ibid., 31; sobre as outras nove igrejas tm]ohn^h\ie. Protestamand Church
Architeture, 56; White, Building God's House, 150; Grant, Early Christian
ity and Society, 152-155.
79Turner, From Temple to Meeting House, 185.
AConstrução daIgreja 61

imitaram" aestrutura dos templos pagãos.®° Constantino até de-


• • ma OI

corou as novas igrejas com arte paga.


Os edifícios das igrejas construídos por Constantino foram
padronizados exatamente como o modelo da basílica.®^ Essas
construções eram também os prédios comuns do governo®^
projetadas conforme os templos pagãos gregos

80 Essa frase é do escritor anticristão Porfírio ÇThe Secular Use ofChurch


Buildings, p. 8). Porfírio disse que os cristãos eram inconsistentes porque
ao mesmo tempo que criticavam aadoração pagã, erguiam edifícios imitan
do templos pagãos! {Building God's House in the Rotnan World, p. 129).
81 Gonzalez, History ofChristianity, 122. De acordo com oProfessor Har-
vey Yoder, Constantino construiu aigreja original de Hagia Sophia (A Igre
ja da Santa Sabedoria) no mesmo local de um templo pagão eimportou 427
estátuas p^gás do Império para decora-la. From House Churches to Holy
Cathedrals" (palestra dada em Harrisburg, VA, Outubro, 1993).
82 Grant, Founders ofthe Westem World, 209. Aprimeira basílica foi ade São
João Laterano, construída de um Palácio Imperial doado em 314 d.C. (White,
Building God's House, 18). "Constantino, ao decidir qual omodelo de igreja
pioneira de São João Laterano, escolheu abasílica foi adotada um padrão
de locais de cultos cristãos em Roma". Lionel Casson, Everyday Life inAn-
cientRome (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1998), 133.
83 Hinson, "Worshiping like Pagans?" 19; Norman, House of God, 24;
Jungmann, Early Liturgy, 123. Apalavra basílica vem da palavra grega ba-
sileus, que significa "rei". Os arquitetos cristãos adaptaram o plano pagão,
instalando próximo ao altar um grande espaço, arredondado ou abobadado,
no limite do edifício onde o rei ou o juiz sentava; o bispo agora tomava o
lugar do dignitário pagão. Collins and Price, The Story ofChristianity, 64.
84 White, Protestant Worship and Christian Architecture, 56. Um pesqui
sador católico declara: "bem antes da era cristã, várias seitas e associações
pagãs adaptaram o estilo da basílica como edifício de culto. Qungmann,
The Early Liturgy, 123). Veja também Turner, From Temple to Meeting
House,162-163. Além disso, as igrejas de Constantino em Jerusalém e Be
lém, construídas entre 320 e330 d.C., tiveram como modelo os santuários
pagãos sírios. Gregory Dix, The Shape ofthe Liturgy, (London: Continuum
International Publishing Group, 2000), 26).
62 Cristianismo Pagão?

As basílicas tinham a mesma função que os auditórios de


escolas de ensino médio têm hoje (N.T.: Geralmente, todas as
escolas do ensino médio (públicas eparticulares) nos EUA (Hi-
ghschool) possuem auditórios, onde são realizados eventos,
apresentações escolares, cerimônias de abertura do ano letivo e
forniaturas). Eram auditórios maravilhosos para que multidões
passivas e dóceis, sentadas, pudessem assistir à apresentação.
Essa foi uma das razões pela qual Constantino escolheu o mo
delo de basílica.®^
Ele também favoreceu-a por causa de sua fascinação pela
adoração ao sol. Basílicas foram projetadas para que osol ficasse
sobre oapresentador enquanto estivesse àfrente da congrega
ção.®^ Como os templos dos gregos edos romanos, as basílicas
cristãs foram construídas com afachada em direção ao leste.®^
Vamos explorar ointerior da basílica cristã. Era uma duplica
ta idêntica àbasílica romana que foi utilizada por magistrados e
oficiais romanos. As basílicas cristãs possuíam uma plataforma
elevada onde o clero ministrava. Aplataforma era geralmente
elevada amuitos degraus. Havia também um parapeito ou um
anteparo que separava o clero dos membros da igreja.®®
No centro da igreja ficava oaltar. Podia ser uma mesa (mesa
do altar) ou uma arca coberta por uma tampa.®' Oaltar era con-

85 Michael Gough, The Eurly ChTistians (London: Thames and Hudson,


1961), 134.
86 Ibid.

87Jungmann, Early Liturgyy 137.


88 White, Protestam Worship and Church Architecture, 57, 73-74. "Ver o
edifício da igreja dessa forma significava que não era mais acasa do povo de
Deus para seu culto comum, mas aCasa de Deus que lhes permitia prestar a
devida reverência. Eles tinham que entrar na nave (onde acongregação sen
tava ou permanecia em pé) e se abster de entrar no santuário (a plataforma
do clero) que era o lugar do coro ou osantuário reservado para osacerdó
cio". Turner, Eram Temple to Meeting House, 244; Hatch, The Growth of
Church Institutions, 219-220.
89 Antes, os altares eram feitos de madeira. Posteriormente, no início do
AConstrução daIgreja 63

siderado o local mais santo da igreja por duas razões. Em pri


meiro lugar, porque freqüentemente continha as relíquias dos
mártires.'® (Depois do século 5, apresença das relíquias no altar
da igreja era essencial para que aigreja fosse legítima.)" Em se
gundo, porque sobre oaltar ficava aEucaristia (o pão eataça).
AEucaristia, agora vista como um sacrifício sagrado, era ofereci
da no altar. Ninguém além do clero, considerados "homens santos",
estava autorizado areceber aEucaristia dentro doparapeito doaltar."
Em frente ao altar ficava acadeira do bispo, que era chamada de
cátedra." O termo \omo catedrdtico"éderivado dessa cadeira. Como
catedrdtico significa "do trono"." A cadeira do bispo, ou trono
como era chamado, era o maior emais elaborado assento dentro da
igreja. Era orespectivo assento do juiz na basílica romana." Eficava
cercado por duas fileiras de cadeiras reservadas aos anciãos."
O sermão era pregado direto da cadeira do bispo." O poder
eaautoridade pousavam na cadeira, aqual era coberta por uma
toalha branca de linho. Os anciãos e diaconos sentavam em am
bos os lados,formando um semicírculo."

século 6, começaram aser feitos de mármore, pedra, prata, ou ouro. John-


son, History of Christianity, 3:550.
90 Synder, Ante Pacem, 93; White, Protestam Worship and Church Archite-
ture, 58; William D. Maxweli,^« Outline ofChristian Worship: Its Develop-
ments andits Forms (New York: Oxford University Press, 1936), 59.
91 Kenneth Scott Latourette, Hí5ío;y ofChristianity (New York: Harper
and Brothers, 1953), 204.
92 Johnson, History ofChristianity, 3:549-550, 551. Na igreja protestante, o
púlpito está em primeiro plano eamesa do altar fica no fundo.
93 Short, History ofReligious Architeture, 64.
94 Cross and Livingstone, Oxford Dictionary ofthe Christian Church, 302.
95 White, Protestam Worship and Church Architeture, 57.
96 Davies, Secular Use ofChurch Buildings, 11. Dix, Shape ofLiturgy, 28.
97White, Protestam Worship and Church Architeture, 59.
98 Dix,Shape ofLiturgy, 28.
64 Cristianismo Pagão?

Adistinção hierárquica que foi atribuída na arquitetura ba


sílica eraprecisa.
Interessantemente, a maioria dos prédios das igrejas dos
nossos dias tem cadeiras especiais para opastor esua equipe, si
tuadas na plataforma atrás do púlpito. (Como otrono do bispo,
acadeira do pastor égeralmente amaior de todas.) Essas são as
claras influências indesejadas da basílica pagã.
Em acréscimo aisso, Constantino não destruiu templos pa-
gãos em uma larga escala. Nem os fechou.^' Em alguns lugares,
existem templos pagãos dos quais ídolos foram tirados para se
rem convertidos e levados aos edifícios cristãos.Os cristãos
utilizavam materiais que foram esvaziados dos templos pagãos
e construíam novos prédios de igreja em terrenos de templos
pagãos.

MAIORES INFLUÊNCIAS NOS CULTOS


Oadvento das igrejas construídas trouxe mudanças signifi
cativas ao culto cristão. Como oImperador era o"leigo" núme
ro um na igreja, uma simples cerimônia não erasuficiente. Para
honrá-lo, apompa eoritual da corte imperial foram incorpora
dos à liturgia cristã.'®^

99Grant, Early Christianity Society, 155.


100Norman, Houseof God, 23-24.
101 Hinson, "Worship like Pagans?" 19. Gregório, o Grande (540-604)
foi oprimeiro aprescrever ouso da agua benta edas relíquias cristãs para
punficar templos pagãos para o uso cristão. Bede, AHistory ofthe Chris-
tian Church and People, trans. Leo Sherley-Price (New York: Dorset Press,
1985), 86-87 (Livro I, Capítulo 30). Essas páginas contêm instruções de
Gregório, o Grande, sobre como templos pagãos deveriam ser santificados
para uso cristão. Veja também John Marcos Terry, Evangelism: A Concise
History (Nashville: Broadman &Holman Publishers, 1994), 48-50; Davies,
The Secular Use ofChurch BuildingSy 251.
102 Hinson, "Worshiping Like Pagans?" 20; White, Protestam Worship and
Church Architeture, 56.
AConstrução daIgreja 65

Era costume dos imperadores romanos exigirem que secar


regassem "luzes" atrás deles, a qualquer momento que apare
cessem em público. Então, eram acompanhados por uma pia de
fogo cheia de especiarias aromaticas.^®^ Tomando essa dica de
tradição romana, Constantino introduziu velas eincensos como
parte do culto. Eambos eram trazidos quando o clero entrava
na sala.'°'^
Debaixo do reinado de Constantino, o clero, que se vestia
com roupas novas todos os dias, começou ase vestir com trajes
especiais. O que eram essas roupas especiais? Eram trajes dos
oficiais romanos. Além disso, vários gestos de respeito perante
oclero, comparáveis àqueles usados em honra aos oficiais roma
nos, foram introduzidos na igreja.
O costume romano de começar um culto com músicas de
procissão, também foi adotado. Para este propósito, corais fo
ram desenvolvidos e trazidos à igreja cristã. (Veja o capítulo 7
para saber mais sobre aorigem desse coral). Aadoração se tor
nou algo mais profissional, dramática ecerimonial.
Todos esses fatores foram trazidos da cultura Greco-Roma-
na e levados diretamente à igreja cristã. O Cristianismo do
século 4estava sendo profundamente moldado pelo paganismo
grego epelo imperialismo romano.^®'' O desfecho de tudo isso
foi aperda de intimidade eparticipação aberta. Oclero profis-

103 Jungmann, Early Liturgy, 132.


104 Richard Krautheimer, Early Christian andByzantine Architeture (Lon-
don: Penguin Books, 1986), 40-41. Krautheimer nos dá uma descrição vi
vida do paralelo entre o culto imperial romano e aliturgia cristã impostas
por Constantino.
105 Jungmann,EarlyLiturgy, 129-133.
106Gonzalez, Story of Christianíty, 125.
107 Kenneth Scott Latourette traça a forte influência do paganismo gre-
co-romano na fé cristã em seu livro A History of Christianíty (New York.
Harper and Brothers, 1953), 201-218.
66 Cristianismo Pagão?

sional realizava os atos de adoração enquanto os membros olha


vam como espectadores.
Assim como um estudioso católico escreveu, com achegada
de Constantino "vários costumes da antiga cultura romana de
sembocaram naliturgia cristã... mesmo ascerimônias envolvidas
no culto antigo do imperador como uma divindade, encontra
ram suas formas dentro do culto da igreja, somente em suas for
mas secularizadas".
Constantino trouxe paz a todos os cristãos. Durante
seu reino, a fé dos cristãos se tornou legítima. Para dizer a
verdade, foi levada a um status mais elevado que oJudaísmo
e o paganismo.
Por essas razões, os cristãos viram a ascensão de Constan
tino para imperador como uma obra de Deus. Aqui estava um
instrumento de Deus que tinha vindo para resgatá-los. Acultura
romana e a cristã não foram fundidas juntas.
As construções cristãs demonstram que aigreja, não impor
tava se queria ounão, havia entrado em uma aliança fechada com

108 White, Protestant Worship and Church Architeture, 56.


]un%mznn, Early Liturgy, 130, 133.
110 Os historiadores chamam o penodo do reino de Constantino como o
reino da Paz . Apaz veio com o Édito de Gaieriano (também chamado
de Édito de Tolerância )em 311 d.C. Foi popularizado pelo Édito de Mi
lão em 313 d.C. Somente 11 anos depois do Hdito de Milão, Constantino,
o primeiro imperador cristão, chegou a ser o único soberano do Império
Romano {The Story ofChristianity (Gonzalez), 106-107; Duram, Caesarto
Christ, 655.
111 Adolf Von Harnack estima que havia de três a quatro milhões de cris
tãos no império no começo do reinado de Constantino. The Mission and
Expansion of Christianity in the First Three Centuries, 325. Outros calculam
que era apenas quatro oucinco porcento da população do Império. Taylor,
Christians and the HolyPlaces, 298.
112 Johnson, History of Christianity, 126; Hinson, "Worshipine like Pa-
gans?" 19.
A Construção daIgreja 67

a. cultura, pagã. Como Will Durant, autor de The Stovy ofCi-


vilization — "A História da Civilização" em português — (um
trabalho impetuoso de onze volumes sobre ahistória mundial
que lhe rendeu um Prêmio Pulitzer) propôs: "As ilhas pagas per
maneceram no mar cristão espalhado."'^"* Essa foi uma transição
drástica da simplicidade primitiva que a igreja de Jesus Cristo
antes conhecera.
Os cristãos do primeiro século estavam se contrapondo aos
sistemas do mundo e evitavam qualquer contato com o paga
nismo. Tudo isto mudou no século 4 quando a igreja emergiu
como uma instituição pública no mundo ecomeçou a absorver
e cristianizar as idéias e práticas religiosas pagãs Como um
historiador afirmou: "As construções deigrejas tomaram o lugar
dos templos; doações da igreja substituíram terrenos de templos
e fundos."^Através de Constantino, o status de isento de im
postos foi concedido atodas as propriedades de igrejas.
Consequentemente, ahistória dos prédios de igreja éatriste
saga do Cristianismo emprestando da cultura gentia eradical
mente transformando a face de nossa fé.'^^ Dizendo de forma
direta, os prédios das igrejas da era constantina epós constanti-
nasetornaram essencialmente em capelas santas.Os cristãos
abraçaram oconceito de templo físico. Assimilaram aidéia pagã

113 Jungmann, Early Liturgy, 123.


114 Will Durant, The Age ofFaith (New York: Simon &Schuster, 1950), 8.
115 Bradshaw, Search forthe Origins ofChristian Worship, 65.
116 Grant, Early Christianity and Society, 163.
117 Durant, Caesar and Christ, 656.
118 "Inside Pagan Worship", Christian History 12, no. 1 (1993):20
119 Turner, From Temple to Meeting House, 167, 180. Constantino cons
truiu santuários cristãos em locais historicamente bíblicos {Pagans and
Christians, 674).
68 Cristianismo Pagão?

de que lá existe um lugar especial em que Deus habita de uma


forma especial. Eesse lugar éfeito "por mãos".'^^
Assim como outros costumes pagãos foram absorvidos na
fé cristã, (tais como aliturgia, o sermão, as vestes clericais e a
estrutura de liderança hierárquica), os cristãos do século 3 e
do século 4atribuíram incorretamente aorigem do prédio das
igrejas ao Antigo Testamento.'^' Mas esse era um pensamento
enganoso.
Aconstrução de igrejas foi algo emprestado da cultura pagã.
"Rituais sacramentais eilustres haviam entrado nos cultos da igre
ja atítulo de mistérios [a devoção pagã], eeram justificados, como
muitas outras coisas, por referência ao Antigo Testamento.
O uso do Antigo Testamento como uma justificativa para os
prédios das igrejas não ésomente impreciso, como também usado
para autodefesa. A antiga parcimônia de mosaicos de sacerdotes
sagrados, prédios sagrados, rituais sagrados e objetos sagrados
foi destruída para sempre na cruz de Jesus Cristo. Fora isso, essa

120 Compare isso com Marcos 14.58, Atos 7.48,2Coríntios 5.1, Heb. 9 11
e Heb. 9.24.

121 Norríngton, To Preach ar Notto Preachf, p. 29. J.D. Davies escreve:


"Quando os cristãos começaram a construir suas grandes basílicas, eles
tomaram a Bíblia como guia e aplicaram tudo o que foi dito sobre o Tem
plo de Jerusalém para seus novos edifícios, aparentemente ignorantes do
fato de que, fazendo assim, eles estavam se comportando contrariamente
a perspectiva do NT . Davies afirma que o culto aos santos [veneração
aos santos mortos] e sua definitiva penetração nos edifícios da igreja fi
nalmente marcaram seu selo na perspectiva da igreja enquanto lugar santo
"para o qual os cristãos deveriam adotar a mesma atitude que os judeus
adotaram para com oTemplo de Jerusalém eos pagãos para com seus san
tuários (The SeculuT Use ofChuTch Buildings, 16-17). Oscar Hardman
escreve: o sistema romano de administração e a arquitetura de seus casa-
rões e salões públicos proporcionaram uma sugestiva orientação à igreja
na classificação de sua hierarquia, na subsequente definição das esferas
jurisdicionais, e na edificação de locais de culto" {A Histovy ofCbrístiun
Worship, 13-14).
122Boggs, Christian Saga, 209.
AConstrução daIgreja 69

tradição foi substituída por um organismo não-hierárquico, não-


ritualístico, não-litúrgico chamado ekklesia (igreja).

AEVOLUÇÃO DA ARQUITETURA DE IGREJAS


Durante a era constantina, as igrejas passaram por vários es
tágios. (São muito complexos para detalharmos aqui). Para citar
um acadêmico: "Mudanças na arquitetura das igrejas são mais
um resultado de mutação do que uma linha sólida de evolução.
Essas mutações fizeram pouco para mudar as características do
minantes da arquitetura que fomentaram um clero monopoliza
dor e umacongregação inerte.^^"*
Vamos fazer uma pesquisa rápida da evolução da arquitetura
da igreja:

-Após Constantino, aarquitetura cristã passou de unia fase


basílica para uma fase bizantina.As igrejas bizantinas tinham
amplas abóbadas centrais emosaicos de imagens de santos de
corativas.'^^
- A arquitetura bizantina foi seguida por uma arquitetura
romanesca.As igrejas romanescas eram caracterizadas por
três andares, pilares maciços como sustento de arcos redondos
e interiores coloridos.'^® Essa forma deconstrução foi realizada
pouco tempo depois que Carlos Magno se tornou imperador

123 Marcos 14.58; Atos 7.48; 17.24; Gál. 4.9; Gol. 2.14-19; IPedro 2.4-9;
Heb.3-11.

124 White, Protestam Worship and Church Architecture, 51, 57.


125 Krautheimer, Early Christian and Byzantine Architecture.
126 Norman, House ofGod, 51-71. A Hagia Sophia (A Igreja da Santa Sa
bedoria), que abriu em 360 d.C. efoi reconstruída em 415 d.C. éangariada
pela Igreja Ocidental como aperfeita incorporação de um prédio de igreja.
127 Short, History ofReligious Architeture, cap. 10.
128 Norman, House of God^ 104-135.
70 Cristianismo Pagão?

do Sacro ImpérioRomano-Germânico nos dias de natalno ano


800 d.C.
-Em seguida, surge operíodo romanesco que foi aera gótica do
século 12. Aarquitetura góticaerigiu encantadoras catedrais góticas
com abóbadas marcadas com cruz, arcos pontudos earcobotantes
curtos.^^' O termo catedral é derivado de cátedra. São as constru
ções de igreja que abrigam acátedra, acadeira do bispo.^^°
Vidros coloridos foram introduzidos pela primeira vez em
igrcjas no século 6por Gregoiy de Tours (538-594).O vidro
foi instalado nas janelas estreitas de algumas igrejas Romanes
cas. Suger (1081-1151), chefe do mosteiro (abade) deSt.Dennis
(Santo Denis), levou o vidro colorido a outro nível. Adornou
o vidro com pinturas sagradas. Assim, tornou-se o primeiro a
usar janelas devitrais emigrejas, colocando-as emsuas catedrais
góticas.
Grandes painéis de vidros tingidos vieram aencher as pare
des das igrejas góticas para emitir luzes coloridas, brilhantes e
luminosas.^" Cores ricas eescuras foram também empregadas
para criar o efeito de Nova Jerusalém. As janelas de vidro colo
rido dos séculos 12 e 13 raramente poderiam ser igualadas em
toda sua beleza e qualidade. Com suas cores deslumbrantes e

129 Para detalhes, veja Short, History ofReligious Architeture, cap. 11-14, e
aobra clássica de Otto von Simson The Gothic Cathedral: Origins ofGothic
Architeture andthe Medieval Concept ofOrder (Princeton: Princeton Uni-
versity Press, 1988).
130 Krautheimer, Early Christian and Byzantine Architeture, 43.
131 Durant,i4ge ofFaith, 856.
132 Von Simson, The Gothic Cathedral, 122. Frank Senn escreve: "O espaço
entre os pilares foi preenchido com janelas maiores que deram aos novos
edifícios aleveza eobrilho, ausentes nos velhos edifícios românicos. As ja
nelas foram preenchidas com vitrais coloridos que contavam histórias bíbli
cas ou empregavam símbolos teológicos previamente pintados nas paredes
{Christian Liturgy, 214).
133 Dutânt, Age of Faith, 856.
AConstrução daIgreja 71

janelas de vitrais criaram, por fim, um senso de alma majestosa e


de esplendor. Introduziram sentimentos associados àadoração
a umDeus cheio depoder einspirado emtemor.
Assim como ocorre com as basílicas constantinas, a raiz da
catedral gótica écompletamente pagã. Os arquitetos góticos re
corriam fortemente aos ensinamentos do filósofo grego pagão
Platão. Platão ensinou que o som, acor ealuz têm muitos sig
nificados místicos sublimes. Podeminduzir humores e ajudar a
trazer uma pessoa mais perto do "Eterno Deus.' Os designers
góticos tomaram os ensinamentos de Platão e os ajustaram a
tijolos epedras. Criaram uma iluminação espiritual imponente
para extrair um senso de esplendor eadoração opressivos.
A cor é um dos fatores emotivos mais poderosos que existe.
Por isso que as janelas de vitrais foram empregadas de forma
habilidosa para criar um senso de mistério etranscendência. Ti
rando ainspiração das estátuas grandiosas edas torres do antigo
Egito, aarquitetura gótica buscou recapturar osenso de sublime
através das alturas exageradas.
Dizia-se que a estrutura gótica "inteiramente parecia acor
rentada a terra emvôo fixo... levantava como uma exalação do

134 Norman, House ofGod, 153-154; Paul Clowney and Teresa Clowney,
Exploring Churches (Grand Rapids: Eerdmans, 1982), 66-67.
135 Von Simson, The Gothic Cathedral, 22-42, 50-55, 58,188-191,234-235.
Von Simson mostra como a metafísica de Platão influenciou a arquitetura
gótica. Aluz ea luminosidade alcançam sua perfeição nos vitrais góticos.
Números de proporções exatas harmonizam todos os elementos do edifício.
A luz e a harmonia são imagens do céu; são os princípios do ordenamento
da criação. Platão ensinava que a luz é o mais notável fenômeno natural
—se aproxima da forma pura. Os neoplatonistas concebiam a luz como
uma realidade transcendental que ilumina nosso intelecto para compreen
der averdade. O desenho gótico era essencialmente uma mistura das visões
de Platão, Agostinho eDenis, opseudo-areopagita (um neoplatonista).
136 White, Protestam Worship and Church Architeture, 6.
137 Neil Carter, "The Story of the Steeple" (manuscrito não-publicado,
2001). O texto integral pode ser acessado em www.christinyall.com/stee-
ple.html.
72 Cristianismo Pagão?

solo... Nenhuma arquitetura assim espiritualiza, refina e arre


messa as substâncias para o céu, o qual ela toca."'^^ Foi osímbolo
elementar do céuse juntando a terra.
Então com seuuso de luzes, cores e alturas excessivas, a ca
tedral gótica estimulou um senso de mistério, transcendência
e pavor.Todos esses fatores foram emprestados de Platão e
transmitidos como cristãos.
Igrejas basílicas, romanescas egóticas são uma tentativa hu
mana de duplicar o que é celestial e espiritual. De uma forma
bem real, as construções de igreja através da história, refletem
a busca humana de sentir o divino com seus sentidos físicos.
Mesmo que estar cercado por beleza pode certamente voltar o
coração de uma pessoa aDeus, Ele deseja muito mais de Sua igre
ja do que uma experiência estética. No século 4, a comunidade
cristã perdeu o contatocom aquelas realidades celestiais ecoisas
espirituais intangíveis que não podem ser percebidas por senti
dos humanos, esim, registradas somente pelo espírito humano.
(Veja iCoríntios 2.9-16).
Aprincipal mensagem da arquitetura gótica é: "Deus étrans
cendente e inatingível —então fiquemos intimidados por Sua
Majestade." Mas uma mensagem como esta opõe-se àmensagem

138 Turner, From Temple toMeeting House, p. 190.


139 A arquitetura barroca dos séculos 17 e 18 seguiu o caminho gótico,
induzindo os sentimentos com sua riqueza harmoniosa edecorativa (Clowney
and Clowney, Exploring Churches, 75-77). J.G. Davies afirma que no Oci
dente, durante a Idade Média, as catedrais eram consideradas modelos do
cosmo (Davies, The Secular Use ofChurch Buildings, 220).
140 White, Protestam Worship and Church Architeture, 131.
141 Para uma discussão detalhada das especificidades históricas de arquite
tura gótica veja Wiil Durant, The Age ofFaith, cap. 32. Embora antiquada, a
arquitetura gótica reapareceu entre os protestantes durante a revivificação
gótica em meados do século 19. Mas a construção gótica cessou depois da
Segunda Guerra Mundial (White, Protestam Worship and Church Architeaure,
130-142; The House ofGod, 252-278).
142 Senn, Christian Liturgy, 604.
A Construção daIgreja 73

do evangelho, que diz que Deus émuito acessível —até oponto


de adquirir sua residência num local acima de todo oSeu povo.

ACONSTRUÇÃO DA IGREJA PROTESTANTE


No século 16, os reformadores herdaram atradição (já men
cionada anteriormente) de construir igrejas. Num curtoperío
do de tempo, milhares de catedrais medievais se tornaram suas
propriedades enquanto os administradores locais eram quem
controlavam aquelas estruturas envolvidas na Reforma.
A maioria dos reformadores eram ex-padres. Sendo assim, ha
viam sido inconscientemente condicionados aos padrões depensa
mento doCatolicismo medieval.Então, mesmo que osreforma
dores fizessem alguma reforma nas suas igrejas recém adquiridas,
fariam uma pequena mudança funcional na arquitetura.''^^
Mesmo se os reformadores quisessem trazer mudanças
radicais às práticas da igreja, a massa não estaria pronta para
isso.''*^ Martinho Lutero foi bem claro ao afirmar que a igreja
não era um prédio nem uma instituição.'''^ Ainda assim seria

143 White, Protestam Worship and Church Architeture, 64. Aprimeira igreja
protestante foi o castelo em Torgua construído em 1544 para culto lute
rano. Não havia nenhum santuário e o altar tornou-se uma mesa simples
(Turner, From Temple toMeeting House, 206).
144 White, Protestam Worship and Church Architecture, 78.
145 Jones, Historical Approach to Evangelícal Worship, 142-143, 225. De
forma interessante, os séculos 19 e 20viram, por parte de todas as corpo
rações protestantes, a maior restauração da arquitetura Medieval (White,
Protestam Worship and Church Architecture, 64).
146 White, Protestam Worship and Church Architecture, 79.
147 "De todos os grandes mestres do Cristianismo, Martinho Lutero foi
o que percebeu, mais claramente, a diferença entre a Ekklesia do NT e
a igreja institucional, e reagiu fortemente contra o quid pro quo que as
identificavam. Tanto, que meramente recusou tolerar a palavra igreja :
termo que descreveu como ambíguo eobscuro. Em sua tradução da Bíblia,
74 Cristianismo Pagão?

impossível para ele subverter a confusão sobre o assunto, du


rante um milênio.'*'®
A principal mudança na arquitetura que os reformadores
realizaram refletiu em sua teologia. Eles fizeram do púlpito o
centro dominante ao invés de centralizar a mesa do altar.'*'' A
reforma foi construída sobre aideia que as pessoas não poderiam
conhecer aDeus ou crescer espiritualmente ao menos que ou
vissem pregações. Então quando os reformadores herdaram as
igrejas jáexistentes, eles as adaptaram para este fim.'^^

A TORRE ESPIRAL

Desde que os habitantes de Babel erigiram uma torre para


"alcançar os céus", as civilizações seguiram o processo de ha-

traduziu ecclesia como 'congregação'. Ele se deu conta de que a eccle-


sia do NT não é 'algo', nem uma 'coisa', ou uma 'instituição', mas um
conjunto de pessoas, um povo, uma comunhão... A aversão de Lutero à
palavra 'igreja' era tão intensa, que os fatos históricos são comprovada-
mente mais fortes... O uso lingüístico da Reforma eda era pós-Reforma
teve que chegar a um acordo com o poderoso desenvolvimento da ideia
de igreja. Consequentemente, toda confusão provocada pelo uso 'obs
curamente ambíguo' dessa palavra penetrou na teologia da Reforma. Era
impossível voltar um milênio e meio no relógio. A concepção 'igreja'
permaneceu, moldada irrevogavelmente por seu processo histórico de
1500 anos". Emil Brunner, The Misunderstanding ofthe Church (London:
Lutterworth Press, 1952, 15-16).
148 Martin Luther, Luther's Works (Philadelphia: Fortress Press, 1965) 53-
54.

149 White, Protestam Worship and Church Árchitecture, 82.


150 Clowney and Clowney, Exploring Churches, 72-73. A mesa do altar
foi promovida àposição de "altar", rebaixando o santuário (plataforma do
clero) auma posição menos proeminente. O púlpito foi movido para mais
perto da nave onde as pessoas sentavam, tornando osermão uma parte fixa
do culto.
A Construção daIgreja 75

bitação ao construir estruturas com topos pontiagudos.'^' Os


babilônios eos egípcios construíram obeliscos epirâmides que
refletiam sua crença de que estavam progredindo em direção à
imortalidade. Quando vieram afilosofia eacultura grega, adi
reção da arquitetura foi alterada de ascendentes everticais para
declinantes e horizontais. Tudo isso indicou a crença grega na
democracia, na igualdade humana eem deuses materiais (ligados
aterra).'"
Todavia, com aascensão da Igreja Católica Romana, aprática
de coroar igrejas com topos pontiagudos ressurgiu.
Rumo ao fim do período bizantino, os papas católicos ti
raram suas inspirações de obeliscos do Egito antigo.'" Como
aarquitetura religiosa chegou no período romanesco, formas
pontiagudas começaram aaparecer nas superfícies enos cantos
de cada catedral construída noImpério Romano. Essa tendência
alcançou seu ponto mais alto durante aera da arquitetura gótica
com aconstrução da catedral de Santo Denis de Abbot Suger.
Diferente da arquitetura grega, alinha característica da ar
quitetura gótica era vertical para sugerir oesforço em alcançar o
mais alto. Naquele tempo, por toda a Italia, torres começaram
aaparecer perto das entradas das igrejas. As torres abrigavam
sinos para chamar as pessoas para os cultos.'" Essas torres repre
sentavam o contato entre o céu e a terra.
Conforme passavam os anos, os arquitetos góticos (com sua
ênfase em verticalidade) buscaram adicionar um pináculo alto a

151 Veja Gn. 11.3-9. Carter, "The Story ofthe Steeple".


152 Zahi Havass, The Pyramids ofAncient Egypt (Pittsburgh: Carnegie
Museum ofNatural History, 1990), 1; Short, History ofReligious Architeturey
13, 167.

153 Norman, House of God, 160.


154 Charles Wickers, Illustrations of Spires and Towers of the Medieval
Churches ofEngland (New York: Hessing &Spielmeyer, 1900), 18.
155 Clowney and Clowney, Exploring Churches, 13.
76 Cristianismo Pagão?

cada torre.'56 Pináculos (também chamados de torres espirais;


spires (pináculos) éo termo britânico/anglicano) eram um sím
bolo deaspiração humana deseunirãoSeu Criador.Nos sécu
los que seguiram, as torres se tornaram mais emais altas, efinas.
No fim, se tornaram em um foco visual para aarquitetura. Os
"corpos ocidentais de duas torres" foram reduzidas em número,
para dar lugar às singulares torres espirais que em muito carac
terizam as igrejas da Normandia (região no norte da França) e
da Inglaterra.
No ano de 1666, alp aconteceu que mudou ocurso da arqui
tetura de torres. Um incêndio varreu toda a cidade de Londres
edanificou amaioria das oitenta esete igrejas que lá existiam.'^^
Sir Christopher Wren (1632-1723) foi então comissionado para
projetar novamente todas as igrejas deLondres. Utilizando suas
próprias inovações estilísticas de quando modificou os pináculos
goticos na França ena Alemanha, ^JC^ren criou uma torre espiral
moderna.'59 Apartir deste ponto, atorre espiral tornou-se uma
característica dominante da arquitetura anglo-britânica.
Mais tarde, os puritanos fizeram suas igrejas muito mais
simples do que seus antecessores católicos e anglicanos. Mas
as torres espirais foram mantidas e trazidas ao novo mundo das
Américas.

156Durant, Age ofFaith, 865.


157 Clowney and Clowney, Exploring Churches, 13.
158 Gerald Cobb, Z.o«í/o« City Churches (London:Batsford, 1977), apartir
da pág. 15.
159 Viktor Furst, The Architeture ofSir Christopher Wren (London:Lund
Humphries, 1956), 16. Por causa das igrejas de Londres terem sido cons
truídas num espaço estreito entre outros prédios, pouco espaço foi deixado
para ênfase em nenhum outro local, além das próprias torres espirais. Con
sequentemente, Wren implantou a tendência de igrejas com lados relativa
mente planos e torres espirais altas e desproporcionais. Paul Jeffery, The
City Churches ofSir Christopher Wren (London: The Hambledon Press
1996), 88.
160 Peter Williams, House ofGod (Chicago: University of Illinois Press,
AConstrução daIgreja 77

A mensagem da torre espiral éuma das mensagens que con


tradiz a do Evangelho. Cristãos não tem que alcançar os céus
para encontrar Deus. Ele está aqui! Com avinda do Emanuel,
Deus é conosco (veja Mateus 1.23). E com Sua Ressurreição,
temos um Deus que habita em nós. As torres espirais desafiam
essas realidades.

O PÚLPITO

Os sermões antigos eram entregues apartir da cadeira do bis


po, ou cátedra, aqual era posicionada atrás do altar. Mais tarde,
o ambão, uma mesa de leitura alta do lado da chancela, de onde
lições bíblicas eram lidas, tornou-se o lugar onde os sermões
eram pregados.O ambão foi tirado da sinagoga judaica.
No entanto, tinha raízes mais antigas: as mesas e plataformas
de leitura da antigüidade grego-romana. São João Crisóstomo
(347-407) ficou conhecido por fazer do ambão um lugar para
pregações. , . . .
Já em 250 d.C., oambão foi substituído pelo púlpito. Cipria-
no de Cartago (200-258) fala de estabelecer um local para olíder
da igreja dentro de um lugar público sohrt opulpitum}^^ Nossa

1997), 7-9; Colin Cunningham, Stones ofWitness (Gloucestershire, UK:


Sutton Publishing, 1999), 60.
161 Arthur Pierce Middleton, Mcw Wine in Old Wincskins (Connecticut.
Morehouse-Barlow Publishing, 1988), p. 76.
162 Amho é o termo latino para púlpito. Deriva de ambon que significa
"crista deuma colina". A maioria dosambos eram elevados e alcançados por
degraus {Encyclopedia ofEarly Christianity, p, 29; Peter F. Anson, Churches,
Their Plans andFumishings, Milwaukee: Bruce Publishing Co., 1948, 154.
163 Gough, The Early Christians, 172. Encyclopedia ofEarly Christianity,
p. 29. Opredecessor do ambo foi o"migdal" da sinagoga.' Migdal significa
"torre" em hebraico.

164 Ferguson, Encyclopedia ofEarly Christianity, 29.


165 Termo latino para "púlpito". White, Building God's House, 124.
78 Cristianismo Pagão?

palavra/?«//7/ío vem da palavra em húm pulpimm, que quer di


zer"um palco".O pulpitum, oupúlpito, foi colocado sobre o
apoio dolugar mais elevado nacongregação.'^^
Logo, afrase "subir àplataforma" {adpulpitum veniré) co
meçou a fazer parte do vocabulário religioso do clero. No ano
252 d.C., Cipriano fez referência indireta aplataforma elevada
que segregava oclero dos membros como "o ornamento sagrado
e venerado do clero".
No fim da Idade Média, opúlpito tornou-se comum em igre
jas de paróquias.'^' Com a Reforma, tornou-se a peça central
da mobília na igreja.'^® O púlpito simbolizava asubstituição da
centralidade da ação ritualística (a Missa) para ainstrução verbal
clerical (o sermão).'^'
Nas igrejas luteranas, o púlpito ficava na frente do altar.
Nas igrejas reformadas, o púlpitose estendia até o final do altar
até que finalmente desaparecia e era substituído pela "mesa da
Comunhão".'^^
O púlpito era sempre a peça central da igreja protestante.
Tanto é que um pastor bem conhecido, que falou durante uma
conferência patrocinada pela Associação Evangelística Billy

166 Christian Smith, Goingto theRoot (Scottdale, PA: Herald Press, 1992), 83.
167White, Building God'sHouse, 124.
168 Ibid.

169 Middleton, New Wine in Old Wineskins, 76.


170 Clowney andClowney, Exploring Churches, 26.
171 Frank C. Senn, Christian Worship and Its Cultural Setting (Philadelphia:
Fortress Press, 1983), 45.
172 Owen Chadwick, The Reformation (London: Penguin Books, 1964), 422.
No século 16, o púlpito foi combinado com uma plataforma de leitura (ou
átrio) perfazendo uma estrutura dupla de "dois níveis". Aplataforma de leitura
era amais elevada do púlpito (Middleton, New Wine in Old Wineskins, 77).
173 Senn, Christian Worship andIts Cultural Seuing, 45.
AConstrução daIgreja 79

Graham, afirmou: "se a igreja está viva, é porque o púlpito está


vivo —se aigreja está morta éporque o púlpito está morto".
O púlpito eleva o clero auma posição de proeminência. Isso
étão verdadeiro que ele coloca o pregador na "posição central
—separando-o ecolocando-o acima do povo de Deus. ('' N.T.: A
palavra inglesa para "palco" —stage— também pode ser utilizada
com osignificado "posição". Por isso otrocadilho na versão ori
ginal, colocando aúltima palavra entre aspas, faz sentido.)

O BANCO DE IGREJA EO BALCÃO


O banco é talvez o maior inibidor da comunhão direta. E um
símbolo da letargia e da passividade na igreja contemporânea e
tem feito do culto corporativo um esporte de espectador.^^^
Apalavra banco de igreja éderivada do latimpodium. Signifi
caum assento elevado sobre o nível do chão ou um balcão
Bancos de igreja eram desconhecidos nas igrejas dos primeiros
mil anos da história cristã.Nas antigas basílicas, a congregação
ficava em pé durante todo o culto. (Essa éainda uma prática
comum entre os Ortodoxos Orientais).'^®
Noséculo 13, bancos de igreja sem apoio foram gradualmen
te sendo introduzidos nas paróquias inglesas.Esses bancos

174 Scott Gabrielson, "Ali Eyes to the Front: A Look at Pulpits Past and
Present," Your Church,Janeiro/Fevereiro 2C02, 44.
175 James F. White, The Worldliness ofWorship (New York: Oxford Uni-
versity Press, 1967), 43.
176 Cross and Livingstone, The Oxford Dictionary ofthe Christian Church,
Terceira Edição, 1271; Goingto theRoot, 81.
177 James F. White, The Secular Use ofChurch Buildings, 138. Ocasional
mente, alguns bancos de madeira ou pedra eram separados para idosos e
doentes.

178 Middleton, New Wine in Old Wineskins, Th.


179 Ibid., p. 74. Ao final da Idade Média, esses bancos foram minuciosa
mente enfeitados com quadros de santos eanimais fantásticos. Norrington,
80 Cristianismo Pagão?

eram feitos de pedra ecolocados próximos àparede. Eram então


levados até ocorpo da igreja (a área chamada de nave) Aprin
cípio, os bancos eramorganizados em um semicírculo emvolta
do púlpito. Mais tarde, foram fixados no chão.'®^
Obanco de igrejamoderno foi introduzido noséculo 14, embora
não fosse comum encontrá-lo nas igrejas até oséculo 15.^^^Naquela
época, bancos de madeira substituíram os assentos de pedra.No
século 18, bancos de camarote tornaram-se populares.^®''
Os bancos de camarote têm uma história cômica. Foram in
crementados com assentos almofadados, carpetes eoutros aces
sórios. Eram vendidos a famílias e considerados propriedade
particular.'®^ Donos de bancos de camarote começaram apossuir
um certo objetivo de que fossem o mais confortável possível.
Alguns os decoravam com cortinas, almofadas, braços acol-
choados, lareiras —eaté compartimentos especiais para cães de
estimação. Não era incomum para donos manter seus bancos
fechados à chave e com travas. Depois de receberem várias crí
ticas do clero, esses bancos adornados foram substituídos por
assentos abertos.'®^

To Preach orNot to Preachf, 31; J.G. Davies, The Westminster Dictionary of


Worshi (Philadelphia: The Westminster Press, 1972) 312.
180 Doug Adams, Meeting House to Camp Meeting (Austin: The Sharing
Company, 1981), 14.
181 Clowney and Clowney, Exploring Churches, 28.

182 Senn, Christúin LituTgy, 215; Clowney and Clowney, Exploring Churches^
28.

183 Davies, Secular Use ofChurch Buildings, 138.


184 White, Protestant Worship and Church Architeture, 101.
185 Clowney andClowney, Exploring Churches, 28.
186 Ibid.; Davies, Secular Use ofChurch Buildings, 139. Alguns clérigos
atacaram o abuso da decoração nos bancos. Um pregador, lamentando os
bancos decorados durante seu sermão, disse que a congregação "não dese
java outra coisa senão camas paraouvirem a Palavra de Deus..."
A Construção daIgreja 81

Como os bancos decamarote freqüentemente tinham lados


mais altos, os púlpitos tiveram de ser elevados para que pudes
sem ser vistos pelo povo. Desse modo, opúlpito "taça de vinho
nasceu nos tempos coloniais.Os bancos de camarote das fa
mílias do século 18 foram substituídos por bancos pelos quais se
pudesse deslizar para que todo opovo visse de perto amais nova
plataforma que fora erguida, onde opastor conduzia oculto.
Então, oque éobanco de igreja? Osignificado da palavra nos
diz tudo. É um "balcão" mais baixo — desprendido do assento
daquele designado para assistir apresentações num palco (o púl
pito). Ele imobiliza acongregação dos santos eos submetem a
serem meros espectadores. Impede a comunhão e a interação
direta e pessoal.
Galerias (ou balcões de igreja) foram inventadas pelos ale
mães no século 16. Foram popularizadas pelos puritanos no sé
culo 18. Desde então, balcões tornaram-se a marca registrada
dos templos da igreja Protestante. Seu propósito era trazer a
congregação mais perto do púlpito. Novamente garantindo a
capacidade de ouvir opregador de forma clara aos membros da
congregação, oque sempre foi aprincipal preocupação do design
da igreja Protestante.^®^

AARQUITETURA DA IGREJA CONTEMPORÂNEA


Durante os últimos duzentos anos,os doispadrõesde arqui
tetura predominantes utilizados pelas Igrejas Protestantes são
as chancelas divididas (usadas em igrejas litúrgicas) e o palco
para concertos (usadas em igrejas evangélicas).A chancela era

187Middleton, New Wine in Old Wineskins, 74.


188 Adams, Meeting Houseto Camp Meeting, 14.
189 White, Protestant Worship and Church Architecture, 85, 107. Clowney
and Clowney, Exploring Churches, 74.
190 White, Protestant Worship and Church Architecture, 118.
82 Cristianismo Pagão?

a área onde o clero (e às vezes, o coral) conduzia o cultoNa


igreja "estilo-chancela", oparapeito ou atela de separação que
separa o clero dos membros ainda existe.
A igreja "estilo-concerto'' foi profundamente influenciada
pelo renascentismo do século É essencialmente um audi
tório. O templo éestruturado para enfatizar aatuação dramática
do pregador e do coral.Sua estrutura sugere implicitamen
te que o que o coral (ou grupo de adoração) apresenta para a
congregação serve para estimular os membros àadoração epara
entretê-los.^''' Ela chama também uma atenção exagerada para o
pregador enquanto estáempé ou sentado.
No templo do "estilo-concerto", uma mesa pequena de Co
munhão pode aparecer no chão, abaixo do púlpito. A mesa de
Comunhão édecorada geralmente com candelabros de bronze,
uma cruz e flores. Duas velas na mesa da Comunhão tornaram-
se um símbolo da ortodoxia na maioria das igrejas protestantes
hoje. Assim como acontecia com tantas partes do culto da igreja,
apresença de velas foi emprestada da corte cerimonial do Impé
rio Romano.''^
Ainda adespeito dessas variações, toda aarquitetura protes
tante gera os mesmos efeitos improdutivos que estavam presen
tes nasbasílicas constantinas.Continuaram a manter asdivisões
não-bíblicas entre oclero eos membros. Eencorajam acongre
gação achamar para si mesma um papel de espectador.
Adisposição eas condições dos templos dirigem-se rumo à
passividade. Aplataforma do púlpito atua como um palco, e a

191 Clowney and Clowney, Exploring Churches, 17.


192 White, Protestam Worship and Church Árchitecture, 121ft.
193 Turner, From Temple to Meeting House, Thl, 241.
194 White, Protestam Worship and Church Árchitecture, 140.
195 Ibid., 129,133,134. Algumas igrejas têm batistérios embutidos atrás do
púlpito edo coro. Natradição católica, geralmente não foram colocadas ve
las na mesa do altar até oséculo 11 (Jungmann, The Early Liturgy, p. 133).
A Construção daIgreja 83

congregação ocupa o teatro.Em resumo, aarquitetura cristã


paralisou ofuncionamento do povo de Deus desde que nasceu
no quartoséculo.

INTERPRETANDO O TEMPLO ATRAVÉS DA EXEGESE


A esta altura, você pode estar pensando consigo mesmo: E
daí, grande coisa! Quem se importa em saberque os cristãos dopri
meiro século não tinham igrejas? Ou se as igrejasforam padroni
zadas de acordo com as crenças epráticaspagãs?Ou se os católicos
medievais baseavam sua estrutura nafilosofia pagã? O que tudo
isso tem a ver conosco hoje?
Considere aseguinte sentença: Olocal social das reuniões da
igreja exprime einfluencia o caráter da igreja.''^ Se você supõe
que onde aigreja se reúne ésimplesmente um fator de conve
niência, está tragicamente enganado. Você está negligenciando
uma realidade básica da humanidade. Cada templo que encon
tramos extrai de nós uma resposta. Pelo seu interior e exterior,
nos mostra explicitamente oque aigreja éecomo funciona.
Recomendamos algumas palavras de Henri Lefebvre: "O
♦ • * J 198
espaço nunca está vazio; sempre incorpora um signiiicauo . ^
Este princípio também é definido pelo lema da arquitetura a

196 White, Protestant Worship and Church Architecture, 120,125, 129, 141.
197 Como disse J.G. Davies: "A questão do edifício da igreja éinseparável
da questão da igreja ede sua função no mundo moderno {Secular Use of
Church Buildings, 208).
198 Leonard Sweet: "Church Architecture for the 21 st Century," Your
Church Magazine, Março/Abril 1999, 10. Nesse artigo, Sweet tenta ima
ginar edifícios de igreja pós-modernos que fogem do velho molde arqui
tetônico que promove apassividade. Porém, ironicamente, opróprio Sweet,
inadvertidamente, é escravo do antigo paradigma de edifícios de igreja, es
paços sagrados. Escreveu: "naturalmente, você não constrói um edifício
qualquer quando constrói uma igreja, você constrói um espaço sagrado .
Esse tipo de pensamento pagão tem raízes bem profundas!
84 Cristianismo Pagão?

forma segue afunção". Aforma desses templos reflete sua fun


ção particular.
O ambiente social de um local de reunião da igreja é um
bom indício da compreensão da igreja arespeito do propósito
de Deus para Seu corpo. O local da igreja nos ensina como ir à
reunião. Ensina-nos o que é importante ou não. E nos ensina o
que é aceitável ou não para se dizer.
Aprendemos essas lições do local onde nos reunimos —seja
um edifício de igreja ou uma casa particular. Essas lições não são
neutras, de maneira nenhuma. Entre em qualquer igreja efaça
uma exegese sobre arquitetura. Pergunte asi mesmo quais obje
tos são mais altos e quais são mais baixos. Pergunte asi mesmo
qual éafrente equal éofundo. Pergunte asi mesmo em quais
formas pode serpossível "ajustar" adireção do encontro sob um
impulso repentino. Pergunte a si mesmo: se seria fácil ou difícil
para um membro falar enquanto está sentado para que todos
possam vê-lo e ouvi-lo?
Se você olhar o ambiente da igreja e fizer a si mesmo essas
questões (e outras como essas), entenderá acausa da reputação
que a igreja contemporânea possui. Se você fizer o mesmo con
junto de perguntas sobre uma sala de estar, terá um conjunto de
respostas diferentes. Você entenderá acausa da reputação que
o ambiente de igreja numa casa (assim como faziam os cristãos
primitivos) possui.
^Olocal social da igreja éum fator crucial na vida da igreja.
Nãopode serpresumido simplesmente como "uma verdade aci
dental da hist6ria".2°° Lugares sociais podem ensinar lições mui
to ruins às pessoas boas e devotas, e assim sufocá-las. Chamar
a atenção para a importância do local social da igreja (casa ou
igreja) nos ajuda a entender o poder tremendo de nosso envol
vimento social.

199 Senn, Christian Liturgy, 212, 604. O edifício de igreja do estilo "audi
tório" transforma a congregação em uma audiência passiva, enquanto que
o estilo gótico adispersa em uma nave longa eestreita ou angulosa echeia
de rachaduras.
200 Uma citação de Gotthold Lessing {Lessing's Theological Writings).
AConstrução daIgreja 85

Para determinar um ponto mais refinado sobre isso, o tem


plo da igreja ébaseado na idéia ignorante de que oculto aDeus
é afastado do dia-a-dia. Isso varia depessoa para pessoa, é claro,
em como enfatizam essa disjunção de maneira profunda. Al
guns grupos deixaram sua maneira de enfatiza-la, insistindo que
o cultoaDeusdeveria serfeito somente emespaços específicos,
projetados para você sentir oque sente na vida cotidiana, de for
ma diferente.
A disjunção entre o culto e a vida cotidiana caracteriza o
Cristianismo ocidental. O culto évisto como algo desprendido
de toda a estrutura da vida e embrulhado para consumo em gru
po. Séculos de arquitetura gótica nos ensinaram muito sobre o
que um culto realmente é. Poucas pessoas podem entrar eandar
dentro de uma catedral sem experimentar o poder do espaço.
Ailuminação é indireta e suavizada. Os tetos são altos. As
cores são terrosas e ricas. O som se propaga de uma maneira
especial. Todas essas coisas cooperam juntas para nos passar um
senso de temor eadmiração. Elas são projetadas para manipular
os sentidos ecriar uma "atmosfera veneráveiy°^
Algumas tradições adicionam cheiros àmistura. Mas oefei
to é sempre o mesmo: Nossos sentidos interagem com nosso
espaço para nos trazer um estado de alma —um estado de inti
midação, mistério, etranscendência que se igualam auma fuga
da vida normal.^°^
Nós, protestantes, substituímos alguns dos mais nobres or
namentos da arquitetura com o uso de uma música específica
com oobjetivo de atingir omesmo fim. Consequentemente, nos
círculos protestantes, os "bons" líderes de louvor são aqueles
que conseguem usar a música para evocar o que outras tradi
ções usam para evocar, especificamente, um senso de espírito
de adoração.^°^ Mas isso está deslocado da vida cotidiana e não

201 White, Protestam Worship and Church Architecture, 5.


202 White, The Worldliness of Worship, 79-83.
203 Platão temia que expor ajuventude acerto tipo de música poderia esti
mular emoções erradas. {The Republic, 3:398J.
86 Cristianismo Pagão?

éautêntico. Jonathan Edwards mencionou corretamente que as


emoções são temporárias e não podem serusadas para medir o
relacionamento deuma pessoa com Deus.^°'^
Adisjunção entre osecular eoespiritual érealçada pelo fato
de que o típico templo de igreja requer de você que o "absorva"
ao andar pelas escadas epassar pelo vestíbulo (corredor que leva
até o santuário). Isso é somado à sensação de que você está se
movendo da vida cotidiana para outra vida. Dessa forma, uma
transição énecessária. Tudo isso fracassa no teste da segunda-
feira. Não importa quão bom foi odomingo, amanhã da segun
da-feira ainda vai testar nossa devoção.^®^
Veja como um coral veste suas túnicas antes do culto. Sor
riem, riem eaté fazem piadas. Mas assim que oculto começa tor
nar-se pessoas diferentes. Provavelmente nãoirávê-los sorrindo
ou rindo. Essa falsa separação entre secular e sagrado —essa
"mística do vidro colorido" das manhãs dominicais na igreja—é
imposta sobre a verdade e a realidade.
Além disso, o templo da igreja está longe de ser mais afetuo
so, pessoal ecordial do que acasa de alguém —olocal orgânico
de reunião dos cristãos primitivos.^°^ O templo da igreja não
foi projetado para intimidade nem fraternidade. Na maioria das
igrejas, o assento é um banco de madeira parafusado no chão.
Os bancos (ou cadeiras) ficam organizados em fileiras, todas
de frente para opúlpito. O púlpito fica em uma plataforma ele
vada, onde freqüentemente o clero também senta (vestígios da
basílica romana).
Este sistema faz com que seja quase impossível para um par
ticipante do culto olhar para o rosto do próximo. Ao invés disso,
cria-se uma forma de culto onde se participa e absorve, o que

204 White, Protestam Worship and Church Architecture, p. 19.


205Devo essa perspicácia ao amigo de Frank, Hal Miller.
206 Robert Sommer fala de um espaço "de fuga social" como um lugar onde
as pessoas tendem a evitar o contato umas com as outras. A igreja [pré
dio] moderna se encaixa muito bem na descrição de Sommer. "Sociofugal
SpAce"y American Joumal ofSociology 72 (1967): 655.
A Construção daIgreja 87

OS torna cristãos "esquenta-banco" ("'N.T.: Na versão original,


este termo está comopewpotatoes, que faz uma alusão ao termo
couch (sofá) potato (batata) que significa "viciado em televisão,
que fica muito tempo sentado no sofá". Na verdade, oautor fez
um trocadilho, ea tradução literal seria "batatas de banco ).
Explicando de outra forma, aarquitetura enfatiza afraterni
dade entre Deus eSeu povo, através do pastor! Ainda arespeito
desses fatos, nós, cristãos, tratamos aconstituição física da igreja
como sagrada.
Pode ser que você desaprove aidéia de que otemplo da igreja
seja santo. Mas (para amaioria de nós) nossas ações epalavras
traem nossas crenças. Ouça os cristãos falando de seus templos.
Ouça você mesmo sobre aforma como fala dele. Você, alguma
vez, ouve as pessoas se referindo aele como "igreja"? Você algu
ma vez ouve as pessoas se referindo aele como Casa de Deus ?
O consenso geral entre cristãos de todas as denominações éque
"a igreja é essencialmente um lugar reservado para cultos
Essa tem sido averdade por 1700 anos. Constantino ainda está
vivendo e respirando em nossas mentes.

O VALOR INCRIVELMENTE ALTO DAS DESPESAS

Amaioria dos cristãos contemporâneos vê, de forma errada,


otemplo da igreja como uma parte necessária do culto. Portanto,
nunca questionam, financeiramente, anecessidade de sustentar
o templo e sua manutenção.
O edifício da igreja demanda uma vasta infusão de dinheiro.
Somente nos Estados Unidos, imóveis de igrejas institucionais
valem hoje mais de $230 bilhões. As dívidas, os serviços eama
nutenção da igreja consomem cerca de 18 por cento dos $50
ou $60 bilhões dizimados para as igrejas anualmente.2°« Causa:

207 Davies, Secular Use ofChurch Buildings, 206.


208 Smith, Going to the Root, 95. As pesquisas de George Barna indicam
que os cristãos doam para as igrejas de $50 a$60 bilhões anualmente.
88 Cristianismo Pagâo?

cristãos contemporâneos estão gastando ummontante astronô


mico dedinheiro emseus prédios.
Todas as razões tradicionais apresentadas como "necessida
de" por um templo de igreja, sob uma cuidadosa análise minu
ciosa, causam um colapso.Esquecemos muito facilmente que
os primeiros cristãos colocaram o mundo de cabeça para baixo
sem eles. (Veja Atos 17.6). Cresceram rapidamente durante tre
zentos anos sem aajuda (ou obstáculo) dos templos de igrejas.
No mundo dos negócios, despesas indiretas matam. Des
pesa indireta é o que éadicionado ao "real" trabalho que um
negócio proporciona para seus clientes. As despesas indiretas
são oprédio, os materiais de escritório eaequipe de contabili
dade. Além do mais, templos de igrejas (assim como pastores
e equipes assalariadas) requerem grandes custos contínuos,
mais do que os gastos anteriores. Esses destruidores de or
çamento causam cortes monetários à igreja, o que não ocor
re somente hoje, mas também no próximo mês, no próximo
ano, e assim por diante.
Faça um contraste entre as despesas indiretas de uma igreja
tradicional, que inclui equipe assalariada e também, gastos do
prédio, eas despesas de uma igreja numa casa. Mais do que tal
custo sugar 50 a 80 por cento do valor monetário recebido na
igreja, seus custos de funcionamento chegam a uma porcen
tagem pequena do orçamento, liberando mais do que 95 por
cento do seu dinheiro compartilhado, que poderia ser passado
aos reais serviços como ministração, missão, e alcançar tam
bém o mundo.^^°

209 Howard Snyder derruba os argumentos mais comuns sobre a "neces


sidade" de construir edifícios de igreja em seu livro Radical Renewal: The
Problem ofWineskins Today (Houston: Touch Publications, 1996), 62-74.
210 Para uma discussão sobre por que os cristãos primitivos se encontra
vam em casas e como grandes congregações podem passar a serigrejas ca
seiras, veja Reimagining Church, de Frank Viola (Colorado Springs: David
C. Cook, 2008).
AConstrução daIgreja 89

PODEMOS CONTESTAR ESSA TRADIÇÃO?


A maioria de nós está completamente alheia ao que per
demos como cristãos quando começamos a construir lugares
devotos exclusivamente a cultos. A fé cristãnasceu na casa dos
crentes, eainda em manhãs dominicais, uma multidão de cris
tãos senta em um templo com origens pagãs que são baseadas
nas filosofias pagãs.
Não existe um fragmento de suporte bíblico para otemplo.^''
Ainda assim, uma multidão de cristãos paga um bom dinheiro
todos os anos para santificar seus tijolos e pedras. Ao fazê-lo,
estão apoiando um lugar artificial onde estão adormecidos em
passividade, evitando anaturalidade ou intimidade com outros
crentes.^^^ .
Tornamo-nos vítimas de nosso passado. Fornos apadrinha
dos por Constantino que nos deu ostatus prestigioso de sermos
proprietários de um templo. Fomos blindados pelos romanos e
gregos que forçaram sobre nós suas basílicas hierarquicamen
te estruturadas. Fomos tomados pelos goticos que impuseram
sobre nós sua arquitetura platônica. Fomos seqüestrados pelos

211 OTemplo em Jerusalém era um tipo euma sombra da igreja de Jesus


Cristo, juntamente com o sistema sacrificial que veio com ele. Então, o
Templo não pode ser usado como uma justificativa para os prédios da igreja,
assim como não podemos justificar a prática de assassinar cordeiros hoje.
Aigreja em Jerusalém se encontrava debaixo do telhado do Templo edos
alpendres [pórticos] de Salomão em ocasiões especiais, para atender suas
necessidades (Atos 2.46, 5.12). Paulo alugou uma escola temporariamente
para fazer uma base apostólica enquanto esteve em Éfeso (Atos 19.1-10).
Consequentemente, edifícios não eram, de modo algum, inerentemente
ruins ou bons. Eles podem ser usados para a gloria de Deus. No entanto, a
"igreja [prédio]" retratada neste capítulo esta em desacordo com os princí
pios bíblicos para as razões declaradas aqui.
212 Um escritor católico inglês afirmou isso nos seguintes termos: "se há
um método simples de salvar amissão da igreja, ele é provavelmente a de
cisão de abandonar os edifícios de igreja porque são lugares basicamente
artificiais... e não correspondem a nada que seja normal na vida cotidiana
(Turner, From Temple toMeeting Place, 323).
90 Cristianismo Pagão?

egípcios e pelos babilônios que nos deram suas torres espirais


sagradas. E fomos enganados pelos atenienses que impuseram
sobre nós suas colunas dóricas.^'^
De certo modo, aprendemos anos sentir mais santos quando
estamos na "casa de Deus" eherdamos uma dependência patoló
gica porum edifício onde levamos aadoração aDeus. Nofundo,
o templo nos ensinou muito sobre o que éaigreja e o que faz.
A igreja construída é uma negação arquitetural do sacerdócio
de todos os cristãos. Euma contradição da própria natureza da
ekklesia —aqual éuma comunidade de contracultura. Aigreja
construída impede nossa compreensão e experiência de que a
igreja éo corpo de Cristo em ação que vive erespira debaixo de
Sua liderança direta.
Etempo de nós, cristãos, acordarmos para ofato de que não
somos bíblicos nem espirituais, quando apoiamos as constru
ções de igrejas. E que estamos trazendo um grande prejuízo à
mensagem do Novo Testamento ao chamar os templos feitos
"por mãos de homens" de "igrejas". Se qualquer cristão no pla
neta parasse de chamar os templos de igrejas, apenas criaria uma
revolução na nossa fé.
John Newton disse certa vez, com razão: "Não vamos dei
xar aquela que cultua debaixo de torres espirais, a condenar
quem cultua debaixo de uma chaminé." Comisso em mente,
qual autoridade bíblica, espiritual ou histórica faz com que
cristãos tenham que se reunir debaixo de torres, em primeiro
lugar afinal?

213 Richard Bushman, The Refinement ofAmérica (New York : Alfred


Knopf, 1992), 338. Entre 1820 e 1840, as igrejas americanas começaram a
surgir com colunas dóricas remanescentes do classicismo grego ecom arca
das remanescentes da antiga Roma (Wiiliams, Houses ofGod, 2).
AConstrução da Igreja 91

UM MERGULHO PROFUNDO

1. Templos de igrejaspermitem que um grande número depes


soas se reúnapara um culto. Como aprimeira igrejaadminis
trava essa questão,fazendo os cultos nas casas eainda assim,
viam a si mesmos como um corpo de crentesfDo ponto de
vista prático, como as igrejas orgânicas podem manter um
membro ativo hoje, enquanto crescem em numero^
Hoje, os cristãos consideram que as igrejas primitivas eram
grandes como muitas igrejas institucionais contemporâneas.
Esse, no entanto, não era o caso. Os cristãos primitivos sereu
niam em casas para suas reuniões de igreja (Atos 2.46, 20.20;
Romanos 16.3; ICoríntios 16.9; Colossenses 4.15; Filemon 2).
Dado o tamanho das casas do primeiro século, as igrejas pri
mitivas eram bem menores, comparado com o padrão de hoje.
EmsuaobraA idéia dePaulo sobre Comunidade, o estudioso do
Novo Testamento, Robert Banks diz que a igreja do tamanho
médio incluíatrinta ou trinta e cinco pessoas.^''*
Algumas igrejas do primeiro século, como a de Jerusalém,
eram bem maiores. Lucas nos conta que a igreja em Jerusalém se
reunia em casas por toda acidade (Atos 2.46). Ainda que cada casa
não visse a si mesma como uma casa separada ou denominação,
mas como parte de uma igreja na cidade. Por essa razão, Lucas
sempre se refere aigreja como "a igreja em Jerusalém enão as
igrejas emJerusalém" (Atos 8.1,11.22,5.4). Quando toda aigreja
precisava estar reunida para um propósito específico (por exem
plo Atos 15), encontrava-se em uma instalação já existente aqual
era grande osuficiente para acomodar atodos. Opórtico de Salo
mão fora do templo era utilizado para essas ocasiões (Atos 5.12).
Hoje, quando uma igreja orgânica cresce excessivamente
para se reunir em uma única casa, irá geralmente se multiplicar
em reuniões separadas em casas por toda acidade. Ainda assirn,
freqüentemente, ela verá asi mesma como uma reunião da igreja
em lugares diferentes. Se os grupos das casas precisam congregar

214 Robert Banks, Paul's Idea ofCommunity (Peabody, MA: Hendrickson,


1994), 35.
92 Cristianismo Pagão?

juntos por causa de uma ocasião especial, geralmente alugam ou


emprestam um espaço grande quepossaacomodar a todos.
2. Não tenho certeza se entendo oproblema das igrejas constru
ídas, Vbce esta dizendo que elas são ruinsporque asprimeiras
foram moldadas em grandes construçõespúblicas ouporque
foipromovidapor um imperador comfundamentos teológi
cossuspeitos^Existe nas Escrituras algo queproíbe ocorpo de
Cristo de reunir nelasf
Aresposta para aprimeira pergunta énão, porque não éoque
estamos dizendo. Noentanto, detalhando sua origem, estamos
mostrando que as igrejas foram desenvolvidas sem considerar
qualquer autorização das Escrituras, contrário ao que muitos
cristãos acreditam. Além disso, acreditamos que difamam a
compreensão apropriada daigreja como umcorpo de crentes.
Embora as Escrituras nunca discutam o tópico especifica
mente, as igrejas construídas nos ensinam um número de lições
ruins que vão contra osprincípios do NovoTestamento. Limi
tamo envolvimento dosmembros comotambém afraternidade.
Freqüentemente, a imponência das igrejas construídas distan
cia as pessoas de Deus ao invés de lembrá-las que Cristo habita
no coração de cada crente. Como Winston Churchill afirmou:
Primeiro moldamos nossos templos. Dali em diante, eles nos
moldam". Essa definitivamente tem sido aquestão com as igre
jas construídas.
A idéia dequeas igrejas construídas são "as casas deDeus" e
de referir-se aelas constantemente como "igrejas" énão-bíblica,
etambém viola a compreensão do Novo Testamento do que a
ekklesta realmente e. Acreditamos que epor isso que os cristãos
primitivos não construíram igrejas como aconteceu na era de
Constantino.
O historiador de igrejas Rodney Stark diz: "Durante muito
tempo, historiadores aceitaram aafirmação de que a conversão
do Imperador Constantino (aprox. 285-335) causou o triunfo
do Cristianismo. Pelo contrário, ele destruiu seus aspectos mais
atrativose dinâmicos, tornando os movimentos de muita inten
sidade ede urna multidão, numa instituição arrogante controla
da por uma elite que freqüentemente consegue ser tanto brutal
AConstrução daIgreja 93

quanto indulgente... o 'favor' de Constantino foi sua decisão


em desviar para os cristãos o financiamento da condição mas-
siva, da qual os templos pagãos haviam sempre dependido. Da
noite para odia, oCristianismo se tornou "o recipiente favorito
dos recursos sem limites que estão mais perto dos favores impe
riais". Uma fé que havia se reunido em estruturas humildes foi
subitamente abrigada em prédios públicos magníficos afor
ma basílica usada para salas do trono imperiais serviu de modelo
para anova igreja de São Pedro em Roma.^'^
3. Somente porque Platão, um filósofo pagão foi oprimeiro a
articular como o som, a luz e a cor influenciam o humor e
provocam um senso de esplendor, intimidação edevoção,por
que éerrado que as igrejas considerem tais orientações para
maximizaressesfatores aoprojetarseus templosfNão éapro
priado aplicá-las ao máximo nos cultos cristãos? Afinal de
contas, as Escrituras deixam claro que devemos lembrar-nos
da santidade e da retidão de Deus.
Nosso ponto nessa breve discussão sobre Platão foi simples
mente mostrar que afilosofia pagã "deu uma mão" nos projetos
de engenharia dos templos sagrados, para criar uma experiência
psicológica nas pessoas que entrassem nesses templos. Em nossa
opinião, experiência psicológica não deve nunca ser confundida
com experiência espiritual.
4. Já que os crentes vão paraa igreja duas ou três vezes porse
mana, comoposso dizerque essas estiruturasfrustram aforma
como opovodeDeusfunciona?
A maioria dos cristãos considera os cultos da igreja no tem
plo iguais à"igreja". Líderes de igreja geralmente citam Hebreus
10.25 ("não abandonemos a tradição de nos reunirmos como
igreja") ao dizerem aos membros que devem "ir àigreja" aos do
mingos de manhã. Isso reforça aconcepção errada de que quan-

215 Rodney Stark, Fot the Gloty ofGod: How Monoteistn Lcd to RefoTtnutios,
Sciencey Witch-Hunts, and the End of Slavery (Princeton, NJ: Princeton
University Press, 2003), 33-34.
94 Cristianismo Pagão?

do os escritores do Novo Testamento falam sobre igreja, oque


se tem em mente é sentar passivamente durante um culto num
templo especial umavez por semana.
Mas ofato éque, avisão de encontros na igreja do Novo Tes
tamento é de reuniões em que cada membro tem uma função e
participa do encontro. Eassim como constatamos, otemplo da
igreja anula esse propósito, porsua arquitetura.
Caso em questão: Frank encontrou certos pastores que che
garam à convicção de que o Novo Testamento ensina que as
reuniões da igreja são para participação aberta. Logo após fazer
essa descoberta, os pastores "abriram'* seus cultos na igreja para
permitir que os membros tivessem livre acesso para participar.
Em todos os casos, não deu certo. Os membros permaneceram
passivos. Arazão: aarquitetura do templo. Bancos epalcos, por
exemplo, não são convidativos para uma colaboração aberta.
Eles aobstruem. Pelo contrário, quando essas mesmas congre
gações começam afazer reuniões nas casas, com aparticipação
aberta de todos os membros, a reunião flui.
Colocando de outra forma: se considerarmos aigreja com
bancos evirmos amaioria das fileiras de pessoas passivas, então
os templos são apropriados para atarefa (mas ainda não pode-
nios afirmar que isso ébíblico, visto que oNovo Testamento não
diz nada sobre igrejas em templos).
Por outro lado,se cremos queaidéia deDeus sobre reuniões
de igreja épara aparticipação de todos os membros, para que mi
nistrem espiritualmente um ao outro, então as igrejas em tem
plos como conhecemos hoje, realmente, retardam oprocesso.
Capítulo 3

A Ordem do Culto: Manhãs


Dominicais Dentro de um
Edifício de Concreto

''Os costumes sem a verdade são umerro crescido e mais velho"*


— Tertuliano, teólogo do Século 3

"Tu, pois, ófilho do homem, mostra aos da casa de Israel o


templo, para que se envergonhem das suas iniquidades; emeçam
o modelo. "* Ezequiel 43.10

>E VOCÊ ÉUM CRISTÀO QUE VAI ÀIGREJA,


O] éprovável quevocê
G)(observe amesma ordem superficial do culto toda vez em
que vai até lá. Não importa àqual classe do Protestantismo você
pertence —seja Batista, Metodista, Reformada, Presbiteriana,
Livre Evangélica, Igreja de Cristo, Discípulos de Cristo, Christ
Motorcyclists Association (CMA, em tradução livre. Associação
dos Motociclistas deCristo"), Pentecostal, Carismática, ou não-
denominacional —o cultodo domingo demanhã épraticamente
idêntico ao de outras igrejas protestantes.^ Mesmo entre as deno-

1Há três exceções nesse caso. Os irmãos Plymouth (Abertos eFechados)


tinham uma liturgia fechada onde os paroquianos partilham um pouco, mu
tuamente, no começo do culto. Todavia, aordem do culto eamesma todas
as semanas. Os Quakers da Velha Escola têm uma reunião aberta onde os
paroquianos são passivos até que estejam "bem informados edepois disso.
96 Cristianismo Pagão?

minações chamadas atualizadas [de vanguarda] ('"''N.T.: O termo


em inglês para esse tipo de igreja écutting-edge, que tem os seguin
tes significados: "atualizada", "moderna", "de vanguarda"), como
aVmeyard ea Calvary Chapei, as variações são mínimas.
Além disso, algumas igrejas usam refrões contemporâneos
enquanto outras usam hinos. Em algumas igrejas, os membros
levantam suas mãos. Em outras, suas mãos não são levantadas
nem acima do quadril. Algumas igrejas servem a ceia do Senhor
semanalmente. Outras o fazem trimestralmente. Em algumas
igrejas, a liturgia (ordem do culto) sãoescritas emum boletim.^
Em outras, a liturgia não é escrita, mas ainda assim é mecânica
e previsível como se tivesse sido impressa. Não obstante essas
suavesvariações,a ordem do culto é essencialmente a mesma em
quase todas asigrejas protestantes.

A ORDEM DECULTO DAS MANHÃS DOMINICAIS

Tire as "cascas" das alterações superficiais que fazem os


cultos das igrejas serem distintos e você encontrará as mesmas
liturgias prescritas. Veja quantos dos elementos seguintes você
se recorda do último culto que participou:
O cumprimento: assim que entra no templo, você écumpri
mentado por alguém que está recepcionando ou por alguém que

todos compartilham. Aterceira exceção é a "igreja alta" protestante, que


retem os aromas e smos da missa católica elaborada — incluindo uma
ordem prescrita do culto.
2 A palavra "liturgia" deriva-se da palavra grega leitourgia que significa
"serviço público" ese refere ao desempenho de uma tarefa pública espera
da pelos cidadãos da antiga Atenas. Os cristãos a adotaram para se referir
ao ministério de Deus público. A liturgia, portanto, é simplesmente uma
ordem de serviço ou uma ordem pré-escrita de adoração. White, Protes
tam Worship and ChurchArchitecture 22); Ferguson, Early Christians Speak,
83; veja também Davies, The New Westminster Dictionary ofLiturgy and
Worship (Philadelphia: Westminster Press, 1986), 314.
A Ordem do Culto 97

está lá somente para cumprimentar —que deveria estar sorrin


do! Então, lhe entregam um boletim ou algum material de avisos.
(Observação: se você faz parte de denominações mais novas, você
deve beber café ecomer algumas rosquinhas antes de sentar).
Leitura de orações ou das Escrituras: geralmente dadas pelo
pastor ou pelo líder delouvor.
Aparte de louvor: liderada por um líder de louvor profis
sional, por um coral ou grupo de louvor. Em igrejas do estilo
carismáticas, essa parte do culto dura de trinta aquarenta ecin
co minutos consecutivos. Em outras igrejas, isso é mais curto e
podeserdividido emvários segmentos.
Os avisos: notícias sobre próximos eventos. Geralmente da
das pelo pastor ou poroutro líder da igreja.
Aoferta: algumas vezes chamada de "ofertório", vem acom
panhada por uma música especial do coral, grupo de louvor ou
um solista.

O sermão: de forma geral, o pastor entrega um sermão que


dura de vinte a quarenta e cinco minutos.^ Amédia atual é de
trinta e dois minutos.

Seu culto deve também incluir uma ou mais das seguintes


atividades após o sermão:

Uma oração após o sermão;


Um apelo no altar;
Mais canções lideradas pelo coral ou grupo de louvor;
A Ceia do Senhor;
Orações pelo enfermo ou afligido.

3Veja no capítulo 2uma completa discussão sobre as raízes do sermão.


98 Cristianismo Pagão?

Abênção: esta pode ser uma forma de bênção recebida pelo


pastor ou uma canção para encerrar o culto.

Com algumas poucas alterações, essa é a liturgia contínua


que 345 milhões de protestantes ao redor do globo seguem reli
giosamente semana após semana.^ Durante os últimos quinhen
tos anos, poucas pessoas questionaram isso.
Olhe novamente na ordem do culto. Note que inclui uma
estrutura triplicada: (1) louvor, (2) sermão, (3) oração ou
música de encerramento. Essa ordem de culto é vista como
sacrossanta pelos olhos dos cristãos dos dias atuais. Mas por
quê? Novamente, é devido simplesmente ao poder titânico da
tradição. E essa tradição tem estabelecido a ordem de culto
da manhã dominical dentro do concreto por cinco séculos...e
nunca foi mudada.^

DEONDE VEM A ORDEM DECULTO PROTESTANTE?

Pastores que dizem às suas congregações, em uma rotina,


que"fazemos tudo deacordo como Livro" eainda realizam essa
liturgia rígida, não estão corretos, simplesmente. (Em defesa
deles, afalta de honestidade édevida mais àignorância do que
decepção observável).
Você pode fazer uma busca rápida pela Bíblia, do começo
ao fim, e você nunca encontrará nada que lembra, de forma re
mota, aordem de culto. Isso éporque osprimeiros cristãos não
conheciam tal coisa. Defato, a ordem protestante de culto tem

4 Agora mesmo há 345.855.000 protestantes no mundo: 70.164.000 na


América do Norte e77.497.000 na Europa. The WorldAlmanacand Book of
Facts 2003, (New York: World Almanac Education Group, 2003), 638.
5Um pesquisador descreve atradição como "práticas ecrenças de adoração
herdadas que manifestam continuidade de geração após geração" (White,
Protestam Worship and Church Architecture, 21).
A Ordem do Culto 99

mais base bíblica do que da Missa Católica Romana.^ Ambos tem


poucos pontos de contato com o Novo Testamento.
As reuniões da igreja primitiva foram marcadas pela partici
pação de todos os membros, espontaneidade, liberdade, vibra
ção eparticipação aberta (veja, por exemplo, iCoríntios 14.1-33
e Hebreus 10.25).^ A reunião da igreja do primeiro século era
uma reunião em que tudo fluía, e não tinha um ritual estático.
Eera freqüentemente imprevisível, diferente do culto da igreja
contemporânea.
Além disso, areunião da igreja primitiva não era padronizada
de acordo com os cultos da sinagoga judaica como alguns no
vos autores sugeriram.® Ao invés disso, era totalmente particular
àquela cultura.

6AMissa Medieval é uma mescla deelementos romanos, gauleses e france


ses. Para mais detalhes, veja o ensaio "The Genius ofthe Roman Rite (em
tradução livre, "O Gênio do Rito Romano" de Edmon Bishop, em Studies
in Ceremonial: Essays Ilustrative ofEnglish Ceremonial, ed. Vernon Staley
(Oxford: A. R. Mowbray, 1901) e a obra de Louis Duchesne, Christian
Worship: Its Origin and Evolution, (New York: Society for Promoting
Christian Knowledge, 1912), 86-227). Os aspectos cerimoniais da missa,
tais como incenso, velas e arranjos do edifício foram adotados da corte ce
rimonial dos imperadores romanos (Jungmann, The Early Liturgy, 132-133,
291-292; Smith,Eram Christto Constantine, 173).
7Areunião da igreja do primeiro século está sendo observada hoje em uma
escala crescente, porém pequena. Enquanto tais reuniões são consideradas
muitas vezes como radicais e revolucionárias pelo ramo principal do Cris
tianismo, esta não é mais radical ou revolucionária que a igreja do século
primeiro. Para uma discussão acadêmica sobre reuniões da Igreja Primi
tiva, veja: PauEs Idea ofCommunity, de Robert Banks, Capítulos 9-11; The
Church Comes Home^ de Banks and Banks, Capítulo 2; Church Order in
the New Testament de Eduard Schweizer, (Chatham, UK: W & J. Mackay,
1961), 1-136.
8 Veja PauEs Idea of Community, de Robert Banks, 106-108, 112-117,
Origins of Christian Worship, de Bradshaw, 13-15, 27-29, 159-160, 186.
Bradshaw argumenta contra a idéia de que o Cristianismo do primeiro sé
culo herdou suas práticas litúrgicas do Judaísmo, afirmando que essa idéia
começou por volta do século 17. David Norrington afirma: Temos poucas
100 Cristianismo Pagão?

Então, de onde vem aordem de culto protestante? Tem suas


raízes naMissa Medieval Católica.' Significantemente, a Missa
não se originou do Novo Testamento; cresceu do antigo Judaís
mo e do paganismo.^° De acordo com Will Durant, aMissa Ca
tólica era "baseada parcialmente nos cultos do Templo Judaico,
e parcialmente nos rituais gregos misteriosos, de purificação,
sacrifício indireto e participação."''
Gregório, oGrande (540-604), que foi oprimeiro monge ase
tornarPapa, é o homem responsável por darforma àMissa Me
dieval.Enquanto Gregório é reconhecido como um homem
extremamente generoso e um administrador hábil e diplomata.

evidências de que os primeiros cristãos tentaram perpetuar o estilo da si-


nagoga (Tb Preach or Not, p. 48). Além disso, a sinagoga judaica foi uma
invenção humana. Alguns pesquisadores acreditam que asinagoga foi cria
da durante o cativeiro babilonico (século 6 a.C.), quando a adoração no
templo de Jerusalém era impossível. Outros creem que as sinagogas vieram
depois: nos séculos 2 ou 3 a.C. com o surgimento dos fariseus. Embora a
sinagoga tenha se tornado o centro da vida judaica depois da destruição do
templo de Jerusalém em 70 d.C., nada há no Antigo Testamento precedente
(nem divino) que justifique essa instituição. Joel B. Green, ed., Dictionary
ofJesus and the Gospels (Downer's Grove, IL: InterVarsity, 1992), 781-82;
Alfred Edersheim, The Life and Times ofJesus the Messiah, (Mclean, VA:
Macdonald Publishing Company, 1883), 431. Além do mais, a inspiração
arquitetônica da sinagoga era pagã (Norrington, Tb Preach orNot, 28).
9 A palavra Missa, que significa "demissão" da congregação (mission, dis-
missio) se tornou, no final do século 4, a palavra que definia a liturgia da
celebração da Eucaristia (Schaff, History ofthe Christian Church 3:505).
10 Ahistória da origem da missa está fora do escopo desse livro. Basta dizer
que a missa foi essencialmente uma mistura entre 1) o ressurgimento do
interesse gentilico pela adoração na sinagoga e2) ainfluência pagã anterior
que remonta ao século 4 (Senn, Christian Liturgy, 54; Jungmann, The Early
Liturgy,\23, 130-144).
11 Durant, Caesar and Christ, 599.
12 As principais reformas de Gregório moldaram a missa católica, acredita-
se, desde o período Medieval até aReforma. Schaff, History ofthe Christian
Church, 4:387-388.
A Ordemdo Culto 101

Durant nota que Gregório foi também um homem incrivelmen


te supersticioso, cujo pensamento era influenciado por concei
tos mágicos do paganismo. Incorporou amente medieval, que
foi influenciada pelo paganismo, pela magica epelo Cristianis
mo. Não foi àtoa que Durant chamou Gregório de "o primeiro
homem completamente medieval."^^
A Missamedieval refletiu a mente de seu iniciador. Foi uma
mistura de rituais pagãos e judeus com uma pitada da teolo
gia católica e do vocabulário cristão.'"' Durant apontou que a
Missa estava profundamente engajada no pensamento mágico
pagão, assim como no Drama Grego.Ele escreve: A mente
grega, morrendo, veio para uma vida transmigrada na teologia
eliturgia da igreja; alíngua grega, tendo reinado por séculos
sobre a filosofia, se tornou o veiculo da literatura cristã e de
seus rituais; os mistérios gregos passaram pelo mistério im
pressionante daMissa."'^

13 Durant, i4ge ofFaith,521-524.


14 Schaff esboçou as variadas liturgias católicas que alcançaram seu ponto
culminante na liturgia de Gregório. A liturgia de Gregório dominou por
séculos a igreja latina e foi sancionada pelo Concilio de Trento. (Schaff,
History ofthe Christian Church, 3:531-535). Gregório também desenvol
veu e popularizou a doutrina católica do purgatório , embora tenha ex
traído vários comentários especulativos de Agostinho (Gonzalez, Story of
Christianity, 247). Com efeito, Gregório fez com que os ensinamentos de
Agostinho formassem ateologia fundamental da Igreja Ocidental. Agos
tinho", disse Paul Johnson, "foi o gênio obscuro do Cristianismo imperial,
oideólogo da aliança Igreja/Estado eofabricante da mentalidade Medieval.
Depois de Paulo, foi quem supriu ateologia básica efez mais pela formação
do Cristianismo que qualquer outro ser humano' {History ofChristianity,
112). Durant disse que ateologia de Agostinho dominou afilosofia católica
até o século 13. Agostinho também deu uma nova coloração ao neoplato-
nismo (Durant, Age ofFaith, 74).
15 Durant, Caesar and Christ, 599-600, 618-619, 671-672; Durant, Age of
Faith, 1027.
16 Durant, Caesar and Christ, 595.
102 Cristianismo Pagão?

Narealidade, aMissa Católica que emergiu no século 6, era


fundamentalmente pagã. Cristãos incorporaram as vestimentas
dos sacerdotes pagãos, ouso do incenso eágua benta em rituais
depurificação, velas em cultos e adoração, a lei de Roma como
base da lei canonica', o titulo Pontifex Maximus para o bispo
lídere os rituais pagãos paraaMissa Católica.'^
Uma vez estabelecida, a Missa mudou um pouco durante
mil anos.^® Mas asituação litúrgica "sem saída" experimentou
sua primeira revisão quando Martinho Lutero (1483-1546) en
trou em cena. Assim quando outras denominações protestan
tes nasceram, também ajudaram areformular aliturgia católica.
Como atransformação émuito complexa emuito extensa para
sernarrada neste livro, podemos pesquisar ahistória básica.

ACONTRIBUIÇÃO DE LUTERO
Em 1520, Lutero lançou uma campanha apaixonada contra a
Missa Católica Romana.^' O ponto altodaMissa Católica sem-

17 Ibid., 618-619.
18 A missa moderna mudou pouco desde 1500 (James R White, Protestam
Worship: Traditions in Transition (Louisville: Westmínster/ John Knox,
1989), 17). A forma usada hoje remonta aoMissal Romano, Sacramentos
e Instruções de 1970 (Senn, Christian Liturgy, 639). Mesmo assim, a missa
do século 6assemelha-se à missa de nossos dias (Jungmann, The Early
Liturgy^ p. 298).
19 Essa campanha foi articulada no radical tratado de Lutero, The
Baip/lonian Captivity ofthe Church. Esse livro caiu como uma bomba sobre
osistema catolico romano, desafiando onúcleo da teologia por trás da missa
católica. No The Babylonian Captivity, Lutero atacou as seguintes três ca
racterísticas da missa; 1) Negação do cálice aos leigos; 2) Transubstanciação
(a crença de que o pão e o vinho se tornam o corpo esangue reais de Cris
to); 3) O conceito de que a missa é uma obra humana oferecida para Deus
como um sacrifício de Cristo embora Lutero rejeitasse atransubstanciação,
ainda acreditava numa "presença real" do corpo e do sangue de Cristo nos
elementos do pão edo vinho, uma crença chamada "consubstanciação". Em
A Ordem do Culto 103

pre foi aEucaristia,também conhecida como "Comunhão ou


a "Ceia do Senhor".
Tudo centraliza e leva ao momentoemqueo sacerdote parte
opão edá ao povo. Para amente católica medieval, oservir da
Eucaristia era um novo sacrifício deJesus Cristo. Desde Gre-
gório, oGrande, aigreja Católica ensinou que Jesus Cristo era
sacrificado novamente através da Missa.^'
Lutero lutou (freqüentemente o fez de forma grosseira)
contra as roupas e a equipe da liderança católica romana e seu
ensino sobre a Eucaristia.^^ O erro cardinal daMissa, disseLute
ro, foi que essa era uma "obra" humana baseada em um entendi
mento inexato do sacrifício de Cristo.^^ Então, em 1523,Lutero
estabeleceu suas próprias revisões para aMissa Católica.^"* Essas
revisões são a fundação do culto na maioria das igrejas protes-

Captivity, Lutero também nega os sete sacramentos, adotando apenas três:


batismo, penitência eaceia (Senn, Christian Liturgy, 268). Apenitência foi
a última a ser adotada como sacramento.
20 Apalavra Eucaristia deriva-se da palavra grega eucharisteo que significa
"dar graças". Aparece em ICoríntios 11.23-24, em que diz que Jesus tomou
o pão, partiu-o e "deu graças". Os cristãos pós-apostólicos referiam-se à
Ceia do Senhor como "Eucaristia".
21 Lutero fez suas revisões litúrgicas no tratado Form ofthe Mass. (Gon-
zalez, The Story ofChristianity, 247). Note que os teólogos católicos mais
recentes, nos últimos 70 anos, têm dito que a Missa é uma representação
do único sacrifício em vez de um novo sacrifício como a Igreja Católica
Medieval acreditava.

22 As batinas (capas) e outras roupas simbólicas que os bispos vestiam


representavam sua autoridade eos separava dos leigos.
23 Por muitas vezes, consideraram a Eucaristia uma "oblação" ou "sacrifício"
por cinco séculos. James Hastings Nichols, Corporate Worship in lhe Reformed
Tradition, (Philadelphia: The Westminster Press, 1968), 25. Veja também
Senn, Christian Liturgy, 270-275. Loraine Boettner detalha os erros da Missa
Medieval Católica no Capítulo 8de seu livro Roman Catholicism (Phillipsburg,
NJ: The Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1962).
24 O nome latino para isso é Formula Missae.
104 Cristianismo Pagão?

tantes.2^ Seu âmago era este: Lutero fez da pregação, mais do que
a Eucaristia, o centro da reunião.^^
Consequentemente, noculto contemporâneo protestante, o
púlpito, mais do que amesa do altar, éoelemento central.^^ (A
mesa do altar éonde aEucaristia écolocada na Igreja Católica,
Anglicana e Episcopal). Lutero toma o créditode fazersermões
como oclímax do culto protestante.^® Leia suas palavras: "Uma
congregação cristã nunca deveria se reunir sem apregação da Pa
lavra de Deus eaoração, não importa o quanto sejam breves''...
"a pregação e o ensino da Palavra de Deus são as partes mais
importantes do culto Divino".^^
Acrença de Lutero na centralidade da pregação como amar
ca do culto ficou fixada até os dias de hoje. Ainda que aatitude de
fazer da pregação ocentro da reunião da igreja não tenha prece-

25 White, Protestam Worship: Traditions in Transition, pp. 36-37.


26 Ibid., 41-42. Mesmo tendo uma elevadíssima estima pela Eucaristia,
Lutero retirou da missa toda sua linguagem sacrificial, reservando-a apenas
para a própria Eucaristia. Ele acreditava fortemente na Palavra e no Sacra
mento. Então, sua missa alemã assumiu asanta comunhão eapregação.
27 Algumas igrejas "litúrgicas" na tradição protestante ainda mantêm a
mesa do altar próxima do púlpito.
28 Antes da era Medieval, tanto o sermão como a Eucaristia tiveram um
lugar proeminente na liturgia cristã. O sermão, porém, entrou em sério de
clínio durante o período Medieval. Muitos padres eram iletrados demais
para pregar, entre outros elementos impediram a pregação das Escrituras.
Maxwell, An Outline ofChristian Ví^orship, 72. Gregório, o Grande, buscou
restabelecer o lugar do sermão na missa. Contudo, seus esforços falharam.
Foi apenas com a chegada da Reforma que o sermão tomou o papel central
na liturgia (Schaff, History ofthe Christian Church, 4:227, 399-402).
29 Essas citações de Lutero estão em "Concerning the Order of Public
Worship", Luther's Works, LIII, 68. Lutero criou os três cultos nas manhãs
dominicais. Todas eram acompanhadas por sermões. (Schaff, History of
the Christian Church, 7:488). Roland Bainton contou 2300 sermões pre
gados por Lutero durante sua vida. Here I Stand: Alife ofMartin Luther
(Nashville:Abingdon Press, 1950), 348-349.
A Ordem do Culto 105

dentesbíblicos.^® Assim como um historiadorcolocou: "O púl


pito éotrono do pastor protestante".^^ Por esta razão, ministros
protestantes que foram ordenados são geralmente chamados de
"pregadores".^^
Mas àparte dessa mudança, aliturgia de Lutero variou pouco
da missa católica,^^ desde que Lutero tentou preservar aquilo que
pensava ser os elementos "cristãos" na antiga ordem católica.^''
Em conseqüência disso, se você comparar aordem de culto de
Lutero com aliturgia de Gregórío, é, na essência, amesma coisa.^^
Manteve acerimônia, acreditando que iria serbem-sucedida.^^
Como por exemplo, Lutero reteve o ato que marcou o mo
mento extremo da Missa católica: o momento em que o pão e

30 Atos 2.42 diz que: "Eles perseveraram no ensino dos apóstolos e na


comunhão, no partir do pão e nas orações".
31 Schaff, History ofthe Christian Church, 7:490.
32 White, Protestant Worship, 20.
33 Lutero ainda seguia ahistórica Ordem Ocidental. Aprincipal diferença
foi que Lutero eliminou as orações do ofertório eas orações do Cânon que
falavam em oferendas, depois do Sanctus. Em suma, Lutero golpeou amissa
sempre fortalecendo o"sacrifício". Ele, juntamente com outros reformado
res, removeram muitos dos decadentes elementos medievais da missa. Para
fazer isso, construíram a liturgia em vernáculo comum, incluindo canções
congregacionais (cânticos e coros para os luteranos; salmos métricos para
os reformados), a centralidade do sermão, e permitindo aos congregantes
participarem da Sagrada Comunhão. (Senn, Christian Worship, 84, 102).
34 Schaff, History ofthe Christian Church, 7:486-487. O reformador alemão
Carlstadt (1480-1541) era mais radical que Lutero. Durante aausência de Lu
tero, Carlstadt aboliu aMissa por inteiro, destruindo os altares e as imagens.
35 Frank Senn descreve aliturgia católica primitiva em seu livro {Christian
Litur^, 139). Lutero reteve apalavra "Missa", que significava toda aliturgia
(p. 486).
36 Lutero enfatizou o cerimonial dacorte dos reis e acreditava que isso deveria
ser aplicado na adoração aDeus (Senn, Christian Worship, 15). Veja ocapítulo 2
deste livro para ver como oingresso do protocolo imperial passou aser uma parte
integrante da liturgia cristã durante oséculo 4com oreino de Constantino.
106 Cristianismo Pagão?

a taça são levantados para serem consagrados, uma prática que


começou no século 13 efoi baseada principalmente em supersti
ção.^^ Lutero meramente reinterpretou o significado deste ato, o
vendo como uma expressão da graça que Cristo estendeu ao povo
de Deus.^® Mas isso épraticado por muitos pastores ainda hoje.
Dessa rnaneira, Lutero fez uma cirurgia drástica na oração
da Eucaristia, retendo somente como "as palavras de institui
ção" de ICoríntios 11.23cf. (WEB) —"Então o Senhor Je
sus nanoite em que foi traído, tomou o pão...e disse: *Tome, e
coma. Este éo meu corpo.'" Mesmo hoje, os pastores protes
tantes religiosamente recitam esse texto antes de administrar
a Comunhão.
No fim, aliturgia de Lutero nada mais era do que uma ver
são truncada da MissaCatólica.^° E a ordem de culto de Lutero
contribuiu para os mesmos problemas: os membros ainda eram
espectadores passivos (embora agora pudessem cantar), etoda a
liturgia era ainda direcionada porum membro doclero ordenado
(o pastor havia substituído o padre). Isso estava em uma con
tradição austera às reuniões da igreja que fluíam naturalmente,
tinham participação aberta, todos os membros do corpo funcio
nando liderados por Jesus Cristo, sobre as quais o Novo Testa
mento relata. (Veja ICoríntios 14.26; Hebreus 10.24-25).
Nas próprias palavras de Lutero: "Nossa intenção não éagora,
nem nunca foi, abolir o culto litúrgico de Deus completamente,
mas muito mais que isso, purificar o culto em uso por grupos de
pessoas miseráveis que o corromperam."^' Tragicamente, Lutero

37 Senn, Chrístian Worship, 18-19.


38 Quando osacerdote católico levantava osacramento, era para inaugurar
o sacrifício.

39 White, Protestam Worship: Traditions in Transition, 41-42; MaxweW, An


Outline ofChristian Worship, 75.
40 Lutero reteve a ordem básica da Missa Medieval juntamente com os
aspectos das luzes, incenso e as vestimentas (Maxwell, An Outline of
Christian Worship, 77).
41 Luther, Luther's Work, LIII, 20.
A Ordem do Culto 107

não percebeu que onovo vinho não pode ser armazenado em odres
devinho velho."*^ Em nenhum momento, Lutero (ou nenhum dos
outros principais reformadores) demonstrou um desejo de retor
nar às práticas da igreja do primeiro século. Esses homens começa
ram uma mera jornada para reformar ateologia da igreja católica.
Em suma, as mudanças mais duradouras que Lutero fez para
a Missa Católica foram as seguintes: (1) promoveu os cultos
mais na linguagem do povo do que em latim, (2) centralizou o
sermão nas reuniões, (3) introduziu olouvor congregacional,
(4) aboliu aidéia de que aMissa era um sacrifício de Cristo e(5)
permitiu que acongregação também se unisse ao pão eao vinho
(além do padre, como era costume na igreja católica). Entre ou
tras diferenças como essas, Lutero manteve a mesma ordem de
culto como encontrada na Missa Católica.
Pior que isso, embora Lutero tivesse falado tanto sobre o
"sacerdócio de todos os crentes", nunca abandonou a prática de
umclero ordenado."*^ De fato, sua crença emumclero ordenado
era tão forte que escreveu: "a ministração publica da Palavra deve
ser estabelecida por ordenação santa como as funções maiores
e mais altas das funções da igreja."*^ Debaixo da influência de
Lutero, o pastor protestante simplesmente substituiu o padre

42 Ironicamente, Lutero insistiu que sua missa alemã não deveria ser
adotada de modo legalista e se fosse antiquada deveria ser descartada
{Christian Worship andIts Cultural Setting, 17). Isso nunca aconteceu.
43 Amante da música, Lutero introduziu a música como principal parte do
culto. (White, Protestam Worship, 41; Hinson, "Worshiping Like Pagans?"
Christian History, 12, no. 1 (1993): 16-19. Lutero era um gênio musical.
Seu dom musical era tão forte que os jesuítas disseram que os cânticos de
Lutero "provocaram mais dano às almas do que seus escritos e pregações .
Não éde admirar que um dos maiores talentos musicais da história da igre
ja fosse um luterano: Johann Sebastian Bach. Para mais detalhes quanto à
contribuição musical de Lutero à liturgia protestante veja: Senn, Christian
Liturgy, 284-287; Protestam Worship, 41, 47-48; Will Durant, Reformation
(New York: Simon andSchuster, 1957), 778-779.
44 White, Protestam Worship, 41.
45 "Concerning the Ministry," Luther's Works, XL, 11.
108 Cristianismo Pagão?

católico. Epara amaior parte, havia uma pequena diferença prá


tica na forma como esses dois cargos funcionavam.''^ Esse éainda
o caso, como iremos considerar no capítulo 5.
Oque segue éaordem de culto de Lutero.**^Asinopse geral deve
parecer bem familiar avocê—porque éaraiz principal do culto na
manhã dominical encontrada na maioria das igrejas protestantes."*^
Louvor
Oração
Sermão
Admoestação ao Povo
Ceia do Senhor
Louvor
Oração de Pós-Comunhão
Bênção

46 o sacerdote católico ministrava sete sacramentos enquanto que opastor


ministrava dois (oBatismo e a Bucaristia). Todavia, tanto sacerdotes como
pastores viam asi mesmos dotados da exclusiva autoridade para proclamar
a Palavra de Deus. Para Lutero, o uso de batinas clericais, velas no altar e
a atitude do ministro quanto à oração era motivo de indiferença (Schaff,
HistoTy ofthe Chvistian Church, 7:489). Mas mesmo sendo indiferente atais
coisas, aconselhou que elas permanecessem (Senn, Christian Liturgy, 282).
Portanto permanecem conosco até hoje.
47 Essa liturgia foi publicada em sua obra German Mass and Order ofSer-
vice no ano 1526.

48 Senn, Christian Liturgy, 282-283.


49 Note que esse sermão foi precedido e seguido por canções e oração. Lu
tero acreditava que intercalar canções e sermões fortalecia o sermão e forne
cia uma resposta devocional. (Senn, Christian Litur^, 306). A maioria das
canções cantadas pela missa alemã de Lutero eram versificações de cantos e
credos latinos (Versificação é fazer versos de prosas). Lutero escreveu cerca
de 36 hinos {Luther s Works, LII). E era um gênio em canções modernas e
em transforma-las em hinos cristãos. Seu sentimento era "por que deixar que
o diabo tenha todos os tons bons?". Marva J. Dawn, Reaching Out without
Dumhing Dcmn: A Theology ofWorship for the Tum-of-the-Century Culture
(Grand Rapids, Eeddmans, 1995), 189. (Note que outros tinham citado isso
também eWilliam Booth do Exército da Salvação foi um deles.)
A Ordem do Culto 109

ACONTRIBUIÇÃO DE ZWINGLI
Com o advento das impressões de Gutenberg (aproxima
damente 1450), aprodução em larga escala de livros litúrgicos
acelerou as mudanças litúrgicas que os reformadores tentaram
fazer.5° Aquelas mudanças estavam agora ajustadas para algo mó
vel eimpresso em grande quantidade.
O reformador suíço Ulrich Zwingli (1484-1531) fez um
pouco em suas próprias reformas que ajudaram amoldar aor
dem de culto de hoje. Ele substituiu a mesa do altar por algo
chamado "mesa da Comunhão" naqual opão eovinho são servi-
dos.^^ Também introduziu as bandejas demadeira ondeopãoera
servido e as taças onde o vinho era servido às pessoas sentadas
nos bancos.^^
A maioria das igrejas protestantes ainda têm essa mesa.
Geralmente tem duas velas sobre ela — um costume que
veio diretamente da corte cerimonial dos imperadores ro
manos." E a maioria carrega o pão e a taça ao povo sentado
nos bancos.
Zwingli também recomendou que a ceia do Senhor fosse
realizada trimestralmente (quatro vezes porano). Isso foi em
oposição ao tomá-la semanalmente como outros reformadores
sustentavam." Muitos protestantes seguem essa orientação so-

50 Senn, Christian Liturgy, 300.


51 Hardman, History ofChristian Worship, 161. Sobre isso, Frank Senn es
creveu: "Nas igrejas reformadas, o púlpito dominou o altar tão comple
tamente que ao invés do altar desaparecer, foi substituído pela mesa usa
da para a santa comunhão, apenas algumas vezes por ano. Apregação da
Palavra dominou o serviço. Isso ocorreu como conseqüência da chamada
redescoberta da Bíblia, que surgiu em virtude da invenção da imprensa, um
fenômeno cultural" {Christian Worship, 45).
52 Senn, Christian Liturgy, 362; Protestam Worship, 62.
53 Jungmann, Early Liturgy, 132-133, 291-292; Smith, From Christ to
Constantine, 173.
54 Senn, Christian Liturgy, 363.
110 Cristianismo Pagão?

bre a ceia, de quatro vezes por mês, hoje. Alguns afazem uma
vez por mês.
Zwingli também é reconhecido por lutar pela visão "memo
rial da Ceia. £ssa visão e abraçada pelo principal movimento
do Protestantismo Americano." Essa éavisão do pão eda taça
como meros símbolos do corpo e do sangue de Cristo." De
qualquer forma, ao lado dessas variações, aliturgia de Zwingli
não era muito diferente da de Lutero.^'' Como Lutero, Zwingli
enfatizou acentralidade da pregação, ao ponto dele eseus com
panheiros de trabalho pregarem quatorze vezes por semana."

ACONTRIBUIÇÃO DE CALVINO ECOMPANHIA


Os reformadores Calvino (1509-1564), John Knox (1513-
1572), eMartin Bucer (1491-1551) aderiram àforma litúrgica.
Esses homens criaram suas próprias ordens de culto entre 1537
e 1562. Embora suas liturgias fossem observadas em diferentes
partes do mundo, eram quase idênticas." Fizeram meramente
poucos ajustes à liturgia de Lutero. O mais notável foi a coleta
dedinheiro que seguia o sermão.^°

55 White, Protestant Worship, 60.


56 O ponto de vista de Zwingli sobre isso era mais complexo. Mesmo as
sim, seu conceito da Eucaristia não era tão "elevado" como o de Calvino
ou Lutero (Maxwell, Outline ofChristian Worship, 81). Zwingli é o pai da
moderna visão protestante da Ceia do Senhor. Obviamente, é bom destacar
que as igrejas "litúrgicas" protestantes celebram a Palavra e o Sacramento
semanalmente.

57 Aliturgia de Zwingli édescrita em Christian Litur^, 362-364.


58 White, Protestant Worship: Traditions in Transition, 61.
59 Essas liturgias foram usadas em Estrasburgo, Alemanha (1537), Gênova,
Suíça (1542), e Escócia (1562).
60 A coleta era arrecadada para os pobres (Senn, Christian Liturgyy 365-
366). Calvino escreveu: "Nenhuma assembléia da igreja deve ser convocada
sem que se pregue a Palavra, sem que se ofereçam orações, sem que se mi-
A Ordem do Culto 111

Como Lutero, Calvino acentuoua centralidade da pregação


durante o culto. Acreditou que cada crente tinha mais acesso a
Deus através da palavra pregada do que através da Eucaristia.^^
Dado seu gênio teológico, apregação de Calvino em Gênova era
intensamente teológica eacadêmica. Era também extremamente
individualista, amarca que nunca deixou o Protestantismo."
Aigreja de Calvino em Gênova foi feita com o modelo de
todas as igrejas reformadas. Então, suas ordens de culto se espa
lharam por todo lugar. Isso explica ocaráter cerebral da maioria
das igrejas hoje, particularmente aReformada eaProtestante.^^
Por causa dos instrumentos musicais não serem explicita
mente mencionados no Novo Testamento, Calvino dispensou
os órgãos de tubo e os corais.^'' Todas as canções eram feitas à

nistre aCeia do Senhor e a oferta aos pobres" (Nichols, Corporate Worship


in the R^ormed Tradition, 29). Embora Calvino desejasse ministrar aCeia
do Senhor semanalmente, suas igrejas reformadas seguiram a prática de
Zwingli de ministrá-la trimestralmente (White, Protestant Worship, 65, 67).
61 Dictionary ofPentecostals and CharismaticMovements de Stanley M. Bur-
gess eGary B. McGee (Grand Rapids: Zondervan, 1988), 904. A Palavra ,
para os reformadores, significa aBíblia eapalavra pregada significa aPalavra
encarnada. Tanto o sermão como a leitura bíblica estavam relacionados um
com o outro e eram vistos como a "Palavra" (Nichols, Corporate Worship,
30). Aidéia da pregação da Bíblia como aprópria "Palavra de Deus aparece
em Confessio Helvetica Posterior At 1566.
62 O rigoroso individualismo do Renascimento influenciou a mensagem
dos reformadores, que foram um subproduto de seu tempo. O evangelho
que eles pregaram estava centrado nas necessidades individuais eno desen
volvimento pessoal. Não era comunitário como a mensagem dos cristãos
do século primeiro. Essa ênfase individualista foi adotada pelos puritanos,
pietistas e evangelistas, isso penetrou em todas as áreas da vida e do pen
samento da América do Norte. (Senn, Christian Worship, 100, 104; Terry,
Evangelism,\15.
63Protestant Worship, 65.
64 Ibid., 66. Zwingli, que também era músico, concordava com aconvicção
de Calvino de que a música instrumental e o uso de coros não deveriam
fazer parte do serviço da igreja (p. 62).
112 Cristianismo Pagão?

capela. (Algumas Protestantes Contemporâneas, como aIgreja


de Cristo, ainda seguem aeliminação rígida de instrumentos de
Calvino.) Isso mudou na metade do século 19, quando igrejas
reformadas começaram a usar instrumentos musicais e corais."
De qualquer forma, os puritanos (calvinistas ingleses) continu
aram no espírito de Calvino, condenando tanto os instrumentos
musicais quanto os corais."
Provavelmente, acaracterística mais devastadora da liturgia
de Calvino é que ele liderava a maior parte do culto sozinho,
apartir do púlpito.O Cristianismo não havia se recuperado
disto ainda. Hoje, o pastor é o Mestre de Cerimônias ou o
CEO (Chief Executive Officer —Diretor-Executivo) do cul
to das igrejas nas manhãs dominicais da Missa Católica. Esse é
o contraste absoluto àreunião daigreja prevista nas Escrituras.
Deacordo com o Novo Testamento, o SenhorJesus Cristoé o
líder, o diretor, e o CEO da reunião da igreja. Em ICoríntios
12, Paulo nos diz que Cristo fala através de todo oSeu Corpo,
e não somente através de um membro. Nesse tipo de reunião,
Seu Corpo funciona de forma livre, debaixo de Sua liderança
(liderança direta) através da obra de Seu Espírito Santo. Pri
meiro, ICoríntios 14 nos dá uma idéia de uma reunião como
esta. Esse tipo de reunião évital para o crescimento espiritual
do povo de Deus e da total expressão de Seu Filho na terra."
Outra característica que Calvino contribuiu para a ordem
do culto éaatitude lúgubre que muitos cristãos são encoraja-

65 Ibid., 76. Para Calvino, todos os cânticos deveriam incluir palavras do


Antigo Testamento, apenas os hinos foram excluídos (p. 66).
66 Ibid., 126.
67 Ibid., 67. Isso também foi praticado pelos contemporâneos de Calvino,
Martin Bucer. (White, Protestam Worship and Church Architecture, 83).
68 Note que o Novo Testamento nos apresenta diferentes tipos de reunião.
Algumas reuniões são caracterizadas por um pregador central como um após
tolo ou um evangelista numa audiência. Mas essas reuniões eram esporádicas
e temporárias, na verdade. Não eram marcadas pela participação, liberdade e
espontaneidade de todos os membros debaixo da liderança de Jesus Cristo.
A Ordem do Culto 113

dos a adotar quando entram em um templo. Essa atmosfera é


de um profundo senso de auto-humilhação perante um Deus
soberano e austero.^'
Martin Bucer é igualmente reconhecido por estimular essa
atitude. No começo de todo culto, recitava os Dez Mandanien-
tos para criar um senso de veneração.^® Através dessa mentalida
de, outras práticas mais exorbitantes nasceram. O Puritano da
Nova Inglaterra era conhecido por punir crianças que sorriam na
igreja! Além disso, criaram o"Tithingman", que deveria acordar
os membros que estivessem dormindo, batendo neles com um
cajado pesado.^'
Tal pensamento éuma regressão àvisão medieval atrasada de
devoção.^^ Mesmo assim, foi abraçado emantido vivo por Cal-
vino eBucer. Enquanto muitos pentecostais contemporâneos e
carismáticos quebraram essa tradição, emaquinalmente seguida
em muitas igrejas hoje. Amensagem é: fique bem quieto esole
ne, pois essa é a casa deDeus!
Mais uma prática que os reformadores guardaram da missa foi
a do clero andar entrea divisão dosassentos no começo do culto
enquanto o povo estava em pé cantando. Essa prática começou
no século 4quando os bispos andavam dentro de suas magníficas
igrejas basílicas. Foi uma prática copiada diretamente da cerimônia
pagã da corte imperial.'''^ Quando os magistrados romanos entra-

69 Horton Davies, Christian Worship: ItsHistory andMeaning (New York:


Abingdon Press, 1957), 56.
70 White, Protestam Worship and Church Architecture, 74.
71 Alice Mores Earle, "Sketches ofLife inPuritan New England", Searching
Together, 11,no. 4 (1982): 38-39.
72 Os medievais confundiam clima sombrio com santidade, e morosidade
com piedade. Bem diferente dos cristãos primitivos marcados pelo júbilo e
pela alegria. Veja Atos 2.46; 8.8; 13.52; 15.3; iPedro 1.8.
73 Isso contrasta com o Salmo que convoca o povo de Deus a entrar em
Seus átrios com alegria, louvor e ação de graças (Veja o Salmo 100).
74 Senn, Christian Worship, 26-27. Esse chamado "rito de entrada" incluía
salmos (intróito), a adoração da letania (Kyrie) e uma canção de louvor
114 Cristianismo Pagão?

vam nas salas de tribunal, opovo colocava-se em pé ecantava. Essa


prática ainda éobservada hoje em muitas igrejas protestantes.
Assim como oCalvinismo foi espalhado por toda aEuropa,
aliturgia de Calvino em Gênova foi adotada na maioria das igre
jas protestantes. Foi transplantada efincou raízes em múltiplos
países.^^ Geralmente, é assim:^^

Oração
Confissão
Louvor (Salmos)
Oração pordiscernimento do Espírito na pregação
Sermão
Ofertório (coleta de caridades)
Oração Geral
Comunhão (de acordo com aagenda) enquanto o salmo é
cantado
Bênção

(glória). Foi adotado da cerimônia da corte imperial (Jungmann, Early Litur-


gy, 292,296). Da mesma forma que Constantino via asi mesmo como vigário
de Deus na terra, Deus passou aser visto como oImperador do céu. Assim,
a missa setransformou em um cerimonial executado diante deDeus e diante
do seu representante, obispo —como um intérprete diante do Imperador e
sua corte. O bispo entrava, com suas vestes de alto magistrado, no edifício da
igreja, seguido por uma solene procissão iluminada por velas. Depois, sentava
em seu trono especial —2iSella cumlis do oficial romano. Aigreja do século 4
emprestou oritual eseu sabor do cerimonial romano em sua adoração (Krau-
theimer, Early Christian and Byzantine Architecture, 184).
75 A liturgia de Genebra foi uma liturgia reformada fixa usada sem varia
ção ou exceção, não apenas na celebração dos sacramentos, mas também
nos cultos normais do domingo" (White, Protestam Worship: Traditions in
Transition, p. 69).
76 James Mackinnon, Calvin and the Reformation (New York: Russell and
Russell, 1962), 83-84. Para mais detalhes sobre aliturgia de Genebra, veja
Christian Litur^y de Senn, 365-366.
A Ordem do Culto 115

Deve-se notar que Calvino buscou formular aordem do cul


to conforme os escritos dos pais da igreja primitiva —parti
cularmente aqueles que viveram entre os séculos 3 e 67^ Isso
contacomoumafalta deesclarecimento no caráter dareunião da
igreja do primeiro século. Os primeiros pais, entre os séculos 3
ao 6, eram intensamente litúrgicos e ritualísticos.^' Não tinham
odesígnio dos cristãos primitivos.®® Eram também mais teóricos
que práticos.
Dizendo de outraforma, ospais da igreja representam o Ca
tolicismo nascente (primitivo). Eisso que Calvino tomou como
principal modelo para estabelecer uma nova ordem de culto.
Não éde se estranhar que atão chamada Reforma tenha trazido

77 Hughes Oliphant Old, The Patristic Roots of Reformed Worship (Zur-


ich: Theologischer Verlag, 1970), 141-155. Calvino também adotou os pais
pós-apostólicos como modelos preferidos para o governo da igreja. Con
sequentemente, ele abraçou um pastorado único (Mackinnon, Calvin and
the Reformation, 81).
78 Nichols, Corporate Worship, 14.
79 Os pais da igreja foram fortemente influenciados por sua cultura greco-
romana. Muitos deles, de fato, foram filósofos e oradores pagãos antes de
se tornarem cristãos. Como já declarado, deve-se ao fato de que o culto da
igreja praticado por eles praticado por eles, refletia uma mistura da cultura
pagã, com o formato da sinagoga judia. Recentes pesquisas revelam que
os escritos dos pais da adoração cristã [pós Apostólica] foram feitos após
assumirem e adequarem várias camadas de tradição (Bradshaw, Origins of
Christian Worship, Cap. 3).
80 Os pais da igreja foram altamente influenciados pelo paganismo epelo
neoplatonismo. Will Durant, Caesar and Christ, 610-19, 650-51. Veja tam
bém The Age ofFaithde Durant, 63, 74, 521-24.
81 Esse estudo focaliza as inferências antibíblicas dos reformadores, porém
listar suas contribuições positivas está fora do escopo deste livro. Embora
não tenham feito uma reforma completa, estejamos cientes de que Lutero,
Zwingli, Calvino, etc. contribuíram com muitas práticas epreceitos positi
vos paraa fé cristã.
116 Cristianismo Pagâo?

tão pouca reforma nosentido de prática de igreja.®^ Como foi o


caso com a ordem de culto de Lutero, aliturgia da igreja refor
mada "não tentou mudar as estruturas da liturgia católica oficial
emais do que isso, tentou manter aliturgia antiga enquanto cul
tivava devoções extra-litúrgicas".®^

ACONTRIBUIÇÃO PURITANA
Os Puritanos eram Calvinistas da Inglaterra.®'» Abraçaram
um biblicismo rigoroso e buscaram aderir suavemente à ordem
de culto do Novo Testamento.®^ Os Puritanos sentiam que a
ordem de culto de Calvino não erabíblica o suficiente. Conse
quentemente, quando pastores pregam "fazendo tudode acordo
com aPalavra de Deus", estão ecoando sentimentos puritanos.
Mas oesforço Puritano de restaurar areunião da igreja do Novo
Testamento não foi bem-sucedido.
O abandono das vestimentas clericais, ícones e ornamen
tos, assim como aescrita dos próprios sermões feita pelo clero
(como opostos a ler sermões), foram contribuições positivas
que os puritanos trouxeram anós. No entanto, porcausa de sua
enfase em oração espontânea , os puritanos também deixaram

82 A Reforma Protestante foi principalmente um movimento intelectual


(White, Protestant Worship, 37). Enquanto a teologia protestante era ra
dical comparada ao Catolicismo Romano, a prática eclesial permaneceu
quase intacta. A corrente que levou as reformas mais adiante alterando
a prática de sua igreja é conhecida como "Reforma Radical". Para uma
abordagem dos Reformadores Radicais, veja The Pilgrim Church de E.H.
Broadbent (GrandRapids: GospúVoYioVress,m9y,TheReformersandTheir
Stepchildren de Leonard Verduin (Grand Rapids, Eerdmans, 1964); The
RadicalReformation de George H. Williams (Philadelphia, The Westminster
Press, 1962); The Torch ofthe Testimony de John Kennedy (Bombay, Gospel
Literature Service, 1965).
83 Old, The Patrístic Roots ofReformed Worship^ 12.
84Senn, Christian Liturgy, 510.
85 White, Protestant Worship, 118.
A Ordem do Culto 117

como herança para nós aextensa oração pastoral aqual precede


osermão.®^ Essa oração em um culto puritano, numa manhã do
minical, poderia facilmente durar uma hora ou mais!®^
O sermão alcançou sua culminância com osPuritanos Ame
ricanos. Sentiam que era quase sobrenatural, sendo que o viam
como um meio primário de Deus falar com Seu povo. Epuniam
os membros da igreja que faltavam aos cultos nas manhãs domi
nicais.^^ Os residentes daNovaInglaterra que falharam emestar
presentes no culto dominical eram multados ou colocados em
toras de madeira.®' (Na próxima vez em que o pastor ameaçar
você com a ira desenfreada de Deus por faltar à igreja , esteja
certo deagradecer aos puritanos).
É válido notar que em algumas igrejas puritanas, era permi
tido aos membros falar no final do culto. Imediatamente após o
culto, opastor sentava erespondia às questões da congregação.
Também era permitido aos membros da congregação dar teste
munhos. Mas com o advento do Renascimento de Frontier no
século 18, aprática acabou, enunca mais foi adotada novamente
pela veia do Cristianismo.'®
De modo geral, acontribuição puritana em moldar aliturgia
protestante fez muito pouco em liberar o povo de Deus para
funcionar livremente debaixo da liderança de Cristo. Assim

86 White, Protestam Worship, 119, 125; Senn, Christian Liturgy, 512. Os


puritanos também permitiram que a congregação questionasse a forma
como opastor administrou otexto bíblico após oencerramento do sermão.
White, Protestam Worship, 129.
87 Cassandra Niemczyk, "Did you know? Little-Known Facts about the
American Puritans", Christian History 13, no. 1 (1994): 2.
88 Um líder puritano escreveu: "a pregação da Palavra éo Cetro do Reino
de Deus, aglória da nação eacharrete sobre aqual avida easalvação vêm .
Um puritano poderia ouvir 15000 horas de pregação numa vida inteira.
89 Niemczyk, "Did you know?", 2; Allen C. Guelzo, "When the Sermon
Reigned", Christian History 13, no. 1 (1994): 23.
90 White, Protestam Worship, 126, 130. Adams, Meeting Mouse to Camp
Meeting, 13-14.
118 Cristianismo Pagão?

como as reformas litúrgicas que aprecederam, aordem puritana


de culto era altamente previsível. Foi escrita em detalhes esegui
da uniformemente em todas as igrejas.''
O que segue éaliturgia puritana.'^ Compare com as liturgias
de Lutero eCalvino evocê notará que as características centrais
não mudaram.

Chamadapara o Culto
Oração de Abertura
Leitura das Escrituras
Músicas dos Salmos
Oração Pré-sermão
Sermão
Oração Pós-sermão
(Quando a comunhão é realizada, o ministro exorta à con
gregação, abençoa opão eovinho, eassim, passa para opovo).
No momento oportuno, os puritanos geraram seus próprios
ramos de denominações.'^ Algumas delas fizeram parte da tra
dição da Igreja Livre (Free Church).''' As Igrejas Livres criaram
uma ordem de culto que échamada de "hino-sanduíche'''^ eessa

91 White, Protestam Worship, 120-127.


92 Senn, Qhristian Liturgy, 514-515. Aliturgia básica puritana está contida
na obra ADirectory ofthe Public Worship ofGod escrita em 1644 (White,
Protestam Worship^ 127). Trata-se de uma revisão do livro Anglicano Book
ofCommon Prayer escrito em 1549. ODirectory foi usado por ingleses (não
escoceses) presbiterianos e congregacionalistas.
93 Os descendentes do Puritanismo são os batistas, presbiterianos e con
gregacionalistas. (White, Protestam Worship, 129).
94 A chamada "Igreja Livre" tradicional incluía puritanos, separatistas,
batistas, quakers nos séculos 17 e 18, metodistas no final do século 18, e
Discípulos de Cristo no começo do século 19 (Adams, Meeting House to
Camp Meeting, 10).
95White, Protestam Worship, 133.
A Ordem do Culto 119

ordem de culto é bem similar à ordem usada pela maioria das


igrejas evangélicas hoje. Elas são assim:
Três músicas (hinos)
Leitura das Escrituras
Música do Coral
Oração de todos juntos, ao mesmo tempo
Oração Pastoral
Sermão
Oferta
Bênção

Isso parece familiar avocê? Com certeza, não podemos en


contrá-la no Novo Testamento.

ACONTRIBUIÇÃO METODISTA EREVIVALISTA DE FRON-


TIER (EVANGELISMO FRONTEIRIÇO)

Os metodistas do século 18 proporcionaram uma dimensão


emocional àordem de culto protestante. Aigreja era convidada
acantar alto, com força, fervor evigor. Dessa forma, os metodis
tas foram osprecursores dos pentecostais.
Como os puritanos, os metodistas "deram sabor à ora
ção pré-sermão do pastor nos cultos das manhãs dominicais.
A oração clerical metodista era muito extensa e universal em
seu alcance. Incluíam todos os tipos de orações, desde confis
são, intercessão, até louvor. Mas émais importante ressaltar que
sempre as ofereciam em inglês elisabetano (i.e.: tu, te, ti, tigo ;
vós, vosso, vossa; teu, tua; etc.)
Ainda hoje, no século 21, aoração pastoral elisabetana vive e
respira.^^ Muitos pastores contemporâneos ainda oram com essa
linguagem ultrapassada earticulada —embora seja um dialeto

96 Ibid., 153, 164.


97 Ibid., 183. A"oração pastoral antes do sermão" édescrita detalhadamente
no Westminster Directory ofWorship.
120 Cristianismo Pagão?

que morreu há quatrocentos anos! Por quê? Por causa do poder


irrefletido da tradição.
Os metodistas também popularizaram oculto de domingo no
começo da noite. Adescoberta do gás incandescente [lâmpada a
gás] permitiuajohnWesley (1703-1791) realizaressapopularino
vação.'^ Hoje, muitas igrejas protestantes têm cultos no domingo
no começo da noite —embora geralmente pouco freqüentado.
Os séculos 18 e 19 trouxeram um novo desafio ao Protes-
tantismo Americano. Foi a pressão para se adequar aos cultos
populares do Revivalismo Frontier. Esses cultos influenciaram
bastante a ordem do culto em diversas igrejas. Por fim, as mu
danças que injetaram na corrente sangüínea do Protestantismo
Americano são evidentes."
Primeiramente, os revivalistas Frontier alteraram oobjetivo
da pregação. Pregavam exclusivamente com um intento: con
verter almas perdidas. Para a mente de um revivalista Frontier,
nada além da salvação estava envolvido no plano de Deus.^°° A
salvação foi opropósito supremo para aigreja epara toda avida.
Essa ênfase possui suas sementes na pregação inovadora de Ge-
orge Whitefield (1714-1770).^°^

98 Horton Davies, Worship and Theology in EngUnd: 1690-1850 (Princ-


eton: Princeton University Press, 1961), 108. Serviços eclesiais [cultos]
noturnos eram comuns na igreja católica desde o século 4. Os vesperais de
domingo (serviço noturno) foram corriqueiros na vida litúrgica da catedral
e daparóquia durante muitos séculos. Porém, os metodistas se destacaram
por levar a fé protestante ao culto vespertino dominical.
99 White, Protestam Worship, 91, 171; lain H. Murray, Revival and
Revivalism: The Making and Marring ofAmerican Evangelicalism (Carlisle,
PA: BannerofTruth, 1994).
100 O revivalismo americano deu início à "sociedade missionária" no final
do século 18, que incluía aSociedade Missionária Batista (1792), aSocieda
deMissionária de Londres (1795), a Sociedade Missionária Metodista Geral
(1796), eaSociedade Missionária das Igrejas (1799), Tan, Lost Heritage, 195.
101 Whitefield é chamado "o pai do revivalismo americano. A mensa
gem central de Whitefield foi "onovo nascimento" [individual] do cris
tão. Com isso, conduziu o Grande Despertar na Nova Inglaterra, que
A Ordem do Culto 121

Whitefield foi o primeiro evangelista moderno apregar para


multidões ao ar livre, a céu aberto.'®^ Foi ele quem deslocou a
ênfase na pregação sobre os planos de Deus para a igreja para
o plano de para oindivíduo. O conceito popular de que
"Deus ama você etem um plano maravilhoso para asua vida foi,
pela primeira vez, introduzido por Whitefield.
Em segundo lugar, amúsica revivalista Frontier buscava to
car as almas e incitar uma resposta emocional à mensagem da
salvação.'®'* Todos os bons revivalistas tinham um músico es
pecífico em sua equipe justamente para esse propósito.'®^ O

alcançou seu topo no começo do ano 1740 e os seguintes. Em 45 dias,


Whitefield pregou 175 sermões. Orador excelente, sua voz poderia ser
ouvida por 30.000 pessoas em uma reunião. Chegou a ser ouvido por
cerca de 50.000 pessoas. Notavelmente, dizia-se que avoz de Whitefield
poderia ser ouvida auma milha de distância sem amplificadores. Os po-
deres oratórios dele eram tão grandes que conseguia fazer a audiência
chorar. Positivamente, Whitefield é considerado o responsável por recu
perar aprática perdida de ministério itinerante. Ele também comparti
lhou esse crédito com os puritanos por restabelecer a oração e a prega
ção extemporâneas. BriefHistory ofPreaching (Philadelphia: Fortress
Press, 1965), 165. Veja também Christian History, 12 no. 2 (1993), oqual
foi dedicado a George Whitefield; "The Great Awakening", Christian
History 9, no. 4 (1990): 46, J. D. Douglas, Who's Who in Christian
History (Carol Stream, IL: Tyndale House, 1992), 716-17; Terry,
Evangelism, 100, 110, 124-125.
102 Davies, Worship and Theology in England, 146; The Great Awaken
ing", Christian History 9, no. 4 (1990): 46; "George Whitefield", Christian
History 8, no. 3 (1989): 17.
103 Mark A. Noll, "Father of Modem Evangelicals?" Entrevista em
Christian History 12 no. 2 (1993):44; "The Second Vatican Council",
Christian History 9, no. 4 (1990):47. O Grande Avivamento debaixo de
Whitefield pintou o Protestantismo Americano de caráter individualista e
revivalista do qual nunca mais se recuperou.
104 Senn, Christian Liturgy, 562-565; White, Protestant Worship and Church
Architeture, 8, 19.
105 Finney usou Thomas Hastings. Moody usou Ira B. Sankey. Billy
Graham continuou a tradição usando Cliff Barrows e George Beverly Shea
122 Cristianismo Pagão?

louvor começou a ser visto primariamente como individualis


ta, subjetivo e emocional.^°^ Essa mudança na ênfase foi obtida
pelos metodistas, e começou a penetrar em muitas outras sub-
culturas protestantes. O principal objetivo da igreja transferida
para a experiência eexpressão de Jesus Cristo como um corpo,
era converter as pessoas individualmente. Fazendo isso, aigreja,
em geral, perdeu de vista o fato de que, embora a reparação de
Cristo seja absolutamente essencial para trazer ahumanidade de
volta ao caminho e restaurar o relacionamento com Deus, esse
não é o Seu único propósito. Deus tem um propósito eterno
que nos leva além da salvação. Esse propósito tem aver com o
alargamento da eterna fraternidade que Ele tem com Seu filho,
e em torná-la real no planeta Terra. A teologia do Revivalismo
não discute com opropósito eterno de Deus ecoloca pouca ou
nenhuma ênfase naigreja.
A música do coral metodista foi projetada para suavizar os
corações duros dos pecadores. As letras das músicas começa
ram a refletir a experiência da salvação individual assim como
o testemunho pessoal.^°® Charles Wesley (1707-1788) é reco
nhecido por ser oprimeiro aescrever hinos que consistiam em
convites.

(Senn, Christian Liturgy, 600). A música era extremamente instrumental,


para o alcance das metas revivalistas. Acredita-se que George Whitefield e
John Wesley foram os primeiros aempregar amúsica para induzir àconvic
ção [de fé] edisposição para ouvir oevangelho (Terry, Evangelism, 110).
106 White, Protestam Worship and Church Architecture, 11.
107 Para uma completa discussão sobre o propósito eterno de Deus, veja
God's Ultimate Passion de Viola (Gainesville, FL: Present Testimony Mi-
nistry, 2006).
108 White, Protestam Worship, 164-165, 184-185.
109 R. Alan Streett, The Ejfective Invitation (Old Yappan, NJ: Fleming
H. Revell Co., 1984), 190. Charles Wesley escreveu cerca de 6.000 hinos.
Charles foi oprimeiro escritor de hinos aintroduzir um estilo congregacio-
nal de canto expressando sentimentos e pensamentos individuais do cristão.
A Ordem do Culto 123

Pastores que dirigem seus sermões nas manhãs de domin


go exclusivamente para ganhar o perdido, ainda refletem ain
fluência revivalista.''° Hoje, essa influência tem se infiltrado na
maioria dos evangelismos na televisão eno rádio. Muitas igrejas
protestantes (não somente apentecostal eacarismática) iniciam
seus cultos com canções animadas parapreparar o povo para o
sermão com alvos emocionais. Mas poucas pessoas sabem que
essa tradição começou com os revialistas de Frontier ha pouco
mais de um século.
Em terceiro lugar, os metodistas eos revivalistas de Frontier
deram início ao "apelo no altar". Essa pratica começou com os
metodistas no século 18.^^' A prática de convidar pessoas que
queriam oração ase levantarem do banco eandarem afrente
para receber oração, surgiu através de um evangelista metodista
chamado Lorenzo Dow.^^^
Mais tarde, em 1807na Inglaterra, os metodistas criaram oban
co dos penitentes."^ Pecadores ansiosos agora tinham um lugar
para lamentar pelos seus pecados quando eram convidados adescer
caminhando pelo caminho de serragem [e vir àfrente]. Esse meto-

110 Osbatistas são os mais notáveis para fazer doresgate doperdido ameta
do culto dominical matutino. A chamada revivalista para tomar a decisão
pessoal" por Cristo refletiu edisseminou aideologia cultural do individua
lismo estadunidense da mesma maneira que as novas medidas de Charles
Finney refletiram e disseminaram o pragmatismo americano. (Terry,
Evangelism^ 170-171).
111 Murray, Revival and Revivalism, 185-190.
112 Streett, Ejfective Invitation, 94-95. O reverendo James Taylor foi um
dos primeiros achamar pessoas para virem à frente em sua igreja em 1785
no Tennessee. O primeiro uso do altar de que se tem registro com relação a
um convite público aconteceu em 1799 em um acampamento metodista em
Kentucky. Veja também White, Protestam Worship, 174.
113 Finney foi um inovador em termos de apelo e por iniciar avivamentos.
Empregando oque era chamado de "novas medidas ,afirmou que não havia
nenhuma forma normativa de culto no NT. Mas tudo que tivesse êxito em
trazer pecadores para Cristo seria aprovado (Senn, Christian Liturgy, 564;
Protestam Worship^176-177).
124 Cristianismo Pagão?

do chegou nos Estados Unidos pouco tempo depois como "banco


do ansioso", nome dado por Charles Finney (1792-1875)."''
O "banco dos ansiosos" ficava localizado na frente, onde
os pregadores permaneciam em pé sobre uma plataforma ele-
vada."5 Ali, iam ambos os pecadores e os santos necessitados
para receberem as orações dos ministros."^ Ométodo de Finney
era pedir àqueles que desejavam ser salvos que se levantassem e
fossem até afrente. Finney tornou esse método tão popular que
"a partir de 1835, chegou a ser um elemento indispensável ao
reavivamento moderno.""^
Mais tarde, Finney abandonou o assento do ansioso e sim
plesmente convidava os pecadores para irem àfrente, entre as fi
las dos assentos, ajoelhar-se em frente àplataforma, para receber
Cristo."® Além de popularizar oapelo noaltar, atribuiu-se aFin
ney aprática de oração pelas pessoas, pelos nomes, mobilizando
grupos de obreiros paravisitar casas e substituira rotinade cul
tos daigreja, por cultos especiais todas as noites da semana.
Com o tempo, o "bancodos ansiosos" nasreuniões emcam
pos ao ar livre foi substituído pelo "altar" na igreja. O "caminho

114 Streett, Effective Invitation, 95. Finney começou a usar esse método
apartir de sua famosa cruzada de 1830 em Rochester, Nova York. O pri
meiro uso histórico da frase "banco de penitente" [anxious bench] vem de
Charles Wesley: Oh, aquele banco penitente abençoado." Para uma crítica
completa sobre obanco de penitentes veja The Anxious Bench de J.W Nevin
(Chamgersburg, PA: Wipf &Stock, 1843).
115 White, Protestam Worship, 181; James E. Johnson, "Charles Grandi-
son Finney: Father ofAmerican Revivalism", Christian History 7, No. 4
(1998):7; "Glossary ofTerms", Christian History 7, No. 4 (1998), 19.
116 "The Return of the Spirit: The Second Great Awakening", Chnstian
History 8, No. 3(1989): 30; Johnson, "Charles Grandison Finney" 7; Senn,
Christian Liturgy, 566.
117 Murray, Revival and Revivalism, 226, 241-243,177.
118 Streett, Effective Invitation, 96.
A Ordem do Culto 125

de serragem" usado nos acampamentos foi substituído pelo cor


redor da igreja. Assim nasceu o famoso "apelo no altar.
Talvez o elemento mais duradouro com que Finneyincons
cientemente contribuiu para oCristianismo contemporâneo foi
opragmatismo. O pragmatismo éafilosofia que ensina que, se
algo funciona, deve ser abraçado sem levar em conta as consi
derações éticas. Finney acreditava que o Novo Testamento não
ensinava nenhuma forma prescrita de culto.Ensinou que o
propósito exclusivo de pregar era ganhar convertidos. Qualquer
mecanismo que ajudasse acumprir o objetivo poderia ser acei
to.'^' Sob a direção de Finney, o Renascimento do século 18 se
converteu em uma ciência que foi integrada àcorrente principal
daigreja.^^^
O Cristianismo contemporâneo ainda reflete essa ideologia
antiespiritual. O pragmatismo não é espiritual, não somente
porque incentiva que as considerações éticas sejam secundá
rias, mas porque depende mais de técnicas do que de Deus, para
que produza os efeitos desejados. Aespiritualidade genuína é
marcada pela percepção que, em coisas espirituais, nós, mor
tais, somos completa eabsolutamente dependentes do Senhor.
Lembre-se das palavras de Deus, que "se o Senhor não edifi-
car a casa, os que a edificam trabalham em vão" (Salmo 127.1
—Versão Inglesa Padrão); e "sem mim nada podereis fazer
(João 15.5). Infelizmente, o pragmatismo ("se funcionar, va
mos fazer"), não obiblicismo nem aespiritualidade, governa as

119 Burgess eMcGee, Dictionary ofPentecostals, 904. Para um estudo mais


profundo, veja The Suwdust Trail: The Story of American Evcin^slisTn de
Gordon L. Hall (Philadelphia: Macrae Smith Company, 1964). Atrilha de
areia se tornou, mais tarde, o corredor coberto de poeira da tenda evangelís-
tica. Esse uso ("encontre atrilha de areia") foi popularizado pelo ministério
de Billy Sunday (1862-1935). Veja Evangelism, de Terry, 161.
120 White, Protestant Worship (Adoração Protestante), 177.
121 Pastor's Notes, A Companion Puhlication to Glimpses 4, no. 2 (Worcester,
PA: Christian History Institute, 19920, 6.
122 White, Protestant Worship and Church Architeture, 7.
126 Cristianismo Pagão?

atividades da maioria das igrejas hoje. (Posteriormente, as igre


jas atentas ao seu "índice de audiência" foram além de Finney.)
O pragmatismo é nocivo porque ensina que "o fim justifica
os meios". Se o fim é considerado "santo", qualquer "meio",
então, é válido.
Afilosofia do pragmatismo abre as portas para amanipula
ção humana e para a confiança completa mais em si mesmo do
que em Deus. Note que aqui existe uma diferença monumental
entre humanos bem motivados trabalhando para Deus com sua
própria força, sabedoria e poderversus Deus trabalhando atra
vés dos humanos.
Por causa desse impacto poderoso, Charles Finney é acla
mado como "oreformador litúrgico mais influente naHistória
Americanay^'^ Finney acreditava que os métodos revivalistas,
que eram utilizados em suas reuniões nos campos, poderiam ser
importados aigrejas protestantes para levá-las ao avivamento.
Esse conceito se tornou popular efoi investido na disposição
mental protestante através do livro Palestras sobre Avivamen
to [Lectures in Revival), em 1835. Para a mente protestante
contemporânea, a doutrina deve ser rigorosamente analisada
com as Escrituras antes de ser aceita. Mas quando é aderida
à prática da igreja, tudo é válido, desde que resulte em novas
conversões!
Em todos os aspectos, o revivalismo de Frontier Americano
transformou aigreja em um posto de pregação. Restringiu aex-

123 Dois livros que explicam bem esta diferença são: Watchman Nee, The
Normal Christian Life (Carol Stream, IL: Tyndale House, 1977) eTheRelease
oftheSpirit (Indianapoiis: Sure Foundation, 1956). Para mais detalhes sobre
a natureza anticristã do pragmatismo, veja Ronald Rolheiser, The Shattered
Lantem: Rediscovering God's Presence inEveryday Life (London: Holder &
Stoughton, 19940, 31-35.
124 White, Protestant Worship, 176; Pastor's Notes 4, no. 2:6. lan Murray
afirma que as reuniões nos campos dirigidas pelos metodistas foram pre
cursoras das técnicas evangelísticas sistemáticas de Finney (Revival and
Revivalism, 184-185).
A Ordem do Culto 127

periência de ekklesia auma missão evangelística.'^^ Normalizou


os métodos revivalísticos de Finney ecriou personagens de púl
pito como atrações dominantes na igreja. Aigreja passou aser
mais do que uma questão de preferência individual do que em
uma questão coletiva.
Em outras palavras, oobjetivo dorevivalismo era trazer peca
dores individuais auma decisão individual para uma fé individu
alista.^^^ Comoumresultado disso, o objetivo daigreja primitiva
—edificação mútua etodos os membros funcionando para ma
nifestarem Jesus Cristo em um só corpo diante de principados e
potestades —perdeu-se completamente.'^^ Ironicamente, John
Wesley, um dos primeiros revivalistas, compreendeu os perigos
do movimento revivalista. Ele escreveu: "O Cristianismo é, es
sencialmente, uma religião social... transformá-lo em uma reli
gião solitária é certamente sua destruição.' Com ainvenção
da impressão de cópias de Albert Blake Dick em 1884, aordem
de culto passou a ser impressa e distribuída.'^' Então nasceu o
famoso "Boletim da Manhã Dominical".'^°

125 Concebido de forma apropriada, o objetivo de pregar não é asalvação


de almas. É o nascimento da igreja. Como comentou um pesquisador, a
conversão pode ser somente o meio; oobjetivo eaextensão da igreja visí
vel". Karl Muller, ed., Dictionary ofMission: Theology, History Perspectives
(Maryknoll, NY: Orbis Books, 1997), 431. Opesquisador D.J. Tidball fez
ecoar o mesmo pensamento, dizendo: "O interesse primário de Paulo não
era a conversão de indivíduos, e sim, a formação de comunidades cristãs .
Dictionary ofPaul and His Letters (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1993),
885. Os Revivalistas Frontier não tinham o conceito de ekklesia.
126 White, Protestant Worship and Church Architeture, 121-124.
127Veja iCoríntios 12-14; Efésios 1-3.
128 John Wesley, "Sermon in the Mount IV', Sermons on Several Occasions
(London: Epworth Press, 1956), 237.
129 Ibid, 132. Veja http://www.officemuseum.com/copv machines.htm
para detalhes sobre ainvenção do mimeógrafo de Dick.
130 Ferguson, Early Christian Speak, 84. Liturgias escritas vieram, primeira
mente, no século 4, mas não foram colocadas em boletins ate o século 19.
128 Cristianismo Pagâo?

AINFLUÊNCIA COMOVENTE DE D. L. MOODY

As sementes do "evangelho revivalista" foram espalhadas por


todo omundo Ocidental pela gigantesca influência de D. LMoody
(1837-1899). Ele viajou por mais de um milhão de milhas epregou
para mais de 100 milhões de pessoas—num século antes dos aviões,
microfones, televisão eintemet. Oevangelho de Moody, como ode
Whitefield, tinha apenas um ponto central —salvação ao pecador.
Pregou oevangelho com ofoco em indivíduos esua teologia estava
sintetizada em três Rs: em Ruínas por causa do pecado. Redimido
porCristo eRegenerado pelo Espírito. Enquanto esses são, com cer
teza, elementos críticos da fé, Moody aparentemente não percebeu
que opropósito eterno de Deus vai muito além da redenção.'^^
Apregação de Moody foi dominada poresse único interesse
—salvação individual. Instituiu um hino entoado em solo após o
sermão do pastor. O hino que convidava as pessoas era ministra
do por um solista até que George Beverly Shea encorajou Billy
Graham aempregar um coral para cantar canções como "Just As
I Am" ("Eu venho como estou") enquanto as pessoas iam até a
frente paraaceitar Cristo.

131 Christian History 9, no. 1 (1990); Douglas, Who's Who in Christian


History, 483-458; Terry, Evangelism, 151 -152; H. RichardNiebuhre Daniel
D. Williams, TheMinistry in Historical Perspectives (San Francisco, Harper
& How Publishers, 1956), 256. Enquanto, com certeza passo que Deus
quer que almas sejam redimidas por Cristo, este é, simplesmente, o pri
meiro passo de que Deus realmente deseja. Não somos contra o evan-
gelismo, mas quando fazemos dele nosso foco principal, o evangelismo
se torna mais em uma tarefa do que algo que acontece espontaneamente
quando cristãos estão "consumidos" pela presença de Cristo. Os crentes
da igreja primitiva tinham ofoco em Jesus, eesse éomotivo porque nos
sos métodos e enfoques sobre o evangelismo são tão diferentes dos deles.
Para uma discussão mais detalhada sobre opropósito eterno de Deus, veja
Viola, God's Ultimate Passion.
132Streett, Ejfective Invitation, 193-194, 197.
A Ordem do Culto 129

Moody nos deu acampanha de testemunhos epropagandas


evangelísticas de porta em porta. a"música do evangelho" ou
"hino do evangelho" epopularizou o"cartão da decisão ,uma
invenção de Absalom B. Earle (1812-1895).'^^
Além disso, Moody foi o primeiro a pedir a quem gosta
ria de ser salvo que se levantasse do seu lugar para receber a
"oração do pecador"Cinqüenta anos depois, Billy Graham
aprimorou atécnica de Moody, introduzindo aprática de pedir
àaudiência para curvar as frontes efechar os olhos ("sem olhar
nada em volta"), elevantar as mãos em resposta àmensagem da
salvação.^^^ (Todos esses métodos encontraram furiosa oposi
ção por aqueles que argumentam que se trata de uma manipu
laçãopsicológica.)'^®

133 Terry, Evangelism, 153-154, 185.


134 David P. Appleby, History ofChurch Music (Chicago: Moody Press,
1965), 142.
135 Streett, Effective Invitation, 97. "Qualquer pessoa que fosse até afren
te, assinava um cartão que indicava uma promessa de viver uma vida cristã e
mostrar uma preferência por uma igreja. Uma parte desses cartões era deti
da pelo obreiro profissional, oque permitia um posterior acompanhamento
("follow-up"). A outra parte era entregue ao novo convertido como um
manual para a vida cristã", (páginas 97-98).
136 Ibid, 98. Para mais informações sobre a "oração do pecador", veja o
capítulo 9.
137 Ibid, 112-113. Em seu 45° ano de ministério, Graham havia pregado para
100 milhões de pessoas em 85 países diferentes. {Pastor's Notes 4, no. 2:7).
138 lan H. Murray, The Invitational System (Edinburgh: Banner of Truth
Trust, 1967). Murray faz a distinção entre "avivamento", que é uma obra
espontânea e autêntica do Espírito de Deus, e "revivescência , que é um
conjunto de métodos humanos de obter (no mínimo aparentemente) os
sinais de convicção, arrependimento enovo nascimento. Ouso de pressões
psicológicas e sociais para se trazer convertidos faz parte da revivescên
cia". (pp. xvii-xix). Veja também Jim Ehrhard, The Dangers of the In
vitation System" (Parkville, MO: Christian Communicators Worldwide,
1999), http://ww.gracesermons.com/hisbvgrace/invitation.html.
130 Cristianismo Pagão?

Para Moody, "a igreja era uma associação voluntária dos sal-
vos"^^' A sua influência foi tão assombrosa, que em 1874 não
foi vista como um "grande corpo em comum", mas como uma
reunião de indivíduos.Essa ênfase foi adotada por todos os
revivalistas que o seguiram.^'^^ E acabou porentrar na medula e
nos ossos do Cristianismo Evangélico.
E também importante notar que Moody foi muito influen
ciado pelos ensinos dos irmãos Plymouth quanto àescatologia
[sobre ofinal dos tempos]. Esse éoensinamento de que Cristo
pode retornar aqualquer segundo antes da Grande Tribulação.
(Esse ensinamento é também chamado "Teoria do Arrebata-
mento Pré-Tribulacionista").^''^
A Teoria do Arrebatamento Pré-Tribulacionista trouxe a
ideia de que os cristãos deveriam salvar muitas almas, o mais

139 Niebuhr eWilliams, Ministry inHistorical Perspectives, 256.


140 Sandra Sizer, Gospel Hymns and Social Religion (Philadelphia: Temple
University Press, 1978), 134.
141 Moody, juntamente com os pregadores do Grande Avivamento, como
George Whitefield apelavam com toda força às emoções. Eles foram in
fluenciados pela filosofia do Romantismo, corrente (^ue acentua o sen
timento e a vontade. Essa foi a reação à ênfase na razão que marcou o
pensamento cristão primitivo que foi moldado pelo Iluminismo (David
W. Bebbington, "How Moody Changed Revivalism", Christian History
9, no. 1 (1990):23). A ênfase dos pregadores do Avivamento estava na
resposta das emoções do indivíduo a Deus. A conversão passou a ser
vista como o objetivo supremo das atividades divinas. Como J. Stephen
Lang e Mark A. Noll afirmaram: "por causa da pregação do Avivamento,
o sentido de salvação individual se intensificou. O princípio da escolha
individual ficou impregnado para sempre no Protestantismo Americano e
isso ainda éevidente hoje entre evangélicos emuitos outros". (J. Stephen
Lang e Mark A. Noil, "Colonial New England: An Old Order, A New
Awakening", Christian History 4, no. 4 (1985): 9-10).
142 John Nelson Darby explanou seus ensinamentos. A origem da dou
trina da Pré Tribulação de Darby é fascinante. Veja Dave MacPherson, The
Incredihle Cover-Up (Medford, OR: Omega Publications, 1975).
A Ordem do Culto 131

rápido possível, antes que omundo acabe.Com acriação do


Movimento Estudantil Voluntário (Student Volunteer Move-
ment) por John Mott em 1888, surgiu uma idéia correlata: "a
evangelização do mundo em uma geração".''*'^ Aparte do slogan
[consigna] "a uma geração" ainda vive e respira na igreja hoje,
na igreja moderna.^"^^ Contudo, isso não se encaixa bem com a
mentalidade dos cristãos do século primeiro, que não pareciam
estar pressionados em tentar salvar omundo inteiro dentro de
uma geração.

ACONTRIBUIÇÃO PENTECOSTAL
Começando por volta de 1906, o Movimento Pentecostal
nos trouxe uma expressão mais emotiva através de canções ento
adas pela congregação. Isso inclui levantar as mãos, dançar entre
os bancos, bater palmas, falar em línguas eusar os pandeiros. A
expressão pentecostal estava em harmonia com sua ênfase sobre
a obra extasiada do Espírito Santo.
O que poucas pessoas percebem é que, se você removesse
as características emotivas do cultopentecostal, simplesmente.

143 Bebbington, "How Moody Changed Revivalism", 23-24.


144 Daniel G. Reid, Concise Dictionary ofChristianity inAmérica (Down-
ers Grove, IL: InterVarsity, 1995), 330.
145 Exemplo: o ano 2000 d.C. eo Movimento "Beyond [Além], etc.
146 Os apóstolos ficaram em Jerusalém por muitos anos antes de ir "por
todo o mundo", como Jesus profetizou. Eles não tiveram pressa de evange-
lizar o mundo. Igualmente, a igreja de Jerusalém não evangelizou ninguém
nos primeiros quatro anos de vida. Também não estavam com pressa de
evangelizar o mundo. Enfim, não há nenhum mísero indício, em nenhuma
epístolas do Novo Testamento, que oapóstolo manda aigreja evangeli
zar porque "o tempo está passando, eos dias são poucos . Resumindo, não
há nada de errado com o fardo que os cristãos tem de levar muitas almas à
salvação o quanto puder, num período de tempo específico. Mas não exis
tem justificações bíblicas ou precedentes divinos para colocar esse fardo em
particular sobre o povo de Deus.
132 Cristianismo Pagão?

teria uma liturgia batista. Então não importa quão fortemente os


pentecostais afirmem que estão seguindo os padrões do Novo
Testamento, aigreja Pentecostal eaCarismática seguem amesma
ordem de culto, como amaioria dos outros corpos protestantes.
Um pentecostal tem muito mais liberdade para expressões emo
cionais nos bancos da igreja.
Outra característica interessante do culto pentecostal
ocorre durante o louvor. Algumas vezes, as canções são inter
rompidas por ocasionais expressões em línguas, interpretação
delínguas, ou em palavras "proféticas". Mas esses momentos
raramente duram mais que um ou dois minutos. Tal forma de
participação aberta, mas reprimida, não pode, certamente, ser
chamada de "ministério coletivo".A tradição pentecostal
também nos trouxe músicas de corais ou músicas de solista
(geralmente rotuladas como "músicas especiais") que acom
panham a oferta.
Como acontece em todas as igrejas protestantes, o sermão
é o clímax da reunião pentecostal. Todavia, na diversidade de
Igrejas pentecostais, o pastor sentirá, algumas vezes, "o mo
ver do Espírito". Nesse caso, adia seu sermão para a semana
seguinte. Então, a congregação irá cantar e orar até o final do
culto. Para muitos pentecostais, esse é o auge de um grande
culto na igreja.
A forma com que os membros descrevem esses cultos
especiais é fascinante. Geralmente, reportam essa ruptura
da liturgia normal dizendo: "O Espírito Santo dirigiu nossa
reunião nessa semana. O Pastor Cheswald nem chegou a
pregar". O que é interessante é que ninguém ousa pergun
tar: Mas o Espírito Santo não está sempre liderando as reuni
ões da igreja^
Mesmo assim, como um resultado de ternascido no resplen-
dor crepuscular do Revivalismo Frontier, o culto pentecostal é

147 Com apalavra "sufocante" quisemos dizer "muito restrita". As igrejas pen
tecostais e carismáticas que tem cultos abertos a congregação para ministrar e
compartilhar livremente sem quaisquer restrições não são comuns hoje.
148 White, Protestant Worship, 204.
A Ordem do Culto 133

altamente subjetivo eindividualista.'"*' Na mente do pentecostal,


como está na mente da maioria dos outros protestantes, adorar
a Deus não é um assunto coletivo [o corpo da igreja], mas uma
experiência individual [o membro da igreja]150

MUITOS AJUSTES, NENHUMA MUDANÇA VITAL


Nossos estudos sobre a história litúrgica da Igreja Luterana
(século 16), Reformada (século 16), Puritana (século 16), Me
todista (século 18), Revivalista Fronteiriça (séculos 18 e 19),
e Pentecostal (século 20) nos revelam um ponto indiscutível:
Durante os últimos quinhentos anos, aordem de culto [liturgia]
protestante permaneceu quase intacta.'^'
No fundo, todas as tradições protestantes partilham as mes
mas características não-bíblicas em suas liturgias: que são cele
bradas e dirigidas por um clérigo, aparte central éo sermão, os
membros são passivos enão têm permissão para ministrar.'^^
Os reformadores fizeram muitas alterações na teologia do
Catolicismo Romano. Mas na realidade, fizeram somente ajus
tes mínimos, ou quase nada com relação ao aspecto litúrgico,
para trazer de volta omodelo do Novo Testamento. Oresulta-

149 White, Protestam Worship and Church Architeture, 129.


150 O Grande Avivamento do século 18 definiu os rumos da fé individua
lista, algo alheio para aigreja primitiva. AAmérica se tornou, rapidamente,
numa nação de individualistas rudes, para que esta nova ênfase se encaixasse
no país. (Terry, Evangelism, 122-123).
151 Christian Liturgy de Frank Senn compara várias liturgias através dos
séculos. Qualquer pessoa que fizer esta comparação logo reconhecerá as
características em comum.

152 Senn compara as cinco liturgias modernas escritas lado a lado:


Roman Catholic Missal [Missal Católico Romano], Lutheran Book of
Worship [Livro de Liturgia Luterano], Book ofCommon Prayer [Livro de
Oração Comum], O Livro de liturgia dos Metodistas eBook ofCommon
Worship [Livro de Culto Comum]. As similaridades são impressionantes.
[Christian Liturgy, 646-647].
134 Cristianismo Pagão?

do: opovo de Deus nunca conseguiu ser livre do confinamento


herdado do Catolicismo Romano.'"
Como um autor afirmou: "Os reformadores aceitaram,
substancialmente, o antigo padrão litúrgico católico'"... as es
truturas básicas de seus cultos foram praticamente adotadas das
liturgias antigas medievais, de vários tipos."'"
No fundo, então, os reformadores "reformaram" a litur
gia católica de forma bem sutil. Aprincipal contribuição foi a

153 Alguns pesquisadores tentaram trazer à tona os escritos dos pais da


igreja como uma liturgia unificada emonolítica observada por todas as igre
jas. Porem, recentes pesquisas demonstraram que nenhum desses escritos
podem ser universalizado para representar o que está acontecendo em to
das as igrejas em um determinado período (Bradshaw, Origins ofChristian
Worship, 67-73, 158-183). Além disso, descobertas arqueológicas demons
traram que os escritos dos pais da igreja, que eram teólogos, não forne
cem uma visão correta das crenças ou práticas de cristãos comuns daqueles
tempos. OesináoAnte Pacem do professor do Novo Testamento Graydon
F. Snyder examina a evidência arqueológica que contradiz o retrato da vida
eclesiástica que os pais daigreja dão antes deConstantino. De acordo com
um escritor de seminário, Snyder levanta aquestão: os escritos dos intelec
tuais no Cristianismo primitivo nos trazem um retrato adequado da igreja
daquela época? Aquestão tem que ser feita para que aresposta óbvia 'não'
flua de nossos lábios. Os intelectuais de todas as épocas nos contam sobre
como tudo erano dia-a-dia? Barth, Tillich, ou até os Niebuhrs descrevem
de alguma forma o Cristianismo popular Americano do século 20? Todos
nós sabemos que eles não o fazem, e ainda aceitamos que o Novo Testa
mento e os chamados teologos Patristicos" nos dão uma descrição real do
Cristianismo nos primeiros três séculos. Esta aceitação se deve, em parte,
obviamente, por acharmos que eram essas as nossas únicas fontes, e em
grande parte, isto everdade, namedida em que os documentos literários são
considerados . (Robin Scroggs, Chicago Theoloncal Seminary Reeister. 75,
no. 3 [Fali 1985] :26).
154 Nichols, Corporate Worship in the Reformed Tradition, 13.
155 Ibid., 13. Muito da terminologia [ex. Católica] tradicional econceitos são,
na verdade, parte da abordagem Luterana assim como era parte da abordagem
Católica Romana". Kenan B. Osborne, Priesthood:A History ofthe Ordained
Ministry in the Roman Catholic Church (New York: Paulist Press, 1988), 223.
A Ordem do Culto 135

mudança no enfoque central. Nas palavras de um erudito: "O


Catolicismo seguiu o caminho dos cultos [pagãos], fazendo
do ritual o elemento central de suas atividades, enquanto que o
protestantismo seguiu ocaminho da sinagoga, ao colocar oLi
vro no centro deseuscultos."'®^ Infelizmente,nem os católicos
nem os protestantes foram bem sucedidos em colocar Jesus
Cristo como o centro e "o cabeça" de suas reuniões. Também,
não tiveram êxito em liberar o corpo de Cristo, colocando-o
em ação para ministrarem, uns aos outros em suas reuniões,
como o Novo Testamento imaginou.
Por causa da Reforma, a Bíblia substituiu a Eucaristia e o
pastor ficou no lugar do padre. Portanto, nos dois casos, há
alguém dirigindo opovo de Deus, deixando-os numa condição
de espectadores silenciosos. Acentralidade do Autor do Livro
nunca foi restaurada, sendo "recolocada em seu verdadeiro
lugar. Assim, os reformadores falharam, de forma catastrófica,
em insistir no local nevrálgico do problema original: o culto
dirigido pelo clérigo eassistido por membros passivos.Não
nos surpreende que o reformador veja a si mesmo como um
católico reformado.^^®

O QUE HÁ DE ERRADO NESSE QUADRO?


Está claro que a liturgia protestante não tenha sua origem
no Senhor Jesus, nos apóstolos, e nem nas Escrituras Sagradas

156 Banks, PauVs Idea ofCommunity, 108; Hatch, Influence ofGreek Ideas
and Usages, 308-309.
157 O capítulo 2 discute a influência da arquitetura da igreja do século 4
sobre o clero ativo ea congregação passiva. Neste sentido, Horton Davies
escreve: "a passagem de três ou quatro séculos mostra uma grande alteração
no caráter do culto cristão... No século 4, o culto não era celebrado em
casas, mas em catedrais majestosas e igrejas pomposas; não em cultos li
vres e simples, mas em reuniões regidas por uma liturgia fixa {Christian
Worship: History and Meaning, 26).
158 Nichols, Corporate Worship, 155.
136 Cristianismo Pagão?

Esse fato, por si só, não significa que está equivocada.


Significa, simplesmente, que não tembase bíblica.
O uso de cadeiras e tapetes grossos em reuniões cristãs tam
pouco possui sustento bíblico. Eambos foram inventados pelos
pagãos.^^° Contudo, quem disse que sentar em uma cadeira ou
ter tapetes grossos é "errado" pelo simples fato de ser uma in
venção pós-bíblica dos pagãos?
O fato éque fazemos muitas coisas em nossa cultura que têm
r^zes pagãs. Tome, como exemplo, nosso calendário. Os nomes dos
dias da semana edos meses do ano são homenagens aos deuses pa
gãos.'^' Mas ouso do calendário não nos transforma em pagãos.'"

159 Alguns pesquisadores litúrgicos, como oAnglicano Gregory Dix, tentou


argumentar que o Novo Testamento contém um modelo antiquado e sem
cultura de Missa. No entanto, uma análise cuidadosa do argumento deles nos
mostra que estavam meramente interpretando sua tradição atual com o res
paldo do texto bíblico. (Bradshaw, Ori^ns ofChristian Worship, cap. 2).
160 As cadeiras mais antigas foram feitas no Egito. Por milhares de anos,
foram usadas apenas pela realeza, nobreza, padres e ricos. As cadeiras não
caíram em uso comum entre a população geral até o século 16 ("Chairs",
RncuTtíi Enciclopédia, Microsoft, 1999 Edition). Foram desenvolvidos tape
tes de lã na índia no século lie esparramados ao longo do resto do mundo
Oriental ("Floor and Floor Coverings," Encarta Encyclopedia, Microsoft,
1998 Edition).
161 Asemana de sete dias originou-se na Mesopotâmia antiga e se tornou
parte do calendário romano em 321 d.C.. Janeiro refere-se ao deus romano
Janus-, Março ao deus romano Marte; Abril vem de Aprilis, o mês sagrado
de Vênus; Maio à deusa Maia; e junho à deusa Juno; Domingo (Sunday)
celebra odeus sol; Segunda-feira (Monday) éodia da deusa lua; Terça-feira
(Tuesday) refere-se ao deus guerreiro Tkv; Quarta-feira (Wednesday) ao
deus teutônico Wotan; Quinta-feira (Thursday) ao deus escandinavo Thor;
Sexta-feira (Friday) adeusa escandinava Frigg; esábado (Saturday) refere-
se aSaturno, odeus romano da agricultura, (Veja ilfowíÃs ofthe Year [Meses
do Ano] em www.ernie.cummings.net/calendar.htm).
162 Para aqueles que estão pensando por que o Natal, a Páscoa e o fato de
cristãos se reunirem no sábado não são assuntos citados neste livro, vejam os
comentários completos de Frank em http://www.ptmin.org/answers.htm.
A Ordem do Culto 137

Então por que aliturgia da manhã dominical éuma questão


distinta dos tipos das cadeiras e dos carpetes que usamos no
lugar onde fazemos oculto? Além de ser antibíblica ealtamente
influenciada pelo paganismo (o oposto do que se prega de cima
do púlpito), não leva ao crescimento espiritual que Deus desig
nou.^" Considere o que segue:
Primeiramente, a ordem de culto protestante reprime a par
ticipação mútua eo crescimento da comunidade cristã. Provoca
uma paralisação no funcionamento do Corpo de Cristo por calar
seus membros. De nenhuma maneira, há espaço para que você
exorte, compartilhe algo que descobriu, comece acantar ou dirija
uma oração de forma espontânea. Você éobrigado aser dono de
um assento, sério, mudo! Você éproibido de ser enriquecido pelos
outros membros do corpo, assim como enriquecer asi mesmo.
Como qualquer outro "leigo", voce pode abrir aboca somente
durante os cânticos da congregação. (Caso você seja pentecostal
ou carismático, talvez possa deixar fluir uma expressão de extase
por um minuto. Depois, você deve se sentar eficar quieto.)
Embora seja bíblico compartilhar uma reunião da igreja aber
tamente'", você estaria rompendo a liturgia caso tentasse algo
tão ultrajante! Você seria considerado "desordeiro" epediriam
que você se comportasse ou seria convidado asair.
Em segundo lugar, aliturgiaprotestante interrompe adireção
de Jesus Cristo.'" Todo o culto é direcionado por uma pessoa.

163 David Norrington observa que embora não haja nada intrinsecamente er
rado no fato da igreja abraçar idéias da cultura asua volta, oproblema éque a
cultura pagã freqüentemente écontrária àfé Bíblica. Este sincretismo eacul
turação são, em geral, prejudiciais àigreja (Tb Preach orNot to Preachf 23).
164 ICoríntios 14.26. O Novo Testamento ensina que todos os Cristãos
devem usar seus dons como sacerdotes que "funcionam para edificar uns
aos outros quando se reúnem (Romanos 12:3-8; ICoríntios 12.7; Efésios
4.7; Hebreus 10.24-25,13.15-16; iPedro 2.5, 9).
165 Nas palavras de Arthur Wallis, "As liturgias, sejam antigas ou modernas,
escritas ou não-escritas, formam um artifício humano para manter as rodas
religiosas andando, enquanto se faz mais o que écostume, do que se exer
cita a fé na presença e naoperação doEspírito já existentes .
138 Cristianismo Pagão?

Você está limitado ao conhecimento, aos dons, eàexperiência


de somente um membro do corpo —o pastor. Onde está a li
berdade para que nosso SenhorJesus fale através de Seu Corpo a
qualquer momento? De que forma, na liturgia. Deus poderá dar
uma palavra aum irmão ou irmã para compartilhar com toda a
congregação? A liturgia não permite isso. Jesus Cristo não tem
aliberdade de expressar Sua direção através de Seu Corpo. Até
Ele foi transformado em um espectador passivo!
Naturalmente, Cristo pode seexpressar através de um oudois
membros da igreja—geralmente opastor eolíder de louvor. Mas
essa é uma expressão muito limitada. O Senhor está impedido
de manifestar asi mesmo através de outros membros do Corpo.
Consequentemente, aliturgia protestante deforma o Corpo de
Cristo. Torna-se num corpo de uma língua enorme (o pastor) e
com orelhinhas bem pequenas (os membros). Isso viola avisão
paulina do Corpo de Cristo, na qual cada membro funciona, pelo
bem de todos, na reunião da igreja (ICoríntios 12).
Terceiro, para muitos cristãos, oculto do domingo de manhã é
vergonhosamente um tédio. Ésempre amesma rotina, sem nenhu
ma espontaneidade. Emuito previsível, superficial emecânico. Tem
pouco ar fresco ou inovações. Manteve-se congelado por cinco sé
culos. Francamente, aordem do culto incorpora opoder ambíguo
do costume. Eocostume cai muito rapidamente na rotina, que se
torna enfadonha, sem sentido eno final das contas, invisível.
Igrejas atentas aoseu "índice deaudiência" reconhecem a na
tureza estéril do culto da igreja contemporânea. Respondendo a
isso, incorporaram uma grande quantidade de modernizações te
atrais ede mídia na liturgia. Isso tudo serve para promover oculto
para osque não vão aigreja. Utilizando o que hádemais moderno
em tecnologia eletrônica, tais igrejas que buscam "audiência" têm
sido bem sucedidas em incharseus rankings^ ou seja, inflaramassa.
Como um resultado, acabaram por acumular uma grande porção
da quota de mercado [da fé] doProtestantismo Americano.

166 Para mais detalhes, veja Gary Gilley, This Little Church Went to Market:
The Church in the Age ofEntertainment (Webster, NY: Evaneelical Press
2005).
A Ordem do Culto 139

Mas apesar do entretenimento, até mesmo esses cultos que


buscam "audiência" esão dirigidos pelo mercado continuam cati
vos ao pastor, o trio "sermão, hino, apelo" continua intacto, eos
membros prosseguem na condição de espectadores mudos (so
mente eles são mais entretidos enquanto são espectadores).
Quarto, aliturgia protestante que você assiste [ou suporta]
todos os domingos, ano após ano, na verdade, dificulta a trans
formação espiritual. Isso se deve a três fatores: (1) encoraja a
passividade, (2) limita o funcionamento, e (3) implica num in
vestimento de uma hora por semana como o segredo da vida
cristã vitoriosa.
Todo domingo, você assiste o culto para receber um cura
tivo e uma recuperação, e depois para se recompor, como to
dos os soldados feridos. Com muita freqüência, no entanto,
o curativo e a recuperação nunca acontecem. A razão é bem
simples. O Novo Testamento nunca nos relatou esses momen
tos em que passamos por um ritual calcificado sentados, que
[mal] rotulamos de "igreja" como se fosse algo que tem aver
com transformação espiritual. Crescemos quando estamos ati
vos, funcionando, e não quando assistimos e escutamos tudo
passivamente.
Vamos enfrentar isso. Aliturgia protestante é, em grande
medida, antibíblica, inaproveitável [e teórica] e não é espiri
tual. Não há nada semelhante no Novo Testamento. Contu
do, suas raízes são encontradas na cultura do homem decaí
do.Dilacera o coração do Cristianismo primitivo, que era
informal e livre de rituais. Cinco séculos depois da Reforma,
a liturgia protestante pouco difere da Missa Católica um
ritual religioso composto poruma fusão de elementos pagãos
e judaicos.

167 Veja o livro de Frank, Reimagining Church, para saber mais sobre este
assunto.

168 O propósito da reunião da igreja do primeiro século não era oevangelis-


mo, os sermões, o culto ou acomunhão, e sim a edificação mútua através da
manifestação de Cristo no Corpo (Viola, Rethinking the Wineshin, cap.l).
140 Cristianismo Pagão?

Como disse um perito: "ahistória da adoração cristã éahistó


ria de concessões mútuas entre culto ecultura. Na medida em que
oevangelho foi sendo pregado em tempos elugares diferentes, os
missionários trouxeram consigo formas eestilos de adoração que
aprenderam e com osquais estavam familiarizados."^^'
Eu (Frank) não sou um liturgista com posição reconhecida.
O que escrevi sobre reuniões abertas debaixo da liderança de
Cristo não é uma teoria extravagante. Tenho participado desse
tipo de reunião durante os últimos dezenove anos.
Essas reuniões sãomarcadas por umavariedade incrível. Não
estãoligadas aum homem nem a um modelo deculto dominado
pelo púlpito. Há bastante espontaneidade, criatividade e coisas
novas e frescas. A característica inconfundível e mais notável
dessas reuniões éaliderança visível deCristoeo funcionamento
livre eordenado do CorpodeCristo. Estive em uma dessas reu
niões há um tempo atrás. Deixe-me descrevê-la a você.
Cerca de trinta pessoas se reuniram numa casa ese cumpri
mentaram. Alguns de nós fomos até o centro da sala de estar e
começamos a cantar a capela. Logo, toda a igreja estava cantan
do em uníssono, com os braços unidos. Outra pessoa começou a
cantar outra música, e todos sejuntaram a ela. Entre as músicas,
orações foram feitas porpessoas diferentes. Algumas das canções
haviam sido escritas pelo próprio grupo. Cantamos muitas vezes
as mesmas músicas. Algumas pessoas transformaram asletrasdas
músicas em orações. Porvárias vezes, alguns membros exortaram
a igreja emrelação aoque havíamos acabado decantar.
Depois de cantarmos, nos alegrarmos, orarmos espontane
amente, e exortarmos uns aos outros, nos sentamos. Logo de
pois, rapidamente, uma mulher se levantou ecomeçou aexplicar
o que Deus havia lhe mostrado durante a semana. Falou durante
uns três minutos. Depois que se sentou, um homem se levan
tou e compartilhou alguns versículos das Escrituras e exaltou o
SenhorJesus através deles. Em seguida, outro cavalheiro levan
tou-se eadicionou algumas palavras de edificação ao que o ou
tro havia dito. Uma mulher então introduziu uma nova canção.

169 Senn, Christian Worship andIts Cultural Settingy 38, 40.


A Ordem do Culto 141

que veio exatamente, em direção ao que os dois homens haviam


compartilhado. Toda aigreja cantou com ela. Outra mulher se
levantou e leu um poema que o Senhor havia lhe dado durante
a semana... que combinou perfeitamente com o que os outros
haviam compartilhado até aquele momento.
Um por um, irmãos eirmãs em Cristo se levantaram para nos
dizer o que tinham experimentado em seu relacionamento com
oSenhorJesus Cristo durante asemana. Exortações, ensino, en
corajamento, poemas, canções etestemunhos foram seguidos,
um após ooutro. Eum tema comum, que revela aglória de Jesus
Cristo, emergiu. Alguns choraram.
Nada disso foi ensaiado, prescrito, ouplanejado. Ainda que
a reunião estivesse a todo vapor. Foi tão rica, tão gloriosa e
tão edificante que se tornou evidente, a todos, que havia al
guém liderando mesmo aquela reunião. Mas não era visível.
Era o Senhor Jesus Cristo! Sua liderança foi sendo manifesta
no meio do Seu povo. Estávamos sendo lembrados novamente
de que Ele está realmente vivo... vivo o suficiente para dirigir
Sua igreja.
O Novo Testamento não está em silêncioa respeito de como
os cristãos de reúnem. Devemos, portanto, optar pela tradição
humana enquanto esta é claramente contrária à idéia de Deus
para Sua igreja? Devemos continuar minando ofuncionamento
da liderança de Cristo defendendo nossa liturgia sacrossanta? A
igreja deJesus Cristo éopilar etem abase da verdade ou defende
a tradição humana (iTimóteo 3.15)?
Se apartar radicalmente desse ritual da manhã dominical tal
vez seja aúnica forma certa de descongelar opovo de Deus. Que
possamos nos livrar da terrível condenação: "Vocês rejeitaram os
mandamentos de Deus, para que pudessem manter suas tradi
ções."^^® Marcos 7.9

170 Marcos 7.9. Veja também Mateus 15.2-6; Marcos 7.9-13; Colossenses 2.8.
142 Cristianismo Pagão?

UM MERGULHO PROFUNDO — CAP. 3

1. Não é verdade que a descrição da Bíblia sobre as reuniões


da igreja parecem permitir muita abrangência sobre como
nosso culto éestruturado^Aliturgia daminha igreja consiste
emquasetodasaspráticas mencionadas em ICoríntios 14.O
que, então, estátão errado com opadrão dos cultosf
A maioria das reuniões nas igrejas institucionais inclui mú
sicas e ensino, no entanto, são feitas em uma atmosfera bem
diferente daquela prescrita em ICoríntios 14. Essa passagem
descreve uma reunião com participação aberta para todos os
membros, para trazer um ensino, uma revelação, uma música,
uma exortação, etc. (verso 26); perguntar enquanto outros fa
lam (verso 30); eprofetizar espontaneamente (verso 24,31).
Se areunião dasua igreja possui todos esses elementos, éma
ravilhosa. Somente não os descrevemos como "liturgia padrão",
sendo que não é uma "prática padrão" atualmente.
2. Em ICoríntios 14, Paulo admoesta os crentes afazer tudo
com ordem. Como uma igreja orgânica mantém otempo do
culto enq^uanto estáaberta atodosparaparticipação, ou mes
mo a dois ou três indivíduosf Uma igreja orgânica não levaa
si mesma a uma desordem^
Essa é uma excelente pergunta. O fato de Paulo ter admo
estado os crentes para se reunirem em um estilo ordenado de
monstra claramente que uma reuniãoaberta não tem de ser uma
reunião tumultuada, mesmo sendo livre para todos. Para Paulo,
existeuma sinergiamaravilhosa entre uma reunião aberta e uma
ordenada. Se o povo de Deus está apropriadamente equipado
para funcionar debaixo da direção de Cristo, uma reunião de
participação aberta pode ser um evento glorioso com harmonia
e ordem.
Vamos perguntar a nós mesmos: O que aconteceu quando
Paulo enfrentou a situação confusa e frenética em Corinto? O
apóstolo não fechou a reunião e distribuiu folhetos litúrgicos.
Nemintroduziu uma oficialização humana. Ao invés disso, for
neceu à igreja várias diretrizes claras para facilitar a ordem e a
edificação nas reuniões (veja ICoríntios 14).
A Ordem do Culto 143

Ainda mais, Paulo confiou que aigreja iria aderir aessas dire
trizes. Isso expõe um princípio importante. Toda igreja primiti
va tinha asua disposição um apóstolo itinerante que aauxiliava a
superar eresolver todos os problemas comuns. Algumas vezes,
o auxílio vinhaatravés de cartas.Em outras vezes,vinha durante
visitas pessoais feitas pelo próprio apóstolo. Tal auxílio externo
pode ser extremamente benéfico em manter uma igreja orgânica
centrada em Cristo eensiná-la apermanecer concentrada duran
te as reuniões.

3. Você questiona ofoco da igreja em trazer almas perdidas


para Cristo. Ainda que algumas pessoas venham para Cris
to, não podem fazer parte do grande e eterno propósito de
Deus, como Paulo argumenta em Efésios 1. Sendo assim, não
éperigoso que as igrejasfaçam daproclamação do evangelho
umaprioridadef
Sim, é. Na verdade, acreditamos que expressar oevangelho em
nossavida eproclamá-lo com palavras éuma conseqüêncianatural
da vida de uma igreja orgânica saudável. Se o povo de Deus está
aprendendo aamar oseu Senhor eao próximo com grande inten
sidade, vão querer, naturalmente, compartilhar sobre Deus com
os outros tanto através de palavras quanto de atitudes.
4. Você sugere indiretamente que Finney e outros revivalistas
começaram a usar tais coisas como oapelo no altar, estrita
mente, porque eles eram pragmatistas, os quais inventaram
certaspráticas para ganhar osperdidos. Mas como podemos
dizer, ao certo, que esses homens não eram direcionadospelo
Espírito Santopara aplicar novos métodos que ajudariam as
pessoas a reconhecersua necessidadepor Cristo?
Nosso ponto em questão sobre Finney era simplesmente que
os revivalistas fizeram dasalvação o propósito central de Deus.
Asalvação foi transformada em algo que assume avida por si só,
freqüentemente isolada de uma experiência cristã holística. As
sim, muitas inovações foram criadas para facilitar a experiência
da conversão, mas não uma experiência completa com Cristo. O
propósito eterno de Deus não era visto como um todo.
144 Cristianismo Pagão?

Conforme o pragmatismo é seguido, os cristãos devem de


cidir por si mesmos se uma prática particular édo Espírito Santo
ou se émera ingenuidade humana em ação. Deixamos esses jul
gamentos para o leitor.

5. Você não se acha muito crítico ao saberque Moody sepreocu


pava tanto em trazer almasperdidas a Cristo, mesmo sendo
um evangelista, não seria isso naturaljá que esse era seufocof
Nóscertamente entendemos que Moody trazia almas aCris
to. Entretanto, nós acreditamos que como último propósito de
Deus através da redenção, ele falhou ao comunicar ocompleto
plano de Deus.
Nenhum evangelista ou apóstolo no Novo Testamento
trouxe almas a Cristo simplesmente salvando-as do inferno. Tal
pensamento era desconhecido dos primeiros cristãos. Eles ga
nhavam pessoas ao Senhor trazendo-as àcomunidade de Deus,
a igreja.
No primeiro século, as pessoas eram salvas com a idéia de
ser adicionadas a ekklesia. Conversão e comunidade não eram
separadasj essas estavam intrinsecamente ligadas. Nas palavras
de Gilbert Bilezikian: "Cristo não morreu apenas para nos salvar
dos pecados, mas para trazer-nos juntos àcomunidade. Depois
de vir aCristo, nosso próximo passo éserenvolvido na comuni
dade. Aigreja que não tiver essa experiência comunitária éuma
paródia, um engano".
Nessa consideração, a corrente evangélica temcometido um
erro profundo em divorciar asoterologia (salvação) da eclesio-
logia (estudo eprática da igreja). Amensagem conduzida éque
asoterologia é um curso requerido, enquanto a eclesiologia é
uma escolha. Então, aprática da igreja não é interessante. Mas,
este pensamento não reflete o currículo de Deus. Aigreja não é
uma nota de rodapé no evangelho. Ela permanece no centro da
vontade do coração de Deus.

171 John McNeii, "'Denatured' Church Facing Extinction", ASSIST News


Service, 19 de Fevereiro de 2006.
A Ordem do Culto 145

De fato, quando a igreja funciona como deve, ela é o maior


evangelismo conhecido do gênero humano. Quando opovo de
Deus está vivendo numa autêntica comunidade, suas vidas jun
tas são um sinal da palavra de Deus vindo ereinando.
6. Você diz que ''nem Católicos ou Protestantesforam bem su
cedidos em conceder queJesus Cristo seja ocentro ecabeça
dos seus seguidores". Eu devo discordar. Naminha igreja^ as
músicas que cantamos, a Escritura que lemos, a mensagern
queproclamamos, tudo centraliza emJesus. Além disso, nós
estamos dando instruções práticas de como fazer de Cristo
nosso Senhor todos os dias da semana.
O tema central nós não endereçamos "Está Jesus sendo fa
lado e honrado no serviço cristão?" Nós concordamos que em
muitas igrejas como instituição, Ele está. O assunto que ende
reçamos é: "Jesus Cristo éacabeça funcional que une atodos?"
Há uma significativa diferença entre fazer Jesus um convidado
invisível de honra epermitir que Ele seja olíder na prática de unir
os seguidores.
Vamos supor que os autores deste livro freqüentem sua igre
ja. Evamos supor que o Senhor Jesus Cristo coloque alguma
coisa em nossos corações para compartilhar com o restante do
corpo de Cristo. Teríamos nós liberdade em fazê-lo espontane
amente? Todos os demais teriam liberdade em fazê-lo? Se não,
então nós questionamos sua igreja se oculto está sob aliderança
de Cristo.
Você vê, um encontro que está sob aliderança de Cristo sig
nifica que Ele poderá falar através de cada membro do corpo
reunido. Este éum bom argumento de iCoríntios 12-14, Paulo
começa aseção dizendo que Jesus Cristo não e mudo como os
ídolos que os coríntios adoravam. Eatravés de quem Ele fala?
Ele fala através do Seu corpo usando os vários dons eministérios
dados pelo Espírito (1 Coríntios 12).No próximo capítulo, Pau
lo fala que os dons eministérios dos convertidos são usados em

172 Veja tanbém Stanley Grenz, Created for Community (Grand Rapids:
Baker Books, 1998).
146 Cristianismo Pagão?

amor, como o amor busca edificar a todos (preferivelmente do


que asi próprio). Paulo então caminha para areunião específica
da igreja "cada um com seus dons" para algo como trazer "todos
recebendo profecia um por um" (ICoríntios 14).
Nessa conexão, se você estivesse freqüentando uma igre
jaorgânica no estilo da reunião do primeiro século, você teria
ambos os privilégios: ode compartilhar seja o que fosse que o
Senhor dirigisse seu coração eda maneira pela qual oEspírito o
conduzisse. Não apenas isso, mas você seria impactado igual
mente. Em outras palavras, Jesus Cristo seria acabeça funcional
do ajuntamento.
Capítulo 4

O Sermão: A Vaca mais Sagrada do


; Protestantismo

"O Cristianismo não destruiu opaganismo, mas oadotou''.


— WILLDURANT,
HistoriadorAmericano do Século 20

''Minha mensagem eminha proclamação não seformaram de


palavraspersuasivas de conhecimento, mas constituíram-se em
demonstração do poder do Espírito, para que a vossafe não se
fundamente em sabedoria humana, mas no poder de Deus".
—PA ULODE TARSO EMICORÍNTIOS 2.4-5

Qv/'^GORA CHEGAMOS AO sermão, uma das práticas mais


sacrossantas. Elimine o sermão, e a liturgia protes
s

tante vem a ser nada mais que um show. Elimine o sermão e a


freqüência dos membros cairá para um dígito.
O Sermão é o fundamento da liturgia protestante. Por qui
nhentos anos, funcionou como um relógio. Toda manhã de do
mingo, o pastor sobe no púlpito e entrega um discurso inspi
rador para uma audiência passiva que esquenta os bancos.' O
sermão é tão central que muitos cristãos vão à igreja por causa
dele. Na verdade, todo o culto é julgado pela qualidade do ser-

1 "Nada é mais característico do Protestantismo do que a importância que


ele dá para apregação". Niebuhr eWilliams, Ministry in Histotical Perspec
tives, 110.
148 Cristianismo Pagão?

mão. Pergunte aalguém como foi aigreja no último domingo e


provavelmente receberá uma resposta descrevendo amensagem.
Resumindo, o pensamento cristão contemporâneo considera o
sermão comosendoa mesma coisa que o culto dominical.^ Mas
isto não acaba aí.
Elimine osermão evocê terá removido afonte mais impor
tante de alimentação espiritual para um número incontável de
crentes (pelo menos é assim que se imagina). Earealidade cho
cante é que o sermão de hoje não tem raízesnasEscrituras.Mais
do que isso, éemprestado, recuperado eadotado da cultura pagã
para afé cristã. Estaéuma afirmação alarmante, não é? Mas exis
te mais.
O sermão, na verdade, difama opropósito que Deus desig
nou à igreja. E isso tem muito pouco a ver com o crescimento
espiritual genuíno. Calma, não desmaie nem perca os sentidos...
comprovaremos isso ainda nestecapítulo.

O SERMÃO EA BÍBLIA

Sem dúvida, sevocê está acompanhando as últimas leituras nos


poucos parágrafos acima, virá com uma resposta afiada: "Hápesso
as pregando portoda aBíblia. Claro que o sermão ébíblico!".
As Escrituras registram homens e mulheres pregando. To
davia, existe um mundo de diferenças entre apregação inspira
da pelo Espírito, descrita na Bíblia, eosermão contemporâneo.
Essa diferença passa quase sempre despercebida, porque fomos
inconscientemente condicionados aaceitar nossas práticas mo
dernas como bíblicas.
Então, como um equívoco, aceitamos o púlpito como algo
bíblico. Vamos analisar isso mais de perto. O sermão cristão dos
nossos dias tem asseguintes características:
—Ocorre regularmente —éproferido fielmente do púlpito
pelo menos uma vez por semana.

2Na França, oculto da igreja protestante échamado alleràsermon ("ir para


o sermão"). (White, Protestam Worship, 20).
o Sermão 149

—É transmitido pela mesma pessoa —geralmente o pastor


ou um convidado ordenado.
—É ministrado a uma audiência passiva — essencialmente,
é um monólogo.
—Éum tipo de discurso culto, refinado —tem uma estrutu
ra específica. Geralmente, contém uma introdução, três acinco
pontos, e uma conclusão.
Faça um contraste com otipo de prédica mencionada na Bí
blia. No Antigo Testamento, os homens de Deus pregavam e
ensinavam. Mas sua forma de falar não se encaixa no sermão
moderno. Aqui estão as características das pregações edos ensi
namentos do Antigo Testamento:

—Participação ativa e interrupções da audiência são co


muns.^
Profetas e sacerdotes pregavam incomodando os ouvin
tes, abordando um tema atual, ao invés de pregar usando ano
tações.
—Não existe nenhuma indicação no Antigo Testamento de
que os profetas ou sacerdotes proferiam discursos ou mensa
gens regularmente ao povo de Deus."* Além disso, anatureza das
pregações no Antigo Testamento era esporádica, era algo que
fluía e nela havia certa abertura para a participação pública. A
pregação na sinagoga antiga seguiu um modelo similar.®

3 Norrington, To Preach or Not, 3.


4Os profetas falaram em resposta aacontecimentos específicos (Deutero-
nômio 1.1, 5.1, 27.1, 9; Josué 23.1-24.15; Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel,
Amós, Ageu, Zacarias; etc.). Norrington, To Preach orNot, 3.
5Norrington, To Preach or Not, 4. Aúnica diferença na pregação da sina
goga éque amensagem entregue em um texto bíblico era uma ocorrência
comum. Mesmo assim, a maioria das sinagogas permitia que qualquer mem
bro, por sua vontade, pregasse ao povo. Isso, claro, éuma contradição di
reta ao sermão moderno: de que somente "especialistas religiosos podem
dirigi-lo à congregação.
150 Cristianismo Pagão?

Vamos agora ao Novo Testamento. OSenhorJesus não pre


gava sermões regularmente ao mesmo povo.^ Suapregação eseus
ensinamentos consistiam em muitos formatos. Transmitia a sua
mensagem para muitos ediferentes públicos. (Com certeza, Ele
concentrou amaior parte de seus ensinamentos aos discípulos.
Mesmo assim, as mensagens que compartilhou com eles eram
consistentemente espontâneas einformais).
Seguindo o mesmo padrão, apregação apostólica registrada
em Atos dos Apóstolos possui as seguintes características:
— Era esporádica.^
—Era ministrada em ocasiões especiais para tratar de pro
blemas específicos.®
— Era improvisadae não tinha uma estrutura retórica.'
—Na maioria dos casos, era simples e em muitos casos, um
diálogo (ou seja, incluía debates e interrupções por parte do
povo), ao invés de um mero monólogo (um discurso de apenas
uma pessoa).

6 Agostinho foi o primeiro a intitular Mateus 5-7 em seu livro The Lord's
Sermon on the Mount [O Sermão do Senhor no Monte] (escrito entre 392 e
396). Mas, geralmente, não se referiam a passagem ao Sermão doMonte até
oséculo 16 (Green, Dictionary ofJesus and the Gospels, 736; Douglas, Who 's
Who iri Christian History, 48). Apesar de seu nome, o Sermão do Monte é
bem diferente do sermão moderno, tanto no estilo quanto na retórica.
7 Norrington, To Preach orNot, 7-12. Norrington analisa os discursos no
Novo Testamento e faz um contraste com o sermão dos nossos dias.
8 Atos 2.14-35; 15.13-21, 32; 20-7-12, 17-35; 26.24-29. Norrington, To
Preach or Not, 5-7.
9 O caráter espontâneo enão-retórico das mensagens ministradas em Atos
ébem evidente, perante uma analise meticulosa. Veja, como exemplos. Atos
2.14-35; 7.1-53, 17.22-34.
10 Jeremy Thomson, Preaching as Dialogue: ís the Sermon a Sacred Cowf
(Cambridge: Grove Books, 1996), 3-8. Apalavra grega freqüentemente usa
da para descrever a pregação e os ensinamentos do primeiro século é diale-
gomai (Atos 17.2, 17; 18.4, 19; 19.8-9; 20.7, 9; 24.25). Essa palavra significa
uma forma de comunicação bilateral. Apalavra inglesa dialogue [diálogo em
o Sermão 151

Da mesma forma, as cartas do Novo Testamento mostram


que oministério da Palavra de Deus veio de uma igreja como um
todo em suas reuniões regulares.'^ Em Romanos 12.6-8;15.14;
iCoríntios 14.26 e Colossenses 3.16 vemos que esse ministério
incluía ensino, exortação, profecia, louvor e admoestação. Essa
reunião em que "todos funcionavam" era algo também relacio
nado aconversas (iCoríntios 14.29) emarcado porinterrupções
(1 Coríntios 14.30). Igualmente, as exortações dos anciãos locais
eram feitas de forma improvisada.^^
Em poucas palavras, osermão contemporâneo que éproferido
aos cristãos [para alimentá-los] éalheio tanto ao Antigo quanto ao
NovoTestamento. Não existe absolutamente nada nas Escrituras
que indique sua existência nas reuniões da Igreja Primitiva.'^

DE ONDE VIERAM OS SERMÕES CRISTÃOS?


O registro cristão mais antigo relativo àpregação de sermões
remonta ao final do segundo século.Clemente de Alexandria la
mentava ofato de que osermão exercia pouca influência nos cris
tãos.'^ Todavia, apesar de seu reconhecido fracasso, o sermão se
tornou uma prática normal entre os crentes do quarto século.'^

português] deriva dessa palavra grega. Em resumo, o ministério apostóli


co era mais um diálogo do que um "sermão-monologo . William Barclay,
Communicating the Gospel (Sterling: The Drummond Press, 1968), 34-35.
11 iCoríntios 14.26,31; Romanos 12.4 em diante; Efésios 4.11 em diante;
Hebreus 10.25,

12 Kreider, Worship andEvangelism in Pré-Christendom, 37.


13 Norrington, To Preach orNot, 12.
14 Ibid., 13. O primeiro sermão cristão registrado está na famosa Second
LetterofClement, escrita entre 100 d. C. e150 d. C. Brillioth, BriefHistory
ofPreaching, 19-20.
15Norrington, Tb Preach orNot, 13.
16 Hatch, Influence ofGreek Ideas and Usages, 109.
152 Cristianismo Pagão?

Isso sugere uma questão interessante. Se os cristãos do sé


culo 1 não sedestacavam por seus sermões, de onde oscristãos
pós-apostólicos adquiriram esse costume? Aresposta écontun
dente: O sermão cristão foi emprestado diretamente da associa
ção pagã dacultura grega!
Para compreender o nascedouro do sermão, temos que vol
tar ao século 5a.C. eanalisar um grupo de mestres peregrinos
chamados sofistas. Atribui-se aos sofistas ainvenção da retórica
(a arte de falar persuasivamente). Costumavam recrutar discípu
los e exigiam o pagamento dos que estivessem interessados em
ouvir seus discursos.'^
Os sofistas eram experientes polemistas ('-"N.T.: O termo
"polemista" éderivado de Polêmica, arte de debater).
Eram mestres em usar os adequados apelos emocionais, apa
rência física e linguajar para "vender" seus argumentos.^® Com
o tempo, o estilo, a forma e a destreza da oratória dos sofistas
chegou aser mais estimada que sua exatidão.^' Isso gerou uma
classe de homens mestres na arte de falar, "cultivando o estilo
pelo estilo".
As verdades que pregavam eram abstratas, e não verdades
que eram colocadas em prática em suas próprias vidas. Eram pe
ritos em imitar a forma no lugar da substância.^°

17 Douglas J. Socáoy Archetypes ofWisdom: An Introduction to Philosophy


(Belmont, CA: Wadsworth/ITP Publishing, 1998), 56-57.
ISIbid.

19 As palavras sofisma e sofistico vieram dos sofistas. Sofisma refere-se a


especioso e enganador (falsificado) usada racionalmente para persuasão
(Soccio, Archetypes ofWisdom^ 57). Os gregos celebravam o estilo orató
rio e a forma aproximada à exatidão do conteúdo dos sermões. Então, um
bom orador poderia usar seu sermão para influenciar sua audiência a acre
ditar que ele sabia ser falso. Para a mente grega, ganhar um argumento era
uma virtude maior do que destilar a verdade. Infelizmente, umelemento do
sofisma nunca deixou o cristão "encurralado" (Norrington, To Preach or
Not, 21-22; Hatch, Influence ofGreek Ideas and Usages, 113).
20 Hatch, Influence ofGreek Ideas and Usages, 113.
o Sermão 153

Os sofistas identificavam a si mesmos pelas roupas espe


ciais que usavam. Alguns tinham uma residência fixa onde pro
feriam seus sermões regularmente à mesma audiência. Outros
viajavam para proferir seus refinados discursos. (Ganharam
uma grande quantia em dinheiro nesta atividade). As vezes, o
orador grego entrava em seu foro de discurso ja vestido em
sua batina de púlpito". Depois subia os degraus ese dirigia ao
seu assento profissional, esentava antes de começar aproferir
seu sermão.
Para chamar a atenção sobre uma questão, o sofista citava
versos de Homero. (Alguns oradores estudaram tanto sobre
Homero e suas obras, que memorizaram muitos de seus tex
tos). O sofista era tão encantador que incitava sua audiência,
muitas vezes, aaplaudi-lo durante odiscurso. Se sua mensagem
fosse bem recebida, alguns diriam que tiveram uma inspira
ção" para seu sermão.
Foram os homens distintos de seu tempo. Tanto que eles
viviam de dinheiro público, por conta própria. Outros tiveram
estátuas públicas erigidas em sua homenagem.^^
Cerca de um século depois, ofilósofo grego Aristóteles (384-
322 a.C.) trouxe um estilo de discurso de três pontos para aretóri
ca. "O todo", disse Aristóteles, "necessita um princípio, um meio
eum fim".^^ Com otempo, os oradores gregos implementaram o
princípio aristoteliano dos três pontos em seus discursos.
Os gregos se intoxicaram da retórica.^^ Assim, os sofistas
se deram muito bem. Quando Roma conquistou a Grécia,
os romanos ficaram obcecados pela retórica.Por conse-

21 Ibid., 54, 56, 91-92, 96, 97-98, 112.


22 Aristóteles, On Poetics, cap. 7. Embora Aristóteles estivesse falando
sobre escrever "trama" e "fábula", seu princípio estava, todavia, relacionado
a discursos.

23 O amor pelo discurso era a segunda natureza para os gregos. "Era uma
nação de 'tagarelas'" (Hatch, Influence of Greek Ideas and Usages, 27).
Norrington, To Preach ar Not, 21.
24 Norrington, To Preach orNot, 21.
154 Cristianismo Pagão?

quência, a cultura greco-romana desenvolveu um apetite


insaciável por ouvir discursos eloqüentes. Isso ficou tão na
moda que depois de um jantar, o costume regular era um
entretenimento realizado por um filósofo profissional: um
pequeno sermão}'^
Os antigos gregos e romanos viam a retórica como uma
das mais elevadas formas de arte.^^ Consequentemente, os
oradores do Império Romano foram honrados com o mesmo
''status glamoroso" com que os estadunidenses homenageiam
astros de cinema e atletas profissionais. Foram as estrelas de
seu tempo.
Os oradores deixavam uma multidão frenética simplesmen
te por sua poderosa destreza retórica. Os mestres da retórica,
aprincipal ciência daquela época, foram "o orgulho" das cida
des grandes^^ que recehizm status de celebridade pelos oradores
por elas gerados. Não demorou muito para que os romanos eos
gregos ficassem viciados nosermão pagão —como ocorre com
muitos cristãos modernos adictos do sermão "Cristão".

A CHEGADA DE UMA CORRENTE POLUÍDA

Como que o sermão grego foi parar dentro da igreja cristã?


Por volta do século 3, um vácuo foi criado, quando oministério
mútuo do corpo de Cristo se desvaneceu.^® Durante esse tempo,
oúltimo ministro itinerante que falava de uma idéia espontânea
e profética deixou as paginas da historia da igreja.^' Para subs
tituí-lo, acasta clerical surgiu. As reuniões abertas começaram

25 Hatch, Influence ofGreek Ideas and Usages, 40.


26Brilioth, BriefHistory ofPreaching, 26.
27 Robert A. Krupp, "Golden Tongue and Iron Will", Christian History 13,
no. 4 (1994): 7.
28 Norrington, To Preach orNot, 24.
29 Hatch, influence ofGreek Ideas and Usages, 106-107, 109.
o Sermão 155

adesaparecer eforam se tornando cada vez mais litúrgicas.^® A


reunião da igreja foi desenvolvida em um "culto".
Uma estrutura hierárquica logo começou aarraigar-se, esur
giu aidéia do "especialista em religião"^^ Em virtude dessas mu
danças, o cristão que participava das reuniões teve dificuldades
para se ajustar aessa estrutura eclesiástica tão distinta do que era
antes.^^ Não havia espaço para exercer seus dons. Noséculo 4, a
igreja se tornou completamente institucionalizada.
Quando isso aconteceu, muitos oradores efilósofos pagãos
se converteram ao Cristianismo. Como um resultado disso, as
idéias filosóficas pagãs foram sendo trazidas àcomunidade cris
tã, inadvertidamente.^^ Muitos desses homens se tornaram os
primeiros teólogos ou líderes da igreja cristã primitiva. Eles são
conhecidos como os "pais da igreja", e algumas de suas obras
ainda estão conosco.^'^
Assim, aidéia pagã de um orador profissional treinado para
proferir discursos ou sermões mediante pagamento passou di
retamente àveia cristã. Note que o conceito de mestre especia
listaassalariado" veio da Grécia, e não doJudaísmo. Dedicar-se
a um trabalho ou profissão para não ter que cobrar pelos seus
ensinamentos era um costume dos rabinos judaicos.^^
Esses ex-oradores pagãos (agora cristãos) começaram a usar
integralmente suas destrezas oratórias greco-romanas para fins

30 Norrington, Tb Preach orNot, 24-25.


31 Ibid., veja o capítulo 5 deste livro.
32 Ibid., 25.
33 Ibid., 22; Smith, From Christ to Constantine, 115.
34 Entre eles estavam Tertuliano, Cipriano, Arnóbio, Lactâncio e Agosti
nho (Norrington, To Preach or Not, 22). Veja também Hatch, Influence of
Greek Ideas and Usages , 7-9, 109; Richard Hanson, Christian Priesthood
Examined (Guildford, UK: Lutterworth Press, 1979), 53.
35 F. F. Bruce, Paul: Apostle ofthe Heart Set Free (Grand Rapids: Eerdmans,
1977), 220. O notável rabino Judeu Hidel disse: "Aquele que faz uma coroa
mundana do Torá dissipar-se". (107-108).
156 Cristianismo Pagão?

cristãos. Sentavam em suas cadeiras oficiais^S "expondo osagrado


texto bíblico, assim como um sofista, proferiauma exegese do texto
quase sagrado de Homero..."^^ Se você comparar um sermão pagão
do século 3com um proferido pelos pais daigreja, você verá oquan
to a estrutura e a fraseologia deambos são bemsimilares.^^
Então, um novo estilo de comunicação nasceu na igreja cristã,
um estilo marcado por uma retórica refinada, uma gramática sofis
ticada, uma eloqüência descritiva, eum monólogo. Era um estilo
designado para entreter echamar aatenção para adestreza oratória
do orador, aretórica greco-romana.^' Apenas aqueles que fossem
treinados podiam se dirigir àassembléia! (Isso lhe soa familiar?).
Um erudito descreve isso da seguinte maneira: Aproclama-
ção original da mensagem cristã era uma conversação de "mão
dupla", mas quando as escolas oratórias do mundo ocidental
aderiram àmensagem cristã, transformaram apregação cristã em
algo bem diferente. Atendência era que aoratória iria substituir
a conversação, se sobrepondo a ela. A grandeza do orador to
mou olugar do surpreendente evento deJesus Cristo. Odiálogo
entre oorador eoouvinte se desvaneceu em um monólogo.''^

36 Hatch, Influence ofGreek ídeas and Usages, 110.


37 Norrington, To Preach or Not, 22. Uma exegese consta da interpretação
e explanação de um texto bíblico.
38 Hatch, Influence ofGreek Ideas and Usage, 110.
39 Um estudante que estuda retórica, completa então seus estudos quando
pode falar, sem preparação prévia, sobre qualquer assunto que lhe for apre
sentado. Alógica, em forma de debate, era algo comum noestudo da retórica.
Todo estudante aprendia como argumentar e argumentar bem. Alógica era
algo natural para a mente grega. Mas, era uma lógica divorciada da prática e
construída sobre argumentos teóricos. Toda essa mentalidade penetrou na fé
cristã bem no início. (Hatch, Influence ofGreek Ideas and Usage, 32-33).
40 Ibid., 108, Hatch escreveu: "com o crescimento da organização, uma
fusão de ensinamentos e exortações, e também uma restrição gradual da
liberdade de se dirigir à comunidade da classe oficial também lá cresceu".
41 Wayne E. Oates, Protestam Pastoral Counseling (Philadelphia: Westminster
Press, 1962), 162.
o Sermão 157

Em suma, o sermão greco-romano substituiu aprofecia, os


momentos em que os cristãos compartilhavam e ministravam
uns aos outros e o ensino inspirado pelo Espírito/^ O sermão
chegou a ser privilégio elitista de líderes da igreja, particular
mente dos bispos. Essas pessoas tinham que ser educadas em
escolas de retórica para aprender afalar.Sem essa educação, um
cristão era impedido de falar ao povo de Deus.
Já no século 3, os cristãos passaram a definir seus sermões
como homilias, o mesmo termo grego que oradores usavam, ao
fazer seus discursos.'*'* Hoje, os seminaristas fazem um curso
chamado homilética para aprender apregar. Ahomilética écon
siderada uma "ciência que aplica as regras da retórica, tal qual na
Grécia e Roma, onde teve origem".'*^
Em outras palavras, nem ahomilia (sermão) nem ahomilé
tica (a arte de pregar o sermão) tem uma origem cristã. Foram
roubadas dos pagãos. Uma corrente contaminada epoluída se
misturou com a fé cristã e envenenou suas águas. Essa corrente
flui tãofortemente hoje como no século 4.

CRISÓSTOMO EAGOSTINHO

João Crisóstomo foi um dos maiores oradores cristãos de


seu tempo.**^ (Crisóstomo quer dizer "boca dourada ).'*' Cons-

42 Ibid., 107.
43 Brilioth, BriefHistory ofPreaching, 26, 27.
44 Hatc, Influence ofGreek Ideas and Usage, 109; Brilioth, BriefHistory of
Preaching, 18.
45 J. D. Douglas, New Twentieth Century Encyclopedia ofReligious Knowl-
edge (Grand Rapids: Baker Book House, 1991), 405.
46 Etn seu leito demorte, Libanius (tutorpagão de Crisóstomo) disse que
ele havia sido seu sucessormais valioso. "Se os cristãosnão o tivessem rou
bado". (Hatc, Influence ofGreek Ideas and Usage, 109).
47 Tony Castle, Lives ofFamous Christians (Ann Arbor, MI: Servant Books,
158 Cristianismo Pagão?

tantinopla nunca escutara "sermões tão poderosos, brilhantes


e sinceros" como os pregados por Crisóstomo/® Aprédica de
Crisóstomo foi tão estimulante que, às vezes, as pessoas tinham
que "brigar" nafrente para escutá-lo melhor/'
Com o domnatural paraa oratória. Crisóstomofoialuno do
sofista mais destacado do século 4, Libanius/® Aeloqüência de
Crisóstomo no púlpitofoiinsuperável. Seus sermões foram tão
poderosos, que muitas vezes eram interrompidos pelo aplauso
da congregação. Crisóstomo certa vez proferiu um sermão con
denando o aplauso como algo impróprio para a casa de Deus.®^
Mas, após concluir o sermão, a congregação apreciou tanto
aquela pregação, que o aplaudiu.^^ Essa história ilustra opoder
indomável da retórica grega.
Podemos atribuirá Crisóstomo eAgostinho (354-430 d.C.),
um ex-professor de retórica^^ aresponsabilidade de incorporar
a oratória dopúlpito como parte integrante da fé cristã.^^ Com
Crisóstomo, osermão grego alcançou seu auge. O estilo do ser
mão grego foi enriquecido pela brilhante retórica, citando poe-

1998), 69; Hatch, Influence ofGreek Ideas and Usage, 6. João foi apelidado
de golden-mouth [boa dourada] (Crisostosmo) por causa de suas pregações
eloqüentes e(Krupp, "Golden Tongue and Iron '^1", Christian Historyy 7).
48 Durant, Age ofFaith, 63.
49 Kevin Dale Miller, "Did you know? Little-Known Facts about John
Chrysostom , Chvistian Histoiry 13, no. 4 (1994): 3. ÍMais de 600 sermões
de Crisóstomo sobreviveram, dentre todos que pregou.
50 Krupp, "Golden Tongue and Iron Will", 7; Schaff, History of ée
Qhristian Church, 3:933-941; Durant,/Ige ofFaithy 9. Crisóstomo aprendeu
a retórica com Libanius, mas também estudava filosofia e literatura pagã.
(Durant,Age ofFaith, 63).
51 Um aplauso cheio de entusiasmo e uma platéia para uma homilia de um
sofistico, era um costume grego.
52 Schaff, Flistory ofthe Christian Church, 3:938.
53 Durant, Age of Faith, 65.
54 Norrington, To Preach orNot, 23.
o Sermão 159

sias e visando impressionar a audiência. Crisóstomo enfatizou


que "o pregador necessita passar um longo tempo elaborando
seus sermões para adquirir o poder da eloquência".^^
Com Agostinho, osermão em latim alcançou as alturas.^^ O
estilo do sermão latino eramais prosaico queo estilo grego. En
focava o "homem comum" e era dirigido aum pontomoral mais
simples. Enquanto Zwingli adotou João Crisóstomo como seu
modelo de pregador, Lutero adotou Agostinho como seu mode
lo.^'' Ambos os estilos, latino e grego, incluíram uma prática de
comentar versículo por versículo euma forma parafrasica.®^
Mesmo assim, Crisóstomo e Agostinho seenquadram na li
nhagem dos sofistas gregos, dando-nos aretórica cristã polida e
refinada, através dosermão "cristão": bíblico noconteúdo, mas
grego no estilo.^'

OS REFORMADORES, OS PURITANOS EO GRANDE


AVIVAMENTO

Durante a era medieval, a Eucaristia dominava a Missa Ca


tólica Romana, e a pregação ficou para trás. Porém, com o sur
gimento de Martinho Lutero (1483-1546), o sermão recuperou
sua proeminência no culto.^° Lutero concebeu erroneamente

55 Niebuhr e Willlams, Ministry in Historical Perspectives, 71.


56Brilioth, BriefHistory ofPreaching, 31,42.
57 Senn, Christian Liturgy, 366. Tanto a pregação luterana como a refor
mada tinham uma tendência para o estilo de exposição de versículo por
versículo. Essa era a característica dos pais patrísticos como Crisóstomo e
Agostinho.
58 John McGuckin, professor da História da Igreja Primitiva no Union
Theological Seminary [Seminário União Teológica], em e-mail para Frank
Viola, 29 de Setembro de 2002.
59Norrington, Tb Preach orNot, 23.
60 White, Protestam Worship, 46-47.
160 Cristianismo Pagão?

que a igreja servia para convocar pessoas para escutar a Palavra


de Deus. Por essa razão, certa vez ele chamou oedifício da igreja
àtMundhaus (boca oucasa de oratória)
Seguindo as normas de Lutero, João Calvino (1509-1564)
alegou que o pregador é a "boca de Deus"." (Ironicamente,
tanto um como o outro, com veemência, rechaçaram a idéia
de que o Papa era ovigário de Cristo.) Não nos surpreende o
fato de que muitos dos reformadoreshouvessem estudado re
tórica, sendo fortemente influenciados pelos sermões greco-
romanos de Agostinho, Crisóstomo, Orígenes e Greeório, o
Grande." ^
Dessa forma, oequívoco dos pais da igreja foi repetido pelos
reformadores epelas subculturas protestantes criadas por eles,
especialmente ados puritanos." Na verdade, atradição moderna
da pregação evangélica encontra suas raízes mais recentes no
movimento puritano do século 17 e do grande avivamento do
século 18.
Os Puritanos adotaram oestilo de pregar usado por Calvino.
Qualeraesse estilo? A exposição das Escrituras deforma siste-

61 Niebuhr eWilliams, Ministry inHistorical Perspectives, 114.


62 Thomson, Preachingas Dialogue, 9-10.
63 Old, Patristic Roots ofReformed Worship, 79 em diante.
64 O exame minucioso da evolução do conteúdo do sermão desde a Re
forma até hoje está além do objetivo deste livro. Ésuficiente dizer que os
sermões, durante o período do Iluminismo, se degeneraram em discursos
morais estéreis para melhorar asociedade humana. Os puritanos trouxeram
de volta apregação com oestilo de exposição de versículo por versículo que
começou com os pais da igreja. Os temas da justiça social se tornaram pro
eminentes no Metodismo do século 19. E com a chegada do Revivalismo
Frontier, a pregação em igrejas evangélicas foi dominada pelo chamado à
salvação. Os puritanos também fizeram contribuições à retórica de sermão
moderna. Seus sermões eram escritos com antecedência em um esboço de
quatro partes (leitura da Bíblia, declaração teológica, exemplos e ilustra
ções da doutrina e aplicação) com uma estrutura organizacional detalhada.
White, Protestam Worship, 53, 121, 126, 166, 183; Allen C.Guelzo, "When
the Sermon Reigned", Christian History 13, no. 1(1994); 24-25.
o Sermão 161

mática semana após semana. Um estilo adotado pelos pais da


igreja, que veio aser bem popular durante aRenascença. Os eru
ditos dessa época forneciam comentários de textos, de frase por
frase, da Antigüidade clássica. Calvino era um especialista nessa
área. Antes de sua conversão, empregava esse estilo comentando
o autor pagão Sêneca. Ao se converter, passou apregar sermões
eaplicou o mesmo estilo analítico àBíblia.
Seguindo o caminho de seu pai João Calvino, os puritanos
centraram todos seus cultos eclesiásticos em torno de um ensi
no sistemático da Bíblia. Pretendendo evangelizar a Inglaterra,
(purificá-la dos equívocos anglicanos), os puritanos centraram
todos seus cultos em torno de exposições bíblicas muito bem
estruturadas, metódicas e lógicas, de versículo aversículo. Sua
ênfase firmava o Protestantismo como a religião do "Livro".
(Ironicamente, o"Livro" nada sabe sobre sermão!).
Os puritanos também inventaram uma forma de predica
chamada "estilo simples". Este estilo estava enraizado na me
morização das anotações do sermão. As divisões, subdivisões e
análises do texto bíblico elevaram o sermão aonível deuma fina
ciência.^^ Essa forma ainda é utilizada por inúmeros pastores.
Além disso, os puritanos deixaram o legado do sermão de uma
hora (embora alguns sermões puritanos durem noventa minu
tos), olegado da prática da congregação de anotar osermão, do
esboço do sermão em quatro partes edo hábito do pastor usar
anotações enquanto desenvolve sua pregação.^^
Outra influência, o grande avivamento, foi responsável pelo
tipo de pregação comum às primeiras igrejas metodistas, oqual
estáemuso atualmente nas igrejas pentecostais. Fortesímpetos

65 Meie Pearse e Chris Matthews, We Must Stop Meeting Like This (E.
Sussex, UK: Kingsway Publications, 1999), 92-95.
66 White, Protestam Worship, 53, 121, 126, 166, 183; Guelzo, "When the
Sermon Reigned", 24-25. Os fantasmas da pregação puritana ainda estão
conosco hoje. Toda vez que você ouvir um pastor protestante "sermoni-
zar", no fundo você encontrará o estilo de sermão puritano, que tem suas
raízes na retórica pagã.
162 Cristianismo Pagão?

emocionais, gritos, saltos desde aplataforma até opúblico, todas


essas coisas são vestígios dessa tradição.^^
Resumindo a origem do sermão contemporâneo, podemos
dizer oseguinte: O Cristianismo adotou aretórica greco-roma-
na, batizando-a e colocando nela suas fraldas. Ahomilia grega
encontrou o caminho da igreja cristã por volta do século 2, e
alcançou seu apogeu com os oradores de púlpito do século 4, a
saber. Crisóstomo eAgostinho.^^
O sermão cristão perdeu sua proeminência no século 5 até
a Reforma, quando chegou aser encaixotado em um relicário,
como principal foco do cultoprotestante. Todavia, durante cer
ca de quinhentos anos, amaioria dos cristãos nunca questionou
sua origem e eficácia.^'

COMO O SERMÃO PREJUDICA AIGREJA


Embora venerado por cinco séculos, o sermão convencional
tem contribuído, nas mais variadas formas, para adegradação da
igreja. Primeiramente, o sermão faz com que opregador tenha
um desempenho artístico no culto eclesiástico. Como resultado,
aparticipação da congregação fica obstaculizada (na melhor hi
pótese) eexcluída (na pior hipótese). Osermão degenera aigreja
em um auditório, um grupo de espectadores mudos, presencian
do um evento. Não há espaço para interromper ou questionar
oprçgador, enquanto profere seu discurso. Osermão congela e
aprisiona o funcionamento do Corpo de Cristo. Promove um
sacerdócio dócil ao permitir que os homens do púlpito domi
nema reunião daigreja semana após semana. 70

67 Pearse e Matthews, We Must Stop Meeting Like This, 95.


68 Brilioth, BriefHistory ofPreaching, 22.
69 O historiador do século 19 Edwin Hatch foi um dos primeiros adesafiar
o sermão.

70 O sermão vende a si mesmo como o maior facilitador do crescimento


cristão. Mas essa idéia é enganadora e mal orientada.
o Sermão 163

Em segundo lugar, o sermão estanca o crescimento espiri


tual. Pelo fato de ser uma "mão de uma só via", encoraja a pas
sividade. Debilita a igreja, enfraquecendo seu funcionamento.
Sufoca o ministério mútuo. Abafa a participação aberta. Faz o
crescimento espiritual dopovo de Deus declinar.^'
Como cristãos, precisamos funcionar, nos exercitar e cami
nhar para crescer eamadurecer (veja Marcos 4.24-25 eHebreus
10.24-25). Não crescer através de uma audição passiva semanal.
Defato, uma das metas doestilo da pregação e ensino doNT é
incentivar você a funcionar e trabalhar (Efésios 4.11-16)^^. En
corajar-nos afalar na reunião da igreja (iCoríntios 12-14).^^ O
sermão convencional esconde esse processo.
Em terceiro lugar, o sermão conserva amentalidade do cle
ro antibíblico. Cria uma dependência patológica e excessiva do
clero. O sermão faz do pregador um especialista em religião —o
único que tem algo digno evalioso adizer. Trata todos os demais
como cristãos de segunda categoria —esquentadores de banco
silenciosos (Embora isso não expresse ogeral, éarealidade).^'*
Como pode opastor aprender dos demais membros do Cor
po de Cristo quando estão sempre mudos? Como pode aigreja
aprender do pastor quando seus membros não podem fazer per
guntas durante sua oratória?^' Como podem os irmãos eirmãs
aprenderem uns dos outros se todos estão impedidos de falar
nas reuniões?

71 Para saber mais sobre esse tópico, veja Reimagining Church de Viola.
72 Essa passagem também afirma que "funcionar" é necessário para a ma
turidade espiritual.
73 Areunião descrita nessa passagem é, claramente, uma reunião de igreja.
74 Alguns pastores são conhecidos por dar atenção àidéia insensível de que
"tudo o que as ovelhas fazem é dizer 'baa' e comer grama".
75 Reuel L. Howe, Partners in Preaching: Clergy and Laity in Dialogue
(New York: Seabury Press, 1967), 36.
164 Cristianismo Pagão?

O sermão torna a igreja tanto distante quanto impessoal/^


Priva opastor de receber osustento espiritual da igreja eaigreja
de receber um mútuo nutriente espiritual. Por essas razões, o
sermão éum dos maiores obstáculos que impedem o ministério
funcional dos cristãos na igreja!
Em quarto lugar, ao invés de preparar os santos, o sermão
remove suas habilidades. Não importa quão forte e extensa
mente o ministro fale sobre "preparar os santos para a obra do
ministério", averdade é que a pregação de sermões tem muito
pouco poder para preparar alguém para o serviço espiritual.^®
Lamentavelmente, no entanto, o povo deDeus seacostumou e
ficou tão viciado em ouvir sermões que os pastores também se
acostumaram eficaram tão viciados quanto eles em pregá-los.^'
Em contraste a isso, o estilo de pregação e de ensino do Novo
Testamento prepara aigreja para que possa funcionar sem apre
sença do clero.®°
Porexemplo, eu (Frank), participei de uma conferência em
que um fundador da igreja contemporânea investiu um final de

76 George W Swank, Dialogical Style in Preaching (Valley Foree: Hudson


Press, 1981), 24.
77 Kevin Craig, "Is the Sermon Concept Biblical?", Searching Together 15
(1986), 22.
78 Muitos pastores falam sobre "preparar os santos" e"liberar os leigos", po
rém promessas para libertar oleigo hácido eequipar aigreja para oministério
pralmente provam ser vazias. Enquanto o pastor ainda dominar o culto da
igreja com seus sermões, o povo de Deus não será livre para funcionar nas
reuniões. Dessa forma, "preparar os santos" éuma típica retórica vazia.
79 Para aqueles que consideram o sermão algo exoticamente tedioso, enten
demos os sentimentos de "ouvirem pregações até amorte". Acitação do clé
rigo eescritor inglês do século 19, Sydney Smith, "captura" este sentimento:
"Ele merece ouvir pregações até amorte feitas por coadjutores selvagens!"
80 Considere o método de Paulo de pregação para uma igreja nova, que
depois a deixa sozinha por longos períodos de tempo. Para mais detalhes,
veja So Do You Want To Starta House Churchf First-Century Styled Church
Plantingfor Today (Jacksonville, FL: Present Testimony Ministry, 2003).
o Sermão 165

semanainteiro em uma rede de contatos de igrejas em casas. A


cada dia, ofundador da igreja imergiu as igrejas em revelações de
Jesus Cristo. Mas também deu aelas várias instruções práticas
sobre comofazer a respeito da experiência sobre aqual pregou.
Então deixou-as sozinhas, e provavelmente não retornará por
meses. As igrejas, tendo sido preparadas naquele final de semana,
tiveram suas próprias reuniões onde todos os membros haviam
contribuído com algo sobre Cristo na reunião através de exor
tações, encorajamentos, ensinos, testemunhos, novas canções,
poemas, etc. Essa é, em sua essência, aministração apostólica do
Novo Testamento.
Em quinto lugar, o sermão contemporâneo e totalmente
contraproducente. Inúmeros pregadores são especialistas em
coisas que nunca experimentaram. Por ser abstrato e teórico,
piedoso einspirador, exigente eobrigatório, interessante edi
vertido, não coloca os ouvintes em uma experiência direta e
prática sobre o que é pregado. Assim, o sermão típico éuma
aula de natação em terra seca! Falta todo ovalor prático. Prega-
se muito noar, mas ninguém aterrissa. Amaioria das pregações
édirigida ao lóbulo frontal. Apregação contemporânea de púl
pito não consegue ir além da mera disseminação de informa
ções em preparar os crentes para que experimentem eutilizem
aquilo que escutam.
Sendo assim, o sermão espelha seu próprio pai —a retóri
ca greco-romana. Aretórica greco-romana estava envolta em
abstrações.®' "Envolvia formas planejadas mais para entreter
e demonstrar quão gênio o preletor era do que instruir e de
senvolver talentos em outros".®^ O sermão refinado moderno
pode aquecer ocoração, inspirar avontade eestimular amente.
Mas, raramente, se é que o faz, mostra ao time como andar
com as próprias pernas". Em tudo isso, o sermão contemporâ
neo falha ao tentar encontrar seu "faturamento" em promover
o tipo de crescimento espiritual que promete. No fim, na ver-

81 Craig, "Is theSermon Concept Biblical?" 25.


82 Norrington, To Preach ar Not, 23.
166 Cristianismo Pagão?

dade, ele intensifica o empobrecimento da igreja.®^ O sermão


age como um estimulante momentâneo. Seus efeitos são de
curta duração.
Vamos ser honestos. Hámilhares de cristãos que têm ouvido
sermões por décadas, e ainda são bebês em Cristo.^'^ Nós, cris
tãos, não somos transformados simplesmente porouvir sermões
semana após semana. Somos transformados através de encontros
regulares com o Senhor Jesus Cristo.®^ Aqueles que ministram,
contudo, são chamados para pregar Cristo, e não informações
sobre Ele. Eles também são chamados não somente para revelar
Cristo compalavras faladas, mas mostraraosseus ouvintes como
experimentar, conhecer, seguir eservir aJesus. No sermão moder
no, geralmente, esses elementos importantes não existem.
Se um pregador não pode trazer seus ouvintes para uma ex
periência espiritual viva do que ele está ministrando, os resulta
dos da mensagem terão curta duração. Então, aigreja precisa de
menos pessoas que vão ao púlpito emais "facilitadores" espiritu
ais. Ela tem uma necessidade urgente de pessoas que proclamem
Cristo eque saibam como mobilizar todo opovo para ter experi
ências com Ele, sobre quem ouviram pregações.®^ Acima de tudo

83 Clyde H. Reid, TheEmpty Pulpit (New York: Harper &Row Publishers,


1967), 47-49.
84 Alexander R. Hay, The New Testament Orderfor Church and Missionary
(Audubon, NJ: New Testament Missionary Union, 1947), 292-293, 414.
85 Qualquer pessoa pode encontrar Cristo em glória ou em sofrimento
(2Coríntios 3.18; Hebreus 12.1 emdiante).
86 Atos 3.20, 5.42, 8.5, 9.20; Gálatas 1.6; Colossenses 1.27-28. Se alguém
estiver pregando (kerygma) para descrentes ou ensinando (didache) cren
tes, a mensagem tanto para o crente quanto para o descrente é Jesus Cristo.
C. H. Dodd, The Apostolic Preaching and Its Developments (London: Hod-
der eStoughton, 1963), 7em diante. Ao falar da igreja primitiva, Michael
Green escreve: "Pregaram uma pessoa. A mensagem deles era francamente
cristocêntrica. Aliás, referem-se ao Evangelho simplesmente com Jesus ou
Cristo: Pregou Jesus a ele... Jesus, o homem, oJesus crucificado, oJesus
ressurreto, o Jesus exaltado ao lugar de poder no universo... o Jesus que
estivera, por algum tempo, presente entre Seu povo no Espírito... o Cristo
o Sermão 167

isso, cristãos precisam de instruções sobre como compartilhar


este Cristo vivo com o resto da igreja paraedificação mútua.
Consequentemente, afamília cristã precisa de uma restaura
ção da prática do primeiro século de exortação mútua e minis-
tração mútua,^^ porque o Novo Testamento depende de trans
formação espiritual sobre essas duas coisas.^® Além disso, odom
de ensino está presente na igreja. Mas oensino pode ser feito por
qualquer crente (iCoríntios 14.26,31) assim como por aqueles
que tem dons especiais para ensinar (Efésios 4.11, Tiago 3.1).
Nós saímos doslimites bíblicos quando permitimos que o ensi
no tivesse a forma de um sermão convencional e seja delegado a
umaclasse de oradores profissionais.

CHEGANDO A UMA CONCLUSÃO


Pregar eensinar aPalavra de Deus ébíblico? Sim, com certe
za. Mas osermão de púlpito moderno não éigual àpregação eao
ensino encontrados nas Escrituras.®' Não podemos encontrá-lo
no Judaísmo nem no Velho Testamento, no ministério de Jesus
ou na vida da igreja primitiva.'^ Emais do que isso, Paulo disse
aos gregos convertidos que se recusassem aser influenciados
pelos padrões de comunicação dos seus contemporâneos pagãos
(iCoríntios 1.17,22; 2.1-5).

ressurreto era, de uma forma que não era ambígua, centrai em suas mensa
gens". Green, Evangelism in the Early Church (London: Hodder eStough-
ton, 1970), 150.
87 Para saber mais sobre esse tópico, veja Reimagining Church de Viola.
88 Hebreus 3.12-13, 10.24-26. Note a ênfase em "uns aos outros" dessas
passagens. O autor tem como expectativa, que seja entendido como uma
exortação mútua.
89 Craig A. Evans, "Preacher and Preaching: Some Lexical Observations",
Joumalofthe Evangelical TheologicalSociety, 24, no. 4(Dezembro de 1981),
315-322.

90 Norrington, To Preach orNot, 69.


168 Cristianismo Pagão?

Mas e sobre iCoríntios 9.22-23, em que Paulo diz: "Fiz-me


tudo para com todos, com afinalidade de conseguir, de qualquer
maneira possível, salvar alguns"? Poderíamos argumentar que
isso poderia não incluir os sermões semanais, fazendo com que
fossem o foco de todas as reuniões, oque teria sufocado atrans
formação dos crentes ea edificação mútua.
O sermão foi concebido no útero da retórica grega, e nas
ceu na comunidade cristã, quando "pagãos-convertidos-ao-
Cristianismo" começaram atrazer seus estilos de oratória para
aigreja. Por volta do século 3, os sermões ministrados por líde
res cristãos era algo comum. No século 4, isso se tornou uma
norma.^^
O Cristianismo absorveu a cultura ao seu redor.Quando
seu pastor sobe ao púlpito com seus mantos clericais para entre
gar seu sermão sagrado, ele está, por ignorância, cumprindo o
papel do orador grego antigo.
Apesar do fato de queo sermão modernonão tem umabase
de niérito bíblica para sustentar sua existência, continua a ser
admirado, sem críticas, aos olhos dos cristãos dos nossos dias.
Ele se tornou algo tão arraigado na mente cristã que amaioria
dos pastores que creem na Bíblia e leigos, não conseguem ver
que estão afirmando eperpetuando uma prática antibíblica fora
da pura tradição. Osermão foi incorporado, permanentemente,
àcomplexa estrutura organizacional que foi removida da vida da
igreja do primeiro século.'^
Emvista de tudo o quedescobrimos sobreo sermão moder
no, considereestes pontos:
Comopodeumhomem pregar umsermão sobreserfiel àPa
lavra de Deus, enquanto ele mesmo prega um sermão? E como
pode um cristão sentar-se passivamente num banco e afirmar o
sacerdócio de todos os crentes, enquanto permanece sentado.

91 Ibid.

92 George T. Purves, "The Influence ofPaganism on Post-Apostolic Chris-


tianity", The Presbyterian Review 36 (Outubro de 1988), 529-554.
93 Veja também o capítulo 5.
o Sermão 169

passivamente, num banco? Falando com toda afranqueza, como


você pode defender apreservação da doutrina Protestante sola
scriptura ("somente pelas Escrituras, o 'Livro ) eainda assim
apoiar aidéia do sermão de púlpito?
Como um escritor afirmou, eloqüentemente: "O sermão
está, na prática, além das críticas. Ele se tornou um fim em si
mesmo, sagrado —oproduto de uma reverência distorcida a'tra
dição dos anciãos'"... eparece estranhamente inconsistente que
aqueles que estão mais dispostos aafirmar que aBíblia éaPalavra
de Deus, o 'guia supremo em todas as questões de fé eprática'
estejam entre os primeiros que rejeitam os métodos bíblicos em
favor das 'cisternas rompidas' de seus pais (Jeremias 2.13).'"'
Àluz do que você leu neste capítulo, existe algum espaço no
curral da igreja para vacas sagradas como osermão?

UM MERGULHO PROFUNDO CAP. 4

1. Você discorda de que a proclamação da Palavra seja fei


ta o centro da reunião da igreja. Paulo parece enfatizar a
pregação quando instruiu Timóteo. Em iTimoteo 4.2j diz
a ele: ''Prega a palavra^ insiste a tempo efora de tempo,^
aconselha, repreende eencoraja com toda apaciência esã
doutrina*'.
Timóteo foi um apóstolo itinerante. Seu papel era preparar
opovo de Deus para funcionar econhecer ao Senhor. Também
para ganhar almas perdidas com afinalidade de edificar uma igre
ja (Em 2Timóteo 4.5, Paulo diz aTimoteo para fazer otrabalho
de um evangelista").
Por conseguinte, pregar aPalavra de Deus éparte do chama
do apostólico. Timóteo certamente o fez, assim como Paulo,
quando pregou no mercado de Atenas enos salões de Tirano,
em Efeso. Aquelas reuniões apostólicas foram designadas para
preparar aigreja epara edificação da comunidade de convertidos
a Cristo.

94Norrington, 7b Preach orNot, 102,104.


170 Cristianismo Pagão?

Por outro lado, a reunião da igreja normativa é que quan


do todos os membros da igreja se reúnem (congregam), épara
compartilhar sua porção de Cristo (ICoríntios 14.26). Todos
são livres para ensinar, pregar, testemunhar, profetizar, orar e
ministrar uma canção.

2. Gregos e romanos podem ter usado a retórica paraestimu


lar uma multidãOy no entanto^ por que esse fato de incluir
os princípios da retórica e comentários verso por verso são
errados? Afinal, Deus nos dizpara amá-lo com "todo o en
tendimento", assim como com todo ocoração emente.
O ponto de nosso argumento é que o sermão se originou
mais do paganismo greco-romano do que de Jesus eseus após
tolos. Cabe ao leitor decidir se o sermão greco-romano écerto
ou errado —um desenvolvimento aprimorado àpregação apos
tólica ou um afastamento disso.

3. Quando você descreve a obra de um fundador de igrejas,


você diz que "asfez surgir, através de uma revelação deJesus
Cristo". O que exatamente isso significa e como você acha
que essa experiência afeta a reunião do corpo de Cristo?
Osfundadores de igreja do primeiro século tinham uma reve
lação (ou um discernimento) profunda eaudaz de Jesus Cristo.
Eles O conheciam, eO conheciam bem. Ele era avida deles, sua
respiração e a razão de viver. Um a um, transmitiram a mesma
revelação às igrejas que fundaram. João 1.1-3 éum bom exemplo
dessa dinâmica.
Paulo de Tarso pregou uma mensagem de Cristo tão inten
sa, que fez com que os pagãos imorais, que costumavam beber
sangue, se tornassem cristãos completos, pelo amor em Jesus
Cristo alguns poucos meses depois. (Esses novos crentes es
tabeleceram as igrejas da Antioquia em Pisídia, de Icônio, Lis
tra, Derbe, Filipos, Tessalônica eBeréia [Atos 13-17]). Paulo
compartilhou a profundidade de Cristo com eles de tal forma
que descobriram serem santos aos olhos dEle eque poderiam
conhecê-Lo no interior de cada um, pois Cristo lá habitava.
Essa compreensão profunda e pessoal da moradia de Cristo
o Sermão 171

nos corações influenciou a maneira como se reuniam e o que


faziam nessas reuniões.
Ademais, Paulo passou vários meses com esses novos con
vertidos, deixando-os depois sozinhos, por longos períodos de
tempo, por vezes, anos. E quando retornou, ainda estavam se
reunindo, amando uns aos outros e seguindo aoSenhor.
Capítulo 5

Q Pastor: O Obstáculo para o


• Funcionamento de cada Membro
''Uma tendência universal nareligião cristã, assim como também
em outras religiões, édar uma interpretação teoló^ca às instruções
desenvolvidasgradualmente durante umperíodo visando oproveito
daprática, eem seguida, aplicam essa interpretação aperíodos
anteriores, eoinício dessas instruções,fíxando-as numa era onde, de
fato, ninguémjamais ima^nou que teriam qualquersignificado .
— RICHARDHANSON,
Especialista dos Patricarcas da Igreja do Século 20
"Fiz especialização em Bíblia nafaculdade. Fuipara oseminário
eme especializei na única coisa que lã ensinavam: oministério
profissional. Quando meformei, percebi quepoderiafalar latim,
grego ehebraico, ea única coisa na terrapara oqual estava
qualificado era para serpapa. Mas outra pessoaocupouo cargo .
— PASTORANÔNIMO

✓^PASTOR. Afigura fundamental da fé protestante. Étão ha-


bitual para as mentes cristãs, que freqüentemente émais
conhecido, mais louvado, e mais confiável atéqueo próprioJesus
Cristo!
Elimine o pastor e a maioria das igrejas protestantes entrará
em pânico. Remova opastor eoProtestantismo, como oconhe
cemos, poderá morrer. O pastor é o ponto focai dominante, a
base e a peça central da igreja contemporânea. Ele incorpora o
Protestantismo Contemporâneo.
174 Cristianismo Pagão?

Mas aqui está uma profunda ironia. Não há um só versículo


em todo o Novo Testamento que apóie a existência domoder
no pastor dos nossos dias! Ele simplesmente nunca existiu na
igreja primitiva.
Note que estou utilizando o termo "pastor" ao longo des
te capítulo para descrever o contemporâneo ofício t papel que
desempenha. Não me refiro ao indivíduo específico que exerce
este papel, pois são, demodo geral, pessoas maravilhosas. Hon
rados, decentes e muitas vezes cristãos dedicados que amam a
Deus, são zelosos em servir Seu povo. Mas ézopapel que estão
cumprindo que aBíblia eahistória da igreja se opõem.^

O PASTOR ESTÁ NA BÍBLIA... CERTO?

A palavrapíisíor nãoaparece no NovoTestamento:


Assimy designoualgunspara apóstolosyoutrosparaprofetas, ou
tros para evangelistas eoutrospara pastores emestres.
(Hebreus 4.11 —ênfase doautor)
Podemos fazer as seguintes observações sobre o texto acima:
—Este éo único versículo no NT onde apzlzwrzpastores é
usada.2 Um verso solitário éuma peça de evidência muito escas
sa para manter toda a fe protestante! Aliás, há mais autoridade
bíblica no ato de pegar serpentes com as mãos (Marcos 16.18
e Atos 28.3-6) do que para o pastor dos dias atuais. Os cató
licos romanos cometeram o mesmo erro com a palavra padre.

1Hoje aqueles que sentem o chamado ao ministério da igreja local geral


mente acreditam que suas opções estão limitadas a servir como pastor ou
líder de louvor. Uma vez que o chamado para a obra do Senhor é defini
tivamente uma experiencia real, essas posições não existiam no primeiro
século. Apesar disso, embora seu ofício não tenha base bíblica, pastores
freqüentemente ajudam as pessoas. Mas ajudam-nas apesar de seu ofício,
não por causa dele.
2 Um derivado da palavrapoimen é usado em Atos 20.28 e 1Pedro 5.2-3.
o Pastor 175

Você pode encontrar apalavra sacerdote (padre) por três vezes


no Novo Testamento. Em todo caso, isso se refere a todos os
cristãos.^
—Apalavra éusada no plural. É"pastores". Isto ésignifi
cativo. Para o que quer que sejam esses "pastores', são plurais
na igreja, não singulares. Consequentemente, não há nenhum
apoio bíblico para apráticaso/íípastara (único pastor).
—A palavra grega pzrzpastores époirnem. Significa pastores
de ovelhas". {Pastor éapalavra em latim para "pastores de ove
lhas") .Pastor, então, éuma metáfora para descrever uma função
particular na igreja. Não éum ofício, nem um título."* Opastor de
ovelhas do século 1nãotinhanada avercomsenso especializado
eprofissional que veio através do Cristianismo contemporâneo.
Entretanto, Efésios 4.11 não se refere a um cargo pastoral, mas
meramente a uma dasváriasfunções na igreja.Pastores são aque
les que naturalmente proveem nutrição ecuidado às ovelhas de
Deus. Porém, éum profundo erro confundir pastores com uma
profissão ou título como concebem hoje.^
—Mais ainda, Efésios 4.11 éoblíquo. Nãooferece nenhuma
definição ou descrição sobre quem os pastores são. Simplesmen
te, são mencionados. Lamentavelmente, definimos essa palavra
com nosso conceito ocidental sobre o que um pastor e. Com-

3Apocalipse 1.6; 5.10, 20.6. R. Paul Stevens, The Other SixDays: Vocation,
Work and Ministry in Biblical Perspective (Grand RapidstEerdmans, 1999),
173-181.

4 Banks, PauVs Idea of CommHnity, 131-135. O Novo Testamento nun


ca utiliza as palavras do grego secular para autoridades civis e religiosas, a
fim de descrever ministros na igreja. Além disso, mesmo que amaioria dos
autores do Novo Testamento esteja imersa no sistema eclesiástico judaico
do Antigo Testamento, nunca usam hiereus (sacerdote) para se referir ao
ministério cristão. A ordenação para o ofício pressupõe um papel de lide
rança eclesiástica estática eexplicável que não existia nas igrejas apostólicas.
Marjorie Warkentin, Ordination: A Biblical-Historical View (Grand Rap-
ids: Eerdmans, 1982), 160-161, 166.
5As palavras de Jó nos vêm à mente: "Não farei acepção de pessoas, nem
usarei de lisonjas com o homem" (Jó 32.21).
176 Cristianismo Pagão?

preendemos nossa idéia de um pastor contemporâneo como


apoiada pelo Novo Testamento. Nem mesmo qualquer cristão
do primeiro século concebeu aidéia de um ofício de pastor!
Richard Hanson esclarece esse ponto quando diz: "Para nós,
aspalavras bispo, preshítero ediácono estão armazenadas com asso
ciações de ç[uase dois mil anos. Para as pessoas (^ue utilizaram essas
palavras no princípio, asfunções dessas posições não poderiam sig
nificarmais do que inspetores, anciãos eajudantes... Foiquando sig
nificações teológicas inadeqpiadas começaram aseraelasassociadas,
que a distorção do conceito do ministério cristão começou''.^
Os pastores de ovelhas do primeiro século eram os anciãos
locais (presbíteros)^ esupervisores da congregação.® Suas fun
ções seriam completamente conflitantes com o papel pastoral
contemporâneo.^

DE ONDE VEIO O PASTOR?

Se o pastor moderno esteve ausente da Igreja Primitiva, en


tão de onde veio?Como surgiu uma posição tão proeminente na
fé cristã? Euma saga dolorosa com raízes entrelaçadas ecomple
xas, as quais remontamà queda do homem.
Com aqueda do homem, surgiu um desejo implícito na raça
humana de ter um líder físico para levá-lo aDeus. Por essa razão,
as sociedades humanas através da história criaram, de maneira
consistente, uma casta espiritual eespecial de ícones religiosos.

6 Hanson, Christian Priesthood Examined, 34-35.


7Essa palavra éo registro ortográfico em português da palavra grega para
"ancião" (presbíteros).
8Os termos inspetores eservos foram posteriormente transformados nas pala
vras "eclesiásticas" Bispos ediáconos (Smith, From Christto Constantine, 32).
9 Christian Smith, Going to the Root, ch. 2-3; Jon Zens, The Pastor (St.
Croix Falls, WI: Searching Together, 1981); Jon Zens, "The 'Clergy/
Laity'Distinction: A Help or a Hindrance to the Body of Christ", Search
ing Together 23,no. 4 (1994).
o Pastor 177

O curandeiro, o feiticeiro, o rapsodista, o operador de milagres,


o bruxo, o adivinhador, o homem sábio e o sacerdote estiveram
conosco desde aqueda de Adão.'° Eessas pessoas são marcadas
por um treinamento especial, roupas especiais, um vocabulário
especial e estilo de vida especial."
Podemosveresteinstinto mostrar suahorrendaface na história
da antiga nação de Israel. Ocorreu pela primeiravez durante otem
po de Moisés. Dois servos do Senhor, Eldade eMedade, receberam
oEspírito de Deus ecomeçaram aprofetizar. Imediatamente um
jovem fanático alertou Moisés para "contê-los"! (Números 11.26-
28). Moisés reprovou aatitude do jovem repressor dizendo que
todo opovo de T)euspodeTÚi profetizar. Moisés colocou asi mesmo
contra oespírito clerical que tentou controlar opovo de Deus.
Vemos isso novamente quando Moisés subiu aoMonte Ho-
rebe. O povo queria que Moisés fosse o mediador físico entre
eles e Deus. Todos temiam uma relação pessoal com oTodo Po
deroso. (Êxodo 20.19).
Esse instinto caído tomou outra aparência durante o tempo de
Samuel. Deus quis que seu povo vivesse sob sua liderança, proteção
direta, mas Israel clamou por um rei humano. (1Samuel 8.19).
As sementes do pastor contemporâneo podem ser detectadas
até mesmo no tempo do Novo Testamento. Diótrefes, que ama
va ter aproeminência" na igreja, tomou o controle ilegítimo dos
assuntos eclesiásticos. Além disso, alguns pesquisadores sugerem

10 "O cristianismo... aprendido do exemplo das religiões pagãs fez com


que amaioria dos homens encontrasse muita dificuldade em compreender
a Deus ou a achegar-se a Ele sem a ajuda de um homem que de alguma
forma é um intermediário, um representante, que se sente chamado para
dedicar-se a esse ministério representativo" (Hanson, Christian Priesthood
Examined, 100).
11 Walter Klassen, "New Presbyter is Old Priest Writ Large," Concem 17
(1969): 5. Veja também WKlassen, J.L. Burkholder, eJohn Yoder, The Re-
lation ofElders to the Priesthood ofBelievers (Washington, DC: Sojourner s
Book Service, 1969).
178 Cristianismo Pagão?

que adoutrina dos nicolaítas, aqualJesus condena em Apocalipse


2.6, éuma referência àascensão de um clero primitivo.
Ao lado da busca do homem caído por um mediador espiri
tual humano está aobsessão pela forma hierárquica de liderança.
Em maior ou menor grau, todas as culturas antigas foram hie
rárquicas em suas estruturas sociais. Infelizmente, os cristãos
pós-apostólicos adotaram e adaptaram essas estruturas em sua
vida eclesiástica como veremos adiante.

O NASCIMENTO DO PAPEL DO BISPO SOBERANO

Até o século 2, a igreja não tinha uma liderança oficial. Li


deranças nas igrejas do século 1 eram raras, com certeza. Mas a
liderança não era oficial nosentido de que não haviam "ofícios"
religiosos nem posições sociais para serem preenchidas. O estu
do sobre o Novo Testamento deixaisso muito claro.
Emrelação aisso, aigreja doprimeiro século eramesmo uma
anomalia. Eram grupos religiosos sem sacerdote, templo ou sa
crifício.'^ Os próprios cristãos conduziram aigreja sob ocoman
do direto de Jesus Cristo. Os líderes se desenvolviam natural
mente, sem títulos, eforam reconhecidos mais por seu serviço e
maturidade espiritual do quepor um título ou ofício.

12 RW Grant, Nicolaitanism orthe Rise and Growth ofClerisy (Bedford, PA:


MWTB, n. d.), 3-6. Apalavra grega nicolaitane significa "conquistando opovo".
Mikos significa conquistar elaos significa "povo". Grant acredita que nicola
ítas são aqueles que produzem "leigos" no povo de Deus elevando o "clero"
como um senhorio sobre eles. Veja também Alexander Hay, What Is Wrong in
the Churchf (Audubon, NJ: New Testament Missionary Union, n.d.), 54.
13 Veja Banks, Paul's Idea of Community. Essas fontes demonstram clara
mente que "ofícios" não têm analogia com oNovo Testamento grego quan
do se referem aos líderes cristãos. Lemos essas convenções de organização
sociológica humana em nosso Novo Testamento.
14 James D.G. Dunn, New Testament Theology in Dialogue (Philadelphia:
Westminster Press, 1987), 123, 127-129.
o Pastor 179

Entre o rebanho estavam os anciões (pastores ou inspeto


res) .Todos esses homens estavam em pé de igualdade. Não havia
hierarquia entre eles.^^ Também estavam presentes obreiros ex
tras que implantavam igrejas. Eram chamados de enviados ou
apóstolos. Mas não fixavam residência nas igrejas que cuidavam.
Tampouco as controlavam.^^ O vocabulário sobre liderança no
Novo Testamento não permite nenhuma estrutura piramidal.
Émais uma linguagem de relacionamentos horizontais do que
uma que inclui atitudes exemplares.'^
A liderança cristã começou a ser formalizada durante o
período em que faleceram muitos apóstolos itinerantes (fun
dadores de igrejas). No final do primeiro século eno início do
segundo, presbíteros locais começaram a emergir como "su
cessores" residentes para um papel único de liderança desem
penhado pelos apóstolos itinerantes. Isso deu início àfigura
dominante em cada igreja.'® Sem ainfluência dos trabalhado
res itinerantes, que haviam sido treinados pelos apostolos, a

15 Nos textos dos pais da Igreja Primitiva, as palavras pastor , super


visor" e "ancião" são sempre utilizadas intercambiavelmente, tal como
no caso do Novo Testamento. E E Bruce disse: "Sem dúvida, a lingua
gem do Novo Testamento não nos permite fazer uma distinção entre
a palavra grega traduzida como "bispo" [episkopos) e aquela traduzida
como "ancião" {presbíteros). Paulo dirigia-se aos anciãos reunidos na
igreja de Éfeso da mesma forma como se dirigia àqueles que o Espírito
Santo havia nomeado como bispos. Mais tarde, nas Epístolas Pastorais
(as de Timóteo eTito), os dois termos, ainda, parecem ser utilizados in
tercambiavelmente". Çrhe Spreading Flame [Grand Rapids: Eerdmans,
1958], 65). Na realidade, bispos, anciões, e pastores (sempre no plural)
continuam sendo considerados idênticos aos escritos de 1 Clemente,
Didache e The Shepherd ofHermas. Foram vistos como idênticos até o
começo do século 2. Veja também Mackinnon, Calvin and the Reforma-
tion, 80-81; Ferguson, Early Christians Speak, 169-173.
16 Veja Reimagining Church de Viola para mais detalhes.
17 iCoríntios 11.1; 2Tessalonicenses 3.9; iTimóteo 4.12; 1Pedro 5.3.
18 Ferguson, Early Christians Speak, 172.
180 Cristianismo Pagão?

igreja começou aseguir em direção aos padrões organizacio


nais de sua cultura.''
Inácio de Antioquia (35-107 d.C.) foi o instrumento dessa
modificação, como aprimeira figura da história da igreja a dar
o primeiro passo no escorregadio e decadente caminho de atri
buição aum líder único nacongregação. Podemos lhe atribuir a
gênese do cargo de pastor eda hierarquia na igreja contemporâ
nea. Inácio elevou um dos anciãos acima dos demais. O ancião
"promovido" era agora chamado de "o Bispo". Todas as respon
sabilidades que pertenceram ao colegiado de anciões eram exer
cidas pelo Bispo.^°
Em 107 d.C., Inácio escreveu uma série de cartas enquanto
seguiapara Roma para ser martirizado. Seis de suas sete cartas
tratavam do mesmo tema, exaltando exageradamente a autori
dade eaimportância da posição de um Bispo.^'
Segundo Inácio, o Bispo teria a última palavra e deveria ser
prontamente obedecido. Considere os seguintes fragmentos
de suas cartas: "Ohviamentey devemos estimar oBispo como ao
Senhor... Stigamos o Bispo como Jesus Cristo segue o Pai... Onde
o Bispo estiver, ali opovo estará; assim como Jesus também deve
estar... Não está na lei sair da presença do Bispo para batizar ou
liderar alguma celebração de amor; mas oque aprovar, será agra
dávelaDeus... Ebom reconhecerDeus eoBispo. Aquele que honra
oBispo éhonrado por Deus. Ninguém fará qualquer negócio da
igreja sem o Bispo... Assim como oSenhor nadafazia sem o Pai,
unido com Ele, ou com Ele e com oapóstolos, não deverão atuar
independentemente do Bispo edos presbíteros. Deverão olhar seu
Bispo como um tipode Pai...*\^^

19 Em seu livro To Preach ar Not to Preachf, David Norrington nos traz


uma discussão profunda sobre como as estruturas hierárquicas eos especia
listas eclesiásticos começaram aemergir na igreja (pp. 24-25).
20 Ferguson, Early Christians Speak, 173.
21 Bruce, Spreading Flame,203-204.
22 Epístola aos Efésios, 6.1; Epístola aos habitantes de Esmirna (uma cidade
da Turquia, nacosta do rnarEgeu), 8.1-2; Epístola aos habitantes de Filadél-
o Pastor 181

Para Inácio, o Bispo tomara o lugar de Deus enquanto os


presbíteros tomaram o lugar dos doze Apóstolos.^^ Apenas o
Bispo poderia celebrar aSanta Ceia do Senhor, conduzir os ba
tismos, darconselhos, disciplinar osmembros da igreja, aprovar
os matrimônios e pregarsermões.^"*
Os anciãos se sentavam ao lado do Bispo durante a Ceia do
Senhor. Mas era o Bispo quem aministrava ese encarregava do
culto público e de todo ministério." Somente em casos excep
cionais poderia um "leigo" ministrar a Ceia do Senhor sem a
presença do Bispo." O Bispo, dizia Inácio, necessita "presidir"
sobre os elementos e assim, distribuí-los.
Na mente de Inácio, o Bispo era o remédio que curava a
falsa doutrina e estabelecia a unidade na igreja." Inácio acre
ditava que a sobrevivência da igreja ao perigo da heresia de
pendia do desenvolvimento de uma estrutura poderosa e rí
gida como aestrutura política centralizada romana." Aregra

fia, 7.1; Epístola aos habitantes de Magnésia (uma prefeitura da Grécia, loca
lizada na periferia da Tessálial 7.1; Epístola aos habitantes de Tralia, 3.1. As
Epístolas de Inácio estão repletas deste tipo de linguagem. Veja Early Chris-
tian Writings: The Apostolic Fathers (NewYork: Dorset Press, 1968), 75-130.
23 Edwin Hatch, The Organization ofthe Early Christian Churches (Lon-
don: Longmans, Green, and Co., 1895), 106, 185; Early Christian Writ
ings, 88. O livro de Hatch mostra que a evolução gradual da organização
eclesiástica e vários elementos daquela organização foram emprestados da
sociedade greco-romana.
24 Robert M. Grant, The Apostolic Fathers: A New Translation and Com-
mentary, vol. 11 (NewYork: Thomas Nelson &Sons, 1964), 58.
25 R. Alastair Campbell, The Elders: Seniority within Earliest Christianity
(Edinburgh: T. & T. Clark, 1994), 229.
26 Hatch, Organization ofthe Early Christian Churches, 124.
27 Ibid., 100.
28KennethStrand, "The Rise of theMonarchical Episcopate," emThreeEs-
says on Church History (Ann Arbor, MI: Braun-Brumfield, 1967); Warken-
tin, Ordination: A Bihlical-Historical View, 175.
182 Cristianismo Pagão?

do governo porum Bispo único resgataria a igreja da heresia


e da divisão interna.^'
Historicamente, isso éconhecido como o"mono-episcopado"
ou "episcopado monárquico". Éum tipo de organização em que o
Bispo édistinto dos anciãos (o presbítero) eésuperior aeles.
Durante a época de Inácio, a regra doBispo único não havia
chegado a outras regiões.^° Mas, pela metade do século 2, esse
modelo chegou a ser firmemente estabelecido na maioria das
igrejas.^^ Pelo final do século 3, prevaleceu em todos os lugares,
por toda parte.^^
O Bispo, com o tempo, veio aser o principal administrador
edistribuidor das riquezas da igreja." Era o homem responsável
pelo ensino da fé econhecedor sobre o que consistia oCristianis
mo." Acongregação, outrora ativa, havia se rendido àpassividade.
Opovo de Deus meramente assistia aperformance do Bispo.
Na realidade, o Bispo tornou-se o único pastor da igreja"
—o profissional do culto em comum." Era visto como porta-

29 Hanson, Christian Priesthood Examined, 69; Early Christian Writin^, 63-72.


30 Bruce, Spreading Flame, 66-69; Niebuhr e Williams, Ministry in His-
tovicul Pevspectives, 23-25. Quando Inácio escreveu suas cartas, a regra do
bispado único estava sendo praticada em cidades asiáticas como Éfeso, Fi
ladélfia, Magnésia e Esmirna. Contudo, ainda não alcançara a Grécia nem
o Ocidente, assim como Roma. Parece que aregra do bispado único deslo
cou-se para o Ocidente vindo da Síria, cruzando o Império.
31 Hanson, Christian Priesthood Examined^ 67; Bruce, Spreading Flame,
69. The Christian Ministry de J.B. Lightfoot em Saint PauVs Epistle to the
Philippians (Wheaton, IL: Crossway, 1994) oferece, na opinião de Frank,
a explicação mais satisfatória sobre a evidência histórica de como o bispo
gradualmente sedesenvolveu fora do presbitério.
32 Nierbuhr eWilliams, Ministry in Historical Perspectives, 25.
33 S. L. Greenslade, Shepherding the Flock (London: SCM Press, 1967), 8.
34 Hanson, Christian Priesthood Examined, 68.
35 Hatch, Growthof Church Institutions, 35.
36 White, Protestant Worship and Church Architeture, 65-66.
o Pastor 183

VOZ eocabeça da congregação. Era aquele que controlava todas


as atividades eclesiásticas, mantendo tudo sob controle. Resu
mindo, o Bispo foi o precursor do pastor contemporâneo.

DE PRESBÍTERO A SACERDOTE

Clemente de Roma, que morreu por volta do ano 100, foi


oprimeiro escritor cristão afazer distinção entre os status de
líderes eleigos cristãos. Foi oprimeiro ausar apalavra luicidude
para distingui-los dos ministros.^^ Clemente argumentou que a
ordem de sacerdotes do Antigo Testamento deveria encontrar
espaço na igreja cristã.^®
Tertuliano foi oprimeiro escritor ausar apalavra sacerdócio
para se referir auma classe separada de cristãos.^'Tanto Clemen
te quanto Tertuliano popularizaram apalavraSíicerí/óao em seus
escritos.''^
O Novo Testamento, por outro lado, nuncausou os termos
sacerdócio e laicidade e não apóia o conceito que existe entre
aqueles que ministram [o sacerdócio] eaqueles para quem omi
nistério édirigido (a laicidade) [ou os membros] O que temos

37 1 Clement 40:5. Veja também Ferguson, Early Christían Speak, 168;


R. Paul Stevens, The Abolition ofthe Laity (Carlisle, UK: Paternoster Press,
1999), 5.
38Warkentin, Ordination: A Bihlical-Historical View, 38.
39 Tertuilian, On Monogamy, 12.
40 Stevens,Abolition of the Laity, 28.
41 O termo leigo vem da palavra grega laos, que significa "o povo (veja
1Pedro 2.9-10). O termo clero vem da palavra grega kleros, que significa
"uma porção, uma parte ouuma herança". O Novo Testamento nunca usa a
palavra kleros para líderes, esim, mais para todo opovo de Deus. Porque o
povo de Deus éaherança de Deus (veja Efésios 1.11, Gálatas 3.29; Colos-
senses 1.12; 1Pedro 5.3). Em relação aisso, éirônico que Pedro, em 1Pedro
5.3 exorte os anciãos da igreja para não abusarem do poder do kleros ( cle
ro") !Novamente, kleros elaos referem-se atodo o rebanho de Deus.
184 Cristianismo Pagão?

com Clemente eTertuliano éuma clara ruptura do pensamento


cristão primitivo em que todos os cristãos compartilhavam do
mesmo status. Mas na metade do século 3, aautoridade do Bispo
tinha se solidificado em um ofício fixo.'*^
Então, Cipriano de Cartago apareceu, ampliando oimpacto.
Cipriano era um ex-orador pagão emestre de retórica.'*^ Quando
setornoucristão, virou também um prolífico escritor. Contudo,
nunca abandonou algumas de suas idéias pagãs.
Devido asua influência, Cipriano abriu as portas para ressus
citar as práticas do Antigo Testamento, como a dos sacerdotes,
templos, altares e sacrifícios.^'^ Bispos começaram a ser chama
dos de sacerdotes,'^^ um costume que se tornou comum no ter
ceiro século.''^Também foram chamados de pastores em algumas

42 J. G. Davies, The Early Christian Church: AHistory ofitsFive Centuries


(Grand Rapids: Baker Books, 1965), 92. Para uma breve sinopse de como o
clero sedesenvolveu, veja Other Six Days, de Steve, 39-48.
43 "Come and See" Icons, Books, eArt, "St. Cyprian of Carthage," http://
www.comeandseeícons.com/c/phml2.htm.
44Nichols, Corporate Worship, 25.
45 Ferguson, Early Christians Speak, 168. Cipriano normalmente chamava o
bispo de sacerdos que éapalavra latina para "sacerdote". Alinguagem sacer-
dotal retirada do Antigo Testamento para definir as posições hierárquicas
na Igreja foi rapidamente adotada. (Warkentin, Ordination:A Biblical-His-
torical View, 177; Smith, From Christ to Constantiney 136). J. B. Lightfoot
escreve que "a visão sacerdotal do ministério é um dos fenômenos mais in
teressantes eimportantes da história da Igreja" "Christian Ministry," 144.
46 Hanson, Christian Priesthood Examined, 35, 95. Não há qualquer evi
dência de alguém considerando ministros cristãos como sacerdotes até
o ano 200 d.C. Tertuliano foi o primeiro a usar o termo sacerdote refe
rindo-se aos bispos e presbíteros. Através de seus escritos, descreve os
bispos e os presbíteros como sacerdos (padres) e o bispo de sacerdos sum-
mu,s (Sumo Sacerdote). Fazia isso sem qualquer explicação, indicando
que seus leitores conheciam esses títulos (p. 38). Veja também Hans Von
Campenhausen, Tradition and Life in the Church (Philadelphia: Fortress
Press, 1968), 220. Acredita-se também que Cipriano afirmava que o bis
po é equivalente ao Sumo Sacerdote do Velho Testamento (Smith, From
o Pastor 185

48
ocasiões."*^ No século 3, cada igreja tinha seu próprio Bispo
(Neste momento, Bispos eram essencialmente as cabeças sobre
as igrejas locais. Não eram superintendentes diocesanos como
são hoje no Catolicismo Romano). Bispos epresbíteros, junta
mente, começaram aserchamados de"clero".'*'
A origem da doutrina antibíblica de "protetorado pode
também ser atribuída aCipriano.^° Ele ensinava que oBispo tem
apenas um superior. Deus, a quem deveria prestar contas, so
mente. Qualquer um que se separasse do Bispo, se separaria de
Deus.'* Ensinou também que uma porção do rebanho do Senhor
seria entregue aum pastor individualmente (o Bispo)

Christ to Constantine, 136). O historiador Eusébio regularmente chama


clérigos de "sacerdotes" em seus volumosos escritos (Hanson, Christian
Priesthood Examined, 61).
47 "Assim era o bispo, enquanto pastor principal da igreja local, represen
tando aplenitude do ministério. Ele era profeta, professor, celebrante prin
cipal da assembléia litúrgica epresidente da mesa de inspetores da sinago
ga' cristã" (Niebuhr eWilliams, Ministry in Historical Perspectives, 28). A
obra de Gregório, oGrande, The Book ofPastoral Rute escrita em 591 d.C.
é uma discussão sobre os deveres do oficio debispo. Para Gregorio, o bispo
éum pastor eapregação éum dos seus deveres mais importantes. Olivro
de Gregório é um clássico cristão e ainda é usado para treinar pastores em
seminários protestantes em nossos dias. Veja também Philip Culbertson
e Arthur Bradford Shippee, The Pastor: Readings from the Patnstic Period
(Minneapolis: Fortress Press, 1990).
48 Para uma discussão sobre este desenvolvimento, veja Ferguson, Early
ChrístiansSpeak, 13-14.
49 Niebuhr e Williams, Ministry in Historical Perspectives, 28.
50 Para uma discussão abrangente sobre essa doutrina e suas contradições,
veja Reimagining Church, de Viola.
51 Stevens, Other Six Days, 41-42.
52 Cipriano disse: "uma porção do rebanho foi concedida acada pastor in
dividual, oqual ele deve mandar egovernar, tendo que dar conta do que está
fazendo ao Senhor" (Letter to Comelius ofRome, LIV, 14). Veja também
Hatch, Organization ofthe Early Christian Churches, 171.
186 Cristianismo Pagão?

Após o Concilio de Nicéia (Horebe) (325 d.C.), os Bispos


passaram a delegar a responsabilidade da Ceia do Senhor aos
presbíteros." Os presbíteros não eram mais que representantes
do Bispo, exercendo aautoridade deles em suas igrejas.
Pelo fato dos presbíteros ministrarem aCeiado Senhor,passaram
aserchamados de "sacerdotes".^'*Ainda mais surpreendente, oBispo
veio aser considerado o"sumo sacerdote" que pode perdoar peca
dos Todas essas tendências ocultaram a realidade doNovo Testa
mento deque todos oscrentes são sacerdotes diante deDeus.
Jánoséculo 4, essa hierarquia imposta dominava afé cristã."
Acasta do clero já estava bem cimentada. O Bispo encabeçava a
igreja. Abaixo dele havia um colegiado de presbíteros. Subordi
nados aos presbíteros estavam os diáconos.^^ E na base de toda
essa hierarquia, se arrastava opobre emiserável "leigo". Aregra
do Bispo único passou aser aforma de governo aceita na igreja
ao longo do Império Romano. (Durante esse tempo, certas igre
jas começaram aexercer autoridade sobre outras igrejas —ex
pandindo a estrutura hierárquica)."

53 Niebuhr eWilliams, Ministry inHistorical Perspectives, 28-29.


54 Campbell, Elders, 231; Niebuhr e Williams, Ministry in Historical Per
spectives, 29.
55 Davies, Early Chnstian Church, 131; The Ápostolic Tradition ofHippolytus,
trans. Burton S. Easton (Cambridge: Cambridge University Press, 1934). Hi-
pólito distingue nitidamente entre os poderes do bispo edos presbíteros. Seus
escritos dão para obispo opoder para perdoar pecados eprescrever penitências
(Hanson, Christian Priesthood Examined, 39-40). Presbíteros e diáconos po
diam batizar somente com aautorização do bispo (Campbell, Elders, 233).
56 Davies, Early Christian Church,X^V. Em 318 d.C., Constantino reco
nheceu a jurisdição do bispo. Em 333 d.C., os bispos foram colocados no
mesmo patamar dos magistrados romanos (188).
57 Hans Lietzmann, A History ofthe Early Church, vol. 2 (New York: The
World Publishing Company, 1953), 247.
58 De acordo com os cânones do Concilio de Nicéia, Alexandria, Roma e
Antioquia tinham uma autoridade especial sobre as regiões ao redor (Smith,
From Christto Constantine, 95).
o Pastor 187

Pelo final do século 4, os Bispos se misturaram aos pode


rosos. Como pode ser visto no capítulo 2, foram os primeiros
a receber tremendos privilégios. Envolveram-se na política, o
que os separou ainda mais dos presbíteros.^' Em sua tentativa
de fortalecer aposição do Bispo, Cipriano defendeu uma linha
contínua de sucessores dos Bispos remontando a Pedro.^° Essa
idéiaé conhecidacomo "sucessão apostólica".^'
Em seus escritos, Cipriano empregava alinguagem oficial do
sacerdócio do Antigo Testamento para justificar essa prática.^^
Damesma forma que Tertuliano (160-225) eHipólito (170-236)
antes dele, Cipriano utilizava o termo sacerdote para descrever
os presbíteros eBispos.^^ Mas foi além disso.
Podemos atribuir aCipriano oconceito antibiblico de sacer
dócio —acrença de que existe uma pessoa divinamente nomea
da para mediar entre Deus eopovo. Cipriano afirmou que ofato
dos clérigos cristãos serem sacerdotes que oferecem osacrifício
santo (a Eucaristia) os torna sacrossantos (santos)

59 Hanson, Christian Prieséood Examined, 72. Hanson explica como aqueda


do Império Romano no século 5fortaleceu oofício do bispo (páginas 72-77).
60 Ann Fremantle, ed., A Treasure ofEarly Christianity (New York: Viking
Press, 1953), 301.
61 Asucessão Apostólica aparece primeiramente nos escritos de Clemente
de Roma e de Irineu. Também aparece em Hipólito. Mas, Cipriano trans-
formou-a em uma doutrina coerente. Grant, Early Christianity and Society,
38; Norman Sykes, Old Priest and New Preshyter, (London: Cambridge
University Press, 1956), 240.
62 G.S.M. Walker, The Churchmanship of Cyprian, (London: Lutterworth
Press, 1968), 38. Muitos dos pais da igreja trataram as Escrituras do Antigo
Testamento como contendo uma ordenação normativa da igreja. O uso da
terminologia sacerdotal do Antigo Testamento para os que tinham esse ofício
eclesiástico tomou-se comum já no século 2 (Warkentin, Ordination: ABibli-
cal-Historical View, 50,161; Hanson, Christian Priesthood Examined^ 46, 51).
63 Hanson, Christian Priesthood Examined, 59; Warkentin, Ordination:
A Biblical-Historical View, 39.
64 Hanson, Christian Priesthood Examined, 54.
188 Cristianismo Pagão?

Podemos também creditar aCipriano anoção de que quando


o sacerdote oferece a Eucaristia, está, na verdade, oferecendo
a morte de Cristo à congregação.^^ Na mente de Cipriano, o
corpo e o sangue de Cristo eram novamente sacrificados através
da Eucaristia.^^ Por conseguinte, foram das idéias de Cipriano
que surgiram assementes da missamedieval católica.^^ Essaidéia
alargou oabismo entre clero eleigo. Também criou uma depen
dência perniciosa do leigo pelo clero.

O PAPEL DO SACERDOTE

Até o início da Idade Média, os presbíteros (agora comu-


mente chamados de "sacerdotes") tocaram segundo o violino
do Bispo. Mas durante aIdade Média houve uma mudança. Os
prçsbíteros começaram arepresentar o sacerdócio enquanto os
Bispos dedicavam seu tempo com ofícios políticos.^® Os sacer
dotes locais da paróquia chegaram aser mais importantes para a
vida da igreja que oBispo.^' Agora era osacerdote (padre) que se
colocava no lugarde Deus e controlavaos sacramentos.

65Ibid., 58. Tanto emDidache comoem 1 Clemente, referem-se à Eucaris


tia como "sacrifício" e"oferta" desempenhados pelos bispos (von Campe-
nhausen, Tradition and Life in the Church, 220).
66 Apalavra sacrifício usada no sentido liturgico apareceu pela primeira vez
em Didache (von Campenhausen, Tradition and Life in the Church, 220).
67 A idéia de que o sacerdote oferece o sacrifício de Jesus Cristo através da Eu
caristia ésacerdotalismo. Nessa linha, Richard Hanson, com sagacidade, observa,
"esse conceito sagrado de sacerdócio parece obscurecer, se não de fato abolir, a
doutrina dosacerdócio detodos oscrentes. Todo o sacerdócio dos crentes é es
gotado no sacerdócio do clero" (Hanson, Christian Priesthood Examined, 98).
68 Ibid., 79.
69 No século 3, os sacerdotes escolhiam um bispo para vigiar e coordenar
suas funções. No século 4, as coisas se tornaram mais complexas. Os bispos
precisavam de supervisão. Como conseqüência, nasceram os arcebispos eos
metropolitanos que governaram as igrejas de uma província (Durant, Age
ofFaith, 45, 756-760).
o Pastor 189

Quando olatim chegou aser alinguagem popular em meio ao


século 4, o sacerdote invocava a frase hocest corpus meum ("Este é
meu corpo").
Com estas palavras, o sacerdote chegou a ser o supervi
sor dos acontecimentos misteriosos que se tornaram as ca
racterísticas da missa católica. Ambrosio de Milão foi quem
criou a idéia de que a simples pronúncia das palavras hoc est
corpus meum convertia, como numa mágica, o pão eovinho
no corpo e no sangue físico do Senhor.^° (Alguns estudio
sos afirmam que afrase mágica "hocus pocus" vem de hoc est
corpus meum). Segundo Ambrósio, o sacerdote era dotado
de poderes especiais para pedir aDeus que descesse do céu e
entrasse no pão!
Por sua função sacerdotal, a palavrapresbítero chegou asig
nificar 5íícerí/o5 (sacerdote). Por conseguinte, quando apalavra
{zúxiSipresbítero foi adotada pelo inglês, significava sacerdote
ao invés de "ancião".^' Assim, na igreja católica romana, o termo
"sacerdote" referia-se comumente ao presbítero local.

A INFLUÊNCIA DA CULTURA GRECO-ROMANA

A cultura greco-romana, que rodeou os primeiros cristãos,


reforçou a gradação hierárquica que lentamente se infiltrou na
igreja. A cultura greco-romana era hierárquica por natureza.

70 Conceming the Mysteries, 9:52,54. Nas igrejas orientais, uma oração é


oferecida ao Espírito para fazer amagia. Nas igrejas ocidentais, aoração foi
omitida, pois as próprias palavras faziam otruque (Dix, Shape ofthe Liturgyt
240-241, 275; Josef A. Jungmann, The Mass ofthe Roman Rite, voi. 1 [New
York: Bezinger, 1951], 52).
71 Campbell, Elders, 234-235. A palavra "sacerdote" é etimologicamente
uma contradição da palavra "presbítero". No período do inglês arcaico, o
termo Inglêspriest [sacerdote] tornou-se apalavra corrente para presbyter
[presbítero] e "sacerdos" [sacerdote] (Cross and Livingstone, Oxford
Dictionary ofthe Christian Church, Terceira Edição, 1325).
190 Cristianismo Pagão?

Essa influência surgiu na igreja quando os novos convertidos


trouxeram sua bagagem cultural à comunidade crente/^
A hierarquia humana e o ministério "oficial" institucionaliza
ramaIgrejadeJesus Cristo. No século 4,esses elementos solidifi
caram as artérias da igreja, que uma vez foi aekklesia viva erespira
douro de Deus —na qual oministério era funcional, dirigido pelo
Espírito, orgânico e compartilhado portodos oscrentes.
No século 5, o conceito de sacerdócio de todos os crentes
havia desaparecido completamente da prática cristã. O acesso
a Deus agora eracontrolado pela casta do clero. O celibato cle-
rical começou a ser imposto. A comunhão rara se tornou um
hábito regular dos "tão chamados 'leigos'". Oprédio da igreja
estava agora envolvido em incenso efumaça. As orações do clero
eram ditas em segredo. Eatela pequena —mas profundamente
significativa —que separava o clero dos leigos foi também im
plantada.
O papel do Bispo estava mudando, sendo promovido como
representante de todos em determinadaárea, ao invés de servir
como olíder da igreja local. Bispos dirigiam suas igrejas como
os governadores de Roma o faziam em suas províncias.^'^ Final
mente, ao Bispo da Roma foi entregue amaior autoridade, esua
posição, então, foi desenvolvida dentro do escritório do Papa.''^

72 Hatch, Organization oftheEarly Christian Churches, 30-31.


73 Hanson, Christian PriesthoodExamined, 71.
74 Robert F. Evans, One and Holy: The Church in Latin and Patristic
Thought (London: S. E C. K., 1972), 48.
75 Antes de Constantino, obispo romano não exerceu nenhuma jurisdição
fora de Roma. Embora estivesse coberto por honrarias, não teve esse tipo
de autoridade eclesiástica (Bruce Shelley, Church History in Plain Language
[Waco, TX: Word, 1982], 151). Apalavravem do título "pai", um ter
moque expressava o cuidado paternal dequalquer bispo. Mas não foi assim
até o século 6, quando otermo começou aser usado exclusivamente para o
bispo de Roma. Aqui segue um breve esboço da origem do Papa católico ro
mano: Ao término do século 2, grande honra foi dada aos bispos romanos.
Estevão I (257 d.C.) foi o primeiro a usar o texto de Pedro (Mateus 16.18)
para apoiar a preeminência do bispo romano. Mas isso não foi universal-
o Pastor 191

CONSTANTINO EA HIERARQUIA ROMANA

A estrutura deliderança hierárquica surgiu primeiramente em


eras remotas como a do antigo Egito, Babilônia e Pérsia/^ Mais
adiante, levada às culturas grega eromana, foi aperfeiçoada.
O historiador, D. C.Trueman escreve: "o5persas deram duas
contribuições importantes ao mundo antigo: Aorganização de seu
Império e de sua religião. Ambas as contribuições tiveram uma
notável influência no nosso mundo ocidental. Osistema de admi
nistração imperialfoi herdadoporAlexandre Ma^o^ adotadopelo
Império Romano^ efinalmente transferido àEuropa moderna
O mundo social no qual o Cristianismo foi espalhado foi go
vernado por um único mandatário —o Imperador. Logo após
Constantino subiraotrono no começo do século 4,aigreja setor
nou uma sociedade hierarquicamente organizada, que, de forma
vaidosa eorgulhosa, impunha superioridade sobre as pessoas.^®

mente aceito. O aparecimento do Papa moderno encontra-se na época de


Léo, o Grande, que serviu de 440 a 461). Léo foi o primeiro a fazer uma
reivindicação teológica e bíblica para aprimazia do bispo romano. Sob seu
governo, aprimazia de Roma foi finalmente estabelecida. Com avinda de
Gregório, oGrande (540-604), a"cadeira papal" foi estendida eaumentada.
(Incidentemente, Gregório tornou-se, sem duvida, omaior proprietário de
terras da Itália, fixando um precedente para ricos epoderosos Papas segui
rem). Na metade do século 3, aigreja romana tinha 30.000 membros, 150
clérigos, e1.500 viúvas epessoas pobres (Gonzalez, The Story ofChristian-
iíy, 1:242; Schaff, History ofthe Christian Church, vol:212,218-219; Shelley,
Church History in Plaín Language, 150-151; Davies, Early Christian Church,
135-136, 250; Durant, Age ofFaith, 521; Hanson, Christian Priesthood
Examined, 76ff.). Gregório também foi oprimeiro ausar otermo servo dos
servos de Deus (Schaff, History ofthe Christian Church, 3:534; 4:329).
76 Durant, Caesarto Christ, 670-671.
77 D.C. Trueman, The Pageant of the Past: The Origins of Civilization
(Toronto: Ryerson, 1965), 105.
78 Grant, Early Christianity and Society, 11-12. "A organização da igreja
adaptou asi mesma nas divisões políticas egeográficas do Império (Schaff,
History ofthe Christian Church, 3:7).
192 Cristianismo Pagão?

Edwin Hatch escreveu: maior parte das igrejas cristãs se


associaram adotando oestilo do Império Romano como modelo.'*
Isso não foi somente aplicado ahierarquia gradual eàestrutura
de lideranp, mas também foi adotada àmaneira como aigreja
dividia asi mesma em categorias de dioceses, províncias e mu
nicipalidades, todas controladas por um sistema de liderança
ostensivo, de cima para baixo , Odesenvolvimento da organi
zação das igrejas cristãsfoi gradual" eHatch ainda conclui: 'fe]
os elementos que compuseram aquela organização jãfaziam parte
da sociedade humana".
Will Durant levanta um ponto semelhante, quando afirma
que o Cristianismo "cresceu pela absorção daféedo rito pagão;
tomou-se uma igreja triunfante ao herdar os padrões de organi
zação e ogênio de Roma... Os judeus lhe deram a ética cristã^ os
gregos lhe deram a teologia^ Roma lhe deu a organização; tudo issOy
misturado auma dezena de crenças absorvidas de rivais^ originou
a síntese cristã".
No século 4, a igreja seguiu o exemplo do Império Roma
no. O imperador Constantino organizou a igreja em dioceses,
de acordo com os padrões dos distritos regionais romanos. (A
palavra diocese era um termo secular utilizada para se referir às
unidades administrativas maiores do Império Romano). Mais
tarde, oPapa Gregório moldou oministério de toda aigreja con
forme as Leis Romanas.^'
Outra vez Durant lamenta: "Quando o Cristianismo con
quistou Roma, a estrutura eclesiástica da igeja pagã, o título, as
vestes do Pontifex Mdximus... eo esplendor da cerimônia imemo-

79 Hatch, Organization of the Early Christian Churches, 185, 213. Como


colocou Bruce Shelley, "À medida que aigreja crescia, adotou, de forma bem
natural, aestrutura do Império." Church History in Plain Language, 152.
80 Cassar and Christ, 575, 618. Durant escreveu: "A Igreja Romana seguiu
os passos do Estado Romano." (p. 618).
81 Stevens, Other Six Days, 44; Trueman, Pageant ofthe Past, 311; Fox,
Pagans and Christians, 573; Cross e Livingstone, O^^ord Dictionary ofthe
Christian Church, 482.
o Pastor 193

rial, passou como sangue materno para a nova religião. ARoma


cativa capturou seu conquistador".^^
Tudo isso estava extremamente em oposição ao propósito
de Deus com respeito àsua Igreja. Quando Jesus entrou no dra
ma da história humana, eliminou o ícone religioso profissional
tanto quanto aforma hierárquica de liderança.®^ Como uma ex
tensão da natureza e da missão de Cristo, a Igreja Primitiva foi
o primeiro movimento na história dirigido por "leigosMas,
com amorte dos Apóstolos edos homens treinados por eles, as
coisas começaram a mudar.^"*
Desde então, aIgreja de Jesus Cristo tem buscado opadrão
de organização eclesiástica das sociedades onde foi estabeleci
da— apesar da advertência de nosso Senhor de que Ele iniciaria
uma nova sociedade decaráter único. (Mateus 23.8-11 eapartir
de Marcos 10.42). Em contraste surpreendente às providências
do Antigo Testamento feitas no Monte Sinai, nem Jesus, nem
Paulo impuseram padrões organizacionais fixos para a nova
Israel.

CONSTANTINO EAGLORIFICAÇÃO DO CLERO

De 313 a 325d.C., o Cristianismo não era mais uma religião


batalhadora tentando sobreviver ao governo Romano. Estava
bem aquecida ao sol do imperialismo, com abundancia de di
nheiro e status.®^ Ser cristão debaixo do reino de Constantino
não era mais um obstáculo. Isso era uma vantagem. Estava na

82 Durant, Caesarand Christ, 671-672.


83 Mat. 20:25-28; 23:8-12; Lucas 22:25-27.
84 Paulo treinou vários homens para sucedê-lo. Entre eles estavam Timó
teo, Tito, Gaio, Trófimo, Tíquico> etc. Veja So You Want to Start a House
Church? de Viola para mais detalhes.
85 Hanson, Christian Priesthood Examined, 62.
194 Cristianismo Pagão?

moda fazer parte da religião do imperador. Epertencer ao clero


garantia um mundo devantagens.®^
O clérigo recebia as mesmas honras dos oficiais das mais
altas posições do Império Romano, ou até mesmo do próprio
Imperador.®^ Averdade é que Constantino deu aos Bispos de
Roma mais poderdoque para osgovernadores romanos!®® Tam
bém ordenou que oclero recebesse uma quantia anual fixa; (paga
pelo ministério)!
Em 313 d.C., deixou o clero cristão isento de impostos —
algo de que sacerdotes pagãos tradicionalmente desfrutavam.®'
Também isentou-os da posição governamental mandatária e
outras obrigações civis.'° Estavam livres de acusações em jul
gamentos seculares ede servir ao exército.'^ (Os bispos podiam
somente ser acusados em cortes de bispos, não em cortes judi
ciais comuns).'^
Em todas essas coisas, um status especial fora entregue ao
clero. Constantino foi oprimeiro autilizar as palavras: clerical
eclérigOy para retratar uma classe social mais alta.", acreditando
que o clero merecia os mesmos privilégios que os oficiais do

86 Todo esse tempo, o termo clero passou aincluir todos osfuncionários da


igreja (Niebuhr eWilliams, TheMinistry in Historical Perspectives, 29). Veja
também Boggs, Christian Saga, 206-207.
87Jungmann, Early Liturgy, 130-131.
88 Durant, Caesarand Christ, 618-619.
89 Hanson, Christian PriesthoodExamined, 62; Durant, Caesarand Christ
656-657, 668.
90 Duchese, Early History ofthe Christian Church, 50; Johnson, History of
Christianity, 77; Fox, Pagans and Christians, 667.
91 Essas isenções foram concedidas aprofissões como médicos eprofessores.
Dave Andrews, Christi-Anarchy (Oxford: Lion Pubiications, 1999), 26.
92 Collins e Price, Story ofChristianity, 74.
93 Johnson, History ofChristianity, 77. Um século depois, Juliano, oApós
tata usou esses mesmos termos {clencal, clérigos) em um sentido negativo.
o Pastor 195

governo tinham. Tanto éque bispos sentavam durante os julga


mentos como juizes seculares.^"*
O resultado "líquido" disso foi alarmante: O clero teve o
prestígio de profissionais da igreja, oprivilégio de uma classe fa
vorecida eopoder de uma elite rica. Havia se tornado uma classe
isolada com uma condição civil e um modo de vida separado.
(Isso incluiu o celibato clerical).'^
Além disso, eles se vestiam e se comportavam de uma ma
neira distinta das pessoas comuns.'^ Os Bispos esacerdotes ras
param suas cabeças. Essa prática, conhecida como tonsure^ veio
da cerimônia antiga de iniciação romana. Todos aqueles que ti
nham suas cabeças raspadas eram conhecidos como "clérigos"
ou "membros do clero".Também começaram a se vestir com a
roupa dos mandatários romanos (veja ocapítulo 6).
Não é de admirar que tanta gente nos dias de Constantino
experimentasse um repentino "chamado ao Ministério".'® Para

94 Fox,Pagans and Christiansy 667.


95 Hatch, Organization ofthe Early Christian Churches, 153-155,163. Nos pri
meiros três séculos doCristianismo, ossacerdotes nãoprecisavam sercelibatá-
rios. No ocidente, oSpanish Council ofEivira [Conselho Espanhol de Elvira]
estabelecido em 306 d.C., foi o primeiro asolicitar ocelibato ao clero. Isso foi
reafirmado pelo Papa Siricius em 386 d.C. Qualquer padre que se casasse ou
continuasse a viver com sua esposa era destituído. No oriente, padres e diá-
conos poderiam casar-se antes da ordenação, mas não depois. Bispos tinham
que ser celibatários. Gregório, oGrande, fez um bom acordo para promover o
celibato clerical, que muitos não estavam seguindo. O celibato clerical apenas
expandiu o abismo entre o clero e o tão chamado povo comum de Deus.
(Cross eLivingstone, Oxford Dictionary ofthe Christian Church, 310; Schaff,
History ofthe Christian Church, 1:441-446; Durant,.i4ge ofFaith, 45).
96 Os bispos usavam o roupão antigo do magistrado romano. Os clérigos
não usavam cabelos longos como os filósofos pagãos (Hatch, Organization
oftheEarly Christian Churches, 164-165).
97 Collins e Price,Story of Christianity, 74.
98 Hanson, Christian Priesthood Examined, 62.
196 Cristianismo Pagão?

eles, serum mandatário daigreja havia setornado mais uma car


reira que um chamado.^'

UMA FALSA DICOTOMIA

Sob o governo de Constantino, o Cristianismo foi reco


nhecido e honrado pelo Estado, o que apagou a linha entre a
igreja e o mundo. A fé cristã já não era uma religião de mino
ria. Ao invés disso, era protegida pelo Imperador. Como con
seqüência, a quantidade de membros aumentou rapidamente
— surgiram levas de pessoas com conversões duvidosas. Por
essa conversão incerta enova, trouxeram consigo uma grande
quantidade de idéias pagãs para dentro da igreja. Nas palavras
de Will Durant: "enquanto o cristianismo convertia o mundo,
o mundo convertia o cristianismo, tornando opaganismo algo
natural para a humanidade''
Como vimos no capítulo 3, as práticas das religiões místicas
começaram aser implantadas no culto da igreja. Eanoção pagã
de dicotomia entre o sagrado e o profano encontrou caminho
fértil na mentalidade cristã.Pode-se dizer, de direito, que a
distinção de classe, entre o clero eo leigo é um resultado direto
dessa dicotomia. Avida cristã agora se dividia em duas partes: a
secular e aespiritual —o sagrado eo profano.
Por volta do terceiro século, a brecha entre clero e leigo
se estendeu ainda mais e chegou a um ponto irremediável,
sem volta.Os clérigos eram líderes treinados da igreja —
os guardiões da ortodoxia — os governadores e mestres do
povo. Possuíam dons e graças que não estavam disponíveis
aos simples mortais.

99 Niebuhr e Williams, Ministry in Historícal Perspectives, 29.


100 Durant, Caesar and Christ, 657.
101 Senn, Christian Worshipand íts Cultural Setting, 40-41.
102 Norrington, 7ò Preach orNot, 25.
o Pastor 197

O laicato eraumextratosocial de segunda classe, de cristãos


ignorantes. O grande teólogo Karl Barth disse, com razão: o
termo 'leigo' é um dos piores do vocabulário religioso e deve ser
eliminado da conversação cristã".
Essa falsa dicotomia produziu a idéia profundamente errô
nea de que existem profissões sagradas (um chamado ao "minis
tério") eprofissões comuns, "um chamado vocacional munda
no". O historiador Philip Shaff descreve com precisão esses
fatores, quando menciona que a "secularização da igreja foi o
fator que contaminou a"correntepura do Cristianismo". Note
que essa dicotomia errônea ainda vive na mente da maioria dos
crentes hoje. Embora o conceito seja pagão, enão cristão. Rom
pe arealidade do Novo Testamento, oqual diz que avida diária
é santificada por Deus.'°^
Junto com essas mudanças de postura chegou um novo
vocabulário. Os cristãos começaram a adotar o vocabulário
das seitas pagãs. O iix.\Aopontifex (pontífice, um título pagão)
se tornou um termo comum para o clero cristão do século 4.
Assim também se sucedeu com os termos "Mestre de Ceri
mônia" e "Gran Maestro de Loja [maçônica]".'°^ Tudo isso

103 Karl Barth, Theologische Fragen undAntworten (1957), 183-184, citado


em R. J.Erler eR. Marquard, eds.,7l Karl Barth Reader, trans. G. WBromi-
iey (Grand Rapids: Eerdmans, 1986), 8-9.
104 Tudo deveria ser feito para a glória de Deus, porque Ele santificou
o mundano (iCoríntios 10.31). A falsa dicotomia entre o sagrado e o
profano foi abolida para sempre em Jesus Cristo. Tal pensamento per
tence ao paganismo eao antigo Judaísmo. Para o cristão, nada éimpuro
em si mesmo", e "o que Deus purificou não se torna impuro (Romanos
14.14; Atos 10.15). Para uma discussão mais aprofundada sobre a falácia
da disjunção sagrado/profano, veja Davies, Secular Use ofChurch Buil-
dings, 222-237.
105 Schaff, History ofthe Chrístian Church, 3:125-126.
106 Dunn, New Testament Theology in Dialogue, 127.
107 Hanson, Chrístian Priesthood Examined, 64. Termos como coryphaeus
(Mestre de Cerimônias) ehierophant (Grande Mestre do Gabinete) foram
198 Cristianismo Pagão?

reforçou o misticismo do clero, enquanto guardiões dos mis


térios de Deus.^°^
Em suma, pelo fim do quarto século eno começo do quinto,
oclero chegou aser uma casta sacerdotal —um grupo espiritual
da elite dos "homens santos".Isso nos conduz ao tema espi
nhoso da ordenação.

AFALÁCIA DA ORDENAÇÃO
No século 4, ateologia eo ministério pertenciam ao domínio
dos sacerdotes. Otrabalho eaguerra, ao domínio do leigo. Qual
era o rito de passagem para o âmbito sagrado do sacerdote? A
Ordenação.
Antes de examinar as raízes históricas da ordenação, veja
mos como aliderança foi reconhecida na igreja primitiva. Após
o início da igreja, os obreiros apostólicos (plantadores de igre
jas) do século 1voltavam avisitar aigreja depois de um tempo.
Em algumas congregações, os obreiros reconheciam os anciãos
publicamente. Em todos os casos, os anciãos já tinham estado
"naquele lugar" antes desse reconhecimento público.'^'

livremente emprestados dos cultos pa.gãos e usãdos pãra o clero cristão.


Tertuliano foi o primeiro a usar o termo pontífice suprema (bispo dos bis
pos) para se referir ao bispo de Roma em seu trabalho On Castity, escrito
por voltade 218 d.C.Tertuliano, no entanto, usouo termosarcasticamente
(Bruce, Spreading Flame, 322).
108 Hanson, Christian Priesthood Examined, 64.
109 Ibid., 65-66; von Campenhausen, Tradition andLife inthe Church, 222-
223.

110 Warkentin, Ordination: A Biblical-Historical View, 40, 167.


111 Veja Atos 13-19; ICoríntios; 2Coríntios. Eu (Frank) tracei acronologia
de quando os apóstolos visitavam as igrejas que plantaram e quando reco
nheciam presbíteros em The Untold Story ofthe New Testament Church:An
Extraordinary Guide to Understanding the New Testament (Shippensburg,
PA: Destiny Image,2004).
o Pastor 199

Os anciãos surgiam naturalmente emumacongregação com


o passar do tempo. Não eram nomeados por uma autoridade
externa."^ Ou seja, cada um deles era reconhecido pela virtude
de sua experiência [por serem veteranos, pela idade] e serviço
espiritual para aigreja. Segundo oNovo Testamento, oreconhe
cimento decertos dons dos membros é algo instintivo e orgâni
co.''^ Há um princípio interno em cada crente que reconhece os
diversos ministérios em sua igreja.
Surpreendentemente, há apenas três passagens no Novo Tes
tamento nos dizendo que os anciãos eram reconhecidos publi
camente. Anciãos foram reconhecidos nas congregações daGa-
lácia (Atos 14.23). Paulo disse aTimóteo que conhecera anciãos
em Éfeso (a partir de ITimóteo 3.1). Disse omesmo aTito com
relação às igrejas de Creta (a partir deTito 1.5)..
A palavra "ordenar ou constituir presbíteros" (Almeida)
dessas passagens não significa "ocupar um cargo".Mais exa
tamente, traz a idéia de afirmar, reconhecer e apoiar um des
dobramento de algo que já está acontecendo."^ Também traz a

112 De acordo com o comentarista bíblico Alfred Plummer, as palavras


gregas traduzidas por "ordem"(sacramento) no Novo Testamento não têm
sentidos eclesiásticos especiais. Nenhum deles implica em rito de ordena
ção ou uma cerimônia especial. "The Pastoral Epistles" em WRobertson
Nicoll, ed., The Expositores Bible (New York: Armstrong, 1903), 219-221.
113 Atos 16.2; ICoríntios 16.18; 2Coríntios 8.22; Filipenses 2.22; iTessalo-
nicenses 1.5; 5.12; iTimóteo 3.10.
114 Warkentin, Ordination: Á Bihlical-Historical View, 4. Tradutores da
Versão King James inglesa usaram ordem (sacramento) para 21 palavras di
ferentes em hebreu e grego como aparece na tradução Almeida, sendo que
na tradução King James em português ja não ha discordância entre as pa
lavras usadas, pois atradução segue os melhores e fieis originais em grego,
hebraico e aramaico.

115 Apalavra grega cheirotoneo em Atos 14.23 significa, literalmente, esti


cara mão" comonumvoto. Então,é provável que os apóstolos impusessem
as mãos sobre aqueles cuja a maioria da igreja considerava que estavam já
funcionando comosupervisores, como eles.
200 Cristianismo Pagão?

idéia de bênção.O reconhecimento público dos anciãos e de


outros ministérios geralmente era acompanhado pela imposi
ção de mãos pelos obreiros apostólicos. (No caso dos obreiros
enviados a outros lugares, isso era feito pela congregação aos
anciãos).
No século 1, aimposição de mãos significava meramente apoiar
ou reafirmarumafunção, não indicavauma nomeação aumaposição
ouaelevação auma categoriaespecial. Lamentavelmente mais adian
te, no final do século 2eno princípio do 3, isso chegou asignificar
uma posição especial. Lamentavelmente, veioa se tomar a "escada
para o sucesso" nofinal doséculo 2nocomeço doséculo 3."^
Durante o século 3 a "ordenação" assumiu um significado
completamente diferente. Era um rito cristão formalizado."'
Pelo século 4, acerimônia da ordenação foi adornada por vesti
mentas simbólicas eporum rito solene.A ordenação produziu
uma casta eclesiástica que usurpou o sacerdócio dos crentes.
De onde os cristãos adquiriram seu padrão de ordenação? Ao
imitar acerimônia de ordenação do costume romano de designar
homens ao serviço civil. Todo o processo, cada palavra, saíram
diretamente do mundo cívico romano."'

116 Campbell, Elders, 169-170.


117 Atos 13.2; iTimóteo 4.14. Paulo, um obreiro mais velho, também im
pôs as mãos sobre Timóteo, um obreiro mais jovem (2Timóteo 1.6).
118 Warkentin, Ordination: A Bihlical-Historical View, 104-111, 127, 130.
Warkentin faz um estudo completo sobre o significado doNovo Testamento
de "imposição de mãos" nos capítulos 9-11 de seu livro. Sua conclusão: "A
imposição de mãos não tinha nada a ver com a instalação rotineira do ofício
na igreja, fosse um presbítero, diácono, pastor ou missionário" (p. 156).
119 O registro mais antigo do rito de ordenação pode ser encontrado no
Apostolic Tradition ofHippolytus (ca. 215). O século 4está repleto de refe
rências a ele.

120 Warkentin, Ordination: A Biblical-Historical View, 104.


121 Hatch, Organization of the Early Christian Churches, 129-133. Essa
mesma tendência foi escolhida pelo Judaísmo já no primeiro século. Os
escribas judeus que eram proficientes nainterpretação do Torá e nas tradi-
o Pascor 201

Antes do século 4, os termos utilizados para a nomeação de


cargos governamentais romanos epara aordenação cristã eram
sinônimos.Quando Constantmo fez doCristianismo sua re
ligião preferida, as estruturas da liderança eclesiástica passaram
a sersustentadas através dasanção política. Formas desacerdó
cio do Antigo Testamento foram combinadas com ahierarquia
grega.'^^ Tristemente, aigreja estava segura nessa nova fórmula
— exatamente como está hoje.
Logo, a ordenação cristã passou a ser vista como um rito
que resulta em uma posição irrevogável.Agostinho ensinou
que aordenação confere ao ordenado "um caráter definitivo e
irremovível", que o capacita no cumprimento de suas funções
sacerdotais.'^^
Aordenação cristã, então, chegou aser compreendida como
aquilo que constitui a diferença essencial entre clero e leigo.
Através dela, o cleroestariaautorizado a ministrar os sacramen
tos. Acreditava-se que o sacerdote, que fazia o serviço divino,
deveria sero cristão mais perfeito esanto de todos.
Gregório de Nacianceno (329-389) eCrisóstomo (347-407)
elevaram a norma padrão aum nível muito alto, no que diz res
peito aos sacerdotes, que falharem em cumprir asantidade de seu
serviço prejudicaria sua posição ou olevaria aum estado critico.'^

ções orais ordenaram homens para ooficio no Sinedrio. Esses homens eram
vistos como mediadores davontade deDeus para todo Israel. Os ordena
dos" do Sinédrio tornaram-se tão poderosos que nocomeço do século 2, os
romanos condenavam aqueles que desempenhavam a ordenação judaica à
morte! Warkentin, Ordination: A Bihlical-Historical View, 16, 21-23,25).
122 Warkentin, Ordination: A Biblical-Historical View, 35. Isto e evidente
doApostolic Constitutions (350-375 d.C.).
123 Ibid., 45.
124Niebuhr e Williams, Ministry in HistoricalPerspectives, 75.
125 von Campenhausen, Tradition and Life inthe Church, 224.
126 Ibid., 227.
127 Ibid. 228.
202 Cristianismo Pagão?

De acordo comCrisóstomo, "o sacerdote deveria ser considera


do um anjo, que não possui a mesma fraqueza do resto dos ho-
mens!"i28
Como poderia osacerdote viver em tal estado de pura santi
dade? Como poderia ser digno de servir no "coro dos anjos"? A
resposta era aordenação. Pela ordenação, acorrente das graças
divinas fluía ao sacerdote, preparando-o para ser um instrumen
to digno nas mãos deDeus. Essa idéia, também conhecida como
"dom sacerdotal", apareceu primeiramente com Greeório de
Nisa (330-395).
Gregório afirmava que aordenação pode configurar o sacer
dote em um alguém "invisível, mas um homem diferente e me
lhor", elevando-o acima do leigo. ''Oprópriopoderda Palavra'',
disse Gregório, 'faz com que osacerdote seja venerável, honorável,
separado... Embora no diaanteriorfosseapenas umapessoa no meio
das massas, alguém do povo, érepentinamente convertido em guia,
presidente, mestre dejustiça, instrutordemistérios ocultos...
Atente paraestas palavras de um documento do século 4: "O
Bispo, eis oministro daPalavra, oguardião do conhecimento, ome
diador entreDeus evocê em váriaspartes do culto divino... Ele éseu
soberano egovernante... Ele está em segundo lugar depois de Deus,
seu deus terreal, que tem odireito de serhonradopor quem Sa
cerdotes foram identificados como "vigários de Deus na terra".
O estilo devidado sacerdotee suasvestes eram distintos do
leigo, justamente para ressaltar essa diferença.Lamentavel-

128 Niebuhr eWilliams, Ministry inHistorical Perspectives, 71, 128.


129 von Campenhausen, Tradition and Life in the Church, 229.
130 On the Baptism ofChrist:ASermonfor the Day ofLights por São Gregório
deNissa. Veja também Niebuhr eWilliams,Ministry in HistoricalPerspectives,
75. Acreditava-se que a ordenação conferia ao recipiente um character
indehilis. Ouseja, algo sagrado havia entrado nela. (Warkentin, OrdinatiomA
Biblical-Historical View, 42; Schaff, History ofthe Christian Church 3:489).
131Apostolic Constitutions 11. 4.26.
132 David D. Hall, The Faithful Shepherd (Chapei Hill: The University of
North Carolina Press, 1972), 6.
o Pastor 203

mente, esse conceito de ordenação nunca foi abolido da fe cristã.


Está bem vivo no moderno cristianismo. De fato, se você está
perguntando por que ecomo opastor moderno foi elevado ao
patamar de "homem santo de Deus", eis aqui essas raízes.
Eduardo Schweizer, em sua clássica obra Church Order in the
New Testament, sustenta que Paulo nada sabia arespeito de qual
quer ordenação conferindo poderes ministeriais ou clericais ao
cristão.'" Os pastores, (anciãos, supervisores) do primeiro século
não receberam nada parecido com amoderna ordenação, não esta
vam acima do restantedo rebanhoe naverdade, eram aqueles que
serviam entre eles. (Veja Atos 20.28 e 1Pedro 5.2-3).
Os anciãos do século 1 eram reconhecidos publicamente
como as pessoas que cuidavam da igreja pelos obreiros de fora.
Tratava-se de um simples reconhecimento de uma função. Algo
que não conferia nenhum poder especial. Tampouco se tratava
de umapropriedade permanente.
A prática contemporânea de ordenação cria uma casta es
pecial de cristãos. Seja sacerdote no catolicismo ou pastor no
protestantismo, o resultado éo mesmo: O ministério mais im
portante restringe-se aalguns poucos crentes "especiais .
Tal idéia étão prejudicial quanto antibíblica. Em nenhum lu
gar do Novo Testamento apregação, obatismo ou adistribuição
da Ceia do Senhor se restringem aos "ordenados". O eminente
erudito James D. G. Dunn esclarece melhor esse ponto quando
diz que atradição clero-leigo contribuiu mais para minar aauto
ridade do NovoTestamento em comparação com a maioria das
heresias!'"
Já que alguém poderia desempenhar uma determinada fun
ção na igreja através do rito da ordenação, opoder de ordenar se
tornou oponto chave no que diz respeito aautoridade religiosa.
O contexto bíblico ficou confuso. Métodos de comprovar tex
tos para justificar ahierarquia clero-leigo foram usados. Talvez o
melhor exemplo para ilustrar isso seja otexto de Marcos 16, que

133Schweizer, Church Order in the New Testament, 207.


134 Dunn,New Testament Theology in Dialogue, 138ff., 126-129.
204 Cristianismo Pagão?

há muito tempo os católicos usam para justificar acriação de um


sistema papal eda doutrina de sucessão apostólica. O resultado:
crentes comuns, geralmente incultos e ignorantes, que estão à
mercê do cleroprofissional!

A REFORMA

Os reformadores do século 16 colocaram, duramente, o sa


cerdócio católico àprova. Confrontaram aidéia de que osacer
dote possuía poderes especiais para converter vinho em sangue.
Recusaram asucessão apostólica. Incentivaram o cleroasecasar.
Alteraram aliturgia para que acongregação tivesse mais parti
cipação. Também eliminaram aposição do Bispo ereduziram o
sacerdote à condição de presbítero.'^^
No entanto, infelizmente,os reformadores trouxeram a dis
tinção católica entre oleigo eoclero diretamente para o movi
mento protestante. Também preservaram a idéiacatólica da or
denação.'^^ Mesmo eliminando ocargo de Bispo, ressuscitaram
aregra do Bispo único, utilizando uma nova roupagem.
Avoz dominante da Reforma foi a restauração do sacerdó
cio de todos os crentes, que foi, todavia, parcial. Lutero, Calvi-
no e Zwingli afirmaram o sacerdócio dos crentes no tocante ao
relacionamento individual de cada um com Deus. Ensinaram
corretamente que cada cristão tem acesso direto a Deus sem a

135 Warkentin, Ordination: A Bihlical-Historical View, 45, 51; Hatch,


Ov^unizíition ofthe Euvly Cbrístiun ChtíTches, 126-131. Aordenação cresceu
como um instrumento para consolidar o poder clerical. Através disso, o
clero poderia dominar sobre o povo deDeus como as autoridades seculares.
O efeito final é que a ordenação moderna ativa barreiras entre cristãos e
esconde o ministério mútuo.
136 Hanson, Christian Priesthood Examined, 82.
137 Enquanto Lutero rejeitou a idéia de que a ordenação muda o caráter
da pessoa ordenada, contudo reteve-se a sua importância. Para Lutero, a
ordenação éum rito da igreja. Euma cerimônia especial era necessária para
o cumprimento das tarefas pastorais. (Senn, Christian Liturgy, 297).
o Pastor 205

necessidade de um mediador humano. Foi uma restauração ma


ravilhosa. Mas foi parcial.
Oque os reformadores deixaram de fazer foi recuperar adi
mensão coletiva do sacerdócio crente. Restauraram a doutrina
do sacerdócio soteriologicamente —isto é, com respeito àsalva
ção. Mas falharam em restaurá-la eclesiasticamente —isto é, com
respeito à igreja.'^^
Em outras palavras, os reformadores apenas recuperaram o
sacerdócio do crente (singular). Lembraram-nos de que todo
cristãotem um acesso individual e imediato aDeus. Emboraisso
seja maravilhoso, eles não recuperaram osacerdócio de todos os
crentes (coletivamente, plural). Esta é apreciosa verdade: que
cada cristão éparte de um grupo que compartilha mutuamente
aPalavra de Deus. (Os anabatistas recuperaram essa prática. La
mentavelmente, essa recuperação foi uma das razões pelas quais
as espadas protestantes ecatólicas —por causa do sangue deles
— ficaram rubras).
Enquanto os reformadores se opunham ao Papa easua hie
rarquia religiosa, fizeram vista grossa com respeito ao ministério
que herdaram. Acreditavam que o"ministério era uma institui
ção restrita aos poucos que foram "chamados e ordenados
Sendo assim, os reformadores reafirmaram adivisão clero-leigo.
Os reformadores ensinavam que todos os crentes eram sacer
dotes e ministros apenas na retórica, e não na prática. Depois

138 "O sacerdócio de todos os crentes refere-se não apenas à relação de


cada pessoa com Deus eao sacerdócio de cada pessoa para com opróximo,
como em Lutero; mas refere-se também à igualdade de todos na comu
nidade cristã em relação às funções formais." John Dillenberger e Claude
Welch, Protestam Christianity: Interpreted through Its Development (New
York: The Macmillan Company, 1988), 61.
139 Hall, Faithful Shepherd, 8. Sobre o constrangimento da história anaba-
tista, veja Peter Hoover, The Secret ofthe Strength: What Would the Anabap-
tists Tell This Generation? (Shippensburg, PA: Benchmark Press, 1998).
140 J.L. Ainslie, The Doctrines ofMinisterial Order in the Reformed Churches
ofthe 16th and 17th Centuries (Edinburgh: T. &T. Clark, 1940), 2,5.
206 Cristianismo Pagão?

que toda afumaça da reforma se dissipou nos deparamos com a


mesma herança dos católicos — um sacerdócio seletivo!
Lutero manteve a idéia de que os pregadores necessitam de
um treinamento especial. Como os católicos, os reformadores
acreditavam que apenas um "ministro ordenado" poderia pre
gar, batizare ministrar a Ceiado Senhor. Como um resultado
disso, aordenação deu uma aura de favor divino ao ministro que
não poderiaser questionada.
De forma trágica, Lutero e os demais reformadores denun
ciaram impetuosamente os anabatistas pela prática de ministério
dos membros da igreja.^"*^ Os anabatistas acreditavam que cada
cristão tem o direito de se levantar e falar durante uma reunião.
Isso não eraprivilégio único do clero. Lutero era tão resistentea
essa prática, que chegou adizer que sua origem estava no inferno
e que os que a seguiam deveriam ser mortos
Em suma, os reformadores preservaram aidéia da ordenação
como chave do poder na igreja. Comunicar arevelação de Deus
ao povo era uma responsabilidade do ministro ordenado^''^
quem era pago para exercer tal função.

141 Warkentin, Ordination: A Biblical-Historical View, 57-58, 61-62.


142 Os anabatistas acreditavam e praticavam a injunção de Paulo em ICo-
ríntios 14.26, 30-31 de que cada crente tem odireito de funcionar em qual
quer momento em uma reunião da igreja. No tempo de Lutero, essa prática
foi conhecida como Sitzrecht —"o direito do que está sentado" (Hoover,
The Secret ofthe Strength, 58-59).
143 Lutero anunciou que "o Sitzrecht veio das profundezas do inferno" e
que era uma "perversão da ordem pública... a ruína do respeito à autorida
de". Em 20 anos, mais de 116 leis foram promulgadas nos territórios ale
mães atravésda Europa, declarando essa"heresiaanabatista" uma ofensaca
pital (Hoover, The Secret ofthe Strength, 59,198). Além disso, Lutero sentiu
que se toda igreja ministrasse publicamente a Ceia doSenhor, issoseria uma
deplorável confusão . Na mente de Lutero, uma pessoa somente precisava
exercer essa tarefa o pastor. Paul Althaus, The Theology ofMurtin Luther,
(Philadelphia: Fortress Press, 1966), 323.
144 Warkentin, Ordination: A Biblical-Historical View, 105.
o Pastor 207

De modo similarao sacerdote católico, o ministro reforma


doeravisto como "homem deDeus" —o mediador remunerado
entre Deus eSeu povo —pela igreja.^"*^ Não um mediador para
perdoar pecados, mas sim para comunicar avontade divina.'''^
Assim, o velho problema assumiu um novo formato noProtes-
tantismo. O jargão mudou, mas o erro permaneceu.
No século 17, os escritores puritanos John Owen (1616-
1683) eThomas Goodwin (1600-1680), como Lutero eCalvi-
no, viam o pastorado como algo permanente na casa de Deus.
Owen eGoodwin levaram os puritanos afocar toda autoridade
no papel pastoral. Na opinião deles, "o poder das chaves édado
somente ao pastor. Somente ele deve pregar, ministrar os sacra-
mentos^'^^ ler a Bíblia em público,'"'^ e ser instruído nas línguas
originais da Bíblia, como também na lógica ena filosofia.
Ambos, os reformadores eos puritanos se prenderam aidéia
de que os ministros de Deus devem ser profissionais competen
tes. Além do mais, pastores tinham que passar por um intenso
treinamento acadêmico para executar seu ofício.'"^'

145 Ibid. Os protestantes, hoje, falam do "ministério" como uma corpo


ração de mediadores estabelecidos no corpo de Cristo, no lugar de uma
função compartilhada por todos.
146 Da mesma maneira como o clero católico romano foi visto como
porteiro da salvação, o clero protestante foi visto como o consignatario
da Divina Revelação. De acordo com a Confissão de Augsburg de 1530, o
cargo mais alto na igreja era ode pregador. No antigo Judaísmo, o rabino
interpretava oTorá para as pessoas. Na igreja protestante, oministro écon
siderado como o guardião dos mistérios de Deus (Warkentin, Ordination:
A Biblical-Historical View, 168).
147 John Owen, The True Nature ofa Gospel Church and Its Govemmenty
ed., John Huxtable (London: James Clarke, 1947), 41, 55, 68, 99; Ainsle,
Doctrines ofMinisterial Order, 37, 49, 56, 59, 61-69; Thomas Goodwin,
Works, 11:309.
148 John Zens, "Building Up the Body: One Man orOne Another, Baptist
Reformation Review 10, no. 2 (1981): 21-22.
149 Hall, Faithfull Shepherd, 16.
20o Cristianismo Pagão?

DE SACERDOTE A PASTOR

João Calvino não gostava de aplicar a palavra "sacerdote"


aos ministros.Ele preferia o termo "pastor".Na mente de
Calvino, "pastor" era apalavra mais elevada que poderia existir
em relação ao ministério. Ele gostava dessa palavra porque aBí
blia refere-se aJesus Cristo como "ogrande Pastor das ovelhas"
(Hebreus 13.20).^" Ironicamente, Calvino acreditava que estava
restaurando obispado (episkopos) do Novo Testamento na figu
ra do pastor!'"
Lutero também não gostava da palavra "sacerdote" para de
finir os novos ministros protestantes. Ele escreveu: ''não pode
mos, nem devemos chamar de sacerdote os que estão encarregados
da Palavra edo Sacramento ao povo. Arazão pela qual têm sido
chamados sacerdotes épelo costume dopovopagão oupor um ves
tígio da nação judaica. O resultado édanoso à igreja'\^^^ Assim,
também adotou os termospregador, ministro epastor referindo-
se a esse novo ofício.
^ Zwingli eMartin Bucer (1491-1551) também deram prefe
rência à palavrap^5íor. Escreveram vários tratados sobre isso.'"
Como resultado, o termo começou apermear as igrejas da Re-

150 João Calvino, Institutes ofthe Christian Religion (Philadelphia: West-


minster Press, 1960), livro 4, cap. 8, no. 14.
151 Pastor vem do latim pastor. William Tyndale [em sua tradução para
oinglês] preferiu otermo "pastor" em sua tradução da Bíblia. Tyndale de
bateu com oSr. Thomas More sobre usar "pastor" ou "sacerdote". Tynda
le, um protestante, assumiu aposição de que "pastor" era exegeticamente
correto (veja The Parker Society Series on the English Reformers sobre esta
mudança).
152 Hall, The Faithful Shepherd, 16.
153 Sykes, Old Priest and New Presbyter, 111.
154 Lutero, "Concerning the Ministry", Lutheris Works, 40, 35.
155 Um dos livros mais influentes durante a Reforma foi The Pastorale de
Bucer. No mesmo espírito, Zwingli publicou um tratado intitulado The
Pastor.
o Pastor 209

forma.^^^ Todavia, devido a sua obsessão pela pregação, o termo


favorito para "ministro", para os reformadores, erapregador^ o
termo geral empregado pelas pessoas comuns.
Foi apenas no século 18 que o termo pastor chegou aser de
usocorrente, ofuscando osoutrostermospregador eministro.
Essa influência veio dos luteranos pietistas. Desde então o ter
mo se espalhou entre as principais correntes cristãs.

156 A ordem de pastores na igreja de Calvino em Genebra tornou-se o


mais influente modelo durante a Reforma. Tornou-se o padrão das igrejas
protestantes na França, Holanda, Hungria, Escócia, como também entre
os puritanos ingleses eseus descendentes (Niebuhr eWilliams, Ministry in
Historical Perspectives, 115-117, 131.). Calvino também deu origem àidéia
de que o pastor e o professor são os dois únicos cargos ordinários em
Efésios 4.11-12 que permanecem perpétuos na igreja (Hall, The Faithful
Shepherdy 28). Durante o século 17, os puritanos usaram o termopíísíor em
algumas de suas publicações. No século 17, as obras anglicanas epuritanas
referiam-se ao clérigo local em trabalho pastoral como pároco ou pas
tores (George Herbert, The Country Parson and the Temple [Mahwah, NJ:
Pavlist Press, 198]) e Richard Baxter, The Reformed Pastor [Lafayette, IN:
Sovereign Grace Trust Fund], 2000), respectivamente.
157 Niebuhr eWilliams, Ministry inHistorical Perspectives, 116. "Os refor
madores alemães também aderiram aouso Medieval e chamaram o pregador
de Pfarrer, isto é, pároco (derivado de parochia —paróquia eparochus
pároco). Enquanto os pregadores luteranos são chamados pastores nos
Estados Unidos, são chamados de Pfarrer (chefe da paróquia) na Alemanha.
Em virtude da gradual transição do sacerdote católico ao pastor protes
tante, não era incomum as pessoas ainda chamarem seus novos pastores
protestantes com velhos títulos católicos como "sacerdote .
158 Apalavra "pastor" sempre apareceu na literatura teológica desde ope
ríodo patrístico. Apalavra escolhida dependia da função que você deseja
va realçar: Um pastor guiava os aspectos morais e espirituais. O sacerdote
exercia os sacramentos. Mesmo assim, o termo pastor não esteve noslábios
do crente comum até a Reforma.
159 Niebuhr e Williams, Ministry in Historical Perspectives, 116. A palavra
sacerdote pertence àtradição católica/anglicana, apalavra ministro pertence à
tradição reformada, eapalavrap^síor pertence às tradições luterana eevangé
lica (p. viii). Os reformadores referiam-se aos seus ministros comopastores, e
210 Cristianismo Pagão?

Foi assim que os reformadores elevaram o pastor como ca


beça funcional da igreja. Segundo Calvino: "O cargo pastoral é
necessário para preservar a igreja na terra tanto quanto o sol, o
alimento ea água são necessários para preservar esustentar a vida
presente''.
Os reformadores acreditavam que opastor possuía opoder
eaautoridade divina, que não falava em seu próprio nome, mas
em nome de Deus. Calvino fortaleceu ainda mais aprimazia do
pastoraoconsiderar atosdedesprezo ou zombaria contrao mi
nistro como séria ofensa pública.^^'
Isso não constitui nenhuma surpresa diante do modelo
ministerial adotado por Calvino, que não considerou aigreja
primitiva, e ao invés disso, adotou a regra do Bispo único
do segundo século o que também se aplica aos demais
reformadores.^"

mais comumente como pregadores. A palavrapíisíor posteriormente tornou-


se otermo predominante no Cristianismo para esse cargo. Isso foi devido aos
principais grupos desejarem distanciar-se do vocabulário das "altas igrejas",
ouas igrejas "litúrgicas". O termo ministro foi gradualmente introduzido no
mundo da língua inglesa pelos não conformistas edissidentes. Eles desejavam
distinguir o "ministro" protestante do clero anglicano.
160 Calvino, Institutes ofthe Christian Religion, IV: 3:2, p. 1055.
161 Niebuhr eWilliams, Ministry inHistorical Perspectives, 138.
162 "Porque omodelo (de Calvino) de ministério remonta àigreja do segun
do século no lugar daquele que vigorava na era Apostólica. Nesta era, acomu
nidade cristã local não estava acargo de um único pastor, mas de certa quan
tidade de funções intercambiáveis, tais como presbíteros (anciões) ebispos.
Foi apenas no século 2 que surgiu o bispo único ou pastor da comunidade
cristã, conforme consta nas Epístolas de Inácio...Foi nessa fase de desenvol
vimento do ofício ministerial na igreja do segundo século que Calvino retirou
seu modelo" (Mackinnon, Calvin and the Reformation, 81-82).
163 James H. Nichols escreve: "em termos gerais, os reformadores também
aceitaram osistema do século 2, um ministério institucionalizado de pasto
resou bispos conduzindo o leigo emadoração... Eles não tentaram voltar à
era apostólica..." (Corporate Worship in the Reformed Tradition, 21).
o Pastor 211

Aironia aqui é que Calvino lamentou o fato da Igreja Cató


lica Romana ter construído suas práticas sobre "invenções hu
manas" e não sobre a Bíblia.'^^ Mas Calvino fez o mesmo! Nesse
aspecto, os protestantes são tão culpados quanto os católicos.
Ambos se baseiam em práticas de tradições humanas.
Calvino ensinou que a pregação da Palavra de Deus e a mi-
nistração apropriada dos sacramentos são indicações de uma
igreja verdadeira.Em sua mente, a pregação, o batismo e a
eucaristia tinham que ser ministrados pelo pastor enão pela con
gregação.'^^ Para todos os reformadores, afunção primaria de
um ministro é apregação. O lugar proeminente de pregação é
muito bem refletido naMissa Germânica de Lutero, queincluía
três cultos no domingo. Às 5ou 6horas da manhã, osermão era
dado na Epístola do dia. No culto principal das 8ou 9horas, o
ministro pregava o Evangelho do dia. O sermão vespertino era
baseado no Antigo Testamento.
Como Calvino, Lutero também fez do pastor umaposição
separada eexaltada. Enquanto afirmava que as chaves do Reino
pertenciam atodos os crentes, Lutero confinava seu uso aos que

164 Niebuhr and Williams, Ministry in Historical Perspectives, 111.


165 Calvin, Institutes ofthe Christían Religion, IV: 1:9, p. 1023.
166 John H. Yoder, "The Fullness ofChrist," Concem 17, (1969): 71.
167 NiebhurandWilliams, Mnw£?7 in Historical Perspectives, 131,133,135.
"Powerful Preaching: A Sample of How Luther Could Bring Bible Char-
acters to Life", Christian History 12, no. 3 (1993): 27. Lutero era agressivo,
ousado e dramático e transmitia essa personalidade em seus sermões sem
se sobrepor à mensagem. Era um pastor voraz, e proferiu cerca de 4.000
sermões. Suas mensagens eram inspiradoras de temor, poéticas e criativas.
Zwingli pregava direta enaturalmente, contudo era muito intelectual. Cal
vino era consistente em sua exaustiva citação de passagens, mas era sempre
impessoal. Bucer era enfadonho e tinha a tendência de vaguear. Mesmo as
sim, a pregação primitiva protestante era bem doutrinária, obcecada pela
"pura ecorreta doutrina". Por isso, os pastores da Reforma eram, antes de
qualquer coisa, professores daBíblia.
212 Cristianismo Pagão?

ocupavam um posto na igreja. ''Somos todos sacerdotes'', disse


Lutero, "na medida em que somos cristãos, aqueles a quem cha
mamos desacerdotessão ministrosselecionados de nosso meiopara
agir em nossonome, e o sacerdócio delesé nossoministério"
Isso é,pura e sirnplesmente, o sacerdotalismo. Lutero abomi
nou o campo católico pela rejeição do sacerdócio de sacrifícios.
Mas acreditava que o ministério da Palavra de Deus pertencia a
uma ordem especial.^^°
Veja a seguir, emfrases características, comoLutero exaltava
afigura do pastor: Deusfala através dopregador... Umpregador
cristão éum ministro de Deus quefoi separado, sim, éum anjo de
Deus, um Bispo enviadoporDeus, um salvadorde muitaspessoas,
utn rei epríncipeno reinode Cristo... Nessa vida e nessa terra não
há nada maisprecioso nem mais nobre que umpregadorverdadei
ro efiel".''''
Disse Lutero: "Não devemospermitir que nosso pastorfale as
palavras de Cristo como se as falasse por si mesmo; pois éa boca
de todos nós efalamos aspalavras com ele em nossos corações... O
fato da boca de cadapastorseraboca de Cristo éalgo maravilhoso,
portanto, devemos todos escutar opastor, não como homem, mas
como Deus". E possívelouvir os ecos de Inácio ressoando atra
vés das palavras de Lutero.
Essas idéias revelam uma visão corrompida quanto àigre
ja. Lutero acreditava que ela não era outra coisa além de um
posto de pregação. "A congregação cristã", disse Lutero, "nun
ca deve reunir-se a menos que a Palavra de Deus sejapregada e
a oração oferecida, não importa quão curto seja otempo de tal

168 Hall, The Faithful Shepherd, 8.


169 Niebuhr e Williams, Ministry in Historical Perspectives, 112. Os Re
formadores substituíram a palavra ministro por sacerdote. Jones, Historical
Approach to Evangelical Worship, 141.
170 B. A. Gerrish, "Priesthood and Ministry in the Theoiogy of Luther",
Church History 34 (1965), 404-422.
171 Niebuhr eWilliams, Ministry in Historical Perspectives, 114-115.
172 Atthaus, Theoiogy ofMartin Luther, 326.
o Pastor 213

reunião''}''^ Lutero acreditava que a igreja era simplesmente


uma reunião de pessoas que escutavam a pregação. Por isso,
chamava o edifício da igreja de Mundhaus, que significa a
casa que faia"!^^'^ Ele também afirmou a seguinte frase alar
mante: orelhas são osúnicosórgãos do cristão". Essas são
as raízes do Protestantismo.

A CURA DE ALMAS

Calvino, Lutero e Bucer compartilhavam o mesmo pensa


mento de que as duas ou três principais funções do pastor eram
proclamar aPalavra (pregação) e celebrar a Eucaristia (comu
nhão). Mas Calvino agregou um terceiro elemento. Ele enfa
tizou que o pastor tinha a obrigação de prover o cuidado e a
cura da congregação.Isso éconhecido como cura de almas .
Bucer escreveu um livro extraordinário sobre este assunto, in
titulado True Cure ofthe Souls (em tradução livre, Averdadeira
cura das almas), em 1538.
Aorigem da "cura de almas" remonta aos séculos 4e En
contramos isso nos ensinamentos de Gregorio de Nacianceno.

173 "Concerning the Ordering of Divine Worship in the Congregation",


Works ofMartin Luther, C. M. Jacobs, ed. (Philadelphia: Muhlenberg Press,
1932), VI, 60.
174 Niebuhr e Williams, Ministry in Historical Perspectivesy 114.
175 Luther's Works, 29:224.
176 John T. McNeill, AHistory ofthe Cure ofSouls (New York: Harper and
Row, 1951).
177 Gregório de Nacianceno, Crisóstomo, Agostinho e Gregório, o Mag
no escreveram muito sobre o tema "curade alma (McNeill, History ofthe
Cure ofSouls, 100). No ano 591, Gregório, o Magno escreveu um tratado
para pastores intitulado The Book ofPastoral Rule [Livro de Regra Pastoral].
Até hoje, essa obra é usada nos seminários eseu uso deve muito aGregório
de Nacianceno (p. 109). Gregório, o Magno, foi mais que qualquer outro
Papa, o pastor que mais se destacou na Igreja Ocidental.
214 Cristianismo Pagão?

Gregório chamava o Bispo de "pastor" — um médico de almas


que diagnostica as enfermidades do paciente e receita medica
mentos e até cirurgias.
Os primeiros seguidores de Lutero também praticaram a
medicina das almas.Mas na Genebra de Calvino, essa prática
chegou aseruma arte. Avisita de pastores eanciãos nas casas dos
paroquianos era uma exigência. Também faziam visitas regulares
aos enfermos eaos encarcerados.Para Calvino eBucer, opas
tor não era um mero pregador e um distribuidor de sacramentos.
Era"médico das almas" ou "pároco auxiliar". Sua tarefaeralevar
cura, sanidade e compaixão aopovo de Deusenfermo.^®'
Essa idéia está viva no mundo protestante de hoje. Pode ser
facilmente vista nos conceitos contemporâneos de "cuidado
pastoral", "aconselhamento pastoral", "assistência psicológica
cristã". Na igreja contemporânea, a responsabilidade desse cui
dado geralmente cai sobre os ombros de um homem —opastor.
(No século 1, isso caía sobre os ombros de toda congregação e
de um grupo de homens maduros chamados "anciãos").'" 182

UMA IGREJA DIRIGIDA PELO PASTOR

Em poucas palavras, aReforma Protestante foi um golpe no


Sacerdotalismo Católico Romano. Mas não foi um golpe mortal,
esim apenas uma alteração semântica, pois os reformadores pre-

178 McNcill, HistoTy ofthc Cht6 ofSouls, 108. Gregóno dc Nacianceno


articulou esse discurso emsua obra Segunda Oração, escrita em362 d.C.
179 Ibid, 177.
180 Niebuhr eWiliiams, Ministry in Historical Perspectives, 136. Em 1550,
foi emitida a ordem de que os ministros deveriam visitar cada casa pelo
menos uma vez por ano.

181 Esse livro veio em versões na língua alemã elatina (McNeill, History of
theCureofSouls, 177).
182Veja Reimagining Church de Viola. A cura humanavem através da inte
gração na comunidade cristã. Veja Connecting: Healing Ourselves and Our
Relationships de Larry Crabb (Nashville: WPublishing, 2004).
o Pastor 215

servaram aregra do Bispo único. Opastor agora exercia opapel


do Bispo. Chegou aser conhecido como acabeça da igreja local
—como o principal ancião.Como disse certo escritor: no
Protestantismo, opregador tende a serporta-voz e representante
da igreja^ eaigreja muitas vezes éaigreja dopastor. Este éogrande
perigo eameaça àreligião cnstã, a incoerência ao clericalismo .
Em sua retórica, os reformadores criticaram a divisão clero-
leigo. Mas na prática, quiseram retê-la. Como Kevin Giles dis
se: **as diferenças entre oclero católico eoclero protestanteforam
apagadas na prática ena teologia. Em ambas as correntes, oclero
permanece bem distante^ seu estado especial se baseia nas iniciati
vas divinas (mediadas de maneiras distintas); ecertas responsabi
lidades são reservadas a eles'\^^^
Avelha tradição pós-bíblica da regra do Bispo único (âgo-
ra encarnada no pastor) prevalece na Igreja Protestante hoje.
Fatores psicológicos significativos fazem com que o chamado

183 Muitas igrejas reformadas diferenciam anciãos que "ensinam" dos anciãos
que "administram". Os anciãos que ensinam ocupam aposição tradicional
de bispo ou ministro, enquanto que os anciãos que administram ocupam as
funções da disciplina. Essa forma de governo eclesiástico foi levada àNova
Inglaterra apartir da Europa (Hall, Faithful Shepherd, 95). No fim, devido à
impopularidade do ofício, os anciões governantes foram abolidos enquanto
que o ancião pedagógico permaneceu. Isso também aconteceu nas igrejas
batistas dos séculos 18 e 19. Freqüentemente, essas igrejas precisariam de
recursos financeiros para sustentar um "ministro". Desse modo, ao final do
século 19, as igrejas evangélicas adotaram atradição do pastor único Mark
Dever, ÁDisplay of God's Glory (Washington D. C.: Center for Church
Reform, 2001), 20; R.E.H. Uprichard, "The Eldership in Martin Bucer and
John Calvin", Irish Biblical Studies Joumal (18 de junho de 1996): 149,
154). Assim, aequipe de anciãos na tradição reformada evoluiu para o"pas
tor unico

184 Niebuhr e Williams, Ministry in Historical Perspectives, 114. O


denominado"pregador leigo" emergiu no calor do revivamento evangélico
do século 18 (p. 206).
185 Kevin Giles, Pattems ofMinistry Among the First Christians (NewYork:
HarperCollins, 1991): 195-196.
216 Cristianismo Pagão?

"leigo" sinta que oministério éde responsabilidade do pastor. É


otrabalho dele. Ele éoespecialista^ éaidéia que prevalece.
Apalavra usada noNovo Testamento para ministro édiako-
nos, que significa "servo". Porém, essa palavra foi distorcida
porque os homens profissionalizaram o ministério. Tomamos
apalavra "ministro" e acomparamos com apalavra pastor sem
qualquer justificação bíblica. Da mesma maneira, comparamos
apregação e o ministério com o sermão do púlpito, novamente
sem a justificação das Escrituras.

COMO O PAPEL PASTORAL PREJUDICA A


VIDA COLETIVA

Agora, depois de desenterrar as raízes do pastor contempo


râneo, vamos nos atentar para os efeitos práticos que o pastor
exerce sobre o povo de Deus.
A distinção antibíblica clero/leigo tem causado incontáveis
danos ao Corpo de Cristo, eprovoca uma ruptura na comunida
de dos crentes por classificá-los como cristãos de primeira ede
segunda classe. A dicotomia clero/leigo perpetua uma horrível
mentira —de que alguns cristãos são mais privilegiados do que
outros para servir ao Senhor.
O ministério do único homem é completamente alheio ao
Novo Testamento, e ainda assim o aceitamos, enquanto sufoca
nosso funcionamento. Somos pedras vivas, não mortas, porém
a posição do pastor nos tem transformado em pedras que não
respiram.
Permita-me serpessoal. O ofício pastoral vem roubando seu
direito de funcionar como membro do Corpo de Cristo. Ele dis
torceu arealidade do Corpo fazendo do pastor uma grande boca
ede você, uma orelha minúscula,^®^ deixando você na condição
de espectador mudo, capaz apenas de fazer anotações do sermão
e depassara bandeja da oferta.

186 Coloque essa tragédia em forma de uma questão bíblica — ICoríntios


12.19.
o Pastor 217

Masisso não é tudo. A moderna posição de pastor passapor


cima do principal ensinamento da carta aos Hebreus —sobre a
finalidade do antigo sacerdócio. Torna o ensinamento de ^o-
ríntios 12-14, de que cada membro tem odireito eoprivilégio de
ministrar em uma reunião eclesiástica ineficaz. Anulou a men
sagem de IPedro 2, de que cada irmão ou irmã éum sacerdote
funcional.
Ser um sacerdote funcional não significa fazer um tipo de pe
chincha do ministério comocantarlouvores emseubanco, levan
taras mãos durante aadoração, passar as páginas deapresentação
do Power Point, ouensinar auma classe de escola dominical. Essa
não é a idéiade ministério do Novo Testamento. Tais coisas são
nada mais que um auxílio ao ministério do pastor. Como disse
um pesquisador: "'Ynuito du adoração protestantey principalmente
em nossos dias, foi infectada pela opressiva tendência de considerar
aadoração como uma obra dopastor (e talvez dos músicos), estando
amaiorparte da con^egação restrita ao cântico de hinos ereduzida
à condição de espectadora atenta epiedosa".
Esperamos que os doutores eadvogados nos sirvam, não para
nos treinar a servir outros. E por quê? Porque eles são especia
listas, profissionais treinados. Infelizmente, vemos o pastor da
mesma maneira. Tudo issoviolenta o fato de quecada crentee um
sacerdote. Não apenas diante deDeus, mas uns para osoutros.
Isso não étudo. O pastorado contemporâneo éum rival da
liderança funcional de Cristo em sua Igreja. Aposição de pastor
mantém um lugar único de centralidade e de direção entre o
povo de Deus, um lugar reservado para apenas uma pessoa —o
Senhor Jesus. Jesus Cristo é aúnica cabeça e apalavra final da
Igreja.'®^ Por sua posição, opastor desloca esuprime adireção de
Cristo porimplantar asi como cabeça humana da congregação.

187 Davies, New Westminister Dictionaryof Liturgy, 292.


188 Nesse sentido, (e ao contrário de opinião popular), o pastor não é o
cerebelo, o centro comunicador de mensagens, coordenador de funções e
administrador de respostas entre aCabeça eo Corpo". Ele não é chamado
para proporcionar "comunicação de autoridade da verdade da Cabeça para o
Corpo". Também não éo"comunicador preciso das necessidades do Corpo
218 Cristianismo Pagão?

Por essa razão, não há nada que impeça tanto ocumprimento


do propósito eterno de Deus, como afunção do moderno pas
tor. Por quê? Porque o foco deste propósito é que a direção de
Cristo seja visivelmente manifesta na igreja através do funcio
namento livre eaberto do corpo em que cada membro parti
cipa. Enquanto aposição de pastor estiver presente numa igreja
emparticular, tal igreja terá uma chancemínima de testemunhar
algo tão glorioso.

COMO O PASTOR PREJUDICA A Si MESMO

O pastor contemporâneo não prejudica apenas o povo de


Deus, mas também a si mesmo. A posição de pastor, de uma
forma ou de outra, atrofia os que assumem essa função, dentro
de seu parâmetro. As freqüentes depressões, vazio, estresse,
e o desequilíbrio emocional ocorrem anormal e constante
mente, eni altos índices entre os pastores. Nesse momento
em que olivro está sendo escrito, há mais de 500 mil pastores
contratados servindo as igrejas nos Estados Unidos.Entre
esse número massivo deprofissionais religiosos, considere as
estatísticas seguintes, que revelam o perigo letal da posição
de pastor:

— 94% sentem-se pressionados a ter uma família ideal;


90 /o trabalham mais do que quarenta eseis horas por semana;
— 81% afirmam ter tempo insuficiente com suas esposas;

para a Cabeça". O pastor é descrito com esses termos cheios de orgulho


em "The Ministry's Gordian Knot," Leadership, de David L. McKenna
(Winter, 1980), 50-51.
189 Veja Hfesios 3.8-11. Para mais detalhes sobre essa questão, veja God's
Ultimate Passion de Viola.
190 The Barna Group "A Profile of Protestant Pastors", The Bama Update
(25 de Setembro de 2001). (http://www.barna.org). Metade dessas igrejas
tem menos de 100 membros ativos (Larry Witham, "Flocks in Need of
Shepherds", The Washington Times (2 de Julho de 2001).
o Pastor 219

— 80% acreditam que o ministério pastoral afeta suas famílias


negativamente;
— 70% não têm o que seconsidera um amigo íntimo;
— 70% têm menos auto-estima do que tinham quando entra
ram no ministério;
— 50% sentem-se incapazes de cumprir as tarefas de sua
posição;''^
— 80% estão desanimados oupassando pelo tratamento de uma
depressão;
— Mais de 40% afirmam sofrer por causa da fadiga, horários
frenéticos e falsas expectativas;''^
— 33% consideram o ministério pastoral um risco total para a
família;"^
— 33% pensaram seriamente em deixar o ministério no ano
passado;"''
— 40% das renúncias pastorais devem-se àfadiga (a chama se
apagou)."^

Espera-se que a maioria dos pastores exerça 16 tarefas si


multâneas."^ E a maioria acaba pulverizada pelas pressões. Por

191 . B. London e Neil B.Wiseman, Pastors at Risk, (Wheaton, IL: Victor


Books, 1993); "Is the Pastor's Famiiy Safe at Home?", Leadership (Fali
1992); Physician Magazine, (Setembro/Outubro 1999), 22; The Barna
Group, "Pastors feel confident in Ministry, but Many Struggle in Their
Interaction with Others", The Bama Update (10 de julho de2006); http://
www.barna.org.
192 Extraído das pesquisas de Focus on the Famiiy Pastors Gatherings.
193 Fuller Institute of Church Growth (Pasadena: Fuiler Theoiogicai
Seminary, 1991).
194Witham, "Flocks in Need of Shepherds".
195 Vantage Point, Denver Seminary (Junho de 1998), 2.
196 The Barna Group, "A Profile ofProtestant Pastors", The Bama Update
(25 de Setembro de 2001). Essas tarefas incluem visionar equipes, identifi
car etreinar líderes, pregar eensinar, levantar fundos, servir ao necessitado,
providenciar estratégias eplanos, organizar as atividades eas programações
220 Cristianismo Pagão?

essa razão, mensalmente, 1400 ministros entre todas as deno


minações nos Estados Unidos são demitidos ou são forçados a
renunciar. Durante os últimos 20 anos, a média do pastorado
reduziu de sete para pouco mais de quatro anos!''®
Infelizmente, poucos pastores se dão conta de que éaposi
ção de pastor que causa essa turbulência subjacente."' Natural
mente, Jesus Cristo nunca desejou que alguma pessoa desempe
nhasse omontante de atividades que se requer do pastor! Nunca
teve aintenção de que alguém carregasse uma carga tão pesada.

da igreja, supervisionar toda aadministração, gerenciar equipes evoluntá


rios, resolver conflitos, representar a congregação na comunidade, prover
cuidado e conselho à congregação, evangelizar o descrente, ministrar os
sacramentos e discipular indivíduos.
197 The Christian Citizen (Novembro, 2000) registrou que 1.400 pastores
deixam o pastorado a cada mês. Do mesmo modo, The Washington Times
realizou uma série de cinco artigos sobre a"crise clerical" que está varrendo
^ -^tticnca, escritos por Larry ^Í7itham. ^Jí^itham relatou que pouquíssimas
pessoas que fazem parte do clero são jovens. Somente 8% têm 35 anos ou
menos. Dentre os 70.000 alunos matriculados nos 237 seminários teológi
cos autorizados no país, somente um terço quer liderar uma igreja como
pastor. O pastorado atraiu um número maior de candidatos mais velhos.
Da mesma maneira, uma carência de clérigos atingiu a principal linha de
igrejas protestantes no Canadá. "Enquanto ministrar a um rebanho pode
ser pessoalmente enriquecedor, também édesencorajador —não por causa
de dinheiro —mas sim de corresponder as expectativas como um teólogo,
conselheiro, conferencista, administrador e organizador dacomunidade em
uma só pessoa". (Douglas Todd, "Canada's Congregations Facing Clergy
Shortage", Christian Century [10 de outubro de 2001], 13).
198 Informações extraídas das pesquisas do PastorPoll conduzidas pelo
The Barna Group de 1984 a 2006.
199 Eu (Frank) li uma vez o seguinte texto comercial de um livro de auto-
ajuda para pastores: "Homens que trabalham desola sol, mas nunca acaba.
Eporque o pastor tem que vestir muitas camisas: ade pregador, de profes
sor, de conselheiro, administrador, líder de louvor eàs vezes até ade quem
conserta móveis! Para pastores que gostariam de ter mais pessoas ao seu
lado vestindo as mesmas camisas, nós... temos o alívio para você!"
o Pastor 221

As demandas do pastorado são terríveis. Tanto que leva qual


quer mortal ao esgotamento. Imagine-se porum momento tra
balhando em uma companhia que lhe paga baseado no resultado
de suas tentativas de fazer com que seus colegas de trabalho se
sintam muito bem e animados; se o seu pagamento dependesse
do seu grau de ocupação eânimo, da popularidade de sua esposa
efilhos, da qualidade de suas roupas, eda perfeição de seu com
portamento?
Você pode imaginar o completo estresse que isso lhe causa
ria? Você pode ver quanta pressão oforçaria aexercer urn papel
pretensioso —tudo para manter sua autoridade, prestígio ese
gurança no trabalho? (Por essa razão, amaioria dos pastores é
resistente quanto areceber qualquer tipo de ajuda)
A profissão pastoral estabelece padrões de conduta como
qualquer outra profissão, seja ela professor, médico ou advo
gado. Aprofissão dita quais as roupas que opastor deve vestir,
como falar e agir. Esta é uma das principais razões pela quais
tantos pastores vivem vidas tão artificiais.
Nesse aspecto, opapel pastoral fomenta adesonestidade. A
congregação espera que seu pastor esteja sempre alegre, com
pletamente espiritual, disponível atodo o momento, que nunca
esteja amargurado, nem ressentido.^®^ Também espera que tenha
uma família perfeitamente disciplinada. Muitos pastores exer
cem esse papel como atores de um drama grego.^°^
Baseado emdiversos testemunhos pessoais que temos ouvi
do de ex-pastores, muitos —se não todos —pastores não po
dem permanecer em sua posição sem se corromperem em algum
nível. O característico poderpolítico da posição é um enorme

200 Para uma explicação original das pressões psicológicas do pastora


do moderno, veja ASoul Under Siege: Surviving Clergy Depression de C.
Welton Gaddy (Philadelphia: Westminster, 1991).
201 Larry Burkett, "First-Class Christians, Second-Class Citizens , Eust
Hillsborough Christian Voice (Fevereiro de 2002), 3.
202 Nem todos os pastores fazem esse papel. Mas os poucos que tentam
resistir aessa incrível pressão parecem "ser aexceção" aesse papel.
222 Cristianismo Pagão?

problema que faz com que muitos seisolem, e envenena os rela


cionamentos entre eles.
Emuminquietante artigo para pastores intitulado Prevenin
do a Cauterização do Clero, o autor sugere algo assustador. Seu
conselho para os pastores nos dá uma visão clara sobre poder po
lítico que ronda opastorado,^°^ implorando aos pastores: ''Exer
çaumaposição decompanheirismo com ospastores deoutras deno
minações. Essaspessoas nãopodemprejudicá-lo eclesiasticamente,
porque nãopertencem ao seu círculo oficial Não hánenhum tapete
político quepossam puxarpara derruhá-lo'\^^^
Asolidão profissional éoutro vírus que contamina fortemente
os pastores. Apraga da ilha solitária leva alguns pastores abuscar
outras carreiras. Outros encontram um destino mais cruel.^®^
Todas essas patologias encontram sua raiz na história do
pastorado. O "cume é solitário" porque Deus nunca quis que
ninguém fosse para o cume —exceto Seu Filho! Com efeito,
o pastor contemporâneo coloca as exortações do Novo Testa
mentosobre seus ombros quedeveriam sexmutuamente com-

203 De mâneirã ãlãrmânte, 23% do clero protestante foi demitido pelo me


nos uma vez e 41% das congregações demitiram pelo menos dois pasto
res. Pesquisa realizada por Leadership em Clergy Killers: Guidancefor Pas-
tors and Congregations Under Attack de G. Lloyd Rediger (Philadelphia:
Westminster/John Knox, 1997).
204 J. Grant Swank, "Preventing Clergy Burnout", Ministry (Novembro
de 1998),20.
205 Larry Yeagley, "The Lonely Pastor", Ministry (Setembro de 2001), 28;
Michael L. Hill eSharon RHill, The Healingofa Warrior: AProtocolfor the
Prevention and Restoration ofMinisters Engagng in Destructive Behavior
(Cyberbook, 2000).
206 Por exemplo: Deveis amar-vos uns aos outros (Romanos 13.8); todos
os membros tenham igual dedicação uns pelos outros (ICoríntios 12.25);
sede servos uns dos outros (Gaiatas 5.13); esforcemo-nos em promover
tudo quanto conduz àpaz eao aperfeiçoamento mútuo (Romanos 14.19);
suportando-vos uns aos outros (Efésios 4.2); exortai-vos mutuamente
(Hebreus 3.13), etc.
o Pastor 223

partilhadas pelos crentes. Não éde se admirar que amaioria dos


pastores sofre —esmagada pelo peso.^°^

CONCLUSÃO

O pastor moderno é o elemento menos questionado no


Cristianismo Contemporâneo. Mesmo assim, não há uma única
linha nas Escrituras que justifique sua existência, nem uma folha
defigueira para cobri-lo!
Assim, opastor dos nossos dias nasceu da regra do bispa
do único engendrado por Inácio e Cipriano. O Bispo trans
formou-se em presbítero local. NaIdade Média, o presbítero
se converteu em sacerdote católico. Durante a Reforma, foi
transformado em "pregador", "ministro", e finalmente em
"pastor" —o homem sobre o qual todo Protestantismo é
dependurado. Reduzindo em uma sentença: O pastor pro
testante nada mais é que um sacerdote católico um pouco
reformado! (Mais uma vez, estamos falando sobre o oficio, e
não o indivíduo.)
O sacerdote católico tinha sete ofícios durante o tempo da
Reforma: Pregar, ministrar sacramentos, rezar pelo rebanho, ter
vida santa e disciplinada, seguir ritos da igreja, apoiar pobres e
visitar enfermos.^®® Opastor protestante, além de assumir todas
essas responsabilidades —às vezes, também abençoava eventos
cívicos.
O famoso poetaJohn Milton foi bem sucedido ao dizer: "O
novopTeshítevo ésitnplesiTienteaversão do velho sacerdoteamplia
do. " Uma outra versão para isso seria: O pastor moderno não

207 Searching Together, 23, no. 4 (Inverno 1995) discute sobre esse assunto
com mais profundidade.
208 Johann Gerhard em Church Ministry de Eugene F. A. King (St. Louis:
Concórdia Publishing House, 1993), 181.
209 Extraído do poema de Milton de 1653: "On the New Forces of
Conscience Under the Long Parliament".
224 Cristianismo Pagão?

é outracoisa senão o sacerdote antigo mais evidente, escrito em


letras grandes!

UM MERGULHO PROFUNDO - CAP. 5

1. O que vocês notaram em relação à igrejaprimitiva terrece


bido a supervisão dos ''plantadores de igrejas'\ os quais não
permaneciam por um longo período somente numa igreja,
isso não era devido ao número restrito de líderes— uma si
tuação ainda verdadeira em muitas partes do mundo hoje
— que tinham que compartilharseus ensinamentos emmui
tas igrejas^
Não. Plantadores de igrejas deixavam-nas deliberadamente,
de tal forma que poderiam funcionar debaixo da liderança de
Cristo. Se um plantador de igreja ficasse na igreja, os membros
olhariam para ele como olíder, naturalmente, oque impediria o
"funcionamento" de cada membro. Isso ainda éverdade hoje.
O padrão em todo o Novo Testamento éque os plantadores de
igrejas (obreiros apostólicos) sempre deixassem as igrejas após
sua fundação. Para mais detalhes, veja ^he Norman Christian
Church Life {K Vida Normal da Igreja Cristã), de Watchman
Nee (Anaheim: Living Stream Ministry, 1980).
2. Tiago 3.1 diz: "Caros irmãos, não vos tomeis muitos de vós
mestres, porquanto saheis que nós, os que ensinamos, sere
mosjulgados com maiorrigor'' (NTKJ). ICoríntios 12.27-31
claramente afirma que oEspírito Santo deu dons diferentes
a todos —nem todos receberam odom de apóstolo, profecia
ou ensino e que cada crente tem umafunção diferente. Esses
textos das Escrituras não apóiam a idéia de que Deus chama
somente algunsparapregar, ensinareministrarà igreja como
um todo?
Sim, absolutamente. Concordamos que existem mestres,
pregadores, profetas, apóstolos, evangelistas eaté pastores na
igreja de Jesus Cristo. O ofício pastoral contemporâneo, no
entanto, não é o que o texto acima "imaginou". Na verdade,
visto que espera-se dos pastores hoje, que exerçam muitos pa-
o Pastor 225

péis, eles devem cumprir muitas tarefas que estão além de seus
dons e talentos. Isso é injusto, tanto a eles quanto para os que
estão dentro do corpo, que possuem esses dons e não podem
usá-los.

3. Sohre oque vocês caracterizam arespeito da ordenação como


umritoformal cristão com raízespagãs,esseprocessogarante
que os líderes da igreja tenham uma compreensão apropriada
das Escrituras eum comprometimentopublico de construira
igreja. Aigreja, então, não serve como uma barreira depro
teção para aqueles que estão dentro delaf
Essa questão ébaseada no pressuposto de que osistema de
clero moderno éo modelo para o ministério cristão. Comomos
tramos, os cristãos primitivos não sabem nada sobre o clero. E
certamente, não sabem nada sobre um clero ordenado.
Obreiros apostólicos reconheciam os anciãos locais em algu
mas igrejas (Atos 20.28,1 Timóteo 3, eTito 1descrevem as qua
lidades desses anciãos.) Eigrejas enviavam obreiros apostólicos
para fazer otrabalho de implantação de igrejas. Mas essas práti
cas têm poucos pontos de contato com as cerimônias modernas
de ordenação, que elevam alguns cristãos sobre outros.
4. Oque vocês querem dizercom ^^muitos—se não todos pas
tores não podem permanecer em sua posição sem se corrom
perem em algum níveV^^Algumas daspessoas deDeus, que se
doam, são pastores esforçados, que trabalham de umaforma
incrível, pelo Reino.
Conhecemos muitos pastores que trabalham "duro", são es
forçados, são de Deus ese doam também. Mas também sabemos
que existem inúmeros pastores que admitiram, ao longo de suas
carreiras, que foram corrompidos pelo ofício em algum nível.
Alguns nos confessaram pessoalmente: "isso não me afetou por
muitos anos, mas após pouco tempo, começou ame mudar sem
que eu percebesse". Disseram-nos, contando como se tornaram
pessoas que agradavam aos outros, tentando atuar para a audi
ência" e manter certa imagem. Essa observação não tem nada a
ver com os motivos do pastor. Não tem nada aver com ainflu
ência poderosa de um sistema antibíblico.
226 Cristianismo Pagão;

Aparte de tudo isso, areal questão é, deveríamos apoiar um


ofício e um papel que não tem base no Novo Testamento? Se o
ofício eopapel pastoral moderno éum desenvolvimento inspi
rado em Deus, então podemos apoiá-los. Mas se não são, não
nos surpreende aprender que eles produzem efeitos nocivos
àqueles quedesempenham a função.
Capítulo 6
As Roupas Dominicais:
Encobrindo o Problema

'^Tende cuidado com os mestres dalei [...]fazem questão de


andar com roupas especiais.
—JESUS CRISTO EM LUCAS 20.46, NTKJ

''Tende muito cuidado paraque ninguém vos escravize a vãs e


enganosasfilosofias, que se baseiam nas tradições humanas ena
falsa religiosidade deste mundo, enão em Cristo.
— PAULO DE TARSOEM COLOSSENSES 2.8, NTKJ

^CADA DOMINGO DE MANHÃ, milhões de protestantes


vestem sua melhor roupa para assistir o culto daigre
ja.^ Mas ninguém parece questionar arazão disso. Milhares de

1Denominações como a Vineyard são exceções. Essas denominações novas


possuem um estilo de culto específico, em que servem café erosquinhas antes
de iniciar. Shorts e camisetas são trajes comuns nos cultos da igreja Vineyard.
Das 347.000 igrejas protestantes nos Estados Unidos edas 22.200 igrejas no
Canadá que constituem 230 denominações, a maior parte da congregação
"veste-se arigor" durante as manhãs dominicais (esses números foram extra
ídos da revista "Religious Market" magazineamericanchurchlists@infoUSA.
com). Se calculássemos o número de cristãos não-protestantes que "vestem-
se a rigor" para iràigreja, esse número seria astronômico.
228 Cristianismo Pagão?

pastores usam trajes especiais que os separam de suas congrega


ções. E ninguém parece sepreocupar comisso.
Sem duvida, as roupas se tornaram mais casuais em várias
igrejas nas últimas décadas. Uma pessoa vestindo calças jeans
pode andar nos santuários de muitas igrejas hoje sem receber
olhares reprovadores. Ainda assim, vestir-se bem para ir àigreja
éuma prática comum em muitas igrejas. Neste capítulo, vamos
estudar aorigem desse costume de "vestir-se a rigor" para irà
igreja e as raízes das "vestes clericais".

A ROUPA DA IGREJA

Aprática de "vestir-se socialmente" para iràigreja éum fe


nômeno relativamente recente.^ Começou pelo final do século
18 com a Revolução Industrial e foi difundida nos meados do
século 19. Nessa época, "vestir-se bem" para eventos sociais era
algo comum somente entre os ricos. Arazão era simples. Apenas
ricos aristocratas da sociedade poderiam comprar roupas boni
tas! As pessoas comuns somente tinham dois tipos de roupa:
Roupa para trabalhar no campo eroupa menos surrada para irà
cidade e se misturar com o povo.^
"Vestir-se bem" para alguma ocasião era opção apenas para
a nobreza rica.'^ Na Europa medieval, até o século 18, "vestir-se
bem" era amarca definitiva da classe social de alguém. Em países

2 O costume de vestir-se "decentemente" para o culto vem do século 3.


Clemente de Alexandria (150-215) colocou desta forma: "homens e mu
lheres devem iràigreja decentemente vestidos, comportando-se com natu
ralidade e com muito silêncio... que a mulher observe isso mais ainda. Tem
que estar bem coberta, ao menos que esteja em casa". ("Going to Church",
The InstructoVy livro 3, cap. 11).
3 Max Barsis, The Common Man Through the Centuries (New York- Unger
1973). '
4Leigh Eric Schmidt, "A Church Going People is aDress-Loving People,"
Church History (58), 38-39.
As Roupas Dominicais 229

como aInglaterra, as pessoas pobres eram proibidas de vestir o


tipo de roupa que as pessoas "bem de vida" usavam.'
Isso mudou com a invenção das grandes fabricas têxteis e
o desenvolvimento da sociedade urbana.^ As roupas finas se
tornaram mais acessíveis às pessoas comuns. A classe média
surgiu eseus membros se tornaram rivais da aristocracia inve
josa. Pela primeira vez, a classe média seria distinta dos cam
poneses.^ Para demonstrar sua recente condição de ascensão
social, passaram aexibir "roupas melhores" nos eventos sociais
como os ricos faziam.^
Alguns grupos de cristãos no fim do século 18 einicio do
século 19 resistiram a essa tendência cultural. John Wesley
escreveu contra o uso de roupa cara ou extravagante.^ O an-

5 Ibid.

6Em 1764, James Hargreaves inventou a ''spinningjenny" [máquina de


fiar antiga] disponibilizando às massas um tecido melhor e mais colo
rido. Elizabeth Ewing, Everyday Dress 1650-1900 (London: Bratsford,
1984), 56-57.
7 Bushman, Refinement ofAmérica, 313.
8Henry Warner Bowden e P.C. Kemeny, eá.,American Church History: A
Reader (Nashville, Abingdon Press, 1971), 87-89. A roupa e a hierarquia
estavam estreitamente ligadas à América colonial. Um folheto anônimo
publicado na Filadélfia em 1722 com o nome The Miraculous Power of
Clothes, and Dignity ofthe Taylors: Being an Essay on the Words, Clothes
Make Men sugeria oseguinte: ostatus social, posição epoder eram demons
trados através da roupa. Aconexão entre aroupa eahierarquia na sociedade
colonial imprimiu às roupas um poder simbólico. Por fim, essa mentalidade
contaminou a igreja cristã.
9 Rupert Davies, A History of the Methodist Church in Great Britain
(London: Epworth, 1965), í93;Joumals ofWesley, Nehemiah Curnock, ed.
(London: Epworth Press, 1965), 193. Oensinamento de Wesley sobre rou
pas foi chamado de "evangelho da simplicidade'. Sua mensagem principal
era de que os cristãos deveriam vestir-se de uma forma modesta, limpa e
simples. Wesley falava tanto sobre esse assunto que lhe atribuíram aseguin
te frase: "A limpeza easantidade andam juntas". Porém, essa frase vem de
um rabino (Phinehas Ben-Yair, Song ofSongs, Midrash Rabbah, 1.1:9).
230 Cristianismo Pagão?

tigo metodista resistia tanto àidéia do uso de "roupas finas"


na igreja que repreendia qualquer um que exibisse roupa cara
nas reuniões.^® Os antigos batistas também condenaram o
uso de roupa fina, acreditando que isso separava os ricos
dos pobres.
Apesar desses protestos, os cristãos passaram asevestir com
roupas finas quando queriam. A crescente classe média pros
perava e desejava casas maiores, construir grandes edifícios de
igreja e usar roupas ainda mais finas. Com o desenvolvimento
da cultura vitoriana de classe média, igrejas mais extravagantes
atraíam pessoas mais influentes da sociedade.
Tudo isso chegou a um ponto crítico quando em 1843, Ho-
rácio Bushnell, um pastor influente da Igreja Congregacional do
Estado de Connecticut, publicou umensaio chamado Tasteand
Fashion (em tradução livre, Gosto eModa), em que Bushnell ar
gumentava que a sofisticação e o refinamento eram atributos di
vinos e que os cristãos deveriam demonstrá-los.^'' Disto, nasceu
aidéia de que as pessoas precisavam "vestir-se bem" para honrar
aDeus! Apartir de então, os membros da igreja participavam de
cultos em belas igrejas, bem elaboradas e decoradas, exibindo
sua roupa formal parahonrar a Deus.'^

10 Davies,History of the Methodist Church, 197.


11 Schmidt, "A Church Going People is aDress-Loving People", 40.
12 Bushman, Refinement ofAmérica, 335, 352.
13 Ibid., p. 350. As denominações com um maior número de membros
ricos (Episcopal, Unitariana, etc.) começaram a vender bancos a famílias
ricas para arrecadar fundos para um minucioso programa de construção de
igrejas. "Devido ao custo dos bancos, os membros tiveram que usar roupas
adequadas ao esplendor do edifício eoestilo da congregação para muitos se
tornou uma barreira insuperável. Um século antes, um fazendeiro comum
poderia vestir-se bem indo àigreja com uma camisa azul xadrez. Na atmos
fera distinta das novas eluxuosas igrejas exigia-se muito mais do que isso".
14 Ibid., 328, 331.
15 Ibid., 350.
As Roupas Dominicais 231

Em 1846, um presbiteriano de Virginia chamado William


Henry Foote escreveu: "Aspessoas que vão àigrejagostam de rou
pasfinas". Essa regra simplesmente sedimentou oritual do uso
de roupa formal na igreja. Essa tendência foi tão poderosa que,
nos anos de 1850, mesmo os metodistas que "resistiamà roupa
formal" foram absorvidos pela moda. Começaram, até mesmo,
ausar "roupa dominical" para ir à igreja.'^
A conseqüência de tudo isso, como praticamente ocorreu
com todas as demais práticas adotadas pela igreja, foi aadoção
da roupa formal na igreja devido àinfluência do entorno cultural
na prática cristã. Hoje, muitos cristãos vestem "a melhor roupa
para ir àigreja nas manhãs dominicais sem nem mesmo saber a
razão. Mas agora, você sabe de toda história que se esconde por
trás desse hábito incoerente.
Foi o mais puro resultado final dos esforços da classe média
do século 19 emimitar seus contemporâneos da rica aristocra
cia, fazendo um alarde de sua melhor qualidade de vida e status
através da roupa. (Esse esforço também se relaciona às noções
vitorianas de respeito). Isso nada tem aver com a Bíblia, com
Jesus Cristo ou com o Espírito Santo.

MAS O QUE HÁ DE ERRADO COM ISSO?


Qual éo grande problema de irmos "bem vestidos" àigreja?
Éuma questão bem pouco veemente. Contudo, aquestão vee
mente mesmo éo que "vestir-se bem" representa para aigreja.

16 Schmidt, "A Church Going People is a Dress-Loving People", 36.


17 Bushman, RefmementofAmérica, 319. "Os metodistas primitivos sabiam
que aroupa da moda era uma inimiga, mas agora ainimiga estava ganhan
do". Schmidt escreveu: "As pessoas preocupavam-se com o Sabbath... em
vestir suas melhores roupas; a roupa dominical tornou-se proverbial. Até
mesmo os pietistas e evangélicos que tanto insistiam na simplicidade das
roupas adotaram roupas formais e'decentes'" (Schmidt, "A Church Going
People is a Dress-Loving People", 45).
232 Cristianismo Pagão?

Em primeiro lugar, essa atitude reflete uma separação entre o


secular eosagrado. Acreditar que Deus se preocupa com aroupa
fina que você veste para "lhe fazer uma visita" éuma violação da
Nova Aliança. Temos acesso à presença de Deus em todo mo
mento e circunstância. De fato, será que Ele espera que nós, na
condição de Seu povo, nos vistamos domingo pela manhã como
participantes de um concurso de beleza?
Em segundo, vestir roupa chamativa eluxuosa aos domingos
pela manhã transmite uma mensagem hipócrita: Aquela igreja é
olugar onde os cristãos escondem sua verdadeira cara, "vestem-
se bem" para parecerem agradáveis e bons.^® Pense sobre isso.
Colocar sua "melhor roupa dominical" não é outracoisa senão
criaruma "boa impressão". Isso traz todos os elementos de um
teatro à casa de Deus: Guarda-roupa, maquiagem, acessórios,
luzes, porteiros, música especial, mestre de cerimônias, cargos,
programação principal.^'
Vestir-se bem para ir à igreja transgride a realidade de que
a igreja é composta porpessoas reais com problemas de difícil
solução — talvez que estiveram no meio de uma das maiores
discussões conjugais, mas que após saírem do estacionamento
e entrarempela porta da igreja abrem sorrisos amarelos e enor
mes!
O ato de vestir-se socialmente aos domingos oculta um
problema básico einerente. Estimula ailusão arrogante de que
somos "bons" porque nos vestimos bem para Deus. Éuma pre
tensão que desumaniza e constitui em falso testemunho diante
do mundo.
Vamos enfrentar isso. Precisamos reconhecer que, como
seres humanos decaídos, estarmos dispostos a mostrar aquilo
que realmente somos éalgo raro. Quase sempre contamos com
nosso desempenho ou aparência (roupa) para fazer com que os

18 Deus olha para ocoração; não se impressiona com as roupas que usamos
(ISamuel 16.7; Lucas 11.39; IPedro 3.3-5). Nossa adoração é no espírito,
não na aparência física Qoão 4.20-24).
19 Christian Smith, "Our Dressed Up Selves," Voices in the Wildemess (Set/
Out. 1987),2.
As Roupas Dominicais 233

outros pensem coisas agradáveis anosso respeito. Tudo isso di


fere da característica modéstia da Igreja Primitiva.
Em terceiro lugar, "vestir-se socialmente" para iràigreja éo
mesmo que esmagar a simplicidade (marca registrada da Igre
ja Primitiva). Os cristãos do primeiro século não procuravam
"vestir-se bem" para iraos encontros da igreja. Eles se reuniam
na simplicidade de suas casas.
Não se vestiam para mostrar aque classe pertenciam. Narea
lidade, os cristãos primitivos se esforçavam real eautenticamente
para mostrar seu absoluto desdém pelas distinções sociais.^°
Na igreja, todas as distinções sociais e raciais estavam ex
tintas. Os cristãos primitivos sabiam que representavam uma
nova espécie neste planeta.^^ Por essa razão, Tiago repreendeu
os crentes que tratavam os santos ricos de uma forma melhor
do que os pobres. Também repreendeu os ricos por se vestirem
distintamente dos pobres.^^
E mesmo assim, muitos cristãos mantêm a falsa delusão de
que usar roupa informal no culto dominical é"irreverente .Isso
não difere da atitude de acusação dos escribas e fariseus ao Se
nhor e Seus discípulos de "irreverência" por não seguirem as
tradições de seus antepassados (Marcos 7.1-13).
Em suma, dizer que o Senhorespera que seupovo use roupa
fina nas reuniões da igreja é alterar as Escrituras e falar o que

20 Em seu livro Ante Pacem: Archaeological Evidence of Church Life


Before Constantine, Graydon Snyder afirma que há aproximadamente 30
cartas disponíveis escritas por cristãos antes de Constantino. Essas cartas
são assinadas apenas pelo primeiro nome, pois os sobrenomes indicavam
seu status social. Também se chamavam de "irmãos" e "irmãs'. Graydon
Snyder, por e-mail para Frank Viola, 12/10/2001 e 14/10/2001) e 10 de ju
lho de 2007,

21 Os cristãos primitivos viam a si mesmos como uma nova criação, uma


nova humanidade e novas criaturas que transcendem todas as distinções e
barreiras naturais (iCoríntios 10.32; 2Coríntios 5.17; Gálatas 3.28; Efésios
2.15; Colossenses 3.11)
22 Tiago 2.1-5. Essa passagem também sugere que se alguém vestir-se bem
para iraum culto da igreja, isso seria uma exceção, não o padrão.
234 Cristianismo Pagão?

Deus não falou.^^ Tal prática émais uma tradição humana em sua
melhor forma.

O TRAJE DO CLERO

Vamos agora mudar adireção eestudar aevolução das vestes


clericais. O clero cristão não se vestia diferentemente do povo
comum até a chegada de Constantino.^'*
Contrário à opinião popular, a indumentária clerical (in
cluindo as "vestimentas clericais" da tradição "da alta igreja")
não tiveram origem nas vestes sacerdotais do Antigo Testamen
to e na roupasecular do mundo greco-romano."
Eis ahistória: Clemente de Alexandria afirmava que oclero
deveria se vestir com peças de roupa melhores que as pessoas co
muns. (Jánessetempo, aliturgiaeclesiástica eraconsiderada um

23 Deuteronômio 4.2; Provérbios 30.6; Apocalipse 22.18.


24 The Caéolic Encyclopedia 1913 On-Line Edition, s. v. "Vestments",
http.//www.newadvent.org/cathen/15388a.htni: Encyclopedia Britannica
Online, s. v. Sacred Rights Ceremonies: The Concept and Forms ofRitual:
Christianity" (1994-1998). Pouco tempo antes de Constantino, os clérigos
vestiam um tipode tecido fino quando ministravam a Eucaristia.
25 Catholic Encyclopedia, s. v. "Vestments". Na introdução de "Origin" lê-
se: "As vestimentas cristãs não têm sua origem nas roupas dos sacerdotes do
Antigo Testamento, mas se desenvolveram inspiradas nas roupas seculares
do mundo greco-romano". Veja também AHistory ofEcclesiastical Dress de
Janet Mayo (New York: Holmes &Meier Publishers, 1984), 11-12. Mayo
escreve: Uma consideração sobre as vestimentas eclesiásticas revelarão
que tiveram sua origem nas roupas seculares romanas. A visão de que as
vestimentas se originaram dos Leviticos e vieram de artigos de vestuário
sacerdotal judeu é uma idéia antiga". Para ver a desconhecida história sobre
roupas religiosas, veja The Quacker: A Study in Costume, de Amélia Mott
Gummere (Philadelphia: Ferris and Leach, 1901). Note que as vestimen
tas do sacerdócio do Antigo Testamento tinham símbolos esombras espiri
tuais relacionados às vestes espirituais com que os cristãos foram revestidos
em Cristo Jesus (Hebreus 10.1; Colossenses 2.16-17,3.10-14; Efésios 4.24;
1Pedro 5.5; Apocalipse 19.8).
As Roupas Dominicais 235

evento formal). Clemente disse que aroupa do ministro deveria


ser "simples" e "branca".^^
O clero usou acor branca pormuitos séculos. Parece que tal
costume foi adotado do filósofo pagãoPlatão que escreveu que
corbranca eraacordosdeuses". Nesse aspecto, tanto Clemen
tecomo Tertuliano acreditavam que ocolorido era desagradável
para Deus.^^
Com achegada de Constantino, adistinção entre bispo, sa
cerdote e diácono se arraigou.^^ Quando Constantino mudou
sua corte para Bizâncio e a renomeou Constantinopla no ano
330 d.C., gradualmente, avestidura romana oficial foi adotada
pelos sacerdotes e diáconos.^' Agora, o clero era identificado
através daroupa dos oficiais seculares.^®
Depois da conquista do Império Romano pelos alemães apar
tir doséculo 4, a moda das roupas seculares mudou. A beca en
feitada dos romanos foi substituída pela túnica curta dos Godos
[tribo germânica originária da Escandinávia invasora do Império
Romano]. Mas oclero, desejando ser distinto das pessoas comuns,
continuou usando as antigas earcaicas roupas romanas!^'

26 "On Clothes", The Instructor, livro 3, cap. 11.


27 Ibid, livro 2, cap. 11; Mayo, History ofEcclesiastical Dress, 15.
28 Mayo, History ofEcclesiastical Dress, 14-15.
29 Ibid., Latourette, ./l History ofChristianity, 211; Brauer, The Westminster
Dictionary ofChurch History (Philadelphia: The Westminster Press, 1971),
284.

30 "As vestes do bispo eram idênticas à batina antiga do magistrado roma


no". Hatch, The Organization ofthe Early Christian Churches, 164. As ves
tes do bispo indicavam uma estrutura de uma casta específica eincluía um
manto sudário branco trabalhado ou mappula, sandálias negras ou campagi,
e meias brancas ou undones. Essas eramasvestes dos magistrados romanos.
A History of Christianity, 133).
31 Senn, Christian Worship and Its Cultural Setting, 41; Sacred Rights
Ceremonies", Encyclopedia Britannica Online.
236 Cristianismo Pagão?

Os clérigos usavam essas vestes antiquadas durante o culto


da igreja, seguindo omodelo do ritual da corte secular.^^ Quando
os leigos adotaram onovo estilo de roupa, oclero acreditou que
tal roupa era "mundana" e"bárbara". Então, preservaram oque
julgavam ser uma veste "civilizada". Foi isso que ocorreu com as
vestes clericais." Essa prática foi apoiada pelos teólogos daquele
tempo. Por exemplo, Jerônimo (347-420) advertiu o clero, que
jamais deveria entrar no santuário com roupa comum.^''
Do século 5emdiante, os bispos passaram ausaracorroxa.^^
Nos séculos6e 7,asvestesdo clerose tornaram maiselaboradas
e caras.'^ Durante a Idade Média, a roupa adquiriu significados
místicos esimbólicos.^^ Vestes especiais surgiram porvolta dos

32 Eugene TeSelle, Professor de História da Igreja e Teologia, Vanderbilt


University, 18/1/2000, e-mail enviado a Frank Viola.
33 Mayo, History ofEcclesiastical Dress, 15; Jones, Historical Approach to
Evangelical Worship, 117.
34 Jerônimo disse que o bispo honra a Deus quando usa uma túnica branca
mais bonita que o habitual. E-mail particular de Frank Senn, pesquisador de
Liturgias para Frank Viola, 18/7/2000. Veja também "Against Jovinianus" de
Jerome, Livro 2.34 {Nicene and Post-Nicene Faéers, Série 2, Vol. 6) e"Lives
of Illustrious Men," cap. 2{Nicene/Post-Nicene Faéers, Série 2, Vol. 3).
35 Collins e Price, The Story ofChristianity, 25, 65.
36 Jones, Historical Approach to Evangelical Worship, 116-117. History of
Ecclesiastical Dress deMayo entra em grandes detalhes acerca do desenvol
vimento de cada peça das vestes clericais em cada estágio da história e em
cada tradição. Nenhuma peça importante distintiva foi usada durante os
primeiros mil anos, a cinta não era conhecida até o século 8. Elias Benja-
min Sanford, ed., AConcise Cyclopedia ofReligious Knowledge (New York:
Charles L. Webster & Company, 1890), 943.
37 Mayo, History ofEcclesiastical Dress, 11\Isidore de Pelusium (por volta de
440 d.C.) foi oprimeiro arelacionar interpretações simbólicas apartes do ves
tuário. Por volta do século 8no Ocidente edo século 9no Oriente, cada peça
do traje sacerdotal possuía um determinado significado simbólico {Catholic
Encyclopedia, s.v. "Vestments"). O povo medieval venerava o simbolismo de
As Roupas Dominicais 237

séculos 6 e 7. Disso sureiu o costume de colocar sobre a roupa


• 1 • • ' * 38
comum um jogo de vestes especiais na sacristia.
Durante os séculos 7 e 8, as vestes eram "objetos sagrados
herdados das batinas dos sacerdotes levíticos do Antigo Testa
mento.^^ (O que foi uma justificativa racional para essa prática).
Pelo século 12,o clero começou a levara batina para a rua, o que
os distinguia das pessoas comuns.'*®

O QUEA REFORMA MUDOU

Durante aReforma, o rompimento com a tradição eas vesti


mentas clericais foi lento egradual.'** No lugar das vestes clericais
tradicionais, os reformadores adotaram abeca negra dos estudan
tes"*^, que ficou também conhecida como batina do filósofo, sendo
que os filósofos as utilizaram durante os séculos 4e5.'*^ Anova

tal forma que atribuiu um significado "espiritual" a cada peça do vestuário


religioso. Esses significados estão vivos até hoje nas igrejas litúrgicas.
38 Senn, Christian Worship and Its Cultural Setting, 41. A sacristia era um
cômodo especial no edifício da igreja onde as vestes clericais eoutros obje
tos sagrados ficavam guardados.
39 Mayo, History ofEcclesiastical Dress, 27.
40 Collins e Price, Storyof Christianity, 25, 65.
41 Mayo, History ofEcclesiastical Dress, 64. Zwingli e Lutero descartaram
rapidamente as vestes do sacerdote católico. Hall, Faithful Shepherd, 6.
42 Zwingli foi o primeiro a introduzir a batina negra dos estudantes em
Zurique no outono de 1523. Lutero aadotou na tarde de 9de outubro de
1524 (Niebuhr e Williams, Ministry in Historical Perspectives, 147). Veja
também The Soul ofthe American University: From Protestant Establishment
and Established Nonbeliefde George Marsden (New York: Oxford Univer
sity Press, 1994), 37.
43 H.I. Marrou, AHistory ofEducation in Antiquity (New York: Sheed and
Ward, 1956), 206. "O filósofo poderia ser reconhecido pelo capote curto e
escuro feito de pano grosso". Veja também From Christ to Constantine de
Smith, 105.
238 Cristianismo Pagão?

batina foi tão preponderante que passou a ser a vestimenta do


pastor protestante/'^
O pastor luterano usava longas vestes pretas pelas ruas, e
também, um ruff [guarnição de pano franzido usada como gola
dos vestuários antigos] redondo ao redor do pescoço, que, com
o tempo, se tornou maior. Cresceutanto que antes do século 17
foi chamado de "rujfdc carga pesada".''^ (Oruffainda éusado em
algumas igrejas luteranas hoje).
Todavia, interessantemente, o reformador ainda preservou
as vestes clericais. O pastor protestante a usava ao ministrar a
Ceia do Senhor.''^ Esse aindaé o caso na maioria das denomina
ções hoje. Como padres católicos, muitos pastores ainda vestem
o manto clerical aolevantar o pãoe o cálice.
A batina do pastor reformado (o manto negro) simboliza
a autoridade espiritual.''^ Essa tendência continuou através dos
séculos 17 e18. Os pastores sempre usavam uma roupa escura,
de preferência negra. (Cor tradicional dos advogados edoutores
durante oséculo 16, acor dos "especialistas").
A cor negra logo passou a ser a cor de cadaministro em cada
ramo da igreja.''® A batina negra, depois, evoluiu aum "sobretu
do" na década de 40, que foi posteriormente substituído por um
"traje de passeio"do século20.'"
No início do século 19, o clero em geral usava colarinho bran
co e gravata. De fato, se o clérigo deixasse de vestir uma gravata,
isso seria considerado extremamente inadequado.^® Os pastores da

44 Niebuhr e Williams, Ministry in Historical Perspectives, 147. A batina


preta era a"roupa clerical de rua" no século 16 (Senn, Christian Worship and
Its CulturalSetting, 42).
45 Chadwick, Reformation, 422-423.
46 Mayo, History of Ecclesiastical Dress, 66.
47 Bowden e Kemeny, American Church History, 89.
48 Mayo, History of Ecclesiastical Dress, 77-78.
49 Ibid., 118.
50 Ibid., 94.
As Roupas Dominicais 239

"baixa igreja" (batistas, pentecostais, etc.) usavam colarinho egra


vata. Os da alta (anglicanos, episcopais, luteranos, etc.), ocolarinho
clerical —que recebeu oapelido de "coleira de cachorro".^'
Aorigem do colarinho clerical remonta ao ano de 1865. Não
foi uma invenção católica, como opovo acreditava, esim dos an-
glicanos.^2 Tradicionalmente, os sacerdotes dos séculos 18 e 19
usavam batinas negras (de corpo inteiro com colarinhos) sobre
vestes brancas (às vezes chamadas de"alva").
Em outras palavras, vestiam colarinhos negros com branco
no centro. O colarinho clerical era, simplesmente, uma versão
removível do outro. Foi inventado para que sacerdotes anglica
nos oucatólicos pudessem colocá-lo sobre a roupa, que usavam
para andar pelas ruas eserem vistos como "homens de Deus em
qualquerlugar!
Hoje, o traje escuro com batina é avestimenta clerical da
maioria dos pastores protestantes. Muitos pastores não seriam
flagrados sem esse traje! Alguns vestem ocolarinho clerical tam
bém, que é um símbolo inconfundível —para que ninguém se
esqueça de que ele é o clérigo.

ASVESTES CLERICAIS SÃO NOCIVAS?

As vestes especiais do clero afrontam os princípios espirituais


que governam acasa de Deus. Atinge ocoração da igreja ao separar
opovo de Deus ao meio: "profissionais" e"não-profissionais .
Aroupa clerical, assim como o"se vestir bem" para iràigreja
—seja aelaborada roupa do ministro da "alta igreja" ou abatina
negra do pastor evangélico —está arraigada àcultura mundana.

51 Ibid., 94,118.
52 Niebuhr e Williams, Ministry in Historical Perspectives, 164. De acordo
com oThe London Times (14 de março de 2002), ocolar clerical foi inventado
pelo reverendo Dr. Donald McLeod de Glasgow. Acrença popular éque o
colar clerical foi inventado pela Contra-Reforma Católica para impedir que os
padres usassem os rujfs largos usados pelos pastores protestantes (Chadwick,
Reformation, 423). Mas parece que eles vieram bastante tempo depois.
240 Cristianismo Pagão?

Aveste distintiva do clero remonta ao século 4, quando o clero


adotou a vestimenta dos oficiais seculares romanos.
O SenhorJesus e seus discípulos nãosabiam nada sobre usar
uma roupa especial para impressionar aDeus oupara se diferen
ciar do povo de Deus.^^ Colocar uma roupa especial com propó
sitos religiosos era uma característica dos escribas e fariseus.^'*
E nem o escriba nem o fariseu puderam escapar do olhar pene
trante do Senhorquandodisse: "Tende cuidado com os mestres
da lei. Pois eles fazem questão de andar com roupas especiais, e
muito apreciam serem saudados nas praças, ocupar as cadeiras
mais importantes nas sinagogas e os lugares de honra nos ban
quetes" (Lucas 20.46, NTKJ).

UM MERGULHO PROFUNDO - CAP. 6

1. Vocês insinuam queaspessoas não devem nuncaserencoraja


das ase vestirem bempara irà igreja; no entanto, para mim,
fazer isso me serve como um lembrete de que deveríamos dar
a Deus o respeito queEle merece. Nesse sentido, vestir boas
roupaspara ir à igreja nãoéalgo positivof
Se você sente que vestir-se bem para as reuniões da igreja é
algo positivo, você podefazê-lo diante do Senhor commotivos
puros, então, sem dúvida, faça-o. Mas devemos ser cautelosos
para não julprnem menosprezar as pessoas que não se vestem
bem para ir às reuniões.

53 Lucãs 7.25; 2Coríntios 8.9. Aparentemente, a roupa mais bonita que


Jesus usou enquanto esteve na terra foi motivo de zombaria — Lucas23.11.
Lembre-se que o Filho de Deus veio àterra, não em roupa real, mas envolto
emtiras depano (Lucas 2.7). Note queJoão Batista foi o caso mais extremo
dos que não buscavam impressionar Deus com sua roupa (Mateus 3.4).
54 Mateus 23.5; Marcos 12.38.
Capítulo 7

Ministros do Louvor:
Clero Pedicado à Música

"A marca oficial do evangelicalismo não éa repetição reprovável


de tradições antigas, mas a disposição em se submetera cada
tradição, mesmo que arcaica, para estimular oexame detalhado
da Bíblia, e se necessário, a reforma."
—JOHN STOTT, Ministro ePesquisador Britânico do Século 20
''O problema real não éofato de a igreja ser muito rica, mas sim,
de ter sido severamenteinstitucionalizada, com um investimento
depeso na manutenção. Tem as características de um dinossauro
edeumnavio debatalha. É selado com uma plantae uma
programação além de seu significado, de umaforma que é
absorvido em problemas desuprimento e numa preocupação
pela sobrevivência. Ainércia da máquina étanta que as locações
financeiras, as leis, os canais de organização, as atitudes da mente,
estão todos instalados nadireção dacontinuidade eexpansão do
status quo. Se alguém deseja possuir um rio que corta através dos
canais, então a maiorparte de sua energia será exaurida antes que
alguém alcance as linhas do inimigo."
—JOHNA. T. ROBINSON,
Pesquisador Inglês do Novo Testamento do Século 20

Qv/'''ovocê
ENTRAR EM QUALQUER CULTO DE UMA IGREJA CRISTÃ,
notará que geralmente começam-no com hinos,
coros ou louvores e músicas de adoração. Uma pessoa (ou um
grupo) irá liderar etambém direcionar olouvor. Mas nas igrejas
tradicionais, aliderança caberá aodiretor docoral ouaoministro
de música. Em algumas igrejas, esse papel é tambérn desempe
nhado pelo pastor sênior. Ouao próprio coral. Em igrejas con-
242 Cristianismo Pagão?

temporâneas, quem dirigirá será o líder daadoração ou louvor e


o grupo de adoração.
Na preparação para o sermão, aqueles que "lideram a ado
ração" selecionam as músicas que serão tocadas. E então ini
ciam essas músicas. Decidem quando devem acabar. Os que
estão sentados naaudiência nãodirigem os cânticos, deforma
alguma. São, sim, dirigidos por alguém que muitas vezes per
tence ao corpo clerical — ou alguém que recebe uma honra
similar.
Isso contrasta fortemente com a maneira de fazer as coisas
durante o primeiro século. Na Igreja Primitiva, aadoração e a
música estavam nas mãos do povo de Deus^ Aigreja mesmo di
rigia seus próprios cânticos. Cantar e dirigir músicas eram uma
questão de âmbito coletivo, não um evento profissional dirigido
por especialistas.

A ORIGEM DO CORAL

Tudoisso começoua mudar com a ascensão do cleroe a che


gada do coral cristão, cuja origem remonta ao século 4. Pouco
depois do Edito de Milão, (313 d.C.) aperseguição aos cristãos
cessou. Durante o reinado de Constantino, os corais foram de
senvolvidos e treinados para ajudar na celebração da Eucaristia.
A prática foi adotada do costume romano de dar início às ceri
mônias imperiais com música solene. Escolas especiais foram
fundadas e os cantores do coral, reconhecidos como clero de
"segundacorda [classe]".^
As raízes do coral estão nos dramas etemplos pagãos gregos.^
Will Durant afirma: *'Na Idade Média, como na antiga Grécia, a

1 Efésios 5.19; Colossenses 3.16. Note as palavras "falando" e "entre vós"


dessas passagens.
2 Liemohn, The Organ and Choir inProtestant Worship, 8.
3 Os gregos ensaiavam corais para acompanhar seus cultos pagãos (H.W
Parke, The Grades of Apollo in Asia Minor (London: Croom Helm,
Ministros do Louvor 243

principalfonte dramática estava na liturgia religiosa. Aprópria


Missa era um espetáculo dramático^ osantuário, um cenário sa
cado; os celebrantes vestiam roupas simbólicas; osacerdote eos
acólitospromoviam diálogos; as respostas antifônicas do sacerdote
e do coral, e do coralao coral, sugeriam precisamente essa mesma
evolução dramática do diálogo que havia gerado aobra sagrada de
Dionísio"."^
Com o advento do coral na igreja cristã, a música foi tirada
das mãos do povo de Deus elevada para as mãos do clero com
posto por cantores treinados.^ Essa mudança deveu-se em parte
ao fato de que as doutrinas heréticas eram espalhadas através do
cântico dos hinos. O clero percebeu que, se o louvor estivesse
sob seu controle, restringiria a expansão de heresia.^ Mas isso

1985, 102-103). As peças gregas, tanto dramas como comédias, eram


acompanhadas por orquestras (Marion Bauer eEthel Peyser, How Music
Grew [New York: G.E Putnam's Sons, 1939], 36, 45; Elizabeth Rogers,
Music Through the Ages [New York: G.P. Putnam sSons, 1967], 87; Gari
Shaulk, Key Words in Church Music [St. Louis: Concórdia Publishing
House, 1978], 64; Quasten, Music and Worship in Pagan and Christian
Antiquity, 76; Alfred Sendrey, Music in the Social and Religious Life of
Antiquity [Rutherford, NJ: Fairleigh Dickinson University Press, 1974],
327, 412. Geralmente, os corais gregos eram compostos por 15 a 24 pes
soas (Claude Calame, Choruses of Young Women in Ancient Greece
[Lanham: Rowman & Littlefield, 2001], 21). Alguns tentaram argumen
tar que os cristãos herdaram os corais eos cânticos da sinagoga judia. Mas
isso é altamente improvável, pois nos séculos 3 e 4, os cristãos imitaram
pouco ou nada dos judeus. Pelo contrário, eles absorveram a cultura gre-
co-romana que os rodeava em peso. De forma interessante, amusica grega
teve sua gênese no Oriente ena Asia Menor (Rogers, Music Through the
Ages, 95).
4 Durant, Age of Faith, 1027.
5Liemohn, Organ and Choir in Protestant Worship, 8-9. Até o século 4, o
cântico congregacional era uma característica predominante do culto cristão.
6 Edward Dickinson, The Study of the History of Music (New York:
Charles Scribner*s Sons, 1905), 16,24.
244 Cristianismo Pagão?

também estava fixado ao crescente poder do clero como princi


pal ator no drama cristão/
Pelo ano 367 d.C., a música da congregação foi completa
mente eliminada esubstituída porcorais treinados/ Assim, nas
ceu o cantor profissional naigreja. O louvor e a adoração cristã
agora estavam sob o domínio do clero e do coral.
Ambrósio (339-397 d.C.), acredita-se, foi o responsável
pela criação dos primeiros hinos pós-apostólicos', que foram
modelados segundo os padrões gregos echamados por nomes
gregos.Ambrósio também criou uma coleção decânticos litúr-
gicos que ainda são utilizados em algumas igrejas católicas.'^ O
cântico litúrgico éodescendente direto do cântico pagão roma
no, o qual remonta as antigas cidades daSumaria.

7 Bauer e Peyser, How Music Grew, 71-72.


8 Rogers, Music Through the Ages, 108. O Conselho de Laodicéia (d.C.
367) proibiu que todos cantassem na igreja, com exceção dos cantores
canônicos. Essa decisão visava assegurar que a qualidade do cântico fosse
mais homogênea e controlável pelos dirigentes do culto (Davies, The New
Westminster Dictionary of Liturgy, 131; Arthur Mees, Choirs and Chorai
Music [New York: Greenwood Press, 1969], 25-26).
9Os hinos de Ambrósio eram ortodoxos. Os arianos usavam os hinos para
promover seus ensinos heréticos acerca deJesus. (Os arianos acreditavam
queJesus erauma criatura criada por Deus).
10 Bauer e Peyser, How Music Grew, 71. "O sistema musical grego foi o
precursor da música nas primeiras igrejas cristãs, essa linha permanece in
tacta desde aGrécia, passando por Roma, pela Idade Média, até os tempos
modernos". (Dickinson, The Study of the History ofMusic, 9). Na ver
dade, o texto completo mais antigo que temos de um hino cristão seria,
aproximadamente, do ano 200 d.C. Ambrósio simplesmente escreveu hinos
para uso comum na igreja. A música cristã, naquela época, foi retirada da
linguagem grega popular. Barry Leisch, The New Worship: Straight Talk on
Music and the Church (Grand Rapids: Baker Book House, 1996), 35.
11 Rogers, Music Through the Ages, 106.
12 Bauer ePeyser, How Music Grew, 70; Rogers, Music Through the Ages,
61. "Das palavras que sobreviveram, sabemos que cada templo [sumariano]
Ministros do Louvor 245

Os coros papais surgiram no século 5.^^ Quando Gregó-


rio, o Grande, tornou-se Papa, quase no final do século 6, re
organizou aSchola QantoruYn (escola de cantores) em Roma.
(Essa escola foi fundada pelo Papa Sylvester que morreu em
335 d-C.).^-*
Com essa escola, Gregório formou cantores profissionais
que treinariam corais cristãos ao longo do Império Romano.
Esses cantores eram treinados durante nove anos. Tinham que
memorizar cada cântico — inclusive os famosos cânticos gre-
gorianos". Gregório eliminou os últimos vestígios da música
congregacional, acreditando que cantar era direito exclusivo dos
cantores treinados.
Corais e cantores treinados, e o fim da música congrega
cional refletiram na postura cultural dos gregos. Similar ao
oratório (diálogo profissional), acultura grega era baseada na
dinâmica artista/auditório. De maneira terrível, essa caracte
rística foi retirada dos templos de Diana e dos dramas gregos,
transportada diretamente para as igrejas! Acongregação do
povo de Deus passou aser uma mera espectadora, não apenas
no ministério oral, mas também no musical!^^ Lamentavel
mente, oespírito do espectador grego está vivo ainda na igreja
contemporânea.
Os corais de meninos [infantis] remontam aos dias de Cons-
tantino. Alguns ainda existem, e a maioria deles foi criada nos

praticava liturgias bem organizadas, cantadas com as técnicas de solo eres


posta (entre sacerdote ecoro) eantifonia (coro para coro) .Veja também
The Study of the History of Music, de Dickinson, 25.
13 Dickinson, Study of the History of Music, 18.
14 Rogers, Music Through the Ages, 109; Andrew Wilson-Dickson, The
Story of Christian Music (Oxford: Lion Publishing, 1992), 43; Appleby,
History of Church Music (Chicago: Moody Press, 1965), 28.
15 Bauer ePeyser, How Music Grew, 73-75; Rogers, Music Through the Ages,
109. Na época, todos os cânticos eram entoados sem instrumentos musicais.
16 Dickinson, Study of the History of Music, 14.
246 Cristianismo Pagão?

orfanatos.^^ Ocoral Meninos Cantores de Viena, por exemplo, foi


fundado em Viena, Áustria, em 1498. Oscorais cantavam exclusi
vamente paraa corte,naMissa, em concertos particulares e even
tos do Estado.Os primeiros corais de meninos eram de origem
paga, que adoravam deuses greco-romanos.^' Os pagãos acredita
vam que as vozes dos meninos possuíam poderes especiais.^®

CORTEJOS EPROCISSÕES FÚNEBRES

Outro tipo de música com raízes pagãs é o cortejo fúnebre,


que foi trazido para a igreja cristã no início do século 3. Assim
como afirmou um pesquisador, "o culto pagão para os mortos
fazia parte da vida de muitos cristãos do passado, ex-pagãos,
porque eram simplesmente capazes de substituir cortejos fúne
bres e músicas de funerais porSalmos.
Durante os dias de Constantino, as práticas romanas de noi
vado ecasamento eos cortejos fúnebres foram adaptados etrans
formados em "bodas" e "funerais".^^ Ambos foram adotados da

17 The Catholic Encyclopedia, s.v. "Choir", http://www.newadvent.org/


cathen/ 03693b.htni; Shaulk, Key Words in Church Music, 64-65. íris V.
Cully e Kendig Brubaker Cully, eds., Harper's Encyclopedia of Religious
Education, s.v. "Choir" (San Francisco: Harper &Row Publishers, 1971).
18 http://www.bach-cantatas.com/Bio/Wener-Sangerknaben.htm Para mais
detalhes sobre aorigem pagã dos corais de mulheres, veja Music and Worship
in Pagan andChristian Antiquity, de Quasten.
19 Parkle, Oracle of Apollo in Asia Minor, 102-103; Quasten, Music and
Worship, 87ff. "Os pagãos usavam, freqüentemente, os corais de meninos
em seus cultos, especialmente em ocasiões festivas".
20 Quasten, Music and Worship, 87.
21 Ibid., 86,160 ff.
22 Senn, Christian Worship and Its Cultural Setting, 41. Senn também ex
plica que os costumes romanos relacionados a bodas foram incorporados
aos casamentos cristãos.
Ministros do Louvor 247

prática pagã." O chamado "canto fúnebre" aceito pelos cristãos


também possuía origem pagã efoi adotado na igreja cristã du
rante aprimeira metade doséculo 3. Tertuliano se opôs aos corte
jos fúnebres cristãos simplesmente por terem origens pagãs.^^
Não apenas aprocissão funeral emergiu do paganismo, mas
também a prédica funeral. Contratar alguns professores elo
qüentes epopulares para falar durante ofuneral de um ente que
rido era uma prática comum dos pagãos do Império Romano.
O orador usava um pequeno livreto nessas ocasiões, e se emo
cionava muito, até dizer, se referindo ao morto: e/e vive agoru
entre os deuses, atravessou os céus e observa a vida lá de cima^.^^
Finalmente passava aconsolar afamília do morto. Hoje opastor
cumpre essa função eainda usa as mesmas palavras da reza!

ACONTRIBUIÇÃO DA REFORMA
Aprincipal contribuição da música dos reformadores foi a
restauração da música na congregação e o uso de instrumen
tos. John Huss (1372-1415 d.C.) de Boêmia e seus seguidores
(chamados husitas), estiveram entre os primeiros a restaurar a
música na congregação e na igreja.^^
Lutero também encorajou o cântico congregacional em de
terminadas partes do culto.^^ Mas a música da congregação não

23 Veja o capítulo 3.
24 Quasten, Music and Worship, 163.
25 Ibid., 164-165.
26 MacMullen, Christianizing the Roman Empire, 11-13.
27 Jones, Historical Approach to Evangelical Worship, 257. Os Hussites
criaram o primeiro hinário protestante em 1505 em Praga. Veja também
Evangelism: A Concise History, deTerry, 68.
28 Jones, HistoricalApproach to Evangelical Worship, 257. Nos dias de Lute
ro, cerca de sessenta hinários foram publicados. Mais especificamente, Lutero
argumentou que as músicas congregacionais faziam parte da liturgia. Ele dei-
248 Cristianismo Pagão?

alcançou seuauge até o século 18 duranteo avivamento deWes-


ley na Inglaterra.^'
Nas igrejas da reforma, o coral permaneceu apoiando e di
rigindo o louvor congregacional.^° Cerca de 150 anos depois da
Reforma, o louvor congregacional tornou-se uma prática, em
geral, aceita.^' No século 18, o órgão tomou o lugar do coro na
direção do louvor no cultos cristãos.^^
E interessante, mas não há nenhuma evidência de instru
mentos musicais na igreja cristã até a Idade Média." Antes des
se período todas músicas eram realizadas sem instrumentos

xou uma missa latina que era cantada pelo coro em cidades e universidades, e
uma missa alemã que era cantada pela congregação em aldeias e nazona rural.
Esses dois modelos foram estabelecidos como prática luterana dos séculos 16
atéo século 18. Os reformadores seopunham às músicas decoral e aos hinos
congregacionais eaprovavam apenas o cântico métrico (versificado), Salmos
e outros cânticos bíblicos. Da perspectiva deles, os coros e os hinos eram
romanos. Então, esse uso luterano revelou uma reforma imatura (Frank Senn
em e-mail particular para Frank Viola, 18/11/2000).
29 Jones, HistoricalApproach to Evangelical Worship, 157. Os hinos de Isaac
Watts, John Wesley, eCharles Wesley foram amplamente usados. Acompo
sição eocântico de hinos se espalharam por todas as Igrejas Livres dos dois
continentes nessa época.
30 Liemohn, Organ and Choir in Protestam Worship, 15. James F. White
destaca que "desde aquela época até hoje permanece uma considerável con
fusão sobre qual é exatamente a função do coral na adoração protestante.
Não há umaúnica boa razão paraa existência do coral no Protestantismo".
{Protestam Worship and Church Architecture, 186).
31 Liemohn, Organ andChoir in Protestam Worship, 15-16.
32 Ibid., 19. No século 17, oórgão tocava algumas partes, opondo-se ao unís
sono cantado pela congregação, abafando as pessoas. As igrejas de Genebra
arrancaram os órgãos dos edifícios das igrejas porque não queriam que o lou
vor fosse roubado das pessoas (Wilson-Dickson, Story ofChristian Music, 62,
76-77). Juntamente com opúlpito eoutros ornamentos, as igrejas evangélicas
importaram órgãos dos anglicanos durante a primeira década do século 17
para semanterem competitivas. Bushman, Refinement ofAmérica, 336-337.
33 Ferguson, Early Christians Speak, 157.
Ministros do Louvor 249

durante o culto.^'' Os pais da igreja tinham uma visão negati


va dos instrumentos musicais, associando-os a imoralidade e
idolatria.^^ Calvino concordava, vendo os instrumentos como
pagãos eassim continuou. Consequentemente, por dois sécu
los, as igrejas reformadas cantaram salmos sem o uso de ins
trumentos.^^
O órgão foi o primeiro instrumento usado pelos cristãos
"pós-constantinos".^^ No século 6, oórgão surgiu pela primeira
vez nas igrejas cristãs, mas não foi utilizado durante aMissa até
o século 12. No século 13, o órgão foi incorporado como uma
parteintegral naMissa.^®
O órgão era usado para dar o tom aos sacerdotes e ao co
ral.^' Durante a Reforma, passou a ser o instrumento padrão
no culto protestante —exceto os seguidores de Calvino (e os
puritanos) —que retiravam ou destruíam os órgãos das igrejas.^®

34 Pais da igreja como Clemente de Alexandria (do século 3), Ambrosio,


Agostinho eJerônimo (dos séculos 4e 5) se opuseram ao uso de instru
mentos musicais noculto. Como mais tarde fez Calvino, eles associavam os
instrumentos musicais comcerimônias pagãs e produções teatrais romanas.
Liemohn, Organ and Choir in Protestant Worship, 64.
35 Ferguson, Early Christians Speak, 157.
36 Jones, Historical Approach to Evangelical Worship, 255-256. O Psalter,
publicado em 1522 em Genebra, foi ohinário padrão das igrejas reformadas
na Europa e nos Estados Unidos por mais de 200 anos.
37 Ibid., 256.
38 Liemohn, Organ andChoir in Protestant Worship, 4.
39 Ibid., 3.
40 Ibid., 3, 32-33. Os wesleyanos proibiram órgãos em 1796, legalizando
aviola da gamba como o único instrumento para cultos. Mas 12 anos de
pois, órgãos foram instalados nas igrejas wesleyanas (pp. 91-92). O órgão
luterano tornou-se característica indispensável da adoração luterana. Ironi
camente, a tradição musical luterana do órgão foi fundada por um calvinis-
ta holandês chamado Jan Pieterszoon Sweelinck no começo do século 17
(Senn, Christian Liturgy, 534).
250 Cristianismo Pagão?

Em 1704, o primeiro órgão foi comprado pela igreja norte-


americana.''^
Os primeiros corais protestantes começaram aprosperar em
meados do século 18.''^ Instituíram assentos especiais aos mem
bros docoro para mostrar seu status especial.
No início, a função do coro era dar o tom correto para o
louvor da congregação. Mas, bem antes disso, o coro começou
a contribuircom seleções especiais.''^ Assim, nasceu a "música
especial" do coral, a qual a congregação assistia.
Ao final do século 19, os corais de crianças surgiram nas igre
jas americanas.'*'' Então, a"música especial" do coral passou aser
um costume nas igrejas não litúrgicas. (Por fim, essa prática foi
levada também às igrejas litúrgicas).''^
O local do coral é notável. No final do século 16, o coral
saiu do santuário (plataforma do clero) efoi para a galeria de
trás, onde o órgão de tubo fora instalado.''^ Porém, durante o
Movimento Oxford no final do século 19 e início do século
20, o coral retornou ao santuário. Nesse momento, os mem
bros do coro começaram a usar "becas eclesiásticas".''^ No
período entre 1920 e 1930, era comum aos coros americanos
usar vestes especiais para combinar com as igrejas "neogó-
ticas" recém-adquiridas.''® O coral agora ficava de pé, junta-

41 A igreja foi a Trinity Church em New York. Para uma discussão sobre
os primeiros órgãos usados nos Estados Unidos, veja Liemohn, Organ and
Choir in Protestant Worship, 110-111.
42 Ibid,. 113; White, Protestan Worship and Church Architeture, 110.
43 Liemohn, Organ andChoir in Protestant Worship, 115.
44 Ibid., 125. APrimeira Igreja Presbiteriana em Flemington, NewJersey é
considerada a primeira a organizar um coral infantil.
45 Ibid.

46 Senn, Christian Liturgy, 490.


47 Liemohn, Organ and Choir inProtestant Worship, 127; Wilson-Dickson,
Story ofChristian Music, 137.
48 Senn, Christian Worship inItsCultural Setting, 49.
Ministros do Louvor 251

mente com o clero defrente para a congregação, vestido com


roupa clerical arcaica

A ORIGEM DO GRUPO DE LOUVOR

Em muitas igrejas contemporâneas, sejam carismáticas ou


não, ocoral foi substituído pelo fenômeno recente do grupo de
louvor.^° Nesse tipo de igreja existem poucos símbolos religio
sos (exceto algumas bandeiras, talvez).
Em frente à plataforma há um púlpito simples, algumas
plantas, amplificadores, microfones emuitos fios. Geralmen
te, a roupa é normal. Há cadeiras fixas ou cadeiras de teatro
substituindo os bancos. Aequipe de adoração padrão incluirá
guitarra elétrica, bateria, teclado, talvez um baixo ealguns vo
calistas especiais. As letras dos cânticos são geralmente pro
jetadas na parede ou na tela por um retro projetor ou projetor
de vídeo. Alguém, "chamado por Deus" tem a tarefa de pas
sar as transparências ou os slides do Power Point que foram
selecionados antes do culto. Raramente existem hinários ou
livretos de músicas.
Nessas igrejas, Iouvot significa"seguir as canções selecionadas
e ministradas pela banda". "O tempo de louvor e de adoração
normalmente dura de 30 até 40 minutos. As primeiras canções
usualmente são refrões de louvor otimistas.^^ Depois, a equipe
dirige acongregação auma música animada, que bate palmas, ba
lança ocorpo com as mãos levantadas (às vezes dançando), em um
poupourri [coletânea de músicas] de suaves músicas de adoração

49 A. Madeley Richardson, Church Music (London: Longmans, Green, &


Co., 1910), 57.
50 Denominações como Vineyard, Calvary Chapei, e Hope Chapei domi
nam boa parte do mercado nesse tipo de igrejas. Porém, muitas igrejas de-
nominacionais e não-denominacionais adotaram o mesmo estilo de culto.
51 Arecuperação do hábito de cantar coros bíblicos foi trazida pelo Mo
vimento de Jesus" nos anos 70. David Kopp, Praying the Bihlefor Your Life
(Colorado: Waterbrook Press, 1999), 6-7.
252 Cristianismo Pagão?

individualistas (O enfoque de todos os cânticos éuma experiência


individual). Os pronomes na primeira pessoa — mim, meu
— (praticamente dominam os cânticos)." Em algumas igrejas
contemporâneas, a tendência é transformar isso num sentido mais
corporativo—nós, nosso —o que éuma mudança excelente.
Enquanto os músicos descem da plataforma, diáconos passam
abandeja das ofertas. Isso, geralmente, será seguido pelo sermão
onde opastor dominará orestante do culto. Em muitas igrejas, o
pastor chamará aequipe de louvor de volta àplataforma para can
taralguns cânticos de adoração enquanto conclui seu sermão. Um
período de "apelo" pode seguir-se enquanto abanda toca.
A liturgia musical queacabo dedescrever funciona comoum
relógio na maioria das igrejas carismáticas eindependentes. Mas
de onde surgiutudo isso?
Em 1962, um grupo de músicos ingleses descontentes de
Dublin, Escócia, tentou revitalizar as músicas cristãs tradicio
nais. Lideradas pelo ministro congregacional Erik Routley, esses
artistas foram influenciados por Bob Dylan e Sydney Carter.
George ShorneyJr. da Hope Publishing House Company (Casa
Publicadora Esperança) trouxe seu novo estilo aos Estados Uni
dos. Esses novos hinos cristãos fizeram "uma reforma", mas não
"uma revolução". A revolução veio quando o "rockandroll" foi
adaptado à música cristã com a chegada do movimento Jesus.
Essa reforma preparou opalco para as mudanças musicais revo
lucionárias que criaram raízes na igreja cristã através da Calvary
Chapei ("Capela do Calvário") eVineyard ("Videira")

52 Isso combina perfeitamente com o perfil egocêntrico focado em bebês.


53 Desde o advento da música cristã contemporânea, as "guerras de adora
ção" começaram constituindo uma força divisória que dividiu, com hostili
dade, asigrejas em "amantes da música do estilo tradicional" versus "aman
tes da música do estilo contemporâneo". Não foram poucas as igrejas que
se ramificaram por causa do estilo de música utilizado no louvor durante
os cultos. As músicas contemporâneas versus as tradicionais tornaram-se
as raízes, os galhos e os ramos do novo tribalismo, ou "guerra das tribos"
denominacional que infestou a igreja moderna.
Ministros do Louvor 253

Aorigem da "equipe de adoração" ocorreu na fundação da


Capela do Calvário em 1965. Chuck Smith, ofundador da deno
minação, iniciou um ministério para "hippies esurfistas". Smith
convidou hippies convertidos atomar suas guitarras e tocar sua
música —agora redimida —naigreja.
Ele deu à contracultura uma base para sua música —permi
tindo que tocassem efizessem shows nos domingos ànoite. Os
novos moldes musicais passaram aser chamados louvor eado-
ração".^^ Enquanto oMovimento de Jesus crescia, Smith fundou
a Maranatha Music nos anos 70. A meta era divulgar a música
desses jovens artistas.^^
AVineyard, sob ainfluência do gênio musicalJohn Wimber,
seguiu com o conceito de equipe de louvor. Wimber, um ex-
pastor da Igreja Calvary Chapei, tornou-se olíder principal do
movimento Vineyard em 1982. Desde então, a\^neyard prova
velmente tem tido mais influência em fundar grupos de louvor
e criar músicas de adoração do que a Calvary Chapei. A música
da \^neyard era considerada íntima eadoradora, enquanto ada
Calvary Chapei era mais conhecida por suas canções agitadas e
dançantes.^^
Em seu devido tempo, a guitarra tomou o lugar do órgão
como o instrumento central liderando o louvor na igreja pro
testante. Embora padronizado conforme os shows de rock da
cultura secular, a equipe de louvor se tornou muito comum no
púlpito.

54Michael S.Hamilton, "TheTriumph of Praise Songs: How Guitars Beat


Outthe Organ in the Worship Wars," Christianity Today, MP199.
55 Donald E. Milier, Reinventing American Protestantism (Berkeley: Uni-
versityof Berkeley Press, 1997), 65, 83.
56 Ibid., 16, 46-52, 84.
254 Cristianismo Pagão?

ENTÃO, QUAL ÉO LANCE?


Talvez você agora esteja pensando: "O que há de errado
com um líder de coro, um líder de adoração, ou uma equipe de
louvor, dirigindo a música na igreja^'' Nada... se os membros
daigreja estiverem contentes comisso. Todavia, muitos cris
tãos sentem que isso rouba uma função vital dopovo de Deus:
selecionar e dirigir sua própria música nas reuniões —para
ter o louvor divino em suas próprias mãos —e permitir que
Jesus Cristo dirija a música de Sua Igreja aoinvés de um líder
humano. O louvor da igreja primitiva era marcado por essas
características.
Atente para a descrição de Paulo sobre uma reunião da con
gregação: ""Cada um de vós tem um salmo'' (ICoríntios 14.26).
''Falando entre vós com salmos, hinos e cânticos espirituais"
(Efésios 5.19). Considere as palavras "cada um devocês". Di
rigentes de música, corais e equipes de louvor dificultam isso,
limitando a direção de Cristo —especialmente em Seu minis
tério de dirigir os irmãos em cânticos ao Seu Pai. Sobre esse
ministério (do qual bem pouco se conhece hoje), o escritor
de Hebreus diz: "Assim, tanto o que santifica quanto os que
são santificados advêm de um só. E por essa razão, Jesus não
se envergonha de chamá-los irmãos. Ele declara: 'vou anunciar
Teu nome aos meus irmãos; cantar-te-ei louvores no meio da
congregação [ekklesia](Hebreus 2.11-12).
Quando apenas os talentosos podem entoar cânticos de
louvor, somente eles seaproximam do momento enãoaadora
ção coletiva^^ onde apenas aos "qualificados" épermitido parti
cipar do ministério de dirigir amúsica. Poderíamos argumentar
que, deacordo com os princípios do Novo Testamento, o lou
vor é o ministério que está ao alcance de todo povo de Deus.
Deviaexistir uma saídapara que elefosse realizado.
Eu (Frank) não sou um teólogo, mas tenho participado
de igrejas onde cada membro é livre para iniciar uma música

57Ibid., 16, 46-52, 84.


Ministros do Louvor 255

espontaneamente.^® Imagine se os irmãos e irmãs pudessem


dirigir o louvor sob a direção de Cristo! E também escrever
suas próprias músicas, e depois traze-las à reunião para que
todos pudessem aprendê-las. Tenho visto inúmeras igrejas ex
perimentarem essa dinâmica magnífica. Alguém começa uma
canção, e todos sejuntamaele (a).Então, outra pessoacomeça
uma canção, eassim o louvor continua sem longas pausas esem
nenhum líder visivelmente presente.
Eraexatamente assim comoos cristãos primitivos adoravam,
apropósito, embora seja uma experiência rara na igreja institu
cional moderna. As boas notícias são que épossível todos expe
rimentarem aliderança de Cristo através das músicas na reunião
da igreja. Nessas igrejas, olouvor era intensamente corporativo,
mais do que individualista ousubjetivo.''
"Junto dos rios da Babilônia, ali nos assentamos e chora
mos, quando nos lembramos de Sião. Sobre os salgueiros que
há no meio dela, penduramos as nossas harpas. Pois Ia aqueles
que nos levaram cativos nos pediam uma canção; e os que nos
destruíram, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos uma das
canções de Sião. Como cantaremos acanção do SENHOR em
terra estranha?"... "Quando oSENHOR trouxe do cativeiro os
que voltaram aSião, estávamos como os que sonham. Então a
nossaboca seencheu de riso e a nossa línguade cântico;então se
dizia entre os gentios: Grandes coisas fez o SENHOR aestes.
(Salmos 137.1-4; 126.1-2).

58 Eu (Frank) explico, com direções práticas, como um grupo de cristãos


pode dirigir seu próprio momento de louvor eescrever suas próprias músi
cas no meu livro Gathering em Homes (Gainesville, FL: Present Testimony
Ministry, 2006).
59 Efésios 5.19 e Colossenses 3.16 "captam" o sabor danatureza corporati
vados momentos de louvor dos cristãos do primeiro século.
256 Cristianismo Pagão?

UM MERGULHO PROFUNDO - CAP. 7

1. Vocês expuseram as ''raízes pagãs*' do coral da igreja, ainda


assim, não vejoporque isso ofaz menos valioso. Não tenho o
dom de cantar, massougrataporaqueles que amam a música,
que receberam dons nessa área, estão gastando seu tempo e
esforço para se prepararem, e depois me lideram no louvor
atravésdasmúsicas. O queacha dissof
Também somos gratos por aqueles que são talentosos para
a música e que usam seus dons para abençoar os outros. No
entanto, delegar a seleção das músicas em todas as reuniões da
igreja eescolher algumas (i.e., o coral ou grupo de louvor) não
permite que os outros do corpo participem da ministração. Isso
contradiz as Escrituras.Como dissePaulo: "cadaum devós tem
um salmo" na reunião (iCoríntios 14.26).
2. Ultimamente, meu pastor e o líder de louvor escolhem as
músicas que estão relacionadas com a mensagem dominical.
Elas podem não estar "conectadas" com cada canção esco
lhida, mas não vejo como isso poderia ser diferente se todos
os presentes fossem convidados para escolher ou liderar o
louvor.
Se alguém nunca viu umgrupo de cristãos escolhendo elide
rando suas próprias canções espontaneamente sob adireção de
Cristo, é difícil imaginar como seria. Basta dizer que existe um
mundo de diferenças entre aescolha das músicas de um grupo
selecionado eaparticipação de todos os membros desde apri
meira canção. Essa é a diferença entre seguir passivamente uma
pessoa (ou grupo) e todos juntos participarem ativa e esponta
neamente.

3. Na época do Antigo Testamento (veja ICrônicas 23.5, 30;


25.1-13; 2Crônicas 7.6), Deus instituiu líderes de louvor
"profissionais"no meio dasfamílias levíticas que lideraram
aadoração dopovo eescreveram muitos Salmos (ex.: aqueles
escritos por Asafe epelos descendentes de Corâ). Vocês não
acham que issofornece uma hase bíblicapara que oministé
rio demúsica seja válidofPorque ouporque nãof
Ministros do Louvor 257

Acreditamos que essas passagens realmente apoiam nossa


questão. O sacerdócio do Antigo Testamento estava restrito a
um grupo seleto de pessoas —os Levitas. Na Nova Aliança,
aquele sacerdócio seleto acabou, etodos os cristãos foram fei
tos sacerdotes junto a Deus. Não fazemos parte do sacerdócio
levítico, somos sacerdotes de acordo com aordem de Melquise-
deque (Hebreus 5-7). Cristo énosso Sumo Sacerdote etodos os
crentes são ministros [sacerdotes] através dEle (IPedro 2.5-9;
Apocalipse 1.6). Então, para nós, essas passagens mostram que
todo cristão tem o direito de participar da "liderança dolouvor"
debaixo da liderança de Cristo.
Capítulo 8
Díziino e Salário do Clero:
U m Peso na Carteira

"Ao contrário de muitas pessoas,


não somos mercenáriosda Palavra de Deus."
—PA ULO DE TARSO, EM 2CORÍNTIOS 2.17

igreja, abraçando amassa dapopulação do Impéno, de César


até oescravo mais miserável evivendo emmeio assuas instituições,
recebeu em seu seio vastos depósitos demateriais estrangeiros
pagãos de todo omundo... Pormais quea Grécia eaRoma antiga
tenham caídopara sempre, oespírito do paganismogreco-romano
não se extinguiu. Ainda vive no coração natural do homem, oqual
necessita como sempre, da regeneraçãopelo Espirito de Deus. Vive
também em muitos hábitos idólatras esupersticiosos das igrejas
gregas eromanas, contra os quais opuro espirito do Cristianismo
temprotestado desde oinício eassim continuará, atéque todos
os vestígios de idolatria ofensiva erefinada sejam vencidos tanto
interna quando externamente, ebatizados esantificados não somente
com água, mas também com oespírito efogo do evangelho."
— PHILIP SCHAFF, Historiador da Igreja doSéculo 19

íí OUBARIA OHOMEM ADEUS? Contudo vocês roubam


a mim. Mas vocêsperguntam: 'Como te roubamos a
tif Em dízimos e ofertas. Vocês estão debaixo de uma maldição,
toda anação, porque estão me roubando. Tragam todo odízimo ao
alforge,para que haja comida em minha casa. Prove-me nisto, disse
oSenhor Todo Poderoso, evejam se eu não abrireias comportas do
260 Cristianismo Pagão?

céu ederramarei tanta bênção que vocês não terão suficiente espaço
paraguardá-la.'* (Malaquias 3.8-10)
Essa passagem parece ser o versículo preferido de muitos
pastores, especialmente quando a maré está baixa. Se você
freqüentou a igreja contemporânea por algum tempo, deve
ter escutado essa passagem sendo lida do púlpito em muitas
ocasiões. Considere um pouco da retórica que acompanha
esse tema:

''Deus ordena que vocês dêem seus dízimosfielmente. Se vocês


não dizimam^ estão roubando aoDeus Todo-Poderoso, eestão co
locando-se debaixo deuma maldição".
"Seus dízimos eofertas são necessáriospara que a obra de Deus
continue!" (A "obra de Deus", naturalmente, significa assalariar
o cargo de pastor epagar as contas mensais para manter o edifí
cio sem dívidas).
Qual éo resultado desse tipo de pressão? O povo de Deus é
obrigado adar odízimo de seus salários mensalmente. Quando
ofaz, sente que Deus fica feliz eespera que Ele os abençoe finan
ceiramente. Quando falha, sente que foi desobediente eespera
por uma maldição financeira.
Mas voltemos alguns passos e formulemos duas perguntas
penetrantes: "A Bíblia nos ensina a dizimar? Somos espiritual
mente obrigados apatrocinar opastor esua equipe?"
A resposta a essas duas perguntas pode chocar você.

O DIZIMO ÉBÍBLICO?

O dízimo aparece na Bíblia? Sim, pois é bíblico, mas não é


cristão. O dízimo pertence ao Israel antigo. Era, naessência, o
imposto de renda. No primeiro século, não há registros de cris
tãos dizimando no Novo Testamento.
A maioria dos cristãos não tem a menor sombra de dúvida
sobre o que a Bíblia ensina no que se refere ao dízimo. Então,
vejamos. A palavra dízimo simplesmente quer dizer a décima
Dízimo e Salário do Clero 261

parte.' OSenhor instituiu três classes de dízimos para os israeli


tas como parte de seu sistema de impostos, asaber:
• Um dízimo do produto da terra para sustentar os levitas, que
não tinham herança em Canaã;^
• Um dízimo do produto da terra para patrocinar festas re
ligiosas em Jerusalém. Se o produto pesasse muito para ser
levado aJerusalém, poderia ser convertido em dinheiro;^
• Um dízimo do produto da terra arrecadado acada três anos
para os levitas locais, órfãos, estrangeiros eviúvas."*
Esse era o dízimo bíblico. Note que Deus ordenou a Israel
que desse 23,3% de suas rendas acada ano, enão os 10%.^ Esses
dízimos consistiam do produto da terra — que incluíam a se
mente do fruto da terra e o rebanho,ou a manada. Era o produto
da terra, não dinheiro.
Tracemos um paralelo claro entre o sistema do dízimo de
Israele o sistemamoderno de tributação no Brasil:
Israel era obrigado a sustentar seus funcionários públicos
(sacerdotes), feriados (festivais) epobres (estrangeiros, viúvas
e órfãos) com seus dízimos anuais. A maioria dos modernos
sistemas de tributação serve ao mesmo propósito.
Comamorte de Jesus, todos oscódigos cerimoniais, gover
namentais ereligiosos que pertenciam aos judeus foram cravados

1 No Antigo Testamento, a palavra hebraica para dizimo e tnaaser, que


significa uma décima parte. No Novo Testamento, apalavra grega édekate,
que outra vez significa um décimo. Apalavra não foi extraída do mundo
religioso, mas do mundo da matemática e das finanças.
2 Levítico 27.30-33; Números 8.21-31.
3 Deuteronômio 14.22-27. Às vezes, chamado de dizimo festivo .
4 Deuteronômio 14.28-29; 26.12-13. O historiador judeuJosephus e outros
pesquisadores acreditam que esse éum terceiro dizimo, usado de uma manei
ra diferente do segundo. Stuart Murray, Beyond Hthing (Carlisle, UK: Pater-
noster Press, 2000), 76, 90; "O que éum dízimo?" Questões sobre dízimos
e ofertas, http://www.generousgiving.org/page.asp?sec=43&page=589.
520% anualmente e 10% acada três anos igualam 23.3% porano. Deus orde
nou todos os três dízimos (Neemias 12.44; Malaquias 3.8-12; Hebreus 7.5).
262 Cristianismo Pagão?

em Sua cruz eenterrados para sempre... nunca mais usados para


nos condenar. Por essa razão, nunca vemos nenhum cristão no
Novo Testamento dando odízimo. Damesma forma que não os
vemos sacrificando cabritos etouros para cobrir seus pecados!
Paulo escreveu: "£avós outroSy que estáveis mortospelas vos
sas transgressões pela incircucisão da vossa carne; vos deu vida
juntamente com Ele, perdoando todos os nossos pecados; e can
celou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, eque nos
era contrária. Ele a removeu completamente, pregando-a na cruz.
Portanto, ninguém tem o direito de vos julgar pelo que comeis,
ou pelo que hebeis, ou ainda com relação aalgumafesta religiosa,
celebração das luas novas ou dos dias desábado. Esses rituais são
apenas sombra do que haveria de vir; a realidade, todavia, se en
contra em Cristo'*.^
Dizimarpertence exclusivamente a Israel, sob a Lei. No as
pecto financeiro, vemos os santos do primeiro século dando ale
gremente de acordo com sua capacidade—não para obedecerem
aum mandamento.^ Naigreja primitiva, aoferta era voluntária.®
E os que se beneficiavam disso eram os pobres, órfãos, viúvas,
doentes, prisioneiros e estrangeiros.'
Agora mesmo, posso ouvir alguém fazer aseguinte objeção:
"£ quanto a Abraão? Eleviveu antes da Lei. Nós o vemos dizimar
aosumosacerdoteMelquisedeque (Gênesis 14.17-20).Isso não con
traria seu argumento deque odízimo éparte daLei deMoisés?'*
Não, não contraria. Primeiramente, o dízimo de Abraão era
completamente voluntário, enão obrigatório. Deus não oorde
nou como havia feito com o dízimo de Israel.
Em segundo lugar, Abraão dizimou os bens que adquiriu de
pois de alguma batalha enão suas rendas ou sua propriedade. A

6 Colossenses 2.13-17. Veja também Hebreus 6-10.


7 Isso está bem claro em 2Coríntios 8.3-12; 9.5-13. A palavra de Paulo
sobre a oferta é: Dê de acordo com a prosperidade que recebeu de Deus
— de acordo com suacapacidade e meios.
8 Gough, EarlyChristians, 86.
9"How We Christians Worship", Christian History, 12, no. 1(1993), 15.
Dízimo e Salário do Clero 263

atitude de dizimar de Abraão seria algo como ganhar na loteria


ou na mega sena ou receber uma bonificação no trabalho e de
pois dizimá-los.
Terceiro emais importante, Abraão dizimou nessa única vez
em todos os seus 175 anos aqui na terra. Não há evidência de que
voltou a repetir essa atitude. Se você deseja usar Abraão como
"texto de prova" para dizer que os cristãos precisam dizimar,
então você só pode ser obrigado a dizimar apenas uma vez!'°
Issonosremete aotextotãorepetido citado anteriormente em
Malaquias 3.0 que Deus disse ali? Primeiramente, essa passagem
foi dirigida ao antigo Israel quando este estava sob aLei Mosaica.
Opovo de Deus estava retendo seus dízimos eofertas. Conside
re o que aconteceria se os americanos serecusassein a pagar seus
impostos sobre suas rendas. Alei americana qualifica isso como
roubo.^^ Osculpados seriam castigados por roubar ao governo.
Da mesma forma, quando Israel reteve seus dízimos (impos
tos) roubando aDeus —Ele instituiu osistema do dízimo. Então
oSenhor mandou que seu povo trouxesse seus dízimos ao celeiro
[alforge], que ficava situado nas câmaras do Templo. Essa câmara
era separada para receber os dízimos em espécie, não em dinheiro,
para osustento dos levitas, pobres, estrangeiros eviúvas.'^
Note o contexto de Malaquias 3.8-10. No versículo 5,o Se
nhor diz que julgará os que oprimem as viúvas, os desamparados
eos estrangeiros. Ediz: ''Eu Me movimentarei com rapidezpara
castigar os que praticam bruxaria, os adúlteros, os mentirosos, os

10 O mesmo se aplica com relação aJacó. De acordo com Gênesis 28.20-22,


Jacó se dispôs adizimar ao Senhor. Mas, como no caso de Abraão, o dízimo
de Jacó foi completamente voluntário. Até onde sabemos não se tratava de
uma prática regular (e isso não pode ser provado). Jaco esperou vinte anos
se passarem antes de começar adizimar! Citando Stuart Murria: odízimo
parece ser algo quase incidental nesses relatos (de Abraão ejacó). Oautor não
atribuiumsignificado teológico a essa prática".
11 Percebi que alguns cristãos, contudo, acreditam que recusar a pagar o
imposto de renda é perfeitamente legal. Hoje, não são poucos aqueles que
estão presos por ter agido de acordo com essa crença!
12 Neemias 12.44; 13.12-13; Deuteronômio 14.28-29; 26.12.
264 Cristianismo Pagão?

que roubam osalário de seus empregados, os que exploram as viú


vas eos órfãos, queprivam os estrangeiros dajustiça, eenfim, todos
osque não Me respeitam".
As viúvas, os órfãos eos estrangeiros eram osdignos recebe-
dores do dízimo. Por reter os dízimos, Israel oprimiu esses três
grupos. Eaqui que está ocoração de Deus em Malaquias 3.8-10:
Ele se opõe a opressão aos pobres.
Quantas vezes você já ouviu pastores enfatizarem esse ponto
quando pregam sobre Malaquias 3? Das centenas de sermões
que ouvi sobre dízimo, nenhuma vez escutei sobre o que apas
sagem trata. Ou seja, os dízimos eram para sustentar as viúvas,
os órfãos, os estrangeiros, eos levitas (que não tinham qualquer
propriedade).

AORIGEM DO DÍZIMO EDO SALÁRIO CLERÍCAL

O Novo Testamento encoraja os crentes a dar deacordo com


sua possibilidade. Os cristãos da igreja primitiva ofertavam para
ajudar os outros crentes etambém para sustentaros obreiros apos
tólicos, permitindo que viajassem eplantassem igrejas.'^ Um dos
testemunhos mais notáveis da igreja primitiva estão relacionados
em como oscristãos eram generosos aos pobres e necessitados.^"*
Foi isso que atraiu os de fora, incluindo o filósofo Galeno, que

13 Ajudar outros crentes: Atos 6.1-7, 11.27-30, 24.17; Romanos 15.25-28;


ICoríntios 16.1-4; 2Coríntios 8.1-15, 9.1-12; iTimóteo 5.3-16. Sustentar
plantadores de igrejas: Atos 15.3, Romanos 15.23-24; ICoríntios 9.1-14,
16.5-11; 2Coríntios 1.16; Filipenses 4.14-18; Tito 3.13-14; 3João 1.5-8.
Existe uma íntima relação entre a carteira e o coração. Um em cada seis
versículos de Mateus, Marcos e Lucas tem a ver com dinheiro. Das trinta e
oito parábolas no Novo Testamento, doze tem a ver com dinheiro.
14 Adescrição histórica da generosidade dos cristãos dos séculos 3e4pode
serencontrada em Worship andEvangelism, de Kreider, em Pré-Christedom,
20. Veja também o testemunho de Tertuliano sobre a caridade cristã em
History ofChristianity, de Johnson, 75 eLost Heritage, de Tan, 51-56.
Dízimo e Salário do Clero 265

observando ainfluência pura eimpressionante da primeira igreja,


disse: "Continue amando como eles se amam".^^
No século 3, Cipriano foi o primeiro escritor cristão amen
cionar aprática de sustentar financeiramente oclero. Argumen
tava que, da mesma forma como os levitas foram sustentados
pelo dízimo, assim também o clero cristão deveria ser susten
tado^^, o que representa um pensamento equivocado. O siste
ma levítico já foi eliminado. Todos nós somos sacerdotes agora.
Então, se um sacerdote exige odízimo, todos os cristãos devem
"dizimar-se mutuamente"!
Opedido de Cipriano foi bem incomum naquele tempo. Tan
to que não foi apoiado nem divulgado pelo povo cristão naquele
momento, esim muito tempo depois.'''Nenhum escritor cristão
antes de Constantino, além de Cipriano, jamais utilizou referên
cias do Velho Testamento para solicitar o dízimo.'^ Apenas no
século 4,300 anos depois de Cnsx.Oy alguns líderes cristãos come
çaram a defender o dízimo como prática cristã para sustentar o
clero.'' Mas isso não chegou asercomum entre os cristãos até o
século 8!^° Segundo um pesquisador, "nos primeiros setecentos
anos isso quase não foi mencionado [os dízimos] .^'

15 Tertuliano, Apology 39:7; Robert Wilken, The Christians as The Roman


Saw Them (NewHaven: CT: University Press, 1984), 79-82.
16 Cyprian, Epistie 65:1; Murray, Beyond Tithing, 104.
17 Murray, Beyond Tithing, 104-105; Ferguson, Early Christian Speak, 86.
18 Murray, Beyond Tithing, 112. Crisóstomo defendeu odízimo aos pobres
em alguns deseus escritos (pp. 112-117).
19 Ibid., 107. The Apostolic Constitutions (c. 380) defende odízimo como fun
dos para oclero ao citarosistema Levítico do AntigoTestamento (pp. 113-116).
Agostinho defendeu o dízimo, mas não o apresentou como norma. Na ver
dade, Agostinho sabia que seu apoio sobre odízimo não representava aposi
ção histórica da igreja. Odízimo foi praticado por alguns cristãos piedosos no
século 5, mas não foi, de forma alguma, uma prática difundida (pp. 117-121).
20 Hatch, Growth of Church Institutions, 102-112.
21 Ibid., 102.
266 Cristianismo Pagão?

Relatar a história do dízimo cristão é um exercício fasci-


nante.22 O dízimo migrou do Estado para a Igreja. Na Europa
Ocidental, exigir o dízimo da produção de alguém era cobrar o
aluguel da terra arrendada. Acobrança do aluguel de 10% [cal
culada para ser paga aos donos das terras] era entregue àIgreja
—que aumentava sua quantidade de terras ao longo da Europa.
Líderes eclesiásticos se tornaram donos [senhores] das terras,
e odízimo, imposto eclesiástico! Esse valor de 10% de aluguel
tinha agora outro sipificado: era considerada uma lei do Antigo
Testamento e identificadacomo "dízimo levítico"!^^ Por conse
guinte, basearam a instituição "Dízimo Cristão" em uma fusão
da prática do Velho Testamento com a instituição pagã e um
sistema comum de liberação de terras na Europa Medieval^**
No século 18, o dízimo chegou aser um requisito legal em
muitas áreas da Europa Ocidental.^s Pelo fim do século 10, a di
ferença do dízimo sobre oimposto de renda (terra) apoiado no
Antigo Testamento havia desaparecido. O dízimo [do AT] per
maneceu como obrigatório [mandamento moral], eentrou como
uma prática religiosa imperativa por toda aEuropa Cristã.^^

22 Murray investiga ahistória completa em Beyond Tithing, cap. 4-6.


23 líatch, Gvowth ofChuvch Institutions, 103. Os pseudo-decretos de Isi
doro provam que os dízimos vêm dos pagamentos de aluguel para ouso das
terras da igreja.O Concilio de Valência em 855 declara que "este decreto
trata com o pagamento dos dízimo como aluguel, sobre o qual os arrenda
tários das terras das igrejas parecem estar sendo negligentes eentão exige o
pagamento total por todos os cristãos" (pp. 104-105). Veja também Murray,
Beyond Tithing, 138.
24 Beyond Tithing, 137. Murray escreve: "Muitos aspectos da cristandade
emergiram simplesmente de uma fusão de elementos bíblicos e seculares,
idéias principais epráticas do Antigo Testamento com instituições eidéias
romanas e pagãs".
25 Ibid., 134. Carlos Magno instituiu legalmente o dízimo e tornou-o obri
gatório em seu reino de 779 a 794 (p.l39); TheAge ofFaith, 764.
26 Murray,Beyond Tithing, 111, 140.
Dízimo e Salário do Clero 267

Em outras palavras, antes do século 8, o dízimo era um ato


de oferta voluntária.^'' Mas no fim do século 10, passou a ser
uma exigência legal para sustentar aigreja estatal —exigida pelo
clero, e cumprida pelas autoridades seculares!^®
Hoje, aprática do dízimo deixou de ser uma exigência legal
em todos os países. Porém, a prática de dizimar está tão viva
hoje como no tempo em que era um requisito legal.
De fato, você não vai sercastigado fisicamente por não di
zimar, mas se não forum "dizimista" —isso seaplica àmaioria
das igrejas modernas —será excluído das posições importantes
do ministério. E sempre será culpado e agredido de cima do
púlpito! Deram o ministério de ancião a um amigo em uma
igreja conhecida. Por causa de sua preferência por ofertar ano
nimamente (não usava cheques), lhe tiraram o ministério. O
motivo? Disseram-lhe que a igreja tinha que saber quem esta
va obedecendo a Deus e quem não estava. Essa era a política
extensível a todos de uma determinada denominação. Apenas
dizimistas deveriam ser anciãos.
Quanto aos salários do clero, os ministros não receberam sa
lários durante os primeiros três séculos, mas quando Constantino
entrou em cena, instituiu aprática de pagar um salário fixo ao clero
dosfundos eclesiásticos edas tesourarias municipais eimperiais.^°

27 Com exceção dos gauleses durante o século 6. O Sínodo de Tours


em 567 tornou o dízimo obrigatório na região. O Sínodo de Macon em
585 ameaçou com excomunhão aqueles que se recusassem a dizimar.
Para uma breve, mas detalhada discussão sobre a oferta na igreja pa-
trística, veja Worship and Evangelisnt in Pre-Chvistendom, de Kreider,
34-35.

28 Murray, Beyond Tithing, 2, 140. Teólogos e legisladores desenvolveram


os detalhes do sistema de dízimo.
29 Impressionantemente, a igreja da Inglaterra anulou o dízimo como exi
gência legal durante os anos 30 do século 20 (Murray, Beyond Tithing^ 3-6).
30 C.B. Hassell, History ofthe Church ofGod,from Creation to d.C. 188^
(Middletown, NY: Gilbert Beebe's Sons Publishers, 1886), 374-392, 472;
Smith, From Christ to Constantine, 123. Os adeptos do Montanismo do
268 Cristianismo Pagão?

Assim, nasceu o salário do clero, uma prática perniciosa que não


tem precedentes no Novo Testamento.^^
Não há dúvidas de que é obrigatório aos crentes sustentar
a obra do Senhor financeiramente e ajudar os pobres genero
samente: duas atitudes que as Escrituras ordenam e o Reino de
Deus também necessita. A adequabilidade do dízimo como lei
cristã e como é normalmente usada: salários clericais, custos
operacionais e despesas da igreja [prédio] são os assuntos em
análise nesse capítulo.

UM FARDO SOBRE OS POBRES

Se um crente quiser dizimar por decisão ou convicção pes


soal, tudo bem. O dízimo se torna um problema quando é re
presentado como um mandamento de Deus, algo obrigatório a
todos os crentes.
Debaixo do sistema do Antigo Testamento, o dízimo era
considerado "boas novas" aos pobres. Contudo, em nossos dias,
o dízimo obrigatório se iguala àopressão sobre o pobre.^^ Não
são poucos aqueles que são ensinados sobre o dízimo como um
mandamento de Deus eque têm poucos recursos e dificuldades
econômicas para viver que se sentem culpados se não o cum
prem, mergulhando numa pobreza maior ainda, porque alguém

século 2 foram os primeiros a pagar seus líderes, mas essa prática não se
espalhou até Constantino (Smith, From Christto Constantine, 193).
31 Para uma resposta aessas passagens bíblicas que alguns usam para defen
der o salário do clero (pastor) veja, Reimagining Church de Viola.
32 Sem mencionar toda a complexidade do dízimo. Considere o seguin
te: o dízimo deve ser do valor líquido ou do bruto? Como fica a isenção
tributária ou fiscal? Murray detalha a complexidade de tentar importar o
sistema bíblico do dízimo praticado pela antiga nação de Israel para nossa
cultura hoje. Em seu sistema de anos, jubileus, sábados sagrados, colheita,
e primícias, o dízimo fazia sentido eajudava adistribuir ariqueza da nação.
Hoje, freqüentemente contribui para aumentar as injustiças (veja Beyond
Tithing, cap. 2).
Dízimo e Salário do Clero 269

lhes disse que se não dizimarem estarão roubando aDeus.^^ Des


ta maneira, o dízimo esvazia o evangelho enquanto boas novas
aos pobres".^^ Ao invés de boas notícias, o dízimo chega como
umfardo. No lugar daliberdade, a opressão. Esquecemos que o
dízimo original que Deus estabeleceu para Israel era para bene
ficiar aos pobres, não para prejudicá-los!
Por outro lado, o dízimo contemporâneo são boas novas para
os ricos. Para uma pessoa com rendimentos altos, 10% éuma soma
ínfima. Dizimar, portanto, apazigua a consciência do próspero,
não exercendo nenhum impacto significante sobre seu estilo de
vida. Não são poucos os cristãos ricos que são levados apensar
[erroneamente] que estão "obedecendo aDeus pelo fato de co
locarem míseros 10% de suas rendas na bandeja daoferta.
Deus tem uma perspectiva bem diferente relacionada ao ato
da oferta. Lembre-se da parábola das moedas da viúva: ''Erguen
do os olhoSy Jesus observou os ricos colocando suas distribuições
nas caixaspara coleta de ofertas. Percebeu também que uma viúva
pobre ofertou duas pequenas moedas judaicas. Eexclamou: Com
toda certeza, vos asseguro que esta viúvapobre contribuiu mais do
que todos elesjuntos. Porquanto, todos os ofertantes deram daquilo
que lhes sobrava; esta, porém, de sua extrema pobreza, deu tudo o
que tinha, todo oseu sustento!" (Lucas 21.1-4).
Lamentavelmente, o dízimo muitas vezes é visto como uma
prova definitiva de discipulado. Se você eum bom cristão, voce
dizimará (pelo menos é assim que se pensa). Mas, esse é um
emprego falso. Odízimo não enenhum sinal de devoção cristã.
Se assim fosse, todos os cristãos doprimeiro século, das igrejas
que Paulo plantou, teriam sido condenados por falta de devoção,
porque todas as evidências disponíveis mostram que eles não
dizimavam 1^^

33 Murray demonstra que o dízimo acaba prejudicando opobre. {Beyond


Tithing, 8-10, 35-38).
34Mateus 11.5; Lucas 4.18; 7.22; iCoríntios 1.26-29; Tiago 2.5-6.
35 Paulo plantou, aproximadamente, catorze igrejas. Todas de gentios. Paulo
nunca impôs aLei sobre eles (veja Gaiatas). Dizer que as igrejas gentias que
270 Cristianismo Pagão?

O salário do clero é a raiz persistente detrás do constante


empurrão para que as pessoas dizimem na igreja contemporâ
nea. Muitos pastores sentem que é necessário pregar o dízimo
e lembrar a congregação de sua obrigação de apoiá-lo em suas
programações. E usam apromessa de umabênção financeira ou
o temor de uma maldição financeira para assegurar que os dízi
mos continuem sendo arrecadados.
Dessa maneira, o dízimo moderno é o equivalente auma lo
teria cristã. Pague o dízimo e Deus lhe devolverá mais dinheiro
depois. Recuse dar o dízimo eDeus lhe castigará. Tais pensa
mentos rasgam o coração das boas novas do evangelho.
A mesma coisa poderia ser dita quanto ao salário do clero,
que tampouco tem qualquer mérito. De fato, o salário do clero
corre totalmente em sentido oposto àNova Aliança.^^ Os anci
ãos (pastores) do primeiro século nunca receberam salários.^^
Eram homens com profissões seculares^® contribuindo com o

Paulo plantou dizimavam, éum argumento proveniente do silêncio evai con


tra o âmago do evangelho livre de leis. Para Paulo, se alguém dizimava, este
era um devedor atoda alei, que incluía até acircuncisão (Gálatas 5.3).
36 Veja Atos 20.17-38. Note que essas são as últimas palavras de Paulo para
os anciãos de Éfeso, sabendo que os veria novamente —ou seja, são impor
tantes (iTessalonicenses 2.9; IPedro 5.1-2).
37 Veja F. F. Bruce, The New Intemational Commentary on the New Testament
(Grand Rapids: Eerdmans, 1986), 418; Simon J. Kistemacher, New
Testament Commentary: Acts (Grand Rapids: Baker Book House, 1990),
737, 740; Rolland Allen, Missionary Methods: St. PauTs ar Oursf (Grand
Rapids: Eerdmans, 1962), 50; Watchman Nee, The Normal Christian Church
Life (Anaheim, CA: Living Stream Ministry, 1980), 62-63, 139-143; R. C.
H. Lenski, Commentary on St. PauVs Epistles to Timothy (Minneapolis:
Augsburg Publishing House, 1937), 683; eR. C. H. Lenski, Commentary
on St. PauPs Epistle to the Galatians (Minneapolis: Augsburg Publishing
House, 1961), 303-304.
38 Em todo o Novo Testamento, há referências aos anciãos nesse sentido.
Alem disso, iTimóteo 3.7 diz que o supervisor precisa ser bem visto na
comunidade. A implicação natural disso é que ele é regularmente contra
tado no mercado de trabalho secular.
Dízimo e Salário do Clero 271

rebanho ao invés de tomar o dinheiro da congregação. Era um


grupo de anciãos para quem Paulo dirigiu essas calmas palavras:
"De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem roupas. Vós mesmos
sois testemunhas que estas mãos trabalharam para suprir minhas
necessidades e as de meus companheiros. Por meio de todas as
minhas realizações, tenho-vos mostrado que mediante trabalho
árduo, devemos cooperar com os necessitados, lembrando as
palavras do próprio Senhor Jesus: 'É mais bem-aventurado dar
do que receber.*" (Atos 20.33-35).
Dar um salário aum pastor oeleva acima do resto do povo de
Deus. Cria uma casta clerical que converte o corpo vivo de Cris
to em um negócio. Desde que o pastor e seus assistentes sejam
"pagos" para ministrar, tornam-se profissionais remunerados. O
resto da congregação cai em um estado de dependência passiva.
Se todo cristão atendesse aochamado para serumsacerdote
funcional na casa do Senhor (e eles foram chamados para exer
cê-lo), esta seria aquestão que surgiria imediatamente: "Por que
estamos pagando nosso pastor!
Mas na presença de um sacerdócio passivo, tais perguntas
nunca surgem.^' Quando ocorre o contrário, quando a igre
ja funciona como deve funcionar, o clero profissional torna-
se desnecessário. De repente, o pensamento isto é trabalho do
pastor parece herético. Em termos simples, oclero profissional
nutre ailusão pacífica de que aPalavra de Deus é um material
confidencial (e perigoso) que apenas especialistas oficiais po
dem manejar."*®

39 Deacordo com Elton Trueblood: "Nossa oportunidade para um grande


passo está em disponibilizar oministério às pessoas comuns da mesma ma
neira que nossos antepassados disponibilizaram aleitura da Bíblia ao cristão
'comum'. Fazer isso significa, de certa forma, inaugurar uma nova Reforma,
enquanto em outro significa aconclusão lógica da antiga Reforma, em que
as implicações da posição adotada não foram nem totalmente compreen
didas, nem lealmente seguidas". {Your Other Vocation [New York: Harper
& Brothers, 1952]).
40 As palavras de Jesus vêm à mente: "Ai de vós, advogados da lei! Porque
vos apropriastes da chave do conhecimento..." (Lucas 11.52).
272 Cristianismo Pagão?

Porém, isso não é tudo. O ato de pagar um salário ao pastor


encoraja-o a ser complacente com os homens. Torna-o escravo
dos homens. O "vale refeição" do pastor está garantido na medi
daem que agrada acongregação. Assim, ele nunca está àvontade
para expressar-se livremente sem termedo de perder alguns for
tes dizimistas. (Pastores já confessaram isso anós, inclusive).
Um perigo adicional do sistema do pastor remunerado é
que produz "clérigos"que se sentem "presos" ao pastorado por
que lhes faltam habilidades profissionais.^^Eu (Frank) conheço,
pessoalmente, um bom número de pastores que sentiram acon
vicção de deixar o ministério. Toda sua preparação foi dedicada
ao estudo epregação da Bíblia. Embora essas habilidades sejam
dignas de atenção, são limitadas em relação ao mercado de tra
balho secular. Omaior obstáculo que enfrentam agora éforjar
uma carreira para sustentar suas famílias. Um amigo ex-pastor
está escrevendo um pequeno livro sobre como os pastores po
dem encontrar empregos e ingressar em suas novas carreiras
após deixaro sistemaclerical. Suas idéias não estão baseadas em
teorias. Ele e muitos outros têm vivido essa realidade.
Mesmo assim, ter aconsciência da falta de apoio bíblico para
seu ofício éuma dificuldade fora do comum para muitos pas
tores contemporâneos, pois dependem dele financeiramente.
Como disse Upon Sinclair: "É difícil para um homem entender
que seu salario depende de sua própria falta de compreensão".
Não é de se estranhar que são homens de uma tremenda cora
gem e fé (para sair do pastorado).
Muitos de meus (Frank) amigos pastores admitiram que fize
ram parte de um sistema religioso que sutil, mas profundamen
te, causa danos a eles e suas famílias.'^^ Infelizmente, a maioria

41 Os gregos falavam publicamente para ganhar um dinheiro. Os rabinos


judeus aprendiam alguma profissão e não poderiam aceitar dinheiro para
serviços religiosos. Desse modo, opastor moderno adotou o costume gre
go, ao invés do costume judeu que Paulo de Tarso seguiu até mesmo en
quanto cristão.
42 Detalhei um grande número desses efeitos no capítulo 5, em "Como o
Pastor Prejudica a si Mesmo".
Dízimo e Saláriodo Clero 273

do povo de Deus éintensamente ingênua com relação ao poder


opressivo do sistema religioso, que não se cansa de triturar e
magoar a si mesmo/^

OS PORTEIROS E AS BANDEJAS DE COLETA

Apesar desses problemas, coletar dízimos eofertas agora é


parte de quase todos os cultos da igreja. Como que aprática de
porteiros passarem acoleta de ofertas tomou forma? Essa éou
tra invenção pós-apostólica. Começou em 1662, embora aban
deja de esmola para os pobres estivesse presente antes deles.'^''

43 Muitos pastores estão completamente alheios ao que pode acontecer


quando entram em seu ministério profissional. Tenho um amigo jovem que
recentemente se abdicou do cargo de pastor metodista. Disse-me. Não
tinha idéia do que seria, até que comecei. Minha esposa saiu profundamen
te magoada. Não era nada do que imaginava". Não era a primeira vez que
ouvia essas palavras. De acordo com Eugene Peterson: pastores america
nos estão abandonando seus postos, em todo lugar, num índice alarmante.
Eles não estão deixando as igrejas para buscar outros empregos. As congre
gações ainda pagam seus salários... Mas [esses pastores] estão abandonando
seu chamado". Working the Ángles: The Shape ofPastoral Integrity (Grand
Rapids: Eerdmans, 1987), 1.
44 James Gilchrist, Anglican Church Plate (London: The Connois-
seur, 1967), 98-101. O prato de oferta antigo era chamado de "prato
de esmolas". O prato de esmolas de prata surgiu como parte normal no
culto da igreja apenas depois da Reforma (Michael Clayton, The Collector s
Dictionary ofthe Silver and Gold of Great Britain and North América
[New York: The Word Publishing Company,] 11). Segundo Charles Cox e
Alfred Harvey, o uso do prato de coleta, caixa de coleta ecaixa de esmola
tornou-se comum no período pós-reforma. Na Era Medieval, os edifícios
da igreja tinham uma caixa com uma abertura na tampa. No século 16,
surgiu o prato de coleta. No século 17, bacias de coletas começaram a
ser passadas na igreja por diáconos ou dirigentes da igreja. J.G. Davies,
ed. ANew Dictionary ofLiturgy &Worship (London: SCM Press, 1986),
5-6; Charles Oman, English Church Plate 597-1830 (London: Oxford
University Press, 1957);J. Charles Cox and Alfred Harvey, English Church
274 Cristianismo Pagão?

O porteiro de igreja surgiu da reorganização da liturgia da


Igreja da Inglaterra sob oreinado de Elisabeth I (1533-1603). Os
porteiros de igreja tinham a responsabilidade de acompanhar e
acomodar as pessoas nos bancos ou cadeiras (em parte para ga
rantir que lugares reservados não fossem tomados por outras pes
soas), coletar ofertas emanter aestatística dos que comungavam.
O predecessor do porteiro de igreja foi o "carregador", que era
de uma ordem menor (abaixo do clero) esurgiu no século 3.^^ Os
carregadores tinham a responsabilidade de dar segurança, abrir
asportas da igreja, manter a ordem dentro do edifício e assumir a
direção geral dos diáconos.^^ Oscarregadores foram substituídos
pelos "representantes da igreja" na Inglaterra antes e durante o
período da Reforma.'*^ Depois deles, surgiu oporteiro de igreja.

CONCLUSÃO

Como vimos, embora o dízimo seja bíblico, não é cristão.


Jesus Cristo não o ensinou aos discípulos.'*® Os cristãos do pri
meiro século não oobservaram. Epor cerca de 300 anos, opovo

Furniture (EP Publishing Limited, 1973), 240-245; David C. Norrington,


"Fund-Raising: The Methods Used in the Early Church Compared with
Those Used in English Churches Today," EQ 70:2 (1998), 130. O artigo
de Norrington épara uma leitura valorosa. Mostra que os métodos atuais
de "coleta" na igreja não tem qualquer semelhança com o Novo Testa
mento (páginas 115-134).
45 The Catholic Encyclopedia, s. v., "zelador, porteiro" http://www.newad-
vent.orh/cathen/12284b.htm
46 Professor John McGuckin, e-mail para Frank Viola, 23/09/2002. Apala
vra usher ["lanterninha" em inglês] vem do anglo-saxão esignifica "pessoa
responsável por conduzir o povo à corte da igreja". Professor Eugene A.
Teselle, e-mail para Frank Viola, 22/09/2002.
47 Cox e Harvey, English Church Fumiture, 245.
48 Em Mateus 23.23, Jesus estava desafiando a inconstância dos fariseus e
doutores da lei, enão estava direcionando eaconselhando os discípulos.
Dízimo e Salário do Clero 275

de Deus não o praticou. Dizimar não era uma prática aceita em


grande escala entre os cristãos até oséculo 8, apesar de doarem
com generosidade —freqüentemente mais do que a porcenta
gem de 10% de seus recursos —desde o começo.
O dízimo é mencionado apenas quatro vezes no Novo
Testamento. Mas nenhuma dessas quatro ocorrências se refe
re aos cristãos.^' O dízimo pertencia a um período do Antigo
Testamento, em que um sistema de tributação foi estabelecido
para apoiar aos pobres eum sacerdócio especial separado para
ministrar ao Senhor. Com a vinda deJesus Cristo, houve uma
"mudança na lei" —oantigo acordo foi "cancelado" ese tornou
"obsoleto" dando lugar aum novo. (Hebreus 7.12-18; 8.13).
Agora, todos somos sacerdotes —livres para funcionar
na casa de Deus. A Lei, o velho sacerdócio e o dízimo foram
crucificados. Agora não há cortina do templo, nem imposto
do templo, e nem um sacerdócio especial que se coloca entre
Deus e o homem. Você está livre das ataduras do dízimo e da
obrigação de apoiar osistema clerical [antibíblico]. Você pode,
como os cristãos macedônicos, dar livremente, com alegria no
coração, sem culpa e sem obrigações religiosas, ou atésem rna-
nipulação... ajude generosamente os necessitados. (2Coríntios
8.1-4; 9; 6-7)

UM MERGULHO PROFUNDO — CAP. 8

1, Parece que vocês afirmam que muitos pastores encorajam o


dizimo entre osseus membros^ simplesmenteporque querem
tercerteza deque serãopagos—e terdinheiropara sustentar
suas programações. Não éjusto eprovável que os pastores
encorajem a oferta porque Jesus e oapóstolo Paulo a enco-

49 Murray trata desses quatro exemplos com detalhes, provando que não
são textos "comprovados" para o dízimo cristão. Ele também mostra que,
de acordo com Jesus, o dízimo está mais relacionado com o legalismo e o
sentimento de superioridade moral [farisaísmo] do que com um modelo a
ser imitado. (Veja Beyond Tithing, cap. 3).
276 Cristianismo Pagão?

rajaramf Vocêspoderiam me responder sobre qualatitude a


igreja deve tomarpara substituir asofertasf
Naverdade, ambos estão corretos. Muitos pastores confes
saram que seus salários são fortes influências.Também sabemos
que outrospastores têmmotivos diferentes. Quanto asuaoutra
questão, cristãos que desejam ofertar são livres para fazê-lo. Ese
não desejam ofertar, também são livres para não fazê-lo. Paulo
descreve aatitude apropriada de doação quando escreve: "Cada
pessoa coopere conforme tiver proposto em seu coração, não
com pesar ouporconstrangimento, pois Deus ama odoador que
contribuiu com alegria" (2Coríntios 9.7).
2. 1 Timóteo 5.17dizque: "ospresbiteros que administram bem
a igreja são dignos de dobrados honorários, principalmente
os quese dedicam aoministério dapregação edo ensino'\ Isso
não apoia a idéia de saláriosaospastores? Se não, oque vocês
acreditam que essapassagem significa?
Para começar, essa passagem se refere aos presbiteros, não
ao ofício de pastor contemporâneo. O grego atual diz que os
presbiteros que cuidam bem do povo de Deus são dignos de
dupla honra. ANova Versão Americana, aVersão King James e
aNova Versão Internacional traduziram otexto com as palavras
dupla honra.
Noverso 18, Paulo cita oAntigo Testamento para reforçar seu
argumento. Assim como o boi merece sua ração e o trabalhador
seu pagamento, o presbitero [ancião] que cuida bem do povo de
Deus, merece "dupla honra", que quer dizer maior respeito.
Então, aquestão critica torna-se: oque significa "dupla hon
ra"? Um salário clerical, um honorário ou simplesmente um res
peito maior?
Em primeiro lugar, as palavras gregas especificas que oNovo
Testamento usa parapagamento ousalário nãosãoutilizadas no
texto. Além disso, apalavra grega para honra, nessa passagem,
significa respeitar ou valorizar alguém ou algo. Amesma palavra
éutilizada quatro vezes em 1Timóteo. De qualquer forma, sig
nificarespeito.
Em segundo lugar, todos os cristãos foram chamados para
honrar uns aos outros (Romanos 12.10). Seria um absurdo se
Dízimo e Salário do Clero 277

tomássemos esse texto como uma ordem para que os cristãos


recebessem dinheiro uns dos outros. Novamente, aqueles pres-
bíteros que serviam bem devem receber mais honra —ou um
respeito maior.
Em terceiro lugar, aquestão do respeito deve-se ao que Paulo
tinha em mente quando escreveu o verso 19. Paulo nos diz que
os presbíteros não devem ser acusados (desonrados), ao menos
que duas outrês pessoas testemunhem em uma acusação.
Com certeza, a honra deve estar inclusa nas ofertas de boa
vontade como umsinal debenção, detempos em tempos (Gála-
tas 6.6). Mas esse não era o pensamento dominante. As Escri
turas nos dizem que os presbíteros merecem honra (respeito),
não um salário.
Consequentemente, iTimóteo 5éperfeitamente consistente
com as palavras de Paulo para os presbíteros registradas em Atos
20.33-35. Lá, ele disse aos presbíteros em Éfeso que não tomou
odinheiro das pessoas eao invés disso, supriu suas necessidades.
Então, Paulo diz aos presbíteros que devem seguir seu exemplo
nisso. Somente essa passagem argumenta contra a idéia de um
clero contratado ou uma equipe pastoral paga.
Incrivelmente, ITimóteo 5.17-18 eAtos 20.33-35 foram en
dereçados ao mesmo grupo de pessoas: os presbíteros [anciãos]
de Éfeso. Então não há contradições. Por causados anciãos se
rem homens locais, não estavam sancionados, biblicamente, a
receber um suporte financeiro integral como os apóstolos iti-
nerantes que viajaram por todas as regiões para plantar igrejas
(iCoríntios 9.1-18).
Paulo era um obreiro apostólico itinerante. Por isso, tinha
um direito legítimo de receber um suporte financeiro integral
do povo do Senhor (veja iCoríntios 9), porém desistiu dele
quando trabalhava com um grupo de cristãos (iCoríntios 9.14-
18; 12.13-18; iTessalonicenses 2.6-9; 2Tessalonicenses 3.8-9).
Imaginamos o que poderia acontecer hoje se mais ministros se
guissem ospassos dePaulo.
Capítulo 9
O Batismo e a Ceia do Senhor
Diluindo os Sacramentos

''Muitas instituições eelementos de instituições que, algumas


vezes, são consideradaspertencentes ao Cristianismo Primitivo
pertencem, na verdade, àIdade Média".
—EDWINHÁTCH, Teólogo Inglês do Século 19

"O cleroprotestante resgatou a Bíblia da escuridão edapoeira das


bibliotecas do Papa eassim, espalhou-apor toda aterra. Elevou as
Escrituras 'ao mais alto grau'' de respeito eestima humana. Ele tem
estudado, comentado, explicado a Bíblia, a ponto de remoer cada
palavra,frase eexpressão, tanto no original como nas traduções,
permitindo esse tipo de interpretação. Oresultado eoCristianismo
sufocadopela teologia epela crítica: as verdades da revelação se
transformam em aramefarpado —estirado, enrolado, alinhado
eretorcido paraproduzirqualquer tipo de desenho ima^nário e
fantástico que ailusão ou alógica humanaspodem conceber. O
sistema da divindade técnica resultante chega a rivalizar com a
complexa maquinaria daigreja romana".
— STEVEN COLWEL,
Autor de Novos Temaspara O Clero Protestante do Século 19

iÚMEROS LIVROS foram escritos sobre os dois sacramen


tos
to da Igreja Protestante: O Batismo e a Ceia do Se
nhor. Todavia, não existe nada impresso que descreva a origem
de como as praticamos hoje. Nesse capítulo, veremos quão lon-
280 Cristianismo Pagão?

ge nos afastamos com relação às nossas práticas do batismo nas


águas e da Ceia do Senhor.

DILUINDO AS ÁGUAS DO BATISMO


A maioria dos cristãos evangélicos pratica e acredita no "ba
tismo dos crentes" ao invés do "batismo infantil".' Igualmente,
a maioria dos protestantes pratica e acredita no batismo pela
"imersão" ao invés da "aspersão". Tanto o Novo Testamento
como ahistória da igreja primitiva se alinham aessas posições.^
Porém, é típico aplicar o batismo somente depois que passa
um grande período de tempo após a conversão na maioria das
igrejas contemporâneas. Muitos cristãossãosalvos em determi
nado momento ebatizados muito tempo depois. No primeiro
século,essaprática era desconhecida.
Na igrejaprimitiva, os convertidos eram batizados imedia
tamente após a conversão.^ Um pesquisador fala sobre batismo
e conversão: "Ambos andavam juntos. Os que se arrependiam e
acreditavam na Palavra eram batizados. Até onde sal?emos, esse
padrão era invariável"Outro escreve: "Ao nascer a igreja, os
convertidos eram batizados com pouca ounenhuma demora".^

1Embora seja impossível para nós oferecer um exame detalhado do que as


Escrituras ensinam sobre batismo nesse capítulo, consideramos tudo de um
ponto de vista teológico, obatismo infantil separa duas coisas que as Escri
turas mantêm unidas: (1) fé earrependimento, (2) batismo nas águas,
2Batistno em grego [baptizo] tem como significado literal apalavra "imer
são". João 3.23 não faz muito sentido se a aspersão [uma "borrifada" de
água] era realmente praticada. Imersão era uma prática comum da igreja
cristã até a Idade Média no mundo ocidental. (Ferguson, Early Christian
Speak, 43-51).
3Atos 2.37-41, apartir de 8.12,27-38; 9.18; 10.44-48; 16.14-15,31-33; 18.8;
19.1-5; 22.16.

4 Green,Evangelism in theEarly Church, 153.


5David F. Wright, The Lion Handbook ofthe History ofChristianity (Ox-
o Batismo e a Ceia do Senhor 281

No primeiro século, obatismo em água era aconfissão exter


na da fé de uma pessoa.^ Além disso, era a, forma como alguém
vinha ao Senhor no primeiro século. Por essa razão, aconfissão
do batismo estávitalmente vinculada ao exercício dafé salvado
ra. Tanto que os escritores do Novo Testamento muitas vezes
utilizavam o "batismo" no lugar da palavra "fé referindo-se a
ser "salvo"^ porque obatismo era, entre os primeiros cristãos, a
confissão inicial da fé em Cristo.
Em nossos dias, a "Oração do Pecador" substituiu o papel
do batismo na água como confissão inicial de fé. Dizem aos can
didatos a crentesi essd ovdção depois de ttiíyyIí que uceitu
Jesus como ^Salvador Pessoal\ equeserásalvo. Mas em nenhuma
parte do Novo Testamento podemos encontrar alguém sendo
conduzido aDeus pela "Oração do Pecador .Enão ha omenor
sussurro na Bíblia sobre um "Salvador Pessoal".
Ao contrário, os incrédulos do primeiro século eram levados
aJesus Cristo pelas águas do batismo. Se me permite dizer dessa
maneira, o batismo nas águas era a"Oração do Pecador do sé
culo primeiro! O batismo acompanhava aaceitação do evange
lho. Isso marcava uma separação completa com opassado euma
entrega completa aCristo eSua Igreja. O batismo era ao mesmo
tempo um ato euma expressão de fé.® Então, quando houve ase
paração entre oato do batismo eorecebimento de Cristo? Isso
começou no século 2. Alguns cristãos influentes ensinavam que
o batismo necessitava ser precedido por um período de instru
ção, oração ejejum.' Essa tendência piorou no século 3quando

ford: Lion Publications, 1990), "Beginnings", veja aseção em Instruction


for Baptism".
6Agostinho chamou obatismo de "palavra visível" ÇTractates on the Gospel
According to SaintJabn^ LXXX, 3).
7Marcos 16.16; Atos 2.38; Atos 22.16 e iPedro 3.21 são alguns exemplos.
8Aimportância do batismo nas águas na fé cristã éilustrada na Arte Cris
tã Primitiva (André Grabar, Cbristian Iconogjrapby [Princeton: Princeton
University Press, 1968]).
9 Ferguson, Early Cbristian Speak, 33.
282 Cristianismo Pagão?

alguns dos novos convertidos tinham que esperar até três anos
pelo batismo!
Se você fosse um candidato ao batismo no século 3,suavida
seria profundamente examinada.Você teria que se mostrar dig
no do batismo por sua conduta.^^ O batismo chegou a ser um
ritual adornado erígido que havia adotado muitos aspectos das
culturas judias e gregas —com água benta, sem as roupas, com
a repetição de uma crença, unção de azeite,exorcismo e dar leite
com mel àpessoa recém batizada.Chegouaseruma atitude de
obrasno lugardafé.
O legalismo que acompanhou obatismo trouxe umconceito
ainda mais surpreendente: somente obatismo perdoa os peca-

10 Wright, Lion Handbook ofthe History ofChristianity, "Beginnigs", seção


em "Instruction for Baptism". Wright afirma que por volta do século 4, o
clero tomou o comando das instruções para os convertidos, e o bispo se
tornou pessoalmente responsável pelo ensino e disciplina que precediam o
batismo. Esse éoprecursor para ogrupo antes do batismo, supervisionado
pelo pastor em várias igrejas protestantes modernas. Do século 2em diante,
os batismos geralmente aconteciam na Páscoa. Eis aqui a origem de Lent.
(Smith, Christto Constantine, 151).
11 Ferguson, Early Christian Speak, 35.
12 Ibid., 35-36; WR. Halliday, The Pa^an Background ofEarly Christianity
(New York: Cooper Square Publishers, 1970), 313. Dar leite e mel é uma
prática que veio dopaganismo. O novo convertido (chamados "catecúme-
nos", de catequismo) era geralmente batizado num Domingo de Páscoa ou
Pentecostes. Na quinta-feira anteriorao dia do batismo, o candidato tinha
que se banhar. Ele tinha que passar a sexta e o sábado em jejum e era exor
cizado pelo bispo para expulsar qualquer demônio que houvesse. No final
do segundo século, essa era acerimônia comum no Ocidente. Gregory Dix
afirma que a introdução da crença no Cristianismo começou na primeira
metade do século 2 com a crença batismal. A crença consistia de uma sé
rie de três questões que diziam respeito, respectivamente, às três pessoas
da Trindade. O Conselho de Nicéia de 325 d.C. colocou um passo a mais
na crença. A crença se tornou, então, mais um teste de fraternidade para
aqueles que estavam dentro da igreja do que um teste de fé para aqueles que
vinham de fora. (Dix, The Shape ofthe Liturgy, 485; Norrington, To Preach
orNot, 59).
o Batismo e a Ceia do Senhor 283

dos. Se uma pessoa cometesse pecados depois do batismo, po


deria não ser mais perdoada. Por essa razão, oatraso do batismo
se tornou bem comum no século 4. Sendo que acreditavam que
o batismo trazia o perdão aos pecados, muitos acharam que era
melhor atrasar obatismo para que omáximo proveito fosse obti
do. Assim, algumas pessoas, como Constantino, esperaram até
que estivessem em seus leitos de morte para serem batizados.'"*

AORAÇÃO DO PECADOR EO SALVADOR PESSOAL


Comodisse anteriormente, a"oração dopecador" eventual
mente substituiu a função bíblica do batismo na água. Embora
seja apresentada hoje como evangelho, a"oração do pecador é
uma invenção recente. D. L. Moody (1837-1899) foi oprimeiro
a utilizá-la.
Moody empregou esse "modelo" de oração no treinamento
de seus obreiros evangelísticos.'^ Mas não chegou a ser muito
popular até os anos 50 com otratado denominado Puz coyh Deus
de Billy Graham e mais adiante com as Quatro Leis Espirituais
daCruzada EstudantilParaCristo.'^Não existenadaparticular
menteerradocomisso. Certamente,Deusiráresponderàqueles

13 Ferguson, Early Christians Speak, 60.


14 Green, Evangelism in the Early Church, 156.
15 C. L. Thompson, Times ofRefreshing; Being a History ofAmerican Re
vivais with Theit Philosophy and Methods (Rockford: Golden Censer Co.
Publishers, 1878); Paul H. Chitwood, "The Sinner's Prayer: An Histori-
cal and Theoiogical Analysis" (Dissertation, Southern Baptist Theologicai
Seminary, Louisville, KY, 2001).
16 Aqui está o clássico "Sinner's Prayer" [Oração do Pecador] que está
no panfleto Four Espiritual Laws [Quatro Leis Espirituais]: Senhor Jesus,
preciso de Ti. Obrigada por morrer na cruz pelos meus pecados. Abro a
porta da minha vida eTe recebo como meu Senhor e Salvador. Obrigado
por perdoar os meus pecados epela vida eterna. Toma ocontrole do trono
da minha vida. Faz de mim o tipo de pessoa que o Senhor quer que eu seja".
284 Cristianismo Pagão?

que oraram individual e sinceramente para alcançá-Lo por fé.


Contudo, não deveria substituir as águas do batismo como ins
trumento externo para iniciação de uma conversão a Cristo.
Aexpressão "salvador pessoal" éoutra inovação recente que
surgiu do espírito do avivamento americanodo século 19'^ e sua
origem, para ser exato, estápor volta dos anos 1800.^® Tornou-
se bem popular com Charles Fuller (1887-1968). Fuller, literal
mente, usou essa frase milhares de vezes em seu programa de
rádio incrivelmente popular "A Hora do Velho Avivamento" que
esteve no ar entre 1940 e 1970. Seu programa alcançava desde
a América do Norte até os quatro cantos do globo. Após seu
falecimento, oprograma foi retransmitido por mais de 500 emis
soras ao redor do mundo.
Atualmente, a expressão "Salvador Pessoal" éutilizada tantas
vezes que parece ser bíblica.Mas considere o absurdo de utilizá-
la. Alguma vez você já foi apresentado assim por algum de seus
amigos ''Este émeu 'amigo pessoaV Fulano de Tal'*?
Em Jesus Cristo, você e eurecebemos algo muito maior do
que um salvador pessoal. Recebemos opróprioJesus Cristo para
termos acesso a um relacionamento com o Pai. De acordo com
os ensinamentos do Novo Testamento, oque oPai era paraJesus
Cristo, Jesus Cristo épara você epara mim. Porque agora esta
mos "em Cristo", o Pai nos ama e cuida de nós assim como o faz

No primeiro século, o batismo nas águas era o testemunho visível que de


monstrou o coração dessa oração publicamente.
17 Veja oCapítulo 3para uma discussão sobre as contribuições de Finney,
Moody e outros.
18 Essa frase foi extraída da base de dados "Making ofAmérica" de 1800 a
1857. Começou aaparecer em 1858 no periódico da Igreja Episcopal Meto
dista "Ladies Repository" durante os anos de 1800. Interessante, 1858 é o
ano em que Charles Finney começou o avivamento de oração nos Estados
Unidos, o qual se tornou muito famoso.
19 Veja http://www.answers.com/topic/charles-e-fuller.
o Batismo e a Ceia do Senhor 285

com Seu Filho. Em outras palavras, compartilhamos eparticipa


mos de um relacionamento perfeito de Cristo com Seu Pai.^°
O relacionamento é conjunto e também individual. Todos
os cristãos compartilham desse relacionamento juntos. Sob esse
aspecto, a expressão salvador pessoal reforça um Cristianismo
altamente individualista. Mas o Novo Testamento desconhece
uma fé "apenas-Jesus-e-eu". Pelo contrário, o Cristianismo é
intensamente coletivo, é uma vivência entre o corpo (coletivo)
de crentes que reconhecem, juntos, aCristo como Senhor eSal
vador.

A CEIA DO SENHOR

Rios de sangue foram derramados tanto por mãos protes


tantes como católicas por causa de complexas doutrinas relacio
nadasà Ceia do Senhor.^^ A Ceia do Senhor,uma vez preciosa e
viva, se tornou ocentro do debate teológico por muitos séculos.
Tragicamente, saiu de um quadro dramático econcreto do corpo
edo sangue de Cristo efoi para um exercício intelectual abstrato
e metafísico.
Não vamos nos ateraqui às minúcias teológicas que cercam
a Ceia do Senhor. Mas protestantes (como católicos) não pra
ticam a Ceia do modo como era no primeiro século. Para eles, a

20 João 17.23, 20-21; Romanos 8.15; Gáiatas 4.6; Efésios 1.4-6. Para uma
discussão mais completa sobre oassunto, veja The Church is Christ de Bill
Freeman (Scottsdale, AZ: Ministry Publications, 1993), cap. 3.
21 Uma das figuras mais conhecidas que foi assassinada por suas posições
sobre a Ceia do Senhor foi Thomas Cranmer. Cranmerfoi nomeado arce
bispo de Canterburry por Henrique XVIII, mas sua maior influência foi
sentida durante o breve reinado do filho de Henrique, Eduardo VI. Mais
tarde, durante o reinado da rainha Mary, Cranmer foi acusado de realizar
motins para defender a teologia sacramentai protestante eem seguida, exe
cutado e morto na fogueira em março de 1556. (Douglas, Who's Who in
Christian History, 179-180).
286 Cristianismo Pagão?

Ceia do Senhor era uma festa de comunhão^^ e o ambiente, de


alegria ecelebração. Quando se reuniam para arefeição, partiam
o pão e o dividiam, e assim comiam a refeição e terminavam as
sim que o cálice era passado. ACeia era um banquete enão tinha
líderes oficiais paracoordená-la.^^
Hoje, a tradição forçou-nos a tomar a Ceia com um dedinho
de suco de uva eum pedacinho de pão ou biscoito sem gosto, ser
vida numa atmosfera de solenidade. Somos ensinados a lembrar
os horrores da morte do Senhor erefletir sobre nossos pecados.
Além disso, atradição nos ensina que tomar aCeia pode ser
uma coisa perigosa. Portanto, amaioria dos cristãos contempo
râneos, geralmente, se dirigiam aos textos de ICoríntios 11.27-
33. No verso 27, oapóstolo Paulo admoesta os crentes para que
não participem da Ceia do Senhor "indignamente". Nesse caso e
dessa forma, parece se dirigir aos membros da igreja que estavam
desonrando aCeia pornão esperar que seus irmãos necessitados
comessem com eles, assim como aqueles que estavam seembria
gando com o vinho.

ENCURTANDO AREFEIÇÃO
Então por que a refeição completa foi substituída por uma
cerimonia que inclui somente o pão eo cálice? Eis ahistória. No
século primeiro enos poucos séculos seguintes, os cristãos pri
mitivos chamavam aceia de "festa do amor''.^'' Naquele tempo,
tomavam o pão e o cálicedentro do contexto de uma ceiafestiva.

22 Veja The Table ofthe Lord de Eric Svendsen (Atlanta: NTRF, 1996), F. F.
Bruce, First and Second Corinthians NCB (London: Oliphant, 1971), 110;
White, The Worldliness ofWorship, 85; William Barclay, The Lord's Supper
(Philadelphia: Westminster Press, 1967), 100-107; 1. Howard Marshall,
Supper andLord's Supper (Grand Rapids, Eerdmans, 1980); Vernard Eller,
In Place ofSacraments, (Grand Rapids, Eerdmans, 1972), 9-15.
23 Barclay, Lordes Supper, 102-103. Aceia era uma função "de lei", mas ago
ra se trata de uma tarefa especial de uma classe privilegiada, o clero.
24 Erachamada de festa "ágape". Judas 1.12.
o Batismoe a Ceia do Senhor 287

Mas por volta da época de Tertuliano (160-225), ocorreu o iní


cio da separação do pão edo cálice da Ceia. Pelo fim do século
segundo, aseparação estava completa.^^
Alguns pesquisadores afirmam que os cristãos eliminaram a
ceia porque não queriam que a Eucaristia fosse profanada pela
participação de incrédulos.^^ Em parte, isso pode ser verdade.
Mas émais provável que acrescente influência do ritual religioso
pagão tenha removido oambiente alegre, realista, não-religioso
da refeição das ceias realizadas na sala de estar das casas.^^ No
século 4,a festa do amorestava proibida entre os cristãos
Como abandono darefeição, ostermospartindo opãoe Ceia
do Senhor desapareceram.^' O termo comum para a novo e cur
to ritual (somente o pão e o cálice) era Eucaristia?'^ Irenaeus
(130-200) foi um dos primeiros a chamar o pão e o cálice de
"uma oferta".^' Depois dele, começaram a chamar de "oferta"
ou "sacrifício".

25 Dix, Shape ofthe Litnrgy, 23; Ferguson, Early Christian Speak, 82-84,96-
97, 127-130. Nos séculos 1e 2, a ceia parecia mesmo com uma refeição no
começo da noite. Fontes do segundo século mostram que ela era realizada
somente aos domingos. Em Didache, a Eucaristia ainda era uma refeição
Ágape ("love feast", em português, festa do amor). Veja também Secular Use
ofChurch Buildings de Davies, 22.
26 Svendsen, Table oftheLord, 57-63.
27 Para saber mais sobre as influências pagãs no desenvolvimento da rnissa
cristã, veja o artigo do Bispo Edmundo "The Genius ofthe Roman Rite ,
Duchesne, Christian Worship, 86-227; Jungmann, Early Liturgy, 123, 130-
144, 291-292; Smith, Eram Chríst to Constantine, 173; Durant, Caesar and
Christ, 599-600, 618-619, 671-672.
28 Foi proibida pelo Concilio de Cartago em 397 d.C. Barclay, Lord sSup-
per, 60; Charles Hodge, First Corinthians (Wheaton, IL: Crossway Books,
1995), 219; R. C. H. Lenski, The Interpretation of1 and 1 Cortinthians
(Minneapolis: Augsburg Publishing Flouse, 1963), 488.
29 Gough, The Early Christians, 100.
30 Ibid., 93. Eucaristia significa "ação de graças".
31 Tad WGuzie,/es«s andthe Eucharist (New York: Paulist Press, 1974), 120.
288 Cristianismo Pagão?

A mesa do altarondeo pão e o cálice eram colocados come


çou a ser vista como um altar onde a vítima era oferecida.^^ A
ceia era mais um ritual sacerdotal para ser assistido a distância
e não mais um evento da comunidade. Durante os séculos 4 e
5, havia um crescente senso de medo e pavor associado com a
mesa onde celebrava-se a Eucaristia." Chegou a ser um ritual
sombrio. A alegria que antes acompanhava a ceia desaparecera
completamente."
O misticismo associado àEucaristia estava ligado àinfluên
cia do misticismo religioso pagão, permeado de mistério e su
perstição." Com ele, os cristãos começaram a atribuir nuances
sagradas ao pão eao cálice. Eram vistos como objetos santos em
si mesmos."

32 Ibid.

33 Escritores da época de Clemente de Alexandria, Tertuliano e Hipólito


(começo do século 3) começaram autilizar uma linguagem falando da pre
sença de Cristo, geralmente "Cristo no pão eno vinho". Mas nesse estágio
inicial, nenhuma tentativa foi feita para defesa do realismo físico que "alte
rou" o pão eovinho em corpo [carne] esangue. Mais tarde, alguns escrito
res orientais (Ciro de Jerusalém, Serapion, bispo de Thmuis [uma cidade do
Baixo Egito]; eAtanásio) introduziram uma oração ao Espírito Santo para
transformar o pão e o vinho em corpo [carne] e sangue. Mas no final do
século 4, Ambrósio de Milão começou abuscar pelo poder de santificação
recitando as palavras da instituição. Acreditava-se que as palavras "este é o
meu corpo" (em latim, hoc est corpus meurn) tinham o poder de transformar
o pão e o vinho (Jungmann, The Mass ofthe Roman Rite, 52, 203-204; Dix,
The Shape ofthe Liturgy, 239, 240-245). O latim começou a ser usado no
Norte da África nos anos 100 e se espalhou vagarosamente em direção a
Roma até que se tornou muito comum nos anos 300. Bard Thompson, Lit-
urgies ofthe Westem Church (Cleveland: Meridian Books, 1961), 27.
34 Essamudança tambémse refletena arte cristã. Não havia nenhumaima
gem tão sombria de Jesus até o século 4 (GraydonSnyder, por e-mail para
Frank Viola, 12/10/2001; veja também seu Yivvo Ante Pacem).
35 GuTÁt, Jesus and the Eucharist, 121.
36 Isso ocorreu no século 9. Antes disso, o ato de tomar a Eucaristia era
considerado sagrado. Mas em 830 d.C., um homem chamado Radbert es-
o Batismo e a Ceia do Senhor 289

O fato da Ceiado Senhorse tornar um ritualsagrado fez com


que ela exigisse uma pessoa sagrada para ministrá-la.^^ Aí entra
o sacerdote para oferecer o sacrifício da Missa.^® Acreditava-se
que tinha o poder de pedir aDeus que descesse do céu e fosse
confinado num pedacinho de pão.^'
Por volta do século 10, osignificado da palavra corpo mudou
na literatura Cristã. Antes, os escritores cristãos utilizavam a
palavra "corpo'* referindo-se auma das três coisas: 1) O corpo
físico de Jesus; 2) a Igreja; ou3) O Pão daEucaristia.
Os pais da igreja primitiva viam aigreja como uma comunida
de de fé identificada pelo partir do pão. Mas no século 10, houve
uma mudança de pensamento ede linguagem. Apalavra corpo
já não era mais utilizada referindo-se àigreja. Era utilizada apenas
referindo-se ao corpo físico do Senhor ou opão da Eucaristia.''^
Consequentemente, aCeia do Senhor perdeu o sentido ea
idéia de toda uma igreja reunida para celebrar opartir do pão.""
A mudança no vocabulário refletiu essa pratica. A Eucaristia
não fazia mais parte de uma refeição alegre de comunhão emes
mo não tendo relação com a igreja, foi vista como algo sagrado
—mesmo quando colocada na mesa. Envolvida em uma mística
religiosa, vista com assombro etomada pelo sacerdote com uma

creveu sua primeira tese que abordava aEucaristia com ofoco direto no pão
e no vinho. Todos os escritores cristãos antes de Radbert descreveramo que
os cristãos faziam quando tomavam ovinho eopão. Descreveram z.a,ção de
tomar os elementos. Radbert foi o primeiro aseconcentrar exclusivamente
nos próprios elementos —o pão e o vinho que ficavam na mesa do altar.
(Guzie,/e5«5 and the Eucharist, 60-61, 121-123).
37 Dunn, New Testament Theology in Dialogue, 125-135.
38 Isso começou por volta do século 4.
39 Hanson, Christian Priesthood Examined, 80.
40 GmXe, Jesus and the Eucharist, 125-127.
41 Para muitos escravos epessoas pobres, aceia do Senhor era aúnica refei
ção de verdade. Por mais incrível que pareça, o conceito de jejuar a ceia do
Senhor emergiu depois do Sinodal de Hipona em 393 d.C. (Barclay, Lord s
Supper, 100).
290 Cristianismo Pagão?

disposição sombria, divorciou-se completamente da natureza de


comunhão da ekklesia.
Todos esses fatores deram apoio à doutrina da transubstan-
ciação. No século 4, a crença deque o pãoe o vinho setransfor
mavam em corpo e em sangue real do Senhor era explícita. A
transubstanciação foi, portanto, adoutrina que explicava teolo-
gicamente como essa mudança ocorria.''^(Esta doutrina funcio
nou do século 11 ao 13).
A doutrina da transubstanciação trouxe tal sentimento de
medo em torno dos elementos, que opovo de Deus era relutante
para aproximar-se deles.^^ Acreditava-se que quando as pala
vras da Eucaristia eram pronunciadas, o pão literalmente virava
Deus. Tudo isso converteu aCeia do Senhor em um ritual sagra
dodesempenhado porpessoas sagradas, bem distante das mãos
do povo de Deus. A mentalidade medieval ficou tão acentuada
que o pão e o cálice viraram "oferenda" até mesmo para alguns
dos reformadores.'*''
Mesmo descartandoa noção católica da Ceia do Senhor en
quanto sacrifício, os cristãos contemporâneos protestantes con
tinuaram abraçando zprática católica da Ceia. Observe qualquer
Ceia do Senhor (muitas vezes chamada de "Santa Comunhão")
em qualquer igreja protestante evocê verá o seguinte:
ACeia do Senhor composta por um biscoitinho (ou pedaci
nho de pão) eum copinho de suco de uva (ou vinho). Omesmo
ocorre naIgreja Católica (sem suco nem vinho).

42 Gough, Early Christians, 111-112. O crédito da doutrina completa da


transubstanciação edado aTomas de Aquino. Nessa questão, Martinho Lu-
tero acreditava que a "opinião de Tomás" deveria ter permanecido como
uma opinião e não deveria terse tornado um dogma da igreja (Senn, Chris-
tian Liturgy, 307).
43 Hatch, Growth ofChurch Institutions, 216. A transubstanciação era defi
nida como uma doutrina no Concilio de Lateran em 1215 d.C.como um re
sultado de 350 anos de controvérsia sobre adoutrina do Oriente (Dix, Shape
ofée Liturgy, 630; Hanson, Christian Priesthood Examined, 79; Philip Schaff,
History ofthe Christian Church, 7 [Michigan: Eerdmans, 1910], 614).
44 Jones, Historical Approach toEvangelical Worship, 143.
o Batismo e a Ceia do Senhor 291

A atmosfera é sombria e lúgubre. Também como na Igreja


Católica.
Opastor diz àcongregação que cada um tem que se examinar
com respeito ao pecado antes de participar dos elementos, uma
prática que veio de João Calvino."*^
Como o padre católico, muitospastores vestem capas espe
ciais para a ocasião. Mas sempre ministram a ceia e recitam as
palavras da instituição: "Este éomeu corpo" antes de distribuir
os elementos à congregação."*^
Da mesma forma que a Igreja Católica.
Com apenas algumas mudanças minúsculas, tudo isso éCa
tolicismo medieval.

CONCLUSÃO

Por nossa tradição, esvaziamos o verdadeiro significado e


opoder por trás do batismo na água. Propriamente concebido
epraticado, o batismo nas águas é aconfissão de fé inicial do
crente diante dos homens, demônios, anjos e Deus. O batismo
éum sinal visível que revela nossa separação do mundo"*^ nossa
morte com Cristo, oenterro dovelho homem"*®, amorte da velha
criatura"*', eapurificação pela Palavra de Deus.^°

45 White, Protestant Worship, 66. iCoríntios11,27-33 é mais uma exortação


para que cada um examine asi mesmo para que tome aceia de uma forma
honrada" do que uma exortação para que cada um examine a si mesmo em
relação a pecados pessoais. Os coríntios estavam desonrando a ceia, pois
não estavam esperando por seus irmãos pobres para que comessem com
eles, e também estavam se embriagando com o vinho.
46 Mateus 26.25-27; Marcos 14.21-23; Lucas 22.18-20.
47 Atos 2.38-40; iCoríntios 10.1-2.
48 Romanos 6.3-5; Colossenses 2.11-12.
49 IPedro 3. 20-21.

50 Atos 22.16; Efésios 5.26.


292 Cristianismo Pagão?

O batismo naságuas é a forma do Novo Testamento de con


versão/iniciação. E uma idéia de Deus. Substituí-lo pela inven
çãohumana da "Oração do Pecador" é esvaziaro batismo do seu
testemunho divino.
Do mesmo modo, a Ceia do Senhor, quando separada de seu
contexto correto de uma ceia completa, transforma-se quase em
um estranho rito pagão.^^ Aceia passa aser um ritual vazio dirigi
do por um clérigo, mais do que uma experiência de vida comparti
lhada edesfrutada pela igreja, um exercício religioso deprimente,
mais doque umfestival dealegria—uma cerimônia individualista
e rotineira, ao invés de um evento coletivo esignificativo.
Como colocou um pesquisador: dúvida, a Ceia do Se
nhor começou com uma ceia familiar ou uma ceia entre amigos
em uma casaparticular,..A Ceia do Senhordeixoude ser uma ceia
real para ser uma ceia simbólica... A Ceia do Senhor migrou da
simplicidadepara um esplendor elaborado... Acelebração da Ceia
do Senhor deixou de ser umafunção da congregação para ser uma
função sacerdotal. Nopróprio Novo Testamento, não há qualquer
indicação de que era privilégio especial ou obrigação de alguém
liderara comunhão durante a Ceia do Senhor"*.^^
Depois que Israel se desviou do propósito original de Deus, o
profeta clamou: Assim diz oSenhor: Ponde-vos nos caminhos,
evede, eperguntai pelas veredas antigas, qual éo bom caminho,
eandai por ele; eachareis descanso para avossa alma" (Jeremias
6.16)." Igualmente, podemos escapar das vãs tradições humanas
evoltar às veredas antigas...àquelas tradições santas que foram
dadas anós porJesus Cristo eseus apóstolos?

51 Eduard Schweizer, The Church As the Body ofChrist (Richmond, VA:


John KnoxPress, 1964). 26, 36-37,
52 Barclay, Lord's Supper, 99-102.
53 O Novo Testamento nos exorta, repetidamente, a apegarmo-nos às tra
dições apostólicas entregues através de Jesus Cristo eos apóstolos àigreja
(ICoríntios 11.2, 16.2; ITessalonicenses 2.15, 3.6). Para mais detalhes, veja
Reimagining Church de Viola.
o Batismoe a Ceia do Senhor 293

UM MERGULHO PROFUNDO - CAP. 9

1. Orei a "oração do pecador" com um companheiro crente


quando entreguei minha vida a Cristo emesmo que ela não
exista naBíblia, me ajudou a entender o que estava fazen
do: confessando meu quehrantamento em palavras diante
deDeus, ereconhecendo minha necessidade deperdão. Você
está dizendo que éerrado usara "oração dopecador" ou sim
plesmenteque ela não deveria substituirobatismo como con
fissão pública de conversão^
O último. Estamos simplesmente dizendo que não devemos
substituir as águas do batismo como uma forma bíblica de con
versão/iniciação.

2. A respeito do que você expressa sobre sua preocupação com


otermo "Salvadorpessod", que questiona a verdade de que
nosso relacionamento é tanto coletivo quando individual,
essa expressão não nos lembra também sobre anecessidade de
fazer nossaspróprias confissões deféenão assumir que somos
meramente parte de uma igreja que nos entrega um ticket
paraocéuf
Certamente, devemos fazer nossas próprias confissões de fé.
Os cristãos primitivos confessavam Jesus como Senhor eSalva
dor. Muitos cristãos hoje sentem que isso ésuficiente. Então, não
se sentem compelidos aencaixar apalavrapes50/í/ na expressão.
3. Aspalavras do apóstolo Paulo em 1Coríntios 11.23-26, onde
ele lembra das palavras dos crentes quando instituíram a
Ceia do Senhor, pareciam enfatizar a comunhão como um
tempo de lembrara mortesacrificialdeJesus. Naturalmente,
então, muitos crentes usam isso como um tempo deconfessar
seuspecados elembrarda misericórdia deDeus. Dificilmente
trata-se de um "ritual vazio" como você descreveu. O que
acha disso^
Concordamos que a Ceia do Senhor não é um ritual vazio
para todos os cristãos. Ao mesmo tempo, lamentamos que mui
tas igrejas tenham perdido ofoco de como celebrar acomunhão,
como a celebravam os primeiros cristãos. Eles tomavam a ceia
294 Cristianismo Pagão?

numa atmosfera de alegria e celebração. Por isso, proclamavam


a morte vitoriosa de Jesus e sua vinda futura, e tomavam uma
refeição completa em comunhão com ocorpo de Cristo, aigreja.
Essa éaforma que Jesus e os discípulos nos ensinaram. Poressa
razão, devemos perguntara nós mesmos: riscar a característica
de refeição da"lista" daCeiado Senhore transformá-la emuma
ocasião sóbriaéumprogresso ou umafastamento? Melhoramos
aquilo queJesus eseus discípulos nos ensinaram, ouestamos nos
desviando disso?
Capítulo 10

Educação Gfistã: Lavagem Cerebral


. "O queAtenas tem a ver com Jerusalém?"
— TERTULIANO, Teólogo doSéculo 3

'A Igreja Primitiva não tinha Novo Testamento, nem


teologia daborada, nem tradição estereotipada. Os homens
que levaram oCristianismo ao mundo gentílico não tiveram
nenhum treinamento especial, tiveram apenas uma grande
experiência —na qual Hodas as maximas efilosofias foram
reduzidas à simples tarefa de caminhar na luz,
pois a luzhavia chegado'".
— B.H.STREETER,
Teólogo ePesquisador da Bíblia Inglês do Século 20

À/k MENTE DA MAIORIA DOS CRISTÃOS, a educação formal


C^f cristã qualifica uma pessoa afazer aobra do Senhor.
Desde que um cristão seja diplomado em uma Escola Bíblica
ou Seminário, ele é considerado "apto" para o ministério, um
pseudo-obreiro de Deus. Como pode uma pessoa pregar, en
sinar, batizar ou ministrar a Ceia do Senhor se não foi treinada
formalmente para fazer tais coisas? Não éverdade?
Aidéia de que um obreiro cristão necessita freqüentar uma
universidade cristã ou um seminário para ser um obreiro legí
timo é um pensamento que fora imposto —de tal forma que
quando alguém sente um "chamado" de Deus para sua vida, está
condicionado a buscar uma universidade bíblicaou um seminá
rio para preparar-se.
296 Cristianismo Pagão?

Esse pensamento não se ajusta bem com aidéia dos primeiros


cristãos. Universidades bíblicas, seminários, ouprofessores de
escola dominical não existiam durante otempo da igreja primi
tiva. Tudo isso são invenções humanas surgidas muitas gerações
depois da mortedos apóstolos.
Como, então, que os obreiros cristãos foram treinados du
rante oprimeiro século se não assistiram nenhuma aula religiosa?
Indiferente ao treinamento ministerial de hoje, o treinamento
do século 1foi o comando manual emvez do estudo acadêmico.
Foi uma questão de aprendizagem ao invés de intelectual. Foi
dirigida principalmente ao espírito ao invés de dirigida ao lóbulo
frontal.
No primeiro século, as pessoas chamadas ao serviço do Se
nhor foram treinadas de duas maneiras: 1)Aprenderam as lições
essenciais do ministério cnstlo vivendo uma vida compartilhada
com um grupo de cristãos. Em outras palavras, eram treinadas
experimentando a vida na igreja não como líderes, mas como
aprendizes. 2) Eles aprenderam a obra do Senhorsob a tutela de
umobreiro veterano e mais experiente.
Comentando acerca da Igreja do século 1, o puritano John
Owen escreveu: "Cada igreja, até então, era um seminário onde
se providenciava aprovisão eapreparação...''} Ecoando tais pa
lavras, R. Paul Stevens afirma, "A melhor estrutura para equipar
cada cristão está onde ele vive. Dispensa oseminário, oseminário
dosfins de semana edurará mais tempo que ambos. Não háoutra
maneira de nutrir eequipar o obreiro fora da congregação local
no Novo Testamento. Na igreja neotestamentária, assim como no
ministério de Jesus, aspessoas aprendiam no forno da vida, no
contexto relacionai vivo, trabalhando e ministrando".^
Em um completo contraste, o treinamento contemporâneo
para o ministério assemelha-se à conversação religiosa dos mi-

1John Owen, Hebrews 3, Mister McGrath eJ.I. Packer, eds. (Wheaton, IL:
Crossway Books, 1998), 568.
2 Marrou, Liherating the Laity (Downers Grove, IL: InterVarsity Press,
1985), 46. Note que não podemos dizer isso sobre a igreja institucional
moderna, pois se aplica mais ao estilo da igreja do primeiro século.
Educação Cristã 297

seráveis consoladores deJó: Racional, objetiva eabstrata. Não é


prática, experimental, nem espiritual como deveria ser.
Um exame detalhado dos métodos pelos quais os obreiros
cristãos foram treinados noprimeiro século não está dentro do
âmbito deste livro. Contudo, há alguns livros dedicados a esse
tema.^ Neste capítulo, investigaremos aorigem do seminário, da
universidade bíblica e da escola dominical, e também a historia
do pastor de jovens. Veremos como cada uma dessas coisas está
oposta ao modo de Cristo —porque todas estão baseadas no
sistema educacional do mundo.'*

AS QUATRO ETAPAS DA EDUCAÇÃO TEOLÓGICA


Ao longo da história da igreja, existiram quatro estágios de
educação teológica. Asaber: Episcopal, Monastica, Escolastica e
Pastoral (seminário).^ Vamos examinar cada uma brevemente:

3 Entre eles estão: Viola, So Do You Want to Start a House Churchf',


Robert E. Coleman, The Master Plan ofEvangelism (Grand Rapids: Fleming
H. Revell, 1993); A. B. Bruce, The Training ofthe Twelve (New Canaan,
CT: Keats, 1979); e Gene Edwards, Overlooked Christianity (Sargent, GA:
Seedsowers, 1997). Os livros de Watchman Nee também são muito valiosos.
Eles contêm mensagens dadas aos colaboradores de Nee durante seus trei
namentos. The Character og GocPs Workman, The Ministry ofGod s Work, e
The Release ofthe Spirit. 2Timóteo 2.2 se refere ao conceito de treinamento
de obreiros cristãos, o qual é exemplificado nos Evangelhos e em Atos.
4Para uma discussão criteriosa noaspecto educacional dosistema domun
do, veja Watchman Nee, Love Not the World (Carol Stream, IL: Tyndale
House Publishers, 1978).
5Robinson, New Reformation, 60-65. Robinson afirma que a teologia pa-
trística foi escrita pelos bispos, a teologia medieval foi escrita pelos pro
fessores universitários, a teologia da Reforma foi escrita por pastores, e a
teologia da "Nova Reforma" foi escrita pelo epara todo o povo de Deus.
Uma teologia "para todo o povo de Deus" concentra-se nas experiên
cias e preocupações de todos os cristãos, não somente as experiências e
298 Cristianismo Pagão?

Episcopal. A teologia daidade patrística (entre osséculos 3


e5) foi chamada "episcopal" pelo fato das lideranças teológicas
serem bispos.^ Esta teologia foi marcada pelo treinamento dos
bispos e sacerdotes, sobre como cumprir os vários rituais e li
turgias eclesiásticas.''
Monástica. A fase monástica da educação teológica estava
vinculada àvida ascética emística. Era ensinada por monges que
viviam em comunidades monásticas e mais tarde em escolas uni
versitárias.® As escolas monásticas foram fundadas no século 3,
que enviaram missionários para territórios inexplorados depois
do século 4.'
Durante essa etapa, ospadres eclesiásticos orientais estavam
mergulhados no pensamento platônico. Sustentavam a idéia
equivocada de que Platão e Aristóteles foram mestres escolásti-
cos para levar os homens aCristo. O fato dos padres do oriente
confiarem muito nesses filósofos pagãos diluiu severamente afé

preocupações de um grupo especializado fazendo um trabalho especiali


zado (clero). Pesquisadores contemporâneos como R. Paulo Stevens em
Abolition oifthe Laity eOther Six Days eRobert Banks em Reenvisioning
Theological Education (Grand Rapids: Eerdmans, 1999) escreveram mais
nesse ramo da teologia. Também, o artigo de Harold H. Rowdon "Theo
logical Education in Historical Perspective", Vox Evangélica 1 (Carlisle,
UK: Paternoster Press, 1971), 75-87, dão uma visão geral sobre educação
teológica através da história.
6Agostinho foi uma pessoa assim. Um grupo de clérigos se reuniu por inter
médio dele epara ouvi-lo no século 5. O propósito para os encontros era trei
namento. (Rowdon, 'Theological Education of Historical Perspectives", 75).
7 Escolas Episcopais não aceitaram um caráter acadêmico para treinar o
clero até oséculo 6. Antes disso, provavelmente, alguns padres aprenderam
como desempenhar rituais e conduzir liturgias debaixo da direção de seus
bispos. Edward J. Power, ALegacy ofLeaming: AHistory ofWestem Educa
tion (Albany: State University ofNew York Press, 1991), 98,108.
8Antes do século 20, aúnica educação existente no Ocidente era propor
cionada por escolas monásticas e catedráticas.
9 Marrou, History ofEducation inAntiquity, 329.
Educação Cristã 299

cristã.Eles não pretendiam desviar opovo, oque ocorreu pela


simples aceitação de uma corrente contaminada.
Sendo que muitos dos padres eclesiásticos foram filósofos
e oradores pagãos antes de suas conversões, afé cristã rapida
mente começou a assumir uma inclinação filosófica. Justino
Mártir (100-165), um dos professores mais influentes do sécu
lo 2, "vestia-se com uma batina de filósofo".'' Acreditava que
afilosofia era a revelação de Deus aos gregos, defendendo que
Sócrates, Platão e outros foram para os gentios o que Moisés
foi para os judeus.'^
Depois de 200 d.C., aAlexandria se tornou acapital intelec
tual do mundo cristão da mesmaforma que fora para os gregos.
Foi lá que uma escola equivalente auma universidade teológica
se formou no ano 180.'^
Em Alexandria, temos oberço doestudo institucional da dou
trina cristã.''* Origen (185-254), um dos primeiros professores,
foi profundamente influenciado pela filosofia pagã. Era colega de
Plotino, o pai do Neoplatonismo, de quem extraiu muitas coi
sas para seu ensino. De acordo com opensamento neoplatonista,
um indivíduo deve passar por vários estágios de purificação para

10 Em seu Ascension and Ecclesia (Grand Rapids: Eerdmans, 1999);


Douglas Farrow expõe como o pensamento grego tomou o controle da
teologia através de Origen edepois, de Agostinho, ecomo isso afetou, ine
vitavelmente, muitas áreas da vida da igreja.
11 Eusebius, The History ofthe Church, IV, 11, 8.
12 Boggs, Christian Saga, 151; Hatch, Influence ofGreek Ideas and Usages,
126-127.

13 Alguns dizem que foi fundada por Pantaenus, o professor de Clemen


te de Alexandria. Outros dizem que foi fundada por Demetrio. B. H.
Streeter, The Primitive Church (New York: The Macmillan Company,
1929), 57; James Bowen, A History ofWestern Education 1 (New York:
St. Martin's Press, 1972), 240; Rowdon, "Theological Education inHisto-
rical Perspective", 76.
14 Bowen, History ofWestem Education, 1:240; Collins and Price, Story of
Christianity, 25.
300 Cristianismo Pagão?

alcançar unidade com Deus.'^ Foi oprimeiro aorganizar os prin


cipais conceitos teológicos nateologia sistemática.^^
Sobre esteperíodo, Will Durant observou: 'A brecha entrefiloso
fiaereligião deixou de existir, epormilanos a razão consentiu subme
ter-se à teologia''. Edwin Hatch traduz esse pensamento dizendo:
''Um século emeio depois que oCristianismo eafilosofia tiveram um
contato maisproximo, as idéias eos métodos dafilosofia exerceram tal
impaao sobre oCristianismo que estefoi, em grandeparte, engolido,
tomando-se mais umafilosofia do que uma rdigfiío".
Após amorte de Origen as escolas cristãs desapareceram. A
educação teológica voltou àforma "episcopal". Os bispos eram
treinados pelo contato pessoal com outros bispos.'' Aessência
eabase do ensino clerical durante esse tempo foi o"importante"
estudo de Gregório, a teologia pastoral.Gregório ensinou aos
bispos como serem bons pastores.^' Em meados do século 8, as
escolas para bispos foram fundadas. No século 10, as catedrais
começaram a patrocinarsuas próprias escolas.^^

15 Durant, Cetesar and Christ, 610. O Neoplatonismo cresceu entre 245


e 529, einfluenciou o pensamento cristão diretamente de Origen, Clemente
d® Alexandria, Agostinho e Pseudo-Dionisio. Hssa ideia ainda prevalece
no pensamento da igreja católica. Veja Philip S. Watson, Neoplatonism and
Christianity: 928 Ordinary General Meeting ofthe Victoria Institute, vo. 87
(Surrey, UK: The Victoria Institute), 1955.
16 Pastores Notes 5, no. 2:7.
17 Durant, Caesarand Christ, 611.
18 Hatch, Influence ofGreek Ideas and Usages, 125.
19 Marrou, History ofEducation inAntiquity, 329.
20 Schaff, Historyofthe Christian Church, 4:400.
21 A obra de Gregório, Book ofPastoral Rule, foi escrita em 591 d.C. É um
debate sobre as obrigações do papel do bispo.
22 Douglas, New Twentieth Century Encyclopedia ofReligious Knowledge,
289. Notre Dame foi uma das primeiras escolas catedráticas. A Universi
dade de Paris nasceu de uma escola catedrática. Bowen, History ofWestem
Education 2:111. Depois de 1100, as escolas catedráticas expandiram, e se
Educação Cristã 301

Escolástica. Aterceira etapa daeducação teológica deve mui


to à cultura universitária.^^ Pelo ano 1200, alguns ambientes de
catequese cristã tornaram-se universidades. AUniversidade de
Bolonha, na Itália, foi a primeira a surgir. A Universidade de
Paris foi asegunda, seguida por Oxford.^''
Naquele tempo, a Universidade de Paris passou a ser o cen
tro filosófico e teológico do mundo.^^ (Mais adiante, passou a
ser a semente do futuro seminário protestante).^^ A educação
superior estava no domínio do clero.^^ O erudito era visto como
guardião dasabedoria.
A universidade moderna surgiu porque os bispos necessita
vam de um lugar para fornecer treinamento clericaU® Ateolo
gia era considerada a"Rainha das Ciências" na Universidade.^'
Desde a metade do século 12 até o final do século 14 somava-se
setenta e uma universidades na Europa.^®

tornaram "escolas de gramática" para meninos eescolas de ensino superior


para cursos mais avançados.
23 Apalavra universidade vem do latim medieval universitas, que era o ter
mo usado para "grêmios".
24 William Boyd, The History ofWestem Education (New York: Barnes &
Noble, 1967), 128. Para um debate sobre aorigem do sistema universitário
veja Helen Wieruszowski, The Medieval University (Princeton: Van Nos-
trand, 1966).
25 Bowen, History ofWestem Education, 1:110.
26 Apalavra seminário vem do latim seminarium, que significa "sementei-
ras" [ou "depósito de sementes" (Reid, Concise Dictionary ofChristianity
in América, 1071).
27 Collins e Price, Story of Christianity, 112.
28 Rowdon, "Theological Education inHistorical Perspective," 79.0 Con
cilio de Lateran em 1215 exortou todo bispo metropolitano a assegurar o
ensino da teologia emcada catedral.
29 Ibid.

30 Power, A Legacy ofLeaming, 149. A história de graduações universitá


rias é bem interessante. As pessoas que passavam pelos padrões acadêmicos
302 Cristianismo Pagão?

A teologia moderna exercitou-se nas abstrações da filosofia


grega.^^ A academia universitária adotou o modelo do pensa
mento aristotélico, dirigido ao conhecimento eàlógica racional.
O instinto dominante da teologia escolástica tendia para aassi
milação e a comunicação do conhecimento. (Por essa razão, o
pensamento ocidental sempre apreciou aformulação decredos,
declarações doutrinais eoutras abstrações insossas).
Um dos professores mais influenciadores no formato atual
da teologia foi Pedro Abelardo (1079-1142). Abelardo foi o res
ponsável, em parte, por dar-nos a"moderna" teologia. Seu ensi
no pôs a mesa e preparou o cardápio para filósofos escolásticos
como Tomás de Aquino (1225-1274).^^
Graças aAbelardo, aescola de Paris virou modelo para as de
mais universidades.^^ Abelardo aplicou alógica aristotélica para a
verdade revelada, embora tenhaentendido a tensão entre os dois:
"não quero ser um filósofo, se isto significa contradizerSão Paulo;
não quero ser um discípulo de Aristóteles, se isso significa sepa
rar-me de Cristo. Ele também deu àpalavra teologia osignificado

eram chamadas de mestres. Doutor significa "aquele que ensina". Que vem de
doctnna que significa aprendizado". Um doutor, portanto, éum mestre que
ensina. Estudantes ansiosos por reconhecimento eram chamados debacharéis
(p. 153). Ochanceler da Catedral detinha omais elevado posto da universida
de. Os mestres ensinavam os bacharéis, os quais moravam primeiramente em
quartos devidamente preparados, depois em saguões emprestados aeles pelos
mestres (Rowdon, "Theological Education in Historical Perspective," 79). A
psizwYzfaculdade, que significa "força, poder, ehabilidade" surgiu por volta de
1270 e representava as varias divisões do grêmio Medieval. Apalavra "facul
dade" foi depois substituída por "grêmio", referindo-se ao grupo de estudan
tes em cada temática. Bowen, AHistory ofWestem Education, 2:111; Charles
Homer Haskins, The Rise ofUniversities (New York: H. Holt, 1923), 17.
31 Stevens, Other Six Days, 12-13; eStewens, Abolition oftheLaity, 10-22.
32 D.W Kohertson,Abelardand Heloise (New York: The Dial Press, 1972),
xiv.

33 Bowen,History ofWestem Education, 2:109.


Educação Cristã 303

atual. (Antes dele, essa palavra era utilizada apenas para descrever
crenças pagas)
Seguindo anorma de Aristóteles, Abelardo dominou aarte fi
losófica da "dialética" —adisputa lógica da verdade, eaplicou essa
arte àsEscrituras.^^ A educação teológica cristãnuncase recuperou
da influência de Abelardo. Atenas ainda corre em suas veias. Aris
tóteles, Abelardo e Aquino acreditavam que a razão era a ponte
para averdade divina. Desde suas origens, aeducação universitária
ocidentalenvolveu a fusão de elementoscristãose pagãos.^^
Martinho Lutero estava certo quando disse: 51 Universidade
nãoéoutracoisa senão umlocal detreinamento dajuventudepara
a glória Embora o próprio Lutero fosse um universi
tário, sua crítica dirigia-se ao ensino da lógica Aristotélica na
Universidade.^®

Seminarista. A teologia seminarista saiu da teologia "esco-


lástica" ensinada nas universidades. Como vimos, essa teologia
se baseava no sistema filosófico de Aristóteles.^' A teologia do
seminário dedicava-se àformação deministros profissionais. Sua
meta era formar especialistas religiosos treinados noseminário,
onde ensinavam teologia—não adoprimitivo bispo, monge, ou

34 Para desgosto de muitos dos seus contemporâneos, Abelardo titulou um


dos seus livros Teologia Cristã {Abelard andHeloise, xii-xiii).
35 Isso não deve ser confundido com a abordagem do apóstolo Paulo, que
deve ter usado a lógica grega para a razão com os gregos e para a retórica
para se comunicar com eles, mas não usava a dialética (lógica grega) para
compreender ou interpretar as Escrituras.
36 Marsden, SouloftheAmerican University, 34.
37 Ibid., 35.
38 Ibid., 36. Para saber as idéias de Lutero sobre educação, veja Boyd,
History ofWestem Education, 188ff. Ironicamente, Melanchton, o coope-
rador de Lutero, combinou humanismo (que tem raízes pagãs) e Protes-
tantismo na educação do Norte da Europa.
39 Rowdon, "Theological Education in Historical Perspective," 79.
304 Cristianismo Pagão?

professor—mas ado ministro profissionalmente "qualificado".


Essaé a teologia que predomina no moderno seminário.
Um dos maiores teólogos deste século, Karl Barth, reagiu
contra aidéia de que aeducação teológica deve ser relegada aum
tipo de elite de oradores profissionais. Ele escreveu: 51 Teologia
não é um campo restrito a teólogos. Não é uma questão restrita a
professores... Não éuma questão restrita apastores... ATeologia é
um assuntoparaa igreja... Otermo Heigo* éum dospiores novoca
bulário dareligião edeve ser banido da conversação cristã'\^^
A respeito do seminário, pode-se dizer que Pedro Abelardo
botou o ovo eTomás de Aquino ochocou. Mais que qualquer
outra figura, Aquino foi aquele que exerceu mais influência so
bre o moderno treinamento teológico. No ano 1879, sua obra
foi endossada por uma carta papal oficial, como uma expressão
autêntica da doutrina que deveria ser estudada portodos os es
tudantes de teologia. Atese principal de Aquino era que Deus
pode ser conhecido através da razão. Ele preferia o intelecto ao
coração como um órgão para alcançar averdade.""^' Quanto mais
a razão e o intelecto fossem altamente treinados, melhor co
nheceriam a Deus. Aquino adotou essa idéia de Aristóteles, o
que é a base de concepção de muitas — senão a maioria — dos
seminários contemporâneos.
O ensino do Novo Testamento é de que Deus é Espírito,
e assim, é conhecido por revelações (perspicácia espiritual) ao
espírito humano.''^ Razão eintelecto podem permitir que conhe
çamos mais aDeus. E nos ajudam a comunicar o que conhece
mos, mas não chegam a trazer revelação espiritual. O intelecto
não é o portal para conhecer o Senhor profundamente. Nem
as emoções. Nas palavras de A. W Tozer: "Averdade divina é a
natureza deespírito epor essa razão, pode serrecebida somente
por revelação espiritual... os pensamentos de Deus pertencem

40 Barth, Theologische Fragen andAntworten, 175, 183-184 citado em Erler


e Marquard, Karl Barth Reader, 8-9.
41 Durant,.dge ofFaith, 964.
42 João 4.23-24; ICoríntios 2.9-16.
Educação Cristã 305

ao mundo do espírito, e os do homem ao intelecto, e enquanto


o espírito pode abraçar o intelecto, o intelecto humano jamais
poderá compreender o espírito... o homem não pode conhecer
a Deus pela razão; somente sobre Ele... a razão humana é um
instrumento refinado e útil dentro de seu campo, mas não é um
meio pelo qual conhecemos a Deus"."*^
Resumindo, o conhecimento extensivo da Bíblia, um inte
lecto potente e habilidades racionais aguçadas não produzem,
automaticamente, homens emulheres espirituais que conhecem
aJesus Cristo de maneira profunda eque podem transmitir uma
revelação dEle para outros.^'' (Isto, apropósito, éa base da mi-
nistração espiritual.) Como Blaise Pascal uma vez afirmou: Eo
coração que discernea Deus, e não a razão.
Hoje, tanto Protestantes como Católicos fazem uso da obra
de Aquino, utilizando seus esboços em seus estudos teológi
cos."^^ Aobra suprema de Aquino, Summa Theologica {A Súmula

43 Gemsfrom Tozer (Camp Hill, PA: Christian Publications, 1969), 36-37.


44 Esse tópico está bem além do objetivo principal deste livro. Para boas
fontes que revelam as Escrituras neste assunto são T. Austin-Sparks, What is
Man? (Pensacola, EL: Testimony Publications, sem data); Watchman Nee, The
Spiritual Man (New York: Christian Fellowship Publishers, 1977); Mary Mc-
Donough, God's Plan ofRedemption (Anaheim: Living Stream Ministry, 1999)
eRuth Paxton, Life on the Highest Place (Grand Rapids: Kregel, 1996).
45Pensées #424. Para um debate fora de sériesobre como podemos encon
trar Deus além dos limites da razão e do intelecto humano, veja Dr. Bruce
Demarest, Satisjy Your Soul: Restoring the Heart ofChristian Spirituality
(Colorado SpringsiNavPress, 1999).
46 "Thomas Aquinas Concludes Work on Summa Theologiae. , Christian
History 9, no.4 (1990): 23. Mais tarde, Tomás teve uma experiência espiritu
al com o Senhor. Foi além do intelecto e atingiu seuespírito. A experiência
foi tão profunda, que declarou: "Tudo o que tenho escrito, até agora, parece
não ser nada para mim além de coisas sem valor... comparado ao que me
foi revelado". Após essa experiência com Cristo, Tomás desistiu de todos
os seus volumosos escritos. Sua obra gigante Summa Theologica nunca foi
concluída. Deixou sua pena de lado em 6 de dezembro de 1273, dizendo:
"E agora estou a espera do fim da minha vida" {Summa Theologica, Great
306 Cristianismo Pagão?

de Todas as Teologias) éomodelo usado em quase todas as classes


teológicas dehoje —sejam protestantes oucatólicas. Considere
a ordem de classificação da teologia de Aquino:
Deus
Trindade
Criação
Anjos
Homem
Governo Divino (Salvação, etc.)
Finaldos Tempos^^

Agora a compare com este esboço teológico típico sistemá


tico utilizado nas apostilas dos seminários protestantes:
Deus
Unidade e Trindade
Criação
Angeologia
Origem e Caráter do Homem
Soteriologia (Salvação, etc.)
Escatologia: O Estado Final

Sem dúvida, Aquino é o pai da teologia moderna.^' Sua


influência foi transferida aos seminários protestantes através da

Books ofthe Western Worid, voi. 19 Thomas Aquinas I,vi; Collins ePrice,
Story of Christianity, 113).
47 Summa Theologica, vil.
48 Henry C. Thiessen, Lectures in Systematic Theology (Grand Rapids: Eer-
dmans, 1979), p.v. Qualquer texto padrão de teologia sistemática protestan
te segue esse mesmo modelo. Tudo isso veio deAquino.
49 O sistema teológico de Aquino continua em voga. Por exemplo, a
maioria dos seminários protestantes na América e Europa segue o que é
conhecido como o Modelo de Berlim da educação teológica. Esse modelo
começou em Berlim em 1800. Era um desdobramento do racionalismo ilu
minado e de teologia enquanto exercício cerebral. A maioria dos seminá
rios modernos usa esse modelo até hoje {Vantage Point: The Newsletter of
Educação Cristã 307

escolástica protestante.'® A tragédia é queao mesmo tempoem


que Aquino batizava Aristóteles, também usava retalhos da ló
gica do filósofo pagão para expor as Sagradas Escrituras.^' Nas
palavras de Will Durant: "O poder da Igreja ainda era adequado
para garantir, através de Tomás Aquino eoutros, atransmogri-
ficação [transformação] de Aristóteles fosse um teólogo me
dieval." Em outro livro, Durant diz que "ele iniciou uma longa
série de trabalhos, apresentando a filosofia de Aristóteles em
roupagem cristã."" Aquino também cita abundantemente outro

Denver Seminary, Junho 1998, 4). De acordo com o Dr. Bruce Demarest,
"Como um legado do liuminismo do século 18, os evangélicos geralmente
enaltecem a 'razão' como uma chave que abre o conhecimento de Deus.
A teologia, então, se torna uma obrigação teológica —uma atividade da
mente e para a mente. Morton Kelsey observa que 'no Protestantismo,
Deus é uma idéia teológica conhecida mais pela dedução do que uma re
alidade conhecida pela experiência'. Através de uma 'abordagem do lado
esquerdo do cérebro para afé'. Deus se torna, facilmente, numa abstração
removida de uma experiência real, que foi vivida. A. W Tozer notou que
assim como muitos cientistas perdem Deus em Seu mundo (por exemplo.
Gari Sagan), muitos teólogos perdem Deus em Sua Palavra. {Satisfy Your
Soul, 95-96).
50 Francis Turrentin (Reformado) eMartin Chemnitz (Luterano) foram os
dois principais escolásticos protestantes.
51 O termo ambigüidade lógica denota grandes períodos de tempo para
forçar a lógica de um argumento para encaixar numa determinada idéia.
Se você duvida que Aquino realmente fez isso, simplesmente leia sua obra
Summa Theologica. Aquino recorreu bastante a lógica e a filosofia aristo-
teliana para sustentar suas opiniões teológicas. Aquino também escreveu
comentários sobre as obras de Aristóteles. De acordo com Durant, Aquino
conhecia mais as obras de Aristóteles do que qualquer pensador medie
val, exceto Averroes. Para um debate completo sobre como Aquino adotou
o sistema filosófico Aristoteliano, veja Douglas, Who is Who in Christian
History, 30-34, e Durant, Age ofFaith, 961-978.
52 Durant, StoYy ofPhilosophy (New York: Washington Square Press, 1952,
104; Durant, Age ofFaith, 962. Acadeira francesa de filosofia em Paris cen
surou Tomás por "manchar" a teologia cristã com a filosofia de um pagão.
308 Cristianismo Pagão?

filósofo pagão em su^Summa Teológica}^ Não obstante oquan


to queremos negá-la, a teologia moderna é uma combinação do
pensamento cristão com a filosofia pagã.
Assim, temos quatro etapas da educação teológica: Episco
pal, a teologia dos bispos. Monâstica, a teologia dos monges,
Escoldstica, ateologia dos professores, eaSeminarista, ateologia
dos ministrosprofissionais.^''
Cada etapa da educação cristã é e sempre foi altamente
intelectual e escolástica.^^ Como disse um erudito: ''Fossem
monâstica, episcopal ou presbiteriana, tais escolas nunca sepa
raram oensino daeducação religiosa da instrução daigreja, do
dogma e da moral. [Em tais escolas] o Cristianismo era uma
religião intelectual..''.^^ Como subproduto da Reforma, nos
ensinam a ser racionalistas (e bem teóricos) em nossa abor
dagem à fé cristã.^^

53 Aquino cita Pseudo-Dionísio, um neoplatonista, mais de 100 vezes em


Summa Teológica. Aquino achava que, sem dúvida, o Dionísio que ele citava
era ohomem que Paulo converteu aCristo quando esteve em Atenas (Atos
17.34). Todavia, não era. Pseudo-Dionisio foi um neoplatonista que viveu
bem depois de Dionísio, o areopagita.
54 Uma quinta forma de teologia, a "teologia secular" ou "teologia para
todo o povo de Deus", está sendo patrocinada por alguns estudantes con
temporâneos. Veja nota de rodapé número 5 neste capítulo.
55 Talvez a exceção seja a forma "monâstica". Alguns grupos monásticos
estudaram os escritos dos místicos cristãos juntamente com os de Aristó
teles e Platão.

56 Marrou, History ofEducation in Antiquity, 343; Marsden, Soul ofthe


American University,38.
57 Considere o seguinte trecho: "Cristo não nomeou professores, mas se
guidores. Se oCristianismo... não se espelha na vida na pessoa que oexpõe,
então essa pessoa não expõe o Cristianismo. O Cristianismo é anunciado
pelo estilo de vida e só pode ser demonstrado se percebido nas vidas dos
homens" (Soren Kierkegaard).
Educação Cristã 309

OS PRIMEIROS SEMINÁRIOS

Durante a Era Medieval, a educação clerical foi mínima.^®


Desde o tempo daReforma, muitospastores protestantesante
riormente convertidos pela Igreja Católica não tinham experi
ência com apregação. Faltavam-lhes treinamento eformação.
Conforme a Reforma se desenvolvia, algumas providências
foram tomadas para que os pastores não-formados pudessem
freqüentar escolas e universidades. Os ministros protestantes
não tiveram treinamento na oratória, mas eram treinados na exe
gese e na teologia bíblica. Presumia-se que poderiam pregar se
conhecessem teologia. (Isto explica os longos sermões dosécu
lo 16 que muitas vezes duravam duas outrês horas!).^^
Esse tipo de treinamento teológico produziu "uma nova
profissão" —o pastor teologicamente treinado. Os pastores
formados agora exerciam uma tremenda influência, com títu
los de doutor em teologia ou títulos acadêmicos menores que
lhes davam prestígio.^® Pela metade do século 16, a maioria dos
ministros protestantes haviam passado, de alguma maneira, por
uma universidade.^^
Assim, desde seu início, o Protestantismo levantou um cle
ro bem instruído, que se tornou o elemento principal do movi
mento." Emtodo o terrenoprotestante, o clero representava os
cidadãos mais instruídos. Aproveitaram-se de sua educação para
exercer sua influência e autoridade."
Enquanto os ministros protestantes aguçavam seu conheci
mento teológico, aquarta parte dos clérigos católicos não tinha
experiência universitária. A Igreja Católica reagiu a essa situa-

58 Marsden, Soul of theAmencan University, 38.


59 Niebuhr e Williams, Ministry in Historical Perspectives, 133.
60 Ibid., 144.
61 Ibid., 142.
62 Marsden, Soul of theAmencan University, 37.
63 Ibid., 37.
310 Cristianismo Pagão?

ção noConcilio deTrento (1545-1563). Para poder lutar contra


a nova Reforma Protestante, teria que instruir melhor o clero.
Quala solução? Fundar os primeiros seminários
Os católicos queriam a instrução e a devoção de seus sacer
dotes para que fossem rivais do mesmo nível dos pastores pro
testantes.^^ Para isso, o Concilio deTrento exigiu que todas as
igrejas e catedrais ''sustentassem, instruíssem na religião eminis
trassem uma disciplina eclesiásticaaum certo número dejovens em
suacidade ediocese''. Então,afundação do seminário deve-se aos
católicos no final do século 16.
O primeiro seminário protestante se tornou nublado pela
obscuridade. Porém, as melhores evidências indicam que os
protestantes copiaram o modelo católico e estabeleceram seu
primeiro seminário na América do Norte em Andover, Massa-
chussets em 1808.^^
A educação cristã nos Estados Unidos foi aristotélica e al
tamente sistematizada como a que prosperou na Europa.^^ Em

64 Reid, Concise Diaionary ofChristianity in América, 309; Durant, Refor-


mation, 932. Trent estabeleceu regras para um seminário no qual cada dio
cese. A. G. Dickens, Reformation and Society inSixteenth-Century Europe
(London: Hartcourt, Brace &World, Inc., 1966), 189; Collins ePrice, Story
of Christianity, 149.
65 Rowdon, 'Theological Education in Historical Perspective", 81.
66 Reid, Concise Diaionary ofChristianity in América, 113. João Calvino esta
beleceu a Academia de Genebra em 1559, mas não era tecnicamente um semi
nário. Por mais que realizassem treinamentos de teólogos na Academia, ela não
era considerada, originalmente, uma escola teológica, etambém fornecia outros
tipos decursos para quem nãofosse clérigo. Interessantemente, Theodore Beza
(braço direito deCalvino) atribuiu a gênese escolástica daAcademia deGene
bra aos gregos, que por sua vez, herdaram a"verdadeira filosofia" dos egípcios.
Podemos explicar sua grandiosidade pelo fato deMoisés ter sido educado com
toda sabedoria dos egípcios (Robert WHenderson, The Teaching Ojfice in the
Reformed Tradition, Philadelphia: Westminster Press, 1962, 51-61).
67 John Morgan, Godly Learning (New York: Cambridge University
Press, 1986), 107. A educação seminarista americana foi chamada de filo
sofia do "bom senso" pelo escocês Thomas Reid. Posteriormente, semi-
Educação Cristã 311

1860, havia umtotalde60 seminários protestantes no soloAme


ricano.^^ Esse rápido crescimento, em grande parte, deveu-se ao
resultado do fluxo dos convertidos que ocorreu durante o Se
gundo Grande Despertar (1800-1835) eànecessidade de treinar
ministros para cuidar dos novos crentes.^'
Antes da fundação do Seminário Andover, os protestantes
eram treinados para oministério nas universidades de Yale (1701)
eHarvard (1636). Eram ordenados após agraduação, obtida de
pois da execução de um exame formal.^® Mas, com o passar do
tempo, essas universidades adotaram a crença unitária e rejeita
ram as crenças cristãs ortodoxas (Harvard, por exemplo, adotou
o Unitarismo.)^^ Osprotestantes, já não mais confiantes no pro
grama educacional de Yale eHarvard, estabeleceram seus proprios
seminários para que eles mesmos realizassem otrabalho.

FACULDADES BÍBLICAS

A Faculdade Bíblica é, essencialmente, uma invenção evan


gélica do século 19 nos Estados Unidos. Éuma mescla de Insti
tuto Bíblico (centro de treinamento) einstituição cristã de artes
liberais, onde os estudantes se especializam em religião e são
treinados para oserviço cristão. Os fundadores das primeiras fa
culdades bíblicas foram influenciadas pelos pastores londrinos:
H. G. Guinness (1835-1919) e Charles Spurgeon (1834-1892).

nários liberais adotaram G.F.WHegel enquanto queos seminários conser


vadores preferiam Reid.
68 Reid, Concise Dictionary of Christianity in América, 113.
69 Ibid., 113.
70Warkentin, Ordination:A Biblical-Historical View, 75.
71 O Unitarianismo nega a Trindade, a Divindade deJesus, e outras cren
ças cristãs ortodoxas.
72 O primeiro seminário católico em solo norte-americano foi fundado em
Baltimore em 1791. Reid, Concise Dictionary ofChristianity inAmérica, 1071.
312 Cristianismo Pagão?

Como resposta aos avivamentos de D. L. Moody (1837-


1899), o movimento da faculdade bíblica cresceu muito no final
do século 19 e início do século 20. As duas primeiras foram o
Instituto de Treinamento Missionário (Universidade de Nyack,
Nova York) em 1882 eo Instituto Bíblico de Moody (Chicago)
em 1886.^^ Seu enfoque estava no treino de pessoas comuns para
serem obreiros cristãos em "tempo integral".^'^
O que preparou o terreno para a fundação da faculdade bí
blica? Desde a metade do século 19, os valores cristãos tradi
cionais, como parte integral da educação superior, eram pouco
valorizados. Ateologia liberal havia começado adominar as uni
versidades estatais norte-americanas. Diante desses elementos,
ademanda por missionários epor líderes eministros de igrejas
provocou acriação da universidade bíblica para prover aforma
ção bíblica aos "chamados".^^ Hoje, há mais de 400 faculdades
bíblicas nos Estados Unidos e Canadá.^^

ESCOLA bíblica

A Escola Dominical também é uma invenção relativamente


moderna, que surgiu cerca de 1700 anos depois de Cristo. O
editor de um jornal britânico, Roberto Raikes (1736-1811), é
considerado o fundador.^^ Em 1780, Raikes fundou uma escola

73 OInstituo Moody Bible foi formalmente constituído em 1889. (Virginia


Brereton, "The Popular Educator", Christian History 9, no. 1, [1990], 28).
74 Reid, Concise Dictionary ofChristianity in América, 42-43; Harper'5
Encyclopedia ofReligious Education, 61.
75Harper's Encyclopedia ofReligious Education, 61.
76 "Bible College Movement," The Evangelical Dictionary of Christian
Education (Grand Rapids: Baker Book House, 2001).
77 Harper's Encyclopedia ofReligious Education, 625. A maioria dos livros
históricos considera Raikes como o pai daescola dominical. Mas outros são
considerados os fundadores juntamente com Raikes, como Hannah More
eSarah Trimmer. (Thomas 'W Laqueur, Religion and Respectability: Sunday
Educação Cristã 313

em "Scout Alley", Gloucester (Inglaterra) para crianças pobres.


Raikes não fundou a Escola Dominical com o propósito de dar
instrução religiosa, esim para dar educação básica aelas.
Raikes estava preocupado com obaixo nível de alfabetização
ecoma imoralidade entreas crianças emgeral. Muitas das crian
ças que assistiam àsua escola eram vítimas de abuso social edos
patrões. O fato se serem analfabetas facilitava oabuso por parte
dos outros. Embora Raikes fosse umleigo anglicano, aescola bí
blica se alastrou como fogo nas igrejas batistas, congregacionais
e metodistas por todaa Inglaterra.''®
O Movimento da Escola Bíblica alcançou seu auge quando
atingiu os Estados Unidos. Aprimeira escola bíblica dos EUA
surgiu em Virgínia em 1785.''' Então, em 1790, um grupo de habi
tantes da Filadélfia formou aSociedade dasEscolas Dominicais.
Sua proposta era prover educação para crianças indigentes reti
rando-as das ruas aos domingos.Nos séculos 18 e 19, muitas
Escolas Dominicais funcionavam separadamente das igrejas. A
razão: Os pastores consideravam os leigos incapazes de ensinar
a Bíblia.®^ Por volta de 1850, as Escolas Dominicais se espalha
ram por todos os Estados Unidos. Em 1810, aEscola Dominical
começou amigrar de um esforço filantrópico ajudando crianças
pobres para um mecanismo de evangelização.

Schools and Working Class Culture, 1780-1850 [New Haven, CT: Yale Uni-
versity Press, 1976], 21). Também dizem que o reverendo Thomas Stock,
de Gloucester, foi quem deu a Raikes a idéia da escola dominical, (p. 22).
78 Harper's Encyclopedia ofReligious Education, 625. Aescola dominical cres
ceu como parte de uma avivamento evangélico dos anos 1780 e1790 (Laqueur,
Religion and Respectability, 61). Quando Raikes faleceu em 1811, 400.000
crianças participavam da Escola Dominical na Grã-Bretanha. C. B. Eavey,
History ofChristian Education (Chicago: Moody Press, 1964), 225-227.
79Terry, Evangelism: A Concise History, 180.
80 Harper's Encyclopedia ofReligious Education, 625
81 Terry, Evangelism: A Concise History, 181.
314 Cristianismo Pagão?

Considera-se que D.L. Moody tenha popularizado a Escola


Dominical nos Estados Unidos.®^ Sob ainfluência de Moody, a
Escola Dominical tornou-se oprincipal campo de recrutamento
da igreja moderna.®^ Hoje, aEscola Dominical éusada tanto para
recrutar novos convertidos como para treinar as crianças mais
jovens na doutrina da fé.®^ Aeducação pública assumiu opapel
original para o qual aEscola Dominical foi projetada.®^
Deve-se notar que o século 19 foi a época da edificação
institucional dos Estados Unidos. As corporações, hospitais,
asilos, prisões, e as instituições de proteção à criança como os
orfanatos, reformatórios eescolas públicas gratuitas surgiram
durante esse tempo.®^ AEscola Dominical foi apenas mais uma
instituição,®^ que hoje éuma instalação permanente na igreja
institucional.

82 Brereton, "Popular Educator", 28; Collins e Price, Story ofChristianity,


187. O Ministério da Escola Dominical de Moody cuidava de 1.500 crianças.
83 Anne M. Boylan, Sunday School: The Formation ofanAmerican Institu-
tion 1790-1880 (New Haven, CT: Yale University Press, 1988), 167. Isso
aconteceu no ano de 1880. Arthur Flake desenvolveu o programa da Escola
Dominical dentro da Convenção Batista do Sul. Ele também popularizou
os princípios do crescimento da Escola Dominical que foram adotados por
outras denominações (Terry, Evangelism: A Concise History, 181). Veja
também Elmer Towns, "Sunday School Movement", New Twentieth Cen-
tury Encyclopedia ofReligious Knowledge, 796-798.
84 Ibid., 170; Reid, Concise Dictionary ofChristianity inAmérica, 331.
85 Pastores Notes 4, no. 1 (Worcester: Christian History Institute, 1991), 6.
86 Boylan,Sunday School, 1.
87 Em 1824, havia 48.681 crianças nas Escolas Dominicais filiadas à Ame
rican Sunday School Union [União Americana da Escola Dominical] nos
Estados Unidos. Em 1832, este número cresceu para 301.358 (Boylan, Sunday
School, 11). AAmerican Sunday School Union foi fundada em 1824, abran
gendo 724 escolas, incluindo 68 na Filadélfia. Em 1970, a Union foi reno
meada como American Missionary Society [Sociedade Missionária Ameri
cana] (Reid, Concise Dictionary ofChristianity inAmérica, 18).
Educação Cristã 315

Em termos gerais, não vemos a Escola Dominical moderna


como uma instituição eficaz. Estudos mostram que afreqüência
à Escola Dominical entrou em declínio ao longo das duas últi
mas décadas.®®
Descrevendo amaneira da Igreja Primitiva, umpesquisador dis
se: ''Não háqualquerevidênciaqueaponteque os mestres dividiam os
grupos com base na idade eno sexo. Áresponsabilidade da educação
inicial da criança, em especiala educação religosa,ficava a cargo dos
pais... Parece-nos que nenhuma regra especialfora estabelecidaparaas
crianças na Igeja Primitiva. Aescola cnstãveio depois, (porvolta do
ano 372 d. C.) —eaEscola Dominical, bem mais tarde".^^

PASTOR DOS JOVENS

OPastor deJovens apareceu nas igrejas logo depois da Escola Bí


blica, em grande medidaporque asociedade não reconhecia ou supria
as necessidades do grupo dessa idade até oséculo 20.^ Em 1905, G.
Stanley Hall popularizou oconceito de "adolescente" como alguém
que não era nem jovem adulto nem criança mais velha.^^
Foi quando na década de 1940 surgiu otermo adolescente
[em inglês "teenager"]. Pela primeira vez, uma subcultura de dis
tinção surgiu. Pessoas entre treze e dezenove anos já não eram
simplesmente "jovens". Agora eram "adolescentes

88 Bobby H. Welch, Evangelism Throngh the Sunday School: AJoumey of


Faith (Nashville, Lifeway Press, 1997). Outros estudos mostram que essa
freqüência permaneceu estável até a última década.
89 Norrington, Tb Preach or Not, 59.
90 Warren Benson e Mark H. Senter III, The Complete Book ofYoué Ministry
(Chicago, Moody Press, 1987), 66.
91 Mark Senter III, The Coming Revolution in Youth Ministry (Chicago:
Victor Books, 1992), 93.
92 Michael V Uschan, The 1940's: Cultural History ofthe US through the
decades (San Diego: Lucent Books, 1999), 88; Mary Helen Dohan, Our
Own Words (New York: Alfred Knopf, 1974), 289.
316 Cristianismo Pagâo?

Depois da Segunda Guerra Mundial, os estadunidenses de


senvolveram uma imensa preocupação pela juventude de sua
nação. Isso se estendeu à igreja cristã. Reuniões de jovens nas
décadas de 1920 e 1930 sob a bandeira "Jovens Para Cristo"
geraram uma organização "para-igreja" com o mesmo nome
por volta de 1945.'^
Com uma nova compreensão e interesse pelos "adolescen
tes", surgiu a idéia de que alguém precisava ser indicado para
trabalhar com eles. Assim, nasceu oministro juvenil. O ministro
juvenil (pastor de jovens) começou atrabalhar em grandes igre
jas urbanas entre 1930 e 1940.'^ A Igreja Batista do Calvário em
Manhattam teve um dos pastores mais jovens. Artmsx.2i Moody
Monthly escreveu sobre ele no final dos anos 1930.'^
A maioria dos ministros jovens dessa época, inclusive, tra
balharam para as organizações "para-igreja" emergentes.'^ No

93 Mark Senter III, The Youth for Christ Movement As an Educational


Ágency and Its Impact upon Protestam Churches: 1931-1979 (Ann Arbor:
Unversity of Michigan, 1990), 7-8. Da página 26 em diante, Senter de
bate sobre os fatores sociais ehistóricos que criaram várias organizações
de jovens. Billy Graham se tornou evangelista itinerante do ministério
Youth forChrist (YFC) [Jovens para Cristo]. Nos anos 50, o YFC fun
dou clubes bíblicos por todo opaís. (Reid, Qoncise Dictionary ofChris-
tianity in América, 337). Em Manhattan, o carismático Lloyd Bryant
provavelmente foi o primeiro a organizar reuniões de jovens regulares.
Christopher Schiect, Critique ofModem Youth Ministry (Moscow, ID:
Cânon Press, 1995), 8.
94 A Igreja Batista do Calvário em Manhattan (1932), a Igreja Vista Com-
munity no norte do condado de São Diego (1948) eaIgreja Moody Memo
rial em Chicago (1949) contrataram "diretores de jovens". Assim como os
clubes Young Life [Vida Jovem] e o YFC cresceram no país entre os anos
30 e40, igrejas menores começaram aempregar ministros de jovens (Senter,
Coming Revolution in Youth Ministry, 142).
95 Mark Senter, por e-mail para FrankViola, 22/09/99.
96 Young Life [Vida Jovem] (1941), Youth for Christ [Jovens para Cristo]
(1945, Fellowship of Christian Athletes [Associação de Atletas Cristãos]
(1954), Youth for aMission [Jovens com Uma Missão (JOCUM)] (1960).
Educação Cristã 317

começo dos anos 50, milhares de ministros de jovens estavam


atendendo às necessidades espirituais próprias dos jovens, como
resultado, tinham sua própria música, roupa, literatura, lingua
gem e etiqueta,'^ e viam a si mesmos como uma entidade se
parada com necessidades distintas. Sendo assim, a igreja cristã
começou a isolar os adolescentes dos demais.
Entre 1950 e 1960, o pastor de jovens se tornou uma par
te estabelecida das igrejas evangélicas (a posição decolou um
pouco mais lentamente nas principais vertentes de denomina
ções).'^ No final dos anos 80, a migração do ministério de jo
vens de organizações "para-igrejas" para igrejas institucionais
estava bem finalizado.
Hoje, opastor de jovens moderno se tornou parte do clero
profissional, que foi formado com base na seleção equivoca
da de divisões provenientes da cultura secular, há menos de
um século atrás: como a divisão entve adolescentes e todos os
demais.
Em outras palavras, o pastor de jovens não existia até
criarmos um grupo demograficamente separado chamado
"adolescente". Ao fazê-lo, criamos um problema que nunca
existiu: o que fazer para (e com) os adolescentes. Isso não
é muito diferente do problema que criamos quando inven
tamos uma classe de cristão — o "leigo". A questão sobre
"como preparar o leigo" nunca fora formulada ate criarmos
classes separadas de cristãos.
Hoje, o pastor de jovens é uma instituição permanente na
igreja organizada, tanto quantoo pastor, mas nemum nemoutro
tem raiz nas Escrituras.

Senter, Coming Revolution in Youth Ministty, 27-28, 141; Mark Senter, A


Historical Framework for Doing Youth Ministry", Reaching a Generation
for Christ (Chicago: MoodyPress), 1997.
97 Schlect, Critique ofModem Youth Ministry, 6.
98 Senter, Coming Revolution in Youth Ministry, 142.
318 Cristianismo Pagão?

EXPONDO O CORAÇÃO DO PROBLEMA


Os filósofos gregos Platão eSócrates ensinaram que conheci
mento évirtude. Ser"bom" significa tero máximo deconhecimen
to. Portanto, o ensino do conhecimento é o ensino da virtude.^'
Aqui está araiz eocaule da educação cristã moderna, que fora
inteiramente construída sobre aidéia platônica de que oconheci
mento é equivalente ao caráter moral. Aíestá o grande erro.
Platão e Aristóteles (ambos foram alunos de Sócrates) são
os pais da educação cristã moderna.Usando uma metáfora
bíblica, aeducação cristã moderna, seja noseminário ouem uma
faculdade bíblica, estásealimentando daárvore errada: A árvore
do conhecimento do bem e do mal nolugar da árvore da vida.^°'
Aaprendizagem teológica moderna éessencialmente cerebral.
Pode ser chamada de "pedagogia líquida".Abrimos as cabeças
das pessoas comumaalavanca, derramamos umaou duas xícaras
de informação evoltamos afechá-las. Agora elas têm ainforma
ção, então concluímos incorretamente que aobra está completa.
O ensino teológico moderno éuma educação detransferên
cia de dados. Sai de um caderno e passa para outro. Durante o
processo, nossa teologia nunca passa de nosso pescoço. Se um
estudante repete as idéias de seu professor com a exatidão de
um papagaio, é premiado com um título, o que significa muito
nestes dias, quando muitos cristãos estão obcecados (e às vezes
até os idolatram) por títulos teológicos em suas análises sobre
qualificações ministeriais.^®^

99 William Boyd eEdmund King, The History ofWestem Education (Lanham,


MD: Barnes & Noble Books, 1995), 28.
100 Power, Legacy ofLeaming, 29-116.
101 O tempo eo espaço não permitem que expliquemos osignificado de duas
árvores. Para uma abordagem completa, veja Watchman Nee, The Normal
Christian Life, cap. 7.
102 Pedagogia é a arte e a ciência de ensinar.
103 Um dos problemas-chave no Cristianismo é que ele herdou os padrões
intelectuais do mundo antigo (Marsden, Soul oftheAmerican Universityy 34).
Educação Cristã 319

O conhecimento teológico, no entanto, não prepara nin


guém para o ministério.Isso não quer dizer que o conheci
mento de mundo, da história da igreja, de teologia, de filosofia
e de obras escritas são coisas sem valor. Tais conhecimentos po
dem ser muito úteis.Mas isso não é central. Somente a com
petência teológica eointelecto de alto potencial não qualificam
uma pessoa para servir nacasa deDeus.
Aidéia de que homens emulheres formados pelo seminário
ou pela faculdade bíblica são pessoas devidamente "qualifica
das" é errônea, assim como tratar os que não passam por essas
formações como "desqualificados" é um engano. Usando esse
"padrão", muitos vasos selecionados do Senhor não passariam
por esse teste.^°^
Alémdisso, o treinamento teológico formal nãoprepara oses
tudantes para muitos dos desafios do ministério. Segundo estudo
desenvolvido pela Comunidade de Fé Hoje (FACT) edivulgado
pelo Seminário de Hartford no Estado de Connecticut, gradua
dos eclérigos com títulos superiores receberam notas inferiores.

104 Tenha em mente que Joseph Stalin participou do seminário Tiflis Theo-
logical Seminary na idade de 14 a 19 anos. (Adam B. Ulam, Stalin the Man
and His Era [New York: Viking Press, 1973], 18-22; Alan Bullock, Hitlerand
Stalin: Parallel Lives [New York: Knopf, 1992], 6,13).
105 Paulo deTarso eraum homem muitoerudito e suainfluência foi essen
cial para aextensão do Cristianismo primitivo. Pedro, por outro lado, não
tinha formação universitária.
106 Jesus e os doze apóstolos não eram eruditos: "E os judeus, mara
vilhados, diziam: 'Como sabe este homem letras, sem nunca ter estu
dado'"? (João 7.15). "Observando a coragem de Pedro e João, e ten
do notado que eram homens simples e iletrados, ficaram perplexos,
e reconheceram que eles haviam convivido com Jesus (Atos 4.13).
Entre alguns cristãos notáveis usados por Deus, que nunca recebe
ram um treinamento teológico formal estão: A. W. Tozer, G. Campbell
Morgan, John Bunyan. C. H. Spurgeon, D. L. Moody e A. W. Pink.
Também, alguns dos maiores intérpretes da Bíblia na história da igreja,
como Watchman Nee, Stephen Kaung e T. Austin-Sparks não recebe
ram treinamento em seminários.
320 Cristianismo Pagão?

ao tratar de conflitos ena exposição de "um sentido de propósito


claro", comparando com os "não-graduados" por seminário.
Apesquisa demonstra que os clérigos sem educação [forma
ção] ministerial ou certificado formal de curso marcaram mais
pontos nas provas sobre como lidar com o estresse e o conflito.
Os estudantes da faculdade bíblica tiraram notas inferiores. Os
graduados pelo seminário tiveram as piores notas!
A principal descoberta da pesquisa foi a seguinte: ''Que as
congregações com líderes que têm formação por seminário são,
como um grupo, maispropensas a relatar que em suas congregações
há menos clareza depropósito, mais ediferentes tipos de conflitos,
menos comunicaçãopessoal [íntima], menos confiança sobre ofu
turo esentimentos deameaças quanto a mudanças noculto".
Tudo isso indica que uma pessoa graduada em um seminário
ou faculdade bíblica carregada de teorias não recebe nenhuma
experiência de comando manual nas tribulações da vida do corpo
[eclesiástica]. Por "vida do corpo", não nos referimos àexperi
ência comum de estar em um ambiente de igreja institucional.
Referimos-nos, sim, àexperiência turbulenta, impetuosa, crua,
confusa ealtamente exigente do corpo de Cristo, em que cris
tãos vivem como uma comunidade solidária eintimamente liga
da, que luta para fazer decisões coletivas, todos juntos, debaixo
da liderança de Cristo sem um líder declarado sobre eles. Sob
esse aspecto, o seminário se expõe intelectualmente ao ridículo
nos níveis mais básicos.
Aabordagem escolhida pelos seminários étambém auto-refe-
rencial, pois estabelece seus próprios critérios para quem deveria
pregar eem quais termos. Ejulga freqüentemente aqueles que não
acham que os critérios são particularmente úteis ou importantes.

107 Esse estudo foi baseado em mais de 14.000 congregações de quarenta


e uma denominações diferentes e "grupos de fé". Usamos vinte eseis pes
quisas diferentes. Oestudo FACT éconsiderado avisão mais abrangente da
religião norte-americana. Os veredictos estão publicados em http://www.
fact.hartsem.edu.
108 FACT study, 67.
Educação Cristã 321

Talvez oproblema mais nocivo do seminário e da faculdade


bíblica éque essas coisas perpetuam osistema angustiante ean-
tibíblico concebido pelo clero humano. Esse sistema — junto
comtodasasoutras tradições humanas que mencionamos neste
livro —está protegido, mantido vivo e difundido em todas as
nossas escolas ministeriais.
Ao invés de oferecer a cura às enfermidades da igreja, nossas
escolas teológicas fazem-nas mais graves quando assumem (e
defendem) todas as práticas antibíblicas que as produzem.
As palavras de um pastor resumem perfeitamente oproble
ma: "Obtive do sistema a melhor educação que o evangelismo
pode oferecer, mas não recebi o treinamento que necessitava...
Os sete anos de educação superior nas melhores escolas evan
gélicas não me prepararam (1) nem para o ministério nem (2)
para a liderança. Comecei a analisar por que após pregar um
grande sermão acongregação vinha me cumprimentar dizendo:
'Grande sermão. Pastor*. Porém, eram essas as mesmas pessoas
que lutavam por sua auto-estima, que agrediam seus cônjuges,
que lutavam como viciados em trabalho"* ("'N.T.: 'workaholics
éuma gíria inglesa que quer dizer "viciado em trabalho , oque
geralmente, não significa que apessoa realmente goste de seu
trabalho, mas simplesmente sente-se compelido a trabalhar.
Não há uma definição médica em geral aceita para essa condição,
embora algumas formas de estresse, distúrbios de personalidade
obsessivo-compulsiva e distúrbios obsessivo-compulsivos po
dem ser relatados no ambiente de trabalho), sucumbindo em
seus vícios. Suas vidas não mudavam. Tive que perguntar a mim
mesmo porque aquele grande conhecimento que ostentava não
fluía de suas cabeças para seus corações evidas. Comecei aper
ceber que o fracasso da igreja se baseava, na verdade, no que eu
havia aprendido no seminário. Ensinaram-nos que basta passar
ainformação, queisso é suficiente!

109 Ironicamente, protestantes destacam-se por sua reflexão crítica sobre a


doutrina. Mas eles não a aplicaram em suas praticas eclesiásticas.
110 Dr. Clyde McDowell, citado em Vantage Point: The Newsletter ofDenver
Seminary, junho de 1998.
322 Críscianismo Fagâo?

UM MERGULHO PROFUNDO - CAP. 10

1. Se vocês não acreditam que oseminário fornece oambiente


certo para a educação de líderes cristãos, poderiam especi
ficarsobre um local onde acreditam que os obreiros cristãos
deveriam seprepararpara a obracristã^
Esse éum tópico bem abrangente. Mas em resumo, amaneira
como Jesus Cristo treinou os apóstolos foi conviver com Ele
por alguns anos. Foi um treinamento "de trabalho, prático, em
ação!". Ele foi omentor de Seus discípulos "à queima-roupa",
em convivência diária epróxima, vivendo juntos em comunida
de, inclusive. Jesus fazia a obra, eles observavam e então eram
enviados auma missão como experiência, aqual Ele depois ana
lisava. Jesus os enviou e eles continuaram o trabalho. Paulo de
Tarso seguiu o mesmo padrão, treinando obreiros cristãos na
cidade de Efeso, que eram parte da comunidade em Éfeso eob
servando Paulo, finalmente foram enviados para aobra.
2. Vocêspoderiamdetalharafrase: "o intelecto não éoportalpara
conhecer a Deusprofundamente. Nem as emoções'1 Como a
observação de Tozer, a qual diz quepodemos somente obter a
verdade divina através da revelação espiritual, afeta aforma
como devemosprocurarporum "treinamento cristão"f
Aqueles que treinavam outros na obra cristã deveriam estar fa
miliarizados com aquelas realidades espirituais que transcendem o
intelecto eas emoções. Consequentemente, aformação espiritual, a
compreensão espiritual eodiscernimento espiritual são ingredien
tes vitais notreinamento para aobra espiritual. Isso inclui investir e
passar tempo com oSenhor, aprender acarregar acruz, viver numa
comunidade autêntica, aguçar os instintos espirituais, e discernir
como ouvir avoz de Deus eser guiado por Ele em seu coração.
3. Quais são suas recomendações sobre como a igreja deveria
instruir suas crianças ejovens [eadolescentes]f
ONovo Testamento éabsolutamente silencioso nessa ques
tão, embora pareça sugerir que aresponsabilidade doensino mo
ral das crianças está sobre os ombros de seus pais (Efésios 6.4 e
2Timóteo 1.5,3.15).
Dito isto, nossa sugestão é deixar as pessoas criativas decada
igreja local descobrirem formas novas e eficazes de ministrar
aos jovens.
Capítulo 11

Uma Nova Abordagem do


Novo Testamento:
A Bíblia Não é unri "Quebra-cabeças"
''Pam abordar o tema do ministério no Novo Testamento é
essencial relembrara ordem histórica dos seus livros (quando
foram escritos). Se considerarmos aordem de seqüência atualy de
que os evangelhosforam escritosprimeiro, depois Atos, depois as
cartas dePaulo começando porRomanos eterminando com as
Epístolas Pastorais a Timóteo, Titoe a carta a Filemom, nunca
poderemos entender odesenvolvimento das instituições eo
pensamento da i^ejaprimitiva."
— RICHARD HANSON,
Pesquisador dos Pais da Igreja do Século 20

"Nos últimos 50ou100anos, a investigação doNovo Testamento


foi incessante ebem-sucedida, dirigida à tarefa de elucidaroque
ficou conhecido como a "Ehklesia^do Cristianismoprimitivo.
Algo bem diferente do que hoje chamamos igreja no campo
Católico Romano ou Protestante... Essediscernimento — que é
um estudo imparcial do Novo Testamento ea dramática eurgente
necessidade da igreja —nos tem ajudado a compreendê-lo melhor.
Assim, podemos expressarseu significado da seguinte maneira: A
"Ekklesia^^ do Novo Testamento, a sociedade deJesus Cristo, é
uma comunhãopura depessoas, enão tem nada a ver com ocaráter
próprio de uma instituição; é, portanto, enganoso identificar
qualquer uma das igrejas historicamente desenvolvidas, marcadas
por um caráter institucional, como igrejas (Ekklesia) com a
verdadeira comunhão cristã."
—EMILBRUNNER— Teólogo Suíço doSéculo 20
324 Cristianismo Pagão?

que nós, cristãos, podemos seguir os mesmos ri-


tuais todos os domingos sem notar que não estão de
acordo comoNovo Testamentof^ Parte do motivo tema ver com
oincrívelpoderdatradição. Como temos visto, a igreja temsido,
freqüentemente, influenciadapela cultura a sua volta, aparen
temente sem a consciência deseus efeitos negativos. Em outras
ocasiões, ela tem reconhecido, devidamente, evidentes ameaças
—como os ensinos heréticos sobreapessoa eadivindadedeJesus
Cristo. Mas num esforço de combater essas ameaças, deixou de
ser a estrutura orgânica que Deus escreveu no seu DNA.
Mas existealgo mais—algofundamental em relação ao qual
a maioriados cristãos estácornpletamente alheia. Está relacio
nado ao Novo Testamento. Oproblema não éoque oNovo Tes
tamento diz, e sim em como o abordamos.
Aabordagem mais comum usada entre cristãos modernos, ao
estudaraBíblia, échamada "comprovação de textos". Aorigem
da "comprovação de textos" está entre 1590 e1600. Um grupo
de homens chamados Escolásticos Protestantes tomou o ensino
dos Reformadores eos sistematizou segundo as regras da lógica
aristotélica.^
Os Escolásticos Protestantes sustentavam as Escrituras não
apenas como aPalavra de Deus, mas cada parte dela como Pala
vra de Deus —independentemente do contexto. Isso armou o
palco para aidéia de que se tomamos um versículo bíblico, esse
verso é, porsi só, correto e pode ser utilizado para comprovar
umadoutrinaou umaprática.
QuandoJoão Nelson Darbysurgiu porvolta de1805,formou
uma teologia baseada nessa abordagem. Darby elevou acompro-

1 Este capítulo é baseado em uma mensagem que Frank Viola ministrou


em uma conferência sobre igreja nas casas na Universidade Oglethorpe em
Atlanta, Geórgia, 29 de julho de 2000.
2 Para um debate sobre escolasticismo protestante, veja Walter Elwell,
Evangelical Dictionary of Theology (Grand Rapids: Baker Book House,
1984), 984-985. Francis Turretin (Reformado) eMartin Ghemnitz (Lutera
no) foram os principais influenciadores entre os Protestantes Escolásticos
(Elwell, Evangelical Dictionary ofTheology, 1116 e209 respectivamente).
Uma Nova Abordagem doNovo Testamento 325

vação de textos ao nível de uma forma de arte. Na realidade, os


fundamentalistas ecristãos evangélicos devem aDarby, ofato de
grande parte de seus ensinos serem aceitos até hoje.^ Todos fo
ramestabelecidos através do método dacomprovação de textos.
Acomprovação de textos tornou-se, portanto, a maneira pela
qual nós, cristãos contemporâneos, abordamos aBíblia.
Como resultado, nós cristãos, raramente, ou quase nunca,
olhamos para o Novo Testamento em sua totalidade. Ao invés
disso, nos servimos com pratos de pensamentos fragmentados,
cozidos pela lógica oriunda de uma humanidade decadente. O
fruto dessa abordagem éque nos desviamos eque estamos bem
longe da prática da igreja do Novo Testamento. Mesmo assim,
pensamos que somos bíblicos. Permita-nos ilustrar esse proble
ma com um conto fictício.

CONHEÇA MARVIN SNURDLY

Marvin Snurdly é um renomado conselheiro matrimonial.


Em seus vinte anos como terapeuta matrimonial, Marvin acon
selhou milhares de casais com problemas. A cada dia, centenas
de casais escreviam cartas a Marvin relatando suas tristes situ
ações matrimoniais. As cartas chegavam de todas as partes do
mundoe Marvin respondia a todas.
Cem anos sepassaram eMarvin Snurdly descansa em paz na
sua sepultura. Ele tem um tataraneto chamado Fielding Melish,
que decide recuperar as cartas perdidas de seu tataravô, Marvin
Snurdly. Mas Fielding conseguiu encontrar somente treze car
tas. Dentre milhares decartas que Marvin escreveu durante sua
vida, apenas treze sobreviveram! Nove foram escritas ^casais em
crise matrimonial. Quatro foram escritas acônjuges individuais.

3As rupturas dispensacionalista e pré-tribulacional são apenas duas delas.


A famosa série Left Behind'' é construída sobre tais ensinos (veja Time, 1°
de Julho de 2002, 41-48). Para afascinante origem da doutrina pré-tribula-
cional de Darby, veja Dave MacPherson, The Incredible Cover-Up.
326 Cristianismo Pagão?

Todas essas cartas foram escritas em um período de 20 anos:


de 1980 a 2000. Fielding Melish planeja compilar todas essas
cartas em um único volume. Mas há algo interessante quanto
à maneira como Marvin escrevia suas cartas, o que dificulta a
tarefade Fielding.
Primeiramente, Marvin tinha um hábito irritante de nunca
datar suas cartas. Nenhuma contém o dia, o mês ou o ano. Em
segundo lugar, as cartas revelam apenas metade daconversa. As
cartas iniciais escritas aMarvin, que provocaram suas respostas,
já não existem mais. Sendo assim, a única maneira de entender o
pano de fundo detrás dessas cartas de Marvinseria reconstruir a
situação matrimonial das suas respostas.
Cada carta foi escrita em momentos diferentes, para pesso
as de culturas diferentes, tratando de problemas diferentes. Por
exemplo, em 1985, Marvin escreveu uma carta para Paul eSally,
do Estado da Virgínia, que passavam porproblemas de ordem
sexual no início de seu casamento. Em 1990, Marvin escreveu
uma carta aJethro e a Matilda da Austrália, que tiveram pro
blemas com seus filhos. Em 1995, Marvin escreveu uma carta a
uma senhora doMéxico, que passava por uma crise de meia ida
de. Infelizmente, não existia nenhuma forma de Fielding saber
quando as cartas foram escritas.
Resultado: vinte anos —treze cartas —todas escritas apes
soas diferentes, em épocas diferentes e para culturas diferentes
— todas abordando problemas diferentes.
Fielding Melishqueriacolocaressas treze cartas em uma or
dem cronológica. Mas sem as datas, não conseguiu fazer isso.
Então, Fielding as classificou por tamanho, de uma forma de
crescente. Isso quer dizer que ele pegou acarta mais extensa que
Marvin escreveu e a colocou como a primeira. A segunda carta
mais extensa como asegunda, eassim por diante. Acompilação
terminou com a carta mais curta, e então todas as treze cartas
estavam alinhadas, pela sua extensão, enão cronologicamente.
A coleção é publicada e torna-se um hest-seller.
Cem anos se passaram e as Obras Colecionadas de Marvin
Snurdly compiladas por Fielding Melish resistem. A obraconti
nuabempopular. Depois de mais cemanos, o volume ainda está
sendo disseminado abundantemente pelo mundo ocidental.
Uma Nova Abordagem doNovo Testamento 327

Este livro foi traduzido em dezenas de idiomas. Os conse


lheiros matrimoniais o citam a todo instante. As universidades o
utilizam em suas classes de sociologia. Étão amplamente usado
que alguém tem a idéia brilhante de modificar o volume para
facilitar a leitura e o manejo.
Que idéia é essa? Dividir as cartas de Marvin em capítulos
e frases numeradas (que chamamos de versículos). Assim, as
Obras Colecionadas deMarvin Snurdly são publicadas com ca
pítulos e versículos.
Mas, ao agregar números de capítulos e versículos a essas
cartas, que uma vez foram vivas, algo muda, de uma forma, a
princípio, imperceptível. As cartas perdem seu toque especial e
pessoal eadquirem um aspecto de manual.
Vários sociólogos começam a escrever livros sobre o casa
mento e a família. Qual sua principal fonte? Ás Obras Colecio
nadas de Marvin Snurdly. Compre qualquer livro no século 24
sobre o tema"casamento", evocêencontrará citações de capítu
los e versículos das cartas de Marvin feitas pelo autor.
Geralmente, é assim que acontece: Ao fazer uma observação
em particular, um autor citaum versículo da carta de Marvin escri
taaPaulo eSally, edepois, levanta outro versículo da carta escrita
aJethro e Matilda. Em seguida, extrai outro versículo de outra
carta. Então, ele "costura" esses três versículos juntos e com base
nisso, constróisuafilosofia particular sobreo casamento.
Quase todos os sociólogos e terapeutas matrimoniais que
escrevem livros fazem o mesmo. Todavia, eis aqui uma grande
ironia: cadaum desses autores constantemente contradiz os de
mais, emboratodos utilizem a mesma fonte!
Mas isso não é tudo. As cartas de Marvin não somente ad
quirem o tom de uma prosa fria, quando originalmente vivas, se
referindo apessoas reais elugares verídicos, como também se tor
namumaarma nas mãos dehomens movidos poragendas. Muitos
autores sobre casamento começaram a empregar a "comprovação
de textos" da obra de Marvin, como uma defesa perante aqueles
que não concordavam com sua filosofia matrimonial.
Como isso épossível? Como pode existir uma contradição
entre esses sociólogos quando, mutuamente, usam a mesma
fonte? É porque as cartas foram retiradas de seu contexto his-
328 Cristianismo Pagão?

tórico. Cada carta foi arrancada de suas respectivas seqüências


cronológicas e cenas da vida real.
Em outras palavras, as cartas de Marvin Snurdly foram trans
formadas em uma série de frases isoladas, fragmentadas, desuni
das —para que qualquer umpudesse levantar uma frase deuma
carta, uma frase de outra carta, para depois colar todas juntas e
criar a filosofia matrimonial de sua escolha.
Uma história surpreendente, não é? Bom, esse é o auge da
história. Não importa se você percebeu ou não, mas acabo de
descrever seu Novo Testamento!

A ORDEM DAS CARTAS DE PAULO

O Novo Testamento consiste, em sua maior parte, das cartas


de Paulo de Tarso (dois terços do total). Escreveu 13 cartas em
um período de 20 anos. Nove cartas foram escritas para de
culturas diferentes, em épocas diferentes, abordando problemas
diferentes. Quatro cartas foram escritas a cristãos individual
mente. Os indivíduos quereceberam taiscartas tambémestavam
tratando de assuntos diferentes em tempos diferentes.
Observe: 20 anos —13 cartas —todas escritas aigrejas dife
rentes,emépocas diferentes, emculturas diferentes, todasabor
dando problemas diferentes.'^
Noinício do segundo século, alguém pegou as cartas de Paulo
e as compilou num só volume. O termo técnico para isso é "câ-
non".^ Osescolásticos referem-se aesse volume compilado como

4 Veja Donald Guthrie, New Testament Introduction, edição revisada


[Downers Greve, IL: Intervarsity Press, 1990]. Para uma boadiscussão so
bre como aBíblia chegou até nós, veja Christian History 13, no. 3e Ronald
Youngbiood: "The Process: How We Got Our Bible", Christianity Today,
(05 de Fevereiro de 1988), 25-38.
5 Bruce, Paul, Apostle ofthe Heart Set Free, 465. Pesquisadores referem-se
ao cânon de Paulo como "Pauline corpus". Para aprender sobre ahistória do
cânon do NT, veja F.F. Bruce's The Canon ofScripture (Downer's Grove:
InterVarsity Press, 1988), Capítulos 8-23.
Uma Nova Abordagem do Novo Testamento 329

"Cânon Paulino". O Novo Testamento é, na essência, essa com


pilação emais algumas poucas cartas adicionadas posteriormente,
os quatro evangelhos. Atos em seguida eApocalipse, no final.
Naquele tempo, ninguém sabia quando as cartas de Paulo
haviam sido escritas, e mesmo que sesoubesse, não haveria ne
nhuma importância. Não havia precedentes para ordem alfabéti
ca ou cronológica. O mundo greco-romano do século primeiro
classificava sua literatura utilizando a ordem decrescente.*^
Veja como o seu Novo Testamento está organizado. O que
você encontra? A carta mais extensa de Paulo, "Romanos , vem
em primeiro lugar.^ "iCoríntios" vem em segundo lugar, depois
de Romanos. "2Cormtios" é o terceiro livroem ordem de tama
nho. Seu Novo Testamento segue esse modelo até o pequeno
livro chamado "Filemom".*'
Em 1864, Thomas D. Bernard ministrou uma série de pa
lestras como parte do Bampton Lectures [Palestras BamptonJ.
Essas palestras foram publicadas em 1872 em um livro intitula
do The Progress ofDoctrine in the New Testament (em tradução
livre, "O Progresso da Doutrina no Novo Testamento"). Em
sua obra, Bernard alega que aordem atual das cartas de Paulo no
Novo Testamento foi divinamente inspirada e aprovada. Esse
livro se tornou muito popular entre os professores da Bíblia do
século 19 e 20. Como resultado disso, quase todo comentário
teológico, exegético ou bíblico escrito no século 19 e 20 segue
apresente ordem caótica, que ofusca nossa visão, enão permite
que tenhamos a visão total e panorâmica do Novo Testamen
to. A crítica canônica é bem conhecida entre os seminaristas. E
o estudo do cânon como um meio de conquistar uma teologia
bíblica abrangente. Anecessidade hoje éuma teologia baseada.

6Jerome Murphy-0'Connor, Paul the Letter-Writer (Collegeville, MN: The


Liturgical Press, 1995), 121, 120. Essa prática éconhecida como esticometria.
7 Para umestudosobre a ordemdo cânon paulino, veja Murphy-0'Connor,
Paul the Letter-Writer, Cap. 3.
8Não éprovável que Hebreus tenha sido escrito por Paulo, por isso não faz
parte do corpo paulino.
330 Cristianismo Pagão?

não no cânonatuale suamá organização e simna narrativa cro


nológica da igreja primitiva.
Segue abaixo a ordem atual do Novo Testamento. Os livros
estão ordenados segundo aordem que consta noseu Novo Testa
mento. Oslivros estão ordenados dos maiores para os menores:
Romanos
1 Coríntios
2 Coríntios
Gaiatas
Efésios ^
Filipenses
Colossenses
1 Tessalonicenses
2 Tessalonicenses
1 Timóteo
2 Timóteo
Tito
Filemom

Então, qual é a ordem cronológica correta dessas cartas? De


acordo com a melhor informação técnica disponível, a ordem
cronológica em que essas cartas foram escritas é esta:^''
Gaiatas
1 Tessalonicenses
2 Tessalonicenses
1 Coríntios
2 Coríntios
Romanos
Colossenses

9Efésios, na realidade, éum pouco maior que Gálatas, mas os livros foram mal
ordenados devido aum erro do escriba. Isto não surpreende, pois adiferença de
extensão ébem pequena (Murphy-CConnor, Paulée Letter-Writer, 124).
10 Veja Donald Guthrie, New Testament Introduction: Revised Edition; RE
Bruce s The Letíers ofPaul:Án Expanded Pavaphrase (Grand Rapids: Eerdmans,
1965); RR Bruce, Paul: The Apostle ofthe Heart Set Free (Grand Rapids:
Eerdmans, 1977).
Uma Nova Abordagem doNovo Testamento 331

Filemom
Efésios
Filipenses
1 Timóteo
Tito
2 Timóteo

O ACRÉSCIMO DOS CAPÍTULOS EVERSÍCULOS


No ano 1227, um professor da Universidade de Paris chamado
Stephen Langton acrescentou capítulos atodos os livros do Novo
Testamento. Depois, em 1551, um tipógrafo chamado Robert
Stephanus (às vezes chamado de Roberto Estienne) enumerou as
frases [versículos] de todos os livros do Novo Testamento.^^
Segundo ofilho de Stephanus, adivisão de versos que seu pai
criou não serve para osentido do texto. Stephanus não utilizou
nenhum método consistente. Enquanto viajava de carroça de
Paris aLyon, dividiu todo o Novo Testamento em versículos,
dentro da divisão decapítulos feita porLangton.'^
Dessa forma, osversículos nasceram nas páginas dos Escritos
Sagrados no ano de 1551." Edesde aquele tempo, opovo de Deus
tem se aproximado do Novo Testamento com tesouras ecolas, re-

11 Norman Geisler and William Nix, A General Introduction of the Bihle:


Revised and Expanded (Chicago: Moody Press, 1986), 340-341, 451; Bruce
Metzger and Michael Coogan, The Oxford Companion to the Bihle (New
York: Oxford University Press, 1993), 79.
12 H. von Soden, Die Schriften des Newen Testamentes (Goettingen, Ale-
nrianha: Vandenhoek, 1912), I, 484; Connolly, The Indestructihle Book, 154.
Um historiador da Bíblia fez esse comentário sobre a versificação de Ste
phanus do NT: "O resultado seria melhor se usassem os joelhos sem secreto".
13 A versificação da Bíblia Hebraica ocorreu em 1571. Theodore Beza co
locou os versículos de Stephanus naversão doTextus Receptus (1565) que
lhes deu o lugar preeminente que possuem hoje. Kurt Galling, ed., Die Re-
ligion in der Geschichte und der Gegenwart 3® ed. (Tubingen, Alemanha: J.
C. B. Mohr, 1957) 3:114.
332 Cristianismo Pagão?

cortando e tomando sentenças isoladas e aleatórias, de cartas di


ferentes, tirando-as de seu cenário real e unindo-as para montar
doutrinas favoráveis. Depois eles achamam de "Palavra de Deus".
De maneira similar, a vista panorâmica da história da igre
ja primitiva aberta [sem restrições] é raramente passada, se é
passada, aos seminaristas e alunos de Faculdades Bíblicas, com
os livros do Novo Testamento em ordem cronológica.^'^ Como
resultado disso, amaioria dos cristãos está completamente por
fora dos eventos sociais ehistóricos que estão por trás de cada
carta do Novo Testamento. Ao invés disso, transformaram o
Novo Testamento em um manual que pode ser manuseado para
provar cada ponto e questão. Picar aBíblia em pequenos frag
mentos facilita esse processo.

COMO ABORDAMOS O NOVO TESTAMENTO

Nós, cristãos, fomos ensinados a abordar a Bíblia de oito


maneiras. Veja quantas delas se aplicam a você [você pode até
marcarcom um lápis]:
—Você procura versículos que lhe inspirem. Quando os en
contra, você destaca, memoriza, medita sobre eles, e coloca na
porta da geladeira.
—Você procura versículos que lhe contam o que Deus pro
meteu, para que você possa confessá-los com fé, eassim, obrigar
Deusa fazer o que você quer.
— Você procura versículos que tenham mandamentos e di
reções de Deus sobre o quefazer.

14A história da igreja primitiva é ensinada em muitos seminários e faculda


des bíblicas em uma matéria chamada "história da igreja", enquanto que os
livros do NT são ensinados dentro uma matéria chamada "estudos do Novo
Testamento". Essas duas matérias nunca se juntam. Se você acredita em mim,
faça o teste: na próxima vez que encontrar um estudante de seminário (ou
umseminarista formado), peça a ele ou ela que relate detalhadamente todaa
série de eventos que ocorreram desde a cartade Paulo aos Gálatas até a carta
aos Romanos.
Uma Nova Abordagem doNovo Testamento 333

—Você procura versículos que podem ser utilizados para


assustar o diabo e deixá-lo fora desiou para resistir a ele nahora
da tentação.
—Você procura versículos que comprovem sua doutrina
particular para usá-los para massacrar ou combater seu oponen
te teológico com recortes bíblicos. (Por causa do método da
comprovação de textos, um vasto solo improdutivo da cristan-
dade se comporta como se amera citação de algum versículo ale
atório edescontextualizado fosse capaz de acabar com qualquer
discussão em todos os assuntos).
—Você procura versículos na Bíblia para controlar e/ou cor
rigir outras pessoas.
—Você procura versículos para ajudar na "pregação" do pró
ximo domingo. (Esse éum hábito muito comum entre pregado
res e professores).
—Você, às vezes, fecha os olhos, folheia aBíblia rapidamente
eabre em algum lugar, ao acaso. Estica o dedo pela página, lê o
texto e o considera como uma "palavra pessoal" doSenhor.
Agora, olhe para essa lista outra vez. Olhou? Você já usou al
guma dessas abordagens? Olhe novamente: observe como cada
uma dessas abordagens é altamente individualista, que coloca
você, um "cristão individual", nocentro, eignora o fato de que a
maior parte do Novo Testamento foi escrita aum corpo coletivo
de pessoas (igrejas), não a indivíduos.
Mas isso não é tudo. Cada uma dessas abordagens está cons
truídasobreumsistema isolado decomprovação detextos.Esse
sistema trata o Novo Testamento como um manual e nos deixa
cegos em sua mensagem real. Não éde se admirar que os cristãos
concordem como salário depastores, coma liturgia, como ser
mão, com a construção de igrejas, com a roupa religiosa, com o
coral egrupo de louvor, com o seminário ecom um sacerdócio
passivo —tudo isso sem pestanejar.
Ensinaram-nos a abordar a Bíblia como um quebra-cabeças.
A maioria de nós nunca descobriu toda história que está por trás
das cartas que Paulo, Pedro, Tiago, João eJudas escreveram. Não
334 Cristianismo Pagão?

nos disseram nada sobre os capítulos e versículos, nemsobre o


contexto histórico/^
Por exemplo, alguém lhe ensinou sobre ahistória que se es
conde por trás da carta de Paulo aos Gálatas? Antes de dizer que
sim, veja se você consegue responder essas perguntas de cabeça:
Quem foram os Gálatas? Quais temas estavam em jogo? Quan
do epor que Paulo escreveu aeles? Oque aconteceu pouco antes
de Paulo escrever esse tratado? Onde Paulo estava quando oes
creveu? Em que parte de Atos se encontra o contexto histórico
dessa carta? Todos esses "panos de fundo" dacarta aos Gálatas
são indispensáveis à compreensão daquilo que o Novo Testa
mento trata. Sem isso, simplesmente não podemos entendera
Bíblia deuma forma clara e apropriada.'^
Um pesquisador explica isso nosseguintes termos: 51 ordem
das cartas de Paulo no Novo Testamento está, em geral, de acordo
com o tamanho de cada uma. C^uando as reordenamos em ordem
cronológica, encaixando-as, namedida dopossível, em seu cenário
de vida real dentro das datas de Atos dos Apóstolos, elas começam
arevelar mais de seu tesouro; chegam ase tomarauto-explicativas,
mais do que quando ignora-se opano defundo dessas cartas'\"
Outro escreve: ''Se as ediçõesfuturas [do Novo Testamento]
quiserem ajudar, ao invés de obstruir a compreensão do leitor do
Novo Testamento, deve-se concordar que chegou o momento de
retirar asdivisões porversículos e capítulos do texto, ecolocá-las à
margem damaneira mais discretapossível É necessário omáximo
de esforço para publicar os textos, deforma que a sua unidade, a
qual opróprioautor tinha emmente, tome-se evidente.

15 Alguns de nós aprendemos um pouco do cenário histórico da Bíblia.


Mas é o suficiente para nos deixar imunes de uma pesquisa mais significa
tiva e profunda.
16 F. F. Bruce, ed., The New Intemational Bible Commentary (Grand Rapids:
Zondervan, 1979), 1095.
17 G. C. D. Howley em "The Letters of Paul," New Intemational Bible
Commentary, 1095.
18von Soden,Die Schriften des Newen Testamentes, 482.
Uma Nova Abordagem do Novo Testamento 335

Você poderia dar o nome de "abordagem área de transferên


cia" ('=*N.T.: "Área de transferência" {cliphoard em inglês) éum
termo norte-americano) ao nosso método de estudar o Novo
Testamento. Se você tem alguma familiaridade com computa
dores, você sabe osignificado desse componente. Quando você,
por exemplo, usa um processador de textos, você pode recortar
ecolar um fragmento do texto através da área de transferência,
que permite orecorte de frases de um documento easua cola
gem em outro.
Pastores, seminaristas eleigos também foram condicionados
àabordagem "área de transferência" —copiar ecolar —quando
estudam a Bíblia. É dessa forma que justificamos nossas estru
turas artificiais, cheias de paixões humanas, terrenas e envoltas
em tradições, fingindo ser "bíblicas". Por isso, habitualmente,
perdemos averdade de como aigreja primitiva era, de fato, quan
do abrimos nosso Novo Testamento. Vemos versículos. Não ve
mos o quadro inteiro.
Essa abordagem ainda está viva e em pleno uso em nossos
dias, não somente em igrejas institucionais, mas em igrejas nas
casas também. Permita-me usar outra ilustração para mostrar
como qualquer um pode consentir facilmente com essa aborda
gem, sem perceber —eos efeitos nocivos que isso pode ter.

CONHEÇA O ZÉ IGREjA-NA-CASA
O Zé Igreja-na-Casa cresceu numa igreja institucional. Está
insatisfeito com ela hápelo menos dez anos. Ainda assim, seu
coração foi entregue a Deus e deseja ardentemente ser usado
por Ele.
Quando Zé descobre um livro sobre a"igreja nas casas", ex
perimenta uma crise de consciência e aprende algumas coisas
surpreendentes, como por exemplo: afigura do pastor contem
porâneo não existe no Novo Testamento. Não ha edifícios para
igrejas. Não há um clero assalariado eos cultos são abertos para
todos que desejarem compartilhar.
Todas essas descobertas agitam tanto o mundo do Zé, que
ele renuncia e deixa a igreja institucional (depois de enfrentar a
336 Cristianismo Pagâo?

fúria do pastor, claro). O problema éque Zé cometeu oerro de


compartilhar essas "grandes revelações" com outras pessoas de
sua congregação. Quando o pastor ficou sabendo disso, sentin
do ares de mudança e um clima diferente, Zé tornou-seo centro
das atenções e foi acusado de herético.
Após recuperar-se das feridas, Zé pegou seu Novo Testa-
niento, sem perceber que o "recortar e colar" ainda permanecia
vivo em seu cérebro. A "mentalidade da área de transferência"
nunca foi removida deseu pensamento. E não está ciente disso
— como a maioria dos cristãos.
Zé começa abuscar os ingredientes necessários para formar
uma "igreja neotestamentária". Começa afazer oque os cristãos
fazem quando querem saber avontade de Deus: seleciona alguns
versículos bíblicos doNovo Testamento, ignorando ofundo so
cial e histórico desses versículos.
Ele se depara com Mateus 18.20: "Onde se reunirem dois
ou três em meu Nome, ali Eu estarei no meio deles". Continua
lendo e chega em Atos 2.46; "Partiam o pão em suas casas". Zé
recebe, então, uma revelação. ""Tudo oque tenho quefazer éabrir
minha casa, convidar duas ou três pessoas, 'evoilà'! Plantei uma
igreja neotestamentária!''.
Então, no próximo domingo, Zé abre suacasa e estreiauma
"igreja caseira" baseada no Novo Testamento (assim acredita).
Logo, tem outra revelação: "'Sou um plantador de igrejas como
Paulo. Fundei uma igreja em casa, como elefez". Zé não percebe
que não fez outra coisa senão recortar duas sentenças de dois
documentos —completamente fora do contexto histórico —e
depois colar para fazer o que não tembase bíblica.
Mateus 18.20 não é uma receita para fundar uma igreja. Essa
passagem refere-se a uma reunião de excomunhão! Atos 2.46 é
um simples registro do que faziam os cristãos primitivos. Sim, os
primeiros cristãos se reuniam nas casas. E é muito recomendável
que os cristãos se reúnam em suas casas hoje.Mas osimples fato
de abrir sua casa ou convidar pessoas não constitui uma igreja.
Nem qualifica odono da casa como um "plantador de igrejas!".

19 Veja Reimagining Church de Viola.


Uma Nova Abordagem doNovo Testamento 337

As igrejas plantadas durante o primeiro século foram seme


adas com sangue esuor. As pessoas que as fundaram não deixa
ram a sinagoga no sábado e decidiram fundar igrejas nas casas
no domingo. Cada homem do Novo Testamento envolvido na
obra de semear igrejas era, primeiramente, um irmão normal em
uma igreja já existente. Ecom o tempo —depois de muitas tri-
bulações epermanência numa igreja que o conhecia muito bem
—erareconhecido eenviado comaaprovação detal igreja. Esse
éo padrão constante do Novo Testamento.^''
Você pode provar qualquer coisa com frases. Abrir igrejas,
fazendo uma comparação com as congregações do primeiro sé
culo, requer muito mais trabalho do que apenas abrir as portas
de sua casa, acomodar as pessoas em um sofa confortável, tomar
café, comerbolachinhas e falar sobre a Bíblia.
O que queremos dizer com "estilo de uma igreja do século
primeiro"? Um grupo de pessoas que sabe como ter experiências
com Jesus Cristo eexpressá-Lo em um encontro sem nenhuma
preparação humana de cerimônia ou ritual. Um grupo que pode
funcionar coletivamente como um Corpo — caminhando com
os próprios pés —depois que oplantador da igreja odeixa. (Isso
não significa que plantadores de igreja nunca retornam. Algu
mas vezes, precisam voltar para ajudá-la. Mas após plantar uma
igreja, os plantadores de igreja estarão muito mais ausentes que
presentes).
Quando alguém semeia uma igreja do estilo do primeiro sécu
lo, deixa-a sem pastor, ancião, líder de louvor, manual bíblico, um
facilitador ou professor de Bíblia. Se essa igreja estiver bem plan
tada, os crentes saberão como sentir e seguir aviva e real direção
deJesus Cristo nas reuniões. Saberão como deixar que Ele os guie
de umaforma invisível, em seus encontros. Trarão suas próprias
músicas e escreverão suas próprias músicas. Ministrarão o que
Cristo tem lhes mostrado—sem nenhum líderhumano presente!
Oque descrevo aqui não éuma filosofia teórica. Eu (Frank) tenho
participado de igrejas que reúnem essas condições.

20 Veja So Do Yoh Want toStart a House Churchf de Viola.


338 Cristianismo Pagão?

Equipar pessoas para fazer isso exige bem mais do que abrir
sua casa e dizer: ''Venhaniy teremos um estudobíblico".
Voltemos a nossa história. Zé Igreja-na-Casa agora tem uma
igreja neotestamentaria . Como em todos os pequenos grupos
iguais aos do Zé, aquestão da liderança sempre surge. O que Zé
faz? Começa abuscar alguns versículos sobre liderança. Ele pára
em Atos 14 eseconcentra noversículo 23 que diz: "Então, Paulo
eBarnabélhes constituíram presbíteros [anciãos] em cada igreja".
José acaba de receber outra revelação! 51 Palavra deDeus declara
que todas as igrejas que vêm do Novo Testamento têm anciãos", re
flete. ''Portanto, nossa igrejaprecisa deanciãos!" (Zé faz essa desco
berta apenas duas semanas depois de abrir asua casa).
Depois de recortar esse texto, fora do seu contexto, nomeia
alguns anciãos. (A propósito, Zé está entre eles).
Qual é o contexto histórico de Atos 14? Dois plantadores
de igreja, Paulo eBarnabé, foram enviados por sua congregação
para aAntioquia. Antes de serem enviados, ambos jáhaviam ex
perimentado a vida eclesiástica como irmãos, não como líderes
(Barnabé em Jerusalém ePaulo em Antioquia).
Atos 14.23 é a parte de uma descrição do que aconteceu de
pois que esses plantadores foram enviados. Eles estavam no sul
da Galácia. Os dois homens terminam de fundar quatro igrejas.
Agora, estão retornando para visitar aquelas igrejas, seis oudoze
meses depois de terem sido fundadas. Paulo eBarnabé regres
sam acada uma das igrejas e"aprovam anciãos publicamente" em
cada congregação.^'
Mas Zé cometeu um erro ainda mais sutil. O versículo diz
que Paulo eBarnabé nomearam anciãos em cada congregação.
Zé pensa que isso significa que é necessário ter um ancião em
cada igreja. Mas esse texto não diz isso. O versículo refere-se a
um evento no sul daGalácia durante o primeiro século. "Cada
igreja" quer dizer"cada congregação no sulda Galácia" no ano
49 d.C.!^^ Lucas refere-se às quatro congregações que Paulo e

21 Veja Reimagining Church de Viola.


22Na Antioquia da Síria e em Corinto,até ondesabemos, não havia anciãos.
Uma Nova Abordagem do Novo Testamento 339

Barnabé acabaram de fundar. Você vê o problema que causamos


quando recortamos versículos fora de seu cenário histórico?
A verdade é que Zé Igreja-nas-Casas está completamente
fora dos limites bíblicos! Em primeiro lugar, não éum plantador
de igreja itinerante. (Que foram os homens que reconheceram
os anciãos do primeiro século). Em segundo lugar, a igreja é
muito jovem para ter anciãos. Em Jerusalém, o surgimento de
anciãos demorou pelo menos uns 14 anos. Mas Zé Igreja-nas-
Casas tem seuversículo, entãoestá"amparado pelas Escrituras
(em sua imaginação).
Mais tarde, o assunto de dar dinheiro semanifesta. Então, Zé
escolhe iCoríntios 16.2: "Noprimeiro dia da semana quando es
tiverem juntos, recolham uma coleta de sua abundancia .Baseado
nesse versículo,José institui uma regra para que todos de sua igre
ja dêem dinheiro ao fundo eclesiástico nas manhãs dominicais.
Outra vez,José interpretou uma passagem fora de seu contex
to e fundou uma prática sobre isso. iCoríntios 16.2 éapenas uma
solicitação antiga. Foi escrita porvolta do ano 55 d.C. para aigreja
em Corinto. Naquele tempo, Paulo estava coletando dinheiro de
todas as igrejas gentílicas que havia fundado. Tinha apenas uma
meta: queria levar esse montante aos irmãos eirmãs ernJerusalém
que estavam enfrentando uma grave miséria. Paulo disse aos co-
ríntios: "Cada um de vós separe o que puder, de acordo com asua
renda eaguarde para que não se façam coletas quando eu chegar".
Portanto, ICoríntios 16.2 não tem nada aver com o ritual mecâ
nicode recolher umaofertatodo domingo pela manhã.^
Aigreja na casa de José começa adiscutir aquestão da missão
da igreja. Naturalmente, Zé começa abuscar versículos que lhe
darão uma resposta. Ele para em Mateus 28.19: "Ide efazei com
que todos os povos da terra se tornem discípulos, batizando-
os..." Eassocia essa passagem aMarcos 16.15 que diz: "Enquan
to estiverdes indo pelo mundo inteiro, proclamai o evangelho .

23 Defendo plenamente aoferta regular para suprir as necessidades da igre


ja {não para suprir salários do pastor ou edifícios da igreja, é bom lembrar
isso). Assim, você não pode usar esse versículo como um mandamento re
ferente à oferta dominical.
340 Cristianismo Pagão?

Continua, até chegar a Atos 5.42, a qual diz: "Não deixavam de


pregar e ensinar que Jesus Cristo é o Messias".
José medita nessas palavras e reflete: "Nossa missão épregar
oevangelho. Existimospara isso. Se Deus não quisesse quepregás
semos oevangelho, Ele nos mataria após entregarmos nossa vida a
Cristo! Sendo assim, a única razãopela qual respiramos—a única
razão pela qual temos uma igreja em casa —épregar oevangelho.
Isso éoque diz oNovo Testamento. Acabo de lê-lo. Ese nãopregar
mos oEvangelho regularmente, estaremospecando contra Deus".
Novamente, o Sr. José Igreja-na-Casa interpretou três ver
sículos completamentefora do seu contexto. Em Mateus 28.19
e Marcos 16.15, Jesus está enviando Seus apóstolos. E em Atos
5.42, esses mesmos apóstolos estão pregando o Evangelho. No
grego original, a"Grande Comissão" significa: "Ao saírem pe
los caminhos..." Ou seja, éuma profecia, ("ao saírem"), não um
mandamento ("ide").^^ O Senhornão deu o comando "ide"aos
apóstolos. Disse que eles iriam. Há um ponto valioso aqui.
Ao contrário dos cristãos de hoje, os da igreja primitiva não
compartilhavam Cristo sentindo culpa, oucomo uma ordem ou
obrigação. Eles O compartilhavam porque Jesus transbordava
em seus corações! Era algo espontâneo e vital — mostrando
"vida", não culpa.
Os processos de pensamento deJosé sobre amissão da igreja
foram moldados por duas coisas: orevivalismo do século 10 (veja
o capítulo 3) e a abordagem bíblica "área de transferência".

A REAÇÃO EM CADEIA DA ABORDAGEM "ÁREA DE


TRANSFERÊNCIA"

Voltemos um passo eanalisemos ahistória do Zé. Ele maneja


oNovo Testamento de forma grosseira, negligente. Sua motiva
ção épura? Sim. Tem umcoração voltado para Deus? Sim. Isso o
protege de abordar incorretamente as escrituras? Não.

24 Kenneth S. Wuest, The New Testament: An Expanded Translation.


Uma Nova Abordagem doNovo Testamento 341

José chegou ao Novo Testamento da mesma maneira com


que amaioria de nós foi ensinada afazer —com tesoura ecola.
Pronto para recortar, colar ecriar uma base para nossas doutri
nas e práticas preferidas.
Areação em cadeia dessa abordagem é trágica. Tem produ
zido várias igrejas hoje que não têm qualquer base espiritual que
justifique sua existência. (Referimo-nos às igrejas institucionais
como as conhecemos hoje). Mas de longe ainda, também tem
produzido diversas "igrejas caseiras" estéreis e de uma forma
mecânica, que não tem vida, nem cor.
Lembre-se da visão de Ezequiel (veja Ezequiel 37): o vale de
ossossecos. O Senhorlevou Ezequiel aovale dos ossossecos e a
Palavra deDeus, viva eativa, osressuscitou. AsEscrituras dizem
que os ossos foram colocados uns sobre os outros, revestidos
com tendões ecarne. Equando o sopro deDeus veio eoscercou
como um vento forte, aqueles ossos mortos se converteram em
um poderoso exército.
Muitos "plantadores" de igreja contemporâneos podem ser
descritos como os homens que foram ao vale dos ossos secos
levando tubos de cola, agulha, linha e os versículos do Novo
Testamento nas mãos. Então, tomaram os ossos e os colaram.
Colocaram a linha dentro dos tendões e costuraram, remen
dando pedaços de carne sobre eles. Depois disso, se retiraram e
disseram: "Vejam, uma igreja do Novo Testamento construída
sobreo Novo Testamento. Temos presbíteros, nos reunimos em
casas, não temos um clero profissional, levantamos uma oferta
todo domingo e pregamos o evangelho".
Mas não tem um vento poderoso!
Aigreja de Jesus Cristo não pode ser iniciada. Não pode ser
fundida. Não há um esquema nem modelo que possamos extrair
do Novo Testamento. Não podemos imitar alguns versículos
mecanicamente. AIgreja de Jesus Cristo éuma entidade bioló
gica, uma entidade viva. Éorgânica, então, deve nascer.
Fazemos bem ao observar e prestar atenção à forma como
as igrejas foram levantadas no primeiro século. Acredito que as
Escrituras afirmam, nesse ponto, que devemos manter os prin
cípios. Se você contar todas as igrejas mencionadas no Novo
Testamento, encontrará aproximadamente 35. Cada uma delas
342 Cristianismo Pagão?

foi plantada ou regada por um "plantador itinerante" que prega


va apenas aJesus Cristo.Não háexceções. Aigreja foilevantada
como resultado do grupo apostólico deJesus Cristo.
Há mais versículos dando o respaldo aesse princípio do que
a encontros emcasas, reuniões abertas, de participação mútua e
ofertas aos domingos pela manhã. Olivro de Atos éum registro
de igrejas sendo plantadas porobreiros itinerantes naJudéia, no
sul da Galácia, Macedônia, Achaea (antiga região np sul da Gré
cia localizada ao norte da Península Peloponesa), Ásia Menor e
Roma. As epístolas são cartas escritas por obreiros itinerantes
para igrejas em crises [coletivas] e também individuais, e para
aqueles que eles estavam treinando para o ministério espiritual.
O princípio do plantador itinerante de igrejas domina o Novo
Testamento.
Como temos visto, há mais nas Escrituras apoiando essa prá
tica do que todas as coisas antibíblicas que fazemos na igreja mo
derna —incluindo o pastor assalariado. O padrão de obreiros
itinerantes plantando e ajudando a igreja está impregnado em
todo oNovo Testamento. Eprofundamente baseado em princí
pios divinos e tem raízes nas Escrituras.

UM REMÉDIO PRÁTICO

Qual é, então, oantídoto para aabordagem de transferência


do Novo Testamento? Qual remédio poderá conduzi-lo aser uma
expressão viva doCorpo de Cristo, do"estilo primeiro século"? O
antídoto começa com acompreensão doNovoTestamento.
Fomos condicionados a abordar o Novo Testamento com um
microscópio eaextrair versículos para decifrar o que os primei
ros cristãos fizeram. Precisamos abandonar toda essamentalida-

25 Para ver esse princípio emergir cronologicamente nas Escrituras, veja


Viola The UntoldStory ofthe New Testament Church.
26 Veja So Do You Want to Start a House Church? de Viola, que é um debate
detalhado sobre as quatro formas com que as igrejas foram plantadas no
primeiro século e os princípios espirituais que as regiam.
Uma Nova Abordagem do Novo Testamento 343

de, voltar atrás eencontrar uma nova perspectiva das Escrituras.


Precisamos nos familiarizar com todo o drama envolvente, do
princípio ao fim. Precisamos aprender aver oNovo Testamento
panoramicamente, não microscopicamente.
F. F. Bruce, um dos maiores eruditos de nosso tempo, uma
vez declarou corajosamente, que ler as cartas de Paulo é como
ouvir apenas um lado de uma conversa telefônica.^'' Graças ao
recente avanço no campo da pesquisa, jápodemos reconstruir
asaga da igreja primitiva por inteiro. Em outras palavras, agora
podemos ouvir o outro lado dessa conversa! O livro de Frank
The Untold Story ofthe New Testament Church (em tradução
livre, "A História da Igreja do Novo Testamento que ainda não
foi contada") reconstrói ambos os lados da conversa, criando
umanarrativa fluida daprimeira igreja.
Aprender ahistória da Igreja Primitiva significa ser curado
para sempre desse "copiar-e-colar" edessa abordagem área de
transferência para oNovo Testamento. Aprender ahistória re
velará os princípios espirituais que estão no próprio Deus, que
permanecem consistentes ao longo de todo oNovo Testamento.
Afastamo-nos consistentemente desses princípios porcausa da
maneira que abordamos aBíblia eporque as cartas de Paulo não
foram compiladas cronologicamente.
Quando aprendemos ahistória, nossos versículos precisam
estar prostrados ecurvados perante ela. Já não estamos mais au
torizados a tomar um versículo fora do contexto e dizer: Vejam,
temos quefazer isso". Muitos versículos que nós, cristãos, tira
mos da Bíblia "como rotina", jamais combinarão entre si. Mais
importante ainda, se você não abordar aBíblia usando o méto
do área de transferência, verá a paixão e a unidade com as quais
os primeiros cristãos viveram, a forma como buscavam seguir
e representar o Senhor Jesus fielmente. E qual era essa paixão?
Deixamos essa pergunta para o capítulo final.

27 F. F. Vtvxxcç., Answevs to Cjuestions (Grand Rapids: Zondervan, 1972), 93.


344 CriscianismoPagão?

UM MERGULHO PROFUNDO CAP. 11

1. Vocês estão dizendo que lera Bíblia por assuntos ou tópi


cos ésempreperigosoy tanto num estudo individual quanto
numa preparação para ensinar um assunto específico? Ou
vocês acham que^ como os cristãos dedicaram um tempo
para ter uma compreensão panorâmica dasEscrituras, pu
deram evitarosperigos da comprovação de textos?
Estudos por assunto ou tópicos podem facilmente levar a
um desvio se os textos especiais que fazem parte de um tópico
não são compreendidos em seus contextos históricos. Por essa
razão, é melhor começar comum texto narrativo, vendo toda a
história fluir em seu contexto. Uma vez que essa base éestabe
lecida, estudos por assunto ou tópicos podem ter grande valor
significativo.

2. A 'Hgreja orgânica'' éum sinônimopara ''igreja na casa"? Se


não, qual é a distinção?
Não, não é um sinônimo. Algumas igrejas nas casas são
orgânicas, enquanto outras não são. Um grande número de
igrejas nas casas, atualmente, são reuniões de estudo bíblico
admiráveis. Muitas outras são festas ou jantares (as reuniões
giram em torno da refeição e é simplesmente isso). Algumas
igrejas nas casas são tão institucionalizadas como as igrejas
tradicionais — com um púlpito na sala de estar e cadeiras ar
rumadas em fileiras, para que as pessoas ouçam um sermão de
quarenta e cinco minutos.
A vida da igreja orgânica é uma experiência coletiva, mar
cada pela comunidade que se vê face a face, na qual todos os
membros participam ativamente, reuniões abertas, liderança
não-hierárquica e a centralidade e supremacia de Jesus Cristo
como o líder funcional e "o cabeça" do grupo. Em outras pa
lavras, a vida da igreja orgânica é a "experiência" do corpo de
Cristo. Em sua forma mais pura, éacomunhão da Trindade que
trazida àterra, permite que os seres humanos passem por uma
"experiência".
Uma Nova Abordagem doNovo Testamento 345

3. Quais são os sinais de uma igreja orgânica saudâveU Quais


são os sinaisde uma igrejaorgânica doentiaf
Alguns dos sinais da igreja orgânica saudável são:
— a comunhão de irmãos e irmãs com laços bem estreitos,
tendo Cristo como o centro da comunidade;
— a transformação do caráter das vidas dos membros;
— reuniões que expressam e revelam Jesus Cristo, no qual
todos os membros funcionam e participam ativamente;
— a vida da comunidade évibrante, próspera, autêntica, em
que os membros crescem em amor uns pelos outros;
— umacomunidade decrentes que estápreocupada, deuma
maneira excelente, com seu Senhor e não tem um estilo
devida legalista nem libertino [devasso].
Os sinais de uma igreja orgânica doentia são similares aos
problemas que oapóstolo Paulo apontou na igreja de Corinto:
— perversão da graça de Deus como licença para pecar;
— atitudes partidárias e elitistas;
— membros egocêntricos.

Apesar de as igrejas orgânicas serem comunidades que se vêem


face a face, experimentam a mesma gama de problemas que os
cristãos enfrentam em seus relacionamentos íntimos. Aqueles
problemas são resolvidos utilizando as cartas de Paulo. Igrejas
saudáveis sobrevivem a esses problemas e se tornam mais fortes
após passarem por eles, mas as doentias, geralmente, não.
Capítulo 12

Um Segundo Relance no Salvador:


Jesus,.O Revolucionário
Um radical deverdade tem que serum homem deraízes. Em
termos que sempre utilizo: "O revolucionário éum 'forasteiro'
diante daestrutura em colapso: Certamente^ tem que se verfora
dela. Mas oradical vaiatéasraízes desuaprópria tradição. Tem
que amá-la: Tem que chorarsobreJerusalém,
mesmo pronunciando suasentença".
—JOHNA.T. ROBINSON,
Pesquisador do Novo Testamento Inglês Do Século 20
Seo Cristianismo setomasse maisjovem, esse rejuvenescimento
teria que serde alguma maneira diferente do que ocorre agora. Se
aIgreja na segunda metade deste século [20]pretende recuperar-se
dasferidas que sofreu duranteaprimeira metade, entãoprecisará de
um novo tipo depregador. O "conveniente" chefe da sinagoga nunca
vaifundonar. Nem otipo sacerdotalque desempenha suasfunções e
recebeseu salário enão questiona mais nada, nem otipopastoral com
sua 'língua de ouro'que sabe comofazerpara quea relido cristã
seja saborosa eaceitávda todos. Todos esses tiposforam reprovados
enadaresolveram. Outro tipo delíder reli^osoprecisa surgir entre
nós, queprecisa serdo tipo do antigoprofeta, um homem que tem
visões de Deus eque ouve avoz vinda do trono. Quando ele vir, (e
eu oro, oh Deus!, que não haja apenas um, mas muitos), questionará
tudo aquilo que nossa civilização consideraprecioso. Colocará em
dúvida, denunciará, protestará em nome de Deus eseráalvo do ódio
edaoposição de^andeparte da Cristandade.
—A.W. TOZER,
Ministro eAutorAmericano do Século 20
348 Cristianismo Pagão?

^^SUS NÀO ÉSOMENTE OSalvador, oMessias, oProfeta,


o Sacerdote, e o Rei. Ele é também o Revolucionário.
Tanto, que alguns cristãos o conhecem assim. Sem dúvida, al
guns de nossos leitores estão lutando contra estes pensamentos
enquanto leem este livro: ''Porque vocês têm que sertão negativos
a respeito da igreja moderna^Jesus não éum crítico. Não étípico
de oNosso Senhorfalar oque está errado na igreja. Vamos nos con
centrar no lado positivo eignoremos onegativoV\
Esses sentimentosexpressam, emalto e bom tom, umacom
pleta faltade familiaridade com Cristo como um mestre revolu
cionário —profeta radical —orador provocativo —polêmico
—iconoclasta —eoponente implacável das autoridades (públi
cas e privadas) religiosas.
Obviamente, nosso Senhor não é crítico ou severo. Ele é
pleno de misericórdia ede bondade, eama Seu povo apaixona
damente. No entanto, é exatamente por isso que Ele é zeloso
para com sua Noiva. E éporisso que Ele não se comprometerá
com oque fez de seu povo cativo: as fortes tradições. Tampouco
ignorará nossafanática devoção a elas.
Considere a conduta de Nosso Senhor enquanto esteve na
terra.

Jesus nuncafoi um demagogo, nemum rebelde de discursos


descontrolados. (Mateus 12.19-20), embora desafiasse constan
temente as tradições dos escribas efariseus. Enão fazia isso "por
acidente", esim, deliberadamente. Os fariseus foram os que ten
taram extinguir a verdade que não conseguiam ver, poramor à
"verdade" que enxergavam. Isso explica por que sempre houve
uma nevasca decontrovérsias entrea"tradição dosanciãos" e os
atos de Jesus.
Certa vez, alguém disse que "um rebelde tenta mudar opas
sado; um revolucionário tenta mudar o futuro". Jesus Cristo
trouxe uma mudança drástica para o mundo. Mudou a visão
humana sobre Deus e a visão divinasobre o homem. Mudou a
visãodos homens sobre as mulheres. Nosso Senhor trouxe uma
mudança radical à antiga ordem das coisas, substituindo-a por
Um Segundo Relance noSalvador 349

uma nova.' Veio para gerar uma nova aliança —um novo Reino
— um novo nascimento — uma nova raça — novas espécies
— uma nova cultura — e uma nova civilização.^
À medida que você lê os Evangelhos, do princípio ao fim,
você vê seu Senhor, o Revolucionário. Veja como Ele deixa os
fariseus empânico, quando, intencionalmente, expõe suas con
venções. Jesus curou no sábado diversas vezes, rompendo de
frente com a estimada tradição. Se o Senhor quisesse aplacar a
ira de seus inimigos, poderia teresperado o domingo ouasegun
da-feira chegar, para curar algumas daquelas pessoas. Ao invés
disso, curou deliberadamente no sábado, sabendo, muito bem,
que seus oponentes ficariam furiosos.
Esse modo de agir tem um sentido profundo. Uma vez,
Jesus curou um cego com uma mistura de barro com saliva nos
olhos do homem. Tal fato foi um desafio direto à ordenança ju
daica que proibia curar aos sábados com misturas de barro com
saliva!^ Mesmo assim, seu Senhor, intencionalmente, rompeu
publicamente essa tradição, com a mais absoluta resolução.
Veja como Ele come sem lavar as mãos, sob o olhar intolerante

1As passagens seguintes elucidam anatureza revolucionária de Cristo: Ma


teus 3.10-12,10.34-38; Marcos 2.21-22; Lucas 12.49; João 2.14-17, 4.21-24.
2 A Igreja de Jesus Cristo não é uma mistura de judeus e gentios. E uma
nova humanidade — uma nova criação — que transcende tanto os judeus
quanto os gentios (Ef. 2.15). AEkklesia é uma nova entidade biológica no
planeta... é o povo que possui vida divina (iCoríntios 10.32; 2Coríntios
5.17; Gálatas 3.28; Colossenses 3.11). Até os cristãos do século 2 falam de
si mesmos como "nova raça" ou "terceira raça". Veja Clemente de Alexan
dria, Stromata, ou Miscellanies, livro 6, cap. 5. "Adoramos a Deus de uma
nova forma, como terceira raça, somos cristãos"; Epistle to Diognetus, cap.
1, "esta nova raça".
3 Em Mishnah está escrito: "Para curarum homem cego no Sahhath [sába
do] é proibido injetar vinho em seus olhos. Também é proibido fazer uma
mistura de saliva e argila e colocar emseus olhos" (Shabbat 108:20).
350 Cristianismo Pagão?

dos fariseus, novamente desafiando, de propósito, a tradição


fossilizada/
EmJesus, temos um Homem que recusava render-se diante
das pressões da conformidade religiosa. Um Homem que pregava
uma revolução. Um Homem que não tolerava a hipocrisia. Um
Homem que não tinha medo de provocar aqueles que suprimiram
oevangelho libertador, que inclusive, Ele trouxera para aliberta
ção dos homens. Um Homem que não se importava em despertar
acólera de seus inimigos, levando-os aprepararem-se para aluta.
Qualé o ponto? Esse. Jesus não veio apenas como Messias,
Ungido de Deus, para libertar seu Povo das ataduras da Queda.
Ele não veio apenas como Salvador, pagando uma dívida que
não eradEle paraquitaros pecados dahumanidade.
Elenão veio apenas como Profeta, consolando aflitos e afli
gindo os acomodados.
Ele não veio apenas como Sacerdote, representando o ho
memperante Deus e representando Deus perante o homem.
Ele não veio apenas como o Rei triunfante sobre toda auto
ridade, principado e poder.
Ele também veio como Revolucionário^ rompendo o velho
odre com o intuito de introduzir o novo.
Contemple seu Senhor, o Revolucionário!
Para amaioria dos cristãos, essa éuma nova visão deJesus. As
sim, acreditamos que isso explica porque expor o que está errado
na moderna igreja para que o Corpo de Cristo possa cumprir a
intenção fundamental de Deus que étão crítica. Éuma simples ex
pressão da natureza revolucionáriade nosso Senhor. A meta do
minante dessa natureza écolocar você e eu nocentro do coração
palpitante de Deus. Colocar você eeu no centro de seu propósito
eterno — um propósito pelo qual tudo foi criado.^

4 De acordo com Mishnah: "Cada um deve desejar andar quatro milhas até
as águas mais para lavar as mãos do que comer com as mãos sujas" (Sotah,
4b); "Aquele que rejeita lavar as mãos écomo se fosse um assassino". (Cha-
liahj, 58:3).
5Veja God's Ultimate Passion de Viola para um debate sobre esse propósito
eterno.
Um Segundo Relance noSalvador 351

Aigreja primitiva entendeu esse propósito. Não entende


ram somente a paixão de Deus pela sua igreja, mas também a
viveram. E como essa vida do Corpo era? Considere o breve
vislumbre abaixo:^

—Os cristãos primitivos eram intensamente centrados em


Cristo. Jesus Cristo pulsava dentro deles. Era avida, o respirar
eo ponto central de referência. Era o objeto de adoração, o as
sunto de suas canções, o conteúdo de suas discussões evocabu
lários. Aigreja do Novo Testamento fez do SenhorJesus Cristo
o Centroe o Supremo sobre todas as coisas.
—A igreja do Novo Testamento não tinha uma liturgia
fixa. Os cristãos primitivos se reuniam em reuniões de par
ticipação aberta onde todos os crentes compartilhavam suas
experiências com Cristo, exercitavam seus dons e buscavam
edificar uns aos outros. Ninguém era espectador. O privilé
gio earesponsabilidade de participar foram entregues atodos.
O propósito dessas reuniões das igrejas era duplo. Era para a
edificação mútua do corpo e também, para fazer o Senhor Je
sus Cristo visível através de todos os membros do Seu Corpo
funcionando. As reuniões da igreja primitiva não eram "cul
tos" religiosos. Eram reuniões informais que permeavam uma
atmosfera de liberdade, espontaneidade e alegria. As reuniões
pertenciam a Jesus Cristo e à igreja; não serviam como uma
plataforma para qualquer ministério particular ouuma pessoa
talentosa.

—Aigreja do Novo Testamento vivia em uma comunidade


que se via face aface. Os cristãos primitivos se reuniam para a
adoração coletiva e edificação mútua, a igreja não existia para,
meramente, encontrar-se uma ou duas vezes por semana. Os

6Oassunto da igreja orgânica étão amplo que não pode ser totalmente expla
nado neste livro. No entanto, a obraReimagining Church (Colorado Springs:
David C. Cook, 2008) de Frank Viola, fornece uma visão meticulosa ebasea
da nas Escrituras sobre as práticas orgânicas da igreja doNovo Testamento.
352 Cristianismo Pagão?

crentes do Novo Testamento viviam "vidas em comum". Pre


ocupavam-se uns com os outros fora das reuniões agendadas.
Formavam, no sentido mais real dapalavra, umafamília.

—O Cristianismo foi a primeira e a única religião que não


tinha rituais, clero e templos sagrados que o mundo conheceu.
Durante os primeiros 300 anos de existência da igreja, os cristãos
sereuniam emcasas. Em ocasiões especiais, os obreiros cristãos
fariam ouso, algumas vezes, de locais maiores (como oPórtico
de Salomão [João 10.23, Atos 3.11] eoÁtrio (escola) de Tirano
[Atos 19.9]. Mas eles não tinham o conceito de um edifício sa
grado, nem de gastar altos montantes de dinheiro em constru
ções. Nem chamariam uma construção de "igreja" ou "casa de
Deus". A única construção sagrada que os cristãos primitivos
conheciam era feita com mãos humanas.

—Aigreja do Novo Testamento não tinha um clero. O pa


dre católico eo pastor protestante eram completamente desco
nhecidos. Aigreja tinha obreiros itinerantes que viajavam para
plantar e ensinar nas igrejas. Mas esses obreiros nãoeram vistos
como parte de uma casta especial do clero. Faziam parte do cor
po de Cristo eserviam áigreja (não o contrário). Cada cristão
tinha dons diferentes efunções diferentes, mas somente Jesus
Cristo tinha o direito exclusivo de exercer a autoridade sobre
Seu povo. Nenhum homem tinha esse direito. Os que faziam
parte do ministério dopresbitério e dopastorado eram cristãos
comuns com determinados dons. Não eram ofícios especiais e
não monopolizavam aministração das reuniões da igreja. Eram,
simplesmente, cristãos veteranos que cuidavam naturalmente
dos membros da igreja em tempos de crise, supervisionando
toda a assembléia.

—As decisões tomadas na igreja do NovoTestamento reca


íam sobre os ombros de toda aassembléia. Plantadores de igre
ja itinerantes poderiam, algumas vezes, trazer interferências e
decisões. Mas, no fundo, toda a igreja tomava as decisões locais
debaixo do domínio de Jesus Cristo. Encontrar as soluções do
Senhor juntos eagir de acordo era aresponsabilidade da igreja.
Um Segundo Relance noSalvador 353

—Aigreja do Novo Testamento era orgânica, não organiza


cional. Não era fundida por estabelecer ofícios às pessoas, criar
programações, construir rituais e desenvolver uma hierarquia
"de cima para baixo" ou uma estrutura "cadeia de comando".
A igreja era um organismo vivo, que respirava. Nascia, crescia
naturalmente e produzia tudo o que estava em seu DNA. Isso
incluía todos os dons,ministérios e funções do Corpo deCristo.
Aos olhos de Deus, aigreja éuma bela mulher. Anoiva de Cristo.
Uma colônia do céu, não uma organização humana e terrena.
— Dizimar não era uma prática da igreja do Novo Testa
mento. Os cristãos primitivos usavam seus fundos para ajudar
os pobres entre eles, assim como os pobres do mundo. Também
davam suporte aos plantadores de igreja itinerantes para que o
evangelho pudesse ser espalhado eigrejas levantadas através das
mãos deles. Davam de acordo com sua possibilidade, não por
culpa, obrigação ou compulsão. Os salários do pastor/clero não
tinham precedentes. Todo cristão da igreja era um sacerdote, um
ministro, e um membro do Corpo que funcionava.
—O batismo era uma expressão externa da conversão do cris
tão. Quando os cristãos primitivos levavam as pessoas ao Senhor,
batizavam-nas imediatamente nas águas, como um testemunho
de suas novas posturas. A Ceia doSenhor era uma expressão per
manente em que os cristãos primitivos reafirmavam afé emJesus
Cristoe a unidade com Seu corpo. A Ceia erauma refeição com
pleta em que todos na igreja desfrutavam juntos num espírito e
numa atmosfera de alegria ecelebração. Era acomunhão do Cor
po de Cristo, não um ritual simbólico ou um rito religioso. Enão
era oficializado por um clero ou um sacerdócio especial.
—Os cristãos primitivos não construíram escolas Bíblicas
ou seminários para treinar jovens obreiros. Osobreiros cristãos
eram formados e treinados por obreiros mais velhos no contex
to da vida da igreja. Aprendiam "em ação". Jesus providenciou
omodelo inicial por seu treinamento prático "em ação" quando
discipulou os Doze. Paulo adotou-o quando treinou obreiros
gentios jovens emEfeso.
354 Cristianismo Pagão?

— Os cristãos primitivos não se dividiam em várias denomi


nações. Entenderam aunidade em Cristo eaexpressavam visivel
mente em todas as cidades. Em suas mentes, não eram somente
umaigreja emcada cidade (mesmo se reunindo emcasas diferen
tes por todas as localidades). Se você fosse um cristão do primei
ro século, pertenceria auma igreja. Aunidade do Espírito estava
bem protegida. Aatitude de denominar asi mesmos ("Eu sou de
Paulo", Eu sou de Pedro", "Eu sou de Apoio") era considerada
sectária [radical sectário com idéias extremistas epouca visão] e
desagregador [que semeia discórdias] (veja ICoríntios 1.12).
Acreditamos que essa éavisão de Deus para todas as igrejas.
Na verdade, escrevemos olivro por um motivo: criar um espaço
para a centralidade absoluta, supremacia e liderança de Cristo
na igreja. Felizmente, mais e mais Revolucionários hoje estão
entendendo essa visão. Reconhecem que uma revolução dentro
da fé cristã é necessária —uma completa e drástica mudança
daquelas práticas cristãs que são contrárias aos princípios bíbli
cos. Devemos começar tudo de novo, e estabelecer fundações
corretas. Nada mais irá justificara falha.
Então, nossa esperança para que você conclua esse livro
é tripla. Primeira, esperamos que você comece a questionar
a igreja como você a conhece, hoje. O quanto dela é verda
deiramente bíblica. O quanto expressa a liderança absoluta
de Cristo. O quanto permite aliberdade de participação dos
membros de Seu Corpo. Segunda, esperamos que você com
partilhe esse livro com todos os cristãos que conhece, para
que também possam ser desafiados por essa mensagem. E
terceira, esperamos que você ore, seriamente, sobre qual res
posta deve dar a essa mensagem.
Se você é um discípulo de um Revolucionário de Nazaré...
o Messias^ radical que estende seu machado na raiz... deverá.

7A palavra radical vem do latim radix que significa "raiz". Um radical, en


tão, é alguém que vai às raízes ou às origens de alguma coisa. Jesus Cristo
foi um radical e revolucionário. Veja a definição de A. T. Robinson para
ambos os termos no epigrafo deste capítulo.
Um Segundo Relance no Salvador 355

em algum momento do futuro, fazer uma pergunta específica.


É a mesma pergunta que foi feita pelos discípulos do Senhor
enquanto andavam sobre a terra. A pergunta é: "Por que os
seus discípulos transgridem a tradição dos anciãos? (Mateus
15.2).

MERGULHO PROFUNDO cap.12

1. Por que vocês criticam tanto a igreja^ Deus ama a igreja. A


forma como vocês ajulgam me deixa irritado.
Essa pergunta éum bom exemplo do problema que estamos
tentando mostrar com este livro. Na verdade, muitos cristãos
estão confusos sobre o que aBíblia diz ao usar apalavra igreja. A
palavra igreja refere-se ao povo de Deus. Mais especificamente,
refere-se à comunidade seguidora deJesus quesempre se reúne.
Não se referea um sistema, uma denominação, um prédio,uma
instituição ou um culto.
Escrevemos este livro porque amamos muito aigreja. Eque
remos que ela funcione de uma forma que glorifique aDeus. O
sistema e a estrutura da igreja institucional não são bíblicos. E
como argumentamos, eles impedem o povo de "funcionar de
acordo com as intenções de Deus.
Quando Martinho Lutero desafiou aigreja institucional dos
seus dias, deixou muitas pessoas irritadas. De fato, se Lutero
não tivesse oapoio de Frederico, osábio ede seus exércitos, ele
teria sido morto por causa de suas crenças (como muitos refor
madores foram).
Hoje, protestantes olham para Lutero e o saúdam "herói".
Lutero amava Deus e a igreja, mas discordava intensamente
com o sistema da igreja que o rodeava, afirmando que não era
bíblico. Eele teve acoragem de declarar sua indignação profe-
ticamente e em público. (A propósito, Lutero era muito mais
forte em sua retórica do que nós fomos. Se você acha que este
livro foi difícil de digerir, tente ler alguns questionamentos de
Lutero em relação ao sistema da igrejade sua época).
356 Cristianismo Pagão?

Em resumo, é por causa de nosso amor pela igreja e nosso


desejo de ver opovo de Deus liberto, que escrevemos este livro.
E nossa esperança é que Deus usará isso para ajudar a mudar o
curso da história da igreja.

2. Você diz que numa igreja orgânicasaudável, cada sema


na "todo membro contribuía trazendo algo de Cristo na
reunião". Isso significa que toda semana esperava-se que
cada crente que participasse da reunião compartilhasse
algo que Cristo lhe revelouf Como você garante que um
descrente oualguém compouco conhecimento sobreasEs
criturasnãopossalevantar efalar emfalsidadefAlém dis
so, os participantes não se sentempressionadospor terque
contribuir, quando não têm nada a oferecer no momento
de uma reunião^
Se aigreja está apropriadamente preparada, esses problemas
raramente acontecem. A instrução de Paulo para (ICoríntios
14.29) quando alguém ministra numa reunião, vai além de pro
videnciar uma rede de segurança para reuniões de participações
saudáveis.
Observe que leva tempo para que a igreja esteja preparada
para conduzir uma reunião aberta. Eis aqui uma regra de planta
dores de igreja. O trabalho deles épreparar membros para fun
cionar de uma forma coordenada. Isso inclui encorajar aqueles
que participam raramente para funcionar mais eaqueles que ten
dem adominar areunião para que funcione menos. Issotambém
envolve mostrar ao povo de Deus como ter comunhão com o
Senhor de uma forma que terão com o que contribuir na próxi
ma reunião.
Contudo, o medo de que alguém venha adizer algo em "fal
sidade" durante uma reunião não deveria nunca nos compelir
a substituir reuniões abertas por cultos dirigidos pelo clero.
Como Paulo, devemos confiar obastante no povo de Deus para
que, quando alguém compartilhar algo impróprio numa reunião,
aigreja aproveite essa oportunidade para destacar emagnificar a
verdade. Averdade mais incrível éque quando o povo de Deus
está devidamente preparado, faz exatamente isso.
Um Segundo Relance noSalvador 357

3. Se Cristo fosse enviar uma mensagem à igreja institucional


hoje (assim comofez às igrejasprimitivas emApocalipse 2-3),
oque vocês acham que Ele diriaf Ele ofereceria palavras de
elogiof
Seria muito presunçoso de minha parte responder aessa per
gunta com certeza. Edesde que a igreja institucional não éum
monólito, as palavras de Cristo, sem dúvida, não iriam variar de
igrejapara igreja.
Ainda assim, suspeitamos que Ele dissesse algumas das mes
mas coisas que disse às igrejas em Apocalipse 2 e 3, como elas
se aplicam aos cristãos em qualquer época. Ele provavelmente
também tivesse bons elogios para dar a algumas igrejas. Talvez
elogiasse alguns pelo cuidado com os perdidos e porpregarem
oevangelho aeles. Ele elogiaria outros pela fidelidade em seguir
seus ensinamentos sem comprometê-los.
Ao mesmo tempo, Ele provavelmente apontaria algumas fa
lhas específicas em cada igreja, assim como fez em Apocalipse.
Além disso, provavelmente expressaria sua reprovação àquelas
igrejas onde opovo de Deus sofrerá opressão, manipulação, abu
so e ficara em silêncio em relação a essas coisas. E haveria uma
grande chance de que desse uma palavra de correção ao povo de
Deus por permitir que fossem tratados dessa maneira. Assim
como Ele disse em dias passados, "os profetas profetizam falsa
mente, e ossacerdotes dominam pelas mãos deles, e o meu povo
assim o deseja; mas que fareis ao fim disto?" Jeremias 5.31.
Epílogo

O Próximo Passo

yío ouvirem tais palavrasificaram agoniados em seu coração^


edesejaram saher de Pedro edos outros apóstolos:
'Caros irmãos! O que devemosfazerf
—ATOS 2.37

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará''.


—JESUS CRISTO EMJOÃO 8.32

LER ESTE LIVRO REQUER CORAGEM

Tal coragem é exigida não por causa do que o livro diz, mas
por causa de como você, um seguidor de Cristo, deveria respon
der ao que leu.
Épossível para um crente conhecer a verdade e ignorá-la?
Sim, como foi evidenciado através depequenos passos tomados
para longe dos planos de Deus pela igreja que os cristãos têm
sistematicamente assumido por dois milênios.
Éapropriado para nós nos caminharmos para longe dos pla
nos de Deus para sua igreja? Absolutamente, não. E aceitável
simplesmente estarmos cientes que tomamos muitas direções
erradas no passado sem retomar o plano divino no presente?
Claro que não. Uma das marcas peculiares do Cristianismo ésua
integridade. Demonstramos a integridade em seguir ao nosso
Senhor, semconsiderar o que os outros fazem, somenteporque
Ele é o Senhor.
360 Cristianismo Pagão?

Após ler este livro, você deve tomar uma decisão: Você agirá
em cima do que leu, ou simplesmente se manterá informado so
bre isso? Muitas pessoas estão em um dilema real hoje. Querem
estar na igreja, como Deus planejou, mas não têm certezasobre
como fazer isso. Especialmente nesses dias, quando expressões
antibíblicas da igreja são as normas.
Colocando numa questão: Agora que você descobriu que a
igreja institucional não é bíblica, qual será seu próximo passo?
O que deverá fazeragora?
Eis aqui alguns pontos para refletir epelos quais poderá orar:

UMA NOVA ABORDAGEM PARA ADORAÇÃO

Se você écomo muitos cristãos, vê oculto como algo afazer


nos domingos de manhã (e possivelmente nas quartas ànoite),
quando aequipe de louvor ou olíder de louvor dirige acongrega
ção em músicas de "louvor e adoração". Ou... quando você está
em casa cantando com um CD ou fita de louvor.
O Novo Testamento, noentanto, pinta um quadro de adora
ção bem diferente. Em primeiro lugar, aadoração éextremamen
te importante paraDeus. Assim, deve ser umestilo devida, não
umevento (veja Romanos 12.1). Emsegundo, desde o início do
Antigo Testamento, quando Deus deu a lei a Israel até o Novo
Testamento, aadoração éum exercício em grupo [coletivo]. Não
era de domínio exclusivo e individual. Em terceiro. Deus deu
instruções especiais em como adorá-Lo.
Lembre-se de quando o rei Davi queria trazer a Arca da
Aliança aJerusalém. Israel respondeu ao seu desejo e levou a
Arca sagrada até a cidade escolhida em uma carroça de madeira.
Enquanto a carroça se dirigia em direção à CidadeSanta, Israel
dançou, cantou e celebrou commúsicas, istoé,eles adoraram! E
assim o fizeram com muito fervor epaixão. Foi uma celebração
maravilhosa. Mas umatragédia aconteceu e Deus cancelou a ce
lebração (veja 2Samuel 6.1-15).
Por que issoaconteceu? Porque o povo tinha violado a von
tade prescrita de Deus em como a Arca deveria ser carregada.
Epílogo 361

Deus tinha uma maneira específica pela qual deveria ser adorado
e não abriu mão dessaexpectativa.
Mesmo que os corações do povo de Deus estivessem certos
e emboraasintenções de Davi fossem puras, o erro era porque
não o buscamos segundo a ordenança [sobre como adorar].
(1 Crônicas 15.13). Deus deixou claro, através de Moisés, que
a Arca da presença do Senhor era para ser carregada sobre os
ombros santificados dos sacerdotes Levíticos. Não era para ser
levada numa carroça.
Davi obedeceu isso na segunda vez e colocou a Arca nos
ombros dos Levitas, assim como Deus prescreveu. Deus ficou
satisfeito. Considere as palavras sóbrias de Davi sobre oerro de
Israel na primeira vez:
"Porquanto vós [Levitas] não a levastes na primeira vez, o
SENHOR nossoDeus fez rotura em nós, porque não o busca
mos segundo a ordenança". (1 Crônicas 15.13).
O erro de Israel foi que não buscaram aDeus de acordo com
"sua ordenança", isto é, não adoraram aDeus de acordo com Sua
forma. Adoraram aEle conforme sua própria maneira. E impor
tante notar que Israel emprestou aidéia de colocar aArca numa
carroça dos Filisteus pagãos! (Veja iSamuel 6.1-12).
Da mesma forma. Deus não ficou em silêncio sobre como
queria ser adorado. Ele quer ser adorado em espirito e em ver
dade Qoão 4.23). "Em verdade" simplesmente significa na re
alidade e de acordo com a forma dEle. Lamentavelmente, no
entanto, osvasos santos doSenhor ainda estão sendo carregados
em carroças. Você jáleu a história neste livro.

UMA NOVAABORDAGEM PARA CRESCIMENTO ESPIRITUAL

A igreja primitiva produziu seguidores de Cristo que vi


raram seus mundos de cabeça para baixo. Mesmo hoje, esses
cristãos do primeiro século têm muito para ensinar-nos sobre
como devemos viver para crescer em Cristo. O verdadeiro dis-
cipulado trata-se de dar frutos no Reino de Deus baseado no
desenvolvimento e do "acionamento" do caráter como o de
362 Cristianismo Pagão?

Cristo. O verdadeiro discipulado é conhecer aJesus Cristo e


permitir que Ele vivaSuavida em nós.
Edeplorável o fato de que temos feito do discipulado cris
tão um exercício acadêmico, assim como uma busca individu
al. Em todo opaís definimos "sucesso" em formação espiritual
em termos da quantidade de conhecimento recebida ou retida.
Freqüentemente, medimos isso em termos de programações e
cursos de estudos que finalizamos. Perdemos de vistao alvo au
têntico do discipulado, em favor dos resultados teóricos epassi
vos que não transformam nossa forma de ser nem de viver.
Todavia, Jesus nunca nos disse que "aquele que morre com
o máximo conhecimento religioso, vence". Nem fez do disci
pulado uma tarefa individual cumprida apenas através de suor e
trabalho.
Jesus passou toda aSua vida preparando outros para viver
uma vida para Deus e mostrá-los, em primeira mão, como é
isso. Começou com uma comunidade de doze pessoas e uma
minoria de mulheres que viveram ecompartilharam avida jun
tos. E aquela comunidade se expandiu emoutras comunidades
por todo omundo romano. Aquelas comunidades eram as igre
jas primitivas.
A abordagem deJesus de impactar as vidas era interativa e
envolvia a participação ativa e o uso das mãos. Suas palestras
eram poucas e raras, e sempre levavam à aplicação do ponto da
lição nos caminhos da vida. Sua perspectiva estava delineada pelo
grande retrato do Reino de Deus — isto é, baseada numa visão
de mundo moldada por uma compreensão abrangente dos cami
nhos de Deus e dos resultados que desejava.
Como isso pode ser traduzido em ação prática epessoal?
Muito simples. A escola de Cristo não é nada além da co
munidade dos crentes —a ekklesia de Deus. Aprendemos de
Cristo através dos outros em uma comunidade unida, com laços
bem estreitos em que os membros compartilham avida juntos e
sentem-se livres paracompartilhar do Senhorcomseus irmãos e
irmãs, assim como os cristãos do primeiro século o fizeram.
De acordo com Paulo, Jesus Cristo é alguém que deve ser
aprendido na comunidade crente (Efésios 4.20). Éuma comuni
dade onde "aprendemos de Cristo" para sermos discípulos me-
Epílogo 363

lhores. É nessa comunidade que aprendemos aserpais, crianças,


maridos e esposas. É nessa comunidade que todos aprendem
dEle juntos, O ouvem juntos e O seguem juntos.
Não háum substituto para isso. Avida cristã nunca foi para
ser vivida fora da comunidade cristã. E e precisamente o que
a igreja é no sentido bíblico... uma comunidade em que todos
compartilham debaixo da liderança de Cristo.

UMA NOVAABORDAGEM PARA ADMINISTRAR RECURSOS

Com nossas vidas tão envolvidas em atividades e compro


missos, naturalmente apreciamos responsabilidades que são fá
ceis de lembrar e fáceis de serem cumpridas. Dizimar deve se
encaixar bem nessa categoria (mesmo que não tenha oapoio do
Novo Testamento — veja o capítulo 8).
Como vimos, lidar com os recursos de Deusnão é algo a ser
tomado de forma suave. E também, não é uma obrigação que
pode ser satisfeita simplesmente preenchendo um cheque que
satisfaz o limite legalista e então esquecê-la.
Fazer parte de uma família inclui proteger os recursos da
família. E não é diferente com a família de Deus. Os recursos
tangíveis do reino de Deus foram colocados àsua disposição. Te
mos o privilégio de investircom esses recursos — não somente
nosso dinheiro, mas nosso tempo, nossas posses, nossas idéias,
nossos relacionamentos, nossas habilidades, nossos dons espi
rituais e assim pordiante —para produzir resultados positivos
para oReino. Oprogresso da obra de Deus depende da extensão
com aqual utilizamos os amplos recursos que Ele tem confiado
a nós. Somos, com certeza, administradores de portfólios para
o Reino de Deus.
Investir nosso dinheiro, esforço, proficiência, propriedades
relacionais e criatividade em construir mais prédios religiosos
são os melhores investimentos para o Reino dEle? Investir 3%
do total do orçamento doméstico —a média entre os america
nos da quantia dada para atividades religiosas de qualquer tipo
364 Cristianismo Pagão?

—é suficiente para fazer Sua obra avançar?' Você pode justifi


car dando dinheiro para uma organização para tomar cuidado
das necessidades dos pobres como seu único envolvimento nas
vidas dosempobrecidos? Comotodoinvestidor, você será sedu
zido por oportunidades que vão provavelmente produzir bons
resultados assim como por outras oportunidades que vão gastar
recursos. Qualquer escolha que você fizer terá conseqüências
eternas. A maneira como escolhe determinar a distribuição dos
recursos do Reino afetará avida de muitas pessoas.
Embora anoção de dar aDeus adécima parte do que tem é
discernida como uma prisão para amaioria dos crentes, tenha em
mente que você estálivre dessa cobrança. Ao invés disso. Deus
deu avocê o talão de cheques elhe disse para investir da melhor
forma, para que trouxesse os melhores resultados para Sua glória
e seus propósitos. E, claro, você será avaliado pela forma como
que sabiamente investiu esses recursos.
Dizem que você pode ver as prioridades de uma pessoa ao exa
minar seutalão decheques. Se examinassem o seutalão —e tam
bém sua agenda eobjetivos pessoais —que mensagem teriam?

UM NOVO VISLUMBRE DE SUA IDENTIDADE

Nossos estudos nos mostram que a maioria dos Americanos


está lutando para esclarecer suas identidades. Tendem a ver a si
mesmos como indivíduos únicos, americanos, membros de uma
família, profissionais, consumidores eentão como seguidores de
Cristo —nessa ordem de prioridades. Nas mentes enos corações
dos americanos —até aqueles cujas crenças os classificam como
"cristãos nascidos de novo" —suas identidades como um segui
dor de Cristo empalidecem em importância comparando com as
outras regras que abraçam. De uma maneira estranha, quase todos
os cristãos nascidosde novo consideram a si mesmos como servos

1. RR Brucem^ Mindfor WhatMatters (Eerdmans, Grand Rapids, 1980),


247.
Epílogo 365

de Deus eque têm sido transformados pela sua fé em Cristo. Cla


ramente, algumas conexões nessa auto-avaliação estão faltando.^
Talvez, a confusão deve-se ao enorme número de interações e
responsabilidades que as pessoas aceitam todo dia. Talvez tenha a
ver com oensino deslocado esuperficial que amaioria de nós recebe
em nossas igrejas. Podemos também atribuí-la àsedução de pers
pectivas eimagens bombardeando-nos através da mídia atual.
Mas a razão fundamental é realmente bem simples. Você é
um sacerdote de Deus, um ministro do SenhorJesus Cristo e
um membro do Seu corpo glorioso. Através da sua declaração
de lealdade aJesus eseu desejo declarado de viver para Ele p^fâ
sempre, você tem aresponsabilidade de ser um sacerdote, minis
tro e membro do corpo quefunciona,.
Aigreja organizada desceu um passo curvo nos últimos dois
mil anos. A única forma de trazê-la de volta é com cada um co
meçando aexplorar, com orações, o plano original que Deus ti
nha para Seu povo eentão estar com vontade de responder, com
fidelidade, aesse plano. Dessa forma, aRevolução que começou
a tomar raízes em nossos dias irá se espalhar em todo lugar. E
Deus terá o que sempredesejou.

2. Veja Kevin Giles, Jesus and the Father (Grand Rapids: Zomdervan, 2006);
The Trinity &Subordinationism (Doeners Grove, IL, IVP, 2002); Gilbert
Bilezikian, Community 101 (Grand Rapids; Zondervan, 1997), Appendix.
3. Veja John W.Kennedy, The Torch of the Testimony (Bombay: Gospel
Literature Service, 1965); E.H. Broadbent, The Pilgrim Church. (Cham-
bersburg, PA: Wiptt & Stock Publishers, 1998); and Leonard Verduim,
The Reformers and Their Stepchildren (Paris, AR: The Baptist Standard
Bearer,2001).
Pensamentos Finais

Q&R (Questões e Respostas com


Frank Viola e George Barna)
1. Pertenço a uma igreja institucional. Se eu participasse de
uma reunião numa igreja orgânica nessa semana^ de quefor
ma essa experiência seria diferente da que tenho no culto da
minha igrejaf
Navida da igreja orgânica, as reuniões são diferentes acada
semana. Mesmo que os irmãos e irmãs na igreja orgânica pos
sam planejar o foco de suas reuniões em oração (por exemplo,
podem reservar determinado mês para queo corpo seconcentre
em Efésios 1). Ao invés disso, todo mundo é livre para funcio
nar, compartilhar, participar eministrar espiritualmente nomeio
das reuniões, para que acriatividade expressa neles seja infinita.
Os participantes não sabem quem se levantará e compar
tilhará algo e nem o que irão compartilhar. Pode ter esquetes,
poemas, canções, exortações, testemunhos, pequenos ensinos,
revelações epalavras proiféticas. Porque todos estão envolvidos
eas pessoas, contribuindo espontaneamente, tédio não é opro
blema. As reuniões mais significantes são, geralmente, aquelas
nas quais todosparticipam e funcionam.
Jesus Cristo éo centro da reunião. Ele é glorificado através de
músicas, poesias, orações, ministrações eo"compartilhar .Areu
nião é totalmente aberta para que o Espírito Santo revele Cristo
através de cada membro conforme Sua vontade. Nas palavras de
iCoríntios 14.26, "cada um de vós" contribua com algo de Deus
paraareunião. Navida da igreja orgânica, areunião da igreja coletiva
éum derramamento explosivo daquilo que o Senhor revelou de Si
mesmo a cada membro durante a semana. Essas características são
quase totalmente ausentes no culto típico da igreja institucional.
368 Cristianismo Pagão?

2. Alguns sugeriram que a estrutura ea hierarquia dentro das


igrejas atuais cresceram pela necessidade de se protegerem
contra seitas eheresiaspotenciais na igrejaprimitiva. Quais
são as defesas contra essesperigos nas igrejas orgânicas^
Na verdade, acreditamos que, como um resultado da nossa
natureza decaída, as pessoas sempre procuram adotar hierar
quias e relacionamentos "de cima para baixo" porque dão uma
sensação de controle e segurança aos sereshumanos.
Mesmo assim, ahistória nos ensina que as organizações hie
rárquicas não freiam a heresia. De fato, o testemunho da história
daigreja équeelas podemestimular asheresias eatéaumentá-las.
Quando os líderes de uma denominação ou movimento abraçam
uma heresia, ela se torna eterna por todas as igrejas ligadas àque
las denominações ou movimentos.
Pelo contrário, quando a natureza autônoma de cada igreja
é preservada, a propagação do erro é mais fácil de ser localizada.
Quando aigreja é autônoma, é difícil para um professor falso e
ambicioso tomar o controle das igrejas desvinculadas.
A propósito, quase todas as seitas sérias são organizações
hierárquicas (Note que dissemos seitas "sérias". Reconhece
mos que algumas seitas são lideradas por um único líder que
domina todas as decisões e oprime qualquer divergência. Al
gumas vezes, essas figuras até afirmam liderar uma "igreja na
casa". Mas, qualquer igreja liderada por uma pessoa que é (1)
um ditador e (2) impõe sua própria sabedoria sobre as Escri
turas é certamente ainda liderada por Cristo, assim deve ser
evitadaa todo custo.).
Pelas razões traçadas acima, acreditamos que as estruturas
hierárquicas não freiam a heresia enem previnem contra seitas.
Aúnica proteção contra aheresia numa igreja éasubjeção mútua
dos crentes para permanecerem sob aliderança deCristo. Eisso
exige uma comunidadeque se vejaface a face e relacionamentos
centrados em Cristo.
O corpo de Cristo existe há mais de dois mil anos. Quer
dizer que a subjeção mútua não inclui somente a sujeição uns
aos outros numa comunhão local, mas também a submissão à
verdade que o corpo de Cristo em geral concordou através dos
anos. Dessa forma, as crenças históricas podem ser sinais úteis
Pensamentos Finais 369

para manter uma igreja em seu rumo quando vêm de encontro


aos principais ensinos denossa fé.
3. Porque vocês estão convencidos de que omodelo daprimeira
igreja deve serseguidofNosso mundo do século 21 étão dife
rente da época em que os cristãosprimitivos viveram.
Acreditamos que aBíblia, enão atradição humana, éomodelo
divino para afé eaprática cristã —incluindo aprática na igreja.
A Bíblia não está em silêncio sobre como a igreja de Cris
to funciona. O Novo Testamento nos dá uma teologia clarada
igreja. Também nos dá exemplos concretos de como ateologia
preenche a si mesma.
Por causa da igreja serum organismo espiritual, e não uma
organização institucional, éorgânica. (Evangélicos concordam
que a igreja é um organismo. Por todo o Novo Testamento, a
igreja ésempre retratada por imagens vivas —por exemplo, o
novo homem, o corpo, a noiva, uma família, um templo vivo
feito de pedras vivas).
E porque a igreja é orgânica, tem sua expressão natural —
como todos os organismos. Por essa razão, quando um grupo de
cristãos segue seu DNA espiritual, se reúne de uma forma que
combina com o DNAda Trindade —porque tem a mesma vida
que opróprio Deus tem. Mesmo que os cristãos não sejam, de
modo algum, divinos, temos o privilégio de ser "co-participan-
tes da natureza divina" (2 Pedro 1.4).
Consequentemente, o DNA da igreja é marcado pelos mes
mos traços que encontramos noDeus trino, ouseja, amor mútuo,
dependência mútua, habitação mútua, fraternidade [comunhão]
mútua e comunidade autêntica. Como disse uma vez o teólogo
Stanley Grenz: "a razão fundamental para nossa compreensão
de igreja está no seu relacionamento com aprópria natureza do
Deus trino".
Quer dizer, aidéia de que aigreja deveria se adaptar àcultura
presente, levanta mais questões do que respostas. Por exemplo,
oque aigreja pratica deveria ser descartado ou adaptado àcultu
ra atual? Quais são normativas enunca deveriam ser alteradas?
ODNA da igreja produz certas características identificáveis.
Algumas delas são: a experiência da comunidade autêntica, o
370 Cristianismo Pagão?

amor e devoção da família, entre seus membros, a centralidade


de Jesus Cristo, oinstinto nato de se reunir sem qualquer ritual,
o "funcionamento" de todos os membros, o desejo inerente de
formar relacionamentos profundos centrados em Cristoeo im
pulso interno para reuniões de participação aberta. Acreditamos
que qualquer prática da igreja que obstrui essas características
naturais é infundada, e então, antibíblica.
Enquanto a semente do evangelho irá naturalmente produ
zir essas características em particular, a forma como as expres
sam parecerão umpouco diferentes decultura para cultura. Por
exemplo, eu (Frank), uma vez plantei uma igreja orgânica no
Chile. As músicas que escreviam, aforma como interagiam uns
com os outros, aforma como sentavam, o que faziam com seus
filhos, todas pareciam diferentes das igrejas orgânicas nascidas
na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, as mesmas carac
terísticas básicas que residem no DNA da igreja estavam presen
tes. Eas formas da igreja institucional nunca apareceram.
As igrejas orgânicas saudáveis nunca produzem umsistema
clerical, um único pastor, uma estrutura de liderança hierárqui
ca, ou uma liturgia [ordem de culto] que deixa a maioria passi
va. Para nós, tais coisas rompem o código genético da igreja e
profanam suaexpressão nativa. Também são contraditórias aos
princípios do Novo Testamento.
Nos dias de Constantino, quando aigreja se preocupou mais
com seu status e sua cultura do que com seu DNA, a forma da
igreja começou amudar dramaticamente do que era no primeiro
século. O pesquisador doNovo Testamento R R Bruce escreve,
com sabedoria: "Quando a igreja pensa mais em seu status do
que em seu serviço, tomou um passo errado e deve remontar às
origens e seus passos imediatamente".^ Em relação a isto, sen
timos que a igreja deve retomar seus passos e retornaràs suas
raízes bíblicas.
Em outras palavras: Deveríamos seguir um modelo de igreja
que tem raízes nos princípios e exemplos do Novo Testamen
to, ou deveríamos seguir um modelo que tem suas origens nas
tradições pagãs? Essa é aquestão fundamental a qual este livro
deveria nos levar.
Pensamentos Finais 371

4. Vocês disseram que a Trindade épercebida por sua recipro


cidade. Mas João 14.28 e ICoríntios 11.3 não ensinam que
existe uma hierarquia na divindade^
Não. Essas passagens têm em vista o relacionamento tempo
rário doFilho, como umserhumano, que voluntariamente se sub
meteu àSua própria vontade eàvontade de Seu Pai. Na divindade,
o Filho e o Pai experimentam comunhão esubmissão mútua.
É por essa razão que a ortodoxia histórica rejeita a eterna
sujeição ao Filho de Deus. Ao invés disso, aceita asujeição tem
poráriado Filhoem suaencarnação.
Como disse o teólogo Kevin Gilesi "A ortodoxia histórica
nunca aceitou aordem hierárquica da Trindade"^. Parafraseando
acrença de Atanásio, oFilho ésomente inferior ao Pai em relação
aSua "humanidade"; Ele éigual ao Pai em relação àTrindade.
5. Por toda a história da igreja, váriaspessoas e movimentos
chamam para o retomo ao modelo do Novo Testamento,
como modelo de governo eprática daigreja. Vocês veem a si
mesmos como parte de um desses movimentos ou algo com
pletamente novof
Deus sempre teve um povo que permaneceu fora da igreja
institucional. Historiadores chamam de "reforma radical . Ou
tros chamam de "atrilha do sangue" porque foram perseguidos
de modo brutalpor suas opiniões.^
Esses cristãos, em todas as épocas, recusaram sua conivência
com a igreja institucional dos nossos dias. Acreditavam que a
igreja institucional era um afastamento, não um desenvolvimen
to da igreja que Jesus estabeleceu. Essas "não-conformidades
defendiam impetuosamente a centralidade de Jesus Cristo, o
"funcionamento" de todos os membros de Seu corpo, o sacer
dócio de todos os crentes e a unidade do Corpo de Cristo. Se
guraram com força essa tocha eforam abusados porseus com
panheiros cristãos como resultado. Nós (os autores) permane
cemos nessa linhagem.

6. Vocês falam sobre como cristãos são condicionados a lera


Bíblia com as lentes entregues a eles pela tradição cristãas
quais pertencem". Como podemos ter certeza de que não es-
372 Cristianismo Pagão?

tamos também interpretando aBíbliaparaquese encaixe nas


nossasopiniões e experiências^
Todos os cristãos que jáviveram, interpretaram aBíblia atra
vés das lentes de sua própria experiência ou opinião. Não somos
exceções.
No entanto, existe um forte consenso entre os pesquisado
res evangélicos deque aigreja primitiva não tinha umclero, não
se reunia em prédios sagrados, não tomava a Ceia do Senhorse
não fosse uma refeição completa, não tinha uma liturgia fixa e
não se vestia para as reuniões da igreja. Além disso, ofato de que
aigreja institucional moderna extraiu muitas práticas do paga
nismo greco-romano não pode ser negado. (Este livro fornece
as documentações históricas).
Em suma, nós cristãos, temos práticas normativas aceitas,
que o Novo Testamento não ensinou, nem exemplificou. E
abandonamos aquelas práticas da igreja que eram aceitas e nor
mativas no Novo Testamento.
Então, realmente, aquestão se reduz a: As práticas da igreja
institucional (sistema clero/leigo, pastores assalariados, prédios
sagrados, liturgia, etc) são "progressos" aprovados por Deus
para aigreja que o Novo Testamento imaginou? Ou são afasta
mentos que não são saudáveis?
Essa é a questão que gostaríamos que todos os leitores con
siderassem em oração.
7. Vocês atribuem as práticas da igreja^ como a construção de
santuários e a ordenação do clero, a influências pagãs. Os
humanos, naturalmente, não começaram a se organizar ese
adaptar à cultura a sua voltaf
Se obedecermos anossa natureza decaída, sim, nós humanos,
organizaremos eadaptaremos o mundo. Um lance de gênio de
nosso Deus, no entanto, é que Ele estabeleceu, dentro do DNA
do corpo de Cristo, pessoas cujos ministérios foram dados
para evitar exatamente isso. (Veja ICoríntios 3.5-15; 12.28-31;
Efésios 4.11-16; Atos 13-21). Esses eram obreiros apostólicos
itinerantes que plantaram igrejas, e as deixaram viver sozinhas,
visitavam-nas periodicamente para preparar e trazer o foco e o
encorajamento novamente aeles. Uma de suas tarefas era impe-
Pensamentos Finais 3 73

dir que as igrejas experimentassem adesordem. Também evita


vam que elementos estrangeiros entrassem, para que as igrejas
crescessem saudavelmente e permanecessem em sua verdadeira
natureza orgânica. Paulo de Tarso foi um obreiro itinerante as
sim e suas cartas ilustram esse papel muito bem realizado.
Infelizmente, durante as perseguições no primeiro e no se
gundo século, o ministério itinerante morreu. Apesar de tudo,
foi restaurado desde então pelas igrejas orgânicas. Esse minis
tério em particular éuma verificação importante para mantê-las
longe da cultura asua volta ede adotar os valores dela.
8. Vocêsacusam as igrejas tradicionaisporfazerem deseus mem
bros espectadorespassivosy mas eu não participo somente do
cultododomingo demanhã,maspertençoa umpequenogru
po da igreja que parece muito com a experiência da igreja
orgânica. Adoramos, estudamos apalavra de Deus juntos e
apoiamos uns aos outros quando enfrentamos desafios ecri
ses. Em minha visão, tenho omelhor dos dois mundos.
Se você sente o que você descreveu como o melhor dos dois
mundos, então, absolutamente, fique onde está. No entanto,
muitos de nós temos preocupações sobre ambos. Temos obser
vado que amaioria dos grupos pequenos ligados auma igreja ins
titucional tem um líder presente que é "o cabeça" das reuniões.
Então para nós, essas reuniões são dirigidas por uma liderança
humanaque a controla e promove.
Eu (Frank) já estive em inúmeras reuniões de grupos peque
nos dessa natureza, de diversas linhas denominacionais. Nunca
vi uma reunião que estivesse completamente debaixo da lideran
ça de Jesus Cristo, na qual todos os membros vêm àreunião para
compartilhar seu Senhor com suas irmãs e irmãos livremente,
sem o controle ou a interferência humana.
Todas as reuniões funcionam mais como um estudo Bíblico
ou uma reunião tradicional de oração do que uma reunião ima
ginada no Novo Testamento, de participação aberta, livre esem
restrições, em que Jesus Cristo évisível por cada membro do Seu
Corpo, que também funciona e participa.
Conheci alguns fundadores desse movimento de pequenos
grupos [células] na igreja institucional os quais tentaram de-
374 Cristianismo Pagão?

fender a idéia de que alguém deve dirigir essas reuniões. Não


concordo. Se o povo de Deus está apropriadamente preparado,
podem ter reuniões que não têm nenhum líder além de Jesus
Cristo.
Tudo oque temos adizer éque existe uma enorme diferença
entre o grupo pequeno que está ligado à igreja institucional e a
igreja orgânica que foi imaginada no Novo Testamento. Apesar
disso, se uma pessoa se sente confortável com o modelo antigo
de igreja, acreditamos que ele ou ela deve permanecer até que o
Senhor mostre outro caminho.

9. Alguns cristãos são naturalmente atraídos pelasformas tra


dicionais como a liturgia e o coral musical^ que os ajudou
na conexão com Deus e com o corpo de Cristo através dos
tempos. Vocês acreditam que o EspíritoSanto não trabalha
rá através dessas formas —ou se trabalha, que não são seus
meios preferidos de levar as pessoas a Elef Como vocês se
apoiaram nasEscrituras a respeito dessa afirmaçãof
Acreditamos que a questão: "Você pode provar pela Bíblia
que o Espírito Santo não trabalhará através de certas práticas
tradicionais?" é realmente aincorreta aser feita desde que não
possa ser respondida honestamente. Éum princípio difícil de ser
provado porque aBíblia nunca se direcionou para isso. Aques
tãoque deveríamos fazer é: "O que aPalavra de Deus nos ensina
sobre a prática daigreja?"
Podemos ter certeza de que Deus não aprova qualquer prática
que transgride os princípios do Novo Testamento. Por exemplo,
acreditamos que a distinção clero/leigo transgride o princípio
de sacerdócio de todos os crentes do Novo Testamento (veja o
capítulo 5).
Para nós, se você deseja abandonar todas as tradições que
conflitam com a Palavra de Deus, a questão que dominará seu
pensamento é: "O queaPalavra deDeus ensina arespeito deSua
Igreja — seu propósito, função, expressão?".
Essa questão fornece uma rede útil pela qual discernimos seaes
trutura da igreja está intensificando ou sufocando os princípios do
Novo Testamento. Novamente, se aestrutura da igreja transgride
uma diretriz do Novo Testamento, então deveser desafiada.
Pensamentos Finais 3 75

E é isso que desejamos que nossos leitores perguntem e ex


plorem.
Tendo ditoisto, não duvidamos que Deus possa, sem dúvida,
trabalhar através de práticas inventadas pelos homens que não
têm base bíblica. Que Deus ainda trabalha através do povo na
igreja institucional, também não há dúvidas. Ambos os autores
devem suas salvações ebatismos apessoas que estão trabalhando
na igreja institucional.
Mas somente porque Deus pode usar Seu povo num sistema
particular não significa que Ele oaprova. Lembre-se, Deus usou
eaté abençoou Israel num tempo em que rejeitaram Sua vontade
em ser o próprio Rei deles. Ao invés disso, quiseram seguir as
outras nações eterum rei terreno. Deus concedeu esse pedido. E
ainda amou eusou Seu povo apesar dessa rejeição de Sua vontade
revelada.

10. Não éporcausa de nossosproblemas com igrejas quefreqüen


temente vamos com a atitude: "o que ganharei com issof" do
que comoposso honrar eglorificar aDeus através da minha
adoração Recuperaraperspectiva apropriada deadoração
nãofaria toda a diferençaf
Não, realmente. Essa questão supõe duas coisas: primeiro, que
aúnica razão para uma reunião da igreja épara o culto cristão in
dividual, esegundo, que aigreja éum lugar para "ir". (Volte eleia a
questão cuidadosamente). Ambas as afirmações não têm omérito
bíblico, mas estão arraigadas na mente cristã com um resultado de
anos de tradição religiosa. ONovoTestamento não sabe nada sobre
"cultos". Eas pessoas não podem "ir" àigreja. Elas "são" aigreja.
Aigreja primitiva se reunia com opropósito de revelar Jesus
Cristo através do "funcionamento" do corpo de Cristo. O obje
tivo era fazer com que Cristo fosse visível e edificar toda aigreja
durante oprocesso. Aedificação mútua através do "compartilhar
mútuo, ministração mútua e exortação mútua eram osalvos.
Para nós, o que realmente faria toda adiferença seria se todo
o povo de Deus estivesse preparado e então fosse encorajado
a ter reuniões onde cada membro compartilharia o Cristo que
encontraram naquela semana, livre e abertamente, como em
376 Cristianismo Pagão?

iCoríntios 14.26,31 e Hebreus 10.25nos exortam. O resultado:


Deusseria visto e então, glorificado.
Considere nosso corpo físico. Quando todos osmembros de
nosso corpo funcionam, nossa personalidade éexpressa. Acon
tece da mesma forma com Cristo. Quando todos os membros
de Seu Corpo compartilham sua porção de Cristo, então Cristo
é encontrado (veja ICoríntios 12-14).
Essa dinâmica é similar à montagem de um quebra-cabeças.
Quando todas as peças estão encaixadas, juntas, vemos afigura in
teira. Se apenas poucas peças estãovisíveis, não conseguimos enten
der afigura inteira. Não foi àtoa, então, que apalavra grega traduzi
dapor"igreja"(ekklesia) no NovoTestamento significa, naverdade,
"assembléia" [local onde as pessoas se encontram]. Opropósito da
reunião daigreja é reencontrarJesus Cristonaterra.
Eu (Frank) estiveem tantas reuniões do estilo do Novo Testa
mento que perdi aconta. Mas posso contar avocês que não existe
nada como elas. Vou relatar uma rápida história para dar avocê um
pouco do sabor da resposta que aigreja pode produzir.
Emumareunião daigreja orgânica na casa deum irmão, levei
um descrente. Encontramo-nos em uma sala de estar grande. Na
reunião, todos os membros compartilharam, uns com os outros,
a experiência que tiveram com o Senhor naquela semana. Jesus
Cristo foi revelado, exaltado, declarado, conhecidoe testificado
através decada membro do corpo. A reunião estava lotada enão
tiveram pausas, nem silêncio. Ouvimos sobre o Senhor, através
de cada membro do corpo naquela sala. O fluir do Espírito era
indescritível. Um tema comum emergiu nareunião, embora ne
nhuma programação houvesse sido estabelecida para isso.
Conforme a reunião tornava-se menos intensa até terminar
completamente,o descrente foi até o centro da salade estar e cla
mou: "Quero sersalvo! Deusaqui!". Esse homem nãofoiesti
mulado ou empurrado para fazer isso. Nem lhe pediram. Não teve
"apelo", nem "convite àsalvação". Simplesmente aconteceu.
Essa é uma das coisas que acontece organicamente, quando
Jesus Cristo étornado visível através de Seu corpo (veja ICorín
tios 14.24-25).Assisti esse fenômeno muitas vezes nessas reuni
ões —sem rnencionar a transformação na vida dos crentes que
vi essas reuniões produzirem.
Pensamentos Finais 377

11. O livro de vocês realmente me incomoda porque acho que


algumaspessoaspodem deixar a igreja após lê-lo. Estoupar
ticularmentepreocupado com oleitor que decidirse desligar
desua igreja eentãofalharaotentarse relacionar com outro
corpo de crentes.
Esperamos que este livro dê ao povo de Deus a permissão
de seguir adireção do Espírito Santo, não importando qual for.
Ninguém deve se sentir pressionado apermanecer em um tipo
determinado de igreja se ele ou ela sente, que oSenhor não aestá
liderando.
Comisso em mente, osconselhos que posso oferecer àqueles
que se sentem chamados adeixar aigreja institucional tem três
pontos: 1) Deixe-a em silêncio e não leve ninguém com você;
2) Resista em tornar-se amargo contra aigreja institucional. Se
você foi machucado pelo povo, tome sua dor e leve até a cruz.
Guardar amargura no coração é como tomar veneno e esperar
que outra pessoa fique doente. Poucas coisas são tão letais; 3)
Procure, ativamente, por cristãos para manter comunhão com
eles e com Jesus Cristo. Apágina na internet http://www.hou-
sechurchresource.org fornece recursos, para aqueles interessa
dos navida daigreja orgânica e coloca pessoas em contato com
igrejas, que estão explorando novas formas de serem fiéis àvisão
de igreja do Novo Testamento. Passe um tempo visitando essas
igrejas (todas são diferentes) e mantenha contatos. E se sentir
essa direção, desloque-se para fazer parte deuma.
Apêndice

Resumo das Origens


"Oque a história nos ensina éque os homens nunca
aprenderam nadasobre ela "
— G. M. F. HEGEL, Filósofo Alemão doséc. 19.

O seguinte resumo não é completo, nem detalhado. Note que


todas essas práticas são pós-bthlicas, pós-apostólicas egeralmente
influenciadas pelacultura pagã.

CAPÍTULO 2: ACONSTRUÇÃO DA IGREjA


A Construção da Igreja —Começou com Constantino por
volta de 327 d.C. Os primeiros edifícios de igreja foram inspi
rados nas basílicas romanas, as quais tiveram como modelo os
templos gregos.
OEspaço Sagrado —Os cristãos se apropriaram da idéia dos
pagãos nos séculos 2 e 3. Os túmulos dos mártires eram tidos
como "sagrados". No século 4, edifícios de igreja sobre tais tú
mulos foram erigidos, o que originou os edifícios "sagrados".
A Cadeira do Pastor — Deriva-se de cathedra, que era a ca
deira ou trono do bispo. Essa cadeira substituiu oassento do juiz
na basílica romana.
AIsenção deImpostos daIgrejae Clero Cristão —O Impe
rador Constantino deu o status de isentos às igrejas em 323 d.C.
O clero se tornou isento de impostos em 313 d.C., privilégio
desfrutado pelos sacerdotes pagãos.
380 Cristianismo Pagão?

Os Vitrais Coloridos nus Janelas — Foram primeiramente


introduzidos porGregório de Tours (538-593) eaperfeiçoados
por Suger (1081-1151), abade de SãoDenis.
As Catedrais Góticas —século 12. Essas construções foram
erigidas conforme a filosofia paga dePlatão.
O Campanário (A Torre) - Inspirado na antiga Babilônia e
na arquitetura efilosofia egípcia, ocampanário foi uma invenção
medieval popularizadaemodernizada em 1666 porSir Christopher
Wren em Londres.
O Púlpito—E utilizado naigreja cristã desde 250 d.C. Vem
do grego um púlpito usado tanto pelos gregos como pelos
judeus para proferirmonólogos.
O Banco de Igreja — Evoluiu entre os séculos 13 e 18 na
Inglaterra.

CAPÍTULO 3: A LITURGIA
O Culto Dominical Matutino — Evoluiu da Missa de Gre
gório no século 6 até as revisões feitas por Lutero, Galvino,
Puritanos, a tradição da Igreja Livre, Metodistas, Evangelistas
Fronteiriços e Pentecostais.
A Centralidade doPúlpito na Liturgia do Culto —Marti-
nho Lutero em 1523.
Duas Velas Colocadas Sobrea 'Mesada Comunhão'*eQuei
ma de Incenso — As velas eram usadas no cerimonial da Corte
Imperial Romana do século 4. A "Mesa da Comunhão" foi in
troduzida porUlrich Zwingli (Ulrico Zwínglio) noséculo 16.
Tomara Ceia do Senhor Trimestralmente —Ulrich Zwingli
(UlricoZwínglio) (1484-1531).
APrática da Congregação dese Levantar e CantarQuando
o Clero Entra —Adotada do cerimonial da Corte Imperial Ro
mana no século 4. Introduzida naliturgia protestante porJoão
Galvino (1509-1564).
Entrar na Igreja com uma Atitude Sombria/Reverente—Ba
seada na visão piedosa medieval. Prática introduzida no culto
protestante porJoão Calvino eMartin Bucer (1491-1551).
Condenação e Culpaporfaltar ao cultodominical— Puri
tanos da Nova Inglaterra no século 17.
Apêndice 381

A Extensa ^'Oração PastoraV quePrecede ao Sermão — Pu


ritanos do século 17.
A Oração Pastoral Proferida em Inglês Elisahetano (idioma
arcaico) —Metodistas do século 18.
AMeta de Toda Pregação de GanharAlmas Individualmen
te — Revivalistas Fronteiriços do século 18.
OApelo do Altar —Prática inventada pelos Metodistas do
século 17 e popularizada por Charles Finney.
O Boletim da Igreja (liturgia escrita) — Criado em 1884
com amáquina copiadora (stencil) por Albert Blake Dick.
OHino"Solo''deSalvaçãOy Visitas (testemunhos) dePortaem
Porta, ePropaganda/Campanha Evangelística— D.L. Moody.
O Cartão da Decisão — Inventado por Absalom B. Earle
(1812-1895) epopularizado porD.L. Moody.
Curvar a Cabeça com os Olhos Eechados eElevar a Mão em
Resposta àMensagem de Salvação —Billy Graham no século 20.
Slogan ''Evangelizar oMundo em Uma Geração" —John
Mott por volta de 1888.
SoloouMúsica Coral TocadaDurante a Oferta—Pentecos-
tais do século 20.

CAPÍTULO 4: O SERMÃO
O Sermão Moderno — Prática copiada dos sofistas gregos,
os quais eram mestres em oratória eretórica. João Crisóstomo e
Agostinho popularizaram agreco-romana (sermão) ea
colocaram no centro da fé cristã.
O Sermão de Uma Hora, o Sermão Anotado, e o Sermão
Dividido em Quatro Partes -Puritanos do século 17.

CAPÍTULO 5: O PASTOR
OBispo Único (predecessordopastormoderno) —Inácio da
Antioquia no começo do século 2. O "modelo do bispo único
deInácio não prevaleceu naigreja atéo século 3.
A Doutrinado ''Covering" [Cobertura] - Foi inventada por
Cipriano de Cartago (200-258), ex-orador pagão. Retomada por
Juan Carlos Ortiz da Argentina e pelo "Fort Lauderdale Five"
382 Cristianismo Pagão?

dos Estados Unidos, criaram o chamado "Shepherding-Disci-


pleship Movement" [Movimento de Pastorado eDiscipulado]
nos anos 70.
Liderança Hierárquica —Trazida à igreja porConstantino
no século 4. E um estilo de liderança herdado dos babilônicos,
persas, gregos e romanos.
Clero eLeigo —Afigura do leigo surgiu pela primeira vez
nos escritos de Clemente de Roma em 100 d.C. A figura do
clero surgiu pela primeira vez com Tertuliano (160-225). No
século 3, os líderes cristãos foram universalmente chamados
de "clero".
OrdenaçãoModerna— Evoluiu do século 2 ao século 4.Foi
copiada do costume romano de ordenar funcionários públicos.
A idéia do ministro ordenado como "homem santo de Deus"
pode ser atribuída aAgostinho, Gregório de Nacianceno eCri
sóstomo.
O Título de ''Pastor''—Os padres católicos que se tornaram
ministros protestantes começaram a ser universalmente chama
dos de "Pastores" apartir do século 19 pela influência dos Pie-
tistas Luteranos.

CAPÍTULO 6: OS TRAJES DE DOMINGO DE MANHÃ


APrática Cristã de Vestir-se com "RoupasDominicais"para
ir à Igreja— Começou pelo século 18 com aRevolução Indus
trial tornando-se uma prática comum durante o século 19. Esse
costume teve suas raízes nosesforços daemergente classe média
deimitar seus contemporâneos aristocratas ricos.
As Vestes Clericais —Começou em 330 d.C. quando o clero
cristão adotou o traje dos funcionários públicos romanos. No
século 12, oclero começou ausar roupas que os distinguiam das
pessoas comuns, todos os dias.
O Temo doPastorEvangélico—Assim como abatina estudan
til preta foi utilizada pelos ministros da Reforma, o temo formal
preto tomou-se avestetípica do pastor modemo no século 20.
O Colarinho (invertido) Clerical— Foi inventado pelo Re
verendo Dr. Donald McLeod de Glasgow em 1865.
Apêndice 383

CAPÍTULO 7: MINISTROS DO LOUVOR


O Coral— Foi estimulado pelo desejo de Constantino de
imitar amúsica profissional usada nos cerimoniais imperiais ro
manos. No século 4, os cristãos seinspiraram nos corais usados
nos dramas e templos gregos.
O Coralinfantil[de meninos] —Iniciou no século 4, inspi
rada nos corais de meninos usados pelos pagãos.
Procissões eRezasnosFunerais—Foram inspiradas no paga
nismo greco-romano do século 3.
OGrupo deLouvor—Foi iniciado em 1965 na Capela do Cal
vário, posteriormente padronizado pelo concerto de rock secular.

CAPÍTULO 8: DÍZIMOS ESALÁRIOS DO CLERO


Dízimo — Não se tornou uma prática cristã generalizada
até o século 8. O dízimo teve origem no imposto de 10% usado
no Império Romano eposteriormente justificado pelo uso do
Antigo Testamento.
Salários Clericais —Instituídos porConstantino noséculo 4.
OPrato deColeta —O prato de coletas surgiu noséculo 14.
A passagem do prato decoleta começou em 1662.
O Porteiro — Começou com a Rainha Elizabeth I (1533-
1603). O antecessor do porteiro éozelador da igreja que remon
ta ao século 3.

CAPÍTULO 9: BATISMO ECEIA DO SENHOR


Batismo Infantil—Tem raízes nas convicções supersticiosas
que penetraram na cultura greco-romana eforam trazidas àfé
cristã no início do século 2. No século 5, foi substituído pelo
batismo de adultos.
Aspersão Substituídapela Imersão —Começou no final da
Idade Médianas igrejas Ocidentais.
Batismo Separado da Conversão —Começou no início do
século 2 como resultado davisão legalista de que o batismo era
o único meiode perdoar pecados.
A ''Oração do Pecador" —Foi inventada por D.L. Moody
(1837-1899) e tornou-se popular na década 1950-1960 com
384 Cristianismo Pagão'

Otratado Peace With God [Paz com Deus] de Billy Graham e


posteriormente com Four Espiritual Laws [As Quatro Leis Es
pirituais] da Campus Crusadefor Christ [Cruzada para Cristo
"Campus"].
Uso do Termo "Salvador Pessoal" —Foi disseminado por
volta de 1800 por influência dos Revivalistas Fronteiriços epo
pularizado porCharles Fuller (1887-1968).
ACeia do Senhor (antes uma Refeição "Ágape") Condensa
da no CáliceePão"—No final do século 2 como resultado da
influência de rituais pagãos.

CAPÍTULO 10: AEDUCAÇÃO CRISTÃ


O Seminário Católico — O primeiro seminário teve início
como resultado do Concilio deTrento (1545-1563). O currículo
era baseado nos ensinos de Tomás de Aquino, uma mistura de
filosofia aristotélica, filosofia neoplatônica e doutrina cristã.
O Seminário Protestante —Começou em Andover, Massa-
chusetts em 1808. Seucurrículo também foi construído sob os
ensinos deTomás de Aquino.
A Faculdade Bíblica — Influenciado pelo revivalismo de
D.L. Moody (1837-1899), as primeiras duas faculdades bíblicas
foram o Missionary Training Institute (Nyack College, New
York) em 1882 eoMoody Bible Institute (Chicago) em 1886.
AEscola Dominical —Criada por Robert Raikes na Ingla
terra em 1780. Raikes não fundou a Escola Dominical com o
propósito de fornecer instrução religiosa, e sim para dar uma
educação básica às crianças pobres.
OPastordeJovens —Inventado nas igrejas urbanas nas déca
das de1930 e1940 visando preencher as necessidades deuma nova
classe sociológica denominada "teenagers" ["adolescentes"].

CAPÍTULO 11: ABORDANDO NOVAMENTE O NOVO TES


TAMENTO
Cartas de Paulo Compiladas em um Cânon e Organizadas
em Ordem de Tamanho — Início do século 2.
Apêndice 385

Adição de Números de Capítulos no Novo Testamento


— Universidade de Paris pelo professor Stephen Langton em
1227.
Adição deNúmeros de Versículos no Novo Testamento - Ti-
pógrafoRobert Stephanus em 1551.
Figuras-chave na História da Igreja

Abelardo, Pedro (Peter Abelard) —Filósofo escolástico fran


cês,formador da Filosofia Moderna. (1079-1142)
Ambrósio (Ambrose) —Bispo de Milão que criou os primeiros
hinos e salmos pós-apostólicos. (339-397)
Aquino, Tomás de (Aquinas, Thomas) —Teólogo e filósofo
italiano que escreveu Summa Theologica; foi oprimeiro aar
ticular a "doutrina da transubstanciação". (1225-1274).
Aristóteles (Aristotle) —Filósofo grego. (384-322 a.C.)
Amóbio deSica (Arnobius ofSicca) —Cristão primitivo apo
logista [defensor da fé] na África (d. 330)
Atanásio (Athanasius) —Teólogo ebispo de Alexandria (296-
373)
Augustino de Hipona (Augustine ofHippo) —Bispo de Hi-
pona, teólogo e escritor influente (354-430)
Barth,Karl—Teólogo suíço reformado (1886-1968).
Beza, Teodoro (Theodore Beza) —o "braço direito" de João
Calvino (1519-1605).
Bruce, F. F. —Pesquisador daBíblia, inglês (1910-1990).
Brunner, Emil — Teólogo suíço (1889-1966).
Bucer, Martin (Martinho Bucer) —Reformador alemão (1491-
1551).
Bushnell,Horace (Horácio Bushnell) — Ministro congrega-
cionalista (1802-1876).
388 Cristianismo Pagão?

Calvin, John (foão Calvino) — Reformador francês (1509-


1564).
Carlstadt, Andreas —Reformador alemão (1480-1541).
Charlemagne (Carlos Magno) —Imperador do Império Ro
mano Sagrado (ca.742-814).
Chemnitz, Martin —Teólogo luterano que fez parte dos "Es-
colásticos Protestantes" (1522-1586).
Chrysostom, John (João Crisóstomo) — Orador cristão de
Constantinopla (347-407).
Clement ofAlexandria (Clemente de Alexandria) —Profes
sor cristão que uniuaFilosofia grega coma doutrina cristã e
foi oprimeiro ausar afrase "ir àigreja" (150-215).
Clement ofRome (Clemente de Roma) —Bispo de Roma que
foi o primeiro a usar o termo leigo em contraste com clero
(morreu por volta dos anos 100).
Constantine I (Constantino I) —Imperador que promoveu o
Cristianismo portodo o Império Romano (ca. 285-337).
Cyprian ofCartage (Cipríano de Cartago) —Bispo de Carta-
go, teólogo e escritor (ca. 200-258).
Cyril ofJerusalém (Ciro de Jerusalém) —Bispo de Jerusalém
que introduziu a oração ao Espírito Santo para transformar
os elementos daEucaristia (315-386).
Darby, John Nelson — um dos fundadores do Movimento Ir
mãos Plymouth que construiu sua teologia de "comprovação
de textos" (1800-1882).
Dick, Albert Blake —inventor da duplicação de cópias [estên-
cil] (1856-1943).
Dow, Lorenzo —Evangelista metodista que convidava as pes
soas parareceberem oração (1777-1834).
Durant, Will — Historiador americano, escritor e filósofo
(1885-1981).
Earle, Absolom B. —inventor do "cartão da decisão" (1812-
1895).
Figuras-chave 389

Edwards, Jonathan — Ministro e teólogo Congregacionai


(1703-1758).
Elizabeth I —Rainha da Inglaterra que reorganizou aliturgia da
Igrejada Inglaterra (1533-1603).
Eusebius (Eusébio) —Bispo de Cesaréia ehistoriador da Igreja
Primitiva (ca. 260-ca.340).
Finney, Charles —Evangelista americano que popularizou o
"apelo de púlpito" (1792-1875).
Foote, William Henry—Ministro presbiteriano (1794-1869).
Fuller, Charles —Clérigo americano e evangelista através de
rádio que popularizou aexpressão "salvador pessoal" (1887-
1968).
Goodwin, Thomas — Pregador, escritor e capelão Puritano
para Oliver Cromwell (1600-1680).
Gregory ofNazianzus (Gregório de Nazianzo)—Pai da igreja
da Capadócia que desenvolveu a idéia de que o padre é um
"homem santo" (329-389).
Gregory ofNyssa (Gregório ou São Gregório de Nissa) —Pai
da igreja da Capadócia que desenvolveu aidéia de "dom sa-
cerdotal" (330-395).
Gregory ofTours —Bispo de Tours que introduziu os vitrais
nas igrejas (538-593).
Gregory the Great (Gregório, oGrande) —Papa que moldou
a Missa (540-604).
Guinness, H.G. — Pastor de Londres (1835-1910).
Guttenberg, Johann—quem imprimiu aBíblia (1396-1468).
Hasting, Thomas —compositor que trabalhou com Charles
Finney (1784-1872).
Hatch, Edwin—Teólogo e historiador Inglês (1835-1889).
Hyppolytus (Hipólito) — padre romano que escreveu que o
bispo tem poder para perdoar pecados (170-236).
Huss, John — Reformador de Boêmia [República Tcheca]
(1372-1451).
390 Cristianismo Pagão?

Ignatius ofAntioch (Inácio de Antioquia) —Bispo de Antio-


quia que elevou o"bispo" sobre outros presbíteros [anciãos]
(35-107).
Innocent I (Inocêncio I) —padre que tornou obatismo infantil
um mandamento.
Ireaneus—Bispo de Lyon e teólogo que escreveu sobre suces
são apostólica (130-200).
Isidore of Pelusium (Isidoro de Sevilha ou Santo Isidoro de
Sevilha) —Monge eescritor que relacionou interpretações
simbólicas às vestimentas sacerdotais (d. ca. 450).
Jerome, Latin —Pai da igreja ecriador do latim Vulgate; defen
deu que o clero deveria usar túnicas (342-420).
Justin, Martyr —Professor eapologista cristão (100-165).
Kierkegaard, Soren —Filósofo eteólogo dinamarquês (1813-
1855).
Knox, John—Reformador escocês (1513-1572).
Lactantius (Lactancio) —Apologista cristão latino eprofessor
deRetórica (ca. 240-ca. 320).
Langton, Stephen — Professor da Universidade de Paris e mais
tarde, arcebispo de Canterburry; foi quem colocou capítulos
naBíblia (ca.l 150-1228).
Leo I (Papa Leo, o Grande) —Papa que estabeleceu aprimazia
de Roma (d. 440).
Luther, Martin (Martinho Lutero) — Reformador alemão
(1483-1546).
Moody, D. L. —Evangelista americano influente (1837-1899).
More, Hannah —Fundadora da Escola Bíblica (1745-1833).
More, SirThomas —Advogado, autor eestadista inglês (1478-
1535).
Mott, John—Metodista americano e fundador do Movimento do
Estudante Voluntário para Missões Estrangeiras (1865-1955).
Newton, John —Clérigo eautor americano do hino "Amazing
Grace" (Maravilhosa Graça) (1725-1807).
Figuras-chave 391

Orígen (Orígenes) —Pesquisador e teólogo cristão que organi


zouconceitos doutrinais emteologias sistemáticas (185-254).
Owen,John —Teólogo inglês eescritor Puritano (1616-1683).
Pascal, Blaise — Filósofo e matemático religioso (1623-1662).
Plato (Platão) —Filósofo grego (427-347 a.C.).
Plotinus (Plotino) —Influente fundador da Filosofia Paga do
Neoplatonismo (205-270).
Radbertus —Paschasius (Radbert), Teólogo francês (790-865).
Raikes, Robert —Filantropo inglês e leigo anglicano que fun
dou epromoveu a Escola Bíblica (1736-1811).
Robinson,John A.T. —Bispo eescritor anglicano (1919-1983).
Routley, Erik —Ministro, músico, compositor congregacional
inglês (1917-1982).
Schaff, Philip—Teólogo ehistoriador suíço.
Serapion —Bispo de Thmuis [uma cidade do Baixo Egito] que
introduziu a oração ao Espírito Santo para transformar os
elementos da Eucaristia (d. depois 360).
Simons,Menno — Líder anabatista (1496-1561).
Siricius —Papa que requereu o celibato do clero (334-399).
Smith, Chuck—fundador da igreja Calvary Chapei [Capelo do
Calvário] e do conceito "grupo de louvor" (1927-).
Sócrates (Sócrates) —Filósofo grego (470-399 a.C.).
Sourgeon, Charles — Pregador britânico batista reformado
(1834-1892).
Stephanus, Robert (Estienne) —Pesquisador etipógrafo de Paris
que separou oNovo Testamento em versículos (1503-1559).
Stephen I (Estevão I) —Papa que apoiou a preeminência do
bispado romano (d. 257).
Stock, Thomas —Ministro de Gloucester que pode ter dado a
idéia da escola bíblica a Robert Raikes.
Suger—abade de Santo Dênis que introduziu ovidro com pin
turas sagradas nasigrejas (1081-1151).
Sunday, Billy—Evangelista americano (1862-1935).
392 Cristianismo Pagão?

Tertullian (Tertuliano) —Teólogo eapologista de Cartago, o


primeiro a usar o termo clero para diferenciar os líderes da
igreja (160-225).
Trimmer, Sarah —Co-fundadora da escola bíblica (1741-1810).
Turrentin, Francis —Pastor eteólogo suíço reformado que fa
zia parte dos "Escolásticos Protestantes".
Tyndale, William —Reformador epesquisador inglês que tra
duziu aBíblia para oinglês (ca. 1494-1536).
Watts, Isaac —Prolífico escritor de hinos em inglês (1674-1748).
Wesley, Charles —Metodista inglês lembrado por seus hinos
(1707-1788).
Wesley, John —Evangelista e teólogo metodista inglês (1703-
1791).
Whitefield, George — Evangelista inglês durante o Primeiro
Grande Avivamento (1741-1770).
Wimber, John —líder do Movimento Vineyard (1934-1997).
Wren, Sir Christopher — arquiteto das catedrais de Londres
que popularizou o campanário (torre).
Zwingli, Ulrich (Ulrico Zuínglio)—Reformador suíço (1484-
1531).
Bibliografia
"Os maiores avançosna civilização humana vieram quando
recuperamos oquetínharnosperdido: quando aprendemos
as lições da história".
— WINSTON CHURCHILL

Adams, Doug. MeetíngHouse to Camp Meeting, Austin, TX: The Sharing


Company, 1981.
AinslieJ. L. TheDoctrines ofMinisterial Orderin theReformed Churches
ofthe 16''' and 17''' Centuries. Edinburgh: T&T Clark, 1940.
Allen, Roland. Missionary Methods: St. PauRs ar Ours? Grand Rapids:
Eerdmans, 1962.
Althausy Paul The Theology ofMartin Luther: Philadelphia: Fortress
Press, 1966.
Andrews David. Christi-Anarchy. Oxford: Lion Publications, 1999.
Anson, Peter F. Churches: Their Plan and Fumishing, Milwaukee: Bruce
Publishing Co., 1948.
Applebyy David P. History ofChurch Music. Chicago: Moody Press,
1965.
Aquinasy Thomas (Tomás de Aquino). Summa Theologica: Allen, TX:
Thomas More Publishing, 1981. [Publicado no Brasil com o título
Suma Teológica, tradução de Alexandre Corrêa, Livraria Sulina
Editora, Rio Grande do Sul, 1980].
Atkerson, Steve. Toward a House Church Theology, Atlanta: New
Testament Restoration Foundation, 1998.
Bainton, Roland. Here I Stand: A Life of Martin Luther: Nashville:
Abingdon Press, 1950.
Banks, Robert. PauPs Idea ofCommunity, Peabody, MA: Hendrickson,
1994.
. Revisioning Theological Education: Exploring a Missional
Altemative to Current Models: Grand Rapids: Eerdmans, 1999.
eJulia Banks. The Church Comes Home. Peabody, MA:
Fíendrickson, 1998.
394 Cristianismo Pagão?

Barclay, William. Communicatingthe Gospel, Sterling: The Drummond


Press, 1968.
. The Lordes Supper: Philadelphia: Westminster Press,
1967.
Bama, George, Revolution, Carol Stream, IL: Tyndale House, 2005.
(Publicado no Brasil com o título "Revolução", tradução de Neyd
Siqueira, Editora Abba Press, São Paulo, SP, 2007).
Barsisy Max. The Common Man through the Centuries, New York: Unger,
1973.
Barthy Karl. "Theologische Fragen und Antworten". In Dogmatics in
Outline. Traduzido (inglês) porG.T. Thomson. London: SCM Press,
1949.
Bauery MarioUy e Ethel Peyser. How Music Grew. New York: G. P.
Putnam's Sons, 1939.
BaxteVy Richard. The Reformed Pastor. Lafayette, IN: Sovereign Grace
Trust Fund, 2000. (Publicado no Brasil com o título O Pastor
Aprovado, tradução de Odayr Olivetti, Editora PES, São Paulo,
1996).
Bede, AHistory ofthe English Church and People. Traduzido por Leo-
Sherley Price. New York: Dorset Press, 1985.
Benson, Warren, e Mark H. Senter III. The Complete Book of Youth
Ministry. Chicago: Moody Press, 1987.
Bercoty David W. ADictionary ofEarly Christian Beliefs, Peabody, MA:
Hendrickson, 1998.
Bemardy Thomas Dehaney. The Progress of Doctrine in the New
Testament. New York: American Tract Society, 1907.
Bishopy Edmund. "The Genius of the Roman Rite". In Studies in
Ceremonial: Essays Illustrative ofEnglish Ceremonial. Editado por
Vermon Staley, Oxford: A. R. Mowbray, 1901.
BoetheVy Loraine. Roman Catholicism. Philipsburg, NJ: The Presbiterian
and Reformed Publishing Company, 1962.
BoggSy Norman Tower. The Christian Saga. New York: The Macmillan
Company, 1931.
Bowen, Henry Wamer, eP C. Kennedy, eds. American Church History:
A Reader: Nashville: Abingdon Press, 1971.
Bowen, James. A History ofWestem Education. Vol. 1. New York: St.
Martin's Press, 1972.
Boyd, William. The History ofWestem Education. NewYork: Barnes &
Noble Books, 1967.
BoylaUyAnneM. Sunday School: TheFormation ofanAmerican Institution
1790-1880. New Haven, CT: Yale University Press, 1988.
Bibliografia 395

Bradshaw, PaulE The Searchfor the Origins ofChristian Worship. New


York: Oxford University Press, 1992.
Brauer, Jerald C, ed. The Westminster Dictionary of Church History.
Philadelphia: Westminster Press, 1971.
Bray, Gerald. Documents ofthe English Reformation. Cambridge: James
Clarke, 1994.
Brilioth, Yngue. Á Brief History of Preaching. Philadelphia: Fortress
Press, 1965.
Broadbent, E. H. The Pilgrim Church. Grand Rapids: Gospel Folio
Press, 1999.
Brucey A. B. The Training of the Twelve. New Canaan, CT: Kèats
Publishing Inc., 1979. (Publicado no Brasil com o titulo O
Treinamento dosDoze, Editora CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2007).
Bruce, E E The Canon ofScripture. Downers Grove, IL: InterVarsity
Press, 1988.
, First and Second Corinthians (New Century Bible
Commentary), London, Oliphant, 1971.
-, The Letters of Paul: An Expanded Paraphrase, Grand
Rapids: Eerdmans, 1965.
-, ed. The New International Bible Commentary, Grand
Rapids: Zondervan, 1979.
-, The New International Commentary onthe New Testament,
Grand Rapids: Eerdmans, 1986.
•, Paul: Apostle of the Heart Set Free, Grand Rapids:
Eerdmans, 1977.
-, The Spreading Flame, Grand Rapids: Eerdmans, 1958.
Brunner,Emil. TheMisunderstandingofthe Church. London: Lutterworth
Press, 1952.
Bullock, Alan. Hitler and Stalin: Parallel Eives. New York: Alfred A.
Knopf, 1992.
Burgess, Stanley M. eGary B. McGee, eds. Dictionary ofPentecostal and
CharismaticMovements, Grand Rapids: Zondervan, 1988.
Bushman, Richard. The Refinement of América, New York: Knopf,
1992.
Calame, Claude. Choruses ofYoung Woman inAncient Greece. Lanham,
MD: Rowman & Littlefield, 2001.
Calvin, John (João Calvino), Institutes of the Christian Religion.
Philadelphia, Westminster Press, 1960. (Publicado no Brasil com o
título Tratado da Religião Cristã, tradução de Waldir C. Luiz, Casa
da Editora Presbiteriana, São Paulo, SP, 1990).
Campbell, R. Alastair, The Elders: Seniority within Earliest Christianity.
Edinburgh:T & T Clark, 1994.
396 Cristianismo Pagão?

Case, Shirley J. The Social Origins ofChristianity. New York: Cooper


Square Publishers, 1975.
Casson, Lionel. Everyday Life in Ancient Rome. Baltimore: John
Hopkins University Press, 1998.
Castle, Tony. Lives of Famous Christians. Ann Arbor, MI: Servant
Books, 1988.
Chadwick, Owen. The Reformation. London: Penguin Books, 1964.
Chitwood, PaulH. "The Sinner's Prayer: An Histórica! and Theological
Analysis", dissertação não publicada, Southern Baptist Theological
Seminary,2001.
Clowneyy Paul e Teresa Clowney. Exploring Churches, Grand Rapids,
Eerdmans, 1982.
Cobb, Gerald. London City Churches. London: Batsford, 1977.
Coleman, Robert E. The Master Plan ofEvangelism. Grand Rapids:
Fleming H. Revell, Co., 1993. (Publicado no Brasil com o título
Plano Mestre do Evangelismo, tradução de Robert Coleman, Editora
Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1969).
Collins, Michael e Matthew A. Price. The Story ofChristianity. New
York: DK Publishing, 1999.
Connoly, Ken. The Indestructible Book: Grand Rapids: Baker Books,
1996.
Craig, Kevin. "Is the Sermon Concept Biblical?" Searching Together 15.
(1986).
Cross, EL.eE.A. Livingstone, eds. The OxfordDictionary ofthe Christian
Church, 3''^ ed, New York: Oxford University Press, 1997.
Cullman, Oscar. Early Christian Worship. London: SCM Press, 1969.
Cully, Isis V, eKendig Bmbaker Cully, eds. Harper's Encyclopedia of
Religious Education. San Francisco: Harper & Row Publishers,
1971.
Cunningham, Colin. Stones of Witness. Gloucestershire, UK: Sutton
Publishing, 1999.
Cumock, Nehemiah ed. Journals of Wesley, London: Epworth Press
1965.
Davies, Horton. Christian Worship: ItsHistory andMeaning. New York:
Abingdon Press, 1957.
, Worship and Theology in England: 1690-1850. Princeton:
Princeton University Press, 1961.
Davies, J. G. The Early Christian Church: A History ofIts First Eive
Centuries. Grand Rapids: Baker Book House, 1965.
,A New Dictionary ofLiturgy and Worship. London: SCM
Press, 1986.
Bibliografia 397

The New Westminster Dictionary ofLiturgy and Worship.


Philadelphia: WestminsterPress, 1986.
The Secular Use of Church Buildings. New York: The
Seabury Press, 1968.
The Westminster Dictionary of Worship. Philadelphia:
Westminster Press, 1972.
Davies, Rupert, A History ofthe Methodist Church in Great Britain.
London: Epworth Press, 1965.
Dawn, Marva J. Reaching Out without Dumbing Down: A Theology
of Worship for the Tum-of-the-Century Culture. Grand Rapids:
Eerdmans, 1995.
Dever, Mark. A Display ofGod's Glory. Washington, DC: Center for
Church Reform, 2001.
Dickens, A. G. Reformation andSociety inSeventeenth-Century Europe.
London: Hartcourt, Brace & World, Inc. 1966.
Dickinson, Edward. The Study of the History of Music. New York:
Charles Scribner's Sons, 1905.
Dillenherger, John e Claude Wèlch. Protestant Christianity: Interpreted
through its Development. New York: The Macmillan Company,
1988.
Dix, Gregory. TheShapeoftheLiturgy. London: Continuum International
Publishing Group, 2000.
Dodd, C. H. The Apostolic Preaching and Its Developments. London:
Hodder and Stroughton, 1963.
Dohan, Mary Helen. Our Own Words. New York: Alfred A. Knopf,
1974.
Douglas, G. D. New Twentieth Century Encyclopedia of Religious
Knowledge. GrandRapids: Baker BookHouse, 1991.
, Who is who in Christian History. Carol Stream, IL:
Tyndale House Publishers, 1992.
Duchesne, Louis. Christian Worship: Its Origin and Evolution. New
York: Society for Promoting Christian Knowledge, 1912.
,Early History ofthe Christian Church: From its Foundation
to the Endofthe Fifty Century. London, John Murray, 1912.
Dunn, James D. G. New Testament Theology in Dialogue. Philadelphia:
Westminster Press, 1987.
Dunn, Richard R. e Mark H. Senter, eds. Reaching a Generation for
Christ. Chicago: Moody Press, 1997.
Durant, Will The Age ofFaith. NewYork: Simon & Schuster, 1950.
, Caesarand Christ. New York: Simon & Schuster, 1950.
, The Reformation. New York: Simon & Schuster, 1957.
398 Cristianismo Pagão?

Eavey, C. B. History of Christian Education. Chicago Moody Press,


1964.
Edersheim, Alfred, The Life andTimes ofJesus the Messiah: McLean, VA:
Mac Donald Publishing Company, 1883.
Ehrhard, Jim. The Dangers of the Invitation Systems. Parkville, MO:
Christian Communicators Worldwide, 1999.
Eller, Venard. In Place ofSacrament. Grand Rapids: Eerdmans, 1972.
Elwell, Walter. EvangelicalDictionary ofTheology. Grand Rapids: Baker
Book House, 1984.
EvanSy CraigA. "Preacher and Preaching: Some Lexical Observations"
Journal ofthe Evangelical Theological Society 24, no. 4 (Dezembro
de 1981).
EergusoHy Everett. Early Christians Speak: Faith and Life in the First
Three Centuries, 3"'' ed. Abilene, TX: A.C.U. Press, 1999.
1 ,ed. Encyclopedia ofEarly Christianity. New York: Garland
Publishing, 1990.
Finney, Charles. Lectures on Revival Minneapolis: Bethany House
Publishers, 1989.
FoXy Rohin Lane. Pagans and Christians. New York: Alfred A. Knopf,
1987.
Foxe,John. Foxe's Book ofMartyrs. Old Tappan, NJ: Spire Books, 1968.
Flemantle, Ann, ed. A Treasury ofEarly Christianity. New York: Viking
Press, 1953.
FromkeyDeVem. The Ultimate Intention. Indianápolis: Sure Foundation,
1998.
Furst, Viktor. The Architecture ofSir Christopher Wren. London: Lund
Humphries, 1956.
Galling, Kurt, ed. Die Religion inder Geschichte und der Gegenwart, 3"^^
ed. Tubingen, Germany: J. C. B. Mohr, 1957.
Geislery Norman, e William Nix. A General Instruction of the Bihle:
Revised and Expanded. Chicago: Moody Press, 1986.
Gilchrist, James. Anglican Church Plate. London: The Connoisseur,
1967.
Giles, Kevin. Pattems ofMinistry among the First Christians. NewYork:
Harper Collins, 1991.
Gilles, Gary. The Little Church Went to Market: The Church in theAge of
Entertainment. Webster, NY: Evangelical Press, 2005.
Gonzalezy Justo L. The Story ofChristianity. Peabody, MA: Prince Press,
1999.
Gouchy J. E. Churchy Delinquent and ^oae^. Melbourne: Federal
Literature Commitee of Churches of Christ in Austrália, 1959.
Bibliografia 399

Gough, Michael The Early Christians. London: Thames and Hudson,


1961. (Publicado em português com o título Os primitivos cristãos.
Editorial Verbo, Lisboa, Portugal, 1969).
Grabar, André. Christian Iconography. Princeton: Princeton University
Press, 1968.
Grant, F. W. Nicolaitanism or the Rise and Growth ofClensy. Bedford,
PA: MWTB, n.d.
Grant, Michael The Founders ofthe Westem World: AHistory ofGreece
andRome. NewYork: Charles Scribner's Sons, 1991.
Grant, Rohert M. The Apostolic Fathers: A New Translation and
Commentary, 6vols. NewYork: Thomas Nelson &Sons, 1964.
, Early Christianity and Society, San Francisco: Harper &
Row Publishers, 1977.
Green, JoelB., ed. Dictionary ofJesus and the Gospels. Downers Grove,
IL: InterVarsity Press, 1992.
Green, Michael. Evangelism in the Early Church. London: Hodder and
Stoughton, 1970. (Publicado no Brasil com o título Evangelização
naigreja primitiva. Editora Vida Nova, São Paulo, Sp 1984).
Greenslade, S. L. Shepherding the Flock: Problems ofPastoral Discipline
in the Early Church and in the Younger Churches Today. London:
SCM Press, 1967.
Gummere, Amélia Mott. The Ç^uaker: AStudy in Costume. Philadelphia:
Ferris and Leach, 1901.
Guthrie, Donald. New Testament Introduction. rev. ed. Downers Grove,
IL: InterVarsity Press, 1990.
Guzie, Tad WiJesus andthe Eucharist. New York: Paulist Press, 1974.
Hall, David D. The Faithful Shepherd. Chapei Hill: The University of
North Carolina Press, 1972.
Hally Gordon L. The Sawdust Trail: The Story ofAmerican Evangelism.
Philadelphia: Macrae Smith Company, 1964.
Holliday, W.R. The Pagan Background ofEarly Christianity. NewYork:
Cooper Square Publishers, 1970.
Hamilton, Michael S. "The Triumph of Praise Songs: How Guitars Beat
Out the Organ in the Worship Wars." Christianity Today (12 de
julho de 1999).
Hanson, Richard. The Christian Priesthood Examined. Guildford, UK:
Lutterworth Press, 1979.
Hardman, Oscar. A History ofChristian Worship. Nashville: Parthenon
Press, 1937.
Haskins, Charles Homer. The Rise of Universities. NewYork: H. Holt,
1923.
400 Cristianismo Pagão?

Hassely C. B, History ofthe Church of God, from Creation to AD 1885.


Middletown, NY: Gilbert Beebe's Sons Publishers, 1886.
Hatch,Edwin. The Growth ofChurch Institutions. London: Hodderand
Stoughton, 1895.
, The Influence ofGreek Ideas andUsages upon the Christian
Church. Peabody, MA: Hendrickson, 1895.
The Organization oftheEarly Christian Churches. London:
Longmans, Green, and Co., 1895.
Havass, Zahi. The Pyramids ofAncient Egypt. Pittsburgh: Carnegie
Museum of Natural History, 1990.
Hay, AlexanderR. The New Testament Orderfor Church and Missionary.
Audubon, NJ: NewTestament Missionary Union, 1947.
What is Wrong in the Churchf Audubon, NJ: New
Testament Missionary Union, n.d.
Henderson, Robert W. The Teaching Office in the Reformed Tradition.
Philadelphia: Westminster Press, 1962.
Herbert, George. The Country Parson and the Temple. Mahwah, NJ:
Paulist Press, 1981.
Hislop, Alexander. Two Babylons. ed. Neptune, NJ: Loizeaux
Brothers, 1990.
Hodge, Charles. First Corinthians. Wheaton, IL: Crossway Books, 1995.
Hoover, Peter. The Secret ofthe Strength: What Would the Anabaptists Tell
This Generationf Shippensburg, PA: Benchmark Press, 1998.
Howey Reuel L. Partners in Preaching: Clergy and Laity in Dialogue.
New York: SeaburyPress, 1967.
Jacobsy C. M., trans. Works ofMartin Luther. Philadelphia: Muhlenberg
Press, 1932.
Johnsouy Paul. AHistory ofChristianity. New York: Simon & Schuster,
1976.
JoneSy Ilion T. AHistoricalApproach to Evangelical Worship. New York:
Abingdon Press, 1954.
JungmannyJosefA. The Early Liturgy: To The Time ofGregory the Great.
Notre Dame: Notre Dame Press, 1959.
, The Mass ofthe Roman Rite, vol. 1. New York: Benzieer,
1951.
Kennedyyjohn W. The Torch ofthe Testimony. Bombay: Gospel Literature
Service, 1965.
Kierkegaardy Seren. "Attack on Cristendom". Em A Kierkegaard
Anthology, editado por Robert Bretall. Princeton: Princeton
University Press, 1946.
Kingy Eugeney E A. Church Ministry, St. Louis: Concórdia Publishing
House, 1993.
Bibliografia 401

Kistemaker, SimonJ. New Testament Commentary: Acts. Grand Rapids:


Baker Book House, 1990.
Klassen, W., J. L. Bulkholder eJohn Yoder. The Relation ofElders to the
Priesthood ofBelievers. Washington D.C: Sojourners Book Service,
1969.
Klassen, Walter. "New Presbyter Is Old Priest Writ Larga." Concem 17
(1969).
Koop, David. Praying the Bihle for Your Life. Colorado Springs:
Waterbrook, 1999.
Krautheimer, Richard. Early Christians and Byzantine Architeture.
London: Penguin Books, 1986.
Kreider, Alan. Worship and Evangelism in Pre-Christendom, Oxford:
Aiain/GROW Liturgical Study, 1995.
Larimore, Walter eRev. BillPeel "Criticai Cara: Pastor Appraciation."
Physician Magazine, Satambro/Outubro 1999.
Latourette, Kenneth Scott. A History ofChristianity. NawYork: Harpar
and Brothars, 1953.
Leisch, Barry. The New Worship: Straight Talk on Music and the Church.
Grand Rapids: Bakar BookHousa, 1996.
Lenski, R. C. H. Commentary on St. PauVs Epistle to the Galatians.
Minnaapolis: Augsburg Publishing Housa, 1961.
, Commentary on St. PauPs Epistle to Timothy. Minnaapolis:
Augsburg Publishing Housa, 1937.
-, The Interpretation of1 and 2 Corinthians. Minnaapolis:
Augsburg Publishing Housa, 1963.
Liemohn, Edwin. The Organ and Choir in Protestant Worship.
Philadalphia: Fortrass Prass, 1968.
Lietzmann, Hans. AHistory ofthe Early Church, vol. 2. Naw York: Tha
Wbrld Publishing Company, 1953.
Lightfoot, J. B. "Tha Christian Ministry." Em Saint PauPs Epistle to the
Philippians. Whaaton, IL: Crossway Books, 1994.
Lockyer, Herbert Sr., ed. Nelson's Illustrated Bihle Dictionary. Nashvilla:
Thomas Nelson Publishars, 1986.
Mackinnon, James. Calvin and the Reformation. Naw York: Russall and
Russall, 1962.
MacMullen, Ramsay. Christianizing the Roman Empire: AD 100-400.
London: Yala Univarsity Prass, 1984.
MacPherson, Dave. The Incredihle Cover-Up. Madford, OR: Omaga
Publications, 1975.
Marrou, H.I.AHistory ofEducation inAntiquity. Naw York: Shaad and
Ward, 1956.
402 Cristianismo Pagão?

Marsderiy George. The Soul ofthe American University: From Protestam


EstahlishmenttoEstablishedNonhelief. NewYork: Oxford University
Press, 1994.
Marshall^ I. Howard. Last Supper and Lordes Supper. Grand Rapids:
Eerdmans, 1980.
, New Bihle Dictionary, 2"^ ed. Downers Grove, IL:
InterVarsity Fellowship, 1982.
Maxwellj WilliamD. An Outline ofChristian Worship; Its Developments
and Forms. NewYork: Oxford University Press, 1936.
Mayo, Janet. A History of Ecclesiastical Dress. New York: Holmes &
Meier Publishers, 1984.
McKennUy David L. "The Ministry's Gordian Knot." Leadership
(Inverno de 1980).
McNeill, John T. AHistory ofthe Cure ofSouls. New York: Harper &
Row Publishers, 1951.
MeeSy Arthur. Choirs and ChoraiMusic. New York: Greenwood Press
1969.
Metzgevy Bruce eMichael Coogan. The Oxford Companion to ée Bihle.
New York: Oxford University Press, 1993.
Middleton, Arthur Pierce. New Wine in Old Wineskins. Wilton, CT:
Morehouse-Barlow Publishing, 1988.
Miller, Donald E. Reinventing American Protestantism. Berkeley:
University of Berkeley Press, 1997.
Morganyjohn. Godly Leaming. New York: Cambridge University Press,
1986.
Muller, Karl, ed. Dictionary ofMission: Theology, History, Perspectives.
Maryknoll, NY: Orbis Books, 1997.
Murphy-CConnor, Jerome. Paul the Letter-Writer, Collegeville, MN:
The Liturgical Press, 1995.
Murray, lain H. The Invitational System. Edinburgh: Banner of Truth
Trust, 1967.
Revival and Revivalism: The Making and Marring of
American Evangelicalism. Carhsle, PA: Banner of TruthTrust, 1994.
Murray, Stuart. Beyond Tithing Carlisle, UK: Paternoster Press, 2000.
Narramore, Matthew. Tithing: Low-Realm, Ohsolete and Defunct.
Graham, NC: Tekoa Publishing, 2004.
Nee, Watchman. The Normal Christian Life. Carol Stream, IL. Tyndale
House Publishers, 1977. (Publicado no Brasil com o título A Vida
Cristã Normal, Edições Tesouro Aberto, Belo Horizonte, MG, 2007).
Nevin, J. W. The Anxious Bench. Champersburg, PA: Wipf & Stock,
1843.
Bibliografia 403

Nicholsy James Hastings. Corporate Worship in the Reformed Tradition.


Philadelphia: Westminster Press, 1968.
Nicoll, W. RobertsoUy ed. The Expositores Bihle. NewYork, Armstrong,
1903.
Niebuhvy H. Richard e Daniel D. Williams. The Ministry in Histoncal
Perspectives. San Francisco, Harper & Row Publishers, 1956.
Eiorman Edward. The House of God: Church Árchitecture Style and
History. London: Thames and Hudson, 1990.
Norringtony David C. To Preach orNot to Preachf The Church's Urgent
Question. Carlisle, UK: Paternoster Press, 1996.
Gatesy Wayne. Protestam Pastoral Counseling. Philadelphia: Westminster
Press, 1962.
Oldy Hughes Oliphant. The Patristic Roots ofReformed Worship. Zurich:
Theologischer Veriag, 1970.
Omany Charles. English Church Plate 597-183. London: Oxford
University Press, 1957.
Osbomey Kenan B. Priesthood: AHistory ofthe Ordained Ministry in the
Roman Catholic Church. New York: Paulist Press, 1988.
Owen, John. Hebrews. Editado por Alister McGrath e J. I. Packer.
Wheaton, IL: Crossway Books, 1998.
, True Nature of a Gospel Church and Its Govemment.
London: James Clarke, 1947.
Parky Ken. The World Almanac and Book ofFacts 2003. Mahwah, NJ:
World Almanac Books, 2003.
Parkcy H. W. The Oracles ofApollo in Asia Minor. London: Croom
Helm, 1985.
Pearscy MeiCy and Chris Mattbews. We Must Stop Meeting Like This. E.
Sussex, UK: Kingway Publications, 1999.
Power, EdwardJ. ALegacy ofLeaming: AHistory ofWestem Education.
Albany: State University of NewYork Press, 1991.
Purvesy George T. "The Influence of Paganism on Post-Apostolic
Christianity." The Presbiterian Review. No. 36 (Outubro de 1888).
Quasteny Johannes. Music and Worship in Pagan and Christian Antiquity.
Washington, DC: National Association ofPastoral Musicians, 1983.
Reidy ClydeH. The Empty Pulpit. New York: Harper &Row Publishers,
1967.
Reidy Daniel G. et al., Concise Dictionary of Christianity in América.
Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1995.
, Dictionary of Christianity in América. Downers Grove,
IL: InterVarsity Press, 1990.
Richardsony A. Madeley. Church Music. London: Longman, Green &
Co., 1910.
404 Cristianismo Pagão?

Robertson, A. T. A Grammar ofthe Greek New Testament in the Light


ofHistorical Research. Nashville: Broadman & Holman Publishers,
1934.
Robertson, D. W. Abelard and Heloise. New York: The Dial Press,
1972.
Robertson, John A. T. The New Reformation. Philadelphia: Westminster
Press, 1965.
Rogers, Elizabeth. Music Through the Ages. New York: G. P. Putnam's
Sons, 1967.
Rowdon, HaroldH. "Theological Education inHistorical Perspective".
Em Vox Evangélica: Biblical and Other Essays from London Bihle
College. Vol. 7. Carlisle, UK: PaternosterPress, 1971.
Sanford, Elias Benjamin, ed. A Concise Encyclopedia of Religious
Knowledge. New York: Charles I., Webster &Company, 1890.
Saucy, Robert L. The Church in God's Program. Chicago: Moody
Publishers, 1972.
Schaff, Philip. History of Christian Church. Grand Rapids: Eerdmans,
1910.
Schlect, Christopher. Critique ofModem Youth Ministry. Moscow, ID:
Canon Press, 1995.
Schweizer, Eduard. The Church As the Body ofChrist. Richmond, VA:
John Knox Press, 1964.
, Church Orderin the New Testament. Chatlam, UK: W &
J Mackay, 1961.
Sendrey, Alfred. Music in the Social and Religious Life ofAntiquity:
Rutherford, NJ: Fairleigh Dickinson University Press, 1974.
Senn, Frank C. Christian Liturgy: Catholicand Evangelical. Minneapolis:
Fortress Press, 1997.
, Christian Worship and Its Cultural Setting. Philadelphia:
Fortress Press, 1983.
Senter, Mark H.III. The ComingRevolution in Youth Ministry. Chicago:
VictorBooks, 1992.
, The Youthfor Christ MovementAs an EducationalAgency
and Its Impact upon Protestant Churches: 1931-1979. Ann Arbor,
MI: Universityof Michigan, 1990.
Shaulk, Carl. Key Words in Church Music. St. Louis: Concórdia
Publishing House, 1978.
Smith, Christian. Coingto the Root. Scottdale, PA: Herald Press, 1992.
i "Our Dressed Up Selves." Voices in the Wildemess,
Setembro/Outubro, 1987.
Smith, M. A. From Christ to Constantine. Downers Grove, IL:
InterVarsity Press, 1973.
Bibliografia 405

Snyder, Graydon EAnte Pacem: Archaeological Evidencefor Church Life


hefore Constantine. Macon, GA: Mercer University, 1985.
, First Corinthians: A Faith Community. Macon, GA:
Mercer University Press, 1991.
Snyder, Howard. Radical Renewal: The Prohlem of Wineskins Today.
Houston: Touch Publications, 1996.
Soccio, Douglas. Archetypes ofWisdom: An Introduction to Philosophy.
Belmont, CA: Wadsworth ITP Publishing Company, 1998.
Sommer, Robert. "Sociofugal Americanjoumal ofSocíology 72,
no. 6, 1967
Steven, R. Paul. The Abolition of the Laity. Carlisle, UK: Paternoster
Press, 1999.
, Liberating the Laity. Downers Grove, IL: InterVarsity
Press, 1985.
-, The Other Six Days: Vocation, Work, and Ministry in
Biblical Perspective. Grand Rapids: Eerdmans, 1999.
Streeter, B. H. The Primitive Church. New York: The Macmillan
Company, 1929.
Streett, R. Alan. The Fffective Invitation. OldTappan, NJ: Fleming H.
Revell Co., 1984.
Stumpf, Samuel Enoch. Sócrates to Sartre. New York: McGraw-Hill,
1993.
Swanky George W. Dialogical Style in Preaching. Valley Forge, PA:
Judson Press, 1981.
Swank, J. Grant. "Preventing Clergy Burnout." Ministry (Novembro
1998).
Sweet, Leonard. "Church Architeture for the 21" Century." Your
Church (Março/Abril 1999).
Sykesy Norman. Old Priest and New Presbyter. London: Cambridge
University Press, 1956.
TaUy Kim. Lost Heritage: The Heroic Story of Radical Christianity.
Godalming, UK: Highland Books, 1996.
TayloVy Joan E. Christian and the Holy Places: The Myth ofJewish-
Christian Origins. Oxford: ClarendonPress, 1993.
Terryy John Mark. Fvangelism: A Concise History. Nashville: Broadman
& Holman Publishers, 1994.
ThiesseUy Henry C. Lectures in Systematic Theology. Grand Rapids:
Eerdmans, 1979.
Thompsony C. L. Times of Refreshing Being a History ofAmerican
Revivais with Their Philosophy and Methods. Rockford: Golden
Censer Co. Publishers, 1878.
406 Cristianismo Pagão?

Thompsonyjeremy. PreachingAs Dialogue: Is the Sermon a Sacred Cowf


Cambridge: Grove Books, 1996.
Tidbally D. J. Dictionary ofPaul and His Letters. Downers Grove, IL:
InterVarsity Press, 1993.
Trueman, D. C. The Pageant of the Past: The Origins of Civilization.
Toronto: Ryerson, 1965.
Tumer, Harold W. From Temple to Meeting House: The Phenomenology
and Theology ofPlaces ofWorship. The Hague: Mouton Publishers,
1979.
Ulaniy Adam B. Stalin: The Man and His Era. New York: Viking Press,
1973.
Uprichardy R. E. H. "The Eldership inMartin Bucer and JohnCalvin."
Irish Biblical Studies Joumal (18 de junho de 1996).
UschaUy Michael Y The 1940's: Cultural History ofthe US through the
Decades. SanDiego: Lucent Books, 1999.
Van Bienuiy David. "The End: How It GotThat Way." Time (1° de julho
de 2002).
Yerduiuy Leonard. The Reformers and Their Stepchildren. Grand Rapids:
Eerdmans, 1964.
Verkuyly Gerrit. Berkeley Version ofthe New Testament. Grand Rapids:
Zondervan, 1969.
ViolayFrank. God's Ultimate Passion. Gainesville, FL: PresentTestimony
Ministry, 2006.
, Reimagining Church, Colorado Springs: David C. Cook,
2008.
•, The Untold Story of ée New Testament Church: An
Extraordinary Guideto UnderstandingtheNew Testamenty Shippensburg,
PA: Destiny Imagine, 2004.
von Campenhauseuy Hans. Tradition and Life inthe Church. Philadelphia:
Fortress Press, 1968.
von Hamacky Adolf. The Mission and Expansion ofChristianity in the
First Three Centuries. New York: G. P Putnam's Sons, 1908.
von SimsoHy Otto. The Gothic Cathedral: Origins of Gothic Architeture
andthe Medieval Concept ofOrder. Princeton: Princeton University
Press, 1988.
vonSodenyH. DieSchrifen desNewen Testamentes. Gottingen, Germany:
Vandenhoeck, 1912.
WalkcTy G.S.M. The Churchmanship ofSt. Cyprian. London: Lutterworth
Press, 1968.
Wallis, Arthur. The Radical Christian. Columbia, MO: Cityhill
Publishing, 1987.
Bibliografia 407

Warkentin, Marjorie. Ordination: A Biblical-Historical View. Grand


Rapids: Eerdmans, 1982.
Wamsyj. Baptism: Its History andSignificance. Exeter, UK: Paternoster
Press, 1958.
Watson, Philip. Neoplatonism and Christianity: 928 Ordinary General
Meeting ofthe Victoria Institute. Surrey, UK: The Victoria Institute,
1955.
Welch, Bobby H. Evangelism through the Sunday School: AJoumey of
Faith. Nashville: LifewayPress, 1997.
Wesley, John. Sermons on Several Occasions. London; Epworth Press,
1956.
White, James F. Protestam Worship Traditions in Transition. Louisviile:
Westminster/ John Knox Press, 1989.
, The Worldliness ofWorship. NewYork: Oxford University
Press, 1967.
White, L. Michael Building God's House in ée Roman World. Baltimore:
Johns Hopkins UniversityPress, 1990.
White, John F. Protestam Worship and Church Architeture. New York:
Oxford University Press, 1964.
Whitham, Larry. "Flocks in Need of Shepherds." Washington Times, 2
de julho de 2001.
Wickes, Charles. Illustrations ofSpires and Towers oféeMedieval Churches of
England. New York: Hessling &Spielmeyer, 1900.
Wieruszowski, Helen. The Medieval University. Princeton: Van
Nostrand, 1966.
Wilken, Robert. The Christians as the Romans Saw Them. New Haven,
CT: University Press, 1984.
Williams, George. The Radical Reformation. Philadelphia: Westminster
Press, 1962.
Williams, Peter. Houses of God. Chicago: University of Illinois Press,
1997.
Wilson-Dickson, Andrew. The Story of Christian Music. Oxford: Lion
Publications, 1992.
Wright, David F. The Lion Handbook ofthe History of Christianity,
Oxford: Lion Publications, 1990.
Wuest, Kenneth S. The New Testament: An Expanded Translation. Grand
Rapids: Eerdmans, 1961.
Youngblood, Ronald. "The Process: How We Got Our Bible."
Christianity Today (5 de fevereiro de 1988).
Zens,Jon. The Pastor. St. Croix Falls, MN: Searching Together, 1981.
Parabéns!
Você terminou aleitura de mais um bom livro. Esperamos
que você estejase sentindo encorajado, fortalecido e melhor
informado. Gostaríamos de saber sua opinião sobre este livro,
para que possamos aprimorar a qualidade do nosso trabalho.
Nossa missão épublicar livros que contribuam para sua felici
dade. (Jo 10.10) Por isso, gostaríamos de recomendar a você
maisalguns importantes títulos:

Novo Testamento com


Salmos eProvérbios - KingJames
Tradução Atualizada daBíblia KJ comnotas
Uma tradução primorosa do texto clássico, reverente e
com o estilo da bíblia mais lida e amada no mundo desde 1611
- KingJames. Contendo notas, comentários eajudas, uma bí
blia de estudo para indivíduos ou pequenos grupos de estudo.
Com letra grande e nas opções brochurae luxo em recouro.
Todo bom cristão eestudioso da Palavra precisa ter uma King
James em português!
Formato: 16x 23 cm- 864 páginas.

A Marca do Cristão - Francis A.Schaeffer


Esse livro não éomaior, mas omelhor do autor. Comprove
lendo aobra que foi publicada em homenagem aos vinte ecin
coanos damorte doautor. Inclui hipertexto ecomentários de
o jornalistaJúlioScarparo eprefácio do Pr.Caio Fábio.
Formato: 14x21 cm,SOpágs.

A Ilusão do Livre-arbítrio - Newton Bernardi


O autor levanta e responde uma série de indagações que
muitos têm sobre a Predestinação e a Liberdade do homem.
Nós nos achamos lógicos e precisos em nosso raciocínio e o
autor nos mostra que nem sempre podemos descansar em nos
sa sabedoria!
Formato: 14x21 cm-120 páginas.
Estamos realmente sendo a Igreja da Bíblia?
• Porque ospastores devem pregar um sermão a cada culto?
• Porque oscultas sãotão parecidos, semana após semana, todos osanos?
• Por que os membros das igrejas se sentam, muitas vezes nos mesmos lugares,
passivamente, paraouvir, anoapósano?
• Por que os cristãos assumem um comportamento religioso e reverente nas igrejas,
masassim quesaemdostemplos retomamseu ritmo devida mundano?
• Por que a Igreja sacraliza certas práticas doutrinárias e religiosas, mas que jamais
foram ensinadas pelos fundadores do Cristianismo e algumas nem constam daBíblia?

Você não sabe ou não tem certeza?

Pois esta pesquisa realizada pelos conhecidos doutores George Barna e Frank Viola
revela que: A maioria dos costumes e doutrinas religiosas praticadas pela atual igreja
Cristã em todos os seus cultos, reuniões e eventos, não tem base bíblica e raiz no Novo
Testamento, mas, sim, em culturas pagãs e rituais desenvolvidos depois da morte dos
apóstolos de Cristo!
Essa revelação já causou muita polêmica, desapontamento, irritação e até violência
nos Estados Unidos, Mas, para os autores, a verdade não pode ser ocultada. A Igreja
Cristã deve reencontrar seu caminho bíblico nas páginas e na história do Novo
Testamento conforme Jesus ensinou e inspirou seus discípulos (Mt 28.16-20, King
James Atualizada).
Barna e Viola defendem suas teses, apoiados emséria, competente, longa e científica
análise de farto material e evidências históricas (com documentos registrados em
extensivo serviço de notas de rodapé), sobreas origens da maioria das práticas cristãs
tão emvogaem nossos dias.
Enquanto afastam o telhado da falsa igreja cristã, os pesquisadores e autores desta
obra corajosa e cheia de valor revelam que a Igreja de hoje mais se assemelha a uma rede
globalizada deempresas voltadas para olucro econômico-financeiro, do que aoCorpo de
Cristo, o organismo vivo criado porJesus. Ao caminhar atentamente pelas páginas deste
livro, prepare-se para o impacto de olhar para Jesus Cristo e avaliar sua igreja e
procedimentos, à luz do verdadeiro plano deDeus paraseu povo.

Boa leitura,
Qswaido Paião
Editor
Abba Press & Sociedade Bíblica Ibero-Americana

m: w •••-«
AhlKI
Site: www.abbapress.Gom bi
E-niail; abbapress(ifJabbapress.com.bi'

Potrebbero piacerti anche