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Fichamento sobrados e mucambos

A compressão do patriarcado rural por um conjunto poderoso de circunstâncias desfavoráveis


à conservação do seu caráter latifundiário e, sociologicamente, feudal, fez que ele, contido ou
comprimido no espaço físico como no social, se despedaçasse aos poucos; que o sistema casa-
grande-senzala se partisse quase pelo meio, os elementos soltos espalhando-se um pouco por
toda parte e completando-se mal nos seus antagonismos de cultura europeia e de cultura
africana ou cultura indígena. Antagonismos outrora mantidos em equilíbrio à sombra dos
engenhos ou das fazendas e estâncias latifundiárias. P. primeira do capitulo 5

Caso expressivo de influência recíproca foi o desse tipo de casa vir a refletir novas tendências
sociais, vindas da rua, e ao mesmo tempo influir sobre elas e sobre a rua, um tanto à maneira
das relações que se estabelecem entre veículo e estrada. O sobrado conservou quanto pôde,
nas cidades, a função da casa-grande do interior, de guardar mulheres e guardar valores. Daí
os cacos de garrafa espetados nos muros: não só contra os ladrões mas contra os donjuans.
Daí as chamadas urupemas, de ar tão agressivo e separando casa e rua, como se separasse
dois inimigos. P. 2

A Nova Holanda, primeira tentativa de colonização urbana do Brasil, em que os sobrados


superaram casas térreas e palhoças, excedeu-se à Nova Lusitânia em delitos de ordem sexual,
em irregularidades morais de toda espécie. Pernambuco apresenta-se ao estudioso da nossa
história social como o ponto ideal para a análise e o balanço de influências dos dois tipos da
colonização: o urbano e o rural. O predominantemente feudal e o predominantemente
capitalista. O holandês e o português. A colonização que se armou na casa-grande de engenho
completada pela senzala e a que se desenvolveu principalmente em volta do sobrado urbano,
às vezes transformado em cortiço. E aqui se impõem considerações que completam, em certos
pontos, o pouco que rapidamente se sugeriu, em capítulo anterior, sobre o antagonismo entre
a cidade e a zona rural, na formação social do brasileiro. P. 171

Os mineiros, observou Burton, não podiam gabar-se da superioridade moral de que outros
brasileiros se gabavam sobre os ingleses: a de não serem os mesmos “baetas” que eles. Era
difícil encontrar tropeiro ou barcaceiro, livre ou escravo, que não amanhecesse bebendo
aguardente para “espantar o Diacho” ou “matar o bicho”; que de noite não se juntasse aos
camaradas para tocar viola e esvaziarem juntos gordos garrafões de cachaça. Quando o
estrangeiro se escandalizava com a enorme quantidade de aguardente que se consumia no
interior do Império os brasileiros lhe recordavam que grande parte da cachaça era para água
do banho. 167 p. 175

O que aqui se sustenta, porém, é que os ingleses concorreram por


meio de aperfeiçoamento
da técnica de produção e de transporte animal – aperfeiçoamento tanto
de ordem técnica como
de ordem moral – e, principalmente, por meio de nova técnica de
produção e de transporte – a
mecânica, o vapor – para dificultar a sobrevivência da escravidão
entre os homens. O que não
significa que em sua luta a princípio meio vaga, depois sistemática,
contra a escravidão, no
Brasil, não agissem por motivo de crua rivalidade econômica: a da
produção mecânica a
vapor, ainda cara, com a produção por meio do braço escravo ou
servil, por algum tempo
mais barata que a mecânica ou a vapor, dada a situação do escravo em
áreas tropicais em
comparação com a do operário em áreas de clima frio e de vida mais
cara do que nos
trópicos p. 390

Enquanto não se generalizou contra seu


uso – e contra o da rede ou do banguê de transporte de pessoas ou de
coisas, no interior – a
indignação moral, por algum tempo limitada aos brasileiros de maior
sensibilidade cristã;
enquanto a esse uso não se associou a vergonha ou o pudor de
constituir arcaísmo oriental no
meio de uma civilização com pretensões a europeia, o palanquim
resistiu, nas cidades, ao
carro de cavalo como, no interior, a rede ou o banguê de transporte, ao
carro de boi; e o
engenho movido a besta ou a boi, ao engenho a vapor. Por inércia, em
grande parte, é certo;
por dificuldades de ordem física como as oferecidas à tração animal
pelas ladeiras em
Salvador, em Olinda, no Rio de Janeiro, tão desfavoráveis aos cavalos
e às carruagens; por
falta de estradas no interior. Mas, também, por ausência, ou quase
ausência, de sentimentos de
piedade pelos abusos do homem senhoril na exploração do homem
servil e do animal manso.
Sentimentos que, generalizados no começo do século XIX, teriam
concorrido para a mais
rápida substituição da energia humana pela animal e da animal pela
mecânica e a vapor, no
nosso meio p. 391
Na época em que na Europa ocidental e nos Estados Unidos já
começava o declínio do
cavalo, do burro e do boi como animais de tração e sua substituição
pela tração a vapor, na
antiga capital do Brasil – cidade da maior importância comercial, e
não apenas política, entre
as do Império – a tração humana não só não fora ainda superada pela
animal como continuava
quase a única. Não se enxergavam cavalos nem burros. Nem
carruagens nem carroças. Só
palanquins. Nenhuma pessoa ou coisa sobre rodas puxadas por animal
ou mesmo por homem.
Mercadorias carregadas aos ombros de escravos. Homens carregados
por homens. Senhores
carregados por servos. P. 392

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