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FACULDADE METROPOLITANA DA GRANDE FORTALEZA

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

MÁRCIA PEREIRA FORTE

A COMPREENSÃO DA INSTRUMENTALIDADE PARA OS PROFISSIONAIS DO


SERVIÇO SOCIAL DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE FORTALEZA

FORTALEZA
2017
MÁRCIA PEREIRA FORTE

A COMPREENSÃO DA INSTRUMENTALIDADE PARA OS PROFISSIONAIS DO


SERVIÇO SOCIAL DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE FORTALEZA

Monografia apresentada ao Curso de


Serviço Social da Faculdade Metropolitana
da Grande Fortaleza – FAMETRO – como
requisito para obtenção do grau de
bacharel, sob a orientação da Profa. Dra.
Evânia Maria Oliveira Severiano.

FORTALEZA
2017
MÁRCIA PEREIRA FORTE

A COMPREENSÃO DA INSTRUMENTALIDADE PARA OS PROFISSIONAIS DO


SERVIÇO SOCIAL DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE FORTALEZA

Esta monografia foi apresentada no dia


___, de ____ de 2017 como requisito para
obtenção do grau de bacharel em Serviço
Social da Faculdade Metropolitana da
Grande Fortaleza – FAMETRO – tendo
sido aprovada pela banca examinadora
composta pelos professores abaixo:

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________
Profa. Dra. Evânia Maria Oliveira Severiano (Orientadora)
Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza – FAMETRO

___________________________________________________
Prof. MSc. Ana Rosa Alves da Silva
Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza – FAMETRO

___________________________________________________
Prof. MSc. Herta Maria Castelo Branco Ribeiro
Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza – FAMETRO
A Deus, minha mãe, meu pai (in
memorian), meu esposo e filhos!
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus! Obrigada, Senhor, por minha saúde, pelos quatro anos como
aluna do Curso de Serviço Social, permitindo que eu o concluísse.

Ao meu marido, Arlindo de Almeida Forte, por seu carinho e paciência de ouvir meus
desabafos, sempre me dando forças para que eu não desistisse.

À minha Mãe, Maria do Livramento de Lima Pereira, por estar sempre comigo nos
momentos de grandes lutas e desafios impostos pela vida.

A meu pai, Francisco Ocian Pereira, in memorian, que, se aqui estivesse, estaria muito
feliz por ver meu sonho se tornar realidade, pois sempre acreditou em mim e me amou.

Aos meus três filhos, Roberto Castelo Branco, Ocian Pereira Neto e Arlindo de
Almeida Forte Filho, pois me mostraram que nunca é tarde para recomeçar e sonhar.

Às minhas amigas de trabalho, Nayara da Costa Bastos, Maria Virlene, Danielle Fialho
e Janne Andrade, pelo apoio na conclusão de minhas pesquisas e estágio acadêmico.

Às minhas amigas de curso, Andreia Kely Nascimento, Ana Paula Pereira Silva,
Edvanda Duarte Costa, Joana Dárc Andrade Gomes, Lívia, Maria Jacqueline, Neuza
Rayanna da Silva Lessa, Soraya Razoni Cavalcante Barros e Samya Ferreira Paula
Brito, obrigada por caminharem comigo em nossa trajetória acadêmica.

Às assistentes sociais da Santa Casa, por terem contribuído com minha pesquisa.

Às minhas professoras Paula Vieira, Rejane Vasconcelos, Ana Rosa e Edna Leite,
que se dedicaram e contribuíram para minha formação como profissional do serviço
social, como também para meu aprimoramento intelectual.

E, de forma especial, à minha orientadora, Dra. Evania Severiano, por me passar seus
preciosos conhecimentos, com dedicação e paciência. Admiroa-a!
RESUMO

Estudo monográfico com objetivo de analisar a compreensão da


instrumentalidade para o assistente social da Santa Casa da Misericórdia de
Fortaleza. A instrumentalidade do Serviço Social se materializa através de suas
dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas. Como caminho
metodológico, optamos por desenvolver uma pesquisa qualitativa, de caráter
exploratório-descritivo e de campo. Foi utilizado pesquisa bibliográfica em livros,
artigos, dissertações e teses, publicados entre 2012 e 2017, tendo como exceções as
publicações de cunho metodológico, histórico e de autores de reputação e
conhecimento sobre a temática estudada. O local da investigação foi a Santa Casa da
Misericórdia de Fortaleza (SCMF), hospital filantrópico com 156 anos de existência e
como técnica de obtenção dos dados fizemos uso da entrevista semiestruturada
realizada com três assistentes sociais da SCMF. Como principais resultados
ressaltamos que embora os assistentes sociais não fazendo referência diretamente à
instrumentalidade do Serviço Social, não implica, porém, que elas deixem de se
apropriar dessas definições. Destacado o confronto com as condições objetivas no
processo de trabalho como: rotina desgastante e falta de recursos financeiros e
humanos. A dimensão técnico-operativa se concretiza de forma restrita, dada as
condições objetivas dos usuários e o grande número de atendimentos às pessoas em
vulnerabilidade social prestados pela instituição. Outrossim, foi possível perceber o
comprometimento com a divulgação e concretização dos direitos sociais das pessoas
atendidas na SCMF e uma peculiaridade: é grande o número de atendidos que, sequer
possuem domicílio ou alguém que os acolha, contexto que amplia, flexibiliza e
personaliza, sobremaneira, as demandas atendidas pelas assistentes sociais da
SCMF.

Palavras-chave: Assistente Social. Dimensão técnico-operativa do Serviço Social.


Instrumentalidade do Serviço Social. Serviço Social.
ABSTRACT

This is a monographic study aimming to analyze the instrumentality of the


social service to the social assistent of Santa Casa da Misericórdia of Fortaleza city.
The instrumentality of the Social Service is materialized by its theoric methodological,
ethic politics and techinic operatives dimensions. As a methodological path, we choose
to develop a qualitative research of the exploratory descriptive and field research. Its
bibliographic research was based on books, articles, dissertations and thesis publised
from 2012 to 2017, however it was not included the methodological, historical
approaches and the approach of authors who have already a reputation of the theme.
This research was done at the Santa Casa da Misericórdia in Fortaleza (SCMF), a 156
years old philanthropic hospital and as a technique of obtaining the data we used the
semi structured interview with three SCMF social assistents. As the main result we
emphasize that even though the social assistents did not make a direct reference to
the instrumentality of the Social Service, it does not mean, however, they lack the
appropriation of the definitions. Actually, many factors are related directly to this, such
as: a very exhausting rotine and the lack of financial and human resources. The
technical operative dimension is done in a restrict form, given the objective conditions
of the users and the great number of attendance to the people in social vulnerability
done by the institution. Despite some difficulties that it has faced, it was possible to
see the commitment with the divulgation and concretization of the social rights of the
SCMF patients and a peculiarity is that a great number of patients do not even have
an address or someone who would assist them what amplifies, makes flexible and
personalizes the context of the patients' demands assisted by the SCMF's social
assistents.

Keywords: Social Assistent. Social Service. The Social Service's instrumentality. The
technical operative dimension of the Social Service.
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Demonstrativo das competências e habilidades constantes nas


Diretrizes Curriculares. ........................................................................... 27
Quadro 2 – SCMF – 1861 a 2014 – principais acontecimentos. ............................... 30
Quadro 3 – Perfil socioeconômico e acadêmico das assistentes sociais da
instituição. .............................................................................................. 31
Quadro 4 – Principais atividades realizadas pelas assistentes sociais na SCMF. .... 44
Quadro 5 – Serviços, sistemas e políticas indicados pelas assistentes sociais da
SCMF. .................................................................................................... 45
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social


ABESS Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social
BVS Biblioteca Virtual em Saúde
CEDEPS Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço
Social
DCSS Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social
INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
INPS Instituto Nacional de Previdência Social
OMS Organização Mundial de Saúde
PSF Programa Saúde da Família
SciELO Scientific Eletronic Library Online
SCMF Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza
SUS Sistema Único de Saúde
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 A TESSITURA HISTÓRICA DO SUS NO BRASIL ............................................... 15
2.1 A saúde pública brasileira antes do SUS – do Regime Militar a 1988 .......... 15
2.2 O Sistema Único de Saúde (SUS) no contexto da Constituição Federal
de 1988 ............................................................................................................... 19
2.3 O SUS e a Emenda Constitucional 95.............................................................. 21
3 A INSTRUMENTALIDADE NO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA
SAÚDE ................................................................................................................... 24
3.1 Conceitos ........................................................................................................... 24
3.2 Parâmetros......................................................................................................... 25
4 AS CONFIGURAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE FORTALEZA .......................................... 28
4.1 A tessitura histórica do lócus da pesquisa - a instituição Santa Casa ........ 28
4.2 Perfil das Assistentes sociais da SCMF .......................................................... 31
4.3 O processo de trabalho do Assistente Social na SCMF ................................ 32
4.3.1 Processo de admissão de acompanhante........................................................ 33
4.3.1.1 Acompanhamento de paciente em situação de rua ...................................... 35
4.3.2 Processo em caso de óbito de paciente ........................................................... 36
4.3.2.1 Procedimentos no óbito de pessoa em situação de rua ................................ 37
4.4 As principais demandas no cotidiano da profissão ....................................... 38
4.4.1 Assistentes sociais ........................................................................................... 38
4.4.2 Coordenadora do Serviço Social ...................................................................... 39
4.5 Principais respostas e a mobilização da dimensão técnico-operativa ........ 40
4.6 Respostas à instrumentalidade do serviço social ......................................... 47
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 52
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 54
ANEXOS ................................................................................................................... 58
ANEXO 1 - FOLHA DIÁRIA DE ACOMPANHANTE ................................................ 59
ANEXO 2 - MANUAL DO ACOMPANHANTE .......................................................... 60
ANEXO 3 - AUTORIZAÇÃO TEMPORÁRIA DE ACOMPANHAMENTO................. 61
ANEXO 4 - AUTORIZAÇÃO DE VISITA................................................................... 62
ANEXO 5 - AUTORIZAÇÃO PARA TROCA DE ACOMPANHANTE ...................... 63
APÊNDICES ............................................................................................................. 64
APÊNDICE 1 - QUESTIONÁRIO – ASSISTENTES SOCIAIS .................................. 65
11

1 INTRODUÇÃO

O profissional de Serviço Social atuante na saúde, através de suas


intervenções e instrumentalidade, utiliza suas competências e ações para garantir a
consolidação do Estado democrático dos direitos e a seguridade social como
prerrogativa básica e inalienável de todos. Além disso, ele também busca consolidar
o direito dos conselhos públicos, como controladores do espaço social democrático.
Dessa forma, pode-se afirmar que as ações diretas e efetivas do
profissional do Serviço Social na saúde, expressam a capacidade teleológica de aliar
as dimensões teórico-metodológicas e ético-políticas de sua profissão à dimensão
técnico-operativa, esta a que materializa e dá visibilidade aos modos operativos e
formas de enfrentamentos como respostas as expressões da questão social que
chegam como demandas dos usuários ao serviço social.
O trabalho do profissional de Serviço Social na saúde o coloca frente a
frente às mais variadas e inusitadas demandas. Todavia, muitas vezes as respostas
são dificultadas pela gestão burocrática e centralizadora das instituições de saúde em
que trabalha. A atuação deste profissional se depara nos argumentos de falta de
recursos e também em sua própria qualificação, ao promover ações de pouco ou
nenhum impacto, baseadas unicamente em sua prática do dia a dia e naquilo que
convencionou-se como esperado: atendimento às demandas básicas de familiares de
pacientes, encaminhamentos diversos etc (BATTINI, 2015).
A direção do trabalho a que Battini se refere, “feito de qualquer maneira”,
realizado de forma rápida, tratando, às vezes, unicamente das questões psicológicas
da parte necessitada, retrata a aceitação ou acomodação às políticas de gestão dos
ambientes onde o profissional do Serviço Social atua. Portanto, é imprescindível que
este profissional se aproprie dos instrumentos e técnicas da dimensão técnico-
operativa inerente a intervenção de sua profissão, promovendo intervenções que
assegurem os direitos sociais daqueles a quem, de fato, deve servir. Reconhece-se,
porém, que não se trata apenas da vontade do profissional do Serviço Social. Nesse
sentido, há a necessidade de planejar, juntamente com as instituições e o Estado e
promover o livre acesso aos direitos sociais da pessoa humana, sobremodo, através
da prática profissional de Serviço Social, de tal maneira que apontem para a
democratização real e efetiva dessas práticas.
12

Estudos dessa natureza se justificam pela inexistência de pesquisas nesta


temática, principalmente, envolvendo a referida instituição, que é um hospital
filantrópico da cidade de Fortaleza, no Estado do Ceará. Depois de pesquisar em
várias bases de dados, tanto na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Eletronic
Library Online (SciELO), e até no Google Acadêmico, partindo de 24 anos atrás, época
da regulamentação da profissão de Assistente Social, não foi possível encontrar
nenhum estudo sobre o tema proposto.
Além da inexistência de trabalhos acadêmicos relacionados ao tema
proposto, a autora desta pesquisa decidiu por esta temática devido trabalhar na
referida instituição há mais de 20 anos tendo, portanto, bastante conhecimento sobre
a mesma.
Como caminho metodológico, optou-se por desenvolver uma pesquisa
qualitativa que busca descobrir qual a compreensão da dimensão técnico-operativa
do serviço social, para o assistente social da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza.
As técnicas utilizadas para coleta de dados serão a pesquisa bibliográfica,
documental e pesquisa de campo com uso de entrevistas semiestruturadas. De
acordo com a natureza da pesquisa, ela terá um caráter exploratório, descritivo e de
campo, de cunho investigativo, visando responder aos objetivos deste estudo.
O primeiro passo será a realização de uma pesquisa bibliográfica e
documental, cuja finalidade será prover este estudo com um bom embasamento
teórico. Esta pesquisa será realizada em livros, artigos, dissertações e teses
encontrados nos repositórios e bibliotecas das Instituições de Ensino Superior (IES),
e disponíveis nas bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), na Scientific
Eletronic Library Online (SciELO), e no Google Acadêmico.
Como critérios de inclusão optou-se pelos seguintes: livros, artigos,
dissertações e teses em língua portuguesa, com textos completos e publicados a partir
de 2012. Como exceções, decidiu-se acatar as publicações de cunho metodológico,
histórico e de autores de reputação e conhecimento sobre a temática estudada, cujas
edições anteriores a 2012 não possuem diferenças capitais em relação às mais
recentes. Os critérios de exclusão referem-se às publicações em língua estrangeira,
incompletas e anteriores à 2012.
Na pesquisa de campo investigou-se um hospital filantrópico da Cidade de
Fortaleza (CE), a Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza, fundado em 1861 que, em
13

sua primeira1 inauguração, dispunha de apenas 80 leitos para uma população de 160
mil habitantes, e hoje conta com 328 leitos. Os sujeitos da investigação da pesquisa
de campo, contou com a participação de três Assistentes Sociais que atuam na
instituição estudada, tendo entre 2,5 e 19 anos de atuação na área, e 2,5 e 6,9 anos
de trabalho na instituição estudada. A instituição possui quatro Assistentes sociais em
seu quadro de funcionários, porém, no período em que a pesquisa foi autorizada e
iniciaram-se as entrevistas, uma delas estava em período de férias e, portanto, não
participou do estudo.
No entendimento que o trabalho de campo se apresenta como a melhor
opção para atender aos objetivos desta pesquisa, que é conhecer o nível de
compreensão da dimensão técnico-operativa do serviço social dos assistentes sociais
da instituição estudada, concorda-se com as argumentações de Minayo (2002),
quando esta assegura que:

Uma pesquisa não se restringe à utilização de instrumentos apurados de


coleta de informações para dar conta de seus objetivos. Para além dos dados
acumulados, o processo de campo nos leva à reformulação dos caminhos da
pesquisa, através das descobertas de novas pistas. Nessa dinâmica
investigativa, podemos nos tomar agentes de mediação entre a análise e a
produção de informações, entendidas como elos fundamentais.
Essa mediação pode reduzir um possível desencontro entre as bases teóricas
e a apresentação do material de pesquisa. (MINAYO, 2002, p. 62 – Grifos da
Autora).

Cumprindo os preceitos éticos da pesquisa obtivemos a autorização prévia


da direção da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza. Aos interlocutores foi
solicitada autorização com amplo conhecimento sobre a proposta investigativa através
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que o esclarecerá a respeito
da entrevista, seus objetivos e limites.
A investigação mostra-se relevante, por buscar desvendar o que os
profissionais do Serviço Social da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza
compreendem da dimensão técnico-operativa no contexto de suas atribuições, como
a vivenciam, realçando desafios e possibilidades em suas práticas. Ou seja, como
expressam os conhecimentos técnicos, éticos e políticos na sua área de intervenção.
Assim, tem-se, como objetivo geral, conhecer o nível de compreensão da
dimensão técnico-operativa do serviço social dos assistentes sociais da instituição

1 Como será melhor explicado no ponto 4.1, a Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza teve uma
história conturbada, tendo sido inaugurada e fechada algumas vezes.
14

estudada. Como objetivos específicos, busca-se: identificar as configurações do


trabalho do Assistente Social na instituição; conhecer o processo de trabalho do
Assistente Social e identificar as principais demandas do cotidiano do Assistente
Social nesse espaço de intervenção profissional.
Os resultados da investigação serão apresentados em três partes
principais: Na primeira seção: a tessitura histórica do Sistema Único de Saúde (SUS)
no Brasil, apresentar-se-á o SUS como grande conquista da população, sobremodo
no período em que o sistema de saúde pública estava em processo de privatização.
Já, no segundo tópico, será apresentada a instrumentalidade do serviço
social e a dimensão técnico-operativa do trabalho do Assistente Social na saúde, seu
desenvolvimento, suas prerrogativas e sua aplicabilidade, sobremodo, na prática das
diversas dimensões do trabalho desse profissional.
Na terceira seção, ver-se-á a compreensão e identificação das
configurações do trabalho do Assistente Social na instituição estudada. Além disso,
serão apresentados os resultados de uma pesquisa sobre a história dessa instituição
e o processo de trabalho do Assistente Social, com suas principais demandas e seus
maiores desafios.
15

2 A TESSITURA HISTÓRICA DO SUS NO BRASIL

2.1 A saúde pública brasileira antes do SUS – do Regime Militar a 1988

Contextualizando, historicamente, o período que antecedeu ao golpe militar


de 1964, é importante, para o completo entendimento deste tópico, ter o conhecimento
do cenário político e social da previdência social e da saúde dos brasileiros à época.
Em 1960 foi promulgada a Lei n° 3.807, a Lei Orgânica da Previdência
Social. Esta lei unificou o regime geral da previdência social dos trabalhadores que
estavam sob o regime da CLT (BRASIL, 1960). Todavia, os trabalhadores rurais não
estavam entre os que se beneficiaram com a nova lei, situação que só veio ser
resolvida com a Lei n° 4.214 de 2 de março de 19632, criando o FUNRURAL - Fundo
de Assistência ao trabalhador Rural (POLIGNANO, 2001).
Reiterando a sua histórica desatenção para com a previdência social, o
governo, de fato, nunca assumiu sua participação na contribuição de valores para a
manutenção da Previdência, mesmo o texto da lei determinando que a contribuição
seria dividida entre o Governo, os empregadores e os empregados. Essa mancha nas
políticas governamentais brasileiras para a saúde, se deve ao fato de essas políticas
estarem, desde sempre, à mercê da ótica capitalista. Na verdade, isso só viria a
consolidar a certeza de que a saúde pública nunca foi prioridade para nenhum governo
brasileiro, principalmente no que diz respeito à solução das grandes questões, como
as intermináveis filas para exames, cirurgias eletivas e consultas para determinadas
(muitas) especialidades. Tanto que, em nossos dias, uma das situações mais
corriqueiras é chamarem um paciente para a consulta ou exame, e os parentes
informarem que a referida pessoa já faleceu.
Com tantos reveses em suas lutas por conquistas sociais, a população
começou a clamar por soluções que melhorassem a sua qualidade de vida. A partir
desses clamores, várias manifestações ocorreram, mas, essas manifestações iam de
encontro aos desejos das classes dominantes.
O golpe militar de 1964 foi a resposta da classe burguesa às crescentes
manifestações populares em busca de maiores conquistas sociais. Embora se falasse

2 Esta lei foi revogada pela Lei 5.889 de 8 de junho de 1973.


16

em democracia, na prática, o que se viu foi uma paulatina e constante perda de


direitos.
Nesse período, foi possível observar a divisão do País em dois grandes e
diferentes estados. De um lado haviam aqueles que não possuíam mais voz ou vez,
que não tinham mais o direito de se expressar livremente, e que viviam sob censura,
e o lado daqueles que estavam exultantes com o progresso inicial das ações do golpe,
dos nacionalistas e daqueles que se beneficiavam com a situação (COUTO, 2010).
Assim, na época do regime militar, o Brasil experimentou, de fato, grande
crescimento econômico, que, infelizmente, não se traduziu em benefícios para a
população de uma forma geral, atendendo apenas a uma parcela privilegiada. Esse
contexto também foi percebido em relação às políticas de saúde pública.
Em 1966, foi criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Logo
a seguir, o governo alegou que a rede de saúde brasileira não conseguia atender às
necessidades da população, e decidiu abrir as portas para a contratação de leitos e
serviços de saúde de hospitais particulares, numa clara decisão de abandonar as
ações executivas em saúde, em prol dos setores privados (ESCOREL, 2008).
Em 1968 houve uma proposta pensada para desmantelar toda a rede de
saúde pública brasileira, privatizando hospitais e dividindo as despesas dos serviços
de saúde com os próprios pacientes. Apesar de o Governo ter iniciado esse
desmanche em algumas localidades, não progrediu, pois houve muita resistência,
inclusive, de setores dentro da própria previdência social (ESCOREL, 2008).
Em 1970 a população brasileira era de 94.508.583 habitantes (IBGE, 1970),
e não havia uma política de saúde consolidada, universal e igualitária. Na verdade, de
acordo com Escorel (2008), à época do regime militar, a previdência social possuía as
seguintes características:

 Cobertura previdenciária para os trabalhadores urbanos formalmente


inseridos;
 Prática médica individual, assistencialista e especializada em detrimento
das ações de saúde pública de caráter preventivo e interesse coletivo;
 Estímulo à criação de um complexo médico‐industrial com elevadas taxas
de acumulação de capital nas grandes empresas produtoras de
medicamentos e de equipamentos;
 Padrão da prática médica orientado para a lucratividade do setor saúde;
 Organização da prática médica em moldes capitalistas. (ESCOREL, 2008,
p. 390).

Com a criação do credenciamento e remuneração por Unidades de Serviço


(US), que era a forma de repassar os valores dos serviços de saúde prestados pela
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iniciativa privada, permitiu-se que estes entes privados inventassem pacientes e


serviços que nunca foram prestados. Foi neste período que se iniciou a prática da
“preferência” pelos partos cesáreos, em virtude da maior remuneração em relação ao
parto normal (ESCOREL, 2008).
Ainda no regime militar, o Governo iniciou o convênio com as empresas,
para que estas oferecessem assistência médica aos seus funcionários através da
contratação dos serviços de empresas de medicina de grupo. Como contrapartida,
essas empresas não recolhiam contribuições para o INPS, o que ocasionou a lenta e
implacável derrocada da saúde pública no país, minada pela escassez de recursos.
Note-se, como agravante dessa conjuntura, que havia certa dificuldade em marcar
atendimentos e procedimentos nestas empresas prestadoras de serviços de saúde,
visto que elas recebiam valores fixo per capita e, quanto menos atendessem, mais
lucravam (ESCOREL, 2008).
A década de 1980 foi marcada pelo recrudescimento da crise econômica,
mas também pelo progresso do movimento sanitário, que estava se formando desde
os anos 1970, avançando “[...] na elaboração de propostas de fortalecimento do setor
público em oposição ao modelo de privilegiamento do produtor privado” (BRAVO et
al, 2004, p. 32).
Como informado por Bravo et al (2004), o Serviço Social recebeu muitas
influências naquele período de transição e ebulição social da década de 1980,
circunstância que promoveu o processo de renovação do Serviço Social no Brasil.
Esse cenário fez com que o Serviço Social amadurecesse em seus conceitos e
teorias. Todavia, esse amadurecimento não foi repassado para as suas intervenções
práticas. Ou seja, academicamente as ideias, ideais e valores fundamentaram-se e
consolidaram-se através dos inúmeros encontros e congressos, mas, quanto ao
principal, naquilo que faz diferença, na intervenção real na realidade social dos
indivíduos, esses discursos não se concretizaram no cotidiano da profissão.

O projeto privatista requisitou, e vem requisitando, ao assistente social, entre


outras demandas: seleção socioeconômica dos usuários, atuação
psicossocial por meio de aconselhamento, ação fiscalizatória aos usuários
dos planos de saúde, assistencialismo através da ideologia do favor e
predomínio de abordagens individuais. (BRAVO et al, 2004, p. 36).

Até o ano de 1985, não houve grandes mudanças nas políticas de saúde
pública brasileira. Nesse período, na verdade, as poucas mudanças que ocorreram
não beneficiaram a maioria da população, pelo contrário, tenderam a continuar
18

beneficiando o setor privado (PAIM et al, 2012). De forma geral, esse período foi
caracterizado pelos seguintes acontecimentos:

 Capitalização da medicina pela previdência social;


 Crise do sistema de saúde;
 Programas de Extensão de Cobertura (PEC) para populações rurais com
menos de 20·000 habitantes;
 Crise na previdência social;
 Criação do Instituto Nacional da Assistência Médica da Previdência Social
 (INAMPS; 1977);
 Centralização do sistema de saúde, fragmentação institucional,
beneficiando o setor privado;
 INAMPS financia estados e municípios para expandir a cobertura. (PAIM
et al, 2012, p. 16).

Como fato animador, tornando-se um marco histórico importante para as


políticas de saúde brasileiras, houve a 8ª Conferência Nacional de Saúde, reunindo
aproximadamente 4500 participantes, cujo intuito era o de analisar os caminhos da
saúde no Brasil. Os eixos temáticos da conferência foram: ”Saúde como direito e
cidadania”, “Reformulação do sistema nacional de saúde” e “Financiamento setorial”.
O relatório surgido da conferência resultou em recomendações que subsidiaram
àqueles que defendiam a reforma sanitária na embrionária reformulação da
Constituição Federal realizada, enfim, em 1988 (BRAVO et al, 2004).
No entendimento de Noronha, Lima e Machado (2008) após o regime
militar, o Brasil iniciou uma série de reformas e redefinições do seu sistema de saúde
a partir de inúmeros e intensos debates que culminaram com a promulgação da
Constituição de 1988 que, em seu conjunto de diretrizes e normas, inseriu um capítulo
específico sobre a seguridade social3. E, enfim, depois de árdua luta das forças
progressistas, no princípio da década de 1990 iniciou-se o começo da implantação do
Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.

3 Constituição Federal de 1988 – Capítulo II – Seção I – Disposições Gerais: Art. 194. A seguridade
social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da
sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com
base nos seguintes objetivos:
I - universalidade da cobertura e do atendimento;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; (BRASIL,
1988)
19

2.2 O Sistema Único de Saúde (SUS) no contexto da Constituição Federal de


1988

A Constituição de 1988 foi a que mais próxima chegou de um modelo de


proteção social capaz de fazer frente às muitas demandas da população brasileira,
determinando que a saúde é um direito do cidadão e obrigação do Estado (BRAVO et
al, 2004; BRASIL, 1988). Entenda-se o “Estado” como todas as esferas de governo:
Federal, Estadual e Municipal. Com esse entendimento, a organização do SUS se
estabelece nas diversas regiões do País, atuando em todo o território. Assim, o SUS
não é uma estrutura isolada, e sim parte integrante das políticas públicas de
seguridade social, inclusive a Previdência e a Assistência Social (MENICUCCI, 2014).
Todavia, houve grandes dificuldades em prover o cidadão com direitos e
benefícios sociais, em virtude da existência de dois grupos, diametralmente opostos,
que discordavam sobre a questão da saúde no País: um grupo formado pelos
representantes da Federação Brasileira de Hospitais (FBH) e da Associação das
Indústrias Farmacêuticas (estrangeiras), que desejavam privatizar a saúde, e um
outro, que se autodenominou como Plenária Nacional da Saúde, que desejava que
prevalecessem os ideais da Reforma Sanitária, ou seja: “a democratização do acesso,
a universalidade das ações e a descentralização com controle social” (BRAVO et al,
2004, p. 33).
O SUS, na realidade, deve sua existência à 8ª Conferência Nacional de
Saúde, em 1986, quando se iniciaram os debates sobre a saúde como direito do
cidadão. Os resultados desses debates chegaram até à Constituinte de 1988,
estabelecendo-se após a aprovação da Constituição Federal de 1988 (CF-88). Essa
luta possibilitou um dos grandes méritos da criação do SUS foi a descentralização do
atendimento à população, de forma integral e em todos níveis de complexidade da
atenção à saúde (NORONHA; LIMA; MACHADO, 2008).
Em 1990, através da Lei n° 8.080, foi instituído o Sistema único de Saúde
(SUS), no Brasil.

A Lei n. 8.080/90 institui o Sistema Único de Saúde, constituído pelo conjunto


de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas
federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das
fundações mantidas pelo Poder Público. A iniciativa privada poderá participar
do Sistema Único de Saúde em caráter complementar. (BRASIL, 2007, p. 35).
20

Por tratar-se, constitucionalmente, de “[...] um conjunto integrado de ações


de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (BRASIL, 1991), a seguridade
social deve ser organizada pelo poder público, de forma a torna-la universal, com
igualdade de direitos e deveres.
O Sistema único de Saúde é financiado, de acordo com o que determina a
CF-88, ou seja, de forma tripartite, entre os Governos Federal, Estadual e Municipal.
Essa forma de financiamento amplia e descentraliza os processos de gestão e
atendimento da população.
A descentralização do sistema de saúde pública continuou crescendo e,
em 1994, foi introduzido o Programa Saúde da Família (PSF). No mesmo ano iniciou-
se o Plano Real, um novo plano de estabilização macroeconômica promovido no
Governo Fernando Henrique Cardoso.
Mesmo tendo tido pouca atenção na década de 1990, a reforma sanitária
brasileira alcançou algumas importantes vitórias, como:

[...] um programa nacional de controle e prevenção de HIV/AIDS, maiores


esforços para o controle do tabagismo, a criação da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, o estabelecimento da Agência Nacional de Saúde
Suplementar e a criação de um modelo de atenção à saúde indígena. O
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e a Política Nacional de
Saúde Bucal (Brasil Sorridente) foram iniciativas, entre muitas outras,
implementadas após 2003 [...]. (PAIM et al, 2012, p. 19).

De forma geral, como citam Paim et al (2012, p. 20), a função do SUS é


promover a saúde, ”[...] vigilância em saúde, controle de vetores e educação sanitária,
além de assegurar a continuidade do cuidado nos níveis primário, ambulatorial
especializado e hospitalar”.
No que diz respeito ao seu financiamento, o SUS é mantido por intermédio
de vários impostos e contribuições sociais, por investimentos diretos e pela classe
patronal. O financiamento do SUS não tem alcançado seus objetivos, sendo
insuficientes para custear todas as despesas necessárias. O governo federal fica com
58% das receitas provenientes dos impostos, enquanto que os estados ficam com
24,7%, e os municípios ficam com apenas 17,3% (PAIM et al, 2012).
Interessante saber que os recursos privados endereçados à saúde já
conseguiram ultrapassar os recursos públicos. Menicucci (2014) chama a atenção
para o fato de que, no Brasil, têm-se um sistema universal, ou seja, todos os brasileiros
têm direito à saúde. Dessa forma, segundo a autora, fica muito claro que os recursos
21

públicos destinados à saúde de todos os brasileiros são menores do que os utilizados


pelo setor privado de saúde. Dados da Consultoria de Orçamento e Fiscalização
Financeira (CONOF) dão conta de que 54,26% dos gastos com saúde no País têm
sua origem no setor privado de saúde, ficando os gastos públicos com, apenas
45,74%. De acordo com Menicucci (2014), esse percentual é infinitamente inferior ao
de outros países que também possuem sistemas de saúde universais: Canadá (70%);
Reino Unido (82,7%), Argentina (60%).
Esta é uma conjuntura que atinge de forma bastante preocupante,
principalmente, às instituições filantrópicas de saúde, que não possuem outras fontes
de receitas – ao menos de forma suficiente -, como é o caso da SCMF,
constantemente mergulhada em crises financeiras que ensejaram, por diversas vezes,
o encerramento de suas atividades. É também uma circunstância que abala,
sobremaneira, a capacidade de as assistentes sociais lotadas na SCMF conseguirem
resultados profissionais relevantes, em relação ao seu agir profissional. Por outro lado,
o mesmo contexto que dificulta a obtenção de melhores resultados para a realidade
social dos usuários da SCMF, faz com que as assistentes sociais dessa instituição
adquiram grande expertise a partir da obrigatoriedade da utilização de muita
criatividade e arranjos pouco ortodoxos, para fazer valer os direitos destes mesmos
usuários. Mas, é preferível que a criatividade seja utilizada a partir, se não da
abundância, do mínimo necessário para assegurar direitos adquiridos, porém, pouco
usufruídos.

2.3 O SUS e a Emenda Constitucional 95

No dia 15 de dezembro de 2016 foi decretada a falência da saúde pública


no Brasil. Com a Emenda Constitucional 95 (EC 95), o Governo Federal deu um golpe
mortal nas políticas sociais brasileiras, atingindo diretamente a saúde, a educação, a
previdência, a segurança pública, o meio ambiente, estradas e os recursos destinados
à folha de pagamento de todos os servidores ligados a estes setores. A proposta diz
que, a partir de 2018, as despesas referentes às áreas citadas não poderão crescer
mais que a inflação anual, mesmo que o País venha a experimentar grande
crescimento econômico no período de vigência dessa aberração social.
Assim, tudo o que já era bastante difícil no que diz respeito aos recursos
destinados ao SUS, deve entrar em uma fase de declínio, ainda maior. Segundo os
22

participantes do debate “SUS em desmonte?”, realizado em março de 2017,


promovido pelo portal Saúde Popular e pela Rede Nacional de Médicas e Médicos
Populares, esse contexto comprometerá, de forma importante, o modelo de saúde
pública atual (DESMONTE, 2017).
De acordo com um dos debatedores do “SUS em desmonte?”, o
economista e consultor da comissão de financiamento e orçamento do Conselho
Nacional de Saúde (Cofin-CNS), Francisco Funcia, "Estamos vendo, a passos largos,
um processo de perda de direitos. No caso da saúde, a partir de 2018 vamos ter uma
volta ao passado. Hoje, estamos aplicando, em valores consolidados, 3,9% do PIB
em saúde. Daqui a 20 anos vamos estar na faixa de 3% do PIB" (DESMONTE, 2017,
n.p.).
No entendimento de Stephan Sperling, médico especialista em Medicina
de Família e Comunidade e em Atenção Primária à Saúde, membro do Núcleo de São
Paulo do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES) e da Rede Nacional de
Médicas e Médicos Populares, “pautar um Sistema de Saúde, portanto, pela restrição
orçamentária, enfraquece sua capacidade técnica em oferecer cuidado, desmonta a
força de trabalho de seus profissionais e agrava a morbimortalidade na população”
(SPERLING, 2017, n.p.).
Com o crescente envelhecimento da população brasileira divulgado no
Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de Saúde
(OMS), cuja população de idosos – pessoas com mais de 60 anos de idade – passará
dos 30% de toda a população do País, em 2050 (OMS, 2015), a real necessidade
seria de um incremento nos investimentos em saúde, e não o retrocesso perpetrado
pela EC-95. Este quadro compromete todos os avanços conseguidos, inclusive na
área tecnológica e de medicamentos, colocando o SUS em uma situação ainda menos
privilegiada em comparação com os equipamentos e serviços oferecidos pela
iniciativa privada. Infelizmente, esta é uma conjuntura que não deve ser alterada por
qualquer outro governo que venha a substituir o atual.
Outra debatedora do “SUS em desmonte?”, a Professora Laura
Feuerwerker, parte da premissa de que o SUS deveria ser, de fato, um programa de
atendimento básico realmente universal. Para a professora, o fato de o SUS ter sido
pensado para o atendimento aos mais pobres não dá a universalidade pretendida ao
sistema, comparando com os sistemas universalizados do Reino Unido, Cuba ou
França, que fornecem atenção básica a todos os seus habitantes.
23

A professora chega, inclusive, a afirmar que as pessoas costumam


relacionar o SUS com os “postinhos” de saúde, e não percebem que aquele hospital
de ponta, onde são feitos transplantes de órgãos e tratamentos de alta complexidade
também faz parte deste mesmo sistema (DESMONTE, 2017). É o que também afirma
a professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Lucia Conde de Oliveira,
em uma entrevista concedida ao Jornal O POVO Online, acrescentando que o SUS é
o maior sistema público de saúde do mundo, mas que vem sendo sucateado por todos
os governos, desde o governo Collor. “Como o povo não tem importância para os
políticos, o sistema que cuida de sua saúde também não tem” (LUCIA, 2017, n.p.).
Assim, o cenário que se apresenta, decerto, não permitirá que as
Assistentes Sociais da SCMF deixem de valer-se dos arranjos e da criatividade para
que os usuários da instituição possam usufruir do mínimo necessário em relação aos
seus direitos sociais básicos.
24

3 A INSTRUMENTALIDADE NO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE

3.1 Conceitos

A instrumentalidade do Serviço Social diz respeito às suas dimensões:


dimensões técnico-operativa, teórico-metodológica e ético-política. Para Yolanda
Guerra (2009, p. 2), instrumentalidade é “[...] uma propriedade e/ou capacidade que a
profissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos”. E, remetendo este
entendimento para a Instrumentalidade do Serviço Social, ela é o veículo pelo qual os
Assistente Sociais manifestam suas intenções através de respostas práticas e
efetivas. Ainda, segundo Guerra (2009), essa capacidade, que foi trabalhada e
desenvolvida por anos de exercício profissional, permite aos assistentes sociais
modificarem, transformarem e alterarem as condições sociais existentes ao passo em
que estas surgem e tentam se estabelecer. Guerra (2009) ainda destaca que, essa
intervenção no cotidiano das classes sociais, por parte desses profissionais, busca,
nessas novas “condições, meios e instrumentos para o alcance dos objetivos
profissionais”, instrumentalizar suas próprias ações (GUERRA, 2009, p. 2).
Todos os dias, a dinâmica social desencadeia novas demandas para os
locais onde o Assistente Social atua. Essa condição faz com que o estudo dos
instrumentos e técnicas, não possa ser entendido ou apreciado como norma operativa
a ser seguida, seja em que cenário se apresente. Portanto, esse repertório de
instrumentos e técnicas não são suficientes para determinar a melhor medida a ser
tomada.
Esse também é o entendimento de Sousa (2008, p. 131), quando afirma
que “[...] os instrumentos e técnicas de intervenção não podem ser mais importantes
que o objetivo da ação profissional”, pois, não é possível aceitar que, do profissional
do serviço social só seja esperado e necessário ter habilidade no manuseio de seus
instrumentos de trabalho. Agindo assim, todas as ações do assistente social dar-se-á
de forma mecânica e robotizada. As ações do assistente social não podem ser
utilizadas da mesma forma em todos os contextos, pois o diferencial esperado é o de
considerar as demandas do cotidiano, dando-lhes as respostas necessárias e cabíveis
para cada caso, de forma pessoal e capazes de produzir mudanças na realidade social
daqueles a quem ele suporta (SOUSA, 2008). Este autor, ainda diz que:
25

[... ] isso pressupõe que, mais do que copiar e seguir manuais de instruções,
o que se coloca para o Assistente Social hoje é sua capacidade criativa, o
que inclui o potencial de utilizar instrumentos consagrados da profissão, mas
também de criar outros tantos que possam produzir mudanças na realidade
social, tanto em curto quanto em médio e longo prazos. (SOUSA, 2008, p.
124).

Corroborando essa ideia, Guerra (2009) assegura que:

À primeira vista, o tema instrumentalidade no exercício profissional do


assistente social parece ser algo referente ao uso daqueles instrumentos
necessários ao agir profissional, através dos quais os assistentes sociais
podem efetivamente objetivar suas finalidades em resultados profissionais
propriamente ditos. Porém, uma reflexão mais apurada sobre o termo
instrumentalidade nos faria perceber que o sufixo “idade” tem a ver com a
capacidade, qualidade ou propriedade de algo. Com isso podemos afirmar
que a instrumentalidade no exercício profissional refere-se, não ao conjunto
de instrumentos e técnicas (neste caso, a instrumentação técnica), mas a
uma determinada capacidade ou propriedade constitutiva da profissão,
construída e reconstruída no processo sócio-histórico. (GUERRA, 2009, p. 1.
Grifos da autora).

O que foi dito por Sousa (2008) e Guerra (2009) vem de encontro às
respostas das Assistentes sociais da SCMF, que não fizeram esta ilação em referência
à instrumentalidade do Serviço Social, como poderá ser visto mais adiante. Contudo,
ressalte-se que o fato de as assistentes sociais não terem, diretamente, relacionado
suas respostas ao contexto apresentados pelos autores citados, não implica em que
elas não entendam ou deixem de se apropriar dessas definições. Essa realidade pode,
sem dúvidas, derivar de inúmeros fatores, como: rotina desgastante, falta de recursos
financeiros e humanos, questões também tratadas com mais profundidade na
sequência desta pesquisa.

3.2 Parâmetros

O Brasil vivenciou o nascimento do Serviço Social como uma profissão, a


partir da necessidade de controle dos conflitos estabelecidos entre a lógica capitalista
e o proletariado, ou seja, da conjuntura social surgida desse embate. Assim, afetado
pela sociedade burguesa, o Serviço Social teve suas atividades voltadas,
principalmente, para ações meramente racionais e conservadoras, explicadas e
justificadas pelo pragmatismo capitalista.
Esta realidade só veio a mudar a partir da década de 1980, fruto do
movimento de reconceituação e renovação do serviço social, contexto motivado pela
ação de movimentos de setores progressistas, não só dos próprios assistentes
26

sociais, mas de boa parte da sociedade que desejava ser inserida no contexto de
apropriação de seus legítimos direitos sociais. Dessa forma, promovendo novos
significados da profissão, sendo fundamentados pelo projeto profissional articulado
sob os três eixos fundantes que trazem as dimensões teóricas, normativas e legais
constituídas pela Lei que regulamenta a profissão, o código de ética de 1993 e as
novas diretrizes curriculares da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em
Serviço Social (ABEPSS), que direciona novas proposições para a formação
profissional com desdobramentos nos parâmetros para a profissão.
A Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social (ABESS) e o Centro
de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço Social (CEDEPSS)
iniciaram, em 1994, o que viria a ser a base das Diretrizes Curriculares da Assistência
Social, formulada a partir de inúmeros debates, encontros, oficinas e seminários
regionais e nacionais. “Entre 1994 e 1996 foram realizadas aproximadamente 200
(duzentas) oficinas locais nas 67 Unidades Acadêmicas filiadas à ABESS, 25 (vinte e
cinco) oficinas regionais e duas nacionais” (COSTA, 2008, p. 44).
De acordo com Costa (2008), todos estes encontros embasaram e
promoveram a aprovação do Currículo Mínimo do Serviço Social, na Assembleia Geral
Extraordinária da ABESS/CEDEPSS, em 1996. Mas, segundo Costa, o Ministério da
Educação (ME), através de uma decisão polêmica, definiu que os currículos mínimos
deveriam ser substituídos por diretrizes curriculares, cabendo a cada unidade de
ensino superior criar seu próprio projeto pedagógico.
A intervenção feita pelo ME foi muito danosa para os assistentes sociais,
pois deixou de lado todo o esforço resultante dos intensos debates que serviriam para
orientar os projetos pedagógicos nas instituições de ensino, de forma que, o que está
estabelecido, e em vigor, é a Resolução CNE/CES nº 15, de 13 de março de 2002,
que estabelece as Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social (DCSS).
Nestas Diretrizes Curriculares do Serviço Social, o assistente social é apresentado
como um:

Profissional que atua nas expressões da questão social, formulando e


implementando propostas de intervenção para seu enfrentamento, com
capacidade de promover o exercício pleno da cidadania e a inserção criativa
e propositiva dos usuários do Serviço Social no conjunto das relações sociais
e no mercado de trabalho. (BRASIL, 2002).

As DCSS também apresentam uma série de competências e habilidades


que servirão de parâmetros para os projetos pedagógicos. De acordo com Costa
27

(2008, p. 46), estas habilidades e competências devem ser “elencadas e construídas


em consonância com a atual Lei que Regulamenta a Profissão e com o Código de
Ética do Serviço Social”.

Quadro 1 – Demonstrativo das competências e habilidades constantes nas Diretrizes Curriculares.


Gerais Específicos
Compreensão do significado social da profissão
e de seu desenvolvimento sóciohistórico, nos Elaborar, executar e avaliar planos, programas
cenários internacional e nacional, desvelando as e projetos na área social;
possibilidades de ação contidas na realidade;
Identificação das demandas presentes na
sociedade, visando a formular respostas Contribuir para viabilizar a participação dos
profissionais para o enfrentamento da questão usuários nas decisões institucionais;
social;
Planejar, organizar e administrar benefícios e
Utilização dos recursos da informática.
serviços sociais;
Realizar pesquisas que subsidiem formulações
de política e ações profissionais;
Prestar assessoria e consultoria a órgãos da
administração pública, empresas privadas e
movimentos sociais em matérias relacionadas
às políticas sociais a à garantia dos direitos
civis, políticos e sociais da coletividade;
Orientar a população na identificação de
recursos para atendimento e defesa de seus
direitos;
Realizar visitas, perícias técnicas, laudos,
informações e pareceres sobre matéria de
Serviço Social.
Fonte: (COSTA, 2008, p. 47).
28

4 AS CONFIGURAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA SANTA


CASA DA MISERICÓRDIA DE FORTALEZA

4.1 A tessitura histórica do lócus da pesquisa - a instituição Santa Casa

Apresentam-se dados compilados tendo como fonte de dados o livro de


Argos Vasconcelos, “Santa Casa da Fortaleza: 1861-1992”, lançado em 1994. Esta
observação faz-se necessária, pois este autor não será mais citado no decorrer deste
texto. Faz-se isto com a intenção de tornar a leitura mais fluida, sem que o autor seja
sempre citado no início ou no final de todos os parágrafos.
Isto posto, salienta-se que a Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza é um
hospital filantrópico da cidade de Fortaleza (CE), fundado em 1861, que, no início,
dispunha de apenas 80 leitos para uma população de 160 mil habitantes.
Sua fundação se deve à Resolução de Antônio Marcelino Nunes
Gonçalves, Presidente da Província, sacramentada através do compromisso do Bispo
de Olinda, D. João da Purificação.
Todavia, as Santas Casas nasceram bem longe do Brasil, fruto da
indignação do Frei Miguel Contreiras em relação ao grande número de miseráveis e
doentes que vagavam por Lisboa. Tentando melhorar a situação destes desvalidos,
Frei Miguel esmolava pelas praças e grandes mansões de Lisboa, angariando
recursos para mitigar a fome e as doenças da população miserável da cidade.
Nesse período, Frei Miguel travou conhecimento com a, já reclusa, Rainha
D. Leonor de Lencastre, que imediatamente começou a apadrinha-lo. Com tão grande
ajuda, Frei Miguel consegue um lugar para albergar os necessitados, onde também
organizou uma enfermaria.
Algum tempo depois, com as bênçãos de D. Leonor, foi criada a primeira
Casa da Misericórdia do mundo, a Santa Casa da Lisboa, em 15 de agosto de 1498.
Em seguida foi criada e estruturada a Confraria da Misericórdia, que seria a
responsável pelo hospital, que recebia desde portugueses a pessoas de qualquer
nacionalidade, bastava que fosse pobre e necessitasse de ajuda.
Depois dessa breve introdução às bases históricas das Casas de
Misericórdia, pode-se dizer que a história se repetiu, também, em Fortaleza. Em um
período de grande estiagem, muita fome e sede no sertão cearense - a grande seca
de 1845 -, grande multidão de retirantes famintos e doentes chegaram à Fortaleza.
29

Tão grande contingente de pessoas doentes, aliado à falta de estrutura do


governo local, propiciou uma série de epidemias que obrigaram as autoridades locais
a retomarem o projeto da construção de um hospital de caridade para Fortaleza, que,
infelizmente, fracassou por falta de apoio dos burgueses da época, embora já
tivessem sido construídas algumas instalações.
Depois de muitas idas e vindas, ameaças de ocupação por outros institutos
(Liceu do Ceará e Biblioteca Pública) e falta de recursos, no ano de 1851 a situação
sanitária de Fortaleza se tornou insustentável, forçando o governo a, finalmente,
receber doentes nas enfermarias já construídas. Com essa medida, a Santa Casa da
Misericórdia passou, efetivamente, a funcionar. Todavia, ainda era um local pequeno
para tantos necessitados. Mas, em 1854, o recém empossado Governador da
Província, o Conselheiro Vicente Pires da Mota, propôs a criação da Irmandade da
Misericórdia, que administraria e supervisionaria a conclusão das obras.
Infelizmente, ainda não foi desta vez que a Santa Casa da Fortaleza se
estabeleceu em definitivo como um hospital filantrópico de atendimento aos mais
carentes, pois, em 1857, o novo governador, Dr. João Silveira de Sousa, determinou
que fechassem o hospital, pela total falta de condições de a Santa Casa receber
doentes e trata-los adequadamente – consequência da pressa em faze-la funcionar.
No lugar, já totalmente construído, o Governador mandou instalar o Liceu da
Tesouraria Provincial, que permaneceu no local durante 4 anos.
Somente em 1861, o Presidente da Província, Antônio Marcelino Nunes
Gonçalves, autorizado pela Resolução n° 928, de agosto de 1860, instituiu e deu
plenos poderes à Irmandade da Misericórdia para administrar a Santa Casa da
Misericórdia de Fortaleza, que ganhou esta denominação em 14 de março de 1861.
Até o presente momento, realizou-se uma contextualização histórica mais
detalhada da SCMF, contudo, no sentido de dar mais celeridade e objetividade às
informações históricas desta instituição, será elaborada uma linha temporal de 1861
até 2014, ano do último relatório anual4 de atividades publicado pela instituição,
destacando os fatos e acontecimentos mais relevantes, conforme serão apresentados
através do Quadro 2.

4 Julgou-se, inicialmente, que os relatórios seriam produzidos trienalmente em virtude de o último


relatório constante no sítio da SCMF ser datado de 2011. Uma pesquisa mais apurada percebeu que
todos os relatórios, de 2007 a 2011, constavam no sítio, mas não os de 2012 e 2013. Não foi possível
descobrir o motivo da ausência dos relatórios citados.
30

Quadro 2 – SCMF – 1861 a 2014 – principais acontecimentos.


ANO DESTAQUE
1866 Inauguração oficial do cemitério São João Batista*
1886 Fundação do Hospital Psiquiátrico São Vicente de Paulo*
Inauguração do primeiro aparelho de Raio X. A Santa Casa é a pioneira na
1925
introdução do serviço de radiologia e firma-se como um hospital de alta tecnologia
1932 Primeira instituição a funcionar como pronto socorro.
1937 Inauguração do Pronto Socorro Dr. José Ribeiro Frota
1937 Inauguração do Pensionato Dr. Eduardo Salgado*
A Santa Casa foi a primeira instituição no estado a funcionar como Hospital Escola,
1959 e a partir dela foi fundada a Faculdade de Medicina do Estado do Ceará da
Universidade Federal do Ceará (UFC)
100 anos da Santa Casa da Fortaleza. Com 300 leitos torna-se um hospital de
1961
grande porte
A inauguração de um moderno centro cirúrgico fez com que, em pouco tempo, a
1971 Santa Casa se tornasse o hospital a realizar o maior número de cirurgias em todo o
Ceará
A Santa Casa passa a integrar um modelo de atendimento médico baseado no
1980
Sistema Único de Saúde – SUS
2001 Início das atividades em Residência Médico Cirúrgica
2002 Início das atividades de Residência em Urologia
2003 Conclusão da primeira turma de Residência Médica formada nesta Instituição
2005 Reestruturação e informatização do Cemitério São João Batista**
Após 10 anos, a Santa Casa conquista superávit financeiro, marcando o início de
2006
uma nova etapa para a Instituição
Reinauguração da Sala de Recuperação pós-anestésica da Santa Casa da
2008
Misericórdia de Fortaleza, “Sala Benemérito Pio Rodrigues”
2009 Reinauguração do Centro cirúrgico oftalmológico
O Ministério da Educação contempla a Santa Casa da Fortaleza com o
2010
credenciamento de mais vagas para o Programa de Residência Médica.
2011 150 Anos da Santa Casa da Fortaleza
2014 A Santa Casa da Fortaleza recebe a certificação de Hospital Escola
* Administrados pela SCMF.
** Informação contida no Relatório de Atividades - 2014.
Fonte: IBSCMF (2014, p. 12, 13).

A Santa Casa da misericórdia de Fortaleza se localiza como instituição que


presta serviços de saúde a população de Fortaleza, sobretudo a população com perfil
econômico de baixa renda. Atualmente se destaca na prestação de serviços pagos a
baixo custo, atendendo demandas que o SUS não consegue responder devido a
superlotação e dificuldades de subfinanciamento. O seu reconhecimento como
hospital Escola a fortalece, sobretudo no que diz respeito ao financiamento de suas
atividades, contribuindo para a histórica dificuldade de manutenção do seu custeio.
Na condição de uma instituição filantrópica, realiza campanhas de doações e ajuda
da população e do Estado. Sendo Hospital escola, algumas faculdades e centros
universitários de ensino superior na área da saúde tem realizado convênios,
contribuindo para o fortalecendo da história da Santa Casa da Misericórdia de
Fortaleza no contexto de tantas demandas e dificuldades de respostas as questões
relacionadas a promoção da saúde a população cearense.
31

4.2 Perfil das Assistentes sociais da SCMF

Apresenta-se a partir dessa seção os principais resultados da pesquisa de


campo com as interlocutoras assistentes sociais da SCMF.
A Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza possui, em seu quadro
funcional, 4 (quatro) assistentes sociais, mas, no período da pesquisa, uma
encontrava-se de férias e, assim, a pesquisa foi realizada com apenas três, aqui
denominadas como: Assistente A; Assistente B; e Assistente C., ou simplesmente,
(A), (B) e (C).
No Quadro 3, a seguir, serão mostrados o perfil socioeconômico de cada
respondente, sua formação acadêmica e tempo de atividade na função de assistente
social, dentro e fora da instituição analisada, além do tempo de formação acadêmica
em Serviço Social.

Quadro 3 – Perfil socioeconômico e acadêmico das assistentes sociais da instituição.


Tempo de Tempo de
Respondente Idade Formação Formação atuação na Renda
(anos) área (anos)
Assistente A 45 Serviço Social 19 19 2 SM
Serviço Social,
Especialização em políticas
Assistente B 33 6 2,5 2 SM
públicas, questões sociais e
serviço social
Assistente C 32 Serviço Social 8 6 2 SM
Fonte: A autora, a partir de dados da pesquisa.

Todas as interlocutoras são graduadas em Serviço Social pela


Universidade Estadual do Ceará (UECE): em 1998 (A), 2011 (B) e 2009 (C). Todavia,
a Assistente B, possui três especializações, conforme o Quadro 3, mas não informou
por qual ou quais Instituições de Ensino Superior.
As Assistentes A e B entraram na Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza
(SCMF), em janeiro de 2015, e a Assistente C começou a trabalhar na SCMF, em
setembro de 2011, sendo a mais antiga das assistentes sociais lotadas na SCMF.
Na SCMF, todas as assistentes sociais cumprem carga horária semanal de
30 h, de segunda à sexta, no horário de 6h30 às 18h. Nos sábados o horário é de
7h30 às 17h30. No Domingo, o setor não funciona.
O setor de Serviço Social da SCMF está localizado em sala ampla, dividida
em duas por uma divisória que separa a área da coordenação da área das outras
assistentes, que também funciona como área de atendimento a pacientes,
32

acompanhantes e familiares, e para outras demandas. Somente uma das


respondentes teceu comentários em relação à estrutura física da sala, informando que
esta:

“[...] possui instalações antigas, fiações telefônicas expostas”. (Assistente B).

Quando perguntadas sobre os equipamentos de que dispunham para


exercer suas funções de assistente social na SCMF, foram obtidas as seguintes
respostas:

“Computador, telefone, material de escritório, birô, cadeira, impressora,


cartucho”. (Assistente A).

“[...] Com os equipamentos e material de trabalho que temos dá para


desempenhar as atividades com êxito”. (Assistente B).

“Dispomos de uma sala ampla, dividida em duas partes: atendimento (frente)


e coordenação (atrás), com todos os materiais de escritório e computador,
mesas, cadeiras, copiadora etc”. (Assistente C).

Nenhuma das três entrevistadas possui outro emprego, tampouco fazem


parte da organização política da categoria, nem participam de conselho de direito.

4.3 O processo de trabalho do Assistente Social na SCMF

Como introdução a este tópico, acredita-se ser interessante realizar uma


breve reflexão sobre inserção do Serviço Social em unidades públicas 5 de saúde.
No final do século XX e início deste século, praticamente todas as equipes
de saúde contavam com a presença de um profissional do Serviço Social. De acordo
com Costa (2000), os assistentes sociais figuravam como a 4ª categoria de nível
superior, compondo estas equipes.
Para Costa (2000, p. 36), enquanto os assistentes sociais não valorizavam
suas práticas e conteúdo “[...] cada vez mais as instâncias de gerenciamento dos
serviços de saúde, em todos os níveis, apontavam para a necessidade da ação dos
profissionais [assistentes sociais] na composição das equipes dos serviços públicos
de saúde”.
Como base de toda essa situação, estão as determinações sociais que
dizem respeito ao trabalho suportado pelo capitalismo que, de acordo com Costa

5 Entendendo-se que a SCMF, mesmo não sendo pública, tem seus serviços, quase totalmente
realizados pelo SUS.
33

(2000, p. 37), são “o trabalho assalariado, o controle da força de trabalho e a


subordinação do conteúdo do trabalho aos objetivos e necessidades das entidades
empregadoras”. Nesse sentido, a especialização do trabalho, a partir da adição do
assistente social em equipes multidisciplinares da área da saúde, passa a ser
formatada dentro desse conjunto, dando “organização” às atividades desse
profissional.
Esse é um contexto, também, percebido na SCMF, onde as assistentes
sociais participam ativamente de todos os procedimentos referente aos
acompanhantes, fornecendo autorização provisória ou confirmando a permanente
autorizada por médico. São elas as responsáveis pelo preenchimento de uma série
de registros, como: registro de ocorrências gerais; registro de ocorrências da
emergência; registro de altas e registro de óbitos etc, todas, demandas advindas de
outros profissionais de outras áreas da saúde, lotados na SCMF.

4.3.1 Processo de admissão de acompanhante

Quando o paciente com indicação médica ou legal para internação está


acompanhado, esse acompanhante é orientado, pelas enfermeiras ou técnicos de
enfermagem da clínica em que o mesmo foi atendido, a procurar o médico que
autorizou a internação, para que este, ou outro na ausência do que autorizou a
internação, faça a avaliação e decida sobre a necessidade de acompanhamento do
paciente. Caso o médico entenda que há essa necessidade, este preenche a Folha
Diária de Acompanhante6 (FDA) (Anexo 1).
Enquanto o médico não preenche a FDA, o candidato a acompanhante é
orientado a procurar o Serviço Social e, lá, a assistente social preenche uma
autorização temporária (24 horas) dando o direito à alimentação, uma cadeira
espreguiçadeira e uma pulseira de identificação rosa; mesmo sendo temporário, o
acompanhante é informado sobre todas as normas e rotinas da SCMF.
Quando o médico autoriza, ou chancela, o acompanhamento do paciente,
formalizado a partir do preenchimento da FDA, as assistentes sociais fazem o registro
no manual do acompanhante (Anexo 2). No registro devem constar: os dados

6 A FDA, na realidade, é o Laudo Médico para a Solicitação de: (uma série de medidas, dentre elas a
autorização de acompanhante). O formulário recebe a denominação de FDA no setor do Serviço
Social.
34

pessoais do paciente (Nome/RG/Assinatura), clínica, leito e motivação da


necessidade de acompanhamento (paciente acamado, idoso e outros). Após o
registro definitivo, o acompanhante é novamente instruído sobre as normas e rotinas
do hospital e recebe a pulseira azul, identificando-o como acompanhante já
cadastrado.
Quando o paciente recebe a alta dada pelo médico, o acompanhante
entrega a autorização de alta, comunica ao serviço social e devolve a autorização de
acompanhamento. Na sequência, a assistente social faz o registro da alta no livro de
Registro de Altas.
Estes procedimentos estão totalmente embasados pelos vários estatutos
que preveem direitos especiais a algumas categorias e, também, à avaliação médica,
que determinará se o paciente possui, ou não, condições de se locomover e se
alimentar sozinho.
Assim, acompanhantes de pacientes menores de 18 anos, maiores de 60
anos, portadores de deficiências, gestantes e parturientes têm direito à
acompanhantes assegurados por lei. Os pacientes menores de idade têm o direito a
acompanhante assegurado pela Lei nº 8.069/90, que assim diz em seu Artigo 12: “Os
estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a
permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de
internação de criança ou adolescente” (BRASIL, 1990, n. p.).
Quanto aos idosos com mais de 60 anos, o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741,
de 1º de outubro de 2003, no Artigo 16, diz:

Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a


acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar as condições
adequadas para a sua permanência em tempo integral, segundo o critério
médico. Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável pelo
tratamento conceder autorização para o acompanhamento do idoso ou, no
caso de impossibilidade, justificá-la por escrito. (BRASIL, 2003, n.p.).

Embora, em tese, os mesmos direitos sejam concedidos pelo Estatuto da


Pessoa com Deficiência, a Lei n° 13.146, de 2015, em seu Artigo 9, § 2°, diz que: “Nos
serviços de emergência públicos e privados, a prioridade conferida por esta Lei é
condicionada aos protocolos de atendimento médico” (BRASIL, 2015, n.p.).
35

4.3.1.1 Acompanhamento de paciente em situação de rua

Para pacientes em situação de rua que são internados na SCMF e que têm
necessidade de serem acompanhados durante a sua permanência na instituição, as
assistentes sociais iniciam um estudo social em busca de localizar a família do
paciente. Caso a família seja encontrada, as assistentes sociais solicitam que seja
enviada uma pessoa para fazer acompanhamento do paciente – em alguns casos, é
necessária uma visita in loco para tentar convencer a família. Neste tipo de visita, há
uma grande exposição das assistentes sociais à possibilidade de serem recebidas de
forma violenta, inclusive, pois muitas dessas famílias residem em áreas de alta
incidência de eventos violentos e tráfico de drogas, e muitas dessas famílias são
diretamente envolvidas.
Assim, quando a família, depois de inúmeros contatos e visitas, recusa o
acompanhamento, as assistentes sociais enviam um relatório ao Centro de Referência
Especializado da Assistência Social (CREAS), informando sobre a situação do
paciente e todas as medidas já tomadas. Após este procedimento, o CREAS também
promove uma série de visitas à família, tentando convencê-la a enviar um
acompanhante para o familiar internado. Caso a família concorde em enviar alguém
para o acompanhamento do paciente, o caso passa a ser tratado pelos trâmites
normais da SCMF. Todavia, caso persista a negativa familiar, o CREAS procura o
serviço social da SCMF e comunica a sua decisão e os procedimentos a serem
tomados ou discutidos com a instituição.
Sabe-se, que, por lei, não é possível obrigar nenhuma pessoa a
acompanhar um paciente. E, em relação aos pacientes em situação de rua, essa
realidade é ainda mais crítica. Essa circunstância de desestruturação familiar é
identificada no estudo de Petrini (2003 citado por NOGUEIRA, 2009), quando este
afirma que os membros das famílias mais pobres (de onde invariavelmente veem os
indivíduos em situação de rua) não conseguem se relacionar ou sociabilizar de forma
satisfatória entre si e, por isso mesmo, são mais vulneráveis a sentimentos de
desapego e indiferença, uns para com os outros. É esse, justamente, o quadro
encontrado pelas assistentes sociais da SCMF ao visitarem os familiares dos
moradores em situação de rua internados na instituição.
Todavia, no Manual Sobre o Cuidado à Saúde Junto a População em
Situação de Rua, do Ministério da Saúde, publicado em 2012, a exigência de
36

acompanhantes para a pessoa em situação de rua é uma das barreiras à produção


de uma rede de cuidado que possa garantir a integralidade dos direitos sociais desta
população (BRASIL, 2012). Em que pese a busca por parentes que possam
acompanhar a pessoa em situação de rua internada na SCMF, a instituição não nega
o atendimento e, tampouco tenta a sua aceitação em outros hospitais.

4.3.2 Processo em caso de óbito de paciente

Quando um paciente vai a óbito, o médico preenche a Declaração de Óbito


(DO)7 e, em seguida, uma enfermeira preenche a Comunicação de Óbito e a entrega
no Serviço Social juntamente com a DO. A assistente social, então, verifica os dados
contidos na D.O. do paciente e preenche o protocolo de recebimento da mesma. A
Declaração de Óbito só pode ser entregue a um parente em primeiro grau do paciente
em óbito8, que a assinará acusando o seu recebimento.
Quando o médico decide não assinar a DO por não estar seguro em relação
à causa mortis, ou quando a família solicita que seja realizada uma verificação mais
aprofundada, o corpo é encaminhado ao Sistema de Verificação de Óbito (SVO). Para
tanto, o Serviço Social da SCMF entra em contato com a Funerária Florescer9,
conveniada pela Santa Casa, para que o corpo seja trasladado até o SVO,
comunicando estes fatos à família e solicitando que a mesma se encaminhe até O
SVO para receber o corpo10. Após a verificação da causa mortis o SVO emite a D.O.,
e libera o corpo para sepultamento, momento em que a família poderá utilizar os
serviços da funerária que desejar.
Os procedimentos realizados pelas assistentes sociais em caso de óbito do
paciente são estabelecidos segundo normas comuns à praticamente todas as
instituições de saúde. Não havendo nenhuma mudança possível, que viesse a trazer
algum impacto social sobre os procedimentos já adotados.

7 O mesmo que “Atestado de Óbito”.


8 É obrigatório que o parente que assinará o protocolo de recebimento da D.O., seja um parente em
primeiro grau do paciente que veio a óbito, desde que devidamente identificado por seu R.G.
9 Somente a Funerária Florescer pode levar o corpo desde a SCMF ao SVO.
10 O corpo só sai da SCMF quando algum representante da família do paciente falecido já estiver no

SVO.
37

4.3.2.1 Procedimentos no óbito de pessoa em situação de rua

Existe uma grande dificuldade no trabalho das assistentes sociais no


tocante às pessoas em situação de vulnerabilidade social, como é o caso das pessoas
em situação de rua que dão entrada na SCMF e vão a óbito, sem que no seu registro
de admissão conste qualquer tipo de documento de identificação ou contatos de
familiares; são os chamados “indigentes”.
Anteriormente, nestes casos, o serviço social prestava um Boletim de
Ocorrência (BO) em uma delegacia, liberando, de imediato, o corpo para a Perícia
Forense do Estado do Ceará (PEFOCE). Contudo, os delegados passaram a não mais
liberar a confecção do BO para casos de morte natural. Esta determinação teve
grande impacto no trabalho das assistentes sociais, pois estas têm que buscar de
todas as formas, e por todos os meios, encontrar familiares do falecido, mas,
normalmente, não veem seus esforços serem bem-sucedidos. Este contexto, também
traz grande complicação para a própria SCMF, pois a instituição não possui
equipamento adequado (gavetões refrigerados) para a conservação de cadáveres, e
tem de permanecer, às vezes, com vários cadáveres já entrando em processo de
decomposição, causando grande desconforto e mau cheiro por vários dias, até que a
PEFOCE, finalmente, resolva receber o(s) corpo(s).
Este contexto se encaixa perfeitamente naquilo que o Manual Sobre o
Cuidado à Saúde Junto a População em Situação de Rua relata, como sendo a práxis
das instituições públicas do País.

Quando se trata de população em situação de rua (PSR), a abordagem e o


acolhimento são de fundamental importância para a produção do cuidado,
tendo em vista que esse grupo social é historicamente marcado por um
processo de exclusão dos serviços de saúde, onde a sua presença se traduz
em forte incômodo tanto para os profissionais de saúde quanto para os
demais usuários, ficando quase sempre renegado o seu direito à atenção
integral à saúde e, quando muito, apenas é atendido nas emergências.
(BRASIL, 2012, p.

Se está é a realidade enquanto a pessoa ainda vive, o que pode ser dito
em relação à sua morte? Levando-se em consideração o alto grau de desprezo e
desumanidade com que a polícia trata as pessoas em situação de rua que vão a óbito
nos hospitais da cidade, pode-se até afirmar que este tipo de atitude só reafirma a
invisibilidade social da pessoa em situação de rua.
38

4.4 As principais demandas no cotidiano da profissão

4.4.1 Assistentes sociais

O cotidiano dos profissionais assistentes sociais na SCMF, apesar de


seguir uma certa rotina de procedimentos, nunca é igual. Mesmo quando as
demandas dizem respeito às rotinas habituais de um ambiente hospitalar, todas, sem
exceção, possuem particularidades que podem afetar e distinguir seus resultados.
Entretanto, para Guerra (2012, p. 45), dentro da característica da
espontaneidade do cotidiano das atividades do serviço social, normalmente, todas as
demandas entregues aos assistentes sociais são absorvidas rapidamente, quase sem
perceber. Dessa forma, o “[...] exercício profissional passa a se restringir ao
cumprimento de rotinas institucionais, metas de produtividade, critérios de
elegibilidade, e o profissional passa a responder mecanicamente no âmbito das
determinações da instituição”.
Assim, de modo geral, a “rotina” das atividades das assistentes sociais da
SCMF se inicia com visitas às clínicas, de acordo com a escala elaborada pela
coordenadora do Serviço Social, de tal modo que, se uma assistente social realiza,
em determinado dia, visitas em duas clínicas, no dia seguinte ela visitará outras duas,
de forma que uma assistente social não fica restrita a clínicas específicas ou à
emergência.
A SCMF possui 12 clínicas ou postos: Clínica Médica I e Clínica Médica II;
Oncologia; Nefrologia; Urologia; Proctologia; Ortopedia; Ginecologia; Dermatologia;
José Frota; Dependência Química e Casa de Saúde, além de uma UTI. No entanto,
antes de as assistentes sociais iniciarem as visitas às clínicas, o livro de ocorrências
é verificado para identificar alguma demanda pendente e que mereça atenção
imediata.
Durante as visitas, as assistentes sociais conversam com pacientes e
acompanhantes, procurando saber de alguma necessidade ou demanda; nestas
conversas, as normas e procedimentos da SCMF são sempre reforçadas para o
acompanhante. Em seguida, as assistentes sociais se dirigem às enfermarias da
clínica visitada, para tomarem conhecimento sobre algum pleito que necessite de suas
ações.
39

Mesmo se atendo às rotinas determinadas pela instituição, o trabalho das


assistentes sociais da SCMF não pode ser considerado usual. A complexidade e
diversidade de cada caso obrigam que, muitas vezes, se apliquem soluções que não
estão em nenhum manual. Essa conjuntura não implica em dizer que as assistentes
sociais da SCMF, infelizmente, restrinjam-se ao mero cumprimento das rotinas
estabelecidas, metas de produtividade e o estabelecimento de uma espécie de
ranqueamento das prioridades, como afirmou Guerra (2012).

4.4.2 Coordenadora do Serviço Social

Se, durante as visitas, ou em qualquer situação que as demais assistentes


sociais não possam dar uma solução definitiva, seja por qual motivo for, a
coordenadora é chamada a intervir. Essa é apenas uma das atribuições da
Coordenadoria de serviço Social na SCMF, que também dizem respeito à leitura de
todas as mensagens recebidas – tanto internas quanto externas – e a tomada de
decisão sobre cada demanda existente nestas mensagens.
No intuito de tornar mais ágil e eficiente o trabalho do setor, a coordenadora
autoriza que as demais assistentes sociais possam visualizar as mensagens,
alertando-a no caso de algo urgente ou sobre alguma decisão que cabe somente a
ela. Isto acontece, sempre que a coordenadora é obrigada a se afastar do setor.
A coordenadora é o elo de ligação entre o serviço social e a direção da
SCMF e, também é a responsável por levar casos específicos ao conhecimento do
Ministério Público. Por exemplo, quando uma família se recusa a enviar um
acompanhante para um paciente que não se encaixa no perfil de pessoa em situação
de rua, a coordenadora tenta, várias vezes, resolver a situação de forma amigável,
mas, não conseguindo e, caso a circunstância seja referente, por exemplo, a uma
possível situação de abandono de incapaz, esta envia um relatório ao Ministério
Público para que sejam tomadas as providências legais cabíveis ao caso.
Foi possível observar que a coordenadora do Serviço Social da SCMF está
em constante movimentação, sempre às voltas com o excesso de demandas,
potencializadas pelas férias de uma de suas colaboradoras e a epidemia de zica e
chikungunya que vêm abalando a capital cearense nos últimos meses.
Muitas vezes, quando as demandas chegam ao conhecimento da
coordenação do Serviço Social, estas já estão bastante agravadas pela demora na
40

comunicação de algum profissional que menosprezou ou minimizou o potencial de


agravamento da demanda. Outras vezes, são os próprios familiares dos pacientes que
não se antecipam aos problemas, fazendo com que estes só sejam informados
quando já potencialmente agravados ou sem solução.

4.5 Principais respostas e a mobilização da dimensão técnico-operativa

Sendo a Dimensão técnico-operativa a maneira como a profissão é


conhecida e reconhecida, sabe-se que é dela que se irradia a imagem social “[...] da
profissão e sua autoimagem. Ela encontra-se carregada de representações sociais e
da cultura profissional. É a dimensão que dá visibilidade social à profissão [...]”
(GUERRA, 2012, p. 40).
Guerra (2012) considera que, apesar de necessária, a dimensão técnico-
operativa no serviço social é insuficiente frente às inúmeras e diversas demandas e
necessidades da sociedade, pois esta possui sua instrumentalidade na solução,
mesmo que pontual e emergencial, de todas as demandas apresentadas.
É grande a complexidade dos inúmeros ambientes sócio-ocupacionais que
fazem parte do dia a dia dos assistentes sociais. A própria natureza de sua profissão
faz com que estes sejam propositores e formuladores de políticas sociais,
planejamentos e desembaraços dos serviços e programas, além de tratarem
diretamente com os usuários de diversas entidades e programas (MIOTO; LIMA,
2009) no atendimento às suas mais diversas demandas, como se configura no caso
de grande parte dos usuários da SCMF.
Na SCMF, por ser um hospital filantrópico e historicamente ligado à uma
entidade de caráter religioso11, ainda possui em seu cerne grande parte dos valores e
cuidado com os desvalidos professados pelo movimento religioso que justificou a sua
existência. Sendo assim, é grande o número de atendidos que, sequer possuem
domicílio ou alguém que os acolha, contexto que amplia, flexibiliza e personaliza,
sobremaneira, as demandas atendidas pelas assistentes sociais da SCMF.
Nesse entendimento, Mioto e Lima (2009, p. 28) acreditam que quadros
como este trazem a percepção de que essas ações se dão em terreno instável e

11
Na década de 1970, a SCMF teve sua gestão oficialmente desligada da Diocese de Fortaleza. Fonte:
<http://www.santacasace.org.br/instituicao/historia>. Acesso em: 15 jun. 2017.
41

desconhecido, apesar “[...] dos reconhecidos esforços da profissão e dos avanços


produzidos sobre o exercício profissional, especialmente nos últimos anos”.
Mioto e Lima (2009), ainda citam Iamamoto e Carvalho (1982, p. 80-81)
informando que esses autores entendem que a mobilização dos assistentes sociais
indica:

[...] a existência de uma relação singular no contato direto com os usuários –


“os clientes” – [...] reforça um certo espaço para atuação técnica, abrindo a
possibilidade de se reorientar a forma de intervenção, conforme a maneira de
se interpretar o papel profissional. A isso acresce outro traço peculiar ao
Serviço Social: a indefinição ou fluidez do “que é” ou “do que faz” o Serviço
Social, abrindo ao assistente social a possibilidade de apresentar propostas
e trabalho que ultrapassem meramente a demanda institucional. Tal
característica apreendida, às vezes, como estigma profissional, pode ser
reorientada no sentido de ampliação de seu campo de autonomia, de acordo
com a concepção social do agente sobre a prática. (IAMAMOTO;
CARVALHO, 1982, p. 80-81 citados por MIOTO; LIMA, 2009, p. 28).

Assim, quando perguntadas sobre quais são os instrumentos e técnicas


utilizados com mais frequência pelo Serviço Social na instituição e quais as finalidades
desses instrumentais, a Assistente A foi a que menos informações forneceu, indicando
como instrumento unicamente o Manual do Acompanhante, cuja finalidade seria a de
realizar o cadastro de todos os acompanhantes das pessoas internadas. Já as
Assistentes B e C estenderam suas respostas afirmando que utilizavam todos os livros
de ocorrências (emergências e ocorrências gerais), declarações, autorização
temporária (Anexo 3) e cadastro de acompanhantes, cujas finalidades foram assim
descritas:

“As declarações são emitidas como forma de comprovar o comparecimento


do acompanhante/paciente no hospital, autorização temporária garante a
permanência de um acompanhante até o outro dia e o cadastro do
acompanhante é o instrumento que regulariza a situação do acompanhante
no hospital, garantindo sua permanência até a alta do paciente”. (Assistente
B).

“Declaração de comparecimento para acompanhantes e de internamento


para pacientes internados – para controle dos acompanhantes e repassar as
normas e rotinas hospitalares; autorização de acompanhantes provisórios –
situação irregular. Técnicos: evolução, em relatório, das problemáticas
apresentadas pelos pacientes – acompanhamento do passo a passo para a
resolução da problemática - forma de registro para consulta das
profissionais”. (Assistente C).

Questionadas no que se refere às facilidades e dificuldades percebidas na


utilização destes instrumentos e técnicas, obteve-se as seguintes respostas:

“Facilidades: Controle de acompanhantes.


42

Dificuldades: Na Autorização Temporária, pois, para a realização de cadastro


é necessária a liberação da diária pelo médico. Enquanto ele não libera,
fornecemos uma autorização temporária por 24 horas. A dificuldade maior é
no período que, muitas vezes, ultrapassa as 24 horas e, em outros casos, os
médicos podem botar dificuldades por achar que não seja preciso preencher
a folha diária devido o paciente ser idoso, acamado ou menor de idade. Essa
folha é feita em duas vias: uma fica no prontuário e a primeira fica com o
serviço social”. (Assistente A).

“Facilidades: os instrumentos facilitam o nosso trabalho no intuito de


possibilitar o atendimento das demandas garantindo respostas as
necessidades dos usuários
Dificuldades: as declarações para os acompanhantes são emitidas
diariamente, pois não temos como ter controle da presença do mesmo no
hospital em dias anteriores e por vezes ocorre, por falta de informação ou
outros motivos, do acompanhante deixar para vir buscar as declarações
quando o paciente recebe alta ou solicitando a do dia anterior. Outra
dificuldade, é quando há a solicitação de declaração de acompanhante do
período noturno - pois, nós do serviço social só emitimos durante o horário
de funcionamento do setor (7h30 às 18h) - e ainda não foi designado quem
ficaria responsável por esta emissão”. (Assistente B).

“Facilidades: São instrumentos e técnicas que auxiliam na resolução das


problemáticas dos pacientes;
Dificuldades: A falta de conhecimento, de outras equipes, destes
instrumentos e técnicas, e o objetivo de cada um deles”. (Assistente C).

Sobre as dificuldades, na fala da Assistente C ficou claro que há um certo


distanciamento entre o Serviço Social e sua instrumentalidade e os demais setores da
SCMF. No entanto, desde que se entende que a prática profissional do assistente
social em um hospital deve ser somada às práticas profissionais de uma equipe
multidisciplinar (médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, diversos terapeutas
e outros), todos devem ter o mínimo de entendimento das atribuições pertencentes a
cada grupo. Sem esse entendimento/reconhecimento, o trabalho de todos, sem
dúvidas, sofre algum tipo de prejuízo, e esse é um quadro preocupante,
principalmente, em relação às atribuições e instrumentos do Serviço Social. Todavia,
espera-se que esse contexto não seja observado unicamente quanto aos
instrumentos e atividades desenvolvidas pelo Serviço Social, o que indicaria uma certa
diferenciação, inaceitável, no que diz respeito ao importante trabalho desenvolvido por
este setor.
Quanto ao nível de autonomia para a elaboração, atualização e
implementação desses instrumentos e técnicas, todas informaram possuir “certa
autonomia”, todavia, somente a Assistente B se aprofundou mais em sua resposta:

“Temos boa autonomia”. (Assistente A).

“Temos autonomia para apresentar ideias, sugerir melhorias, e juntas


entramos em acordo nas reuniões. Eu mesma já elaborei dois instrumentos:
43

autorização para visita (Anexo 4) e de troca de acompanhante (Anexo 5),


quando há a necessidade de realização de troca fora do horário
estabelecido”. (Assistente B).

“O que for necessário”. (Assistente C).

Quando tratou-se da existência de instrumentos comuns entre o serviço


social e outros profissionais/setores, somente as assistentes A e B responderam:

“Autorização de saída de veículos – ASV”. (Assistente A).

“Instrumentos de utilização em comum não temos, mas a declaração de óbito


que é um documento emitido pelo médico, este é encaminhado ao serviço
social junto com o comunicado de óbito que é feito pela enfermagem. Nós do
serviço social somos responsáveis pela liberação deste documento para a
família e mediante qualquer erro identificado, fazemos essa mediação com
os médicos para retificar ou refazer se for preciso”. (Assistente B).

Foi possível perceber que, por parte das assistentes sociais, há um


profundo cuidado no trato das respostas aos desafios cotidianos da profissão,
enfrentados na SCMF. Todos os problemas encontrados são devidamente compilados
em relatórios para acompanhamento da evolução das problemáticas de cada caso.
Todavia, devido ao volume e complexidade das demandas apresentadas ao Serviço
Social da SCMF, e apesar do esforço das assistentes sociais, nota-se que a maioria
das respostas, à essas demandas, fica restrita a uma certa automação de
procedimentos, principalmente, em virtude da realidade da instituição. Todavia, esse
comportamento se encaixa perfeitamente nas argumentações de Bravo (2004),
quando este diz que, academicamente, o discurso de transformações por meio das
dimensões técnico-operativas e a instrumentalidade do Serviço Social, na prática não
se consolidaram no cotidiano da profissão.
Já em relação às respostas apresentadas, pode-se depreender que a
Assistente A teve o foco voltado para um determinado instrumento utilizado por outro
setor, além do seu, de acordo com o que foi, realmente perguntado, ressalte-se,
porém, a Assistente B fez menção ao DO, como um instrumento a ser “auditado” pelo
serviço social, mesmo sendo emitido por outros profissionais. A hipótese que pode ser
levantada é a de que existe a possibilidade de a ASV não ser de responsabilidade do
setor como um todo, mas restrito à uma das assistentes sociais ou, ainda de outra
assistente social, que não a Assistente B. Também é possível que a ASV não seja
uma tarefa corriqueira para as assistentes sociais, o que pode ter causado seu
esquecimento por parte da Assistente B.
44

No tocante às principais atividades realizadas pelas assistentes sociais na


SCMF, novamente a Assistente C não respondeu, mas as Assistentes A e B
forneceram respostas bem detalhadas, que também estarão compiladas no Quadro
4, para melhor entendimento das atividades desempenhadas por elas:

“Cadastro de acompanhantes, encaminhamentos diversos, autorizações


(visitas extras, troca de acompanhantes fora do horário estabelecido,
autorização temporária); auxilio funeral, liberação dos óbitos para família,
solicitações para AMISC12 (doações); declarações, solicitação de
ambulância, articulação com hospitais do interior (em caso de alta para
solicitar transporte), relatório de atendimento, emergência, postos e
orientações diversas”. (Assistente A).

“Desempenhamos as mais variadas atividades dentre elas: orientações,


esclarecimentos, autorizações para acompanhantes, solicitação e dispensa
de acompanhante, emissão de declarações, liberação de declaração de óbito,
registro em livros de ocorrência geral, emergência e altas, solicitação de
transporte para paciente de alta, intermediações com equipe de médicos e
enfermeiros na resolução de questões relacionadas ao paciente,
encaminhamentos a outros equipamentos sociais, abrigos, e
encaminhamento do auxílio funeral”. (Assistente B).

Quadro 4 – Principais atividades realizadas pelas assistentes sociais na SCMF.


Informada
Atividade pela
Assistente
Cadastro de acompanhantes A
Autorizações de visitas extras A
Troca de acompanhantes fora do horário previsto A
Solicitação de ambulância A
Postos (clínicas) A
Autorização temporária de acompanhantes AeB
Auxílio funeral AeB
Liberação dos óbitos (para as famílias) AeB
Declarações diversas AeB
Articulação com hospitais do interior (para solicitar transporte para o paciente de alta) AeB
Relatório de atendimento/Registros em livros de ocorrências gerais AeB
Emergências AeB
Orientações e esclarecimentos diversos AeB
Solicitação e dispensa de acompanhantes B
Altas B
Intermediações para com as equipes de médicos e enfermeiros B
Encaminhamento a outros equipamentos sociais, inclusive abrigos B
Fonte: A autora, a partir de dados da pesquisa.

Apesar de a Assistente A ter apontado 5 (cinco) atividades não


mencionadas pela Assistente B, e esta ter apontado 4 (quatro) não mencionadas pela
Assistente A, entende-se que essa discrepância não aponta nenhum tipo de
desconhecimento de todas as atividades realizadas pelo serviço social, mas, sim, à
familiaridade/repetição com que cada uma trata das referidas demandas.

12 AMISC – Associação dos Amigos da Santa Casa.


45

As articulações com outros hospitais, principalmente do interior do estado,


as intermediações para com as equipes de médicos e enfermeiros e os
encaminhamentos a outros equipamentos sociais, inclusive abrigos, estão, pode-se
afirmar, como preconiza Iamamoto (1998 citado por XAVIER; LOPES, 2016), que esse
cenário se estabelece a partir da ampliação das demandas ao Serviço Social, que
propicia sua atuação junto a equipes interprofissionais. “Tanto o conceito de saúde é
amplo como o campo de atuação do assistente social, pois este abrange o campo da
Atenção Primária e também o âmbito hospitalar, ambientes de trabalho dos
profissionais da saúde e do assistente social” (XAVIER; LOPES, 2016, p. 136).
Quando perguntadas se realizavam encaminhamentos a outros serviços,
sistemas e políticas, e quais seriam os principais, todas informaram que realizavam
tais encaminhamentos, como listados no Quadro 5, a seguir:

Quadro 5 – Serviços, sistemas e políticas indicados pelas assistentes sociais da SCMF.


Informada
Atividade pela
Assistente
CREAS - Centro de Referência Especializado da Assistência Social. A
Centro POP - Centro Especializado para População em Situação de Rua AeBeC
ABRIGOS (Idosos, pessoas em situação de rua etc) AeB
ONG´S AeB
CRAS - Centro de Referência de Assistência Social AeC
CAPS - Centro de Atenção Psicossocial AeC
CRIO - Centro Regional Integrado de Oncologia A
ICC - Instituto do Câncer do Ceará A
Encaminhamento ao auxílio funeral B
Promotoria da Saúde C
Promotoria do Idoso C
Fonte: A autora, a partir de dados da pesquisa.

Todas, sem exceção, também se referiram genericamente a outros locais


e serviços, todavia, sem nominá-los, o que conferiu aos itens listados a condição dos
mais acionados para atendimento às demandas do serviço social da SCMF.
De forma geral, nota-se que a Assistente A é a que mais informações
detalhadas forneceu na maioria dos questionamentos quanto à dimensão técnico-
operativa do serviço social, circunstância, com certeza, derivada de sua maior
experiência como assistente social, com 19 anos de serviços ininterruptos.
Também foi possível perceber em todos os resultados em relação à
mobilização da dimensão técnico-operativa do Serviço Social na SCMF, que estes se
encontram em conformidade com o pensamento de Guerra (2012), quando esta diz
que, a teoria e a racionalidade se perdem quando da prática do exercício profissional
46

– como se isso fosse possível – ocorrendo o “esquecimento” da necessidade de


conhecer e reconhecer a realidade e os valores éticos dentro de uma direção política
e social. Todas estas questões, continua a autora, impõem características que
denunciam que:

[...] o cotidiano profissional é pleno de requisições de cumprimentos de


normas, regulamentos, orientações ou decisões de superiores, os quais
impõem ao profissional a necessidade de respostas às mesmas. Neste
contexto, a prioridade é responder aos fenômenos, não importa como, disto
resultando um conjunto de respostas profissionais rápidas, ligeiras,
irrefletidas, instrumentais, baseadas em analogias, experiências, senso
comum, desespecializadas, formais, modelares, em obediência a leis e
superiores, sem a qualificação necessária para distingui-las de respostas
atribuídas por leigos. (GUERRA, 2012, p. 46).

De maneira alguma, o reconhecimento desta realidade depõe contra as


assistentes sociais da SCMF. Na verdade, acontece justamente o oposto, pois apesar
da existência de conjuntura semelhante à citada por Guerra (2012), deve-se ainda
compreender o contexto e a realidade da instituição estudada, historicamente envolta
em grandes e importantes dificuldades financeiras, mantendo-se, até hoje, por
doações, haja vista que os valores praticados pelo SUS não conseguem atender a
todas as demandas pecuniárias da SCMF. Este entendimento macro da realidade da
instituição coloca, não só o serviço social, mas todos os demais setores e serviços da
SCMF na posição de contínua escolha entre o necessário e o possível. Some-se a
estas considerações, a própria condição de instituição filantrópica da SCMF, fazendo
com que, em boa medida, as demandas advenham de pessoas em condição de
vulnerabilidade social, como já foi dito.
As condições objetivas e subjetivas repercutem na direção do trabalho do
assistente social. Objetivamente, repercutem através da “[...] conjuntura e os campos
de intervenção, os espaços sócio-ocupacionais, as relações e condições materiais de
trabalho” (GUERRA, 2009, p. 1), na medida em que estas condições são
apresentadas como resultado das demandas da sociedade. E, de forma subjetiva, em
relação aos próprios assistentes sociais, pelas suas escolhas, grau de preparo técnico
e competência no uso dos aspectos intelectuais de sua formação para o atingimento
dos resultados almejados. Isto posto, e de acordo com a análise inicial, foi observado
que as assistentes sociais da SCMF, na medida em que à estas são fornecidas certas
condições materiais para que executem suas funções, suas escolhas, limitadas pelas
dificuldades da instituição e pela necessidade de adequação às suas normas e
47

determinações superiores, não encontram muitas oportunidades13 de darem vazão à


totalidade de suas competências.
Então, a partir do entendimento de tudo o que foi visto até agora, iniciar-se-
á a análise das respostas das assistentes sociais relacionadas, agora, à
instrumentalidade do serviço social na SCMF.

4.6 Respostas à instrumentalidade do serviço social

Como já citado, para Guerra (2009), em uma análise menos aprofundada,


parece que a instrumentalidade do serviço social refletida nas atividades exercidas
pelo assistente social só diz respeito às autorizações, confecções de relatórios etc.
Contudo, a autora pede que seja dada atenção ao sufixo “idade”, haja vista que este
se refere a “capacidade, qualidade ou propriedade de algo [referindo-se] [...] não ao
conjunto de instrumentos e técnicas (neste caso, a instrumentação técnica), mas a
uma determinada capacidade ou propriedade constitutiva da profissão” (GUERRA,
2009, p. 1).
A partir da capacidade de transformar suas intenções e conhecimentos em
ações práticas afeitas ao exercício da profissão, os assistentes sociais conseguem
transformar a realidade social. Quando estes profissionais conseguem alterar suas
rotinas, o seu dia a dia, a rotina das classes sociais que são atendidas por meio de
sua instrumentalidade também é alterada, modificada, fazendo com que seus
objetivos possam ser alcançados. Todas estas coisas acontecem porque os
assistentes sociais “[...] estão dando instrumentalidade às suas ações” (GUERRA,
2009, p. 2).

Na medida em que os profissionais utilizam, criam, adequam às


condições existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a
objetivação das intencionalidades, suas ações são portadoras de
instrumentalidade. Deste modo, a instrumentalidade é tanto condição
necessária de todo trabalho social quanto categoria constitutiva, um modo de
ser, de todo trabalho. (GUERRA, 2009, p. 2).

13 Por reiteradas vezes tratou-se aqui, e ainda será tratado, da vulnerabilidade financeira da SCMF,
como um dos principais fatores que dificultam e, em certos casos até, impedem que as assistentes
sociais dessa instituição consigam utilizar toda a instrumentalidade do Serviço Social no atendimento
às demandas de seus usuários. Esse contexto, em boa monta, não impede que pequenas, mas
importantes vitórias sejam alcançadas, circunstância várias vezes presenciadas durante as
observações de campo.
48

Diversos autores, como Guerra (2009; 2012), Trindade (2012) e Sarmento


(2012), acreditam que a função social de determinada profissão se origina a partir das
necessidades sociais. Assim, assegura Guerra (2009), quando, na prática, só existem
duas classes sociais: a burguesia capitalista e os trabalhadores, tais necessidades
não se configuram como iguais, pelo contrário, são absolutamente opostas.
Além disso, Guerra (2009), ainda faz menção à necessidade de o trabalho
dos profissionais cujas atividades possuem funções sociais, o que é o caso dos
profissionais do Serviço Social, devem receber o reconhecimento social das duas
classes: capitalistas e trabalhadores, considerando que:

[...] o espaço sócio-ocupacional [...] do Serviço Social, é criado pela existência


de tais necessidade sociais e que historicamente a profissão adquire este
espaço quando o Estado passa a interferir sistematicamente nas refrações
da questão social, institucionalmente transformada em questões sociais
(Netto, 1992), através de uma determinada modalidade histórica de
enfrentamento das mesmas: as políticas sociais [assim], pode-se conceber
que as políticas e os serviço sociais constituem-se nos espaços sócio-
ocupacionais para os assistentes sociais. (GUERRA, 2009, p. 6).

A partir de todos estes enunciados, percebe-se, menos nas respostas e


mais nas observações diárias das atividades conduzidas pelas assistentes sociais da
SCMF, que todas conseguem, de algum modo ou em determinada circunstância,
saírem do curso “normal” de suas rotinas, de forma que a rotina social dos usuários
da instituição também fosse mudada, e suas demandas atendidas.
No entanto, quando perguntadas de que maneira elas compreendiam a
instrumentalidade do Serviço Social na SCMF, conseguiu-se as seguintes respostas
das Assistentes A e B, haja vista que a Assistente C, outra vez, não respondeu:

“Compreendo a instrumentalidade como uma condição necessária de todo


trabalho social, enquanto categoria constitutiva, um modo de ser, de todo
trabalho”. (Assistente A).

“É através da instrumentalidade que podemos dar respostas profissionais as


demandas que se apresentam em nosso cotidiano”. (Assistente B).

Ressalte-se, que a Assistente A, de algum modo, provavelmente entre um


atendimento e outro, realizou uma pesquisa e respondeu conforme consta em Guerra
(2009, p. 2), invalidando qualquer análise referente ao seu próprio conhecimento.
Em relação ao questionamento: “como a instrumentalidade se expressa no
seu cotidiano profissional?”, obtiveram-se as seguintes respostas das Assistentes A e
B, pois a Assistente C, não respondeu:
49

“A instrumentalidade é uma propriedade de que a profissão vai adquirindo na


medida em que concretiza objetivos, ou seja, ela possibilita o agir profissional,
na medida em que os profissionais utilizam, criam, adequam ás condições
existentes, transformando-as em instrumentalidade”. (Assistente A).

“Se expressa quando intervimos na realidade através de nossas ações


profissionais, modificando-a e alcançando o objetivo através dos
instrumentos”. (Assistente B).

Novamente, durante a análise das respostas, percebeu-se que a


Assistente A, utilizou-se do expediente de utilizar o artigo de Guerra (2009, p. 2) para
dar sua resposta. A partir deste reconhecimento, sempre que esta situação se repetir,
utilizar-se-á do expediente de indicar a autoria da seguinte forma: (Assistente X –
Autor copiado, ano, página)14, ou, ainda de outra forma que seja possível indicar a
autoria da citação.
Dando continuidade, quando as assistentes sociais da SCMF foram
perguntadas de que forma cada uma delas articulava as três dimensões da
instrumentalidade do Serviço Social na Instituição, foram obtidas as seguintes
respostas:

“Reconhecendo a dimensão política da profissão pela razão dialética, o


Serviço Social na Instituição busca a legitimidade da profissão, através do
enriquecimento da instrumentalidade do exercício profissional no
atendimento de suas demandas”. (Assistente A).

“Devemos ter o conhecimento teórico como embasamento para realização da


prática com criticidade, para que possamos enxergar além da aparência,
buscando apreender sua essência. A dimensão técnico-operativa, fazemos
uso quando utilizamos nossos instrumentos e técnicas enquanto estratégias
e habilidades para realizar a ação... a competência ético-política se concretiza
quando a nossa prática se sustenta nos valores que estão expressos em
nosso código de ética profissional”. (Assistente B).

“A forma que cada profissional se articula à frente de cada demanda social


que permeia a sua rotina profissional. É identificando dentro da totalidade a
singularidade de cada paciente. É articulando com a rede assistencial para
garantir o direito do usuário”. (Assistente C).

No questionamento: “Para você, o que é o Projeto Ético-Político do Serviço


Social? E, como você busca materializar o PEP no seu cotidiano profissional?”,
obtiveram-se as seguintes respostas:

14 Todas as entrevistas foram realizadas dentro de um contexto, pode-se dizer, de exceção, em virtude
da grande demanda dos atendimentos das assistentes sociais da SCMF, principalmente, em virtude
de uma delas estar em gozo de férias, sobrecarregando as que ficaram, e pelas inúmeras
internações por Zika e Chikungunya, o que demandou inumeráveis autorizações, requisições e
visitas às clínicas. Assim, foram várias as vezes que as entrevistas tiveram que ser interrompidas e
retomadas horas ou dias depois, como no caso da Assistente C.
50

“(a) É uma imagem da profissão construída no contexto histórico de transição


dos anos 70 e 80, no processo de redemocratização de um novo perfil
profissional. (b) Busco materializar o PEP numa prática profissional
comprometida com a competência e o aprimoramento profissional”.
(Assistente A, parte “b” – Política de educação permanente do conjunto
CFESS-CRESS, 2012, p. 8, parte “a”, da resposta).

“(a) É o projeto que norteia nossa profissão, que defende uma nova ordem
societária sem exploração, que defende a liberdade, a democracia... (b)
Materializamos nosso PEP, quando prestamos um atendimento de qualidade
aos nossos usuários, agindo com ética preconizando o que diz o código de
ética do assistente social”. (Assistente B, parte “b” - Código de ética
profissional, 1993, parte “a”, da resposta).
“É o uso de instrumentos necessários a operacionalidade do serviço social.
Ou seja, é a utilização de técnicas que permitem colocar na prática a teoria”.
(Assistente C).

Passando ao último questionamento, quando perguntou-se: “Hoje, o que


você percebe de reatualização do ‘serviço social tradicional’ presente na prática do
serviço social na instituição?”, novamente, apenas as Assistentes A e B responderam:

“O serviço social está mais presente em suas ações, articulações com os


segmentos de outras categorias profissionais, prioriza o compromisso com a
qualidade dos serviços prestados à população e garantia de direitos”.
(Assistente A).

“Não percebo nossa prática associada ainda ao conservadorismo, e sim


buscamos sempre romper com a associação do serviço social como caridade,
procurando intervir com a orientação de que pretendemos garantir direitos”.
(Assistente B).

As respostas das duas assistentes sociais indicam que estas não percebem
na instituição, e partindo delas mesmas, as práticas do modelo tradicional do serviço
social, ou seja, das ações puramente paliativas e assistencialistas, sem a
administração de todas as orientações necessárias para a aquisição dos direitos
sociais dos usuários da SCMF.
Em relação à todas as respostas à utilização da instrumentalidade do
serviço social na instituição estudada, pelas observações de campo foi possível
perceber que a própria rotina das assistentes sociais sofria alterações demandadas
pela realidade social dos usuários da SCMF. E, a partir das alterações de suas
próprias rotinas, a rotina e a realidade desses usuários também era alterada,
promovendo a descoberta e aquisição de direitos, aquilo a que Guerra (2009) chama
de dar instrumentalidade às suas ações.
De modo geral, percebeu-se que as entrevistadas possuem a compreensão
do significado social da profissão e reconhecem as demandas da sociedade,
51

buscando, através de suas atuações, elaborar respostas de enfrentamento à essas


demandas.
Todavia, dentro das limitações impostas pelos poucos recursos financeiros,
e, de certa forma, presas às políticas da instituição, as assistentes sociais da SCMF,
ainda conseguem elaborar planos, organizar e administrar benefícios e serviços
sociais. Contudo, pelo que foi observado e, também, a partir das respostas coletadas,
não existia, ao menos no período deste estudo, nenhuma pesquisa iniciada ou em
andamento objetivando a formulações de políticas e ações profissionais na instituição.
Nenhuma das assistentes sociais da SCMF participa de instâncias de
organização política ou participa de conselho de direito da categoria. Mas, todas, sem
exceção, conseguem, dentro da instituição, orientar a população usuária dos serviços
da SCMF na identificação de recursos para atendimento e defesa de seus direitos.
E, no que se refere à realização de visitas, perícias técnicas, laudos,
informações e pareceres sobre matéria de Serviço Social, estas só são realizadas
dentro do âmbito da SCMF. Ou seja, trabalhos para outras instituições, organizações
não governamentais, ou qualquer outra instância de acolhimento e serviço social, não
fazem parte do cotidiano das interlocutoras.
52

5 CONCLUSÃO

Os muitos anos de trabalho no hospital e o olhar atento, mais apurado,


desenvolvido pelo aprendizado durante os anos do curso de Serviço Social e pela
observação sistemática dos trabalhos das assistentes sociais da SCMF, me
permitiram compreender a enorme complexidade daquilo que lhes é demandado.
Além disso, foi possível ver de uma forma mais abrangente e mais voltada aos
usuários, a grande necessidade de recursos financeiros para esta importante e
necessária instituição de saúde do Estado do Ceará.
Respondendo ao objetivo geral deste estudo, e mesmo tendo recebido
algumas respostas de “manual” a determinados questionamentos, de modo geral – e
também acreditando que esta pesquisa colaborou para esta apreensão – notou-se
que as assistentes sociais da SCMF conseguiam, sob muitos aspectos e na maioria
das ocasiões, colocar em prática a dimensão técnico-operativa e as
instrumentalidades do Serviço Social.
E, como primeira configuração identificada, respondendo ao primeiro
objetivo específico desta pesquisa, houve a confirmação da prevalência do gênero
feminino na ocupação dos cargos de assistente social, conformando-se com a
realidade encontrada em todo o país.
A segunda configuração identificada materializou-se nas práticas
profissionais tradicionais, mesmo sendo repudiadas nas falas das interlocutoras, pois,
apesar de promoverem bem mais que atendimentos engessados e automatizados às
necessidades dos usuários da Santa Casa, infelizmente, não é possível nominar de
outra forma as ações de preenchimento de autorizações de acompanhamento, auxílio-
funeral, orientações e encaminhamentos diversos. O modus operandi, é claro, por
vezes importa na assertiva do repúdio já mencionado.
Como terceira e última configuração identificada, percebeu-se referências
ao espaço sócio-ocupacional de trabalho das assistentes sociais, que não se
enquadra nem no público e nem no privado, mas a uma certa junção destes dois
campos, formatando quase uma situação única. Circunstância que possibilitou a
compreensão de que a instrumentalidade e a aplicação de todas as dimensões do
Serviço Social na instituição estudada, existem unicamente para possibilitar o
conhecimento e o atendimento à realidade dos usuários dos serviços da SCMF,
interferindo diretamente nestes processos, de forma que estes se traduzissem em
53

ações positivas e eficazes na vida de cada paciente e familiares, e de todos os que


viessem a requerer alguma demanda do Serviço Social na SCMF.
Assim, compreender o falar e o não-falar, o olhar e o não-olhar, que
expressam as diversas situações vivenciadas por cada usuário, são grandes e até
inglórios desafios a serem vencidos, tendo em vista a precariedade dos recursos à
serviço das assistentes sociais da instituição. Todavia, e isto foi diariamente
observado, há um esforço importante e comovente por parte dessas profissionais e
do grupo gestor da SCMF em promover, mesmo com todas as dificuldades, o melhor
atendimento possível, principalmente, àquela população que a sociedade capitalista
e burguesa insiste em não enxergar, ou seja, às pessoas em situação de
vulnerabilidade social.
Uma questão instigante, carecendo de maior aprofundamento, a fala de
uma das assistentes sociais indicando o desconhecimento, por parte dos demais
setores da SCMF, da utilização e dos objetivos dos instrumentos e técnicas
empregados na resolução das problemáticas dos pacientes pelo serviço social da
instituição. Esta é uma circunstância que, sem dúvidas, merece ser melhor
investigada.
Dessa forma, esperamos, em breve, ampliar esta pesquisa, ensejando
também que surjam outros pesquisadores interessados nesta e em inúmeras outras
temáticas passíveis de serem observadas em hospitais filantrópicos como a Santa
Casa da Misericórdia de Fortaleza.
54

REFERÊNCIAS

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58

ANEXOS
59

ANEXO 1 - FOLHA DIÁRIA DE ACOMPANHANTE


60

ANEXO 2 – MANUAL DO ACOMPANHANTE


61

ANEXO 3 – AUTORIZAÇÃO TEMPORÁRIA DE ACOMPANHAMENTO


62

ANEXO 4 – AUTORIZAÇÃO DE VISITA


63

ANEXO 5 – AUTORIZAÇÃO PARA TROCA DE ACOMPANHANTE


64

APÊNDICES
65

APÊNDICE 1 – QUESTIONÁRIO – ASSISTENTES SOCIAIS

1. Nome:
2. Sexo:
3. Filhos:
4. Quantos:
5. Ano de formação:
6. Unidade de formação:
7. Titulação:
8. Tempo de trabalho na Previdência Social:
9. Idade:
10. Carga horária:
11. Recursos institucionais: (sala, equipamentos, material de trabalho) (aqui você
quer abordar as condições éticas e técnicas de trabalho?) Computador, telefone,
material de escritório, birô, cadeira, impressora, cartucho.
12. Possui outro emprego (caso sim; é formal ou informal; qual a jornada de trabalho)?
13. Participa de instância de organização política da categoria?
14. Participa de conselho de direito?
15. Renda em salários mínimos:

DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA:

16. Quais são os instrumentos e técnicas utilizados com mais frequências pelo
Serviço Social na instituição? Quais as finalidades desses instrumentais?
17. Quais as facilidades e as dificuldades percebidas na utilização destes
instrumentos e técnicas?
18. Quais os instrumentos comuns entre o serviço social e outros profissionais?
19. Quais as principais atividades realizadas pelo Serviço Social?
20. Você realiza encaminhamentos a serviço, sistemas e políticas? Quais são os
principais?

INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL:

21. Como você compreende a instrumentalidade do Serviço Social?


66

22. Como a instrumentalidade se expressa no seu cotidiano profissional?

23. De que forma você articula as três dimensões da instrumentalidade do Serviço


Social?

24. Para você, o que é o Projeto Ético-Político do Serviço Social? Como você busca
materializar o PEP no seu cotidiano profissional?

25. Hoje, o que você percebe de reatualização do "serviço social tradicional" presente
na prática do serviço social na instituição?

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