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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS

DEPARTAMENTO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

“CRÍTICAS A FIDEL” DE OSVALDO ZANELLO: EMBATES


PARLAMENTARES/ E PROPAGANDA ANTICOMUNISTA

VITÓRIA

2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS

DEPARTAMENTO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

JOÃO PAULO DOS SANTOS DE SOUZA

TANARA DA SILVEIRA

“CRÍTICAS A FIDEL” DE OSVALDO ZANELLO: EMBATES


PARLAMENTARES/ E PROPAGANDA ANTICOMUNISTA

Trabalho apresentado à disciplina de Teoria e


Metodologia da História III orientado pelo professor
Dr. André Ricardo Valle Vasco Pereira, como
requisito parcial para composição de avaliação.
Orientador: Prof. Dr. André Ricardo Valle Vasco
Pereira

VITÓRIA

2018
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................3

2 CRISE DIPLOMÁTICA E DOMÉSTICA SOBRE O GOVERNO BRASILEIRO EM


UM MUNDO BIPOLARIZADO......................................................................................4

2.1 DA TRAJETÓRIA METEÓRICA DE JÂNIO QUADROS..................................4

2.2 DA POLÍTICA EXTERNA INDEPENDENTE À DIPLOMACIA DESALINHADA


6

2.3 DA QUESTÃO CUBANA E DOS ANTICOMUNISMOS NO CONGRESSO....7

3 ENTRE VANGUARDEIROS ANTICOMUNISTAS E IDEIAS


ANTIAMERICANISTAS [LITERATURA]........................................................................9

3.1 DO INTEGRALISMO PERREPISTA ANTE A CONJUNTURA POLÍTICA.......9

3.2 DO ANTICOMUNISMO NOS MEIOS INTEGRALISTAS...............................10

3.3 ANTIAMERICANISMO E ANTICOMUNISMO...............................................11

4 CRÍTICAS A FIDEL...............................................................................................13

4.1 TRAJETÓRIA POLÍTICA DE OSWALDO ZANELLO.....................................13

4.2 ESTRUTURA INTERNA DO DISCURSO “CRÍTICAS A FIDEL CASTRO”...14

5 CONCLUSÃO.......................................................................................................18

6 REFERÊNCIAS....................................................................................................20

7 ANEXO.................................................................................................................21
3

1 INTRODUÇÃO

Nas eleições presidenciais do ano de 1960, Jânio Quadros é empossado junto de


seu vice, João Goulart. De espectros políticos opostos, Jânio (PTN) foi presidente da
República de 31 de janeiro a 25 de agosto de 1961, sendo o seu vice a priori
impedido de tomar posse e ainda deposto antes do final esperado do mandato.

Nesse texto, pretendeu-se realizar algumas considerações acerca da situação


imediata ao governo Jânio, destacando a participação do movimento integralista,
remontado sobre o Partido de Representação Popular, no cenário político pós-1945

O estudo buscou seguir na direção de mobilizar fontes primárias, mais precisamente


um discurso pelo deputado federal Oswaldo Zanello, PRP-ES, publicado no Diário
do Congresso Nacional em 11 de maio de 1961, cujo temática se debruçava a
críticas ao regime de Fidel Castro, bem como a busca de solidariedade aos
opositores da Revolução Cubana. A fala se insere numa série de debates em torno
da questão cubana que, naquele período centralizou o auge das tensões da Guerra
Fria, sendo o Brasil nesse contexto parte importante geopolítico, sobretudo no ponto
de vista de parlamentares americanistas e antiamericanistas, fervilhando o debate
em torno de uma “ameaça comunista”.

Por meio de análise de discurso, buscou-se trabalhar especialmente aquele


discurso, para entender o nível dos embates em torno da política externa janista —
nomeada Política Externa Independente (PEI). Tornou-se oportuno vislumbrar como
decisões executivas sofrem influência da dinâmica parlamentar apoiando-se em
teses e dissertações, mas também no uso de verbetes disponibilizados pelo Centro
de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC),bem
como a fragmentos de diários e anais das casas parlamentares, com vistas a
entender a força das influências congressistas no amoldamento da política externa.
4

2 CRISE DIPLOMÁTICA E DOMÉSTICA SOBRE O GOVERNO


BRASILEIRO EM UM MUNDO BIPOLARIZADO

Entre americanistas e antiamericanos, a conjuntura política sob a qual o Brasil se


situava nas relações internacionais às vésperas do golpe civil-militar de abril de 1964
acirrou todo o debate sobre os paradigmas de desenvolvimento econômico e social.
Sob a agenda de um mundo bipolarizado, a posição do Brasil imediatamente
associada ao bloco estadunidense, sob todas as circunstâncias precisava-se
“defender” a nação frente ao “perigo vermelho”, pronto para ameaçar o “mundo
livre”.

Durante o governo de Jânio Quadros e João Goulart (1961-1964) todos os


movimentos eram vigiados ante ao risco da bolchevização do país. E sob o objetivo
de superdimensionar nacionalmente o medo comunista, discursos inflamados e
inflamáveis dividiram o Congresso Nacional sobremaneira, impondo uma guerra fria
na política doméstica brasileira, em conformidade com os interesses de Washington.

Restabelecer relações diplomáticas como Bloco Socialista, como corolário das


pautas econômicas da PEI, por certo não seria bem recepcionado por grande parte
da classe política àquela data. Assim se impunha o deputado Oswaldo Zanello,
PRP-ES, por meio de uma sistemática guerra discursiva contra a Cuba socialista.

2.1 DA TRAJETÓRIA METEÓRICA DE JÂNIO QUADROS.


Enquanto vereador pelo estado de São Paulo pelo Partido Democrata Cristão
(PDC), Jânio da Silva Quadros apresentou cerca de 2000 propostas — entre pautas
administrativas, de trabalho e serviço público — antes de renunciar e se tornar
deputado estadual, de 1950 a 1953. Igualmente renuncia, sendo eleito prefeito da
capital paulistana, em uma gestão marcada por uma moralidade administrativa e
política.

Na sua atividade parlamentar, trabalhou em prol da anistia, de artistas, da


juventude, da moralidade administrativa e política, e foi crítico das armas de
destruição de massa (bacteriológicas e nucleares). Suas posições políticas
tiveram forte influência do ideário sociopolítico cristão e da visão de mundo
do Ocidente, ainda que criticasse fortemente o colonialismo americano e
5

europeu. Joel Silveira (1996) acompanhou Quadros após ser eleito


presidente, quando a União Democrática Nacional, e observou a admiração
janista por Nasser (líder egípcio) e Tito (homem forte da ex-Iugoslávia),
lideranças não alinhadas, e também por Lincoln, o unificador dos EUA. O
longo período no PDC deveu-se a sua vinculação à Doutrina Social da
Igreja. Durante sua campanha presidencial, as principais bandeiras giravam
em torno de austeridade e combate à corrupção. (AGUIAR, 2018,p. 14)

Com a sucessão de êxitos curriculares, e de nova renúncia, Jânio é eleito


governador, buscando sempre ampliar o seu prestígio nacionalmente, alinhando-se
à oposição udenista ao governo de Juscelino Kubitschek, cujos esgotamentos da
sua política desenvolvimentista trariam dificuldades para a sucessão presidencial de
1960.

Impulsionado pelo recém-fundado Movimento Popular Jânio Quadros e bem quisto


entre lideranças como a do udenista Carlos Lacerda, Jânio é escolhido pelo Partido
Trabalhista Nacional (PTN) para concorrer à Presidência da República. Apoiado pelo
Partido Libertador (PL), o Partido Democrata Cristão (PDC) e o Partido Republicano
(PR), venceu aquelas eleições.

No início do seu governo, Jânio tomou uma série de pequenas medidas que
ficaram famosas, destinadas a criar uma imagem de inovação dos costumes
e saneamento moral. Também investiu fortemente contra alguns direitos e
regalias do funcionalismo público. Reduziu as vantagens até então
asseguradas ao pessoal militar ou do Ministério da Fazenda em missão no
exterior, e extinguiu os cargos de adidos aeronáuticos junto às
representações diplomáticas brasileiras. (CPDOC)

O “namoro” udenista terminou ainda durante a campanha, conforme Costa (2004)


comenta. Tais dificuldades com a bancada udenista, segundo a historiadora,

já se faziam presentes durante a campanha presidencial. Com relação à


política econômica, ele prometia se empenhar no controle da inflação e no
saneamento das finanças públicas, aliados ao desenvolvimento econômico;
defendia o fortalecimento da Petrobrás e o controle das remessas de lucros
para o exterior, aproximando-se, assim, das teses defendidas pelo PTB.
Mas era sobretudo seu posicionamento em relação à política externa que o
distanciava da UDN. A visita que fez à Cuba, em março de 1960, quando
demonstrou simpatia pela experiência socialista em curso naquele país,
deixou claro esse distanciamento. (CPDOC)

A posse de Jânio, que representava o triunfo da oposição sobre a hegemonia do


PSD, tão logo se tornou a raiz de uma grave convulsão democrática: “instalou-se o
conflito entre o Executivo e o Legislativo, que levaria o país à grande crise de agosto
de 1961, cujo ápice foi a renúncia de Quadros e o veto dos ministros militares à
posse do vice-presidente Goulart” (COSTA, 2004).
6

2.2 DA POLÍTICA EXTERNA INDEPENDENTE À DIPLOMACIA


DESALINHADA
A política externa independente teve lugar de destaque na política janista, cujos
discursos remontam à campanha de 1960. Grosso modo, cabia a política exterior
instrumentalizar o desenvolvimento nacional, com vistas à projeção no cenário
internacional. Enquanto país tradicionalmente cristão, membro do “mundo livre”,
junto dessa evolução democrática sobrevém uma responsabilidade diplomática, que
por meio da “independência” orientaria políticas voltadas ao interesse próprio da
nação, essencialmente.

Grosso modo, existiam três grupos dentro do Congresso, em termos de


atitude política frente à política externa. Os que pensavam que o país
deveria se aliar ao Ocidente, os que queriam um Brasil não alinhado ou
seguindo modelos semelhantes, e os que se voltavam para temas
específicos em política externa. Em geral, os apoiadores do governo
seguiam a primeira ideia, os opositores a segunda e os neutros a terceira.
Como podemos ver adiante, o teor das convocações de autoridades, a
definição da posição de cada país e a nomenclatura utilizada para defini-la,
comprova que ocorreu uma influência legislativa indireta, mas eficiente,
sobre a política externa. Uma postura que poderia ter sido mais “ocidental”
não ocorreu, devido à incidência de congressistas e grupos neutros e de
oposição. (AGUIAR, 2018, p. 14)

Tal posicionamento, ao se refletir nas Nações Unidas, retratava a tradição


diplomática brasileira, mas demonstravam um presidente de notada política
anticolonialista.

Destacava-se a necessidade de ampliar o comércio com os países


socialistas, medida necessária ao aumento das exportações, mas que não
deveria ser concebida para “fins ilegítimos”. A posição relativa à política
continental estava mediatizada pela situação em Cuba. Jânio Quadros
afirmava o princípio da autodeterminação para todo país latino-americano,
preservado de toda intervenção estrangeira em assuntos internos. Em artigo
publicado na revista Foreign Affairs pouco antes de sua renúncia, Quadros
foi mais incisivo: defendeu a soberania cubana com intransigência,
aceitando todas as implicações, pois afirmava que se tratava de fato
histórico que não podia ser regulado a posteriori (ARAÚJO).

Apesar do pouco significado que essas posições exerciam na tradicional diplomacia


brasileira, a priori, a cobrança por parte dos Estados Unidos exerceriam força,
sobretudo no que toca a revolução cubana, amplificando no interior a polarização de
forças.

Quadros recebeu pressões e críticas permanentes da direita e dos


conservadores, na imprensa, rádio, televisão, no Congresso Nacional. Eis
como Carlos Lacerda se expressou em 6 de junho de 1961 diante das
câmeras de televisão: “Neste momento o Brasil apóia uma das mais
sanguinárias, uma das mais vergonhosas, uma das mais sujas ditaduras do
7

mundo, pois neste momento é a nação que fortifica a tirania de Fidel Castro
no continente.” Já anteriormente, Afonso Arinos havia feito o seguinte
esclarecimento sobre a política exterior do governo. “O governo Jânio
Quadros está rigorosamente seguindo a linha tradicional do Brasil, isto é,
linha de independência em face de quaisquer influências que comprometam
nossa soberania; linha de não-intervenção em face das disputas que se
levantam no continente, e linha de mediação, para aplacar essas disputas e
trabalhar pela paz. Independência, não-intervenção, mediação, esta é a
política nacional desde a independência.” (ARAÚJO)

Mesmo com o Itamaraty refutando as acusações, não houve esclarecimento


suficiente diante da pressão entre os conservadores.

A condecoração de “Che” Guevara com a ordem do Cruzeiro do Sul parece


ter sido a gota d’água para o aguçamento da crise política brasileira. Jânio
Quadros renunciou, pensando poder voltar com plenos poderes, e daí por
diante a crise de poder só seria resolvida em 1964. [VERBETE PEI] Brás
José de Araújo colaboração FONTES: ARAÚJO, B. Politique; FRANCO, A.
Escalada.

2.3 DA QUESTÃO CUBANA E DOS ANTICOMUNISMOS NO


CONGRESSO
Na esteira dos debates quanto ao nacional desenvolvimentismo nosso, surgia uma
combinação de situações decorrentes da ordem política imposta pela Guerra Fria.
Nesse ritmo, às críticas contra a PEI do governo Jânio residia justamente sobre a
questão cubana e do “risco comunista”. Tanto os rumos da política doméstica
quanto nosso alinhamento internacional ganha espaço na agenda democrática como
nunca havia ocorrido no Brasil. Desde a campanha presidencial de 1960, Jânio faz
uma visita a Cuba, junto de Afonso Arinos, seu futuro ministro das relações
exteriores. A aproximação com o governo de Fidel, longe de sinalizar quaisquer
hostilidades aos Estados Unidos, denotava uma proposta de reingresso de Cuba
junto às Américas. O apelo contra a postura americanista do governo de JK não só
sensibilizou o sucessor, como um fato mobilizador para a adoção de uma “política
externa brasileira”, cujas referências ao princípio da não-intervenção por certo teriam
apoio alas antiamericanas.

Sobre qual caminho o Brasil adotaria a respeito de Cuba, para antiamericanos,


preconizava-se a defesa das teses de não-intervenção e da autodeterminação dos
povos; para americanistas, defendia-se as orientações de Washington de que
Havana tornou-se ponte no hemisfério ocidental para o comunismo internacional. À
sucessão da malfadada tentativa invasão da Baía dos Porcos planejada por
8

Kennedy, Jânio se viu bilateralmente pressionado, precisando recorrer por vezes a


uma retórica ambígua, conforme pontua Fares (2014):

A política externa de Jânio, apesar de eloquente na sua altivez e no discurso


a favor da não-intervenção e da autodeterminação dos povos, eximiu-se de
maior envolvimento na questão cubana. A diplomacia brasileira cria que era
preciso evitar uma intervenção em Cuba, a qual precipitaria a volta da pauta
político-repressiva em detrimento da econômico-cooperativa de Washington
no combate ao comunismo na América Latina. Desde há muito, o Brasil
desejava ver os EUA combaterem a “subversão comunista” através do apoio
concreto ao desenvolvimento econômico do País. (p.177)

Americanistas e antiamericanistas se intrincavam nos discursos em torno da crise


diplomática cubana. Ambos não se fiavam da ambiguidade do discurso de Quadros.

As relações entre os países americanos e os Estados Unidos foram


debatidas em agosto na reunião extraordinária do Conselho Interamericano
Econômico e Social, conhecida como Conferência de Punta del Este. Ao fim
da reunião, Ernesto Che Guevara, ministro da Economia de Cuba, viajou
para a Argentina e, depois, para o Brasil a fim de agradecer a posição
tomada por esses dois países para impedir a discussão de qualquer tema
político na conferência. Jânio aproveitou o encontro com Guevara para
pedir, com êxito, a libertação de 20 padres espanhóis presos em Cuba e
discutir as possibilidades de intercâmbio comercial por meio dos países do
Leste europeu. Finalmente, em 18 de agosto condecorou o ministro cubano
com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, o que provocou a indignação
dos setores civis e militares mais conservadores. [VERBETE JÂNIO]
9

3 ENTRE VANGUARDEIROS ANTICOMUNISTAS E IDEIAS


ANTIAMERICANISTAS

3.1 DO INTEGRALISMO PERREPISTA ANTE A CONJUNTURA


POLÍTICA
O Partido de Representação Popular (PRP) surgiu da Ação Integralista Brasileira,
movimento político que teve atuação legal no Brasil de 1932 a 1937, sendo a AIB foi
um movimento de extrema-direita, cujas bases doutrinárias se expressavam no
“Manifesto de Outubro”, lançado por Plínio Salgado em 1932. De caráter fortemente
nacionalista, conquistou partidários nos mais diversos setores da sociedade civil,
incluindo-se oficiais das forças armadas, elencando entre os seus principais
adversários o socialismo, o liberalismo, o capitalismo internacional; não como uma
simples cópia, mas uma representação brasileira do fascismo, como se via na
admiração que Salgado conservava, sobretudo em seus contatos com o próprio
fascismo italiano em 1930. O integralismo, por si, guarda semelhança com o termo
”integrismo”, proveniente do discurso católico-romano durante o último quarto do
século XIX.

Ao ser decretado o Estado Novo a AIB foi extinta, juntamente às chances de


Salgado à candidatura presidencial. O movimento, contudo, continuou através da
Associação Brasileira de Cultura, e em maio de 1938 houve uma tentativa frustrada
de tomada do poder por parte dos integralistas. Em seguida ao fracasso daquela
intentona, os integralistas permaneceram na clandestinidade, até a
redemocratização, em 1945, voltando ao cenário político através do PRP.

Politicamente, o programa pregava “a consagração e intransigente defesa


do regime democrático, baseado na pluralidade partidária e na garantia dos
direitos fundamentais do homem”. Defendia também “a consagração do
sistema eleitoral democrático, que garante pelo voto secreto a manifestação
da autêntica vontade nacional, com a representação das correntes
partidárias e das classes produtoras”. Finalmente, propunha a adoção de
leis que proibissem “toda influência de governos, instituições ou partidos
estrangeiros na orientação de partidos nacionais”, e o combate a “toda e
qualquer legislação que [contrariasse] expressa ou implicitamente os
direitos fundamentais decorrentes da natureza do homem e da sociedade”.
(CPDOC)

O PRP não conseguiu mobilizar todo o conjunto dos ex-integralistas e, além disso,
grande parte da opinião pública se mostrava desfavorável a uma nova participação
10

política dos representantes da extinta AIB. Após o suicídio de Getúlio Vargas em


agosto de 1954 o PRP indica a candidatura presidencial de Plínio Salgado, que
recebeu votação pouco expressiva. O partido conseguiu eleger três deputados
federais naquela ocasião, crescendo progressivamente.

Organizando-se nacionalmente, durante sua trajetória no processo político brasileiro,


aliou-se a partidos de diversas características, preservando uma ideologia de direita
e a defesa das tradições cristãs, opositor do liberalismo e, principalmente, do
comunismo. Sua base eleitoral estável concentrava-se nas regiões de colonização
alemã e italiana:

O PRP era considerado um partido de pequeno porte, mas que possuía um


eleitorado fiel no estado, sempre fazendo em torno de oito a dez por cento
dos sufrágios. Dessa forma, seu apoio a um ou outro partido poderia ser
decisivo para a vitória eleitoral, daí o interesse em formar coligações com os
perrepistas. (FLACH, 2003, 25)

Junto dos setores conservadores da sociedade, incluindo-se estamentos


hegemônicos da Igreja e as Forças Armadas, a AIB e o PRP propagandearam desde
a década de 1930 os imaginários anticomunistas,

3.2 DO ANTICOMUNISMO NOS MEIOS INTEGRALISTAS


Durante o período de atuação da AIB, foram intensamente difundidos ideários
anticomunistas por meio de toda uma estrutura de imprensa em revistas como a
Anauê! (1935) Panorama (1936), dentre jornais e panfletos, dedicados a alertar dos
perigos do comunismo. Após 1945, utilizando-se de diversos mecanismos para se
autoprojetar, o PRP deu continuidade às manifestações em campanhas no rádio, e
nas tribunas legislativas, o que conferia sua consolidação no cenário político.

Pode-se perceber que os embates entre comunismo e integralismo foram


uma característica constante na política brasileira do pós-30. Mas no
período conturbado que antecedeu a saída de Jânio Quadros da
Presidência da República e praticamente durante todo o governo Goulart,
percebe-se que a campanha anticomunista adquiriu feições mais
contundentes entre os diversos grupos contrários ao governo Goulart.
Nesse período o comunismo, mais do que nunca, para os grupos
conservadores, representava uma ameaça real à Nação Brasileira. Dessa
forma era necessário “conter” esse movimento de alguma maneira e a forma
encontrada foi o radicalismo político, através da instauração da ditadura
militar. (FLACH, 2014, 31-32)

Em agosto de 1961, quando Jânio Quadros condecorou o revolucionário Che


Guevara com a “Grã Cruz da Ordem Nacional do Mérito”, por certo o partido se
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voltou contra a política externa vigente, a despeito de todas as alianças regionais


que naturalmente ocorriam, entre a variedade das elites políticas distribuídas no
país. O fato é que os eventos dentre a renúncia de Quadros à crise em torno do veto
a posse de João Goulart (devido a suposta ameaça de infiltração comunista)
representou o rompimento com alianças pragmáticas nominadamente com o PTB,
consolidando a integração do PRP no chamado bloco conservador.

3.3 ANTIAMERICANISMO E ANTICOMUNISMO EM EMBATE


Por diversas razões, as relações entre Brasil e Estados Unidos não foram de todo
tranquilas, tanto no andamento da PEI em 1960 como no geral. Em parte, pode-se
apontar uma desconfiança do Brasil sobre as intenções dos Estados Unidos desde a
doutrina política da “América para os americanos”, defendida pelo presidente James
Monroe em 1823. Essa adoção dos colonialismos europeus teria seus corolários
com o “Big Stick” de Theodore Roosevelt e posteriormente no trato da América
Latina como zona de influência global dos Estados Unidos frente à União Soviética.
Segundo Fares, passagens históricas do processo político brasileiro anteriores ao
ativismo diplomático culminado no golpe de 1964 preencheram o estoque
argumentativo antiamericanista:

As ações norte-americanas, então, eram vistas, primeiro, como motivadas


por um interesse egoístico, ambicioso e tendente a prejudicar os interesses
brasileiros. Eduardo Prado considerava “deletéria e perniciosa” a influência
dos Estados Unidos no Brasil, afirmando que os laços que uniam os dois
países não passavam de ficção, com ganhos apenas para um lado (os
Estados Unidos) e que a todo momento, ameaçavam a autonomia e a
soberania brasileiras. (2014, p. 25)

A política externa que não resguardasse a soberania e autonomia brasileira perante


os Estados Unidos era por si denominada como entreguista e servil, segundo
segmentos políticos que defendiam avanço econômico e social. Até a década de
1960, Todo esse fenômeno, não obstante, sofreu influência ao longo do período
1961-1964, posto que as preocupações em torno da Guerra Fria limitavam qualquer
margem de manobra dos países satélites.

Em suma, a simples presença dos Estados Unidos no Brasil atingia aquilo


que havia de mais caro entre os objetivos da política externa brasileira:
desenvolvimento econômico e autonomia política. Natural, portanto, uma
reação de desconfiança e mesmo de preconceito contra os Estados Unidos,
tanto por parte da diplomacia como dos grupos políticos representados no
Congresso Nacional. (FARES, 2014,p. 28)
12

Quanto aos usos conceituais de anticomunismo, segundo Luciano Bonet, não se


pode necessariamente associar o termo como essencialmente direitista, pois “se
existe o Anticomunismo de cunho clerical, reacionário, fascista, etc., também pode
haver o que se inspira nos princípios liberais ou, sendo de esquerda, nos princípios
da socialdemocracia” (2000, p. 35).

Em conformidade, Rodrigo Patto Sá Motta afirma que apesar de o Brasil possuir um


anticomunismo derivado dos pensamentos conservadores, isso depende da
variedade das configurações sociopolíticas no mundo, sendo necessário se falar de
“anticomunismos”. E acrescenta: “se esta diversidade muitas vezes passa
despercebida, isto se deve ao fato de que, nos momentos de conflito agudo, os
diversos tipos de anticomunismo se uniram contra o inimigo comum” (2002, p. 15).
Por fim, Carla Rodeghero destaca o discurso construído do “nós” contra “eles” (os
comunistas), tratando esse ideário como um conjunto de atividades “como produção
de propaganda, controle e ação policial, estratégias educacionais, organização de
grupos de ativistas e de manifestação pública, atuação no Legislativo, etc.” (2002, p.
8)

Por meio dessa lógica de ação e reação, o período político recortado pelo governo
de Quadros, configura-se como um traço essencial de uma conjuntura marcada pela
alta polarização política e ideológica. Sobre influência legislativa na política externa
de Jânio Quadros,

Se, por um lado, há uma identificação de pensamento, ideológica, teórica,


por outro lado, há uma identidade, em cada “membro” de um dos
paradigmas, em termos de práticas, de pertencimento a grupos, partidos,
etc. Logo, uma sociedade com clivagens fortes, gera, necessariamente,
uma disputa sobre determinadas formas de se pensar e fazer políticas
públicas. Nessa época, a direita se aproximava do capitalismo associado,
da preferência de relações com o Ocidente, em especial com os EUA, era
crítico do socialismo e, com frequência, anticomunista. A esquerda defendia
o desenvolvimento capitaneado pelo Estado, com empatia por socialistas, e
eventualmente por comunistas, sendo crítico dos imperialismos
(BENEVIDES, 1999). A divisão do tecido social dos anos 1950 e 1960 se
refletia no Legislativo. (AGUIAR, 2018, p. 17)
13

4 CRÍTICAS A FIDEL

4.1 TRAJETÓRIA POLÍTICA DE OSVALDO ZANELLO


Osvaldo Zanello Vieira da Costa nasceu em Ribeirão Preto (SP) no dia 19 de abril de
1920, teve formação em seminário católico, sem contudo seguir se oficiar, mudando-
se para o Campos (RJ) no ano de 1936.

Em Campos, enquanto ajudava o pai trabalhando numa indústria de álcool,


filiou-se, ainda em 1936, à Ação Integralista Brasileira (AIB), organização de
inspiração fascista fundada por Plínio Salgado em 1932. Em 1937 ingressou
no Colégio Plínio Leite, em Niterói, onde continuou a pregar ativamente os
ideais integralistas. Em maio do ano seguinte liderou, ao lado de Belmiro
Valverde, o levante integralista. Irrompido no Rio de Janeiro, então Distrito
Federal, no dia 11 desse mesmo mês, o movimento contou com o apoio de
oposicionistas liberais visando à deposição do presidente Getúlio Vargas. O
principal episódio do levante foi o assalto ao palácio Guanabara, residência
do presidente da República onde, apesar da precária resistência legalista,
os assaltantes foram contidos em poucas horas. Zanello foi preso em
Campos, para onde retornara, e transferido para a Penitenciária de Niterói
onde permaneceu durante oito meses. (CPDOC)

Ao fim do Estado Novo (1937-1945), Zanello organiza o Partido de Representação


Popular (PRP) no Espírito Santo e ainda funda os jornais “A Tribuna” e o “A Folha da
Noite”, além de adquirir terras no interior do estado espírito-santense. Obtendo as
maiores votações, foi eleito e reeleito deputado na Assembleia Legislativa do
Espírito Santo, pelo PRP, sendo empossado como Secretário de Agricultura na
gestão governador Francisco Lacerda de Aguiar, em franca representação dos
interesses dos cafeicultores regionais.

Em 1957 passou a secretário-geral do governo do estado e, como tal,


dedicou especial atenção ao problema da assistência creditícia e técnica à
lavoura e da assistência médica e social aos homens do campo. Nesse
sentido, organizou a Associação de Crédito e Assistência Rural do Espírito
Santo (ACARES), em convênio com o Escritório Técnico de Agricultura
(ETA) da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, a Associação Brasileira de
Crédito e Assistência Rural (Abicar) e o Centro do Comércio de Café.
(CPDOC)

No ano seguinte venceu as eleições para deputado federal e no final de 1960 é


escolhido vice-líder do PRP na Câmara dos Deputados, fato a se repetir em abril de
1964, quando se torna líder do Bloco Parlamentar da Maioria, após a deposição do
presidente João Goulart (1961-1964).

Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2


(27/10/1965) e a posterior instauração do bipartidarismo, filiou-se ao partido
governista, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação
14

do regime militar instalado no país em abril de 1964, do qual se tornou vice-


líder na Câmara a partir de abril de 1966. No pleito de novembro desse
último ano reelegeu-se deputado federal na legenda da Arena e, nessa
legislatura, participou da reunião da Organização Internacional do Café
(OIC), realizada em Londres em 1968. Mais uma vez eleito em novembro de
1970, integrou as comissões de Minas e Energia, de Comunicações e de
Fiscalização Financeira e Tomada de Contas e a Comissão Especial para a
Integração de Povos da Comunidade de Língua Portuguesa e foi ainda vice-
presidente da Comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados. No
pleito de novembro de 1974 voltou a se eleger deputado federal na legenda
da Arena, integrando nessa legislatura as comissões de Fiscalização
Financeira e Tomada de Contas e de Comunicações. Deixou a Câmara dos
Deputados em janeiro de 1979, não tendo disputado a reeleição em
novembro do ano anterior e abandonando definitivamente a carreira política.

Osvaldo Zanello veio a falecer em Vitória no dia 3 de novembro de 1999, sendo um


parlamentar de carreira distinta do parlamentar.

4.2 ESTRUTURA INTERNA DO DISCURSO “CRÍTICAS A FIDEL


CASTRO”
Durante o governo de Jânio Quadros, enquanto vice-lider do PRP, Zanello esboçava
fortes discursos em torno da propaganda anticomunista, revezando-se entre
políticas em torno de defesas igualmente frequentes dos percursos da produção
cafeeira capixaba. Atentando-se aos movimentos de Fidel Castro, na luta contra os
Estados Unidos, Zanello não poupava rechaços ao que ele chama de “ódio e
vingança” encarnados em nas atitudes do líder cubano. Para ele, a simpatia dos
povos livres durante a luta revolucionária contra a ditadura de Fulgêncio Baptista,
que recebeu por isso forte apoio das comunidades católicas, que se empenharam
junto às trincheiras contra a tirania vigente, fora traída pelo discurso de Fidel, quem
teria se submetido a doutrina cristão, falsamente:

Sob o testemunho de centenas de milhares de cubanos, o ditador afirmou


sua fé no catolicismo, declarando que somente a doutrina cristã continha a
solução para os dramas do mundo moderno aparentando piedade e
humildade, genuflexo ante o Altar de Deus, recebeu a Sagrada Comunhão,
definindo a posição religiosa e cristã de seu governo com o que recebeu da
cristandade inteira as mais vivas simpatias e esperanças por seu
movimentos revolucionário. Enquanto, porém, hipocritamente, adotava para
uso publicitário a doutrina do cristianismo, Fidel Castro atirava-se nos
braços de seu irmão Raul Castro, comunista internacional e que frequentou
cursos de estalinismo-leninismo e de guerrilhas em Moscou, e deixava-se
dominar por Ernesto “Che” Guevara, líder comunista sul americano atual
Ministro de Estado de Cuba.

Posterior a inclinação comunista, Fidel adota em Cuba “os tribunais revolucionários,


revividos na Rússia Soviética”, e quando a Igreja “corajosamente” se levantou contra
15

“a barbárie”. Segundo o parlamentar, “Não se consegue convivência do comunismo


com o cristianismo, da caridade com o fuzilamento, da concórdia com a perseguição,
da democracia com encarceramento, da liberdade com a opressão”. Ele acrescenta:

Abjurando os princípios religiosos, mentindo e caluniando numa linguagem


inusitada o clero cubano, encarcerou sacerdotes, dificultou, senão proibiu o
culto católico, promovendo a expulsão de mais de 300 padres, deixando
Cuba sem assistência religiosa, entregue aos desvarios de uma déspota, de
um tirano, de um sanguinário.

Na sequência de repudiar o bolchevismo cubano, Zanello chama a atenção para a o


papel do Brasil diante do fato:

Antes de prestigiarmos uma ditadura vermelha influenciaremos, pela nossa


maturidade política e pelos nossos sentimentos democráticos, para que a
América seja dos Americanos. E veremos, para alegria de nossos filhos e
felicidade dos povos deste continente, morrerem nas areias brancas de
nossas praias, como profetizou o grande pensador brasileiro, as ondas do
comunismo cruel, desumano, sanguinário, inimigo das liberdades.

E por fim, direcionando-se ao presidente Jânio, cobra assistência contra as


perseguições religiosas em solo cubano:

Quando o mundo católico assiste, entre revoltado e entristecido, as


perseguições à Igreja em Cuba, o encarceramento de sacerdotes e a
expulsão de 300 padres, nós brasileiros sentimos no dever de endereçar ao
senhor Presidente da República, o mais aflitivo, caloroso e patriótico apelo
para que S. Exª, educado que por religiosos maristas e salesianos e que
vive toda a grandeza espiritual da doutrina cristã, interfira, imediata e
decisivamente, por intermédio de nossa embaixada em Havana, para que
os 300 sacerdotes que estão sendo escorraçados de Cuba, venham para o
Brasil, nos ajudar na solução de um dos mais importantes problemas
brasileiros que é o de aumentar o número de sacerdotes católicos que
assistam nosso povo, que imprimam no coração e na alma dos brasileiros
esquecidos e abandonados de nossa hinterlândia, os ensinamentos
sublimes da religião.

Zanello figura entre os principais oposicionistas ao curto governo de Jânio na


Câmara, os quais se viam em debate frequente, seja em sessões ordinárias ou
extraordinárias, enquanto críticos do comunismo. Contudo, segundo Aguiar, os
arranjos da Casa nem sempre tinham uniformidade partidária, seja para apoiar o
governo, proclamar o “neutralismo”, congratular-se com os feitos soviéticos ou lovar
o ocidentalismo. O papel das frentes amplas (Zanello figurava na Ação Democrática
Parlamentar) determinaria o curso dos oradores. “Logo, com exceção das amplas
frentes, não existia uma postura unificada sobre política externa e seus temas.”
(2018, p. 18).
16

Os discursos de Zanello abordavam sobretudo o aspecto ideológico da política


externa brasileira, no âmbito da solidarismo cristão e do anticomunismo, o que
preenchendo os embates sobre a PEI, junto aos demais parlamentares responsáveis
por evocar aspectos de ordem socioeconômica.

Nesse contexto, verifica-se que junto aos perrepistas, Zanello permaneceu engajado
no combate ao suposto avanço do comunismo, sempre atuante nas diversas esferas
onde houvesse a possibilidade eventual de ampliação de lideranças esquerdistas,
como quando a bancada vetou a nomeação de San Tiago Dantas para assumir o
cargo de Primeiro Ministro, por indicação de Jango.

Com o veto em relação ao nome de San Tiago Dantas, foi apresentado o


nome do então presidente do Senado, Auro Soares de Moura Andrade. Mas
essa indicação gerou protestos entre as lideranças sindicais e, como forma
de protesto, o Comando Geral dos Trabalhadores decretou uma greve geral
em todo o país no dia 5 de julho de 1962. Finalmente, Brochado da Rocha
(do PSD) foi o nome escolhido para presidir o novo gabinete
parlamentarista. (FLACH, 2003, p. 66)

Zanello desde então, figuraria em seus discursos contra o regime cubano, sempre
acusando “infiltrações” para o fomento da propaganda comunista, conforme as
crescentes suspeitas sobre as embaixadas daquele país, ao apoiar partidos e
movimentos comunistas, sempre acrescentando capítulos na discussão legislativa
sobre a questão:

(...) toda a população brasileira, todos os homens que se preocupam com o


destino do país e o próprio governo têm conhecimento disso. É lamentável,
profundamente lamentável, que o governo não tome uma providência
enérgica, uma providência severa contra a embaixada de Cuba no Brasil,
cujo titular nada mais é do que um lacaio de Moscou, procurando incutir na
mentalidade de nosso povo aquela desgraça que lá está, em Cuba. Temos,
na embaixada de Cuba no Brasil, um foco de comunismo, contra o qual o
governo precisa tomar providências enérgicas. É lamentável que o
Itamaraty, o primeiro-ministro e o presidente da República não tomem
medidas imediatas para expulsão quem aqui vem para fazer intranquilidade
e provocar convulsão social (ZANELLO, apud FARES, 2014, p. 220-221)

Com os anos que sucedem o golpe de 1964, a coerência discursiva do parlamentar


deu-se em torno da defesa do regime dos militares:

Um dos momentos interessantes para se observar esse apoio, diz respeito à


prorrogação do mandato presidencial. A Marcha veiculou uma matéria
destacando que o primeiro pronunciamento favorável à prorrogação do
mandato de Castelo Branco foi feito pelo deputado federal Oswaldo Zanello,
do Espírito Santo, que se colocou “ao lado daqueles que entendem
patrioticamente que o atual Chefe do Governo deve permanecer no poder
até que o Brasil veja consolidados os objetivos e ideais da Revolução,
possibilitando a grandeza desta Nação e a felicidade do povo brasileiro”.
17

Com base nos recortes levantados acerca de Osvaldo Zanello, verificou-se a


estrutura discursiva alinhada aos paradigmas do conservadorismo católico, na
esteira do movimento integralista, subsidiado à conjuntura bipolarizada que o auge
da Guerra Fria estimulava. Posicionado às trincheiras anticomunistas, por certo seu
repúdio a Cuba liderada pelo revolucionário Fidel Castro torna-se um programa
moralizante, cujo o presidente Jânio, eventualmente, deixara de representar com
suas atitudes inesperadas, corroborando para a força da influência parlamentar
sobre o Executivo naquele período.
18

5 CONCLUSÃO

A mais ampla disputa observada entre União Soviética e Estados Unidos, alcançou a
forma mais sensível na questão cubana, especialmente no período dos governos
Jânio e Goulart (1961-1964), levando ao auge da polarização política brasileira,
servindo de arcabouço para uma ruptura traumática da nossa história republicana,
com o golpe derivado da instabilidade geral. Permitir quaisquer avanços das ideias
comunistas no continente americano não seria uma possibilidade para a
superpotência capitalista.

Sendo trazida pela primeira vez para o debate interamericano uma questão da
Guerra Fria a questão cubana constituiu um dos maiores testes da PEI, tencionando
todo o debate parlamentar para julgar o regime de Fidel Castro.

Para os antiamericanos, defendia-se uma política que mais correspondesse aos


interesses nacionais, por si. E, do contrário, os americanistas apontavam o risco de
uma intervenção comunista sobre o Brasil, sendo Cuba uma cabeça-de-ponte. As
medidas da PEI quanto ao restabelecimento da diplomacia com o bloco socialista,
concomitante a intransigente proclamação dos discursos de não intervenção, para
além de desagradar Washington, superdimensionou aquele medo comunista,
trazendo entre a direita a “solução golpista”.

Osvaldo Zanello, enquanto parte integrante daquela conjuntura de bipolaridade


ideológica, exerce sua carreira política no espaço a ele reservado, enquanto oriundo
de uma formação tradicional católica. A polarização que cruzava os partidos, definiu-
se em torno das temáticas mais presentes na agenda, sobretudo às relações
externas com os países socialistas e com o Ocidente.

Como se esperava, os anticomunistas no Congresso celebraram o movimento


perturbador e deram as boas vindas ao novo governo, o que para eles serviria de
revés ao perigo iminente do comunismo. Apesar de não ter sido uma mera invenção,
o “risco comunista”, sem ter uma dimensão de fato apresentada, foi suficiente para
justificar uma ação preventiva, quando Ranieri Mazzilli, que do mesmo modo quando
assumiu interinamente a cadeira de Jânio, quando o vice era João Goulart, mais
tarde pronunciara a vacância da cadeira presidencial:
19

O Sr. presidente da República deixou a sede do governo (protestos, palmas


prolongadas)... deixou a nação acéfala numa hora gravíssima da vida
brasileira em que é mister que o chefe de estado permaneça à frente do seu
governo. O Sr. presidente da República abandonou o governo. (...) Assim
sendo, declaro vaga a presidência da república.1

1 Discursos Congresso Nacional. Presidente do Congresso Nacional, Senador Auro Moura Andrade
(PSD-SP), em 01/04/1964
20

6 REFERÊNCIAS
BONET, Luciano. “Anticomunismo”. In: BOBBIO, Norberto et. al. Dicionário de
Política. 5a ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa
Oficial do Estado, 2000, pp 34-35.

CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do


Brasil. A campanha presidencial de 1960 (Celia Maria Leite Costa). Disponível em:
<https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/Campanha1960/
A_campanha_presidencial_de_1960>. Acesso em: 15 de nov – 2018

CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do


Brasil. OSVALDO ZANELLO VIEIRA DA COSTA. Disponível em:
<http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/osvaldo-zanello-vieira-
da-costa>. Acesso em: 15 de nov – 2018.

CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do


Brasil. PARTIDO DE REPRESENTAÇÃO POPULAR (PRP) (Carlos Eduardo Leal).
Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/partido-
de-representacao-popular-prp>. Acesso em: 15 de nov – 2018

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o “Perigo Vermelho”: o


anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva: FAPESP, 2002.

RODEGHERO, Carla Simone. Memórias e avaliações: norte-americanos, católicos


e a recepção do anticomunismo brasileiro entre 1945 e 1964. (Tese). Porto Alegre:
UFRGS, 2002. Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/
10183/77822/000314438.pdf?sequence=1>. Acesso em: 15 de nov – 2018
21

7 ANEXO

ata: 10/05/1961
Fase: Ordem do dia
Orador: Oswaldo Zanello, PRP-ES
Publicação: DCD11/05/1961 PAG. 3123
Tema: Críticas a Fidel Castro.

“O SR. OSWALPO ZANELLO: As afirmações do premier cubano estarrecem o


mundo livre, revoltam os sentimentos democráticos dos povos do Ocidente. Em tudo
transpirando ódio e vingança, Fidel Castro é bem a encarnação do mal, da violência,
da opressão.
Protótipo autêntico do criminoso vulgar, não vacila em derramar o sangue
generoso de seus compatriotas para manutenção do regime do “crê ou morre”
instalado na Pérsia das Antilhas. Herói de Sierra Maestra, onde por longos anos
manteve sua luta idealista contra o sanguinário Fulgêncio Bapstista, Fidel Castro
recebeu as simpatias dos povos livres e a ajuda valiosa dos defensores dos ideais
cristãos e democráticos da humanidade. Entre as forças, que derrotaram a tirania
então reinante em Cuba estavam os católicos cubanos que formavam a maior parte
do exército revolucionário e que viam no jovem comandante a mais esperançosa
expressão das dias melhores para sua pátria. Por mais de uma vez os católicos
salvaram sua vida e e (?) conhecido porque contado pelo próprio Fidel Castro, o
episódio do Arcebispo que guardou-o no Palácio Episcopal para que não caísse nas
mãos de Baptista, após um fracassado ataque a uma fortalesa cubana.
A maioria dos guerrilheiros de Sierra Maestra eram católicos que se
enfileiravam nas tropas revolucionárias por inspiração dos sacerdotes e do
episcopado cubano que defendiam, assim, não apenas a tradição de catolicidade
daquela nação, mas também o aniquilamento de um regime desumano e cruel que
infelicitava o povo de Cuba.
Falso e mentiroso, Fidel Castro demonstrava viver a doutrina da Igreja e, mais
do que isso, proclamava a necessidade do fortalecimento cristão da sociedade de
seu país.
Vitoriosa a revolução, quando o povo se embriagava na euforia na esperança,
realizou-se em Havana um pomposo Congresso Eucarístico onde o povo expandia
seus sentimentos religiosos, rendendo a Deus reconhecimento pela vitória e
entoando o “Te Deum” em ação de graças pela derrota do mal e da tirania.
Sob o testemunho de centenas de milhares de cubanos, o ditador afirmou sua
fé no catolicismo, declarando que somente a doutrina cristã continha a solução para
os dramas do mundo moderno aparentando piedade e humildade, genuflexo ante o
Altar de Deus, recebeu a Sagrada Comunhão, definindo a posição religiosa e cristã
22

de se ugovêrno com o que recebeu da cristandade inteira as mais vivas simpatias e


esperanças por seu movimentos revolucionário.
Enquanto, porém, hipocritamente, adotava para uso publicitário a doutrina do
cristianismo, Fidel Castro atirava-se nos braços de seu irmão Raul Castro,
comunista internacional e que frequentou cursos de estalinismo-leninismo e de
guerrilhas em Moscou, e deixava-se dominar por Ernesto “che” Guevaro, líder
comunista sul americano, atual Ministro de Estado de Cuba.
Pensava Fidel Castro realizar o impossível, conciliando o cristianismo, a mais
pura e acrisolada doutrina espiritualista com a brutalidade do materialismo
comunista.
Pressionado por Raul Castro de “che” Guevara, encaminhou-se para a órbita
vermelha constituindo Cuba num satélite de Moscou nas Américas, ameaçando a
segurança e a integridade da política continental.
Fascinado pelo marxismo inaugurou em Cuba o mais odioso e odiento regime
político que a América já conheceu suplantado, nas cores vermelhas do sangue
derramado por milhares de cubanos, em muito, o bárbaro e tirano, Fulgêncio
Baptista.
Os tribunais revolucionários, revividos na Rússia Soviética, se implantaram na
América e, em Cuba os adversários de Fidel Castro enfrentam o “paredon”, tingindo
de sangue os pátios das fortalezas de Havana e de outras cidades.
Protestando contra a barbárie, a vindita e a violência, levantou-se a Igreja
corajosamente contra o regime comunista numa tentativa de fazer Fidel Castro sentir
os excessos de derramamento de sangue. Nada, porém, nada e ninguém
conseguem demover o ditador.
Esquecido do quanto os católicos contribuíram para a vitória da revolução,
ingrato com prelado que salvou-o da morte nas mãos de Bapstista, investiu Fidel
Castro com a fúria dos criminosos e anormais contra a própria Igreja de Cristo.
Foi coerente, lógico, consequente, convenhamos. Não se consegue
convivência do comunismo com o cristianismo, da caridade com o fuzilamento, da
concórdia com a perseguição do amor com o ódio, da democracia com
encarceramento, da bondade com a violência, da liberdade com a opressão.
Em qualquer governo comunista a primeira força a ser perseguida é a Igreja,
é a religião católica, repositório que é da defesa dos princípios eternos da liberdade
e da intangibilidade da pessoa humana. Assim, iniciaram-se as pressões sobre os
colégios religiosos para estender-se em termos de violência, de prisões e de
espancamentos sobre os padres e os prelados cubanos. Nem falto uo desrespeito
da linguagem a ameaça aberta às atividades espirituais, as expressões mais
grotescas e revoltantes contra a missão sacerdotal naquela infeliz Nação.
Os templos católicos que remarcam uma época feliz de colonização
hispânica, consagrando os primores da arte religiosa antiga patrimônio de valor
incalculável que nossos antepassados nos deixaram, forma transformados em
quartéis, em escolas leigas ou em repartições do governo comunista,
sacrilegamente utilizadas pelas autoridades de um regime que constitui permanente
ameaça à paz nas Américas e no mundo cuja existência se identifica com o plano da
Rússia de cubanizar as nações sul-americanas.
23

Abjurando os princípios religiosos, mentindo e caluniando numa linguagem


inusitada o clero cubano, encarcerou sacerdotes, dificultou, senão proibiu o culto
católico, promovendo a expulsão de mais de 300 padres, deixando Cuba sem
assistência religiosa, entregue aos desvarios de uma déspota, de um tirano, de um
sanguinário, de um lombrosiano.
Declarando Cuba uma República Socialista ou Popular, nos moldes da
Hungria, da Polônia, da Tchecoslováquia e de tantas outras que formam a Cortina de
Ferro, Fidel Castro definiu e de forma acintosa e provocadora, sua posição perante
os dois mundos, desligando-se, política e sentimentalmente das nações irmãs do
continente, constituindo um hiato na expressão democrática da latinidade
americana, ameaçando a ordem, a paz, a tranquilidade e a democracia entre os
povos deste continente.
Condenando com palavras rudes e violentas o sentido das manifestações
populares, combatendo o voto e as eleições, declarou peremptoriamente que em
Cuba “não haverá mais eleições”, confessando-se não apenas um deslocado e um
desajustado na ordem democrática, mas um ditador perigoso e inescrupuloso, capaz
de trair sua pátria e a própria América, a troca de armas
russas e tchecoslovacas que modernizem suas milícias garantindo sua perpetuidade
no poder e o afogamento com mais sangue de qualquer movimento oposicionista à
sua ditadura.
Não serão, todavia, as investidas externas que dominarão o terror que
implantou em Cuba. Os sentimentos religiosos, nitidamente católicos do povo
cubano, amortecimentos temporariamente pela reação e pela barbaridade, reavivar-
se-ão, poderosos e invencíveis no dia de amanhã, levando à direção do jovem país,
não o sangue e a violência, mas o respeito à dignidade do homem.
A Pérola das Caraíbas não integrará o colar avermelhado de sangue da
Rússia o colar avermelhado de sangue da Rússia Soviética. Não figurará por muito
tempo na coleção de povos escravos, dominados pelo bolchevismo. Não
conseguirão os tiranos comunistas materializar em embrutecer a alma de um povo
que nasceu cristão e que cresceu dentro da Igreja católica.
A missão do Brasil na contemporaneidade, é histórica de decisiva. Antes de
prestigiarmos uma ditadura vermelha influenciaremos, pela nossa maturidade
política e pelos nossos sentimentos democráticos, para que a América seja dos
Americanos. E veremos, para alegria de nossos filhos e felicidade dos povos deste
continente, morrerem nas areias brancas de nossas praias, como profetizou o
grande pensador brasileiro, as ondas do comunismo cruel, desumano, sanguinário,
inimigo das liberdades.
Jamais prestigiaremos os fuzilamentos, os tribunais populare, as truculências,
as barbaridades.
Quando Fidel Castro, numa expansão de ódio à Igreja de Cristo, expulsa de
Cuba 300 sacerdotes católicos, nós brasileiros nos lembramos de nossas lutas pela
formação de padres que levem a todos os recantos da Pátria as palavras de Cristo,
os ensinamentos do Evangelho.
O reduzido número de sacerdotes no Brasil dificulta a assistência religiosa a
nosso povo permitindo inclusive, que proliferem doutrinas malsãs no coração
desassistido e desorientado de milhões de brasileiros.
24

Quando o mundo católico assiste, entre revoltado e entristecido, as


perseguições à Igreja em Cuba, o encarceramento de sacerdotes e a expulsão de
300 padres, nós brasileiros sentimos no dever de endereçar ao senhor Presidente
da República, o mais aflitivo, caloroso e patriótico apelo para que S. Exª, educado
que por religiosos maristas e salesianos e que vive toda a grandeza espiritual da
doutrina cristã, interfira, imediata e decisivamente, por intermédio de nossa
embaixada em Havana, para que os 300 sacerdotes que estão sendo escorraçados
de Cuba, venham para o Brasil, nos ajudar na solução de um dos mais importantes
problemas brasileiros que é o de aumentar o número de sacerdotes católicos que
assistam nosso povo, que imprimam no coração e na alma dos brasileiros
esquecidos e abandonados de nossa hinterlândia, os ensinamentos sublimes da
religião.
Que o senhor Presidente Jânio Quadros preste, com a rapidez que as
condições exigem, esse imenso benefício a nosso país, demonstrando ao mundo
comunista que enquanto lá os tiranos perseguem e expulsam sacerdotes, aqui nesta
Pátria mil vezes abençoada, nós brasileiros, recebemos, com o coração na mão e
alma em festas, esses homens que virão trabalhar para a grandeza do Brasil e
felicidade de nosso povo.
Não perca tempo, senhor Presidente da República. Traga para o Brasil os
sacerdotes que o comunista Fidel Castro está expulsando de Cuba.”

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