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Apresentador: Edilene Figueredo Alves Endereço: Rodovia Washington Luís, km 235 - SP-310

Faculdade: UFSCar Cidade: São Carlos


Curso: Fisioterapia UF: São Paulo
Ano cursado: 3° ano CEP: 13565-905
Telefone: (16) 996271493 Bairro: Monjolinho
E-mail: dileny12@gmail.com

SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA DA POPULAÇÃO INDÍGENA


DA COMUNIDADE IAUARÊTE, AM.
Alves,E.F1; Braga, A.S1; Rodovalho­Callegari,F.1,²; Carbol,M.1,²
1PET Indígenas - Ações em Saúde, UFSCar

²Departamento de Medicina – UFSCar

INTRODUÇÃO: Na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento,


em 1994, a saúde reprodutiva foi definida como “um estado de completo bem-estar físico,
mental e social em todas as matérias concernentes ao sistema reprodutivo, suas funções e
processos, e não apenas mera ausência de doença ou enfermidade. A saúde reprodutiva
implica, por conseguinte, que a pessoa possa ter uma vida sexual segura e satisfatória,
tendo a capacidade de reproduzir e a liberdade de decidir sobre quando e quantas vezes
deve fazê-lo”. Essa definição, tem como referência o conceito de saúde da Organização
Mundial da Saúde (OMS), e são incorporadas dimensões da sexualidade e da reprodução
humana numa perspectiva de direitos (BRASÍLIA - DF 2004, MINISTÉRIO DA SAÚDE).
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher reflete o compromisso com a
implementação de ações de saúde que contribuam para a garantia dos direitos humanos das
mulheres e reduzam a morbimortalidade por causas preveníveis e evitáveis. (BRASIL,
2004). No entanto, nas comunidades indígenas observa-se uma situação de fragilidade no
campo da saúde sexual e reprodutiva com aumento na ocorrência das doenças sexualmente
transmissíveis, do câncer do colo uterino, de partos operatórios e inadequação na política
de planejamento familiar. Em muitas comunidades tem sido implantado um modelo de
controle de natalidade, não valorizando os aspectos da promoção da concepção segura e da
saúde sexual com imposição de métodos contraceptivos sem aconselhamento para
que a escolha seja consciente. (BRASIL 2002, 2004; SOLÉ et al., 2012;
MOLITERNO et al., 2013). Dado o exposto, mulheres e homens indígenas merecem
atenção especial no campo da saúde sexual e reprodutiva, com ações voltadas para ajudá-
las a se apropriarem dos seus direitos e a ter acesso às informações sobre os métodos
contraceptivos disponíveis. Ainda, a literatura sobre essa temática se mostra escassa, o que
torna importante promover estudos para ampliar os conhecimentos sobre saúde indígena, a
fim de apoiar as políticas públicas vigentes.
OBJETIVOS: Identificar se a população da comunidade indígena Iauareté já tinha
ouvido falar sobre os direitos sexuais e reprodutivos, conheciam os diferentes tipos de
métodos contraceptivos, reconheciam o período fértil e se estavam utilizando algum
método contraceptivo no momento.
METODOLOGIA: A população-alvo foram mulheres e homens indígenas das
etnias, Tukano, Dessana, Wanano, Tariano, Piratapuia e Arapaso da comunidade indígena
do Distrito de Iauaretê-AM. Este trabalho foi desenvolvido na sala de reuniões da
Associação das Mulheres do Distrito de Iauaretê – AMIDI e aprovado tanto pela
coordenadora da AMIDI, como pelo líder da comunidade. A participação foi voluntária,
sendo a divulgação realizada por meio de cartazes fixados nos centros comunitários dos
bairros, nas escolas, igreja, nas capelas de oração, nas unidades de saúde e nos comércios e
por meio de convites individuais realizados pelos responsáveis por este estudo. Os agentes
comunitários de saúde e os coordenadores de cada bairro também apoiaram a divulgação
entregando panfletos e convites individuais durante a visita domiciliar e nas reuniões que
antecederam a execução do trabalho. Para iniciar as atividades, os participantes foram
recepcionados com uma apresentação abordando o Grupo PET- Indígena: Ações em
Saúde-UFSCar (composição, objetivos, missão e valores) e objetivos deste trabalho. Na
segunda etapa, os participantes foram convidados a responderem um questionário
(questionário I) semiestruturado composto por doze questões sobre as características sócio-
demográficas, conhecimento sobre direitos sexuais reprodutivos, métodos contraceptivos,
período ovulatório, além das práticas contraceptivas. Juntamente com o questionário I
foram distribuídos números em papel para sorteio. Após o preenchimento dos
questionários, cinco números foram sorteados e os participantes identificados com esses
números estimulados a partilharem suas experiências e dúvidas sobre os direitos sexuais e
reprodutivos, concepção e contracepção com os demais participantes. Os pontos
problematizados foram, sobre direitos sexuais e reprodutivos: Vocês já ouviram falar sobre
direitos sexuais e reprodutivos? Vocês saberiam me dizer quais são os direitos sexuais e
reprodutivo? Sobre concepção: Como ocorre a concepção/gravidez? O que pode facilitar a
mulher ficar grávida? O que pode atrapalhar a mulher ficar gravida? Vocês conhecem
alguém que teve dificuldade para engravidar? Qual foi o problema? Sobre a contracepção:
Qual o método você conhece para evitar gravidez? Quais os métodos para evitar, você e/ou
sua/seu parceiro (a) já utilizaram? Quais os pontos positivos e negativos dos métodos que
você conhece? Na terceira etapa, o petiano responsável pelo trabalho, juntamente com a
agente de saúde, apresentaram aula expositiva em “Power Point” abordando conteúdos
referentes aos direitos sexuais e reprodutivos, fisiologia da concepção e contracepção,
anatomia do corpo humano do homem e da mulher. Após a apresentação, foi realizada uma
exposição dos principais exemplares dos métodos contraceptivos, como: métodos de
barreira (preservativo masculino e feminino), método mecânico (DIU), métodos hormonais
(anticoncepcional oral combinado, anticoncepcional com progestagênio, minipílula,
anticoncepcional de emergência, anticoncepcional injetável mensal e trimensal, anel
vaginal, transdérmico). Na quarta etapa, foi distribuído um novo questionário
(questionário II), composto por quatro questões para avaliar se a ação educativa despertou
interesse pela utilização de algum método contraceptivo para àquelas que não utilizavam
ou mudança para um outro método entre usuárias. Para finalizar, os participantes
sugeriram temas que o PET para serem abordados em atividades futuras e realizaram uma
avaliação da atividade sob a coordenada pela conselheira de saúde Distrital de Iauaretê.
RESULTADO E DISCUSSÃO: Participaram do trabalho 43 indígenas, 32 (71%)
do sexo feminino e 11 (29%) do sexo masculino, com idade entre 14 a 60 anos (idade
média: 35,83 anos). Desses, 12 (28%) cursaram ensino fundamental, 23 (53%) ensino
médio, 6 (14%) ensino superior e 2 (5%) não declararam a escolaridade. Quanto a
ocupação, 18 (42%) eram agricultores, 8 (19%) professores, 3 (7%) profissionais da saúde,
2 (5%) estudantes, 2 (5%) funcionários públicos, 1 vendedor (2%), 1 (2%) autônomo, 1
(2%) religioso, 1 (6%) desempregado e 6 (14%) não responderam a questão. A renda
familiar foi declarada por 31 (72%) dos participantes, sendo inferior a 3 salários mínimos.
A maioria dos participantes eram casados ou estavam em união estável (77%) e todos
católicos (100%). Cerca de 72% das mulheres e 73% dos homens tinham filhos, sendo o
número médio de filhos de 5,13. Para as mulheres gravidez do primeiro filho ocorreu na
idade média de 19 anos e para os homens de 21 anos.
Durante a problematização foi possível identificar cinco categorias de dúvidas: 1)
“Conceito direitos sexuais e reprodutivos”; 2) “Fisiologia da produção de gametas
masculinos”; 3) “Fisiologia da concepção”; 4) “Tipos métodos contraceptivos e efeitos
colaterais; 5) “Riscos dos métodos contraceptivos para saúde”; 6) Doenças sexualmente
transmissíveis e 7) “Infertilidade”.Visto que diante de tantas categoria de dúvidas, nota-se
do povo em geral da comunidade indigena do Distrito de Iauaretê – AM têm tido pouco
acesso a informações sobre os temas relacionados a saúde sexual e reprodutiva.
Ao que se refere aos direitos sexuais e reprodutivos, 21 (49%) tinham ouvido falar
sobre o tema, 18 (42%) e 4 (9%) não responderam. Esses resultados chamam atenção, pois
a maioria dos participantes possuíam nível de escolaridade igual ou superior ao ensino
médio, o que traz mais oportunidade para os indivíduos se tornarem críticos e
defensores dos seus direitos. Essa realidade é semelhante para maioria da poulação
brasileira, que virtude da dificuldade de acesso às informações ainda desconhece seus
direitos sexuais e reprodutivos (BRASIL, 2006; 2013).
Em relação aos métodos contraceptivos, 22 (51%) pessoas conheciam a camisinha
masculina, 5 (12%) os anticoncepcionais orais, 4 (9,3%) injetáveis, 1 (2%) tabelinha, 1
(2%) planta medicinal “penaliva”, 6 (14%) nenhum e 9 (21%) não responderam. Observa-
se que a maioria conhece a camisinha masculina como método para evitar gravidez, com
diferença bastante grande 6 pessoas não conhecem nenhum método. Esses resultados
coincidem com os resultados observados outros estudos (ÁVILA, 2003; CARRENO, I et
al, 2006; COIMBRA JR, GARNELO, 2003; PAZ, DITTERICH, 2009).
Quanto ao uso de métodos contraceptivos, 32 (74%) dos participantes da pesquisa
não utilizavam nenhum método contraceptivo. Dos 11 participantes que faziam uso
métodos contraceptivos, 4 utilizavam o anticoncepcional injetável, 2 praticavam o coito
interrompido, 1 a camisinha e 4 não especificaram o método utilizado. A camisinha
masculina e pílula são os métodos mais utilizado pela população, por serem de fácil
acesso, disponibilizados nos serviços públicos de saúde (BRASIL, 2006; PAZ,
DITTERICH, 2009). No entanto, em muitas comunidades indígenas, entre elas a de
Iauaretê, a oferta de métodos anticoncepcionais é limitada e faltam profissionais de saúde
capacitados para realizar uma orientação contraceptiva qualificada. Com isso muitas
mulheres e homens optam por não utilizar nenhum tipo de método receosos dos efeitos que
podem trazer para sua saúde, se expondo ao risco de uma gravidez não planejada.

5. CONCLUSÃO
Este estudo demonstrou que os indígenas da comunidade de Iauaretê conhecem os
principais métodos contraceptivos disponíveis, no entanto, a grande maioria não faz o seu
uso e os que utilizam optam por métodos de baixa a moderada eficácia. A maioria os
participantes confundem indicações e contraindicações dos métodos contraceptivos com as
reações adversas e demonstram a necessidade de se aprofundar o conhecimento nessa
temática. Os dados obtidos indicam que também seria relevante realizar pesquisas com
mulheres indígenas de outras etnias, a fim de identificar se as diferenças culturais
influenciam no comportamento sexual e reprodutivo.
REFERÊNCIAS

ÁVILA, M. B. Direitos sexuais e reprodutivos: desafios para as políticas de saúde. Cad.


Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(Sup. 2):S465-S469, 2003. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/csp/v19s2/a27v19s2
BRASIL. Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Ministério da Saúde,
Fundação Nacional da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
_______. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes.
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
BRASIL. Direitos sexuais, direitos reprodutivos e métodos anticoncepcionais. Ministério
da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas
Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
________. Direitos sexuais e reprodutivos. Defensoria Pública do Estado de São Paulo.
São Paulo, 2013.
CARRENO, I et al. Uso de métodos contraceptivos entre mulheres com vida sexual ativa
em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública [online]. 2006,
vol.22, n.5, pp. 1101-1109 Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/%0D/csp/v22n5/23.pdf
COIMBRA Jr. Questões de saúde reprodutiva da mulher indígena
http://www.cesir.unir.br/pdfs/doc7.pdf

PAZ, E. C. M.; DITTERICH, R. G. O conhecimento das mulheres sobre os métodos


contraceptivos no planejamento familiar. Revista Gestão & Saúde, Curitiba, v. 1, n. 1, p. 1-
10. 2009. Disponível: http://www.herrero.com.br/revista/Edicao%201%20Artigo%204.pdf
MOLITERNO, A. C. M. et al. Processo de Gestar e Parir entre as Mulheres Kaingang.
Texto & Contexto Enfermagem, v. 22, n. 2, 2013.
SOLÉ PLA, M. A. et al. Análise descritiva do perfil dos exames citopatológicos do colo do
útero realizados em mulheres indígenas e não indígenas no Brasil, 2008-2011. Rev. Bras.
Cancerol, p. 461-469, 2012.
FERREIRA, L. O. et al. Saúde e relações de gênero: uma reflexão sobre os desafios para a
implantação de pol. íticas públicas de atenção à saúde da mulher indígena. 2011.
COELHO, E. A; OLIVEIRA, J. F; SILVA, C. T. O; ALMEIDA, M. S. et al. Integridade
do cuidado à saúde da mulher: Limites da prática profissional
Nome do apresentador: Flávia Hashizume Baptista Endereço: Rua Prof. José Ferraz de Camargo, 350
Faculdade: Universidade Federal de São Carlos Cidade: São Carlos
Curso: Medicina CEP: 13566-440
Ano cursado: 4º ano Bairro: Vila Marina
Telefone: 19 981586055
E-mail: flahb@hotmail.com

CONSUMO DE ÁLCOOL NA GESTAÇÃO: RASTREIO EM


MUNICÍPIO DO INTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO
Baptista, F.H.1; Martinelli, J.L.1; Rocha, K.B.B.1; Ferreira, R.A.2; Germano, C.M.R.2; Melo, D.G.2
1 - Estudante do Curso de Graduação em Medicina, Universidade Federal de São Carlos.
2 - Professor do Departamento de Medicina, Universidade Federal de São Carlos.

INTRODUÇÃO: O álcool é o agente teratogênico mais comum na atualidade, sendo


considerado um problema de saúde pública 1. Ele provoca alterações hemodinâmicas na
gestante que comprometem o fluxo sanguíneo placentário, além de circular livremente por
todos os compartimentos líquidos do corpo, incluindo vasculatura, líquidos intersticial e
intracelular. Assim, a concentração de álcool é a mesma na gestante e no concepto 2. O
álcool que atravessa a barreira placentária prejudica sobremaneira o concepto, que possui
metabolismo e mecanismos de detoxificação mais lentos, fazendo com que o líquido
amniótico permaneça impregnado de álcool não modificado (etanol) e acetaldeído
(metabólito do etanol)3. O cérebro é o órgão mais susceptível aos efeitos da exposição pré-
natal ao álcool e, como todos os trimestres da gestação são críticos para o desenvolvimento
cerebral, não há um período de maior vulnerabilidade ao álcool durante gravidez 4. Em
1973 foi identificado e definido um fenótipo específico nas crianças nascidas de mulheres
etilistas, denominado "síndrome alcoólica fetal" (SAF ou FAS, fetal alcohol syndrome).
Esta é uma condição irreversível caracterizada por anomalias craniofaciais típicas,
deficiência de crescimento intra e extrauterino, disfunções do sistema nervoso central
(incluindo anormalidades neurológicas, disfunções comportamentais, atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor e deficiência intelectual) além de várias malformações
associadas, principalmente cardíacas, oculares, renais e de coluna vertebral5. O termo
"efeitos do espectro do álcool fetal" (FASD, fetal alcohol spectrum disorders) foi proposto
posteriormente e se refere ao fenótipo descrito em um grupo de crianças expostas ao álcool
intraútero, mas que não possuem quadro clínico completo de SAF, embora habitualmente
apresentem alterações neurocomportamentais6,7. Não há consenso sobre uma quantidade
segura de álcool que possa ser ingerida durante a gestação. A determinação de "doses
seguras" na gravidez não pode ser feita experimentalmente, pois seria obviamente antiético
expor gestantes a doses variadas de álcool para testar seus efeitos. As informações
disponíveis são fundamentadas em estudos animais, nem sempre aplicáveis a humanos.
Admite-se, entretanto, que baixos níveis de exposição pré-natal podem afetar
negativamente o desenvolvimento fetal. Sokol e colaboradores (1989) consideram que o
consumo ocasional de 28 gramas ou mais de álcool, o que corresponde a dois drinques-
padrão norte-americano, é suficiente para conferir risco de desenvolvimento de problemas
relacionados ao álcool8. A recomendação atual é que todas as gestantes devem se abster do
uso do álcool durante toda a gravidez9. Uma das grandes dificuldades para se estimar o
consumo de álcool por gestantes é o fato desse hábito não ser pesquisado de maneira
sistemática no pré-natal. É particularmente difícil avaliar se uma paciente é ou não usuária
de álcool, seja pela impossibilidade de caracterizar um valor limite que seja nocivo, seja
pela omissão ou negação da informação 9,10. Existem alguns instrumentos de rastreio em
relação ao consumo de álcool que, ainda que não sejam suficientes para o diagnóstico de
alcoolismo, ajudam na identificação do consumo abusivo, permitindo a orientação. O T-
ACE (acrônimo das palavras inglesas: Tolerance, Annoyed, Cut down e Eye-opener) foi o
primeiro questionário de rastreio de consumo de álcool validado para uso na prática
obstétrica e ginecológica8. Uma versão brasileira do T-ACE foi traduzida e adaptada do
questionário original de Sokol e colaboradores (1989), e validada por Fabbri em 20019.

OBJETIVOS: Investigar a prevalência de casos suspeitos de uso inadequado de álcool


durante a gestação entre puérperas na cidade de São Carlos, São Paulo, analisando
variáveis sociodemográficas, reprodutivas e dos recém-nascidos na amostra estudada. Em
última instância, pretende-se que, ao rastrear e explicitar o perfil das gestantes que
consomem álcool, esse estudo contribua com assistência à saúde prestada à mulher e
colabore para construção de um programa de prevenção de atraso de desenvolvimento
neuropsicomotor, deficiência intelectual e defeitos congênitos.

METODOLOGIA: O projeto dessa pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em


Pesquisa com Seres Humanos da UFSCar (parecer N. 1.071.649). Trata-se de pesquisa
analítico-descritiva, transversal, desenvolvida na Maternidade da Santa Casa de
Misericórdia de São Carlos, sobre amostra de conveniência, recrutada de forma sequencial
e diária, no período de 14 de junho a 14 de outubro de 2015. A coleta de dados foi
realizada com auxílio de roteiro pré-definido com informações sociodemográficas (idade,
cor da pele, estado civil, religião, escolaridade, trabalho e renda domiciliar), reprodutivas
(número de abortos e gravidezes, número de filhos vivos, número de consultas no pré-natal
na última gestação, idade gestacional e tipo de parto da última gravidez, patologias
anteriores à gravidez e patologias que ocorreram na última gestação) e dos recém-nascidos
(peso, sexo e presença de defeito congênito), além de preenchimento adicional do
questionário T-ACE. O questionário T-ACE é composto por quatro questões principais e a
cada uma dessas questões é atribuída uma pontuação, sendo o valor máximo do
questionário igual a 5 (a primeira questão vale até 2 pontos; da segunda à quarta perguntas,
a valoração é de até 1 ponto). As quatro questões principais do T-ACE são intercaladas
com outras nove questões que tratam de hábitos durante a gravidez (sono, alimentação,
etc.) e que não possuem nenhuma importância nem interferem no resultado do instrumento,
são utilizadas para descontrair a paciente durante a entrevista, de forma que ela não
desperte seus mecanismos de defesa e assuma uma postura de negação, omitindo
informações fundamentais que poderiam impossibilitar a identificação de consumo de risco
de álcool. Quem, respondendo ao questionário, alcança pontuação  2 é considerada um
caso positivo, ou seja, apresenta consumo abusivo de álcool 11. Após a coleta de dados as
mulheres receberam material educativo sobre hábitos de vida saudáveis, além de terem
eventuais dúvidas sanadas. Os resultados foram analisados distinguindo-se dois grupos de
participantes, de acordo com resultado do T-ACE: consumidoras de álcool (pontuação T-
ACE  2) e não consumidoras de álcool. Foi realizada estatística descritiva das variáveis
sociodemográficas, reprodutivas e dos recém-nascidos investigadas e a significância das
diferenças entre os grupos T-ACE positivo e T-ACE negativo foi determinada pelos testes
t não pareado, qui-quadrado ou exato de Fisher, conforme o tipo de variável analisada. O
nível de significância adotado foi de 5%.

RESULTADOS: Em quatro meses de coleta diária, 648 puérperas foram convidadas a


participar da pesquisa, 72 (11,11%) recusaram e 576 (88,89%) concordaram. Das 576
participantes, 45 (7,81%) foram T-ACE positivas, ou seja, alcançaram pontuação maior ou
igual a 2 no questionário T-ACE e foram consideradas consumidoras de álcool durante a
gestação. Dentre estas, 22 puérperas (48,89%) foram positivas com dois pontos, compondo
o maior grupo de participantes identificadas como “caso positivo”; 13 casos (28,89%)
tiveram resultado positivo com três pontos; 9 puérperas (20%) com quatro pontos e 1
(2,22%) com cinco pontos. O grupo de puérperas com pontuação inferior ao ponto de corte
e consideradas como "caso negativo" para o rastreamento do T-ACE foi composto de 461
mulheres com zero ponto (86,82%) e de 70 com um ponto (13,18%), totalizando 531
participantes (92,19%) como casos negativos. Com relação às informações
sociodemográficas, o consumo de álcool durante a gravidez esteve associado à situação da
mulher trabalhar fora de casa (p<0,0001) e ao fato dela não possuir companheiro (p
0,0051). A única variável reprodutiva investigada que apresentou associação estatística
significativa com o consumo de álcool foi o tipo de parto, sendo a cesárea mais frequente
entre as mulheres T-ACE negativas (p 0,0161). No que diz respeito aos dados dos recém-
nascidos, observou-se menor peso entre os filhos de mães T-ACE positivas (2.956 gr. ±
84,77 versus 3.193 gr. ± 22,11; p 0,0031). Durante os quatro meses de coleta de dados, 17
recém-nascidos (2,95%), todos eles filhos de mães T-ACE negativas, apresentaram
defeitos congênitos.

DISCUSSÃO: Até o momento, a frequência estimada de consumo de álcool durante a


gestação no nosso estudo foi de 7,8%, valor menor ao encontrado em outras pesquisas
realizadas no Brasil, nas quais a frequência de consumo de álcool na gestação foi de
10%12, 20,7%11, 33,29%13 e 40,6%14. Uma boa assistência pré-natal inclui questionamento
e orientação sobre ingesta de bebidas alcóolicas. Por isso, pode-se esperar que a
prevalência do consumo de álcool seja menor em cidades como São Carlos, onde a
cobertura de consultas de pré-natal é alta. Acreditamos que as gestantes do nosso estudo
receberam orientações sobre a importância da abstinência de bebidas alcoólicas durante a
gestação nos serviços de saúde, onde realizaram o pré-natal.
Nossos resultados apontaram que mulheres sem companheiro e que trabalhavam fora de
casa consumiram álcool mais frequentemente nas suas gestações. Esses resultados podem
sugerir que mulheres com maior independência financeira têm mais liberdade em relação
ao pai da criança e aos familiares, e mais autonomia para consumirem bebidas alcoólicas.
Pesquisa realizada em um ambulatório de pré-natal no Rio de Janeiro, com 40 gestantes,
revelou que 10% tinham hábito de beber na presença de amigos, familiares ou
companheiros. Naquele estudo, festas e comemorações foram momentos de descontração
que motivaram a ingestão de álcool pelas mulheres, que mantiveram esse costume durante
a gravidez, mesmo não apresentando um perfil crônico de abuso de álcool 12. No nosso
estudo, grávidas T-ACE positivas tenderam a ter partos normais e seus filhos apresentaram
menor peso ao nascer. Gestantes que fazem uso abusivo de álcool têm maiores chances de
terem um recém-nascido prematuro e com retardo no crescimento intrauterino 15. Pode-se
supor que, por conta do menor tamanho dos recém-nascidos das mulheres T-ACE
positivas, houve menor incidência de desproporção cefalopélvica e por isso maior
frequência de parto normal. Ainda assim, a porcentagem de cesarianas, tanto no grupo de
mulheres T-ACE positivo, quanto no T-ACE negativo, foi muito maior do que o
recomendado na literatura16.
Ressaltamos que o perfil das mulheres que fazem uso inadequado do álcool durante a
gestação deve ser utilizado para priorizar ações de educação em saúde voltadas para
parcela da população mais susceptível. No entanto, não pode ser utilizado para limitar a
atenção sobre o problema, uma vez que muitas mulheres com suspeita de uso abusivo do
álcool fogem do padrão14. De modo geral, as puérperas que participaram desta investigação
demonstraram interesse no material didático distribuído após as entrevistas, aproveitando a
oportunidade para esclarecer dúvidas.

CONCLUSÃO: O Ministério da Saúde preconiza que durante o pré-natal seja realizada


orientação sobre o uso do álcool na gestação e suas consequências, além do entrosamento
entre a gestante e a equipe de profissionais de saúde, a fim de identificar mulheres com
propensão ao uso abusivo de álcool17. O risco de recorrência de SAF é estimado como em
torno de 75%18, por isso, identificar consumo abusivo de álcool entre mulheres em idade
fértil é de suma importância para prevenção de danos ao concepto em futuras gravidezes.
O ambiente da maternidade pode ser aproveitado para conscientizar as mulheres sobre o
consumo de álcool durante a gravidez, além de outros hábitos saudáveis que podem ser
incentivados no puerpério, relacionados a alimentação e hidratação, por exemplo.
Aproveitar o tempo da internação dessas mulheres para realizar atividades de promoção e
prevenção em saúde é uma maneira de oportunizar o cuidado em saúde.

REFERÊNCIAS:
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Therapies as an Approach for Fetal Alcohol Syndrome Prevention. Willey Periodicals. 2014; 103:163-77.
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7. May PA, Baete A, Russo J et al. Prevalence and characteristics of fetal alcohol spectrum disorders.
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Neurology Part 2: Diagnosis and Management. Journal of Child Neurology. 2011; 27(3) 355-62.

APOIO: FAPESP, por meio do processo 2015/08279-0; e CAPES, por meio do Programa
Jovens Talentos para Ciência 2015.
 
 
 
 
Apresentador: Deise Mari da Cruz Endereço: Rodovia Washington Luís, km 235 - SP-310
Faculdade: UFSCar Cidade: São Carlos
Curso: Fisioterapia UF: São Paulo
Ano cursado: 6° ano CEP: 13565-905
Telefone: (11) 96071-8337 Bairro: Monjolinho
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SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA DAS MULHERES
INDÍGENAS PANKARARU DA COMUNIDADE REAL PARQUE
MORUMBI, SÃO PAULO, SP.
Cruz, D.M.1; Nascimento, C.A.1; Sena, O.B.1; Almeida, D.T.1; Teixeira, K.C.1,2; Carbol, M.1,2
Rodovalho-Callegari, F.V. 1,2
1PET-Indígenas: Ações em Saúde - UFSCar
2Departamento de Medicina – UFSCar  
 
INTRODUÇÃO: Atualmente, vivem no Brasil cerca de 305 povos indígenas,
falantes de 274 línguas distintas, perfazendo em torno de 818 mil indivíduos
distribuídos em todo o território nacional (BRASIL, 2010). As mulheres representam
metade da população indígena, vivem predominantemente nas áreas urbanas (BRASIL,
2010) e, de um modo geral, estão bastante suscetíveis aos agravos relacionados à saúde
sexual e reprodutiva (BRASIL, 2002; FERREIRA, 2013). Especificamente, observa-se
um aumento na ocorrência das doenças sexualmente transmissíveis, do câncer do colo
uterino, de partos operatórios e, em muitas situações, inadequação na política de
planejamento familiar com imposição de métodos contraceptivos sem aconselhamento
para que a escolha seja consciente (BRASIL, 2004; SOLÉ et al., 2012; MOLITERNO et
al., 2013). Dado o exposto, as mulheres indígenas merecem atenção especial no campo
da saúde sexual e reprodutiva, com ações voltadas para ajudá-las a se apropriarem dos
seus direitos e a ter acesso às informações sobre os métodos contraceptivos disponíveis
(BRASIL, 2006a). Ainda, a literatura sobre essa temática se mostra escassa, o que torna
importante promover estudos para ampliar os conhecimentos sobre a saúde da mulher
indígena, a fim de apoiar as políticas públicas vigentes.
OBJETIVO: Identificar se as mulheres indígenas da etnia Pankararu já tinham
ouvido falar sobre os direitos sexuais e reprodutivos, conheciam os diferentes tipos de
métodos contraceptivos, reconheciam o período fértil e se estavam utilizando algum
método contraceptivo no momento. Adicionalmente, avaliar o impacto de uma ação
educativa quanto ao conhecimento, atitudes e práticas referente a essas temáticas.
METODOLOGIA: A população-alvo foram mulheres em idade reprodutiva da
etnia Pankararu da comunidade do Real Parque, Morumbi, São Paulo. O trabalho foi
desenvolvido no auditório do “Projeto Casulo” e previamente aprovado pela diretoria da
Organização da Sociedade Civil. A participação das mulheres foi voluntária a partir de
convites realizados na comunidade por meio de cartazes e flyers. A execução da
atividade contou com a colaboração do médico e ex-petiano Henrique Ubiratam de
Oliveira. No primeiro momento, as mulheres foram acolhidas e apresentadas ao grupo
PET Indígena: Ações em Saúde, sendo explicados os objetivos do trabalho. A seguir,
elas foram convidadas a responderem um questionário (questionário I) semiestruturado
composto por 12 questões sobre as características sócio-demográficas, conhecimento
sobre direitos sexuais reprodutivos, métodos contraceptivos, período ovulatório, além
das práticas contraceptivas. Na sequência foi realizada uma apresentação em “Power
 
 
 
 
Point” abordando os direitos sexuais e reprodutivos, tipos de métodos contraceptivos
disponíveis e a fisiologia da concepção e as mulheres foram convidadas a sentarem-se
em círculo e estimuladas a debaterem os temas apresentados. Ao final, foi distribuído
um novo questionário (questionário II), composto por 04 questões para avaliar se a ação
educativa despertou interesse pela utilização de algum método contraceptivo para
àquelas que não utilizavam ou mudança para outro método entre as usuárias.
RESULTADOS: Participaram deste trabalho 17 mulheres com idade média de
35 anos. Dessas, 06 (35%) cursaram ensino fundamental, 06 (35%) ensino médio, 02
(12%) ensino superior e 03 (18%) não declararam a escolaridade. Quanto à ocupação,
09 (53%) delas eram “do lar”, 05 (29%) trabalhavam em serviços gerais, 01 (6%)
vendedora, 01 (6%) assistente social e 01 (6%) desempregadas, sendo a renda em média
de 09 delas (53%) inferior a 03 salários mínimos, de 01 (6%) maior que 03 salários e 07
(41%) não responderam esta questão. A maioria delas era casada (53%), com média de
idade da primeira gravidez de 21,4 anos e tinham 1,7 filhos em média. Apenas uma
mulher do tinha 07 filhos (0,5%). Em relação à religião 13 (76%) eram católicas, 03
(18%) evangélicas e 01 (6%) não respondeu. Ao que se refere aos direitos sexuais e
reprodutivos, 10 (58%) nunca tinham ouvido falar sobre o tema. Os métodos
contraceptivos mais conhecidos foram camisinha (70%), pílula (53%),
anticoncepcionais injetáveis (42%), seguidos pelo DIU (35%) e laqueadura tubária
(18%). O período fértil foi reconhecido por 47% delas, enquanto 17% acreditavam que
a maior probabilidade de engravidar é poucos dias antes da menstruação. Quanto ao uso
de métodos contraceptivos, 09 (53%) mulheres indígenas utilizavam algum tipo de
método. Após a intervenção, 01 (6%) mulher não respondeu ao questionário. Das 09
mulheres (53%) que utilizavam algum método, 03 (18%) declararam interesse em
mudar para o DIU, 01 (6%) mudaria para DIU ou laqueadura tubária, 01 (6%) se
interessou por mudar para algum outro método, porém não especificou qual deles, 03
(18%) não mudariam o método em uso e 01 (6%) delas não respondeu esta questão.
Entre as 07 mulheres (41%) que não utilizavam método contraceptivo, 03 (18%)
demonstraram interesse pelo DIU, 03 (18%) não responderam a questão e 01 (6%)
manifestou interesse em usar algum método.
DISCUSSÃO: Assim como o direito à vida, à igualdade, à liberdade e à
segurança, entre outros, os direitos sexuais e reprodutivos são direitos fundamentais da
pessoa humana e são protegidos pela constituição brasileira. Garantir que sejam
respeitados é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade democrática, justa
e livre de preconceitos. Somente com a conscientização dos seus direitos as pessoas
poderão lutar contra qualquer forma de discriminação e violência na esfera sexual e
reprodutiva e exigir que sejam disponibilizados na rede pública e privada de saúde
serviços qualificados para orientação contraceptiva, acompanhamento pré-natal,
assistência ao parto, controle das doenças sexualmente transmissíveis, do câncer do colo
do útero e mama, dentre outros (BRASIL, 2013). No entanto, a maioria da população
ainda desconhece seus direitos, em virtude da dificuldade de acesso às informações, o
que traz prejuízos de ordem física, mental e social, constituindo um problema de saúde
pública (BRASIL, 2006b; 2013). Este estudo mostrou que essa realidade não é diferente
para as mulheres indígenas Pankararu, o que pode ser explicado não só pela dificuldade
de acesso às informações, mas também pela falta de políticas públicas efetivas e
diferenciadas, que considerem as especificidades étnicas e socioculturais dessa parcela
da população brasileira.
 
 
 
 
Nesse estudo foi observado que as mulheres indígenas Pankararu conhecem os
métodos contraceptivos modernos mais comumente utilizados como camisinha, pílula,
anticoncepcionais injetáveis, DIU e laqueadura tubária. Em 2014, Silva estudou
mulheres da etnia Kambiwá do estado de Pernambuco e essas conheciam vários tipos de
métodos contraceptivos, incluindo os contraceptivos modernos. Também observou uma
relação entre o conhecimento dos métodos e a idade das mulheres. As mais velhas
conheciam e utilizavam métodos tradicionais como por exemplo, a amamentação, “água
do pote”, água de sal para beber e se banhar após as relações sexuais, enquanto as
mulheres abaixo de 40 anos de idade, devido a dificuldade de difusão do conhecimento
tradicional e maior proximidade com os serviços de saúde apresentavam mais
intimidade com as técnicas contraceptivas modernas. Isso vai de encontro aos dados do
nosso estudo, em que a média de idade das mulheres era de 35 anos e conhecedoras dos
métodos contraceptivos modernos.
Nota-se que as mulheres indígenas Pankararu têm consciência sobre período de
maior chance para engravidar. Esse achado corrobora com o estudo de Azevedo (2009),
que ao analisar a saúde reprodutiva das mulheres indígenas do alto Rio Negros
observaram que as mesmas possuem conhecimento minucioso sobre o aparelho
reprodutor feminino, a relação da menarca com o início do período reprodutivo e sobre
a fase de concepção.
Foi observada neste estudo uma considerável taxa de utilização de métodos
contraceptivos por parte das mulheres indígenas Pankararu. Esse resultado é compatível
ao demonstrado por Dias Junior et al. (2012), os quais verificaram entre a mulheres
Krenak de Minhas Gerais uma elevada taxa de utilização de contraceptivos modernos
como a pílula (52,6%), sendo que a laqueadura tubária e o preservativo masculino são
usados menos frequentemente em 5,6% das vezes, respectivamente.
CONCLUSÕES: Este estudo demonstrou que as mulheres indígenas Pankararu
desconhecem seus direitos sexuais e reprodutivos, porém têm tido acesso a informações
sobre planejamento reprodutivo, uma vez que conhecem a maioria dos métodos
contraceptivos modernos e fazem seu uso. Os dados obtidos indicam que também seria
relevante realizar pesquisas com mulheres indígenas de outras etnias, a fim de
identificar se as diferenças culturais influenciam no comportamento sexual e
reprodutivo.
REFERÊNCIAS
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CRH, Salvador, v. 22, n. 57, p. 463-477, Set./Dez., 2009.
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http://web.cedeplar.ufmg.br/cedeplar/seminarios/ecn/ecn-
mineira/2012/arquivos/Fecundidade%20e%20usos%20de%20métodos%20contraceptiv
os%20entre%20as%20mulheres%20Krenak.pdf. Acesso: 13 de abril de 2016.
FEREREIRA, L. O. Saúde e relações de gênero: uma reflexão sobre os desafios para a
implantação de políticas públicas de atenção à saúde da mulher indígena. Ciênc. Saúde
Coletiva, v.18, n. 4. Rio de Janeiro Apr., 2013
MOLITERNO, A. C. M. et al. Processo de Gestar e Parir entre as Mulheres Kaingang.
Texto & Contexto Enfermagem, v. 22, n. 2, 2013.
SILVA, L. S. Práticas e cuidados em saúde reprodutiva de mulheres da etnia Kambiwá.
2014. 98 p. Dissertação (mestrado) – Escola de Enfermagem, Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2014.
SOLÉ PLA, M. A. et al. Análise descritiva do perfil dos exames citopatológicos do colo
do útero realizados em mulheres indígenas e não indígenas no Brasil, 2008-2011. Rev.
Bras. Cancerol, p. 461-469, 2012.
Nome do Apresentador: Letícia Vecchi Leis Endereço: R. Bernardino Fernandes Nunes, 595
Faculdade: Universidade Federal de São Carlos Cidade: São Carlos
Curso: Medicina UF: SP
Ano cursado: 2016/ 6º ano CEP: 13566- 490
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COMPARAÇÃO DE SINTOMAS E QUALIDADE DE VIDA DE


PACIENTES SEDENTÁRIOS E NÃO SEDENTÁRIOS COM
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Leis, L. V.1; Ribeiro, Fabio H. O.2; Valadão, T. F. C.3; Martins, M. J. V.4; Araújo, L. A. S.5; Leal, A. M.
O.6; Catai A. M. 7; Roscani, M. G.8.
1. Estudante do 6º ano do Curso de Medicina da Universidade Federal de São Carlos-UFSCar; 2. Estudante
da Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP; 3. Mestranda na Faculdade de Ciências Médicas de
Botucatu; 4. Estudante do 4º ano do Curso de Medicina da Universidade Federal de São Carlos-UFSCar; 5.
Estudante do 4º ano do Curso de Medicina da Universidade Federal de São Carlos-UFSCar; 6. Professora do
Departamento de Medicina da UFSCar; 7. Professora do Departamento de Fisioterapia da UFSCar; 8.
Professora do Departamento de Medicina da UFSCar.

Introdução. A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome multifatorial, considerada


atualmente a principal causa de internações por doenças cardiovasculares e significativo fator de
piora da qualidade de vida dos pacientes com este diagnóstico. A presença de sintomas é
importante determinante da qualidade de vida nesses pacientes bem como marcador de gravidade e
progressão da doença. Além disso, pacientes mais sintomáticos têm maior necessidade de
terapêutica medicamentosa (diurético e digitálico). Acredita-se que pacientes ativos com IC e
fração de ejeção ventricular (FEVE) reduzida apresentem melhor qualidade de vida, menos
incidência de sintomatologia da doença e, portanto, menor necessidade de medicação sintomática,
quando comparados a pacientes com estilo de vida sedentário. O exercício físico passa a fazer parte
importante do cuidado do paciente com IC e FEVE reduzida.
Objetivos. Comparar a escala de qualidade de vida (SF-36) e a presença de sintomas
decorrentes da IC em pacientes com comportamento sedentário e não sedentário que foram
previamente diagnosticados com IC e FEVE reduzida.
Metodologia. Estudo prospectivo transversal com inclusão de 40 pacientes diagnosticados
com IC e FEVE reduzida. Os pacientes foram divididos em dois grupos após aplicação da escala
de sedentarismo: sedentários (S, n=20) e não sedentários (NS, n=20), de acordo com o
questionário IPAQ. Os seguintes procedimentos foram realizados para comparação estatística:
avaliação clínica, aplicação da escala de qualidade de vida SF-36, exame físico,
eletrocardiograma e ecocardiograma transtorácico.
Resultados. A média e o desvio-padrão da idade dentro do grupo Sedentário foi de 67,4 ±
10,62 e no grupo Não Sedentário de 66,95 ± 10,97, sendo que não houve diferença significativa
estatisticamente (p=0,895). Os grupos foram também divididos em sexo, sem diferença estatística
(p=0,102), sendo que o grupo Sedentário tem 10 pacientes do sexo feminino (50%) e 10 do sexo
masculino (50%), enquanto o grupo Não Sedentário tem cinco pacientes do sexo feminino (25%)
e 15 do sexo masculino (75%). Quanto à raça, também não houve diferença estatística entre os
grupos (p=1,0), sendo que o grupo Sedentário conta com 12 brancos (60%) e oito negros (40%) e
o grupo Não Sedentário conta igualmente com 12 brancos (60%) e oito negros (40%).
Em relação aos achados de exame físico a média e o desvio-padrão da frequência cardíaca
no grupo Sedentário foi 75,400 ± 14,648 e no grupo Não Sedentário 68,700 ± 8,909, com p de
0,09.
A terapêutica com drogas modificadoras da doença no tratamento da IC em ambos os
grupos: nove (45%) pacientes do grupo Sedentário e 14 (70%) pacientes do grupo Não

1
Sedentário utilizavam IECA (Inibidor da enzima conversora da angiotensina I), sem diferença
estatística (p=0,110); 18 (90%) pacientes do grupo Sedentário e 17 (85%) do grupo Não
Sedentário utilizavam beta-bloqueador, sem diferença estatística (p=0,316); sete (35%) pacientes
do grupo Sedentário e nove (45%) do grupo Não Sedentário utilizavam ARA II (Antagonista do
receptor da angiotensina II), sem diferença estatística (p=0,519).
Em relação ao uso de medicamentos sintomáticos, o uso de diurético não teve diferença
entre os grupos (p=0,752), sendo que onze (55%) pacientes do grupo Sedentário e dez (50%) do
grupo Não Sedentário faziam uso dessa droga. Já o uso de digitálico foi maior no grupo
Sedentário, sete (35%) pacientes, com relevância estatística (p=0,018), quando comparado com o
grupo Não Sedentário, um (5%) paciente apenas.
Quanto à presença de sintomas verificados nos grupos dentre os pacientes do grupo
Sedentário, 16 (80%) apresentaram dispneia e, dentre os pacientes do grupo Não sedentário,
apenas seis (30%) apresentaram dispneia, com diferença estatística (p=0,0,001). Quanto aos
demais sintomas, quatro (20%) dos pacientes do grupo Sedentário e três (15%) do grupo Não
Sedentário referiram precordialgia, sem diferença estatística (p=0,677) e um (5%) paciente do
grupo Sedentário e dois (10%) do grupo Não Sedentário apresentaram síncope como sintoma,
sem diferença estatística (p=0,517).
A classificação dos sujeitos da amostra segundo os critérios da New York Heart
Association: quatro (20%) pacientes do grupo Sedentário e sete (35%) do grupo Não sedentário
foram classificados como NYHA I; seis (30%) pacientes do grupo Sedentário e dez (50%) do
grupo Não Sedentário como NYHA II e dez (50%) pacientes do grupo Sedentário e três (15%) do
grupo Não Sedentário são NYHA III, sendo que essa diferença teve um p de 0,061.
Quanto aos resultados encontrados a partir da aplicação do SF-36, questionário de
qualidade de vida: O quesito “Capacidade Funcional” apresentou média e desvio padrão de
38,000 ± 22,618 no grupo Sedentário e 62,250 ± 19,431 no grupo Não Sedentário, com diferença
estatística, p= 0,001. O quesito “Limitação por aspectos físicos” teve média e desvio-padrão de
40, 250 ± 32,464 no grupo Sedentário e de 59,750 ± 30,196 no grupo Não Sedentário, com p=
0,057; o quesito “Dor” foi 71,300 ± 26,699 no grupo Sedentário e de 62,275 ± 27,248 no grupo
Não Sedentário, com p=0,297; o quesito “Estado Geral de Saúde” foi 56,250 ± 17,204 no grupo
Sedentário e de 63,250 ± 17,642 no grupo Não Sedentário, com p=0,212; o quesito “Vitalidade”
foi de 60,250 ± 19,767 no grupo Sedentário e de 62,500 ± 21,368 no grupo Não Sedentário, com
p=0,731; o quesito “Aspectos Sociais” foi de 74,750 ± 24,933 no grupo Sedentário e de 74,500 ±
23,065 no grupo Não Sedentário, com p=0,974; o quesito “Limitação por Aspectos Emocionais
foi de 79,130 ± 23,687 no grupo Sedentário e de 64,300 ± 29,974 no grupo Não Sedentário, com
p=0,092; o quesito “Saúde Mental” foi de 64,500 ± 17,757 no grupo Sedentário e de 63,900 ±
20,099 no grupo Não Sedentário, com p=0,921.
Quando dento do grupo Sedentário (n=20), separamos os pacientes entre dois grupos, Sem
Dispneia (n=4) e Com Dispneia (n=16), verificamos que a média e o desvio padrão do quesito
“Capacidade Funcional” foi de 57,500 ± 9,574 no grupo Sem Dispneia e de 63,438 ± 21,270 no
grupo Com dispneia, sendo o p=0,424; e o quesito “Limitação por Aspectos Físicos” foi de
50,000 ± 37,417 no grupo Sem Dispneia e de 62,188 ± 20,038 no grupo Com Dispneia, com
p=0,577.
Discussão. A partir da análise dos dados é possível visualizar a homogeneidade entre os
sujeitos que compõem os grupos, Sedentário e Não Sedentário. Não há diferença estatística
significativa em nenhum dos quesitos relacionados a características basais e variáveis clínicas dos
grupos.
O grupo Não Sedentário tem tendência a apresentar menor faixa de frequência cardíaca do
que o grupo Sedentário (p=0,09), revelando melhor controle da frequência dos batimentos
cardíacos nesses pacientes. Este achado é importante uma vez que a menor frequência cardíaca,

2
que é parte da terapia dos pacientes com insuficiência cardíaca, pode ser consequência da prática
de atividade física por esses pacientes.
Um ponto importante na análise dos dados é o fato de que ambos os grupos apresentam
terapia medicamentosa otimizada, ou seja, não há diferença estatística quando comparado o uso
de drogas modificadoras da doença entre os grupos. Além disso, o uso de diurético também não é
diferente entre os grupos analisados. Porém, quando comparado o uso de digitálico, o grupo
Sedentário tem maior número de indivíduos em uso desse medicamento do que o grupo Não
Sedentário (p=0,018), sendo que 35% dos sujeitos do grupo Sedentário fazem uso desse
medicamento contra 15% do grupo Não Sedentário. Esse achado pode estar bem relacionado com
o fato de o grupo Sedentário apresentar mais queixa de dispneia do que os indivíduos do grupo
Não Sedentário (p=0,001): 80% dos pacientes pertencentes ao grupo Sedentário queixam-se de
dispneia enquanto apenas 30% do grupo Não Sedentário também o fazem. Portanto, a prática de
exercício físico pode ser importante fator de proteção para o sintoma de dispneia em indivíduos
com insuficiência cardíaca.
Corrobora para a análise acima o fato de que os pacientes do grupo Sedentário apresentam
tendência a ter pior classe funcional segundo o NYHA do que os pacientes do grupo Não
Sedentário (p=0,061): 50% do grupo NS é NYHA III e apenas 15% do grupo NS está também
nessa classe.
A análise das notas do questionário de qualidade de vida revela que os pacientes do grupo
Não Sedentário apresentam maior média no quesito “Capacidade Funcional” (p=0,001) e também
apresentam uma tendência a ter maior média no quesito “Limitação por Aspectos Físicos”
(p=0,057). Ambos os achados podem estar relacionados apenas com a prática de atividade física
por esses indivíduos, uma vez que a presença de dispneia no grupo Sedentário não tem relação
com a pior média desses quesitos no grupo citado.
Cabe expor que estes achados foram possíveis mesmo sem a presença de um programa
regular de atividade física para esses pacientes, ou seja, encontramos resultados positivos para a
prática de atividade física mesmo que essa seja realizada de maneira “informal” pelos pacientes.
Conclusão. Pacientes em prática de atividade física têm menos queixa de dispneia e menor
necessidade de uso de digitálico, o que corrobora para a inclusão da realização de atividade física
como medida terapêutica não medicamentosa importante no tratamento dos pacientes com IC.
Esses pacientes, também tiveram tendência a apresentar melhor classe funcional, segundo o
NYHA, do que aqueles que não praticam atividade física, mostrando mais uma vez a importância
do exercício físico como parte do tratamento.
Além disso, os pacientes ativos têm um incremento na qualidade de vida como
consequência da prática de atividade física, o que é demonstrado pela melhor média de
“Capacidade Funcional” e tendência a melhor média de “Limitação por Aspectos Físicos” desses
pacientes. Conclui-se, portanto, que a prática de atividade física, mesmo de maneira informal,
deve ser estimulada e incluída como parte do tratamento dos pacientes com IC.
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4
Nome do apresentador: Matheus Lopes Puls Endereço: Rua América, 615

Faculdade: Centro Universitário de Araraquara – UNIARA Cidade: Araras

Curso: Medicina UF: SP

Ano cursado: 3° Ano. CEP: 13.600-100

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FUNÇÃO E FORMAÇÃO DAS ARMADILHAS EXTRACELULARES


DE NEUTRÓFILOS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
PULS, M. L. ¹; PULS, A. A. L.²

1- Acadêmico do 3° ano de Medicina do Centro Universitário de Araraquara / 2- Médica Hematologista e


Hemoterapeuta do Hospital UNIMED Araras

INTRODUÇÃO: Leucócitos polimorfonucleados (PMNs), ou Neutrófilos, são os mais


abundantes glóbulos brancos presentes no sangue periférico, totalizando 50 a 75% de todos
os leucócitos circulantes. (1) Eles funcionam como a primeira linha de defesa da resposta
imune inata contra patógenos. Essas células utilizam várias estratégias a fim de combater
infecções, duas das quais são bem estabilizadas e descritas: fagocitose e degranulação,
esta, liberando enzimas de alto teor lítico. (2, 3) Também são caracterizadas por formar
espécies reativas de oxigênio (ROS) através de NADPH oxidase, detendo assim, alto
potencial microbicida. (3) Em 2004 um novo mecanismo de combate à infecções foi
descrito. Neutrófilos são capazes de formar estruturas em forma de teia, denominadas
Armadilhas Extracelulares de Neutrófilos (Neutrophil extracellular traps - NETs),
compostas por cromatina descondensada associada à proteínas antimicrobianas e
peptídeos. (1, 2, 3, 4) Desde essa descoberta, muitos estudos foram efetuados para avaliar o
processo de formação e papel fisiológico das NETs na defesa contra patógenos invasores.
Acredita – se que essa estrutura possa desempenhar, em algumas situações, uma ação
patológica no organismo, apesar do intuito defensivo, abrindo assim, um grande campo de
pesquisa na compreensão das NETs, da resposta imune e de suas consequências. (5, 6)

OBJETIVOS: A presente revisão bibliográfica possui como objetivos discutir e relatar a


síntese do conhecimento atual acerca da função e dos mecanismos de ativação e etapas até
a liberação das NETs bem como seu papel na resposta imune inata.

METODOLOGIA: Para a realização desta pesquisa, recorreu – se às bases de dados


MEDLINE (acessada via PubMed) e Scielo, utilizando – se das seguintes palavras e
descritores: Neutrophil extracellular traps, Extracellular traps, NETs, ETs. O levantamento
da bibliografia ocorreu entre os dias 10 de janeiro de 2016 e 15 de fevereiro de 2016 e
priorizou as mais recentes publicações de alto fator de impacto da última década, exceto
um artigo, clássico, que relata a descoberta das NETs, totalizando uma coletânea de 10
revisões bibliográficas detalhando a função e os processos necessários para a liberação das
NETs, bem como as mais recentes descobertas acerca do tema.

RESULTADOS: Diversos fatores e estímulos são desencadeantes da formação de NETs,


tais como bactérias gram-positivas e negativas, fungos, protozoários, vírus,
lipopolissacarídeos (LPS), acetato de forbol miristato (PMA), interleucinas (IL-8, IL-1β),
TNF-a, interferons, NF-κB, plaquetas ativadas e receptores de reconhecimento padrão
(como Fcγ e “Toll-like”). (1) Todos esses desencadeantes foram extensamente
comprovados através de diversas publicações científicas. O processo de formação de NETs
inicia, geralmente, com a perda da organização nuclear seguida pela descondensação da
cromatina. (1, 6) A forma característica do núcleo desaparece e surge uma falha entre a
membrana nuclear interna e a externa. A ruptura é precedida pela formação de vesículas na
membrana nuclear. (1, 7) Simultaneamente, a ruptura das membranas dos grânulos
citoplasmáticos facilita a mistura do conteúdo granular com a cromatina livre no
citoplasma. (1, 7, 8) As organelas citoplasmáticas desaparecem e, posteriormente, ocorre a
ruptura da membrana celular. (1, 9) Finalmente, o DNA nuclear, em conjunto com os
componentes granulares, é exteriorizado ao meio extracelular (1, 6).

DISCUSSÃO: Brinkmann et al. (2004) descobriram que, além dos mecanismos de


eliminação de patógenos intracelularmente, a morte de microorganismos também ocorre no
espaço extracelular por meio da formação de armadilhas extracelulares de neutrófilos,
conhecidas como “neutrophil extracellular traps” (NET). As NETs são compostas por uma
estrutura extracelular que consiste em filamentos de cromatina de DNA nuclear com
diâmetro em torno de 15 nm, agregados a enzimas e peptídeos antimicrobianos e não
envoltos por membranas ou marcadores citosólicos, formando verdadeiras redes em que os
patógenos são capturados. (1, 2, 3, 4) De modo semelhante ao fagolisossomo, os patógenos
recobertos pelas NETs são mortos por altas concentrações de peptídeos antimicrobianos e
enzimas bactericidas. (1, 6) Assim como os neutrófilos, os eosinófilos e mastócitos
também podem formar estruturas semelhantes às NETs, com um esqueleto principal de
DNA e cromatina associados a peptídeos antimicrobianos. (1, 9) Diversos fatores e
estímulos são reconhecidamente desencadeantes da formação de NETs. Estas foram
inicialmente descritas como surgindo de estimulação com bactérias gram positivas e
negativas, PMA, LPS e IL-8. (1, 2, 3) Entretanto, com os novos estudos, moléculas
sintéticas e fisiológicas, microrganismos e seus produtos têm sido demonstrados como
ativadores de neutrófilos, com capacidade para liberação de NETs. Têm – se de exemplos,
vírus, protozoários, fungos, IL-8 e IL-1β, TNF-α, interferons, NF-κB, plaquetas ativadas e
PRRs (como Fcγ e Toll-like) são capazes de estimular a produção e liberação de NETs. (1,
2, 3) O processo de formação de NETs inicia, geralmente, com a perda da organização
nuclear seguida pela descondensação da cromatina. (1, 6) A forma característica do núcleo
desaparece e surge uma falha entre a membrana nuclear interna e a externa. A formação de
vesículas na membrana nuclear precede a sua ruptura. (1, 7) Ao mesmo tempo, a ruptura
das membranas dos grânulos no citoplasma facilita a mistura do conteúdo granular com a
cromatina livre no citoplasma. (1, 8) As organelas citoplasmáticas desaparecem e,
posteriormente, ocorre o rompimento da membrana celular. (1, 9) Finalmente, o DNA
nuclear, juntamente com os componentes granulares, é liberado no meio extracelular.
Durante o processo de formação e liberação das NETs, os neutrófilos acabam sofrendo um
processo de morte celular, diferentemente dos processos conhecidos como necrose ou
apoptose. (1, 8, 9) Denominada de NETose, ela pode ocorrer em aproximadamente 30%
dos neutrófilos estimulados, e em 1-4 horas (dependendo do estímulo). (1, 10) É um
processo independente de caspases e não está associada à fragmentação do DNA ou à
exposição de fosfatidilserina na camada externa da membrana celular, o que a torna
distinta da apoptose. (1, 7) As NETs têm sido demonstradas em vários processos
patológicos, como pneumonia pneumocócica em camundongos, apendicite e sepse em
humanos, leishmaniose e em doenças fúngicas e bacterianas, auxiliando na depuração de
patógenos. Nestes exemplos, as NETs atuam a favor do hospedeiro; no entanto, em
algumas situações específicas, podem se tornar prejudiciais. (1, 6, 10) Quantidades
excessivas de DNA extracelular associado às NETs em sítios inflamatórios, bem como a
diminuição de sua depuração por DNAses, podem levar a doenças autoimunes, como pré-
eclâmpsia, lúpus eritematoso sistêmico, vasculite de pequenos vasos e psoríase e por
reações contra a própria cromatina. (1, 8, 10) As NETs também são incluídas na
fisiopatogenia da fibrose cística (FC) e da trombose venosa profunda, podem contribuir
para a formação de metástases e progressão tumoral, assim como são fonte para a
persistência de biofilmes bacterianos in vivo. (1, 10)

CONCLUSÃO: Conclui – se que as NETs são um recurso neutrofílico da resposta imune


inata na defesa do organismo, sendo que sua estrutura extracelular de filamentos de
cromatina de DNA nuclear tem alto potencial antimicrobicida e que a formação das NETs
resumidamente pode ser induzida por uma interação tipo ligante com vários
desencadeantes, tais como bactérias gram-positivas e negativas, fungos, protozoários,
vírus, lipopolissacarídeos (LPS), acetato de forbol miristato (PMA), interleucinas (IL-8,
IL-1β), TNF-a, interferons, NF-κB, plaquetas ativadas e receptores de reconhecimento
padrão (como Fcγ e “Toll-like”). A formação das NETs resumidamente envolve influxo de
Cálcio após a ligação com o fator desencadeante, seguida de produção de Espécies
Reativas de Oxigênio (ROS), descondensação da cromatina e rompimento da membrana
celular neutrofílica, exteriorizando a NET. A ativação e liberação das NETs é um processo
complexo de função defensiva, sendo necessário novas pesquisas a fim de elucidar seus
desencadeantes e sua progressão para a completa compreensão desse recurso da resposta
imune inata, assim como sua associação ao surgimento de algumas patologias.

REFERÊNCIAS:
1. Barbosa A. Avaliação da presença das armadilhas extracelulares de neutrófilos em
pacientes com rinossinusite crônica com pólipo nasal. São Paulo. Tese [Doutorado em
Ciências Médicas] - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo; 2014.
2. Von Köckritz-Blickwede, M., & Nizet, V. (2009). Innate immunity turned inside-out:
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(Berlin, Germany), 87(8), 775–783.
3. Stoiber, W., Obermayer, A., Steinbacher, P., & Krautgartner, W.-D. (2015). The Role of
Reactive Oxygen Species (ROS) in the Formation of Extracellular Traps (ETs) in Humans.
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4. Brinkmann V, Reichard U., Goosmann C, Fauler B, Uhlemann Y, Weiss DS et al.
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5. Manda, A., Pruchniak, M. P., Araźna, M., & Demkow, U. A. (2014). Neutrophil
extracellular traps in physiology and pathology. Central-European Journal of Immunology,
39(1), 116–121.
6. Pruchniak, M. P., Kotuła, I., & Manda-Handzlik, A. (2015). Neutrophil extracellular
traps (Nets) impact upon autoimmune disorders. Central-European Journal of
Immunology, 40(2), 217–224.
7. Fuchs, T. A., Abed, U., Goosmann, C., Hurwitz, R., Schulze, I., Wahn, V., …
Zychlinsky, A. (2007). Novel cell death program leads to neutrophil extracellular traps.
The Journal of Cell Biology, 176(2), 231–241.
8. Halverson, T. W. R., Wilton, M., Poon, K. K. H., Petri, B., & Lewenza, S. (2015). DNA
Is an Antimicrobial Component of Neutrophil Extracellular Traps. PLoS Pathogens, 11(1),
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9. Goldmann, O., & Medina, E. (2012). The expanding world of extracellular traps: not
only neutrophils but much more. Frontiers in Immunology, 3, 420.
10. Kobayashi, Y. (2015). Neutrophil biology: an update. EXCLI Journal, 14, 220–227.
Nome do apresentador: Cleyton Soares dos Santos Endereço: Rua Francisco Gentil de Guzzi, 629
Faculdade: Universidade Federal de São Carlos Cidade: São Carlos
Curso: Medicina CEP: 13563-360
Ano cursado: 4º ano Bairro: Santa Felícia
Telefone: 19 981271648
E-mail: cleytonsoares00@hotmail.com

DOENÇAS GENÉTICAS E DEFEITOS CONGÊNITOS:


IDENTIFICAÇÃO A PARTIR DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE.
Santos, C.S.1; Costa, D.L.G.1; Kishi, R.G.B.2; Melo, D.G.2
1 - Estudante do Curso de Graduação em Medicina, Universidade Federal de São Carlos.
2 - Professora do Departamento de Medicina, Universidade Federal de São Carlos.

INTRODUÇÃO: Doenças genéticas são resultado de alterações cromossômicas ou


gênicas, que modificam a estrutura de proteínas, culminando em anormalidades anatômicas
e/ou fisiológicas. As doenças genéticas podem ser hereditárias ou não, pois uma parte
dessas doenças não é herdada e acontece como "mutação nova"1. Alterações
cromossômicas estão presentes em 40 a 50% de todas as perdas gestacionais de primeiro
trimestre. Deficiências sensoriais, como surdez e cegueira, além de deficiências físicas e
intelectuais, frequentemente fazem parte do fenótipo de síndromes genéticas1. Ademais,
estima-se que 5 a 10% dos cânceres comuns, como de mama, intestino e ovário, são
hereditários, transmitidos por mecanismo de herança autossômica monogênica2.
Sob a definição de defeitos congênitos estão incluídas todas as anormalidades funcionais
ou estruturais originadas durante o período embriofetal. Fazem parte dessa definição
alterações percebidas intraútero, ao nascimento, ou ainda, quando discretas, averiguadas e
reconhecidas mais tarde3. A etiologia dos defeitos congênitos na maior parte das vezes é
complexa, multifatorial e poligênica, refletindo o resultado da associação de alterações
genéticas em múltiplos genes combinada com fatores ambientais e estilo de vida4.
São considerados fatores de risco para doenças genéticas: idade materna e paterna
avançadas; consanguinidade; e história familiar positiva para doenças genéticas, congênitas
ou não, já reconhecidas previamente1. Além desses, é considerado fator de risco para
defeitos congênitos a exposição a agentes teratogênicos, especialmente drogas e doenças
maternas, durante a gestação5.
Recentemente, o Ministério da Saúde tem investido esforços para implantar a Política
Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras (PNAIPDR) no SUS6 e,
como 80% das doenças raras são também doenças genéticas, essa Política é vista como
uma oportunidade de inserção da genética clínica no SUS. De acordo com a PNAIPDR, a
Atenção Primária à Saúde (APS) tem atribuições específicas relacionadas ao cuidado da
população de pacientes com doença genética e/ou defeito congênito que está registrada sob
sua responsabilidade, incluindo ações de identificação precoce, mapeamento de pessoas
com ou sob risco de desenvolver doenças genéticas e/ou anomalias congênitas para
encaminhamento regulado, promoção de educação em saúde com objetivos de prevenção,
e seguimento clínico após diagnóstico e aconselhamento genético6. Por serem os primeiros
a terem contato com os pacientes, os profissionais da APS têm um importante papel no
reconhecimento do paciente com (ou com risco de desenvolver) doença genética ou defeito
congênito, no encaminhamento e na orientação correta dessas situações7,8,9. Essa pesquisa
pretende cooperar com o esforço do Ministério da Saúde para implantar a PNAIPDR e
contribuir para uma melhor assistência aos pacientes com doenças genéticas raras e
defeitos congênitos no Brasil.

OBJETIVOS: Colaborar com o desenvolvimento de métodos e ferramentas que permitam


o reconhecimento de pacientes com (ou com risco de desenvolver) doenças genéticas e
defeitos congênitos na APS. Para isso, objetivamos, especificamente: (1) contribuir para
validação de um instrumento (Ficha A-Gen) capaz de identificar doenças genéticas e
defeitos congênitos no contexto da Estratégia de Saúde da Família; (2) realizar busca ativa
de casos suspeitos de doenças de provável etiologia genética em uma Unidade de Saúde da
Família (USF); e (3) determinar a prevalência de casamento consanguíneo e outros fatores
de risco para doenças genéticas e defeitos congênitos nessa mesma USF. Em última
instância, pretende-se que este estudo sirva de subsídio para construção de uma linha de
cuidado integral para pacientes com doenças genéticas e defeitos congênitos na cidade de
São Carlos e região.

METODOLOGIA: O projeto dessa pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em


Pesquisa com Seres Humanos da UFSCar (parecer N. 1.114.584). Trata-se de estudo
observacional descritivo e analítico, realizado em corte transversal, desenvolvido na cidade
de São Carlos, São Paulo, sob uma amostra probabilística aleatória simples, representativa
dos domicílios cadastrados na USF Antenor Garcia. O bairro "Antenor Garcia" é um bairro
periférico da cidade de São Carlos e foi escolhido para ser cenário desse estudo em função
do seu perfil de vulnerabilidade social. Hipotetizamos que a exposição a teratógenos possa
ser maior nesse cenário, em função, inclusive, da menor escolaridade da população10. O
tamanho amostral mínimo calculado foi de 265 domicílios. À essa amostra foram
acrescidos 30% (80 domicílios) para cobrir possíveis perdas, resultando em um tamanho
amostral de 345 domicílios, que deverá ser alcançado em dez meses de coleta contínua
(agosto de 2015 a maio de 2016). Os 345 domicílios selecionados por sorteio estão sendo
abordados por meio de visitas domiciliares. Durante a visita são preenchidas a Ficha A,
preconizada pelo Ministério da Saúde para toda rede de APS do país, e também a Ficha A-
Gen. A Ficha A-Gen foi idealizada em 2013 por uma equipe da Universidade Federal da
Bahia, para o projeto intitulado "Censo 'Genética no Sertão': Epidemiologia Clássica e
Molecular de Doenças Genéticas no Município de Monte Santo". Na Ficha A-Gen constam
informações sobre a ocorrência de casamentos consanguíneos, doenças congênitas, surdez,
câncer, deficiência intelectual, e moradores com sinais de alterações do desenvolvimento
físico ou cognitivo. Para análise dos dados coletados por meio das Fichas A e A-Gen foi
utilizada estatística descritiva, com auxílio do programa Microsoft Excel®.

RESULTADOS: Em 5 meses de coleta, foram visitados 228 domicílios, dentre as quais


151 (66,2%) aceitaram participar da pesquisa, 13 (5,7%) recusaram participação e em 64
(28,1%) domicílios não foram encontrados moradores no momento da visita e, portanto,
serão revisitados em outra oportunidade. Os 151 domicílios representam cerca de 43,7% do
total da amostra pré-definida.
A amostra investigada totalizou 606 indivíduos pesquisados (298 homens e 308 mulheres)
e caracterizou-se pelo predomínio de adolescentes e adultos jovens, com idade média de
27,9 anos (desvio padrão de 19,6 anos). A taxa de analfabetismo na população acima dos
15 anos foi de 9,3%. A taxa de desempregados entre a população trabalhadora foi de
14,6%. Todas as 151 casas visitadas apresentavam estrutura de alvenaria, lixo coletado,
rede de água e esgoto, e energia elétrica; o número de cômodos por casa variou de 2 a 8
cômodos, com média de 4,7 cômodos por domicílio.
No total, foram identificados 207 casais. A média de filhos por casal foi de 2,6 (desvio
padrão de 2,3 filhos/casal). A taxa de consanguinidade entre os casais investigados foi de
3,4%. A frequência de aborto espontâneo por gravidez estimada foi de 6,1% de todas as
gestações clinicamente diagnosticadas. Entre as mulheres em idade fértil, 10,3% tinham
hipertensão arterial sistêmica e 2,3% tinham diabetes, condições crônicas que podem ser
teratogênicas.
No universo das 606 pessoas investigadas, 13 (2,1%) possuíam defeitos congênitos
(isolados ou sindrômicos); 4 outras pessoas (0,7%) foram identificadas com transtornos
mentais congênitos não especificados; 7 (1,2%) pessoas foram identificadas com
transtornos auditivos; e 3 (0,5%) outras pessoas foram identificadas com déficits visuais
importantes. Dentre os lactentes, a cobertura dos testes do pezinho e da orelhinha foi de
100%. Entre as crianças e adolescentes até 14 anos de idade (N=175), 10 (5,7%)
apresentaram atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, sendo identificada uma criança
com síndrome de Stickler. Entre os moradores, 1% possuíam algum tipo de câncer no
momento da pesquisa e foi relatada história familiar positiva para algum câncer em 27%
das famílias.

DISCUSSÃO: Observamos que tanto a taxa de desemprego, quanto a taxa de


analfabetismo registradas na nossa pesquisa são maiores que as documentadas nos
registros oficiais. A média de filhos por mulher em idade fértil na população estudada foi
de 2,6 filhos, acima da média de São Carlos, do Sudeste e do Brasil11. A combinação de
chefes de família jovens, com baixos níveis de renda e de escolaridade, e presença
significativa de crianças pequenas está associada a maior vulnerabilidade social. Aspectos
como níveis educacionais e econômicos baixos da população relacionam-se positivamente
com maiores riscos teratogênicos aos quais uma mulher grávida pode estar exposta10,12.
No município de São Carlos, segundo o Censo de 2010, 1,07% da população é portadora
de deficiência intelectual, 0,9% é portadora de grande deficiência auditiva, 2,2% é
portadora de grande deficiência visual e 2,03% é portadora de grande deficiência motora11.
Na população geral brasileira, o Censo de 2010 apontou 1,4% de frequência da população
como portadora de deficiência intelectual, 1,1% da população portadora de grande
deficiência auditiva, 3,5% portadora de grande deficiência visual e 2,3% portadora de
grande deficiência motora11. As frequências encontradas de deficiências na cidade de São
Carlos não difere significativamente dos valores nacionais e internacionais, as pequenas
discrepâncias talvez sejam decorrência de um predomínio de adultos jovens na nossa
amostra.
De modo geral, a incidência de 2,1% de pessoas com defeitos congênitos na amostra fica
pouco abaixo da incidência nacional e internacional, que, de modo geral, é de 3 a 5%13.
Essa incidência pouco mais baixa pode ser resultado de um viés de amostragem, e também
da falta de informação sobre esse tipo de morbidade por parte dos informantes da pesquisa
(considerando- se inclusive a alta taxa de analfabetismo e a baixa escolaridade da amostra).
Importante ressaltar que esses pacientes com defeitos congênitos deveriam já terem sido
previamente mapeados pela USF Antenor Garcia e terem seu cuidado de saúde específico
coordenado pela APS, em consonância com a PNAIPDR6. Contudo, pesquisas anteriores
realizadas por nosso grupo, evidenciam que de modo geral os profissionais da APS não
estão suficientemente capacitados para suportar as atribuições impostas pela PNAIPDR no
SUS6. Estabelecer programas de educação permanente na área da genética para os
profissionais da APS é um desafio que se impõe.
A taxa de consanguinidade entre os casais investigados foi de 3,4%. Estima-se que nas
populações mundiais 10,4% dos casamentos são entre parentes14. Dentre os casais
consanguíneos identificados na população estudada, 11,1% tiveram um caso de aborto e
11,1% geraram filho com defeito físico não esclarecido. O aborto espontâneo é o
acontecimento adverso mais frequente da gravidez e afeta cerca de 10 a 20% de todas as
gestações clinicamente diagnosticadas15,16. Além disso, entre as mulheres em idade fértil,
10,3% foram identificadas com hipertensão arterial sistêmica e 2,3% foram identificadas
com diabetes, condições crônicas com potencial risco teratogênico, direto ou
indiretamente5,17.
Entre os moradores, 1% possuíam algum tipo de câncer no momento da pesquisa e 27%
das famílias relataram história familiar positiva para algum câncer. A prática de análise da
história familiar na APS para estratificar o risco de desenvolvimento câncer, permite
referenciar pessoas com risco elevado para o cuidado mais específico e, consequentemente,
melhora a eficácia das intervenções terapêuticas e de prevenção2,18.

CONCLUSÃO: Baseados nos resultados preliminares, consideramos que a Ficha A-Gen é


um instrumento adequado para o rastreio e a identificação de indivíduos e famílias sob
risco para o desenvolvimento de doenças genéticas e/ou defeitos congênitos na APS.
Assim, acreditamos que o preenchimento dessa ficha pode ser incluída como rotina na
Estratégia de Saúde da Família, como forma de apoio à implantação da PNAIPDR no SUS.

REFERÊNCIAS:
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ABA. Genética Médica - Série Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da EPM-Unifesp. 1a ed. São
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custeio. Diário Oficial da União da República Federativa do Brasil, Brasília, 12 de fevereiro de 2014.
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APOIO: FAPESP, por meio do processo 2015/10309-4; e CAPES, por meio do Programa
Jovens Talentos para Ciência 2015.

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