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passiva ou lançar mão de truques profis- um exemplo de uma boa prática. A grande rendo – e que podem até parecer natu- sta sensação de desmesura entre um dinação da segurança ao lucro só se tornará
sionais que as inviabilizavam. Outras ve- preocupação e insistência no princípio de rais. desastre público e o acréscimo de possível após se darem dois outros passos.
zes, as repercussões negativas (salariais e que a segurança se sobrepõe à produção O engenheiro moçambicano José Lopes lucros privados que teria sido obtido Há, antes de mais, que reconhecer que o
de carreira) de que suspeitavam poder demonstra que é bem real (e esperado) o tem vindo a analisar e a partilhar a sua caso ele não tivesse ocorrido (e que muitas problema existe e é fulcral para a segurança
ser vítimas caso se recusassem levavam- perigo de que o contrário aconteça. Com- informação e conclusões acerca de uma vezes é na mesma obtido) deverá ter cho- dos trabalhadores envolvidos e para a segu-
nos a fazer o que era pedido. Outras vezes bate-se aqui, no fim de contas, aquilo que dessas calamidades aparentemente natu- cado os norte-americanos atingidos pela rança de todos nós. Há, depois, que o tor-
ainda, nem chegavam a ser necessárias se espera que possa facilmente acontecer; rais, as cheias no vale do Zambeze3. Se as maré negra que resultou do derrame da nar visível e explícito, como problema e
pressões, pois os trabalhadores em causa mas também, provavelmente, algo que a célebres cheias de 2000 seriam virtual- plataforma Deepwater Horizon, explorada como situação inaceitável, para as empre-
assumiam que era isso o que era espe- experiência da empresa demonstra ter mente indomáveis em qualquer rio mo- pela BP. Talvez por isso se recorra tanto às sas e para a sociedade.
rado de si1. acontecido com frequência e ter condu- çambicano, os seus dados indicam que já palavras «negligência» e «inconsciência»
Apesar dessa diversidade e do discurso zido a resultados trágicos e onerosos. De as de 2007 e de 2008 se teriam ficado a quando ocorrem casos afins, embora na * Antropólogo, Instituto de Ciências
politicamente correcto acerca da segu- facto, o maior accionista desta Mozal, a dever tanto às chuvas fortes quanto ao mo- verdade não seja disso que se trata. Sociais da Universidade de Lisboa
rança, a fábrica vivia afinal, quanto a esse multinacional de registo britânico BHP delo de exploração da Hidroeléctrica de A explosão deu-se, recordemo-lo, de- (ICS – UL).
aspecto, numa situação de geometria vari- Billiton, resulta da fusão da empresa mi- Cahora Bassa. vido a uma falha do mecanismo de segu-
ável: quando a produção decorria de neira australiana BHP e de parte da sul- A relação entre os dois factores é tão rança (blowout preventer – BOP), que na 1 Acerca deste fenómeno e dos restantes fac-
acordo com o desejado, a segurança era -africana Gencor, ambas com um largo simples quanto aterradora: mantendo esmagadora maioria das plataformas se- tores sociais de potenciação ou minimização
uma prioridade; mas passava para segundo historial de acidentes e insegurança. É por quotas de água elevadas até aos meses melhantes existe em duplicado, como do perigo laboral, veja-se Paulo Granjo,
plano quando os níveis de produção eram isso plausível que esta ênfase na segu- anteriores à época das chuvas (a fim de forma de segurança redundante – o que «Trabalhamos Sobre um Barril de Pól-
vora»: homens e perigo na refinaria de
ameaçados, subordinando-se a eles. rança, que chegou a Moçambique vinda da maximizar a produção eléctrica), a única seria particularmente necessário neste Sines. Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa,
Alertados para este fenómeno, vários casa-mãe, tenha tanto de preocupações forma que a barragem tinha de gerir a poço, devido à elevada concentração de 2004.
investigadores vieram entretanto a detec- humanitárias e de racionalidade econó- subida das águas a montante, quando cho- gases. Existiam dúvidas quanto à segu- 2 Paulo Granjo, «A Mina Desceu à Cidade – me-
tá-lo noutras empresas portuguesas. mica como de ruptura com uma prática veu, foi realizar descargas em larga escala rança desse mecanismo e duas peritagens mória histórica e a mais recente indústria
passada e bem conhecida, que lhes trouxe e muito concentradas, que fizeram trans- (encomendadas pela empresa) salienta- moçambicana», Etnográfica, vol. VII, n.º 2,
dissabores, prejuízos e má imagem. bordar rapidamente o rio a jusante e afec- ram os riscos existentes, sem que tivessem 2003, pp. 403-428 e «Dragões, Régulos e
Entre o «safety first» Fábricas – espíritos e racionalidade tecnoló-
Tal não impede que essa mesma em- taram 300 000 pessoas. Ou seja, tudo in- sido tomadas medidas. Até aqui, podería-
e cheias evitáveis presa se veja actualmente envolta numa dica que essas duas cheias se deveram, em mos estar ainda no terreno da negligência. gica na indústria moçambicana», Análise
Social, n.º 187, 2008, pp. 223-249. A língua
polémica em torno de um by-pass aos grande medida, a uma gestão hidrológica Contudo, poucas semanas antes da explo-
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de trabalho na empresa em questão é o in-
m contraste, a fundição de alumínio filtros de tratamento de fumos de uma sua da albufeira de Cahora Bassa tão centrada são, falhou um dos comandos do BOP glês.
Mozal – situada perto da capital subfábrica, que opera nas mesmas instala- em maximizar a produção hidroeléctrica (que possui um eléctrico e outro hidráu- 3 Veja-se http://zapper.xitizap.com/xiti-
moçambicana, Maputo – coloca ções da fundição, para corrigir um defeito que acabaria por diminuir substancial- lico) e a direcção da empresa decidiu zap%2037 e também, no mesmo sítio, #31,
uma particular ênfase no princípio de «sa- estrutural. Trata-se de uma polémica que mente a margem de encaixe da barragem continuar a perfuração mesmo assim, em #32, #33, #34 e #43.