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1an0os

editorial
Gláucia Viola, editora

Um olhar psicológico
sobre o câncer
A
relação do câncer com o sofrimento e a morte precoce faz com que a grande maioria das pessoas
não saiba lidar com tudo que envolve essa doença. O surgimento da Psicologia Oncológica serviu
PARADESMISTIlCAROSMEDOSECRIARNOVOSPARÊMETROSEMRELA¥ÎOAQUESTÜESCOMODIAGNØSTICO 
MEDIDASDEENFRENTAMENTO COMPREENSÎODASCHANCESDECURAEENTENDIMENTODOQUEPODEREPRE-
sentar qualidade de vida.
O câncer deve ser enfrentado e encarado como um problema verdadeiramente de
SAÞDEPÞBLICA QUEATINGEPESSOASDETODASASIDADESEEMTODOSOSLUGARESDOMUNDO 
sendo a segunda causa principal de morte por doença no planeta. Todas essas
CARACTERÓSTICAS EXIGIRAM A NECESSIDADE DE OS PROlSSIONAIS ENTENDEREM O PROBLEMA
ALÏMDAVISÎOCLÓNICAMÏDICA!0SICO ONCOLOGIAASSUMEESSEPAPEL RECONHECENDO
QUEODESENVOLVIMENTODOCÊNCERESEUPROCESSODETRATAMENTO SEMDÞVIDA SOFREM
INTENSAINmUÐNCIADEVARIÉVEISSOCIAISEAFETIVAS
!LÏM DOS PROBLEMAS CAUSADOS PELA DOEN¥A  O DESGASTE PSÓQUICO SOFRIDO PELO
PACIENTEEPORSEUSFAMILIARESEAMIGOSDURANTEOPROCESSODETRATAMENTOOCORRE 
PRINCIPALMENTE EMFUN¥ÎODEADOEN¥ASERASSOCIADAADOR SOFRIMENTO DEGRADA¥ÎO
HUMANA OUSEJA ODIAGNØSTICOÏENCARADOCOMOUMASENTEN¥ADEMORTE%STAEDI¥ÎO
da Psique Ciência & VidaMOSTRACOMOA0SICOLOGIA/NCOLØGICAAJUDANACONDU¥ÎO
DESSE PROCESSO  BUSCANDO AMENIZAR MITOS E ATÏ MESMO FANTASIAS PROVOCADAS POR
ELA / AMBIENTE HOSPITALAR  POR EXEMPLO  Ï UM FATOR ESTRESSANTE CHEIO DE ESTIGMAS  APESAR DE DESPERTAR
SENTIMENTOS AMBÓGUOS 0OIS  ALÏM DE TRAZER ALÓVIO A QUEM CHEGA A SUAS INSTALA¥ÜES EM MOMENTOS DE
SOFRIMENTO CAUSAGRANDEREJEI¥ÎO0ARAVALIDARESSESSENTIMENTOS A0SICOLOGIAGANHAIMPORTÊNCIANOSENTIDO
DE ATUAR  JUSTAMENTE  NO CAMPO DAS VARIÉVEIS EMOCIONAIS / CÊNCER  EM CONJUNTO COM A HOSPITALIZA¥ÎO 
CARREGAESSASSENSA¥ÜES ESPECIALMENTENOQUEDIZRESPEITOÌMORTE
A verdade incontestável e difícil de aceitar é que o sofrimento está intimamente ligado ao câncer. Por
ISSO CABEAOPROlSSIONALDESAÞDEMENTALCOMPARTILHAR DIVIDIREMOBILIZARTODOSOSRECURSOSDISPONÓVEIS
para que as pessoas tenham mais possibilidades de elaborar a situação da melhor maneira possível e para
QUEPOSSAMSEANCORARNAREALIDADEDEFORMASAUDÉVEL!TÏPORQUEADOEN¥AGUARDAEMSIACONSCIÐNCIADA
possibilidade da morte e essa constatação é acompanhada de angústias que seguirão o paciente durante o
PERCURSODOTRATAMENTO%CADAPACIENTEENXERGAUMSENTIDOPARTICULARNAMORTE DEACORDOCOMAFASEEM
QUESEENCONTRANOPROCESSODEEVOLU¥ÎOVITAL%SSAOBSERVA¥ÎODElNITUDE VIVÐNCIASECONDI¥ÜESFÓSICA 
PSICOLØGICA SOCIALECULTURALDEPENDE TAMBÏM DEUMACOMPANHAMENTOEMOCIONALADEQUADO LEVANDOA
uma intersecção entre todos os fatores no desenrolar da vida.
Boa leitura!

Gláucia Viola
psique@escala.com.br
www.facebook.com/RevistaPsiqueCienciaeVida “Uma cama de hospital é um táxi
estacionado com o taxímetro a correr.”
Groucho Marx
sumário

CAPA
1an0os DOSSIÊ: PSICOLOGIA
NO ESPORTE
35
A preparação psicológica
pode ser o diferencial nos
resultados expressivos de
IMAGEM DA CAPA: SHUTTERSTOCK

ATLETAS RATIlCANDOSEUPAPEL
central no universo esportivo

MATÉRIAS
08 A Ética do psicólogo
26 !TUA¥ÎODOPROlSSIONAL
na Perícia Psicológica,
no âmbito judicial e
principalmente nas Varas
de Família apresenta
ENTREVISTA inúmeras diferenças do que
é exigido na área clínica
Neurologista Marcela Amaral Avelino
destaca a heterogeneidade dos quadros
CLÓNICOSCOMODESAlOCIENTÓlCO
para a obtenção de diagnósticos
dos transtornos mentais Apoio fundamental
!SDIlCULDADESEMLIDARCOM 56
SEÇÕES o câncer, suas consequências
05 EM CAMPO
e a proximidade da morte
16 IN FOCO
fazem com que a Psicologia
18 PSICOPOSITIVA Oncológica seja fundamental
20 PSICOPEDAGOGIA na atuação hospitalar
22 SEXUALIDADE
24 SUPERVISÃO
32 COACHING
34 LIVROS
50 CYBERPSICOLOGIA
52 NEUROCIÊNCIA
Uma nova ordem
54 RECURSOS HUMANOS Counseling organizacional
64 DIVÃ LITERÁRIO é uma ferramenta que usa
66 CINEMA o conhecimento técnico
70 PERFIL de uma pessoa para
78 UTILIDADE PÚBLICA 72 ORIENTARUMPROlSSIONALA
80 EM CONTATO tomar decisões assertivas
82 PSIQUIATRIA FORENSE
em campo por Jussara Goyano

TR ABALHO E FELICIDADE
Enquanto as mais diversas vertentes
organizacionais discutem um modelo
de liderança, um estudo realizado por
pesquisadores das universidades de
Greenwich e Sussex mostra que propor-
cionar uma percepção de propósito no
trabalho entre os seus liderados não é
uma habilidade dos gestores. Muito pelo
CONTRÉRIO ELESDESTROEMESSESIGNIlCADO
A pesquisa ouviu 135 pessoas trabalhan-
do em 10 ocupações muito diferentes,
desde sacerdotes até coletores de lixo,
para perguntar sobre incidentes ou
momentos em que os trabalhadores pen-
saram que o seu trabalho era algo signi-
lCATIVOE POROUTROLADO MOMENTOSEM
que eles se perguntaram: “Por que estou
trabalhando com isso?”. A despeito das
lideranças, a autora do estudo, Katie
Bailey, diz que para as organizações que

IMAGENS: SHUTTERSTOCK
BUSCAMNUTRIRESSESIGNIlCADO OPERAR
“com responsabilidade ética e moral é
uma boa alternativa, uma vez que são
qualidades que fazem a ponte entre o
trabalho e a vida pessoal”.

AÇÃO X HÁBITO POR OUTRO LADO...


Um novo estudo, desta vez da Univer-
MECANISMOS DE AÇÃO DIRIGIDA E sidade de Split, Croácia, relacionou a
ESTRUTURAS DE AÇÃO HABITUAL COMPETEM satisfação no trabalho ao sucesso da
empresa. A pesquisa comparou desempe-
NA TOMADA DE DECISÃO nho empresarial de 40 grandes e médias
Com um modelo de experiência com ratos, uma equipe internacional de companhias com a avaliação dos funcio-
pesquisadores, sediada na Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA), nários sobre 10 diferentes aspectos de seu
demonstra o que acontece no cérebro para que os hábitos controlem o nosso trabalho, totalizando 6 mil avaliações.
comportamento. (Fonte: ScienceDaily.com)
O estudo, publicado na revista Neuron, fornece a evidência mais forte até
hoje, segundo seus autores, de que os circuitos do cérebro designados tanto
para a ação habitual quanto para a ação dirigida competem pelo controle no
córtex orbitofrontal, uma área do cérebro responsável pela tomada de decisão.
.EUROQUÓMICOSCHAMADOSENDOCANABINOIDES ENVOLVIDOEMVÉRIOSPROCESSOSl-
siológicos, incluindo apetite, sensação de dor e humor, são os mecanismos que
permitem ao hábito assumir o controle, agindo como uma espécie de freio no
circuito da ação dirigida.
Os resultados sugerem, segundo os autores da pesquisa, um novo alvo tera-
pêutico para pessoas que sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo ou vícios,
para interromper a dependência excessiva do hábito e restaurar a capacidade de
mudar das ações habituais para as ações dirigidas por objetivos; Pode ser útil
para tratar o sistema endocanabinóide do cérebro e assim reduzir o controle das
ações habituais sobre o comportamento do indivíduo.
(Fonte: ScienceDaily.com)

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em campo

ESTRESSE
COMO OS NEURÔNIOS CEREBRAIS
COMANDAM REAÇÕES FISIOLÓGICAS
Ao experienciar o estresse, o nosso corpo desvia re-
cursos metabólicos para sua resposta de emergência. Pen-
sava-se que o sistema nervoso simpático - sistema instinti-
vo do corpo para reagir ao estresse - dirigia essa atividade,
mas uma pesquisa recente do Weizmann Institute of Science,
em Israel, agora mostra que os neurônios no cérebro têm

IMAGENS: SHUTTERSTOCK
um papel surpreendente nessa atividade. As descobertas,
que apareceram recentemente na Cell Metabolism, pode-
rão, no futuro, ajudar no desenvolvimento de melhores
medicamentos para patologias relacionadas com o estres-
se, tais como os transtornos alimentares.
Quando somos expostos a situações estressantes, o hipo-
TÉLAMOINTENSIlCAAATIVA¥ÎODEUMRECEPTOREMSUASPARE-
COMPORTAMENTO
des exteriores, o CRFR1. Sabe-se que esse receptor contribui
para a rápida ativação da rede nervo simpática - aumentando
E INTELIGÊNCIA
o ritmo cardíaco, por exemplo. Como essa área do cérebro SABEDORIA VARIA DE ACORDO
também regula o equilí-
brio de energia do corpo,
COM A SITUAÇÃO
os cientistas partiram Estudo mostra que não existe pessoa sábia, mas ati-
RESOLVERAM VERIlCAR SE O tude, sim. Pesquisadores da Universidade de Waterloo,
CRFR1 poderia desem- nos Estados Unidos, observaram a reação de indivíduos
penhar um papel nisso. em resposta a diversas situações cotidianas para estudar
Eles descobriram que é a sabedoria humana. Entre seus achados está a percepção
o receptor que desem- de que raciocínio sábio é aquele que põe em prática uma
penha efeito inibitório combinação de habilidades, tais como a humildade in-
sobre as células nervosas, telectual, a consideração da perspectiva dos outros e a
e isso é o que ativa o sis- procura por compromisso. E não depende exclusivamente
tema nervoso simpático. de personalidade, tendo essas características postas em
A descoberta, entre prática de acordo com a circunstância.
outros detalhes revela- ! OBSERVA¥ÎO DE QUE O RACIOCÓNIO SÉBIO VARIA SIGNIl-
dos pela pesquisa, pode auxiliar no desenvolvimento de cativamente entre as situações na vida cotidiana sugere
tratamentos psicofarmacêuticos que atuem no hipotála- que ele não é raro. Além disso, para indivíduos diferentes,
mo, o que já está sendo feito por algumas empresas, em apenas determinadas situações promovem esta qualidade.
busca de um possível tratamento para os transtornos de Para a próxima etapa do trabalho, os cientistas prepa-
ansiedade ou depressão. Os cientistas alertam, no entanto, ram uma ferramenta para avaliar a sabedoria de acordo
que, como as células estão envolvidas no equilíbrio ener- com a situação. Eles têm planos de realizar o primeiro
gético, bloquear os receptores poderá ter efeitos colate- estudo longitudinal com o objetivo de ensinar as pessoas
rais, como ganho de peso. a raciocinar sabiamente em suas próprias vidas.
O novo mapa da sabedoria foi publicado recentemente
PARA SABER MAIS: na revista Social Psychological and Personality Science.
Yael Kuperman, Meira Weiss, Julien Dine, Katy Staikin, (Fonte: ScienceDaily.com)
Ofra Golani, Assaf Ramot, Tali Nahum, Claudia Kühne,
Yair Shemesh, Wolfgang Wurst, Alon Harmelin, Jan M.
Deussing, Matthias Eder, Alon Chen. CRFR1 in AgRP Jussara Goyano é jornalista. Estuda Psicologia, Medicina
ARQUIVO PESSOAL

Neurons Modulates Sympathetic Nervous System Activ- Comportamental e Neurociências, com foco em
  ÈI G9H¢GGI:UIGI I ‚IG
G
ity to Adapt to Cold Stress and Fasting. Cell Metabolism,
pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento.
2016; DOI: 10.1016/j.cmet.2016.04.017

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giro escala em sala de aula: apresente o Anarquismo, suas vertentes e seus personagens

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ENTENDENDO A CRISE
REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 64 Uma reflexão sobre o
Game of

TRABALHISMO
Thrones
Artigo analisa
arquétipos

O Brasil passa por um grave momen- ou, mais precisamente, conhecimento políticos de
uma das séries
mais populares
Como a esquerda nacional
encarou essa ideologia,
to em sua trajetória, no qual se observa CIENTIlCODOSFATOSEFENÙMENOSSOCIAIS
da televisão

Estudo de caso confundindo-a com puro populismo


A agricultura

que as instituições não demonstram es- como realidades que ocorrem dentro familiar e a
qualidade
de vida do

tar tão consolidadas quanto a sociedade da sociedade”, se insere no debate, cada trabalhador
rural

esperava. Por isso, é fundamental enten- vez mais atual e necessário, em torno de
Mundo laboral
Mudanças nas
DPOmHVSBªFT
do trabalho
der a crise da democracia nacional e a temas como o processo politico brasi- não alteraram
radicalmente
a lógica da

Sociologia assume um papel central en- LEIRO CONTRIBUINDODEMODOQUALIlCADO exploração

Friedrich

quanto instrumento teórico-metodoló- para a descrição, compreensão, inter-


Engels
Resenha de
Anti-Dühring,
um dos
gico, no sentido de promover uma leitu- PRETA¥ÎOEEXPLICA¥ÎOCIENTÓlCA trabalhos mais
importantes
do pensador

RAEUMACOMPREENSÎOMAISQUALIlCADAS Nesses tempos de inquietações, de RICARDO DELLO BUONO VÊ A SOCIOLOGIA COMO FERRAMENTA DE LIBERTAÇÃO

DA REALIDADE  SUPERANDO SUPERlCIALIDA- atitudes que afrontam a democracia e o


des, subjetividades e estereótipos. Por Estado, com o país em transe, e passan- um ambiente convulsionado por mani-
meio da Sociologia entende-se o com- do por um momento curioso do ponto festações, crise política, torna-se cada
promisso com a pluralidade e o desejo de vista sociológico, a Sociologia realça vez mais importante aprimorar, quali-
que o debate sociológico contribua para suas possibilidades na formação do pen- lCAR  COMPREENDER A REALIDADE SOCIAL E
uma visão mais objetiva, a partir das samento inteligente, criativo e de ideias. POLÓTICAEOSFATORESQUEINmUENCIAMOS
formas de linguagem e saberes socioló- Existem vários a spectos que podem jus- FENÙMENOS  O mUXO DE INFORMA¥ÜES E A
gicos. A Sociologia, reconhecida como TIlCAR A IMPORTÊNCIA E AS RAZÜES PARA comunicação. Mais informações na edi-
“ciência social que estuda a sociedade, estudar Sociologia. Atualmente, em ção 64 da revista Sociologia.

POLÍTICA EM XEQUE
REVISTA FILOSOFIA - EDIÇÃO 119

A política, mais do que nunca, é cometidos por aqueles que exercem ao conjunto de cidadãos e às ações
parte do cotidiano. Está nos meios cargos públicos eletivos. Contudo, destes nessa esfera. Por isso, é um
de comunicação, nas rodas de con- etimologicamente, política designa, tema que deveria interessar a todos.
versa, na universidade e nas ruas. No desde a Antiguidade, o campo da ati- Na Grécia Antiga, cidadãos guia-
cotidiano, o termo “política” é usado vidade humana relativa à cidade, ao vam a cidade. Todavia, cabe ressaltar
em diferentes acepções. Há aque- Estado, à gestão do espaço público, que no paradigma grego nem todos
les que associam a certa habilidade podiam ser considerados cidadãos.
nas relações sociais e para realizar Mulheres, crianças, escravos e estran-
conciliações, como, por exemplo, a geiros não participavam da vida na pó-
pessoa chamada de muito política, ENTREVISTA RENATO JANINE RIBEIRO
lis. No entanto, todos os que gozavam
de “cidadania” participavam politica-
Edimar Brígido aborda Ética e Estética Ser de esquerda é um estilo de vida

quando, na verdade, é um indivíduo ANO IX No 119 – www.portalcienciaevida.com.br


no pensamento de Wittgenstein e não apenas uma posição política

comunicativo e conciliador. Existe mente. Em contrapartida, a partir da


EXISTÊNCIA
outro uso para a expressão política, E DUALISMO
Vida como experiência Modernidade, as questões privadas
subjetiva radical que está

que a relaciona a disputas partidá- fora do alcance


da razão
passaram a ocupar espaço maior na
rias, ou a reduz aos pleitos eleitorais. À ESPERA
DE UM MILAGRE vida das pessoas. Uma das consequên-
HANNAH ARENDT:

Frases como “este é um ano de po- a capacidade humana de


agir impulsiona novos
cias é que a atividade política nas so-
inícios na vida política
lítica”, referindo-se aos anos em que ciedades atuais, em termos gerais, caiu
há eleições, são análises restritas. A VOZ DO em descrédito. O resultado é que nas
Algumas pessoas dizem não gostar FEMINISMO DEMOCRACIAS CONTEMPORÊNEAS HOUVE
Submissão e violência contra
da atividade política e consideram-se a mulher: a necessidade de
desnaturalizar elementos comuns
avanços em relação aos direitos civis,
desde a Grécia Antiga e que
indiferentes, desiludidas. Geralmen- persistem na atualidade mas retrocessos na participação polí-
te, limitam a política à corrupção, à tica. Mais detalhes na edição 119 da
EDIÇÃO 119 - PREÇO R$ 9,80
ão
Reflextica 10 8
e prá
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PROFE
DO
RTE
ENCA
imento
pelo conhec
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e do desenvolvimen
A busca
nas sociedades
responsabilidad culturais
sobre a e modificações
Uma discussão estruturação
pela a
científico
Ciênci
fia à domínios do saber

Da Filoso entre diferentes


Pela intersecção

roubalheira e aos desvios de conduta Tiago


Brentam

Carolina
de Carolina
Com curadoria Perencini
Desoti

PELA05# #AMPINAS0ES URAL


FORMA¥ÎODAIDENTIDADEC
REDATORAEPRODUTORACULT
Tiago
Brentam
&ILOSOl
Perencini
Fernandes

GRADUADAEM&ILOSOl
FernandesÏ
Desoti QUISAAINm
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UÐNCIAAFRICANANA

ULTURALBRASILEIRA¡EDITO

ÏLICENCIADOEBACHARELE

A-ESTREEM%NSINODE
PROFESSORDE&ILOSOl
&ILOSOl

A#ONTEMPORÊNEANA&A

*OÎO0AULO))DE-ARÓLIA

dd 35
M

APELA5NESPE
CULDADE
5/19/16
2:59 PM
REFLEXÃO E PRÁTICA: Pode existir Ciência sem Filosofia?
revista &ILOSOlA.

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MARCELA AMARAL AVELINO JACOBINA

8 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br


E N T R E V I S T A

NÃO É NADA
SIMPLES
IDENTIFICAR O QUE É
PATOLÓGICO
A neurologista Marcela Amaral Avelino ressalta o grande
DESAlODACOMUNIDADECIENTÓlCAPARACONSEGUIRDIAGNOSTICAR
TRANSTORNOSMENTAIS EMFUN¥ÎODAHETEROGENEIDADEDEQUADROS
CLÓNICOSQUEOCORREMEMRELA¥ÎOAESSESDISTÞRBIOS
Por Lucas Vasques

O
SINÞMEROSMISTÏRIOSQUEENVOLVEMA NAINFÊNCIAEADOLESCÐNCIA FECHARDIAGNØSTICOSE
MENTEDASCRIAN¥ASEDOSADOLESCENTES ESTABELECERTRATAMENTOSSÎOSITUA¥ÜESBEMMAIS
SÎOCADAVEZMAISINTENSAMENTEALVO COMPLEXASDOQUEAPARENTAMv REVELA
DEPROFUNDOESTUDOPORPARTEDA -ARCELAPOSSUIGRADUA¥ÎOEM-EDICINAPELA
.EUROLOGIA0EDIÉTRICA4EMASCOMODISTÞRBIOS 5NIVERSIDADE&EDERALDO0IAUÓ ETÓTULODE
DODESENVOLVIMENTOEDOSTRANSTORNOSMENTAIS ESPECIALISTAEM.EUROLOGIAE.EUROLOGIA0EDIÉTRICA
ECOMPORTAMENTAIS DESENVOLVIMENTOINFANTIL  PELA%SCOLA0AULISTADE-EDICINA%0-5NIFESP 
SUICÓDIOENTREADOLESCENTES DELINQUÐNCIA DROGAS  Neurologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira
USOABUSIVODAINTERNET ENTREOUTROS DESAlAMAS DE0EDIATRIA3"0 E.EUROLOGIAPELA!CADEMIA
PESQUISASDOSPROlSSIONAISQUEATUAMNAÉREA "RASILEIRADE.EUROLOGIA!". 2EALIZOUMESTRADO
3EGUNDO-ARCELA!MARAL!VELINO*ACOBINA NEU- PELA5NIFESP!TUALMENTE ALÏMDENEUROLOGISTA
ROLOGISTADO!MATO)NSTITUTODE-EDICINA!VAN¥ADA  ENEUROPEDIATRANA#LÓNICA!MATO)NSTITUTODE
NEMSEMPREDIFERENCIAROQUEÏPRØPRIODODESEN- -EDICINA!VAN¥ADA EM3ÎO0AULO ÏPRECEPTORA
VOLVIMENTOHUMANODOPATOLØGICOÏSIMPLESh% NA DARESIDÐNCIAMÏDICADE.EUROLOGIA0EDIÉTRICADA
MAIORIADASVEZES OSEXAMESDIAGNØSTICOSACESSÓVEIS 5NIFESP NEUROLOGISTAENEUROPEDIATRADO)NSTITUTO
NÎOSÎOCAPAZESDEESTABELECERUMDIAGNØSTICODE DE!SSISTÐNCIA-ÏDICAAO3ERVIDOR0ÞBLICO%STADUAL
CERTEZA.OÊMBITODOSDISTÞRBIOSDODESENVOLVI- n)AMSPEENEUROLOGISTADO(OSPITALDO3ERVIDOR
MENTOEDOSTRANSTORNOSMENTAISECOMPORTAMENTAIS 0ÞBLICO-UNICIPALn(30-DE3ÎO0AULO
ARQUIVO PESSOAL

Lucas Vasques é jornalista e escreve nesta publicação.

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DADOS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA No âmbito dos distúrbios do desenvolvimento
SAÚDE (OMS) INDICAM QUE A PREVA-
LÊNCIA MUNDIAL DE DISTÚRBIOS DO DE - e dos transtornos mentais e comportamentais
SENVOLVIMENTO E DOS TRANSTORNOS
MENTAIS E COMPORTAMENTAIS NA IN -
na infância e adolescência, fechar diagnósticos
FÂNCIA E ADOLESCÊNCIA CHEGA A 20%. e estabelecer tratamentos são situações
A HETEROGENEIDADE DOS QUADROS CLÍ -
NICOS E AS PECULIARIDADES DIAGNÓSTI - mais complexas do que aparentam
CAS REPRESENTAM UM DESAFIO PARA A
PRÁTICA CLÍNICA? O SUICÍDIO, AINDA SEGUNDO A OMS, DEVE INTERVIR  FAZENDO DIAGNØSTICO E
M ARCELA: 3IM ! HETEROGENEIDADE É A TERCEIRA CAUSA DE MORTE ENTRE TRATANDOANTESQUEOPIORACONTE¥A
DAS MANIFESTA¥ÜES CLÓNICAS E POSSÓ- ADOLESCENTES . C OMO A NEUROLOGIA
veis etiologias desses transtornos nos OU A NEUROCIÊNCIA PODEM CONTRIBUIR C OMO DETECTAR SE CONDUTAS ANTIS -
DESAlAM DIARIAMENTE ,IDAMOS COM PARA MINIMIZAR ESSE CENÁRIO? SOCIAIS , DELINQUÊNCIA E USO DE DRO -
ALTERA¥ÜES TÎO DIVERSAS COMO UM LEVE M ARCELA :.AFAIXAETÉRIAADOLESCEN- GAS , POR EXEMPLO, SÃO APENAS MANI -
TIQUEPRØPRIODAINFÊNCIAATÏALTERA¥ÜES TE OSPRINCIPAISFATORESASSOCIADOSAO FESTAÇÕES INERENTES À ADOLESCÊNCIA ,
COMPORTAMENTAIS MAIS RARAS  QUE EN- RISCODESUICÓDIOESTÎORELACIONADOSA E POR ISSO PASSAGEIRAS , OU ESTÃO AS -
VOLVEM QUADROS DEGENERATIVOS E PRO- TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE OU HU- SOCIADOS A DISTÚRBIOS DE COMPORTA-
GRESSIVOS .EM SEMPRE DIFERENCIAR O MOR  QUE INCLUEM SINTOMAS DEPRESSI- MENTO MAIS GRAVES?
QUEÏPRØPRIODODESENVOLVIMENTOHU- VOS AUTOEHETEROAGRESSIVIDADE PRE- M ARCELA: %SSA Ï UMA PERGUNTA MUI-
MANO DO PATOLØGICO Ï TÎO SIMPLES %  DISPOSI¥ÎOAOABUSODESUBSTÊNCIASE TAS VEZES DIFÓCIL DE SER RESPONDIDA
NAMAIORIADASVEZES OSEXAMESDIAG- COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL 'ERAL- -ASPARAMINIMIZARACHANCEDEERRO
NØSTICOSACESSÓVEISNÎOSÎOCAPAZESDE MENTE  OS INDÓCIOS DE UM DESFECHO E DISTINGUIR O NORMAL DO PATOLØGICO Ï
ESTABELECERUMDIAGNØSTICODECERTEZA SUICIDA APARECEM EM TEMPO HÉBIL FUNDAMENTAL UMA AVALIA¥ÎO GLOBAL DO
.O ÊMBITO DOS DISTÞRBIOS DO DESEN- para se evitar essa trágica consequ- ADOLESCENTE ¡ PRECISO DETERMINAR O
VOLVIMENTO E DOS TRANSTORNOS MENTAIS ÐNCIA 3EJA ATRAVÏS DE PEQUENAS MU- IMPACTO DO COMPORTAMENTO NA VIDA
ECOMPORTAMENTAISNAINFÊNCIAEADO- DAN¥ASNOCOMPORTAMENTOOUMESMO DO PRØPRIO INDIVÓDUO E NA DAQUELES
LESCÐNCIA  FECHAR DIAGNØSTICOS E ESTA- DROGADI¥ÎO  ESSES ADOLESCENTES MUI- COMQUEMELESERELACIONA ESEELETEM
BELECERTRATAMENTOSSÎOSITUA¥ÜESBEM TASVEZESNOSMOSTRAMQUEPRECISAM CIÐNCIA DISSO !LÏM DO SOMATØRIO DE
MAISCOMPLEXASDOQUEAPARENTAM de ajuda. É nesse ponto que a ciência OUTRAS CARACTERÓSTICAS  EMPATIA COLO-
CAR SENOLUGARDOOUTRO COSTUMASER
UMACARACTERÓSTICAAUSENTENOSFRANCA-
MENTEPATOLØGICOS

VIVEMOS NA ERA DE MUITA INFOR-


MAÇÃO SIMULTÂNEA E COSTUMA- SE ,
INCLUSIVE , DIZER QUE A CRIANÇA SÓ
FALTA NASCER FALANDO , POIS OS BEBÊS
SÃO TOTALMENTE DIFERENTES DOS DA
GERAÇÃO PASSADA . C OMO A NEUROLO -
GIA EXPLICA ESSE DESENVOLVIMENTO
DO CÉREBRO INFANTIL ?
M ARCELA: %STEÏMAISUMEXEMPLODE
QUE OS NOSSOS GENES E CROMOSSOMOS
NÎO SÎO OS ÞNICOS DETERMINANTES DO
QUE SOMOS !S CRIAN¥AS  ATUALMENTE 
SÎO PRECOCEMENTE EXPOSTAS A UMA GI-
GANTESCA MASSA DE ESTÓMULOS  DESDE O
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

INTRAÞTERO/ESTILODEVIDACONTEMPO-

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 RÊNEOÏEXTREMAMENTEDIFERENTEEMAIS
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G ËI GG\GGGGh€IGG  ACELERADO QUE NA ÏPOCA DOS NOSSOS

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AVØS4UDOISSOREmETENAEVOLU¥ÎODAS *
 
GI GhG
NOSSAS CRIAN¥AS ALTERA¥ÜES HORMONAIS 
GGG 

E MODIlCA¥ÜES DO AMBIENTE UTERINO  IG
G
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IIGGG
EMFUN¥ÎODAVIDADAMÎE ADAPTA¥ÎOÌ
GGG
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MULTIPLICIDADEDEESTÓMULOSAMBIENTAIS

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DALUMINOSIDADEATÏOINGRESSOPRECO-
CEEMESCOLASECRECHES ETC

E XISTEM CRIANÇAS CRUÉIS , OU SEJA , PO -


DEMOS DIZER QUE UMA CRIANÇA PODE
APRESENTAR TRAÇOS DE PSICOPATIA DES -
DE MUITO PEQUENA? O QUE A NEUROLO -
GIA FALA SOBRE ISSO?
M ARCELA:3IM0SICOPATIAÏUMTRANS-
TORNO PSIQUIÉTRICO QUE SE CARACTERIZA
PELA AUSÐNCIA DE CONSCIÐNCIA MORAL 
ÏTICA E HUMANA  EVIDENCIADA POR ATI-
TUDESDESCOMPROMISSADASPARACOMO
OUTROECOMASREGRASSOCIAIS ALÏMDE
DEF ICIÐNCIA SIGNIF ICATIVA DE EMPATIA Vários estudos na A MICROCEFALIA , RECENTEMENTE , SE
0ODE ACONTECER EM QUALQUER IDADE
literatura médica
TRANSFORMOU EM UM FANTASMA PARA
-UITASVEZES OSSINTOMASSÎOIGNORA- NOSSA SAÚDE PÚBLICA .É CORRETO DIZER
DOSPELOTEMORDESEASSUMIRUMDIAG-
NØSTICOTÎOPRECOCEMENTE%NTRETANTO 
comprovam que, nos QUE O ZIKA VÍRUS , AO ATINGIR O CÉRE -
BRO DO FETO, PROVOCA UMA REAÇÃO
DIVERSOS SINAIS SÎO VISÓVEIS JÉ DESDE transtornos mentais INFLAMATÓRIA QUE PREJUDICA A MUL -
MUITO CEDO  COMO MALTRATAR ANIMAIS TIPLICAÇÃO DAS CÉLULAS QUE ORIGINAM
SEM QUALQUER REMORSO OU SENTIDO  e comportamentais, OS NEURÔNIOS E POR CONTA DESSA IN -
COMPORTAMENTOEXTREMAMENTEOPOSI-
a genética não é a
FLAMAÇÃO O CÉREBRO NÃO ATINGE SEU
TOREIMPULSIVIDADEEXAGERADA!TUAL- TAMANHO NATURAL?
MENTE JÉSÎORECONHECIDASALTERA¥ÜES
CEREBRAISEMPSICOPATASQUEJUSTIF ICAM
única responsável M ARCELA: !S ANÉLISES DE AUTØPSIAS
SUGEREM QUE O VÓRUS PROVOCA INTENSA
AF ISIOPATOLOGIADAPSICOPATIA pelas manifestações DESTRUI¥ÎO CELULAR DIRETA  RESULTAN-
DO EM MORTE NEURONAL  CALCIF ICA¥ÜES 
É MUITO DIFÍCIL DIAGNOSTICAR UMA clínicas. Fatores GLIOSE CICATRIZES  E DEGENERA¥ÎO WAL-
INFANTIL , LERIANA DEGENERA¥ÎO SECUNDÉRIA DOS
PSICOSE UMA
CRIANÇA VIVE EM UM MUNDO NO QUAL
VEZ QUE A
ambientais e sociais TRATOS NEURONAIS  QUE EXPLICAM O DÏ-
A IMAGINAÇÃO NÃO TEM LIMITES , O QUE
PODE SER CONFUNDIDO COM ALGUMA
SÎOMODIlCADORES F ICIT DE CRESCIMENTO CEREBRAL (OUVE
INF ILTRADO INF LAMATØRIO NAS AMOSTRAS 
PSICOPATOLOGIA ? e causadores de PORÏMMAISDISPERSO
M ARCELA: #OMO CITADO ANTERIORMEN-
TE  MALTRATAR ANIMAIS PODE SER UMA psicopatologias M AS EXISTEM CAUSAS MAIS FREQUENTES
CARACTERÓSTICA PRECOCE DE PSICOPATIA PARA A MICROCEFALIA DO QUE O ZIKA VÍ -
-AS TORTURAR UM ANIMALZINHO E CHO- VOAROUQUEALGUÏMÏUMSUPER HERØI RUS .
Q UAIS SERIAM ESSAS CAUSAS E QUAIS
RARAPØSSERESCLARECIDODOFEITOÏUM E TEM PODERES MÉGICOS -AS ESSES AS FORMAS DE TERAPIA , UMA VEZ QUE SE
sinal de que esse ato pode ser apenas PENSAMENTOSSÎOCONSTRUÓDOSEPODEM TRATA DE UMA DOENÇA INCURÁVEL?
FRUTO DA INCAPACIDADE INFANTIL DE PRE- SER DESCONTRUÓDOS  O QUE NÎO OCORRE M ARCELA: ! MICROCEFALIA PODE RE-
VERCONSEQUÐNCIAS!TÏOPERÓODOPRÏ- DE MANEIRA TÎO SIMPLES NOS QUADROS SULTAR DE INÞMERAS CAUSAS GENÏTICAS E
ESCOLAR  A CRIAN¥A GERALMENTE TEM DE PSICOSE .ESSES ÞLTIMOS  AS IDEIAS AMBIENTAIS  OU ATÏ DA COMBINA¥ÎO DE-
PENSAMENTOS CONCRETOS E POUCA OU DELIRANTESSÎOF IXASECONVENCÐ LOSDA LAS %NTRE ELAS  ESTÎO AS SÓNDROMES DE
NENHUMANO¥ÎODOPERIGO!SSIM NÎO IRREALIDADEDEALGUMASCOISASÏTAREFA 2ETT  DE #ORNELIA DE ,ANGE  DE #RI-
Ï INCOMUM ACREDITAREM QUE PODEM PRATICAMENTEIMPOSSÓVEL DU #HAT  DE $OWN  DE 3ECKEL E DE

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ÉREA  PERMITINDO DIFERENCIAR O NORMAL
DOPATOLØGICOCOMMAISSEGURAN¥A% 
UMA VEZ DISTINGUINDO OS  Ï POSSÓVEL
TRATAR OS CASOS NECESSÉRIOS !LÏM DAS
TERAPIAS MEDICAMENTOSAS  PODEMOS
CONTARCOMOTRATAMENTONEUROPSICOLØ-
GICODESSASCRIAN¥AS QUECADADIAMAIS
ENGLOBANOVASTÏCNICAS%NTREASMEDI-
CA¥ÜES  ATUALMENTE DISPOMOS DE UMA
DIVERSIDADEAMPLADECLASSESDEDROGAS
E FORMULA¥ÜES COM DIFERENTE FARMACO-
CINÏTICA E DIFERENTE FARMACODINÊMICA 
QUE PERMITEM OTIMIZAR O BENEFÓCIO E
MINIMIZAROSEFEITOSCOLATERAIS

O CÉREBRO DAS PESSOAS QUE SOFREM


DE TDAH FUNCIONA DE MANEIRA DIFE -
RENTE? A PRESENTA DIFERENÇAS MORFO -
$b G 
 IG GÔ ^ 

I
9IGGGG G 
9 LÓGICAS?
IG   
G
GG
G M ARCELA: 3ABE SE QUE O 4$!( TEM
UM FORTE COMPONENTE HEREDITÉRIO !
3MITH ,EMLI /PTIZ A FENILCETONÞRIA O estilo de vida PROBABILIDADE DE UMA CRIAN¥A TER O
MATERNA O CONSUMO DE CIGARRO  ÉLCO- DISTÞRBIO AUMENTA EM ATÏ OITO VEZES
OL DROGASOUDEALGUNSMEDICAMENTOS contemporâneo é SE OS PAIS TAMBÏM FOREM ACOMETIDOS
DURANTE A GESTA¥ÎO DOEN¥AS INFECCIO-
SAS RUBÏOLA  TOXOPLASMOSE  CITOMEGA-
mais acelerado que %NTRETANTO  A CAUSA DO 4$!( Ï MUL-
TIFATORIAL  COM COMPONENTES GENÏTICOS
LOVÓRUS  VARICELA  HERPES ZOSTER  ENTRE na época de nossos E AMBIENTAIS %STUDOS DEMONSTRAM
OUTRAS  INTOXICA¥ÎO POR METILMERCÞ- REDU¥ÎO DO VOLUME DE CERTAS ESTRUTU-
RIO  EXPOSI¥ÎO Ì RADIA¥ÎO DESNUTRI¥ÎO AVØS)SSOREmETENA RAS CEREBRAIS  COM PROPORCIONALMENTE
MATERNA MÉ FORMA¥ÎO DA PLACENTA MAIORDIMINUI¥ÎODOCØRTEXPRÏ FRONTAL
TRAUMATISMO CRANIOENCEFÉLICO E HIPØ- evolução das crianças: ESQUERDONOSACOMETIDOS/SCIRCUITOS
XIA GRAVE PERINATAL / OBJETIVO MAIOR
DO TRATAMENTO Ï A REABILITA¥ÎO ESTI-
alterações hormonais PRÏ FRONTAIS ESTRIATO CEREBELAR E PRÏ-
FRONTAIS ESTRIATO TÉLAMOTAMBÏMDIFE-
MULAR O MAIOR DESENVOLVIMENTO POS- EMODIlCA¥ÜESDO REM ENTRE PESSOAS COM E SEM 4$!(
SÓVEL ECONTROLARASCOMPLICA¥ÜES!S- 3ABE SE  AINDA  QUE HÉ ALTERA¥ÜES FUN-
SIM  A TERAPIA DEVE SER CONDUZIDA POR ambiente uterino CIONAIS ENVOLVIDAS  EM ESPECIAL NAS
UMA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR COMPOSTA VIAS DOPAMINÏRGICA MESOCORTICOLÓMBI-
PORMÏDICOSDEDIFERENTESESPECIALIDA- em função da vida CAENORADRENÏRGICADOlocus ceruleus.
DES NEUROPEDIATRAS  OFTALMOLOGISTAS 
PEDIATRAS lSIATRASETC lSIOTERAPEUTAS 
da mãe, adaptação A SUPERMEDICALIZAÇÃO DAS CRIANÇAS
FONOAUDIØLOGOS  TERAPEUTAS OCUPACIO- à multiplicidade de EM CASOS DE TDAH PODE NÃO SER A
NAISEPSICØLOGOS/USODEMEDICA¥ÜES MELHOR SAÍDA?
TAMBÏM Ï FREQUENTEMENTE NECESSÉRIO estímulos ambientais M ARCELA: #OMCERTEZAå-UITOSCASOS
PARA O CONTROLE DE CRISES EPILÏPTICAS E PODEMSERRESOLVIDOS INCLUSIVE SEMO
DASALTERA¥ÜESDECOMPORTAMENTO M ARCELA: !TUALMENTE  O DIAGNØSTICO USODEQUALQUERMEDICA¥ÎO/4$!(
DOS 4$!( TEM SIDO FEITO DE MANEIRA TEM VÉRIOS GRAUS E TAMBÏM TEM SIDO
EM QUE MEDIDA AS DESCOBERTAS NO CADA VEZ MAIS PRECOCE / ESTUDO DO ASSOCIADO COM DÏF ICITS MOTIVACIONAIS
CAMPO DA NEUROLOGIA P EDIÁTRICA COMPORTAMENTO E DESENVOLVIMENTO EM ALGUMAS CRIAN¥AS %SSAS TÐM DIF I-
AVANÇARAM NO DIAGNÓSTICO E NO TRA- NORMALDACRIAN¥A ALÏMDOSESTUDOSDE CULDADEPARAMANTERACONCENTRA¥ÎOE
SHUTTERSTOCK

TAMENTO DOS TRANSTORNOS DE DÉFICIT IMAGEM FUNCIONAIS  AUMENTOU EXPO- EXIBEMCOMPORTAMENTOIMPULSIVOPOR


DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE? NENCIALMENTE NOSSO CONHECIMENTO NA RECOMPENSAS DE CURTO PRAZO .ESSES

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INDIVÓDUOS OREFOR¥OPOSITIVOMELHORA Para minimizar as O USO EXCESSIVO DA INTERNET PODE
EFETIVAMENTE O DESEMPENHO  SEM USO ALTERAR O FUNCIONAMENTO CEREBRAL
DE QUALQUER MEDICA¥ÎO %NTRETANTO  sequelas da microcefalia, DA CRIANÇA ?
EM MUITOS CASOS  OS PSICOESTIMULAN-
TES PODEM SE FAZER NECESSÉRIOS PARA
a reabilitação M ARCELA: 6ÉRIOSESTUDOSTÐMMOSTRA-
DO MODIF ICA¥ÜES ESTRUTURAIS ATROF IA
AUMENTAR A PERSISTÐNCIA E A ATEN¥ÎO  MULTIPROlSSIONAL NA SUBSTÊNCIA CINZENTA  E FUNCIONAIS
ALÏM DE MELHORAR O COMPORTAMENTO ALTERA¥ÜES NAS VIAS NEURONAIS DE DO-
TAMBÏM #ONTUDO  CADA CRIAN¥A Ï DI- precoce é fundamental. PAMINA EMADICTOSEMINTERNETOUJO-
FERENTE DA OUTRA .UNCA DEVE SER ES- gos. !SÉREASAFETADASINCLUEMOLOBO
QUECIDO QUE NEM TODA DESATEN¥ÎO E Ainda não temos FRONTAL  QUE REGULA AS FUN¥ÜES EXECU-
OU HIPERATIVIDADE Ï 4$!(  MUITAS
VEZES FALTAM APENAS ESTÓMULO E ORGA-
MEDICA¥ÜESESPECÓlCAS TIVAS  COMO PLANEJAMENTO  ORGANIZA-
¥ÎO E CONTROLE DE IMPULSOS 0ERDA DE
NIZA¥ÎOFAMILIAR neuroprotetoras ou que VOLUMECORTICALTAMBÏMFOIOBSERVADA
no striatum QUEESTÉENVOLVIDONASVIAS
E XISTEM INÚMEROS MITOS A RESPEITO possam estimular a DE RECOMPENSA E SUPRESSÎO DE IMPUL-
SOSSOCIALMENTEINACEITÉVEIS4AMBÏM
regeneração neuronal
DO FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO DO
ADOLESCENTE , COMO A BUSCA PELO PRA- HÉ POSSÓVEIS ALTERA¥ÜES NA ÓNSULA  QUE
ZER IMEDIATO, NECESSIDADE DE RECOM - ESTÉLIGADAÌNOSSACAPACIDADEDEDE-
PENSAS POR MÉRITO, DIFICULDADE EM DOS IMPULSOS AINDA ESTÎO CHEGANDO Ì SENVOLVER EMPATIA E COMPAIXÎO PARA
RESPEITAR LIMITES E REGRAS , POR EXEM - MATURIDADE4ALMUDAN¥ADEEQUILÓBRIO COM OS OUTROS  E DE INTEGRAR SINAIS
PLO. C OMO A NEUROLOGIA ENXERGA PODEFORNECERPISTASPARAAEXPLICA¥ÎO FÓSICOS DE EMO¥ÎO %M SUMA  O USO
EM QUE MEDIDA ESSAS CARACTERÍSTICAS ENTRE UM APETITE JOVEM POR NOVIDADE EXCESSIVO DA INTERNET PARECE PREJUDI-
DEVEM SER CONSIDERADAS NATURAIS OU E UMA TENDÐNCIA A AGIR POR IMPULSO  CAR A ESTRUTURA E FUN¥ÎO DO CÏREBRO 
INDÍCIOS DE PATOLOGIAS OU DISTÚRBIOS? SEMLEVAREMCONTAORISCO%NTRETAN- COM GRANDE PARTE DOS DANOS OCOR-
M ARCELA: ! ESTRUTURA CEREBRAL SOFRE TO APESARDESSAIMPULSIVIDADENATURAL  RENDO NO LOBO FRONTAL  QUE PASSA POR
VISÓVEIS MUDAN¥AS DURANTE A ADOLES- EXISTE UMA LINHA TÐNUE QUE SEPARA O GRANDESMUDAN¥ASDESDEAPUBERDADE
CÐNCIA  COMO JÉ COMENTADO ANTERIOR- NORMALDOPATOLØGICO MASESSADIVISØ- ATÏ MEADOS DOS  ANOS %M GRANDE
MENTE 0ROVA DISSO Ï QUE A ESPESSURA RIANEMSEMPREÏTÎONÓTIDA DEPENDEN- PARTE  DESDE A SENSA¥ÎO DE BEM ESTAR
DA SUBSTÊNCIA CINZENTA VARIA NESSE DO DA REPERCUSSÎO QUE ESSAS ATITUDES AO SUCESSO ACADÐMICOPROF ISSIONAL E
PERÓODO  REF LETINDO AS ALTERA¥ÜES QUE DITASJUVENISTÐMNAVIDADOINDIVÓDUO HABILIDADESDERELACIONAMENTOEMPA-
OCORREMEMNÓVELMICROSCØPICO!LÏM
DISSO OAMADURECIMENTODASCONEXÜES
CEREBRAIS OCORRE DE MANEIRA PROGRES-
SIVA MASEMTEMPOSDIFERENTES£REAS
ENVOLVIDAS EM FUN¥ÜES MAIS BÉSICAS
AMADURECEM PRIMEIRO AQUELAS RELA-
CIONADAS  POR EXEMPLO  AO PROCESSA-
MENTO DE INFORMA¥ÎO DOS SENTIDOS
TATO VISÎO AUDI¥ÎOETC ENOCONTROLE
DOSMOVIMENTOS!SPARTESDOCÏREBRO
RESPONSÉVEIS PELO CONTROLE DOS IMPUL-
SOSEPLANEJAMENTODOFUTUROATIVIDA-
DES MAIS COMPLEXAS E CARACTERÓSTICAS
DOCOMPORTAMENTOADULTO ESTÎOENTRE
AS ÞLTIMAS A AMADURECER /UTRA EVI-
DÐNCIADEDIFEREN¥ANOFUNCIONAMENTO
CEREBRALADOLESCENTEÏQUEASPARTESDO
CÏREBROENVOLVIDASEMRESPOSTASEMO-
CIONAISSÎOTOTALMENTEATIVAS OUMES-
MOMAISATIVASDOQUEEMADULTOS EN- ( G
IG GG IIG G9I^

9
 9
 G
'G9
quanto aquelas envolvidas no controle
 ¢
¢ G9
-I
-  ¢' ¢* 9G

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AS INmUÐNCIAS DO MEIO SÎO CAPAZES DE
ELIMINAR ESSA DIVERGÐNCIA #ONTUDO  Ï
EVIDENTE QUE ESSA DIFEREN¥A DEVE SER
VALORIZADA NA AVALIA¥ÎO NEUROLØGICA E
FUNCIONALDEQUALQUERINDIVÓDUO

A INDA EM RELAÇÃO A GÊNEROS , E ABOR-


DANDO A QUESTÃO DA HOMOSSEXUALIDA-
DE , PARA A NEUROPEDIATRIA É POSSÍVEL
AVALIAR SE O FENÔMENO É BIOLÓGICO?
DESDE MUITO CEDO A CRIANÇA PODE
DESCOBRIR SUA HOMOSSEXUALIDADE?
M ARCELA: 5M ESTUDO SUECO MOSTROU
QUE HOMENS HOMOSSEXUAIS E MULHERES
HETEROSSEXUAIS TÐM CARACTERÓSTICAS CE-
REBRAIS SEMELHANTES %SPECIlCAMENTE 
ESSAS SEMELHAN¥AS ESTÎO NO TAMANHO
*GH 
 I GhG
GGPGIG9GGh€I G9 TOTAL DO CÏREBRO E NA ATIVIDADE E CONE-
IG G9G GhÔI
  XÜES DA AMÓGDALA / MESMO ACONTECE
ENTREHOMENSHETEROSSEXUAISEMULHERES
TIAOUCOMPORTAMENTOANTISSOCIAL DE- Um estudo sueco mostrou HOMOSSEXUAIS /UTRA PESQUISA QUE ES-
PENDEMDOBOMFUNCIONAMENTODESSA TUDOU O mUXO SANGUÓNEO NAS AMÓGDALAS
ÉREACEREBRAL que homens homossexuais OBSERVOUQUEEMHOMENSHOMOSSEXUAIS

P ROCEDE A AFIRMAÇÃO QUE AS MENINAS


e mulheres heterossexuais EMULHERESHETEROSSEXUAISOSANGUEmUI
PRINCIPALMENTEPARAASÉREASENVOLVIDAS
AMADURECEM MAIS CEDO DO QUE OS ME - têm características COM MEDO E ANSIEDADE  ENQUANTO QUE
NINOS E QUE O CÉREBRO MASCULINO E EM HOMENS HETEROSSEXUAIS E MULHERES
FEMININO POSSUEM DIFERENÇAS BIOLÓGI - cerebrais semelhantes. HOMOSSEXUAIS TENDIA A mUIR PARA OS LO-
CAS? EM CASO AFIRMATIVO, COMO ESSAS CAIS LIGADOS ÌS REA¥ÜES DE LUTA E FUGA
DIFERENÇAS INFLUENCIAM NOS ESTUDOS
%SPECIlCAMENTE ESSAS !LÏMDISSO AOAVALIARASDIFEREN¥ASANA-
DA NEUROPEDIATRIA?
M ARCELA: -ATURIDADECEREBRALÏSINÙ-
semelhanças estão no TÙMICASENTREOSHEMISFÏRIOSCEREBRAIS O
DIREITO PARECE SER UM POUCO MAIOR QUE
NIMODECAPACITA¥ÎOPARADETERMINADA tamanho total do cérebro, O ESQUERDO EM HOMENS HETEROSSEXUAIS
ATIVIDADE DESENVOLVIMENTO ADEQUADO E MULHERES HOMOSSEXUAIS  ENQUANTO
DEVIASECONEXÜESINTERNEURONAIS 3E- na atividade e nas QUEHAVIAUMATENDÐNCIAÌSIMETRIAEM
GUNDO ESTUDOS RECENTES  FOI EVIDENCIA- HOMENSHOMOSSEXUAISEMULHERESHETE-
DO QUE AS MENINAS TENDEM A OTIMIZAR conexões da amígdala ROSSEXUAIS%MHOMENSHOMOSSEXUAISE
AS CONEXÜES CEREBRAIS MAIS CEDO QUE MULHERESHETEROSSEXUAISCONSTATARAM SE
OSRAPAZES AMADURECENDOMAISRÉPIDO MADUROPARAOPROCESSAMENTODOMEIO TAMBÏMMAISCONEXÜESAPARTIRDAAMÓG-
EMALGUMASÉREASCOGNITIVASEEMOCIO- AMBIENTE DE MANEIRA MAIS PRECOCE DALA ESQUERDA *É EM MULHERES HOMOS-
NAISDURANTEAINFÊNCIAEADOLESCÐNCIA .A PRÉTICA  Ï COMUM QUE OS MENINOS SEXUAISEHOMENSHETEROSSEXUAISHOUVE
%SSA hEVOLU¥ÎOv RESULTA DE UMA PODA SEMOVIMENTEMMAISNOPERÓODOPERI- MAIS LIGA¥ÜES A PARTIR DA AMÓGDALA DI-
NEURONAL  ONDE CONEXÜES REDUNDANTES NATAL E TENHAM MELHORES HABILIDADES REITA0ARAAEXISTÐNCIADESSASDIFEREN¥AS
SÎOhAPARADASvEOUTRASESSENCIAISESTA- MOTORAS GROSSEIRAS  QUE ENVOLVEM FOR- ENTRE O CÏREBRO HOMOSSEXUAL E O HETE-
BILIZADAS!LÏMDISSO ASMULHERESTEN- ¥A E PRECISÎO %NTRETANTO  AS MENINAS ROSSEXUAL JÉ FORAM AVENTADAS DIVERSAS
DEMATERMAISCONEXÜESENTREOSDOIS ADQUIREM MATURIDADE EMOCIONAL E AL- TEORIAS COMOAEXPOSI¥ÎOPROLONGADAÌ
HEMISFÏRIOS DO CÏREBRO $ESSA FORMA  GUNS HÉBITOS MAIS RAPIDAMENTE  COMO TESTOSTERONAEOUTROSHORMÙNIOSMASCU-
CREDITA SEAESSAREORGANIZA¥ÎOPREMA- OCONTROLEDOESFÓNCTER EFALAMANTESE LINOSOUMESMOALTERA¥ÜESGENÏTICAS/
TURA A CAPACIDADE DE O CÏREBRO FEMI- MELHORDOQUEOSMENINOS/QUELEVA FATOÏQUE ATÏOMOMENTO NÎOSABEMOS
NINOTRABALHARDEFORMAMAISElCIENTE Ì DIFEREN¥A DE GÐNERO AINDA NÎO ESTÉ AREALCAUSADETAISDIFEREN¥ASESEJÉSE
E  PORTANTO  ALCAN¥AR UM ESTADO MAIS TOTALMENTE CLARO NO MOMENTO E NEM NASCEHOMOSSEXUALOUNÎO

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MOMENTO DO LIVRO

Dos editores da revista Car and Driver

Coordenação de Luiz Guerrero

Durante 24 anos de produção, o Chevrolet


Opala reinou sem concorrentes e se tornou obje-
to de desejo de uma geração de motoristas e en-
tusiastas. Suas linhas atraentes, especialmente na
versão cupê, e sua versão esportiva, a SS, estabe-
leceram novos padrões para a indústria brasileira.

Pois é deste automóvel que trata este livro: das


origens, cimentadas pelo Opel Rekord, até o dia
GHDEULOGHTXHPDUFRXRÀPGRFLFORGH
um dos mais queridos automóveis já produzidos
no Brasil.

OPALA – A história do maior Chevrolet brasileiro,


coordenada por Luiz Guerrero, é o quarto título
da coleção Os Imortais, que anteriormente contou
a história de outros marcantes automóveis como
o FUSCA, o MUSTANG e a KOMBI, todos com
capa em acabamento Premium e 116 páginas de
histórias contadas em imagens e textos cheios
de detalhes.

Conheça toda a história deste automóvel


Livro: Opala - A história do maior chevrolet brasileiro
Número de páginas: 116
e entenda por que o Opala foi o maior
Editora: Escala Chevrolet até hoje fabricado no País.

À venda nas bancas e livrarias. Veja mais informações em www.escala.com.br


in foco por Michele Muller

Playgrounds são
ASSUNTO SÉRIO
ESPAÇOS PÚBLICOS QUE PROMOVEM A SOCIALIZAÇÃO E O
DESENVOLVIMENTO DE FUNÇÕES FUNDAMENTAIS PARA A SAÚDE
MENTAL DAS CRIANÇAS DEVERIAM RECEBER MAIS ATENÇÃO
E MAIS INVESTIMENTOS DAS AUTORIDADES BRASILEIRAS

D
iante das opções tentadoras de a brincadeiras ao ar livre. A maioria dos de funções psicomotoras, sensoriais e so-
diversão eletrônica, as crianças nossos playgrounds públicos têm duas ou ciais. Trazem às crianças a oportunidade
estão reduzindo drasticamente o três atrações, não raramente mal conser- de praticarem o equilíbrio, a força, a aten-
tempo dedicado às aventuras nos vadas. A arquitetura nos surpreende com ção às diversas texturas, a lateralidade, a
espaços externos. Muitos pais parecem se tantas soluções belas e funcionais, mas até coordenação motora, a propriocepção
preocupar com a participação excessiva dos agora pouco trouxe para concorrer com (noção da localização espacial do próprio
ELETRÙNICOS NO DIA A DIA DO lLHO  MAS SÎO OS INEVITÉVEIS ESCORREGADORES E BALAN¥OS corpo) e as habilidades criativas e sociais.
raros os que conseguem encaixar na rotina das praças brasileiras. Sem questionar a Para comprovar que a arquitetura do
momentos de atividades livres em locais diversão que podem propiciar, sozinhos espaço faz toda a diferença na brinca-
ESTIMULANTES!DIlCULDADEEMADMINISTRAR eles não representam um grande motiva- deira, os pesquisadores Anthony Susa e
o tempo e, principalmente, a preocupação DORPARATIRARPAISElLHOSDECASA James Benedict (1994) realizaram um es-
crescente com a segurança das crianças A necessidade de oferecer ambien- tudo, na década de 90, relacionando brin-
pode tornar conveniente esse interesse tes atraentes e repletos de estímulos em cadeiras de faz de conta, criatividade e o
quase obsessivo delas pelas telas e botões. ESPA¥OS PÞBLICOS Ï EVIDENTE EM VÉRIOS design do playground. Para isso, testaram
Uma pesquisa recente com 2 mil fa- lugares do mundo. Em muitos países, a o “pensamento divergente” de 80 crianças
mílias inglesas constatou que três em comunidade têm à disposição parquinhos enquanto brincavam em diferentes espa-
cada quatro crianças passam menos de desenvolvidos por arquitetos especializa- ços. A conclusão foi de que os parquinhos
UMAHORADIÉRIABRINCANDOEMAMBIENTE dos nesse setor. Muitos são tão criativos e CONTEMPORÊNEOSSÎOMAISElCIENTESNOES-
externo – um tempo menor de contato IRRESISTÓVEISQUEDÉVONTADEDEVOLTARASER tímulo à criatividade que os tradicionais. O
com luz solar que o garantido a detentos criança para aproveitar a estrutura. estudo serviu de base para muitos projetos
das prisões daquele país. A realidade das Esses locais, quando bem arquitetados, de arquitetura voltados a esse público e ou-
nossas crianças que vivem nas cidades não apenas servem de incentivo a passeios tras pesquisas apontando a necessidade de
GRANDESNÎODEVESERDIFERENTE%AQUIHÉ EMFAMÓLIAEMENOSHORASDESOFÉSÎOPRO- UMOLHARMAISPROlSSIONALSOBREASÉREAS
um agravante: temos menos alternativas jetados a partir da consciência da impor- construídas para estimular brincadeiras.
interessantes de ambientes destinados tância do ambiente no desenvolvimento Enquanto seguimos conformados com
nossos velhos e abandonados escorregado-
A VIDA É CHEIA DE RISCOS E A INFÂNCIA É A res de praça, em países em que ambientes
de lazer são levados a sério e considerados
FASE DE TREINAMENTO PARA REAIS DILEMAS parte fundamental do desenvolvimento
QUE REQUEREM SEGURANÇA NA HORA DE infantil, a discussão (que nem chegou no
"RASIL ESTÉTÎOAVAN¥ADAQUEESTÎOREVEN-
AGIR. CRIANÇAS PRIVADAS DO CONTATO COM O do alguns de seus projetos mais modernos.
PERIGO CRESCEM SEM CORAGEM O motivo: excesso de segurança.

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Além de serem impedidas de brincar
LIVREMENTE  COMO RESULTADO DE VÉRIOS TI-
pos de medo que as cidades grandes nos
IMPÜEM ASCRIAN¥ASPERDERAMACONlAN-
ça de seus pais. Em algum momento da
história recente colocaram uma lente de
aumento nas pequenas ameaças do dia a
dia e resolveram que crianças são total-
MENTE IRRESPONSÉVEIS E DESPROVIDAS DE
noção de perigo.
Um dos fatores que mais pesam no es-
tilo de vida das crianças modernas – seja
NA )NGLATERRA OU AQUI n ACABOU INmUEN- mente conta com cerca de mil espaços em
ciando a criação dos espaços contempo- diversos países, inclusive Estados Unidos
RÊNEOS DE BRINCADEIRA !lNAL  ALGUMAS e Japão. Equipados com muitos pedaços
sociedades, especialmente a americana, de madeira e ferramentas de verdade, os
vivem sob ameaça constante de proces- parques trazem aos pequenos aventurei-
sos, e qualquer atividade que envolva o ros a oportunidade de construírem seus
público infantil corre sério risco de gerar próprios brinquedos, de subirem em cor-
insatisfações com consequências legais. DAS ÉRVORESEDESESUJAREMBASTANTE
Os medos e ansiedades dos adultos, No Japão, a preocupação em expor
desproporcionais aos verdadeiros riscos crianças pequenas ao risco foi um dos
que a realidade traz, desconsideram a na- principais fundamentos do projeto da
tureza da criança e mais prejudicam que escola construída por um dos arquitetos
protegem. O perigo, em pequenas doses mais conceituados daquele país na atua-
DIÉRIAS  Ï PARTE FUNDAMENTAL DAS BRINCA- lidade. Takaharu Tezuka projetou a Fuji
deiras. Filhotes de espécies mais evoluídas Kindergarten, em Tóquio, levando em
se divertem correndo riscos, testando seu consideração as necessidades naturais das
próprio comportamento diante de situ- crianças – inclusive de se aventurar. Na
ações perigosas simuladas nas pequenas probabilidade de gerarem batidas, quedas escola, em formato oval e sem a tradicio-
lutas e aventuras de sua curta infância. E e machucados. Os pais excessivamente nal separação física das salas de aula, elas
isso não ocorre por acaso, nem representa protetores terão que rever seus conceitos têm total liberdade de explorar o ambien-
irresponsabilidade ou falta de noção, como e entender por que as ataduras do Menino te e passam a maior parte do tempo gas-
MUITOS PAIS DE lLHOTES HUMANOS ACREDI- Maluquinho foram essenciais para a for- TANDOENERGIANASÉREASEXTERNAS,ÉELAS
tam. É parte do crescimento, do autoco- mação de um jovem feliz e bem resolvido, correm, em média, 4 quilômetros por dia
nhecimento e do conhecimento dos limi- conforme Ziraldo concluiu a história. e ganham naturalmente as habilidades
tes do corpo e das necessidades do outro. Na década de 1940, muito antes de psicomotoras que garantem seu desen-
A vida é cheia de riscos e a infância é a fase TERMOS COMPROVA¥ÜES CIENTÓlCAS DA IM- volvimento social e cognitivo. Nenhuma
de treinamento para reais dilemas que re- portância dos riscos que a brincadeira CRIAN¥A Ï CONSIDERADA PROBLEMÉTICA POR
querem segurança na hora de agir. Crian- livre traz, o arquiteto dinamarquês Carl NÎO CONSEGUIR lCAR SENTADA DENTRO DE
ças privadas do contato com o perigo cres- Sørensen criou um conceito de play- uma sala. O arquiteto Takaharu Tezuca,
cem sem coragem, dependentes, com altos ground que foi espalhado por toda a Eu- em sua palestra do TED, destaca: “Crian-
níveis de ansiedade e sem noção de como ropa. Sua ideia era dar às crianças da cida- ças precisam de pequenas doses de peri-
lidar com situações sociais simples que não de as mesmas chances de viver aventuras go. Nessas ocasiões elas aprendem a se
poderão ser evitadas pelos pais mais tarde. que eram privilégio das que cresciam no ajudar. Isso é viver em sociedade. É o que
Portanto, além de modernos, criativos interior. O Adventure Playground atual- estamos perdendo nos dias atuais”.
e cheios de estímulos, muitos playgrounds
IMAGENS: MICHELE MILLER

contemporâneos de países desenvolvidos


estão sendo repensados para trazer um
certo risco. Ou seja: voltam a ter cantos, Michele Muller é jornalista com especialização em Neurociência Cognitiva
e autora do blog http://neurocienciasesaude.blogspot.com.br
pontas, superfícies duras, altura e mais

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psicopositiva por Lilian Graziano

A lata de azeite e os impeditivos


da VIDA AUTÊNTICA (parte 2)
P
artindo da ideia de que a au- aquela experimentada por um indiví-
tenticidade é mais do que uma duo distante da sua própria verdade.
força pessoal, na coluna passa- No texto passado af irmei que se-
da comecei a discorrer sobre a riam quatro essas razões (má inten-
importância dessa característica para ção, desconhecimento, falta de cora-
a chamada felicidade genuína. Mais do gem e o “moedor de carne”), tendo
QUEISSO AlRMEIQUE ADESPEITODESSE discutido, naquela ocasião, apenas as
fato, existem algumas razões que cos- duas primeiras.
tumam condenar as pessoas a uma Começo este texto, portanto, falando
vida inautêntica. Uma vida que, sobre a terceira razão que poderia impe-
agora acrescento, seria bastante dir que uma pessoa leve uma vida autên-
discutível em termos de felicida- tica: a simples e pura falta de coragem.
de, visto sua inerente ausência de !RISTØTELESAlRMAVA SABIAMENTE QUE
sentido, uma vez que nenhuma a coragem é a principal das virtudes, vis-
CONSIDERADA anomia pode ser maior do que to ser necessária até para que o indivíduo
COMO CONDIÇÃO seja ele mesmo.
Concordo integralmente com o
FUNDAMENTAL SÉBIO lLØSOFO .O ENTANTO  VOU ALÏM
Tenho medo dos covardes quase tanto
PARA A quanto dos maus caráteres. Isso por-
FELICIDADE que, considerando a bondade como
característica da maior parte dos seres
GENUÍNA, A humanos (uma crença bastante discutí-
AUTENTICIDADE vel, admito), creio ser no covarde que o
mau caráter encontra sua principal fon-
DEVE SER te de manobra. O covarde se corrompe
por medo. Medo de perder a aprova-
UMA BUSCA ção, o afeto, o conforto, o prestí-
CONSTANTE. gio, não importa. É por medo
que ele deixa de viver aqui-
MAS, PARA ISSO, lo em que acredita, abre
PRECISAMOS mão de seus valores e,

CONHECER OS
SEUS IMPEDITIVOS

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justamente por conta dessa fraqueza, A AUTENTICIDADE
torna-se perigoso.
É IMPOSSÍVEL SEM O
Se pensarmos na autenticidade
como uma condição para uma vida feliz AUTOCONHECIMENTO.
e considerarmos que é necessário cora- TALVEZ POR ESSA
gem para sermos autênticos, a conclusão
é clara: a felicidade exige coragem. E é
RAZÃO ESSE ÚLTIMO
triste saber que existem pessoas infelizes SEJA A PEDRA
não pelas condições que cercam suas vi- ANGULAR DE
das mas, antes de tudo, pelo medo que
as impele a uma vida pela metade em
TODO TRABALHO
que a extensão de seus discursos não vai PSICOTERAPÊUTICO
além do volume vacilante de suas pala-
vras. Além disso, vivemos em uma épo-
ca em que imersos em uma avalanche de
dava bastante. Eu tinha a plena convic-
ção de que isso acontecia porque minha
ANÚNCIO 1/3
simulações (sociedade do espetáculo, al- mãe fazia dois furos na lata (na época
guns diriam) ser autêntico e verdadeiro EUDESCONHECIAATEORIADOSmUIDOS /
tornou-se um diferencial. Mas isso já é fato é que brigava com minha mãe to-
um outro assunto! das as vezes. Quando abria uma lata de
A quarta razão que nos afasta da au- azeite, eu fazia sempre um furo grande
tenticidade é o que chamo de “moedor RESOLVENDO ASSIM O PROBLEMA DO mU-
DE CARNEv *É DElNI ESSA EXPRESSÎO EM XO  -INHA MÎE lCAVA LOUCA !LÏM DE
outros textos meus, portanto, dessa vez, fazer um outro furo na lata ainda en-
serei breve. Chamo de moedor de carne lAVAUMPALITODEDENTENOFUROQUEEU
esse ritmo alucinante em que vivemos HAVIAFEITOAlMDEDEIXÉ LOMENOR&OI
que nos faz viver numa espécie de piloto assim por muito tempo. Até que um dia
automático e que nos distancia de tudo: EU ME CASEI  lZ MINHA PRIMEIRA COM-
das atividades que fazemos, das pessoas pra de supermercado e, claro, comprei
ao nosso redor e de nós mesmos. Os dias minha lata de azeite. Quando cheguei
vão se acumulando uns sobre os outros, em casa, peguei a lata e aconteceu: sem
a vida vai passando e lá estamos nós QUEMEDESSECONTA lZDOISFUROSNELAå
dentro (?!) daquele enorme moedor de Lembro-me desse dia como se fosse
carne, muitas vezes ligados no 220 volts. hoje. Naquele momento meu cérebro,
E é assim que o moedor de carne funcionando no piloto automático, me
se torna responsável por coisas como a traíra, fazendo com que eu simplesmen-
lata de azeite. Antes que você me tome te seguisse a minha referência, ainda
como louca, permita-me, caro leitor, que isso fosse de encontro com minha
que eu me explique. crença e minha verdade.
Durante boa parte da minha infân- Para mim, a lata de azeite se tornou
cia e adolescência, brigava com minha uma metáfora do que acontece quan-
mãe por causa das latas de azeite que do estamos distantes de nós mesmos:
tínhamos em casa (sim, porque naquela traímos a nossa essência, deixamos de
época o azeite era vendido em latas!). ser autênticos e, o pior, temos que arcar
Nossas latas de azeite eram sempre me- com uma vida, por assim dizer, um tan-
lecadas e grudentas, o que me incomo- to “melecada”.
SHUTERSTOCK / ACERVO PESSOAL

Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão
em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora
universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento,
onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área.
graziano@psicologiapositiva.com.br

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psicopedagogia por Maria Irene Maluf

Educando para o FUTURO


DURANTE TODA A ESCOLARIDADE É POSSÍVEL APARELHAR
GRADATIVAMENTE AS CRIANÇAS E JOVENS DE MODO A
DESENVOLVER AS CHAMADAS HABILIDADES INTERPESSOAIS

O
homem é um ser social por que recebe da família e da escolaridade habilidades interpessoais das crianças
natureza. Desde o momen- que frequenta e que esta não se baseia e jovens em idade escolar. Isso pode
to de seu nascimento, in- mais na transmissão de valores e co- ser realizado mediante jogos e tarefas
dependentemente de onde nhecimentos (de toda ordem) pratica- de grupo, onde é maior a valorização
viva, já se encontra inserido em um mente imutáveis, mas na necessidade dos comportamentos que demons-
grupo social, que se amplia conforme DECRIARPESSOASCOMUMPERlLADAPTA- trem capacidade de trocas de infor-
cresce e começa a frequentar a escola, tivo às rápidas mudanças sociais, cien- mação ef icientes, empatia, atitudes
constituindo novas e crescentes rela- TÓlCAS  MERCADOLØGICAS  ETC !PRENDER de comando, controle da frustração,
ções interpessoais. como se aprende, para aprender sem- capacidade de suportar pressão, resi-
Tal rede de relações é estabelecida pre, constitui um padrão de realidade à liência e autonomia, entre outras.
segundo características do indivíduo, qual ninguém pode se furtar. Segundo Eric Smith, pesquisador
do próprio grupo e da cultura vigente Entretanto, além do imprescindí- da Universidade de Stanford, o controle
e vai sendo construída gradativamen- vel respeito aos talentos naturais, há emocional gera atitudes mais adapta-
te no decorrer de toda vida e, embora de se levar em conta que habilidades TIVAS EM CASO DE MUDAN¥AS  DESAlOS 
os primeiros anos sejam primordiais de toda ordem devem ser aprendidas a fracassos, estresse comuns na vida estu-
nesse aprendizado, é preciso aprender partir da pré-escola, visando o desen- dantil, e preparam para as vicissitudes
a aprender como planejar novas situa- volvimento de um novo perf il, que vai DOMUNDOPROlSSIONALPRINCIPALMENTE
ções por toda a vida. passo a passo evoluindo até alcançar Portanto, preparar as crianças e jo-
Ninguém duvida que o maior ob- condições ideais de atender as exigên- VENS PARA ATENDER A ESSE PERlL DE PRO-
jetivo da educação seja criar a auto- cias acadêmicas e, um dia, ser prof is- lSSIONAIS QUE A SOCIEDADE PRECISA PARA
nomia pessoal e social e que essa con- sionalmente competitivo. enfrentar as vicissitudes e os novos
dição dependa em grande parte da Capacidade de se adaptar a mu- modelos do século XXI tornou-se um
formação acadêmica e depois prof is- danças, responder a desaf ios de modo DESAlOREALISTAPARAAFAMÓLIAEAESCOLA
sional, de cada pessoa. A constituição organizado, coerente, ser capaz de E, evidentemente, bons professo-
de um perf il prof issional que acom- trabalhar e resolver problemas junto res que também tenham essa feição
panhe as mudanças, as demandas de a outras pessoas, demonstrar atitudes tornaram-se indispensáveis: antes de
um mundo laboral hiperativo, compe- interpessoais de comunicação, lide- dominar o conteúdo ou ser um mes-
titivo e exigente é uma urgência das rança, domínio da tecnologia são im- tre na didática, o importante passou
últimas décadas, à qual ninguém se prescindíveis para a vida social e para a ser sua habilidade interpessoal, ou
pode furtar. atender as demandas do mercado de seja, saber estabelecer um bom rela-
Paralelamente a isso, temos como trabalho do século XXI. cionamento com seus alunos, desen-
certo que a formação do adulto capaz No dia a dia é possível, por exem- volver empatia, criar o sentimento de
e autônomo, socialmente responsável, plo, criar métodos e estratégias que pertencimento a um grupo. Isso tudo
depende primordialmente da educação objetivam desenvolver as chamadas favorece as habilidades cognitivas e

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ALÉM DO IMPRESCINDÍVEL RESPEITO qualidade, mas em quarta posição, que
AOS TALENTOS NATURAIS, APRENDER está relacionada ao gerenciamento
da sala de aula (8,4%), perdendo ape-
COMO SE APRENDE, PARA APRENDER SEMPRE, nas para o relacionamento (12,2%),
CONSTITUI UM PADRÃO DE REALIDADE paciência (12,2%) e dedicação (10,7%).
Tais habilidades fazem com que a
DO QUAL NINGUÉM PODE SE FURTAR
criança, no encontro e vivência com
inf luencia de forma marcante no en- Inqueridos os familiares dos alu- seus pares, conheça seus próprios
sino e na aprendizagem. nos, 14,2% indicaram o prof issionalis- sentimentos, suas reações emocionais
Segundo revela uma importante mo, seguido do relacionamento e da FRENTEAOCOTIDIANOESEUSDESAlOS SEU
pesquisa divulgada recentemente pelo paciência, como características-chave MODO DE PENSAR E REmETIR SOBRE ISSO
Grupo Educacional Person (2015), re- de um bom professor, o que não di- Portanto, oportunizar o desenvolvi-
alizada em 23 países, sobre as carac- fere essencialmente do que pensam mento das habilidades socioemocio-
terísticas mais valorizadas por alunos, os próprios professores que agregam nais dos professores é importante para
pais, professores e responsáveis pelas ainda a dedicação (9,8%). melhorar a aprendizagem acadêmica e
políticas educacionais em cada nação, A pesquisa revelou que para os re- para ajudar a desenvolver as mesmas
as coincidências foram muitas. presentantes políticos se destaca outra habilidades nas novas gerações.
Para os alunos brasileiros, a pa-
SHUTTERSTOCK/ ARQUIVO PESSOAL

ciência é a principal qualidade de um


Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e
bom professor (13%) e saber se rela- Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de
cionar é o segundo quesito mais im- Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É editora da revista Psicopedagogia
portante, seguido do prof issionalismo da ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena
curso de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br
e habilidades didáticas.

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sexualidade Por Giancarlo Spizzirri

A FASE das descobertas


de SI MESMO
A SEXUALIDADE É MUITO MAIS QUE O ATO SEXUAL.
MUITOS FATORES PODEM INFLUENCIAR NOSSO
COMPORTAMENTO. FALAR SOBRE O ASSUNTO, MESMO
ANTES DA PUBERDADE, É UMA TAREFA ÁRDUA DADA A
DIVERSIDADE DAS CONDUTAS HUMANAS

A
adolescência é uma fase habitualmente descrito como início da fases posteriores do desenvolvimento
do desenvolvimento, que vida sexual. Não é incomum nos per- – durante esse período) que se obser-
geralmente ocorre dos 10 guntarem com que idade começamos vam nas meninas o aparecimento do
aos 19 anos de idade. Para a vida sexual – entretanto a sexualida- broto mamário e na sequência o de-
a Organização Mundial da Saúde, a de humana é muito mais do que o ato senvolvimento das mamas, da pilosi-
puberdade se distingue por mudan- sexual em si. dade pubiana e axilar, da genitália e
ças envolvidas com particularidades As primeiras práticas e atividades a primeira menstruação, que recebe
físicas (por exemplo, pela inf luência sexuais durante a adolescência in- o nome de menarca. Nos meninos ve-
dos hormônios no desenvolvimento f luenciam nossas emoções e, por con- rif icam-se aumento dos testículos e
das características sexuais secundá- seguinte, nossas relações. Com frequ- posteriormente o surgimento dos pe-
rias), emocionais, relacionais, entre ência ouvimos relatos de pessoas que los pubianos, assim como o aumento
outras. Com a maturação das gônadas foram reprimidas durante a adolescên- do tamanho do pênis. Essas mudanças
(ovários e testículos), a função repro- cia, e de como essa repressão as in- físicas são velozes, e muitas vezes po-
dutora passa a se constituir uma pos- f luenciou de forma negativa em com- dem gerar conf litos. De certa maneira
sibilidade; além do mais, é nessa fase portamentos futuros; por outro lado, é como se o psiquismo não acompa-
que as práticas sexuais ganham outra também são frequentes os relatos de nhasse a intensidade do aumento dos
dimensão, e normalmente costumam indivíduos que não receberam qual- hormônios, responsáveis por essas al-
ser mais empreendidas, como a mas- quer orientação e/ou foram criados terações. Com frequência o adolescen-
turbação, brincadeiras e jogos com a em ambientes considerados permis- te pode não reconhecer o seu próprio
f inalidade de gratif icação sexual. En- sivos, que também sofrem durante a corpo, sentimentos de inconformidade
tretanto, não podemos resumir esse vida adulta em seus relacionamentos. são comuns, entre eles: sentir-se esqui-
período somente como sendo o qual Portanto, chegar em um denominador sito, atrapalhado, atribulado, ansioso,
novas práticas sexuais são exploradas; do que seja adequado ao pensarmos na frustrado, uma vez que nem sempre a
ele é também um momento importan- educação durante, e até mesmo antes imagem corporal reproduzirá aquela
te de interação dos adolescentes com da puberdade, é uma tarefa árdua dada que foi idealizada.
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL

seus pares, família e sociedade. a diversidade das condutas humanas. Além desse corpo em mudança, que
Segundo diversos estudos, é nesse Em relação às mudanças físicas rapidamente vai perdendo as caracte-
período, geralmente após os 14 anos, que acompanham esse período, algu- rísticas infantis, é nesse período que as
que ocorrerá a primeira atividade se- mas considerações merecem desta- sensações oriundas de por quem sen-
xual com outra pessoa. Para muitos, que. É na adolescência (para alguns timos atração sexual irão se tornando
esse momento constitui um marco, em fases precoces, para outros em mais evidentes, e então mais dúvidas e

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NA ADOLESCÊNCIA, ABORDAGEMOPORTUNAEESPECÓlCASOBRE eu tenho razão, os outros é que não
AS MUDANÇAS o tema. Além do mais, determinadas me compreendem, e assim por diante.
práticas sexuais são encorajadas de- Diante do exposto, o adolescente ain-
FÍSICAS SÃO VELOZES pendendo do sexo do nascimento. Para da tem de lidar com questões cruciais
E PODEM GERAR os garotos adolescentes, a masturbação que dizem respeito a sua integridade
parece ser mais aceita socialmente do física, como as doenças sexualmente
CONFLITOS. É COMO
que para as garotas. Ao pensarmos em transmissíveis, uso de bebidas alcoóli-
SE O PSIQUISMO NÃO desigualdades, esse fato pode consti- cas, rivalidades entre grupos etc. Além
ACOMPANHASSE tuir um prejuízo para as adolescentes do mais, se esses adolescentes não fo-
na exploração e melhor entendimento ram bem instruídos sobre os métodos
A INTENSIDADE das reações do próprio corpo. contraceptivos e preventivos, a possi-
DO AUMENTO Após a avalanche de hormônios bilidade de uma gravidez indesejada
DOS HORMÔNIOS, que acarretam as mudanças físicas, e/ou doenças transmissíveis pelo con-
um pouco mais adiante, as sensações tato sexual torna-se concreta. Portan-
RESPONSÁVEIS POR e as emoções perceberão o impacto to, quanto mais os adolescentes forem
ESSAS ALTERAÇÕES dessas alterações. Chega-se então na aconselhados de maneira adequada,
fase das grandes paixões, de sensa- tanto mais serão capazes de tomar de-
receios podem acompanhar essa fase. ções como: o meu mundo acabou se cisões apropriadas, que implicarão em
Como é um período de novas desco- meu amor não for correspondido; as- mais satisfação em um período da vida
bertas, nem sempre as brincadeiras sim como das grandes causas, como: do qual guardamos lembranças.
sexuais com pessoas do mesmo sexo
IRÎO REmETIR EM ORIENTA¥ÎO SEXUAL HO- Giancarlo Spizzirri é psiquiatra doutorando pelo Instituto de Psiquiatria (IPq)
mossexual na idade adulta. Aliás, os da Faculdade de Medicina da USP, médico do Programa de Estudos em
Sexualidade (ProSex) do IPq e professor do curso de especialização em
fatores que determinam a orientação
Sexualidade Humana da USP.
sexual são complexos e merecem uma

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supervisão Por Ricardo Wainer

EQUÍVOCOS da profissão
O TERAPEUTA POSSUI A DESAFIADORA TAREFA DE AJUDAR O
PACIENTE E PODE ENCONTRAR OBSTÁCULOS NO CAMINHO,
COMO SEUS PRÓPRIOS ESQUEMAS MENTAIS DESADAPTATIVOS

A
complexidade e sutilezas do (EIDs)¹ e/ou da repetição de estilos dis- O segundo erro é a utilização pelo
processo psicoterápico podem funcionais de enfrentamento (que his- terapeuta de mecanismos de hipercom-
lCAROCULTASNUMAANÉLISESU- toricamente serviram para aliviar situ- pensação, de forma a evitar sentimentos
PERlCIAL E INGÐNUA %NTRETAN- ações de abuso ou emoções negativas). desagradáveis vinculados a seus EIDs.
to, olhando-se para além do aparente, O primeiro desses equívocos é o Nesse tipo de ocorrência, o que se vê é o
desnuda-se uma rede intricada de rela- terapeuta se desconectar do paciente terapeuta agindo de um modo extremo,
ções entre conhecimentos e experiên- durante a sessão, entrando no modo de seja através de condutas agressivas (de
cias emocionais de diversos momentos enfrentamento disfuncional chamado ataque), de controle excessivo ou ainda
cronológicos do indivíduo, que culmi- “protetor desligado”, segundo a terapia se autoengrandecendo em relação ao
nam na projeção das muitas facetas do do esquema. É uma forma de resistên- paciente. Assim, um paciente narcisis-
self de cada ser humano. cia automática e inconsciente (na maio- ta, que ativa o esquema de fracasso e/
Para obter sucesso em sua empreita- ria das vezes), em que o terapeuta pode ou de privação emocional do terapeuta,
da, o clínico necessita, para além de seus INTERAGIREINTERVIRDEMODOSUPERlCIAL  pode sofrer um “ataque” do terapeuta,
conhecimentos teóricos e técnicos, um desconexo, racionalizando (dando “dis- por meio de depreciação ou mesmo de-
saber sempre atualizado de seus esquemas cursos teóricos”) ou mesmo apresen- monstrações de inveja. Evidentemente,
mentais mais primitivos, bem como tando sentimentos de tédio, chateação esse tipo de situação usualmente tem o
de seus modos de enfrentamento que EDESCONFORTO.ÎORARO PODElCARCOM término da terapia como desfecho.
são ativados quando suas necessidades o pensamento em questões pessoais ou Tem-se ta mbém uma fa lha de mesma
emocionais não são satisfeitas (o que pode ainda falar sobre assuntos banais com natureza da anterior, mas com sentido
ocorrer a qualquer momento, inclusive na o paciente (“conversa entre amigos”). oposto. A conduta do psicoterapeuta em
relação terapêutica). A ocorrência desse tipo de erro indica, se subjugar ao paciente através de con-
Dentre os erros mais freqüentes que na maioria das vezes, que o paciente dutas permissivas, como alongamento
se apresentam na prática psicoterápi- encontrava-se no mesmo modo “prote- do tempo da sessão, permissividades em
ca temos quatro deles que tipicamente tor desligado” e, ao invés de “trazê-lo relação a faltas e/ou não cumprimento
aparecem como resultante da falta de de volta” para o setting terapêutico, o de combinações (horários, pagamentos,
consciência do terapeuta sobre seus pró- terapeuta é que vai para a “periferia” do tarefas de casa etc.), indica que os EIDs
prios esquemas mentais desadaptativos foco da sessão. do paciente ativaram EID de subjugação
do terapeuta, que acaba por assumir esse
papel passivo como uma forma primiti-
A SUPERVISÃO E O PROCESSO DE va de obter afeto-consideração ou de
AUTOCONHECIMENTO DO TERAPEUTA não ser visto como defeituoso.
A quarta situação a ser monitorada é
PERMITEM A PREVENÇÃO SIGNIFICATIVA a conduta de criticar o paciente. Talvez
DE ALGUMAS OCORRÊNCIAS QUE SURGEM o mais iatrogênico de todos os quatro
DE SENSAÇÕES DESCONFORTÁVEIS COM erros indicados, pois reapresenta ao pa-
CIENTEUMAFORMADEhmASHBACKvDESEU
O PACIENTE OU POR PENSAMENTOS DE PASSADOCOMlGURASDEAUTORIDADEDIS-
INCOMPETÊNCIA COM O CASO funcionais e as quais ele, provavelmente,

24 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br


as traz dentro de si como “vozes críti- de alguns questionários e pela própria TAAIDENTIlCARASPISTASESINAISDEQUE
cas”. A atitude de criticar pode assumir análise dos casos em que o terapeuta um EID determinado está ativado. Após
duas formas. Uma delas é a atitude de DEMONSTRA MAIORES DIlCULDADES ±S isso, auxiliá-lo a conscientizar-se so-
exigir mais e mais do paciente, sendo hi- vezes isso pode se dar por sensações bre qual modo de enfrentamento adota
perdemandante com o mesmo e fazendo desconfortáveis com o paciente ou por quando tal EID está ativado. Pode usar
com que este se sinta sempre em falta ou pensamentos de incompetência com o o “protetor desligado” e se desconectar
sendo punitivo com o paciente, através caso. Em outros, paradoxalmente, por dos sentimentos negativos que a sessão
de ironias, xingamentos ou gritos. Ou- um interesse muito aumentado pelo está lhe ativando. Pode ainda hipercom-
tra maneira desse modo crítico se mani- caso, com ações incomuns de afeto pensar ou subjugar-se. E, não menos da-
festar é pela livre permissão do terapeu- com o cliente. noso, lidando com a situação através da
ta de falas e atitudes autodepreciativas O supervisor deve levar o terapeu- crítica e punição.
do próprio paciente, do tipo, “não presto
Referências
para nada”, “nada do que faço tem valor” ¹Young, J. E.; Klosko, J. S.; Weishaar, M. E. Terapia do Esquema: Guia de Técnicas Cognitivo-
ou outras ainda piores. comportamentais Inovadoras, 2008.
A supervisão e o processo de auto-
conhecimento do terapeuta permitem a
SHUTTERSTOCK / ACERVO PESSOAL

Ricardo Wainer é doutor em Psicologia, especialista em Terapia do Esquema,


PREVEN¥ÎOSIGNIlCATIVADESSASOCORRÐN- com treinamento avançado pelo New York Schema Institute, e supervisor
credenciado pela International Society of Schema Therapy. Pesquisador em
cias. Obtém-se isso através, inicialmen-
Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e em Ciências Cognitivas. Professor titular
te, da detecção dos EIDs do terapeuta, da Faculdade de Psicologia da PUC–RS. Diretor da Wainer Psicologia Cognitiva.
o que pode ser obtido por meio do uso

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PSICOLOGIA JURÍDICA

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É
stá cada vez mais clara a necessida-
de que os psicólogos e outros pro-
fissionais têm de compreender a
diferença existente entre a atuação
profissional do psicólogo na área
clínica e a atuação do psicólogo no meio jurídico,
especialmente na perícia psicológica.
A atuação do psicólogo tem sido cada vez
mais solicitada no meio forense, principalmente
no que tange à avaliação de crianças e adolescen-
tes em litígios familiares e em Varas de Família.
As perícias psicológicas podem ocorrer também
em Varas Criminais e ligadas ao Trabalho, mas
em sua maioria ocorrem nas vinculadas à Famí-
lia. O momento atual pelo qual passam as famí-
lias traz em seu bojo uma série de mudanças que
a reboque geram conflitos. A família mudou. Do
núcleo tradicional, pai, mãe e filho, temos hoje
mães que são chefes de família, pais que cuidam
de filhos, famílias homoafetivas e famílias for-
madas por filhos de vários casamentos dos par-
ceiros. Normal, portanto, que novas demandas
surjam e que o Judiciário seja procurado para
resolver os conflitos decorrentes. Processos de
guarda, convivência, partilha de bens, entre ou-
tros, nos quais, muitas vezes indevidamente, as
crianças são envolvidas.
Consequentemente, o psicólogo é solicitado
para avaliações. Em função disso, o número de
processos contra esse profissional nos CRPs e
CFP aumentou muito nos últimos anos. Visando
estabelecer diretrizes, o CRP elaborou um docu-
mento denominado “Referências técnicas para a
atuação do psicólogo em Varas de Família”, bem
como a Resolução 8/2010, que regula a atuação
dos psicólogos peritos e assistentes técnicos atu-
antes no Judiciário. Além da Resolução 7/2003,
que regulamenta o manual de documentos decor-
rentes de avaliação psicológica (entre eles os lau-
dos e pareceres). O objetivo foi a proteção de fa-
mílias e profissionais, já que esses últimos, muitas
vezes, se envolvem na seara do conflito, servindo
Andreia Calçada é psicóloga, psicoterapeuta, ludoterapeuta, como arma para os atores. É um lugar de difícil
pós-graduada pela UERJ em Psicopedagogia Clínica,
especialista em Psicologia Clínica e Psicopedagogia, atuação, que demanda clareza por parte do psicó-
com especialização em Neuropsicologia pelo IPUB. Tem logo sobre qual o seu lugar e a sua importância.
experiência em Equipe Psiquiátrica e Avaliação Psicológica e A perícia psicológica em Varas de Família,
é pós-graduada e especializada em Psicologia Jurídica. Autora
dos livros Falsas acusações de abuso sexual – o outro lado segundo Silva (2015), “é uma avaliação/investiga-
da história, Falsas acusações de abuso sexual e a implantação ção psicológica realizada por perito psicólogo, de-
de falsas memórias, Perdas irreparáveis – alienação parental e terminada pelo juiz, com o objetivo de verificar a
falsas acusações de abuso sexual e é coautora do livro Guarda
SHUTTERSTOCK

compartilhada – aspectos psicológicos e jurídicos. relação entre pais e filhos (ou de quem está pedin-
do a guarda), seus vínculos, os processos mentais e

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PSICOLOGIA JURÍDICA

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comportamentais, as dinâmicas, enfim, vício, abusos psicológico ou sexual,
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) fun-
promover uma investigação psicológica maus-tratos e presença de comporta-
ciona como uma autarquia de direito públi-
utilizando-se das técnicas de Psicologia. mentos que possam levar à síndrome co, que tem a missão de orientar, fiscalizar e
O objetivo final é responder aos quesi- de alienação parental, entre outros. disciplinar a profissão de psicólogo, zelar pela
tos1 formulados nos autos, levando sub- observância dos princípios éticos, além de co-
sídios, na forma de laudo pericial, para O especialista laborar para o desenvolvimento da Psicologia

O
como ciência e profissão. Tem sede no Distrito
que o juiz [avaliando-os], juntamente perito é alguém que é especialista
Federal e sedes regionais (Conselhos Regionais
com as demais provas dos autos, possa em determinada área e habilita- – CRP) nas capitais de 17 estados brasileiros.
dar sua decisão”. do em seu conselho de classe, no caso,
Os objetos da investigação psi- aqui, o psicólogo. No Brasil, especifica-
cológica, de acordo com Silva (2015), mente no Rio de Janeiro, o perito pode tologia, utilização de testes e dinâmica
podem girar em torno de alguns temas: ser sorteado em uma listagem de pe- familiar. A redação do laudo ou relató-
vínculos entre pais e filhos ou outros ritos do Tribunal de Justiça do Rio de rio pericial exige também formas espe-
adultos, estado emocional dos pais e as Janeiro (TJRJ) ou, ainda, ser indicado cíficas de escrita fundamentais para a
suas implicações no cuidado com os fi- como perito de confiança do juiz. Na exposição do que foi avaliado.
lhos, estado emocional da criança e sua Argentina, por exemplo, segue-se basi- O diagnóstico pericial tem quali-
relação com o processo de separação, camente o sorteio. É fundamental que dade de conclusão científica e não per-
dinâmica familiar, presença de psico- o perito tenha experiência em avaliação manece, apenas, no conhecimento do
patologia, características de persona- psicológica, tenha especialização em psicólogo e isso deverá ficar claro para
lidade, funções egoicas, persuasão so- Psicologia Jurídica (pois se diferencia os entrevistados. Estará disponível nos
bre a criança, uso de drogas ou algum da área clínica), conheça de psicopa- autos. O psicólogo deverá responder
com fidelidade sobre o que descobriu
acerca da personalidade do peritado, le-
vando em consideração aspectos priva-
dos do examinado em função do sigilo
profissional, porém informando tudo o
que sirva para ampliar a visão do juiz.
Isso, muitas vezes, se transforma em
um questionamento ético para o psicó-
logo, já que, com frequência, algumas
informações privadas são importantes
para o entendimento do juízo acerca
do processo. O perito deverá avaliar a
importância da informação privada for-
necida (até porque o periciado sabe que
as informações prestadas poderão ser
levadas ao juiz) e buscar a melhor forma
de integrá-la à conclusão, se for o caso.
Já o assistente técnico, segundo
Cresce a participação do psicólogo no meio forense, especialmente no que se refere à avaliação de Amêndola (2008, in “Referências téc-
crianças e adolescentes em litígios familiares nicas para a atuação do psicólogo em

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Varas de Família”), é psicólogo autô-
nomo contratado pela parte, cujo co-
nhecimento específico sobre a matéria
deve ser empregado com a função de
complementar e/ou argumentar acer-
ca do estudo psicológico desenvolvido
pelo perito no processo judicial. É, por-
tanto, um assessor da parte, devendo
estar habilitado para orientar e esclare-
cer sobre as questões psicológicas que
dizem respeito ao conflito. De acordo
com o artigo 8º da Resolução 8/2010,
o assistente técnico, profissional capa-
As perícias psicológicas podem acontecer em Varas Criminais e também nas ligadas ao Trabalho, mas
citado para questionar tecnicamente a na grande maioria das vezes ocorrem nas vinculadas à Família
análise e as conclusões realizadas pelo
psicólogo perito, restringirá sua análi-
se ao estudo psicológico resultante da *
G` I I GG
G


perícia, elaborando quesitos que ve- IIÔI ^ IGÔGI9GG9
nham a esclarecer pontos não contem-
plados ou contraditórios, identificados I I 
 I`:! IG
^
a partir de análise criteriosa. Para de- G:* I`
P
I
senvolver sua função, o assistente téc-
nico poderá ouvir pessoas envolvidas,


G
H
IH GIIG
G
solicitar documentos em poder das G
G

 G

partes, entre outros meios (artigo 429,
Código de Processo Civil). criança pode muitas vezes estar “escon- acusações de abuso sexual, físico e psi-
O ideal seria que ambos, perito e dido” em meio a discursos de proteção cológico. Um posicionamento isento
assistente técnico, trabalhassem em tanto da família quanto de órgãos que e científico sobre os fatos, bem como
conjunto para salvaguardar o “melhor atuam junto ao Judiciário. Esse é o a pacificação dos conflitos, é a melhor
interesse da criança”. No que tange caso, por exemplo, em processos onde ajuda que um bom laudo pericial pode
a esse último, o melhor interesse da ocorrem a alienação parental, falsas fornecer para as famílias e, principal-
mente, para o desenvolvimento saudá-
PARA SABER MAIS vel das crianças.
LAUDOS PERICIAIS Relatos articulados
N a área do Direito, a Psicologia tem como atribuição principal elaborar
G
  I G : * ‚ G  GG  IG9   I`  9
trabalha baseado nesses laudos e pareceres, instrumentos imprescindíveis para
D iferentemente do que é espera-
do do profissional na clínica, no
âmbito forense os relatos dos entrevis-
    I
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 G IG G % hG:   G
 Ô
 ‚ G  tados serão articulados com os dados
 I`9 I` ^
I I` 
I P :*GG processuais e com todas as informa-
por intermédio da aplicação de procedimentos para avaliar a personalidade e ções obtidas. Ele deve se adaptar, pois
o grau de periculosidade de adultos ou adolescentes nos processos criminais, precisará combinar as formalidades
G0GG I G 
G$ËI G
G%
e ^
IGGI 
 processuais com os aspectos técnico-

 I I    G9 I G  \I I
G   hÔ 
I P G9 -científicos da profissão. “Deve-se ater
HG
IG G  G
GGI
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 a um prazo para a entrega do laudo ou
!G^ GG0GG
G$ËI Ge%
I P \ I` ^
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 relatório psicológico e também atentar

 G 
I P :+ I G%^
IG\GPGGI G
G à linguagem jurídica. Deverá realizar
 I`I G
% hG9 
G
  ^
IG  uma descrição realista dos fatos, pauta-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

GHG      G I  II G   : %P   da em documentos processuais, fazer
I ‚IGG G 
I GG HG : uma descrição confiável e muitas vezes
literal do que é dito pelo entrevistado

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PSICOLOGIA JURÍDICA

der o que está sendo perguntado, é hora


de fazer a análise dos dados e, então, a
síntese e elaboração do laudo pericial3,
com base na Resolução 7/2003.
De acordo com a Resolução 8/2010
do CFP, o trabalho pericial poderá con-
templar observações, entrevistas, visitas
domiciliares e institucionais, aplicação
de testes psicológicos, utilização de re-
cursos lúdicos e outros instrumentos,
métodos e técnicas reconhecidos pelo
Conselho Federal de Psicologia (artigo
3º), e nele poderá atuar equipe multi-
profissional (artigo 5º).
Em seu artigo 6º, a resolução de-
termina que os documentos produ-
G^ GII G

I‚GhÔ9 9G\
bIG
I G9 99 zidos por psicólogos que atuam na
famílias homoafetivas, cada vez mais comuns Justiça devem manter o rigor técnico
e ético exigido na Resolução CFP
* 
PGG GG ËI G
G nº 7/2003, que institui o Manual de
Elaboração de Documentos Escritos
GhÔ G
GI
G‡G\ produzidos pelo psicólogo, decorren-
 I G
GHG Gh€G
G tes da avaliação psicológica. Em seu
relatório, o psicólogo perito apresen-

ÔG
GG  ˆHIGG  tará indicativos pertinentes à sua in-
G
 P¢GOIIÔ9IG vestigação, os quais possam subsidiar
diretamente o juiz na solicitação rea-
e contestar exaustivamente os pontos técnico, que como veremos adiante, lizada, reconhecendo os limites legais
periciais que constituem a resposta de acordo com a Resolução 8/2010, de sua atuação profissional, sem aden-
ao solicitado pelas partes e pelo juiz. em seu artigo 2º, não poderá partici- trar nas decisões, que são atribuição
É uma matriz, à qual o psicólogo deve par dos procedimentos da perícia. Ele exclusiva dos magistrados (artigo 7º).
adaptar a visão global do que foi com- poderá ter reunião com o perito e con-
preendido na análise diagnóstica reali- testar seu laudo posteriormente atra-
zada” (Pinto, 2007). vés do Parecer2 .
Durante as perícias, o psicólogo Importante que o perito tenha
busca acessar o entrevistado em uma acesso aos documentos dos autos. Nas
relação quase íntima, na qual o peri- entrevistas, é igualmente relevante ob-
ciado possa se expressar com espon- ter dados da história de vida de cada
taneidade, apesar de saber que tudo o um e o histórico da demanda judicial.
que disser será incluído no informe do Fundamental que não se tirem conclu-
profissional e transmitido à autorida- sões apenas com a leitura dos autos. ŒGhÔG0GG
!G^ GŒ
de que decidirá sobre a causa (Pinto, Isso é difícil, porém profissional e éti- O documento “Referências técnicas para a
2007). O objetivo é que seu trabalho co. Testes e entrevistas são utilizados. atuação do psicólogo em Varas de Família”,
lançado pelo Centro de Referência Técnica em
ajude a resolver a demanda judicial. Visitas a residências e escolas são im-
Psicologia e Políticas Públicas (Crepop), apre-
Para isso, se utilizará de entrevistas se- portantes, bem como entrevistas com senta diretrizes para a atuação de psicólogos
midirigidas e testes psicológicos devi- profissionais e familiares envolvidos. em Varas de Família. O texto procura oferecer
damente qualificados pelo CFP. Tudo com o objetivo de alcançar uma subsídios aos profissionais da área e àqueles
As partes deverão ser contatadas visão mais ampla possível do conflito e que não possuem vínculo empregatício com
o Poder Judiciário mas emitem pareceres que
com o objetivo de agendar as entrevis- da dinâmica em questão.
são anexados a processos, desenvolvendo
tas diagnósticas. Em muitos processos Após ter colhido informações que práticas relativas à Psicologia Jurídica.
haverá a participação do assistente entenda como suficientes para respon-

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A resolução veda também, em seu
artigo 10, ao psicólogo que esteja atu-
ando como psicoterapeuta das partes
envolvidas no litígio: I - Atuar como
perito ou assistente técnico de pesso-
as atendidas por ele e/ou de terceiros
envolvidos na mesma situação litigio-
sa; II - Produzir documentos advin-
dos do processo psicoterápico com a
finalidade de fornecer informações à
instância judicial acerca das pessoas
atendidas, sem o consentimento for-
mal dessas últimas, à exceção de de-
clarações, conforme a Resolução CFP
nº 7/2003.

Consentimento *^IG ‚ ÔG


H 
G  GhÔ I` IG9G\
G


Q uando a pessoa atendida for


criança, adolescente ou interdi-
to, o consentimento formal referido
I G
G G  IGh€I
G
I‚ 

não ser o psicólogo clínico. Importante faz necessário e útil para a melhora na
no caput deve ser dado por pelo menos separar, após a avaliação das personali- qualidade de vida das pessoas envolvi-
um dos responsáveis legais. Sobre o dades e dinâmicas familiares, o que se das em litígios familiares.
laudo pericial, o CFP, através, ainda,
1
Entenda-se por quesitos as perguntas formuladas pelo juiz, promotor e pelas partes assessoradas pelo assistente técnico.
do documento “Referências técnicas Os quesitos são de extrema importância, pois nortearão a investigação pericial, já que o perito necessitará respondê-los.
para a atuação do psicólogo em Varas 2
O Parecer Psicológico é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do campo psicológico cujo
de Família”, acrescenta que o psicólogo resultado pode ser indicativo ou conclusivo. O parecer tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo
registrará apenas as informações ne- do conhecimento psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “questão-problema”, visando dirimir dúvidas
que estão interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de quem responde competência
cessárias para o cumprimento dos ob- no assunto. A discussão do Parecer Psicológico constitui a análise minuciosa da questão explanada e argumentada com base
jetivos do trabalho. Portanto, essas são nos fundamentos necessários existentes, seja na ética, na técnica ou no corpo conceitual da ciência psicológica. Nessa parte,
conclusões psicológicas e não jurídi- deve respeitar as normas de referência de trabalhos científicos para suas citações e informações (Resolução 7/2003 CFP).
cas, não sendo atribuição de psicólogos 3
O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e suas
determinações históricas, sociais, políticas e culturais pesquisadas no processo de avaliação psicológica. Como todo docu-
proferir sentenças ou soluções jurídi- mento, deve ser subsidiado em dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes
cas. O psicólogo não poderá se tornar psicológicos, observação, exame psíquico, intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e cientí-
um “pequeno juiz ou um juiz oculto”. fico adotado pelo psicólogo. A finalidade do relatório psicológico será apresentar os procedimentos e conclusões gerados
pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e
O cuidado com a exposição excessiva
evolução do caso, orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação de acompanhamento
deve ser tomado. Não há a necessida- psicológico, limitando-se a fornecer somente as informações necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição.
de de reproduzir em relatórios, laudos
ou pareceres frases ditas pelos sujeitos. REFERÊNCIAS
Porém, no que diz respeito às normas Calçada, A. S.; Cavaggioni, A.; Neri, L. Falsas acusações de abuso sexual – o outro lado da história. Rio de
éticas, indica-se que o psicólogo não Janeiro: OR Editora, 2000.
tem o direito de colher informações do Calçada, A. S. Falsas acusações de abuso sexual e a implantação de falsas memórias. São Paulo: Editora
Equilíbrio, 2008.
cliente e, depois, se negar a conversar
. Perdas irreparáveis – alienação parental e falsas acusações de abuso sexual. Rio de Janeiro:
com a pessoa atendida sobre as conclu-
Editora Publit, 2014.
sões a que chegou. Entrevistas de devo-
. Falsas acusações de abuso sexual – a perícia social e psicológica no Direito de Família. In:
lução fazem parte das tarefas e obriga- Freitas, P. D.; Javorski, J., p. 212-248. Florianópolis: Editora Voxlegem, 2015.
ções dos psicólogos. Silva, E. L. Perícias psicológicas nas Varas de Família – a perícia social e psicológica no Direito de Família.
Enfim, a tarefa de atuar como psi- In: Freitas, P. D.; Javorski, J., p. 183-211. Florianópolis: Editora Voxlegem, 2015.
cólogo na função pericial é difícil no BRASIL. Resolução 7/2003 do Conselho Federal de Psicologia, www.pol.org.br, acesso em: 2 fev. 2016.
sentido do estabelecimento de limites BRASIL. Resolução 8/2010 do Conselho Federal de Psicologia, www.pol.org.br, acesso em: 2 fev. 2016.
para a própria atuação: não ser juiz, BRASIL. “Referências técnicas para a atuação do psicólogo em Varas de Família”, Conselho Federal de
não ser advogado, não ser o acusador e Psicologia, www.pol.org.br, acesso em: 2 fev. 2016.

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coaching por Eduardo Shinyashiki

VOE ALTO!
DESDE A CONCEPÇÃO DA VIDA E EM TODAS AS SUAS FASES
SUPERAMOS INÚMERAS BARREIRAS, SENDO NECESSÁRIO ENTENDER
QUE CONTRATEMPOS E DIFICULDADES SEMPRE EXISTIRÃO

D
esde a Pré-história os seres vida. Nesse momento, elas se tornam Dessa forma, alimentamos a ansiedade, a
humanos enfrentam proble- vítimas desses problemas e assumem o RAIVA ATRISTEZA AFALTADECONlAN¥AnEM
mas, superam obstáculos e compromisso de impotência perante os NØS  NOS OUTROS E NA VIDA n  A INSATISFA-
lidam com as adversidades fatos. Mas observe a contradição: ao mes- ção, o estresse, a desmotivação, a baixa
diariamente, mesmo que sejam de for- mo tempo em que elas esperam e pedem autoestima, a falta de controle da nossa
mas diversas. Porém, é possível notar que por uma solução, continuam olhando so- própria vida, entre muitos outros senti-
muitas pessoas não conseguem enfrentar mente para um lado do problema, ou seja, mentos e crenças limitantes.
essas situações de modo natural. Já ou- para o lado oposto da solução desejada. 1UANDO REmETIMOS SOBRE UMA SITU-
tras tiram de letra. Se não soubermos lidar com as adver- A¥ÎO CONmITANTE JÉ VIVENCIADA PODEMOS
Quase sempre as pessoas que têm sidades que aparecem em nosso caminho PERCEBER QUE DIlCILMENTE CONSEGUIMOS
mais resistência em atravessar situações acabamos dando força aos sentimentos olhar para as adversidades sob uma se-
difíceis estão presas apenas ao lado ne- NEGATIVOS E ELES lCAM SEMPRE PRESENTES gunda óptica, mas focamos somente nos
gativo do problema e não conseguem na nossa vida. Mesmo que eles sejam dei- aspectos ruins, sem ao menos tentar en-
visualizar outros prismas de uma mesma xados de lado, se não forem resolvidos xergar o lado positivo delas. Por exemplo,
questão, se diminuindo perante as adver- voltarão com frequência no nosso dia a ao receber uma advertência do líder por
sidades, deixando aquele obstáculo ditar dia, muitas vezes com padrões repetiti- queda de resultados (situação adversa),
suas ações e, muitas vezes, sua própria vos ou disfarçados com outras questões. você provavelmente irá buscar novas

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estratégias para alavancar os números, O PRIMEIRO PASSO
ALÏMDElCARMAISATENTOAOATINGIMEN-
PARA SE LIVRAR DE
to de metas (lado bom). Quantas vezes,
após algum problema ser resolvido, você UMA ADVERSIDADE É
já pensou: “Ainda bem que isso aconte- ACEITAR E ENTENDER
ceu, assim pude ter a oportunidade de co-
nhecer tal coisa ou pessoa”, e por aí vai.
QUAL É A MENSAGEM
Sempre haverá um lado bom, seja em cir- DE MUDANÇA QUE
cunstâncias mais simples ou complexas. ELA NOS PASSA.
Os problemas estarão sempre pre-
sentes em nossa vida, porém a forma de
RECONHEÇA AS
perceber e lidar com eles poderá fazer OPORTUNIDADES
toda a diferença. Parafraseando Fer- DE CRESCIMENTO,
nando Pessoa, “ser feliz é deixar de ser
vítima dos problemas e se tornar um au- SABEDORIA E DE ANÚNCIO 1/3
tor da própria história. É saber falar de EVOLUÇÃO QUE
si mesmo. É não ter medo dos próprios
EXISTEM EM CADA
sentimentos”. O primeiro passo para se
livrar de uma adversidade é aceitar e en- TRAJETÓRIA
tender qual é a mensagem de mudança
que ela nos passa. admira muito no seu lugar e, assim, con-
Não podemos permitir que um obstá- seguirá visualizar qual é a ação que essa
culo nos coloque como vítima ou que fa- pessoa teria. Dessa forma, é possível ob-
çamos autoquestionamentos do tipo “por ter uma visão mais clara e ajustar o foco
que eu?”, “por que isso só acontece comi- para encontrar soluções criativas, que nos
go?”, entre muitos outros pensamentos levarão ao sucesso desejado.
que nos paralisam. Reconheça as opor- #ADA DESAlO E CADA DIlCULDADE QUE
tunidades de crescimento, sabedoria e de se enfrenta na vida servem para fortalecer
evolução que existem em nossa trajetória. AFOR¥ADEVONTADE CONlAN¥AECAPACIDA-
Experimente ter uma visão ampla, de de vencer os obstáculos futuros com
que abranja todo o contexto. Muitas ve- êxito, assertividade, prosperidade e muita
zes, achamos que para quem está de fora felicidade. Esses impedimentos que sur-
da situação é muito mais fácil achar uma gem no decorrer da estrada serão sempre
solução, e estamos certos em relação a sinônimos de superação, portanto fazem
isso, pois o outro tem uma visão do todo, parte da trajetória e do crescimento pes-
facilitando o seu entendimento. Portanto, SOALEPROlSSIONAL
permita-se contemplar por algum instan- Ter a coragem de olhar o mundo e a
TEAQUILOQUEOAmIGE CONHE¥AECOMPRE- sua própria realidade de outros pontos de
enda a mensagem que aquele problema vista é maravilhoso e libertador.
lhe passa. Quando mudamos o ponto de Voe alto, enxergue novos horizon-
vista, vemos o mesmo problema com ou- tes! Assim você perceberá que o mundo
tra perspectiva. Se mesmo assim sentir Ï UM ESPA¥O DE INlNITAS POSSIBILIDADES
DIlCULDADE EM ENXERGAR O LADO POSITIVO e um cenário onde você mesmo pode
de tal questão, se coloque na posição de CRIAR O ROTEIRO QUE QUISER  COM O lNAL
observador e imagine alguém que você feliz que desejar!
IMAGEM: SHUTTERSTOCK / ACERVO PESSOAL

Eduardo Shinyashiki é palestrante, consultor organizacional, especialista em


Desenvolvimento das Competências de Liderança e Preparação de Equipes.
É presidente do Instituto Eduardo Shinyashiki e também escritor e autor de
importantes livros como Transforme seus Sonhos em Vida (Editora Gente), sua
publicação mais recente. www.edushin.com.br

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livros Da redação

Questões sobre Psiquiatria Forense (Perícia na Psicologia Jurídica)


O livro Perícia na Psiquiatria Forense, do especialista Guido Arturo Palomba, tem como objetivo fa-
cilitar a compreensão dessa área da Medicina pouco explorada e levar informação prática e simples
para advogados, juízes, delegados, médicos e psiquiatras. Organizado em perguntas e respostas, trata
das principais questões da Psiquiatria Forense, abordando a atuação na área civil e criminal, bem
como o seu crescimento histórico. A obra tangencia aspectos como elaborar um laudo e preencher
quesitos; inclina-se ao setor mais técnico como perícia retrospectiva, interdição, guarda de menores,
alienação parental, anulação de testamentos, orienta como fazer a perícia nesses casos e em quais
pontos basear-se. Insere o teor criminal, explica o que é periculosidade e os limites da menor idade,
entre outros fundamentos. Apesar de seu foco estar voltado aos que fazem parte da intersecção entre
Direito e Medicina, o púbico leigo também pode apreender muito – sobretudo aqueles que passam
por processo de guarda de menor ou anulação de casamento, por exemplo.

Perícia na Psiquiatria Forense


Autor: Guido Arturo Palomba
Editora: Saraiva Páginas: 244

Distúrbio de personalidade (romance e doença mental)


Nas Fronteiras de Alice, livro escrito por Marcelo Siqueira, discute como é possível reencontrar o
amor, transcendendo questões como idade, doenças mentais e ética. A obra aborda os complexos
temas do transtorno de personalidade e do adultério entre um professor e uma aluna, porém man-
tendo a narrativa repleta de amor e suspense. Nesse relacionamento, cada um será exposto às suas
fraquezas e aos seus desejos mais íntimos, provocando comentários e incompreensões de pessoas
próximas, principalmente na questão das múltiplas personalidades. Divertida em alguns momentos
e intensa em outros, a narrativa transmite para o leitor sensações de nostalgia, erotismo, paixão e
cumplicidade, além de abordar a doença mental como pano de fundo.

Nas Fronteiras de Alice


Autor: Marcelo Nogueira
Editora: Pandorga
Páginas: 238

Os mistérios do cérebro e a Matemática (Neurobiologia e educação)


! .EUROCIÐNCIA COM O OLHAR DIFERENCIADO DOS PROlSSIONAIS DA EDUCA¥ÎO INFANTIL  DO ENSINO FUNDA-
mental e até mesmo da clínica é abordada no livro A Neuciência na Sala de Aula – uma Abordagem
Neurobiológica, QUEENFATIZAAIMPORTÊNCIADOSPROlSSIONAISDEEDUCA¥ÎOADENTRAREMNESSEMUNDODA
Neurobiologia, fazendo com que, por meio da sala de aula e das atividades lúdicas, eles possam faci-
litar o processo de aprendizagem da criança.
Por meio de atividades lúdicas, advindas da psicomotricidade e do conhecimento básico do sistema
nervoso central, o professor irá oferecer novas sinapses para que sejam disparadas e a plasticidade
ACONTE¥A/LIVROTAMBÏMOFERECEVALIOSASINFORMA¥ÜESSOBREOAUTISMO ODESAlODONOVOSÏCULO E
IMAGENS: DIVULGAÇÃO

como entender a sexualidade de pessoas com necessidades especiais, escritas por autores portugueses.

A Neuciência na Sala de Aula – uma Abordagem Neurobiológica


Organizadora: Marilza Delduque
Editora: Wak
Páginas: 152

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Psicologia no esporte
dossiê

PSICOLOGIA NA
PRÁTICA DO
ESPORTE
Hoje, há consenso sobre a
influência do desempenho
mental na atuação dos
competidores de alto nível,
mas o equilíbrio emocional
é determinante também
para o sucesso pessoal
SHUTTERSTOCK

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dossiê

Para uma boa


PERFORMANCE na vida
O aspecto emocional é o grande diferencial para que os atletas
consigam se destacar, mas não são restritos aos competidores. O
treinamento psicológico traz benefícios para todos
Por Rodrigo Scialfa Falcão

O
esporte é um dos prin- essa lógica serve para a vida também,
cipais fenômenos socio- seja no campo pessoal, profissional,
culturais desde a Grécia em família etc.
Antiga. Hoje, certamen- Voltando ao esporte, podemos
te, muitos atletas são referência para dizer que esta não é ciência exata;
pessoas que nem sempre são espor- ele é sempre executado por humanos
tistas, mas simpatizam com filosofias
que o esporte carrega como foco, aten-
ção, determinação, superação, entre
outros. A  grande maioria dos atletas
medalhistas, por exemplo, se tornam
ídolos e até popularizam esportes an-
tes não tão admirados, como aconte-
ceu com Gustavo Kuerten na época
em que se tornou o melhor tenista do
mundo e também o espelho até mes-
ŒPsicologia do Esporte
deve se adaptar Œ
mo para crianças, que trocaram a ado- O comportamento mental, comprovadamente, Cada modalidade esportiva tem suas
ração pelo futebol por essa modalida- ƒI G
G G
‚  GGGI peculiaridades, sua cultura e seu uni-

G\GPG
G
G:  verso, e a Psicologia do Esporte deve
de. Mas Guga é só um dos exemplos.

G\ G
 se adaptar a essas situações, pois as
O esporte brasileiro – e mundial – tem
modalidades são diferentes umas das
muitos outros atletas modelos. terá resultados melhores. Há inúme-
outras, assim como as capacidades
Porém, há casos conhecidos em ras variáveis que podem influenciar
físicas, técnicas e táticas são distintas
que o esportista apresenta seu me- positiva ou negativamente a atuação de um esporte para outro. Isso também
lhor momento físico, técnico e tático, de um atleta ou da equipe. Todos os acontece com a preparação psicoló-
entretanto, por diversos fatores, não competidores, desde os grandes favo- gica. Os recursos necessários para um
trabalha bem seu aspecto emocional ritos aos iniciantes, sofrem influên- bom desempenho de maratonistas são
e este é, sem dúvida, o grande dife- cias, e as pessoas mais equilibradas diferentes dos recursos dos esgrimis-
rencial nas competições. Aquele que emocionalmente, naqueles momen- tas, que são também diferentes dos jo-
estiver preparado psicologicamente tos decisivos, é que se consagrarão. E gadores de handebol. Nas modalidades
coletivas, algumas responsabilidades
podem ser partilhadas. Isso não acon-
Rodrigo Scialfa Falcão é psicólogo formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre tece em modalidades individuais, onde
 GG hÔ
ƒ G/  G*HG
GGGG¤/I:
todo o desempenho atlético é fruto do
Especialista em Psicologia do Esporte pelo Instituto Sedes Sapientiae. Psicólogo clínico com
especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP. comportamento de uma pessoa.

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Psicologia no esporte
* ^H I G\ G

GPG
G
G9
\9I I

G
GGhÔ9G
 I` IG 
G\
IG
G 

e, por isso mesmo,  a imprevisibili-


PARA SABER MAIS
dade está presente nos ginásios, nas
piscinas, nas pistas, nos campos. O
ESTÍMULO ÀS HABILIDADES PSICOLÓGICAS comportamento mental, comprova-

S egundo Rudik (1990), o rendimento esportivo máximo é alcançado quando


os atletas atingem uma forma esportiva caracterizada por vários aspectos,
entre eles: melhora da atividade total da consciência, aumentando a velocidade
damente, influencia de maneira defi-
nitiva a performance de alguém em
qualquer área da vida, que dirá nas
das reações motoras; processos de percepção produzidos com rapidez, tornan- competições esportivas. Nossa pai-

¢G IG‚IGeG
GGhÔ9 G
GIGGI
G

 xão nacional, o futebol, nos mostrou
distribuí-la ou concentrá-la, elevando também a capacidade de alterar rapida- de forma dolorosa, como um desfecho
mente o foco de atenção de um objeto para outro; aumento da capacidade de mal elaborado pode desestabilizar 11
G Gh  P 9
GI‚GhGG` GhG
G homens em menos de 15 minutos. E
vontade de vencer. afetou também o equilíbrio emocio-
Balague (2001) coloca que cada fase do treinamento tem requisitos psicológi- nal de uma legião de torcedores.
cos diferentes e, por isso, para que se obtenha um ótimo rendimento é necessá- Foi a partir desse evento, na Copa
rio que as habilidades psicológicas sejam estimuladas e desenvolvidas conjunta- do Mundo sediada no Brasil, com os
mente com as capacidades físicas e as habilidades técnicas e táticas.
“donos da casa” derrotados por um
Para Korsakas e Marques (2005), “se a periodização compreende o planeja-
placar vergonhoso, que vimos crescer
mento do treinamento esportivo, quando se fala sobre a preparação psicológica
o debate sobre a atuação de psicólo-
integrada aos outros processos desse treinamento, não poderíamos tratá-la de
gos esportivos, uma área bem reco-
forma diferente. Basicamente por dois motivos: o primeiro pela necessidade de
nhecida em outros países, mas que
combinar a preparação do atleta considerando-o como uma totalidade, que atu-
ainda é pouco explorada no Brasil.
ará empregando todo o seu potencial (aspectos físicos, técnicos, táticos e psi-
De modo geral, todos sabem da im-
cológicos) na busca dos objetivos da competição; o segundo pela necessidade
portância da prevenção psicológica
de utilizar a preparação psicológica adequadamente, sem acreditar que palestras
no esporte, porém, na prática, poucas
 GI G 9‚IG9 G
G9
 G
GIG
G
SHUTTESTOCK

equipes efetivamente preparam seus


preparação com qualidade”.
atletas devidamente.

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dossiê

HABILIDADES
psicológicas devem
SER SEGUIDAS
Desempenho mental e preparação emocional são
aspectos imprescindíveis para a conquista de vitórias
no esporte, mas alguns requisitos podem ser
aproveitados também na vida pessoal e profissional
Por Rodrigo Scialfa Falcão

É
nítido e incontestável que erro pode ocasionar uma avalan- rendimento. A concentração é um
o desempenho e a prepa- che de sentimentos negativos e le- tipo de percepção. A percepção é
ração mental são fato- var à derrota. Saber retornar desses basicamente uma capacidade cog-
res fundamentais para a momentos (frequentes) dos jogos e nitiva, que faz reconhecer o mundo
obtenção do sucesso na atuação do competições é uma habilidade que ao redor através dos sentidos (visão,
esportista de alto rendimento. No pode ser diferencial para uma deci- tato, olfato, audição, paladar). Por-
entanto, essas conquistas precisam são e até para a carreira de qualquer tanto, para perceber alguns eventos
ficar restritas apenas ao esporte. atleta. A tensão exacerbada propor- que nos cercam, o cérebro utiliza
Existem algumas habilidades psico- ciona emoções negativas, como diferentes tipos de atenção.
lógicas que devem ser seguidas por raiva, frustração e medo. Como O ambiente está cercado por
esses competidores, e pessoas foca- consequência, podem desencadear vários estímulos que aguçam a per-
das em alcançar o sucesso. problemas durante a atuação, in- cepção, e a atenção seleciona e co-
cluindo a tensão muscular e desvio difica alguns deles que interessam
Equilíbrio emocional de concentração, que propicia dis- no momento. Quando se foca em

O s esportes competitivos talvez


sejam um dos poucos fenô-
menos sociais em que as emoções
trações, lentidão de raciocínio na
execução de golpes, movimentos
lentos, entre outros.
poucos estímulos, utiliza-se a con-
centração – que nada mais é do que
prestar mais atenção naquilo que é
oscilam abruptamente. Se nos es- relevante naquele determinado mo-
pectadores é comum, imagine nos Concentração mento. Ou seja, no adversário, nos
atletas. Desenvolver o equilíbrio
emocional é fundamental para
qualquer pessoa. No esporte ele
É comum ouvir alguém dizendo
“Concentre-se”, “Foco”. No es-
porte, estar concentrado é um dos
pensamentos e nas sensações cor-
porais. Quando se ouve alguém fa-
lar de foco, é preciso lembrar de um
chega a ser primordial, pois um aspectos importantes para o bom feixe de luz iluminando um local
escuro. A falta de concentração em
Rodrigo Scialfa Falcão é psicólogo formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre determinados momentos de uma
 GG hÔ
ƒ G/  G*HG
GGGG¤/I: competição é uma das queixas mais
Especialista em Psicologia do Esporte pelo Instituto Sedes Sapientiae. Psicólogo clínico com frequentes que os psicólogos do es-
especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP.
porte têm de lidar no seu trabalho.

38 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br


Psicologia no esporte
GG
IIGhÔ
 G

GI hÔ\G
G GG  I`

È

GGHG 

Estar concentrado é uma habilidade Um erro pode ocasionar uma avalanche de


psicológica muito importante para
qualquer atleta, porém pode haver
sentimentos negativos e levar à derrota. Saber
níveis diferentes de concentração, retornar desses momentos, que são frequentes, dos
dependendo da situação exigida na
competição. Por exemplo, para um
jogos é uma habilidade que pode ser diferencial para
pivô no basquete e um atleta de tiro uma decisão e até para a carreira de qualquer atleta
esportivo as exigências são muito
distintas. Durante uma competi- seus erros e obter a confiança para durante as competições e que, na-
ção, a concentração pode ser deter- perseverar. Alguns adversários são turalmente, põe pressão em quem
minante para o resultado. mais do que simplesmente rivais, está atuando. Todo atleta, antes
eles podem proporcionar indireta- do início de uma partida, sente-se
Tolerância à frustração mente as condições para a evolução ansioso, agitado, apreensivo de que

A s derrotas podem ensinar mais


do que as vitórias. Pouco tem-
po atrás, o tenista Novak Djokovic
de um atleta. Se a derrota equivale
ao fracasso, nunca se ganhará a ba-
talha da confiança com esse tipo de
possa acontecer algo inesperado.
Não é adequado que essas sensações
cresçam e se tornem amedrontado-
era um coadjuvante em relação a crença (Rolo e Haan, 2009). ras a ponto de não conseguirem
Rafael Nadal e Roger Federer. Em realizar plenamente suas capacida-
diversas entrevistas, ele disse que Desempenho sob pressão des. Aceitar que a ansiedade é ine-
aprendeu muito com as suas derro-
C ontrolar a ansiedade nos mo- vitável na competição e saber que
SHUTTERSTOCK

tas. Esse foi seu principal combus- mentos mais difíceis é com- pode lidar com ela são habilidades
tível para se desenvolver, estudar os portamento típico que ocorre essenciais para recuperar o controle

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dossiê

A percepção é basicamente uma capacidade


cognitiva, que faz reconhecer o mundo
ao redor através dos sentidos (visão, tato,
olfato, audição, paladar). Portanto, para perceber
alguns eventos que nos cercam, o cérebro
ŒModalidade mental Œ utiliza diferentes tipos de atenção
O tênis é considerado uma modalida-
de esportiva na qual a parte mental é de um jogo, já que esse esporte é um vida. Na resiliência, a motivação é
uma de suas principais armas. Neste dos mais populares na China. Por- componente primordial de todo o
cenário, o sérvio Novak Djokovic vem tanto, a pressão pelo ouro olímpico processo de superação.
se consolidando como principal des- seria inevitável. Os atletas chineses
taque. O número 1 do ranking mundial não decepcionaram: levaram todos Autoconfiança
admite que investe no fator psicológi-
co, fazendo uso de uma “abordagem
holística”, como ele mesmo define, que
os ouros da modalidade.
Mesmo os grandes gênios do
esporte, em algum momento da car-
C onfiar em si mesmo e na equi-
pe é uma habilidade que deve
ser desenvolvida. Quem não a pos-
I  G P IG
 
GhÔ  G9
reira, tiveram obstáculos e percalços sui dificilmente consegue se dar
além, é claro, de hábitos alimentares
específicos e treinamento intensivo.
e precisaram se superar para recon- bem no esporte competitivo. Au-
duzir sua trajetória. Essa caracterís- toconfiança é diferente de sober-
tica é chamada de resiliência, termo ba; é entender que o atleta possui
psicológico na sequência de aconte- que, assim como a palavra estresse, qualidades e também limitações,
cimentos inesperados ou distrações vem da Física, e a Psicologia em- é saber utilizar as qualidades nos
(Samulski, 2008). Superar o medo prega para designar o indivíduo momentos negativos e trabalhar as
– ele é uma emoção natural do ser que consegue ultrapassar grandes limitações nos treinos.
humano e pode ser controlado. adversidades, resistir às pressões e, Assim como saber perder, apren-
O psicólogo do esporte cana- com muito esforço, reconduzir a sua der com as derrotas é uma lição im-
dense, Garry Martin, ensina que, portante, valorizar e usufruir das vi-
para eficácia dos aspectos psicoló- tórias também é um comportamento
gicos – quando eles são transferidos que estimula a autoconfiança. Nos
para o ambiente das competições momentos de crise e adversidade é
–, os treinos devem ser o mais se- necessário se lembrar das sensações
melhante possível às exigências da vitória, do prazer proporcionado
durante o torneio. É importante ao conseguir um objetivo.
treinar taticamente, mas deve ser Pensar positivo, ter uma atitu-
dado tempo para treinar questões de positiva, verbalizar coisas po-
mentais. Como isso pode ser feito? sitivas são fatores tão importantes
Simulando condições típicas com- em treino quanto em competição.
petitivas, treinos mais intensos, Essas ações repercutem no corpo,
com jogadores sendo mais agressi- deixando-o mais relaxado e equi-
vos, atletas realizando funções di- librado para executar os movimen-
ferentes das habituais, com torcida tos necessários (Samulski, 2008).
a favor ou contra, com ruído e som Corpo e mente estão interligados e,
alto, com placares adversos etc. Na por isso, as atitudes negativas tam-
preparação para os Jogos Olímpi- bém ref letem em nossos músculos.
cos de Pequim 2008, a equipe de Como consequência, entre outros
badminton chinesa utilizou muitos aspectos, ocorrem desequilíbrio e
treinos simulados, principalmente diminuição da performance.
* G
 G
 bG€
com o ginásio lotado, para ensinar GGIG G9


Em competição, quanto mais
aos seus atletas como lidar com a GhÔ
G
GG

G
d\ enfrentam adversidades, mais po-
pressão da torcida e a adversidade I GG
  ÈI G sitivos têm que ser para construir

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Psicologia no esporte
confiança e autoestima. A confian-
ça está relacionada diretamente ao
êxito percebido. Então, muitas ve-
zes os atletas só acham relevantes as
vitórias, quando o mais importante
é a atitude durante a competição.
Ou seja, há jogos que se vence jo-
gando mal e outros que se é derro-
tado jogando bem (Gallwey, 2004).

Motivação
É possível definir motivação basi-
camente como os motivos que
levam às ações em busca das metas
em todos os aspectos da vida. Pode
ser exemplificada também como a
direção e a intensidade dos esforços.
Motivação é uma “energia psicoló- *G  GHG GhÔ
I G  GÔ G9 PIG
gica” que faz com que a pessoa se Ô  G
9 9GG 
G GGH\ƒbI
comporte de determinadas maneiras.
Para saber o que motiva é imprescin- ambições profissionais palpáveis, O psicólogo do esporte
dível ter autoconhecimento. Portan- desde que se faça algo para alcan-
to, quando se fala em motivação não çá-los. É preferível, do ponto de
Garry Martin ensina
existe “receita de bolo”, pois ela é vista psicológico, que se pretenda 9GG‚IPI G

pessoal, individual e exclusiva. Não alcançar metas de atuação em vez
há motivação sem busca por metas. de resultados. As metas de atuação aspectos psicológicos,
Segundo Samulski (2008), as podem ser controladas. Os resulta- os treinos devem
metas podem tornar os sonhos e dos, não. As metas de atuação são
ser semelhantes às
exigências do torneio.
PARA SABER MAIS
É importante treinar
DESEMPENHOS FÍSICO E MENTAL taticamente, mas deve
E studar os comportamentos de todos que estão, de alguma forma, envol-
vidos no universo esportivo e de exercícios físicos é o objetivo central da
+ I G
 :+GG 9‚ G

IGO
I  GIG
ser dado tempo para
treinar questões mentais
entender de que forma os fatores mentais interferem no desempenho físico,
além de compreender como a participação nessas atividades afeta o desenvol- de esforço, por exemplo: ter uma
vimento emocional, a saúde e o bem-estar de uma pessoa que atua nesse am- boa atitude durante o jogo; manter-
biente. A Psicologia do Esporte é uma ciência relativamente nova, que tem pres- -se confiante nos momentos difí-
tado relevantes serviços para a otimização da performance de atletas e equipes. ceis; usar a agressividade positiva-
Oferecer aos esportistas de alto rendimento apoio psicológico é tão importante mente sem deslealdade. Esse tipo
quanto proporcionar uma alimentação saudável e balanceada, programada por de meta é mais fácil de executar,
um nutricionista. Isso porque o corpo físico e o mental são duas faces da mesma depende exclusivamente do indiví-

G
I GGhÔ:hG‚ GG P duo. As metas por resultados (ga-
relacionada aos esportes de alto rendimento. Entretanto, outras áreas de atuação nhar um torneio, chegar às quartas
podem ser exploradas: práticas de tempo livre (atividade física como manuten- de final, golear um adversário, por
exemplo) são mais complexas de se
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

ção da saúde); esporte escolar (cuidar da relação do praticante com o ambiente


escolar); iniciação esportiva (crianças e jovens envolvidos em atividades peda- atingir, pois não dependem funda-
gógicas e esportivas) e reabilitação (recuperação psicológica de lesões). mentalmente do indivíduo, mas de
outras variáveis que não podem ser

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dossiê

controladas e a probabilidade de pensamentos sejam negativos com


frustração é muito alta. relação a si mesmo.
É importante os atletas desen-
Respeito volverem um repertório grande de

R espeitar o adversário, as regras


do jogo, o fair play, o ambiente
competitivo, os horários das parti-
variação de jogadas e ter paciência
para colocá-las em prática nos mo-
mentos adequados. Nem sempre o
das, os árbitros, assistentes e cola- estilo de jogo de uma equipe irá se en-
boradores deve ser uma obrigação caixar com o do adversário. Ter cora-
para qualquer atleta. Ser leal com gem de arriscar pode ser fundamental
seus adversários e com o público quando estiver numa situação como
que está prestigiando. O respeito, essa. Jogar com simplicidade também
mais do que uma habilidade, é um ajuda. Inteligência não é sinônimo de
valor moral. Os atletas são pessoas belas jogadas. Em muitos momentos,
que têm o poder de influenciar a fazer o básico para marcar um ponto
conduta de crianças e jovens e nem +GGI GIG G  GÔ pode ser a estratégia mais adequada.
sempre compreendem esse papel HGG GH 
G
G:* 

que exercem na sociedade. HG9( I G%
G9
D;ÚÔ
Disciplina
H
G GhÔ9<;Ú9  GhÔ
abilidade e talento, por si
Inteligência tática seus pontos fracos (deixe isso para só, não são os únicos requi-

S aber ler as nuances do jogo do


adversário, seus pontos fortes e
fracos, e utilizar estratégias para mi-
os treinos). Devem pensar nos pon-
tos positivos de seu jogo, tendo por
base os pontos fortes, ou seja, abusar
sitos para uma carreira vitoriosa.
É necessário ter muita disciplina.
Michael Jordan disse certa vez que
nimizar as jogadas dele. Isso é inte- de suas jogadas de confiança. Quan- 90% são transpiração, e 10%, ins-
ligência tática. Em competições, os to mais positivo for durante a com- piração. Pelé, frequentemente, co-
jogadores deveriam evitar focar em petição, melhor, mesmo que seus menta que, após as rotinas diárias,
ele ficava mais tempo treinando
PARA SABER MAIS faltas com a sua perna esquerda (ele
é destro) e cabeceio (que ele dizia
ser seu pior fundamento).
UM FENÔMENO PSICOLÓGICO
R ei do Futebol e Atleta do Século são alguns dos inúmeros adjetivos uti-
 G
GG
‚ GGGH

G
)GI - ‚G 
mento, o Pelé. Colecionador de títulos e recordes, ele, hoje com 75 anos,
além de ser conhecido em todo o planeta, é unanimidade quando se fala no
e na equipe é uma
melhor jogador de todos os tempos. Contudo, não são apenas os fatores habilidade que deve
físicos e técnicos que pesaram na vitoriosa carreira do ídolo. Psicologica-
mente, Pelé também era um craque. Quem atesta a tese é Tostão, também
ser desenvolvida.
ex-jogador e seu companheiro de equipe na seleção brasileira, campeão Quem não a possui

G  (\ I9  <DB;: ) G   I B; G9 .Ô9
que é médico, homenageou o Rei em sua coluna publicada no jornal Folha

‚I I
de S.Paulo. Em um dos trechos, ele disse: “Do ponto de vista psicológico, se dar bem no
Pelé também era um fenômeno, seus níveis de concentração, atenção e ati-
vação eram extremos. Possuía um grande equilíbrio emocional e controle da esporte competitivo.
ansiedade. Sabia o momento exato de canalizar sua raiva e agressividade. Ele I‚GhG\
não se abalava com os adversários e adversidades e se motivava ainda mais
IG

G‚:+\ GG  GII ÈI G
G diferente de soberba;
habilidades e treinava as mesmas exaustivamente, era um perfeccionista. Por é entender que o atleta
um conjunto complexo de fatores (biológicos, genéticos, psicológicos, cog-
nitivos, intelectuais e ambientais) Pelé é o Rei do Futebol”, conclui. possui qualidades e
também limitações
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Psicologia no esporte
/

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I G GGPG9Ô
IP G<;  G
P IG:
+GGG+ I G
9 GhÔ

 GhÔÔ
G
I G GGGI G

Œ!G GŒ
 Ô G  G    IG 
limpo, ter espírito esportivo. Seu con-
ceito está vinculado à Ética no meio
esportivo, onde os praticantes devem
sempre procurar atuar de forma a não
prejudicar o adversário de maneira
proposital. O termo, porém, vem sen-
do utilizado em praticamente todos os
segmentos da sociedade moderna e
assume o significado de trabalhar ou
Motivação é uma “energia psicológica” apresentar uma conduta de acordo
com padrões éticos e morais.
que faz com que a pessoa se comporte de
determinadas maneiras. Portanto, quando se de intensidade elevada e de energia,
que se alimenta essencialmente de
fala em motivação não existe “receita de bolo”, suas emoções positivas. Os senti-
pois ela é pessoal, individual e exclusiva mentos de entusiasmo, inspiração,
decisão e desafio são um ponto cen-
Treinar com intensidade, cuidar Alguns comportamentos po- tral para se desenvolver nessa habi-
da alimentação e dormir bem são dem ser sinônimo de espírito de lidade. Os treinamentos servem de
fundamentais para qualquer atleta. luta: garra, atitude, intensidade, termômetro para as competições,
O treinamento esportivo nada mais coragem, jogar do primeiro ao úl- ou seja, não há fórmula mágica.
é do que repetição de exercícios. timo minuto com a mesma gana e Quanto mais semelhantes os trei-
energia, manter uma situação emo- nos forem das competições, melhor.
Espírito de luta cional construtiva quando as coisas Dessa maneira, muitas característi-

H á um estudo que diz que,


para ser especialista em
qualquer área, são necessárias 10
vão mal, acreditar em seu potencial.
Para Loehr (1990), treinar e jo-
gar com intensidade é uma habilida-
cas aqui apresentadas podem ser fa-
cilmente transferidas para a vida. O
treinamento sem qualidade não ca-
mil horas de prática. Portanto, de que requer repetição. Os atletas pacitará ninguém a competir bem.
isso leva anos para ser adquirido. terão o melhor de seu desempenho E viver é um eterno treinamento,
Infelizmente, algumas coisas terão quando puderem manter um estado não é mesmo?
de ser deixadas de lado em algum
momento na carreira esportiva. Às
REFERÊNCIAS
vezes, o lazer, a convivência com
&GG(G:GGhÔ I` IGII
 GHGH:
os amigos e até com familiares. $d %:. I 9Basquetebol: G Ô G
GI ÈI GP IG:(G
:9=;;@:
Porém, todos os seres humanos ne-   G 9G #GG:Treino mental no tênis:G\ GP IGGGI:=;;D:
cessitam de momentos de relaxa- H1 HeG "
:Fundamentos da Psicologia do Esporte e Exercício.
:
mento e de descanso (físico e men- 
9=;;<:
tal). Entregar-se a eles faz parte de "G(G :Consultoria em Psicologia do Esporte:
:$:9<DDB:
uma atitude disciplinada. Desligar
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

 G-G :Treinamento mental no tênis:I


G GH 
G
G :
:
do esporte nessas ocasiões e apro- (G9=;;C:
veitar para fazer algo que não faz %G :' :El juego mental.
:.9<DD;:
com tanta frequência. 1:.:"G:O jogo interior de tênis.
:.9=;;?:

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dossiê

A importância
do %*"*( ).'
As práticas contemplativas e suas variadas técnicas estão ajudando
atletas de alto rendimento a melhorarem o desempenho esportivo,
por intermédio de um trabalho que enfatiza o aspecto mental
Por Camila Ferreira Vorkapic

N
o esporte dizem que consiste em estar totalmente focado e Michigan, respectivamente, conclu-
90% do desempenho presente no momento. Psicólogos do íram, em uma revisão sobre o tema,
são mental. Quantas ve- esporte afirmam que não estar “pre- que as intervenções baseadas em re-
zes, em conversas sobre sente no momento” é o que provoca laxamento e reestruturação cogniti-
competições esportivas, já ouvimos confusão mental. Isto é, quando, du- va são altamente eficazes na melhora
a frase “está tudo na cabeça”? Mesmo rante uma competição, o atleta pensa de desempenho esportivo. Segundo
assim, treinadores e atletas passam a em eventos passados ou nas consequ- os autores, essas estratégias de coping
maior do tempo, esforço e dinheiro ências da derrota, a confusão mental permitem que os atletas dirijam o foco
realizando treinos físicos e técnicos, se instala pela falta de foco no momen- para as sensações internas do corpo,
deixando pouquíssimo espaço para o to presente, prejudicando o desempe- como a respiração, resultando em me-
chamado jogo mental. A importância nho. Ao contrário, um atleta focado no lhores desempenhos competitivos.
de uma mente clara e focada é muitas momento presente e livre de padrões Enquanto as rotinas mentais pa-
vezes subestimada. E uma mente que mentais negativos e medos tem mais recem de fato influenciar o desem-
não está sob controle está mais pro- chance de vencer. penho atlético, o mecanismo exato
pensa a erros que, muitas vezes, podem Como consequência, tem se tor- pelos quais elas funcionam ainda não
custar uma partida ou até uma final. nado cada vez mais comum entre está claro. Em um estudo clássico
Além disso, o estresse, a ansiedade e a atletas a realização de rotinas mentais, com medalhistas olímpicos, a equi-
pressão sob as quais atletas são subme- como visualizações, ensaios, autover- pe do pesquisador Daniel Gould, da
tidos constantemente ocasionam em balização e relaxamentos para ajudá- Universidade Estadual de Michigan,
falta de atenção, concentração, perda -los a superar distrações, estados psi- registrou que os atletas utilizam as ro-
das habilidades motoras e falência. cológicos desfavoráveis e desenvolver tinas mentais como modo de chegar
Entretanto, a quantidade correta prontidão mental. a um estado mental ideal e que 53%
de estresse e ansiedade controlados Os pesquisadores Michael dos atletas entrevistados sobre seus
pode manter o atleta em um estado Greenspan e Deborah Feltz, das Uni- piores desempenhos disseram não ter
mental ideal, chamado de “zona”, que versidades Estaduais do Arizona e de aderido às rotinas mentais. De acordo
com os pesquisadores, a habilidade de
regular o estado de excitação, chama-
G G! G0G I\ G
G
  ^‚I  G!G I­)+ do de arousal, parece influenciar dire-
pesquisadora do Laboratório de Biociências da Motricidade Humana (LABIMH), na Universidade tamente o desempenho atlético. Essa
. G
‡- ˆ9
'GHG` 
)‚  G
G/ 
G
!
G
- ‡- ˆ:G
em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pós-doutora em Ciências da Saúde excitação (arousal) refere-se a quão
pela Universidade Federal de Sergipe e autora do livro Mindfulness, Meditação,Yoga e Técnicas ativado emocionalmente um atleta se
G Gd" G
 IGh€
+P IG+GGG+‚ G 
-Gb
 (Ed. Cognitiva). torna antes ou durante a competição.
É coordenadora da Rede de Estudos Interdisciplinares em Neurociências (REIN), em Sergipe.
As rotinas mentais parecem, desse

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Psicologia no esporte
Apesar da importância da concentração e do desempenho mental no esporte, os maiores investimentos continuam a ser nos treinamentos
físicos e técnicos

modo, ajudar na ativação de um es- A habilidade de regular o estado de excitação,


tado de excitação mais apropriado à
performance, regulando expectativas, I GG

GG9GI ƒI G
G
confiança, concentração e atenção, e o desempenho atlético. Essa excitação (arousal)
o próprio nível de excitação durante a
competição esportiva. refere-se a quão ativado emocionalmente um atleta
se torna antes ou durante a competição
Esporte Zen
A s últimas décadas de pesquisas
mostram que psicólogos do es-
porte e preparadores têm utilizado
competitivo. O yoga, que inclui a
meditação, é o único método capaz
(asanas), respiração controlada (pra-
nayamas), relaxamento consciente e
rotinas mentais especiais para me- de desenvolver todas essas variáveis profundo (yoganidra) e meditação.
lhora do autocontrole e autorregula- ao mesmo tempo. De acordo com a dra. Shirley Telles,
ção emocional. Ao invés de contro- O yoga é um sistema milenar de uma das maiores pesquisadoras do
lar ou rejeitar experiências internas, práticas mente-corpo que se originou tema e diretora de pesquisa do Pa-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK /WIKIPEDIA

essas rotinas enfatizam uma consci- na Índia há mais de 2.000 anos e foi tanjali Research Foundation, em Ha-
ência atenta e não crítica, aceitação, descrito sistematicamente a poste- ridwar, na Índia, essas técnicas têm
atenção, concentração, relaxamen- riori (Yoga Sutras de Patanjali, cerca efeito específico no estado psicológi-
to e técnicas de respiração, como de 900 BC.). Envolve a utilização de co das pessoas. Em uma revisão sobre
modo de melhorar o desempenho técnicas diferentes como posturas yoga e saúde mental, ela relatou que

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dossiê

Aceitar e lidar PARA SABER MAIS

apropriadamente EXIGÊNCIAS EXTERNAS E INTERNAS


com pensamentos
e sentimentos A tradução literal do verbo to cope, do inglês, pode ser descrita como lu-
tar, competir com sucesso ou em igualdade de condições. Seu signifi-
cado pode ser, ainda, a ação de lidar de maneira adequada com uma situa-
negativos, assim ção, superando as adversidades ou os limites que essa situação apresenta.
como experimentar Em Psicologia, mais especificamente na Psiconeuroimunologia, área científica
interdisciplinar que desenvolve uma abordagem tratando o ser humano como
um estado mental unidade indissolúvel de corpo e mente, o coping é estudado, principalmente,
correto durante as na relação com o estresse, sendo definido como tentativa ou empenho para
lidar com exigências externas (do ambiente) ou internas (do próprio sujeito)
competições, é a observadas como sobrecarregando ou excedendo os limites e recursos da
diferença entre pessoa. Fatos estressantes ocorrem o tempo todo na vida das pessoas, que
podem ser definidos como pequenas contrariedades do cotidiano, como a fila
ganhar e perder longa no banco, engarrafamentos no trânsito, a nota baixa do filho na escola e
acontecimentos desse tipo, aparentemente sem grandes consequências, mas
os estudos mostram melhoras signifi- que trazem aborrecimentos. Curiosamente, fatos positivos também são con-
cativas na autorregulação emocional siderados estressantes, como o encontro com um parceiro amoroso, a notícia
com consequentes reduções nos ní- da aprovação do filho no vestibular ou um elogio inesperado no trabalho, por
veis de ansiedade e estresse e melho- :)Ô GGG
ÔI G
cope. Pesquisas apontam
ras na atenção, concentração, humor, duas categorias de estratégias básicas de coping: direcionadas para a resolu-
qualidade de vida e bem-estar. ção do problema e as orientadas para a regulação da emoção.
Hoje, práticas contemplativas
como yoga e meditação mindfulness
vêm sendo cada vez mais utilizadas volvimento de habilidades emocio- negativos, assim como experimentar
no esporte como parte do treinamen- nais específicas necessárias durante um estado mental correto durante as
to mental de atletas. Tais práticas têm uma competição esportiva. competições, é a diferença entre ga-
sido úteis na aceitação de sentimentos Aceitar e lidar apropriadamen- nhar e perder. Os pesquisadores Amy
negativos e pessimistas e no desen- te com pensamentos e sentimentos Gooding e Frank Gardner, do Depar-
tamento de Psicologia da Universidade
Kean, nos Estados Unidos, descobri-
ram que, na verdade, atletas medianos
e de elite experimentam níveis simila-
res de ansiedade, mas a diferença está
na maneira pela qual os atletas de elite
interpretam a ansiedade pré-competi-
tiva como facilitadora. Sendo uma for-
ma específica de excitação (arousal), a
relação entre ansiedade e desempenho
competitivo tem sido bastante estuda-
da ultimamente. Os autores afirmam
que uma experiência emocional requer
uma interpretação cognitiva do nível
de excitação. Outra possibilidade é que
o desempenho dependa de estratégias
de coping, como a confiança do atleta
em lidar com a ansiedade e a percepção
das demandas específicas do esporte.
A confusão mental se instala pela falta de foco no momento presente e um atleta focado e Com o tempo, através de experiências
livre de padrões mentais negativos tem mais chance de vencer negativas e positivas, o atleta pode

46 psique ciência&vida
Psicologia no esporte
treinar o reconhecimento do nível de
excitação apropriado (e, consequente-
mente, ansiedade) e ajustá-lo às neces-
sidades competitivas.
Da perspectiva das práticas con-
templativas, é possível que atletas de
elite lidem melhor com pensamentos
e sentimentos negativos por estarem
mais presentes no momento. Pres-
tando plena atenção (mindfulness)
e se tornando mais conscientes du-
rante o desempenho, esses atletas
exercem menos esforço na tentativa
de controlar e reduzir cognições e
emoções. Na verdade, é exatamente
o contrário, são capazes de desempe- Pesquisas constatam queda no nível de estresse e melhores desempenhos em arqueiros,
nhar suas tarefas competitivas com jogadores de basquete e de futebol após intervenções de mindfulness
quaisquer cognições e emoções que
estejam experimentando. GI G
GP IGIG G9
Contribuição é possível que atletas lidem melhor com
A pesar da sugestiva relação entre
práticas de mente-corpo e trei-
namento mental de atletas, poucos
pensamentos negativos por estarem
mais presentes. Prestando plena atenção,
estudos observaram o impacto dessas exercem menos esforço na tentativa
rotinas no estado psicológico dos atle-
tas e no desempenho esportivo. Além de controlar e reduzir cognições e emoções
disso, a maioria dos estudos utiliza ex-
clusivamente técnicas de mindfulness Mindfulness é um tipo de aten- mento de uma observação desapegada
ou estratégias baseadas em mindful- ção focada, uma “percepção ou cons- dos conteúdos da consciência, podem
ness para esse propósito. cientização não crítica do momento representar uma poderosa estratégia
presente”, que pode ser desenvolvida comportamental de coping para se li-
através de técnicas contemplativas dar com o estresse, a ansiedade e pen-
e até artes marciais. A Psicologia do samentos negativos no esporte. No en-
Esporte tem utilizado intervenções tanto, poucas pesquisas investigaram
baseadas em mindfulness como rotina o efeito dessas práticas no estado men-
mental para melhorar o desempenho tal de atletas. Alguns estudos observa-
e o humor geral dos atletas. A técnica ram níveis reduzidos de ansiedade e
de concentração na respiração, por estresse e melhores desempenhos em
exemplo, uma das práticas de min- arqueiros, jogadores de basquete e de
ŒReestruturação cognitiva Œ dfulness, ajuda a reduzir a ruminação futebol após a utilização de interven-
A chamada reestruturação cognitiva mental. Uma mente ruminante é uma ções baseadas em mindfulness (para
é um processo psicoterapêutico que mente fora de controle. E quando se uma revisão, consultar os artigos na
busca o aprendizado da identificação tem 30 segundos para decidir uma seção Para saber mais).
e da contestação de pensamentos irra- partida, a última coisa que um atleta Pesquisadores afirmam que as téc-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK /ARQUIVO PESSOAL

cionais ou não adaptativos, conhecido quer é uma mente confusa. nicas contemplativas ajudam a treinar
como distorções cognitivas, como por
De modo específico, técnicas o córtex pré-frontal, a parte do cérebro
exemplo clivagem, pensamento mági-
de meditação mindfulness, um com- responsável por criar o estado mental
co, filtragem, excesso de generalização,
magnificação e raciocínio emocional,
ponente de práticas contemplativas de calma e alerta, mantendo os atletas
frequentemente associados. como o yoga, que foca na percepção focados, sem distrações e com o me-
e na atenção plena para o desenvolvi- lhor desempenho possível. De acordo

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dossiê

com a dra. Kristen Race, fundadora do G


G GGhÔP IG
blog Mindful Life e autora do Mindful
Parenting, nos Estados Unidos, a capa-
de mente-corpo e treinamento mental
cidade de observar os pensamentos e de atletas, poucos estudos observaram o
emoções desapegadamente reduz sig-
nificativamente os níveis de cortisol
impacto dessas rotinas no estado psicológico
sanguíneo, o chamado “hormônio do dos atletas e no desempenho esportivo
estresse”. Além disso, a capacidade de
direcionar a atenção para dentro ati- ínsula, resultando em maior sensação laxamento profundo (yoganidra – co-
va uma área do cérebro chamada de de consciência do próprio corpo e me- nhecido em mindfulness como body
lhorando a comunicação entre mente scan) e meditação são parte de quase
e corpo. O resultado disso é que os todas as intervenções de mindfulness,
atletas percebem melhor as mudan- o yoga compreende outras técnicas,
ças fisiológicas, como uma respiração como as respiratórias (pranayama),
muito superficial ou um músculo ten- que não estão incluídas em mindful-
sionado, e podem rapidamente fazer ness, mas que parecem desempenhar
os ajustes apropriados, mesmo antes papel importante na regulação do
de saber conscientemente o que está humor. Por exemplo, uma equipe de
acontecendo e de esses fatores impac- pesquisadores italianos, comandada
ŒReferência nas pesquisas Œ tarem no desempenho. pela dra. Daniele Martarelli, da Uni-
    G G IGG -  versidade de Camerino, na Itália, ob-
Telles é uma referência nas pesquisas No Brasil servou que os níveis de cortisol, au-
que investigam os efeitos terapêuticos

G
G
GhÔHG
e o corpo. Nascida em Nairóbi, no Quê-
N o Brasil, um estudo da autora
com lutadores profissionais de
jiu-jítsu observou redução nos níveis
mentados após o exercício em atletas,
estão relacionados ao estresse oxida-
tivo (aumento de radicais livres) e
nia, e radicada na Índia, defende a eficá-
de ansiedade, fadiga, tensão e raiva podem ser revertidos após respiração
cia comprovada dos meios naturais de
após utilização de uma intervenção diafragmática (pranayama). Essa es-
contornar o estresse. Desenvolveu seu
trabalho e aplicou seus conhecimentos
baseada em técnicas de yoga (YBIS). tratégia ajuda a regular os níveis de
em casas de correção infantojuvenil, Pesquisas que envolvem práticas de cortisol, sugerindo efeitos no estresse
moradias de idosos, empresas de tec- yoga, e não somente mindfulness, e na ansiedade. Além disso, a respira-
nologia, pacientes esquizofrênicos e ainda são minoria, mas também ção profunda envia sinais ao sistema
sobreviventes de tragédias naturais. possuem potencial positivo de resul- nervoso simpático que, por sua vez,
tados. Enquanto posturas (asana), re- reduz os batimentos cardíacos. Não

ANÚNCIO DU
48 psique ciência&vida Imagem - Jacques Lacan www.portalcienciaevida.com.br
Psicologia no esporte
Jogadores de basquete
costumam respirar
te norte-americanas do Chicago
profundamente antes
Bulls, durante os anos de Michael
do lance livre e o fazem
intuitivamente, na Jordan, e no Los Angeles Lakers.
tentativa de reduzir os Atualmente é consultor de diversos
batimentos cardíacos e atletas e times de esportes diversos.
a ansiedade Nas palavras de Mumford: “Você
precisa focar em si mesmo. É muito
mais difícil conquistar a si mesmo
que aos outros. Isso é o mais difícil
que temos que fazer, mas também
o mais benéfico. Tudo acontece no
momento presente. Esse momento
é tudo o que temos. É somente no
é à toa que jogadores de basquete resiliente. E estas, definitivamente, momento presente que podemos
costumam respirar profundamente são as características mentais dos mudar as coisas. E você não está so-
antes de lançar a bola. Eles o fazem verdadeiros campeões. mente mudando para si, você está
intuitivamente, na tentativa de redu- O psicólogo do esporte e profes- fazendo isso por todos. Todos se
zir os batimentos cardíacos e conse- sor de meditação George Mumford beneficiam. Na vida ou no esporte,
quentemente a ansiedade, que pode- trabalhou nas equipes de basque- esse é o maior ato de altruísmo”.
ria custar os pontos de uma cesta.
A pesquisa sobre a relação entre REFERÊNCIAS
técnicas contemplativas e treina- "G9(:%:e!9:!:+I  IG    G  I   G dG
mento mental na preparação de atle-  :. -+I  9:>9:>9:=<D¢=>A9
tas é um campo emergente, e pouco "
9:e 
9 ::e%GI9-:/:-:* I IIdGGG 9
ainda se sabe sobre como o cérebro I  I  G
GI:. -+I  9:A9:>@C¢>C=9
funciona nesse sentido. No entanto, "
9:e/
9 :+I  IG  GI GIdGGG G :
Medicine and Science in Sports and Exercise9:=A9:?BC¢?C@9<DD?:
as pesquisas de fato observam me-
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lhoras no estado mental e no desem-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/WIKIPEDIA

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penho esportivo dessa população.
(GG 9:eII  9(:e-I 9-:e+ 9+: G GG IHG 
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Tais práticas comprovadamente re- 
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duzem o estresse e a ansiedade, co- D>=?>;9
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nectando o indivíduo ao momento GGHGG G9(:e.9-:eG G9+:(:3G 
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presente e criando uma mente mais I G I

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UPLA JÚNIOR
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 49
ciberpsicologia Por Igor Lins Lemos

League of Legends:
uma PAIXÃO PERIGOSA?
O JOGO MUNDIALMENTE CONHECIDO
TEM CONQUISTADO ADEPTOS E ABARCADO RELATOS
INTERESSANTES NO SETTING TERAPÊUTICO

M
esmo aqueles que não são psíquico) relatam de alcançar posições consegue interromper uma atividade
pesquisadores no campo da cada vez mais altas (existe um ranking quando julga que ela é prejudicial para
ciberpsicologia ou jogadores neste jogo, altamente disputado). En- si (o que raramente é encontrado no co-
do League of Legends (LoL) já tretanto, existe um importante critério: meço de tratamento de pacientes com
ouviram comentários sobre o jogo que quanto mais vitórias, mais conquistas; transtorno do jogo pela internet); no
dá título a esta matéria. O LoL é mun- quanto mais derrotas, mais quedas no segundo tipo o comprometimento está
dialmente famoso, jogo do gênero Mul- ranking. Isso leva os jogadores (e pacien- além do controle do indivíduo, já exis-
tiplayer Online Battle Arena (MOBA), no tes) ao seguinte raciocínio: “Se eu jogar tindo interferências negativas nas ativi-
qual o papel dos jogadores, que jogam EGANHARSIGNIlCAQUEESTOUEMUMDIA dades cotidianas. A consequência deste
sempre em um time de cinco pessoas, é favorável, então irei jogar mais vezes processo – complementam os pesqui-
destruir uma construção localizada na para continuar subindo no ranking”. De sadores – é a persistência, que se torna
base do time inimigo (chamada de ne- forma oposta: “Se eu perder é um mau rígida e presente mesmo em atividades
xus). Mas qual a importância de trazer sinal, preciso jogar novamente para po- que não geram sentimentos positivos e
uma matéria sobre este game? A resposta der recuperar as posições perdidas na prejudicam os relacionamentos ou obri-
é simples: trata-se de um jogo eletrôni- partida anterior”. Essas frases lembram gações acadêmicas/laborais do sujeito
co que tem uma média de 67 milhões as cognições presentes em paciente (neste caso, o jogador).
de jogadores utilizando-o mensalmente com jogo patológico? Relacionando o LoL à paixão, Ber-
e cerca de 27 milhões diariamente, de Apesar de ser um jogo inserido, tran e Chamarro (2016) realizaram um
acordo com a Riot Games. Possivelmente no âmbito clínico, nas narrativas de estudo com 369 espanhóis que concor-
este dado reverbera em outro: é o jogo pacientes acometidos pelo transtorno daram em preencher um questionário
mais comentado nos consultórios de psi- do jogo pela internet, a matéria abar- virtual. Os participantes tinham mais de
cólogos e psiquiatras. ca outro ponto: a paixão relacionada 16 anos e jogavam LoL periodicamente.
Constantemente recebo pacientes aos jogos eletrônicos. Vallerand et al. A idade média dos sujeitos foi de 21,59
e seus familiares que mencionam con-   DElNEM PAIXÎO COMO UMA FOR- anos (DP = 3,58) e a média de tempo
mITOSCOMOUSODO,O,$ESTAFORMA  te tendência de realizar uma atividade de jogo por semana foi de 17,72 horas
trago o questionamento: o problema é que gere prazer ao indivíduo, na qual (DP = 12,46). Além das informações so-
o jogo eletrônico ou o jogador? Reforço o sujeito investe tempo e energia. Os CIODEMOGRÉlCAS  O TEMA DA PAIXÎO FOI
que todo tipo de tecnologia é neutro, pesquisadores comentam, também, que medido pela Passion Scale. Os resultados
porém o usufruto positivo ou negativo a paixão gera uma forte implicação na do estudo demonstraram que a paixão
será caracterizado por aquele que pra- identidade, fazendo as atividades se harmônica se torna uma protetora de
tica essa atividade. Um dos pontos que tornaram parte do que nós somos. Os consequências negativas. Do outro lado,
podem reforçar o uso problemático do autores dividem essa paixão em dois a paixão obsessiva traz consequências
LoL é a necessidade que os jogadores tipos: a paixão harmônica e a paixão negativas a esses jogadores. A pesquisa
(especialmente aqueles em adoecimento obsessiva. No primeiro tipo o sujeito sugere que aqueles jogadores que apre-

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sentam sinais relacionadas a um possível UM DOS PONTOS QUE PODE REFORÇAR
adoecimento psíquico demonstram um
O USO PROBLEMÁTICO DO LOL É A
funcionamento obsessivo em relação ao
jogo eletrônico LoL. NECESSIDADE QUE OS JOGADORES
Os resultados do estudo, mencio- (ESPECIALMENTE AQUELES EM ADOECIMENTO
nados anteriormente, estão em sintonia
com o que observo frequentemente na
PSÍQUICO) RELATAM DE ALCANÇAR POSIÇÕES
prática clínica. Devido à existência do já CADA VEZ MAIS ALTAS NO RANKING DO JOGO
mencionado ranking, muitos pacientes re-
velam que precisam se dedicar cada vez o usufruto excessivo que pode, de fato, acadêmico ou laboral, na família ou em
mais tempo para que possam ser mun- trazer lucros para o jogador, mas sim a RELACIONAMENTOS AMOROSOS E  POR lM 
dialmente reconhecidos e que se tornem caracterização patológica, quando este nas cognições e emoções desse paciente.
parte de times que possam gerar lucro usufruto já trouxe prejuízos no âmbito Isso é uma paixão saudável?
para si (existem campeonatos mundiais
Referências:
do jogo, com premiações milionárias).
BERTRAN, E.; CHAMARRO, A. Video gamers of League of Legends: the role of passion in abusive
Não é incomum ouvir pacientes men- use and in performance. Adicciones, v. 28, n. 1, 2016.
cionando que já despenderam mais de VALLERAND, R. J.; BLANCHARD, C.; MAGEU, G. et al. Les passions de l’ame: on obsessive and
3 mil horas neste jogo. Sou totalmente harmonious passion. Journal of Personality and Social Psychology, v. 85, n. 4, 2003.
SHUTTERSTOCK / ACERVO PESSOAL

favorável para que os jogadores possam


Igor Lins Lemos é doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento
obter este tipo de reconhecimento, po- pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia
rém minha preocupação é quando esse Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE).
uso está relacionado ao escapismo. Isso É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das
dependências tecnológicas. E-mail: igorlemos87@hotmail.com
SIGNIlCA QUE O PROBLEMA MAIOR NÎO Ï

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neurociência por Marco Callegaro

A atenção e os
TRAÇOS da CRIATIVIDADE
DIFICULDADES DE PRESTAR ATENÇÃO EM ALGO
DESINTERESSANTE PODE SER UM GRANDE PROBLEMA EM
DETERMINADOS CONTEXTOS. PESSOAS QUE APRESENTAM
TDAH MOSTRAM DIFICULDADES PARA SUPRIMIR ATIVIDADE
CEREBRAL VINDA DA “REDE DA IMAGINAÇÃO”

S
ERÉ QUE AS PESSOAS COM DÏlCIT um transtorno relacionado a três carac- diagnóstico de TDAH. Para complicar,
de atenção são mais criativas? terísticas principais: a inatentividade, a essas características podem surgir em
Primeiro, vamos procurar en- impulsividade e a hiperatividade. diferentes condições e não fazer parte
TENDER BEM O QUE Ï hDÏlCIT DE Essas características nem sempre do TDAH. O diagnóstico de TDAH está
atenção”. Existe o TDAH, sigla com as vêm juntas, podem se apresentar isola- relacionado à presença desses traços, ou
iniciais do chamado “transtorno de dé- damente. Nem sempre a presença de um de alguns deles, desde cedo, como um
lCITDEATEN¥ÎOEHIPERATIVIDADEv QUEÏ desses traços envolve necessariamente o padrão recorrente na vida escolar, social

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e familiar. No caso do TDAH, existem O RACIOCÍNIO Alguns estudos sugerem que a rede
estudos com gêmeos idênticos mostran- de modo padrão que as pessoas com
do que é alta a predisposição genética,
CRIATIVO ENVOLVE TDAH apresentam com maior ativida-
pois quando um irmão gêmeo recebe o A HABILIDADE DE DE  EMBORA CAUSEM DIlCULDADES PARA
diagnóstico, a chance do outro irmão INFERIR RELAÇÕES E controlar o foco da atenção, é a mes-
apresentar essa mesma condição é bem ma rede neural que facilita o estado de
alta, cerca de 90%. Portanto, acredita-
PERCEBER PADRÕES mUXO CRIATIVO E O ENGAJAMENTO ENTRE
-se que existam genes envolvidos na NOVOS E COMPLEXOS. os músicos, incluindo músicos de jazz
transmissão do TDAH. Vários genes e os rappers. As pessoas com TDAH
CARACTERÍSTICAS
INmUENCIANDO VÉRIAS CARACTERÓSTICAS  OU frequentemente são capazes de focar
transmissão poligenética. QUE ESTÃO melhor do que outros quando estão
No entanto, a forte herdabilidade do ASSOCIADAS AO profundamente engajadas em uma ati-
TDAH e sua alta incidência sugerem VIDADEQUEÏPESSOALMENTESIGNIlCATIVA
DÉFICIT DE ATENÇÃO
que existem alguns traços adaptativos para elas, o chamado hiperfoco.
misturados aos negativos, o que pode PODEM ESTIMULAR Uma abordagem pedagógica inte-
explicar a perpetuação desses genes A CRIATIVIDADE RESSANTEPARAESSEPERlLÏAAPRENDIZA-
nas populações humanas ao longo da gem baseada em problemas (ABP), em
evolução. Se essa hipótese estiver cor- TERUMlLTROMENTALQUEPERMITEAPER- que os estudantes usam as informações
reta, seria de esperar encontrar algo de meabilidade, algo que as pessoas com para criação de diferentes produtos
bom nas pessoas que têm essa condi- TDAH têm abundantemente. Pesquisas como desenhos, dramatização, blogs,
¥ÎO 4ALVEZ A MESMA CONlGURA¥ÎO DE recentes sobre Neurociência cognitiva vídeos ou artigos, permite maior envol-
TRA¥OS QUE LEVE AO DÏlCIT DE ATEN¥ÎO também sugerem uma conexão entre vimento com o material, e se tornam
contribua para traços positivos. o TDAH e a criatividade. Pensadores alunos ativos, em vez de serem subme-
O psicólogo Scott Barry Kaufman criativos e pessoas que apresentam tidos somente à observação passiva.
acredita que existem características 4$!( MOSTRAM DIlCULDADES PARA SU- Um conceito mais amplo sobre o
positivas que podem acompanhar o primir atividade cerebral vinda da “rede papel positivo de certos traços poderia
TDAH, em especial a criatividade. O ra- da imaginação” (rede de modo padrão, também fazer com que os estudantes
ciocínio criativo envolve a habilidade de ou DMN – Default Mode Network). com características de TDAH mos-
inferir relações e perceber padrões novos O vazamento de informações no trassem suas forças criativas, incluindo
e complexos. Kaufman cita estudos onde lLTRO MENTAL Ï POSITIVO OU NEGATIVO DE a imaginação, o pensamento divergen-
FORAM IDENTIlCADOS  TRA¥OS DE PERSO- acordo com o contexto e as demandas te e hiperfoco em atividades que des-
nalidade recorrentes em pessoas criati- existentes. A habilidade de controlar a pertam o seu interesse. Se tratarmos
vas. Seis traços eram “negativos”, como atenção é importante em muitos con- as características do TDAH somente
a impulsividade e a hiperatividade. No TEXTOS  POIS A DIlCULDADE EM INIBIR O COMO DElCIÐNCIAS  CONFORME OCORRE
entanto, existiam 16 traços “positivos”, mUXOMENTALPODEATRAPALHARAOFOCARA com frequência na escola, podemos
como, por exemplo, independência, ris- atenção em uma aula chata ou se con- deixar de reconhecer e estimular mui-
co, alto nível de energia, curiosidade, CENTRAR EM UM PROBLEMA DESAlADOR tas crianças criativas e com potencial.
humor, traços artísticos e emocionais. Mas como aponta Kaufman, a habilida- / DESAlO DO SISTEMA EDUCACIONAL Ï
No TDAH, muitos desses mesmos de de manter a corrente de fantasias in- criar um ambiente que enfatize a cria-
traços estão presentes, como apresentar ternas, a imaginação e o sonhar acorda- tividade como um caminho e ao mes-
níveis mais altos de geração de ideias es- do podem ser imensamente favoráveis mo tempo um resultado para o proces-
pontâneas, devaneios, sonhar acordado, para a criatividade. so de aprendizagem.
busca por sensação, energia e impulsivi-
dade. As pesquisas têm apoiado a noção Para saber mais:
de que as pessoas com características de -IG&GG9H IG
=<
H
=;<?d d¤¤H:I  ‚IG IG:
TDAH têm mais probabilidade de al- com/beautiful-minds/the-creative-gifts-of-adhd/
SHUTTERSTOCK / ARQUIVO PESSOAL

cançar níveis mais altos de pensamento


Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento,
criativo e realizações do que as pessoas diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto
sem essas características. Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo
As realizações na vida estão associa- Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o
Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).
das à habilidade de ampliar a atenção e

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recursos humanos por João Oliveira

As OPORTUNIDADES
na CARREIRA
Q
uando ouvimos a palavra oportunidade
UMA GRADUAÇÃO JÁ NÃO É associamos naturalmente a outra que, de
CERTIFICAÇÃO ESPECIAL NA fato, pouco tem a ver: sorte. Esse é um
pensamento muito comum entre prof is-
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL. sionais que observam outros em plena ascensão sem
O INVESTIMENTO NO PROCESSO se dar conta dos fatores envolvidos no processo de
crescimento no ambiente institucional e como isso
PESSOAL DE ADMINISTRAÇÃO pode ser possível se todos ao mesmo tempo só falam
EMOCIONAL PODE SER UM de crise em diversos setores.
Alguns pontos devem ser observados, e o primei-
TEMPERO MAIS RELEVANTE ro deles é o preparo do prof issional que deseja al-
NOS DIAS ATUAIS çar voos mais altos. O investimento deve ser apenas

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na direção de aquisição dos conhe- O GESTOR CUIDA DE por ter um foco direcionado aos ele-
cimentos técnicos necessários para mentos do dia a dia. Quando não se
ASPECTOS GERAIS
uma determinada posição. Lógico consegue ir além do que o próprio
que isso faz parte do processo, mas, E INDIVIDUAIS, caminho oferece, é melhor buscar
nos dias atuais, uma graduação, ape- MANTENDO A EQUIPE um novo destino com probabilidades
nas, não é certif icação que garanta de sucesso.
um brilho especial no currículo.
FOCADA NO OBJETIVO Por isso, o trabalho emocional é
Dessa forma, o prof issional preci- PRINCIPAL. POR ISSO, provavelmente o mais importante de
sa se especializar cada vez mais. A ELE É, ANTES DE todos: estar bem consigo mesmo e
busca por cursos livres, pós-gradua- com a autoestima no lugar é impres-
ções e especializações diferenciadas
TUDO, UM GESTOR cindível. O investimento do preparo
pode fazer toda diferença na hora da DE EMOÇÕES só irá obter resultado se houver cora-
escolha de um novo gestor na organi- gem de se lançar como possível can-
zação. No entanto, o investimento no venções, e se o mercado está em am- didato à próxima promoção ou a uma
processo pessoal de administração plo crescimento, é preciso mais pro- nova realidade de atuação prof issio-
emocional provavelmente é o tempe- f issionais de talento para gerirem a nal que pode ser em outra instituição
ro mais relevante quando a oportuni- demanda. Ou seja, as oportunidades ou mesmo como empreendedor de
dade sai em busca de preparo. sempre estão diante de nós, que po- sua própria ideia de negócios.
Sabemos que o gestor ef iciente demos ou não percebê-las como tal. Só há destino f inalizado para
não é necessariamente um expert em Um exemplo de aproveitamen- quem nisso acredita. Alguns aspec-
todos os perf is prof issionais que gere. to de uma boa chance de mercado tos são sempre importantes destacar,
De fato, o gestor é o elemento que ocorreu no Rio de Janeiro, cidade como manter o networking em cons-
consegue navegar bem entre pessoas sede dos Jogos Olímpicos e Para- tante crescimento, observe outras
cuidando de aspectos gerais e indivi- límpicos. Com a questão da acessi- atividades fora de seu eixo principal.
duais, mantendo a equipe focada no bilidade em alta, o comércio teve de Muitas vezes, a oportunidade pode
objetivo principal. Por isso, ele é, an- se adaptar rapidamente para prover estar em outro modelo prof issional
tes de mais nada, um gestor de emo- rampas para cadeirantes. Alguns pe- próximo ao seu perf il de atuação.
ções. Cabe então ressaltar que não se quenos empresários criaram rampas Converse mais, ouça mais, leia mais.
pode aplicar fora o que não se tem metálicas de fácil encaixe que podem As boas informações já existem: é so-
dentro e, nesse caso, a administração ser colocadas e tiradas das entradas mente necessário acessá-las.
emocional é um forte elemento dife- das lojas todos os dias, eliminando Hoje, um prof issional que está
renciador de um bom ou mau gestor. assim o custo e a confusão causada estagnado numa mesmo posição por
As oportunidades estão sempre por obras de adaptação. O resultado muitos anos pode ser considerado ob-
nas mãos das pessoas que decidem pode ser visto por toda a cidade com soleto se não agregar novas habilida-
quem deve subir ou descer na empre- pequenas rampas de alumínio faci- des às suas capacidades já existentes.
sa. Por isso, agir com ética e respeito a litando o acesso em cumprimento a Procurar o crescimento não é somen-
todos é o mínimo que se espera de al- uma determinação legal. te uma busca por mais altas remune-
guém que deseja ser notado como pre- Estar atento às informações de rações, é também uma apresentação
parado pela linha de comando. Deixar forma ampla faz parte do empreendi- de dinamismo e proatividade. Toda
claro que possui ambição de crescer e mento quando o objetivo é aproveitar instituição, mesmo em momentos
que está se preparando para isso deve oportunidades que nem sempre estão de severa crise, preserva aqueles que
ser parte dos temas de conversas en- visíveis para todos. Pensar além do agregam mais valor. São esses que po-
tre os companheiros de trabalho. Nem trivial pode apresentar uma rede de dem possuir a chave de ignição para o
sempre as pessoas são concorrentes possibilidades, antes imperceptíveis, sucesso esperado por todos.
diretos, pois algumas não querem as-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ACERVO PESSOAL

sumir responsabilidades, mesmo que


isso possa trazer maior valor f inancei- João Oliveira é publicitário e psicólogo. Atua como palestrante e facilitador de
cursos/treinamentos em todo o Brasil. Diretor de Cursos do Instituto de Psicologia
ro em seus contracheques. Ser e Crescer (www.isec.psc.br). Entre seus livros, estão: Jogos para Gestão
O ambiente sempre é favorável ao de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional, Mente Humana:
crescimento. Se ocorre uma crise é Entenda Melhor a Psicologia da Vida e Saiba Quem Está à sua Frente – Análise
Comportamental pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora).
necessário um novo plano de inter-

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PSICO-ONCOLOGIA

ENGAJAMENTO
com cuidados
paliativos
Compreender a história da Psicologia Oncológica,
desmembrando seus campos na atuação hospitalar,
é uma forma de lidar com o câncer,
suas consequências e a proximidade da morte
Por Marcelo Pereira Lemos

“A
s pessoas são de vida, respeitando sempre o pa- Psico-oncologia foi fundada com o
como vitrais co- ciente na sua subjetividade física, intuito de oferecer cursos itineran-
loridos: cintilam social e espiritual, são assuntos ex- tes de especialização realizados em
e brilham quan- tremamente relevantes. várias cidades do país.
do o sol está do A Psico-oncologia surgiu em Fonseca (2004) explica que a
lado de fora, mas quando a escuridão 1960, na Argentina; e, no Brasil, al- palavra câncer é utilizada para des-
chega, sua verdadeira beleza é reve- guns trabalhos começaram a ocor- crever um grupo de doenças que se
lada apenas se existir luz no interior” rer a partir dos anos 1970, com o caracteriza pela anormalidade das
(Elizabeth Kubler-Ros, 1977). interesse de integrar e produzir co- células e pela sua divisão excessiva.
O tema de ref lexão exposto a nhecimento na área clínica médica Um câncer começa com uma célula
seguir se encontra no campo da oncológica. Em meados dos anos que contém informações genéticas
Psicologia Oncológica. Questões 1990, a Sociedade Brasileira de incorretas, de modo que se torna
como diagnóstico, ressignificação
das medidas de enfrentamento, Marcelo Pereira Lemos é formado em Psicologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
compreensão das possibilidades É especializado em Life Coaching pela Society International of Coaching e Practitioner pelo Instituto de
nas medidas de conforto e enten- Desenvolvimento Humano Humanize. Atualmente é psico-oncologista do Hospital do Câncer Mãe de
Deus. Contatos: marcelo.lemos@maededeus.com.br e marcelop_lemos@hotmail.com
dimento do que pode ser qualidade

56 psique ciência&vida
SHUTTERSTOCK

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PSICO-ONCOLOGIA

incapaz de cumprir as funções para A Psico-oncologia é uma ferramenta


as quais foi designada. Quando essa
célula reproduz outras com a mes-
indispensável para promover as condições de
ma construção genética incorreta, qualidade de vida do paciente com câncer,
então um tumor começa a ser for-
mado, composto de uma massa des-
facilitando o enfrentamento de eventos
sas células imperfeitas. estressantes, se não aversivos, relacionados
Conforme dados do Institu- ao processo de tratamento da doença
to Nacional do Câncer (INCA),
o câncer deve ser analisado como
um problema de saúde pública, que morte acabava desgastando psiqui- to de estigmas e diferentes visões.
acomete indivíduos de todas as camente tanto o portador da doença Enquanto uns traziam o alívio de
idades e em todos os continentes, quanto seus familiares e amigos ín- chegar a ele, outros retratavam o
constituindo-se na segunda princi- timos. Possibilitando a intervenção completo desgosto por permane-
pal causa geral de morte por doença da Psico-oncologia para desmistifi- cer nele. A Psicologia torna-se de
em todo o mundo. car seus medos e suas fantasias. extrema importância para validar
Com a necessidade de com- Dessa forma, Costa (2001) ob- esses sentimentos e atuar nesse
preender além da visão clínica mé- servou que a Psico-oncologia se campo de variáveis emocionais. O
dica, a Psico-oncologia surgiu como constituiu como uma ferramenta câncer em conjunto com a hospita-
área de conhecimento no momento indispensável para promover as lização carrega esses sentimentos,
em que profissionais da área de saú- condições de qualidade de vida do principalmente no que se diz res-
de passaram a reconhecer que o de- paciente com câncer, facilitando peito à morte.
senvolvimento do câncer, bem como o processo de enfrentamento de E sobre esses aspectos psico-
o andamento do processo de trata- eventos estressantes, se não aver- lógicos, sabe-se que os pacientes
mento da doença, sofria a inf luência sivos, relacionados ao processo experimentam reações de reajusta-
de variáveis sociais e afetivas. de tratamento da doença, entre os mento que podem ser chamadas de
Pensar no câncer como uma quais estão os períodos prolonga- estágios do processo de morrer, for-
doença associada a dor, sofrimen- dos de tratamento. mulados por E. Kübler-Ross (1977)
to, degradação e a uma sentença de O hospital é um ambiente reple- e que, apesar de serem escritos em
1977, até hoje são norteadores para
os processos de luto.
Os cinco estágios são denomi-
nados como: 1) negação; 2) rai-
va; 3) barganha; 4) depressão e 5)
aceitação. Nem todos passam pelos
estágios nessa ordem e nem todos
completam o processo.
Negação: tomada de consciên-
cia do fato de sua doença fatal. A l-
guns pacientes costumam procu-
rar uma segunda opinião, ao passo
que outros manifestam a negação
de maneira implícita, agindo com
otimismo e planos para o futuro. A
equipe deve compreender essa rea-
ção, que mostra a falta de prepara-
ção emocional para enfrentar esse
momento. Segundo a autora, não
devemos forçá-los a aceitar, mas
A Psicologia Oncológica se debruça em temas como diagnóstico e medidas de enfrentamento, conforto e dar-lhes tempo e deixar que falem
entendimento do que pode ser qualidade de vida para o paciente de sua angústia.

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Raiva: a medida em que a nega-
ção vai se atenuando, a pessoa come-
ça a experimentar muita raiva, que
normalmente é dirigida ao médico,
ao enfermeiro, aos visitantes, aos
familiares, a Deus etc. Novamente
não devemos nos chocar com essa
reação; é importante entender, pois
o paciente sofre com o fato de que os
outros permanecerão vivos.
Barganha: constata-se o desejo
do paciente em realizar acordos por
um pouco mais de tempo, fazendo
pactos consigo mesmo e/ou com
Deus; fazem promessas materiais,
negociam com a própria morte.
Depressão: ao final do tem-
po da barganha, o paciente passa
à depressão. Ele já não prevê mais *IËI

‚
I

hGIGGI GGGG
G

GI\G
possibilidades, a vida acabou. En- pela sua divisão excessiva
tra em um período de silêncio in-
terior, fechado. Esse estágio costu- Os pacientes é “por que comigo?”. Nesse primei-
ma provocar culpa e outros senti- ro momento, aprimorar o vínculo e
mentos de af lição. Nesse período, experimentam possibilitar um ambiente de escuta
é importante que os familiares se- reações de ativa se tornam necessários.
jam estimulados a manifestar seus Barone (2004) descreve que
sentimentos.
reajustamento não existe câncer sem sofrimento.
Aceitação: não significa que o que podem ser Assim, está a cargo do profissio-
paciente tome uma atitude cômoda
e espere passivamente a morte.
chamadas de nal de saúde mental compartilhar,

Ocorre quando o paciente se mos- estágios do


tra capaz de entender sua situação processo de morrer:
com todas as suas consequências.
Nessa situação, geralmente o pa- negação; raiva;
ciente está cansado, mas em paz. barganha; depressão
Volta-se para dentro de si, revelan-
do a necessidade de reviver suas ex-
e aceitação. Nem
periências passadas como forma de todos passam pelos
resumir o valor de sua vida e procu-
ra o seu sentido mais profundo.
estágios nessa ŒDesenvolvimento
da Psico-oncologia Œ
“O lado humano do câncer ordem e nem todos A Sociedade Brasileira de Psico-oncologia
pode ser condensado pelo termo completam ‡-+*ˆ \ G 
G
 I  9    -
psicossocial. A interação das di- crativos, criada em 1994, com o objetivo
mensões psicológicas, sociais, com- o processo de congregar profissionais e estudantes da
área de saúde para estudo, divulgação e
portamentais, psiquiátricas, éticas desenvolvimento da Psico-oncologia. Em
e espirituais é preponderante para a Essa condição de enfrentamento GIGGG GhÔ
G  -
avaliação da qualidade de vida. Es- da doença não é algo que se estabele- dades assistenciais, educativas, culturais e
sas dimensões estão presentes em ça no primeiro momento. O pacien- políticas na área e a promoção da transdis-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

todo encontro com qualquer mem- te primeiro passa por um período de I  G
G
9G
GG ÈI G -
gral à pessoa com câncer, sua família, bem
bro da equipe de saúde, em cada en- negação, conforme citado anterior- como os profissionais envolvidos.
contro” (Holland, 2003, p. 21). mente, quando a principal pergunta

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PSICO-ONCOLOGIA

Não existe câncer


sem sofrimento.
Assim, está
a cargo do
profissional de
saúde mental
compartilhar,
mobilizar recursos
para que as
pessoas elaborem
a situação
*  G\GH IIG
 GeGGGG^ GI GG9G vivenciada, e
outros não escondem o desgosto por permanecer no local
para que possam
dividir, mobilizar recursos, para acompanhada de angústia e temo- se ancorar, de
que as pessoas consigam elaborar a res que seguirão o paciente ao lon-
situação, então, vivenciada, e para go do tratamento. Segundo Kovács
maneira saudável,
que possam se ancorar, de maneira (2003), o medo é a resposta psico- na realidade
saudável, na realidade. lógica mais comum diante da mor-
Para Borges (2006), o câncer te. A visão da morte pelo paciente mesmo por meio de pequenas per-
traz em si a consciência da possibi- oncológico é singular, e o contato das do seu cotidiano.
lidade de morte. Essa constatação é com ela é constante, ocorrendo até Ainda conforme o autor, cada
indivíduo vê a morte e lhe atribui
PARA SABER MAIS um sentido, dependendo da etapa
em que se encontre no processo de
ELEMENTOS CENTRAIS desenvolvimento vital. Essa visão
DO CUIDADO PALIATIVO depende também da sua história de
vida, de suas vivências e aprendiza-
E m relação às características de elaboração e aplicação dos cuidados
paliativos, Campbell (2011) elege elementos centrais dessa prática, se-
gundo o National Consensus Project, sendo eles: 1) População atendida –
gens, de sua condição física, psicoló-
gica, social e cultural. Em qualquer
fase do desenvolvimento humano, a
constitui-se de pessoas que apresentam uma doença fatal incurável, dano
ideia da morte está presente e tem
ou condição debilitante. 2) Atenção centrada no paciente – o cuidado com
uma representação característica,
cada paciente e família é único. 3) Momentos de utilização dos cuidados
trazendo um entrelaçamento entre
paliativos – ao descobrir a doença. 4) Atendimento integral – o paciente e
todos os aspectos presentes no de-
a família são compostos pelo biopsicossocial-espiritual. 5) Equipe interdis-
correr da própria vida.
ciplinar – profissionais preparados tecnicamente e com suporte teórico. 6)
Nesse sentido, podemos pensar
Atenção para o alívio do sofrimento – é o preceito da filosofia do cuidado
paliativo. 7) Comunicação – fundamental em todos os elementos aqui des-
sobre os escritos de Dutra (2004),
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR

critos. 8) Atenção aos indivíduos com morte iminente ou em luto – infor-


o diferencial oferecido pelo psicó-
mações atualizadas sempre sobre prognóstico da doença. 9) Continuidade
logo é uma escuta que vai além das
no atendimento entre diferentes setores – os cuidados paliativos devem ser palavras. Para o autor, o profissio-
utilizados em todas as esferas da saúde. 10) Acesso equitativo – cada cui- nal da Psicologia está diante, atra-
dado é individualizado. 11) Atentar para as barreiras legais – uso de opioides vés dessa escuta, de outros meios
de forma adequada. 12) Melhorar a qualidade – buscar sempre a excelência de comunicação e dispositivos, de
no atendimento, e esse compromisso é de toda a equipe. uma demanda psíquica dos sofri-
mentos de cada paciente, e precisa-

60 psique ciência&vida
rá entendê-lo como um sujeito que
pensa, sente, fala e cria sentidos nas
relações de subjetividades.
Nesse modo de subjetividades,
pacientes buscam, através das me-
táforas, relatar sobre seu sofrimen-
to. O câncer carrega em cada corpo
um estigma de morte, um medo do
desconhecido, uma passagem sofri-
da de um futuro incerto. De acordo
com Paulon (2010), devemos inter-
pretar o discurso e o inconsciente
humano além daquilo que está vi-
sivelmente dado e do que se pode
mensurar, pois esse discurso não se
limita ao que está concretamente
simbolizado.

Familiares e cuidadores Um dos estágios do paciente de câncer, a barganha, pode desencadear um processo de depressão, no qual

F amília representa um apoio


muito importante tanto na es-
truturação dos vínculos afetivos
ÔÈG  H 
G


G

são diferentes, dada a localização, A autora segue descrevendo a


como nos referenciais de seguran- estadiamento e/ou tratamento, tor- importância de entender como as
ça. O paciente portador de câncer nando-se complexo falar de uma famílias, com suas organizações
geralmente vivencia uma série de forma genérica sobre famílias no típicas e diferenciadas, precisam
experiências emocionais. Conforme contexto de câncer. enfrentar e lidar com os problemas
afirmam Santos e Sebastiani (2001), ligados às situações específicas cor-
são manifestações psicológicas que Na negação, relacionadas a uma doença grave.
o remetem a condições primitivas e O papel que a família desempe-
a uma necessidade de sentir-se am-
alguns pacientes nha como agente de cuidados quan-
parado e protegido, principalmente costumam do um de seus membros adoece é
pelas figuras que já ocuparam esse considerado de extrema importân-
papel e que, no momento, estão sen-
procurar uma cia. A complexidade da doença neo-
do solicitadas novamente. segunda opinião; plásica exige atenção não só para as
As famílias enfrentam grandes outros manifestam necessidades físicas, como também
dificuldades para lidar com uma para as demandas psicológicas e so-
doença como o câncer, e quan- de maneira ciais do paciente, incluindo a par-
to mais avançada ela se encontra, implícita, agindo ticipação ativa da família (Costa;
maior é o sofrimento (CARVA- LIM A, 2002).
LHO, 2008). Na assistência aos pa- com otimismo. E por essa participação, reme-
cientes oncológicos internados, é A equipe deve te-se à submissão de que a doença
possível perceber que os familiares em si traz ao paciente, aliado ao es-
vivenciam junto aos pacientes as
compreender tigma ainda presente de constante
internações prolongadas, as altera- a reação, que sofrimento. Vivenciar o processo
ções bruscas de rotina e projetos de mostra a falta da doença pode, na maioria dos ca-
vida. Sofrem com as alterações na sos, significar privação da sociabi-
configuração familiar. de preparação lidade cotidiana, quebra da rotina,
Segundo Holland e Holahan emocional para interrupção do curso normal da
(2004), assim como não existe uma vida tanto para os enfermos quanto
família padrão, não existe um pa- enfrentar esse para seus familiares. Silva e Acker
drão de câncer. Suas consequências momento (2007) relatam o desejo do cuidador

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PSICO-ONCOLOGIA

em manter o paciente sob seus cui- nizando o bem-estar e a qualida- diagnóstico, e passa a ser o alívio
dados, porém, para que isso se torne de de vida, promovendo o alívio dos sintomas, não apenas físicos,
possível, há a necessidade de apren- do sofrimento físico, social, emo- mas também de ordem espiritual e
dizado sobre o cuidado e como lidar cional, espiritual e psicológico da psicológica. Uma morte mais dig-
com o sofrimento do outro. pessoa com uma doença grave, em na, carinho, afeto e cuidado são as
Os cuidados direcionados a pa- estado avançado e incurável, bem ações dessa inovadora e reconheci-
cientes que têm o diagnóstico de como seus familiares. da filosofia.
câncer, seja em qualquer estado, Existe um crescente interesse Em minha atividade como psi-
demandam tempo de dedicação no mundo pelo tema cuidado pa- cólogo oncológico, fico certas ve-
do cuidador e isso faz com que ele liativo, principalmente por seu pa- zes me questionando sobre nossa
abandone grande parte de suas ati- radigma diferenciado, deslocando capacidade como seres humanos de
vidades cotidianas, tendo que se a atenção da cura para o cuidado, nos relacionarmos com a obvieda-
adaptar a uma nova rotina que in- mas ainda a sua inserção no sistema de da morte. A meu ver, de todos os
clui dias e noites no hospital, perda de saúde é muito complicada (Boe- fatos que nos movem, o mais forte e
de funcionamento rotineiro da vida mer, 2009). determinante é o medo de morrer.
profissional e demais exigências e O enfoque desse cuidado deixa O ser humano vivencia em suas
demandas do tratamento (Inocen- de ser a cura, por uma questão de relações sociais diferentes formas de
ti; Rodrigues; Miasso, 2009).
Contudo, vale ressaltar sempre
o importante papel do familiar nes- O câncer traz em si a consciência da
se momento. Família é o cuidado, possibilidade de morte. Essa constatação
no mais puro e significativo tom da
palavra. Acalma, acolhe e preenche é acompanhada de angústia e temores
lacunas de medo, solidão e tantos que seguirão o paciente ao longo do
outros sentimentos afetivos. Pa-
ciente com uma base familiar sóli-
tratamento. O medo é a resposta
da e estruturada tem nesse alicerce psicológica mais comum diante da morte
da vida uma condição real de com-
preender e enfrentar o câncer de
maneira mais saudável.

Cuidados paliativos
N a década de 60, com o apare-
cimento do modelo hospice,
criado por Cicely Saunders, surgia o
molde dos cuidados paliativos. Uma
alternativa de encarar a morte como
processo inerente à vida. Que ofe-
recesse dignidade à pessoa humana
no seu final de vida. A morte passa a
não ser mais ocultada e silenciosa e,
sim, fonte de cuidado de uma nova
proposta de saber e poder.
A Organização Mundial da
Saúde (OMS) considera o cuida-
do paliativo como uma prioridade
da política de saúde. Para a OMS,
esse cuidado corresponde a um
trabalho desenvolvido por uma
equipe interdisciplinar que utiliza )GG
GI GhÔ9GGG I G9G
GI
G

 G ÈI G
estratégias de intervenção, preco- GG
GIG
  ‚IGG
G
G

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Cada indivíduo atribui à morte um sentido
dependendo da etapa em que se encontre
no processo de desenvolvimento vital. Essa
visão depende da sua história de vida, de
suas vivências e aprendizagens, de sua
ŒModelo hospice Œ condição física, psicológica, social e cultural
O cuidado paliativo surgiu com a cria-
ção do modelo hospice e, atualmente,
\   G
    
 I o sentido de vida e morte. A asso- Pensar sobre as dúvidas que per-
de saúde. Os hospices eram locais de ciação com o sentimento de morte meiam sempre o cotidiano move as

IG GG  G G  \I $0:
iminente, por vezes, causa no pa- pessoas e faz com que se busquem
/G
  G9\I2$29
transformou em lugares destinados a
ciente um sentido de invalidez que efeitos satisfatórios na rotina. A dú-
 H
G$G
GG$GG:* inibe qualquer possibilidade de vis- vida remete a um senso crítico de
hospice
\II G - lumbrar, em um futuro breve, uma poder analisar o que se deve ou não
vamente recente, que apareceu no Rei- qualidade de vida e conforto em fazer. O importante é que a inter-
no Unido após a fundação do Hospice
seu cotidiano. rogação existe, senão o óbvio seria
Saint Christopher, em 1967. Foi fundado
por Dame Cicely Saunders
A morte e seu percurso intenso, uma rotina. O concreto é assustador,
por vezes apressado, dificultam e pois as pessoas jamais serão iguais.
moldam o planejamento terapêuti- Somos constantes interrogações
perdas, sejam elas de ordem material, co. Proporciona uma psicoterapia que nos movem a todo instante. E o
virtual ou pessoal. A forma como são focada no indivíduo e com base no pensamento de que concreto mesmo
enfrentadas essas perdas demonstra contexto atual do paciente. nessa vida é o ponto final dela.
as características de elaboração sau-
dável ou não frente à situação. REFERÊNCIAS
Portanto, o cuidado paliativo BARONE, K. C. Realidade e Luto: um Estudo da Transicionalidade. São Paulo: Casa do Psicólogo,
torna-se importante no atual qua- 2004.
dro de saúde mundial, pelo fato de BOEMER, M. R. Sobre cuidados paliativos. USP, v. 43, n. 3, set. 2009, São Paulo.
que muitas pessoas morrem em so- * " -9::0:-:+IhÔ
GGI I` IG

 :
frimento. E, para melhorar a quali- Psicologia em Estudo, v. 11, n. 2, p. 361-369, mai./ago. 2006, Maringá.
dade de vida dessas pessoas, não se CAMPBELL, M. L. Nurse to Nurse: Cuidados Paliativos em Enfermagem. Porto Alegre: Editora
fazem necessárias técnicas de alto Artmed, 2011.
valor financeiro, tendo em vista que *-.%/)$* 9:':*
 
G+ I¢I Gd  IGh€GGG G
o tratamento nas abordagens descri- hÔ‚ GGb
:+ I G9 ÈI G+‚Ô, v. 21, n. 2, jun. 2001, Brasília.
tas acima complementa um círculo *-.9%::e'$(9 ::": GhG¤G
I  G GGHG Gd  IGh€GG
natural da vida humana. A morte a enfermagem. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 10, n. 3, p. 321-333, 2002.
não pode ser vencida. Desse modo, /. 9 :
Gh€HG  ‚IGh€
G+ I G^ IGGIG
G
:
Estudos de Psicologia, v. 9, n. 2, ago. 2004, Natal.
ignorar esse fato é ignorar a própria
humanidade. Desenvolver ações de FONSECA, J. P. Luto Antecipatório. São Paulo: Livro Pleno, 2004.
fortalecimento do cuidado paliativo #*'')9&:e#*'#)9:. G I GG
I   G
GG 
to breast cancer. Psychology and Health9:-Ô+GdGG
+ I`9=;;>:$)* ).$9
torna-se cada vez mais precisa e ne-
:e * $"/ -9$:":e($--*9:$:0 ÈI G 
I
G
G  G
GI 
cessária em termos de encorajamen- oncológico em cuidados paliativos. Revista Eletrônica de Enfermagem (internet), 2009.
to (Pessini; Bertachini; 2014). &*0R-9(:%:Educação para a Morte:.G ƒ€:-Ô+GdGG
+ I`9=;;>:
KÜBLER-ROSS, E. Sobre a Morte e o Morrer. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
Compreensão
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/DIVULGAÇÃO

PAULON, P. C. O silêncio como estratégia do inconsciente.!GI


G

! ‚G9 ÈI G'G

O sofrimento que o câncer cau-


sa no psiquismo do ser hu-
mano retrata a importância que a
de Ribeirão Preto, 2010.
-).*-9:.:
e- -.$)$9 :1:Acompanhamento psicológico à pessoa portadora de
doenças crônica:$d)" ($¢(*)90::‡*:ˆ:
Psicologia tem para poder compre- -$'09::(:e& 9%:$::0:*I
G
G G 
 I  GHG` IG
G  G
ender, desmistificar e ressignificar responsáveis pela pessoa portadora de neoplasia. Revista Brasileira de Enfermagem, 2007.

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divã literário por Carlos São Paulo

Aspectos desvalorizados
pelos HUMANOS
/3-)4/33§/#/.3425°$/3./302)-œ2$)/3$!
(5-!.)$!$%#/-/)-!').!2/3%.4)-%.4/$%*534)—!%
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0!2!2%&,%4)23/"2%!3"!3%3).34).4)6!3$!03)15%

D
ignidade é um sentimento que Nesse conto, o personagem de se transformara em uma pessoa e que se
nos leva ao interesse pelas ques- Franz Kaf ka, o Samsa do livro Meta- chamava Gregor Samsa.
tões do sofrimento de outrem, morfose, segue um processo inverso. Samsa, ao despertar em um am-
bem como a justiça – o que tor- Assim Murakami descreve: “Quando biente de uma casa, aparentemente
na o homem protegido na relação com o certa manhã acordou de sonhos in- abandonado, logo tomou consciência
OUTRO%NCONTRAMOSTAISREmEXÜESNOCON- tranquilos, encontrou-se em sua cama dos temas: invasão, prisão e proteção.
TOh3AMSAAPAIXONADOv NOLIVROHomens METAMORFOSEADODE'REGOR3AMSAv$E Começou a pensar quem era ele antes
sem Mulheres, de Haruki Murakami. alguma maneira o inseto entendeu que de ser Gregor. Veio à sua mente uma

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espécie de sonho que fez surgir em !'5%22!¡ 0/24!.4/ 5-2%35,4!$/$!
sua cabeça uma nuvem de mosquitos. ).#/-0%4º.#)!0/,°4)#! 15!.$/!!24%
Sua prioridade é preencher o vazio que
sentia no corpo e teve que se habituar $%'/6%2.!2.§/#/.3%'5%/2%30%)4/
aos dilemas da vida humana em meio !/36!,/2%3).34)45°$/3%%34!"%,%#)$/3
à guerra.
!/,/.'/$!6)$!$/30/6/3$%5-!.!—§/
Ao observar os homens e se olhar
no espelho, deu-se conta de que esta-
va nu. Vestiu um roupão. Chamaram à a origem de Samsa. Ele sonhou, ou veio homem, deu-se conta de que distribuíra
porta. Ao abri-la, viu uma jovem mu- Ì SUA CABE¥A  UMA NUVEM DE INSETOS todas as faculdades disponíveis para os
lher com o corpo deformado – por ser 0ODERÓAMOS AQUI REmETIR SOBRE ASPECTOS animais irracionais e nada sobrou para
corcunda –, que para ele parecia um desvalorizados pelos humanos, ou tra- dar ao homem que nascia nu e despro-
INSETO 3AMSA SE APAIXONA E NÎO SABE zer a ideia do incômodo ou doença que TEGIDO 0ROMETEU  IRMÎO DE %PIMETEU 
por que seus genitais formam uma pro- nos fazem tê-los como indesejáveis, ou conseguiu roubar dos deuses o fogo e
tuberância se destacando no seu corpo ainda pensarmos nas bases instintivas da a sabedoria para dar ao homem a ca-
vestido. A jovem viera consertar uma PSIQUE OQUENOSFAZEXECUTARATOSSEM pacidade de criar seus próprios meios
fechadura. Foi enviada pelos pais pela USARASABEDORIADAREmEXÎO necessários à vida. Com esses recursos,
suposta facilidade que teria em passar $URANTE O DESENVOLVIMENTO DA os homens começaram a interferir na
pelas guerras lá fora. criança, ou da humanidade, a consci- NATUREZAETERDIlCULDADEDESERELACIO-
! JOVEM JÉ EXPERIMENTARA O ABUSO ência, à medida que evoluía, também o nar com seus pares. Os homens come-
do outro e entendeu que aquele órgão, afastava de sua própria natureza ao ne- çaram a se destruir. Zeus, o deus maior
SEEXPRESSANDOPORTRÉSDOROUPÎO SE- gligenciar a sua origem mítica. No mito do Olimpo, resolveu intervir.
ria mais uma tentativa de humilhação e DOPARAÓSO !DÎOE%VAEXPERIMENTAM Compadecido, Zeus deu-lhes um de
abuso. Ela reclama disso, e Samsa – em o fruto do conhecimento e se dão conta seus dons: a arte da política, constituída
SUAHUMANIDADEn TENTALHEEXPLICARO QUEESTÎONUSEQUEEXISTEMDIFEREN¥AS de dois atributos: justiça e dignidade. Na
que só ele sente. Seu coração acelera. ENTREELES$ESSAFORMA PARAENTENDER- dignidade pessoal já está o sentimento
Vivia algo muito bom que os homens mos a natureza do homem recorremos DEVERGONHAOUPUDOR0ARA:EUS TODOS
chamam de amor. A tensão entre a len- aos mitos construídos pela humanidade os homens deveriam desenvolver a Arte
TIDÎODOTEMPOEMQUESEESTÉAPAIXO- em seus primórdios, época em que a DA0OLÓTICA POISASSIMDARÎOIMPORTÊN-
nado e a aceleração desse mesmo tem- consciência ainda não o tinha afastado cia aos seus atos que serão julgados e
POQUANDOSEQUERAMARDEIXOU3AMSA tanto de sua própria natureza. QUALIlCADOSPELOSOUTROS$OCONTRÉRIO
confuso e atraído por alguém que não Assim acontece com as várias guer- não haveria harmonia social e a espécie
sabe se voltará a ver. ras lá fora, podemos pensar nos quatro humana desapareceria.
Sonhar é o modo que temos para cavaleiros do Apocalipse. O primeiro, a A guerra é portanto um resultado
entrar em contato com a natureza que guerra, já contém em si os outros três: da incompetência política, quando a
SE EXPRESSA DE FORMA MITOLØGICA PARA a dominação, a peste e a fome. A jo- arte de governar não consegue o respei-
resgatar os seus segredos. Quem conse- vem corcunda, em sua guerra com seu to aos valores instituídos e estabeleci-
gue prestar atenção a eles terá o benefí- CORPO  TROUXE A VERGONHA E HUMILHA- dos ao longo da vida dos povos de uma
cio de se conhecer de verdade. Não se ção como uma barreira que a impedia NA¥ÎO1UANDOFALTAA!RTEDA0OLÓTICA 
pode observar os sonhos com a lógica de ser amada. Talvez ela represente o lCAMOSSEMAJUSTI¥AESEMADIGNIDADE
da consciência, mas com a linguagem hESTUPROSOCIALvDASCONVULSÜESSOCIAIS PESSOAL / HOMEM ENTÎO lCARÉ INDIFE-
METAFØRICADOINCONSCIENTE0ODERÓAMOS que é a invasão do mais forte sobre o rente às questões do outro e se torna-
por meio do sonho descobrir algo sobre mais fraco, ou seja, a violência e o des- rá manipulador da realidade, usando
respeito à integridade do outro. o bem coletivo em proveito próprio.
SHUTTERSTOCK/ DIVULGAÇÃO E ARQUIVO PESSOAL

Na linguagem de um dos muitos mi- %SSESSÎOOSDESAlOSDEUMINSETOQUE


tos da criação, Epimeteu, na criação do evoluiu para um ser racional.

Homens sem Mulheres


Autor: Haruki Murakami
Editora: Alfaguara Carlos São Paulo é médico e psicoterapeuta junguiano.
Ano: 2015 É diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia.
carlos@ijba.com.br / www.ijba.com.br
Páginas: 240

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cinema Por Dr. Eduardo J. S. Honorato e Denise Deschamps

Quando o passado
bate à porta
O DOCUMENTÁRIO NOSTALGIA DA LUZ,
DIRIGIDO POR PATRICIO GUZMÁN,
MOSTRA AS CONSEQUÊNCIAS DE QUEM
SOFREU COM A DITADURA MILITAR
NO CHILE E REACENDE A DISCUSSÃO A
RESPEITO DE UM POSSÍVEL RETROCESSO
POLÍTICO NO BRASIL

“E
stou convencido de que a memória tem uma força da
gravidade. Ela sempre nos atrai. Os que têm memória
são capazes de viver no frágil tempo presente. Os que
não a têm, não vivem em nenhuma parte.”
Nossos textos nesta coluna são escritos com alguma antecedência.
Dito isso, queremos apenas registrar que resolvemos escrever sobre o
lLMENostalgia da Luz, do sensível diretor Patricio Guzmán Lozanes,
tomados pelos contraditórios sentimentos vividos no atual momento
do Brasil, quando a “presidenta” eleita por mais de 54 milhões de votos
está sendo afastada por um processo que tem sido denunciado dentro
e fora do país como algo que não cumpre a mínima diretriz dentro da
nossa Constituição. Inevitável lembrarmos, então, do período ditatorial
que, não faz nem muito tempo, o país desembarcou dele, mais precisa-
mente nos anos 80 do século XX. Há muito de memória traumática sen-
do desenterrado no processo atual. Não é possível prever como serão
os próximos tempos, um fantasma que mal começara a ser exorcizado
é chamado a ser revisitado por fatores políticos que colocam em dúvida
a credibilidade do processo político que ora se instaura.
Muitos dos mais recentes fatos levaram-nos a pensar em Costa-
-Gravas, com seu inesquecível Missing, que narra os dias que instau-
raram o golpe militar no Chile. O diretor compôs o seu roteiro utili-
zando o olhar de um pai, um americano conservador, republicano até
ENTÎO QUEBUSCANO#HILEDOSMILITARESOSEUlLHODESAPARECIDO/
golpe dos anos 60 em toda a América Latina é assim desenhado pelas
lentes do diretor.
O governo que agora está sendo destituído aqui foi o primeiro a
verdadeiramente querer abrir as páginas da nossa história para apura-
ção e conhecimento público. Vimos funcionar a Comissão Nacional
da Verdade, que, para o nosso orgulho, tinha como um dos seus mem-
bros a psicanalista Maria Rita Kehl, que esteve presente quando da

66
6 psique ciên
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www.portalcienciaevida.com.br
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lcienciiaevid
vid
ida com
ida.c om.br
br
HÁ MUITO DE
MEMÓRIA
TRAUMÁTICA SENDO
DESENTERRADO NO
PROCESSO ATUAL. NÃO
É POSSÍVEL PREVER
COMO SERÃO OS
PRÓXIMOS TEMPOS,
UM FANTASMA QUE
MAL COMEÇARA
A SER EXORCIZADO
É REVISITADO
que podem ter estado ali adormecidos
p#PG  \ I\GG
GÔ‚‚G
 G G Go:I por décadas. Invade o olhar, encanta, en-
GG91  G- GG GG  G G GIGIG GÔHGG
 ternece, fazendo lembrar a poesia do ve-

IP )G G
G'9
I +G I "P:
LHOPOETA$RUMMOND AmORQUEVENCEU
entrega do Relatório Final à “presidenta”. pela total falta de umidade. O que ali jaz OASFALTO AmORQUEATUDOVENCE AVIDA
Talvez essa ousadia desse governo tenha para sempre conta a história, mas é pre- que insiste sempre, como os presos polí-
sido um dos pontos que ergueram ódios ciso querer buscá-la e enfrentar a secura TICOSDE0INOCHET NARRADOSNOlLME QUE
que levaram ao desfecho que parece se das lacunas do desinteresse plantado pelos olhando para as estrelas encontravam
encaminhar tudo isso. que comandaram cada período. Um lugar dentro de si a liberdade.
A história acusa e, de certa maneira, tipicamente inabitável, que guarda tantos
talvez seja repetindo-a que se busque a segredos sórdidos de um passado político, EXOPLANETAS
explicação que atenue culpas por atos ou mas também abre portas para o entendi- Também por esses dias recebemos a
OMISSÜES&OIASSIM COMONOlLMENos- mento do nosso futuro enquanto raça. notícia que, pouco antes do desligamento
talgia da Luz, o astrônomo, o arqueólogo Interessante pensar esse documen- DElNITIVODOTELESCØPIO+EPLER OSASTRÙNO-
e o arquiteto que quiseram fazer ver que tário junto a um episódio insólito que mos descobriram dentro da nossa galáxia
o presente não existe, como é pensado no invadiu o deserto do Atacama em 2011, mais de 1.200 exoplanetas e alguns apa-
lLME  O PASSADO ESTÉ SEMPRE NOS TRA¥OS que, repentinamente, se apresentou aos rentemente úmidos e com condições de
daquilo que pensamos como atual. Essa OLHOSHUMANOSTODOmORIDO COMCOLORA- ter vida ou mesmo muito parecidos aqui
PODE SER A GRANDE PREMISSA DESSE lLME  ções diferentes, nos mais variados tons. com a nossa Terra. O mundo solavanca
levando a questionamentos compartilha- Mudou por algum tempo sua aparência mais do que nunca na marcha do progres-
dos por diversas ciências, como Astro- traduzindo uma festa que, talvez, ainda so e retrocesso, civilização versus barbá-
nomia, Física, Arqueologia e até mesmo estejamos olhando tão perto, que encon- rie, desenvolvimento e atraso etc. Vivemos
Psicologia. O passado existe e nos brinda, tramo-nos míopes para entender a nota, em uma canção estelar que talvez algum
e o presente nada mais é do que um frag- ORECADODANATUREZA%SSAmORADADODE- dia nos possibilite olharmos para o céu e
mento deste. serto ainda não pode ser compreendida. entendermos um pouco desse presente,
/lLMECOME¥ADEUMAMANEIRAEN- O fato é que algum fenômeno trouxe uma que é sempre passado. Oito minutos leva
volvente, nos apresentando tanto aos POSSIBILIDADE DE FAZER mORIR  TRADUZIR SE a luz do sol para atingir nossos olhos, o
imensos telescópios, ao intrigante deserto EMmOR FAZERGERMINARBULBOSERIZOMAS que vemos não está mais lá, mas nos in-
do Atacama, assim como às belas imagens
do enigmático espaço. O diretor constrói
Eduardo J. S. Honorato é psicólogo e psicanalista, doutor em Saúde
SUAS REmEXÜES EM BUSCA DE UM PASSADO
IMAGENS: DIVULGAÇÃO

da Criança e da Mulher. Denise Deschamps é psicóloga e psicanalista.


que ali, naquele inóspito local, segundo ele Autores do livro  GG Gd 

ƒ : Participam de
a única mancha marrom em todo planeta palestras, cursos e workshops em empresas e universidades sobre
este tema. Coordenam o site www.cinematerapia.psc.br
Terra se encontra eternamente preservado

www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 67


lembrar-se, e o faz em nome da resistên-
CIA OUSEJA DESUADIlCULDADEEMCOMPOR
novas saídas e negociações psíquicas. Se
pensarmos que isso também se aplica aos
fenômenos do coletivo, veremos que sob o
estado de circunstâncias especiais a histó-
ria se repetirá, como diz outro pensador,
como uma farsa, e isso porque não há nela
traço de mudança ou mesmo de presente.
Ela apenas buscará recompor condições
já ultrapassadas em nome de manter o
“status” de uma recordação que não pode
vir à tona. Os mecanismos de culpa e ver-
gonha, oriundos de impulsos destrutivos,
‚IGIIG

GIGG9IGÔI9G9GG  são facilmente substituídos por operações
GÏG` de projeções e subsequente perseguição
dos objetos assim investidos. Há um traço
O GOVERNO QUE AGORA ESTÁ SENDO de tragicômico nos fatos que, negando a
atualidade, apenas se impõem farsantes,
DESTITUÍDO AQUI FOI O PRIMEIRO A
fazendo um avesso das atualizações da re-
VERDADEIRAMENTE QUERER ABRIR AS PÁGINAS alidade. O discurso da repressão se ergue,
DA NOSSA HISTÓRIA PARA APURAÇÃO E então, a partir de fantasias persecutórias.
“Pessoas jovens e pueris, em particu-
CONHECIMENTO PÚBLICO. VIMOS FUNCIONAR A
lar, inclinam-se a transformar a necessi-
COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE dade, imposta pelo tratamento, de pres-
tar atenção à sua doença, numa desculpa
vade em sensações, luzes e sombras. Um lLHODAESTILISTA:UZU!NGEL QUEBUSCOUO bem-vinda para regalar-se em seus sinto-
fascínio pelo externo, pelos distantes mi- CORPODESEUlLHOENFRENTANDOOSOBSCU- mas” (Freud, 1914).
lhares de anos-luz, quando o aqui e agora ros porões da ditadura brasileira. O caso é Ao pensarmos as delicadas atualida-
não se torna tão suportável. Assim foi com NARRADOEMUMlLMEDE3ÏRGIO2EZENDE  des que atravessam muitos dos países que
os pioneiros da Astronomia do campo de Zuzu Angel (2006), e ela ganhou uma bela antes sofreram de massivas organizações
concentração. Uma fuga possível para o canção em sua homenagem composta por repressivas, talvez possamos aproximar
imaginário, que acalenta e acalma. Chico Buarque de Hollanda, Angélica, que uma possível leitura, entre tantas outras,
As mulheres de Calama, que durante diz em certo trecho: “Quem é essa mulher. do quanto agora perigosamente podem
28 anos buscaram os restos mortais de Que canta sempre esse estribilho? Só que- se aproximar de uma repetição, aliada às
seus parentes no deserto, presos políticos RIAEMBALARMEUlLHO1UEMORANAESCU- suas partes mais adoecidas e, portanto,
que por mais de 17 anos foram assassina- ridão do mar”. Vemos na letra a proximi- mais resistentes a qualquer atravessamen-
dos a mando do ditador Pinochet, miram dade com os relatos de dor das mulheres to da realidade para novas composições. E
a terra ao invés de voltarem seus olhos de Calama, em suas buscas no deserto. E ESSElLME DEUMAFORMAREALMENTEMUITO
para as estrelas. O astrônomo diz que suas mesmo com todos esses relatos, documen- original, faz ver isso com algum encanta-
buscas deveriam merecer mais respeito do TOS  lLMES  CAN¥ÜES E TODAS AS FORMAS DE mento. A dor que toca, e como a toca, não
que as deles, mas que não é assim que a so- expressar a dor, violência e agressividade produz mágoa ou ira, apenas intenta es-
ciedade percebe aquelas que precisam en- que esse período da história nos remete forços de ligação com a vida, com o con-
terrar seus mortos, de certa maneira para aqui no país, ainda vemos questionamen- serto, como diz outra participante do do-
que, tocando o passado, recuperem a capa- tos e incentivos virtuais para o retorno des- cumentário, que é possível compor vidas
cidade de tocar no frágil presente, na atu- se tipo de “governo”. onde a ausência inenarrável não produza
alidade de suas experiências. Temos casos a sensação de uma falta tão lancinante
semelhantes em todas as ditaduras que se RESISTÊNCIA que ela descreve como a tendo carregado
espalharam pela América Latina nos anos Freud, em seu texto “Recordar, repe- como um “defeito de fabricação”. Fala isso
60. Aqui no Brasil, entre muitos outros de- tir e elaborar” (1914), já nos alertava sobre ENQUANTOEMBALAEMSEUCOLOSEUlLHINHO
saparecidos, temos o caso de Stuart Angel, o fato de um paciente repetir ao invés de ainda muito bebê. Então, mais do que ira

68 psiqu
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iquee ciên
cciência&vida
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www.portalcienciaevida.com.br
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lcienciiaevid
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ida.c om.br
br
ou ressentimento, vemos aquilo que costu-
mamos chamar de esperança.
Patricio Guzmán, que é considerado
um dos mais conceituados documentaris-
tas latino-americanos, foi ele mesmo um
exilado quando da derrubada do governo
de Salvador Allende. Elabora, via seus do-
cumentários, uma história que é de todo
um país, seu Chile, e, ao mesmo tempo,
toca em sua própria trajetória, os perigos
que viveu e dos quais se salvou exilando-se
em Cuba e depois na França. Talvez por
ISSOMESMO SEUlLMETRAGATANTALUZ POIS
há nele um distanciamento necessário ao 
G
G
+ I I  G
I
G
Ô
GGI:HIGI
narrar uma história, mas, concomitante- 
GGG\GH
G
G
GI GG
MENTE ENCONTRAMOSTODOUMlODEAFETO
que envolve o espectador todo o tempo. AS MULHERES DE com mais propriedade. Quando não po-
Os sons que insere colocam a quem assiste demos criar mecanismos que possibilitem
suspenso em um espaço mágico que pode
CALAMA, QUE POR isso, podemos assistir àquilo que se no-
ser da origem, nascimento de qualquer 28 ANOS BUSCARAM meia como “peste emocional”, que pode
vida, como pode também ser pensado OS RESTOS MORTAIS ser comparada ao próprio surgimento do
como os mistérios e enigmas que estão que se chama “o ovo da serpente”. Talvez
inacessíveis lá no universo.
DE SEUS PARENTES ESSA TAREFA SEJA O QUE  AO lNAL  AS LENTES
NO DESERTO, PRESOS de Guzmán tão delicadamente propõem.
SORRISOS POLÍTICOS QUE POR A história tem muito a contribuir com o
Vemos, em determinado trecho, duas que vivemos como atual na subjetividade
das mulheres de Calama visitando o MAIS DE 17 ANOS e, talvez, na verdade, como propõe, toda
observatório e seus sorrisos ao olharem FORAM ASSASSINADOS experiência seja, na verdade, passado.
pelos poderosos telescópios. Há em seus Vida e morte são entrelaçadas com
A MANDO DE
sorrisos algo de criança ao se voltarem lOS INSEPARÉVEIS DE PASSADO E PRESENTE 
para os céus, como a deixar por alguns PINOCHET, MIRAM A compondo futuros incertos. O diretor já
instantes toda a miséria e dor em seus TERRA AO INVÉS DE AlRMOU QUE hGRANDE PARTE DOS CHILENOS
olhos cansados de avistarem o solo. Uma não fala da História, ignoram-se os mas-
nova fuga da realidade para um externo
VOLTAREM SEUS OLHOS sacres e as perseguições, o desprezo pe-
repleto de mistérios e que acalmam nos- PARA AS ESTRELAS los índios, ou o verdadeiro contexto por
sas angústias. Dizem alguns pensadores detrás dos golpes de estado”. Sabemos,
da atualidade que a grande revolução negando todo feminino, a mãe terra e a por outro lado, que o Brasil foi um dos
será operada pelas mulheres, sua obs- vastidão das galáxias. últimos países a querer entender o que
tinação, com certeza, tem enfrentado Sabemos que trabalhar as resistências aqui se passou em tempos recentes da
ao longo da história as mais poderosas é uma das tarefas mais árduas de um ana- última ditadura. Muito ainda nos assom-
forças. “Ergue os olhos, Hanah. Ergue lista na condução de uma análise. Talvez bra com uma negação em algo mesmo
os olhos!” (trecho do discurso no genial ao pensarmos em mudanças coletivas ti- próximo ao que ele narra em Nostalgia da
lLMEDE#HARLES#HAPLIN O Grande Dita- véssemos que voltar um olhar mais apro- Luz. Tempos obscuros se combatem com
dor, 1940). Sabemos, então, que, por isso fundado para onde deixarmos de levar o estudo da História e muita claridade
mesmo, há sempre uma estratégia de as essa discussão. Em termos do público foi o NAS DISCUSSÜES FUNDAMENTAIS %SSE lLME
calarem nos momentos-chave de emba- teórico Wilhelm Reich quem abordou isso é inspirador quanto a esse aspecto.
te. As bruxas estão aí para nos lembrar
disso, com forte simbolismo que a força
IMAGENS: DIVULGAÇÃO

)G G
G':.^  Gd)G G
G': d+G I "P:
do feminino traz. O homem do capital +G^d!GhG9 9 G G9G G /:"ÈdIP :
não contempla o desamparo, não perce- GhÔdD; :
GhGd=;<;:  H
Gd ! ¤
be seu adoecimento, prefere a dominação ! :G ‚IGhÔd<=G:

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PERlL Por Anderson Zenidarci

A VIDA que U
m dos primeiros escritores
americanos de contos e con-
siderado o inventor do gênero
lC¥ÎO POLICIAL TAMBÏM TEM

imita a ARTE
UMA GRANDE CONTRIBUI¥ÎO AO GÐNERO DE
lC¥ÎOCIENTÓlCA.ASCEUCOMO%DGAR0OE
NACIDADEDE"OSTON lLHODEATORESMAM-
BEMBES DE ORIGEM ESCOCESA IRLANDESA 
ANTES DOS TRÐS ANOS lCOU ØRFÎO DE MÎE 
QUEMORREUPOUCODEPOISDEDARALUZA
SUAIRMÎCA¥ULAEDETERSIDOABANDONADA
PELO MARIDO  DEVIDO TANTO A COMPLICA-
¥ÜES NO PARTO COMO A TUBERCULOSE $EI-
XOUOSTRÐSlLHOSØRFÎOS QUEFORAMCADA
UM PARA UM DESTINO DIFERENTE %LE FOI
ACOLHIDOPELOCASAL&RANCISE*OHN!LLAN 
rico empresário que morava na cidade de
2ICHMOND  NO ESTADO DA 6IRGÓNIA  MAS
NUNCAFOIFORMALMENTEADOTADO EMBORA
*OHNTENHALHEDADOOSEUSOBRENOME FA-
ZENDOCOMQUESECHAMASSE APARTIRDE
ENTÎO %DGAR!LLAN0OE$ESDEPEQUENO
FOI MAIS APEGADO Ì MÎE ADOTIVA DO QUE
ao pai, que permanecia sempre distante,
OQUEESTIMULOUADIFÓCILRELA¥ÎOESTABELE-
CIDAENTREOSDOISAPARTIRDAADOLESCÐN-
cia do escritor, permeada por constantes
BRIGASEDISCUSSÜESQUEAMBOSTERIAMAO
LONGO DA VIDA #OM A TAMBÏM PRECOSE
MORTE DA MÎE ADOTIVA  SEU PAI VOLTOU A
SE CASAR  COM UMA MULHER MUITO JOVEM
QUE LHE DEU DOIS lLHOS  E QUE O REJEITA-
va veementemente, pois o via como uma
AMEA¥A)SSOIMPEDIUQUE0OESETORNASSE
HERDEIRODAFORTUNAPATERNA EELESEAFAS-
tou da casa do pai adotivo. Frequentou
A 5NIVERSIDADE DA 6IRGÓNIA SOMENTE POR
um semestre, passando a maior parte do
TEMPO ENTRE BEBIDAS E MULHERES !PØS
UMASÏRIEDEDISCUSSÜESCOMOPAI FUGIU
DE CASA PARA SE ALISTAR NAS FOR¥AS ARMA-
das, onde serviu durante dois anos antes
O ESCRITOR E POETA EDGAR ALLAN POE de ser dispensado. O pai, a contragosto,
USOUSUAINmUÐNCIAEOAUXILIOUAENTRAR
É CONHECIDO POR SUAS HISTÓRIAS NA!CADEMIA-ILITARDE7EST0OINT TEN-
QUE ENVOLVEM SUSPENSE, TERROR TANDO MANTÐ LO NA CARREIRA MILITAR -AS
EMVIRTUDEDASUAPROPOSITADADESOBEDI-
E O MACABRO. SUA VIDA SE CONFUNDE ÐNCIA A ORDENS  USO DE ÉLCOOL E ENVOLVI-
MENTOCOMJOGOSDEAZAR ELEACABOUPOR
COM SEUS CONTOS DE MISTÉRIO
70 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
ALLAN POE ERA CHAMADO DE CRÍTICO
LITERÁRIO CRUEL, POR SUAS CRÍTICAS CÁUSTICAS.
STICAS.
TICAS
S
EM TOM DE RECLAMAÇÃO, DIZIAM QUE ELE
USAVA ÁCIDO PRÚSSICO AO INVÉS DE TINTA
SEREXPULSODESTAACADEMIA EM FATO BÏMESCREVEUSÉTIRAS CONTOSDEHUMOR E 
PELOQUALSEUPAIADOTIVO OFENDIDO ORE- COMOEFEITOCÙMICO USOUAIRONIAEAEX-
PUDIOUATÏASUAMORTE TRAVAGÊNCIADORIDÓCULO MUITASVEZESNA
%M CONSEGUINDOSEMANTERPOR TENTATIVADELIBERAROLEITORDACONFORMI-
meio dos seus escritos, casa-se em seg re- DADE CULTURAL %RA CONHECIDO COMO UM
DOCOMASUAPRIMA6IRGÓNIA#LEMM DE CRÓTICO LITERÉRIO CRUEL  POR SUAS CRÓTICAS
ANOS1UATROANOSDEPOISELACOME¥OU CÉUSTICAS/SAUTORESDIZIAM EMTOMDE
ASOFRERDETUBERCULOSEEMORREUAPØSSEIS RECLAMACÎO QUEELEUSAVAÉCIDOPRÞSSICO
ANOS 6IÞVO  TENTOU UM RELACIONAMENTO AOINVÏSDETINTA
COM3ARAH(ELEN7HITMAN QUEOREJEI- 3UAS OBRAS INmUENCIARAM A LITERATURA
tou em virtude do comportamento errá- DOMUNDO EMCAMPOSESPECIALIZADOS TAIS
TICO DESREGRADOEALCOØLICO COMOACOSMOLOGIACIÐNCIAQUETRATADAS +^GGG‚G
G GH 
G
GG^ IG9H
.A ÏPOCA  0OE TENTOU O SUICÓDIO POR LEISGERAISQUEREGEMOUNIVERSO EACRIP- 
G ` G

 
SOBREDOSAGEMDELÉUDANO EREGRESSOUÌ TOGRAlAESCRITAPORMEIODESINAISCODIl-
CIDADEDE2ICHMOND ONDERETOMOUARE- CADOS PARAQUEPOSSASERLIDOEENTENDIDO APARECEM SEUS CONTOS MAIS CONHECIDOS 
LA¥ÎOCOMUMAPAIXÎODEINFÊNCIA 3ARAH SOMENTEPORQUEMDETENHAASENHADESUA COMOh/GATOPRETOv h/BARRILDE!MON-
%LMIRA 2OYSTER  ENTÎO VIÞVA 4AMBÏM DECODIlCA¥ÎO  5SOU DAS PSEUDOCIÐNCIAS TILLADO  h-ANUSCRITO ENCONTRADO NUMA
NESSE RELACIONAMENTO TEVE PROBLEMAS MUITOEMhMODAvNAÏPOCA COMOAFRE- GARRAFAvEh!MÉSCARADAMORTEESCARLA-
PELOSEUALCOOLISMO%LEERAUMAPESSOA NOLOGIAESTUDODAESTRUTURADOCRÊNIOQUE TEv CONSIDERADOOBRA PRIMADOTERROR
SOLITÉRIA DIZIAPOUCOSOBRESI UMDESCO- determina o caráter e a capacidade men- 3UAMORTE EOMISTÏRIOQUEACERCA 
NHECIDOMESMOPARAOSMAISPRØXIMOS TAL EAlSIOGNOMIA (TÏCNICADECOMPREEN- PODERIA PERFEITAMENTE SER UM DE SEUS
"EBIA MUITO E SEMPRE JOGAVA  SAÓA COM SÎO DO COMPORTAMENTO E PERSONALIDADE  CONTOS DE SUSPENSE 0OE FOI ENCONTRADO
PROSTITUTAS FREQUENTEMENTE 0ARECIA NÎO PORMEIODAOBSERVA¥ÎODASCARACTERÓSTICAS NAS RUAS DE "ALTIMORE  APØS TER DESAPA-
PERTENCERALUGARNENHUM DOSTRA¥OSFACIAISECORPORAIS /USODES- RECIDOALGUNSDIAS SUJO VESTIAROUPASQUE
!LÏM DE ESCRER COMPULSIVAMENTE E SESRECURSOSEMSEUSESCRITOSFASCINAVAO NÎOERAMSUASEAPRESENTAVAUMESTADO
SERBRILHANTENOGÐNERODEHORROR TAM- PÞBLICOLEITOR!COMO¥ÎOCRIADAPORSUAS de delirium tremens &ALECEU NO HOSPITAL
FA¥ANHASCRIPTOGRÉlCASDESEMPENHOUUM QUATRO DIAS DEPOIS .ESTE PERÓODO  ELE
PAPEL IMPORTANTE EM POPULARIZAR CRIPTO- NÎO CONSEGUIU ESTABELECER UM DISCURSO
GRAMASEMJORNAISEREVISTAS SUlCIENTEMENTECOERENTEQUEPUDESSEEX-
0OSSUÓA UMA AlADA HABILIDADE ANALÓ- PLICARCOMOTINHACHEGADOÌSITUA¥ÎONA
TICA  BEM EVIDENTE EM SUAS HISTØRIAS DE QUALFOIENCONTRADO!CAUSADESUAMOR-
DETETIVE QUESEPERMITIADESCREVERAOPÞ- TEPREMATURA AOSANOS ÏDESCONHECI-
BLICOOPERlLDOASSASSINOPORSEUmodus DA POLÐMICAECONTROVERSA&OIPORDIVER-
operandi 3EU TRABALHO APARECE AO LONGO SAS VEZES ATRIBUÓDA AO ÉLCOOL  CONGESTÎO
DACULTURAPOPULARNALITERATURA MÞSICA  CEREBRAL  CØLERA  SÓlLIS  DROGAS  DOEN¥AS
lLMES E TELEVISÎO 0OE Ï UM ESCRITOR ES- CARDIOVASCULARES  SUICÓDIO  TUBERCULOSE 
TUDADOECULTUADO%NTRESUASOBRASDES- DOEN¥ASCEREBRAISRARAS
IMAGENS: WIKIPEDIA/ ARQUIVO PESSOAL/SHUTTERSTOCK

tacam-se: O Corvo, Annabel LeeEOVOLU- /FATOÏQUE COMOEMALGUNSDOSSEUS


me Histórias Extraordinárias ONDE CONTOS AVERDADEJAMAISSABEREMOS

Anderson Zenidarci é mestre em Psicologia pela PUC-SP, supervisor e


palestrante. Coordenador e professor do curso de Especialização em
Transtornos e Patologias Psíquicas pela Facis, professor de pós-graduação no
curso de Psicologia de Saúde Hospitalar na PUC-SP. Atua há mais de 30 anos
-GHG ƒI GGG GG

9
em atendimento clínico em diversos segmentos da Psicologia, com especial
IGI G G
9G IG dedicação à psicossomática, transtornos e patologias psíquicas.
I GGI G‚G

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utilidade pública Por Roberta de Medeiros

DIFICULDADE
em superar a VIUVEZ
A PERDA DO CÔNJUGE É O TIPO DE LUTO QUE COM
MAIS FREQUÊNCIA RESULTA EM ENCAMINHAMENTO
PSIQUIÁTRICO, POR ISSO O TEMA, TÃO DELICADO, NÃO PODE
SER ENCARADO COMO UM DADO ESTATÍSTICO QUALQUER

A
morte de uma pessoa da fa- garem a morrer também pouco tempo morrer depois de perder sua esposa é
mília é sempre uma experi- depois da separação. de 21%, independentemente do fato de
ência traumática, superada Casos assim são frequentes, apon- estar doente ou não. A percentagem é
a duras penas. A perda do tou uma pesquisa feita nos Estados de 17% para as mulheres.
companheiro é ainda mais complica- Unidos. O estudo avaliou o impacto A análise do médico e sociólogo
da, muitas vezes f ica a ausência, uma do luto na saúde e bem-estar de mais Nicholas Christakis, da Universidade
espécie de morte em vida. Em alguns de meio milhão de casais de idosos Harvard, e do sociólogo Paul Allison,
SHUTTERSTOCK

casos, o abalo é tão forte que acaba entre 65 e 89 anos. De acordo com o da Universidade da Pensilvânia, tam-
sendo inevitável muitas pessoas che- levantamento, a chance de um homem bém deixou claro que dependendo da

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PESQUISA SUGERE QUE OS PARENTES E Já os evitadores demonstram arre-
PROFISSIONAIS DA SAÚDE DEVERIAM DAR pendimento habitual após a perda. As
pesquisas revelam que o sentimento de
MAIOR ATENÇÃO AOS RECÉM-VIÚVOS, UMA culpa é o mais comum. “Você tem re-
MEDIDA PREVENTIVA CAPAZ DE PROTEGER morsos por algo que disse ou fez, mas
agora não pode mais consertar?”, per-
A SAÚDE DELES QUANDO PERDEM SEUS
guntaram os pesquisadores. Mais da
VÍNCULOS AFETIVOS metade das pessoas enlutadas entre-
vistadas pelo estudo de Parkes respon-
SITUA¥ÎO A INTERNA¥ÎO JÉ Ï SUlCIENTE ção por esquizofrenia (doença que DEUAlRMATIVAMENTE
para aumentar o risco de morte do côn- causa delírios, alucinações e drásticas Outra pesquisa feita em Harvard en-
juge. A probabilidade é de 4,5% para os alterações na forma de pensar e ex- tre jovens viúvos e viúvas mostra que,
homens e de 2,7% para as mulheres. pressar suas emoções), perda gradativa QUANDOERAMALTOSOSCONmITOSMATRIMO-
Cerca de um mês após a morte ou da memória ou da capacidade de julga- niais, havia baixo sofrimento emocional
internação do parceiro, a ameaça do mento podem comprometer, e muito, durante as primeiras semanas de luto.
outro também morrer chega a 61% e o bem-estar dos mais próximos. 0ORÏM OLUTODOGRUPOCONmITUOSOPIO-
se mantém alta durante um período Nesse caso, o risco de morte sobe rou e prolongou-se. Após quatro anos
de até dois anos, mostra o levanta- para 32%. Isso porque os distúrbios da morte, os viúvos ainda lamentavam o
mento. Isso se deve ao fato de que a psiquiátricos crônicos causam so- parceiro perdido. Já no caso dos relacio-
morte do marido ou da mulher provo- frimento para o resto da vida, com namentos dependentes, o luto era dura-
ca níveis altíssimos de estresse, além mudanças profundas na qualidade da douro e intenso desde o início.
de outras perdas que vêm por tabela, convivência entre o casal e demais fa- Viúvos inseguramente apegados a
como abalos na vida social, emocio- miliares. Também há sempre uma de- seus parceiros sofriam mais de raiva,
nal e até mesmo econômica. pendência muito grande em relação isolamento social, culpa, ansiedade de
Não é o caso de encarar um tema ao parceiro. morte, sintomas somáticos, desespe-
tão delicado como um dado estatísti- No livro Amor e Perda, o psiquiatra ro, despersonalização e pensamentos
co qualquer. Pelo contrário, observam Colin Murray Parkes mostra que a re- recorrentes do que as pessoas segura-
os sociólogos. Segundo eles, os dados ação do cônjuge ao luto depende do mente apegadas.
sugerem uma nova óptica, a de que os tipo de vínculo que tinha com os pais /UTRO FATO QUE INmUENCIA O LUTO
parentes e prof issionais da saúde de- ou cuidadores durante o seu desen- COMPLICADO Ï A AUSÐNCIA DA lGURA DO
veriam dar maior atenção aos recém- volvimento. Ele estabeleceu padrões lLHO 0ESSOAS QUE HAVIAM PERDIDO O
-viúvos, uma medida preventiva capaz de amor que inf luenciam a maneira lLHOFORAMMAISASSOLADASPORPENSA-
de proteger a saúde deles quando per- como as pessoas veem o mundo. Isto mentos de perda.
dem seus vínculos afetivos. determina a forma como os adultos A perda de um parceiro dá margem
O impacto da perda também vai reagem à morte da pessoa querida. ao surgimento de sentimento de solidão
depender da doença que causou a Os cuidados parentais problemáti- mais severo que outros tipos de perda.
morte ou internação da pessoa. Al- cos, por exemplo, acarretam na vulne- Alguns autores mostram que a propor-
gumas doenças, por características rabilidade na infância, inf luenciando ção de enlutados pela perda do cônjuge
particulares, acabam gerando um os relacionamentos na vida adulta e o que disseram estar muito solitários não
desgaste emocional muito maior aos nível de sofrimento emocional decor- era maior entre aqueles que moravam
familiares e ao cônjuge. rente do luto. Uma pesquisa feita em sozinhos do que aqueles que viviam
Em caso de insuf iciência cardía- Harvard mostra que ter uma relação com outras pessoas. O que nos leva a
ca, fratura de quadril ou uma doença dependente na vida adulta foi um dos crer que viver com outras pessoas não
pulmonar crônica, como o enf isema, preditores mais poderosos das rea- reduz, necessariamente, a solidão da-
a probabilidade de morte do compa- ções problemáticas de luto. queles que perderam o parceiro.
nheiro aumentava de 11% a 15%, mos-
trou o estudo. O mesmo não se dá em
relação à hospitalização ou morte por
câncer no intestino, por exemplo.
HG
(
 \ G GI ^‚IG:
Mas é a doença mental que mais ¢G dHG:I I G²G :I
abala a saúde do parceiro. A interna-

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NOVAS TÉCNICAS

Novas perspectivas
para GESTÃO
74
de PESSOAS
psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
O counseling
counseling organizacional
organizacional é uma
uma ferramenta
ferramenta
que
que uutiliza
tiliza o cconhecimento
onhecimento ttécnico
écnico ddee uuma
ma
pessoa
pessoa p para
ara aaconselhar dee m
conselhar d maneira
aneira ssistemática
istemática Dionízio Costta Jr. é
psicólogo organizacional,

‚ GGGG
I €G 
‚ GGGGG

I € G  professor e pesquisador.
Diretor de Pesquisa e
Desenvolvimento da ABRH-
G G9 GH\‚IGGGG
G
G G9 GH\‚IG GGG

G PE – Associação Brasileira
de Recursos Humanos.
Coautor do livro Coaching
SHUTTERSTOCK

– Aceleração de Resultados
Por D
Por Dionízio
ionízio Costta
Costta Jr.
Jr. (Editora Ser Mais).

www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 75


NOVAS TÉCNICAS

C
ounseling é uma abor- aconselhamento é chamado de coun-
dagem profissional selee. Essa atuação pode existir de
e pessoal com foco duas formas: amadora (de maneira in-
específico no desen- formal e aleatória) ou profissional (de
volvimento do ser hu- modo sistemático e com frequência).
mano, que visa otimizar suas capaci- A aplicação do counseling é milenar.
dades. É desenvolvida com atividades É possível perceber ao longo do proces-
estruturadas de acompanhamento, so histórico a existência de aconselha-
desenvolvimento e resultado. Basica- mento em todas as sociedades, desde os
mente, consiste em uma pessoa que, povos indígenas até as grandes coroas
dotada de conhecimento técnico, ex- da Idade Média. Todavia, observa-se
periência de vida pessoal e profissio- sua atuação mais fortemente na religião.
nal, aconselha de forma sistemática e Alguns teóricos atribuem a origem da
dedicada o outro a tomar as decisões técnica de counseling ao cristianismo
mais assertivas, e que sejam benéficas como uma ação natural dentro das co-
para sua vida. Quem aconselha ganha munidades eclesiásticas. Nesse meio, se
o nome de counselor e quem recebe o destaca a contribuição dada pelo reve- *‚ GGGII 
GH
G
G‚ GG
desenvolvimento do ser humano, otimizando

Quem aconselha ganha o nome de counselor suas capacidades

rendo presbiteriano Jay Edward Adams,


e quem recebe o aconselhamento é professor e conselheiro. Entretanto, sua
chamado de counselee. Essa atuação pode abordagem foi criticada por seu grau
elevadíssimo de subjetividade.
existir de duas formas: amadora (de maneira Todos, em algum momento da
informal e aleatória) ou profissional (de modo vida, serviram como conselheiro para
alguém, orientando-o a tomar as me-
sistemático e com frequência) lhores decisões, ou em outras ocasiões
foi aconselhado, direcionado a fazer as
PARA SABER MAIS melhores escolhas. Entretanto foi com
Carl Rogers (8/1/1902-4/2/1987),
ABORDAGEM SEM HIERARQUIA
O psicólogo norte-americano Carl Ransom Rogers (1902-1987) teve atuação
marcante na terceira força da Psicologia (corrente humanista), além de ter
sido um dos principais nomes da Abordagem Centrada na Pessoa. Dedicou-se à
IhÔ
\
I ^‚IG+ I G9 I I
 

È 
GI GhÔ IGG
+ I G9
G

GG 

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G
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 P I

GI^ IG I` IG: 
I
GG
G h€
I  G
G+ IGP 

H G  :+ 9I GGH
G` G9IGG
 ‚IG
a pessoa em terapia como paciente ou doente, característica das duas primeiras
correntes à época, e apontou a importância da relação da pessoa e do terapeuta,
ŒReferência mundial Œ
A American Counseling Association – ACA é
9GIIhÔ9 G G Ô^G hÔ
 G G:
uma organização profissional e educacional
IP 
 G 
ÈI G
 G9 I G GhÔ  IIGG G sem fins lucrativos, que tem por objetivo se

 G

 G  GGHP IG9 II IG dedicar ao desenvolvimento e à valorização da
 GG ÔG IG
G9GG
G

9G
G
9 atividade de aconselhamento. Criada em 1952,
bIHP I
GG
G
 GG
 GOGb
GH¢G:! I nos Estados Unidos, é considerada a maior
associação do mundo no setor, representan-
famoso por elaborar um método psicoterapêutico centrado no próprio paciente. O
do exclusivamente conselheiros profissionais
GG

GGhÔ
I‚GhGIGGGGG em inúmeros cenários da prática da atividade.
encontre sozinha sua própria cura. Conta com mais de 55 mil membros.

76 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br


psicólogo que fundamentou as carac- Todas as pessoas, em algum momento da
terísticas que hoje são usadas no desen-
volvimento humano. A premissa básica
vida, serviram como conselheiras para alguém,
do counseling é colocar o ser humano orientando-o a tomar as melhores decisões,
no centro de toda ação, antes mesmo do
problema. A definição de Rogers (1942) ou em outras ocasiões foi aconselhado,
para counseling é a seguinte: “Uma sé- direcionado a fazer as melhores escolhas
rie de contatos diretos com o indivíduo
com o objetivo de lhe oferecer assis- (p. 1). Mac Kinney (1958) - Relação in- mudanças em uma ou mais das seguin-
tência na modificação de suas atitudes terpessoal na qual o conselheiro assiste tes áreas: comportamental; construtos
e comportamentos. Consiste em uma o indivíduo na sua totalidade psíquica pessoais; capacidade de ser bem-suce-
relação permissiva que oferece ao indi- a se ajudar mais efetivamente a si pró- dido nas situações de vida, de forma a
víduo oportunidade de compreender prio e ao seu ambiente. Stefflre (1976) aumentar ao máximo as oportunidades
a si mesmo e a tal ponto que habilita a - Indica um relacionamento profissio- e reduzir ao mínimo as condições de
tomar decisões em face de suas novas nal entre um orientador preparado e decisão. O aconselhamento deve resul-
perspectivas”. A partir de leitura de San- um cliente. Esse relacionamento, ge- tar em comportamento livre e respon-
tos e apresentada por Scorsolini-Comin ralmente, se verifica apenas entre duas sável por parte do cliente, acompanha-
acerca de Rogers, o aconselhamento pessoas, embora, às vezes, possa envol- do de capacidade para compreender e
pode ser compreendido como um “[...] ver mais de duas, e destina-se a auxiliar controlar a ansiedade. Sheeffer (1980)
método de assistência psicológica des- o cliente a compreender e ver melhor - Relação face a face entre duas pessoas,
tinada a restaurar no indivíduo suas seu espaço vital, de modo a fazer esco- na qual uma delas é ajudada a resolver
condições de crescimento e de atualiza- lhas significativas, com base em infor- dificuldades de ordem educacional,
ção, habilitando-o a perceber, sem dis- mações, de acordo com sua natureza profissional, vital e a utilizar melhor os
torções, a realidade que o cerca e a agir, essencial nas áreas onde haja escolha seus recursos pessoais.
nessa realidade, de forma a alcançar am- para ele fazer. Patterson e Eisenberg No Brasil sua atuação é pequena,
pla satisfação pessoal e social” (p. 7). (1988) - Processo interativo caracteri- quase inexistente, com pouca literatu-
Sua atuação organizacional nasce zado por uma relação única entre con- ra especializada e serviços oferecidos.
no início da década de 1940, na Europa, selheiro e cliente, que leva este último a Isso acontece devido ao grande equívo-
e fortemente nos Estados Unidos, co em se achar que tudo precisa de
onde existe a maior associação de coaching. A confusão é feita, geral-
aconselhamento no mundo: a ACA mente, porque pessoas não dotadas
– American Counseling Association. de capacidade para diagnosticar a
necessidade da ferramenta, levando
Definições em consideração a carência do in-

S corsolini-Comin ainda expõe


outras definições sobre acon-
selhamento: Erickson (1951) - Re-
divíduo, recomendam coaching por
ser algo da moda ou com a desculpa
de que deu certo na empresa tal. Para
lação entre duas pessoas na qual tudo indicam o coaching, achando
um dos participantes assumiu ou que essa ferramenta é a solução de
foi levado a assumir a responsabi- todos os males. Não é! O coaching
lidade de ajudar o outro. O cliente é incrível em seus resultados, mas
tem possíveis necessidades, proble- quando aplicado para quem precisa
mas, bloqueios ou frustrações que de um processo de coaching. Não é
deseja tentar satisfazer ou modifi- difícil até mesmo os teóricos confun-
car. O bem-estar do cliente consti- direm o counseling com o coaching
tui o interesse central da situação. e o mentoring. Essas tão poderosas
Shostrom e Brammer (1952) - Rela- ferramentas têm pontos em comum,
ção objetiva e recíproca entre duas mas quando se debruça a compreen-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

pessoas, em que uma, com forma- Há indicações de que o counseling é milenar, com
der cada uma delas, percebe-se que
ção específica, auxilia a outra a mo- registros da existência de aconselhamento em todas as existem diferenças alarmantes, e é
dificar-se ou a mudar seu ambiente sociedades, desde os indígenas até a Idade Média justamente essas particularidades

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NOVAS TÉCNICAS

para menos). Nessas sessões são reali-


zados aconselhamento e atividades de
reflexão, além de ações pós-sessão.

Diferenças
É de extrema importância entender
que, quando se fala em counseling
organizacional, a referência é uma fer-
ramenta de desenvolvimento humano,
com foco na pessoa dentro da organiza-
ção, pois existe, também, o counseling
como ferramenta terapêutica usada em
sessões de análise psicológica ou Psica-
nálise (não é este o caso). Quando uma
empresa decide aderir a um programa
de counseling, ela precisa ter em mente
que é de extrema importância selecionar
Além do counseling organizacional, existe, também, o counseling como ferramenta terapêutica, uma pessoa que seja de referência den-
utilizado em sessões de análise psicológica ou Psicanálise tro da organização para ocupar a função
de conselheiro. Esse profissional sele-
Para Shostrom e Brammer, o aconselhamento cionado internamente precisa ter não
apenas a vivência, mas também o perfil,
é uma relação objetiva e recíproca um perfil auxiliador que tem foco nas
entre duas pessoas, em que uma, com pessoas, com sensibilidade e interesse
no desenvolvimento de pessoas (testes
formação específica, auxilia a outra a de análise comportamental facilitarão
modificar-se ou a mudar seu ambiente nessa busca. Entretanto, é importante
ressaltar que os testes não devem ser to-
que cada uma tem que define seu su- talentosos que exercem um cargo estra- mados como verdades absolutas de pes-
cesso no processo de desenvolvimento tégico dentro das organizações, o tipo soas, pois o ser humano é muito maior
individual. Não existem melhores ou de funcionário que vale a pena investir que qualquer teste que possa existir).
piores ferramentas, todas elas apresen- caro para aprimorar suas capacidades. Além disso, proporcionar uma capacita-
tam resultados e um impacto positivo Onde acontecem as sessões? Podem ção (que pode ser interna, com a ajuda
dentro da organização. Entretanto, cabe acontecer dentro da organização ou de uma consultoria especializada) para
sempre ressaltar e reforçar que devem fora (exceto para situações em que o que o profissional possa conhecer e ter o
ser sempre aplicadas de maneira pru- counselor perceba que precisa tirar o domínio das ferramentas usadas em um
dente e ética com responsabilidade e counselee de dentro da empresa para processo de counseling organizacional.
maturidade organizacional, sem modis- uma reflexão mais aprofundada). Qual No que diz respeito ao colabora-
mos ou conveniências. o foco? No ser humano, muito antes dor que receberá as sessões de aconse-
No que concerne ao counseling, do problema ou gap. Vale salientar que lhamento, é necessário, antes de mais
existem especificações que evidenciam o ser humano é único e que reflete no nada, entender se o caso dele requer um
as principais diferenças: Quem pode campo profissional experiências pesso- profissional que o aconselhe nas esco-
ser um counselor? Pessoa com experi- ais. Consequentemente, quando o pro- lhas e decisões. Então, o primeiro pas-
ência profissional e pessoal, que tenha fissional auxilia no crescimento pessoal so é perceber a real necessidade do uso
o conhecimento e vivência no campo está sendo proporcionado crescimento do counseling (uma consultoria ajuda-
organizacional. Será necessária tam- profissional. Qual a metodologia? O rá no diagnóstico), para não correr o
bém uma preparação para assumir o counselor possui conhecimento téc- risco de usar o counseling quando, na
papel de counselor, um curso de for- nico na ferramenta para o desenvolvi- verdade, precisaria de um mentoring
mação, para aprender as técnicas que mento do colaborador indicado. São re- ou um coaching. Quando é entendida a
precisam ser usadas nas sessões. Quem alizadas sessões mensais, com duração, necessidade, começa a conscientização
pode ser um counselee? Profissionais em média, de uma hora (para mais ou do colaborador no sentido de entender

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o que é a ferramenta, como ela funcio-
na, seu desfecho e seus resultados. Não
é aconselhável iniciar um processo
onde essas informações não estejam
claras para o counselee. Não existe
uma data fixa para o fim de um proces-
so, mas existem médias de tempo que
podem ser renovadas. A princípio, seis
meses é uma média de tempo para uma
primeira etapa. Se houver necessidade
de estender isso poderá acontecer com
tranquilidade, mas é importante ficar
atento para não criar uma situação na
qual o counselee fique como que esti-
vesse “acorrentado” ao counselor.
Para a empresa, os benefícios são muitos, desde ter um colaborador motivado e engajado até um
Benefícios funcionário saudável do ponto de vista psicológico

O s ganhos de um programa de
counseling são inúmeros. É pos-
sível enumerar dez benefícios mais
O coaching é incrível em seus resultados,
evidenciados nos colaboradores que
mas quando aplicado para quem precisa
recebem sessões de desenvolvimento de um processo de coaching. Não é difícil
com essa ferramenta. São os seguin-
tes: assertividade nas tomadas de de-
até mesmo os teóricos confundirem o
cisão; maior alinhamento cultural; counseling com o coaching e o mentoring
maior relacionamento de parceria;
baixo investimento em treinamento; da carreira profissional; entendimen- O counseling, sem dúvida, é uma
qualidade de vida no trabalho; maior to da real utilidade e contribuição das melhores ferramentas para o desen-
planejamento e controle; amadureci- para a organização. volvimento humano organizacional.
mento organizacional; maior capaci- Para a organização, os benefícios Como foi possível observar, sua atuação
dade de criação e inovação; melhoria também são inúmeros, desde ter um beneficia a todos: a quem recebe, quem
colaborador mais motivado e enga- aplica e à organização como um todo.
jado nos projetos da empresa até um A valorização do ser humano é, certa-
funcionário mais saudável psicologica- mente, o melhor caminho para se obter
mente falando. Esses ganhos, por si, já uma organização assertiva em seus re-
são maravilhosos e atestam a eficácia sultados e sempre gozando de sucesso, e
que um programa bem estruturado quando aplicado de maneira bem elabo-
proporciona. Também são percebidos rada, estudada e planejada o counseling
ganhos para o counselor, que também ajuda a atingir os objetivos. Com isso, é
vão desde prestígio dentro da corpora- possível desmistificar aquele velho dita-
Œ Na religião Œ
O professor e conselheiro Jay Edward Ada-
ção até o sentimento de dever cumpri-
do em poder ter ajudado um outro ser
do que diz que “se conselho fosse bom,
não se dava, vendia”. Conselho bom é
ms é um reverendo presbiteriano, que exer- humano a se desenvolver. conselho dado com razão.
I  \  PG 
?;GGPG

aconselhamento bíblico. Obteve seu PhD
pela Universidade de Missouri, nos Estados REFERÊNCIAS
Unidos, e serviu como professor no Semi- Rogers, C. R. Counseling and Psychotherapy:)3d# ( ƒ 9<D?=:
nário Teológico de Westminster durante . On Personal Power. New York: Delacorte Press, 1977.
vários anos. Entre outras atividades fun-
Santos, O. B. Aconselhamento Psicológico e Psicoterapia: G‚GhÔ® G
dou os ministérios Christian Counseling and
Básico. São Paulo: Pioneira, 1982.
Education Foundation (CCEF) e National As-
sociation of Nouthetic Counselors (NANC). Scorsolini-Comin, F. Aconselhamento Psicológico: Aplicações em Gestão de Carreiras, Educação e
Saúde. São Paulo: Editora Atlas, 2015.

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em contato

AMIGOS PARA SEMPRE


1an0os !AMIZADEENTREOSERHUMANOEOSANIMAISNÎOÏNOVIDADE!LIÉS MEIDENTIlCOMUITOCOM
isso, pois tenho um cachorro que faz parte da família. No entanto, é bom quando vemos que
estão sendo desenvolvidos estudos que mostram os vários benefícios existentes nessa intera-
ção, como foi mostrado em artigo publicado na revista Psique, em sua edição de número 125.
Recomendo que todos tenham um animalzinho de estimação, pois, conforme o artigo diz,
ajuda na diminuição do estresse, equilíbrio da frequência cardíaca, da pressão arterial e até
do colesterol, além de ajudar no tratamento de problemas psíquicos. Cães e gatos, de fato, são
muito mais do que uma excelente companhia. A terapia que preconiza a relação com animais,
por exemplo, busca promover no paciente estímulo para despertar sua sensibilidade e reações
psicológicas e emocionais. E, asseguro, quase sempre consegue.
Cristina Lourenço, por e-mail
08/06/2016 15:47:38

NECESSIDADE DE agora que existe o transtorno explosivo do ser humano, quan-


ESTAR CONECTADO intermitente, conhecido como TEI. Para do é elevado a potên-
Realmente os efeitos da internet no mundo mim explica muita coisa, pois nunca acei- cias máximas precisa
moderno estão causando uma verdadeira tei o fato de que pessoas aparentemente ser levado a sério e
revolução na vida cotidiana da sociedade. normais tenham verdadeiras explosões tratado com a ajuda
Diariamente observamos, em qualquer de raiva e descontrole em situações que, da Psicoterapia e, às
lugar público, inúmeras pessoas manuse- aparentemente, não deveriam causar rea- vezes, inclusive, com
ando aparelhos celulares nas mais diversas ções tão violentas. O TEI se caracteriza intervenção psiquiá-
situações, o tempo todo. E isso, como não PELA DIlCULDADE EM CONTER COMPORTA- trica. A revista cita um
poderia deixar de ser, provoca fenômenos mentos impulsivos e agressivos, que aca- DADOALARMANTEDEACORDOCOMA/RGANI-
psicológicos e sociológicos que começam bam em explosões de raiva. Essas reações zação Mundial da Saúde, 10% da popula-
a ser estudados por especialistas. A entre- são sempre muito desproporcionais à si- ção mundial sofrem com alguma fobia. É
vista com o psicólogo Breno Rosostolato, tuação que as originaram. Muito interes- muita gente sendo considerada fresca, não
publicada no número 125, mostra bem sante. Parabéns a todos pelo trabalho. acham? O assunto é grave e deve ser trata-
esse cenário. O uso sem controle desses Helena Santos, por e-mail do como tal. Um abraço.
equipamentos, principalmente por parte Lilian Thiem, por e-mail
dos jovens, pode ocasionar um transtorno
QUE PREOCUPA A COMUNIDADE CIENTÓlCA A COMPLEXIDADE DO SEXO
NOMOFOBIA OUSEJA AFOBIADElCARDESCO- Que tema mais complexo é o sexo. Os cos-
nectado do mundo virtual. Os sintomas da tumes podem mudar, os comportamentos
abstinência do uso de aparelhos tecnoló- podem se modernizar, mas quando o as-
gicos são tão sérios que, em alguns casos, sunto é sexualidade parece que voltamos
podem ser comparados à abstinência de ao século XVIII. Salvo raras exceções, as
drogas. Há de se ter cuidado. pessoas não se sentem à vontade para falar
João Souza, por e-mail MEDO NÃO É FRESCURA sobre isso, mesmo quando conversam com
Olá, pessoal. Aqui é uma fã da revista Psi- os mais íntimos, no caso seus respectivos
RAIVA PODE NÃO DEPENDER que. Sempre aprendo muito com vocês e parceiros. Por isso, achei bem interessante
DE EDUCAÇÃO dessa vez não foi diferente. No número 125, e esclarecedora a entrevista, publicada no
A revista Psique continua em forma. A o destaque foram as matérias sobre a im- número 124, com o psicólogo clínico Ari
edição 125 saiu com um excelente arti- portância que se deve dar às fobias. Muita Guarnieri. Ele explica que todos os tabus
go, que explica que a raiva pode não ser gente costuma dizer que o fato de uma pes- que envolvem a questão devem ser deixa-
somente causada por falta de educação soa ter medo de barata, de andar de avião e dos de lado, pois muitos casais convivem
ou resultado de uma fase de estresse pela outras coisas aparentemente banais é uma durante anos com problemas e dúvidas
qual a pessoa esteja passando. Em meio manifestação simplesmente de frescura. por não ter a coragem de conversar aber-
a tantos distúrbios psicológicos que vejo Não é verdade. O tema é muito importante. tamente sobre o tema.
aparecer no mundo moderno, descobri O medo, apesar de fazer parte da natureza Ana Cláudia Sampaio, por e-mail

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Empresa Brasil de Revistas Ltda. ISSN 1809-0796. A publicação
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LINHA DIRETA www.portalcienciaevida.com.br
Ano X - Edição 126
Existem inúmeras formas de violência. pode ajudar a entender esse processo.
Ethel Santaella
A psicológica é tão preocupante que Saiba como na edição 71, que está dis- DIRETORA EDITORIAL
requer a abordagem da suposta “natu- PONÓVEL NO SITE DA REVISTA www.psique- Denise Gianoglio
COORDENADORA EDITORIAL
ralização” social, cuja incidência pode cienciaevida.uol.com.br
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AICIL FRANCO é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia KARIN DE PAULA, psicanalista, doutora pela PUC-SP, Agosto/2016
Clínica pela USP. Professora no IJBA e na Escola Bahiana professora e supervisora clínica universitária e do CEP, REALIZAÇÃO
de Medicina e Saúde Pública, Savador, BA. autora do livro $em? Sobre a inclusão e o manejo do dinheiro
numa psicanálise, e de vários outros artigos publicados.
ANA MARIA FEIJOO é doutora em Psicologia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro, autora de LILIAN GRAZIANO é psicóloga e doutora em Psicologia Rua Santo Ubaldo, 28 – Torre C – CJ. 12 – Vila Palmeira – São Paulo – SP
CEP: 02725-050 – Telefone - (11) 4114-0965
LIVROSEARTIGOSCIENTÓlCOS PARECERISTADEDIVERSAS pela USP, com pós-graduação em Psicoterapia Cognitiva
EDITORA: Gláucia Viola
revistas e responsável técnica do Instituto de Psicologia Construtivista. É professora universitária e diretora do EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Monique Bruno Elias
Fenomenológico-Existencial do RJ. Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. Atua COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Andreia Calçada; Camila Ferreira
Vorkapic; Dionízio Costta Jr.; Lucas Vasques Peña; Marcelo Pereira
em clínica e consultoria. Lemos; Roberta de Medeiros; Rodrigo Scialfa Falcão. COLUNISTAS:
ANA MARIA SERRA é PhD em Psicologia e terapeuta Anderson Zenidarci, Carlos São Paulo, Denise Deschamps; Eduardo
cognitiva pelo Institute of Psychiatry, Universidade de LILIANA LIVIANO WAHBA, psicóloga, PhD, professora da J. S. Honorato; Eduardo Shinyashiki; Giancarlo Spizzirri; Guido Arturo
Palomba; Igor Lins Lemos, João Oliveira; Jussara Goyano; Lilian
Londres. Diretora do Instituto de Terapia Cognitiva (ITC), PUC-SP. Presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia Graziano; Marco Callegaro; Maria Inere Maluf; Michele Muller, Ricardo
atua em clínica, faz treinamento, consultoria e pesquisa. Analítica. Coeditora da revista Junguiana. Diretora de Wainer. O Conselho editorial e a Redação não se responsabilizam
pelos artigos e colunas assinados por especialistas e suas opiniões
Presidente honorária, ex-presidente e fundadora da ABPC. Psicologia da Ser em Cena - Teatro para Afásicos. neles expressas.

ANDRÉ FRAZÃO HELENE é biólogo, mestre e doutor MARISTELA VENDRAMEL FERREIRA é doutora em Audiologia
EM#IÐNCIASNAÉREADE.EUROlSIOLOGIADA-EMØRIA pela University of Southampton – Inglaterra, mestre em FALE CONOSCO
e Atenção pela Universidade de São Paulo, Distúrbios da Comunicação pela PUC-SP, especialista em REALIZAÇÃO
DIRETO COM A REDAÇÃO
onde também é professor no curso de Biociência e Psicoterapia Psicanalítica pelo Instituto de Psicologia da USP. Av. Profª Ida Kolb, 551 Casa Verde – CEP 02518-000
coordena o Laboratório de Ciências da Cognição no São Paulo – SP – (+55) 11 3042-5900 – psique@escala.com.br
Instituto de Biociências. MÔNICA GIACOMINI, presidente da Sociedade Brasileira de
Psicologia Hospitalar – biênio 2007/09. Especialista em PARA ANUNCIAR anunciar@escala.com.br
CLÁUDIO VITAL DE LIMA FERREIRA é psicólogo, Psicologia Hospitalar, psicóloga clínica junguiana, psicóloga SÃO PAULO: (+55) 11 3855-2179
doutor em Saúde Mental pela Unicamp, pós-doutorado em do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HCFMUSP SP (INTERIOR - CAMPINAS): (+55) 19 4595-5058
Saúde Mental pela Universidade de Barcelona-Espanha, SP (INTERIOR - RIBEIRÃO PRETO): (+55) 16 3667-1800
e supervisora titular do Aprimoramento em Psicologia
professor associado de Psicologia da Universidade Federal RJ: (+55) 21 2224-0095 ES: (+55) 27 3229-1986
Hospitalar em Ortopedia.
de Uberlândia. Autor de Aids e exclusão social. PR: (+55) 41 3026-1175 RS: (+55) 51 3061-0208
PAULA MANTOVANI é graduada em Psicologia pela SC: (+55) 47 3041-3323 BRASÍLIA: (+55) 61 3226-2218
DENISE TARDELI, graduação em Psicologia e Pedagogia. Universidade Paulista, psicanalista, consultora editorial Tráfego: material.publicidade@escala.com.br
Mestrado em Educação e doutorado em Psicologia do programa de entrevistas da FNAC e membro ASSINE NOSSAS REVISTAS
Escolar e do Desenvolvimento Humano, ambos pela USP. correspondente do Espaço Moebius de Psicanálise de (+55) 11 3855-2117 – www.assineescala.com.br
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

Pesquisadora na área da Psicologia Moral e Evolutiva. Salvador (BA).


Professora universitária. EDIÇÕES ANTERIORES
PEDRO F. BENDASSOLLI é editor da GV Executivo, psicólogo Adquira as edições anteriores de qualquer revista
ou publicação da Escala (+55) 11 3855-1000
DENISE GIMENEZ RAMOS é coordenadora do Programa graduado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e www.escala.com.br (sujeito à disponibilidade de estoque)
de Estudos Pós-Graduados da PUC-SP e membro da doutor em Psicologia Social pela USP. É também professor
Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. da Fundação Getúlio Vargas e da ESPM. ATENDIMENTO AO LEITOR
De seg. a sex., das 9h às 18h. (+55) 11 3855-1009
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psiquiatria forense por Guido Arturo Palomba

ESTELIONATO é
tão ANTIGO quanto a
própria HUMANIDADE
O ESTELIONATÁRIO VALE-SE DA SIMULAÇÃO E DA
MENTIRA, QUE SÃO RAMOS NASCIDOS DO TRONCO COMUM
DO ENGANO E DA ASTÚCIA, PARA APLICAR O SEU GOLPE

S
E FOSSE NECESSÉRIO DElNIR ESTELIO- líticos. Se esse desvio for no sentido do
natário em uma só palavra, di- emprego da força bruta, então teremos os
ríamos: trapaceiro. A bem ver, a ditadores, as guerras, as invasões e seus
palavra vem de stellio, onis, estelião, similares (campos de concentração, ho-
lagarto que muda a cor da pele, daí trapa- mens-bomba etc.). E caso a regressão seja
ceiro, velhaco. na direção da fraude, têm-se demagogos
Esse tipo de indivíduo não é um fato enganadores do povo, que se travestem
típico da nossa época, pois já existia nos re- COMPELEDECORDEIRO lNGEMPAZEAMOR 
cuados tempos. O estelionato é tão antigo mas são lobos gananciosos com objetivos
quanto a própria humanidade, ou melhor, é balordos. Não passam de estelionatários
ANTERIORAELA UMAVEZQUEMUITOSANIMAIS da pior qualidade.
se valem desse comportamento. A bem ver, A história mostra que tanto os líderes
onde há vida há luta pela vida e o vencedor políticos que se valeram da força quanto
será o mais apto. E nesse embate os ani- os estelionatários do povo, ambos, mais
mais empregam recursos variadíssimos, cedo ou mais tarde, acabaram se dando
principalmente de duas ordens: uns ven- que o cerca, tem duas outras armas para mal: aqueles que usaram da força bruta
cem à base da fraude; outros, pela violência. vencer a refrega: a inteligência, a qual lhe um dia encontraram outro mais forte e
Se não é pela força bruta, a aquisição de um dá o entendimento lógico do fato, e a mo- foram eliminados; os que se valeram da
caráter vantajoso coloca o seu possuidor ral, que é o dever-ser da lógica. fraude e da mentira para enganar o povo,
em melhores condições de sobrevivência, Assim, constituído de entendimento e houve (como sempre vai haver) o momen-
tornando-o mais apto a enfrentar o recon- de determinação moralmente ordenada, to em que as suas máscaras caíram, pois
TROCOMOAMBIENTEARAPOSAlNGEDORMIR TRANSCENDEOSANIMAISEVIVEFELIZAGINDO nenhum embusteiro, por melhor que seja,
para surpreender a sua presa; a libélula fe- corretamente (a felicidade vem por acrés- ÏCAPAZDEENGANARMUITOSPORLONGOTEM-
cha as asas para se confundir com o caule cimo) dentro das suas circunstâncias e po sem se trair e ser descoberto. Julgados,
onde pousa, ludibriando o inimigo. Nesse possibilidades. mofaram na cadeia.
sentido, muitas espécies simulam a morte Porém, pode acontecer, entre os hu- Assim seja também aqui no Brasil.
para aproveitar a semelhança com algo ina- manos, uma regressão ao mundo animal,
ARQUIVO PESSOAL/SHUTTERSTOCK

nimado para evitar o ataque. quando o indivíduo, sistematicamente, se


Guido Arturo Palomba
Se, juntamente com a força bruta, VALEDAFOR¥ABRUTAOUUTILIZAOESTELIONATO é psiquiatra forense e
essa é a regra do reino animal, o homem, para atingir seus propósitos. membro emérito da
o mais evoluído de todos, que também O grande problema é quando essa Academia de Medicina
de São Paulo.
está em permanente embate com o meio regressão atávica ocorre nos líderes po-

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