Sei sulla pagina 1di 24

MUDANÇA

Mente Curiosa - Ano 3, Nº 48 - 2019

REPENTINA
Entenda as
variações de
humor no
Borderline

MÚLTIPLAS
MENTES
É possível
conviver
com várias
personalidades?

TRANSTORNO de
PERSONALIDADE
O que define a identidade e quando
as características são sinais de distúrbio
editorial
Transtornos que
afetam a identidade
Há quem queira ser mais organizado, necessário prestar atenção para iden-
menos ansioso, mais compreensivo, tificar seus sintomas e buscar o trata-
menos vaidoso… Com esforço e al- mento correto. Por estarem ligados à
guma ajuda, é possível mudar essas personalidade, muitas vezes deman-
características ou pelo menos contro- dam mais cuidados e compreensão
lá-las a ponto de não se sentir mais dos que os transtornos emocionais.
incomodado. Mas, se isso já é difícil, Quer saber mais sobre esses distúr-
imagine então tentar controlar com- bios? Confira nesta edição!
portamentos que são frutos de um
transtorno de personalidade? Exis- Marisa Sei, editora
tem diferentes tipos de transtorno e é marisa.sei@astral.com.br

Toque para ir na matéria desejada

PERSONALIDADE BORDERLINE MÚLTIPLAS TRANSTORNO BIBLIOTECA


X TRANSTORNOS Conheça os PERSONALIDADES NARCISISTA Seleção
Entenda de que tratamentos Saiba como O problema de livros e
forma eles estão para esse se manifesta que vai além filmes sobre
relacionados transtorno de o transtorno da vaidade o tema
personalidade dissociativo de
identidade

sumário
Definições
PESSOAIS
Entenda de que forma as
manifestações da personalidade
estão ligadas a transtornos da mente
O
que faz de você um indivíduo úni- Sigmund Freud, a personalidade se constitui
co, diferente de todos os outros? por meio do desenvolvimento e comunicação
Por que dois irmãos, filhos do mes- das instâncias psíquicas. Ou seja, forma-se
mo pai e da mesma mãe, que cres- por meio da relação e do funcionamento in-
ceram juntos, estudaram em escolas iguais dependente do id (impulsos), ego (mediador
e conviveram em ambientes idênticos, po- dos instintos primitivos com a realidade) e
dem ter opiniões e comportamentos total- superego (censura). “A interação de tais es-
mente distintos? A resposta para tais truturas é o que vai representar a individuali-
questionamentos é subjetiva e intriga a ciên- dade de cada um”, avalia Mônica Bayeh.
cia há séculos.
Em meio a essas discussões, está o con-
ceito de personalidade, fator que combina
elementos integrantes de cada pessoa – que
podem ou não ser inatos –, os quais resul-
tam em ações e pensamentos particulares.
“A palavra personalidade vem do grego per-
sona e significa máscara. Portanto, é o modo
como nos mostramos para o mundo, refletin-
do nossas características específicas, idios-
sincrasias e marca pessoal”, pontua Luciana
Campos, psicóloga e pedagoga especialista
em neuropsicologia e terapia cognitivo-com-
portamental.

DIFERENCIAÇÃO DOS SERES


Segundo a psicóloga Mônica Bayeh, para
seu campo de atuação, a personalidade é um
conjunto da forma de pensar, sentir e agir, tra-
tando-se do resultado da carga genética, das
preferências e habilidades somadas aos fa-
tores familiares, sociais e culturais. Dessa
forma, para entender de que maneira es-
sas questões interagem e geram efeitos
nos indivíduos, causando suas singulari-
dades, diversos pensadores se dedica-
ram a tal tema ao longo do tempo.
Conforme explica Maria Cristina Urrutigaray,
psicóloga, analista didata junguiana e mem-
bro da Associação Internacional de Psicologia
Analítica (IAAP), para o neurologista austríaco
Já o psicanalista
francês Jacques Lacan
pensava que “as manifestações
humanas ligadas à personalidade sonalidade é um produto
estavam associadas à história pessoal, da cultura e se desenvolve
a uma compreensão que o indivíduo possui a partir daquilo que a socie-
de si mesmo e a tensões nas relações so- dade oferece”, comenta Mônica.
ciais”, explica o psicanalista John Walton. A profissional ainda completa que, segundo
O especialista ainda explica que, tanto tal teoria, o ser se equilibra entre necessida-
para Freud quanto para Lacan, os fenômenos de de liberdade e a de pertencer a um grupo
da personalidade são construídos durante a
trajetória de cada um, principalmente na ten- O QUE PODE INTERFERIR
ra infância, quando a subjetividade se cons- Tendo em vista o fato de que a persona-
titui. Dessa forma, podem sofrer mudanças lidade de um indivíduo é constituída, basica-
durante a vida do sujeito, seja por ocasião mente, por meio de modelos de pensamento,
de situações marcantes ou de tratamentos interpretações, reações e comportamentos
focados na mente. que acompanham a trajetória pessoal, por
Outro nome de destaque nessa investiga- que há quadros chamados de transtornos
ção é o do psicanalista, filósofo e sociólogo de personalidade?
alemão Erich Fromm. Na sua visão, “a per- Apesar de existirem diversos tipos – o Ma-
nual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos exageradas; obsessão; isolamento; falta de
Mentais (DSM-5) classifica dez manifestações interesse ou empatia; necessidade extrema
diferentes –, os distúrbios possuem em co- de cuidados; incoerência e instabilidade em
mum traços inflexíveis e acentuados que in- atitudes e decisões.
terferem na forma de ser e agir. Sendo assim, A causa para cada um dos transtornos não
a adaptação em contextos profissionais, de é definida, mas fatores genéticos e ambien-
interação social e relacionamentos é dificul- tais combinados são prováveis fatores prin-
tada por conta do desenvolvimento das de- cipais. Assim, após o parecer profissional, é
sordens. fundamental que a assistência de especialis-
Na maioria dos casos, o paciente não reco- tas seja mantida. Isso porque os tratamen-
nhece em si os sintomas, por isso a atenção tos são realizados por meio de psicoterapias
de pessoas próximas é fundamental. Alguns e intervenções medicamentosas – os quais
sinais capazes de auxiliar o diagnóstico, que devem ser avaliados individualmente. Embo-
é clínico, são: comportamentos inapropria- ra os resultados sejam lentos em muitos ca-
dos e incomuns; autoestima excessivamen- sos, com o tempo, os sintomas podem ser
te baixa ou alta; desconfiança com relação a minimizados e controlados.
pessoas do círculo de convivência; reações
MANIFESTAÇÕES
Segundo o Manual Diagnóstico recem excêntricos”, pontua a pu-
e Estatístico de Transtornos Men- blicação.
tais (DSM-5), existem diferentes
tipos de transtornos de persona- Grupo B
lidade, as quais são divididas em Transtornos da personalidade
três grupos. Apesar dessa sepa- antissocial, borderline, histriôni-
ração, os indivíduos que apresen- ca e narcisista. Segundo o manu-
tam os quadros podem manifes- al, pessoas incluídas nesse grupo
tar sintomas característicos de “costumam parecer dramáticas,
categorias distintas – a classifica- emotivas ou erráticas”.
ção não possui o intuito de limitar
os sintomas. Grupo C
Transtornos da personalidade
Grupo A evitativa, dependente e obsessi-
Transtornos da personalidade vo-compulsiva. “Com frequência,
paranoide, esquizoide e esqui- parecem ansiosos ou medrosos”,
zotípica. “Indivíduos com esses afirma o material de referência
transtornos frequentemente pa- para profissionais da saúde.

CONSULTORIAS John Walton, psicanalista; Luciana Campos,


psicóloga e pedagoga com formação em neuropsicologia, terapia

<
cognitivo-comportamental e hipnose clínica; Maria Cristina
Urrutigaray, psicóloga, analista didata junguiana, formada pelo
Instituto Junguiano do Rio de Janeiro e membro da IAAP (Associação Toque aqui para
Internacional de psicologia Analítica, com sede em Zurique); retornar ao índice
Mônica Bayeh, psicóloga | FOTOS iStock/Getty Images
No LIMITE
O transtorno de personalidade borderline se caracteriza por
mudanças repentinas de humor. Saiba como identificar e
quais são os tratamentos mais indicados

É
comum que as pessoas apresen-
tem comportamentos variantes:
afinal, as diferentes situações vi-
venciadas em cada momento ge-
ram reações distintas em cada um. Em um
mesmo dia, boas e más notícias podem
levar alguém à felicidade e à tristeza, ao
medo e à agitação, mas existe uma linha
que separa as respostas emocionais natu-
rais das patológicas. E é nesse ponto que
toca a disfunção do transtorno de perso-
nalidade borderline (pronuncia-se bôr-der-
-láin) ou limítrofe. “As mudanças de humor
em indivíduos com o quadro são bruscas,
repentinas e radicais”, pontua a psicóloga
Claudia Melo.
Segundo a especialista, é justamente
essa característica que o difere da bipola-
ridade, uma vez que, no segundo caso, há
períodos longos e intercalados de depressão
e euforia. Já no caso do borderline (TPB),
as percepções sobre si e as circunstâncias
típicas do cotidiano são deturpadas. Trata-
-se de “um padrão difuso de instabilidade
das relações interpessoais, da autoima-
gem, dos afetos e de impulsividade acen-
tuada, que surge no início da vida adulta e
está presente em vários contextos”, esta-
belece o Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM-5), material
de referência para profissionais da área de
saúde mental.
COMO IDENTIFICAR De acordo com Claudia, acompanhada des-
Não se trata apenas de alteração de hu- sas oscilações, está presente a sensação de
mor, mas da forma de se relacionar com o vazio. “Parece que há um ‘buraco’ dentro da
mundo e de lidar com as emoções. Em um pessoa e nada a preenche, por isso ela exi-
momento, há a extrema valorização e o ape- ge muito dos outros. Como nada a satisfaz,
go ao outro; posteriormente, a indiferença e sempre há essa busca pela plenitude em ob-
a desvalorização são a realidade. A impul- jetos alheios a si e a necessidade da dedica-
sividade faz com que seja despertado um ção total de amigos, familiares, namorados
sentimento de encantamento e admiração ou namoradas”, pontua a psicóloga.
idealizada em pouco tempo, os quais, rapi- A baixa autoestima e autodepreciação
damente, se desfazem. também são elementos a serem levados em
Da mesma maneira, há o medo exacerba- conta. “Os pacientes não percebem seus va-
do da separação – quando alguém sai para lores e enxergam o presente com um olhar
trabalhar ou ir ao supermercado, por exemplo, de sofrimento, adoecido”, ressalta a especia-
o ato pode representar uma crise ocasionada lista. Como consequência, o indivíduo pode
pelo temor do abandono, muitas vezes imagi- causar danos a si mesmo (automutilação) e
nário. Episódios de raiva, agressividade, an- apresentar comportamentos suicidas – ele-
siedade, depressão, abuso de substâncias, mentos que ressaltam a gravidade da falta
além da evolução de distúrbios alimentares de cuidados.
são experiências associadas. Desse modo, quem possui o transtor-
no, na maioria das vezes, não compreende
os aspectos problemáticos de suas condu-
tas. O olhar mais atento dos entes queridos,
nesses casos, faz-se fundamental e determi-
nante para a qualidade de vida de todos os
envolvidos.

DIAGNÓSTICO
A primeira atitude a ser tomada diante da
identificação dos sintomas descritos é pro-
curar assistência profissional. “O diagnóstico
deve ser realizado com um médico especia-
lizado, como o psiquiatra. Por meio de en-
trevistas bem estruturadas e detalhadas, a
abordagem engloba os familiares e o pacien-
te”, esclarece a psicóloga Lidiane Silva.
Para a profissional, é necessária muita
sensibilidade para observar sintomas diferen-
ciais para não confundir o TPB com esquizofre-
nia, depressão ou qualquer outro transtorno
de humor. “Alguns médicos investigam exa- PAPEL DA FAMÍLIA
mes de imagem e laboratoriais para avaliar Desde o início das intervenções até o con-
até mesmo a deficiência de vitaminas e ou- trole dos sintomas, há um tempo de estabi-
tros detalhes importantes que envolvem um lização do paciente. Assim, por conta das
psicodiagnóstico”, acrescenta. características de instabilidade e impulsivi-
dade do indivíduo com TPB, pode ser difícil
TRATAMENTOS lidar com o quadro no cotidiano.
As possíveis causas para a personalida- “Conviver com um borderline pode ser mui-
de limítrofe ainda não são conhecidas ou de- to estressante, mas há a necessidade de
finidas. Sendo assim, as intervenções agem desenvolver habilidades e estratégias para
no sentido de amenizar os sintomas. “Esse apoiar quem possui essa síndrome. É funda-
transtorno desencadeia mudanças funcio- mental procurar orientações com o médico
nais e estruturais no cérebro, o que ocorre ou terapeuta para se adaptar no dia a dia e
em áreas específicas que controlam os im- contribuir no tratamento, que é capaz de pro-
pulsos e a boa adequação das emoções”, porcionar qualidade de vida”, pontua Lidiane.
pontua Lidiane.
A combinação de psicoterapias e medica- “Conviver com um borderline
mentos, além de métodos alternativos que pode ser muito estressante, mas
contribuem para a regulação das reações, é há a necessidade de desenvolver
o mais indicado – vale ressaltar que apenas habilidades e estratégias de apoio. É
determinados médicos, como psiquiatras, po- fundamental procurar orientações
dem recomendar remédios. com o médico ou terapeuta para se
adaptar no dia a dia e contribuir
no tratamento, que é capaz de
proporcionar qualidade de vida”
Lidiane Silva, psicóloga

CONSULTORIAS Lidiane
Silva e Claudia Melo,
psicólogas | FOTOS iStock/
Getty Images

Toque aqui para


retornar ao índice
<
Um corpo, VÁRIAS
MENTES O transtorno dissociativo
de identidade é um quadro
grave e intrigante.
Entenda de que
forma se manifesta

K
evin Wendell Crumb sonalidades que habitavam
foi abandonado o mesmo corpo, totalizando
pelo pai ainda 23. Todos eles viveram situ-
criança e sofreu ações extremas após o se-
abusos da mãe, que apresen- questro de três garotas por
tava um quadro de transtorno Dennis.
obsessivo-compulsivo (TOC). O Kevin e a história descrita são
rapaz, por sua vez, passava uma obra da ficção, e
por um tratamento psi- ambos foram apre-
quiátrico porque sentados ao público
também recebeu por meio do suces-
um diagnóstico: o so do filme Frag-
do transtorno de mentado, lançado
personalidades em 2017. Mas,
múltiplas ou dis- deixando de lado
sociativo de iden- as característi-
tidade. cas exageradas
Com ele, den- e fantasiosas do
tro de sua men- cinema, o per-
te, conviviam sonagem vivido
Patricia, uma pelo ator es-
senhora idosa; o cocês James
garoto de nove anos McAvoy e seu
Hedwig; Dennis, um adulto distúrbio po-
agressivo com TOC e o es- dem ser en-
tilista homossexual Barry contrados na
– além das outras 19 per- realidade.
VIDA REAL conclusão foi de que a cegueira
O americano Billy Milligan era psicológica – mas só era
é um exemplo. Após seques- superada na troca de perso-
trar, roubar e estuprar três nas.
mulheres, os relatos sobre As descrições não param
o criminoso foram distintos por aí: pela complexidade
– uma delas chegou a dizer e curiosidade do distúrbio,
que o autor do ataque tinha muitas ocorrências foram do-
um sotaque alemão. E foi por cumentadas. “A história des-
meio desse fato que o caso de se fenômeno se confunde com
Billy ficou famoso: diagnostica- a própria trajetória do ser hu-
do com o transtorno de identi- mano, como no xamã
dade, foram detectadas do Período Paleolí-
24 personalidades tico que assumia
diferentes. outra personalida-
Uma jovem ale- de. Esse compor-
mã de 20 anos tamento, embora
desenvolveu a ritualístico e reli-
personalidade gioso, denota já
de uma mulher em tempos tão
francesa, que antigos es sa
falava o idioma tendência”, res-
fluentemente, salta Luiz Scoc-
mas esquecia ca, psiquiatra
de tudo quando membro da
voltava ao “seu Associação
modo normal”. Brasileira
B.T. (apenas suas iniciais de Psiquia -
foram divulgadas) era con- tria (ABP) e
siderada cega desde os 13 da Associação
anos de idade por conta Americana e
de um acidente. No entan- Psiquiatria
to, quando manifestava a (APA), sigla em
identidade de um adoles- inglês.
cente, recuperava a visão.
Após o ocorrido, o pare- COMO É
cer sobre sua capacidade POSSÍVEL?
de enxergar foi revisado, e a O processo fisiológico
capaz de viabilizar esse fenômeno diversos – acontecem episódios de
se dá por meio de alterações no amnésia, fazendo com que a pes-
cérebro. “Estudos de ressonân- soa não possua nenhuma recor-
cia magnética demonstraram dação a respeito daquilo que
que o sistema límbico diminui acabou de viver, mas em al-
de tamanho (especialmente guns casos pode haver res-
áreas como o hipocampo e a quícios de memórias. “Cada
amígdala). Além disso, obser- alter possui traços individu-
va-se a redução no funciona- ais distintos, uma história
mento do córtex orbitofrontal”, pessoal, um modo de pensar
afirma Martin Portner, neurolo- e se relacionar com o ambien-
gista e mestre em neurociência te ao seu redor. É incrível, mas o
pela Universidade de Oxford, alter pode até ter alergias
no Reino Unido. diferentes do que a
Contudo, o espe- ‘pessoa principal’”,
cialista acrescenta explica Portner.
que o problema é
efetivamente a di- AS RAZÕES
visão da mente, PARA O
uma vez que a de- SURGIMENTO
sordem reflete a De acordo com
falha em integrar o neurologista, há
vários aspec - efetivo consenso,
tos de identida- hoje em dia, de
de, memória e que o distúrbio
consciência em ocorre quando o
uma única no- desenvolvimen-
ção de “eu”. Dessa forma, to psicológico
o indivíduo apresenta uma de uma crian-
personalidade primária, de- ça é interrompi-
nominada core (ou núcleo, do pelo trauma
em tradução livre), a qual, que impede os
segundo Martin, é normal- processos nor-
mente passiva, dependen- mais de con-
te, culpada e deprimida. Já solidação da
as demais são as alterna- identidade. “A
tivas ou ‘alteres’. predisposiç ão
Quando há essa variação genética ainda é
– os gatilhos para a troca são objeto de estudos e
investigação. Entretanto especia- Luiz Scocca pontua que, embora
listas no assunto, Ted Reich- possam existir indícios na infân-
born-Kjennerud, professor de cia, evita-se fazer o diagnóstico
epidemiologia psiquiátrica em crianças e adolescentes.
da Universidade de Oslo, na “Na idade adulta, a estima-
Noruega, afirmam que a in- tiva está em torno de sete
fluência é de ‘modesta a anos entre o aparecimento
moderadamente herdada’”, dos sintomas e o diagnósti-
destaca. co, que chega a ser de três
Sendo assim, mutilações, a nove vezes mais frequente
explorações, abusos e violên- no sexo feminino”, informa.
cia sexual, experiências mais
comuns nos relatos, são fa- QUALIDADE
tores que deflagram o DE VIDA
surgimento do qua- Martin Portner
dro, principalmen- analisa que viver
te quando são com um transtor-
recorrentes. Para no de personali-
lidar com even- dade múltipla é
tos de tal natu- “nada menos do
reza, é como se que uma cons-
um mecanismo tante agonia”,
de defesa fosse não só para o
acionado e no- paciente como
vos estados de para a família.
consciência em Afinal, imagi-
um mesmo indi- ne acordar ao
víduo fossem criados. lado de obje-
tos que não
reconhece,
“A esperança com vestimen-
deve ser sempre tas estranhas
mantida: um dia, as e sem se lem-
várias identidades poderão brar das últi-
se encontrar e a pessoa passará mas horas ou
a viver uma rotina normal” dias. Para os
Martin Portner, neurologista e mestre em
neurociência pela Universidade de Oxford, no Reino Unido entes queridos,
significa se rela-
cionar com alguém
diferente a cada momento. Por esse mo-
tivo, a importância do desenvolvimento
de estratégias para lidar com a desor-
dem deve ser reforçada.
Luiz esclarece que os sintomas costu-
mam diminuir e estabilizar após os 40
anos. Mas, para manter a qualidade de
vida nesse período, as intervenções ade-
quadas devem fazer parte do dia a dia
de todos os envolvidos. “Primeiramen-
te, o tratamento se fundamentaria nos
cuidados das dores originais que gera-
ram os alteres”, recomenda o psicólogo
Bayard Galvão.
Métodos alternativos, como a hip-
nose, são caminhos válidos, desde
que acompanhados por profis-
sionais. As terapias cognitivas
e criativas, realizadas com psi-
cólogos e psicanalistas, fazem
parte das técnicas indicadas.
Já os remédios apenas tra-
tam determinados sinais. “An-
tidepressivos, ansiolíticos ou
tranquilizantes podem ser
prescritos para ajudar a con-
trolar os sintomas de saúde
mental associados”, orien-
ta Martin Portner.

CONSULTORIAS Bayard Galvão, psicólo-


go clínico especialista em hipnoterapia;
Luiz Scocca, psiquiatra e psicoterapeu-
ta membro da Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP) e da Associação Ameri-
cana e Psiquiatria (APA), sigla em inglês;
Martin Portner, neurologista e mestre
em neurociência pela Universidade de
Oxford, no Reino Unido | FOTOS iStock/
Getty Images

Toque aqui para


retornar ao índice
<
Através do
ESPELHO
O transtorno de personalidade narcisista
vai além da vaidade e acaba afetando
tanto o indivíduo com o quadro quanto
seus entes queridos

N
arciso era um jovem grego muito Este foi o mito que originou o termo
bonito, que despertava paixões narcisismo, primeiramente utilizado pelo
de todos – mulheres, homens e psicólogo britânico Havelock Ellis, em
ninfas –, mas ele era arrogante 1898, para teorizar o autoerotismo. Mais
e desprezava qualquer interesse por ou- tarde, o neurologista austríaco Sigmund
tra pessoa. Um dia, postado à beira de Freud o incorporou na psicanálise para
um lago, Narciso viu seu próprio reflexo e explicar as punções sexuais na primei-
se apaixonou por ele. O amor foi tão inten- ra infância. No entanto, atualmente, o
so que o rapaz acabou morrendo afogado transtorno de personalidade narcisista
ao tentar alcançar seu objeto de desejo. tem uma conotação mais ampla.
ALÉM DA VAIDADE
Apesar de popularmente ser associa-
do ao apreço à autoimagem, o narcisis-
mo, englobado no grupo de transtornos
de personalidade, é um dos distúrbios
descritos no Manual Diagnóstico e Es-
tatístico de Transtornos Mentais (DSM-
5), caracterizado como um padrão difuso
de grandiosidade, necessidade de admi-
ração e falta de empatia que surge ain-
da na adolescência e se intensifica na
vida adulta.
O indivíduo costuma ter uma “percep-
ção exacerbada de si, na qual enfatiza
de maneira fantasiosa atributos e qua-
lidades próprias, o que demonstra uma
necessidade de superioridade e grandiosi-
dade diante do outro, em uma constante
busca de admiração e reconhecimento”,
explica o psicólogo Breno Rosostolato. O
profissional ainda pontua que os narcí-
sicos costumam ser arrogantes e não li-
dam bem com frustrações, uma vez que
esperam ser o centro das atenções.

CAUSAS CULTURAIS
Acredita-se que o desenvolvimento
do quadro se deve a fatores ambientais,
sociais e de criação familiar, apesar de
não haver estudos que comprovam o
fato. No entanto, “numa sociedade que
defende a ideia de padrões de beleza e
o culto à estética, em que há exigência
de sucesso, ostentação como meio de
demonstrar superioridade e status so-
cial – tudo isso alimentado por um siste-
ma capitalista que sustenta a rivalidade
com o outro –, as pessoas são condu-
zidas em sua maneira de pensar de for-
ma materialista, dando importância à
autoimagem e a si mesmas como algo outro em uma posição de inferioridade,
urgente, no sentido de serem melhores sendo que, por vezes, passa a humilhar
do que todos”, avalia Rosostolato. o próximo.
Contudo, não há a necessidade de O narcísico talvez não reconheça sua
parar de tirar as famosas selfies ou dei- própria condição, mas “pode perceber
xar de compartilhar seus sucessos nas que algo não está caminhando bem
redes sociais visando a obter elogios. A quando começa a ter perdas significa-
prevalência do transtorno patológico é tivas no seu dia a dia”, conta a psicólo-
de até 0 até 6,2% da população – sen- ga Livia Marques. Ou seja, no momento
do que destes 50% a 75% são homens em que as situações não obedecem as
– segundo o DSM. O diagnóstico do trans- expectativas egocêntricas do indivíduo.
torno deve ser feito de forma clínica por Assim, a psicoterapia é a forma indica-
profissionais da área da psicologia ou da de tratamento, uma vez que promove
psiquiatria. Para isso, é necessária a o autoconhecimento e a compreensão
ajuda de familiares e amigos para per- das próprias emoções e comportamen-
ceber, além dos sinais característicos, tos. O método medicamentoso pode ser
a forma com a qual o indivíduo trata as receitado para os sintomas associados
pessoas ao redor: com desprezo, arro- ao transtorno (como a ansiedade) e não
gância, falta de empatia e colocando o para a condição em si.
SINAIS DE ALERTA
Segundo o Manual Diagnóstico e associado a outras pessoas (ou insti-
Estatístico de Transtornos Mentais tuições) especiais ou de condição ele-
(DSM-5), existem alguns sintomas vada.
que ajudam a determinar o diagnós- 4. Necessita admiração excessiva.
tico. Caso você ou alguém próximo 5. Acredita possuir direitos, como
apresente cinco dos nove itens, é im- ser tratado de forma especial.
portante procurar auxílio especializa- 6. Em relações interpessoais, tira
do. Confira a lista: vantagens de outros para garantir
1. Sente-se grandioso pela própria seus próprios fins.
importância, como exagerar suas con- 7. É carente de empatia, ou seja,
quistas e talentos ou esperar ser reco- reluta em reconhecer ou identificar-
nhecido sem que tenha as conquistas se com os sentimentos e necessida-
correspondentes. des alheias.
2. Fantasia com sucesso ilimitado, 8. É frequentemente invejoso ou
poder, brilho, beleza ou amor ideal. acredita que os outros o invejam.
3. Acredita ser especial e único e 9. Demonstra atitudes arrogantes
deve ser somente compreendido ou e insolentes.
PAIS NARCISISTAS
Branca de Neve é constantemente precisa para ele”, comenta Breno Ro-
humilhada pela madrasta e forçada a sostolato. Mas, quando essa pessoa
trabalhar no castelo até o momento é um dos seus pais, que está em uma
em que é considerada a moça mais posição hierárquica elevada e deve-
bela do reino pelo espelho mágico. O ria amá-lo incondicionalmente, a dor
fato acaba enfurecendo a Rainha Má, é mais profunda.
que faz de tudo para matar a entea- Os genitores “veem os filhos
da. No mesmo plano está Rapunzel, como indivíduos sem vontade algu-
jovem sequestrada pela personagem ma, sem livre arbítrio e como seres
Mãe Gothel; ela é tratada de forma que não podem se destacar mais do
abusiva, sofrendo violências físicas que eles. As crianças são ‘vitrines’ na
e psicológicas para forçá-la a perma- maioria dos casos”, explica a psicólo-
necer na torre. Estes são dois exem- ga Livia Marques. Além disso, as ví-
plos de histórias contadas pelo Walt timas de pais narcisistas ou aqueles
Disney Studios que retratam o sofri- que convivem com pessoas na con-
mento das filhas de mães – madras- dição podem acabar desenvolvendo
tas ou mulheres que ocupam a fun- o chamado conarcisismo. Isso acon-
ção materna – narcisistas. tece quando “acredita-se que está
A convivência com um indivíduo errada diante do narcísico, culpa-se
com o transtorno de personalidade e se sente incapaz, tamanho o envol-
pode ser difícil e, muitas vezes, tóxi- vimento negativo estabelecido entre
ca, uma vez que são relacionamentos eles”, comenta Rosostolato. Estes
“baseados numa constante disputa e indivíduos, muitas vezes, precisam
rivalidade. São pessoas invejosas, pois de acompanhamento de um profis-
a conquista alheia, para o narcísico, sional para ressignificar as relações e
é o sinal de uma visibilidade que ele sua criação.

CONSULTORIAS Breno Rosostolato, psicólogo e educador sexual; Livia

<
Marques, coach, psicóloga organizacional e clínica, com foco em terapia
cognitivo-comportamental | FONTE Manual Diagnóstico e Estatístico de Toque aqui para
Transtornos Mentais (DSM-5), Associação Americana de Medicina; editora
Artmed, 2013.) | FOTOS iStock/Getty Images retornar ao índice
Na ESTANTE
Para aprofundar os conhecimentos sobre
distúrbios que caracterizam o comportamento
humano, veja as referências literárias e
cinematográficas que separamos!

NARCISISMO - A NEGAÇÃO
BORDERLINE DO VERDADEIRO SELF
Autor: Mauro Hegenberg Autor: Alexander Lowen
Editora: Casa do psicólogo Editora: Summus
Nesse livro, o médico e psicanalista O psicanalista norte-americano Ale-
brasileiro Mauro Hegenberg atualiza xander Lowen propõe nessa obra um
as noções de transtorno de perso- outro olhar sobre o narcisista. Com
nalidade borderline, revisada a partir essa leitura, é possível perceber como
da dimensões presentes na literatu- a personalidade do indivíduo, a qual
ra psiquiátrica. Dessa forma, o autor nega traços como a autoexpressão
determina os sinais a serem identifi- e o autodomínio, pode ser recupera-
cados em um diagnóstico. da por meio da terapia bioenergética.
LARANJA MECÂNICA
Ano: 1971
Diretor: Stanley Kubrick
Baseado na história do livro homôni-
mo, Laranja mecânica retrata a história
de uma gangue comandada pelo rebel-
de Alexander Delarge (Malcolm McDo-
well). O protagonista apresenta traços
do transtorno de personalidade antisso-
cial e, para sua recuperação, é subme-
tido a técnicas cruéis para remodelação
do seu comportamento.

Toque aqui para


retornar ao índice
<
©2019 EDITORA ALTO
Editora Marisa Sei Design Zu Fernandes (Editora-chefe), Angela A. Soares e Mariana Rodriguero Grupo Editorial Raquel Luciano (Editora-chefe), Fernanda Villas Bôas ASTRAL LTDA. TODOS OS
(Assistente editorial), Otávio Mattiazzo Neto (Criação e desenvolvimento de produto), Lissandra Mahnis (Circulação) Alexandre M. Carmo (Tecnologia e revisão gráfica) DIREITOS RESERVADOS.
Foto de capa iStock Images PROIBIDA A REPRODUÇÃO.
PRESIDENTE João Carlos de Almeida DIRETOR EXECUTIVO Pedro José Chiquito DIRETOR COMERCIAL Silvino Brasolotto Junior DIRETOR EDITORIAL Alessandro Paveloski GERENTE DE REDAÇÃO Mara De Santi PUBLICIDADE
Gerente Samantha Pestana Equipe Comercial Marcio Costa e Beatriz Souza Mercado Regional (DF) ARMAZÉM DE COMUNICAÇÃO (61) 3321- 3440, (RJ) PLUS REPRESENTAÇÃO (21) 2240- 9273 Brand Lab Vanessa Neves. Fone (11)
Ano 3, Nº 48 - 2019 3048-2900 / E-mail publicidade@astral.com.br MARKETING Gerente Flaviana Castro E-mail marketing@astral.com.br SERVIÇOS GRÁFICOS Gerente José Antonio Rodrigues ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Gerente Jason
Pereira ENDEREÇOS BAURU Rua Gustavo Maciel, 19-26, CEP 17012-110, Bauru, SP.  Caixa Postal 471, CEP 17015-970, Bauru, SP. Fone (14) 3235-3878, Fax (14) 3235-3879 SÃO PAULO Rua Vicente Pinzon, Nº 173, 4º Andar, CEP 04547-
130, Vila Olímpia, São Paulo, SP, Fone/Fax (11) 3048-2900 ATENDIMENTO AO LEITOR ✆ (14) 3235-3885 De segunda a sexta, das 8h às 18h E-mail atendimento@astral.com.br Caixa Postal 471, CEP 17015-970, Bauru, SP Loja www.
astralshopping.com.br E-mail contato@astralshopping.com.br ANUNCIE E-mail publicidade@astral.com.br Fone (11) 3048-2900
QUER MAIS CONTEÚDO?
Acesse o Portal Alto Astral!
Confira informações atualizadas sobre saúde e bem-estar,
horóscopo, receitas, dicas de moda e beleza e muito mais!

ORGANIZAÇÃO: APRENDA A BENEFÍCIOS DA TERAPIA EFT,


DEFINIR SUAS PRIORIDADES A ACUPUNTURA SEM AGULHAS

EXERCÍCIOS AJUDAM NO BEM-ESTAR LINGUAGEM CORPORAL: DESCUBRA


FÍSICO E MENTAL DA TERCEIRA IDADE AS EMOÇÕES QUE O CORPO TRADUZ

www.altoastral.com.br

Potrebbero piacerti anche