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REPENTINA
Entenda as
variações de
humor no
Borderline
MÚLTIPLAS
MENTES
É possível
conviver
com várias
personalidades?
TRANSTORNO de
PERSONALIDADE
O que define a identidade e quando
as características são sinais de distúrbio
editorial
Transtornos que
afetam a identidade
Há quem queira ser mais organizado, necessário prestar atenção para iden-
menos ansioso, mais compreensivo, tificar seus sintomas e buscar o trata-
menos vaidoso… Com esforço e al- mento correto. Por estarem ligados à
guma ajuda, é possível mudar essas personalidade, muitas vezes deman-
características ou pelo menos contro- dam mais cuidados e compreensão
lá-las a ponto de não se sentir mais dos que os transtornos emocionais.
incomodado. Mas, se isso já é difícil, Quer saber mais sobre esses distúr-
imagine então tentar controlar com- bios? Confira nesta edição!
portamentos que são frutos de um
transtorno de personalidade? Exis- Marisa Sei, editora
tem diferentes tipos de transtorno e é marisa.sei@astral.com.br
sumário
Definições
PESSOAIS
Entenda de que forma as
manifestações da personalidade
estão ligadas a transtornos da mente
O
que faz de você um indivíduo úni- Sigmund Freud, a personalidade se constitui
co, diferente de todos os outros? por meio do desenvolvimento e comunicação
Por que dois irmãos, filhos do mes- das instâncias psíquicas. Ou seja, forma-se
mo pai e da mesma mãe, que cres- por meio da relação e do funcionamento in-
ceram juntos, estudaram em escolas iguais dependente do id (impulsos), ego (mediador
e conviveram em ambientes idênticos, po- dos instintos primitivos com a realidade) e
dem ter opiniões e comportamentos total- superego (censura). “A interação de tais es-
mente distintos? A resposta para tais truturas é o que vai representar a individuali-
questionamentos é subjetiva e intriga a ciên- dade de cada um”, avalia Mônica Bayeh.
cia há séculos.
Em meio a essas discussões, está o con-
ceito de personalidade, fator que combina
elementos integrantes de cada pessoa – que
podem ou não ser inatos –, os quais resul-
tam em ações e pensamentos particulares.
“A palavra personalidade vem do grego per-
sona e significa máscara. Portanto, é o modo
como nos mostramos para o mundo, refletin-
do nossas características específicas, idios-
sincrasias e marca pessoal”, pontua Luciana
Campos, psicóloga e pedagoga especialista
em neuropsicologia e terapia cognitivo-com-
portamental.
<
cognitivo-comportamental e hipnose clínica; Maria Cristina
Urrutigaray, psicóloga, analista didata junguiana, formada pelo
Instituto Junguiano do Rio de Janeiro e membro da IAAP (Associação Toque aqui para
Internacional de psicologia Analítica, com sede em Zurique); retornar ao índice
Mônica Bayeh, psicóloga | FOTOS iStock/Getty Images
No LIMITE
O transtorno de personalidade borderline se caracteriza por
mudanças repentinas de humor. Saiba como identificar e
quais são os tratamentos mais indicados
É
comum que as pessoas apresen-
tem comportamentos variantes:
afinal, as diferentes situações vi-
venciadas em cada momento ge-
ram reações distintas em cada um. Em um
mesmo dia, boas e más notícias podem
levar alguém à felicidade e à tristeza, ao
medo e à agitação, mas existe uma linha
que separa as respostas emocionais natu-
rais das patológicas. E é nesse ponto que
toca a disfunção do transtorno de perso-
nalidade borderline (pronuncia-se bôr-der-
-láin) ou limítrofe. “As mudanças de humor
em indivíduos com o quadro são bruscas,
repentinas e radicais”, pontua a psicóloga
Claudia Melo.
Segundo a especialista, é justamente
essa característica que o difere da bipola-
ridade, uma vez que, no segundo caso, há
períodos longos e intercalados de depressão
e euforia. Já no caso do borderline (TPB),
as percepções sobre si e as circunstâncias
típicas do cotidiano são deturpadas. Trata-
-se de “um padrão difuso de instabilidade
das relações interpessoais, da autoima-
gem, dos afetos e de impulsividade acen-
tuada, que surge no início da vida adulta e
está presente em vários contextos”, esta-
belece o Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM-5), material
de referência para profissionais da área de
saúde mental.
COMO IDENTIFICAR De acordo com Claudia, acompanhada des-
Não se trata apenas de alteração de hu- sas oscilações, está presente a sensação de
mor, mas da forma de se relacionar com o vazio. “Parece que há um ‘buraco’ dentro da
mundo e de lidar com as emoções. Em um pessoa e nada a preenche, por isso ela exi-
momento, há a extrema valorização e o ape- ge muito dos outros. Como nada a satisfaz,
go ao outro; posteriormente, a indiferença e sempre há essa busca pela plenitude em ob-
a desvalorização são a realidade. A impul- jetos alheios a si e a necessidade da dedica-
sividade faz com que seja despertado um ção total de amigos, familiares, namorados
sentimento de encantamento e admiração ou namoradas”, pontua a psicóloga.
idealizada em pouco tempo, os quais, rapi- A baixa autoestima e autodepreciação
damente, se desfazem. também são elementos a serem levados em
Da mesma maneira, há o medo exacerba- conta. “Os pacientes não percebem seus va-
do da separação – quando alguém sai para lores e enxergam o presente com um olhar
trabalhar ou ir ao supermercado, por exemplo, de sofrimento, adoecido”, ressalta a especia-
o ato pode representar uma crise ocasionada lista. Como consequência, o indivíduo pode
pelo temor do abandono, muitas vezes imagi- causar danos a si mesmo (automutilação) e
nário. Episódios de raiva, agressividade, an- apresentar comportamentos suicidas – ele-
siedade, depressão, abuso de substâncias, mentos que ressaltam a gravidade da falta
além da evolução de distúrbios alimentares de cuidados.
são experiências associadas. Desse modo, quem possui o transtor-
no, na maioria das vezes, não compreende
os aspectos problemáticos de suas condu-
tas. O olhar mais atento dos entes queridos,
nesses casos, faz-se fundamental e determi-
nante para a qualidade de vida de todos os
envolvidos.
DIAGNÓSTICO
A primeira atitude a ser tomada diante da
identificação dos sintomas descritos é pro-
curar assistência profissional. “O diagnóstico
deve ser realizado com um médico especia-
lizado, como o psiquiatra. Por meio de en-
trevistas bem estruturadas e detalhadas, a
abordagem engloba os familiares e o pacien-
te”, esclarece a psicóloga Lidiane Silva.
Para a profissional, é necessária muita
sensibilidade para observar sintomas diferen-
ciais para não confundir o TPB com esquizofre-
nia, depressão ou qualquer outro transtorno
de humor. “Alguns médicos investigam exa- PAPEL DA FAMÍLIA
mes de imagem e laboratoriais para avaliar Desde o início das intervenções até o con-
até mesmo a deficiência de vitaminas e ou- trole dos sintomas, há um tempo de estabi-
tros detalhes importantes que envolvem um lização do paciente. Assim, por conta das
psicodiagnóstico”, acrescenta. características de instabilidade e impulsivi-
dade do indivíduo com TPB, pode ser difícil
TRATAMENTOS lidar com o quadro no cotidiano.
As possíveis causas para a personalida- “Conviver com um borderline pode ser mui-
de limítrofe ainda não são conhecidas ou de- to estressante, mas há a necessidade de
finidas. Sendo assim, as intervenções agem desenvolver habilidades e estratégias para
no sentido de amenizar os sintomas. “Esse apoiar quem possui essa síndrome. É funda-
transtorno desencadeia mudanças funcio- mental procurar orientações com o médico
nais e estruturais no cérebro, o que ocorre ou terapeuta para se adaptar no dia a dia e
em áreas específicas que controlam os im- contribuir no tratamento, que é capaz de pro-
pulsos e a boa adequação das emoções”, porcionar qualidade de vida”, pontua Lidiane.
pontua Lidiane.
A combinação de psicoterapias e medica- “Conviver com um borderline
mentos, além de métodos alternativos que pode ser muito estressante, mas
contribuem para a regulação das reações, é há a necessidade de desenvolver
o mais indicado – vale ressaltar que apenas habilidades e estratégias de apoio. É
determinados médicos, como psiquiatras, po- fundamental procurar orientações
dem recomendar remédios. com o médico ou terapeuta para se
adaptar no dia a dia e contribuir
no tratamento, que é capaz de
proporcionar qualidade de vida”
Lidiane Silva, psicóloga
CONSULTORIAS Lidiane
Silva e Claudia Melo,
psicólogas | FOTOS iStock/
Getty Images
K
evin Wendell Crumb sonalidades que habitavam
foi abandonado o mesmo corpo, totalizando
pelo pai ainda 23. Todos eles viveram situ-
criança e sofreu ações extremas após o se-
abusos da mãe, que apresen- questro de três garotas por
tava um quadro de transtorno Dennis.
obsessivo-compulsivo (TOC). O Kevin e a história descrita são
rapaz, por sua vez, passava uma obra da ficção, e
por um tratamento psi- ambos foram apre-
quiátrico porque sentados ao público
também recebeu por meio do suces-
um diagnóstico: o so do filme Frag-
do transtorno de mentado, lançado
personalidades em 2017. Mas,
múltiplas ou dis- deixando de lado
sociativo de iden- as característi-
tidade. cas exageradas
Com ele, den- e fantasiosas do
tro de sua men- cinema, o per-
te, conviviam sonagem vivido
Patricia, uma pelo ator es-
senhora idosa; o cocês James
garoto de nove anos McAvoy e seu
Hedwig; Dennis, um adulto distúrbio po-
agressivo com TOC e o es- dem ser en-
tilista homossexual Barry contrados na
– além das outras 19 per- realidade.
VIDA REAL conclusão foi de que a cegueira
O americano Billy Milligan era psicológica – mas só era
é um exemplo. Após seques- superada na troca de perso-
trar, roubar e estuprar três nas.
mulheres, os relatos sobre As descrições não param
o criminoso foram distintos por aí: pela complexidade
– uma delas chegou a dizer e curiosidade do distúrbio,
que o autor do ataque tinha muitas ocorrências foram do-
um sotaque alemão. E foi por cumentadas. “A história des-
meio desse fato que o caso de se fenômeno se confunde com
Billy ficou famoso: diagnostica- a própria trajetória do ser hu-
do com o transtorno de identi- mano, como no xamã
dade, foram detectadas do Período Paleolí-
24 personalidades tico que assumia
diferentes. outra personalida-
Uma jovem ale- de. Esse compor-
mã de 20 anos tamento, embora
desenvolveu a ritualístico e reli-
personalidade gioso, denota já
de uma mulher em tempos tão
francesa, que antigos es sa
falava o idioma tendência”, res-
fluentemente, salta Luiz Scoc-
mas esquecia ca, psiquiatra
de tudo quando membro da
voltava ao “seu Associação
modo normal”. Brasileira
B.T. (apenas suas iniciais de Psiquia -
foram divulgadas) era con- tria (ABP) e
siderada cega desde os 13 da Associação
anos de idade por conta Americana e
de um acidente. No entan- Psiquiatria
to, quando manifestava a (APA), sigla em
identidade de um adoles- inglês.
cente, recuperava a visão.
Após o ocorrido, o pare- COMO É
cer sobre sua capacidade POSSÍVEL?
de enxergar foi revisado, e a O processo fisiológico
capaz de viabilizar esse fenômeno diversos – acontecem episódios de
se dá por meio de alterações no amnésia, fazendo com que a pes-
cérebro. “Estudos de ressonân- soa não possua nenhuma recor-
cia magnética demonstraram dação a respeito daquilo que
que o sistema límbico diminui acabou de viver, mas em al-
de tamanho (especialmente guns casos pode haver res-
áreas como o hipocampo e a quícios de memórias. “Cada
amígdala). Além disso, obser- alter possui traços individu-
va-se a redução no funciona- ais distintos, uma história
mento do córtex orbitofrontal”, pessoal, um modo de pensar
afirma Martin Portner, neurolo- e se relacionar com o ambien-
gista e mestre em neurociência te ao seu redor. É incrível, mas o
pela Universidade de Oxford, alter pode até ter alergias
no Reino Unido. diferentes do que a
Contudo, o espe- ‘pessoa principal’”,
cialista acrescenta explica Portner.
que o problema é
efetivamente a di- AS RAZÕES
visão da mente, PARA O
uma vez que a de- SURGIMENTO
sordem reflete a De acordo com
falha em integrar o neurologista, há
vários aspec - efetivo consenso,
tos de identida- hoje em dia, de
de, memória e que o distúrbio
consciência em ocorre quando o
uma única no- desenvolvimen-
ção de “eu”. Dessa forma, to psicológico
o indivíduo apresenta uma de uma crian-
personalidade primária, de- ça é interrompi-
nominada core (ou núcleo, do pelo trauma
em tradução livre), a qual, que impede os
segundo Martin, é normal- processos nor-
mente passiva, dependen- mais de con-
te, culpada e deprimida. Já solidação da
as demais são as alterna- identidade. “A
tivas ou ‘alteres’. predisposiç ão
Quando há essa variação genética ainda é
– os gatilhos para a troca são objeto de estudos e
investigação. Entretanto especia- Luiz Scocca pontua que, embora
listas no assunto, Ted Reich- possam existir indícios na infân-
born-Kjennerud, professor de cia, evita-se fazer o diagnóstico
epidemiologia psiquiátrica em crianças e adolescentes.
da Universidade de Oslo, na “Na idade adulta, a estima-
Noruega, afirmam que a in- tiva está em torno de sete
fluência é de ‘modesta a anos entre o aparecimento
moderadamente herdada’”, dos sintomas e o diagnósti-
destaca. co, que chega a ser de três
Sendo assim, mutilações, a nove vezes mais frequente
explorações, abusos e violên- no sexo feminino”, informa.
cia sexual, experiências mais
comuns nos relatos, são fa- QUALIDADE
tores que deflagram o DE VIDA
surgimento do qua- Martin Portner
dro, principalmen- analisa que viver
te quando são com um transtor-
recorrentes. Para no de personali-
lidar com even- dade múltipla é
tos de tal natu- “nada menos do
reza, é como se que uma cons-
um mecanismo tante agonia”,
de defesa fosse não só para o
acionado e no- paciente como
vos estados de para a família.
consciência em Afinal, imagi-
um mesmo indi- ne acordar ao
víduo fossem criados. lado de obje-
tos que não
reconhece,
“A esperança com vestimen-
deve ser sempre tas estranhas
mantida: um dia, as e sem se lem-
várias identidades poderão brar das últi-
se encontrar e a pessoa passará mas horas ou
a viver uma rotina normal” dias. Para os
Martin Portner, neurologista e mestre em
neurociência pela Universidade de Oxford, no Reino Unido entes queridos,
significa se rela-
cionar com alguém
diferente a cada momento. Por esse mo-
tivo, a importância do desenvolvimento
de estratégias para lidar com a desor-
dem deve ser reforçada.
Luiz esclarece que os sintomas costu-
mam diminuir e estabilizar após os 40
anos. Mas, para manter a qualidade de
vida nesse período, as intervenções ade-
quadas devem fazer parte do dia a dia
de todos os envolvidos. “Primeiramen-
te, o tratamento se fundamentaria nos
cuidados das dores originais que gera-
ram os alteres”, recomenda o psicólogo
Bayard Galvão.
Métodos alternativos, como a hip-
nose, são caminhos válidos, desde
que acompanhados por profis-
sionais. As terapias cognitivas
e criativas, realizadas com psi-
cólogos e psicanalistas, fazem
parte das técnicas indicadas.
Já os remédios apenas tra-
tam determinados sinais. “An-
tidepressivos, ansiolíticos ou
tranquilizantes podem ser
prescritos para ajudar a con-
trolar os sintomas de saúde
mental associados”, orien-
ta Martin Portner.
N
arciso era um jovem grego muito Este foi o mito que originou o termo
bonito, que despertava paixões narcisismo, primeiramente utilizado pelo
de todos – mulheres, homens e psicólogo britânico Havelock Ellis, em
ninfas –, mas ele era arrogante 1898, para teorizar o autoerotismo. Mais
e desprezava qualquer interesse por ou- tarde, o neurologista austríaco Sigmund
tra pessoa. Um dia, postado à beira de Freud o incorporou na psicanálise para
um lago, Narciso viu seu próprio reflexo e explicar as punções sexuais na primei-
se apaixonou por ele. O amor foi tão inten- ra infância. No entanto, atualmente, o
so que o rapaz acabou morrendo afogado transtorno de personalidade narcisista
ao tentar alcançar seu objeto de desejo. tem uma conotação mais ampla.
ALÉM DA VAIDADE
Apesar de popularmente ser associa-
do ao apreço à autoimagem, o narcisis-
mo, englobado no grupo de transtornos
de personalidade, é um dos distúrbios
descritos no Manual Diagnóstico e Es-
tatístico de Transtornos Mentais (DSM-
5), caracterizado como um padrão difuso
de grandiosidade, necessidade de admi-
ração e falta de empatia que surge ain-
da na adolescência e se intensifica na
vida adulta.
O indivíduo costuma ter uma “percep-
ção exacerbada de si, na qual enfatiza
de maneira fantasiosa atributos e qua-
lidades próprias, o que demonstra uma
necessidade de superioridade e grandiosi-
dade diante do outro, em uma constante
busca de admiração e reconhecimento”,
explica o psicólogo Breno Rosostolato. O
profissional ainda pontua que os narcí-
sicos costumam ser arrogantes e não li-
dam bem com frustrações, uma vez que
esperam ser o centro das atenções.
CAUSAS CULTURAIS
Acredita-se que o desenvolvimento
do quadro se deve a fatores ambientais,
sociais e de criação familiar, apesar de
não haver estudos que comprovam o
fato. No entanto, “numa sociedade que
defende a ideia de padrões de beleza e
o culto à estética, em que há exigência
de sucesso, ostentação como meio de
demonstrar superioridade e status so-
cial – tudo isso alimentado por um siste-
ma capitalista que sustenta a rivalidade
com o outro –, as pessoas são condu-
zidas em sua maneira de pensar de for-
ma materialista, dando importância à
autoimagem e a si mesmas como algo outro em uma posição de inferioridade,
urgente, no sentido de serem melhores sendo que, por vezes, passa a humilhar
do que todos”, avalia Rosostolato. o próximo.
Contudo, não há a necessidade de O narcísico talvez não reconheça sua
parar de tirar as famosas selfies ou dei- própria condição, mas “pode perceber
xar de compartilhar seus sucessos nas que algo não está caminhando bem
redes sociais visando a obter elogios. A quando começa a ter perdas significa-
prevalência do transtorno patológico é tivas no seu dia a dia”, conta a psicólo-
de até 0 até 6,2% da população – sen- ga Livia Marques. Ou seja, no momento
do que destes 50% a 75% são homens em que as situações não obedecem as
– segundo o DSM. O diagnóstico do trans- expectativas egocêntricas do indivíduo.
torno deve ser feito de forma clínica por Assim, a psicoterapia é a forma indica-
profissionais da área da psicologia ou da de tratamento, uma vez que promove
psiquiatria. Para isso, é necessária a o autoconhecimento e a compreensão
ajuda de familiares e amigos para per- das próprias emoções e comportamen-
ceber, além dos sinais característicos, tos. O método medicamentoso pode ser
a forma com a qual o indivíduo trata as receitado para os sintomas associados
pessoas ao redor: com desprezo, arro- ao transtorno (como a ansiedade) e não
gância, falta de empatia e colocando o para a condição em si.
SINAIS DE ALERTA
Segundo o Manual Diagnóstico e associado a outras pessoas (ou insti-
Estatístico de Transtornos Mentais tuições) especiais ou de condição ele-
(DSM-5), existem alguns sintomas vada.
que ajudam a determinar o diagnós- 4. Necessita admiração excessiva.
tico. Caso você ou alguém próximo 5. Acredita possuir direitos, como
apresente cinco dos nove itens, é im- ser tratado de forma especial.
portante procurar auxílio especializa- 6. Em relações interpessoais, tira
do. Confira a lista: vantagens de outros para garantir
1. Sente-se grandioso pela própria seus próprios fins.
importância, como exagerar suas con- 7. É carente de empatia, ou seja,
quistas e talentos ou esperar ser reco- reluta em reconhecer ou identificar-
nhecido sem que tenha as conquistas se com os sentimentos e necessida-
correspondentes. des alheias.
2. Fantasia com sucesso ilimitado, 8. É frequentemente invejoso ou
poder, brilho, beleza ou amor ideal. acredita que os outros o invejam.
3. Acredita ser especial e único e 9. Demonstra atitudes arrogantes
deve ser somente compreendido ou e insolentes.
PAIS NARCISISTAS
Branca de Neve é constantemente precisa para ele”, comenta Breno Ro-
humilhada pela madrasta e forçada a sostolato. Mas, quando essa pessoa
trabalhar no castelo até o momento é um dos seus pais, que está em uma
em que é considerada a moça mais posição hierárquica elevada e deve-
bela do reino pelo espelho mágico. O ria amá-lo incondicionalmente, a dor
fato acaba enfurecendo a Rainha Má, é mais profunda.
que faz de tudo para matar a entea- Os genitores “veem os filhos
da. No mesmo plano está Rapunzel, como indivíduos sem vontade algu-
jovem sequestrada pela personagem ma, sem livre arbítrio e como seres
Mãe Gothel; ela é tratada de forma que não podem se destacar mais do
abusiva, sofrendo violências físicas que eles. As crianças são ‘vitrines’ na
e psicológicas para forçá-la a perma- maioria dos casos”, explica a psicólo-
necer na torre. Estes são dois exem- ga Livia Marques. Além disso, as ví-
plos de histórias contadas pelo Walt timas de pais narcisistas ou aqueles
Disney Studios que retratam o sofri- que convivem com pessoas na con-
mento das filhas de mães – madras- dição podem acabar desenvolvendo
tas ou mulheres que ocupam a fun- o chamado conarcisismo. Isso acon-
ção materna – narcisistas. tece quando “acredita-se que está
A convivência com um indivíduo errada diante do narcísico, culpa-se
com o transtorno de personalidade e se sente incapaz, tamanho o envol-
pode ser difícil e, muitas vezes, tóxi- vimento negativo estabelecido entre
ca, uma vez que são relacionamentos eles”, comenta Rosostolato. Estes
“baseados numa constante disputa e indivíduos, muitas vezes, precisam
rivalidade. São pessoas invejosas, pois de acompanhamento de um profis-
a conquista alheia, para o narcísico, sional para ressignificar as relações e
é o sinal de uma visibilidade que ele sua criação.
<
Marques, coach, psicóloga organizacional e clínica, com foco em terapia
cognitivo-comportamental | FONTE Manual Diagnóstico e Estatístico de Toque aqui para
Transtornos Mentais (DSM-5), Associação Americana de Medicina; editora
Artmed, 2013.) | FOTOS iStock/Getty Images retornar ao índice
Na ESTANTE
Para aprofundar os conhecimentos sobre
distúrbios que caracterizam o comportamento
humano, veja as referências literárias e
cinematográficas que separamos!
NARCISISMO - A NEGAÇÃO
BORDERLINE DO VERDADEIRO SELF
Autor: Mauro Hegenberg Autor: Alexander Lowen
Editora: Casa do psicólogo Editora: Summus
Nesse livro, o médico e psicanalista O psicanalista norte-americano Ale-
brasileiro Mauro Hegenberg atualiza xander Lowen propõe nessa obra um
as noções de transtorno de perso- outro olhar sobre o narcisista. Com
nalidade borderline, revisada a partir essa leitura, é possível perceber como
da dimensões presentes na literatu- a personalidade do indivíduo, a qual
ra psiquiátrica. Dessa forma, o autor nega traços como a autoexpressão
determina os sinais a serem identifi- e o autodomínio, pode ser recupera-
cados em um diagnóstico. da por meio da terapia bioenergética.
LARANJA MECÂNICA
Ano: 1971
Diretor: Stanley Kubrick
Baseado na história do livro homôni-
mo, Laranja mecânica retrata a história
de uma gangue comandada pelo rebel-
de Alexander Delarge (Malcolm McDo-
well). O protagonista apresenta traços
do transtorno de personalidade antisso-
cial e, para sua recuperação, é subme-
tido a técnicas cruéis para remodelação
do seu comportamento.
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