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RESUMO ABSTRACT
Baseado no caráter necessário que a leitura rou- Based on the required character that Rous-
sseauniana atribui ao pacto social, que implica o seau’s reading gives the social pact, which im-
ato pelo qual o povo se faz povo e converge para plies the act by which the people do and people
a constituição de um corpo coletivo e moral que converge to form a collective body and moral-
emerge como a única fonte legítima do poder e ity that emerges as the only legitimate source
seu único detentor, este artigo assinala a Vontade of power and its sole owner, the article points
Geral como condição para o exercício da sobe- out the General Will as a condition for the ex-
rania popular. Mostra, ainda, que o está em voga ercise of popular sovereignty and shows that
não é senão uma formação econômico-social what is needed him is nothing but a social-eco-
que possibilite sua manifestação como tal, que nomic formation that enables its manifestation
encerra o interesse comum e perfaz um proces- as such, terminating the common interest and
so que envolve as decisões coletivas e, antes, a makes a process involving the collective deci-
sua elaboração. Tal processo demanda a criação sions and before it has been drafted. This pro-
de condições concretas para a sua objetivação e cess requires the creation of concrete condi-
transpõe o significado de um mero somatório das tions for its objectification and transposes the
vontades particulares que resulta na vontade de meaning of a mere summation of individual
todos (maioria) e caracteriza um sistema que es- wills which results in the will of all (most) and
truturalmente tende à desigualdade e à injustiça features a system that tends structurally ine-
e que, por essa razão, conforme defende a pers- quality and injustice, and for that reason, as
pectiva de Marx, guarda uma lógica incapaz de defending the prospect of Marx, save a logical
promover a sua superação. unable to promote its overcoming.
Palavras-chave: Vontade Geral; Rousseau; So- Keywords: General Will; Rousseau; Popular
berania popular; Interesse comum. sovereignty; Common interest.
1
Pós-Graduado em Filosofia pela Universidade Gama Filho (UGF), Brasil. Professor no Espaço Politikón Zôon - Educação, Arte e Cultura. E-mail:
marianodarosaletras@terra.com.br.
ral, expressão do corpo moral e coletivo assinala a diferença entre ambos, pois,
que o pacto engendra, do corpo político se este defende a intervenção de uma
na sua atividade, do conjunto dos “cida- “mão invisível” harmonizando os con-
dãos”, do povo incorporado que nesta flitos individuais no sentido de que coo-
condição se torna “soberano” e que em perem para o bem-estar geral, aquele,
sua passividade, sob a acepção de “con- contrapondo-se ao otimismo em ques-
junto de súditos”, configura o “Estado”, tão, advoga que a organização social
se lhe mantendo submetido15. em referência, determinada pelas leis
Às inter-relações envolvendo in- de mercado, tende à intensificação da
divíduo e sociedade, segundo a leitura desigualdade social, que, sobrepondo-
rousseauniana, impõem-se um dinamis- se àquela que vigora no plano natural,
mo histórico e uma potencialidade de contribui para o engendramento de uma
transformação que escapam à concep- série de consequências que alcançam
ção da teoria contratualista de Hobbes e o âmbito da moral social e individual,
Locke. Ao individualismo dessa teoria, perfazendo-as.
caracterizado como “possessivo”, so-
brepõe-se a interpretação rousseaunia- A relação já não mais se estabelece
na do homem como indivíduo natural, diretamente de consciência para cons-
que não guarda senão incompatibilida- ciência: ela agora passa por coisas. A
de com a referida perspectiva, visto que perversão que daí provém não apenas
do fato de que as coisas se interpõem
as suas reflexões são uma antecipação
entre as consciências, mas também
no tocante à ontologia do ser social que do fato de que os homens, deixando
encerra a proposta de Hegel (LUKÁCS, de identificar seu interesse com sua
1979) e de Marx, que defende que o ho- existência pessoal, identificam-no
mem enquanto tal, sob a acepção de um doravante com os objetos interpostos
ser que raciocina, dispõe de linguagem que acreditam indispensáveis à sua
e age moralmente, definindo-se pelo felicidade. O eu do homem social não
seu trabalho, pela sua história e pela sua se reconhece mais em si mesmo, mas
práxis social e produzindo-se através se busca no exterior, entre as coisas;
dela (MARX; ENGELS, 2002). seus meios se tornam seu fim (STA-
A “sociedade civil” que Rousseau ROBINSKI, 1991, p. 35).
descreve no Discurso não se caracteriza
senão como um estágio de rápida e inten- Nessa perspectiva, se não se de-
sa generalização das relações mercantis tém no ancien regime feudal-absolutista,
que, convergindo para a dominação supondo a defesa da “democracia burgue-
do capital, antepõe-se imediatamente sa” que, emergindo, se lhe contrapõe, a
à instauração do capitalismo propria- crítica rousseauniana não se impõe senão
mente dito, configurando um processo à própria “societé civile” da época que,
que, envolvendo a ampliação crescente originalmente “burguesa”, caracteriza-se
da divisão do trabalho, da multiplica- pela desigualdade, já que a acumulação
ção das demandas e das necessidades das riquezas ameaça a liberdade. Além
humanas, traz como base o progresso. disso, a instauração da “tirania dos ricos”
O agente de tal progresso, o indivíduo, que advém, conforme sublinha Derathé
busca o próprio interesse, tendo o lucro (2009, p. 520), compromete a capacidade
privado como a sua expressão, leitura do Estado de proteger os cidadãos, con-
que, se inicialmente correlaciona Rou- vergindo para a necessidade de uma pro-
sseau e Adam Smith, posteriormente posta que, identificando as suas causas (a
propriedade privada, a divisão do trabalho
15
Convém salientar que, “como o soberano é ‘formado apenas pelos par-
ticulares que o compõem’, o pacto social reduz-se na realidade a um en-
e a alienação), possibilite a sua superação
gajamento do povo consigo mesmo”, tendo em vista que “os associados por meio da construção de uma organiza-
alienam-se com todos os seus direitos a toda a comunidade”, convergindo
essa “alienação total” para torná-los simultaneamente súditos e membros ção social democrática e igualitária, isto
do soberano (DERATHÉ, 2009, p. 341).
é, uma república autogovernada cujo fun- os princípios racionais e éticos que devem
damento seja a Vontade Geral16, conforme regular uma organização social justa.
expõe em Do Contrato Social.
Se no processo de desenvolvi- A associação civil tem essencialmen-
mento social o que cabe à natureza hu- te como finalidade impedir que um
mana não é senão uma transformação de dos associados possa submeter um
caráter imperceptível que sobrepõe ao outro deles à sua vontade e, ao neu-
tralizar os efeitos das desigualdades
amor de si (instinto de autopreservação)
sociais, assegurar a todos os cidadãos
e ao sentimento de piedade (interindivi- o equivalente de sua independência
dual) o amor-próprio, que se circunscre- natural. Por certo, existe uma certa
ve ao interesse pessoal17, a organização desigualdade no estado de natureza,
da convivência coletiva com base em mas, “nesta, sua influência é quase
princípios racionais e éticos demanda nula” [Discurso], porque, nesse es-
uma mudança que implica a superação tado, os homens não têm, por assim
da condição determinante para o com- dizer, relações entre eles. Enquanto
prometimento da solidariedade social. vive no estado selvagem, o homem
Tal comprometimento, transpondo as “basta-se a si mesmo” [Emílio]: como
fronteiras da subjetividade, guarda cor- ele pode dispensar a assistência de
seus semelhantes, ele os ignora; mas,
respondência com a produção humana
uma vez que se tornou sociável, ele
concreta (a formação econômico-so- tem necessidade deles, assim como
cial), remetendo à instituição da socie- estes têm necessidade dele. Todo mal
dade civil, à sua gênese, que traz como ou, se quisermos, todas as contradi-
fundamento a propriedade privada, a ções do sistema social vêm dessa
divisão do trabalho e a alienação. dependência mútua, da qual cada um
Nesse sentido, se a radicalização procura tirar o máximo de benefício a
envolvendo a premissa de indivíduos ca- expensas de outrem, pois, na ausên-
racterizados pela liberdade e pela igual- cia de uma regra que seja respeitada
dade se impõe como o fundamento legí- por todos, só pode reinar o arbitrário
timo para a instauração do corpo político nas relações entre os indivíduos (DE-
RATHÉ, 2009, p. 338).
e para a constituição da sua autoridade,
a condição que implica uma perspectiva
essencialmente não individualista, para A organização social para a qual
a qual converge a leitura rousseauniana, converge o contrato não pode ter em sua
demanda uma concepção de liberdade constituição uma liberdade que guarde
e igualdade que se mantém atrelada ao raízes nas fronteiras de uma noção de
âmbito da sociabilidade concreta. Essa indivíduo abstrato, reduzido a um áto-
concepção se sobrepõe a qualquer cons- mo de racionalidade na referida estru-
trução identitária que, no que tange à sua tura, tendo em vista o caráter negativo
definição, circunscreva-se ao horizonte que lhe é atribuído em função de uma
da abstração, emergindo de um hipotético perspectiva que sobrepõe o privado ao
estágio pré-cívico ou de uma situação pré- comum e o particular ao coletivo, com-
social e prescindindo de um diálogo com prometendo o próprio sentido da insti-
tuição em questão. Tal sentido consiste
16
Convém salientar que “Rousseau de modo algum vê no Estado uma em uma construção cuja tendência im-
mera associação, uma comunidade de interesses e nem um equilíbrio dos
interesses de vontades isoladas. O Estado não é, segundo ele, um mero plica o desenvolvimento das condições
sumário empírico de determinados impulsos e inclinações, de determi-
nadas veleidades, mas é a forma na qual a vontade, enquanto vontade
necessárias para a afirmação do homem
moral, realmente existe - na qual a passagem da mera arbitrariedade para enquanto tal no âmbito da sociabilida-
a vontade pode se concretizar” (CASSIRER, 1999, p. 63, grifos do autor).
17
“Com as relações sociais, tudo muda. O amor de si, que no estado de de, o que demanda não menos do que
natureza era um sentimento absoluto, torna-se um ‘sentimento relativo
pelo qual nos comparamos’, transforma-se em amor-próprio e engendra
uma igualdade substantiva, baseada na
nos homens um apetite insaciável de dominação. A desigualdade, cujos vida econômica, se é esta que determi-
efeitos quase não se faziam sentir no estado de natureza, torna-se prepon-
derante e exerce uma influência nefasta sobre as relações de homem a na o seu destino sócio-histórico, bem
homem” (DERATHÉ, 2009, p. 355).
so que, no que tange à vontade coletiva, o que deve à causa comum como uma contribuição gratuita, cuja perda
prejudicará menos aos outros, do que será oneroso o cumprimento a si pró-
sobrepõe-se às vontades individuais no prio. Considerando a pessoa moral que constitui o Estado como um ente de
razão, porquanto não é um homem, ele desfrutará dos direitos do cidadão
sentido de alcançarem a intersecção que sem querer desempenhar os deveres de súdito – injustiça cujo progresso
a sua emergência supõe como produto determinaria a ruína do corpo político” (ROUSSEAU, 1999b, p. 75).
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“Ora, o povo como corpo, ‘o soberano’, não poderia querer senão o
real dos valores, das necessidades e dos interesse geral, não poderia ter senão uma vontade geral. Enquanto cada
um dos membros, sendo simultaneamente, em consequência do contrato,
objetivos da coletividade, além de con- homem individual e homem social, pode ter duas espécies de vontade.
ceder à referida “obrigação” o reconhe- Como homem individual, é tentado a perseguir, de acordo com o instinto
natural, egoísta, o seu interesse particular. Mas o homem social que nele
existe, o cidadão, procura e quer o interesse geral: trata-se de uma busca
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“A fim de que um povo nascente possa compreender as sãs máximas toda moral, feita no ‘silêncio das paixões’. A liberdade – a liberdade natural
da política, e seguir as regras fundamentais da razão de Estado, seria transformada, desnaturada – é, precisamente, a faculdade que possui cada
necessário que o efeito pudesse tornar-se causa, que o espírito social – um de fazer predominar, sobre a sua vontade ‘particular’, a sua vontade
que deve ser a obra da instituição – presidisse à própria instituição, e que ‘geral’, que apaga ‘o amor de si mesmo’ em proveito do ‘amor do grupo’
os homens fossem antes das leis o que deveriam torna-se depois delas” (B. de Jouvenel). Assim, obedecer ao soberano, ao povo em conjunto, é
(ROUSSEAU, 1999b, p. 112). verdadeiramente ser livre” (CHEVALLIER, 1999, p. 167, grifos do autor).
e razão de ser guardam correspondência soberano, o que implica a suposição de que “os cidadãos tenham uma
vontade comum, o que seria evidentemente impossível se eles estivessem
com valores, práticas, condutas, com- divididos em tudo, se não houvesse também um interesse comum, base
psicológica da associação e que, desse ponto de vista, constitui o laço
portamentos, necessidades e objetivos entre os associados” (DERATHÉ, 2009, p. 343).
que, não escapando às concepções teó- Alcança relevância a concepção que atribui à Vontade Geral a condição
24
interesse comum. Tal interesse é deter- ao analisar a analogia entre a Vontade Geral e a consciência que se impõe
à construção rousseauniana (DERATHÉ, 2009).
minado, portanto, pelas condições obje- 25
A agregação dispensa, pois, a eticidade que rege o vínculo que deter-
mina a associação, já que contempla estruturas superficiais de contato,
tivas da vida histórico-cultural, econô- baseadas em necessidades e objetivos de caráter imediato, convergindo
A questão que envolve o bem a observação rousseauniana, exemplificada pelo povo inglês, acerca do
referido procedimento, incapaz de expressar a vontade popular: “O povo
comum e a racionalidade coletiva, que inglês pensa ser livre e muito se engana, pois só o é durante a eleição dos
membros do parlamento; uma vez estes eleitos, ele é escravo, não é nada.
se impõe à teoria política rousseaunia- Durante os breves momentos de sua liberdade, o uso, que dela faz, mostra
na, longe de escapar ao âmbito do pen- que merece perdê-la” (ROUSSEAU, 1999b, p. 187).
37
Alcança relevância, sob tal leitura, as “regras do jogo”, isto é, os pro-
samento democrático contemporâneo, cedimentos formais, em detrimento da questão dos conteúdos e valores,
relegados ao arbítrio individual, que constitui a essência da “liberdade
caracteriza-o, mantendo-se nele em vi- negativa”, convergindo para uma organização social que se circunscreve
gor, diferentemente do liberalismo, por ao âmbito de um agregado de interesses individuais e vontades particu-
lares, cuja soma não transpõe senão as fronteiras da vontade de todos.
exemplo, que se sobrepõe à referida pro- 38
“Não é pelo simples estatuto jurídico que se regulam as relações entre
os seus membros, que uma república se distingue de simples agregado. O
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Dessa perspectiva emerge uma feição que guarda correspondência com o ho- que distingue estas duas formas de ordenação social é a natureza do laço
rizonte das relações sociais burguesas, visto que se caracteriza como mercantil pelo qual se prendem uns aos outros os seus membros. Numa pátria, os
(comercial), cumprindo a função de assegurar os interesses dos indivíduos. associados possuem todos uma só vontade e um só interesse, ao passo
35
Nessa perspectiva, convém sublinhar que “a vontade geral não é geral ape- que na outra forma de associação a união que se verifica não vai além da
nas por ser de todos, mas por ser a mesma vontade” (FORTES, 1976, p. 88). simples justaposição dos egoísmos individuais” (FORTES, 1976, p. 90).
categoria universal, a Vontade Geral que Tal leitura escapa, assim, à tendência de
emerge da leitura rousseauniana envolve sobrepor as “democracias reais” às pres-
um processo de construção que demanda crições dos arcabouços teóricos que não
a participação efetiva dos membros da se detêm, no que concerne às estruturas
associação que o contrato social funda. políticas, em como são, mas em como
Assinala, assim, uma relação que encerra poderiam ser, tendo em vista a noção
a horizontalidade que abrange cidadão/ acerca da incapacidade de um argumento
cidadão e sobrepuja a obrigação que traz empírico alcançar primazia em relação a
como base a verticalidade que a forma um argumento prescritivo, refutando-o
cidadão/Estado dispõe. (VITA, 1991).
Longe de se caracterizar como Nessa perspectiva, a Vontade Geral
uma abstração destituída de qualquer emerge como solução para a questão que
valor prático, o que se impõe à Vontade envolve a ruptura entre Estado político e
Geral e ao seu exercício não é senão a Estado não político, cuja condição, desti-
possibilidade de fixação dos fins políti- tuindo o povo de sua essência genérica,
cos que se lhe mantêm inerentes através converge para reduzi-lo no âmbito políti-
de uma correlação que implica as lutas co-estamental, pois o circunscreve de um
da opinião pública, as eleições, as dis- dêmos inteiro às fronteiras que encerram
cussões parlamentares, os plebiscitos, a sociedade civil, forma pela qual integra
dentre outros eventos que convergem o Estado. A ruptura entre Estado político
para a constituição de um sistema dinâ- e Estado não político acarreta, assim, um
mico-dialético que perfaz a unidade da conflito que, atrelado ao conceito de Cons-
ordem sociopolítica e expressa o interes- tituição40, reproduz-se através da relação
se comum, sobrepondo-se à estaticidade que abrange o poder legislativo (“povo
que exclui a participação ativa do povo en miniature”) e o poder governamental,
na construção da referida experiência39. tendo em vista que aquele é privado de
Se, segundo o viés de inspiração sua universalidade, tornando-se “parte”
liberal ou liberal-democrática que deter- do todo, o que implica a transformação da
mina o pensamento político contemporâ- Vontade Geral em um poder particular do
neo, há um caráter circunscrito às fron- Estado, passível de confronto pelo poder
teiras da negatividade, o que se impõe, executivo que, nessa perspectiva, se lhe
de acordo com os teóricos empíricos da sobrepõe (MARX, 2010).
democracia aos ideais participativos da Se a Constituição guarda a sig-
perspectiva rousseauniana é a impossibi- nificação que corresponde ao univer-
lidade de sua aplicação no âmbito dos sis- sal, que se impõe a todo o particular no
temas existentes, convergindo as teorias âmbito de qualquer Estado cujo modus
normativas (que defendem um princípio essendi escapa ao paradigma democrá-
de moralidade política e se contrapõem tico, de acordo com este, ela não se ca-
à concepção que circunscreve o sistema racteriza senão como uma autodetermi-
democrático à esfera que o define como nação do povo, convergindo para uma
um método de escolha de governantes) condição na qual a Vontade Geral não
para uma leitura que, mantendo o pen- aliena o seu poder, perfazendo, por essa
samento de Rousseau como horizonte razão, a “verdadeira democracia” um
paradigmático, traz como base a inter- princípio político, que consiste na supe-
pretação de que “fato não cria direito”. ração da oposição entre Estado político
e sociedade civil (Estado não político).
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“Não basta que o povo reunido tenha uma vez fixado a constituição
do Estado sancionando um corpo de leis; não basta, ainda, que tenha
estabelecido um Governo perpétuo ou que, de uma vez por todas, tenha 40
“Por certo, Rousseau não nega que o Estado possa dar-se uma constitui-
promovido a eleição dos magistrados; além das assembleias extraordi- ção, mas, para ele, essa constituição só existe pela vontade do soberano,
nárias que os casos imprevistos podem exigir, é preciso que haja outras, o qual pode mudá-la quando lhe apraz. As leis do Estado, inclusive as leis
fixas e periódicas, que nada possa abolir ou adiar, de tal modo que, no fundamentais, são apenas a expressão da vontade geral. Basta, portanto,
dia previsto, o povo se encontre legitimamente convocado pela lei, sem que essa vontade mude para que as leis estabelecidas sejam revogadas e
que para tanto haja necessidade de nenhuma outra convocação formal” substituídas por outras: a autoridade que as dita pode também aboli-las”
(ROUSSEAU, 1999b, p. 181, grifos meus). (DERATHÉ, 2009, p. 483, grifos meus).