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O Caráter Impulsivo ‐ Der triebhafte  Character (1925) 

Wilhem Reich 

Tradução da versão em inglês por Maya Hantower, Martins Fontes (2009) 

  Wilhelm  Reich  (1897‐1957)  é  costumeiramente  lembrado  como  herói  da  contra‐


cultura  dos  anos  1960,  criador  do  freudo‐marxismo  e  inspirador  de  inúmeras  tendências 
psicoterápicas  corporalistas  (bioenergética,  vegetoterapia,  orgônio‐terapia).  Contudo,  a 
trajetória formativa deste “bergsoniano louco” ‐ como era conhecido no curso de medicina de 
Viena  –  está  seriamente  comprometida  com  a  psicanálise.  Desde  1920  Reich  participava  das 
reuniões da Sociedade Psicanalítica de Viena, atuando na Clínica Psicanalítica de Viena desde 
sua  inauguração  em  1922.  Dirigiu  o  Seminário  de  Técnica  Psicanalítica  no  mesmo  período  e 
formou‐se pela Policlínica de Berlim em 1930. Ou seja, Reich passou pelo que havia de melhor 
na  formação  psicanalítica  na  década  de  1920.  Diferentemente  de  outros  dissidentes,  cuja 
participação  nos  meios  psicanalíticos  era  esporádica  ou  periférica,  ele  implantou‐se  no  que 
havia de mais inovador e criativo em torno de Freud.  Independente do mérito de seus últimos 
desenvolvimentos  teóricos  e  de  sua  morte  trágica  em  uma  prisão  americana  (vítima  do 
Macarthismo), Reich é uma espécie de objeção viva às críticas usualmente levantadas contra a 
psicanálise. Membro do partido Comunista e admirador da Revolução Russa jamais deixou de 
considerar a clínica no contexto do poder e de sua subversão. Ex‐combatente nascido em uma 
família  burguesa  conheceu  de  perto  a  experiência  da  pobreza.  Formou‐se  como  psicanalista 
atendendo  pessoas  em  situação  de  exclusão  social  na  Clínica  Psicanalítica  de  Viena.  O  seu 
primeiro  livro  O  Caráter  Impulsivo  (Der  triebhafte    Character),    publicado  originalmente  em 
1925, baseia‐se no material extraído desta experiência.  

  O  que  vemos  aqui  é  a  impressionante  sagacidade  clínica  de  Reich  como  psicanalista. 
Geralmente  considera‐se  o  texto  de  Stern  (1938)  como  o  primeiro  artigo  a  abordar  as 
personalidades borderline, contudo isso é apenas mais um traço do apagamento histórico de  
Reich  na  história  do  movimento  psicanalítico.    É  Reich,  e  não  Stern,  quem  nos  dá  a  primeira 
descrição  deste  que  foi  o  tipo  clínico  mais  exaustivamente  estudado,  nos  anos  1980,  pelas 
diferentes  tradições  psicanalíticas.    O  ponto  de  partida  para  o  estudo  é  a  oposição  entre 
sintoma e caráter. Ao contrário do sintoma o caráter é algo do qual raramente nos queixamos. 
São os outros, os próximos, que costumam ser perturbados pelo caráter de alguém. O caráter 
impulsivo  nunca  aparece  sem  algum  complemento  sintomático:  fobias,  rituais  compulsivos, 
amnésias  histéricas.  O  caráter  é  uma  espécie  de  repetição  que  acompanha  uma  vida:  ser 
sistematicamente  traído  por  aquele  a  quem  se  protege,  ter  experiências  amorosas  que 
atravessam  as  mesmas  fases  e  chegar  ao  mesmo  fim,  “uma  perpétua  recorrência  da  mesma 
coisa”.  É  neste  contexto  que  Reich  propõe  distinguir  a  personalidade  impulsiva.    Sua 
apresentação é curiosamente próxima das melhores descrições clínicas contemporâneas sobre 
o  assunto,  ou  seja,  uma  subjetividade  dividida  entre  um  funcionamento  esquizóide,  sem 
alucinação,  mas  com  dissociações  intensas  das  experiências  de  afeto,  prazer  e  corporeidade, 
ao  lado  de  um  funcionamento  narcísico,  sem  uma  estável  formação  de  ideal,  mas  com  uma 
espécie  de  “superego  isolado”.  Antecipando  os  últimos  desenvolvimentos  de  Freud  sobre  o 
mecanismo  de  renegação  (Verleugnung),  Reich  descreve  sujeitos  que  resolvem  a  dupla 
antinomia  entre  desejo  e  interdição,  e  entre  o  eu  e  o  outro,  por  meio  de  um  único  ato 
impulsivo. Ao contrário da compulsão, que sempre é sentida como uma obrigação intrusiva a 
agir,  a  impulsão  é  ardorosamente  defendida  pelo  eu  como  expressão  instantânea  de  sua 
vontade. Veja‐se aqui a importância e atualidade do tema: crimes e atos violentos tipicamente 
de natureza impulsiva, a impulsividade que se atribui aos usuários de drogas, os transtornos de 
atenção  e  hiperatividade  que  preocupam  educadores.  Paradoxo  de  uma  época  que  parece 
louvar o impulso (o instante de felicidade, o ato genuíno), na mesma medida em que o marca 
com o sinal do patológico. 

  Duas séries de problemas devem convergir na formação do caráter impulsivo, a saber, 
o  superego  isolado  e  a  identificação  sexual  problemática.  Quanto  à  formação  do  superego 
isolado  verifica‐se  uma  espécie  de  “eclipse  do  pai”  ou  dos  modos  de  apresentação  da 
autoridade:  “não  é  a  mesma  coisa  se  um  revolucionário  social  “revolucionar”  somente  por 
causa  de  uma  reação  contra  seu  pai,  ou  se  age  a  partir  de  uma  imagem  paterna 
revolucionária, sem relação com as atitudes de seu próprio pai” (26) ou ainda, “o ideal burguês 
da dona de casa econômica, limpa, submissa e calma também exige que a mulher mantenha 
as  crianças  quietas”  (29).  Nos  dois  casos  Reich  está  questionando  a  figura  paterna  como 
unificador  necessário  das  posições  de  autoridade.  O  superego  isola‐se  do  ideal  de  eu,  e 
conseqüentemente  do  próprio  eu,  quando  deve  obedecer  a  interpelações  contraditórias.  Na 
neurose  simples  a  contradição  expressa  pela  autoridade  é  resolvida  por  meio  do  recalque 
alternado das moções de amor e ódio ou de respeito e insubmissão deixando em seu lugar o 
fenômeno residual da ambivalência (coexistência de amor e ódio pela mesma pessoa). No caso 
do caráter impulsivo a contradição é transformada em duas injunções independentes que são 
então seguidas por meio do impulso.  Daí que a separação entre os sentimentos sociais (culpa, 
vergonha, nojo e angústia)  seja substituída pela sensação difusa mas unificada de desprazer. 
Aqui  Reich  parece  teorizar  uma  importante  inversão  no  estatuto  do  supereu,  inversão 
apontada  também  por  Lacan  anos  mais  tarde.  Se  expressão  freudiana  ‐  em  acordo  com  o 
paradigma  social  da  produção  ‐  associava  o  supereu  com  a  interdição,  Reich,  acentuará  a 
dimensão  prescritiva  ou  “impulsiva”  do  supereu,  em  acordo  com  o  paradigma  social  do 
consumo.  

  O  segundo  aspecto  formativo  do  caráter  impulsivo  é  a  identificação  sexual 


problemática. Aqui Reich parte de uma regularidade clínica verificada na prática sexual destes 
pacientes. Trata‐se do uso combinado do prazer como meio de punição e da sexualidade como 
defesa  contra  o  prazer.  Este  funcionamento  de  tipo  masoquista  encontra‐se  associado  a 
experiências de abuso sexual, social e do espaço de intimidade. As situações de terríveis maus 
tratos  sofridos  pelos  pacientes  da  Clínica  de  Viena,  atendidas  por  Reich,  levam‐no  a  teorizar 
sobre efeito deletério da frustração. Longe de atribuir massivamente razão etiológica a tal tipo 
de experiência, como a tendência da vitimologia contemporânea, ele percebe que o problema 
maior reside na inconstância e na oscilação de atitudes nos laços identificatórios iniciais. Assim 
fixação  e  projeção  combinam‐se  na  típica  encenação  de  fantasias  dos  pacientes  de  caráter 
impulsivo. Reich discute o caso de pacientes que se agridem, que se masturbam com o cabo de 
uma  faca,  pacientes  que  estão  constantemente  “pedindo”  para  serem  expulsos,  excluídos  e 
rejeitados  (de  instituições,  de  relações  e  tratamentos),  que  vivem  aberta  e  continuamente 
pensamentos  bizarros  (como  ingerir  vômito  ou  comer  vaginas  preenchidas  por  fezes), 
pacientes  que  se  feriam  física  e  moralmente  (como  forma  impulsiva  de  alívio  e  satisfação), 
assim  como  criavam  situações  recorrentes  de  perigo,  desafio  e  insubordinação.  O  que  Reich 
chama  de  identificação  sexual  problemática,  e  sua  paralela  degradação  do  amor‐próprio,  foi 
largamente  teorizado  pela  psicanálise  que  lhe  sucedeu,  porém  nem  sempre  com  a  mesma 
argúcia. A identificação com o agressor (Ferenczi), heróica (Lagache),  ou projetiva (Klein) nem 
sempre  descrevem  com  a  mesma  clareza  esta  espécie  de  metamorfose  entre  prazer, 
dependência e fetiche que Reich narra nas situações clínicas trazidas. 

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