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Título: A Carta do Pistoleiro Mainha à Sociedade

Autor: Guaipuan Vieira


Categoria: Literatura de Cordel - 29 estrofes – 8 páginas
Idioma: Português
Instituição: Centro Cultural dos Cordelistas - Cecordel
1ª Edição: 1998 2ª Edição: 1998 /3ª edição:1999
Gravação:
Estilo: Carta

A CARTA DO PISTOLEIRO MAINHA


À SOCIEDADE
-"As duas grandes famílias
Autor: Guaipuan Vieira Com muito orgulho pertenço
Aos Maias pelo meu pai
Eu escrevi um folheto Que sempre teve bom senso
De grande repercussão Da mamãe herdei Diógenes
A respeito de Mainha Que tem um padrão imenso.
E sobre a sua prisão
Cujo folheto atingiu Muitos pensam que eu sou
A sua quinta edição. Um terrível pistoleiro
Um sujeito endiabrado
Perverso e arruaceiro
Por causa disso Mainha Pensam que eu sou também
Me mandou uma mensagem Um filho de cangaceiro.
E nela naturalmente
Salvaguarda sua imagem A mente do nosso povo
Dizendo que não é rico Muitas vezes é enganada
A custa de pistolagem. Com especialidade
Quando é mal informada
Eu recebi a mensagem E a vítima com as notícias
Enviada por Mainha É a mais prejudicada.
E garanto aos meus leitores
Que não é invenção minha Eu nunca fui pistoleiro
Porque eu sou um poeta A todos posso provar
Que nunca fugiu da linha. Se matei foi por vingança
Assunto particular
Pistoleiro que eu saiba
O recado que transcrevo É pago para matar.
Só mudei mesmo o estilo
Pois eu transformei em versos
Sem guardar nenhum sigilo Se eu fosse perigoso
Transcrevo o que me foi dito Não teria sido preso
Portanto eu fico tranquilo. Pois cabra desta maneira
Tem o olhar bem aceso
Ao tomar conhecimento Tem ouvidos de tiú
Do que andei escrevendo Ninguém o pega indefeso.
O detento com razão
Escreveu se defendendo
Me enviando a mensagem
Que assim começo dizendo:
O bandido perigoso Esta é a tal razão
de tudo está informado De a polícia vir dizer
Pra isto paga coiteiro Que eu era um foragido
Anda muito bem armado Por muitos crimes dever
Nunca é preso sempre é morto Coisa que não é verdade
Dentro dum fogo cruzado. Todos vocês podem crer.

O crime que pratiquei


Na noite em qu'eu fui preso Já está esclarecido
Pelo senhor delegado Se matei foi por vingança
Não reagi à prisão Não estou arrependido
Nem também estava armado Só dei fim no assassino
E é a pura verdade Que matou meu "pai"querido.
Conforme foi constatado.
Pois Chiquinho para mim
Mesmo assim a própria imprensa
Que na minha casa andou Era um verdadeiro pai
Pesquisando a minha vida Hoje quando penso nele
de tudo se inteirou Meu coração se contrai
Porém me deram uma fama E o seu assassinato
Que só me prejudicou. Da cabeça não me sai.
O bandido foragido
Muda a sua identidade Então digo pros senhores:
Abandona a sua terra Cada uma traz uma sina
Parte pra outra cidade Uma que dá alegria
Mesmo assim vive escondido E outra que se arruína
Garantindo a liberdade. Tudo depende da sorte
É ela quem determina.
Com então sou foragido
Se tenho a minha morada
Nela vivo com meus filhos Mesmo um homem sendo bom
E minha mulher amada Muitas vezes é vitimado
Que vive sempre com medo Pra expiar seus pecados
De eu morrer numa cilada. Carrega um fardo pesado
É um bode expiatório
Eu vivo a minha vida Ou um desafortunado.
De vaqueiro e agricultor
Derrubando o gado bravo
No sertão abrasador Pra carregar este fardo
Na fazenda de Diógenes O destino me escolheu
O meu "pai" meu protetor. Como prova uma campanha
Que um grupo promoveu
Pois seu Chiquinho Diógenes Me jogou contra o povo
Gostava de viajar E só fui eu quem perdeu.
Para ver Exposições
Do gado bem exemplar
E quando comprava alguns Eu perdi pelo seguinte:
Eu sempre ia buscar. Hoje tenho uma má fama
Ninguém acredita em mim
Todo mundo me difama
E querem me afogar
Num oceano de lama.
Já falei aqui do crime Sou um bode expiatório
Que pratiquei por vingança Por um grupo fabricado
Por ele estou amargando
Numa cela em segurança Que talvez este é quem seja
Esperando a liberdade O bandido procurado
Porque tenho confiança. Que sempre vive julgando
E nunca quer ser julgado.
Quero voltar ao convívio
Da minha santa morada -Termino assim a mensagem
Para rever os meus filhos Enviada por Mainha
E minha mulher amada
Que certamente está triste Repito o que disse antes:
E chorando inconformada. Que não é invenção minha
Todos sabem que eu sou
Pistoleiro perigoso Um cordelista de linha.
É o chefe da Nação
Que mata de fome e à bala Fim
Parte da população
Ele é quem devia estar
Sofrendo numa prisão.
Título: A chegada de Lampião no Céu
Autor: Guaipuan Vieira
Categoria: Literatura de Cordel - 32 páginas
Idioma: Português
Instituição: Centro Cultural dos Cordelistas - Cecordel
1ª Edição: 1997 8ª Edição: 2005
Gravação: 2005 Repentistas: Antônio Jocélio e Zé Vicente

A CHEGADA DE LAMPIÃO NO CÉU O pilotão apressado


Autor: Guaipuan Vieira Ligeiro marcou presença
Pedro disse a Lampião:
Foi numa Semana Santa Eu lhe peço com licença
Tava o céu em oração Saia já da porta santa
São Pedro estava na porta Ou haverá desavença.
Refazendo anotação
Daqueles santos faltosos Lampião lhe respondeu:
Quando chegou Lampião. Mas que santo é o senhor?
Não aprendeu com Jesus
Pedro pulou da cadeira Excluir ódio e rancor?...
Do susto que recebeu Trago paz nesta missão
Puxou as cordas do sino Não precisa ter temor.
Bem forte nele bateu
Uma legião de santos Disse Pedro isso é blasfêmia
Ao seu lado apareceu. É bastante astucioso
Pistoleiro e cangaceiro
São Jorge chegou na frente Esse povo é impiedoso
Com sua lança afiada Não ganharão o perdão
Lampião baixou os óculos Do santo Pai Poderoso
Vendo aquilo deu risada
Pedro disse: Jorge expulse Inda mais tem sua má fama
Ele da santa morada.. Vez por outra comentada
Quando há um julgamento
E tocou Jorge a corneta Duma alma tão penada
Chamando sua guarnição Porque fora violenta
Numa corrente de força Em sua vida é baseada.
Cada santo em oração
Pra que o santo Pai Celeste - Sei que sou um pecador
Não ouvisse a confusão. O meu erro reconheço
Mas eu vivo injustiçado
Um julgamento eu mereço
Pra sanar as injustiças
Que só me causam tropeço.
Em um quarto bem acústico
Mas isso não faz sentido Nosso Senhor repousava
Falou São Pedro irritado O silêncio era profundo
Por uma tribuna livre Que nada estranho notava
Você aqui foi julgado Sem dúvida o Pai Celeste
E o nosso Onipotente Um cansaço demonstrava.
Deu seu caso encerrado.
Pedro já desesperado
- Como fazem julgamento Ligeiro chamou São João
Sem o réu estar presente? Lhe disse sobressaltado:
Sem ouvir sua defesa? Vá chamar Cícero Romão
Isso é muito deprimente Pra acalmar seu afilhado
Você Pedro está mentindo Que só causa confusão.
Disso nunca esteve ausente.
Resmungando bem baixinho
Sobre o batente da porta Pra raiva poder conter
Pedro bateu seu cajado Falou para Santo Antônio:
De raiva deu um suspiro Não posso compreender
E falou muito exaltado: Este padre não é santo
Te excomungo Virgulino O que aqui veio fazer?!
Cangaceiro endiabrado.
Disse Antônio: fale baixo
Houve um grande rebuliço De José é convidado
Naquele exato momento Ele aqui ganhou adeptos
São Jorge e seus guerreiros Por ser um padre adorado
Cada qual mais violento No Nordeste brasileiro
Gritaram pega o jagunço Onde é “santificado”.
Ele aqui não tem talento.
Padre Cícero experiente
Lampião vendo o afronto Recolheu-se ao aposento
Naquela santa morada Fingindo não saber nada
Disse: Deus não está sabendo Um plano traçava atento
Do que há na santarada Pra salvar seu afilhado
Bateu mão no velho rifle Daquele acontecimento.
Deu pra cima uma rajada.
Logo João bateu na porta
O pipocado de bala Lhe transmitindo o recado
Vomitado pelo cano Cícero disse: vá na frente
Clareou toda a fachada Fique despreocupado
Do reino do Soberano Diga a Pedro que se acalme
A guarnição assombrada Isso já será sanado.
Fez Pedro mudar de plano.
Alguns minutos o padre Sou o Capitão Virgulino
Com uma Bíblia na mão Guerrilheiro do sertão
Ao ver Pedro lhe indagou: Defendi o nordestino
O que há para aflição? Da mais terrível aflição
Quem lá fora tenta entrar Por culpa duma polícia
E também um ser cristão, Que promovia malícia
Extorquindo o cidadão.
São Pedro disse: absurdo
Que terminou de falar Por um cruel fazendeiro
Mas Cícero foi taxativo: Foi meu pai assassinado
Vim a confusão sanar Tomaram dele o dinheiro
Só escute o réu primeiro De duro serviço honrado
Antes de você julgar. Ao vingar a sua morte
O destino em má sorte
Não precisa ele entrar Da “lei” me fez um soldado.
Nesta sagrada mansão
O receba na guarita Mas o que devo a visita
Onde fica a guarnição Pedro fez indagação
Com certeza há muitos anos Lampião sem bater vista:
Nos busca aproximação. Vê padim Ciço Romão
Pra antes do ano novo
Vou abrir esta exceção Mandar chuva pro meu povo
Falou Pedro insatisfeito Você só manda trovão
O nosso reino sagrado
Merece muito respeito Pedro disse: é malcriado
Virou-se para São Paulo: Nem o diabo lhe aceitou
Vá buscar este sujeito. Saia já seu excomungado
Sua hora já esgotou
Lampião tirou o chapéu Volte lá pro seu Nordeste
Descalço também ficou Que só o cabra da peste
Avistando o seu padrinho Com você se acostumou.
Aos seus pés se ajoelhou
O encontro foi marcante FIM
De emoção Pedro chorou

Ao ver Pedro transformado


Levantou-se e foi dizendo:
Sou um homem injustiçado
E por isso estou sofrendo
Circula em torno de mim
Só mesmo o lado ruim
Como herói não estão me vendo.
01
Inicialmente peço
Dos Céus auxílios divinos,
A inspiração mais fértil,
Os versos mais genuínos
Para compor um poema
Da Vida de Afonso Arinos.
02
Em Belo Horizonte - Minas
Gerais, do céu cor de anil,
Nasceu dia 27
Do onze, do ano mil
E novecentos e cinco
Para a honra do Brasil.
03
Seu currículo vale mais
Que cheque de qualquer banco.
Afrânio e Sílvia: seus pais,
Nomes que não deixo em branco.
Seu nome completo: Afonso
Arinos de Melo Franco.
04
Neto de Cesário Alvim,
Um destaque da nação;
Sobrinho de Afonso Arinos,
Autor de "Pelo Sertão",
De Virgílio Alvim de Melo
Era exatamente irmão.

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05
Para não viver sozinho
Pensou numa companheira.
Ao encontrá-la aceitou
Como esposa verdadeira
Dona Ana Guilhermina
Rodrigues Alves Pereira
06
Mulher de família ilustre
De certa forma influente
Da história da política,
Um ramal sobrevivente.
Neta de Rodrigues Alves
Do Brasil, ex-presidente.
07
Fez formação humanística
No colégio Anglo-mineiro.
E no Dom Pedro II,
Já no Rio de Janeiro
Engrandecendo o currículo
Desse ilustre brasileiro.
08
Ao se transferir pra o Rio
Nos estudos se esmera
Escreve literatura
E sua paixão reitera
Colabora com a revista
"Estudantil Primavera".

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09
Teve a força de vontade
Como principal critério.
Permaneceu por dez anos
Levando o estudo a sério,
Sendo exímio professor
E servindo ao magistério.
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Se forma na Faculdade
Nacional de Direito,
Que no Rio de Janeiro
Goza de grande conceito.
Depois em Belo Horizonte
Foi promotor de respeito.
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Formado aos vinte e dois anos
Faz do Direito um valor
Torna-se, além de jurista,
Político, historiador,
Grande crítico brasileiro,
Ensaísta e professor.
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Para Genebra - Suíça,
Entendeu de viajar
Com o fim de seus estudos
Ali aperfeiçoar
Voltando ao Rio de Janeiro,
Passou a lecionar.

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Professor no exterior
Em mais de uma disciplina,
Ministrou curso de História
Em Paris, cidade fina,
Montevidéu-Uruguai
E na capital argentina.
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Em pleno Mil novecentos
E quarenta e seis, ingressa
No Instituto Rio Branco
Que um bom momento atravessa
Como professor de História
A sua história começa.
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Foi catedrático em Direito,
Cito: Constitucional,
Ante as Universidades
Federal e Estadual
Ambas no Rio do Janeiro
Onde foi gênio imortal.
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No ano quarenta e sete
Quarenta dois anos faz.
Em prol da democracia
Começa em Minas Gerais
Sua carreira política
Vitoriosa demais.

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Contra a discriminação
Criou a base legal,
Foi por três legislaturas
Deputado federal
E líder da União
Democrática Nacional.
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O preconceito de cor
Que tanto humilha e oprime
A partir de sua lei
É considerado crime.
A dignidade negra
Sua mão sábia redime!!!
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No partido do governo
Trabalhou em união
Depois passou a ser líder
De um bloco de oposição
Ao governo JK,
Presidente da nação.
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Dois fatos principalmente
Que até hoje são lembrados
Marcaram sua presença
Na Câmara dos Deputados
E graças a ele foram
Os projetos aprovados.

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21
Como foi citada a lei
Contra a discriminação
Racial, que àquela época
Já provocava exclusão
Hoje existe, mas é menos
Dado à sua aprovação.
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A lei: Um, três, nove, zero (1.390)
De projetos genuínos
Que combatia, mormente,
Os preconceitos ferinos
Passou a ser conhecida
Como "Lei Afonso Arinos".
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No ano cinqüenta e quatro
No dia nove de agosto
Pediu em discurso a Vargas
Que renunciasse ao posto.
Seu gosto Vargas não fez
Mas teve um grande desgosto.
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E quinze dias depois
Dessa frase proferida
Talvez se vendo acuado
Não achando outra saída
No Palácio do Catete
Getúlio se suicida.

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25
Em 58, Arinos,
Nossa figura central,
Foi eleito senador
No Distrito Federal
Que logo virou Estado,
Rio de Janeiro atual.
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Foi Senador pelo Rio,
O único dos Senadores
Que no governo de Jânio
Teve importantes labores
Quando foi ministro das
Relações Exteriores.
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E até 66
Permaneceu no Senado
Durante esse tempo foi
Duas vezes afastado
Pra ser, pelo presidente,
Novamente nomeado.
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O primeiro chanceler
Brasileiro que fez plano
E foi visitar a África
Em sessenta e um, o ano,
Pra conhecer e sentir
A dor do povo africano.

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Chefia a Delegação
Do Brasil perante as
Nações Unidas, durante
As assembléias gerais
E com um ano depois
Volta chefiando mais.
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Findou chefiando a
Delegação brasileira
À Conferência em Genebra
Onde, na pauta primeira
Estava o desarmamento,
Missão da nossa bandeira.
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Nomeado presidente
Da citada Comissão
Provisória de Estudos
Para a elaboração
Do que se tornou decreto
Para a Constituição.
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Por Sarney foi convidado
Como um dos homens finos
Assume uma comissão
Pra guiar nossos destinos
Que se tornou em seguida
Comissão Afonso Arinos.

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33
Nunca deixou de fazer
O bem pra nossa nação
Foi dos Direitos Humanos,
Na sua declaração
O redator que fez tudo
Sem errar na redação
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Pra o Conselho Federal
Sua pessoa compete
Foi por mérito nomeado
No ano sessenta e sete
Depois em setenta e três
Essa função se repete.
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Foi do Instituto dos
Advogados, primeiro
Um membro de qualidade
Efetivo e verdadeiro
Também do Instituto Histórico
Geográfico Brasileiro.
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E aos 81 anos
Em completa lucidez,
É eleito senador
No ano de 86
Depois o povo mineiro
O leva ao cargo outra vez.

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Títulos: Professor Emérito,
Podemos citar primeiro,
Duas universidades
Deste país brasileiro
Da UFRJ
E a do Rio de Janeiro
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Intelectual do ano
Setenta e três, sem favores
Ganha o prêmio "Juca Pato"
Que confirma seus valores
Perante a Sociedade
Paulista de Escritores.
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Além de conquistar títulos
Famosos por mais de um fato
Conquistou três grandes prêmios
Provando ser literato:
"Luisa Cláudio de Sousa",
"Jabuti" e "Juca Pato".
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O prêmio "Luisa Cláudio
De Sousa", ele assim ganhou
Do PEN Clube do Brasil
Isto por que publicou
"Rodrigues Alves", um livro
Que o Brasil todo comprou.

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41
Vem o prêmio "Jabuti"
Mais uma satisfação
Ganho na Câmara do Livro
Mas em dupla ocasião
Dos volumes de memória,
Em sua publicação.
42
No ano 58
Toma posse da cadeira
25 que seria
Ilustrada a vida inteira
Recebido pelo grande
Poeta Manoel Bandeira.
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Na ABL depois
Seu percurso se estende
Recebe Antonio Houaiss
E a mesma homenagem rende:
Guimarães Rosa, Oscar Dias
E a Otto Lara Rezende.
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Como Senador preside
Da forma mais natural
Duas Comissões que o tornam
Expressão nacional
C.R.E, CCJ
No Senado Federal.

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45
Autor de inúmeras obras
Para aumentar sua glória
Em História e em Direito,
Em Política e em Memória,
Para citar quatro temas
Vou começar por História.
46
Com destaque para estas
Publicações de beleza
Tal "O Índio Brasileiro",
A "Revolução Francesa",
"As Origens brasileiras",
Bondade da natureza.
47
Em "Um Soldado do Reino
E do Império" falado;
Nesta obra ele relata
O verdadeiro legado
Com base na vida do
Herói Marechal Callado.
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Fez a "História do Povo
Brasileiro", a mais honrosa
Com a colaboração
De uma dupla famosa
O grande Antonio Houaiss
E Francisco Assis Barbosa.

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"Estadista da República"
Do seu pai dando o perfil
Com a "História do Banco
Do Brasil" é nota mil
E a "Síntese da História
Econômica do Brasil"
50
Compondo três obras mais
Dando o esclarecimento
Sobre as idéias políticas
Exploradas no momento
Do Brasil, homens e temas
E o desenvolvimento.
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Afonso Arinos portava
As melhores referências
Direito, História, Política,
Pesquisas sobre ciências,
Trabalhos Parlamentares,
Discursos e Conferências.
52
Em Direito, dou destaque,
Como grandes críticos dão,
Para "As leis Complementares"
Da nossa Constituição
Fazendo comparações
Com as de outra nação.

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53
Na política ele escreveu
Sobre Nacionalismo,
De problemas brasileiros
E Presidencialismo,
Sobre civilização,
Crise e Parlamentarismo.
54
Faz em Críticas e Memórias:
"Portulano" ninguém toma
Como "O Som do Outro Sino"
"Mar de Sargaços", que soma
"Planalto", "Alto-Mar Maralto"
"Escalada" e "Amor a Roma".
55
Assim foi Afonso Arinos
Um gigante do saber;
Bamba da diplomacia
Fez nosso Brasil crescer;
Foi bom na oposição
E bem melhor no poder!
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Intelectual cheio
De particularidades
Ímpar por estilo próprio
Múltiplo nas atividades
Raro porque foram poucos
Com as suas qualidades.

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57
Do que poderia ser
Não foi mais e nem foi menos
Foi um político agitado
Um sábio dos mais serenos
Gigante pisando firme
Nos mais diversos terrenos.
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Afonso Arinos de Melo
Grande desde que nasceu;
Aprendeu para ensinar
A missão que recebeu.
Conseguiu ficar famoso
Ensinando o que aprendeu.
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Foi um exemplo de ética,
De grandeza e compostura
Combateu corrupção,
Denunciou a tortura
Forjou a democracia,
Condenou a ditadura!
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Suas falas pelo mundo
Foram todas gloriosas
Saiu das Minas Gerais
Para as nações poderosas
Mostrando o brilho das mentes
Dos sábios das Alterosas.

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Ouro, ferro e diamantes
Traçaram dele, os destinos,
Foi honra dos brasileiros
Ilustração dos Arinos,
A estrela mais brilhante
Dos céus belorizontinos.
62
A arte do Aleijadinho,
A luz dos inconfidentes,
A garra dos conjurados,
O sangue de Tiradentes,
Santos Dumont e Drumonnd
São dele os antecedentes.
63
E em mil e novecentos
E noventa, esse senhor
Ganha o derradeiro pleito,
Sofre a derradeira dor
Em pleno exercício do
Mandato de Senador.
64
Guerreiro de muitas lutas,
Vencedor de toda trama,
Caiu no campo da honra,
Encantou-se em plena cama.
Partiu, mas ficou lembrado,
É como diz o ditado:
"Vai-se o homem, fica a fama".

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01
Musa divina que inspira
Poetas do mundo inteiro,
Traz-me os fluidos do Parnaso
E o saber mais verdadeiro
Pra que eu decante à nação,
Alexandre de Gusmão,
Um grande herói brasileiro!
02
Mas não se trata de herói
De músculos, de espada e aço,
Nem dos quadrinhos que trazem
Superpoderes do espaço;
Não é filho de deus grego,
Cow-boy, nem homem-morcego,
Nem valentão do cangaço!
03
Mas como chamar de herói,
Que não brigou nem matou?
Quem não se impôs pela espada,
Quem canhão não disparou,
Quem a lança não brandiu,
Quem bombas nunca explodiu,
Quem País nunca atacou?
04
Tenha calma, meu leitor,
Vou lhe explicar, não se zangue,
A história desse herói,
Sem guerra, sem bangue-bangue.
Sem flecha, espada ou fuzil,
Que fez crescer o Brasil
Sem jamais derramar sangue!

1
05
Esse nome de Alexandre
Ele herdou do seu padrinho,
Um padre que lhe ensinou
Da justiça o bom caminho.
E o sobrenome Gusmão
Vem também do capelão
Como a Bíblia, a hóstia e o vinho.
06
Trouxe o destino de outro
Alexandre do passado,
O guerreiro macedônio,
De ser grande e preparado...
Só que o guerreiro iracundo
Que conquistou meio mundo
Fez com sangue derramado.
07
Alexandre de Gusmão
Nasceu no Porto de Santos
Em “Um, meia, nove, cinco”
Numa família de tantos
Irmãos e irmãs queridas;
Até então, oito vidas
Dadas às rezas e aos mantos.
08
Filho de Maria Álvares;
E Lourenço, cirurgião;
Dos doze filhos nascidos
Têm destaque, ele e o irmão,
Religioso e inventor,
Nosso “Padre-voador”
Bartolomeu de Gusmão!

2
09
Inventor do aeróstato,
Foi este padre exemplar
Que provou perante o rei
Que era possível voar;
Ao ver uma bolha quente
Fez um balão ascendente
Por ser mais leve que o ar!
10
Pois Bartolomeu levou
Alexandre pra Bahia,
No Colégio de Belém
Demonstrou sabedoria;
Foi pra o Colégio das Artes
Por ser de todas as partes
O melhor que existia!
11
Dali saiu preparado
Diplomado, competente,
Em Latim, Retórica e Ética,
E em Lógica, logicamente,
Em Metafísica, versado
E o título considerado
De “Filósofo excelente”.
12
Mil setecentos e dez
Com quinze anos de idade
O padre reconhecendo
Sua genialidade
Mandou-o pra Portugal,
Foi pra Corte Imperial
Fazer universidade.

3
13
Matriculou-se em Coimbra
Mostrando grande valor.
Ali estudou, formou-se,
Ganhou grau superior.
Com seu saber cientista
Se tornou iluminista
Ganhando anel de doutor.
14
Dali seguiu pra Paris.
Estudar mais era o plano;
Secretário da Embaixada
Logo assumiu sem engano...
Fez em Sorbonne, fantástico,
O Direito Eclesiástico,
O Civil e o Romano.
15
Na passagem pela Espanha,
Em Madrid passou semanas
Vendo o Tratado de Utrecht
Com falhas meridianas
E o limite natural
Entre Espanha e Portugal
Nas terras americanas.
16
Foi em Paris que Gusmão
Aprofundou seu saber
Na Ciência da Política
Mergulhou pra conhecer
Seu sentimento profundo
E o jogo eterno do mundo
Dos mistérios do poder!

4
17
Lá na Paris do Rei Sol
A nova luz se acendia
Na mente do brasileiro
Que trocou Teologia
Pela Razão e a Crítica,
Iluminismo e Política,
Direito e Diplomacia!
18
Desistiu do sacerdócio
Inquisidor antiquado.
Notou que o clericalismo
Da fogueira, era apagado;
E ao ler estratégia e tática
Conheceu a essência prática
Das duras razões de Estado.
19
E em 19 voltou
A residir em Lisboa.
O Rei Dom João acolheu-o
Como querida pessoa;
O nomeou secretário
E plenipotenciário
Pra defender a Coroa!
20
No ano 20 cumpriu
Missão muito especial
Negociando em Cambray,
Em plena França real;
Foi um bravo sem bravata
Que se sagrou diplomata
De nível internacional!

5
21
Bacharelou-se em Direito,
Tornou-se Doutor em Leis,
Foi destacado pra Roma
No ano de 23
Pra junto às cortes papais
Recuperar o cartaz
Do monarca português!
22
Até o ano de trinta
Atuou no Vaticano
Fazendo grandes acordos
Pra o bem do seu soberano,
Ganhou, por ser habilíssimo,
O título de “Fidelíssimo”
Pra o Monarca lusitano!
23
Com o título Dom João V
Compunha o trio de escol;
Pois o título equivalia
A “Rei Católico” espanhol
E o título invejadíssimo
Que era “Rei Cristianíssimo”
Da França, o próprio Rei Sol.
24
Sete anos e três papas
O viram nesta missão
De defender junto a Roma,
Sua querida nação.
Muitos litígios zerou,
E, de quebra, conquistou,
Dos papas o coração!

6
25
Benedito XIII, o Papa,
Chamou-lhe no Vaticano
Chegou a lhe oferecer
O título “Príncipe Romano”
Ele não quis aceitar
Só pra não contrariar
A Dom João, seu soberano!
26
No ano de 29
A Lisboa regressou
Logo Dom João pra o Brasil
Alexandre despachou
E a nossa realidade
Com muita profundidade
Gusmão de perto estudou.
27
Dois anos passou conosco,
Retornou a Portugal,
Lá transformou-se em Fidalgo
Da Nobre Casa Real;
Como Ciências, sabia,
Entrou para a Academia
Provando ser genial.
28
E logo foi nomeado
Pela própria Majestade,
Num cargo bem próximo ao Rei,
“Escrivão da Puridade”,
E por ter visão moderna
Cuidou da política externa
Com brio e capacidade!

7
29
Transformou-se em Conselheiro
Mostrando cultura e tino,
Escreveu livro de História
No idioma latino
E por ser hábil e ser sério
Assumiu um Ministério
No Conselho Ultramarino.
30
O cuidado com o Brasil
Foi um dos encargos seus;
Das relações com o Papa
Cuidava em nome de Deus
E cuidou mais, com denodos,
De ter relações com todos
Os países europeus.
31
No Conselho Ultramarino
Encontrou a solução
Pra poder qualificar
Nossa colonização
Trazendo família inteira
Dos Açores e Madeira,
Mas, sem escravização!
32
Trouxe quatro mil casais
Para a região sulina
Rio Grande e Paraná
Também Santa Catarina.
Cada família, uma área...
O que é reforma agrária,
É Gusmão quem nos ensina.

8
33
Recomendava a quem vinha
Para o Brasil trabalhar:
Estude rios e minas,
Flora, fauna, céus e mar,
O clima, a arte, a vertente
E os costumes dessa gente
Comer, vestir e rezar.
34
Dedicou-se a estudar
As produções cartográficas,
Missões, Entradas, Bandeiras,
As bacias hidrográficas,
Relevo, edificações...
Geopolítica por razões
Históricas e geográficas.
35
Concluiu que os países
Não podem ter suas áreas
Divididas ao sabor
De linhas imaginárias;
Que têm sempre as desvantagens
De deixar milhões de margens
Para interpretações várias.
36
Sua visão panorâmica
E a mente prodigiosa,
O seu saber filosófico,
Sua ação habilidosa
Deram-lhe mais competência
Para a área da Ciência,
Política e religiosa!

9
37
Foi quem criou três bispados
Pará, São Paulo e Gerais.
Criou mais as prelazias
De Cuiabá e Goiás
E como pensava em tudo
Fez o mais profundo estudo
Das questões industriais.
38
Naqueles tempos longínquos
Deixou um projeto exposto
Obrigando aos poderosos
A pagarem mais imposto
E rebaixando a quantia
Para o pobre que vivia
Do suor do próprio rosto!
39
E implantou o sistema
Chamado “capitação”
Pelo número de escravos
Que possuía o barão;
Fundiu o ouro e fez barras,
Pra ver se acabava as farras
De tanta sonegação.
40
Entre 29 e 30
No Brasil permanecia
Em São Paulo, Minas, Rio
Atuou com maestria
Em tudo que o rei mandou
E de quebra, inda aceitou,
Ensinar Filosofia.

10
41
Nesse período ele viu
Que as fronteiras da nação
Desenhada em Tordesilhas
Já não tinham mais razão
De usufruir validade
Pois, frente à realidade;
Era simples ficção!
42
Das Ilhas de cabo Verde
Trezentas, setenta léguas
Ninguém havia medido
E assim, sem metros e réguas
Bandeirantes desde cedo
Fora ocupando sem medo
Sem leis, limites ou tréguas.
43
Os espanhóis no Pacífico
Se entreteram próximo ao mar,
Destruindo Incas e Maias
E a prata a desenterrar
Se esquecendo de um mundão,
Um profundo De-Sertão
Que tinha pra conquistar!
44
Neste “vazio” ficava
Pará, Rondônia, Amapá,
Catarina e Mato Grosso
Rio Grande e Paraná,
Amazonas, chão goiano...
Tudo... do Meridiano
De Tordesilhas pra lá!!!

11
45
Se a linha era imaginária,
Quem iria imaginar
Se ela ficava mais perto,
Se mais longe ia ficar...
E haja procurar tesouro,
Haja sonhar prata e ouro,
Haja índio escravizar!!!
46
E assim foram furando
Pântanos, matas, rios, serras;
Fazendo arraiais e vilas
Se apossando em novas terras
Chantando marcos e crivos
E oferecendo aos nativos
Vida escrava ou morte em guerras!
47
Era a espada cortando,
E a batina benzendo,
O arcabuz trovejando
E a aguardente fervendo,
Miçanga aos índios comprando,
O mato abrindo e fechando
E o nosso Brasil crescendo!
48
Matas cedendo ao machado,
À foice, ao Rabo-de-galo,
O chifre do boi tangido
Pelo casco do cavalo,
O “hinterland” se ampliando
E Tordesilhas ficando
Sem mais ninguém respeitá-lo!

12
49
Além de não existir
Marco e fiscalização
Durante umas oito décadas
Existiu a união
Entre Portugal e Espanha...
Cada qual comeu na manha
Milhões de léguas do “irmão”!
50
Enquanto aqui, portugueses,
Rasgavam matas a eito,
Cortavam serras e rios
Levando o Brasil no peito,
Na região asiática,
Espanha com a mesma prática
Agia do mesmo jeito!
51
Mas quando se separaram
As duas nações ibéricas,
As invasões prosseguiram
Fossem calmas, fossem histéricas
Espanha tomou chão luso
Na Ásia e sofreu abuso
De Portugal nas Américas!
52
Além disso, Sacramento,
Aonde a prata aflorava,
Portugal se achava dono
Mas por dono não se achava
Espanha entrou, não saía...
Quanto mais acordo havia
Mais acordo se quebrava.

13
53
Assim como portugueses
Em terras americanas
Comiam terras d’Espanha,
Na Ásia, mãos castelhanas
Com chumbo, espadas, botinas
Engoliam Filipinas,
Molucas e Marianas.
54
Quanto mais as ambições
No chão se concretizavam
Mais guerras se sucediam,
Mais ódios se destilavam,
Mais corações se partiam
Mais sangue as terras bebiam
Mais vidas se consumavam!
55
Foi quando se viu que a hora
Não era mais do leão
Que era a hora da raposa
Entrar no campo da ação
Trocando a dor da violência
Pela luz da inteligência;
O chumbo pela razão!!!
56
E então saíram da cena
Jagunços e generais;
Em vez de brutos guerreiros,
Finos intelectuais
Mapas em vez de canhões...
Em vez do tiro, as razões;
No lugar da guerra, a paz!

14
57
E aí brilhou Alexandre
Com mapas e argumentos...
A fala mansa e os estudos
No lugar dos armamentos,
A paciência que ensina
No lugar da adrenalina
Dos músculos sanguinolentos!
58
Defendeu que o limite
Fosse o rastro do colono,
Com base em rios e serras,
Não em linhas do abandono
Feitas de sonho e confetes...
Era o “Uti possidetis”
Quem ocupa e cuida, é dono.
59
Foi assim que em quatro anos
Agigantou-se a nação
Alexandre costurou
As bordas de um Brasilzão,
Do Oiapoque ao Chuí,
Até quase Potosí
Com jeitão de coração!
60
O arco de Tordesilhas
De cara, cresceu três vezes;
No Norte, no Sul, no Centro,
Com chão pra nobres, burgueses,
Pra índios, padres, reinóis,
Com a prata pra os espanhóis,
O ouro pra os portugueses!

15
61
Gusmão inda amarrou mais
Que a paz beijaria a terra,
Do Brasil, mesmo que as sedes
Dos reinos chegassem à guerra.
Venceu sem canhão nem bota
Com “quengo”, na maciota,
Que “o bom cabrito não berra”.
62
Pois este gênio, este herói,
Avô da diplomacia
Brasileira, que deu glórias
E terras à monarquia,
Que a Portugal deu poder
Que fez o Brasil crescer,
Foi vítima da tirania!
63
Quando Dom José cobriu-se
Com a coroa portuguesa
Marquês de Pombal cobriu
Gusmão com ódio e vileza
O fogo apagou-lhe os brilhos
Da esposa e de dois filhos
E ele morreu na pobreza
64
A História lhe roubou
As glórias que merecia
Por isto, eu faço justiça
Nesta humilde poesia
A ALEXANDRE GUSMÃO,
Gênio da paz, campeão
Da luz da diplomacia!

16
Leandro Gomes de Barros

ANTONIO SILVINO
o rei dos cangaçeiros

O povo me chama grande


E como de fato eu sou
Nunca governo venceu-me
Nunca civil me ganhou
Atrás de minha existência
Não foi um só que cansou.

Já fazem 18 anos
Que não posso descansar
Tenho por profissão o crime
Lucro aquilo que tomar,
O governo às vezes dana-se
Porém que jeito há de dar?!

O governo diz que paga


Ao homem que me der fim,
Porém por todo dinheiro
Quem se atreve a vir a mim?
Não há um só que se atreva
A ganhar dinheiro assim.

Há homens na nossa terra


Mais ligeiros do que gato,
Porém conhece meu rifle
E sabe como eu me bato,
Puxa uma onça da furna,
Mas não me tira do mato.

Telegrafei ao governo
E ele lá recebeu,
Mandei-lhe dizer: doutor,
Cuide lá no que for seu,
A capital lhe pertence
Porém o estado é meu.

O padre José Paulino


Sabe o que ele agora fez?
Prendeu-me dois angaceiros,
Tinha outro preso fez três,
O governo precisou
Matou tudo de uma vez.

Porém deixe estar o padre,


Eu hei de lhe perguntar
Ele nunca cortou cana
Onde aprendeu a amarrar?
Os cangaceiros morreram
Mas ele tem que os pagar.

Depois ele não se queixe,


Dizendo que eu lhe fiz mal,
Eu chego na casa dele,
Levo-lhe até o missal,
Faço da batina dele
Três mochilas para sal.

Um dos cabras que mataram,


Valia três Ferrabrás
Eu não dava-o por cem papas,
Nem quinhentos cardeais
Não dava-o por dez mil padres,
Pois ele valia mais.

Mas mestre padre entendeu


Que ia acertadamente
Em pegar meus cangaceiros
E fazer deles presente,
Quem tiver pena que chore
Quem gostar fique contente.

Meus cangaceiros morreram


Mas ele morre também,
Eu queimando os pés aqui
Nem mesmo o diabo vem,
Eu não vou criar galinhas
Para dar capões a ninguém.

Tudo aqui já me conhece


Algum tolo inda peleja,
Eu sou bichão no governo
E sou trunfo na igreja.
Porque no lugar que passo
Todo mundo me festeja.

No norte tem quatro estados


À minha disposição,
Pernambuco e Paraíba
Dão-me toda distinção,
Rio-Grande e o Ceará
Me conhecem por patrão.

No Pilar da Paraíba
Eu fui juiz de direito,
No povoado - Sapé,
Fui intendente e prefeito,
E o pessoal dali
Ficou todo satisfeito.
Ali no entroncamento
Eu fui Vigário-Gral,
Em Santa Rita fui bispo,
Bem perto da capital,
Só não fui nada em Monteiro,
Devido a ser federal.

Porém tirando o Monteiro,


O resto mais todo é meu,
Aquilo eu faço de conta
Que foi meu pai que me deu
O governo mesmo diz:
Zele porque tudo é seu.

Na vila de Batalhão,
Eu servi de advogado,
Lá desmanchei um processo
Que estava bem enrascado,
Livrei três ou quatro presos
Sem responderem jurado.

Só não pude fazer nada


Foi na tal Santa Luzia.
Perdi lá uma eleição,
A cousa que eu não queria,
Mas o velho rifão diz:
Roma não se fez n’um dia.

O padre José Paulino


Pensa que angu é mingau
Entende que sapo é peixe
E barata é bacurau
Pegue com chove e não molha,
Depois não se meta em pau.

Eu já encontrei um padre,
Recomendado de papa,
Tinha o pescoço de um touro,
Bom cupim para uma tapa,
Fomos às unhas e dentes,
Foi ver aquela garapa.

Quando o rechochudo viu


Que tinha se desgraçado,
Porque meu facão é forte,
Meu baço é muito pesado,
Disse: vôte, miserável,
Abancou logo veado.
Eu gritei-lhe: padre-mestre,
Me ouça de confissão.
Ele respondeu-me: dane-se
Eu lhe deixo a maldição,
Em mim só tinha uma coroa,
Você fez outra a facão.

Eu inda o deixei correr


Por ele ser sacerdote,
Para cobra só faltava
Enroscar-se e dar o bote,
Aonde ele foi vigário,
Quatro levaram chicote.

Foi tanto qu’eu disse a ele:


Padre não seja atrevido
Tire a peneira dos olhos,
Veja que está iludido,
Eu lhe respeito a coroa,
Porém não o pé do ouvido.

O velho padre Custódio,


Usurário, interesseiro,
Amaldiçoava quem desse
Rancho a qualquer cangaceiro,
Enterrou uma fortuna,
E eu sonhei com o dinheiro!...

Então fui na casa dele,


Disse, padre eu quero entrar,
Sonhei com dinheiro aqui!...
E preciso o arrancar,
Quero levá-lo na frente
Para o senhor me ensinar.

O padre fez uma cara,


Que só um touro agastado,
Jurou por tudo que havia,
Não ter dinheiro enterrado,
Eu lhe disse, padre-mestre,
Eu cá também sou passado.

Lance mão do cavador,


E vamos ver logo os cobres,
Esse dinheiro enterrado
Está fazendo falta aos pobres,
Usemos de caridade
Que são sentimentos nobres.
Dez contos de réis em ouro
Achemos lá n’um surrão,
Três contos de réis em prata
Achou-se n’outro caixão,
Eu disse: padre não chore,
Isso é produto do chão.

O padre ficou chorando


Eu disse a ele afinal
Padre mestre este dinheiro
Podia lhe fazer mal
Quando criasse ferrugem
Lhe desgraçava o quintal.

Ajuntei todos os pobres


Que tinham necessidade
Troquei ouro por papel
Haja esmola em quantidade
Não ficou pobre com fome
Ali naquela cidade.

O padre José Paulino


Acha que estou descansado
Queria fazer presente
Ao governo do Estado
Deu três cangaceiros meus
Sem nada lhe ter custado.

Um desses ditos rapazes,


Estava até tuberculoso,
O segundo era um asmático,
O terceiro era um leproso,
O urubu que o comeu
Deve estar bem receioso.

Tive nos meus cangaceiros


Um prejuízo danado,
Primeiro foi Rio-Preto,
Segundo Pilão-Deitado,
Os homens mais destemidos
Que tinham me acompanhado.

Eu juro pelo meu rifle,


Que o Padre José Paulino
Cai sempre na ratoeira
E paga o grosso e o fino,
Não há de casar mais homem,
Nem batizar mais menino.
Eu sempre gostei de padre
Tenho agora desgostado
Padre querer intervir
Em negócio do Estado?!...
Viaja sem o missal,
Mas leva o rifle encostado.

Em vez de estudar o meio


Para nos aconselhar,
Só quer saber com acerto,
Armar rifle e atirar,
Lá onde ele ordenou-se,
Só lhe ensinaram a brigar.

Depois ele não se queixe,


Nem diga que sou malvado,
Ele nunca assentou praça
Como pode ser soldado?
Não tem razão de queixar-se,
Se tiver mau resultado.

Quatro estados reunidos


Tratam de me perseguir,
Julgam que não devo ter
O direito de existir,
Porém enquanto houver mato,
Eu posso me escapulir.

Eu ganhando essas serras,


Não temo alguém me pegar
Ainda sendo um que pegue,
Uma piaba no mar,
Um veado em mata virgem
E uma mosca no ar.

Eu já sei como se passa


Cinco dias sem comer,
Quatro noites sem dormir,
Um mês sem água beber,
Conheço as furnas onde durmo
Uma noite se chover.

Uma semana de fome,


Não me faz precipitar,
Mato cinco ou seis calangos
Boto no sol a secar,
Quatro ou cinco lagartixas,
Dão muito bem um jantar.
Eu passei mais de um mês
Numa montanha escondido,
Um rapaz meu companheiro
Foi pela onça comido,
Por essa também
Eu fui muito perseguido.

Era um lugar esquisito,


Nem passarinho cantava!...
Apenas à meia noite
Uma coruja piava,
Então uma grande onça,
De mim não se descuidava.

Havia muito mocós,


Eu não podia os matar,
Andava tropa na serra
Dia e noite a me caçar,
No estampido do tiro
Era fácil alguém me achar.

Passava-se uma semana


Que nada ali eu comia,
Eu matava algum calangro
Que por perto aparecia
Botava-os na pedra quente
Quando secava eu comia.

Quando apertava-me a sede


Pegava a croa de frade
Tirava o miolo dela
Chupava aquela umidade
Lá eu conheci o peso
Da mão da necessidade.

Um dia que a tropa andava


Na serra me procurando
Viram que um grande tigre,
Estava em frente os emboscando
Um dos oficiais disse:
Estamos nos arriscando.

E o Antonio Silvino
Não anda neste lugar,
Se ele andassem, aquela onça
Havia de se espantar,
Eu estava perto deles,
Ouvindo tudo falar.
Ali desceu toda a tropa,
Não demoraram um momento,
Um soldado que trazia
Um saco de mantimento,
Por minha felicidade
Deixou-o por esquecimento.

Eu estava dentro do mato,


Vi quando a tropa desceu
O tigre soltou um urro,
Que o tenente estremeceu
Até a borracha d’água
Uma das praças perdeu.

Quando eu vi que a tropa ia


Já n’uma grande lonjura,
Fui, apanhei a mochila,
Achei carne e rapadura,
Farinha queijo e café,
Aí chegou-me a fartura.

Achei a borracha d’água


Matei a sede que tinha,
A carne já estava assada,
Fiz um pirão de farinha
Enchi a barriga e disse:
Deus te dê fortuna, oncinha.

Porque a tua presença,


Fez toda a força ir embora,
O ronco que tu soltasses,
encheu-me a barriga agora,
Eu com a sede que estava,
Não durava meia hora.

E é agora o que faço,


Havendo perseguição,
Procuro uma gruta assim
E lá faço habitação,
Só levo lá, um, dous rifles
E o saco de munição.

Me mudo para uma furna


Que ninguém sabe onde é,
A furna tem meia légua
Marcando de vante a ré,
A onça chega na boca
Mas dentro não põe o pé.
A onça conhece a furna,
Desde a entrada à saída
Porém qual é essa fera
Que não tem amor à vida?
Uma onça parte assim,
Se vendo quase perdida!...

Quando eu deixar de existir


Ninguém fica em meu lugar,
Ainda que eu deixe filho,
Ele não pode ficar,
Porque a um pai como eu
Filho não pode puxar.

Pode ter muita coragem


Ser bem ligeiro e valente,
Mas vamos ver suporta
Passar três dias doente,
Com sede de estalar beiço
E fome de serrar dente.

Se não tiver natureza


De comer calango cru,
Passe um mês sem beber água
Chupando mandacaru,
Dormir em furna de pedra
Onde só veja tatu.

Não podendo fazer isso,


Nem pense em ser cangaceiro,
Que é como um cavalo magro
Quando cai no atoleiro,
Ou um boi estropiado
Perseguido do vaqueiro.

Há de ouvir como cachorro,


Ter faro como veado,
Ser mais sutil do que onça,
Maldoso e desconfiado,
Respeitar bem as famílias,
Comer com muito cuidado.

Andar em qualquer lugar


Como quem está no perigo,
Se for chefe de algum grupo
Ninguém dormirá consigo,
O próprio irmão que tiver,
O tenha como inimigo.
O cangaceiro sagaz
Não se confia em ninguém,
Não diz para onde vai,
Nem ao próprio pai se tem,
Se exercitar bem nas armas,
Pular muito e correr bem.

Em meu grupo tem entrado


Cabra de muita coragem,
Mas acha logo o perigo
E encontra a desvantagem
Foge do meio do caminho,
Não bota o meio da viagem.

Porque andar vinte léguas


Isso não é brincadeira,
E romper mato fechado,
Subir por pedra e ladeira,
Como eu já tenho feito,
Não é lá cousa maneira.

Pegar cobra como eu pego


Quando ela quer me morder,
Cascavel com sete palmos,
Só se Deus o proteger,
Mas eu pego quatro ou cinco
E solto-a, deixo-a viver.

Que é para ela saber,


Que só eu posso ser duro,
Eu já conheço o passado,
Nele ficarei seguro,
Penso depois no presente
Previno logo o futuro.
Leandro Gomes de Barros

A Seca do Ceará

Seca as terras as folhas caem,

Morre o gado sai o povo,

O vento varre a campina,

Rebenta a seca de novo;

Cinco, seis mil emigrantes

Flagelados retirantes

Vagam mendigando o pão,

Acabam-se os animais

Ficando limpo os currais

Onde houve a criação.

Não se vê uma folha verde

Em todo aquele sertão

Não há um ente d’aqueles

Que mostre satisfação

Os touros que nas fazendas

Entravam em lutas tremendas,

Hoje nem vão mais o campo

É um sítio de amarguras

Nem mais nas noites escuras

Lampeja um só pirilampo.
Aqueles bandos de rolas

Que arrulavam saudosas

Gemem hoje coitadinhas

Mal satisfeitas, queixosas,

Aqueles lindos tetéus

Com penas da cor dos céus.

Onde algum hoje estiver,

Está triste mudo e sombrio

Não passeia mais no rio,

Não solta um canto sequer.

Tudo ali surdo aos gemidos

Visa o aspectro da morte

Como a nauta em mar estranho

Sem direção e sem Norte

Procura a vida e não vê,

Apenas ouve gemer

O filho ultimando a vida

Vai com seu pranto o banhar

Vendo esposa soluçar

Uma adeus por despedida.

Foi a fome negra e crua

Nódoa preta da história

Que trouxe-lhe o ultimatum

De uma vida provisória

Foi o decreto terrível


Que a grande pena invisível

Com energia e ciência

Autorizou que a fome

Mandasse riscar meu nome

Do livro da existência.

E a fome obedecendo

A sentença foi cumprida

Descarregando lhe o gládio

Tirou-lhe de um golpe a vida

Não olhou o seu estado

Deixando desemparado

Ao pé de si um filinho,

Dizendo já existisses

Porque da terra saísses

Volta ao mesmo caminho.

Vê-se uma mãe cadavérica

Que já não pode falar,

Estreitando o filho ao peito

Sem o poder consolar

Lança-lhe um olhar materno

Soluça implora ao Eterno

Invoca da Virgem o nome

Ela débil triste e louca

Apenas beija-lhe a boca

E ambos morrem de fome.


Vê-se moças elegantes

Atravessarem as ruas

Umas com roupas em tira

Outras até quase nuas,

Passam tristes, envergonhadas

Da cruel fome, obrigadas

Em procura de socorros

Nas portas dos potentados,

Pedem chorando os criados

O que sobrou dos cachorros.

Aqueles campos que eram

Por flores alcatifados,

Hoje parecem sepulcros

Pelos dias de finados,

Os vales daqueles rios

Aqueles vastos sombrios

De frondosas trepadeiras,

Conserva a recordação

Da cratera de um vulcão

Ou onde havia fogueiras.

O gado urra com fome,

Berra o bezerro enjeitado

Tomba o carneiro por terra

Pela fome fulminado,

O bode procura em vão


Só acha pedras no chão

Põe-se depois a berra,

A cabra em lástima completa

O cabrito inda penetra

Procurando o que mamar.

Grandes cavalos de selas

De muito grande valor

Quando passam na fazenda

Provocam pena ao senhor

Como é diferente agora

Aquele animal de que outr’ora

Causava admiração,

Era russo hoje está preto

Parecendo um esqueleto

Carcomido pelo chão.

Hoje nem os pássaros cantam

Nas horas do arrebol

O juriti não suspira

Depois que se põe o sol

Tudo ali hoje é tristeza

A própria cobra se pesa

De tantos que ali padecem

Os camaradas antigos

Passaem pelos seus amigos

Fingem que não os conhecem.


Santo Deus! Quantas misérias

Contaminam nossa terra!

No Brasil ataca a seca

Na Europa assola a guerra

A Europa ainda diz

O governo do país

Trabalha para o nosso bem

O nosso em vez de nos dar

Manda logo nos tomar

O pouco que ainda se tem.

Vê-se nove, dez, num grupo

Fazendo súplicas ao Eterno

Crianças pedindo a Deus

Senhor! Mandai-nos inverno,

Vem, oh! grande natureza

Examinar a fraqueza

Da frágil humanidade

A natureza a sorrir

Vê-la sem vida a cair

Responde: o tempo é debalde.

Mas tudo ali é debalde

O inverno é soberano

O tempo passa sorrindo

Por sobre o cadáver humano

Nem uma nuvem aparece


Alteia o dia o sol cresce

Deixando a terra abrasada

E tudo a fome morrendo

Amargos prantos descendo

Como uma grande enxurrada.

Os habitantes procuram

O governo federal

Implorando que os socrra

Naquele terrível mal

A criança estira a mão

Diz senhor tem compaixão

E ele nem dar-lhe ouvido

É tanto a sua fraqueza

Que morrendo de surpresa

Não pode dar um gemido.

Alguém no Rio de Janeiro

Deu dinheiro e remeteu

Porém não sei o que houve

Que cá não apareceu

O dinheiro é tão sabido

Que quis ficar escondido

Nos cofres dos potentados

Ignora-se esse meio

Eu penso que ele achou feio

Os bolsos dos flagelados.


O governo federal

Querendo remia o Norte

Porém cresceu o imposto

Foi mesmo que dar-lhe a morte

Um mete o facão e rola-o

O Estado aqui esfola-o

Vai tudo dessa maneira

O município acha os troços

Ajunta o resto dos ossos

Manda vendê-los na feira.


Leandro Gomes de Barros

As Proezas de um Namorado Mofino

Sempre adotei a doutrina

Ditada pelo rifão,

De ver-se a cara do homem

Mas não ver-se o coração,

Entre a palavra e a obra

Há enorme distinção.

Zé-pitada era um rapaz

Que em tempos idos havia

Amava muito uma moça

O pai dela não queria...

O desastre é um diabo

Que persegue a simpatia.

Vivia o rapaz sofrendo

Grande contrariedade

Chorava ao romper da aurora

Gemia ao virar da tarde

A moça era como um pássaro

Privado da liberdade.

Porque João-mole, o pai dela

era um velho perigoso,

Embora que Zé-pitada


Dizia ser revoltoso,

Adiante o leitor verá

Qual era o mais valoroso.

Marocas vivia triste

Pitada vivia em ânsia,

Ele como rapaz moço

No vigo de sua infância,

Falar depende de fôlego

Porém obrar é sustância.

Disse pitada a Marocas,

Eu preciso lhe falar

Já tenho toda certeza,

Que é necessário a raptar,

À noite espere por mim

Que havemos de contratar.

Disse Marocas a Zezinho:

Papai não é de brincadeira,

Diz Zé-pitada, ora esta!

Você pode ver-me as tripas,

Porém não verá carreira.

Diga a que hora hei de ir,

Eu dou conta do recado

Inda seu pai sendo fogo,

Por mim será apagado,


Eu juro contra minh’alma

Que seu pai corre assombrado.

Disse Marocas, meu pai

Tem tanta disposição

Que uma vez tomou um preso

Do poder de um batalhão,

Balas choviam nos ares,

O sangue ensopava o chão.

Disse ele, eu uma vez

Fui de encontro a mil guerreiros,

Entrei pela retaguarda,

Matei logo os artilheiros,

Em menos de dez minutos

O sangue encheu os barreiros.

Disse Marocas, pois bem

Eu espero e pode ir,

Porém encare a desgraça,

Se acaso meu pai nos vir,

Meu pai é de ferro e fogo,

É duro de resistir.

Marocas não confiando

Querendo experimentar,

Olhou para Zé-pitada

Fingindo querer chorar,


Disse meu pai acordou,

E nos ouviu conversar.

Valha-me Nossa Senhora!

Respondeu ele gemendo,

Que diabo eu faço agora?!...

E caiu no chão tremendo,

Oh! Minha Nossa Senhora!

A vós eu me recomendo

Nisso um gato derrubou

Uma lata na dispensa,

Ele pensou que era o velho,

Gritou, oh!, que dor imensa!.

Parece qu’stou ouvindo

Jesus lavrar-me a sentença.

A febre já me atacou,

Sinto frio horrivelmente.

Com muita dor de cabeça,

Uma enorme dor de dente,

Esta me dando a erisipela,

Já sinto o corpo dormente.

Antes eu hoje estivesse

Encerrado na cadeia,

De que morrer na desgraça,

E d’uma morte tão feia,


Veja se pode arrastar-me,

Que minha calça está cheia.

Por alma de sua mãe,

E pela sagrada paixão,

Me arraste por uma perna

E me bote no portão,

A moça quis arrastá-lo,

Não teve onde pôr a mão.

Ela tirou-lhe a botina,

Para ver se o arrastava,

Mas era uma fedentina,

Que a moça não suportava,

Aquela matéria fina

Já todo o chão alagava.

Disse a moça: quer um beijo?

Para ver se tem melhora?

Ele com cara de choro,

Respondeu-lhe, não, senhora,

Beijo não me salva a vida,

Eu só desejo ir-me embora.

Então lhe disse Marocas,

Desgraçado!... eu bem sabia,

Que um ente de teu calibre,

Não pode ter serventia.


Creio que fostes nascido

Em fundo de padaria.

Meu pai ainda não veio

Eu hoje estou sozinha,

Zé-pitada aí se ergueu,

E disse, oh minha santinha!

A moça meteu-lhe o pé,

Dizendo: vai-te murrinha!

E deu-lhe ali uma lata,

Dizendo: está aí o poço,

Você ou lava o quintal

Ou come um cachorro ensolso,

Se não eu meto-lhe os pés

Não lhe deixo inteiro um osso.

Disse ele, oh! meu amor!

O corpo todo me treme,

Minha cabecinha está,

Que só um barco sem leme,

Parece-me faltar o pulso,

O Anjo da Guarda geme.

Então a moça lhe disse:

O senhor lava o quintal

Olhe uma tabica aqui!...

Lava por bem ou por mal,


Covardia para mim,

É crime descomunal.

E lá foi nosso rapaz

Se arrastando com a lata,

A moça ali ao pé dele,

Lhe ameaçando a chibata,

Ele exclama chorando

Por amor de Deus não bata.

Vai miserável de porta

Quero já limpo isso tudo,

Um homem de sua marca

Pequeno, feio e pançudo,

Só tendo sido criado

Onde se vende miudo.

Disse o Zé quando saiu:

Eu juro por Deus agora,

Ainda uma moça sendo

Filha de Nossa Senhora,

E olhar para mim, eu digo:

Degraçada, vá embora.
Título: A Terrível História da Perna Cabeluda(Prenúncios da Besta-Fera)
Autor: Guaipuan Vieira
Categoria: Literatura de Cordel - 32 estrofes - 8 páginas
Idioma: Português
Instituição: Centro Cultural dos Cordelistas - Cecordel
1ª Edição: 1998 2ª Edição: 1999
Gravação:

A TERRÍVEL HISTÓRIA Ainda tem no calcanhar


DA PERNA CABELUDA Um afinado esporão
(Prenúncios da Besta-Fera) Cuja cor avermelhada
Autor: Guaipuan Vieira Reluzente a um medalhão
Santo Deus Onipotente No tornozelo uma gola
Venho rogar vossa ajuda Como estivera em prisão.
Pra afastar assombração
De todo mal nos acuda Na canela tem um chifre
Principal desse fantasma Com uma luz bem na ponta
Que é a Perna Cabeluda. Uma espécie de lanterna
Pra andar por onde afronta
É um bicho horripilante Fazer vítima onde passa
Que na noite entra em ação Que já se perdeu a conta.
Tem dois metros de altura
E pula como cancão
No joelho tem um olho Tem enorme cabeleira
Acesso que nem tição. No lugar que foi cortado
Que sacode sobre a perna
O nariz é bem pontudo Girando de lado em lado
Além da boca rasgada De jaguar são as orelhas
As prezas são dum felino E há pelo aveludado.
Língua com a ponta cortada
Tem barbicha que nem bode
Pense então na coisa feia
Cada unha é envergada.
Multiplique o seu pensar
Faz um barulho medonho Pois é assim que a coisa
Como chocalho de cobra Anda em noite de luar
É o rangido dos dentes E também na escuridão
Da energia que sobra Pra poder se ocultar.
Limpa o nariz com a língua -2-
Dança fazendo manobra.
-1-
Quem já viu conta que a perna Dois ônibus da Marimbá
Chega mansa e de repente Do Piauí essa empresa
Cisca o chão e fala coisas Se chocaram nessa curva
Que não há um ser vivente Que foi a maior tristeza
Pra decifre a linguagem Não escapou um cristão
Que repassa no presente. Só de pensar dá fraqueza.

E depois dessa contenda Uma vítima teve a perna


Dá um assovio fino De seu corpo decepada
À noite entra em silencio Dizem que ela criou vida
Como ordena seu destino Num monstro foi transformada
Até o galo no poleiro Na mata ficou vagando
Esquece o sagrado tino. Procurando sua estrada.

Por onde passa o vivente Antes de achar caminho


Fica imobilizado Pra sua nova paragem
Falta as pernas pra correr Em todo aquela região
É um momento aperreado Ficou fazendo visagem
Só pra vê que neste mundo Assombrando caçador
Tudo um pouco é encontrado. E vaqueiro de coragem.

Muitos contam que a origem Pois chegou no Ceará


Vem duma história passada Seguindo um caminhoneiro
Dum acidente de ônibus Que vinha pra Canindé
Em região povoada Só conduzindo romeiro
Pra bandas do Piauí Depois foi a Fortaleza
Curva do “S” chamada. Promover o seu desterro.
-3- -4-
A Perna anda descalça Percorre a periferia
Vagando em noite escura Onde sente muita estima
Tem um rastro muito grande O povão é seu chamego
Que não é de criatura Espécie de grande ima
Dizem até que um sapato Que através dessa gente
Na cidade ele procura. Mantém a fama de cima.

Muitos fazem confusão Não existe corajoso


Aumentando mais o medo Chamado desafiante
Que a Perna também vaga Pra enfrentar a essa Perna
Quando o dia é muito cedo Por ter jeito horripilante
Nas manhãs de sexta-feira Assim vara a madrugada
Zombando de seu segredo. Cada vez mais triunfante.

Em noite de lua cheia E vagando estrada afora


Ela fica mais nervosa Já provocou acidente
Vaga na areia da praia Pois fez carro abalroar
É muito mais perigosa Pondo em risco muita gente
A razão é o sofrimento No aeroporto aeronave
Da tal vida desastrosa. Sair do pouso decente.

Circula todo o Nordeste Da mesma forma já fez


Promovendo temporada Na lagoa, o pescador
Por onde passa o terror Deixar o peixe na isca
Tem uma história contada E gritar: Nosso Senhor!
Nunca peça para vê Daí - me força nestas pernas
A Perna mais assombrada. Pra fugir deste terror.
-5- -6-
Esta Perna Cabeluda Tudo isso ela freqüenta
Bota mesmo pra quebrar Numa forma mais oculta
Até na santa igreja Observa o ser humano
Já andou a perturbar Talvez fazendo consulta
Fez o padre e o sacristão Mas depois desta visita
Vir à missa abandonar. Fazer mal é que resulta.

Fez mulher que trai marido Dizem que é a besta-fera


Mudar seu comportamento Que já se encontra presente
Ser caseira e boa esposa Circulando este planeta
Religiosa ao contento Cada vez mais decadente
Da mesma forma o traído Onde o ódio e a violência
Esquecer o sofrimento. Se vê muito mais crescente.

Fez cabra namorador São sinais do fim da era


Esquecer o pé de muro A tristeza é mais aflita
O farrista voltar cedo Aparições e desastres
Prevenindo mais seguro É algo que multiplica
Com medo de vê a Perna A peste afronta o planeta
E passar por tal apuro. Na terra a paz desabita.

Mas a Perna é vaidosa Pois rezar é que nos resta


Tem paixão e boemia Pra livrarmos da aflição
Visita festas de roque Mas que haja com firmeza
Em clubes da burguesia Santo Deus no coração
Também gosta de seresta Ao contrário nós seremos
E da boa churrascaria. Vítimas da tribulação.
-7- -8-
Título: A TRISTE PARTIDA DO REI DO BAIÃO
Autor: Guaipuan Vieira
Categoria: Literatura de Cordel - 30 estrofes – 8 páginas
Idioma: Português
Instituição: Centro Cultural dos Cordelistas - Cecordel
1ª Edição: 1989/2ª Edição:1990/ 3ª Edição:1992/4ªEdição:1994
5ª Edição: 2008 / 6ª Edição: 2010
Estilo: Reportagem
Gravação: Antonio Jocélio e Zé Vicente –CD: Cordel, canção e viola.

A triste partida do Rei E concretizava o luto


do Baião Com sentimento profundo
Autor: Guaipuan Vieira Entre todas as gerações
Por este sofrido mundo
Em homenagem a Luiz
Cinco e quinze da manhã O primeiro sem segundo.
Do dia dois de agosto
Do ano de oitenta e nove Luiz nasceu em Exu
Houve um terrível desgosto Agreste pernambucano
De luto entrava o Nordeste Mil novecentos e doze
Com pranto triste no rosto. Foi este o sagrado ano
Que o destino lhe escolheu
As rádios anunciavam Pra ele seguir bom plano.
Morreu o Rei do Baião
O mestre Luiz Gonzaga Filho doutro sanfoneiro
O popular Gonzagão Com nome de Januário
Deixando muita saudade Desde então herdou seu dom
Pra esta grande Nação. Uma causa sem inventário
Isto quando ainda garoto
No sertão também se ouvia Segundo seu comentário.
Acauã executar
Lento toque de silêncio Desta forma seu Luiz
E outras aves a chorar A seu pai acompanhando
E mãe deusa da natura Nos bailes, forrós e feiras
Do seu trono a soluçar. Seu baião foi ensinando
E fama na região
-1- Já estava até ganhando.
-2-
Deixou a terra natal Mas a vida de milícia
Ao exército foi servir Igualmente a do vaqueiro
Vindo então pra Fortaleza Sempre é solicitado
Pra sua missão cumprir Segue outro paradeiro
O que muito lhe ajudou Desta forma pra São Paulo
E a bons planos fez seguir. Seu Luiz seguiu ligeiro.

Devido as Revoluções... Na terra dos bandeirantes


Sempre era transferido Mudou sua opinião
E nestas suas andanças Nova sanfona comprou
Morou num lugar querido Que lhe deu inspiração
Minas Gerais de Tancredo Assim Luiz começou
O homem nunca esquecido. Aprimorar seu baião.

Foi então que conheceu Sendo ainda militar


Um amigo e companheiro Foi pro Rio de Janeiro
Que já servira ao exército De onde se desligou
Naquele rincão mineiro Do exército brasileiro
Este fora Dominguinhos E formou a parceria
Especial sanfoneiro. Com o Xavier Pinheiro.

Através desta amizade Xavier um português


Luiz voltou a estudar Que vinha se apresentando
Dominguinhos professor (*) Na grande Rio de Janeiro
E amigo particular Lá no mangue executando
Que também lhe ensinou Valsas, tangos e até fados
A modinha popular. Com Luiz auxiliando
-3- -4-

(*) Um velho músico e amigo de


Luiz Gonzaga.
.
Este estilo pra Luiz Desta forma seu Luiz
Não era o seu verdadeiro Por ter rica criação
Pois queria apresentar Lançou o xote e o forró
Seu próprio cancioneiro O xaxado e o baião
A música regional Ficando o arrasta-pé
E nada do estrangeiro. Como símbolo do sertão.

Com isto Luiz Gonzaga Lançando estas criações


Se encheu de esperança Fez o zabumba tocar
Nos programas de calouros Dando ao mesmo mais valor
Foi cantar com segurança Na arte de forrozar
Apresentando seus Shows Também deu vida ao triângulo
Com muita garra e pujança. Hoje instrumento exemplar.

Saindo dos auditórios Em pouco tempo o Brasil


No Nordeste apareceu Seu valor reconheceu
A música de seu Luiz E grupo de seguidores
Porque na sanfona leu Ligeiramente nasceu
O sertão em poesia E Luiz Rei do Baião
Daí então se ergueu. Este título recebeu.

O primeiro nordestino O seu valor cultural


Num trabalho a se empenhar Foi da maior importância
Pra música regional Pra história brasileira
No Brasil vir espalhar Veja a significância
Provando assim a existência Pois decantou o Nordeste
Da arte mais popular. Com jeito e com elegância.
-5- -6-
Foi quem mais reivindicou
Melhoria pro Nordeste
Mostrando pros governantes Certamente o velho "Lua"
A seca, a fome e a peste O mestre Rei do Baião
Que muito maltrata o povo Já se encontra com seu pai
De todo sertão agreste. Lá em outra dimensão
Aquele que lhe ensinou
No seu canto interpretou
Tão honrosa profissão.
O profundo sentimento
Da alma do sertanejo
Que sofre a todo o momento Este pequeno folheto
No Nordeste que retrata É somente uma mostragem
O mais cruel sofrimento. Daquele que foi em vida
Nosso maior personagem
Quando seu Luiz cantava Que o povo guardará
Simbolizava o vaqueiro Para sempre a sua imagem.
Seu aboio e seu gemido
Invadiam o tabuleiro Termino aqui esta história
Desta forma ele exaltava Com o coração enlutado
O Nordeste brasileiro. Escrita no mesmo dia
Que Luiz ouviu chamado
Mas por força do destino
A um chamado atendeu Pra morar na Santa Casa
Vinda do Pai soberano Por Deus sendo abençoado.
Quem chamou o filho seu
Para cantar lá no céu -8-
As músicas que aprendeu.
-7-
01
Quero que Deus me ajude
Com a inspiração nata
Do poeta popular
Que canta o rio e a mata
Para contar a história
De um grande diplomata.
02
Falo de Augusto Schmidt
Que foi um grande escritor,
Foi jornalista e poeta,
Um grande empreendedor
E no mundo da política,
Exímio articulador.
03
Nasceu no Rio de Janeiro,
Mil novecentos e seis,
Nasceu em berço de ouro,
Filho de um casal burguês,
Mas sempre sonhou por fim
À pobreza, de uma vez.
04
Gozou na primeira infância
Paz, amor, felicidade,
Curtindo os prazeres da
Maravilhosa cidade
Não cedendo nem ao peso
Do peso da obesidade.

1
05

Não foi muito de estudar


Mas foi muito de aprender
Até mesmo reprovado
Schmidt chegou a ser
Não gostou de ler cartilhas
Mas ao mundo soube ler!
06
Mas logo com oito anos
O contratempo chegou
Pra Lausanne, na Suíça,
A família se mudou
E logo veio a doença
Que aos seus pais atacou.
07
Internos em sanatórios
Seus pais cumpriram um destino
Duro, sofrido, cruel
Marcado por desatino
E não puderam amparar
Os destinos do menino.
08
Quando completou dez anos
Viu o seu pai falecer;
Ficou sem rumo e sem prumo
Veio embora sem saber
O que faria da vida
Sem ter seu pai pra dizer.

2
09

Pra o Rio voltou tangido


Pela guerra mundial;
Voltou banhado de lágrimas
Pra sua pátria natal,
Sem pai, sem paz, mãe doente,
Num desamparo total.
10
No Rio peregrinou
Sem se enturmar, sem ter vez,
No Colégio São José,
Também no Liceu Francês
E no Colégio São Bento,
Saindo de todos três.
11
Sua mãe tuberculosa
Se foi dois anos depois
Morar no céu com o marido
E ele, longe dos dois,
Teve que pintar sozinho
O quadro que se compôs!
12
E eis que a mente se eleva
Por sobre o peito que chora
Não pode pagar colégios
Caros no Rio em que mora
Vai prosseguir seus estudos
Distante, em Juiz de Fora.

3
13
Sem ter por quem esperar
Ergue o peito, segue avante,
Arranja logo um emprego
De caixeiro-viajante;
Depois, de comerciário,
Passa a ser comerciante.
14
E em meio a talões de notas
Pedidos e encomendas
Schmidt foi cultivando
Do saber todas as prendas,
Logo surgiram poemas
Em meio às notas de vendas!
15
Trabalhava numa casa
Onde vendia tecidos
E artigos de armarinho.
Entre os estoques sortidos
De botões, pentes e panos,
Tinha livros escondidos!
16
Em meio às vendas frenéticas
Parava sempre pra ler
Na Rua do Ouvidor
Livraria Garnier
E brechava atrás da loja
A Livraria Briguier".

4
17
O seu patrão português
Baixava dele o conceito
Dizia: com tantos livros
Para ler, esse sujeito
Jamais dará pra o comércio,
"Esse gajo não tem jeito..."

18
Mas Schmidt deu o fora
Fugiu do patrão beócio,
Sua energia em excesso
Não lhe permitia o ócio
E ele partiu buscando
Montar seu próprio negócio.
19
Logo montou um engenho
Pra fabricar aguardente
Com isso foi conseguindo
Dinheiro rapidamente
Até que se transformou
Num empresário influente.
20
Instalou uma editora
Mostrando capacidade
E assim ficou junto da
Intelectualidade;
Tornou-se o ponto de encontro
Da cultura da cidade!

5
21
Empreendedor pé-quente
Sabia calcular risco
Competente, juntou grana
Ligeiro igual um corisco
Montou um supermercado,
Embrião da rede Disco.
22
Entrosou-se rapidinho
Com a turma modernista
Oswald e Mário de Andrade
E muito nacionalista
E até com Plínio Salgado,
Mas não foi integralista!
23
Entrou mesmo de cabeça
Na cultura e no seu clima
Lendo, escrevendo em jornais
Cultivando prosa e rima
Com Jackson de Figueiredo
E Alceu Amoroso Lima.
24
Chegou mesmo a editar
Nomes que viraram heróis
Um Graciliano Ramos,
Uma Raquel de Queiroz
E até um Jorge Amado
Que não tinha vez nem voz.

6
25
Editou Gilberto Freyre
Um crítico da realeza
Da Casa Grande & Senzala,
Lúcio Cardoso, a surpresa;
E um Otávio de Faria
Com a "Tragédia Burguesa".
26
Com Carlos Drumonnd de Andrade
Começou a se entrosar
Foi amigo de Bandeira,
Nosso poeta exemplar
Schmidt ia visitá-lo
Na Avenida Beira-Mar!
27
Envolveu-se na política
Sem nunca ser candidato
Com direita e com esquerda
Sempre conseguiu bom trato
E achava que pra servir
Não precisava mandato.
28
Foi dele a última conversa
Com Getúlio no Catete;
Enquanto a oposição
Baixava nele o cacete,
Getúlio traçava o plano
De fugir do tirinete!

7
29
Getúlio calmo demais
Em meio ao mar do despeito,
A lama golpista entrando
No Palácio sem respeito
E o velho pronto pra o gesto
De explodir o próprio peito!
30
Conversavam sobre a fome
Que empanava nossa glória...
No outro dia, Getúlio
Deu a resposta à escória
Pulando fora da vida
E entrando firme na História.
31
Schmidt então se aliou
Ao mineiro Juscelino,
Jogou suas esperanças
No médico diamantino
No desejo que o Brasil
Achasse um novo destino.
32
Apoiou sua campanha
Defendeu-lhe com afinco,
Das portas de uma vitória
Deu-lhe a chave, abriu o trinco,
Criando até o slogan
"50 anos em 5"

8
33
Pra Juscelino, Schmidt,
Resolveu muitos problemas
Articulava os apoios
Enquanto armava os poemas
Todo dia os dois trocavam
Dois ou três telefonemas!
34
Teve que aplacar a sanha
De alguns eternos golpistas
Por JK receber
Apoio dos comunistas
Num tempo de guerra fria
E militares fascistas.
35
Elaborava os discursos
Que JK proferia.
A fama de orador bom
Pra o presidente crescia
Mas seus discursos poéticos
Schmidt era quem fazia.
36
Algumas frases de efeito
Que JK citou cedo,
Eram lavra do poeta
Que escondia o segredo,
Como aquela: "Deus poupou-me
Do sentimento do medo"

9
37
E na área diplomática
O poeta destacou-se
Representava o Brasil
Com brilho, fosse onde fosse,
Á causa de um Brasil Grande
Ele sempre dedicou-se.
38
Idealizou a OPA
Tentando unir as Américas,
Aplainando as divisões
Geopolíticas hemisféricas
E pondo um freio no fogo
Das ameaças histéricas.
39
Dos direitistas raivosos
Ele explorava com afã
O medo de uma revolta
Ocidental e cristã
Que tirasse o continente
Das garras do Tio Sam!
40
Depois que a Segunda guerra
Levou Marx à Polônia,
Tchecos, búlgaros e alemães
Ele explorava a insônia
Dos yanques que o temiam
Do México pra Patagônia.

10
41
Depois que a China com Mao
Derrubou seus mandarins,
Implantando o comunismo,
Derrubando espadachins
Havia o pânico que ele
Chegasse aos nossos confins.
42
Logo naquele momento
Que Coréia e Vietnan
Se inspirando em China e Rússia
Pisavam os pés do titã
Fazendo bolhas de sangue
Nos calos do Tio Sam.
43
Quando Cuba já mostrava
Que ia brigar também
Pra derrubar um sargento
Que dizia só "Amém".
Não ia mais ser bordel
Nem quintal de "Sêo Ninguém"
44
Schmidt por cá mostrava
Que evitar revolução
Se evita com mais progresso,
Terra, emprego, paz e pão,
Justiça e democracia
Saúde e educação.

11
45
Na verdade ele tentou
Criar um Plano Marshal
Conseguiu a Aliança
Para o Progresso, afinal,
Dos países atrasados
Da América do Sul e Central.
46
Uma ação que veio antes,
Fruto do seu argumento:
Banco Interamericano
Para o Desenvolvimento;
O BID que continua
Nos trazendo investimento!
47
O grupo dos 21
Articulou e fez planos.
Este grupo reunia
Governantes veteranos
De todos os 21
Estados americanos.
48
Até mesmo a OEA
Foi fruto desse trabalho
Pra que todo o continente
Vestisse um mesmo agasalho
E um Estado não fosse
No outro meter o malho.

12
49
Porém na diplomacia
Não ficou só na estréia
Foi nosso representante
Com firmeza e boa idéia
Na grande Comunidade
Econômica Européia.
50
Se entrosou pela direita
Com Castelo, militar,
Junto a Raquel de Queiroz
Ajudou a derrubar
O governo e escreveu
Contra Brizola e Goulart.
51
Fundador do Instituto
De Pesquisas Sociais
E Econômicas também
Defendendo a todo gás
O sistema baseado
Nas idéias liberais.
52
Amou com força a política
Nos bastidores foi forte,
À labuta literária
Entregou-se até à morte
Mas ele também gostava
De incentivar o esporte.

13
53
Presidiu o Botafogo
De Futebol e Regatas,
Levando a ganhar
Troféus de ouros e pratas
Foi cartola e não meteu-se
Em trambiques e mamatas.
54
Havia dois botafogos
Cada qual pela metade
Juntou os dois em um só,
Cresceu-lhe a capacidade
E botou na presidência
Eduardo Góis Trindade!
55
É este o homem que trago
À memória brasileira;
Um homem que batalhou
Pelo bem a vida inteira
Tanto dentro do País
Quanto na terra estrangeira.
56
Em meio às atribuladas
Vidas de comerciante,
De político e diplomata,
De editor e viajante
Nunca deixou de botar
A poesia pra diante.

14
57
No ano de 28
Lançou seu livro primeiro
Que trazia o grande título
O "Canto do brasileiro,
O Augusto Frederico
Schmidt", tão verdadeiro.
58
Depois "Canto do Liberto"
Tendo seu nome seguido;
Já no ano 29
Lançou "Navio Perdido"
E em 30, o "Pássaro Cego",
Um livro reconhecido.
59
A "Estrela Solitária"
Lançou com glória e com brio
"Mensagem aos Poetas Novos"
Foi um grande desafio;
"Galo Branco" e "As Florestas"
Depois, "Caminho do Frio".
60
Lançou "Paisagens e Seres",
"Babilônia", uma canção...
Também belíssimos "Discursos
Aos Jovens" desta nação,
"Antologia de Prosa"
E "Prelúdio à Revolução".

15
61
Seus mais famosos trabalhos
No campo da poesia
Foram "Soneto Cigano",
"Quando", "Lembrança", "Elegia",
"Noiva", "Soneto a Camões",
Foi tudo pra Antologia!
62
"Retrato do Desconhecido",
"Quando eu Morrer" e "Vazio",
Sonetos, "Ouço uma Fonte"...
Fonte perdida no frio.
Encheu de poemas quentes
As brisas doces do Rio.
63
Casou com Yedda Ovalle,
Grande amor da sua vida,
Pra ela lavrou poemas,
E ela foi dele a querida
Até em 65
Quando fez a despedida...
64
Por fim, foi esse o Schmidt,
Um autêntico brasileiro,
Articulador gigante
Empreendedor pioneiro,
Augusto, doce, valente,
Diplomata competente.
Poeta de corpo inteiro!

16
Título: A VISITA DE BIN LADEN AO INFERNO
Autor: Guaipuan Vieira
Categoria: Literatura de Cordel - 32 estrofes – 8 páginas
Idioma: Português
Instituição: Centro Cultural dos Cordelistas - Cecordel
1ª Edição: 2002 / 2ª Edição: 2003 /3ª Edição: 2005/4ª edição: 2010
5ª Edição: 2011
Estilo: Gracejo

A VISITA DE BIN LADEN


AO INFERNO
Autor: Guaipuan Vieira

Contou-me Chico Ventura O satã em linha dura


Um velho caminhoneiro Discursou para a nação
Que por estar em apuro Informando que Bin Laden
Procurou um feiticeiro Era o seu melhor irmão
E ele antes da seção Tendo ali sua moradia
Lhe mostrou uma transmissão O inferno cresceria
De um mundo muito intrigueiro. Precisava de união.

Viu na bola de cristal Mas nas cidades vizinhas


O inferno em confusão De Sacode e Gira Mundo
Passeata e desavença Labareda e Arrota-Fogo
Morte na população O caos estava profundo
O rei satã criticado Era um total desprazer
O seu impeachment cobrado Ninguém queria saber
Pela forte oposição. De Bin Laden um só segundo.

Bin Laden era o mentor Na capital do inferno


Da crise ali provocada Geringonça estava tensa
O capeta um forte líder A diabada gritava:
Não gostou de sua chegada Satanás nos faz ofensa
E seus fiéis seguidores Não queremos confusão
Promoviam dissabores Bin Laden é a tentação
Revolta na diabada. Podemos ter briga imensa.

Satanás baixou decreto Enquanto isso Bin Laden


Com toque de recolher Na morada oficial
Pôs seu exército nas ruas Do rei satã aguardava
Era diabo pra valer Uma decisão final
O inferno dividido Al Qaeda grupo eterno
Comentava um cão mordido Lá na porta do inferno
Por nome de Desprazer. Na espera de um sinal.
-1- -2-
O parlamento apressado A terrível discussão
Reuniu-se em discussão Pela noite se estendia
Tentando apaziguar Até que lá para as tantas
A terrível confusão Respiraram harmonia
Uns diziam ele é aceito Houve uma solução
E outros é um sujeito O saudita ou afegão
Que nos fará traição. Tinha a sua moradia.

Já era tarde da noite Brocotó leu no plenário


Não se chegava um bom senso O veredito final
Mas Mondrongo um conselheiro Informando que Bin Laden
Disse ouçam o que eu penso: Por ser um sujeito mal
Achei grande solução Tinha que provar capaz
No reino de Lampião De enfrentar o Ferrabrás
Terá seu valor imenso. Pra receber seu aval.

O cão chefe da tribuna Satanás tomou ciência


O famoso Tempestade Urgente da decisão
Levantou-se e foi dizendo: Pra seu amigo Bin Laden
Nesse reino não se invade Informou com precisão
Quem tenta tem embaraço Disse vá e vença a guerra
Porque o rei do cangaço Lembre-se que lá na terra
Zela a sua integridade. Você tem exaltação.

Besta-fera acrescentou: Bin Laden disse amanhã


Só há esta solução O meu rumo eu tomarei
O fraco lá que se quebre Se é assim que eles querem
Ou Bin Laden ou Lampião Eu então enfrentarei
Pra mim não há diferença Satanás: vá logo agora
Pois aqui sua presença Já está passando a hora
Irrita a população. Meu relógio eu consultei.
-3- -4-
“Está bem eu lhe agradeço Quando saíram do túnel
Pelo rancho concedido Caíram numa emboscada
Virou-se pra Mohamed Morreu tanto talibã
Seu assessor decidido: Da Al Qaeda falada
Partiremos neste instante Da mesma forma capeta
Tem um diabo importante Que o diabo fez careta
E além disso é atrevido ". Pela conta anunciada.

Morahamed quase rindo Bin Laden disse: eu me lembro


Por ser frio e calculista Desta cena lá na terra
Pra Bin Laden falou: mestre Que morreu tanto inocente
Provarei outra conquista Por uma covarde guerra
Tenho um Boing com granada Mas eles não mudarão
E armamento da pesada De meu povo a opinião
Diabo hoje sai da lista. Pois sua luta não se encerra.

Na caverna do cão Drácula Com esta guerra tão suja


Travaram logo um duelo Um pretexto de vingança
E mataram a besta-fera Roubarão nossos produtos
Um demônio requenguelo O gás da grande esperança
Junta-osso e descarado De um novo Afeganistão
Perneta e juramentado Com progresso e farto pão
Espoleta e cão martelo. Pro velho, jovem e criança.

Por um túnel fugiu Drácula Quando deu conta de si


Para avisar Ferrabrás Neste rápido pensamento
Bin Laden não perdeu tempo Viu ferrabrás com seu bando
Com seu grupo foi atrás Que se chamava “tormento”
Deu um susto no vampiro Foi uma horrível batalha
Que ele mudou de giro Com cão no ar que nem palha
Perdendo assim sua paz. Soprada por forte vento.
-5- -6-
Bin Laden também perdeu Certa forma esses grupos
Parte de seu pelotão Acrescenta o relator
Porém ficou com a elite São vítimas do preconceito
Em tática de explosão Da pobreza, raça ou cor,
Ferrabrás por ser astuto Sempre hão de existir
Fingiu parar pelo luto Pois tentam assim coibir
Da morte de cada irmão. Seu mundo de dissabor.

Mas avisou ao inferno Enquanto isso Bin Laden


Em nota pela imprensa: Desfilava no inferno
Voltarei com tanto diabo Ao lado do rei satã
Que no dia o doido pensa O seu grande amigo eterno
Volta o juízo ao normal Al Qaeda sempre ao lado
Pela força tão brutal Com armamento pesado
Que faço por essa ofensa. Para algum ato “fraterno”.

Capeta quem provocou Na praça dos Dissabores


Esta batalha sangrenta Onde fica a “Casa Preta”
Vendo o caos não esperado Bin Laden com Ferrabrás
Com isto mais se atormenta Receberam a estatueta
E o parlamento apressado Um por ser filho adorado
Vota a lei do anistiado O outro mais respeitado
Bin Laden assim se inocenta. A vir morar no planeta.

Na redação desta lei Vejam aí caros leitores


Exalta com precisão Que o mal incorpora o mal
Os agravantes problemas Onde reina ódio e rancor
Existentes na nação Só cresce a força brutal
Sobre as causas sociais Mas nós que busquemos paz
Que formam grupos rivais Rezemos pra que jamais
De terrível atuação. Tenhamos sorte infernal.
-7- -8-
Quem é o autor?
Crispiniano Neto é poeta popular e jornalista. Tem 11 livros, um CD e
mais de 120 folhetos publicados. Atualmente é presidente da Fundação José
Augusto e um dos principais articuladores dos cordelistas na retomada da
importância desse gênero literário essencialmente brasileiro.

Site: www.funag.gov.br
E-mail: funag@mre.gov.br
01
Peço inspiração poética
Às musas do mundo inteiro
Para falar de um grande
Diplomata brasileiro,
Bamba da Geografia
Que foi da diplomacia
Brasileira, o pioneiro!
02
Seu valor excede em muito
Mina, terra, indústria e banco:
José Maria da Silva
Paranhos Júnior, homem franco
Que brincou, lutou e amou
E a História o transformou
Em Barão do Rio Branco!
03
O Barão foi desses homens
Que a natureza compôs,
Mas depois quebrou a fôrma
E o projeto não expôs...
Foi um daqueles gigantes
Que igual não houve antes;
Maior não terá depois.
04
O barão foi nosso craque
No gramado diplomático,
Foi o papa do acordo,
Foi estrategista e tático,
Negociador histórico,
Um pragmático teórico
Com um genial senso prático!

1
05
Nasceu no Rio de Janeiro
Quarenta e cinco era o ano;
O século era o dezenove
Vinte de abril, sem engano,
O seu pai era o Visconde,
Outro nome que responde
Como grande veterano!
06
Visconde do Rio Branco,
José Paranhos, seu pai
Foi Ministro da Marinha,
Diplomata no Uruguai,
Primeiro ministro honrado,
Diplomata e magistrado
Para a paz com o Paraguai!
07
Seu pai também demonstrou
Ser da História, um dos bravos,
Com a Lei do Ventre Livre
Que promulgou contra os travos
Da escravidão infeliz.
Depois dele, no País...
Não nasciam mais escravos!
08
Sua mãe era Tereza,
De Figueiredo Faria
Mulher de grande estatura,
Que com luz lhe educaria
Pra que ele pudesse ser
Um dos bambas do poder
Que por certo exerceria!

2
09
Assim cresceu o menino
Sob os cuidados dos pais
Fez no Dom Pedro Segundo,
Estudos colegiais
E prosseguiu no estudo
Procurando saber tudo
E lendo pra saber mais!
10
Teve uma infância feliz
Tendo oito irmãos ao lado,
Brincando em praias e parques
E em clube conceituado,
Bibliotecas e templos
Sempre seguindo os exemplos
Do pai, Visconde afamado!
11
O Barão, na juventude,
Ganhou fama de boêmio
Era um típico carioca
Que amava o bar e o grêmio
Mesmo com todo o respeito
Um rasgo de preconceito
Ele ganhou como “prêmio”
12
Porém não se descuidava
De aprender com o pai.
Nas lições sobre o Brasil
Bem cedo se sobressai
E ajuda o velho Visconde
Que nos acordos responde
Pela paz com o Paraguai.

3
13
Por estes tempos partiu
Para em São Paulo estudar
No Largo de São Francisco
Fez o seu vestibular
Mostrando o próprio cacife
E depois foi pra Recife
Pra enfim se bacharelar!
14
Nestes tempos começou
Uma carreira exemplar
De escritor e jornalista
Passando a biografar
O Comandante feliz
Do Navio Imperatriz,
Na “Revista Popular”.
15
Prosseguindo na imprensa
Logo ao desenho se lança.
Na Revista “Ilustração”
Que circulava na França
Fez um relato fiel
Ao descrever a cruel
Guerra da Tríplice Aliança.
16
Depois que voltou formado
Foi ensinar muito cedo,
Corografia e História
Das quais sabia o segredo...
Colégio Pedro Segundo.
Lá, sucedeu ao profundo
Joaquim Manuel de Macedo.

4
17
Deixou logo o magistério
Partiu pra o interior
Foi exercer o Direito
Demonstrando seu valor
Pra Nova Friburgo ia
Exercer com maestria
O cargo de Promotor!
18
Mas não se sentia bem
Distante da capital.
O pai usou do prestígio
E num pleito eleitoral
Conseguiu fazer do moço
Pelo Estado Mato Grosso,
Deputado federal.
19
No jornalismo seguiu
Demonstrando vocação
Além de escrever artigos
De grande repercussão,
Por conquistar o leitor,
Transformou-se em Redator
Do Periódico “A Nação”.
20
Porém, nem tudo eram flores
Na vida de Rio Branco,
Devido ao jeitão largado
Boêmio, liberto e franco,
Melindrou dogmas e teses
E sofreu alguns revezes
Topando tranco e barranco.

5
21
A filha de um figurão
Por ele se apaixonou.
Com ele quis se casar
Mas ele não aceitou.
Enfrentou muita dureza
Porque fora da nobreza
Seu coração se entregou!
22
Apaixonou-se por uma
Bailarina de beleza.
“Marrí Filomêne Stêvens”,
Contrariando a nobreza.
Deixou a nobre na mão
E entregou o coração
Pra belga com mais firmeza!
23
E como se não bastasse
Desagradar a elite,
Inda fez mais uma coisa
Que a época não admite.
A paquera engravidou
E o escândalo se instalou
Rompendo todo limite!
24
O visconde lhe impôs
Que a bailarina e atriz
Fosse embarcada à Europa
Pra ter o filho em Paris
Por isto o nobre rapaz
Perdeu a pompa e a paz
Vivendo muito infeliz.

6
25
Na França, “Marrí” chegou,
Logo deu à luz um filho.
Mas o futuro barão
Aqui vivia sem brilho,
Lutou, pediu, padeceu,
Morar no mundo europeu
Era seu único estribilho.
26
Foi assim que conseguiu
Emprego noutro país,
Instalou-se em Liverpool
Como cônsul... Mas se diz
Que tendo oportunidade
Escapava da cidade
Pra ver “Marrí” em Paris.
27
Nasceram mais quatro filhos
Desta paixão forte e pura.
Durante esta fase opaca
Ao nosso Brasil procura
Estudar profundamente
E vai penetrando habilmente
Nos bons círculos de cultura.

28
Até que em 83
Surge de forma sutil
Uma oportunidade
De mostrar seu varonil
Talento, saber e astúcia
Quando é mandado pra Rússia
Representando o Brasil.

7
29
Ali provou que era o homem
Certo no lugar certeiro.
Pois ao final da missão,
Da vida mudou o roteiro,
Abrindo um novo capítulo
Tendo recebido o título
De ilustre Conselheiro.
30
Um câncer roubou-lhe o pai
Lhe causando comoção.
Mas um novo mundo abriu-se
Surgindo mais promoção
E no ano da Lei Áurea
Recebeu mais uma láurea
Se transformando em Barão.
31
Foi ministro na Alemanha
No ano mil novecentos;
O seu nome foi crescendo
Apesar dos novos ventos
Da recém vinda república
Sua ilustre vida pública
Conheceu novos momentos!
32
Mesmo sendo um monarquista
Fiel ao imperador,
Ideologicamente
Tido por conservador
Não teve cortados planos
Porque os republicanos
Entenderam seu valor!

8
33
Começou logo a assumir
Delicadíssimos serviços
Diplomáticos da República,
Em casos claros e omissos
Foi mostrando competências
Pra resolver as pendências
Dos conflitos fronteiriços.
34
Primeiro, A Questão de Palmas,
Um conflito com Argentina
Que pretendia tomar
Meia Santa Catarina
E mais meio Paraná
E o Barão trouxe pra cá
Toda esta terra sulina!
35
Para ganhar tanta terra
O competente barão
Provou com mapas e estudos
Que era nossa a região,
Usando, em vez de confetes,
A luz d’Usi Possidets,
De Alexandre de Gusmão!
36
Pelo Usi Possidets
A posse de alguma área
Não se dava por tratado
Feito em linha imaginária
Mas por uso e ocupação,
Investimento e ação
Morada e luta diária.

9
37
Esta vitória fantástica
Fez com que o Presidente
Que era Rodrigues Alves
O chamasse urgentemente
Pra comandar com valia
A nossa diplomacia
Pois o clima estava quente.
38
Outra vitória maiúscula
Que o barão mostrou firmeza
Foi contra a potente França
Pois da Guiana Francesa
Ganhamos tudo que está
Sendo hoje o Amapá,
Parte da nossa riqueza!
39
Mil novecentos e dois.
Sessenta mil brasileiros
Encontravam-se no Acre,
Como fortes seringueiros.
Eram chãos bolivianos
E ingleses e americanos
Queriam ser seus parceiros.
40
Era um grupo poderoso,
Um sindicato de empresas
Claramente imperialistas,
Americanas e inglesas
Queriam nos dar insônia,
No coração da Amazônia
Enfiando as suas presas!

10
41
O conflito engrossou tanto
Que o Barão mandar barrar
Os navios dos yanques
De em nosso rio passar
A Bolívia se agitou
Seis mil soldados mandou
Para nos ameaçar.
42
Foi aí que o barão
Que sempre pregou a paz
Achou que aquela ameaça
Estava sendo demais
E também mandou seis mil
Militares do Brasil
Garantirem os seringais!
43
Por fim chegou-se a um acordo,
Um negócio verdadeiro
O Tratado de Petrópolis
Pra o Acre ser brasileiro.
O Brasil também cedeu
E a Bolívia recebeu
Respeito, terra e dinheiro!
44
E definiu as fronteiras
Do Peru com mais clareza;
Noutra negociação
Com a Guiana Francesa
E usando do seu prestígio
Definiu sem ter litígio
Com a Guiana holandesa.

11
45
E assim o nosso Brasil
Fincou marcos e bandeiras
900 mil quilômetros
Quadrados, dessas maneiras
Se encaixaram em nosso mapa
Findando assim a etapa
Das disputas de fronteiras.
46
Graças ao grande Barão
Achamos nossos caminhos
Uma cerca sem arame
Seringueira, aguapés, pinhos
Respeito aos países manos...
Já são cento e trinta anos
Sem guerrear com os vizinhos.
47
Com ele o Brasil ganhou
A atual dimensão,
Esse porte de gigante,
Esse jeitão bonachão
Que ao nosso mapa reveste
Com Norte, Sul, Leste e Oeste
Desenhando um coração!
48
Onze vizinhos amigos,
Nada de expansionismo
A convivência pacífica,
O respeito com altruísmo,
O acerto ao momento certo
E um coração sempre aberto
Ao pan-americanismo!

12
49
Ao chegar ao ministério
Não existia estrutura
Vinte e sete servidores
Sem maior envergadura
Verbas em pouca quantia
E uma diplomacia.
Tateando em fase escura!
50
O Brasil que foi herdado
Pela Era do barão
Era pobre, endividado,
Voltado à exportação
Se ter um mercado interno,
Tendo por marcas do inferno
Latifúndio e escravidão.
51
Oitenta e quatro por cento
Do povo era analfabeto,
Revoltas por toda parte,
País injusto, incompleto,
Resíduos coloniais
Império frágil, sem paz
E a República sem projeto!
52
Ele, com força titânica
Se impôs pela consistência.
Fez do Itamaraty,
Reduto de inteligência,
Grande espaço cultural
Competente e triunfal...
Um centro de excelência.

13
53
Rio Branco cresceu tanto
Em respeito e inteligência,
Em talento e honestidade,
Em vitórias e em decência
Que seu nome foi lembrado
Para ser candidatado
Ao cargo da presidência.
54
Mesmo com a vitória certa
Ele não quis aceitar.
Preferiu ser chanceler
E a luta continuar
Tendo credibilidade
E a quase unanimidade
Com poucos a criticar.
55
Foi de quatro presidentes
Ministro do Exterior:
Rodrigues Alves e Afonso
Pena, viram seu valor,
Com Fonseca e com Peçanha;
Tornou toda questão ganha
Fez o Brasil vencedor!
56
Entre os intelectuais
Conquistou muitos amigos;
Para o Jornal do Brasil
Escreveu muitos artigos.
Foram tamanhos seus brios
Que recebeu elogios
Até de alguns inimigos.

14
57
Foi membro da Academia
De Letras e do Instituto
Histórico e Geográfico,
Dando seu grande tributo,
Da modernidade a mecha
Pr’um Brasil que tinha a pecha
De caipira e matuto.
58
Foram seus auxiliares
Escritores de mais fama
O grande Euclides da Cunha, Mestre Domício
da Gama,
Bilac, o parnasiano,
Rui Barbosa e Capistrano
De Abreu que a História aclama!
59
Graça Aranha também foi
Um dos seus mais preferidos,
Machado de Assis, o gênio,
Amigo em todos sentidos,
Nabuco, grande orador,
Que foi seu embaixador
Para os Estados Unidos
60
Quando ele se foi, deixou
Um país agigantado
Com as fronteiras definidas
Amigos pra todo lado
E uma cultura de paz
Que fez e que ainda faz
O Brasil mais respeitado!

15
61
Um Brasil não agressivo
Arauto do pacifismo,
A geopolítica da paz,
Diálogo, acordo e civismo,
Doze nações irmanadas
E as raízes adubadas
Do Pan-americanismo.
62
Hoje o nome do Barão
Destaca-se em toda parte:
Em rios, ruas, cidades,
Moeda, cédula, estandarte,
Livro, filme, distintivo,
Escola e clube esportivo,
Centros de cultura e arte.
63
Morreu aos sessenta e seis
De idade, em alto astral,
Na sala onde trabalhava,
Na véspera do carnaval
Causando assim, de momento
Pelo seu encantamento
Comoção nacional!
64
O BARÃO DO RIO BRANCO
Foi herói, foi líder, guia
Gigante da fala mansa
O PAI DA DIPLOMACIA...
Um exemplo de vitória,
Um construtor da história
Símbolo da cidadania!

16
01
Quero que as musas me inspirem
Na arte de cordelista,
Para descrever a história
De um político e jornalista,
Professor e diplomata,
Bom poeta e romancista!
02
Falo de Gilberto Amado,
Um sergipano da gema
Que brilhou no mundo inteiro
Tendo o saber como lema;
Foi um campeão na prosa;
Foi bem melhor no poema!
03
Era Gilberto de Lima
Azevedo Souza Ferreira
Mais Amado de Farias,
Diplomata de primeira
Que se foi grande nome
Foi bem maior na carreira.
04
Nasceu em 07 de maio,
No ano de oitenta e sete,
O século era dezenove
E morreu em 27
De Agosto de meia nove (69)
Conforme deu na manchete.

1
05
Na cidade de Estância
Lá no solo sergipano
No extremo sul do Estado
Perto do solo baiano
Gilberto Amado nasceu
Pra de Deus cumprir um plano.
06
Foi primeiro dos quatorze
Filhos de um casal decente:
Melchisedech e Ana,
Exemplo de boa gente,
Que logo que viu que o menino
Era vivo e inteligente.
07
Fez os estudos primários
Numa cidade vizinha
Por nome de Itaporanga,
Onde boa escola tinha;
Depois seguiu pra Bahia
Pra seguir na mesma linha.
08
Ali estudou Farmácia,
Mas viu que não tinha jeito
Para pipeta e proveta,
Reação, causa e efeito...
Partiu para Pernambuco
Onde foi cursar Direito.

2
09
Mesmo ainda como aluno
Já mostrou muito sucesso
Chegou a ir pra São Paulo
Representar, num Congresso,
Os seus colegas de curso
Que nele viram progresso.
10
Seu discurso progressista,
Sua mente especial,
Sua sensibilidade,
Seu currículo magistral
Tornaram-lhe catedrático
Para o Direito Penal.
11
Logo ao terminar o curso
Que concluiu com louvor,
Aplaudido por colegas
Bem visto pelo reitor,
Mudou direto de lado
De aluno pra professor.
12
Foi um professor brilhante,
Pois da matéria sabia.
Também sacava de História,
De Arte e Filosofia
Era um mestre em transmitir,
Bamba na Pedagogia!

3
13
E então como professor
Não ficou no trivial
Expandiu os seus saberes
Do modo mais genial,
Se transformando de fato
Num intelectual!
14
E já no ano de 10
Foi pra o Rio de Janeiro.
Para o Jornal do Comércio
Fez seu trabalho primeiro
Falando em Luis Delfino,
Victor Hugo brasileiro.
15
Se bem que ele já tinha
Começado em Pernambuco
Aonde escutou o último
Dos discursos de Nabuco
E trouxe para seu texto
Da cana o doce do suco.
16
Em 05 já escrevia
A secção "Golpe de Vista",
Em torno à obra de Nietsche
Provou ser bom polemista.
Escreveu artigo e ensaio
E provou ser bom cronista.

4
17
Para o "Jornal do Comércio"
No Rio escreveu primeiro
Para o "Mundo Literário"
"O País", "Época", "O Cruzeiro"
E em jornais de São Paulo
Também mostrou seu roteiro.
18
N'O Estado de São Paulo'
Foi lido em todo o Brasil,
N'O Correio Paulistano'
Pôs seu texto varonil
E ás vezes até usava
O pseudônimo Áureo ou Gil.
19
Mil, novecentos e doze,
À Europa viajou
Viu de perto a Belle Époque,
Com grandes crânios sentou.
Nas fontes do Modernismo
Bebeu, comeu e saldou.
20
Em 13 chegou de volta,
E pra mostrar sapiência
Foi ao Jornal do Comércio
Pronunciou conferência
Que mostrou sua grandeza,
Seu talento e inteligência.

5
21
Depois publicou em livro
Tudo quanto relatou:
"A Chave de Salomão"
Logo em 13 publicou
E ainda "Outros Escritos"
Ao seu livro acrescentou;
22
Em 15 ele foi de volta
Para o seu torrão natal
Candidatou-se, elegeu-se
Deputado federal,
Projetou-se no cenário
Da política nacional.
23
Na câmara, belos discursos
Cresceram seu cabedal,
Falou de instituições
Da política federal
E descreveu, do Brasil,
Nosso Meio Social.
24
E por ter se consagrado
Parlamentar de respeito,
No ano de 17
Conseguiu ser reeleito.
Vinte e um e Vinte e quatro,
Ganhou sempre em todo pleito.

6
25
Em 26 deu um tempo
Na política radical
Pra ser diretor da Caixa
Econômica Federal
E em 27 elegeu-se
Pra o Senado Nacional.
26
Já como parlamentar
Entrou no mundo que quis;
Falando de relações
Externas deste País
E indo a reuniões
Em Berlim, Roma e Paris!
27
Chegando a República Nova
Encetou nova conquista,
Deu um tempo na política
Foi chamado a ser jurista,
Deu cursos, formulou leis
Tendo visão de estadista.
28
No ano de 34
Chegou onde mais queria
Para o Itamaraty
Foi prestar consultoria
E entrou de vez no seu mundo
Feliz da Diplomacia.

7
29
Sucedeu a Bevilacqua
Que foi um grande causídico
E assim, da Política externa,
Tornou-se assessor jurídico
Mostrando que seu talento
Era completo e verídico.
30
Evoluiu muito rápido
Pois do lugar de assessor
Em 36 assumiu
O cargo de embaixador
Onde mostrou seu talento
Pra ser negociador.
31
Do ano de 39
Ao ano 47
Foi ministro na Finlândia
Fazendo o que lhe compete
E o mesmo êxito de sempre
Na Finlândia se repete.
32
E logo em 48
Ele sentou-se no trono
Da carreira diplomática...
De uma cadeira foi dono
Na Comissão de Direito
Internacional da ONU.

8
33
Já que Genebra era a sede
Desta nobre comissão
Foi residir na Suíça,
Deu grande contribuição
Ao Direito entre os países
Com muita publicação.
34
Não perdeu uma sessão
Da Assembléia Geral
Da ONU, em Nova Yorque,
Desde aquela inicial,
Até a última em que pôde
Botar seus pés no local.
35
Somente em 68
Parou de comparecer
E o seu saber jurídico
Nunca deixou de exercer.
Direito Internacional
Passou a vida a escrever.
36
Os "Direitos e Deveres
Dos Estados", foi legal,
"Definição de Agressão"
E até "Processo Arbitral",
"Reservas às Convenções..."
Da lei multilateral.

9
37
Foi embaixador no Chile
E na Itália também,
Cumpriu missão na Argentina
Lá se saiu muito bem
E em leis internacionais
Nunca perdeu pra ninguém.
38
Presidiu a Comissão
"Diplomacia e Tratados",
Os seus pareceres técnicos
Foram os mais abalizados
E mesmo depois de décadas
Ainda são consultados.
39
Do Barão do Rio Branco
Ele herdou o pacifismo.
Herdou de Bolívar, o sonho
De Pátria Grande e heroísmo
Pra consolidar as bases
Do Pan-americanismo.
40
Forjou todo o ideário
Da Pátria América Latina
Desde as ilhas caribenhas
À extremidade sulina
Cuba, Guianas, Peru,
Brasil, Chile e Argentina.

10
41
América de Zé Martí,
De Atahualpa e Guevara,
De Sandino e Tiradentes
De Zumbi, de Victor Jara,
De Farabundo e Allende
Sem águia que nos separa!
42
Um pan-americanismo
Com fronteiras sem alertas
Com o portunhol congregando
Tantas culturas libertas
Sem Batman e Drácula sugando
As nossas veias abertas!!!
43
No pós-guerra ele assumiu
Elevadíssimas missões;
Demonstrou grande prestígio
Logo em duas comissões
E foi delegado na
Conferência das Nações.
44
Essa grande conferência
Foi feita pra se estudar
Qual o poder das nações
Sobre o Direito do Mar
E foi aí que Gilberto
Conseguiu mesmo brilhar.

11
45
Defendia que o direito
Do Estado nacional
Sobre o mar devia ser
Não somente horizontal
Mas também devia ter
Um sentido vertical!
46
O Mar territorial
E também o Alto Mar;
Direito a pesca e minérios
À defesa, ao navegar,
Também aos fundos marinhos
E aos céus do mar pra voar!
47
Amado sempre dizia
Que neste embate tão duro
Entre o academicismo
E o direito prático e puro
Tinha que ver-se o interesse
Das nações e seu futuro!
48
Mas defendia também
Que interesses e ambições
Dos estados não turvassem
As modernas intenções
De forjar civilidade
Pra o futuro das nações!

12
49
Normalmente os diplomatas
Com décadas no estrangeiro
Acabavam se esquecendo
Do jeitinho brasileiro
De ser feliz, ser alegre,
Espontâneo e inzoneiro.
50
Mas Gilberto Amado, não.
Sempre voltava ao País,
Por aqui lançava livros,
Brincava e pedia bis
Sem jamais perder a ginga...
Sem medo de ser feliz!
51
Transformou-se em grande mito
Com mil estórias contadas
Das anedotas, das lendas,
Das ações inusitadas,
Dos ditos espirituosos,
Das saborosas tiradas!
52
Sempre que vinha ao Brasil
Um novo livro lançava;
Sua fama merecida
Crescia e multiplicava
Mas suas lendas e o mito
Cada vez mais se firmava.

13
53
Foi bom na prosa e no verso,
No romance e na memória,
Na crônica se destacou,
No ensaio alcançou glória
E em tudo quanto escreveu
Pôs sentimento e história!
54
Como escritor produziu
"A Chave de Salomão",
"Grão de Areia" e "Dias
E "Horas de Vibração",
"Espírito do nosso tempo",
Também "Suave Ascenção",
55
"Inocentes e Culpados"
"Interesses da companhia",
Sobre "Assis Chateaubriand"
Escreveu com maestria
Na "Dança sobre o Abismo",
Memórias e Poesia.
56
Na redação do Direito
Teve visão analítica
Descreveu muitas minúcias
Do vendaval da política
E em tudo que produziu
Pôs a visão lírica e crítica!

14
57

Maledicência, entreveros,
Valentões pernambucanos,
Amores, paixões platônicas,
O atraso daqueles anos,
Os sonhos da juventude
E o poder dos veteranos.
58
Foi quem melhor descreveu
A capital nordestina
Do que sobrou das senzalas
Da Casa Grande assassina,
Dos homens e caranguejos...
Vida e morte Severina.
59
Foi Gilberto um homem manso,
Mas também foi agitado.
Nunca levou desaforo
Pra dentro do lar sagrado,
Por isso é que ele foi tanto
Amado quanto odiado!
60
No acordo, um lorde inglês,
No agito era um Nabuco;
Às vezes, filósofo sóbrio;
Por vezes, gênio maluco;
Exímio, esgrimindo idéias;
Fatal, usando um trabuco!

15
61
Esse era Gilberto Amado,
Dono de todos conceitos;
Se foi bom na fala mansa
Foi melhor metendo os peitos...
Um ser humano completo
Em qualidade e defeitos!
62
Seu nome ficou marcado
Na nossa diplomacia,
Nosso país deve muito
À sua categoria
E à competência mostrada
Em tudo quanto fazia!
63
Foi amigo dos amigos;
Brasil foi sua paixão;
Amado amou a si próprio
Bem mais amou à nação,
Irmão da América Latina,
Pai de um mundo mais irmão
64
Que a memória de Amado
Nosso Brasil possa amar;
Que Gilberto esteja perto
Do Brasil que vai chegar;
Que os jovens possam seguir
Sua carreira exemplar!!!

16
Título: Mainha, O Maior Pistoleiro do Nordeste(A sua história completa)
Autor: Guaipuan Vieira
Categoria: Literatura de Cordel - 32 estrofes – 8 páginas
Idioma: Português
Instituição: Centro Cultural dos Cordelistas - Cecordel
1ª Edição: 1998 6ª Edição: 1992
Gravação: 1998 Repentista Raimundo Raposo(Ocara-CE)
Estilo: Biográfico

MAINHA, O MAIOR PISTOLEIRO


DO NORDESTE
Autor: Guaipuan Vieira

Todo o sertão nordestino Como prova ele estudou


Assim como as capitais No Colégio Diocesano
Têm uma marca sangrenta Em Limoeiro do Norte
De assassinatos brutais Com um padre franciscano
Que mesmo o tempo querendo Ordenado no Brasil
Não acabará jamais. E um outro italiano.

Estes crimes foram feitos O vigia do Colégio


Pelo rei da pistolagem A um repórter narrou:
Conhecido por Mainha - Me lembro bem do Mainha
Homem de cruel bagagem Aqui dez anos estudou
Pois descrevo sua história Se é mesmo violento
No mundo da bandidagem. Nunca a nós de demonstrou.

Idelfonso Maia Cunha Cancelou os seus estudos


É seu nome verdadeiro Pela Força Militar
Natural de Alto Santo Quando no tiro-de-guerra
Mas criado em Limoeiro Veio a se incorporar
Região jaguaribana Se isto lhe transformou
Onde reina o pistoleiro. Também não posso afirmar.

É filho de Cândido Maia Há quem diga que Mainha


Homem de grande cultura Depois de a farda vestir
E Carmelita Diógenes O seu bom comportamento
Também ótima criatura Começou dele a fugir
Que pelo filho lutaram Logo foi modificado
Pra lhe dar melhor cultura. E passou a se exibir.
01 02
Dizia pra todo mundo O convite fora aceito
Na sua terra natal Fazendo o seu juramento
- Sou um bom atirador - Serei um homem fiel
E provo o meu natural Seja em qualquer momento
Assim sacava da arma Desta vida que a terra
Provando ser marginal. Acabará o tormento.

Era grande a pipoqueira No ano setenta e seis


Pelo revólver vazando Bem no mês de fevereiro
Corria quem estava perto Dezessete foi o dia
Ou quem vinha se achegando Lá no bar de seu Pinheiro
Só se ouvia o clamor Matou João Feitosa Costa
De todo povo rezando. Com um tiro bem certeiro.

Nas cidades bem vizinhas Este crime cometido


Sua fama já chegava Foi por simples discussão
E alguém pra destruí-lo Pois Mainha discordou
O plano já estudava Da estória de seu João
Mas respeitando sua farda Por dizer que seu cavalo
Só sua baixa aguardava. Era o melhor alazão.

Pois assim o tempo chega Por viver sempre impune


Do quartel foi desligado Jamais fora a julgamento
Mas por Chiquinho Diógenes E dado por esquecido
Este então foi convidado O tal cenário cruento
Para ser seu capataz Matou Paulino da Silva
Por ser homem respeitado. E o Antônio do Jumento.
03 04
Estas vítimas foram feitas Retornou com habilidade
Pelo prazer de matar À fazenda do patrão
E a polícia parada E passando alguns dias
Sem os crimes elucidar Este cumpre outra missão
Deixando solto o bandido Matou o pai de Iran Nunes
Pra mais de crime praticar. Pra não fazer traição.

Zombava de todo mundo Isso deu-se por motivo


Nunca viveu foragido De seu pai vir convidar
Pois por Chiquinho Diógenes O famoso pistoleiro
Este era protegido Para seu patrão matar
Quem tentava lhe matar O que lhe custou a vida
Ligeiro era destruído. Para saber respeitar.

Mainha também resolve Entre as duas famílias


A matar por empreitada Uma guerra começava
E a mando de Chiquinho Com certeza a vingança
Formou uma emboscada Pros Diógenes já chegava
Na cidade de Iracema Desta forma um pistoleiro
Onde uma vida foi tombada. O Nunes já contratava.

Lá morria Expedito Leite Os dias iam passando


Da cidade o ex-prefeito Os Diógenes esquecendo
Com um tiro na cabeça Que os Nunes cobrariam
E um outro bem no peito O que estava devendo
Por desrespeitar Chiquinho Pois de fato uma notícia
Dum trato que tinha feito. Foram estes recebendo.
05 06
No centro de Fortaleza Mês depois do ocorrido
Seu Chiquinho passeava Já na grande Fortaleza
Numa perua Toyota Matou Iran Nunes Brito
Quando uma arma lhe apontava Encerrando com certeza
E o balaço da morte Seu contrato de vingança
Sua vida lhe tirava. Que só promoveu tristeza.

Iran Nunes assim vingava Tristeza aos familiares


Através dum pistoleiro Pelos seus entes queridos
A morte do pai querido Que pro campo santo eterno
O seu melhor companheiro Estes foram conduzidos
Mar sabendo que os Diógenes Inocentes ou pagando
Respondiam bem ligeiro. Pelos erros cometidos.

Mainha tomou ciência Pois do Rei da Pistolagem


Da morte de seu patrão Que muita gente tombou
E a mando dos Diógenes Tirando as sua vidas
Ligeiro entrou em ação Por contrato que assinou
Em menos de uma semana Alguns crimes descrevi
Ele fez a vingação. Como a imprensa registrou

Fez então uma chacina Mas por força de Moroni


O perverso justiceiro Da Polícia Secretário
Matou João Terceiro Sousa O terrível pistoleiro
Ex-prefeito de Pereiro Que já quase era lendário
Sua mulher e o capataz Já deixou de ser o mito
Domingos Silva Carneiro. Hoje é presidiário.
07 fim
01
Quero contar a história
Verdadeira e gloriosa
De um diplomata de peso
De carreira luminosa;
Um crânio cheio de graça,
O nosso gênio da raça,
O baiano Rui Barbosa.
02
Rui foi um líder político,
Deputado e senador,
Ministro por duas vezes,
Foi filólogo e escritor,
Tradutor e jornalista
Um consagrado jurista
E um gênio como orador!
03
Porém existe um detalhe
Nas muitas aptidões
Deste crânio brasileiro.
Que deixou tantas lições:
É seu lado DIPLOMATA,
Onde ele compôs a nata
Do concerto das nações!
04
Foi aí que Rui Barbosa
Consagrou-se de verdade,
Tornou-se a “Águia de Haia”
Com tal legitimidade
Que armado de mente e lábios
Tornou-se um dos “Sete Sábios”
Maiores da humanidade.

1
05
Seu tipo físico era frágil:
Quase anão na estatura.
Um metro e cinqüenta e oito,
72 de cintura.
Corpo encurvado e franzino,
Fisicamente um menino
Mas um titã na cultura!
06
Só quarenta e oito quilos
De peso e de sapiência;
A fragilidade física
Escondendo a inteligência...
Mas provou aos seus carrascos
Que “é nos menores frascos
Que mora a melhor essência”!
07
Rui Barbosa de Oliveira,
De Salvador, bom baiano.
Nasceu em mil e oitocentos
E quarenta e nove, o ano;
Foi a cinco de novembro
Que a luz viu o maior membro
Do saber brasiliano.
08
Seu pai, Doutor João José,
Viu no anão um titã,
Ensinou-lhe amar os livros,
Do saber tornou-lhe um fã.
Maria Adélia gerou-lhe
E com carinho ensinou-lhe
Amor e moral cristã.

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09
Com a mãe também aprendeu
Amar os descamisados
Aos que a vida excluiu,
Aos pobres e explorados,
Ao humilhado e ao cativo...
Por isso tornou-se ativo
Defensor dos humilhados.
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Com cinco anos de idade
Rui na escola ingressou;
Seu mestre Antônio Gentil
Muito espantado exclamou:
Meu Brasil, eu lhe apresento
O mais incrível talento
Que a Bahia já criou!
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Aprendeu em quinze dias
Distinguir as orações
E dos verbos regulares
Fazer as conjugações,
Juntar letras, soletrar,
E com um ano a destrinchar
As mais difíceis lições.
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Aos onze anos de idade
Já no Ginásio Baiano,
Professor Abílio César
Disse a seu pai: Não me engano.
Tudo que eu sei, Rui já sabe.
Portanto, João, já lhe cabe
Colocar Rui noutro plano.

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13
Foi quando Rui recebeu
Sua maior honraria,
Uma Medalha de Ouro,
Do arcebispo da Bahia...
E entre milhões de imagens
De glórias e de homenagens
Desta, nunca esqueceria.
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No ano sessenta e quatro
Conclui o ginasial.
Só tinha quatorze anos
Não tinha idade ideal
Para a faculdade e então
Foi estudar Alemão
Até o prazo normal.
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Ao fazer dezesseis anos,
Já tendo idade e conceito
Foi para Olinda cursar
Faculdade de Direito,
Provando o fato verídico
Que para o mundo jurídico
Era o cérebro mais perfeito.
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Porém em 68
Contraiu um grande mal
Adoeceu gravemente
De um “incômodo cerebral”
Deu um tempo em quase tudo
Paralisou o estudo
Até voltar ao normal,

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E enquanto ficou em casa
Por um bom tempo abrigou
O poeta Castro Alves
Que Eugênia Câmara largou;
Castro, de Rui era um mano,
Pois no Ginásio Baiano
Na mesma turma estudou.
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Rui fica bom e de novo
Sua faculdade enfrenta,
Se transfere pra São Paulo,
Curso que mais fama ostenta;
Ali virou bacharel.
Ganhou diploma e anel
Já no ano de 70.
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Doutor, voltou à Bahia,
Seu solo amado e natal.
De novo sofreu as dores
Do “incômodo cerebral”
Mas foi logo advogar
Passando rápido a provar
Ser grande profissional.
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Nesse tempo Rui Barbosa,
Mesmo sem ganhar fortunas
Por advogar pra os pobres
Já brilhava nas tribunas,
E os embates sociais
Travava pelos jornais
Com artigos e colunas.

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No Diário da Bahia
Escrevia a pura prosa.
Neste tempo, o coração
Do genial Rui Barbosa
Por Brasília, jovem bela,
Caiu na triste esparrela...
A primeira crise amorosa.
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Mas a dor-de-cotovelo
Ele logo compensou.
Discursos e conferências
Onde fazia, era show.
Pela força da Oratória
Em pouco alcançou a glória,
Seu nome se consagrou.
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Casou-se em 76
Com uma bela baiana
Com quem construiu família:
Maria Augusta Viana
Bandeira da sua vida,
Amada e deusa querida,
Fantástica figura humana.
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Augusta e Rui produziram
Uma família garbosa:
Que tinha nos nomes o
Sobrenome “Ruy Barbosa”.
Cinco filhos exemplares
Diplomatas, militares
E um político bom de prosa!

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Rui ergueu-se em seu talento
Para enfrentar a ganância.
A ditadura e a maldade
Ele enfrentou com tal ânsia
Que esqueceu banca e saúde
Para abraçar com virtude
A causa e a militância!
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No ano 77
De muita seca e horror
Rui se elegeu deputado
Erguendo um novo valor.
Pela grandeza exibida
Foi escolhido em seguida
Pra ser nosso senador.
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Nabuco disse que Rui
Fez a República garbosa;
Benjamim lhe atribuiu
Revolução luminosa.
Patrocínio, disse então:
“Deus acendeu um vulcão
Na cabeça de Barbosa”.
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E veio a Abolição
Da escravidão malvada;
Vimos três anos depois
A República proclamada,
Cujo primeiro decreto
Teve o talento completo
Da sua mão consagrada!

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Fez a Constituição
Da República brasileira;
Poucos retoques fizeram
Sobre a redação primeira
Seu texto estava perfeito
Na política e no Direito,
Uma obra verdadeira.
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E ao nascer a República,
Pelo seu saber notório
Foi primeiro vice-chefe
Do Governo Provisório.
Brilhante, firme, empolgado
O Brasil foi transformado
Em seu gigante auditório!
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Rui Barbosa e Deodoro
Neste governo de início
Separaram Estado e Igreja
Evitaram o precipício
Com o tumulto controlado
Acabaram deputado
E Senado vitalício.
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Rui, Ministro da Fazenda,
Pegou um cofre falido
Pela provisoriedade
Do governo instituído
Não conseguia dinheiro...
Nenhum país estrangeiro
Deu-lhe o empréstimo pedido.

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Emitiu papel-moeda
Sem lastro em ouro na mão.
Mas desviaram o dinheiro
Do foco da produção
Que Rui Barbosa queria.
Por isso a Economia
Desandou na inflação.
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Se afastou do Ministério
Mas inda fez uma ação.
Mandou queimar os papéis
Dos tempos da escravidão
Para evitar que ex-senhores
Ganhassem grandes valores
Pedindo indenização!
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Logo veio Floriano
Com um chicote na mão.
Então as coisas mudaram,
Começou a repressão
E a liberdade sonhada
E democracia esperada
Fora para o rés do chão.
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As revoltas começaram.
Rui contra o autoritarismo
Buscando o entendimento
Defendendo o legalismo
E Floriano, no berro,
Virou “Marechal de Ferro”
Na mão do militarismo!

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Rui Barbosa ergueu a voz
Contra a intensa repressão.
Aos revoltosos da Armada,
Aos generais na prisão,
Também aos federalistas
Que queriam que as conquistas
Não sucumbissem ao canhão!
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Pra os que estavam desterrados
Nas brenhas do Cucuí
Rui entrou com Habeas Corpus
Para tirá-los dali...
Dizia Barbosa: eu sei
Que um Brasil sem ter a lei
Não é Brasil é “brasí”!
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Chegou a ser exilado.
Forçado deixou a terra
Que amou e foi pra o Chile,
Argentina e Inglaterra
E escreveu famosas cartas
Fazendo acusações fartas
Contra ditadura e guerra.
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Combateu a intervenção
Militar contra Canudos
Provou que aqueles beatos
Pobres, sofridos barbudos
Não queriam monarquia
Queriam cidadania
Comida, trabalho e estudos!

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Do nosso Código Civil
Ele fez a revisão
Mil e oitocentos artigos
Em tudo a observação
Corrigindo o Português
E a redação das leis
Pra não ter nenhum senão.
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Mil novecentos e cinco
Resolveu ser candidato
Contra Hermes da Fonseca.
Seu discurso era um retrato
De um Brasil progressista
Contra um Brasil feudalista
De atraso e de maltrato.
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Em 07 ele foi a Haia
Conferência Mundial
Defendeu a igualdade
Na Lei internacional
Nada de fraco e de forte
Rico e pobre, Sul e Norte
Com direito desigual.
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Derrubou todas as teses
Da força da prepotência,
De Inglaterra, França, States,
De tudo que foi potência
Derrubou a força insana
De canhão, de bomba e grana
Com a força da inteligência.

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Seu nome se destacou.
Foi primeiro sem segundo.
Entre Choate e Nelidoff,
O Barão Marshall profundo,
Meye, Tornielli e Leon
Foi ele quem deu o tom
Dos Sete Sábios do Mundo!
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Tornou-se a “Águia de Haia”,
Do mundo recebeu louvo,
Quebrou a “lei do mais forte”
Criando um Direito novo.
E quando voltou pra o Rio
Foi só descer do navio
E cair nos braços do povo!
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Da Academia de Letras
Foi dos membros varonis
Fundador da ABL,
Seu presidente feliz;
Provou seu grande valor
Ao se tornar sucessor
De Machado de Assis!
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As suas obras são tantas,
De temas tão variados
Que fica muito difícil
Dizer em versos rimados
Os títulos que publicou
E a obra que legou
Nos seus geniais traçados.

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“Contra o Militarismo”,
“Visita à Terra Natal”,
A grande “Oração aos Moços”,
“Acre Setentrional”,
Discursos, artigos, cartas,
Foi das produções mais fartas
Da Cultura nacional!!!
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Português, Rui conhecia
Mais que os mestres portugueses
Fez um discurso em francês
Para saudar os franceses.
E diz até um ditado
Que quando foi exilado
Ensinou inglês a ingleses!
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Contra Hermes da Fonseca
Mil novecentos e dez
Candidatou-se gritando
Contra atitudes cruéis
Na Campanha Civilista
Contrária ao militarista
Regime dos coronéis.
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Ainda participou
De mais de uma eleição
Levando a campanha às ruas
Dando início na nação
Às campanhas democráticas
Chamando em frases enfáticas
O próprio povo à ação!

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53
Em 18 recebeu
Uma agradável surpresa
Grande Oficial de Honra
De uma legião francesa
Mostrando um prestígio grande
E aí seu nome se expande
Pelo mundo com certeza!
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Continuou escrevendo
Com sua verve eloqüente,
No Senado fez trincheira
Mostrando ser combatente
Pela causa que lhe move...
Foi, de novo em dezenove,
Candidato a presidente!
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Mas no ano 21
Demonstrou grande canseira
Renunciou ao mandato
De senador de primeira
Declarando estar cansado
E “o coração enjoado
Da política brasileira”!
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Rejeitou ser chefe de
Grande Congresso em Paris.
De, na Liga das Nações,
Representar o País.
E no Tribunal de Haia
Como farol e atalaia,
Ser delegado e juiz!

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Por tudo quanto ele fez,
Pela grande sapiência,
Por seu saber filosófico,
Saber jurídico e Ciência
Política, História e Gramática,
Seu nome virou, na prática,
Sinônimo de inteligência!
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Na TV e no cinema
Foi personagem famoso
Foi retratado no filme
“Vendaval maravilhoso”
Brilhou em “Mad Maria”,
Minissérie que trazia
Um Brasil conflituoso.
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E no “Brasília 18
Por cento”, filme recente
Rui aparece também
Trazendo exemplos pra gente
E há vinte anos passados
Na nota de dez cruzados
Seu rosto surge de frente.
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Seu nome é nome de ruas,
De praça e Grupo Escolar,
De colégios e farmácias,
De cidade potiguar,
É nome de quase tudo
Só não vi em meu estudo
Seu nome em nome de bar.

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A “Casa de Rui Barbosa”
Preserva sua memória;
“Instituto Rui Barbosa”
É relicário da História
Deste gênio brasileiro.
Baiano bravo, altaneiro
Que encheu o Brasil de glória!
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Na grande guerra de idéias,
Na lei da fala macia,
Na batalha de argumentos,
Atuou com maestria...
Sem ser profissional
Foi “Pai intelectual
Da nossa diplomacia!!!”
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Os princípios defendidos,
Suas argumentações,
As leis por ele propostas,
Seus motivos e razões
Pra os países serem iguais
São as colunas centrais
Do Concerto das Nações.
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Se um dia Brasil reler
Suas imensas verdades
Se pautando pela ética
Respeitando as liberdades
Quando todos formos “Rui”
O nosso Brasil não rui
Nem triunfam nulidades!

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