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1
05
Para não viver sozinho
Pensou numa companheira.
Ao encontrá-la aceitou
Como esposa verdadeira
Dona Ana Guilhermina
Rodrigues Alves Pereira
06
Mulher de família ilustre
De certa forma influente
Da história da política,
Um ramal sobrevivente.
Neta de Rodrigues Alves
Do Brasil, ex-presidente.
07
Fez formação humanística
No colégio Anglo-mineiro.
E no Dom Pedro II,
Já no Rio de Janeiro
Engrandecendo o currículo
Desse ilustre brasileiro.
08
Ao se transferir pra o Rio
Nos estudos se esmera
Escreve literatura
E sua paixão reitera
Colabora com a revista
"Estudantil Primavera".
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Teve a força de vontade
Como principal critério.
Permaneceu por dez anos
Levando o estudo a sério,
Sendo exímio professor
E servindo ao magistério.
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Se forma na Faculdade
Nacional de Direito,
Que no Rio de Janeiro
Goza de grande conceito.
Depois em Belo Horizonte
Foi promotor de respeito.
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Formado aos vinte e dois anos
Faz do Direito um valor
Torna-se, além de jurista,
Político, historiador,
Grande crítico brasileiro,
Ensaísta e professor.
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Para Genebra - Suíça,
Entendeu de viajar
Com o fim de seus estudos
Ali aperfeiçoar
Voltando ao Rio de Janeiro,
Passou a lecionar.
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Professor no exterior
Em mais de uma disciplina,
Ministrou curso de História
Em Paris, cidade fina,
Montevidéu-Uruguai
E na capital argentina.
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Em pleno Mil novecentos
E quarenta e seis, ingressa
No Instituto Rio Branco
Que um bom momento atravessa
Como professor de História
A sua história começa.
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Foi catedrático em Direito,
Cito: Constitucional,
Ante as Universidades
Federal e Estadual
Ambas no Rio do Janeiro
Onde foi gênio imortal.
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No ano quarenta e sete
Quarenta dois anos faz.
Em prol da democracia
Começa em Minas Gerais
Sua carreira política
Vitoriosa demais.
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Contra a discriminação
Criou a base legal,
Foi por três legislaturas
Deputado federal
E líder da União
Democrática Nacional.
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O preconceito de cor
Que tanto humilha e oprime
A partir de sua lei
É considerado crime.
A dignidade negra
Sua mão sábia redime!!!
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No partido do governo
Trabalhou em união
Depois passou a ser líder
De um bloco de oposição
Ao governo JK,
Presidente da nação.
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Dois fatos principalmente
Que até hoje são lembrados
Marcaram sua presença
Na Câmara dos Deputados
E graças a ele foram
Os projetos aprovados.
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Como foi citada a lei
Contra a discriminação
Racial, que àquela época
Já provocava exclusão
Hoje existe, mas é menos
Dado à sua aprovação.
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A lei: Um, três, nove, zero (1.390)
De projetos genuínos
Que combatia, mormente,
Os preconceitos ferinos
Passou a ser conhecida
Como "Lei Afonso Arinos".
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No ano cinqüenta e quatro
No dia nove de agosto
Pediu em discurso a Vargas
Que renunciasse ao posto.
Seu gosto Vargas não fez
Mas teve um grande desgosto.
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E quinze dias depois
Dessa frase proferida
Talvez se vendo acuado
Não achando outra saída
No Palácio do Catete
Getúlio se suicida.
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Em 58, Arinos,
Nossa figura central,
Foi eleito senador
No Distrito Federal
Que logo virou Estado,
Rio de Janeiro atual.
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Foi Senador pelo Rio,
O único dos Senadores
Que no governo de Jânio
Teve importantes labores
Quando foi ministro das
Relações Exteriores.
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E até 66
Permaneceu no Senado
Durante esse tempo foi
Duas vezes afastado
Pra ser, pelo presidente,
Novamente nomeado.
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O primeiro chanceler
Brasileiro que fez plano
E foi visitar a África
Em sessenta e um, o ano,
Pra conhecer e sentir
A dor do povo africano.
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Chefia a Delegação
Do Brasil perante as
Nações Unidas, durante
As assembléias gerais
E com um ano depois
Volta chefiando mais.
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Findou chefiando a
Delegação brasileira
À Conferência em Genebra
Onde, na pauta primeira
Estava o desarmamento,
Missão da nossa bandeira.
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Nomeado presidente
Da citada Comissão
Provisória de Estudos
Para a elaboração
Do que se tornou decreto
Para a Constituição.
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Por Sarney foi convidado
Como um dos homens finos
Assume uma comissão
Pra guiar nossos destinos
Que se tornou em seguida
Comissão Afonso Arinos.
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Nunca deixou de fazer
O bem pra nossa nação
Foi dos Direitos Humanos,
Na sua declaração
O redator que fez tudo
Sem errar na redação
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Pra o Conselho Federal
Sua pessoa compete
Foi por mérito nomeado
No ano sessenta e sete
Depois em setenta e três
Essa função se repete.
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Foi do Instituto dos
Advogados, primeiro
Um membro de qualidade
Efetivo e verdadeiro
Também do Instituto Histórico
Geográfico Brasileiro.
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E aos 81 anos
Em completa lucidez,
É eleito senador
No ano de 86
Depois o povo mineiro
O leva ao cargo outra vez.
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Títulos: Professor Emérito,
Podemos citar primeiro,
Duas universidades
Deste país brasileiro
Da UFRJ
E a do Rio de Janeiro
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Intelectual do ano
Setenta e três, sem favores
Ganha o prêmio "Juca Pato"
Que confirma seus valores
Perante a Sociedade
Paulista de Escritores.
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Além de conquistar títulos
Famosos por mais de um fato
Conquistou três grandes prêmios
Provando ser literato:
"Luisa Cláudio de Sousa",
"Jabuti" e "Juca Pato".
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O prêmio "Luisa Cláudio
De Sousa", ele assim ganhou
Do PEN Clube do Brasil
Isto por que publicou
"Rodrigues Alves", um livro
Que o Brasil todo comprou.
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Vem o prêmio "Jabuti"
Mais uma satisfação
Ganho na Câmara do Livro
Mas em dupla ocasião
Dos volumes de memória,
Em sua publicação.
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No ano 58
Toma posse da cadeira
25 que seria
Ilustrada a vida inteira
Recebido pelo grande
Poeta Manoel Bandeira.
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Na ABL depois
Seu percurso se estende
Recebe Antonio Houaiss
E a mesma homenagem rende:
Guimarães Rosa, Oscar Dias
E a Otto Lara Rezende.
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Como Senador preside
Da forma mais natural
Duas Comissões que o tornam
Expressão nacional
C.R.E, CCJ
No Senado Federal.
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Autor de inúmeras obras
Para aumentar sua glória
Em História e em Direito,
Em Política e em Memória,
Para citar quatro temas
Vou começar por História.
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Com destaque para estas
Publicações de beleza
Tal "O Índio Brasileiro",
A "Revolução Francesa",
"As Origens brasileiras",
Bondade da natureza.
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Em "Um Soldado do Reino
E do Império" falado;
Nesta obra ele relata
O verdadeiro legado
Com base na vida do
Herói Marechal Callado.
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Fez a "História do Povo
Brasileiro", a mais honrosa
Com a colaboração
De uma dupla famosa
O grande Antonio Houaiss
E Francisco Assis Barbosa.
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"Estadista da República"
Do seu pai dando o perfil
Com a "História do Banco
Do Brasil" é nota mil
E a "Síntese da História
Econômica do Brasil"
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Compondo três obras mais
Dando o esclarecimento
Sobre as idéias políticas
Exploradas no momento
Do Brasil, homens e temas
E o desenvolvimento.
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Afonso Arinos portava
As melhores referências
Direito, História, Política,
Pesquisas sobre ciências,
Trabalhos Parlamentares,
Discursos e Conferências.
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Em Direito, dou destaque,
Como grandes críticos dão,
Para "As leis Complementares"
Da nossa Constituição
Fazendo comparações
Com as de outra nação.
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53
Na política ele escreveu
Sobre Nacionalismo,
De problemas brasileiros
E Presidencialismo,
Sobre civilização,
Crise e Parlamentarismo.
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Faz em Críticas e Memórias:
"Portulano" ninguém toma
Como "O Som do Outro Sino"
"Mar de Sargaços", que soma
"Planalto", "Alto-Mar Maralto"
"Escalada" e "Amor a Roma".
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Assim foi Afonso Arinos
Um gigante do saber;
Bamba da diplomacia
Fez nosso Brasil crescer;
Foi bom na oposição
E bem melhor no poder!
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Intelectual cheio
De particularidades
Ímpar por estilo próprio
Múltiplo nas atividades
Raro porque foram poucos
Com as suas qualidades.
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Do que poderia ser
Não foi mais e nem foi menos
Foi um político agitado
Um sábio dos mais serenos
Gigante pisando firme
Nos mais diversos terrenos.
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Afonso Arinos de Melo
Grande desde que nasceu;
Aprendeu para ensinar
A missão que recebeu.
Conseguiu ficar famoso
Ensinando o que aprendeu.
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Foi um exemplo de ética,
De grandeza e compostura
Combateu corrupção,
Denunciou a tortura
Forjou a democracia,
Condenou a ditadura!
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Suas falas pelo mundo
Foram todas gloriosas
Saiu das Minas Gerais
Para as nações poderosas
Mostrando o brilho das mentes
Dos sábios das Alterosas.
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Ouro, ferro e diamantes
Traçaram dele, os destinos,
Foi honra dos brasileiros
Ilustração dos Arinos,
A estrela mais brilhante
Dos céus belorizontinos.
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A arte do Aleijadinho,
A luz dos inconfidentes,
A garra dos conjurados,
O sangue de Tiradentes,
Santos Dumont e Drumonnd
São dele os antecedentes.
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E em mil e novecentos
E noventa, esse senhor
Ganha o derradeiro pleito,
Sofre a derradeira dor
Em pleno exercício do
Mandato de Senador.
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Guerreiro de muitas lutas,
Vencedor de toda trama,
Caiu no campo da honra,
Encantou-se em plena cama.
Partiu, mas ficou lembrado,
É como diz o ditado:
"Vai-se o homem, fica a fama".
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Musa divina que inspira
Poetas do mundo inteiro,
Traz-me os fluidos do Parnaso
E o saber mais verdadeiro
Pra que eu decante à nação,
Alexandre de Gusmão,
Um grande herói brasileiro!
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Mas não se trata de herói
De músculos, de espada e aço,
Nem dos quadrinhos que trazem
Superpoderes do espaço;
Não é filho de deus grego,
Cow-boy, nem homem-morcego,
Nem valentão do cangaço!
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Mas como chamar de herói,
Que não brigou nem matou?
Quem não se impôs pela espada,
Quem canhão não disparou,
Quem a lança não brandiu,
Quem bombas nunca explodiu,
Quem País nunca atacou?
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Tenha calma, meu leitor,
Vou lhe explicar, não se zangue,
A história desse herói,
Sem guerra, sem bangue-bangue.
Sem flecha, espada ou fuzil,
Que fez crescer o Brasil
Sem jamais derramar sangue!
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05
Esse nome de Alexandre
Ele herdou do seu padrinho,
Um padre que lhe ensinou
Da justiça o bom caminho.
E o sobrenome Gusmão
Vem também do capelão
Como a Bíblia, a hóstia e o vinho.
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Trouxe o destino de outro
Alexandre do passado,
O guerreiro macedônio,
De ser grande e preparado...
Só que o guerreiro iracundo
Que conquistou meio mundo
Fez com sangue derramado.
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Alexandre de Gusmão
Nasceu no Porto de Santos
Em “Um, meia, nove, cinco”
Numa família de tantos
Irmãos e irmãs queridas;
Até então, oito vidas
Dadas às rezas e aos mantos.
08
Filho de Maria Álvares;
E Lourenço, cirurgião;
Dos doze filhos nascidos
Têm destaque, ele e o irmão,
Religioso e inventor,
Nosso “Padre-voador”
Bartolomeu de Gusmão!
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09
Inventor do aeróstato,
Foi este padre exemplar
Que provou perante o rei
Que era possível voar;
Ao ver uma bolha quente
Fez um balão ascendente
Por ser mais leve que o ar!
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Pois Bartolomeu levou
Alexandre pra Bahia,
No Colégio de Belém
Demonstrou sabedoria;
Foi pra o Colégio das Artes
Por ser de todas as partes
O melhor que existia!
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Dali saiu preparado
Diplomado, competente,
Em Latim, Retórica e Ética,
E em Lógica, logicamente,
Em Metafísica, versado
E o título considerado
De “Filósofo excelente”.
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Mil setecentos e dez
Com quinze anos de idade
O padre reconhecendo
Sua genialidade
Mandou-o pra Portugal,
Foi pra Corte Imperial
Fazer universidade.
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Matriculou-se em Coimbra
Mostrando grande valor.
Ali estudou, formou-se,
Ganhou grau superior.
Com seu saber cientista
Se tornou iluminista
Ganhando anel de doutor.
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Dali seguiu pra Paris.
Estudar mais era o plano;
Secretário da Embaixada
Logo assumiu sem engano...
Fez em Sorbonne, fantástico,
O Direito Eclesiástico,
O Civil e o Romano.
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Na passagem pela Espanha,
Em Madrid passou semanas
Vendo o Tratado de Utrecht
Com falhas meridianas
E o limite natural
Entre Espanha e Portugal
Nas terras americanas.
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Foi em Paris que Gusmão
Aprofundou seu saber
Na Ciência da Política
Mergulhou pra conhecer
Seu sentimento profundo
E o jogo eterno do mundo
Dos mistérios do poder!
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Lá na Paris do Rei Sol
A nova luz se acendia
Na mente do brasileiro
Que trocou Teologia
Pela Razão e a Crítica,
Iluminismo e Política,
Direito e Diplomacia!
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Desistiu do sacerdócio
Inquisidor antiquado.
Notou que o clericalismo
Da fogueira, era apagado;
E ao ler estratégia e tática
Conheceu a essência prática
Das duras razões de Estado.
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E em 19 voltou
A residir em Lisboa.
O Rei Dom João acolheu-o
Como querida pessoa;
O nomeou secretário
E plenipotenciário
Pra defender a Coroa!
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No ano 20 cumpriu
Missão muito especial
Negociando em Cambray,
Em plena França real;
Foi um bravo sem bravata
Que se sagrou diplomata
De nível internacional!
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Bacharelou-se em Direito,
Tornou-se Doutor em Leis,
Foi destacado pra Roma
No ano de 23
Pra junto às cortes papais
Recuperar o cartaz
Do monarca português!
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Até o ano de trinta
Atuou no Vaticano
Fazendo grandes acordos
Pra o bem do seu soberano,
Ganhou, por ser habilíssimo,
O título de “Fidelíssimo”
Pra o Monarca lusitano!
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Com o título Dom João V
Compunha o trio de escol;
Pois o título equivalia
A “Rei Católico” espanhol
E o título invejadíssimo
Que era “Rei Cristianíssimo”
Da França, o próprio Rei Sol.
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Sete anos e três papas
O viram nesta missão
De defender junto a Roma,
Sua querida nação.
Muitos litígios zerou,
E, de quebra, conquistou,
Dos papas o coração!
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Benedito XIII, o Papa,
Chamou-lhe no Vaticano
Chegou a lhe oferecer
O título “Príncipe Romano”
Ele não quis aceitar
Só pra não contrariar
A Dom João, seu soberano!
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No ano de 29
A Lisboa regressou
Logo Dom João pra o Brasil
Alexandre despachou
E a nossa realidade
Com muita profundidade
Gusmão de perto estudou.
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Dois anos passou conosco,
Retornou a Portugal,
Lá transformou-se em Fidalgo
Da Nobre Casa Real;
Como Ciências, sabia,
Entrou para a Academia
Provando ser genial.
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E logo foi nomeado
Pela própria Majestade,
Num cargo bem próximo ao Rei,
“Escrivão da Puridade”,
E por ter visão moderna
Cuidou da política externa
Com brio e capacidade!
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Transformou-se em Conselheiro
Mostrando cultura e tino,
Escreveu livro de História
No idioma latino
E por ser hábil e ser sério
Assumiu um Ministério
No Conselho Ultramarino.
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O cuidado com o Brasil
Foi um dos encargos seus;
Das relações com o Papa
Cuidava em nome de Deus
E cuidou mais, com denodos,
De ter relações com todos
Os países europeus.
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No Conselho Ultramarino
Encontrou a solução
Pra poder qualificar
Nossa colonização
Trazendo família inteira
Dos Açores e Madeira,
Mas, sem escravização!
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Trouxe quatro mil casais
Para a região sulina
Rio Grande e Paraná
Também Santa Catarina.
Cada família, uma área...
O que é reforma agrária,
É Gusmão quem nos ensina.
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Recomendava a quem vinha
Para o Brasil trabalhar:
Estude rios e minas,
Flora, fauna, céus e mar,
O clima, a arte, a vertente
E os costumes dessa gente
Comer, vestir e rezar.
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Dedicou-se a estudar
As produções cartográficas,
Missões, Entradas, Bandeiras,
As bacias hidrográficas,
Relevo, edificações...
Geopolítica por razões
Históricas e geográficas.
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Concluiu que os países
Não podem ter suas áreas
Divididas ao sabor
De linhas imaginárias;
Que têm sempre as desvantagens
De deixar milhões de margens
Para interpretações várias.
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Sua visão panorâmica
E a mente prodigiosa,
O seu saber filosófico,
Sua ação habilidosa
Deram-lhe mais competência
Para a área da Ciência,
Política e religiosa!
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Foi quem criou três bispados
Pará, São Paulo e Gerais.
Criou mais as prelazias
De Cuiabá e Goiás
E como pensava em tudo
Fez o mais profundo estudo
Das questões industriais.
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Naqueles tempos longínquos
Deixou um projeto exposto
Obrigando aos poderosos
A pagarem mais imposto
E rebaixando a quantia
Para o pobre que vivia
Do suor do próprio rosto!
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E implantou o sistema
Chamado “capitação”
Pelo número de escravos
Que possuía o barão;
Fundiu o ouro e fez barras,
Pra ver se acabava as farras
De tanta sonegação.
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Entre 29 e 30
No Brasil permanecia
Em São Paulo, Minas, Rio
Atuou com maestria
Em tudo que o rei mandou
E de quebra, inda aceitou,
Ensinar Filosofia.
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Nesse período ele viu
Que as fronteiras da nação
Desenhada em Tordesilhas
Já não tinham mais razão
De usufruir validade
Pois, frente à realidade;
Era simples ficção!
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Das Ilhas de cabo Verde
Trezentas, setenta léguas
Ninguém havia medido
E assim, sem metros e réguas
Bandeirantes desde cedo
Fora ocupando sem medo
Sem leis, limites ou tréguas.
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Os espanhóis no Pacífico
Se entreteram próximo ao mar,
Destruindo Incas e Maias
E a prata a desenterrar
Se esquecendo de um mundão,
Um profundo De-Sertão
Que tinha pra conquistar!
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Neste “vazio” ficava
Pará, Rondônia, Amapá,
Catarina e Mato Grosso
Rio Grande e Paraná,
Amazonas, chão goiano...
Tudo... do Meridiano
De Tordesilhas pra lá!!!
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Se a linha era imaginária,
Quem iria imaginar
Se ela ficava mais perto,
Se mais longe ia ficar...
E haja procurar tesouro,
Haja sonhar prata e ouro,
Haja índio escravizar!!!
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E assim foram furando
Pântanos, matas, rios, serras;
Fazendo arraiais e vilas
Se apossando em novas terras
Chantando marcos e crivos
E oferecendo aos nativos
Vida escrava ou morte em guerras!
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Era a espada cortando,
E a batina benzendo,
O arcabuz trovejando
E a aguardente fervendo,
Miçanga aos índios comprando,
O mato abrindo e fechando
E o nosso Brasil crescendo!
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Matas cedendo ao machado,
À foice, ao Rabo-de-galo,
O chifre do boi tangido
Pelo casco do cavalo,
O “hinterland” se ampliando
E Tordesilhas ficando
Sem mais ninguém respeitá-lo!
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Além de não existir
Marco e fiscalização
Durante umas oito décadas
Existiu a união
Entre Portugal e Espanha...
Cada qual comeu na manha
Milhões de léguas do “irmão”!
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Enquanto aqui, portugueses,
Rasgavam matas a eito,
Cortavam serras e rios
Levando o Brasil no peito,
Na região asiática,
Espanha com a mesma prática
Agia do mesmo jeito!
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Mas quando se separaram
As duas nações ibéricas,
As invasões prosseguiram
Fossem calmas, fossem histéricas
Espanha tomou chão luso
Na Ásia e sofreu abuso
De Portugal nas Américas!
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Além disso, Sacramento,
Aonde a prata aflorava,
Portugal se achava dono
Mas por dono não se achava
Espanha entrou, não saía...
Quanto mais acordo havia
Mais acordo se quebrava.
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53
Assim como portugueses
Em terras americanas
Comiam terras d’Espanha,
Na Ásia, mãos castelhanas
Com chumbo, espadas, botinas
Engoliam Filipinas,
Molucas e Marianas.
54
Quanto mais as ambições
No chão se concretizavam
Mais guerras se sucediam,
Mais ódios se destilavam,
Mais corações se partiam
Mais sangue as terras bebiam
Mais vidas se consumavam!
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Foi quando se viu que a hora
Não era mais do leão
Que era a hora da raposa
Entrar no campo da ação
Trocando a dor da violência
Pela luz da inteligência;
O chumbo pela razão!!!
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E então saíram da cena
Jagunços e generais;
Em vez de brutos guerreiros,
Finos intelectuais
Mapas em vez de canhões...
Em vez do tiro, as razões;
No lugar da guerra, a paz!
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57
E aí brilhou Alexandre
Com mapas e argumentos...
A fala mansa e os estudos
No lugar dos armamentos,
A paciência que ensina
No lugar da adrenalina
Dos músculos sanguinolentos!
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Defendeu que o limite
Fosse o rastro do colono,
Com base em rios e serras,
Não em linhas do abandono
Feitas de sonho e confetes...
Era o “Uti possidetis”
Quem ocupa e cuida, é dono.
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Foi assim que em quatro anos
Agigantou-se a nação
Alexandre costurou
As bordas de um Brasilzão,
Do Oiapoque ao Chuí,
Até quase Potosí
Com jeitão de coração!
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O arco de Tordesilhas
De cara, cresceu três vezes;
No Norte, no Sul, no Centro,
Com chão pra nobres, burgueses,
Pra índios, padres, reinóis,
Com a prata pra os espanhóis,
O ouro pra os portugueses!
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Gusmão inda amarrou mais
Que a paz beijaria a terra,
Do Brasil, mesmo que as sedes
Dos reinos chegassem à guerra.
Venceu sem canhão nem bota
Com “quengo”, na maciota,
Que “o bom cabrito não berra”.
62
Pois este gênio, este herói,
Avô da diplomacia
Brasileira, que deu glórias
E terras à monarquia,
Que a Portugal deu poder
Que fez o Brasil crescer,
Foi vítima da tirania!
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Quando Dom José cobriu-se
Com a coroa portuguesa
Marquês de Pombal cobriu
Gusmão com ódio e vileza
O fogo apagou-lhe os brilhos
Da esposa e de dois filhos
E ele morreu na pobreza
64
A História lhe roubou
As glórias que merecia
Por isto, eu faço justiça
Nesta humilde poesia
A ALEXANDRE GUSMÃO,
Gênio da paz, campeão
Da luz da diplomacia!
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Leandro Gomes de Barros
ANTONIO SILVINO
o rei dos cangaçeiros
Já fazem 18 anos
Que não posso descansar
Tenho por profissão o crime
Lucro aquilo que tomar,
O governo às vezes dana-se
Porém que jeito há de dar?!
Telegrafei ao governo
E ele lá recebeu,
Mandei-lhe dizer: doutor,
Cuide lá no que for seu,
A capital lhe pertence
Porém o estado é meu.
No Pilar da Paraíba
Eu fui juiz de direito,
No povoado - Sapé,
Fui intendente e prefeito,
E o pessoal dali
Ficou todo satisfeito.
Ali no entroncamento
Eu fui Vigário-Gral,
Em Santa Rita fui bispo,
Bem perto da capital,
Só não fui nada em Monteiro,
Devido a ser federal.
Na vila de Batalhão,
Eu servi de advogado,
Lá desmanchei um processo
Que estava bem enrascado,
Livrei três ou quatro presos
Sem responderem jurado.
Eu já encontrei um padre,
Recomendado de papa,
Tinha o pescoço de um touro,
Bom cupim para uma tapa,
Fomos às unhas e dentes,
Foi ver aquela garapa.
E o Antonio Silvino
Não anda neste lugar,
Se ele andassem, aquela onça
Havia de se espantar,
Eu estava perto deles,
Ouvindo tudo falar.
Ali desceu toda a tropa,
Não demoraram um momento,
Um soldado que trazia
Um saco de mantimento,
Por minha felicidade
Deixou-o por esquecimento.
A Seca do Ceará
Flagelados retirantes
Acabam-se os animais
É um sítio de amarguras
Lampeja um só pirilampo.
Aqueles bandos de rolas
Do livro da existência.
E a fome obedecendo
Deixando desemparado
Ao pé de si um filinho,
Dizendo já existisses
Atravessarem as ruas
Em procura de socorros
De frondosas trepadeiras,
Conserva a recordação
Da cratera de um vulcão
Causava admiração,
Parecendo um esqueleto
Os camaradas antigos
O governo do país
Examinar a fraqueza
Da frágil humanidade
A natureza a sorrir
O inverno é soberano
Os habitantes procuram
O governo federal
Há enorme distinção.
O desastre é um diabo
Grande contrariedade
Privado da liberdade.
Do poder de um batalhão,
É duro de resistir.
Querendo experimentar,
A vós eu me recomendo
A febre já me atacou,
Encerrado na cadeia,
E me bote no portão,
Em fundo de padaria.
Zé-pitada aí se ergueu,
É crime descomunal.
Degraçada, vá embora.
Título: A Terrível História da Perna Cabeluda(Prenúncios da Besta-Fera)
Autor: Guaipuan Vieira
Categoria: Literatura de Cordel - 32 estrofes - 8 páginas
Idioma: Português
Instituição: Centro Cultural dos Cordelistas - Cecordel
1ª Edição: 1998 2ª Edição: 1999
Gravação:
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2
09
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Sem ter por quem esperar
Ergue o peito, segue avante,
Arranja logo um emprego
De caixeiro-viajante;
Depois, de comerciário,
Passa a ser comerciante.
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E em meio a talões de notas
Pedidos e encomendas
Schmidt foi cultivando
Do saber todas as prendas,
Logo surgiram poemas
Em meio às notas de vendas!
15
Trabalhava numa casa
Onde vendia tecidos
E artigos de armarinho.
Entre os estoques sortidos
De botões, pentes e panos,
Tinha livros escondidos!
16
Em meio às vendas frenéticas
Parava sempre pra ler
Na Rua do Ouvidor
Livraria Garnier
E brechava atrás da loja
A Livraria Briguier".
4
17
O seu patrão português
Baixava dele o conceito
Dizia: com tantos livros
Para ler, esse sujeito
Jamais dará pra o comércio,
"Esse gajo não tem jeito..."
18
Mas Schmidt deu o fora
Fugiu do patrão beócio,
Sua energia em excesso
Não lhe permitia o ócio
E ele partiu buscando
Montar seu próprio negócio.
19
Logo montou um engenho
Pra fabricar aguardente
Com isso foi conseguindo
Dinheiro rapidamente
Até que se transformou
Num empresário influente.
20
Instalou uma editora
Mostrando capacidade
E assim ficou junto da
Intelectualidade;
Tornou-se o ponto de encontro
Da cultura da cidade!
5
21
Empreendedor pé-quente
Sabia calcular risco
Competente, juntou grana
Ligeiro igual um corisco
Montou um supermercado,
Embrião da rede Disco.
22
Entrosou-se rapidinho
Com a turma modernista
Oswald e Mário de Andrade
E muito nacionalista
E até com Plínio Salgado,
Mas não foi integralista!
23
Entrou mesmo de cabeça
Na cultura e no seu clima
Lendo, escrevendo em jornais
Cultivando prosa e rima
Com Jackson de Figueiredo
E Alceu Amoroso Lima.
24
Chegou mesmo a editar
Nomes que viraram heróis
Um Graciliano Ramos,
Uma Raquel de Queiroz
E até um Jorge Amado
Que não tinha vez nem voz.
6
25
Editou Gilberto Freyre
Um crítico da realeza
Da Casa Grande & Senzala,
Lúcio Cardoso, a surpresa;
E um Otávio de Faria
Com a "Tragédia Burguesa".
26
Com Carlos Drumonnd de Andrade
Começou a se entrosar
Foi amigo de Bandeira,
Nosso poeta exemplar
Schmidt ia visitá-lo
Na Avenida Beira-Mar!
27
Envolveu-se na política
Sem nunca ser candidato
Com direita e com esquerda
Sempre conseguiu bom trato
E achava que pra servir
Não precisava mandato.
28
Foi dele a última conversa
Com Getúlio no Catete;
Enquanto a oposição
Baixava nele o cacete,
Getúlio traçava o plano
De fugir do tirinete!
7
29
Getúlio calmo demais
Em meio ao mar do despeito,
A lama golpista entrando
No Palácio sem respeito
E o velho pronto pra o gesto
De explodir o próprio peito!
30
Conversavam sobre a fome
Que empanava nossa glória...
No outro dia, Getúlio
Deu a resposta à escória
Pulando fora da vida
E entrando firme na História.
31
Schmidt então se aliou
Ao mineiro Juscelino,
Jogou suas esperanças
No médico diamantino
No desejo que o Brasil
Achasse um novo destino.
32
Apoiou sua campanha
Defendeu-lhe com afinco,
Das portas de uma vitória
Deu-lhe a chave, abriu o trinco,
Criando até o slogan
"50 anos em 5"
8
33
Pra Juscelino, Schmidt,
Resolveu muitos problemas
Articulava os apoios
Enquanto armava os poemas
Todo dia os dois trocavam
Dois ou três telefonemas!
34
Teve que aplacar a sanha
De alguns eternos golpistas
Por JK receber
Apoio dos comunistas
Num tempo de guerra fria
E militares fascistas.
35
Elaborava os discursos
Que JK proferia.
A fama de orador bom
Pra o presidente crescia
Mas seus discursos poéticos
Schmidt era quem fazia.
36
Algumas frases de efeito
Que JK citou cedo,
Eram lavra do poeta
Que escondia o segredo,
Como aquela: "Deus poupou-me
Do sentimento do medo"
9
37
E na área diplomática
O poeta destacou-se
Representava o Brasil
Com brilho, fosse onde fosse,
Á causa de um Brasil Grande
Ele sempre dedicou-se.
38
Idealizou a OPA
Tentando unir as Américas,
Aplainando as divisões
Geopolíticas hemisféricas
E pondo um freio no fogo
Das ameaças histéricas.
39
Dos direitistas raivosos
Ele explorava com afã
O medo de uma revolta
Ocidental e cristã
Que tirasse o continente
Das garras do Tio Sam!
40
Depois que a Segunda guerra
Levou Marx à Polônia,
Tchecos, búlgaros e alemães
Ele explorava a insônia
Dos yanques que o temiam
Do México pra Patagônia.
10
41
Depois que a China com Mao
Derrubou seus mandarins,
Implantando o comunismo,
Derrubando espadachins
Havia o pânico que ele
Chegasse aos nossos confins.
42
Logo naquele momento
Que Coréia e Vietnan
Se inspirando em China e Rússia
Pisavam os pés do titã
Fazendo bolhas de sangue
Nos calos do Tio Sam.
43
Quando Cuba já mostrava
Que ia brigar também
Pra derrubar um sargento
Que dizia só "Amém".
Não ia mais ser bordel
Nem quintal de "Sêo Ninguém"
44
Schmidt por cá mostrava
Que evitar revolução
Se evita com mais progresso,
Terra, emprego, paz e pão,
Justiça e democracia
Saúde e educação.
11
45
Na verdade ele tentou
Criar um Plano Marshal
Conseguiu a Aliança
Para o Progresso, afinal,
Dos países atrasados
Da América do Sul e Central.
46
Uma ação que veio antes,
Fruto do seu argumento:
Banco Interamericano
Para o Desenvolvimento;
O BID que continua
Nos trazendo investimento!
47
O grupo dos 21
Articulou e fez planos.
Este grupo reunia
Governantes veteranos
De todos os 21
Estados americanos.
48
Até mesmo a OEA
Foi fruto desse trabalho
Pra que todo o continente
Vestisse um mesmo agasalho
E um Estado não fosse
No outro meter o malho.
12
49
Porém na diplomacia
Não ficou só na estréia
Foi nosso representante
Com firmeza e boa idéia
Na grande Comunidade
Econômica Européia.
50
Se entrosou pela direita
Com Castelo, militar,
Junto a Raquel de Queiroz
Ajudou a derrubar
O governo e escreveu
Contra Brizola e Goulart.
51
Fundador do Instituto
De Pesquisas Sociais
E Econômicas também
Defendendo a todo gás
O sistema baseado
Nas idéias liberais.
52
Amou com força a política
Nos bastidores foi forte,
À labuta literária
Entregou-se até à morte
Mas ele também gostava
De incentivar o esporte.
13
53
Presidiu o Botafogo
De Futebol e Regatas,
Levando a ganhar
Troféus de ouros e pratas
Foi cartola e não meteu-se
Em trambiques e mamatas.
54
Havia dois botafogos
Cada qual pela metade
Juntou os dois em um só,
Cresceu-lhe a capacidade
E botou na presidência
Eduardo Góis Trindade!
55
É este o homem que trago
À memória brasileira;
Um homem que batalhou
Pelo bem a vida inteira
Tanto dentro do País
Quanto na terra estrangeira.
56
Em meio às atribuladas
Vidas de comerciante,
De político e diplomata,
De editor e viajante
Nunca deixou de botar
A poesia pra diante.
14
57
No ano de 28
Lançou seu livro primeiro
Que trazia o grande título
O "Canto do brasileiro,
O Augusto Frederico
Schmidt", tão verdadeiro.
58
Depois "Canto do Liberto"
Tendo seu nome seguido;
Já no ano 29
Lançou "Navio Perdido"
E em 30, o "Pássaro Cego",
Um livro reconhecido.
59
A "Estrela Solitária"
Lançou com glória e com brio
"Mensagem aos Poetas Novos"
Foi um grande desafio;
"Galo Branco" e "As Florestas"
Depois, "Caminho do Frio".
60
Lançou "Paisagens e Seres",
"Babilônia", uma canção...
Também belíssimos "Discursos
Aos Jovens" desta nação,
"Antologia de Prosa"
E "Prelúdio à Revolução".
15
61
Seus mais famosos trabalhos
No campo da poesia
Foram "Soneto Cigano",
"Quando", "Lembrança", "Elegia",
"Noiva", "Soneto a Camões",
Foi tudo pra Antologia!
62
"Retrato do Desconhecido",
"Quando eu Morrer" e "Vazio",
Sonetos, "Ouço uma Fonte"...
Fonte perdida no frio.
Encheu de poemas quentes
As brisas doces do Rio.
63
Casou com Yedda Ovalle,
Grande amor da sua vida,
Pra ela lavrou poemas,
E ela foi dele a querida
Até em 65
Quando fez a despedida...
64
Por fim, foi esse o Schmidt,
Um autêntico brasileiro,
Articulador gigante
Empreendedor pioneiro,
Augusto, doce, valente,
Diplomata competente.
Poeta de corpo inteiro!
16
Título: A VISITA DE BIN LADEN AO INFERNO
Autor: Guaipuan Vieira
Categoria: Literatura de Cordel - 32 estrofes – 8 páginas
Idioma: Português
Instituição: Centro Cultural dos Cordelistas - Cecordel
1ª Edição: 2002 / 2ª Edição: 2003 /3ª Edição: 2005/4ª edição: 2010
5ª Edição: 2011
Estilo: Gracejo
Site: www.funag.gov.br
E-mail: funag@mre.gov.br
01
Peço inspiração poética
Às musas do mundo inteiro
Para falar de um grande
Diplomata brasileiro,
Bamba da Geografia
Que foi da diplomacia
Brasileira, o pioneiro!
02
Seu valor excede em muito
Mina, terra, indústria e banco:
José Maria da Silva
Paranhos Júnior, homem franco
Que brincou, lutou e amou
E a História o transformou
Em Barão do Rio Branco!
03
O Barão foi desses homens
Que a natureza compôs,
Mas depois quebrou a fôrma
E o projeto não expôs...
Foi um daqueles gigantes
Que igual não houve antes;
Maior não terá depois.
04
O barão foi nosso craque
No gramado diplomático,
Foi o papa do acordo,
Foi estrategista e tático,
Negociador histórico,
Um pragmático teórico
Com um genial senso prático!
1
05
Nasceu no Rio de Janeiro
Quarenta e cinco era o ano;
O século era o dezenove
Vinte de abril, sem engano,
O seu pai era o Visconde,
Outro nome que responde
Como grande veterano!
06
Visconde do Rio Branco,
José Paranhos, seu pai
Foi Ministro da Marinha,
Diplomata no Uruguai,
Primeiro ministro honrado,
Diplomata e magistrado
Para a paz com o Paraguai!
07
Seu pai também demonstrou
Ser da História, um dos bravos,
Com a Lei do Ventre Livre
Que promulgou contra os travos
Da escravidão infeliz.
Depois dele, no País...
Não nasciam mais escravos!
08
Sua mãe era Tereza,
De Figueiredo Faria
Mulher de grande estatura,
Que com luz lhe educaria
Pra que ele pudesse ser
Um dos bambas do poder
Que por certo exerceria!
2
09
Assim cresceu o menino
Sob os cuidados dos pais
Fez no Dom Pedro Segundo,
Estudos colegiais
E prosseguiu no estudo
Procurando saber tudo
E lendo pra saber mais!
10
Teve uma infância feliz
Tendo oito irmãos ao lado,
Brincando em praias e parques
E em clube conceituado,
Bibliotecas e templos
Sempre seguindo os exemplos
Do pai, Visconde afamado!
11
O Barão, na juventude,
Ganhou fama de boêmio
Era um típico carioca
Que amava o bar e o grêmio
Mesmo com todo o respeito
Um rasgo de preconceito
Ele ganhou como “prêmio”
12
Porém não se descuidava
De aprender com o pai.
Nas lições sobre o Brasil
Bem cedo se sobressai
E ajuda o velho Visconde
Que nos acordos responde
Pela paz com o Paraguai.
3
13
Por estes tempos partiu
Para em São Paulo estudar
No Largo de São Francisco
Fez o seu vestibular
Mostrando o próprio cacife
E depois foi pra Recife
Pra enfim se bacharelar!
14
Nestes tempos começou
Uma carreira exemplar
De escritor e jornalista
Passando a biografar
O Comandante feliz
Do Navio Imperatriz,
Na “Revista Popular”.
15
Prosseguindo na imprensa
Logo ao desenho se lança.
Na Revista “Ilustração”
Que circulava na França
Fez um relato fiel
Ao descrever a cruel
Guerra da Tríplice Aliança.
16
Depois que voltou formado
Foi ensinar muito cedo,
Corografia e História
Das quais sabia o segredo...
Colégio Pedro Segundo.
Lá, sucedeu ao profundo
Joaquim Manuel de Macedo.
4
17
Deixou logo o magistério
Partiu pra o interior
Foi exercer o Direito
Demonstrando seu valor
Pra Nova Friburgo ia
Exercer com maestria
O cargo de Promotor!
18
Mas não se sentia bem
Distante da capital.
O pai usou do prestígio
E num pleito eleitoral
Conseguiu fazer do moço
Pelo Estado Mato Grosso,
Deputado federal.
19
No jornalismo seguiu
Demonstrando vocação
Além de escrever artigos
De grande repercussão,
Por conquistar o leitor,
Transformou-se em Redator
Do Periódico “A Nação”.
20
Porém, nem tudo eram flores
Na vida de Rio Branco,
Devido ao jeitão largado
Boêmio, liberto e franco,
Melindrou dogmas e teses
E sofreu alguns revezes
Topando tranco e barranco.
5
21
A filha de um figurão
Por ele se apaixonou.
Com ele quis se casar
Mas ele não aceitou.
Enfrentou muita dureza
Porque fora da nobreza
Seu coração se entregou!
22
Apaixonou-se por uma
Bailarina de beleza.
“Marrí Filomêne Stêvens”,
Contrariando a nobreza.
Deixou a nobre na mão
E entregou o coração
Pra belga com mais firmeza!
23
E como se não bastasse
Desagradar a elite,
Inda fez mais uma coisa
Que a época não admite.
A paquera engravidou
E o escândalo se instalou
Rompendo todo limite!
24
O visconde lhe impôs
Que a bailarina e atriz
Fosse embarcada à Europa
Pra ter o filho em Paris
Por isto o nobre rapaz
Perdeu a pompa e a paz
Vivendo muito infeliz.
6
25
Na França, “Marrí” chegou,
Logo deu à luz um filho.
Mas o futuro barão
Aqui vivia sem brilho,
Lutou, pediu, padeceu,
Morar no mundo europeu
Era seu único estribilho.
26
Foi assim que conseguiu
Emprego noutro país,
Instalou-se em Liverpool
Como cônsul... Mas se diz
Que tendo oportunidade
Escapava da cidade
Pra ver “Marrí” em Paris.
27
Nasceram mais quatro filhos
Desta paixão forte e pura.
Durante esta fase opaca
Ao nosso Brasil procura
Estudar profundamente
E vai penetrando habilmente
Nos bons círculos de cultura.
28
Até que em 83
Surge de forma sutil
Uma oportunidade
De mostrar seu varonil
Talento, saber e astúcia
Quando é mandado pra Rússia
Representando o Brasil.
7
29
Ali provou que era o homem
Certo no lugar certeiro.
Pois ao final da missão,
Da vida mudou o roteiro,
Abrindo um novo capítulo
Tendo recebido o título
De ilustre Conselheiro.
30
Um câncer roubou-lhe o pai
Lhe causando comoção.
Mas um novo mundo abriu-se
Surgindo mais promoção
E no ano da Lei Áurea
Recebeu mais uma láurea
Se transformando em Barão.
31
Foi ministro na Alemanha
No ano mil novecentos;
O seu nome foi crescendo
Apesar dos novos ventos
Da recém vinda república
Sua ilustre vida pública
Conheceu novos momentos!
32
Mesmo sendo um monarquista
Fiel ao imperador,
Ideologicamente
Tido por conservador
Não teve cortados planos
Porque os republicanos
Entenderam seu valor!
8
33
Começou logo a assumir
Delicadíssimos serviços
Diplomáticos da República,
Em casos claros e omissos
Foi mostrando competências
Pra resolver as pendências
Dos conflitos fronteiriços.
34
Primeiro, A Questão de Palmas,
Um conflito com Argentina
Que pretendia tomar
Meia Santa Catarina
E mais meio Paraná
E o Barão trouxe pra cá
Toda esta terra sulina!
35
Para ganhar tanta terra
O competente barão
Provou com mapas e estudos
Que era nossa a região,
Usando, em vez de confetes,
A luz d’Usi Possidets,
De Alexandre de Gusmão!
36
Pelo Usi Possidets
A posse de alguma área
Não se dava por tratado
Feito em linha imaginária
Mas por uso e ocupação,
Investimento e ação
Morada e luta diária.
9
37
Esta vitória fantástica
Fez com que o Presidente
Que era Rodrigues Alves
O chamasse urgentemente
Pra comandar com valia
A nossa diplomacia
Pois o clima estava quente.
38
Outra vitória maiúscula
Que o barão mostrou firmeza
Foi contra a potente França
Pois da Guiana Francesa
Ganhamos tudo que está
Sendo hoje o Amapá,
Parte da nossa riqueza!
39
Mil novecentos e dois.
Sessenta mil brasileiros
Encontravam-se no Acre,
Como fortes seringueiros.
Eram chãos bolivianos
E ingleses e americanos
Queriam ser seus parceiros.
40
Era um grupo poderoso,
Um sindicato de empresas
Claramente imperialistas,
Americanas e inglesas
Queriam nos dar insônia,
No coração da Amazônia
Enfiando as suas presas!
10
41
O conflito engrossou tanto
Que o Barão mandar barrar
Os navios dos yanques
De em nosso rio passar
A Bolívia se agitou
Seis mil soldados mandou
Para nos ameaçar.
42
Foi aí que o barão
Que sempre pregou a paz
Achou que aquela ameaça
Estava sendo demais
E também mandou seis mil
Militares do Brasil
Garantirem os seringais!
43
Por fim chegou-se a um acordo,
Um negócio verdadeiro
O Tratado de Petrópolis
Pra o Acre ser brasileiro.
O Brasil também cedeu
E a Bolívia recebeu
Respeito, terra e dinheiro!
44
E definiu as fronteiras
Do Peru com mais clareza;
Noutra negociação
Com a Guiana Francesa
E usando do seu prestígio
Definiu sem ter litígio
Com a Guiana holandesa.
11
45
E assim o nosso Brasil
Fincou marcos e bandeiras
900 mil quilômetros
Quadrados, dessas maneiras
Se encaixaram em nosso mapa
Findando assim a etapa
Das disputas de fronteiras.
46
Graças ao grande Barão
Achamos nossos caminhos
Uma cerca sem arame
Seringueira, aguapés, pinhos
Respeito aos países manos...
Já são cento e trinta anos
Sem guerrear com os vizinhos.
47
Com ele o Brasil ganhou
A atual dimensão,
Esse porte de gigante,
Esse jeitão bonachão
Que ao nosso mapa reveste
Com Norte, Sul, Leste e Oeste
Desenhando um coração!
48
Onze vizinhos amigos,
Nada de expansionismo
A convivência pacífica,
O respeito com altruísmo,
O acerto ao momento certo
E um coração sempre aberto
Ao pan-americanismo!
12
49
Ao chegar ao ministério
Não existia estrutura
Vinte e sete servidores
Sem maior envergadura
Verbas em pouca quantia
E uma diplomacia.
Tateando em fase escura!
50
O Brasil que foi herdado
Pela Era do barão
Era pobre, endividado,
Voltado à exportação
Se ter um mercado interno,
Tendo por marcas do inferno
Latifúndio e escravidão.
51
Oitenta e quatro por cento
Do povo era analfabeto,
Revoltas por toda parte,
País injusto, incompleto,
Resíduos coloniais
Império frágil, sem paz
E a República sem projeto!
52
Ele, com força titânica
Se impôs pela consistência.
Fez do Itamaraty,
Reduto de inteligência,
Grande espaço cultural
Competente e triunfal...
Um centro de excelência.
13
53
Rio Branco cresceu tanto
Em respeito e inteligência,
Em talento e honestidade,
Em vitórias e em decência
Que seu nome foi lembrado
Para ser candidatado
Ao cargo da presidência.
54
Mesmo com a vitória certa
Ele não quis aceitar.
Preferiu ser chanceler
E a luta continuar
Tendo credibilidade
E a quase unanimidade
Com poucos a criticar.
55
Foi de quatro presidentes
Ministro do Exterior:
Rodrigues Alves e Afonso
Pena, viram seu valor,
Com Fonseca e com Peçanha;
Tornou toda questão ganha
Fez o Brasil vencedor!
56
Entre os intelectuais
Conquistou muitos amigos;
Para o Jornal do Brasil
Escreveu muitos artigos.
Foram tamanhos seus brios
Que recebeu elogios
Até de alguns inimigos.
14
57
Foi membro da Academia
De Letras e do Instituto
Histórico e Geográfico,
Dando seu grande tributo,
Da modernidade a mecha
Pr’um Brasil que tinha a pecha
De caipira e matuto.
58
Foram seus auxiliares
Escritores de mais fama
O grande Euclides da Cunha, Mestre Domício
da Gama,
Bilac, o parnasiano,
Rui Barbosa e Capistrano
De Abreu que a História aclama!
59
Graça Aranha também foi
Um dos seus mais preferidos,
Machado de Assis, o gênio,
Amigo em todos sentidos,
Nabuco, grande orador,
Que foi seu embaixador
Para os Estados Unidos
60
Quando ele se foi, deixou
Um país agigantado
Com as fronteiras definidas
Amigos pra todo lado
E uma cultura de paz
Que fez e que ainda faz
O Brasil mais respeitado!
15
61
Um Brasil não agressivo
Arauto do pacifismo,
A geopolítica da paz,
Diálogo, acordo e civismo,
Doze nações irmanadas
E as raízes adubadas
Do Pan-americanismo.
62
Hoje o nome do Barão
Destaca-se em toda parte:
Em rios, ruas, cidades,
Moeda, cédula, estandarte,
Livro, filme, distintivo,
Escola e clube esportivo,
Centros de cultura e arte.
63
Morreu aos sessenta e seis
De idade, em alto astral,
Na sala onde trabalhava,
Na véspera do carnaval
Causando assim, de momento
Pelo seu encantamento
Comoção nacional!
64
O BARÃO DO RIO BRANCO
Foi herói, foi líder, guia
Gigante da fala mansa
O PAI DA DIPLOMACIA...
Um exemplo de vitória,
Um construtor da história
Símbolo da cidadania!
16
01
Quero que as musas me inspirem
Na arte de cordelista,
Para descrever a história
De um político e jornalista,
Professor e diplomata,
Bom poeta e romancista!
02
Falo de Gilberto Amado,
Um sergipano da gema
Que brilhou no mundo inteiro
Tendo o saber como lema;
Foi um campeão na prosa;
Foi bem melhor no poema!
03
Era Gilberto de Lima
Azevedo Souza Ferreira
Mais Amado de Farias,
Diplomata de primeira
Que se foi grande nome
Foi bem maior na carreira.
04
Nasceu em 07 de maio,
No ano de oitenta e sete,
O século era dezenove
E morreu em 27
De Agosto de meia nove (69)
Conforme deu na manchete.
1
05
Na cidade de Estância
Lá no solo sergipano
No extremo sul do Estado
Perto do solo baiano
Gilberto Amado nasceu
Pra de Deus cumprir um plano.
06
Foi primeiro dos quatorze
Filhos de um casal decente:
Melchisedech e Ana,
Exemplo de boa gente,
Que logo que viu que o menino
Era vivo e inteligente.
07
Fez os estudos primários
Numa cidade vizinha
Por nome de Itaporanga,
Onde boa escola tinha;
Depois seguiu pra Bahia
Pra seguir na mesma linha.
08
Ali estudou Farmácia,
Mas viu que não tinha jeito
Para pipeta e proveta,
Reação, causa e efeito...
Partiu para Pernambuco
Onde foi cursar Direito.
2
09
Mesmo ainda como aluno
Já mostrou muito sucesso
Chegou a ir pra São Paulo
Representar, num Congresso,
Os seus colegas de curso
Que nele viram progresso.
10
Seu discurso progressista,
Sua mente especial,
Sua sensibilidade,
Seu currículo magistral
Tornaram-lhe catedrático
Para o Direito Penal.
11
Logo ao terminar o curso
Que concluiu com louvor,
Aplaudido por colegas
Bem visto pelo reitor,
Mudou direto de lado
De aluno pra professor.
12
Foi um professor brilhante,
Pois da matéria sabia.
Também sacava de História,
De Arte e Filosofia
Era um mestre em transmitir,
Bamba na Pedagogia!
3
13
E então como professor
Não ficou no trivial
Expandiu os seus saberes
Do modo mais genial,
Se transformando de fato
Num intelectual!
14
E já no ano de 10
Foi pra o Rio de Janeiro.
Para o Jornal do Comércio
Fez seu trabalho primeiro
Falando em Luis Delfino,
Victor Hugo brasileiro.
15
Se bem que ele já tinha
Começado em Pernambuco
Aonde escutou o último
Dos discursos de Nabuco
E trouxe para seu texto
Da cana o doce do suco.
16
Em 05 já escrevia
A secção "Golpe de Vista",
Em torno à obra de Nietsche
Provou ser bom polemista.
Escreveu artigo e ensaio
E provou ser bom cronista.
4
17
Para o "Jornal do Comércio"
No Rio escreveu primeiro
Para o "Mundo Literário"
"O País", "Época", "O Cruzeiro"
E em jornais de São Paulo
Também mostrou seu roteiro.
18
N'O Estado de São Paulo'
Foi lido em todo o Brasil,
N'O Correio Paulistano'
Pôs seu texto varonil
E ás vezes até usava
O pseudônimo Áureo ou Gil.
19
Mil, novecentos e doze,
À Europa viajou
Viu de perto a Belle Époque,
Com grandes crânios sentou.
Nas fontes do Modernismo
Bebeu, comeu e saldou.
20
Em 13 chegou de volta,
E pra mostrar sapiência
Foi ao Jornal do Comércio
Pronunciou conferência
Que mostrou sua grandeza,
Seu talento e inteligência.
5
21
Depois publicou em livro
Tudo quanto relatou:
"A Chave de Salomão"
Logo em 13 publicou
E ainda "Outros Escritos"
Ao seu livro acrescentou;
22
Em 15 ele foi de volta
Para o seu torrão natal
Candidatou-se, elegeu-se
Deputado federal,
Projetou-se no cenário
Da política nacional.
23
Na câmara, belos discursos
Cresceram seu cabedal,
Falou de instituições
Da política federal
E descreveu, do Brasil,
Nosso Meio Social.
24
E por ter se consagrado
Parlamentar de respeito,
No ano de 17
Conseguiu ser reeleito.
Vinte e um e Vinte e quatro,
Ganhou sempre em todo pleito.
6
25
Em 26 deu um tempo
Na política radical
Pra ser diretor da Caixa
Econômica Federal
E em 27 elegeu-se
Pra o Senado Nacional.
26
Já como parlamentar
Entrou no mundo que quis;
Falando de relações
Externas deste País
E indo a reuniões
Em Berlim, Roma e Paris!
27
Chegando a República Nova
Encetou nova conquista,
Deu um tempo na política
Foi chamado a ser jurista,
Deu cursos, formulou leis
Tendo visão de estadista.
28
No ano de 34
Chegou onde mais queria
Para o Itamaraty
Foi prestar consultoria
E entrou de vez no seu mundo
Feliz da Diplomacia.
7
29
Sucedeu a Bevilacqua
Que foi um grande causídico
E assim, da Política externa,
Tornou-se assessor jurídico
Mostrando que seu talento
Era completo e verídico.
30
Evoluiu muito rápido
Pois do lugar de assessor
Em 36 assumiu
O cargo de embaixador
Onde mostrou seu talento
Pra ser negociador.
31
Do ano de 39
Ao ano 47
Foi ministro na Finlândia
Fazendo o que lhe compete
E o mesmo êxito de sempre
Na Finlândia se repete.
32
E logo em 48
Ele sentou-se no trono
Da carreira diplomática...
De uma cadeira foi dono
Na Comissão de Direito
Internacional da ONU.
8
33
Já que Genebra era a sede
Desta nobre comissão
Foi residir na Suíça,
Deu grande contribuição
Ao Direito entre os países
Com muita publicação.
34
Não perdeu uma sessão
Da Assembléia Geral
Da ONU, em Nova Yorque,
Desde aquela inicial,
Até a última em que pôde
Botar seus pés no local.
35
Somente em 68
Parou de comparecer
E o seu saber jurídico
Nunca deixou de exercer.
Direito Internacional
Passou a vida a escrever.
36
Os "Direitos e Deveres
Dos Estados", foi legal,
"Definição de Agressão"
E até "Processo Arbitral",
"Reservas às Convenções..."
Da lei multilateral.
9
37
Foi embaixador no Chile
E na Itália também,
Cumpriu missão na Argentina
Lá se saiu muito bem
E em leis internacionais
Nunca perdeu pra ninguém.
38
Presidiu a Comissão
"Diplomacia e Tratados",
Os seus pareceres técnicos
Foram os mais abalizados
E mesmo depois de décadas
Ainda são consultados.
39
Do Barão do Rio Branco
Ele herdou o pacifismo.
Herdou de Bolívar, o sonho
De Pátria Grande e heroísmo
Pra consolidar as bases
Do Pan-americanismo.
40
Forjou todo o ideário
Da Pátria América Latina
Desde as ilhas caribenhas
À extremidade sulina
Cuba, Guianas, Peru,
Brasil, Chile e Argentina.
10
41
América de Zé Martí,
De Atahualpa e Guevara,
De Sandino e Tiradentes
De Zumbi, de Victor Jara,
De Farabundo e Allende
Sem águia que nos separa!
42
Um pan-americanismo
Com fronteiras sem alertas
Com o portunhol congregando
Tantas culturas libertas
Sem Batman e Drácula sugando
As nossas veias abertas!!!
43
No pós-guerra ele assumiu
Elevadíssimas missões;
Demonstrou grande prestígio
Logo em duas comissões
E foi delegado na
Conferência das Nações.
44
Essa grande conferência
Foi feita pra se estudar
Qual o poder das nações
Sobre o Direito do Mar
E foi aí que Gilberto
Conseguiu mesmo brilhar.
11
45
Defendia que o direito
Do Estado nacional
Sobre o mar devia ser
Não somente horizontal
Mas também devia ter
Um sentido vertical!
46
O Mar territorial
E também o Alto Mar;
Direito a pesca e minérios
À defesa, ao navegar,
Também aos fundos marinhos
E aos céus do mar pra voar!
47
Amado sempre dizia
Que neste embate tão duro
Entre o academicismo
E o direito prático e puro
Tinha que ver-se o interesse
Das nações e seu futuro!
48
Mas defendia também
Que interesses e ambições
Dos estados não turvassem
As modernas intenções
De forjar civilidade
Pra o futuro das nações!
12
49
Normalmente os diplomatas
Com décadas no estrangeiro
Acabavam se esquecendo
Do jeitinho brasileiro
De ser feliz, ser alegre,
Espontâneo e inzoneiro.
50
Mas Gilberto Amado, não.
Sempre voltava ao País,
Por aqui lançava livros,
Brincava e pedia bis
Sem jamais perder a ginga...
Sem medo de ser feliz!
51
Transformou-se em grande mito
Com mil estórias contadas
Das anedotas, das lendas,
Das ações inusitadas,
Dos ditos espirituosos,
Das saborosas tiradas!
52
Sempre que vinha ao Brasil
Um novo livro lançava;
Sua fama merecida
Crescia e multiplicava
Mas suas lendas e o mito
Cada vez mais se firmava.
13
53
Foi bom na prosa e no verso,
No romance e na memória,
Na crônica se destacou,
No ensaio alcançou glória
E em tudo quanto escreveu
Pôs sentimento e história!
54
Como escritor produziu
"A Chave de Salomão",
"Grão de Areia" e "Dias
E "Horas de Vibração",
"Espírito do nosso tempo",
Também "Suave Ascenção",
55
"Inocentes e Culpados"
"Interesses da companhia",
Sobre "Assis Chateaubriand"
Escreveu com maestria
Na "Dança sobre o Abismo",
Memórias e Poesia.
56
Na redação do Direito
Teve visão analítica
Descreveu muitas minúcias
Do vendaval da política
E em tudo que produziu
Pôs a visão lírica e crítica!
14
57
Maledicência, entreveros,
Valentões pernambucanos,
Amores, paixões platônicas,
O atraso daqueles anos,
Os sonhos da juventude
E o poder dos veteranos.
58
Foi quem melhor descreveu
A capital nordestina
Do que sobrou das senzalas
Da Casa Grande assassina,
Dos homens e caranguejos...
Vida e morte Severina.
59
Foi Gilberto um homem manso,
Mas também foi agitado.
Nunca levou desaforo
Pra dentro do lar sagrado,
Por isso é que ele foi tanto
Amado quanto odiado!
60
No acordo, um lorde inglês,
No agito era um Nabuco;
Às vezes, filósofo sóbrio;
Por vezes, gênio maluco;
Exímio, esgrimindo idéias;
Fatal, usando um trabuco!
15
61
Esse era Gilberto Amado,
Dono de todos conceitos;
Se foi bom na fala mansa
Foi melhor metendo os peitos...
Um ser humano completo
Em qualidade e defeitos!
62
Seu nome ficou marcado
Na nossa diplomacia,
Nosso país deve muito
À sua categoria
E à competência mostrada
Em tudo quanto fazia!
63
Foi amigo dos amigos;
Brasil foi sua paixão;
Amado amou a si próprio
Bem mais amou à nação,
Irmão da América Latina,
Pai de um mundo mais irmão
64
Que a memória de Amado
Nosso Brasil possa amar;
Que Gilberto esteja perto
Do Brasil que vai chegar;
Que os jovens possam seguir
Sua carreira exemplar!!!
16
Título: Mainha, O Maior Pistoleiro do Nordeste(A sua história completa)
Autor: Guaipuan Vieira
Categoria: Literatura de Cordel - 32 estrofes – 8 páginas
Idioma: Português
Instituição: Centro Cultural dos Cordelistas - Cecordel
1ª Edição: 1998 6ª Edição: 1992
Gravação: 1998 Repentista Raimundo Raposo(Ocara-CE)
Estilo: Biográfico
1
05
Seu tipo físico era frágil:
Quase anão na estatura.
Um metro e cinqüenta e oito,
72 de cintura.
Corpo encurvado e franzino,
Fisicamente um menino
Mas um titã na cultura!
06
Só quarenta e oito quilos
De peso e de sapiência;
A fragilidade física
Escondendo a inteligência...
Mas provou aos seus carrascos
Que “é nos menores frascos
Que mora a melhor essência”!
07
Rui Barbosa de Oliveira,
De Salvador, bom baiano.
Nasceu em mil e oitocentos
E quarenta e nove, o ano;
Foi a cinco de novembro
Que a luz viu o maior membro
Do saber brasiliano.
08
Seu pai, Doutor João José,
Viu no anão um titã,
Ensinou-lhe amar os livros,
Do saber tornou-lhe um fã.
Maria Adélia gerou-lhe
E com carinho ensinou-lhe
Amor e moral cristã.
2
09
Com a mãe também aprendeu
Amar os descamisados
Aos que a vida excluiu,
Aos pobres e explorados,
Ao humilhado e ao cativo...
Por isso tornou-se ativo
Defensor dos humilhados.
10
Com cinco anos de idade
Rui na escola ingressou;
Seu mestre Antônio Gentil
Muito espantado exclamou:
Meu Brasil, eu lhe apresento
O mais incrível talento
Que a Bahia já criou!
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Aprendeu em quinze dias
Distinguir as orações
E dos verbos regulares
Fazer as conjugações,
Juntar letras, soletrar,
E com um ano a destrinchar
As mais difíceis lições.
12
Aos onze anos de idade
Já no Ginásio Baiano,
Professor Abílio César
Disse a seu pai: Não me engano.
Tudo que eu sei, Rui já sabe.
Portanto, João, já lhe cabe
Colocar Rui noutro plano.
3
13
Foi quando Rui recebeu
Sua maior honraria,
Uma Medalha de Ouro,
Do arcebispo da Bahia...
E entre milhões de imagens
De glórias e de homenagens
Desta, nunca esqueceria.
14
No ano sessenta e quatro
Conclui o ginasial.
Só tinha quatorze anos
Não tinha idade ideal
Para a faculdade e então
Foi estudar Alemão
Até o prazo normal.
15
Ao fazer dezesseis anos,
Já tendo idade e conceito
Foi para Olinda cursar
Faculdade de Direito,
Provando o fato verídico
Que para o mundo jurídico
Era o cérebro mais perfeito.
16
Porém em 68
Contraiu um grande mal
Adoeceu gravemente
De um “incômodo cerebral”
Deu um tempo em quase tudo
Paralisou o estudo
Até voltar ao normal,
4
17
E enquanto ficou em casa
Por um bom tempo abrigou
O poeta Castro Alves
Que Eugênia Câmara largou;
Castro, de Rui era um mano,
Pois no Ginásio Baiano
Na mesma turma estudou.
18
Rui fica bom e de novo
Sua faculdade enfrenta,
Se transfere pra São Paulo,
Curso que mais fama ostenta;
Ali virou bacharel.
Ganhou diploma e anel
Já no ano de 70.
19
Doutor, voltou à Bahia,
Seu solo amado e natal.
De novo sofreu as dores
Do “incômodo cerebral”
Mas foi logo advogar
Passando rápido a provar
Ser grande profissional.
20
Nesse tempo Rui Barbosa,
Mesmo sem ganhar fortunas
Por advogar pra os pobres
Já brilhava nas tribunas,
E os embates sociais
Travava pelos jornais
Com artigos e colunas.
5
21
No Diário da Bahia
Escrevia a pura prosa.
Neste tempo, o coração
Do genial Rui Barbosa
Por Brasília, jovem bela,
Caiu na triste esparrela...
A primeira crise amorosa.
22
Mas a dor-de-cotovelo
Ele logo compensou.
Discursos e conferências
Onde fazia, era show.
Pela força da Oratória
Em pouco alcançou a glória,
Seu nome se consagrou.
23
Casou-se em 76
Com uma bela baiana
Com quem construiu família:
Maria Augusta Viana
Bandeira da sua vida,
Amada e deusa querida,
Fantástica figura humana.
24
Augusta e Rui produziram
Uma família garbosa:
Que tinha nos nomes o
Sobrenome “Ruy Barbosa”.
Cinco filhos exemplares
Diplomatas, militares
E um político bom de prosa!
6
25
Rui ergueu-se em seu talento
Para enfrentar a ganância.
A ditadura e a maldade
Ele enfrentou com tal ânsia
Que esqueceu banca e saúde
Para abraçar com virtude
A causa e a militância!
26
No ano 77
De muita seca e horror
Rui se elegeu deputado
Erguendo um novo valor.
Pela grandeza exibida
Foi escolhido em seguida
Pra ser nosso senador.
27
Nabuco disse que Rui
Fez a República garbosa;
Benjamim lhe atribuiu
Revolução luminosa.
Patrocínio, disse então:
“Deus acendeu um vulcão
Na cabeça de Barbosa”.
28
E veio a Abolição
Da escravidão malvada;
Vimos três anos depois
A República proclamada,
Cujo primeiro decreto
Teve o talento completo
Da sua mão consagrada!
7
29
Fez a Constituição
Da República brasileira;
Poucos retoques fizeram
Sobre a redação primeira
Seu texto estava perfeito
Na política e no Direito,
Uma obra verdadeira.
30
E ao nascer a República,
Pelo seu saber notório
Foi primeiro vice-chefe
Do Governo Provisório.
Brilhante, firme, empolgado
O Brasil foi transformado
Em seu gigante auditório!
31
Rui Barbosa e Deodoro
Neste governo de início
Separaram Estado e Igreja
Evitaram o precipício
Com o tumulto controlado
Acabaram deputado
E Senado vitalício.
32
Rui, Ministro da Fazenda,
Pegou um cofre falido
Pela provisoriedade
Do governo instituído
Não conseguia dinheiro...
Nenhum país estrangeiro
Deu-lhe o empréstimo pedido.
8
33
Emitiu papel-moeda
Sem lastro em ouro na mão.
Mas desviaram o dinheiro
Do foco da produção
Que Rui Barbosa queria.
Por isso a Economia
Desandou na inflação.
34
Se afastou do Ministério
Mas inda fez uma ação.
Mandou queimar os papéis
Dos tempos da escravidão
Para evitar que ex-senhores
Ganhassem grandes valores
Pedindo indenização!
35
Logo veio Floriano
Com um chicote na mão.
Então as coisas mudaram,
Começou a repressão
E a liberdade sonhada
E democracia esperada
Fora para o rés do chão.
36
As revoltas começaram.
Rui contra o autoritarismo
Buscando o entendimento
Defendendo o legalismo
E Floriano, no berro,
Virou “Marechal de Ferro”
Na mão do militarismo!
9
37
Rui Barbosa ergueu a voz
Contra a intensa repressão.
Aos revoltosos da Armada,
Aos generais na prisão,
Também aos federalistas
Que queriam que as conquistas
Não sucumbissem ao canhão!
38
Pra os que estavam desterrados
Nas brenhas do Cucuí
Rui entrou com Habeas Corpus
Para tirá-los dali...
Dizia Barbosa: eu sei
Que um Brasil sem ter a lei
Não é Brasil é “brasí”!
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Chegou a ser exilado.
Forçado deixou a terra
Que amou e foi pra o Chile,
Argentina e Inglaterra
E escreveu famosas cartas
Fazendo acusações fartas
Contra ditadura e guerra.
40
Combateu a intervenção
Militar contra Canudos
Provou que aqueles beatos
Pobres, sofridos barbudos
Não queriam monarquia
Queriam cidadania
Comida, trabalho e estudos!
10
41
Do nosso Código Civil
Ele fez a revisão
Mil e oitocentos artigos
Em tudo a observação
Corrigindo o Português
E a redação das leis
Pra não ter nenhum senão.
42
Mil novecentos e cinco
Resolveu ser candidato
Contra Hermes da Fonseca.
Seu discurso era um retrato
De um Brasil progressista
Contra um Brasil feudalista
De atraso e de maltrato.
43
Em 07 ele foi a Haia
Conferência Mundial
Defendeu a igualdade
Na Lei internacional
Nada de fraco e de forte
Rico e pobre, Sul e Norte
Com direito desigual.
44
Derrubou todas as teses
Da força da prepotência,
De Inglaterra, França, States,
De tudo que foi potência
Derrubou a força insana
De canhão, de bomba e grana
Com a força da inteligência.
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45
Seu nome se destacou.
Foi primeiro sem segundo.
Entre Choate e Nelidoff,
O Barão Marshall profundo,
Meye, Tornielli e Leon
Foi ele quem deu o tom
Dos Sete Sábios do Mundo!
46
Tornou-se a “Águia de Haia”,
Do mundo recebeu louvo,
Quebrou a “lei do mais forte”
Criando um Direito novo.
E quando voltou pra o Rio
Foi só descer do navio
E cair nos braços do povo!
47
Da Academia de Letras
Foi dos membros varonis
Fundador da ABL,
Seu presidente feliz;
Provou seu grande valor
Ao se tornar sucessor
De Machado de Assis!
48
As suas obras são tantas,
De temas tão variados
Que fica muito difícil
Dizer em versos rimados
Os títulos que publicou
E a obra que legou
Nos seus geniais traçados.
12
49
“Contra o Militarismo”,
“Visita à Terra Natal”,
A grande “Oração aos Moços”,
“Acre Setentrional”,
Discursos, artigos, cartas,
Foi das produções mais fartas
Da Cultura nacional!!!
50
Português, Rui conhecia
Mais que os mestres portugueses
Fez um discurso em francês
Para saudar os franceses.
E diz até um ditado
Que quando foi exilado
Ensinou inglês a ingleses!
51
Contra Hermes da Fonseca
Mil novecentos e dez
Candidatou-se gritando
Contra atitudes cruéis
Na Campanha Civilista
Contrária ao militarista
Regime dos coronéis.
52
Ainda participou
De mais de uma eleição
Levando a campanha às ruas
Dando início na nação
Às campanhas democráticas
Chamando em frases enfáticas
O próprio povo à ação!
13
53
Em 18 recebeu
Uma agradável surpresa
Grande Oficial de Honra
De uma legião francesa
Mostrando um prestígio grande
E aí seu nome se expande
Pelo mundo com certeza!
54
Continuou escrevendo
Com sua verve eloqüente,
No Senado fez trincheira
Mostrando ser combatente
Pela causa que lhe move...
Foi, de novo em dezenove,
Candidato a presidente!
55
Mas no ano 21
Demonstrou grande canseira
Renunciou ao mandato
De senador de primeira
Declarando estar cansado
E “o coração enjoado
Da política brasileira”!
56
Rejeitou ser chefe de
Grande Congresso em Paris.
De, na Liga das Nações,
Representar o País.
E no Tribunal de Haia
Como farol e atalaia,
Ser delegado e juiz!
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57
Por tudo quanto ele fez,
Pela grande sapiência,
Por seu saber filosófico,
Saber jurídico e Ciência
Política, História e Gramática,
Seu nome virou, na prática,
Sinônimo de inteligência!
58
Na TV e no cinema
Foi personagem famoso
Foi retratado no filme
“Vendaval maravilhoso”
Brilhou em “Mad Maria”,
Minissérie que trazia
Um Brasil conflituoso.
59
E no “Brasília 18
Por cento”, filme recente
Rui aparece também
Trazendo exemplos pra gente
E há vinte anos passados
Na nota de dez cruzados
Seu rosto surge de frente.
60
Seu nome é nome de ruas,
De praça e Grupo Escolar,
De colégios e farmácias,
De cidade potiguar,
É nome de quase tudo
Só não vi em meu estudo
Seu nome em nome de bar.
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61
A “Casa de Rui Barbosa”
Preserva sua memória;
“Instituto Rui Barbosa”
É relicário da História
Deste gênio brasileiro.
Baiano bravo, altaneiro
Que encheu o Brasil de glória!
62
Na grande guerra de idéias,
Na lei da fala macia,
Na batalha de argumentos,
Atuou com maestria...
Sem ser profissional
Foi “Pai intelectual
Da nossa diplomacia!!!”
63
Os princípios defendidos,
Suas argumentações,
As leis por ele propostas,
Seus motivos e razões
Pra os países serem iguais
São as colunas centrais
Do Concerto das Nações.
64
Se um dia Brasil reler
Suas imensas verdades
Se pautando pela ética
Respeitando as liberdades
Quando todos formos “Rui”
O nosso Brasil não rui
Nem triunfam nulidades!
16